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IX ENABED Forças Armadas e Sociedade Civil: Atores e Agendas da Defesa Nacional no Século XXI 06 a 08 de julho de 2016 Florianópolis - UFSC PRODUTOS DE ALTA TECNOLOGIA COMO FATORES DE INTEGRAÇÃO COMERCIAL, GERAÇÃO DE RIQUEZA E PROJEÇÃO DE PODER: OS DESAFIOS DO PROJETO EMBRAER KC 390, UMA OBSERVAÇÃO GEOPOLÍTICA. Antonio Rodrigues da Silva Universidade da Força Aérea - RJ

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IX ENABED

Forças Armadas e Sociedade Civil:

Atores e Agendas da Defesa Nacional no Século XXI

06 a 08 de julho de 2016

Florianópolis - UFSC

PRODUTOS DE ALTA TECNOLOGIA COMO FATORES DE INTEGRAÇÃO

COMERCIAL, GERAÇÃO DE RIQUEZA E PROJEÇÃO DE PODER: OS DESAFIOS

DO PROJETO EMBRAER KC – 390, UMA OBSERVAÇÃO GEOPOLÍTICA.

Antonio Rodrigues da Silva – Universidade da Força Aérea - RJ

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Produtos de alta tecnologia como fatores de integração comercial, geração de

riqueza e projeção de poder: os desafios do projeto EMBRAER KC – 390, uma

observação geopolítica.

High-tech products as trade integration factors, wealth generation and

projection of power: the challenges of the project EMBRAER KC - 390, a

geopolitical observation.

RESUMO

Este artigo é uma análise da importância dos produtos de alta tecnologia para os países desenvolvidos

no que tange os aspectos da nova geopolítica. Com abordagens que vão do uso destes no período da

segunda revolução tecnológica até os dias de hoje. Considera, ainda, que a posse de uma tecnologia

exclusiva, de parte de uma nação, possibilita a obtenção de riquezas em seu produto interno bruto, a

integração à comunidade internacional e a projeção do país como líder em segmento. Ressalta

aspectos do programa EMBRAER KC-390.

Palavras-chave: Produtos de alta tecnologia, Nova Geopolítica, Crítica Social. Teorias econômicas.

Relações internacionais. Diferencial competitivo.

ABSTRACT

This article is an analysis of the importance of high-tech products to the developed countries regarding

the historical, geopolitical and relational aspects. With approaches ranging from the use of these in the

period of the second technological revolution to the present day. It also considers that the possession

of an unique advanced technology by a nation, enables the achievement of wealth in its gross domestic

product, the integration with the international community and the projection of the country as a leader in

the segment.

Keywords: High-tech products, New Geopolitics, Social Criticism. Economic theories. International

relationship. Competitive advantage.

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INTRODUÇÃO

Os produtos de alta tecnologia representam uma parcela muito grande nos

ganhos dos produtos internos brutos (PIB) dos países desenvolvidos.

Oriundos da pesquisa e desenvolvimento das organizações de países

desenvolvidos, as patentes destes itens são os diferenciais competitivos com que os estados

nacionais modernos se distinguem dos em desenvolvimento ou daqueles chamados de

“terceiro mundo”.

Na história da humanidade, observa-se que estas espécies de equipamentos

(caravelas, bússola, astrolábio, aviões, radares, carros de combates, foguetes, bombas,

mísseis, avião supersônico, tele guiamento de mísseis, instrumentos de voo e navegação)

estiveram presente em cada passo de descoberta, conquista ou influência das civilizações.

Economicamente, é possível efetuar medições da acumulação de receita

financeira que estes materiais possibilitaram aos países ao longo da história recente; e,

geopoliticamente, há a possibilidade de perceber quão importante a relação produtos de alta

tecnologia e Relações Internacionais influi na defesa de interesses das nações e na forma

como elas se associam e se classificam.

Nesse contexto é que se insere o desenvolvimento do Projeto KC-390, um

produto de alta tecnologia da Empresa Brasileira de Aeronáutica DEFESA E SEGURANÇA

(EMBRAER), para competir em um segmento militar onde a empresa Lockheed Martin, dos

EUA, é a líder.

