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JÉSSICA DE MORAES MENDES MOTIVOS PELA BUSCA DE ACADEMIA DE MUSCULAÇÃO NA CIDADE DE CORUMBÁ MS: UMA ANÁLISE TEÓRICO CRÍTICA E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA Corumbá-MS 2014

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JÉSSICA DE MORAES MENDES

MOTIVOS PELA BUSCA DE ACADEMIA DE MUSCULAÇÃO NA

CIDADE DE CORUMBÁ – MS: UMA ANÁLISE TEÓRICO

CRÍTICA E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA Corumbá-MS

2014

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JÉSSICA DE MORAES MENDES

MOTIVOS PELA BUSCA DE ACADEMIA DE MUSCULAÇÃO NA

CIDADE DE CORUMBÁ – MS: UMA ANÁLISE TEÓRICO

CRÍTICA E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CORUMBÁ-MS

2014

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UFMS – UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

JÉSSICA DE MORAES MENDES

MOTIVOS PELA BUSCA DE ACADEMIA DE MUSCULAÇÃO NA

CIDADE DE CORUMBÁ – MS: UMA ANÁLISE TEÓRICO

CRÍTICA E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA

Corumbá-MS

2014

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JÉSSICA DE MORAES MENDES

MOTIVOS PELA BUSCA DE ACADEMIA DE MUSCULAÇÃO NA

CIDADE DE CORUMBÁ – MS: UMA ANÁLISE TEÓRICO

CRÍTICA E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA

Monografia apresentada ao Curso de Educação

Física da Universidade Federal de Mato Grosso

do Sul como resultado final para obtenção do

título Licenciado em Educação Física.

Orientadora: Profª Dra. Isabella Fernanda

Ferreira

CORUMBÁ – MS

2014

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JÉSSICA DE MORAES MENDES

MOTIVOS PELA BUSCA DE ACADEMIA DE MUSCULAÇÃO NA

CIDADE DE CORUMBÁ – MS: UMA ANÁLISE TEÓRICO

CRÍTICA E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Educação Física da Universidade

Federal de Mato Grosso do Sul para obtenção do título de licenciado

COMISSÃO EXAMINADORA

Dra. Isabella Fernanda Ferreira

Professora Orientadora. ________________________________

Rubrica

Dra. Edelir Salomão Garcia

Professora

________________________________

Rubrica

Me. Silvia Beatriz Serra Baruki

Professora

_______________________________

Rubrica

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Dedico esse trabalho a meus amados pais Amadeu Mendes e

Sonia Maria Gonçalves de Moraes Mendes, a quem atribuo

minhas conquistas, por serem meu apoio e por compartilharem

dos meus sonhos.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus, por permitir que eu chegasse até essa etapa.

Aos meus pais, pela educação e orientação na conduta.

Ao meu falecido tio Celestino Tadeu de Queiroz, que muito me auxiliou, estando

sempre presente em todo e qualquer momento.

Aos meus amigos Tatiane Rodrigues, Elias Gonzaga, Diogo Bogado e Suellen

Monteiro, assim como meu amigo e namorado Wirlley Alves de Araújo, por me

apoiarem e compreenderem minha ausência.

A minha orientadora, a Profª Drª Isabella Fernanda Ferreira, que despertou meu

interesse pelas discussões da Teoria Crítica.

A Banca Examinadora composta pela Profª Me. Silvia Beatriz Serra Baruki e Profª Drª.

Edelir Salomão Garcia, por aceitar prontamente a avaliar essa pesquisa.

Aos meus colegas do Grupo de Pesquisa e Extensão em Teoria Crítica e Social (GEP),

Jaciene Vigabriel, Jonny Acunha, Paola Toniazzo, Jefferson Britto, Kédma Danielly,

Laura Gimenez, Amanda Moura, Joice Sambrana, assim como a todos os acadêmicos da

segunda turma de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –

Campus do Pantanal.

Aos professores de Educação Física Maria Lúcia Paniago, Hellen Jaqueline Marques,

Sílvia Beatriz Serra Baruki, Carlo Henrique Golin, Rogério Zaim de Melo, Nilza Cristina,

Luciana Coelho, Michelle Ghiggi, Fabiano Antonio dos Santos e Solange Fabi.

A todos aqueles que influenciaram a minha chegada até aqui, contribuindo de forma direta

ou indireta.

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As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e fundem-

se num curso comum, de forma que a unidade da vida não mais

pode ser reestabelecida. A realidade considerada parcialmente

reflete em sua própria unidade geral um pseudo mundo à parte,

objeto de pura contemplação. (Guy Debord, 2003)

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RESUMO

O presente trabalho procurou investigar os motivos presentes na busca por academias de

musculação na cidade de Corumbá (MS), estabelecendo uma possível relação com alguns

conceitos como a semiformação ou semicultura; a imagem como espetáculo e

mercadorização do corpo; o conceito de esclarecimento, assim como a indústria cultural,

e elaborados por estudiosos que compõem a Escola de Frankfurt ou Teoria Crítica. Para

início das reflexões foi feito um levantamento bibliográfico sobre os estudos já realizados

acerca da temática abordada. Optamos por um estudo de caso em uma abordagem

qualitativa dos dados obtidos através de entrevistas realizadas com indivíduos em

diferentes faixas etárias, classificados conforme os estatutos da criança e do adolescente

(ECA), da juventude e do idoso, frequentadores da mesma academia de musculação na

cidade de Corumbá.

O estudo teve o objetivo de estabelecer relações entre corpo, imagem e sociedade, levando

aos questionamentos sobre as concepções dos indivíduos sobre a existência de um “corpo

ideal”, levando a padronização da imagem, motivando os sujeitos a almejarem esse ideal

de corpo. Ao mesmo tempo em que apresenta as discussões, essa pesquisa pretende

contribuir para a reflexão da prático do profissional de educação física enquanto

educador, de forma que não contribua para o fenômeno de semiformação, estando um

lado consciente de sua prática pedagógica e social ao mesmo tempo em que contribui para

a formação de outros indivíduos.

Essa pesquisa pode constatar que a preocupação com a imagem corporal e padrões

socialmente estabelecidos está mais presente na juventude, sendo que os sujeitos criança

e idoso consideraram outros aspectos na prática da musculação como sendo uma atividade

alternativa e a preocupação com a saúde. Os questionamentos norteados pelos fatores de

influência como o de semiformação e o papel que o corpo está ocupando na sociedade

contemporânea, rodeada de traços capitalistas, fortalecendo interesses da indústria

cultural.

Palavras-chave: semiformação, corpo, imagem, indústria cultural, musculação, escola

de Frankfurt, educação física.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 12

2 UMA “VIAGEM AO UNIVERSO” DA IMAGEM CORPORAL ..................... 15

2.1 O trato com o corpo na contemporaneidade ........................................................... 15

2.2 Corpo e imagem corporal ....................................................................................... 17

2.3 Busca pela perfeição corporal e suas consequências ............................................... 20

2.4 A procura pela musculação...................................................................................... 23

3 A COLETA DE DADOS E POSSÍVEIS RELAÇÕES COM A

LITERATURA............................................................................................................. 25

3.1 O estudo de caso: nosso tipo de pesquisa................................................................. 25

3.2 Acerca de uma abordagem qualitativa.................................................................... 26

3.3 A entrevista e elaboração do roteiro: nossa técnica de pesquisa ............................. 26

3.4 As entrevistas e a literatura: “olhares” que se intercruzam ..................................... 27

3.4.1 Motivos para adesão da musculação e tempo de prática ...................................... 28

3.4.2 Treinamento de força x Treinamento aeróbico .................................................... 29

3.4.3Orientação do profissional de Educação Física no espaço da

academia......................................................................................................................... 29

3.4.4 Fatores que influenciam a procura pela musculação ............................................ 30

3.4.5 Suplementos alimentares ...................................................................................... 31

3.4.6 Esteroides anabolizantes: o uso das chamadas “bombas” .................................... 32

3.4.7 Imagem corporal: (in) satisfação .......................................................................... 33

3.4.8 Dietas e distúrbios alimentares ............................................................................ 33

3.4.9 A busca por um “corpo ideal” ............................................................................. 35

4 ANÁLISE DOS DADOS: REFLEXÕES TEÓRICO CRÍTICAS .................... 37

4.1 O referencial teórico ................................................................................................ 37

4.1.1 Escola de Frankfurt: breves aspectos históricos ................................................... 37

4.1.2 A Relação da musculação e imagem corporal como um dos fenômenos de

massificação da cultura .................................................................................................. 40

4.2.Criança e idoso: motivos não padronizados ............................................................ 41

4.3 Adolescente, Jovem e adulto: motivos estandardizados .......................................... 45

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6. REFERÊNCIAS

APÊNDICE I – ROTEIRO DAS QUESTÕES PARA A ENTREVISTA

APÊNDICE II – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

ANEXO I – MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO DOS SUJEITOS ENTREVISTADOS

ANEXO II – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO

PROPRIETÁRIO DO ESTABELCEIMENTO PESQUISADO

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1 INTRODUÇÃO

[...] vivemos na era do corpo como encarnação da identidade, sustentáculo

dos ideais societários que incidem sobre os indivíduos e depositário das

ansiedades individuais sobre a possibilidade de adequação ao mundo [...]: E

se meu corpo não se adequar ao que esperam de mim, o que será de mim? (MISKOLCI, 2006, p. 681).

Nesta primeira seção monográfica apresentamos os aspectos abordados nessa

pesquisa de maneira geral e o tema por nós investigado.

O objetivo geral desse trabalho é conhecer quais os fatores principais que

motivam indivíduos, em diferentes faixas etárias, na cidade de Corumbá a procurarem

os exercícios de musculação em uma determinada academia. Sendo então, os objetivos

específicos: conhecer e analisar qual a imagem que esses indivíduos têm de seu próprio

corpo e quais os fatores que influenciam essa mesma imagem.

A pesquisa se faz relevante na área de Educação Física visto que, trata

primeiramente do ser humano, considerando a relação desse com seu corpo. O corpo é

visto e considerado em seu aspecto social e cultural, não apenas em sua forma

anatômica.

Acreditamos que a discussão realizada nesse trabalho pode oferecer uma

contribuição à formação dos professores de Educação Física no sentido de “provocar”

uma melhor reflexão sobre o contexto social em que estão inseridos seus alunos, de

forma que entendam como este afeta a compreensão que ele terá do seu próprio corpo e

dos outros indivíduos à sua volta, de forma que possam levar em consideração essas

reflexões em sua ação profissional.

Tahara et al (2003) considera que a mídia promove a valorização de corpos

esculturais, propagando os padrões presentes na organização social atual. Esses ideais

difundidos pelos meios midiáticos levam os indivíduos a acreditarem que todos são

capazes de alcançá-los, ignorando fatores como recursos financeiros necessários para

tanto e até mesmo, aspectos fisiológicos. Ainda conforme o autor, por esse motivo, há

nas academias uma “tendência discriminatória e de exclusão” (TAHARA et al., 2003, p.

10).

Com relação aos motivos que levam os sujeitos à busca por academias de

musculação na cidade de Corumbá procuramos refletir sobre as consequências que essa

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busca pode trazer e o que a mesma procura atender e saciar, tendo em vista a imagem

corporal.

O referencial teórico que orientará essas reflexões é o da denominada “Teoria

Crítica” ou também conhecida no meio acadêmico como “Escola de Frankfurt”.

A hipótese inicial dessa investigação é que o motivo principal que leva

indivíviduos à procura de academias é a preocupação com a estética corporal, estando

estes suscetíveis aos meios de comunicação e recursos tecnológicos, podendo assim ser

mais “atingidos” pela imposição de padrões corporais e absorção de valores da

sociedade capitalista como podemos refletir por meio do conceito de semiformação

produzido por Adorno e considerado por Maar:

A semiformação (Halbbildung) faz parte do âmbito da reprodução da vida

sob o monopólio da “cultura de massas”. A alteração de “cultura de massas”

para indústria cultural explica-se justamente pela preocupação de Adorno e

Horkheimer com o essencial em sua perspectiva: apreender a tendência à

determinação total da vida em todas as suas dimensões pela formação social

capitalista. (MAAR, 2003, p. 460)

Para auxiliar na realização desse estudo optamos inicialmente por fazer um

levantamento bibliográfico que também se preocupa em compreender sobre o que os

sujeitos procuram nas academias de musculação, dos quais, preponderam a discussão

sobre a busca por padrões estéticos corporais considerados socialmente como belos e,

como esses padrões são edificados historicamente, assim como os valores culturais que

carregam em si mesmos.

O tipo da pesquisa escolhido para o presente estudo é o denominado “estudo de

caso”. Os dados foram coletados por meio de entrevistas realizadas em uma academia

de musculação na cidade de Corumbá – MS, com os praticantes de musculação que

foram selecionados segundo o critério de faixa etária definido no ECA1, no Estatuto da

Juventude como também, no Estatuto do Idoso. Organizamos esses casos os dividindo

nas seguintes classificações: criança, adolescente, jovem, adulto e idoso.

A pesquisa possui uma característica descritiva e analítica, uma vez que,

estabelece a relação dos dados obtidos com fatores econômicos e sociais, o que lhe

atribui um caráter qualitativo, analisando os dados obtidos segundo os conceitos

elaborados por autores da Escola de Frankfurt (Teoria Crítica), em especial, o Adorno.

1 Estatuto da Criança e do Adolescente.

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Optamos por elaborar a síntese desse estudo monográfico nas quatro seguintes seções:

Uma viagem ao “universo” da imagem; a coleta de dados e possíveis relações com a

literatura; análise dos dados: reflexões teórico críticas e, por fim, considerações finais.

Nessa primeira seção anunciamos de maneira sintética o tema por nós estudado,

o objetivo da nossa investigação, a metodologia e os instrumentais para coleta de dados

bem como, o referencial teórico que nos auxiliou para nossas análises.

Na segunda seção optamos por fazer uma breve contextualização histórica do

“culto ao corpo” e também sobre e o levantamento bibliográfico sobre o tema por nós

abordado.

À terceira seção foi reservada a descrição dos dados coletados no estudo de caso,

sendo caracterizada então como essencialmente descritiva e a quarta sessão destinada

para a análise dos dados obtidos, segundo a perspectiva de centrais conceitos da Escola

de Frankfurt. E, por fim, apresentamos algumas considerações gerais sobre o estudo

realizado.

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2 UMA “VIAGEM AO UNIVERSO” DA IMAGEM CORPORAL

Nessa seção faremos uma breve exposição sobre a revisão literária feita acerca

da temática abordada nessa pesquisa. Veremos alguns aspectos presentes na relação do

corpo, imagem e musculação na sociedade caracterizada por traços capitalistas. Em um

primeiro momento, será abordado o papel que o corpo tem desempenhado na sociedade

contemporânea e que interesses estão presentes nessa relação. Em um segundo

momento discutiremos sobre a imagem corporal, apontando alguns estudos já realizados

acerca do assunto. Feito isso, levaremos a discussão para alguns aspectos relacionados à

busca pelo alcance de um “corpo ideal” e as consequências que essa busca pode gerar.

Por fim, algumas considerações à respeito dos motivos que podem levar à procura por

exercícios de musculação.

2.1 O trato com o corpo na contemporaneidade

A visão dual de corpo é aquela que ora prioriza a mente e ora a materialidade

do corpo. Em meio a esse dualismo psicofísico o corpo passa ser definido

segundo as duas vertentes teóricas mencionadas anteriormente, a vertente que

o sacraliza por sua condição de casa da alma e do espírito, ambos imortais,

enquanto de outro lado, a vertente que o negligencia por sua condição

material e mortal, o corpo concebido em sua vulnerabilidade e inevitável

perecividade (COSTA, 2011, p. 246, grifo do autor).

Vivemos em uma sociedade capitalista, na qual uma de suas características é a

“mecadorização” das coisas. O que o modo de produção transforma em mercadoria, é

vendido por todo tipo de mídia, incluindo a televisão, rádio, revistas e internet. Como

fica a relação com o corpo nessa sociedade? Estará ele sujeitado às mesmas influências?

Daolio (1995, p. 25) observa que “não podemos imaginar um ser humano que

não seja fruto da cultura e também não podemos imaginar um corpo natural”. Por isso o

autor considera que o corpo não seja apenas uma representação individual, mas uma

construção histórica e cultural, resultado de relações estabelecidas com “grupos

específicos” (DAOLIO, 1995, p. 25).

Cada sociedade tem seu trato com o corpo à partir de suas características

próprias. Há uma valorização de diferentes traços corporais, criando-se os padrões de

beleza em cada época.

