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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
JAIM JOSÉ DA SILVA JUNIOR
TRANSFORMAÇÕES DA AGRICULTURA E PESQUISA AGRÍCOLA NO BRASIL
Campinas
2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
JAIM JOSÉ DA SILVA JUNIOR
TRANSFORMAÇÕES DA AGRICULTURA E PESQUISA AGRÍCOLA NO BRASIL
Prof. Dr. José Maria Ferreira Jardim da Silveira – orientador
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas, área de concentração: Teoria Econômica.
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO JAIM JOSÉ DA SILVA JUNIOR E ORIENTADO PELO PROF. DR. JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA.
Campinas
Maio de 2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
JAIM JOSÉ DA SILVA JUNIOR
TRANSFORMAÇÕES DA AGRICULTURA E PESQUISA AGRÍCOLA NO BRASIL
Defendida em 08/05/2017
COMISSÃO JULGADORA
Para meus pais, Jaim e Ronilda.
Agradecimento
Inúmeras pessoas contribuíram para a realização desta tese. Agradeço primeiramente
ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de
estudos que recebi no doutorado e ao Instituto de Economia da UNICAMP pelo suporte
irretocável ao trabalho que desempenhei. Gostaria de agradecer ao meu orientador professor
José Maria Ferreira Jardim da Silveira pelas oportunidades profissionais e pelos ensinamentos
sobre a vida acadêmica. Agradeço aos membros da banca de defesa que fizeram comentários
valiosos sobre o meu trabalho, professoras Andréa Leda, Sheila Leite, Affonso Dalla Libera e
Marcelo Magalhães. Sou grato ao professor Antônio Márcio Buainain pelas oportunidades
profissionais e também por ter me indicado o caminho seguro para a tese durante a
qualificação. Aprendi e evoluí muito ao longo dos anos que passei no Núcleo de Economia
Agrícola e Meio Ambiente do Instituto de Economia da UNICAMP (NEA), por isso agradeço
aos professores do NEA Alexandre Gori Maia, Ademar Romeiro, Rodrigo Lanna, Marcelo
Cunha, Bastiaan Reynold, e Walter Belik, grandes referências em suas áreas de pesquisa.
Registro ainda meu agradecimento aos profissionais e pesquisadores do NEA, sem o suporte e
o apoio de vocês este trabalho dificilmente teria sido concluído. Marcelo Messias, Elyson de
Souza, Abel Luís, Andreia Marques, Thales Augusto e Jamile Colleti.
Os dados primários que constituíram a base do trabalho da tese contaram com a
colaboração decisiva do Professor Carl Pray, da Rutgers University de Nova Jersey. Professor
Carl Pray cumpriu em muitas vezes o papel de co-orientador, lendo e fazendo observações de
versões preliminares da tese. Agradeço aos profissionais da empresa Céleres Consulting,
Anderson Galvão, Vinícius Paiva, Cecília Fialho e Erickson de Oliveira, pelas parcerias e
oportunidades profissionais.
Registro aqui os anos incríveis que passei, e as enriquecedoras discussões sobre
economia e diversos outros assuntos que tive, com meus amigos Bruno Miyamoto, Lucas
Rodrigo, Danilo Beli, Vinícius Libaroni, Marco Antônio e Armando Fornazier. Agradeço
muito a recepção e o carinho que recebi do casal Sheila e Roney Fraga em Cuiabá. Sem o
apoio de todos vocês o processo de construção da tese teria sido muito mais difícil. Bárbara,
Bázinha, meu amor, você é tudo para mim.
RESUMO
A pesquisa agrícola global tem passado por transformações estruturais nas últimas
décadas. De modo geral, a maior participação do setor privado, a redução do setor
público e a proliferação de novos modelos de financiamento e gestão dos
investimentos foram as principais transformações percebidas, especialmente nos
países desenvolvidos. Países em desenvolvimento seguiram parcialmente as
mudanças, não tendo sido acometidos pela redução dos gastos públicos em
pesquisa agrícola. Em todos os países o modelo tradicional de organização da
pesquisa, caracterizado pela posição central dos investimentos públicos e
orientado para atender aos interesses de agricultores via ganhos de produção e
produtividade em cultivos alimentares, foi parcialmente substituído por novos
arranjos, marcados pela maior participação de empresas de insumos agrícolas e
grupos de interesse não representantes de agricultores. Na tese, analisamos os
elementos que influenciaram a formação dos novos arranjos, denominados como
modelos de economia política da organização da pesquisa agrícola. Nestes
modelos, os investimentos em pesquisa agrícola são financiados e geridos por
organizações de produtores ou consumidores, e a atuação do setor público ocorre
por diferentes canais, seja via a regulamentação de instrumentos econômicos de
incentivo ou a execução de pesquisas contratadas pelas organizações. O objetivo
geral deste trabalho consiste em investigar as transformações recentes nas
atividades de pesquisa agrícola no Brasil. Espera-se com isso, consolidar uma
análise específica do país, centrada na hipótese de que no período recente houve
no Brasil o crescimento dos investimentos públicos e privados em pesquisa
agrícola. Nesse contexto, analisamos a estrutura e a dinâmica de novos arranjos de
organização da pesquisa agrícola, como os fundos de commodities financiados
com taxas para pesquisa e as redes de pesquisas. Argumenta-se que os novos
modelos têm produzido impactos positivos no sentido de elevar a eficiência dos
investimentos e a equidade distributiva dos custos e benefícios da pesquisa. Os
resultados do estudo sugerem que os custos das pesquisas financiadas por fundos
de commodities incidem sobre produtores e consumidores de uma indústria
específica. Verificou-se que as redes de pesquisa reduziram os custos de transação
associados ao desenvolvimento de biotecnologias florestais no país, e ainda
produziu efeitos positivos na formação de competências empresariais e na
qualificação da mão-de-obra.
ABSTRACT
Global agricultural research has undergone structural changes in recent decades.
Changes such as the greater participation of the private sector, the reduction of the
public sector and the proliferation of new models of organization have been
analyzed in an extensive and growing literature. In the thesis we argue that the
strengthening of intellectual property rights and the reorientation of the state's role
in the economy were factors that influenced the pace and direction of the
transition. As the main impacts of the transformations in agricultural research, we
highlight the displacement of the global locus of production and agricultural
productivity growth, from developed countries to developing countries, and the
greater participation of farmers in the financing and management of agricultural
research. The general objective of this work is to investigate recent
transformations in agricultural research activities at Brazil. Based on a
bibliographical review of studies that analyzed the theme in several countries, we
propose a framework to describe the Brazilian case. It is hoped, therefore, to
consolidate a country-specific analysis, based on the hypothesis that, in the recent
period, there was in Brazil the growth of public and private investments in
agricultural research. In this context, we analyze the structure and dynamics of
innovative models of agricultural research organization, such as commodity funds
(levy funds) and research networks, which have produced positive impacts in
order to increase the efficiency of investments and the distributional equity of
costs and benefits of research. The results of the study suggest that the costs of
research funded by commodity funds target producers and consumers in a
particular industry. It was found that cooperation in research networks reduced the
transaction costs associated with the development of forest biotechnologies in the
country, and also produced positive effects on skills training and qualification of
the workforce.
Lista de Figuras
Figura 1 - Direções do progresso técnico agrícola ................................................................... 29
Figura 2 - Transformações no suporte aos agricultores da OCDE. .......................................... 35
Figura 3 – Referencial teórico de indicadores de atividades científicas e tecnológicas ........... 53
Figura 4 - Investimento público em pesquisa agrícola: países selecionados ............................ 69
Figura 5 - Composição e evolução dos fundos setoriais no Brasil ........................................... 84
Figura 6 - Alocação dos recursos no CT-Agronegócio ............................................................ 86
Figura 7 - Sistema Brasileiro de pesquisa e inovação agrícola ................................................ 89
Figura 8 - Evolução no orçamento e participação da Embrapa no mercado de sementes e
biotecnologias ........................................................................................................................... 91
Figura 9 - Organização do mercado nacional de sementes .................................................... 104
Figura 10 - Uso de sementes certificadas no Brasil................................................................ 105
Figura 11 - Mercado brasileiro de sementes de soja: 2010 – 2014 ........................................ 107
Figura 12 - Ambiente institucional da biossegurança no Brasil ............................................. 112
Figura 13 - Adoção de biotecnologias agrícolas no Brasil ..................................................... 121
Figura 14 - Mercado brasileiro e inovação em agroquímicos ................................................ 124
Figura 15 - Crédito, vendas e relação de trocas no mercado brasileiro de máquinas e
implementos. .......................................................................................................................... 128
Figura 16 - Estrutura de custos em mercados com bens de clube .......................................... 135
Figura 17 - Perda de eficiência em estruturas monopolísticas ............................................... 136
Figura 18: Quadro de Referência – Novos Arranjos de Pesquisa Agrícola ........................... 139
Figura 19 - Organização IMAmt ............................................................................................ 154
Figura 20 - Registro de cultivares de Eucalyptus no Brasil por tipo de Organização ............ 159
Figura 21 - Modelos de organização da pesquisa florestal no Brasil ..................................... 161
Lista de Quadros
Quadro 1 - Trajetórias de transformação estrutural .................................................................. 22
Quadro 2 - Elementos do desenvolvimento agrícola ................................................................ 26
Quadro 3 - Fusões e aquisições no mercado brasileiro de sementes ...................................... 106
Quadro 4 - Classificação de tipo de bens ............................................................................... 135
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Evolução do investimento público em pesquisa agrícola ........................................ 64
Tabela 2 - Crescimento da produtividade total dos fatores na produção agrícola .................... 74
Tabela 3 - Uso de insumos na agricultura brasileira ................................................................ 79
Tabela 4 - Evolução da produção e produtividade total dos fatores ......................................... 81
Tabela 5 - Expansão na área cultivada de culturas selecionadas no Brasil .............................. 81
Tabela 6 - Evolução recente dos investimentos em pesquisa agrícola no Brasil ..................... 94
Tabela 7 - Amostra da pesquisa e intensidade setorial de P&D ............................................... 96
Tabela 8 - Mercado brasileiro de sementes ............................................................................ 103
Tabela 9 - Mercado brasileiro de sementes de milho ............................................................. 108
Tabela 10 - Mercado brasileiro de sementes de algodão ........................................................ 109
Tabela 11 - Mercado brasileiro de cultivares de cana-de-açúcar ........................................... 110
Tabela 12 - Liberações planejadas de OGMs no meio ambiente (LPMAs) ........................... 117
Tabela 13 - Alocação dos recursos do PAISS por tipo de projeto ......................................... 118
Tabela 14 - Mercado brasileiro de agentes de controle biológico .......................................... 123
Tabela 15 - Registro de novos produtos no mercado brasileiro de agroquímicos e defensivos
biológicos ............................................................................................................................... 125
Tabela 16 - Levy funds nos EUA ........................................................................................... 142
Tabela 17 - Alocação de recursos nas RDCs australianas ...................................................... 145
Tabela 18- Fundos de commodities na África ........................................................................ 147
Tabela 19 - Alocação de recursos do FACUAL ..................................................................... 151
Tabela 20 - Redes de pesquisa florestal no Brasil .................................................................. 164
Sumário
1. Introdução ............................................................................................................................. 14
1.1. Objetivos e Justificativa .................................................................................. 18
2. Desenvolvimento Econômico e Agricultura ............................................................. 19
2.1. Transformação Estrutural e Desenvolvimento Agrícola ................................... 19
2.2. Desenvolvimento Agrícola e Ambiente Institucional ........................................ 31
2.3. Desenvolvimento Agrícola no Brasil – Revisão Bibliográfica .......................... 42
3. Pesquisa Agrícola Pós-Revolução Verde ................................................................. 48
3.1. Avaliação de Investimentos em Pesquisa Agrícola ........................................... 49
3.2. Transformação Estrutural na Pesquisa Agrícola ................................................ 56
3.3. Evolução Recente dos Gastos em Pesquisa Agrícola ........................................ 61
4. Pesquisa Agrícola no Brasil ...................................................................................... 75
4.1. Modernização da Agricultura Brasileira ............................................................ 77
4.2. Gasto Público em Pesquisa Agrícola no Brasil ................................................. 82
4.3. Gasto Privado em Pesquisa Agrícola: Metodologia e Análise de Resultados ... 93
4.3.1 Ambiente Institucional e Arranjos Institucionais da Pesquisa no Setor de
Sementes ........................................................................................................................... 97
4.3.2 Gastos Privados em Pesquisa de Sementes ................................................. 99
4.3.3 Mercado de Sementes ................................................................................ 102
4.3.4 Ambiente e Arranjos Institucionais em Biossegurança ............................. 110
4.3.5 Gastos Privados em Pesquisa de Biotecnologias Agrícolas ...................... 115
4.3.6 Mercados de Biotecnologias Agrícolas ..................................................... 120
4.3.7 Gastos em Pesquisa de Agroquímicos ....................................................... 123
4.3.8 Gastos em Pesquisa de Máquinas e Implementos Agrícolas ..................... 126
5. Novos Arranjos para Alocação de Recursos em Pesquisa Agrícola ....................... 130
5.1. Transformações na Organização da Pesquisa Agrícola ................................... 134
5.2. Novos Arranjos de Organização da Pesquisa Agrícola – Fundos de
Commodities, Redes e Consórcios de Pesquisa. ................................................................ 139
5.3. Novos Arranjos de Organização da Pesquisa Agrícola no Brasil .................... 149
5.3.1. PROALMAT E IMATmt ......................................................................... 149
5.3.2. Redes e Consórcios de Pesquisa em Biotecnologias Florestais ................ 155
Considerações Finais .................................................................................................. 165
Referências Bibliográficas .......................................................................................... 170
14
1. Introdução
As atividades de pesquisa agrícola passaram por transformações estruturais nas
últimas décadas. O acúmulo de evidências sobre os limites naturais da intensificação de
cultivos alimentares e a reorientação do papel do Estado na economia foram fatores
determinantes das mudanças observadas. Como resultado, emergiram do sistema de
pesquisa agrícola novos modelos de organização (financiamento e execução), marcados
pela maior importância das empresas privadas e de grupos de consumidores. Nesta nova
dinâmica da pesquisa agrícola, os investimentos do setor público perderam relevância
nos mercados de insumos agrícolas, especialmente naqueles com volume de vendas
expressivo. Entretanto, as organizações públicas de pesquisa permanecem como
principais, ou mesmo únicos, agentes que financiam e executam pesquisas em muitas
áreas do conhecimento e tecnologias agrícolas.
Nos países desenvolvidos, o crescimento dos investimentos privados
contrabalançou a queda do investimento público. Nestes países, as organizações de
pesquisa agrícola se adaptaram à nova realidade, tendo que alocar uma menor
quantidade de recursos entre diversos grupos de interesse. Em quadro deste tipo, e
levando-se em consideração os retornos econômicos elevados dos investimentos em
pesquisa agrícola, coube ao setor público desenvolver programas de incentivo à maior
participação do setor privado na pesquisa agrícola. Já nos países em desenvolvimento, o
crescimento tanto do investimento público como do investimento privado acelerou os
ganhos de produtividade. Estes países também lançaram instrumentos econômicos de
incentivos ao investimento privado em pesquisa agrícola. Com efeito, a experiência
internacional recente é discutida em extensa e crescente literatura dedicada ao tema dos
investimentos em pesquisa agrícola (PARDEY, ALSTON E PIGOOT, 2006; FUGLIE
E TOOLE, 2014; PARDEY, ALSTON E CHAN-KANG, 2013; PRAY E PARDEY,
2015; FUGLIE ET AL., 2011).
Conforme será tratado neste trabalho, no período 1995-2012, os investimentos
privados em pesquisa agrícola aumentaram aproximadamente 700% no Brasil. Os
investimentos privados foram em grande maioria financiados com recursos próprios das
firmas, sendo que incentivos econômicos do setor público também financiaram parcela
significativa das atividades realizadas no setor privado. Isenções fiscais, crédito
subsidiado e a capitalização de empresas foram os instrumentos mais utilizados pelo
15
governo nacional para alocar recursos públicos no financiamento de pesquisas
executadas pelo setor privado.
Na tese adotamos o pressuposto de que há uma tendência constante ao
subinvestimento em pesquisa agrícola, resultado de falhas de mercado intrínsecas as
atividades de pesquisa agrícola. Elevados research lag e spillover gaps, a
heterogeneidade dos agricultores e dos sistemas produtivos, a dimensão espacial das
tecnologias, a dependência de fatores biológicos e do clima e a presença de fatores não
controláveis são elementos que implicam uma menor disposição dos agentes privados a
investirem em pesquisa agrícola. Em função disso o setor público cumpre papel
estratégico alocando recursos diretamente em inovações de retorno social elevado, ou
atuando de forma indireta através da regulamentação de instituições de incentivo à
pesquisa no setor privado.
Após esta introdução, o capítulo 2 apresenta os principais elementos da
transformação no paradigma de desenvolvimento agrícola. Em suma, a transição do
modelo de insumos modernos para a agricultura multifuncional. A multifuncionalidade
da agricultura exprime uma nova inserção do setor na sociedade, não mais restrita à
produção de alimentos. Preocupações com relação à qualidade dos alimentos, à
obesidade, à segurança alimentar, o bem-estar animal, o uso racional dos recursos
naturais, à preservação da ruralidade e da herança cultural são exemplos de novas
diretrizes atribuídas ao desenvolvimento agrícola. Nesse movimento, grupos de
interesse não representantes de agricultores passaram a atuar com maior voz no sistema
de pesquisa agrícola, resultando na ampliação dos objetivos perseguidos pelos
investimentos públicos e privados. Se no período da Revolução Verde a pesquisa tinha
como norte os ganhos de produtividade em cultivos alimentares, o novo paradigma de
desenvolvimento é marcado por um complexo sistema de alocação de recursos.
No capítulo 3 da tese analisamos as instituições criadas nas últimas décadas em
diversos países para incentivar os investimentos privados em pesquisa agrícola. À luz
das experiências internacionais tratadas no capítulo 3, o capítulo 4 da tese analisa as
transformações recentes na organização dos investimentos em pesquisa agrícola no
Brasil. O capítulo apresenta dados primários dos investimentos privados em pesquisa
agrícola, coletados através de entrevistas realizadas com representantes de empresas de
insumos agrícolas com atuação no país. O conjunto de informações obtido nas
entrevistas constitui material inédito sobre os investimentos privados em pesquisa
16
agrícola e, quando comparado ao estado da arte nas pesquisas relacionadas ao tema,
permite concluir que houve um crescimento significativo dos investimentos privados no
país. Além da análise quantitativa dos dados, o capítulo 4 faz uma análise qualitativa da
distribuição dos recursos públicos e privados em pesquisa agrícola no Brasil.
No capítulo 5 da tese abordamos novos arranjos de financiamento, gestão e
execução da pesquisa agrícola. Conforme será tratado, os novos arranjos são
compreendidos como modelos teóricos de economia política que definem a alocação
dos recursos em pesquisa agrícola e têm como atores centrais grupos de interesse que
demandam pesquisas específicas. Argumentamos que a formação dos novos arranjos foi
potencializada principalmente como resposta a imperfeições na distribuição dos
recursos para pesquisa agrícola, causadas pelo fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual sobre os resultados da pesquisa. O fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual alterou a característica dos bens produtos da pesquisa agrícola,
que passaram de bens públicos para bens de clube ou toll goods. Bens públicos clássicos
têm natureza não rival e não excludente. No entanto, o registro de cultivares, marcas,
topologias de softwares, bases e bancos de dados, tecnologias e processos de pesquisa
torna possível à exclusão de potenciais demandantes desses resultados dos
investimentos em P&D. Assim, produtos da pesquisa agrícola dotados de alguma
modalidade de proteção da propriedade intelectual tornam-se bens de clube ou toll
goods, que são não rivais e excludentes.
No velho paradigma do desenvolvimento agrícola calcado no modelo de
insumos modernos, os produtos da pesquisa agrícola eram tidos majoritariamente como
bens públicos que transbordavam livremente dos países desenvolvidos para todo o
mundo. Nesse modelo as avaliações dos benefícios econômicos da pesquisa agrícola
assumiam que os gastos com pesquisa impactavam do mesmo modo e intensidade todos
os agentes em uma determinada indústria. Do ponto de vista da tomada de decisão no
setor público, o fortalecimento de direitos de propriedade intelectual buscou remover
parte das distorções que geravam o problema do subinvestimento privado na pesquisa
agrícola. Entretanto, a mudança do ambiente institucional deu origem a novas distorções
nos mercados, com potencial para reduzir os retornos econômicos e sociais da pesquisa
agrícola.
No ambiente institucional pós Revolução Verde, as possibilidades de
apropriação privada de produtos da pesquisa pública fomentaram a discussão sobre a
17
formação de novos arranjos de organização da pesquisa agrícola. Na tese analisamos
com maior ênfase a instituição de taxas sobre o valor da produção de commodities,
cujos recursos são alocados em fundos geridos por grupos de agricultores e aplicados
majoritariamente em atividades de pesquisa. Conforme será tratado no capítulo 5, o
modelo de organização da pesquisa agrícola financiado via fundos de commodities
geridos por grupos de agricultores possui vantagens com relação tanto ao mercado
privado como aos investimentos diretos em organizações públicas de pesquisa agrícola.
De modo conciso, os fundos de commodities têm maior rapidez na identificação
de problemas relevantes para a pesquisa, seus custos incidem sobre produtores e
consumidores de determinada indústria e estão atrelados ao valor da produção, os
preços cobrados pelas tecnologias tendem a ser menores do que os cobrados pela
indústria de insumos e os recursos dos fundos são alocados majoritariamente nas
regiões de cultivo. Artigos dedicados ao tema analisaram a estrutura e a dinâmica das
atividades de pesquisa financiadas e geridas por fundos de commodities agrícolas na
Austrália, EUA, Uruguai, Canadá, Holanda, África Subsaarina, dentre outros
(ALSTON, GRAY E BOLEK. 2012; GRAY E ALSTON, 2014; BERVEJILLO,
ALSTON E TUMBER, 2012; ASSIS ET AL. 2007; BYERLEE, 2014). Vale ressaltar
que os fundos de commodities podem constituir alternativas viáveis de organização da
pesquisa agrícola no Brasil, principalmente em período de restrição fiscal.
Na tese, analisamos o caso do Programa de Incentivo ao Algodão de Mato
Grosso (PROALMAT), estabelecido na Lei Estadual nº 6.883/1997. O PROALMAT
concede incentivos fiscais aos agricultores interessados, por meio da restituição de até
75% do ICMS cobrado sobre o valor do comércio interestadual de pluma de algodão.
Nota-se que o recolhimento do ICMS sobre o algodão é custeado pelos agricultores e
não implica em elevações no preço do produto. Portanto, os custos e os benefícios de
pesquisas financiadas pelo recolhimento do ICMS recaem majoritariamente sobre os
agricultores.
Empresas dos setores de insumos agrícolas também têm criado novos arranjos
institucionais para restringir os impactos negativos causados pelo fortalecimento dos
direitos de propriedade intelectual sobre os produtos da pesquisa. De modo geral, ações
deste tipo têm como objetivo reduzir custos de transação no acesso ao conhecimento, e
reduzir a possibilidade de duplicação de gastos em pesquisa. Nesse contexto proliferam
os casos em que empresas engajam em consórcios de pesquisa, ou arranjos de
18
licenciamento cruzado de tecnologias, ou formam redes de pesquisa em torno de uma
determinada área problema, ou investem em parcerias com o setor público. O sexto
capítulo apresenta as considerações finais e as conclusões da tese.
1.1. Objetivos e Justificativa
O objetivo geral deste trabalho consiste em investigar as transformações recentes
nas atividades de pesquisa agrícola no Brasil. Com base em revisão bibliográfica de
estudos que analisaram o tema em diversos países, propomos um quadro de referência
para o caso brasileiro. Espera-se com isso, consolidar uma análise específica das
transformações recentes no país, que tem como ponto central a seguinte tese: No
período recente, houve no Brasil o crescimento dos investimentos públicos e
privados em pesquisa agrícola e a formação de novos arranjos de organização da
pesquisa agrícola.
A tese proposta tem como objetivo destacar a especificidade da dinâmica recente
dos investimentos em pesquisa agrícola no Brasil, frente às experiências internacionais.
Ainda, contribui com as discussões sobre o tema no país, através da análise de novos
arranjos de organização da pesquisa agrícola. Para isso, a confecção da tese envolveu a
elaboração de base de dados inédita, coletada junto às empresas líderes dos setores de
insumos agrícolas no país. Os objetivos específicos da tese são os seguintes:
a) Apresentar uma interpretação da importância da agricultura no
desenvolvimento econômico, e do conceito de dualismo econômico;
b) Analisar os principais elementos do novo paradigma de desenvolvimento
agrícola e seus impactos sobre a organização da pesquisa agrícola;
c) Avaliar quantitativa e qualitativamente a evolução recente, no período
1995 -2012, dos investimentos em pesquisa agrícola no Brasil;
d) Descrever e analisar novos modelos de financiamento e execução da
pesquisa agrícola, com foco no caso brasileiro.
19
Espera-se que os resultados deste estudo forneçam elementos para a formulação
de políticas de pesquisa agrícola, em momento de ajuste fiscal e restrição de gastos
públicos. Com isso, pretende-se contribuir para o fortalecimento da agricultura nacional.
No plano teórico, a tese busca contribuir com as interpretações da dinâmica da pesquisa
agrícola brasileira, em especial os trabalhos de Salles-Filho e Bin in Buainain, Alves,
Silveira e Navarro (2014); Avila, Rodrigues e Vedovoto (2008); e Fuglie et al. (2011).
2. Desenvolvimento Econômico e Agricultura
O presente capítulo visa resgatar as interpretações clássicas sobre o papel da
agricultura no desenvolvimento econômico. Em especial, o texto sugere uma
interpretação não usual do conceito de dualismo econômico de Lewis, e de que forma o
autor enxergou o papel da agricultura no desenvolvimento econômico. Ao contrário da
interpretação usual na literatura brasileira sobre desenvolvimento econômico, o texto a
seguir defende que para Lewis o desenvolvimento agrícola cumpre papel central no
processo de desenvolvimento econômico, e que as ideias do autor são complementares
ao modelo de insumos modernos de Schultz. Além disso, argumenta-se no texto que o
dualismo econômico de Lewis é definido com base em características comportamentais
dos trabalhadores e não guarda nenhuma relação com setores específicos da economia
ou tipo de atividade produtiva.
Em um segundo momento o capítulo apresenta os principais elementos do novo
paradigma de desenvolvimento agrícola. Serão discutidos os fatores condicionantes da
mudança no paradigma e de que forma a mudança impactou as políticas de incentivo ao
desenvolvimento agrícola. A terceira parte do capítulo faz uma revisão bibliográfica da
discussão sobre desenvolvimento agrícola no Brasil, de onde se conclui que os
pesquisadores sobre o tema no país desenvolveram seus trabalhos pari passu o
progresso da literatura internacional.
2.1. Transformação Estrutural e Desenvolvimento Agrícola
A partir da análise de séries históricas de indicadores econômicos, Kuznets
(1966) constatou que países desenvolvidos passaram por processos de transformação
estrutural, que resultaram em quatro fatos estilizados: 1) queda da participação da
produção agrícola no produto interno bruto e no emprego, 2) crescimento de atividades
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econômicas urbanas em indústrias e serviços modernos, 3) migração de trabalhadores
no sentido campo-cidade, 4) transição demográfica nas taxas de nascimento e
mortalidade que implica em crescimento populacional até um ponto de equilíbrio.
Os fatos estilizados por Kuznets reforçaram a hipótese de que os esforços
políticos direcionados para a modernização da agricultura tenderão a obter resultados
decrescentes, uma vez que o peso do setor declinará naturalmente no curso da
transformação estrutural. Além disso, os fatos estilizados sustentaram estratégias de
desenvolvimento baseadas na intensificação do processo de industrialização, que
resultaram na queda relativa da população rural e da participação do emprego agrícola
na economia. O ambiente institucional no período pós-segunda guerra mundial,
sobretudo em países subdesenvolvidos, permaneceu imerso em estratégias de
desenvolvimento apoiadas em incentivos à industrialização via políticas de substituição
de importações. Nota-se ainda no mesmo período o crescimento da produção e da
produtividade de culturas agrícolas, principalmente alimentares, em diversas regiões.
Os ganhos de produtividade na agricultura liberam recursos, capital e insumos,
para serem alocados em outras áreas da economia, e assim aceleram o processo de
transformação estrutural. Além da liberação de excedentes, a dinâmica da produção
agrícola contribui diretamente para o desenvolvimento econômico, principalmente via
ampliação de mercados para produtos industrializados e a maior oferta de empregos não
agrícola nas áreas rurais. Nesse processo, o desenvolvimento agrícola impulsiona a
criação de postos de trabalho em setores industriais e de serviços, que reduzem a
disponibilidade ilimitada de mão-de-obra, forçando assim a elevação dos salários em
toda a economia. Posto de forma mais direta, o desenvolvimento econômico é alcançado
via elevações da produtividade do trabalho em todos os setores da economia.
A principal característica do desenvolvimento econômico trata-se do aumento
persistente da produtividade do trabalho. Em uma interpretação reducionista, a
produtividade do trabalho mede o valor em termos monetários do produto por
trabalhador empregado. Por um ponto de vista sistêmico, a elevação da produtividade
do trabalho está baseada em processos como o maior acúmulo de capital por trabalhador
e do estoque de conhecimento, a difusão do progresso técnico, a transformação
qualitativa da mão-de-obra e a elevação dos salários na economia. Inúmeros avanços
sociais, culturais e ambientais constituem também causas e consequências da
transformação estrutural das nações.
21
Arthur Lewis pode ser apontado como um dos fundadores da moderna teoria do
desenvolvimento econômico. A abordagem de Lewis (1954) reproduz uma economia
dotada de dois setores – o setor capitalista moderno e o setor tradicional. No modelo de
Lewis, o dualismo é identificado pela coexistência de dois setores produtivos que
diferem em termos organizacionais e comportamentais. O setor capitalista faz uso de
insumos reprodutíveis, da contratação de trabalhadores e do comércio da produção,
enquanto o setor tradicional é praticamente autossuficiente em capital e trabalho, e
consome toda a sua produção. O tipo de mercadoria produzida em cada setor não
constitui o elemento essencial do dualismo econômico.
No modelo de Lewis a oferta ilimitada de mão-de-obra é um fator limitante do
desenvolvimento econômico, e pode ser alimentada tanto pelo crescimento
populacional, quanto pelo nível de subempregados na economia. Fields (2004) afirma
que a oferta ilimitada de mão de obra ocorre quando determinado grupo de
trabalhadores é incapaz de obter ganhos reais de salários, ou ocupar empregos com
produtividade superior àquela do seu setor de origem.
As principais preocupações da discussão sobre o desenvolvimento econômico no
período pós-segunda guerra mundial estavam relacionadas ao tamanho apropriado do
setor industrial e aos meios de financiamento da modernização econômica (LEWIS,
1994). Com base nessa afirmação, constata-se que a visão passiva do setor agrícola no
processo de desenvolvimento econômico foi difundida por interpretações do modelo de
dualismo econômico de Lewis. Nestas interpretações, agricultores são tidos como
agentes desprovidos de racionalidade econômica e, por isso, incapazes de responderem
aos incentivos de políticas de modernização.
Segundo Rosenstein-Rodan (1946) parcela substantiva da população rural de
países subdesenvolvidos poderia ser deslocada da sua região de origem sem que
nenhum impacto negativo incorresse sobre a economia. Isto indica, segundo o autor,
que a produtividade marginal do trabalho de parcela da população rural nos países
subdesenvolvidos é próxima de zero. Desse modo, a superação do problema do
subdesenvolvimento consistiria na transferência do excedente de trabalhadores das áreas
rurais para os setores modernos da economia. Especialmente na América Latina, visões
pessimistas sobre o papel do setor agrícola no desenvolvimento econômico foram
potencializadas pela ampla adesão à teoria da deterioração dos termos de troca entre
produtos primários e industrializados.
22
Em conjunto, tais interpretações sustentaram a formulação de estratégias de
desenvolvimento com viés urbano e industrializante, e em sistemas fiscais e comerciais
que sobretaxaram a produção agrícola por um longo período (DETHIER e
EFFENBERGER, 2012). Krueger, Schif e Valdés (1991) indicam que governos de
países subdesenvolvidos, ancorados em extensões do modelo de dualismo econômico,
passaram a tributar mais fortemente o setor agrícola em comparação aos demais setores
da economia. Alves e Pastore (1978) apresentam as distorções causadas por políticas de
substituição de importações que penalizaram o setor agrícola brasileiro. Vale expor o
paradoxo intrínseco a essas políticas que, em busca do desenvolvimento econômico,
penalizam justamente as atividades onde se encontram os trabalhadores mais
vulneráveis. Na primeira década do século XXI, aproximadamente 75% da população
pobre no mundo reside em áreas rurais, e têm na agricultura sua principal fonte de renda
(ALSTON, 2014; IFAD, 2016).
Ao longo das décadas, o processo de transformação estrutural de diversos países
revelou a existência de trajetórias alternativas ao “Lewis Path”. Dorin, Hourcade e
Benoit-Cattin (2013) propuseram uma tipologia de possíveis trajetórias do processo de
transformação estrutural, apresentada de forma esquemática no quadro 01. A análise
baseia-se em indicadores que capturam a evolução do valor adicionado, da
produtividade do trabalho e do total de trabalhadores nos setores agrícolas e não
agrícolas da economia. Dependendo da variação relativa do diferencial intersetorial de
renda e da trajetória do emprego agrícola na economia, três trajetórias alternativas
àquela proposta por Lewis podem ser identificadas e caracterizadas.
Quadro 1 - Trajetórias de transformação estrutural
Diferencial de Renda Emprego na agricultura
Expansão
Redução Redução
Farmer Developing
Lewis Path
Expansão Lewis Trap
Farmer Excluding Fontes: Adaptado de Dorin, Hourcade e Benoit -Cattin (2013)
Países que passaram por grande redução da população empregada na agricultura
não necessariamente se tornaram países desenvolvidos, caso tenham ingressado em
trajetória do tipo “Farmer Excluding”. Este é o caso da transformação estrutural
observada na Índia, descrita por Binswanger (2012), e em países do continente africano
- Kenya, Angola, Uganda, Senegal (IFAD, 2016). Países onde há a convergência das
23
rendas do emprego agrícola e do não agrícola e o aumento no número de agricultores
correspondem ao caminho “Farmer Developing”. Conforme Dorin, Hourcade e Benoit-
Cattin (2013) as interpretações desse caminho não necessariamente são otimistas, pois
se a demanda agrícola vier majoritariamente do mercado externo e não do doméstico,
este tipo de transformação estrutural pode ser consistente com a crescente pobreza
urbana.
Nas palavras de Timmer (2015), duas transformações adicionais ocorrem
simultaneamente à transformação estrutural da economia: a transformação agrícola, que
tem lugar dentro do setor e altera a sua relação com o resto da economia, e a
transformação nos padrões alimentares, que segue leis robustas pari passu o
enriquecimento, a transição etária e a urbanização da sociedade. Nesse movimento, a
Lei de Engel descreve o processo de diminuição dos gastos com alimentos no
orçamento familiar, e a Lei de Bennett captura o aumento da diversidade de fontes
calóricas e de proteínas que acontece com regularidade no curso do desenvolvimento
econômico das nações. Bennett (1941) postula que há uma regularidade empírica
segundo a qual, com o aumento da renda, famílias tendem a substituir grãos de maior
volume (por exemplo, cevada e sorgo) por grãos mais finos (por exemplo, arroz ou
trigo). Ainda segundo o autor, em níveis mais elevados de desenvolvimento, o núcleo
familiar tende a ter uma dieta com maior conteúdo de proteínas e menor conteúdo de
carboidratos.
Timmer (1988) divide a transformação estrutural agrícola em quatro estágios
sequenciais: 1) estágio inicial, identificado pelo texto de Mosher (1966), onde ocorre
uma elevação da produtividade do trabalho na agricultura; 2) segunda fase, identificada
pelo texto de Johnston e Mellor (1961), na qual os ganhos de produtividade no setor
agrícola começam a gerar excedentes que exercem papel crucial na mobilização do
crescimento de demais setores da economia; 3) terceira fase, identificada pelo texto de
Schultz (1968), quando ocorre uma maior integração da agricultura aos demais setores
da economia, via o desenvolvimento de mercados e da infraestrutura; 4) quarto estágio,
identificado pelo texto de Johnson (1973), onde a integração é completa e o papel do
setor agrícola pouco se distingue dos demais setores da economia.
No primeiro estágio, há a passagem da agricultura de subsistência à moderna
pela adoção de práticas e tecnologias mais produtivas. Geralmente resultado da
apropriação de spillovers do estoque de conhecimento produzido pela pesquisa agrícola
24
nos países desenvolvidos. O segundo estágio tem início com a intensificação da
produção e das relações comerciais. Neste ponto de desenvolvimento, o setor passa a
exercer papel relevante na acumulação de capital, via a produção abundante de
alimentos baratos que possibilita o maior consumo de bens industrializados e serviços
modernos. O segundo estágio da transformação agrícola corresponde ainda ao ponto de
inflexão de Lewis (turning point), no qual ocorre uma intensificação do processo de
migração de trabalhadores no sentido rural-urbano, e a redução absoluta da população
residente em áreas rurais. O terceiro estágio proposto por Timmer (1988) traduz a
formação dos complexos agroindustriais e a maior interação entre áreas rurais e
urbanas, principalmente via o crescimento de atividades não agrícolas nas áreas rurais.
No quarto estágio ocorre o aprofundamento da integração, com a difusão de postos de
trabalho em áreas rurais antes comuns apenas às cidades, principalmente relacionados à
prestação de serviços. Desse modo, pode-se concluir que as condições em que o
trabalho agrícola excedente é alocado nos demais setores e o padrão de
desenvolvimento agrícola influenciam a trajetória da transformação estrutural.
Barret, Carter e Timmer (2010) apontam que o maior interesse em estudos
relacionados ao tema do desenvolvimento agrícola teve início na década de 1950, com
os movimentos de independência de países asiáticos e africanos. Constatou-se que
esforços para pular os estágios iniciais da transformação estrutural e saltar diretamente
para uma economia industrial moderna geralmente não lograram o sucesso esperado.
Passou-se, então, a compreensão do processo de crescimento agrícola per se, e de que
forma o potencial econômico do setor pode e deve ser explorado. Fortaleceu-se a
hipótese de que a inversão de recursos na elevação da produção e da produtividade
agrícola deve ser realizada antes de dar início ao processo de transformação estrutural.
25
“The structural transformation by which societies shift from
agriculture-dominated to industrialized economies has been the main
pathway out of poverty for all societies, and it depends on rising
productivity in both sectors. The final outcome of the structural
transformation, already visible on the horizon in rich countries, is an
economy and a society in which agriculture as an economic activity
has no distinguishing characteristics from other sectors, at least in
terms of the productivity of labor and capital. The gap in labor
productivity between agricultural and nonagricultural workers
approaches zero when incomes are high enough and the two sectors
have been integrated by well-functioning labor and capital markets. In
the long run, the way to raise rural productivity is to raise urban
productivity (or, as Mao Zedong crudely but correctly put it, the only
way out for agriculture is industry). Unless the nonagricultural
economy is growing, there is little long run hope for agriculture. At
the same time, the historical record is very clear on the key role that
agriculture itself plays in stimulating the nonagricultural economy
(Timmer, 2009).”
De acordo com Roumasset (2006), nas décadas de 1950 e 1960, quando novas
Universidades e faculdades agrícolas em diversos países subdesenvolvidos enfrentavam
desafios para se estabelecerem, notou-se a escassez de materiais de leitura nas áreas de
desenvolvimento agrícola e rural. Com vistas a suprir essa deficiência, milhares de
exemplares do primeiro livro publicado pelo Conselho de Desenvolvimento Agrícola
(ADC)1- Getting Agriculture Moving: Essentials for Agricultural Development and
Modernization – foram distribuídos gratuitamente em diversos países asiáticos. White
(2013) afirma que o livro exerceu grande influência nas atividades voltadas para o
desenvolvimento agrícola, uma vez que na época era praticamente o único amplamente
disponível sobre o tema. Em uma abordagem didática e acessível para não economistas,
o livro em questão apresenta um esquema composto de cinco elementos essenciais e
cinco elementos aceleradores do desenvolvimento agrícola. Sendo que a distinção entre
elementos essenciais e aceleradores traduz a prioridade dos primeiros sobre os últimos.
O quadro 02 apresenta os elementos destacados por Mosher (1966). Ressalta-se que o
quadro de referência proposto em meados da década de 1960 persiste como válido para
nortear estratégias de desenvolvimento agrícola no século XXI.
1 O Conselho para o Desenvolvimento Agrícola foi criado em 1953 por John D. Rockefeller como
organização de caridade, científica e educacional, com o objetivo de estimular e apoiar atividades
econômicas, e afins, importantes para o bem-estar humano. A maior parte de seus recursos foi alocada em
atividades de treinamento e pesquisa em ciências sociais, com o objetivo central de fortalecer a
capacidade profissional para lidar com os problemas econômicos e humanos da agricultura e do
desenvolvimento rural na Ásia. As atividades do Conselho tiveram uma enorme influência sobre o que foi
lido por estudantes, professores e pesquisadores de institutos de pesquisa no campo do desenvolvimento
agrícola e rural.
26
Quadro 2 - Elementos do desenvolvimento agrícola
Elementos Essenciais Elementos Aceleradores
1 - Mercados 1 – Educação
2 - Disponibilidade de insumos 2 – Crédito
3 - Tecnologia 3 - Ações Coletivas
4 - Incentivos aos produtores 4 - Infraestrutura Rural
5 - Infraestrutura de Transporte 5 - Planejamento Governamental Fontes: Adaptado de Mosher (1966)
O desenvolvimento agrícola, conforme formulado em Mosher (1966)
corresponde à transição da agricultura de subsistência para a agricultura comercial. O
autor dedica maior parte de seu trabalho à análise dos mecanismos através dos quais os
elementos essenciais e aceleradores atuam no sentido de elevar a produção e a
produtividade agrícola. O texto destaca a importância de fatores sistêmicos como
instituições e capital humano. Não obstante, pouco é dedicado à análise das interações
entre o setor agrícola e o resto da economia em momento posterior ao abandono do
equilíbrio produção/consumo característico da agricultura de subsistência.
Johnston e Mellor (1961) fornecem a explicação clássica sobre o papel da
agricultura no processo de desenvolvimento econômico. Partindo do pressuposto de que
a agricultura se encontra em crescimento, os autores propõem uma interpretação
alternativa àquela que enxergava o setor agrícola como o repositório de recursos
excedentes, prontos para serem transferidos para demais setores da economia. A
interpretação de Johnston e Mellor (1961) está cristalizada em cinco funções do setor
agrícola no processo de desenvolvimento econômico: 1) aumentar a oferta interna de
alimentos; 2) liberar mão-de-obra para o setor industrial; 3) aumentar o mercado para
produtos do setor industrial; 4) aumentar a oferta de poupança doméstica; 5) obter
divisas internacionais.
Dado que a agricultura cumpre função relevante no desenvolvimento
econômico, e o padrão de desenvolvimento do setor agrícola influencia fortemente o
resultado da transformação estrutural, cabe analisar quais são os fatores condicionantes
do desenvolvimento agrícola. Esta constatação produz um desdobramento lógico, ao
menos para os formuladores de políticas e tomadores de decisão nos países
subdesenvolvidos. Se o fortalecimento da agricultura é relevante para o processo de
desenvolvimento econômico, quais são os fatores determinantes do desenvolvimento
agrícola?
27
Em perspectiva histórica, a primeira resposta consensual para a questão do
desenvolvimento agrícola corresponde ao modelo teórico proposto por Schultz (1964).
O autor parte da contestação à crença de que agricultores são agentes irracionais do
ponto de vista econômico, incapazes de responderem aos incentivos contidos nas
políticas de desenvolvimento. Com base em evidências empíricas sobre a dinâmica da
produção agrícola em países subdesenvolvidos, Schultz (1964) argumenta que a
despeito dos baixos níveis de produção per capita, a agricultura tradicional responde a
incentivos econômicos pautados pela eficiência alocativa. O ponto do debate pode ser
resumido na hipótese de que agricultores em países subdesenvolvidos são pobres,
porém eficientes2. Nesse contexto, a pobreza observada em áreas rurais é justificada
pela falta de oportunidades e incentivos adequados às diversas regiões de cultivo.
“If W. Arthur Lewis built the intellectual framework supporting the
“why” of agriculture’s role in economic development, T.W. Schultz
built the framework for understanding the “how” of stimulating
agriculture to play that role (Barret, Carter e Timmer, 2010).”
De acordo com Schultz (1964), o desenvolvimento agrícola é determinado
principalmente por três fatores: 1) a capacidade de organizações públicas e privadas de
pesquisas desenvolverem novos conhecimentos técnicos; 2) a capacidade de empresas
dos setores de insumos agrícolas, desenvolverem, produzirem e comercializarem novas
tecnologias agrícolas; 3) a capacidade de agricultores adquirirem o novo conhecimento
técnico/tecnologias e utilizarem com eficiência os novos insumos. Conforme destacam
Eicher e Staatz (1984), o modelo de insumos modernos foi formulado
concomitantemente à Revolução Verde3, e cumpriu papel importante como referencial
teórico de suporte à difusão de inovações biológicas, químicas, e mecânicas no setor
agrícola de países subdesenvolvidos.
2 A hipótese de que agricultores nos países subdesenvolvidos são pobres e eficientes deu origem a um
intenso debate baseado em testes empíricos que buscavam comprovar ou rejeitar tal hipótese. Ali e
Byerlee (1991), Ball e Pounder (1996), Veiga (1991), dentre outros, fazem uma revisão bibliográfica do
debate. 3 O prêmio Nobel da paz de 1970, oferecido ao agrônomo Norman Borlaug por seu papel de liderança na
revolução verde, indica o nível de aceitação deste movimento pela sociedade. Embora o fortalecimento
econômico das nações menos desenvolvidas e a expansão do uso de insumos industrializados
contribuíram com a difusão de novas tecnologias na agricultura, talvez a garantia da segurança alimentar
tenha sido o argumento consensual e principal motor do progresso técnico. Nas palavras de Kloppenburg
(1988): “It was this volatile mix of business, philanthropy, science and politics that marked the Green
Revolution”
28
O modelo de Schultz assume que os objetivos e os produtos resultantes dos
investimentos em pesquisa agrícola são compartilhados entre todos os agentes dos
sistemas de pesquisa agrícola (nacionais e internacionais). Uma vez alcançado o ponto
de inexistência de assimetrias de informação entre os agentes pesquisadores, inovadores
e agricultores, as decisões relacionadas à alocação dos gastos em pesquisa atuam
conforme previsto na teoria da inovação induzida de Hayami e Ruttan (1971).
