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IX ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DE DEFESA
Florianópolis, UFSC, 06-08 de julho, 2016
Área Temática: Segurança Internacional e Defesa
Flávia Carolina de Resende Fagundes – UFRGS/Pró-Defesa CAPES
SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NA AGENDA DE DEFESA NO SÉCULO XXI: UM
ESTUDO DO CASO BRASILEIRO
Securitização das fronteiras na agenda de defesa no século XXI: um estudo do caso
brasileiro
Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 representam um ponto de inflexão na
história contemporânea. Este se coloca, aparentemente, como um divisor de águas entre o
mundo do otimismo da globalização e da integração que gerariam um mundo sem fronteiras,
e o mundo do novo imperialismo e securitização das fronteiras no discurso político.
Observamos, também, que estes fatos supriram o vácuo de uma ameaça eminente que havia
entre as autoridades e o complexo tecnológico militar norte-americano, preocupações de
segurança que já eram destaque na agenda, como o narcotráfico, foram incorporadas à lógica
de endurecimento das fronteiras. Contudo, se olharmos mais profundamente, percebemos
que a construção de muros e aumento dos aparatos de segurança nas fronteiras, também,
está ligado ao fato de que no contexto da globalização, o Estado foi impactado em sua
capacidade de controlar seu território em resposta a uma variedade de forças materiais.
Assim, a construção de ameaça externa se torna importante para a reprodução e
consolidação do Estado. Discursos de segurança nesse sentido produzem o Estado
soberano, ao enquadrar um problema em termos de segurança nacional lança a questão em
termos territoriais. Esses assuntos reproduzem o Estado como um assunto intrinsecamente
territorial (KUUS; AGNEW, 2008). Dentro desta lógica, observamos no Brasil a securitização
das fronteiras fortemente ligada aos problemas de segurança pública, com a atuação mais
ampla e cada vez mais maior das Forças Armadas neste espaço, corroendo a separação
entre assuntos de defesa e segurança. Dessa maneira, inferimos que o Estado ao transformar
o narcotráfico em uma questão de segurança nacional, territorializa esta, buscando sua
reafirmação. Assim, as políticas de segurança para a fronteira estariam mais ligadas a lógica
política, pois uma resposta territorial a ameaças desterritorializadas não é necessariamente a
mais eficaz, pois estas respondem melhor a arcabouços mais amplos de segurança e
estratégias de cooperação.
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Introdução
Este trabalho tem por intenção demonstrar como as fronteiras internacionais
transformaram-se no século XXI, destacadamente no que tange a vigilância destas. Dentro
desta lógica, temos observado a securitização das fronteiras a partir dos anos 2000. Os
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 representam um ponto de inflexão neste
sentido, este se coloca aparentemente como um divisor de águas entre o mundo do otimismo
da globalização e da integração que levariam à um mundo sem fronteiras, e o mundo do novo
imperialismo e da securitização das fronteiras no discurso político (CAPEL, 2002; MCCALL,
2012).
Os eventos de 11 de setembro supriram o vácuo de uma ameaça eminente que existia
entre as autoridades políticas e o complexo tecnológico militar nos Estados Unidos, em uma
agenda militar que se propagou pelo globo, na chamada Guerra ao Terror. As ênfases em
segurança para os Estados passaram a ser o terrorismo e a criminalidade internacional.
Embora estas preocupações já estivessem presentes na agenda, este processo foi
exacerbado, com destaque para o narcotráfico, principalmente na América Latina. Neste
contexto, as fronteiras passam a ser encaradas como uma vulnerabilidade, um espaço
permeável a entrada de ameaças à segurança nacional.
Esta dinâmica se traduziu na América do Sul na associação da Guerra às Drogas à
Guerra ao Terror. Os Estados Unidos já exerciam grande pressão nos países andinos em
relação ao narcotráfico, sendo este um elemento central para a incorporação do problema das
drogas à agenda de segurança sul-americana. A partir da política norte-americana, os países
da região passaram a securitizar o tráfico de drogas e criaram programas nacionais de
erradicação, interdição, apreensão e redução da demanda (CEPIK; ARTURI, 2011).