A história do corpo humano é a história da civilização. Cada sociedade, cada

cultura age sobre o corpo determinando-o, constrói as particularidades do seu

corpo, enfatizando determinados atributos em detrimento de outros, cria os

seus próprios padrões. Surgem, então, os padrões de beleza, de sensualidade,

de saúde, de postura, que dão referências aos indivíduos para se construírem

como homens e como mulheres. (BARBOSA et al, 2011, p. 24)

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16

Conforme Ozio (2008, p. 4), o corpo é uma forma de “comunicação e

linguagem” entre os indivíduos de uma sociedade, fazendo com que estes se percebam

enquanto integrantes de um meio ou grupo ao qual pertence.

Os corpos são “portadores de valores”, sendo estes atribuídos socialmente ou

construído pelos próprios indivíduos. Essas estruturas corporais são representações de

preocupações presentes na sociedade (OZIO, 2008, p. 4). Desde quando as

determinações, que orientam os corpos e seu modo de estruturar-se, estão estabelecidas

desse modo? Como o ser humano vem tratando as relações com a corporeidade?

Na pós-modernidade há, com relação ao corpo, um reflexo das vontades

individuais bem maior que em qualquer período como observa Pimenta (2012), mas

também prepondera que isso não aconteceu rapidamente, pois advém de ideais presentes

no início do século XIX, que via a gordura como significando preguiça, vulgaridade e

moleza. Ainda segundo o autor, algumas ideias também são resquícios de um processo

de “branqueamento” ocorrido no Brasil em 1920, na qual,

[...] ser belo então consistiria em possuir cabelos loiros e ter a pele branca,

fato que pode ser visto como uma elitização com viés racial do protótipo do

belo, pois a partir dessas qualidades a beleza não seria um artigo para todas

as mulheres (PIMENTA, 2012, p. 134).

O padrão de beleza não era visto apenas como meio de exibição do corpo ou da

aparência, mas também como divisão nas posições sociais. O que mudou, afinal, no

trato com o corpo e as relações estabelecidas na Idade Contemporânea?

Para Esper e Neder (2004), o “corpo contemporâneo” é aquele que tem se

construído e modificado através de um “processo dialético”, no qual está inserido. Esse

corpo representa a sociedade da qual faz parte, constituindo um processo histórico

(ESPER ; NEDER, 2004, p. 1).

Para Pelegrini (2006), na contemporaneidade, os meios midiáticos contribuíram

para uma propagação de modelos corporais. Para o autor, esses modelos atendem à uma

lógica de mercadorização, vendendo imagens estereotipadas e pré-determinadas através

de uma espécie de “jogo de sedução de imagens”, criando condições para a imposição

de padrões (PELEGRINI, 2006, p. 5).

Conforme Costa (2011), mesmo que o corpo e as relações estabelecidas com ele

estejam inseridos em um contexto social, ainda assim é preservada, em certos aspectos,

a individualidade dos sujeitos.

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17

A vivência é pessoal, um mesmo ambiente, com iguais recursos materiais,

oferecidos aos indivíduos não lhes garante um desenvolvimento também

igual. Isso porque, cada evento que passa no ambiente é percebido por cada

um de maneira diferente e, a reação às mudanças do entorno é pessoal, ou

seja, diferente para cada corpo (COSTA, 2011, p. 256).

Barbosa et al (2011) ressalta que o corpo passa a ser construído e modificado

conforme as vontades individuais, como sendo uma espécie de “projeto” (2011, p. 29).

Para atender a esses anseios os indivíduos tem utilizados meios variados, mantendo os

interesses da indústria, que segundo as autoras, “encontra no corpo, seu maior

consumidor” (BARBOSA et al, 2011, p. 29).

Segundo Pelegrini (2006, p. 5), o consumo de meios para alcançar um padrão de

beleza pode apoiar-se atuando nos anseios humanos como o “horror à morte, o medo da

velhice”, assim como o sentimento de impotência. Esper e Neder (2004) ressaltam que

essa constante mudança nas vontades, no desejo por um novo objetivo pode agir de

maneira negativa em aspectos psicológicos dos indivíduos. Seria possível que tais

alterações acontecessem pelo fato de o indivíduo estar repetidamente sujeito ao “stress

da decisão e da adaptabilidade” (ESPER; NEDER, 2004, p. 2).

O ser humano, na concepção de Costa (2011, p. 5), é o “único ser do planeta

Terra” que manifesta preocupações relacionadas à estética e à imagem. Isso se dá,

conforme a autora, através de uma relação cultural que constrói os conceitos de beleza.

Além disso, há uma preocupação também com a autoimagem, gerando uma situação de

crise relacionada ao próprio corpo, o que também pode levar a uma “crise do próprio

sujeito” (BARBOSA, 2011, p. 29).

2.2 Corpo e imagem corporal

Conforme Damasceno et al (2006, p. 82), a “imagem corporal” pode ser definida

como “uma construção multidimensional que descreve amplamente as representações

internas da estrutura corporal e da aparência física, em relação a nós mesmos e aos

outros”. Sendo assim, o termo “imagem corporal” faz referência à nossa percepção de

nossas características próprias como indivíduos “físicos”, comparado aos outros à nossa

volta. Ainda segundo o autor, há alguns aspectos que compõe a ideia de imagem

corporal. São estes: peso, altura, satisfação ou insatisfação com o corpo, percepção

corporal, etc.

Com respeito à insatisfação com a imagem, o considera que É possível que (...) seja o principal norteador ou incentivador para que os

indivíduos iniciem um programa de atividade física ou também, em ambos os

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18

sexos, seja o responsável por inúmeras consequências negativas como

distúrbios alimentares e dismorfias musculares (DAMASCENO, 2006, p.

82).

Estudos realizados por Fidelix et al. (2011), com estudantes de escolas públicas

de áreas urbanas e rurais em um município de pequeno porte, grupos de adolescentes2

relataram que 56,5% deles estão insatisfeitos com o corpo que possuem, estando essa

insatisfação relacionada à avaliação negativa de seu corpo. O estudo foi realizado, tendo

como objetivo analisar a relação entre fatores demográficos e imagem corporal. Para

investigar a relação dos indivíduos com seu corpo, os pesquisadores optaram por usar o

conjunto de silhuetas de Stunkard, fazendo em seguida duas perguntas relacionadas à

imagem corporal. Ainda segundo o autor, o sexo feminino almeja um peso corporal

menor (perda de gordura), enquanto que o masculino idealiza o crescimento dos

músculos e o aumento de massa corporal (FIDELIX et al, 2011).

Pode-se ter a ideia ou suposição e que a insatisfação com a imagem está presente

apenas em adolescentes em transição, mas isso, conforme o autor, é um engano. Essa

percepção e insatisfação pode ser constatada também em crianças, jovens e adultos,

como também nos idosos.

Para as crianças, segundo Thompson (2011) apud Damasceno (2006, p. 82), o

aumento da gordura corporal e as transformações na forma do corpo são aspectos que

mais influenciam na imagem que têm de si mesmas. Cohane et al (2001) apud

Damasceno (2006), considera que o peso corporal “ideal” sofre determinantes pressões

sociais. Há influência de familiares, amigos e professores que acabam por formar a

imagem de que ser uma pessoa gorda é algo negativo, enquanto que a magreza é vista

como aspecto positivo. “Meninos e meninas, entre 7 e 12 anos, com excesso de peso,

são menos felizes, mais preguiçosos, possuem menos amigos e estão mais susceptíveis a

desenvolver distúrbios alimentares do que as crianças magras”. (HILL; SILVER.

TIGGEMANN; BARRET apud DAMASCENO, 2006, p. 82).

Considerando o estilo de vida moderno, Courtine apud Pimenta (2012, p. 139)

aponta que Oferece, via mídia, o corpo magro e torneado decorrente da disciplina

corporal como um elemento importantíssimo de promoção individual, por

estar ligado ao sucesso e ao prazer. A identidade corporal, visando essa

promoção, passa a ser relacionada à tríade beleza-juventude-saúde.

2 405 adolescentes escolares com idade entre 14 e 17 anos.

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Segundo o autor, a mídia acaba por criar novas necessidades nos indivíduos para

que, afim de alcançar o padrão imposto, procurem cada vez mais meios e consumam

produtos da indústria.

Silva (2011) utilizando dos estudos de autores como Serra (2008), Santos (2008)

e Goetz et al (2008), considera que os meios usados para propagação de ideais na mídia,

funcionam como “braços do sistema capitalista”, afim de manter os interesses deste.

Além disso, essas propagandas tem o objetivo de reforçar o consumo de produtos

ligados à manutenção da estética e beleza. É apresentado, através de representações de

pessoas famosas, um ideal de beleza a ser alcançado, aumentando o índice de

insatisfação corporal entre as pessoas (SILVA, 2011, p. 25).

Para Damasceno (2006, p. 83), em se tratando de adolescentes e adultos há um

papel fundamental da mídia na formação de opiniões e “ideais socioculturais”. Revistas

e televisão mostram mulheres cada vez mais magras, jovens e altas, exibindo-as como

ideal de beleza feminino. É posto esse padrão de beleza como objetivo a ser alcançado

por todas as mulheres, levando-as, segundo o autor, à um nível de insatisfação com seu

próprio corpo e distúrbios alimentares como anorexia nervosa e bulimia. Enquanto isso,

para os indivíduos masculinos (adolescentes e adultos) é exibido um ideal de corpo

“monomórfico, com ombros largos, maior desenvolvimento da parte de cima do corpo –

peitorais, dorsais e braços – e quadris estreitos” (DAMASCENO, 2006, p. 83).

A rotina cotidiana acelerada e a falta de tempo livre por parte dos sujeitos são

fatos comuns da sociedade contemporânea, além de serem um obstáculo ao

alcance deste corpo almejado. Todo o incentivo à busca da forma perfeita

abastece de um mercado de produtos de cosmética e de estética, que através

de fórmulas teoricamente milagrosas, promete auxiliar no emagrecimento, na

modelagem do corpo e na manutenção da juventude (SILVA, 2011, p. 27).

Com a fala acima o autor considera que a preocupação com o corpo está

presente não apenas nos centros de beleza ou estética, mas também na vida cotidiana e

nos espaços onde acontecem as relações dos indivíduos.

E quanto aos idosos, eles sofrem algum tipo de influência relacionado aos

padrões corporais? Como isso se manifesta nessa fase da vida?

Para os idosos além dos fatores socioculturais, encontramos a perda da

funcionalidade corporal, que está significativamente associada a insatisfação

da imagem corporal, apesar que quando comparados a indivíduos mais

jovens, apresentam menor rigidez em relação a preocupação com a imagem

corporal” (DAMASCENO, 2006, p. 88).

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Feuerbach apud Debord (2003), aborda que em nosso tempo é mais valorizada a

imagem, a representação e a aparência das coisas. Há maior valorização da ilusão que

do real e tudo isso é tido como verdade. Usando essa fala, Debord retrata bem o ideal da

“sociedade do espetáculo”.

O espetáculo é o objetivo das ações dentro da sociedade capitalista. Antes de se

tornar “mercadoria” é preciso a atribuição de um significado sobre ela. A partir dessa

ideia, a Indústria Cultural passa a criar necessidades em seus consumidores, levando-os

a consumir e gerar lucro.

2.3 Busca pela perfeição corporal e suas consequências

Na pesquisa realizada por Nunes et al (2007), foi aplicado um questionário de

dependência psicológica com um grupo de atletas de academia e outro de universitários

também praticantes de atividade física. Nesse estudo, chegou-se à conclusão que:

O nível de dependência psicológica do exercício dos praticantes de atividade

física em academia de ginástica é significativamente maior que dos

universitários e atletas e que não foi encontrada nenhuma relação entre o grau

de dependência psicológica do exercício físico com insatisfação com a

imagem corporal (NUNES et al, 2007, p. 117).

A dependência em relação a exercícios físicos pode estar relacionada à busca

incessante por atingir o padrão ideal de beleza na sociedade contemporânea. Faz parte

desse quadro de possíveis consequências também transtornos alimentares como a

Anorexia Nervosa e a Bulimia, definidas Vilela et al (2004) apud Alves et al (2009, p.

3) como uma distorção da imagem corporal, onde os indivíduos enxergam-se

continuamente, levando-os à restrição no consumo de alimentos, mesmo estando

excessivamente magros (anorexia). Enquanto que a bulimia, segundo os autores,

caracteriza-se pela manutenção do peso normal através do ato de provocar o próprio

vômito. Para Bordo (1993) apud Alves et al (2009, p. 3), “uma disciplina excessiva

pode resultar em anorexia e o desejo excessivo reflete-se em obesidade. No caso da

bulimia, experienciam-se as duas formas de excesso”.

Alves et al (2009) considera que há um motivo que leva principalmente as

mulheres a adotarem medidas extremas como os transtornos alimentares para manter

um padrão de corpo: “De facto, no ocidente, ser magra significa ter competência,

sucesso e ser atraente sexualmente. Vive-se uma verdadeira sobrevalorização das

qualidades físicas em detrimento das psicológicas/cognitivas” (ALVES et al, 2009, p.

3).

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Sobre a motivação geral para prática de exercícios físicos, Samulski (2002) apud

Amorim (2010, p. 20) prepondera que deve-se considerar a personalidade do praticante,

juntamente com fatores externos como “ambiente, relações sociais, facilidade de

execução das tarefas, influências externas, etc”. Ainda no que diz respeito à motivação

dos praticantes de atividade física, Berleze et al (2002) apud Amorim (2010), considera

importante que o profissional de Educação Física conheça os motivos que levam os

indivíduos às práticas dos exercícios físicos, podendo assim, motivá-los de maneira

mais eficaz.

Considerando o trato com o corpo na sociedade atual, Chagas (1994) apud Anzai

(2000, p. 73) relata que

O poder sobre o corpo era, anteriormente, bastante claro e direto, exercido

pela Igreja ou pelo Estado autoritário; agora, invade o cotidiano, na forma de

discursos que pregam a liberdade sexual, o culto ao físico, a exaltação

estética. A indústria cultural mantém relações diretas com a mídia que se

responsabiliza em humanizar os bens materiais, erotizando produtos, e

transformando o corpo em objeto de consumo.

Para o autor, essa medida é tomada afim de que possa ser evidenciada uma

hierarquia de valores, onde a beleza ocupa o ponto mais alto. A esta está relacionado o

sucesso pessoal, profissional e afetivo.

Considerando que a busca pela estética corporal, o alcance do “corpo ideal”

hipoteticamente seja um dos principais motivos pela busca por academias de

musculação, é possível refletir que tal motivo poderia levar a certas medidas em busca

do avanço veloz ao seu ideal. Ainda que para isso esses indivíduos precisem ultrapassar

os limites de seu corpo, levando ao uso de substâncias que aumentem o desempenho e o

desenvolvimento de distúrbios alimentares. Sobre a busca por “corpos perfeitos”, há a

possibilidade de estabelecer uma relação de mídia, indústria cultural e formação de

opiniões, assim como sua influência na imposição e difusão de padrões corporais, da

valorização do belo, o corpo e a imagem como espetáculo e a geração de lucro, em uma

sociedade capitalista.

Conforme Anzai (2000, p. 73), televisão, revistas e internet, entre outros meios

de comunicação ressaltam a importância do alcance de músculos torneados, o uso de

vitaminas contra o envelhecimento e frequência em academias de ginástica porque esses

fatores geram lucro. Em contrapartida, não há destaque para pessoas que não estão de

acordo com os padrões estabelecidos, mas que ainda assim sentem-se satisfeitas e

felizes, pelo fato de essa ideia ser muito menos rentável.

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Muito discute-se o padrão de beleza feminino, mas indivíduos do gênero

masculino não estão ausentes na busca por um corpo ideal. Sobre eles, segundo Anzai

(2000, p. 73), há a cobrança de uma aparência “jovem, bem sucedida profissionalmente,

com músculos bem delineados, combinado roupas, calçados e acessórios ditos na moda

e [que sejam] praticantes de esportes radicais”.

Ainda sobre padrões corporais e a exigência do alcance do “corpo ideal”, deve-

se considerar as possíveis consequências dessa busca. Como já foi mencionado, uma

das possíveis consequências da busca desenfreada por atingir um ideal de beleza está

nos transtornos alimentares como anorexia nervosa e bulimia. E quanto ao uso de

esteroides anabolizantes?

Sobre o assunto, Iriart et al (2009, p.773) considera que Os anabolizantes são substâncias sintetizadas em laboratório, relacionadas

aos hormônios masculinos (androgênios). O consumo destas substâncias

produz efeitos anabólicos, como o aumento da massa muscular esquelética, e

efeitos androgênicos ou masculinizantes. O aumento do consumo não

terapêutico dos anabolizantes, especialmente entre a população jovem, tem

sido relatado por pesquisadores em vários países constituindo-se em

crescente problema de saúde pública.

