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JECA ESPECIAL QiB VITÓRIA DOS ESTUDANTES E DA QUINTA&BREJA! Conquistamos a revogação! por Giulia Confuorto, cênicas (diretorx do CALC) Não à criminalização do CALC! Estudantes em luta conquistam a revogação dos R$1790,00 cobrados indevidamente do CALC pela diretoria da ECA! Com a justificativa dos problemas de segurança causados, segundo a diretoria, por frequentadores da QiB que não têm “perfil de estudante” (ou seja, a comunidade do entorno da USP, em sua maioria negra e pobre), a diretoria “propôs” ao CALC o fim da QiB. Como forma de coação, a diretoria, fechada ao diálogo, multa o CALC para concretizar sua “proposta”, criminalizando a entidade e responsabilizando os estudantes pelo problema de segurança, que é um problema sério que deve ser discutido, mas que é de responsabilidade das diretorias e reitoria. A responsabilidade não é do CALC e a culpa não é da QiB! Essa cobrança é reflexo de um projeto de universidade aplicado pela reitoria e pelo governo para que a USP seja cada vez mais fechada, elitizada e privatizada. Diante de mais esse ataque, nossa mobilização foi na contramão desse projeto, pressionando a diretoria, que não viu outra alternativa senão revogar a cobrança e convocar uma plenária das três categorias para debater segurança! Isso é prova da força da nossa organização e luta coletivas! A QiB é uma forma de resistência dos estudantes dentro da universidade. Por isso, devemos seguir ocupando os nossos espaços e fortalecendo nossa organização! A revogação foi só o começo! Jornal Extraordinário de Comunicação e Artes Edição especial QiB maio/2014 E se a Prainha se tornasse um Quilombo? por Lucas Viana, plásticas (diretorx do CALC) Quando questionamos o que mais nos incomoda em uma QiB, podemos esperar inúmeras respostas: desde a música, que nunca agrada a gregos e troianos ao mesmo tempo, até assédios machistas, problemas de violência, assaltos etc. Entretanto, de todas as respostas, a mais peculiar – e cada vez mais crescente – é a dos que se incomodam com o “perfil” das pessoas que frequentam a festa. Essa tendência à “tipificação” dos gêneros humanos, inevitavelmente, esbarra com o racismo e o elitismo presentes em nossa sociedade. Quando a diretoria da ECA defendeu o fim da QiB, alegou-se, dentre outros argumentos, que a festa é frequentada pessoas “que não têm perfil de estudante”, o que colocaria em risco a segurança da comunidade universitária. Antes de mais nada, é importante salientar que o atual perfil dos estudantes da USP é majoritariamente branco e elitista. E, não coincidentemente, o perfil oposto tem cor e classe: tratam-se de negros e pobres. Este raciocínio que associa o oposto do “perfil de estudante” à falta de segurança, além de equivocado, é extremamente racista. Em primeiro lugar, é necessário que entendamos que o racismo não se expressa somente em suas figuras mais extremas, como a Ku Klux Klan, a escravidão de negros, ou em quem acha que “os nordestinos devem morrer afogados”. O racismo faz parte da ideologia dominante da nossa sociedade e se expressa, inclusive, em nossas expressões cotidianas, como “a coisa ficou preta”, “o passado negro de alguém”, “o lado negro da força”, entre outros. O racismo também é evidente quando comparamos a cor dos mais ricos e a dos mais pobres, dos mais letrados e dos analfabetos, dos jovens que são mortos pela polícia cotidianamente e dos que a reivindicam como proteção. E, por fim, o racismo também se expressa na própria construção da imagem do negro na sociedade, que é visto como “ladrão Foto: Vinicius Pereira

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Especial QiB

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Page 1: Jeca / Maio 2014

JECAESPECIALQiBVITÓRIA DOS ESTUDANTES E DA QUINTA&BREJA!Conquistamos a revogação!por Giulia Confuorto, cênicas (diretorx do CALC)

Não à criminalização do CALC! Estudantes em luta conquistam a revogação dos R$1790,00 cobrados indevidamente do CALC pela diretoria da ECA!

