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1 JOGOS E BRINCADEIRAS TRADICIONAIS, UMA PROPOSTA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Sérgio Jesus de Andrade Orientadora: Profª Renata Costa de Toledo Russo ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE JUNDIAÍ ESEF RESUMO Este estudo de cunho bibliográfico têm como objetivo fazer um resgate cultural dos jogos e brincadeiras tradicionais que estão se perdendo com o passar do tempo. Nos dias de hoje é fato que as crianças têm menos espaços para brincar. Enquanto que em épocas passadas elas tinham as ruas, parques, bosques, hoje em dia estes espaços estão cada vez mais escassos, sem falar da falta de segurança e a concorrência com os carros nas ruas, sem falar também da concorrência com o vídeo game e o computador. O brincar faz parte da vida da criança, e é uma fonte natural de conquistas, vivências e novas experiências, é no brincar que as crianças aprendem muitas coisas que a vida pode lhes ensinar, vivências como: o respeito, entendimentos de regras, viver em grupos, dividir espaço e material, entre outras experiências que o brincar pode oferecer as crianças.Para muitas crianças a escola é o único espaço para brincar, o que torna a educação física escolar um pouco diferente do que se vivia em épocas anteriores. Nos dias de hoje o brincar está muito mais presente dentro das aulas, mas um brincar com objetivo e não puramente largar a criança no meio da quadra com um amontoado de brinquedos. O resgate de alguns jogos e brincadeiras tradicionais tais como: jogos de pegar, cantigas de roda, amarelinha, barra manteiga, mãe da rua, pedrinhas entre outras, estão presentes nas aulas. Palavras-chave: Jogos. Brincadeiras. Educação Física Escolar

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JOGOS E BRINCADEIRAS TRADICIONAIS, UMA PROPOSTA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Sérgio Jesus de Andrade

Orientadora: Profª Renata Costa de Toledo Russo ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE JUNDIAÍ – ESEF

RESUMO

Este estudo de cunho bibliográfico têm como objetivo fazer um resgate cultural dos jogos e brincadeiras tradicionais que estão se perdendo com o passar do tempo. Nos dias de hoje é fato que as crianças têm menos espaços para brincar. Enquanto que em épocas passadas elas tinham as ruas, parques, bosques, hoje em dia estes espaços estão cada vez mais escassos, sem falar da falta de segurança e a concorrência com os carros nas ruas, sem falar também da concorrência com o vídeo game e o computador. O brincar faz parte da vida da criança, e é uma fonte natural de conquistas, vivências e novas experiências, é no brincar que as crianças aprendem muitas coisas que a vida pode lhes ensinar, vivências como: o respeito, entendimentos de regras, viver em grupos, dividir espaço e material, entre outras experiências que o brincar pode oferecer as crianças.Para muitas crianças a escola é o único espaço para brincar, o que torna a educação física escolar um pouco diferente do que se vivia em épocas anteriores. Nos dias de hoje o brincar está muito mais presente dentro das aulas, mas um brincar com objetivo e não puramente largar a criança no meio da quadra com um amontoado de brinquedos. O resgate de alguns jogos e brincadeiras tradicionais tais como: jogos de pegar, cantigas de roda, amarelinha, barra manteiga, mãe da rua, pedrinhas entre outras, estão presentes nas aulas.

Palavras-chave: Jogos. Brincadeiras. Educação Física Escolar

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INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje é fato que as crianças têm menos espaços para

brincar, enquanto que em épocas passadas elas brincavam nas ruas, parques,

bosques. Atualmente esses espaços estão cada vez mais escassos, sem falar na

falta de segurança e o excesso de carros nas ruas como também da concorrência

desleal com o vídeo game e o computador.

O brincar faz parte da vida da criança, é uma fonte natural de

conquistas, vivências e novas experiências. É no brincar que as crianças

aprendem muitas coisas que a vida pode lhes ensinar, vivências como: o respeito,

entendimentos de regras, viver em grupos, dividir espaço e material, entre outras

experiências que o brincar pode oferecer as crianças.