O autor relata também que há um tempo atrás o uso de anabolizantes, as

chamadas “bombas” ficava restrito apenas aos atletas e fisiculturistas, estendendo-se

atualmente aos jovens em geral com objetivos estéticos.

Com relação aos riscos oferecidos à saúde pelo consumo de anabolizantes

Bahrke et al (2004) apud Iriart et al (2009) afirma que um deles é o desequilíbrio

causado nos níveis de testosterona, trazendo consequências para o aparelho reprodutor,

incluindo a infertilidade. Outras consequências podem ser o aparecimento de acnes,

assim como doenças cardiovasculares, podendo avançar para o estado de morte súbita.

Além disso, altera as funções do fígado. No caso de mulheres usuárias dessas

substâncias, elas podem acarretar “alterações na menstruação, engrossamento da voz,

encolhimento dos seios, aumento da libido, crescimento de cabelos no corpo, e aumento

do tamanho do clitóris” (IRIART et al, 2009, p. 774).

O uso de esteroides anabolizantes pode ter alguma ligação com o acesso à

informação ou qualidade dessa mesma obtida, como mostra o estudo realizado por Iriart

et al (2009), constatando que “os usuários de anabolizantes praticantes de musculação

em academias de bairros de classe média alta possuem alta escolaridade. Dos dezesseis

entrevistados, nove são estudantes universitários e três possuem curso superior

completo” (IRIART et al, 2009, p. 776).

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2.4 A procura pela musculação por indivíduos em diferentes faixas etárias

Sobre o principal motivo que levou à busca pelos exercícios de musculação, “a

preocupação com a estética foi sem dúvida a principal motivação referida pelos

usuários, tanto nas academias dos bairros populares como nas academias de classe

média, para o início da prática da musculação”. O autor também aponta que a

preocupação principal dos praticantes da musculação era de alcançar um corpo

musculoso e definido, com baixa adiposidade (IRIART et al, 2009, p. 777).

Conforme uma pesquisa qualitativa realizada na cidade de Rio Claro – SP por

Tahara et al (2003), por meio de um levantamento bibliográfico e aplicação de

questionário aberto, com um grupo de cinquenta alunos praticantes de exercícios físicos

regulares em idade de até 24 anos, foi encontrado o principal motivo para a busca

crescente de academias e centros especializados como sendo a preocupação com a

estética corporal em 26,67% dos casos. Outro motivo encontrado para a prática de

exercícios físicos foi a manutenção da saúde, estando presente em 23,33% dos casos.

Sobre a manutenção dos exercícios, foi ressaltada a problemática de diminuição do

tempo disponível dos praticantes.

Importante notar que as academias oferecem serviços variados de opções de

atividades, como danças em geral, musculação, natação, entre outras, e,

ainda, possuem alto grau de sofisticação e boas instalações6. Porém, o

aspecto saudável e os padrões estéticos vigentes na atualidade parecem

ressaltar nesses resultados. Isso pode ser evidenciado na procura maior pela

atividade de modelagem do corpo, por meio do trabalho de musculação, cuja

característica recai sobre o ganho de massa muscular, perda de gordura

corpórea e consequente definição muscular, enfim, moldar o corpo segundo

necessidades e desejos. (TAHARA et al, 2003, p. 9).

Sobre a relação da Educação Física e ideologias difundidas na sociedade atual,

Anzai (2000, p. 74) considera que

Nesse movimento de intensa mudança de hábitos e valores, a educação física

brasileira, com algumas exceções, vem cumprindo o papel de reprodutora de

uma ideologia da beleza, ao preocupar-se preponderantemente com a força, a

estética e a beleza corporal, e muitas academias de ginástica demonstram o

quanto são produtos ou subprodutos das estruturas que caracterizam este

sistema.

Em suas considerações finais, Anzai (2000) faz uma observação com relação à

Educação Física. Ele não nega que ela seja prática em sua essência, mas considera que

tem potencial para formar indivíduos críticos e conscientes da sociedade em que estão

presentes. Segundo ele, “os profissionais de Educação Física podem modificar esta

situação de ditadura da estética corporal através da informação”.

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Alguns tipos de exercícios são especialmente buscados quando se trata de

cuidados com o corpo. A musculação pode ser um deles. Conforme Fleck e Figueira

(2003) apud Amorim (2010, p. 10), ela pode ser praticada por variadas faixas etárias,

com objetivos diferentes, sendo “uma forma de exercício resistido” (treinamento de

força). Segundo o autor, nos anos 30 e 40, quem adotava a musculação como atividade

física eram apenas atletas como levantadores olímpicos. Não era muito comum a prática

da musculação por causa da ideia que tinha-se de que seus pesos traziam malefícios à

saúde. Somente “nas décadas de 70 e 80 é que ela passou a ser incluída no treinamento

de adeptos do fitness em geral, de ambos os sexos” (AMORIM, 2010, p. 10). Amorim

(2010) ressalta que fatores como ganho de massa e volume muscular, alterações na

aparência, tratamento de doenças e benefícios cardiovasculares influenciaram o

aumento da procura por exercícios de musculação.

Um fator a ser considerado também é o da estética. Essa palavra, conforme

Garcia e Lemos (2003, p. 33) é de essência grega, significando sensação, percepção.

Conforme Amorim (2011, p. 24) “Aparece na sociedade como extrema valorização.

Esta valorização está pautada em valores do bom e do belo, que são valores existenciais

[...]”. Para o autor, o que “representa ou apresenta” tem mais valor na sociedade atual,

comparado aquilo que “realmente é”. Por isso há a valorização da imagem. O estudo

realizado chegou à conclusão que os fatores motivadores da prática regular de

musculação [para adultos jovens] foram, em primeiro lugar, a estética, o prazer e a

saúde. Em segundo lugar está a sociabilidade e controle do estresse. Por fim, o terceiro

fator de influência foi a competitividade.

Após a apresentação de algumas considerações presentes na literatura sobre o

nosso tema de investigação - na seção seguinte - são feitas considerações gerais sobre o

tipo de pesquisa selecionado para esse estudo, a metodologia utilizada, e descrição de

pontos encontrados nos dados obtidos através das entrevistas realizadas. Será

estabelecida uma possível relação desses mesmos dados com a temática presente nesse

estudo de caso e outras pesquisas já existentes acerca do assunto.

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3. A COLETA DE DADOS E POSSÍVEIS RELAÇÕES COM A LITERATURA

Nessa terceira seção apresentamos uma discussão acerca das temáticas presentes

no roteiro para as entrevistas, através das quais pudemos obter os dados que aqui são

descritos, estabelecendo relações com estudos já realizados sobre a mesma temática. As

entrevistas foram feitas com indivíduos de diferentes faixas etárias, praticantes de

musculação em uma academia de Corumbá – MS.

3.1 O estudo de caso: nosso tipo de pesquisa

Conforme Goldenberg (2004), o tipo de pesquisa classificada como “estudo de

caso” tem suas origens em estudos nas áreas da medicina e psicologia, onde se estuda,

através de um caso, certos tipos de doenças. A partir desse caso e da “exploração

intensa” dele, há acréscimo nos conhecimentos já obtidos acerca dos fenômenos. O

estudo de caso pode acontecer através de uma pesquisa feita com “um indivíduo, uma

família, uma instituição ou uma comunidade, com o objetivo de compreendê-los em

seus próprios termos” (GOLDENBERG, 2004, p. 33).

O estudo de caso, como tipo de pesquisa, é classificado conforme seus

procedimentos de coleta de dados. Segundo Gonsalves (2001), esse estudo considera

um caso específico, sendo que este tem a capacidade de fornecer dados significativos à

pesquisa. Ainda conforme a autora, “o estudo de caso, ao realizar um exame minucioso

de uma experiência, objetiva colaborar na tomada de decisões sobre o problema

estudado, indicando possibilidades para sua modificação” (GONSALVES, 2001, p. 67).

Para Godoy (1995, p. 26), “no estudo de caso, o pesquisador geralmente utiliza

uma variedade de dados coletados em diferentes momentos, por meio de variadas fontes

de informação. Tem como técnicas fundamentais a pesquisa, a observação e a

entrevista".

O método do estudo de caso permite um detalhamento maior do problema,

permitindo-se aprofundar em suas questões, assim como a aplicação na “realidade

social” em que está presente (GOLDENBERG, 2004). Para autora, a observação do

pesquisador, juntamente com entrevistas realizadas por ele deixam as questões,

presentes no tema pesquisado, mais evidentes do que o faria um questionário a ser

respondido. Ainda conforme ela, “no estudo de caso as diferenças internas e os

comportamentos desviantes da ‘média’ são revelados, e não escondidos atrás de uma

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suposta homogeneidade” (GOLDENBERG, 2004, p. 34). Sobre o tempo determinado

para a pesquisa, a autora observa que não há uma regra, podendo durar até anos.

3.2 Acerca de uma abordagem qualitativa

Uma pesquisa considerada em seu aspecto qualitativo, conforme Godoy (1995),

deve explorar os fenômenos, considerando-os em seu contexto social. Esse estudo é

feito com os sujeitos relacionados aos fenômenos pesquisados, “considerando todos os

pontos de vistas relevantes” (GODOY, 1995, p. 21). Ainda conforme a autora, uma

abordagem qualitativa dada aos dados coletados pode acontecer de três maneiras

diversas: pesquisa documental, estudo de caso e etnografia. Acerca do presente estudo,

trataremos da abordagem qualitativa relacionada a um estudo de caso.

Segundo Goldenberg (2004, p. 53), os dados obtidos através de uma pesquisa

qualitativa envolvem o “detalhamento” destes. Considera ainda que eles “não são

padronizáveis como os dados quantitativos, obrigando o pesquisador a ter flexibilidade

e criatividade no momento de coletá-los e analisá-los”. Para a autora, o resultado do

estudo dependerá das ferramentas usadas pelo pesquisador, de forma que alcance seu

objetivo ou o ultrapasse.

Por fim, para Godoy (1995, p. 25), é preciso tratar o objeto estudado, através de

uma abordagem qualitativa, considerando seu contexto e apresentando suas

"divergências e conflitos", estando inserido em um meio social, atribuindo à pesquisa

um caráter “exploratório e descritivo”. A autora ainda observa que a maior parte dos

estudos de caso são de caráter qualitativo, mas isso não significa que dados de aspecto

quantitativos também não estarão presentes.

3.3 A entrevista e elaboração do roteiro: nossa técnica de pesquisa

O procedimento de entrevistas pode acontecer de três maneiras conforme Aguiar

e Medeiros (2009, p. 10712), elas podem ser classificadas em entrevista estruturada,

semiestruturada e não estruturada. Para os autores, a primeira acontece “na utilização de

um questionário como instrumento de coleta de informações o que garante que a mesma

pergunta será feita da mesma forma a todas as pessoas que forem pesquisadas” (2009, p.

10711). No procedimento de entrevista semiestruturada, há a elaboração de perguntas

abertas, sendo que o pesquisador não necessariamente siga à risca a estrutura das

questões. Na entrevista não estruturada, há uma abertura maior às respostas para as

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perguntas, o que segundo Aguiar e Medeiros (2009, p. 10712) consideram que não

represente que as respostas fiquem totalmente sujeitas às vontades dos indivíduos, “pois

o entrevistador tem um foco, que é o assunto central da pesquisa e que será apresentado

ao entrevistado no início, porém em comparação com as demais técnicas, é a mais

informal”.

Para Goldenberg (2004, p. 56) há alguns problemas a serem considerados no que

diz respeito à técnica de entrevistas. Um desses problemas está relacionado com “o

constrangimento que pode causar ao pesquisado o fato de ter suas informações gravadas

ou anotadas pelo pesquisador”. Outro problema apontado pela autora é a não-

preservação do material recolhido na entrevista como gravações. Além disso, ainda

ressalta algumas características fundamentais que devem estar presentes no

entrevistador como, por exemplo, “interesse real e respeito pelos seus pesquisados,

flexibilidade e criatividade para explorar novos problemas em sua pesquisa, capacidade

de demonstrar compreensão e simpatia por eles” (GOLDENBERG, 2004, p. 57).

No presente estudo optamos por realizar as entrevistas em um esquema de

perguntas semiestruturadas, facilitando a exploração e coleta de dados. As perguntas

foram organizadas de forma que pudesse obter dados relevantes ao tema pesquisado,

sendo que eram quatorze, não seguidas de maneira rígida para que pudesse ser adaptada

à cada faixa etária entrevistada. As perguntas foram feitas a um grupo de pessoas de

uma academia da cidade de Corumbá, do estado de Mato Grosso do Sul. Esse grupo foi

composto por cinco indivíduos classificados em diferentes faixas etárias3, sendo nessa

ordem, criança, adolescente, jovem, adulto e idoso.

O local onde foram feitas as entrevistas foi escolhido por ser uma das academias

de Corumbá-MS a oferecerem exclusivamente exercícios de musculação. Além disso,

por possuir crianças praticantes em seu meio. O primeiro contato foi feito com o

proprietário, sendo explicado os objetivos da pesquisa e temática abordada. Além disso,

foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado por ele

e por cada voluntário participante da pesquisa. As entrevistas foram feitas em horários

distintos, no mesmo espaço da academia, em uma sala cedida.

3.4 As entrevistas e a literatura: “olhares” que se intercruzam.

3 Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto da juventude e Estatuto do Idoso.

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São apresentados os dados obtidos através da técnica de entrevistas, realizadas

com um grupo de indivíduos em diferentes faixas etárias, frequentadores de uma

academia de musculação na cidade de Corumbá – MS. São estabelecidas relações entre

os dados obtidos e o levantamento bibliográfico acerca das temáticas abordadas.

3.4.1 Motivos para adesão da musculação e tempo de prática

Aplicando um questionário aberto, composto por nove questões, à um grupo de

50 indivíduos frequentadores de uma academia na cidade de Rio Claro – SP, Tahara et

al (2003) observaram que as preocupações estéticas compõem 26,67% dos motivos para

a busca de academias, estando a qualidade de vida em segundo lugar com 23,33%.

No presente estudo, foi perguntado aos entrevistados acerca dos motivos que

levavam-nos a procurarem por academias. Dos cinco indivíduos entrevistados, 60%

deles fez considerações sobre questões estéticas. Isso ficou evidente nas falas dos

indivíduos adolescente, jovem e adulto, que relataram estar preocupados com um corpo

que se apresentasse bonito e “em forma”.

Assim como nos resultados obtidos na pesquisa de Tahara et al (2003), a questão

de saúde e qualidade de vida também aparecem nesse caso como motivadores

secundários. Para os sujeitos adolescente, jovem e adulto, a procura da musculação com

o objetivo de manter a saúde do corpo, é um fator a ser considerado depois de ter

alcançado um corpo minimamente belo, enquanto que a criança entrevistada (2014),

disse não sentir tanto o impacto da musculação, sendo que para ela, o principal motivo

de praticá-la era acompanhar os familiares. Para o sujeito idoso (IDOSO

ENTREVISTADO, 2014), a manutenção da saúde aparece como principal motivador,

levando-o à praticar a musculação por recomendação médica. Acerca do tempo de

prática dos exercícios, o mesmo estudo citado apontou que 26,67% do grupo analisado

possuía no mínimo quatro anos de prática, sendo que 20% relatou seis anos (TAHARA

et al, 2003). Já na academia pesquisada na cidade de Corumbá-MS, 60% disseram que

são praticantes cerca de três a quatro anos, enquanto que 20% dos indivíduos

declararam praticar a musculação menos de um ano e outros 20% ressaltaram que ser

adeptos da musculação há dois anos. Com relação à frequência semanal na academia,

40% dos indivíduos disseram que frequentam a academia cinco vezes por semana,

enquanto que os outros sujeitos relataram dedicar-se à prática de musculação duas ou

três vezes na semana.