Uma aeronave de transporte de carga e reabastecimento em voo de alta

performance desenvolvida em parceria com a Argentina, Colombia, Chile, República Tcheca,

Suécia e Portugal, com produtos agregados referentes a sistemas de estrutura, voo, radar e

armamento, cuja expectativa é a absorção técnica, não só da produção dos itens maiores

independentes e dos menores dependentes mas dos sistemas internos de operação e

integração, os chamados códigos fontes.

A obtenção destas capacidades científicas de parte das empresas brasileiras e

o desenvolvimento de políticas internas e externas serão capazes de garantir um diferencial

competitivo ao país, capaz de projetá-lo no cenário internacional e consolidá-lo perante a

comunidade de países, especialmente, na América Latina?

1 TEMA E METODOLOGIA

Este artigo aborda tema ligada às Forças Armadas, Estado e Sociedade (AT5).

Pautado em uma pesquisa documental e bibliográfica, realizou-se uma análise

geopolítica dos efeitos que o desenvolvimento do Projeto KC-390, um produto de alta

tecnologia da empresa brasileira EMBRAER Defesa e Segurança, e seus produtos agregados

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podem garantir um diferencial competitivo ao país, capaz de projetá-lo no cenário

internacional e consolidá-lo perante a comunidade de países, especialmente, na América

Latina.

Para clarificar a inquietação do assunto, identificou-se as características dos

produtos de alta tecnologia e sua relação com a revolução tecnológica ocorrida no fim dos

anos de 1990.

E sua relação com os estados nacionais quanto ao seu uso como ferramenta

capaz de enriquecer as nações e diferenciá-las em ricas e pobres, países desenvolvidos e

subdesenvolvidos.

Destacou-se também a crítica social, a teoria econômica vigente e as relações

internacionais capazes de providenciar as parcerias que atendam aos desejos nacionais de

liderança mundial ou regional.

Estudou-se a estratégia nacional de defesa e indicou-se aspectos da política

interna utilizada para dinamizar as ações no país e as empresas que aderiram ao programa

do governo brasileiro no ano de 2012.

Coletadas as informações e os conhecimentos, dados qualitativos e

quantitativos que foram tratados e interpretados, com as resultantes sendo contextualizadas

conforme suas correlações e organizadas sob a forma de gráficos, aglutinando todos os

efeitos observados para os produtos de alta tecnologia e Geopolítica.

Apresentou-se gráficos com rankings de países, relacionando os PIB per

capita, valor de exportação de produtos de alta tecnologia, valor agregado bruto por setor da

economia, gastos militares em porcentual do PIB e exportação de alta tecnologia em

porcentual dos produtos manufaturados.

Cabe assinalar que este trabalho teve como limitações o fato de ter se

restringido a uma quantidade muito pequena de informações à respeito do EMBRAER KC-

390 disponível na bibliografia e mídia digital e o encaixe temporal dos dados quantitativos dos

gráficos obtidos do Banco Mundial do ano de 2012.

2 DESENVOLVIMENTO

Os produtos de alta tecnologia, nos dias de hoje, são considerados como

estratégicos pelas nações de primeiro mundo, pois a sua comercialização e utilização

projetam efeitos que atuam sobre o produtos internos brutos (PIB), o desenvolvimento político-

econômico-social e a projeção de poder às diversas regiões do mundo.

Característicos da terceira revolução tecnológica, ocorrida a partir dos anos de

1990 e patrocinados pelos países desenvolvidos e suas empresas multinacionais por meio de

pesquisas. Eles representam o resultado da busca das corporações, em pesquisa e

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desenvolvimento, na procura pelos diferenciais competitivos nos setores em que atuam

(gráfico 1).

Gráfico 1: Ranking 2012 de países pela exportação de alta tecnologia em % dos manufaturados

Fonte: Banco Mundial, gráfico inserido em pesquisa disponível em http:// http://www.deepask.com/goes?page=Veja-ranking-de-paises-pela-exportacao-de-alta-tecnologia-em--porcento-dos-manufaturados

Nas regiões onde são internadas trazem investimento financeiro em forma de

capacidades instaladas, aquisição de máquinas e ferramentas e treinamentos para a mão de

obra envolvida direta e indiretamente na cadeia produtiva. O país enriquece e ganha projeção

internacional, a sociedade se especializa com ganhos na educação e cultura (gráfico 2).

