iv – resultados: meio fÍsico

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IV – RESULTADOS: MEIO FÍSICO 1. Clima O Planalto Paulistano representa uma região de transição climática, apresentando climas do tipo Cfa, Cfb, Cwa ou Cwb de Köppen (1948) (ver Aragaki e Mantovani 1998). As diferentes classificações ocorrem conforme o período selecionado para a avaliação climática e a delimitação do período de seca (Aragaki e Mantovani 1998). A partir dos dados meteorológicos fornecidos pelo CIIAGRO/IAC para Ibiúna (Figura 4), pode-se caracterizar o clima da área de estudo como temperado quente e úmido, do tipo Cfa (Köppen 1948), com temperatura média mensal do mês mais quente acima de 22 o C e precipitação média do mês mais seco entre 30-60 mm. A precipitação média anual fica em torno de 1340 mm. Os dados climáticos padronizados indicam a existência de uma sazonalidade na região, com uma diminuição na pluviosidade e temperaturas médias entre os meses de abril e agosto, mas sem apresentar déficit hídrico (Figura 4). Segundo dados da SABESP (1997), a área da bacia do rio Cotia é fortemente afetada por diversos sistemas sinóticos, ou seja, frentes frias e linhas de instabilidade. A direção predominante do vento durante todo o ano é SE/SSE, e secundariamente predomina a direção WNW/NW durante o período de maior aquecimento do dia (15 horas local), sendo que as maiores velocidades médias anuais atingem 2,6 m/s (SABESP 1997).

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IV – RESULTADOS: MEIO FÍSICO

1. Clima

O Planalto Paulistano representa uma região de transição climática,

apresentando climas do tipo Cfa, Cfb, Cwa ou Cwb de Köppen (1948) (ver

Aragaki e Mantovani 1998). As diferentes classificações ocorrem conforme o

período selecionado para a avaliação climática e a delimitação do período de

seca (Aragaki e Mantovani 1998). A partir dos dados meteorológicos fornecidos

pelo CIIAGRO/IAC para Ibiúna (Figura 4), pode-se caracterizar o clima da área

de estudo como temperado quente e úmido, do tipo Cfa (Köppen 1948), com

temperatura média mensal do mês mais quente acima de 22oC e precipitação

média do mês mais seco entre 30-60 mm. A precipitação média anual fica em

torno de 1340 mm. Os dados climáticos padronizados indicam a existência de

uma sazonalidade na região, com uma diminuição na pluviosidade e

temperaturas médias entre os meses de abril e agosto, mas sem apresentar

déficit hídrico (Figura 4). Segundo dados da SABESP (1997), a área da bacia

do rio Cotia é fortemente afetada por diversos sistemas sinóticos, ou seja,

frentes frias e linhas de instabilidade.

A direção predominante do vento durante todo o ano é SE/SSE, e

secundariamente predomina a direção WNW/NW durante o período de maior

aquecimento do dia (15 horas local), sendo que as maiores velocidades médias

anuais atingem 2,6 m/s (SABESP 1997).

Figura 4. Precipitação média mensal (mm) e temperatura média mensal (oC) no período de

1962-1992 para a região de estudo. Dados meteorológicos coletados no Posto Meteorológico

de Ibiúna, SP (47°13’W e 23°40’S, 850 m de altitude) distante cerca de 26 km da Reserva

Florestal do Morro Grande (Fonte de dados: CIIAGRO - Instituto Agronômico de Campinas,

SP, www.iac.sp.gov.br).

2. Geologia

2.1. Regional

Hasui (1975) considera o elemento tectônico mais importante na região

a existência de um conjunto de falhamentos sub-verticais (60 a 90o),

denominados, à luz dos conhecimentos teóricos atuais, zonas de cisalhamento

dúcteis (Ramsay e Huber 1983) ocorrendo em grande quantidade no sudeste

brasileiro. São grandes estruturas com centenas de quilômetros de extensão e

espessuras que podem atingir centenas de metros. As principais zonas de

cisalhamento da região são Taxaquara e Caucaia (Figura 5).