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3.4.2 Treinamento de força x Treinamento aeróbico

Conforme Oliveira e Gallagher (1997, p. 81) "Treinamento de força é o uso de

métodos de resistência visando a habilidade de um indivíduo de exercer ou resistir à

força”. Ainda segundo os autores, esse tipo de treino pode utilizar vários meios para

atingir o mesmo objetivo. Esses meios podem consistir em “pesos livres, o próprio peso

do indivíduo e/ou outros aparelhos”. Uma pergunta acerca desse assunto foi feita aos

indivíduos que compuseram o grupo pesquisado no presente estudo. O questionamento

feito foi sobre o tipo de treinamento realizado pelo sujeito, sendo que, as opções dadas

foram “treinamento de força” e “treinamento aeróbico”. Para Mattos e Farinatti (2007),

o treinamento aeróbico é aquele caracterizado por trazer benefícios ao sistema

cardiovascular, além de colaborar para a “prevenção e tratamento de doenças crônico-

degenerativas”, tendo impactos positivos à saúde dos indivíduos (MATTOS;

FARINATTI, 2007, p. 101). Ao serem questionados sobre os tipos de treino realizados

no espaço da academia estudada na cidade de Corumbá-MS, o sujeito classificado como

criança disse não conhecer ou saber a diferença entre os tipos de treinamento

(CRIANÇA ENTREVISTADA, 2014). Os indivíduos adolescente, jovem e adulto

relataram realizar os dois, priorizando o treinamento de força, enquanto que o sujeito

idoso considerou seu treino como sendo, exclusivamente, de força. Quando

questionados sobre o motivo para a escolha do tipo de treino, a resposta mais comum

foi sobre os diferentes objetivos a serem alcançados através dos tipos de treino.

3.4.3 Orientação do profissional de Educação Física no espaço da academia

Uma pesquisa de campo realizada por Freitas (2013), mostrou, através de um

questionário semiestruturado, que os alunos praticantes de academia consideravam

importante a presença de um profissional de Educação Física nos espaços, mas também

relataram que “poderiam chegar sozinhos aos seus objetivos, sem a ajuda de um

profissional qualificado” (FREITAS, 2013, p. 23). O autor ainda destaca que a

orientação de um educador físico era mais comum aos iniciantes na musculação,

levando-os a, depois de um período, darem continuidade aos exercícios de forma

autônoma.

O Conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2002) considera importante

o preparo do educador físico na manutenção dos praticantes de musculação em relação

aos exercícios. Ainda ressalta que o profissional deve acumular experiências e

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investigações na área para prescrição das atividades, refletindo sobre o contexto social

em que o indivíduo praticante está inserido para que atue de forma mais eficaz.

Sobre essa questão, o grupo da academia de Corumbá, participante desse

presente estudo, relatou que os exercícios são montados por eles próprios (os

praticantes), através de pesquisas na internet em sites de dicas para musculação. Apenas

o sujeito classificado como criança disse realizar os exercícios sendo orientado por sua

mãe ou irmão, no espaço da academia (CRIANÇA ENTREVISTADA, 2014).

A pergunta que se faz presente é: onde está o profissional de educação física em

situações semelhantes a essa? Qual a relevância, senão na orientação, de sua presença

no espaço da academia de musculação?

Para Freitas (2013, p. 10), o profissional de educação física revela sua

importância na orientação, dentro do espaço da academia de musculação, ao fazer a

prescrição e recomendação dos exercícios de forma “segura, correta e saudável ao

aluno”, sendo que se a prática das atividades não for realizada de maneira adequada,

pode trazer efeitos negativos sobre a saúde dos indivíduos. Zanon (2012) apud Freitas

(2013), esclarece que só pode haver a prática do chamado “exercício físico” quando há

orientação do profissional de educação física, trazendo a concepção desse termo como

sendo a prática sistemática de atividades físicas e movimentos envolvendo o corpo.

3.4.4 Fatores que influenciam a procura pela musculação

Conforme Anzai (2000, p. 74), "Nesse movimento de intensa mudança de

hábitos e valores, a educação física brasileira, com algumas exceções, vem cumprindo o

papel de reprodutora de uma ideologia da beleza”. Para o autor, a preocupação está cada

vez mais com a estética do corpo, estando presentes nesses motivos, características do

sistema capitalista. Para Fidelix et al (2011, p. 203), “os padrões de beleza,

influenciados pela mídia, tem exigido perfis antropométricos cada vez mais magros para

as mulheres e fortes para os homens”. Quando questionados sobre o fator que mais

influenciou para a procura da prática de musculação, os indivíduos praticantes da

modalidade na academia de Corumbá relataram ter sido maior a influência de amigos

em 60% dos casos. Para eles, foi importante ver os resultados alcançados pelos outros

sujeitos, como relatou um dos componentes do grupo estudado, dizendo que se

interessou pelos exercícios de musculação à medida em que observava a modificação

nos corpos de seus amigos (JOVEM ENTREVISTADO, 2014). O indivíduo

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classificado como criança disse ter procurado a musculação por influência dos

familiares, enquanto que o idoso foi aconselhado à prática por problemas de saúde

(CRIANÇA ENTREVISTADA, 2014), enquanto que o sujeito adulto relatou ter

iniciado os exercícios de musculação, juntamente com seu grupo de amigos, com o

mesmo objetivo.

3.4.5 Suplementos alimentares

Para Santos e Santos, “a busca de um corpo esteticamente perfeito e a falta de

uma cultura corporal saudável tem levado a população a usar de forma abusiva,

substâncias que possam potencializar, no menor espaço de tempo possível, os seus

desejos” (2002, p. 175). Segundo os autores, o uso desses meios alternativos pode

acontecer por causa da “falta de legislação”, de forma que sua venda seja permitida sem

prescrição médica.

Sobre os suplementos alimentares, Goston (2008) considera que sejam

consumidos com diferentes objetivos, trazendo consigo uma proposta de melhorar o

desempenho e “aumentar a massa muscular, reduzir a gordura corporal, aumentar a

capacidade aeróbica, estimular a recuperação”, etc. (GOSTON, 2008, p. 13).

Nas entrevistas realizadas na academia desse estudo de caso, houve uma

pergunta feita ao representante de cada faixa etária sobre o uso de suplementos

alimentares. O sujeito na faixa etária de criança disse não saber sobre o assunto,

enquanto que os indivíduos jovem e adulto relataram consumir mais de um tipo de

suplemento alimentar há mais de cinco anos. Já o sujeito classificado como adolescente

disse fazer uso de apenas de um suplemento à base de proteína há dois meses, enquanto

que o indivíduo idoso relatou manter apenas uma alimentação balanceada.

Os motivos relatados pelos indivíduos, para o uso de suplementos alimentares, o

indivíduo jovem disse usar a suplementação em várias épocas e com objetivos

diferentes, mas geralmente para diminuição de gordura corporal e ganho de massa

muscular (JOVEM ENTREVISTADO, 2014). O sujeito adolescente por sua vez, disse

que fazia uso de suplemento para auxiliar seu crescimento muscular, tendo nutrientes

não obtidos na alimentação (ADOLESCENTE ENTREVISTADO, 2014). O adulto

entrevistado (2014) nesse estudo, também relatou usar o meio de suplementação para ganhar

massa muscular e substituir nutrientes não obtidos através da alimentação.

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Acerca dos suplementos alimentares, pode haver uma confusão ao associá-los

com outras substâncias como os esteroides anabolizantes. Se há então alguma diferença,

em que ela consiste?

3.4.6 Esteroides anabolizantes: o uso das chamadas “bombas”

Conforme Boff (2010), os anabolizantes “são derivados sintéticos da

testosterona [sendo que] sua administração potencializa a síntese proteica e causa a

hipertrofia da musculatura esquelética, respostas intensificadas quando combinadas com

o exercício de força” (BOFF, 2010, p. 80).

Iriart et al (2009) também considera que os esteroides anabólicos sejam

substâncias elaboradas em laboratórios e a utilização delas pode trazer o “aumento de

massa muscular esquelética e efeitos androgênicos ou masculinizantes” (2009, p. 773).

O autor ressalta que o uso de substâncias anabolizantes já foi exclusivo aos grupos de

atletas e fisiculturistas, mas atualmente se expandiu a indivíduos não atletas também.

Boff (2010, p. 81), considera que o a busca por um corpo musculoso e a

“melhora da performance esportiva” sejam os principais fatores de influência para o uso

de substâncias anabolizantes. Para o autor, a essência dessa motivação consiste no valor

dado ao corpo na sociedade em que vivemos, a qual ele chama de “sociedade do

consumo”.

Em um estudo realizado por Iriart et al (2009), pesquisa qualitativa, usando

métodos de “entrevistas semiestruturadas e observação participante” na cidade de

Salvador – BA, com praticantes de musculação com idade entre 18 e 35 anos, usuários

ou ex-usuários de esteroides anabolizantes, relatou que o principal motivo considerado

para o uso dessas substâncias era a aceleração no processo de aumento da musculatura,

havendo menor gasto de tempo em direção à conquista do “corpo desejado” (2009, p.

780). Para os jovens, os autores consideram que há a necessidade de pertencer à um

grupo, enquanto que alguns indivíduos entrevistados ressaltaram fazer uso das

“bombas” por afirmarem não ser capazes de realizar os exercícios físicos se não

utilizarem (IRIART et al, 2009, p. 780).

A pergunta “[você] Alguma vez fez uso, ou ao menos pensou na possibilidade,

de esteroides anabolizantes?” foi feita ao grupo estudado na academia de musculação na

cidade de Corumbá – MS, indivíduos em diferentes faixas etárias. A criança (2014),

disse saber pouca coisa sobre o assunto, mas que era “proibido”, não tendo pensado na

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possibilidade de uso, enquanto que os indivíduos adolescente e adulto ressaltaram que

algumas vezes consideraram a possibilidade de fazer uso de substâncias anabólicas. O

jovem entrevistado (2014), revelou ter feito uso de anabolizantes. O idoso disse

desconhecer essas substâncias.

Quando questionados sobre a razão que levou os indivíduos ao uso ou a

considerar essa possibilidade, a resposta foi que alcançariam seu objetivo, ganho de

massa muscular, mais rápido e em menor tempo. O sujeito que usou esteroides

anabolizantes relatou não mais fazer o uso dessas substâncias e que quando tomou, não

houve efeitos colaterais. Além disso, disse não condenar o uso (JOVEM

ENTREVISTADO, 2014).

3.4.7 Imagem corporal: (in) satisfação

Um estudo realizado por Fidelix et al (2011), com 405 adolescentes, meninos e

meninas moradores de área urbana e rural, encontrou um índice de insatisfação com a

própria imagem em 56,5% desses indivíduos. Os mesmos autores observaram que o

nível de insatisfação diferencia-se se acordo com o sexo, sendo maior nos meninos

(2011, p. 204).

O nível de insatisfação com a imagem corporal foi analisado pelos indivíduos

através de uma “escala de silhuetas corporais” (FIDELIX et al, 2011, p. 202).

A pergunta “você se considera satisfeito com sua imagem?”, foi feita aos

indivíduos praticantes de musculação, componentes do grupo pesquisado nesse estudo

de caso. A criança disse não haver preocupação ou incômodo ao pensar em sua estrutura

corporal (CRIANÇA ENTREVISTADA, 2014). Os indivíduos adolescente, jovem e

adulto consideraram-se insatisfeitos com sua imagem, ressaltando que talvez não

estivessem “nunca”, sempre buscando novos objetivos para transformação de seus

corpos. Para o sujeito idoso também não há uma preocupação necessariamente com sua

imagem corporal, pesar de considerar que tenha negligenciado alguns cuidados com seu

corpo na juventude, mas disse ter outras preocupações hoje (IDOSO

ENTREVISTADO, 2014).

3.4.8 Dietas e distúrbios alimentares

Os indivíduos têm adotado cada vez mais dietas de diferentes tipos. O acesso à

elas tem sido facilitado pelos meios de comunicação e internet. Para Paxton et al (1991)

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apud Cunha (2008, p. 5), a adoção de meios para diminuição do peso corporal pode

oferecer riscos para a saúde. Segundo os autores, medidas como “saltar refeições, contar

calorias [...] ou comportamentos extremos, no sentido de serem perigosos para a saúde:

jejuar, fazer dietas rápidas, tomar diuréticos, vomitar, tomar comprimidos para

emagrecer e laxantes”, tem sido realizada com a finalidade de diminuir a gordura

corporal.

Para Cunha (2008, p. 6), as dietas representam a limitação das “liberdades

individuais”, transformando o corpo dos sujeitos em “objeto de consumo”. Segundo o

autor, quando há exagero na adoção de dietas, pode haver o desenvolvimento de

distúrbios alimentares.

Borges et al (2006, p. 340), considera que os distúrbios alimentares sejam

“doenças psiquiátricas que afetam o comportamento alimentar”, afetando os indivíduos

em seus aspectos psicológicos, biológicos e de saúde.

Quando tratamos sobre a presença de distúrbios alimentares, podemos

considerar dois principais destes: anorexia e bulimia nervosas. Conforme Cordás (2004,

p. 155), a anorexia nervosa “caracteriza-se por perda de peso intensa e intencional às

expensas de dietas extremamente rígidas com uma busca desenfreada pela magreza”.

Para Borges et al (2006), a busca por um corpo extremamente magro, através de uma

dieta restrita, pode levar a efeitos no ciclo menstrual das mulheres. Os autores ressaltam

que dentro do quadro clínico da anorexia nervosa há, inicialmente, uma diminuição no

consumo de alimento considerados calóricos, sendo que o próximo passo consiste na

diminuição do número de refeições realizadas diariamente até que os indivíduos

“evoluam” para a prática do jejum (BORGES et al, 2006, p. 341).

O paciente passa a viver exclusivamente em função da dieta, do peso, da

forma corporal, das atividades físicas, de tabela de calorias e do medo

patológico de engordar. Concomitantemente esses pacientes apresentam

traços de personalidade como preocupações e cautela em excesso, medo de

mudanças, hipersensibilidade e gosto pela ordem (BORGES et al, 2006, p.

341).

Outro distúrbio alimentar a ser considerado relacionado à imagem corporal é a

bulimia nervosa. Sobre a bulimia, Cordás (2004, p. 155) considera que acontece “por

grande ingestão de alimentos com sensação de perda de controle, os chamados

episódios bulímicos. A preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal leva o

paciente a métodos compensatórios inadequados para o controle de peso”. Borges et al

(2006, p. 342) considera que os sujeitos podem recorrer a “laxantes, diuréticos,

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inibidores de apetite e hormônios tireoidianos” afim de realizar essa compensação.

Ainda relata que os indivíduos, à medida em que avançam em seu quadro clínico de

bulimia nervosa, não se importam mais com o sabor ou qualidade dos alimentos, dando

maior importância à quantidade ingerida. Sobre as medidas características da bulimia,

Córdas (2004) relata que são as provocações do próprio vômito, uso de remédios

ligados a eliminação de nutrientes, assim como a adoção de dietas.

Borges et al (2006) ressalta que na bulimia nervosa, o indivíduo sente a

necessidade de ingerir alimentos em excesso, não controlando esse impulso e

experimentando uma espécie de culpa após a ingestão, acreditando que o ato de

provocar o próprio vômito aliviará essa “culpa”, afim de que não haja alteração em seu

peso corporal. Por causa desse alívio sentido pelo sujeito, há a criação do hábito de

vomitar após o consumo de alimentos, levando-o aos efeitos psicológicos e emocionais

como o sentimento de culpa, ansiedade e queda de autoestima.

Cordás (2004, p. 156) observa que pode haver, sobre a anorexia nervosa, uma

divisão no que diz respeito ao quadro clínico. O autor apresenta e questiona essa mesma

dicotomia. Para ele, pode ser subdividido em quadros restritivo e purgativos.

Para Borges et al (2006, p. 344), as diferenças existem apenas no que diz

respeito aos distúrbios alimentares anorexia e bulimia nervosas. Para os autores, há

distinção principalmente nos sintomas das patologias, sendo que na anorexia

manifestam-se em efeitos como pele seca, cabelo fino, unhas fracas, insuficiência

cardíaca, hipotensão, cálculo renal, anemia, amenorreia, hipoglicemia, desidratação,

hipotermia, entre outros. Enquanto que no quadro clínico da bulimia nervosa estão

presentes os seguintes sintomas: alterações no esmalte do dente, cáries, gastrite, dor

abdominal, sangramentos, parada cardíaca, irregularidade menstrual, etc (BORGES et

al, 2006, p. 344).

À respeito dos distúrbios alimentares, o grupo de indivíduos estudado na

academia da cidade de Corumbá-MS, relatou não ter desenvolvido nenhum desses

distúrbios: 80% deles disse cuidar da alimentação e 20% relatou fazer acompanhamento

nutricional com uma profissional disponível no espaço da academia.

3.4.9 A busca por um “corpo ideal”

O corpo tido como “modelo” ou “corpo ideal” é definido por Ribeiro et al (2009,

p. 73 - 74) como “um corpo magro, modelado, sem gorduras” e até mesmo saudável e

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jovem. Azevedo (2007, p. 1) também ressalta que a ideia de “corpo ideal” foi originada

no contexto cultural atual, sendo que há propagação midiática dessa espécie de padrão

corporal. O autor ainda considera que a juventude é a faixa etária com maior

preocupação em alcançar um ideal de estrutura corporal, fazendo cada vez mais uso de

medicamentos para diminuição de gordura, dietas, cirurgias e outros meios que podem

oferecer risco à saúde dos indivíduos.