Nos dias de hoje para muitas crianças a escola é o único espaço para

brincar, o que torna a Educação Física Escolar um pouco diferente do que se vias

em épocas anteriores. Hoje em dia o brincar está muito mais presente dentro das

aulas, mas um brincar com objetivo e não puramente largar a criança no meio da

quadra com um amontoado de brinquedos. O resgate de alguns jogos e

brincadeiras tradicionais tais como: jogos de pegar, cantigas de roda, amarelinha,

barra manteiga, mãe da rua, pedrinhas entre outras, estão presentes nas aulas.

DEFININDO CULTURA

Para começarmos a definir cultura vamos recorrer ao dicionário da

língua portuguesa, no qual XIMENES (2000) definiu “cultura como ação ou modo

de cultivar. 2. Plantação. 3. Desenvolvimento intelectual. 4. Antrop. Conjunto de

experiências e realizações humanas (costumes, crenças, instituições, produções

artísticas e intelectuais) que caracterizam uma sociedade. 5. Conjunto de

conhecimentos adquiridos numa determinada área de atividade. 6. Conjunto de

atitudes e comportamentos que caracterizam certa mentalidade. => Cultura

inflacionária.

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Assim antropologicamente falando podemos definir cultura como:

conjunto de experiências e realizações humanas (costumes, crenças, instituições,

produções artísticas e intelectuais), (XIMENES, 2000).

A palavra “cultura”, em sua origem no latim, significa ação ou maneira

de explorar certas produções naturais, cuidado com o campo e criação de

animais. Sua origem, portanto, está associada à ideia de trabalho produtivo.

(NEIRA, 2008).

Nesta ideia de Neira (2008), a cultura estava somente relacionada ao

trabalho no campo.

Podemos também definir cultura segundo os Parâmetros Curriculares

Nacionais – PCNs (Brasil, 1998) como:

[..] um conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo. Neles o indivíduo é formado desde o momento de sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os conhecimentos e valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social a concebe. (p. 27).

A cultura é tudo aquilo que criamos, vivenciamos, modificamos e

adaptamos conforme nossas necessidades como explica (DAOLIO , 1995).

O homem é um ser influenciável, e como a cultura de um povo pode

influenciar outro, com o passar das gerações os homens vão mudando,

aperfeiçoando e aprimorando, com tudo isso algumas coisas vão ficando para

trás, como por exemplo, as rodas familiares de conversas, as brincadeiras na rua,

as festividades que antigamente ocorriam nas casas, ruas e igrejas. Nos dias de

hoje os eventos festivos acontecem de forma isolada, sem o engajamento de

muitas famílias, fazendo que certas tradições se percam no tempo.

Segundo NEIRA (2008, p.33),

em 1871, Edward B. Tylor, etnólogo inglês, utilizou o termo “cultura” (em inglês, culture) como síntese de kultur e civilization, abrangendo em uma só palavra todas as realizações produzidas pelo homem ao longo da sua história. Essa definição caracterizada “cultura” como algo adquirido, refutando a ideia inata, dependente biologicamente.

Acompanhando o raciocínio do autor, podemos afirmar que todas as

produções humanas ao longo dos tempos são formas de cultura.

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Os jogos, brinquedos e brincadeiras, são elementos da cultura de um

povo, e não podem perder suas características com o passar dos tempos. A cada

geração temos que levar estas características aos mais novos, estes jogos,

brinquedos e brincadeiras possuem um repertório riquíssimo, podendo ser

inseridos nas aulas de Educação Física Escolar podendo facilitar em muito

nossas aulas.

A IMPORTÂNCIA DO RESGATE DE JOGOS E BRINCADEIRAS NA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR.

Por toda sua infância o brincar é uma coisa muito presente na vida das

crianças. Em épocas passadas as brincadeiras tinham como principal local a rua

ou espaços abertos, sem o grande fluxo de carros e com segurança.

Nos dias de hoje as brincadeiras monótonas, e/ou pouco gasto de

energia vem ganhando espaço na vida das crianças. Os computadores, os vídeos

games, a televisão se tornaram grandes aliados dos pais e crianças quando a

questão é brincar. Por parte dos pais por serem sempre dentro de casa, sob a

supervisão dos mesmos, e por parte dos filhos, que tendo em vista não poderem

sair na rua para brincar se refugiam nas telas dos mesmos.

