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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Iara Michele Ferreira Santos Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Djanni Martinho dos Santos Sobrinho Universidade Federal do Rio Grande do Norte
RESUMO
Sabe-se que o lúdico é uma ferramenta essencial que contribui de forma significativa com o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança, principalmente no tocante aos aspectos físico, psicológico, afetivo e social. O presente artigo tem como finalidade apontar as contribuições dos jogos, brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e aprendizagem das crianças da educação infantil. Buscando averiguar essas contribuições, foi desenvolvida uma pesquisa na instituição de ensino Eridimar Batista de Azevedo, localizada na cidade de Timbaúba dos Batistas, interior do estado do Rio Grande do Norte, com o intuito de perceber essas contribuições de uma forma mais concreta. Metodologicamente o trabalho consistiu em pesquisa bibliográfica a autores como Teixeira (2010), Vygotsky (1994,1998), Friedmann (2006), entre outros. Além disso, utilizou-se também a pesquisa documental e pesquisa de campo. Esse estudo possibilitou uma maior compreensão do uso do lúdico e também colaborou com um melhor entendimento de como essa prática é desenvolvida dentro de
uma instituição de Educação Infantil.
Palavras-Chaves: Lúdico. Educação Infantil. Desenvolvimento
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INTRODUÇÃO
A educação é o ponto base para o desenvolvimento social de qualquer
indivíduo, e investigar de que forma a ludicidade interfere no aprendizado e
desenvolvimento das crianças se torna um grande desafio, tendo em vista, o quão
abrangente esse método é, o quanto ele pode motivar crianças a buscarem
conhecimento e o quanto o papel do professor é importante nesse processo, pois
dar ao educador a oportunidade de mediar essa aprendizagem e tornar o momento
extremante significativo. Além disso, quando ele utiliza esse método de forma
coerente e precisa, consegue atingir seus objetivos, contribuindo para com o
progresso do educando dentro dessa vertente educacional.
A necessidade de informações acerca da aprendizagem das crianças,
possibilita aos profissionais de educação elaborar métodos inovadores de ensino.
Esses recursos têm como finalidade melhorar a relação entre educador e educando,
permitindo a estes uma troca de conhecimento continuo e duradouro.
A ludicidade é um recurso que tem se desenvolvido nas instituições com o
intuito de promover a manifestação espontânea da criança, dando a ela
oportunidade de expressar os seus anseios e necessidades, tendo em vista o
dinamismo interno que a criança desenvolve.
É importante aprofundar o estudo dessa temática, pois muito se pode fazer
considerando o brincar como parte de desenvolvimento e apropriação de
significados. Pesquisar sobre esse tema é ir em busca de novos aprendizados, de
novas experiências, pois, sabemos que cada instituição conta com uma realidade
diferente, cada uma desenvolve suas atribuições dentro das condições que lhes são
concedidas, cada uma opera seus recursos da maneira em que a necessidade
impõe. Observar de perto essas realidades permite que o pesquisador saia da sua
zona de conforto, do seu conhecimento limitado e passe a ver a realidade de
educação infantil com um olhar diversificado.
Para desenvolver essa pesquisa utilizou-se o método de estudo qualitativo,
através de: pesquisas bibliográfica - leitura de livros, revistas e periódicos,
consultando autores da área, e fazendo a relação concreta fundamentando aspectos
relevantes levantados durante a investigação. Dentro disso elencaram-se autores
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como Teixeira (2010), Vygotsky (1994,1998), Friedmann (2006), esses que
contribuem e contribuíram para com o avanço desse estudo que merece uma
atenção especial.
Além disso, utilizou-se também a Pesquisa documental para obter
informações sobre a instituição investigada. Nesse caso analisou-se o Projeto
Político Pedagógico da instituição na perspectiva de coletar dados para a
caracterização do estabelecimento de ensino. Por último, mas não menos
importante, utilizou-se a Pesquisa de campo, que se deu através de visitas a
instituição, observações, entrevista e registro fotográfico. A entrevista foi
desenvolvida com quatro professores que atuam na instituição, os mesmos
responderam a cinco perguntas, no período de uma semana, sendo essas
direcionadas a ludicidade, ao desenvolvimento do lúdico na escola, e também
buscando entender como as crianças reagiam às atividades lúdicas desenvolvidas
pelos educadores.
