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JOÃO BATISTA MACEDO VIANNA O TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA A GLICOSE É FREQÜENTEMENTE ALTERADO EM PACIENTES COM EPILEPSIA DE DIFÍCIL CONTROLE Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de Doutor em Ciências São Paulo 2006

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JOÃO BATISTA MACEDO VIANNA

O TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA A GLICOSE É

FREQÜENTEMENTE ALTERADO EM PACIENTES COM

EPILEPSIA DE DIFÍCIL CONTROLE

Tese apresentada à Universidade

Federal de São Paulo – Escola

Paulista de Medicina, para obtenção

do título de Doutor em Ciências

São Paulo

2006

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JOÃO BATISTA MACEDO VIANNA

O TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA A GLICOSE É

FREQÜENTEMENTE ALTERADO EM PACIENTES COM

EPILEPSIA DE DIFÍCIL CONTROLE

Tese apresentada à Universidade

Federal de São Paulo – Escola

Paulista de Medicina, para obtenção

do título de Doutor em Ciências

Orientador:

Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah

Co-Orientadores:

Prof. Dr. Gilmar Fernandes do Prado

Prof. Dr. Luiz Eugênio de Araújo

Moraes Mello

São Paulo

2006

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Vianna, João Batista Macedo

O Teste Oral de Tolerância a Glicose é freqüentemente alterado em pacientes com epilepsia de difícil controle /João Batista Macedo Vianna. - São Paulo, 2006. XVII, 57 p.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica.

Título em inglês: The oral glucose tolerance test is frequently abnormal in patients with uncontrolled epilepsy.

1. Epilepsia 2. Epilepsia resistente a drogas 3. Metabolismo da glicose 4. Dieta cetogênica 5. Farmacorresistência 6. Epilepsia refratária

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE MEDICINA

Chefe do Departamento de Medicina:

Profa. Dr. Emilia Enoue Sato

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica:

Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah

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Financiamento Este trabalho foi parcialmente financiado por verbas do IMBT - CNPq e

FAPESP – CEPID.

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João Batista Macedo Vianna

O TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA A GLICOSE É

FREQÜENTEMENTE ALTERADO EM PACIENTES COM

EPILEPSIA DE DIFÍCIL CONTROLE

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Gilmar Fernandes do Prado

Prof. Dr. Humberto Saconato

Prof. Dr. Wilson Roberto Catapani

Prof. Dr. Renato Anghinah

Prof. Dr. Afonso Carlos Neves

Suplentes Prof. Dr. Sandro Luiz de Andrade Mattas

Profa. Dra. Ana Maria Soares Menezes

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A Érika

e nossas filhas

Anna Luisa

e Anna Beatriz

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Aos Meus Pais

Waldemar da Rocha Vianna (IN MEMORIAN)

Therezinha de Jesus Macedo Vianna

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Ao meu irmão

Walther

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Prof. Dr. Expedito Magalhães Ribeiro,

Por ter acreditado em mim

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Prof. Dr. Luiz Carlos Pinto,

Meu Grande Mestre e Amigo

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Prof. Dr. José Alberto Ferreira Filho,

Pelo Incentivo

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A Deus

e a todos

que direta ou indiretamente

contribuíram para a realização deste trabalho

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Agradecimentos

Ao Prof. Dr. ÁLVARO NAGIB ATALLAH, Professor Titular da

Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências do

Departamento de Medicina da UNIFESP, Coordenador do Programa de

Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica da UNIFESP.

Orientador deste trabalho.

Ao Prof. Dr. GILMAR FERNANDES DO PRADO, Professor Adjunto

da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências

do Departamento de Medicina da UNIFESP, Diretor do Laboratório Neuro-

Sono da Disciplina de Neurologia da UNIFESP. Co-orientador deste

trabalho.

Ao Prof. Dr. LUIZ EUGÊNIO DE ARAÚJO MORAES MELLO, Pró-

reitor de Graduação da UNIFESP. Professor Titular do Departamento de

Fisiologia da UNIFESP. Co-orientador deste trabalho.

Ao Prof. Dr. ORSINE VALENTE, Professor Adjunto da Disciplina de

Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências do

Departamento de Medicina da UNIFESP.

Ao Prof. NERY BAZZARELLI, por sua valiosa colaboração me

auxiliando nas revisões dos testos em inglês.

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A Profa. MARIA APARECIDA MACEDO VIANNA, por sua valiosa

colaboração em revisar o texto em português.

Aos Secretários da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina

Baseada em Evidências do Departamento de Medicina da UNIFESP,

Centro Cochrane do Brasil e Programa de Pós-graduação em Medicina

Interna e Terapêutica da UNIFESP SR. ANDERSON ANACLETO, SR.

DAVI LEITE DA SILVA, SRA. JOANA AMÉLIA PANTOJA e SR.

MAURO ISHIOKA pela dedicação, não só a mim dispensada, mas a

todos os pós-graduando do Programa de Medicina Interna e Terapêutica da

UNIFESP.

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Abreviaturas

CEP: Comitê de Ética em Pesquisa.

DAE: Drogas Antiepilépticas.

DMU: Disciplina de Medicina de Urgência.

ER: Epilepsia Refratária.

GABA: Ácido γ- Amino – Butírico.

GAD: Descarboxilase do Ácido Glutâmico.

GC: Grupo Controle.

GE: Grupo Estudo.

GIP: Peptídeo Gastrintestinal.

GLUT: Glucose Transporter - Proteína Transportadora de Glicose.

GTPS: Síndrome da Deficiência da Proteína Transportadora de

Glicose - Glut 1.