Gráfico 2: Ranking 2012 de países pelo Produto Interno Bruto - PIB per capita

Fonte: Banco Mundial, gráfico inserido em pesquisa disponível em http:// http://www.deepask.com/goes?page=Veja-ranking-de-paises-pelo-Produto-Interno-Bruto---PIB-per-capita

As tecnologias surgidas neste período se diferenciam dos materiais e

equipamentos gerados nos séculos XIX e primeiro quartil do século XX.

Em relação ao fenômeno tecnológico anterior, Gorender (1995, p.93-112) foi

categórico em afirmar que “ (...) Se a tecnologia característica da segunda revolução

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tecnológica se encontrava difundida e (...) acessível (...) o mesmo, de modo algum, se dá com

a tecnologia característica da revolução posterior, (...)”.

As empresas transnacionais detentoras das patentes especializadas e as

expertises funcionais de um item componente ou um conjunto maior ou, ainda, o software

operacional que viabiliza as funções destes equipamentos e sistemas os mantém reservados,

em segredo industrial. Em consequência, a posse exclusiva do conhecimento capaz de

produzir radares meteorológicos, instrumentos digitais de navegação e voo de veículos e

aeronaves, bem como, armamento guiado por laser ou satélite ou sistema de comunicação

conectados com operadores em terra representa uma vantagem empresarial diante da

concorrência internacional.

E é essa distinção comercial que destacam as organizações no ambiente

competitivo, as enriquecem e as colocam na vanguarda das pesquisas por novos produtos e

serviços, apoiados nas políticas internas de seus países-matrizes.

Os Estados nacionais desenvolvidos apoiam suas empresas de produtos de

alta tecnologia e realizam aportes financeiros apoiados em uma política comercial agressiva

que possibilitam um retorno vantajoso para o PIB em valores absolutos (Gráfico 3).

Gráfico 3: Ranking 2012 de exportações de produtos de alta tecnologia. Fonte: Banco Mundial, gráfico inserido em pesquisa disponível em

http://www.deepask.com/goes?page=Veja-ranking-de-paises-pela-exportacao-de-produtos-de-alta-tecnologia

Em 2014, os EUA investiram o equivalente a 4% de seu PIB de 2013 na

produção de itens de alta tecnologia e garantiu ao fim do ano um share de 22% no total

arrecadado.

O reconhecimento a nível mundial da importância destes componentes de alta

tecnologia como elementos catalisadores de riquezas, desenvolvimento e projeção de poder

traz à tona da realidade brasileira uma análise situacional complexa com reflexos para o país

como um todo.

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Esta indica que sua obtenção e o desenvolvimento de produtos de alta

tecnologia só será possível de ser obtida com o entendimento das relações internas entre os

governos e as empresas que amalgamam o comércio e a indústria, assim como, das

influências externas e a representatividade que estas últimas projetam.

Faz-se mister entender os aspectos relacionados à geopolítica moderna e à

formação de uma síntese tendo por base os fatores que se apresentam neste amplo cenário,

em que o Brasil com a EMBRAER, por exemplo, no ramo de produção de aeronaves de médio

e grande porte, no novo século, passou de figurante a personagem secundário, com

possibilidades reais de galgar o papel principal mundial.

Porque a geopolítica como conhecemos atualmente vai além da compreensão

das características geográficas de um Estado, como localização, território, recursos e

topografia naturais, população, ecologia, meio ambiente e os processos políticos dominantes.

Para a pós-doutora Bertha Becker, renomada geógrafa brasileira:

A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de pressões de todo tipo, intervenções no cenário internacional desde as mais brandas até guerras e conquistas de territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujeito fundamental o Estado, pois ele era entendido como a única fonte de poder, a única representação da política, e as disputas eram analisadas apenas entre os Estados. (Bertha Becker, 2004, p.71).

