j u r i s p r u d Ê n c i a d o t r i b u n a l d e j u s ... · caso deseje obter esclarecimentos...

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i 819333v1 www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º 1250-163 Lisboa • Portugal T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244 [email protected] TAX & BUSINESS A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected]. *** Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected]. 01 JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA (3º. TRIMESTRE DE 2015) Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013 IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique Pretende-se, com a presente Informação Fiscal, apresentar uma síntese trimestral dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (doravante abreviadamente designado por “TJUE”) – à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Centro de Arbitragem Administrativa (“CAAD”) e do Tribunal de Contas –, relacionados com o domínio da Fiscalidade, analisando, caso a caso, o impacto e o contributo que tais decisões poderão vir a ter, do ponto de vista nacional. A presente Informação Fiscal é relativa ao 3.º Trimestre de 2015.

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i

819333v1

www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º

1250-163 Lisboa • Portugal

T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244

[email protected]

TAX & BUSINESS

A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação

nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer

tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O

conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a

expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este

assunto contacte [email protected].

***

Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de

7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser

removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor

envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected].

01

J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D A U N I Ã O E U R O P E I A ( 3 º . T R I M E S T R E D E 2 0 1 5 )

Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014

Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013

International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013

Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013

Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013

IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Pretende-se, com a presente Informação

Fiscal, apresentar uma síntese trimestral

dos principais Acórdãos proferidos pelo

Tribunal de Justiça da União Europeia

(doravante abreviadamente designado

por “TJUE”) – à semelhança do que

fazemos em relação às decisões do

Centro de Arbitragem Administrativa

(“CAAD”) e do Tribunal de Contas –,

relacionados com o domínio da

Fiscalidade, analisando, caso a caso, o

impacto e o contributo que tais decisões

poderão vir a ter, do ponto de vista

nacional.

A presente Informação Fiscal é relativa ao

3.º Trimestre de 2015.

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1. 1. 1. 1.

Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: C-334/14

Nome:Nome:Nome:Nome: Estado Belga contra Nathalie De Fruytier

Data:Data:Data:Data: Acórdão de 2 de Julho de 2015

Assunto: Assunto: Assunto: Assunto: Isenção de IVA na actividade de transporte de órgãos e de produtos biológicos de

origem humana

FactosFactosFactosFactos

Nathalie De Fruytier (doravante abreviadamente designada por “N. De Fruytier”) exerce, a

título independente, uma actividade de transporte de produtos biológicos de origem

humana por conta de diversos hospitais e laboratórios, sob a autoridade e a

responsabilidade de um médico.

N. De Fruytier não liquida IVA aquando da facturação de tais serviços, decorrentes do

exercício da sua actividade.

No seguimento de uma acção de inspecção, a Administração Fiscal belga veio pronunciar-

se sobre o enquadramento de tal actividade, tendo entendido que deveria ter sido liquidado

IVA, com referência aos serviços decorrentes da actividade exercida por N. De Fruytier.

No âmbito do litígio decorrente da referida inspecção, foram submetidas, ao TJUE, as

seguintes questões prejudiciais:

1) Uma actividade de transporte de produtos e de órgãos, para efeitos de análises

médicas ou de assistência médica ou terapêutica, pode beneficiar da isenção de

imposto prevista na Sexta Directiva, aplicável a prestações de serviços de assistência

efectuadas no âmbito do exercício das actividades médicas?

2) Deve o conceito de “outros estabelecimentos da mesma natureza devidamente

reconhecidos” ser interpretado no sentido de que inclui as sociedades privadas cujas

prestações consistem no transporte de produtos humanos para efeitos de análise

indispensável para alcançar as finalidades terapêuticas prosseguidas pelos

estabelecimentos hospitalares e de assistência médica?