O modelo de inovação induzida na agricultura adota a hipótese de que a
mudança técnica, logo o desenvolvimento no setor agrícola, é guiada com eficiência
através de sinais emitidos pelo mercado, via os preços relativos dos insumos de
produção. Desde que estes sinais reflitam eficazmente as mudanças na disponibilidade
de produtos e fatores, e que exista uma interação efetiva entre agricultores, instituições
de pesquisa e empresas de insumos agrícolas, e que os produtos da pesquisa agrícola
tenham baixa apropriabilidade. Os gastos em pesquisa são decididos de modo
centralizado por gestores públicos e empresas de insumos agrícolas. Embora guiados
pela interação entre agricultores, pesquisadores, empresas e formuladores de políticas, a
racionalidade que justifica os investimentos em pesquisa se resume à eficiência
econômica do tipo cost-cutting.
Afirma-se que nenhuma medida do ritmo e da extensão do desenvolvimento
agrícola captura a complexidade e a heterogeneidade desse processo. A representação
mais geral, proposta originalmente por Hayami e Ruttan (1971), classifica as trajetórias
de desenvolvimento agrícola dos diferentes países no tempo, com base na evolução das
medidas de produtividade da terra, produtividade do trabalho e da disponibilidade de
terra agricultável por trabalhador. Em uma metodologia alternativa, Dorin, Hourcade e
Benoit-Cattin (2013) representam graficamente a produtividade e a disponibilidade de
terras por agricultor, com o intuito de mostrar as duas direções ortogonais ao longo das
quais a produtividade do trabalho pode ser elevada na agricultura: intensificação (maior
produção por unidade de terra) e motorização (maior área cultivada por trabalhador).
Tal esquema é representado na figura 01.
29
Figura 1 - Direções do progresso técnico agrícola
Fontes: Adaptado de Dorin, Hourcade e Benoit -Cattin (2013)
Para além dos ganhos de produtividade e substituição de fatores escassos, a
adoção/difusão de insumos modernos tem como resultado a maior integração da
agricultura aos demais setores da economia. Neste ponto, o setor agrícola fortalece seu
papel na economia, com o crescimento da divisão do trabalho em atividades
relacionadas aos agronegócios. Os incrementos na produção induzidos pela adoção de
“high pay-off inputs” geram excedentes que devem ser comercializados em mercados
de produtos agrícolas. A interação entre agricultores, organizações de pesquisa e
empresas de insumos agrícolas é incentivada por políticas públicas de pesquisa,
extensão e crédito agrícola. Com isso, o desenvolvimento agrícola procede ao
desenvolvimento de arranjos institucionais e mercados mais eficientes, que atuam no
sentido de estreitar o diferencial de produtividade entre as áreas rurais e urbanas.
O modelo de insumos modernos de Schultz estabeleceu um consenso acerca do
papel crítico de novas tecnologias e instituições no incremento da produtividade
agrícola. A relevância do modelo é reforçada pelos resultados iniciais positivos da
Revolução Verde. Pingali (2012) afirma que a difusão de insumos agrícolas modernos
nos países subdesenvolvidos contribuiu para a redução da pobreza generalizada,
fortaleceu a segurança alimentar de milhares de pessoas e evitou a conversão de
milhares de hectares de terra para o cultivo agrícola.
De Janvry (2010) aponta que os casos de sucesso da Revolução Verde
concentraram a atenção dos círculos acadêmicos sobre os potenciais méritos da difusão
30
dos insumos modernos. Entretanto, afastaram a percepção e a avaliação da eficiência
com que o paradigma tradicional do desenvolvimento agrícola foi posto em prática. Em
particular, o autor ressalta a subestimação do papel do setor privado no
desenvolvimento agrícola, a superestimação da capacidade do setor público para
entregar produtos e serviços de qualidade aos agricultores e a supressão das
organizações de produtores como instituições relevantes neste processo.
Conforme Hall et al. (2000), o padrão tradicional de desenvolvimento agrícola
reflete a aprovação tácita do modelo linear de inovação, no qual os investimentos em
conhecimento básico produzem pesquisas que ganham valor através de novos
investimentos incrementais. Neste modelo o conhecimento é transferido gratuitamente
para uma organização dedicada a passá-lo aos usuários de tecnologia (agricultores, neste
caso) que finalmente aplicam os novos conhecimentos. De acordo com van der Ploeg et
al. (2003), o paradigma tradicional da modernização agrícola tem como foco o papel do
fazendeiro individual e seu aprendizado na produção de commodities específicas. Fato
que restringe o alcance e os objetivos das políticas de desenvolvimento.
Por outro lado, o desenvolvimento agrícola conforme abordado em estudos mais
recentes compreende elementos que não correspondem exclusivamente àqueles
consagrados pelo modelo de insumos modernos. No novo quadro de referência,
fenômenos como a globalização, a mudança de hábitos alimentares, a integração dos
produtos agrícolas às cadeias industriais, a escassez de recursos naturais, os impactos da
mudança climática, dentre outros, têm impulsionado as principais transformações nos
padrões de consumo, comércio e produção dos bens agrícolas. Isto implica que o
objetivo imbuído no paradigma clássico do desenvolvimento econômico das décadas de
1950 e 1960 – agricultura para a industrialização - tornou-se demasiado estreito para
corresponder às expectativas em relação aos papéis que a agricultura pode desempenhar
no contexto econômico atual. De acordo com Banco Mundial (2008), atualmente, as
atividades agrícolas atuam em três estruturas econômicas com realidades e objetivos
distintos: baseada na agricultura, em transformação e urbanizada. Cabe, portanto,
desenhar estratégias e incentivos apropriados a cada tipo de estrutura.
No próximo item do capítulo buscamos apresentar elementos das novas
abordagens do desenvolvimento agrícola, com o intuito de fortalecer os pontos positivos
do modelo de insumos modernos. O item compreende ainda esforços no sentido de
caracterizar as transformações no contexto geral de inserção da agricultura no sistema
31
econômico contemporâneo, incluindo novas diretrizes de políticas e mecanismos de
incentivo ao setor.
2.2. Desenvolvimento Agrícola e Ambiente Institucional
De acordo com De Janvry (2010), o período 1985 – 2005 testemunhou a
escassez de trabalhos sobre o tema do desenvolvimento agrícola. Para o autor, diversos
fatores contribuíram para o esvaziamento do debate, como a redução do papel do Estado
na economia e a supremacia do Consenso de Washington, a adoção de políticas de
transferência e garantia de renda em detrimento de incentivos a meios autônomos de
redução da pobreza rural, assim como o menor interesse por investimentos no setor
agrícola devido às baixas cotações internacionais de produtos agrícolas e aos impactos
ambientais adversos destes investimentos.
Paralelamente à escassez de novos estudos relacionados ao tema do
desenvolvimento agrícola, o período em questão permitiu um acúmulo de evidências
empíricas que apontaram falhas do paradigma tradicional, calcado no uso de insumos
modernos. Fatos estilizados como a redução da segurança alimentar, a persistência da
pobreza rural em diversas regiões, a estagnação do setor agrícola na África Subsaariana
e o incremento da disparidade de renda entre as áreas urbana e rural são exemplos de
resultados negativos não previstos, que fomentaram a reorientação do debate.
Mesmo em sua formulação mais moderna, onde o mecanismo da indução atua
sobre a inovação institucional no setor público, o desenvolvimento agrícola no modelo
teórico de Hayami e Ruttan (1985) tem como objetivo central a elevação da
produtividade total dos fatores na produção de commodities alimentares, e está inserido
em um ambiente institucional onde os resultados da pesquisa agrícola são
preponderantemente bens públicos. Constata-se que a racionalidade econômica do
modelo não compreende medidas capazes de incentivar inovações agrícolas que
atendam às demandas cada vez mais complexas da sociedade e, principalmente, dos
moradores das áreas rurais. Modelos de inovação induzida, à la Binswanger (1974), são
úteis para expor as relações entre preços, custos, tecnologias e a evolução das inovações
agrícolas. Entretanto, tais modelos apresentam falhas ao reduzirem a dinâmica de
inovações agrícolas a problemas de escassez e demanda potencial. Somente após a
integração da demanda potencial e da base técnica em um arranjo institucional
32
adequado os esforços em inovação podem ser realizados (SUNDING e ZILBERMAN,
1999).
“The theory of induced innovations emphasizes the role of general
economic conditions in shaping the direction of innovation activities.
However, the inducement of innovations also requires specific policies
and institutions that provide resources to would-be innovators and
enable them to reap the benefits from their innovations (Sunding e
Zilberman, 1999)”
Timmer (2015) apresenta cinco elementos que atestam a mudança no contexto
global de inserção do setor agrícola na sociedade. 1) O rápido crescimento econômico
pós Revolução Verde, especialmente em países asiáticos, que retirou milhões de pessoas
da pobreza em áreas rurais. A maior urbanização resultou em ganhos de produtividade e
fortaleceu a demanda pela diversificação da produção agrícola, com impactos
significativos no mercado global. 2) Inovações em tecnologias de informação e
comunicação e em biotecnologias, que reduziram radicalmente os custos de produção de
conhecimento, além de terem ampliado sobremaneira as oportunidades tecnológicas,
produtivas, de comércio e acumulação no setor. 3) O maior interesse de agentes
financeiros globais e grandes grupos empresariais transnacionais por atividades em
economias emergentes. Especialmente no setor agrícola, o crescimento do investimento
direto estrangeiro ocorreu em diferentes frentes - terras agrícolas, plantas produtivas,
fusões e aquisições de empresas, centros de pesquisa e desenvolvimento, cadeias
globais de valor. 4) O crescimento da bioeconomia - biocombustíveis, biomassa,
bioquímicos - que se tornou uma fonte significativa de demanda por commodities
agrícolas. Tal mudança estabeleceu, em escala global, alterações no uso da terra e a
maior volatilidade no preço de commodities agrícolas. 5) A mudança climática que se
impôs como realidade via o aumento da probabilidade de eventos climáticos extremos,
onde os mais vulneráveis que incorrem nas maiores perdas são justamente os
agricultores de regiões mais pobres de países subdesenvolvidos. Pressões relacionadas
ao impacto ambiental da produção agrícola se tornaram fatores determinantes do
progresso técnico no setor, alterando a lógica de seleção das inovações.
Em outra perspectiva, Pingali (2010) afirma que o renovado interesse no tema do
desenvolvimento agrícola foi incentivado pelo incremento mundial nos preços dos
alimentos observado no quadriênio 2005 – 2008. O autor ressalta as transformações
33
recentes nos mecanismos de acesso às inovações pelos agricultores, e o fortalecimento
dos direitos de propriedade intelectual sobre resultados de pesquisas e conhecimento
científico codificado. Diferentemente das tecnologias difundidas com a Revolução
Verde, que foram desenvolvidas majoritariamente por meio de processos de free riding
e apropriação de spillovers internacionais por sistemas públicos de pesquisa agrícola, os
avanços obtidos na biotecnologia agrícola moderna podem ser interpretados como
resultado dos esforços e dos investimentos em P&D conduzidos por empresas
multinacionais sediadas em países desenvolvidos.
Spielman e Ma (2016) indicam que desde os anos 1960, os incentivos à inovação
agrícola nos países subdesenvolvidos concentraram-se principalmente no papel das
organizações públicas de pesquisa e dos sistemas de extensão. Somente nas duas
últimas décadas, os incentivos ao investimento privado em pesquisa e desenvolvimento
agrícola tornaram-se um tópico de discussão (NASEEM, SPIELMAN, OMAMO,
2010). A maior integração da agricultura aos demais setores da economia fortaleceu os
mercados de insumos agrícolas, incentivou a participação do setor privado e alterou o
acesso às novas tecnologias. Renting et al. (2009a) afirmam que um resultado líquido da
gama cada vez maior de novas agendas de políticas de inovação é que o tipo de sistema
de pesquisa agrícola "one size fits all" já não parece adequado em capturar as múltiplas
funções do setor na sociedade.
Se por um lado, a persistência de pobreza e insegurança alimentar em áreas
rurais reforça o papel do crescimento da produção e da produtividade agrícola enquanto
mecanismo fundamental, e impulso inicial, do desenvolvimento econômico, por outro,
inovações institucionais e organizacionais se tornaram tão importantes quanto o uso de
insumos modernos na busca pelos ganhos de produtividade e superação da pobreza.
Nesse contexto, o processo de difusão de novos arranjos institucionais na agricultura
pode ser comparado ao modelo epidemiológico de doenças crônicas na população,
marcado por um desenvolvimento lento, de longa duração e não contagioso.
Destaca-se o caso da conversão para a produção de alimentos orgânicos, que
somente obtém resultados positivos após sucessivas safras de mudança e adaptação. Do
ponto de vista da difusão, os ganhos obtidos por um determinado agricultor não
necessariamente transmitem incentivos ou pressionam os demais agricultores a se
tornarem produtores orgânicos. A maior heterogeneidade de sistemas produtivos tende a
fortalecer o desenvolvimento do setor agrícola, quando é resultado de um processo de
34
aprendizado e de investimentos na diversificação das atividades como meio de escapar
dos efeitos deletérios do technological treadmill.
“Not since the late 1960s has there been as much attention paid to
agriculture as there is today. Agriculture’s crucial role in economic
development is being re-discovered by developing country policy
makers as well as by managers of foreign assistance in OECD
countries and multi-lateral agencies. Small holder lead productivity
growth is once again being touted as the vehicle for poverty reduction
in the least developed countries, particularly those in Sub-Saharan
Africa. For emerging economies, such as China and India, strategies
for small holder inclusion in the process of agricultural
commercialization and for reducing the growing gaps between urban
and rural incomes have motivated the renewed interest in agriculture
development. Industrialized countries are examining ways of
promoting agriculture’s multiple roles, especially its role in providing
biofuel feed stock and its ability to economically sequester carbon
(Pingali, 2010).”
Byerlee, De Janvry e Sadoulet (2009) defendem a formação de um novo
paradigma de desenvolvimento agrícola, capaz de ressaltar as possibilidades de
contribuição do setor agrícola ao desenvolvimento sustentável das nações. Neste
paradigma, a agricultura é tratada simultaneamente como atividade econômica, meio de
subsistência e fonte de bens e serviços ambientais. Segundo os autores, o novo modelo
teórico deve ter como objetivo mobilizar esforços para que o processo e a execução das
políticas de desenvolvimento nas áreas rurais sejam tão relevantes quanto os resultados.
Os ganhos de produtividade total se tornaram um meio para obtenção de ganhos de
produtividade do trabalho. Afirma-se que um dos primeiros pontos de inflexão nas
ações de desenvolvimento agrícola no lado real da economia corresponde ao episódio
das “montanhas de alimentos”.
Em meados da década de 1980, o setor agrícola europeu tornou-se vítima do seu
próprio sucesso. Os altos níveis de apoio recebidos pelos produtores, principalmente por
meio de suporte de preços, que caracterizou a política agrícola comum europeia (PAC)
nas décadas de 1960, 1970 e 1980, provocaram distorções nos mercados de alimentos.
Agricultores tornaram-se tão produtivos que produziram alimentos em quantidade muito
superior à capacidade de absorção da demanda regional, resultando em uma crise de
superprodução que atingiu seu ápice em meados dos anos 1980. Para esterilizar a
potencial queda generalizada nos preços e na própria renda, agricultores procederam à
destruição de estoques de carnes, laticínios, dentre outros, geralmente em espaços
35
públicos. As imagens da destruição de toneladas de alimentos repercutiram de forma
negativa na opinião pública e junto aos tomadores de decisão, que consideraram o
episódio uma catástrofe social perante o fato de que milhares de pessoas naquele
momento passavam por algum grau de nutrição insuficiente. A saída da crise de
superprodução foi a redução do peso de incentivos diretamente relacionados à produção
agropecuária no âmbito da PAC.
Nota-se pela figura 02, que a partir da década de 1980 os suportes baseados em
pagamento direto aos agricultores da União Europeia aumentaram consideravelmente
em detrimento dos incentivos vinculados à produção. A mudança na composição foi
significativa e traduziu a reorientação do investimento público em ações focadas no
desenvolvimento agrícola. O período exposto na figura 02 descreve ainda a redução
relativa dos gastos públicos com políticas de suporte aos produtores. No biênio 1986-
1988 a renda obtida com políticas de suporte representou aproximadamente 40% do
rendimento bruto dos produtores, e em 2011-2013 o percentual caiu para patamar
inferior a 20% (OCDE, 2014). O movimento reflete a elevação no rendimento bruto dos
produtores, que pode ter resultado da transição para produtos de maior valor adicionado.
Vale ressaltar que a mudança na composição do suporte aos produtores ocorreu também
em outros países membros da OCDE.
Figura 2 - Transformações no suporte aos agricultores da OCDE.
Fontes: Adaptado de OCDE (2014).
De acordo com OCDE (2014), 88% do total do gasto público em medidas de
suporte aos agricultores de países membros da organização no período 1986-1988,
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
1986-1988 1995-1997 2011-2013
% Rendimento bruto dos agricultores
Produção agropecuária Uso de insumosPagamento direto Produtos não agropecuários
Suporte baseado em:
36
corresponderam a transferências de recursos atrelados à produção de commodities. Essa
proporção reduziu-se para 75% em 1995-97, e diminuiu ainda mais para 33% na média
do período 2011-13. A redução do suporte vinculado à quantidade produzida foi
acompanhada da elevação de pagamentos diretos, geralmente condicionados a adoção
de práticas específicas como melhorias no desempenho ambiental da atividade, a
prestação de serviços ecossistêmicos em áreas rurais, investimentos em bem-estar
animal, dentre outros.
Em 2011-13, mais de um terço dos instrumentos de pagamentos diretos aos
agricultores da OCDE tiveram algum tipo de “cross-compliance”, enquanto em 1995-
97 esta porcentagem era de apenas 10%. Em valores monetários, estima-se que a nova
estrutura de suporte aos agricultores tenha direcionado aproximadamente US$ 30
bilhões a práticas agrícolas com algum grau de preocupação com o desenvolvimento
rural sustentável em países da OCDE, no período 2011-2013. Não obstante, estima-se
que o suporte vinculado exclusivamente ao nível de produção de commodities sofreu
redução total de US$ 90 bilhões entre 1986 e 2011 (OECD, 2014, pg.73).
A mudança na política agrícola comum europeia pode ser apontada como uma
reação aos efeitos negativos do paradigma de desenvolvimento agrícola tradicional.
Matthews (2013) afirma que a reorientação do suporte público à agropecuária
representou uma importante contribuição para reverter pressões e danos ambientais
causados pela intensificação da produção. Para van der Ploeg et al. (2004) a dissociação
entre pagamentos e produção de commodities específicas encorajou a reorganização no
portfólio de cultivos e atividades, fortalecendo a multifuncionalidade, materializada na
gama de atividades relacionadas à ocupação de espaços rurais e ao uso de bens públicos.
É bem verdade que aspectos como a multifuncionalidade de espaços rurais e as
preocupações com a sustentabilidade da produção sempre fizeram parte das discussões
sobre políticas agrícolas. O que é sem dúvida novo é a escala e a abrangência desses
elementos nas agendas contemporâneas de desenvolvimento.
O incentivo à multifuncionalidade, contido nas políticas de suporte agrícola na
OECD, é apontado como um dos principais pontos de ruptura entre o paradigma
tradicional da modernização e o desenvolvimento agrícola atual4. Ao menos nos países
4Segundo van der Ploeg (2004), o velho paradigma está baseado em processo de intensificação,
especialização e crescimento espacial da produção agrícola. Embora os autores ressaltem a importância
da multifuncionalidade como uma redefinição da relação entre áreas rurais e urbanas, o texto adota
37
desenvolvidos, a mensagem é objetiva e transmitida a todos os agentes: pagamentos
diretos no montante de aproximadamente US$ 10 bilhões por ano! Além disso, ações de
suporte aos consumidores e gastos com pesquisa e infraestrutura adotaram novas
diretrizes, no sentido da multifuncionalidade. No entanto, a análise desses mecanismos
extrapola o escopo do presente capítulo, que permanece restrito ao estudo do suporte
aos produtores.
De acordo com Renting et al. (2009b), existe um consenso de que o
reconhecimento da multifuncionalidade é uma expressão da necessidade de construir
novas relações entre a agricultura e a sociedade em geral. Neste movimento, pode-se
observar o fortalecimento de atividades e empregos não agrícolas em áreas rurais,
principalmente relacionados à prestação de serviços e ao processamento de produtos
agrícolas. Conforme indica van der Ploeg (2004), a renda e o emprego gerado por
atividades não agrícolas em áreas rurais em países desenvolvidos são superiores aos
observados na produção agrícola.
Diferentes abordagens estruturaram o debate sobre a multifuncionalidade e,
consequentemente, elaboraram diferentes perspectivas de análise para a compreensão do
mesmo objeto. Renting et al. (2009b), propõe que as abordagens da multifuncionalidade
gravitam ao redor de dois recortes analíticos centrais: 1) se mercado ou organizações
públicas são os detentores dos principais mecanismos de governança das novas
atividades agrícolas; 2) se região/território ou fazendeiros individuais são os objetos
centrais das abordagens. Com esses elementos, os autores classificam as abordagens da
multifuncionalidade em quatro grupos: market regulation, land use/territorial/spatial
issue, actor oriented, public regulation.
Segundo Renting et al. (2009b), a abordagem da OECD para a
multifuncionalidade diz respeito a atividades interligadas que produzem bens
comercializáveis e outros bens (ainda) não transacionados. Nesse arcabouço, os
incentivos a multifuncionalidade concentram-se no desenvolvimento de mercados que
atuam como instrumentos para ampliação das possibilidades de trabalho e acumulação
de capital nas áreas rurais. Para exemplificar, medidas regulatórias que estabelecem
mercados para externalidades ambientais e bens públicos. Já a abordagem da
pressupostos sobre o desenvolvimento agrícola em fazendas comerciais que não condiz com a realidade.
O tema será tratado no terceiro capítulo da tese.
38
multifuncionalidade nos documentos da FAO ressalta os impactos territoriais da
multifuncionalidade, e os múltiplos papéis através dos quais as atividades agrícolas
podem contribuir com desafios relevantes observados nos países mais atrasados, como
segurança alimentar, redução da pobreza, bem-estar social.
Um ponto comum das interpretações diz respeito à ampliação do escopo de
serviços e funções que a agricultura pode desempenhar na sociedade. Além da produção
de alimentos, fibras e insumos para a bioeconomia, externalidades e recursos naturais, a
multifuncionalidade de áreas rurais compreende funções essenciais ao desenvolvimento
sustentável das nações como qualidade e valor nutricional dos alimentos, preservação da
ruralidade e da herança cultural, estratégias de crescimento “pro-poor”, dentre outros.
Ao invés de aprofundar a discussão em torno de definições e nuances do conceito de
multifuncionalidade agrícola a presente tese busca sublinhar consensos, através da
identificação de elementos comuns às abordagens, e transversais do ponto de vista dos
atores do setor.
Renting et al. (2009b), indicam que a utilidade dos instrumentos clássicos de
avaliação de resultados, como análises custo/benefício ou indicadores de produtividade
dos fatores, é limitada quando a multifuncionalidade é relevante. Fenômeno que
impacta tanto agricultores familiares como empresariais, e é parte relevante da agenda
de trabalho em diferentes áreas do conhecimento e organizações de pesquisa5.
O incentivo à multifuncionalidade desdobrou-se em maiores possibilidades de
rendimento nas áreas rurais e tornou necessário o desenvolvimento de novas medidas
para avaliação de desempenho, especificamente com relação à exploração de recursos
naturais na produção agrícola. Isto porque, as principais classes de métricas de
produtividade agrícola desconsideram entradas ou saídas de insumos que (ainda) não
são comercializados, com preços fixados em mercados estabelecidos, como
biodiversidade, recursos hídricos, fertilidade natural do solo, gases de efeito estufa,
dentre outros. Isto é, as medidas de produtividade parcial e produtividade total dos
fatores (PPF e PTF) não capturam o uso de bens e serviços ambientais na produção
agrícola, assim como não incluem rendimentos obtidos em atividades não agropecuárias
5 Matthews et al. (2007) fazem uma revisão de trabalhos com modelos baseados em agentes aplicados a
problemas relacionados ao uso da terra. Segundo os autores, os modelos de uso da terra baseados em
agentes (ABLUMs) podem ser divididos em cinco grandes áreas de aplicação: análise e planejamento de
políticas, modelagem participativa, análise do uso espacial da terra ou de padrões sociais, teste de
conceitos de ciências sociais e explicação das funções de uso da terra.
39
desempenhadas na propriedade rural. Desse modo, proporcionam apenas meios
limitados para avaliar a sustentabilidade de longo prazo das operações.
Fuglie et al. (2016) descrevem o “estado da arte” com relação às métricas
alternativas de produtividade agrícola. Em especial, analisam as principais
características de métricas empregadas para avaliar o desempenho ambiental das
atividades, que contabilizam o consumo de recursos naturais na agricultura e os
rendimentos potenciais advindos da provisão de serviços ecossistêmicos em áreas
rurais. Os autores ressaltam o potencial de difusão da produtividade total dos recursos
(PTR) como métrica padrão para a avaliação de resultados. A PTR corresponde a uma
extensão da PTF, que captura o desempenho de bens e serviços ambientais (ainda) não
mercantis utilizados na produção agrícola. Poucas aplicações empíricas de PTR existem
atualmente, conforme apresentado na revisão bibliográfica de Lansink e Wall (2014).
Afirma-se que a institucionalização de medidas de desempenho ambiental da
produção agrícola junto aos produtores e demais agentes do setor agrícola é uma
condição necessária para o fortalecimento da multifuncionalidade. Para além de uma
demonstração de altruísmo ou preocupação intertemporal dos agentes, a busca pela
maior sustentabilidade da produção agrícola visa ampliar os espaços para a acumulação
de capital em áreas rurais, o incremento do valor adicionado e do preço dos produtos
agrícolas. As ações nesse sentido são de natureza transversal, impactam todos os
agentes do setor, e impõem novos desafios à agenda de desenvolvimento agrícola, como
por exemplo, a formação de consensos em torno dos preços de comercialização dos
bens e serviços ambientais.
Pingali (2015) destaca que há uma crescente desconexão entre políticas de
desenvolvimento agrícola e os desafios nutricionais contemporâneos. Para o autor,
problemas de longa data como a desnutrição de micronutrientes na população mais
pobre, a desnutrição infantil, e desafios emergentes como o sobrepeso e a obesidade são
reforçados pelos tipos de incentivos contidos na maioria das políticas agrícolas
observadas atualmente.
Com isso, novos mercados e modelos de organização das atividades produtivas
no sistema agroalimentar podem ser apontados como elementos comuns ao
desenvolvimento agrícola pós Revolução Verde. Alimentos certificados, orgânicos,
funcionais, biofortificados, dentre outros, transitaram de nichos para mercados com
valores de vendas significativos, principalmente entre consumidores nos países mais
40
desenvolvidos. Fenômenos como a maior urbanização e a elevação da renda per capita
de parcela da população nos países em desenvolvimento têm provocado alterações nos
hábitos alimentares, com o crescimento do consumo de proteína animal, alimentos
processados e de refeições fora do lar.
Segundo van der Ploeg et al. (2012) novos mercados agrícolas são originados a
partir de espaços criados nos mercados tradicionais, e guardam fortes especificidades
regionais. Os autores destacam o papel das políticas de desenvolvimento rural como
motores do crescimento destes mercados, os quais classificam como “nested markets”.
Sumberg et al. (2015) indicam que o estabelecimento de programas governamentais
para a aquisição de alimentos de agricultores locais destinados a alimentação escolar em
países da África Subsaariana tem produzido impactos positivos tanto na redução da
insegurança alimentar como na elevação da renda dos agricultores, configurando assim
um jogo de soma não zero, onde todos os agentes envolvidos ganham (win-win
solutions). De modo geral, estudos dedicados ao tema avaliam que agricultores
inseridos em “nested markets” têm melhorado seu nível de bem-estar. Um dos casos
mais significativos é o mercado de alimentos certificados, que transmite aos
consumidores um conjunto de informações acerca da qualidade do produto e de
características desejáveis do processo de produção. Tomemos como exemplo o caso do
sistema agroindustrial do café (SAG café).
Desde o colapso do acordo internacional do café (AIC), em meados da década
de 1980, estratégias de diferenciação e segmentação de mercados se difundiram no
ambiente competitivo dos agentes do SAG café. Tal dinâmica ampliou os elementos que
constituem a função objetivo dos cafeicultores, adicionando novos fatores
condicionantes da maximização dos resultados obtidos com a produção. Isto porque, o
mercado de cafés certificados possui uma estrutura de relações entre o segmento
agrícola e os demais elos do sistema que é distinta da estrutura observada no período de
vigência do AIC, tanto no que diz respeito às tecnologias e aos métodos de produção
como à participação dos agricultores na renda gerada pelas atividades. Nesse novo
ambiente institucional, a adequação das práticas aos requisitos necessários para a
obtenção de certificações privadas pode resultar em incremento nos custos, e até mesmo
em reduções no volume de produção, fatos que contrariam a racionalidade econômica
tradicional. Entretanto, a inserção em mercados aninhados possibilita alcançar preços
superiores pelo produto e pode resultar em ganhos de produtividade consideráveis.
41
Ressalta-se que a diferenciação não provoca prejuízos aos produtores tradicionais, pelo
contrário, uma vez que reduz a oferta deste tipo de produto.
Outra mudança relevante no sistema alimentar diz respeito à maior organização
das atividades produtivas em torno de cadeias globais de valor (CGV). Novas cadeias
globais de valor têm sido induzidas majoritariamente pela demanda de consumidores
finais em países desenvolvidos de renda per capita elevada, e nos países em
desenvolvimento. Nos países em desenvolvimento de urbanização crescente, cadeias
globais de valor são responsáveis por suprir a maior demanda por alimentos
industrializados de parcela da população que não mais vive em condições de
subsistência nas áreas rurais. Tem-se atualmente um processo de industrialização e
crescimento da população urbana que é superior em termos de migração rural-urbana
daquele observado no período pós-segunda guerra, fato que demanda a elevação da
oferta global desses produtos em mercados organizados.
Em função da crescente organização da oferta agrícola em cadeias globais de
valor, a participação de agricultores locais alterou-se substancialmente ao longo das
últimas décadas, especialmente em produtos agrícolas de maior valor adicionado.
Tradicionalmente, setores agroindustriais são representados por produtores de todos os
tamanhos que participam em mercados à vista. No entanto, a supremacia de cadeias de
valor verticalmente integradas, coordenadas por compradores e lideradas por grandes
multinacionais varejistas enfraqueceram ou mesmo substituíram mercados locais
organizados em torno de fontes de abastecimento. Reardon et al. (2012) classificam esta
mudança com o termo “Supermarket Revolution”, e afirmam que o fenômeno é
observado principalmente em países em desenvolvimento na Ásia e na América Latina.
Segundo os autores, as redes varejistas selecionam fornecedores preferenciais, e
provocam a exclusão de produtores com menor capacidade de adaptação que, frente ao
enfraquecimento dos mercados locais, encontram sérias dificuldades para comercializar
seus produtos. Por outro lado, países em estágios avançados de desenvolvimento
passam por mudanças que vão de encontro àquelas descritas pelo processo de
“Supermarket Revolution”. A título de exemplo citamos o movimento revolucionário da
agricultura urbana, e os pesados incentivos por parte do departamento norte-americano
de agricultura (USDA) para o fortalecimento de mercados locais de alimentos.
O paradigma atual do desenvolvimento agrícola abrange elementos que
extrapolam os ganhos de produtividade. Portanto, o setor passa a desempenhar novas
42
funções no processo de transformação estrutural da economia, adicionalmente àquelas
consagradas em Johnston e Mellor (1961). Destas novas funções, emergem novos
atores e agentes produtivos que demandam políticas e atuam para a conformação de um
ambiente institucional adequado. Cabe, portanto, avaliar de que forma políticas de
incentivo ao desenvolvimento agrícola, com foco nos investimentos em pesquisa
agrícola, são formuladas e seus recursos distribuídos entre ações com a participação de
diferentes grupos de produtores e consumidores.
Até aqui, o presente trabalho buscou resgatar e discutir elementos centrais da
bibliografia internacional relacionada ao tema do desenvolvimento agrícola. O próximo
item do capítulo tem como foco análises do tema realizadas no Brasil, por profissionais
que buscavam compreender e capturar os fatos estilizados do desenvolvimento agrícola
nacional.
2.3. Desenvolvimento Agrícola no Brasil – Revisão Bibliográfica
Diversos são os estudos que tratam do desenvolvimento agrícola no Brasil.
Conforme Schuch e Brandão in Lee (1992), a revisão bibliográfica sobre o tema
abrange mais de quatro centenas de entradas no período 1940 - 1990. Na área das
ciências sociais, os estudos adotaram uma perspectiva socioeconômica, baseada em
princípios de economia política, materializada no conceito da questão agrária. Com isso,
concentraram seus esforços para a compreensão de problemas decorrentes do
desenvolvimento agrícola, e não no desenvolvimento agrícola per se. Ademais,
produziram esquemas mentais destinados à por em movimento a estrutura agrária
através de relações externas à agricultura. Afirma-se que tal modelo de análise, a
preferência pela questão agrária, persiste na literatura nacional contemporânea. No
entanto, há o crescimento relativo dos trabalhos que priorizaram o tema do
desenvolvimento agrícola.
Graziano da Silva in Rangel (2000) indica que três autores são considerados os
clássicos da questão agrária no Brasil: Alberto Passos Guimarães, Caio Prado Júnior e
Ignácio Rangel. Embora todos tenham contribuído sobremaneira para elucidar
problemas socioeconômicos resultantes da modernização das relações de produção nas
áreas rurais do país, optamos por iniciar as abordagens nacionais do desenvolvimento
agrícola a partir do pensamento de Ignácio Rangel. Isto porque é na obra de Ignácio
Rangel que surge de maneira mais objetiva, embora implícita uma vez que o autor faz
43
pouco uso de citações, o diálogo com a bibliografia internacional sobre o tema do
desenvolvimento agrícola, conforme exposto anteriormente no presente trabalho.
No livro “A questão agrária brasileira”, Ignácio Rangel faz a sua interpretação
da hipótese Schultziana de que agricultores em países subdesenvolvidos são pobres,
porém eficientes. A linha de argumentação original do autor brasileiro é desenvolvida a
partir da contestação ao pressuposto de que nos complexos rurais dos países
subdesenvolvidos a produtividade marginal do trabalho é nula ou próxima de zero. Com
isso, Rangel refuta a ideia de que no processo de desenvolvimento econômico a
transferência de parcela significativa da mão de obra alocada nos complexos rurais para
os setores industriais ocorreria sem prejuízos à economia. Nas palavras do autor, o
desenvolvimento retira paulatinamente ao complexo rural assim constituído as
atividades secundárias e terciárias, tendendo, pois a reduzir a agricultura a uma
atividade exclusivamente primária, sem jamais atingir essa meta, aliás. É que a
agricultura, muito mais do que as demais atividades, que com ela, compõem o sistema
econômico, está sujeita a variações sazonais no seu regime de trabalho, com o resultado
de que se reduzida a uma atividade exclusivamente primária, condenaria à inatividade
uma colossal parcela do tempo total de que dispõe a população rural (RANGEL, 2000;
pg. 69).
Depreende-se do trecho acima que, segundo Rangel, os autores que atribuem a
baixa produtividade do trabalho às atividades agrícolas nos países subdesenvolvidos
cometem erro incontornável, ao passo que reduzem as relações produtivas do complexo
rural à atividade primária. De fato, uma rápida pesquisa bibliográfica atesta que, antes
de Rangel, autores do mainstream econômico já haviam contestado, em termos
semelhantes, a hipótese geralmente atribuída à Rosenstein-Rodan (1946) de que a
produtividade marginal do trabalho agrícola nos países subdesenvolvidos é nula, ou
próxima de zero. Entretanto, o autor brasileiro desenvolve ainda mais o argumento, e
enuncia nitidamente o postulado de que a alocação dos recursos pelos agentes do
complexo rural segue lógica econômica pautada pela eficiência alocativa.
44
“O camponês, não obstante sua ignorância habitual, esta
constantemente comparando a produtividade do seu trabalho na
própria atividade agrícola, nas atividades secundárias e terciárias do
complexo rural, e, indiretamente, nestas últimas atividades situadas
fora do complexo rural. Uma longa experiência, transmitida de
geração em geração e consubstanciada em norma práticas de
conduta, comuns ao grupo social e inculcadas pela família, que as
converte numa segunda natureza, empresta desconcertante acuidade e
firmeza a essas decisões, cujo sentido econômico profundo escapa a
mais de um agudo analista econômico. É possível que se engane o
camponês em suas decisões, especialmente numa situação como a do
campo brasileiro atual, prodigiosamente cambiante, em vista dos
reflexos do processo de industrialização e da introdução de
inovações, tanto na técnica agrícola, como na dos serviços que
interessam à agricultura. Mas o fundamento de justeza dessas
decisões permanece basicamente válido e, errado ou certo, o
camponês, com suas atitudes características, é um parâmetro de
análise econômica (RANGEL, 2000; pg.71).” “ ...Aceita essa
premissa, teremos admitido implicitamente, também, que a atividade
agrícola é suscetível de certa medida de planejamento, desde que
conheçamos as variáveis estratégicas através das quais o camponês
pode ser induzido, conforme as conveniências, a aumentar o tempo de
trabalho dedicado ao suprimento de bens agrícolas – aumentando
assim o excedente médio que cada família leva ao mercado – ou
reduzindo esse excedente, na medida em que se volte mais para as
atividades secundárias e terciárias do complexo rural (RANGEL,
2000; pg.72).”
Portanto, para Rangel, agricultores de países subdesenvolvidos são agentes
racionais e respondem sim a políticas de incentivo econômico. Caberia aos planejadores
decifrarem as variáveis estratégicas através das quais o “camponês” pode ser induzido à
modernização. Segundo o autor, políticas de garantia de preço mínimo, crédito rural e
assistência técnica são as mais adequadas e que produziriam os maiores impactos sobre
a crise agrária que assolava o país, especialmente na região Nordeste, no início da
década de 1960.
Em uma breve passagem do mesmo livro analisado até aqui, “A questão agrária
brasileira”, Rangel aponta que a inovação agrícola será pautada por tecnologias que
substituam os fatores de produção mais escassos, transitando entre tecnologias
poupadoras de terra e trabalho. Afirma-se que com a devida formalização matemática e
repercussão no mainstream econômico, o raciocínio do autor brasileiro teria
apresentado a seus pares acadêmicos a teoria da inovação induzida na agricultura com
uma década de antecedência.
45
“Ora, o Brasil – como os Estados Unidos e a União Soviética – não
tem por que preocupar-se, por enquanto, com a economia da terra.
Seu futuro imediato não está, como no Japão, na China, na Índia, na
Europa Ocidental, no aumento dos rendimentos por unidade de área,
mas na elevação da produtividade do trabalho, mesmo que isso
implique – o que nem sempre acontece, mas na etapa presente,
acontece na maioria dos casos – em queda da produtividade da terra
(RANGEL, 2000; pg. 53).”
Temos, portanto, que no início dos anos de 1960 o debate em torno do
desenvolvimento da produção agrícola no Brasil rural já havia incorporado conceitos
centrais do paradigma tradicional de desenvolvimento agrícola. Talvez devido aos
contornos do debate nacional à época, focado na questão agrária e fortemente
influenciado pela estagnação da produção agrícola, os trabalhos sobre o tema do
desenvolvimento agrícola tenham priorizado a análise de relações externas à produção
agrícola em detrimento de avançar na compreensão de razões endógenas, muito embora
estas já tenham sido decifradas.
A análise de fatores endógenos ao desenvolvimento agrícola no Brasil teve
impulso a partir de meados dos anos 1960. O movimento de ruptura com a questão
agrária representa o reconhecimento de que a economia agrícola constitui campo de
conhecimento específico, e como tal, carece de análises pautadas por pressupostos da
teoria econômica, como a eficiência na alocação de recursos. Os estudos de William
Nicholls e Ruy Miller Paiva podem ser destacados como os principais responsáveis pela
consolidação e difusão de pesquisas nessa área no Brasil. No presente trabalho
priorizamos os estudos de Paiva, dado sua ampla repercussão e ao fato de ser o autor
reconhecido como o fundador da economia agrícola no país.
De posse de dados primários obtidos junto a 99 estabelecimentos rurais
localizados nas sete principais regiões agrícolas do país, coletados em 1963, Paiva e
Nicholls (1965) procederam a uma comparação objetiva entre os estágios de
desenvolvimento da agricultura brasileira. A análise dos estágios de desenvolvimento
das diferentes regiões agrícolas levada pelos autores foi baseada em elementos
relacionados ao nível de capitalização e produtividade, aos estágios de comercialização
e às condições sociais dos agricultores. Como resultado principal, identificou-se a
coexistência de três arranjos produtivos distintos no país: agricultura extensiva de
métodos primitivos, agricultura intensiva de métodos primitivos e agricultura comercial
de métodos modernos.
46
Após examinar as características dos diferentes arranjos produtivos observados
na agricultura brasileira, Paiva dedica-se a análise dos fatores responsáveis pela
transformação da agricultura tradicional no país, porém o autor não se prende aos
elementos centrais postulados por Schultz (1964). Isto é, ao invés de restringir sua
análise aos fatores de validade mais geral tais como educação, pesquisa e crédito, o
autor procede à busca dos aspectos econômicos da transformação, admitindo que a
transferência da agricultura tradicional para a moderna depende exclusivamente das
possibilidades econômicas oferecidas por ambos os processos.
Paiva (1967) afirma que o grau de expansão da melhoria técnica na agricultura
brasileira depende de três fatores: a) da possibilidade econômica do emprego de
melhorias técnicas e de interesse cultural dos agricultores de proceder a modificações
em seu processo de trabalho; b) da capacidade do mercado interno absorver maior
volume de produtos agrícolas e destes concorrerem no mercado externo; c) da
possibilidade de transferência de recursos da agricultura (mão-de-obra) para os setores
não agrícolas. Segundo o autor, caso tais fatores não se verifiquem, a expansão da
melhoria técnica na agricultura brasileira, assim como em demais países
subdesenvolvidos, estaria presa a um mecanismo de autocontrole que funciona através
da flutuação dos preços, principalmente dos preços de produtos agrícolas. Nas palavras
do autor:
“A linha de raciocínio que nos levou a essa afirmativa foi, em
resumo, a seguinte: tendo o Brasil uma porcentagem muito elevada de
sua população em atividade no Setor Rural, e não sendo fácil a
transferência de maiores parcelas dessa população para atividades
não agrícolas, a medida que se generaliza a melhoria de técnica e de
produtividade, alcançando maior número de produtores, ocorre um
aumento no volume produzido que não pode ser absorvido pelo
mercado interno e tampouco vendido pelo mercado externo, e isso
resulta numa queda de preços dos produtos agrícolas, que além de
retirar dos agricultores o incentivo à produção, retira também o
incentivo a uma expansão de melhor técnica (Paiva, 1967, pg.1).”
A partir dos fatores tidos como responsáveis pelo grau de difusão da melhoria
técnica na agricultura brasileira, o autor enumera as diretrizes centrais de uma política
de desenvolvimento agrícola. De acordo com Paiva (1967) o desenvolvimento agrícola
brasileiro será alcançado através de políticas que persigam quatro objetivos principais:
1) ampliar a exportação dos produtos agrícolas; 2) melhorar a indústria nacional de
47
insumos modernos; 3) aperfeiçoar os serviços de assistência técnica e financeira; 4)
incentivar a industrialização de produtos agrícolas e o desenvolvimento de centros
regionais de melhoria técnica. É importante ressaltar que, em maioria, tais diretrizes
mostraram-se acertadas e em muito contribuíram com o desenvolvimento da agricultura
nacional.
A despeito dos diagnósticos positivos, o modelo de dualismo agrícola de Paiva é
criticado por ter uma visão pessimista das possibilidades de desenvolvimento da
agricultura no país. Segundo Schuch e Brandão in Lee (1992), o pessimismo de Paiva é
compartilhado por demais analistas da época, e tem suas raízes na estagnação da
produtividade agrícola brasileira, que prevaleceu desde o término da segunda guerra
mundial até meados da década de 1970. Com isso, a literatura sobre o desenvolvimento
agrícola brasileiro no período em questão concentrou-se na análise da estagnação em
detrimento do crescimento. Afirma-se que Paiva (1967) propõe elementos para a
superação do mecanismo de autocontrole da difusão de novas tecnologias. O
mecanismo de autocontrole em si, pode ser interpretado como uma formalização de
processos econômicos com potencial de limitar a transformação estrutural agrícola. Sob
esse ângulo, a visão de Paiva não se restringe ao pessimismo tecnológico e representa
de modo concreto fatores econômicos que perpetuam a reprodução de métodos
tradicionais de produção na agricultura brasileira, largamente observados na atualidade.
Não obstante, cabe ressaltar que devido aos contornos do debate sobre o
desenvolvimento agrícola à época, calcado no modelo de insumos modernos de Schultz,
Paiva reduz as possibilidades de desenvolvimento agrícola à produção de commodities
alimentares.
O estudo “O novo padrão agrícola brasileiro: do complexo rural ao CAIS”, de
autoria de Angela Kageyama e José Graziano, publicado em 1990, pode ser destacado
como um ponto de ruptura no modo de pensar a agricultura brasileira. O estudo aborda
o processo histórico brasileiro de passagem do complexo rural para a dinâmica
comandada pelos complexos agroindustriais. O texto em questão expande a
compreensão sobre os papéis da agricultura no desenvolvimento econômico e aborda os
principais elementos que incentivaram a maior integração da produção agrícola
brasileira aos demais setores da economia, principalmente as indústrias de insumos
agrícolas. Em especial, destaca a importância do crédito subsidiado para a aquisição de
48
insumos modernos, e a participação direta do investimento público na constituição das
indústrias de insumos agrícolas no país.
Com isso, análises do desenvolvimento agrícola no Brasil passaram a discutir
temas não mais centrados nas diretrizes do modelo de insumos modernos. Os trabalhos
adotaram uma visão mais ampla do processo de desenvolvimento agrícola, abordando
processos como a crescente multifuncionalidade e a pluriatividade de moradores de
áreas rurais, e analisando os impactos destes processos sobre a dinâmica do emprego em
áreas rurais. Graziano da Silva (1997) pode ser apontado como a síntese das discussões
relacionadas aos impactos do novo modelo de desenvolvimento agrícola sobre as áreas
rurais. Conforme indica o autor, houve no período 1981-1990 o crescimento
significativo dos empregos não agrícolas nas regiões rurais do país. De fato, a discussão
sobre a dinâmica de emprego nas áreas rurais do Brasil constituiu uma extensa e
crescente linha de pesquisas, que prossegue sendo tratada até os dias de hoje.