Segundo Betti (1998) apud Costa (2006), os adolescentes brasileiros

despedem em média quatro horas por dia vendo televisão.

Os jogos e brincadeiras folclóricas foram perdendo espaço com o

passar dos tempos, ora pela falta de espaço, ora pela falta de segurança como

afirma FARIA JUNIOR (1996):

[...] jogos populares infantis, parlendas e brinquedos cantados foram sendo perdidos (ou transformados) nos últimos cinquenta anos, possivelmente como consequência dos processos de urbanização e de industrialização. (p.59)

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O brincar é algo presente para todos, principalmente para as crianças.

Para algumas é tão sério quanto o trabalho dos seus pais, pois na brincadeira

pode ser livre para criar e vencer seus próprios limites.

Para alguns o espaço escolar é o único momento em que esta criança

pode brincar sem estar o tempo todo voltada para um equipamento eletrônico.

Sentar no chão, rolar, correr, gritar, extravasar, são algumas das sensações que

os alunos sentem durante uma aula. Uma brincadeira, por exemplo, de pegar,

onde o aluno precisa correr para “fugir” do pegador, pode liberar muitas

sensações diferentes em cada aluno da sala de aula. Enquanto um aluno que se

movimenta pouco pode estar com a adrenalina a mil, outro aluno que tem um

repertório motor mais vasto está tranquilo e calmo esperando o pegador se

aproximar mais para depois sair correndo.

O brincar é algo nato da criança, em todos os momentos nos quais não

está realizando algo que algum adulto pediu, ela está brincando, seja com um

brinquedo ou com alguma “coisa” que ela encontrou no chão.

Segundo Borba (2006), estudos da Psicologia baseados em uma visão

histórica e social dos processos de desenvolvimento infantil apontam que o

brincar é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e

aprendizagem, sendo assim por que não trazer o brincar para a Educação Física

Escolar?

Pipa, esconde-esconde, pique, passaraio, bolinha de gude, bate mãos, amarelinha, queimada, cinco-marias, corda, pique-bandeira, polícia e ladrão, elástico, casinha, castelos de areia, mãe e filha, princesas, super-heróis...Brincadeiras que nos remetem à nossa própria infância e também nos levam a refletir sobre as crianças contemporânea: de que as crianças brincam hoje? Como e com quem brincam? (BORBA, 2006, p.33).

Devido ao grande desenvolvimento das cidades, os espaços estão

ficando cada vez mais limitados, as crianças estão sendo obrigadas a brincar em

pequenos espaços, e em muitos casos, só sobrando as aulas de Educação Física

nas escolas, ficando para nós Professores de Educação Física a responsabilidade

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de propagar para os alunos, os brinquedos e brincadeiras que os seus pais e

avós brincavam na sua infância.

Segundo Cascudo (1984) e Kishimoto (1999; 2003), os jogos

tradicionais infantis fazem parte da cultura popular, expressam a produção

espiritual de um povo em uma determinada época histórica, são transmitidos pela

oralidade e sempre estão em transformação, incorporando as criações anônimas

de geração em geração. Ligados ao folclore, possuem as características de

anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação e mudança. As

brincadeiras tradicionais possuem, enquanto manifestações da cultura popular, a

função de perpetuar a cultura infantil e desenvolver a convivência social.

Os jogos e brincadeiras tradicionais como podemos observar em

Kishimoto (1992) apud Calegari e Prodocimo (2006), que antigamente eram

passados de geração para geração, hoje se perdem por diversos motivos, um dos

quais podemos citar, é a pouca convivência familiar, devido aos muitos

compromissos assumidos pelas famílias no dia-a-dia. Os pais trabalham fora o dia

todo, as crianças por sua vez, ao invés de brincar, estão indo cada vez mais cedo

para cursinhos e escolinhas, perdendo o pouco tempo disponível para brincar.

Nos dias de hoje o que está faltando para que nossas crianças

brinquem?

A meu ver, um dos fatores é o fato das crianças não saberem do que

brincar, como poderão elas brincar de algo que não lhes foi ensinado?

Como uma criança pode brincar de mãe da rua em frente a sua casa se

ela nunca nem ouviu falar desta brincadeira?