A zona de cisalhamento Taxaquara determina a separação de dois

compartimentos: o Conjunto São Roque (ao norte) e o Conjunto Paranapiacaba

(ao sul), permeados por rochas sedimentares cenozóicas (Figura 5).

Na porção norte, no Conjunto São Roque, predomina o Grupo São

Roque, o qual é constituído de uma grande diversidade de rochas com baixo

grau de metamorfismo, como xistos, micaxistos, filitos, metarenitos, mármores

e anfibolitos (Carneiro 1983, Juliani 1992). Nesta unidade, xistos e filitos são as

rochas predominantes em termos de área, mas o que se destaca em termos de

modelado de relevo são as rochas quartzíticas devido a sua resistência ao

intemperismo, configurando os relevos mais proeminentes. Na Região

Metropolitana de São Paulo, o Pico do Jaraguá é o exemplo mais expressivo

(Simões e Goulart 2001).

Na parte sul, no Conjunto Paranapiacaba, predominam as rochas tidas

como constituintes do embasamento do grupo São Roque. O Conjunto

Paranapiacaba é, portanto, constituído principalmente pelo Complexo Embu

(Almeida et al. 1981, Juliani 1992) e corpos graníticos intrusivos. No Complexo

Embu, predominam gnaisses e migmatitos, rochas de médio a alto grau de

metamorfismo. Em menor quantidade ocorrem anfibolitos, mármores e

quartzitos. Na Folha São Roque, os maciços graníticos mais expressivos em

dimensão são os de Jurupará e Caucaia, os quais são truncados pela Zona de

Cisalhamento de Caucaia (Hasui 1975).

As coberturas cenozóicas são compostas de material inconsolidado, em

particular os depósitos aluvionares ao longo das principais drenagens e os

depósitos coluvionares em vertentes.

Na região próxima a Reserva Florestal do Morro Grande, a Zona de

Cisalhamento de Caucaia é o elemento que mais se destaca em termos de

aspectos estruturais. Ela recorta diagonalmente a área em dois conjuntos

distintos. Possui orientação NE-SW, acompanhando a principal foliação

regional com uma largura aproximada de trezentos metros. A influência deste

cisalhamento pode ser vista em afloramento, afetando, por exemplo, os corpos

graníticos expostos (Simões e Goulart 2001).

Simões e Goulart 2001 (2001) destacam uma intensa rede de

fraturamentos na região como outro elemento estrutural muito importante,

formadas a partir de atividades tectônicas tardias. Hasui (1975) considera que

fraturamento e foliação têm um importante papel no condicionamento da

drenagem, principalmente nos níveis hierárquicos mais baixos (cursos d’água

de 1a e 2a ordem). Por outro lado, alguns cursos d’água são, em parte,

controlados pelas intrusões graníticas.

2.2. Local

Foram encontrados sete conjuntos distintos de rochas nas proximidades

da Reserva Florestal do Morro Grande (IPT 1981). Devido à ausência de

mapeamentos detalhados na região, esta foi a base utilizada para a compilação

do mapa geológico ilustrativo (Figura 5):

Eon Criptozóico/Era Proterozóica/Período Proterozóico Superior/(1.000 m. a. – 570 m. a.)

Grupo Açungui - Complexo Pilar (PSp)

PSpX _ quartzo-mica xistos, biotita-quartzo xistos, muscovita-quartzo xistos,

granada-biotita xistos, xistos grafitosos, clorita xistos, sericita-biotita, talco

xistos, magnetita xistos e calcoxistos com intercalações subordinadas de filitos,

quartzitos, mármores, calcossilicáticas e metassiltitos.

Grupo Açungui - Complexo Embu (Pse)

PseM _ Migmatitos heterogêneos de estruturas variadas, predominando

estromatitos de paleossoma xistoso, gnáissico ou anfibolítico; migmatitos

homogênios variados predominando os de natureza homofânica, oftalmítica e

facoidal;

PseB _ com ocorrência subordinada de corpos metabásicos

Grupo São Roque (PSs)

PSsC _ calcários dolomíticos, calcíticos e hornfels calcossilicáticos em aurélas

termo-metamórficas;

PSsF _ filitos, quartzo filitos e filitos grafitosos em sucessões rítmicas, incluindo

subordinadamente metassiltitos e quartzo xistos, micaxistos e quartzitos.

