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não ficção · ensaio JOÃO PEDRO GEORGE Duas análises profundamente complexas da Literatura Portuguesa

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não ficção · ensaio

JOÃO PEDRO GEORGE

Duas análises profundamente complexas da Literatura Portuguesa

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À Raquel Carvalheira

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ÍNDICE

DA BADANA À CONTRACAPA: AS GRANDES LINHAS DA LITERATURA PORTUGUESA 9

Introdução 11A apoteose do realismo 13Arte de surpreender 21Autores que se confirmam 24Livros que nos prendem e nos agarram 26Engenheiros de almas 27Como conquistar uma supermemória 35Milagreiros 37A catástrofe do génio 38Mestres, muitos mestres 39António Lobo Antunes na via Láctea 42Como dar vida a uma badana 43Campeões e prodígios 50Faz-tudo, inventa-ofícios, fura-vidas 52Ex-presidiários: Isaltino Morais e Rodrigo Moita de Deus 56Realismo assombroso, inclassificável, óbvio, rodoviário 58Pedro Chagas Freitas: uma criatura que escreve 61Um discípulo de Chagas Freitas? 70Bucolismo, neo-ruralismo, caipirismo 73Viajantes, nómadas e caravaneiros 79Repolhudo e neurasténico 82Escritores que a sociedade não aprendeu a domesticar 87Um homem das Arábias 92

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Uma múmia no sofá 97Sexo, comida e cursos de escrita criativa 101Uma paisagem de sucessos e de best-sellers 106Mais destacados, mais relevantes, mais marcantes 108Expansão e internacionalização da literatura portuguesa 111Conclusão 114

AS MAMAS NA LITERATURA PORTUGUESA: ENTRE OS LUSÍADAS E A GORDA 119

À guisa de introdução 121O império das mamas grandes 123Enormes, descomunais 129A questão do sutiã 134Pequena nótula sobre coisas óbvias 137Do justo e do transparente 139Decotes: a antecâmara 143Arte & Manha 150Desabotoar, entreabrir, escancarar 152Provocadoras atitudes 155Géneros e feitios 161A saltarem, saltando 167No país das mamas nuas 170O despotismo das mamas 175O monstro despertou 184Brincadeiras de aquecimento global 190Uma questão de tacto (e de sonolência) 200Metáforas e comparações: um mundo à parte 204Conclusão 214

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DA BADANA À CONTRACAPA: AS GRANDES LINHAS DA

LITERATURA PORTUGUESA

«Quando muitas pessoas estão de acordo ao considerar um problema sem importância,

geralmente é porque ele a tem A insignificância é o lugar da verdadeira significância »

Roland Barthes

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da badana à contracapa: as grandes linhas da literatura portuguesa 1 1

INTRODUÇÃO

Nunca prestei grande atenção às badanas e contracapas dos livros Sempre as achei uma espécie de anúncios ou cartazes de publici-dade, um isco para atrair leitores e extrair-lhes o dinheiro da car-teira, um engodo que servia apenas para inocular nos consumidores – através de textos curtos de leitura fácil, que não obrigavam a esfor-ços intelectuais – o desejo e a necessidade de comprarem mais e mais livros Tratando-se de escrita mercantilista, inteiramente sub-metida ao capitalismo literário, considerava-a indigna de ser lida, tão indigesta como o pepino ou a situação financeira do país

Há dois ou três meses, um desses espertalhões que sabem tudo defendeu, diante de mim, a tese de que a frequência assídua das badanas e das contracapas é um exercício útil e proveitoso Não só porque nos habilitam, segundo ele, a compreender a cultura nacio-nal, mas também porque são indispensáveis, hoje, para um enten-dimento cabal dos livros que para aí se publicam Repleto de indignação, tentei desfazer os equívocos e contradições em que assentava tamanho disparate, e censurei severamente o hábito, mais comum do que se pensa, de rachar à bordoada o grandioso edifí-cio da literatura portuguesa, ameaçando assim a boa paz em que vive a nossa República das Letras A terminar, fiz-lhe uma sentida evocação nostálgica da época dos valores nítidos, quando uma badana era apenas uma badana e uma contracapa apenas uma con-tracapa Impávido, limitou-se a dizer, com fumos de Eça de Quei-roz: «É preciso ler as contracapas e as badanas Lede! Quando se lê as badanas, quando se lê as contracapas, que estupefacção!»

