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JÉSSICA CAROLINE DE LIMA SILVA MARCELA MAXIMIANO SOZZO NATÁLIA NAKASHIMA TACQUES ALVIM AS CONTRIBUIÇÕES DA ATIVIDADE ASSISTIDA POR ANIMAIS NO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia sob a orientação da Prof.ª Me. Liara Rodrigues de Oliveira e orientação técnica da Profª Ma. Jovira Maria Sarraceni LINS - SP 2016

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JÉSSICA CAROLINE DE LIMA SILVA

MARCELA MAXIMIANO SOZZO

NATÁLIA NAKASHIMA TACQUES ALVIM

AS CONTRIBUIÇÕES DA ATIVIDADE ASSISTIDA POR ANIMAIS NO

DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Banca Examinadora

do Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium, curso de

Psicologia sob a orientação da Prof.ª

Me. Liara Rodrigues de Oliveira e

orientação técnica da Profª Ma.

Jovira Maria Sarraceni

LINS - SP

2016

Silva, Jessica Caroline de Lima; Sozzo, Marcela Maximiano; Alvim,

Natália Nakashima Tacques.

As contribuições da Atividade Assistida por Animais no

desenvolvimento psicossocial infantil / Jessica Caroline de Lima Silva;

Marcela Maximiano Sozzo; Natália Nakashima Tacques Alvim; – Lins,

2016.

76p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em

Psicologia, 2016.

Orientadores: Jovira Maria Sarraceni e Liara Rodrigues de

Oliveira.

1. Desenvolvimento Infantil. 2. Atividade Assistida por Animais. 3.

Contação de Histórias. I. Título.

CDU 159.9

JÉSSICA CAROLINE DE LIMA SILVA

MARCELA MAXIMIANO SOZZO

NATÁLIA NAKASHIMA TACQUES ALVIM

AS CONTRIBUIÇÕES DA ATIVIDADE ASSISTIDA POR ANIMAIS NO

DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL INFANTIL

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovada em: ____/______/_____

Banca Examinadora:

Prof(a) Orientadora: Liara Rodrigues de Oliveira

Titulação: Mestre em Psicologia da Educação, PUC-SP, Especialista da Área

da Saúde, HC-FMUSP; Docente Unisalesiano Lins.

Assinatura: _______________________________

1º Prof.(a): _____________________________________________________

Titulação: ______________________________________________________

______________________________________________________________

Assinatura: ________________________________

2º Prof.(a): _____________________________________________________

Titulação: ______________________________________________________

______________________________________________________________

Assinatura: ___________________

“Quando o homem aprender a respeitar até o

menor ser da criação, seja animal ou vegetal,

ninguém precisará ensiná-lo a amar seu

semelhante.”

Albert Shwweit

Dedico este trabalho aos meus avós Reinaldo e Maria José. Vocês são

tudo para mim. Não seria a mesma mulher e profissional sem a presença e

atenção nessa caminhada. Como já disseram em um diálogo breve, se hoje me

tornei carinhosa, sensível e comprometida, foi devido à presença ativa desses

fatores em meu desenvolvimento, e não tenho dúvidas dessa afirmação. Eu

amo vocês.

Aos meus pais João e Cristina e minha irmã Julia pelo orgulho sempre

demostrado por mim, pelo incentivo e capacitação no decorrer dos anos e pela

autonomia me designada, deixando-me arriscar e vencer batalhas em que a

vida me determinou.

Ao meu noivo Leandro por me acompanhar desde o primeiro dia de aula

até o último, fisicamente e emocionalmente, sendo parceiro, amigo,

compreendendo minhas variações de humor, tensão e também sentindo

minhas alegrias e conquistas. Deus sabe o quanto te quero bem.

Dedico aos meus amigos, que não foram muitos, mas sempre

essenciais, me mostrando potencial, confiança e fé.

Jéssica Caroline de Lima Silva

Dedico a todos os animais que já passaram em minha vida, mostrando o

verdadeiro amor, a lealdade e sinceridade no olhar. Dedico em especial ao

Teddy (in memoriam), pois foi a partir dele que tudo começou, quando ele me

olhou, com aqueles olhos tão intensos me transmitindo paz, mostrando que eu

não estava sozinha, que ele estaria ali me lambendo quando estava triste, me

cheirando quando chegava da rua, pulando e correndo de um lado para outro

quando o portão se abria, todas essas sensações são únicas, que bom seria se

todos se sentissem assim, queria levar um pouco disso para as pessoas a

sensação de ser amada por um ser tão puro.

Marcela Maximiano Sozzo

Dedico este trabalho de conclusão de curso a minha amada tia avô Leila

Abbud (in memoriam) que me faz falta todos os dias, e que me fez questionar

se realmente valia a pena concluir esse curso sem poder vê-la no dia da

apresentação desse trabalho, dedico todo o meu esforço e comprometimento

para com essa profissão à ela, que sempre me impulsionou com muito carinho

e respeito, me mostrando que posso chegar aonde quiser.

Ao meu padrinho Alexandre Abbud Sato (in memoriam) que sempre se

esforçou para me presentear, mas sem ter muito tato com meninas de seis

anos me presenteava com quebra cabeças e livros, que hoje eu entendo,

foram fundamentais para meu desenvolvimento intelectual, dedico esse

trabalho a ele que me mostrou o que era ser um psicólogo quando dedicou sua

tese de mestrado à mim, que na época não entendi a grandiosidade do gesto.

Natália Nakashima Tacques Alvim

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por ser meu alicerce e guia, não

desistindo de mim, me proporcionando segurança para a realização de um

trabalho tão bonito e gratificante.

Agradeço a minha família e ao meu noivo Leandro pelo apoio e

reconhecimento no decorrer dos cinco anos de estudo. Sou grata pela

compreensão de minha ausência devido aos estudos e pela força. Vocês são a

razão da minha existência pessoal e profissional.

Agradeço a minha amiga Rielle, por estar presente, me valorizando e

reconhecendo meu trabalho, estando sempre determinada a me ajudar e me

deixando ajuda-la. Nossa amizade de anos e anos se estenderá a eternidade.

Agradeço a todos os professores que obtive no curso pela fundamentação

indispensável. Um agradecimento especial ao meu professor e mestre Oscar

Xavier de Aguiar, que fez e sempre fará a diferença em minha vida, me

ajudando e ressaltando minhas aptidões, fazendo eu me apaixonar cada vez

mais pela Psicologia através de suas falas, brincadeiras, mensagens, leituras e

presença. Obrigada Mestre.

Agradeço as minhas companheiras e amigas desse trabalho de

conclusão de curso Marcela e Natália, por me darem a chance de fazer parte

deste lindo sonho, mostrando um amor incondicional aos animais e deixando

que eu aprendesse e vivesse desse amor de uma forma tão sensível e

verdadeira. Nossa parceria me ajudou a crescer, a me auto conhecer dentro da

psicologia e da nossa profissão. Obrigada por tudo, vocês fazem parte dessa

vitória.

Agradeço a minha orientadora Liara por todo ensinamento. Sou grata

pelo reconhecimento e pelas experiências de um longo percurso que foi tão

prazeroso. Obrigada por nos mostrar a capacidade que temos e por mostrar o

lado positivo e delicado das coisas. O nosso time e parceria foi um sucesso.

Jéssica Caroline de Lima Silva

Agradeço ao meu maior mestre Deus que me deu o dom da vida, está

comigo em todos os dias e permitiu que tudo acontecesse.

Aos meus pais Sônia e Marcelo pelo amor incondicional, incentivando e

apoiando nas horas difíceis onde as lagrimas não se continham, mas sempre

mostraram que é possível dar a volta por cima, me fortalecendo e me

mostrando que as coisas simples são essenciais em nossas vidas, que na

natureza podemos encontrar o equilíbrio que precisamos para recomeçar e se

sentir bem, que o contato com o mato junto com o canto dos pássaros traz paz.

A minha irmã Leticia o único e verdadeiro ser que me mostrou o amor

sem limites, sempre me apoiando, concordando com meus ideais, me

inspirando ser uma pessoa melhor a cada dia, desde o momento em que

nasceu percebi que eu serviria de exemplo e que meus passos seriam

seguidos, por um ser que não sabia nada da vida.

Aos meus avós que sempre me olharam com esperança, mostrando que

cada momento é único e deve ser aproveitado, que a felicidade existe e que

nunca é tarde para recomeçar.

Aos meus tios Angélica e Marcio que me proporcionaram o contato

direto com os animais desde pequena e que me ajudaram no trabalho de

conclusão de curso emprestando carinhosamente os animais de sua loja para

as intervenções feitas durante os encontros percorridos.

Ao Victor, por sempre estar ao meu lado me apoiando e incentivando,

me mostrando que sou capaz, pelas noites em claros onde o medo tomava

conta, pelos momentos de felicidade onde a alegria era contagiante, pela sua

paciência nos momentos difíceis, por me entender e por sempre estar ali

tentando me acalmar e me mostrando que não era tão ruim assim, por ser um

marido dedicado e prestativo, por ser o Victor um ser com a alma tão boa.

As minhas amigas Natalia e Jessica, que estiveram presente durante os

anos de faculdade, por estarem presentes em todo o trabalho, fazendo com

que tudo se torna-se alegre e divertido, pelas aventuras, pela paciência, pelos

momentos de gargalhadas e medos.

A orientadora Liara, pela união de duas paixões, animais e psicologia,

mostrando que daria certo desde o começo sempre incentivando, passando

tranquilidade e calma nos momentos de euforia e tensão.

Marcela Maximiano Sozzo

Agradeço a Deus, que me guiou por todos os caminhos me dando o dom

do aprendizado, sem ele minhas vitórias seriam apenas um castelo de areia.

Aos meus pais Marcos e Goreti pelo amor e deposito de confiança para

com o meu sonho. Obrigada por me ensinarem tudo o que sou e tudo que não

quero ser, por me deixarem livre para escolher.

A minha irmã Isabella por conseguir aguentar meus episódios de raiva

nos momentos finais desse trabalho, me dando espaço para respirar. Obrigada

por ser minha companheira na vida.

Aos meus avôs maternos Mitsuo e Francisca por despertarem em mim o

amor e o respeito incondicional aos animais.

Aos meus avôs paternos Mirna e Benedito (in memoriam) por me

cuidarem e cobrirem de carinho, me ensinando que o afeto nos leva ao infinito.

Aos meus tios avôs Odete e Miguel por serem os meus referenciais de

docência, ao tio Miguel que de forma paternal disponibilizou todos os meus

dias sentada dentro de uma sala de aula, onde aprendi muito e me desenvolvi

como um ser pensante.

Às minhas companheiras, Marcela por ter me acolhido de forma

excepcional mostrando-me que não é apenas de laços sanguíneos que se

constitui uma família, companheirismo é fundamental. Jéssica por chegar

docemente e mostrar do que era capaz me fazendo ter orgulho de sua

amizade.

A minhas orientadoras Liara, que com simplicidade ama e respeita os

animais possibilitando que esse trabalho se concluísse de forma tranquila e a

Jovira por sempre estar disposta a nos amparar, nos colocando no rumo certo,

sempre que o desespero tomava conta.

A todos os bichos que passaram e passarão em minha vida, deixando

suas marcas e lições de lealdade e amor.

Natália Nakashima Tacques Alvim

RESUMO

Essa pesquisa retrata as contribuições da atividade assistida por animais ao desenvolvimento psicossocial infantil. A atividade assistida por animais tem um papel importante, visa uma distração e recreação melhorando a qualidade de vida, proporcionando o desenvolvimento psicossocial, através de atividades lúdicas, dinâmicas, historias, trazendo muitos benefícios para o desenvolvimento. Tendo como objetivo propiciar e explorar a vivência pelo contato das crianças com animais dessensibilizados, o estudo foi desenvolvido com 18 alunos entre 3 e 4 anos, do maternal II de uma creche localizada no município de Lins/SP. Inicialmente foi realizada uma entrevista com a professora responsável pela sala, objetivando coletar dados relacionados ao comportamento e interação das crianças, bem como sobre suas características psicossociais. Após este levantamento, foram realizados cinco encontros com duração de 50 minutos. No decorrer das intervenções as crianças tiveram contato com os seguintes animais: coelho, tartaruga, pintinho, porco e cachorro, os quais em todas as interações estiveram acompanhados de uma história infantil que abarcasse valores, sentimentos, imaginação e fantasia, seguida de atividade lúdica para sintetizar a temática abordada. A interação verificada durante os encontros foi registrada pelas pesquisadoras, assim como os comportamentos manifestados pelas crianças ao longo das vivências. Somando-se a esse registro, realizou-se a entrevista final com a professora, a fim de investigar sua percepção acerca das contribuições provocadas pela intervenção. Constatou-se assim, que a presença dos animais alcançou uma dinâmica satisfatória, favorecendo a ocorrência de valores e atitudes positivas tais como a confiança, a cooperação, o senso de cuidado, higiene, afeto e sensibilidade dentro da relação proposta.

Palavras-Chave: Desenvolvimento Infantil. Atividade Assistida por Animas. Contação de Histórias.

ABSTRACT This research portrays the contributions of activity assisted by animals

with child psychosocial development. This type of intervention is the

spontaneous interaction mediated by animals, with the storytelling and fun

activities to promote positive feelings and attitudes, through the acquisition and

development of psychosocial, cognitive and affective skills. Focusing on the

propitiation and exploitation of living by contact with desensitized animals, the

study was conducted with 18 students between 3 and 4 years from a nursery

located in the city of Lins / SP. Initially held an interview with classroom teacher,

aiming to collect data related to the behavior and interaction of children and on

their psychosocial characteristics. After this survey, there were five meetings

lasting 50 minutes. During the intervention children had contact with such

animals: rabbit, turtle, chick, pig and dog, which in all interactions were

accompanied by a children's story that encompass values, feelings, imagination

and fantasy, then play activity to synthesize the theme. The interaction

observed during the meetings were recorded by the researchers, as well as the

behaviors manifested by children over the experiences. Adding to this record,

there was the final interview with the teacher in order to investigate their

perception of the contribution caused by the intervention. It was found that the

presence of animals reached satisfactory dynamics, favoring the occurrence of

positive values and attitudes such as trust, cooperation, sense of care, hygiene,

warmth and sensitivity within the tender relationship.

