joaquim costa e nora vamos celebrar a rainha santa ......o monge pediu então que o samurai cortasse...

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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOS ANO XCIX | N.º 4792 | 25 DE JUNHO DE 2020 | 0,75 € visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt A cordei no domingo com “destruição e morte” na cabeça, alimentadas por duas notícias de sábado: a decapitação da estátua de Baden-Powell, em Coim- bra, e o ataque que matou três pessoas e feriu outras mais no Forbury Gardens, em Reading. Reading – que conheço muito bem por razões familiares – tem três marcas distin- tivas: 1) apesar do aceleradíssimo crescimento, ainda hoje é a ‘cidade’ de “O Vento nos Salgueiros”, no entroncamen- to espraiado do Kennet com o Tamisa; 2) tem como seu ex-libris social ter sido considerada nalguns dos últimos anos a melhor cidade para viver em Inglaterra; e tem como seu ex-libris cultural a coexistência pacífica de mais de 80 nacionalidades! Quando a polícia diz que foi um “ataque terrorista”, assume que foi um ataque a isto tudo: ao equilí- brio entre crescimento e tranquilidade, ao bem-estar social ocidental, à cultura da inclusão. A comunicação social por- tuguesa, como não era Londres, quase nem deu por ele... T ambém no último sábado, Coimbra acordou com a estátua do fundador do escutismo decapitada, num género de vandalismo em crescendo inter- nacional que visa as estátuas-símbolo dos valores estru- turantes das nossas sociedades. Quero vincar bem esta ideia: a vandalização não é às estátuas nem às persona- gens do passado; é aos valores estruturantes das socieda- des de hoje! A esta luz, quem vandalizou António Vieira em Lisboa até poderá ser ignorante sobre Vieira; mas ti- nha muito claro o objetivo do que estava a fazer. E quem vandalizou Baden-Powell em Coimbra até pode ser igno- rante sobre o escutismo, mas tinha muito claro o objeti- vo do que estava a fazer. Deveras preocupante é que em Portugal, em tão curto espaço de tempo, haja já dois casos destes. Nem espanta que este vandalismo cresça, alimen- tado pelas redes sociais e embrulhado ainda em racismo e xenofobia. É um ‘movimento’ muito perigoso. É evidente que é muito diferente ceifar vidas hu- manas (Reading) de banalizar estátuas. Mas não deixam de ser casos que têm em comum ódio, des- truição e morte. E que nos querem arrastar para a mes- ma via... Por isso, é oportuno lembrar uma história do ve- lho Japão. Conta-se que, por qualquer motivo fútil, creio que por se ter atravessado no seu caminho, um samurai se preparava para matar um piedoso monge xintoísta, concedendo-lhe, contudo, dois desejos. O monge pediu então que o samurai cortasse um ramo de oliveira que estava sobre a sua cabeça, o que o samurai fez com um só golpe de espada. Depois - segundo pedido – que o samurai voltasse a colocar o ramo na oliveira com a mesma vitali- dade… O que mais agravou o rancor do samurai! Então o monge disse-lhe: “Tu sentes-te forte por destruíres e ma- tares. Vê quanto estás errado! Forte é aquele que constrói e dá vida”. É de vida que queremos ser construtores. ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES A estátua decapitada e outras histórias À porta das Festas da Rainha Santa Isabel, com a Solenidade a 4 de julho (embora este ano sob fortes condicionamentos por razões da pandemia), e dentro do biénio 2020-2021 assumido pela Confraria como celebrativo dos 750 anos do nascimento de Isabel de Aragão, o Correio de Coimbra entrevista Joaquim Costa e Nora, que preside à Mesa Administrativa da Confraria da Rainha Santa Isabel desde março de 2019. > centrais MISSA CRISMAL DA DIOCESE DE COIMBRA CELEBRAÇÃO DECORREU NO DIA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS D. Virgílio Antunes pediu aos sacerdotes que este dia marcasse o retomar da vida “normal” das comunidades cristãs, não as deixando perdidas na dispersão. > Página 3 DIRETÓRIO DE CATEQUESE Vaticano apresenta hoje, 25 de junho, as novas diretrizes elaboradas pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. JOAQUIM COSTA E NORA Vamos celebrar a Rainha Santa com toda a dignidade NOTA DA COMISSÃO DIOCESANA JUSTIÇA E PAZ SUPERAR O DETERMINISMO E AS ATITUDES PASSIVAS “Devemos exigir respostas coletivas, estruturadas e sustentadas, mas, individualmente, cada um de nós não pode deixar de agir”, defende a CDJP. > Suplemento

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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOSANO XCIX | N.º 4792 | 25 DE JUNHO DE 2020 | 0,75 €

visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt

Acordei no domingo com “destruição e morte” na cabeça, alimentadas por duas notícias de sábado: a decapitação da estátua de Baden-Powell, em Coim-

bra, e o ataque que matou três pessoas e feriu outras mais no Forbury Gardens, em Reading. Reading – que conheço muito bem por razões familiares – tem três marcas distin-tivas: 1) apesar do aceleradíssimo crescimento, ainda hoje é a ‘cidade’ de “O Vento nos Salgueiros”, no entroncamen-to espraiado do Kennet com o Tamisa; 2) tem como seu ex-libris social ter sido considerada nalguns dos últimos anos a melhor cidade para viver em Inglaterra; e tem como seu ex-libris cultural a coexistência pacífica de mais de 80 nacionalidades! Quando a polícia diz que foi um “ataque terrorista”, assume que foi um ataque a isto tudo: ao equilí-brio entre crescimento e tranquilidade, ao bem-estar social ocidental, à cultura da inclusão. A comunicação social por-tuguesa, como não era Londres, quase nem deu por ele...

Também no último sábado, Coimbra acordou com a estátua do fundador do escutismo decapitada, num género de vandalismo em crescendo inter-

nacional que visa as estátuas-símbolo dos valores estru-turantes das nossas sociedades. Quero vincar bem esta ideia: a vandalização não é às estátuas nem às persona-gens do passado; é aos valores estruturantes das socieda-des de hoje! A esta luz, quem vandalizou António Vieira em Lisboa até poderá ser ignorante sobre Vieira; mas ti-nha muito claro o objetivo do que estava a fazer. E quem vandalizou Baden-Powell em Coimbra até pode ser igno-rante sobre o escutismo, mas tinha muito claro o objeti-vo do que estava a fazer. Deveras preocupante é que em Portugal, em tão curto espaço de tempo, haja já dois casos destes. Nem espanta que este vandalismo cresça, alimen-tado pelas redes sociais e embrulhado ainda em racismo e xenofobia. É um ‘movimento’ muito perigoso.

É evidente que é muito diferente ceifar vidas hu-manas (Reading) de banalizar estátuas. Mas não deixam de ser casos que têm em comum ódio, des-

truição e morte. E que nos querem arrastar para a mes-ma via... Por isso, é oportuno lembrar uma história do ve-lho Japão. Conta-se que, por qualquer motivo fútil, creio que por se ter atravessado no seu caminho, um samurai se preparava para matar um piedoso monge xintoísta, concedendo-lhe, contudo, dois desejos. O monge pediu então que o samurai cortasse um ramo de oliveira que estava sobre a sua cabeça, o que o samurai fez com um só golpe de espada. Depois - segundo pedido – que o samurai voltasse a colocar o ramo na oliveira com a mesma vitali-dade… O que mais agravou o rancor do samurai! Então o monge disse-lhe: “Tu sentes-te forte por destruíres e ma-tares. Vê quanto estás errado! Forte é aquele que constrói e dá vida”. É de vida que queremos ser construtores.

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES

A estátua decapitada e outras histórias

À porta das Festas da Rainha Santa Isabel, com a Solenidade a 4 de julho (embora este ano sob fortes condicionamentos por razões da pandemia), e dentro do biénio 2020-2021 assumido pela Confraria como celebrativo dos 750 anos do nascimento de Isabel de Aragão, o Correio de Coimbra entrevista Joaquim Costa e Nora, que preside à Mesa Administrativa da Confraria da Rainha Santa Isabel desde março de 2019. > centrais

MISSA CRISMAL DA DIOCESE DE COIMBRACELEBRAÇÃO DECORREU NO DIA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUSD. Virgílio Antunes pediu aos sacerdotes que este dia marcasse o retomar da vida “normal” das comunidades cristãs, não as deixando perdidas na dispersão. > Página 3

DIRETÓRIO DE CATEQUESE

Vaticano apresenta hoje, 25 de junho,

as novas diretrizes elaboradas pelo

Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.