HF: Hipoglicemia Funcional.

IMC: Índice de Massa Corpórea.

SNC: Sistema Nervoso Central.

TOTG: Teste Oral de Tolerância à Glicose.

TOTGa: TOTG Alterada.

TOTGn: TOTG Normal.

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Índice

Resumo ............................................................................................................1

Abstract ...........................................................................................................3

Introdução ......................................................................................................5

Métodos ...........................................................................................................7

Resultados .....................................................................................................11

Discussão .......................................................................................................17

Referências ....................................................................................................24

Anexo1 - Obras Consultadas ..........................................................................................28

Anexo2 - Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP.....................................30

Anexo 3 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ..............................................31

Anexo 4 - Carta de aceite final do artigo........................................................................35

Anexo 5 - Artigo original aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior. ......36

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1

Resumo a

Objetivo: A eficácia clínica da dieta cetogênica, como medida terapêutica

para os pacientes com epilepsia de difícil tratamento, levou-nos a investigar

o metabolismo da glicose de pacientes submetidos à sobrecarga oral de

glicose, o teste oral de tolerância à glicose (TOTG).

Material e Método: Trinta pacientes (12 homens e 18 mulheres, com idade

de 17 a 59 anos, média 35,1 anos), com epilepsia de difícil tratamento e 23

pacientes com epilepsia controlada (11 homens e 12 mulheres, com idade

de 14 a 66 anos, media 36,9 anos) e trinta e nove pacientes (8 homens e 21

mulheres, com idade de 16 a 58 anos, média 33,3 anos) compreendendo o

grupo controle, foram avaliados com o TOTG. Para os pacientes com

epilepsia nós também medimos o peptídeo - C e a hemoglobina glicosilada

em estado de jejum. Os níveis de glicose abaixo de 70 mg/dl em qualquer

ponto da curva foram considerados anormais.

Resultados: Todos os pacientes do grupo controle e do grupo de pacientes

com epilepsia controlada apresentaram um TOTG normal. Por outro lado,

cada um dos trinta pacientes do grupo com epilepsia de difícil tratamento

teve no mínimo 1 ponto da curva de TOTG abaixo da faixa normal

(P<0.001), mais freqüentemente aos 180 e 240 minutos após a carga de

glicose oral (P<0.001). Os níveis de peptídeo - C e insulina sérica em jejum

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foram significantemente mais baixas no grupo de pacientes com epilepsia

de difícil tratamento, quando comparados ao grupo de pacientes com

epilepsia controlada. Os níveis da hemoglobina glicosilada em jejum não

diferiu entre ambos os grupos de pacientes com epilepsia.

Conclusões: Sugerimos que o distúrbio metabólico, não diagnosticado nos

pacientes com epilepsia de difícil tratamento, poderia, de algum modo,

contribuir para a refratariedade à terapia farmacológica convencional.

a Versão do artigo aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior – 2006 (in press)

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Abstract b

Purpose: The clinical efficacy of the ketogenic diet as a therapeutic means

for patients with difficult-to-treat epilepsy prompted us to investigate the

glucose metabolism of those patients under oral overload of glucose, the

Oral Glucose Tolerance Test (OGTT).

Material and Method: Thirty patients (12 males and 18 females, ages

ranging from 17 to 59 years, mean 35.1 years), with difficult-to-treat-

epilepsy, and 23 patients with controlled epilepsy (11 males and 12

females, ages ranging from 14 to 66 years (mean 36.9 years) and 39

subjects (18 males and 21 females, ages ranging from 16 to 58 years, mean

33.3 years) comprising the control group, were evaluated with the OGTT.

For patients with epilepsy we also measured C-peptide and glycosilated

hemoglobin in the fasting state. Glucose levels lower than 70 mg/dL at any

point of the curve were considered to be abnormal.

Results: All of the subjects in the control group and in the group of patients

with controlled epilepsy had a normal OGTT. In contrast, every one of the

thirty patients of the group with difficult-to-treat-epilepsy had at least one

point of the OGTT curve below the normal range (P<0.001), most often at

180 and 240 minutes after the oral glucose load (P<0.001). C-peptide levels

were significantly lower in the group of patients with difficult-treat-

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epilepsy as compared to the group of patients with controlled epilepsy.

Fasting glycohemoglobin and insulin levels did not differ between both

groups of patients with epilepsy.

Conclusions: We suggest that undiagnosed metabolic disturbances in

patients with difficult-to-treat epilepsy might somehow contribute to their

refractoriness to conventional pharmacological therapy.

Key Words: Epilepsy, drugs-resistant epilepsy, glucose metabolism,

ketogenic diet, pharmacoresistance, refractory epilepsy.

b Original aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior – 2006 (in press)

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Introdução c

A epilepsia resistente a drogas constitui um sério problema de

saúde pública. Atualmente, cerca de 20 a 25% dos pacientes epilépticos que

se encontram em tratamento com uma droga ou múltiplas drogas com

compostos anti-epilépticos, em doses máximas toleradas, evoluem sem um

controle eficaz de seus ataques. Os distúrbios metabólicos têm sido

freqüentemente associados à intolerância e ao transporte deficitário de

glicose no nível da barreira hemato-encefálica ou a membrana do neurônio

pode estar associada à deficiência de GLUT 1(2). A glicose é a fonte

principal de energia para o cérebro e, por essa razão, qualquer fator, que

limite seu suprimento adequado, pode acarretar uma faixa ampla de

distúrbios do SNC, considerando que os neurônios são altamente sensíveis

à falta deste substrato, que equivale à falha no suprimento de oxigênio (3).

