j u r i s p r u d Ê n c i a d o t r i b u n a l d e c o n ... · desenvolvimento das actividades...

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i www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º 1250-163 Lisboa • Portugal T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244 [email protected] TAX & BUSINESS A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected]. *** Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected]. 01 JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE CONTAS - 2º. TRIMESTRE DE 2015 Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013 IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique Pretende-se, com a presente Informação, apresentar uma síntese dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Contas – à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Centro de Arbitragem Administrativa e também do Tribunal de Justiça da União Europeia –, descrevendo os factos, a apreciação do Tribunal, a respectiva decisão e analisando, ainda, qual o impacto que a mesma pode ter na determinação das condutas a adoptar pela Administração Pública. Mantêm-se, assim, as informações periódicas também em matérias de Finanças Públicas e de Direito Financeiro e Orçamental e de Contabilidade Pública.

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TAX & BUSINESS

A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected].

***

Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor

envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected].

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J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E

C O N T A S - 2 º . T R I M E S T R E D E 2 0 1 5

Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013

IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Pretende-se, com a presente Informação, apresentar uma síntese dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Contas – à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Centro de Arbitragem Administrativa e também do Tribunal de Justiça da União Europeia –, descrevendo os factos, a apreciação do Tribunal, a respectiva decisão e analisando, ainda, qual o impacto que a mesma pode ter na determinação das condutas a adoptar pela Administração Pública. Mantêm-se, assim, as informações periódicas também em matérias de Finanças Públicas e de Direito Financeiro e Orçamental e de Contabilidade Pública.

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1.1.1.1. Número do Acórdão: Número do Acórdão: Número do Acórdão: Número do Acórdão: 13/2015 – 26.MAI-1ªS/PL Data: Data: Data: Data: 26 de Maio de 2015 Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: 07/2014-R Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Aquisição de participações sociais de empresas por municípios – Criação de empresas locais FactosFactosFactosFactos O Município de Trancoso pretendia adquirir a totalidade do capital social de uma empresa – PACETEG, S.A. – detida a 51% por quatro parceiros privados e os restantes 49% por uma empresa local detida por aquele município – a TEGEC – Trancoso Eventos, Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos Culturais e de Lazer, EEM. Com efeito, o Município de Trancoso pretende adquirir gratuitamente a parte detida pela TEGEC, para depois incorporar a TEGEC na PACETEG, criando, assim, apenas uma empresa, que terá a qualidade de empresa local, sujeita ao respectivo regime jurídico. O Tribunal de Contas, através do Acórdão n.º 03/2014-28.JAN-1ªS/SS, recusou o visto à deliberação da Assembleia Municipal de Trancoso, ocorrida em 28 de

Fevereiro de 2013, a qual aprovou a “Reorganização da Actividade Empresarial Local e Participações Locais do Município de Trancoso”, com fundamento na inobservância dos requisitos legais fixados para a aquisição de participações sociais e fusão de empresas locais. Não se conformando com a decisão adoptada pelo Tribunal de Contas, o Município de Trancoso recorreu da decisão para o Plenário. Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal O Tribunal de Contas começa por separar as matérias decidendas: por um lado, importa saber se esta operação de aquisição de participações sociais de uma empresa cumpre os requisitos legais e, por outro lado, cumpre saber se a operação de fusão das empresas PACETEG e TEGEC cumpre, também, os requisitos legais, tendo em conta que a referida operação culminará na criação de uma empresa local. Quanto à primeira questão, há que, primeiro, delimitar quais são, afinal, os requisitos legais para a aquisição de participações sociais de uma empresa por um município.

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Assim, nos termos da lei, os municípios podem adquirir participações sociais de empresas quando:

(i) A empresa visada prossiga fins de relevante interesse público local;

(ii) O seu objecto social se compreenda no âmbito das atribuições do município;

(iii) A aquisição se fundamente na melhor prossecução do interesse público em causa;

(iv) A deliberação de aquisição seja precedida de estudos técnicos que demonstrem a justificação das necessidade que se visa satisfazer, a demonstração da existência de procura actual ou futura, a viabilidade e sustentabilidade económica e financeira da empresa, os ganhos de qualidade, a racionalidade acrescentada, a avaliação dos efeitos da actividade da empresa sobre as contas, a estrutura organizacional e os recursos humanos do município e o benefício social resultante para o conjunto dos cidadãos.