Há alguns incentivos que aumentam a busca por alcançar o “corpo perfeito”,

propagado por televisão, jornais e revistas, trazendo um padrão de corpo feminino como

um corpo “magro e bem definido”, enquanto que para os homens “corpos fortes e

musculosos”. (AZEVEDO, 2007, p. 2).

Por fim, uma questão foi dada aos indivíduos de diferentes faixas etárias,

praticantes de musculação em uma academia localizada na cidade de Corumbá – MS,

acerca da concepção de “corpo ideal”. A pergunta foi a seguinte: “Para você, o que é um

‘corpo ideal?’” Um dos sujeitos relatou considerar um como “ideal”, um corpo que seja

devidamente saudável, de forma que se mantenha assim até velhice (IDOSO

ENTREVISTADO, 2014). Para os indivíduos jovem e adulto, um “corpo ideal” seria

musculoso, que fosse proporcional em suas partes, estando “100% saudável” e com o

mínimo possível de adiposidade. Para o indivíduo adolescente, um corpo tipo como

“ideal” seria aquele que encontra equilíbrio entre o que é “excessivamente magro” e

“consideravelmente gordo” (ADOLESCENTE ENTREVISTADO, 2014). Apenas o

sujeito classificado como criança relatou não possuir uma concepção de corpo ideal

(CRIANÇA ENTREVISTADA, 2014).

Na seção seguinte, os dados expostos nessa presente seção são analisados sob a

perspectiva da Teoria Crítica (Escola de Frankfurt) que possuem um histórico de

investigações relacionadas à temática desse estudo de caso – motivo da sua escolha

como referencial teórico de análise.

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4. ANÁLISE DOS DADOS: REFLEXÕES TEÓRICO CRÍTICAS

É pelo princípio do fetichismo da mercadoria, a sociedade sendo dominada

por ‘coisas supra-sensíveis embora sensíveis’, que o espetáculo se realiza

absolutamente. O mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens

que existem acima dele, ao mesmo tempo em que se faz reconhecer como o

sensível por excelência. (DEBORD, 2003, p. 29).

Os dados coletados, através do uso da técnica de entrevistas feitas com

indivíduos em diferentes faixas etárias e frequentadores de uma academia de

musculação na cidade de Corumbá – MS, são analisados com o auxílio de algumas

categorias de análise presentes nas concepções de teóricos críticos que compõem a

primeira geração da Escola de Frankfurt.

4.1. O referencial teórico

O referencial teórico foi escolhido pela preocupação manifestada pelos teóricos

da Escola de Frankfurt em relação a massificação da cultura, sendo que, esse trabalho

compreende a construção histórica da imagem corporal como um componente da

cultura contemporânea.

4.1.1 Escola de Frankfurt: breves aspectos históricos

A Teoria Crítica ou Escola de Frankfurt foi estudada e formulada por um “grupo

de intelectuais” alemães, ligados a uma “teoria social”. Os principais estudiosos que

compuseram esse grupo foram Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse,

Jürgen Habermas e Walter Benjamin, sendo estes, parte de um “marxismo não

ortodoxo”, situados historicamente “na década dos anos 20 à margem de um marxismo-

leninismo ‘clássico’, seja em sua versão teórico-ideológica, seja em sua linha militante e

partidária” (FREITAG, 1994 p. 10).

Filho (2011), ressalta que a Teoria Crítica é uma concepção com características

de “estudos marxistas”, surgindo no ano de 1920, levando à criação do “Instituto de

Pesquisa Social em 1924”. Para o autor, essa concepção é relevante para as discussões

educacionais, tendo como principal finalidade fazer considerações críticas aos aspectos

presentes na relação da educação de maneira geral com o sistema capitalista, que

carrega interesses da “indústria” (FILHO, 2011, p. 231).

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Conforme prepondera Freitag (1994) a Escola de Frankfurt foi fundada em 1924

na Universidade de Frankfurt, Alemanha. Segundo a autora, os estudos iniciais dessa

concepção estavam inseridos no contexto de uma Alemanha nazista, chegando a haver o

fechamento do Instituto Social em 1933 do qual Horkheimer era diretor, pelo governo

nazista por considerar o Instituto como realizador de “atividades hostis ao Estado”

(FREITAG, 1994, p. 13).

Em 1934 os estudos conduzidos pelo Instituto Social passam a se dar em Nova

Iorque.

A produção do Instituto nessa época de emigração para os Estados Unidos

se reflete, por um lado, em uma série de artigos fundamentais publicados na

Revista, e que deram origem à criação da ‘teoria crítica’ [...] Os trabalhos da

fase de emigração estão sob o impacto provocado sobre os intelectuais

europeus pela cultura americana, expressão máxima do capitalismo moderno

e da democracia de massa (FREITAG, 1994, p. 17)

É nessa época ainda que Horkheimer publica seus ensaios para fundamentação

da Teoria Crítica. Uma das principais obras na linha de pensamento da Escola de

Frankfurt é a Dialética do Esclarecimento, estudo elaborado por Adorno e Horkheimer,

expoentes estudiosos da Teoria Crítica. Nessa obra os autores abordam, de forma

crítica, a construção histórica da cultura nas sociedades modernas. A Dialética do

Esclarecimento traz então uma nova concepção: o capitalismo “deturpando as

consciências individuais, narcotizando a sua realidade e assimilando os indivíduos ao

sistema estabelecido” (FREITAG, 1994, p. 20).

Freitag (1994) faz ainda considerações sobre conflitos presentes na relação da

Escola de Frankfurt com as lutas e movimentos estudantis, nos quais os estudiosos da

Teoria Crítica observaram “traços facistas” (FREITAG, 1994, p. 25). Conforme a

autora, essa observação é feita por causa das formas de protesto dos estudantes. Usavam

de violência, invasões e até mesmo roubo de livros do Instituto Social. Segundo ela,

nessa mesma época, década de 60, houve um “quase fim” da Teoria Crítica. Esses

intempéries entre o Movimento Estudantil e Frankfurtianos coincide com a fuga de

Horkheimer para a Suíça e a morte de Theodor Adorno, fazendo com que outros

tomassem à frente dos estudos. Passado um tempo e a situação estando sob controle, há

então o renascimento da Teoria Crítica.

Conforme Filho (2011, p. 232), muitos intelectuais da Teoria Crítica fizeram

considerações sobre a concepção otimista que se tinha de que a razão tinha o papel de

"redentora" e era capaz de "salvar o mundo da ignorância, do medo e da superstição",

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fazendo com que os indivíduos construíssem e transformassem a História. Ainda para o

autor, a razão, no sentido de estar sujeito às influências capitalistas, se torna para os

autores da teoria crítica uma razão "irracional". Mas apesar dessa discussão, a Escola de

Frankfurt não se limitava à apenas uma única área de conhecimento das humanidades,

mas, segundo o que ressalta Mongendorff (2012), os intelectuais da Teoria Crítica

mantinham relações com áreas como a “filosofia, sociologia, literatura e artes”

(MONGENDORFF, 2012, p. 154).

Para Filho (2011, p. 232), o “capitalismo monopolista”, a tecnologia como

instrumento de dominação” e, principalmente, a “sociedade industrial” são temáticas

discutidas e de interesse da Teoria Crítica, enquanto que para Freitag (1994), os objetos

de interesse e análise dessa teoria estão relacionados com as concepções de indústria

cultural, consumo, mídia, formação crítica, emancipação humana, assim como

esclarecimento.

Mongendorff (2012, p. 155), considera que a “indústria cultural” não faz

referência àquelas que produzem os bens materiais, mas certamente a considera como

um “processo social” que converte esses bens materiais em “bens de consumo”,

revelando princípios do sistema vigente.

Para os frankfurtianos, a cultura de mercado fez com que a subjetividade

passe a se identificar com a posse dos bens; consequentemente, a satisfação

das necessidades passa a estar muito mais relacionada com o ato da compra,

uma vez que é o mercado que vai apontar quais são esses valores culturais

que precisam ser “adquiridos” (MONGENDORFF, 2012, p. 155).

Considerando as relações com a indústria cultural, os intelectuais da Teoria

Crítica fazem análises acerca da comunicação, o que conforme Mongendoff (2012) não

acontece de forma separada do contexto em que está inserida. Segundo a autora, “a

indústria cultural faz parte de uma teoria crítica da sociedade mais abrangente, e a

transformação da cultura em mercadoria”, sendo observada conforme as características

do sistema capitalista, no qual estabelece suas relações (MONGENDORFF, 2012, p.

155). Para Filho (2011), O homem está inserido em um contexto, no qual essas relações

são regidas por princípios capitalistas, sendo também relacionadas ou até "mediadas

pelo processo de indústria" (FILHO, 2011, p. 234).

Por fim, em uma breve abordagem histórica da Teoria Crítica, Freitag (1994)

ressalta que essa teoria passa por três principais momentos. O primeiro é marcado pela

grande influência exercida por Max Horkheimer, trazendo avanços para a Escola de

Frankfurt. O segundo momento, caracteriza-se pelo “ressurgimento” da Teoria Crítica,

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sendo que Adorno toma a frente da “direção intelectual”, enquanto que o terceiro traz

como principal característica a desenvolvimento da “razão comunicativa”, por

Habermas, levando a Escola de Frankfurt à uma nova concepção (FREITAG, 1994, p.

30).

Acerca do referencial teórico, podemos dizer que a teoria crítica foi escolhida

pela “afinidade” que apresenta, através de alguns de seus conceitos, com o fenômeno

estudado sobre a relação musculação – imagem corporal – massificação de um padrão

de estética corporal, uma vez que se preocupou com a explicação dos fenômenos

relacionados à massificação da cultura, da qual entendemos que o valor ligado à

imagem corporal também pode ser considerado como um desses elementos culturais.

4.1.2 A Relação da musculação e imagem corporal como um dos fenômenos de

massificação da cultura

Considerando a relação da imagem corporal, juntamente com a ideia difundida

acerca de um “corpo ideal”, Russo (2005, p. 81) problematiza que “a indústria corporal

através dos meios de comunicação encarrega-se de criar desejos e reforçar imagens,

padronizando corpos. Corpos que se veem fora de medidas, sentem-se cobrados e

insatisfeitos”. Segundo a autora, esse fenômeno acontece para que haja um

fortalecimento do corpo como “objeto de valorização exagerada” (RUSSO, 2005, p.

81). Ainda para ela, a propagação de um ideal de corpo é feita pelos meios midiáticos,

despertando ou reforçando nos indivíduos o desejo de atender aos padrões corporais

estabelecidos.

Há uma influência exercida pela mídia em relação à opinião dos sujeitos. Acerca

dessa influência, Merton e Lazarsfeld (2010) fazem referência ao conceito de mass

media e como seus meios são utilizados para controle ou transformação das opiniões

populares. Os autores definem os mass media como sendo os “veículos de propaganda”,

incluindo televisão, rádio e a mídia impressa como jornais e revistas (MERTON ;

LAZARSFELD, 2010, p. 109). Para eles, as propagandas são um meio encontrado para

atender aos interesses dos “grupos de poder”, tendo a intenção de controlar as massas

que constituem seu público-alvo. Nesse sentido, não há dominação clara das

consciências, mas uma espécie de controle que não seja evidente. Acerca desse assunto,

os autores fazem uma comparação ao controle de Hitler, considerando que esse tenha

sido radical e também se mostrado de “forma mais visível e direta”, enquanto que os

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mass media cumprem um papel de controle e “exploração psicológica” (MERTON;

LAZARSFELD, 2010, p. 110).

Algumas preocupações à respeito dos meios de mass media são encontradas nas

considerações de Merton e Lazarsfeld (2010). A primeira preocupação existente é

acerca do poder que esses meios podem exercer através das propagandas, enquanto que

um segundo aspecto surge em relação às influências que elas exercem sobre as massas,

podendo à um “inconsciente conformismo”. E por fim, uma outra preocupação e

exposta pelos autores à respeito de que os meios de mass media sirvam para a

“deterioração dos gostos estéticos e dos padrões culturais populares” (MERTON;

LAZARSFELD, 2010, p. 111).

A propagação da existência de um corpo ideal, que deve ser almejado pelos

indivíduos, de forma que aquele que deseja possuí-lo utilize de todos os meios possíveis

para alcança-lo, parece ter grande influência midiática. Para Merton e Lazarsfeld

(2010), esses meios de comunicação e mídia tem servido para reafirmar princípios

presentes na sociedade atual, de forma que possam ser respeitadas suas normas.

Nossa curiosidade nesse estudo de caso foi o de tentar compreender como essa

relação imagem corporal, musculação, indústria cultural como um dos elementos

culturais massificados na contemporaneidade se manifesta em diferentes faixas etárias,

ou seja, as semelhantes e diferentes explicações desses sujeitos sobre essa relação em

suas vidas cotidianas – a existência ou não de padronizações e/ou resistências aos

modelos propagados.

4.2.Criança e idoso: motivos não padronizados

Nas entrevistas realizadas com indivíduos de diferentes faixas etárias,

praticantes de musculação em uma mesma academia na cidade Corumbá – MS,

pudemos obter dados que serão neste tópico fundamentados conforme conceitos

trabalhados pela Teoria Crítica ou Escola de Frankfurt.

Um ideal de corpo, o “corpo perfeito” parece não ocupar a preocupação do

indivíduo classificado como criança, assim como a do indivíduo idoso. Isso se evidencia

na fala dos indivíduos à respeito do motivo que o levou à prática da musculação. O

indivíduo criança explicitou pouca afinidade em relação a esse tipo de exercício,

relatando uma certa preferência às práticas esportivas como o futsal, “gosto vir pra

academia junto com minha mãe e irmão mais velho. Venho mais pra me divertir mesmo

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(...) não ligo muito pra musculação porque prefiro futsal. Participo de uma ‘escolinha de

futsal’ da minha escola na minha escola” (CRIANÇA ENTREVISTA, 20/05/2014, às

16h00min), enquanto que o sujeito idoso disse saber claramente os motivos que o levam

à procura por essas mesmas atividades.

Gosto dos exercícios porque fazem bem à minha saúde e meu médico indicou

para que eu fizesse, para que amenizasse minha osteoporose. Também

acompanho minha esposa, que tem problemas de coração. Além da

musculação a gente faz hidroginástica 2 vezes por semana (IDOSO

ENTREVISTADO, 20/05/2014, às 8h00min).

O indivíduo criança serve de companhia aos membros da família, que são

frequentadores da academia e também praticantes de musculação. Por seu relato, o

sujeito pratica os exercícios como imposição familiar e não por algum tipo de busca

deliberada por parte dele. O sujeito considerou-se satisfeito com seu corpo e não

apresentou uma concepção de “corpo ideal”: “Já venho tem só meses mesmo. Venho

mais pra acompanhar e não ficar sozinho em casa e pra acompanhar minha mãe e meu

irmão. Meu pai trabalha e eu fico com eles. Quando eles vem, eu venho” (CRIANÇA

ENTREVISTADA, 20/05/2014, às 16h00min).

Algumas perguntas elaboradas, presentes no questionário semiestruturado, que

nortearam o andamento das entrevistas realizadas com os indivíduos no espaço da

academia de musculação em Corumbá – MS, trouxeram respostas dadas pelo sujeito-

criança que podem ser fundamentadas no conceito de “semicultura” ou “semiformação”

de Adorno (2005).

Quando questionado sobre o tipo de treinamento realizado no espaço da

academia, considerando as opções “treinamento de força” e “treinamento aeróbico”, o

indivíduo classificado como criança não soube classificar. Sua reposta foi clara: “O que

que é isso? Não sei qual é. Minha mãe que fala os exercícios pra mim” (CRIANÇA

ENTREVISTADA, 20/05/2014, às 16h00min).

Embora o indivíduo pratique os exercícios físicos de musculação e, esteja

envolvido em um ambiente onde estão outros sujeitos com variados motivos para a

mesma prática, ele parece não estar consciente sobre os motivos para esta. Adorno

(2005, p. 2) considera que essa “alienação” seja um fator contribui para o fenômeno de

semicultura, levando os indivíduos a uma totalidade ou “semiformação socializada”

como forma de controle das consciências. Para o autor, quando a formação cultural

passa a ser associada à realidade, de forma que deva conformar-se com ela e procurar

“soluções” de adaptação, ela passa a ser uma espécie de formação educando para a

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semicultura, evitando reações à unidade social e gerando também o que Adorno chama

de “formação regressiva” (ADORNO, 2005, p. 2).

