iyami oxorongá

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7/21/2019 Iyami Oxorongá http://slidepdf.com/reader/full/iyami-oxoronga 1/9 Iyami Oxorongá Quando se pronuncia o nome de Iyami Oxorongá quem estiver sentado deve se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência pois esse é um temível Orixá, a quem se deve respeito completo. Pássaro africano, Oxorongá emite um som onomatopaico de onde provém seu nome. o sím!olo do Orixá Iyami, ai o vemos em suas m"os. #os seus pés, a coru$a dos aug%rios e presságios. Iyami Oxorongá é a dona da !arriga e n"o &á quem resista aos seus e!'s fatais, so!retudo quando ela executa o O$i$i, o feiti(o mais terrível. )om Iyami todo cuidado é pouco, ela exige o máximo respeito. Iyami Oxorongá, !ruxa é pássaro. #s ruas, os camin&os, as encru*il&adas pertencem a +su. esses lugares se invoca a sua presen(a, fa*em-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se l&e fa*em pedidos para o !em e para o mal, so!retudo nas &oras mais perigosas que s"o ao meio dia e meia-noite, principalmente essa &ora, porque a noite é governada pelo perigosíssimo odu Oye/u 0e$i. 1 meia-noite ninguém deve estar na rua, principalmente em encru*il&ada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum lugar e esperar passar os primeiros minutos. 2am!ém o vento 3afefe4 de que Oya ou Iansan é a dona, pode ser !om ou mau, através dele se enviam as coisas !oas e ruins, so!retudo o vento ruim, que provoca a doen(a que o povo c&ama de 5ar do vento5. Ofurufu, o 6rmamento, o ar tam!ém desempen&a o seu papel importante, so!retudo á noite, quando todo seu espa(o pertence a +leiye, que s"o as #$é, transformadas em pássaros do mal, como #g!i!g', +l7l%, #tioro, Osoronga, dentre outros, nos quais se transforma a #$é- m"e, mais con&ecida por Iyami Osoronga. 2ra*idas ao mundo pelo odu Osa 0e$i, as #$é,  $untamente com o odu Oye/u 0e$i, formam o grande perigo da noite. +leiye voa espalmada de um lado para o outro da cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enc&e de pavor os que a ouvem ou vêem.  2odas as precau(8es s"o tomadas. 9e n"o se sa!e como aplacar sua f%ria ou condu*í-la dentro do que se quer, a %nica coisa a se fa*er é afugentá-la ou escon$urá-la, ao ouvir o seu eco, di*endo Oya o!e l:ori 3que a faca de Ians" corte seu pesco(o4, ou ent"o ;o, fo, fo 3voe, voe, voe4. +m caso contrário, tem-se que agradá-la, porque sua f%ria é fatal. 9e é num momento em que se está voando, totalmente espalmada, ou ap's o seu eco aterrori*ador, di*emos respeitosamente # fo fagun <o:lu 3 =sa%do> a que voa espalmada dentro da cidade4, ou se ap's gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas, di*emos, para agradá-la #tioro !ale sege sege 3=sa%do> #tioro que pousa elegantemente4 e assim uma série de procedimentos diante de um dos donos do 6rmamento noite. 0esmo agradando-a n"o se pode descuidar, porque ela é fatal, mesmo em se l&e felicitando temos que nos precaver. 9e nos referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se p?r, fa*emos um @ no c&"o, com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que representa perigo. 9e durante noite corremos a m"o espalmada, altura da ca!e(a, de um lado para o outro, a6m de evitar que ela pouse, o que signi6cará a morte. +n6m, &á uma in6nidade de maneiras de proceder em tais circunstAncias. 3Bo livro 50ural dos Orixás5 de )ari!é e texto de Corge #mado - Daí*es #rtes Erá6cas4

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Iyami Oxorongá

Quando se pronuncia o nome de Iyami Oxorongá quem estiver sentado deve se levantar,quem estiver de pé fará uma reverência pois esse é um temível Orixá, a quem se deverespeito completo.

Pássaro africano, Oxorongá emite um som onomatopaico de onde provém seu nome. osím!olo do Orixá Iyami, ai o vemos em suas m"os. #os seus pés, a coru$a dos aug%rios epresságios. Iyami Oxorongá é a dona da !arriga e n"o &á quem resista aos seus e!'s fatais,so!retudo quando ela executa o O$i$i, o feiti(o mais terrível. )om Iyami todo cuidado é pouco,ela exige o máximo respeito. Iyami Oxorongá, !ruxa é pássaro.

