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1 Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46 Janeiro/Março 2012 Trimestral Distribuição gratuita Nº 46

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Janeiro/Mar 2012 trimestral distribuição gratuita nº 46

    Janeiro/Março 2012 Trimestral Distribuição gratuita Nº 46

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Índice

    Editorial -Os Loucos Anos 90: novamente verdade em 2012? Joaquim Leite Pinheiro .......................................................................... 12

    Audire: Ser português - Manuel Marques Barreiro; Consultor e Presidente do Conselho Geral do IPAI ................................................ 17

    O risco do “faz de conta” Orlando Silva – Membro do Conselho Geral do IPAI .................................................................................... 20

    Auditoria de sistemas: Amostragem estatística com ferramentas informáticas de análise dados em auditoria, Drumond de Freitas –

    Consultor EQUICONSULTE, SA ............................................................................................................................................................ 22

    Ferramentas de produtividade para suportar o trabalho de auditoria, João Revés - SSP Partner ............................................................. 26

    COBIT5 – Comming Soon -“Optimize Your Information Systems: Balance Value, Risk and Resources”, Bruno Horta Soares,

    Presidente fundador do ISACA Lisbon, Portugal Chapter ....................................................................................................................... 30

    Responsabilidade social em contexto de crise, Mário Parra da Silva, Empresário e Presidente da Associação Portuguesa de Ética

    Empresarial .............................................................................................................................................................................................. 33

    Entrevista: Luísa Anacoreta, Faculdade de Economia e Gestão - Universidade Católica Portuguesa ..................................................... 36

    Motivação do Auditor Interno Bancário, Mariana Fonseca Viegas - Coordenadora do Núcleo de Auditoria e Inspeção do Banco BIC

    Português, S.A. ........................................................................................................................................................................................ 39

    Prepare a sua Organização para a nova realidade dos mercados, Fernando Fernandes (Country Manager) ............................................ 43

    Entrevista: João Azevedo Coutinho, CFO - Brisa .................................................................................................................................... 46

    Sugestão de leitura ................................................................................................................................................................................... 49

    Caneta Digital .......................................................................................................................................................................................... 49

    Pesquisa na rede ....................................................................................................................................................................................... 49

    Acordo ortográfico – algumas dicas ........................................................................................................................................................ 49

    Notícias .................................................................................................................................................................................................... 50

    20º aniversário IPAI ................................................................................................................................................................................. 51

    Post_it, Miguel Silva ........................................................................................................................................................................... 54

    Pesquisa de Institutos de Auditoria .......................................................................................................................................................... 55

    Missão

    Promover a partilha do saber e da prática em

    auditoria interna, gestão do risco e controlo interno.

    Propriedade e Administração

    IPAI – Avenida Duque de Loulé, 5 – 2º B – 1050-085 LISBOA; [email protected];Contribuinte nº 502 718 714; Telefone/Faxe: 213 151 002

    Ficha técnica

    Presidente da Direção: Fátima Geada; Diretor: Joaquim Leite Pinheiro; Redação: Manuel Barreiro; Raul Fernandes; Conselho Editorial:

    Manuel Barreiro, Fátima Geada, Francisco Melo Albino; Colaboradores nesta edição: Manuel Barreiro, Miguel Silva, Mário Parra da Silva, Luísa

    Anacoreta, Orlando Silva, João Pereira Coutinho, Bruno Soares, Drumond de Freitas, João Revés, Mariana Viegas. Fernando Fernandes.

    Pré-impressão: IPAI; Impressão e Acabamento: CEM; Ano XIV – Nº 46 – TRIMESTRAL Janeiro/Março 2012; TIRAGEM: 1400 exemplares;

    Registo: DGCS com o nº 123336; Depósito Legal: 144226/99; Expedição por correio; Grátis; Correspondência: IPAI – Avenida Duque de

    Loulé, 5 – 2º B – 1050-085 LISBOA Telefone/Faxe: 213 151 002; [email protected]; [email protected]; Visite-nos em

    www.ipai.pt

    http://pt-pt.facebook.com/people/Instituto-Auditoria-Interna-Ipai/

    http://pt.linkedin.com/in/ipaichapteriia

    Nota: Os artigos vinculam exclusivamente os seus autores, não refletindo necessariamente as posições da Direcção e do Conselho Editorial da

    Revista nem do IPAI. A aceitação de publicação dos artigos na Revista Auditoria Interna do IPAI, implica a autorização para a inserção no sítio do

    IPAI após a edição da revista impressa.

    Foto da capa: TJP

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]://www.ipai.pt/http://pt-pt.facebook.com/people/Instituto-Auditoria-Interna-Ipai/http://pt.linkedin.com/in/ipaichapteriia

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Corpos sociais para o biénio 2010-2011 Assembleia Geral

    Presidente da Mesa: António dos Santos Ramos, CIA – Estoril Sol

    Secretário: Carlos Alberto Mendes Lopes – Estradas de Portugal

    Vogal: Rodrigo Mário de Carvalho – ISCAP

    Conselho Fiscal

    Presidente: Manuel dos Santos Gomes

    Vogais: Álvaro da Silva João

    João Manuel Barata da Silva - CGD

    Vogal Suplente: Maria de Lurdes Neves - TAP

    Direção

    Presidente: Fátima Geada, PHD – TAP

    Vice-Presidentes

    Francisco de Melo Albino, CIA; CCSA; CGAP

    António Neutel Neves, CIA – Portucel

    Nuno Oliveira, CIA - AdP

    José Costa Bastos

    Nelson Martins, CCSA – BES

    Pedro Cupertino de Miranda, CISA – SONAE

    Secretário: Joaquim Leite Pinheiro

    Vogais:

    Luís Filipe Machado, CIA; CCSA – BCP

    Severo Praxedes Soares – IGF

    Miguel Correia, CIA; CCSA; CFSA I – Liberty Seguros

    Georgina Morais – ISCAC

    Ana Cláudia – BRISA

    Jorge Santos Nunes – Lusitânia

    Conselho geral

    Presidente: Manuel Marques Barreiro

    Vice-Presidente: Manuel Agostinho Raul Fernandes

    Vogais:

    Domingos Sequeira – Ex-Presidente da Direção

    Orlando Sousa - SONAE

    Ana Margarida Fernandes – Inspeção-geral de Finanças

    António Costa e Silva – Tribunal de Contas

    Carlos Baptista da Costa – ISCAL

    Octávio Castelo Paulo – Instituto Português Corporate Governance

    Jean-éric Gaign – KPMG

    João Frade – DELOITTE

    João de Mello Franco – PT e EDP Renováveis

    Jorge de Freitas Nunes – Ernst & Young

    José Manuel Dias da Fonseca – APOGERIS

    Francisco Martins da Rocha – Banco de Portugal

    Nasser Sattar – PriceWaterhouseeCoopers

    Orlando Germano da Silva - BES

    IPAI filiado na

    IIA Portugal

    Chapter 253

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Jantar comemorativo do 20º aniversário do IPAI.

    Tema: "O futuro da Auditoria em Portugal e as relações entre Auditoria Interna e Externa".

    Orador: Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, Dr. Azevedo Rodrigues.

    6 de Março de 2012, às 19H30, no Hotel Sana Lisboa, na Av. Fontes Pereira de Melo (ao Marquês).

    Consultar comunicado em http://www.ipai.pt/calendario/eventos.php?id=229

    http://www.linkedin.com/in/ipaichapteriia

    https://www.facebook.com/ipai.auditoriainternaportugal

    http://www.facebook.com/TheInstituteofInternalAuditors

    http://www.ipai.pt/calendario/eventos.php?id=229http://www.linkedin.com/in/ipaichapteriiahttps://www.facebook.com/ipai.auditoriainternaportugalhttp://www.facebook.com/TheInstituteofInternalAuditors

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Agenda 2012 I. Formação de Base em Auditoria Interna

    Nº CURSO LOCAL DATA FORMADOR

    1 Introdução ao Controlo e Auditoria Interna Lisboa

    Porto

    Fev. 13 e 14

    Set. 10 e 11

    Francisco Albino, CIA, CCSA, CGAP

    2 Curso Prático Intensivo de Auditoria Interna

    **

    Lisboa Abr. 9 a12 Vários formadores. Coordenação: Francisco

    Albino

    II. Formação para Auditores Seniores e CAEs

    3 Auditoria Interna Baseada no Risco Lisboa

    Porto

    Jul. 30 e 31

    Out. 8 e 9

    Nuno Oliveira, CIA

    4 Auto-avaliação do Risco e do Controlo –

    Preparação para o Exame CCSA

    Lisboa Mar.12 e 13 Nuno Oliveira, CIA

    Júlia Santos, CCSA

    5 Avaliação da Qualidade e Performance em

    Auditoria Interna

    Lisboa Mar.26 e 27 Fátima Geada, PhD

    6 Audit Planning to Address Fraud * Lisboa Jun. 29 Prof. Glenn Sumners, CIA, CPA, CFE

    III. Formação de Especialização

    7 Relatórios de Auditoria Lisboa Mai. 21 e 22 Francisco Albino, CIA, CCSA, CGAP

    8 Amostragem para Auditoria Lisboa Dez. 3 e 4 Fátima Geada, PhD

    9 Fraude e Auditoria Interna Lisboa Abr. 23 e 24 Tiago Brito Lopes, CIA, CCSA, CFE

    10 Programas de Trabalho em Auditoria Interna

    **

    Lisboa Mai. 7 e 8 Joaquim Pinheiro

    11 Introdução à Gestão do Risco ** Lisboa Mai. 28 e 29 ***

    IV. Formação para Auditores de Sistemas de Informação

    12

    Auditoria de Sistemas e Tecnologias de

    Informação

    Lisboa Jun. 4 e 5 Paulo Gomes, CISA

    13 Segurança de Sistemas de Informação Lisboa Jul. 9 e 10 Pedro Cupertino de Miranda, CISA

    14 Auditoria aos Controlos Aplicacionais ** Lisboa Out. 22 e 23 Luís Rebelo, CGEIT

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    V. Formação comportamental

