jogos e rodas infantis - oneyda alvarenga

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    - ~ . ~ .". ' .~~ . . . . .

    ~ . , . , . . . . , . . _

    M U S l C AP O P U lA R .

    B l l E l R A

    EDITORA GLOBORIO DE JANEIRO - P() R T 0 ALE G R f: - SAO PAlJ,,)

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    iNDICEtNDICEEXPLICA9XOl- ORIGENSII- DAN9AS-DRAMATlCAS

    '4ReisadosBumba-meu-boiRanchos. Cord5es-de-bichosChegancasPastorisTernosDancas-dramaticas de inspiracao amc-.rindia: Caiapos, Cabocolinhos,Danca-dos-Pages. Danca-dos- Tapuias,

    Os Caboclos, TapuiadaCongos e CongadasMaracatuTaierasMocambiqueQuilombosCucumbisCatopesTurunduDanca-de-velhosDan~as-dramaticas divers as: Danca-dos-jardineiros, Danga-dos-alfaiates, Cana-

    verde, Danga-do-DiaboIII - DAN~AS

    Dancas do Tipo Batuque ou SambaBatuque e SambaQuimbete. ChibaCaxambuJongoCocoDanca-do- TamborLundu e dancas afins

    Pags,9

    1117293 24155597682

    8390105112114116

    1191 2 21 2 - 1124

    1 2 612 91301301 3 91401411 4 4147147

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    10 Oneyda AlvarengaLunduBaiano ou BaiaoChulaCachuchaSorongoSarambequeTiranaCarimboComporta. ArrepiaDancas de rodaDos fandangosCana-verdeQuatragemDancas em f'ileiras opostasCatereteRecortadoManu-ChicaIV - MOSIC.'\. RELIGIOSA1) Ligada a Costumes Populares CatolicosFolias ou Bandeiras do Divino e de Reis. Dancas da Santa Cruz e de Sao GoncaIo2) Mu;ica de Feiticaria

    V - CANTOS DE TRABALHOVI - JOGOSRodas infantisJogos coreograficos adultosCapoeiraCantos de BebidaVII ~ CANTOS PUROSDesafioRomancesA-be-ce. DecimaModaToadaEmboladaVIn - MOSICA POPULAR URBANAModinhaMaxixe e SambaChoreMarcha. Frevo

    Pags.14715615816116216 31641701 7 11 7 117 317 918218218418 8193199

    20120 621222323523 52402 4 32482552 5 526 326 927027;:;27 82832.84292299299

    Netas sobre os Instrumentos Citados 303Belacao das fotografias de instrumentos comos dados que constam das suas fichas naDiscoteca Publica Municipal de Sao Paulo. 315

    Bibliografia 323

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    VIJOGOS

    Rodas in/antis

    -"" ~M- _- da. .Colhido por Oneyda Alvarenga em Varginha (Minas), em 1936.

    As pequenas notas entre parenteses, aeompanhadas das letras A, B,C s a o variantes ritmicas exigidas pelo texto das estrofes 2, 3, 4.

    2 35

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    236 Oneyda Alvarenga~ moda da carranquinha tcarrasquinhaiE uma_ moda esiranqolada,Que poe 0 joelho em terraFaz a gente [icar pasmada.Maria, sacode a soiaMar~q.,.levanta os br~90s,Marla, tern do de mimMaria, me dd u m abr~90.A chuva que chouea ontemTttda ela me apanhotiConuersando com meu benzinhoTodo gosto me tirou. 'A mora que esid na rodaN'e bonita .nem e [eia,Parece urn botiio de rosaPros m090 boia no peiio,

    e a PSaesnhroordaasDdeSossivheI.rigem espanhola, a mais amada, ana anc a" qu C 'I' M'menta J 'a it d t ,e ecuia eireles supoe frag-, mui 0 e urpado, de velho romance.110

    SENHORA DONA SA'NJA (Sancha)4 : ' i nQ I :l g 0 j J 1 . f nrllj j1ns , . ..t. 'It: ~. __ J e w . 'r ' co - k,. . , . J p q' fl... ~... .. ,~. toto. """loW m'0 .- to ' n _ _ , ~ - ,- " "" . .. . 7"'-

    o J . !j] ;110" II9oip.ido po!-"Oney~a Alval'enga em Vargjnha (M~nas), em 1~35.