Fosse por desconfiar da sua saúde mental, fosse porque me pareceu que ele não tinha chegado àquela opinião conduzido por

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uma análise global dos factos relevantes, decidi entrar em averigua-ções, abalancei-me a pôr à prova aquela ideia estapafúrdia Assim que tive ocasião, movido pelo firme propósito de o meter a ridí-culo (e na ignorância dos escolhos que me esperavam), embrenhei--me na leitura desses textos, cujos erros de gramática – assim pensava eu – tornariam muito duvidosa a aprovação de um aluno do ensino básico Em poucos dias, acumulei exemplos, transcrevi--os para o meu pequeno mas precioso bloco de notas e submeti-os, metodicamente, à lógica do meu sistema associativo

Depois de exaustivo e aturado estudo em livrarias, hipermer-cados e estações de serviço, depois das minhas pesquisas infatigá-veis e altamente especializadas, em que corri, de ponta a ponta, as principais contracapas e badanas, sou forçado a reconhecer que o raciocínio daquele macacão tinha razão de ser: poucos fazem ideia da grandeza, da importância e da influência que as badanas e contracapas exercem nas questões literárias E percebi também que a feitura de uma badana (ou orelha, como lhes chamam no Brasil) é como afinar um violino, depende da sincronização inte-gral de todas as frases; que a organização inteligente de uma con-tracapa, com acabamentos cuidados (e um apalpar macio, como a casca de alguns frutos), é obra grande e morosa, que exige estudo, observação, meditação

Com sinceridade vos digo: na abundante seara das badanas e das contracapas é possível colher as mais inauditas, as mais descon-certantes e as mais extraordinárias informações sobre a literatura portuguesa actual; localizar elementos biográficos para fazer o exame científico das faculdades intelectivas, volitivas, sentimentais e até físicas dos escritores; topar com pedaços de prosa maravilhosa, que despertam entusiasmo e fazem sobressair o músculo e o âmago dos livros; encontrar trechos de grande leveza e precisão descritiva, por vezes superiores aos méritos da própria obra; esbarrar com vere-dictos definitivos sobre o lugar que cada escritor ocupa na hierar-quia literária, etc , etc Em suma, um vasto laboratório para pesquisas literárias profundamente complexas

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A APOTEOSE DO REALISMO

Observe-se, para começar, a função principal que as contracapas são chamadas a desempenhar: descrever o interior das obras O pri-meiro aspecto que salta à vista é que a nossa literatura se caracte-riza pela produção incessante de «retratos» Retratos de Portugal, retratos da sociedade portuguesa, retratos de uma época, retratos de gerações, retratos de retratos Segundo a contracapa de Em Teu Ventre, José Luís Peixoto «retrata um dos episódios mais marcantes do século xx português, as aparições de Fátima»; e Galveias, do mesmo autor, é «uma condensação de portugalidade», é «um retrato de vida, imagem despudorada de uma realidade que atra-vessa o país e que, em grande medida, contribui para traçar-lhe a sua identidade mais profunda»; o romance de estreia de Valter Hugo Mãe, na nova edição da Porto Editora, intitulado O Nosso Reino, é «o retrato mais genuíno de Portugal», é o «retrato de um Portugal recôndito ao tempo da Revolução dos Cravos» (posterior-mente, em O Apocalipse dos Trabalhadores, Hugo Mãe apresentar--nos-ia, contra o seu costume, «um retrato do nosso tempo»); Um Homem Escandaloso, de Tiago Rebelo, «é um romance notável sobre a sociedade moderna», um «retrato prodigioso de uma época onde a imagem é tudo e o abstracto se sobrepõe ao concreto»; Onde Reside o Amor, de Margarida Rebelo Pinto (cuja carreira literária, como se sabe, sigo com atenção e interesse, mas que, infelizmente, ainda não tive a honra de conhecer pessoalmente), apresenta «os retratos fiéis das nossas vidas, dos anjos que nos protegem e dos demónios que nos desafiam Os afectos, as histórias de família ou o retrato de um país»; O Último dos Colonos, de João Afonso dos