    15 Liderança e Comunicação em Auditoria Interna Lisboa

    Porto

    Mar. 5 e 6

    Jul. 2 e 3

    Filipa Oliveira

    16 Técnicas de Apresentação Lisboa Out. 29 e 30 Filipa Oliveira

    VI. Formação para a Certificação CIA

    17 CIA Review – I Part Lisboa Jun. 25 * Prof. Glenn Sumners, CIA, CPA, CFE

    18 CIA Review – II Part Lisboa Jun. 26 * Prof. Glenn Sumners, CIA, CPA, CFE

    19 CIA Review – III Part Lisboa Jun. 27-28 * Prof. Glenn Sumners, CIA, CPA, CFE

    20 CIA Review – IV Part Lisboa Jun. 28 * Prof. Glenn Sumners, CIA, CPA, CFE

    21 Preparação para o exame CIA – I Parte Lisboa Set. 27 Francisco Albino, CIA, CCSA, CGAP

    22 Preparação para o exame CIA – II Parte Lisboa Set. 28 Nuno Oliveira, CIA

    VII. Formação para Auditores do Sector Público

    23 Auditoria de Instituições Públicas – Preparação

    para o Exame CGAP

    Lisboa Abr. 16 e 17 Francisco Albino, CIA, CCSA, CGAP

    24 Auditoria de Empreitadas de Obras Públicas Lisboa Set. 24 e 25 Sara Pestana, CIA; Sofia Correia, CIA

    25 Auditoria Interna no Sector da Saúde Lisboa Out. 1 e 2 Andreia Machado, Mafalda Costa, Sofia Pires

    e Sónia Cruz.

    VIII. Formação para Auditores do Sector Financeiro

    26 Seminário em parceria com o MIS ** Lisboa ** ***

    * Em língua Inglesa.** Em preparação, com realização a confirmar.*** Monitor a confirmar.

    NOTA. As datas indicadas podem sofrer ajustamentos, em função da disponibilidade dos formadores, pelo que se sugere a respectiva

    confirmação junto do IPAI ([email protected], tel. 213151002).

    Eventos a realizar em 2012

    Jantar comemorativo dos 20 anos da fundação do IPAI (6 de Março)

    VII Fórum de Auditoria Interna (Junho)

    XIX Conferência Nacional do IPAI (Novembro)

    II Fórum de Auditores do Sector da Saúde

    I Fórum de Auditores das Autarquias Locais

    Reuniões de Trabalho dos Núcleos de o Auditores Internos do Sector dos Transportes, Infra-estruturas e Reguladores. o Auditores Internos do Sector Financeiro o Auditores Internos de Sistemas de Informação.

    Agenda 2012

    mailto:[email protected]

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    IPAI - Membros Colectivos

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    IPAI - Membros Colectivos

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    IPAI - Membros Colectivos

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    Parcerias e protocolos http://www.ipai.pt/gca/index.php?id=116

    http://www.ipai.pt/gca/index.php?id=116

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Parcerias e protocolos

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Editorial Editorial -Os Loucos Anos 90: novamente verdade em 2012? Joaquim Leite Pinheiro

    “Seja simpático para as pessoas quando está a progredir pois irá encontrá-las quando

    estiver em queda”, Wilson Mizner

    A década de 90, segundo Stiglitz proporcionou a muitas

    pessoas do mundo dos negócios e da finança um

    enriquecimento rápido, baixando os seus padrões éticos

    enquanto o faziam.

    Os banqueiros tinham uma reputação de proteger o seu

    investimento e, desse modo, tinham um controlo muito

    apertado sobre as empresas a quem emprestavam

    dinheiro. No entanto, a década de 90, algo mudou nesse

    paradigma de controlo e de seriedade.

    Passou-se a fazer recomendações a compra de ações sem

    qualidade e sem valor real, alguns banqueiros ajudavam

    as empresas a criar mecanismos de aplicações em

    offshores1, realização de ofertas públicas iniciais (IPO)

    favorecendo alguns amigos.

    Como sabemos até houve o envolvimento de auditores

    externos (Arthur Andersen), condenando-a à insolvência

    e originou a publicação do Sarbanes-Oxley Act (SOX)2.

    1Chamam-se offshores às contas e empresas abertas em paraísos fiscais,

    geralmente com o intuito de pagar-se menos imposto do que no país de

    origem. Como a grande maioria dos países que permitem a criação

    desse tipo de empresa anónima, ou a abertura desse tipo de contas

    bancárias (anónimas) fica em ilhas, (tais como as Bermudas, Jersey, Ilhas

    Cayman, etc.) daí a designação de offshores.

    2The Sarbanes-Oxley Act of 2002, (promulgada em 30 de Julho de

    2002), também conhecido como Company Accounting Reform and

    O problema centrado no capítulo, “Os Bancos e a Bolha

    especulativa, do livro de Stiglitz, é a informação

    veiculada para o mercado, que deve verificar um conjunto

    de requisitos: exata, fidedigna, oportuna de forma que os

    investidores possam avaliar e pagar o preço justo pelas

    ações que adquirem em bolsa.

    Os interesses instalados, analistas e CEO dos bancos e

    das empresas, tinham acesso à informação mas para os

    restantes investidores a informação era manipulada e falsa

    – um caso típico de informação assimétrica. Quando a

    informação verdadeira foi difundida os preços das ações

    caíram drasticamente.

    O mesmo acontecia com os analistas que tinham

    vantagem imediata em fornecer preços alvos (price

    target) das ações com tendência para subir, fornecendo

    aos clientes informações pouco rigorosas ou, se

    quisermos, uma visão de curto prazo de modo a que

    efetuassem transações.

    Investor Protection Act of 2002 (normalmente, referido como

    Sarbanes-Oxley, Sarbox ou SOX), é uma lei federal dos Estados Unidos

    em resposta a uma série de grandes escândalos corporativos e financeiros,

    incluindo os que afectaram as empresas Enron, Tyco International,

    Adelphia, Peregrine Systems e WorldCom.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Para%C3%ADso_fiscalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Impostohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bermudahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jerseyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Caymanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Caymanhttp://74.125.93.104/translate_c?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_federal_law&prev=/search%3Fq%3Dsox%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG%26pwst%3D1&usg=ALkJrhgDHUr2Va7QHzcYeG9VcJXRO1vflwhttp://74.125.93.104/translate_c?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Accounting_scandals&prev=/search%3Fq%3Dsox%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG%26pwst%3D1&usg=ALkJrhjYvpvYv7mPJmy-HMXINkOMSF6RBQhttp://74.125.93.104/translate_c?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Enron&prev=/search%3Fq%3Dsox%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG%26pwst%3D1&usg=ALkJrhhIhR9eI3G5HmPJe45pbtEOmRT1Ywhttp://74.125.93.104/translate_c?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Tyco_International&prev=/search%3Fq%3Dsox%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG%26pwst%3D1&usg=ALkJrhgoC4SsyXr30bwCV80BFke0kmUmdQhttp://74.125.93.104/translate_c?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Adelphia&prev=/search%3Fq%3Dsox%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG%26pwst%3D1&usg=ALkJrhj1G9xHgW2kWD2rStzCPs9S4Ny2cwhttp://74.125.93.104/translate_c?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Peregrine_Systems&prev=/search%3Fq%3Dsox%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG%26pwst%3D1&usg=ALkJrhiGEnoQwQiyC8DE9cTXPLJugoki7ghttp://74.125.93.104/translate_c?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/WorldCom&prev=/search%3Fq%3Dsox%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG%26pwst%3D1&usg=ALkJrhgoP1A8Wm0v8Ao6kUa-NglPuWNcAg

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Os analistas trabalhavam para os bancos e, por isso, uma

    notícia boa sobre uma empresa poderia corresponder a

    um bom negócio para o referido banco.

    O mesmo se pode dizer das sociedades corretoras nas

    quais os proveitos dependem do volume de negócios em

    bolsa e da cotação das ações, numa lógica procura/oferta.

    Não era importante o que se vendia; na economia da

    “bolha especulativa”, como refere Stiglitz tudo o que

    fosse posto à venda tinha êxito, numa lógica embriagada

    de sucesso rápido.

    Comparativamente com a economia real havia uma certa

    semelhança: a informação era a chave – código

    informático em Silicon Valley (a nova economia), os

    dados financeiros em Wall Street, transmitindo uma

    confiança ao mercado para que o mesmo funcionasse

    como interessava aos bancos: negócios, cotações, venda,

    compra de ações, estruturação de negócios com margens

    de lucro interessantes, etc.

    Fazer previsões de preços de ações (price-target) ou

    recomendar (“vender”, “comprar” ou “acumular”), tendo

    acesso a informação relevante, que não é divulgada

    convenientemente, pode criar perda de confiança dos

    clientes e situações de conflitos de interesses, que

    necessitavam de uma forte supervisão, que não existia.

    No entanto, os analistas tentavam agradar às duas partes.

    Supostamente, os analistas, refere Stiglitz, deveriam

    trabalhar atrás de uma “muralha-da-china”,

    concentrando-se a fornecer informação relevante aos

    clientes mas, nos anos 90 toda a “gente tinha de ganhar a

    vida”, num frenesim em que a situação podia não durar

    muito tempo. Uma certa ganância de viver a vida e o

    esquecimento de valores éticos fundamentais, foram

    alguns dos ingredientes causadores da bolha especulativa.

    Stiglitz defende uma alteração de procedimentos

    sugerindo a divulgação de informação sobre os interesses

    da sociedade de corretagem, designadamente ações que

    recomendam e que o banco para quem trabalham têm na

    sua carteira, honorários recebidos, desempenho das ações

    que recomendaram, etc.