No período recente, as coletâneas “O Mundo Rural no Brasil do Século 21” e
“Agricultura, Transformação Produtiva e Sustentabilidade”, condensam uma série de
artigos que abordam o tema do desenvolvimento agrícola brasileiro por diferentes
ângulos. Destacam-se as análises sobre os ganhos de produtividade total dos fatores na
agricultura nacional, que têm crescido a taxas superiores à média mundial nas últimas
décadas. Nesse contexto, os investimentos em pesquisa agrícola e a maior integração da
produção agrícola aos demais mercados da economia são apontados como fatores
determinantes dos ganhos de produtividade recente. Galvão in Buianain, Alves, Silveira
e Navarro (2014), enfatiza o papel das operações de barter na expansão da fronteira
agrícola nacional. Operações deste tipo alinham os interesses de agricultores, firmas de
insumos e agentes financeiros, constituindo um fato estilizado da maior integração da
agricultura, e contribuindo para a geração de empregos não agrícolas em áreas rurais,
atrelados aos serviços de suporte a produção agrícola.
3. Pesquisa Agrícola Pós-Revolução Verde
O presente capítulo aborda as transformações nas atividades da pesquisa agrícola
que têm como principais fatores condicionantes a superação do paradigma de
desenvolvimento agrícola calcado na experiência da Revolução Verde, e a reorientação
do papel do Estado na economia. O primeiro item do capítulo faz uma discussão no
49
plano teórico-conceitual sobre o que estamos avaliando quando tratamos dos
investimentos em pesquisa agrícola. Destaca-se a importância do caráter de novidade
para a classificação dos investimentos em pesquisa agrícola. O item apresenta ainda as
principais fontes de informações empregadas nas análises que seguem.
No segundo item do capítulo analisamos as transformações recentes nos
investimentos em pesquisa agrícola. Neste item ressaltamos a mudança no locus dos
investimentos em pesquisa agrícola, historicamente concentrado nos países
desenvolvidos e recentemente deslocado para os países em desenvolvimento,
especificamente China, Índia e Brasil. O item apresenta uma revisão bibliográfica sobre
as mudanças institucionais que engendraram transformações estruturais nas atividades
de pesquisa agrícola em diversos países. Priorizamos as análises dos países que têm
produção agrícola relevante, com intuito de construir uma base de comparação com o
caso brasileiro.
Na terceira parte do capítulo serão apresentados dados históricos relativos à
evolução dos investimentos públicos e privados em pesquisa agrícola em âmbito global.
A partir destes dados, constata-se que países em desenvolvimento representam
atualmente a maior parcela dos investimentos públicos globais em pesquisa agrícola, e
que seus investimentos privados têm crescido de forma acelerada, a taxas superiores dos
observado nos países desenvolvidos.
3.1. Avaliação de Investimentos em Pesquisa Agrícola
Incrementos nos ganhos de produtividade agrícola têm sido a principal defesa do
mundo contra uma crise Malthusiana - a ideia de que a oferta de alimentos para a
população em crescimento vai enfrentar limites devido à escassez de recursos naturais e,
desse modo, levará parcela significativa da população à fome. Hayami e Ruttan (1971,
1985) mostraram que a história do desenvolvimento agrícola do século XX apoiou-se
em ganhos de produtividade no uso dos fatores de produção, e não na expansão da base
de recursos naturais empregados na agricultura. Intensificação e mecanização
substituíram terra e trabalho.
Schultz (1956), Griliches (1957), Ayres e Schuh (1972) e Evenson (1975), foram
pioneiros em associar ganhos de produtividade, mudança técnica e pesquisa agrícola.
Conforme Alston, Norton e Pardey (1998), o foco inicial da discussão sobre os retornos
dos investimentos em pesquisa agrícola restringiu-se a avaliações da relação estimada
50
entre a evolução na produtividade total dos fatores e a mudança técnica. O modelo
econômico básico empregado nessas avaliações assume que os gastos em pesquisa
produzem um estoque de conhecimento capaz de induzir alterações nas funções de
produção ou de custo dos agricultores. Sendo que o conceito de função de produção de
conhecimento exprime a relação entre os gastos com pesquisa e o estoque de
conhecimento.
Os benefícios econômicos decorrentes da pesquisa agrícola correspondem aos
valores em termos monetários dos acréscimos na produção que ocorrem sem alterações
no uso de insumos, ou das reduções de custos que não implicam reduções no nível de
produto. Após a estimação do fluxo de benefícios em determinado período de tempo, as
avaliações econômicas da pesquisa agrícola comparam esse fluxo com o fluxo
correspondente dos gastos de pesquisa, e chegam a medidas de benefício da pesquisa
usando métodos convencionais de cálculo de valor presente líquido, relação custo
benefício ou taxa interna de retorno. O estudo mais abrangente sobre as avaliações
econômicas da pesquisa agrícola corresponde à meta-análise feita por Alston et al.
(2000). Nessa meta-análise, os autores reuniram 292 estudos publicados entre 1958 e
1998 que relataram taxas de retorno para investimentos em pesquisa e desenvolvimento
agrícola em mais de 1.886 atividades, e encontraram a taxa interna de retorno mediana
em todos os estudos de aproximadamente 48% ao ano. Isto é, de cada US$ 100 alocados
em pesquisa agrícola o retorno transmitido para os setores produtivos avaliados foi
equivalente à US$ 148.
Em mercados com livre mobilidade de recursos, a magnitude dos retornos
obtidos com recursos empregados na pesquisa agrícola induziria os agentes a investirem
nessas atividades, e assim reduziria as taxas de retorno em uma dinâmica de longo
prazo. No entanto, falhas de mercado específicas às atividades de pesquisa agrícola
tendem a afastar os investimentos privados dessas atividades, resultando no persistente
subinvestimento privado, que deve ser amenizado pelos gastos e incentivos do setor
público em pesquisa agrícola.
Características específicas da agricultura influenciam a natureza e a extensão das
falhas no mercado de inovações agrícolas. Os elevados spillovers das inovações
agrícolas se manifestam na facilidade com que determinadas tecnologias são
reproduzidas, especialmente as tecnologias com base de conhecimento biológica e
codificáveis. Essa condição resulta em custos de transação elevados para
51
monitoramento e cobrança pelo uso das tecnologias agrícolas. A baixa apropriabilidade
ocorre também em função do curto prazo relativo de validade dos direitos de
propriedade intelectual, em comparação com o longo prazo necessário para o
desenvolvimento e a difusão dos benefícios das inovações agrícolas. Em todos os
setores da economia uma parcela dos benefícios sociais proporcionados pela descoberta
de tecnologias inovadoras não é capturada pelos agentes que financiaram as pesquisas e
o desenvolvimento da tecnologia. O conceito de “spillover gap” expressa essa
magnitude em que o benefício social da inovação é superior ao retorno privado.
Para além da presença de caronas, os resultados da pesquisa agrícola são obtidos
em um horizonte temporal mais longo do que aquele percebido em outros setores. O
conceito de “research lag” expressa a magnitude de tempo entre o início das pesquisas
e a obtenção dos primeiros retornos. Os investimentos em pesquisa agrícola estão
indissociavelmente ligados a ganhos de bem-estar social, porém são necessárias décadas
para que seus impactos sejam plenamente realizados. O longo prazo de maturação e o
elevado custo dos investimentos em pesquisa agrícola são amplamente observáveis.
Para exemplificar, citamos as pesquisas para o desenvolvimento de árvores
geneticamente modificadas de Eucalyptus, que no mínimo terão duração igual ao ciclo
produtivo da árvore, ou sete anos no caso brasileiro. Porém, no país, as patentes de
inovações tecnológicas e a propriedade intelectual sobre cultivares têm validade de
quinze anos desde a sua data de registro, enquanto alguns direitos de propriedade podem
chegar a setenta anos de validade, como por exemplo, direitos autorais sobre partituras
musicais.
Além disso, aspectos da produção agrícola como o uso intensivo de recursos
naturais não precificados e a relação direta com a segurança alimentar de milhões de
pessoas representam externalidades não capturadas nas funções objetivo da empresa
tradicional dos modelos econômicos. As externalidades inerentes à dinâmica da
produção agrícola atribuem um caráter de bem público aos produtos da pesquisa
agrícola, e atuam como justificativas à maior participação do setor público na pesquisa
agrícola.
De acordo com Pardey, Alston e Ruttan (2010), a inovação na agricultura difere
da inovação em outros setores da economia em cinco aspectos importantes: 1) A
agricultura é comumente considerada como uma indústria de concorrência perfeita,
composta por produtores atomizados tomadores de preços. No entanto, tal abordagem
52
não é adequada para tratar os agentes fora da porteira, principais desenvolvedores de
inovações, que estão organizados em indústrias altamente concentradas. 2) A produção
agrícola está apoiada em processos biológicos que utilizam e produzem produtos sobre
os quais a proteção da propriedade intelectual tem sido historicamente fraca em
comparação com demais setores da economia. 3) A tecnologia agrícola tem uma
dimensão espacial intrínseca, na medida em que as condições de produção variam entre
as regiões. 4) A presença de fatores não controláveis, como a constante evolução de
pragas e doenças e as mudanças de clima e tempo, geram demandas para a manutenção
contínua de pesquisas e constante renovação de tecnologias. 5) A significativa dispersão
espacial entre criadores e beneficiários das novas tecnologias. Consumidores são os
principais beneficiários da pesquisa agrícola, e todos são consumidores de produtos
agrícolas.
Em conjunto, escolhas na alocação de recursos formam estruturas de atividades
de pesquisa agrícola com características que diferem de indústria para indústria. Vale
ressaltar que essas estruturas são sensíveis a mudanças em condições econômicas e
institucionais, principalmente sobre os custos do financiamento, e aos objetivos dos
investimentos em pesquisa.
Entende-se por estrutura das atividades de pesquisa agrícola o conjunto de ações
governamentais, e dos agentes privados, realizadas através de investimentos diretos e/ou
de incentivos econômicos à produção de conhecimento e inovações no setor agrícola.
Os programas públicos de investimentos em pesquisa agrícola cumprem diversos
papéis, e dentre estes, buscam minorar os impactos das falhas de mercado que acarretam
em persistente subinvestimento privado, a despeito dos retornos elevados.
A partir de consensos formados entre diversos órgãos e tomadores de decisão no
setor governamental são estabelecidas instituições formais que viabilizam incentivos
econômicos à pesquisa agrícola realizada no setor empresarial. Estas instituições
geralmente se apresentam na forma de diversos instrumentos de políticas de inovação:
regulação de direitos de propriedade intelectual e do processo de liberação comercial de
inovações, subsídios e taxações, isenções fiscais, prêmios e concursos, e compras
governamentais (public procurement). Sob outra perspectiva, as políticas de inovação
agrícola podem ser divididas de acordo com a capacidade de resolverem problemas ex-
ante de desenvolvimento e incentivo à inovação e de solucionarem problemas ex-post
relacionados à promoção do uso da inovação.
53
Antes de avançarmos sobre a análise das transformações estruturais nos gastos
públicos e privados nas atividades de pesquisa agrícola, procedemos à formalização dos
principais conceitos adotados na empreitada. A presente tese está alinhada à definição
da OECD para as atividades de ciência e tecnologia (ATC). Conforme indicado no
Frascati Manual (2002), as atividades de ciência e tecnologia compreendem os
investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), os gastos com educação e
treinamento científico e tecnológico (ETCT), além dos recursos investidos para
contratação de serviços científicos e tecnológicos (SCT). Nota-se na figura 03 que os
recursos destinados às atividades de P&D representam apenas parte das atividades de
ciência e tecnologia. De modo distinto, atividades de suporte e inovação industrial não
são contabilizadas integralmente no volume de recursos empregados na produção de
conhecimento.
Figura 3 – Referencial teórico de indicadores de atividades científicas e tecnológicas
Fontes: Adaptado de OECD (2002).
Os indicadores de P & D são amplamente adotados como principais elementos
de análise no domínio da economia da ciência. Segundo Godin (2008), o critério básico
para a distinção de P & D das demais atividades de ciência e tecnologia (ATC) é a
presença em P & D de elementos apreciáveis de novidade e resolução da incerteza
científica e tecnológica. Na história dos indicadores de ciência e tecnologia, a
consolidação dos gastos em pesquisa e desenvolvimento (identificados pelas três
atividades materializadas no termo P&D: pesquisa básica, pesquisa aplicada e
54
desenvolvimento experimental) como principal referência dos esforços para o progresso
tecnológico, ocorreu somente no início dos anos 1960. Em que pese o fato de que
apenas nas primeiras décadas do século XX deu-se o uso generalizado do termo
pesquisa, através da expansão, em relação às unidades de desenvolvimento, de
laboratórios de pesquisa básica nos setores industriais (Godin, 2006).
“Research and experimental development (R&D) comprise creative
work undertaken on a systematic basis in order to increase the stock
of knowledge, including knowledge of man, culture and society, and
the use of this stock of knowledge to devise new applications.”
(OECD, 2002)
Afirma-se que o financiamento público do P&D agrícola está cada vez mais
interligado com o financiamento da pesquisa em geral, principalmente devido a maior
multifuncionalidade do setor. Atividades de P&D agrícola com recursos públicos são
realizadas por uma série de departamentos e organizações governamentais dotados de
objetivos distintos, alguns com papéis não necessariamente voltados à agricultura,
várias faculdades e departamentos universitários, organizações de produtores e
consumidores, dentre outros. Com isso, exercícios de mensuração e avaliação dos
investimentos públicos em P & D tornam-se mais desafiadores, uma vez que os arranjos
institucionais para o financiamento e a gestão de sistemas públicos de pesquisa agrícola
variam em termos de quem financia, gere, executa e recebe os benefícios da pesquisa.
Nesse contexto, emergem problemas específicos às atividades de pesquisa que
são passíveis de análise pela teoria econômica tradicional. Qual é a distribuição
(geográfica, entre classes de renda, entre atividades produtivas, dentre outros) dos
benefícios da pesquisa em uma determinada indústria? Qual é o nível de equidade entre
custo de financiamento da pesquisa e distribuição dos benefícios?
Os dados sobre investimento público em pesquisa agrícola analisados nos
próximos itens correspondem à compilação de informações sobre 126 países
subdesenvolvidos, desenvolvidos e em desenvolvimento, acessíveis ao público geral e
divulgados pelo International Science & Technology Practice & Policy (InSTePP) da
Universidade de Minnesota. O InSTePP congrega uma comunidade de estudiosos da
Universidade de Minnesota e de demais centros de pesquisa, que participam na pesquisa
econômica sobre a prática e a política das atividades de ciência e tecnologia, com ênfase
em implicações internacionais.
55
As estimativas referem-se a atividades de P&D orientadas para a agricultura,
com base no local de execução da pesquisa. Pardey, Alston e Chan-Kang (2013) traçam
uma análise histórica da evolução nas bases de dados que compilam os investimentos
em P&D agrícola executados ao redor do mundo. Além dos dados do InSTePP, a
presente tese utiliza informações coletadas pelo International Food Polocy Research
Institute (IFPRI) e divulgadas no âmbito do projeto Agriculture Science and Technology
Indicators (ASTI), que fornece dados e análises de acesso aberto sobre investimento e
capacidade de investigação agrícola em países de renda média e baixa. As informações
do ASTI complementam os dados do InSTePP, principalmente no tocante aos recursos
humanos alocados em organizações públicas de pesquisa agrícola nos países
subdesenvolvidos.
Com relação aos investimentos privados em P&D agrícola, além dos fatos
estilizados que tendem ao persistente subinvestimento, é comum observar abordagens
que retratam de modo deturpado a forma como empresas privadas atuam no progresso
tecnológico do setor. Conforme indicado por Pray e Fuglie (2015), o P&D privado na
agricultura descrito pelo Manual Frascati (OCDE, 2002) é limitado aos investimentos
realizados por empresas em que a produção de commodities agrícolas representa a
maior parte do valor adicionado ou das vendas, como por exemplo, as empresas de
sementes. Investimentos em P&D realizados por empresas que desenvolvem e fabricam
produtos intensivos em pesquisa e conhecimento como máquinas agrícolas, tecnologias
de informação, agroquímicos, biotecnologias, saúde e nutrição animal, são
contabilizados como gastos realizados na indústria de transformação, mesmo que todos
os produtos resultantes da pesquisa sejam ofertados para atividades agrícolas. Tal
imprecisão empírica subdimensiona a importância da pesquisa agrícola e serve de base
para análises distorcidas sobre o conteúdo tecnológico do setor, regularmente tratado
como um setor de baixa intensidade tecnológica.
Nesse contexto, Fuglie et al. (2011) construíram um conjunto de dados únicos
sobre as despesas privadas de P & D agrícola em todo o mundo. Os autores
identificaram as principais empresas dos setores de insumos agrícolas e, em seguida,
acompanharam seus gastos em P&D ao longo das últimas décadas. A soma dos
investimentos das empresas líderes, além de estimativas com base em coeficientes de
intensidade de pesquisa para despesas com P & D de pequenas e médias empresas,
forneceu uma estimativa do total de P & D privado nos setores de insumos agrícolas. A
56
partir da base formada por Fuglie et al.(2011), o presente estudo analisa o total de
investimentos em P&D realizados por 324 empresas de insumos agrícolas no mundo.
Com isso, pretende-se avaliar a evolução dos gastos em pesquisa agrícola tanto no setor
público como no setor privado, e as principais transformações ocorridas no período pós-
revolução verde.
3.2. Transformação Estrutural na Pesquisa Agrícola
Alves in Yeganiantz (1984) destaca que os processos de pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias agrícolas podem ser separados mediante a presença ou
não da pesquisa organizada. O processo ausente de pesquisa organizada é marcado por
procedimentos de tentativa e erro, e o estoque de conhecimento é devido à experiência
adquirida pelos agricultores. Em estruturas deste tipo, agricultores cumprem papel
central na transferência de tecnologia, via a adaptação de tecnologias desenvolvidas em
outras regiões. Já o processo de pesquisa organizada é baseado em ciência e a
transferência de tecnologia ocorre no âmbito de sistemas de pesquisa e inovação.
De acordo com Bentley e Jordan in Busch e Lacy (1987), somente após o
término da segunda guerra mundial a pesquisa agrícola se tornou organizada em escala
global. Nesse movimento, o modelo de insumos modernos de Schultz inspirou a
organização de sistemas nacionais de pesquisa agrícola em diversos países. Conforme
apontam Evenson e Gollin (1998), o modelo de insumos modernos de Schultz (1964)
ganhou relevância, durante a década de 1950, como opção aos programas de
desenvolvimento rural integrado (community development programs). Estes estavam
baseados no diagnóstico do agricultor como agente ineficiente/ignorante, e focados em
atividade de extensão e apoio comunitário.
Schultz (1964) afirma que programas de desenvolvimento agrícola têm de
fornecer novas tecnologias que sejam apropriadas a agricultores pobres nos países
subdesenvolvidos. Para o autor, a elevada especificidade regional da produção agrícola
implica em que muitos agricultores não tenham acesso às tecnologias modernas. Dito de
forma mais direta, a escassez de investimentos para adaptar tecnologias agrícolas
criadas nos países desenvolvidos às diferentes regiões de cultivo nos países mais pobres
impede o fortalecimento de alternativas viáveis às práticas agrícolas tradicionais.
O modelo de insumos modernos assume a premissa de que, dado os mecanismos
institucionais adequados, ganhos de produtividade agrícola em países subdesenvolvidos
57
são obtidos principalmente pela captura de spillovers tecnológicos e adaptação de
progressos científicos obtidos nos países desenvolvidos.
No entanto, em meados da década de 1960, empresas privadas ou governos
nacionais dos países mais pobres não possuíam recursos ou incentivos suficientes para
investirem em atividades com estas finalidades. Empresas privadas devido ao baixo
retorno econômico esperado de inovações que seriam disponibilizadas a produtores com
pequena capacidade de pagamento, dentre outros motivos, e governos nacionais em
função da escassez de recursos financeiros e humanos necessários para o
desenvolvimento de tecnologias agrícolas modernas.
Pingali (2012) indica que a atuação de instituições internacionais de pesquisa
agrícola, dedicadas principalmente à promoção de atividades de melhoramento genético
de plantas, constituiu o elemento central de incentivo à formação de instituições
regionais de pesquisa, e ao fortalecimento do modelo de insumos modernos. Os
primeiros sucessos desse arranjo institucional foram obtidos com a cultura do trigo no
Centro de Melhoramento do Milho e Trigo no México (CIMMYT), e com o
melhoramento genético do arroz no Instituto Internacional de Investigação do Arroz nas
Filipinas (IRRI), ainda nas décadas de 1940 e 1950. Anos depois, em 1971, o modelo
adotado por CIMMYT e IRRI serviu de base para a fundação do Grupo de Investigação
Agrícola Internacional (CGIAR). O CGIAR consiste em uma coalizão de organizações
públicas e privadas, e compreende atualmente 15 centros internacionais de pesquisa
agrícola, cujos esforços têm como objetivo principal gerar conhecimento e spillovers
tecnológicos apropriados aos países subdesenvolvidos.
“Agriculture research knowledge and technology that transcends
national borders has played a crucial role in enhancing developing
country productivity growth over the past fifty years. Modern high
yield varieties of rice, wheat and the other major staples are the often
cited examples of successful application of global science to address
the problems of hunger and poverty. While the initial research
investments were made by two International Foundations— Ford and
Rockefeller Foundations—a coalition of public and private donors
called the CGIAR ensured that such global public good research
investments were sustained over the long term. Global plant breeding
efforts were successfully diffused at the national level in countries that
invested in national agriculture research capacity and created the
enabling environment for enhancing productivity growth—hence the
Green Revolution (Pingali, 2009).”
58
O transbordamento de conhecimentos, tecnologias e produtos criados pelos
institutos internacionais filiados ao CGIAR constituiu um fator determinante para o
fortalecimento de sistemas nacionais de pesquisa agrícola nos países subdesenvolvidos
no período pós-segunda guerra mundial, criando incentivos para que organizações
públicas e empresas privadas realizassem investimentos e obtivessem resultados
positivos com atividades de pesquisa agrícola. Evenson e Gollin (2003) estimam que,
desde 1960 até 1998, os ganhos de produtividade obtidos por países subdesenvolvidos
com a adoção de germoplasmas superiores desenvolvidos nos centros do CGIAR
progrediram 1,0% ao ano para a cultura do trigo, 0,8% para o arroz, 0,7% para o milho e
0,6% para o sorgo. Ainda segundo os autores, durante os primeiros trinta anos da
Revolução Verde, a adoção de cultivares híbridas de alto rendimento desenvolvidas por
centros do CGIAR nos países subdesenvolvidos, avaliada em termos das principais
culturas alimentares, passou de 9% em 1970 para 29% em 1980 e atingiu 63% em 1998
(Evenson e Gollin 2003).
Hall et al. (2000) argumentam que os sistemas nacionais e internacionais de
pesquisa agrícola foram estabelecidos numa época em que as expectativas sobre o
desempenho das atividades de pesquisa eram bastante simples. Os autores afirmam que
a Revolução Verde tinha como norte o aumento da produtividade na agricultura a fim de
aumentar o suprimento de alimentos, e que essas medidas eram as formas mais
indicadas para reduzir a fome e a pobreza associada a ela. Com isso, os arranjos
institucionais para pesquisa eram consistentes com as ideias predominantes à época
sobre a organização das atividades de pesquisa e sua relação com a inovação e a
produção econômica. Desse modo, predominou o modelo de organizações de pesquisa
centralizadas para resolução de problemas genéricos relacionados ao aumento do
potencial biológico de cultivos alimentares.
Os resultados positivos obtidos pelo modelo de insumos modernos coincidiram
com um período de crescimento sustentado da produção e oferta de alimentos, que
induziram uma baixa rentabilidade na agricultura. A maior estabilidade nos mercados
agrícolas fez com que o aumento do valor adicionado dos produtos se tornasse uma
prioridade da pesquisa agrícola, em detrimento de elevações na quantidade da produção
e produtividade, principalmente nos países desenvolvidos. Fatos como a crescente
diferenciação de produtos e a maior importância de fatores “fora da porteira” alteraram
a lógica do processo de decisão sobre a alocação de recursos públicos em pesquisa. Do
59
mesmo modo, o fortalecimento de direitos de propriedade intelectual sobre tecnologias
agrícolas e a globalização dos mercados de insumos agrícolas incentivaram a maior
participação de agentes privados, ampliando o perfil dos agentes nos sistemas de
inovação agrícola, antes centrados nos centros públicos de pesquisa.
Roseboom et al. (2006) afirma que nos países da América Latina e Caribe, a
mudança institucional na pesquisa agrícola transformou um processo linear,
impulsionado por um plano de ação de cima para baixo, onde a pesquisa e os serviços
de consultoria eram dominados por agências governamentais, em uma rede de diversos
atores que influenciam o processo de inovação agrícola. Mendes (2015) apresenta os
principais elementos da transição, observada no Brasil, do sistema nacional de pesquisa
agrícola para o sistema nacional de inovação agrícola.
De acordo com Spielman (2005), a rápida convergência em torno da abordagem
sistêmica de inovações, em especial trabalhos aplicados à agricultura de países
subdesenvolvidos, traduz a capacidade deste tipo de análise em tratar os novos desafios
impostos aos sistemas nacionais e internacionais de pesquisa agrícola. Problemas
relacionados à escassez de recursos, dificuldades para formação e manutenção de bons
cientistas e obstáculos no acesso às novas descobertas científicas e tecnológicas,
representam restrições significativas ao progresso técnico agrícola. Tais desafios
impuseram transformações sobre as atividades de pesquisa, com implicações para o
volume e a composição dos investimentos.
Análises recentes apontam que em diversos países a busca e a seleção de
inovações no setor agrícola ocorrem em arranjos distintos daqueles estabelecidos no
período da Revolução Verde, marcados pela maior participação do investimento
privado, a formação de novos modelos institucionais de incentivo à formação de
parcerias público-privadas (PPPs) e a estagnação dos gastos públicos em pesquisa
(FUGLIE E TOOLE, 2014). As transformações conformaram uma gama diversa de
políticas públicas de inovação e desenvolvimento agrícola. De modo geral, o mundo da
pesquisa agrícola está passando por transformações estruturais com impactos sobre os
padrões globais de pobreza, fome e outros resultados.
Especificamente nos países desenvolvidos, desde o início dos anos 1980, nota-se
a estagnação dos investimentos públicos em pesquisa agrícola. Em alguns países desse
grupo, como Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Holanda, Canadá, dentre outros,
houve redução absoluta dos gastos públicos em pesquisa agrícola. Concomitantemente,
60
a menor quantidade de recursos públicos passou a ser disputada entre um maior número
de possibilidades de alocação. Isto porque, grupos de interesse que não representam
produtores rurais passaram a exercer maior influência sobre a formulação de políticas
agrícolas. Firmas de insumos agrícolas e processadoras de alimentos, grupos de
consumidores, ambientalistas e conservacionistas assumiram papéis relevantes no
desenvolvimento das políticas de pesquisa agrícola, diluindo o poder de grupos de
interesse representantes dos agricultores. Como resultado, parcela cada vez maior dos
gastos públicos em pesquisa agrícola está sendo direcionada a questões como saúde e
nutrição, segurança alimentar, tecnologia de biocombustíveis, bioeconomia, meio
ambiente e mudanças climáticas - deixando uma parcela menor para pesquisas
direcionadas à elevação da produtividade agrícola. No caso norte-americano, conforme
destacam Pardey et al. (2015), mais de 40% dos investimentos públicos em pesquisa
agrícola em 2009 foram direcionados para atividades “fora da porteira”.
Não apenas o nível e a composição da pesquisa pública se transformaram como
também a distribuição geográfica dos investimentos. Durante a década de 1990, pela
primeira vez na história, os gastos públicos em pesquisa agrícola nos países em
desenvolvimento foram superiores aos gastos observados nos países desenvolvidos.
Pardey, Alston e Chang-Kang (2013) destacam a emergência de uma nova ordem
mundial na pesquisa pública agrícola, marcada pela liderança do grupo de países de
renda média (middle income countries), principalmente China, Índia e Brasil. As
pesquisas sobre o tema questionam se países de renda média estão interessados em
fornecer spillovers e tecnologias agrícolas aos países mais pobres. Especialmente em
um cenário de acirramento da concorrência no mercado internacional de commodities
agrícolas e de fortalecimento dos direitos de propriedade intelectual sobre tecnologias
agrícolas.
Com relação à participação do setor privado na pesquisa agrícola, os gastos nos
países desenvolvidos se mantiveram superiores aos observados nos países em
desenvolvimento e subdesenvolvidos no período recente. Principalmente devido ao peso
dos investimentos realizados por empresas líderes das indústrias de insumos agrícolas e
processadoras de alimentos sediadas nos países desenvolvidos. Entretanto, países em
desenvolvimento tem apresentado crescimento relativo dos investimentos privados em
pesquisa agrícola em comparação aos países desenvolvidos. Outra transformação
estrutural observada no período pós Revolução Verde trata-se da maior concentração
61
dos gastos privados em pesquisa agrícola nas mãos de poucas firmas multinacionais. O
fortalecimento de direitos de propriedade intelectual sobre diversos tipos de
conhecimentos científicos, como tecnologias, processos e recursos de pesquisa, tornou
possível a exclusão de usuários potenciais desse conhecimento. O trade-off entre
incentivos à apropriabilidade e restrições de acesso ao conhecimento nas indústrias de
insumos agrícolas tem sido tratado em diferentes perspectivas, conforme o capítulo 5 da
tese.
O quadro descrito acima levanta questões relevantes: Qual deve ser o papel do
setor público na pesquisa agrícola atual? Os gastos públicos são complementares ou
substitutos aos gastos privados? Quais seriam as consequências se todas as tarefas
fossem deixadas sobre os ombros do setor privado? Governos de países em
desenvolvimento são capazes de sustentar, no longo prazo, o financiamento de
programas de pesquisa intensivos em conhecimento e de custos elevados, como é o caso
das biotecnologias agrícolas (Pray e Umali-Deininger, 1998)? Dado a relevância das
questões, que produzem impactos diretos sobre a segurança alimentar e o
desenvolvimento econômico, especialmente nas regiões mais pobres, uma rede
internacional de investigadores dedica-se a encontrar respostas para os problemas
postos. Tais temas serão abordados com maior fôlego no próximo item do presente
capítulo.
3.3. Evolução Recente dos Gastos em Pesquisa Agrícola
A análise histórica dos últimos cinquenta anos da agricultura mundial assegura
que a maioria das atividades de pesquisa e desenvolvimento agrícola foi executada por
organizações públicas e financiada por governos federais. Gastos com pesquisa agrícola
em países desenvolvidos representaram as principais fontes de conhecimento e dos
ganhos de produtividade na agricultura mundial durante o horizonte temporal em
questão. O modelo de insumos modernos está ancorado na premissa de que os
resultados da pesquisa pública agrícola são bens públicos, passíveis de serem
transferidos sem custos diretos, somente custos de transação, para demandantes em
potencial. Porém, estudos recentes apresentam evidências de transformações nesse
quadro.
De acordo com Pardey et al. (2015), em 1960, os gastos públicos em pesquisa e
desenvolvimento agrícola em todo o mundo foram da magnitude de US$ 5,4 bilhões
62
(ajustados para PPP de 2005). Em 2009, o total do gasto público subiu para US$ 33,7
bilhões, formando uma taxa média de crescimento deflacionada de 3,36% ao ano. No
entanto, a análise entre os grupos de países indica que no período recente houve uma
perda de dinamismo acentuada dos gastos públicos nos países de renda alta. Por outro
lado, houve uma aceleração recente no crescimento dos gastos públicos em pesquisa
agrícola nos países de renda média. A combinação destas duas dinâmicas resultou em
uma nova ordem mundial da pesquisa agrícola, marcada pela igualdade de gastos entre
os países de renda alta e renda média.
Os gastos públicos com pesquisa agrícola nos países de renda média cresceram
5,91% ao ano entre 2000-2009. Nota-se que a taxa recente é superior à média desses
países entre 1960-2000, 3,74%, e também ultrapassa a média mundial de 3,75% no
mesmo período. Já os países de renda alta tiveram uma redução nas taxas de
crescimento dos gastos públicos em pesquisa agrícola ao longo das décadas, e no
período 2000-2009 o crescimento foi inferior a 1,5%. Vale destacar que, no período
2000-2009, CGIAR e os países de renda baixa registraram crescimento dos
investimentos em pesquisa agrícola inferiores à média mundial, mas superiores ao
anotado nos países de renda alta.
Países com produção agrícola relevante estão propensos a realizarem maiores
investimentos em pesquisa agrícola. A avaliação da intensidade dos gastos públicos em
pesquisa cumpre papel relevante para associar os investimentos ao peso do setor na
economia, e pode ser obtida através da normalização dos gastos com relação a valores
nacionais de produção agrícola, do número de estabelecimentos rurais, da população
rural, do valor adicionado na produção agrícola, da área ocupada com a produção
agrícola, dentre outros.
Com base nas séries estatísticas sobre dados da produção agrícola
disponibilizadas pela FAO (FAOSTAT), conclui-se que países de renda alta
apresentaram crescimento da intensidade da pesquisa agrícola superior ao observado
nos países de renda média. Entre 1960 e 2009, a intensidade da pesquisa agrícola com
relação ao valor total da produção agrícola nestes países variou de aproximadamente
0,3% para 0,5%, enquanto naquele grupo a variação foi de 0,8% para 3%. Isto é, para
cada US$ 100 de produção agrícola foram investidos US$ 3 em pesquisas públicas nos
países de renda alta. Quando ponderado pela quantidade de habitantes de áreas rurais, o
crescimento do gap na intensidade dos gastos públicos entre países de renda alta e de
63
renda média é ainda mais significativo. De acordo com Alston, Pardey e Piggot (2006),
em 1981, os países de renda alta gastavam US$ 316 em pesquisa agrícola por habitante
das áreas rurais, e os países de renda média US$ 7. Já em 2000, o gasto dos países de
renda média cresceu para US$ 10,2 por habitante enquanto o dos países de renda alta
saltou para US$ 691 por morador de área rural. A dinâmica das intensidades pode ser
explicada em função do crescimento relativo no valor da produção agrícola e da redução
do total de moradores das áreas rurais, que nos países de renda alta foram maiores do
que os observados nos países de renda média.
Assim como a produção agrícola, os gastos em pesquisa persistem altamente
concentrados em nível mundial, a despeito do incremento relativo dos países de renda
média. De acordo com dados da FAO, em 2009, apenas 10 países responderam por
65,6% do valor da produção agrícola mundial, enquanto aproximadamente 75% dos
investimentos públicos em pesquisa agrícola foram conduzidos pelos 10 países líderes
nesse quesito. O argumento é reforçado pela constatação de que, em 2009, os gastos
públicos com pesquisa agrícola nos países de renda baixa corresponderam à apenas
5,2% dos gastos observados nos países de renda alta, e 0,3% do total mundial.
A análise dos gastos por país revela que, em 2009, China, Índia e Brasil
corresponderam a 31% do investimento público mundial em pesquisa agrícola, sendo
que em 1980 correspondiam a menos de 20%. A tabela 01 apresenta o ranking dos 10
países com maiores investimentos públicos em pesquisa agrícola avaliados em dois
pontos no tempo, 1960 e 2009. Destaque para as alterações no ranking, principalmente
pela melhor colocação alcançada por Índia, Brasil, Espanha e Coréia do Sul. Tais
mudanças configuram uma nova ordem mundial na pesquisa pública agrícola, com a
maior participação de países de renda média. Tendo em consideração o papel relevante
dos spillovers tecnológicos de países de renda elevada no período da Revolução Verde,
e a persistência do baixo investimento público nos países subdesenvolvidos, emergem
questões relacionadas ao papel dos novos líderes da pesquisa agrícola global nesse
quadro.
64
Tabela 1 - Evolução do investimento público em pesquisa agrícola
US$ Milhões 2005 PPP US$ Milhões 2005 PPP
País 1960-1962 País 2007-2009
EUA
1.213
CHINA
5.767
CHINA
433
EUA
4.487
ALEMANHA
339
JAPÃO
3.223
JAPÃO
310
INDIA
2.071
REINO UNIDO
268
BRASIL
1.473
ÁFRICA DO SUL
205
ALEMANHA
974
CANADÁ
197
CANADÁ
871
INDIA
162
FRANÇA
867
AUSTRALIA
157
ESPANHA
795
ARGENTINA
137
CORÉIA DO SUL
792
TOTAL TOP 10
3.422 (62%)
TOTAL TOP 10
21.320 (67%)
TOTAL TOP 20
4.298 (78%)
TOTAL TOP 20
26.479 (83%)
TOTAL ÚLTIMOS 100 958 (17%) TOTAL ÚLTIMOS 100 4.258 (13%) Fontes: Pardey, Alston e Chang-Kang (2013).
Segundo Alston, Pardey e Smith (1998), desde o final da década de 1970, um
grupo significativo de países realizou mudanças no financiamento e na base
institucional da pesquisa pública agrícola, assim como nos incentivos que afetam os
gastos privados em pesquisa. Afirma-se que a mudança na visão da participação do
Estado na economia, formalizada anos depois pelas diretrizes estabelecidas pelo
Consenso de Washington, constituiu o pano de fundo dessas transformações. De acordo
com os autores, os elementos comuns das transformações estruturais nas atividades de
pesquisa agrícola consistiram em: 1) uma reavaliação do papel do governo; 2) redução
do financiamento público ou crescimento mais lento desse financiamento; 3) mudanças
na percepção dos papéis dos investimentos públicos e privados; 4) mudanças nas
políticas agrícolas, instituições públicas e mecanismos de financiamento da pesquisa; 5)
ampliação do escopo da agenda de investigação, com maior ênfase de áreas não
tradicionais; 6) aumento dos requisitos de avaliação dos resultados e definição de
prioridades dos gastos públicos em pesquisa.
Hunt et al. (2014) indicam que as reformas econômicas e estruturais dos anos
1980 deslocaram a agricultura australiana de uma rede complexa de intervenções
governamentais para um dos setores agrícolas com menor suporte público no mundo. O
movimento teve como mote a descentralização das decisões sobre alocação dos gastos
de pesquisa, incentivada por políticas federais para que indústrias de produtos agrícolas
investissem recursos próprios em suas próprias agendas de pesquisa. O arranjo
65
institucional adotado consistiu na criação de Corporações de Pesquisa e
Desenvolvimento (RDC), com poderes para coletar impostos nas indústrias às quais
estão atreladas. A cobrança incide sobre o valor bruto da produção e não excede o limite
estabelecido de 0,99% desse valor. O arranjo das RDCs assegura que o Tesouro
Nacional Australiano contribui, em contrapartida ao valor coletado pelo imposto
industrial, com recursos públicos que podem alcançar a proporção de 1 para 1. Core
(2009) afirma que o objetivo central das RDCs australianas foi transferir para o setor
industrial decisões relacionadas à alocação dos recursos de pesquisas. Além dos RDCs,
em meados dos anos 1990 também foram criados centros industriais de excelência em
pesquisa - Centros de Pesquisa Cooperativa (CRCs) - que visam reunir os melhores
pesquisadores do país em domínios científicos específicos, tanto dos setores públicos e
privados. Os CRCs são arranjos contratuais entre agências governamentais de pesquisa,
universidades e indústrias na Austrália, que contribuem com dinheiro, infraestrutura e
recursos humanos e colaboram na gestão e condução de pesquisa durante um período de
tempo definido, que normalmente é de sete anos.
Alston, Freebairn e James (2004) apontam que impostos sobre o comércio de
commodities e a contrapartida governamental na forma de subsídio têm emergido como
fonte importante de recursos para pesquisa agrícola em diversos países. Assis et al.
(2007) destacam a relevância dos programas de “commodities check-off” nos EUA, e
discutem os aspectos jurídicos para que este tipo de arranjo institucional seja
implementado no Brasil. Nota-se que nos países desenvolvidos, os recursos alavancados
com “commodities check-off” também financiam atividades de marketing e promoção
setorial, cujo benefício recai majoritariamente sobre os produtores.
De acordo com Huffman e Just (1998), a mudança política radical no Reino
Unido teve início nos anos 80, com as iniciativas do governo Thatcher para reduzir o
tamanho do setor público e permitir que as forças de mercado desempenhassem um
papel maior na economia, incluindo a alocação de recursos de pesquisa agrícola. A
reorientação implicou que pesquisas mais próximas ao mercado, voltadas para o
aumento da produtividade agrícola, e as atividades de transferência de tecnologia,
passassem a ser de responsabilidade exclusiva do setor privado. Nesse movimento,
maior parcela dos recursos públicos foi direcionada para Universidades, em detrimento
de departamentos governamentais e organizações públicas, e o foco das ações deslocado
66
para questões relacionadas ao bem estar da população geral, em detrimento dos ganhos
de produtividade agrícola.
Pray (1996) forneceu evidências preliminares sobre os impactos da privatização
da pesquisa agrícola no Reino Unido. De acordo com o autor, avaliações da privatização
da pesquisa agrícola devem ser orientadas por questões que busquem mensurar os
impactos da privatização sobre a quantidade de pesquisa, sobre os produtos e a
produtividade da pesquisa e sobre a distribuição dos custos e benefícios das pesquisas.
Galushko e Gray (2013) afirmam que a privatização incentivou o crescimento da
pesquisa agrícola no longo prazo, embora no curto e médio prazo os impactos tenha
sido negativos. De acordo com os autores, a regulamentação da cobrança de royalties no
ponto de entrega do produto foi outro fator que incentivou o crescimento da pesquisa
agrícola no Reino Unido.
Roseboon e Rutten (1998) apontam que na Holanda as transformações nas
atividades de pesquisa agrícola foram influenciadas por mudanças na estrutura do setor
agrícola, avanços autônomos na ciência, bem como mudanças de cunho ideológico.
Segundo os autores, em 1986, o governo holandês possibilitou que empresas privadas
executassem pesquisa agrícola financiada com recursos públicos. A decisão do governo
de privatizar a execução da investigação agrícola pública alterou significativamente a
organização e a gestão da pesquisa, culminando na redução pela metade no número de
institutos de pesquisa agrícola, de 22 para 11, e a maior concentração geográfica da
infraestrutura de pesquisa agrícola nas Universidades de Wageningen e Lelystad. A
distribuição do financiamento da pesquisa pública agrícola holandesa também sofreu
alterações, com a redução significativa dos recursos aplicados em estações agrícolas
experimentais. Fatores como a nova orientação governamental para que agricultores
assumissem maiores responsabilidades pelas suas pesquisas, e a pressão da opinião
pública para que maiores investimentos em pesquisa fossem alocados em temas como
meio ambiente, bem estar animal, segurança alimentar e uso do solo, constituíram as
principais justificativas dos menores investimentos nas estações experimentais. Em
especial, os autores apontam duas tendências nos domínios da ciência e da tecnologia
agrícola que se mostraram corretas com o passar dos anos: agricultura, agronegócio e
assuntos rurais se tornarão mais integrados com outros setores da economia, não
agrícolas e não-rurais; a investigação agrícola estará mais interligada com outras
ciências e tecnologias.
67
Carew (2001) divide as políticas canadenses de pesquisa agrícola em dois
períodos. O primeiro, com início na década de 1970 e duração até meados da década de
1980, é caracterizado pela exploração de mecanismos alternativos de financiamento e
gestão da pesquisa pública agrícola. Nesse período, o governo federal ampliou o papel
desempenhado pela indústria privada e pelas Universidades, através da maior
contratação de serviços de pesquisa e da criação de arranjos institucionais de incentivo à
formação de parcerias público-privadas entre empresas e organizações públicas de
pesquisa agrícola. A segunda fase, que teve início no final dos anos 80 e persistiu até o
momento de publicação do trabalho em questão, é marcada por mudanças na política de
pesquisa ditadas pelos cortes orçamentários do governo, pela maior proteção à
propriedade intelectual de conhecimentos científicos e a ampliação das agendas de
investigação. Em especial, o papel do governo federal no sistema nacional de inovação
agrícola foi deslocado da liderança no financiamento e na execução, para a função de
catalisador e facilitador.
As transformações recentes na estrutura das atividades de pesquisa agrícola nos
Estados Unidos têm sido alvo de um crescente número de estudos. Pardey, Alston e
Chan-Kang (2013), indicam que, em 2009, cerca de US$ 11,1 bilhões foram gastos em
pesquisa agropecuária e alimentar naquele país. Segundo os autores, há em curso uma
desaceleração no crescimento do gasto total em pesquisa agrícola nos EUA. Em termos
reais, o crescimento do gasto total (público + privado) em pesquisa agrícola caiu de 3,77
% ao ano durante 1953-1970, para 1,85% em 1970-2009, e para apenas 1,20 % na
média anual entre 1990-2009. Nesse movimento, a trajetória recente dos gastos públicos
foi de queda, de US$ 5,03 bilhões em 2005 (valores de 2009) para US$ 4,71 bilhões em
2009, de onde se pode concluir que o crescimento no gasto total deu-se em função dos
incrementos nos investimentos do setor privado.
Com relação à execução da pesquisa agrícola norte-americana, Pardey, Alston e
Chan-Kang (2013) indicam que, no ano de 2009, o total foi divido da seguinte forma:
13% em pesquisas internas do departamento de agricultura dos Estados Unidos
(USDA), 33% em estações experimentais agrícolas estaduais (SAES) e instituições
relacionadas, e 54% no setor privado. No tocante ao financiamento das pesquisas no
mesmo ano, destaque para a maior participação do setor privado e organizações
filantrópicas com 60%, seguidos por recursos do governo federal com 27%, e dos
governos estaduais com 13%. Nota-se que as estações estaduais executaram 33% das
68
pesquisas e os governos estaduais financiaram 13%. A diferença ocorre em função das
fontes externas de financiamento, como receitas geradas pela comercialização de
produtos desenvolvidos nas estações e a prestação de serviços para empresas privadas.
Já a pesquisa realizada por laboratórios do USDA foi quase que integralmente
financiada com recursos do governo federal.
Um fato relevante no período recente corresponde à maior participação de vasta
gama de agências federais norte-americanas no financiamento de pesquisas executadas
por organizações de pesquisa agrícola. Fundação Nacional de Ciência, Instituto
Nacional de Saúde, Departamento de Energia, Departamento de Defesa, Agência Norte-
Americana de Desenvolvimento Internacional, dentre outros, passaram a alocar recursos
em pesquisas realizadas no sistema norte-americano de inovação agrícola. Essa
dinâmica traduz a ampliação da agenda de pesquisa agrícola pública naquele país, em
detrimento dos gastos públicos em atividades para a elevação da produtividade na
agricultura. Porém, conforme Alston et al. (2010), a pesquisa privada serve de
contrapeso aos novos objetivos da pesquisa pública, com a maior parcela daquela sendo
direcionada para atividades “dentro da porteira”, que corresponderam à 64% dos gastos
privados em 2009.