Os relacionamentos entre epilepsia e metabolismo da glicose

já são conhecidos há mais de 85 anos, quando o uso da dieta cetogênica foi

iniciado para o tratamento da epilepsia (4). Até o presente, no entanto, ainda

se desconhece o exato mecanismo de ação desta poderosa medida

terapêutica (5)(6). Pacientes com epilepsia de difícil tratamento usam doses

elevadas de medicação ou tratamentos com múltiplas drogas que agem no

SNC. Isto (bem como a epilepsia per se) pode causar mudanças no

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6

metabolismo da glicose(7), além de distúrbios neurovegetativos

relacionados com o controle do apetite e outras funções.

A avaliação metabólica dos pacientes epilépticos raramente

inclui o TOTG, que se supõe identificar algumas mudanças de pouca ou

nenhuma importância (8) (9). A eficácia clínica da dieta cetogênica, como

meio terapêutico para os pacientes com epilepsia de difícil tratamento,

levou-nos a investigar o metabolismo de glicose dos pacientes com

sobrecarga oral de glicose, o TOTG.

Nós analisamos os resultados do TOTG numa série de

pacientes com epilepsia controlada ou refratária, de modo a comparar a

proporção das curvas alteradas em nossa amostra com aquela da população

como um todo.

c Versão do artigo aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior – 2006 (in press)

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Métodos d

Trinta pacientes (12 homens e 18 mulheres), com idade de 17

a 59 anos (média 35.1 anos), com epilepsia de difícil tratamento e 23

pacientes com epilepsia controlada (11 homens e 12 mulheres, com idade

de 14 a 66, media 36.9 anos) encaminhados ao ambulatório de neurologia

da Faculdade de Medicina de Itajubá (MG, Brasil) e profissionais de

clínicas particulares de Itajubá foram selecionados para o estudo. Nós

usamos os critérios da Liga Internacional Contra Epilepsia para definir os

pacientes com epilepsia controlada e epilepsia de difícil tratamento (1). O

conceito de epilepsia de difícil tratamento é presentemente relevante

somente em termos de candidatos a cirurgia, não sendo mais possível

definir intratabilidade em termos de tratamento farmacológico (10). Neste

caso, os pacientes eram definidos como tendo epilepsia de difícil

tratamento se suas crises não fossem controladas com uma combinação de

duas drogas anti-epilépticas principais em doses máximas toleradas. Todos

os pacientes com epilepsia de difícil tratamento arrolados no presente

estudo apresentavam no mínimo uma história de dois anos de crises

incontroláveis apesar do tratamento adequado, adotando o critério sugerido

por Reynolds (11). Os pacientes com seqüelas neurológicas de causas não

epilépticas foram excluídos. Obteve-se o consentimento por escrito antes

dos exames. Trinta e nove pacientes (18 homens e 21 mulheres), com idade

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8

de 16 a 58 anos (media 33,3 anos), compreendendo o grupo controle, foram

incluídos a partir das pessoas interessadas num check-up metabólico que

não apresentavam uma história de distúrbios gastrintestinais significativos,

consumo crônico de álcool, diabetes, história de epilepsia e distúrbios

conhecidos por afetar o TOTG. Nenhum dos pacientes recrutados para o

estudo atual estava com qualquer tipo de dieta por ocasião do estudo. Cinco

dos pacientes com epilepsia de difícil tratamento (16,7%), 4 pacientes com

epilepsia controlada (17,4%) e 2 pacientes formando o grupo controle

(5,1%) referiam história familiar de diabetes.

Fenobarbital foi a droga prescrita mais freqüentemente para os

pacientes (n=19) com epilepsia de difícil tratamento, sendo usada

isoladamente ou em combinação com carbamazepina (n=17), fenitoína

(n=10), clobazam (n=10), ácido valpróico (n=8), clonazepam (n=5),

lamotrigina (n=2), oxcarbazepina (n=1), primidona (n=1), gabapentina

(n=1), vigabatrina (n=1), topiramato (n=1) e barbexaclone (n=1). Os

pacientes foram classificados como tendo epilepsia de difícil tratamento

quando deixaram de responder adequadamente a, no mínimo, duas drogas

anti-epilépticas principais com máximas dosagens possíveis. Os pacientes

do grupo com epilepsia controlada estavam em monoterapia (n=13) com

carbamazepina, fenobarbital, valproato de sódio, fenitoína ou clonazepam

ou receberam uma combinação de duas drogas (n=10) numa dosagem

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9

média. A tabela 1 apresenta uma descrição detalhada do tipo e freqüência

da crise, bem como a medicação anti-epiléptica para cada paciente com

epilepsia de difícil tratamento. As drogas prescritas para os pacientes

(Tabela 1), por ocasião do estudo, não refletiram todos os compostos

testados para cada paciente e são uma representação atual das drogas mais

eficazes para o paciente no momento em que este estudo foi realizado.

Dos 23 pacientes com epilepsia de difícil tratamento

submetidos à imagem de ressonância magnética, sete (30%) apresentaram

anormalidades tais como encefomalácia frontal direita, atrofia hipocampal

direita, lesões isquêmicas de vasos pequenos, desmielinização da

substância branca, redução de volume no giro supramarginal e no giro pré-

central esquerdo, enquanto os 16 pacientes restantes apresentaram exames

normais.

Os pacientes foram submetidos ao TOTG com 75 g de

dextrose dissolvidos em 300 ml de água. A glicose do plasma (para todos

os pacientes) e a insulina sérica (somente para os pacientes com epilepsia)

foram medidas como a seguir: Em jejum, 30, 60, 120, 180 e 240 minutos.