Suítes Graníticas Sintectônicas

Fácies Cantareira (PSc) _ Corpos para-autóctones e alóctones, foliados,

granulação fina a média, textura porfirítica frequente; contatos parcialmente

concordantes e composição granodiorítica a granítica.

Eon Fanerozóico/Era Cenozóica/Período Quaternário/Época Holoceno (1,8

m. a. )

Sedimentos aluvionares Qa _ Aluviões em geral, incluindo areias

inconsolidadas de granulação variável, argilas e cascalheiras fluviais

subordinadamente, em depósitos de calha e/ou terraços.

3. Geomorfologia

3.1. Regional

Segundo a divisão geomorfológica para o Estado de São Paulo realizada

por Almeida (1964), a região da Reserva Florestal do Morro Grande está

totalmente inserida no Planalto Atlântico. Esta se caracteriza como uma região

de terras altas, constituída predominantemente por rochas cristalinas pré-

cambrianas, cortadas por intrusivas básicas e alcalinas mesozóico-terciárias e

pelas coberturas das bacias sedimentares de São Paulo e Taubaté.

Para o detalhamento destas unidades, Almeida (1964) propôs uma sub-

divisão em zonas. Três zonas geomorfológicas contidas no Planalto Atlântico

recobrem a região da Reserva Florestal do Morro Grande: a Serrania de São

Roque, o Planalto de Ibiúna e o Planalto Paulistano, mais especificamente a

região da Morraria do Embu.

A Serrania de São Roque é uma extensa área montanhosa, onde as

maiores altitudes são encontradas na Serra do Japi, com cerca de 1200-1250

metros. Possui composição litológica diversificada, que vai dos metamorfitos de

baixo grau do Grupo São Roque até rochas gnáissicas e migmatíticas com

intrusões graníticas.

O Planalto de Ibiúna é uma pequena unidade do relevo paulista onde o

seu relevo é sustentado por rochas graníticas, gnáissicas e metassedimentos.

É formado predominantemente por granitos relacionados com as mais altas

elevações. Faz limite com a zona serrana de São Roque, ao norte, através da

serra de Taxaquara.

O Planalto Paulistano apresenta relevo suave na parte central com

colinas e áreas de morros cristalinos, com altitude entre 715 e 900 metros,

onde predominam micaxistos. O compartimento referente a Morraria do Embu

compreende terrenos cristalinos que circundam a Bacia Sedimentar de São

Paulo a oeste, sul e leste, com nível topográfico mais elevado e processos de

evolução de vertentes mais dinâmicos. Apresenta relevo de morros e uma rede

de drenagem muito densa.

3.2. Local

Seguindo a divisão de Almeida (1964), a Reserva Florestal do Morro

Grande e o seu entorno, estão incluídas predominantemente no Planalto de

Ibiúna. Ponçano et al. (1981), delimitaram de forma mais detalhada os limites

propostos por Almeida (1964). Na região da Reserva Florestal do Morro

Grande e o seu entorno são apresentados os seguintes sistemas de relevo,

segundo a classificação de Ponçano et al. (1981). Devido à ausência de

mapeamentos detalhados na região, esta foi a base utilizada para a compilação

do mapa geomorfológico ilustrativo (Figura 6):

Formas do Relevo

1. Relevos de Agradação

1.1. Continentais

111. Planícies Aluviais – terrenos baixos mais ou menos planos

junto às margens dos rios sujeitos a inundações periódicas.

2. Relevos de Degradação em planaltos dissecados

2 3. Relevos de Morrotes (predominam declividades médias a altas –

acima de 15% e amplitudes locais inferiores a 100 metros)

231. Morrotes baixos_ relevo ondulado, onde predominam

amplitudes locais < que 50 metros. Topos arredondados,

vertentes com perfis convexos a retilíneos. Drenagem de

alta densidade, padrão em treliça, vales fechados a abertos,

planícies aluviais interiores restritas. Presença eventual de

colinas nas cabeceiras dos cursos d`água principais.