Assim, a partir dos eventos de 11 de setembro se tornou legal a extensão da ajuda
antidrogas às atividades antiterroristas. Nesse sentido, os países andinos, especialmente a
Colômbia, foram identificados como territórios de atividades terroristas, como expõe o Country
Report on Terrorism de 2006, “os atos de terrorismo no Hemisfério Ocidental foram cometidos
principalmente por organizações terroristas na Colômbia e pelos redutos de grupos andinos
de esquerda radical” (COUNTRY REPORTS ON TERRORISM, 2006). Não obstante, a
questão das drogas se funde com a fragilidade estatal de alguns países da região.
Nesse sentido, observamos também que o processo de securitização das fronteiras
estaria ligado à crise do Estado, uma vez que este passou a ser relativizado por processos de
integração regional, que levaram ao aumento os fluxos de mercadoria e pessoas. E também
na sua vertente negativa, o aumento dos fluxos ilegais – que passaram a ganhar destaque
entre as autoridades, assim como na mídia – levando ao questionamento da capacidade do
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Estado de prover segurança aos seus cidadãos. Em outras palavras, o Estado é questionado
em seu elemento mais básico que é garantir a segurança de sua população, por meio do
monopólio legitimo da força. Dessa forma, as fronteiras são corroídas tanto pelos processos
de integração quanto pela criminalidade transnacional.
Assim, neste artigo se faz um esforço de tentar entender como a securitização das
fronteiras desempenha um papel no empoderamento do Estado frente aos fenômenos
transnacionais, uma vez que desta forma o Estado reafirma o seu controle sobre o território.
Para tanto, analisaremos o tratamento das fronteiras brasileiras e as políticas que têm sido
empreendidas pelo governo brasileiro para a gestão destes espaços.
As Fronteiras no Século XXI: Soberania e Segurança
A questão das fronteiras é um aspecto fundamental do imaginário do Estado moderno,
estando a noção de soberania e fronteira fortemente ligadas. A fronteira política, numa visão
tradicional – ligada à uma visão do Estado como único conformador do território – seria o limite
entre dois Estados, uma linha objetivamente demarcada pela qual se organiza jurídica e
politicamente determinada comunidade (MARTINS; MOREIRA, 2011). Não obstante, há que
se especificar a diferença conceitual entre limite e fronteira, o primeiro se refere até onde se
estende a soberania de uma entidade política, enquanto, o segundo faz referência ao que
está à frente.
Tal concepção de Estado Moderno com fronteiras rigidamente constituídas, tem
origem com o Tratado Vestfália (1648), o Estado passa a ser materializado em espaços sobre
os quais se concretiza a soberania política, desta maneira, constituem-se fronteiras lineares
(DORFMAN, 2013). Em sentido restrito, na sua significação moderna, o termo Soberania
aparece, no final do século XVI, juntamente com o Estado, para indicar, em toda a sua
plenitude, o poder estatal, sujeito único e exclusivo da política, cuja finalidade seria reunir
numa única instância o monopólio da força num determinado território e sobre uma
determinada população, e, com isso, realizar no Estado a máxima unidade e coesão (BOBBIO
et. al., 1998).
Os crescentes fluxos transnacionais colocam a visão tradicional sobre o Estado e as
fronteiras internacionais em xeque, tendo em vista que a tornam porosa. Ademais, os
processos de integração também enfraquecem estes pressupostos, uma vez que trazem à
tona a discussão acerca do desparecimento ou não das fronteiras a partir da possibilidade de
relativização e redefinição das fronteiras nacionais.
