jornal a balança sd 18/05/11

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ção 3044. Nesses casos, o STF utilizou e aplicou a pau- ta da proporcionalidade e da razoabilidade, mesmo os atos sendo considerados inconstitucionais. Encerrando seu discurso, o ministro aposentado co- mentou que caminhamos pelos limites da inseguran- ça. Estão decidindo não segundo princípios, mas de acordo com valores. É a tirania dos valores. Eros Grau discordou da decisão do STF sobre o reconheci- mento da união estável de pessoas do mesmo sexo. Para ele, o tribunal nesse caso teve atuação de poder constituinte derivado. Aca- bou o pronunciamento di- zendo: “Tenho medo dos juízes!” Após o pronunciamento do Ministro Eros Grau, o professor Falcão falou so- bre o princípio da inesgota- bilidade do sentido e sobre a interpretação da lei. Posi- cionou-se contra a decisão do STF sobre o reconheci- mento da união estável de pessoas do mesmo sexo. Respondendo a uma per- gunta, o professor Eros Grau falou que a súmula vinculante tornou-se um texto normativo e passou a ser interpretada conforme cada caso. Saullo Oliveira A segunda palestra da segunda noite da VI Sema- na do Direito, um dos mo- mentos mais aguardados pelos participantes, foi so- bre “A interpretação do Direito e o STF”. O professor Glauco Filho cumprimentou os pales- trantes e os ouvintes. Em seguida, deu a palavra ao professor Raimundo Fal- cão, que fez uma breve explanação apresentando o Ministro aposentado do STF, Prof. Dr. Eros Grau. O Ministro Eros Grau inici- ou seu pronunciamento afirmando que as sessões do STF não podem ser um espetáculo midiático: a decisão jurídica é um ofício e não um espetáculo. No que diz respeito à in- terpretação, ele asseverou que interpretar é transfor- mar uma coisa em outra. Na interpretação do direito, os juízes transformam tex- tos de leis em normas jurí- dicas. A norma é resultado da interpretação e é produ- zida pelo intérprete. Confor- me Eros Grau, a interpreta- ção é uma prudência, é um saber prático, não é uma ciência. Outro pronunciamento marcante do ministro foi a afirmação de que tem base marxista, mas defende o direito positivo, a legalida- de é o último instrumento de defesa dos oprimidos. Uma das frases mais em- blemáticas de Eros Grau foi: “Não há relação entre direito e justiça. Os juízes não fazem justiça, mas tomam decisões jurídicas. A ética do direito positivo é a da legalidade e da Consti- tuição. Justiça está para filósofos e padres.”. Ele ratificou que o juiz deve decidir não pelo senso de justiça, mas de acordo com o direito. A interpretação não só observa o texto, mas também a realidade social. Citou Lassale, segundo o qual a Constituição escrita, para ser boa e duradoura, deveria refletir, necessaria- mente, os fatores reais de poder existentes na socie- dade. Expôs também a fra- se do estadista francês Charles de Gaulle, que se- gundo o qual a Constituição é um envelope. O que está no envelope surge do dina- mismo da vida política soci- al. O direito é plástico. Alertou sobre os casos da ADIN 2240 e da Reclama- INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E STF 18 DE MAIO DE 2011 VOLUME III A Balança (Raimundo Falcão, Glauco Barreira, Eros Grau e Wagner Barreira)

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Page 1: Jornal A Balança SD 18/05/11

ção 3044. Nesses casos, o

STF utilizou e aplicou a pau-

ta da proporcionalidade e

da razoabilidade, mesmo os

atos sendo considerados

inconstitucionais.

Encerrando seu discurso,

o ministro aposentado co-

mentou que caminhamos

pelos limites da inseguran-

ça. Estão decidindo não

segundo princípios, mas de

acordo com valores. É a

tirania dos valores. Eros

Grau discordou da decisão

do STF sobre o reconheci-

mento da união estável de

pessoas do mesmo sexo.

Para ele, o tribunal nesse

caso teve atuação de poder

constituinte derivado. Aca-

bou o pronunciamento di-

zendo: “Tenho medo dos

juízes!”

Após o pronunciamento

do Ministro Eros Grau, o

professor Falcão falou so-

bre o princípio da inesgota-

bilidade do sentido e sobre

a interpretação da lei. Posi-

cionou-se contra a decisão

do STF sobre o reconheci-

mento da união estável de

pessoas do mesmo sexo.

Respondendo a uma per-

gunta, o professor Eros

Grau falou que a súmula

vinculante tornou-se um

texto normativo e passou a

ser interpretada conforme

cada caso.

