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Javier Zenobio Pérez More Análise Numérica do Comportamento de Cortinas Atirantadas em Solos Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós- Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio. Área de concentração: Geotecnia Orientador: Celso Romanel Rio de Janeiro, junho de 2003

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Javier Zenobio Pérez More

Análise Numérica do Comportamento de Cortinas Atirantadas em Solos

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio. Área de concentração: Geotecnia

Orientador: Celso Romanel

Rio de Janeiro, junho de 2003

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Javier Zenobio Pérez More

Análise Numérica do Comportamento de Cortinas Atirantadas em Solos

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Celso Romanel Orientador

PUC/Rio

Pedricto Rocha Filho PUC/Rio

Marcus Peigas Pacheco Instituto Politécnico/UERJ

Ney Augusto Dumont Coordenador Setorial do Centro

Técnico Científico – PUC/Rio

Rio de Janeiro, 13 de junho de 2003

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e do orientador.

Javier Zenobio Pérez More Graduou-se em Engenharia Civil pela Universidade Nacional de Engenharia (UNI-PERU) em 1993. Trabalhou como engenheiro de projetos e obras na área de construção no período entre 1994 – 2000. Ingressou no curso de mestrado em Engenharia Civil, na área de Geotecnia, no ano de 2001, atuando na linha de pesquisa Geomecânica Computacional. Desenvolveu estudos numéricos sobre o comportamento de cortinas ancoradas em solos.

Ficha Catalográfica

Pérez More, Javier Zenobio

Análise numérica do comportamento de cortinas atirantadas em solos / Javier Zenobio Pérez More; orientador: Celso Romanel. – Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Engenharia Civil, 2003.

[18], 120f. : il. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Civil.

Incluí referências bibliográficas.

1. Engenharia civil – Teses. 2. Tirantes. 3. Cortinas ancoradas em solo. 4. Estabilidade. 5. Capacidade de carga. 6. Modelagem numérica. 7. Plaxis. I. Celso Romanel. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Civil. III. Título.

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Para minha mãe e meu pai, pelos valores morais de amor e respeito, Para minha esposa e filha, por saberem me compreender,

Para meus irmãos, com muito amor, sempre.

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Agradecimentos

Desejo expressar minha gratidão ao professor Celso Romanel pelo estímulo e

orientação durante a realização deste trabalho.

Ao professor Manuel Matos Fernandes, pelo apoio incondicional e auxílio na

pesquisa bibliográfica.

A todos os professores do DEC da área de Geotecnia pelos conhecimentos

transmitidos em cada uma das disciplinas que cursei.

À minha família e a meus amigos, que sempre me apoiaram e incentivaram para a

realização deste curso de mestrado.

À minha esposa Eusebia e à minha filha Rubi, porque sempre estiveram em mim

presentes, muito obrigado.

À nossa querida e estimada Ana, secretária da pós-graduação, por sua

disponibilidade e atenção.

À PUC-Rio e à Capes pelos auxílios financeiros concedidos, sem os quais meus

estudos no Brasil não teriam sido possíveis.

A todos os colegas da PUC-Rio, muito obrigado pela convivência.

A meus amigos, em especial aos estudantes peruanos e estrangeiros da PUC-Rio,

pela amizade e carinho.

À Deus, porque sem a ajuda d’Ele, nada acontece.

.

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Resumo

Pérez More, Javier Zenobio; Romanel Celso. Análise Numérica do Comportamento de Cortinas Atirantadas em Solos. Rio de Janeiro, 2003. 120p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A necessidade da execução de escavações urbanas cada vez mais profundas

tem imposto aos engenheiros geotécnicos o grande desafio de equilibrar elevados

esforços horizontais com um mínimo de deslocamentos do maciço de solo e das

estruturas localizadas nas vizinhanças. Para muitos destes casos, a utilização de

cortinas atirantadas se constitui na solução técnica mais adequada. As primeiras

obras com ancoragem em solo surgiram em diversos países (Alemanha, Itália,

França) no final da década de 1950, numa evolução direta da técnica de

ancoragem em maciços de rocha, e no Brasil esta técnica foi pela primeira vez

empregada no Rio de Janeiro em 1957 nas rodovias Rio – Teresópolis e Grajaú –

Jacarepaguá. Um grande avanço ocorreu na década de 1970, na implantação das

obras do metrô de São Paulo, com a introdução de ancoragens reinjetáveis com

calda de cimento sob altas pressões. Atualmente, ancoragens em solo são

executadas intensamente em muitos países com cargas que em geral ainda não

ultrapassam a 1500 kN.

Esta dissertação tem como objetivo principal o estudo do comportamento de

cortinas ancoradas em solo, incluindo uma revisão dos principais métodos para

análises de estabilidade e obtenção da capacidade de carga. A utilização do

método dos elementos finitos, através do programa comercial Plaxis v.7.2,

permitiu a comparação dos valores do fator de segurança calculados com métodos

de equilíbrio limite, bem como a realização de estudos paramétricos com o

objetivo de verificar a influência no comportamento mecânico da cortina de vários

parâmetros de projeto, tais como a espessura da cortina, ângulo de inclinação dos

tirantes, embutimento da estrutura, etc.

Palavras-chave Tirantes; cortinas ancoradas em solo; estabilidade; capacidade de carga;

modelagem numérica; Plaxis

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Abstract

Pérez More, Javier Zenobio; Romanel Celso (Advisor). A Numerical Analysis of the Behavior of Tied-back Earth Retaining Walls. Rio de Janeiro, 2003. 120p. MSc. Dissertation - Department of Civil Engineering, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

The need for deeper urban excavations has imposed to geotechnical

engineers the great challenge of balancing high horizontal forces with occurrence

of minimum displacements in soil as well as in the structures nearby. In many of

such cases, tied-back earth retaining walls are the technical solution the most

recommended. The use of ground anchorage, as a direct extension of the rock

anchoring technique, began in several countries (Germany, Italy, France) during

the decade of 1950. In Brazil, the first application occurred in the construction of

the Rio – Teresópolis and Grajaú – Jacarepaguá highways in the State of Rio de

Janeiro, in 1957, and it experimented an important development during excavation

of galleries for the Sao Paulo subway, in the decade of 1970, where high pressure

grouting has been firstly applied as an industrial process. Currently, soil

anchorages are intensely executed throughout the world, carrying loads that in

general are not higher than 1500 kN yet.

This main objective of this thesis is to study the mechanical behavior of

tied-back earth retaining walls, including a comprehensive review on the main

methods used for stability analyses and load capacity calculation. The finite

element method, through the commercial software Plaxis v.7.2, is employed in

order to compare the values obtained for the safety factors through several

techniques, as well as to carry out a parametric study to better understand the

influence on the retaining wall of several engineering parameters such as the wall

thickness, angle and number of ties, depth of wall embedment, etc.

Keywords Anchors; tied-back walls in soil; stability of tied-back walls; numerical

modeling; Plaxis

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Sumário

1 INTRODUÇÃO 18

1.1. Objetivos da pesquisa e estrutura da dissertação 19

2 ASPECTOS BÁSICOS DE ANCORAGENS 21

2.1. Partes do tirante 21

2.1.1. Cabeça 21

2.1.2. Trecho livre 22

2.1.3. Trecho ancorado 22

2.2. Protensão de ancoragem 25

2.3. Tipos de tirantes 27

2.3.1. Quanto à vida útil 27

2.3.2. Quanto à forma de trabalho 28

2.3.3. Quanto à constituição 29

2.3.4. Quanto ao sistema de injeção 32

2.4. Grau de injetabilidade de solos 33

2.5. Especificações da GeoRio 34

2.6. Vantagens e desvantagens do uso de ancoragens em solo 35

2.7. Combate a empuxo de terra 37

3 ESTABILIDADE E CAPACIDADE DE CARGA DE CORTINAS

ANCORADAS EM SOLO 39

3.1. Introdução 39

3.2. Modos de ruptura de cortinas atirantadas em solo 41

3.3. Estimativa da capacidade de carga de ancoragem em solo 43

3.3.1. Norma Brasileira NBR-5629 43

3.3.2. Método de Ostermayer (1974) 44

3.3.3. Método de Bustamante & Doix (1985) 47

3.3.4. Método de Costa Nunes (1987) 50

3.3.5. Método de Mecsi (1997) 51

3.4. Análise da estabilidade global pelo método das cunhas 57

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3.4.1. Método de Kranz (1953) 58

3.4.2. Generalização do método de Kranz 59

3.4.3. Outros métodos 65

3.4.3.1. Definições do fator de segurança 65

3.4.3.2. Método de Costa Nunes e Velloso (1963) 66

3.4.3.3. Método de Broms (1968) 68

3.5. Método dos elementos finitos na análise da estabilidade 69

3.6. Dimensionamento das ancoragens 71

4 ANÁLISE DE CORTINAS ANCORADAS PELO MÉTODO DOS

ELEMENTOS FINITOS 76

4.1. Aspectos da modelagem de cortinas ancoradas 76

4.2. Modelagem com o programa computacional Plaxis 77

4.3. Validação da modelagem 82

4.4. Cortina ancorada em solo residual 87

4.5. Análise paramétrica de cortina ancorada em solo 99

4.5.1. Influência da espessura da cortina 103

4.5.2. Influência do ângulo de inclinação dos tirantes 105

4.5.3. Influência do embutimento da cortina 107

4.5.4. Influência do número de tirantes 108

4.5.5. Influência do nível da água 109

4.5.6. Influência da rigidez do bulbo ancorado 110

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 112

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 116

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Lista de figuras

Figura 2.1 – Esquema de Tirante (Yassuda e Vieira Dias, 1998) 23

Figura 2.2 – Ensaio de recebimento (NBR-5629). 26

Figura 2.3 – Ensaio de recebimento (esquerda) e ensaio de fluência

(direita) recomendados pela NBR-5629 27

Figura 2.4 – Tirante típico permanente (GeoRio, 2000). 28

Figura 3.1 – Mecanismo de transferência de carga em ancoragens (Juran

e Elias, 1991). 40

Figura 3.2 – Sistema idealizado de forças sobre cortinas atirantadas

(Hanna, 1982). 40

Figura 3.3 – Ensaios em cortinas multi-ancoradas em solos: rotação ao

redor do topo (foto superior); rotação ao redor da base (foto média);

cortina inclinada de 15º com rotação ao redor da base (foto inferior) –

Dina (1973) 41

Figura 3.4 – Tipos de ruptura de uma cortina ancorada em solo (GeoRio,

2000). 42

Figura 3.5 – Tipos de ruptura global: em cunha e generalizada (GeoRio,

2000). 43

Figura 3.6 – Capacidade de carga limite de ancoragem em solos

granulares de acordo com Ostermayer (1974). 45

Figura 3.7 – Resistência ao cisalhamento por unidade de comprimento de

ancoragens em solos coesivos (Ostermayer, 1974). 46

Figura 3.8 – Influência da pressão de injeção na resistência ao

cisalhamento em solos coesivos (Ostermayer, 1974). 46

Figura 3.9 – Correlações empíricas para resistência ao cisalhamento por

unidade de comprimento em areias / cascalhos (Bustamante & Doix,

1985). 49

Figura 3.10 – Correlações empíricas para a resistência ao cisalhamento

por unidade de comprimento em argilas / siltes (Bustamante & Doix,

1985). 49

Figura 3.11 – Modelo de mobilização da resistência ao cisalhamento na

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interface bulbo-solo (Mecsi, 1997). 52

Figura 3.12 – Diagrama para cálculo da variação de volume do trecho

ancorado (esquerda) e seção transversal da ancoragem após injeção

(direita) - Mecsi (1997). 56

Figura 3.13 – Tipos de ruptura na análise da estabilidade global de

cortinas ancoradas: (a) em cunha; (b) generalizada (Matos Fernandes,

1990). 57

Figura 3.14 – Análise de estabilidade do “maciço de ancoragem” (Kranz,

1953). 59

Figura 3.15 – Generalização do método de Kranz (Ranke & Ostermayer,

1968). 60

Figura 3.16 – Análise de estabilidade global para uma cortina bi-ancorada

– caso 1 (Ranke & Ostermayer, 1968) 61

Figura 3.17 – Análise de estabilidade global para uma cortina bi-ancorada

– caso 2. (Ranke & Ostermayer, 1968). 62

Figura 3.18 – Análise de estabilidade global para uma cortina bi-ancorada

– caso 3 (Ranke & Ostermayer, 1968). 63

Figura 3.19 – Polígono de forças do método de Ranke e Ostermayer para

o caso de solos com coesão (Pacheco & Danziger, 2001). 64

Figura 3.20 – Análise de estabilidade pelo método de Costa Nunes e

Velloso (GeoRio, 2000) 67

Figura 3.21 – Análise de estabilidade considerando o equilíbrio do solo e

da cortina (Broms, 1968). 69

Figura 3.22 – Aspectos do dimensionamento de cortinas ancoradas

(Littlejohn, 1972; Ostermayer, 1976). 72

Figura 3.23 – Espaçamentos entre ancoragens (Pinelo, 1980). 73

Figura 4.1 – Modelagem de ancoragem com mola e elementos planos

(Potts, D. & Zdravkovic, L., 2001). 78

Figura 4.2 – Determinação de tensões nos cantos de estruturas: a) sem

elementos de interface; b) considerando elementos de interface (Manual

Plaxis v.7.2). 80

Figura 4.3 – Corte do túnel projetado mostrando posição das cortinas

principais e secundarias de estaca prancha (Gysi & Morri, 2002). 84

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Figura 4.4 – Geometria da parede – LARSSEN 23 e 24. 84

Figura 4.5 – Comparação de deslocamentos horizontais medidos e

previstos para as cortinas principais (esquerda) e secundárias (direita). 86

Figura 4.6 – Comparação das distribuições dos momentos fletores finais

medidos e previstos ao longo das cortinas principais (esquerda) e

secundárias (direita). 87

Figura 4.7 – Geometria do problema e malha de elementos finitos

triangulares quadráticos (15 nós). 88

Figura 4.8 – Deslocamentos horizontais da cortina durante processos de

escavação e ancoragem. 90

Figura 4.9 – Componentes de deslocamento vertical (acima) e horizontal

(abaixo) no maciço. 91

Figura 4.10 – Componentes de deslocamento e de tensões na cortina

ancorada. 92

Figura 4.11 – Deslocamentos totais previstos para o solo de interface

(acima) e bulbos (abaixo) nas linhas de tirantes superior e inferior. 93

Figura 4.12 – Distribuição de tensões ao longo do bulbo para as linhas de

tirante superior (acima) e inferior (abaixo). 93

Figura 4.13 – Influência da espessura da cortina nos deslocamentos

horizontais e distribuição dos momentos fletores. 94

Figura 4.14 – Geometria da cunha, tirante e dados do solo para

determinação de FS pelo método de Costa Nunes e Velloso (1963). 95

Figura 4.15 – Polígono de forças e valores para cálculo do FS pelo

método de Kranz generalizado. 95

Figura 4.16 – Zona de plastificação no solo na iminência do colapso. 96

Figura 4.17 – Distribuição dos deslocamentos na iminência do colapso do

solo. 97

Figura 4.18 – Superfícies de ruptura nos métodos de equilíbrio limite de

Costa Nunes e Velloso (esquerda) e Kranz generalizado (direita). 98

Figura 4.19 – Distribuições dos contornos de deformação cisalhantes com

a aproximação das condições de colapso do maciço do solo. 98

Figura 4.20 – Geometria do problema e malha de elementos finitos

utilizada (elementos quadráticos de 6 nós). 100

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Figura 4.21 – Deslocamentos horizontais da cortina durante as etapas de

construção. 101

Figura 4.22 – Deslocamentos horizontais (acima) e verticais (abaixo) no

maciço de solo ao final da construção da cortina. 102

Figura 4.23 - Deslocamentos verticais da superfície do terreno 102

Figura 4.24 – Influência da espessura da cortina e da carga de protensão

nos deslocamentos horizontais finais da cortina ancorada. 104

Figura 4.25 – Variação da carga efetiva no tirante com sua profundidade e

espessura da cortina. Carga de protensão nominal T = 875 kN. 104

Figura 4.26 – Momentos fletores finais para as cortinas analisadas

considerando-se T=875 kN.. 105

Figura 4.27 – Carga efetiva nas linhas de tirantes para protensão nominal

T = 875 kN. 106

Figura 4.28 – Influência dos ângulos de inclinação dos tirantes nos

deslocamentos horizontais e verticais da cortina ancorada. 106

Figura 4.29 – Influência do embutimento da cortina nos deslocamentos

horizontais. 107

Figura 4.30 – Influência no número de tirantes nos deslocamentos

horizontais da cortina (e=0,30m. T=875 kN, α = 15o). 108

Figura 4.31 – Influência nos deslocamentos horizontais da cortina da

espessura da mesma e do número de tirantes. 109

Figura 4.32 – Influência da profundidade do lençol freático nos

deslocamentos horizontais e verticais da cortina ancorada. 110

Figura 4.33 – Influência da rigidez do bulbo nos deslocamentos

horizontais da cortina (e = 0,30m. T = 875 kN, α = 15o). 111

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Lista de tabelas

Tabela 2.1- Resistência média ao cisalhamento de bulbos injetados

(Jimenez Salas, 1980). 24

Tabela 2.2 – Características principais das cordoalhas e fios (Sondasa,

2001) 31

Tabela 2.3 – Grau de injetabilidade de solos (Novais, 2001). 33

Tabela 2.4 – Principais tipos de aços (adaptado de GeoRio, 2000) 35

Tabela 3.1 – Coeficiente de ancoragem kf para solos granulares (NBR-

5629). 44

Tabela 3.2 – Coeficiente de majoração β do diâmetro do bulbo devido à

injeção 48

Tabela 4.1 – Valores típicos do fator de redução de resistência Rinter. 81

Tabela 4.2 – Características dos perfis de aço LARSSEN 24 e LARSSEN

23 utilizados nas cortinas de estacas-prancha principais e secundárias,

respectivamente. 84

Tabela 4.3 – Propriedades das camadas de solo 85

Tabela 4.4 – Propriedades geomecânicas (GeoRio, 2003). 89

Tabela 4.5 – Variação do parâmetro M para cálculo de FS pelo método

dos elementos finitos. 96

Tabela 4.6 – Fatores de segurança determinados pelo três métodos de

cálculo analisados. 97

Tabela 4.7 – Propriedades geomecânicas (Pereira Lima, 2002). 99

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Lista de Símbolos

A Área da superfície potencial de ruptura por metro linear

Aaço Área da seção transversal do aço

As Área da seção transversal do tirante

c Coesão do solo

c’ Coesão efetiva do solo

CF Coeficiente de fluência

D Diâmetro do bulbo ancorado

De Diâmetro médio adotado para o trecho ancorado

Dp Diâmetro perfurado do trecho ancorado

e Espessura da parede

Eaço Módulo de elasticidade do aço

Esolo Módulo de Young do solo

Eparede Módulo de Young da parede

Einjeção Módulo de Young da calda de cimento

fy Tensão de escoamento trabalho

aF Força de tração máxima

ult

aF Força de tração de trabalho

FS Fator de segurança

h Profundidade do centro do bulbo

H Altura de escavação

Hemb. Altura de embutimento

IGU Injeção em estagio único

IRS Injeção em estagio repetitivo

Kf Coeficiente de ancoragem

Ko Coeficiente de empuxo em repouso do solo

k Índice de rigidez da ancoragem

Lb Comprimento do bulbo de ancoragem

lo Trecho do bulbo em que a capacidade de carga já foi

plenamente atingida

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N Número de golpes do ensaio SPT

nd Coeficiente de aumento do diâmetro pela pressão de injeção

nl Coeficiente de redução do comprimento do bulbo devido à

pressão não uniforme sobre o mesmo

nh Fator de redução da profundidade quando esta for superior a

9m

qs Resistência ao cisalhamento

ro Raio médio do bulbo após a injeção

Rinter Resistência de interface

sr0 Tensão normal à superfície do bulbo, depois de completada a

injeção

Su Resistência ao cisalhamento não drenado

T Força atuante na seção do bulbo considerada

Tmax Capacidade de carga limite (ou última)

