jornal a balança sd 17/05/11

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sor marxista, nas palavras do advogado da RENAP (Rede Nacional de Advoga- dos e Advogados Popula- res), Rodrigo de Medeiros: “o professor Rocha nos ins- tigava a ser retos e determi- nados nestes desafios que nos colocam em xeque, posturas que nos tornam importantes na carreira acadêmica, mas em nada contribuem para mudanças sociais”. Iara Alves Justa e bela homenagem póstuma a José de Albu- querque Rocha inaugura a VI Semana do Direito na noite de 16 de maio de 2011 na Faculdade de Di- reito da UFC. Os relatos de ex-alunos, professores e familiares sensibilizaram a plateia para o altíssimo valor humano cultivado pelo professor Rochinha ao longo de sua vida, seja em sua atuação em família, no magistério, na magistratura ou, ainda, na sociedade. Homem de grandiosidade ética, o Professor Rochinha assumiu atitudes corajosas na vida acadêmica e no judiciário, angariando, co- mo consequência, imensa credibilidade ao adotar prática fiel a seu discurso. Hoje, sendo homenagea- do por grandes nomes do meio acadêmico, “os nani- cos na corcunda de gigan- tes” (citação de Marcelo Guerra ressaltada na fala do Professor Juvêncio Vas- concelos), reiterou-se o perfil “de quem nunca des- cuidou da sua prática políti- ca de contribuir com a soci- edade como cidadão”, diz o sobrinho do “Professor Ro- chinha”, Heráclito Vieira. Enfatizou-se, por fim, gran- de ensinamento do Profes- HOMENAGEM A ROCHINHA A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E A DEMOCRACIA 17 DE MAIO DE 2011 VOLUME II A Balança cas, sustentadas pelos conceitos jurídicos, seu tronco. Campilongo res- salta alguns aspectos da obra do Prof. José de Al- buquerque Rocha, que se refere ao tema abordado na palestra, Democracia e Súmulas Vinculantes, Pro- cesso e Democracia, In- terpretação e Democracia. Newton relata sua convi- vência com o Prof. José de Albuquerque Rocha, ressaltando o caráter inte- lectual, comprometido com a expansão democrá- tica, que o homenageado tinha. O conferencista faz uma análise sobre as es- truturas do poder judiciá- rio, em que as cúpulas se distanciam cada vez mais da base, que é a socieda- de. A ciência Jurídica ne- cessita admitir sua relação com a política, pois se os atores do Direito não fo- rem capazes de serem também atores políticos não se alcançará uma de- mocracia real. Kauhana Helen A noite de abertura da VI Semana do Direito contou com a presença dos con- ferencistas Celso Campi- longo e Newton Albuquer- que, que palestraram so- bre "A Interpretação do Direito e a Democracia. Campilongo aponta consi- derações sobre as duas escolas de Interpretação do Direito contemporâ- neas, a Jurisprudência dos Conceitos e a Juris- prudência dos Interesses, compreendendo que a ciência jurídica não é um sistema fechado, mas aberto às reflexões inter- pretativas. O palestrante acentua o papel dos Direi- tos Fundamentais na construção de uma demo- cracia que não esteja vol- tada apenas para as "maiorias". O poder judici- ário e a interpretação do Direito devem ser postos em função da proteção aos grupos ditos "minoritários", assim de- nominados por não terem seus direitos acolhidos. O Direito tem o papel de ser o eixo de onde ramificam suas interpretações críti- Ubirajara Fontenele, Luana Pavan, Heráclito Vieira, Cândido Albuquerque e Juvêncio Vasconcelos

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Page 1: Jornal A Balança SD 17/05/11

sor marxista, nas palavras

do advogado da RENAP

(Rede Nacional de Advoga-

dos e Advogados Popula-

res), Rodrigo de Medeiros:

“o professor Rocha nos ins-

tigava a ser retos e determi-

nados nestes desafios que

nos colocam em xeque,

posturas que nos tornam

importantes na carreira

acadêmica, mas em nada

contribuem para mudanças

sociais”.

Iara Alves

Justa e bela homenagem

póstuma a José de Albu-

querque Rocha inaugura a

VI Semana do Direito na

noite de 16 de maio de

2011 na Faculdade de Di-

reito da UFC. Os relatos de

ex-alunos, professores e

familiares sensibilizaram a

plateia para o altíssimo

valor humano cultivado

pelo professor Rochinha ao

longo de sua vida, seja em

sua atuação em família, no

magistério, na magistratura

ou, ainda, na sociedade.