Segundo Maar (2003, p. 460), a “semiformação faz parte do âmbito de

reprodução da vida sob o monopólio da ‘cultura de massas’”. Para ele, esse controle

social de massas é um fenômeno que atende aos interesses do avanço capitalista,

mantendo na formação ou semiformação os princípios desse sistema vigente. O autor

ainda observa que a semiformação transforma os meios em propagadores desses

princípios.

Adorno (2005, p. 5) considera que sejam meios importantes na relação de

formação e cultura, os meios de comunicação e mídia como o rádio e a televisão,

acabando por contribuir para o estabelecimento de cultura enquanto ideologia social,

alcançando também comunidades rurais. O uso dos meios de comunicação em massa

parecem contribuir para outros dois conceitos presentes na Teoria Crítica: o de

“fetichismo da mercadoria” e “Indústria Cultural”, sendo que esses conceitos estão

interligados.

Maar (2003, p. 470) considera que através do fetichismo da mercadoria, “o que é

social aparece como se fosse objetividade natural”, fazendo com que as consciências

individuais sejam transformadas em detrimento de princípios sociais e ideais

capitalistas, preservando esses mesmos ideais. Para Adorno (2005), esse processo de

“deturpação das consciências”, através dos princípios presentes no sistema vigente,

pode ser considerado como desumano, sendo que gera a formação de uma “sociedade

formalmente vazia”, tirando dos indivíduos a possibilidade crítica justificando-se em

uma “educação popular” (ADORNO, 2005, p. 5).

Adorno, (2005), ainda ressalta o fato de que os indivíduos dominarem as devidas

técnicas de suas práticas o que, conforme a formação cultural tradicional consideraria

incultura, pode classificar esses indivíduos como sendo semicultos, pois embora não

possua total consciência dos fenômenos relacionados às práticas desenvolvidas por eles,

estão elaborando as ações de forma “eficiente”.

O indivíduo entrevistado e classificado na faixa etária de criança, em sua

resposta à questão da presença ou orientação do profissional de Educação Física no

espaço da academia e servindo de auxílios nos exercícios, relatou a ausência desse

profissional em suas práticas. Em sua fala a seguir, pudemos observar que mesmo não

sabendo o “por quê” da realização das atividades musculação, o indivíduo sente-se de

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realiza-las, o que pode exemplificar uma concepção de semicultura: “ela [a profissional

de Educação Física], fica mais com o pessoal do peso lá na outra parte. Minha mãe

mesmo que vai mandando qual eu tenho que fazer”. (CRIANÇA ENTREVISTADA,

20/05/2014, às 16h00min).

Os fundamentos fornecidos para uma “formação cultural”, conforme Adorno

(2005), são compostos por princípios que asseguram aos fornecedores desses “bens” o

lugar que ocupam na sociedade. Adorno ainda prepondera que essa reafirmação

acontece por meio de uma estruturação dos conteúdos de formação, baseados nos

interesses de mercado, de forma que ajam nas concepções dos indivíduos (ADORNO,

2005, p. 6).

Outra fala do entrevistado criança, (2014), à respeito dos esteroides

anabolizantes mostra uma semiformação acerca dos conhecimentos obtidos por ele

sobre o assunto. Segundo o indivíduo, ele já havia escutado sobre o tema através das

considerações do seu irmão, que também é praticante de musculação na mesma

academia. Embora tenha ouvido sobre o tema, disse saber apenas que essas substâncias

eram algo “proibido” e usadas por outros sujeitos para que “ficassem saradões”

(CRIANÇA ENTREVISTADA, 20/05/2014, às 16h00min). Já o indivíduo idoso,

quando questionado sobre esteroides anabólicos disse não conhecer as substâncias

(IDOSO ENTREVISTADO, 2014).

Ainda acerca da semiformação ou semicultura, Adorno (2005) considera que

contra esse fenômeno é preciso agir apoiado no reforço da formação cultural, ainda que

seja, como considera Adorno (2005, p. 7), "questionável".

Na entrevista realizada com o indivíduo idoso, pudemos constatar que era o mais

esclarecido dos sujeitos envolvidos nessa pesquisa em relação à sua prática. Seus

objetivos na realização dos exercícios de musculação são norteados pela busca por

promoção e manutenção da saúde (IDOSO ENTREVISTADO, 2014). Adorno (1947),

considera que o esclarecimento é uma espécie de “desencantamento do mundo”,

levando os indivíduos na “substituição da imaginação pelo saber” (ADORNO, 1947).

Conforme o autor, o questionamento dos fenômenos e as discussões acerca deles são

importantes para um processo de esclarecimento, de forma que sem estes não há uma

boa ligação do “entendimento humano” e da real “natureza das coisas”, levando à

elaboração de conceitos defeituosos (ADORNO, 1947, p. 5).

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Quando a pergunta “os exercícios [de musculação] são montados e orientados

por um profissional de Educação Física?” foi feita, o indivíduo idoso relatou que não

enxergava mudanças nas relações de prescrição de exercícios dentro do espaço da

academia, mostrando sua atenta observação nessas relações: “Sim, são montados pela

professora, mas ela não acompanha a gente durante eles. Desde que estou aqui, vejo os

exercícios mudarem só quando a gente enjoa” (IDOSO ENTREVISTADO, 20/05/2014,

às 8h00min). Seu esclarecimento também ficou evidente em uma das respostas, quando

foi questionado sobre a satisfação com a imagem corporal, fazendo reflexões sobre seus

hábitos na juventude, sentindo a necessidade de ter dado maior atenção aos princípios

de saúde. A pergunta realizada foi a seguinte: “você se considera satisfeito com sua

imagem?”, trazendo a resposta que “sim, apesar de achar que poderia ter me cuidado

melhor antes e não precisar vir fazer musculação porque o médico mandou” (IDOSO

ENTREVISTADO, 20/05/2014, às 8h00min).

Ao observar a resposta desses dois sujeitos (a criança e o idoso), podemos relatar

que não há uma preocupação com padrões corporais ou imagem. Outros motivos levam

os indivíduos à prática da musculação. A busca por um corpo ideal não atingiu, pelo

menos por enquanto, os anseios do sujeito classificado como criança, que disse não

possuir uma concepção de “corpo perfeito”. O indivíduo idoso fez vários relatos sobre

uma clara preocupação com aspectos saudáveis, inclusive em sua última fala em

resposta à pergunta “. Sobre a busca por saúde, Adorno (1947) considera que esse

motivo também pode ser usado como instrumento de manipulação social, usado pelos

“manipuladores do corpo” como uma espécie de “máscara” aos reais interesses, sendo

que “estão interessados na doença”, estabelecendo padrões e medidas como se houvesse

uma “coisificação” do corpo e a transformação dele em objeto de desejo e consumo

(ADORNO, 1947, p. 110).

No tópico seguinte discutiremos sobre a valorização da imagem e o corpo como

mercadoria em uma sociedade que o transforma em “espetáculo”.

4.3 Adolescente, Jovem e adulto: motivos estandardizados

As entrevistas realizadas com os indivíduos classificados nas faixas etária de

adolescente, jovem e adulto nos proporcionaram maiores dados para as discussões

acerca do corpo sob uma perspectiva dos conceitos frankfurtianos. Observamos que há

uma maior preocupação com a imagem e forma como o corpo se apresenta. A

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importância, para os indivíduos, desse aspecto de busca de uma estrutura corporal

satisfatória, de forma que seja visto e desejado, como também moldado através dos

exercícios de musculação, ficam evidentes nas falas dos sujeitos em resposta à questão

“quais os motivos que te levam a fazer academia?”.

“No começo meu objetivo era ter um corpo aproximado de um fisiculturista,

mas depois de um tempo percebi que minha genética era desfavorável e o

custo financeiro para manter uma dieta e suplementação era muito alto. Hoje

procuro ter um corpo bonito, atraente e com saúde” (JOVEM

ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 18h00min).

A resposta dada pelo indivíduo jovem foi mais específica em relação à imagem

que atribui ao corpo, tendo este objetivo como norteador na realização dos exercícios

físicos de musculação. Ele deixou claro que busca por um corpo que chame a atenção

dos outros sujeitos, enquanto que os objetivos expostos pelos indivíduos adolescente e

adulto foram voltados à forma estrutural do corpo, que também implica em sua imagem

pessoal: “então... gosto de malhar. Vou na academia por saúde e para buscar uma boa

forma. Auxilio em uma academia, pessoas fazendo os exercícios” (ADOLESCENTE

ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 16h30min). Para o sujeito adulto, a importância

também está em um corpo que apresenta-se bem e, assim como o indivíduo adolescente,

tenha a saúde como aspecto secundário: “bom, eu vou mais por estética, pra ter um

corpo legal e em forma. Mas também faço os exercícios porque faz bem para a mente e

pra saúde” (ADULTO ENTREVISTADO, 23/05/2014, às 19h00min). Os três

indivíduos entrevistados (jovem, adolescente e adulto), relataram ter um gasto mensal

entre cento e setenta e oitocentos reais com mensalidades, suplementos alimentares,

dietas e outros meios que utilizam para alcance dos seus objetivos dentro da academia

de musculação. Essas práticas, juntamente com os relatos acerca da imagem, dos

sujeitos podem ser aplicadas ao que Adorno chama de “Indústria Cultural”.

A indústria cultural é um termo que faz referência também à cultura de massa,

sendo este termo substituído por aquele, pois conforme Adorno (1978) o uso da

expressão “cultura de massa” poderia levar ao entendimento de que era uma cultura

produzida pelos indivíduos (as massas) e não impostos a eles, como seria a intenção.

Adorno (2009), também ressalta que a indústria cultural realiza a criação de

necessidades, afim de ela mesma trazer a proposta de saná-las. O autor considera que

essa indústria promove em seus “consumidores” o desejo de satisfazer essas

necessidades através dos produtos oferecidos pela indústria cultural, ao mesmo tempo

que ela os “priva do que continuamente lhes promete (ADORNO, 2009, p. 21). Adorno

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(2009) ainda ressalta que a indústria cultural utiliza as imagens de realidades paralelas

como meio de motivação para o seu público, levando-o a querer assentar-se por meio

delas de sua própria realidade, reprimindo e sufocando as consciências.

Quanto mais sólidas se tornam as posições da indústria cultural, tanto mais

brutalmente esta pode agir sobre as necessidades dos consumidores, produzi-

las, guiá-las e disciplina-las, retirar-lhes até o divertimento. Aqui não se

coloca limite algum ao progresso cultural. Mas essa tendência é imanente ao

próprio princípio — burguês e iluminista — da diversão (ADORNO, 2009, p.

25).

A indústria cultural transforma a imagem em mercadoria, levando indivíduos a

consumirem a ideia de um “corpo ideal”. Como exemplo da criação de falsas

necessidades por parte da indústria e a produção de “mercadorias” para sanar essas

mesmas necessidades, temos a promoção de um corpo-modelo a ser alcançado pelos

indivíduos ao mesmo tempo que há a propagação de meios para esse alcance. Um dos

meios produzidos e promovidos pela indústria, em relação à busca pelo corpo ideal, é o

uso de suplementos alimentares por parte dos praticantes de exercícios físicos. Os

indivíduos jovem, adolescente e adulto, entrevistados nesse estudo de caso, relataram

fazer uso desses recursos. Um suplemento à base de proteína (Whey Protein) foi citado

de forma unânime, sendo que o gasto com esses meios varia entre cem e quatrocentos

reais. O indivíduo jovem relatou fazer uso de suplementos “dependendo da época e do

objetivo”. Os nomes citados por ele foram “creatina, oxy lite, pré-hormonal, whey,

hipercalórico, BCAA, glutamina, entre outros que já tomei. Tomo há uns 8 anos”

(JOVEM ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 18h00min). Enquanto que o sujeito adulto

relatou consumir “whey, glutmina, BCAA, wazy maxi e vitaminas. Há muitos anos,

mais ou menos uns 8. Tomo mais pra ganho de massa, mas acabam servindo pra outros

objetivos também” (ADULTO ENTREVISTADO, 23/05/2014, às 19h00min).

A indústria passa a apropriar-se de toda manifestação de cultura, como também

dos fenômenos sociais, transformando-os em produtos a serem consumidos e desejados

pelos indivíduos, sendo que nessa indústria os próprios indivíduos podem ser

mercadorizados, fazendo com que “as pessoas [sejam] reduzidas a meras coisas que

aqueles que delas dispõem podem colocá-las por um instante no céu para logo em

seguida jogá-las no lixo” (ADORNO, 2009, p. 27).

Uma das falas do indivíduo jovem pode ser considerada nesse aspecto de

mercadorização do indivíduo e nesse caso, o corpo. A pergunta feita a ele foi “você se

considera satisfeito com sua imagem?”. Sua resposta foi relacionada a imagem que tem

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de si mesmo, variando constantemente e gerando uma insatisfação que leva à uma falsa

necessidade de busca constante por modificações corporais: “não. Porque às vezes me

acho magro ou pequeno. Outros dias acho que ainda estou gordo. A gente nunca fica

satisfeito” (JOVEM ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 18h00min).

Relacionada à mesma pergunta acerca da satisfação com a imagem, o indivíduo

adolescente (2014) relatou também não estar satisfeito com sua imagem, tendo o

objetivo de fazer modificações nele até que chegue a um ideal que o satisfaça. Para a

mesma pergunta, o sujeito classificado como adulto ressaltou: “Não. Mesmo sabendo

que não existe corpo perfeito, sempre procuro buscá-lo” (ADULTO ENTREVISTADO,

23/05/2014, às 18h30min).

Dobord (2003) em sua obra “Sociedade do Espetáculo” faz considerações sobre

quando a imagem se transforma em mercadoria. Para ele, essa relação acontece por

meio do “fetichismo da mercadoria” no qual o fenômeno do “espetáculo” se dá de

forma mais completa (2003, p. 29). Debord ainda considera que o espetáculo seja a

apropriação absoluta da “vida social”, levando o corpo como mercadoria a um

“consumo alienado” (2003, p. 32). Sobre isso, Adorno (1947) observa que essa relação

do corpo como representação de um produto a ser vendido acontece através da criação

de “modelos ideais” que o promovam. Um exemplo disso é a valorização da imagem

dos “astros de cinema”, colocando-os em evidência suas formas corporais e que impacto

elas terão nos padrões de medidas globais, o que Debord associa com o que chama de

“sociedade do espetáculo”, sendo que “o espetáculo é uma permanente guerra do ópio

para confundir bem com mercadoria; satisfação com sobrevivência, regulando tudo

segundo suas próprias leis” (DEBORD, 2003, p. 34).

Dentro das dependências da indústria cultural, Adorno (2009) considera os

sujeitos desenvolvam um papel “ilusório” e representativo submetendo sua

individualidade em detrimento do coletivo e social, tendo importância dentro desta

apenas enquanto está devidamente sob controle dos interesses dessa indústria. O autor

observa que na representação do indivíduo, “a particularidade do Eu é um produto

patenteado, que depende da situação social e que é apresentado como natural”

(ADORNO, 2009, p. 33).

Em suas respostas à pergunta “o que mais influenciou a sua procura pela

musculação?”, os indivíduos jovem e adulto disseram que a influência de amigos foi o

fator que mais contribuiu. Na fala do sujeito classificado como jovem, podemos

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observar a visão deste em relação aos exercícios de musculação enquanto meio ou

possibilidade para integração social: “percebi que eles [seus amigos] estavam

desenvolvendo, ficando com mais músculos e com um corpo maneiro, então não quis

ficar para trás. Eu procurei fazer a mesma coisa que eles” (JOVEM ENTREVISTADO,

21/05/2014, às 18h00min).

Para Adorno, essa necessidade de integração social se dá através de uma

violência simbólica, por meio da qual há a criação de uma identidade do grupo através

da submissão dos indivíduos àquilo que o símbolo representa sendo que “diante do

poder universal, se transformam a vida e o rosto de todos os indivíduos, da estrela de

cinema até o último condenado” (ADORNO, 2009, p. 33). Segundo o autor, não há uma

imposição direta aos sujeitos para que se adequem aos padrões, mas uma ação de

controle indireta, levando o indivíduo à ideia de que ele tem a oportunidade de escolha,

mas que, caso não opte por juntar-se aos outros, sentir-se-á excluído e impotente. É

obrigado a considerar, anteriormente a sua “escolha” que “quem não se adapta é

massacrado pela impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do

isolado. Excluído da indústria, é fácil convence-lo de sua insuficiência” (ADORNO,

2009, p. 16). A influência da necessidade por aceitação social leva os indivíduos à um

“aprisionamento do corpo e da alma”, o que os leva a aceitarem todos os recursos

oferecidos pela indústria cultural sem nenhuma reflexão ou protesto (ADORNO, 2009).