To Carga no topo da ancoragem

tult Capacidade de carga especifica da ancoragem, por metro de

comprimento do bulbo

U Perímetro médio da seção transversal do bulbo de ancoragem

W Peso da cunha mais a componente devida ao carregamento

distribuído na superfície do talude,por metro linear

α Inclinação da ancoragem em relação à horizontal

αo Coeficiente redutor da resistência ao cisalhamento não

drenada Su

β Coeficiente de majoração do diâmetro do bulbo devido ä

injeção

∆ Alongamento da ancoragem até uma seção considerada

d∆ Deslocamento infinitesimal da seção do bulbo considerada ∆lo Alongamento do trecho ancorado onde a resistência por atrito

unitária já foi totalmente mobilizada

∆L1 Alongamento do trecho livre

∆(Lb-lo) Alongamento do sub-trecho ancorado onde a resistência ao

cisalhamento está sendo gradualmente mobilizada

∆total Deslocamento total da ancoragem

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γc Peso especifico do solo na profundidade do centro do bulbo

γconcreto Peso especifico do concreto

γsolo Peso especifico do solo

ε Deformação especifica do aço

φ Ângulo de resistência ao cisalhamento do solo

φaço Diâmetro do aço

σz Tensão vertical efetiva

σz’ Tensão vertical efetiva no ponto médio da ancoragem

σr0 Tensão radial normal à superfície do bulbo após a injeção

σ0m Tensão normal média inicial

τult Resistência ao cisalhamento na interface solo-bulbo

ν Coeficiente de Poisson

θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal

superfície potencial de ruptura

ψ Ângulo de dilatância

ψpcr Inclinação da superfície de ruptura

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1 INTRODUÇÃO

A necessidade da execução de escavações urbanas cada vez mais profundas

tem imposto aos engenheiros geotécnicos o grande desafio de equilibrar elevados

esforços horizontais com um mínimo de deslocamentos do maciço de solo e das

estruturas localizadas nas vizinhanças. Em muitos destes casos, a utilização de

cortinas ou paredes atirantadas se constitui na solução técnica mais adequada.

O atirantamento é normalmente feito, à medida que se realiza a escavação,

por meio de ancoragens instaladas no maciço de solo, em furos contendo no seu

interior um elemento estrutural resistente a esforços de tração (tirante) e um tubo

com válvulas para injeção da calda de cimento sob pressão para formação, em

uma ou várias fases sucessivas, do bulbo de ancoragem.

O dimensionamento do bulbo de ancoragem é um dos fatores fundamentais

que controlam o comportamento de cortinas ancoradas, e o aspecto de projeto que

atualmente necessita de mais investigações diz respeito à realização de ensaios em

campo, visto a dificuldade de se estimar as características do comportamento

mecânico na interface bulbo-solo, dependente tanto das propriedades do solo

quanto do bulbo, sendo ambas significativamente afetadas pelo processo de

perfuração e de injeção.

As primeiras obras com ancoragem em solo surgiram em diversos países

(Alemanha, Itália, França) no final da década de 1950, numa evolução direta da

técnica de ancoragem em maciços de rocha. Nesta época, as ancoragens eram

constituídas por única barra de aço inserida em furo preenchido com calda de

cimento, atingindo normalmente capacidade de carga entre 100 a 200 kN.

No Brasil, segundo Costa Nunes (1978), as primeiras obras de contenção

utilizando ancoragem em solo ocorreram em 1957 no Rio de Janeiro, nas rodovias

Rio – Teresópolis e Grajaú – Jacarepaguá. Nos anos seguintes, a principal

aplicação desta técnica restringiu-se à estabilidade de encostas, com cargas de até

250kN, porém sofrendo sérios questionamentos técnicos sobre a viabilidade de

sua utilização em estruturas definitivas, como relata Ostermayer (1974), devido ao

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pouco conhecimento que se tinha na época dos efeitos do tempo no

comportamento da ancoragem.

Um grande avanço da técnica de ancoragem no Brasil ocorreu no final da

década de 1960, após as chuvas de grande intensidade ocorridas na cidade do Rio

de Janeiro em 1996 e 1967 e que deram oportunidade de aplicação de ancoragens

em diversas obras de contenção de encostas na cidade e em estradas próximas.

Outro fato decisivo foi o início da implantação das obras do metrô de São Paulo,

na década de 1970, onde foram introduzidas as ancoragens reinjetáveis que

representaram uma significativa evolução em relação às ancoragens monobarra e

furo apenas preenchido com calda ou argamassa de cimento sob baixa pressão.

Segundo Kuhn (1970), pôde-se comprovar que nos solos sedimentares de São

Paulo foi possível atingir-se cargas superiores a 400 kN com ancoragens

reinjetadas sob alta pressão. A partir desta época, diversas outras aplicações

envolvendo ancoragem em solo foram executadas no país, levando à elaboração

da NB-565 (atual NBR-5629), aprovada em 1977 e revisada em 1996, contendo

definições e especificações técnicas sobre a execução de ancoragens de estruturas

em solo para obras temporárias e definitivas.

Nas décadas de 1980 e 1990 a técnica de execução de ancoragens

reinjetáveis e protendidas em solo continuou em pleno desenvolvimento no Brasil,

estimulada pela necessidade da realização de edifícios residenciais e centros

comerciais com vários subsolos nas grandes cidades do país. A execução de

paredes diafragmas com linhas de ancoragem suportando cargas de trabalho de até

1000 kN aconteceu em várias destas obras.

Atualmente, ancoragens em solo são executadas intensamente em muitos

países, principalmente nas grandes aglomerações urbanas, com cargas que em

geral ainda não ultrapassam 1500 kN.

1.1. Objetivos da pesquisa e estrutura da dissertação

Esta dissertação tem como objetivo principal o estudo do comportamento de

cortinas ancoradas em solo, incluindo uma revisão dos principais métodos para

análises de estabilidade e obtenção da capacidade de carga de cortinas ancoradas

em solo. A utilização do método dos elementos finitos, através do programa

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comercial Plaxis v.7.2, permitiu a comparação dos valores do fator de segurança

calculados com métodos de equilíbrio limite, bem como a realização de estudos

paramétricos com o objetivo de verificar a influência no comportamento mecânico

da cortina de vários parâmetros de projeto, tais como a espessura da cortina,

ângulo de inclinação dos tirantes, embutimento da estrutura, etc.

O trabalho desenvolvido está apresentado de acordo com a seguinte

estrutura, sob forma de capítulos:

Capítulo 1 – introdução ao problema pesquisado nesta dissertação e

apresentação dos objetivos e da estrutura do trabalho;

Capítulo 2 – apresentação dos aspectos básicos de tirantes, descrevendo suas

principais partes, classificação quanto à vida útil, formas de trabalho, constituição

e sistema de injeção, protensão da ancoragem, bem como as principais vantagens

e desvantagens da utilização de ancoragem em solo.

Capítulo 3 – descrição dos principais métodos para investigação da

estabilidade e capacidade de carga de cortinas ancoradas em solo. Discute também

as várias definições do fator de segurança propostos na literatura e descreve o

procedimento básico para estimativa do fator de segurança através do método dos

elementos finitos.

Capítulo 4 – consideração a respeito de algumas dificuldades de modelagem

do comportamento de cortinas ancoradas em solo pelo método dos elementos

finitos. Faz também uma breve descrição das características principais do

software utilizado nesta pesquisa (Plaxis v.7.2) e apresenta os resultados

numéricos dos exemplos analisados no trabalho, que incluem estudos de

estabilidade e da influência de parâmetros (espessura da cortina, ângulo de

inclinação dos tirantes, embutimento da cortina, número de linhas de tirantes,

nível d’água) sobre o comportamento mecânico de cortinas ancoradas em solo.

Capítulo 5 – apresentação das principais conclusões obtidas no presente

trabalho e de sugestões para futuras pesquisas na área.

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2 ASPECTOS BÁSICOS DE ANCORAGENS

A utilização de obras ancoradas em solo ou rocha é atualmente bastante

empregada no Brasil, seja na execução de estruturas de contenção quanto na

estabilização de taludes e encostas em solo ou rocha.

A ancoragem é basicamente constituída por um ou mais elementos de aço

protegidos contra a corrosão (barras, fios ou cordoalhas genericamente designadas

como tirantes) capaz de suportar esforços de tração e de transmiti-los ao solo

através da interação com o bulbo, este formado por injeção de calda de cimento

sob pressão e fixado ou ancorado na região estável do maciço. O bulbo não deve

romper-se por arrancamento e tampouco sofrer deformações demasiadas sob a

ação de cargas de longa duração (fluência), com uma margem de segurança

adequada. Pela NBR-5629, os valores do fator de segurança contra o

arrancamento devem ser no mínimo 1,75 (para tirantes definitivos) e 1,5 (tirantes

provisórios), enquanto que ao menos 1,5 contra a fluência.

O trecho que liga a cabeça (extremidade do tirante fora do solo) ao bulbo é

conhecido como trecho ou comprimento livre que, pela norma brasileira NBR-

5629, não pode ser inferior a 3m.

O diâmetro do furo é cerca de 10 a 15cm, dependendo da montagem do

tirante, de modo que sua instalação não encontre resistência e seja assegurado o

recobrimento mínimo de 2cm do aço na região do bulbo.

2.1. Partes do tirante

2.1.1. Cabeça

Suporta a estrutura, possuindo os seguintes componentes principais: placa

de apoio, cunha de grau e bloco de ancoragem.

A placa de apoio tem como função à distribuição da carga do tirante (figura

2.1) e é normalmente formada por chapas metálicas (uma ou mais) de tamanho

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conveniente para transmissão de tensões de compressão aceitáveis sobre a

estrutura de contenção.

A cunha de grau é um elemento empregado para permitir o alinhamento

adequado do tirante em relação à sua cabeça, sendo normalmente constituído por

um cilindro ou chapas paralelas de aço. Quando a carga de trabalho do tirante não

é muito alta, em geral a chapa de apoio e a cunha de grau formam uma peça única.

A norma NBR-5629 denomina genericamente de bloco de ancoragem as

peças que prendem o tirante na região da cabeça. Na prática, estas peças podem

ser de três tipos: a) porcas, usadas em tirantes de barra onde existem roscas; b)

cunhas, em tirantes com fios ou cordoalhas múltiplas; c) botões, onde a ponta de

cada fio é prensada num macaco para formar um bulbo com diâmetro maior, para

ser em seguida presa a uma peça de aço, com múltiplos furos de diâmetro

praticamente igual ao dos fios.

2.1.2. Trecho livre

É à parte do tirante onde o aço se encontra isolado da calda de injeção. Os

fios ou cordoalhas são normalmente engraxados, envoltos individualmente por

tubos plásticos e, em algumas situações especiais, o conjunto é ainda protegido no

interior de um tubo adicional para garantir proteção extra. Na transição entre os

trechos livre e ancorado, os tubos são vedados com massa plástica para não

permitir o contato da calda de cimento com o tirante no trecho livre.

2.1.3. Trecho ancorado

Parte encarregada de transmitir ao solo os esforços suportados pelo trecho

livre, formado pela injeção de calda de cimento na proporção 0,5 entre pesos de

água e cimento. O número de fases de injeção e a quantidade de calda injetada

dependem muito da experiência do executor ou operador, sendo em geral

aplicadas de 1 a 4 fases de injeção com volume de calda injetada de 20 a 60 litros

por fase de injeção. Os ensaios das primeiras ancoragens da obra devem indicar

se deve ou não ser necessário um incremento do número das fases de injeção

inicialmente programadas.

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Por apresentarem características mecânicas diferentes, o comprimento

necessário para ancorar o aço na calda de cimento é significativamente menor do

que o necessário para ancorar o bulbo no solo. O aço deve receber uma pintura

anticorrosiva, que não prejudica significativamente a sua aderência com a calda de

cimento, e um recobrimento mínimo de 2cm de calda no contato com o terreno.

Para solos agressivos, o valor do recobrimento recomendado é 3cm, podendo-se

utilizar bainhas de proteção nos casos de solos muito agressivos. De modo geral,

para que o aço receba um envolvimento completo pela calda no trecho ancorado, é

usual o emprego de espaçadores plásticos a intervalos de 2 a 3m que mantêm cada

elemento do tirante com o distanciamento mínimo com o solo e entre elementos

vizinhos (de 3 a 5mm).

Figura 2.1 – Esquema de Tirante (Yassuda e Vieira Dias, 1998)

No processo de transferência de carga solo-bulbo a resistência frontal do

bulbo para efeitos de projeto é geralmente desprezada e a capacidade de carga da

ancoragem é considerada função apenas da sua resistência lateral, cuja

mobilização depende do deslocamento relativo ocorrido entre o bulbo e o solo.

Este mecanismo de transferência de carga, que admite um crescimento da

tensão cisalhante mobilizada até um valor limite, tem sido muitas vezes

confirmado em provas de carga em fundações e em ancoragens. Alguns autores

(Bustamante e Doix, 1985; Mecsi, 1977, dentre outros) admitem que com a

continuidade do deslocamento do bulbo a tensão cisalhante conserva seu valor

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máximo, resultando portanto numa distribuição uniforme das tensões cisalhantes

ao longo do bulbo no final do carregamento, enquanto que outros (Hanna, 1982;

Barley, 1997, etc) consideram que devido aos relativamente altos valores do

deslocamento do bulbo a tensão cisalhante decresce gradualmente para um valor

residual. Barley (1997) chama este decréscimo de ruptura progressiva,

exemplificando que durante o carregamento de uma ancoragem típica com 6m de

comprimento o topo do bulbo se desloca de 15mm a 20mm antes que qualquer

carga tenha sido transferida à base do bulbo, justificando, segundo aquele autor, a

hipótese de que quando a tensão cisalhante atinge o valor limite no trecho final do

bulbo seu valor já diminuiu para o residual em seu trecho inicial.

Segundo Novais (2001), a experiência brasileira parece comprovar que em

ancoragens reinjetáveis sob alta pressão a tensão cisalhante ao longo do bulbo

permanece praticamente constante após atingir seu valor máximo,

independentemente do tipo de solo, enquanto que em ancoragens não reinjetáveis,

injetadas sob baixa pressão, tem sido observado um significativo comportamento

de pico para deslocamentos relativamente altos do bulbo (da ordem de 100 mm).

Na prática da engenharia, a capacidade de carga da ancoragem é

considerada diretamente proporcional ao comprimento de ancoragem, mesmo para

aquelas executadas sob baixas pressões de injeção, utilizando geralmente valores

médios da resistência ao cisalhamento na interface solo-bulbo, como os sugeridos

por Jimenez Salas (1980) na tabela 2.1.

Tabela 2.1- Resistência média ao cisalhamento de bulbos injetados (Jimenez Salas,

1980).

Tipo de terreno Resistência média ao

cisalhamento (MPa)

Rochas duras 1,00 a 2,50

Rocha solta 0,30 a 1.00

Areias e pedregulhos 0,70 a 1.00

Areia media a fina 0,30 a 0,60

Argila com resistência a compressão simples

a) > 0,4 MPa >0,80

b) 0,10 a 0,40 MPa 0,40 a 0,80

c) 0,05 a 0,10 MPa 0,25 a 0,40

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2.2. Protensão de ancoragem

A finalidade de protensão é tracionar a ancoragem, colocando-a sob carga

antes da aplicação dos esforços provenientes do maciço de solo com o objetivo de

diminuir os deslocamentos da estrutura de contenção.

De acordo com a norma NBR-5629 a fase de protensão da ancoragem deve

ser executada após decorridos 7 dias da cura da calda com cimento Portland

comum ou após 3 dias quando da utilização de calda com cimento de alta

resistência inicial. A norma prescreve a realização do chamado ensaio de

recebimento, que tem como finalidade avaliar a capacidade de carga das

ancoragens com base nas curvas de carga x deslocamento obtidas nos ensaios de

campo. A avaliação inclui a verificação da estabilização do deslocamento total

para a máxima carga de ensaio e a análise das componentes elástica e permanente

dos deslocamentos da ancoragem. A componente elástica é considerada resultante

do alongamento do trecho livre enquanto que a parcela permanente é atribuída ao

deslocamento do bulbo que, por sua vez, é considerado indeformável. Para a

aprovação (ou recebimento) da ancoragem, deve ser observada a estabilização do

deslocamento total do topo para a carga máxima de ensaio prevista e o

deslocamento elástico deve estar contido dentro dos limites inferior e superior

representados respectivamente pelas curvas “a” e “b” na figura 2.2. A norma

NBR-5629 prescreve que a ancoragem, por questões executivas, possa apresentar

variação do comprimento previsto do bulbo. Para o limite superior do

deslocamento elástico (curva “a”) admite-se que o comprimento do bulbo seja

50% menor do que projetado e para o limite inferior (curva “b”) considera-se que

20% do trecho livre tenha sido adicionado ao bulbo.

Para cada obra a NBR-5629 prescreve dois ensaios de recebimento e dois

ensaios de fluência, realizados em geral simultaneamente. No primeiro ensaio,

após cada estágio de carregamento, a ancoragem é descarregada até a carga inicial

de protensão, cerca de 10% da carga prevista. Segundo a norma, através deste

ensaio é possível avaliar a perda de carga por atrito ao longo de trecho livre,

indicada pela alta rigidez apresentada pela ancoragem no início do carregamento.