#s ruas, os camin&os, as encru*il&adas pertencem a +su. esses lugares se invoca a suapresen(a, fa*em-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se l&e fa*em pedidos para o !em epara o mal, so!retudo nas &oras mais perigosas que s"o ao meio dia e meia-noite,principalmente essa &ora, porque a noite é governada pelo perigosíssimo odu Oye/u 0e$i.

1 meia-noite ninguém deve estar na rua, principalmente em encru*il&ada, mas se issoacontecer deve-se entrar em algum lugar e esperar passar os primeiros minutos. 2am!ém ovento 3afefe4 de que Oya ou Iansan é a dona, pode ser !om ou mau, através dele se enviamas coisas !oas e ruins, so!retudo o vento ruim, que provoca a doen(a que o povo c&ama de5ar do vento5.

Ofurufu, o 6rmamento, o ar tam!ém desempen&a o seu papel importante, so!retudo á noite,quando todo seu espa(o pertence a +leiye, que s"o as #$é, transformadas em pássaros domal, como #g!i!g', +l7l%, #tioro, Osoronga, dentre outros, nos quais se transforma a #$é-

m"e, mais con&ecida por Iyami Osoronga. 2ra*idas ao mundo pelo odu Osa 0e$i, as #$é, $untamente com o odu Oye/u 0e$i, formam o grande perigo da noite. +leiye voa espalmadade um lado para o outro da cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enc&e depavor os que a ouvem ou vêem.

 2odas as precau(8es s"o tomadas. 9e n"o se sa!e como aplacar sua f%ria ou condu*í-ladentro do que se quer, a %nica coisa a se fa*er é afugentá-la ou escon$urá-la, ao ouvir o seueco, di*endo Oya o!e l:ori 3que a faca de Ians" corte seu pesco(o4, ou ent"o ;o, fo, fo 3voe,voe, voe4.

+m caso contrário, tem-se que agradá-la, porque sua f%ria é fatal. 9e é num momento em que

se está voando, totalmente espalmada, ou ap's o seu eco aterrori*ador, di*emosrespeitosamente # fo fagun <o:lu 3 =sa%do> a que voa espalmada dentro da cidade4, ou seap's gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas,di*emos, para agradá-la #tioro !ale sege sege 3=sa%do> #tioro que pousa elegantemente4 eassim uma série de procedimentos diante de um dos donos do 6rmamento noite.

0esmo agradando-a n"o se pode descuidar, porque ela é fatal, mesmo em se l&e felicitandotemos que nos precaver. 9e nos referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, atéantes do sol se p?r, fa*emos um @ no c&"o, com o dedo indicador, atitude tomada diante detudo que representa perigo. 9e durante noite corremos a m"o espalmada, altura daca!e(a, de um lado para o outro, a6m de evitar que ela pouse, o que signi6cará a morte.+n6m, &á uma in6nidade de maneiras de proceder em tais circunstAncias.

3Bo livro 50ural dos Orixás5 de )ari!é e texto de Corge #mado - Daí*es #rtes Erá6cas4

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muitos 6l&os, e se essa pessoa n"o pensa em acalmar os sentimentos de ci%me dela comoferendas em segredo. preciso muito cuidado com elas. + s' Orunmilá consegue acalmá-la .

Iyá-0i Osorongá é a síntese do poder feminino, claramente manifestado na possi!ilidade degerar 6l&os e, numa no("o mais ampla, de povoar o mundo. Quando os Ioru!as di*em Knossasm"es queridasL para se referirem s Iyá 0i, tentam, na verdade, apa*iguar os poderesterríveis dessa entidade.

Bonas de um axé t"o poderoso como o de qualquer Orixá, as Iyá-0i tiveram o seu cultodifundido por sociedades secretas de mul&eres e s"o as grandes &omenageadas do famosofestival EMlMdM, na igéria, reali*ado entre os meses de 0ar(o e 0aio, que antecedem o iníciodas c&uvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado fertilidade.

#s iyá-0i tornaram-se con&ecidas como as sen&oras dos pássaros e a sua fama de grandesfeiticeiras associou-as escurid"o da noiteJ por isso tam!ém s"o c&amadas +leyé, e ascoru$as s"o os seus principais sím!olos.

