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APOSTILA TEMA: JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
A intenção foi desafogar as varas cíveis, no sentido de que as causas de menor
alçada pudessem ter solução mais breve e assim satisfazer melhor a expectativa das partes
de verem solucionado um litígio.
O Juizado Especial Cível nasceu em 1995, com a Lei n. 9.099, de 26.09.95, a
partir da experiência bem sucedida do Tribunal de Pequenas Causas. Para as causas mais
simples e de menor valor, propostas por pessoas físicas, a lei desde 1984 já instituía um
procedimento informal, que privilegiava o acordo entre as partes e o contato direto delas
com o juiz, sem a necessidade de contratação de um advogado. O processo se tornava
ágil e rápido, mas sem perder a segurança, o que fez do "Pequenas Causas" um
verdadeiro instrumento do exercício da cidadania.
A lei de 1995 veio aprimorar o sistema, ampliando a competência do Juizado
tanto com relação à matéria, quanto em relação ao valor. Desse modo, o cidadão comum
encontrou o foro no qual procurava resolver suas pendências cotidianas, aquelas que antes
ficavam longe da apreciação da Justiça, causando um sentimento de impunidade. O caráter
didático da atuação do Juizado hoje pode ser medido na atitude da pessoa comum que,
diante de uma injustiça, não deixa de "procurar seus direitos".
Recentemente, a Lei n. 9.841, de 1999, estendeu o procedimento do Juizado
também as microempresas, diante do interesse dos empresários, que também queriam
contar com a eficiência do procedimento da Lei n. 9099/95. Não se pode negar hoje a
tendência de que a agilidade do procedimento do Juizado venha a ser incorporada ao
processo comum, dotando o juiz de um instrumento eficaz no combate a morosidade do
processo.
Os juizados especiais cíveis, dotados da incumbência de conciliar, julgar e
executar as causas de menor complexidade, tem sede na Constituição Federal em seu
artigo 98, I, e, seguindo os princípios da oralidade, informalidade, economia processual,
celeridade e simplicidade, cumprem a missão de abrir as portas do Poder Judiciário às
pessoas mais carentes, atendendo a uma demanda reprimida, mediante a oferta de um
processo rápido, econômico e simples.
PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO JUIZADO
Qualquer processo, por mais simples que seja precisa seguir a certos
princípios com a finalidade de dar uma orientação ao processo legal. Note-se que a falta de
qualquer deles pode ensejar nulidades.
Os princípios orientadores do Juizado Especial Cível são: oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, visando sempre que possível
a conciliação ou a transação (artigo 2º da Lei 9.099).
Oralidade
Nunca houve um processo nem totalmente oral nem apenas escrito. Sempre se
utilizaram atos orais e atos escritos em conjugação na atividade jurisdicional.
Quando se afirma que o processo se baseia no princípio da oralidade, quer-se
dizer que ele é predominantemente oral e que procura afastar as notórias causas de lentidão
do processo predominantemente escrito. Assim, processo inspirado no princípio ou no
critério da oralidade significa a adoção de procedimento onde a forma oral se apresenta
como mandamento precípuo, embora sem eliminação do uso dos registros da escrita, já que
isto seria impossível em qualquer procedimento da justiça, pela necessidade incontornável
de documentar toda a marcha da causa em juízo.
O processo dominado pela oralidade funda-se, destarte, em alguns
subprincípios que implicam uma decisão concentrada, imediata, rápida, e irrecorríveis suas
interlocutórias, além também o da identidade física do juiz. É o conjunto desses critérios que,
sendo adotados com prevalência sobre a pura manifestação escrita das partes e dos juízes,
dá configuração ao processo oral.
Pelo imediatismo deve caber ao juiz a coleta direta das provas, em contato
imediato com as partes, seus representantes, testemunhas e peritos.
A concentração exige que, na audiência, praticamente se resuma a atividade
processual concentrando numa só sessão as etapas básicas da postulação, instrução e do
julgamento, ou, pelo menos, que, havendo necessidade de mais de uma audiência, sejam
elas realizadas em ocasiões próximas.
A identidade física do juiz preconiza que o juiz que colhe a prova deve ser o
mesmo que decide a causa.
E, enfim, a irrecorribilidade tem a função de assegurar a rápida solução do
litígio, sem a interrupção da marcha do processo por recursos contra as decisões
interlocutórias.
Na verdade, não se chega ao extremo de impedir a impugnação dos decisórios
sobre as questões incidentais. Satisfaz-se a exigência desse princípio privando o agravo de
sua eficácia suspensiva ou determinando que seja ele retido nos autos para exame e
julgamento, ao final do procedimento, de molde a não prejudicar o seu andamento normal.
Tudo isso deve orientar o aplicador da lei quando estiver manejando o
procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Civil. Por integrar a ideologia do instituto, a
intenção do legislador é, no texto do artigo 2º da Lei 9.099, criar um clima de ordem
psicológica que estimule juiz e partes a procedes em atividade de íntima colaboração na
solução rápida e direta do conflito.
Simplicidade
Este princípio se confunde um pouco com o princípio da informalidade, que o
processo deve ser simples, sem a complexidade exigida no procedimento comum. As
causas complexas, não se recomenda, processá-las perante os Juizados Especiais Cíveis,
considerando que as referidas causas, via de regra, exigem a realização de prova pericial, o
que não é recomendado pelo procedimento, salvo quando o reclamante já adunar à inicial a
prova técnica necessária para a comprovação de seu direito articulado na peça inaugural da
ação.
Porém importante se faz ressaltar que a simplicidade não pode também ser
confundida com a inexistência de autos; há necessidade de registros, ainda que sumários,
pois as partes precisam de elementos não só para a execução, como também para
possíveis recursos.
Informalidade
Os atos processuais são os mais informais possíveis, e, com base nesse
princípio, admite-se a propositura da reclamação de forma oral, através de termo lavrado
pelo cartório secretário, a presidência da audiência conciliatória por um conciliador, a
presidência da audiência de instrução e julgamento por um juiz leigo, o qual proferirá sua
decisão, a atribuição da capacidade postulatória sem assistência de advogado, quando o
valor da causa for igual ou inferior a 20 salários mínimos.
O princípio da oralidade também pode corresponder ao registro do que seja
realmente necessário, bem resumido, sem os excessos inúteis, que, em regra, constam dos
autos dos processos.
Economia processual
O princípio da economia processual visa o máximo de resultados com o
mínimo de esforço ou atividade processual, aproveitando-se os atos processuais praticados.
Celeridade
A celeridade, no sentido de se realizar a prestação jurisdicional com rapidez e
presteza, sem prejuízo da segurança da decisão. A preocupação do legislador com a
celeridade processual é bastante compreensível, pois está intimamente ligada à própria
razão da instituição dos órgãos especiais, criados como alternativa à problemática realidade
dos órgãos da Justiça comum, entrevada por toda sorte de deficiências e imperfeições, que
obstaculizam a boa fluência da jurisdição. A essência do processo especial reside na
dinamização da prestação jurisdicional, daí por que todos os outros princípios informativos
guardam estreita relação com a celeridade processual, que, em última análise, é objetivada
como meta principal do processo especial, por representar o elemento que mais o diferencia
do processo tradicional, aos olhos do jurisdicionado. A redução e simplificação dos atos e
termos, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias, a concentração dos atos, tudo, enfim,
foi disciplinado com a intenção de imprimir maior celeridade ao processo.
Devemos salientar a importância da efetiva aplicação dos princípios supra, de
forma a tender aos fins colimados com a criação dos Juizados Especiais, facilitando o
acesso das partes à prestação jurisdicional e à satisfação imediata dessa prestação,
contribuindo ainda para o descongestionamento do juízo comum.
É importante a aplicabilidade técnica dos princípios que orientam o
procedimento dos processos em trâmite pelos Juizados Especiais Cíveis, pois a observância
desses princípios pelo julgador, indubitavelmente, contribuirá para o desenvolvimento dos
órgãos e atenderá aos fins visados com sua criação.
COMPETÊNCIA
Quanto ao valor de alçada
A Lei nº 9.099/95 em seu art. 3º inciso I, fixa o valor da alçada não excedente a
40 (quarenta) vezes o salário mínimo vigente à data à do ajuizamento da ação. Para apurar-
se o valor da causa, deve-se somar, o principal com os acessórios até a época da
propositura da ação.
É oportuno salientar que, superando o valor da causa ao valor da alçada e não
sendo logrado êxito, na conciliação das partes, importa, conseqüentemente, em renúncia
automática do crédito excedente, nada impedindo que o reclamante desista, naquele
momento, de prosseguir com a ação perante o Juizado, buscando a via judicial comum, isso
sem anuência da parte contrária, uma vez que o valor de alçada deve ser respeitado
somente para efeito de condenação e não para fins conciliatórios, conforme ilação do
disposto no art. 3º, § 3º, c/c com o art. 39 da mesma lei, que torna ineficaz a sentença
condenatória na parte que exceder o valor de alçada.
O conciliador, quando da presidência da audiência conciliatória, percebendo
que o crédito do reclamante é bem superior ao valor de alçada, não conciliando as partes,
deve alertar o reclamante no sentido de, insistindo este no prosseguimento da reclamação
perante o Juizado, estar ele renunciando, automaticamente, ao seu crédito excedente ao
valor de alçada.
Destarte, não pode o cartório deixar de receber e processar normalmente a
inicial que tenha valor da causa superior ao de alçada.
Quanto às matérias de competência do Juizado
O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e
julgamento das causas cíveis de menor complexidade assim consideradas:
I – as causas cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo;
II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III – a ação de despejo para uso próprio;
IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao de
alçada.
Compete ainda ao Juizado Especial promover a execução de seus julgados,
bem como dos títulos executivos extrajudiciais, no valor não superior a 40 vezes o salário
mínimo, observando o disposto no art. 8º da Lei nº 9.099/95.
Quanto às causas cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo, temos aí
uma competência elástica do Juizado Especial Cível para processar e julgar as causas que
não envolvam matéria de competência específica de outros órgãos jurisdicionais, como as
ações de família, ações falimentares etc., nem aquelas excluídas da competência do
Juizado, por força do § 2º do art. 3º da Lei 9.099/95.
No tocante a essa competência genérica do Juizado, firmada pelo inciso I do
art. 3º da lei, o valor de alçada é considerado apenas para efeito de condenação, o que não
obsta a propositura da ação mesmo quando o valor atribuído à causa, for superior ao de
alçada, sendo eficaz a sentença que homologar o acordo celebrado entre as partes em valor
superior ao de alçada, tendo em vista os fins conciliatórios colimados pelo Juizado. Somente
a sentença condenatória é ineficaz na parte que exceder a alçada estabelecida pela lei,
mesmo porque a opção pelo procedimento das ações perante o Juizado Especial Cível
importará em renúncia ao crédito excedente ao valor de alçada, excetuada a hipótese de
conciliação, como ressalva o § 3º do seu art. 3º.
Já o inciso II do aludido artigo firma a competência do Juizado Especial Cível
para processar e julgar as ações sumárias elencadas no art. 275, inciso II, do Código
Nacional de Ritos.