Esta perda de carga deve ser limitada em 15% da carga máxima de ensaio, a partir

da carga inicial de protensão.

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O procedimento para o ensaio de fluência é semelhante ao do ensaio de

recebimento, sendo que em cada estágio de carregamento do topo da ancoragem

sob carga constante, durante intervalos de tempo pré-definidos, determina-se o

coeficiente de fluência (CF), que está relacionado com o comportamento da

ancoragem ao longo do tempo em termos de permanência da carga incorporada. A

figura 2.3 apresenta resultados típicos para ensaios de recebimento e de fluência.

Figura 2.2 – Ensaio de recebimento (NBR-5629).

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Figura 2.3 – Ensaio de recebimento (esquerda) e ensaio de fluência (direita) recomendados pela NBR-5629.

2.3. Tipos de tirantes

2.3.1. Quanto à vida útil

Conforme a norma brasileira, os tirantes podem ser classificados quanto à

vida útil em tirantes permanentes, que se destinam a obras com duração superior a

2 anos, e tirantes provisórios, inferior a 2 anos. A distinção entre os tipos de

tirante é importante pois os valores do coeficiente de segurança, as

recomendações de proteção anticorrosiva e as precauções construtivas dependem

da vida útil da ancoragem. A figura 2.4 ilustra um tirante permanente típico.

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Figura 2.4 – Tirante permanente típico (GeoRio, 2000).

2.3.2. Quanto à forma de trabalho

Os tirantes podem ser classificados como ativos ou passivos. Tirantes ativos

são aqueles que estão permanentemente sob carga, independentemente dos

esforços atuantes no solo ou na estrutura de contenção; em outras palavras,

caracterizam os tirantes protendidos. Em contraste, nos tirantes passivos a carga

só começa a atuar quando o maciço de solo ou a estrutura o solicitar, reagindo aos

esforços produzidos nos mesmos. Na prática os tirantes são raramente passivos.

Uma variação dos tirantes passivos é os chumbadores ou pregos (soil nailings)

que são instalados sem protensão.

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2.3.3. Quanto à constituição

a) Tirante monobarra – barra única como elemento principal do tirante,

freqüentemente empregado no final da década de 1960 e início dos anos 1970,

com barras de aço CA-50A (tensão de escoamento 500 MPa, carga de trabalho de

100 a 200 kN) ou CA-60A (tensão de escoamento 600 MPa, cargas de 120 a 240

kN) e diâmetros entre ¾” e 1.¼ “.

Como passar do tempo consolidou-se a tendência de se utilizar tirantes de

maior capacidade de carga, necessitando-se, portanto, de aços mais resistentes do

que os aços comuns da construção civil. Surgiram então no mercado barras de

aço especial (tensão de escoamento de 850MPa, diâmetros entre 19 e 32mm), com

mossas protuberantes que funcionam como roscas, permitindo a execução de

emendas com luvas especiais bem como a fixação da cabeça através de porcas.

b) Tirantes de barras múltiplas – a ancoragem é composta por mais de

uma barra de aço. Pouco utilizada no Brasil, sua concepção é a mesma dos

tirantes de fios ou cordoalhas, exceto pelo bloco de ancoragem que requer um

sistema de roscas e porcas para fixação da cabeça e execução da protensão.

c) Tirante de fios – os fios são normalizados pela NBR-7482 ou EB-

780/90, devendo individualmente apresentar uma área mínima de 50 mm2 ou

8mm de diâmetro. Comercialmente se encontram fios com diâmetro 8mm e 9mm,

fabricados em aço 150RN, 150RB, 160RN e 160RB (RN= relaxação normal; RB

= relaxação baixa). A carga de trabalho no tirante é proporcional à quantidade de

fios do tirante, sendo o número destes limitado pelo diâmetro da perfuração. Na

prática, a grande maioria dos furos é executada com diâmetros próximos de

115mm (chamado de diâmetro H, igual ao diâmetro externo de um revestimento

para solo) o que limita o número de fios em 12 e assegura cargas de trabalho de

até 419 kN por tirante. Ensaios executados em solos areno-argilosos de

compacidade média indicam que os bulbos obtidos a partir de furos H, com duas

fases de injeção sob pressão controlada, podem atingir diâmetros médios da

ordem de duas vezes o diâmetro original da perfuração.

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Normalmente os fios são pintados com duas demãos de tinta anticorrosiva,

com bloco de ancoragem por clavetes e cunhas com proteção contra a corrosão.

Apesar destes cuidados, este tipo de tirante está deixando de ser utilizado em

virtude de problemas causados pela corrosão.

d) Tirante de cordoalhas – o elemento resistente à tração é constituído por

cordoalhas de aço, semelhantes às usadas em obras civis de concreto protendido.

Existem vários tipos de cordoalhas normalizadas pelas NBR-7483 e EB-781/90,

conforme mostra a tabela 2.2, que podem ser comercialmente adquiridas em aço

175RN, 175RB, 190RN e 190RB. No Brasil, as cordoalhas empregadas têm

geralmente diâmetro de 12,7mm, sendo fabricadas em aço 190RB. Usualmente as

cordoalhas são pintadas em todo seu comprimento com duas demãos de tinta

anticorrosiva.

e) Tirante de materiais sintéticos – fabricados com novos materiais

resistentes à corrosão e apresentando elevada resistência à tração, como fibras de

carbono ou fibras de poliéster. No Brasil ainda não são aplicados em larga escala

como elementos de ancoragem.

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Tabela 2.2 – Características principais das cordoalhas e fios (Sondasa, 2001)

AÇO TIRANTE

TIPO ARMAÇÃO CATEGORIA TENSÃO DE MODULO SEÇÃO FORÇA CARGA PESO CARGA DE TRABALHO

ESCOAMENTO

DO AÇO DE Fe Fr MÁXIMA DO

fy ELASTICIDADE DE ENSAIO AÇO PROVISÓRIO PERMANENTE

mm MPa GPa mm2 kN kN/m kN

1 φ 22 285 140 160 130 2,98 80 70

CA - 50 500 205

BARRA 1 φ 25 387 190 210 190 3,85 120 110

1 φ 32 GEWI 500 205 804 400 440 350 6,31 240 200

DTWIDAG 850 804 680 840 600 6,31 410 350

4 φ 8 201 270 300 250 1,08 160 140

6 φ 8 CP 302 410 450 370 2,37 240 210

FIOS 8 φ 8 150 1350 210 402 540 600 490 3,16 330 280

10 φ 8 RB 503 680 760 610 3,95 410 350

12 φ 8 604 820 910 730 4,74 490 420

4 φ 12,7 395 680 750 610 3,1 400 350

CORDOALHAS 6 φ 12,7 CP 592 1010 1130 910 4,65 610 520

8 φ 12,7 190 1710 19,5 790 1350 1500 1220 6,2 810 690

10 φ 12,7 RB 987 1690 1880 1520 7,75 1010 870

12 φ 12,7 1184 2030 2250 1820 9,3 1210 1040

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2.3.4. Quanto ao sistema de injeção

a) Injeção em estágio único – a injeção é executada imediatamente antes

da instalação do tirante. É o procedimento padrão nos casos de maciços com alta

capacidade de suporte (como rochas) onde a aplicação da pressão de injeção não

traz vantagens como o alargamento do bulbo ou a melhoria das características de

aderência na interface entre o maciço e o bulbo. A injeção em estágio único é

geralmente empregada para tirantes de barras suportando cargas baixas,

preenchendo o furo com calda de cimento logo após o término da perfuração.

b) Injeção em estágios múltiplos – tirantes que dispõem de um sistema

auxiliar de injeção, geralmente constituído por um tubo de PVC, de diâmetro entre

32 a 40mm, com válvulas “manchete” a intervalos de 0,5m no trecho ancorado.

Esse tubo centralizado é destinado à execução de injeções sucessivas sob pressão,

e as válvulas “manchete”, pequenos trechos perfurados do tubo recobertos por

uma mangueira flexível, com o propósito de permitir a saída da calda durante a

injeção (a válvula abre, isto é, a mangueira levanta) e evitar o retorno quanto esta

cessar. Como a válvula “manchete” só permite o fluxo da calda em sentido único,

capaz de manter uma pressão residual na calda injetada já que esta é impedida de

retornar para o interior do tubo, a formação do bulbo alargado acontece

gradualmente. A válvula pode ser reinjetada a qualquer tempo desde que o

interior do tubo seja mantido limpo através de um processo de lavagem interna

após cada estágio de injeção da calda de cimento. A injeção é feita em pelos

menos dois estágios distintos: no primeiro, preenche-se o furo com calda a baixa

pressão com o objetivo de expulsar a água acumulada no interior da perfuração,

estágio conhecido como injeção de bainha; no segundo, após a pega da bainha

(cerca de 10 horas), cada válvula “manchete” é injetada individualmente até se

atingir a pressão desejada ou o volume de calda máximo (estágio primário). Caso

a pressão não seja atingida, o tubo “manchetado” é lavado e os estágios de injeção

são repetidos a cada intervalo de 10 horas (estágio secundário). Em solos de

consistência ou compacidade medianas, são necessários apenas os estágios

primário e secundário.

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2.4. Grau de injetabilidade de solos

Define-se como grau de injetabilidade de solos a magnitude da influência da

injeção na melhoria de suas propriedades mecânicas, resultante dos seguintes

principais efeitos principais:

a) densificação do solo, com o aumento do ângulo de resistência ao

cisalhamento e da tensão normal na interface solo-bulbo.

b) tratamento do solo, com a penetração da calda de cimento nos vazios e

descontinuidades do maciço.

No início da execução de ancoragens injetadas em solos acreditava-se que

esta técnica somente era viável para solos granulares, mas com a introdução do

sistema de injeção por manchete e em fases sucessivas (ancoragens reinjetáveis)

verificou-se que a melhoria das condições do solo pode ser também razoável para

os solos coesivos, conforme dados da tabela 2. 3.

Tabela 2.3 – Grau de injetabilidade de solos (Novais, 2001).

Grau de injetabilidade parcial Grau de

Tipo de Compacidade Aumento do Aumento da Tratamento injetabilidade

solo ou consistência diâmetro do Tensão do solo global

Bulbo Normal

Areia média e

grossa Fofa Alto Baixo Alto Alto

Areia média e

grossa Compacta Baixo Alto Médio Médio

Areia fina Fofa Alto Baixo Médio Médio

Areia fina Compacta Baixo Alto Baixo Baixo

Argila Mole à média Alto Baixo Médio Médio

Argila Rija e dura Baixo Alto Baixo Baixo

Silte Fofo Alto Baixo Médio Médio

Silte Compacto Baixo Alto Baixo Baixo

Da tabela verifica-se que uma ancoragem executada em areias fofas a

injeção da calda de cimento tende a melhorar fortemente as características de

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resistência do solo, podendo, neste caso, os bulbos serem dimensionados com

menor comprimentos porém com aplicação de mais recursos de injeção. Por outro

lado, para argilas rijas a duras a injeção da calda tem poucos efeitos na melhoria

global do solo, preferindo-se então adotar o dimensionamento de bulbos com

maior comprimento.

Outro aspecto a ser observado é que para solos de maior compacidade ou

consistência a mobilização da resistência ao cisalhamento na interface solo-bulbo

ocorre sob menores valores de deslocamentos relativos, podendo-se afirmar que

geralmente a capacidade de carga de ancoragens será maior nestes tipos de solo

(desconsiderando-se os efeitos dos processos de perfuração e de injeção da calda

de cimento).

2.5. Especificações da GeoRio

As cargas máximas de ensaio (Tensaio) e de trabalho (Ttrabalho) especificadas

para tirantes pela Fundação Instituto de Geotécnica GeoRio, órgão da Prefeitura

Municipal do Rio de Janeiro, constam da tabela 2.4, sendo obtidas a partir das

seguintes expressões:

AsfyTensaio .9,0= (2.1)

75,1/ensaiotrabalho TT = (2.2)

onde fy representa a tensão de escoamento do aço e As a área da seção transversal

do tirante, descontada a parcela perdida pela confecção de rosca no caso de seção

reduzida. As constantes 0,9 e 1,75, correspondem aos fatores de segurança

prescritos pela norma NBR-5629. Na tabela são também listados os principais

tipos de ancoragem utilizados pela GeoRio bem como suas principais

características:

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Tabela 2.4 – Principais tipos de aço (adaptado de GeoRio, 2000)

Tipo de aço

Tipo de seção Diâmetro

da barra

(mm)

Diâmetro

mínimo de

perfuração

recomendado

Carga

máxima de

ensaio

(Tensaio) kN

Carga de

trabalho

(Ttrabalho)

kN

Dywidag Gewi S 50/55 Plena 32 100 350 200

DywidagST 85/105 Plena 32 100 600 350

CA 50 A Plena 25 100 230 130

CA 50 A Plena 32 100 360 200

CA 50 A Reduzida com rosca 25 100 190 110

CA 50 A Reduzida com rosca 32 100 260 160

Rocsolo ST 75/85 Plena 22 100 210 125

Rocsolo ST 75/85 Plena 25 100 280 165

Rocsolo ST 75/85 Plena 28 100 360 200

Rocsolo ST 75/85 Plena 38 125 660 375

Rocsolo ST 75/85 Plena 41 125 890 510

2.6. Vantagens e desvantagens do uso de ancoragens em solo

A principal vantagem da utilização de tirantes advém da capacidade destes

elementos estruturais esbeltos em suportarem elevadas cargas de tração. Quando

tirantes são empregados para suportarem escoramentos, existe uma limitação

imposta pela espessura da estrutura pois, nestes casos, um aumento da distância

entre tirantes, que implica no acréscimo das respectivas cargas, ocasiona uma

majoração dos momentos fletores que atuam na estrutura em proporção ao

quadrado destas distâncias, o que limita o uso indiscriminado de tirantes para

suportarem altos valores de carga.

No início da década de 1960, empregava-se tirantes em contenções com

cargas de até 200kN, com espaçamento raramente superior a 3m e com placas de

concreto armado de no máximo 20 cm de espessura. Atualmente, os espaçamentos

entre tirantes tendem a aumentar e, conseqüentemente, a elevação de suas cargas

de trabalho para 400 a 800kN, utilizando placas de concreto armado com

espessura de 30 a 40cm e para paredes diafragma com até 1,20m de espessura.

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Outras vantagens da utilização de tirantes são:

a) Simplicidade construtiva, pois a carga de reação provém do interior do

maciço de solo e os elementos estruturais utilizados são simples (fios,

cordoalhas, chapas de aço, porcas e parafusos, ..) e de fácil manuseio o que

torna o canteiro de obras bastante desimpedido, se comparado com outras

soluções que exigem o emprego de pesadas longarinas, estroncas,

contraventamentos, apoios intermediários, etc..

b) Tirantes são autoportantes, não necessitando de estudos mais detalhados de

fundação, como no caso da construção de contenções com muros de arrimo

convencionais.

c) Tirantes são funcionais pois trabalham ativamente devido à protensão. Isto

significa que podem suportar esforços com um mínimo de deslocamentos

da estrutura, em oposição a outras soluções convencionais que necessitam

de uma movimentação para a contenção começar a funcionar.

d) Todos os tirantes são ensaiados individualmente (ensaios de recebimento), o

que representa uma garantia de qualidade de 100% dos elementos

construídos em relação à capacidade de carga.

Como desvantagens do uso de tirantes podem ser mencionadas as seguintes:

a) A maior utilização de tirantes é na construção de cortinas para contenção de

solos. Considerando que o comprimento livre deve no mínimo de 3 m e que

o comprimento ancorado usualmente tem 5m ou mais, a instalação de

tirantes requer perfurações de no mínimo 8m, o que muitas vezes significa

penetrar no terreno vizinho nas grandes cidades brasileiras.

b) As pressões de injeção em geral se situam entre 1–1,5 MPa,

suficientemente elevadas para induzir deformações no solo e formar os

bulbos de ancoragem. No caso de deformações com linhas múltiplas de

tirantes, o acúmulo destas deformações pode ocasionar problemas de

levantamento no terreno e afetar as construções aí existentes. A limitação é

contornável, controlando-se as pressões de injeção, aumentando-se as

dimensões dos bulbos, evitando-se a formação de bulbos na mesma vertical,

etc.

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c) Tirantes muito longos tendem a apresentar algum desvio e,

conseqüentemente, riscos do desenvolvimento de atrito no trecho livre cujos

valores podem superar aqueles admitidos pela norma brasileira.

d) Possibilidade de corrosão dos tirantes em aço, em determinadas

circunstâncias. Segundo Littlejohn (1990) a maioria dos problemas de

corrosão ocorrem no trecho livre, na região da cabeça ou até 1m abaixo. No

bulbo, o desenvolvimento de corrosão é fenômeno muito raro e, caso

ocorra, é sintoma de injeções mal feitas.

e) Por se tratar de serviço especializado, requer equipe, equipamento e

técnicas de controle especializadas, aumentando o seu custo da instalação.

f) Não são possíveis de serem reutilizados (como no caso de estroncas) e,

devido ao processo construtivo em que se baseiam, não são retirados do

terreno após a sua utilização, o que pode interferir significativamente na

implantação de obras futuras no mesmo local ou nos terrenos vizinhos.

2.7. Combate a empuxo de terra

É o tipo de aplicação com tirantes (estruturas de contenção) mais utilizada

na engenharia civil. Oferece muitas vantagens em comparação a outras soluções,

como as seguintes:

a) A reação é obtida no interior do próprio maciço de solo;

b) Pode ultrapassar quaisquer obstáculos por perfuração do material;

c) Podem ser instalados e protendidos na estrutura de contenção, à medida que

a escavação vai sendo executada, ou seja, permite a execução de cima para

baixo ou baixo para cima;

d) Para a construção da estrutura atirantada não são executadas escavações

adicionais além daquela necessária para obtenção das faces de escavação;

e) A aplicação de protensão prévia nos tirantes minimiza as deformações do

terreno, aspecto importante de ser considerado quando existem construções

nas proximidades;

f) Não impõem obstáculos externos, pois são elementos totalmente enterrados.

No caso de escavações, manem o interior livre, ao contrário da utilização de

estroncas.

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Os tirantes têm sido muito usados para suporte de paredes laterais de

escavações para construção de galerias, subsolos de prédios, etc. Têm sido

empregados na rotina destas construções desde os casos mais simples com apenas

uma linha de tirantes até os casos mais complexos envolvendo linhas múltiplas.