Fuglie e Toole (2014) apontam que, a partir da década de 1980, uma série de
instituições formais foi desenvolvida com o intuito de incentivar a formação de
parcerias público-privadas em pesquisa agrícola nos Estados Unidos. Em 1981, através
do Economic Recovery Tax Act, o governo federal passou a conceder créditos fiscais
atrelados ao financiamento privado de pesquisas executadas em Universidades. Em
1982, o Small Business Innovation Act tornou obrigatório que agências federais
alocassem uma parcela de seus recursos para financiar pesquisas executadas em
empresas com até 500 empregados. Em 1986, o Technology Transfer Act possibilitou
que arranjos contratuais de responsabilidade das partes envolvidas regulassem a
cooperação em pesquisa entre pesquisadores de laboratórios federais e empresas
privadas. Anos mais tarde, em 1995, com o National Technology Transfer and
Advancement Act, foram estabelecidas as regras relativas ao licenciamento de patentes e
compartilhamento de royalties para invenções desenvolvidas no âmbito dos arranjos
contratuais para cooperação em pesquisa. Em 1988, foi lançado o Advanced
Technologies Program (ATP), que estipulou a provisão de recursos públicos em
contrapartida ao gasto privado na formação de consórcios de pesquisa entre empresas,
69
Universidades e laboratórios governamentais. Atualmente, o programa ATP prioriza
investimentos em estágios iniciais do desenvolvimento de tecnologias genéricas, e em
consórcios formados entre organizações públicas e empresas pequenas. Nesse quadro,
outro fator relevante foi o fortalecimento dos direitos de propriedade intelectual sobre o
conhecimento científico produzido com o apoio de organizações públicas, seja no
financiamento ou na execução, estipulados pelo Bayh-Dole Act, e o caso jurídico
Diamond vs Chakrabarty.
Nos países em desenvolvimento também ocorreram mudanças na participação
do setor público em atividades de pesquisa agrícola. A figura 04 apresenta a evolução
dos gastos públicos em pesquisa agrícola nos países não desenvolvidos que possuem os
maiores investimentos nestas atividades. China, Índia e Brasil concentram
aproximadamente 70% dos investimentos nestes países, conforme os dados da
plataforma Agricultural Science and Technology Indicators (ASTI). Nesses países, as
mudanças no ambiente institucional foram ao encontro daquelas descritas nos países
desenvolvidos: ampliação dos objetivos da agenda de pesquisa, fortalecimento de
direitos de propriedade intelectual e políticas de incentivo à formação de parcerias
público-privadas.
Figura 4 - Investimento público em pesquisa agrícola: países selecionados
Fontes: ASTI
Dados coletados do ASTI indicam que no período 1995-2012, o gasto público
em pesquisa agrícola no Brasil dobrou de tamanho, quando medido em termos da
intensidade do gasto com relação ao número de agricultores do país. A intensidade de
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Investimento Público P&D Agrícola (Milhões de US$ PPP 2011)
China India Brazil Mexico Argentina
70
pesquisadores por número de agricultores brasileiros também cresceu significativamente
nesse período, saindo de 38 pesquisadores em tempo integral por 100.000 agricultores
para 57 pesquisadores. Conforme será tratado ao longo do texto, houve uma
transformação estrutural nas atividades de pesquisa agrícola no Brasil nas últimas
décadas. Cabe ressaltar que o crescimento do gasto público é um fato que diferencia a
dinâmica da pesquisa agrícola brasileira daquela observada nos países desenvolvidos.
Segundo Brauw, Huang e Rozelle (2004), uma das características distintivas da
pesquisa agrícola na China é a dominância da pesquisa pública conduzida em academias
nacionais e provinciais de ciências agrícolas, universidades agrícolas e institutos
municipais de ciências agrícolas. Demais organizações públicas regionais lidam com
questões relacionadas à extensão e transferência de tecnologias agrícolas. De acordo
com Chen, Flaherty e Zhang (2012), o investimento público em pesquisa agrícola
chinês duplicou entre 2001 e 2008.
Como em muitos outros setores da economia, o sistema chinês de pesquisa
agrícola sofreu reformas substanciais nas últimas décadas do século XX. Brauw, Huang
e Rozelle (2004) apontam que os objetivos destas reformas foram tornar o sistema mais
eficiente e sensível às necessidades do setor agrícola e ao desenvolvimento da economia
de forma mais geral. De acordo com os autores, o governo central chinês estava
insatisfeito com o desempenho das organizações públicas de pesquisa agrícola. Excesso
de pessoal, compartimentalização da pesquisa, falta de coordenação e a sobreposição de
esforços foram elementos diagnosticados como os principais responsáveis pelo mau
funcionamento do sistema de pesquisa agrícola no país. Em particular, o governo estava
preocupado com a fraca ligação entre as atividades de pesquisa e as necessidades dos
produtores, materializada na baixa taxa de progresso tecnológico do período em
questão.
As principais reformas do sistema chinês de ciência e tecnologia foram
propostas no documento oficial publicado em 1985, Decision on the Reform of the
Science and Technology Management System, e adotadas em seguida por instituições
ligadas ao Comitê Central do Partido Comunista. As iniciativas incluíram mudanças na
base de financiamento dos institutos de pesquisa, com incentivos à comercialização de
tecnologias e serviços, e o estabelecimento de um sistema de recompensas para os
pesquisadores, com base em remunerações adicionais atreladas ao desempenho
individual. Sendo que um dos resultados mais perceptível foi o rápido crescimento
71
relativo dos fundos competitivos como mecanismo de financiamento público da
pesquisa agrícola, saindo de zero em 1985, para cerca 30% em 1998, e 41% do total do
investimento público em pesquisa agrícola em 2006 (Huang e Hu, 2008).
Com efeito, o crescimento relativo dos fundos competitivos também é um
fenômeno observado no financiamento público da pesquisa agrícola na Índia. No
entanto, nesse país, a maior parte do gasto público ainda ocorre através de “block
grants” não competitivos, com valores pré-fixados para um período de cinco anos.
Conforme Parl e Byerlee (2006), o governo central e os governos estaduais são os
maiores financiadores do gasto público em pesquisa agrícola no país, sendo que no
período recente uma linha de crédito de US$ 180 milhões do Banco Mundial passou a
ser gerida pelo Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola (ICAR). Universidades
Agrícolas Estaduais são as principais organizações que executam a pesquisa na Índia.
Além destas, estações e agências submetidas ao ICAR executam outra grande parcela
dos gastos públicos.
Nos países desenvolvidos, as transformações na estrutura das atividades de
pesquisa agrícola que tiveram início nos anos 1980 implicaram em menores ganhos de
produtividade na agricultura. As percepções negativas desse processo foram acentuadas
pela elevação no preço das commodities agrícolas no período 2005 - 2008. A maior
participação do setor privado em decisões relacionadas à alocação de recursos públicos
elevou a incidência de problemas de captura regulatória. Em perspectiva semelhante, a
maior concentração das organizações públicas em pesquisa básica engendrou alterações
no foco dos esforços, com o deslocamento de avaliações de resultados para métricas
acadêmicas, como citações e publicações, em detrimento dos retornos ao bem estar da
população. Hunt et al. (2014), argumenta que no Reino Unido, a priorização da pesquisa
básica acarretou a perda de competências em pesquisas agrícolas aplicadas no setor
público.
A nova estrutura da pesquisa agrícola resultou em recursos públicos mais
escassos e demandados por uma maior variedade de áreas do conhecimento e
organizações. Com isso, gestores e políticos responsáveis por determinar a estrutura das
atividades de pesquisa agrícola são obrigados a fazerem mais com menos. Posto desta
forma, o quadro de referência deu origem a uma série de trabalhos relacionados à
eficiência econômica e distributiva dos investimentos em pesquisa agrícola. O tema é
alvo do capítulo 5 da presente tese, onde será estendido à dinâmica recente da
72
organização da pesquisa agrícola no Brasil. Cabe por agora, retomar a análise
qualitativa das transformações.
No tocante à pesquisa no setor privado, avanços autônomos na ciência, maior
proteção jurídica internacional à propriedade intelectual de tecnologias agrícolas,
globalização dos mercados de produtos e insumos agrícolas, e alterações em políticas
agrícolas resultaram em crescimento superior dos investimentos privados em pesquisa
agrícola quando comparados aos investimentos públicos. De acordo com Pray e Pardey
(2015), as despesas privadas em P&D agrícola aumentaram mais rapidamente do que os
gastos públicos, 3,8% contra 2,6% ao ano entre 1980 a 2009, em âmbito global. Desse
modo a participação dos investimentos privados no total dos gastos em pesquisa
agrícola mundial aumentou de 36% em 1980, para 44% em 2009. Atualmente, no grupo
de países de renda elevada os gastos privados em P&D agrícola são superiores aos
gastos públicos. Já nos países de renda média, os recursos públicos permanecem como
os maiores financiadores da pesquisa agrícola, mesmo com o crescimento acelerado dos
investimentos privados nas últimas décadas. Nota-se que, assim como no gasto público,
o crescimento do investimento privado no grupo de países de renda média foi superior
ao observado nos países de renda alta.
No total global dos gastos em pesquisa agrícola, a participação dos
investimentos privados em países de renda alta foi de 65% em 2009, contra 85% em
1980 (PRAY E PARDEY, 2015). Alston et al. (2010) estimam que, entre 1981 e 2000,
as despesas do setor privado no conjunto de países da OCDE cresceu a uma taxa quase
três vezes à observada no setor público e que, no de 2000, essas despesas do setor
privado representaram 54% do total P&D agropecuário nesses países. Fuglie et al.
(2011) apontam que aproximadamente 90% do P&D agrícola privado mundial é
realizado por empresas sediadas em países de renda alta.
Empresas líderes dos mercados de insumos agrícolas operam em redes globais
de pesquisa através de subsidiárias e joint ventures localizadas em países de renda
média. Além disso, muitos produtores de insumos agrícolas sediados em países de renda
média iniciaram ou aumentaram seus investimentos em P&D recentemente. Fato que,
em conjunto com as despesas das empresas multinacionais, resultou no crescimento
relativo da pesquisa agrícola privada nos países de renda média (PRAY E PARDEY,
2015). No ano de 2009, o somatório dos investimentos privados em pesquisa agrícola
em Brasil, Índia e China foi superior às despesas registradas nos Estados Unidos: US$
73
7,7 bilhões contra US$ 6,2 bilhões. Em 1980, os gastos privados nesses países
representava uma fração de 26% do gasto observado nos Estados Unidos.
Dados primários divulgados por Pray e Nagarajan (2014), evidenciam que na
Índia os gastos privados em pesquisa agrícola saltaram de US$ 24 milhões em meados
da década de 1980 para US$ 250 milhões em 2008-2009. O estudo de Hu et al. (2011),
revela que os investimentos privados em pesquisa agrícola na China quadruplicaram no
período entre 2000 e 2006, alcançado o total de US$ 438 milhões. No caso brasileiro,
conforme o próximo capítulo da tese, no período entre 1995 e 2012, os gastos privados
em pesquisas agrícolas saltaram de US$ 50 milhões para US$ 377 milhões.
Pray e Pardey (2015) afirmam que o crescimento do P&D agrícola privado não
tem sido uniforme em todas as indústrias de insumos agrícolas. Dados compilados pelos
autores indicam que a maior parte desse crescimento ocorreu em insumos para o
incremento da produtividade de culturas agrícolas, com destaque para as indústrias de
sementes, biotecnologias e máquinas agrícolas. Tal dinâmica revela uma transformação
estrutural na pesquisa privada, materializada na substituição dos investimentos em
pesquisas de produtos químicos por produtos de base biológica. Com relação ao setor de
máquinas agrícolas, constatou-se o crescimento relativo dos gastos privados em
tecnologias de informação, fato que é condizente com o aumento da demanda por
tecnologias para agricultura de precisão e automação de tratores e máquinas agrícolas.
Os autores ressaltam também o crescimento de investimentos privados em pesquisas
nos setores de processamento de alimentos e de biocombustíveis.
Nas últimas décadas, as indústrias de insumos agrícolas passaram por processos
de fusões e aquisições que atingiram uma nova etapa, marcada por fusões entre
empresas multinacionais, líderes globais em muitos mercados. Tal processo tem ligação
com o fortalecimento de direitos de propriedade intelectual sobre conhecimento e
demais bens produzidos pela pesquisa agrícola, como processos e tecnologias de
pesquisa, softwares, sistemas agronômicos, dentre outros. Conforme apontam Fulton e
Gray (1997), por serem bens desprovidos da característica de rivalidade, o custo
marginal da produção destes é nulo, ou bem próximo disso. Firmas que utilizam esses
bens como insumos de produção obtêm economias de escala, tamanho e escopo, via a
distribuição do seu produto por um número maior de consumidores, ou a diluição dos
custos fixos de produção ou aquisição desses insumos.
74
Fuglie, Wang e Ball (2012) apontam que uma consequência direta das
transformações estruturais na organização das atividades de pesquisa agrícola é o fato
de que atualmente os ganhos de produtividade, medidos em termos da produtividade
total dos fatores, nos países desenvolvidos são inferiores àqueles observados nos países
em desenvolvimento. Segundo os autores, a elevação dos gastos privados em pesquisa
agrícola compensou a queda dos gastos públicos e contribuiu para que os países
desenvolvidos mantivessem ganhos de produtividade na agricultura. Embora estes
tenham sido inferiores àqueles registrados até o início da década de 1980. Já os países
em desenvolvimento registraram nas últimas décadas crescimento tanto nos gastos
públicos como nos privados, que resultaram em ganhos de produtividade superiores à
média mundial. Com isso, os autores afirmam que há em curso um deslocamento
geográfico no locus dos aumentos de produção e produtividade agrícola em nível
mundial. A tabela 02 fornece estimativas do crescimento da produtividade total dos
fatores na agricultura, desagregada por regiões e países. Nota-se que nas regiões em
desenvolvimento, o crescimento da produtividade agrícola dobrou entre os períodos
1960-1990 e 1990-2009.
Tabela 2 - Crescimento da produtividade total dos fatores na produção agrícola
Região Taxa média de crescimento da PTF (% por ano)
1961-70 1971-80 1981-90 1991-00 2001-09
Países em Desenvolvimento 0,69 0,93 1,12 2,22 2,21
África Subsaariana
0,17 -0,05 0,76 0,99 0,51
América Latina e Caribe 0,84 1,21 0,99 2,9 2,74
Brasil
0,25 0,6 3,02 2,62 4,03
Ásia (Exceto Oeste) 0,91 1,17 1,42 2,73 2,78
China
0,94 0,67 1,71 4,1 3,05
Oeste e Norte da Ásia 1,4 1,66 1,63 1,74 1,88
Países Desenvolvidos 0,99 1,64 1,36 2,23 2,44
EUA e Canadá
1,25 1,67 1,31 2,18 2,24
Europa (Oeste e Central) 0,58 1,44 1,43 1,25 1,98
Países em Transição
0,57 -0,11 0,58 0,78 2,28
Mundo 0,18 0,6 0,62 1,65 1,84 Fontes: Fuglie, Wang e Ball (2012).
Nota-se pela tabela 02, que China e Brasil despontam como novos “motores” da
agricultura mundial, principalmente em função dos ganhos na produtividade total dos
fatores registrados nos períodos 1991-2000 e 2001-2009. No caso brasileiro, os ganhos
de produtividade obtidos nos períodos em questão corresponderam ao dobro dos ganhos
75
anotados nos países da Europa Central e do Norte. Mais especificamente, o crescimento
da produtividade total dos fatores na agricultura brasileira foi superior ao dobro do
crescimento global no período 2000-2009, 4,03% contra 1,84%. Em contraste, houve
uma redução nos ganhos de produtividade na África-Subsaariana durante os períodos
1991-2000 e 2001-2009, de 0,99% para 0,51%. O cenário ganha contornos alarmantes
quando confrontado com o declínio dos gastos públicos em pesquisa agrícola nos países
desenvolvidos, fontes de conhecimento e spillovers para a agricultura global.
No próximo capítulo deslocamos o foco das análises para as transformações da
pesquisa agrícola no Brasil. Com efeito, o aumento de recursos públicos e privados
alocados em atividades de pesquisa agrícola são os principais fatores responsáveis pelo
desempenho da produção agrícola no período recente. O capítulo analisa ainda o
ambiente institucional formado por políticas de incentivo à pesquisa agrícola no país,
que resultaram no maior aporte de recursos privados.
4. Pesquisa Agrícola no Brasil
A motivação inicial deste estudo reside na escassez de dados primários sobre os
investimentos privados em pesquisa agrícola realizados no Brasil por indústrias
intensivas em conhecimento, como biotecnologias agrícolas, sementes, agroquímicos,
máquinas e implementos agrícolas, saúde e nutrição animal. O presente capítulo da tese
persegue o principal objetivo de contribuir com as abordagens do sistema brasileiro de
inovação agrícola.
O item avalia a estrutura e a evolução dos investimentos públicos e privados em
pesquisa agrícola no Brasil no período 1995 - 2012, com foco em quatro setores:
sementes, biotecnologias agrícolas, agroquímicos e máquinas agrícolas. O levantamento
dos dados primários do setor privado foi realizado através de entrevistas com
representantes de firmas e a aplicação de questionários estruturados. As entrevistas
foram realizadas ao longo dos seis primeiros meses do ano de 2013, e envolveram o
total de 7 pesquisadores (graduandos, mestrandos e doutorandos) do Núcleo de
Economia Agrícola e Meio Ambiente do Instituto de Economia da UNICAMP. As
entrevistas foram realizadas com base em questionário estruturado, desenvolvido em
conjunto pelos pesquisadores do NEA/UNICAMP e da Universidade de Rutgers em
Nova Jersey. A pesquisa foi supervisionada no Brasil pelo professor José Maria Ferreira
76
Jardim da Silveira, e contou com a supervisão internacional do Professor Carl Pray, da
Universidade de Rutgers em Nova Jersey. O apêndice 01 apresenta o questionário
utilizado na pesquisa. Dados adicionais foram recolhidos a partir de uma variedade de
periódicos, bancos de dados on-line, relatórios anuais de empresas e comunicados de
imprensa, bem como livros e revistas relacionados aos setores de insumos agrícolas
abordados. As atividades desempenhadas no Brasil fazem parte de trabalho contínuo no
departamento norte-americano de agricultura (USDA), que busca avaliar a dinâmica dos
investimentos públicos e privados em pesquisa agrícola no mundo.
Os mercados brasileiros de insumos agrícolas estão entre os maiores e mais
dinâmicos do mundo, com as empresas ofertando centenas de inovações por ano-safra.
Na mesma magnitude, as organizações públicas de pesquisa agrícola brasileira
constituem um dos mais importantes sistemas de inovação em agricultura tropical do
mundo (CASTRO, 2010). Esses elementos podem ser apontados como os principais
responsáveis pelo desenvolvimento histórico e recente da agricultura nacional.
Roseboom (1999) e Beintema et al., (2001) são considerados o "estado da arte"
na análise dos investimentos em P&D agrícola no Brasil. Estes artigos tiveram como
foco os investimentos realizados em meados da década de 1990, e seus resultados
possibilitam traçar comparações com os resultados do presente trabalho. Os dados
levantados neste estudo indicam que o Brasil tem presenciado o rápido crescimento no
investimento privado em P&D agrícola desde os anos 1990. No geral, os gastos
privados em P&D agrícola no país aumentaram em aproximadamente sete vezes de
tamanho, passando de US$ 50 milhões em 1995 (Roseboom, 1999) para US$ 377
milhões em 2012, com os valores expressos em dólares constantes de 2012. No entanto,
o investimento privado é ainda significativamente inferior ao orçamento das
organizações públicas de pesquisa. Com relação aos gastos públicos, o Brasil segue na
contramão da tendência de queda ou estagnação observada nos países desenvolvidos,
conforme descrito no capítulo anterior.
A presente tese expõe uma interpretação da dinâmica recente dos investimentos
em pesquisa agrícola no Brasil. À luz da literatura internacional especializada sobre o
tema, a tese contribui para a compreensão do caso brasileiro, marcado pelo crescimento
do investimento público e privado, a formação de novos arranjos institucionais e
políticas de incentivo à pesquisa agrícola e a maior internacionalização das atividades
de pesquisa. Propõe-se uma visão alternativa à organização da pesquisa agrícola
77
brasileira contida em trabalhos que trataram do tema em meados dos anos 1990. Estes
trabalhos projetavam a redução dos gastos públicos, fato que não foi confirmado ao
longo da década. Do mesmo modo, a presente tese busca complementar uma das 7 teses
contidas no livro “O Mundo Rural no Brasil Século XXI”, que postula a redução da
participação do setor público na agricultura. Embora tal tese traduza de modo preciso a
dinâmica observada em políticas de incentivo e suporte aos agricultores, a mesma não é
válida para descrever a participação do setor público na pesquisa agrícola. Com isso,
pretende-se contribuir para a compreensão dos fatores responsáveis pela dinâmica da
produção agrícola no Brasil contemporâneo.
Em busca dos objetivos propostos, o capítulo está dividido em seis partes. Após
a introdução, a segunda seção apresenta uma visão geral da modernização da agricultura
brasileira nas últimas duas décadas. A terceira parte do capítulo discute a evolução do
papel do setor público na pesquisa agrícola brasileira. O item aborda a mudança no
ambiente institucional brasileiro de incentivo à pesquisa no setor privado e a evolução
nas pesquisas executadas em organizações públicas.
A quarta parte descreve a metodologia empregada na coleta das informações
utilizadas nas análises. No total, foram enviados questionários para cerca de 100
representantes do setor de P&D de empresas de insumos agrícolas com atividades no
Brasil. A taxa de retorno obtida foi superior a 20%, e contou com a participação de
empresas que detêm parcelas significativas do mercado nacional. Não obstante, o
questionário permitiu que empresas informassem suas percepções sobre as políticas e os
programas públicos de incentivo a pesquisa agrícola privada no país.
A quinta parte apresenta os principais resultados do estudo e analisa, em tópicos
independentes, a evolução do mercado e das atividades de pesquisa nas indústrias
brasileiras de sementes, biotecnologias, agroquímicos e máquinas agrícolas. Na sexta
parte são realizadas considerações gerais e o alinhamento de temas para a continuidade
do trabalho no futuro.
4.1. Modernização da Agricultura Brasileira
Investimentos em ciência e tecnologia (C & T) estão na base da posição histórica
de liderança do Brasil em mercados internacionais de produtos agrícolas, como algodão,
café, açúcar, citrus e outros. Até o início da década de 1970, a pesquisa agrícola no
Brasil tinha forte ligação com as culturas de exportação e estava fortemente concentrada
78
nas Organizações Públicas de Pesquisa Agrícola em Estados do Sul e Sudeste. A
fundação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no início de
1970, resultou na maior descentralização das políticas públicas de ciência e tecnologia
agrícola, assim como na diversificação dos investimentos do governo federal entre
produtos e regiões.
Os resultados obtidos pela Embrapa aceleraram o ritmo de crescimento da
produção e da produtividade de muitas culturas, adaptando tecnologias agrícolas
inovadoras da revolução verde para as condições de solo e clima do país (BUAINAIN,
ALVES, SILVEIRA e NAVARRO, 2014). Não menos relevante, Chaddad (2016)
destaca a vocação pelo empreendedorismo dos agricultores brasileiros como fator
determinante do desenvolvimento agrícola nacional.
De acordo com CEPEA (2014), o produto interno bruto do agronegócio
brasileiro foi de cerca de US$ 500 bilhões em 2013 (R$ 1.100 bilhões, convertidos pela
taxa de câmbio média de 2012 ). No período de 15 anos (1999-2013), o PIB do
agronegócio atingiu a taxa de crescimento real de 45%, com o acréscimo de US$ 155
bilhões ao valor bruto da produção das indústrias de insumos agrícolas, agropecuária e
alimentação. No mesmo período, houve o crescimento de aproximadamente US$ 25
bilhões no valor bruto da produção nas indústrias de fertilizantes, agroquímicos,
sementes, máquinas agrícolas, saúde e nutrição animal, registrando assim a taxa média
de crescimento anual de 13%. É importante mencionar que as estimativas do CEPEA
não destacam a evolução da indústria de biotecnologias agrícolas no Brasil.
Em valores monetários, o mercado brasileiro de agroquímicos cresceu 47% entre
2009 e 2013, tornando-se o maior mercado mundial desses produtos, com vendas totais
de US$ 11,5 bilhões em 2013. O mercado brasileiro de sementes movimentou o total
estimado de US$ 2,6 bilhões na safra 2012/2013, sendo que o mercado de sementes de
soja correspondeu a US$ 1 bilhão. Não foram encontradas estatísticas que fornecessem
dados relativos ao tamanho do mercado brasileiro das biotecnologias inseridas nas
sementes, mas especialistas estimam que o total recebido a título de pagamento de taxas
tecnológicas (royalties) na utilização de sementes geneticamente modificadas no Brasil
tenha ultrapassado o valor de US$ 1 bilhão em 2012/2013. No mercado de máquinas
agrícolas o ano de 2013 foi o melhor em toda a série histórica, superando o recorde
anterior de 1976, e vendas totais superiores à US$ 10 bilhões. Vale ressaltar que mesmo
sendo o número de tratores vendidos anualmente no Brasil cerca de um décimo do
79
observado no mercado indiano, as máquinas no mercado brasileiro têm maior potência e
valor adicionado.
Com relação à quantidade de produtos comercializados, os mercados brasileiros
de insumos agrícolas têm experimentado crescimento real notável na última década. Por
exemplo, a quantidade de sementes de soja produzidas aumentou mais de 60% durante
2007-2012 (ABRASEM, 2013). O total de tratores, colheitadeiras, carregadeiras e
retroescavadeiras comercializadas por ano aumentou de 38.000 unidades em 2003, para
cerca de 81.000 unidades em 2013 (FNP, 2015). Como posto em BNDES (2014), o
volume de agroquímicos comercializados no Brasil cresceu 25% no período 2009-
2013. Neste contexto de rápido crescimento, nenhuma inovação é capaz de superar as
biotecnologias agrícolas, cuja difusão em uma década atingiu cerca de 40 milhões de
hectares de soja, milho e algodão (CÉLERES, 2014). A tabela 03 mostra a evolução do
uso de insumos modernos na agricultura brasileira no longo prazo. Destaca-se que os
mercados de sementes, agroquímicos e tratores agrícolas praticamente duplicaram de
tamanho na última década.
Tabela 3 - Uso de insumos na agricultura brasileira
CONSUMO ANUAL DE INSUMOS
1971 1981 1991 2001 2011
PRODUÇÃO DE SEMENTE ('000 TONS)
ND
1.473
1.834
1.401 2.994
CONSUMO DE FERTILIZANTES (MILHÕES DE TONS NPK )
1,1
2,7
3,2
6,8 11,5
CONSUMO DE AGROQUÍMICOS ('000 TONS)
58
128
106
328 730
VENDAS DE TRATORES ('000 UNITS) 22 27 13 28 52
Fontes: ABRASEM, ANDA, SINDIVEG, ANFAVEA.
Em termos relativos, em 2013, apenas a riqueza produzida na colheita de dois
produtos agrícolas (milho e soja) foi 50% superior ao lucro líquido do total obtido pelas
20 empresas mais rentáveis de capital nacional, 146 bilhões e 104 bilhões de reais,
respectivamente (BUAINAIN, ALVES, SILVEIRA e NAVARRO, 2014). A expansão
da produção agrícola brasileira acelerou a demanda por insumos modernos. Afirma-se
que o consumo foi impulsionado pela evolução nos termos de troca entre produtos
agrícolas e insumos, em benefício dos agricultores. Enquanto isso, a difusão de
mecanismos contratuais entre empresas privadas (barter) para o financiamento da
aquisição de insumos, apoiou e persiste apoiando a expansão da fronteira agrícola e a
80
difusão de insumos modernos em regiões mal atendidas por investimentos públicos em
infraestrutura e pesquisa agrícola, tais como as regiões Norte e Nordeste do país
(GALVÃO, 2014).
Os produtos do agronegócio atingiram mais de 40% do valor total das
exportações brasileiras em 2013, representando fonte indispensável de moeda
estrangeira para a economia do país. Em 2013, a balança comercial da produção
agrícola brasileira registrou o total de US$ 83 bilhões, o terceiro maior exportador
agrícola do mundo (em termos de valor), depois dos Estados Unidos e da União
Europeia. O desempenho internacional do agronegócio brasileiro é um dos principais
impulsionadores da crescente demanda por insumos agrícolas modernos no país.
De acordo com o sistema nacional de informações sobre o comércio exterior
(AliceWeb), a quantidade total de exportações de soja mais que dobrou entre 2003 e
2013. No mesmo período, o valor das exportações de soja também registrou acentuado
aumento, cerca de 432%. A quantidade exportada de milho em 2013 foi 70% superior à
de 2003, com crescimento nominal de 300% no valor das exportações. Conforme Rada
e Valdês (2012), esse rápido crescimento das exportações brasileiras de milho coincide
com as menores exportações de milho dos Estados Unidos, já que os EUA passaram a
utilizar mais milho na produção de etanol. As exportações de produtos à base de cana-
de-açúcar também registraram expressivo aumento em termos quantitativos, de 11
milhões de toneladas em 2003 para cerca de 25 milhões de toneladas em 2013. O valor
das exportações de carne bovina e de aves cresceu mais de 300% no período analisado.
No período de dez anos (2003-2013), o valor (US$ FOB) das exportações brasileiras de
açúcar cresceu cerca de 450%.
A Tabela 04 descreve a modernização da agropecuária brasileira em termos dos
ganhos de produção e produtividade em produtos selecionados, divididos em três
períodos de tempo 1961-1975; 1975-1990; 1990-2012 (Vieira Filho in Buainain, Alves,
Silveira e Navarro, 2014). Como indicado, o período 1961-1975 compreende os
resultados da fase inicial da modernização da agricultura, refletindo basicamente os
primeiros anos de funcionamento do sistema público de crédito agrícola. O período
marcou uma fase de difusão lenta de insumos e práticas agrícolas modernas no Brasil. O
período subsequente, 1975-1990, registou o aumento global das taxas de crescimento da
produção e da produtividade. O último período de análise, 1990 - 2012 registou papel
decrescente das organizações públicas na inovação de produtos. O setor privado passou
81
a desempenhar papel mais ativo na transferência de tecnologia, assistência técnica e
crédito.
Tabela 4 - Evolução da produção e produtividade total dos fatores
Fontes: Adaptado de Vieira Filho in Buainain, Alves, Silveira e Navarro, 2014.
Aliado ao crescimento da produtividade total dos fatores, as recentes expansões
da área cultivada no Brasil explicam muito do desempenho observado nos mercados de
insumos. Nas últimas seis estações (2009-2014), houve aumento acentuado nas áreas
ocupadas pelas culturas de milho e girassol de inverno. No mesmo período, a plantação
de soja no Brasil aumentou em impressionantes 8 milhões de hectares. A área plantada
de cana-de-açúcar também registrou crescimento significativo, principalmente na região
centro-sul do país.
Tabela 5 - Expansão na área cultivada de culturas selecionadas no Brasil
EVOLUÇÃO NA ÁREA CULTIVADA: BRASIL 2009 -2014
Tx de Crescimento Crescimento Total (1000 HECTARES)
ALGODÃO 33% 278,4 GIRASSOL 94% 70,7 MILHO INVERNO 87% 4.281 SOJA 39% 8.430 SORGO -14% -115
TRIGO 13% 302
CANA 26% 1.753 Fontes: CONAB.
O Brasil possui grandes oportunidades para expandir os cultivos agrícolas sem
ter que substituir áreas cobertas com vegetação nativa para isso, principalmente através
da substituição de pastagens improdutivas por lavouras de grãos. De acordo com o
Indicador Medida Produto
1961 1975 1990 2012 1961 - 1975 1975 - 1990 1990 - 2012
Produtividade kg ha-1 Cereais 1.346 1.358 1.755 4.584 0.1 1.6 4.3
Frutas 12.396 12.655 12.974 16.499 0.1 0.2 1.1
Óleos Vegetais 178 225 293 492 1.6 1.6 2.3
Leguminosas 3.779 7.636 14.002 23.163 4.8 3.9 2.2
kg animal-1 Carne de Boi 191 187 182 231 -0.1 -0.2 1
Carne de Porco 66 67 84 96 0 1.4 0.6
Produção ton (milhões) Cereais 15 26.2 32.5 89.9 3.8 1.3 4.5
Frutas 6.9 13.6 29.8 38.4 4.7 5 1.1
Óleos Vegetais 0.6 2.4 4.1 13.3 10.1 3.5 5.2
Leguminosas 2.1 3.1 5.6 11.1 2.9 3.7 3
Carne de Boi 1.4 2.2 4.1 9.3 3.1 4.1 3.6
Carne de Porco 0.5 0.8 1.1 3.5 2.4 2 5.3
Ano Taxa de crescimento
82
censo agropecuário liderado pelo IBGE em 2006, última data disponível, as pastagens
degradadas ocupam mais de 100 milhões de hectares no país.
Afirma-se que a modernização da agricultura brasileira em curso nas últimas
duas décadas está sendo atendida majoritariamente pelo aumento das importações de
insumos, ou pela maior participação de firmas multinacionais. De acordo com a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o valor das importações
brasileiras nas indústrias de insumos agrícolas cresceu 103% entre 2007 e 2012. O valor
total estimado das importações de fertilizantes, agroquímicos e máquinas e implementos
agrícolas, no ano de 2012, foi de US$ 18,5 bilhões. Um valor significativamente
elevado, e que corresponde a cerca de 20% do total de produtos intermediários
importados no país. FIESP (2013) mostra que as empresas dos setores de agroquímicos
e fertilizantes minerais importaram mais de US$ 15 bilhões, especificamente para a
aquisição de ingredientes ativos e fertilizantes intermediários. Desse modo, políticas
governamentais para o progresso tecnológico capturam sinergias ao perseguirem
objetivos complementares como a redução da dependência dos agricultores frente às
empresas multinacionais e a consolidação da competitividade internacional do
agronegócio brasileiro.
4.2. Gasto Público em Pesquisa Agrícola no Brasil
Castro (1984) analisa as propostas de políticas para o avanço científico e
tecnológico da agricultura brasileira entre 1956 e 1985, ou entre o Plano de Metas e o
Terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento. Segundo a autora, já nos primeiros
relatórios governamentais é notável a preocupação com a modernização agrícola, cujo
objetivo é a elevação da produtividade pela difusão de novos métodos produtivos. O
conjunto de propostas e instrumentos de políticas de modernização agrícola observado
foi inspirado na teoria dos insumos modernos de Schultz (1964), com foco na
articulação do tripé: pesquisa, assistência técnica e crédito agrícola.
Castro (1984) avalia que tal concepção modernizante veio a imprimir uma
determinada direção ao desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira, com
ênfase no incentivo à difusão dos insumos modernos e pesquisas preferencialmente
orientadas para cultivos de exportação. Nos documentos há menções à necessidade de
fomentar a pesquisa no âmbito das Universidades, dos centros estaduais e no
Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuária (DNPEA), mas
83
que não foram acompanhadas de diretrizes e instrumentos de implementação. Segundo a
autora, propostas e discussões relacionadas à criação da Embrapa ressaltam que
prevalecia na época à visão sobre a importância de mudança no enfoque do gasto
público em pesquisa agrícola, com a maior alocação de recursos para geração de
pesquisas e tecnologias, e o deslocamento para o setor privado da responsabilidade
sobre atividades necessárias à difusão das tecnologias.
Outra mudança importante observada por Castro (1984) nos relatórios do início
da década de 1970 diz respeito à preocupação com o desenvolvimento tecnológico
autônomo, refletida em buscas de soluções nacionais para os problemas da agricultura
nacional. Tal preocupação, conforme Castro (2010) deu início a uma segunda fase de
modernização da agricultura brasileira no início dos anos 1970, que pode ser
caracterizada pelo fortalecimento do setor público no financiamento e na execução de
pesquisas agrícolas no Brasil.
No entanto, a participação do setor público em P&D agrícola estava prestes a
mudar em meados da década de 1980, no momento em que o Brasil enfrentou uma crise
econômica grave marcada pelo processo de hiperinflação. Para exemplificar, no ano de
1989, o índice oficial de preços (IPCA) registrou a taxa de crescimento anual de
1.972%. Esta situação persistiu até meados de 1994, e culminou em grande
desorganização da economia nacional. Lopes et al. (2012) identificaram a redução
substancial da pesquisa e extensão rural em todo o país no início de 1990, causada pela
escassez de recursos públicos. O orçamento da Embrapa durante 1990 – 1993 caiu ao
menor nível da história, e impactos negativos ainda mais severos foram percebidos nas
finanças estaduais, levando à reestruturação e até mesmo à extinção de algumas OEPAs.
Salles Filho et al. (1995), ressaltam que no mesmo período, a Empresa Brasileira de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), responsável pela coordenação do
Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (SIBRATER), foi fechada
permanentemente. De acordo com Sette e Ekboir (2013), agências estaduais de
assistência técnica e extensão rural que contavam com maior apoio de recursos do
governo estadual sobreviveram.
Salles e Albuquerque (1992) apontam que alterações nas políticas que definem o
papel do Estado na economia, e condições macroeconômicas adversas levaram a
reorganização da pesquisa pública agrícola no Brasil no início dos anos 1990.
Conquanto não tenha sido acometido pela redução absoluta dos investimentos públicos,
84
o país testemunhou transformações estruturais na organização das atividades. Os autores
destacam a formação de ambiente institucional com fortes incentivos aos investimentos
privados. Antle (1997) aponta participação de grupos de interesse não representantes
dos agricultores na disputa pelos recursos públicos alocados em pesquisa agrícola.
Nos primeiros anos da década de 2000, formou-se no Brasil um sistema de
financiamento público à pesquisa agrícola sem precedentes, tanto no volume de recursos
quanto no número de organizações, instituições e áreas de atuação da pesquisa.
Entretanto, diferentemente do observado nos países desenvolvidos, grupos de interesse
representantes de agricultores brasileiros mantiveram forte influência na formulação das
políticas de modernização da agricultura brasileira no século XXI. Tal afirmação pode
ser constatada pela predominância de gastos públicos em pesquisas direcionados para o
aumento da produção e produtividade em cultivos alimentares, conforme exposto em
ASTI (2013).
De acordo com Pacheco (2007), a ênfase dada pelo Governo Federal do Brasil
no período 1999 a 2002 às políticas de incentivo à inovação tem poucos precedentes.
Entre 2000 e 2001 foram criados 12 fundos setoriais de incentivo à pesquisa, cujos
recursos têm origem no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FNDCT). Dentre os fundos setoriais de incentivo ao desenvolvimento científico e
tecnológico, o CT-Agronegócio e o CT-Biotecnologia destacam-se pelo maior foco em
pesquisa agrícola, embora recursos de demais fundos também tenham sido alocados em
atividades relacionadas à pesquisa agrícola. A figura 05 apresenta a evolução dos
recursos aplicados nos Fundos Setoriais no período 2003-2015.
Figura 5 - Composição e evolução dos fundos setoriais no Brasil
Fontes: MCTI, dados da pesquisa.
0
20.000
40.000
60.000
80.000
75%
80%
85%
90%
95%
100%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Mil
Re
ais
Fundos Setoriais - Composição e Evolução
OUTROS CT-AGRONEGÓCIO CT-BIOTECNOLOGIA CT-AGRONEGÓCIO CT-BIOTECNOLOGIA
85
As receitas que alimentam os fundos têm diversas origens, tais como: royalties,
parcela da receita das empresas beneficiárias de incentivos fiscais, contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), compensação financeira, direito de
passagem, licenças e autorizações, doações e empréstimos. No caso do CT-
Agronegócio, a principal fonte de financiamento é a CIDE, cuja arrecadação advém da
alíquota de 10% sobre a remessa de recursos ao exterior, na forma de pagamentos por
assistência técnica, royalties e serviços técnicos. Desse modo, os custos de
financiamento dos investimentos realizados pelo CT-Agronegócio recaem sobre agentes
com operações, ou que contrataram operações, fora do país.
A maior parte dos recursos do CT-Agronegócio foi alocada através da chamada
pública de propostas, modalidade que resulta na seleção de propostas em modelo
competitivo. Além desta, os recursos foram investidos em pesquisas contratadas em
processos não competitivos, por encomenda ou carta convite. Destaque para o
financiamento de eventos com recursos do CT - Agronegócio, que entre 1999 e 2011,
receberam aproximadamente R$ 90 milhões. Na modalidade de chamadas públicas, os
comitês gestores dos fundos atuam em conjunto com os agentes executores das
pesquisas. Agências federais – CNPq, BNDES, FINEP, Fundações Estaduais de Apoio
à Pesquisa (FAPs) ou outras organizações que desempenham as funções de contratação
e de acompanhamento e avaliação dos projetos financiados pelos fundos.
A análise da execução das pesquisas financiadas pelos recursos do Fundo
Setorial do Agronegócio (CT-Agro) aponta a predominância das Universidades, que
receberam 84% do total desembolsado pelo fundo, em termos nominais no período
2002-2011. Centros da Embrapa e OEPAs receberam 9% e 6%, respectivamente. Os
recursos do CT-Agro que foram destinados para a execução de pesquisas em empresas
privadas não alcançaram a marca de 1% do total. Grosso modo, pode-se diagnosticar
que o custo de captação dos recursos para o CT-Agro recaiu sobre as empresas,
enquanto a alocação dos recursos beneficiou mais as organizações públicas de pesquisa
agrícola, em especial as Universidades. A figura 06 apresenta a alocação de recursos do
CT-Agro.
86
Figura 6 - Alocação dos recursos no CT-Agronegócio
Fontes: MCTI, dados da pesquisa
A Lei da Inovação (Lei nº 10.973/2004) estipulou incentivos para a pesquisa
científica no ambiente produtivo, e buscou incentivar a formação de conhecimento, o
alcance da autonomia tecnológica e do desenvolvimento industrial no país. A Lei de
Inovação define as organizações de pesquisa elegíveis para receberem subsídios nas
atividades de P&D, e com isso influencia diretamente a alocação dos recursos dos
Fundos Setoriais. Não obstante, a Lei da Inovação regula a formação de parcerias
público privadas em atividades de pesquisa em todos os setores da economia brasileira.
A Lei de Incentivo Fiscal (Lei do Bem, Lei Nº 11.196/2005) afrouxou algumas
barreiras institucionais e modificou a maneira que as empresas acessam os incentivos
fiscais, transformando o uso dos incentivos em um processo não competitivo e sujeito a
auditorias à posteriori. A Lei do Bem consolidou instrumentos para que as empresas
possam se beneficiar automaticamente dos investimentos em pesquisa realizados no
país, abrangendo todos os setores da economia. De acordo com FIESP (2015), entre
2006 e 2012, as empresas lograram recuperar aproximadamente 19% do investimento
declarado no formulário da Lei do Bem6.
No arcabouço da Lei do Bem, empresas internacionais com atividades no país
acessaram recursos do governo federal nas mesmas condições que as empresas
nacionais. Sendo que as isenções correspondem a gastos fiscais e seus custos recaem
sobre todos os contribuintes do país. Segundo FIESP (2015), 85% de toda a renúncia
fiscal obtida com recursos da Lei do Bem permaneceu restrita à exclusão de 60% sobre
6 O apêndice 02 divulga em ordem cronológica a lista de empresas que acessaram recursos no âmbito da
Lei do Bem.
6% 9%
84%
1%
CT-AGRONEGÓCIO - ALOCAÇÃO DOS RECURSOS
OEPAs
Embrapa
Universidades
Outros
87
os gastos de custeio, e 15% ao aumento do número de pesquisadores, enquanto o
incentivo sobre a patente/cultivar concedida registrou participação insignificante. No
tocante à distribuição setorial, 60% da renúncia fiscal, ente 2006 e 2012 foi concentrada
nos setores de mecânica, transportes, petroquímica e química.
Uma das principais críticas em relação à Lei do Bem argumenta que empresas
pequenas não têm condições de acessar os benefícios, porque os seus impostos sobre os
lucros são calculados em modalidade distinta da requerida para participar da Lei do
Bem. De acordo com FIESP (2015), segundo a Receita Federal, apenas 3% das
empresas do país têm potencial para usufruir da Lei do Bem por fazer a declaração de
IRPJ pelo lucro real. Mais grave ainda é o caso de muitas empresas start-ups que por
não terem comercializado seus produtos não podem acessar as isenções, pois não
possuem lucros tributáveis passíveis de dedução. Em novembro de 2015 a lei do bem
foi suspensa.
Em 2008, o governo federal lançou um fundo de capital destinado a investir em
empresas start-ups, o fundo CRIATEC, com o financiamento e a gestão dos recursos a
cargo do BNDES. O CRIATEC concedeu créditos de até R$ 5 milhões para cada
empresa participante, e investiu em startups de oito estados do país. Dentre as empresas
financiadas pelo CRIATEC, quatro tem como negócio principal tecnologias empregadas
na produção agrícola. Em resumo, o fundo CRIATEC procura superar a escassez de
crédito privado para as empresas start-ups, fato que se torna evidente com a constatação
de que, atualmente, há somente uma empresa de insumos agrícolas listada no mercado
brasileiro de ações.
A criação de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) é outra
política de incentivo às atividades de ciência e tecnologia com impactos significativos
sobre a pesquisa agrícola no país, principalmente pesquisas básicas em estágio pré-
comercial. O programa do INCT tem como objetivo mobilizar os melhores grupos,
públicos e privados, de pesquisa em áreas estratégicas e de fronteira da ciência no
Brasil. INCTs utilizam infraestrutura e recursos humanos de diversas organizações de
pesquisa, tanto no setor público como no setor privado.
A primeira edição dos INCTs foi lançada em 2008 e alocou R$ 600 milhões em
76 INCTs divididos em 8 grandes áreas: Agrárias (10 INCTs), Energia (6 INCTs),
Engenharia e Tecnologia da Informação (9 INCTs), Exatas e Naturais (6 INCTs),
Humanas e Sociais (6 INCTs), Ecologia e Meio Ambiente (16 INCTs), Nanotecnologia
88
(8 INCTs) e Saúde (14 INCTs). Dos Institutos, ao menos 17 exercem atividades
diretamente relacionadas à pesquisa agrícola7. Estes INCTs produziram até o momento
de fechamento da tese o total de 12.761 publicações acadêmicas no Brasil e exterior, e
registraram 175 patentes no país. Pesquisas futuras em economia da ciência podem
contribuir para o fortalecimento dos INCTS, analisando as opções reais dessas patentes
no mercado de insumos agrícolas. Em 2014 foi lançado pelo CNPq edital público para
um novo ciclo de INCTs, que recebeu 352 propostas de criação de novos ou renovação
de INCTs e selecionou 252. No final de 2016, através do MCTI, o governo federal
liberou R$ 654 milhões para o financiamento de 101 INCTs aprovados no edital de
2014. As propostas que obtiveram a liberação de recursos envolvem 8.738
pesquisadores e 410 laboratórios, sendo que 44 tratam da renovação de INCTs do
primeiro ciclo e 67 constituem INCTs novos.
Como resultado do ambiente institucional forjado ao longo das décadas de 1990
e 2000, há no Brasil atualmente uma complexa rede de investimentos públicos em
pesquisa agrícola, constituída por diferentes instrumentos, instituições e organizações.
Sendo que o governo federal permanece como maior financiador público, seguido pelos
governos estaduais. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é a
maior organização pública de pesquisa agrícola no país e a grande maioria dos seus
recursos é financiada por recursos ordinários do governo federal (Gasquez, 2014). A
Embrapa coordena o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), que atua em
conjunto com o conselho nacional das organizações estatais de pesquisa agrícola
(CONSEPA).