Keywords: Child development. Assisted by Animal activity. Storytelling.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAA: Atividade Assistida por Animais ABINPET: Associação Brasileira da indústria de produtos para animais de estimação AIDS: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida ATEAC: Terapias e Educação Assistida por Animais de Campinas FMVZ: Faculdade de Medicina Veterinária HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana INATAA: Instituto Nacional de Ações e Terapia Assistida por Animais ONGs: Organizações Não Governamentais PFC: Psicoterapia Facilitada por Cavalos TAA: Terapia Assistida por Animais USP: Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12

CAPÍTULO I – ATIVIDADE ASSISTIDA POR ANIMAIS.................................. 15

1 HISTÓRIA E ORIGEM DA AAA ................................................................. 15

2 Campos de atuação .................................................................................... 18

3 O que é AAA? ............................................................................................. 22

CAPÍTULO Il – REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................... 26

1 PENSAMENTO E LINGUAGEM ................................................................. 26

2 APRENDIZAGEM ....................................................................................... 29

3 EMOÇÃO E AFETIVIDADE ........................................................................ 33

CAPÍTULO III – RELAÇÃO HOMEM-ANIMAL ................................................ 37

1 RELAÇÃO HOMEM-ANIMAL ..................................................................... 37

2 RELAÇÃO ENTRE ANIMAIS E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ......... 40

3 AS CONTRIBUIÇÕES E BENEFÍCIOS ...................................................... 43

CAPÍTULO IV – O EXPERIMENTO ................................................................. 49

1 METODOLOGIA ......................................................................................... 49

2 RESULTADOS ........................................................................................... 53

3 DISCUSSÃO.............................................................................................. 56

CONCLUSÃO ................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 62

APÊNDICES ..................................................................................................... 65

ANEXOS ........................................................................................................... 73

12

INTRODUÇÃO

O tema abordado neste trabalho refere-se a Atividade Assistida por

Animais, que tem por definição o envolvimento pela visitação, recreação e

distração proporcionado pelo contato da criança com o animal, somado à

contação de histórias, e atividades lúdicas relacionadas aos animais

participantes das intervenções, os quais foram o coelho, tartaruga, pintinho,

porco e cachorro.

Destaca-se que a relação entre o ser humano e os animais acompanha

a história do desenvolvimento humano, tendo seus registros desde os tempos

mais remotos. De acordo com Dotty (2014 p.91) “nossa convivência com os

animais existe desde que o homem se reconhece na natureza, e que eles têm

trazido grande ajuda no decorrer do tempo.” Assim, a inserção dos animais na

atividade de contação de histórias é capaz de promover uma interação de

forma prazerosa.

A hipótese sugeriu verificar a qualidade dos benefícios para o

desenvolvimento psicossocial de crianças atendidas em uma instituição

escolar, no que tange às habilidades sociais, cognitivas e emocionais,

proporcionadas a partir da participação grupal em um programa de intervenção

de contação de histórias, mediada pela vivência com animais.

Essa pesquisa foi desenvolvida em sete encontros de cinquenta

minutos, com um público de crianças com a faixa etária de três a quatro anos,

em uma creche do município de Lins/SP, tendo em suas entrevistas o

acompanhamento da professora do grupo. Realizou-se uma pesquisa de

campo, a qual é caracterizada por ser um tipo de pesquisa que exige que o

pesquisador vá em busca de informações no lugar determinado, para assim

somá-las e arquivá-las por entrevistas, anotações e percepções a partir dos

encontros.

A relevância do tema escolhido também se constata pela escassez de

referencial teórico encontrado a partir das pesquisas iniciais. No entanto, por

meio dos estudos levantados verificou-se registros significativos de resultados

eficazes e positivos, que motivaram o interesse por esta pesquisa. De acordo

com Dotti (2014) foi a falta de referências e a escassa produção de projetos

13

relacionados a A/TAA que o impulsionou a elaborar seu livro Terapia e

Animais.

O presente trabalho foi baseado na abordagem sócio histórica da

psicologia, que de acordo com Bock:

A perspectiva sócia histórica não se reconhece como meramente ideológica a possibilidade de escolhas das classes subalternadas. Ao contrário, entende-se que nisso reside a possibilita de mudança, de alteração histórica, ao reconhecer que os indivíduos podem, de certo modo, intervir sobre as condições sociais por meio de ações pessoais e/ou coletivas. (2006, p.69)

O tipo de pesquisa escolhido foi de caráter experimental, validando as

intervenções feitas. Como o nome já indica esse tipo de pesquisa visa avaliar

um processo ou até mesmo um serviço, sendo parte desse processo levantar a

demanda com o intuito do pesquisador ficar mais familiarizado com o tema,

reunindo informações de acordo com pesquisadores e outras fonte que darão

base ao assunto abordado, entrevistando pessoas que tiveram experiências

práticas e profissionais relacionadas ao tema, no sentido de explorá-lo para

criar uma hipótese, podendo testá-la, buscando uma resposta com o objetivo

para ser concretizada.

O objetivo geral deste projeto foi oportunizar o contato das crianças com

animais e validar o que essa vivência é capaz de propiciar ao desenvolvimento

psicossocial das crianças e sua relação na escola.

Especificamente buscou-se despertar através dos encontros com os

animais o interesse das crianças, favorecendo o desenvolvimento e ampliação

do repertório de habilidades sociais, emocionais e cognitivas, enfocando o

vínculo estabelecido na relação com os animais.

O trabalho foi organizado em quatro capítulos, o primeiro aborda a

história e origem da AAA/TAA, sua conceituação e seus campos de atuação.

O segundo capítulo da pesquisa, refere-se a parte do desenvolvimento

da linguagem, aprendizagem, afetividade e pensamento infantil, segundo o

autor Vygotsky, o qual foi o foco para a realização do tema, trazendo a reflexão

dentro do contexto.

14

No terceiro capítulo da pesquisa se destinou na relação homem/animal

dentro do convívio e crescimento infantil e as contribuições e benefícios dentro

da Atividade Assistida por Animais.

E por fim, no quarto capítulo relatou-se o seu percurso metodológico, a

apresentação do referencial teórico adotado, a exposição e discussão dos

resultados e sua conclusão.

Esse trabalho ambiciona evidenciar a contribuição existente na inserção

de atividades com animais na relação do indivíduo, mais precisamente voltada

ao desenvolvimento infantil.

15

CAPÍTULO I

ATIVIDADE ASSISTIDA POR ANIMAIS

1 HISTÓRIA E ORIGEM DA AAA

A relação homem animal começa desde os primórdios em que o cachorro foi o primeiro animal a ser domesticado pelo homem, por volta do século IX a.C., a mitologia grega diz que Asklepios (Deus da Saúde) tinha um poder de cura que era passado para os cães chamados de cães sagrados, onde a lambida do cão curaria as doenças. Na época medieval pessoas andavam com cães para evitar a loucura. Já no século IX em Gheel, ouvia-se falar de uma fazenda, na qual existia alguns animais e as pessoas com deficiências eram levadas para tal fazenda com a finalidade de uma melhor qualidade de vida. Segundo Dotti com o passar dos anos registros oficiais foram aparecendo, em The York Retreat na Inglaterra as mediações com cães em asilos com pacientes esquizofrênicos e pacientes com condições vulneráveis tornou-se referência para que outros grupos pudessem trabalhar com cães. Outros registros foram feitos um em Bielefeld em um centro de tratamento para epiléticos, outro em Washington em um hospital. (p.36)

O primeiro uso de animais em um programa organizado nos Estados Unidos foi em 1944 no Army Air CorpsConvalescent Center, em Pauling, Nova Iorque. Promovido pela Cruz Vermelha, incluía o trabalho com diversos tipos de animais, no qual os pacientes eram encorajados a se inteirarem com eles. Não há arquivos sobre os efeitos do uso desses animais nas terapias. O programa foi descontinuado após a Segunda Guerra Mundial.(DOTTI, 2014, p.37)

De acordo com Dotti (2014), o Dr. Boris em 1962 escreveu sobre os

benefícios da psicologia com o uso dos animais, descrevendo uma experiência

com seu cão.

Um dia, Jingles, seu cão, entrou no seu consultório onde havia uma criança com sérios problemas psíquicos e que não se comunicava com ninguém. Levinson notou que a criança se interessou pelo cão, e ela conversou com ele. Desde então, o Dr. Boris Levinson é considerado, em toda a literatura a respeito do assunto, como o precursor da A/TAA; escreveu um livro a respeito e passou a documentar todas as pesquisas na área. (p.37)

No Brasil a Dra. Nise da Silveira teve algumas experiências com

animais na década de 50 com seus pacientes esquizofrênicos, em que um

16

paciente adota uma cadela e a Dra. Nise começa a perceber as vantagens de

ter um cachorro no ambiente hospitalar.

Verifiquei as vantagens da presença de animais no hospital psiquiátrico. Sobretudo o cão reúne qualidades que o fazem muito apto a tornar-se um ponto de referência estável no mundo externo. Nunca provoca frustrações, dá incondicional afeto sem nada pedir em troca, traz calor e alegria ao frio ambiente hospitalar. Os gatos têm um modo de amar diferente. Discretos, esquivos, talvez sejam muito afins com os esquizofrênicos na sua maneira peculiar de querer bem. (DOTTI, 2014, p.38)

Sendo assim Dotti faz várias perguntas para entender o porque não

deram tanta importância para a Dra. Nise no trabalho com os cães, na década

de 60 ela decide continuar com o trabalho que já era desenvolvido referente a

arte e pintura, deixando o trabalho com os cães.

Perguntas com possíveis respostas, mas não podemos afirmar, podemos apenas questionar e tirar nossas próprias

conclusões. O que aconteceu realmente?Uma coisa é certa,

Dra. Nise da Silveira foi pioneira na A/TAA no Brasil e fez parte, no mínimo, do pioneirismo internacional nessa área. Os relatos existem, os documentos também. (DOTTI,2014, p.39)

Com essas perguntas feitas por Dotti, ele percebeu que havia pessoas

que não queriam que o trabalho com os cães desse certo, pois era uma

maneira de melhoria para os pacientes psiquiátricos e isso envolvia muitas

pessoas as quais não sabiam lidar com experiências novas, com medo do que

viria pela frente. Com o decorrer do trabalho exercido com os animais, alguns

deles foram envenenados durante a noite.

Isto devido à oposição dos profissionais de saúde e das próprias pessoas daquela época, por não estarem preparadas para o novo, condenando-a e rejeitando-a constantemente. Essa visão ampliada das diversas possibilidades no tratamento dos esquizofrênicos é hoje conhecida, respeitada e estudada. (DOTTI,2014, p.39)

Com os estudos foi-se percebendo a importância dos animais na vida

das pessoas e as influências aparentes no desenvolvimento da personalidade,

físico, motor e social.

17

Há muitas discussões sobre como considerar as pesquisas nessa área de forma extremamente científica, pois há uma gama de resultados que nem sempre expressam, por meio da pesquisa científica, a riqueza da percepção humana em seu relacionamento com os animais, muitas vezes estando além do concreto. É imensurável, podendo se misturar a outros fatores. (DOTTI, 2014, p.29)

As terminologias no início eram inúmeras, sendo que nas décadas de 60 a

80 foram criadas algumas terminologias não específicas para a prática que

estava acontecendo, foi na década de 90 que a Delta Society padronizou a

relação homem e animal como AAA e TAA (terapia assistida por animais)

visando um olhar mais profissional dando confiabilidade para as pessoas as

quais procuravam a atividade ou a terapia assistida por animais.

Atividade Assistida por Animais – AAAConceito que envolve a

visitação, recreação e distração por meio do contato dos animais com as pessoas. Essa atividade pode ser repetida com pessoas diferentes, sem o estabelecimento de um programa oficial. São atividades desenvolvidas por profissionais treinados e/ou com proprietários ou “condutores” que levam seus animais às instituições, para uma visita de aproximadamente uma hora ou hora e meia, semanalmente ou esporadicamente, sem um objetivo claro, sem o resultado de uma análise dos pacientes, seu histórico e seu perfil. São atividades que desenvolvem o início de um relacionamento, propõem entretenimento, oportunidades de motivação e informação, a fim de melhorar a qualidade de vida. Essas atividades têm um grande potencial para se transformarem em Terapia Assistida por Animais – TAA. Terapia Assistida por Animais – TAA envolve serviços profissionais da área médica e outras, que utilizam o animal como parte do trabalho e do tratamento. Tem o acompanhamento do proprietário ou condutor, tem objetivos claros e dirigidos, com critérios estabelecidos, dos quais o animal é parte integrante do tratamento. A TAA é dirigida e desenhada para promover a saúde física, social, emocional e/ou funções cognitivas. É um processo terapêutico formal com procedimentos e metodologia, amplamente documentado, planejado, tabulado, medido e seus resultados avaliados. Todos os progressos são verificados e reavaliados com a finalidade de se atingir os objetivos do programa. Pode ser desenvolvida em grupos ou de forma individual. (DOTTI, 2014, p.29-30)

Até hoje há inúmeras terminologias sendo faladas e escritas de forma

errada, mas que fizeram parte da construção dessa nova padronização ou que

são traduzidas de maneira errada sendo elas:

18

Pet Terapia, Terapia com Animais, Terapia Mediada por Animais, Terapia Facilitada por Animais, Visitas com Animais, Zooterapia, Cinoterapia (apenas com cães) etc. A mesma estrutura em inglês – Animal AssistedActivity/Therapy – pode ser aplicada ao português, pois a palavra “assisted” em inglês possui o mesmo significado em português – assistida.» (DOTTI,2014, p.30)

Hoje em dia o assunto já vem sendo mais discutido e aceito pelas

pessoas, contando com pesquisas feitas sobre o assunto. Há um grande

crescimento nessa nova área e surgem muitas pessoas interessadas no seu

desenvolvimento, assim como ONGs e entidades.

Em 2012 a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais

de Estimação (ABINPET), indica que no Brasil possui a quarta maior população

de pets do mundo: 101,1 milhões de animais de estimação. (CHELINI,2016,

p.95)

2 CAMPOS DE ATUAÇÃO

Segundo Capote (2011) no Brasil existe inúmeros conteúdos sobre as

qualidades e benefícios da relação homem-animal, mas em sua maioria são

matérias criadas a partir de estudos internacionais e mesmo que existam

programas realizados aqui no país, não existe pesquisa mais significativa no

tema. Os profissionais que estão presentes em instituições que fazem uso da

atividade assistida por animais, conseguem citar os benefícios da relação

homem-animal, mas são apenas dados observacionais e não com rigores

metodológicos, tornando a pesquisa no país muito pobre, ao contrário do que

vemos em outros países.

Apesar de não termos uma grande quantidade de pesquisas na área, a

bibliografia encontrada ilustra a importância dos animais na vida do ser humano

como podemos ver o trecho de Tatibana e Costa.

A melhora psicológica e emocional na junção entre as pessoas e seus animais de estimação tem sido cada vez mais relatada por pesquisadores, revelando que a maioria dos proprietários de cães e gatos sente que a qualidade de vida melhorou após a introdução destes animais, pois houve melhora das tensões entre os membros da família, aumentando a compaixão inclusive no convívio social. Profissionais de diversas áreas

19

observaram que crianças que possuem animal de estimação obtêm benefícios significativos. (TATIABANA e COSTA, 2009 p.15)

A atividade assistida por animais pode estar presente em diversos

ambientes e realizada com diferentes públicos, como em escolas, hospitais,

asilos e ambientes terapêuticos. Vemos que o contato com os animais, mesmo

que sejam os de estimação, trazem benefícios para os indivíduos, como cita

Godoy e Denzin:

Existem estudos que comprovam que acariciar e falar com um gato contribui para a redução da pressão arterial, fazer carinho em um animal reduz a ansiedade, ajuda crianças com dificuldades de aprendizagem, assim como idosos depressivos e doentes físicos e/ou mentais e produz uma reação hormonal (produção de serotonina) que ajuda no combate à depressão (GODOY e DENZIN, 2007 p.15).