# sua rela("o mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que maisaproxima a mul&er da nature*a, ou se$a, dos acontecimentos que fogem explica("o e aocontrole &umano. 2oda a mul&er é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyá-0iJa capacidade de gerar 6l&os, expressa nos 'rg"os genitais femininos, assustou sempre os&omens.

#s m"es s"o compreendidas como a origem da &umanidade e o seu grande poder reside nadecis"o que tomar so!re a vida de seus 6l&os. a m"e que decide se o 6l&o deve ou n"onascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver.

Iyá-0i é a sacrali*a("o da 6gura materna, por isso o seu culto é envolvido por tantos ta!us. Oseu grande poder deve-se ao fato de guardar o segredo da cria("o. 2udo o que é redondo

remete ao ventre e, por consequência, s Iyá-0i. O poder das grandes m"es é expresso entreos orixás por Oxum, Ieman$á e an" Nuru/u, mas o poder de Iyá-0i é manifesto em toda amul&er, que, n"o por acaso, em quase todas as culturas, é considerada ta!u.

#s denomina(8es de Iyá-0i expressam as suas características terríveis e mais perigosas e poressa ra*"o os seus nomes nunca devem ser pronunciadosJ mas quando se disser um dos seusnomes, todos devem fa*er reverencias especiais para aplacar a ira das Erandes 0"es e,principalmente, para afugentar a morte.

#s feiticeiras mais temidas entre os Ioru!as e no )andom!lé s"o as 1$é e, para se referir aelas sem correr nen&um risco, diga apenas +leyé, Bona do Pássaro.

O aspecto mais aterrador das Iyá-0i e o seu principal nome, com o qual se tornou con&ecidanos terreiros, é Osorongá, uma !ruxa terrível que se transforma no pássaro do mesmo nome erompe a escurid"o da noite com o seu grito assustador.

#s Iyá-0i s"o as sen&oras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte. Quandodevidamente cultuadas, manifestam-se apenas no seu aspecto !enfa*e$o, s"o o grandeventre que povoa o mundo. "o podem, porém, ser esquecidasJ nesse caso lan(am todo otipo de maldi("o e tornam-se sen&oras da morte.

O lado !om de Iyá-0i é expresso em divindades de grande fundamento, como #pao/á, a dona

da $aqueira, a verdadeira m"e de Ox'ssi. #s Iyá-0i, $untamente com +x% e os ancestrais, s"oevocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que, entre outras coisas, rati6ca a granderealidade do poder feminino na &ierarquia do )andom!lé, denotando que as grandes m"es éque detém os segredos do culto, pois um dia, quando deixarem a vida, integrar"o o corpo dasIyá-0i, que s"o, na verdade, as mul&eres ancestrais.

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+leiye voa espalmada3com as asas totalmente a!erta4 de um lado para o outro da cidade,emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enc&e de pavor os que a ouvem ou vêem.

 2odas as precau(8es s"o tomadas. 9e n"o se sa!e como aplacar sua f%ria ou condu*í-ladentro do que se quer, a %nica coisa a se fa*er é afugentá-la ou escon$urá-la, ao ;o, fo, fo3voe, voe, voe4. +m caso contrário, tem-se que agradá-la, porque sua f%ria é fatal. 9e é nummomento em que se está voando, totalmente espalmada, ou ap's o seu eco aterrori*ador,di*emos respeitosamente # fo fagun <o:lu 3 =sa%do> a que voa espalmada dentro da cidade4

Pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas, di*emos, para agradá-la#tioro !ale sege sege 3=sa%do> #tioro que pousa elegantemente4 e assim uma série deprocedimentos diante de um dos donos do 6rmamento noite. 0esmo agradando-a n"o sepode descuidar, porque ela é fatal, mesmo em se l&e felicitando temos que nos precaver. 9enos referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se p?r, fa*emosum @ no c&"o, com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que representa perigo.9e durante noite corremos a m"o espalmada, altura da ca!e(a, de um lado para o outro,a6m de evitar que ela pouse, o que signi6cará a morte.