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Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

Em linha com a jurisprudência já conhecida, o TJUE começou por considerar que as

normas de isenção constantes da Sexta Directiva, devem ser interpretadas

restritivamente, por constituírem excepções ao princípio geral segundo o qual, o IVA é

cobrado sobre cada prestação de serviços efectuada a título oneroso por um sujeito

passivo.

Neste sentido, entendeu o Tribunal que é necessário interpretar os conceitos ínsitos nas

normas de isenção, de acordo com os objectivos que se pretende que sejam prosseguidos,

respeitando as exigências do princípio da neutralidade fiscal, inerente ao sistema comum

do IVA.

Neste âmbito, o TJUE procede ao esclarecimento dos conceitos de “assistência médica” e

de “prestações de serviços de assistência”, recorrendo a jurisprudência já conhecida, da

qual resulta que tais conceitos visam abranger prestações que tenham por finalidade

diagnosticar, tratar, e na medida do possível, curar doenças e anomalias de saúde.

Por esta razão, o TJUE considerou que o transporte de órgãos e de produtos biológicos de

origem humana a favor de diversos hospitais e laboratórios não constitui, manifestamente,

serviços de “assistência médica” ou “prestações de serviços de assistência”, na acepção

da Sexta Directiva, dado que a actividade em apreço não integra o conceito de prestações

médicas efectuadas com a finalidade de diagnosticar, tratar ou curar doenças ou

anomalias de saúde, ou que têm por finalidade efectiva proteger, manter ou restabelecer a

saúde (cfr. Acórdão Future Health Technologies C-86/09, de 10 de Junho de 2010).

No que respeita à possibilidade de a actividade ora em apreço beneficiar de isenção, por

configurar uma prestação de serviços estreitamente conexa com uma hospitalização ou

assistência médica, o TJUE afastou tal entendimento, dado que (i) não se verifica tal é

qualificação, (ii) o serviço não é assegurado por um organismo de direito público, (iii) nem

é exercido em condições análogas às que vigoram para estabelecimentos hospitalares,

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centros de assistência médica e de diagnóstico ou outros estabelecimentos da mesma

natureza devidamente reconhecidos.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

O TJUE conclui que as isenções previstas na Sexta Directiva não se aplicam a uma

actividade de transporte de órgãos ou de produtos biológicos de origem humana, para

efeitos de análises clínicas ou de assistência médica ou terapêutica exercida por um

profissional independente, tendo em conta que este não pode ser qualificado de organismo

de direito público nem de estabelecimento hospitalar, centro de assistência médica, centro

de diagnóstico, ou qualquer outro estabelecimento da mesma natureza devidamente

reconhecido, que opere em condições sociais análogas às que vigoram para os organismos

de direito público.

Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português

A presente decisão contribui para a interpretação das normas do Código do IVA que

consagram isenções e, em concreto, do artigo 9.º, número 2 do Código do IVA, que prevê a

isenção deste imposto para as prestações de serviços médicos e sanitários e as operações

com elas estreitamente conexas efectuadas por estabelecimentos hospitalares, clínicas,

dispensários e similares.

2.2.2.2.

Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos: C-331/14

Nome:Nome:Nome:Nome: Petar Kezić e Trgovina Prizma contra República da Eslovénia

Data:Data:Data:Data: Acórdão de 9 de Julho de 2015

Assunto: Assunto: Assunto: Assunto: Sujeitos passivos de IVA: afectação do património pessoal de uma pessoa

singular que exerce a profissão de empresário em nome individual

FactosFactosFactosFactos

Petar Kezić (doravante abreviadamente designado por “P. Kezić”) actua como empresário

em nome individual, desde 1995, sob a firma “Trgovina Prizma”, tendo adquirido sete

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parcelas de terreno, a título pessoal (e não na qualidade de empresário em nome

individual). Duas das parcelas foram adquiridas a uma pessoa singular (em 1998 e 2000), e

as outras cinco, a uma sociedade comercial (em 2001 e 2003).

Não foi liquidado IVA aquando das referidas aquisições.