Considerando a investigação realizada, o artigo está organizado em
introdução, desenvolvimento e considerações. No tocante ao desenvolvimento este
foi estruturado em tópicos que ficaram assim distribuídos, Tópico 1 - Caracterização
da instituição educativa; tópico 2 - Lúdico: Discussões iniciais e tópico 3 - O lúdico
no ambiente escolar.
1 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
A escola Eridimar Batista de Azevedo (Figura 1) está localizada na Rua
Joaquim de Araújo Pereira, 165, centro de Timbaúba dos Batistas-RN, tendo como
entidade mantenedora a Prefeitura Municipal. Fundada no ano de 1984 pelo então
prefeito da época José Damasceno Batista recebeu esse nome como forma de
homenagear, a pessoa de Eridimar Batista de Azevedo1, uma jovem estudante que
residia no município e veio a falecer após complicações no parto.
1 Eridimar Batista de Azevedo nasceu no dia 02/03/1956, na cidade de Caicó-RN. Começou os seus
estudos aos 6 anos de idade. Estava cursando o 2º grau no Colégio Diocesano Seridoense, na cidade de Caicó- RN, onde aos 21 anos quando estava fazendo o 3º ano do científico, não teve a oportunidade de concluí-lo, pois a mesma veio a óbito após complicações no parto do seu primeiro filho.
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Figura 1 - Frente da escola Eridimar Batista de Azevedo
Fonte: Autoria própria (2017)
A Unidade de Ensino Infantil funciona no turno matutino das 07h00min as
11h00min atendendo atualmente 117 crianças, assim distribuídas:
Nível I – 11 alunos;
Nível II – 16 alunos;
Nível III – 39 alunos;
Nível IV – 22 alunos;
Nível V – 29 alunos.
Essas crianças são oriundas da zona rural e urbana. A maioria delas
apresenta nível sócio econômico médio e baixo, dentro dos padrões do município
que é considerada uma população pobre, tendo em vista que boa parte das famílias
tem renda baseada em um salário mínimo, outras recebem o beneficio da bolsa
família (ajuda governamental), e várias mães são artesãs (bordadeiras- fonte de
renda de destaque da cidade).
Independente da idade da criança, a proposta de trabalho com os pais ou
com a família tem o mesmo objetivo, educar e cuidar, que são processos dinâmicos
e indissociáveis. A relação dos adultos que estão envolvidos com essa tarefa
(família e educadores) deve acontecer de forma respeitosa possibilitando um
trabalho harmonioso e efetivo.
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Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), lei 9394/96, Art.29:
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996)
O reconhecimento da Educação Infantil como primeira fase da educação
básica foi, de fato, a concordância de que a educação começa nos primeiros anos
de vida. Com isso, é responsabilidade das instituições oferecerem serviços onde o
desenvolvimento da criança seja contemplado de forma integral, abrangendo seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social.
Dessa forma, os serviços ofertados pela instituição, partem a priori do
quadro administrativo, do funcionalismo da escola, ou seja, é necessário dispor de
um número de funcionários que supra as necessidades da mesma, e contribua com
progresso da escola. Nesse caso, têm-se disponível na instituição investigada: 1
diretora e 1 vice; 1 coordenadora pedagógica; 1 secretária; 1 digitadora; 1
profissional da sala de leitura; 2 apoios pedagógicos; 4 professores; 4 auxiliares; 1
merendeira e 4 auxiliares de serviços gerais.
Sendo a mesma considerada de pequeno porte, onde a quantidade de
crianças matriculadas é inferior a 120 crianças, o quadro administrativo é suficiente
para suprir as necessidades do estabelecimento, tendo em vista que cada
funcionário desempenha sua função visando à colaboração com o crescimento e
rendimento da escola.
Esses membros cumprem um papel fundamental dentro do estabelecimento
de ensino, pois, sabe-se que, todos os funcionários de uma instituição, de forma
direta ou indireta, contribuem para com a educação das crianças.