 

0ul&er 0"e #ncestral

# virtude de poder tra*er 6l&os ao mundo que têm as mul&eres, um fato quase mágico,maravil&oso que as acerca ao divino, é e foi tam!ém motivo de temor em muitos povosantigos, algo que era inexplicável, pelo qual as mul&eres sempre foram vistas comopossuidoras de certo poder especia

;ala-se da famosa 5intui("o feminina5, mas mais do que nada, em todas as culturas &á uma

tendência a transformá-la em 5!ruxa5, no sentido de crer que tem poderes inatos paracomunicar-se com for(as além do alcance do entendimento do &omem. O mito da 5!ruxa5 quevoa na vassoura acompan&ada por pássaros maca!ros é quase mundial, com pequenasdiferen(as segundo o lugar do mundo do qual falemos

 2am!ém se relaciona a fecundidade com o misterioso sangue menstrual, que é a marca quepauta a convers"o da menina numa mul&er, daí em mais será considerada tam!ém umaIyami, aquela que em qualquer momento deixará de ter a regra, inc&ando-se o ventre,revelando que tin&a em seu interior a 5ca!a(a da existência5, o camin&o pelo qual todos vêmdo Orun para o #ye. 0ais para con6rmar dita transforma("o em 5mul&er5, levam-se a ca!o os5ritos de passagem5 nos que as meninas-mul&eres estar"o isoladas durante vários dias,

alimentadas e vestidas de um modo especial, onde con&ecer"o todos os segredosrelacionados com as mul&eres, os que ser"o devidamente dados pelas anci"s de suacomunidad

Os ritos assegurar"o entre outras coisas que se$a possuidora de uma 5ca!a(aL fértil e oalin&amento de seu lado espiritual feminino com seu corpo, convertendo-a numa mul&er emtodo sentido

#o ler os mitos so!re as Iá 0i Oxorongá tem-se uma sensa("o de medo infantil diante de umpoder imenso e terrível. +sse medo vem, em grande parte, da incompreens"o e do mistérioque cerca as 0"es #ncestrais e, em pequena parte, da sensa("o de pequene* e impotênciaque arre!ata quem tenta lidar com sua imagem grandiosa. O psic'logo )arl Eustav Cung3R-ST4 a6rmava que a imagem da 0"e está profundamente arraigada na psiquê&umana e encontra-se difundida em diferentes mitos e religi8es em todo o mundo, como umarquétipo.U Pode-se citar, por exemplo, a in6nidade de estatuetas feitas em diversos

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pilares essenciais da comunidade. +vita-se falar mal delas a!ertamente, pois possuem umafor(a agressiva perigosa. preciso ter para com elas uma atitude de prudente reserva. #ssim,ignora-se o verdadeiro nome das a$és, e preferencialmente c&amam-nas Iyami Osorongá30in&a 0"e Oxorongá4. #ssim s"o descritasF Kmul&eres vel&as, proprietárias de uma ca!a(aque contém um pássaro. +las mesmas podem se transformar em pássaros, organi*ando entresi reuni8es noturnas na mata, para saciar-se com o sangue de suas vítimas, e dedicando-se atra!al&os malé6cos variadosL. 9egundo o mitoF KIyami, divindade decaída, nossa m"e

c&amada Odu quando vem ao mundo com poder so!re os orixássim!oli*ado por eye 3pássaro4 ela se torna eleye 3proprietária do poder do pássaro4. Dece!etam!ém uma ca!a(a 3imagem do mundo e reposit'rio de seu poderio4. 2endo a!usado dessepoder perde a ca!a(a para Orixalá W seu compan&eiro masculino que veio ao mundo aomesmo tempo em que ela. +le exercerá o poder, mas ela conservará o controleL.\U Iá 0itam!ém é o KpoderL atri!uído s mul&eres vel&as ou mo(as muito $ovens que o teriamrece!ido como &eran(a de sua m"e ou de uma de suas av's. Qualquer mul&er podeconseguir esse poder, voluntariamente ou sem que o sai!a, ap's um tra!al&o feito por uma Iá0i, que queira fa*er proselitismo.