A observação anterior, em caráter micro, regional dos estados nacionais,

evoluiu e assume atualmente um aspecto envolvente macro, que se expande para abranger

também o encontro dos povos como civilizações, o entendimento das disparidades

antropométricas norte-sul e os aspectos impulsionadores ligados à globalização e finanças

que a todos interessam no “jogo de poder e domínio” internacional.

A Geopolítica se expandiu ao longo dos anos para um campo de conhecimento

multi e interdisciplinar que se utiliza da Teoria Política, Geologia e Geografia associadas às

Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas para intuir os comportamentos das nações

no cenário relacional mundial, agora dinamizada pelos interesses econômicos globais.

Sobre o entendimento conceitual de geopolítica no período em que se formou,

chamado de tradicional ou inicial, fim de século XIX e início do XX, por Rudolph Kjellén,

Friedrich Ratzel, Karl Haushofer, Alfred T. Mahan, Halford J. Mackinder, Nicholas J. Spykman

e Everett Carl Dolman. Ela se caracterizava pela forte presença física da ação do Estado,

agindo com base no direito do forte sobre o fraco (o darwinrismo social adaptado no fim do

século XIX para a observação das sociedades) pautado na presença fronteiriça de grandes

massas populacionais.

O avanço dos países de época, principalmente nos séculos XIX e XX, além de

seus territórios em ação de dominação do Estado sobre o espaço de outros povos, ficava

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legitimada pelo conceito de permeabilidade das fronteiras e pelo desejo das massas imigradas

para estes países próximos.

A ratificar esta projeção de poder das nações, a definição de fronteira de

Friedrich Ratzel (1897 apud WANKLYN, 1961), onde as caracterizou como reflexo de sua

força e crescimento e a força econômica da indústria dos Estados, impulsionada pela

aplicação, cada vez maior, de tecnologias recém descobertas e divulgadas a todos os “atores”

mundiais na segunda revolução tecnológica. Estas materializando-se em novas embarcações

e veículos terrestres, aviação e organização das grandes cidades, o que facilitou

sobremaneira a investigação de novas e potenciais geração de riquezas em todo o planeta.

Na primeira metade do século XX os produtos tecnológicos já apresentavam

seu caráter diferenciador de apoio nas conquistas e projetou-se como veio de fortalecimento

econômico-financeiro capaz de ampliar este poderio.

Mas na chegada do novo milênio este viés estratégico se alterou.

Com o fomento das relações internacionais, que ganharam foco e importância,

visto as tensões que se observou com os grandes conflitos mundiais ocorridos a partir de

1870, com a Guerra Franco-Prussiana, Primeira e Segunda Guerras Mundiais (de 1914-18 e

1939-45, respectivamente) e guerras da Coréia (1950) e Vietnam (1955-75), estas últimas

relacionadas à “Guerra fria”.

As refregas ocorridas por último, já no contexto da bipolaridade mundial,

representaram a materialização da dualidade capitalismo-comunismo que duraria até a queda

do muro de Berlim em 1989 e o fim da segunda revolução tecnológica.

Ao lembrar do mundo bipolar, é importante para o entendimento do conceito

atual de Geopolítica, voltar a atenção para a conferência mundial de nações aliadas em 1944,

em Bretton Woods, New Hampshire - EUA que reuniu além do anfitrião, Canadá, França e

Inglaterra para discutir temas ligados às futuras relações comerciais e financeiras entre

estados independentes após o segundo conflito mundial, e na qual concluíram pela

necessidade do surgimento de instituições para regular as reconstruções dos países

destruídos e o novo ordenamento financeiro mundial, pautada no padrão moeda como lastro

relacional das nações.

Deste marco e do impasse que se seguiu até o fim da segunda revolução

tecnológica muitos paradigmas foram abandonados, novos conceitos e teorias foram testados

ou adaptados. Todos compartindo experiências de forma voluntária, principalmente o Japão

e a Alemanha, ou de forma coercitiva, como os países do “terceiro mundo”.