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Santos, é o «retrato de uma família mas também de uma sociedade» Porém, a prova insofismável de que os nossos escritores converte-ram o «retrato» numa categoria suprema são os textos de Bruno Vieira Amaral em Guia para 50 Personagens da Ficção Portuguesa, con-siderados, na respectiva contracapa, como «um extraordinário retrato da história e evolução de um país, Portugal»

Os nossos autores e editores já largamente perceberam que Portugal, pequena nação de 116 léguas, mas com uma literatura ver-tiginosa, produz matéria suficiente para encher as livrarias e abar-rotar os festivais literários Porque, vejamos: no romance Não Sei Nada sobre o Amor, Júlia Pinheiro «traça um retrato de uma socie-dade e de um país ao longo de quase 70 anos de história», e em Os que Vieram de África (2012), Rita Garcia faz «o retrato de um pequeno país a braços com uma tarefa colossal» Antes disso, em 2005, com Deixei o Meu Coração em África, também Manuel Arouca fizera «o retrato de um Portugal inesquecível» Aliás, como é público e notó-rio, Manuel Arouca é um dos nossos retratistas mais consistentes: Filhos da Costa do Sol, reeditado 30 anos depois pela Oficina do Livro, «é o retrato fiel de uma geração inquieta mas cheia de ideais e romantismo», e Os Filhos da Costa do Sol. A Nova Geração (2014), é «um livro que traça um retrato em sangue e alma de uma socie-dade que voltou a ser poderosa e influente» Tal como Pedro Gui-lherme-Moreira, um escritor que tem a mania de ir ao fundo das coisas: «Num romance profundamente original, a um tempo cru e delicado, poético e realista, Pedro Guilherme-Moreira usa o microcosmos da rua para desenhar o retrato da sociedade contem-porânea […] E – miraculosamente – sem precisar de ninguém» (Livro sem Ninguém, 2014)

Por seu turno, O Segredo de Leonardo Volpi, de Fernando Pinto do Amaral, é um «romance intenso e cativante», onde «em pano de fundo surge um retrato da sua geração e de alguma sociedade por-tuguesa contemporânea, reflectida no espelho dos seus desejos», ao passo que Os Trinta: Nada É como Sonhámos, de Filipa Fonseca Silva, «capta de forma perspicaz o sentimento de uma geração a

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que chamaram “rasca”, fazendo o seu retrato ao mesmo tempo indulgente e implacável» Outros escritores, no entanto, preferem abarcar nas malhas da sua literatura apenas uma parte do país, limi-tando-se ao retrato de uma determinada região, como José Rentes de Carvalho, que em Ernestina faz «um retrato do Norte do país, entre os anos 1930 e 1950» Igualmente hábeis a compreender a sua época, O que não Pode Ser Salvo, de Pedro Vieira, «é também o retrato dos males sociais e culturais que afligem um país enfraque-cido pela crise económica e a falência dos valores», e O Coro dos Defuntos, de António Tavares, «é um belíssimo retrato do mundo rural português entre 1968 e 1974» Já a História da Expansão e do Império Português, de João Paulo Oliveira e Costa, José Damião Rodrigues e Pedro Aires Oliveira, traça «um retrato rigoroso e exaustivo da História da Expansão e do Império Português»

O talento dos nossos escritores para apreender a realidade e penetrar na vida empírica de Portugal evidencia-se por formas variadas, desde o quadro à fotografia, desde o gesso à caricatura, desde a partitura à sétima arte Vejamos os casos de José António Saraiva, Jaime Nogueira Pinto e Rita Ferro Todos utilizam o método da pintura mural, que consiste em aplicar tintas diluídas em água sobre uma parede revestida pouco antes de argamassa, de modo a facilitar o embebimento das cores: em Confissões de Um Director de Jornal, Saraiva diz que «Relendo o texto, penso que acaba por ser, de certo modo, um fresco de uma geração»; em Novembro, Nogueira Pinto alega que «é um fresco realista»; e António Ferro – Um Homem por Amar, de Rita Ferro, é composto «de uma série de frescos baseados em factos verídicos» Mas ainda não é tudo Jacinto F Matias, autor de O Rapaz que Venceu Salazar, armado de cavalete, telas e pincéis, «convoca uma paisagem social e humana plena de subtileza, pintando-a com momentos cómicos e comoventes», a qual «resulta do uso ágil e envolvente dessa paleta», e Mário Cláu-dio compôs Retrato de Um Rapaz, «um retrato belíssimo que pode ser apreciado como uma pintura» Além da pintura, a música e o cinema: O Pianista de Hotel, de Rodrigo Guedes de Carvalho, é «uma