Para os pacientes com epilepsia, nós também medimos o peptídeo - C e a

hemoglobina glicosilada em jejum. A glicose do plasma foi medida

enzimaticamente; a insulina foi medida por quimioluminescência, peptídeo

- C por quimioluminescência e a hemoglobina glicosilada por captação

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10

iônica. Os resultados do TOTG foram interpretados como alterados se, a

qualquer momento do teste, os valores de glicose sangüínea estivessem

abaixo de 70 mg/dl. Nós comparamos o número de curvas alteradas,

observado em nossa amostra, com os resultados esperados para o teste na

população geral, onde a probabilidade de TOTG alterado é de 25 % (12).

Nós comparamos o número de pacientes com o TOTG alterado ou normal

aos 120 e 180 minutos.

ANOVA, seguida dos testes de Fisher PLSD pos-hoc, foi

usada para comparar os três diferentes grupos. O teste t de Student não

pareado foi usado quando comparamos apenas dois grupos. O teste de Qui-

quadrado foi usado para avaliar a freqüência de pacientes com TOTG

alterada em pontos diferentes de tempo. Consideramos significante p<0.05.

Os dados são expressos como média ± erro padrão, exceto onde estiverem

indicados diferentemente.

d Versão do artigo aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior – 2006 (in press)

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Resultados e

Todos os 39 pacientes do grupo controle apresentaram TOTG

normal. A glicemia de jejum noturno (± 8 h) para os controles foi de 91 ± 2

mg/dl, que foi então significantemente elevada em 50% aos 30 minutos e

retornou gradativamente para os níveis padrões. Aos 120 e 180 minutos, os

valores de sobrecarga de dextrose haviam voltado ao normal (menos que

12% diferente do jejum). Os valores mais elevados e mais baixos para

quaisquer dos pacientes do grupo controle foram de 197 e 70 mg/dl

respectivamente. Os pacientes com epilepsia controlada apresentaram

curvas de TOTG similares àquela descrita acima para os controles, partindo

de um nível de glicose de plasmática em jejum de 92,7 ± 2,4 mg/dl,

alcançando um pico 51% mais elevado aos 30 minutos e gradativamente

voltando aos níveis basais. (Figura 1). Nenhum dos pacientes com epilepsia

controlada apresentou episódio de hipoglicemia em qualquer dos pontos da

curva.

O nível basal em jejum a 85,6 ± 1,1 mg/dl para o grupo com

epilepsia de difícil tratamento não foi diferente daqueles dos controles ou

pacientes com epilepsia controlada. Os níveis de glicose plasmática dos

pacientes com epilepsia de difícil tratamento diferiram significantemente

daqueles de pacientes com epilepsia controlada e dos controles aos 120,

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12

180 e 240 minutos após a sobrecarga de dextrose (ANOVA, P<0.01,

seguido por Fisher PLSD P<0.05) (Figura 1).

Cada um dos trinta pacientes do grupo com epilepsia de difícil

tratamento apresentou no mínimo um ponto da curva de TOTG abaixo da

faixa normal (70 mg/dl). Para 6 pacientes (20%), o primeiro ponto abaixo

de 70 mg/dl foi observado 60 minutos após a sobrecarga de dextrose

(Tabela 2). Aos 120, 180 e 240 minutos respectivamente 8, 18 e 11

pacientes (38%, 65% e 42%) apresentaram níveis baixos de glicose (Qui-

quadrado P<0.001). O primeiro ponto abaixo da normalidade foi mais

freqüentemente (22 dos 30 pacientes) observado aos ou após 120 minutos.

Vinte pacientes apresentaram apenas 1 ponto da curva abaixo da

normalidade. Cinco dos 5 pacientes restantes com epilepsia de difícil

tratamento apresentaram dois pontos abaixo da normalidade e outros cinco

apresentaram três pontos abaixo. Portanto, os pacientes com epilepsia de

difícil tratamento apresentaram um total de 45 pontos da curva abaixo da

normalidade (de 180, isto é, 6 pontos/paciente em 30 pacientes)

comparando-se a zero ponto (de 138, isto é, de um total de 9

pontos/paciente em 23 pacientes) para os pacientes com epilepsia

controlada (Qui-Quadrado, P<0.001).

A insulina sérica (em todos os tempos testados), o peptídeo - C

e os níveis de hemoglobina glicosilada em jejum não diferiram entre ambos

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13

os grupos de pacientes com epilepsia. Além disso, os valores de

hemoglobina glicosilada individuais para os pacientes em ambos os grupos

encontravam-se na faixa normal do teste (Tabela 3). Os níveis de peptídeo-

C, entretanto estiveram significantemente menores (40% de redução) nos

pacientes com epilepsia de difícil tratamento.

Dado o possível efeito da fenitoína sobre os níveis de glicose,

nós também fizemos uma análise separada dos 10 pacientes com epilepsia

de difícil tratamento recebendo fenitoína, que, no entanto, não diferiu em

mais de 5% em quaisquer das medidas dos pacientes restantes. Um

agrupamento adicional dos pacientes baseado na história familiar de

diabetes também não indicou qualquer efeito sobre as variáveis medidas

entre os dois grupos (com ou sem história familiar de diabetes).

e Versão do artigo aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior - 2006 (in press)

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Tabela 1 - Características clínicas de 30 pacientes com epilepsia de difícil controle.