Estes questionamentos podem resolver alguns dos problemas que às

vezes ocorrem nas aulas de Educação Física, nós Professores de Educação

Física podemos fazer este resgate cultural de brinquedos, jogos e brincadeiras e

levar ao conhecimento de nossos alunos durante nossas aulas, possibilitando que

eles adquiram este conhecimento, não somente apresentar os brinquedos, jogos

e brincadeira, mas também trazer ao conhecimento do aluno toda sua história, e

trajetória pelo mundo.

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[...] é lamentável o fato de que estas brincadeiras tradicionais não se tenham sido incorporadas ao conteúdo pedagógico das aulas de Educação Física. Pois, aprender a trabalhar com essas brincadeiras poderia garantir um bom desenvolvimento das habilidades motoras sem precisar impor as crianças uma linguagem corporal que lhes é estranha. (FREIRE, 2003, apud SANTOS, 2009, p. 211).

O brincar é algo inato á criança, os jogos e brincadeiras tradicionais

trazem um repertório motor riquíssimo para as crianças, quando temos a

possibilidade de incorporar estes jogos e brincadeiras tradicionais nas aulas,

damos a possibilidade das crianças vivenciarem um pouco mais da cultura do

nosso povo, ganhando em conhecimento e aprendizagem motora.

Velasco (1996), afirma que na antiguidade as crianças brincavam e

participavam das festividades, lazer e jogos dos adultos, mas ao mesmo tempo

tinham também um espaço reservado para que elas realizassem suas próprias

atividades. O que incluía nestas atividades o que hoje chamamos de brincadeiras

populares, pois naquela época a brincadeira era considerada um elemento

cultural, do riso e do folclore.

Ao observarmos uma criança que brinca, percebemos uma coisa

curiosa: seu estado de espírito coincide com sua concentração no objeto da

brincadeira, jamais é estático e possui um sentido de atração que contagia.

(JUNIOR, 1999).

Como podemos observar os jogos e brincadeiras folclóricas são de

extrema importância no desenvolvimento motor da criança, mas até que ponto

podemos afirmar que uma brincadeira de rua pode ser importante no

desenvolvimento motor e social da criança?

Cavallari e Zacharias (1997) afirmam que é difícil estabelecer que uma

determinada atividade é uma brincadeira, um pequeno jogo ou um grande jogo.

Para podermos definir, temos que ver como esta atividade será desenvolvida no

caso estudado e assim chegar a uma conclusão. O próprio professor pode utilizar

uma mesma atividade em forma de brincadeira, pequeno jogo ou grande jogo,

adaptando-se ao publico a ser atingido. Para transformar uma brincadeira em jogo

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ou vice-versa, basta utilizar as regras de acordo com as características da

atividade.

Uma brincadeira de rua, um jogo popular, pode facilmente ser inserido

nas aulas de Educação Física, basta o Professor dar o enfoque adequado na

atividade. Uma brincadeira de mãe da rua, por exemplo, pode ser inserida nas

aulas de correr, tendo em vista a complexidade da atividade, uma vez que os

alunos são “obrigados” a estarem sempre atentos ao pegador, para poderem

desviar e não serem pegos, podemos ainda trabalhar diversas capacidades

físicas nesta mesma aula.

O brincar é algo que acompanha a criança por toda sua vida, de acordo

com LOPES (2001, p. 35), o jogo e o exercício, é a preparação para a vida adulta.

“A criança aprende brincando, e é o exercício que a faz desenvolver suas

potencialidades”.

Não podemos deixar de lado o fato das crianças viverem em casas e

apartamentos, sendo assim também não podemos desvincular a rua da escola.

Antigamente os grandes talentos eram descobertos em peneirões realizados nas

várzeas, nas poucas quadras poliesportivas que existiam, e nos dias de hoje eles

são descobertos nas escolinhas de esporte. O que antes se aprendia na rua, hoje

se aprende nas escolinhas, este fato reforça ainda mais o papel do Professor de

Educação Física escolar, evidenciar em suas aulas vivências que possibilitem o

desenvolvimento motor, levando ao aluno conhecimento e vivências motoras. Não

devemos traçar uma linha de separação entre a rua e a escola, os poucos jogos e

brincadeiras que hoje se aprende nas ruas podem servir em muito para as nossas

aulas.

