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JOHN WESLEY E A SEGUNDA BÊNÇÃO Timothy L. Smith Primeiro quero explicar dois princípios elementares do método histórico: os amigos que têm razão para discordar de uma pessoa sobre um importante ponto ou dois, comumente fornecem a mais objetiva evidência das verdadeiras opiniões dele ou dela, num determinado tempo; e os fatos considerados em sua sequência cronológica são indispensáveis para estabelecerem a natureza e a causa das mudanças de pontos de vista de alguma pessoa. O segundo desses, eu ilustrei em um texto anterior diante desta sociedade, sobre a doutrina da santidade nos hinos Wesleyanos. Naquele ensaio, eu mostrei que em seu Relato Claro da Perfeição Cristã, Wesley datou, de maneira incorreta, a publicação do segundo volume de Hinos e Poemas Sagrados (cujo prefácio, ele citou proeminentemente lá), como sendo 1741, em vez de 1740. Uma vez que este prefácio forneceu tão clara descrição de uma segunda obra da graça santificadora, devemos concluir que a emergência daquela doutrina tomou lugar, algumas vezes, antes da publicação do hinário na primavera do ano seguinte. A primeira observação que eu também ilustrei, diante desta sociedade, ou seja, o grande significado da correspondência de Whitefield para Wesley, em 1740, trata da experiência da pureza de coração, uma fração da qual está disponível a todos na edição Oxford de Frank Baker, das cartas de Wesley. Sem preocupação quanto a qualquer outra evidência da origem do pensamento de Wesley, esta correspondência deixa claro que alguma coisa dramática aconteceu no pensamento dele, logo depois da segunda partida de Whitefield para a América em Setembro de 1739. Whitefield chamou o novo ensinamento de Wesley, a respeito do qual ele ouvira na América, de “perfeição sem pecado”, um termo exato, em seu ponto de vista da ideia de Wesley de que uma segunda obra da graça viria limpar o que restou da corrupção inata, ou pecado inato. A rejeição de Whitefield desta ideia acelerou-se e foi acelerada por sua crescente identificação com os evangélicos Calvinistas na América e Escócia. Ela levou diretamente o jovem evangelista público a romper relações com os Wesleys, tanto com respeito à questão, quanto à doutrina da

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Editado por Jason Gingerich e Michael Mattei para Wesley Center for Applied Theology Northwest Nazarene University

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Page 1: John wesley e a segunda bênção

JOHN WESLEY E A SEGUNDA BÊNÇÃO

Timothy L. Smith

Primeiro quero explicar dois princípios elementares do método histórico: os amigos que têm razão para discordar de uma pessoa sobre um importante ponto ou dois, comumente fornecem a mais objetiva evidência das verdadeiras opiniões dele ou dela, num determinado tempo; e os fatos considerados em sua sequência cronológica são indispensáveis para estabelecerem a natureza e a causa das mudanças de pontos de vista de alguma pessoa.

O segundo desses, eu ilustrei em um texto anterior diante desta sociedade, sobre a doutrina da santidade nos hinos Wesleyanos. Naquele ensaio, eu mostrei que em seu Relato Claro da Perfeição Cristã, Wesley datou, de maneira incorreta, a publicação do segundo volume de Hinos e Poemas Sagrados (cujo prefácio, ele citou proeminentemente lá), como sendo 1741, em vez de 1740. Uma vez que este prefácio forneceu tão clara descrição de uma segunda obra da graça santificadora, devemos concluir que a emergência daquela doutrina tomou lugar, algumas vezes, antes da publicação do hinário na primavera do ano seguinte. A primeira observação que eu também ilustrei, diante desta sociedade, ou seja, o grande significado da correspondência de Whitefield para Wesley, em 1740, trata da experiência da pureza de coração, uma fração da qual está disponível a todos na edição Oxford de Frank Baker, das cartas de Wesley.

Sem preocupação quanto a qualquer outra evidência da origem do pensamento de Wesley, esta correspondência deixa claro que alguma coisa dramática aconteceu no pensamento dele, logo depois da segunda partida de Whitefield para a América em Setembro de 1739. Whitefield chamou o novo ensinamento de Wesley, a respeito do qual ele ouvira na América, de “perfeição sem pecado”, um termo exato, em seu ponto de vista da ideia de Wesley de que uma segunda obra da graça viria limpar o que restou da corrupção inata, ou pecado inato. A rejeição de Whitefield desta ideia acelerou-se e foi acelerada por sua crescente identificação com os evangélicos Calvinistas na América e Escócia. Ela levou diretamente o jovem evangelista público a romper relações com os Wesleys, tanto com respeito à questão, quanto à doutrina da predestinação, pouco antes de seu retorno da América, em Janeiro e Fevereiro de 1741.

Essas duas peças de evidência apoiam minha sugestão, neste segundo texto, de que Wesley compôs a essência deste seu primeiro sermão, sobre os limites e natureza da perfeição cristã, não publicado, até dois anos mais tarde, em sete de Novembro de 1739, quando ele registrou em seu Diário, que “escrevera a Perfeição Cristã”.

O argumento alternativo – de que ele deu início, então, ao resumo do volume de William Law, sobre este assunto, já que registrou em seu Diário, mais tarde, e em oito de Novembro, que ele “escrevera Law” – não adequará todos os fatos. Porque, primeiro, em 12 e 17 de Novembro, Wesley nos diz em seu Diário, que ele explicou para pequenos grupos de seus seguidores, “a natureza e extensão da perfeição Cristã” -- palavras que apontam para os famosos conteúdos dos sermões – e em 10 de Agosto de 1740, ele ecoou essas palavras, no

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expor seu discurso sobre o texto de Phillipenses 3:12 “Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus”.

Além disto, ele pregou sermões, nos meses seguintes, dos textos que ele sempre usou dali em diante, como veículos para explicarem a doutrina da santificação. Esses sermões incitaram diversas pessoas na Inglaterra e Escócia, a alertarem Whitefield, para o fato de que Wesley proclamava agora que a Bíblia ensinava que os cristãos poderiam encontrar pureza de coração nesta vida.

Finalmente, os primeiros capítulos do resumo de Wesley de William Law, publicados anonimamente, em 1740, sob o título “A Natureza e Destino da Cristandade”, não discorreram sobre a segunda obra da graça, que trouxera tais problemas a Whitefield e a outros amigos de Wesley, mas sobre a doutrina da “grande salvação”, que eles afirmavam; e que admitiam que um processo de crescimento, preferivelmente a uma segunda obra da graça instantânea, era o método para realizá-la.