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pauta musical, com andamentos diversos» e O Mensageiro do Rei, de Francisco Moita Flores, «é, simultaneamente, um romance e um filme»

Qualquer domínio artístico, não resta sombra de dúvida, serve para exprimir a realidade e fazer um inquérito à vida portuguesa: enquanto Afonso Cruz se entrega à fiação e à tecelagem, nomeada-mente no romance Para onde Vão os Guarda-chuvas, que «se desdo-bra numa sublime tapeçaria de vidas, tecida com os fios e as cores das coisas que encontramos, perdemos e esperamos reencontrar»; enquanto Hugo Gonçalves e Onésimo Teotónio Almeida frequen-tam ateliês de costura, já que o primeiro «escreveu um livro que, texto a texto, se vai cosendo a si mesmo» (Fado, Samba e Beijos com Língua), e o segundo engendra «estórias cerzidas em cadeia» (Oné-simo. Português sem Filtro), enquanto isso, ia eu dizendo, Nuno Lobo Antunes dedica-se à escultura artesanal e «molda o romance [Em Nome do Pai] com o desvelo de um artesão», ou, se preferirem, «esculpe cuidadosamente cada frase» Já Inês Pedrosa, a fabulosa autora de A Instrução dos Amantes, utiliza um registo diferente – a técnica de exame de imagem através de raios X –, mas com resul-tados igualmente satisfatórios: em Desamparo, o seu sétimo romance, Pedrosa «faz a radiografia do Portugal contemporâneo»

Cotejando badanas e contracapas, parecem inevitáveis estas duas conclusões: a nossa literatura contemporânea situa-se num plano de realismo com profundidade social e os nossos escritores têm-se dedicado, como monges beneditinos, ao estudo paciente dos portugueses e da história de Portugal (esse emaranhado inextricá-vel de acontecimentos onde a ficção e o devaneio atingem propor-ções estonteantes) Mas conseguir fazer isso – reconstituir a sociedade portuguesa do nosso tempo (ou do tempo dos avós dos nossos avós) – implica muito mais do que observar, simplesmente, a admirável balbúrdia em que vivemos É que a realidade, ao con-trário do que à primeira vista se poderia julgar, não é um dado adquirido, exige pesquisa, leitura de documentação bafienta e ama-relada, recolha de dados, análise de fontes fidedignas Daí que a

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investigação histórica dos nossos romancistas seja sempre minu-ciosa, exaustiva, séria, rigorosa, meticulosa e detalhada, como se pode comprovar nas seguintes contracapas: Equador, de Miguel Sousa Tavares, «resulta de um minucioso e exaustivo trabalho de pesquisa histórica»; Conheces Sancho?, de Maria Helena Ventura, assenta «numa investigação minuciosa»; Não Nos Roubarão a Espe-rança, de Júlio Magalhães, é «baseado numa rigorosa investigação histórica»; Constança. A Princesa Traída por Pedro e Inês, de Isabel Machado, está «baseado numa investigação rigorosa»; As Noivas do Sultão, de Raquel Ochoa, está «alicerçado numa profunda investi-gação histórica»; Vida Ignorada de Leonor Teles, do mirabolante António Cândido Franco (um autor que «reclama para a história o direito à alucinação»), é um livro que está «fundamentado numa investigação penetrante e detalhada»; O Guardião de Livros, de Cris-tina Norton, parte de uma «pesquisa histórica séria»; e Uma Fazenda em África, de João Pedro Marques, apoia-se «numa investigação his-tórica meticulosa»