232. Morrotes alongados paralelos_ topos arredondados,

vertentes com perfis retilíneos à convexos. Drenagem de

alta densidade, padrão paralelo ou treliça, vales fechados.

233. Morrotes alongados e espigões_ predominam interflúvios

sem orientação preferencial, topos angulosos a achatados,

vertentes ravinadas com perfis retilíneos. Drenagem de

médio a alta densidade, padrão dendrítico, vales fehados.

2. 4. Relevo de Morros: - predominam declividades médias a altas,

acima de 15%, e amplitudes locais de 100 a 300 metros.

243. Mar de Morros_ topos arredondados, vertentes com perfis

convexos a retilíneos. Drenagem de alta densidade, padrão

dendrítico a retangular, vales abertos a fechados, planícies

aluvionares interiores desenvolvidas. Constitui, geralmente,

um conjunto de formas em “meia laranja”;

244. Morros paralelos_ topos arredondados, vertentes com perfis

retilíneos a convexos. Drenagem de alta densidade, padrão

em treliça a localmente sub-dendrítica, vales fechados a

abertos, planícies aluvionares interiores restritas.

245. Morros com Serras Restritas_ morros de topos

arredondados, vertentes com perfis retilíneos, presença de

serras restritas. Drenagem de alta densidade, padrão

dendrítico, vales fechados, planícies aluvionares interiores

restritas;

2. 5. Relevo Montanhoso (predominam declividades médias a altas –

acima de 15% e amplitudes locais acima de 300 metros).

251. Serras Alongadas_ topos angulosos, vertentes ravinadas

com perfis retilíneos. Drenagem de alta densidade, padrão

paralelo, vales fechados.

5. Relevos de transição

5. 2. Escarpas (predominam declividades altas – acima de 30% -

amplitudes > que 100 metros)

521. Escarpas festonadas_ desfeitas em anfiteatros separados

por espigões, topos angulosos, vertentes com perfis

retilíneos. Drenagem de alta densidade, padrão subparalelo

a dendrítico, vales fechados.

Hipsometria

As altitudes na RFMG estão compreendidas entre 860 e 1075 metros,

resultando numa amplitude máxima de apenas 215 metros. A porção sul -

região de cabeceira dos rios Cotia e Capivari - apresentam as maiores

elevações. Já as menores elevações concentram-se na porção norte da

RFMG. As altitudes inseridas entre 900 e 1000 metros englobam 86,13 % da

área total, sendo que apenas 4,42 % estão em altitudes superiores a 1000

metros. O gráfico abaixo (Figura 7) e o mapa hipsométrico (Figura 8) mostram

a distribuição das classes de altitude dentro dos limites da RFMG (Goulart

2004).

Figura 7. Distribuição das classes de altitude na RFMG.

Declividade

A maior parte da RFMG (98,28 %) apresenta declividade abaixo de 25

graus e apenas 1,72 % estão inseridos em declividades entre 25 e 45 graus

(Figura 9). O gráfico abaixo (Figura 9) e o mapa de declividade (Figura 10)

mostram a distribuição das classes de declividade dentro dos limites da RFMG.

22,24

16,48

40,28

19,26

1,72

05

10

15

20

25

3035

40

45

< 3 3 a 6 6 a 12 12 a 25 25 a 45

Classes de declividade em graus

Porc

enta

gem

%

Figura 9. Distribuição das classes de declividade em graus na RFMG.

Orientação de vertente

A orientação de vertente na RFMG está bem dividida entre as classes

Norte, Leste, Sul, Oeste e Plano (Figura 11). O gráfico abaixo (Figura 11) e o

mapa de orientação de vertente (Figura 12) mostram a distribuição das classes

de orientação de vertente dentro dos limites da RFMG.

Figura 11. Distribuição (em porcentagem) das classes de orientação de vertente na RFMG.