JOAQUIM COSTA E NORA

Vamos celebrar a Rainha Santa

com toda a dignidade

NOTA DA COMISSÃO DIOCESANA JUSTIÇA E PAZSUPERAR O DETERMINISMO E AS ATITUDES PASSIVAS“Devemos exigir respostas coletivas, estruturadas e sustentadas, mas, individualmente, cada um de nós não pode deixar de agir”, defende a CDJP. > Suplemento

CORREIO DE COIMBRA

2DioceseFlorinhas de Santa TeresaEdição comemorou data da morte da santa de LorvãoHá 770 anos, a 17 de junho de 1250, Santa Teresa entregou a alma ao Criador! Nas Memórias de Lorvão assim se reza: “Recebidos todos os sacramentos, fez-se transportar para a igreja onde se despediu de todas as freiras… Chorando as religiosas… consolou-as a Santa Rainha dizendo-lhes “que de futuro teria maior cuidado por elas, vendo-se em lugar de descanso”. Por isso, nesse dia, a Unidade Pastoral de Santa Maria em que se integra a paróquia de Lorvão apresentou uma reedição das Florinhas de Santa Teresa. E aproveitou a ocasião para apresentar também, pela primeira vez, as Florinhas de Santa Sancha. Trata-se de uma edição do Secretariado da Catequese da Paróquia de Lorvão, para ler e pintar, em que se apresenta aos mais novos a vida e testemunho de fé dessas duas figuras da nossa história. As “Florinhas” podem ser baixadas do facebook Unidade Pastoral Santa Maria.D. Teresa foi e é louvada como “prudente, generosa, modesta, cheia de muitas virtudes e com maravilhosos prodígios de santi-dade” e D. Sancha, sua irmã, foi e é louvada “pelos ornatos das maiores virtudes e fama de invulgar santidade”. O seu caminho de santidade foi percorrido pelo despojamento das honras da corte e uma vida dedicada inteiramente ao serviço de Deus e do próximo.

Festas da Rainha Santa IsabelAdmissão de fiéis às celebrações do dia 4 de julhoConforme referido na entrevista que publicamos neste núme-ro com o Senhor Presidente da Mesa Administrativa, a Confra-ria da Rainha Santa Isabel tornou público, por comunicado, que todos os fiéis que tenham a intenção de participar em alguma das celebrações da Festa se devem inscrever previamente para a mesma, havendo lugares reservados, em número limitado, para os Confrades e Confreiras, Irmãos e Irmãs da Confraria da Rai-nha Santa Isabel, que, de forma idêntica, têm de se inscrever para a cerimónia pretendida. As inscrições devem ser efetuadas até 30 de junho pelos e-mails <[email protected]> ou <[email protected]>, ou telefonicamente (239 441 674; 918 048 310). Mantêm-se, naturalmente, as regras obriga-tórias de uso de máscara e de higienização das mãos.

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Os “diálogos com Antó-nio” - iniciativa integrada no Jubileu Diocesano de

Santo António e dos Mártires de Marrocos - terminam amanhã, com a transmissão online, às 21h15, a partir da Igreja de San-to António dos Olivais, do debate que tem como protagonistas Gra-ça Franco, Gonçalo Cadilhe, Paulo Rangel, Carlos Fiolhais e Améri-

co Pereira, sobre a problemática “Europa, para onde vais?”.

No último sábado esteve em debate “O dom frágil da vida”, com Margarida Neto, Carlos Costa Gomes, Nuno Santos e Ana Sofia Carvalho. Embora já pro-gramado antes da pandemia, foi um debate muito condicionado pela Covid-19 e pela aprovação da eutanásia no Parlamento

português, com sublinhados para a importância de comuni-car bem, para a questão do luto dos familiares de pessoas fale-cidas durante o confinamento e para a resposta da Igreja aos diferentes problemas colocados às pessoas no pós-epidemia, no-meadamente na ação social.

D. Virgílio Antunes esco-lheu para a celebração da Missa Crismal com o

clero da Diocese de Coimbra três palavras: Amor, Escolha e Fide-lidade. A celebração, por não ter sido possível no dia litúrgico pró-prio, Quinta-feira Santa, ocorreu no dia 19 de junho, solenidade do Sagrado Coração de Jesus (dia dos sacerdotes) na Sé Nova, durante a manhã, com grande afluência de sacerdotes e diáconos, que se distanciaram “fisicamente” por todo o espaço da Sé.

Como é próprio da celebração, foi feita nesta missa a bênção dos óleos para a celebração dos sacramentos nas diferentes pa-róquias da Diocese.

Na homilia, o Bispo de Coim-bra começou por rejubilar com este encontro depois das cir-cunstâncias mais agudas da pandemia, eventualmente até dolorosas para alguns sacerdo-tes, porque de maior isolamento e privação das comunidades dos sacramentos e outros auxílios espirituais. Agradeceu aos pres-bíteros e diáconos todo o dina-mismo e criatividade que mos-traram durante a situação mais aguda da pandemia. Acrescen-

tou uma palavra de esperança, de que esta experiência vivida ajude a refazer a vida pessoal e a vida das comunidades confia-das aos sacerdotes. E deixou um grande apelo para que este dia marque o retomar da vida nor-mal das comunidades cristãs, não as deixando perdidas na dispersão.

Tomando depois a liturgia do dia, o Bispo de Coimbra começou por considerar a “ideia muito re-petida, mas sempre necessária de ser interiorizada” do amor: “para termos consciência de que sem viver no amor não somos nada”. Daí, o apelo a que “seja o amor a totalidade daquilo que nos move, que nos faz ir ao en-contro dos outros”. Sobre as pa-lavras “escolher - ser escolhido”, D. Virgílio lembrou que cada ministro ordenado foi escolhido por Deus “com olhar predileto”, sendo que essa escolha, fruto do enorme amor pessoal de Deus, não é uma exclusividade. Para o Bispo de Coimbra, tal escolha é motivo antes de mais para o louvor maior na vida dos sacer-dotes, porque é uma graça; por outro lado, é também uma res-ponsabilidade, que exige sem-

pre uma entrega cada vez mais perfeita no acompanhamento das pessoas e das comunidades. Quanto à fidelidade - terceira palavra escolhida - o prelado diocesano considerou que é a fi-delidade do próprio Deus ao Seu amor que é garantia da fidelida-de do Povo, sendo que na Bíblia fidelidade e verdade são indisso-ciáveis, e assim o devem ser na vida dos sacerdotes, dependendo disso também os frutos da ação pastoral.

No final da Celebração, o Bispo de Coimbra agradeceu a sereni-dade com que a mesma decor-reu, cumprimentou os sacerdo-tes que celebram este ano bodas de ouro e de prata, deu nota de alguns sacerdotes provindos do Brasil e de Angola para o tra-balho pastoral na Diocese, uns já presentes, outros à espera de que as viagens abram, pediu a oração para alguns sacerdotes com a saúde mais debilitada e deixou uma saudação aos jovens que se preparam para vir a ser sacerdotes, os noviços da com-panhia de Jesus, presentes na celebração, e os seminaristas diocesanos em época de exames académicos, no Porto.

JUBILEU DIOCESANO 2020

“Europa, para ondes vais?” no próximo diálogo

MISSA CRISMAL FOI CELEBRADA NO DIA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Amor, escolha e fidelidade - três palavras para a vivência do sacerdócio

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25 DE JUNHO DE 2020

FESTAS DA RAINHA SANTA ISABELTríduo preparatório nos dias 1, 2 e 3 de julho,

com meditações propostas por D. Senra Coelho, arcebispo de Évora.

Mosteiro da Rainha Santa, 21h30

CORREIO DE COIMBRA

33Igreja a caminho

“Nós temos uma Cons-tituição personalista que respeita a pessoa

humana, que respeita a sua dig-nidade, que respeita os seus di-reitos e deveres, que respeita o pluralismo”, considerou Marce-lo Rebelo de Sousa numa men-sagem dirigida aos participantes na conferência online promovi-da pelos Alto Comissariado para as Migrações, Grupo de Trabalho para o Diálogo Inter-religioso e Comissão da Liberdade Religio-sa, para assinalar o Dia Nacional da Liberdade Religiosa e Diálogo Inter-religioso (22 de junho).

Em sentido inverso, o consti-tucionalista Jorge Bacelar Gou-

veia fez fortes críticas à gestão da esfera religiosa pelo poder político português, dizendo ha-ver uma “lateralização da im-portância do fator religioso neste tempo de crise” e que “faz caminho um laicismo perigo-síssimo” que “acaba por ferir de uma forma às vezes dramática a própria liberdade de cada um e das várias confissões religiosas”.

Sempre com a pandemia e a crise social em fundo, Cláudia Pereira, Secretária de Estado para a Integração e as Migra-ções, agradeceu, por sua vez, às confissões religiosas a sua “so-lidariedade, o cuidado pelos ou-tros, o afeto e a partilha”.

LIBERDADE RELIGIOSA

Da Constituição personalista ao laicismo perigosíssimo

No capítulo oitavo da exortação Christus Vi-vit, o Papa Francisco

fala sobre a vocação. Em pri-meiro lugar, fala da vocação de um modo mais genérico, para depois concentrar a sua refle-xão em três temas mais espe-cíficos: a família, o trabalho e a consagração especial.

Todos somos chamados, sem excepção, em primeiro lugar à amizade com Jesus, a fazer par-te de uma «história de amor, uma história de vida que se quer misturar com a nossa» (nº 251) e aí descobrir o que é ser amado até ao fim, até ao extremo. Isto lança-nos em missão (não pode não lançar), como forma de res-ponder de graça ao que de graça nos foi dado. Nasce o desejo de «ser para os outros», o desejo de servir, e de encontrar no servi-ço o modo de estar no mundo, diante dos outros.