Além de diversos públicos em que a TAA/AAA pode ser aplicada, existe

uma variedade de animais que podem fazer parte desses processos, segundo

Caetano (2010):

Entre os escolhidos pelos profissionais envolvidos nos tratamentos estão o gato, o coelho, a tartaruga, o pássaro, peixes diversos, o cão, o cavalo e inclusive animais exóticos como iguana e camaleão, ou diferenciados como a chinchila, a cobaia, o hamster. Dos mais utilizados entre eles é o cão, assim como o cavalo, em terapias denominadas de Cinoterapia e Equoterapia. (CAETANO, 2010, p.28)

Com base nas pesquisas serão ilustradas nesse capitulo algumas

dessas atividades e terapias onde os animais estão presentes.

A primeira forma de trabalhar com animais para o benefício do homem

que citaremos é a hipoterapia, onde o cavalo se torna agente importante da

terapia, Segundo Freund, Brown e Buff (2013,p.208) “as pesquisas mostram

que crianças e adolescentes com paralisia cerebral são o maior grupo de

adeptos a hipoterapia.” O cavalo também é utilizado na psicoterapia de

crianças e adultos com autismos, transtornos emocionais, deficiências

intelectuais, lesões cerebrais, deficiência de aprendizagem, déficit de

atenção/hiperatividade, depressão e ansiedade, que é a chamada psicoterapia

20

facilitada por cavalos. Segundo os autores as atividades relacionadas ao

cavalo podem ser a de cuidados básicos ao animal como treinamento e

limpeza, até o manejo das rédeas.

Uma sessão de PFC pode envolver atividades desmontadas

tão simples quanto colocar o cabresto em um cavalo, entrar em um curral redondo com um cavalo desamarrado ou tentar conduzir um grupo de cavalos até uma área especifica numa arena. Nesse último exercício, por exemplo, muitos pacientes tentam ações diretivas como gritar, levantar as mãos e até correr atrás dos cavalos para fazê-los se mover até o espaço desejado. Talvez leve algum tempo para que o paciente perceba que apenas ficar de pé calmamente no local desejado vai despertar a curiosidade dos cavalos e, em geral, eles seguirão lentamente até o paciente, voluntariamente. Essa experiência pode ser usada pelo terapeuta para identificar com o paciente como este pode usar uma abordagem menos agressiva ou menos inapropriada quando quer que os outros façam alguma coisa. (FREUND; BROWN; BUFF, 2013 p.213)

O convívio com os animais apresenta para os pacientes a sua

passividade, e ilustra formas diferentes de reagir aos conflitos que surgem no

dia-a-dia.

A cinoterapia junto com a equoterapia é uma das formas mais

importantes da realização da terapia e ou atividade assistida por animais, em

que o cão é o animal usado como facilitador. Segundo Dotti (2005) cães de

todos os tamanhos podem participar da AAA/TAA, dos de porte pequeno até o

de maior porte, o que deve ser avaliado é sua amabilidade e empatia com

seres humanos, o autor cita que cães agitados e de comportamento duvidoso

não devem participar.

Segundo Dotti (2005) os cães podem ser divididos em subgrupos, como

os cães de serviço, que são treinados para auxiliar os indivíduos com

deficiências, já os cães guias são treinados especificamente para evitar

obstáculos e auxiliar os deficientes visuais, existem também os cães de alerta

que são treinados para momentos de emergência, onde seus proprietários

precisem de insulina por exemplo ou até mesmo conseguem ligar para a

emergência, além de outros.

Além dessas vertentes onde o cão está presente vemos na bibliografia e

em mídias sociais a presença desses animais em instituições, como hospitais,

em ONG’s como o Instituto Nacional de Ações e Terapia Assistida por Animais

21

(INATAA) e Patas Therapeutas que desenvolvem um trabalho de Atividade

Assistida por Animais, em que os voluntários levam animais para dentro dos

hospitais, nas diversas alas, como a de pediatria e oncologia, e também para

asilos.

Dotti destaca que o cão deve realizar as visitas sempre com as coleiras,

para assim evitar possíveis acidentes. E refere um conjunto de condições que

devem ser respeitadas no processo da TAA/AAA.

Alguns sinais podem ser percebidos no animal e indicarem que a atividade ou terapia já acabou são: estar ofegante, tremendo, babando, andando devagar, bocejando, arranhando, estar agitado, tossindo, espirrando e estar com as almofadas das patas umedecidas. São indicações de estresse, e é hora de parar. É inaceitável que o animal tenha efeitos negativos, que possam prejudicar o relacionamento dele com as pessoas. O animal também pode precisar de um adestramento específico para se sentir mais confortável em situações que exijam mais dele. Se, de qualquer forma, perceber-se esse tipo de manifestação em trabalhos rotineiros, a melhor solução certamente é dar férias a ele e deixá-lo em observação. Animais que trabalham quinzenalmente ou mensalmente quase não mostram sinais de estresse; podem mostrar sinais de cansaço se a visita se estender mais do que o tempo estipulado. O trabalho com as pessoas assistidas não deve ultrapassar o tempo de uma hora e meia. (DOTTI, 2005, p, 77).

Os profissionais, assim como os proprietários dos animais em geral

devem prestar atenção nos sinais citados por Dotti, para que assim sejam

preservadas tanto a saúde dos animais como a dos pacientes.

Para evitar acidentes e zoonoses Fullber cita que existe um protocolo

com normas e rotinas de segurança, para que os animais possam visitar uma

instituição.

Conforme estudos realizados os pontos importantes do protocolo de implementação do AAA são: Introdução, objetivos, critérios de inclusão e exclusão dos animais, dos condutores e dos pacientes; recomendação aos condutores e a equipe de saúde, responsabilidade da comissão de Controle de Infecção Hospitalar, quadro de zoonoses, calendário vacinal de cães e gatos, termo de responsabilidade para participação do programa e ficha de analise comportamental dos animais. (FULLBER, 2011 p.16)

22

Os estudos mostram que a partir dos cuidados tomados, os resultados

da AAA/TAA são visíveis, Fullber (2001) cita que existem pacientes que no

início da interação com os animais não falavam, e após esse contato

conseguiam se expressar trazendo experiências passadas e causando

surpresa ao corpo de funcionários da instituição. Resultados positivos também

são conseguidos com pacientes que têm paralisia total ou parcial, pois com os

animais despertam essa vontade de se mover despertada, ajudando os

trabalhos dos profissionais de fisioterapia.

Compreende-se que existem diversos campos de atuação da AAA/TAA

e os animais podem auxiliar de forma positiva um grande número de

patologias, sendo elas físicas ou mentais.

3 O QUE É AAA?

A Atividade Assistida por Animais (AAA) se trata de visitas realizadas

dentro de instituições, com o intuito de aplicar dinâmicas, recreações e

contações de histórias com a utilização de um animal. Essa atividade pode ser

voltada a todos os públicos e em diversas situações. São dirigidas por

profissionais treinados ou pelos proprietários de seus animais, sendo encontros

de uma hora a uma hora e meia, semanalmente ou de forma aleatória.

“São atividades que desenvolvem o início de um relacionamento, propõem entretenimento, oportunidades de motivação e informação, a fim de melhorar a qualidade de vida. Essas atividades têm grande potencial para se transformar em Terapia Assistida por Animais.” (DOTTI, 2014, p.29-30).

Dentro dessa relação homem animal, existe a constatação de eficácia e

satisfação para com o seu principal objetivo de promover qualidade de vida. Os

animais que fazem parte desse processo devem ser bem cuidados e tratados

com atenção, pois são muito sensíveis e realizam um trabalho incrível. Eles

não podem trabalhar sob pressão, mas sim com naturalidade e descontração,

reconhecendo seus limites.

O animal é o instrumento mais valioso entre o mundo isolado da pessoa e o meio social em que ela vive, é ele que dá ressonância aos sentidos e abre portas. O animal é um

23

catalizador, ele atrai, modifica e faz a conexão entre dois elementos: a pessoa e o profissional-proprietário. (DOTTI, 2014, p.35).

A seleção do animal é feita a partir da determinação do público a ser

trabalhado, da quantidade de participantes e de acordo com as características

do grupo ou do indivíduo. É um trabalho realizado nas instituições sem nenhum

custo e sem envolvimento financeiro, não deixando de ser um trabalho

compromissado e com profissionalismo.

Depois da seleção das espécies, tipos de raças, sexo, idade, tamanho, aptidão, obediência, socialização, temperamento, deve haver uma combinação com a população do local, considerando as características para cada classe de pessoas... para crianças mais debilitadas, animais mais ativos, para idosos, animais mais calmos e menores, para adultos doentes, animais calmos e de pelos lisos, que possam ter acesso à cama da pessoa. (DOTTI, 2014, p.51).

Os voluntários que estarão à frente dessa atividade devem estar

capacitados para desenvolver o trabalho de forma positiva, estudando e

conhecendo cada vez mais dessa relação.

Deve ser construído um ambiente que seja bom tanto para o animal

quanto para as pessoas envolvidas nessa atividade, para que não haja

nenhuma intercorrência a ponto de prejudicar o entrosamento planejado.

Quando espontaneamente incentivamos a pessoa a se relacionar com o animal, estamos tornando possível o início de uma comunicação valiosa, mesmo que esta não seja verbal, seja gestual ou tão somente perceptível ao olhar. (DOTTI, 2014, p.35).

O proprietário do animal participante deve estar familiarizado as

exigências e responsabilidades impostas como: saúde perfeita do cão (vacinas,

exames e consultas frequentes), higiene do animal, efeitos de interação

(observação e rendimento do animal para com a atividade), condições de

transporte, equipamentos para ele, higiene do local, higiene das pessoas,

adestramento, riscos (proprietário ou condutor assinam um termo de

responsabilidade por qualquer prejuízo ocasionado pelo animal) e atender à

legislação e às exigências sanitárias do local.

24

A escolha da instituição deve ser feita por meio de visitas, onde serão analisados a higiene, tratos, pacientes, documentos e pessoal de apoio. Escolhida a instituição, após um consenso na organização, deve ser efetuado um contato oficial. (DOTTI, 2014, p.55).

Dentro do Brasil, existem trabalhos realizados por instituições as quais

visam a qualidade de vida de indivíduo e de seu meio. O Instituto Nacional de

Ações e Terapia Assistida por Animais (INATAA), uma organização não

governamental fundada em 2008, que com uma equipe de voluntários e

profissionais com experiência na área terapêutica, desenvolvem um trabalho

com idosos e crianças doentes, utilizando cães, com o objetivo de melhorar a

saúde física e mental através dos benefícios adquiridos pela relação homem

animal. Essa instituição acompanha cerca de 400 pessoas, sendo essas

crianças, idosos, adolescentes e adultos em asilos e hospitais. Através do site

da instituição, são divulgados palestras, projetos, cursos, fotos e vídeos de

trabalhos já realizados. São oferecidos vagas de voluntariado e pedidos de

doações para a continuação e aprimoramento do trabalho.

Se pensarmos que o ser humano em sua essência é realmente bom, e que praticar o altruísmo é uma tendência natural, certamente encontraremos coerência nessas afirmações, uma vez que nos sentimos bem e que a sensação de felicidade se instala quando praticamos algo de bom para os outros. Concluímos que essa bondade é inerente à natureza humana, sendo assim, temos todos a condição essencial para iniciar um trabalho voluntário. (DOTTI, 2014, p.67).

Outra instituição no Brasil é o Instituto para Atividades, Terapias e

Educação Assistida por Animais de Campinas (ATEAC), organização não

governamental e sem fins lucrativos, que trabalha com a Atividade, Terapia e

Educação Assistida por Animais desde 2004, atuando em hospitais, instituições

e centros de saúde da região de campinais com cães terapeutas. O surgimento

dessa instituição se deu por um acontecimento pessoal de uma bióloga

chamada Silvia Ribeiro, que percebeu uma melhora significativa na parte

motora e social de seu filho com a síndrome de Asperger (autismo), que teve o

convívio com uma cadela da raça labrador, seu filho foi o primeiro portador da

síndrome a defender uma tese de mestrado no Brasil. O trabalho da instituição

é voltado a idosos em lares; pessoas fragilizadas fisicamente e hospitalizadas;

25

pessoas portadoras de síndromes genéticas; crianças com paralisia cerebral,

autismo e hiperatividade; crianças e adultos com problemas de aprendizagem;

crianças e adultos fragilizados psicologicamente; pessoas portadoras de

HIV/AIDS; crianças em abrigos; usuários de drogas/álcool e pessoas em

sistema prisional. Os trabalhos dentro da Atividade Assistida por Animais feitos

com os idosos ganham destaque no desenvolvimento apresentado. No site da

instituição existe a procura de voluntários, tanto pessoas como também cães e

também oferece cursos de capacitação.

Hoje, todos os animais domésticos podem ser utilizados na Terapia, mas o eleito tem sido o cão, por suas características peculiares, inteligência e percepção. O cão tem nos fornecido muito material de estudo nos últimos anos. Diversos livros foram escritos com base em seu comportamento e aptidões. Ele mostra que pode ser de grande ajuda, uma vez que possui elementos que se revelam surpreendentes quando uma situação inesperada acontece. (DOTTI, 2014, p.68).

Segundo Dotti (2014), nos EUA existe uma lista de espera de entidades

que procuram a A/TAA, mas a quantidade de profissionais treinados e

qualificados é escassa. No Brasil, não se tem uma vasta divulgação sobre esse

trabalho, o que limita seu desenvolvimento, mas aos que já utilizam dessa

relação dentro de suas instituições, reconhecem o valor proporcionado.

Portanto é dever de quem trabalha com A/TAA anunciar e mostrar a

importância que esse processo pode trazer a sociedade, sempre realizado com

responsabilidade, profissionalismo e viabilidade.

26

CAPÍTULO ll

REFERENCIAL TEÓRICO

1 PENSAMENTO E LINGUAGEM

Vigotsky com seu enfoque maior nos estudos de desenvolvimento da

espécie humana e do indivíduo deu ênfase na abordagem sócio histórica para

compreender tal conhecimento, conforme a citação abaixo:

O que Vigotsky procurou foi uma abordagem abrangente que possibilitasse a descrição e a explicação das funções psicológicas superiores, em termos aceitáveis para as ciências naturais. Para Vigotsky, essa explicação tinha o significado de uma grande tarefa. Ela deveria incluir a identificação dos mecanismos cerebrais subjacentes a uma determinada função; a explicação detalhada da sua história ao longo do desenvolvimento, com o objetivo de estabelecer as relações entre formas simples e complexas daquilo que aparentava ser o mesmo comportamento; e, de forma importante, deveria incluir a especificação do contexto social em que se deu o desenvolvimento do comportamento. (VIGOTSKY,2001, p.7).

Para entendermos a teoria, devemos analisar o sujeito e a sociedade e

partir daí, perceber o mundo interior e a reflexão do mundo exterior, sendo a

transformação o ponto inicial para o processo de desenvolvimento cultural e

histórico. Para Luria (2001, p.26):

O aspecto cultural da teoria de Vigotsky envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefas que a criança em crescimento enfrenta, e os tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe para dominar aquelas tarefas. Um dos instrumentos básicos inventados pela humanidade é a linguagem, e Vigotsky deu ênfase especial ao papel da linguagem na organização e desenvolvimento dos processos de pensamento.

De acordo com Vigotsky (1988) [...] a relação existente entre o

pensamento e a linguagem nos estádios iniciais do desenvolvimento

filogenético e ontogenético.