No caso de atirantamento em áreas de escavação, para instalação de linhas

múltiplas, se recorre ao método construtivo chamado “método descendente”, onde

a execução em dada linha só é iniciada quando a linha de tirantes imediatamente

acima estiver integralmente pronta. Dentro de determinada linha, o atirantamento

é executado em nichos alternados de modo que um nicho não executado funcione

como suporte para aquele sendo trabalhado. Desta forma, o processo permite a

execução segura da obra, evitando a descompressão do terreno pelo efeito da

protensão dos tirantes, de modo que as deformações são reduzidas a valores

mínimos.

O emprego de tirantes não se aplica somente em escavações, mas também

como elementos de suporte em áreas de aterro. Na prática, ancoragens em solo

têm sido muito utilizadas para obtenção de áreas planas em regiões urbanas de

topografia acidentada, mas muito valorizadas, como em diversos locais da cidade

do Rio de Janeiro ou em regiões estratégicas para implantação de indústrias, como

companhias de mineração próximas às instalações das jazidas.

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3 ESTABILIDADE E CAPACIDADE DE CARGA DE CORTINAS ANCORADAS EM SOLO

3.1. Introdução

O comportamento de uma ancoragem em solo é fundamentalmente

governado pelo mecanismo de transferência da carga suportada pelo tirante para o

maciço de solo através de interações na interface solo-bulbo (figura 3.1). Este

mecanismo de interação resulta num acréscimo das tensões normais efetivas do

solo e, conseqüentemente, no aumento da sua resistência ao cisalhamento e do

fator de segurança contra a ruptura.

No projeto de uma cortina atirantada, a hipótese básica é que as forças

horizontais geradas pelas pressões de contato do solo sobre a estrutura devem ser

equilibradas pelos tirantes, enquanto que o alívio das tensões normais verticais

causados pela escavação evidentemente não o é. Com isto, os valores das tensões

cisalhantes induzidas pelo processo de escavação aumentam significativamente

com a profundidade desta.

A tendência de uma cortina é mover-se para o interior da escavação,

induzindo recalque do solo junto à superfície do terreno. A protensão da primeira

linha de tirantes pressiona, porém a cortina contra as paredes da escavação,

fixando-a no ponto de ancoragem. Com o avanço da escavação, a estrutura tende

agora a girar ao redor da primeira linha de ancoragem, causando deslocamentos

laterais no novo nível de escavação que, por sua vez, serão novamente

restringidos pela aplicação da protensão na próxima linha de ancoragem. Assim,

o movimento da cortina à medida que a escavação prossegue, é formado por uma

combinação de movimentos de rotação e de translação, influenciados por uma

série de fatores como o embutimento da cortina no solo de fundação, inclinação

dos tirantes, espessura e rigidez da estrutura, valores de sobrecarga, hipótese de

distribuição das pressões de contato na interface solo/cortina, etc. A figura 3.2

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40

ilustra as forças nos tirantes e as tensões de cisalhamento na interface solo-cortina

que se desenvolvem à medida que a escavação acontece.

Figura 3.1 – Mecanismo de transferência de carga em ancoragens (Juran e Elias, 1991).

Figura 3.2 – Sistema idealizado de forças sobre cortinas atirantadas (Hanna, 1982).

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3.2. Modos de ruptura de cortinas atirantadas em solo

A figura 3.3 apresenta fotografias de cortinas com múltiplas linhas de

ancoragem, onde pode ser observada a ocorrência da ruptura em regiões do solo

para 2 casos extremos de rotação da cortina: ao redor de sua base e ao redor do

seu topo. Estes ensaios indicaram que muitos mecanismos de ruptura para

cortinas ancoradas em solo são possíveis, conforme figura 3.4.

Figura 3.3 – Ensaios em cortinas multi-ancoradas em solos: rotação ao redor do topo

(foto superior); rotação ao redor da base (foto média); cortina inclinada de 15º com

rotação ao redor da base (foto inferior) – Dina (1973)

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Figura 3.4 – Tipos de ruptura de uma cortina ancorada em solo (GeoRio, 2000).

a) Puncionamento da base – solo de fundação que suporta a base da cortina

tem baixa capacidade de suporte, inferior a 20 kPa com índice de resistência

à penetração 10<SPTN .

b) Ruptura de fundo da escavação – pode ocorrer quando uma camada de solo

mole existir abaixo do nível de escavação.

c) Ruptura global – ruptura em cunha, de maior risco durante o processo de

escavação, ou ruptura generalizada profunda (ver também figura 3.5).

d) Deformação excessiva – possível de ocorrer durante a construção antes da

protensão das ancoragens.

e) Ruptura do tirante – pode ocorrer se os componentes do sistema atirantado

forem individualmente inadequados ou devido à ocorrência de sobrecarga

nas ancoragens durante a construção, quando nem todos os níveis de

ancoragem foram ainda instalados.

f) Ruptura da cortina – ocorrência de ruptura por flexão devido ao

dimensionamento estrutural inadequado ou ruptura por puncionamento das

ancoragens.

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Figura 3.5 – Tipos de ruptura global: em cunha e generalizada (GeoRio, 2000).

3.3. Estimativa da capacidade de carga de ancoragem em solo

A melhor estimativa da capacidade de carga de ancoragens em solo é aquela

determinada pela realização de ensaios prévios de ancoragem, construída com a

mesma tecnologia e mão de obra no futuro local da obra, visto não ser

teoricamente possível incorporar em métodos de cálculo a influência de vários

fatores determinantes como o processo de perfuração, qualidade da mão de obra, o

processo de injeção, etc.

De maneira geral os métodos disponíveis para determinação da capacidade

de carga de ancoragens em solo consideram que a resistência da ancoragem deve-

se exclusivamente à resistência ao cisalhamento desenvolvida na interface solo-

bulbo, sem consideração dos efeitos do processo construtivo, e incluindo a

influência do procedimento de injeção de modo apenas qualitativo.

3.3.1. Norma Brasileira NBR-5629

A Norma NBR-5629 recomenda para estimativa preliminar da capacidade

de carga limite de ancoragem o uso das seguintes expressões:

Solos granulares fbz KLUT ...'

max σ= (3.1 a)

Solos coesivos ubo SLUT ...max α= (3.1 b)

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onde:

Tmax capacidade de carga limite (ou última) 'zσ tensão vertical efetiva no ponto médio da ancoragem

U perímetro médio da seção transversal do bulbo de ancoragem

Lb comprimento do bulbo de ancoragem

Kf coeficiente de ancoragem, dado na tabela 3.2

αo coeficiente redutor da resistência ao cisalhamento não drenada Su

αο = 0,75 para Su ≤ 40 kPa e αο = 0,35 para Su ≥ 100 kPa

Tabela 3.1 – Coeficiente de ancoragem kf para solos granulares (NBR-5629).

Compacidade

Solo fofa compacta muito compacta Silte 0,1 0,4 1,0

Areia fina 0,2 0,6 1,5

Areia média 0,5 1,2 2,0

Areia grossa e pedregulho 1,0 2,0 3,0

Este método não leva em consideração os efeitos da pressão de injeção. A

NBR-5629 admite que para a execução do bulbo de ancoragem a injeção da calda

de cimento pode ser do tipo simples com fluxo ascendente e em fase única ou

através de válvulas e em fases sucessivas, a critério da empresa executora, desde

que sejam garantidos o preenchimento total do furo aberto no solo e a capacidade

de carga prevista para a ancoragem.

3.3.2. Método de Ostermayer (1974)

Ostermayer (1974) propôs ábacos que correlacionam o comprimento do

trecho ancorado (bulbo) com a capacidade de carga última da ancoragem com

base na análise dos resultados de aproximadamente 300 ensaios realizados na

Alemanha, em ancoragens com diâmetro de perfuração entre 10 e 20cm e

cobertura de solo superior a 4m.

A figura 3.6 apresenta as correlações sugeridas por Ostermayer (op.cit.) para

solos granulares, sem especificação do procedimento de injeção ou dos valores da

pressão de injeção.

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Figura 3.6 – Capacidade de carga limite de ancoragem em solos granulares de acordo

com Ostermayer (1974).

Para solos coesivos (siltes e argilas medianamente plásticos, argilas

altamente plásticas) Ostermayer (1974) também apresentou (figura 3.7) a variação

com o comprimento do bulbo da resistência ao cisalhamento na interface solo-

bulbo, por unidade de comprimento, para ancoragens executadas com e sem

reinjeção. Na figura 3.8 a variação da resistência ao cisalhamento é apresentada

em função da pressão de reinjeção, com caldas de cimento preparadas na

proporção água / cimento = 0,4.

Os gráficos destas figuras mostram que a resistência ao cisalhamento na

interface solo-bulbo, por unidade de comprimento, cresce com o valor da pressão

de reinjeção e diminui com o aumento do trecho ancorado. Na prática, para

cálculos preliminares, pode-se adotar valores constantes da resistência ao

cisalhamento por unidade de comprimento, independentemente do comprimento

do bulbo. Na figura 3.7 a influência da calda de cimento é estimada apenas

qualitativamente, dependendo da técnica de injeção empregada (com e sem

reinjeção).

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Figura 3.7 – Resistência ao cisalhamento por unidade de comprimento de ancoragens

em solos coesivos (Ostermayer, 1974).

Figura 3.8 – Influência da pressão de injeção na resistência ao cisalhamento em solos

coesivos (Ostermayer, 1974).

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3.3.3. Método de Bustamante & Doix (1985)

Com base em 120 provas de carga realizadas na França, Bustamante & Doix

(1985) sugerem um método para dimensionamento de ancoragens no qual são

consideradas as influências da técnica de injeção, pressão de injeção e volume de

calda de cimento injetada.

A capacidade de carga limite da ancoragem Tmax pode ser determinada por:

sbemáx qLDT ...π= (3.2 a)

pe DD .β= (3.2 b)

onde

De diâmetro médio adotado para o trecho ancorado

Dp diâmetro perfurado do trecho ancorado

bL comprimento do trecho ancorado (bulbo)

β coeficiente de majoração do diâmetro do bulbo devido à injeção

qs resistência ao cisalhamento

A tabela 3.2 apresenta os valores de coeficiente de majoração β para

diversos tipos de solo, considerando as duas técnicas de injeção (com e sem

reinjeção), admitindo-se que o volume injetado seja no mínimo 1,5 vezes o

volume perfurado para β atingir os valores indicados na tabela. Como esperado,

os maiores valores do coeficiente ocorrem para ancoragens reinjetadas.

Gráficos de correlações empíricas para estimativa do coeficiente qs , para

ancoragens com e sem reinjeção, estão apresentados para areias e cascalhos na

figura 3.9 e para siltes e argilas na figura 3.10, construídos com base nos

resultados de Bustamante e Doix (1985), Fujita (1977), Ostermayer & Scheele

(1977), Ostermayer (1974), Koreck (1978) e Jones (1980, 1984). No eixo das

abscissas a quantidade Pl se refere à pressão limite do ensaio pressiométrico e N

ao número de golpes do ensaio SPT.

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As correlações obtidas mostram que em relação à injeção única os efeitos da

reinjeção em fases sucessivas aparentemente são mais pronunciados para

argilas/siltes (figura 3.10) do que para areias/cascalhos (figura 3.9), contrariando

evidências experimentais que indicam serem os solos arenosos os de maior grau

de injetabilidade e os mais suscetíveis aos efeitos das sucessivas reinjeções sob

alta pressão. Este comportamento pode ser decorrente de outros fatores não

considerados por Bustamante e Doix (1985) na interpretação empírica dos

resultados das provas de carga (Novais Souza, 2001).

Tabela 3.2 – Coeficiente de majoração β do diâmetro do bulbo devido à injeção

Tipo de solo Coeficiente β

Com reinjeção Sem reinjeção

Cascalho 1.8 1.3 - 1.4

Cascalho arenoso 1.6 - 1.8 1.2 - 1.4

Areia com cascalho 1.5 - 1.6 1.2 - 1.3

Areia grossa 1.4 - 1.5 1.1 - 1.2

Areia média 1.4 - 1.5 1.1 - 1.2

Areia fina 1.4 - 1.5 1.1 - 1.2

Areia siltosa 1.4 - 1.5 1.1 - 1.2

Silte 1.4 - 1.6 1.1 - 1.2

Argila 1.8 - 2.0 1.2

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Figura 3.9 – Correlações empíricas para resistência ao cisalhamento por unidade de

comprimento em areias / cascalhos (Bustamante & Doix, 1985).

Figura 3.10 – Correlações empíricas para a resistência ao cisalhamento por unidade de

comprimento em argilas / siltes (Bustamante & Doix, 1985).

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50

3.3.4. Método de Costa Nunes (1987)

Um método semelhante ao de Bustamante e Doix (1985) foi proposto por

Costa Nunes (1987), porém com a importante diferença que a influência da

pressão de injeção pode ser analisada quantitativamente, e não apenas

qualitativamente como no método de Bustamante e Doix (1985).

A capacidade de carga limite da ancoragem é dada por

τπ ..... lbdemáx nLnDT = (3.3)

onde

De diâmetro médio do bulbo

nd coeficiente de aumento do diâmetro pela pressão de injeção

Lb comprimento do bulbo

nl coeficiente de redução do comprimento do bulbo devido à pressão não

uniforme sobre o mesmo. Considerar nl = 1 para comprimentos moderados

(até 8m).

τ resistência ao cisalhamento na interface bulbo-solo.

Para determinação da resistência ao cisalhamento na interface solo-bulbo

Costa Nunes (1987) considerou o critério de ruptura de Mohr-Coulomb,

admitindo uma pressão residual de injeção σr’, estimada em 50% da pressão de

injeção aplicada.

φσστ tgc r ´).´( ++= (3.4 a)

φσγτ tgnhc rhc )..( ++= (3.4 b)

onde:

c aderência entre calda e o solo, podendo-se usar c igual à coesão do solo

γc peso especifico do solo na profundidade do centro do bulbo

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h profundidade do centro do bulbo

nh fator de redução da profundidade quando esta for superior a 9m

φ ângulo de resistência ao cisalhamento do solo

De acordo com Costa Nunes (op.cit.) na maioria dos casos pode-se

considerar nh = nb = nd = 1.

3.3.5. Método de Mecsi (1997)

O método de Mecsi (1997) apresenta a importante vantagem de possibilitar

a estimativa da capacidade de carga limite da ancoragem e dos deslocamentos

correspondentes ocorridos na ancoragem.

A capacidade de carga limite da ancoragem pode ser obtida como

bult LtT .max = (3.5)

onde

tult capacidade de carga especifica da ancoragem, por metro de comprimento

do bulbo

Lb comprimento ou trecho ancorado (bulbo)

Mecsi (op.cit.) admitiu uma função de transferência de carga do tipo

elastoplástico (figura 3.11).

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52

Figura 3.11 – Modelo de mobilização da resistência ao cisalhamento na interface bulbo-solo

(Mecsi, 1997).

Considerando a lei de Hooke, a deformação normal específica no aço pode

ser expressa como

açoaço AET

dxd

.−

=∆

=ε (3.6)

onde

ε deformação especifica do aço

∆ alongamento da ancoragem até uma seção considerada

d∆ deslocamento infinitesimal da seção do bulbo considerada

T força atuante na seção do bulbo considerada

Eaço módulo de elasticidade do aço

Aaço área da seção transversal do aço

Com a aplicação da força externa T0 no topo da ancoragem, a resistência ao

cisalhamento na interface é mobilizada proporcionalmente com o deslocamento

relativo solo-bulbo ∆x, até atingir o seu valor limite tult. Após este limite, o

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aumento no deslocamento relativo solo-bulbo ocorre sob resistência ao

cisalhamento constante (totalmente mobilizada).

A variação da distribuição da força de tração ao longo do comprimento do

bulbo pode ser expressa por

tdxdT

==− ξtan ou ultult

x tdxdT .

∆∆

=− (3.7)

Substituindo-se a equação (3.7) na equação (3.6) e diferenciando-se o resultado, o

ultaçoaço

ult

AEt

dxd

∆∆

=∆ .

.2

2

(3.8)

A integração desta equação diferencial resulta em

)](cosh[)](senh[.1.

ob

obult lLk

xlLkk

tT−

−−=

(3.9a)

onde

lo = trecho do bulbo em que a capacidade de carga especifica já foi plenamente

atingida

k = índice de rigidez da ancoragem, dada por:

ultaçoaço

ult

AEt

k∆

=..

(3.9b)

A equação (3.9a) relaciona a força de tração que atua em determinada seção

transversal do bulbo, situada à distância x a partir de lo, com o modelo de

transferência de carga, as características geométricas do bulbo e a rigidez relativa

da ancoragem k.

A carga no topo da ancoragem To, que em geral é o parâmetro que se quer

controlar, é então calculada como

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54

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧ −+= )]([1

00 lLktghk

ltTo bult (3.10)

Pode-se observar da equação (3.10) que a capacidade de carga limite da

ancoragem Tmax é atingida quando ob lL = , recuperando-se portanto a equação

(3.5).

A determinação da distribuição da força de tração T ao longo do

comprimento do bulbo (equações 3.9a e 3.9b) permite também calcular as

seguintes parcelas do alongamento da ancoragem:

a) alongamento do trecho livre, Ll

açoaço

ll AE

LToL

.

.=∆

(3.11)

b) alongamento do trecho ancorado lo onde a resistência por atrito unitária já foi

totalmente mobilizada

açoaço

oult

açoaço

ol AE

ltAElTo

o ..

2.. 2

−=∆ (3.12)

c) alongamento do sub-trecho ancorado ( ob lL − ) onde a resistência ao

cisalhamento está sendo gradualmente mobilizada

ultlL ob∆=∆ − )( (3.13)

A soma das parcelas de alongamento (equações 3.11, 3.12 e 3.13) resulta no

deslocamento total da ancoragem, dependente do valor da carga aplicada, das

características de rigidez e de deformabilidade do sistema solo-bulbo e das

propriedades do tirante, isto é

ultaçoaço

oult

açoaço

o

açoaço

ltotal AE

ltAElTo

AELTo

∆+−+=∆.

.2.

... 2

(3.14)

As equações 3.9a a 3.14 permitem o cálculo da capacidade de carga e dos

deslocamentos total / parciais da ancoragem, tendo como incógnitas os parâmetros

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55

tult e lo. Pode-se obter toda a curva carga x recalque do topo da ancoragem

considerando-se valores crescentes de 0l entre 0 e Lb e uma estimativa de tult

através da expressão abaixo proposta por Mecsi (1997):

( ) ultrult rcrt τπφσπ 000 2tan2 =+= (3.15)

onde 0r representa o raio médio do bulbo após a injeção e 0rσ o valor da tensão

radial normal à superfície do bulbo também após a injeção.

Para estimativa do valor de 0rσ Mecsi (1997) apresentou o gráfico da

figura 3.12, obtido através da teoria da expansão de cavidade cilíndrica, tendo

como parâmetros de entrada a tensão normal octaédrica m0σ no solo antes da

execução da injeção, o módulo de elasticidade do maciço de solo Esolo e a variação

volumétrica ocorrida no bulbo devido às altas pressões da injeção de calda de

cimento 00 /VV∆ .