Parece-me particularmen-te bonita a forma como o Papa Francisco diz que «para cumprir a própria vocação» é preciso «fa-zer brotar e crescer todo aquilo que se é (…) de descobrir-se a si próprio à luz de Deus e de fazer florescer o próprio ser» (nº 257). A vocação não é uma “fôrma” na qual me tenho de encaixar e que me torna igual a tantos outros, mas é descobrir de que forma é que, com tudo aquilo que sou, mais posso servir o Senhor e os irmãos. Não se trata de chegar a ser o que não sou, mas de che-gar a ser o que realmente sou e de colocar tudo isso ao dispor de Deus para o que Ele quiser. E esta é a maior liberdade de to-das, o podermos dispor de nós próprios, o haver espaço em nós

para que o Senhor transforme o coração e a vida.

Neste sentido, a radicali-dade da vocação de cada um não se “mede” tanto pelo que se faz, mas pelo quanto cada um dispõe da sua vida para a entregar ao Senhor e aos ou-tros, pelo quanto cada um é livre para abdicar de si, dos seus interesses, do seu tempo, das suas seguranças, para ter como seu centro o outro. Esta sim é a verdadeira radicalida-de. Na verdade, eu posso até ser consagrado ou sacerdote e ser muito pouco radical na forma como vivo a minha vocação.

Este chamamento à amiza-de com Jesus e ao serviço vai ganhando depois contornos mais concretos na vida, trata--se descobrir de que forma eu mais posso viver esta amizade e o desejo de servir.

No entanto, parece-me que o que acontece muitas vezes é que procuramos primeiro tratar da nossa vida, reunir condições, criar seguranças e, quando tudo isso está tratado, então cha-mamos Deus para vir “benzer” o que está decidido e procura-mos, depois, a maneira me-lhor de encaixar o serviço. Não acontece muitas vezes ver al-guém para quem o critério para decidir é, em primeiro lugar, perceber de que forma melhor pode viver a amizade com Jesus e o serviço aos outros, onde quer que isso o leve. Mais uma vez, não é tanto o que se faz, mas o quanto realmente se dá espaço à escuta, o quanto se confia no Senhor e o quanto se está dis-posto a fazer da própria vida um contínuo gesto de entrega.

Durante a noite de 19 para 20 de junho, foi vandali-zada a estátua do funda-

dor do Escutismo, Baden-Powell, colocada numa das rotundas de Coimbra, à zona de Santa Clara, tendo-lhe sido destruída a cabeça.

A Junta Regional de Coimbra do movimento escutista reagiu a esta vandalização, com um comunicado no qual, “em estrei-ta colaboração com os órgãos nacionais do Corpo Nacional de Escutas”, manifestou “a sua indignação para com a vilania cometida” contra o busto do fundador do escutismo. A Jun-ta Regional informa ainda que a Organização Mundial do Mo-vimento Escutista já tinha ma-nifestado recentemente preocu-pações deste tipo, a propósito de notícias provindas de Inglaterra.

A Junta Regional lembra que Baden-Powell, tendo vivido cer-tamente numa cultura situada, inspirou, contudo, a criação de um movimento que cresce há 113 anos, e que inclui hoje “mais de 54 milhões de escuteiros em 224 países e territórios, promovendo

a tolerância e solidariedade em todo o mundo”. Em Portugal, o Movimento conta com 72.000 membros, a maioria integrados no escutismo católico, “contri-buindo para a formação integral da juventude e procurando fazer destas crianças e jovens adultos honrados, cooperativos e com valores, para serem cidadãos que contribuem para uma sociedade melhor e mais interventiva”.

“O Escutismo oferece - con-

tinua o comunicado - um am-biente inclusivo para reunir jo-vens de todas as raças, culturas e religiões e cria oportunidades de diálogo sobre como promover a paz, a justiça e a igualdade”.

Entretanto, as entidades que promoveram a colocação da es-tátua - escutismo, Câmara Mu-nicipal de Coimbra e Junta de Freguesia de Santa Clara - estu-dam já a recolocação de outro busto de Baden-Powell.

VANDALIZAÇÃO DA ESTÁTUA DE BADEN-POWELL EM COIMBRA

Junta Regional reage à “vilania” cometida sobre o busto do fundador do Escutismo

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA CHRISTUS VIVIT

VocaçãoDuarte Rosado, sj

A Legião de Maria celebrou no domingo, dia 21 de junho, a sua grande so-

lenidade anual (Festa da Ácies) na Igreja da Rainha Santa Isabel, em Coimbra, presidida pelo Dire-tor Espiritual da Regia de Coim-bra e Vigário Geral da Diocese de Coimbra, Pe. Pedro Miranda.

Não tendo sido possível con-cretizar esta celebração na data habitual (nas proximidades do dia 25 de março, Solenidade da Anunciação do Senhor) devido à pandemia, algumas dezenas de legionários dos vários grupos das Dioceses de Coimbra e de Aveiro marcaram presença nesta que é a festa central do movimento. O vocábulo latino Ácies, que sig-nifica um exército em ordem de batalha, designa com razão a ce-

rimónia em que os legionários, como um só corpo, se reúnem para renovar a sua fidelidade a Maria, Rainha da Legião, e dela receber a força e a bênção para um novo ano de atividade.

Após as Orações Iniciais com a recitação de cinco dezenas do Rosário, cantaram-se as Véspe-ras Solenes, durante as quais os membros ativos se consagraram individualmente a Nossa Senho-ra, pronunciando a fórmula: “Eu sou todo vosso, ó minha Rainha e minha Mãe, e tudo quanto tenho vos pertence”, e todos os presentes se consagraram coletivamente.

A celebração, dirigida pela Presidente da Regia de Coimbra, Isabel Alves, teve a animação coral a cargo do Coro Paroquial de São Silvestre.

LEGIÃO DE MARIA DE COIMBRA E AVEIRO

Celebração da Ácies com consagração a Maria

“Os Estados devem de-fender o direito de asi-lo na Europa e o princí-

pio da não-devolução; a resposta à pandemia e as suas consequên-cias não devem ser usadas para minar os direitos dos refugia-dos”, alertou a secretária geral da Cáritas Europa, Maria Nyman, tendo como motivo imediato o Dia Mundial dos Refugiados, ce-lebrado a 20 de junho. Em con-sonância com Nyman, também a Cáritas Portuguesa lançou um “apelo aos Estados Europeus para honrarem o compromisso assumido em dezembro de 2019, no primeiro Fórum Global sobre Refugiados, de reinstalar 30.000 refugiados em 2020 e proteger o direito de asilo e não-devolução na Europa”.

“Durante a pandemia, o fecho de fronteiras e as restrições a viagens prejudicaram o acesso a asilo e à proteção na Europa. Em muitos países, o registo para asi-lo, entrevistas e processamento de pedidos foram suspensos ou feitos online, com os desafios que isso gera. O restabelecimen-to, que dá acesso a um caminho seguro para um país seguro para milhares de pessoas presas em campos de refugiados, está atual-mente em espera por um período indeterminado. Ação urgente é necessária.” - denuncia e recla-ma ainda a Cáritas Portuguesa.

APELOS DA CÁRITAS

Dia do refugiado

25 DE JUNHO DE 2020

RAINHA SANTA ISABELSolenidade da Padroeira secundária da Diocese de CoimbraDia 4 de julho, missa às 11h

CORREIO DE COIMBRA

4 Grande Plano

CORREIO DE COIMBRASenhor Doutor, agradecendo a amabilidade de nos receber no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, para falarmos da Rainha Santa e da Confraria da Rainha Santa Isabel, proponho que comecemos pelo mais imediato: como vão ser as Festas da Rainha Santa este ano?

JOAQUIM COSTA E NORAO programa agendado é o tradi-cional na Igreja da Rainha Santa Isabel, que se compõe do tríduo preparatório nos dias 1, 2 e 3 de julho, às 21h30, que é antecedi-do da Santa Missa ou vésperas, e que será pregado pelo senhor Dom Francisco Senra Coelho, ar-cebispo de Évora, que teve a bon-dade de aceder ao nosso convite. Depois, no próprio dia da Soleni-dade, haverá as três missas ha-bituais: às 9 horas; às 11 horas, a Missa Solene, que será celebrada pelo Senhor Dom Virgílio - haverá também a simbólica distribuição de pão após a Missa solene; de-pois, à tarde, às 17 horas, a Missa que tradicionalmente tem sido

da responsabilidade da Real Or-dem de Santa Isabel que todos os anos “nos” visita, mas que nes-te ano, por questões puramente prudenciais, não estará presente, embora protestando reatar as vi-sitas anuais já no próximo ano. Desta forma, vamos procurar ce-lebrar e manifestar a nossa devo-ção a Santa Isabel de Portugal do modo mais digno possível dentro dos atuais condicionalismos e procurando que todos, Irmãos e devotos em geral de Santa Isabel, possam também manifestar e prestar a sua devoção.