Quanto à segunda questão, a constituição de empresas locais também deverá obedecer a certos requisitos legais. Assim,

a empresa a criar só pode ter por objecto a exploração de actividades de interesse geral ou a promoção do desenvolvimento local e regional, de forma tendencialmente auto-sustentável, e tem, ainda, de ser demonstrada a conveniência de uma gestão separada da gestão feita directamente pelo município à gestão, em face da especificidade técnica e material da actividade a desenvolver. O primeiro ponto que foi analisado pelo Tribunal de Contas prende-se com a existência (ou não) de um interesse público geral na actividade desenvolvida pela PACETEG, enquanto primeiro requisito a observar para a aquisição legítima de participações sociais por um município. Ora, quanto a este aspecto, o Tribunal, embora reconheça que, em abstracto, a actividade desenvolvida por aquela empresa se possa considerar como uma actividade que pode ser objecto de empresarialização local, conclui que, em concreto, a situação é diferente. Na deliberação da Assembleia Municipal de Trancoso, objecto do presente Acórdão, o município alega que o interesse público das operações em causa consiste na necessidade de o Município de Trancoso passar a ser o proprietário de

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infra-estruturas de interesse público local. No entanto, o Tribunal de Contas entende que não ficou demonstrado que a propriedade municipal dos equipamentos fosse absolutamente necessária para o desenvolvimento das actividades de interesse público. Isto é, o Município de Trancoso não demonstrou que a propriedade daquelas infra-estruturas é essencial e é a única maneira de assegurar a exploração das mesmas. O segundo requisito a ser analisado pelo Tribunal de Contas consiste em saber se a presente aquisição se fundamenta na melhor prossecução do interesse público em causa. Este requisito é relativo, tendo em conta que essa demonstração tem de ser feita através de uma comparação entre a operação em causa e outras opções viáveis, através de estudos que o comprovem. O Plenário do Tribunal de Contas confirmou o entendimento adoptado pela sua 1.ª Secção, pois entendeu que a deliberação de aquisição das participações da PACETEG foi efectuada sem precedência de estudos técnico-económicos que demonstrassem a viabilidade e sustentabilidade económica da empresa, os ganhos de qualidade, a racionalidade acrescentada, a avaliação dos efeitos da actividade da empresa

sobre as contas, a estrutura organizacional e os recursos humanos do município e conveniência de uma gestão separada da gestão feita directamente pelo município à gestão, em face da especificidade técnica e material da actividade a desenvolver. No que respeita à operação de fusão por incorporação da TEGEC na PACETEG (a qual daria aso à Trancoso Eventos, EM), a viabilidade de tal operação ficaria inviabilizada pelo simples facto de o município não poder adquirir as participações socias da PACETEG, de acordo com os argumentos aduzidos pelo Tribunal e referidos supra. No entanto, o Tribunal decidiu pronunciar-se, ainda assim, sobre tal operação. Na Sentença recorrida, o Tribunal entendeu que o estudo necessário à demonstração da viabilidade económico-financeira e racionalidade económica da futura estrutura empresarial não cumpre os requisitos legais dado que:

(i) Não foi prévio à tomada de decisão da fusão;

(ii) Não demonstra, de facto, que a nova unidade empresarial seja económica e financeiramente viável, pois a putativa empresa continuará a sustentar-se mediante apoios públicos e não

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através do produto das suas actividades;

(iii) As rendas pagas, pelo município, a título de arrendamento de infra-estruturas detidas pela nova estrutura empresarial, serão contabilizadas como prestações de serviços – o que não se afigura aceitável;

(iv) As vendas e prestações de serviços efectuadas pela empresa (das quais não podem constar as rendas) não cobrirão, pelo menos, 50% dos gastos totais dos exercícios – algo exigido por lei.

