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CONSTRUINDO HISTÓRIAS JORNADA DO PATRIMÔNIO 19 E 20 AGOSTO 2017 A Jornada do Patrimônio 2017 destaca as mudanças de uso e significado do patrimônio e o que essas mudanças projetam para o futuro. CONCEITOS E EIXOS

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CONSTRUINDO HISTÓRIAS

JORNADA DO PATRIMÔNIO

19 e 20 AGOSTO 2017

A Jornada do Patrimônio 2017 destaca as mudanças de uso e significado do patrimônio e o que essas

mudanças projetam para o futuro.

conceitos e eixos

foto: Fernando Pereira/SECOM

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A Jornada do Patrimônio 2017 se propõe a refletir sobre as mudanças de uso e significado do patrimônio e o que essas mudanças projetam para o futuro.

O patrimônio nos oferece a possibilidade de ler na cidade o processo que a formou, desde a aldeia jesuítica que se tornou entreposto de rotas comerciais, foi alçada a metrópole industrial com a riqueza do café e soube se reinventar como centro mundial de cultura e serviços. Se a cidade é o texto construído que condensa diversos tempos históricos, sua leitura atenta é a melhor aposta para caminharmos com segurança para o futuro.

Mas a forma como os bens culturais são interpretados está sujeita a alterações ao longo do tempo, o que levanta algumas questões. Quais valores considerar na preservação de determinado bem? Como pensar essa preservação para o futuro, que trará novas leituras para o mesmo patrimônio? Quais são as ferramentas disponíveis para sua gestão e para sua valorização?

O patrimônio histórico orienta o futuro de outra forma muito importante: ao produzir identidades coletivas. Em países do mundo todo, o patrimônio integra o sistema de direitos fundamentais e é quase

CONSTRUINDO HISTÓRIAS

JORNADA DO PATRIMÔNIO

cONceITOS e eIxOS

19 e 20 AGOSTO 2017

foto: Patricia Freire de Almeida

conceitos e eixos3ª JORNADA DO PATRIMÔNIO SÃO PAULO 2017

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sempre compreendido como base da identidade de um povo ou nação. Na Constituição brasileira, os bens culturais são vistos como “portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (Artigo 216).

Mas o que identidade tem a ver com o futuro? A transformação de narrativas individuais em discursos coletivos habilita a participação social ativa na construção do futuro da cidade. É o velho ditado: a união faz a força. E o patrimônio tem tudo a ver com isso. Habitar a cidade, esse texto histórico vivo, nos conduz à construção compartilhada do futuro a partir dos bens que herdamos.

O patrimônio tem papel fundamental no desenvolvimento humano e na qualidade de vida e é parte inseparável do desenvolvimento de bases ecológicas. Usar as edificações existentes é uma ótima maneira de evitar o desperdício de recursos naturais gerado pelas demolições.

Isso não quer dizer que a cidade precisa ser “congelada”, mas que as preexistências devem orientar sua contínua produção. Intervenções contemporâneas em áreas e edifícios históricos são bem vindas quando feitas com esse espírito. Elas atualizam os bens culturais e os inserem no futuro da cidade, contribuindo para sua conservação.

Em 2017, a programação da Jornada será organizada em eixos que tratam do modo de viver na cidade: ESTUDAR, TRABALHAR, MORAR, COMPRAR E VENDER, CIRCULAR, LEMBRAR e SE DIVERTIR. Em cada eixo, por meio de roteiros, visitas a imóveis, palestras e apresentações artísticas, serão investigadas mudanças e permanências, com o objetivo de evidenciar o papel do patrimônio e da memória na produção do futuro da cidade.

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foto: Acervo FormArtefoto: Acervo FAUUSP

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ESTUDAR

DAS ESCOLAS DA REPÚBLICA AO CONVÊNIO ESCOLAR

As escolas e equipamentos (bibliotecas, planetário, teatros) do Convênio Escolar, inspiradas no conceito de escola-parque formulado por Anísio Teixeira, constituem um dos primeiros grandes projetos institucionais em arquitetura moderna desenvolvidos e construídos no Brasil, ainda nas décadas de 1940 e 1950, antes do Parque Ibirapuera e Brasília.