    Contrariando esta defesa, era argumentado (pelos

    defensores das expectativas racionais) que os investidores

    eram racionais e que tinham acesso a toda a informação –

    “não havia assimetria” - tudo para justificar a situação e

    atirar a responsabilidade para as pessoas e nunca para os

    bancos ou sociedades de corretagem.

    Como refere Stiglitz “os dias de apogeu do movimento

    das expectativas racionais acabaram”, resultantes de três

    grandes “ataques” e todos eles “devastadores”, a saber:

    Consequências da assimetria da informação, a percepção

    das coisas não é idêntica para todas as pessoas, ou seja

    “mercados livres, cheios de conflitos de interesse podem

    levar à ineficiência”

    Decorrente do anterior, “pessoas diferentes têm

    convicções diferentes em relação ao mundo e à

    maneira como funciona”.

    A terceira situação referida (defendida pelos psicólogos

    Amos Tbersky3 e Daniel Kahneman

    4) concentrava-se na

    capacidade de processamento da informação das pessoas

    e na sua racionalidade (encontraram provas de

    “demasiada irracionalidade” nas pessoas).

    3 Amos Tversky (16 de Março de 1937 - 2 de Junho de 1996) foi um

    pioneiro da ciência cognitiva, um colaborador de longa data de Daniel

    Kahneman, e uma figura chave na descoberta do enviesamento

    humano sistemático e a gestão do risco. Com Kahneman, ele deu

    origem a teorias que explicam as escolhas irracionais humanas. 4 Daniel Kahneman (Telavive, Israel, 1934) é um importante teórico da

    finança comportamental, a qual combina a economia com a ciência

    cognitiva para explicar o comportamento aparentemente irracional da

    gestão do risco pelos seres humanos. Tornou-se famoso através da sua

    colaboração com Amos Tversky e outros, estabelecendo uma base

    cognitiva para os erros humanos comuns, usando a heurística e

    desenvolvendo a "prospect theory". Venceu em 2002 Prémio Nobel da

    Economia), apesar de ser um psicólogo e não um economista.

    (Kahneman afirma nunca ter feito qualquer cadeira em economia)

    Editorial

    http://pt.wikipedia.org/wiki/16_de_Mar%C3%A7ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1937http://pt.wikipedia.org/wiki/2_de_Junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1996http://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Kahnemanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Kahnemanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tel_Avivhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Israelhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1934http://pt.wikipedia.org/wiki/Amos_Tverskyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9mio_Nobel_da_Economiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9mio_Nobel_da_Economia

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Mas a irracionalidade das pessoas era vantajosa para os

    gestores das empresas: o marketing vive disso, os

    angariadores de seguros tentam vender apólices para

    acontecimentos de baixa probabilidade de risco e os

    analistas financeiros tendem a ser “estudantes perspicazes

    da irracionalidade e da mentalidade de rebanho”, tudo

    numa lógica desenfreada em busca do sucesso e do lucro.

    Ou seja na perspectiva de Adam Smith – “cada pessoa

    promove o bem comum, ganhando dinheiro para si

    próprio”.

    Como remediar a situação? Por ironia, 2008, 2009 (e

    2010 e 2011) serão, porventura, um exemplo

    paradigmático da repetição da situação, desde

    insolvências de empresas de renome, intervenção dos

    governos em empresas industriais (alguns ícones da

    indústria automóvel), tomadas do poder da gestão de

    empresas, tornando-se o Estado acionista e gestor, em

    simultâneo, em contradição com a teoria de mercado.

    (Com ironia, Marx não faria melhor ou se quisermos o

    seu pensamento vingou, de uma certa maneira).

    A tentativa de exigência de publicitar mais informação,

    eliminando alguma assimetria da informação,

    preconizada por Arthur Levit, presidente da SEC56

    , para

    potenciar o mesmo tipo de informação ao público, teve

    uma “feroz resistência” no mercado.

    Os analistas e os bancos vivem da vantagem de terem

    prévio acesso a informação relevante, pelo que não era

    5 US Securities and Exchange Commission (SEC), tem a

    responsabilidade de fiscalizar as empresas cotadas em Bolsa.

    6 Barack Obama nomeou Mary Schapiro para presidente da SEC -

    Securities and Exchange Commission. Atualmente, Mary Schapiro é

    responsável pela Financial Industry Regulatory Authority, a maior

    agência reguladora não-governamental da indústria financeira. Mary

    Schapiro irá substituir Christopher Cox, à frente dos destinos da SEC

    desde Junho de 2005, num momento crucial de falta de confiança (com

    mais um caso grave - Bernard L.Madoff).

    vantajoso que a mesma fosse divulgada, já que as pessoas

    poderiam tirar as mesmas conclusões e prescindir dos

    analistas.

    A informação assimétrica é uma vantagem clara para

    quem tem o negócio de coligir e vender informações ao

    mercado: divulga mais cedo o que lhe interessa e retarda

    a saída de informação que não é vantajosa para uma

    determinada empresa.

    Veja-se o exemplo da ENRON e a conivência da gestão

    de topo com os auditores externos (Arthur Andersen7).

    Outra situação referida por Stiglitz é o caso das IPO8

    (Ofertas Públicas Iniciais de Venda): a fixação de preços

    baixos na oferta inicial em contraste com os preços das

    primeiras transações em bolsa, deixavam a convicção que

    o processo não era transparente e que “alguns” eram

    beneficiados com a situação.

    Qual a razão para que preço da oferta pública inicial não

    fosse o preço justo?

    Refere Stiglitz que as IPO se tornaram uma forma de

    recompensa dos dirigentes que negociavam através das

    sociedades corretoras e da seleção de algumas pessoas,

    chegando-se mesmo à exigência de comissões adicionais

    para que as IPO avançassem.

    7 Arthur Andersen LLP, sediada em Chicago, era um das empresas de

    auditoria externa que integrava "Big Five" (PricewaterhouseCoopers,

    Deloitte Touche Tohmatsu, Ernst & Young and KPMG,) fornecendo

    serviços de auditoria, fiscalidade e consultoria. Em 2002, suspendeu

    voluntariamente os serviços de certificação de contas, depois de ter

    sido considerada culpada na insolvência da ENRON, da qual resultou

    a perda de 85 000 empregos.

    8Initial Public Offering

    Editorial

    http://en.wikipedia.org/wiki/Chicagohttp://en.wikipedia.org/wiki/Big_Four_auditorshttp://en.wikipedia.org/wiki/PricewaterhouseCoopershttp://en.wikipedia.org/wiki/Deloitte_Touche_Tohmatsuhttp://en.wikipedia.org/wiki/Ernst_%26_Younghttp://en.wikipedia.org/wiki/KPMG

  • 15

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Nada de ilegal, mas na opinião de Stiglitz, “pouco

    apropriado”, pelo que havia o cuidado de não deixar

    “rasto escrito”, mas a falta de transparência e abertura são

    essenciais numa economia de mercado para transmitir

    confiança.

    Ou como refere o autor “a corrupção medra quando as

    coisas são escondidas” ou “o dinheiro triunfa sobre a

    moral”.

    Stiglitz dedica-se a analisar alguns aspectos relacionados com a

    gestão da Worldcom (uma das maiores empresas de

    telecomunicações dos EUA, em 1999), as relações com

    os bancos e os conflitos de interesses existentes. Os

    exemplos e os dados referidos são extremamente

    elevados, pondo em causas valores éticos fundamentais e

    valores fundamentais da economia de mercado:

    divulgação de informação fidedigna, clara e oportuna.

    A título de exemplo, a pensar no curto prazo e nos

    incentivos, a Worldcom contabilizou quase 7 mil milhões

    de dólares como despesas de investimento em vez de

    serem classificadas como despesas correntes, com o

    respectivo impacto no apuramento de resultados, que

    foram, deste modo mais elevados.

    A teia de negócios da Worldcom (tal como na Enron) era

    escandalosa entre a empresa e os seus dirigentes, pelo que

    é difícil entender o papel da Comissão de Auditoria, o

    sistema de controlo interno e os auditores externos. Onde

    estavam? Como não se aperceberam da situação? Stiglitz

    volta a referir o papel dos analistas e as relações

    existentes com os administradores da Worldcom,

    referindo que aconselharam os empregados a exercer as

    suas stock options, apesar de terem informação (mais

    verdadeira) sobre a situação da empresa. Tudo para

    atrasar o mergulho na insolvência e proteger alguns

    interesses.

    Como refere Stiglitz, na década de 90 muitas coisas

    correram mal e nessa situação poderá ver-se as

    “impressões digitais” dos bancos.

    O mercado acredita que os bancos forneçam

    informação que potencie confiança e permita a

    aplicação dos recursos em investimentos.

    Os delitos da Enron, Worldcom, Citigroup e do Merril

    Lynch foram mais graves do que uma corrupção de um

    funcionário público: neste caso o furto foi superior ao PIB

    de certos países.

    A informação assimétrica favoreceu uns em

    detrimento de outros, é o problema do “agente

    principal” (“quando se pressupõe que uma pessoa

    atue a favor de outras, enquanto as circunstâncias lhe

    dão a possibilidade de o não fazer”).

    Um problema central na nossa sociedade, numa economia

    moderna com valores éticos, como refere Stiglitz: “Fazer

    coincidir interesses – dar estruturas de incentivos que

    tornem mais provável o agente representar os seus

    legítimos clientes”.

    Finalizando, citamos Adam Smith que afirmou: “quando

    as pessoas trabalham para os seus próprios interesses,

    servem geralmente os interesses da sociedade como

    um todo”. Como refere Stiglitz é uma hipótese altamente

    “sedutora”, e por vezes verdadeira; mas frequentemente

    não o é.

    Devemos voltar aos valores fundamentais. Não podemos,

    contudo, confiar plenamente na intervenção do Estado na

    economia.