Quanto à questão de o estudo ser prévio à decisão de fusão, o Tribunal entendeu manter os argumentos invocados, não aceitando a argumentação aduzida pelo Município de Trancoso, segundo a qual a deliberação em causa não teria como objecto o projecto de fusão de per se, mas, sim, uma mera linha orientadora de uma possível fusão. Tal argumentação não foi, mais uma vez, aceite pelo Tribunal, mantendo-se, assim, o entendimento de que a deliberação já constituía um projecto de fusão e que, portanto, teria sempre de ser precedida pelo referido estudo.

O segundo e terceiros aspectos deverão ser analisados conjuntamente. O Tribunal pronunciou-se, assim, relativamente à viabilidade económica da pretensa nova unidade empresarial. Recorde-se que, por lei, as empresas públicas serão consideradas economicamente inviáveis quando (i) o total das suas vendas e prestações de serviços sejam inferiores a 50% dos gastos totais do exercício, durante três anos, (ii) o peso contributivo dos subsídios à exploração for superior a 50% das receitas ou (iii) o resultado operacional ou o resultado líquido forem negativos. O Tribunal começa por salientar que a TEGEC é, já, uma empresa economicamente inviável, dado que se encontra numa situação de dissolução. Por outro lado, o Município de Trancoso prevê que a maioria do ganho da Trancoso Eventos, EM, provenha das rendas pagas pelos arrendatários das infra-estruturas por si detidas, qualificando o rendimento “renda” como uma “prestação de serviços”. Não obstante, o Tribunal de Contas discorda da qualificação das rendas como prestações de serviços dado que, de acordo com as normas contabilísticas e de relato financeiro aplicáveis, as rendas não

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deverão ser contabilizadas na conta respectiva às prestações de serviços, dado que nesta cabem somente as actividades de desempenho, por uma entidade, de uma tarefa contratualmente acordada durante um período de tempo acordado. Segundo o entendimento preconizado pelo Tribunal de Contas, as rendas provenientes de contratos de locação não consubstanciam o desempenho de qualquer tarefa. Assim, as rendas não poderão ser consideradas nem vendas, nem prestações de serviços, não constituindo rendimento para efeitos de determinação da viabilidade económica da putativa empresa. Tendo em conta que as rendas não são consideradas vendas nem prestações de serviços, o Tribunal entendeu também que o total das suas vendas e prestações de serviços da putativa empresa deverá vir a ser inferior a 50% dos gastos totais do exercício, o que afasta a sua viabilidade económica. Por tudo o que ficou referido, o Tribunal concluiu que não existe racionalidade económica na fusão pretendida. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Tendo em conta os argumentos acima expostos, o Tribunal de Contas, reunido e Plenário da 1.ª Secção entendeu negar provimento ao recurso, mantendo, assim, a decisão de recusa do visto à deliberação tomada. Implicações práticasImplicações práticasImplicações práticasImplicações práticas Retira-se da análise deste Acórdão que a aquisição de participações sociais por um município implica que se demonstre que a empresa a adquirir prossegue fins de relevante interesse público local e que a sua aquisição se fundamenta na melhor forma de prosseguir o interesse público. Nota-se que o interesse público não pode, apenas, ser a propriedade de infra-estruturas se essa não é a melhor forma de o prosseguir. Por outro lado, conclui, também, que a deliberação de aquisição tem sempre de ser precedida de estudos técnico-económicos que comprovem os requisitos legais da aquisição.

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2222.... Número do Acórdão: Número do Acórdão: Número do Acórdão: Número do Acórdão: 09/2015-30.JUN-1.ªS/SS Data: Data: Data: Data: 30 de Junho de 2015 Número doNúmero doNúmero doNúmero dossss processoprocessoprocessoprocessossss:::: 1085 a 1094/2015 e 1185/2015 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: FactosFactosFactosFactos A CP – Comboios de Portugal, EPE (“CP”) remeteu ao Tribunal de Contas dez contratos de prestação de serviços de manutenção e reparação de material circulante, celebrados em 29 de Maio de 2014, com a empresa EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, S.A. (“EMEF”), para efeitos de fiscalização prévia dos mesmos. Todos aqueles contratos regulam a prestação de serviços de manutenção integral do material circulante de cada uma das séries descritas nos contratos. Encontra-se previsto nos contratos que o seu período de vigência é de 10 anos, excepto um desses contratos, cuja vigência prevista é de 7 anos. Recorde-se que a CP é uma entidade pública empresarial, detida a 100% pelo Estado, enquanto que a EMEF é uma empresa detida a 100% pela CP, sendo