Este ano, dada a especificida-de da situação de saúde pública e em linha com as instruções recebidas da Conferência Epis-copal Portuguesa, cancelámos as procissões e a Gala das Rosas, evento de angariação de fundos com o qual se pretende congre-gar os Irmãos da Confraria e os devotos em geral para as fes-tas que são consideradas mais empolgantes, mais majestosas, nos anos em que têm lugar as procissões: não só por serem procissões de devoção, mas por simbolizarem a visita de San-ta Isabel ao centro da cidade de

Coimbra, muito especialmente à Igreja do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Tradicionalmente, estas procissões ocorrem nos anos pares, mas estamos com a determinação de as realizar ex-cecionalmente no próximo ano, havendo já para o efeito o con-sentimento do Senhor Dom Vir-gílio e a adesão dos grupos mais revelantes da Confraria para a concretização das procissões, o ‘grupo das lanternas’ e o ‘gru-po do andor’... Em 2022, se Deus quiser, retomar-se-á a periodici-dade tradicional.

O distanciamento físico - que “temos a responsabilidade de respeitar e fazer respeitar”, como ainda há pouco tempo lembra-va o senhor Cardeal Patriarca - vai reduzir muito a capacidade da Igreja da Rainha Santa, que comportará apenas cerca de 100 pessoas. Sobretudo na Missa so-lene das 11 horas essa capacida-de deverá ser preenchida pelos convidados, pelos Confrades e pelos Irmãos dos “grupos”. Por esse motivo se irá promover um sistema de inscrição prévia dos fiéis que querem participar nas celebrações, para melhor pode-

rem ser acomodados. Haverá uma extensão para os claustros, com ecrãs e instalação sonora, o que permitirá acomodar cerca de mais 200 pessoas. Por fim, temos o espaço do adro da Igreja, onde também serão instalados ecrã e instalação sonora, o que permi-tirá a participação de um maior

número de devotos. É, contu-do, um espaço previsivelmente com muito sol à hora da missa, e as pessoas terão de se instalar para participar na celebração da forma que acharem mais con-veniente, pois ali não serão dis-ponibilizadas cadeiras, embora possam contar com o serviço dos Irmãos da Confraria, também para ajudar a disciplinar o dis-tanciamento entre as pessoas.

Que visão tem para a Rainha Santa – o que lhe está associado à sua figura - no contexto atual de Coimbra? A minha pergunta tem três dimensões: a cultual ou espiritual, a patrimonial e a cultural. Podemos começar pela primeira, a da espiritualidade.Na continuidade do trabalho efetuado e dentro do espírito do Concílio Vaticano II, estamos a tentar que as pessoas interiori-zem o que é uma devoção a um santo, e no caso específico, a Santa Isabel. Queremos, por um lado, evitar uma certa confusão entre a devoção e a magia, me-lhor, entre a devoção e um ima-

Não há volta a dar-lhe: a Covid-19 é uma barreira inultrapassável para algumas das mais empolgantes realizações das Festas da Rainha Santa Isabel, em Coimbra, como as Procissões. Mas há Festas! Já na próxima semana! Fomos falar sobre elas com o Presidente da Mesa da Confraria, Joaquim Costa e Nora. E sobre a celebração dos 750 anos do nascimento de Isabel; e ainda da visão, realizações e constrangimentos para o crescimento da devoção a Santa Isabel e do seu significado para a Igreja e para a sociedade.

FESTAS DA RAINHA SANTA

Tríduo preparatório

com D. Francisco

Senra Coelho, arcebispo de Évora

“Estamos com a determinação de realizar as Procissões excecionalmente no próximo ano, havendo já o consentimento do Senhor Dom Virgílio e a adesão dos grupos mais revelantes da Confraria para a concretização.

25 DE JUNHO DE 2020

“O nosso país não pode ser gerido em obediência a meros interesses privados ilícitos,

desprezando o sentido do bem comum.”(Comissão Justiça e Paz da Diocese de Coimbra, 19 de junho)

CORREIO DE COIMBRA

5Entrevistaginário de milagres mágicos que possam ocorrer. Depois, quere-mos manter e aprofundar o es-pírito de oração - “pedi e recebe-reis” - sobretudo no sentido dos principais atributos de Santa Isa-bel que são o amor pelos pobres, pelas pessoas que são carencia-das, e o amor pela paz, o seu es-forço pela paz entre as pessoas de boa vontade. Procurar que im-pere um espírito de paz e com-preensão entre as pessoas, com respeito mútuo, mesmo quando tenham formas diferentes de pensar. Resumindo, manter a devoção e procurar concretizá-la – com ações efetivas - no amor aos pobres e na promoção da paz entre as pessoas.

Falando dessa vertente do amor aos pobres, permita-me intercalar e antecipar outra questão: a caridade é uma marca distintiva tanto da vida da Rainha, como da ação da Confraria. Como está a ser praticada neste momento, em que os problemas se agravam, mas também se agravarão, penso, as dificuldades financeiras da Confraria?É verdade, a caridade é uma marca distintiva de ambas! A Confraria tem trabalhado, sobre-tudo em cooperação socio-cari-tativa com a paróquia de Santa Clara, que está aqui residente. Por exemplo, o peditório da mis-sa do terceiro domingo de cada mês é para ajudar os casos mais prementes. Não sendo grandes montantes, servem para acudir àquelas emergências mais gri-tantes, uma renda de casa, uma conta da luz... Não conseguimos ajudar todos - e os peditórios têm baixado muito nos montantes, talvez devido às sucessivas aus-teridades a que o país tem sido submetido. Mas é um sinal, o si-nal que é possível dar. Também há um forte espírito de entreaju-da com a Casa de Formação Cris-tã, uma obra em Coimbra que dá apoio a jovens do sexo feminino.

Falemos então do trabalho feito ou a fazer em relação ao património – refiro-me aos edifícios do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova e, em grande medida, também à arte: quais são os projetos que estão em cima da mesa?Há algumas situações compli-cadas porque os edifícios não são novos. Trabalho não falta: a construção, nalguns pontos não

é propriamente a melhor e os edifícios foram sendo adaptados ao longo dos anos, nem sem-pre com as melhores técnicas ou materiais, às vezes até com repercussões negativas sobre a conservação de outras partes do edifício! Mas são despesas mui-to avultadas, para as quais não temos dinheiro. Temos vindo a sensibilizar um conjunto de en-tidades com intervenção nesta área e estamos a prepararmo--nos para poder concorrer a al-gumas ajudas governamentais e privadas, em ordem à manu-tenção e restauração destes edifí-cios. Já tivemos a visita, a nosso convite, da Direção Regional da Cultura do Centro e do Turismo de Portugal, através dos seus Diretores e/ou representantes, a visita de pessoas ligadas a al-guns ministérios, inclusive os do Turismo e das Finanças. Aguar-damos a concretização da visita do Presidente da Região de Tu-rismo do Centro que a pandemia não permitiu. É um trabalho que estamos a fazer, esperando que possa ter resultados positivos. O recurso às receitas das visitas turísticas é também importan-te para ajudar este financia-mento, mas a acessibilidade do Mosteiro não joga a nosso favor, porque os acessos para a Igreja da Rainha Santa têm vários es-trangulamentos, alguns que até impossibilitam os autocarros de chegarem ao Mosteiro de San-ta Clara-a-Nova. Temos vindo a sensibilizar a Câmara, com quem temos mantido diálogo sobre esta matéria. Seria também inte-ressante se se pudesse estender ao Mosteiro o percurso de alguns serviços de transportes turísticos da própria Câmara, como aquele que percorre o Jardim Botânico. Ainda em ordem a reforçar o in-teresse turístico, promovemos ações de sensibilização e forma-ção dirigidas aos guias turísticos no sentido de podermos aumen-tar a vinda de turistas.

Em relação à arte…No que se refere à arte, temos tido algumas boas colaborações, sobretudo com o CEARC (Centro de Estudos de Arte e Cultura), li-gado ao Instituto Politécnico de Tomar, que já recuperou algu-mas peças que foram exibidas no ano passado, no dia da Sole-nidade de Santa Isabel. Ainda re-centemente contactaram a con-firmar que já estão prontas mais duas recuperações, embora já não possam ser exibidas nas Festas. Os caminhos fazem-se caminhando, e é uma longa ca-minhada que temos para fazer.

Os retábulos da Igreja estavam em muito mau estado, fruto do tempo e das ‘bichezas’ que ali “entraram”. Graças ao patro-cínio da Real Ordem de Santa Isabel já se fez a recuperação de um dos retábulos da igreja, e, através desse primeiro trabalho, estabelecemos contacto com o Fundo Rainha Dona Leonor, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que está disponível para nos ajudar a recuperar ou-

tros retábulos. Já tínhamos até programado o retábulo que se seguiria, mas com a pandemia ficou adiado.