Saullo Oliveira

A segunda palestra da

segunda noite da VI Sema-

na do Direito, um dos mo-

mentos mais aguardados

pelos participantes, foi so-

bre “A interpretação do

Direito e o STF”.

O professor Glauco Filho

cumprimentou os pales-

trantes e os ouvintes. Em

seguida, deu a palavra ao

professor Raimundo Fal-

cão, que fez uma breve

explanação apresentando o

Ministro aposentado do

STF, Prof. Dr. Eros Grau.

O Ministro Eros Grau inici-

ou seu pronunciamento

afirmando que as sessões

do STF não podem ser um

espetáculo midiático: a

decisão jurídica é um ofício

e não um espetáculo.

No que diz respeito à in-

terpretação, ele asseverou

que interpretar é transfor-

mar uma coisa em outra.

Na interpretação do direito,

os juízes transformam tex-

tos de leis em normas jurí-

dicas. A norma é resultado

da interpretação e é produ-

zida pelo intérprete. Confor-

me Eros Grau, a interpreta-

ção é uma prudência, é um

saber prático, não é uma

ciência.

Outro pronunciamento

marcante do ministro foi a

afirmação de que tem base

marxista, mas defende o

direito positivo, a legalida-

de é o último instrumento

de defesa dos oprimidos.

Uma das frases mais em-

blemáticas de Eros Grau

foi: “Não há relação entre

direito e justiça. Os juízes

não fazem justiça, mas

tomam decisões jurídicas.

A ética do direito positivo é

a da legalidade e da Consti-

tuição. Justiça está para

filósofos e padres.”. Ele

ratificou que o juiz deve

decidir não pelo senso de

justiça, mas de acordo com

o direito. A interpretação

não só observa o texto,

mas também a realidade

social.

Citou Lassale, segundo o

qual a Constituição escrita,

para ser boa e duradoura,

deveria refletir, necessaria-

mente, os fatores reais de

poder existentes na socie-

dade. Expôs também a fra-

se do estadista francês

Charles de Gaulle, que se-

gundo o qual a Constituição

é um envelope. O que está

no envelope surge do dina-

mismo da vida política soci-

al. O direito é plástico.

Alertou sobre os casos da

ADIN 2240 e da Reclama-

I N T E R P R E T A Ç Ã O D O D I R E I T O E S T F

1 8 D E M A I O D E 2 0 1 1

V O L U M E I I I A Balança

(Raimundo Falcão, Glauco Barreira, Eros Grau e Wagner Barreira)

Page 2: Jornal A Balança SD 18/05/11

“Ninguém

aguenta mais

um processo

de 10 ou 15

anos”

O insigne palestrante,

Gustavo Brígido Bezerra,

primeiramente, disserta

acerca da divisão do con-

trole da Administração

Pública. Esse controle se

divide em Administrativo,

ou interno, também co-

nhecido como autotutela,

no qual a própria admi-

nistração é responsável

pela fiscalização de seus

atos. Além desse, têm-se

o Legislativo, como o que

ocorre quando da instau-

ração de uma CPI

(Comissão Parlamentar

de Inquérito), e o Judicial,

foco da discussão vigen-

te.

Fato importante nessa con-

textualização é o surgimento

do Estado Social e, em decor-

rência deste, a origem das

Políticas Públicas, necessá-

rias para a efetivação dos

direitos fundamentais, como

vida, saúde, educação, que o

Estado tinha que garantir a

todos, indistintamente. Assim

sendo, a implementação des-

sas políticas pressupõe o con-

trole de sua execução.

Outro ponto abordado na re-

ferida palestra foi o de que a

cobrança do Judiciário desses

direitos fundamentais e, con-

sequentemente, da eficácia

das Políticas Públicas intensi-

ficou-se devido à omissão do

Estado.

Ele enfatizou, ainda, que a

responsabilidade do Estado

por ação e omissão, devido à

decisão recente da ADPF 45

pelo STF, passou a ser objeti-

va.

Por último, ele tece comentá-

rios reforçando a necessidade

de parcerias, através de dele-

gações, entre a iniciativa pú-

blica e a privada, pois as ver-

bas públicas se fazem insufi-

cientes para a concretização

dos direitos fundamentais a

toda a população.

Deborah Castro

C O N T R O L E J U D I C I A L D A S P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S

O N O V O C P C E S U A P A R T E G E R A L

Página 2 A B A L A N Ç A

Iniciou-se a primeira palestra

da noite com lamentável ausên-

cia do Prof. Marcelo Guerra, que

estava doente. Substituindo-o,

tivemos a ilustre presença do

Prof. Sidney Guerra, ao lado de

Juvêncio Vasconcelos e Francis-

co de Assis Filgueira Mendes,

ambos Professores da Casa.