esta última que designa o seu Conselho de Administração. Importa, também, salientar que os serviços prestados pela EMEF à CP e à CP Carga (sociedade anónima detida a 100% pela CP) representam cerca de 83% do seu volume total de negócios. Por fim, recorde-se que se encontra em curso um processo de privatização da EMEF. O Tribunal considerou que, em face da factualidade supra referida, deverão ser analisadas duas questões, antes de se vistoriar os contratos de prestações de serviços:

(i) Tendo em conta as restrições legais à contratação pública no sector dos transportes, poderiam os contratos ser directamente adjudicados pela CP à EMEF?

(ii) O período de vigência previsto em cada um dos contratos encontra-se conforme a lei?

Apreciação do TribuApreciação do TribuApreciação do TribuApreciação do Tribunalnalnalnal Quanto à primeira questão, o Tribunal começa por analisar a fundamentação da CP, quando questionada sobre porque

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havia contratado directamente com a EMEF, não tendo recorrido à concorrência. Com efeito, a CP invocou o regime da contratação in house, a qual consiste “na ideia de que uma entidade adjudicante está dispensada de cumprir as regras de concorrência quando escolhe realizar ela mesma as operações económicas de que necessita, no âmbito da sua autonomia organizativa, através de uma outra entidade que funciona como um seu prolongamento organizacional”, como explica o Tribunal de Contas no presente Acórdão. Invocando, para o efeito, jurisprudência produzida pelos Tribunais da União Europeia, o Tribunal de Contas entendeu que não se encontram preenchidos os pressupostos (que devem ser interpretados de forma restrita, tendo em conta que se trata de um regime-excepção) para o recurso ao modelo da contratação in house. Um dos pressupostos efectivamente impostos pela lei é a existência de um controlo análogo entre a empresa adjudicante e a empresa adjudicada. Não é negado que, à data da contratação, a CP e a EMEF são empresas com controlo análogo, dado que a CP detém 100% da

EMEF, escolhendo o seu Conselho de Administração. No entanto, é hoje assente, na jurisprudência comunitária, que, embora os pressupostos da contratação in house devam ser aferidos no momento da celebração do contrato, há que atender a circunstâncias pertinentes posteriores “quando tais circunstâncias lançarem luz sobre as condições que efectivamente existam no momento da celebração do contrato”, como referido no presente Acórdão. Ora, considerando que a entidade adjudicada, no caso sub judice deverá ser privatizada durante a vigência dos contratos, o que implica a sua detenção por capitais privados e a perda da gestão total pela CP, o requisito do “controlo análogo” das entidades, imposto por lei, não estará preenchido. Tal conclusão significa, portanto, que, em princípio, deveria ter sido aplicado o regime de concorrência no âmbito da contratação pública. Quanto à segunda questão apreciada pelo Tribunal de Contas, a CP esclareceu o Tribunal afirmando que os prazos de vigências consagrados contratualmente

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se justificam tendo em conta as especificidades técnicas da matéria. Porém, o Tribunal não se bastou com tal justificação, tendo-a considerado insuficiente. Com efeito, a lei prevê que os contratos públicos que consubstanciem prestações de serviços deverão ser celebrados por prazo não superior a três anos, excepto raras excepções – que o Tribunal não considerou estarem em causa. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Tendo em conta a inexistência de procedimento concursal prévio, a violação do princípio da concorrência e a fixação de um prazo de vigência do contrato contrário à lei, o Tribunal de Contas entendeu recusar o visto aos contratos de prestação de serviços celebrados entre a CP e a EMEF. Implicações práticasImplicações práticasImplicações práticasImplicações práticas O procedimento de contratação in house deverá ser aplicado restritivamente. Com efeito, tendo em conta que se trata de uma excepção às regras de contratação pública, só se deve recorrer a tal procedimento quando for inequívoco que os seus pressupostos se encontram preenchidos.