A tensão normal média m0σ no solo antes da execução da injeção pode

ser estimada por (Mecsi, 1997):

zzm KKK σαασσ )sen(cos21

02

02

0 ++== (3.16)

onde α indica o ângulo da ancoragem em relação à horizontal, 0K o coeficiente

de empuxo no repouso e zσ o valor da tensão vertical efetiva.

O módulo de elasticidade (ou deformabilidade) do solo varia com o estado

de tensão de acordo com a relação não linear

a

e

msolo EE ⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛=

σσ

0 (3.17)

onde kPae 100=σ (tensão de normalização), 0E e a são parâmetros do modelo

constitutivo determinados com base em resultados de ensaios de laboratório.

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56

Com os valores de 00 /VV∆ (medido), a (da expressão 3.17), kPae 100=σ

e m0σ (da expressão 3.16) é possível então estimar-se o parâmetro vK

ae

am

vE

VV

Kσσ −

∆= 1

0

0

0

0 (3.18)

e, em seguida, obter-se dos gráficos da figura 3.12 o aumento na tensão radial

)/( 0mr σσ e a extensão da zona de solo densificado ( 0/ rn ρ= ). Conhecendo-se

rσ a estimativa de ultt pode ser finalmente feita com auxílio da equação 3.15.

Os parâmetros de resistência e de deformabilidade do solo são os mais

importantes para a avaliação de ultt , enquanto que a variação do volume de

injeção parece não afetar significativamente a capacidade de carga da ancoragem.

Por exemplo, dobrando-se o valor do volume injetado, o aumento relativo de ultt

é , segundo Mecsi (op.cit.), de apenas 15% a 20%.

Figura 3.12 – Diagrama para cálculo da variação de volume do trecho ancorado (esquerda) e seção

transversal da ancoragem após injeção (direita) - Mecsi (1997).

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57

3.4. Análise da estabilidade global pelo método das cunhas

Verificada a capacidade de suporte do solo de fundação em relação às

cargas verticais transmitidas pela cortina, é necessário ainda estudar-se a

estabilidade do sistema formado pela cortina e o maciço de solo. Podem ser

consideradas as duas seguintes situações, ilustradas na figura 3.13:

a) ruptura em cunha, englobando apenas o solo adjacente à escavação, com

mecanismo de ruptura formado como conseqüência direta da alteração do

estado de tensão no maciço devido à execução da cortina ancorada. A

estabilidade está fortemente condicionada pelas posições dos bulbos de

ancoragens. As análises de estabilidade para avaliação dos coeficientes de

segurança podem ser consideradas específicas para este tipo de obra.

b) ruptura global generalizada, com mecanismo de ruptura que pouco ou

mesmo nada tem a ver com a execução da escavação. As análises podem

ser feitas através dos métodos convencionais de estabilidade para taludes e

encostas (métodos de equilíbrio limite).

Figura 3.13 – Tipos de ruptura na análise da estabilidade global de cortinas ancoradas:

(a) em cunha; (b) generalizada (Matos Fernandes, 1990).

Os principais métodos para análise da estabilidade de cortinas ancoradas,

admitindo-se potenciais superfícies de ruptura na forma de cunhas, serão

apresentados na seção que se segue

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58

3.4.1. Método de Kranz (1953)

Este método de análise foi originalmente proposto por Kranz (1953) para

cortinas de estacas-prancha suportadas por uma linha de ancoragem do tipo placa

(figura 3.14). A análise de estabilidade foi feita considerando-se as condições de

equilíbrio do “maciço de ancoragem”, representado pelo bloco BEDC e definido

com a massa de solo cujo equilíbrio assegura a estabilidade do conjunto.

As forças que atuam sobre o bloco são o seu peso próprio P1, a força na

ancoragem Fa, a resultante do empuxo ativo I1 da cunha DEF sobre o “maciço de

ancoragem” e as reações R1 e Ra aplicadas sobre os planos potenciais de ruptura

BE e BC, respectivamente. Admitiu-se no polígono de forças (b) da figura 3.14

que o solo é granular (φ´); para solo coesivo, deve-se adicionar às reações R1 e Ra

forças tangenciais de módulo igual à coesão multiplicada pelo comprimento dos

segmentos BE e BC, respectivamente. A sobrecarga na superfície do terreno

deverá ser considerada caso o ângulo α, ângulo do plano BE com a horizontal, for

superior a φ´, pois caso contrário o efeito da sobrecarga é favorecer o equilíbrio do

“maciço de ancoragem”.

O valor da reação Ra pode ser obtido através do equilíbrio da cunha ativa

ABC, considerando-se o polígono de forças (a) da figura 3.14, onde Pa representa

o peso próprio da cunha, Ia é o empuxo ativo sobre a cortina e δ depende das

condições de atrito na interface solo/cortina. Logo, em relação ao bloco ABED

são conhecidas as forças Ra, P1 e I1 e as direções das duas resultantes R1 e Fa,

sendo portanto possível a determinação no polígono de forças do máximo valor da

força de tração ultaF compatível com o equilíbrio.

O fator de segurança FS definido por Kranz (1953) é apresentado em termos

do quociente entre a tração máxima ultaF e a tração de trabalho trabalho

aF , que deve

ser no mínimo igual a 1,5 para ancoragens provisórias e 1,75 para ancoragens

definitivas, de acordo com a NBR-5629.

trabalhoa

ulta

FFFS = (3.19)

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O cálculo do fator de segurança pode ser realizado de forma mais prática

associando o equilíbrio da cunha ABC e do bloco ABED e, desta forma,

eliminando as operações necessárias para obtenção da força da reação Ra isto é,

construindo-se diretamente o polígono de forças da figura 3.14 sem a inclusão de

Ra.

Figura 3.14 – Análise de estabilidade do “maciço de ancoragem” (Kranz, 1953).

3.4.2. Generalização do método de Kranz

Jelinek & Ostermayer (1966, 1967) e Ranke & Ostermayer (1968)

estenderam o método de Kranz (1953) para o caso de cortinas com múltiplas

linhas de ancoragens protendidas. O processo de cálculo do fator de segurança é

análogo, sendo o ponto E (figura 3.14) deslocado para o ponto médio do bulbo de

ancoragem (figura 3.15) para formar a superfície plana de ruptura. Esta

generalização do método é também conhecida no Brasil como Método Alemão

(GeoRio, 2000), talvez pelo fato de ter sido incorporado nas normas alemãs e

austríacas, talvez em contraposição ao Método Brasileiro, desenvolvido por Costa

Nunes (1963).

O fato da superfície de ruptura a passar pelo ponto médio do bulbo e não

pela sua extremidade justifica-se como medida de segurança para atender a

eventuais diferenças entre o comprimento real da ancoragem e o comprimento de

projeto. Littlejohn (1970) propõe, considerando as incertezas associadas ao

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60

comprimento real de ancoragem, que se considere todo o bulbo de ancoragem

como não pertencente ao bloco cujo equilíbrio é analisado.

Figura 3.15 – Generalização do método de Kranz (Ranke & Ostermayer, 1968).

Ranke & Ostermayer (1968) também analisaram a estabilidade global de

cortinas com dois níveis de ancoragem, pesquisando diversas situações de

interesse prático apresentados nas figuras 3.16 a 3.18. Para cada caso apresentado,

há necessidade de se calcular o fator de segurança para cada um dos dois

segmentos em que se subdivide a superfície potencial de ruptura, fazendo uso dos

polígonos de forças correspondentes. O fator de segurança global, em cada caso,

é considerado como o menor dos valores calculados.

A generalização do método de Kranz feita por Ranke & Ostermayer (1968)

considerou apenas a situação de maciços de solo granular. Pacheco & Danziger

(2001) para o caso de solos com parâmetros (c, φ) incluiu na análise do polígono

de forças da figura 3.19 as componentes tangenciais geradas pela coesão do

material.

Nas análises de estabilidade em geral está implícita a hipótese de que as

cargas aplicadas nas ancoragens tendem a aumentar a resistência ao cisalhamento

do solo situado entre a cortina e os bulbos. Contudo, para solos puramente

coesivos este aumento da resistência somente ocorrerá à medida que o

adensamento do solo ocorrer.

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61

De acordo com Matos Fernandes (1990), além de verificar-se o fator de

segurança pelo método das cunhas, é também necessário proceder-se a uma

análise de estabilidade convencional (Bishop, 1955; Janbu, 1954, 1957, etc.) com

parâmetros não-drenados para um correto posicionamento dos bulbos de

ancoragem além das superfícies que apresentem fatores de segurança inferiores a

1,5, no mínimo.

Figura 3.16 – Análise de estabilidade global para uma cortina bi-ancorada – caso 1

(Ranke & Ostermayer, 1968)

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Figura 3.17 – Análise de estabilidade global para uma cortina bi-ancorada – caso 2.

(Ranke & Ostermayer, 1968).

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Figura 3.18 – Análise de estabilidade global para uma cortina bi-ancorada – caso 3

(Ranke & Ostermayer, 1968).

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Figura 3.19 – Polígono de forças do método de Ranke e Ostermayer para o caso de

solos com coesão (Pacheco & Danziger, 2001).

O método de Kranz (1953) e sua generalização para ancoragens protendidas

e em linhas múltiplas (Ranke e Ostermayer, 1968) têm a grande vantagem da

simplicidade, o que possivelmente incentivou sua incorporação nas normas

técnicas de diversos países, mas várias deficiências, dentre as quais as seguintes,

apontadas por Locher (1969), Ostermayer (1977) e Schultz (1976):

a) uma superfície de ruptura curva (por exemplo, uma espiral logarítmica)

fornece um fator de segurança inferior ao da superfície plana;

b) na ruptura, a pressão de contato na cortina é maior do que o valor

determinado para a condição ativa;

c) o modo de ruptura da cortina ancorada pode não favorecer a formação das

superfícies do modelo de Kranz;

d) a compatibilidade de deformações nos diferentes blocos da superfície de

ruptura implica em valores variáveis do fator de segurança ao longo da

mesma.

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65

3.4.3. Outros métodos

3.4.3.1. Definições do fator de segurança

Nos métodos anteriores, o fator de segurança é definido como a razão entre

a força máxima compatível com o equilíbrio global dos blocos e a força de

trabalho prevista nas ancoragens. Littlejohn (1976) observou que a interpretação

do fator de segurança tal como definido por Kranz (1953) pode levar à idéia

errônea de que ancoragens pouco carregadas sejam preferíveis por apresentarem

fatores de segurança superiores àquelas que suportam maiores carregamentos.

De maneira geral, a literatura registra ainda três definições para fator de

segurança no contexto do projeto de estruturas de contenção (não necessariamente

ancoradas): a) como usual em outras aplicações da mecânica dos solos, o fator de

segurança é calculado como a razão entre as forças tangenciais resistentes e a

forças tangenciais atuantes ao longo da superfície potencial de ruptura, como no

método de Costa Nunes e Velloso (1963); b) a fator de segurança é calculado

como o quociente entre o empuxo passivo totalmente mobilizado e o real

“empuxo passivo de trabalho”, como no método de Broms (1968); c) o fator de

segurança requer que o equilíbrio seja satisfeito quando o empuxo passivo

resultante (diferença entre os empuxos passivo e ativo) é reduzido pelo fator FS.

Embora esta definição seja muito usada no projeto de estacas-prancha (Piling

Handbook, 1988), Burland, Potts & Walsh (1981) reportam que a mesma fornece

valores de FS muito menores do que os obtidos com os procedimentos a) e b).

A definição acima dos fatores de segurança é global, isto é, todas as

incertezas do projeto relacionadas com a capacidade de resistência da estrutura e

seus componentes (R) e as demandas de serviço (D), como cargas aplicadas, são

consideradas através de um valor FS = R/D. Quando o carregamento ou a

resistência provém de mais de uma fonte, como no caso em que a resistência

depende da coesão do ângulo de atrito, o valor de FS depende de como é aplicado

e, portanto, não fornece uma única medida de segurança (Potts e Burland, 1983).

Devido a limitações na definição do fator de segurança global, métodos têm sido

propostos nos quais cada fonte de incerteza é considerada independentemente

(Meyerhof, 1995), numa abordagem de fatores parciais semelhante à adotada por

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vários códigos para projeto estrutural onde a resistência e as cargas de trabalho

são definidas através de fatores parciais independentes relacionados com os

materiais (R) e com as cargas (D), respectivamente. O código Eurocode 7 indica

um fator parcial em tan φ´ no intervalo 1,2 – 1,25 e um fator parcial para c´ (ou

Su) entre 1,5 – 1,8 (Simpson, 1992), mas há vários problemas associados na

aplicação do conceito de fatores parciais (Brady e McMahon, 1997), dentre os

quais: a) possível conservadorismo introduzido pela adoção dos valores de

resistência e de demanda mais pessimistas; b) confusão gerada por uma série de

fatores e sub-fatores; c) o estabelecimento de um critério racional para seleção dos

valores dos fatores parciais; d) definição das propriedades características de

determinado material e a obtenção dos seus valores.

A dificuldade de se selecionar um método que seja suficientemente racional

para ser usado consistentemente no projeto de estruturas de contenção levou

Bolton (1971) a sugerir que seria mais lógico evitar o uso de fatores de segurança,

incorporando diretamente as incertezas nos possíveis intervalos de valores dos

parâmetros e concentrando-se em termos de projeto nos aspectos relacionados

com o comportamento de serviço da estrutura, expressos geralmente em termos de

deslocamentos limites.

Os métodos brevemente descritos abaixo para análise de estabilidade de

estruturas ancoradas fazem uso do fator de segurança global.

3.4.3.2. Método de Costa Nunes e Velloso (1963)

Para situações simples envolvendo maciço de solo homogêneo com

terrapleno horizontal, ou com inclinação sΨ inferior a 030 , Costa Nunes e

Velloso (1963) sugeriram um método baseado em considerações de equilíbrio das

forças horizontais e verticais que atuam na cunha mostrada na figura 3.20.

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67

Figura 3.20 – Análise de estabilidade pelo método de Costa Nunes e Velloso (GeoRio,

2000)

O fator de segurança FS foi determinado pela seguinte expressão (Hoek e

Bray, 1981) considerando um talude com ausência de água.

θψϕθψ

sensen.tan).cos.cos.(.

TWTWAc

FScr

cr

p

p

++=

(3.20)

onde

c coesão do solo

A área da superfície potencial de ruptura por metro linear

W peso da cunha mais a componente devida ao carregamento distribuído na

superfície do talude )cos( 1 sq Ψl , por metro linear

ψpcr inclinação da superfície potencial de ruptura definida por 2

φ+Ψ=Ψ f

pcr

T força na ancoragem por metro linear

θ ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície

potencial de ruptura

φ ângulo de resistência ao cisalhamento do solo

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68

3.4.3.3. Método de Broms (1968)

Propôs que o cálculo do fator de segurança para solos granulares fosse feito

em termos do empuxo passivo disponívelpI e o empuxo passivo necessário e

compatível com o sistema de forças atuantes ( necessáriopI ).

Broms (op.cit.) considerou que devido à protensão das ancoragens o

conjunto formado pela cortina e o solo pode ser encarado como um grande muro

de gravidade, cuja estabilidade deve ser verificada em relação ao potencial de

deslizamento pela sua base. Em conseqüência, o esforço da ancoragem e o

empuxo ativo desaparecem, enquanto surgem na análise a consideração do

empuxo passivo do solo situado na frente da cortina e a reação da ponta da cortina

que pode tomada como aproximadamente igual à componente vertical da força na

ancoragem.

Numa primeira etapa de cálculo, é construído o polígono de forças (a) da

figura 3.21 com o ângulo de resistência ao cisalhamento real do solo φ´, sendo

completamente conhecidas as forças devido ao peso P do bloco, a reação de ponta

V, o empuxo ativo da cunha situada atrás do bloco Ia e as direções da reação do

solo no plano potencial de ruptura e do empuxo do solo disponívelpI na frente da

cortina. Pelo polígono de forças, o valor de necessáriopI pode então ser calculado.

Numa segunda fase de cálculo, é considerada a seguinte redução da tangente

do ângulo de atrito ´dφ

3,1φφ tgtg d =

(3.21)

Com o valor de ´dφ obtido na equação (3.17), o polígono de forças (b) é

construído, determinando-se agora o valor de disponívelpI . O coeficiente de

segurança, cujo valor mínimo deve ser igual a 1,5 é finalmente calculado através

do quociente

5,1≥= necessáriop

disponívelp

II

FS (3.22)

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69

Figura 3.21 – Análise de estabilidade considerando o equilíbrio do solo e da cortina

(Broms, 1968).

3.5. Método dos elementos finitos na análise da estabilidade

O método dos elementos finitos (MEF) é comumente empregado para

análise de tensões e raramente para análise de estabilidade de cortinas ancoradas,

apesar da versatilidade do MEF em incorporar os efeitos da execução de

escavações, inclusão de relações tensão-deformação não lineares, modelagem de

interfaces, etc., que não são considerados nos métodos baseados em equilíbrio

limite, como o método das cunhas descrito no item 3.4.

Uma aplicação direta do MEF em análises de estabilidade para

determinação do fator de segurança global em termos dos parâmetros de

resistência do solo pode ser feita simulando-se o processo de colapso do maciço

através da redução progressiva dos parâmetros de resistência (equações 3.23), ou

seja,

Mc*c =

(3.23a)

Mtantan* φφ =

(3.23b)

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70

onde M é um parâmetro que reduz os valores de c e tanφ nas sucessivas análises

do MEF, até a ruptura do maciço quando então M = FS (fator de segurança

global).

Esta técnica foi empregada por diversos pesquisadores para investigação da

estabilidade de taludes e encostas, dentro os quais Zienkiewics et al. (1975),

Naylor (1982), entre outros. Como comentado por Zienkiewics et al. (op.cit.), o

fator de segurança global é igual ao valor pelo qual os parâmetros devem ser

reduzidos de modo que a solução por elementos finitos não mais apresente

convergência numérica ou exiba grandes deformações em pontos do maciço de

solo.

Além de envolver várias e sucessivas análises não lineares do mesmo

problema com diferentes valores de c* e tan*φ, esta técnica de simulação do

colapso do maciço depende do esquema numérico empregado no MEF para a

solução aproximada do sistema de equações não lineares (método de rigidez

tangente, método de Newton-Raphson, método de Newton-Raphson modificado,

método do comprimento de arco, etc). De acordo com o algoritmo utilizado, a

não convergência da solução numérica, teoricamente uma indicação da ruptura do

solo, pode estar associada a dificuldades numéricas do próprio algoritmo utilizado

na solução do sistema de equações, exigindo incremento de carga bastante

reduzidos e um grande número de iterações para tentar conseguir a convergência

da solução numérica.