    Musica Popular Brasileira 2 37

    Senhora Dona Sanja (S{1ncha)Coberia de ouro em po,Descubra nosso rosto ..Que nos queremos vel'..Somes [ilhas de urn reiE netas de urn conde,Viemos esconder .Atras da pedra grande.'

    Alem das rodas de certa au provavel origem iberica e deo u tras que nfio apresentam nenhum carater etnico definido,muitas hit que apareceram aqui mesmo, nascidas posslvelmen-te, como as importadas, da apropriacae infantil de cantigase dancas de adultos. Musicalmente, todas essas tern urn niti-do carater brasileiro.

    A mais vulgarizada das rodas de cria

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    .~ Oneyda Alvarenga Musica Popular Brasileira 239

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    Se roubei teu coraciioTu' roubaste 0 meu iambem ...Se roubei tea coraciio,E porque te quero 'bern.o hastante difundido "Sambalele" revela contribuicao

    afro-brasileira para as nossas rodas. (Com 0 nome que 0batiza mudado para Chahariri, 0 seu texto aparece entre ascantigas de uma versao nordestina de Congos.) 0 mesmoacontece com a "Borholeta", roda existente na Bahia e quee urn Samba legitimo. Como tal, seu texto ja se encontra re-gistrado em livro. A melodia apresenta a curiosidade de ba-sear-se Duma escala pentafonica.

    .- ;.. .'r,

    Ohl tnulaia bonita,Como e que namora? .- Poe 0 lencinho no bolso,Deixa a poniinha pra fora.Pisa, pisa, pisa, etc.Oh! tnulaia bonita.Onde e que oce mora?- Moro na Praia FormosaE daqui vou-me embora.Pisa, pisa, pisa, etc.

    113BORBOLET~O\112SAMBALEI..Jll

    ~:'1rP J)j I J J \ i 1 j Fft! J lI A1'-k.".~. &. Ii J . i . 'a,- ~. k ~ < -D 'a " ,. k - : " , " 1 < 1 & . a . . k, J " ", -P c t -& . .I

    Fn\j J\rylOj IJ1,IBOIED- le ~ . d 44' ~It & ' d-...._ P. f, ~ ,. Ira J.,. ft: -d"; l - ! p . , p i ,M . . ~ . OG I : rD. P. M., Not. nc O 2.79, Cod. n. " 4. Colhido na Bahia, em 1937,POT Camargo Guarnieri.

    ~J j fA \ ; J V I IPar mira niio, borboleia!Voce pode aooar.

    E para finalizar, eis uma roda colhida em Minas Ge-rais - a "Saudade" - que possui todas as earateristieas damelodica caipira :

    .'nIi J j !11n n Iii O l.fil nj- ~ . ~ . e . 4 .. .- ta.. Aa d < r - - 4&. p. '........ t : r . . ta . e . 4(. 1./.44 J,:_M, ~ . .& . A, " ,1" ' r, ,Sambalele t a doenie,Td com a cabeca quebrada.- Sambalele precisaoaE dumas oiio lambada.

    Colhido POI ' Oneyda Alvarenga em Varginha (Minas.), em 1935.

    Refriio daucado : Pisa, pisa, pisa, mulaia 5 bisPisa na barra da saia, mulatait~ - ~~. J J,VltrucoIA, l,~

    .k'.,~~a- r- ~ ~.Iti " '"

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    .:Oneyda Alv'arenga'Caiu um crauo do ceu,-rSodade! -De tao alto desfolhou;- Sodade! ~Quem quise casa comiqo,- Ai, sodadel ~Vd pedi a quem me crio.~ Ai, sodade! ~Quem quise mo~o bunito,- Sodade! ~Arme um. 1Q(;ona parede;- Sodade!-Inda onte apanhei um

    - Ai, sodadel -Num laco de fita 'verde!- Ai, sodade! -

    Jogos coreogrdficos adulios.Aclassifica~ao de jogos coreograficos aduItos pode seraphcada a uma serie de divertimentos que, participando ao

    mesmo tempo da danca, tern como fim essencial par a provao -desembara9?, a esperteza ou a destreza dos participantes.Desta categoria ~e brmquedos musicados so conheco cinco,que foram descntos por Americano do Brasil como dancascon'~ntes no Estado de Golas: 0 Maribondo, a Danca dosCoatis, a Candela, a Piranha e a Canon.