Assim, são de competência do Juizado Especial Cível as causas específicas de
valor não excedentes a 40 salários mínimos, para fins de condenação:
a) - de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) - de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao
condomínio;
c) - de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) - de ressarcimento por danos causados em acidentes de veículos,
ressalvados os casos de processo de execução;
c) - de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente
de veículo, ressalvados os casos de processo de execução;
e) - de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o
disposto em legislação especial;
f) - nos demais casos previstos em lei.
Causas excluídas do Juizado Especial em razão da matéria:
alimentar, falimentar, fiscal, e interesse da Fazenda Pública, relativas a
resíduos, estado e capacidade das pessoas
O Juizado Especial não atua em causas de natureza alimentar. Causa de
natureza alimentar é o que decorre da obrigatoriedade de prestação de alimentos, em razão
de parentesco ou afinidade. Não são causas, de natureza alimentar aquelas que objetivam
indenização por ato ilícito, sob forma idêntica à prestação de alimentos.
Também não estão sujeitas ao Juizado Especial as causas de falências e
concordatas.
O juízo de falências e concordatas, são indivisíveis e competentes, para todas
as ações e reclamações sobre interesses e negócios da massa falida, processadas na forma
da Lei de Falências. A massa falida, por outro lado, não pode ser parte no Juizado Especial.
Em conseqüência, além da própria declaração de falência, todas as causas que envolvem a
massa falida ficam excluídas do Juizado Especial.
As causas relativas a acidentes do trabalho também não podem ser julgadas
no Juizado Especial.
Causas relativas a acidentes do trabalho são todas aquelas que encontram
respaldo na Lei nº 8.213/91. O simples fato de a pessoa sofrer acidente, quando está
trabalhando, não caracteriza o acidente do trabalho, no sentido técnico-jurídico, se não
ocorrer a relação de dependência prevista na referida lei. Assim, o autônomo que,
trabalhando para alguém, vier a sofrer qualquer acidente, em decorrência de culpa de
outrem (o que não é exigido para a “ação acidentário”), pode, perfeitamente, socorrer-se do
Juizado Especial, desde que respeitem os limites determinados no art. 3º.
Diz a lei, que as causas relativas ao estado e capacidade das pessoas não
serão objeto do Juizado Especial, “ainda que de cunho patrimonial”. A lei, por ser cautelosa
em demasia, estabeleceu condição que não carecia de referência. Se a lide tem por objeto o
estado ou a capacidade, nunca terá cunho patrimonial. Estado e capacidade poderão ser
questões que emergem no processo, mas, se não constituem objeto da lide, são
perfeitamente solucionáveis no Juizado Especial. O contrato de venda de coisas móveis
poderá, por exemplo, ser declarado nulo, ou anulado, por ser o vendedor, ou o comprador,
incapaz.
A capacidade pode ser de direito ou de exercício do direito. Quem tem
capacidade de direito chama-se pessoa. O atributo de gozo de direitos é a personalidade.
Há pessoas que têm capacidade de exercício de seus direitos, embora tenham
personalidade de direito chama-se pessoas. A incapacidade pode ser plena ou relativa. No
primeiro caso, o incapaz é representado; no segundo, simplesmente assistido.
As causas relativas ao estado da pessoa relacionam com o estado político,
cuja definição se limita a indagar se a pessoa é nacional ou estrangeira, com o estado
familiar, ou seja, a posição da pessoa em família, nela se incluindo as questões de
paternidade, maternidade, parentesco, adoção, casamento, divórcio, separação etc.
Causas de natureza fiscal são todas aquelas que dizem respeito a dívidas
tributárias e não tributárias para com a Fazenda Pública, e causas de interesse desta as que
podem afetar diretamente o patrimônio da União, dos Estados e dos Municípios. As causas
referentes a empresas públicas, a fundações públicas e as sociedades de economia mista
não afetam diretamente os patrimônios referidos; logo, portal razão, não se excluem do
Juizado, se bem que as empresas públicas da União ficam excluídas em razão da pessoa
por disposição expressa, e as sociedades de economia mista só podem atuar como rés, já
que pessoas jurídicas não podem ser autoras.
Da competência do Juizado Especial Cível para a ação monitória
É perfeitamente cabível a propositura da ação monitória perante o Juizado
Especial Cível. Essa ação visa a pré-constituição do título de crédito extrajudicial originário
de uma simples confissão de obrigação de pagar determinada soma em dinheiro, entrega de
coisa fungível ou de determinado bem móvel, revestido o título das formalidades legais que
o fazem tornar hábil à execução.
A ação monitória é uma ação preparatória para a ação de execução e,
considerando a competência do Juizado Especial Cível para a execução de títulos
extrajudiciais e em vista dos fins da ação monitória de pré-constituição de um título
extrajudicial hábil á execução, tratando-se de causa de valor não superior a 40 salários
mínimos, é cabível sua propositura perante o Juizado, mesmo a lei orientando que os
embargos na ação monitória independem de prévia segurança do juízo e serão processados
nos próprios autos, pelo procedimento ordinário.
Da absorção das matérias dos Juizados de Pequenas causas pela Lei nº 9.099/95
É oportuno ressaltar que as matérias de competência dos Juizados de
Pequenas Causas e do Consumidor foram absorvidas pelos Juizados Especiais Cíveis, tais
como as que se seguem:
1) Pedido de condenação ao pagamento de quantias em dinheiro em valor não
superior a 40 (quarenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País.
2) Pedido de condenação à entrega de coisa certa móvel ou obrigação de
fazer, a cargo de fabricantes ou fornecedor de bens e serviços.
É grande a procura do Juizado para dirimir os conflitos decorrentes da relação
de consumo, reclamando o consumidor a entrega de mercadoria prometida; visando à troca
de objetos entregues com defeito de fabricação; pleiteando a rescisão contratual com a
evolução do preço pago pela mercadoria adquirida no comércio; repetição de indébito com o
reembolso da importância para a maior, e outros conflitos sociais envolvendo uma relação
jurídica.
Cabe salientar que, tratando-se de conflitos decorrentes de defesa do
consumidor, o valor de alçada não é observado. Portanto, não há limite quanto ao valor da
causa para efeito de condenação do Juizado Especial para dirimir os conflitos inerentes à
relação de consumo, sem fazer alusão ao valor de alçada atribuído pela lei 9.099/95, que
regula o procedimento perante aquele órgão jurisdicional.
1) Pedido de desconstituição e de declaração de nulidade de contrato de coisas
móveis ou semoventes.
2) Em contratos nulos, pode ser proposta a reclamação visando à decretação de
uma nulidade relativa, cujos efeitos da sentença que reconhecer os vícios são ex nunc (ou
seja, produzirá seus efeitos a partir do seu trânsito em julgado) ou a declaração de nulidade
absoluta, produzindo efeitos ex tunc, (Isto é, a partir da celebração do ato jurídico inquinado
do vício).
Cabe ainda a reclamação perante o Juizado Especial Cível, quando houver
descumprimento do contrato por qualquer das partes da relação contratual, visando,
destarte, á rescisão do contrato celebrado, desde que nas hipóteses supra – elencadas,
tenha o contrato por objeto coisas móveis ou semoventes.
3) Ação declaratória para reconhecimento de débito real
Insta ressaltar inicialmente que a ação colocada à disposição do devedor que
está sendo cobrado em valor superior ao devido para compelir o credor a receber o débito
real é a ação de consignação em pagamento, para a qual, é adotado um rito processual
especial, regulado no Código de Processo Civil. Portanto, não cabe no âmbito do Juizado a
propositura de tal tipo de ação, tendo em vista a especialidade do rito processual adotado.
Por outro lado, para amenizar essa situação e atrair a competência do Juizado
Especial Cível, o devedor, na prática, que pague o valor cobrado a maior e promova perante
o órgão jurisdicional citado ima ação de repetição de indébito, a fim de obrigar a parte
contrária ao reembolso da importância cobrada a maior, atualizada monetariamente. Nesse
caso, o objeto da ação é uma condenação ao pagamento de quantia em dinheiro, cuja
competência está declinada pelo inciso I, do art. 3º da Lei nº 9.099/95.
Pode ainda o devedor, não pretendendo se utilizar do mecanismo prático
citado, a que muitas vezes é compelido, tendo em vista a exorbitância dos valores cobrados
a maior, buscar então a prestação jurisdicional do Juizado Especial Cível para promover
uma ação declaratória, a fim de o juiz declarar por sentença o débito real, condenando o
credor a receber tão somente o crédito reconhecido pela sentença o débito real, condenando
o credor a receber tão somente o crédito reconhecido pela sentença, que tem a natureza
declaratória e condenatória.
Da competência em razão do local
Na forma do art. 4º, da lei que regulamente o procedimento das ações
propostas perante o Juizado Especial Cível, a competência ratione loci, ou seja, em razão do
local, é fixada conforme a seguir:
1) Pelo Juizado do foro do domicílio do réu ou a critério do autor, do local
onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento,
filial, agência, sucursal ou escritório.
Assim, o consumidor que adquire um produto de uma loja situada no Estado de
São Paulo, que tem filial em Belo Horizonte, onde mora o comprador, poderá propor a
reclamação perante o Juizado Especial Cível de São Paulo, onde foi adquirido o produto, ou
ante o Juizado de Belo Horizonte, onde está situada a filial da loja.
2) Pelo juizado do foro do lugar onde a obrigação deva ser cumprida.
Utilizando-se do exemplo acima, morando o comprador no rio de Janeiro, cujo
local foi destinado para a entrega do objeto adquirido, mesmo não possuindo a loja filial no
Rio, poderá ele promover a reclamação perante o Juizado de qualquer um dos três Estados
mencionados.
3) Pelo juizado do foro do domicílio do autor ou do local do ato ou
fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.
A exemplo de um abalroamento de veículos, cujo acidente ocorreu na Comarca
de São Gonçalo (RJ), morando o causador dos danos em Niterói (RJ) e o experimentador
dos referidos danos no Rio de Janeiro, poderá este promover a reclamação para pleitear
indenização diante do juizado de qualquer uma das aludidas Comarcas, como ressaltamos
abaixo.
Em qualquer das hipóteses acima epigrafadas, poderá a ação ser proposta no
foro do domicílio do réu, como autoriza o parágrafo único do aludido art. 4º da lei que
regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado Especial Cível.
Fixação da competência quando houver foro de eleição no contrato
Havendo previsão no contrato do foro de eleição, este deverá ser respeitado.
Portanto, o juizado competente para apreciar o conflito será o do foro eleito pelas partes.
No Juizado Especial Cível, o momento oportuno para argüir a exceção de
incompetência relativa é o da audiência de instrução e julgamento, pois é quando a parte
contrária oferece sua contestação. Nada impede, porém, seja argüida a exceção na própria
audiência conciliatória, devendo, devendo o conciliador que presidir a audiência fazer
constar do termo de assentada a argüição da exceção, recomendando a conclusão dos
autos ao juiz para apreciar o pedido.