4. Pedologia

Segundo o Mapa Pedológico do Estado de São Paulo, organizado por

Oliveira et al. (1999), são encontrados na Região da Reserva Florestal do

Morro Grande e seu entorno os seguintes solos de acordo com o novo sistema

de classificação da EMBRAPA (1999): latossolos vermelho-amarelos,

argissolos vermelho-amarelos e cambissolos háplicos. Devido à ausência de

mapeamentos detalhados na região, esta foi a base utilizada para a compilação

do mapa pedológico ilustrativo (Figura 13).

Cambissolos - Relativo ao grupamento de solos pouco desenvolvidos com

horizonte B incipiente e referente aos Cambissolos existentes nas

classificações anteriores. São solos de pedogênese pouco avançada

evidenciada pelo desenvolvimento da estrutura do solo, ausência ou quase

ausência da estrutura da rocha, croma mais forte, matizes mais vermelhas ou

conteúdo de argila mais elevado que os horizontes subjacentes;

Argissolos - Agrupamento de solos com horizonte B textural, com argila de

atividade baixa e evolução avançada, com atuação incompleta de processo de

ferralitização, em conexão com paragênese caulinítica-oxídica ou virtualmente

caulinítica, na vigência de mobilização de argila da parte mais superficial, com

concentração ou acumulação em horizonte subsuperficial. Conhecidos

anteriormente como Podzólico Vermelho-Amarelo, parte das Terras Roxas

Estruturadas e similares, Terras Brunas, Podzólico Amarelo, Podzólico

Vermelho-Escuro.

Latossolos - Agrupamento de solos com horizonte B latossólico e evolução

muito avançada, com atuação expressiva do processo de latolização, com

intemperização intensa de minerais primários, concentração relativa de óxidos

e hidróxidos de ferro e alumínio.

Caracterização dos horizontes no entorno da Reserva Florestal do Morro

Grande

Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e adjacências, a maioria

dos estudos que tratam da caracterização e evolução dos solos nos terrenos

de idade pré-cambriana está mais direcionada para as questões geotécnicas

(Vargas 1981, Bandini 1992, Godoy 1992). Estes trabalhos consideram a

diferenciação usualmente utilizada em Geotecnia entre solos superficiais

(horizontes A e B pedológicos) e os solos de alteração (horizonte C

pedológico). Abaixo, segue uma caracterização desses horizontes feita por

Simões e Goulart (2001) no entorno da RFMG para os latossolos.

Horizonte A

Possui pequena espessura variando de 15 a 30 cm. Apresenta uma

variação de cinza a castanho na coloração e seus constituintes minerais

tendem a se agrupar formando torrões, devido ao papel cimentante dos

minerais argilosos e da matéria orgânica. A maior parte das raízes das plantas

tende a se concentrar neste horizonte, embora elas possam se estender para o

horizonte inferior.

Horizonte B

A espessura deste horizonte varia de 0,60 a 2,0 m, sendo possível

normalmente estabelecer uma diferenciação marcante entre os horizontes B1 e

B2, tratando-se, portanto, de solos B-texturados. Raramente, caracteriza-se um

horizonte B3, que estabelece uma transição com o horizonte C.

A cor predominante do horizonte B nos perfis da região é amarelo-

avermelhado, com uma gradação para tonalidades mais avermelhadas com o

aumento da profundidade.

Horizonte C

No caso das áreas onde ocorrem migmatitos, os solos são

predominantemente silto e argilo-arenosos devido à alteração, completa ou

parcial, do feldspato e ferromagnesianos (biotita), e à preservação dos minerais

de quartzo. Apresentam alternância de níveis esbranquiçados a amarelo-

avermelhado. Os corpos graníticos tendem a produzir solos mais arenosos com

permeabilidade mais elevada do que as porções xistosas dos migmatitos.

5. Hidrografia

A RFMG compreende as cabeceiras da bacia do Rio Cotia, que integra a bacia

do Alto Tietê (Figura 14). A região do entorno da RFMG engloba mais duas grandes

bacias hidrográficas: a bacia do Ribeira do Iguape, em direção ao Litoral Sul do estado

de São Paulo, e a bacia do Sorocaba e Médio Tietê (Figura 14).