    Por vezes, a intervenção pode ser perversa, dado que, ao

    controlar o mercado e as empresas, sendo,

    simultaneamente, acionista/dono das empresas e entidade

    reguladora, pode correr-se um risco sério do Estado

    controlar totalmente a nossa vida. Corremos o risco de

    vivermos em monopólio…

    Editorial

  • 16

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Stiglitz, é claramente um economista “novo-keynesiano”,

    como se constata em algumas frases do livro em análise, e

    que realçamos:

    A importância da informação - clara, verdadeira,

    transparente e acessível a todos;

    O “fim” do movimento das expectativas racionais,

    considerando que o pressuposto de que toda a gente

    tinha a mesma informação e a interpretava do mesmo

    modo, não é verdadeiro atendendo à assimetria da

    informação;

    A não existência de mercados racionais e eficientes

    que se autorregulam, plenos de sabedoria e bom senso,

    sem qualquer necessidade de intervenção estatal;

    A importância da formação correta dos preços,

    baseado em informação correta – preço justo, para

    manter a confiança dos agentes no mercado, a correta

    alocação de recursos e o crescimento económico;

    A complexidade da economia real – saber interpretar

    as muitas variáveis que interagem na economia em

    particular no mercado de trabalho: formação,

    sindicatos, produtividade, afluxo dos trabalhadores,

    competitividade, inovação;

    A necessidade de haver ética e moral no mundo dos

    negócios e no mundo financeiro – com as offshores e

    as fraudes contabilísticas é visível que os manuais de

    boas práticas foram esquecidos;

    A intervenção estatal quando necessária;

    A importância da política monetária no bem-estar dos

    trabalhadores;

    A necessidade de escolher e ajustar criteriosamente os

    instrumentos a utilizar numa intervenção específica na

    economia, tendo em atenção os lags interior e exterior;

    O problema da incerteza e do risco, dificultando a

    decisão;

    As políticas macroeconómicas devem refletir

    preocupações sociais, ouvindo trabalhadores e

    consumidores;

    A necessidade de haver regulação e controlo nos

    mercados para evitar conflitos de interesses, aumento

    exacerbado de concorrência aliada a uma avidez pelo

    lucro fácil e rápido, descambando em fraudes;

    A importância da divulgação equilibrada da

    informação (Arthur Levitt - Outubro 2000, presidente

    da SEC);

    A informação imperfeita e o problema do agente-

    principal. Necessidade de fazer coincidir os interesses

    na economia moderna através de incentivos bem

    definidos que permitam ao agente representar

    devidamente o principal (os clientes);

    O factor “sorte” como tendo uma quota-parte no

    resultado final da intervenção;

    A descrença na Mão Invisível de Adam Smith que não

    funciona na economia atual;

    Na economia real há mesmo quem explore a

    irracionalidade dos agentes (ações de marketing e

    propaganda);

    As consequências negativas da revogação da lei Glass-

    Steagall – os escândalos das empresas e da banca (eg:

    Enron). A sua opção pela separação da banca

    comercial e da banca de investimento.

    Esta ideia é reforçada pelo discurso que efetuou,

    quando recebeu o Prémio Nobel da Economia, que

    reproduzimos parcialmente: "O conjunto de ideias

    que eu vou apresentar aqui solapou as teorias de

    Smith e a visão de governo que nela se apoiava.

    Elas sugeriram que a razão pela qual a mão

    invisível é invisível é por que ela não existe ou,

    quando existe, está paralítica.”

    Editorial

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smithhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smithhttp://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3o_invis%C3%ADvelhttp://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3o_invis%C3%ADvel

  • 17

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Audire

    Audire: Ser português - Manuel Marques Barreiro; Consultor e Presidente do Conselho Geral do IPAI

    SER PORTUGUÊS - Um modo de ser nem sempre coincidente com o modo de estar.

    Ao iniciar esta crónica, a primeira ideia que me

    ocorreu foi uma tentativa de perceber se seria assim

    tão importante para o auditor, a existência de um

    conhecimento mais realista e de aproximação, em

    termos de atitude e de comportamento, do seu

    interlocutor (auditado) quando em ação.

    Meditando um pouco sobre o assunto, acabei por

    concluir pela positiva. E mais; não só é importante,

    como fundamental.

    A entrada e o confronto face a face no palco da

    atividade, não podem nem devem ser encarados de

    forma banal e, por demais, despicienda.

    Muitas vezes um mau relacionamento inicial, ainda

    que imperceptível, estará na base de alguma

    impossibilidade no que respeita à criação da empatia,

    factor que consideramos de suma importância nas

    relações que decorrem entre auditor e auditado.

    Pode acontecer até, e não raras vezes isso se verifica,

    que não se conseguindo uma relação empática

    minimamente desejável, vão surgindo episódios de

    alguma antipatia ou mesmo até de repulsa. Esta

    situação, por si só, provoca, no imediato, uma atitude

    de distanciamento, podendo até, em situações limite,

    provocar bloqueios, e chegar mesmo ao conflito

    institucional. Certo é, quando isso acontece, e quando

    acontece, a culpa é sempre imputada ao outro; ou

    porque é uma pessoa intratável, ou porque tem um

    mau feitio, ou até algumas vezes, (pensam os

    auditores) porque terá algo a esconder.

    Claro que as coisas nem sempre são aquilo que

    parecem, ou então, e na melhor das hipóteses afinal,

    nunca serão aquilo que verdadeiramente gostaríamos

    que fossem. Por fim, cada um acaba por ficar na sua,

    acabando por sair prejudicado o próprio trabalho do

    auditor.

  • 18

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Não querendo entrar em divagações da esfera da

    antropologia cultural por não ter aqui grande

    cabimento e também por me não encontrar

    suficientemente apetrechado para trilhar esses

    caminhos, gostaria apenas de tecer algumas

    considerações sobre o assunto que dá o nome a esta

    crónica: “ser português” e trazê-las à colação.

    Não com o sentido de fazer análises exaustivas sobre

    tema tão vasto quanto complicado e, já agora

    controverso, mas de abrir a discussão e alertar, tanto

    quanto seja possível, para a existência de

    inconveniências que os auditores devem levar em

    linha de conta, não esquecendo que uma má

    condução que a abordagem pode provocar,

    comprometendo e nada contribuindo para a

    dignificação desta arte.

    Assim, em linhas muito gerais, nós os portugueses,

    temos por sistema a tendência para mostrarmos

    aos outros uma faceta diferente, quiçá até oposta,

    daquilo que na realidade somos.

    É uma espécie de vírus a vegetar em cada um de nós,

    podendo assumir, consoante as circunstâncias, maior

    ou menor manifestação externa.

    Essa particularidade traduz uma tendência que vem

    do fundo dos tempos da nossa existência enquanto

    povo possuidor de características bem distintas das

    de outros povos da Europa.

    Há em cada um de nós uma quase premente

    preocupação de impressionar o outro; um sentimento

    imbuído de uma espécie de mistificação.

    Há pois um traço comum à nossa identidade cultural

    que talvez possa ser entendido como assomo de

    vaidade. Aqui há, por vezes, quem interprete esta

    atitude como refúgio. Postura que tem vindo a ser

    acentuada ao longo dos anos, mercê das vicissitudes

    da nossa História.

    Talvez uma frustração latente e atávica se tenha

    convertido nesse atributo. Nada mais do que uma

    máscara afivelada ao nosso modo de ser e estar.

    No entanto, quando a vaidade se reveste de

    substância capaz de a justificar, isto é, quando existe

    adequação entre o ser e o ter, ainda que não seja nada

    aconselhável pela imodéstia que representa, poderá,

    em casos pontuais, até ser tolerada.

    Acontece é que, na maioria das situações, isso não se

    verifica, acabando por restar, na impressão deixada

    no interlocutor, um sentimento negativo de puro

    exibicionismo e em nada ajudando o

    desenvolvimento da relação.

    Estamos em crer que poderão ser criadas por esta via,

    barreiras intransponíveis no que respeita à

    relação/comunicação interpessoal.

    Na nossa deambulação por este tipo de artigos de

    opinião, já por vezes nos temos detido neste

    pormenor. E, se o fazemos com alguma insistência é

    porque não consideramos esse facto assim tão

    despiciendo na profissão de auditor. Acreditamos que

    é fácil o entendimento desse porquê, particularmente

    por parte daqueles que, no terreno, se debatem

    quotidianamente com questões desta natureza.

    Audire

  • 19

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Mas, centrando agora a atenção neste modo de ser

    português, vou socorrer-me da opinião de duas ou

    três entidades de reconhecido renome, distanciadas

    entre si mais de quatro séculos.

    Isto para não repassar as opiniões de escritores e

    pensadores portugueses, os quais, cada um a seu

    modo, caricaturaram, caracterizaram ou traçaram

    com mestria, ao longo dos anos, o perfil do português

    que somos. Um retrato psicológico que não andará

    muito longe da realidade.

    O primeiro vulto, figura grada do humanismo, não

    obstante ser estrangeiro, teve a oportunidade,

    partindo das suas observações, de se pronunciar, com

    muita sabedoria, sobre este tema.

    Trata-se da conhecida figura do Renascimento,

    Nicolau Clenardo (*) – sec. XVI.- Nascido na

    Flandres, mais propriamente em Diest, no Brabante,

    estudou em Lovaina, tendo sido contemporâneo ali,

    de grandes nomes do humanismo português. Veio

    para Portugal, chamado pelo Rei D. João III na

    qualidade de professor do Infante D. Henrique e aqui

    viveu durante cinco anos.

    Das observações que fez sobre os portugueses

    aponta, sobretudo, a ruína da sociedade portuguesa

    que ele chegou a ver mais pujante e profunda.

    Deixou-nos na sua carta a Látomo, de Março de

    1535, uma descrição pormenorizada da sociedade

    portuguesa. É um notável monumento esse

    testemunho. Ressalvadas a distância e alguns

    pormenores, aliás desprezíveis, pode ser transposta

    para os dias de hoje.