27

O Filogenético está relacionado ao desenvolvimento da espécie e o

ontogenético está relacionado ao desenvolvimento do indivíduo que se dá na

inserção da criança em um grupo cultural.

Na concepção de Oliveira (1993):

Enquanto no desenvolvimento filogenético foi a necessidade de intercâmbio dos indivíduos durante o trabalho que impulsionou a vinculação dos processos de pensamento e linguagem, na ontogêneses esse impulso é dado pela própria inserção da criança num grupo cultural. A interação com membros mais maduros da cultura, que já dispõem de uma linguagem estruturada, é que vai provocar o salto qualitativo para o pensamento verbal. (p.42)

De acordo com Vigotsky (1988) A estrutura da língua que uma pessoa

fala influencia a maneira com que esta pessoa percebe o universo [...].

A linguagem na vida das pessoas é transformadora, podendo-se mudar

o contexto social do desenvolvimento, ela vem do nosso meio sociocultural,

com isso podemos perceber a importância que Vigotsky dá na construção do

sujeito, levando em consideração que a linguagem é um sistema simbólico

básico, que é mediada entre sujeito e o objeto do conhecimento.

A linguagem está interligada ao pensamento fazendo uma conexão onde

se encontram, quando a criança está na fase pré-linguística e no período pré-

intelectual as duas não se relacionam, com o desenvolvimento da criança uma

se liga a outra onde o repertório de linguagem e pensamento se modifica.

Na concepção de Vygotsky (1988):

É indubitável que, no desenvolvimento da criança, existe também um período pré-linguístico do pensamento e um período pré-intelectual a fala: o pensamento e a palavra não se encontram relacionados por uma relação primária. No decurso da evolução do pensamento e da fala gera-se uma conexão entre uma e outra que se modifica e desenvolve. (p.101)

Na fase pré-verbal do pensamento a criança não domina totalmente a

linguagem, mas é capaz de usar signos e conseguir se resolver sozinha. Na

fase pré-intelectual da linguagem mantém-se a comunicação e o contato social

nas formas de emoção.

De acordo com Vygotsky (1988):

28

Seria errado, no entanto encarar o pensamento e a fala como dois processos não relacionados entre si, seja como dois processos paralelos, seja como dois processos que se entrecruzassem em certos momentos e se influenciassem mutuamente duma forma mecânica. (p.101)

De acordo com Vigotsky (1988) a ausência de uma relação primária não

quer dizer que a conexão entre eles só possa formar-se de uma forma

mecânica.

No começo dos estudos de pensamento e palavra não eram vistos como

se um complementasse o outro, buscava-se explicar que pensamento e

linguagem fazia parte de um todo. Palavra, fala e o pensamento se unem e

formam o pensamento verbal.

Para Vigotsky (1988)

[...] o pensamento verbal se compõe de processos intelectuais e funções de discurso propriamente ditas aplica-se a todo o pensamento verbal e não explica nenhum dos problemas específicos com que se defronta o estudioso do pensamento verbal. (p.101)

De acordo com a afirmação de Vigotsky (1988) o significado das

palavras só é um fenômeno de pensamento na medida em que é encarnado

pela fala e só é um fenômeno linguístico na medida em que se encontra ligado

com o pensamento e por este é iluminado. Com isso se tornam unidos

pensamento e linguagem sendo um fenômeno do pensamento verbal.

O pensamento e linguagem estão interligados, é difícil saber se o

significado de uma palavra se trata de um fenômeno do pensamento ou da

linguagem.

De acordo com Vigotsky (1988):

Uma palavra sem significado é um som vazio; portanto, o significado é um critério da palavra e um seu componente indispensável. Parecia, portanto, que poderia ser encarado como um fenômeno linguístico. (p.102)

Mas do ponto de vista da psicologia:

29

o significado de cada palavra é uma generalização, um conceito. E, como as generalizações e os conceitos são inegavelmente atos de pensamento, podemos encarar o significado como um fenômeno do pensar. No entanto, daqui não se segue que o pensamento pertença a duas esferas diferentes da vida psíquica. (p.102)

Por isso o significado de cada palavra recorda um objeto e assim

sucessivamente recordando outros objetos. Com o conhecimento de novos

objetos sendo estes conhecidos na fase escolar a evolução das palavras

tornam-se constante, com um campo mais amplo de conhecimentos e a cada

volta para casa trazem mais bagagens. Com relação entre linguagem,

pensamento, desenvolvimento e aprendizagem, uma criança que precisa e

quer aprender e a professora ou a mãe se disponibiliza para explicar acaba

desenvolvendo seu potencial e buscando novos conceitos para essa

aprendizagem.

Para Vygotsky (1988), aprendizado e desenvolvimento estão inter-

relacionados desde o primeiro dia de vida.

O aprendizado começa dentro de casa, quando o bebê nasce, indo para

a escola as crianças têm outra forma de aprender, mudando o nível e o

conceito das coisas, sendo inseridos outros elementos. Dois tipos do

desenvolvimento são identificados - o real e o potencial, onde o real as

crianças conseguem fazer as tarefas sozinhas sem supervisão e o potencial

quando a criança é supervisionada porque não consegue fazer as tarefas

sozinha. E no meio desses dois processos existe uma distância chamada zona

de desenvolvimento proximal que é quando a criança tem um apoio até

aprender a fazer sozinha. Por isso Vigotsky afirma:

[...] “aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã” (VIGOTSKY, 2001, p. 98).

2 APRENDIZAGEM

Segundo Vigotskii (2001) para compreender a relação entre o

desenvolvimento e a aprendizagem da criança, deve se dividir em três

30

categorias esse processo, a fim de ser estabelecido o entendimento dos

conceitos com clareza. A primeira categoria parte da hipótese da

independência do processo de desenvolvimento e do processo de

aprendizagem.

Segundo estas teorias, a aprendizagem é um processo puramente exterior, paralelo, de certa forma, ao processo de desenvolvimento da criança, mas que não participa ativamente neste e não o modifica absolutamente: a aprendizagem utiliza os resultados do desenvolvimento, em vez de se adiantar ao seu curso e de mudar a sua direção. (VIGOTSKII, 2001,p.103).

Desta forma, o processo de desenvolvimento do pensamento da criança

ocorre independente da aprendizagem escolar. De acordo com o autor são

processos autônomos que não se influenciam de modo algum. Para

exemplificar essa situação, Piaget trouxe o exemplo do método da entrevista

que fez com uma criança de cinco anos, perguntando o porquê o sol não cai,

com o objetivo de usar perguntas inacessíveis e observar a pureza da

resposta, aonde não se tinha nenhum conhecimento procedente, trabalhando

então para a criança forçasse seu espírito para esses pensamentos novos,

externos.

Dentro dessa teoria, o desenvolvimento e a aprendizagem acabam se

separando para que sejam independentes. O desenvolvimento deve atingir

uma determinada etapa para que então a escola introdução seus

conhecimentos e costumes.

A segunda categoria afirma que a aprendizagem é desenvolvimento.

Segundo o autor, atribui-se a aprendizagem um valor do primeiro plano.

O desenvolvimento e a aprendizagem sobrepõem-se constantemente, como duas figuras geométricas perfeitamente iguais. O problema de saber qual é o processo que procede e qual é o que segue carece de significado para essa teoria. O seu princípio fundamental é a simultaneidade, a sincronização entre os dois processos. (VIGOTSKII,2001,p.105).

A terceira e última categoria, considerada a mais importante, incide no

acréscimo do papel da aprendizagem no desenvolvimento da criança. Essa

categoria trata de um ponto que para o autor deve ter um olhar mais atento,

31

pois se trata de um antigo problema pedagógico chamado por tradição no

aspecto da disciplina formal. De acordo com Vigotskii (2001):

[...] O conceito de disciplina formal, liga-se a idéia de que cada matéria ensinada tem uma importância concreta no desenvolvimento mental geral da criança, e que as diversas matérias diferem no valor que representam para este desenvolvimento geral. Se se aceita esse ponto de vista, a escola terá de ensinar matérias como as línguas clássicas, a história antiga, as matemáticas, pelo fato de que contêm uma disciplina de grande valor para o desenvolvimento mental geral, e isso prescindindo do seu valor real. (p.106).

Houve uma falha na teoria da disciplina formal, aonde pesquisas

resultaram que a aprendizagem em determinado campo tem influência mínima

sobre o desenvolvimento geral. Para exemplificar, Vigotskii (2001) trouxe o

exemplo de Woodworth e Thorndike:

[...] adultos, depois de determinado período de exercício, podem avaliar com exatidão o comprimento de linhas breves, mas que é difícil que isso aumente sua capacidade de avaliação quando as linhas são maiores. Gilbert, Fracker e Martin demostraram que aprender a reagir rapidamente perante determinado tipo de sinal influi pouquíssimo sobre a capacidade de reagir rapidamente perante outro sinal. (p.107)

Definido as três categorias de interpretação sobre a relação entre a

aprendizagem e o desenvolvimento, o autor deixa de lado essas definições e

busca outra a partir do ponto de que a aprendizagem da criança começa muito

antes da aprendizagem escolar. Segundo o autor, a aprendizagem escolar

nunca começa do zero, ou seja, toda aprendizagem da criança na escola tem

uma pré-história. Por exemplo, quando a criança começa aprender aritmética,

já antes de ir para escola tem o conhecimento sobre quantidade, divisões e

adição, mesmo de forma simples e complexa, desta forma a criança já teve

uma pré-escola de aritmética. Dessa forma a idade escolar nunca começa do

zero, devido a existência da aprendizagem pré-escolar.

Para compreender e distinguir uma fase da outra, o autor Vigotskii

(2001) com a reflexão de Stumpf traz que:

[...]para considerar que a única diferença entre os dois processos reside no fato de que o primeiro não é sistemático, enquanto o segundo é uma aprendizagem sistemática por

32

parte da criança. Não é apenas uma questão de sistematização; a aprendizagem escolar dá algo de completamente novo ao curso do desenvolvimento da criança. (p.110).

Vigotskii afirma então que a aprendizagem é produzida antes da idade

escolar. Para afirmar essa posição, o autor levanta as seguintes questões:

“Acaso as crianças não compreende a linguagem dos adultos”? “Ao fazer

perguntas e receber respostar, não adquire um conjunto de noções e

informações dadas pelos adultos”? Esse ensinamento que é recebido dos

adultos faz com que as crianças adquiram uma gama de hábitos.

Segundo o autor, existem dois níveis em relação ao desenvolvimento e a

capacidade potencial da criança, para que se consiga encontrar concretização

para cada caso específico.

O primeiro nível é o do desenvolvimento efetivo da criança.

Entendemos por isso o nível do desenvolvimento das funções psicointelectuais da criança que se conseguiu como resultado de um específico processo de desenvolvimento já realizado. [...] desenvolvimento psicointelectual da criança é a sua atividade independente, e não a imitação, entendida de qualquer maneira. (VIGOTSKII,2001,p.111)

Para Vigotskii (2001), com a ajuda da imitação na atividade coletiva

guiada pelos adultos, a criança consegue produzir além do que somente com

sua capacidade de compreensão do modo independente. Diferencia-se o nível

de atividades realizadas com o ajuda dos adultos e o nível das tarefas pode

desenvolver-se com uma atividade independente define a área de

desenvolvimento potencial da criança, o qual se diz respeito ao segundo nível a

ser discutido.

O que uma criança é capaz de fazer com o auxílio dos adultos chama-se zona de seu desenvolvimento potencial. Isto significa que, com o auxílio desse método, podemos medir não só o processo de desenvolvimento até o presente momento e os processos de maturação que já produziram, mas também os processos que estão ainda ocorrendo, que só agora estão amadurecendo e desenvolvendo-se. (VIGOTSKII,2001,p.112)

Desta forma, o estado do desenvolvimento mental da criança só

consegue ser determinado a partir destes dois níveis: o nível de

desenvolvimento efetivo e a área de desenvolvimento potencial. Vigotskii

33

(2001) afirma que a aprendizagem escolar norteia e incita procedimentos

internos de desenvolvimento. A suposição é que o processo de

desenvolvimento não ocorre com o da aprendizagem, mas sim o processo de

desenvolvimento acompanha o da aprendizagem, instituindo então a área de

desenvolvimento potencial.

Cada matéria escola tem uma relação própria com o curso do desenvolvimento da criança, relação que muda com a passagem da criança de uma etapa para outra. Isto não obriga a reexaminar todo o problema das disciplinas formais, ou seja, do papel e da importância de cada matéria no posterior do desenvolvimento psicointelectual geral da criança. (VIGOTSKII,2001, p.117)

3 EMOÇÃO E AFETIVIDADE

Lev S. Vygotsky discute sobre fatores biológicos e sociais no processo

de formação do ser humano, dentre as visões de Vygotsky propostas por

Martha Kohl (Apud GIUSEPPE, 2012, p.16) “vemos a formação de conceitos e

a construção de significados onde podemos relacionar o papel do professor na

escola, como transmissor de conteúdos conceituais, ou seja, conteúdos que

não são aprendidos no dia-a-dia”.

Para Vygotsky (2001) o indivíduo não nasce com conteúdos pré-

existentes, o desenvolvimento de suas estruturas mentais é um processo

construído ao longo de suas interações com o meio, é a partir das relações

interpessoais e inserção na cultura que a criança vai desenvolvendo novos

conhecimentos, nesse sentindo percebemos a importância do outro na

constituição do sujeito e em sua forma de agir.

Segundo o autor afirma “todas as funções no desenvolvimento da

criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois no nível

individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da

criança (intrapsicológica).” (p. 75).

Outro autor que discute sobre o desenvolvimento humano é Henri

Wallon, e assim como Vygotsky seus estudos apontam a importância do meio,

como vemos nesse trecho:

34

O meio é complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá

corresponder a suas necessidades e as suas aptidões

sensório-motoras e, depois psicomotoras. Não é menos

verdadeiro que a sociedade coloca o homem em presença de

novos meios, novas necessidades e novos recursos que

aumentam possibilidades de evolução e diferenciação

individual. A constituição biológica da criança, ao nascer, não

será a única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem

ser amplamente transformados pelas circunstâncias de sua

existência, da qual não se exclui sua possibilidade de escolha

pessoal... Os meios em que vive a criança e aqueles com que

ela sonha constituem a “forma” que amolda sua pessoa. Não

se trata de uma marca aceita passivamente. (WALLON, apud

MAHONEY; ALMEIDA, 2005, p.17).

Como vemos, o outro tem papel fundamental no desenvolvimento e a

partir daí segundo Tassoni (2000) a mediação e a qualidade das interações

sociais devem ganhar destaque.

Ao discorrer sobre os processos cognitivos, defende que o

conhecer humano é uma atividade que pressupõe uma relação

que “envolve três elementos, não apenas dois: o sujeito que

conhece, a coisa a conhecer e o elemento mediador que torna

possível o conhecimento. (PINO apud TASSONI, 2000, p.2)

Então podemos dizer que a interação entre os indivíduos é o que forma

o significado do objeto de conhecimento, pois ele depende de tal interação para

existir no meio social.

Para Tassoni (2000) o que irá marcar e conferir um sentido afetivo ao

objeto são as experiências vivenciadas com outros indivíduos, ou seja,

podemos supor que no processo de interiorização estão envolvidos não só os

aspectos cognitivos, mas também os afetivos.