Homem de grandiosidade

ética, o Professor Rochinha

assumiu atitudes corajosas

na vida acadêmica e no

judiciário, angariando, co-

mo consequência, imensa

credibilidade ao adotar

prática fiel a seu discurso.

Hoje, sendo homenagea-

do por grandes nomes do

meio acadêmico, “os nani-

cos na corcunda de gigan-

tes” (citação de Marcelo

Guerra ressaltada na fala

do Professor Juvêncio Vas-

concelos), reiterou-se o

perfil “de quem nunca des-

cuidou da sua prática políti-

ca de contribuir com a soci-

edade como cidadão”, diz o

sobrinho do “Professor Ro-

chinha”, Heráclito Vieira.

Enfatizou-se, por fim, gran-

de ensinamento do Profes-

H O M E N A G E M A R O C H I N H A

A I N T E R P R E T A Ç Ã O D O D I R E I T O E A D E M O C R A C I A

1 7 D E M A I O D E 2 0 1 1

V O L U M E I I A Balança

cas, sustentadas pelos conceitos jurídicos, seu tronco. Campilongo res-salta alguns aspectos da obra do Prof. José de Al-buquerque Rocha, que se refere ao tema abordado na palestra, Democracia e Súmulas Vinculantes, Pro-cesso e Democracia, In-terpretação e Democracia. Newton relata sua convi-vência com o Prof. José de Albuquerque Rocha, ressaltando o caráter inte-lectual, comprometido com a expansão democrá-tica, que o homenageado

tinha. O conferencista faz uma análise sobre as es-truturas do poder judiciá-rio, em que as cúpulas se distanciam cada vez mais da base, que é a socieda-de. A ciência Jurídica ne-cessita admitir sua relação com a política, pois se os atores do Direito não fo-rem capazes de serem também atores políticos não se alcançará uma de-mocracia real.

Kauhana Helen

A noite de abertura da VI Semana do Direito contou com a presença dos con-ferencistas Celso Campi-longo e Newton Albuquer-que, que palestraram so-bre "A Interpretação do Direito e a Democracia. Campilongo aponta consi-derações sobre as duas escolas de Interpretação do Direito contemporâ-neas, a Jurisprudência dos Conceitos e a Juris-prudência dos Interesses, compreendendo que a ciência jurídica não é um sistema fechado, mas

aberto às reflexões inter-pretativas. O palestrante acentua o papel dos Direi-tos Fundamentais na construção de uma demo-cracia que não esteja vol-tada apenas para as "maiorias". O poder judici-ário e a interpretação do Direito devem ser postos em função da proteção a o s g r u p o s d i t o s "minoritários", assim de-nominados por não terem seus direitos acolhidos. O Direito tem o papel de ser o eixo de onde ramificam suas interpretações críti-

Ubirajara Fontenele, Luana Pavan, Heráclito Vieira, Cândido Albuquerque e Juvêncio Vasconcelos

Page 2: Jornal A Balança SD 17/05/11

Encerradas as

duas primeiras mesas

constantes na abertura

da VI Semana do Direito,

o público deixou as de-

pendências do Auditório

e se dirigiu ao coquetel já

preparado no pátio inferi-

or. Aos agitos de “I Want

to Hold Your Hand”, inter-

pretada por nosso amigo

de faculdade Fernando

Elias e sua banda Vinta-

ged, o átrio de nossa

Centenária Faculdade foi

rapidamente tomado por

centenas de acadêmicos

de Direito de diversas

instituições alencarinas,

que puderam confraterni-

zar-se na certeza que

indeléveis serão muitos

momentos dessa sexta

edição do evento. E foi só

o começo...

Raphael Franco Castelo

Branco Carvalho

C O Q U E T E L

E D I T O R I A L

C A S O S E A C A S O S

água na Faculdade de

Direito bem na hora do

coquetel...

Parabenizo os organiza-

dores que, de tanto tra-

balhar para o evento,

esqueceram de se arru-

mar. Por outro lado, hou-

ve gente chegando 10

minutos antes do evento,

todo “empaletozado” à

guisa de palestrante...

Cabe contar que os

participantes foram os

mais vorazes possíveis

durante o coquetel.

Caso engraçado foi o do

corsa que fechou todos

os outros carros no esta-

cionamento interno da

Faculdade de Direito.