No que respeita à dimensão cultural, e tendo em conta o contexto da cidade e arredores, como se configura a ação da Confraria? Mantemos um intenso diálogo com as entidades mais relevan-tes da cidade, a Universidade, a Direção Regional da Cultura do Centro, o Turismo do Centro, a Câmara Municipal, o próprio Inatel de Coimbra…, e com as ou-tras instituições católicas, com interesses e necessidades afins, como o Seminário de Coimbra, a Sé Nova, a Sé Velha, Santa Cruz, a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra e o Carmelo. Aliás, esta-mos neste momento em diálogo com todas estas instituições, no sentido de criarmos um circui-to turístico e cultural específico,

religioso. Temos tido a melhor atenção da Câmara Municipal, que inclusive nos ouviu sobre a oportunidade das obras na cal-çada de Santa Isabel, em termos de não prejudicarem as procis-sões. Sinto a melhor boa vonta-de da Câmara, e dos diferentes vereadores, mesmo quando nos convidam para colaborarmos em iniciativas do seu âmbi-to, como é o caso, para dar um exemplo simples, do programa das 7 Maravilhas...

Na vertente dos mais novos, promovemos visitas escolares (agora interrompidas por causa da pandemia), para o que temos prevista uma provisão de livros de banda desenhada, para as crianças, sobre Santa Isabel.

E quais são os maiores constrangimentos que a Confraria enfrenta?Os maiores constrangimentos são mesmo os acessos e a falta de recursos económicos para fa-zer as obras de recuperação. Se pudéssemos ter a renovação to-tal dos edifícios, isso criaria con-dições para fazer aqui um cen-tro religioso, um santuário, que tivesse como núcleo Cristo, na-turalmente, mas depois Nossa Senhora e Santa Isabel. E permi-tiria um melhor apoio aos pere-grinos, que já apoiamos, como é tradição deste Mosteiro, através do Albergue de Peregrinos, quer

os que vão para sul, em direção a Fátima, quer os que vão para norte, em direção a Santiago de Compostela, mas que precisa de melhorar as condições. Os aces-sos, como disse, são também um grande constrangimento, que esperamos ver facilitados.

Entretanto, estamos a celebrar os 750 anos do nascimento da Rainha Santa. Como é que a Confraria está a promover esta efeméride?O nosso Programa de Ativida-des de 2020 estava já orientado para essa comemoração, que se prolongaria para 2021. De facto, Santa Isabel nasceu num tempo em que em Portugal ainda se da-tavam os documentos segundo a “era de César”, enquanto em Ara-gão se utilizava já a “era cristã”; mas, ainda em Aragão, os anos eram contados a partir do dia 25 de março. Estas diferenças têm originado que não haja uma

unanimidade entre os estudio-sos sobre o ano do nascimento de Santa Isabel: se em 1270? Se em 1271? É aceite que foi em 11 de fevereiro, mas há também quem admita que nasceu em 4 de ja-neiro. Por isso, a atual Mesa da Confraria optou por fazer a ce-lebração durante os dois anos, tendo começado as celebrações em 11 de fevereiro de 2020, no dia aceite do nascimento, mandan-do celebrar no próprio dia Missa de Ação de Graças, que se reno-vou no domingo seguinte. Esta-vam programadas várias ações culturais e de reflexão para a Quaresma, mas ficaram natural-mente sem efeito. Vamos tentar enriquecer o programa para 2021,

quer religiosamente, quer com a envolvência de outras entidades. Contamos, por exemplo, que a Orquestra Clássica do Centro pos-sa ter como personalidade come-morativa, no próximo ano, Santa Isabel. De facto, a Rainha Santa é uma personalidade não só da religião e da política social, mas também da cultura portuguesa e, sobretudo, da cultura de Coim-bra. E esperamos ter também a boa cooperação, como sempre te-mos tido, da comunicação social.

Já que falamos da importância da Rainha Santa na cultura portuguesa, não resisto a pedir-lhe que partilhe com os leitores do Correio de Coimbra aquela curiosidade de ela já ter sido padroeira de Portugal…Não sei se foi padroeira “oficial”, mas foi pelo menos venerada durante muito tempo como pa-droeira de Portugal, sobretudo durante a dinastia filipina, por-que o rei Filipe, quando assumiu o trono de Portugal, talvez por Santa Isabel ser de origem espa-nhola (Aragão) e também rainha de Portugal, viu nela a figura que, de alguma forma, congregava a união dos dois povos. Depois, D. João IV – que, aliás, foi devoto de Santa Isabel e até promoveu a construção deste mosteiro - sa-grou Nossa Senhora da Conceição como Rainha e padroeira de Por-tugal. Já a declaração de Santa Isabel como padroeira de Coim-bra é posterior: em ação de gra-ças por Coimbra ter sido preser-vada na destruição do terramoto de 1775, a vereação da cidade de-liberou que Santa Isabel seria a padroeira de Coimbra, tendo merecido desde então o reconhe-cimento das autoridades. E é ain-da, como é sabido, padroeira se-cundária da Diocese de Coimbra.

Permita-me, para terminar, uma pergunta mais pessoal: com que espírito assume este trabalho à frente da Confraria da Rainha Santa Isabel?Com o espírito de missão. Nunca neguei nada à Igreja católica que estivesse dentro das minhas pos-sibilidades, onde fosse útil: desde ter sido catequista na paróquia, até, nos últimos tempos, mais na minha área profissional, que é a advocacia. Colaborei com outras instituições, como, por exemplo, a Caritas, paróquias, capelanias e santuários, as Misericórdias de Coimbra e de Cantanhede. Na Confraria da Rainha Santa Isa-bel, sou confrade. Fui convidado para o Conselho Fiscal e mais tarde para a Mesa Administrati-va. Não havendo nenhuma lista para este mandato, fui solicita-do a apresentar uma lista, com o apoio de duas pessoas que eu muito considero: o Professor Doutor Henrique Vilaça Ramos, Presidente da Mesa de Assem-bleia Geral, e o Doutor José Ma-nuel Moreira Cardoso da Costa, Presidente do Conselho Fiscal. Foi uma lista feita no espírito de congregar entidades e a comuni-dade, a que eu presido, como dis-se, em espírito de missão.

“Se pudéssemos ter a renovação total dos edifícios, isso criaria condições para fazer aqui um centro religioso, um santuário que tivesse como núcleo Nossa Senhora e Santa Isabel.

“O ofertório da missa do terceiro domingo de cada mês é para ajudar os casos mais prementes [de pobreza].

25 DE JUNHO DE 2020

“Em termos de futuro é função essencial do Estado encontrar medidas concretas que visem enfrentar da crise social e económica, concebendo uma estratégia global e coerente.”(Comissão Justiça e Paz da Diocese de Coimbra, 19 de junho)

CORREIO DE COIMBRA

6 Liturgia

Pessoas perdidas no mundo das festas, sem serem capazes de ler um livro por inteiro, sem encontrar tempo para a família, para os filhos…. Quantos! E quão poucas as «Stéphanies», capazes de vislumbrar, por um simples «curriculum vitae», uma consciência em crise a precisar de acolhimento, de uma mão amiga. Que truque mais simples usou a Stéphanie! «Sentou-se a meu lado e começámos a conversar…» Não uma conversa qualquer sobre banalidades. «Falava-me cada vez mais de Jesus». E foi o suficiente para despertar no subconsciente a lembrança da missa com a avó! E o atrevimento de ler a Bíblia, à hora do almoço. Quantos? Quem passa assim a hora do almoço? E daí… refazer a vida – casar, mas pela Igreja, retomar a vida em comunidade… descobrir a necessidade de falar d’Ele: «o que me torna muito feliz».

Vinha de atravessar um período difícil na mi-nha vida, quando che-

guei a Mans, para o meu novo trabalho. No primeiro dia, uma colega – assistente da direção – sentou-se ao meu lado e come-çámos a conversar como se nos conhecêssemos há longo tempo.

-«Tenho de contar-te um truque bizarro, disse-me ela. Quando vi a tua foto no curriculum vi-tae, pressenti que tinha de falar contigo.» Foi assim que tudo co-meçou. Enquanto o meu casal metia água e eu me sentia de mal a pior com a minha vida, a minha colega Stéphanie falava--me cada vez mais de Jesus e do que ela vivia com Ele. Estava muito contente por ela, mas não via, verdadeiramente, como isso podia interferir na minha vida. Embora batizada, só tinha ido à missa em pequena com a minha avó. Vivendo com o meu compa-nheiro no meio da música, era muito mais virada para festas do que para rezar.

Todavia, pouco a pouco e sem saber como nem porquê, come-cei a caminhar para Ele. Com Stéphanie, a meu pedido, co-meçámos a ler todos os dias a Palavra de Deus na hora do al-moço. Eu, que em toda a vida não tinha lido mais do que três livros por inteiro, deixei-me guiar por aquilo que ela sabia ti-rar da leitura. Ao fim de algum tempo, passei eu própria a tirar lições do que lia. Tínhamos in-terpretações muito diferentes, mas eu achava estas leituras a dois muito enriquecedoras. Em setembro de 2012, dois anos

depois de ter anunciado aos nossos filhos de seis anos e de-zoito meses a nossa separação, Adriano e eu retomámos a nossa relação… por um pedido de ca-samento! Não havia obstáculos, mas eu pus uma condição: ser na Igreja. No dia do casamen-to compreendi que não éramos mais dois, mas três. O percurso Alpha, a confirmação… foram aprofundando o meu caminho para Deus. Na missa – eu acom-panhava Stéphanie na sua pa-róquia – fiquei espantada com a tolerância dos cristãos que en-contrava. Com o meu look extra-vagante e os meus cabelos rui-vos, eu destoava naquele meio, mas eles souberam convencer--me que Deus me amava assim como eu era e que não precisava de mudar.