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No pós-Guerra Fria, com o otimismo do triunfo da democracia e do livre mercado, se
difundiu o discurso do “fim das fronteiras”, no qual se acreditava que os processos de
integração e a conectividade, por meio da globalização levariam ao fim das barreiras aos
movimentos internacionais, bem como o fim dos conflitos, como argumentava Francis
Fukuayma em seu livro o Fim da História. Porém, a realidade logo se mostrou outra, com a
eclosão de conflitos regionais e a reafirmação de pautas de segurança, antes secundárias,
que levaram os Estados a olhar com preocupação para a suas fronteiras.
Contudo, há que se considerar que o discurso de um mundo sem fronteiras era em
parte uma falácia, pois ainda que houvesse o aumento dos fluxos pelo globo, este sempre foi
acompanhado por um edifício de controle à movimentação de pessoas, migrantes oriundos
de países pobres em busca de oportunidades econômicas, sempre tiveram seu acesso
negado ao mundo desenvolvido. Sem embargo, podemos constatar que as fronteiras sempre
funcionaram de forma de seletiva, o que é experimentado por alguns como fronteiras abertas,
é experimentado por outros como fronteiras fechadas1.
Não obstante, a partir do início da década de 2000, temos assistido mudanças no
discurso sobre as fronteiras, se no período que se seguiu após o fim da Guerra Fria, as
pressões da globalização sobre as fronteiras do Estado levaram alguns a vislumbrar o
surgimento de um mundo sem fronteiras, pelo início dos anos 2000, tornou-se claro que as
fronteiras foram mantendo a sua importância, ainda que sob novas aparências. Dessa
maneira, observamos que as fronteiras estão realizando uma transformação qualitativa e
quantitativa, alterando a sua natureza e multiplicando-se em número (POPESCU, 2013).
As fronteiras atuais colocam grandes desafios às sociedades modernas que
necessitam permitir a mobilidade, e ao mesmo tempo, proteger-se contra os efeitos colaterais
de tais fluxos. Neste sentido, observamos o processo de securitização das fronteiras
internacionais, com o crescimento dos aparatos de vigilância e a construção de muros.
Tais atitudes políticas refletem também a expansão do conceito de segurança, pois
muitos desses muros são construídos no intuito de proteger as sociedades de questões que
passaram a ser securitizadas nos últimos anos, como a migração.
O conceito de segurança nas últimas décadas deixou de se limitar à esfera estratégico-
militar. Nesta direção os processos transnacionais ganharam cada vez mais relevância na
agenda de segurança internacional (BUZAN, 2002). Sem embargo, ameaças transnacionais
têm como característica se estabelecer por meio de redes que não respeitam as fronteiras
internacionais, dessa maneira, estas são desterritorializadas, o que enfraquece a separação
entre problemas de segurança interno e externo.
1 Como um exemplo emblemático desta situação, podemos citar o Espaço Schengen, se por um lado aboliu as fronteiras entre os países signatários, por outro aumentou os controles à entrada de pessoas de fora do bloco, funcionando como uma espécie de condomínio fechado.
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Para Machado (2011), os limites entre a segurança externa (militar/guerra) e a
segurança interna (ordem pública, forças policiais) estaria sendo corroída. Uma concepção
estática é substituída por outra mais dinâmica de fronteiras internacionais, que por sua vez
sugere a metáfora dos campos ou espaços transversos. Machado parte dos pressupostos
colocados por Didier Bigo, para o autor:
O internacional atualmente é tanto constitutivo quanto uma dimensão explicativa da segurança interna e do trabalho da polícia, mesmo que a tradição intelectual e a separação acadêmica entre interno e externo tenda a nos fazer esquecer isso (BIGO, 2010).
Como base da expansão do conceito de segurança estaria o processo de
securitização, no qual são construídas ameaças por meio do discurso. Em outras palavras,
securitização consiste no movimento no qual uma questão é transportada da esfera política
normal para além das regras estabelecidas, enquadrando um assunto como uma categoria
especial ou acima da política. Em teoria qualquer assunto pode ser securitizado, bem como
pode passar pelo processo inverso (BUZAN; WAEVER, 1998). Tal perspectiva abre escopo
para que novos temas sejam tratados como questões de segurança, passando a abranger
ameaças de natureza diversa, como ameaças de caráter não-militar e desterritorializadas que
impactam nas estruturas e legitimidade dos Estados nacionais.