A relação entre ensino-aprendizagem, como vamos vendo durante esse

capítulo ocorre a partir do vínculo interpessoal, que tem início no âmbito

familiar, que é a relação mais primitiva que o sujeito terá durante seu

desenvolvimento, além dessa característica podemos destacar também, que

nessa interação a base é total afetiva. Segundo Wallon (apud TASSONI, 2000,

p.3) “é o vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a criança que sustenta a

35

etapa inicial do processo de aprendizagem, seu status é fundamental nos

primeiros meses de vida, determinando a sobrevivência”.

Segundo Tassoni (2000) a afetividade tem um significado amplo e

envolve manifestações que contemplam sentimentos que podemos dizer que

são de origem psicológica e emoções que são de origem biológica, como por

exemplo, o choro, a rigidez de músculos. De acordo com a autora “a

afetividade corresponde a um período mais tardio na evolução da criança,

quando surgem os elementos simbólicos”.

Para Mahoney e Almeida (2005) afetividade é a capacidade do indivíduo

de ser afetado pelo meio por sensações que podem ser agradáveis ou

desagradáveis, e ser afetado significa responder com atividades internas ou

externas à estímulos do meio.

Mahoney e Almeida (2005) afirmam que a afetividade tem papel nos

diferentes estágios do processo de ensino-aprendizagem da teoria de Wallon.

No primeiro estágio a afetividade está presente na relação do tato que o

bebê tem com o outro, no segundo estágio, o sensório-motor e projetivo a

criança está descobrindo o mundo taticamente e a afetividade entra no

momento em que o outro disponibiliza uma nova gama de superfícies e

consegue prontamente apresentar respostas a inúmeros questionamentos.

No estágio do personalismo, que ocorre entre os três e seis anos, a

criança está se descobrindo diferente do outro, ela se percebe como sendo e

tendo pensamentos diferenciados, apresentando respostas que condizem com

suas opiniões recém descobertas, a afetividade é representada no papel do

outro que deve disponibilizar um respeito a essa nova descoberta, tratando a

criança como ser único que é.

No quarto estágio a afetividade está presente na consideração que o

professor deve ter com os conteúdos já aprendidos pelos alunos e também

entender que todo conteúdo novo, por um tempo é impreciso. Já no quinto e

último estágio o da puberdade e adolescência, o indivíduo está no momento de

auto afirmação e a afetividade está presente na ação do professor em

promover um ambiente possível para auto expressão e discussão.

A autora cita que em todos os estágios a afetividade como sendo

facilitadora do processo de ensino-aprendizagem, deve ter seus limites, para

36

garantir o bem estar de todos os indivíduos e assim novamente apresentar uma

forma de afetividade para esse processo.

Portanto é de fundamental importância citar o adulto, que está envolvido

em todos esses estágios como sendo o outro que oferece a afetividade e assim

ajuda no processo de ensino-aprendizagem. Para Mahoney e Almeida (2012) o

adulto se conhece, sabe as possibilidades e limites existentes, para oferecer ao

outro, ou seja, ser adulto é compreender que a sua consciência moral está

completa, e com maior clareza de seus valores o adulto se torna livre para se

voltar para o outro, e assim continuar a se desenvolvendo com ele.

Desta forma o processo de ensino-aprendizagem é moldado pela

afetividade, não existe esse processo sem o outro e sua disponibilização em

apoiar o indivíduo, notamos que o sujeito deve estar disposto em aprender,

para assim esse processo ser bem sucedido.

Kohl (apud GIUSEPPE, 2012,) cita que para Vygotsky a formação do

pensamento do sujeito, depende da motivação, ou seja, o indivíduo tem que se

mostrar determinado a realizar alguma atividade ou curiosidade em um tema

específico, para que assim consiga construir um pensamento e um

entendimento sobre o tema.

Vygotsky entende que a base do pensamento é afetivo-volitiva,

ou seja, existe uma relação muito grande do afeto que os

discentes têm pela matéria e/ou pelo professor com a nossa

vontade, vontade esta de aprender, de entender o que é

lecionado. Senão se sentirem bem com o professor e/ou com a

matéria que ele leciona não estarão aptos o suficiente para

entender a matéria, para raciocinar de forma construtiva.

(GIUSEPPE,2012, p.20)

Devido a isso a importância da afetividade no processo de ensino-

aprendizagem, pois o indivíduo que estava estimulado afetivamente ou por se

identificar com o tema ou por se identificar com o professor, consegue absorver

mais o conhecimento, transformando conteúdos antigos em conteúdos novos e

atualizados.

37

CAPÍTULO III

RELAÇÃO HOMEM-ANIMAL

1 RELAÇÃO HOMEM-ANIMAL

Os animais tem diversos papeis na sociedade à muitos séculos, como o

de guarda, companhia, trabalho, símbolo de poder, status e suporte social,

assim como o papel na terapia de doenças. Segundo Rocha, Muñoz e

Roma(2016, p.45) “fatores socioeconômicos,culturais e cognitivos ao longo da

história influenciaram a relação entre os seres humanos e os animais”. Houve

uma aproximação emocional entre humanos e animais, que podemos nomear

como domesticação, que vemos na literatura como:

Um longo processo no qual os seres humanos, por meio da seleção de animais geração após geração, modificam um grande número de características comportamentais e fisiológicas de uma espécie animal. Foi durante o período paleolítico que ocorreu o processo de domesticação dos cães, antes e de maneira diferente de qualquer outra espécie animal. (ROCHA;MUÑOZ;ROMA 2016,P.45)

Essa relação entre cães e gatos com o ser humano acontece devido a

separação que ocorreu entre o homem e a natureza, percebe-se que cada vez

mais existe uma invasão da modernidade assim como o processo de

urbanização, onde as pessoas estão indo para grandes centros e tornando os

animais de companhia como sendo a ligação com o mundo natural. Outro fator

que influencia a domesticação segundo os autores é a diminuição do núcleo

familiar, onde animais se tornam membros da família, desempenhando até

mesmo o papel de filhos, mas com a vantagem de demandar menos gastos

financeiros e de tempo.

A convivência mais próxima com cães e gatos, pode ser explicada pelo

fato de que na população atual o suporte social está cada vez mais raro, seja

pelo fato da correria do dia-a-dia ou pelas tecnologias que acabam

distanciando as pessoas fisicamente e devido a isso é cada vez mais comum

vermos tutores que atribuem qualidades e sentimentos humanos aos animais,

vestindo-os com roupas e sapatos, programando festas de aniversários e

outros eventos.

38

Rocha, Muñoz e Roma(2016) citam uma pesquisa realizada no Estados

unidos onde os dados mostram que 100% dos tutores de animais dão

presentes em datas comemorativas como natal e ano novo para seus animais,

assim como 53% faltam no trabalho quando o companheiro de quatro patas

está doente, outros dados são citados pelos autores, o que ilustra muito bem a

importância que os animais de estimação tem dentro do convívio familiar.

Segundo os autores:

Durante o século XIX ocorreu um crescimento enorme no número de cães de pequeno porte, gatos e outros animais de companhia em diversos países, tanto vivendo junto a famílias quanto sendo reproduzidos para venda. A própria Rainha Vitória, da Inglaterra, conviveu com cerca de 90 animais de companhia ao longo da sua vida. (ROCHA;MUÑOZ;ROMA 2016,p.45)

Pessoas de todas as culturas gostam de criar animais de estimação,

mas segundo Serpell (2013) os Estados Unidos é pais onde existe o maior

número de animais de estimação, segundo o autor existem cerca de 77,5

milhões de cães vivendo em cerca de 45,6 milhões de lares; 93,6 milhões de

gatos em 38,9 milhões de lares; 171,7 milhões de peixes de água doce em

cerca de 13,3 milhões de residências, devemos salientar que outras espécies

como: aves, roedores, repteis e anfíbios também estão presentes no momento

da escolha de um animal de estimação. Ainda segundo Serpell (2013) a

criação de um animal de estimação é uma atividade da maioria dos

americanos, 62% das residências possuem pelo menos um animal e 45%

possuem mais de um animal.

Os números apresentados pelo autor chamam atenção, pois muitos

indivíduos estão dispostos a arcar com alimentação, abrigo, proteção contra

perigos e cuidados veterinários, que são ações que geram bastante custos.

Esse grande número de animais de estimação está ligado ao benefícios

imateriais que essa relação gera para o ser humano, devido a isso percebe-se

que não importa o valor gasto, o importante é ter essa relação com o bicho de

estimação.

Para tentar explicar isso Serpell (2013) diz que existe um fenômeno

chamado apoio social, que é um constructo que mostra o grau de inserção

social do indivíduo e de sua sensação de pertença, obrigação e intimidade com

39

os outros e isso tem uma grande importância para a saúde mental e física do

ser humano.

A importância das relações sociais para o bem-estar humano tem sido implicitamente reconhecida ao longo da história, testemunho disso é o uso antigo do exílio e do confinamento solitário como formas de punição. Desde os anos 1980, no entanto, um conjunto cada vez maior de provas cientificas vem confirmando o vínculo forte e poderoso entre apoio social e aumento de saúde e da sobrevivência. Particularmente, demonstrou que os fatores do apoio social protegem as pessoas de doenças cardiovasculares e derrames, febre reumática, diabetes, nefrite, pneumonia e da maioria das formas de câncer, bem como de depressão, esquizofrenia e suicídio. (SERPELL,2013, P.33)

A partir dessa afirmação o autor fala que o animal de estimação tem um

papel na vida do indivíduo a quem pertence e se encaixa nos padrões das

relações sociais, diminuindo os fatores de risco fisiológico para doenças

cardiovasculares, como pressão sanguínea elevada e níveis elevados de

colesterol, se comparado com pessoas que não tem animais de estimação,

podendo até apresentar sobrevivência e longevidade aumentada após ataques

cardíacos.

Dotti (2005) ilustra de forma bem simplificada os pontos positivos da

relação com animais para determinadas doenças, ele cita que pacientes

cardíacos mostram resultados positivos no quadro clinico, a partir de interações

com cães, pois esses animais por serem mais ativos, exigem que seus tutores

os levem para passear e assim consequentemente realizem caminhadas pelo

menos uma vez ao dia, na bibliografia vemos que esses resultados são

comprovamos com estudos, como cita o autor:

Num estudo muito interessante relativo a pessoas que

sofrem ataques do coração foi identificada uma sobrevida dos pacientes que tinham animais de estimação; 89 pacientes que sofreram ataques do coração fizeram exames mensais durante um ano. No final de um ano, de 39 pessoas sem animais de estimação, 11 vieram a falecer. De 50 pessoas que tinham animais, só três vieram a falecer. (DOTTI,2005 p.180)

A partir desses trechos podemos ver que existe realmente implicações

na saúde do indivíduo quando se tem a tutela de um animal de estimação, e

não apenas a saúde física, mas também a saúde mental, uma prova de que o

convívio com animais cria um bem estar ao tutor, são os moradores de rua, a

40

maioria dessa população não tem onde morar ou passar as noites frias, mas

sempre tem como companhia um cachorro, que faz companhia, fazendo com

que o indivíduo consiga sobreviver as adversidades das ruas.

2 RELAÇÃO ENTRE ANIMAIS E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Pensando na relação de animais no desenvolvimento infantil, certamente

é possível observar a diferença que existe entre uma criança que possui

contato próximo a um animal e outra que não possui.

De acordo com Dotti (2014), pesquisas realizadas com pais de crianças

que tiveram animais de companhia na infância, apresentaram resultados

direcionados a atitudes de responsabilidade, de sensibilidade e senso de

comunicação com outros indivíduos, organização e cooperação.

Recentes estudos apontam que as crianças entre 5 e 12 anos, que têm animais de companhia, têm mais sensibilidade e compreendem melhor os sentimentos de outras pessoas e têm mais empatia. Crianças mais jovens desenvolvem mais rapidamente a cognição e se tornam até mais espertas (...) Podem desenvolver mais rapidamente sua coordenação motora, campo visual e sua interpretação com o mundo exterior. (DOTTI, 2014, p. 91)

As crianças que já se relacionam com animais, sejam eles cães, gatos,

pássaros, acabam adquirindo com mais facilidade, uma série de características

positivas quando nos referimos a aprendizagem de responsabilidades e

cuidados, as quais são levadas para a vida toda. Além de serem ótimas

companhias e de terem um papel de alta relevância dentro do desenvolvimento

social infantil, se tornam estimuladores de afetividade e carinho. Colaboram

para a promoção de saúde e bem-estar do indivíduo. Cuidados como colocar

ração e água para o animal, ajudar a dar o banho, já são estimuladores de

responsabilidades e convivência.

De fato, é possível afirmar que a criança a qual se relaciona com um

animal, desperta grande interesse nessa relação, o que faz com que vivenciem

diversos momentos, sejam eles através de brincadeiras, confidências,

passeios, trazendo então o sentimento e a certeza de que sempre terá um

amigo por perto, o qual poderá contar sempre. Os pais da criança possuem um

41

papel incentivador e reforçador dessa relação, fortalecendo e ajudando na

construção de responsabilidades e dinamismo por meio da relação criança e

animal.

No ambiente familiar, os animais de estimação, assim como outros membros da família, podem ser inseridos no sistema familiar, formando um triângulo que alivia situações emocionais desconfortáveis entre duas pessoas, como, por exemplo, pai ou mãe e filho. (BECK, 2013, p.66).

Para realizar um trabalho voltado a Atividade Assistida por Animais

(AAA) com crianças, é interessante ter uma capacitação teórica e prática sobre

técnicas psicológicas e pedagógicas, para saber trabalhar com qualquer

situação que possa ser trazida dentro da atividade. Deve ser um trabalho

estruturado, pois apenas dessa forma será um trabalho efetivo e com

resultados e aprendizagens positivas. Trabalhos voltados ao público infantil

precisam de um olhar minucioso e atento a cada detalhe ocorrido ou apontado

nas intervenções.

O trabalho de intervenção com animais, pode ser realizado em diversas

áreas e com todas as faixas etárias, baseando-se na escolha adequada do

animal e suas capacidades de relação.

Na escola, são realizadas intervenções desde crianças do maternal até

com profissionais do ensino superior. Para que essa relação aconteça, é

preciso cumplicidade e vínculo entre a escola e os pais dos alunos, para que

permitam e aprovem essa interação, do início ao fim, fazendo com que seja

compreendida a importância proporcionada pela intervenção.

A interação das crianças com os animais nas escolas representa um fator de motivação significativo para uma aprendizagem na qual o aluno, através do conhecimento sobre animais, seus hábitos, alimentação e comportamentos, tem estimulado sua vontade de aprender e, assim, incentivam-se situações educativas nas quais a criança fortalece sua autoconfiança, socializa e tem favorecida principalmente a comunicação através da expressão, tendo os estudantes a oportunidade de relatarem suas vivências pessoais em conjunto com as experiências vividas no contato com os animais. (DOTTI,2014, p.286)

De acordo com Dotti (2014), professores que recebem os animais na

sala de aula relatam que seus alunos apresentam tranquilidade e concentração

42

nas intervenções, até nos que apresentam dificuldades de comportamento ou

de aprendizagem. Dentro desse mesmo aspecto, é enfatizada a melhora nas

relações dos alunos dentro da sala de aula e a participação frequente de

alunos que eram classificados como tímidos ou reservados.