Wesley, evidentemente, sempre acreditou que os cristãos experimentavam gradual santificação – de tal maneira que Gerald R. Cragg e Albert C. Outler concluíram que ele acreditava apenas, ou principalmente, em santidade progressiva. Mas, no outono de 1749, ele chegou à clara convicção de que uma experiência de segunda bênção instantânea era essencial àquele processo. Naquele momento, os crentes eram preenchidos com o Espírito Santo, seus corações eram limpos dos remanescentes do pecado inato, e eles eram aperfeiçoados no amor.

A ajuda que um entendimento correto desses eventos fornecesse na tarefa de interpretar os vários aspectos do ensino e comportamento de Wesley agora requer uma explicação nos mínimos detalhes. Eu espero, em primeiro lugar, enfatizar a luz que eles espalharam na própria experiência espiritual de Wesley.

Wesley admitiu seu desapontamento, diante da pequena medida de alegria que recebeu quando acreditou que o Espírito Santo testemunhou sua regeneração nos famosos encontros de oração na Rua Aldersgate, Londres, em Maio de 1739. Ele se sentiu tentado a duvidar, se verdadeiramente experimentou o que as Escrituras prometeram. Este fato inspirou alguns estudiosos modernos a denegrirem o evento de Aldersgate. Parece-me, antes, que ele reflete o fato de que Wesley, naquele momento, entendeu que a Bíblia ensinava apenas uma experiência instantânea da graça salvadora e que, portanto, todas as promessas das Escrituras, concernente à retidão, paz, e alegria que deveriam fluir da presença e obra do Espírito Santo teriam sido evidentes, imediatamente depois que ele se convenceu de que era filho de Deus. Ao contrário, alguns dias depois, ele se viu quase “em pedaços”, pela dúvida, tentação e ausência de alegria. Poucos dias depois de pregar seu sermão sobre “Salvação pela Fé”, diante da Universidade de Oxford, foi para a Alemanha, esperando encontrar na experiência Moravia, alguma resolução dos problemas intelectuais e espirituais que se originaram de suas expectativas não realizadas.

O que Wesley logo aprendeu foi que os Morávios acreditavam que o testemunho do Espírito da regeneração era comumente concedido, algumas vezes, depois que alguém era

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perdoado e capacitado a ter vitória sobre o pecado. Em sua carta de 30 de Outubro de 1738, ao irmão Samuel, ele comparou aquele testemunho com “o selo do Espírito”, “o amor de Deus, espalhado em meu coração” e... “a alegria no Espírito Santo”, alegria que “nenhum homem pode tirar”, “alegria inexplicável e cheia de glória”. Ele disse a Samuel que não poderia duvidar “que os crentes que esperam e oram por isto, encontrassem essas Escrituras cumpridas, em si mesmos”, e acrescentou: “Minha esperança é que eles sejam cumpridas em mim”. Tal grau de fé, ele escreveu a Samuel, da Alemanha, ”purifique o coração” e “renove a vida, segundo a imagem de nosso abençoado Redentor!”.

Aqui estava o germe do que se tornou, um ano mais tarde, sua doutrina da completa santificação. Mas, neste ponto, Wesley ainda pensava apenas em graus da fé salvadora. Ele reportou aos Morávios, em Herrnhut, no último Outubro, 1738, que ele acreditou que dez ministros da Igreja da Inglaterra pregaram que “o sangue de Cristo” os “limpou de todos os pecados”, e recomendou-lhes que não cessassem de orar, para que Deus “removesse aquilo que é desagradável aos olhos Dele”, e “nos desse a mente que estava em Cristo”.

Esta evidência explica o uso que Wesley fez de seu sermão “Salvação pela Fé”, em Oxford, a respeito das promessas bíblicas de que o Senhor salvaria seu povo de “todos os seus pecados: originais e atuais”, os selaria com “o Espírito Santo da promessa”, livrando-os de “algum desejo pecaminoso”, e daria a eles “a mesma mente que estava em Jesus Cristo”. Isto descreve a experiência que ele esperava, mas apenas parte disto ele encontrou.

Durante os meses que se seguiram àquela viagem, e especialmente depois que Wesley uniu-se a Whitefield, na liderança do despertar, em Bristol e Londres, na primavera e verão de 1739, Wesley cuidadosamente estudou as Escrituras, concernentes aos ”bebês em Cristo” e aos graus da fé. Elas confirmaram sua crença de que aqueles que, sob o seu ministério e o de seu irmão, assim como no de Whitefield e do evangelista galês, Howell Harris, professaram terem sido instantaneamente transformados pelo Espírito Santo, da “fé de um servo”, como ele colocou, para a fé de um filho de Deus, indubitavelmente nasceram de novo.

No verão de 1739, ele se ocupou, por fim, com a multidão de tais convertidos. Eles haviam se “libertado” do poder do pecado. Ainda assim, não se sentiam seguros e firmes. Preocupado com eles, Wesley ensinou que havia sido desencorajado a respeito de sua própria experiência, porque esperara demais. Embora durante aquele primeiro ano depois de Aldersgate, ele não supusesse que poderia ser liberto do pecado inato, ele acreditou que experimentaria a plenitude de alegria e paz.

No outono de 1739, convenceu-se de que as Escrituras ensinavam esta plenitude, que resultaria em um segundo e mais profundo momento da graça santificadora, e traria também a pureza de coração e o amor perfeito. Depois de lamentar da imperfeição de sua paz e alegria, ele se maravilhou pela medida da graça que ele e seus convertidos receberam e pela plenitude que viria. Agora, a busca faminta e sedenta pela retidão tornou-se uma experiência alegre. Ele estava confiante de que a completa santificação, ou pureza da corrupção interior remanescente, garantiria também sua perseverança final e o satisfaria por completo.

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Consequentemente, os seguidores de Wesley que buscaram e encontraram esta bênção ensinaram a ele que ele ainda esperara demais; e seu estudo da experiência de Jesus e dos apóstolos confirmou que ele o fizera. Por esta razão, em 1765, quando ele republicou o prefácio do hinário de 1740, em seu Relato Claro da Perfeição Cristã, Wesley inseriu diversas notas de rodapé, para mostrar onde ele havia exagerado nos frutos subjetivos da completa salvação. E explicou como a queda da graça de diversos Metodistas notáveis, dos quais ele nunca duvidaria tivessem desfrutado uma vez do amor perfeito, o convenceu, em 1750 que esta experiência assegurava apenas a salvação presente, e não a salvação final.