3333.... Número do AcóNúmero do AcóNúmero do AcóNúmero do Acórdão: rdão: rdão: rdão: 14/2015 – 26.MAI – 1.S/PL Data: Data: Data: Data: 26 de Maio de 2015 Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: 03/2015 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Cessão de posição contratual em contratos de locação financeira FactosFactosFactosFactos O Tribunal de Contas, através do Acórdão n.º 2 de 2015, recusou o visto a doze cessões de posição contratual em contratos de locação financeira, em que figuravam como entidades locadoras o Banco Sanatander Totta, S.A. e a Caixa Leasing e Factoring, I.F.C., S.A., e como entidade locatária a MS – Matosinhos Sport, E.E.M. (“Matosinhos Sport”). Os contratos de locação financeira a que se reportam as cessões de posição contratual submetidas a visto foram celebrados entre o Município de Matosinhos e a empresa municipal MS – Matosinhos Sport, E.E.M., dos quais resultam encargos no valor de € 841.478,439, abrangendo três anos económicos. A Matosinhos Sport apresentou entre 2009 e 2011 um resultado líquido negativo.

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Face à factualidade exposta, o Tribunal de Contas viu a necessidade de proceder à análise de diversas questões, nomeadamente:

(i) referente à alteração dos requisitos legais de dissolução da empresa Matosinhos Sport;

(ii) à (in)constitucionalidade das consequências legais da verificação dos pressupostos relativos àquela dissolução;

(iii) às limitações da possibilidade de contratação da empresa no período da liquidação;

(iv) à configuração dos contratos como subsídios ao investimento;

(v) à proibição de duplicação de tarefas e

(vi) à autorização prévia da Assembleia Municipal à cessão da posição contratual.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal Relativamente à primeira questão, o Tribunal de Contas começa por analisar a legislação aplicável, designadamente o Regime Jurídico da Actividade Empresarial Local, uma vez que se encontra aqui prevista a obrigatoriedade de dissolução das empresas locais que, à data da entrada em vigor da referida lei, não reunissem as condições necessárias ao desenvolvimento em termos económico-

financeiros dessas empresas, tendo por base os dados objectivos evidenciados pelas empresas naquele triénio. Considera este Tribunal que a empresa Matosinhos Sport se encontrava na situação acima descrita, e que por isso a mesma devia ter sido dissolvida, tal como imposto pelo legislador à data da entrada em vigor do Regime Jurídico da Actividade Empresarial Local. Ainda que pudesse ter ocorrido uma eventual alteração das condições financeiras em momento posterior ao triénio fixado na lei como determinante da verificação da saúde financeira da empresa, tal ocorrência não sana uma situação que efectivamente existia e que era requisito legal para a dissolução da empresa, até porque a lei não prevê a alteração das circunstâncias. Assim, conclui o Tribunal de Contas, quanto a esta questão, que a Matosinhos Sport não cumpria à data os requisitos legais exigidos, de índole económica e financeira, para que uma empresa local se possa manter activa. No que concerne à (in)constitucionalidade das consequências legais da verificação dos pressupostos relativos à dissolução da empresa Matosinhos Sport, invoca o

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Município de Matosinhos a referida inconstitucionalidade por considerar haver violação do princípio da autonomia local, constitucionalmente consagrado e, bem assim, dos princípios da proporcionalidade e da protecção da confiança. É verdade, e assim o reconhece o Tribunal de Contas, que o Regime Jurídico da Actividade Empresarial Local, por via da sua dimensão racionalizadora, veio restringir a margem de actuação das autarquias locais, impondo, nomeadamente, várias condicionantes à existência de empresas locais, devendo por isso os destinatários da lei articular as suas políticas de acordo com o legalmente imposto. Contudo, considera este Tribunal não existir qualquer tipo de inviabilização da actividade constitucionalmente atribuída às autarquias que ponha em causa o princípio da autonomia local, o princípio da proporcionalidade ou o princípio da confiança, através da obrigatoriedade da dissolução de empesas locais que não reúnam os mínimos critérios económico-financeiros para serem racionalmente sustentáveis. Quanto à questão das limitações de contratação da empresa ainda não dissolvida, vem o Tribunal de Contas