Sexo Idade

(anos) Tipo de Crises Freqüência das crises

(crises/semana) DAEs em uso

F 54 CPC 25 PB +VPA M 31 CTCTGM - CPC 10 PB+PHT+CBZ M 34 CTCTGM 2 PB+CBZ+CLN M 39 CTCTGM 5 PB+CLN F 34 CPC 2 TPM+CLB+PRM F 25 CTCTGM 10 VPA+CBZ+PB F 59 CPS 1 CBZ+CLN F 35 CTCTGM 3 PB+PHT M 38 CPC 5 PB+CBZ+CLN F 32 CPC 1 PB+PHT+CLN F 35 CTCGTGM 1 PB+CBZ F 36 CTCTGM 2 PB+CBZ+CLB F 46 CPC 10 PB+CBZ+LTG F 44 CPC 30 OXC+CLB M 22 CPC 2 PHT+CBZ M 54 CTCTGM - CPC 2 PHT+CBZ+VGB+GPT F 29 CPC 1 CBZ+CLB F 35 CPC 1 CBZ+BEC M 19 CTCTGM 2 PB+VPA F 19 CTCTGM 1 PHT+VPA M 37 CTCTGM - CPC 3 VPA+CBZ+CLB F 23 CPC 1 PHT+CBZ F 26 CTCTGM 2 PB+PHT M 24 CPC 4 PB+CBZ+CLB F 41 CTCTGM - CPC 5 PB+VPA+LTG+CLB M 17 CPC 25 PB+VPA+CBZ M 23 CTCTGM - CPC 15 PB+VPA+CLB M 67 CPC 2 PB+PHT+CLB F 39 CPC 1 PB+PHT F 35 CPC 1 CBZ+CLB

M - Masculino; F - Feminino; CPC - Crise Parcial Complexa; CPS - Crise Parcial Simples; CTC -Crise Tonico Clônica; DAE - Drogas Anti - Epiléptica; BEC - barbexaclone; CBZ - carbamazepine; OXC - oxcarbazepine; CLB - clobazam; CLN - clonazepam; GPT - gabapentin; LTG - lamotrigine; PB - fenobarbital; PHT - fenitoína; TPM - topiramate; VGB - vigabatrine; VPA - ácido valpróico; PRM - primidone.

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Tabela 2 - Indivíduos com glicemia abaixo de 70 mg/dl durante a realização do TOTG.

Controle

(n=38) Epilépticos Controlados

(n=21)

Epilépticos de Difícil controle

(n=26) Glicemia de jejum 0 0 0

30 min 0 0 0 60 min 0 0 6 (23 %)

120 min 0 0 10 (38 %) 180 min 0 0 17 (65 %) 240 min 0 0 11 (42 %)

Tabela 3 - Perfil bioquímico do grupo de pacientes com epilepsia.

Epiléptico Controlado (n=23)

Epiléptico de difícil controle (n=30)

Insulina de jejum ng/ml 3.86 ± 0.46 2.38 ± 0.35 Insulina 30 min TOTG ng/ml 27.53 ± 3.72 24.02 ± 2.97 Insulina 60 min TOTG ng/ml 21.25 ± 3.92 20.02 ± 2.63 Insulina 120 min TOTG ng/ml 20.01 ± 6.15 12.66 ± 1.49 Insulina 180 min TOTG ng/ml 7.42 ± 1.08 5.72 ± 0.79 Insulina 240 min TOTG ng/ml 3.98 ± 0.48 2.63 ± 0.49 Peptídeo – C ng/ml 2.58 ± 0.46 1.55 ± 0.14* Hemoglobina glicosilada (%Hb Total)

5.42 ± 0.59 5.34 ± 0.19

Repetidas Medidas ANOVA para insulina F = 1.97 e P=0.17; * Student t test P<0.03; TOTG - Teste Oral de Tolerância a Glicose; Hb - hemoglobina.

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Figura 1 - Curva Glicêmica após sobrecarga de dextrose para os indivíduos do

grupo controle (n=39, triângulos abertos), pacientes com epilepsia

controlada (n=23, círculos abertos) e paciente com epilepsia de

difícil controle (refratários) (n=30, círculos fechados), durante o

teste oral de tolerância a glicose (TOTG). Os dados mostram a

média ± MEP. Medidas repetidas ANOVA F4, 552=69.42,

P<0.0001; * Scheffe post-hoc P<0.05 diferente do grupo de

epilepsia controlada e o controle.

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Discussão f

A presença de curvas alteradas no TOTG em todo paciente

com epilepsia de difícil tratamento avaliado neste estudo é uma forte

indicação de distúrbios metabólicos relevantes nestes pacientes. Neste

contexto, é importante observar que estudos recentes, avaliando os efeitos

da terapia com o ácido valpróico sobre a curva do TOTG, não encontraram

evidência de um efeito de epilepsia per se sobre esta curva (13). No entanto,

revendo a literatura anterior sobre este assunto, Natelson e colaboradores

(14) concluíram que nos pacientes com epilepsia a curva de tolerância à

glicose mostrou-se anormal em 70% dos pacientes testados (15-17). Nossos

estudos atuais oferecem uma perspectiva conciliatória para a discrepância

aparente. Enquanto que no recente trabalho de Luef e colaboradores (13),

apesar de não ter sido explicitamente declarado se os pacientes tinham

epilepsia controlada, a grande maioria dos pacientes encontrava-se em

monoterapia e, desta maneira, provavelmente, estavam com epilepsia

controlada. Por outro lado, consideradas as opções terapêuticas em termos

de drogas antiepilépticas disponíveis nos estudos anteriores é provável que

muitos dos pacientes houvessem desenvolvido epilepsia não controlada.