Os produtos de alta tecnologia surgidos na terceira revolução tecnológica,

novos mísseis, aviões-conceitos, sistemas de comando e controle de voo impulsionam as

economias dos países desenvolvidos, geraram um “abismo” científico em relação aos países

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atrasados ou em desenvolvimento e esta situação atrai a crítica e a observação dos teóricos

pré-novo milênio.

Os países socialistas não se re-estruturaram com a “Perestroika” de Mikhail

Gorbachey (1985) e o mundo pareceu perder a referência de forças anteriores, mas não

deixou de refletir sobre os fenômenos que as relações internacionais sofriam.

A crítica social regional e global, as teorias econômicas predominantes e as

adaptações nas relações internacionais com a formação de blocos de comércio ganharam

importância a partir deste período.

As relações das sociedades foram categorizadas:

A revolução tecnológica alargou consideravelmente a distância entre países desenvolvidos e países atrasados em matéria de ciência e tecnologia. (...) Esta se correlaciona com grandes investimentos em pesquisa científica, só factíveis aos governos dos países desenvolvidos e às empresas multinacionais. (Gorender, 1995, p.93-112).

A esta juntam-se aspectos econômicos destacados em Bretton Woods e que

para Fiori (2007) representam na modernidade a conquista de territórios pela imposição dos

“Estados-economias nacionais” de suas moedas e capitais privados.

Nessas condições, o fosso que separa países desenvolvidos de países

atrasados se mantém na medida que os investimentos estrangeiros representam apenas o

aproveitamento de oportunidades comerciais, vedando-se a difusão de conhecimentos que

possibilitariam a autonomia técnica e, consequentemente, econômica.

Os Estados nacionais de Terceiro Mundo apenas sobrevivem, exportando, na

sua maioria, commodities (gráfico 4) e postergando os projetos de desenvolvimento.

Gráfico 4: Ranking 2012 de países pela exportação de alta tecnologia em % dos manufaturados

Fonte: Banco Mundial, gráfico inserido em pesquisa disponível em http:// http://www.deepask.com/goes?page=Veja-ranking-de-paises-pela-exportacao-de-alta-tecnologia-em--porcento-dos-manufaturados

O Brasil tem procurado atuar, no comércio exterior, com uma estratégia

de global trader. Encontra-se, contudo, limitado pelo fato de possuir no seu portfolio de

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exportações um percentual muito baixo de produtos tecnológicos de ponta (gráfico 5),

precisamente aqueles de maior incremento mundial (Velloso & Fritsch, 1994; Thorstensen,

1994).

Gráfico 5: Ranking de valor agregado bruto por setor. Fonte: Banco Mundial, gráfico inserido em pesquisa disponível em http://

http://www.deepask.com/goes?page=Levantamento-mostra-participacao-dos-setores-da-economia-no-Valor-Adicionado-Bruto

O Ministério da Defesa brasileiro, por intermédio de sua estratégia nacional de

defesa, tem estimulado a atração e o desenvolvimento de tecnologias por empresas nacionais

homologadas que possibilite a implementação da produção de itens manufaturados de alto

valor agregado, capazes de representar um ganho na balança comercial brasileira (Brasil,

2012).

Para tanto, os planejadores da END buscam parcerias com outros órgãos do

país, públicos e privados, para participarem de programas e tornarem-se capazes de

fortalecer a busca pelas competências necessárias ao setor industrial e a formação de massa

crítica de técnicos e cientistas para a retenção dos conhecimentos e o desenvolvimento de

novos produtos no futuro.

Os princípios que confirmam esta linha de pensamento desenvolvimentista

são:

[...] mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos, para o investimento no potencial produtivo do País. Aproveitar os investimentos estrangeiros, sem deles depender. [...] capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa, como para o desenvolvimento; [...] democratização de oportunidades educativas e econômicas e pelas oportunidades para ampliar a participação popular nos processos decisórios da vida política e econômica do País”. (Brasil, 2012, p.2).