 2em-se tam!ém na origem mítica das Iá 0i a quest"o da geminidade. as religi8es africanaso corpo &umano é conce!ido como o gêmeo do corpo c'smicoJ a geminidade é um temapredominante em muitos mitos e rituais da Zfrica Ocidental. Be acordo com a cosmogoniadividida entre os Bogon, Nam!ara, e povos 0alin/e do 0ali, os seres primordiais eramgêmeos. Eêmeos representam o ideal. 0uitos indivíduos dividem a estrutura da geminidade,na qual a placenta acredita-se ser o l'cus de um %nico destino e alma gêmea. 9eguido aonascimento, a placenta é lavada e enterrada no cemitério familiar na primeira semana devida da crian(a. +ntre os #s&anti de Eana, gêmeos s"o permanentemente assegurados comum status especial, como santuários viventes, porque portam como um sinal de a!undantefertilidade, eles s"o reposit'rios do sagrado. Para os dem!u da Dep%!lica Bemocrática do

)ongo, ao contrário, os gêmeos representam um excesso de fertilidade mais característico domundo animal que do &umano, e rituais s"o reali*ados para proteger a comunidade destacondi("o an?mala.\R O principal poder das Iá 0i Oxorongá que precisa ser controlado é o dedar a vida e o de tirá-la. Os aspectos de tal poder est"o distri!uídos entre os orixás femininosmais cultuados no Nrasil, Ieman$á, Oxum e Ians". an" Nuru/u e Odudua 3que pode serfeminino ou masculino4 tam!ém est"o ligadas s 0"es #ncestrais.

#nálise do 0ito

o primeiro !loco de sentido numerado de -], vemos que as Iá 0i s"o as feiticeiras 3a$és4 en"o orixás, ou se$a, s"o as primeiras Km"es da espécie &umanaL, ligadas s origens do

mundo através do mito de Odudua ou Odu 3a 2erra4, compan&eira de O!atalá 3o )éu4, dentroda concep("o da geminidade. o princípio de tudo, n"o &avia separa("o entre os dois, o casalprimordial vivia apertado dentro de uma ca!a(a\. +les se separaram ao !rigarem pelo poder3os anéis4, que representa a luta entre os dois p'los, um construtivo 3axé4 e outro destrutivo3Iá 0i4. +sse mito tam!ém representa o $ogo de poder entre o masculino e o feminino, opatriarcado e o matriarcado lutando pelo controle da comunidade. +m %ltima instAncia, a lutaentre a ordem social e o caos primitivo.

# característica de vel&as-feiticeiras está ligada concep("o africana de que a sa!edoria eac%mulo de poder s' vêm com a idade, com a experiência de vida. #ssim, as 0"es #ncestrais

por ter vivido muito tempo, por con&ecerem os segredos da vida, s"o feiticeiras, ou se$a,podem manipular através da magia, o nascimento e a morte. Possuir o poder de controlar avida tem dois aspectos, pode-se utili*á-lo tanto para o !em quanto para o mal. "o &á umc'digo moral dicot?mico que proí!a as Iá 0i de fa*erem o que l&es agrade. o mito deOdudua, o motivo usado como $usti6cativa para a sua perda de poder seria o a!uso deste.

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Porém, perce!e-se que o poder das Iá 0i, representa o pr'prio poder criador, criativo, quepara tra*er o novo, precisa destruir o vel&o. a pr'pria ordem natural, o ciclo de vida e morteque é a síntese do poder feminino. 9egundo Donilda Iya/emi Di!eiro Kas Iya-ag!a 3as anci"s,pessoas de idade, m"es idosas e respeitáveis4, tam!ém c&amadas #g!a, Iyami 3min&a m"e4,Iyami Osoronga 3min&a m"e Oxorongá4 #$é, +leye 39en&ora dos pássaros4, representam ospoderes místicos da mul&er em seu duplo aspecto W protetor e generoso[perigoso edestrutivoL\ . Delacionadas s Iá 0i nesse seu aspecto de ancestrais femininas, Di!eiro

relaciona an", Oxum, Iyami-#/o/o W m"e ancestral suprema e Ieman$á, como poder genitor.O medo provocado pelas m"es ancestrais, devido ao seu grande poder e a forma com que eleé utili*ado por elas, torna sua 6gura impiedosa e temida, pois a sua c'lera e o seu 'dio s"oterríveis. Pode-se interpretar de outra maneira a c'lera das Iá 0i. 9egundo Verger, a feiti(ariacumpre em várias culturas uma fun("o de moderador social. K)ada ve* que alguém se eleva,a feiti(aria está lá para o a!aixarL. #ssim, tam!ém as Iá 0i, como feiticeiras, Katravés de suaa("o, =ela> exerce um papel moderador contra os excessos de poderJ mediante suasinterven(8es, ela contri!ui para garantir uma reparti("o mais $usta das rique*as e dasposi(8es sociaisJ ela impede que um sucesso por demais prolongado permita a certas pessoascontrolar exageradamente umas e outrasL\S. # constante c'lera seria, dessa forma, uma

explica("o para os males sociais e de seus remédios, como tam!ém uma explica("o dainquietude e da ang%stia metafísica.