Creio ter acabado de demonstrar que a realidade se instalou na literatura portuguesa, que as histórias inventadas ou irreais já não consolam nem produzem satisfação, que agora se prefere o verí-dico ao fictício, o verosímil ao delirante, a nudez da verdade ao manto da fantasia Sonho, ilusão, sobrenatural? Já não interessam Do que gostamos, hoje, é de retratos autênticos, retratos firme-mente implantados na realidade, onde o país se reconheça e se encontre, e que reproduzam, como num tratado de etnografia, a vida dos nossos concidadãos, o espectáculo da nossa existência quotidiana Tal é o contexto em que se devem entender as contra-capas que garantem ao leitor que «os factos narrados nestas pági-nas são reais» (O Outro Lado da Ilha, romance do antropólogo Paulo Ramalho) e que José Rodrigues dos Santos usa «informação genuína para nos revelar o que se esconde nos bastidores do Vaticano» (Vati-canum) Neste ponto, a justiça reclama-o, José Rodrigues dos San-tos ocupa lugar de destaque, não só pela coragem de escrever em português, língua que não domina, mas também, e sobretudo,

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porque é o escritor que mais se esforça por meter nos seus roman-ces somas invejáveis de contexto histórico-político-social De facto, neste autor, a realidade brota a jorros, os seus livros, apesar de volu-mosos, são solidamente construídos e têm sempre como pano de fundo «factos reais» (O Homem de Constantinopla, O Anjo Branco, etc ); ao mesmo tempo que nos fornecem, de forma ininterrupta, «informação verdadeira» (A Mão do Diabo), «informação verídica» (Fúria Divina, romance «revisto por um dos primeiros operacionais da Al-Qaeda») e «acontecimentos verídicos» (Um Milionário em Lis-boa)

Se o fio condutor que unifica os escassíssimos e limitados frag-mentos de ficção dos livros de José Rodrigues dos Santos é quase sempre «real», «verdadeiro» ou «verídico», a atmosfera em que as suas personagens se movem é, perfilhando a terminologia das pró-prias contracapas, «genuína»: O Último Segredo disponibiliza «infor-mações históricas genuínas», O Codex 632 foi trabalhado sobre «documentos históricos genuínos» e A Chave de Salomão está apoiado em «informação científica genuína» O vasto movimento científico encontra aqui toda a sua densidade, o que denota bem o à-vontade de José Rodrigues dos Santos no manejo dos diferentes ramos do conhecimento humano, a sua capacidade de abarcar os mais variados problemas É que os seus livros, tal como os de Carl Sagan ou de Stephen Hawking, divulgam quantidades anormal-mente elevadas de «informação científica actualizada» (A Chave de Salomão), assim como dados sobre as «últimas e mais avançadas descobertas científicas nos campos da física, da cosmologia e da matemática» (A Fórmula de Deus) Esta aproximação científica, apli-cada ao domínio específico da literatura, além de revelar a flexibi-lidade intelectual do autor e a desconcertante diversidade de uma obra que transborda as fronteiras disciplinares, vem corroborar a afirmação de que os escritores estão empenhados em encher lon-gos volumes com coisas aparentemente tão pouco líricas como a sociedade portuguesa contemporânea, o Portugal do passado ou o que lá se perdeu

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Uma vez mais, parece inevitável a conclusão – e bom será sublinhar a importância desta conclusão – de que a ideologia da nossa literatura se apoia cada vez mais na realidade e que o rea-lismo, além de ser o motor que faz arrancar as histórias dos livros, é um dos factores mais importantes de apreciação das obras e que quanto mais imersos nas profundezas da sociedade tanto mais rele-vantes os escritores se tornam no vasto mar de Sargaços da litera-tura portuguesa Este triunfo do realismo, segundo a lógica intrigante de Onésimo Teotónio Almeida, professor da Universi-dade de Brown (Providence, EUA), tem a seguinte razão de ser: «A arte, muitas vezes, não vai além de imagem pálida do que a vida é capaz de inventar» (Quando os Bobos Uivam) Se bem percebi o argumento desta badana, a imaginação, ainda a mais exuberante ou exorbitada, vai sempre na cola da realidade quotidiana (e sabe Deus quantas vezes esta nos deixa de boca aberta, por vezes espan-tados, por vezes confusos), é como um cão que nunca consegue alcançar a própria cauda Em apoio desta tese, cite-se Vamos Falar de Sexo, onde Bernardo Mendonça diz que «acredita que a realidade ultrapassa a ficção e que há vidas que são pura literatura», e o romance Livro, de José Luís Peixoto, quando se refere que o autor escreveu uma obra que «expõe a crueza, irónica, terna ou grotesca, da realidade», onde «se ultrapassam as fronteiras da literatura» Contrariamente a Hugo Gonçalves, que nos «relatos e confissões» que compõem Fado, Samba e Beijos com Língua, «entrelaça a reali-dade e a ficção», e a Manuel Jorge Marmelo, que em Aonde o Vento me Levar empreende «uma travessia: entre o autor e as suas perso-nagens, entre a realidade e a ficção» José Eduardo Agualusa, por sua vez, introduz uma variante irónica que alguns poderão inter-pretar, erradamente, como «orientalista»: «Um Estranho em Goa é um roteiro por um território antiquíssimo, onde a realidade e a magia se passeiam de mãos dadas» (a uma segunda e conclusiva vista, tenho de reconhecer que a palavra «magia» possui, num país de têmpera colonial, a ressonância adequada para captar a nossa atenção)