Universidades Federais e Laboratórios Federais, como CTBE e Fiocruz, são
financiadas majoritariamente pelo governo federal. A Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES), órgão vinculado ao Ministério da Educação, é
outro importante financiador de atividades científicas e tecnológicas no Brasil, com
atuação mais ligada às Universidades via concessão de bolsas de estudos. Os governos
estaduais financiam pesquisas agrícolas executadas em Universidades Estaduais e
Organizações Estaduais de Pesquisa Agrícola (OEPAs). Tais pesquisas estão mais
ligadas às prioridades da produção agrícola em cada Estado, embora produzam
spillovers para demais regiões do país. A figura 07 apresenta de modo esquemático a
estrutura do sistema brasileiro de inovação agrícola.
7 O apêndice 02 apresenta a lista dos INCTs com atividades relacionadas à pesquisa agrícola.
89
Figura 7 - Sistema Brasileiro de pesquisa e inovação agrícola
Fontes: Dados da pesquisa.
90
A Embrapa é organizada como uma grande rede, composta por 47 centros
descentralizados distribuídos entre as várias regiões do Brasil. Conforme OECD (2015)
os centros de pesquisa da Embrapa podem ser classificados em três tipos: por
commodity (por exemplo, arroz e feijão, trigo, soja, frutas tropicais, bovinos de corte,
ou gado leiteiro), por Bioma (por exemplo, Cerrado, Pantanal, ou Amazônia) e
temáticos (por exemplo, solo, biotecnologia ou meio ambiente).
De acordo com Pereira et al. in Martha e Ferreira Filho (2012), desde o começo,
as atividades de pesquisa na Embrapa foram mais aplicadas e orientadas para resultados,
com as atividades de pesquisa básica à cargo das Universidades. Segundo os autores, as
ações da Embrapa são norteadas por dois princípios básicos: 1) modelo de pesquisa
focado em resultados, concentrado em produtos e áreas de importância para o
desenvolvimento do país, e na constituição de meios objetivos para identificar
prioridades de pesquisa; 2) desenvolvimento da capacidade dos recursos humanos,
baseado em programas de treinamento em centros de excelência ao redor do mundo.
O orçamento da Embrapa atingiu R$ 2.400 milhões em 2012, e a folha de
pagamento correspondeu a cerca de 70% de sua receita operacional líquida. No mesmo
ano, a Embrapa contou com 9.812 funcionários, sendo 2.444 pesquisadores em tempo
integral e, dentre estes, 84% com doutorado em universidades no Brasil e no exterior.
De acordo com ASTI (2010), as 26 OEPAs empregaram 2.040 investigadores, com
orçamento total estimado de R$ 1 bilhão em 2006. Como indicado por CGEE (2006),
não mais de 10 por cento do orçamento das OEPAs entre 2001 - 2005 foram alocados
em investimentos em P & D, sendo a folha salarial responsável por aproximadamente
80% dos gastos nestas organizações.
Os orçamentos das organizações públicas de pesquisa agrícola no Brasil
demonstraram tendência de crescimento consistente ao longo da década de 2000 e início
dos anos 2010. No caso da Embrapa, o orçamento saiu de R$ 1.300 milhões para R$
2.400 milhões no período 2002-2012. Pode-se notar na figura 8 a aceleração do
crescimento dos gastos da Embrapa durante 2008-2012, em função do programa de
investimentos em organizações públicas de pesquisa agrícola executado pelo governo
federal com orçamento superior à R$ 1 bilhão (PAC Embrapa), dos quais
aproximadamente R$ 260 milhões foram destinados à recuperação e modernização de
infraestrutura física e equipamentos de pesquisa das OEPAs (PORPINO e DE
ESTAFANI, 2014, BATALHA et al., 2009, IZIQUE, 2008).
91
Enquanto os gastos públicos em P & D agrícola aumentaram, a última década
testemunhou a redução da atuação de organizações públicas no registro de inovações e
nos mercados de insumos agrícolas. A Figura 08 mostra esta tendência em termos de
redução da participação das cultivares da Embrapa no RNC e nos ensaios de campo no
CTNBio para as culturas de soja, milho, algodão, arroz, trigo, sorgo e eucalipto.
Figura 8 - Evolução no orçamento e participação da Embrapa no mercado de sementes e biotecnologias
Fontes: Balanço Social Embrapa, CTNBio, RNC.
A partir da década de 1990, os programas de melhoramento de cultivares em
organizações públicas perderam importância como principais motores do progresso
tecnológico do mercado brasileiro de sementes, principalmente nos maiores mercados.
As perdas de participação da Embrapa resultaram da diminuição da propagação de seu
material genético pelos produtores regionais de sementes (multiplicadores), incorporada
no término de muitos contratos de franquias entre a Embrapa e as empresas que
formaram a Unimilho. Como analisado por Zylbersztajn e Lazzarini (1998) e Machado
Filho e Matias (1995), o papel da Embrapa na Unimilho foi além do desenvolvimento
de cultivares e compreendeu a construção de capacidades na indústria brasileira de
sementes. Portanto, a saída da organização pública e o fortalecimento das empresas
privadas de sementes podem ser apontados como resultados esperados do consórcio
Unimilho.
Uma diferença marcante entre os investimentos públicos e privados em P&D
agrícola trata-se do momento de entrada no processo inovador (Mazuccato et al., 2012).
O argumento pode ser comprovado pela análise dos registros de liberações planejadas
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
R$
Mill
ion
Emb
rap
a Sh
are
Budget (Right Axis) Field Trials % RNC %
92
no meio ambiente de cultivares geneticamente modificado, registrados na Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio. Os ensaios de campo revelam a
predominância de empresas privadas nas etapas finais do desenvolvimento de cultivares
geneticamente modificado.
À dissemelhança de alguns países desenvolvidos, Reino Unido e Holanda
principalmente, não houve no Brasil uma forte reorientação das organizações públicas
de pesquisa no sentido de concentrarem seus esforços em pesquisas básicas. Embrapa,
OEPAS, Universidades e demais organizações atuam em todas as etapas da pesquisa
agrícola, muito embora a participação de recursos externos nos orçamentos dessas
organizações seja insignificante. ASTI (2013) indica que recursos externos
corresponderam a 3% do orçamento total da Embrapa no período 2013-2015. Houve
sim a ampliação do escopo das pesquisas realizadas nessas organizações, sem que, no
entanto, pesquisas dedicadas aos ganhos de produtividade em cultivos alimentares
perdessem a liderança dos gastos. Borges Filho (2005) analisa de que modo a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) incorporou ao longo do tempo
demandas ambientais em suas atividades de pesquisa.
O país sempre enfrentou desigualdades regionais significativas quanto à
distribuição de recursos públicos para atividades de P&D. Mesmo que os centros de
pesquisa da Embrapa estejam localizados nas cinco regiões do país, universidades
públicas, agências estaduais e fundações estaduais de pesquisa das regiões Sul e Sudeste
concentram a maior parte dos recursos humanos e dos investimentos públicos. Esse fato
tem se tornado crítico com relação à bioenergia – dado que as fronteiras de expansão da
cultura da cana na região Centro-Oeste enfrentam problemas tecnológicos e gerenciais -
e para produtos que não são de interesse do setor privado, como mandioca e feijão
(Silveira et al., 2012). É também uma questão relevante para importantes culturas
comerciais, como o algodão, onde o deslocamento para a região Centro-Oeste motivou a
importação de tecnologia de outros países, como a Austrália. Em geral, as organizações
privadas de pesquisa agrícola no Brasil desempenham papéis complementares às
organizações públicas, e concentrados em pesquisas mais próximas ao mercado.
Pray (1996) avalia de modo preliminar os impactos da privatização de
organizações de pesquisa agrícola no Reino Unido. Segundo o autor, a privatização foi
eficiente no sentido de atrair investimentos para a pesquisa e promover a equidade
distributiva, via elevação da participação dos agricultores e a redução dos recursos dos
93
consumidores alocados no financiamento da pesquisa agrícola. Conforme será tratado
no próximo capítulo, a privatização tem contribuído para o crescimento dos
investimentos totais na pesquisa agrícola brasileira nos últimos anos.
4.3. Gasto Privado em Pesquisa Agrícola: Metodologia e Análise de
Resultados
A motivação inicial para a pesquisa reside na falta de dados primários sobre os
investimentos privados em P&D realizados em indústrias intensivas em conhecimento,
como biotecnologia agrícola, sementes, agroquímicos e máquinas agrícolas. Ao total,
aproximadamente 100 representantes de empresas foram contatados diretamente para
esta pesquisa. A fase operacional de coleta de informações primárias envolveu 7
pesquisadores e foi realizada nos 6 primeiros meses do ano de 2013. A taxa de adesão
das empresas, medida pelo número de questionários completos retornados, foi de cerca
de 30%. Apesar de representantes das empresas terem demonstrado interesse em
participar da pesquisa, critérios relacionados à confidencialidade de informação ou a
necessidade de entrar em contato com várias áreas da empresa para responder ao
questionário constituíram obstáculos para uma taxa superior de adesão.
Todos os dados agregados sobre tamanho de mercado (vendas e produção)
divulgados no trabalho foram obtidos a partir de associações de indústrias de insumos
agrícolas. Dado que apenas uma empresa da amostra é listada no mercado brasileiro de
ações, a pesquisa não pôde utilizar relatórios contábeis das empresas como fonte de
informações. Vale ressaltar que em demais países em desenvolvimento como China,
Índia e África do Sul, há um número relevante de empresas dos setores de insumos
agrícola listadas em bolsa de valores, principalmente empresas nacionais.
Antes da presente pesquisa, a análise quantitativa dos investimentos privados nas
atividades de ciência e tecnologia nas indústrias de insumos agrícolas brasileiras reflete
a conjuntura da década de 1990. Roseboom (1999) e Beintema et al. (2001) podem ser
apontados como o estado da arte em relação às estimativas de investimentos privados
em pesquisa agrícola no Brasil. A tabela 06 apresenta a comparação entre os resultados
obtidos pela presente tese e os investimentos em P&D da década de 1990, conforme
relatados por Roseboom (1999). Pode-se constatar que no período 1995 – 2012, a
despesa pública persistiu como a principal fonte de recursos para o financiamento da
pesquisa agrícola no país. A grande mudança observada é a maior participação dos
94
investimentos privados, que aumentaram cerca de sete vezes entre 1995 e 2012. Durante
o mesmo período de tempo, a taxa de crescimento anual composta (CAGR) do P&D
privado alcançou 11%, enquanto a CAGR do P&D público foi de 4%.
Tabela 6 - Evolução recente dos investimentos em pesquisa agrícola no Brasil
Pesquisa Agrícola (milhões de US$ 2012) 1995 2012
Investimento Privado 50 377
Investimento Público (ASTI) 1.624 2.326
Privado + Público 1.674 2.703
Participação Privado (%) 03 14
Participação Público (%) 97 86 Fontes: Roseboom (1999), ASTI (2013), Dados da pesquisa.
O total privado corresponde aos investimentos realizados por 30 empresas com
atuação nos setores de sementes, biotecnologias agrícolas, agroquímicos, máquinas e
implementos agrícolas, que responderam aos questionários. O apêndice 04 apresenta a
lista de empresas que contribuíram com informações para a pesquisa. A amostra
represente uma pequena fração do universo de empresas que atuam nestes setores no
Brasil, a pesquisa logrou obter informações junto às empresas líderes com parcela
relevante do mercado nacional. Com relação às informações sobre os investimentos do
setor público, foram utilizados dados divulgados pelo projeto Agriculture Science and
Technology Indicator (ASTI).
As empresas privadas gastaram US$ 377 milhões (R$ 770 milhões em dólares
de 2012) em atividades de P&D agrícola no Brasil em 2012. O valor pode ser dividido
em despesas nos setores de sementes e biotecnologias agrícolas (R$ 547 milhões),
máquinas e implementos agrícolas (R$ 98 milhões), agroquímicos (R$ 92 milhões), e
saúde animal (R$ 33 milhões). O total de pesquisadores empregados nas empresas
privadas foi de 1.955 funcionários, divididos nas empresas de sementes e biotecnologias
agrícolas (1.475 pesquisadores), máquinas e implementos agrícolas (392 pesquisadores)
e agroquímicos (88 pesquisadores). Não foram obtidas informações sobre o número de
funcionários dos setores de P&D de empresas do setor de saúde animal.
95
O desenvolvimento de insumos modernos para as culturas de soja, milho,
algodão e cana de açúcar foram responsáveis pela maior parte do crescimento nos
gastos privados em P&D. Destaca-se a participação de empresas das indústrias de
sementes e biotecnologia, que representaram cerca de 70% do total dos gastos privados
divulgados. Essas empresas também compreendem a maioria dos pesquisadores com
diploma de doutorado que trabalham no setor privado.
As empresas multinacionais foram responsáveis por 79% do P&D agrícola
privado no Brasil, totalizando US$ 210 milhões. Em contraste com Índia (Pray e
Nagajaran, 2014) e China (Hu et al., 2011), onde as empresas nacionais consolidaram
posições de liderança nos investimentos em P&D agrícola, as empresas brasileiras
foram responsáveis por menos de 20% P&D privado total. Além disso, a percentagem
de empresas nacionais em mercados com grande valor de vendas como sementes de
milho, agroquímicos e máquinas agrícolas é estimada em menos de 10%. As restrições
financeiras das empresas brasileiras são agravadas pelas altas taxas de juros no sistema
bancário doméstico e o baixo volume de negócios no mercado brasileiro de ações. Neste
contexto, características estruturais da economia nacional tendem a impactar
negativamente a disponibilidade de recursos para serem alocados em atividades
privadas de P&D no setor agrícola.
As reservas de lucros das empresas constituíram a principal fonte de recursos
dos investimentos em P&D, embora políticas de inovação como incentivos fiscais e
crédito subsidiado também foram relatados como fontes relevantes. Cerca de 80% das
empresas participantes da pesquisa acessaram ao menos uma vez créditos fiscais através
da Lei do Bem entre 2006 - 2014. Segundo INGTEC (2013), o Brasil reformulou seu
quadro institucional para promover a inovação em meados da década de 2000. Araújo
(2010) aponta que a introdução da Lei do Bem, e sua mudança em 2008, tornou o Brasil
o quinto país mais generoso do mundo em termos de subsídios implícitos à P&D sob a
forma de incentivos fiscais. De acordo com FIESP (2015), a isenção fiscal das empresas
participantes da Lei do Bem correspondeu, em média, a 19% dos gastos com pesquisa
registrados.
Com base nos dados da pesquisa, pode-se afirmar que a intensidade de P&D
privado nos setores de insumos agrícolas no Brasil é superior à média da economia
nacional, e está em patamar semelhante à média de indústrias de alta intensidade
tecnológica dos países da OECD, conforme indicado por OECD (2014). Ademais, a
96
intensidade de P&D no setor de sementes está entre as maiores taxas da economia
nacional, com 4,86%. Sendo que algumas firmas de sementes reportaram taxas de
intensidade de P&D superiores a 30%. A tabela 07 apresenta as estimativas de
intensidade de P&D dos setores de insumos agrícolas no Brasil, conforme coletado na
pesquisa.
Tabela 7 - Amostra da pesquisa e intensidade setorial de P&D
Setor
Valor das
Venda em 2012
(US$ Million)
Amostra da
Pesquisa
(números de
firmas)
Intensidade de
gastos com P&D
no setor
Agroquímicos
9.700
1,83%
Empresas Grandes (> R$ 1 bilhão de vendas)
3
Empresas médias (<R$ 1 bilhão de vendas) 3
Outros fabricantes
1
Sementes e Biotecnologias
2.600
4,86%
Empresas Grandes
3
Empresas Médias
5
Empresas Regionais
1
Empresas de Biotecnologia Agrícola
10
Máquinas Agrícolas
10.300
1,24%
Empresas Grandes
2
Empresas Médias
2
Outros Fabricantes
1
Fontes: Dados da pesquisa.
Em resumo, desde o início de 2000 até o momento da redação desta tese,
ocorreram mudanças radicais no perfil dos investimentos em P & D nas indústrias de
insumos agrícolas no Brasil. O setor público e as pequenas empresas fornecem
informações necessárias para adaptar as inovações ao solo e às condições tropicais do
país. Algumas oportunidades surgem devido às culturas que não são consideradas como
plataforma por grandes empresas de sementes, incluindo feijão (uma nova variedade
GM desenvolvida pela Embrapa), mandioca, eucalyptus e até mesmo algodão, no caso
do bicudo. A mesma ideia aplica-se a setores em que o conhecimento específico
regional é decisivo para adaptar com êxito as tecnologias desenvolvidas no exterior.
Em geral, há uma grande variabilidade entre as indústrias de insumos agrícolas
no Brasil, devido a diferenças na intensidade de capital, a importância do P&D na
competitividade e do grau de maturidade tecnológica. O mercado de sementes de milho
é concentrado graças à eficiência dos mecanismos de apropriabilidade. No segmento de
soja, apesar dos altos níveis de adoção de sementes transgênicas, programas de
97
melhoramento persistem como fator chave para definir a quota de mercado das
empresas. Ambos os mercados são muito competitivos, mas com diferentes graus de
concentração e com empresas de diferentes tamanhos. Nos segmentos de biopesticidas e
inoculantes, oportunidades de inovação incentivam o aparecimento de novas empresas
de elevada intensidade em P&D, um fator que reduz a concentração de vendas no
segmento. Em paralelo, segmentos como biofertilizantes e tecnologias de informação
tornaram-se concentrados, devido a fusões e aquisições. Nesse contexto, o setor público
e as pequenas empresas fornecem as informações necessárias para adaptar inovações às
condições tropicais do país. Além disso, as políticas do setor público tornam as
pequenas empresas alvos atraentes de aquisição.
A falta de mão de obra qualificada, particularmente melhoristas em muitas áreas,
reflete a concentração das pesquisas privadas nas culturas de milho, soja e cana de
açúcar (CGEE, 2009). A crescente mecanização das tarefas agrícolas, especialmente
quando possibilita a substituição de trabalhadores não-qualificados, está se tornando um
fator chave na agricultura brasileira, gerando demandas inesperadas nos setores de
insumos agrícolas. O impacto das alterações climáticas tem motivado a pesquisa focada
no longo prazo, embora este tipo de iniciativa se concentre em organizações públicas.
Nos próximos itens do capítulo analisamos com maior fôlego a evolução da pesquisa
agrícola nos setores de sementes, agroquímicos e máquinas agrícolas.
4.3.1 Ambiente Institucional e Arranjos Institucionais da Pesquisa no Setor
de Sementes
A proteção das variedades vegetais (PVP) no Brasil foi discutida pela primeira
vez em 1976, com a intenção de elaborar uma lei que regularia a propriedade intelectual
sobre o melhoramento vegetal. Naquela época, o assunto estava restrito à governança do
Ministério da Agricultura, sem maior envolvimento de outros setores governamentais e
sociais. Vinte anos se passaram até a promulgação da Lei nº 9.456/1997, que
institucionalizou a Lei de Proteção às Variedades Vegetais (LPC), e o Decreto nº. 2.366,
que a regulamentou (SANTOS et al., 2012).
A Lei de Proteção de Cultivares (nº 9.456 / 1997) permite o estabelecimento de
direitos de propriedade intelectual para sementes e mudas no país. A lei estipula que
empresa ou pessoa que obtenha variedade vegetal "distinta, homogênea e estável" tem o
direito exclusivo de reproduzir e comercializar esse material genético. O Serviço
98
Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), criado pela Lei de Cultivares, é
responsável pela concessão de certificados de proteção de cultivares. No SNPC
encontram-se as cultivares de interesse comercial das empresas e das organizações de
pesquisa. Já no Registro Nacional de Cultivares (RNC) encontram-se todas as cultivares
com liberação comercial no país. Destaca-se que a inclusão de cultivar no SNPC dá
direito a cobrança pelo seu uso, sendo necessário que o agente desenvolva seus
mecanismos de cobrança.
O Brasil passou a participar da UPOV em 1999, com a publicação do Decreto
Legislativo nº 28/1999, que aprovou a Lei UPOV de 1978 e o Decreto nº 3.109/1999,
que confirmou sua adesão. Sabe-se que um dos princípios básicos do sistema UPOV/
PVP é a reciprocidade dos direitos, que determina que os países membros concedam aos
criadores estrangeiros o mesmo tratamento concedido aos criadores nacionais. Este fato,
aliado à harmonização das leis e procedimentos técnicos e à globalização dos mercados
levou os países membros da UPOV a receberem um grande número de variedades
estrangeiras.
Com relação aos arranjos institucionais, o período recente constatou o
fortalecimento de novos modelos de organização da pesquisa em sementes no Brasil.
Nestes modelos consolidaram-se arranjos institucionais alternativos para o
financiamento e a execução da pesquisa, como por exemplo, o Programa de Incentivo
ao Algodão de Mato Grosso (PROALMAT). Estabelecido na Lei Estadual nº
6.883/1997, o PROALMAT concede incentivos fiscais aos agricultores interessados,
por meio da restituição de até 75% do ICMS cobrado sobre o valor da produção de
algodão transportada para fora do Estado.
Outro arranjo institucional inovador desenvolvido nas últimas décadas para
financiamento e execução de pesquisas no setor de sementes trata-se da empresa
Tropical Melhoramento e Genética (TMG), que é formada por agricultores e
melhoristas. Criada em 2001, a TMG é controlada por uma associação entre Unisoja
(entidade que congrega produtores de sementes de Mato Grosso) e TGX (formada por
pesquisadores na área genética). Os produtores de sementes detêm 70% do capital da
empresa e os pesquisadores, 30%. A equipe científica é liderada por Romeu Kiihl, ex-
pesquisador da Embrapa e considerado um dos principais responsáveis pela adaptação
da soja no Cerrado brasileiro (TMG, 2017). Na temporada 2014/2015 a receita da
empresa atingiu R$ 75 milhões, obtida através da cobrança de royalties perante a rede
99
de cerca de 60 produtores de sementes que multiplicam o material genético
desenvolvido pela empresa. Destaca-se que produtores de sementes associados à
Unisoja multiplicam o material genético da TMG e assim contribuem para o rendimento
da empresa. O arranjo institucional facilita a difusão do material genético melhorado e
reduz os custos de transação da empresa, uma vez que os interesses dos multiplicadores
membros da Unisoja estão alinhados aos interesses dos pesquisadores da TMG.
Afirma-se que o arranjo institucional brasileiro de incentivo ao investimento
privado no desenvolvimento de novas cultivares não está alinhado ao papel central que
esta tecnologia desempenha na produção agrícola. Isso porque a proteção de cultivares
no Brasil proporciona aos agentes o direito de usar qualquer germoplasma registrado no
país em seus programas de melhoramento genético, e os agricultores têm o direito de
guardar sementes para utilizarem na próxima safra. Nesse contexto, a inclusão de
cultivares no SNPC não implica em nenhum tipo de exclusão sobre o uso do material
genético, tanto para pesquisas em empresas concorrentes como para os consumidores
finais. Vale ressaltar ainda o prazo de validade da propriedade intelectual de cultivares
no Brasil, de 15 anos, que é inferior ao observado em demais países.
Marin, Strubin e da Silva Jr. (2015), argumentam que o fortalecimento dos
direitos de propriedade sobre cultivares não impediu que as empresas multinacionais se
apropriassem dos benefícios de investimentos realizados por empresas regionais em
pesquisas para o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas às diferentes condições
de cultivo no Brasil e na Argentina. Os autores indicam que a falta de competências
jurídicas e de investimentos em ativos complementares, como sistemas de cobranças de
royalties, foram os principais fatores responsáveis pela perda de receitas nas empresas
regionais.
4.3.2 Gastos Privados em Pesquisa de Sementes
A análise de investimentos em P & D no mercado de sementes compreende
dados coletados através de sete entrevistas com representantes de empresas, bem como
informações divulgadas nos questionários. Entre as empresas, apenas duas são de
capital nacional e correspondem à porcentagem de aproximadamente 20% das despesas
relatadas. Vale ressaltar que o estudo obteve acesso a dados primários dos investimentos
em pesquisa realizados por empresas multinacionais líderes do mercado nacional.
100
De modo geral, os investimentos em pesquisa das empresas de sementes estão
divididos em estações experimentais regionais, infraestrutura de laboratórios, registro e
regulamentação de produtos e pessoal de pesquisa. Os salários dos pesquisadores e os
custos com o registro de novos produtos foram as classes mais representativas das
despesas de P&D nas empresas consultadas, com mais de 50% do valor total divulgado.
Estações experimentais em diferentes regiões produtoras do país foram relatadas como
ativos indispensáveis para a execução de estratégias de inovação bem-sucedidas na
indústria brasileira de sementes.
Programas de melhoramento em empresas líderes são organizados em equipes
agrupadas por objetivos específicos, tais como produtividade, resistência, melhoramento
da nutrição e assim por diante. Os dados da pesquisa mostram que equipes de cerca de
dez pessoas - um melhorista, três técnicos agrícolas e seis trabalhadores agrícolas - são a
composição média da força de trabalho nas estações experimentais. Uma mudança
significativa relacionada às práticas da pesquisa em sementes no Brasil capturado nas
entrevistas trata-se do menor uso da técnica de melhoramento cruzado.
As maiores empresas de sementes investiram grande montante de recursos em
instalações regionais com foco em estratégias de pesquisa aplicada, com mais de 40
estações experimentais no país e cerca de 100 pesquisadores em tempo integral
dedicados exclusivamente a atividades de melhoramento. Nesta estrutura, a empresa
grande aloca cerca de 40 pesquisadores para cuidar de atividades regulatórias para a
aprovação comercial de eventos de biotecnologia e cultivares no país.
A maioria dos novos cultivares incluídos no período 1998 - 2014 no registro
nacional de cultivares (RNC) é de propriedade de empresas multinacionais de capital
privado. No mercado de sementes de milho, as empresas estrangeiras são responsáveis
por 87% das cultivares que foram registradas após a aprovação comercial do milho
geneticamente modificado, ou entre 2008 e 2014. No mercado de sementes de soja este
número foi de 66% durante o mesmo período de tempo. Contrariamente à percepção de
que os elevados investimentos relacionados à biossegurança das inovações possam
bloquear a entrada de pequenas empresas no mercado de sementes geneticamente
modificadas, o número de empresas fornecedoras desses produtos aumentou. Por
exemplo, entre 2005 e 2012, o número de empresas ofertantes de sementes
geneticamente modificadas de soja no Brasil aumentou de 17 para 29. Tal fato é devido
ao estabelecimento de acordos de licenciamento de biotecnologias. Nestes acordos às
101
empresas detentoras das biotecnologias exigem das empresas parceiras regras de
stweardship e uma quantidade mínima de sacos de sementes comercializados. As
exigências visam reduzir os riscos associados à má gestão das biotecnologias, como
pirataria, biossegurança e assistência técnica insuficiente. É importante mencionar que a
taxa de adoção de sementes GM no Brasil está acima da taxa de utilização de sementes
certificadas. Neste contexto, a utilização de sementes GM não certificada cria riscos
relacionados à biossegurança e ao uso adequado da biotecnologia agrícola no país.
Há mais de mil produtores/multiplicadores de sementes listados no registro
nacional de sementes e mudas (RENASEM). No entanto, os resultados da pesquisa
indicam que aproximadamente 140 empresas investiram ou estão investindo em
programas de melhoramento bem sucedidos, que resultaram no registro de cultivares.
Esse número é baixo quando comparado aos países com sistemas nacionais de pesquisa
agrícola em escala semelhante ao do Brasil, nomeadamente Índia, China e EUA.
Empresas nacionais e as organizações públicas de pesquisa constituem as
principais fontes de inovações para culturas com grande área no país, como cana de
açúcar, eucalyptus, trigo, arroz, feijão, frutas e vegetais, embora a pesquisa tenha
registrado o incremento dos investimentos estrangeiros diretos nestes mercados. Como
por exemplo, nos últimos meses de 2014, o BNDES aprovou operação de crédito de R$
9,8 milhões para a Sakata Seed América do Sul, com recursos alocados na
implementação de programas de melhoramento de hortaliças no Brasil.
Vale ressaltar a reduzida participação de empresas nacionais nos investimentos
em P&D no setor brasileiro de sementes. À exceção da empresa TMG e do IMAmt que
realiza investimentos em pesquisa e desenvolvimento de cultivares, as demais
organizações nacionais do setor atuam nas etapas finais da cadeia de sementes,
licenciado e multiplicando cultivares desenvolvidos por outras empresas. Destaca-se
que as duas empresas mencionadas têm como principais financiadores e gestores
agricultores representados por associações.
A TMG é uma empresa de pesquisa que emprega aproximadamente 200 pessoas
em atividades de melhoramento genético de cultivares de soja e algodão, sendo que
10% dos pesquisadores têm cursos de pós-graduação. A estrutura de produção de
sementes conta com aproximadamente 60 empresas de alcance regional do Centro-Sul
do país que multiplicam as variedades desenvolvidas pela TMG. Esses multiplicadores
têm suas próprias marcas de alcance regional e, em alguns casos, são de propriedade de
102
fazendas comerciais e associações de agricultores regionais. Em 2012, suas variedades
foram plantadas em 17% da área de soja em todo o país, o que coloca a empresa na
terceira posição do ranking nacional.
Em outubro de 2014, a USPTO concedeu à TMG a patente sobre uma
ferramenta de pesquisa para a seleção do gene Rpp5, responsável por conferir
resistência à ferrugem asiática. Em 2012, a empresa investiu aproximadamente R$ 50
milhões em seu programa de P & D, valor que corresponde a cerca de 30% da receita da
TMG nesse ano. Como proxy da capacidade acumulada de conhecimento e inovação da
empresa, foi relatado que a TMG possui todo o banco de germoplasma de soja da
Embrapa.
A TMG investiu US$ 5 milhões em recursos próprios em 2013 para adquirir o
primeiro robô com genotipagem na América do Sul. Fato que aumenta
significativamente o uso de marcadores moleculares na reprodução assistida. Com esta
iniciativa, a empresa adota estratégia regionalizada para desenvolver novos produtos,
melhorando os genes já existentes, com a inserção de genes resistentes à ferrugem no
evento RR, com todo o trabalho de regulação a cargo da principal empresa proprietária
do gene. Além disso, a TMG investiu R$ 600 mil em projeto inovador para remover
material genético da semente, fase de pesquisa anterior ao uso do robô de genotipagem.
A empresa realiza a cobrança da tarifa tecnológica diretamente de seus
multiplicadores associados, ao custo de R$ 2,50 por saco de sementes de soja vendida
no ano de 2012. A empresa informou o assédio constante de empresas multinacionais
para sua aquisição. Em relação à colaboração e parceria em atividades de pesquisa, a
TMG contrata os serviços de laboratório de biotecnologia das Universidades Estaduais
de Londrina e Maringá. Não obstante, mantêm acordos para o treinamento dos recursos
humanos com universidades de Illinois e de Iowa nos EUA. Em 2012, a empresa
estabeleceu parceria com o Dutch Mutagene para obter acesso a maior número de genes.
A empresa aponta deficiências na legislação agrícola brasileira, considerando que os
direitos de propriedade intelectual conferem maiores retornos à biotecnologia em
detrimento das cultivares.
4.3.3 Mercado de Sementes
A Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM) indica que a
produção de sementes aumentou de 1,6 milhão de toneladas durante a safra 2001-2002,
103
para quase 3,0 milhões de toneladas em 2012-2013. Os cultivos de soja, milho, trigo,
arroz e pastagem tropical continuam sendo os principais mercados, responsáveis por
mais de 90% da produção de sementes no país. Em termos monetários, o mercado
brasileiro de sementes gerou cerca de US$ 2,6 bilhões na safra 2012-2013. Apesar do
crescimento nominal de 14% em relação à safra do ano anterior (2011-2012, US$ 2,18
bilhões), o mercado interno brasileiro continua representando uma pequena parcela do
mercado mundial de sementes, estimado em cerca de US$ 34 bilhões (ISAAA, 2012).
Afirma-se que maiores taxas de utilização de sementes certificadas influenciam a taxa
de crescimento do mercado. A tabela 08 divulga dados estimados do mercado brasileiro
de sementes na temporada 2013/2014.
Tabela 8 - Mercado brasileiro de sementes
Mercado Brasileiro de Sementes 2013/2014 US$ 2,6 Bilhões
Soja US$ 1,0 Bilhão
Pastagem US$ 300 Milhões
Legumes US$ 200 Milhões
Milho US$ 700 Milhões
Algodão US$ 330 Milhões
Outros US$ 70 Milhões Fontes: ABRASEM, dados da pesquisa
A partir das entrevistas com representantes de empresas foi possível identificar
diferentes modelos de organização na indústria de sementes. Em geral, as atividades das
firmas variam entre acordos de integração vertical e de licenciamento. Com relação a
este, as empresas que investem em programas de melhoramento licenciam suas
cultivares para multiplicadores selecionados que comercializam as sementes utilizando
as marcas registradas dos parceiros licenciados. No que diz respeito à integração
vertical, uma única empresa integra rotinas e governança ao longo das fases de
produção de sementes, desde o desenvolvimento de cultivares até as atividades de
comercialização das sementes.
Estima-se que 85% das sementes de soja cultivadas no Brasil em 2015 foram
produzidas empregando acordos de licenciamento de cultivares entre empresas com
programas de melhoramento e multiplicadores regionais, que comercializam as
sementes com a marca da firma dona do germoplasma. A constatação ressalta a
importância dos multiplicadores no mercado brasileiro. Modelos intermediários de
104
organização da produção também são relevantes em mercados como a cana-de-açúcar e
o algodão. A Figura 09 descreve os dois extremos da organização da produção de
sementes observados no mercado nacional.
Figura 9 - Organização do mercado nacional de sementes
Fontes: Adaptado de Zylberstajn e Lazzarini (1998).
Os modelos intermediários aplicam-se à produção de sementes terceirizadas,
quando pequenos produtores/multiplicadores de sementes são contratados pela empresa
desenvolvedora de germoplasmas para executar estágios específicos de produção. Esta
estratégia é adotada quando as empresas com programas de melhoramento escolhem
governar toda a comercialização de suas cultivares, mesmo quando a capacidade de
produção está abaixo da demanda esperada para seu material genético.
Vale ressaltar que, para a indústria brasileira de sementes, a apropriabilidade dos
retornos gerados pelos direitos de propriedade intelectual depende fortemente da
construção de mecanismos e instituições privados para a cobrança das taxas de
tecnologia/royalties (Monteiro e Zylbersztajn, 2013). Como complemento, as altas taxas
de utilização de sementes certificadas revelam a conformidade dos agricultores com a
regulação da propriedade intelectual e constituem a base para qualquer sistema de
cobrança de royalties. No Brasil, de acordo com dados da ABRASEM, as taxas de uso
de sementes certificada de milho, soja, algodão e trigo durante a safra 2012/2013, foram
de 90%, 64%, 57% e 68%, respectivamente, como mostra a figura 10.
Biotech/Trait Germplasm
Seed
Producer/
Multiplier
Seed Retail Farmer
FarmerBiotech/Trait + Germplasm + Seed Producer +Retail
INTERMEDIARY MODELS
105
Figura 10 - Uso de sementes certificadas no Brasil
Fontes:ABRASEM.
Schenkelaars et al. (2011) sugere a distinção de três fases de mudança estrutural
na indústria global de sementes. De acordo com esta classificação, o mercado brasileiro
de sementes entrou em sua terceira onda de transformação estrutural no final da década
de 1990. Nesse contexto, o processo de internacionalização da indústria de sementes no
Brasil é liderado por um pequeno número de empresas que integraram verticalmente
germoplasmas e atividades de biotecnologias. Investimentos estrangeiros diretos para a
aquisição de ativos da indústria nacional, tais como bancos de germoplasma,
infraestrutura de pesquisa e instalações de processamento de sementes continuam como
a estratégia de entrada de mercado mais adotada pelas empresas multinacionais.
Através de fusões e aquisições, todas as nove maiores empresas de sementes do
mundo, listadas por Schenkelaars et al. (2011), passaram a participar do mercado
brasileiro. Os investimentos da KWS, da Limagrain e da Land O 'Lakes adquiriram
ativos complementares, como empresas de imagens por satélite, agricultura de precisão
e monitoramento climático. A internacionalização da indústria brasileira de sementes se
intensificou na última década, com o total de dezenove fusões e aquisições de empresas
produtoras de sementes no período 2005 - 2014. O quadro 03 apresenta algumas
mudanças recentes observadas na estrutura da indústria brasileira de sementes.
0
20
40
60
80
100
Cotton Maize Rice Soy Wheat Sorghum
Uso de Sementes Certificadas (%)
2002/2003 2005/2006 2007/2008 2010/2011 2012/2013
106
Quadro 3 - Fusões e aquisições no mercado brasileiro de sementes
Fontes: Dados da pesquisa.
Firma Fusão e Aquisição Culturas Ano
Monsanto
Agroceres Milho e Sorgo 1997
FT Seeds Soja 1996
Teresaba Seeds Soja 1999
MDM Cotton Seeds Algodão 1999
Braskalb/Dekalb Soja e Sorgo 1999
Cargil International Milho 1999
Agroeste Milho 2007
Cana Viallis and Alellyx Cana e Eucalyptus 2008
DuPont
Dois Marcos Milho 1999
Pioneer Brasil Soja, Milho e Sorgo 1999
Dow
ZENECA Milho 1998
Agromen Milho 2007
Dinamilho Carol Milho 1998
Híbridos Colorado Milho 1998
FT Biogenética Milho 1998
Sedol Milho 1998
Sementes Hatã Milho 1998
Empresa Brasileira de Sementes Milho e Sorgo 2000
Techno Seeds (30%) Unidade de Produção de Sementes 2013
Coodetec Soja, Milho e Trigo 2014
Nidera
Sementes Ribeiral Milho 1999
Sementes Fartura Milho 1999
Granja 4 irmãos Arroz 1998
Mitla Melhoramento Milho 1999
Sakata Seed
Agroflora Horticultura 1999
UPL
Advanta Sorgo (Culturas Energéticas) 2009
KWS
Sementes Riber Soja, Milho e Sorgo 2012
Semillia Genética Milho 2012
Sementes Delta Milho 2012
Limagrain
Sementes Guerra Milho 2011
Brasmilho Milho 2011
Bayer
Soytech Soja 2011
Wehrtec Soja 2013
Agropastoril Soja 2013
CVR Plant Breeding Soja 2010
Biotrigo Genetic Trigo 2013
Bioagro (Argentina) Soja 2014
FN Semillas (Argentina) Soja 2013
Monsanto Todas as atividades 2016
ChemChina
Syngenta Todas as atividades 2016
107
A análise de longo prazo do mercado de sementes de soja mostra o crescimento
de fornecedores e a queda na concentração de mercado. No início dos anos 90, a
participação de mercado da Embrapa era superior a 50%. Desde então, o uso
generalizado de ferramentas modernas de biotecnologia para o desenvolvimento de
cultivares e o aumento do número de acordos de licenciamento alteraram a dinâmica do
mercado de sementes e garantiram a inserção de traits em germoplasmas superiores de
propriedade de empresas privadas. Durante a temporada 2012/2013, 29 empresas
forneceram cultivares de soja transgênica, enquanto apenas uma empresa foi
responsável pela biotecnologia inserida. A figura 11 compreende a evolução do
mercado brasileiro de sementes de soja em quatro safras.
Figura 11 - Mercado brasileiro de sementes de soja: 2010 – 2014
Fontes: Dados da pesquisa.
Conforme representado acima, Brasmax (Don Mario Seeds) confirmou sua
liderança no mercado brasileiro de sementes de soja. Empresa de capital nacional, a
TMG se beneficiou do progresso tecnológico e do uso de biotecnologias modernas, tais
como marcadores moleculares e criação assistida nos seus programas de pesquisa.
Estratégias de melhoramento focadas em medidas de produtividade tomadas por
empresas privadas reduziram o interesse pelo material genético da Embrapa, que é mais
focado em estratégias defensivas de melhoramento8. Estas estratégias inovadoras de
reprodução tiveram como base o desenvolvimento de cultivares com hábito de
8 As principais empresas do mercado de sementes reportaram ter acesso ao banco de germoplasma da
Embrapa em seus programas de melhoramento.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
Brasmax Nidera TMG Monsoy Pioneer Syngenta Others
Mercado brasileiro de sementes de soja
2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014
108
crescimento indeterminado e ciclo precoce, mais adaptado para rotação com as culturas
de inverno.
No total, cerca de 2.600 cultivares de milho foi registrado no país de 1998 a
2014. A cultura do milho também compreende a maioria dos ensaios de campo com
cultivares geneticamente modificado no país até 2014, 601 no total. Dois fatos
estilizados neste mercado são a dominância de empresas estrangeiras e a baixa
produtividade média das lavouras brasileiras de milho. Mesmo com o lançamento de
centenas de novas cultivares por ano, a média da produtividade do cultivo de milho no
Brasil é de 5,3 toneladas por hectare, o que representa aproximadamente a metade da
produtividade média nos EUA. O etanol de milho está se tornando uma alternativa
rentável para os produtores da Região Centro-Oeste, o que permite às instalações
industriais das usinas operarem na entressafra da cana-de-açúcar, e assim reduzirem a
capacidade ociosa. Da mesma forma, as biorefinarias de milho permitem ampliar o
leque de produtos das usinas tradicionais de cana-de-açúcar, através da produção de
óleo de cozinha e de produtos para a alimentação animal. Não existem políticas
governamentais para incentivar os investimentos em pesquisas relacionadas ao etanol de
milho até o momento no país. A tabela 09 apresenta a evolução do mercado brasileiro
de sementes de milho.
Tabela 9 - Mercado brasileiro de sementes de milho
Participação das Firmas (%) 1995 1997 1999 2013
Agroceres 32 26 ND ND
Cargill 24 26 ND ND
Unimilho 14 ND ND ND
Monsanto ND 0 60 36
Pioneer 10 14 14 33
Braskalb/Dekalb 9 8 ND ND
Syngenta ND 11 11 10
Dow ND ND 5 17
Outras 11 15 10 4 Fontes: Dados da pesquisa.
Embora o uso de sementes certificadas no mercado do algodão atingiu 57% na
temporada 2013/2014, a taxa de difusão da biotecnologia é de 46% da área total e nunca
ultrapassou 50%. Grandes produtores comerciais de algodão têm investido em parcerias
com organizações públicas para o desenvolvimento de cultivares mais adaptados às suas
regiões de cultivo. Representantes de empresas de sementes de algodão se queixaram do
109
descumprimento à regulação da propriedade intelectual por parte dos produtores de
algodão no país. A tabela 10 apresenta a estrutura da indústria brasileira de sementes de
algodão na safra 2010/2011.
Tabela 10 - Mercado brasileiro de sementes de algodão
Firma Participação (%) 2010/2011
Bayer 50%
FMT 23%
MDM 14%
IMAMT 8%
EMBRAPA 1%
Others 4%
Fontes: Dados da pesquisa.
O mercado brasileiro de sementes de algodão tem especificidades que vale a
pena mencionar, devido ao seu impacto na organização e dinâmica da indústria. Grosso
modo, a produção de algodão concentra-se em duas regiões do país, e é realizada por
mega produtores com mais de 1.000 hectares de área plantada. A concentração regional
da produção acarreta em oportunidades reduzidas para investimentos em
desenvolvimento de biotecnologias e cultivares. O argumento é reforçado pelo número
relativamente pequeno de cultivares de algodão (cerca de 200 cultivares) no Registro
Nacional de Cultivares. De fato, o número de cultivares de algodão registrados no Brasil
é menor do que o número de cultivares de cenoura.
A participação de empresas estrangeiras no mercado brasileiro de cultivares de
cana é pequena, sendo que a única empresa estrangeira detém menos de 1% do
mercado. Embora a aquisição de cultivares represente uma pequena fração dos custos de
produção de etanol e demais produtos das biorefinarias, mudas saudáveis e técnicas de
multiplicação adequadas são cruciais para o desempenho eficiente na fase agrícola da
produção de biocombustíveis. Neste contexto, as usinas estão investindo na construção
de viveiros adequados para receber mudas pré-germinadas ofertadas pelas empresas
fornecedoras de cultivares. Estas empresas revelaram algum ceticismo sobre as
possibilidades de desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas de cana de
açúcar, que não registraram testes de campo com cultivares GM desde 2010 até 2015. A
tabela 11 apresenta a estrutura da indústria de cultivares de cana-de-açúcar brasileira na
temporada 2012/2013.
110
Tabela 11 - Mercado brasileiro de cultivares de cana-de-açúcar
Firma participação (%) 2012/2013
Ridesa 62%
CTC 34%
IAC 1%
Canaviallis 1%
Outros 2%
Fontes: Dados da pesquisa.
De modo geral, o mercado brasileiro de sementes e cultivares apresentou
crescimento elevado nas últimas décadas. A difusão de sementes geneticamente
modificadas e os processos de aquisições foram liderados por empresas multinacionais.
No entanto, empresas nacionais têm conseguido resistir às propostas de aquisição e vêm
alcançado participações relevantes no mercado de sementes e cultivares em culturas de
concorrência elevada, como o mercado de soja, algodão e cana. Cabe ressaltar a queda
de participação da Embrapa no mercado nacional, fato que pode ser interpretado como
uma evolução projetada nas ações da organização.
4.3.4 Ambiente e Arranjos Institucionais em Biossegurança
A primeira política governamental no sentido de regular os aspectos da
biossegurança no país foi a Lei nº. 8974/1995, que autorizou o governo federal, por
meio do Ministério da Ciência e Tecnologia, a estabelecer padrões para o uso de
técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos
geneticamente modificados. No entanto, a Lei nº. 8974/1995 gerou dúvidas sobre quais
organizações eram responsáveis em última instância pela regulação da liberação
planejada no meio ambiente de organismos geneticamente modificados (OGM). Em
função disso, a lei sofreu inúmeros atos judiciais que questionaram a competência do
Ministério da Ciência e Tecnologia para decidir os requisitos necessários para
atividades envolvendo OGM no país.
Os principais argumentos das atividades anti-OGM no Brasil estão expostos na
ação civil pública movida, em 1998, pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(IDEC) e pelo Greenpeace contra empresas de sementes e o Governo Federal. A ação
questionava a exclusividade da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio) de deliberar sobre a necessidade ou não da realização de relatórios de
111
impacto ambiental (EIA/RIMA) prévios à liberação comercial de sementes GM. A
primeira instância da decisão judicial em favor dos proponentes foi mantida até 2003,
razão pela qual a difusão de sementes GM no Brasil permaneceu paralisada por seis
anos (1998-2003). Em apelo, o Tribunal Federal decidiu por maioria de votos que é
responsabilidade da CTNBio deliberar sobre a necessidade ou não de EIA/RIMA
envolvendo atividades com OGM. Após a resolução do Tribunal, a comercialização de
sementes de soja transgênica foi liberada e um novo regulamento de biossegurança
começou a ser formulado no país.
Em 2003, o Governo Federal enviou ao congresso um projeto que redigia sobre
a nova Lei de Biossegurança. O projeto tramitou nas casas do congresso nacional por
dois anos, e foi amplamente discutido, com participação de diversos segmentos da
sociedade civil. Durante 2003-2005, inúmeras audiências públicas debateram aspectos
da tecnologia GM e normas de biossegurança, com a participação de cientistas,
membros do setor privado e do governo. Tomado como um evento independente, a
regulação da biossegurança no Brasil contou com a interação de seus principais
stakeholders.