Hoje pratico a minha fé na pa-róquia do meu bairro. Juntei-me a um grupo de louvor e a minha vida está marcada por esta for-ma de oração. A música ajuda--me muito. Entre dois cânticos, dirijo-me a Ele sem problemas. Fora, tenho necessidade de falar d’Ele, o que me torna muito fe-liz. É tão bom ser instrumento ao seu serviço!

Hélène, 35 anos, técnica musical In «Prier, nº 405

Uma das palavras que hoje pode guiar a nossa reflexão é a ‘humildade’.

Diz Jesus no evangelho: «apren-dei de Mim, que sou manso e humilde de coração».

Aprender tem a ver com a ideia de que é preciso esforço, exercício, empenho… que não é um ‘dado adquirido’ ou uma vi-vência inata. Em termos de cris-tianismo falamos de conversão.

De facto, a nossa vida tem de ser uma conversão permanen-te, um aprender constante do evangelho. Não se nasce cristão, nem padre, nem freira… não se nasce acabado nem termi-nado. O evangelho tem a força do estímulo, da provocação… a aguardar o nosso compromisso existencial.

O que Jesus nos diz hoje é que precisamos de aprender d’Ele. Ele é a referência, o centro, a motivação, a razão de sermos. Não pode ser um hóspede, um convidado… Alguém que sim-plesmente ‘encaixamos’ na nos-sa vida, na nossa agenda ou nos nossos projetos…

Precisamos de aprender d’Ele que é manso e humilde. Não uma humildade do tipo ‘humi-lhação’, mas uma ‘humildade de coração’. Jesus é humilde, faz-se pequeno, vive de modo simples, aceita a cruz… As suas palavras e os seus gestos são compreendi-dos até pelos mais pequeninos.

A palavra humilde tem a ver com as palavras latinas humus (terra ou solo) e humilitas (pou-ca elevação ou pequena altura).

A humildade de Jesus não tem a ver tanto com a al-tura mas com o coração,

não é uma questão de metros mas de profundidade. Aprender a ‘ser pequeno’, aprender a ‘ser terra’… terra preparada para acolher a ‘semente’… que um dia germinará.

Jesus não diz que devemos ‘gostar de ser humilhados’, nem sequer que não nos devemos preocupar quando somos ‘en-ganados pelos outros’, nem que nos devemos calar diante das injustiças e das ofensas. Os hu-mildes (e os ‘mansos’) não são

os fracos, os que suportam pas-sivamente as injustiças, os que se conformam com a violência orquestrada pelos poderosos.

Ser humilde de coração, como Jesus, é ‘saber ocupar o seu lu-gar’, é não ser ‘arrogante’ nem ‘vaidoso’, é ‘perdoar até seten-ta vezes sete’. Ser humilde de coração é perceber que somos apenas peregrinos, que estamos de passagem, que nada nos per-tence definitivamente… A nossa recompensa é (só) a Vida Eterna.

Por isso, não há lugar no evangelho de Jesus para os que ‘olham de cima para baixo’ (a não ser para levantar o irmão caído), os que estão sempre prontos para apontar o dedo (a não ser para indicar o caminho certo), os que passam a vida a falar dos outros (a não ser para dizer bem).

A conversão profunda da vida, à luz do evangelho de hoje, con-voca-nos a todos à humildade profunda, capaz de construir uma vida nova, uma comunida-de nova e uma sociedade total-mente diferente.

ESPIRITUALIDADE

Um truque bizarroJoão Castelhano

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

Humildade não é humilhaçãoNuno Santos

LEITURA DA PROFECIA DE ZACARIAS Zac 9, 9-10Eis o que diz o Senhor: «Exulta de alegria, filha de Sião, solta brados de júbilo, filha de Jerusalém. Eis o teu Rei, justo e salvador, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, filho duma jumenta. Destruirá os carros de combate de Efraim e os cavalos de guerra de Jerusalém; e será quebrado o arco de guerra. Anunciará a paz às nações: o seu domínio irá de um mar ao outro mar e do Rio até aos confins da terra».

SALMO RESPONSORIAL Salmo 144Refrão: Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei.

LEITURA DA EPÍSTOLA AOS ROMANOS Rom 8, 9. 11-13Irmãos: Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence. Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que res-suscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Assim, irmãos, não somos devedores à carne, para vivermos segundo a carne. Se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espí-rito fizerdes morrer as obras da carne, vivereis.

ALELUIA Mt 11, 25Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra,porque revelastes aos pequeninosos mistérios do reino.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS Mt 11, 25-30Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e in-teligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém co-nhece o Filho senão o Pai e nin-guém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontra-reis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a mi-nha carga é leve».

ENTRADAEu venho, Senhor | CEC II 75, 76, 77

Recordamos, Senhor | CEC II 179Alegre-se o coração | CEC II 134

APRESENTAÇÃO DOS DONSCremos em Vós, ó Deus | NCT 692

A Vós, Deus e Senhor | CT 56Um novo coração | XVII ENPL

COMUNHÃOVinde a Mim vós todos | CEC II 74

Vinde a Mim todos vós | CEC II 71/72Saboreai e vede | CEC II 69

PÓS-COMUNHÃOPelo Vosso eterno amor | CT 212 / NCT 287

Senhor, Tu és a Luz | CEC II 185Cantai comigo | NCT 736 SU

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DOMINGO XIV DO TEMPO COMUM5 de julho de 2020

25 DE JUNHO DE 2020

AMO A IGREJA, LEIO O SEU JORNAL98 anos de presença semanal de informação,

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CORREIO DE COIMBRA

7Opinião

A consciência do nosso va-lor faz com que, alguma vezes, fiquemos ofusca-

do e teimemos em práticas que perdem a atualidade. Em todas as áreas é necessário seguir a moda dos tempos e evoluir. A dificuldade está em progredir ponderadamente para que não se perca a cadeia da mudança nem se choque de frente com o inédito. Saber encontrar a mu-dança na continuidade é um dom acessível a poucos, até por-que confundimos continuida-de com seguidismo e mudança com loucura. Uma das conse-quências de se ser pioneiro pode ser a soberba, a sensação de su-perioridade que não deixa olhar para o rasto que se deixou.

No governo dos povos e nas relações internacionais está hoje bem visível essa marcação de pioneirismo com arrogância quando se fala na busca de uma vacina para a pandemia que nos aflige. Uns dizem que são os melhores, outros que são os pri-meiros e todos têm o “orgulho de anunciar que…”.

Olhando para trás, vemos que, afinal, isso faz parte da condição do Homem e é na gestão da so-berba e da humildade que se tra-çam os carateres de quem parte e de quem fica. Lembrei-me de uma pequena história que en-volveu birras de vizinhança e que ilustram que entre grãos de areia acontecem coisas que ca-raterizam toda a praia.

Na Quinta do Covelo, o casei-ro fazia leilão dos seus dotes de

agricultor e gabava-se de ser o mais ousado de todos quantos por ali havia no amanho das ter-ras e na qualidade da produção. Tomava as iniciativas e toda a novidade que aparecesse naque-las encostas do Varosa tinham o seu selo. Pelas redondezas, nos anos a seguir, as pessoas co-mentavam as técnicas da poda, as novas sementeiras, as novas formas de decruar a terra ‘in-ventadas’ pelo caseiro da quin-ta. O homem granjeara fama de ‘engenheiro agrícola’. Em abono da verdade, reconheça-se que merecia tudo quanto os patrões lhe pagavam, não só pelo esme-ro, mas também pela riqueza que, ano trás ano, ia amealhan-do nas contas dos proprietários da quinta, uns senhores que vi-viam lá longe, em Lisboa, e que só visitavam a propriedade uma vez por ano.

O caseiro tinha, na mes-ma proporção, a arrogância de quem se julga melhor e superior. Olhava com um certo desdém para os caseiros das quintas vi-zinhas e com uma superiorida-de imensurável para os peque-nos agricultores que cavavam de sol-a-sol os campitos que escor-regavam por aqueles socalcos íngremes.

O acaso fez com que, mesmo junto aos limites da formosa Quinta do Covelo, ao descer para o rio, o Zé Esperanço tivesse um rincão com meia dúzia de cam-pos onde produzia, anualmente, menos de um carro de batatas. Para ele era coisa triste, porque

essa produção não bastaria às necessidades da casa e, ainda antes da batata nova, ver-se-ia obrigado a mercar uns sacos aos vizinhos. No íntimo do homem havia quase a vergonha de não conseguir alimentar a família com as coisas que a terra dava. Parecia que a terra andava ma-ninha e nem o estrume que lhe deitava resolvia. Aliás, essa frustração era tão maior quan-to eram formosos os batatais do vizinho.

De nada resolvia perguntar qual era o segredo, porque o caseiro fechava-se em copas, apelava para a sua sabedoria e respondia uma frase que humi-lhava: “Isto é só p’ra quem sabe!” E o Esperanço calava a humi-lhação e a incompreensão. Não eram os solos vizinhos? Não ti-nha a terra a mesma composi-ção? As batatas da semente não eram as mesmas? Se um ano eram Rambana, no outro eram “Ronconse” (Raconse) e o adubo também era o mesmo, que ele bem via. O Foskamónio compra-do no Carrapatoso servia para todos. Não dava para perceber.