No entanto, Kuss e Agnew (2008) argumentam que ameaças à segurança ou, mais
precisamente, o discurso de tais ameaças, constituem um mecanismo chave na produção do
Estado, uma vez que que um dos pilares do Estado-nação é a separação entre o que está
dentro (bom) e o que está fora (mal), criando assim limites morais de identidade e políticos, e
estes são produzidos e mantidos através da evocação de ameaças do exterior. No contexto
da globalização, com o declínio da capacidade do Estado de controlar seu território em
resposta a uma variedade de forças materiais, uma ameaça externa torna-se ainda mais
importante para a reprodução e consolidação do Estado territorial. Discursos de segurança
produzem o Estado soberano, no sentido que ao enquadrar um problema em termos de
segurança, lança essa questão em termos territoriais. Esses discursos reproduzem o Estado
como um assunto intrinsicamente territorial.
Dessa maneira, uma leitura possível das visões mais amplas ou alternativas de
segurança, em termos de qualidade de vida individual, em vez de sobrevivência do Estado
abre o debate de segurança para atores não-estatais, tais como indivíduos ou organizações
internacionais e não-governamentais, questionando a centralidade do Estado em assuntos de
segurança. No entanto, um exame empiricamente mais aprofundado dos efeitos da agenda
de segurança ampliada produz outra imagem. Quando um problema social é moldado como
uma questão de segurança, ele também é enquadrado como uma questão em que o Estado
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deve intervir, e com urgência. As definições mais amplas de segurança acabam não
redefinindo segurança, mas apenas a aplica para mais esferas (KUSS; AGNEW, 2008).
Assim, podemos inferir que a securitização da fronteira frente à uma ameaça irregular,
territorializa a questão, abrindo um leque de ações políticas para o Estado no sentido de seu
empoderamento.
A elaboração de uma questão doméstica em termos de segurança nacional, cria a
oposição entre o que está fora (anárquico) e o interior do Estado a ser protegido dos perigos
estrangeiros, expandindo o poder governamental sobre a questão (KUSS, 2002). Portanto,
Kuss e Agnew (2008) argumentam que ampliação da agenda de segurança para esferas não-
militares, não necessariamente enfraquece o sistema estatal, podendo, ao contrário reforça-
lo.
Corroborando com esta visão Peter Andreas (2000) argumenta que a vigilância das
fronteiras pode ser vista como um jogo (Border Games) – um esporte performático e orientado
para o público. De acordo com o autor na década de 1990, a integração por meio do Tratado
Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA, sigla em inglês), demandou o aumento dos
aparatos de segurança nas fronteiras para reafirmar simbolicamente a soberania territorial
dos Estados Unidos. A abertura aos fluxos econômicos exige que a fronteira pareça fechada
para os fluxos ilegais.
Com efeito, podemos inferir que o aumento dos fluxos tanto legais como ilegais, bem
como os processos de integração levaram a um enfraquecimento da soberania do Estado
moderno e o questionamento de sua centralidade no ordenamento da vida de suas
populações. Assim, o Estado se vê diante da necessidade de reafirmar sua centralidade e
controle do território, nesse sentido, o discurso de ameaças e a territorialização destas, por
meio de ações políticas de cunho territorial como a construção de muros e o aumento
vigilância das fronteiras, empodera este ator. Tal quadro também pode ser observado quando
examinamos o caso brasileiro, como será feito a seguir.
A Questão das Fronteiras na Agenda de Segurança e Defesa Brasileira
As fronteiras têm ganhado cada vez mais destaque na agenda política brasileira, o que
tem gerado novas formas de gestão política dos espaços fronteiriços, por parte do governo
federal (em articulação com os governos dos estados) que combinam os elementos de
afirmação da soberania e de defesa do território com preocupações específicas relativas à
segurança pública – como tráfico de drogas e de armas, o contrabando, etc. (ALVAREZ;
SALLA, 2013).