Na prática, o ideal é que a exceção seja apreciada na audiência de instrução e
julgamento, evitando assim a dilatação do rito processual adotado.
Tratando-se de competência relativa, não pode o juiz decliná-la ex officio,
devendo ser apreciada apenas quando argüida a exceção pela parte contrária no primeiro
momento de estar no processo, que no Juizado Especial Cível ocorre na audiência de
instrução e julgamento, pois é nessa fase processual que deve ser oferecida a contestação.
Reconhecida a incompetência do Juizado, deve então ser julgado extinto o
processo, sem julgamento do mérito, e não declinada a competência para outro Juizado,
como determina o art. 51, inciso III, da aludida lei.
Competência para execução de acordo extrajudicial homologado e para
execução de título extrajudicial de acordo referendado pelo Ministério Público
Qualquer que seja o valor do acordo extrajudicial poderá, ser homologado, no
juízo competente, independentemente de termos, valendo a sentença como título judicial
(art. 57).
Essa regra alcança não apenas os Juizados Especiais como também qualquer
outro órgão jurisdicional. Para o Juizado Especial, no entanto, há particularidade importante
no que se relaciona coma competência para a execução.
Assim como o Juizado Especial não está impedido de homologar conciliação
de valor superior a 40 (quarenta) salários mínimos, também não deve estar para a
homologação do acordo em tais condições. Tanto em um caso como no outro, porém, a
execução nunca poderá ser processada no Juizado Especial, a não ser que ocorra a
renúncia pelo excesso. De valor possível, no entanto, a execução, em qualquer das
hipóteses, se instaura, seguindo-se o procedimento específico.
Qualquer que seja o valor do acordo homologado, desde que, em razão da
matéria, o Juizado Especial seja competente para dela conhecer, a execução pode ser
instaurada, mas o acordo homologado em outro juízo não pode ser executado no Juizado
Especial, ainda que, pelo valor ou pela matéria, pudesse ser ali processado, já que o juízo
na homologação passa a ser o competente para a execução.
Em razão do valor, o acordo, assim como a conciliação, pode ser homologado
em qualquer juízo, inclusive no Juizado Especial, mas, quando se tratar de acordo
extrajudicial de natureza tal que se exclui da competência deste – e mesmo de outros juízos
– apenas valerá como título se homologado no juízo competente.
Os acordos referendados pelo Ministério Público são executáveis também no
Juizado Especial, desde que se guarde limite do valor ou haja renúncia do excesso.
PARTES
Partes são as pessoas que pedem (autores) e contra as quais se pede (réus),
em nome próprio, a tutela jurisdicional.
O Juizado Especial Civil é uma instituição que foi criada especificamente para a
tutela das pessoas físicas, no que diz respeito às suas relações patrimoniais, tendo como
objetivo predominante a pacificação do litígio por meios negociais.
O art. 8º da lei 9.099 enumera taxativamente, as pessoas que não podem
figurar como partes em sede de Juizados Especiais.
Dessa forma, não podem figurar tanto no pólo ativo quanto no pólo passivo da
relação processual: o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas
públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
Justifica-se a exclusão dessas pessoas em razão da simplicidade e
informalidade que norteiam os procedimentos nos Juizados Especiais. Nos processos em
que figuram como partes aquelas pessoas excluídas de litigarem nos Juizados Especiais
devem ser observadas algumas formalidades incompatíveis com o procedimento
simplificado desta lei.
No pólo ativo da relação processual somente são admitidas a postular nos
Juizados Especiais as pessoas físicas, excluindo-se aquelas que venham a postular sobre
direitos que constituem, inequivocamente, cessão de direito de pessoa jurídica.
A capacidade plena da pessoa física para postular perante o Juizado é atingida
após completar 18 anos de idade, independentemente de assistência; é tão somente
admitida para que o mesmo venha a ser autor, pois no pólo passivo só após completar 21
anos de idade. É de se observar que havendo formulação de pedido contraposto contra o
autor maior de 18 anos, será necessária a intervenção do Ministério Público.
Quanto à pessoa jurídica, cabe relevar que, na hipótese de figurar ré na ação,
poderá, em sua defesa, formular pedido contraposto em seu favor. Neste caso, sendo o
pedido contraposto julgado procedente, efetivamente poderá a pessoa jurídica que o
formulou promover sua execução nos Juizados Especiais.
Situação idêntica pode ocorrer no caso de, por exemplo, sendo o réu, pessoa
jurídica, haver a conciliação homologada por sentença, em que o autor assuma a realização
de uma obrigação.
Neste caso, é plenamente viável que o réu, mesmo sendo pessoa jurídica,
promova a execução do acordo, no caso de inadimplemento, perante o órgão do Juizado
Especial no qual o mesmo foi homologado.
O dispositivo em comento foi inovado com o advento da Lei 9.841 de
05.10.1999, que instituiu o Estatuto da Microempresa e das Empresas de Pequeno Porte,
dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado. A inovação consiste na aplicação do
disposto no § 1º do art. 8º da lei dos Juizados Especiais às microempresas, definidas como
tal, nos moldes do sobredito diploma legal.
Desta forma, poderá as microempresas figurar no pólo ativo da relação
processual junto aos Juizados Especiais, demandando causas no âmbito de sua
competência específica, consoante disposição do art. 3º da Lei 9.099/95, se optarem por
este procedimento. Como ocorre com as pessoas físicas, a opção pelo procedimento
perante os Juizados Especiais constitui faculdade da parte.
Entretanto, é vedado ás microempresas postular direito que lhes foi transferido
por cessão de pessoa jurídica que não se enquadre na definição da nova lei. Verificando-se
a ocorrência de tal fato no curso da ação, deve ser o processo extinto.
Cabe ressaltar que, no curso de processo perante os Juizados Especiais
ocorrer o desenquadramento da microempresa postulante, passando ela à condição de
empresa de pequeno porte, é caso, também, de extinção do processo.
Alguns critérios elementares deverão ser observados quando uma empresa
propuser uma ação junto aos Juizados Especiais. Tratando-se efetivamente de pessoa
jurídica, será sempre necessário que a microempresa, ao formular seu pedido junto aos
Juizados Especiais, apresente o seu estatuto social devidamente registrado na Junta
Comercial, o qual deverá ficar acostado aos autos. Necessário verificar ainda, pelo estatuto
social, quem tem condição legal de representação da microempresa em seus atos,
especificamente para representá-la em juízo.
O condomínio, mesmo não possuindo CNPJ, não pode ser definido como
pessoa jurídica, apesar da divergência doutrinária que o considera como uma pessoa
jurídica quando inscrito no CNPJ. Na realidade, o condomínio tem a natureza jurídica de um
órgão despersonalizado, não podendo assim figurara no pólo ativo da ação.
Entretanto, Luiz Cláudio Silva, em seu livro afirma que “Os condomínios devem
ser admitidos a reclamar no Juizado Especial Cível, mesmo porque estão constantemente
se defendendo nesse órgão jurisdicional em ações que lhe são propostas pelos próprios
condôminos. A admissibilidade de o condomínio postular perante o órgão acima é em
beneficio dos próprios condôminos, pois quando o condomínio necessita de reclamar em
juízo, as despesas com advogado e custas processuais são rateadas entre os mesmos.”
O espólio, apesar de não ser considerado pessoa física, vem sendo admitido
tanto no pólo ativo como no passivo das ações de competência do Juizado.
O pólo passivo da relação processual pode ser ocupado tanto por pessoa
natural (desde que maior e capaz) como por pessoa jurídica, mas somente as de direito
privado.
Não podem ocupar nem o pólo ativo nem o passivo as pessoas jurídicas de
direito público e as empresas públicas da União. Igual restrição aplica-se às massas
patrimoniais personalizadas pelo Código de Processo Civil, de modo que não podem figurar
no processo desenvolvido no Juizado Especial a massa falida e o insolvente civil.
A respeito das sociedades de economia mista, o Supremo Tribunal Federal,
através da Súmula nº 556, fixou a competência da Justiça comum para julgar as causas em
que figure como parte esse tipo de sociedade. Portanto, não há nenhum óbice para que
sociedade de economia mista, como a exemplo a Telerj, figure no pólo passivo das ações de
competência do Juizado Especial Cível.
Posicionamento quanto a pessoa jurídica de natureza privada reclamarem nos
juizados especiais
O art. 8ª da lei 9.099/95 é expresso quanto à proibição de serem partes: os
incapazes, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União,
a massa falida e o insolvente civil. Portanto, não faz qualquer alusão à pessoa jurídica de
direito privado.
Já no § 1º do aludido artigo, consta que somente as pessoas físicas capazes
serão admitidas a propor ação perante o Juizado, excluídos os cessionários de direito de
pessoas jurídicas.
É com base no referido parágrafo que alguns intérpretes concluem pela
impossibilidade da pessoa jurídica propor ações perante o Juizado. Na realidade, o
legislador quis excluir apenas os incapazes e os cessionários de direito de pessoas jurídicas
de direito público, sendo totalmente omisso quanto às pessoas jurídicas de natureza privada.
Portanto, na omissão da lei, devemos nos orientar de acordo com os princípios que norteiam
sua aplicação, principalmente no tocante aos fins sociais por ela colimados.
A lei que regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado visa a
facilitar o acesso das partes à prestação jurisdicional do órgão, sem o desembolso de custas
processuais e honorários de sucumbência, bem como a não necessidade de serem
assistidas por advogado, salvo quando o valor atribuído á causa for superior a 20 vezes o do
salário mínimo, o que na Justiça comum são os principais obstáculos ao acesso à Justiça.
Colima ainda, primordialmente, a realização da conciliação das partes por um conciliador ou
juiz leigo, a celeridade, informalidade e simplicidade dos atos processuais,
descongestionamento do Juízo comum, de forma a atender satisfatoriamente aos interessas
das partes.
Sabemos que a maioria das pessoas jurídicas privadas existentes em nosso
país é formada por microempresas, cujo suporte financeiro é ínfimo, sendo obrigadas a
abster-se de buscar a prestação jurisdicional para questionar seus direitos, seja relativo à
cobrança de dívida, indenizações etc., pelo fato de não disporem de numerários para
contratar advogados e suportar o ônus das custas processuais. Com isso, o próprio
consumidor abusa dessa situação, deixando de satisfazer pequenos débitos, pois sabe que
o ônus financeiro para efetivar a cobrança judicial é maior.
Ainda que tenhamos uma empresa de grande suporte econômico utilizando-se
do Juizado Especial Cível, essa empresa representa um mínimo dentro de um universo de
pequenas empresas que necessitam da prestação jurisdicional do órgão.
Insta salientar, ainda, que dificilmente iremos ter uma grande empresa
buscando a prestação jurisdicional do Juizado, tendo em vista que o valor de alçada é de, no
máximo, 40 salários mínimos, considerando que, em sua maioria, realiza operações
financeiras que superam esse valor de alçada.
Legitimatio ad processum
Nas causas de valor de até 20 salários mínimos, as partes podem comparecer
pessoalmente para propor a ação junto ao Juizado Especial Civil ou para respondê-la. A
representação por advogado é facultativa. Torna-se, porém, obrigatória a sua intervenção
quando o valor da causa ultrapassar o aludido limite.