A categoria profissional dos docentes torna-se mais relevante, na dimensão
do ensino aprendizagem, pois exige um contato mais direto frente ao
desenvolvimento da criança
Como nos diz Luck, (2009, p. 21):
Os professores são profissionais que influem diretamente na formação dos alunos, a partir de seu desempenho baseado em conhecimentos, habilidades e atitudes e, sobretudo por seus horizontes pessoais, profissionais e culturais.
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Essa dinâmica de troca de conhecimento exige dedicação, empenho e
responsabilidade junto a elaboração de atividades, que cumpram o papel educativo
e facilitador da aprendizagem. O professor como agente mediador e facilitador de
conhecimento tem a oportunidade de direcionar o conhecimento através da sua
conduta participativa e criativa.
No tocante a infraestrutura a instituição educativa dispõe de: 4 salas de aula;
2 banheiros infantis adaptados M/F; 1 corredor para atendimento pedagógico; 1 área
aberta livre (refeitório/ recreação); 1 cozinha ampla; 1 banheiro para funcionários; 1
Parque infantil (área descoberta com areia, que no momento está inutilizado devido
à falta de água), 1 sala administrativa (secretaria/ diretoria), 1 sala de leitura, 1
despensa e 1 lavanderia.
Esses espaços são considerados pequenos tendo em vista a necessidade
que alunos e funcionários têm de se locomover livremente. É notória a deficiência
quanto ao tamanho dos compartimentos, inclusive, das salas de aula. As mesmas
são pequenas para a quantidade de crianças que comportam.
A área aberta livre é um pouco estreita, mas consegue-se executar exercícios
onde se contemple a interação em pequenos ou médios grupos, além de favorecer a
organização de atividades diversificadas. Esse ambiente é oportuno para o
desenvolvimento desse tipo de atividade, pois constitui um lugar bem arejado onde
as crianças podem se mover com mais facilidade (comparando com o espaço da
sala de aula).
Ao discutir sobre infraestrutura o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RCNEI), nos alerta para o fato de que:
O espaço na instituição de educação infantil deve propiciar condições para que as crianças possam usufruí-lo em benefício do seu desenvolvimento e aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil e permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pelos professores em função das ações desenvolvidas. (BRASIL, 1998 p. 69, v.1)
A estrutura física de uma instituição é sem dúvida um fator de grande
importância para o desenvolvimento das crianças, pois, ao explorarem os espaços
as crianças têm a oportunidade de instigarem suas habilidades, estimular sua
curiosidade e criatividade.
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2 LÚDICO: DISCUSSÕES INICIAIS
O lúdico é um fator presente no cotidiano da educação infantil, as atividades
lúdicas na escola proporcionam as crianças um melhor desenvolvimento das suas
habilidades. O brincar implica muito mais do que um simples momento de diversão,
orientado ou não, ele sempre proporciona as crianças algum desenvolvimento, seja
ele motor, cognitivo, emocional ou social.
Teixeira (2010 p. 44) destaca que brincar é fonte de lazer, mas é
simultaneamente, fonte de conhecimento; é esta dupla natureza que nos leva a
considerar o brinca como parte integrante da atividade educativa. Dessa forma, na
educação infantil os momentos lúdicos devem então ser conduzidos de modo que o
educador planeje quais serão as suas finalidades, afim de que favoreça o processo
de assimilação e o aprendizado da criança.
Etimologicamente o termo lúdico é derivado do latim “ludus”, que significa
jogo, concerne ao papel do brincar, seja de forma individual ou coletiva, livre ou
dirigida. É uma ferramenta que está presente na vida da criança desde sempre. O
lúdico é tudo aquilo que desperta na criança o interesse, que chama a sua atenção,
que lhe proporciona momentos de prazer, que lhe permite explorar sua imaginação e
criatividade, é tudo que traz para ela algum significado. Para Gomes (2004, p.47), a
ludicidade é uma dimensão da linguagem humana, que possibilita a “expressão do
sujeito criador que se torna capaz de dar significado à sua existência, ressignificar e
transformar o mundo”.
Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras são os norteadores dessa prática
tão relevante no processo de desenvolvimento da criança. Esses três elementos
configuram a ludicidade, pode-se muitas vezes pensar que significam a mesma
coisa por estarem ligados ao mesmo aspecto, no entanto cada um apresenta uma
definição distinta.
Nesse sentido, Friedmann (2006, p.17) define esses instrumentos da seguinte
maneira:
Jogo – designa tanto uma atitude quanto uma atividade estruturada que envolve regras. Brinquedo – define o objeto de brincar, suporte para a brincadeira. Brincadeira – refere-se basicamente a ação de brincar ao comportamento espontâneo que resulta de uma atividade não estruturada.
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Dentro dessas definições encontramos o brincar como o instrumento principal
da ludicidade. Através dessas ações as crianças têm a oportunidade de criar e
recriar as suas concepções de mundo, de aprender a lidar com situações diversas,
de incorporarem em si o dinamismo, a interação, a socialização além de permitir o
desenvolvimento da imaginação e fantasia.
Nesse contexto, percebemos que a educação infantil e o lúdico estão
intrinsecamente ligados, não há como pensar em educação infantil sem relacioná-la
a ludicidade. Nessa etapa onde as crianças estão em processo de descoberta, a
utilização desse método permite que elas estimulem os seus sentidos, desenvolvam
as suas capacidades e habilidades, além de criarem as suas próprias concepções
de mundo. Nessa fase é perceptível que a necessidade que as mesmas sentem do
brincar, do encontrar-se, do satisfazer-se e o lúdico proporciona isso.
Segundo Fantin (2000, p. 53),
Brincando (e não só) a criança se relaciona, experimenta, investiga e amplia seus conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo que está ao seu redor. Através da brincadeira podemos saber como as crianças vêem o mundo e como gostariam que fosse, expressando a forma como pensam, organizam e entendem esse mundo. Isso acontece porque, quando brinca, a criança cria uma situação imaginária que surge a partir do conhecimento que possui do mundo em que os adultos agem e no qual precisa aprender a viver.
Sendo assim, oportunizar a criança, atividades lúdicas permite que a mesma
exponha a sua forma de ver e entender o mundo, mostra aquilo que sente, tem a
liberdade de comparar o seu mundo fantasia com o mundo real, além de esboçar
sentimentos que configuram a sua própria identidade.
Sabendo da importância da ludicidade nas atividades da Educação Infantil,
procuramos identificar o que as professoras compreendem sobre o lúdico. Dessa
forma, ao interrogarmos as docentes em nossa pesquisa sobre o que é lúdico, elas
responderam:
P1: No tocante a prática pedagógica, o lúdico se refere a toda e qualquer atividade que tenha como objetivo produzir prazer.(sic)
P2: É tudo o que desperta o interesse da criança, que desperta a sua atenção. (sic)
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P3: É a utilização de recursos visuais, de objetos que possam ser manipulados, de estratégias que envolvam as crianças. (sic)
P4: É trabalhar com materiais concretos de modo que eles aprendam brincando. (sic)
Diante dessas respostas, vindas professoras, podemos perceber que as
mesmas relacionam o lúdico à interação, a momentos onde a criança tem a
oportunidade de se expressar, fazendo disso um momento prazeroso, e também
proporcione a criança ocasiões de aprendizagem.
Quando o professor é capaz de entender o conceito de lúdico, a sua proposta
de atuação passa a colaborar gradativamente com o desenvolvimento infantil. No
entanto, essa contribuição só se dar de acordo com a disposição do docente em
dinamizar suas atividades, atribuindo significados a cada uma delas, além da
intencionalidade que é, um dos objetos centrais da ludicidade. Em vista disso, o
brincar é considerado o elemento primordial para aquisição de conhecimento e
desenvolvimento infantil.
Procurando nos aproximar ainda mais da realidade lúdica e suas influências,
Vigotsky (1994, p. 81) diz que:
De uma forma geral o lúdico vem a influenciar no desenvolvimento da criança, é através do jogo que a criança aprende a agir, há um estímulo da curiosidade, acriança adquire iniciativa e demonstra autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração.