Um estudo dos autovalores e autovetores da matriz de rigidez do sistema,

quando da interrupção do programa computacional, pode auxiliar no diagnóstico

da causa da não convergência (ruptura física ou dificuldades numéricas - Farias,

1994). Outra possibilidade, mais fácil e prática, é acompanhar a evolução do

comportamento da zona de plastificação no maciço de ou dos vetores de

incremento dos deslocamentos à medida que os parâmetros de resistência c* e

tan*φ são alterados nas sucessivas análises executadas pelo método dos elementos

finitos.

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3.6. Dimensionamento das ancoragens

O dimensionamento de uma ancoragem protendida envolve duas etapas de

análise:

a) Investigação dos aspectos geométricos da ancoragem, como inclinação e

comprimento total

Com relação à inclinação dos tirantes, o ideal seria que fossem horizontais

já que a componente horizontal da tração na ancoragem é a componente eficaz de

protensão. Problemas relacionados com a execução do furo e a introdução da

calda de cimento tornam inconvenientes valores menores do que a 10 a .150 Em

certos casos, no entanto, a inclinação adotada pode ser substancialmente superior,

podendo atingir valores entre 20 e 45o (Matos Fernandes, 1990) devido à presença

de obras (fundações, escavações, dutos enterrados, etc) nas vizinhanças da cortina

que condicionam a inclinação das ancoragens ou, em outras situações, porque o

solo de ancoragem pode estar situado a profundidades muito abaixo das

estabelecidas para as cabeças dos tirantes, o que implica na alternativa de

aumentar o comprimento da ancoragem ou majorar o ângulo de inclinação dos

tirantes.

Quanto ao aspecto do comprimento total da ancoragem, os requisitos

aconselháveis estão ilustrados na figura 3.22 (Littlejohn, 1972; Ostermayer, 1976)

e incluem:

• Os bulbos de ancoragens devem estar situados fora da cunha de empuxo

ativo do solo suportado pela cortina ancorada;

• As profundidades dos bulbos devem ser de 5m a 6m abaixo da superfície

do terreno, ou de 3m abaixo das fundações de edifícios. Esta recomendação

é baseada nos efeitos na superfície do terreno ou nos elementos de fundação

das elevadas pressões de injeção para formação dos bulbos de ancoragem.

• O espaçamento mínimo entre bulbos de ancoragens deve ser da ordem de

1,5m de modo a minimizar a interferência entre ancoragens, ocasionando

eventuais reduções da capacidade de carga do grupo de ancoragens. Pinelo

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(1980), utilizando o método dos elementos finitos, recomendou utilizar os

espaçamentos mínimos indicados na figura 3.23.

• O comprimento livre não deve ser inferior a 5m - 6m, de modo que as

tensões transmitidas ao solo através do bulbo de ancoragem não ocasionem

significativos aumentos da pressão de contato sobre a cortina.

• Comprimentos de bulbo inferiores a 3m não são aconselháveis. O valor

final depende da capacidade de carga desejável na ancoragem.

Figura 3.22 – Aspectos do dimensionamento de cortinas ancoradas (Littlejohn, 1972;

Ostermayer, 1976).

b) Investigação do comportamento mecânico da ancoragem em relação aos

estados limites de resistência e de trabalho (serviço)

Os estados limites (ou últimos) de resistência estão basicamente

relacionados com a ruptura da armadura e a ruptura por deslizamento do bulbo no

maciço de solo enquanto que o estado limite de trabalho mais importante refere-se

à deformação excessiva, com perda da protensão, por fluência do solo que

envolve o bulbo de ancoragem.

A tração limite correspondente à ruptura da armadura (Ta) é calculada

facilmente através da tensão limite de proporcionalidade no aço para uma

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deformação axial de 0,1%. Segundo Hobst & Zajíc (1983) a perda de carga na

ancoragem devido à relaxação do aço usualmente não ultrapassa 10% da carga

protendida e pode ser considerada desprezível quando a carga protendida não

ultrapassa 50% da tração limite Ta.

A determinação das trações limites correspondentes ao deslizamento do

bulbo de ancoragem e de fluência do solo são determinadas a partir da realização

de ensaios prévios de ancoragem, construídas com a mesma tecnologia e mão-de-

obra no local do futuro empreendimento.

Para cada estágio de carregamento os deslocamentos da cabeça da

ancoragem são medidos em intervalos de tempo pré-definidos, efetuando-se o

descarregamento após atingido o critério de estabilização dos deslocamentos. As

trações máximas não devem ultrapassar a 95% da tração de ruptura da armadura

(Ta) ou, quando se conhece previamente a carga de trabalho da ancoragem, pode

Figura 3.23 – Espaçamentos entre ancoragens (Pinelo, 1980).

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ser limitada a 150% deste valor, sem ultrapassar, evidentemente, o limite imposto

por 0,95 Ta .

A partir da interpretação dos deslocamentos medidos nos vários ciclos de

carregamento no ensaio de qualificação, é possível estimar-se a capacidade de

carga da ancoragem, obter-se o seu comprimento livre efetivo e estimar-se a perda

por atrito ao longo do comprimento livre. A perda de carga por atrito no trecho

livre pode ser observada com maior ou menor intensidade em praticamente todas

as ancoragens, sendo facilmente identificada pela alta rigidez da ancoragem no

início do carregamento ou pela redução da carga aplicada, sem ocorrência de

deslocamentos, no início do descarregamento. A NBR-5629 limita a perda de

carga por atrito no trecho livre em 15% da carga máxima do ensaio de ancoragem,

sendo esta perda em geral ocasionada por desalinhamento da ancoragem,

ineficiência do isolamento dos fios e cordoalhas ou incorreta lubrificação dos

elementos do tirante no trecho livre.

O comprimento livre efetivo pode ser maior ou menor do que o projetado,

dependendo da eficiência do isolamento / lubrificação do tirante no trecho livre

como também da maior ou menor concentração de material injetado sob pressão

junto à transição entre os trechos livre e ancorado. A norma estabelece os

seguintes limites para o comprimento do trecho livre efetivo, admitindo o bulbo

como indeformável: a) trecho livre efetivo máximo = trecho livre projetado + 0,5

vezes o trecho ancorado projetado; b) trecho livre efetivo mínimo = 0,8 do trecho

livre projetado.

Novais Souza (2001) mostra a importância de se considerar o bulbo como

elemento deformável, enfatizando que a desconsideração do alongamento do

bulbo dificulta muito a representação do comportamento da ancoragem,

principalmente em relação à definição do limite mínimo do trecho livre efetivo.

Segundo aquele autor, o procedimento recomendado pela norma admitindo o

bulbo rígido pode ser contra a segurança pois o trecho livre efetivo mínimo pode

ser bastante menor quando o alongamento do bulbo é considerado.

O objetivo do ensaio de fluência é acompanhar o deslocamento da cabeça da

ancoragem sob carga constante ao longo do tempo, para vários níveis de

carregamento, tendo em vista a determinação do coeficiente de fluência CF, que

representa um indicador do comportamento da ancoragem ao longo da vida útil

em relação à sua capacidade de manutenção da carga aplicada. A norma

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considera aceitável uma ancoragem com coeficiente de fluência menor ou igual a

1mm (para bulbos em solos arenosos) ou 2mm (para bulbos em solos argilosos ou

siltosos) sob carga constante equivalente a 1,75 vezes a carga de trabalho prevista

para a ancoragem.

12

12

loglog ttddCF

−−

= (3.24)

onde d2 e d1 são os deslocamentos da cabeça da ancoragem nos tempos t2 e t1,

respectivamente.

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4 ANÁLISE DE CORTINAS ANCORADAS PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

O método dos elementos finitos é atualmente a ferramenta numérica mais

versátil para análise de problemas de interação solo-estrutura. Permite modelar de

forma realista o comportamento mecânico da superestrutura, fundações e solo,

preservando a geometria da estrutura, superfície do terreno e estratos de solo,

além de possibilitar a ocorrência de deslocamentos relativos entre os diferentes

componentes do sistema, de condições de contorno complexas, carregamentos

estáticos ou dinâmicos, procedimentos de escavação ou aterros incrementais, etc.

A despeito desta grande capacidade do método numérico, há que se discutir

algumas deficiências de modelagem e necessárias precauções a serem tomadas no

caso da simulação computacional do comportamento de cortinas ancoradas em

solo através de programas computacionais que somente contemplam análises

bidimensionais (estado plano de deformação). Na seção que se segue, alguns

destes aspectos serão discutidos.

4.1. Aspectos da modelagem de cortinas ancoradas

a) Modelagem da cortina – não há sérios problemas de modelagem quando a

cortina satisfaz às condições do estado plano de deformação. Se elementos

de viga são utilizados na modelagem, a rigidez axial (EA) e a rigidez à

flexão (EI) são fornecidas diretamente como propriedades do material, onde

A e I representam a área e o momento de inércia da seção transversal da

cortina, respectivamente, por metro de comprimento. Se elementos planos

forem usados, então a rigidez axial (EA) e a rigidez a flexão (EI) podem ser

determinados através das equações (4.1) e (4.2). Elementos de interface na

face interna da cortina são também empregados para possibilitar a simulação

de deslocamentos relativos entre o solo e a estrutura.

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77

12

3eEEI eq=

(4.1)

eEEA eq= (4.2)

onde Eeq e e são modulo de elasticidade e espessura da cortina

respectivamente.

b) Modelagem da ancoragem – a ancoragem, como se sabe, é dividida nos

trechos livre e ancorado que podem ser modelados através de diferentes

elementos. É usual ignorar-se qualquer tensão cisalhante mobilizada entre o

solo e o trecho livre, sendo freqüentemente utilizado elementos de mola que

conectam diretamente a cortina, numa extremidade, ao bulbo de ancoragem,

na outra. Quanto à modelagem do trecho ancorado, empregam-se

normalmente elementos planos e elementos de interface entre o bulbo e o

solo adjacente (figura 4.1). Enquanto o comportamento da cortina pode ser

aproximado de maneira realista pelo estado plano de deformação, é evidente

que ancoragens, por gerarem um estado tridimensional de tensões no

maciço, são representadas bem menos satisfatoriamente. Deformações do

solo que possam ocorram entre as linhas de ancoragem, na direção normal

ao plano do problema, são completamente ignoradas pela simulação

bidimensional e cuidados devem ser tomadas para especificar os dados de

entrada do problema, como dividir a força real aplicada nos tirantes pelo

espaçamento entre tirantes na direção normal.

4.2. Modelagem com o programa computacional Plaxis

Plaxis (Finite Element Code for Soil and Rock Analyses, Version 7.2) é um

pacote de elementos finitos desenvolvido para aplicações a problemas geotécnicos

2D pela Technical University of Delft, Holanda, desde 1987, e sucedida a partir

de 1993 pela empresa comercial Plaxis. Foi elaborado com o propósito de se

constituir numa ferramenta numérica prática para uso de engenheiros geotécnicos

que não sejam necessariamente especialistas em procedimentos numéricos. Esta

filosofia de desenvolvimento do software resultou numa interação com o usuário-

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engenheiro bastante simples (as rotinas de pré e pós-processamento são muito

fáceis de serem manipuladas), mas, em contrapartida, limitou a interação com o

usuário-pesquisador, pois, ao contrário de outros pacotes de elementos finitos

como o ABAQUS, por exemplo, não permite acesso a arquivos de entrada de

dados ou dos resultados para complementação de informações, análise de

resultados intermediários, introdução de adaptações nas técnicas de solução, etc.

O ganho em simplicidade foi, de certa maneira, conseguido às custas de uma

menor capacidade de generalização que, na versão 8 (2002) está sendo

parcialmente compensada pela opção que permite introduzir relações constitutivas

definidas pelo usuário, através de uma programação independente. O software

atualmente traz implementadas as seguintes leis constitutivas: elasticidade linear,

modelo de Mohr-Coumb (comportamento elasto-perfeitamente plástico), modelo

elasto-plástico com endurecimento isotrópico (dependência hiperbólica da rigidez

do solo em relação ao estado de tensão), modelo de amolecimento (Soft-Soil

Model) e lei constitutiva para creep (comportamento dependente do tempo).

Figura 4.1 – Modelagem de ancoragem com mola e elementos planos (Potts, D. &

Zdravkovic, L., 2001).

Neste trabalho os materiais que constituem o tirante (aço), a cortina

(concreto) e o bulbo de ancoragem (calda de cimento) foram considerados

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homogêneos, isotrópicos e linearmente elásticos, necessitando portanto da

definição de apenas 2 parâmetros (E, ν), enquanto que o solo do maciço foi

representado pelo modelo de Mohr-Coulomb, o qual requer o conhecimento dos

seguintes 5 parâmetros: módulo de elasticidade E, coeficiente de Poisson ν,

coesão do solo (c), ângulo de resistência ao cisalhamento (φ) e ângulo de

dilatância (ψ).

O uso do ângulo de dilatância tem por objetivo minimizar algumas das

reconhecidas deficiências do modelo de Mohr-Coulomb:

a) o valor previsto da deformação volumétrica plástica (dilatância) é muito

maior do que aquela observada em solos reais;

b) uma vez atingida a superfície de escoamento plástico, a dilatância se

mantém como um processo contínuo. Solos reais, que podem apresentar

um comportamento dilatante no início do escoamento plástico, apresenta

uma tendência de deformação volumétrica plástica nula para grandes

valores de deformação, característica de comportamento mecânico que é a

base dos vários modelos de estado crítico.

A primeira das deficiências é corrigida pelo programa Plaxis através da

adoção de uma lei de fluxo não-associada, onde uma função de potencial plástico,

que passa a indicar a direção do incremento de deformação plástica em vez da

superfície de escoamento na formulação associada, é expressa de maneira similar

à superfície de Mohr-Coulomb mas substituindo-se o ângulo de resistência ao

cisalhamento (φ) pelo ângulo de dilatância (ψ). A segunda dificuldade ainda

persiste porque o modelo continua a prever dilatância, apesar de corrigir o seu

valor, não importa quanto o solo é cisalhado. A razão é que no Plaxis o ângulo de

dilatância é considerado constante, e não função da deformação volumétrica

plástica, medida que poderia minimizar o problema (Potts & Zdravkovic, 2001).

Elementos de interface são usados para representação do contato cortina-

solo e solo-bulbo. Na figura 4.2 os elementos de interface são mostrados com

uma espessura finita, mas na formulação do método dos elementos finitos

utilizado pelo programa Plaxis as coordenadas dos pares de pontos nodais (do

elemento plano e do elemento de interface) são idênticas, ou seja, o elemento de

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interface considerado tem espessura nula. Elementos de interface também são

aconselhados para emprego em problemas de interação solo-estrutura envolvendo

cantos ou súbitas mudanças das condições de contorno que possam levar a

grandes variações nos valores de tensão e deformação não adequadamente

reproduzidos por elementos planos convencionais. A introdução de elementos de

interface nestes cantos (figura 4.2) pode significativamente melhorar a qualidade

dos resultados.

Figura 4.2 – Determinação de tensões nos cantos de estruturas: a) sem elementos de

interface; b) considerando elementos de interface (Manual Plaxis v.7.2).

O modelo de Mohr-Coulomb é também utilizado para descrição do

comportamento mecânico das interfaces, com as propriedades dos elementos de

interface estimadas a partir das propriedades do solo com auxílio das seguintes

equações:

soloerer cRc .intint = (4.3)

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solosoloerer R φφφ tantan.tan intint ≤= (4.4)

°= 0int erψ para 1int <erR ; caso contrário, soloer ψψ =int (4.5)

onde Rinter representa o fator de redução de resistência nas interfaces. Valores

típicos deste fator podem ser encontrados em diversas publicações da literatura e

mesmo no próprio manual de utilização do Plaxis (tabela 4.1).

Tabela 4.1 – Valores típicos do fator de redução de resistência Rinter.

Tipo de interface Rinter

Areia / aço 2/3

Argila / aço 1/2

Areia / concreto 0,8 – 1,0

Solo / geogrelha 0,8 – 1,0

Solo / geotêxtil 1.0

O critério de “corte de tração” (tension cut-off) deve ser também satisfeito

pelos elementos de interface, ou seja, os valores de tensão normal σ devem ser

inferiores à resistência à tração no solo da interface ert int,σ .

soloterert R ,intint, .σσσ =< (4.6)

As malhas de elementos finitos são geradas automaticamente pelo Plaxis,

considerando as restrições impostas pela geometria do problema, ocorrência de

diferentes materiais, posição do nível d’água, etc. O tipo de elemento finito

selecionado para os exemplos numéricos apresentados a seguir foi o elemento

triangular quadrático de 15 e 6 nós respectivamente

. A malha de elementos finitos pode ser refinada global ou localmente

através de comandos especiais disponibilizados pelo programa.

A especificação das propriedades da cortina e da ancoragem foi feita como:

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a) Cortina – fornecidos os valores da rigidez axial EparedeA e da rigidez à

flexão EparedeI a espessura do elemento de viga é calculada através das

equações 4.1 e 4.2. Adicionalmente, o peso w da cortina é calculado no

programa Plaxis como função de

ew soloparede )( γγ −= (kN/m2) (4.7)

onde paredeγ e soloγ referem-se aos pesos específicos dos materiais da parede

(concreto) e solo.

b) Ancoragem – para o trecho livre o valor da rigidez axial EA deve ser

fornecido por ancoragem, em unidades de força e não em unidades de força

/ comprimento. Para determinação da rigidez equivalente no estado plano

de deformação o programa necessita ainda conhecer o espaçamento entre

tirantes na direção fora do plano. Para materiais com comportamento

elasto-plástico, podem ser fornecidos também valores limites das forças nas

ancoragens, tanto sob esforços de tração quanto de compressão.

No trecho livre o valor do módulo de elasticidade do aço foi considerado

Eaço = 205GPa e a área da seção transversal Aaço da barra de diâmetro açoφ

calculada como

4

2aço

açoAπφ

= (4.8)

No trecho ancorado a rigidez axial foi determinada considerando-se o

módulo de elasticidade da calda de cimento GPaEcalda 6,21= e área da seção

transversal calculada de maneira similar à equação 4.8 considerando o

correspondente valor do diâmetro da perfuração furoφ .

4.3. Validação da modelagem

Nesta etapa procurou-se comparar os resultados numéricos obtidos através

do programa computacional Plaxis v.7.2 com outras soluções numéricas

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83

publicadas na literatura, com o objetivo de validar o processo de modelagem dos

exemplos apresentados neste capítulo.