Para assegurar o equilíbrio entre as partes, a lei dá ao autor que comparece
pessoalmente o direito, se esse quiser, à assistência judiciária (defensoria pública), quando
o réu for pessoa jurídica ou firma individual. Para esse fim, deverá a lei local instituir serviço
advocatício assistencial junto aos Juizados.
Qualquer das partes poderá, também, valer-se da assistência judicial oficial
sempre que a outra comparecer sob patrocínio de advogado.
Determina, outrossim, o § 2º da Lei 9.099 que o juiz alerte as partes da
conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa recomendar, o que poderá
ocorrer pela dificuldade notada na conduta de um dos litigantes na audiência de conciliação.
A outorga do mandato judicial ao advogado não depende da forma escrita,
podendo ser verbal. Basta o comparecimento do causídico, junto com a parte à audiência,
para que se tenha como constituída a representação para a causa, mediante simples
registro na ata respectiva. No entanto, os poderes especiais a que alude o art. 38 do CPC
somente podem ser conferidos por escrito.
Com ou sem assistência de advogado, o autor sempre deverá comparecer
pessoalmente à audiência de conciliação. O réu também deverá, em regra, fazer o mesmo.
Mas, quando for pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por
preposto credenciado.
A busca da prestação jurisdicional do Juizado Especial Cível sem a
necessidade de assistência de advogado quando o valor da causa não exceder a 20 vezes o
salário mínimo, facultando, inclusive, a propositura da reclamação de forma oral, mediante
termos lavrado pelo cartório, veio atender a um grande anseio social, pois muitos indivíduos
que tinham seus direitos resistidos deixavam de buscar a pretensão jurisdicional, tendo em
vista as dificuldades que encontravam para ter acesso a essa prestação, assegurada a
todos pelo órgão do Poder Judiciário, competente para dizer o direito, considerando o
pesado ônus financeiro com honorários advocatícios e custas processuais.
Indubitavelmente, os inadimplentes se beneficiavam, deixando e satisfazer
suas obrigações, na certeza de não serem compelidos pelo Judiciário, diante dos obstáculos
impostos ao titular do direito material resistido.
Legitimidade para a causa
A legitimidade para a causa é atribuída ao titular do direito material. Destarte,
num acidente de veículos, o legitimado para propor a reclamação visando o ressarcimento
dos danos materiais experimentados é o proprietário do veículo e nunca o motorista que
estava dirigindo o auto no momento do evento danoso, devendo a reclamação ser proposta
em face do proprietário do outro veículo causador dos danos, tendo em vista a
responsabilidade res sid abendi, ou seja, em razão da propriedade. Nada impede que a
ação seja proposta também em face do condutor do veículo, figurando este como
litisconsorte passivo, tendo em vista a solidariedade na reparação dos danos.
De outro lado, sendo a ação proposta, em face apenas, do proprietário do
veículo causador dos danos, ficando ele obrigado à indenização, caber-lhe-á cobrar em ação
regressiva a ser promovida em face do motorista causador dos danos, o que pagou a título
de indenização.
INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Determina a lei, a intervenção do Ministério Público, como fiscal da lei
(art. 11), nos casos previstos, que só podem ser os do art. 82 do Código de Processo Civil.
Em razão da natureza das causas e da competência dos Juizados Especiais, a
necessidade de intervenção do Ministério Público cinge-se aos casos em que o réu for maior
de 18 e menor de 21 anos, nas ações de revogação de doações, nas causas em que o revel
for citado por hora certa, nas ações que versem sobre registros públicos e em casos de
anulação de escritura em razão de vício formal.
DA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO
O art. 10 da lei que regulamenta o procedimento perante o Juizado Especial
Cível coíbe expressamente, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro,
inclusive de assistência, admitindo-se tão somente o litisconsórcio, seja ele ativo ou passivo.
Portanto, a denunciação à lide não é cabível no procedimento dos feitos que
tramitam perante o Juizado. A recomendação prática, na hipótese de uma denunciação à
lide, como não é cabível, evitando acarretar prejuízo ao reclamado e denunciante, é no
sentido de o conciliador, na fase conciliatória, orientar a parte reclamante a requerer na
assentada da audiência, que deverá ser lavrada, o aditamento da inicial, a fim de se fazer
inserir no pólo passivo da reclamação o nome do denunciado, designado-se nova audiência
conciliatória, dando-se ciência às partes da designação.
ACORDOS EXTRAJUDICIAIS
Prevê o art. 57 da Lei nº 9.099 que o acordo extrajudicial, de qualquer natureza
ou valor, pode ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, para
valer a sentença como título executivo judicial.
Esse direito à homologação do acordo é exercitável pelas partes junto a
qualquer juízo e não apenas perante o Juizado Especial Civil. Aliás, a nova redação dada
pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994, art. 584, inc. II, do Código de Processo Civil já incorporou
essa sistemática à legislação codificada.
Da mesma forma, a força de título executivo extrajudicial reconhecida ao
acordo celebrado pelas partes, por instrumento escrito referendado pelo órgão competente
do Ministério Público (Lei nº 9.099, art. 57, parág. Único), também já foi incluída pela reforma
operada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994, no Código de Processo Civil (art. 585, II).
O art. 58 da Lei 9.099, finalmente, prevê que a lei local possa ampliar a
conciliação do Juizado Especial para alcançar causas que não se incluam em sua
competência específica.
MEDIDAS CAUTELARES
Não há previsão de medidas cautelares no Juizado Especial. Por
subsidiariedade, porém, poderá o juiz determinar medidas provisórias que julgar adequadas,
quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao
direito da outra lesão grave e de difícil reparação. E, vigorando, no Juizado Especial, os
princípios da simplicidade e informalidade, tais medidas são concedidas independentemente
de processo cautelar, ainda que haja procedimento específico, previsto no Código de
Processo Civil.
COMPOSIÇÃO DO JUIZADO - Do conciliador, do juiz leigo e do togado
A função do conciliador
O princípio maior que rege o sistema dos Juizados Especiais é o da tentativa
de conciliação entre as partes, pela qual não só o litígio aparente, mas também o aspecto
subjetivo do conflito são resolvidos mediante concessões recíprocas.
A tentativa de conciliação, nos termos do art.22 da Lei n. 9.099/95, é conduzida
pelo juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.
Os conciliadores, que em regra atuam voluntariamente, exercem serviço
público relevante e tem a função precípua de buscar a composição entre as partes, sendo
que nesta capital do Estado de São Paulo obtêm êxito em cerca de 50% de suas tentativas
de acordo e mostram-se imprescindíveis para o bom desenvolvimento do novo sistema.
No Estado de São Paulo, onde o sistema é regido pela Lei Complementar
Estadual n. 851/98, os conciliadores são recrutados pelo juiz diretor de cada juizado,
preferentemente entre bacharéis em Direito.
A prática, entre outros recursos para a aferição da idoneidade do conciliador,
que presta compromisso antes de iniciar suas atividades, exige-se-lhe a exibição de
certidões dos distribuidores cíveis e criminais.
A experiência deixou, provado que, este o conciliador, não apenas multiplicou a
capacidade de trabalho do juiz, na realização das sessões de conciliação, mas se mostrou
como a pessoa especializada na difícil arte de serenar os ânimos dos contendores, levando-
se à composição amigável dos conflitos de interesses.
Do Juiz Leigo
A figura do juiz leigo, uma das inovações da Lei n. 9.099/95, criada com o
escopo fundamental de funcionar na instrução processual, substituindo facultativamente o
juiz togado nesse múnus, é de avançado caráter prático. Obviamente, toda a direção da
instrução do processo ficará, em última análise, aos seus cuidados (do juiz togado), sempre
com o poder de supervisionamento do trabalho desses auxiliares, podendo mandar repetir
atos processuais ou produzi-los pessoalmente.
O juiz leigo, como mero auxiliar da justiça, responde pela fase instrutória do
processo, coletando provas e decidindo os incidentes que possam interferir no
desenvolvimento da audiência de instrução e julgamento, e como o próprio nome está a
indicar, não dispõe das garantias constitucionais inerentes aos magistrados, conferidas pelo
art. 95 da Constituição Federal, expressas na vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade
de vencimentos.
Tanto o juiz como o conciliador, representam, a participação popular na
administração da justiça, quebrando a tradicional e hermética estrutura do órgão
jurisdicional, com a inserção de elementos estranhos à hierarquia judiciária.
Do juiz togado
O juiz togado terá sempre o poder de supervisionar o trabalho destes auxiliares
(juizes leigos e conciliadores), podendo mandar repetir atos processuais ou produzi-los
pessoalmente.
DO PROCEDIMENTO
Do Procedimento da Inicial
Recebida a inicial da reclamação pela secretaria do Juizado Especial Cível, o
servidor responsável pelo expediente procederá ao tombamento e à autuação do processo,
designando de imediato a audiência conciliatória. Esta deverá ser realizada nos 15 dias
subseqüentes ao da propositura da reclamação, dando-se ciência da designação à parte
reclamante e expedindo-se de imediato a carta de citação para a parte contrária. A carta
deverá ser instruída com a cópia da petição inicial, constando a designação da audiência.
A citação será remetida pelo correio, com a advertência de que, não
comparecendo a parte reclamada no dia e hora aprazados para a audiência, importará na
sua revelia, e conseqüente confissão ficta da matéria de fato, sendo tidos como verdadeiros
os fatos articulados na peça exordial da reclamação, conduzindo ao julgamento antecipada
da lide.
Ressalte-se ainda que, tratando-se de pessoa física, a postagem da carta
citatória no correio deve ser procedida mediante aviso de recebimento em “mãos próprias”,
considerando que a citação da pessoa física é sempre pessoal, sob pena de, recebida a
citação por terceiros e não comparecendo o reclamado em audiência, este não pode ser
considerado revel, uma vez que a citação encontra-se eivada de vício de nulidade absoluta,
o qual será espancado somente com o comparecimento espontâneo do reclamado à
audiência.
Do Pedido alternativo e cumulativo
Segundo o Código de Processo Civil, o pedido será alternativo quando, pela
natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de um ou mais modos art. 288
do CPC, e cumulados quando, num mesmo processo, o autor formular vários pedidos art.
292 do CPC.
Não obstante a simplicidade nos Juizados Especiais, a Lei n.º 9.099/95 permite
a formulação de pedidos alternativos e cumulados. Ressalva, apenas, que os pedidos
cumulados deverão ser conexos e que a soma de seus valores não poderá ultrapassar o
limite de alçada de 40 (quarenta) salários mínimos. Pedidos conexos devem ser entendidos,
aqui, como aqueles compatíveis entre si ou coerentes.
Outro aspecto de grande relevância é a possibilidade de se pleitear provimento
cautelar em sede de Juizado Especial. Com efeito, por tratar-se de medida jurisdicional de
cunho auxiliar e subsidiário, prestando-se efetivamente à tutela do processo que protege o
direito, é perfeitamente cabível o pedido de cautelar nos procedimentos dos Juizados
Especiais.