Nossos achados de níveis de glicose plasmática no grupo de pacientes com

epilepsia controlada são surpreendentemente similares àqueles relatados

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18

por Luef e colaboradores (13). Em contraste, nossos achados para os

pacientes com epilepsia de difícil tratamento são acentuadamente similares

àqueles de relatos anteriores. Portanto, é concebível que a resistência ao

tratamento com droga antiepilépticas poderia estar no mínimo parcialmente

associada aos perfis metabólicos alterados. Consequentemente nossos

resultados poderiam prover indicações para o entendimento das

conseqüências positivas das dietas cetogênicas ou com restrição calórica

sobre as crises.

A hipoglicemia, especialmente se for suficientemente grave

para causar coma (18), é uma condição patológica que acarreta perda

neuronal extensa em áreas cerebrais selecionadas. No entanto, durante a

hipoglicemia aguda moderada, não há mudanças na atividade funcional

cerebral. A utilização de glicose cerebral diminui e o fluxo sanguíneo

aumenta somente quando a hipoglicemia é mais baixa do que 2 µmol/mL

(19). Durante a hipoglicemia crônica, o cérebro se adapta aos níveis baixos

de circulação da glicose: o número dos transportadores locais de glicose

aumenta e a utilização e função da glicose cerebral são mantidas em níveis

normais, enquanto o fluxo sanguíneo cerebral é aumentado mais

moderadamente do que durante a hipoglicemia aguda (19). Contudo, pode-se

especular que episódios brandos diários de hipoglicemia repetidos por

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19

muitos anos ou mesmo décadas podem acabar tendo efeitos contribuidores

para o dano neuronal.

Tem-se hipotetizado recentemente que as epilepsias de difícil

tratamento possam estar associadas a anomalias ontogenéticas na

maturação do cérebro, alterações epilepsia-induzida na rede, propriedades

gliais e neuronais em regiões propensas a crises como hipocampo,

fenômeno de exacerbação (Kindling) e reorganização do tecido cortical em

resposta aos distúrbios crises induzidos no suprimento de oxigênio (19).

Hipotetizamos que a refratariedade pode também estar associada com o

metabolismo alterado de glicose.

Os níveis de insulina sérica encontrados indicam que os baixos

níveis de glicose do plasma de pacientes com epilepsia de difícil tratamento

não são provavelmente devidos á resistência insulínica, mas aos níveis

anormalmalmente elevados de insulina. Similarmente, os níveis mais

baixos de peptídeo – C, encontrados nos pacientes com epilepsia de difícil

tratamento (20) não endossam a perspectiva de a insulina estar envolvida nos

níveis elevados de glicose destes pacientes. Recentemente foi relatado que

adultos jovens com epilepsia generalizada idiopática têm um risco quatro

vezes maior para desenvolver diabetes tipo 1 (21), Como demonstrado aqui,

é possível que os teste oral de glicose patológicos não estejam

necessariamente associados a resistência a drogas (como em nossos casos

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20

de epilepsia parcial), mas podem ser parte de síndromes epilépticas em

outros pacientes, pelo menos nos pacientes portadores de epilepsia

idiopática generalizada.

Tem se demonstrado a expressão alterada dos transportadores

de glicose nos pacientes com epilepsia, desta forma caracterizando uma

entidade clínica distinta, a síndrome de deficiência de Glut-1 (22) (23). Num

nível mais amplo, é bem reconhecido que os eventos hiperglicêmicos

possam acarretar crises em pacientes normais. O transporte de glicose para

os eritrócitos para conjugar com a hemoglobina, desta maneira formando a

hemoglobina glicosilada, depende deste mesmo transportador de glicose

(Glut-1). Os níveis observados da hemoglobina glicosilada dos pacientes

com epilepsia de difícil tratamento, similar àqueles dos pacientes com

epilepsia controlada, e dentro da faixa normal para o teste, indica que a

nossa amostra não consistia de pacientes com a síndrome de deficiência do

Glut-1.

A dieta cetogênica parece ser tratamento bem eficiente para a

epilepsia, especialmente na infância (24). A eficácia da dieta cetogênica em

adultos com epilepsia de difícil tratamento, apesar de menos caracterizada,

também foi demonstrada (25). O mecanismo exato da dieta cetogênica é

desconhecido. Os mecanismos relacionados à relação de corpos cetônicos,

acidose e concentração alterada de sódio e potássio têm sido todos

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21

descartados ao longo do tempo como responsáveis pela resposta clínica da

dieta (6). Esta questão, no entanto, ainda está longe de ser um consenso,

como demonstrado numa pesquisa recente usando o modelo

pentilenetetrazol de epilepsia em ratos, indicando que os níveis de

esteróides neuroativos de androstane e pregnane, ou seus precursores,

poderiam subjazer os efeitos anti-epilépticos da dieta cetogênica (26).

Sugeriu-se, recentemente que a restrição calórica sozinha, fosse ela

cetogênica ou não, teria efeitos anti-convulsivos num modelo animal de

epilepsia, possivelmente realçando a inibição GABAérgica rápida (27).

O que poderia ser o efeito benéfico de uma dieta cetogênica

sob os valores de TOTG em pacientes com epilepsia de difícil tratamento?

Uma alternativa seria a de uma resistência insulínica elevada induzida pela

dieta cetogênica, levando à glicemia (pós-prandial) elevada. Isto levaria à

normalização dos valores de TOTG e talvez a uma resposta melhor ao

tratamento com droga antiepiléptica ou à diminuição de ocorrência das

crises. Além disso, várias mudanças diferentes, incluindo a expressão

alterada do transportador de glicose 4 (Glut-4) ou Glut-1 e mudanças na

neuro-transmissão de GABA, poderiam ocorrer como conseqüência de uma

normalização de TOTG devida à dieta cetogênica e desta maneira explicar

os efeitos benéficos esperados no tratamento da epilepsia.