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Com efeito, esta resposta política também se articula com movimentos de
securitização mais amplos, como as Guerra às Drogas2. Sem embargo, ainda que o Brasil
não tenha aderido à temática da Guerra às Drogas e depois sua associação ao terrorismo,
observamos no Brasil um aumento da preocupação com os problemas de segurança
regionais, preponderantemente com a criminalidade transnacionacional, destacadamente
com o narcotráfico, à medida que este se colocou como um tema iminente na agenda de
segurança pública do país.
Não obstante, evidencia-se, também, que as questões de afirmação e defesa da
soberania, tão marcantes em períodos anteriores, passam a ter uma nova composição que é
atravessada cada vez mais pela ameaça das ações criminosas transfronteiriças (ALVAREZ,
SALLA). Nesse sentido podemos citar o Projeto Calha Norte (PCN) e o Sistema de Vigilância
da Amazônia (SIVAM).
O Projeto Calha Norte foi criado em 1985, com o objetivo de manter a soberania na
Amazônia, por meio da presença militar, e em 1997 se transformou em Programa Calha Norte.
O Programa busca aumentar a presença do poder público na região amazônica, contribuir
para a defesa nacional e proporcionar assistência as suas populações nas fronteiras
(ALVAREZ; SALLA, 2013).
Como prosseguimento das ações que visavam garantir o controle da Amazônia foi
proposto o SIVAM. Tal projeto teve como origem a Exposição de Motivos nº 194 do Ministério
da Aeronáutica, da Secretária de Assuntos Estratégicos e do Ministério da Justiça, ao então
presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) no ano de 1990, sobre a necessidade de
haver um sistema eficiente de produção e processamento de informações qualificadas sobre
a região amazônica. A implementação do projeto foi concluída em 2005, mas o sistema
começou a operar em 2002, parcialmente inaugurado.
Para Becker (2002), a implementação do SIVAM seria uma resposta ao processo de
militarização na América Central e na fachada sul-americana do Pacífico, com uma crescente
presença dos Estados Unidos nos Andes. Há que se atentar também para o fato de que
grande parte dos radares do SIVAM estão alocados dentro da faixa de fronteira e estes têm
alcance de trezentos quilômetros, o que demonstra que já havia a preocupação em resguardar
o espaço fronteiriço no projeto.
Ademais, podemos inferir que a Lei do Tiro de Destruição que permite a derrubada por
parte da Força Aérea de aeronaves suspeitas de atividades ilícitas que adentrem o espaço
2 Buzan e Waever chamaram a securitização em escala sistêmica de macrossecuritização. O que diferencia a macrossecuritização de um processo normal de securitização é que esta ocorre além do nível médio e pela construção de um pacote de processos securitizados, geralmente a um nível mais baixo, que são incorporados em uma ordem mais alta e ampla. Ao mesmo tempo que impõe hierarquias a outros níveis mais baixos, como os Estados, dependendo o caso, pode incorporar, e subordinar também, outras securitizações, como fez a Guerra ao Terror com a Guerra às Drogas (VILLA, 2014).
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aéreo brasileiro, é um indicativo de maior securitização da fronteira. Tal lei tem relação direta
com o SIVAM, tendo em vista a concepção do sistema e as funções que desempenharia. Com
a modernização do sistema de defesa aérea e controle do tráfego aéreo, comprovou-se que
os ilícitos adentram em território brasileiro principalmente por via aérea, e também que esses
ilícitos são transportados em pequenas aeronaves provenientes de nossos vizinhos
amazônicos (MARQUES, 2007).
Ao longo dos anos 2000, a ênfase do governo federal em relação à fronteira fica mais
clara e está passa a ganhar mais relevância nas diretrizes de defesa, bem como são lançados
planos e programas com o intuito de reprimir os delitos fronteiriços. Nesse sentido, as Forças
Armadas entram decisivamente no enfrentamento das questões dos crimes que marcam as
áreas de fronteira no mundo contemporâneo, da mesma forma que as forças de segurança
pública, como as polícias estaduais (ALVAREZ; SALLA, 2013).