Posteriormente, P. Kezić obteve as licenças necessárias para construir um centro

comercial, nas sete referidas parcelas, tendo iniciado as obras de construção, de seguida,

na qualidade de empresário em nome individual.

Em 2003, P. Kezić afectou ao património da sua empresa as cinco parcelas adquiridas em

último lugar, por um valor decorrente da avaliação realizada por um perito judicial. Os

outros dois terrenos mantiveram-se na esfera do seu património pessoal (doravante

designados por “terrenos em causa”).

Mais tarde, em 2004, P. Kezić vendeu o mencionado centro comercial e, bem assim, as

sete parcelas de terreno subjacentes à sua construção.

Assim, (i) na qualidade de empresário em nome individual, P. Kezić procedeu à venda das

cinco parcelas e da parte correspondente do centro comercial, tendo liquidado IVA

aquando desta transmissão e, (ii) como pessoa singular, procedeu à venda das restantes

parcelas e da parte correspondente do centro comercial, neste caso, sem liquidar IVA.

A Autoridade fiscal eslovena, por considerar que a venda dos terrenos em apreço se

enquadrava na actividade económica exercida por P. Kezić na qualidade de empresário em

nome individual, exigiu-lhe o pagamento do IVA referente a essa venda.

No âmbito do litígio que opôs a Autoridade fiscal eslovena a P. Kezić, foi submetida, ao

TJUE, uma questão prejudicial, tendo em vista clarificar se as disposições da Sexta

Directiva devem ser interpretadas no sentido de que se deve considerar que uma pessoa,

pelo facto de não ter contabilizado os terrenos nos bens imobilizados da sua empresa e por

não ter liquidado IVA aquando da sua aquisição, pode ser dispensado da liquidação de IVA,

aquando da correspondente venda, por ausência de incidência subjectiva.

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Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

O TJUE começa por esclarecer que, de acordo com as normas da Sexta Directiva, só

haverá sujeição a IVA nos casos em que se verifiquem entregas de bens e prestações de

serviço, realizadas onerosamente, por um sujeito passivo agindo nessa qualidade.

Com efeito, nos casos em que um sujeito passivo realiza uma operação a título pessoal e

não age como sujeito passivo de IVA, o TJUE tem entendimento que tal operação não fica

abrangida pelo âmbito de incidência do imposto (cfr. Acórdão Armbrecht, C-291/92, de 4

de Outubro de 1995 e o Acórdão Bakcsi, C-415/98, de 8 de Março de 2002).

A este respeito, o TJUE tem entendido que o conceito de sujeito passivo deve ser definido

por relação ao conceito de actividade económica, englobando todas as actividades de

produtor, de comerciante ou de prestador de serviços e, em particular, as operações que

implicam a fruição de um bem corpóreo ou incorpóreo com vista a obter dele receitas com

carácter de permanência (cfr. Acórdão Slaby C-181/10, de 15 de Setembro de 2011).

Entende também o TJUE que, em caso de utilização de um bem de investimento quer para

fins profissionais quer privados, o interessado pode optar, para efeitos de IVA, por afectar

totalmente esse bem ao património da sua empresa ou por conservá-lo totalmente no seu

património pessoal (excluindo-o do âmbito de incidência do IVA), ou ainda por integrá-lo na

sua empresa apenas na parte correspondente à utilização profissional efectiva.

Contudo, entende o TJUE que não se pode concluir que a venda de um terreno afecto ao

património pessoal de um sujeito passivo não está, por si só, sujeita a IVA.

De facto, as operações realizadas a título oneroso por um sujeito passivo estão sujeitas a

IVA desde que o sujeito passivo esteja a agir enquanto tal, pelo que se revela necessário

que, para além da afectação ao seu património pessoal, a transmissão seja efectuada pelo

sujeito passivo, não no quadro da sua actividade económica, mas no quadro da gestão e

administração do seu património pessoal.