Contudo, como atrás de tem-pos vêm tempos, houve um ano em que as suas batatas pularam para os olhos do soberbo vizinho e tudo faria crer que se debai-xo da terra houvesse produção equivalente à rama, aquele ano seria de grande fartura. O casei-ro do Covelo olhava com inveja incontida os pequenos campos a abarrotar de plantas verdes, vi-çosas e de caule grosso, uma ga-

rantia de grande e boa produção. Contrariamente àquilo que

ele costumava fazer, o Espe-ranço não guardava segredo da sua abundância. Encolhendo os ombros dizia ao vizinho: “Sabe, deixei de ir ao Carrapatoso e passei a ir ao Lúcio, que tem lá uma batata da semente de qua-lidade nova chamada ‘Cana-beque’ (Kennebec) e um adubo novo, o Nitrolusal.” O caseiro ouviu-o pasmo, de boca aberta, mostrando a sua estranheza e procurava na cabeça uma ex-plicação lógica, com a mesma insistência com que a língua procura na boca o dente que lhe falta. Não podia ser! Como é que o esperanço podia tê-lo ultra-passado na busca da novidade? Não! Devia ser outra coisa, mas não aquilo. A suas artes e técni-cas não podiam ser batidas pela descoberta espúria de um zé--ninguém! Deixou-se ficar com essa certeza por mais um ano, esperando que o tempo repuses-se as hierarquias e que voltasse a ser ele o melhor produtor de batatas da freguesia.

Porém, quando na primavera seguinte as batateiras do Espe-ranço davam já em crescimento o dobro das suas, despiu a arro-gância e às 9 horas da manhã seguinte, estava ele à porta do Lúcio com o carro dos bois pron-to. Mal entrou na loja, abeirou--se do balcão e lançou: “Bom dia, sr. Lúcio. Arranje-me aí qui-nhentos quilos de Nitrolusal e p’ró ano guarde-me 10 sacos de batata de semente ‘Canabeque’.”

PORQUE TAMBÉM ISTO É SER

Ninguém melhor do que euAntonino Silva

No Livro dos Provérbios, através de uma notável antologia de compara-

ções, sentenças, ditos, poemas e analogias, provenientes de lugares e épocas díspares (do séc. X ao séc. V a.C.), observa-mos uma inumerável riqueza de experiências humanas atra-vés das quais as novas gerações são convidadas a adquirir a sa-bedoria para ser bem-sucedidas. É nesta linha que podemos in-terpretar esta exortação: “Meu filho, não esqueças a minha instrução... assim alcançarás a aceitação diante de Deus e dos homens” (cf. Pr 3, 1-4). Com efeito, é princípio de sabedoria escutar os mais velhos, não des-prezando os seus ensinamen-tos, pois “a força é a glória do jovem, e a glória dos velhos são os cabelos brancos” (Pr 20, 29).

Ao longo desta obra são dadas as linhas para uma justa educa-ção nas diversas dimensões da vida e discernimento nos essen-ciais valores: “Mais vale um pra-to de verdura com amor do que um vitelo gordo com rancor” (Pr 15,17). “Como a porta gira nas do-bradiças, assim o preguiçoso rola na cama” (Pr 26,14). Numa condu-ta de vida sempre firme em Deus: “Confia no Senhor com todo o teu coração... teme o Senhor e evita o mal. Feliz o homem que en-controu a sabedoria e alcançou o entendimento, porque a sabedo-ria vale mais do que a prata... e não existe objeto precioso que se iguale a ela” (Pr 3,5-18). No cap. 8, o autor faz entrar em cena a Sa-bedoria como uma personagem que fala diretamente com os ho-mens, que sempre devem desejar este relacionamento íntimo.

Ao longo desta obra atribuída ao sábio Salomão (mas tratan-do-se de mais um caso de pseu-do-epigrafia), podemos sinalizar alguns temas fortes como a vida longa prometida aos que escu-tam e seguem a sabedoria (cf. Pr 3,2; 4,10), a justiça centrada na defesa dos mais frágeis e pobres (cf. Pr 13,23; 21,13; 22,16), o tema da mulher, pelo qual se enalte-ce a condição da mulher forte (cf. Pr 31,10-31), a importância do discernimento (cf. Pr 1,2-4), e a consciencialização dos contra valores da violência e do ódio por quem odeia a sabedoria (cf. Pr 8,36).

Neste tempo de pande-mia, e a viver este “mês dos corações”, ao ler

este Livro, possamos aceitar este pedido: “Meu filho, dá-me

o teu coração” (Pr 23, 26). Inca-pazes de O amarmos bem, por nós mesmos, como sabemos, queiramos amá-Lo pelo Cora-ção de Jesus. Amá-Lo e ao nos-so próximo, buscando sempre a sabedoria e a justiça no modo como se procede no quotidia-no, tendo em atenção os con-selhos dos mais velhos, numa visão inclusiva do contributo das várias gerações (D. Tolen-tino Mendonça – Discurso 10 de Junho 2020). Os idosos são um “tesouro precioso” e “indis-pensável” como afirma cons-tantemente o nosso Papa. Esta verdade não é somente veicu-lada nos seus discursos, mas de modo particular pelos seus inúmeros gestos de proximida-de, de quem é idoso como ele, reafirmando que a Igreja con-dena a cultura da indiferença

e do descarte que marginali-za os idosos, considerando-os improdutivos e um peso, um “fardo” social, e que a Igreja, pelo contrário, olha para as pessoas idosas com afeto, gra-tidão e grande estima, cuidan-do, ouvindo-as e rezando por elas, pois são parte essencial da comunidade cristã e da so-ciedade. Elas representam as raízes, a memória, a “reserva sapiencial” de um povo, sendo merecedores do Prémio Nobel.

“A pandemia da COVID19 mos-trou que as nossas sociedades não estão organizadas o sufi-ciente para dar lugar aos ido-sos, com justo respeito pela sua dignidade e fragilidade. Onde não há cuidado com os idosos, não há futuro para os jovens”, lembra o Papa Francisco, na sua conta da rede social Twitter.

A PALAVRA EM PALAVRAS

Deus fala através da vidaJoão Paulo Fernandes

“Há quase um milhão de trabalhadores em situação de lay-off e

isso implica uma perda de 1/3 nos seus salários e, ao contrário do que poderia parecer com a existência de um limite mínimo em que não seria descontado o salário, vem o estudo da ENSP--Escola Nacional de Saúde Pú-blica confirmar que dos traba-lhadores com vencimentos até 650,00€, 25% perde a totalidade dos rendimentos e mais 38% perde rendimentos parciais; e de 650,00€ a 1000,00€ mensais, as perdas totais são de 14% e perdas parciais dos salários atinge 43% dos trabalhadores”, denuncia um comunicado do Movimento de Trabalhadores cristãos com data de 23 de junho.

Perante estes números, a Loc/MTC questiona “o porquê de nada ser feito quanto às gran-des empresas que tiveram gran-des lucros, ou aquelas que têm sede fiscal no estrangeiro para não pagar impostos em Portu-gal, e agora recorrem a apoios do Estado português”.

Reconhecendo embora os efeitos imediatos da Covid-19 sobre a saúde dos mais ido-sos, os trabalhadores católicos, sublinham também que “esta nova crise económica vem pe-nalizar gravemente a todos, mas em especial aqueles que sobrevivem graças ao esforço do seu trabalho e dele depen-dem para alimentar os seus e ter uma vida digna”.

PERDA DE RENDIMENTOS

LOC reage à situação nacional

25 DE JUNHO DE 2020

PROPOSTA DA AÇÃO CATÓLICA RURALMomento de oração nacional online no dia 27 de junho, inspirado na intenção do Papa para este mês: “O caminho do coração”.21h30, em www.facebook.com/ACRMundoRural/

CORREIO DE COIMBRA

Última

O Santo Padre recebeu em audiência, no dia 20 de junho, uma delegação de

profissionais de saúde da Lomba-ria, a região de Itália mais afetada pela Covid-19. Nas palavras que lhes dirigiu [de que publicamos um extrato na coluna ao lado, sob título e tradução nossa], Francis-co caraterizou aqueles profissio-nais como “artesãos silenciosos da cultura da proximidade e da

ternura” e chegou mesmo a cha-mar ao trabalho por eles feito de “início de milagre”, confiando que Deus agora o vai completar.

O encontro foi caraterizado também pela grande proximi-dade do Papa com vários dos presentes, dirigindo-lhes, nos cumprimentos finais, palavras particulares de incentivo, ouvin-do as suas histórias, contando algum episódio do seu reportório.

PAPA AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Artesãos da cultura da proximidade e da ternura

Ao longo da história, ca-lamidades que destroem parte do que foi sendo

construído em muitos anos dão origem a um novo começo que pode ser a ocasião de aprender as lições que podemos colher des-sas calamidades, e também de repensar os alicerces em que as-sentavam as sociedades até en-tão, para que o que se constrói de novo não reproduza os defeitos do que foi destruído. É o que pode suceder agora depois da pande-mia do coronavírus Covid-19.