A palestra gravitou ao redor

das alterações que serão incluí-

das pelo futuro CPC.

O Prof. Juvêncio abordou a

nova divisão dos livros do Códi-

go de Processo Civil, bipartindo-

se o Livro I (do Processo de Co-

nhecimento) e inexistindo o livro

III (do Processo Cautelar) Tam-

bém comentou sobre a discipli-

na do incidente de desconside-

ração da personalidade jurídica

e do agigantamento dos pode-

res do magistrado.

O Prof. Mendes nos contou um

pouco sobre a índole do home-

nageado e se ateve às tutelas

de urgência, criticando a letar-

gia da comunidade jurídica em

se preparar para as alterações.

O Prof. Sidney, concordando

com os outros palestrantes,

defendeu a necessidade de um

novel CPC, dizendo: “Ninguém

mais aguenta um processo de

10 ou 15 anos”.

Diogo Portela

T R I B U T A Ç Ã O I N D I R E T A E S U A S C O N T R A D I Ç Õ E S

dimento predominante no

STF não admite a restitui-

ção de impostos indiretos,

que o contribuinte de direito

pagou, ainda que inconsti-

tucionais ilegais e indevidos

por outra razão, sob o argu-

mento de que a repetição

de indéb ito in ca-

su proporcionaria enriqueci-

mento ilícito ao contribuinte

de direito que já o repassou

ao contribuinte de fato. Ele

finda sua explanação dei-

xando a seguinte indaga-

ção: “Porque isso acontece

no Brasil, e só no Brasil?”

Em seguida, o palestrante

Carlos César Sousa Cintra

alega que o problema cita-

do por Hugo de Brito se dá

devido à predominância do

interesse público sobre o

privado e lança a dúvida se

o repasse é válido como

justificativa ou seria neces-

sária uma norma de direito

para regular a situação.

Reitera, por fim, que o pa-

gamento dos impostos mes-

mo diante da inadimplência

é esdrúxulo.

Deborah Castro

O ilustre palestrante Hugo

de Brito principia explican-

do o que vem a ser um tri-

buto indireto, isto é, aquele

que não vem explicitado na

Nota Fiscal, cujo valor, em-

butido no preço final do

produto, é repassado ao

consumidor. Reforça a

idéia de que os contribuin-

tes de direito e de fato são

pessoas diferentes, sendo

este o que suporta finan-

ceiramente o ônus tributá-

rio e aquele o representan-

te legal da pessoa obrigada

ao pagamento da presta-

ção pelo sujeito ativo. O

renomado jurista cita, ain-

da, que todo tributo tenda

a ser repassado a terceiro,

reforçando a importância

do assunto em destaque

para a seara jurídica. Dian-

te disso, ele afirmou ser o

maior problema existente

hodiernamente no que con-

cerne ao imposto indireto a

repetição do indébito tribu-

tário, ou seja, a devolução,

pelo Estado, das importân-

cias indevidamente recolhi-

das a título de tributo, ou

em função deste. O enten-

(Sidney Guerra, Juvêncio Vasconcelos e Francisco Mendes)

Page 3: Jornal A Balança SD 18/05/11

A organização da VI

Semana do Direito, como

todos sabem, fica a cargo

dos alunos da FD, distri-

buídos em comissões.

Este ano está sendo dife-

rente, pois a VI SD foi

agraciada com a estreia

da comissão de interven-

ção cultural, que é res-

ponsável pelo árduo tra-

balho de dar a importân-

cia merecida à cultura

nesse evento de tama-

nha magnitude.

Com a importância de

mostrar o verdadeiro ta-

lento, às vezes escondi-

do, dos estudantes da

Faculdade, foi promovido

o I Concurso Cultural, do

qual os textos dos partici-

pantes estão sendo pos-

tos diariamente neste

jornal. Os trabalhos arran-

caram comentários elogi-

osos de pessoas conheci-

das no mundo literário,

tais como o escritor e

aluno desta Casa, Edir

Paixão.

Estão expostas fotogra-

fias relacionadas às pa-

lestras ocorridas durante

a Semana.

Finalmente, a parte

musical não deixou a

desejar. Durante os dois

primeiros dias da SD,

ocorreram amostras mu-

sicais. Os verdadeiros

protagonistas foram a

banda Vintaged (segunda

-feira) e o cantor-poeta-

trovador Rosa Mato

(terça-feira), que homena-

geou a musicalidade e o

ritmo cearense, sua cul-

tura e seus costumes.