Com a justificativa dos problemas de segurança causados, segundo a diretoria, por frequentadores da QiB que não têm “perfil de estudante” (ou seja, a comunidade do entorno da USP, em sua maioria negra e pobre), a diretoria “propôs” ao CALC o fim da QiB.

Como forma de coação, a diretoria, fechada ao diálogo, multa o CALC para concretizar sua “proposta”, criminalizando a entidade e responsabilizando os estudantes pelo problema de segurança, que é um problema sério que deve ser discutido, mas que é de responsabilidade das diretorias e reitoria. A responsabilidade não é do CALC e a culpa não é da QiB!

Essa cobrança é reflexo de um projeto de universidade aplicado pela reitoria e pelo governo para que a USP seja cada vez mais fechada, elitizada e privatizada.

Diante de mais esse ataque, nossa mobilização foi na contramão desse projeto, pressionando a diretoria, que não viu outra alternativa senão revogar a cobrança e convocar uma plenária das três categorias para debater segurança!

Isso é prova da força da nossa organização e luta coletivas! A QiB é uma forma de resistência dos estudantes dentro da universidade. Por isso, devemos seguir ocupando os nossos espaços e fortalecendo nossa organização!

A revogação foi só o começo!

Jornal Extraordináriode Comunicação e ArtesEdição especial QiBmaio/2014

E se a Prainha se tornasse um Quilombo? por Lucas Viana, plásticas (diretorx do CALC)

Quando questionamos o que mais nos incomoda em uma QiB, podemos esperar inúmeras respostas: desde a música, que nunca agrada a gregos e troianos ao mesmo tempo, até assédios machistas, problemas de violência, assaltos etc. Entretanto, de todas as respostas, a mais peculiar – e cada vez mais crescente – é a dos que se incomodam com o “perfil” das pessoas que frequentam a festa. Essa tendência à “tipificação” dos gêneros humanos, inevitavelmente, esbarra com o racismo e o elitismo presentes em nossa sociedade.

Quando a diretoria da ECA defendeu o fim da QiB, alegou-se, dentre outros argumentos, que a festa é frequentada pessoas “que não têm perfil de estudante”, o que colocaria em risco a segurança da comunidade universitária. Antes de mais nada, é importante salientar que o atual perfil dos estudantes da USP é majoritariamente branco e elitista. E, não coincidentemente, o perfil oposto tem cor e classe: tratam-se de negros e pobres.

Este raciocínio que associa o oposto do “perfil de estudante” à falta de segurança, além de equivocado, é extremamente racista. Em primeiro lugar, é necessário que entendamos que o racismo não se expressa somente em suas figuras mais extremas, como a Ku Klux Klan, a escravidão de negros, ou em quem acha que “os nordestinos devem morrer afogados”. O racismo faz parte da ideologia dominante da nossa sociedade e se expressa, inclusive, em nossas expressões cotidianas, como “a coisa ficou preta”, “o passado negro de alguém”, “o lado negro da força”, entre outros. O racismo também é evidente quando comparamos a cor dos mais ricos e a dos mais pobres, dos mais letrados e dos analfabetos, dos jovens que são mortos pela polícia cotidianamente e dos que a reivindicam como proteção. E, por fim, o racismo também se expressa na própria construção da imagem do negro na sociedade, que é visto como “ladrão

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SEGURANÇApor Mateus Fávero, cênicas (diretorx do CALC)

A falta de segurança na QiB não é um caso isolado na universidade. Os relatos de uspianos abarcam furtos, assaltos e até mesmo estupros! E no marco de que a pouca circulação de pessoas, de linhas de ônibus e pouca iluminação no campus (mesmo após a “reforma” contratada pela reitoria) fovorecem a falta de segurança, a resposta da reitoria é, por um lado, a PPUSP - responsável pelo zelo do patrimônio -, e por outro, a Polícia Militar, estando ambas a serviço da reitoria e não da comunidade universitária.