Lição prioritária a colher da tra-gédia desta pandemia é a da re-descoberta do valor de cada vida humana, pois só esse valor pode-rá justificar as consequências das medidas tomadas para impedir a difusão da doença. À redesco-berta desse valor está associada a redescoberta do valor da missão dos serviços de saúde, acessíveis a todos, e dos seus profissionais, merecedores de um reconheci-mento que fomos esquecendo nos últimos tempos. Esse valor da vida não é menor quando as vítimas a proteger são idosos e só pode la-mentar-se que muitos residentes em lares tenham sofrido mortes que poderiam ter sido evitadas. Há, então, que dar outra atenção à condição dos idosos e das insti-tuições que deles cuidam. A legali-zação da eutanásia contradiz esta

lição que vem da redescoberta do valor da vida humana.

Se é verdade que esta pandemia nos tem feito redescobrir o valor da vida humana terrena, ela tam-bém nos tem feito redescobrir a precariedade dessa vida. Por isso, esta deve ser também uma oca-sião para redescobrir Deus, a quem devemos essa vida e que nos cha-ma a partilhar com Ele uma outra Vida, de plenitude e eternidade.

A pandemia fez-nos sentir que somos uma só família humana e que «estamos todos no mesmo barco». Seria bom que esta cons-ciência se estenda a outros âm-bitos da vida social, desde logo ao modo de enfrentar a crise eco-nómica e social que já estamos a experimentar. Superar esta crise exige uma coesão inédita entre agentes sociais e políticos. Ao Es-tado cabe um importante papel, mas talvez ainda mais importan-te seja o da sociedade civil. Esta crise parece não ter precedentes em gravidade e, por isso, ela re-clama um esforço de solidarieda-de também sem precedentes.

Quanto aos alicerces em que deve assentar a economia a re-construir, esta deve ser uma oca-sião para repensar o sistema eco-nómico, para preservar o que ele tem de bom e para corrigir o que ele tem de negativo e injusto, como a desigualdade e a destruição do ambiente. Pode ser uma ocasião para construir um sistema em que os valores da solidariedade não movam apenas as ações de apoio social, mas penetrem também na economia e no mercado.

Esta pode ser uma ocasião para implementar a globalização da so-lidariedade, desde logo no plano da saúde pública, a qual não pode deixar de ter, hoje mais do que nunca, uma dimensão universal.

Tornar universal o acesso à futura vacina contra a Covid-19 é dos pri-meiros passos nesse sentido.

A União Europeia enfrenta um desafio que talvez seja o maior da sua história: perante a crise económica e social gerada pela pandemia, deverá atuar como uma verdadeira comunidade em que cada um dos seus mem-bros sente como seus os dramas que atingem os outros.

Como no mundo inteiro e em todos os setores da sociedade, também entre nós a Igreja foi pro-vada pela pandemia e obrigada a adaptar-se e a inovar no campo das celebrações, da catequese, dos laços comunitários, da sua pre-sença e ação na sociedade. Nestas vertentes houve muitos sinais de criatividade pastoral que não se devem perder, mas antes valorizar no futuro, como manifestação de nova vida e de nova esperança.

Esta reflexão quer ser apenas um contributo construtivo e cor-dial sem pretensão de oferecer soluções técnicas e imediatas para os problemas enfrentados. Dado o evoluir da pandemia e a exiguidade de tempo desta As-sembleia, está a ser preparada para a próxima Assembleia Ple-nária uma reflexão mais alarga-da e profunda sobre os desafios e consequências pastorais da pan-demia na vida da Igreja.

Resumo oficial da reflexão da Conferência Episcopal

Portuguesa sobre a sociedade portuguesa a reconstruir depois

da pandemia Covid-19

CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA

Recomeçar e Reconstruir

“O valor da vida não é menor quando as vítimas a proteger são idosos e só pode lamentar-se que muitos residentes em lares tenham sofrido mortes que poderiam ter sido evitadas. Há, então, que dar outra atenção à condição dos idosos e das instituições que deles cuidam.

“Mater Misericordiae” (Mãe da Misericórdia), “Mater Spei” (Mãe da

Esperança) e “Solacium migran-tium” (Conforto dos Migrantes): estas são, por decisão do Papa Francisco, as três novas invoca-ções inseridas na Ladainha de Nossa Senhora, que tradicional-mente conclui a oração do Terço.

A decisão do Papa foi comunica-da aos Presidentes das Conferên-cias Episcopais pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, cujo secretário, o arcebispo Arthur Roche, con-siderou tratar-se de invocações “ligadas à atualidade da vida”: “neste momento, as invocações à Virgem são muito importantes para quem está a sofrer com a Co-vid-19 e, entre eles, os migrantes que deixaram a sua terra”.

A invocação “Mãe da Misericór-dia” será inserida depois de “Mãe da Igreja”; “Mãe da Esperança” depois de “Mãe da Divina Graça”; e “Conforto dos Migrantes” de-pois de “Refúgio dos Pecadores”.

LADAINHA

Três novas invocações

DESDE ROMA

Caros médicos e enfermeiros, o mundo viu todo o bem que tendes feito numa situação de

grande exigência. Mesmo estando exaustos, continuastes o vosso esfor-ço com profissionalismo e abnega-ção. Quantos médicos, paramédicos e enfermeiros não podiam ir a casa e dormiam ali, no hospital, onde era possível, porque não havia camas! E isso gera esperança. Fostes um dos pilares deste país. [...]

Agora é o momento de rentabili-zar toda a energia positiva investida. Não o esqueçamos! É uma riqueza que, em parte, com certeza, foi “a fundo perdido” no drama da emer-gência; mas em grande parte pode e deve dar frutos para o presente e o futuro da sociedade da Lombar-dia e da Itália. A pandemia marcou profundamente a vida das pessoas e a história das comunidades. Para honrar o sofrimento de tantos doen-tes e de tantos mortos, sobretudo os idosos, cuja experiência de vida não deve ser ignorada, é necessário cons-truir o amanhã: para isso é necessá-rio o compromisso, a força e a dedi-cação de todos. Trata-se de partir de novo dos inumeráveis testemunhos de amor generoso e gratuito, que deixaram uma pegada indelével nas consciências e no tecido da socieda-de, ensinando quanto precisamos da proximidade, do cuidado, do sacrifí-cio para alimentar a fraternidade e a convivência civil. E, olhando para o futuro, vêm-me à mente as pala-vras de Fra Felice, na leprosaria, em Manzoni [Os noivos, cap. 36º]: olha com realismo a tragédia e a morte, mas olha também para o futuro e segue em frente.

Deste modo, podemos sair desta crise espiritual mais fortes, moral e espiritualmente; e isto depende da consciência e da responsabilidade de cada um de nós. Mas não sozinhos, antes sim juntos e com a graça de Deus. Como crentes, cabe-nos dar o testemunho de que Deus não nos abandona, mas que, em Cristo, dá sentido também a esta realidade e às nossas limitações; de que com a Sua ajuda podemos enfrentar as provas mais duras. Deus criou-nos para a comunhão, para a fraternidade e, agora, mais do que nunca, ficou cla-ra a ilusão de pretendermos centrar tudo em nós mesmos – é ilusão -, de fazer do individualismo o princípio norteador da sociedade. Mas tenha-mos cuidado porque, tão depressa passe a emergência, é fácil resvalar, é fácil voltar a cair nesta ilusão. É fácil esquecer rapidamente que pre-cisamos dos outros, de alguém que cuide de nós, que nos dê valor. Es-quecer que todos precisamos de um Pai que nos estenda a mão. Rezar, invocar, não é uma ilusão; ilusão é pensar em prescindir d’Ele! A oração é a alma da esperança.

Papa Francisco, aos profissionais de saúde da Lombardia

Esperança e ilusão

“Para fazer progredir a verdade, a liberdade, a justiça e a solidariedade

na sociedade, os meios de comu-nicação - sob qualquer forma - de-vem ser protegidos, e a liberdade reconhecida pela comunidade internacional deve ser garantida”. A citação é da comunicação da de-legação da Santa Sé à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) durante a segun-da reunião suplementar sobre a Dimensão Humana 2020, dedica-da aos temas da liberdade de ex-pressão, meios de comunicação e informação. Para a delegação vaticana, os meios de comuni-cação “são instrumentos”. Como tal, são usados “como as pessoas escolhem usá-los”, pesando sobre a liberdade de expressão “respon-sabilidades que não podem ser ignoradas”. “É inaceitável”, por exemplo, “esconder-se atrás da liberdade de expressão como jus-tificação para a discriminação, hostilidade ou violência contra uma religião ou seus membros”.

COMUNICAÇÃO SOCIAL

Liberdade responsável

25 DE JUNHO DE 2020

“Quantos cristãos são perseguidos ainda hoje em todo o mundo! Sofrem pelo Evangelho com amor, são os mártires dos nossos dias. E podemos dizer com certeza que são mais mártires que nos primeiros tempos: muitos mártires somente por ser cristãos...”.(Papa Francisco, Ângelus, 21 de junho)