Antes delas, as Escolas da República, os antigos grupos escolares com seus pátios internos, e depois as escolas construídas na linguagem art déco já pensavam o espaço de convivência dos alunos. Esse aspecto permaneceu e foi explorado ao máximo no Convênio, mas então expresso na linguagem arquitetônica moderna de seus edifícios e na busca pela industrialização e materiais mais baratos. O objetivo era construir o máximo de escolas com o menor custo, mantendo a qualidade ambiental e a disposição do programa.

A Jornada vai explorar as permanências e mudanças entre os primeiros grupos escolares e os equipamentos do Convênio e qual é a continuidade dos projetos materializados nesses patrimônios históricos com as escolas construídas hoje, como os CEUs, em São Paulo, e os CIEPs, no Rio de Janeiro.

Também entrarão na discussão as instituições de ensino superior cujos edifícios são patrimônios da cidade, como a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, a Escola Politécnica e seu primeiro edifício na região da Luz, e a própria Cidade Universitária.

foto: Markus Lanz/CCfoto: Divulgação

foto: Acervo São Paulo Antiga

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TRABALHAR

PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

Com mudanças na economia e necessidades logísticas, as antigas zonas industriais que impulsionaram o desenvolvimento de São Paulo foram em parte esvaziadas e aguardam novas ocupações. O patrimônio industrial está entre os mais relevantes para contar a história da transformação da cidade de São Paulo na metrópole em que vivemos hoje, mas isso não significa que a única possibilidade de preservação para as antigas fábricas seja a transformação em centros culturais.

A partir de bons projetos de intervenção, esses edifícios sem uso podem se transformar em universidades, espaços de “coworking”, áreas para eventos, supermercados etc. O uso, que é um dos principais meios de preservar um imóvel histórico, também ajuda a lançar o patrimônio no futuro da cidade.

foto: Eduardo Verderame/Território Poético Cidade Tiradentes

foto: Raul Garcez

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MORAR

DAS CASAS BANDEIRISTAS AOS CONJUNTOS MODERNOS

Quando São Paulo começou a crescer, os imigrantes que chegavam para trabalhar na sua indústria nascente se alojaram em cortiços e, mais tarde, em vilas operárias construídas ao lado das fábricas pelas indústrias. Nos anos 1950, com as políticas habitacionais de Getúlio Vargas, vieram os conjuntos modernos –boa parte deles com alta qualidade arquitetônica e de inserção urbana– dos Institutos de Pensões, que atendiam os trabalhadores da classe média empregados no comércio, na indústria e no setor bancário. Com a explosão demográfica subsequente, nos anos 1960-70, quando São Paulo recebeu milhares de migrantes de outros Estados que passaram a trabalhar especialmente em sua indústria e construção civil, foram construídos os conjuntos da Cohab e do BNH, já sem a inserção urbana que os conjuntos IAP promoveram, mas que procuraram suprir parte de um déficit habitacional que persiste hoje.

Há experiências contemporâneas que retomaram tal inserção, como os conjuntos produzidos a partir dos concursos do programa Renova São Paulo, como o do Jardim Edith. Para que direção aponta a produção habitacional da cidade de São Paulo e o que ela pode extrair de lições positivas e negativas do patrimônio habitacional tombado, constituído especialmente por suas vilas e conjuntos dos IAPs? Como é morar hoje nesses lugares?

foto: Clube do Instalador

foto: Tony Gálvez/CC

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COMPRAR E VENDER

REGIÕES TRADICIONAIS DE COMÉRCIO

Algumas regiões de São Paulo seguem como pólos tradicionais de atividades comerciais específicas. Há uma zona de madeireiras no Glicério, de confecções e tecidos no Brás, de lustres na rua da Consolação, uma zona Cerealista próxima ao Mercadão, comércio de automóveis nos Campos Elíseos, maquinários nas ruas Florêncio de Abreu (a Casa da Bóia, por exemplo, é tombada) e na Piratininga (que servia às fábricas do Brás), eletrônicos na Santa Ifigênia (começou com a indústria cinematográfica da Boca do Lixo). O que esses locais contam sobre o desenvolvimento da cidade, sobre os imigrantes, como eles persistiram e qual seu futuro?

foto: Guilherme Gaensly/Museu da Cidade de São Paulo

foto: Guilherme Gaensly/Museu da Cidade de São Paulo

foto: Alessandro Guimarães/Histórias de Casa

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CIRCULAR

EXPANSÃO URBANA E CIRCULAÇÃO NA CIDADE

São Paulo começou sua expansão quando seu centro histórico superou as barreiras dos rios Anhangabaú e Tamanduateí. O centro de serviços saiu do triângulo histórico para o chamado Centro Novo e, nos anos 1970, migrou para avenida Paulista. E continuou a “caminhar” pela cidade na direção Sudoeste, se instalando nas avenidas Faria Lima, nos 1980, Berrini, nos 1990, e chegando à Marginal Pinheiros nos 2000. O local de moradia da população de maior poder aquisitivo seguiu esses centros.