    Infelizmente, 0 Iivro que os registra nao traz as suas mu-sicas. A julgar por urn fragmento de texto, a Canoa deveser poetica e musicalmente uma variante da muito conhecr-da roda infantil "A canoa virou". Pelo seu desenvolvimento .coreogrilfico, tamhem a Piranha se aparenta a varias rodasinfantis eJ? que a fig~~ do centro deve executar 0 que os de-mars participantes do jogo the ordenam. 0 nome da Candelalembra 0C:andieiro, que hoje e roda infantil e foi danca aduI-t~ ~eneralIzada no Brasil. Ignoro qualquer descri~ao do Can-dieiro como danca adulta. E possivel que se executasse co-mo a Candeia goiana, pois que dos textos de ambos consta a~enalidade imposta a quem errar a movimentacao da danca :ficar como ou com 0 candieiro ou candeia. A rodado Can-diei~o, tal como a brinquei ern crianea, nao difere do desen-volvJ.mento comum das rodas infantis. 0candieiro nao entrano brinquedo, ao ccntrario do que sucede no jogo aduJto de

    111l'l.sicaPopular Brasileira 2 4 1GalaS; e apenas referido no refrao que os figurantes acom-panhamcom pal~as. , . . _. ~Como sao muito rapidas as desericoes existentes sobreesses jogos, e como desconheco quaisquer o?-t~'asinf~nna

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    243242 .Oneyda Alvarenga

    Musica Popular BrasileiraSea Salvador.SaloadoralTodo aquele que erraNa candeia hu. de pegd.Seu SalvadorDa cidade, Sinha.Todo aquele que erruNa candeia lui de peqo",

    A Piranha. "Compoe-se de homens, mulheres e ate cri-aneas que formam uma grande roda, saindo ao meio delaurn dos dancantes que executa passos variados ao tempo,em que as da roda girando it direitae a esquerda, cantam :

    CapoeiraA Capoeira e um jogo atletico introduzido no Brasil pe-los negros de Angola. Tal como 0 jiu-jitsu, e um jogo es-sencialmente de destreza e nao de for~a, que exige grandeflexibilidade de corpo e prontidao de rnovimentos. Seus gol-

    pes. na sua maioria aplicados com as pernas e,a cabeca, saobatizados numa giria pitoresca, que parece variar com 0 tem-po e 0 lugar, ernbora conserve sempre alguns nomes tradi-cionais. Estao neste caso, por exemplo, 0au ou aut), saltomortal em que urn dos contendores se atira de cabeea sobreo outro; 0 baliio, "em que as maos sustentam 0 corpo do 'ad-versario para [oga-lo, por cirna da cabeca, para tras" (Edi-son Carneiro); 0 famoso rabo-de-arraia "que consiste emcair sobre as maos e rodar 0 corpo de encontro as pernasdo adversario, para derruba-Io". (Pequeno Dicionario Bra-sileiro da Lingua Portuguese)Terrivel meio de ataque e de defesa, a Capoeira estahoje suavizada em pratica principalrnente esportiva, mas te-ve uma cronica turbulent a no sec. XIX. Os capoeiras, prm-cipalmente os do Rio de Janeiro e da Bahia, celebrizaram-sepelas desordens e brigas que provocavam, rematadas em fe-rimentos e rnortes. As medidas de repressao, executadas pe-, la policia desde 0principio desse seculo, foram impotentespara conte-los. Parece que a guerra do Brasil com 0 Para-guai (1865-1869) e que assinalou 0 fim das violencias 'dos ca-

    poeiras. Para se vel' livre deles, 0 governo da en t a 'O provinciada Bahia mandou para a luta "bom numero de capoeiras,muitos por livre e espontanea vontadee muitissimos vo-Iuntariamente constrangidos"... (Manuel Querino) 0 mes-rno aconteceu no Rio de.Janeiro, pois Melo Morais Filho dizque a guerra do Paraguai acabara com os capoeiras cariocase com as desordens sangrentas provocadas por eIes.

    o capoeira desses tempos se distinguia Iacilmente pelosseus trajes e suas atitudes, Eis como, se apresentava 0ca-poeira do Rio de Janeiro, de que 0 da Bahia. diferia no as-pecto apenas por trazer na orelha esquerda uma argolinhade ouro, ern vez do anel na gravata: "calcas Iargas, paletosaw desabotoado, carnisa de cor, gravata de manta e anel cor-redico, colete em pala, botinas de bicoestreito e revirado,e chapeu de feItro. Seu andar e oscilante, gingado; e naeonversa com os companheiros ou estranhos, guards dis tan-cia, como em posicao de defesa" r (Melo Morais Filho) Aconstante preocupaeao de guardar-se era' urn trace comum

    ChOTa, chora, piranha.Torna a choral ', piranha;Poe a mao na cabeca -Piranha!Poe a mao na ciniura .Dei um sapateadinho .Mais um requebradinho,Piranha!Diz adeus ao pooo, piranha,Pega na mao de todos, piranha.