Figura 14. Bacias hidrográficas da RFMG e o seu entorno, sem escala. Fonte: Atlas Sinbiota (http://sinbiota.cria.org.br/atlas/), © 2001, Biota/Fapesp & Centro de Referência em Informação Ambiental, modificado.

±±

6. Uso e cobertura do território

6.1. O entorno da RFMG

Mapeamento da vegetação a partir de imagens de satélite

A ocupação e o uso das terras no entorno da RFMG apresenta um

padrão altamente fragmentado e dinâmico (Figura 15). A expansão das

atividades agrícolas e da urbanização provocou alterações profundas em sua

cobertura vegetal original. Restaram poucos remanescentes, a maioria de

pequenas dimensões e há muito tempo modificados pela ação do homem. A

matriz original de floresta foi substituída por uma nova matriz antrópica e,

atualmente, encontram-se nela fragmentos florestais de diferentes dimensões,

formas e graus de conservação e isolamento. A Reserva Florestal do Morro

Grande é uma das poucas áreas a apresentar florestas em bom estado de

conservação, embora o entorno se encontre profundamente antropizado. A

Tabela 2 apresenta as classes de cobertura do solo e as porcentagens em que

estas são encontradas na área considerada por este relatório.

Tabela 2. Porcentagem de ocupação de cada classe de cobertura em relação à área total da

RFMG e do entorno considerado. Calculado a partir da imagem Landsat 7 ETM+ classificada.

Classe de cobertura Porcentagem de cobertura

Agricultura 16,3%

Área urbana 12,5%

Campo ou área degradada 9,1%

Vegetação em estádios sucessionais iniciais 3,3%

Vegetação em estádios sucessionais avançados 57,5%

Água 1,3%

A classe agricultura apresentou alguma confusão com pastagem. A

ocupação do solo na região é dinâmica, sendo que pequenas áreas, em alguns

anos, têm ocupação agrícola e em outros são destinadas a pastagem.

A classe área urbana apresentou, em dois dos dez pontos, confusão

com usos especiais. Uma área classificada como urbana corresponde a um

lixão e uma outra a um grande depósito de sucata a céu aberto.

A classe vegetação em estádios de sucessão iniciais inclui tanto

vegetação natural quanto implantada. Assim, esta classe abrange as áreas de

regeneração da floresta nativa, os reflorestamentos com pinos e eucaliptos em

estádios iniciais ou rebrotando depois do corte e as áreas em que a vegetação

é mantida em estádios iniciais mediante queima ou cortes periódicos. Esta

última situação foi encontrada no SW da reserva onde passa uma linha de

energia elétrica de alta tensão. A vegetação que se encontra sob os fios

transmissores é cortada regularmente e se encontra permanentemente em

estádio de regeneração inicial.

A classe vegetação em estádios de sucessão avançados inclui a

mata e capoeira em estádios avançados de regeneração, bem como os

reflorestamentos com pinos e eucaliptos mais antigos.

A superfície da classe água apresentou mudanças grandes já que, no

momento da realização do trabalho de campo, o lago do reservatório

encontrava-se atravessando um período de vazante excepcional, com menos

do 10% de sua capacidade preenchida. A imagem foi adquirida em um

momento em que o reservatório se encontrava com sua capacidade quase

totalmente preenchida.

Figura 15 (próxima página). Classificação do uso do solo da Reserva Florestal do Morro

Grande e entorno a partir de duas imagens Landsat ETM+ (abril/2000).

Figura 15. Classificação do uso do solo da Reserva Florestal do Morro Grande e entorno a

partir de duas imagens Landsat ETM+ (abril/2000).