O acordo da Reitoria com a PM foi firmado em 2011, permitindo sua entrada no campus. Desde lá, os problemas de segurança não foram resolvidos - pelo contrário, a própria PM tem abordado alunos, os quais não julgam ter “perfil de estudante” da USP - mesma máxima racista utilizada pela diretora Kunsch para explicar que os problemas de segurança na QiB sao ocasionados pela presença de negros e pobres na nossa festa.

E a política de repressão dos governos do estado, com a utilização da PM, tomaram as mídias em 2011, com a truculenta desocupação da reitoria - ocupada em protesto pelos estudantes da USP - e foi sentida por cada um dos manifestantes que tomaram às ruas em junho de 2013, tendo seus olhos cegados por bombas de gás lacrimogênio ou hematomas causados por balas de borracha.

Sabemos que nem a PM, nem a PPUSP significam segurança para a comunidade unviersitária. Nossa tarefa agora é elaborar um plano alternativo de segurança para a ECA e para a USP, que de fato nos salvaguarde.

Por outro lado, não podemos esquecer do que se passa para além dos muros de nossa universidade. As manifestações de junho mostraram ao país a vitória da organização coletiva, mas também

colocaram em pauta a forma truculenta de atuação da Polícia Militar. E se para muitos que ocuparam as ruas pela primeira vez foi um choque a truculência da PM, nas periferias isso não é novidade nenhuma: negros e pobres morrem diariamente pelo ostensivo aparato militar, muito antes de junho.

E a política de “segurança” dos Governo Federal, para o ano de Copa do Mundo, já se explicita na gigantesca repressão aos atos contra a copa e suas injustiças e na criminalizaão dos movimentos sociais. Nesse contexto reacende-se o debate sobre a desmilitarização da PM.

A Polícia Militar (como conhecemos hoje) é fruto da ditadura militar. A redemocratização do país não a alterou substancialmente: passou o controle da PM das mãos do Exército para o Governo do Estado, mantendo a estrutura militar da corporação.

Algumas pessoas sugerem que a truculência da PM vem dos pesados treinamentos que os recrutas têm de passar. Mas a Polícia Militar só continuou existindo por ser peça-chave na manutenção da democracia, a democracia dos ricos - cuja existência depende da criminalização dos movimentos sociais, da morte de Amarildos e do forte controle do povo pobre.

A desmilitarização da PM unificaria as forças policiais em marcos civis e levaria ao fim do código militar. Seria um importante passo para questionar o caráter autoritário das polícias. Sua desmilitarizaão abre espaço para lutarmos para que ela seja democratizada, ou seja, seja gerida e esteja a serviço da população trabalhadora e não das elites.

Lutar por um novo plano de segurança e pela desmilitarização da PM, rumo ao fim dos aparatos repressivos, significa questionar o priviléfio de poucos e a democracia dos ricos.

em potencial” pela polícia - que os revista sem motivos aparentes, pelas pessoas que se sentem ameaçadas ao ver alguém “suspeito” - não coincidentemente a maioria deles negros, dentre outros inúmeros exemplos.

É importante ressaltar que a maioria da juventude negra e pobre, além de não possuir perspectivas de educação, emprego e outros direitos sociais básicos de qualidade, não possui também o direito à cultura e ao lazer. Um jovem negro tem 3,7 vezes mais chances de morrer assassinado no Brasil que um jovem branco. Portanto, para além da negação de seus direitos sociais, também lhes é negado o seu direito ao futuro. Mediante este cenário, a política dos governos e elites é a do descaso, mantendo a exclusão de seus direitos sociais, a inserção dessa juventude em subempregos e o seu extermínio por meio das atrocidades da Polícia Militar nas periferias e das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nos morros. Segundo o Instituto de Segurança Pública, de 2007 a 2012, as UPPs desapareceram com 553 moradores das 18 primeiras comunidades “pacificadas” no Rio. Portanto, quando a diretoria da ECA se posiciona contra a circulação dessas pessoas em nossas festas, ela corrobora com o racismo presentes na cultura e nas políticas de Estado.