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Todavia, o veredicto definitivo acerca desta questão, que tem alimentado as discussões mais acaloradas, surge nas contracapas de Céu Nublado com Boas Abertas, onde o autor, Nuno Costa Santos, nos é apresentado como alguém que se arrisca «num dos territó-rios mais perigosos e livres, onde não existe distinção entre reali-dade e ficção: a literatura», e de Quando Voltares para Mim, um livro de Margarida Rebelo Pinto «que combina o sonho com a realidade, borboletas com pipocas» (esta última formulação, que durante muito tempo, ainda, desafiará o esforço dos comentadores, parece levar a teoria de Onésimo às últimas consequências e abre um novo e interessante capítulo da história das contracapas da literatura por-tuguesa)

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ARTE DE SURPREENDER

A originalidade destas considerações põe-nos de sobreaviso quanto a outra função que as contracapas são obrigadas a cumprir, onde se reflectem tendências que se agitam e entrechocam no interior da nossa pequena aldeia literária, constituindo, note-se desde já, um dos seus grandes melhoramentos nos últimos 20 anos: o efeito de surpresa Depois do efeito de transposição da realidade, «sur-preender» é o grande princípio subjacente à escrita, daí a insistên-cia na importância da imprevisibilidade Vejamos alguns exemplos de peso: Tudo É e não É (título que, logo de entrada, surpreende e fascina), de Manuel Alegre, conta uma «história inquietante e sur-preendente»; Os Guarda-Chuvas Cintilantes, de Teolinda Gersão, é «um diário heterodoxo, provocador e surpreendente»; A Última Canção da Noite, de Francisco Camacho, é «uma história surpreen-dente que decorre em geografias tão distintas como o deserto de Marrocos ou a cidade de Berlim»; O Nosso Reino, de Valter Hugo Mãe, consiste numa história «que é uma absoluta surpresa em forma de ficção plástica para a literatura portuguesa do século xxi»*; A Vida num Sopro, de José Rodrigues dos Santos, é «um thriller his-tórico surpreendente»; Boca do Inferno, de Ricardo Araújo Pereira, apresenta «um olhar sempre inesperado, que nos surpreende de cada vez que julgamos nada mais haver para inventar»; Mário Zam-bujal é «um autor de surpreendente originalidade»; Sofia Aure-liano, em Somos o que Escolhemos Ser (biografia de Pedro Passos

* Este atributo – a plasticidade – da escrita do autor de Homens Imprudentemente Poéticos está mais desenvolvido em Desumanização, porquanto é «o livro mais plástico de Valter Hugo Mãe» (veja-se a respectiva contracapa)

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Coelho), consegue revelar «surpreendentemente a vida do homem e do político»; Francisco Pinto Balsemão. O Patrão dos Media que foi Primeiro-Ministro, de Joaquim Vieira, «é uma biografia não oficial rigorosa, exaustiva e surpreendente»; José Cid. O Lado B de um Pro-vocador, de Miguel Gonçalves, «apresenta revelações inéditas e ver-dadeiramente surpreendentes»; A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe, é um «surpreendente retrato da vida dos velhos»; Dentro do Segredo «é a surpreendente estreia de José Luís Peixoto na literatura de viagens»; e em Os Memoráveis, Lídia Jorge «procura surpreender aquele espaço indefinido que decorre entre o relato que a História ilumina» e «a criação do mito», o que lhe permite assim «surpreender o efeito da passagem do tempo»