Outro ponto chave da relação do animal no desenvolvimento infantil é

quando se trata da perda, do luto, que pode vir a ser a primeira experiência

vivida pela criança. Essa dor, pode afetar mais a criança do que o adulto. A

presença de um animal em momentos como esse, amenizam o processo de

dor, fazendo com que a criança deposite o que sente no animal, se permitindo

sentir confortada, confiando seus sentimentos.

“Os animais nas escolas podem ser chamados de coeducadores conscientizadores, que promovem o desenvolvimento da criança como um todo. Do mesmo modo, conforme a criança se transforma através do conhecimento dos animais e pelo desafio que aceita e que lhe vem do meio para o qual volta a sua ação, ela se educa, desenvolvendo a compaixão e o respeito por todos os seres vivos. E na medida em que a criança comunica os resultados de sua experiência obtida através dos animais, ela ajuda outras crianças, seus familiares e a comunidade a se educarem, tornando-se solidária com eles”. (DOTTI, 2014, p.291)

Em julho de 2015, foi apresentado no site da Universidade de São Paulo

(USP), um artigo escrito por Ivanir Ferreira, o qual relata um trabalho que foi

desenvolvido por Maria de Fátima Martins, a qual é coordenadora do projeto

desenvolvido pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Extensão em

Zooterapia do Bem-Estar Animal e Helicicultura, da Faculdade de Medicina

Veterinária (FMVZ) da USP, campus de Pirassununga. A zooterapia é uma

ciência a qual apresenta as possibilidades terapêuticas do convívio entre

humanos e animais, que passam de apenas animais de companhia para o

papel de coterapeutas e coeducadores nas escolas, terapias e em outros

lugares de intervenção.

No artigo, de uma forma geral, foi salientado como foi o desenvolvimento

desse trabalho e quais foram as conclusões obtidas. O nome do projeto era

“Educação através dos animais: o papel da zooterapia no cotidiano de

escolares”. Iniciado em 2002, foram mais de mil e quinhentos alunos

participantes, com a faixa etária de 6 a 16 anos apresentando dificuldades em

43

relação a aprendizagem escolar. Para trabalhar com esse público, escolheu-se

um molusco, mais precisamente o escargot, por não trazer riscos aos

participantes, por ser de fácil manuseio, e por despertar a atenção e

observação das crianças devido seus movimentos lentos, trazendo segurança

para os participantes. Foi um processo realizado a cada 15 dias dentro de um

ano, com intervenções de 40 minutos cada.

Os resultados obtidos dentro desse projeto foram positivos devido aos

estímulos despertados através do animal com as crianças, as quais

apresentaram concentração e relaxamento no decorrer do desenvolvimento do

projeto. A coordenadora do projeto também teve o objetivo de quebrar rótulos

formados e preconceitos sob o contato com o molusco, o qual foi atingido

durante os encontros. De acordo com o relato, os alunos gostariam de ter

levado o escargot para casa, pois foi ensinado os cuidados e responsabilidades

referentes ao animal. De acordo com a pesquisadora Maria de Fátima Martins:

“O animal abre um canal de comunicação, quebrando barreiras”.

É possível afirmar que a criança também quer dar o que ela recebe: carinho e proteção. Assim, ela cria uma responsabilidade maior, e isto influenciará positivamente o seu crescimento, dependendo menos de seus pais, tornando-a mais autônoma e mais extrovertida. (DOTTI, 2014, p.92).

3 AS CONTRIBUIÇÕES E BENEFÍCIOS

As contribuições e benefícios são inúmeros, os homens procuram no

animal o que falta em suas vidas, considerando-os membros da família onde

depositam muitos sentimentos, ajudando na relação social com o papel de

construção de novas amizades, quebrando a resistência e promovendo a

empatia, é importante destacar a melhora na saúde de quem tem um animal de

estimação ou pratica a AAA (atividade assistida por animais) por conta dessas

vidas rotineiras e corridas um animal pode ser a porta para o bem estar, tendo

um contato com a natureza que os homens tanto procuram no dia a dia.

Para Serpell (2013):

As pessoas valorizam seus animais de estimação não porque sejam úteis, mas principalmente porque sua companhia preenche necessidades sociais e emocionais comparáveis,

44

mas não necessariamente idênticas, as necessidades preenchidas pela companhia humana. (p.27)

A companhia animal traz benefícios para o homem em relação a

facilitação do contato social que ele proporciona, um simples passeio com o

animal pode desencadear conversas com outros tutores de outros animais ou

até mesmo pessoas que queiram ter animais e não sabem como lidar com

tamanha responsabilidade. Na AAA (atividade assistida por animais) o contato

social entre tutores e pacientes tem o mediador que é o animal, onde os tutores

têm mais facilidade para trabalhar as atividades tendo mais motivação e

empenho proporcionado pelo animal.

De acordo com Wood (2013):

Dentro da variedade de espécies que compõem o universo atual dos animais de estimação, os cães têm a maior probabilidade de se aventurar com seus donos na comunidade mais ampla e, portanto, têm capacidade maior de facilitar a interação e o contato social. (p.47)

Desde quando entramos na pré-escola ou até mesmo antes precisamos

do contato social, em que algumas vezes é feito por histórias como fabulas e

conto de fadas onde no final sempre existe uma moral.

Os contos de fadas existem a milhares de anos e é importante para a formação e a aprendizagem das crianças. Escutar histórias contribui de forma significativa para o início da aprendizagem e para que o indivíduo seja um bom ouvinte e um bom leitor, mostrando um caminho absolutamente infinito de descobertas e de compreensão do mundo. (OLIVEIRA, 2010, p.14)

Se percebermos com atenção essas histórias sempre têm animais

envolvidos, tornando-as mais engraçadas e dinâmicas, as crianças se divertem

e interagem com facilidade, o senso crítico e imaginário dessas crianças fica

mais desenvolvido, favorecendo-se também a atenção, o interesse e a

participação.

Ao contrário dos personagens humanos, os animais de contos de fadas e histórias infantis transmitem o essencial do assunto sem as circunstancia de idade, etnia ou gênero, os animais

45

conseguem ensinar valores as crianças sem a associação dos juízos de valor. (BECK, 2013, p.65)

Para os pais ter um animal dentro de casa é benéfico, uma criança que

está com dificuldades em fazer amizades vai se mostrar mais aberta e

participativa, sendo tutora de animais, desenvolve uma sensibilidade maior do

que uma criança que não tenha animais. Em uma família de pai, mãe, criança e

cachorro, o cachorro seria filho da criança dando mais responsabilidade para a

criança.

O contato generalizado com animais pode exercer efeitos profundos no desenvolvimento infantil e são muitos papéis que os animais desempenham nesse desenvolvimento. Existe uma crença muito comum de que os animais de estimação são bons para as crianças e as ensinam a ter responsabilidade. (BECK, 2013, p.67)

Na AAA (atividade assistida por animais) existem 4 benefícios (físicos, mentais,

sociais e emocionais) em que podemos afirmar com certeza e que é proporcionado

para qualquer tipo de pessoa avaliando a faixa etária, onde há um desenvolvimento

visível durante o tratamento, vamos começar falando dos benefícios físicos de acordo

com Dotti (2014):

Benefícios físicos - exercícios e estímulos variados relativos à mobilidade; - estabilização da pressão arterial e reações químicas positivas (estudos divulgados por programas americanos, ingleses e canadenses); - bem-estar; - afastamento do estado de dor; - encorajamento das funções da fala e das funções físicas. (p.58)

Como podemos perceber os benéficos físicos vem de encontro com os

benefícios mentais onde Dotti (2014) afirma que:

Benefícios mentais - estímulo à memória da pessoa levando em conta as diversas observações relativas a sua própria vida e dos animais que ela tem contato. Exercícios de cognição por meio de material usual do animal, da alimentação e de higiene. (p.58)

Com o estado físico e o mental equilibrado, o social e o emocional

também precisam ser estabilizados, com a AAA (atividade assistida por

46

animais) tudo isso é possível basta a pessoa estar disposta a mudanças. De

acordo com Dotti (2014) os benefícios sociais e emocionais são:

Benefícios sociais - recreação, diversão e alívio do tédio do cotidiano, afastando o isolamento; - oportunidade de comunicação e sentido de convivência; - possibilidade de troca e informações e de ser ouvido; - sentimento de segurança, socialização e motivação. Benefícios emocionais - amor incondicional e atenção, espontaneidade das emoções, redução da solidão, diminuição da ansiedade, relaxamento, alegria, reconhecimento de valores, troca de afeto; - vínculo e aumento de confiança com o ser humano, com o foco nos participantes da terapia; - reações positivas a estímulos apresentados (alimentação, tratamentos, necessidades básicas e higiene); - os benefícios das visitas continuam após as mesmas, pois deixam lembranças e experiências positivas para as pessoas. (p.59)

Esses benefícios contam com a mediação dos animais, sem eles a

atividade não fica dinâmica, ficando uma atividade monótona onde é difícil a

interação, deve-se manejar a atividade com muito cuidado, focando nas

necessidades e objetivos de ambos, traçando tal objetivo o alcance é mais

rápido. Segundo Dotty (2014) existem alguns objetivos alcançados ao longo da

AAA (atividade assistida por animais):

- Aumenta a socialização e comunicação; - Reduz o isolamento, solidão, aborrecimento; - Cria afeição, diminui a depressão e proporciona prazer; - Melhora a memória e as lembranças; - Melhora a autoestima por meio de estímulos, os quais fazem a pessoa se sentir importante, melhorando seus sentimentos; - Melhora a percepção da realidade; - Melhora a cooperação e habilidade em resolver problemas; - Melhora a concentração e a atenção; - Diminui comportamentos de manipulação; - Melhora a expressão de sentimentos; - Reduz a ansiedade em geral; - Reduz comportamentos abusivos; - Aumenta a habilidade para confiar e o aprendizado para tocar o animal apropriadamente. (p.83)

Tais objetivos são alcançados quando trabalhado no horário certo,

havendo uma rotina entre animal e paciente, onde se pode trabalhar até uma

47

hora e meia, para que ambos não fiquem cansados e estressados, tendo um

maior aproveitamento na AAA (atividade assistida por animais). Dotty (2014)

afirma que os animais têm muito a oferecer:

- Ligações com a natureza; - Oportunidade para desenvolvimento de sentimentos positivos; - Senso de responsabilidade; - Reforço da autoestima e segurança emocional; - Socialização; - Contato; - troca de afeto, que dá uma certa intimidade, essencial da terapia; - Amor incondicional, sem julgamentos; - Prazer em rir e brincar com o animal; - Sensação de conforto e bem-estar; - Estímulo mental, físico e emocional; - Lembranças de memórias passadas. (p.82)

Os objetivos com crianças e animais vêm a ser mais específicos, quando

a criança em contato com o animal aprende uma mudança de atitudes como já

dito anteriormente, sabendo lidar com os animais as crianças mudam seus

comportamentos positivos em relação com as outras pessoas. Dotty (2014)

afirma que os objetivos crianças e animais são:

- Conhecer sobre os animais; - Aprender cuidados com os animais; - Desenvolver a habilidade motora e física na interação com o os animais; - Treinamento dos animais; - Praticar disciplina; - Incorporar atitude de gentileza e compaixão; - Aprender sobre a criação; - Praticar fidelidade e responsabilidade - Experienciar os laços da interação homem-animal - Aprender a posse responsável (p.83)

Existem tratamentos para doenças nas quais a AAA está sendo

recomendada, promovendo bons resultados. Os médicos estão indicando o

tratamento medicamentoso da doença com uma psicoterapia em AAA, para

que haja uma estabilidade emocional e física nos pacientes. De acordo com

Dotti (2014):

48

Os pacientes iniciam um processo de reconhecimento do interesse sincero para com eles e, quando o animal está envolvido, a abertura para se atingir os objetivos desejados em tratamentos diversos é a principal porta de entrada nos aspectos psicológicos e emocionais. (p.249)

As doenças relacionadas são: câncer, aids, paralisia cerebral, demência,

derrame, afasia, ansiedade, depressão, síndrome do pânico e fobia social.

49

CAPÍTULO IV

O EXPERIMENTO

1 METODOLOGIA

A pesquisa foi fundamentada na abordagem sócio histórica da

psicologia, compreendendo a interação entre o meio social e os indivíduos e as

mudanças decorrentes dessa interação.

A problemática da pesquisa proposta almejou verificar se a contação de

histórias mediada pela vivência com animais é capaz de estimular o

desenvolvimento social de crianças, promovendo a expressão de sentimentos,

emoções e novas habilidades comportamentais.

Quando espontaneamente incentivamos a pessoa a se relacionar com o animal, estamos tornando possível o início de uma comunicação valiosa, mesmo que esta não seja verbal, seja gestual ou tão somente perceptível ao olhar. Aos poucos nos mostrará os melhores caminhos para alcançarmos os objetivos propostos a partir das repostas da pessoa que está sendo tratada. Nesse momento, podemos aliviar as dores físicas e emocionais, tirar a tensão da pessoa, livrando-a das angústias e agindo positivamente nos aspectos emocionais. O animal tem o poder de trazer momentos relaxantes, fazer sorrir, fazer feliz. (DOTTI, 2014 p.35)

O objetivo dessa pesquisa foi verificar a ocorrência e qualidade dos

benefícios para o desenvolvimento psicossocial das crianças atendidas em

uma instituição de ensino, no que tange às habilidades sociais, cognitivas e

emocionais, a partir da participação grupal em um programa de intervenção

com contação de história mediada pela vivência com animais.

Os animais bem domesticados trazem à criança um senso de segurança, além de proporcionar carinho e afeto. As crianças sentem-se aceitas pelo animal, o que desenvolve também a identidade e proporciona essa independência. (DOTTI, 2014 p.92)

A pesquisa denominada: As contribuições da Atividade Assistida por

Animais no Desenvolvimento Psicossocial Infantil, foi submetida na Plataforma

Brasil no dia 25 de Agosto de 2016, obtendo aprovação pelo Comitê de Ética

50

no Unisalesiano com o parecer 1.722.803, no dia 14 de Setembro de 2016.

(ANEXO A).

O projeto se desenvolveu em sete encontros, partindo de um contato

inicial com a instituição, seguido de observação da dinâmica e interação

presente na rotina das crianças em seguida, realizou-se entrevista aberta com

a professora a fim de levantar informações comportamentais de cada crianças

(APÊNDICE A).

A intervenção junto às crianças com os animais se deu em 5 encontros

de cinquenta minutos, em uma creche localizada na cidade de Lins- SP, após o

consentimento e autorização dos seus pais e/ou responsáveis, participaram da

pesquisa dezoito crianças com faixa etária entre três e quatro anos do maternal

II, que foram acompanhadas dentro do espaço institucional.

Os comportamentos foram observados dentro da rotina da escola,

registrados e analisados pelo método qualitativo, com o intuito de conhecer o

perfil das crianças participantes do estudo.

Inicialmente ocorreram visitas de observação e registro das condições

físicas e da dinâmica de funcionamento da Instituição, bem como, observação

diagnóstica e registro da interação e comportamento das crianças.