Nessa dinâmica, que induz demolições, patrimônios surgiram (MASP, Conjunto Nacional) e desapareceram (casarões ecléticos). Ao mesmo tempo, especialmente nos sentidos Leste e Sul, se expandiram os bairros populares, para os quais ainda está aberta a definição de seus patrimônios. Dentro dessa dinâmica, mudou também o modo de circular na cidade e as imagens do Centro Histórico (sofisticado, moderno, degradado, “hipster”). Hoje, jovens de profissões criativas voltam ao centro em busca de urbanidade, de estar perto de tudo, da mobilidade proporcionada pela grande oferta de transportes coletivos e de uma nova cena que mistura bares, restaurantes e galerias de arte.

foto: Valdo Resende

foto: Cláudia Alcovér/Museu da Cidade de São Paulo

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LEMBRAR

O SIGNIFICADO DINÂMICO DOS MONUMENTOS E EDIFÍCIOS

Os monumentos e edifícios que expressam a identidade paulistana e de seus grupos sociais permanecem, mas seus significados mudam e os reinserem no futuro. Exemplo é o Monumento às Bandeiras, erguido em momento de construção de uma narrativa mítica da fundação de São Paulo, mas que hoje acumula a essa imagem original outros valores, principalmente considerando a questão indígena, e se tornou alvo de protestos. Essa busca por uma narrativa de identificação de qual é o patrimônio brasileiro nos anos 1920 também levou a uma perda de valor social da arquitetura eclética que, de signo de modernidade, passou a ser vista como mera cópia dos estilos europeus, denotando subserviência. Nesse momento, as casas bandeiristas surgiram como patrimônio paulista por excelência, até então tidas como meras casas rurais velhas. Outro exemplo do dinamismo de significados é o edifício Sampaio Moreira, antes visto como arranha-céu símbolo da modernidade paulistana, mas que hoje, frente à nova escala dos edifícios em seu entorno, é quase um bibelô.

foto: Guilherme Gaensly

foto: Jose Cordeiro/SPTuris

foto: Carlos Moskovics

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SE DIVERTIR

O QUE DIVERTIU O PAULISTANO ONTEM, O QUE DIVERTE O PAULISTANO HOJE

As áreas e equipamentos de lazer, cultura e esporte paulistanos estão entre seus patrimônios mais importantes. Como seus significados se alteram no correr do tempo?

Os primeiros parques, como o Parque da Luz, eram chamados “passeios públicos”. Referiam-se a um modo de ser europeizado, lugares para ver e ser visto. Por volta dos anos 1950, os parques se tornaram áreas para a prática de esportes e lazer com a ascensão de um modo viver mais ligado à cultura norte-americana. O Parque Ibirapuera é um bom exemplo desse momento, embora apresente outros usos além de esporte, como cultura e eventos.

Os cinemas paulistanos também se modificaram. Migraram da rua para os shoppings, e a arquitetura elaborada de seus edifícios segue a espera de novos usos.

A história do teatro de São Paulo começou com os modestos circos de cavalinho e circos-teatro, e os primeiros teatros de revista da cidade, de influência europeia. Nos anos 1940, a dramaturgia paulistana já estava muito bem representada no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e teatros como o Teatro de Arena, o Ruth Escobar e o Tuca se confundem com a história da resistência à ditadura. Enquanto o edifício do TBC espera há anos um novo uso, outros teatros tombados da cidade seguem como palcos vigorosos. Recentemente, a produção contemporânea ganhou reconhecimento, e 19 grupos de teatros foram registrados como patrimônio imaterial.

Outras formas de diversão tradicionais do paulistano são o futebol (muitos estádios são tombados), suas festas, como as festas juninas e o carnaval de rua, que integram as diversas práticas, fazeres, saberes e arquiteturas que se modificam com o tempo para se projetar no futuro da cidade.