No entanto, de 1740 em diante, ele nunca questionou a ideia de um instante de coração limpo, em um segundo momento de graça santificadora. Eu acredito que ele se surpreenderia, se encontrasse alguns de seus modernos seguidores, buscando naquela data imputar sobre ele uma crença na santificação progressiva, tão extensiva, que minimizaria, quase a ponto de extinção, a doutrina de uma experiência instantânea. O argumento central, do Relato Claro, foi, de fato, que ele ensinara aquela doutrina, desde a publicação do hinário de 1740.

Os esforços pessoais de Wesley foram também entrelaçados com sua emergente controvérsia com os Morávios, e, consequentemente, sua crença manifesta em um segundo momento da graça estava intimamente ligada àquela controvérsia. Os Diários de Wesley e de Whitefield indicam a preocupação crescente dos evangelistas a respeito da insistência dos Morávios londrinos, de que quem não tivesse a fé perfeita – e não extinguisse toda dúvida e medo e estivessem seguros do completo livramento do pecado inato, não tinha fé, afinal.

Eles atacaram diretamente os testemunhos dos seguidores, ambos quanto à experiência da regeneração e, portanto, a pregação de ambos os evangelistas sobre a doutrina do novo nascimento. Eles ordenaram esses “convertidos”, falsamente seguros, a desistirem de fazerem alguma coisa, afinal, quer auto abnegação ou boas obras, ou a observarem o que os Anglicanos pensavam serem “os meios da graça”, até que tivessem tal fé perfeita. O resultado foi dissuadirem muito dos convertidos de Wesley a colocarem um desencorajamento no próprio avivamento, e sugerirem alguns dos seguidores mais íntimos de Wesley a renunciarem às suas profissões, interromperem a comunhão, e a “esperarem na quietude pela salvação”.

Falta de atenção à cronologia tem permitido aos estudiosos minimizarem ou ignorarem a ligação entre a controvérsia Moravia e a nova visão de Wesley da completa santificação. Ele, mais tarde, descreveu em seu Periódico de 1º a nove de Novembro de 1739 a crise espiritual nos assuntos da Sociedade de Fatter Lane, em Londres, impedindo a insistência Moravia de que a justificação pela fé deve ser perfeita, ou seja, santificada, e que aqueles que uma vez professaram a justificação devem esperar na “quietude”, até que tenham tal fé.

A mais longa de suas diversas conversações, aquela semana, com bispo August S. Spangenberg, aconteceu em sete de Novembro – no mesmo dia que seu “Diário” nos diz que ele “redigira a Perfeição Cristã”. Além do mais, aquela porção do Periódico de Wesley, que reconta sua conversa e sua viagem à Alemanha não foi publicada até Setembro de 1740. Naquele momento, todo o mundo soube que ele rompera com os Morávios e começou a proclamar a segunda obra da graça.

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O Periódico, distinto do “Diário”, no qual foi baseado, foi escrito para a publicação e sempre teve um propósito exortativo. E, neste caso, o propósito de Wesley foi refutar os Morávios londrinos, ao descrever os testemunhos como graus de fé e um segundo momento da graça santificadora que ele ouvira na Alemanha dois anos antes. Ele os publicou, não simplesmente para confirmar sua experiência de Aldersgate, mas para mostrar que a experiência dos “maiores professores” em Herrnhut havia previsto sua convicção de que o livramento do pecado inato e também de todas as dívidas e temores eram o fruto daquele segundo momento.

Em consequência, seu recontar no Periódico de Julho e Agosto de 1738, a cuidadosamente circunscrita definição da justificação pela fé, do Conde Nicholas Von Zinzendorf, que ia ao encontro da visão de Wesley naquela época, quando ele escreveu o Periódico; e assim, seu registro das inquirições fez aos “mais experientes dos irmãos, com respeito à obra que Deus forjara em suas almas, purificando-os pela fé”. Em meio a esses, estava o cristão Davi, fundador e pastor da igreja em Herrnhut.

Três dos quarto sermões, que Wesley ouviu Davi pregar, em Herrnhut, trataram do estado daqueles que eram “fracos na fé”, que foram “justificados”, mas ainda não tinham “um novo e limpo coração”. Davi disse que eles “receberam o perdão, através do sangue de Cristo”, mas “não receberam o habitar constante do Espírito Santo”. Que o pregador descrevera o estado deles, e o progresso disto, pela estrita referência às afirmações do Sermão do Monte de Cristo, exatamente como Wesley empreendera fazer no outono de 1739, tivesse tanto significado dialético quanto espiritual ao visitante da Inglaterra. Davi mostrou como eles deveriam murmurar e terem fome e sede, em busca da retidão, antes que se tornassem “puros de coração”, libertos “de toda obstinação e pecado” e se tornassem misericordiosos, como “o Pai deles que está nos céus é misericordioso”.

Davi também falou da natureza daquele estado intermediário, que “a maioria experimentou, entre aquela escravidão, descrita no capítulo sete da Epístola aos Romanos, e a completa liberdade gloriosa dos filhos de Deus, descrita no oitavo, e, em muitas outras partes das Escrituras”. E explicou em um sermão, “o estado em que os apóstolos se encontravam, desde a morte de nosso Senhor (e, de fato, por algum tempo depois), até a descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes”.

Eles estavam, então, “limpos”, Wesley lembrou Davi, quando falava; eles tinham “fé”, do contrário, Ele não teria orado para que a “fé” deles não “falhasse”. Ainda assim, não tinham, em um sentido pleno, “novos corações”, nem receberam o “dom do Espírito Santo”. E se lembrou do pastor, estimulando tais pessoas “a se esforçarem, para crerem com todos os seus corações. Assim, eles teriam a redenção, através do sangue de Cristo. Assim, eles seriam limpos de todo o pecado”.

Este longo resumo apontou inteiramente para o novo entendimento de Wesley, a respeito da santificação, como aconteceu com o testemunho do cristão Davi, em seu encontrar “a completa segurança da fé”, e aqueles de Michael Limmer e Arvid Gradin, para o mesmo efeito. Wesley citou as palavras de Gradin, vinte e cinco anos mais tarde, em seu “Relato Claro”.

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Wesley escreveu sua famosa “Carta à Igreja de Deus em Herrnhut”, na mesma época que editava seu Periódico de 1738 para a impressa, ou seja, Agosto de 1740. Aquela carta começa com sua queixa de que alguns dos Morávios londrinos afirmavam que a “presente salvação... não implica o tirar propriamente nossos pecados, o limpar nossa alma de toda transgressão, de toda iniquidade, quer da carne ou do espírito” – palavras que claramente referem-se ao novo entendimento de Wesley da perfeição cristã – “mas apenas faz em pedaços o sistema de pecados, de maneira que ele ainda permanece nos membros, se não, no coração”. Wesley disse que ele também ouvira que os Morávios, em Londres, insistiam que a fé salvadora não assegurava “livramento dos pensamentos pecaminosos, nem do distrair-se na oração”, que ele não garantia “a segurança da futura salvação”, e que “o selo do Espírito” referia-se apenas “ao momento presente”. (Wesley acreditava naquele momento, e durante bom tempo depois, que a experiência da completa salvação era devida ao selo do Espírito que tornaria impossível a alguém cair da graça).