    Impressionante é a constância dos comportamentos,

    passados que são mais de quatrocentos anos.

    Eis alguns exemplos: “ a repugnância pelo trabalho;

    a mania nobiliárquica; a facilidade dos costumes; a

    vaidade; o mostrar ser diferente daquilo que é”.

    A segunda personalidade é nossa contemporânea. Na

    sua obra podemos encontrar um pensamento

    profundo sobre a sociedade portuguesa. Trata-se de

    José Gil, reconhecido filósofo e ensaísta, em cuja

    obra traça linhas de pensamento que se entrecruzam

    com a opinião despendida por Clenardo nas suas

    “Cartas Sobre a Sociedade Portuguesa.” Vale a pena

    lê-lo e, sobretudo, refletir sobre o que na sua obra,

    nos transmite sobre este mesmo tema.

    Dentre outros, ocorre-me também um outro notável

    pensador nosso contemporâneo, Eduardo Lourenço.

    Vivendo no estrangeiro tem uma visão muito mais

    acutilante sobre o que nos une e simultaneamente

    sobre aquilo que nos separa, como um inexorável

    destino. Tem desenvolvido nos seus ensaios,

    passagens muito interessantes sobre o desígnio

    nacional português.

    Aqui ficam algumas considerações sobre o assunto

    que nos propusemos tratar. Não está esgotado. Muito

    mais haveria a dizer. O importante é que ele possa

    suscitar por parte daqueles que nos lerem e que se

    preocupam com questões desta natureza, a procura e

    aprofundamento de princípios básicos que, neste

    contexto, possam ajudar a facilitação de uma relação.

    Se tudo o que dissemos for levado em linha de conta,

    poderá vir a ser capaz, não só melhorar a qualidade

    da auditoria, mas também, por esta via, contribuir

    para a felicidade de auditores e auditados, o aspecto

    mais dignificante no qual todos nos devemos de

    empenhar.

    (*) O HUMANISMO EM PORTUGAL – CLENARD, Dr. M. Gonçalves Cerejeira, Coimbra Editora, Ld.ª. 1926

    Audire

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    O risco do “faz de conta” Orlando Silva – Membro do Conselho

    Geral do IPAI

    Qualquer auditor sabe que a existência de um sistema de

    gestão de riscos é imprescindível para um adequado

    sistema de controlo interno e um bom governo das

    organizações.

    Também não estarei muito longe da verdade se disser

    que de uma forma geral os administradores executivos

    sabem bem a importância da avaliação dos riscos para o

    negócio e para as operações – por vezes parecem fazer-

    se um pouco desentendidos, mas lá no fundo

    reconhecem a necessidade.

    A crise económica e financeira que atravessamos (e

    fiquemo-nos pelo nosso Portugal) tem colocado a

    necessidade de as organizações possuírem um sistema

    de gestão de riscos e um adequado modelo de

    governação, como verdades tão facilmente reconhecidas

    que quase não precisam de esforço de justificação.

    A isto acresce a elevadíssima pressão regulatória para

    adopção de boas práticas, o que leva os administradores

    a assumirem a necessidade de evoluírem nos modelos de

    governação.

    Para nós, auditores, estes tempos são frutuosos e não

    devemos desperdiçar as oportunidades que se nos

    colocam.

    Por isso mesmo, e para que em casa de ferreiro não haja

    espeto de pau, devemos estar atentos e ser percursores

    na identificação dos novos riscos.

    Na realidade não serão propriamente novos, a sua

    magnitude é que pode ser substancialmente diferente,

    seja pela probabilidade, seja pelo impacto, ou

    simultaneamente por ambos.

    Nesta onda de adopção de boas práticas há muito

    recomendadas – Comissões de Auditoria independentes

    e ativas; reporte funcional do CAE à Comissão de

    Auditoria; relatórios de governo a acompanhar os

    relatórios e contas; divulgação detalhada dos sistemas de

    gestão de riscos; etc. – a pergunta que devemos fazer é:

    qual o grau de efetividade de tudo isto?

    Qualquer auditor sabe que a existência de um sistema de gestão de riscos é

    imprescindível para um adequado sistema de controlo interno e um bom

    governo das organizações.

  • 21

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    A Comissão de Auditoria participa ativamente na

    elaboração e nas revisões do Plano da Auditoria Interna

    ou limita-se a uma aprovação simbólica?

    E monitoriza a atividade da Auditoria Interna,

    apreciando as conclusões e as recomendações

    produzidas?

    E tem influência sobre os Administradores Executivos

    no que respeita ao grau de implementação das

    recomendações aceites? E reúne regularmente a sós com

    o CAE?

    O sistema de gestão de riscos consagra que os gestores

    de negócios/operações são responsáveis pela

    identificação e avaliação dos riscos da sua área? E

    consagra a existência de uma estrutura transversal

    coordenadora das políticas de risco? E existem comités

    regulares de monitorização de todos os riscos relevantes

    com a presença dos administradores executivos e dos

    gestores envolvidos, incluindo o CAE?

    E dessas reuniões de monitorização saem orientações

    para o negócio e/ou realinhamento de objectivos?

    E o que está escrito no Relatório de Governo é

    consistente com o dia-a-dia da organização?

    Se no passado lutávamos para que estas coisas

    estivessem documentadas e expressas, hoje a

    nossa preocupação não pode ser outra que não a

    sua incorporação na gestão corrente com

    resultados efetivos, sob pena de ser um

    monstruoso “faz de conta”.

    o

    O risco do “faz de conta”

  • 22

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Auditoria de sistemas

    Auditoria de sistemas: Amostragem estatística com

    ferramentas informáticas de análise dados em

    auditoria, Drumond de Freitas – Consultor EQUICONSULTE, SA

    A amostragem estatística é muito utilizada para

    exprimir conclusões acerca de uma população inteira

    através da análise de uma amostra estatística

    representativa dessa população.

    A amostragem é um processo muito mais eficiente do

    que uma verificação integral da população porque

    permite retirar conclusões válidas e aceites pelas

    normas de auditoria mediante a utilização de recursos

    significativamente inferiores.

    Sempre que os testes a realizar em auditoria

    necessitem de documentação ou evidência física, em

    vez de evidências baseadas em registos informáticos

    armazenados em bases de dados ou ficheiros

    guardados em computadores, deverão ser utilizadas

    técnicas apropriadas de amostragem estatística.

    A ferramenta de análise de dados especializada em

    auditoria Caseware-IDEA coloca à disposição dos

    auditores, inspetores e analistas vários métodos de

    amostragem, reconhecidos e aceites pelas nomas de

    auditoria, com a possibilidade de calcular os tamanhos

    da amostra segundo os parâmetros escolhidos e avaliar

    os resultados obtidos nos testes de amostragem.

    Os métodos mais sofisticados, como por exemplo, a

    Amostragem por Unidades Monetárias, são difíceis de

    implementar manualmente. As ferramentas

    informáticas são nestes casos auxiliares

    imprescindíveis para realizar estes testes de forma

    eficiente.

    A ferramenta Caseware-IDEA oferece vários métodos

    de amostragem estatística para testes substantivos e

    para testes de conformidade.

    Sistemática

    Aleatória

    Aleatória Estratificada

    Unidade Monetária (incluindo o planeamento, extração e avaliação)

    Clássica (incluindo a preparação e a avaliação) Atributos (planeamento e avaliação)

    Estes métodos, nesta ferramenta, são de utilização

    muito acessível por apresentarem um interface de

    comunicação com o utilizador muito simples e direto e

    orientado para não especialistas em estatística embora

    a aquisição prévia de muitos conceitos científicos

    básicos, associados às teorias empregues na

    formulação e definição dos parâmetros e

  • 23

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    na interpretação dos resultados obtidos em cada um

    dos métodos de amostragem em auditoria, tenha

    efetivamente de ser uma realidade e estar presente a

    cada momento.

    Amostragem Sistemática

    Este método obtém amostras representativas quando

    em presença de populações muito homogéneas. A

    ferramenta Caseware-IDEA recolhe neste método os

    seguintes elementos; o número de registos da amostra,

    o valor semente do algoritmo gerador dos números

    aleatórios (este é sugerido pela ferramenta e permite

    alteração pelo utilizador), o intervalo de registos que

    compõem a população, se a operação permite ou não a

    seleção de registos duplicados e finalmente o nome do

    ficheiro resultado que contém a amostra aleatória.

    Figura 1 - Ecrã para recolher os parâmetros da amostragem aleatória

    Neste método, tal como no anterior, o ficheiro resultado que

    contém a amostra também inscreve em cada registo o

    número do registo selecionado da população, no

    campo SAM_RECNO criado, pela ferramenta,

    especificamente para este efeito.

    Pode-se estender a dimensão de uma amostra

    executando novamente a funcionalidade (utilizando a

    opção Executar Novamente) indicando um novo valor

    da amostra. Para isso, inserir o mesmo valor semente

    do algoritmo gerador dos números aleatórios inicial

    que o IDEA utilizou na primeira amostra e, por esta

    razão, a ferramenta escolhe a mesma amostra

    estendendo o número de itens para o novo valor

    indicado.

    De referir que o IDEA guarda um diário (designado

    por history) de todas as operações realizadas durante

    qualquer sessão de trabalho realizada pelo utilizador.

    Deste modo fica registado no diário da sessão o

    conjunto de parâmetros utilizado em qualquer das

    aplicações dos métodos acima descritos,

    nomeadamente, tomando como exemplo a amostragem

    aleatória, o número de registos da amostra, o nome do

    ficheiro que contém a população em observação, o

    universo de análise, neste caso 900 registos e o valor

    semente do algoritmo gerador dos números aleatórios

    utilizado, para além de outras informações igualmente

    importantes para documentar e evidenciar o

    planeamento e execução da amostragem realizada pelo

    auditor. Encontra-se assinalado a marcador amarelo na

    figura 5 o conjunto de itens referidos neste caso

    particular.