6.2. Fitofisionomias da RFMG

Mapeamento de fitofisionomias a partir de fotointerpretação

Através de análises da classificação obtida, concluiu-se que a ocupação

da terra predominante na área de estudo corresponde à Floresta Ombrófila

Densa Montana (9.400,62 ha ou 86,48%), em sua maioria em estádios

sucessionais médio (6949,8 ha ou 63,93%) e avançado (2450,91 ha ou

22,55%) de regeneração (Tabela 3). Áreas correspondentes a estádios iniciais

de regeneração (pioneiro e inicial) ocupam apenas uma pequena parcela da

área de estudo, correspondendo a 373,52 ha (3,44%). Em relação ao grau de

fragmentação, detectado em um primeiro momento pelo número de polígonos

gerados na fotointerpretação, tem-se que as matas em estádio médio de

regeneração (49 polígonos) apresentam-se menos fragmentadas – com

tamanho médio dos fragmentos igual a 141,83 ha – em relação às matas em

estádio avançado de regeneração (242 polígonos) – com tamanho médio dos

fragmentos igual a 10,13 ha. A presença das represas de Cachoeira da Graça

e Pedro Beicht, somadas a outros pequenos corpos d’água, totalizaram 354,4

ha (3,26%). Áreas de vegetação natural ripárias somaram 564,92 ha (5,2%). É

importante ressaltar que a maior parte dessa vegetação (470,74 ha ou 4,33%)

encontra-se em estádios mais avançados de regeneração. As áreas sujeitas a

ações de manejo, como reflorestamento e outros usos, totalizaram 168,55 ha

(1,48%), o que indica a existência de influência antrópica na regeneração das

áreas naturais do Morro Grande (Figura 16).

Tabela 3. Número de polígonos, área total e porcentagem de ocupação (em

relação à área total da RFMG) de cada uma das 10 classes obtidas pela

fotointerpretação (1994/1995).

Classe Número de polígonos

Área (ha) Porcentagem

(1) Corpos d’água 4 354,40 3,26

(2) Vegetação natural – estádio pioneiro

44 228,32 2,10

(3) Vegetação natural – estádio inicial

62 145,20 1,34

(4) Vegetação natural – estádio médio

49 6949,70 63,93

(5) Vegetação natural – estádio avançado

242 2450,91 22,55

(6) Áreas de vegetação natural sujeitas à influência fluvial em estádio pioneiro-inicial

33 94,18 0,87

(7) Áreas de vegetação natural sujeitas à influência fluvial em estádio médio-avançado

53 470,74 4,33

(8) Reflorestamento 4 83,86 0,77

(9) Uso/Influência antrópica 6 84,70 0,78

(10) Sem informação 1 8,79 0,08

TOTAL 498 10870,08 100

Figura 16 (próxima página). Mapa de uso e cobertura das terras referente à área da RFMG nos

anos de 1994 e 1995. Foram adicionado ao mapa o limite da RFMG, os principais pontos de

coleta da fauna & flora e a localização das principais estradas da região.

A

B

C

QUILOMBO

GRILOS

TORRES

FERROVIA

Figura 16. Mapa de uso e cobertura das terras referente à área da RFMG nos anos de

1994 e 1995.

Legenda# pontos

vias

limite

poli_morro_finalcorpos d'água

vegetação natural - pioneiro

vegetação natural - inicial

vegetação natural - médio

vegetação natural - avançado

vegetação natural com influência fluvial - pioneiro/inicial

vegetação natural com influência fluvial - médio/avançado

reflorestamento

influência/uso antrópico

sem informação

Corpos d’águaVegetação natural – pioneiroVegetação natural – inicialVegetação natural – médioVegetação natural – avançadoVegetação natural com influência fluvial – pioneiro/inicialVegetação natural com influência fluvial – médio/avançadoReflorestamentoInfluência/uso antrópicoSem informação

Escala aproximada1:60.000

Legenda# pontos

vias

limite

poli_morro_finalcorpos d'água

vegetação natural - pioneiro

vegetação natural - inicial

vegetação natural - médio

vegetação natural - avançado

vegetação natural com influência fluvial - pioneiro/inicial

vegetação natural com influência fluvial - médio/avançado

reflorestamento

influência/uso antrópico

sem informação

Pontos de coleta de Fauna e Flora

Vias

Limite da Reserva

LEGENDA

Projeção: UTM; Datum: SAD69