Mais uma coisa certa: foi

por causa desse corsa

que os funcionários, ina-

creditavelmente, deixa-

ram suas funções depois

das 9 horas...

Houve uma menina que

perdeu a paciência por

causo dos pregos postos

na parede do corredor

que vai dar na cantina,

chegando a gritar com os

organizadores. Muito

amor para com a Facul-

dade de Direito.

Houve um organizador

que, ao chamar outro dos

organizadores de irres-

ponsável por causa do

atraso, recebeu a seguin-

te resposta: “E você que

nem tomou banho?!”

Triste que tenha faltado

“Indeléveis

serão muitos

momentos

dessa sexta

edição do

evento,”

Página 2 A B A L A N Ç A

Ontem à noite,ocorreu na Faculdade de Direito da UFC,a VI Semana do Direito.Tal evento, contou com a par-

ticipação de personalidades ilustres, como o Doutor Celso Campilongo e o Professor da Casa Newton Albu-

querque. Após as palestras houve um delicioso coquetel, concomitantemente à apresentação da banda Vinta-ged, da qual faz parte o aluno Fernando Elias. Como muitos participantes da Semana falaram, aconteceram

muitas novidades nesse tradicional evento. Embora tudo tivesse ocorrido bem, muitos alunos ficaram indigna-

dos com o atraso dos palestrantes e outros descasos, principalmente devido à falta de organização da comis-

são do cerimonial.

No mais,a principal inovação foi a feita pelos membros da comissão de intervenção cultural,que promoveram uma interessante expo-

sição de imagens e de uma “árvore” artificial,a “Árvore de Letras e Linhas”,localizada na cantina.Essa foi a primeira vez que essa

comissão atuou e,como muitas pessoas falaram e elogiaram,não deixou a desejar.

A banda Vintaged

Page 3: Jornal A Balança SD 17/05/11

A Federação Nacional

de Estudantes de Direito

(FENED) é a segunda

maior entidade estudantil

do Brasil e completa 15

anos em 2011. A FENED

tem-se consolidado na

construção do ENED

(Encontro Nacional de

Estudantes de Direito)

através de suas instân-

cias executiva e delibera-

tiva: a Coordenação Na-

cional de Estudantes de

Direito (CONED) e os Con-

selhos Nacionais das

Entidades Representati-

vas de Estudantes de

Direito (CONERED), res-

pectivamente.

A Federação passa por

um momento de rearticu-

lação da militância e for-

talecimento da luta por

qualidade da educação

jurídica e do combate a

todas as formas de o-

pressão. Por isso, ocor-

reu a I Semana de Lutas

da FENED que tem como

eixos a educação jurídica

focada no estágio e o

combate às opressões.

No que toca ao primeiro

eixo, a FENED, já há al-

guns anos, desenvolve

estudos e debates em

torno da superficialidade

da educação jurídica no

Brasil. Segundo dados do

CNJ, o Brasil possui o

exorbitante número de

1200 cursos de gradua-

ção em Direito! Com bai-

xos índices de pesquisa e

extensão – num contexto

ideal de IES (Instituições

de Ensino Superior) –,

com pouquíssima ou ine-

xistente assistência estu-

dantil, o estudante, ao

buscar escapar da super-

ficialidade do dia-a-dia

em sala de aula, procura

no estágio uma forma de

complementar seu co-

nhecimento e sua renda.

Não raro, aliás, esse com-

plemento se torna o fator

essencial, tanto do co-

nhecimento quanto do

sustento do estudante.

As condições de exercício

e desenvolvimento do

estagiário – que, embora

exerça uma função de

trabalhador sem as ga-

rantias do vínculo empre-

gatício, não é reconheci-

do como tal – são inacei-

táveis. O estagiário, não

raro, cumpre a função do

operador do Direito que

ele estaria apenas auxili-

ando e, a partir do qual,

teria a liberdade de a-

prendizado e evolução.

Trabalha mais tempo,

com menos salário, me-

nos férias, menos legiti-

midade simbólica e trans-

formando o que seria o

complemento à sala de

aula em fator que deses-

tabiliza sua vida acadêmi-

ca e social.