Assim percebemos que o lúdico atende as crianças dentro das suas
realidades, permitindo que elas despertem e explorem o que há em seu interior, de
modo que vivam uma experiência concreta e significativa que, de fato, contribua com
o seu desenvolvimento.
Buscando conhecer a dimensão lúdica e a necessidade que se tem de
colocá-la em prática nas salas de aula da educação infantil, indagamos as
professoras sobre a importância dessas atividades.
P1: As atividades lúdicas contribuem de forma significativa para a aprendizagem da criança, pois brincando a criança desenvolve o seu senso de companheirismo, sua autoestima, autoconfiança e autonomia. (sic)
P2: Elas facilitam o processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. Quando se trabalha de forma lúdica é mais fácil da criança absolver. (sic)
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P3: É de fundamental importância, pois sem a ludicidade a aprendizagem torna-se mais difícil. (sic)
P4: As atividades lúdicas eles fazem com prazer e são mais significantes, além de a aprendizagem ser melhor. (sic)
Analisando as respostas percebe-se que de fato as atividades lúdicas são
indispensáveis para facilitar o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. O
dinamismo que provém da ludicidade torna o aprendizado mais fascinante e
significativa, a maneira como o conteúdo é repassado é o que, de fato, faz diferença
para a criança. Essas significações transformam a realidade da criança, e permitem
que a mesma demonstre através da expressividade o que há em seu interior.
Reconhecer o lúdico como ferramenta importante na aquisição de
conhecimento requer principalmente do professor uma apropriação do significado do
que é o lúdico e de que forma esse método deve ser utilizado. Para que o professor
obtenha resultados significativos dentro de sua prática pedagógica faz-se necessário
que o mesmo esteja preparado para agir como intermediador e principalmente como
produtor de conhecimento.
Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação
Infantil (BRASIL, 1998, p. 30, v.1),
O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano.
Nessa etapa o professor é um elemento essencial no processo de
desenvolvimento da criança. Ele é responsável por mediar situações e atividades
onde a criança tenha a oportunidade de desenvolver suas habilidades cognitivas,
afetivas, motoras e sociais, desse modo, o docente deve agir de maneira
responsável, pois o mesmo irá integrar o seu conhecimento de mundo ao
conhecimento de mundo da criança, e esse deve ser considerado de acordo com as
realidades e situações vivenciadas pela criança, já que cada uma é responsável por
adquirir os seus conhecimentos própriose isso decorre de toda a sua convivência
social.
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3 O LÚDICO NO AMBIENTE ESCOLAR
O lúdico é a forma mais dinâmica e interativa de aprendizado dentro do
ambiente escolar, mais precisamente dentro da sala de aula, onde as crianças
passam a maior parte do tempo quando estão na instituição. Essa interação entre
alunos e professores possibilitam a essas crianças seu desenvolvimento, onde
através de atividades intencionais se torna cada vez mais nítido esse progresso.
Na instituição em estudo a ludicidade é trabalhada de forma intencional,
dinâmica e responsável. Cada professor elabora as suas atividades com uma
intenção, seja em uma simples atividade livre ou uma atividade dirigida. Percebe-se
um compromisso dos docentes com a aprendizagem e desenvolvimento das
crianças. Dentro dessa realidade buscamos descobrir de que forma o lúdico é
trabalhado em sala de aula e se as crianças se interessam pelo tipo de metodologia
utilizada. Assim, os docentes discorreram:
P1: Através de jogos, brincadeiras, e atividades concretas que despertem o prazer na criança, promovendo o aprendizado, ou seja, brincando também se aprende. A aula se torna mais atrativa, eles prestam mais atenção. (sic)
P2: Através de jogos e brincadeiras, com material de sucata, permitindo a exploração e criação de novos objetos, além de coisas que despertem o interesse delas. As crianças ficam mais atentas querem participar e interagir quando se tem um contato mais direto. (sic)
P3: Através de jogos, encartes, fantoches, massas de modelar, brinquedos de sucata, jogos educativos, dramatizações. As crianças se envolvem mais, assimilam com mais facilidade quando se trabalha dessa forma. (sic)
P4: É trabalhada em grupo ou individual, com materiais concretos, com exemplos dos alunos, com experiências, como por exemplo, trazemos para a sala de aula, objetos leves e pesados, muito e pouco entre outros. Percebo bem mais interesse dessa forma. (sic)
É notório o envolvimento da criança quando o lúdico é trabalhado com um
objetivo, a satisfação e o prazer deixa uma aprendizagem mais significativa. A
criança sabe os seus interesses e se envolve com aquilo que lhe chama a atenção,
o professor precisa estar atento para quando necessário intervir de forma que a
ajude a assimilar o que se passa ao seu redor, mas também agir com cautela para
que não prive a criança da sua liberdade e criatividade.