O poder das Iá 0i, ao ser colocado em oposi("o com o poder dos orixás 3axé4, como K%nicaarma do &omemL de prote("o, remete novamente ao mito de Odudua, que perde seu poderpara Oxalá. +ncontra-se em vários mitos de outros orixás femininos referências de como asmul&eres perderam seu poder para os &omens. +xemplo disso é um dos mitos de Ogum, queconta a est'ria de como KOgum conquista para os &omens o poder das mul&eresL =U>^].+ste mito narra que no come(o do mundo as mul&eres tin&am o KpoderL 3político4 e oKsegredoL 3religioso4. Ians" era a possuidora do mistério das sociedades dos egunguns 3culto

dos antepassados4J $unto com suas compan&eiras &umil&avam seus maridos, comparando-oscom macacos. Ogum e os outros &omens, ent"o cansados dessas &umil&a(8es, resolvemaca!ar com isso. Ogum veste-se de guerreiro e assusta as mul&eres que fogem. Ians"tam!ém 6ca com medo da 6gura de Ogum que demonstra tanta violênciaJ e é a primeira afugir. O poder passa a pertencer aos &omens, que tomam posse do segredo das sociedadesegunguns. Ians" continua como Dain&a do culto, mas perde o poder de decis"o dentro dacomunidade. O axé, como referência ao poder masculino, torna-se a prote("o contra as m"es,su!mete-se o poder feminino. +ste, porém, ainda precisa ser respeitado e venerado. Ians"perde seu posto de comando, mas continua sendo a c&ave do culto. 9egundo VergerF Kissotende a mostrar que para os yoru!á o poder 3axé4 de Iyami n"o é em si, nem !om, nem mau,

nem moral, nem perverso, a %nica coisa que importa é o modo como o axé é empregadoL^.O poder deve ser utili*ado com calma e discri("o, foi por n"o respeitar esse preceito que Iyá#g!á perdeu o domínio do mundo.

 Iyami Oxorongá

 2odos os ancestrais femininos, as _yag! ou _yámi, têm sua institui("o em sociedades como+g!é +leye, +g!é `g!'ni e +g!é EMlMdé, consideradas secretas pelo fato de os seuscon&ecimentos serem transmitidos apenas a iniciados. #s Iyami Oxorongá representam opoder ancestral feminino e os elementos místicos da mul&er em seu duplo aspectoF protetor egeneroso, perigoso e destrutivo. 2odos os orixás femininos s"o detentores deste poder.

#s Iyami s"o *eladoras da existência e guardi"s do destinoF por isso sua !oa vontade,essencial continuidade da vida e da sociedade, deve ser cultivada. Pertencem a um grupode seres espirituais c&amados #$og7n, cu$as fun(8es incluem carregar o e!' para alimentar-sedele ou, mais precisamente, do sofrimento &umano do qual está impregnado. #o processarem

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as energias dos e!'s, possi!ilitam a cura, a supera("o de di6culdades e a atra("o de !ensnecessários. 9ua rela("o com os poderes mágicos l&es possi!ilita tam!ém neutrali*ar osefeitos negativos de pensamentos, palavras e a(8es destrutivas que uma pessoa diri$a contraoutra ou contra si mesma. # presen(a e a inHuência de Iyami no $ogo oracular é fundamental,pois se manifestam em todos os odus e, sendo parceiras deles, têm como a$udá-los acomunicar-se entre si. Parceiras tam!ém de +xu e dos demais orixás, indicam com eles ose!'s necessários para cada situa("o, sendo de competência comum a todos a tarefa de

transportá-los.# express"o _yámi, 0in&a3s4 0"e3s4 ou eladora3s4, designa um orixá cu$o poder é t"o grandeque todos se referem a elas sempre no plural, aludindo a uma coletividade. Quando se quersaudá-las !asta pronunciar um de seus nomes, pois elas representam uma coletividade deseres relacionados a todos os elementos fundamentais para a so!revivência dos &omensF porisso traí-las signi6ca trair a pr'pria essência vital &umana. Invocar as 0"es implica emassociar-se a uma coletividade de energias que vivem em estreita rela("o com elementosindispensáveis so!revivência &umana.