Contrariamente à diretoria da ECA, é necessário defender a entrada, a circulação e a utilização dos espaços da universidade por toda a comunidade externa, principalmente os jovens negros e pobres. Nossas festas e espaços de convivência, cultura e lazer também devem ser ocupados e enegrecidos por todos que realmente sustentam essa universidade. Entretanto, somente isso não basta: também é necessário que enegreçamos o atual “perfil de estudante” da USP para questionar seu caráter racista e elitista - que, hoje, a torna uma verdadeira “Casa Grande”. Por isso, ao invés de expulsar os negros de nossas festas, que os incluamos em nossa universidade - por meio das cotas raciais - e em nossa luta - abrindo cada vez mais nossos espaços de resistência.

Vetar quem não tem “perfil de estudante” é racismo!

Pelo fim do genocídio da juventude negra!

Cotas raciais já!

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CANiL_, Prainha, QiBFranciel Souza - cênicas, Renato Barbosa - CANiL_, Giulia Confuorto - cênicas (CALC), Marcela Carbone - cênicas (CALC) e Lucas Viana - plásticas (CALC)

É necessário que os estudantes reconheçam a importância de defender as nossas festas e nossos espaços. Estamos presos a cursos desinteressantes, tecnicistas e mercadológicos. Se perdermos o direito as nossas festas e manifestações políticas, consequentemente perderemos a vivência, a prainha, o CALC, a ECAtlética, o SINTUSP e tudo o que fazemos e aprendemos coletivamente. Nosso conhecimento e organização estarão comprometido. A QiB é fundamental por ser uma ocupação autônoma de uma das últimas praças independentes da cidade, por financiar as iniciativas estudantis e ser um espaço que também recebe a comunidade externa à USP.

Mas não é só na ECA que as atividades estudantis estão correndo perigo. Por toda a USP, o uso dos espaços e as festas estão sendo restringidos por suas unidades. O SINTUSP frequentemente sofre ameaças, a diretoria da EFFE só demonstra descaso com o espaço dos seus estudantes, os estudantes da FAU estão sendo processados por organizarem festas no piso do museu, a diretoria da FFLCH concretou parte do Espaço Verde (espaço estudantil das Ciências Sociais), e, diante do descaso político da contaminação da EACH, a resposta que a novo reitor, Zago, deu a comunidade foi a demolição do único espaço estudantil campus. Tanto nos campi da capital como nos do interior, os exemplos são intermináveis.

Se utilizando de um discurso moralista, como condenar o uso de drogas e álcool, a reitoria e as diretorias de unidade aplicam uma política repressora que pretende uma universidade cada vez mais mercadológica, elitizada e privatizada. E diante disso não há nada mais perigoso para a reitoria do que a organização estudantil e dos trabalhadores, visto que a maioria das entidades se financiam por festas, saraus, e atividades diversas em seus espaços.

A única força capaz de se contrapor a isso é a liberdade de criação e organização. Criar e pensar para além desta universidade. Mas isso é perigoso, justamente porque subvertendo a lógica do mercado e o projeto da reitoria, tenta revincular os saberes e recuperar um caráter contestador e crítico da universidade. Os estudantes se defendem.

Veja-se o caso do CANiL_. Nosso histórico espaço de liberdade e criação estudantil, um dos polos culturais da QiB, era um incomodo para a universidade e por

RELATO DAS VÍTIMAS DE ASSALTO NA QiBR., H. e W. foram vítimas de assalto na QiB

Estávamos saindo da Quinta i Breja (08.05) por volta das 23h, caminhando em direção ao ponto de ônibus em frente a ECA, quando fomos abordados por cerca de 6 a 7 garotos, dois deles pareciam armados. Entregamos duas mochilas e uma carteira.