Se citei tantas obras (entre as quais algumas de não-ficção) foi para vos pôr ao corrente das diligências feitas para mostrar como se pode e deve entender a nova literatura portuguesa, ou seja, como algo que se enlaça numa cadência variada que não é passível de antecipar e que colhe permanentemente de surpresa os leitores Tudo aqui, de resto, é inesperado e imprevisível: Cristina Norton descreve-nos uma «vida rica em acontecimentos inesperados» (O Guardião de Livros) e Rodrigo Guedes de Carvalho cria «uma vertigem imprevisível de autêntico thriller psicológico» (O Pianista de Hotel) Ou mesmo absurdo e contraditório: em Praça do Império (Maria João Carrilho), «tudo se passa como se nada se passasse», e Avenida do Príncipe Perfeito (Filomena Marona Beja) é «um romance que conta o que parece não contar»

Do que fica exposto pode concluir-se que «surpreender» é um objectivo prioritário da literatura – onde, como se sabe, acontecem coisas que nunca se viram em dias da vida – e, demais, um dos múl-tiplos talentos que a inteligência concedeu aos escritores portugue-ses, pois todos possuem um jeito particular para, obra após obra, continuarem a surpreender, poupando-nos, assim, a esse estado tão humano, ancestral e inevitável que certos especialistas denominam «aborrecimento» (a ânsia de fugir ao aborrecimento, como sabem os meus pacientes leitores, é anterior à própria palavra aborreci-

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mento) Com efeito, tomar-nos de espanto, estremecer-nos de sur-presa, é algo consubstancial, por exemplo, a Júlia Pinheiro, que escreveu um «romance intenso, surpreendente» (Um Castigo Exem-plar) e «uma história surpreendente e apaixonante» (Não Sei Nada sobre o Amor), a Manuel da Silva Ramos, que, com A Ponte Submersa, «surpreende uma vez mais», a João Pedro George, em Não É Fácil Dizer Bem, cujos textos ostentam «um escrutínio sempre surpreen-dente», a Helder Macedo, cujo Romance (título do seu último livro de poesia) é «uma obra inovadora que não deixará de surpreender, uma vez mais, os leitores»; a Mário de Carvalho, que «causou sur-presa» logo com o primeiro livro (Contos da Sétima Esfera) e que, desde então, nos tem mimoseado com doses maciças de «prosa endiabrada e surpreendente» (A Sala Magenta) Mas o maior de todos, neste particular, é Tiago Rebelo, que, em Uma Promessa de Amor, nos oferece uma história «intensa de conteúdo e surpreen-dente no desfecho»; que, em Encontro em Jerusalém, «nos surpreende pela extraordinária riqueza e verosimilhança dos cenários»; que, em És o Meu Segredo, apresenta «uma sucessão imparável de acon-tecimentos e de revelações surpreendentes»; que, em O Homem que Sonhava Ser Hitler, «volta a surpreender com uma narrativa vertigi-nosa e arrebatadora»; e que, por fim, escreveu Uma Noite em Nova Iorque «com um realismo surpreendente» Contrariando todos estes exemplos, Cláudio Ramos mostra-se «surpreendente na sua simpli-cidade» (O Amor não É Isto)