#s Iyami, curandeiras com grande poder mágico, podem assumir diferentes formas. Intervêm

na existência &umana no plano individual 3na sa%de física, psíquica e espiritual, no casamentoe na sexualidade4 e no plano social 3no tra!al&o e nas ami*ades4. +las ap'iam as pessoas emsua tarefa de organi*ar pensamentos e con&ecimentos para mel&or atingir o!$etivos, atraindosorte e favorecendo conquistas materiais. Promovem mudan(as no plano emocional,facilitando que um &omem nervoso se acalme e um impaciente torne-se paciente. Intervindonos destinos, protegem as pessoas de danos causados por inimigos e por fal&as pr'prias.)omo &armoni*am rela(8es, favorecem casamentos. 9endo portadoras de axé, favorecem aaquisi("o e a manuten("o da energia vitalJ protetoras e *eladoras de tal energia, orientam aspessoas quanto mel&or maneira de reali*ar seu destino.

o aiye as Iyami tra!al&am para colocar ordem no con&ecimento e na sa!edoria dos seres, etransmitem isso ao orum através de assentamentos $á consagrados a elas, de inicia(8es e dareali*a("o de constantes oferendas e e!'s. # partir do momento em que se esta!elece umaliga("o com Iyami, adquire-se mel&ores condi(8es para atingir o!$etivos e concreti*ar ideais.

# nature*a, que inclui os seres &umanos, possui uma liga("o energética entre os mundosvisível e invisível e rece!e o toque divino das 0"es. Zgua, ar, terra e fogo constituemelementos através dos quais se pode c&egar a elas. #ssim sendo, pode-se evocá-las comágua, o!i e oro!? em rios, mares, encru*il&adas, estradas, ao pé de um peregun, na mata ouno quintal de casa, entre tantos locais possíveis, dado o fato de pertencerem nature*a,particularmente terra.

#s mul&eres pertencentes ao grupo de devotos das Iyami s"o c&amadas _yá-#g! ou _ya #iyé30"es do Gniverso, 0"es #nci"s ou Veneráveis 0"es #nci"s4J os &omens s"o c&amados de`s' 3Nruxo, ;eiticeiro4. #m!os 6cam atri!uídos do poder de manipular o destino &umanoatravés de rituais de consagra("o. # aquisi("o do poder das Iyami ocorre pelo nascimento,por &eran(a e pela inicia("o. +sta %ltima pode proporcionar a prote("o delas para o iniciado eseus familiares e amigos mais pr'ximos e pode, num grau mais elevado, permitir atransmuta("o física, em!ora exclusivamente no caso de mul&eres. Bi* o provér!io que o 6l&ode Iyami tem dois ouvidos, dois ol&os e uma %nica !oca, para ouvir e ver !em mais do quefalar. ;alar so!re as 0"es inspira a sensa("o de poder e sa!edoria, muitas ve*es equivocada,

porque um devoto que n"o sai!a proteger e preservar a for(a e os segredos con6ados a eleserá vencido facilmente. ;alar so!re elas é uma tarefa desa6adora porque exige cumplicidadeentre quem fala e quem ouve e uma responsa!ilidade rara das pessoas em rela("o ao usoque fa*em das palavras. Por isso, durante a inicia("o, as pessoas se comunicam o mínimonecessário.

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7/21/2019 Iyami Oxorongá

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Os iniciados em Iyami possuem as marcas sim!'licas das 0"es em seu corpo e podem sentí-las até mesmo 6sicamente. +ssas marcas indicam sinais de no!re*a. Os devotos das 0"esmuitas ve*es aca!am se tornando líderes. Beles exige-se postura séria e rigorosa e uma auto-educa("o para que n"o 6quem mencionando o poder delas. Pessoas indiscretas ou que seconsiderem poderosas n"o devem cultuá-las, pois sua postura afasta o poder das 0"es.

 2olerAncia e paciência, qualidades do sá!io, s"o os principais meios de se venerar Iyami e aosdemais orixás. O devoto das 0"es deve ser verdadeiro, leal, 6el e respeitoso para criar

espa(os onde elas possam viver e atuar. #s Iyami têm o poder de tornar o tempo favorável oudesfavorável, podendo provocar morte prematura ou prolongar a vidaF a capacidade detra!al&ar com seus poderes para atuar so!re a dura("o da existência, entretanto, é privilégiode poucos sacerdotes