Percebendo que um deles saiu correndo sozinho, eu e H. foram atrás dele até a região da festa. Conseguimos agarrá-lo, tomar a arma, que era de brinquedo, e tentamos fazer com que ele devolvesse nossas coisas. Nesse momento se inicia a confusão, começamos a gritar que tínhamos sido assaltados. R. conseguiu nos encontrar nesse momento. No início o garoto não queria contribuir, mas depois disse que poderíamos segui-lo até o local que estariam nossas coisas. Obviamente não nos sentíamos seguros para segui-lo e insistimos para que ele pedisse para outra pessoa nos trazer as coisas. Só que isso não aconteceu: cada vez mais chegavam pessoas pedindo para que soltássemos o assaltante, inclusive um dos meninos tomou nossa única prova (a arma de brinquedo). Ameaçamos de chamar a PM e mesmo assim eles não contribuíram. Como haviam levado a mochila e o celular ficou no meu bolso, acionei a PM na frente deles.

A policia chegou e começou uma confusão. Acredito que os estudantes tenham pensado que a PM veio reprimir a festa e por isso foram combater a presença deles, mas, na minha opinião, essa ação foi desnecessária, pois não buscaram saber o motivo da polícia estar lá e avaliar a situação. Qualquer enfrentamento direto com a PM, sabemos que vai gerar uma reação repressiva deles: a moça chegou empurrando e foi agredida. Não foi certo a violência da polícia, mas ela provocou uma reação deles, poderia ter sido presa por desacato e ser a única prejudicada na situação.

No fim, a policia não levou ninguém para a delegacia, apenas nós para fazermos um B.O.

Não conseguimos resolver a situação entre nós, entre os seguranças e nem com a polícia, pois houve muita intervenção e pouca ajuda para, de fato, reavermos nossas coisas.

Opinião sobre a segurança na USP:

Nunca vemos a guarda-universitária ou mesmo a polícia militar, mesmo durante o dia-a-dia da universidade. Saímos da aula e andamos por locais escuros sem nenhuma segurança. No momento do assalto a rua estava deserta.

Se a guarda universitária trabalhasse junto com os estudantes, não precisaria nem

isso foi demolido em 2012. Mas, visto a importância de se defender, os estudantes da ECA, após decidirem em assembleia, uniram suas forças, e de muitos outros estudantes e entidades, e reconstruíram o CANiL_, com suas próprias mãos, mesmo sob ameaça de repressão pela diretoria e pela PM que rondava a atividade.

Este é um dos muitos exemplos de luta dos estudantes da ECA, que se articularam fortemente para defender seus espaços. Ano após ano esses ataques repressivos ressurgem com mais força: ameaças, demolições, multas, processos e expulsões. É fundamental que os estudantes se juntem com as organizações e coletivos que articulam a QiB, como o CALC, a ECAtlética e o CANiL_, para produzir cultura e conhecimento livremente, ocupar nosso espaço e defender a nossa liberdade, pois novos ataques virão!

A gestão do CALC se pronunciou sobre o caso dizendo que, independentemente da ação do agredido, a correlação de forças sempre favorecerá quem tem as armas e o poder da repressão - no caso, a PM - embora não encorage os alunos a enfrentar essa força repressiva individualmente.

Foto: Vinicius Pereira

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FORA PM!relato da estudante agredida pela PM na QiB

Nessa última quinta-feira, durante a QiB, a PM foi chamada para intervir em um caso de furto.A vítima alegava que seus pertences tinham sido roubados por três meninos. Assustados, diziam ser moradores da São Remo e apenas frequentar as QiBs.

A PM desceu de suas três viaturas com fuzil em mãos. Cerca de seis policiais pretendiam levar os garotos para a delegacia sem averiguar o caso.

Neste momento, já se aglomeravam em volta da situação muitas pessoas que estavam na festa. Decidi conversar com a vítima e a PM, intercedendo pelos meninos. Por já ter organizado a festa por muitos anos, acreditei ser capaz de resolver a situação com calma para impedir que os meninos fossem levados e tirar a PM do nosso espaço.

Mesmo conhecendo a brutalidade da polícia, não pude prever a reação do policial quando questionei: “Você não tem certeza de que eles são os responsáveis”. O policial-chefe do caso respondeu o meu questionamento dando uma coronhada na minha cabeça, me segurando pelo braço e tentando me levar junto com os meninos. Senti na pele as arbitrariedades das ações policiais.