Resulta ainda da jurisprudência que o simples exercício do direito de propriedade pelo seu

titular não pode, em si mesmo, ser considerada uma actividade económica.

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Por outro lado, o TJUE, a respeito da venda de um terreno para construção, já determinou

em decisão anterior, que o facto de o interessado ter motivações subjacentes de

comercialização imobiliária, implementando meios semelhantes aos utilizados por um

produtor, comerciante ou prestador de serviços, configura um critério de apreciação

relevante no âmbito da incidência deste imposto,

Considerando o exposto, no caso concreto, o TJUE entende que os terrenos em apreço

adquiridos por P. Kezić, no seu conjunto, configuram o exercício da actividade económica

enquanto empresário, atendendo a que a sua aquisição foi condição necessária para a

construção do centro comercial mencionado e, bem assim, que a realização de obras de

preparação dos terrenos constituem iniciativas relevadoras de que a venda dos terrenos

não se enquadra no simples exercício do direito de propriedade.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

O TJUE entendeu que P. Kezić agiu como sujeito passivo de IVA, aquando da venda dos

terrenos em causa, pelo que a referida operação devia ter sido sujeita a imposto.

Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português

O presente Acórdão contribuiu para a interpretação das normas de incidência subjectiva

do IVA, aprofundando o conceito de exercício de uma actividade económica, nos casos de

transmissão de imoveis.

3333....

Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos: C-255/14

Nome:Nome:Nome:Nome: Robert Michal Chmielewski contra Nemzeti Adó- és Vámhivatal Dél-alföldi

Regionális Vám- és Pénzügyőri Főigazgatósága.

Data:Data:Data:Data: Acórdão de 16 de Julho de 2015

Assunto: Assunto: Assunto: Assunto: Controlo das somas em dinheiro líquido que entram ou saem da União Europeia

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FactosFactosFactosFactos

Robert Michal Chmielewski (doravante abreviadamente designado “R. M. Chmielewski”),

proveniente da Sérvia, entrou em território húngaro, sem declarar a soma de dinheiro

líquido que levava consigo.

No seguimento do transporte da quantia em apreço, a Administração tributária Húngara

aplicou uma coima a R. M. Chmielewski com o fundamento de que este não tinha cumprido

o dever que lhe incumbia por força do Regulamento n.º 1889/2005 e da Lei XLVIII, ao não

ter declarado o referido montante no momento que entrou no território da UE.

O referido Regulamento prevê que qualquer pessoa singular que entre ou saia da

Comunidade Europeia, com um montante líquido igual ou superior a €10.000 deve

declarar a soma que transporta às autoridades competentes.

O mesmo regulamento determina que cada Estado-membro pode determinar e aplicar as

sanções a aplicar nas situações de incumprimento da obrigatoriedade declarativa em

apreço.

Adicionalmente de acordo com o disposto na legislação aplicável, qualquer pessoa singular

que entre ou saia da Comunidade, e que não cumpra (ou cumpra de maneira incompleta) o

dever de declaração em apreço, deve pagar no local, uma coima fixada em (forints

húngaros – “HUF”) de montante equivalente a:

(i) 10% da soma de dinheiro líquido em sua posse, quando estar for igual ou superior a

10.000 euros e não exceda os 20.000 euros;

(ii) 40% da soma de dinheiro líquido em sua posse, quando esta for superior a 20.000

euros e não exceda os 50.000 euros;

(iii) a 60% da soma de dinheiro líquido em sua posse, quando esta for superior a 50.000

euros.

No âmbito do litígio que opôs R. M. Chmielewski à Administração tributária Húngara, foi

submetida ao TJUE a seguinte questão prejudicial: a coima efectivamente aplicada é

contrária à legislação aplicável da qual decorre que as sanções estabelecidas no direito

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nacional devem ser efectivas, dissuasivas e, simultaneamente, proporcionadas à infracção

jurídica?