Um dos meios mais utilizados pela indústria na propagação de ideologias e

princípios presentes na sociedade capitalista são os meios midiáticos. Há uma

estandartização do corpo através da indústria cultural, ou seja, a transformação deste em

produto, de forma que atendam às necessidades criadas por essa mesma indústria. Nesse

sentido, cinema e rádio atuam propagando ideologias criadas pela indústria cultural, não

fazendo isso de forma "mascarada", mas ressaltando as "necessidades sociais de seus

produtos" (ADORNO, 2009, p. 6).

A relação de mídia e difusão de ideais pode ser observada nas respostas dos

indivíduos jovem, adolescente e adulto à pergunta sobre quem prescrevia os exercícios

de musculação realizados por eles, os mesmos afirmaram ser eles próprios que

selecionam suas atividades físicas. O indivíduo jovem relatou que:

[...] por mim mesmo, através de umas pesquisas na internet que eu faço. Tem

um cara que fala de tudo pra virar “monstro”, ficar grande. Ele dá dicas de

exercícios, alimentação e eu pesquiso no site dele pra tudo isso. Faço dietas

para perda de gordura, que zeram os carboidratos, comendo pouca proteína.

Dieta “frango com batata doce” e clara de ovos (todos os dias durante dois

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meses). Para ganho de massa: comendo macarrão, arroz integral, abacate,

banana, carne, etc (todo dia durante dois meses). Faço 7 refeições diárias,

bem distribuídas. Quem faz as dietas é o mesmo profissional que monta os

exercícios no site (JOVEM ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 18h00min).

Uma resposta comum foi a busca por dicas de exercícios e dietas através da

internet.

São montados por mim, de acordo com minha necessidade. Pesquiso

exercícios na internet para algum grupo muscular e realizo os treinos. Tomo

Whey tem uns dois meses para ajudar no desenvolvimento do músculo. Não

quero ficar ‘grandão’, mas quero ter um corpo legal, forte (ADOLESCENTE

ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 16h30min).

O sujeito classificado como adulto relatou que houve uma orientação inicial por

parte do profissional de educação física presente na academia, mas que depois de sentir-

se mais familiarizado com os exercícios, passou a buscas por si próprio também.

No começo era [um professor de Educação Física que montava os

exercícios], mas agora que já peguei o jeito eu mesmo monto. Pesquiso em

alguns sites que dão dicas tanto de exercícios quanto de alimentação. Como

tô me formando em Educação Física, eu dou aula como personal (ADULTO

ENTREVISTADO, 23/05/2014, às 19h00min).

O acesso à internet está cada vez mais simples, de forma que uma parte dos

sujeitos encontra nesse meio um auxílio para sua prática. A pergunta é: de que forma

esse auxílio contribui para os indivíduos em uma prática não alienada? Essa fonte de

informação pode acabar por colaborar para o contrário, causando nos sujeitos o

fenômeno de semiformação, de modo que dominem as técnicas das práticas, mas esta

não acontece de forma consciente.

No terceiro capítulo de seu livro “Educação e Emancipação”, Adorno (1995)

expõe uma entrevista dada, juntamente com Hellmut Becker (presidente das Escolas

Superiores de Educação Popular da Alemanha) à Kadelbach. O assunto girou em torno

das relações dos meios de comunicação, especificamente a televisão, com a formação de

indivíduos. Para início da discussão do assunto, foi considerada a televisão e sua

influência nas escolas de formação para adultos. O autor considera dois significados de

formação quando se trata da televisão. Primeiro, coloca-se a televisão como instrumento

de formação cultural das pessoas, como pode acontecer, por exemplo, na televisão

educativa. Um segundo ponto a ser considerado é a função “deformativa” que esse meio

de comunicação assume, frente à sua influência na consciência dos indivíduos. O autor

ainda esclarece que não é contrário especificamente à televisão, mas faz crítica ao modo

como é usada para pregar ideologias (ADORNO, 1995, p. 75). Uma crítica aos

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extremos em relação a ver ou não televisão é feita por Adorno (1995), considerando que

há o grupo que diz não permitir o acesso em suas casas à esse meio de comunicação de

massa, enquanto há também aqueles que consideram-se “modernos” por verem

televisão. Para ele, o aspecto mais noci1vo em ver televisão não está na ação de vê-la,

mas na falta de preparo crítico em relação aos seus conteúdos. Adorno atribui à

televisão, como sua maior função, mais a transmissão de informação do que algo

relacionado à formação propriamente dita, sendo que a informação não seja apenas

“exposição de fatos”, mas a compreensão deles. (ADORNO, 1995, p. 78).

Relacionado à televisão como ideologia, expõe que

Em primeiro lugar, compreendo ‘televisão como ideologia’ simplesmente

como o que pode ser verificado, sobretudo nas representações televisivas

norte-americanas, cuja influência entre nós é grande, ou seja, a tentativa de

incutir nas pessoas uma falsa consciência e um ocultamento da realidade [...]

(ADORNO, 1995, p. 79).

O problema está nas representações falsas que a televisão faz de problemas reais.

Segundo ele, há nessa perspectiva um “mundo dos modelos de ‘vida saudável’, dando

aos homens uma falsa imagem do que seja a vida real”. Isso atribui ainda aos indivíduos

a responsabilidade por seu “sucesso” (ADORNO, 1995, p. 83).

Dentro dessa perspectiva os indivíduos se vêem responsáveis por adaptar-se aos

padrões corporais estabelecidos, considerando-se fracassados por não alcançarem esses

ideais de corpo e por isso insatisfeitos com sua imagem. Tal sentimento pode levar esses

sujeitos à busca por meios extremos afim de chegar a um “corpo perfeito” de maneira

mais acelerada. As “soluções” encontradas pelos indivíduos em busca de seu ideal de

corpo, podem ser desde a realização de dietas e consumo de suplementos alimentares

até o uso de substâncias anabolizantes, chegando a oferecer riscos à saúde.

Um estudo qualitativo realizado por Iriart e Andrade (2002) com indivíduos

usuários de esteroides anabolizantes, residentes na cidade de Salvador – BA, através de

entrevistas semiestruturadas, constatou que o motivo mais frequente em relação a

procura pela musculação foi o início de um trabalho para fisicultura4. Conforme os

autores, os sujeitos entrevistados relataram o desejo de possuir um corpo musculoso,

que chame a atenção de outros indivíduos e que sirva de inspiração. Para Iriat e Andrade

(2002, p. 1381), a ideia de alcançar um corpo tido como ideal, traz consigo a “vontade

4 Relativo à fisiculturismo, que é “Musculação que visa desenvolver os músculos, especialmente em

volume, praticada em geral com vistas a aprimorar a estética corporal”. Disponível em

http://www.dicio.com.br/fisiculturismo/ acessado em 18/06/2014.

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de crescer e se fortalecer subjetivamente”, trazendo aos indivíduos uma espécie de

compensação em relação à sua autoestima através da valorização de si mesmo e do

sentimento de valor aos olhos dos outros. Os autores ainda ressaltam que há uma

esperança por parte dos fisiculturistas de “Se [perceberem] como possuidores de um

corpo modelo, símbolo de masculinidade, admirado e invejado pelos homens, e

desejado pelas mulheres” (IRIART; ANDRADE, 2002, p. 1381).

Quando questionados à respeito do uso de esteroides anabolizantes (se já usaram

ou consideraram a possibilidade), os indivíduos adolescente e adulto, praticantes de

musculação na cidade de Corumbá – MS, relataram já ter considerado a possibilidade.

Na fala no sujeito adulto: “Já pensei em tomar pra alcançar meus objetivos. Queria um

corpo musculoso e essa era a melhor forma pra alcançar” (ADULTO

ENTREVISTADO, 23/05/2014, às 19h00min.). O indivíduo adolescente relatou ter

considerado a possibilidade de uso das substâncias, mas não o fez por considerações de

saúde: “Já. Mas percebi que não era saudável, tem muito efeito colateral. Mesmo que

seja lento o processo de crescimento, agora prefiro malhar mesmo e tomar algum

suplemento pra ajudar, mas nada de ‘bomba’” (ADOLESCENTE ENTREVISTADO,

21/05/2014, às 16h30min).

Enquanto que o sujeito jovem disse já ter feito o uso de esteroides anabólicos.

Sim. Tomei para desenvolver a musculatura mais rápido. Não tive nenhum

efeito colateral, mas depois eu parei porque vi que dava pra conseguir um

corpo legal malhando, tomando suplemento e me alimentando bem. Não

tenho mais vontade de tomar, só que não condeno quem toma também

(JOVEM ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 18h00min.).

Podemos considerar que esse fato seja o ápice na “racionalidade irracional”,

levando o sujeito a fazer uso de uma substância, consciente de que terá efeitos sobre sua

saúde, renunciando-a em favor do valor que traz o fetichismo do “corpo perfeito” que

tem uma ligação com a emancipação relacionada à própria saúde do sujeito.

Para Horkheimer (2010, p. 133), essa irracionalidade caracteriza-se racional

quando “a crise da razão se manifesta na crise do indivíduo, por meio da qual se

desenvolveu". Para o autor, houve um “embrutecimento” da razão através de uma

concepção de preservação do “eu”, embora considere que este não exista mais para isso

seja feito.

O princípio da irracionalidade racional pode ser aplicado ao uso de substâncias

anabolizantes por indivíduos praticantes de musculação, por apresentar traços

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característicos desse princípio. Ao considerar o uso dos esteroides anabólicos, os

indivíduos parecem desconsiderar sua própria saúde e o risco que eles oferecem à vida.

Dentro da perspectiva de irracionalidade racional, “a individualidade pressupõe o

sacrifício voluntário da satisfação imediata em nome da segurança, da manutenção

material e espiritual de sua própria existência” (HORKHEIMER, 2010, p. 134). Essa

satisfação em relação a um ideal de corpo, foi projetada pelos indivíduos em um ideal

de imagem/corpo a ser alcançado. Para eles, um corpo ideal seria: “um corpo completo

(100% de saúde, um corpo trabalhado em termos de musculatura, densidade, volume,

simetria), no meu caso, 95 kg, 45 de braço, 72 de quadríceps, um corpo que chame

atenção” (JOVEM ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 18h00min), enquanto que para o

sujeito adolescente, um corpo “não muito magro, mas também não muito gordo. Corpo

com músculos, sem diminuir muito meu percentual de gordura. Não pretendo diminuir

muito” (ADOLESCENTE ENTREVISTADO, 21/05/2014, às 16h30min). Já para o

indivíduo adulto, um corpo ideal consiste em “boa quantidade de massa muscular com o

mínimo possível de gordura e bem simétrico, com todas as partes proporcionais e bem

distribuídas” (ADULTO ENTREVISTADO, 23/05/2014, às 19h00min).

Finalmente, vários conceitos presentes na Escola de Frankfurt foram

apresentados nessa seção. Mas afinal, qual a relevâncias destes se aplicados à prática do

profissional de Educação Física?

Essas reflexões se fazem relevantes quando consideramos o profissional de

educação física na orientação e influência das práticas corporais, e subjetivamente

sociais dos indivíduos. É essencial que os indivíduos não considerem as práticas

corporais isoladas de aspectos característicos do contexto social e econômico em que

elas estão presentes. Há interesses por trás de cada fenômeno, sendo que quando há o

desenvolvimento ou estímulo, de forma que desconsidere-se esses interesses, em relação

às atividades físicas, elas acabam por acontecer no plano de alienação dos indivíduos.

Adorno (1995) em seu livro Educação e Emancipação, faz algumas observações

com relação ao sentido do tema “Educação, para quê?”. O autor relata que essa pergunta

tem o intuito de trazer discussões acerca de “para onde a educação deve conduzir?”,

chegando ao objetivo educacional central (ADORNO, 1995, p. 138). Complementando

seu relato, esclarece sobre sua concepção de educação como sendo

[...] Não evidentemente a assim chamada modelagem de pessoas, porque não

temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior; mas também não

a mera transmissão de conhecimentos [como característica de coisa morta],

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mas a produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive da maior

importância política; sua ideia, se é permitido dizer assim, é uma exigência

política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas

operar conforme seu conceito, demanda de pessoas emancipadas”

(ADORNO, 1995, p. 140).

O autor ainda faz crítica à atitude antidemocrata, sendo aquela que se opõe aos

princípios de emancipação e à “decisão consciente e independente de cada pessoa em

particular” (ADORNO, 1995, p. 141).

Podemos dizer que nesse sentido, podemos dizer que o profissional de educação

física não deve desprezar o aspecto pedagógico d sua prática, sabendo que lida direta ou

indiretamente com as relações dos homens. Enquanto o professor estiver contribuindo

para a semiformação dos indivíduos, agindo de forma inconsciente em sua prática, e

ocultando-se diante das pressões exercidas através dos princípios da indústria, estará

trazendo também no sentido daquilo que Adorno (1995) chama de “barbárie” através da

educação. Para ele, a barbárie se constitui em atos e pensamentos não civilizados,

pessoas que encontram “atrasadas” em relação à seu próprio processo de civilização. O

autor ainda considera que, além disso, esses indivíduos também se encontram “tomadas

por uma agressividade primitiva, um ódio primitivo ou, na terminologia culta, um

impulso de destruição” (ADORNO, 1995, p. 154).

Houve também nesse estudo considerações feitas acerca da indústria cultural e a

venda da imagem, juntamente com a imposição de padrões corporais. Todos esses

fatores estão muito bem relacionados à prática do profissional de educação física, pois

estando ele consciente dessas implicações, não será conivente com princípios de

semiformação dos indivíduos.

Contra esses aspecto de semiformação é preciso que os educadores físicos

reflitam suas ações, estabelecendo um princípio de “inflexão em direção ao sujeito”

estabelecido por Adorno (1995) fazendo-o refletir em suas práticas à medida em que as

mesmas tem efeitos sobre outros.

A elaboração do passado como esclarecimento é essencialmente uma tal

inflexão em direção ao sujeito, reforçando a sua auto-consciência e, por esta

via, também o seu eu. Ela deveria ser concomitante ao conhecimento

daqueles inevitáveis truques de propaganda que atingem de maneira certeira

aquelas disposições psicológicas cuja existência precisamos pressupor nas

pessoas (ADORNO, 1995, p. 48).

Por fim, os conceitos estudados e formulados dentro de uma concepção crítica

da Escola de Frankfurt possuem relação com várias áreas de conhecimento das

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humanidades, aplicando-se também à educação física, considerando que esta trata

também das relações humanas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do presente estudo, procuramos discutir algumas relações existentes

entre corpo e sociedade, considerando a imagem que os indivíduos têm de si mesmos e

a maneira como muitas vezes veem seus corpos como uma espécie de “projeto

individual”. Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que enxergam nas relações

corporais a sua individualidade, elas não são resultado de vontades individuais, estando

sujeitas sim às influências de interesses coletivos. Há nesse sentido, a deturpação das

individualidades submetidas à uma identidade coletiva através de padrões corporais.

Esses padrões são constantemente difundidos pelos meios de mídia, resultando no

fenômeno de semiformação discutido nesse trabalho, e estão presentes nos interesses da

indústria cultural, levando indivíduos a procurarem sanar falsas necessidades criadas

por essa indústria, ao mesmo tempo que ela mesma produz os meios para satisfação

dessas necessidades. Dentro da indústria cultural, tudo vira mercadoria. Dessa forma, há

uma mercadorização do corpo, afim de que este enquanto mercadoria atenda aos anseios

causados pela busca do “corpo perfeito”, fazendo com que os indivíduos sintam-se

excluídos e insatisfeitos caso não o possuam.

A busca desenfreada por atender aos padrões corporais estabelecidos, pode levar

o indivíduo a uma “irracionalidade da razão”, fazendo com que utilize meios que

ofereçam riscos, inclusive à própria vida, em nome do alcance de um padrão estético.

Em relação aos objetivos iniciais a serem alcançados nessa pesquisa,

constatamos que a preocupação com a estética e o alcance de um ideal de corpo

fetichizado está mais presente na juventude, estando os indivíduos dispostos a lançar

mão de vários meios afim de encaixar-se nos padrões corporais exigidos por uma

cultura massificada. Essa constatação pode ser considerada através das falas dos

indivíduos entrevistados - adolescente, jovem e adulto - que disseram ter utilizado, ou

pensado na possibilidade, de esteroides anabolizantes para alcançar o “corpo ideal”

também relatado por eles.

Pudemos observar uma insatisfação com a imagem nos indivíduos adolescente,

jovem e adulto, não alcançando os sujeitos classificados como criança e idoso, que,

através de seus relatos, mostraram não estar buscando um ideal de corpo a ser alcançado

por eles.