Complementando o fomento de participação neste programa encontram-se os

Ministérios da Defesa, da Fazenda, da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Educação, do

Planejamento, Orçamento e Gestão, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência

da República e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

Em 2015, o Sistema de Cadastramento de Produtos e Empresas de Defesa

(SISCAPED) contabilizava 334 empresas, das quais 63 eram Empresas Estratégicas de

Defesa (EED) e 12, Empresas de Defesa (ED).

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Empresas como a EMBRAER Defesa & Segurança, AVIBRAS, CONDOR,

EMGEPRON, TAURUS, IMBEL, IACIT, BRADAR, CBC, BCA, AEL, JBS, Odebrecht Defesa

e Tecnologia (ODT), ATECH, SKM, Albergo, AMAZUL, KRYPTUS, OPTOVAC, RustCon,

ADVENTURE TECH; SPECTRA; OMNISYS; GLOBAL SUL; SBPA; THINK TANK,

TELEMÁTICA e RF COM foram homologadas como as responsáveis pelo desenvolvimento

de produtos como Comando & Controle, Visão Noturna, Detectores, Radares e Sensores,

Robótica, Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), Mísseis, Aviões, Blindados e

Submarinos.

Enriquecimento que pode aumentar as influências interna e externa e eliminar

a impotência diante dos mercados globalizados que flutuam ao sabor de investimentos

financeiros, sob os preceitos de paradigmas econômicos dos estados nacionais

desenvolvidos.

Teorias econômicas e conceitos relacionais que parecem não terem sido

entendidas pelas nações fora do eixo de controle mundial.

O modelo vigente, o Monetarismo, representa uma adaptação ao

keynesianismo e prevê a estabilidade da economia capitalista por meio de instrumentos

monetários pela relação volume de moeda e meios de pagamento.

O padrão atual vem de uma situação reativa dos países desenvolvidos a

modelos que falharam em períodos anteriores.

As nações já haviam experimentado as ideologias econômicas do

“mercantilismo” (séculos XV a XVIII) e do “liberalismo” (séculos XVI a XVIII). Nesta última, as

ideias defendiam o afastamento do governo do mercado regulador, a livre concorrência e a

lei da oferta e da procura, entendimento oposto de sua predecessora.

Os conceitos liberais de Adam Smith e François Quesnay foram muito

praticados, em especial, pelos EUA nos anos de 1920, período em que despontou como a

economia mais rica do mundo. Entretanto, com a crise de 1929 que quebrou a bolsa de

valores norte-americana, o liberalismo caiu em descrédito e o Estado voltou ao controle das

ações.

A escola keynesiana que surgiu como consequência do fim do Liberalismo

ratificou a função do Estado como agente indispensável do controle da economia. John

Maynard Keynes (1930), como principal teórico deste modelo, destacou a importância da

demanda agregada e justificou o uso de déficits fiscais em momentos de recessão.

O keynesianismo ainda habitava o imaginário de muitos economistas e

governantes mas, notadamente, desde o início dos anos 2000, o Monetarismo predominou,

rejeitando-o e reduzindo a ação do Estado na regulação do mercado capitalista.

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Entretanto, o Estado não se alijou do contexto de interferências na regulação

dos mercados e proteção de seu parque tecnológico. Relembre o papel do governo

estadunidense de Barack Obama na crise de 2008:

[…] O Estado é muito maior do que o mercado. Ele é o sistema constitucional-legal e a organização que a garante; é o instrumento por excelência de ação coletiva da nação. Cabe ao Estado regular e garantir o mercado e, como vemos agora, servir de emprestador de última instância. (Bresser-Pereira, 2009, p.133).

Quanto às adaptações nas relações internacionais, a maioria dos países

inseridos no contexto mundial do comércio e geração de riquezas para suas populações já

haviam reagido com medidas protetoras internas e ações externas para conquistas de

potenciais compradores de seus produtos.

Com o final da Guerra Fria e na ultrapassagem dos anos de 1990 com os

países desenvolvidos na liderança das relações internacionais em virtude, principalmente, dos

conceitos econômicos relacionados ao câmbio e economia e ao uso da globalização, ampliou-

se o alcance das organizações capitalistas.