esclarecer, desde logo, que pelo facto de a empresa Matosinhos Sport não preencher os requisitos legais de viabilidade económica e financeira exigidos, deveria a mesma ter sido objecto de processo de dissolução, iniciado por deliberação dos órgãos de gestão, pela entidade pública participante, no caso em apreço o Município de Matosinhos ou através de requerimento da IGF para a dissolução oficiosa da referida empresa, constatando-se, assim, uma tripla inacção que permitiu que a Matosinhos Sport continuasse no giro. Neste caso, o facto de o Município de Matosinhos ser uma entidade participante de uma empresa local que deveria estar em processo de dissolução por via de imposição legal, ao continuar a financiar a empresa como se nada tivesse ocorrido está a colidir com o princípio da legalidade, havendo, através da outorga dos contratos sub judice, violação directa de normas financeiras. No que concerne à quarta questão apreciada pelo Tribunal de Contas, referente à configuração dos contratos como subsídios ao investimento, este Tribunal faz alusão ao Regime Jurídico da Actividade Empresarial Local no sentido em que esta lei proíbe a concessão pelas entidades públicas participantes às

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empresas locais de “quaisquer formas de subsídios ao investimento”. A empresa Matosinhos Sport cedeu ao Município de Matosinhos a posição contratual em doze contratos outorgados com instituições financeiras relativos à locação financeira de equipamentos na área do desporto, entregando os mesmos equipamento ao Município. Em face da referida situação, considera o Tribunal de Contas que estamos perante um encapotado subsidio ao investimento que nem por isso deixa de ser proibido por lei, defraudando-se, assim, de forma clara a norma constante do Regime Jurídico da Actividade Empresarial Local. Consequentemente, as deliberações de qualquer órgão das autarquias locais que autorizem, conforme o presente caso com a deliberação que sustenta as cessões de posição contratual, a realização de despesas não permitidas por lei são nulas. Em relação ao princípio da proibição da duplicação de tarefas, não considera o Tribunal de Contas existir qualquer tipo de violação, uma vez que não existe nenhuma actividade a cargo de empresa local que seja prosseguida por entidade pública participante na pendência da respectiva externalização.

Por último, quanto à quinta e última questão a apreciar pelo Tribunal de Contas, disse o Município de Matosinhos que as cessões de posição contratual em causa não se encontravam sujeitas a qualquer deliberação autorizatória prévia da Assembleia Municipal. Efectivamente, o Regime Jurídico das Autarquias Locais não prevê, expressamente, a exigência de autorização da Assembleia Municipal para que o Município se vincule directamente, através de um contrato de locação financeira. Não obstante, o Tribunal de Contas considera importante atentar na natureza jurídica do contrato de locação financeira e nas suas repercussões no domínio da contabilidade pública. A locação financeira é o contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição, a ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço nele determinado ou determinável, mediante simples aplicação dos critérios nele fixados.

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Do ponto de vista contabilístico, vigora a regra que determina que a coisa locada seja considerada como integrada no activo imobilizado do locatário financeiro. O Tribunal de Contas faz ainda menção ao facto de o controlo financeiro impor a proibição de celebração de contratos com entidades financeiras com a finalidade de consolidar divida de curto prazo, sempre que a duração do acordo ultrapasse o exercício orçamental, sendo que esta proibição abarca o caso em apreço, de outorga de contratos de locação financeira que ultrapassem o exercício orçamental. Consequentemente, é expressamente imposto ao órgão executivo municipal que apresente à Assembleia Municipal uma proposta de quadro plurianual de programação orçamental, em simultâneo com a proposta de orçamento municipal apresentada que defina os limites para a despesa do município, limites esses que são vinculativos para o ano seguinte ao do exercício económico do orçamento e indicativos para os restantes. Assim, conclui o Tribunal de Contas, pela improcedência do recurso também neste ponto, uma vez que não se demonstrou, no caso sub judice, que a Assembleia Municipal tivesse autorizado o quadro