    Figura 2 - History da aplicação do método

    amostragem aleatória

    Amostragem Aleatória Estratificada

    Uma amostra estatística tem como objectivo

    representar de forma o mais fiel possível uma

    população.

    Amostragem estatística com ferramentas informáticas de análise dados em auditoria,

    mk:@MSITStore:C:/Program%20Files/IDEA/idea.chm::/Edit_Menu/ReRun_Task.htm

  • 24

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Perante populações muito heterogéneas, isto é, muito

    variáveis, as amostras para serem representativas têm

    de ser de maior dimensão logo pouco eficientes. A

    estratificação permite dividir a população em dois ou

    mais estratos considerando, deste modo, cada estrato

    uma subpopulação mais homogénea. Pretende-se com

    a estratificação atuar no sentido da diminuição da

    dimensão da amostra. Ao retirar de cada estrato mais

    homogéneo uma amostra de dimensão inferior a

    dimensão final da amostra (soma das amostras obtidas

    em cada estrato) é normalmente inferior. Assim a

    eficiência do processo aumenta por esta via, embora

    como sabemos existem outros factores que influenciam

    a dimensão da amostra, como sejam, o tamanho da

    população, o nível de confiança e a precisão

    pretendida. A ferramenta IDEA disponibiliza este

    método associando a funcionalidade da estratificação

    de uma base de dados com a execução do método da

    amostragem aleatória.

    Esta tarefa exige que a base de dados ou ficheiro seja,

    em primeiro lugar, submetida a uma operação de

    estratificação que poderá ser do tipo numérica (utiliza

    um valor numérico como chave de distribuição dos

    registos da base de dados pelos estratos existentes) ou

    do tipo caracter (utiliza um campo do tipo texto, por

    exemplo o código postal, para distribuir os registos da

    base de dados pelos estratos existentes, retomando o

    exemplo acima, cada estrato poderá representar um

    código postal válido) ou finalmente uma estratificação

    do tipo data de calendário (utiliza um campo do tipo

    data para distribuir os registos da base de dados pelos

    estratos existentes, por exemplo semanas, meses,

    trimestres, etc.).

    Figura 3 – Assistente de estratificação do IDEA

    A estratificação numérica é parametrizada inserindo os

    campos a estratificar e os limites inferiores e

    superiores de cada estrato na janela da estratificação

    ver figura 7.

    Figura 4 – Janela para identificar os limites dos

    estratos

    Na fase seguinte indicar o tamanho da amostra em

    cada um dos estratos existentes como apresentado na

    figura 8 na coluna designada por Sample Size

    Amostragem estatística com ferramentas informáticas de análise dados em auditoria,

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Figura 5 – Ecrã de recolha da dimensão da amostra

    estratificada por estrato

    A dimensão total da amostra é a soma das parcelas do

    tamanho da amostra de cada estrato.

    O ficheiro resultado contendo a amostra selecionada

    apresenta o campo gerado de forma automática pela

    tarefa amostra aleatória estratificada designado por

    SAM_RECNO que identifica o número do registo no

    ficheiro que contém a população em observação, ver

    figura 9.

    Figura 6 – Ficheiro que contém a amostra

    De notar, neste exemplo apresentado, que em alguns

    dos estratos de valor mais elevado a dimensão da

    amostra é exatamente igual ao número total de registos

    existentes no estrato que representa, na realidade

    estarmos em presença de um recenseamento.

    A amostragem aleatória estratificada permite garantir

    adicionalmente que pelo menos uma transação de cada

    um dos estratos definidos é incluída na amostra.

    Como já referido este método de amostragem permite

    estratificar por valor, por caracter e por data. Esta

    facilidade garante uma enorme flexibilidade e grande

    potencial no planeamento da amostragem aleatória.

    Conclusão:

    Apresentámos nestas breves linhas os três primeiros métodos de amostragem disponibilizados na versão

    8 do IDEA. Os restantes três métodos, nomeadamente, o das unidades monetárias, a amostragem clássica

    e a amostragem para atributos serão apresentados nesta secção num próxima edição desta publicação.

    Amostragem estatística com ferramentas informáticas de análise dados em auditoria,

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Ferramentas de produtividade para suportar o

    trabalho de auditoria, João Revés - SSP Partner

    O ACL Acerno™

    torna o trabalho de auditoria em Excel

    40% mais eficiente

    A ACL é conhecida por ser uma das ferramentas de data

    analytics dedicadas à auditoria mais poderosas do

    mercado. É utilizada para processar e detectar

    transações/operações suspeitas (ou exceções) num

    universo de dados de grande dimensão. Uma vez

    encontradas essas transações suspeitas ou exceções,

    passa-se normalmente para uma fase de investigação que

    tenta validar quais são verdadeiras irregularidades e

    quais são falsos positivos. Na maioria dos casos, os

    auditores utilizam o Microsoft® Excel para o fazer. É

    uma ferramenta poderosa, flexível e com a qual quase

    todos os profissionais estão familiarizados hoje em dia.

    Concebido exclusivamente para ser utilizado em

    trabalhos de auditoria, o ACL Acerno é um add-in para

    o Microsoft® Excel concebido especialmente para

    trabalhar com dados analisados no ACL ™ Desktop ou

    ™ AuditExchange. O ACL Acerno torna o Excel mais

    eficiente para investigar os incidentes/irregularidades

    detectado+a) s tendo, ainda a possibilidade de integrar

    esses resultados com aplicações informáticas de working

    papers.

    Sendo o Excel uma ferramenta tão fácil e simples de

    usar, é também fácil de inadvertidamente alterar ou

    comprometer os dados de uma folha de cálculo. Entre

    30-90% de todas as folhas de cálculos sofrem de pelo

    menos erro humano relevante9. O ACL Acerno não só

    faz a ponte entre a tecnologia ACL e o Excel, como

    também endereça alguns dos principais

    riscos conhecidos quando se utilizam folhas de cálculo

    em aplicações financeiras críticas.

    "Sabemos que muitos clientes utilizam o Excel para

    realizar tarefas de investigação e apresentar as

    irregularidades detectadas. A ACL queria proporcionar

    aos auditores uma ferramenta destinada à auditoria e

    fácil de utilizar que permitisse mitigar os riscos

    conhecidos em utilizar o Excel", diz John Verver, Vice

    President of Services and Product Strategy da ACL.

    Como o ACL Acerno ajuda os auditores a fazer a s

    coisas melhor?

    Protege: Protege os seus dados para que não se perca

    trabalho analítico importante

    Analisa/valida: Gera estatísticas, categoriza dados e

    realiza cálculos

    9 Journal of Property Management

    O ACL Acerno não só faz a ponte entre a tecnologia ACL e o Excel, como também

    endereça alguns dos principais riscos conhecidos quando se utilizam folhas de cálculo

    em aplicações financeiras críticas.

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Documenta: acompanha o progresso da investigação

    e documenta evidências das irregularidades

    Regista: com um click, transfere as potenciais

    irregularidades detectadas para documentos de

    trabalho partilhando assim o trabalho realizado

    Para assistir à demonstração, visite

    www.acl.com/acerno

    On the job:

    Como o ACL Acerno suporta melhores investigações

    O tab ACL ™ no menu do Microsoft ® Excel é

    organizado em quatro grupos principais que coincidem

    com as etapas típicas que um auditor segue

    quando procede a uma investigação. Os primeiros três

    grupos suportam a investigação de resultados produzidos

    pelo ACL Desktop ou ACL AuditExchange. O

    quarto integra as conclusões em documentos de trabalho.

    1. Identificar os dados

    Os auditores que trabalham com o Microsoft Excel

    precisam de assegurar a integridade dos seus dados, o

    que inclui protegê-los de alterações/eliminações

    acidentais.

    A funcionalidade “Define Data” do ACL Acerno faz

    exatamente isso. E muito mais. Com poucos “cliques”, é

    possível formatar e proteger os dados de alterações

    indesejadas e produzir estatísticas úteis para analisar os

    dados. Isto permite ganhar tempo na investigação e

    aumentar a confiança na integridade dos dados. Outro

    benefício é o facto de aumentar a produtividade ao

    reduzir o número de tarefas repetitivas de formatação.

    Ferramentas de produtividade para suportar o trabalho de auditoria

    http://www.acl.com/acerno

  • 28

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    2. Compreender os dados

    Summarize, Age, Stratify

    Quando o auditor está pronto para investigar os

    resultados produzidos pela tecnologia ACL, o

    Acerno dispõe de comandos simples para Summarize,

    Age e Stratify. Isto facilita a forma de classificar e tentar

    identificar padrões e tendências nos dados. Numa tabela

    Acerno ou numa PivotTable ou PivotChart® do

    Microsoft Excel ®

    Por exemplo, se pretendermos ver os resultados num

    PivotChart - uma maneira de o fazer é a utilizar a

    funcionalidade Summarize para produzir o PivotChart a

    partir dos dados selecionados. As estatísticas são fáceis

    de ver no painel Acerno.

    “Computed Column”

    Como parte de sua investigação, o auditor também pode

    adicionar uma nova coluna com cálculos e

    fórmulas customizadas a cada situação, utilizando a

    funcionalidade “Computed Column” do Acerno. A

    produtividade melhora, pois reduz-se o tempo e o

    esforço necessários para inserir fórmulas customizadas.

    3. Pesquisar os dados

    Amostras (“sample”)

    Quando confrontados com um volume de dados muito

    grande e / ou falta de tempo ou recursos, a

    amostragem pode ser a primeira coisa que

    um auditor considera. Selecionar uma amostra aleatória

    de dados no Excel é pesado, complicado e muito

    demorado, a funcionalidade de amostragem (“sample”)

    do Acerno permite aos auditores definir

    rapidamente uma amostra aleatória com apenas um

    par de “cliques”. Também é possível repetir a amostra

    no futuro utilizando a mesma matriz de aleatoriedade.