Os jogos e brincadeiras populares citados por Kishimoto apud Moreira

(2008), por serem passados de geração em geração, trazem toda uma bagagem

cultural, é muito rico em questões de respeito e de convivência, os quais uma

criança não consegue jogando a frente de um computador ou vídeo-game.

Possibilitar as vivências corporais coloca a criança defronte aos seus medos e

aumenta sua capacidade de resolução de problemas, preparando-as para o

futuro. A responsabilidade da escolha da atividade apropriada é do Professor de

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Educação Física escolar, que deve propor situações onde a criança possa correr,

pular, rolar, girar, explorar as suas habilidades e desenvolver mais algumas.

Segundo HUIZINGA (1980, p. 33)

o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em sim mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida quotidiana.

Todo jogo tem sua regra própria, com elas a criança consegue

desenvolver habilidades para entender as regras do dia-a-dia, uma criança que

brinca e compreende as regras de um jogo ou brincadeira, se torna um adulto

entendedor das regras da vida.

Os jogos como conteúdos escolares podem ser considerados como um

dos que apresentam maiores facilidades de aplicação por diferentes razões, entre

elas:

Não são desconhecidos da criança, uma vez que a maioria já participou de diferentes jogos e brincadeiras;

Não exigem espaço ou material sofisticado (embora possam existir jogos com tais exigências);

Podem variar em complexidade de regras, ou seja, desde pequeno pode-se jogar com poucas regras ou chegar a jogos com regras de altíssimo nível de complexidade;

Podem ser praticados em qualquer faixa etária;

São divertidos e prazerosos para os seus participantes (a menos que sejam levados a extremos de competição);

Aprende-se o jogo pelo método global, diferentemente do esporte, que geralmente é aprendido/ensinado por partes. Ao contrário, em um grande jogo, aprendemos jogando, não se explica e se “treina” as partes para depois se jogar; a graça de se aprender o jogo está em justamente jogá-lo. Não se aprende a arremessar para depois se aprender a jogar queimada, o arremesso é aprendido durante o jogo. Se o arremesso deve ser mais forte, mais forte, mais fraco, em determinada direção, para cima ou para baixo, é o contexto do jogo que vai determinar. Os jogos coletivos foram criados desta maneira, as pessoas aprendiam jogando, somente mais tarde, com a técnica e a ciência é que passou a ensinar com decomposição de partes. (DARIDO e RANGEL, 2005, p.158; 159).

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Os jogos e brincadeiras tradicionais elevam o conhecimento intelectual

das crianças, conhecer a história de um jogo, saber de onde veio, e os lugares

onde se joga. Sabemos que os jogos e brincadeiras modificam de região para

região, conforme afirmam Darido e Rangel (2005) as brincadeiras costumam

variar conforme a região, mas mantêm sua essência e sua forma; essas

diferenças deveriam ser ensinadas aos alunos conforme elas aparecem e de

acordo com o nível de interesse dos mesmos.

Muitos dos jogos e brincadeiras que ainda conhecemos nos dias de

hoje podemos encontrar no quadro que veremos logo abaixo chamado

“Brincadeiras infantis”. Esse quadro foi pintado pelo artista holandês, Pieter

Bruegel, por volta do ano de 1560.

Brincadeiras infantis, BRUEGEL, 1560, 118 cm x 161 cm.

http://www.educandario.com.br/Revista/220909/peqbruegel.jpg

Observando esta pintura conseguimos elencar 84 brincadeiras com as

quais as crianças brincavam por volta de 1560. Podemos também observar o

estilo do bairro, ruas amplas de terra batida, muito espaço para que as crianças

brinquem a vontade, aspectos que nos dias de hoje são quase impossíveis de se

encontrar.

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As brincadeiras costumam variar conforme a região, mas mantêm sua essência, sua forma e sua poesia. O aspecto que mais se altera é a letra das canções e o próprio nome dos jogos. Aliás, no Brasil, há uma riqueza muito grande de jogos e brincadeiras, uma vez que os herdamos dos portugueses, índios e negros numa quantidade incrível. (DARIDO e RANGEL, 2005, p.158).