    ~ tal piranha faz 0 que se the manda, chorando, pondoa mao na cabeca, etc. POI' fim conseguindo agarrar a maode ~u.a~q~er dos da roda, puxa-o para 0 meio do circulo, to-mando-Ihe 0 lugar. Assim se continua".

    A Canoa. "Posta-se no meio da sala 0 violeiro: dozecantores s~ aproximam dele" sentam-se ao chao com ~s fler-n~~ ~,!~~~hdas, pes contra pes, em torno das canelas ..do via-leln:~. ,i!Jste pende 0 corpo sobre urn dos cantadores, que 0sustem com as palmas da mao e num movimento 0 arremessaa .direita ao seu ime~i?to, que 0 impele para 0 vlzinho, e, as-sun num rodar vertiginoso, 0 violeiro toea e canta : - A ca-noa virou,!a nas ondas do mar, - eos cantores todos respon-dem ern coro: - E porque a mae Maria' nao sabe remar,~ Seguem-se outros versos, e a pericia do violeiro esta emnao perder 0_ compasso do rasgado naquele rodar violente,aos tramholhoes e empuxfies que leva".. Como se ve pOI' essa descricao, a Canoa e exatamenteum Jogo puro, sem nenhuma participaeao da danca,

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    24 4 Oneyda Alvarengaao carater dos capoeiras de qualquer parte e vern singular-mente acentuada nesta descricao dos capoeiras baianos: "0capoeira era urn individuo desconfiado e sempre prevenido,Andando nos passeios, .ao aproximar-se de uma esquina to-maya imediatamente a direeao. do ineio .da rua; em viagem,se uma pessoa fazia 0. gesto de cortejar a alzuem 0 capoei-

    d rbi I ::. ,ra e su Ito, sa tava longe com a inteneao de desviar umaagressao, embora imaginaria", (Manuel Querino), No exercicio do seu jogo os capoeiras nao se valiamapenas da agilidade fisica, mas tambem 'de facas, navalhase de um pequeno cacete de 50 cms., que traziam amarradoao pulso por uma cordinha, Na falta dessas armas 0 ca-poeira ~panhado de surpresa transformava 0 chapeu 'de fel-tro em mstrume~to de defe?a, "rnachucando-o ao comprido",T~nto no RIO de Janeiro como 11aBahia, os capoeirasorgan~zavam-se em bandos, que viviam ern constantes pro-vocacoes e escaramucas. Habitualmente os encontros se da-va~ em l.t_:garesr~t!rados, mas ~s festas publicae sempre fo-ram ocasrao propicia para que eles armassem barulho. Ne-g~os .e'mulato~ formavam esses bandos, de que os do Rio deJ:;nelro nos ficaram muito bern descritos por Melo MoraisFilho.. As maltas localizavam-se em diversos bairros tinhamnomes que as distinguiam e eram dirigidas cada ~ma por~m chefe, sendo 'que a t6das presidia urn chefe supremo.'~e~'al:nente eram compostas de africanos, que tinham como~lshnhvo ~s cores e 0modo de botar a carapuca, ou de mes-ticos (alf'aiates e charuteiros), que se davam a conhecer en-tre si pelos chapeus de palha ou de feltro, cujas abas revi-ravam, segundo convencao, A categoria de chefe de maltas o atingia aquele cuja .valentia 0 tornava inexcedivel, e deehefe doschefes 0 mais afouto entre eles, mais refletido eprudente": (Melo Morais .Filho) Ate 1860, aproximadamerl'te,os capo~lr~s prestavam juramento solene, e 0 Ingar escolhi-~o par~ ISS0 eram as torres das igrejas". Nastorres das igre-jas, "ninhos !ltroadores dos capoeiras de profissao", funcio-navam t~mbe~ as aula~ do jogo. "As questoes de fregueziaou de bairro nao os desligavam, quando as circunstancias exi-&iam desagravo comum; por exemplo: urn senhor, por mo-t~vo de capoeiragem, vendia para as fazendas urn escravo fi-lIad,o a qu~lql!er ;;nalta; eles ~euniam-se e designavam 0 q,uehavia de vinga-lo . Como salienta Artur Ramos poresta m-formacao se ve que ~ orga~izayao dos grupos 'de capoeirasassumia urn verdadeiro carater de sociedade defensiva, em'que os escravos se fortificavam contra a opressao dos senho-res,