Em resumo, a carta aos Morávios referia-se, principalmente, à doutrina da completa santificação, um fato, até aqui, negligenciado. E lamentava, nesta mesma carta, que os Morávios londrinos acreditassem que a salvação implicava “livramento dos mandamentos de Deus, de maneira que alguém que fosse salvo, através da fé, não era obrigado ou constrangido a obedecer-lhes” – uma contradição direta à pregação de Wesley sobre a santidade cristã, do Sermão do Monte. Além do mais, ele escreveu que “alguns na Inglaterra”, especialmente Philip Henry Molthier, então, líder Morávio em Londres, insistiam que “não existem graus na fé”, e que “não existe justificação pela fé, sem o plerephory [plenitude] da fé, o testemunho claro do Espírito”, nem alguém “onde o testemunho não existisse, teria, no sentido completo, apropriado, um novo coração”.

Os modernos estudiosos Morávios têm tido não mais zelo do que os modernos Metodistas, no enfatizarem a pureza do coração. Mas, de fato, isto é o que seus antepassados acreditavam que a verdadeira fé traria. E insistiam que ninguém tem qualquer fé, afinal, até que ele ou ela desse testemunho da fé que santifica o coração. Mas fizeram isto de tal maneira a “extinguirem o zelo dos bebês em Cristo”, Wesley concluiu, “tendo muito do falso zelo”, e proibindo-os de testificarem a salvação ou compartilharem do sacramento da comunhão santa.

Ao se deparar com esta doutrina Morávia, Wesley não considerou abandonar sua confiança de que a fé regeneradora, até mesmo tal que foi manifestada pelos “bebês em Cristo”, era, de fato, a verdadeira e salvadora fé cristã. Nem Whitefield. Mas Wesley estava atento no declarar “aquela santidade, sem a qual nenhum homem verá o Senhor”. E não ficaria satisfeito com menos do que a alegria plena que Jesus prometera aos Seus discípulos.

A atenção aos amigos de Wesley, e à cronologia dos eventos nos ajuda, finalmente a compreender o quanto Wesley ficou sensibilizado ao refletir a respeito das sentenças claras do Sermão do Monte de Jesus. Ele primeiro pregou uma série deles em Bristol, em Abril de 1739, e novamente em Julho seguinte. Os manuscritos daqueles sermões, se ele os escreveu, foram igualmente editados e, então, destruídos (como aconteceu com quase todos os manuscritos publicados por Wesley), depois que ele imprimiu em 1746 e 1748, treze discursos a respeito do sermão de Cristo. Mas, quer ele preparou ou não os discursos, na forma manuscrita em 1739 ou 1740, é certo que as ideias, que eles apresentam na última versão impressa, permearam a consciência dos Wesleyanos nos anos de 1739 e 1740.

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Nós podemos seguramente concluir, então, que a doutrina do amor perfeito emergiu do estudo bíblico e da certeza de Wesley a respeito da genuinidade da fé de seus convertidos. A santidade de coração pareceu a ele, como sempre foi para seus seguidores, o que todas as pessoas, verdadeiramente salvas pela fé, esperam. Ele estava convencido de que esta “grande salvação do pecado” seria enviada, como “no dia de Pentecostes”, junto a “todas as gerações, dentro dos corações de todos os crentes verdadeiros”, e que a promessa era “para todos aqueles que estavam distantes, mesmo tantos quantos o Senhor chamasse”. Wesley também acreditava que os cristãos verdadeiros cresceriam na santidade, antes que eles recebessem a benção da fé santificadora e, mais tarde, não pelas obras de retidão, mas pela graça de Deus. Isto o Espírito Santo trouxe a eles, pela inspiração de Sua presença, e pelos “meios da graça” -- oração, ação de graças, obediência, abnegação, estudo das Escrituras e fiel atendimento à pregação e sacramento da comunhão santa.

Colocar os eventos em uma perspectiva cronológica e prestar atenção aos seus amigos evangélicos também nos ajuda a entendermos melhor o testemunho público e privado de Wesley no interesse da santidade cristã. Porque, aproximadamente seis anos desde que ele se sentiu satisfeito de que a doutrina era bíblica, ele a proclamou amplamente, em público, assim como nos encontros da sociedade. E publicou um claro resumo dela, na primavera de 1740, no prefácio mencionado acima. A correspondência privativa e pública de Whitefield mostrou a atenção que os evangélicos na América, assim como na Grã-Bretanha, deram ao seu novo ensinamento. Embora demorasse em imprimir seu sermão sobre a Perfeição Cristã, até Setembro de 1741 (lembrando, mais tarde, que ele esperou que o Bispo de Londres o encorajasse a fazer isto), ele e seu irmão Charles emitiram um terceiro volume dos hinos em 1742 que, como aquele de 1740, explicava completamente as promessas bíblicas de uma segunda e purificadora bênção. Tudo isto foi confirmado no tratado Caráter de Um Metodista (publicado, aparentemente, em 1742, não, como Wesley transmitiu, no Relato Claro, três anos antes), no grande sermão de Oxford de Charles Wesley, em quatro de Abril de 1742, a mais popular publicação alguma vez emitida pelos Wesley, e na sumária defesa de John do ensino Metodista, em Um Apelo Sincero aos Homens de Razão e Religião, primeiro impresso em 1744.

Mas o efeito do amplo ataque de Whitefield reduziu drasticamente a comunidade de Wesley. O jovem evangelista reforçou a famosa carta do Natal de 1740, ao pregar e publicar nove sermões contrários ao Arminianismo e perfeccionismo, depois que chegou à Inglaterra em Março de 1741. Poucos meses antes, endossou um jornal semanal, O Divertimento Cristão, renomeado de A História Semanal, em 1741, que combinava as notícias do avivamento do mundo inteiro, com as cartas e sermões de Whitefield e outras pessoas que promoviam as ideias Calvinistas e antiperfeccionistas.