No período da tramitação da lei de biossegurança, o cultivo de sementes
transgênicas de soja no Brasil ocorreu mediante a renovação anual do decreto
governamental para cultivo de soja transgênica. Yokoyama (2014) apresenta o
cronograma de medidas provisórias estabelecidas pelo Governo Federal visando à
regulamentação do cultivo e a comercialização de sementes de soja transgênicas
importadas da Argentina, antes do estabelecimento da nova lei de biossegurança em
2005. Segundo a autora o conjunto de medidas incluiu o registro provisório de
variedades ilegais no Registro Nacional de Cultivares e o reconhecimento da
propriedade intelectual sobre a biotecnologia inserida nas sementes.
A Lei nº. 11.105/2005, (Lei da Biossegurança) estabeleceu normas de segurança
e mecanismos de fiscalização para a construção, cultivo, produção, manuseio,
transporte, transferência, importação, exportação, armazenamento, pesquisa,
comercialização, consumo, organismos modificados e seus derivados. A lei de
biossegurança impôs à CTNBio a jurisdição exclusiva e final para julgar a avaliação de
riscos e, assim, avaliar a segurança dos OGMs e produtos biotecnológicos no Brasil, sob
o aspecto de saúde humana, animal e ambiental. Através das atividades da CTNBio, a
112
avaliação de riscos é um trabalho técnico que envolve apenas aspectos biológicos de
OGMs.
Questões de biossegurança relacionadas a considerações socioeconômicas e
ambientais, favoráveis ou desfavoráveis aos OGM, são discutidas por meio de outras
instituições que não a CTNBio. Para tanto, a Lei de Biossegurança estabelece a Política
Nacional de Biossegurança (PNB), que formaliza o Conselho Nacional de
Biossegurança (CNBS) e o Sistema de Informação sobre Biossegurança (SIB) como
instituições responsáveis pela regulamentação da gestão e comunicação de
biossegurança no interior do país. Ao todo, essas instituições criam o marco regulatório
legal brasileiro de biossegurança, que interage com a estrutura operacional institucional
de biossegurança, conforme indicado na figura 12.
Figura 12 - Ambiente institucional da biossegurança no Brasil
Fontes: CTNBio.
Em termos operacionais, a lei de biossegurança autorizou a Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio), como a última instância de decisão sobre a
manipulação de OGMs no Brasil. Assim, qualquer organização ou empresa de pesquisa
que deseje desenvolver projetos utilizando OGM deve estabelecer Comitês Internos de
Biossegurança (CIBios) para solicitar e ser responsável pela permissão para manipular
Inst
itutio
nal -
Ope
ratio
nal B
iosa
fety
Lega
l - R
egul
ator
y Bi
osaf
ety
Lei 11.105/05
CF 1998 - art.225
CNBS
CTNBio
PNB
OERFSIB
CIBio CQB
LAB 1 LAB 2
PROJ 1 PROJ 2 PROJ 1 PROJ 2
113
OGMs. A autorização para desenvolver atividades com OGMs no Brasil envolve a
revisão das habilidades do grupo de pesquisa e a adequação das instalações onde o
trabalho com OGMs será desenvolvido. A permissão é formalizada por um Certificado
de Qualidade de Biossegurança (CQB).
Até o momento de conclusão da presente tese, a CTNBio havia concedido CQBs
para aproximadamente 360 organizações dentro do país. Diferentes setores de uma
mesma empresa, e/ou departamentos localizados em uma mesma Universidade precisam
ter certificados próprios, independentes. O CQB é emitido para o laboratório e constitui
ativo indispensável para a autorização de eventos envolvendo liberação planejada de
OGMs no ambiente (LPMAs). De fato, as LPMAs registram qualquer experimento de
campo com cultivares transgênicas conduzidas no Brasil.
Embora a CTNBio tenha exclusividade sobre a avaliação de riscos de OGMs,
outras organizações governamentais estão envolvidas nos processos de análise de risco.
A comunicação de riscos depende do Sistema de Informações de Biossegurança (SIB).
A CTNBio, por sua vez, participa marginalmente na gestão de riscos por meio de
monitoramento de lançamento pós-comercial. Por outro lado, o IBAMA, a ANVISA e o
MAPA participam da supervisão da LMPA antes do fechamento da avaliação de risco
de evento na CTNBio.
O ambiente institucional descrito até aqui criou incentivos para o
desenvolvimento e a comercialização de biotecnologias no Brasil. No entanto, todas
essas instituições só obtêm sucesso após a realização dos investimentos em atividades
de P & D. Por outras palavras, regras formais de incentivo aos investimentos privados
em pesquisa e desenvolvimento de biotecnologias complementam e fortalecem o marco
regulatório criado. Em função disso, o decreto nº. 4.154/2002 criou o Fundo Setorial
para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Biotecnologia (CT-Biotecnologia),
que aloca recursos públicos em atividades de pesquisa. O Decreto nº 6.401/2007
estabeleceu a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia e, com ela, o CT-
Biotecnologia passou a receber volume maior de recursos.
Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, indicam que no período
2002 – 2011, o CT- Biotecnologia financiou aproximadamente RS 100 milhões em
pesquisas na área. Sendo que a maior parte dos recursos, 70%, foi alocada através de
mecanismos competitivos, com a execução de chamadas públicas de projetos. Destaca-
se também que dos recursos do CT-Biotecnologia, 76% foram alocados em
114
Universidades, e menos de 1% foi direcionado para pesquisas realizadas em empresas
privadas.
Desde a década de 1980, vários estudos têm discutido as políticas
governamentais para o progresso da biotecnologia no Brasil. Em comum, estas obras
realçaram a importância do gasto público, a distância entre o nível de publicações
científicas na área e o patenteamento no Brasil, e as fracas interações entre empresas e
organizações públicas na área de biotecnologia (SOUZA, 2012). Duas décadas após a
difusão de biotecnologias agrícolas no país, as conclusões acima são válidas, exceto
pela crescente interação de parcerias entre empresas e organizações públicas de
pesquisa.
A parceria entre Embrapa e BASF para o desenvolvimento da soja cultivance®
pode ser apontado como um novo arranjo institucional no setor de biotecnologias
agrícolas no Brasil. O Sistema Cultivance® é o primeiro cultivo geneticamente
modificado totalmente desenvolvido no Brasil, das pesquisas em laboratório até a
comercialização. O herbicida que integra o Sistema Cultivance® pertence à família das
imidazolinonas e está registrado com o nome comercial de Soyvance Pré.
Projetos fomentados pelo Plano Conjunto BNDES-Finep de Apoio à Inovação
Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (PAISS),
fortaleceram a trajetória tecnológica dos biocombustíveis avançados e biorefinarias no
país. Os instrumentos de incentivo à pesquisa no âmbito do PAISS foram financiados
com recursos do governo federal e compreenderam crédito subsidiado, participação
acionária e recursos não-reembolsáveis para projetos de pesquisa em parceria com
organizações públicas de pesquisa.
O Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE),
inaugurado em 22 de janeiro de 2010, também contribuiu para o fortalecimento do setor
de biotecnologias no país. O CTBE é um laboratório nacional gerido pela Associação
brasileira de tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS), que atua junto ao setor produtivo
e à comunidade científico-tecnológica brasileira, e está instalado dentro do complexo do
Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM).
A infraestrutura do CTBE conta com uma planta piloto para o desenvolvimento
de processos (PPDP) capaz de promover o escalonamento de experimentos laboratoriais
de interesse à indústria de bioenergia. O laboratório de protótipos agrícolas permite
115
efetuar ensaios e avaliação de novos processos tais como colheita, recuperação de palha,
plantio, adubação e controle de pragas na cultura da cana. As atividades do CTBE
abrangem ainda dezoito laboratórios agrupados em três macro atividades: Processos
físicos e químicos, fisiologia e bioquímica de plantas e bioprocessos industriais
(CNPEM, 2010).
A interação tanto com o ambiente industrial e o meio acadêmico tornam o CTBE
uma organização chave para a manutenção da liderança brasileira na produção de etanol
de cana-de-açúcar (CUNHA e LIMA, 2010). O incentivo à interação entre agentes e
organizações detentoras de diferentes tipos de conhecimento posiciona o CTBE como
instituição integradora do sistema de inovações em bioenergia no Brasil.
A concessão de crédito subsidiados às atividades de P&D foi o instrumento
governamental mais utilizado para incentivar as pesquisas do setor privado em
biotecnologias. Conforme BRBIOTEC (2011), em uma amostra de 237 empresas de
biotecnologia com instalações no Brasil, 78,3% acessaram crédito público subsidiado
para financiar suas atividades de pesquisa. A FINEP, e as agências estaduais FAPs,
foram mencionadas como as organizações de financiamento mais importantes por essas
empresas.
As empresas dos mercados brasileiros de biotecnologia registraram mais
esforços colaborativos com organizações públicas de pesquisa do que com outras
empresas. No entanto, os entrevistados declararam que políticas governamentais que
estabelecem padrões ad hoc para divisão de royalties entre organizações públicas e
empresas em projetos de cooperação em pesquisa, em geral, restringem e inibem a
maior participação das empresas. A Lei de Inovação e a Política de Desenvolvimento da
Biotecnologia foram mencionadas como as instituições com maior impacto positivo
sobre os investimentos em P & D. Além disso, as empresas informaram que os últimos
anos podem ser vistos como período de transição para os problemas e restrições da
ordem regulamentar em relação aos produtos GM. A escassez de novos argumentos
contra os transgênicos facilitou a aceleração das inovações biotecnológicas no país.
4.3.5 Gastos Privados em Pesquisa de Biotecnologias Agrícolas
Os investimentos privados em P&D no setor de biotecnologia agrícola
compreendem informações coletadas em dez empresas. Da amostra, quatro empresas
são de capital nacional e seis são controladas por conglomerados internacionais.
116
Ressalta-se que mesmo no caso de uma biotecnologia agrícola desenvolvida
exclusivamente para o mercado brasileiro, as atividades de P & D foram realizadas em
grande parte por pesquisadores estrangeiros em laboratórios norte-americanos e
europeus. Todos os produtos geneticamente modificados aprovados pela Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) foram desenvolvidos em laboratórios
fora do Brasil, com exceção da biotecnologia da Embrapa para cultura de feijão, a soja
cultivance desenvolvida pela parceria Embrapa/Basf e o Eucalypitus transgênico que
confere maior produção de biomassa em menor espaço de tempo.
Até o fechamento da presente pesquisa, as empresas multinacionais foram
responsáveis por mais de 80% de todos os ensaios de campo com sementes e cultivares
geneticamente modificadas no Brasil, as organizações públicas de pesquisa por 10% e
as empresas nacionais pelos restantes 10%. Os ensaios de campo registados na CTNBio
englobam esforços no desenvolvimento de biotecnologias para as culturas de
eucalyptus, arroz, cana-de-açúcar, milho, soja, algodão e feijão. Os ensaios de campo na
cultura da cana-de-açúcar testaram plantas com maior teor de sacarose, tolerância a
herbicidas e resistentes à seca. Já os ensaios de campo com eucalyptus visaram
identificar e selecionar árvores geneticamente modificadas com teor de lignina
reduzido, maior eficiência de produção de polpa, tolerância à seca e a herbicidas. Os
ensaios de campo de arroz visaram aumentar a produtividade do arroz irrigado e
permitir o uso seletivo de herbicida glufosinato de amônio. Além de tolerância a
herbicidas e de resistência a insetos, a CTNBio divulgou informações sobre ensaios de
campo para o desenvolvimento de sementes de soja com maior tolerância à seca.
A tabela 12 reúne informações dos ensaios de campo com sementes e cultivares
GM realizados no Brasil entre 1997 e 2014. Os dados refletem a intensidade dos
investimentos privados em P&D no setor de biotecnologia no Brasil, sendo que
empresas com maior registro de liberações planejadas de OGMs no meio ambiente
(LPMAs), conforme informado na página da CTNBio, realizaram maiores
investimentos. Os eventos são separados por empresas e culturas. Pode-se notar que
apenas duas empresas realizaram ensaios de campo em mais de três culturas no Brasil.
117
Tabela 12 - Liberações planejadas de OGMs no meio ambiente (LPMAs)
Fontes: CTNBio.
Embora os registros dos ensaios de campo no período indiquem que foram
realizados quase 1.000 LPMAs, os investimentos privados em pesquisas sobre
biotecnologias agrícolas executados no Brasil não ocupam posição central no sistema de
P&D das firmas líderes mundiais. Afirma-se que as principais empresas no país alocam
a maior parte de seus pesquisadores em tempo integral para cuidar de atividades
regulatórias e comerciais. Os dados recolhidos a partir das entrevistas possibilitam
concluir que os esforços privados de pesquisa em biotecnologia agrícola no Brasil estão
concentrados em atividades para a prova do conceito de genes e a análise da interação
genótipo-ambiente. Reforça o argumento a constatação de que cerca de 80% dos grupos
de pesquisa em biotecnologia registrados no país estão sediados em organizações
públicas, principalmente universidades, Embrapa e OEPAs (CGEE, 2010). Uma
pesquisa bibliométrica nas bases de publicações acadêmicas Scopus e Web of Science
indica que nenhum artigo publicado por pesquisadores empregados em empresas
multinacionais de biotecnologia foi registrado com endereço de origem em laboratórios
localizados no território brasileiro. Em conjunto, tais constatações sustentam o
argumento do baixo investimento das empresas multinacionais de biotecnologia para a
produção de conhecimento novo no território nacional.
Corporações como BASF Plant Science (BPS), Novozymes, Amyris, Dow
Agroquímicos e Royal DSM são consideradas entrantes no mercado nacional de
biotecnologias, por meio da aquisição de pequenas empresas ou a introdução de
produtos gerados no exterior. A estratégia competitiva das firmas mencionadas é prestar
serviços aos compradores, na forma de "pacotes tecnológicos", com especificação de
atividades descrita por contrato. A mesma estratégia de comercialização de tecnologia
será empregada pela BASF Plant Science para a comercialização do Cultivance.
Empresas desenvolvedoras de biotecnologias industriais para a produção de
biocombustíveis avançados registraram investimentos significativos de pesquisa no
Mosanto Dow Pioneer BASF Bayer Embrapa Syngenta Coodetec CTC Arborgen Suzano Outras
Total por
Cultura
Soja 16 33 13 16 13 32 1 25 0 0 0 4 152
Milho 264 78 117 3 10 0 126 1 0 0 0 2 601
Algodão 53 10 0 0 19 4 4 7 0 0 0 4 101
Cana de Açúcar 18 0 0 5 3 0 0 0 20 0 0 0 46
Eucalyptus 4 0 0 0 0 0 0 0 0 7 3 10 24
Total/Firma 355 121 130 24 45 36 131 33 20 7 3 20 924
118
Brasil recentemente. De fato, a indústria brasileira de etanol conseguiu atrair empresas
líderes em âmbito global na produção de leveduras geneticamente modificadas e
processos industriais para recuperação de energia e produção avançada de
biocombustíveis. Quatro empresas do setor brasileiro de etanol - CTC, GranBio,
Petrobras e Raízen - investem na construção de plantas comerciais e de demonstração
de biorefinarias. Nesse contexto, é possível identificar diferentes estratégias de entrada
na cadeia de fornecimento de etanol de segunda geração e produtos derivados.
A parceria entre a empresa nacional GranBio e a empresa multinacional de
biotecnologia Beta Renewables/Chemtex resultou na primeira instalação avançada de
biocombustíveis em operação comercial no país. A GranBio também comprou 25% da
American Process Inc, uma empresa de desenvolvimento de tecnologia, e usará seu
equipamento para transformar resíduos de cana em produtos químicos. A Granbio
planeja produzir produtos químicos especiais que podem ser usados em tintas ou
lubrificantes. As informações obtidas a partir da pesquisa propõem que o sistema de P
& D da GranBio se baseia em esforços de pesquisa colaborativa com universidades
públicas, contando no ano de 2014 com 24 doutores envolvidos nas atividades de P & D
da empresa. O braço de investimento do BNDES (BNDESPar) detém uma participação
na GranBio, que foi financiado com recursos do plano PAISS. A tabela 13 mostra a
divisão dos projetos que receberam recursos no âmbito do programa PAISS.
Tabela 13 - Alocação dos recursos do PAISS por tipo de projeto
Fontes: BNDES (2014).
Inovações em técnicas de melhoramento permitiram a reprodução de vespas
Cotesia flavipes em escala industrial e possibilitaram sua difusão para atividades de
controle biológico na cana-de-açúcar. A nova tecnologia usa ovo hospedeiro alternativo
com criação e reprodução mais fácil, chamado Anagasta kuehniella, para multiplicar a
espécie de vespa de Trichogramma galloi, cuja lagarta ataca os ovos da broca da cana-
de-açúcar. O financiamento da fundação de amparo à pesquisa do Estado de São Paulo
StatusNº projetos-
Etanol 2G
Investimento
(US$ milhões)
Nº projetos-
bioquímicos
Investimento
(US$ milhões)
Nº projetos-
gaseificação
Investimento
(US$ milhões)Nº Total
Total de
Investimentos
(US$ milhões)
Perspectiva 1 95 6 292 0 0 7 387
Analisados 6 122 4 91 0 0 10 213
Aprovados 10 234 10 152 1 120 21 506
Contratados 1 282 3 224 0 0 4 505
Total 18 733 23 758 1 120 42 1611
119
(FAPESP) orientado para a demanda, específico para a comercialização dos agentes de
controle biológico, foi crucial para as empresas alcançarem economias de tamanho nas
atividades de produção. Essa política pública permite que as empresas construam ativos
complementares, como a rede de distribuidores, bem como obtenham a maior interação
com os consumidores finais. Estimativas de especialistas indicam que essa tecnologia é
empregada em 3 milhões de hectares, cerca de um terço da área total de cana-de-açúcar
do país.
Mesmo que produtos para a fixação biológica de nutrientes em gramíneas, milho
e feijão tenham sido liberados para comercialização, estes não conseguem replicar o
sucesso dos produtos para inoculação na cultura da soja no Brasil. A maior parte do
investimento em pesquisas no setor de inoculantes é realizada através de organizações
públicas de pesquisa, financiadas por políticas governamentais. Esse é o caso do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Fixação Biológica de Nitrogênio, que
desde 2008 recebeu aproximadamente US$ 8,2 milhões de recursos do Fundo Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDTC). Distribuído entre 10
universidades federais e dois departamentos da Embrapa, o INCT para fixação biológica
de nitrogênio tem produzido conhecimento principalmente para as culturas de cana-de-
açúcar e plantas forrageiras. Investimentos públicos na pesquisa de produtos para a
fixação biológica de nitrogênio na cana-de-açúcar também foram financiados pelo
programa de pesquisas em Bioenergia da FAPESP (BIOEN- FAPESP), e com recursos
aplicados no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol. Nenhuma das
empresas entrevistadas informou investimentos no desenvolvimento de biotecnologias
para melhorar a nutrição das plantas, produtos substitutos dos fertilizantes minerais.
Apesar de as empresas terem afirmado que o Brasil está em posição favorável
para o desenvolvimento de biotecnologias, foram identificadas mudanças de políticas
públicas que seriam úteis para encorajar as empresas a investirem mais em pesquisas no
país. A fonte mais citada de insatisfação com a política governamental a esse respeito
foi o alto custo de importação de equipamentos e tecnologias de pesquisa. Um dos
entrevistados afirmou que o Brasil tem um dos maiores impostos para importações de
equipamentos de pesquisa no mundo. Outras queixas recorrentes foram o baixo gasto
com pesquisa básica no país e o longo período de exame e concessão de patentes no
Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
120
4.3.6 Mercados de Biotecnologias Agrícolas
De acordo com BRBIOTEC (2011), a indústria brasileira de biotecnologia é
composta em grande maioria por micro ou pequenas empresas - 80% das 214 empresas
pesquisadas em 2011 têm até 50 funcionários. Essas empresas dependem de
profissionais altamente qualificados. As universidades e os centros de pesquisa também
são de grande importância para a indústria, uma vez que 95% das empresas de
biotecnologia declararam ter um relacionamento contínuo com essas instituições. Por
outro lado, o capital de risco que financia empresas de biotecnologia no país ainda é
menos importante: apenas 14% de todas as empresas declararam esse tipo de
investimento como fonte de renda. Em relação ao setor econômico principal das
atividades, as empresas de biotecnologia no Brasil, conforme Bianchi (2013) estão
divididas entre saúde humana (30%), biotecnologia agropecuária (14%), serviços e
produção de insumos (49%), processos industriais (7%).
Com relação ao mercado de biotecnologias agrícolas, ISAAA (2012) destaca
que, em 2012, a área cultivada com sementes GM nos países em desenvolvimento foi,
pela primeira vez, maior que a registrada nos países desenvolvidos, atingindo 52% da
área GM global. Com aproximadamente 23% da área plantada de cultivos GM no
mundo em 2012, o Brasil tem consistentemente se aproximado da área cultivada nos
EUA.
Com efeito, a difusão de sementes transgênicas no Brasil foi mais rápida do que
em outros países. A figura 13 representa a trajetória das cultivares GM em dez safras no
Brasil, classificadas de acordo com o tipo da biotecnologia inserida nas sementes. É
importante notar que a maioria da área é cultivada com biotecnologias para tolerância a
herbicidas, principalmente na cultura da soja. Registra-se ainda um rápido crescimento
na área cultivada com biotecnologias empilhadas, que conferem à semente tanto
tolerância a herbicidas como resistência a insetos. Em termos absolutos, a área cultivada
com sementes GM do tipo empilhadas cresceu cerca de 2 milhões de hectares na última
temporada apresenta na figura 13. Em termos comparativos, isto significa uma taxa de
crescimento anual de 40%.
121
Figura 13 - Adoção de biotecnologias agrícolas no Brasil
Fontes: Céleres (2015).
Em relação aos mecanismos de cobrança de royalties na cultura da soja, o
sistema de pagamento no ponto de entrega (end point royalty), baseado no "teste de fita"
é o mais empregado. O sistema prevê a identificação da biotecnologia no armazém de
entrega das commodities, e é compartilhado por todas as empresas que oferecem
cultivares GM no mercado brasileiro. Neste sistema, funcionários da empresa
proprietária do armazém de destino do produto agrícola (Bunge, Cargill e outros) são
responsáveis pela realização do teste de fita. Em relação ao milho híbrido, os royalties
são cobrados sobre o preço final do saco de sementes. Embora os contratos de
licenciamento de biotecnologia permitam às empresas acessar a propriedade intelectual
das empresas concorrentes, estes não causam mudanças nas atividades de cobrança de
royalties, mesmo para a soja, onde um sistema complexo de coleta se aplica. Em geral,
os valores das taxas são determinados pela política comercial anual das empresas, e os
pagamentos ocorrem em três modalidades, da seguinte forma:
1) Royalty nas sementes: Aplicável aos agricultores que compram sementes
certificadas. Nesse caso, o valor dos royalties é incorporado ao preço das
sementes.
2) Royalty em sementes salvas: O modelo é aplicado aos agricultores que
salvaram e multiplicaram sementes, com o consentimento da empresa
detentora da biotecnologia. Nesse caso, os agricultores obtém o
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45M
ilhõ
es
de
He
ctar
es
Tolerância a Herbicidas Resistência a Insetos Combinados Total
122
licenciamento do seu plantio com o pagamento de royalties sobre o volume
de sementes salvas.
3) Royalty pós-cultivo: Este modo aplica-se ao agricultor que não optou por
qualquer um dos dois métodos anteriormente mencionados. O pagamento
dos royalties ocorre em caráter punitivo e incide sobre o valor da produção e
não do uso de sementes.
Para o mercado de sementes GM de algodão, o sistema de coleta de royalties
segue a estrutura do mercado de soja, com teste de fita e termos contratuais aplicados no
momento do fornecimento de grãos. Em função da concentração da produção em duas
regiões, a coleta de royalties no algodão é menos exigente do que no caso da soja.
Conforme descrito nas séries históricas da CONAB, o valor das sementes de algodão
GM variou entre 4% e 6% dos custos totais de produção na temporada 2013/14. Os
royalties sobre as sementes GM de milho são recolhidos no momento da compra das
sementes, e estão inseridos no valor destas. Os valores dos royalties dependem da
biotecnologia. Informações obtidas de consultores externos revelam que o valor de
sementes de milho GM está situado entre 14% e 19% dos custos totais de produção.
A pesquisa da presente tese entrevistou representantes de empresas de
biotecnologia com investimentos em P & D nas culturas de cana-de-açúcar e
eucalyptus. Em 2015, após a conclusão de ensaios de campo realizados por quatro
empresas privadas, o Brasil se tornou o primeiro país a aprovar uma cultivar GM de
eucalyptus. Embora tenham sido registrados ensaios de campo com cultivares GM de
cana de açúcar no país, as empresas entrevistadas demonstraram ceticismo com relação
ao fortalecimento desta trajetória tecnológica. Ressaltamos que a difusão tecnológica de
eventos GM nestes mercados ocorrerá em um ambiente mais controlado. Isso porque as
principais empresas com investimentos no desenvolvimento de biotecnologias para as
culturas de cana e eucalyptus são propriedade de empresas capazes de controlar os
processos de difusão das inovações, pelo menos dentro de sua própria área cultivada.
Por exemplo, a empresa proprietária da Futuragene possui 10% de toda a área cultivada
com eucalyptus no Brasil. O mesmo se aplica ao mercado de cultivares de cana-de-
açúcar, onde os acionistas da CTC são responsáveis por cerca de 60% do esmagamento
da cana-de-açúcar na região Centro-Sul. Para essas indústrias, é esperado um modelo
diferente de estratégias de coleta de royalties ao observado nas cultivares de milho, soja
e algodão.
123
As estatísticas sobre o tamanho do mercado de agentes de controle biológico não
são precisas, mas estima-se que biopesticidas são utilizados em mais de 8 milhões de
hectares de culturas no Brasil por safra. De acordo com a Associação Brasileira das
Empresas de Controle Biológico (ABCbio), o setor teve o faturamento de R$ 250
milhões em 2010, com cerca de 70 empresas que comercializaram 12 insetos e
acaricidas, além de dezenas de microrganismos. Outros 55 laboratórios mantidos por
usinas de açúcar criam agentes biológicos para seu próprio uso (Vasconcelos, 2012). As
empresas nacionais têm a são as principais proprietárias das inovações registadas no
mercado de pesticidas biológicos.
A tabela 14 resume os agentes que são mais utilizados para o controle biológico
em diferentes culturas no país. Observe que as culturas hortícolas e frutíferas contêm
maior diversificação de produtos e preço, mas pequena área de difusão dentro dos 800
mil hectares de área de horticultura no país.
Tabela 14 - Mercado brasileiro de agentes de controle biológico
Fontes: Vasconcelos (2012).
4.3.7 Gastos em Pesquisa de Agroquímicos
As vendas mundiais de agroquímicos registraram US$ 47,4 bilhões em 2012
(BNDES, 2014). No mesmo ano, o mercado brasileiro correspondeu a
aproximadamente 20% do faturamento global, com U$S 9,7 bilhões em receita bruta.
Em termos relativos, a média geométrica da expansão do mercado nacional foi de cerca
de 10% acima da expansão mundial, atingindo 17,6%, contra 6,7% no mercado global
de 2005 a 2013. De acordo com a Associação Nacional de Agroquímicos (ANDEF,
Área Tratada (ha)
Cotesia Flavipes broca-da-cana cana-de-açúcar
Neoseiulus barkeri (ácaro) ácaro-branco e tripes hortaliças e fruteiras
Neoseiulus californicus (ácaro) ácaro-rajado hortaliças e fruteiras
Orius insidiosus (besouro) tripes hortaliças e fruteiras
Phytoseiulus macropilis (ácaro) ácaro-rajado hortaliças e fruteiras
Deladenus siricidicola (verme) vespa da madeira floresta de pinus
Stratiolaelaps scimitus (ácaro) “fungusgnats” e tripes hortaliças e fruteiras
Telenomus podisi (vespa) percevejos soja
Trichoderma harzianum (fungo) mofo branco soja
Metarhizium anisopliae (fungo) cigarrinhas cana-de-açúcar
Trichogramma galloi (vespa) broca-da-cana cana-de-açúcar
lagarta-do-cartucho milho, sorgo
lagartas e brocas tomate
broca-da-cana milho, sorgo
lagartas desfolhadoras soja
15
10.000
Praga CulturaAgente
8
2.000.000
2.000.000
500
5
3Trichogramma pretiosum
(vespa)
3.000.000
500
500
500
500
1.000.000
500
124
2014), o Brasil se coloca entre os países que tiveram maior crescimento no consumo de
agroquímicos na última década.
O crescimento do mercado brasileiro de agroquímicos entre 2005 e 2013 é
apresentado na figura 14 e corresponde ao valor nominal das vendas. De acordo com
dados da consultoria Phillips McDougall (2013), disponibilizados em BNDES (2014),
as oito principais empresas produtoras de agroquímicos do mercado nacional são
conglomerados multinacionais oriundos da indústria química, e detinham 80% da
receita total no ano de 2012. De um ponto de vista diferente, a desvantagem competitiva
da empresa nacional se reflete na balança comercial da indústria, que registrou déficit de
US$ 5,4 bilhões (54% das vendas totais) no mesmo ano.
Figura 14 - Mercado brasileiro e inovação em agroquímicos
Fontes: DFIA (2014), BNDES (2014), Dados da pesquisa.
A linha na figura 14 representa a quantidade anual de produtos novos registrados
no Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas (DFIA), e pode ser entendida
como proxy das inovações no mercado brasileiro de agroquímicos Conforme indicado,
foram registrados 1.254 novos produtos no período analisado no gráfico. Dados sobre o
registro de novos produtos atestam que a maioria das inovações ocorreu via a
introdução no país de produtos já comercializados no exterior.
Os produtos agroquímicos são divididos em classes, que expressam o tipo de
tecnologia empregada naquele produto. Produtos técnicos são de grau tecnológico mais
elevado, e servem de base para os produtos formulados. Já os produtos equivalentes
correspondem a produtos já comercializados em outros países e registrados
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
0
2.500
5.000
7.500
10.000
12.500
15.000
17.500
20.000
22.500
25.000
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Tota
l Mar
ket
Sale
s (R
$ M
illio
n)
Mercado Brasileiro de Agroquímicos
R$ 2013 MILLION CONSTANTS REGISTRY OF NEW PRODUCTS (Right Axis)
125
posteriormente no país. Conforme apresentado na tabela 15, as classes de produtos
formulados e equivalentes representam 88% dos novos produtos registrados no Brasil, e
produtos técnicos representam 2% das inovações registradas desde 2010. Os produtos
biológicos para a proteção das culturas representaram cerca de 10% de todos os
produtos registrados no mesmo período. Quase 70% das inovações na classe de
produtos técnicos estão concentradas em oito empresas.
Tabela 15 - Registro de novos produtos no mercado brasileiro de agroquímicos e defensivos biológicos
Fontes: DFIA (2014).
Empresas nacionais registraram apenas 6 produtos técnicos do total de 99
observados durante 2005-2013. Em comparação, a participação de empresas nacionais
na inovação de produtos biológicos é de 90%. Afirma-se que o conhecimento regional
acumulado por organizações públicas de pesquisa serviu de base para o progresso
tecnológico acelerado no segmento de agentes biológicos de controle de pragas, que são
produtos complementares e, em alguns casos, substitutos dos agroquímicos.
A despeito da produção de conhecimento em produtos para o controle biológico
de pragas, a participação de organizações públicas nas atividades inovadoras em
agroquímicos no Brasil está concentrada em atividades de regulação dos produtos e na
formação de arranjos institucionais de incentivos à pesquisa privada. Isto é, não foram
registrados investimentos públicos em atividades de pesquisa, desenvolvimento e
adaptação de agroquímicos no Brasil.
Frenkel e Silveira (1996) afirmam que a posição da maioria das empresas no
mercado de agroquímicos é determinada, em grande parte, pelo sucesso de suas
estratégias tecnológicas que, por sua vez, estão sujeitas a incerteza e alta chance de
fracasso. Tais características implicam maiores riscos e aumentam o tempo necessário
para que a empresa obtenha resultados positivos dos investimentos em pesquisa. Assim,
empresas líderes neste setor desenvolvem e sintetizam a maioria das moléculas
(ingredientes ativos) que comercializam, produzem parte dos produtos técnicos e
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
FIRMAS
CR4
FIRMAS
CR8
Produto Técnico 27 25 21 11 8 3 2 1 3 0.48 0.69
Produto Formulado 61 65 129 137 52 32 20 15 24 0.33 0.53
Produto Formulado
Equivalente0 6 19 2 49 28 49 72 28 0.32 0.51
Produto Biológico 0 0 0 0 1 4 13 16 10 0.29 0.47
Produto Técnico
Equivalente2 12 33 41 27 35 62 64 45 0.24 0.42
Total 90 109 202 191 137 104 146 168 110 0.19 0.34
126
investem em programas relacionados à adaptação, regulação e registro de tecnologias
nos vários países em que atuam. Além de realizar consideráveis esforços de marketing,
vendas e assistência técnica em conjunto com os agricultores. Nas regiões em expansão
da fronteira agrícola no Brasil as empresas de agroquímicos têm aumentado a
participação no financiamento da aquisição de seus produtos, através de operações de
barter.
Com relação aos investimentos em pesquisa coletados pelos questionários junto
às empresas do setor, pode-se constatar que a maior parcela dos recursos está alocada
nas etapas finais do processo de inovação, como registro e aprovação comercial de
produtos. À exceção tratou-se do caso da empresa nacional Ouro Fino, que investiu R$
50 milhões na construção de um laboratório para transferência de tecnologias
biológicas, com foco no mercado de saúde animal e atuação no setor de agroquímicos.
De modo geral, aspectos relacionados ao esgotamento da trajetória tecnológica de
insumos agrícolas químicos, e a forte incerteza relacionada aos investimentos em
inovação em agroquímicos provocaram a redução significativa dos esforços em P&D
nesse setor. No caso brasileiro, a situação é agravada devido ao ambiente institucional
desfavorável.
Os custos de regulamentação e o tempo de duração do processo de liberação
comercial de produtos foram relatados pelas empresas como os principais entraves ao
desenvolvimento do setor de agroquímicos no país. De fato, o tempo de aprovação de
novos produtos controla o ritmo de inovação na indústria brasileira de agroquímicos.
Para exemplificar, o prazo médio relatado para aprovação comercial de pesticidas foi de
três anos. Os gastos com taxas e testes obrigatórios exigidos para a liberação comercial,
que foram reportados pelas empresas, variaram entre US$ 45.000 e US$ 300.000.
Empresas da Índia e da China realizaram aquisições recentes de empresas estabelecidas
no mercado nacional, embora as importações de produtos genéricos desses países
tenham aumentado mesmo antes dos investimentos diretos no país.
4.3.8 Gastos em Pesquisa de Máquinas e Implementos Agrícolas
A indústria de máquinas agrícolas no Brasil está organizada em estrutura
oligopolística, com segmentos definidos por culturas, potências e finalidade das
máquinas. Constata-se, por exemplo, a grande concentração em poucas firmas
multinacionais do mercado de máquinas colheitadeiras para culturas de cana-de-açúcar,
127
algodão, eucalyptus e outras, que possuem maior potência motora e tecnologias
embarcadas, com preços que ultrapassam R$ 1 milhão por unidade. Os mercados de
tratores de menor potência, especialmente àqueles empregados em multitarefas em
propriedades familiares apresentam maior número de empresas e menor concentração.
O mesmo fato pode ser constatado no mercado de máquinas propelidas para a aplicação
de agroquímicos, no qual empresas nacionais detêm parcela relevante do mercado
nacional. Segundo Spat e Massuquetti (2008), a segmentação de mercado em máquinas
agrícolas influência no nível de investimentos em P & D.
Os mercados de implementos agrícolas, caracterizados por equipamentos
específicos empregados em tarefas do ciclo de produção agrícola, como sementeiras,
adubadoras e tecnologias de informação possuem uma estrutura heterogênea - composta
de grandes e pequenas empresas, de capital nacional e estrangeiro. A organização da
indústria de implementos agrícolas reflete a inserção do setor em uma cadeia produtiva
que engloba vários segmentos da produção agrícola.
Na década de 1990, o setor brasileiro de máquinas agrícolas apresentou
concentração de mercado estável. No mesmo período, as oito maiores empresas do setor
detinham 76% da receita líquida total. Nos últimos anos, o setor passou por um
importante processo de internalização, com predominância de empresas com capital
estrangeiro, particularmente no segmento de maior valor agregado - tratores e
colheitadeiras (Dutra e Montoya, 2005). De acordo com dados da Associação Nacional
de Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA, 2013), quatro empresas (Agrale,
CNH, AGCO e John Deere) foram responsáveis por 96% das vendas de tratores de
rodas em todas as categorias de potência no ano de 2012. Particularmente, 2013 foi o
ano com o maior valor de vendas de tratores agrícolas de todos os tempos no país. A
figura 15 indica que o mercado nacional de máquinas agrícolas tem crescido anualmente
desde 2001.
128
Figura 15 - Crédito, vendas e relação de trocas no mercado brasileiro de máquinas e implementos.
Fontes: Banco Central, ANFAVEA, IEA-SP.
A linha na figura 15 indica os termos de troca entre sacas de soja e tratores de
100 cavalos de potência. As barras verticais retratam o montante de crédito subsidiado
destinado para a compra de tratores, conforme informações do Banco Central. Nos
últimos anos registrou-se crescimento da venda de tratores com potência de até 150 Hp,
fato diretamente relacionado com a ampliação das linhas de crédito subsidiado para a
agricultura familiar no Brasil.
Spat e Massuquetti (2008) propõem a divisão no tempo dos esforços em
pesquisa na indústria brasileira de máquinas agrícolas, marcada por três fases. A
primeira fase - na década de 1970 – é caracterizada por pesquisas no desenvolvimento
de máquinas capazes de utilizar combustíveis alternativos, como o etanol. A segunda
fase, na década de 1980, caracteriza-se pela necessidade de adaptação das máquinas ao
plantio direto. A terceira fase tem início com o fortalecimento do cerrado como nova
região de expansão da fronteira agrícola ainda na década de 1990, que aumentou a
demanda por equipamentos mais fortes com a capacidade de operar em grandes escalas
operacionais.
Com relação aos investimentos privados em P & D, os dados compilados neste
estudo indicam que em 2012 as empresas do setor de máquinas gastaram no total R$ 98
milhões. No tocante aos recursos humanos, empresas do setor relataram o total de 300
funcionários dedicados às atividades de pesquisa e regulação de produtos. Empresas
multinacionais líderes do mercado nacional organizam atividades de pesquisa em
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Soy
60
Kg
bag
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Tra
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Máquinas e Implementos Agrícola
Total Sales (US$ 2011 Million) Credit Volume (US$ 2011 Million) Terms of Trade (Right Axis)
129
equipes virtuais, coordenadas por pesquisadores localizados nas sedes das empresas. De
fato, no período 1995-2012 não foram registrados investimentos privados de empresas
multinacionais para a construção de infraestrutura de pesquisa em máquinas agrícolas
no Brasil. Não obstante, empresas nacionais têm elevado seus esforços em atividades de
pesquisa e desenvolvimento, em grande maioria em parcerias com organizações
públicas de pesquisa.
Destaca-se o projeto de cooperação em pesquisa que foi realizado pela empresa
Jacto com o laboratório nacional de ciência e tecnologia do bioetanol (CTBE), que teve
início no ano de 2008. O projeto original envolveu investimentos no montante de R$ 10
milhões, divididos igualmente entre a empresa nacional e o BNDES. As atividades
tiveram como objetivo o desenvolvimento da estrutura de tráfego controlado (ETC),
uma máquina inovadora para a realização de todas as etapas no ciclo produtivo da cana-
de-açúcar, assim como os componentes embarcados nessa máquina. As pesquisas
relacionadas à ETC buscam superar os impactos negativos e as falhas nas colheitadeiras
tradicionais, através da redução na compactação do solo, das emissões de gases de
efeito estufa, e das ineficiências observadas nas colheitadeiras tradicionais de cana-de-
açúcar. Ao término da redação desta tese, o projeto continua sendo executado no CTBE,
sendo que à empresa nacional foi concedido o direito de exclusividade sobre a
propriedade intelectual da máquina nos primeiros cinco anos de comercialização.
O crescimento significativo de empresas desenvolvedoras de tecnologias de
informação e comunicação embarcadas em tratores e máquinas agrícolas constitui um
elemento novo na indústria nacional. Com efeito, pode-se constatar o crescimento do
mercado nacional e das empresas fornecedoras de softwares e equipamentos para a
agricultura de precisão e monitoramento remoto de lavouras. Vale ressaltar que as
máquinas comercializadas pelas empresas líderes já trazem embarcadas tecnologias
deste tipo, que são substituídas por produtos de empresas regionais melhores adaptados
às regiões de cultivo. Neste movimento, nota-se a grande participação e apropriação
privada de conhecimento produzido em organizações públicas de pesquisa.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(ABIMAQ, 2012), outro fator que tem beneficiado o setor é a disponibilidade de linhas
de crédito com baixas taxas de juros para financiar a compra de máquinas e
equipamentos agrícolas. Além das linhas tradicionais do BNDES - especificamente
voltadas para o setor agropecuário - a inclusão de financiamento para tais produtos no
130
Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e em diferentes modalidades do
PRONAF, possibilitaram a oferta de taxas mais baixas e prazos mais longos.
5. Novos Arranjos para Alocação de Recursos em Pesquisa
Agrícola
A transformação estrutural das nações é composta por inúmeras transformações
na estrutura de diversos segmentos da vida social e do sistema econômico, que devem
ser avaliadas e reavaliadas em constante processo de aprendizado e evolução. No
capítulo 1 da tese, apresentamos os principais elementos da transformação no paradigma
de desenvolvimento agrícola. Em suma, a transição do modelo de insumos modernos
para a agricultura multifuncional. A multifuncionalidade da agricultura exprime uma
nova inserção do setor na sociedade, não mais restrita à produção de alimentos. Se no
período da Revolução Verde a pesquisa agrícola tinha como norte os ganhos de
produtividade em cultivos alimentares, o novo paradigma de desenvolvimento é
marcado por um complexo sistema de alocação de recursos.
Paralelamente às transformações estruturais no paradigma de desenvolvimento
agrícola, no início dos anos 1980 países desenvolvidos passaram por um processo de
reorientação do papel do Estado na economia, que implicou na redução dos recursos
públicos destinados à pesquisa agrícola. Menor quantidade de recursos públicos para
serem alocados em maior número de agendas de pesquisa. Em quadros deste tipo, e
levando-se em consideração os retornos sociais elevados dos investimentos em pesquisa
agrícola, coube ao setor público desenvolver programas de incentivo à maior
participação do setor privado na pesquisa agrícola. Dentre estes, destacamos o
fortalecimento dos direitos de propriedade intelectual sobre os resultados da pesquisa
agrícola.
O fortalecimento dos direitos de propriedade intelectual alterou a característica
dos bens produtos da pesquisa agrícola, que passaram de bens públicos para bens de
clube ou toll goods. Bens públicos clássicos têm natureza não rival e não excludente.
No entanto, o registro de patentes, cultivares, marcas, topologias de softwares, bases e
bancos de dados, tecnologias e processos de pesquisa torna possível à exclusão de
potenciais demandantes desses resultados dos investimentos em P&D. Assim, produtos
131
da pesquisa agrícola dotados de alguma modalidade de proteção da propriedade
intelectual tornam-se bens de clube ou toll goods, que são não rivais e excludentes.
A transição de bem público para toll good desdobrou-se em inúmeras
transformações estruturais nas indústrias de insumos agrícolas e na organização das
atividades de pesquisa agrícola. Indústrias que têm como principal insumo toll goods
são caracterizadas pela presença de economias de tamanho, barreiras à entrada,
incentivos à concentração de mercado e a fixação de preços de monopólio (GRAY e
ALSTON, 2014). As economias de tamanho se manifestam quando os custos fixos das
pesquisas que resultaram em determinado produto são diluídos pelo maior número de
clientes. O conhecimento é usado e nunca se torna usado.
A mudança do ambiente institucional deu origem a novas distorções nos
mercados, com potencial para reduzir os retornos privados e sociais da pesquisa
agrícola. No caso das sementes melhoradas, a transição do modelo tradicional da
pesquisa para o modelo de monopólio privado implicou em perdas para os agricultores.
Para exemplificar, sementes de propriedade de organizações públicas de pesquisa eram
distribuídas sem custos para os agricultores mais pobres na época da Revolução Verde,
e atualmente correspondem à aproximadamente 10% do custo total da produção de
commodities como milho, soja e algodão no Brasil. Por outro lado, a intensidade dos
gastos privados em pesquisa na indústria brasileira de sementes coletada pelo presente
trabalho, correspondente ao ano de 2012, foi de 4,86%. Afirma-se que a diferença entre
os custos dos insumos e a intensidade dos gastos com pesquisa representa a maior
apropriação de benefícios da pesquisa agrícola por parte das firmas produtoras de
insumos, em detrimento de agricultores e consumidores.
Frente a problemas desse tipo, que têm origem na concentração e na fixação de
preços de monopólio em indústrias de toll goods e/ou na escassez de recursos públicos
para pesquisa, foram desenvolvidos novos arranjos para o financiamento e a execução
da pesquisa agrícola. Pray (1996) propõe 3 modelos teóricos de organização da pesquisa
agrícola, classificados por características de financiamento e execução da pesquisa:
1) Modelo do planejador racional, onde financiamento e execução da
pesquisa são realizados pelo setor público;
2) Modelos de economia política, onde grupos de interesse representantes
de agricultores e/ou consumidores financiam e executam as pesquisas;
132
3) Modelo de monopólio privado, onde as firmas dos setores de insumos
agrícolas financiam e executam as pesquisas.
No quadro de referência proposto por Pray (1996), modelos de economia
política correspondem à categoria de análise que representa os novos arranjos
institucionais de organização da pesquisa agrícola. No presente capítulo buscamos
contribuir com o trabalho de Pray (1996), desenvolvendo um quadro de referência que
captura as principais características dos novos arranjos da pesquisa agrícola. No modelo
de economia política há uma multiplicidade de arranjos que podem ser classificados de
acordo com características do financiamento, execução, gestão e distribuição dos custos
e benefícios da pesquisa. Nesse contexto, destacam-se as organizações de pesquisa
agrícola financiadas por fundos de commodities, que possuem diferentes configurações
relacionadas à participação de setor público, produtores e consumidores. Além destas,
as políticas de incentivo fiscal (Lei do Bem) e os fundos nacionais de desenvolvimento
científico e tecnológico (FNDCT) também representam modelos de economia política
que não foram capturados pelo esquema de Pray (1996), e são tratados no quadro
proposto.