Evidentemente que, tratando-se de medida preparatória ou incidental, haverá
de se amoldar aos procedimentos e princípios da lei em comento.
O deferimento da medida cautelar estará adstrito, como não poderia deixar de
ser, à demonstração do periculum in mora e do fumus boni juris, que constituem
condições especialíssimas desta espécie de provimento jurisdicional.
Vale lembrar, ainda, que somente serão admitidos pedidos cautelares cuja a
natureza da ação principal for da competência dos Juizados Especiais. Assim, por exemplo,
incabível medida cautelar que tenha por objeto a pessoa, posto que pertinente a ações que
não são da competência do Juizado Especial.
A cautela constitui-se de um poder implícito dentro da jurisdição em que a
efetividade do processo pode, muitas vezes, depender de provimento incidental ou
preparatório que o assegure. É, pois, neste peculiar aspecto que não se pode dissociar o
procedimento cautelar do processo sob o rito da Lei dos Juizados Especiais.
Este pedido, pode, ser feito de forma que o responsável pelo dano possa ter
uma ou mais alternativas para poder satisfazer a pretensão que se busca, ou seja, fazer o
pedido da entrega da coisa ou o seu valor.
Do pedido simples e genérico
A informalidade da Lei dos Juizados Especiais veio, efetivamente, viabilizar ao
cidadão acesso à jurisdição às classes sociais menos favorecidas.
Constata-se uma das grandes diferenças entre a realização da jurisdição nos
Juizados Especiais e na Justiça comum: o jus postulandi, isto é, o direito de praticar todos
os atos postulatórios e de andamento do processo; a capacidade de requerer em juízo. Esta
é uma característica marcante também no processo do trabalho, tendo por finalidade facilitar
o acesso do cidadão ao Poder judiciário.
É de se notar a simplicidade da formulação do pedido, podendo ser
verbalmente ou oral, como já mencionado anteriormente.
O pedido poderá ser genérico quando não for possível, de imediato, aferir a
extensão da obrigação.
Assim, compete ao Juiz promover uma verdadeira depuração quanto à
pretensão deduzida em juízo pelo autor, de forma a verificar a real pretensão do
demandante. Não significa isto que o Juiz pode julgar além dos limites da pretensão do
autor.
O julgamento deve cingir-se ao objeto do pedido do autor em consonância com
o que dispõe o art. 460 do CPC, que veda o julgamento extra e ultra petita, e com o princípio
da adstrição a que está vinculado o Juiz.
A parte liga que comparece sozinha ao Juizado, não tem a obrigação de expor,
com precisão, os fundamentos jurídicos do seu pedido, pelo que basta que a mesma narre
os fatos e exponha as suas pretensões, cabendo ao julgador aplicar a lei a adotar a decisão
que reputar mais justa e equânime, mesmo que o pedido do autor não seja claro, desde que
não prejudicada a defesa do réu e a decisão seja coerente com a pretensão formulada.
Comparecendo as partes à secretaria do Juizado, será dispensado registro
prévio do pedido, bem como a citação, instalando-se, de imediato, a sessão de conciliação.
Neste caso, se houver pedidos contrapostos, fica também dispensada a
contestação formal, devendo ser os pedidos apreciados na mesma sentença.
Do pedido contraposto
No procedimento do Juizado Especial Cível, não se admite nenhum tipo de
intervenção de terceiros. Por outro, para amenizar a situação do reclamado que está sendo
acionado quando, em algumas hipóteses, foi ele quem sofrera a lesão patrimonial, admitir-
se-á então o que conceituamos de reconvenção indireta ou de pedido contraposto,
respeitando-se para efeito de condenação o valor de alçada, que não poderá exceder a 40
vezes o valor do salário mínimo à época da propositura da reclamação, apesar do pedido
contraposto ser formulado na própria contestação, que é oferecida na audiência de
instrução e julgamento, devendo ser apreciado pela mesma sentença.
Formulando o reclamado pedido contraposto, como autoriza o artigo 31 da Lei
nº 9.099/95, deve ele fundamentá-lo nos mesmos fatos que constituem o objeto da
controvérsia, acostando naquele momento a prova material que demonstre sua pretensão.
É facultado ao reclamante responder ao pedido do reclamado na própria audiência ou
requerer o adiamento desta, a fim de lhe ser permitido tempo para contestar o pedido
formulado pelo reclamado, recomendando-se a designação de nova audiência, dando
ciência aos presentes da designação, em respeito ao princípio da ampla defesa.
É aconselhável, na prática, que, sendo oferecido pedido contraposto e havendo
pedido de adiamento da audiência, seja suspensa a produção de prova testemunhal,
devendo as testemunhas ser ouvidas na próxima audiência. Evita-se assim a subversão da
ordem processual, uma vez que a prova testemunhal é produzida após a fase de
contestação e o reclamante manifestou o desejo de contestar o pedido contraposto na
próxima audiência.
Sendo procedida a oitiva das testemunhas antes da contestação, certamente
eivará o processo de vícios de nulidade, por subversão da ordem processual e cerceamento
de defesa, os quais poderão ser alegados pelo reclamante.
Das Modalidades de citação
Da Citação Postal
A citação postal, de forma ampla, é atualmente a usual no direito processual
civil brasileiro, sem que se tenha notícia de prejuízo ao direito da ampla defesas, a citação
pelo correio tem-se afirmado, dentre as três formas de citação previstas na lei processual
civil comum, como a mais consentânea com os imperativos de simplicidade e celeridade, daí
por que o legislador a colocou dentro do processo especial dos Juizados Cíveis, como a
forma ordinária de citação, sobrando a que se faz por intermédio de oficial de justiça como
forma excepcional de citação, somente devendo-se recorrer a esta última modalidade
quando a primeira delas se mostrar ineficaz ou impossível de ser realizada. Ao utilizar de
expressão “sendo necessário” no inciso III do art. 18, o legislador afasta a opcionalidade
entre uma forma e outra de citação, não podendo a parte autora requerer, ao ingressar com
seu pedido junto ao Juizado, que a citação do réu se realize por outra forma que não a
postal, como ocorre no processo civil comum, salvo em casos justificados. A citação que se
perfaz por meio de oficial de justiça, como forma excepcional, só deve ser admitida nos
casos em que a citação postal se revelar inadequada aos fins a que se propõe de dar pleno
conhecimento ao réu dos termos da demanda que contra ele está sendo movida. Somente
nessas situações, portanto, quando o chamamento pelo correio se mostrar inviável, é que o
juiz deve determinar a sua realização por intermédio de oficial de justiça, é dessa situação a
circunstância de o réu residir em local não atendido pela entrega domiciliar de
correspondência.
Citação através de Oficial de Justiça
A citação através de oficial de justiça independe de, mandado ou carta
precatória, como reza o inciso III do art. 18. Como se sabe, os mandados são ordens,
expedidos pelo juiz com fins específicos, e previamente identificados. No processo especial,
a citação se perfaz sem necessidade da condenação de mandado judicial em que conste a
determinação para a prática do ato de chamamento formal do demandado para comparecer
a juízo e oferecer sua resposta.
A desnecessidade do mandado judicial decorre da circunstância de que, no
processo especial, o próprio secretário do Juizado é que se encarrega de providenciar a
citação do réu (art. 16), sendo despicienda qualquer ordem judicial prévia, em forma de
despacho inicial nesse sentido. É suficiente que a Secretaria do Juizado providencie, para a
perfeição do ato citatório, a cópia do pedido inicial e qualquer impresso com informações
sobre o processamento da demanda em juízo, especialmente a indicação para o réu
comparecer em dia e hora marcados e a advertência de que, não comparecendo,
“considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais”.
Citação com hora certa
Quanto à citação por hora certa, é perfeitamente cabível, apesar de alguns
doutrinadores entenderem de forma adversa, pois não será possível admitir que o citando
venha obstar a citação, através do Correio e se oculte à citação por meios de oficial de
justiça, sob pena de tornar a prestação jurisdicional desacreditada, até porque a Lei que
regulamenta o procedimento do Juizado é omissa quanto a essa modalidade de citação,
aplicando-se, destarte, a regra geral prevista nos arts. 227 a 230 do Código de Processo
Civil.
Dispensa da citação
Comparecendo a parte contrária em cartório e tomando ciência dos termos da
inicial, ou comparecendo á audiência conciliatória, ficará suprida a necessidade da citação,
sanando possíveis vícios.
Das Intimações
As intimações se processam da mesma forma adotada para as citações, ou por
qualquer outro meio idôneo de comunicação.
Conforme a regra insertada no § 2º, do art. 19 de Lei n.º 9.099/95, as partes
comunicarão ao juízo as mudanças de endereço ocorridas no curso do processo, reputando-
se eficazes as intimações enviadas ao local anteriormente indicado, na ausência da
comunicação, que deve ser feitas antes ao do ato processual.
Da revelia
Ultima a citação válida, a ausência do réu à audiência importa no
reconhecimento da revelia, cujo efeito é a presunção de que foram aceitos pelo réu, como
verdadeiros, os fatos articulados pelo autor.
A Lei estabelece que a ausência do demandado à audiência de conciliação ou
de instrução e julgamento importa no reconhecimento da veracidade dos fatos contidos no
pedido inicial, salvo, se o contrário resultar da convicção do juiz.
É possível que o réu citado apresente a sua contestação já na audiência de
conciliação ou a qualquer tempo, antes da realização da sessão de audiência de instrução e
julgamento, o que não será possível reputá-lo revel,. consoante dispõe o Código de
Processo Civil em seu art. 319, e o entendimento doutrinário, a revelia deve ser, entendida
como a ausência de contestação.
Desta forma, seu o réu apresentar contestação antes da audiência de
instrução e julgamento e vem a faltar a esta sessão de audiência, não há que ser
considerado revel.
Poderá ocorrer, também, que o réu citado regularmente não compareça à
audiência de conciliação e, havendo necessidade de realização da audiência de instrução e
julgamento, a esta o réu compareça e apresente sua defesa, o que neste caso também, não
há que ser reconhecida a revelia, porque o réu contestou o pedido do autor na oportunidade
prevista no art.20.
Como prevê a própria Lei dos Juizados Especiais, havendo elementos que
levem o juiz formar seu convencimento, a revelia não será decretada.
Na hipótese de ausência de ambas as partes
Feito o pregão da audiência e certificada a ausência de ambas as partes na
audiência conciliatória, apesar de ciente a parte reclamante e citado o reclamado, tem como
conseqüência a extinção do feito, sem o julgamento do mérito e a não decretação da revelia
do reclamado, uma vez que, ausente o reclamante, resta configurada a desistência tácita da
reclamação, lavrando-se a assentada.
Da audiência conciliatória
No Juizado Especial Cível a conciliação será proposta assim que aberta a
sessão, devendo o juiz togado ou leigo ou o por conciliador sob sua orientação, que deverão
esclarecer as partes sobre as vantagens e desvantagens da conciliação, mostrando-lhes os
riscos e conseqüências, inclusive quanto são limite que poderá ser cobrado, que é de 40
(quarenta) salários mínimos.