    Status das linhas (“row status”)

    Como parte da sua investigação, os auditores

    precisam acompanhar o status de cada transação ou

    linha. A funcionalidade “raw status” do

    ACL Acerno permite aplicar status a

    linhas, individualmente ou a todas de uma vez,

    reduzindo desta forma o esforço em acompanhar o

    progresso de da investigação. Esta funcionalidade tem

    alguns status predefinidos e permite ao utilizador criar

    outros, adequados às suas necessidades.

    Ferramentas de produtividade para suportar o trabalho de auditoria

  • 29

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Notas (“Notes”)

    Durante a investigação, os auditores também precisam

    reunir e documentar evidências. A funcionalidade

    “Notes” do ACL Acerno permite aos

    auditores anexar notas/comentários a linhas inteiras,

    uma de cada vez ou todas ao mesmo tempo, reduzindo

    assim o esforço de documentar evidências das potenciais

    irregularidades. No Excel, a funcionalidade de “inserir

    comentários” está ligada a células individualmente - se

    pretendermos inserir um comentário a 50 linhas, é

    necessário inserir e escrever (ou copiar) 50 vezes.

    4. Integrar resultados

    Integração com documentos de trabalho (“Work Paper Insert”)

    Por vezes, quando a investigação for concluída, os auditores necessitam da capacidade de copiar e integrar as suas

    conclusões numa aplicação de documentos de trabalho. A funcionalidade “Work Paper Insert” do Acerno permite ao

    auditor fazer isso em num “clique” através da criação de uma inserção dos resultados da investigação com o respectivo

    histórico associado.

    Ferramentas de produtividade para suportar o trabalho de auditoria

  • 30

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    http://www.isaca-lisbon.org/

    COBIT5 – Comming Soon -“Optimize Your

    Information Systems: Balance Value, Risk and Resources”,

    Bruno Horta Soares, Presidente fundador do ISACA Lisbon,

    Portugal Chapter

    COBIT5 – Comming Soon

    “Optimize Your Information Systems: Balance Value,

    Risk and Resources”

    Depois de ter sido anunciado o lançamento oficial do

    COBIT5 para 2012, é enorme a expectativa dos

    profissionais de Sistemas de Informação relativamente

    ao que aí vem. Este é provavelmente o maior desafio do

    ISACA nos últimos anos, e sem dúvida um salto

    qualitativo para a forma como é encarada a governação e

    gestão dos sistemas de informação. Este artigo pretende

    dar a conhecer os princípios gerais do COBIT5 e iniciar

    a comunicação e divulgação desta framework aos

    profissionais de SI e organizações em Portugal.

    Introdução

    A informação é um recurso fundamental para todas

    as organizações, e durante todo o seu ciclo de vida

    existe uma enorme dependência da tecnologia. A

    informação e tecnologias relacionadas estão presentes de

    forma transversal nas organizações potenciando uma

    governação e gestão holística, alinhando as

    responsabilidades das áreas de negócio e das TI.

    Hoje, mais do que nunca, as empresas estão sob

    constante pressão para:

    Aumentar os benefícios através da utilização

    inovadora e eficaz das TI, i.e.:

    o Gerar valor através de novos

    investimentos com o apoio de

    investimento em TI;

    o Atingir a excelência operacional através

    da aplicação de tecnologia.

    Manter os riscos das TI a um nível aceitável;

    Controlar os custos dos serviços de TI e das

    tecnologias;

    Assegurar a colaboração entre o negócios e as

    TI, levando a satisfação dos utilizadores em

    relação aos serviços de TI; e

    Assegurar a conformidade as leis, regulamentos

    e políticas.

    http://www.isaca-lisbon.org/

  • 31

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    O COBIT5 é uma framework que apoia as empresas a

    atingir os seus objectivos de governação e gestão das TI

    ou seja, a gerar valor a partir das TI mantendo o

    balanceamento entre os benefícios, optimização dos

    níveis de risco e utilização de recursos. O COBIT5 é

    destinado a todo o tipo de organizações, incluindo as

    organizações sem fins lucrativos e do sector público.

    Ao longo das últimas décadas o termo governance tem

    vindo a assumir um papel cada vez mais central no

    pensamento empresarial, sendo cada vez mais aceite a

    necessidade de uma melhor e mais rigorosa governação.

    O COBIT5 dá resposta a estas necessidades, sendo uma

    framework de referência para a governação e gestão das

    TI.

    Princípios COBIT5

    O COBIT5 é baseado em cinco princípios simples, que são explicados abaixo:

    Figura 1 – Princípios COBIT5

    Aligned and integrated Framework - COBIT5 é um

    recurso que:

    Assegura o alinhamento com outras normas e

    frameworks, possibilitando às organizações a

    utilização do COBIT5 como a ferramenta global de

    governação e gestão;

    Reúne as atuais orientações do ISACA em matéria de

    governação e gestão das TI, integrando numa única

    framework as diferentes normas e práticas;

    Garante uma arquitetura simples para estruturação de

    materiais de orientação e produtos de suporte.

    Algumas das frameworks e ferramentas que serão

    potenciados com o COBIT5:

    Board Briefing on IT Governance, 2nd Edition

    Business Model for Information Security™(BMIS™)

    IT Assurance Framework™ (ITAF™)

    Risk IT Framework

    Taking Governance Forward

    Val IT™ Framework

    COBIT5 – Comming Soon

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    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Stakeholder value driven – As empresas existem para

    gerar valor para os seus stakeholders, pelo que o

    principal objectivo da governação deve ser a geração de

    valor. A geração de valor é composta por três principais

    componentes que devem ser consistentes entre si:

    Realização de Benefícios;

    Optimização de Risco; e

    Optimização de recursos.

    Enterprise and context focused – O governação precisa

    de se concentrar nos objectivos da organização. Cada

    organização tem objectivos diferentes, e por essa razão,

    uma framework de governação deve assegurar

    flexibilidade para permitir a adaptação ao contexto

    particular de uma organização.

    Enabler based – Os “facilitadores” suportam a

    implementação de um sistema de governação e gestão

    das TI. Os “facilitadores” podem ser definidos como

    qualquer instrumento que possa ajudar a alcançar os

    objectivos de governação das organizações. O COBIT5

    define sete categorias de “facilitadores”:

    1. Processos;

    2. Princípios e políticas;

    3. Estruturas organizacionais;

    4. Funções e competências;

    5. Cultura, ética e comportamentos;

    6. Capacidades de serviço; e

    7. Informação.

    Governance and management structured - O quadro

    COBIT5 faz uma distinção clara entre governação e

    gestão. Estas duas disciplinas incluem diferentes tipos de

    atividades, exigem diferentes estruturas organizacionais

    e servem a propósitos diferentes. Uma vez que esta

    distinção é fundamental para o COBIT5, o COBIT5

    define governação e gestão como descrito abaixo:

    Governance - Um sistema de governação refere-

    se a todos os meios e mecanismos que permitem

    que múltiplos stakeholders tenham uma forma

    organizada de avaliar condições e opções;

    definir uma direção através da prioritização e

    tomada de decisão; e monitorizar o desempenho,

    a conformidade e o progresso em relação aos

    planos, para satisfazer os objectivos específicos

    da organização.

    Meios e mecanismos incluem frameworks,

    princípios, políticas, estruturas e ferramentas de

    suporte à decisão, funções e responsabilidades,

    processos e práticas.

    Na maioria das empresas, esta é a

    responsabilidade do conselho de administração

    sob a liderança do Presidente.

    Gestão - Gestão implica a utilização criteriosa

    de meios (recursos, pessoas, processos, práticas,

    etc.) para alcançar um determinado fim. É um

    meio ou instrumento pelo qual o órgão de

    administração atinge um resultado ou objectivo.

    A gestão é responsável pela execução da direção

    definida pelo órgão de governação.

    Gerir é planear, desenvolver, organizar e

    controlar as atividades operacionais para alinhar

    com a direção definida pelo órgão de

    governação, e reportar sobre essas atividades.

    Para mais informações consulte

    www.isaca.org/cobit5overview

    COBIT5 – Comming Soon

    http://www.isaca.org/cobit5overview

  • 33

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    http://www.apee.pt/

    Responsabilidade social em contexto de

    crise, Mário Parra da Silva, Empresário e Presidente da

    Associação Portuguesa de Ética Empresarial

    Temos sido muitas vezes inquiridos sobre a

    possibilidade de manutenção da responsabilidade

    social no atual contexto de crise.

    A questão centra-se na possibilidade e conveniência

    das organizações desviarem preciosos recursos no

    centro das suas operações para atividades que não

    geram imediato valor acrescentado.

    A RS seria assim uma atividade para tempos de

    abundância em que o apoio a causas sociais e

    ambientais seria possível porque os lucros chegariam

    para esse “luxo”.

    Procurarei brevemente discutir esta ideia.

    ISO 26000 recomenda (3.2):

    Em períodos de crise económica e financeira, as

    organizações deverão procurar manter as suas

    atividades relacionadas com a responsabilidade

    social. Essas crises têm um impacte significativo nos

    grupos mais vulneráveis e isto sugere uma maior

    necessidade de acrescida responsabilidade social.

    Também apresentam oportunidades particulares

    para integrar considerações sociais, económicas e

    ambientais mais eficazmente na revisão de políticas e

    nas decisões e atividades organizacionais. O

    Governo terá um papel fundamental na

    concretização destas oportunidades.

    A RS deve ser entendida como uma estratégia de “oportunidade”, de

    desenvolvimento e de crescimento, de “gestão dos riscos, redução dos

    custos, acesso ao capital, relações com os clientes, gestão dos recursos

    humanos e capacidade de inovação.

  • 34

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    As ideias força deste texto são:

    O maior impacte sobre os mais desfavorecidos e

    a necessidade de o mitigar

    Mais oportunidade para inovação e melhoria de

    gestão

    O papel fundamental do Governo

    Antes de mais vejamos se a RS gera custo ou

    contribui para valor acrescentado.