As organizações de pesquisa financiadas por fundos de commodities agrícolas
têm como principal fonte de recursos taxas sobre o valor da produção (levy
funds/checkoff funds). A experiência internacional indica que fundos deste tipo contam
com aporte de recursos públicos em contrapartida aos recursos obtidos pelos fundos e
financiam pesquisas relacionadas a bens de clube, cujos benefícios são apropriados
prioritariamente por agricultores. Em alguns casos específicos, as organizações de
pesquisa financiadas por fundos de commodities criam empresas para atuarem no
mercado de insumos agrícolas, um caminho que leva à autossuficiência financeira e
pode ser uma porta de saída à cobrança de taxas sobre o valor da produção.
Um dos exemplos mais discutidos dos novos arranjos de organização da
pesquisa agrícola trata-se das Research and Development Corporantios (RDCs), que
são financiadas por taxas para pesquisa de até 0,99% sobre o valor das vendas dos
agricultores australianos. Quer dizer, ao invés de financiarem o desenvolvimento de
bens privados ao preço aproximado 10% dos custos de produção (valor das sementes),
agentes de indústrias agrícolas na Austrália optaram por financiar pesquisas que geram
bens de clube ao custo aproximado de 0,99% sobre o valor das vendas. Conforme será
tratado neste capítulo, em alguns casos as RDCs formaram empresas privadas
133
fornecedoras de insumos agrícolas. Nessas situações, a pesquisa passa a ser financiada
também com recursos obtidos pela cobrança de royalties sobre a entrega do produto
agrícola (end point royalties). Vale ressaltar que as RDCs são geridas por associações
de agricultores e, por isso, encontram forte resistência à fixação de preços de monopólio
sobre as tecnologias.
Os novos arranjos possibilitaram ainda uma mudança na participação do setor
público nas atividades de pesquisa agrícola. Enquanto no velho paradigma do
desenvolvimento agrícola o setor público participava no financiamento e na execução
de pesquisas em organizações públicas, nos novos arranjos o setor público participa de
forma indireta, sancionando instituições que viabilizam a cobrança de taxas sobre o
valor da produção das commodities, injetando recursos nos fundos como contrapartida
ao montante obtido com as taxas, regulamentando isenções fiscais e os fundos nacionais
para pesquisa.
Do ponto de vista da equidade entre incidência dos custos e distribuição dos
benefícios, o investimento público nos novos arranjos pode configurar uma
transferência de recursos por parte dos consumidores/contribuintes para os produtores,
caso a pesquisa não resulte em redução de preços ou incrementos na qualidade dos
produtos. Cabe, portanto, analisar em detalhe a distribuição dos benefícios líquidos dos
novos arranjos de organização da pesquisa. Salles Filho e Bin (2014) in Buainain,
Alves, Silveira e Navarro, apresentam exemplos enriquecedores de como a dinâmica de
apropriação dos resultados da pesquisa é crucial para a distribuição e avaliação dos
benefícios.
Empresas dos setores de insumos agrícolas também criaram arranjos
institucionais para reduzir as distorções causadas pelo fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual sobre os produtos da pesquisa. De modo geral, ações deste tipo
têm como objetivo reduzir custos de transação no acesso ao conhecimento, e minorar a
possível duplicação de gastos em pesquisa. Nesse contexto proliferam os casos em que
empresas engajam em consórcios de pesquisa, arranjos de licenciamento cruzado de
tecnologias, redes de pesquisa em torno de determinada área problema ou parcerias com
o setor público.
Para obterem retornos dos investimentos em pesquisa, as empresas privadas
necessitam de arranjos institucionais específicos para a cobrança de taxas sobre o uso
das tecnologias. No entanto, plantas autógamas podem ser reproduzidas pelos
134
agricultores e utilizadas nas safras seguintes sem a necessidade da aquisição de novas
sementes. Em algumas culturas, o ritmo acelerado de lançamento de cultivares força o
agricultor a comprar novas sementes, sob o risco de não empregar insumos mais
produtivos na sua produção. Caso a relação estimada pelo agricultor entre os ganhos de
produtividade e os gastos com a aquisição de sementes seja favorável à multiplicação do
insumo na fazenda, as empresas que detém os direitos de propriedade intelectual sobre
os cultivares necessitam desenvolver arranjos institucionais para cobrança dos royalties.
O modelo mais empregado trata-se da cobrança de royalties no momento de entrega da
produção, ou end-point royalties (EPR). Este modelo necessariamente requer a
participação das empresas compradoras da produção agrícola, que demandam algum
tipo de remuneração para exercerem a atividade.
Marin, Strubin e da Silva Jr. (2015) analisam como empresas brasileiras e
argentinas têm incorrido em perdas de receita devido ao baixo investimento na
constituição de ativos complementares aos gastos com pesquisa, como a formação de
sistemas de cobrança de royalties. Falhas deste tipo podem constituir obstáculos ao
crescimento dos investimentos privados em P&D agrícola nesses países.
No período recente o sistema brasileiro de inovação agrícola testemunhou a
multiplicação de novos arranjos institucionais na organização dos investimentos
privados em pesquisa agrícola, como por exemplo, a parceria Embrapa/BASF que
resultou no lançamento da soja cultivance, as parcerias entre o CTBE e empresas
privadas do setor de máquinas agrícolas para o desenvolvimento da estrutura de tráfego
controlado (ETC), as redes de pesquisas em biotecnologias florestais, dentre outros. No
próximo item analisamos novos arranjos de organização da pesquisa agrícola no Brasil,
e propomos um quadro de referência para a análise dos arranjos representados pelo
modelo de economia política.
5.1. Transformações na Organização da Pesquisa Agrícola
Ostrom e Ostrom (1999) afirmam que até recentemente, o setor privado e o setor
público eram vistos como duas partes mutuamente exclusivas da economia. Segundo os
autores, nas últimas décadas, houve o desenvolvimento de extensa literatura sobre as
características que distinguem os bens públicos ou coletivos dos bens privados ou
individuais. A partir de combinações das características de exclusão e rivalidade os
135
autores apresentam um quadro de referência que encerra a dicotomia entre bens
públicos e privados, conforme reproduzido no quadro 04:
Quadro 4 - Classificação de tipo de bens
Liberdade de uso
Possibilidade de uso conjunto
Rivalidade
Não Rivalidade Exclusão
Bem Privado
Toll goods (Bem de clube)
Não exclusão Recursos Comuns
Bem Público Fontes: Adaptado de Ostrom e Ostrom (1999) .
O conhecimento, quando protegido por direitos de propriedade intelectual, se
torna um bem de clube (Lesser, 1998; Fulton, 1997). A natureza não rival dos bens de
clube significa que estes possuem uma tendência à concentração de mercado, caso
sejam utilizados como principais insumos no processo produtivo da indústria em
questão. A não rivalidade dos produtos da pesquisa implica em custos marginais nulos,
ou próximos de zero, para a transferência e difusão da tecnologia. Empresas que
utilizam toll goods como principais insumos acessam economias de tamanho, uma vez
que reduzem seus custos médios quando diluem seus custos fixos por um maior número
de compradores. Essa dinâmica implica na estrutura de custos que favorece a
concentração como meio para diluir os custos fixos através do acesso ao maior número
de clientes. A figura 16, conforme exposto em Gray (2014), apresenta a estrutura de
custos em indústrias deste tipo. Pode-se notar que o comportamento das curvas de
custos é semelhante ao observado em indústrias de monopólios naturais, com o custo
marginal sempre inferior ao custo médio.
Figura 16 - Estrutura de custos em mercados com bens de clube
Fontes: Adaptado de Gray (2014)
136
Porém, quando uma única firma oferta para toda a indústria, a demanda pelo seu
produto será sensível a flutuações no preço. A conduta monopolista da firma reduz o
excedente econômico, uma vez que o preço fixado é superior ao custo marginal de
licenciamento ou reprodução do bem não rival. Isto é, os royalties pagos aos
proprietários da tecnologia não refletem o custo marginal de utilização do
conhecimento, mas sim uma contribuição para o custo fixo da pesquisa necessária ao
desenvolvimento daquela propriedade intelectual (GRAY, 2012). Com isso, a firma cria
distorções que dificultam a adoção da tecnologia por demandantes em potencial,
dispostos a pagar pela tecnologia um preço superior ao custo marginal de reprodução e
inferior ao preço de monopólio. A figura 17 apresenta as perdas relacionadas à
concentração e à fixação de preços de monopólio em indústrias que utilizam toll goods
como principais insumos produtivos.
Figura 17 - Perda de eficiência em estruturas monopolísticas
Fontes: Adaptado de Gray (2014).
Empresas nos mercados de produtos com características de toll goods, não
rivalidade e exclusão, incorrem em custos médios decrescentes e custos marginais
próximos de zero, em estrutura semelhante aos monopólios naturais. O custo de
reprodução ou licenciamento do conhecimento é baixo, e as empresas despendem com
custos fixos até registrarem a propriedade intelectual sobre o produto da pesquisa. De
fato, ganhos de tamanho criam incentivos à concentração dos investimentos em
pesquisa agrícola. A intensificação do processo de fusão e aquisição nas indústrias de
insumos agrícolas observado nas últimas duas décadas valida o arcabouço teórico que
explica a dinâmica de mercados dependentes de toll goods.
137
A concentração dos investimentos em pesquisa agrícola nas mãos de poucas
firmas gera ainda distorções relacionadas à seleção dos projetos de pesquisa. Isto porque
empresas tendem a beneficiar áreas com maior possibilidade de retornos, em detrimento
de pesquisas direcionadas a mercados menores ou dedicadas a problemas regionais
específicos. Desse modo, diversas áreas de pesquisa são negligenciadas e a sua
execução requer a participação do setor público, ou a formação de novos arranjos
institucionais que direcionem recursos nesse sentido.
No plano teórico, argumenta-se que o fortalecimento dos direitos de propriedade
alterou a lógica da divisão entre pesquisa básica e pesquisa aplicada. Qualquer pesquisa
com potencial para criação de conhecimento codificado, ou produto com direito à
propriedade intelectual, é uma pesquisa aplicada. Especificamente no setor agrícola, os
direitos de propriedade intelectual modificaram substancialmente a lógica que justifica o
financiamento público da pesquisa. A questão relevante não consiste mais em saber
onde fixar a linha divisória entre pesquisa pública e privada, e sim determinar o nível
ótimo ou eficiente de investimento público.
Claro está que o fornecimento de bens públicos, resultados da pesquisa agrícola,
gera benefícios líquidos para a sociedade de modo persistente. No entanto, em muitos
casos, estes benefícios não geram receitas para as organizações que executaram a
pesquisa. O longo prazo de maturação dos benefícios da pesquisa agrícola e o relativo
curto período de tempo da proteção intelectual de produtos da pesquisa faz com que os
benefícios extrapolem o período de validade da propriedade intelectual. Esta distorção
afeta principalmente as rendas de comercialização de produtos da pesquisa agrícola
realizada em organizações públicas. Isto porque organizações deste tipo encontram
maiores restrições para atuarem como monopolistas, ou excluírem demandantes em
potencial. Do mesmo modo, organizações públicas não possuem competências, ou
investem em ativos complementares, nas áreas de marketing e sistemas de cobrança. A
escassez de recursos públicos resultante da crise econômica global iniciada em
2007/2008, que persiste em diversos países no final da década de 2010, empurra para o
centro do debate o tema da busca pela independência ou a autossuficiência financeira
das organizações públicas de pesquisa agrícola.
Nos arranjos de fundos de commodities direcionados para pesquisa, o
financiamento das atividades é atrelado ao desempenho e ao valor da produção agrícola.
Não obstante, casos onde grupos de agricultores são também os principais gestores dos
138
recursos dos fundos de commodities possuem menores custos para a identificação de
demandas tecnológicas e investem em áreas que tenderiam a ser negligenciadas pelas
empresas ou enfrentariam resistência para receberem maiores recursos de organizações
públicas de pesquisa. Para exemplificar, vejamos o caso da praga do bicudo no algodão.
Para as empresas de insumos agrícolas, a praga do bicudo do algodoeiro não
constitui uma oportunidade tecnológica com tamanho de mercado relevante para atrair
investimentos em pesquisa. Para a firma, é mais eficiente alocar recursos em culturas
com maior área de cultivo ou em problemas que atinjam um maior número de
agricultores, como por exemplo, biotecnologias para a tolerância a herbicidas e
resistência a insetos com incidência global. Já nas organizações públicas de pesquisa
agrícola, esforços direcionados à praga do bicudo disputam recursos, cada vez mais
escassos, com um grande número de projetos em diferentes áreas do conhecimento.
Fundos por commodities possibilitam contornar tanto o desinteresse do setor privado
como a escassez de recursos nas organizações públicas, com custos que incidem sobre
os agentes participantes daquela indústria.
No ambiente institucional pós Revolução Verde, as possibilidades de
apropriação privada de produtos da pesquisa pública incentivaram uma extensa
discussão sobre a avaliação dos benefícios da pesquisa agrícola, tendo como base o
relaxamento do pressuposto de que a pesquisa agrícola financiada com recursos
públicos gera spillovers distribuídos livremente por todos os agentes de determinada
indústria. Para além de medidas de eficiência econômica da pesquisa, as metodologias
de avaliação passaram a analisar indicadores de equidade da distribuição dos custos e
benefícios da pesquisa. Concluiu-se, por exemplo, que o benefício proporcionado por
pesquisas em mercados com demanda perfeitamente elástica é totalmente apropriado
por produtores. Este é o caso dos investimentos públicos em pesquisas em culturas
agrícolas de exportação, onde mudanças na indústria induzidas pela pesquisa não
alteram o preço internacional das commodities. Em comparação, se a demanda não é
perfeitamente elástica e os resultados da pesquisa provocam um deslocamento parcial
na curva de oferta da indústria, produtores podem receber benefícios em menor
quantidade do que seus investimentos na pesquisa.
A figura 18 apresenta o quadro de referência para as avaliações dos novos
arranjos de organização da pesquisa agrícola. O quadro captura as possibilidades de
organização dos novos arranjos, identificadas através das configurações de
139
financiamento, execução, gestão e distribuição dos custos e benefícios da pesquisa
agrícola. Nota-se, pelo quadro, a diversidade de combinações que podem ser utilizadas
na formação dos novos arranjos.
Figura 18: Quadro de Referência – Novos Arranjos de Pesquisa Agrícola
Fontes: Dados da Pesquisa
Os novos arranjos ampliam as possibilidades de participação dos agentes nas
atividades de pesquisa agrícola. Por exemplo, fundos de commodities podem ser
financiados com recursos públicos, geridos por grupos de interesse, terem as pesquisas
executadas por organizações de grupos de interesse e a maior parte dos custos e
benefícios impactarem os produtores da indústria em que atuam. A partir do quadro de
referência pode-se analisar com maior precisão a organização da pesquisa nos novos
arranjos, assim como avaliar a apropriação dos benefícios dos investimentos. No
próximo item, concentraremos os esforços para apresentar exemplos da diversidade de
configurações de fundos de commodities e redes de pesquisa agrícola.
5.2. Novos Arranjos de Organização da Pesquisa Agrícola – Fundos de
Commodities, Redes e Consórcios de Pesquisa.
Alston, Freebairn e James (2004) argumentam que a cobrança de taxas atreladas
ao valor da produção de culturas agrícolas tem sido adotada nas últimas décadas como
alternativa para o financiamento de pesquisas agrícolas. De acordo com os autores,
programas de P&D agrícola baseados em impostos são possibilitados pelo poder
140
coercitivo do Estado para determinar competências fiscais na cobrança de tributos. Em
função disso, a formação de levy funds em uma commodity específica requer o apoio da
grande maioria de agricultores/consumidores, para que a provisão dos recursos públicos
em contrapartida seja justificável e não produza distorções alocativas.
Byerlee (2015) afirma que a pesquisa financiada por levy funds tem como
principais objetivos aumentar o investimento e fortalecer o papel da demanda nas
decisões relativas à alocação dos recursos. Segundo o autor, há uma variedade de
questões institucionais que influenciam a organização e o funcionamento dos fundos de
commodities, sendo que arranjos deste tipo funcionam melhor quando fortes
associações de produtores e/ou de indústria asseguram o maior controle na governança
dos fundos coletados. Na descrição de Byerlee (2015), os fundos podem ser
administrados por uma organização privada de pesquisas dedicada a um produto
específico, como as RDCs na Austrália que terceirizam a pesquisa de forma
competitiva. Alternativamente, os fundos podem ser geridos por um único órgão
governamental que terceiriza todas as pesquisas, ou financia um instituto de pesquisa
com competências múltiplas em diversos produtos, como no caso do Uruguai.
Conforme será tratado, no caso brasileiro o fundo do algodão é gerido por uma
associação de cotonicultores que executa a maioria das pesquisas em laboratórios
próprios.
Alston, Gray e Boleck (2012) afirmam que o financiamento de pesquisa baseado
em taxas é utilizado em vários países como mecanismo para a provisão de P&D
agrícola, em especial para atividades nas quais o produto do investimento trata-se de um
bem de clube que interessa a indústrias específicas. Segundo os autores, arranjos
institucionais deste tipo dão voz aos produtores na elaboração de programas de pesquisa
e na regulação do valor da contribuição direcionada para a formação do fundo. Ainda,
afirmam que o financiamento público baseado em taxas em uma indústria específica é
mais barato do que o financiamento direto com recursos do tesouro nacional.
Especialmente no caso de commodities exportáveis, parcela significativa do custo do
fundo para a pesquisa incide sobre agentes externos, uma vez que os resultados da
pesquisa não alteram o preço dos produtos determinados em mercados financeiros
internacionais.
Organizações de pesquisa geridas por agricultores estão em melhores condições
de identificar as demandas e direcionar os gastos em pesquisa de forma mais eficiente.
141
Embora empresas formadas com recursos dessas organizações atuem em busca de
lucros, elas enfrentam maiores obstáculos para fixarem preços de monopólio, isto
porque decisões relacionadas à fixação de preço são tomadas com a participação direta
de representantes de agricultores, uma prática que não se verifica nas empresas privadas
tradicionais. Ainda, investimentos em infraestrutura e recursos humanos de
organizações de pesquisa financiadas com recursos de fundos de commodities atuam
como elementos dinamizadores do desenvolvimento de áreas rurais. Por serem mais
descentralizados, estes produzem impactos maiores nas regiões produtoras, em
detrimento dos gastos centralizados nas sedes de empresas de insumos localizadas em
países desenvolvidos.
Organizações de produtores podem gerar renda para as organizações públicas de
pesquisa com a contratação de serviços científicos e tecnológicos. Pesquisadores em
organizações de produtores não são avaliados prioritariamente através de métricas
acadêmicas de desempenho, como número de publicações, citações, participações em
congressos ou parcerias internacionais. Embora relevantes para as organizações públicas
de pesquisa, métricas deste tipo são valorizadas de modo indireto pelos gestores dos
fundos de commodities, vistas como subprodutos da busca por tecnologias e
conhecimentos que proporcionem benefícios líquidos aos agricultores. Organizações de
produtores gestoras de recursos públicos destinados para a pesquisa agrícola atuam no
mercado brasileiro, porém com características distintas das observadas em outros países,
principalmente com relação aos instrumentos de captação de recursos e a participação
do setor público.
Crespi (2003) faz uma revisão histórica das políticas de promoção industrial
genérica nos EUA, e destaca o crescente número de contestações judiciais dos
programas de checkoff por parte de produtores, que questionam a obrigatoriedade dos
investimentos em promoção de seus produtos. Segundo o autor, a não obrigatoriedade
da contribuição para o fundo torna possível que “caronas” sejam beneficiados pelos
gastos dos outros produtores. Williams et al. (2002), aponta que enquanto praticamente
todas as organizações de checkoff investem em promoção genérica de atividades para
tentar aumentar a demanda, muitos também investem uma parcela considerável dos
fundos checkoff em atividades de pesquisa. A tabela 16, conforme apresentada em Assis
et al. (2007), divulga os valores das taxas compulsórias e da arrecadação anual dos
142
conselhos nacionais de commodities nos Estados Unidos, em meados da década de
2000.
Tabela 16 - Levy funds nos EUA
Produto Taxa Compulsória Arrecadação (US$ Milhões)
Abacate 2,5 ¢/lb 25,3
Algodão US$1/fardo (480 lb) 72,8
Amendoim US$1/US$100 8,7
Batata 2¢/100 lb 9,6
Bovinos US$1/cabeça 44,6
Cogumelos 0,24¢/lb 1,7
Leite Cru 15¢/100 lb 87,3
Leite Processado 20¢/100 lb 104,9
Manga 0,5¢/lb 2,5
Mel 1¢/lb 3,6
Melancia 2¢ - 4¢/100 lb 1,6
Milho-pipoca 6¢/100 lb 0,5
Mirtilo US$12/t 1,3
Ovinos 0,5¢/lb 2,4
Ovos 10¢/caixa (30 dúzias) 20,4
Soja 50¢/US$100 44,3 Suínos 40¢/US$100 60,9
Fontes: Adaptado de Assis et al. (2007).
Bervejillo, Alston e Tumber (2012) ressaltam o papel central que os fundos de
commodities exerceram na revitalização do financiamento da pesquisa agrícola no
Uruguai. Os autores afirmam que no Uruguai a pesquisa pública agrícola foi
transformada no ano de 1990, com a introdução do Instituto Nacional de Investigação
Agrícola (INIA). A nova organização pública de pesquisa tem como fonte de recursos
taxas cobradas junto aos produtores, no montante de 0,4% sobre o valor das vendas da
produção. As taxas incidem sobre as vendas de bovinos, ovinos, lã, couros não
transformados, suínos, grãos, leite, aves de capoeira, e os fundos recebem em
contrapartida do governo federal recursos no mesmo montante arrecadado junto aos
produtores.
O investimento inicial para a construção da infraestrutura do INIA foi financiado
via empréstimos obtidos pelo governo Uruguaio junto ao Banco Interamericano de
143
Desenvolvimento (BID). Após isso, a organização de pesquisa passou a operar com
recursos das taxas sobre os produtores e a contrapartida do governo federal. Atualmente,
cerca de 75% do orçamento do INIA é destinado para a folha de pagamento, sendo o
restante dividido entre custos de manutenção das instalações e projetos de pesquisa. De
acordo com Pareja et al. (2011), os investimentos do INIA geraram retornos sociais da
ordem de 16:1. Conforme indicam Bervejillo, Alston e Tumber (2012), desde a sua
fundação, o INIA tem sido responsável por valores entre 74% e 82% do total dos gastos
públicos com pesquisa agrícola no Uruguai. A gestão dos investimentos em pesquisa é
compartilhada entre Estado e os produtores, porém o INIA adota o modelo jurídico de
organização pública não estatal, e desse modo, está menos sujeito a interferência
política na tomada de decisão. As pesquisas no INIA são direcionadas pela demanda
dos agricultores, fato que é executado com a participação direta de agricultores nos
Conselhos Assessores Regionais e nos Grupos de Trabalho da organização.
O financiamento da pesquisa agrícola baseado em taxas cobradas sobre o valor
da produção de commodities específicas foi amplamente adotado no Canadá, a partir de
meados da década de 1980. Em um modelo distinto do Uruguaio, os fundos de
commodities no Canadá financiam organizações privadas de pesquisa que atuam em
culturas específicas. Nessas organizações as associações de agricultores são os
principais gestores dos recursos de pesquisa, e o setor público investe principalmente
em infraestrutura e na formação de instituições de incentivo. Na maioria das
organizações de pesquisa baseadas em levy funds no Canadá, os agricultores têm a
opção de receberem o ressarcimento da taxa para pesquisa, conquanto enviem uma carta
solicitando o ressarcimento à organização gestora do fundo. Sendo a única exceção, a
organização de pesquisa formada pelos produtores de grãos de Saskatchewan (SPG),
onde as taxas cobradas sobre a produção não retornam para os agricultores e são
empregadas integralmente no financiamento de pesquisas.
De acordo com Gray e Bolek (2010), o SPG é financiado por meio da taxa de
0,67% do valor da venda bruta de todos os cultivos de ervilha, grão-de-bico, soja,
lentilha e feijão de fava dos associados da SPG. O arranjo dos produtores teve início em
1984, com a cobrança de taxa no valor de 0,5% sobre a produção, que foi elevada para
1% em 2003, e reduzida para 0,67% em 2016. A taxa é deduzida no primeiro ponto de
venda ou distribuição dos produtores de Saskatchewan. Segundo o relatório anual do
SPG, na temporada 2015/2016 a organização investiu US$ 11,8 milhões em pesquisas,
144
sendo que 60% do total de recursos foram alocados em pesquisas para ganhos de
produtividade e no desenvolvimento de novos mercados para os produtos agrícolas.
O governo canadense não fornece recursos em contrapartida para o fundo gerido
pela SGP, mas desenvolve instituições de incentivo ao setor e investe em infraestruturas
de pesquisas que são utilizadas pela organização de produtores. A SGP mantém
parcerias com agentes da indústria e organizações públicas de pesquisa que extrapolam
as pesquisas agrícolas para aumento de produtividade, como o apoio ao Centro de
Desenvolvimento de Cultivos da Universidade de Saskatchewan (CDC), a isenção da
cobrança de royalties para os produtores de sementes e esforços para aumentar a
demanda. Empresas privadas dos setores de insumos agrícolas têm participação limitada
nas pesquisas do SGP, sendo este um ponto de insatisfação por parte dos agricultores
membros da organização, conforme detalhado em SGP (2016).
Gray e Boleck (2010) afirmam que o sistema de inovação agrícola australiano
sofreu uma transformação significativa que começou no final da década de 1980, com o
estabelecimento das Corporações de Pesquisa e Desenvolvimento (RDCs) e a
regulamentação da cobrança de royalties no ponto de entrega (EPR). Como resultado
dessas mudanças, o financiamento da pesquisa agrícola no país tem crescido desde
então, e passou a contar com uma cooperação entre agricultores e agentes das indústrias
agrícolas.
CRRDC (2016) aponta que as RDCs fornecem uma gama de serviços às
indústrias que apoiam. O sistema de pesquisa agrícola da Austrália atualmente conta
com 15 RDCs, dos quais todos menos um (RIRDC) cobrem indústrias únicas, embora
muitas vezes sejam definidas de modo geral como "grãos" ou "horticultura". Conforme
CRRDC (2016), historicamente todos os RDCs foram estabelecidos como agências
governamentais, mas ao longo do tempo 10 RDCs se transformaram em empresas
independentes e sem fins lucrativos, de propriedade das indústrias que servem.
As RDCs atuam como gestores de investimento, depositários de fundos públicos
e privados, e fornecedores de serviços tecnológicos para a indústria e o governo. As
RDCs são financiadas por uma taxa para a pesquisa obrigatória e não-reembolsável de
até 0,99% do valor da produção na indústria em que atua. O valor coletado pela taxa de
pesquisa é complementado em contrapartida pelo governo australiano no percentual de
até 0,5% da taxa. A taxa de pesquisa é deduzida pelo comprador e o comprador é
145
responsável por repassar o montante às RDCs. A taxa de pesquisa é coletada também
sobre o comércio de produtos entre agricultores.
De acordo com CRRDC (2016), em 2008/09 os RDCs investiram o total de US$
318 milhões em pesquisas agrícolas, sendo que US$ 169 milhões tiveram origem em
impostos da indústria e US$ 149 milhões foram injetados pelo governo em
contrapartida. Vale ressaltar que a contrapartida do governo não é igualmente
distribuída entre todos os RDCs, e a alocação destes recursos segue objetivos mais
ligados aos retornos sociais das pesquisas. A tabela 17 divulga o montante arrecadado e
investido por cada RDC australiano na temporada 2008/2009. A análise de custos e
benefícios de projetos financiados pelas RDCs, conforme apresentado em CRRDC
(2016) indica que em média, de cada $1 investido retornam $11 de benefícios para a
sociedade australiana. Nota-se que em algumas corporações o montante investido foi
superior ao arrecadado. Nestes casos as RDCs utilizaram suas reservas para financiar as
pesquisas.
Tabela 17 - Alocação de recursos nas RDCs australianas
Fontes: Alston, Gray e Boleck (2012).
Gray e Alston (2014) destacam a estrutura e a dinâmica da RDC australiana na
indústria de grãos. De acordo com os autores, a Grain Research and Development
Corporation (GRDC) constitui um modelo de organização da pesquisa agrícola que
deve ser copiado em demais países, especialmente nos EUA. As ações da GRDC
sustentam a indústria de sementes para grãos na Austrália, tanto através da realização de
Algodão
Pesqueira
Grãos
Uvas e Vinho
Terra e Água
Indústrias Rurais
Açúcar
Ovos
Processamento de Carne
Suínocultura
Lã
Leite
Floresta e Madeira
Horticultura
Pecuária
Carnes
Total
0,8
25,9
247,6
Contribuição da
Indústria
Contribuição
do Governo
Investimento em
P&D
12,5
3,1
22,6
14,5
3,6
40,9
31,4
218,1
2,4
9,5
89,2
13,3
0
3,9
4,3
1,1
2,8
11,4
19,2
3,7
39,8
0
488,2
2,4
16,3
43,9
11,7
13,3
16,5
5,1
0,9
0
38,2
33,7
7,7
83,2
0,8
61,1
29,6
23,8
10,3
2,0
7,6
5,5
Milhões de Dólares Australianos em 2008/2009
9,4
27,8
121,3
26,2
Corporação de Pesquisa e Desenvolvimento (RDCs)
Indústria
146
pesquisas em melhoramento de cultivares e desenvolvimento de germoplasmas, como
via a participação acionária em empresas com parcela significativa do mercado
australiano de sementes de grãos. Neste contexto, a regulamentação de sistemas para
cobrança de royalties sobre cultivares na entrega do produto tornaram-se fontes de
financiamento tão relevantes quanto as taxas para pesquisa e os recursos
governamentais. Formou-se, assim, uma complementariedade entre a organização da
pesquisa com base em fundos de commodities e o fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual, uma vez que este último contribui com a autossuficiência das
RDCs, sem que representantes de agricultores deixem de exercer papéis centrais na
gestão das atividades de pesquisa, inclusive com o estabelecimento de parcerias com
empresas de sementes.
Recursos dos fundos de commodities são alocados em outras atividades que não
exclusivamente a pesquisa em tecnologias para ganhos de produtividade na etapa
agrícola. Os recursos das RDCs, por exemplo, têm contribuído para o desenvolvimento
de diversas empresas de suporte, como nas atividades de beneficiamento e logística de
produtos agrícolas. Além disso, as organizações de pesquisa financiadas com taxas de
commodities alocam recursos em campanhas de marketing e promoção industrial dos
produtos australianos. Tais desdobramentos geraram questionamentos sobre a eficiência
destes arranjos alternativos para elevar a produtividade da etapa agrícola, e foram
abordados por pesquisadores dedicados ao tema.
Alston, Gray e Boleck (2012) analisam as situações em que as RDCs podem
apresentar falhas institucionais na alocação de seus recursos. Segundo os autores, quatro
características intrínsecas ao arranjo das RDCs têm potencial para gerar falhas na
alocação dos recursos: 1) a diversidade/ heterogeneidade dos agentes e dos sistemas
produtivos que contribuem com as RDCs; 2) os longos prazos de maturação dos
resultados da pesquisa agrícola; 3) a captura dos RDCs por grupos de agentes com
maior representatividade na tomada de decisão; 4) os custos de transação relacionados a
mudanças no modelo de organização dos RDCs, que podem gerar processos de lock-in.
Klerkx (2008) afirma que os fundos de commodities constituem uma alternativa
para institucionalizar sistemas de inovação orientados pela demanda. O autor analisa
como “conselhos de commodities” planejam e executam as atividades de pesquisa
agrícola na Holanda. Com base no arcabouço teórico neo-schumpeteriano dos sistemas
de inovação, Klerkx (2008) aponta que embora a demanda final tenha a oportunidade de
147
levantar questões relacionadas às atividades de P&D, as decisões tomadas pelos boards
são influenciadas por vários atores, e assim não refletem adequadamente as
necessidades de inovação dos agricultores holandeses.
De acordo com Byerlee (2015), a cobrança de taxas sobre o valor de produção
de mercadorias representa uma fonte de financiamento de P&D que permanece sub-
explorada em países da África. Em uma perspectiva sistêmica, o autor destaca os
potenciais impactos positivos da maior contratação de serviços tecnológicos e de
pesquisa privados, como meio para fortalecer o acesso ao conhecimento de fontes
externas. A tabela 18 divulga os principais fundos de pesquisas nos países africanos,
sendo que os valores representam os investimentos no ano de 2008. Destaca-se a
predominância das culturas de exportação.
Tabela 18- Fundos de commodities na África
País Produto Investimento total em P&D Investimento do Fundo de
Commodity
Milhões de doláres em 2005 (PPP)
Gana Cacau 33,25 32,67
Quênia Chá 3,10 1,70
Quênia Café 5,78 4,41
Zimbábue Chá 2,42 1,38
Tanzânia Café 3,43 0,37
Ilhas Maurício Açúcar 9,89 9,44
Uganda Café 4,75 1,51 Fontes: Adaptado de Byerlee (2015).
Byerlee (2015) afirma que as taxas para pesquisa são mais indicadas em cultivos
comerciais que passam por um pequeno número de pontos de transformação ou
comercialização, mas também enxerga oportunidades nos mercados internos,
especialmente onde a produção é em grande parte comercial e geograficamente
concentrada. Conforme o autor, evidências empíricas indicam que o financiamento
coletivo de P&D através de taxas funciona melhor do que a pesquisa financiada com
recursos públicos.
Vale ressaltar que custo dos fundos é apenas um dos elementos possíveis de
avaliação. Outro elemento relevante é a eficiência na alocação dos recursos dos fundos.
Neste ponto, as preocupações vão além da distribuição de benefícios e custos dos
fundos entre contribuintes, consumidores da mercadoria e os produtores, uma vez que
há também impactos distributivos dentro desses grupos. Conforme destacam Alston,
148
Freebairn and James (2004), decisões sobre o tamanho da contribuição e o balanço entre
alternativas de aplicação de recursos dos fundos devem ser dominadas pelos interesses
de representantes de agricultores, e por isso, não necessariamente devem coincidir com
o interesse nacional.
O fortalecimento da propriedade intelectual sobre conhecimentos e tecnologias
produziu imperfeições sobre a dinâmica de inovação nas empresas privadas dos setores
de insumos agrícolas. Empresas podem optar por não licenciar sua propriedade
intelectual devido a diferentes razões estratégicas de cunho competitivo. Elas podem
deliberadamente manter seu conhecimento em segredo, em vez de licenciá-lo para um
rival, com o intuito de impedir o progresso das pesquisas nas firmas concorrentes. Tal
problema é tratado com grande fôlego por Ferrari (2016), sobre o signo de patentes
bloqueantes.
Outra falha do mercado de tecnologias relacionada à conduta das empresas dos
setores de insumos agrícolas diz respeito ao fato de que a profusão de direitos de
propriedade elevou os custos de transação em que estas incorrem para identificar quais
patentes são relevantes e qual a liberdade de operação em projetos de pesquisa. Em
conjunto, tais ações tendem a reduzir o ritmo de inovações no setor privado. Por outro
lado, caso firmas adotem condutas mais independentes, dividindo o mercado de um bem
de clube, cada agente incorrerá em custos fixos de pesquisa, resultando na duplicação
dos custos de pesquisa na indústria, o que irá afastar o sistema econômico da melhor
alocação dos recursos.
De forma resumida, Gray (2012) afirma que num mercado desregulado, as
indústrias de bens de clube enfrentam o dilema do poder de mercado no caso do
monopólio, ou a fragmentação dos esforços de pesquisa. Embora este dilema possa ser
gerido através de arranjos institucionais adequados, resultados eficientes são difíceis de
alcançar. Howard (2009) aponta que o custo médio da indústria de biotecnologias
agrícolas foi reduzido em um ambiente de incentivo ao compartilhamento dos bens de
clube. Conforme destacam Fuglie et al. (2014) a formação de redes e consórcios de
pesquisa e o maior licenciamento cruzado de tecnologias foram amplamente observados
no período recente. Entretanto, tais ações não têm impedido a alteração na estrutura de
custos das indústrias de commodities agrícolas, com o incremento relativo do valor
pago por insumos intensivos em conhecimento, e maior concentração dos investimentos
em pesquisa nas mãos de poucas firmas.
149
5.3. Novos Arranjos de Organização da Pesquisa Agrícola no Brasil
5.3.1. PROALMAT E IMATmt
À semelhança da dinâmica observada em demais países, o período recente
constatou o fortalecimento de novos modelos de organização da pesquisa agrícola no
Brasil. Porém, no caso brasileiro, os novos arranjos institucionais são financiados
majoritariamente pela restituição aos agricultores de uma parcela do imposto sobre
circulação de mercadorias e prestações de serviços de transporte interestadual,
intermunicipal e de comunicação, de competência dos Estados e do Distrito Federal
(ICMS). Os fundos de commodities brasileiros são institucionalizados por políticas
estaduais, financiados pelos agricultores/produtores, e não resultam na elevação da
carga tributária ou do preço do produto agrícola.
Com efeito, o Estado de Mato Grosso foi o pioneiro na criação de fundos de
incentivo à cultura agrícola. Estes tiveram início no final da década de 1990, com a
instituição do Programa de Incentivo ao Algodão de Mato Grosso (PROALMAT). Na
sequência, o governo estadual de Mato Grosso criou, nos primeiros anos da década de
2000, o Fundo de apoio à cultura da Soja (FACS), o Fundo de Apoio à Bovinocultura
de Corte (FABOV), o Programa de Apoio à cultura do Café (Pró-Café/MT), o Programa
de Apoio ao Leite (Pró-Leite/MT) e o Programa de Apoio à Cultura do Arroz (Pró-
Arroz/MT). Mais recentemente, em meados da década de 2010, foi criado o Fundo de
Incentivo à Cultura da Soja (FICS) em Goiás. Vale ressaltar, que a criação de fundos de
incentivo à agricultura é debatida em demais Estados do país atualmente. Sendo que a
fonte de recursos nos projetos em discussão são as restituições fiscais aos agricultores,
nos moldes do PROALMAT.
O Programa de Incentivo ao Algodão de Mato Grosso (PROALMAT) foi
estabelecido na Lei Estadual nº 6.883/1997. O programa tem como objetivo a
recuperação e a expansão da cultura do algodão no Estado de Mato Grosso, dentro de
padrões tecnológicos e ambientais de produtividade e qualidade, bem como estimular
investimentos públicos e privados, visando promover o processo de verticalização e
agroindustrialização, oferecendo incentivos fiscais aos produtores rurais interessados.
Para isso, o PROALMAT concede incentivos fiscais aos cotonicultores que aderirem ao
programa, por meio da restituição de até 75% do ICMS cobrado sobre o valor da
150
comercialização de algodão para fora do Estado e dentro do país9. Sendo que o valor da
isenção foi inicialmente estipulado com relação à qualidade da fibra, e concedido
somente para o comércio de algodão beneficiado em pluma (descaroçado). No ano de
2003 extinguiu-se a diferenciação da isenção em função da qualidade do algodão, e todo
o tipo de fibra produzida no Estado passou a receber 75% do ICMS para a formação do
fundo que financia as atividades do programa. Os recursos obtidos com o PROALMAT
são geridos pela Associação Mato Grossense dos produtores de algodão (AMPA).
A legislação de criação do PROALMAT instituiu o Fundo de Apoio à Cultura
do Algodão – FACUAL – como destinatário de 15% do valor total recebido pelo
PROALMAT. O fundo teve como principal objetivo fortalecer a cultura comercial do
algodão no Estado, e para isso investiu seus recursos em pesquisas na área agrícola.
Agricultores membros do fundo investiram aproximadamente 10% do valor total do
FACUAL em contrapartida. Fato que desponta como outra característica específica dos
fundos de pesquisa brasileiros, a contrapartida é dada pelos agricultores e não pelo setor
público, como nos casos internacionais analisados anteriormente. Levando-se em
consideração a taxa do ICMS incidente sobre a comercialização do algodão que é de
12%, o percentual destinado para o FACUAL anualmente equivale a 1,35% do valor
bruto da produção dos agricultores membros do programa (FARIA, 2012).
Conforme destaca AMPA (2006), o FACUAL foi administrado por um conselho
gestor, composto pela Secretaria de Agricultura de Mato Grosso, a Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Rural, a Superintendência Federal de Agricultura, a Associação
Mato-grossense dos Produtores de Algodão (AMPA), a Associação Mato-grossense dos
beneficiadores e industriais de algodão (ABINAL) e a Federação dos Trabalhadores na
Agricultura (FETAGRI). No período 1998 - 2006, o FACUAL investiu R$ 74,6
milhões, e financiou diversas atividades relacionadas à produção de algodão no Estado
do Mato-Grosso, abrangendo ações sociais, de promoção e incentivo ao comércio de
algodão, assim como pesquisas dedicadas ao desenvolvimento sustentável da produção
agrícola.
AMPA (2006) indica que os recursos do FACUAL no período 1998 – 2005
foram alocados em três grandes áreas: Desenvolvimento da cultura, Ações Estratégicas
de Mercado e Projetos de Inclusão Sociocultural. Com os valores expressos em reais de
9 A Lei Complementar nº 87/1996, “Lei Kandir” institui a isenção de ICMS sobre a exportação de
produtos agrícola no Brasil.
151
2005, a primeira área recebeu aporte de R$ 39,7 milhões distribuídos em 273 projetos.
A segunda grande área recebeu R$ 10,9 milhões alocados em 20 projetos, e a terceira
área de ação do fundo recebeu R$ 10,5 milhões alocados em 57 projetos.
Afirma-se que as atividades financiadas pelo FACUAL foram decisivas para o
estabelecimento de lavouras comerciais de algodão no Estado de Mato Grosso. Nesse
contexto, destacam-se as ações do fundo relacionadas ao controle de pragas, ervas
daninhas e outros problemas de manejo do algodoeiro que foram surgindo pari passu a
expansão de plantações comerciais no Estado. Isto é, os investimentos do FACUAL
responderam com agilidade às demandas emergenciais dos cotonicultores membros da
AMPA. Como resultado, a área plantada com a cultura do algodão no Estado mais que
dobrou de tamanho no período 1998-2005, a produtividade da cultura evoluiu mais de
200%, e a quantidade exportada aumentou mais de 100 vezes.
No período em questão o FACUAL financiou 273 projetos de pesquisas
relacionadas ao desenvolvimento da cultura, que viabilizaram o estabelecimento da
produção agrícola em escala comercial e em condições de competitividade
internacional. Sendo que os projetos foram selecionados a partir de levantamentos da
demanda junto aos agricultores, consultores e técnicos, e executados por especialistas
externos ao FACUAL contratados para a execução de serviços específicos. A tabela 18
apresenta o montante de recursos e projetos por área de pesquisa que foram alocados
pelo fundo com o objetivo de desenvolver a produção agrícola no Estado. Nota-se que
as quatro áreas receberam quantias semelhantes, com destaque para pesquisas em
manejo integrado de pragas, doenças e solos.
Tabela 19 - Alocação de recursos do FACUAL
Fontes: AMPA (2006)
Entre 1998-2005, os investimentos do FACUAL em melhoramento e
desenvolvimento de variedades resultaram no registro de 8 cultivares de algodão no
DescriçãoInvestido
(milhões de R$)Projetos
Melhoramento e desenvolvimento de variedades 9,6 24
Manejo integrado de pragas, doenças, solo e outras tecnologias 11,4 164
Defesa Vegetal 9,9 12
Difusão de tecnologia, infra-estrutura de pesquisa 8,6 73
Total 39,7 273
Destinação de Recursos do FACUAL para pesquisas em Desenvolvimento da Cultura entre
1998 -2005
152
registro nacional de cultivares (RNC). Ressalta-se que até o início da década de 1990
havia somente uma cultivar de algodão para lavoura comercial registrada no país. Os
gastos com infraestrutura de pesquisa realizados pelo FACUAL foram alocados na
fazenda experimental da AMPA, localizada na cidade de Primavera do Leste.
Na área de manejo integrado e controle de doenças, os estudos mais demandados
tiveram como objetivo o controle químico da ramulária e o desenvolvimento de
cultivares resistentes ao fungo. Conforme indica AMPA (2006), as pesquisas
financiadas pelo FACUAL comprovaram que o tratamento de sementes com fungicidas
é um método eficiente e barato de prevenir inúmeras doenças do algodoeiro no cerrado.
Além disso, pesquisas financiadas pelo FACUAL mapearam e identificaram as
principais espécies de nematoides em diversas áreas de cultivo do algodão em Mato
Grosso. Estes resultados serviram de subsídio para pesquisas em outras tecnologias de
interesse à cotonicultura no Estado, como por exemplo, o desenvolvimento de material
genético superior. As pesquisas relacionadas ao manejo integrado de pragas tiveram
caráter prático, sendo desenvolvidas em áreas de produtores membros da AMPA,
através da avaliação de produtos e equipamentos, e a criação de modelos de
amostragens de populações de insetos e ácaros.
No ano de 2002, o FACUAL passou a financiar pesquisas na área de
biotecnologias para o algodão. Dentre as organizações que prestam serviços para o
fundo destaca-se o centro da Embrapa para recursos genéticos e biotecnologia (Embrapa
Cenargen), que busca desenvolver biotecnologias que conferem ao algodão resistência
às principais pragas da cultura, incluindo o bicudo do algodoeiro. Além disso, o fundo
financiou pesquisas para o zoneamento agrícola em Mato Grosso, com o objetivo de
definir áreas de exclusão do plantio de sementes geneticamente modificadas.
AMPA (2006) aponta que a criação do FACUAL foi decisiva para a
consolidação de uma rede de instituições de pesquisa dedicadas a estudar a
complexidade da produção de algodão no cerrado brasileiro. Uma parcela dos recursos
do FACUAL foi concedida em modelo competitivo com base na seleção de projetos de
interesse dos membros do fundo. Os gastos com a contratação de serviços de pesquisa
pelo FACUAL financiaram infraestrutura e cientistas majoritariamente em organizações
públicas de pesquisa. No período 1998 – 2006, o FACUAL alocou recursos em
aproximadamente 30 organizações de pesquisa no Estado do Mato Grosso e em outros
estados brasileiros.
153
No ano de 2007, foi criado o Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt),
uma organização privada de pesquisas vinculada à AMPA e parcialmente financiado
com recursos do PROALMAT, com o intuito de fortalecer as pesquisas e difusão das
tecnologias dos programas de pesquisas financiados pelo FACUAL. A criação do
IMAmt constitui um movimento dos produtores da AMPA em busca da autossuficiência
financeira das pesquisas, através da comercialização de cultivares e demais tecnologias,
e da maior independência na tomada de decisão sobre a alocação dos recursos, via a
maior participação de agricultores na gestão dos fundos.
Afirma-se que o IMAmt é o setor tecnológico da AMPA. Sendo assim tem o
objetivo de atender às demandas dos produtores associados, realizando pesquisa,
desenvolvimento e difusão de novas tecnologias. As atividades de pesquisa do IMAmt
concentram-se no programa de melhoramento de cultivares de algodão, que submete as
demais áreas de pesquisa ao objetivo de lançar cultivares superiores para os associados.