Sobre o lúdico na prática pedagógica Mafra (2008, p.12) salienta que:
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Os jogos e brincadeiras ao serem utilizados na prática pedagógica transformam conteúdos maçantes em atividades interessantes e prazerosas, pois com os mesmos há motivação, disciplina e interesse pelo que está sendo ensinado. Porém, o professor deve estar consciente de que os jogos ou brincadeiras pedagógicas devem ser desenvolvidos como provocação a uma aprendizagem significativa e estímulo à construção de um novo conhecimento com o desenvolvimento de novas habilidades. Pensar na atividade lúdica enquanto um meio educacional significa pensar não apenas no jogo pelo jogo, mas no jogo como instrumento de trabalho, como meio para atingir objetivos pré-estabelecidos. O jogo pode ser útil tanto para estimular o desenvolvimento integral da criança como para trabalhar conteúdos curriculares.
É preciso ver o lúdico como uma ferramenta facilitadora do ensino
aprendizado, principalmente nessa primeira etapa da educação básica, onde o
brincar é um aspecto marcante. O autor citado anteriormente chama a atenção para
o educador executar as suas atividades de maneira consciente, instigando as
crianças, provocando-as para que desenvolvam uma aprendizagem significativa.
Muitas vezes ver-se professores utilizando o brincar como uma simples forma
de passar o tempo e entreter as crianças para que o mesmo desenvolva alguma
ação da sua docência que está pendente. Essa prática é comum no universo da
educação infantil, no entanto não é uma ação indicada, pois muitas vezes não se
obtém resultados significativos.
Por isso é importante que o professor trace metas e objetivos quando decidir
utilizar a ludicidade em sala de aula. Isso não quer dizer que as crianças não
aprendem quando estão em momentos de realização de atividades livres, mas a
utilização de um direcionamento mesmo que na brincadeira livre colabora com o seu
desenvolvimento e aprendizado do indivíduo.
A prática pedagógica por si só já implica conhecimento e aprendizado, cabe
ao professor proporcionar aos seus alunos momentos prazerosos onde a
aprendizagem se der de forma livre e espontânea, onde a criança tenha a
oportunidade de inventar e reinventar, de tornar o desconhecido conhecido, de
equilibrar o mundo real com o seu mundo imaginário.
Essa prática exige do educador um olhar mais atento, mais focado na
realidade do aluno, buscando atender as peculiaridades e perspectivas daquele
grupo de alunos. O modo como se ministra como se conduz a aula é o que de fato
vai ou não fazer diferença nesse jogo de assimilação e aprendizado.
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A prática docente nada mais é do que o recurso que o professor elabora e
reelabora para desempenhar as suas funções. Dentro dessa elaboração o professor
precisa desenvolver o seu espirito pesquisador, estar a todo tempo em busca de
conhecimento para que assim consiga atrelar os fundamentos teóricos com o
entendimento prático, buscando um equilíbrio dinâmico entre as partes. Desse modo
criar e recriar os seus métodos de ensino, é parte do constante processo de
inovação e renovação que o educador precisa desenvolver para que a
aprendizagem possa surtir efeito esperado.
Dentro dessa relação de prática pedagógica fizemos aos professores o
seguinte questionamento: Você concorda que para o ensino se tornar mais atraente
e prazeroso, o educador precisa buscar atividades que contribua para o
desenvolvimento infantil? Porquê? A partir do questionamento os mesmos deram as
seguintes respostas:
P1: Concordo. As utilizações de atividades diferenciadas contribuem bastante na transmissão de valores e acima de tudo o ensino aprendizagem.