    Musica Popular Brasileira 24 5Entretanto, muita gente hranca e pacata praticava ama-doristioamente 0 jogO',nesses tempos da Capoeira braba ...C o-

    momeio de educacao Iisica, dizem os que narram a cronicado, j1ogo;prov3:velmente ,para garantia da pele, no meio dosturumhambas das festas e das eleicoes politicas, em que oscapoeiras convenciam com facilidade muitos eleitores a de-sistirem de votar no partido contrario ao de quem os assa-lariava ... Ate 0 clero nao desprezava a Capoeira: entre asproezas dos amadores se conta a "de um frade do, Carmo,que, por ocasiao de uma procissao do Enterro, debandou acabeeadas e a rasteiras urn grupo de individuos imprudentesque 0 .provocaram ". ,. (Melo Morais Filho)Hoje a Capoeira parece ser cultivada apenas na Bahia,onde a usam essencialmente como esporte. Os golpes perigo-sos sao proibidos e a vitoria e decidida geralmente por con-tagem de pontos. Informam os autores que 0. jogo vern semisturando com goIpes de outras lutas _, do box, do jiu-jitsu.da luta romana - e que em breve estara completamente des-virtuado. Os negros baianos distinguem varias modalidadesde Capoeira, caraterizadas apenas por pequenos detalhes, sen-do a principal delas a ehamada Capoeira de Angola.Os baianos praticam tambem uma variante da Capoeiraa quechamam Batuque ou Batuque-boi. 0 Batuque esta emdecadencia na capital do Estado e vive agora mais partieu-larmente no interior. Distingue-se da Capoeira pelo fato deque seus golpes sao dados exclusivamente com as pernas, To-da a atencao dos lutadores concentra-se em manterem-se depe, pois que perde a luta aquele que cal. Esta modalidadede Capoeira deve ser tao velha quanto a outra mais desenvol-vida. No principio do sec, XIX 0 Conde de Arcos dava as ra-zfies porque julgava uti! manter 0 Batuque dos negros, ape-sar dos protestos da opiniao publica, Nina Rodrigues, quecita 0 documento, entendeu que 0' trecho se referia 3:dancado mesmo nome. Dadas as intencces do Conde de Arcos deaeular a combatividade dos negros entre si, afim de garantiro dominic dos brancos, creio que nao ha duvida de que elese referia nao ao Batuque danca, mas ao Batuque luta: "Ba-tuques olhados pelo governo sao uma coisa, e olhados pelosp~rtjculares da Bahia sao outra diferentissima. (.,.)' 0 'go-verno olha para os Batuques como para urn ato que obriga?S .qegros, insensivel e maquinalmente de oito em oito dias,a renovar as ideias de aversao reciproca que Ihes 'eram na-turais desde que nasceram, e que todavia se VaG apagandopou~,o a pouco com a desgraca comum; ideias que podemeons~derar-se como 0 garante mais poderoso da seguranca

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    Oneyda. Alvarengo Musica Popular Brasileiradas grandes -cidades do Brasil, pois que- se uma vez as dife-renie:s 'nagoes da Afdca se esquecerem totalmente: da raivacom que a : natureza as desuniu, ( .. .) grandissimo e inevi ..laver perigo desde entao assombrara ie desolara 0 Brasil.E quem havera que duvide que a- desgraea tern 0 poder defraterrrisaros desgracados? Ora, proibir 0 unico ato de desn-niac'entre os negros vem a ser 0mesmo que promoven 0 go-verno Indlretamente- a unaoentre eles,do que nao posse vel'seniio terriveis conseqiiencias",