DARIDO E RANGEL (2005) dizem que: “a Educação Física, ao

considerar o jogo conteúdo, colabora para que o mesmo continue a ser

transmitido de geração, alicerçando esse patrimônio cultural tão importante para a

humanidade.” (p. 158)

Contudo não podemos desvincular estes conteúdos das aulas de

Educação Física Escolar, nossos alunos merecem ter contato com todas estas

vivências, sejam elas motoras ou intelectuais.

As aulas de Educação Física Escolar são um rico momento de trocas

de cultura, nelas acontece o que podemos chamar de pluralidade cultural, pois

nossos alunos são oriundos de diversas regiões, assim como seus pais, com isso

trazem uma bagagem cultural imensa.

Como proposta de trabalho a ser desenvolvida na aula de Educação

Física, vamos analisar o que segundo Neira & Nunes (2008), pode ajudar em

muito nossas expectativas junto aos nossos alunos.

Segundo NEIRA & NUNES (2008, p. 252)

socializar e ampliar o repertório de brincadeiras, rodas cantadas e lengalengas pertencentes à cultura corporal. Conhecer suas variações regionais, procedimentais e nominais. Adaptá-las para as condições do grupo (número de alunos, espaço físico, tempo de aula). Adotar uma postura participativa e não preconceituosa em relação às diferenças físicas, sexuais e raciais.

Seguindo a proposta de Neira (2008) de montar um projeto para se

trabalhar com os jogos e brincadeiras populares podemos ter a dimensão da

grandeza das propostas e possibilidades para se conseguir desenvolver o

trabalho com jogos e brincadeiras.

Pensando neste texto resolvemos elaborar com os alunos uma

pesquisa, onde eles perguntariam a seus pais e avós, com quais brincadeiras eles

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brincavam na infância, em outro momento em sala de aula levantamos quais as

brincadeiras que os alunos brincam nos dias de hoje, para depois colocar no

quadro as brincadeiras dos pais, para nossa surpresa as brincadeiras antigas são

pouco brincadas nos dias de hoje. Elas estão perdendo espaço para as

brincadeiras individuais, onde o brincar é isolado, sozinho.

Passando esta etapa de levantamento das brincadeiras que os pais e

avós de meus alunos brincavam, elaboramos um projeto de resgate folclórico de

jogos e brincadeiras, onde colocamos algumas das brincadeiras citadas pelos

pais e avós. Elencamos todas as brincadeiras citadas, no quadro e cada sala foi

escolhendo quais brincadeiras eles queriam aprender, no mês de Agosto de 2009,

demos inicio ao projeto, o qual foi enriquecedor e muito proveitoso para os alunos.

Os jogos e brincadeiras tradicionais serviram como facilitador para as

aulas de Educação Física Escolar, pois além dos alunos terem o contato com os

jogos nas aulas, ao chegar a casa, podiam contar com o apoio de seus pais, que

também conheciam os jogos e brincadeiras e podiam contribuir com mais

informações, as quais sempre enriqueciam as próximas aulas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após realizarmos esta revisão bibliográfica podemos perceber o quão

importante para os nossos alunos é o resgate dos jogos e brincadeiras

tradicionais, pois além de terem um vasto e rico repertório motor, é uma fonte

inesgotável de cultura, possibilitando inúmeras possibilidades de aprendizagem

motora e cultural.

Podemos perceber que nossos alunos estão a cada dia perdendo os

espaços para que possam se movimentar e colocar seus corpos em ação.

Percebemos que os jogos de vídeo-game, computador e a televisão

são grandes aliados de pais e crianças quando pensamos no brincar, mas estes

vêm tirando as possibilidades de aprendizagem motora de nossos alunos.

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As aulas de Educação Física Escolar podem se tornar muito mais

atrativas e possibilitar inúmeras combinações de jogos e brincadeiras, para que a

aprendizagem motora e cultural de nossos seja significativa, podemos traçar um

elo de aprendizagem, escola-familía-escola, ou família-escola-familía, que facilita

as nossas vidas de Professores de Educação Física Escolar, e melhora em muito

os aspectos motores de nossos alunos, tendo em vista que os pais também

conhecem algumas das atividades que vamos trabalhar durante nossas aulas,

podendo contribuir com sugestões e trazendo novas formas de brincar.

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