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22

Nossos achados atuais de curvas alteradas de TOTG sugerem

que para os pacientes com epilepsia de difícil tratamento, a restrição

calórica sozinha, não necessariamente cetogênica seria capaz de influenciar

a recorrência as crises. De fato, demonstrou-se recentemente que a restrição

calórica de branda a moderada sozinha poderia influenciar

significativamente a suscetibilidade de crises num modelo de epilepsia

idiopática no rato (28). Similarmente, Bough e colaboradores (29) também

relataram que a restrição calórica branda realçou os efeitos anticonvulsivos

da dieta cetogênica (28) nas crises pentilenetetrazol induzida. Finalmente, é

preciso indicar que a estabilização dos níveis de glicose, evitando os altos e

os baixos, poderia ser crítica para um controle adequado das crises, como

foi hipotetizado anteriormente (30). Nosso relato atual é uma forte evidência

a favor de tal hipótese.

As questões referentes à segurança e à tolerância da dieta

cetogênica têm desde seus primeiros dias, limitado sua aceitação e seu uso

mais amplos. A falta de estudos controlados randomizados da dieta

cetogênica tem até agora evitado a identificação de suas características

críticas. Estudos apropriados também avaliariam a eficácia da dieta no

tratamento de tipos diferentes de crises e crises de diferente etiologia (24).

Nós adiantamos que a hipótese das dietas com restrição calórica

objetivando a correção das curvas de TOTG poderia mostrar-se benéfica no

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23

tratamento de pacientes com epilepsia de difícil tratamento. Nossa hipótese

cria um claro desfecho para a dieta atingir um melhor controle das crises e

a sua demonstração poderia proporcionar novos padrões para regimes

antiepilépticos baseados em dieta.

f Artigo original aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior – 2006 (in press)

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Referências

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25

11. Reynolds, E.H. Early treatment and prognosis of epilepsy. Epilepsia 1987; 28:97-106. 12. Charles, M.A., Hofeldt, F., Shackelford, A., et al. Comparison of oral glucose tolerance tests and mixed meals in patients with apparent idiopathic postabsortive hypoglycemia. Diabetes 1981; 30:465-70. 13. Luef G., Abraham I., Hoppichler F., et al. Increase in postprandial serum insulin levels in epileptic patients with valproic acid therapy. Metabolism 2002; 51:1274-1278. 14. Natelson S., Miletich D.J., Seals C.F., et al. Clinical biochemistry of epilepsy. I. Nature of the disease and a review of the chemical findings in epilepsy. Clinical Chemistry 1979; 25:889-97. 15. Craig R.N.. Blood sugar curves in certain mental disorders. Lancet 1927; i:925-7. 16. Mackay G.W.J., Barbash H. The glucose tolerance curve in epilepsy. Journal of Mental Sciences 1931; 77:83-5. 17. Tyson G.N., Otis L., Joyce T.F. A study of blood sugar of epileptics. American Journal of Medical Sciences 1935; 190:64-169. 18. Meyer A. Intoxications. In W. Blackwood, W.H. McMenemey, A. Meyer, R.M. Norman and D.S. Russel (Eds.), Greenfield’s Neuropathology, Arnold, London, 1963:235-287. 19. Nehlig A. Cerebral energy metabolism, glucose transport and blood flow: Changes with maturation and adaptation to hypoglycaemia. Diabetes & Metabolism 1997; 23:18-29. 20. Regesta G., Tanganelli P. Clinical aspects and biological bases of drug-resistant epilepsies. Epilepsy Research 1999; 34:109-122. 21. McCorry D., Nicolson A., Smith D., Marson A., Feltbower R.G., Chadwick D.W. An association between type 1 diabetes and idiopathic generalized epilepsy. Annals of Neurology 2006; 59:204-206. 22. Wang D., Kranz-Eble P., DeVivo D.C. Mutational analysis of GLUT1 (SLC2A1) in Glut-1 deficiency syndrome. Human Mutations 2000; 16:224-31.

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26

23. Lyon G. Early infantile progressive metabolic encephalopathies: clinical problems and diagnostic considerations. In G. Lyon, R. D. Admas and E. H. Kolodny (Eds.), Neurology of hereditary metabolic disease of children., McGraw-Hill, New York 1996:84. 24. Thiele E.A. Assessing the efficacy of antiepileptic treatments: the ketogenic diet. Epilepsia 2003; 44(Suppl. 7):26-9. 25. Sirven J., Whedon B., Caplan D., et al. The ketogenic diet for intractable epilepsy in adults: Preliminary results. Epilepsia 1999; 40:1721-6. 26. Rhodes M.E., Talluri J., Harney J.P., Frye C.A. Ketogenic diet descreases circulating concentrations of neuroactive steroids of female rats. Epilepsy and Behavior 2005; 7:231-9. 27. Bough K.J., Schwartzkroin P.A., Rho J.M. Calorie restriction and ketogenic diet diminsh neuronal excitability in rat dentate gyrus in vivo. Epilepsia 2003; 44:752-60. 28. Greene A.E., Todorova M.T., McGowan R., Seyfried T.N. Caloric restriction inhibits seizure susceptibility in epileptic EL mouse by reducing blood glucose. Epilepsia 2001; 41:1371-8. 29. Bough K.J., Valiyil R., Han F.T., Eagles D.A. Seizure resistance is dependent upon age and calorie restriction in rats fed a ketogenic diet. Epilepsy Research 1999; 35; 21-8. 30. Greene A.E., Todorova M.T., Seyfried T.N. Perspectives on the metabolic management of epilepsy through dietary reduction of glucose and elevation of ketone bodies. Journal of Neurochemistry 2003; 86:529-37.