P2: Com certeza. Quando o professor busca novas estratégias de ensino, ele proporciona um melhor desenvolvimento da sua prática, pois é uma maneira de se aperfeiçoar e ao mesmo tempo contribuir com o desenvolvimento da criança.
P3: Sim. A gente sempre tem que inovar na maneira de ensinar. Por exemplo: o modo como eu aprendi já não serve mais, é necessário estar sempre em busca de novas estratégias para aperfeiçoar o nosso método de ensino.
P4: Sim. Porque as atividades prazerosas deixam a aprendizagem mais significativa.
Percebe-se que há uma compreensão quanto a utilização de atividades
diferenciadas nas salas de aula. Esse é o primeiro grande passo que os professores
precisam dar, compreender que as atividades dinâmicas e atrativas devem ocupar
um lugar primordial nas salas de aula, pois as mesmas facilitam a absorção de
conteúdos além de proporcionar as crianças momentos de prazer e interação e
satisfação pessoal.
É importante que o professor esteja atento aos avanços metodológicos que a
educação vem desenvolvendo, para que assim consiga se encontrar na sua prática
pedagógica, compreendendo que a inovação, nos dias de hoje, é a condição eficaz
para um bom planejamento e execuções das atividades na sala de aula.
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Um bom planejamento de ensino é o alicerce desse resultado eficaz que a
prática pedagógica propõe. Planejar é essencial em todos os aspectos, da atuação
humana, na educação infantil também não é diferente. Essa preparação consiste em
organizar as atividades elaboradas no intuito de contribuir com os avanços afetivo,
cognitivo e social da criança.
Planejar também concede ao professor um momento de avaliação da sua
prática, pois lhe dar a oportunidade de rever os seus métodos de trabalho e se
preciso modificar aquilo que não está obtendo os resultados esperados. Acertamos
esse pensamento ao que nos diz Hoffmann (2001), a organização e planejamento
das atividades diárias proporcionam ao professor a reflexão de suas ações e
metodologias, analisando os resultados de seu projeto.
Convém ao professor considerar as particularidades das crianças quando
decide iniciar o seu planejamento, pois a partir daí se desenvolve uma proposta mais
eficaz, congruente com o objetivo principal da educação infantil que é justamente o
desenvolvimento integral da criança.
A execução das atividades lúdicas na sala de aula requer todo um
estudo da condição externa e interna da instituição, os espaços, as condições
climáticas, o desgaste ou o estimulo do profissional, a estrutura física, os materiais
disponibilizados, o empenho da gestão, dos professores, tudo isso colabora ou
dificulta a ação do professor em desenvolver as suas atividades.
Fragmentando essas condições uma grande parte são consideradas
empecilhos para a execução de atividades lúdicas, é comum vermos ou ouvirmos
relatos de educadores que reivindicam melhores condições de trabalho, muitas
vezes atribuem essa reivindicação as estruturas físicas da instituição, pois as
mesmas não atendem a requisitos básicos para a realização de determinadas
atividades lúdicas.
A partir disso, interrogamos os educadores se enfrentam dificuldade de
planejar e executar atividades lúdicas, e obtivemos as seguintes respostas:
P1: Uma das dificuldades enfrentadas é que na maioria das vezes temos que confeccionar alguns materiais e minha disponibilidade de tempo é limitado, mas procuro sempre buscar e me adequar a tal dificuldade. (sic)
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P2- Não. Todo o trabalho que planejamos desenvolver com materiais concretos encontramos subsídios na instituição, a mesma nos disponibiliza recursos. Nesse sentido não temos do que reclamar. (sic)
P3 – Não. A escola dispõe de bastante recurso, o material disponível na instituição supre as minhas necessidades. (sic)
P4- Não. A instituição dispõe de material suficiente para o desenvolvimento das atividades. Existe uma pessoa responsável por confeccionar o material que decidamos trabalhar caso a instituição não disponha no momento. (sic)
Percebe-se que a maioria dos educadores encontram subsídios suficientes
para desenvolver a sua prática. No entanto, a P1 em discordância com os demais
profissionais diz que não encontra materiais suficiente para desenvolver o seu
planejamento de ensino, tendo que muitas vezes confeccionar o seu próprio
instrumento.