Esta tarefa, que em princípio pareceu ser simples em virtude da grande

quantidade de resultados de modelagens numéricas que vem sendo continuamente

publicados em conferências e revistas científicas, revelou-se ao final frustrante

pois os resultados dos trabalhos revistos (Murakami, Yuri & Tamano, 1988; Grant

P.W., 1985; Matos Fernandes, 1990, entre outros) continham falta de informações

a respeito ou dos parâmetros do solo, ou das características da cortina (espessura,

tipo de material), ou da modelagem por elementos finitos (tipos de elementos,

inclusão ou não de elementos de interface, etc).

Decidiu-se, portanto, apenas para efeitos de aferir o processo de modelagem

das cortinas ancoradas deste trabalho, pela re-análise do comportamento das

cortinas projetadas para um túnel rodoviário de 1760m em uma área alagadiça de

proteção ambiental na Suíça (figura 4.3), estudados por Gysi & Morri (2002)

através do programa Plaxis.

Como o depósito de solo local, constituído por areia fina, de compacidade

fofa a média, apresentava problemas para a ancoragem das cortinas de estacas-

prancha principais, os projetistas decidiram por ancorá-las em cortinas

secundárias de 11,3m de altura, cravadas a uma distância de 14m, com intervalo

de 4m entre tirantes na direção fora do plano.

A execução das cortinas foi simulada através de 7 etapas de construção,

considerando-se a posição inicial do nível d’água na superfície do terreno: 1)

instalação das cortinas secundárias de 11,3m; 2) escavação de 1,90m atrás destas

cortinas, acompanhada do correspondente rebaixamento do lençol freático; 3)

nova escavação do solo e rebaixamento do lençol freático entre as cortinas

secundárias, distanciadas entre si de 58m, com cortes sob forma de taludes

inclinados, até a profundidade de 4,10m; 4) instalação das duas cortinas principais

de 16,5m, separadas 30m entre si e 14m das cortinas secundárias; 5) escavação até

a profundidade de 7m com rebaixamento do lençol freático; 6) instalação das

ancoragens, considerando distância entre tirantes de 4m, com aplicação de

protensão de 250 kN/m (ou seja, 1000 kN por ancoragem); 7) execução do estágio

final de escavação até a profundidade de 10,70m, acompanhada do

correspondente rebaixamento do lençol freático.

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Figura 4.3 – Corte do túnel projetado mostrando posição das cortinas principais e

secundarias de estaca prancha (Gysi & Morri, 2002).

As cortinas principais foram executadas com perfis de aço tipo LARSSEN

24 e as cortinas secundárias com perfis de aço LARSSEN 23, cujas características

geométricas estão apresentadas na tabela 4.2, bem como ilustradas na figura 4.4.

O módulo de elasticidade do aço das estacas prancha foi adotado Eaço = 210 GPa.

Tabela 4.2 – Características dos perfis de aço LARSSEN 24 e LARSSEN 23 utilizados nas cortinas de

estacas-prancha principais e secundárias, respectivamente.

Largura Altura Espessura Espessura Área Peso de Peso Momento Módulo da seção Seção b h d t parede única da de Inércia única parede

mm mm mm mm cm2/m estaca parede da parede estaca Kg/m2 Kg/m2 cm4/m cm3/m cm3/m

LARSSEN

23 500 420 11.5 10 197 77.5 155 42000 527 2000

LARSSEN 24 500 420 15.6 10 223 87.5 175 52500 547 2500

Figura 4.4 – Geometria da parede – LARSSEN 23 e 24.

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As seguintes camadas de solo foram identificadas no perfil geotécnico, com

as correspondentes propriedades listadas na tabela 4.3:

a) camada superficial de solo sedimentar recente, de origem lacustre,

classificado como silte argiloso ou silte com grande quantidade de matéria

orgânica;

b) camada intermediária constituída por areia fina e silte com alguma

quantidade de matéria orgânica;

c) camada profunda de areia fina a média.

Tabela 4.3 – Propriedades das camadas de solo

Parâmetro Símbolo Camada 1 Camada 2 Camada 3 Unidade Espessura 4.6 3.5 > 40 m

Modelo Endurecimento isotrópico (HS)

Endurecimento isotrópico (HS)

Endurecimento isotrópico (HS)

Comportamento Drenado Drenado Drenado Peso especifico seco γ d 17.0 18.0 18.0 kN/m3 Peso especifico natural γ 19.0 20.0 20.0 kN/m3 Permeabilidade horizontal kh 1.0 1.0 1.0 m/dia Permeabilidade vertical kv 0.05 0.05 0.05 m/dia Módulo de Young E50 5.0×103 2.0×104 6.0×104 kPa Módulo edomérico Eoed 5.0×103 2.0×104 6.0×104 kPa Potência (parâmetro do modelo) m 0.5 0.5 0.5 Módulo de descarregamento Eur 1.5×104 6.0×104 1.8×105 kPa Coeficiente de Poisson v 0.2 0.2 0.2 - Pressão de referência pref 100.0 100.0 100.0 kPa Coesão c' 10.0 1.0 1.0 kPa Ângulo de atrito φ’ 27.0 33.0 33 Ângulo de dilatância ψ’ 0.0 0.0 4.0 Fator de redução de resistência Rinter 1.0 1.0 1.0

Os resultados finais dos deslocamentos horizontais das cortinas principais e

secundárias estão mostrados na figura 4.5, incluindo os valores medidos em

campo e os previstos através das modelagens numéricas executadas por Gysi &

Morri (2002) e nesta pesquisa. Procurou-se também comparar a distribuição dos

momentos fletores ao longo das cortinas principais e secundárias, representados

na figura 4.6. As diferenças observadas nos resultados numéricos podem ser

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86

novamente atribuídas à falta de clareza na descrição do problema e na exposição

dos resultados por Gysi & Morri (op.cit): a) o texto da publicação menciona

cortinas principais de 18m e secundárias de 12m, mas na ilustração da obra (figura

4.3) e na exposição dos resultados numéricos, as dimensões que constam são,

respectivamente, 16,5m e 11,3m; b) a protensão no tirante é de 1000 kN,

conforme o texto, e de 1200 kN na descrição dos parâmetros de entrada do

programa Plaxis.

Figura 4.5 – Comparação de deslocamentos horizontais medidos e previstos para as

cortinas principais (esquerda) e secundárias (direita).

.

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87

Figura 4.6 – Comparação das distribuições dos momentos fletores finais medidos e

previstos ao longo das cortinas principais (esquerda) e secundárias (direita).

4.4. Cortina ancorada em solo residual

Neste exemplo é analisado o comportamento de uma cortina de concreto de

5,10m de altura, ancorada em solo residual, com profundidade de embutimento de

0,60m, em forma de L. Duas linhas de tirantes foram executada com inclinação de

20º em relação à horizontal, carga de protensão de 100 kN por tirante e

espaçamento entre tirantes de 2m (no plano do problema e na direção normal). A

escavação de 4,5m foi modelada em 3 fases, com remoção seqüencial de camadas

com espessuras indicadas na figura 4.6, que também apresenta a geometria do

problema bem como a malha de elementos finitos utilizada na análise do

comportamento da cortina.

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88

Figura 4.7 – Geometria do problema e malha de elementos finitos triangulares quadráticos (15 nós).

Os parâmetros que descrevem o sistema solo-cortina-tirantes foram obtidos

junto à Fundação GeoRio, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, e

encontram-se listados na tabela 4.4. O valor do fator de redução de resistência nas

interfaces solo-cortina foi adotado como Rinter = 0,67.

A simulação da construção da cortina ancorada foi feita em 5 etapas, sem

presença do lençol freático: etapa 1 – execução da cortina e escavação da camada

de solo superficial de 1,5m; etapa 2- colocação da primeira linha de tirantes com

carga de protensão de 100kN; etapa 3 – escavação de camada de solo

intermediária de 2m de espessura; etapa 4 – instalação da segunda linha de tirantes

com aplicação da carga de protensão de 100kN; etapa 5 – escavação da camada

inferior de solo com 1m de espessura.

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89

Tabela 4.4 – Propriedades geomecânicas (GeoRio, 2003).

Solo

Esolo γsolo c' φ' ψ ν´ Ko Modelo

(MPa) (kN/m3) (kPa) (graus) (graus)

55 16 10 29 7,5 0,3 0,52 Mohr-

Coulomb

Cortina Tirante

Eparede Espessura ν Modelo Eaço Ebulbo φaço φfuro

(GPa) (m) (GPa) (GPa) (mm) (mm)

24 0,20 0,2 Linear

Elástico 205 21,6 32 100

Os deslocamentos horizontais da cortina ao final de cada etapa estão

representados na figura 4.8, observando-se deslocamento final no topo de apenas

1,82mm. Conforme pode ser observado, o movimento da cortina é essencialmente

determinado pela instalação dos tirantes, sendo em menor grau afetado pelo

processo de escavação e, aparentemente, pelo número de etapas de escavação.

Ao final da construção a carga efetivamente atuante na primeira e segunda

linha de tirantes foi de 95,45 kN e 101,60 kN, respectivamente.

Os deslocamentos calculados para o maciço de solo estão mostrados na

figura 4.9, enquanto que a distribuição dos deslocamentos da cortina, bem como

das tensões normais e cisalhantes na interface solo-estrutura, estão apresentados

na figura 4.10

A figura 4.11 mostra os deslocamentos dos bulbos e do solo nas interfaces

ao longo dos trechos ancorados das linhas de tirantes superior e inferior.

Deslocamentos relativos entre o solo e os bulbos são possíveis devido à inclusão

de elementos de interface na modelagem. As correspondentes distribuições das

tensões normais e cisalhantes nas interfaces solo-bulbo estão ilustradas na figura

4.12.

Com o objetivo de verificar a influência da espessura da cortina na

distribuição dos deslocamentos horizontais e dos momentos fletores na estrutura,

foram considerados 2 valores adicionais de espessura e = 0,15m, e = 0,25m. Os

resultados da figura 4.13, mostram-se que a variação da espessura da cortina entre

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90

0,15m a 0,25m (ou 0,20m ± 25%) não produz mudanças significativas nos

valores e na distribuição de deslocamentos horizontais da cortina. A variação nos

valores máximos dos momentos fletores positivos e negativos mostra-se, por

outro lado, proporcional com a variação da espessura da cortina.

0

1

2

3

4

5

6

-3 -2 -1 0 1 2δh (mm)

Prof

undi

dade

( m

)

Etapa 1

Etapa 2

Etapa 3

Etapa 4

Etapa 5

Figura 4.8 – Deslocamentos horizontais da cortina durante processos de escavação e

ancoragem.

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91

Figura 4.9 – Componentes de deslocamento vertical (acima) e horizontal (abaixo) no maciço.

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92

Figura 4.10 – Componentes de deslocamento e de tensões na cortina ancorada.

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93

Linha Superior Linha Inferior

Linha Superior Linha Inferior Figura 4.11 – Deslocamentos totais previstos para o solo de interface (acima) e bulbos

(abaixo) nas linhas de tirante superior e inferior.

Figura 4.12 – Distribuição de tensões ao longo do bulbo para as linhas de tirante

superior (acima) e inferior (abaixo).

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94

0

1

2

3

4

5

6

-6 -4 -2 0 2δh (mm)

Prof

undi

dade

( m

)

e = 0.15 m

e = 0.20 m

e = 0.25 m

0

1

2

3

4

5

6

-30 -20 -10 0 10Momento Fletor ( KN.m/m )

Prof

undi

dade

(m)

e = 0.15 m

e = 0.20 m

e = 0.25 m

Figura 4.13 – Influência da espessura da cortina nos deslocamentos horizontais e distribuição dos

momentos fletores.

A análise de estabilidade da cortina ancorada foi procedida com base em

três métodos de cálculo: a) método de Costa Nunes e Velloso (1963); b) método

de Kranz generalizado; c) método dos elementos finitos, conforme metodologia

descrita no capítulo 3.

a) Método de Costa Nunes e Velloso (1963) – baseado em equilíbrio das forças

horizontais e verticais que atuam na cunha de solo da figura 4.14, o fator de

segurança calculado de acordo com a equação 3.16 resulta no valor FS =

2,94.

b) Método de Kranz generalizado (1968) – o polígono de forças para

determinação do correspondente fator de segurança está construído na

figura 4.15, considerando 2 linhas de tirantes. Desta análise, o fator de

segurança calculado é FS = 2,71.

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95

c) Método dos elementos finitos – redução progressiva dos parâmetros de

resistência ´c e ´tanφ (tabela 4.5) até a ocorrência da iminência de ruptura

do maciço de solo com M = FS = 3,33.

Figura 4.14 – Geometria da cunha, tirante e dados do solo para determinação de FS

pelo método de Costa Nunes e Velloso (1963).

Figura 4.15 – Polígono de forças e valores para cálculo do FS pelo método de Kranz

generalizado.

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96

Tabela 4.5 – Variação do parâmetro M para cálculo de FS pelo método dos elementos

finitos.

M c* = c/M tan*φ = tanφ/Μ

1,2 8,333 0,462

1,8 5,556 0,308

2,4 4,167 0,231

2,6 3,846 0,213

3.0 3.333 0.185

3.2 3.125 0,173

3.3 3.030 0.168

3.33 3.003 0.166

A zona de plastificação do maciço de solo na iminência do colapso

(M=3,33) está ilustrada na figura 4.16, observando-se que para o cálculo do fator

de segurança o contorno à direita da malha de elementos finitos foi alterado em

relação à figura 4.7, tendo em vista o desenvolvimento da extensa zona de

plastificação. A figura 4.17 ilustra a distribuição dos deslocamentos

correspondentes, na iminência do colapso do maciço de solo.

Figura 4.16 – Zona de plastificação no solo na iminência do colapso.

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97

Figura 4.17 – Distribuição dos deslocamentos na iminência do colapso do solo.

A tabela 4.6 resume os fatores de segurança calculados pelo três métodos. A

comparação entre os valores não é entretanto aparente, tendo em vista as

diferentes formas de definição do coeficiente de segurança, discutidas no capítulo

3, e da localização da superfície potencial de ruptura, pré-definidas nos métodos

de Costa Nunes e Velloso (1963) e Kranz generalizado (1968), conforme figura

4.18, mas resultante do próprio processo de cálculo no método dos elementos

finitos, conforme figura 4.19.

Tabela 4.6 – Fatores de segurança determinados pelo três métodos de cálculo

analisados.

Método Fator de Segurança

Costa Nunes e Velloso (1963) 2,94

Generalização do método de Kranz 2,71

MEF 3.33

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98

Figura 4.18 – Superfícies de ruptura nos métodos de equilíbrio limite de Costa Nunes e

Velloso (esquerda) e Kranz generalizado (direita).

Figura 4.19 – Distribuições dos contornos de deformação cisalhantes com a aproximação

das condições de colapso do maciço do solo.

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99

4.5. Análise paramétrica de cortina ancorada em solo

Neste exemplo estuda-se a influência, através de uma análise paramétrica

pelo método dos elementos finitos, de vários parâmetros (espessura da parede,

ângulo de inclinação dos tirantes, embutimento da cortina, ...) no comportamento

de uma cortina de concreto ancorada em solo residual do Rio de Janeiro. Os

parâmetros que descrevem o solo, cortina e tirantes estão listados na tabela 4.7,

considerando o fator de redução de resistência Rinter nas interfaces solo-cortina e

solo-bulbo igual a 0,67.

Tabela 4.7 – Propriedades geomecânicas (Pereira Lima, 2002).

Solo

Esolo γsolo c' φ' ψ ν´ K0 Modelo

(MPa) (kN/m3) (kPa) (graus) (graus) Constitutivo

45 20 10 29 0 0,2 0,52

Mohr-

Coulomb

Cortina Tirante

Ecortina espessura ν Modelo

Constitutivo Eaço Ebulbo φaço φfuro

(GPa) (m) (GPa) (GPa) (mm) (mm)

24 0,30 0,2

Linear

Elástico 205 21,6 32 150

A geometria do problema, bem como a malha de elementos finitos

composta por elementos triangulares quadráticos de 6 nós, aparecem na figura

4.20. Foram admitidas 4 linhas de tirantes, inclinadas de 15º em relação à

horizontal, separados entre si de 2,5m no plano do problema e na direção normal

(isto é, ao longo do comprimento da cortina) e com trecho ancorado de 7m,

conforme recomendação da GeoRio (2000). A carga de protensão em cada tirante

foi assumida igual a 875 kN e a cortina de concreto apresenta espessura de 0,30m,

altura de 14m e embutimento de 2m em relação à profundidade máxima de

escavação.

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100

A construção da cortina ancorada foi inicialmente simulada através das 9

etapas discriminadas na legenda da figura 4.21, que mostra os deslocamentos

horizontais da cortina com a seqüência das etapas de escavação e instalação /

protensão dos tirantes. Os deslocamentos horizontais e verticais previstos para o

maciço de solo ao final da construção estão também representados na figura 4.22.

Os deslocamentos verticais da superfície do solo (recalques) na região atrás da

cortina estão mostrados na figura 4.23.

Figura 4.20 – Geometria do problema e malha de elementos finitos utilizada (elementos

quadrático de 6 nós).

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101

0

2

4

6

8

10

12

14

-12 -8 -4 0 4δh (mm)

Prof

undi

dade

(m)

Etapa 1

Etapa 2

0

2

4

6

8

10

12

14

-12 -8 -4 0 4δh (mm)

Etapa 3

Etapa 4

0

2

4

6

8

10

12

14

-12 -8 -4 0 4 8δh (mm)

Prof

undi

dade

(mm

)

Etapa 5

Etapa 6

0

2

4

6

8

10

12

14

-12 -8 -4 0 4 8 12δh (mm)

Eatapa 7

Etapa 8

Etapa 9

Etapa 1 – Execução da cortina e escavação da camada de solo superficial de 2,5m Etapa 2 – Instalação da primeira linha de tirantes com carga de protensão de 875 kN /tirante Etapa 3 – Escavação da segunda camada de solo de 2,5m de espessura Etapa 4 – Instalação da segunda linha de tirantes com carga de protensão de 875kN/tirante Etapa 5 – Escavação da terceira camada de solo de 2,5m de espessura Etapa 6 – Instalação da terceira linha de tirantes com carga de protensão de 875kN/tirante Etapa 7 – Escavação quarta camada de solo com 2,5m de espessura Etapa 8 – Instalação da quarta linha de tirantes com carga de protensão de 875 kN/tirante Etapa 9 – Escavação da camada de solo inferior de 2m de espessura. Figura 4.21 – Deslocamentos horizontais da cortina durante as etapas de construção.

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102

Figura 4.22 – Deslocamentos horizontais (acima) e verticais (abaixo) no maciço de solo

ao final da construção da cortina.