As cultivares, e demais tecnologias, desenvolvidas pelo IMAmt são transferidas para os
cotonicultores através da Cooperativa Mista de Desenvolvimento do Agronegócio
(Comdeagro).
Organização sem fins lucrativos, a Comdeagro é responsável pela produção e
comercialização de sementes que utilizam o material genético desenvolvido no IMAmt.
A Comdeagro compra o material genético do IMAmt, contrata serviços para a
multiplicação das sementes, vende e recolhe os royalties dos agricultores, e repassa os
valores para o IMAmt. Não obstante, a Comdeagro é a responsável pela cobrança e o
repasse às firmas dos royalties pagos pelas biotecnologias inseridas nas sementes
geneticamente modificadas. Dados obtidos para este estudo indicam que o IMAmt
estipula valores de royalties de aproximadamente R$ 150/ha pelo seu material genético,
e as empresas de biotecnologia fixam royalties de aproximadamente US$ 240/ha pelos
traits. Vale ressaltar que a Comdeagro recebe entre 10% e 20% do montante arrecadado
com os royalties sobre a biotecnologia, como pagamento ao serviço de cobrança. A
figura 19 apresenta de forma esquemática a organização das atividades de pesquisa no
IMAmt.
154
Figura 19 - Organização IMAmt
Fontes: Dados da pesquisa
A maior autonomia financeira obtida com recursos de licenciamento de
tecnologias possibilitou a ampliação das áreas de pesquisas tratadas no IMAmt,
principalmente através do financiamento de pesquisas em culturas utilizadas como
segunda safra pelos cotonicultores da AMPA. Com isso, o IMAmt investe no
melhoramento genético de oleaginosas como girassol e mamona, e no melhoramento
genético de cultivares de soja precoce. O Instituto possui seis centros regionais e
trabalha diretamente com os agricultores, identificando as principais demandas
relacionadas ao melhoramento de cultivares.
O IMAmt expandiu os investimentos em infra-estrutura de pesquisa para todos
os núcleos de produção algodoeira no Estado de Mato Grosso, distribuídos nas regiões
Sul (Rondonópolis), Centro (Campo Verde), Centro-Leste (Primavera do Leste),
155
Centro-Norte (Lucas do Rio Verde), Médio-Norte (Campo Novo do Parecis), Noroeste
(Sapezal) e Norte (Sorriso).
Em 2011, o IMAmt financiou a construção de um laboratório de biologia
molecular localizado na fazenda experimental da AMPA em Primavera do Leste, que
realiza pesquisas em parceria com a Embrapa e demais organizações. No ano de 2016,
foi inaugurado o centro de treinamento e difusão tecnológica do IMAmt na cidade de
Sorriso. Informações obtidas no site do IMAmt indicam que outros 4 centros
treinamento estão em fase final de construção. Em 2017, o IMAmt possui 23 cultivares
de algodão registradas no RNC, o que corresponde a 10% do total de cultivares
registradas para essa cultura no país. Atualmente o Instituto emprega 170 profissionais,
sendo que 140 realizam atividades ligadas à pesquisa, e dentre estes, 15 profissionais
têm diploma de doutorado. Estimativas obtidas pelo presente estudo apontam que 80%
dos investimentos de pesquisa do IMAmt são alocados na própria instituição, e os 20%
restantes são empregados na contratação de serviços tecnológicos de agentes externos.
Com efeito, o modelo de organização da pesquisa com base em fundos de
commodities e gerido por associações de agricultores apresenta vantagens com relação
aos demais, uma vez que pode identificar com maior rapidez e precisão áreas problemas
que demandam pesquisa, e possibilita a execução de pesquisas não atrativas às empresas
do setor privado, como por exemplo, no caso da praga do bicudo do algodoeiro. Além
disso, a organização de fundos de commodities representa uma alteração na participação
do setor público nas atividades de pesquisa agrícola, que passa a atuar de forma indireta
via a instituição de restituições fiscais em detrimento da atuação direta via as
organizações públicas de pesquisa. Estas prosseguem como agentes centrais das
atividades de pesquisa no caso do algodão, qualificando recursos humanos e prestando
serviços de pesquisa. No caso do IMAmt, as pesquisas financiadas pelos fundos
representaram fontes externas de recursos para as organizações públicas de pesquisa no
país, constituindo alternativas viáveis à escassez de recursos no setor público imposta
pela restrição fiscal em curso no país.
5.3.2. Redes e Consórcios de Pesquisa em Biotecnologias Florestais
De acordo com Montebelo e Bacha (2009), o desenvolvimento de plantações
comerciais de eucalyptus no Brasil começou com investimentos da Companhia Paulista
de Ferrovias em 1903. Neste processo, destaca-se o papel do engenheiro agrônomo
156
Edmundo Navarro Andrade, considerado o "pai" do reflorestamento e da produção de
eucalyptus no país. No período em análise, as árvores foram cultivadas ao longo das
linhas ferroviárias e a madeira utilizada principalmente como combustível para
locomotivas.
Três décadas após a expansão inicial, aproximadamente na década de 1940,
tiveram início os investimentos em pesquisas visando novos usos industriais da madeira
de eucalyptus, com foco na produção de papel e celulose. Na mesma década, o Instituto
Agronômico de Campinas (IAC) iniciou o primeiro programa de melhoramento de
eucalyptus no Brasil.
Conforme destacado por Buainain e Batalha (2007), a década de 1960 marcou a
expansão das florestas de eucalyptus para uso industrial no país. O processo baseou-se
em políticas públicas, como empréstimos de longo prazo com taxas de juros subsidiadas
para plantações florestais, agrupadas no Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento
de Florestas Plantadas, lançado em 1965. Os autores mencionam que a expansão na área
cultivada com eucalyptus no país ocorreu somente após a adoção de legislação
relacionada ao uso da terra e ao desmatamento, o que possibilitou a expansão da oferta
madeireira e estimulou grandes empresas, principalmente do setor de celulose e papel, a
restaurar as florestas nativas.
O Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), lançado em 1968,
fortaleceu as interações entre a pesquisa básica nas universidades e suas aplicações
pelas empresas dos setores que utilizam a madeira como principal insumo. O IPEF
perseguiu o objetivo de superar a reduzida capacidade de participação no mercado das
organizações públicas de P & D. Hoje em dia, o IPEF é um importante instituto para a
promoção de parcerias de pesquisa público-privadas, bem como na educação e
formação de pessoal de pesquisa.
A década de 1970 é marcada pelo desenvolvimento da Sociedade de Pesquisa
Florestal (SIF) e pelo lançamento da Embrapa Silvicultura. Inaugurado em 1974, o SIF
adaptou no Estado de Minas Gerais o modelo organizacional desenvolvido pelo IPEF
no Estado de São Paulo. O modelo baseia-se na interação entre universidades públicas e
empresas privadas. Tanto IPEF e como SIF são financiados com recursos públicos, na
forma de bolsas de estudo e salários de pesquisadores, e com recursos privados obtidos
com a prestação de serviços tecnológicos para as empresas. Entretanto, rendas derivadas
157
da exploração comercial dos resultados da pesquisa não constituem fontes significativas
de receita nessas organizações.
A pesquisa florestal na Embrapa teve início oficialmente com o estabelecimento
do Programa Nacional de Pesquisa Florestal (PNPF). Em dezembro de 1978, a unidade
florestal da Embrapa foi transformada no Centro Nacional de Pesquisa Florestal
(CNPF), que começou a coordenar e realizar todo o esforço público de pesquisa
florestal no âmbito do Ministério da Agricultura e Abastecimento. O PNPF representou
aproximadamente um terço dos esforços nacionais, em termos de redes de ensaios de
cultivares florestais no país, de 1978 a 1992 (Embrapa, 2011). Embora relevante no
estabelecimento de redes para testes de plantas, a Embrapa Florestas tem uma
participação menor (6 cultivares) no registro de cultivares de Eucalyptus, e nenhum
teste de campo de Eucalyptus GM registrado até o momento.
O orçamento da Embrapa Florestas em 2012 alcançou o montante de R$ 50
milhões e a organização contou com mais de 50 pesquisadores com título de doutorado.
Mais recentemente, os investimentos da Embrapa Florestas resultaram no
desenvolvimento de dois softwares para a seleção de genes, a construção de novas
populações reprodutoras e a obtenção de clones híbridos (Embrapa, 2011). Vale
ressaltar que embora tenham sido responsáveis pelo desenvolvimento inicial de
tecnologias e cultivares de espécies florestais, as receitas de vendas das organizações
públicas de pesquisa são pequenas.
A despeito da participação reduzida no registro de cultivares e testes de campo,
universidades públicas e Embrapa são os principais empregadores de pesquisadores e os
únicos executores de educação e treinamento em P & D florestal no país. A pesquisa
florestal nas organizações públicas brasileiras é financiada por diferentes fontes nos
governos federal, estadual e no setor privado. Conforme divulgado pelo Sistema
Nacional de Informações Florestais (SNIF), o Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), investiu R$ 9,1 milhões em 26 programas de pós-graduação
relacionados à engenharia florestal e às ciências florestais em 2012. No mesmo ano, o
Ministério da Educação (MEC), através de sua Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pós-Graduação (CAPES), investiu R$ 5,8 milhões em bolsas de pesquisa para pesquisa
florestal. As Fundações Estaduais de Pesquisa, como a FAPESP, também oferecem
bolsas de estudo para estudantes de pós-graduação em universidades públicas. Além
158
disso, a CAPES conta com um total de 490 professores de pós-graduação em
Engenharia Florestal e Ciências Florestais em 2012.
No período 2000-2012, houve um aumento de 119,73% no número de
professores florestais em cursos de pós-graduação no Brasil. A maior quantidade de
professores é alocada nas áreas de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, que
abrange várias sub-áreas do conhecimento, tais como conservação da natureza, manejo
florestal e tecnologia e utilização de recursos florestais. O número total de
pesquisadores em curso de pós-graduação relacionados às Ciências Florestais no Brasil
em 2012 foi de 464, um aumento de 82% em relação a 2007. Considerando apenas o
número de pesquisadores com nível de mestrado (344), o aumento foi de 88% (120) em
relação a 2007.
Afirma-se que a cultura de Eucalyptus representa um caso atípico da pesquisa
agrícola no Brasil, em função da liderança e do pioneirismo dos investimentos e das
tecnologias de responsabilidade de organizações privadas. Desde a primeira plantação
comercial, no início do século XX, até a aprovação comercial de uma cultivar
geneticamente modificada de Eucalyptus em 2015, as empresas privadas exerceram
papel central nos esforços de pesquisas em melhoramento genético para florestas
plantadas no Brasil. Destaque para os esforços privados que resultaram no
desenvolvimento do Eucalyptus Urograndis, uma cultivar especialmente adaptada às
condições brasileiras, que combina as melhores características do E. grandis
(crescimento e qualidade da madeira) e do E. urophylla (adaptação e resistência à
doença, particularmente ao fungo do cancro do Eucalyptus).
Empresas privadas da indústria de papel e celulose foram as principais
responsáveis pela descoberta e difusão de técnicas inovadoras para a propagação
vegetativa de mudas florestais, via o processo de clonagem. Estima-se que em meados
da década de 2010, cerca de 3.000.000 hectares de florestas de Eucalyptus no Brasil
foram formados com o uso de técnicas de clonagem. A clonagem de mudas permite a
reprodução em larga em escala, e com baixo custo, de material genético superior, e
garante maior uniformidade de mudas e da madeira. No momento de conclusão da tese,
as empresas de papel e celulose são proprietárias de mais de 90% de todas as cultivares
de Eucalyptus registradas no Registro Nacional de Cultivares (RNC), e por todos os
ensaios de campo com árvores geneticamente modificadas de Eucalyptus realizadas no
159
país. Este argumento é reforçado com a observação do registro de cultivares de
Eucalyptus, como mostra a figura 19.
Figura 20 - Registro de cultivares de Eucalyptus no Brasil por tipo de Organização
Fontes: RNC.
O fortalecimento da trajetória tecnológica da biotecnologia nas atividades de
pesquisas florestais engendrou alterações no modelo de organização das atividades de
pesquisa. Grosso modo, os custos elevados para o desenvolvimento de biotecnologias
em etapa pré-comercial, e a elevada incerteza relacionada ao desempenho destas
tecnologias incentivaram a cooperação entre os agentes privados, com o objetivo de
minorar os custos destas atividades.
Montebello e Bacha (2009) avaliaram a importância atribuída pelos stakeholders
da pesquisa florestal às diversas linhas de P & D florestal no Brasil. Com base em
questionários preenchidos por pesquisadores, cientistas e representantes de empresas, os
autores avaliaram se, em média, o nível de importância atribuído às inovações diferiu
estatisticamente ao longo dos anos 80, 90 e início dos anos 2000. Entre os resultados,
destaca-se a evolução ao longo do tempo do peso dado às inovações biotecnológicas.
Apenas 10% dos entrevistados afirmaram que a biotecnologia florestal era muito
importante para a silvicultura brasileira durante a década de 1980, enquanto as
inovações biotecnológicas foram identificadas como muito importantes por 85% dos
entrevistados na década de 2000.
0
10
20
30
40
50
60
70
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Nú
me
ro d
e C
ult
ivar
es
no
RN
C
Registro de Cultivares de Eucalyptus por Organização
Private National Private Multinational Public Agricultural Research Organizations
160
Studart-Guimaraes (2003) afirma que os resultados dos programas de
melhoramento em espécies florestais são limitados pelas características intrínsecas das
espécies, como a altura dos indivíduos e o longo ciclo de vida. Neste contexto, a
transformação genética surge como método inovador na obtenção de espécies florestais
com características desejáveis em um período de tempo mais curto. O uso de
biotecnologias em atividades de melhoramento de espécies florestais no Brasil
atualmente envolve métodos de cultivo e propagação de plantas / tecidos in vitro, bem
como o uso de marcadores moleculares.
CIB (2008) descreve que a estratégia atualmente dominante nos programas de
pesquisa em árvores de Eucalyptus no Brasil é a integração entre biotecnologias e
melhoramento. A integração é conduzida através da identificação de genes com traços
desejáveis e a transferência desses genes entre árvores através de interseção controlada
ou modificação direcionada. Diferentemente das culturas temporárias nas quais os genes
vêm de outros organismos, espécies GM de Eucalyptus foram desenvolvidas com genes
encontrados no próprio gênero, dada a sua ampla variabilidade. Os eventos de
biotecnologia do Eucalyptus que estão em estágio avançado do processo de inovação
reforçam a expressão de características desejáveis encontradas na própria planta, como a
produção de madeira ou o teor de lignina e, portanto, diferem das biotecnologias
agrícolas disponíveis para outras culturas.
A análise das liberações planejadas de Eucalyptus GM no ambiente (LPMAs),
autorizadas pela CTNBio indica que 7 empresas privadas realizaram testes no país:
International Paper, Fibria, Arborgen, Futuragene, Allelyx, Monsanto e Suzano. Os
LPMAs registram todos os ensaios de campo com variedades transgênicas no Brasil. O
principal objetivo dos testes para GM Eucalyptus no Brasil pode ser agrupado em
redução de conteúdo de lignina, resistência ao glifosato, tolerância à seca e aumento da
produção de biomassa.
A dinâmica recente das atividades de pesquisa em biotecnologias florestais no
Brasil apresenta fatos semelhantes aos observados em demais países e destacados no
trabalho de Fuglie e Toole (2014). No caso brasileiro, constatou-se a formação de redes
para pesquisa em biotecnologias florestais. Embora já existissem no país casos de
parcerias público-privadas em atividades de pesquisa florestal, principalmente aqueles
articulados via SIF e IPEF, as redes de pesquisas diferem-se pela colaboração de
múltiplas empresas privadas em um único projeto. Nestes arranjos as empresas buscam
161
reduzir os custos de transação e diluir os riscos relacionados a pesquisas com incerteza
elevada, como as pesquisas em biotecnologias florestais. Conforme da Silva Jr. et. al.
(2015), as redes de pesquisas geraram resultados com caráter de bem público, em um
arranjo de inovações abertas. Desse modo, as empresas também evitaram a possível
duplicação de esforços em pesquisas com a formação das redes.
Entre os anos de 2001 e 2004 foram concluídas duas redes de pesquisa genômica
de Eucalyptus no Brasil. Adicionalmente, no período de 2010 a 2013, foi construída no
país uma rede de pesquisas para a otimização da desconstrução de biomassa florestal
(LignoDeco). Nas redes de pesquisa genômica, a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI) desempenharam os papéis de principais financiadores e gestores das atividades,
que foram executadas majoritariamente em organizações públicas de pesquisa. As
organizações privadas de pesquisa contribuíram com recursos em contrapartida, e
tiveram acesso a subsídios atrelados aos gastos em P&D, via crédito direcionado ou
isenções fiscais. A figura 19 representa os diferentes modelos de organização das
atividades de pesquisa florestal no Brasil.
Figura 21 - Modelos de organização da pesquisa florestal no Brasil
Fontes: Adaptado de Fuglie e Toole (2014).
162
As redes de pesquisas em biotecnologia florestal foram constituídas a partir de
novos arranjos institucionais de pesquisa no país. Como principais transformações,
pode-se destacar a cooperação entre empresas e a gestão da propriedade intelectual dos
resultados da pesquisa em modelo de inovação aberta. As redes constituíram, portanto,
inovações institucionais com relação aos modelos anteriores de organização da pesquisa
florestal no país.
A primeira rede lançada em 2001, rede ForESTs (Projeto de Seqüenciamento do
Genoma do Eucalyptus), foi estruturada como um consórcio de quatro empresas
privadas e vinte laboratórios de universidades do Estado de São Paulo (UNICAMP,
USP, UNESP e UMC). O projeto ForESTs foi o primeiro projeto de genoma financiado
no âmbito do programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), da Fundação de
Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Além dos investimentos da
FAPESP, empresas privadas participantes investiram recursos em contrapartida. O total
de recursos alocados no ForEsts foi de aproximadamente US$ 2 milhões, distribuídos ao
longo da duração do projeto, que foi de aproximadamente 10 meses. De acordo com a
FAPESP (2001), os principais objetivos do projeto foram realizar uma seqüência parcial
do genoma de Eucalyptus (Eucalyptus spp), de modo que a análise funcional dos genes
da madeira, raízes, folhas e flores permitisse decifrar as causas dos problemas que
comprometem o crescimento das plantas, e assim promover a seleção das melhores
plantas.
O projeto ForESTs resultou no sequenciamento de 110.000 tags de seqüência
expressa (ESTs) de Eucalyptus spp, que são fragmentos do código genético que ajudam
a identificar genes. Os ESTs ajudaram a identificar aproximadamente 27.000 genes da
árvore, dos quais 7.000 representaram novos genes não encontrados em projetos de
seqüenciamento de genoma em todo o mundo até o ano de 2002. Globalmente, os
resultados permitiram o seqüenciamento de 15.000 genes de Eucalyptus spp, e as
tecnologias foram depositadas em bancos de recursos genéticos em plataformas de
inovação aberta.
A fim de continuar os esforços iniciados pelo projeto ForESTs, o governo
federal lançou no início de 2002 o Projeto Genolyptus. O projeto investigou genes de
quatro espécies diferentes de Eucalyptus e resultou na leitura de 125.000 ESTs. O
projeto foi composto por um grupo de doze empresas, sete universidades e três unidades
163
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), envolvendo um total de 20
laboratórios.
Conforme destacado por Dias (2006), o orçamento total do Projeto Genolyptus
em 2002 foi de R$ 7,1 milhões. Sendo que as empresas privadas financiaram R$ 2,2
milhões, e R$ 4,9 milhões foram financiados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) via o Fundo Verde Amarelo do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (FNDCT). Os recursos públicos foram geridos pela
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Dentro do escopo do projeto, o MCTI
também financiou pesquisas em universidades através de bolsas de estudo, geridas pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no montante
de R$ 540 mil. As empresas que participaram do projeto investiram na construção de
redes de estações experimentais para teste de OGM, estimadas em cerca de R$ 1
milhão.
Em geral, o Genolyptus construiu uma plataforma de recursos genômicos
florestais e gerou resultados de interesse para todos os agentes da rede, como
tecnologias mais eficientes para genotipagem. Os resultados obtidos no Genolyptus
credenciaram pesquisadores brasileiros a participarem de um consórcio de pesquisa
mundial para o sequenciamento completo do genoma de Eucalyptus. Do ponto de vista
da produção e absorção de conhecimento em biotecnologia no país, a rede Genolyptus
resultou na publicação de 37 artigos em revistas de indexadas internacionalmente, 10
capítulos de livros, 22 artigos em conferências internacionais e a defesa de 32 mestrados
e doutorados. Além disso, o Genolyptus resultou na contratação pelas empresas
privadas de 40 pesquisadores que participaram do projeto como membros de
organizações públicas de pesquisa.
164
Tabela 20 - Redes de pesquisa florestal no Brasil
Redes de Genômica Florestal ForESTs
Genolyptus Project
Período
2001/2002
2002/2004
Financiador FAPESP (PITE)
Finep (FNDCT - Verde e
Amarelo)
Execução
Firmas (4)
Firmas (14)
Universidades (4)
Universidades (7)
EMBRAPA (3 Unidades)
Gasto
R$ 8 Milhões*
R$ 14,2 Milhões*
Principais Resultados 110 Mil ESTs 125 Mil ESTs
Fontes: Dados da pesquisa, *valores estimados.
A tabela 20 sintetiza as principais características dos novos modelos
organizacionais de P & D descritos neste item. De fato, o principal financiador da rede
ForESTs, a FAPESP, teve papel proeminente no desenvolvimento de redes de pesquisa
genômica em cana-de-açúcar, eucalyptus, café, xylella fastidiosa e outros, através do
programa de Organização para a Sequenciação e Análise de Nucleótidos (ONSA).
Executado entre 1997 e 2008, o projeto ONSA/FAPESP concedeu 450 bolsas de
pesquisa para 22 organizações de pesquisa e 35 laboratórios do Estado de São Paulo.
Segundo a FAPESP (2008), de 1997 a 2003 a FAPESP investiu US$ 39 milhões em
todos os 20 projetos que integraram o Programa ONSA. As contrapartes de instituições
e empresas parceiras das várias iniciativas do programa totalizaram US$ 11,7 milhões.
As organizações públicas de pesquisa desempenharam papel central no
desenvolvimento da genômica no Brasil, tanto no financiamento quanto na execução. A
construção de redes de pesquisa genômica possibilitou a maior apropriação por parte
das empresas privadas da pesquisa em biotecnologia desenvolvida em organizações
públicas. Por exemplo, empresas participantes das redes experimentais estabelecidas
durante o projeto Genolyptus realizaram os primeiros testes de campo de Eucalyptus
GM no Brasil, incorporando tecnologias genômicas em programas de melhoramento
genético. Incentivadas pelos recursos públicos alocados nas redes de pesquisas
florestais, as organizações privadas adotaram condutas cooperativas nas atividades, e
com isso, reduziram os custos relacionados às pesquisas em biotecnologias florestais.
165
Considerações Finais
Em alguns casos específicos, o debate teórico sobre desenvolvimento econômico
no Brasil adota como quadro de referência uma interpretação do conceito de dualismo
econômico que buscamos contrapor no segundo capítulo da tese. Isto porque, na visão
que buscamos contrapor, o desenvolvimento econômico trata-se de processo movido
por ganhos de produtividade do trabalho que são obtidos via a transferência intersetorial
da mão-de-obra. Nesta interpretação, o conceito de dualismo econômico impõe o viés
negativo para a participação do setor agrícola no desenvolvimento, restrito à
transferência de recursos para os setores “modernos” da economia.
Como visão alternativa ao conceito de dualismo econômico que é definido
exclusivamente com base no tipo da atividade produtiva, a presente tese expõe que o
dualismo é identificado pela coexistência de dois setores produtivos que diferem em
termos organizacionais e comportamentais. O setor moderno capitalista faz uso de
insumos reprodutíveis, da contratação de trabalhadores e do comércio da produção,
enquanto o setor tradicional é praticamente autossuficiente em capital e trabalho, e
consome toda a sua produção. O tipo de mercadoria produzida em cada setor não
constitui o elemento essencial do dualismo econômico. Tal constatação permite ampliar
a visão de desenvolvimento econômico, como um processo baseado na elevação da
produtividade do trabalho em todos os setores da economia, especialmente no setor
agrícola.
O desenvolvimento agrícola cumpre papel central no desenvolvimento
econômico das nações. Na tese, defendemos que Lewis (1954) destacou as razões pelas
quais o investimento no setor agrícola é importante para o desenvolvimento econômico,
principalmente para a redução da oferta ilimitada de mão-de-obra. Fenômeno que ocorre
quando determinado grupo de trabalhadores é incapaz de obter ganhos reais de salários,
ou ocupar empregos com produtividade superior àquela do seu setor de origem, fatos
que refutam a hipótese neoclássica da livre mobilidade do fator trabalho. Nesse
contexto, o desenvolvimento agrícola cria novas oportunidades de ganhos reais de
salários e de empregos com maior produtividade.
Lewis destacou a importância da agricultura no desenvolvimento econômico e
Schultz analisou os fatores determinantes do desenvolvimento agrícola. O modelo de
insumos modernos de Schultz foi formulado concomitantemente à Revolução Verde, e
166
cumpriu papel importante como referencial teórico de suporte à difusão de inovações
biológicas, químicas, e mecânicas no setor agrícola. O modelo assume que os objetivos
e os resultados dos investimentos em pesquisa agrícola são compartilhados entre todos
os agentes dos sistemas de pesquisa agrícola (nacionais e internacionais).
Os casos de sucesso da Revolução Verde concentraram a atenção dos círculos
acadêmicos sobre os potenciais méritos da difusão dos insumos modernos. Entretanto,
afastaram a percepção e a avaliação da eficiência com que o paradigma tradicional do
desenvolvimento agrícola foi posto em prática. Em particular, destacamos ao longo do
capítulo 3 da tese problemas relacionados à subestimação do papel do setor privado no
desenvolvimento agrícola, a superestimação da capacidade do setor público para
entregar produtos e serviços de qualidade aos agricultores e a supressão das
organizações de grupos de interesse como instituições relevantes neste processo.
Desde a década de 1980, há em curso a formação de um novo paradigma de
desenvolvimento agrícola, que ressalta as possibilidades de contribuição do setor
agrícola ao desenvolvimento sustentável das nações. Neste paradigma, a agricultura é
tratada simultaneamente como atividade econômica, meio de subsistência e fonte de
bens e serviços ambientais. O novo modelo teórico mobiliza esforços para que o
processo e a execução das políticas de desenvolvimento nas áreas rurais sejam tão
relevantes quanto os resultados.
O capítulo 4 da tese discutiu as transformações nas atividades de pesquisa
agrícola no Brasil. Com base nas informações obtidas junto às empresas que
constituíram à amostra do estudo, podemos concluir que houve o crescimento do
investimento privado em níveis superiores ao crescimento dos investimentos públicos.
Ao longo do período 1995 -2012 ocorreu uma transformação no ambiente institucional
no qual as atividades de pesquisa agrícola no país estão inseridas. Inovações
institucionais como a lei da inovação, a lei do bem e o fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual sobre bens produto da pesquisa agrícola incentivaram o
investimento privado. Inovações institucionais que viabilizaram a maior capitalização
dos fundos nacionais de desenvolvimento científico e tecnológico, a criação dos
institutos nacionais de ciência e tecnologia, e o programa PAC Embrapa atuaram
diretamente para elevar os investimentos públicos em pesquisa agrícola no país.
Se no período da Revolução Verde a pesquisa agrícola tinha como norte os
ganhos de produtividade em cultivos alimentares, o novo paradigma de
167
desenvolvimento é marcado por um complexo sistema de alocação de recursos. Os
recursos públicos para investimentos em pesquisa agrícola passaram a ser disputados
por um maior número de grupos de interesse. Coube ao governo, criar instrumentos de
incentivo à maior participação do setor privado nas atividades de pesquisa agrícola.
Uma das ações mais relevantes nesse sentido foi o fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual sobre resultados da pesquisa agrícola.
No velho paradigma do desenvolvimento agrícola, calcado no modelo de
insumos modernos, os produtos da pesquisa agrícola eram tidos majoritariamente como
bens públicos que transbordavam livremente dos países desenvolvidos para todo o
mundo. Do ponto de vista da tomada de decisão no setor público, o fortalecimento de
direitos de propriedade intelectual buscou remover parte das distorções que geravam o
problema do subinvestimento privado na pesquisa agrícola. Porém, a mudança do
ambiente institucional deu origem a novas distorções nos mercados, com potencial para
reduzir os retornos sociais e privados da pesquisa agrícola.
Conforme tratado no capítulo 5 da tese, o fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual alterou a característica dos bens produtos da pesquisa agrícola,
que passaram de bens públicos para bens de clube ou toll goods. A transição de bem
público para toll good desdobrou-se em inúmeras transformações estruturais nas
indústrias de insumos agrícolas e na organização das atividades de pesquisa agrícola.
Indústrias que têm como principal insumo toll goods são caracterizadas pela presença de
economias de tamanho, barreiras à entrada, incentivos à concentração de mercado e a
fixação de preços de monopólio.
Afirmamos que nos setores de insumos agrícolas a transição dos produtos da
pesquisa agrícola de bens públicos para bens de clube é o principal fator responsável
pela intensificação do processo de concentração industrial observado nas últimas
décadas. A concentração dos investimentos em pesquisa nas mãos de poucas firmas
gera ainda distorções relacionadas à seleção dos projetos de pesquisa. Isto porque
empresas tendem a beneficiar áreas com maior possibilidade de retornos, em detrimento
de pesquisas direcionadas a mercados menores ou dedicadas a problemas regionais
específicos. Desse modo, diversas áreas de pesquisa são negligenciadas e a sua
execução requer a participação do setor público, ou a formação de novos arranjos
institucionais que direcionem recursos nesse sentido.
168
Os novos arranjos da pesquisa agrícola ampliaram as possibilidades de atuação
dos setores públicos e privados para além dos modelos de planejador racional e agente
monopolista. O quadro de referência proposto no capítulo 5 da tese foi desenvolvido
com o objetivo de contribuir com as análises dos novos arranjos. Para isso,
identificamos os níveis que constituem os novos arranjos: financiamento, gestão,
execução e distribuição dos custos e benefícios. Dentre os novos arranjos, analisamos
com maior fôlego diversos modelos de fundos de commodities.
Fundos de commodities geridos por representantes de agricultores têm
despontando como opção viável de organização da pesquisa agrícola, e são empregados
em diversos países. Na tese analisamos os seguintes casos, Grains Research and
Development Corporation (GRDC), Instituto Nacional de Investigações Agrícolas
(INIA), Saskatchewan Pulse Growers (SGP), Instituto Mato-Grossense do Algodão
(IMAmt). Os fundos de commodities apresentam vantagens com relação aos mercados
de insumos e às organizações públicas de pesquisa agrícola, dentre estas citamos: 1)
maior articulação com os agricultores e menor custo para identificar áreas de interesse
para a pesquisa; 2) resistência à fixação de preços de monopólio pelos produtos, devido
à participação dos agricultores na gestão do fundo; 3) impactos regionais dos
investimentos, em detrimento das empresas multinacionais de insumos que investem a
maior parte em suas sedes no exterior; 4) incidência dos custos dos fundos sobre
consumidores e produtores de uma indústria única, em detrimento dos recursos para
financiamento das organizações públicas de pesquisa (Embrapa e OEPAs), que são
financiadas com recursos do Tesouro Nacional; 5) pesquisadores dos fundos têm maior
interesse na geração de tecnologias com impactos imediatos sobre a produção agrícola,
enquanto pesquisadores de organizações públicos são avaliados por métricas científicas
de produtividade (citação, publicação, participação em congresso, etc...). Acreditamos
que o modelo de financiamento e execução da pesquisa agrícola do IMAmt será
empregado em demais culturas e Estados. Isto porque a escassez de recursos públicos
será a regra geral dos próximos anos, bem no momento em que uma parcela
significativa dos pesquisadores da Embrapa irá se aposentar.
Empresas dos setores de insumos agrícolas também têm criado arranjos
institucionais para reduzir as distorções causadas pelo fortalecimento dos direitos de
propriedade intelectual sobre os produtos da pesquisa. Entre os anos de 2001 e 2004
foram concluídas duas redes de pesquisa genômica de Eucalyptus no Brasil.
169
Adicionalmente, no período de 2010 a 2013, foi construída no país uma rede de
pesquisas para a otimização da desconstrução de biomassa florestal. De modo geral,
ações deste tipo têm como objetivo reduzir custos de transação no acesso ao
conhecimento, e minorar possível duplicação de gastos em pesquisa. As redes de
pesquisas geraram resultados com caráter de bem público, em um arranjo de inovações
abertas. Desse modo, as empresas também evitaram uma possível duplicação de
esforços em pesquisas com a formação das redes.
As redes de pesquisas em biotecnologia florestal foram constituídas a partir de
novos arranjos institucionais de pesquisa no país. Como principais transformações,
pode-se destacar a cooperação entre empresas em uma área específica de pesquisa e a
gestão da propriedade intelectual dos resultados da pesquisa em modelo de inovação
aberta. As redes constituíram, portanto, inovações institucionais com relação aos
modelos anteriores de organização da pesquisa florestal no país.
A título de conclusão ressaltamos que a tese proporciona um novo entendimento
sobre o papel da agricultura no desenvolvimento econômico, para além dos ganhos de
produtividade e produção em cultivos alimentares. A partir da constatação da mudança
do papel do desenvolvimento agrícola na sociedade ressaltamos as transformações das
atividades de pesquisa agrícola, marcadas pela ampliação dos objetivos e dos grupos de
interesse que demandam investimentos.
Uma das principais transformações no período recente foi o fortalecimento dos
direitos de propriedade intelectual sobre os resultados da pesquisa agrícola, que
impactou tanto a organização industrial nos setores de insumos agrícolas como a
alocação de recursos nas atividades de pesquisa. Em especial, analisamos na tese os
novos arranjos de pesquisa agrícola, que possibilitam o fortalecimento da demanda nas
decisões relacionadas aos investimentos em pesquisa.
170
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180
Apêndice 01: Questionário da pesquisa
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), Pesquisa em Inovação no Brasil
Setores de Insumos Agrícolas
1 – As informações fornecidas no questionário serão utilizadas para fins estatísticos, com a preservação da identidade da empresa. 2 – Os dados fornecidos referem-se apenas às unidades brasileiras.
SEÇÃO A: INFORMAÇÕES GERAIS
DETALHES DA EMPRESA A1. Nome da empresa Início das atividades no país
A2. Endereço da empresa
A3. Telefone
A4. Fax
A5. E-mail
A6. Site da empresa
A7. A empresa é: (preencha com os boxes relevantes)
i. Empresa com capital majoritariamente nacional
ii. Empresa de capital aberto iii. Empresa mantida parcialmente com rescursos do Governo iv. Sede da empresa no Brasil com filiais estrangeiras v. Empresa afiliada a uma empresa estrangeira, com sede em outro país vi. Organização sem fins lucrativos ou fundação
SEÇÃO B: PRODUTOS E SERVIÇOS
B1. Áreas de atuação da empresa (preencha com os itens que forem aplicáveis).
Insumos agrícolas Explorações Agrícolas e Produtos Agrícolas processados
Sementes/Materiais para plantação Florestal / Culturas Agrícolas
Adubos/fertilizantes Aves/Ovos
Pesticidas Outros Animais
Máquinas agrícolas Produtos primários processados
Implementos agrícolas Produtos de colheita
Pecuária/Aves domésticas/Aquicultura
Produtos pecuários
Serviços de consultoria Biocombustíveis
Biotecnologias e processos biotecnológicos
Outros produtos primários processados
Outros
181
SEÇÃO C: INOVAÇÕES
Uma nova tecnologia ou inovação é algo que é novo para o país em questão, ou seja, a sua empresa é a primeira organização do país a adotar a inovação, mesmo que ela já seja amplamente utilizada em outros países. Uma nova tecnologia ou inovação pode ser, por exemplo, uma nova variedade de uma cultura agrícola, um novo ingrediente ativo de pesticidas, novas máquinas de processamento ou um novo processo.
A sua empresa introduziu algum novo produto nos últimos cinco anos? _____________
Caso positivo, por favor, liste os principais novos produtos introduzidos
Tipo de produto
(pesticida, herbicida, fungicida, fertilizantes,máquina, implemento etc)
Especificaç
ão do Produto (nome
comercial)
Fontes de
conhecimento (recursos próprios de
P & D, contratos de
P & D, licenciados, importados)
Aprovação do Governo?
Inovação Patentead
a/ Protegida
no país? (S/N)
Necessárias para a
Introdução? (S/N)
Se sim, qual foi o custo das
taxas e
ensaios
oficiais (S/N)
Se sim, qual foi o tempo necessário para obter a permissão?
A sua empresa introduziu qualquer nova tecnologia de fabricação para a redução dos custos de produção ou para melhoria da qualidade nos últimos 5 anos? Em caso afirmativo, mencione os cinco mais importantes novos processos tecnológicos introduzidos.
Tipo de processo
Processo específico (por
exemplo, três linhas híbridas de arroz)
Fonte (recursos próprios
de P & D, contrato de P & D, licenciados,
importados)
Aprovação do
governo necessária
s para a Introdução
? (S/N)
Inovação Patentead
a/ Protegida
no país? (S/N)
SEÇÃO D: RECURSOS HUMANOS E FINANCEIROS PARA P &D (Informações necessárias apenas para 2011 e qualquer estimativa em comparação com os anos 2000 e 2005)
A sua empresa tem um setor de Pesquisa e Desenvolvimento: sim/não ________. Se sim, preencha a tabela a seguir.
1. Número total
de funcionários locais:
2. Intensidade de P & D: % de investimento em P & D no total das vendas da
3. organização:
2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
182
3. Número de
funcionários em atividades de P & D:
4. Total de vendas no ano (moeda local)
D.1 Pessoal de pesquisa 2000 2005 2011
Doutores
Mestres
Graduados
Técnicos
D2. Detalhamento dos Gastos 2000 2005 2011
Salários do pessoal de P&D e custos operacionais
Taxas para registro oficial e testes de inovações
Custos de capital em P&D
Custos com contratos de pesquisa
TOTAL dos gastos com P&D
D3. Parcerias em P&D 2000 2005 2011
A sua empresa executou projetos de pesquisa para outras empresas?
A sua empresa contratou outras empresas para execução de pesquisas?
A sua empresa colaborou com outras empresas em projetos conjuntos de pesquisa?
A sua empresa colaborou com institutos de pesquisa do governo em projetos conjuntos de pesquisa? Em caso afirmativo, para quais institutos de pesquisa?
Agências do governo proveram algum apoio financeiro para sua pesquisa?
SEÇÃO E: ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DE P&D
E1. Caso Multinacional, como a organização interna de pesquisa se insere dentro dos projetos de pesquisa da Sede?
SEÇÃO F: POLÍTICA DE GOVERNO
183
F1. Quais as alterações de políticas de governo ou programas de governo nos últimos 15 anos têm sido mais úteis para incentivar a sua empresa a investir em pesquisa?
F2. Existe alguma política de governo ou programa de governo que incentive a
importação e/ou adaptação de tecnologia agrícola internacional?
F3. Quais alterações de políticas de governo ou programas de governo que seriam mais
úteis para incentivar a sua empresa a conduzir mais pesquisas agrícolas?
184
Apêndice 02: Empresas de insumos agrícolas beneficiadas pela Lei do Bem.
Firma/Ano 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
AGCO x x x x x x x
AGCO Implementos x x x
Agralle x x x x x x
Agrichen x x x x
Agristar x x x x x
Agritech x x x x x x x
Agroceres x x x
Agrogen x
Alltech x
Araucaria nitrogenados x x
Arysta x x x
BASF x x x x x x
Bayer x x x x
Bremil x
BRF x
Bio vet x x x x x x
Cargill x
Cellulose Irani x
Cellulose Nipo Brasileira x
CNH Latin America x x x x x
CNN laboratório veterinário x
Comil Silos x
Cooperativa Agraria x
Cooperativa Alfa x
Cristofoli Equipamentos de Biosegurança x
Coodetec x x x x x x
CTC x
Dedini x
DSM Produtos Nutricionais x
DOW agrosciences x x x x x x
DOW seeds x x x
Dupont x x
Duratex Florestal x
Farmabase Saude animal x
Fazenda Paiaguas x
Fazenda Parnaiba x
Fazenda Planorte x
FELTRIN sementes x
Fibria Celulose x
FMC x x x x x x x
Fosfertil x
GDM GENÉTICA DO BRASIL LTDA x
HELIX SEMENTES LTDA x
Heringer x x x x x
Iguaçu celulose x
Iharabras x x x x x x x x
Integralmedica Agricultura e Pesquisa x
International Paper x
INVIVO NUTRIçãO E SAúDE ANIMAL x
Jacto x x x x x x x
Jan implementos agrícolas x x
JF MÁQUINAS AGRÍCOLAS LTDA x
John Deere x x x x x x
Jumil x
Kimberlit x
Kleper Weber x x x x x
Kuhn implementos x
Merial x x
Monsanto x x x x
Monsoy x x x x x
Multimix x
NIDERA SEMENTE LTDA x
Nogueira implementos agricolas x
185
Fontes: Dados da pesquisa.
Novartis x x x x x x
Novozymes x x x
NUNHEMS DO BRASIL COMERCIO de sementes x
Ouro Fino x x x x x x x
Sakata seed x x x x
SANTA IZABEL IMPLEMENTOS x x
SEMENTES BIOMATRIX LT x x
Stara x x x x x
Stoller x x x x x
Syngenta x x x x x x x
Syngenta seeds x x x x x
Tortuga x x x x x
VALE FERTILIZANTES x x
VALE POTASSIO NORDESTE S.A x
Valeé x x x x
Valtra x x x x x x
186
Apêndice 03: INCTs com atividades ligadas à pesquisa agrícola
Instituto Formação de
Pesquisadores
Produção Organizações
Participantes
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Engenharia da
Irrigação
50 Teses de
doutorado, 11 pós-
doutorado.
302 artigos
publicados, 1
patente.
ESALQ, USP, IFC.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Frutos Tropicais
30 Teses de
doutorado, 14 pós-
doutorado.
315 artigos
publicados, 7
patentes.
Embrapa
Agroindústria
Tropical, UFSE,
UFCE.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia em
Entomologia
Molecular
118 Teses de
doutorado, 55 pós-
doutorado.
425 artigos
publicados, 16
patentes.
Fiocruz Minas,
Instituto Oswaldo
Cruz, PUCRS,
USP, UERJ, UENF,
UFMG, UNIFESP,
HUCFF, UFRGS,
UFF, UFRRJ.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia para o
Controle das
Intoxicações por
Plantas
66 Teses de
doutorado, 8 pós-
doutorado.
776 artigos
publicados, 1
patente.
UFCG, CSIRO,
Embrapa, UFG,
UNB, UEPG,
UFMT, UFMS,
UFPA, UFPI,
UFRGS, UFPE,
UFERSA, IB,
FEPAGRO,
UFPEL.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia do Café
160 Teses de
doutorado, 54 pós-
doutorado.
822 artigos
publicados, 9
patentes.
Embrapa,
EPAMIG, IAC,
INCAPER, UFLA,
UFV.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Ciência Animal
482 Teses de
doutorado, 82 pós-
doutorado.
1862 artigos
publicados, 5
patentes.
EPAMIG, UESC,
UNESP, UFLA,
UFMT, UFMG,
UFV.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Controle
Biorracional de
Insetos Pragas
55 Teses de
doutorado, 16 pós-
doutorado.
381 artigos
publicados, 15
patentes.
CEPLAC, ESALQ,
USP, UFSCAR,
UFSE, UFPR.
187
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Genômica para o
Melhoramento de
Citros
68 Teses de
doutorado, 30 pós-
doutorado.
561 artigos
publicados, 8
patentes.
IAC, Embrapa,
UNICAMP,
ESALQ, USP,
UNESP, UFMG.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia da
Fixação Biológica
de Nitrogênio
107 Teses de
doutorado, 41 pós-
doutorado.
690 artigos
publicados, 8
patentes.
Embrapa,
FEPAGRO, UEG,
UEL, UEPG,
UENF, UFSC,
UFPR, HUCFF,
UFRGS.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia em
Interações Planta
Praga
122 Teses de
doutorado, 43 pós-
doutorado.
383 artigos
publicados, 7
patentes.
Embrapa, IAC,
UnB, UNICAMP,
UFOP, UFSJDR,
UFV, HUCFF,
UFVJM.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Semioquímicos na
Agricultura
57 Teses de
doutorado, 10 pós-
doutorado.
165 artigos
publicados, 3
patentes.
USP, UnB, UFV,
UFPR.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia do
Bioetanol
153 Teses de
doutorado, 66 pós-
doutorado.
619 artigos
publicados, 33
patentes.
USP, UnB,
UNICAMP,
UFSCAR, UFRJ
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Energia ,Ambiente
e Biodiversidade
146 Teses de
doutorado, 34 pós-
doutorado.
602 artigos
publicados, 56
patentes.
UFBA, UFSC,
UEL, UFRGS,
UEFS, UESB,
UFRJ.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Madeiras da
Amazônia
76 Teses de
doutorado, 6 pós-
doutorado.
556 artigos
publicados, 7
patentes.
INPA, UnB, UEA,
UNICENTRO,
UFAM, UFPR.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia de
Informação
Genético-Sanitária
da Pecuária
Brasileira
127 Teses de
doutorado, 28 pós-
doutorado.
1007 artigos
publicados, 5
patentes.
EPAMIG,
ANAGRO, PUC
Minas, UnB, USP,
UEPG, UNESP,
UFMG, UFV,
UFPA, UFPR.
188
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia para
Mudanças
Climáticas
523 Teses de
doutorado, 112 pós-
doutorado.
3111 artigos
publicados, 6
patentes.
UNICAMP, UFRJ,
USP, UFF, UnB,
UFRGS, ESALQ,
UNESP.
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia dos
Serviços
Ambientais da
Amazônia
19 Teses de
doutorado, 4 pós-
doutorado.
184 artigos
publicados, 0
patentes.
Faculdade ALFA,
Embrapa, INPA,
USP, UEA, UFMG,
UFAC, UFPA.
Fontes: Dados da pesquisa.
189
Apêndice 04: Empresas da amostra
Fontes: Dados da pesquisa.
Completo Parcial
ADVANTA X X
AGROMEN X
ARBORGEN X X
BASF PLANT SCIENCE X X
BUG X X
CERES SEEDS X X
COODETEC X X
CTC X X
FERMENTEC X
FUTURAGENE X X
MONSANTO X X
NIDERA X
PIONEER X X
SYNGENTA X X
SOLAZYME X X
TMG X X
ARYSTA X
ATTA KILL - MIREX X X
FMC X
IHARA X
KIMBERLIT X
MILENIA X
NUFARM X
AGRALLE X X
CNH X
JOHN DEERE X X
STARA X
JACTO X
OURO FINO X X
VALLEE X X
Máquinas e Implementos
Agroquímicos
Saúde Animal
Sementes e Biotecnologias
Agrícolas
Setor Firma EntrevistaQuestionário