plurianual onde se evidenciem, de forma clara e concreta, a autorização para os contratos de cessão de exploração, com as consequentes despesas (e os limites que envolve) assumidas pelo Município. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Tendo em conta todo o exposto, o Tribunal de Contas decide pela improcedência do recurso interposto pelo Município de Matosinhos, mantendo-se em consequência a recusa de visto aos contratos de cessão de posição contratual. Implicações Implicações Implicações Implicações práticaspráticaspráticaspráticas A obrigatoriedade da dissolução de empresas locais que não reúnam os mínimos económico-financeiros para serem racionalmente sustentáveis, prevista no Regime Jurídico da Actividade Empresarial Local, não constitui qualquer tipo de inviabilização da actividade constitucionalmente atribuída às autarquias locais. A cessão de posição contratual no caso de empresas locais e empresas públicas participantes deve sempre respeitar o Regime Jurídico da Actividade Empresarial Local.

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Por fim, apesar do Regime Jurídico das Autarquias Locais não prever, expressamente, a exigência de autorização da Assembleia Municipal para que o Município se vincule directamente através de um contrato de locação financeira, conclui-se que, atenta a sua natureza contratual, é imposto ao órgão executivo municipal que apresente à Assembleia Municipal uma proposta de quadro plurianual de programação orçamental, em simultâneo com a proposta de orçamento municipal apresentada que defina os limites para a despesa do município, limites esses que são vinculativos para o ano seguinte ao do exercício económico do orçamento e indicativos para os restantes. 4.4.4.4. Número do Acórdão: Número do Acórdão: Número do Acórdão: Número do Acórdão: 11/2015 – 14 de Abril – 1.ª Secção/PL Data: Data: Data: Data: 14 de Abril de 2015 Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: 28/2014 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Contratação pública – Serviços de comunicação de voz para rede fixa FactosFactosFactosFactos O Instituto de Segurança Social, I.P (I.S.S., I.P.) não se conformando com o teor do Acórdão n.º 37/2014, de 28 de Outubro, que recusou o visto ao contrato de aquisição de serviços de comunicações de

voz para rede fixa, celebrado em 30 de Julho de 2014, entre aquele Instituto e a empresa “ONITELECOM” – Infocomunicações, S.A., interpôs do referido Acórdão recurso jurisdicional para o Tribunal de Contas. O referido contrato foi celebrado no âmbito do Acordo-Quadro para serviços de comunicação de voz e dados em local fixo, e para celebração do acordo quadro, o critério de adjudicação adoptado foi o do mais baixo preço, sendo a valoração das propostas para os serviços de comunicação de voz feita segundo determinada fórmula. A contratação de serviços ao abrigo do acordo quadro pelas entidades adquirentes seria efectuada através de convite às entidades fornecedoras seleccionadas nesse acordo quadro, devendo a adjudicação ser feita segundo o critério do mais baixo preço ou o da proposta economicamente mais vantajosa. O I.S.S., I.P. convidou os contratantes do acordo quadro em referência a apresentar proposta com vista à celebração de contrato, estando estabelecido que o critério de adjudicação a aplicar seria o do mais baixo preço, de acordo com o perfil de chamadas efectuadas pelo I.S.S., I.P..

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A Adjudicação foi feita à “ONITELECOM” – Infocomunicações, S.A.. Posta a factualidade, o Tribunal de Contas apreciou duas questões:

(i) Da formação ou não do visto tácito; (ii) Da (in)admissibilidade legal do

critério de adjudicação e da fórmula de avaliação das propostas com previsão no procedimento em apreço e respectivas consequências.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal Relativamente à primeira questão, e de acordo com a Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas, os contratos remetidos ao Tribunal de Contas para fiscalização prévia consideram-se visados ou declarados conformes se não tiver havido decisão de recusa de visto no prazo de 30 dias após a data do seu registo de entrada. A contagem do prazo em causa inicia-se no dia útil seguinte ao do registo de abertura do processo na Direcção-Geral do Tribunal de Contas, sendo que a contagem do prazo de formação do visto tácito se suspende na data do ofício desta Direcção-Geral quando sejam solicitadas diligências e elementos instrutórios e é