Enquanto isto, seus Periódicos continuaram a ser publicados em pequenos segmentos que apareceram apenas alguns meses depois do encerramento das entradas desses. Wesley compreendeu que Whitefield estava muito mais no controle da opinião evangélica pública do que ele, e que tal controvérsia enfraqueceria o avivamento em todos os lugares. Ele temia que isto o apartasse de Howell Harris, o líder do que se tornou o movimento Metodista Calvinista em Gales. No início de 1740, no entanto, Harris preocupou-se com a controvérsia pública que seu próprio revivalismo itinerante levantou, e com uma terna requesta. Aqueles que há muito se opunham a Wesley e Whitefield como “fanáticos”, por ensinarem a presença e obra real do Espírito Santo nas vidas dos crentes cristãos apressaram-se para publicar a discórdia entre os

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dois evangelistas e apoderaram-se da nova doutrina da pureza do coração de Wesley, como prova da responsabilidade deles.

A extensão da pressão fica evidente do fato de que alguns dos seguidores mais íntimos de Wesley voltaram atrás. James Hutton (uma vez, braço-direito de Wesley), Charles Kinchin e John Gambold escolheram a versão Morávia do perfeccionismo, que evitava o escândalo público e uma segunda bênção. No entanto, Wesley periodicamente sentiu-se compelido, pelo resto de seus dias, a refutar a pretensão de que a verdadeira fé salvadora trazia consigo a santificação completa, e que havia apenas um grande momento da graça.

Aparentemente em 1745, Wesley decidiu que pregar a perfeição cristã para pessoas ainda não convertidas não era nem bíblico, nem prático. Ele começou, em vez disto, a confiar aos grupos e “sociedades seletas”, aos quais ele alegava serem pessoas inteiramente regeneradas e claramente buscadoras e achadoras da completa salvação. Se as minutas da primeira conferência de 1745 verdadeiramente refletiam sua prática, para os anos seguintes, ele limitou sua própria pregação dos detalhes da segunda experiência àqueles que encontraram a primeira. As versões impressas dos sermões de Wesley, pregados entre 1740 e 1745, e publicados em 1746 e 1748, eram, portanto, essencialmente preocupados com o novo nascimento. As exceções são três que ele publicou imediatamente depois da entrega deles, em 1741, 1742, e 1744: o sermão Oxford de Charles Wesley, Perfeição Cristã, Acorda, tu que Dormes, e o último sermão Oxford de John, intitulado, Cristianismo Bíblico.

O último apareceu nas quinze edições, durante o decurso da vida de Wesley; mas não foi explicito o suficiente no significado de seu texto (Atos 4:31 “Eles foram preenchidos com o Espírito Santo”), de modo a satisfazer os últimos defensores britânicos e americanos daquela experiência. Mesmo os poemas sobre a obra do Espírito Santo, João 7:37-38 “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” e os capítulos 14, até o 17, publicados em 1745, nos dois Hinos dos irmãos... para a Promessa do Pai, foram suficientemente dedicados ao completo esquema da salvação, de maneira a levantar alguns poucos insultadores; teólogos, então, como agora, não levaram os hinos muito seriamente.

Os Wesleys o fizeram. Mas naqueles primeiros sermões sobre a regeneração, Wesley repetidamente assinalou aos seus seguidores que ele estava completamente comprometido com a doutrina da completa santificação. E disse plenamente àqueles que buscavam salvação pela fé, que muito mais graça estava colocada, mais adiante, para eles.

Esta estratégia, no entanto, responde, ao que parece, ao povo da moderna santidade, à falta importuna de condições específicas a respeito da segunda bênção, nos primeiros dois volumes de sermões de Wesley, publicados em 1746 e 1748, assim como em tais tratados anteriores, Um Apelo Adicional aos Homens de Razão e Religião e sua famosa carta ao Dr. Littleton, cuja última parte, ele emitiu em 1751, e diversas cartas sob o título Um Claro Relato do Cristianismo Genuíno.

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No perseguir esta estratégia, no entanto, os Wesleys e seus pregadores desenvolveram grande habilidade no inserir a doutrina da santidade cristã nos próprios tratados, sem defini-la em grande detalhe. Quando entendemos e acreditamos que a evidência nos fala a respeito do amadurecimento de suas convicções sobre o assunto, em 1739 e 40, as frases aparentemente inócuas de Wesley que acoplam a justificação com a pureza de coração, de muitas maneiras diferentes, aparecem em sua luz verdadeira.

Wesley tornou-se cada vez mais confiante, no declarar que o Deus do amor deu aos Seus filhos os dois “grandes mandamentos” que lhes asseguravam que eles também receberiam pela fé, através do Espírito Santo, aquela santidade de coração que foi necessária para obedecer-lhes. Além do que, ele acreditava que, se os cristãos regenerados, em todos os lugares, estivessem convencidos de que o Sermão do Monte era a versão da lei do Novo Testamento, eles teriam fome e sede de retidão e pureza de coração que os capacitariam a verem Deus.

Ele pregou, mais cedo ou mais tarde, que pela fé, estabelecemos a lei; e os membros de suas sociedades, que entenderam o“ todo de Wesley”, sabiam que a fé era a condição de ambas as experiências sagradas que Wesley ensinou. Wesley estava igualmente preocupado em apoiar a tradição teológica dos teólogos Anglicanos do século anterior, também a dos patriarcas da igreja primitiva. Assim, fixou o entendimento público de sua doutrina de que o Espírito Santo executa nossa regeneração junto às homilias que o Arcebispo Cranmer compôs, há muito tempo, para O Livro de Oração Comum, e o volume sobre O Credo, século dezessete, do Bispo John Pearson.

Esses explicavam a ideia da Igreja da Inglaterra de que a salvação vem pela fé, e que a fé era a obra do Espírito Santo. A doutrina do limpar os pecados inatos remanescentes, no entanto, acrescentou decisivamente ao credo anglicano e trouxe, para o primeiro plano, uma tradição teológica obscura. Aqui Whitefield levou vantagem; porque uma santificação gradual, nunca completamente realizada nesta vida, estaria harmonizada com ambas as doutrinas Anglicanas e Puritanas.

Em seus escritos publicados, no entanto, Wesley, por muitos anos, enfatizou a santificação progressiva, mais do que o momento da limpeza do Espírito Santo, embora nunca falhasse no usar a linguagem que capacitava seus seguidores a entenderem que ele era contendente por ambas a obra gradual e instantânea do Espírito de Deus.

Nos documentos mais privativos, contudo, como, por exemplo, nas minutas não publicadas das conferências de 1744 e 1747, em sua correspondência não pretendida à publicação, e nos ensaios e correspondência circulados privativamente, ele cuidadosamente explicou o momento da segunda graça. Os estudiosos são desatentos a esta distinção. Alguns concluíram, como a grande maioria dos escritos dos teólogos Metodistas do século vinte, que Wesley acreditou apenas na santificação progressiva, e não, na instantânea.