    A RS deve ser entendida como uma estratégia de

    “oportunidade”, de desenvolvimento e de

    crescimento, de “gestão dos riscos, redução dos

    custos, acesso ao capital, relações com os clientes,

    gestão dos recursos humanos e capacidade de

    inovação” nas palavras da Estratégia Europeia de RS.

    Ou a Comissão Europeia está enganada (e a

    comunidade internacional) ou estes fatores são

    significativos para acrescentar valor.

    Pode é dar-se o caso dos gestores não saberem como

    a implementar ou de preferirem a estratégia de

    “ameaça”, muitas vezes determinada por uma crítica

    fraqueza financeira, ela mesma resultante de erros

    acumulados e arrogância cega. Nesta via predomina o

    egoísmo da salvação própria a qualquer custo e o

    desprezo pela ética. Neste cenário alternativo a

    organização concentra-se na redução de custos com

    pessoal, na diminuição das margens dos seus

    fornecedores e no aumento das margens de venda a

    clientes, em alargar os prazos de pagamento, reduzir

    o investimento em inovação, entre outros.

    Sendo em si mesmos aceitáveis, estas medidas por si

    só nada resolvem já que não estimulam o ecossistema

    organizacional e não geram alternativas de futuro.

    Pelo contrário só a criação de mais valor para as

    partes interessadas, clientes, trabalhadores,

    fornecedores, comunidade, poderá aumentar a

    competitividade da organização e garantir a sua

    sobrevivência.

    Só o reforço do “contrato social” gera uma nova

    convergência de esforços, entusiasmos, recursos,

    conhecimentos e objetivos, capaz de mobilizar a

    energia criadora da organização e ultrapassar o

    estado depressivo que a crise gera e de que se auto

    alimenta.

    Por isso a RS não é um custo inútil na crise mas sim

    uma forma de descobrir e construir o que está para

    além dela. Como mostram as anteriores crises do

    século XX a resposta estava muitas vezes em pessoas

    que se encontravam na margem do sistema vigente e

    que possuíam as ideias inovadoras e ajustadas à nova

    realidade que vieram a converter-se em produtos de

    grande sucesso.

    Ninguém sabe como fazer nascer a ideia que dá

    origem ao negócio do futuro mas olhando para traz

    verifica-se que surgiram sempre da observação e da

    resposta à necessidade, por meios mais simples, mais

    baratos e mais eficientes. As respostas estão na

    sociedade, nas pessoas, na vida real, não estão nos

    acomodados e satisfeitos mas sim nos que precisam e

    não têm, nos que não tendo quase nada precisam de

    quase tudo.

    A organização que opte por estratégias de

    “oportunidade” será uma organização aberta e

    solidária e saberá que a sua atenção às causas

    ambientais e sociais lhe permitirá encontrar os

    caminhos da inovação.

    Como recomenda a ISO 26000 é da maior

    importância o papel do Governo.

    É aí que se justifica e compreende a nova Estratégia

    de Responsabilidade Social da Comissão Europeia de

    que falámos em artigo anterior. Será um “luxo” de

    uma Europa empobrecida?

    Ou será uma estratégia de unificação de esforços,

    democrática e coordenada, em que as Partes

    Interessadas decidem cooperar para a construção de

    uma nova economia, virada para as pessoas, no

    respeito pelo ambiente e pelas gerações futuras,

    suportada por uma competitividade de conhecimento,

    produtos e serviços inovadores que respondam à

    Responsabilidade social em contexto de crise

  • 35

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    necessidade permanente do ser humano: mais

    qualidade de vida?

    Não podemos sequer admitir a outra hipótese, a da

    reação cega e desordenada à ameaça, numa fuga para

    o fundo, no salve-se quem puder da competitividade

    pelo preço, da abdicação daquilo que nos fez

    grandes: direitos e dignidade do ser humano,

    educação, solidariedade, cultura e beleza, mas

    também ordem, trabalho árduo, modéstia, poupança,

    descoberta e invenção.

    Que poderão, no concreto das políticas e práticas,

    fazer as organizações neste contexto de crise para

    corporizar uma estratégia de RS?

    Vejamos algumas ideias:

    Motivar os seus colaboradores com base no

    conceito de sistema produtivo, por oposição ao

    conceito de “patrão-empregado”. Implica

    modificações na forma de direção, no envolvimento

    nas decisões e na transparência interna, entre outras.

    Abrir a organização ao exterior para melhor

    compreender a realidade e melhor receber os seus

    estímulos, através do envolvimento com as partes

    interessadas, ou seja uma nova e diferente maneira

    de

    o auscultar os clientes ( a totalidade da experiência e

    não apenas o que achamos importante),

    o avaliar os trabalhadores (acabar com os “mistérios e

    falar diretamente, com franqueza e profundidade

    com aqueles que se interessam pela organização) ,

    o falar com os fornecedores (não para lhes arrancar

    mais descontos mas para avaliar o curso do negócio

    e construir melhores parcerias)

    o ouvir a sociedade e perceber os rumos do futuro.

    Trocar experiências com outros sectores, como a

    economia social e solidária, que sabe conviver com

    mercados de baixo rendimento, escassez de meios e

    problemas difíceis.

    Considerar a redução de impactes ambientais como

    uma obrigação, anterior à remuneração do

    acionista, que certamente deseja proteger o seu

    investimento e não o sujeitar ao risco associado.

    Defender a dignidade humana, eliminado tudo o

    que lhe for contrário na gestão das pessoas, nas

    práticas comerciais e de marketing, nos riscos

    industriais, nas condições de trabalho, na cessação

    do contrato de trabalho.

    Eliminar o desperdício e o excesso, o inútil e o que

    nada contribui, começando por cima, pelo maior,

    pelo mais grave e de maior repercussão e não pela

    pequena despesa e pelo colaborador mais humilde.

    Adotar a verdade e a frontalidade, a relação honesta

    e exigente, a avaliação rigorosa e a recompensa que

    for devida, a qualidade e a busca da perfeição.

    Estamos certos de que todas estas medidas, que

    citamos apenas a título de exemplo porque cada

    organização decidirá as que melhor lhe convier, são

    fatores de competitividade e não um “luxo”. Assim

    os dirigentes as saibam colocar em prática.

    o

    Nota: A Associação Portuguesa de Ética Empresarial foi

    fundada em Novembro de 2002 por um grupo de Profissionais

    e Empresários. O objectivo inicial da Associação foi o

    desenvolvimento da ética nas organizações, com plena

    integração nas suas práticas de gestão e, consequentemente,

    no seu meio envolvente. A responsabilidade social foi desde

    logo encarada como uma consequência da aplicação prática

    dos valores éticos da organização.

    Fonte: http://www.apee.pt/ 2012/02/20

    Responsabilidade social em contexto de crise

    http://www.apee.pt/

  • 36

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Entrevista Entrevista: Luísa Anacoreta, Faculdade de Economia e Gestão - Universidade

    Católica Portuguesa

    Oferta formativa:

    Qual a importância da Formação em auditoria, controlo interno e gestão do risco?

    No atual contexto económico, a oferta formativa

    específica em áreas como auditoria, controlo interno e

    gestão do risco é ainda mais premente.

    Com efeito, os ambientes de crise obrigam as empresas a

    revisitar e refletir sobre as políticas e práticas

    implementadas de gestão risco e procedimentos

    identificados de controlo interno como forma minimizar

    efeitos negativos potenciados pelo contexto e maximizar

    a qualidade da informação financeira que produzem quer

    para o exterior, quer para efeitos de tomada de decisão

    interna.

    Formar quadros onde estas problemáticas sobressaem

    é, evidentemente, relevante e necessário. Os próprios

    organismos de regulamentação e normalização estão

    atentos ao problema, o que transparece cada vez nas

    suas preocupações e diretrizes.

    Que tipo de cursos a Faculdade de Economia e

    Gestão oferece?

    A Faculdade de Economia e Gestão da Católica Porto

    oferece, ao nível da licenciatura, o curso de Gestão e o

    curso de Economia. A disciplina de auditoria é oferecida

    enquanto disciplina optativa em ambos os cursos. Nesta

    disciplina é dado especial enfoque à auditoria externa,

    mas, claro, a abordagem ao impacte dos sistemas de

    controlo interno implementados nas empresas e das

    práticas existentes de auditoria interna é efetuada com

    relevância.

    Ao nível dos mestrados, a Faculdade de Economia e

    Gestão oferece vários programas, um dos quais o

    Mestrado em Auditoria e Fiscalidade onde as temáticas

    são desenvolvidas e apreendidas em muito maior detalhe.

    Além de cadeiras específicas de auditoria, a meio do

    mestrado os alunos passam obrigatoriamente cinco a seis

    meses numa empresa de auditoria onde vão ganhando

    sensibilidade e conhecimento aplicado na área.

    Durante esses meses, os alunos são integrados em

    equipas de trabalho efetivo das empresas de auditoria e

    beneficiam da mesma experiência empresarial que os

    restantes colaboradores das empresas às quais são afetos

    .

  • 37

    Auditoria Interna - Janeiro/Março 2012 - Nº 46

    Além disso, as próprias empresas de auditoria ministram

    formação específica onde a problemática do controlo

    interno e da auditoria com base no risco é desenvolvida

    em contextos teóricos e reais.

    Também a nível dos mestrados tem-se notado alguma

    procura pelos alunos para realizar teses de final de curso

    na área da auditoria interna, quer em teses no tipo

    tradicional de “dissertação”, quer em relatórios de

    estágio, estágios estes decorrentes de parcerias celebradas

    entre a Faculdade de Economia e Gestão e uma variedade

    imensa de empresas. Não só se denota um aumento no

    número de alunos interessados em explorar temas

    relacionados com auditoria interna, co