Nesse caso, diante das observações feitas percebe-se uma discrepância
quanto a fala da P1, porém considera-se o quesito de que nem sempre um material
que supre as necessidades de um, fornece o mesmo subsidio para o outro, e esse
pensamento diversificado só enfatiza essa questão que é muito presente nos dias
atuais. Situações como essa contribuem para a construção da diversidade de
opiniões que é algo muito presente nas instituições de ensino, e consequentemente
essa pluralidade oportuniza o respeito à pensamentos contrários dentro da
instituição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O homem sendo um ser histórico e que está em constante modificação, com
o decorrer do tempo vai mudando seu modo de pensar e agir com relação a vários
assuntos que está diretamente ligado ao seu convívio social, tendo em vista essas
modificações culturais, o conceito do que é ser criança também sofreu várias
mudanças e hoje vemos a criança como um ser que precisa de cuidado, atenção e
de possibilidades para desenvolver-se da melhor forma possível. Mediante a isso
foram pensadas várias formas de como ajudar essas crianças em seu
desenvolvimento e tem-se a forma lúdica que ajuda professores, pais e a sociedade
geral a trazer diferentes mecanismos para que de forma prazerosa as crianças
aprendam.
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Essa pesquisa foi de fato muito relevante para conhecer o trabalho
desenvolvido na instituição educativa, que teve como foco principal as contribuições
e desenvolvimento da ludicidade na educação infantil. A pesquisa in lócus é sempre
uma grande oportunidade de adentrar, nesse caso, realidades distante da rotina
diária.
Aprofundar o estudo dentro dessa temática, proporcionou o encadeamento de
ideias onde pôde-se integrar o conhecimento prático ao teórico. Perceber a
utilização desses elementos integrados na instituição foi de grande valia, tendo em
vista que em muitas ocasiões o educador acaba por utilizar somente uma dessas
duas ferramentas, e acaba por tornar inconsistente a outra parte que é também
importante.
Refletir sobre essa proposta é sempre pertinente, haja vista a grande
importância que a ludicidade têm no âmbito da educação infantil. A ludicidade hoje já
é considerada pela grande maioria dos educadores como peça fundamental no
desenvolvimento e aprendizagem das crianças, há tempos atrás a criança era vista
apenas como adultos em miniatura, sem qualquer cuidado ou oportunidade de
desenvolver essa fase característica dela que é a etapa onde a mesma se realiza
como ser pensante e têm a oportunidade de construir e reconstruir a sua concepção
de mundo.
Mencionando a instituição investigada, percebemos que a mesma não é muito
diferente das outras, padece no quesito espaço, pois como já citado anteriormente,
os mesmos são pequenos tendo em vista a quantidade de crianças que comporta e
a necessidade que ela sente de explorar os lugares, mas a sua estrutura física, o
prédio em si, traz segurança para as crianças. Com relação à disponibilidade de
material concreto a escola possui uma quantidade considerável, onde o professor
tem a oportunidade de executar com propriedade o seu planejamento de ensino,
dentre esses materiais encontra-se: fantoches, cartazes, jogos educativos,
brinquedos, material de sucata, livros diversos, CDs e DVDs, alfabeto móvel e fixo,
amarelinha educativa, entre outros.
Os aspectos motor, cognitivo, emocional e social da criança, são sem dúvida
os mais afetados por esse processo lúdico, são transformações significativas e
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intensas onde do ponto de vista pedagógico as mesmas brincadeiras são utilizadas
como transmissoras de conhecimento.
Assim, independentemente de qualquer situação a ludicidade deve ser
aplicada no ambiente institucional de educação infantil, intencionando o
desenvolvimento particular de cada criança que consiste em aprender brincando e
manifestando o seu dinamismo interno colaborando com a sua construção e
interação com o meio social.
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REFERÊNCIAS
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