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ANEXO 1

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28

Obras Consultadas

1. Michaelis: moderno dicionário de língua portuguesa. São Paulo:

Companhia Melhoramentos, 1998.

2. Hornby AS. Oxford advanced learner’s dictionary of current english.

Fifth ed. Oxford, England: Oxford University Press; 1995.

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ANEXO 2

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30

Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP.

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Anexo 3 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O (a) Sr. (a) está sendo convidado a participar do estudo

PREVALÊNCIA DE TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE

(TOTG) ALTERADO EM PACIENTES COM EPILEPSIA

REFRATÁRIA como paciente ou voluntário.

Estas informações estão sendo fornecidas para a sua

participação voluntária neste estudo que visa avaliar se o exame de TESTE

ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE, que nós abreviamos com a sigla

TOTG, altera-se em pacientes epilépticos refratários. Paciente refratário é

aquele que apresenta crises convulsivas freqüentes apesar de toda a

medicação que está tomando.

Não haverá necessidade de internação, mas poderá ocorrer um

pequeno desconforto durante a execução do teste devido à punção venosa

(“picada na veia”) e eventual enjôo ao ingerir “água com açúcar” (bem

doce). Não há riscos à sua saúde decorrente do exame TOTG. Não há

benefício direto ao participante, exceto se o exame TOTG detectar alguma

anormalidade que já permita aconselhamento clínico. Somente no final do

estudo poderemos concluir se haverá algum benefício para os pacientes.

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O (a) Sr.(a) poderá optar por não participar deste estudo, e dar

continuidade ao tratamento da forma como vem sendo feito neste serviço.

Em qualquer etapa do estudo, o (a) Sr.(a) terá acesso aos

profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais

dúvidas. O principal investigador é o Dr. João Batista Macedo Vianna que

pode ser encontrado em São Paulo no endereço Rua Pedro de Toledo, nº

650 2º andar, prédio dos ambulatórios pelo telefone 5576-4641 e em

Itajubá no endereço Rua Miguel Viana 420 pelo telefone (035) 3623-5555.

Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa,

entre em contato pessoalmente com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

à Rua Botucatu, 572 – 1º andar/conjunto 14 ou através do telefone (11)

5571-1062, FAX: 5539-7162 e e-mail: [email protected]

É garantida a liberdade da retirada de consentimento a

qualquer momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo

à continuidade de seu tratamento na Instituição. As informações obtidas

serão analisadas em conjunto com outros pacientes, não sendo divulgado a

identificação de nenhum paciente.

O (a) Sr.(a) será informado sobre os resultados parciais das

pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do

conhecimento dos pesquisadores. Não há despesas pessoais para o

participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas.

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33

Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se

existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da

pesquisa.

Em caso de dano pessoal, diretamente causado pelos

procedimentos ou tratamentos propostos neste estudo (nexo causal

comprovado), o participante tem direito a tratamento médico na Instituição,

bem como às indenizações legalmente estabelecidas.

Os pesquisadores se comprometem a utilizar os dados e o

material coletado somente para esta pesquisa.

Eu__________________________________________________________

acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que

li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo PREVALÊNCIA DE

TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE (TOTG) ALTERADO

EM PACIENTES COM EPILEPSIA REFRATÁRIA para verificar a

possível associação entre Hipoglicemia Funcional (HF) & Epilepsia

Refratária (ER).

Eu conversei com o Dr. João Batista Macedo Vianna sobre a

minha decisão em participar deste estudo. Ficaram claros para mim quais

são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus

desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de

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34

esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação

é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar

quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e

poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante

o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que

eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.

Data / /

Assinatura do paciente ou do representante legal

_____________________________ Data / /

Assinatura da testemunha

(para casos de pacientes menores de 18 anos, analfabetos, semi-analfabetos

ou portadores de deficiência auditiva ou visual)

Eu _______________________________________________ declaro que

obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e

Esclarecido do paciente _______________________________________

(ou do seu representante legal) para a participação neste estudo.

______________________________________

Data___/___/____ Assinatura do responsável pelo estudo

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35

Anexo 4 - Carta de aceite final do artigo.

From: "Epilepsy & Behavior" <[email protected]>

> Date: Wed, 03 May 2006 02:42:04 +0100 > To: <[email protected]> > Cc: <[email protected]> > Subject: EB-05-181R2: Final Decision >

> Ms. No.: EB-05-181R2

> Title: The oral glucose tolerance test is frequently abnormal

in

patients with uncontrolled epilepsy

> Corresponding Author: Prof. Luiz E Mello

> Authors: Jo?o B Vianna, MD; Alvaro N Atallah, MD PhD; Gilmar F

Prado,

MD PhD; Erika C Vianna, MD; Orsine Valente, MD PhD; Maristela L

Duarte

De Barros, MD;

>

> Dear Prof. Mello,

>

> I am pleased to inform you that your manuscript referenced

above has

been accepted for publication in Epilepsy & Behavior. Proofs of

the

article will be sent to you in the near future.

> Many thanks for submitting your fine paper to Epilepsy &

Behavior.

> With kind regards,

> Steven C. Schachter

> Editor-in-Chief

> Epilepsy & Behavior

>

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Anexo 5 - Artigo original aceito para publicação na revista Epilepsy & Behavior.

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