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AUTORES QUE SE CONFIRMAM

O mais surpreendente, todavia, é que o efeito de surpresa no leitor convive, paradoxalmente, com o previsível e com a rotina De facto, cada novo livro, na medida em que é sempre tão bom como o ante-rior, vem confirmar a qualidade das obras anteriores: No Silêncio de Deus «confirma Patrícia Reis como uma das mais originais e pode-rosas escritoras da actual literatura portuguesa»; Viagens Pagãs «é uma obra que confirma Fernando Dacosta como um dos melho-res contadores de histórias do nosso tempo»; As Noivas do Sultão «é um romance apaixonante que confirma Raquel Ochoa como uma das grandes escritoras da actualidade» Ao contrário do que muitos seriam levados a pensar, estas contracapas só se parecem consigo mesmas, não são feitas em série: Livro é um livro que «confirma José Luís Peixoto como um dos principais romancistas portugue-ses contemporâneos»; Aves do Paraíso «confirma Ana Nobre de Gus-mão como uma das vozes mais inovadoras da nova ficção portuguesa»; Terra Fresca «confirma João Leal como uma das novas vozes mais originais da literatura portuguesa»; Índice Médio de Feli-cidade «confirma o talento de David Machado como um dos melho-res ficcionistas da sua geração»; Campo de Sangue «foi distinguido com o Prémio União Europeia para a Literatura, confirmando Dulce Maria Cardoso como um dos mais importantes nomes da nova literatura portuguesa», e, com Até Nós, a mesma a autora «regressa ao convívio dos seus leitores com um conjunto de histó-rias [ ] que a confirmam como uma das vozes mais relevantes da nova literatura portuguesa» Para quem precisa de fazer contas ao dinheiro antes de comprar seja o que for, sobretudo em tempos que

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não estão para gastos supérfluos, há um certo conforto íntimo em saber que estes autores nunca nos darão desgostos e desilusões, que a sua qualidade é inalteravelmente constante e está sempre garan-tida, ou confirmada

Afinal, admitamos, não é qualquer escritor que consegue con-firmar, permanente e sistematicamente, as expectativas dos leito-res, certificando todos os seus livros, à semelhança do queijo da Serra ou do vinho do Porto, com um selo de garantia ou denomi-nação de origem Mas não nos afastemos do assunto Porque José Rodrigues dos Santos é o mais forte e constante nesta modalidade dos romances que confirmam: «Baseando-se em informações verí-dicas, José Rodrigues dos Santos confirma-se nesta obra surpreen-dente [Fúria Divina] como o mestre dos grandes temas contemporâneos» (ser e não ser surpreendente é algo que não está, convenhamos, ao alcance de todas as capacidades e de todos os raciocínios); A Vida num Sopro «confirma a sua mestria e o lugar que já ocupa nas letras portuguesas»; em O Último Segredo, José Rodrigues dos Santos «confirma-se como o grande mestre do mis-tério»; O Homem de Constantinopla «consagra definitivamente José Rodrigues dos Santos como autor maior das letras portuguesas e um dos grandes escritores contemporâneos»; Um Milionário em Lis-boa «conclui a espantosa história iniciada em O Homem de Constan-tinopla e transporta-nos no percurso da vida do arménio que mudou o mundo – confirmando José Rodrigues dos Santos como um dos maiores narradores da literatura contemporânea» A este respeito, muitas variantes podem ser enunciadas, como n’A Chave de Salomão, onde «José Rodrigues dos Santos volta a afirmar-se como o grande mestre do mistério» ou em Vaticanum, onde «mos-tra uma vez mais por que razão é considerado o mestre do misté-rio real»

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LIVROS QUE NOS PRENDEM E NOS AGARRAM

O florescimento desta literatura surpreendente (ou surpresologia) justifica-se também pela percepção antecipada dos prazeres que promete, como se pode avaliar pela série de livros que prendem ou que nos agarram: Viagem ao Coração dos Pássaros, de Possidónio Cachapa, «é um livro que se lê num sopro», ao mesmo tempo que «é um livro que nos prende da primeira à última página»; O Bom Inverno, de João Tordo, é «uma história carregada de suspense, agar-rando o leitor da primeira à última página»; O Mensageiro do Rei, de Francisco Moita Flores, é «um livro inesperado onde paixão e humor prendem a atenção do leitor da primeira até à última página»; «a densidade das personagens» em O Pianista de Hotel, de Rodrigo Guedes de Carvalho, «está carregada de mistérios que nos prendem»; Não Vou Chorar o Passado é «um livro que prova a enorme capacidade de Tiago Rebelo em conferir aos seus roman-ces uma carga psicológica e afectiva que prende o leitor da primeira à última linha», e És o Meu Segredo, também de Tiago Rebelo, é «um romance psicológico que nos prende desde o início»; O Guardião de Livros, de Cristina Norton, é um romance que «enfeitiçará e pren-derá o leitor»; e O Lázaro do Porto, igualmente de Cristina Norton, contém personagens que «nos agarram e enfeitiçam»