As Forças Armadas ganham novas funções no espaço fronteiriço, sendo investidas
com poder de polícia na faixa de fronteira, primeiramente o Exército em 2004, através da Lei
Complementar 117, que depois se estende as demais forças em 2010, tal lei dispõe:
Cabe ao Exército Brasileiro, além de outras ações pertinentes, [...]: V – atuar, por meio de ações preventivas e representativas, na faixa de fronteira terrestre, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, [...].” (Art. 17A, inciso IV, da Lei Complementar Nr 97, de 09 de junho de 1999).
Com base no mapa abaixo, podemos perceber a ênfase da atuação do Exército
Brasileiro na faixa de fronteira, com a ampliação dos Pelotões de Fronteira. É importante
salientar que na região amazônica, tendo em vista sua geografia, em algumas dessas áreas
a única forma do Estado se fazer presente é por meio das Forças Armadas, sendo assim
também uma questão de garantia da soberania.
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Mapa 1: Pelotões de Fronteira
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Dessa maneira, as Forças Armadas são chamadas a atuar em questões de segurança
pública. Assim, podemos observar que a ênfase em ameaças irregulares confunde questões
de defesa com problemas de segurança pública, uma vez que esta tem se colocado como um
imperativo para os países da América do Sul, tendo em vista os altos níveis de violência e
criminalidade.
Não obstante, tais iniciativas são igualmente respostas às tensões políticas que
pautam o debate sobre o abandono da faixa de fronteira, a necessidade de defesa das
fronteiras, de um controle mais estreito dos crimes transnacionais, de um controle maior sobre
os fluxos econômicos ilegais (como contrabando e narcotráfico) e de população. Nesse
sentido, além das demandas por maior presença das Forças Armadas no espaço fronteiriço,
reafirmando seu papel de defesa da soberania do Estado, o controle sobre os fluxos – de
pessoas e mercadorias – tornou-se um dos mais destacados alvos das tensões no debate
político sobre as fronteiras no Brasil (ALVAREZ; SALLA, 2013).
Por conseguinte, notamos que as fronteiras brasileiras não aparecem hoje como uma
questão de segurança nacional, mas de segurança pública. Tal percepção advém do fato de
que a fronteira é percebida como uma zona periférica por onde entram ilícitos que trazem
problemas de segurança pública para as grandes cidades, sendo caracterizada pelo discurso
corrente como um lugar do crime (DORFMAN, 2013).
Dentro desta lógica, foi lançado em 2011, o Plano Estratégico de Fronteira (PEF),
tendo como objetivo geral a prevenção, controle, fiscalização e repressão de delitos
transfronteiriços e dos delitos praticados na faixa de fronteira (BRASIL, 2011). Dentro do
escopo do PEF, foi lançada a Operação Ágata sob a coordenação do Ministério da Defesa e
do Comendo do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA). A execução cabe a
Marinha, ao Exército e a Força Aérea Brasileira (FORÇA AÉREA BRASILEIRA, 2013). Além
das Forças Armadas, participam da operação cerca de 30 agências nos níveis federal,
estadual e municipal, entre ministérios, agências reguladoras e órgãos de fiscalização e
segurança.
Ainda no âmbito do PEF, há operações de menor envergadura, como a Operação
Sentinela, coordenada pela Polícia Federal e formada pela Polícia Rodoviária Federal, Força
Nacional de Segurança e Brigada Militar do Rio Grande do Sul (POLÍCIA FEDERAL, 2012),
que ocorre de forma continua, diferentemente da Operação Ágata que acontece de maneira
esporádica. Ademais, ocorrem outras operações desdobradas pelos diversos órgãos de
segurança federais e estaduais.