    . A Capoeira esporfiva da Bahia e sua variante- 0 Batu-que -:: sao acompanhadas ohrigatoriamente de musica, Ternseus cantos proprios, 'entoados por cantores que se colocamno centro do local do jogo em semicirculo e se acompanhamcom berimbaus, ganza. (reco-reco) e pandeiro. A parte mu-sical da Capoeira esta mais bern descrlta que a do Batuque.Urn solista tira oeantoe a cora responde com urn refrfiocnrto, com' 0ultimo verso, todo ou 'em parte, ou com a uIti ,;;rna palavra do solista. 0 canto se inicia antes de comecar aIuta. Em uma das descrieoes existentes em livro, durante acanto micial (que no caso se chama preceito) "as Iutadoresentram na arena e vao se agachar defronte da orquestra.Desde esse momento nao podem falar, Ficam ai agachados;enquanto os cantadores vaocantando. So depois destes ver-sos a Iutacomeca", (Edison Carneiro) Em outra descricaonao bit 0 preceiio : "Comecado o canto em andamento mo-derado, dois camaradas vao para 0 centro do semicirculo,com ar concentrado. Benzem-se, miram-se e comecam a In-ta com seus passes originais. ( ... ) Com 0 desenvolvimen-to da Iuta, 0 ritmo das cantigas se vai acelerando e 0 anda-mento de moderado chega a vivo e vivissimo, a tal ponto queas vezes e precise parar 0 canto, pois, do contra rio a Iuta de-genera em contend a as direitas, caso em que so se separam ascapoeiras com extrema dificuldade ou com a viteria de urndeles", (Renato Almeida)

    Evidentemente, a musica nao e pois empregada na Ca-poeira como urn elemento de enfeite, mas como uma fbrc;aativadora das energias dos lutadores. De tal modo a rmisi-ea se ligaao jogo, que He depende intimamente dela e e porela regulado. A Capoeira de Angola nao se realiza se naohoover berimbau para acompanha-la e algumas das especiesem -que 0 jogo se divide nacapital baiana sao distinguidasapenas pOI' modes peculiares de tocar 0 herimbau,Essa fo:r:c;adinamogenica da musica de Capoeira resideesseneialmente no aumento crescente da velocidade de an-

    damento. As pecas SaD curtissimas, geralmente composiasde dois .pequenos motivos rftmico-melodicos, Sua at;ao:pa~rece manifestar-se no mesmo sentido do exacerbamento mo-tor a que a musica dos rituais fetichistas conduz a danea dasfHbas-de~santo. De fato, os canticos de Capoeira apresentamcom os de feiticaria asemelhanca da repeticao intermina ecarla vez mais acelerada de uma melodia curta, repeti~aoextremamente propicia a conduzir a est ados de agitaC;ao. Doque seja essa musica se tera urna ideia clara pelos dais exem-plos seguintes, 0 primeiro dos quais se refere a Sao Bento,popularmente considerado protetor contra as cobras, e cujonome designa tamhem variedades baianas de Capoeira,

    115ESTA COBRA T.E MORDE

    t,;. . G o ( ,~_~~~m~9' t . .. .. .. ,. " " '" ':,...._-e--r-t----f--I--..!~fd

    - ~ _ ; , , - . d .. . ~ . o J ; ; $... 4.J' (J 1 14 . . , - e . . , . . .. .t . " "' . A. $ : . " . . ; s.., ,J3~.D. p~ M., Not. n_ O 266,_Cod. n. e 4. Colhido .na Bahia, em 1,937,por Camargo Guarnlerf ,

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    248 . Oneyda Aluareuqa. ~Solo;.,; Coro:Solo-:

    Esta cobra te mordeSinho .Sao. Bento (repeie-se ".depois, de.oi 0 bole da cobra cada verso) , ,Oi a cobra mordeu .o oeneno da cobraoi a casca da cobra() que' cobra dan ada() que' cobra malvada.

    116LA LA. LA .4 : :2 J tfft J 1 1 . 1 f I i j ' . , r 11 1 ' . 1 t f

    & . fa R . . . . . : f , , ;, e . i 1 . . .'!.. Ii.. 4 . t. t ,v' '"

    ~ , . J1 1 J !I J1i l'J!! f i 1 J . : t r n f i I I. c . . e : fa " i.,,; t.. k(_; 1.., e : f. . i II'lt t.. r! o~ i j J d _ ' ._.k &;..