retomada no dia seguinte à data do registo de reabertura do processo no citado órgão feita com o ofício da resposta da entidade, desde que acompanhado do documento submetido a fiscalização prévia. Ora, entre 5 de agosto de 2014, dia em que se iniciou o prazo supra identificado, e 28 de Outubro de 2014, data da prolação do Acórdão ora impugnado, apenas decorreram 29 dias úteis, concluindo assim, o Tribunal de Contas, ser indubitável que a decisão anteriormente proferida ocorreu dentro do prazo legal, sendo manifestamente improcedente o pedido do recorrente quanto ao visto tácito do contrato, uma vez que a sua pretensão assenta em lapso de contagem de prazos. No que concerne à segunda questão, da (in)admissibilidade legal do critério de adjudicação e da fórmula de avaliação com aplicação no procedimento em apreço, vem desde logo o Tribunal de Contas afirmar que sendo o I.S.S., I.P. um instituto público o mesmo se encontra vinculado ao Sistema Nacional de Compras Públicas, o que o obriga a adquirir bens e serviços ao abrigo do Acordo-Quadro aplicável, obrigação que no caso foi seguida pela entidade pública.

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Por outro lado, o I.S.S., I.P., seguiu o critério de adjudicação do mais baixo preço, opção essa que não merece qualquer censura por parte do Tribunal de Contas. Contudo, o valor global da proposta da entidade adjudicatária – ONITELECOM – Infocomunicações, S.A., não é o mais baixo entre as demais que acorreram ao convite, impondo-se por isso, a este tribunal, aferir da conformação legal e, também, principialista, da adjudicação realizada. O modelo de avaliação das propostas deverá respeitar, sempre, os princípios da contratação pública e da actividade administrativa em geral, nomeadamente o princípio da transparência, igualdade e concorrência e, bem assim, ser integrado por certa, rigorosa e adequada valoração dos coeficientes de ponderação dos factores e subfactores indicados e por escalas de pontuação que assumirão expressão matemática, no fundo, os modelos de avaliação das propostas exprimem as orientações da entidade adjudicante com relevância para a adjudicação, sendo que a sua formulação será condicionada pela necessidade pública que se pretende assegurar.

O Tribunal de Contas não questiona o propósito de o I.S.S., I.P., em obter o mais baixo preço para aquisição de serviços de comunicação de voz para rede fixa, contudo considera que a fórmula de cálculo adoptada, embora bem aplicada, mostra-se mal definida, comprometendo assim a consecução de tal desidrato. Assim, julga o Tribunal de Contas que a adjudicação realizada, ao não concretizar o alcance do propósito prosseguido com o procedimento em causa, que se traduzia em adquirir os presentes serviços de comunicação ao melhor e mais baixo preço, penaliza, afinal, o I.S.S., I.P., e, em consequência, prejudica, também, a salvaguarda do interesse público. Por fim, conclui o Tribunal de Contas, que pelo facto de a fórmula de avaliação das propostas infringir o critério de adjudicação adoptado, uma vez que a adjudicação não recaiu sobre a proposta que apresentava o peço mais baixo, houve violação da legislação aplicável e, bem assim, o princípio da economia constante da Lei de Enquadramento Orçamental, que impõe a satisfação das necessidades públicas mediante o menor custo possível.

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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Em face do exposto, o Tribunal de Contas decidiu negar provimento ao recurso interposto pelo I.S.S., I.P., e manter, consequentemente, o Acórdão recorrido. Implicações PráticasImplicações PráticasImplicações PráticasImplicações Práticas A adopção de determinado critério de adjudicação de propostas (in casu, o do mais baixo preço) implica que a fórmula de avaliação respeite certos critérios, porque, apesar da mesma exprimir as preferências da entidade adjudicante, a sua formulação será sempre condicionada pela necessidade pública que se pretende assegurar. Lisboa, 23 de Setembro de 2015 Rogério M. Fernandes Ferreira Olívio Mota Amador Rita Robalo de Almeida Francisca de Landerset Gomes