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

O TJUE começa por esclarecer que o Regulamento aplicável visa, através do princípio de

declaração obrigatória de dinheiro líquido, prevenir, dissuadir e evitar a introdução do

produto de actividades ilícitas no sistema financeiro, bem como recolher informações

sobre esses movimentos.

De acordo com a jurisprudência constante do TJUE, nestes casos, os Estados-membros

são competentes para escolher as correspondentes sanções que se lhes afigurem

adequadas.

Todavia, os Estados-membros estão também obrigados a exercer essa competência de

acordo com o disposto no direito da UE e, por conseguinte, em conformidade com os

princípios gerais (nomeadamente, o princípio da proporcionalidade).

Considerando o desígnio do princípio da proporcionalidade, as medidas administrativas ou

repressivas de uma legislação nacional, não podem exceder os limites do estritamente

necessário na prossecução dos seus objectivos, pelo que as sanções aplicáveis devem ser

adequadas à gravidade da acção subjacente, designadamente assegurando uma conexão

entre os meios e fins que visa atingir, neste caso, um efeito verdadeiramente dissuasivo.

Neste contexto, os Estados-membros dispõem de uma margem de apreciação

discricionária relativamente à legislação interna das sanções adoptadas no intuito de

assegurar o cumprimento do dever de declaração acima mencionado, pressupondo que

uma violação deste dever possa ser sancionada de maneira simples, efectiva e eficaz.

Neste âmbito, o Tribunal entende que, tendo em conta a natureza da infracção em causa,

uma coima cujo montante corresponde a 60% da soma de dinheiro líquido não declarada,

quando esta coima for superior a 50.000 euros, não se afigura proporcionada, por

ultrapassar os limites do que é necessário para garantir o respeito deste dever e assegurar

a realização dos objectivos prosseguidos pelo Regulamento aplicável.

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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

O TJUE entendeu que o Regulamento que dispõe sobre o controlo dos montantes líquidos

que entram ou saem da UE deve ser interpretado no sentido de que se opõe a uma

regulamentação nacional, como a que está em causa no processo em apreço, que

determina a aplicação de uma coima correspondente a 60% da soma de dinheiro líquido

não declarada, quando esta soma for superior a 50 000 euros, se afigura desproporcional

à norma violada.

Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português

A presente decisão contribuiu para a clarificar o alcance do princípio da proporcionalidade,

em concreto, no que respeita à determinação de coimas aplicáveis.

4444....

Número Número Número Número do processo:do processo:do processo:do processo: C-463/14

Nome:Nome:Nome:Nome: Asparuhovo Lake Investment Company OOD contra Direktor na Direktsia

Data:Data:Data:Data: Acórdão de 3 de Setembro de 2015

AssuntoAssuntoAssuntoAssunto: : : : Dedução do IVA incidente na aquisição de serviços de consultoria por avença

FactosFactosFactosFactos

A sociedade Asparuhovo Lake Investment Company (doravante abreviadamente

designada por “ALIC”), cuja actividade tem como objecto principal a agricultura, pecuária e

actividades auxiliares, celebrou contratos de avença de serviços de consultoria com quatro

sociedades.

Tais contratos de prestação de serviços caracterizam-se pela obrigação de os prestadores

estarem disponíveis fora do horário de expediente, de obterem e trocarem documentação

e informação necessária entre as partes, de assegurarem a protecção dos interesses da

ALIC e, bem assim, como estarem obrigados a não celebrar qualquer contrato semelhante

com terceiros contendo interesses opostos aos da ALIC, ou que estejam em posições de

concorrência directa com esta sociedade.

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Em contrapartida, a ALIC obrigou-se ao pagamento de uma remuneração semanal aos

mencionados prestadores de serviços.

Neste âmbito, as referidas sociedades procederam à dedução do IVA, constante nas

facturas que lhes foram emitidas pelos prestadores de serviços.