Eles foram capazes disto, entretanto, apenas por negligenciarem os sermões de Oxford de Wesley e muitos daqueles que ele publicou depois de 1760, e por ignorarem o ensinamento

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central de seu Apelo Adicional aos Homens de Razão e Religião e seus últimos Pensamentos sobre a Perfeição Cristã, extraídos de seu Relato Claro da Perfeição Cristã.

O que nos leva para outra questão recentemente contestada, a de quer Wesley acreditasse que os primeiros cristãos foram totalmente santificados quando do Pentecoste, quer pensassem que o uso dos termos “batizado” ou “preenchido” com o Espírito Santo era distintos do “dom do Espírito Santo”, eles eram a descrição bíblica apropriada daquela experiência. Eu devo alertá-lo, a princípio, que meu julgamento dos fatos históricos não emana muita luz nos recentes argumentos a respeito deste assunto.

A última questão refere-se ao fato do fundador Metodista ter acreditado que os apóstolos nasceram do Espírito, depois do Pentecoste, o que poucas das afirmações conflitantes de Wesley permitiram que alguns de seus seguidores modernos duvidassem. E eles levantaram questões a respeito de suas visões, quanto ao aspecto segundo e instantâneo da perfeição no amor, que Wesley não parece ter expressado alguma incerteza após o outono de 1739.

Antes, a preocupação dele originou-se: (1) da necessidade de seu repensar a relação do Pentecoste, quanto à pureza do coração, sob a luz de sua compreensão de que as bênçãos, fluindo da salvação pela fé, envolviam dois momentos da graça santificadora; (2) de sua determinação, após 1739, de não diminuir, de maneira alguma, a obra santificadora que o Espírito Santo começara na regeneração, que, nos primeiros meses do grande avivamento daquele ano, ele descrevera, algumas vezes, como o batismo ou o preenchimento com o Espírito; (3) de seu desejo (especialmente forte após o retorno de George Whitefield da América, em Fevereiro de 1741, para contender com a oposição de Wesley quanto à predestinação e seu ensino de que os crentes podem ser limpos de todos os pecados) de não para ampliar a percepção pública de uma brecha entre os outros líderes evangélicos e ele; (4) de sua preocupação pastoral de tornar certo que seus convertidos distinguiam precisamente os dons “extraordinários” do Espírito da plenitude santificadora, concedida aos 120 convertidos, quando do Pentecoste, e prometida a todos os crentes nesta ocasião; e (5) de sua preocupação em manter a retidão preeminente, e assim estimular todos os crentes ao ético significado da completa salvação.

Obviamente, a percepção de Wesley, no outono de 1739, de que as Escrituras ensinavam um segundo momento da graça santificadora requereu que ele repensasse as promessas do Pentecoste. O resultado ficou claro em seus hinos e nos de seu irmão.... pela Promessa do Pai, e em seu sermão de Oxford de 1744, Cristianismo Bíblico. O último realizado, sendo preenchido com o Espírito Santo, com a promessa a todos os crentes, e com uma segunda experiência.

Para realçar esses dois pontos, ele escolheu o texto de Atos 4:31 “E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus”, preferivelmente a Atos 2:4-45 “Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura”. “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. Este repensar tomou lugar muito cedo, no entanto, como fica evidente de sua breve

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explanação do texto a respeito do Pentecoste, em João 7:37-38 “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre”., em seu sermão Perfeição Cristã, no fato de usar do longo poema (sobre Ezequiel 36:25 etc. “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei....”, no encerramento daquele sermão, intitulado “A Promessa da Santificação”, e nas questões que levantou em seu famoso encontro com o Conde Nicholas Von Zinzendorf. Ele publicou o sermão, no mesmo mês que a entrevista ocorreu, em Setembro de 1741. E que, perto do seu final, transcorre como se segue:

Wesley: Os apóstolos foram justificados antes da morte de Cristo?

Zinzerdorf: Sim, foram.

Wesley: Eles se tornaram mais santos depois do Pentecoste, do que antes da morte de Cristo?

Zinzerdorf: Não, afinal.

Wesley: Naquele dia, eles foram “preenchidos com o Espírito Santo?”.

Zinzerdorf: Foram. Mas aquele dom especial do Espírito nada tinha a ver com a santidade deles. Ele era meramente o dom dos milagres.

Wesley: Talvez, eu não alcance seu pensamento. Através da abnegação, morremos para o mundo, cada vez mais, e vivemos para Deus, mais e mais. Não é assim?

Zinzerdorf: Nós rejeitamos todas as “negações”; nós as desprezamos. Como crentes, fazemos como nos agrada e nada mais. Nós amontoamos escárnio de todas as “mortificações”. Nenhuma “purificação” é pré-requisito para a perfeição no amor.

Fica evidente também, no fato de utilizar-se, após 1739, de dois testemunhos pré-pentecostais, que Wesley disse serem o testemunho do Espírito para a fé salvadora – aqueles da Virgem Maria e do Apóstolo Tomé.

O uso da linguagem Pentecostal de Wesley chegou ao clímax em seu Apelo Adicional, publicado em 1745. Nele, ele apresenta, por fim, o ensino das Escrituras, da Igreja da Inglaterra, e dos patriarcas pós-apostólicos sobre a obra do Espírito Santo, no levar aos crentes a segurança da salvação e a experiência da santificação. Em resposta a critica publicada de suas afirmações anteriores a respeito do batismo ou do preenchimento do Espírito, ele enfatizou que os cristãos agora “recebem”, sim, são “preenchidos com o Espírito Santo”, para que colham os frutos daquele Espírito Abençoado. E ele inspira em todos os crentes verdadeiros, um grau da mesma paz, alegria, e amor que os apóstolos sentiram, no dia em que eles, pela primeira vez, foram “preenchidos com o Espírito Santo”. Além disto, Wesley acrescentou que a experiência era o cumprimento da promessa de João, o Batista, “Ele o batizará com o Espírito Santo”.

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Na segunda parte do Apelo Adicional, publicado, alguns meses mais tarde, Wesley declarou que todos os Quacres não deveriam “se arrepender somente (porque, então, vocês conhecem apenas o batismo de João), mas crer, e ser “batizados com o Espírito Santo e com fogo”. Ele os estimulou a clamarem por aquele batismo ”até que o amor de Deus inflamasse seus corações, e consumisse todas as suas vis afeições”! Não se contentem com menos do que isto”. Também sugeriu que os Católicos Romanos prestassem atenção às regras de Thomas Kempis, quanto ao viver santo, e suas próprias repreensões do Marques de Renty, de que eles deveriam ser “zelosos de toda a boa palavra e obra”,ser “preenchidos com o Espírito Santo, e livres de todos os temperamentos iníquos”, e, assim, se tornassem “sem culpa e irrepreensíveis, sem mácula ou manchas, ou qualquer coisa parecida”.