Sem abandonar os conceitos dos teóricos de início de século XX que

pontuaram como importantes o poder marítimo e o destino da América, a Eurasia e a disputa

pelo coração do mundo (Heartland), o domínio da Eurasia pelas bordas (Rimland) e a

importância da era espacial e o controle da posição orbital da Terra; e as observações dos

sociólogos, historiadores e economistas na chegada ao novo milenio, que ampliaram

sobremaneira a definição de Geopolítica, as nações desenvolvidas, em sua busca contínua

de manutenção da hegemonia mundial passaram a confrontar a realidade de que todos os

países buscam uma melhoria na aquisição das riquezas, um aumento de seus PIBs pelo

investimento em produtos de alta tecnologia, em especial os artigos militares (gráfico 6).

Gráfico 6: Ranking de países pelo gasto militar em porcentagem do PIB

Fonte: Banco Mundial, gráfico inserido em pesquisa disponível em http:// http:// http://www.deepask.com/goes?page=Veja-ranking-de-paises-pela-despesa-militar-(-porcento-do-PIB)

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As nações subdesenvolvidas procuram se associar a outras que possuem certo

grau mais avançado de industrialização para sua proteção e acesso aos produtos de alta

tecnologia, bem como os mercados-alvo nos países mais ricos.

Desta iniciativa surgiram o bloco Brasil-Rússia-Índia-China (BRIC) e o Mercado

Comum Sulamericano (Mercosul), tendo por base as cooperações internacionais já existentes

como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o Tratado

Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) e a Cooperação econômica Asia e Pacifico

(APEC). Esta última respondendo por cerca de 40% do comércio mundial e metade do PIB.

Essas tratativas em acordos tem o objetivo de manter a influência destas

nações em suas regiões e que sofrem grande influência do aporte comercial e financeiro dos

países mais ricos.

Brasil, India, China, Africa do Sul, México e Rússia, entre outros, tentam evitar

um posicionamento global inferior na aquisição das riquezas e consequentemente aumentar

o reconhecimento de suas importâncias no cenário internacional.

Em relação a este aspecto, informou-se a respeito:

Situação mais fragilizada do que a de dependência é, hoje, a da marginalidade. Na situação de dependência, ainda subsiste o vínculo que permite o relacionamento econômico com os países industrializados e a manutenção de atividades produtivas voltadas para o intercâmbio externo. Na situação de marginalidade, esse vínculo deixa de existir ou se torna mesquinho, forçando a retração de setores produtivos básicos. (Gorender, 1995, p.93-112).

Para os países de terceiro mundo, em especial o Brasil, evitar a marginalidade

destacada e buscar a redução e até a eliminação da dependência, passa fundamentalmente

pela aquisição de competências ligadas à educação, que possibilite a melhoria da mão de

obra e ao desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica (P&D).

E ao alcançá-las, alinhá-las estrategicamente com planos econômicos

desenvolvimentistas governamentais direcionados à aquisição de patentes ou expertises,

valendo-se, por exemplo, da globalização e política de comércio exterior.

A parceria produtiva com a Argentina, Portugal e a República Tcheca para a

produção do modelo EMBRAER KC-390 está compreendida nesta linha de ação aquisitiva de

competências técnicas, deiferenciais competitivos para a formação de capital intelectual e a

formação de um parque industrial bélico aeronáutico para atender a um rol de 30 pedidos de

aeronaves militares nos próximos dez anos para equiparem as forças aéreas da Argentina,

Colômbia, Chile, República Tcheca, Suécia e Portugal, além da brasileira.

Uma ação para equilibrar a reserva de mercado interno, o capital nacional

investido e o incentivo às exportações de produtos de alta tecnologia.

Esta foi a linha de ação aplicada pelos chamados Tigres Asiáticos,

principalmente Coréia do Sul e Taiwan, que os projetou como destaque no cenário mundial

como nações muito próximo de serem consideradas desenvolvidas.

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Nações que entenderam o significado da Geopolítica atual e a importância

econômica que os produtos de alta tecnologia representam para o desenvolvimento dos

países e o seu reconhecimento no cenário internacional.