A intervenção com os animais ocorreu em grupo, com diferentes

propostas de atividades relacionadas ao contato com animais que serão

descritas adiante.

Todos os animais utilizados nessa intervenção são animais domésticos,

dessensibilizados e apresentavam boa condição de saúde. Eles foram

selecionados quanto ao bom comportamento, obediência e socialização, para

assim facilitar o desenvolvimento do trabalho com o público alvo.

No primeiro encontro investigou-se junto à professora aspectos do

desenvolvimento cognitivo e social desses sujeitos, realizou-se uma entrevista

(ANEXO B) para o registro de informações relativas a cada criança. A

entrevista foi gravada com o consentimento da professora e o seu relato

ocorreu de forma espontânea, não seguindo um roteiro específico, de modo a

garantir a livre expressão de sua fala.

Foi elaborado um roteiro norteador de observação e registro dos

comportamentos emitidos pelas crianças no decorrer das intervenções. Essas

51

observações mostraram os tipos de comportamentos mais reproduzidos por

eles, tais como: xingou, gritou, brigou, bagunça, nervoso, triste ficou com medo,

agitada, não ficou no tapete, ficou interessada, ficou sentada, ficou alegre,

abraçou, pediu carinho, deu gargalhada, ficou quieta, não participou, pegou a

bolsa, subiu na mesa, subiu na cadeira, escalou colchonetes, falou de si, falou

do outro, se preocupou com o animal, brincou com o animal, sabia sobre o

animal, não ligou para o animal. Visto que emitiram outros tipos de

comportamentos observados marcados na mesma ficha de registro na parte

descrita como observações. (APÊNDICE B).

As observações e o relato da professora serviram como subsídio no

primeiro contato, nos oferecendo um panorama das características individuais

delas no meio escolar, apenas para adquirir um conhecimento inicial do público

alvo.

A Carta de Informação ao Participante (APÊNDICE C) e o termo de

consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE D) foram entregues à

coordenadora da instituição, para que ela encaminhasse para os pais e ou

responsáveis, tendo uma semana de prazo para que os pais assinassem.

Todos os termos foram devolvidos e autorizados no prazo estipulado, vale

ressaltar que houve um termo em questão que não foi autorizado de início, pois

o pai se mostrou preocupado questionando quais animais teria contato com o

filho, após o esclarecimento da diretora e coordenadora o pai assinou o termo

autorizando o filho a participar. (APÊNDICE C)

Programou-se para o segundo encontro a intervenção com o coelho, em

conjunto com a história “O Coelhinho: o coelhinho saltitante foi explorar...” e

posteriormente houve a proposta de uma atividade de colagem em grupo, foi

disponibilizada apenas uma cartolina, com a ilustração do animal, com o intuito

de verificar as noções de espaço assim como a relação social dentro do

ambiente escolar.

O animal programado para o terceiro encontro foi a tartaruga, junto a

história “Tartaruguinha”, essa escolha se deu pois a tartaruga desperta

curiosidade através de seus movimentos mais calmos, estimulando a

concentração e relaxamento. A atividade proposta para a intervenção foi uma

corrida de duas tartarugas, dividindo-se a sala em duas torcidas de forma

52

preferencial para cada aluno, com o objetivo de trabalhar a agitação excessiva

e a ansiedade.

No quarto encontro foram levados três pintinhos, essa escolha deu-se

pela oferta de estímulo sensorial que estes animais oferecem, devido a sua

fragilidade necessitando um cuidado exacerbado, exigindo maior delicadeza no

toque, trabalhando a coordenação motora. O livro que precedeu o contato com

o animal foi “Os Dez Pintinhos Trapalhões”, para finalizar foi preparada uma

atividade lúdica onde o pintinho foi representado por uma bexiga com a

fisionomia do mesmo.

O porco foi o animal escolhido para o quinto encontro, trazendo para as

crianças um contato relevante, pensando na desmistificação do porco, pois ele

é representado por características pejorativas nos meios sociais, como sendo

um animal sujo, trazendo a repulsa. A história contada para as crianças foi “Os

três porquinhos” que traz a mensagem, que o trabalho esforçado e feito com

dedicação será sempre recompensado, após a história foram distribuídos

focinhos de porco feitos de E.V.A.

Para o sexto encontro foi programada a visita do cão, por ser um animal

domesticado e dócil, trabalhando assim o afeto, brincadeira, o cuidado e as

responsabilidades cabíveis a ele, gerando assim a autonomia e a afetividade,

como complementa Dotti:

O cão simplesmente está ao nosso lado, sempre disposto a uma brincadeira, a dar e receber afeto. E dar afeto a quem nos quer bem é fundamental para a nossa saúde físico-mental, fazendo-nos perceber, pelos sentidos, o verdadeiro significado

da vida. (DOTTI,2014 p.274)

A intervenção foi complementada com a leitura do livro “Pensando nos

Outros” que toma como lição a falta de obediência do filho com a mãe, logo

depois distribuímos máscaras para colorir em formato ilustrativo do animal.

Ainda no sexto encontro, desenvolveu-se um momento de diálogo

grupal, relembrando as atividades e intervenções efetuadas, com o intuito de

fixar e verificar a absorção e contribuição que as intervenções desencadearam

nas crianças. Observando as características apresentadas de cada participante

do trabalho, o autor Gee (2013), complementa que as crianças em convívio

53

com animais desenvolvem habilidades que não desenvolveriam sem esse

contato.

No sétimo e último encontro, uma entrevista estruturada foi realizada

novamente junto a professora do grupo, tais perguntas eram relacionadas às

percepções e conclusões da professora acerca do comportamento, expressões

e interação das crianças após a intervenção. Sendo a mesma gravada com o

seu consentimento.

2 RESULTADOS

Os resultados foram obtidos inicialmente por meio da primeira entrevista

com a professora (ANEXO B) sendo o foco voltado aos comportamentos e

interação das crianças em sua visão. A professora apontou que as crianças em

sua maioria tinham bons comportamentos, tendo uma convivência harmônica,

respeitando os colegas de classe, ajudando os menores e obedecendo às

regras combinadas.

A professora destaca uma criança em especial de baixa estatura, que

não se limita perante as dificuldades encontradas em sala e partindo dessa

situação relatou a motivação dos colegas em ajudá-la.

Constatou-se no discurso da professora que as habilidades sociais

nessa faixa etária, eram presentes na turma do maternal II, sendo as crianças

apresentadas pelos seus comportamentos, classificando-as quanto sua

facilidade ou dificuldade de emissão de respostas.

Na primeira intervenção foi levado para a sala de aula o coelho,

acompanhada da leitura da história “O Coelhinho: o coelhinho saltitante foi

explorar”, realizada em círculo para que conseguíssemos visualizar todos os

alunos. Como podemos perceber no roteiro de observação (ANEXO C), ao

apresentar o animal às crianças foram percebidos em todos os indivíduos os

seguintes comportamentos: agitação, interesse, preocupação e o brincar com o

animal. Após a leitura, aplicou-se uma atividade a qual se refere à colagem de

papeis coloridos em uma imagem desenhada em forma de coelho, havendo

apenas uma aluna que não participou da atividade, pois se dispersou subindo

nos colchonetes que estavam guardados na sala.

54

No segundo dia de intervenção foi contada a história “Tartaruguinha”,

fazendo com que todos os alunos se mantivessem sentados em círculo durante

a leitura, dentre as dezoito, sete crianças interagiram com a história, dando

opiniões e sugestões para a tartaruguinha, motivando-os a permanecer

concentrados até o início da atividade proposta, que foi uma corrida de

tartarugas. A partir do momento em que os animais entraram no contexto da

sala, notou-se agitação em duas crianças e medo em apenas uma. Foram

muito receptivos no andamento da atividade, participando através de torcida

pelos animais enquanto estavam divididos em dois grupos, animando a

atividade. As crianças tiveram a oportunidade de alimentar as tartarugas, o que

as deixou encantadas. Após esse contato direto, levou-se o grupo para a

higienização das mãos, havendo uma dispersão, ocasionando no desperdício

de água, assim como foi ilustrado por uma das crianças.

No início da terceira intervenção as crianças mostraram-se agitadas ao

encontrar com as pesquisadoras, concretizando o sentimento de alegria em

revê-las. O pintinho foi o animal levado para essa intervenção, junto à história

“Os Dez Pintinhos Trapalhões”, a qual durante a leitura, as crianças imitaram o

barulho do animal. Um fato interessante de ilustrar foi que as crianças

mostraram-se envolvidas com a leitura, pois uma das pesquisadoras cometeu

um erro que foi corrigido por duas crianças (ela trocou “pintinhos” por

“patinhos”). Posteriormente à contação, colocou-se os pintinhos no meio da

roda, e as crianças cantaram músicas temáticas para o animal, surgindo

dúvidas sobre o personagem “galo” que estava presente na leitura e não se

encontrava em sala, fazendo com que as pesquisadoras explicassem que o

“papai galo” ficou cuidando dos outros sete pintinhos, visto que só havia três

em sala. Ocorreram também comentários sobre o mau cheiro das fezes do

animal, mais isso não interferiu no carinho e afeto. Uma das crianças ficou

preocupada dizendo aos amigos para que tomassem cuidado com o animal. Ao

final do encontro foram presenteados com bexigas em forma de pintinhos,

demonstrando carinho e afeto assim como no animal.

Na quarta intervenção, ao chegarmos em sala as crianças ficaram

agitadas, lembraram os nomes das pesquisadoras, o nome do animal e da

história passada. Trabalhou-se a história “Os Três Porquinhos”, e a interação

com o porco, nomeado por dona porca pelas crianças, notou-se um receio das

55

crianças em relação ao animal, ao contrário dos encontros anteriores, três

crianças específicas não se sentiram à vontade com a presença do animal,

sendo que uma delas se manteve afastada durante toda a intervenção. Parte

da atividade era alimentar o porquinho com leite na mamadeira, fazendo uma

das crianças se manter ao lado do animal o tempo todo se preocupando.

Encerrou-se a atividade com a distribuição de focinhos de porcos em E.V.A,

fazendo as crianças se inspirarem nos sons e comportamentos do animal,

finalizando com todas imitando o porquinho.

Na quinta intervenção trabalhou-se a história “Pensando nos outros”,

que aborda o tema da desobediência do cachorrinho. Uma das crianças quis

justificar os atos do cachorrinho por possivelmente ele não ter escutado as

regras da mamãe cão. Para a atividade levamos máscaras de colorir

juntamente ao cachorro Bacon, as crianças no primeiro momento ficaram

receosas pelo tamanho do animal, aos poucos foram se familiarizando e

percebendo que o animal era dessensibilizado, três crianças tiveram o

comportamento de abraçar o cachorro, motivando as outras a confiarem no

animal, sendo assim os comportamentos de todos, foram: sentarem em círculo,

brincar com animal na guia, imitaram o cachorro e cantaram.

Ainda nessa intervenção foi desenvolvida uma roda de conversa onde

trabalhamos os encontros anteriores, quatro alunos recapitularam todos

animais utilizados nas intervenções, o que parece indicar que a atividade foi

significante havendo apropriação dos conteúdos. Ao final informamos as

crianças que seria o último encontro, despertando sentimentos de tristeza

percebida a partir do momento que as crianças disseram que seria chato não

voltarmos, imitando barulho de choro.

No último encontro tivemos com a professora do grupo, aplicando

novamente uma entrevista estruturada para sabermos se houve mudanças,

com perguntas específicas sobre a percepção dela perante o grupo, a

entrevista foi gravada com sua permissão e descrita para uma melhor

visualização e entendimento. Sendo assim primeiramente as perguntas eram

feitas depois a professora elaborava a resposta de imediato, relacionando a

pesquisa com as mudanças de comportamentos ilustrando que as crianças

estavam mais harmônicas, sensíveis, carinhosas, a pesquisa desenvolvida foi

56

muito benéfica e que essa oportunidade que eles tiveram os muda dentro do

contexto social, propiciando que ela se sinta motivada em trabalhar com as

crianças da mesma forma porque o resultado é visível e sentido.

3 DISCUSSÃO

A presente pesquisa realizada com o público de crianças do maternal II

permitiu-nos observar comportamentos que consideramos ser positivos a partir

do trabalho que foi exercido, alcançando os resultados esperados.

As atividades foram relacionadas com histórias, música, imaginação,

roda de conversa, pintura e o contato com os animais, assim propiciando o

desenvolvimento e a aprendizagem de habilidades sociais, despertando o fator

emocional de cada criança. De acordo com Silva

:

No entanto as atividades socializantes presentes nas creches, bem como a modelação de novos padrões comportamentais das mesmas podem contribuir para a extinção de comportamentos problema, auxiliando assim, os recursos mantenedores. (SILVA. 2002, p.235)

Durante os encontros foram apresentados às crianças animais

dessensibilizados com características previamente estabelecidas para a

intervenção. Observou-se aceitação geral das crianças no decorrer das

visitações em relação aos animais, mostrando o cuidado em nomear, tocar,

pegar, alimentar, acariciar, respeitando as limitações e regras impostas no

convívio com cada animal apresentado.

A relação que a criança forma com o animal, é distinta da que forma

com um brinquedo, não existe troca de palavras, mas a relação é feita através

de gestos e movimentos, possibilitando que a mesma desenvolva uma maneira

de comunicação onde pode expressar abertamente os sentimentos. (DOTTI,

2014).

Acompanhando a presença do animal, foram realizadas contações de

histórias seguidas de atividades lúdicas dirigidas a cada dia. As crianças nas

duas primeiras intervenções apresentaram comportamentos dispersos, mas

que faziam parte da construção do vínculo, que foi evoluindo a cada encontro,

sendo esse mediado através da relação com os animais, facilitando a

57

socialização com as pesquisadoras e proporcionando uma satisfatória

interação no decorrer dos encontros.

Dentro da relação com essas atividades, as crianças apresentaram

contentamento, participando alegremente das histórias, fazendo com que essa

relação ficasse mais dinâmica e construtiva. Também foram cantadas músicas

relacionadas aos animais, em todos os encontros, com gestos e brincadeiras,

deixando as crianças ativas e participativas.

Segundo Mahoney e Almeida (2005) afetividade é a capacidade do

individuo de ser afetado pelo ambiente, por sensações que podem ser

agradáveis ou desagradáveis, e isso significa responder com atividades

internas ou externas à estímulos do meio. O desenvolvimento deve ser

entendido como um processo de assimilação dos elementos culturais, que

acontecem a partir das relações interpessoais e relações intrapessoais.

Vigotski (2001) afirma que o professor deve preocupar-se em relacionar

o novo conhecimento com a emoção, caso contrário o saber torna-se morto.

Percebe-se que ao trabalhar a AAA junto com a contação de história, as

pesquisadoras conseguiram desenvolver a emoção as crianças e

consequentemente, o aprendizado delas.

No decorrer dos encontros notou-se uma diferença nos comportamentos

das crianças, após as interversões com os animais, havendo assim uma

confirmação de que o animal disponibiliza para o indivíduo um efeito relaxante,

criando assim um ambiente livre de ansiedade, pois eram estimulados

comportamentos e regras como saber esperar a sua vez para interagir com o

animal, controlar impulsos para respeitar a integridade do animal no caso dos

mais frágeis como os pintinhos e o coelho, exercitar a escuta e atenção na

ocasião da contação das histórias, praticar a paciência, a concentração,

tolerância e a perseverança para torcer e estimular as tartarugas na corrida.