Obtida a conciliação, esta será reduzida a termo e homologada por sentença a
ser proferida por juiz togado.
Da instrução e julgamento
Não logrando o conciliador êxito na conciliação das partes em litígio, designa-
se a audiência de instrução e julgamento, de acordo com a disponibilidade de pauta do juiz
de direito vinculado ao Juizado, devendo as partes comparecer à audiência acompanhadas
de suas testemunhas, podendo cada uma delas ouvir, no máximo, três testemunhas, as
quais precisam estar arroladas nos autos.
A audiência de instrução e julgamento deve ser designada para os 15 dias
subseqüentes ao da audiência conciliatória. A audiência ora aludida será realizada pelo
sistema de gravação magnética, através de fita cassete de gravador simples, sendo
presidida pelo juiz de direito ou juiz leigo. Após o trânsito em julgado da sentença a ser
prolatada em audiência, será a fita desagravada, certificando o Cartório nos autos,
reaproveitando-a para a gravação de novas audiências a serem realizadas em outros
processos em trâmite pelo Juizado Especial Cível.
Aberta a audiência, o juiz renovará a proposta de conciliação das partes e, não
logrando êxito na sua realização, dará a palavra à parte reclamada ou ao seu advogado,
quando assistida, para oferecer sua contestação oral. Nada obsta que a contestação seja
oferecida em forma de memorial, ou seja, escrita, quando então será lida em audiência.
Encerrada a fase de contestação, passará o juiz, à produção de provas e,
entender necessário, tomará em primeiro lugar o depoimento pessoal das partes, passando
a seguir a inquirir, inicialmente, as testemunhas trazidas pela parte reclamante e, logo após,
as da parte reclamada.
Finda a produção de provas, deve o juiz abrir os debates orais, dando a palavra
inicialmente à parte reclamante e a seguir, à parte reclamada, a fim de que ofereçam suas
razões finais. O suprimento dessa fase processual poderá acarretar vício de nulidade
processual por cerceamento de defesa. Daí a importância de o juiz não obstar esse direito
das partes de oferecerem suas razões finais em audiência.
Apresentadas as razões finais, o juiz passará a proferir sua sentença em
audiência; não se sentindo habilitado naquele momento, determinará a conclusão do feito
para a prolação da sentença, designando na mesma, assentada dia e hora para a leitura e
publicação da sentença a ser proferida, intimando-se os presentes para o ato, que será
realizado no Cartório do Juizado, que lavrará o termo respectivo quando da realização do
ato.
Cumpre observar que a prova testemunhal, a contestação quando oferecida
oralmente e as razões finais são feitas pelo sistema de gravação magnética, fazendo o juiz
transcrever para o termo de assentada, de forma objetiva, o ocorrido na audiência. Será
transcrita, ainda, a sentença ali proferida.
Ressalta-se que a sentença dispensa relatório, entrando o juiz diretamente na
fase decisória.
Transitada em julgado a sentença, o Cartório certificar-se-á no sentido de que
foi apagada a fita cassete na qual foi gravada a audiência, reservando a mesma para a
gravação de novas audiências em outros processos.
O trânsito em julgado da sentença ocorrerá no prazo de 10 dias, a contar do
seu ciente, e sua publicação é feita em audiência. Aplica-se a regra do Código de Processo
Civil para efeito da contagem do prazo, excluindo o dies a quo e incluindo o dies ad quem.
Não sendo prolatada a sentença em audiência e não tendo o juiz designado dia
e hora para a sua leitura e publicação, deverão as partes ser intimadas da mesma através
do correio, postando a carta de intimação mediante aviso de recebimento. Estando as partes
assistidas por advogados basta a intimação destes. Ressalta-se que, em primeiro grau de
jurisdição, as partes e seus advogados não poderão ser intimados por via editalícia, como
ocorre nas turmas recursais.
Recebidos os autos pelo Cartório com a sentença proferida pelo juiz,
providenciará este de imediato o seu registro no livro ou na pasta própria destinada soa
registros de sentença, certificando nos autos o registro, fazendo referência ao número do
livro e da folha respectiva ao registro efetivado.
DOS MEIOS DE PROVAS
Serão admitidos todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não
especificados em lei, hábeis para demonstrar da veracidade dos fatos articulados pela parte
da relação processual, como autoriza o artigo 32 da Lei nº 9.099/95.
Da prova documental
Em relação à prova documental, deve o reclamante adunar à inicial os
documentos que visam a comprovar o direito ali articulado, não obstando a juntada aos
autos de novos documentos, mesmo no momento da audiência de instrução e julgamento,
pois é nessa fase processual que a parte contrária oferecerá sua contestação e manifestar-
se-á a respeito da documentação acostada nos autos.
Portanto, sobre qualquer documentação trazida ao processo antes da
audiência supra aludida, manifestar-se-á a outra parte no momento da audiência. Destarte,
não será ela intimada para se exprimir sobre a documentação que venha a ser acostada
durante a fluição do processo, diferentemente, como acontece no procedimento comum
regulado no artigo 398 do Código de Processo Civil, que obriga a intimação da parte
contrária para falar sobre os documentos juntados aos autos no prazo de 5 dias.
Na fase recursal, aplicamos a regra geral que não admite produção de provas
durante o recurso, salvo quando determinado pela Turma Recursal o cumprimento de
diligências, permitindo-se tão somente a transcrição da fita magnética na qual foi gravada a
audiência de produção de provas.
Tendo em vista a inviabilidade técnica de transcrição da fita magnética, uma
vez que os órgãos não dispõem de recursos mecânicos para processar a transcrição, e seu
processamento pelo meio manual põe em risco o conteúdo da gravação, considerando ser
inviável ouvir palavra por palavra e trasladar para o termo, a orientação do Tribunal é no
sentido da remessa da referida fita à Turma Recursal quando requerida a sua transcrição.
Da prova pericial
Esse meio de produção de prova é inviável no procedimento do Juizado
Especial Cível, tendo em vista os princípios que orientam o procedimento, principalmente os
da informalidade e celeridade dos atos processuais.
Da prova testemunhal
Quanto à prova testemunhal, cada uma das partes poderá indicar, no máximo
três testemunhas, sendo necessário o oferecimento do rol, devendo trazê-las para a
audiência de instrução e julgamento. Havendo necessidade de intimação das testemunhas
arroladas, deve a parte interessada requerer a intimação no prazo mínimo de 5 (cinco) dias
antes da audiência referida.
A testemunha intimada para a audiência e à ela não comparecendo sem
justificar sua ausência, ficará sujeita à condução coercitiva, que poderá ser determinada pelo
juiz processante, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública, sujeitando-se
ainda à responsabilidade criminal pelo crime de desobediência à ordem judicial.
A oitiva das testemunhas se processa pelo sistema de gravação magnética,
sendo seus depoimentos gravados através de um simples gravador de fita cassete.
O sistema de gravação magnética adotado no procedimento do Juizado
Especial Cível representa uma grande evolução da nossa legislação processual específica,
uma vez que contribui para autenticidade dos depoimentos prestados pelos inquiridos,
registrando toda sua manifestação oral em audiência, contribuindo ainda para a celeridade
da mesma.
No procedimento comum de inquirição de testemunhas, a morosidade das
audiências é desgastante para o juiz, para as partes, para as testemunhas e para o próprio
serventuário da Justiça que traslada para o termo de declarações prestadas, fazendo com
que os advogados e seus constituintes fiquem pelos corredores do Fórum aguardando por
longo tempo, sem o mínimo conforto a realização das mesmas.
Do depoimento pessoal
No que se refere ao depoimento pessoal, pode ele ser requerido pela parte
interessada ou tomado ex-officio, também pelo sistema de gravação magnética.
Requerido o depoimento pessoal de qualquer uma das partes, sua presença é
indispensável à audiência, sob pena de lhe ser aplicada a pena de confesso, prevista no § 2º
do artigo 343 do Código de Processo Civil, ainda que presente à audiência se negue a
prestar o depoimento.
Sentença
Estrutura e Liquidez da Sentença.
Define o § 1º do art. 162 do CPC, “Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo
ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”. As que apreciam o mérito são
denominadas sentenças definitivas ou sentenças de mérito. As sentenças que põem fim ao
processo sem decidir a lide são denominadas terminativas.
A sentença de mérito deve conter os seguintes requisitos:
I – do relatório, deve constar, o nome das partes, o resumo do pedido e da resposta,
bem como o registro das principais ocorrências, como referência aos debates;
II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III – o dispositivo ou conclusão, que é o acolhimento ou rejeição final do pedido
formulado pelo autor.
Porém no processo especial, a estrutura da sentença é bem simplificada,
devendo compreender apenas os fundamentos e a parte dispositiva, ficando dispensado o
relatório (art. 38). Ao fundamentar a decisão, com base na prova testemunhal, o juiz tem
apenas de mencionar o que foi dito de essencial pelas testemunhas (art.36).
Poderá haver, conforme o caso, sentença condenatória, constitutiva ou
meramente declaratória, no processo especial. Em tendo caráter condenatório, será sempre
líquida. E essa exigência de que o valor da obrigação contida na sentença seja sempre
líquida decorre da circunstância de que, no processo especial dos Juizados Cíveis, não
existe uma fase própria destinada à liquidação da sentença. No processo especial, portanto,
a sentença será sempre, contendo a conversão em índice indexador da economia (Art. 52,
I). Com isso, evitam-se as complicações e demoras ocorrentes quando se trata de
implementar providências para a fixação do quantum debeatur, que, se adotadas no
processo especial, seriam sumamente prejudiciais à informalidade e celeridade do seu
procedimento.
Homologação, pelo juiz togado, da decisão do juiz leigo
Nas hipóteses em que o juiz leigo dirige a instrução probatória (art. 37), ele
mesmo profere a decisão na causa, a qual depende, sempre, da homologação pelo juiz
togado, para que adquira validade como ato jurisdicional típico. Essa nota especial com que
a lei reveste a decisão do juiz leigo, exigindo a interveniência do juiz togado para que
adquira eficácia, levou Humberto Theodoro Júnior a afirmar que se trata de uma “decisão ad
referendum”.
O juiz togado pode repetir os atos processuais não se considerando seguro a
proferir um juízo de valor, pode determinar a realização de novas diligências probatórias,
para só ao depois, ao final delas, encampar a atuação do juiz leigo por meio do ato de
homologação, ou rejeitar sua decisão sobre a causa, caso em que deverá proferir sentença
substitutiva.
Já Alexandre Freitas Câmara prefere entender que o juiz leigo na verdade não
profere sentença, o que seria até mesmo inconstitucional (em razão do princípio da
indelegabilidade da jurisdição), mas tão-somente apresenta um “projeto de sentença”, ou em
outros termos, um esboço do que seria, a seu juízo, a solução da causa1[1]. Tal “projeto de
sentença” deverá ser levado ao juiz togado, que a ele não fica vinculado, sendo livre na
formação de seu convencimento. É natural, porém, que muitas vezes tal “projeto de
sentença” seja levado em consideração pelo juiz togado, uma vez que este não terá, nestes
casos, travado contato com as provas orais, que teriam sido produzidas em audiência
realizada sob a condução do juiz leigo.