Renata Freitajljs

C U L T U R A

“É por entender

que a Semana do

Direito tem

caráter

complementar na

formação do

acadêmico que

procuramos

contemplar as

mais diversas

temáticas em

evidência em

nossa sociedade”

Página 3 V O L U M E I I I

(Rosa mato agita o começo da noite do dia 17)

Na manhã de ontem, a

Rádio FM Universitária

107,9 reservou o progra-

ma Rádio Debate à VI

Semana do Direito da

UFC, com ênfase nas

oficinas a serem promovi-

das pelo grupo G-TEIA

sobre Direitos Humanos.

Representando o Centro

Acadêmico Clóvis Bevilá-

qua e a Comissão Organi-

zadora do evento, esteve

presente o acadêmico

Raphael Franco Castelo

Branco, Diretor de Comu-

nicação da entidade. Re-

presentando o Grupo G-

TEIA, o Profº. Flávio Gon-

çalves e o estudante Ar-

tur Carvalho.

Foram abordadas algu-

mas das temáticas presti-

giadas pela programação

da Semana, quais sejam

as soluções extrajudiciais

de conflitos, o exame de

ordem, a importância de

se discutir direitos das

minorias e questões rele-

vantes relacionadas à

ecologia.

Nas palavras de Raphael

Franco: “ é por entender

que a Semana do Direito

tem caráter complemen-

tar na formação do aca-

dêmico que procuramos

contemplar as mais diver-

sas temáticas em evidên-

cia em nossa sociedade.”

C U L T U R A

Divulgação

Divulgação

O Cinedebate ocorrerá na sexta-feira (20/05), a par-

tir das 14h, com a exposição de dois filmes simulta-

neamente, com os filmes: “Uma Onda no Ar” e a “A

Dama de Ferro” (Minicurso de Perícia Criminal)

Page 4: Jornal A Balança SD 18/05/11

M I C R O S O F T

A despeito de minhas súplicas mais inconscien-tes (ou nem tanto), o dia avança rápido. Almoço em família, ligações, cumpri-mentos, culminam com uma festa surpresa à noite; festas essas que sempre abominei, mas que no fun-do estava na expectativa de que fosse realizada.

Ao olhar a sala povoada de tantas pessoas queri-das, felizes de estarem ali, compartilhando comigo esse momento, comendo, bebendo, enfim, divertindo-se, regozijo-me. De repen-te, ouço um “bip”. Volto à realidade. Faço o movi-mento natural em busca do relógio no meu pulso e constato que é meia-noite.

Exatamente vinte e qua-tro horas depois, o dia já não é mais meu. Volto a ser uma pessoa comum (na verdade, nunca deixei de sê-lo), com meus pro-blemas, inquietações, e passo a sentir o peso da idade comprimindo meus ossos, assim como a espe-rança de que no próximo ano voltarei a ter um dia só meu comprime meu peito.

Victor Hugo Siqueira

Feliz Aniversário

Meia-noite. Ligações, mensagens eletrônicas, recados virtuais, clamam por atenção como se fos-sem as únicas, ou, pelo menos, as primeiras mani-festações daquele dia.

Sou uma pessoa avessa à celebrações, especial-mente aniversários. Na verdade, não me sinto confortável em celebrar ocasiões em que eu seja de alguma forma “um dos” ou “o” homenageado. Não aprecio receber tanta aten-ção, pelo menos é o que digo para mim mesmo.

Dito isso, não é com total espanto que me vejo ansi-oso e lisonjeado por tais demonstrações de carinho. Algumas um tanto efusivas demais; outras, longas demais; às vezes, falsas demais. Porém, apesar de tentar não ceder à esses artifícios com os quais o nosso ego insiste em nos atentar, capitulo. Sinto-me querido, respeitado, até mesmo adorado, e, como uma criança, rogo para que esse dia não termine nunca.

C R Ô N I C A

Estamos na web!

visemanadodireitoufc.blogspot.com

Página 4 A B A L A N Ç A

Margarida LivrosMargarida LivrosMargarida Livros

Arte gráfica Diogo Portela Isaac Rodrigues

Edição final Diogo Portela

Fotografia Rebecca Lustosa Letícia Brito

Realização Patrocínio

P O E S I A

Questão ambiental

O VERDE DA MATA O VERDE DA MATA

O VERDE. DA MATA

O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA

O VERDE DÁ MATA

O VERDE. DA MATA O VERDE DÁ MATA

O VERDE. DA MATA

O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA

O VÊRDE DA MATA

O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA

?

O VERDE DA MATA

O VERDE DA MATA

O VERDE DA MA

Marwil Gomes Praciano