Após a realização de uma inspecção fiscal, a Administração fiscal da Bulgária recusou a

dedução de tal IVA, por parte da ALIC, por entender que não foi feita prova do tipo,

quantidade e natureza dos serviços realmente prestados, designadamente pelo facto de

nenhum documento original fazer menção ao número de horas executadas, nem à forma

como os preços dos serviços tinham sido fixados.

No âmbito do litígio que opôs a Administração fiscal búlgara à ALIC, foram submetidas ao

TJUE as seguintes questões prejudiciais:

1) Devem os artigos da Directiva IVA, referentes ao conceito de prestação de serviços,

ser interpretados no sentido de abranger os contratos de avença para prestação de

serviços de consultoria como os do processo principal, nos quais o prestador de

serviços, que dispõe de pessoal qualificado para a prestação dos serviços, se colocou à

disposição do cliente durante o período de vigência do contrato e se obrigou a

abster-se de celebrar contratos com objecto equiparável com concorrentes do cliente?

2) Devem os artigos da Directiva IVA, referentes ao facto gerador do imposto, ser

interpretados no sentido de que este, no caso de prestações de serviços de consultoria

por avença, ocorre no termo do prazo acordado para o pagamento,

independentemente de o cliente ter ou não usufruído das prestações de serviços que o

consultor disponibilizou ao cliente e da respectiva frequência?

3) Deve o artigo da Directiva IVA, sobre a exigibilidade do imposto, ser interpretado no

sentido de que aquele que presta serviços no âmbito de um contrato de avença para

prestação de serviços de consultoria se encontra obrigado a liquidar o IVA relativo às

prestações de serviços no termo do prazo para o qual foi acordado o pagamento da

avença, ou essa obrigação só se constitui quando o cliente tiver usufruído, no

respectivo período de tributação, das prestações de serviços do consultor?

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Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

Relativamente à primeira questão, referente à interpretação do conceito de prestação de

serviços, esclarece o TJUE que o facto de os serviços ora em apreço se assemelharem, em

certa medida, a uma cláusula de exclusividade, não é susceptível de alterar o carácter

tributável do referido contrato.

Com efeito, entende o TJUE que o conceito de «prestação de serviços» abrange os

contratos de avença para prestação de serviços de consultoria a uma empresa, no âmbito

dos quais o prestador de serviços se colocou à disposição do cliente durante o período de

vigência do contrato.

Relativamente à segunda e terceira questões prejudiciais, relativas ao facto gerador e

exigibilidade do imposto, o Tribunal pronunciou-se em conjunto, referindo que o serviço

ora em apreço consiste, essencialmente, em estar permanentemente à disposição do

cliente para lhe prestar serviços de consultoria e que é remunerado através de montantes

fixos, pagos periodicamente, devendo ser considerado como efectuado no período a que

se reporta o pagamento, tenha o prestador de serviços efectivamente prestado

aconselhamento ao seu cliente durante esse período ou não.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

O TJUE declarou que o conceito de «prestação de serviços» abrange os contratos de

avença para prestação de serviços de consultoria a uma empresa, designadamente de

ordem jurídica, comercial e financeira, no âmbito dos quais o prestador se colocou à

disposição do cliente durante o período de vigência do contrato.

No que toca aos contratos de avença relativos à prestação de serviços de consultoria,

como o caso em apreço, o facto gerador do imposto e a exigibilidade do mesmo ocorrem

no termo do prazo acordado para o pagamento, independentemente da questão de saber

se o cliente usufruiu efectivamente dos serviços do prestador e do número de vezes que o

fez.

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Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português

Esta decisão contribui para a interpretação do conceito de prestação de serviços, em

concreto, nos casos de serviços prestados em contrato de avença.

Lisboa, 30 de Novembro de 2015

Rogério M. Fernandes Ferreira

Marta Machado de Almeida

Rita Arcanjo Medalho

Pedro Miguel Callapez

Tiago Fonte Gonçalves