Não há previsão, ressalvada a litigância de má-fé, de condenação ao
pagamento de custas processuais e honorários de advogado (art. 55 da Lei n1 9.099). No
entanto, em caso de recurso, o recorrente deverá efetuar o preparo e, se não lograr êxito na
turma recursal, arcará com tais encargos calculados sobre o valor da condenação ou valor
corrigido da causa.
CONSIDERAÇÕES ACERCA DO SISTEMA RECURSAL
Vigora nos juizados especiais cíveis a regra da irrecorribilidade imediata das
decisões interlocutórias. Em sendo assim, não é admitido o recurso de agravo, nem mesmo
quando destinado a destrancar outro recurso. As partes que se julgarem prejudicadas,
diante dos casos de relevância e urgência, podem lançar mão do mandado de segurança,
como meio excepcional de impugnação, para atacar os atos judiciais no curso do processo.
As sentenças homologatórias de autocomposição ou do laudo arbitral não
desafiam qualquer recurso, nem os embargos de declaração.
O elenco recursal, dentro do espírito da celeridade processual que norteia os
1
juizados especiais cíveis, não permite a aplicação subsidiária do CPC e se limita a dois
recursos: embargos declaratórios e recurso inominado.
Admissível, outrossim, o recurso extraordinário, para o Supremo Tribunal
Federal, desde que preenchidos os requisitos pertinentes.
Não são admissíveis embargos infringentes nem o recurso especial para o
Superior Tribunal de Justiça.
Os embargos declaratórios têm vez tanto da sentença de primeiro grau, como
do acórdão da turma recursal (art. 48 da Lei n1 9.099). Interposto contra sentença goza de
efeito suspensivo, apenas. Podem ser apresentados no prazo de cinco dias da ciência da
decisão que tiver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. Diferem-se dos embargos
semelhantes previstos no CPC (art. 535) quanto ao efeito (no Código, interruptivo),
contendo, ainda, um fundamento a mais, isto é, a dúvida, admitida a interposição oralmente
e por escrito.
O recurso inominado (como vem sendo chamado por força da praxe forense)
ou apelação - na preferência de alguns autores - submete-se à satisfação dos requisitos
intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, como qualquer recurso, merecendo destaque
os seguintes aspectos: obrigatoriedade de atuação dos advogados representando as partes;
formalização em petição escrita, contendo as razões do inconformismo; interposição no
prazo de dez dias a partir da ciência da sentença; preparo em quarenta e oito horas
contadas da interposição, independente de intimação; efeito, de regra, apenas devolutivo,
admitido, excepcionalmente, o suspensivo, para evitar dano irreparável à parte. Será
julgado, na dicção do art. 41, § 1º, da Lei nº 9.099, por uma turma recursal composta de três
juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado,
devendo as partes ser intimadas da data da sessão de julgamento, e este, fiel ao princípio
da simplicidade das formas, constará somente da ata, indicando-se a identificação do
processo, resumida fundamentação e dispositivo, anotando-se, ainda, que, no caso de
confirmação da sentença pelos próprios fundamentos, servirá de acórdão a súmula do
julgamento (art. 46 da Lei referenciada).
Cumpre ressaltar, finalmente, que o art. 59 da Lei n1 9.099 veda o manejo de
ação rescisória das sentenças proferidas nos procedimentos regidos por essa lei. As
peculiaridades do caso não autorizam tal ação, salientado-se, que, de um lado, as situações
de injustiça são menos freqüentes nos juizados, e, de outro, a ação rescisória não se presta
para corrigir injustiças. Eventuais irregularidades que, normalmente, permitiriam a rescisão
do julgado (art. 485 do CPC), podem ser argüidas, como matéria de defesa, na execução,
através de embargos ou por outras ações capazes de realizar a correção, inclusive a
declaratória.
Não existe entendimento majoritário com relação se é cabível ou não o recurso
adesivo no procedimento do Juizado Especial Cível.
Por fim, uma breve reflexão quanto ao cabimento dos recursos especial e
extraordinário contra decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis.
No que diz respeito ao recurso especial, sua interposição, nos termos do art.
105 da Constituição Federal, só é admissível, quando a decisão recorrida for preferida em
única ou última instancia, por Tribunais, e, não constituindo as Turmas Recursais, um
Tribunal, não é o mesmo cabível nas causas que tramitam nos Juizados Especiais.
Quanto ao recurso extraordinário, cujo objetivo é preservar a ordem
constitucional, tem sido admitida sua interposição contra decisões proferidas pelas Turmas
Recursais, pois não se poderia deixar de submeter ao STF, questões em que houvesse a
possibilidade de violação da norma constitucional, e, ao contrário do que acontece com o
recurso especial, o legislador constituinte não especificou qual o órgão responsável pelas
decisões que seriam objeto de recurso extraordinário, pelo que, podem ser elas oriundas
das Turmas Recursais dos Juizados Especiais.
Já esposamos nosso entendimento pelo cabimento da impetração de mandado
de segurança na incidência da hipótese de decisão interlocutória, entendendo ainda pelo
seu cabimento contra a decisão do juízo de primeiro grau de jurisdição que deixar de
receber o recurso de apelo ou obstar seu seguimento, uma vez que não cabe recurso contra
essa decisão, devendo o mandado de segurança ser impetrado perante à Turma Recursal
do Juizado a quo, o mesmo acontecendo em relação à decisão da Turma Recursal que
deixar de receber ou negar seguimento aos recursos especiais e extraordinários interpostos
contra seus acórdãos, quando então o mandado de segurança deverá ser impetrado perante
o Tribunal de Justiça, por ferir direito líquido e certo amparado pela Constituição Federal.
Recurso Inominado
Nos Juizados Especiais Cíveis, a sentença não enseja apelação, mas
“recurso”, a ser julgado, com sucinta fundamentação, por um colégio recursal. A causa não
sobe ao Tribunal de Justiça, sendo revisada a decisão no âmbito do próprio Juizado, pelo
seu órgão competente para o julgamento dos recursos. Esse “recurso”, guardadas as
diferenças procedimentais, equivale à apelação do Código de Processo Civil, porquanto seu
manejo volta-se ao ataque das decisões terminativas de feito, com apreciação de mérito ou
não. Poderia, por conseguinte, visando à uniformização, ter sido também denominado
apelação, só com a ressalva de endereçamento ao órgão recursal do próprio Juizado. A
desnecessidade de atribuir uma denominação a esse recurso resultou, todavia, da
circunstância de que, no micro sistema criado pela Lei dos Juizados Especiais, existe um
único recurso, e não variedade deles, como ocorre no sistema recursal codificado, em que
cada um recebeu um nome exclusivo.
Prazo Para a Interposição do Recurso
O recurso deve ser interposto no prazo de 10 (dez) dias, a contar da intimação
da sentença, em geral costuma ocorrer na própria audiência, pois é nela que o juiz deve
proferir sua decisão sobre a lide (art. 28). Aplicando-se a regra geral para a contagem do
prazo. Assim, excluímos o dia do começo e incluímos o dia final do prazo recursal. Por
exemplo, intimadas as partes da sentença numa sexta-feira, o prazo somente passará a fluir
a partir da segunda-feira, salvo se esta não for dia útil, quando então o prazo passará a
transcorrer a partir do primeiro dia útil.
Findo o prazo num sábado ou domingo, prorrogar-se-á até segunda-feira, se
for dia útil.
Preparo do Recurso
O preparo resume-se ao pagamento, no tempo e modo apropriados, das
despesas processuais referentes ao processamento do recurso. A sua falta leva a deserção,
que significa o trancamento do recurso. A lei presume que, se o recorrente não efetua o
preparo, no prazo certo, desiste do julgamento do recurso, que, a partir daí, considera-se
deserto.
O preparo do recurso deve ser feito no prazo de quarenta e oito horas, após
sua interposição, sem haver necessidade do recorrente ser intimado para que o faça. Esse
prazo é preclusivo, ensejando a deserção do recurso por falta de preparo. Em caso tal, o
colégio recursal deverá, mesmo de ofício, não conhecer do recurso, em preliminar ao mérito.
A prova do preparo exige que o recorrente recolha a guia de depósito ainda dentro das
quarenta e oito horas, também sob pena de deserção.
Como o prazo foi fixado em horas, conta-se de minuto a minuto, de acordo com
a regra do art. 125, § 4º, do Código Civil, não se incluindo o dia da interposição do recurso.
Por exemplo, se interposto ao meio-dia de uma segunda-feira, o termo final do prazo para o
preparo só ocorre no terceiro dia seguinte (quinta-feira), coincidindo exatamente com o
mesmo minuto em que foi protocolizada a petição (12h00). Interposto em sexta-feira
seguinte (exaurindo-se na quarta-feira, no minuto correspondente ao da interposição) por ter
aplicação à espécie a Súmula 310 do Supremo Tribunal Federal. Se o dia do vencimento
recair num feriado ou em dia em que não houver expediente forense, fica prorrogado para o
dia útil seguinte; se coincidir com um sábado ou domingo, fica prorrogado para a segunda-
feira seguinte.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO
No que tange à sentença terminativa, isto é, aquela que não contém resolução
do mérito, há que se lembrar que, além das hipóteses previstas em outras normas (dentre as
quais se destaca o artigo 267 do CPC), há casos específicos de “extinção do processo sem
julgamento do mérito” na lei dos Juizados Especiais (art. 51), e que são os seguintes:
- Ausência do autor a qualquer audiência do processo: o comparecimento
pessoal da parte, mesmo que assistida por advogado, é indispensável, a não ser que o réu
seja pessoa jurídica ou comerciante, quando, então, poderá ser representado por preposto
credenciado. Isso também vale para o réu que formula pedido contraposto e não comparece
à audiência de continuação da anterior.
- Quando inadmissível ou inadequado o procedimento sumaríssimo: a
qualquer momento, o juiz verificando a inadmissibilidade do procedimento, antes ou após a
conciliação, pode declarar extinto o processo. É de se notar que nestas hipóteses de
inadmissibilidade ou inadequação do procedimento sumaríssimo o juiz não poderá
simplesmente determinar a remessa do feito ao juízo competente. Tal impossibilidade
decorre até mesmo do fato de não haver necessidade de autuação do processo que tramita
perante o Juizado Especial, o que torna difícil seu aproveitamento por outro juízo.
- Quando o juizado for incompetente em razão do território: a
incompetência territorial, quando reconhecida, é causa de extinção do processo e não de
simples prorrogação para o juízo que seria competente..
- Quando qualquer das partes perder capacidade processual: havendo
vedação a que determinadas pessoas sejam partes no processo, o juiz, a qualquer
momento, dela tomando conhecimento, poderá extingui-lo.
A proibição de ser parte pode ainda ser superveniente. Qualquer das partes se
tornou incapaz; o comerciante faliu; a pessoa caiu no estado de falência ou insolvência. E
tais casos, o processo se extingue, caso não se tenha ainda proferido sentença. Se a
sentença, porém, já foi proferida, o processo não se extingue, mesmo que esteja em grau de
recurso, porque a decisão final, como ato jurisdicional, já surte normalmente seus efeitos.