δv do solo ao longo na superfíe de terreno (atrás da cortina)

-2

0

2

4

6

8

10

12

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Comprimento (m)

Rec

alqu

e (m

m)

deslocamento vertical máximo = 10,18 mm Figura 4.23 - Deslocamentos verticais na superfície do terreno.

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103

4.5.1. Influência da espessura da cortina

As primeiras variáveis investigadas no estudo paramétrico foram à

espessura da cortina de concreto, que assume os valores e = 0,20m, e = 0,30m, e =

0,40m, e a carga de protensão por tirante, consideradas iguais a T = 875 kN e T =

500 kN. Os resultados finais de deslocamentos horizontais da estrutura estão

indicados na figura 4.24, onde observa-se que, para ambas as cargas de protensão,

a distribuição dos deslocamentos não é muito afetada pelas espessuras da cortina,

à exceção nos dois primeiros metros da cortina de espessura e = 0,20m, a partir do

seu topo. Os deslocamentos próximos à base da cortina são positivos para as duas

cargas de protensão e, como esperado, diminuem à medida que a carga de

protensão é majorada.

A figura 4.25 mostra para o caso de carga nominal de protensão T = 875 kN

por tirante, os valores finais efetivamente suportados nas 3 cortinas analisadas.

Destes gráficos pode ser concluído que a carga efetiva nos tirantes aumenta com a

profundidade da linha de tirantes e também com o decréscimo da espessura da

cortina.

A figura 4.26 apresenta a distribuição dos momentos fletores para as 3

espessuras de cortina e T = 875 kN, notando-se que os momentos máximos

negativos e momentos máximos positivos ocorrem para a cortina de maior

espessura (e = 0,40m), em diferentes pontos de sua altura.

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104

0

2

4

6

8

10

12

14

-5 0 5 10 15δh (mm)

Prof

undi

dade

(m)

e = 0,20m e = 0,30m e = 0,40m

e = 0,20m e = 0,30m e = 0,40m

T = 500 kN

T = 875 kN

Figura 4.24 – Influência da espessura da cortina e da carga de protensão nos

deslocamentos horizontais finais da cortina ancorada.

2,5

5,0

7,5

10,0

800 850 900 950 1000Carga efetiva no tirante ( kN )

Prof

undi

dade

do

tiran

te (m

)

e = 0,20 m

e = 0,30 m

e = 0,40 m

Figura 4.25 – Variação da carga efetiva no tirante com sua profundidade e espessura da

cortina. Carga de protensão nominal T = 875 kN.

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105

0

2

4

6

8

10

12

14

-200 -100 0 100 200

Momento Fletor ( kNm/m )

Prof

undi

dade

(m)

e = 0,20 m

e = 0,30 m

e = 0,40 m

Figura 4.26 – Momentos fletores finais para as cortinas analisadas considerando-se

T=875 kN..

4.5.2. Influência do ângulo de inclinação dos tirantes

Considerando uma cortina de espessura e = 0,30m, foram feitas análises dos

deslocamentos da estrutura para várias inclinações dos tirantes admitindo-se carga

de protensão T = 875 kN. O valor do ângulo α, que a ancoragem forma com a

horizontal, assumiu os valores 10o, 15o, 20o e 30o. No Brasil a inclinação máxima

de atirantamento de cortinas está normalmente limitada a α = 30o.

A figura 4.27 mostra a variação da carga efetiva com a profundidade do

tirante e seu ângulo de inclinação. Pode ser observado que para ângulos de

inclinação baixos (10o < α < 20o) os valores das cargas efetivas são bastante

semelhantes entre si para as diversas linhas de tirantes, variando entre

aproximadamente 825kN, nos tirantes mais superiores, a 967,5 kN, nos tirantes

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106

inferiores. Para a inclinação de 30o, percebe-se um ligeiro decréscimo nos valores

das cargas efetivas, ainda que não significativo (redução de aproximadamente 3%

nos tirantes superiores e cerca de 2% nos tirantes inferiores).

À medida que o ângulo de inclinação dos tirantes cresce, os deslocamentos

verticais da cortina tendem a diminuir e os deslocamentos horizontais a aumentar,

conforme mostram os gráficos da figura 4.28.

2,5

5,0

7,5

10,0

800 850 900 950 1000Carga efetiva do Tirante ( kN )

Prof

undi

dade

do

tiran

te (m

)

10º15º20º30º

Figura 4.27 – Carga efetiva nas linhas de tirantes para protensão nominal T = 875 kN.

0

2

4

6

8

10

12

14

-5 0 5 10 15δh (mm)

Prof

undi

dade

(m)

10º 15º 20º 30º

0

2

4

6

8

10

12

14

-5 0 5 10δv (mm)

10º 15º 20º 30º

Figura 4.28 – Influência dos ângulos de inclinação dos tirantes nos deslocamentos horizontais e verticais da cortina ancorada.

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107

4.5.3. Influência do embutimento da cortina

Para cortina de espessura e=0,30m, carga de protensão T=875 kN, ângulo de

inclinação dos tirantes α = 15o, estudou-se em seguida a variação dos

deslocamentos horizontais da estrutura com a profundidade de embutimento no

solo de fundação. Valores de ficha iguais a 2m, 4m e 6m foram considerados na

análise paramétrica, cujos resultados estão mostrados na figura 4.29.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

-4 0 4 8 12δh (mm)

Prof

undi

dade

(m)

Embut. = 2 mEmbut. = 4 mEmbut. = 6 m

Figura 4.29 – Influência do embutimento da cortina nos deslocamentos horizontais.

Percebe-se que os deslocamentos horizontais da cortina analisada são

muito pouco afetados pela profundidade de embutimento, salvo na região próxima

ao fundo da escavação (profundidade z = 12m) onde os deslocamentos horizontais

positivos tendem a crescer com a profundidade do embutimento da estrutura.

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108

4.5.4. Influência do número de tirantes

Os deslocamentos horizontais da cortina (e = 0,30m, α = 15o, T = 875 kN

por tirante) foram também estudados quando o número de linhas de ancoragem é

sucessivamente considerado igual a 3 (a partir do topo, distantes a cada 3m), 4

(figura 4.20) e 5 (a partir do topo, 3 distâncias de 2,5m e 2 distâncias de 1,5m).

Os resultados da figura 4.30 mostram que a diferença entre os deslocamentos

horizontais calculados é bastante pequena no topo da cortina, porém crescendo

significativamente ao longo da altura da cortina até se tornar máxima junto à base

da escavação. Os deslocamentos para o caso de apenas 3 tirantes são bastante

maiores do que na situação de 5 tirantes, conforme facilmente se observa na

figura.

0

2

4

6

8

10

12

14

-4 0 4 8 12δh (mm)

Prof

undi

dade

(m)

Nº Tirantes = 3

Nº Tirantes = 4

Nº Tirantes = 5

Figura 4.30 – Influência no número de tirantes nos deslocamentos horizontais da cortina

(e=0,30m. T=875 kN, α = 15o).

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109

Tratou-se em seguida de verificar a influência nos deslocamentos da cortina

da variação da espessura da mesma (e = 0,20m, e = 0,30m, e = 0,40m) e do

número de tirantes (3, 4, 5). Conforme esperado, o deslocamento horizontal no

topo e na base da cortina aumenta com o decréscimo de sua espessura e com o

decréscimo do número de tirantes instalados na estrutura (figura 4. 31).

0

2

4

6

8

0,2 0,3 0,4

Espessura da cortina (m)

δh n

o to

po (m

m)

Nº Tirantes = 3 Nº Tirantes = 4 Nº Tirantes = 5

0

3

6

9

12

0,2 0,3 0,4

Espessura da cortina (m)

δv n

a ba

se (m

m)

Nº Tirantes = 3 Nº Tirantes = 4 Nº Tirantes = 5 Figura 4.31 – Influência nos deslocamentos horizontais da cortina da espessura da mesma e do

número de tirantes.

4.5.5. Influência do nível da água

Pesquisou-se também a influência da profundidade do lençol freático no

comportamento da cortina ancorada, considerando-se as seguintes quatro

situações para o nível d’água subterrânea: z = 2,5m, 7,5m, 12m e infinitamente

profundo. O rebaixamento do lençol é simulado pelo Plaxis sempre que uma

etapa de escavação ocorrer abaixo destas profundidades. A cortina de concreto

tem espessura de 0,30m, 4 linhas de ancoragem (figura 4.20), protensão T=875

kN por tirante, inclinação dos tirantes α = 15o .

Os resultados dos deslocamentos horizontais e verticais da cortina para as 4

situações analisadas estão mostrados na figura 4.32, onde se observa que a

variação nos valores dos deslocamentos ocorre tanto para a componente

horizontal quanto, e mais significativamente, para a componente vertical.

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0

2

4

6

8

10

12

14

-10 -5 0 5 10δh (mm)

Prof

undi

dade

(m)

nivel = 2.5m abaixo no topo da superfície de terreno

nivel = 7.5m abaixo no topo da superfície de terreno

nivel = 12,0m abaixo no topo da superfície de terreno

infinitamente profundo

0

2

4

6

8

10

12

14

-40 -30 -20 -10 0 10

δv (mm)

Prof

undi

dade

(m)

nivel = 2.5m abaixo no topo da superfície de terreno

nivel = 7.5m abaixo no topo da superfície de terreno

nivel = 12,0 abaixo no topo da superfície de terreno

infinitamente profundo Figura 4.32 – Influência da profundidade do lençol freático nos deslocamentos

horizontais e verticais da cortina ancorada.

4.5.6. Influência da rigidez do bulbo ancorado

Finalmente, pesquisou-se a influência da rigidez do bulbo ancorado,

considerando-se as duas seguintes situações: a) bulbo com Ebulbo = 21,6 GPa; b)

bulbo mais rígido com Erígido = 1000 GPa.

Os resultados dos deslocamentos horizontais obtidos na análise numérica do

comportamento da cortina estão mostrados na figura 4.33, de onde pode-se

observar a pouca variação ocorrida na distribuição dos deslocamentos horizontais

ao longo da altura da cortina para estas 2 situações.

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0

2

4

6

8

10

12

14

-5 0 5 10δh (mm)

Prof

undi

dade

(m)

E = 21,6 GPa (com / interface)

E = 1000 GPa (sem / interface) Figura 4.33 – Influência da rigidez do bulbo nos deslocamentos horizontais da cortina

(e = 0,30m. T = 875 kN, α = 15o).

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5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

A utilização de obras ancoradas em solo ou rocha é atualmente bastante

empregada no Brasil, seja na execução de estruturas de contenção quanto na

estabilização de taludes e encostas em solo ou rocha.

No processo de transferência de carga solo-bulbo a resistência frontal do

bulbo para efeitos de projeto é geralmente desprezada e a capacidade de carga da

ancoragem é considerada função apenas da sua resistência lateral, cuja

mobilização depende do deslocamento relativo ocorrido entre o bulbo e o solo.

Alguns autores admitem que com a continuidade do deslocamento do bulbo a

tensão cisalhante conserva seu valor máximo, enquanto que outros consideram

que devido aos relativamente altos valores do deslocamento do bulbo a tensão

cisalhante decresce gradualmente para um valor residual. A experiência brasileira

parece comprovar que em ancoragens reinjetáveis sob alta pressão a tensão

cisalhante ao longo do bulbo permanece praticamente constante após atingir seu

valor máximo, independentemente do tipo de solo, enquanto que em ancoragens

não reinjetáveis, injetadas sob baixa pressão, tem sido observado um significativo

comportamento de pico para deslocamentos relativamente altos do bulbo (da

ordem de 100 mm).

A finalidade de protensão é tracionar a ancoragem, colocando-a sob carga

antes da aplicação dos esforços provenientes do maciço de solo, com o objetivo de

diminuir os deslocamentos da estrutura de contenção. Em todas as ancoragens é

realizado o ensaio de recebimento, no qual são feitas leituras do deslocamento da

cabeça da ancoragem para os vários níveis de carga aplicados. Além da

verificação do comportamento carga x deslocamento da ancoragem, o ensaio de

recebimento permite separar as parcelas de deslocamento elástico, considerado

proveniente do alongamento do trecho livre do tirante, e de deslocamento plástico

ou permanente, atribuído ao deslocamento do bulbo, considerado rígido, no

interior do maciço de solo. Novais Souza (2001) mostra a importância de se

considerar o bulbo como elemento deformável, enfatizando que a não

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consideração do alongamento do bulbo dificulta muito a representação do

comportamento da ancoragem, principalmente em relação à definição do limite

mínimo do trecho livre efetivo. O procedimento recomendado pela norma NBR-

5629 que admite o bulbo rígido pode ser contra a segurança, segundo aquele

autor, pois o trecho livre efetivo mínimo pode ser bastante menor quando o

alongamento do bulbo é considerado.

A melhor estimativa da capacidade de carga de ancoragens em solo é aquela

determinada pela realização de ensaios prévios de ancoragem, construída com a

mesma tecnologia e mão de obra no local da obra. Os métodos disponíveis para

determinação da capacidade de carga de ancoragens em solo de maneira geral

consideram que a resistência da ancoragem deve-se exclusivamente à resistência

ao cisalhamento desenvolvida na interface solo-bulbo, sem consideração dos

efeitos do processo construtivo.

Dentre os métodos examinados neste trabalho para estimativa da capacidade

de carga encontram-se: a) método da norma brasileira NBR-5629, que não leva

em consideração os efeitos da pressão de injeção; b) método de Ostermayer

(1974), baseado em ábacos que correlacionam o comprimento do trecho

ancorado com a capacidade de carga, sem especificação do procedimento de

injeção ou dos valores da pressão de injeção; c) método de Bustamante e Doix

(1985), que procura incorporar as influências da técnica de injeção, pressão de

injeção e volume de calda de cimento injetada mas que contrariam evidências

experimentais ao indicar que os efeitos de reinjeção são mais pronunciados para

argilas/siltes do que para areias/cascalhos; d) método de Costa Nunes (1987),

semelhante ao de Bustamante e Doix (1985), porém com a importante diferença

que a influência da pressão de injeção pode ser analisada quantitativamente; e)

método de Mecsi (1997), que apresenta a importante vantagem de possibilitar a

estimativa da capacidade de carga da ancoragem e dos deslocamentos

correspondentes.

Com relação à análise global da estabilidade de cortinas ancoradas em solo

foram pesquisados os seguintes métodos: a) método de Kranz (1953); b) método

de Kranz generalizado (Ranke & Ostermayer, 1968); c) método de Costa Nunes e

Velloso (1963); d) método de Broms (1968); e) método dos elementos finitos,

através da simulação do colapso.

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De maneira geral, a literatura registra três definições para fator de segurança

no contexto do projeto de estruturas de contenção: a) fator de segurança calculado

como a razão entre forças tangenciais resistentes e forças tangenciais atuantes ao

longo da superfície potencial de ruptura, como no método de Costa Nunes e

Velloso (1963); b) a fator de segurança calculado como o quociente entre o

empuxo passivo totalmente mobilizado e o real “empuxo passivo de trabalho”,

como no método de Broms (1968); c) fator de segurança calculado como o

quociente entre o empuxo passivo resultante (diferença entre os empuxos passivo

e ativo) totalmente mobilizado e o empuxo passivo resultante de trabalho. Devido

a limitações na definição destes fatores de segurança global, métodos têm sido

propostos nos quais cada fonte de incerteza é considerada independentemente, na

chamada abordagem dos fatores parciais.

O método dos elementos finitos é atualmente a ferramenta numérica mais

versátil para análise de problemas de interação solo-estrutura. Permite modelar de

forma realista o comportamento mecânico da superestrutura, fundações e solo,

preservando a geometria da estrutura, superfície do terreno e estratos de solo, etc.

A despeito desta grande capacidade, algumas precauções na modelagem

bidimensional de cortinas ancoradas em solo devem ser levadas em conta, dentre

elas: a) modelagem da cortina, com incorporação de elementos de interface; b)

modelagem da ancoragem, com emprego de elementos de mola, no trecho livre, e

elementos planos e de interface, no trecho ancorado. Observar que enquanto o

comportamento da cortina pode ser aproximado pela análise no estado plano de

deformação, o comportamento das ancoragens, por gerarem estados 3D de

tensões, resulta bem menos realista.

Nesta dissertação, além de se procurar validar o processo de modelagem de

cortinas ancoradas em solo através do ‘software’ comercial Plaxis v.7.2, procurou-

se melhor compreender o comportamento mecânico destas estruturas através das

seguintes aplicações numéricas:

a) análise paramétrica de uma cortina de concreto ancorada em solo,

avaliando-se a influência dos seguintes parâmetros em seu comportamento

mecânico: etapas de escavação, espessura da cortina, ângulo de inclinação dos

tirantes, embutimento da cortina, número de tirantes, nível d´água, rigidez do

bulbo.

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b) análise de cortina de concreto ancorada em solo residual do Rio de

Janeiro, incluindo a distribuição dos deslocamentos horizontais com as etapas de

escavação, distribuição das tensões na cortina e no trecho ancorado, variação dos

deslocamentos relativos ao longo do bulbo, em relação ao solo circunvizinho, e

análises de estabilidade pelo método de Costa Nunes e Velloso (1963), método de

Kranz generalizado (Ranke & Ostermayer, 1968) e método dos elementos finitos.

Apesar do pequeno número de casos estudados, entende-se que os

resultados numéricos obtidos foram importantes para a compreensão deste

complexo problema de interação solo-estrutura.

Como sugestões para futuros trabalhos de pesquisa na área de cortinas

ancoradas em solo apresentam-se os seguintes tópicos:

a) investigação mais detalhada dos métodos de equilíbrio limite para

estabilidade de cortinas ancoradas em relação aos resultados numéricos

obtidos pelo método dos elementos finitos, onde a superfície de ruptura não

é pré-definida como nos métodos de Costa Nunes e Velloso (1963), método

de Kranz generalizado (Ranke & Ostermayer, 1968), dentre outros;

b) investigação mais detalhada dos métodos para previsão da capacidade de

carga de cortinas ancoradas em relação aos resultados numéricos previstos

pelo método dos elementos finitos. Via de regra, observa-se uma grande

dispersão nos valores de capacidade de carga quando calculados pelos

métodos da norma brasileira NBR-5629, de Ostermayer (1974), de

Bustamante e Doix (1985), de Costa Nunes (1987) e de Mecsi (1997);

c) comparação dos resultados previstos para o comportamento da cortina,

análise de estabilidade e capacidade de carga com valores experimentais

medidos em campo. Infelizmente, o número de cortinas ancoradas com

instrumentação é ainda muito pequeno no Brasil, mas as vantagens deste

procedimento seriam enormes para uma melhor compreensão dos

fenômenos intervenientes neste tão complexo problema.

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