Wesley enfatizou, durante o mesmo período, no entanto, a obra e dom do Espírito sagrado, como distintos de Sua plenitude, na experiência da regeneração. Suas mais persuasivas passagens sobre este assunto apareceram no mesmo Apelo Adicional aos Homens de Razão e Religião. Mas de igual significância doutrinária são os sermões sobre regeneração, que ele pregou entre 1739 e 1745, e editados para a publicação no verão anterior. Esses sermões, assim como suas cartas e volumes de seus Periódicos compostos naqueles anos, constantemente aludiram ao amor de Deus “espalhando-se” nos corações das pessoas, nascidas de novo, e para o processo de santificação que acompanha o pedido deles, da experiência do amor perfeito.

Desta forma, é claro, Wesley participou ativamente, nos debates ferozes, ocasionais, que todos os evangélicos conduziram com aqueles que os acusavam de “fanatismo”, porque eles acreditavam que o Espírito Santo ainda visitava a humanidade nos tempos modernos, levando os pecadores ao arrependimento, e à salvação, através da fé na expiação em Cristo. Seus oponentes desafiavam a integridade do completo despertar, quer Calvinistas, Pietistas, Wesleyanos ou Quacres, e quer na Escócia ou Inglaterra, América ou Bretanha. A liderança de Wesley neste debate convenceu a maioria dos evangélicos de que ele ainda estava pronto a defender poderosamente a verdade que mantinham em comum.

Sua atividade era uma parte de um esforço maior de manter fora da visão pública, tanto quanto pudesse, as graves brechas entre ele e os outros evangélicos, especialmente aquelas entre Whitefield e ele. Este não apenas se uniu ao Calvinismo, mas continuou a usar o imaginário Pentecostal, para descrever o novo nascimento. No reimprimir, em 1745, Whitefield mudou o título de seu sermão, muitas vezes publicado, de “As Marcas do Novo Nascimento”, para “As Marcas do Recebimento do Batismo pelo Espírito Santo”. Wesley lutou para manter o desagrado deles tão privativo quanto possível, e para manter seus alicerces tão estreitos quanto pudesse.

Ele pretendeu, de fato, preservar a amizade e admiração de Howell Harris, durante os críticos anos de 1740-1743, até mesmo, embora Harris sempre fosse um Calvinista e acreditasse, não mais do que Whitefield, que Deus prometera limpar os corações dos crentes de todos os pecados.

Mas, assim como Wesley, Harris levou as promessas bíblicas de crescimento na santidade, muito seriamente; e enfatizou, como Wesley fizera, o completo livramento do domínio do pecado inato, enquanto Whitefield hesitava neste ponto. Falar da completa santificação, na linguagem Pentecostal, como Wesley havia feito, nos primeiros anos, mas

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manejou largamente esquivar-se durante a década, antes que a usasse novamente em suas Novas sobre o Novo Testamento, foi levantar a oposição evangélica que desejava evitar.

Juntamente com essas três preocupações, estava uma quarta: O desejo de Wesley de ajudar seus convertidos a distinguirem claramente entre os dons “sobrenaturais” do Espírito, associados com o Pentecoste – línguas, milagres, curas, discernimento -- e Seus frutos “comuns”, ou seja, o que foi universalmente prometido de Suas graças santificadoras.

Esta não era uma tarefa pequena, porque uma tradição popular, na teologia Católica e Protestante confundiu os dons comuns com os extraordinários, e, em vez disto, aqueles dons extraordinários (e deles, todos os dons do Alto) desapareceram com a geração católica. Na Era da Razão, os oponentes do “fanatismo”, como eles chamavam, sentiram-se compelidos a se apoiarem nesta tradição. Por volta dos anos de 1730, apenas os fanáticos verdadeiros testificaram as experiências Pentecostais.

Eles incluíram os profetas franceses, espalhados em meio aos banidos Huguenotes da Inglaterra, que causaram grandes dificuldades a Whitefield e Wesley, entre 1739 e 1742; em parte, porque Wesley recusou-se a considerar suas reivindicações como válidas. Ele não excluiu os dons ocasionais de Deus: cura, milagres, e previamente desconhecidas línguas humanas (a evidência é muito insuficiente sobre as línguas glossolalias ou “celestiais”). Mas ele acreditou que a preocupação com esses dons “extraordinários” desviava a atenção dos crentes da busca pela santidade.

Assim, Wesley quase eliminou seu uso da frase dramática “batismo com o Espírito Santo”, preferindo, em vez disto, uma que os Apóstolos registraram como tendo sido usada depois do Pentecoste, que:“preenchido” com o Espírito. E mesmo para esta, ele preferiu tais frases sinônimos como “preenchido com o amor”, ou “preenchido com toda a plenitude de Deus”. Essas focavam a atenção dos ouvintes quanto ao que Wesley acreditava mais importante, e mais arriscado: o significado ético da retidão que muito excedia aquele dos escribas e Fariseus, o da perfeição no amor que flui da fé, que o amor, ou a fidelidade de Deus, inspira.

É evidente que para os cristãos trinitarianos sugerirem que o Espírito Santo não é Aquele que primeiro comunica o amor divino aos crentes e quem, dali em diante preside sobre o progresso e perfeição no santificar os corações deles era e é, para dizer o mínimo, uma esquisitice teológica. Por isto, Wesley sempre ensinou a regeneração e a completa santificação, no sistema Pentecostal de referência. Mas no fazer isto, teve de enfrentar as concepções errôneas populares, e a difusão do antinomianismo em meio aos seus associados evangélicos. Os últimos surgiram para o ritual da purificação da questão ética, ao afirmarem variavelmente que Deus não prometera verdadeiramente nos tornar puros no coração, restaurar completamente a natureza corrupta na imagem divina, e destruir completamente as obras do diabo, ou nos garantir a fé perfeita que opera no amor perfeito.

Utilizar-se desses e de outros termos similares, no entanto, contribuiu diretamente para seu objetivo, em toda parte – o pregar a retidão, ajudar os crentes, e a ele mesmo e seu irmão Charles, a manterem, em primeiro lugar, aquela “santidade sem a qual nenhum homem

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veria Deus”. Ele entendeu que tal santidade refletia o caráter que ele atribuía ao Senhor do Velho e Novo Testamento – um Deus do amor ético, expressado na plenitude para a humanidade perdida e, especialmente, para o pobre e oprimido. Quando aquele amor triunfava sobre todos os inimigos de nossa natureza caída, o resultado ele comumente chamava de pureza de coração, salvação do pecado, perfeição cristã, ou a completa restauração da imagem de Deus. Seu ensino de tal segunda bênção, seu pregar o que era, de fato, santidade Pentecostal, era devido ao apogeu da teologia do amor de Wesley.