- Quando falecer o autor e a habilitação depender de sentença ou
demorar mais de trinta dias: falecendo o autor no curso do processo (e não versando a
demanda sobre direitos intransmissíveis), este deverá ser sucedido no pólo ativo do
processo por seus sucessores. Determina a lei, porém, que nos casos em que tal sucessão
demorar mais de trinta dias para se realizar (ou, em outros termos, se os sucessores do
autor demorarem mais de trinta dias para se habilitar no processo) deverá o juiz proferir
sentença terminativa, extinguindo o processo sem julgamento do mérito. O mesmo resultado
se produzirá quando a habilitação dos sucessores depender de sentença.
Em tais casos, a extinção também só ocorrerá antes da sentença final, ficando,
em grau de recurso, apenas suspensa.
- Quando falecer o réu e a citação dos sucessores não for providenciada
em trinta dias da ciência do fato: o mesmo ocorrerá quando, falecido o réu, o autor não
promover a citação dos sucessores no prazo de trinta dias, a partir da ciência do fato.
A extinção do processo, em tais hipóteses, independe de prévia intimação.
EXECUÇÃO
O Juizado Especial é competente para a execução de seus julgados, com uma
diferença fundamental da Justiça Comum. Os processos de conhecimento e execução, no
Juizado Especial, se amalgamam em processo único, de forma que não há necessidade de
propositura de ação executória. O procedimento e os requisitos são, basicamente, os
mesmos do processo executivo disciplinado pelo Código de Processo Civil, aplicando-o
subsidiariamente.
O art. 52 da Lei 9.099 aponta quais são os pontos em que a execução de
sentença deva sofrer alguma alteração, em face do regime codificado:
a) não há liquidação de sentença porque a condenação, no juizado, é
sempre líquida (art. 38, parag. único). Nem mesmo o cálculo do contador será cabível. No
tocante, por exemplo, á correção monetária, o art. 52, inc. I, prevê indexador oficial; e quanto
aos honorários, à conversão eventual de índices e a outras parcelas, como juros, multas
etc., o cálculo meramente aritmético será realizado por servidor da secretaria do juizado,
dispensando-se, dessa forma, a liquidação por cálculo do contador (art. 52, inc. II);
b) a informalidade da abertura da execução: Na audiência em que a
sentença é proferida, o juiz, de oficio, instará o vencido a cumprir a condenação advertindo-o
dos efeitos de seu descumprimento (art. 52, III). Não ocorrendo o cumprimento voluntário da
sentença transitado em julgado, terá início a execução forçada, bastando que o credor a
solicite. Não há nem mesmo petição inicial. O pedido pode ser formulado verbalmente junto
à Secretaria do Juizado. O mandado executivo será expedido sem nova citação. Desde logo,
expedir-se-á a ordem de penhora, se a execução for de quantia certa. (art. 52. inc. IV);
c) na execução das obrigações de fazer ou não fazer, a cominação de
multa
pode sofrer elevação ou transformação em perdas e danos, arbitradas de imediato
pelo juiz, caso em que a execução passará a ser por quantia certa (art. 52, inc. V);
d) ainda nas obrigações de fazer, o juiz pode determinar o cumprimento por
outrem, fixado o valor que o devedor terá de depositar para as despesas, sob pena de multa
diária (art. 52, inc. V);
e) na alienação dos bens penhorados, o juiz poderá autorizar a venda
extrajudicial, por terceiro, pelo devedor ou pelo credor, a qual se aperfeiçoará em juízo até a
data fixada para a praça ou o leilão. Se o preço encontrado igualar ou superar o da
avaliação, o juiz ultimará a veda, sem mais delongas. Se for inferior, ouvirá previamente
ambas as partes. Havendo proposta de aquisição a prazo, a venda particular será garantida
por caução idônea, se móvel o bem, ou por hipoteca do próprio bem penhorado, se imóvel
(art. 52, inc. VII);
f) a publicação de editais em jornais é dispensada quando se tratar de
alienação de bens de pequeno valor, o que será aferido segundo o prudente arbítrio do juiz
(art. 52, inc. VIII);
g) os embargos do devedor, após seguro o juízo, correrão nos próprios
autos da execução (não há autuação apartada). A matéria argüível será restrita a (art. 52,
inc. IX):
- falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à revelia;
- manifesto excesso de execução;
- erro de cálculo;
- causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, superveniente
à sentença.
Execução de título extrajudicial
Ao Juizado Especial compete também a execução de títulos extrajudiciais de
valor até quarenta vezes o salário mínimo sendo de aplicar-se, todavia, o § 3º do art. 3º,
permitindo-se ao credor, quando o título for a maior, optar pelo procedimento, desde que
renuncie ao excesso.
Os títulos executivos extrajudiciais encontram-se elencados no art. 585 do
CPC, observadas as restrições quando àqueles que são próprios de pessoas vedadas a
postular perante os Juizados Especiais, como é o caso das fazendas Públicas da União, do
Distrito Federal, dos Territórios, dos Estados e dos Municípios, os encargos de condomínio
comprovados em contrato, e ainda os títulos que representem crédito de pessoas jurídicas.
A regra, também, é a de que somente as pessoas físicas poderão figurar no pólo ativo das
ações executivas de títulos extrajudiciais, excluídas aquelas que sejam cessionárias de
direito de pessoas jurídicas (art. 8º, § 1º)
É previsto o procedimento especial na Lei do Juizado, mas o Código de
Processo Civil aplica-se subsidiariamente.
Até vinte salários mínimos a própria parte pode requerer a execução, por
escrito ou oralmente, com redução a escrito, mas o pedido deve sempre estar acompanhado
do título.
Se a execução for além de vinte salários mínimos, a assistência do advogado
será necessária, mas as custas e os honorários só serão devidos em grau de recursal, já
que a assistência da parte por advogado em primeiro grau não assegura direito à verba
advocatícia.
Citado para pagar em vinte e quatro horas (24h00) e não o fazendo, passa-se á fase
da penhora, com nomeação de bens pelo executado ou por oficial de justiça.
O devedor será intimado, após penhora, para comparecer à audiência de
conciliação (art. 53, § 1º).
Na própria audiência, quando frustrada a conciliação, tudo certamente coma
presença do exeqüente, sob pena de extinção do processo, o devedor poderá oferecer
embargos, por escrito ou oralmente.
O art. 53, § 1º, faz remissão aos embargos previstos para os títulos judiciais,
mas evidentemente, a matéria de defesa não pode resumir-se ás previsões ali constantes, já
que nenhuma lesão de direito pode ser suprimida da apreciação do Poder Judiciário. A
defesa, portanto, é ampla.
Após a tentativa de conciliação e apresentação dos embargos, o procedimento
deve ser estabelecido pelo juiz, de forma tal que se busque rápida e eficaz solução do litígio,
mas, evidentemente, sem que se afetem os princípios do contraditório e da ampla defesa.
Assim, se o credor pretender, poderá ser designada nova audiência para a apresentação de
sua impugnação, que, no entanto, poderá ser articulada de imediato. Se possível, ainda, a
produção de provas será feita também na audiência ou em fases subseqüentes.
O conciliador deve empenhar-se para evitar alienação judicial, propondo todas
as medidas possíveis, inclusive pagamento a prazo, dação em pagamento e adjudicação
imediata.
Não havendo conciliação nem sendo apresentados embargos, ou julgados
estes improcedentes, qualquer das partes poderá requerer que o pagamento se faça por
forma especial, conforme previsto no § 3º do art. 53. Não havendo embargos, o juiz decidirá
de imediato, e sua decisão, certamente, será recorrível, já que se trata de decisão
autônoma, não excluída do âmbito recursal. Se houver embargos, com requerimento da
parte, o juiz decidirá neles.
Se a opção de execução de bens for à alienação, poderá haver dispensa de
publicação de editais, na forma da execução judicial. Não haverá, necessariamente, o leilão
ou a praça.
Não sendo encontrado o devedor nem existindo bens a penhorar, a execução
se extingue, com o desentranhamento de todos os documentos (art. 53, § 4º).
DESPESAS PROCESSUAIS NO JUIZADO ESPECIAL CIVIL
As partes não estão sujeitas ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios, havendo sucumbência apenas na fase de recurso. Assim, a parte vencida que
desejar recorrer da sentença deverá recolher as custas processuais, o preparo do recurso
(2%), a taxa judiciária e a contribuição da OAB, sendo as custas calculadas com base na
tabela mensal, publicada no Diário Oficial, referente às ações sumárias. Portanto, dispensa-
se a remessa dos autos ao contador judicial para apuração do cálculo.
A sentença de primeiro grau de jurisdição, conforme ilação do disposto nos
arts. 54 e 55 da Lei nº 9.099/95, não poderá condenar o vencido nas custas processuais e
honorários advocatícios, salvo nos casos de litigância de má-fé.
Já na fase recursal, a parte vencida ficará sujeita ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados entre 10% (dez por cento) e 20%
(vinte por cento) do valor da condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da
causa. É certo que esse valor não poderá exceder a 40 vezes o valor do maior salário
mínimo à época da propositura da ação, atualizado monetariamente a partir da citação.
Por outro lado, se a parte vencida no recurso foi o recorrido, no tocante às
custas processuais, deverá ele reembolsar ao recorrente e vencedor os valores colhidos a
título de custas processuais, preparo do recurso, taxa judiciária e contribuição da OAB.
Gozando a parte vencida dos benefícios da Justiça gratuita e da assistência judiciária, não
estará sujeita ao pagamento dessas despesas e nem de honorários de sucumbência. Sendo
somente a parte vencedora assistida pela assistência judiciária, deve a parte vencida ser
condenada ao pagamento de honorários advocatícios, os quais serão revertidos em favor da
Defensoria Pública ou do defensor dativo, conforme o caso.
O requerimento da assistência judiciária gratuita somente pode ser formulado
quando da interposição do recurso, porque o preparo constitui pressuposto de
admissibilidade do procedimento recursal. O pedido de assistência judiciária será apreciado
pela Turma Recursal competente para conhecer o recurso, uma vez que o juiz singular
esgota sua jurisdição com a prolação da sentença.
De forma alguma deve o juiz monocrático obstruir o seguimento do recurso
quando o recorrente invocar a prestação jurisdicional sob o manto da gratuidade. È que não
cabe qualquer recurso contra a decisão que negar o seguimento e, neste caso, a parte não
poderá ver reexaminada a sentença impugnada.
Assim, se o recorrente, ao interpor o recurso, requerer a concessão da
assistência judiciária gratuita é de se processar regularmente o recurso, remetendo-o à
Turma Recursal, a quem compete decidir pelo deferimento ou não da pretendida assistência.
A execução de título judicial ou extrajudicial correrá sem custas e honorários,
salvo quando:
a) for reconhecida a litigância de má-fé;
b) forem julgados improcedentes os embargos do devedor;
c) tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso
improvido do devedor.