Também foram observadas a superação de sentimentos negativos frente ao

desconhecido, como o medo no caso do cão que era um animal dócil, porém

grande e robusto, o asco e a evitação no caso do porco que desencadeia

inicialmente a rejeição, sentimentos esses que ao longo das intervenções

foram substituídos por manifestações de cuidado, de carinho, confiança e

delicadeza.

58

Na entrevista com a professora pôde-se perceber sua posição em

relação a AAA, quando cita a importância do animal na vida da criança.

Segundo ela: “desperta a sensibilidade, eu acho que a partir do momento que

uma criança vive com um animal, independentemente do tipo de animal, ele se

torna mais sensível, porque o animal por ele ser um ser indefeso, ele te

desperta carinho, delicadeza”.

A fala da professora é baseada no senso comum, mas é confirmada por,

Tatibana e Costa-Val (2009), segundo elas “crianças que convivem com

animais se tornam mais afetivas, solidárias, sensíveis, com maior senso de

responsabilidade, e compreendem melhor o ciclo vida-morte”.

As hipóteses propostas na pesquisa foram confirmadas, a partir das

intervenções foi possível perceber que a contribuição dessa vivência com os

animais é positiva ao que tange o desenvolvimento social, ou seja, ajudando na

estimulação da relação e comunicação da criança em seu meio social,

estimulando sua expressão e aquisição de novas habilidades sociais e

emocionais. Essa contribuição foi constatada através das falas trazidas por

eles, criando um leque de informações de seu meio familiar, fazendo a ligação

desses dois contextos, deixando clara a transcendência que houve na troca de

experiências, resultando em um diálogo mais concreto, trazendo informações

válidas para a discussão.

Ao longo das intervenções, o contato com os animais despertou

sentimentos e emoções no grupo, que puderam ser internalizados pelas

crianças, associando suas vivências particulares. Uma das crianças

compartilhou uma experiência que para ela foi muito significativa deixando-a

triste, ela pode se expressar em relação a perda de seus pintinhos de

estimação. Julgou-se importante essa situação, pois a criança pôde verbalizar

um sentimento, desta forma sendo acolhida pelo grupo assim como pelas

pesquisadoras.

A sociedade está cada vez mais distante da natureza, com o

desenvolvimento industrial, tecnológico e a falta de tempo provocados pela

globalização, torna-se cada vez mais difícil o contato com áreas naturais.

Segundo Hara (2007) estudos apontam que crianças que passam mais tempo

em contato com a natureza exibem comportamentos mais afetuosos, fantasiam

59

mais, têm um brincar desenvolvido, assim como possuem uma percepção mais

elaborada do espaço em que vive. A realidade apresentada para uma grande

parte das crianças é uma rotina escolar que privatiza a natureza, oferecendo

apenas salas de aulas simplórias a fim de concentrar a atenção da criança

exclusivamente na professora. Percebemos essa dinâmica no relato da

professora da creche:

[...] mas o mundo da gente está tão autodestrutivo, as

pessoas não tem respeito pela natureza, exatamente por não ter convívio com os animais, não ter convívio com árvore, que “nem” aqui mesmo na creche, a gente tinha duas árvores maravilhosas e o progresso fez o que? Elas foram embora, então eu acho assim as crianças perderam isso e foi tão lindo o dia que a gente foi no horto, que nós fomos plantar árvores, eles ficaram tão felizes, então eu acho assim o contato com a natureza ele é benéfico para a criança [...]

No que tange às habilidades sociais, percebeu-se que o contato com o

animal possibilitou a sensibilidade das crianças, proporcionando a

compreensão da fragilidade dos colegas assim como a dos animais, pois

durante um dos encontros uma criança defendeu uma colega dizendo: “D.

cuidado com a L. ela é fraquinha igual ao pintinho, tem que tomar bastante

cuidado”. Podendo assim perceber que as crianças se desenvolvem, assim

como, aprendem com os animais.

Os resultados obtidos pela pesquisa, permitiram observar que houve

mudanças no repertório comportamental e emocional das crianças da creche

após as interversões de atividades assistidas por animais.

60

CONCLUSÃO

A partir da experiência desenvolvida, conclui-se que os objetivos

propostos foram alcançados, pois constatou-se que a hipótese inicial de que a

contação de histórias mediada pela vivência com animais é capaz de incentivar

o desenvolvimento social e emocional de crianças, promovendo a expressão e

estimulando novos sentimentos, comportamentos e emoções.

No entanto compreende-se que durante as intervenções mediadas pelos

animais surgiram em todas as crianças comportamentos e sentimentos dos

quais se tornaram um agente facilitador para a criação do vínculo com as

pesquisadoras.

A pesquisa veio ressaltar o aprendizado e desenvolvimento

proporcionado pela interação das pesquisadoras junto as crianças da creche,

mediada pelos animais, que em uma relação de troca de experiências, foi

capaz de levar as crianças a realizarem novas descobertas e interesses,

estabelecendo uma história de vinculação com o animal.

A atividade assistida por animais proporciona muitas sensações e

estímulos, a partir da relação com a natureza, pois nos encontros foi possível

observar as crianças atentas às histórias, expressando sentimentos negativos

e positivos, admiração, medo, curiosidade, espanto, interesse e expectativa.

Durante os encontros as crianças participavam das histórias contadas,

envolvendo-se na história, mostrando emoções correlacionadas aos

personagens.

Os recursos para as intervenções foram músicas, fábulas, dinâmicas e

os animais, criando um ambiente lúdico possibilitando o desenvolvimento

psicossocial das crianças, habilidades emocionais, cognitivas e

comportamentais, observando-se as interações das crianças na realização das

atividades como pinturas e desenhos havendo engajamento nas atividades

propostas.

As limitações presentes na pesquisa devem-se ao curto espaço de

tempo de realização das intervenções, pois ocorreu em cinco encontros de

cinquenta minutos cada. Embora as crianças desde o início demonstrassem

interação nas respostas tornando-se fundamental para a realização do trabalho

61

e a evidência dos benefícios identificados a partir das reações positivas

verificadas a cada encontro. Sugere-se em estudos futuros que se dê

continuidade à intervenções nessa modalidade, pois se mostrou efetivo no

alcance dos objetivos propostos, e para que se construa e se obtenha

resultados mais duradouros em um espaço de tempo maior.

62

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Papirus, 2013.p.47

.

65

APÊNDICES

66

APÊNDICE A - PRIMEIRA ENTREVISTA COM A PROFESSORA

Marcela: Boa tarde professora, somos estagiárias de Psicologia e queríamos

saber um pouco sobre os alunos do maternal 2, podemos começar pelo B. ?

Professora: O B. é uma criança muito amorosa, porém tem dias que demora

para se entrosar.

Marcela: O C.

Professora: O C. dá trabalho, não dá sossego, ele fala bastante, mais ele é

uma criança muito inteligente, a resposta do que você oferece para ele é muito

rápida, ele é bem ativo.

Marcela: E.S.

Professora: E.S é bem delicada, porém agora está um pouco mais

comunicativa, ela é bem calma, não responde tão rápido quanto aos outros,

mas é inteligente e calma.

Marcela: E.R

Professora: A E.R. era mais tímida porém também tem uma boa resposta nas

atividades, é uma criança calma.

Marcela: G. D.

Professora: Possui uma imaginação extremamente ativa, além de ser

inteligente, é muito comunicativa. Consegue fazer a ligação entre o imaginário.

Marcela: M. J.

Professora: M.J. não é muito comunicativa porém é inteligente, é

extremamente observadora.

Marcela: J. R.

Professora: A J. tem hora que as resposta é rápida, tem hora que a resposta é

lenta, ela fala um pouco enrolado, é comunicativa também porém ela é

ciumenta.

Marcela: L.

Professora: A L. dispersa muito rápido, é inteligente mais ela é bem

infantilizada, tanto no falar, ela é muito mimada,

Marcela: A.

Professora: O A. é extremamente mimado, ele brinca mais no tempo dele, do

jeito dele, porém é tranquilo.

Marcela: B.

Professora: A B. aparenta ser calma porém é muito agitada, geralmente não

cumpre os combinados feitos em sala.

Marcela: L.

Professora: Então a L. é muito comunicativa, bem inteligente não é uma

criança egoísta, além de ser muito esperta.

Marcela: M.N

Professora: M. N. é calma, inteligente, porém introvertida.

67

Marcela: M. L.

Professora: A M. L. é extremamente egocêntrica, mas é inteligente, fala alto,

porém é de personalidade, quando é pedido para ela fazer algo e ela não quer,

não faz.

Marcela: P.

Professora: O P. é desobediente, ele não cumpre combinado, é extremamente

egoísta, egocêntrico, é uma criança bem difícil e rebelde.

Marcela: R.

Professora: O R. é muito amoroso, inteligente, fala muito beme extremamente

educado.

Marcela: O N.

Professora: N. é uma criança doce, muito amedrontada, porém com raciocínio

lento.

Marcela: H.

Professora: A H. é muito inteligente, uma criança carente, precisa de atenção,

ela é muito bem cuidada, super inteligente, extremamente comunicativa.

Marcela: J.

Professora: J. é muito mimada porém é inteligente, fala baixinho. Percebe-se

que é muito vulnerável.

Natalia: D.

Professora: O D. S. era calmo, tranquilo, extremamente quietinho, agora ele

exige muita atenção só que ele é inteligente, bem comunicativo.

68

APÊNDICE B – FICHA DE COMPORTAMENTOS

69

APÊNDICE C – CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA

PESQUISA

1. O objetivo da nossa pesquisa é verificar a qualidade dos benefícios para o desenvolvimento social das crianças da creche a partir da participação grupal em um programa de contação de Histórias com a presença de animais. 2. Serão realizados encontros com o grupo de crianças, onde os pesquisadores vão desenvolver atividades criativas com a participação dos animais. 3. Considera-se que a interação com os animais é passível da ocorrência de riscos provocados pelo contato físico e emocional com os sujeitos da pesquisa, como: alergias, mordidas e/ou arranhões, além do vínculo emocional que poderá requer uma necessária ruptura. Portanto, visando diminuir esses riscos, os animais participantes terão laudo veterinário de profissional que será prospectado pelas pesquisadoras como voluntário para esta finalidade, que ateste sua boa condição de saúde, bem como, buscar-se-á escolher animais domesticados e dessensibilizados, que tenham boa interação com seres humanos e que não apresentem riscos comportamentais. 4. Na ocorrência de qualquer eventual incidente físico, serão encaminhados ao atendimento médico e não haverá ônus aos participantes da pesquisa, sendo de responsabilidade do pesquisador responsável e instituição. 5. Os benefícios que a pesquisa oferece aos participantes são: à aquisição de habilidades cognitivas, emocionais e sociais por parte das crianças, ocasionadas pelo contato com os animais, a contação de histórias e as atividades correlatas. Espera-se promover momentos que desencadeiem sentimentos positivos às crianças, ampliando seus repertórios de habilidades sociais e o maior interesse por situações de aprendizagem, bem como favorecer o desenvolvimento de aspectos da inteligência emocional. 6. As atividades realizadas na Creche Dom Bosco fazem parte de um estudo cientifico, devido a isso informamos que as crianças serão fotografadas, como parte documental do estudo.

70

APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

(T.C.L.E)

Eu..............................................................................................................................,

portador do RG n°. ............................................................, atualmente com ............. anos,

residindo na ................................................................................................................................... ,

após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA,

devidamente explicada pela equipe de pesquisadoras, apresento meu CONSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO em permitir a participação do meu filho(a) .................................

............................................................. na pesquisa proposta, e concordo com os procedimentos

a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.

Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou ciente de que todo

trabalho realizado torna-se informação confidencial guardada por força do sigilo profissional e

que a qualquer momento, posso solicitar a minha exclusão da pesquisa.

Ciente do conteúdo, assino o presente termo.

Local, ............. de ............... de 20.....

........................................................................................

Assinatura do Participante da Pesquisa

..................................................................................................

Pesquisador Responsável: Liara Rodrigues Oliveira

CPF 326.835.848-9

Curso de Psicologia

Instituição Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

71

APÊNDICE E – SEGUNDA ENTREVISTA COM A PROFESSORA

Marcela: O convívio com os animais pode ajudar as crianças?

Vânia: Com certeza, desperta a sensibilidade, desperta carinho, delicadeza

então eu acho muito importante.

Marcela: Esse tipo de atividade pode ser benéfica? Em que sentido?

Vânia: Sim, pois o mundo está tão autodestrutivo, as pessoas não tem respeito

pela natureza e foi tão lindo o dia que a gente foi no horto, que nós fomos

plantar árvores, eles ficaram tão felizes, então eu acho assim o contato com a

natureza ele é benéfico para a criança sim.

Marcela: Quais animais você acha interessante para o uso das atividades?

Vânia: Eu acho que os que vocês trouxeram são ótimos, todos os animais são

importantes, todos eles trazem alguma coisa de diferente.

Marcela: Durante as atividades, você notou comportamentos diferentes, nas

crianças?

Vânia: A euforia, mexeu com a sensibilidade, com a criatividade, aguça todos

os sentidos.

Marcela: Teve alguma criança em especifico que você notou comportamento

diferente, durante as atividades?

Vânia: Quando vocês trazem alguma coisa diferente ou quando vocês mesmo

estão presentes, a tendência é quererem chamar a atenção. Muda o cotidiano

deles, é natural deles, eles sempre vão querer fazer alguma coisa pra chamar a

atenção.

Marcela: O que você achou mais interessante durante todos os encontros?

Vânia: O diálogo, que é sempre muito importante, independente você trás um

animalzinho, independente de qual seja, se você só trouxer, não tiver uma

proposta, não conversar, não tentar tirar deles o que está acontecendo, vai ser

em vão, então o diálogo foi de extrema importância, lógico que tem a

culminância, vocês sempre fazem alguma atividade depois, pra fechar pra

completar. Tem a historinha que vocês contam, mas o diálogo, vocês extraírem

aquilo que eles estão pensando, pra mim isso é o mais importante.

Marcela: Você acredita que houve alguma mudança no clima da sala, após a

nossa saída?

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Vânia: Eles ficam mais eufóricos, eles ficam conversando, eles falam, eles

tentam imitar aquilo que aconteceu.

Marcela: Chegou a conversar com algum pai de alguma criança, sobre a

intervenção?

Vânia: Não, infelizmente não. Eles não questionam muito, eles são muito

alheios ao que acontece dentro do ambiente da creche.

Marcela: Você percebeu alguma contribuição, com o nosso trabalho?

Vânia: A sensibilidade fica maior, ficam mais carinhosos, eles procuram tentar

fazer no coleguinha o que fez com o animal, não pode apertar o bichinho então

não vamos apertar o colega. Então assim já é importante, e sempre trás um

diálogo a evolução da fala, porque quer falar tudo o que aconteceu, tudo que

viu, tudo o que experimentou.

Marcela: Você acredita que foi válida a intervenção?

Vânia: Claro que foi, sem dúvida. E até mesmo não é só valido para as

crianças, é para gente também. A experiência foi ótima.

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ANEXOS

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ANEXO A – FOLHA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

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