No ano de 1757, diversas circunstâncias varreram a maioria das reticências de Wesley a respeito da pregação e testemunho público. Professor Albert Outler sugeriu uma vez que a oposição à santificação na conferência de 1758, e mais amplamente nas sociedades, era uma dessas circunstâncias. Mas as minutas manuscritas da conferência de 1758, que estão preservadas nos Arquivos Metodistas e Centro de Pesquisa da Universidade de Manchester, dão nenhuma evidência, afinal, de alguma pressão sobre o assunto. As questões doutrinárias e respostas sobre a santificação foram sumários rotineiros do que havia sido a ênfase do ensino de Wesley às sociedades, durante os primeiros dezoito anos. As passagens do quanto o “perfeito” necessita dos méritos de Cristo e a propensão deles aos enganos e erros (que não foram moralmente atos do pecado, mas transgressões da lei perfeita de Cristo) foram precisamente o que Wesley costumeiramente disse. Antes, Wesley passou rapidamente pelo maior número de seus seguidores que agora professavam completa salvação, agradecidos, em parte, à sua própria pregação energética, durante o ano precedente. Em meio a eles, estava o auto treinado professor e poderoso pregador irlandês, Thomas Walsh.

Walsh morreu em 1757; muito de seu diário, que registra sua busca bem sucedida da segunda bênção, foi publicado em 1763.

Outro fator foi o lapso espiritual de outros seguidores confiáveis, que persuadiram Wesley de que, embora viver na experiência do amor perfeito era o meio para a perseverança final, ele não era garantia disto. A boa-vontade dos crentes santificados, em serem fiéis a Deus, deveria ser continuamente renovada. Os sermões e conselhos de Wesley, nos encontros dos grupos, produziram centenas de novos testemunhos da completa santificação cuja autenticidade ele não podia duvidar. Mais do que isto, eles vieram tanto dos novos crentes, quanto dos antigos. Esses que professaram santidade de coração se tornaram tão numerosos que perto do final do ano de 1762, ele escreveu em seu Diário:

“Há muitos anos, meu irmão dizia frequentemente: ‘Seu dia de Pentecoste ainda não chegou completamente; mas eu não duvido que ele chegue: e você, então, ouvirá das pessoas santificadas, tão frequentemente quanto você ouve das pessoas justificadas no momento’. Qualquer leitor imparcial poderá observar que ele agora chegou por completo”.

Reticência abandonada, Wesley incluiu em seu quarto volume dos Sermões sobre Assuntos Diversos, publicados em 1760, muitos dos que refinaram suas primeiras visões sobre os estágios da salvação, tais como “A Experiência do Deserto”, e “Pensamentos Divagantes”. E incluiu também seu maravilhoso “Pensamentos sobre a Perfeição Cristã”, compilados, mais tarde, no final de seu Relato Claro, contendo um sumário de questões levantadas e respostas dadas, quando das duas ou três conferências Metodistas anteriores. Em “Pensamentos” havia muitas afirmações calorosas e bíblicas a respeito da promessa de Deus aos corações dos

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crentes perfeitos, preenchendo-os com o puro amor ou como Wesley ocasionalmente disse, preenchendo-os com o Espírito Santo.

Na década seguinte, Wesley publicou individualmente excelentes sermões de santidade sobre os textos que frequentemente expunha durante os anos de 1758-1761. Em meio a estes, estavam O Caminho Bíblico da Salvação (uma segunda bênção atualizada do famoso sermão de Aldersgate que ele pregou do mesmo texto, vinte e sete anos antes), Pecado nos Crentes, e O Arrependimento dos Crentes. E ele estendeu um ramo de oliva para George Whitefield no sermão publicado em 1785 sobre O Senhor, Nossa Retidão, usando da questão e do texto que Whitefield, há muito, aplicou em afirmar sua devoção à santidade atribuída e à concedida.

Finalmente, Wesley emitiu seu Claro Relato da Perfeição Cristã, em 1765, reunindo materiais recentes e quase esquecidos que ele publicara durante os primeiros vinte anos. Ele o escreveu, para opor-se ao fato de que a ênfase sobre uma experiência instantânea de amor perfeito era uma ideia nova para ele. E declarou, em vez disto, o que eu concluí estava realmente correto: que seu irmão e ele ensinaram esta doutrina consistentemente, desde a publicação do prefácio do hinário de 1740. Para os estudiosos modernos, levantar uma passagem ou duas, daquilo que o Claro Relato fala sobre a santificação progressiva, e combiná-las com o exemplo de Wesley, comparando a santificação gradual que precede a experiência da completa salvação a um paciente moribundo, muito antes que ele ou ela experimente o momento da verdadeira morte, é um uso estranho do documento. E é ceder a George Whitefield e seus aliados Calvinistas, o mesmo argumento pelo qual Wesley estabeleceu sua diferença entre eles. Isto é, de fato, um libelo sobre a morte. E a questão do historiador, eu penso, quer ele ou ela esteja lidando com as ideias religiosas ou evento político é proteger o morto do libelo.

Mas a tarefa de todo Wesleyano verdadeiro, eu penso, é mais importante – é a de promover aquela pureza de coração e amor perfeito que fluem “da plenitude Daquele que preenche tudo em todos”. Em face das presentes questões, eu penso que Wesley perguntaria algumas outras: Se verdadeiramente amamos a Deus, não devemos amá-Lo com todo o nosso coração, e às outras pessoas como a nós mesmos? Não é tal amor que Moisés, Jesus, e Paulo disseram seriam os dois mandamentos, que sustentariam todos os demais? E não estão os mandamentos de Deus, inseridos nas promessas de que seremos capazes de cumpri-los? A promessa de Deus de nos limpar de “todas as nossas sujidades e todos os nossos ídolos”, e colocar Seu Espírito habitando em nós, de maneira a fazer com que mantenhamos Seus mandamentos, é, Wesley diria, uma das chaves das promessas bíblicas que chamamos de amor perfeito.

Editado por Jason Gingerich e Michael Mattei para Wesley Center for Applied Theology Northwest Nazarene University

* O texto pode ser livremente usado para propósitos pessoais ou de estudos. Qualquer uso deste material para propósitos comerciais de qualquer natureza é estritamente proibido sem a expressa permissão da Wesley Center, Northwest Nazarene University, Nampa, ID 83686