    D. P, M" Not. n ,O 270, Cod, n .O 4. Colhido por Camargo GUarnieri naBahia, em 1937.Lei ld lti i Id i ld lei i leiLe i z ' ld ta ki i ldLei lei lei i lei i ta lti i ldL e i . i l e i . l e i .~ volta do mundot; que 0 mundo da.

    Cantos de BebidaA massa do povo brasileiro hebe certamente sem .ne-nhuma alegria, desconhecendo parece que por complete 0habito de socializar a bebida, de transforrnar 0 ato de beber

    numa diversao de grupo. Se 0 povo hebe, ~ bebe hastantenas suas festas e dancas, cada individuo e sempre urn hebe-dor isolado, .quebusca no alcool 'exclusivamente urn' exci-tante' ou urn meio de fuga para melhores mundos, Por -isso

    F

    Muska Popular Brasileiraa bebida jamais uniu ninguem nas festancas populares, agin-do sempre, pelo contrario, como fonte de discordias e de ba-rulhos. E e por isso tarnbem que tendo nos u:n vasto roman-ceiro da caehaca, em que ela e seus parentes sao alvo de amo-rosas louvacoes pessoais do cantador, parec~ que nao te,?~slegitimos cantos de bebida. populares,. I~to e,_entr~ os h~b~-tos musicais do homemd:o povo hrasileiro nao.existe prati-camente 0 das lihacdes feitas em grupos alegres e acompa-nhadas de cantigas que de certa maneira as ritualizam, 0que existe entre 0 povo sa~ a}:!e?as e~n~igas com que bebe~-roes cantadores celeb ram individualisticamente os seus Pl-foes ou as virtudes do alcool, tal como no exemplo seguinte.Essa melodia muito vulgar pertencia ao repertorio de umamulata muito desabusada, que costumava canta-Ia, acompa-nhando-se com viola, nos dias em que tinha virado demais'0 copo, A segunda quadra corre, em variantes, por diversasregioes do Brasil.

    117!..6~l ; 1 J J j I rJ] ! J J 1 I : r11 1 J . J J I J J j I -I- ,,. 1#

    S O f a M e . ~ I I t Q . t ! t ""III "",. M CD. M- a. G u . . .. . J" ~ ... . .. ~ ' ' ' A . Be ,

    *. 4 J i. ., .. . M4"* di.~.Colhido por Onevda Alvarenga em V.arginha (Minas) , em 19'85.. .' . ""~ " ~

    Refriio :

    So padre, so trade,Com suas coroa,Quando' uai 'na oendaBebe s o da boa.Le i na oeuda, }La na uenda,L a na venda, bisL a na oendinha.

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    250 Oneyda Alvar~nga Mus'iNl. 'Popular BrasdeiraCachaca boaE do PaU-do-Aio:Aqui memo eu bebo,Aqui memo eu cdio.La na oenda, etc.

    Entretanto, os cantos de bebida tiveram uso correnteentre a burguesia brasileira. Principalmente nos jantaresfestivos foi costume tradicional brindar-se com cantorias des-de os donos da easa ate a cozinheira, muita vez obrigada aassistir a homenagem.Dessas cantigas estao registradas poucas melodias e al-guns textos. 0 merito principal das musica, reside no seucarateI' vivo e saltitante. Nos textos se encontram, de cam-

    bulhada com 0 elogio da bebida,enumera~ao de aves nacio-nais, versinhos idilicos a Marilia, patriotadas, Iatinorio e atesantos transformados em amigos da bebedeira:.Encontrei com Santo AntonioNa ladeira do Pilar,Gritando em alias vozes:- 1:ste copo e de virar!

    c Lf W I f EJllEO 11,. " 1 1J-. to-drl U e . . . . A I 4 e!.. .; .. de de.1.4- M ! - ., c a , v . J M I "A Musica no Brasll",' p. 96.ereira de .e0: "

    Papagaio, 'periqllito,Saracura, sabia, .' .Todos caniam, todos. bebemA saade de u a . .Inf Iis te tao a!!radivel costume musical esta quaset ego~e~ u~anC(a ~oletiva e tradicional, pare~e .que ~s,mol' o'd h b'da tern hojeo seu ultimo reduto na.clda4e mr-ca~tosde eDi~l~antina onde ainda os cultivam carinhosamen-

    ~elr~ess'a cidade dao~lhes 0nome de Coretos, palavra.que ~a-.e.. t sido usada com 0mesmo senti do ern outros pon os,re~e .er Os Coretos de Diamantina apresentam uma ~ar.a-r ~ ~ ~ ~ : ' ~ e:~;:~~,,~~!~l~~~a~\~~~:fonia instintiva, segundo me III ?rmt0de qua n~o ha especi-CAd A edo A peca seguin e, ".orr:a de I zev d' colheita e ' urn dos Coretos existentes emg~:~Zntj~a~g~r de~iciosa, p 'e l i sua melodia e pela nota decrosto arcadico do seu texto:D . 119' .