No instante em que o PM agiu dessa forma, as pessoas que estavam em volta se revoltaram ainda mais com a situação e me puxaram das mãos do policial. Entre brigas e berros, consegui fugir pela multidão. Assustada, acompanhei o motim de longe.

Em muitos, fomos capazes de expulsar a PM da Prainha sem que os meninos fossem levados. Ainda assustados, os meninos me agradeceram a ajuda, dizendo que voltarão semana que vem e conversarão com a organização da festa. Logo em seguida, chegou a PPUSP. Não melhor e nem menos bruta que a policia militar, a guarda bateu em outro estudante quando ele questionou a intervenção da PM. Foram supostamente acionados pela PM para buscar o numero USP do estudante que “enfrentou” o policial chefe. Foram expulsos da mesma forma, pela ação de muita gente, e saíram de mãos

vazias.

A festa continuou!

Este caso é emblemático para mostrar o real papel da polícia e da PPUSP na Universidade. Não impediram nenhuma ocorrência, estavam ali apenas para mostrar serviço e de quebra bater em quem se organiza contra essa lógica.

Não é a falta de preparação da PM, nem o fato dela ser militar que a torna repressora. A policia, qualquer que seja ela, tem um papel claro de guardar a propriedade e proteger somente os proprietários. A nossa festa, a QiB, não é realizada apenas para os estudantes universitários, mas para toda a cidade. Somos um importante polo organizativo e cultural que se contrapõe à lógica da polícia e da universidade.

Não estamos imunes às contradições da cidade, somos um reflexo dela. Da mesma forma que crimes acontecem fora da USP, também acontecerão dentro.

Da mesma forma que a PM é incapaz de garantir nossa segurança fora, também será dentro.Utilizar a repressão não irá solucionar a insegurança no campus. Prender três ou mais “meliantes” não irá dar fim aos furtos na QiB. Pelo contrário, dar as mãos aos agentes repressivos pode ser um ato que se voltará contra os estudantes da ECA, que, aos olhos da burocracia, financiam várias de suas atividades através de festas “ilegais”. Apesar da USP querer se fechar cada dia mais para uma suposta segurança, devemos ir na contra-mão desse processo, não zelando por um plano de segurança, mas organizando nosso espaço para além dos estudantes.

O melhor plano de segurança que os estudantes podem pensar não é delegar essa função aos orgãos de seguranças do estado e da reitoria, nem querer gerir esses orgãos em conjunto com a burocracia universitária, mas se organizando junto com os trabalhadores e as comunidades vizinhas.

Somos capazes, como já fomos por muito tempo, de organizar a nossa festa com segurança, aliados ao Sintusp e aos moradores da São Remo.

CALENDÁRIO

2a feira - 18h Reunião do Coletivo Feminista3a feira - 17h Reunião de organização da QiB 18h Reunião Aberta do CALC5a feira - 18h Reunião do CANiL_

É GREVE PELA EDUCAÇÃO!

Confira o calendário na página do CA Lupe Cotrim. Participe das assembleias e atividades!

de segurança particular para as festas. Se eles tivessem bem distribuídos, dialogando com os estudantes.

As pessoas são assaltadas, estupradas, sequestradas aqui dentro independente das festas. Inclusive, nós só passamos para comer e ir embora. Poderia ter acontecido com qualquer estudante simplesmente saindo da aula e indo para a casa.

A solução não é a PM, talvez seja a guarda-universitária. Ela precisa estar mais presente, não para reprimir, mas junto com os estudantes. Não adianta ficar só ser contra a guarda e a PM, pois eles são nossa única alternativa.

Em uma situação em que as pessoas tentam resolver a questão de segurança sem preparação, abre margem para os casos de “justiça com as próprias mãos”, o que gera mais violência. A gente não quer que a situação chegue a esse nível, pelo menos não dentro da universidade.

Não chamamos a polícia para estragar a festa, pelo contrário: costumamos frequentar as QiBs. Mas, infelizmente, na ocasião, foi a nossa única opção.