No espectro da segurança pública foi proposto em 2012, a Estratégia Nacional de
Segurança Pública na Fronteira (ENAFRON) em articulação com o Plano Estratégico de
Fronteira. Esse plano busca a criação de mecanismos para coordenar de maneira mais efetiva
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as ações dos órgãos públicos na faixa de fronteira, com o intuito de diminuir a criminalidade
e o tráfico de ilícitos.
Sem embargo, o projeto mais ambicioso para a fronteira está dentro das diretrizes da
Estratégia Nacional de Defesa, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras
(SISFRON), conduzido pelo Exército Brasileiro, sendo este um importante projeto para a
modernização do Exército Brasileiro. Tal proposta visa dotar este de meios para a presença
efetiva na faixa de fronteira brasileira, além de uma rede de sensores que produzirá
informações para a tomada de decisões interagências.
Não obstante, notamos que a vigilância das fronteiras tem se tornado uma das
principais funções do Exército Brasileiro na contemporaneidade, ao olharmos a atuação do
Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas fica claro está situação, sendo uma das ações
mais importantes do órgão a coordenação da Operação Ágata.
Analisando a atuação das Forças Armadas na segurança pública, Saint Pierre (2011)
argumenta que ante as debilidades institucionais de alguns países do continente, a
desconfiança no sistema policial e, em alguns casos, também no judiciário, somadas ao
horizonte histórico temporal limitado, em geral a quatro anos, que preocupa a classe política
(até o próximo processo eleitoral), muitas vezes as respostas institucionalmente adequadas
se tornam politicamente ineficientes, e a resposta militar demasiadamente atrativa. Com
efeito, as novas ameaças, nem requerem nem admitem uma guerra como resposta,
normalmente exigem uma boa situação econômica e consistência institucional por parte do
Estado e, sobretudo, tempo.
Por outro lado, ainda que comprovadamente ineficazes com relação à solução
reclamada pelos novos “desafios”, as Forças Armadas, por sua capacidade de mobilização,
de manobra e amplitude logística, permitem respostas quase imediatas e espetaculares.
Colocadas nas ruas, elas provocam uma “sensação de segurança” ao cidadão que permite
recuperar os “bons níveis de aceitação popular” que interessa aos políticos e ao governo,
embora em nada mude os índices de violência ou a repressão ao crime organizado (SAINT
PIERRE, 2011).
Assim, podemos observar que a militarização da fronteira pode ser uma saída
tentadora politicamente, mas não necessariamente a mais eficiente. Para Raza (2014), a
presença contemporânea de mais atores no espaço geográfico que incluem desde o governo
dos Estados, comunidades locais até grupos transnacionais, cria um ambiente diferente que
demanda uma abordagem não mais simplesmente baseada na ação militar.
Não obstante, não podemos deixar de citar que o governo brasileiro também tem
articulado políticas para o desenvolvimento da faixa de fronteira, como a Política Nacional de
Desenvolvimento Regional (PNDR) e a Comissão Permanente para o Desenvolvimento e
Integração da Faixa de Fronteira. Contudo, no que tange as estratégias voltadas para a
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segurança há uma baixa articulação com as iniciativas citadas, tendo uma ênfase maior no
aspecto militar.
Dessa maneira, ainda que pesem as restrições orçamentárias no desenvolvimento dos
projetos de segurança citados alhures, o Estado brasileiro tem investido na construção de
muros virtuais na fronteira, como mostra o projeto SISFRON. No entanto, esta atitude
evidencia o uso político do território, no sentido de afirmação da capacidade do Estado.
Considerações Finais
As fronteiras brasileiras é um caso sui generis, pois o país apresenta uma grande
diversidade em relação às suas fronteiras, devido sua grande extensão da faixa de fronteira
que conta com 16.886 quilômetros de fronteira terrestre, sendo 7.363 km em linha seca e
9.523 km em rios, lagos e canais ao longo de 11 estados da federação, que fazem divisa com
10 países da América do Sul.