    COMO PODE 'YIYElR 0 PEIXE'"";:, ["I 11 " . A .;.t1'1 * It', l' ~ I ~ i1r

    Sao Goncalo [oi Ii ca~a, cara, ca~a,Todo cheio de lacinhas, cinhos, cinhos. 'Em louvor db mesmo santo, santo, santo,Vou beber urn bocadinho...Da-me Deus, da-me Deus,Gi - ti - ri - ti - ri - ti -ti.

    Nem falta tambemum salzinho de malicia,comQ. nestssextilha que certamente cantava-se bern longe da casa dovizinho ... o que [az. a minha gloriaE a mulher do vizinho;Mas quando' bebo seu vinhoComplete minha oitoria.Ate com risco .de -oidaViva a cousa proibida.

    A cantiga seguinte foi provavdmente '(las mais vuIgari-zadas no Brasil. pois que varios autores se referem a ela:.,.;!! 1 b r ' r i I . J 1 - J . \ J 'I. a.. G o 4 C t < . a,. t,. ~I j 'e .., , '. t...It' c o " ' ! " , . 1 . e . 1 .

    Ih- Pinto: "Cantigas das Criancaaaga aes I. '. . .p, 134 -135. Colhido em Mmas Gerats , e do Povo",lexina de

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    252 Onegda' Alvare~gaComo pode uioer 0 peixeSe~ ser deniro d'dgua [ria,Asslm posso eu uiuerSem a tua companhia.

    Sem a tua, sem a tua,Sem a tua companhia.

    Os pastores desta aldeia-De mim {azem zombariaPor me ver andar choraddo, (bis)Sem a tua, setti a tua,Sem a tua companhia.

    Alem ? O S cantos de bebida, talvez haja pelo Brasil a fo-ra outros jogos cantados de mesa, a espera de serem descobertos. MeloMorais Filho, por exemplo, se refere no sec XIXao cost~me de se cortarem os assados e trincharem as 'avesnos banquetes, ao som de cantigas improvisadas, (S6 os tex:tos, certamente.)_heci- jogo .de mes-a,especialrnente de mesa de bar multocom ecido pelo menos em Sao Paulo e Minas Gerais 6 0 dosEahsc~avose Jo, do qual muitas vezes ouvi e cantei 'a versaoaixo :

    1 20ESCRAVOS DE J6J. g~~I ' ~ ~ ~rn--"7'"!jJ 2 ; IJ ~ I1 . i Innlihjj "w f i l

    t: 4- ~ < Ie r / 0 - r":C(!. X < t - . , - r r - f; .-.1,ft.' : r t Iii Ii J 1 1 1 iJ J J 1i J J I J . I I D e.~ c. """514. Wi.. "'" e..r: ""4-, "'" rr y.,...- j" i J ; ' .

    Escrauos de J6 S .Jogavam caxangd. lbisPega, deixa, Pereira,Guerreiros com guerreirosZigui zigui zigui za.

    Musica Popular Brasileira 25 3Os jogadores se munern cada um de urn objeto (pecado talher, caixa de f6sforos, etc.), que deve ser passado aovizinho da direita com uma batida na mesa, em cada tem-po forte do compasso. Os objetos vao circulando assim demao em mao. Ao chegar ao "zigui, zigui, zigui, za", as ha-

    tidas acompanham cada som da melodia num movimentolateral de vaivem partindo da direita, de modo que 0 somfinal (zit) coincida -exatarnente com a coloca~ao do objetodiante do vizinho da dire ita e a cantiga possa ser infinda-velmente recomeeada sem interrupcao. Mas a modifieacaodo ritmo faz com que os distraidos, errando 0 movimentodas batidas rapid as, batam com 0 objeto no lado esquerdoao concluir-se a melodia. 0 gosto do jogo e a confusao des-sa hora, em que os desatentos sao eliminados.