Em julho de 2011, dar-

se-á, em São Paulo, o 32º

Encontro Nacional de

Estudantes de Direito

(ENED), com a problema-

tizante temática “O Esta-

do de Direito no banco

dos réus”. Tal encontro

apresenta-se como um

fecundo espaço de for-

mação política e acadê-

mica, trazendo uma pro-

gramação diversificada e

atrativa, com painéis se-

guidos de grupos de tra-

balhos, que decerto fo-

mentarão o debate e a

formulação de propostas

para a Plenária Final do

encontro, instância máxi-

ma de deliberação da

FENED. Além disso, ocor-

rem inúmeras outras ati-

vidades, tais como a a-

presentação de trabalhos

científicos, o Encontro

Nacional de Assessoria

Jurídica Universitária

(ENAJU), que é facilitado

pela RENAJU (Rede Na-

cional de Assessoria Jurí-

dica Universitária), visan-

do difundir e fortalecer a

práxis de Assessoria Jurí-

dica Popular no Brasil e,

finalmente, a novidade

do encontro em 2010, o

ENEDEX (Encontro Nacio-

nal de Estudantes de

Direito Extensionistas),

que surgiu por iniciativa

do Fórum de extensão da

UnB objetivando debater

a prática extensionista do

Direito e discutir reinvin-

dicações que congre-

guem todas as concep-

ções de extensão.

O CACB, em 2010, vol-

tou a construir a Federa-

ção e convida todos os

estudantes a construir a

FENED e participar desse

próximo ENED!

Para mais informações,

visite o novo site da FE-

NED: www.fened.org.br.

Juliane Melo

F E N E D

“O estudante, ao

buscar escapar da

superficialidade do

dia-a-dia em sala de

aula, procura no

estágio uma forma

de complementar

seu conhecimento e

sua renda”

Página 3 V O L U M E I I

Celso Campilongo (à direita) e Newton Albuquerque (ao centro)

Celso Cam-

pilongo

aprecia a

decoração

feita pelo

CACB

Page 4: Jornal A Balança SD 17/05/11

Arte gráfica

Isaac Rodrigues Cunha

Diogo Portela

Edição final

Diogo Portela

Fotografia

M I C R O S O F T

to. Para o escravo, não mais que dois galhos tos-cos e mal amarrados; para o coronel, até um altarzinho caiado. E três ou quatro marteladas na terra quase avara basta-vam para fincar a lem-brança do finado.

Tanto de tanto de mil novecentos e tanto foi o dia mais intenso da es-trada. No quebrar da bar-ra, qual agguato à mafio-sa, uma fileira de garru-cha derrubou um homem de sua monareta encar-nada. Mais ao norte, uma braça de sol serviu de primeira mortalha a um coração fulminado. Na cabeça do alto, depois que o pino do sol se reti-rou, o sangue do bode-gueiro explodiu em der-r a m e .

Cruz na estrada Aquela estrada carroçal

era palco de muitas mor-tes, num sem-número de modalidades: de jumento desgovernado a facada no rim. Via muito antiga, acumulava as cruzes des-de os salgados tempos das charqueações. É cer-to que estradinhas são lugares morrediços, per-feitos campos de pouso para as rapinas, mas essa tinha verdadeira voca-ção. Muitas vezes o mori-bundo tomava um último fôlego e o papudinho adiava a topada, só para nela se acabarem. Todo filme de morte tem sua cruz como cla-quete. Cruz é cruz, mas o apuro na feitura denota-va a qualidade do defun-

Mas a viração da tarde trou-xe consigo um assopro de vida, por mais tênue que fosse. Duas mulas vinham adestradamente conduzindo uma carroça, so-bre a qual estavam um marido transtornado e uma esposa prestes a parir. A julgar pelos gritos e pela respiração canina, o nascimento era iminente. O primeiro parto na estrada em que gente só morria. O homem teve o tino de frear os animais quando percebeu os solavan-cos quase expelirem a mulher. A cabeça da mãe era um re-demoinho em cotovelo d'água: asas, caixõezinhos azuis, umbi-gos, choros, bolas... O pai era sem rumo no trato com a par-turiente, só ensaiava os gestos de socorro e clamava aos céus alguma intervenção. Após, en-fim, longos minutos de agonia e não se sabe por que arte da anatomia, o menino saiu do ventre. Mas no fim paradoxal

da sua quase vida, nasceu mor-to.

Afonso Roberto Mendes Belar-

mino

C R Ô N I C A

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visemanadodireitoufc.blogspot.com

Página 4 A B A L A N Ç A

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Arte gráfica

Isaac Rodrigues Cunha

Diogo Portela

Edição final

Diogo Portela

Fotografia

Maria Maria Catarina Barros

Raphael Franco Castelo Branco