O parágrafo acima mostra a complexidade das fronteiras brasileiras e a dificuldade em
resguardar tão vasto território. Dessa maneira, em vista das deficiências institucionais do
Estado brasileiro se tornou corrente o discurso do abandono das fronteiras, criando a imagem
deste espaço como um lugar do crime, uma zona por onde adentram ilícitos que prejudicam
a situação da segurança pública nos grandes centros urbanos.
Assim, o Estado se vê na necessidade de responder politicamente a essas pressões.
Dessa maneira, assistimos, com maior ênfase a partir dos anos 2000, a securitização das
fronteiras brasileiras. Não obstante, podemos inferir que este movimento é parte de um
processo mais amplo que abrange a mudança no tratamento das fronteiras internacionais,
também relacionado com a reorganização das Forças Armadas no pós-Guerra Fria e os
processos de macrossecuritização da Guerra às Drogas e a Guerra ao Terror. Ainda que o
governo brasileiro não tenha aderido a essas macrossecuritizações, estes criam pressões.
Nesse sentido, o governo brasileiro empreendeu uma série de projetos e planos para
a zona de fronteira. Porém, tendo em vista as diversas ações empreendidas pelo governo
brasileiro, expostas alhures, notamos que há uma sobreposição entre assuntos de defesa e
segurança pública que tem levado a uma certa desarticulação entre os planos para a fronteira,
haja vista a diversidades de atores institucionais que atuam neste espaço.
Assim, percebemos que embora constitucionalmente a vigilância das fronteiras seria
de responsabilidade da Polícia Federal, no âmbito do Ministério da Justiça, porém, é
amplamente sabido que tanto a Polícia Federal quanto a Receita Federal não contam com
aparatos (humanos e técnicos) para executar suas funções constitucionais. Esta debilidade
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institucional leva a participação cada vez maior do Exército nesta seara, considerando, que
este não tem uma missão clara, haja vista que em sociedades sem ameaças concretas
iminentes, para que os assuntos de defesa sejam adequadamente equacionados, uma vez
que os processos normais de uma democracia na paz, tendem a subestimar as necessidades
de defesa em favor de outras demandas mais prementes, como a vigilância das fronteiras,
para coerção do crime organizado transnacional.
Dessa maneira, no Brasil em vista da necessidade de o Estado afirmar o seu controle
sobre os territórios e a escassez de recursos, observamos que a saída política de utilização
das Forças Armadas para este fim, se tornou atrativa, haja vista a visibilidade e impacto
político que estas geram.
Porém, o aumento da atenção para com as fronteiras, também desperta o interesse
por recursos em outras instituições governamentais. Isto posto, neste espaço há uma
constelação de órgãos públicos que atuam, ministérios, outras entidades federais, estaduais
e municipais. Dessa maneira tratar de fronteiras no Brasil, todavia, é se envolver em uma
espécie de zona cinzenta, haja vista os diversos interesses que circundam as atividades em
tais regiões.
Dessa forma, ainda o Brasil tenha aumentado os aparatos de segurança na fronteira,
este tem sido feito de maneira inerentemente falha, uma vez que são lançados diferentes
planos envolvendo uma série de atores institucionais, porém sem ordenar a atuação conjunta
destes, levando há uma baixa otimização dos recursos.
Assim, no Brasil assistimos a reafirmação do Estado por meio de políticas territoriais
para a gestão dos espaços fronteiriços. No entanto, estas são poucos efetivas no combate à
criminalidade transnacional, por um lado porque ameaças transnacionais demandam
estratégias não pautadas somente em preocupações de segurança, mas que abranjam
também questões sociais e de desenvolvimento. E por outro lado, por conta da baixa
articulação interinstitucional, o que se constitui na nossa realidade uma questão premente
haja vista a necessidade de otimizar os recursos.
Com efeito, inferimos que no Brasil, há uma funcionalidade na securitização das
fronteiras, com base na ameaça do crime transnacional, abrindo um leque para políticas de
gestão desses territórios que afirmam a soberania do Estado, uma vez que este passa a ser
questionado por esses fluxos.
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Referencias
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