CONCLUSÃO

Entender o mundo, os países e suas relações internacionais com as críticas

sociais e as teorias econômicas consequentes das adaptações das decisões políticas e

culturais internacionais traz oportunidades e desafios, principalmente pelo caráter mutante

dos temas e em virtude dos interesses de cada Estado.

A obtenção destas capacidades científicas de parte das empresas brasileiras e

o desenvolvimento de políticas internas e externas serão capazes de garantir um diferencial

competitivo ao país, capaz de projetá-lo no cenário internacional e consolidá-lo perante a

comunidade de países, especialmente, na América Latina?

Para entender esta inquietação é que se realizou este artigo, utilizando uma

metodologia indutiva de exploração dos dados quantitativos e qualitativos obtidos na pesquisa

bibliográfica e documental para verificar a aplicabilidade dos produtos de alta tecnologia como

geradores de riquezas e a sua utilização política e econômica, como elementos de dominação,

em um viês geopolítico. Estes foram os alvos principais, em virtude de que se observou:

a) Um ciclo sem fim de geração de riquezas pelos produtos de alta tecnologia

nos PIB para as nações desenvolvidas, como visto nas projeções gráficas;

b) A reserva de patentes que é feita pelas empresas transnacionais detentoras

das expertises funcionais de um item ou software operacional;

c) O reconhecimento a nível mundial da importância destes componentes de

alta tecnologia como elementos catalisadores de riquezas,

desenvolvimento e projeção de poder;

d) O alinhamento estratégico de planos econômicos desenvolvimentistas com

a política de comércio exterior.

Ressalta-se que a investigação foi limitada, pois os valores e percentuais

apresentados nos gráficos são relativos a 2012 e são poucos os dados do projeto EMBRAER

KC-390 disponíveis para os pesquisadores.

Quanto à Geopolítica, vê-se que vai além do domínio territorial tradicional,

expandindo-se conceitualmente e causando intervenções por meio das ações dos

conglomenrados transnacionais, em um “jogo de poder e domínio”, tendo incorporou os

aspectos sociais e culturais ligados ao encontro dos povos como civilizações, o entendimento

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das disparidades antropométricas norte-sul e os aspectos impulsionadores ligados à

globalização e finanças.

A permitir este avanço têm-se as definições comerciais e o novo ordenamento

financeiro mundial de Bretton Woods; a terceira revolução tecnológica; e, as Teorias

econômicas: o Monetarismo e neoliberalismo.

Às nações subdesenvolvidas restam a procura de alternativas de associações

em parcerias que permitam a aquisição de know how para o desenvolvimento de produtos

diferenciados no mercado dos países.

É neste viés que o governo brasileiro, através do Ministério da Defesa, busca

a implementação do setor de produtos de material de defesa. Embora o setor de defesa no

Brasil não seja uma prioridade, o país reconhece a importância do segmento como gerador

de riquezas para o PIB.

A produção do modelo EMBRAER KC-390 representa o resgate da indústria

aeronáutica no Brasil, com a formação de capital intelectual e a estruturação de um polo

produtivo aeronáutico.

Uma ação para equilibrar a reserva de mercado interno, o capital nacional

investido e o incentivo às exportações de produtos de alta tecnologia.

Esta foi a linha de ação aplicada pelos chamados Tigres Asiáticos,

principalmente Coréia do Sul e Taiwan, que os projetou como destaque no cenário mundial

como nações muito próximo de serem consideradas desenvolvidas.

Um desafio “hercúleo” se considerar-se as muitas dificuldades que a nova

geopolítica oferece aos países de terceiro mundo.

Meta de médio a longo prazo, que exige planejamento estratégico e que passa

obrigatoriamente pela educação, por planos internos e por políticas de comércio exterior.

Como os já testados pelos “tigres asiáticos”.

Nações que entenderam o significado da Geopolítica atual e a importância

econômica que os produtos de alta tecnologia representam para o desenvolvimento dos

países e o seu reconhecimento no cenário internacional.

O assunto aqui abordado não se esgotou, ainda há muito a se verificar a partir

da interpretação de novas vertentes presentes neste tema ou que com ele tenha correlação.

REFERÊNCIAS

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