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Foi constatado também nesse estudo a visão da juventude sobre o alcance do

corpo ideal como forma de aceitação social, sendo que o fator relatado como o mais

influente sobre a procura pelos exercícios de musculação foi a influência de amigos.

Além disso, observamos que para as crianças, através do indivíduo entrevistado, não há

ainda uma “imposição” de padrões corporais, não ocupando esse fator a preocupação

desses indivíduos, enquanto que para indivíduos idosos o maior motivador para práticas

de atividades físicas é a promoção e manutenção da saúde, também não estando

preocupados com aspectos estéticos.

O profissional de educação física, no âmbito de sua prática, não deve esquecer a

responsabilidade pedagógica que é a ela atribuída, levando em conta as relações

humanas e a formação de indivíduos emancipados. Deve ter em mente as implicações

sociais dos fenômenos, de forma que haja conscientização e esclarecimento de uma

prática não alienada, sendo que não domine apenas a técnica dessa prática, mas saiba

quais fatores a influenciam, trazendo meios dessas reflexões a emancipação.

Esperamos com esse trabalho contribuir para formação de professores,

motivando a discussão da pesquisa nessa área dentro também das reflexões da educação

física a respeito desses conceitos, sabendo que não se esgota nessas análises. Por fim,

esperamos também que essa pesquisa possa colaborar com outras investigações sobre o

fenômeno por nós estudado, assim como expor a possibilidade de análise desse

fenômeno a partir da visão da teoria crítica ou escola de Frankfurt.

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APÊNDICE I – ROTEIRO DE PERGUNTAS DA ENTREVISTA

Questionário a ser aplicado aos praticantes de musculação em diferentes faixas etárias.

1- Quais os motivos que te levam a fazer academia?

2- Desde quando você pratica exercício?

a) Menos de um ano

b) Entre um e dois anos

c) Três e quatro anos

d) Mais de quatro anos

3- Quantas vezes por semana você frequenta a academia?

a) Uma vez por semana

b) Duas vezes por semana

c) Três ou quatro vezes por semana

d) Cinco vezes ou mais

4- Que tipo de treno realiza? Por quê?

a) Aeróbico

b) De força

5- Os exercícios são montados e orientados por um profissional de Educação

Física?

a) Sim

b) Não

c) Apenas parte deles

6- O que mais influenciou a sua procura pela musculação?

a) Propagandas na televisão

b) Internet

c) Influência de amigos

d) Outro. Especificar __________________________ Por quê? (Para qualquer

resposta).

7- Toma algum tipo de suplemento alimentar? Qual? Há quanto tempo? Por quê?

8- Costuma fazer ou já fez dietas?

a) Sim . De qual tipo? Por quê?

b) Não. Por quê?

9- Você se considera satisfeito com sua imagem?

a) Sim. Por quê?

b) Não. Por quê?

10- Já teve algum tipo de distúrbio alimentar como Bulimia ou Anorexia Nervosa?

a) Sim.

b) Não.

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11- Alguma vez fez uso, ou ao menos pensou na possibilidade, de esteróides

anabolizantes? Por quê?

a) Sim.

b) Não.

12- Quanto tempo você gasta, em média, diariamente na academia?

a) Uma hora

b) Duas horas

c) Mais de duas horas

13- Qual seu gasto mensal com mensalidade, suplementos e outros?

14- Pra você, o que seria um “corpo ideal”?

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APÊNDICE II – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

CRIANÇA, 12 anos.

1- “Gosto de vir pra academia junto com minha mãe e irmão mais velho. Venho

mais pra me divertir mesmo (...) não ligo muito pra musculação porque prefiro

futsal. Participo de uma ‘escolinha de futsal’ da minha escola”.

2- “Já venho tem só meses mesmo. Venho mais pra acompanhar e não ficar

sozinho em casa”.

3- “Ah, a gente vem segunda, terça e quinta porque na segunda minha mãe me leva

pra escolinha depois”.

4- “O que que é isso?” Depois de explicado: “Não sei qual é. Minha mãe que fala

os exercícios pra mim”.

5- “Tem, mas ela fica mais com o pessoal do peso lá na outra parte. Minha mãe

mesmo que vai mandando qual eu tenho que fazer”.

6- “É, eu venho mais pra acompanhar minha mãe e meu irmão mesmo. Meu pai

trabalha e eu fico com eles. Quando eles vem, eu também venho”. Outro: Serve de

companhia aos membros da família, que vão à academia. O indivíduo frequenta o

espaço para que não fique sozinho em casa.

7- “Nem sei o que é isso (risos)”.

8- “Não. Só não como muitos doces. Minha mãe cuida da minha alimentação”.

9- “Aham. Meu corpo não me incomoda e pratico outros exercícios para ser

saudável e também pra poder jogar melhor. Gosto mais do futsal”.

10- Não.

11- “Já ouvi falar disso, mas não sei direito o que é também. Só sei que os caras

usam pra ficar saradão, mas não sei quem já usou. Meu irmão fala que não pode

usar porque é proibido.”

12- “às vezes minha mãe vem 16:00 e vai embora 18:30 e eu espero com ela”.

13- Não sei.

14- Não sei.

ADOLESCENTE, 15 ANOS.

1- “Então... gosto de malhar. Vou na academia por saúde e para buscar uma boa

forma. Auxilio em uma academia, pessoas fazendo os exercícios”.

2- “Pratico tem uns dois anos e meio”;

3- “Cinco vezes por semana. De segunda à sexta”.

4- “Faço treinamento aeróbico e de força. O aeróbico pra ter melhor

condicionamento cardiorrespiratório melhor e o de força pra ter melhor

desempenho localizado”.

5- “São montados por mim, de acordo com minha necessidade. Pesquiso exercícios

na internet para algum grupo muscular e realizo os treinos”.

6- “Fui pra academia porque sempre me interessei por essa área. Quero trabalhar

nisso”.

7- “Tomo Whey. Tem uns dois meses. Para ajudar no desenvolvimento do

músculo. Não quero ficar ‘grandão’, mas quero ter um corpo legal, forte”.

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8- “Sim, eu faço. Diminuição do carboidrato, também às vezes à base de frutas e

proteínas. Já faço isso há uns 4 meses mais ou menos”.

9- “Ainda não. Quero ficar definido, ainda tenho barriga”.

10- Não.

11- “Já. Mas percebi que não era saudável, tem muito efeito colateral. Mesmo que

seja lento o processo de crescimento, agora prefiro malhar mesmo e tomar algum

suplemento pra ajudar, mas nada de ‘bomba’”.

12- De 1h e meia à 2h.

13- R$ 170,00

14- “Não muito magro, mas também não muito gordo. Corpo com músculos, sem

diminuir muito meu percentual de gordura. Não pretendo diminuir muito”.

JOVEM, 28 anos.

1- “No começo meu objetivo era ter um corpo aproximado de um fisiculturista, mas

depois de um tempo percebi que minha genética era desfavorável e o custo

financeiro para manter uma dieta e suplementação era muito alto. Hoje procuro

ter um corpo bonito, atraente e com saúde”.

2- “Mais de quatro anos sem parar. Desde que comecei não parei mais”.

3- Cinco vezes por semana.

4- “De força. Pra desenvolver a hipertrofia muscular”.

5- “Não. Por mim mesmo, através de umas pesquisas na internet que eu faço. Tem

um cara que fala de tudo pra virar “monstro”, ficar grande. Ele dá dicas de

exercícios, alimentação e eu pesquiso no site dele pra tudo isso”.

6- “Influência de amigos. Percebi que eles estavam desenvolvendo, ficando com

mais músculos e com um corpo maneiro, então não quis ficar para trás. Eu

procurei fazer a mesma coisa que eles”.

7- “Sim, tomo. Dependendo da época e do objetivo. Creatina, Oxy lite, pré-

hormonal, Whey, hipercalórico, BCAA, glutamina, etc. Tomo há uns 8 anos”.

8- “Sim, faço. Dietas para perda de gordura, que zeram os carboidratos, comendo

pouca proteína. Dieta “frango com batata doce” e clara de ovos (todos os dias

durante dois meses).Para ganho de massa: comendo macarrão, arroz integral,

abacate , banana, carne, etc (todo dia durante dois meses). Faço 7 refeições

diárias, bem distribuídas. Quem faz as dietas é o mesmo profissional que monta

os exercícios no site”.

9- “Não. Porque às vezes me acho magro ou pequeno. Outros dias acho que ainda

estou gordo. A gente nunca fica satisfeito”.

10- Não.

11- “Sim. Tomei para desenvolver a musculatura mais rápido. Não tive nenhum

efeito colateral, mas depois eu parei porque vi que dava pra conseguir um corpo

legal malhando, tomando suplemento e me alimentando bem. Não tenho mais

vontade de tomar, só que não condeno quem toma também”.

12- “Fico uma hora na academia, todos os dias”.

13- “Fica em torno de 300,00 por mês. Isso porque não tomo os suplementos ao

mesmo tempo. Se tomasse seria bem mais. Os suplementos são muito caros no

Brasil, por isso eu geralmente compro na Bolívia, porque eles não pagam

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impostos e lá fica muito mais barato. Tem Whey aqui no Brasil que chega a

custar R$ 400,00”.

14- “Ah! Sei lá, mas pra mim eu acho que seria um corpo completo (100% de saúde,

um corpo trabalhado em termos de muscularuta, densidade, volume, simetria),

no meu caso, 95 kg, 45 de braço, 72 de quadríceps, um corpo que chame

atenção”.

ADULTO, 32 anos.

1- “Bom, eu vou miais por estética, pra ter um corpo legal e em forma. Mas

também faço os exercícios porque faz bem para a mente e pra saúde”.

2- Mais de quatro anos.

3- Cinco vezes ou mais

4- “Eu faço os dois tipos, um pra cada objetivo. Aeróbico pra ter um bom sistema

cardiorrespiratório e corpo em boa forma. O de força eu faço pra ganho da

massa muscular”

5- “No começo era, mas agora que já peguei o jeito eu mesmo monto. Pesquiso em

alguns sites que dão dicas tanto de exercícios quanto de alimentação. Como to

me formando em Educação Física, eu dou aula como personal”.

6- “Resolvi malhar quando eu meus amigos resolvemos que queríamos ter um

corpo melhor”.

7- “SIM! WHEY, GLUTMINA, BCAA, WAZY MAXI, VITAMINA E. Há muitos

anos, mais ou menos uns 8. Tomo mais pra ganho de massa, mas acabam

servindo pra outros objetivos também”.

8- “Faço pra perda de gordura e ganho de massa magra”.

9- “Não. Mesmo sabendo que não existe corpo perfeito, sempre procuro buscá-lo”.

10- Não.

11- “Já pensei em tomar pra alcançar meus objetivos. Queria um corpo musculoso e

essa era a melhor forma pra alcançar”.

12- Uma hora.

13- “Na mensalidade cem reais, em dietas mais ou menos quatrocentos reais e os

suplementos uns trezentos”.

14- “Seria um corpo com uma boa quantidade de massa muscular com o mínimo

possível de gordura e bem simétrico, com todas as partes proporcionais e bem

distribuídas”.

IDOSO, 64 anos.

1- “Gosto dos exercícios porque fazem bem à minha saúde e meu médico indicou

para que eu fizesse, para que amenizasse minha osteoporose. Também

acompanho minha esposa, que tem problemas de coração. Além da musculação

a gente faz hidroginástica duas vezes por semana”.

2- “Há mais ou menos três anos, quando tive o diagnóstico de osteoporose. Desde

que comecei venho sentindo alívio nas dores, principalmente dos joelhos”.

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3- “Frequento a academia duas vezes por semana, às terças e quintas”.

4- “De força, para avanço na melhora da doença que eu tenho. Sinto melhoras

através dos exercícios recomendados”.

5- “Sim, são montados pela professora, mas ela não acompanha a gente durante

eles. Desde que estou aqui, vejo os exercícios mudarem só quando a gente

enjoa”.

6- “Procurei a musculação porque o médico recomendou e a escolha da academia

aconteceu por causa de amigos, que me indicaram. Achei que traria benefícios

sair de casa um pouco e procurar um profissional”.

7- “Não. Me alimento bem, e consulto a nutricionista daqui da academia”.

8- “Já fiz muitas vezes, mas hoje só sigo as recomendações da nutricionista, mas

não deixo de comer algumas coisas gordurosas, doces e minha cervejinha”.

9- “Sim, apesar de achar que poderia ter me cuidado melhor antes e não precisar vir

fazer musculação porque o médico mandou”.

10- Não.

11- “Não sei o que é”.

12- Uma hora por dia.

13- “R$ 90 de mensalidade, e mais R$ 30 quando faço consulta com a nutricionista

daqui”.

14- “Um corpo com saúde, pele boa, que mostra que a pessoa é mais feliz e ativa até

quando tem mais idade que nem eu”.

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ANEXO I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS

SUJEITOS ENTREVISTADOS

Campus do Pantanal

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a),

Gostaríamos de contar com sua colaboração respondendo a entrevista e questionário para a Pesquisa de

Trabalho de Conclusão de Curso intitulada provisoriamente “Motivos pela busca de academias de

musculação na cidade de corumbá – ms: uma análise teórico crítica e suas relações com a educação

física”, junto ao Curso de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do

Pantanal.

Declaramos que os dados da pesquisa são sigilosos e que identidade do respondente será

preservada, não havendo qualquer identificação do participante. Em qualquer etapa do estudo, você terá

acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas.

Declaramos, ainda, que se em algum momento decidir deixar de participar do estudo, isso lhe

será permitido sem qualquer prejuízo ao trabalho que exerce na instituição; também é seu o direito ser

mantido atualizado sobre dos resultados da pesquisa. A participação na pesquisa não prevê remuneração

financeira, bem como não haverá despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo ou em

sua desistência, tampouco indenizações.

Importante esclarecer que a sua participação nessa pesquisa é voluntária e de extrema relevância

na busca da compreensão do objeto investigado. Informamos, ainda, que esse estudo será apresentado na

forma de TCC, bem como poderá ser publicado como livro e/ou capítulos de livros; ser apresentado em

congressos científicos; e/ou publicados em periódicos, bem como haver desdobramentos.

_________________________ _________________________________

XXXXXXXXXXXX Prof. Dra. XXXXXXXXXXXX

Pesquisador (a) Orientador (a)

Tel.XXXXXXX Tel. XXXXXX

e-mail: XXXXXXXXXXX e-mail: XXXXXXXXXXXXXXX

DECLARAÇÃO DE ACEITE DO VOLUNTÁRIO: Declaro ter conhecimento da finalidade do presente

estudo e autorizo a uso das informações para fins exclusivos do estudo citado.

_________________________ __________________________

Nome: Nome:

Voluntário pesquisado Pai ou responsável

Tel: Tel:

e-mail: e-mail:

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ANEXO II – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO

PROPRIETÁRIO DO ESTABELCEIMENTO PESQUISADO

Campus do Pantanal

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a),

Gostaríamos de contar com sua colaboração respondendo a entrevista e questionário para a

Pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso intitulada provisoriamente “Motivos pela busca de

academia de musculação na cidade de corumbá – ms: uma análise teórico crítica e suas relações

com a educação física”, junto ao Curso de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do

Sul, Campus do Pantanal.

Declaramos que os dados da pesquisa são sigilosos e que identidade do respondente será

preservada, não havendo qualquer identificação do participante. Em qualquer etapa do estudo, você terá

acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas.

Declaramos, ainda, que se em algum momento decidir deixar de participar do estudo, isso lhe

será permitido sem qualquer prejuízo ao trabalho que exerce na instituição; também é seu o direito ser

mantido atualizado sobre dos resultados da pesquisa. A participação na pesquisa não prevê remuneração

financeira, bem como não haverá despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo ou em

sua desistência, tampouco indenizações.

Importante esclarecer que a sua participação nessa pesquisa é voluntária e de extrema relevância

na busca da compreensão do objeto investigado. Informamos, ainda, que esse estudo será apresentado na

forma de TCC, bem como poderá ser publicado como livro e/ou capítulos de livros; ser apresentado em

congressos científicos; e/ou publicados em periódicos, bem como haver desdobramentos.

_________________________ _________________________________

XXXXXXXXXXXX Prof. Dra. XXXXXXXXXXXX

Pesquisador (a) Orientador (a)

Tel.XXXXXXX Tel. XXXXXX

e-mail: XXXXXXXXXXX e-mail: XXXXXXXXXXXXXXX

DECLARAÇÃO DE ACEITE DO VOLUNTÁRIO: Declaro ter conhecimento da finalidade do presente

estudo e autorizo a uso das informações para fins exclusivos do estudo citado.

_________________________ __________________________

Nome: Nome:

Responsável pelo estabelecimento Pai ou responsável

Tel: Tel:

e-mail: e-mail: