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Itinerários seguros para o transporte de mercadorias perigosas em Portugal Distribuição de combustíveis líquidos da Galp em Lisboa Madalena Mira Vaz Sérvulo Rodrigues Bártolo Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores: Professora Cristina Marta Castilho Pereira Santos Gomes Doutora Sílvia Alexandra Duarte da Silva e Costa Shrubsall Júri Presidente: Professor João Torres de Quinhones Levy Orientadora: Professora Cristina Marta Castilho Pereira Santos Gomes Vogal: Professor Alexandre Bacelar Gonçalves Junho 2014

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Itinerários seguros para o transporte de mercadorias perigosas em Portugal

Distribuição de combustíveis líquidos da Galp em Lisboa

Madalena Mira Vaz Sérvulo Rodrigues Bártolo

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadores: Professora Cristina Marta Castilho Pereira Santos Gomes

Doutora Sílvia Alexandra Duarte da Silva e Costa Shrubsall

Júri

Presidente: Professor João Torres de Quinhones Levy

Orientadora: Professora Cristina Marta Castilho Pereira Santos Gomes

Vogal: Professor Alexandre Bacelar Gonçalves

Junho 2014

i

Resumo

As mercadorias perigosas são fundamentais para a competitividade das sociedades

contemporâneas, sendo o seu transporte potencialmente perigoso e dispendioso. Em

Portugal, não foram encontrados estudos que permitam a identificação de percursos

rodoviários preferíveis para a sua distribuição em segurança e com viabilidade económica.

Este trabalho pretende estabelecer bases científicas sólidas para, em colaboração com os

operadores nacionais, equilibrar estes dois aspectos intrínsecos e frequentemente divergentes

do transporte deste tipo de mercadorias.

Para isso, foi aplicado um modelo de programação linear a dois níveis que define:

1. No primeiro nível, os itinerários seguros (preferíveis para o regulador), e

2. No segundo nível, os itinerários mais económicos (preferíveis para o operador).

A empresa Galp Energia forneceu dados relativos às entregas de óleos brancos (gasolinas e

gasóleos) aos postos de abastecimento e aos clientes directos de Lisboa.

A implementação do modelo recorreu à rede rodoviária disponível num sistema de informação

geográfica (SIG), tendo sido analisada a distribuição dos óleos brancos na freguesia dos Olivais.

O modelo foi resolvido à optimalidade para este caso de estudo num tempo computacional

reduzido (2 segundos), tendo a rede viária (com 682 arcos e 461 nós) uma dimensão bastante

superior à encontrada na bibliografia internacional em estudos semelhantes. Os percursos

identificados foram mapeados.

A formulação genérica do modelo de programação linear a dois níveis e o sucesso da

metodologia utilizada oferecem perspectivas optimistas de desenvolvimentos futuros deste

estudo, como a expansão do seu âmbito geográfico, já em curso.

Palavras-chave: transporte de mercadorias perigosas, programação linear a dois níveis,

segurança rodoviária em áreas urbanas, sistemas de informação geográfica (SIG), Galp Energia.

ii

Abstract

Hazardous materials (hazmats) are essential for the competitiveness of contemporary

societies, being its transportation potentially dangerous and expensive. In Portugal, studies

enabling the identification of preferable road routes for safe and economic viable distribution

of hazmats were not found.

This work aims at establishing solid scientific bases that allow, in collaboration with national

operators, to balance these two frequently conflicting intrinsic aspects of hazmats

transportation.

For that purpose, a bi-level linear programming model was applied, defining:

1. In the first level, the safe routes (preferable for the regulator), and

2. In the second level, the most economic routes (preferable for the operator).

Galp Energia provided data concerning the deliveries of white oils (petrol and diesel fuels) to

petrol stations and direct clients in Lisbon.

Model implementation used one road network available in a geographical information system

(GIS) and the distribution of white oils in Olivais parish was analysed. The model was solved to

optimality in a short computation time (2 seconds) for this case study, while the road network

has significantly larger size (682 links and 461 nodes) than those found in similar studies in the

international literature. The identified routes have been mapped.

The generic formulation of the bi-level linear programming model and the success of the

methodology used offer an optimistic prospect for future developments for this study, such as

its geographical expansion, indeed already being carried out.

Key words: hazardous materials transportation, bi-level linear programming, road safety in

urban areas, geographical information systems (GIS), Galp Energia.

iii

Agradecimentos

À Professora Marta Gomes, por ser uma orientadora muito presente em todo o processo.

Agradeço também a disponibilidade para esclarecer dúvidas fora do horário de trabalho e as

palavras de apoio e motivação.

À Doutora Sílvia Shrubsall, por ser exigente e por, mesmo à distância, ter estado sempre muito

presente em todo o desenvolvimento do trabalho. Agradeço também tudo o que me ensinou

em termos de escrita e estruturação de documentos, ferramentas que de certeza irei utilizar

várias vezes ao longo da minha vida.

Ao Frederico Henriques, investigador no CESUR, por ser incansável no esclarecimento de todas

as dúvidas e por tudo o que me ensinou de Excel e de ArcGIS. Agradeço também a calma e

incentivo com que me acompanhou na gestão duma grande quantidade de dados

provenientes de várias fontes.

À Drª Zulmira Ramos e ao Engº Jorge Manuel Gonçalves da Galp Energia, pela oportunidade

que me foi concedida de estagiar na empresa e pela flexibilidade que me foi dada durante o

estágio. Agradeço também todo o apoio que me foi dado, o conhecimento que me

transmitiram e a simpatia com que sempre me receberam.

Ao projecto SACRA (PTDC/TRA/66161/2006), financiado pela Fundação para a Ciência e a

Tecnologia, que disponibilizou a rede rodoviária da cidade de Lisboa à qual este projecto

recorreu.

Ao Pedro Castelo Branco pela enorme ajuda que me deu no GAMS e pela sua amizade.

Queria agradecer aos grandes amigos que fiz na faculdade os óptimos momentos que

passámos durante o curso e que continuamos a viver juntos. O vosso apoio e amizade fizeram

com que as dificuldades fossem ultrapassadas muito mais facilmente e que os bons momentos

fossem vividos de forma ainda mais especial.

Por fim queria agradecer à minha querida família: avós, tios, primos e em especial aos meus

irmãos, aos meus pais e ao Pedro, pelo apoio e amor incondicional que sempre me deram e

por serem a base de quem sou hoje como pessoa.

iv

i

Índice

Índice .......................................................................................................................................... i

Lista de Figuras ..........................................................................................................................iv

Lista de Quadros ........................................................................................................................ v

Abreviaturas ..............................................................................................................................vi

Glossário .................................................................................................................................. viii

1. Introdução ............................................................................................................................. 1

1.1 Contextualização ........................................................................................................... 1

1.2 Objectivos do trabalho .................................................................................................. 5

1.3 Metodologia .................................................................................................................. 6

1.4 Estrutura do trabalho .................................................................................................... 6

2. Revisão bibliográfica ............................................................................................................. 8

2.1 Transporte de mercadorias perigosas ........................................................................... 9

2.1.1 Definição de mercadoria perigosa ........................................................................ 9

2.1.2 Riscos e vulnerabilidades .................................................................................... 10

2.1.3 Impacto social ..................................................................................................... 14

2.1.4 Principais intervenientes: Agentes reguladores e empresas transportadoras ... 16

2.2 Regulação .................................................................................................................... 17

2.2.1 Regulação internacional ...................................................................................... 17

2.2.2 Regulação nacional .............................................................................................. 18

2.2.3 Sinalização dos veículos ...................................................................................... 20

2.3 Modelação de trajectórias de transporte de mercadorias perigosas ......................... 21

2.3.1 Modelos de Investigação Operacional: Programação Linear versus Métodos

Heurísticos ........................................................................................................................... 21

2.3.2 Modelos de Programação Linear aplicados ao transporte de mercadorias

perigosas ....................................................................................................................24

2.4 Conclusões do capítulo ............................................................................................... 29

ii

3. Caso de estudo: distribuição de combustíveis líquidos da Galp em Lisboa ........................ 31

3.1 O grupo Galp Energia .................................................................................................. 31

3.2 Distribuição de produtos petrolíferos ......................................................................... 32

3.3 Especificação do caso de estudo ................................................................................. 35

4. Definição do modelo de Programação Linear ..................................................................... 38

4.1 Caracterização do modelo........................................................................................... 38

4.2 Formulação matemática do modelo ........................................................................... 39

4.2.1 Modelo a dois níveis (original) ............................................................................ 39

4.2.2 Modelo a dois níveis com condições KKT ............................................................ 42

4.3 Exemplo ilustrativo de aplicação do modelo .............................................................. 44

4.4 Aplicação do modelo ao caso de estudo ..................................................................... 49

5. Resolução do caso de estudo .............................................................................................. 51

5.1 Recolha e tratamento de dados .................................................................................. 51

5.1.1 Informação sobre combustíveis .......................................................................... 51

5.1.2 Informação geográfica ........................................................................................ 52

5.1.3 Integração dos dados em ArcGIS com o sistema de modelação GAMS.............. 55

5.2 Resultados e discussão ................................................................................................ 56

5.2.1 Resultados do modelo de Programação Linear .................................................. 56

5.2.2 Análise de sensibilidade ...................................................................................... 61

6. Conclusões........................................................................................................................... 65

6.1 Síntese do projecto de investigação ........................................................................... 65

6.2 Recomendações para desenvolvimentos futuros ....................................................... 68

6.3 Observação conclusiva ...................................................................................................... 69

7. Referências .......................................................................................................................... 70

Anexos – Parte I ........................................................................................................................... 74

Anexo I – Sinalização identificadora das diferentes classes de mercadorias perigosas ......... 74

Anexo II – Exemplos de incidentes de grande impacto envolvendo o transporte de

mercadorias perigosas ............................................................................................................ 78

iii

Anexo III – Rede implementada no software ArcGIS .............................................................. 79

Anexo IV – Equações resultantes do exemplo ilustrativo do modelo ..................................... 81

Anexo V – Velocidades máximas indicadas pelo código da estrada ....................................... 88

Anexos – Parte II .......................................................................................................................... 89

Anexo VI – Contextualização do estágio na Galp Energia ....................................................... 89

Anexo VII – Plano de estágio curricular................................................................................... 92

iv

Lista de Figuras

Figura 1 – Explosão do camião-cisterna em “Los Alfaques” (Fonte: Corbis Images) .................... 2

Figura 2 – Combate ao incêndio e arrefecimento do veículo-cisterna no acidente de Guimarães

em 1999 (Fonte: Jornal do Minho) ................................................................................................ 3

Figura 3 – Veículos intervenientes em acidentes por cada 1000 em circulação (ANSR – Relatório

anual de sinistralidade rodoviária 2011) ....................................................................................... 4

Figura 4 – Incidentes com mercadorias perigosas de grande impacto, ponderados por classe

(PHMSA, 2011) ............................................................................................................................ 13

Figura 5 – Consequências dos incidentes com mercadorias perigosas por meio de transporte

ponderado (PHMSA, 2011) ......................................................................................................... 14

Figura 6 – Principais motivos de oposição pública ao transporte de mercadorias perigosas

(Erkut et al., 2007) ....................................................................................................................... 15

Figura 7 - Notícia sobre o alerta da Comissão Europeia a Portugal para a falta de conformidade

da legislação referente ao transporte de mercadorias perigosas (www.hipersuper.pt) ............ 19

Figura 8 – Painel cor de laranja com número de identificação (EcoGestão) .............................. 20

Figura 9 - Representação esquemática do problema formulado por Kara e Verter, 2004 ......... 25

Figura 10 – Países onde se desenvolvem as actividades predominantes do grupo Galp Energia,

em termos de Exploração e Produção, Refinação e Distribuição, e Gas e Power (Galp, site) .... 32

Figura 11 – Sistema logístico da Galp Energia (www.galpenergia.com, 2012) ........................... 32

Figura 12 – Instalações da CLC (www.clc.pt, 2012) ..................................................................... 33

Figura 13 - Oleoduto entre Sines e Aveiras ................................................................................. 33

Figura 14 - Ciclo de transporte dos produtos no oleoduto que liga Aveiras de Cima a Sines .... 34

Figura 15 – Esquema simplificado da rede do exemplo ilustrativo ............................................ 45

Figura 16 – Nome e sentido dos arcos pertencentes à rede ...................................................... 45

Figura 17 – Trajecto identificado pelo modelo para esta rede ................................................... 49

Figura 18 – Pormenor do gráfico com a distribuição de gasóleo e gasolinas em Lisboa em 2011

..................................................................................................................................................... 52

Figura 19 – Localização e numeração dos seis clientes e PAs da Galp nos Olivais ..................... 58

Figura 20 – Percurso determinado pelo modelo para o frete 1, com destino ao PA da Av.

Marechal Gomes da Costa S/N ................................................................................................... 58

Figura 21 – Percurso determinado pelo modelo para o frete 2, com destino ao PA da Av.

Marechal Gomes da Costa N/S ................................................................................................... 59

Figura 22 - Percurso determinado pelo modelo para o frete 3, com destino aos clientes

directos TAP e ANA ..................................................................................................................... 59

v

Figura 23 - Percurso determinado pelo modelo para o frete 4, com destino ao PA da Av. De

Berlim .......................................................................................................................................... 60

Figura 24 - Percurso determinado pelo modelo para o frete 5, com destino ao cliente directo

Prosegur ...................................................................................................................................... 60

Figura 25 – Percurso determinado pelo modelo para o frete 6, com destino ao PA da Av. de

Pádua ........................................................................................................................................... 61

Lista de Quadros

Quadro 1 - Classes de mercadorias perigosas (ADR 2011) ......................................................... 10

Quadro 2 - Consequências dos incidentes com mercadorias perigosas por meio de transporte

entre 2005 e 2009 (PHMSA, 2011) .............................................................................................. 14

Quadro 3 – População de cada centro populacional na área de influência de cada arco .......... 45

Quadro 4 - Resumo das características numéricas e resultados do modelo (exemplo ilustrativo)

..................................................................................................................................................... 48

Quadro 5 – Solução do modelo (valor das variáveis de decisão) ................................................ 48

Quadro 6 – Relação entre as velocidades originais da rede e as velocidades consideradas no

modelo [km/h] ............................................................................................................................ 54

Quadro 7 – Quantidade de combustível entregue em cada PA e cliente directo da freguesia dos

Olivais .......................................................................................................................................... 56

Quadro 8 –Resumo das características numéricas e resultados do modelo .............................. 57

Quadro 9 – Características do resultado obtido para cada um dos fretes ................................. 57

Quadro 10 - Resultados obtidos com o modelo para diferentes valores de R (Big-M) .............. 62

Quadro 11 – Comparação de soluções do modelo com a densidade populacional real e com a

mesma densidade populacional em todos os arcos ................................................................... 63

vi

Abreviaturas

ADR – Acordo Internacional sobre o Transporte de Mercadorias Perigosas (Accord européen

relatif au transport international des marchandises Dangereuses par Route)

ANPC – Autoridade Nacional de Protecção Civil

ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária

APETRO – Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas

ASRA - Acordo Sobre Segurança Rodoviária Acrescentada

BGRI - Base Geográfica de Referenciação de Informação

CLC – Companhia Logística de Combustíveis

EP – Estradas de Portugal

ERSO – European Road Safety Observatory

ETSC – European Transport Safety Council

GIS – Geographical Information System

GPL – Gás de petróleo liquefeito

HAZMATs – Hazardous materials

HMT – Hazardous Materials Transportation

IMTT – Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres

INE – Instituto Nacional de Estatística

InIR – Instituto de Infra-Estruturas Rodoviárias

IO – Investigação Operacional

IRN – Instituto de Registos e Notariado

KKT – Karush-Kuhn-Tucker (condições de)

LPHC - Low probability-high consequence

vii

MILP - Mixed Integer Linear Programming

NESEC – The Northeast States Emergency Consortium

NTSB - National Transportation Safety Board

ONU – Organização das Nações Unidas

PA – Posto de Abastecimento

PHMSA – Pipeline and Hazardous Materials Safety Administration

PL – Programação Linear

PRP – Prevenção Rodoviária Portuguesa

RPE - Regulamento Nacional do Transporte de Mercadorias Perigosas por Estrada

SIG – Sistemas de Informação Geográfica

TIC – Transport and Infrastructure Committee

UE – União Europeia

UNECE – United Nations Economic Commission for Europe

UNRSC – United Nations Road Safety Collaboration

US DOT – United States Department of Transportation

viii

Glossário

Acidente rodoviário ou acidente – Ocorrência na via pública ou que nela tenha origem

envolvendo pelo menos um veículo em movimento, do conhecimento das entidades

fiscalizadoras e da qual resultem vítimas e/ou danos materiais consideráveis. Os acidentes com

vítimas são normalmente classificados como mortal, grave e ligeiro, dependendo do estado da

vítima mais grave resultante do acidente. Os acidentes que não envolvem vítimas designam-se

acidentes “com danos materiais” e o valor mínimo do prejuízo depende do país em causa.

Como referido no subcapítulo 1.1, por uma questão de simplificação ao longo desta

dissertação os acidentes rodoviários serão referidos frequentemente apenas por acidentes.

Incidente – Evento na via pública envolvendo pelo menos um veículo registado pelas

autoridades responsáveis e que poderia ter resultado num acidente rodoviário.

Indicador de gravidade – Medida da gravidade das consequências dum acidente rodoviário

desenvolvido para análise de determinada circunstância. Em Portugal, a ANSR adopta

frequentemente o seguinte indicador: IG = 100xM + 10xFG + 3xFL, em que M é o número de

mortos, FG o de feridos graves e FL o de feridos leves.

Índice de gravidade – Número de mortos por 100 acidentes com vítimas.

Itinerários seguros – No âmbito deste estudo, consideram-se itinerários para o transporte de

mercadorias perigosas que minimizem o risco de acidente sem comprometer a viabilidade

económica.

Locais de acumulação de acidentes rodoviários – Em Portugal, são frequentemente

considerados como lanços de estrada com o máximo de 200 metros de extensão, no qual se

registou, pelo menos, 5 acidentes com vítimas, no ano em análise, e cuja soma de indicadores

de gravidade é superior a 20.

Morto/Vítima mortal (no local) – Vítima cujo óbito ocorra no local do acidente ou durante o

percurso até à unidade de saúde.

Morto/Vítima mortal a 30 dias – Vítima cujo óbito ocorra no período de 30 dias após o

acidente (Em conformidade com o Despacho nº27808/2009, de 31 de Dezembro, o número de

“Mortos a 30 dias” assume um carácter definitivo no prazo de seis meses após a ocorrência do

acidente).

Passageiro – Pessoa afecta a um veículo na via pública e que não seja condutora.

ix

Peão – Pessoa que transita a pé na via pública ou em locais sujeitos à legislação rodoviária.

Consideram-se ainda peões todas as pessoas que conduzam à mão velocípedes ou

ciclomotores de duas rodas sem carro atrelado ou carros de crianças ou de deficientes físicos.

Vítima rodoviária ou vítima – Ser humano que, em consequência de acidente rodoviário, sofra

danos corporais.

Vítima grave – Em Portugal, é uma vítima de acidente cujos danos corporais obriguem a um

período de hospitalização superior a 24 horas e que não venha a falecer nos 30 dias após o

acidente.

Vítima ligeira - Vítima de acidente que não seja considerada vítima grave ou fatal.

x

1

1. Introdução

1.1 Contextualização

O sucesso económico das regiões tem, na sociedade contemporânea, requerido o transporte

de quantidades crescentes de pessoas e mercadorias, incluindo o transporte de mercadorias

perigosas, como por exemplo de combustíveis petrolíferos (ANPC, 2012).

Existem vários tipos de mercadorias perigosas, com utilizações muito díspares, e as sociedades

dependem destes materiais para o seu funcionamento (Erkut et al., 2007). Alguns exemplos de

materiais considerados como mercadoria perigosa são os materiais explosivos, radioactivos,

tóxicos ou inflamáveis, tais como os combustíveis petrolíferos (Verter e Kara, 2008).

Apesar de o transporte de mercadorias perigosas originar um número reduzido de acidentes,

particularmente acidentes mortais, as consequências dos mesmos podem ser graves devido à

natureza do carregamento. Por exemplo, o número de mortos devido a acidentes com

mercadorias perigosas é cerca de quatro vezes inferior ao número de mortes de pessoas

atingidas por um raio (TIC, 2011). No entanto, outras possíveis graves consequências são

prejuízos económicos, poluição ambiental, danos em termos de espécies selvagens e

ferimentos (ver subcapítulo 2.2). É esta noção de risco que distingue os problemas de

transporte de mercadorias perigosas dos restantes problemas de transporte (Erkut et al.,

2007).

Têm ocorrido vários acidentes rodoviários envolvendo mercadorias perigosas com

consequências graves, no estrangeiro e em Portugal. Por uma questão de simplificação, a

partir deste momento os acidentes rodoviários serão referidos apenas por acidentes

(Glossário). Os acidentes envolvendo este tipo de mercadorias ocorridos em Espanha, em 1978

e nos EUA, em 1998 são exemplos das possíveis consequências dramáticas dos mesmos. Foram

escolhidos estes dois casos pelo facto de o primeiro ilustrar possíveis consequências

catastróficas de um acidente em cuja área de influência estejam muitas pessoas e o segundo

por representar os acidentes em auto-estrada, ficando desta forma retratados dois tipos de

acidentes bastante díspares.

No verão de 1978, na província de Tarragona, um camião-cisterna que transportava propileno

liquefeito numa estrada nacional espanhola explodiu nas imediações do parque de campismo

“Los Alfaques”. O excesso de carga presente na cisterna (25ton em vez das 19ton

2

regulamentares) aumentou a pressão, fazendo com que o tanque de aço rebentasse e o gás

fosse expelido para o exterior, produzindo-se a ignição e explosão do mesmo. Do acidente

resultaram 217 vítimas mortais imediatas (muitas delas turistas) e mais de 300 pessoas

sofreram queimaduras graves (TIME, 1978). Estas pessoas não teriam ficado feridas ou mortas

se o material envolvido no acidente não fosse mercadoria perigosa (Federal Motor Carrier

Safety Administration, 2001).

Figura 1 – Explosão do camião-cisterna em “Los Alfaques” (Fonte: Corbis Images)

Vinte anos mais tarde, numa bomba de gasolina do Mississippi, um tanque subterrâneo de

gasolina transbordou quando um condutor de camião transferia a gasolina do seu camião-

cisterna para o tanque. Cerca 2080 L de gasolina fluíram através da estação de serviço até à

auto-estrada adjacente, até que a gasolina se incendiou e o fogo envolveu três carros que ali

se situavam. Como consequência deste acidente cinco pessoas morreram e uma ficou

gravemente ferida (NTSB, 1999).

Em Portugal, em 1999, um veículo-cisterna explodiu ao iniciar-se a trasfega de 18 000L de

tolueno para os tambores1 do veículo (Figura 2). Como consequência, uma pessoa morreu e as

casas vizinhas e quatro veículos ficaram danificados. Este acidente, ocorrido no concelho de

Guimarães, é um exemplo relativamente recente de acidente envolvendo o transporte de

mercadorias perigosas em Portugal (EcoGestão, 2008).

1 Um tambor, na terminologia do transporte de mercadorias perigosas, é uma espécie de tonel, geralmente

metálico, cuja finalidade é acondicionar líquidos.

3

Figura 2 – Combate ao incêndio e arrefecimento do veículo-cisterna no acidente de Guimarães em 1999 (Fonte: Jornal do Minho)

Apesar de eventos como os descritos terem aumentado a consciencialização do perigo

envolvendo o transporte de mercadorias perigosas e terem desencadeado processos que

visam prevenir estas situações, as estradas ainda estão longe de ser seguras. Só na União

Europeia (UE), em 2009, 35 000 pessoas morreram e mais de 1 700 000 pessoas ficaram

feridas em acidentes de viação (Comissão Europeia, 2010), sendo os acidentes rodoviários

(incluindo os que envolvem mercadorias perigosas) a 9.ª causa de morte a nível mundial

(World Health Organization, 2010). Por este motivo, têm sido decretadas várias acções

contributivas para o aumento de segurança, como: (1) a “Década de acção para a segurança

rodoviária 2011-2020” (UNRSC, 2012) e (2) a definição de estratégias internacionais e

nacionais, que incluem a definição de objectivos, como o de reduzir o número de vítimas da

estrada na União Europeia em 50% até 2020 (UNRSC, 2012).

Conforme se pode ver na Figura 3, os veículos pesados são, proporcionalmente ao número em

circulação, o 2.º tipo de veículo a intervir num maior número de acidentes. Por cada 1 000

veículos pesados em circulação, 13 destes intervêm num acidente de viação.

4

Figura 3 – Veículos intervenientes em acidentes por cada 1000 em circulação (ANSR – Relatório anual de sinistralidade rodoviária 2011)

Neste contexto, e de forma a contribuir para diminuir os riscos associados ao transporte de

mercadorias perigosas, alguns países aumentaram a regulação relativa a este tipo de

transporte, sendo uma das ferramentas políticas mais utilizadas a interdição de transporte

destas mercadorias em determinados troços rodoviários. Desta forma, o regulador pode

reduzir o risco causado por este transporte nas áreas que considere mais vulneráveis, como

por exemplo as áreas mais densamente povoadas. Como a maioria dos governos não tem

autoridade para determinar quais as rotas a utilizar pelas transportadoras, o risco de

transporte resulta das decisões de trajectos tomadas pelas transportadoras, dentro da rede

disponível para o efeito (Verter e Kara, 2008). Este é um tipo de intervenção recente, cujo

estudo começou a ser mais aprofundado ao longo da última década.

Mas se por um lado é necessário regular o transporte de mercadorias perigosas, de modo a

minimizar os riscos de eventuais acidentes e as suas consequências, por outro o aumento da

regulação faz com que os custos de transporte deste tipo de mercadorias aumentem (Kara e

Verter, 2004), o que vai contra os interesses das transportadoras e pode pôr em causa a

sustentabilidade económica deste transporte. Deve então ser encontrado um equilíbrio entre

os interesses de minimização de riscos por parte das autoridades reguladoras e os interesses

das transportadoras de que essa diminuição de risco não implique aumentos significativos de

custos de transporte.

No caso urbano, o agente regulador restringe os fretes a um subconjunto de estradas de uma

cidade, denominado “rede de transporte de mercadorias perigosas”, e as transportadoras são

livres de escolher as suas rotas, desde que se mantenham na rede de transporte de

mercadorias perigosas. Desta forma, na presença de múltiplas escolhas, as transportadoras

podem não escolher as rotas de mínimo risco, o que complica o desenho da rede de transporte

5

de mercadorias perigosas, pelo facto de o agente regulador ter de considerar as decisões das

transportadoras em resposta à rede de transporte definida (Erkut e Alp, 2007).

Em Portugal o transporte de mercadorias perigosas, particularmente o seu impacto na

segurança rodoviária, não tem sido estudado de forma sistemática. Não foi possível encontrar

estudos envolvendo o traçado optimizado das redes para o transporte de mercadorias

perigosas tendo em conta os interesses não só do agente regulador mas também das

transportadoras, à semelhança de conhecimento desenvolvido noutros países (Erkut et al.,

2007). Este tema é de interesse académico mas também prático, interessando particularmente

às empresas que operam e trabalham nesta área, como é o caso da Galp Energia.

Este projecto de investigação pretende caracterizar a situação nacional através da adaptação

(às condições locais) de modelos de Programação Linear, aplicados e testados noutras regiões,

que permitam identificar trajectos de menor risco para o transporte de mercadorias perigosas.

O âmbito do trabalho será definido com mais pormenor no subcapítulo seguinte, com a

definição exacta do objectivo e objectivos específicos.

1.2 Objectivos do trabalho

O objectivo deste projecto de investigação é contribuir para a melhoria da segurança

rodoviária em Portugal, concretamente através da identificação de itinerários para o

transporte de mercadorias perigosas que minimizem o risco de acidente sem comprometer a

viabilidade da indústria. Para atingir este objectivo, foram identificados os seguintes objectivos

específicos:

Descrição do estado da arte, relativo às diferentes abordagens utilizadas no desenho

de redes de transporte de mercadorias perigosas;

Selecção, com base nas condições locais, de um modelo de Programação Linear

adequado à identificação desses itinerários. Para facilitar a leitura do trabalho, estes

itinerários serão referidos como “itinerários seguros”;

Recolha de dados e implementação do modelo de Programação Linear;

Análise e discussão dos resultados obtidos.

6

1.3 Metodologia

De forma a alcançar os objectivos enunciados no subcapítulo anterior, apresenta-se nesta

secção a metodologia adoptada para o presente trabalho. Começou-se por identificar o tema a

estudar, tendo de seguida sido desenvolvido um protocolo entre duas entidades nacionais

reconhecidas, o Instituto Superior Técnico e a Galp Energia. Enquanto se procedia à revisão

bibliográfica avaliaram-se os dados que estavam disponíveis, o que consolidou a escolha do

modelo. Após esta selecção, desenvolveu-se o modelo numa linguagem de programação

própria para implementação de modelos de Programação Linear2 e resolveu-se o mesmo para

os dados recolhidos. Os resultados obtidos foram analisados e discutidos, terminando o

projecto com as conclusões finais e a identificação de possíveis desenvolvimentos futuros, um

dos quais actualmente em curso (Correia, 2014)3. Foi esta a abordagem seguida no

desenvolvimento deste projecto, a qual permitiu atingir os objectivos propostos.

1.4 Estrutura do trabalho

O presente trabalho encontra-se dividido em seis capítulos distintos:

1. Introdução – Neste capítulo é referido qual o contexto em que o problema se insere,

os objectivos que se pretende atingir com este trabalho e a metodologia utilizada para

os alcançar.

2. Revisão bibliográfica – No segundo capítulo é efectuada a revisão bibliográfica

pertinente para a lacuna identificada no capítulo anterior. Pretende-se incidir nos

temas relacionados com o transporte de mercadorias perigosas, desde a modelação de

redes para o transporte dos mesmos aos riscos associados a este tipo de mercadoria.

Desta forma, caracteriza-se o problema em estudo, identifica-se a relevância de

estudos que permitam aumentar a segurança rodoviária, e são descritas as principais

questões que envolvem o transporte de mercadorias perigosas e os seus

intervenientes.

2 Foi usado o sistema de modelação GAMS - General Algebraic Modelling System.

3 Correia, D. (2014). Análise de alternativas seguras de transportes de materiais combustíveis em

Portugal. Dissertação de mestrado em Engenharia Civil a submeter, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa.

7

3. Apresentação do caso de estudo – Com este capítulo contextualiza-se a situação

actual do grupo Galp Energia e dão-se a conhecer os aspectos relevantes para este

estudo do negócio da distribuição de produtos petrolíferos. Assim, pretende-se

compreender quais as fases de distribuição pelas quais os combustíveis passam até

chegarem ao seu destino final e quais as entidades que intervêm neste processo. O

capítulo termina com a identificação do caso de estudo a que será aplicado o modelo

de Programação Linear.

4. Definição do modelo de Programação Linear – No quarto capítulo é definido o

modelo de Programação Linear a desenvolver, sendo a sua formulação descrita.

5. Resolução do caso de estudo - No quinto capítulo o modelo definido no capítulo

anterior é resolvido, através da aplicação do mesmo a uma região de Portugal. Para

isso, os dados são recolhidos e tratados, sendo explicitadas as estratégias adoptadas

para reduzir a complexidade do problema e os pressupostos adoptados. O capítulo

termina com a apresentação dos resultados originados pelo modelo, sendo os mesmos

discutidos.

6. Conclusões – No sexto e último capítulo são referidas as principais conclusões do

trabalho e por onde deve passar um desenvolvimento futuro do mesmo.

8

2. Revisão bibliográfica

O transporte de mercadorias perigosas é muito relevante nos dias de hoje, sendo cada vez

mais necessário transportar este tipo de materiais. Em Portugal, cerca de 10% da totalidade de

mercadorias transportadas por estrada correspondem a mercadorias perigosas, sendo

transportadas anualmente cerca de 10 milhões de toneladas só em veículos-cisterna. Apesar

do transporte de mercadorias perigosas abranger uma vasta gama de matérias, existe uma

predominância dos combustíveis líquidos (gasolinas, gasóleo e fuelóleo) e gasosos (propano e

butano), os quais contribuem para cerca de 70% da totalidade do transporte (ANPC, 2012).

De forma a minimizar os riscos decorrentes destas operações, a tendência tem sido a do

aumento da regulação do seu transporte estando sujeito a requisitos relacionados com as

empresas que os transportam e o tipo de material transportado, bem como regulação relativa

aos expedidores, proprietários dos veículos e fabricantes de embalagens, recipientes e veículos

(ANPC, 2012).

Pretende-se que este transporte seja efectuado da forma mais segura possível, de forma a

proteger as populações e o ambiente, e que a legislação não impeça que este transporte se

possa processar de forma economicamente sustentável. Conforme referido em 2011 pelo

Transport and Infrastructure Committee (TIC)4, a regulação para o transporte de mercadorias

perigosas deve assegurar um elevado nível de segurança, equilibrando-o com a importância do

crescimento económico, inovação, competitividade e criação de emprego. Isto pode conduzir,

nalguns casos, a um conflito de interesses, em que o agente regulador (o governo) pretende

diminuir o risco e as transportadoras impedir que os custos operacionais do transporte

aumentem significativamente (Kara e Verter, 2004). É de forma a tentar equilibrar os dois

interesses que surgem os modelos de determinação de rotas seguras, os quais serão

aprofundados no subcapítulo 2.4.

Este capítulo aborda os principais conceitos e metodologias relacionados com o transporte de

mercadorias perigosas, resultantes de trabalhos já desenvolvidos. Desta forma:

No subcapítulo 2.1 é definido o que são mercadorias perigosas e descritos os riscos e

vulnerabilidades associados a este tipo de material, bem como os principais

intervenientes no processo de transporte e o impacto social a que está sujeito.

4 Transport and Infrastructure Committee (TIC) é um dos maiores comités Americano com jurisdição

sobre todos os modos de transporte e outros aspectos de infrastrutura do país, entre os quais o sub-comité de Rodovias, Gasodutos e Materiais Perigosos.

9

No subcapítulo 2.2 é abordada a evolução da regulação referente a este tipo de

transporte, a regulação a que está actualmente sujeito e a sinalização utilizada nos

veículos que transportam esta mercadoria. Começa-se por enquadrar no contexto da

regulação internacional, sendo posteriormente especificado o caso português.

No subcapítulo 2.3 são revistos os modelos de rotas de transporte de mercadorias

perigosas e abordados temas como o tratamento do risco nos diferentes tipos de

modelo descritos na literatura.

O capítulo termina com o subcapítulo 2.4, no qual são referidas as principais

conclusões referentes à revisão bibliográfica efectuada e as aplicações da mesma ao

problema em estudo.

2.1 Transporte de mercadorias perigosas

2.1.1 Definição de mercadoria perigosa

Segundo o Acordo Internacional sobre o Transporte de Mercadorias Perigosas (ADR, 2011),

consideram-se mercadorias perigosas “as matérias e os objectos cujo transporte é proibido

segundo o ADR ou autorizado apenas nas condições aí previstas”. Mais genericamente,

considera-se como mercadoria perigosa toda a substância que possa causar efeitos negativos

para o Homem ou para o Ambiente, devido à sua inflamabilidade, ecotoxicidade, corrosividade

ou radioactividade. Estes efeitos podem ser causados através de derrames, emissões,

incêndios ou explosões ou combinações destes efeitos (ANPC, 2012).

Devido às características inerentemente perigosas destes materiais, foi criada regulação

específica para o transporte dos mesmos, na qual a mercadoria é agrupada segundo nove

classes (Quadro 1). Para cada uma destas classes, o regulamento aplica disposições

sistematizadas, nomeadamente quanto à etiquetagem das embalagens e à sinalização dos

veículos (ANPC, 2012). O tema da regulação é aprofundado no subcapítulo 2.2.

10

Quadro 1 - Classes de mercadorias perigosas (ADR 2011)

Classes de Mercadorias Perigosas

Classe 1 Matérias e objectos explosivos

Classe 2 Gases

Classe 3 Líquidos inflamáveis

Classe 4.1 Matérias sólidas inflamáveis, matérias auto-reactivas e

matérias explosivas dessensibilizadas sólidas

Classe 4.2 Matérias sujeitas a inflamação espontânea

Classe 4.3 Matérias que, em contacto com a água, libertam gases

inflamáveis

Classe 5.1 Matérias comburentes

Classe 5.2 Peróxidos orgânicos

Classe 6.1 Matérias tóxicas

Classe 6.2 Matérias infecciosas

Classe 7 Matérias radioactivas

Classe 8 Matérias corrosivas

Classe 9 Matérias e objectos perigosos diversos

2.1.2 Riscos e vulnerabilidades

Mesmo que fossem cumpridos todos os requisitos de segurança estabelecidos nos diversos

regulamentos, o transporte de mercadorias perigosas não está isento de risco (ANPC, 2012).

De facto, os acidentes associados ao transporte de mercadorias perigosas são considerados

como de probabilidade baixa e consequências graves, uma vez que o número do total de

acidentes de transporte é reduzido, mas as consequências dos mesmos podem ser muito

graves (PHMSA, 2011).

Entre as possíveis consequências destacam-se as evacuações, estragos de propriedade,

degradação ambiental, interrupções de tráfego, ferimentos e mortes (ver 1.1). Estas

consequências são função da área de impacto e dos recursos na área de impacto em termos

de população, propriedade e ambiente (Erkut et al., 2007). Já o risco de acidente inclui

variáveis relacionadas com a localização das empresas que produzem, armazenam e

comercializam estes materiais, as características e comprimento dos trajectos utilizados, a

11

intensidade de tráfego automóvel, a frequência de circulação dos veículos, as quantidades

transportadas e o perigo inerente aos próprios produtos (ANPC, 2012).

Aspectos comuns de acidentes com mercadorias perigosas são a explosão e a perda de

contenção da mercadoria (através de degradação do contentor, operação incorrecta das

válvulas ou por acção física interior ou exterior). Os perigos destas mercadorias são

potenciados ao deixarem de estar contidas, pelo facto da mercadoria tóxica poder entrar em

contacto com o Homem e a mercadoria inflamável com uma fonte de ignição, ou ainda as

propriedades da mercadoria serem alteradas devido a alteração do estado físico da mesma. A

graduação dos efeitos nocivos destes acidentes varia com o tipo de elemento exposto: o

Homem, o Ambiente e os bens materiais (ANPC, 2012).

O estudo “Comparative risks on hazardous materials and non-hazardous materials truck

shipment accident/incidents” (2001), realizado pelo Federal Motor Carrier Safety

Administration há cerca de dez anos, teve como objectivo comparar o risco de transporte por

veículo pesado de mercadorias perigosas e não perigosas, no qual foram definidas categorias

de impactos relativos aos acidentes/incidentes. Neste estudo foi ainda feita uma estimativa do

impacto económico de cada uma destas categorias, obtendo-se assim custos unitários para

cada evento associado a acidentes com este tipo de mercadoria. Apesar do rigor destes

estudos poder ter perdido alguma actualidade devido ao progresso, inclusivamente

tecnológico, dos veículos e vias de comunicação, considera-se importante apresentar as várias

categorias de impactos divididas em três tipos distintos: humanas, materiais e ambientais.

1. Impactos humanos:

Feridos e mortos – o valor atribuído a um ferimento ou uma morte varia

consideravelmente, em parte por haver diferentes abordagens para calcular este valor.

Entre as abordagens mais utilizadas salienta-se: considerar o ferimento ou morte em

termos de perda de rendimentos e de produtividade económica para a sociedade;

considerar não só o que acabou de ser referido como também a perda de qualidade de

vida; e ainda considerar como custo de um ferimento ou morte o montante necessário

para prevenir que aconteça. Esta categoria domina os custos de impactos, na medida

em que representa cerca de 80% dos mesmos. No estudo americano de 2001, o custo

considerado para evitar um ferimento foi de $200 000 (cerca de 150 000€) e $2 800

000 (cerca de 2 100 000€) para evitar uma morte.

12

Evacuações – O custo relativo às evacuações é muito difícil de estimar, uma vez que

intervêm numerosas variáveis. Estes custos incluem despesas com comida e abrigo

temporário, com as agências que assistem a operação, prejuízos decorrentes de perda

de salários e interrupções do negócio e os inconvenientes causados às populações

evacuadas.

Congestionamento decorrente dos incidentes – Considerou-se que o custo deste

evento correspondia ao número total de pessoas atrasadas devido a um acidente,

multiplicado por $15 por hora, o que corresponde a cerca de 11,5€/h (de salientar que

este número data de 1999, seria necessário actualizar este valor para se obter um

custo mais ajustado à realidade actual).

2. Impactos materiais:

Danos na propriedade pública – Esta categoria inclui os prejuízos relativos aos danos

de outros veículos envolvidos no acidente e os danos efectuados em propriedade

pública ou privada (por exemplo, edifícios ou infra-estruturas).

Custos de limpeza – Os custos de limpeza englobam não só o custo de remoção dos

materiais derramados como também o de parar a sua propagação, e variam com a

dimensão, o tipo de material e a localização do derrame.

Prejuízos da transportadora – Nos prejuízos da transportadora são considerados os

danos no camião e respectivo equipamento.

Mercadoria derramada – Os prejuízos materiais correspondem aos custos associados

à quantidade e ao valor de mercadoria perigosa perdida durante o derrame.

3. Impactos ambientais:

Prejuízos ambientais – Consideram-se prejuízos ambientais o dano ambiental que

permanece após concluída a limpeza ao local. A estimativa dos prejuízos ambientais

tem em conta a dimensão média de um derrame e o valor atribuído à contaminação

ambiental e pode ser calculado em termos de perda de produtividade económica

(prejuízos na produção agrícola) ou em termos de perdas por deterioração de habitats

ou ecossistemas.

Apresentam-se de seguida alguns quadros e gráficos com informação numérica, referente aos

incidentes ocorridos nos Estados Unidos da América entre 2005 e 2009, de forma a verificar

quais os tipos de mercadoria e quais os meios de transporte que se encontram relacionados

com um maior número de incidentes. O motivo para os dados apresentados serem referentes

13

aos Estados Unidos da América e não a Portugal, deve-se ao facto destes serem dados

utilizados como referência internacionalmente e de não terem sido encontrados dados

específicos para o caso português.

A Figura 4 apresenta os 10 tipos de mercadoria que correspondem a um maior número de

incidentes. A partir da figura é possível observar que as mercadorias perigosas das classes 2

(gases), 3 (líquidos inflamáveis) e 8 (substâncias corrosivas) correspondem à grande maioria do

total de incidentes, donde se conclui que a grande maioria dos incidentes relacionados com o

transporte de mercadorias perigosas resultam de um pequeno número de materiais perigosos

(PHMSA, 2011).

Relativamente aos diferentes meios de transporte de mercadorias perigosas (Figura 5), o

transporte rodoviário destaca-se pelo facto de ser o meio de transporte onde ocorreu um

maior número de incidentes e de incidentes com mortos ou feridos graves, destacando-se

igualmente em termos de incidentes de grande impacto (fatalidades e feridos graves ou

hospitalizações) ponderados pela percentagem total de cada modo de transporte (Figura 6).

Figura 4 – Incidentes com mercadorias perigosas de grande impacto, ponderados por classe (PHMSA, 2011)

14

Foram identificados três grandes tipos de falhas que dão origem à maioria dos incidentes de

grande impacto: a capotagem, o descarrilamento e o erro humano, que podem actuar

separadamente ou em conjunto. As restantes sete, do conjunto das 10 falhas mais frequentes,

apresentam-se no Anexo II”.

É ainda de salientar que diferentes trajectos estão associados a diferentes níveis de exposição

ao risco. Alguns trajectos são curtos mas passam por áreas densamente povoadas, enquanto

outros trajectos evitam as áreas mais densamente povoadas mas são mais longos, resultando

em custos de transporte mais elevados e maior probabilidade de acidente, outros ainda

passam por grandes estradas (como auto-estradas, por exemplo), minimizando os tempos de

viagem (Erkut et al., 2007).

2.1.3 Impacto social

As consequências graves e de grande visibilidade associadas ao transporte de mercadorias

perigosas, conforme descritas no subcapítulo anterior, têm contribuído para alguma oposição

pública ao transporte de mercadorias perigosas (Erkut et al., 2007). São as populações que

moram e trabalham nas imediações dos eixos mais utilizados para o transporte de mercadorias

perigosas quem naturalmente incorre na maior parte do risco deste transporte (Verter e Kara,

2008).

Figura 5 – Consequências dos incidentes com mercadorias perigosas por meio de transporte

ponderado (PHMSA, 2011)

Quadro 2 - Consequências dos incidentes com mercadorias perigosas por meio de transporte entre 2005 e 2009 (PHMSA,

2011)

15

O transporte de mercadorias perigosas é um problema de complexa resolução,

particularmente pelo facto de envolver sensibilidades públicas. Esta sensibilidade pode ser

explicada através de diversos factores, esquematizados na Figura 6. O conceito de ampliação

social do risco sugere que a avaliação pública (individual ou social) do risco depende não só da

sua magnitude como também de percepções subjectivas, tais como extensas coberturas do

incidente pelos órgãos de comunicação social, imprecisões e inconsistências no processo de

comunicação que originam rumores ou especulações acerca da magnitude do risco. Esta

ampliação do risco pode fazer com que um pequeno incidente envolvendo mercadorias

perigosas provoque uma tal reacção pública que o regulador se sinta forçado a adoptar uma

legislação bastante mais restritiva, ou mesmo, nos casos mais extremos, banir o transporte de

mercadorias perigosas através de determinado meio de transporte (Erkut et al., 2007).

Figura 6 – Principais motivos de oposição pública ao transporte de mercadorias perigosas (Erkut et al., 2007)

Para além das questões relacionadas com as percepções públicas do risco, a sensibilidade

pública ao transporte de mercadorias perigosas está também associada a questões de

equidade, pelo facto do risco não estar equitativamente distribuído. Esta questão encontra-se

fortemente relacionada com a falta de concordância entre os benefícios e os encargos

decorrentes do transporte de mercadorias perigosas, visto ser quem mora perto da origem ou

do destino das mesmas quem beneficia do transporte de mercadorias perigosas, e quem vive

ao longo dos percursos utilizados para o transporte estar exposto ao risco decorrente,

independentemente de beneficiar ou não do transporte desta mercadoria. As povoações

sujeitas a uma distribuição pouco concordante entre os benefícios e os encargos do transporte

de mercadorias perigosas tendem a preferir rotas alternativas que difundam os riscos, para

Op

osi

ção p

úb

lica

Falta de equidade na distribuição do risco

Ampliação social do risco

Falta de concordância na relação entre encargos e benefícios

16

que o risco não seja aumentado pelo facto de haver vários fretes com origens diferentes a

passar pelo mesmo segmento (Erkut et al., 2007).

2.1.4 Principais intervenientes: Agentes reguladores e empresas transportadoras

O transporte de mercadorias perigosas é um domínio com vários intervenientes, cada um com

um papel diferente no processo de tentar transportar a carga de uma origem para um destino

de forma segura. Os intervenientes vão desde os transportadores, expedidores e transitários,

aos fabricantes de embalagens, seguradoras, governos e equipas de emergência. Cada um

destes intervenientes tem diferentes perspectivas e prioridades (Erkut et al., 2007).

Apesar de serem vários os intervenientes destacam-se dois, devido à sua maior relevância na

determinação de itinerários seguros: os agentes reguladores e as empresas transportadoras.

Para as transportadoras, o transporte de mercadorias perigosas é um meio para obtenção de

lucro, pelo que os custos de transporte são um foco muito importante. Estas empresas têm

porém de cumprir as regulações envolvendo a segurança pública, incluindo a rodoviária, e

ambiental estabelecidas pelo agente regulador, de forma a poderem permanecer no negócio.

A principal preocupação do governo é a mitigação do risco de transporte desta mercadoria,

sem que esta ameace a viabilidade económica da actividade de transporte (Bianco et al.,

2009), pelo que se vê que as perspectivas das transportadoras e do regulador em relação ao

planeamento da circulação de mercadorias perigosas nem sempre são absolutamente

coincidentes (Verter e Kara, 2001). Algumas empresas de transportes poderiam reforçar os

recursos alocados à segurança rodoviária, enquanto outras adoptam critérios mais restritivos

que os regulamentares, com implicações de aumentos de custo, de forma a diminuírem a

probabilidade de incorrer em acidentes e não denegrirem a sua imagem.

Uma medida de mitigação de risco que tem vindo a ganhar algum destaque é a proibição do

transporte de mercadorias perigosas em determinados eixos rodoviários. Desta forma, a rede

viária disponível para este transporte pode ser determinada pelo regulador, sendo o risco

associado determinado pelas decisões de rotas efectuadas pelas transportadoras, dentro da

rede disponível para o efeito (Verter e Kara, 2008). Depois do regulador definir a rede

disponível, as transportadoras escolhem os trajectos da rede de menor custo e tempo de

viagem entre a origem e o destino (Erkut e Gzara, 2008). O governo não impõe rotas às

transportadoras, pelo que este comportamento deve ser tido em conta aquando da

determinação dos eixos a encerrar ao transporte de mercadorias perigosas, para que o risco

17

total resultante das escolhas de rota das transportadoras seja minimizado (Verter e Kara,

2008).

Outra diferença entre os dois principais intervenientes é o âmbito do problema. Enquanto as

transportadoras podem identificar a rota mais adequada entre uma determinada origem e

destino isoladamente, o regulador tem de considerar todos os fretes da sua jurisdição (Kara e

Verter, 2004), o que normalmente envolve a avaliação do risco total de transporte imposto na

população pela movimentação de uma diversidade de mercadorias perigosas e um grande

número de pares origem destino (Verter e Kara, 2001). Desta forma, cada solução corresponde

a um compromisso entre ambas as partes em termos de risco de transporte e viabilidade

económica. Negociações saudáveis entre os dois intervenientes podem ser facilitadas através

de informação sobre compensações entre risco e custo (Verter e Kara, 2008).

É ainda de salientar que, apesar deste trabalho incidir na contribuição para a identificação de

itinerários preferenciais para transportar as mercadorias perigosas minimizando o risco

atendendo aos custos de transporte, outras medidas podem e devem ser usadas em

simultâneo. Algumas destas medidas passam por exigências relativas à formação dos

condutores e ao número de horas de condução, especificações dos contentores e seguros de

acidentes. Os sistemas de resposta às situações de emergência e as centrais de inspecção para

monitorizar a conformidade com as regulamentações são outros exemplos de medidas

bastante comuns (Kara e Verter, 2004).

2.2 Regulação

2.2.1 Regulação internacional

Desde a primeira metade do século XX alguns governos e organizações internacionais têm

vindo a implementar medidas para regular o transporte de mercadorias perigosas (Franco,

2004). Esta regulação tem como objectivo tentar prevenir que ocorram acidentes que possam

pôr em causa a segurança das pessoas, dos bens materiais ou prejudicar o ambiente, e minorar

as consequências dos acidentes que venham a ocorrer.

Em 1956 foi estabelecido o Livro Laranja (ou “Recomendações das Nações Unidas relativas ao

Transporte de Mercadorias Perigosas”), onde pela primeira vez se juntou num mesmo

documento as regras relativas à classificação e expedição de mercadorias perigosas. As

recomendações presentes neste documento constituem o que é considerado como o

18

documento mais exaustivo e coerente no domínio das mercadorias perigosas, e desde 1997

que é publicado como “Regulamento-tipo” (Franco, 2004).

Em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, enfatizou-se

a necessidade de estabelecer um “sistema globalmente harmonizado de classificação e

etiquetagem de produtos químicos”, de onde dez anos mais tarde resultou o Livro Púrpura,

que pretende definir os princípios orientadores para o alinhamento dos regulamentos

internacionais relativos ao manuseamento e transporte de mercadorias perigosas. Este novo

Livro detalha algumas das definições apresentadas anteriormente no Livro Laranja (Franco,

2004).

O transporte rodoviário internacional de mercadorias perigosas é estabelecido por organismos

internacionais, que actualizam periodicamente os acordos de forma a incluir os progressos

tecnológicos e os novos requisitos de segurança (Comissão Europeia, 2012). A tendência actual

é a correcção de algumas das disparidades ainda verificadas entre os regulamentos, estando já

adquirida a harmonização dos símbolos de perigo, que identificam as propriedades perigosas

de cada material (Franco, 2004).

2.2.2 Regulação nacional

Em Portugal, o transporte rodoviário de mercadorias perigosas é regido não só pelo Código da

Estrada (a que todos os veículos devem obedecer), como também pelo Acordo Internacional

sobre o Transporte de Mercadorias Perigosas (ADR). Com a publicação do Decreto-lei

41A/2010 o ADR 2009 passou a ser obrigatório em Portugal, deixando de existir o

Regulamento Nacional do Transporte de Mercadorias Perigosas por Estrada (RPE). O Decreto-

lei 206A/2012 transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva nº2010/61/EU da Comissão

Europeia de 2 de Setembro, pelo que com a publicação do Decreto-lei 206A/2012 o ADR 2011

passa a ser obrigatório em Portugal, introduzindo algumas alterações ao ADR 2009. É este

regulamento, o ADR 2011, que se encontra actualmente em vigor em Portugal. A Directiva

2010/61/EU aplica-se às operações de transporte, carga e descarga, transferência de modos de

transporte e paragem de mercadorias perigosas, sendo estas regras actualizadas de dois em

dois anos de forma a manter a coerência com a restante regulação internacional e

acompanhar os mais recentes progressos científicos e técnicos. Os requisitos impostos ao

transporte de mercadorias perigosas encontram-se associados às empresas e ao material de

transporte e englobam requisitos de segurança aos expedidores, aos proprietários dos veículos

e aos fabricantes das embalagens, recipientes e veículos (ANPC, 2012).

19

Figura 7 - Notícia sobre o alerta da Comissão Europeia a Portugal para a falta de conformidade da legislação referente ao transporte de mercadorias perigosas (www.hipersuper.pt)

Apesar dos desenvolvimentos em termos de legislação, Portugal não apresentava no início de

2012 uma legislação nacional sobre o transporte de mercadorias perigosas em conformidade

com as directivas impostas pelo direito da União Europeia. Desta forma, a 22 de Março de

2012, a Comissão Europeia deu dois meses a Portugal (bem como à Áustria, que se encontrava

na mesma situação) para que o caso não fosse remetido para o Tribunal de Justiça, tempo

durante o qual Portugal teria de comunicar à Comissão as medidas tomadas para que a

directiva fosse cumprida (Figura 7). As regras relativas ao transporte de mercadorias perigosas

devem ser cumpridas não só para assegurar a segurança dos cidadãos e do ambiente, como

também para assegurar o “funcionamento equitativo do mercado interno do transporte de

mercadorias perigosas” (Comissão Europeia – comunicado de imprensa, 2012). Esta situação

foi corrigida a 31 de Agosto de 2012, com a aplicação do Decreto Lei nº206-A/2012.

O artigo “Análise de riscos no transporte rodoviário de combustíveis líquidos e gasosos em

Portugal: relação entre a sinistralidade e o tráfego” (2009), elaborado por Teresa Santos,

resultou da dissertação de Mestrado “Riscos e Medidas de Segurança no Transporte de

Combustíveis Líquidos e Gasosos”. Neste trabalho, foi efectuada uma recolha de informação

para posterior análise que permitisse analisar as intensidades de tráfego e posteriormente

avaliar os distritos onde houve um maior número de acidentes com veículos de transporte de

combustíveis. Para além disso, foi pesquisada informação que permitisse o desenvolvimento

de métodos científicos para a análise do risco de acidentes no transporte de combustíveis em

20

Portugal, mas verificou-se que tal informação estava incompleta e dispersa por várias

autoridades. Através deste estudo chegou-se à conclusão que só após a revisão do Livro

Branco dos Transportes se conseguiu diminuir a sinistralidade no transporte de combustíveis

em Portugal Continental e que os dados necessários para a elaboração de uma análise rigorosa

se encontram incompletos e dispersos por diversas entidades (Santos, 2009).

Um outro trabalho relevante é o Acordo sobre Segurança Rodoviária Acrescentada ASRA

(2013), elaborado pela APETRO (Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas), da qual a

Galp faz parte. Este Manual é uma compilação das regras sobre boas práticas comuns para o

transporte rodoviário de produtos petrolíferos, partilhadas desta forma entre as diversas

empresas petrolíferas que constituem a associação.

2.2.3 Sinalização dos veículos

Mesmo cumprindo os requisitos de segurança fixados na legislação, o transporte de

mercadorias perigosas não está isento do risco de acidentes. Por este motivo, é necessário

conhecer as características da mercadoria transportada, para que se possa proceder a uma

intervenção rápida e com técnicas de intervenção adequadas ao tipo de acidente. De forma a

identificar as mercadorias perigosas presentes e poder actuar em conformidade em caso de

acidente, os veículos que transportam estas mercadorias são identificados com painéis

rectangulares cor de laranja, com o número de identificação da matéria e o número de perigo,

como os que se apresentam na figura seguinte.

Figura 8 – Painel cor de laranja com número de identificação (EcoGestão)

Os veículos acompanham-se ainda de um sinal de identificação de acordo com a classe do

material que transportam (subcapítulo 2.2.1), os números de perigo, os quais se destinam

principalmente aos serviços de emergência e podem ser vistos no Anexo III. O primeiro dos

dois ou três algarismos do número de perigo representa o perigo principal e os restantes os

perigos secundários. Se um algarismo se apresentar repetido, está a representar uma

intensificação do perigo que o mesmo representa. Existem 25 sinais de identificação, divididos

Nº de Perigo

Nº ONU (Organização das Nações

Unidas) da Matéria Transportada

21

em nove classes distintas. Segundo o ADR 2011, “estão dispensadas da colocação da marca das

matérias perigosas para o ambiente as embalagens simples e as embalagens combinadas,

quando as embalagens simples ou as embalagens interiores das embalagens combinadas não

excedam 5 litros de capacidade ou 5 kg de massa líquida”.

Assim, a regulação tem sido uma medida muito importante na contribuição para a redução do

número e gravidade dos acidentes rodoviários envolvendo veículos transportando mercadorias

perigosas. Outra abordagem possível e complementar é a escolha de trajectos que diminuam o

risco de acidentes e/ou da sua gravidade sem tornar o transporte desta mercadoria

economicamente inviável, como se verá no subcapítulo 3 deste capítulo.

2.3 Modelação de trajectórias de transporte de mercadorias

perigosas

2.3.1 Modelos de Investigação Operacional: Programação Linear versus Métodos

Heurísticos

A identificação de percursos preferenciais para o transporte de mercadorias perigosas, fora e

dentro de meio urbano, tem beneficiado do desenvolvimento de modelos, nomeadamente

modelos de Investigação Operacional (IO). Os modelos de IO pretendem apoiar processos

decisórios, numa perspectiva de melhoria da sua operacionalidade, começando por definir o

problema do decisor para em seguida construir um modelo que represente a essência do

problema. Para tal, existem duas abordagens distintas de Investigação Operacional que são

geralmente utilizadas: modelos de Programação Linear ou Métodos Heurísticos (Valadares

Tavares et al., 1996).

A Programação Linear consiste numa representação da realidade, na qual as funções

matemáticas presentes no modelo são necessariamente lineares, e tem tido um grande

impacto nas últimas décadas devido à sua grande versatilidade. O termo Programação refere-

se ao planeamento de actividades (“programas” de acção) mais aconselháveis para as

operações em estudo, com o propósito de obter um resultado óptimo, isto é, um resultado

que alcance o objectivo da melhor forma possível de entre as várias alternativas. Considera-se

como uma solução qualquer combinação de valores das variáveis de decisão,

independentemente de ser a desejada ou mesmo uma escolha admissível. Torna-se assim

pertinente distinguir os diferentes tipos de soluções por diferentes adjectivos. Uma solução

22

possível (viável) é uma solução com a qual todas as restrições são satisfeitas, denominando-se

por região possível o conjunto de todas as soluções possíveis. Dado que existem várias

soluções possíveis, o intuito da Programação Linear é descobrir qual delas é a melhor. À

melhor das soluções possíveis dá-se o nome de solução óptima, isto é, a solução possível mais

favorável (maior ou menor, dependendo do objectivo ser maximizar ou minimizar a função

objectivo). É de referir que apesar de a maioria dos problemas apresentar apenas uma solução

óptima, é possível existir mais do que uma ou o problema não apresentar nenhuma solução

possível (Hillier e Lieberman, 2005).

De forma a construir o modelo, devem ser determinados os diversos elementos constituintes

dos modelos de Programação Linear. Os parâmetros são os valores fixos no problema,

constantes, enquanto as variáveis de decisão são as incógnitas a ser determinadas pela

solução do modelo. As restrições do problema são expressas matematicamente através de

equações ou inequações, limitando as variáveis de decisão aos seus valores possíveis (viáveis)

de forma a ter em conta as limitações físicas do sistema. A função objectivo é a função

matemática que define a qualidade da solução em função das variáveis de decisão. Assim, o

problema consiste em determinar os valores das variáveis de decisão que maximizam (ou

minimizam) a função objectivo, respeitando as restrições estabelecidas (Hillier e Lieberman,

2005).

É de salientar que um modelo matemático pretende ser uma representação do problema real,

estando subjacente a necessidade de, na maior parte dos casos, recorrer a aproximações e

simplificações que permitam que o modelo seja resolúvel. Se se adicionar muito pormenor ao

modelo a sua dimensão pode-se tornar demasiado elevada para a obtenção de uma solução

em tempo útil, pelo que o que é requerido é uma correlação relativamente alta entre a

previsão obtida pelo modelo e o que aconteceria de facto no problema real (Hillier e

Lieberman, 2005). Torna-se assim essencial, na Programação Linear, agregar os aspectos de

interesse secundário ou para os quais não há dados disponíveis, de forma a que seja possível

representar o sistema em estudo e a sua possível optimização, ao mesmo tempo que se tenta

ultrapassar os condicionalismos através de artifícios ou alterações no método resolutivo. Desta

forma tenta-se encontrar um equilíbrio entre a informação e a desagregação, o realismo e a

simplicidade (Valadares Tavares et al., 1996).

Um Método Heurístico é um meio de obter uma solução para um problema de optimização

que não passa pela escrita de um modelo de programação matemática, com variáveis de

decisão, restrições e função objectivo, como nos modelos de Programação Linear. Uma

23

heurística constitui assim uma forma de obter soluções através de regras simples de

implementar (programar), como por exemplo o algoritmo do caminho mais curto. Apesar de

na maior parte das vezes as soluções serem sub-óptimas, caso os autores consigam provar que

estas são de boa qualidade, apresentam a atractividade de nos casos de maior dimensão

poderem ser obtidas boas soluções em tempos computacionais muito curtos, ao contrário dos

modelos de Programação Linear que, no caso de incluírem variáveis inteiras ou binárias,

podem demorar um tempo excessivo a serem resolvidos. O mais vantajoso e interessante é a

combinação das duas abordagens, como refere Pinho de Sousa (2011).

Os Métodos Heurísticos podem ser construídos de forma a manipularem adequadamente o

compromisso entre a optimalidade da solução e o tempo computacional exigido para a

determinar. Desta forma, a Programação Linear pode ser usada de forma a obter a solução

óptima nos casos em que os requisitos de tempo não são exigentes, pelo facto de estes

modelos poderem demorar muito tempo a serem resolvidos, enquanto as heurísticas podem

ser usadas nos casos/exemplos com maiores exigências computacionais, em que é exigida uma

solução num tempo computacional reduzido mesmo que esta apenas se aproxime da solução

óptima (Pinho de Sousa, 2011).

No caso dos modelos de Programação Linear há ferramentas disponíveis para escrever o

problema (linguagens de modelação), existindo pacotes de software comerciais para a sua

resolução. Esta é uma vantagem face aos Métodos Heurísticos, onde a programação tem de

ser adaptada a cada caso. Alguns exemplos de sistemas/linguagens de modelação de

problemas em Programação Linear são o AMPL, AIMMS, GAMS e XPRESS. É ainda de salientar

que na Programação Linear o modelo pode ser simplificado através de agregação e

particionamento, pode ser decomposto em termos espaciais ou temporais e a precisão do

modelo está relacionada com a simplificação dos dados e as aproximações realizadas (Relvas,

2011).

Resumindo, os Métodos Heurísticos são um bom meio de obter rapidamente soluções

possíveis ou mesmo boas soluções, que pode ser usado em combinação com outras

abordagens e não providencia ou verifica a optimalidade das soluções. Já a programação

matemática (que inclui a programação linear e não linear) é constituída por procedimentos

exactos que garantem a solução óptima e permite uma análise eficiente de estruturas

complexas. A principal desvantagem dos modelos de Programação Linear é o facto de a

dimensão do modelo aumentar exponencialmente com as entidades (Relvas, 2011).

24

2.3.2 Modelos de Programação Linear aplicados ao transporte de mercadorias

perigosas

A enciclopédia “Handbook in Operations Research & Management Science“ contém um

capítulo totalmente dedicado ao Transporte de Mercadorias Perigosas (Erkut e tal., 2007).

Optou-se por sintetizar o conteúdo deste capítulo por ser um dos mais abrangentes e recentes

dedicado ao tema. Segundo os autores, este tema merece um capítulo à parte do restante

volume essencialmente pelo risco que está associado a esta actividade. O capítulo começa com

uma introdução ao tema, na qual é referido o que são mercadorias perigosas, algumas

estatísticas sobre os acidentes/incidentes ocorridos nos EUA, informação sobre as possíveis

consequências da ocorrência dos mesmos e a problemática da sensibilidade pública a este

tema. Na secção seguinte é apresentada uma revisão da literatura sobre logística de

mercadorias perigosas, onde são referidos os principais elementos em que se pode encontrar

informação sobre o transporte de mercadorias perigosas, incluindo quadros onde se

encontram recomendações de literatura de acordo com o tipo de transporte e outras

categorias. Segue-se uma secção sobre avaliação do risco onde são explorados conceitos como

o da análise de frequências, risco em rotas de transporte de mercadorias perigosas (incluindo

o risco em arcos) e modelação das consequências, secção esta que já foi abordada no

subcapítulo 2.3.2. De seguida é referido o problema de identificação de rotas. A secção de

localização de instalações e transporte surge neste seguimento, pelo facto das mercadorias

perigosas serem muitas vezes originadas em instalações que são elas mesmas potencialmente

perigosas para o público e para a segurança do ambiente, como é o caso das refinarias de

petróleo, e as decisões de localização destas instalações terem um efeito considerável no

roteamento do transporte de mercadorias perigosas. O capítulo termina com uma síntese e

direcções de trabalho futuro, onde é referido que a temática do desenho de redes de

transporte para mercadorias perigosas considerando todas as partes envolvidas (governo e

transportadoras) é um tema de pesquisa relativamente recente e que a expansão mais óbvia

dos modelos existentes passa pela consideração de múltiplos objectivos. Para além disto, é

ainda salientado que os sistemas de informação geográfica (SIG) são cada vez mais uma opção

nestes modelos, tanto em termos de introdução de dados como combinados com modelos de

optimização de forma a conduzir a avaliações do risco mais realistas (Erkut et al., 2007).

Uma abordagem que começou a ser utilizada na última década em alguns modelos de

transporte de mercadorias perigosas é o modelo a dois níveis (“bi-level”). O modelo a dois

níveis é uma variante dos modelos de IO tradicionais, com variáveis de decisão, restrições e

função objectivo (subcapítulo 2.3.1), tratando-se de um modelo de decisão que engloba outro.

25

O nível decisional exterior ocupa-se de questões como o desenho, controlo e aperfeiçoamento

da rede, enquanto os decisores do nível interior planeiam as viagens (rota, meio de transporte,

origem e destino) de acordo com as decisões tomadas no nível exterior (Erkut e Gzara, 2008).

Os primeiros autores a formularem um modelo de transporte de mercadorias perigosas a dois

níveis foram Kara e Verter (2004). Nesta formulação, as mercadorias perigosas são agrupadas

em categorias de acordo com o impacto do risco que representam em termos de população

exposta (ver 2.3.2) e a rede é atribuída a cada grupo, não havendo interacção entre fretes de

diferentes categorias. O modelo (global) é constituído por uma formulação baseada em arcos

(“links”) onde as variáveis de decisão representam o estado de cada arco, permitido ou não

permitido pelo regulador e usado ou não usado pelas transportadoras. Os autores reformulam

o modelo transformando-o num modelo de Programação Linear simples (com variáveis

binárias) e resolvem-no com software comercial (CPLEX), tendo a metodologia sido aplicada à

região de Western Ontario, Canadá. O modelo a dois níveis permitiu assim um foco na

natureza da relação entre o agente regulador e as transportadoras que até então não tinha

sido efectuado (Figura 9).

Figura 9 - Representação esquemática do problema formulado por Kara e Verter, 2004

Esta abordagem analítica representa as decisões distintas tomadas pelo agente regulador e

pelas transportadoras, bem como a sua interacção na determinação do custo total de

transporte (medido através do comprimento dos arcos) e no risco total de transporte (medido

através da população exposta). Assim, o problema em que este artigo se baseia pode ser

descrito da seguinte forma: “Dada uma rede viária existente, a identificação da rede preferível

para o transporte de mercadorias perigosas envolve a selecção dos segmentos onde não deve

ser permitido esse transporte de forma a minimizar o risco total”. Neste modelo o risco é

26

medido através do número de pessoas expostas a um veículo pesado que transporte

mercadorias perigosas num determinado arco (ver 5.1.2). Para isso, é definida uma distância

de exposição a impactos imediatos (ou directos) - distância ao arco que define a área dentro

da qual as pessoas estão expostas ao risco de terem de ser evacuadas - de 800m em relação ao

arco para gasolina, fuelóleo e álcool e de 1600m no transporte de petróleo e alcatrão de

carvão (coal tar). É de salientar que o agente decisor apenas pode influenciar as decisões das

transportadoras através do desenho da rede de mercadorias perigosas, assim como as

transportadoras apenas podem influenciar as decisões do agente decisor através das

implicações do risco associado às suas escolhas de rotas (Kara e Verter, 2004).

Posteriormente, os mesmos autores propuseram um outro modelo de programação linear,

Verter e Kara (2008), desta vez uma formulação baseada na definição de caminhos de menor

custo. Este modelo foi resolvido com o mesmo software comercial que o anterior. De forma a

facilitar a incorporação das preocupações das transportadoras com o custo resultante das

decisões de redução do risco por parte dos agentes reguladores, consideram-se vários

caminhos alternativos para cada frete. Os caminhos que forem considerados como

economicamente não viáveis pelas transportadoras podem ser deixados de fora do modelo.

Por exemplo, podem não ser incluídos no modelo o conjunto de caminhos alternativos cujo

tempo de percurso é superior a 150% do tempo do caminho mais rápido ou apenas os

primeiros K caminhos de menor custo para cada frete. Isto assegura que as empresas

transportadoras não seriam forçadas pelo regulador a usar uma alternativa pior do que a sua

K-ésima preferência. Cada solução corresponde assim a um compromisso entre o agente

regulador e as transportadoras em termos de risco de transporte e custo. A metodologia foi

aplicada a duas situações distintas: a primeira aplicação foca-se no transporte de mercadorias

perigosas na rede de auto-estradas de Ontário Ocidental, Canadá, enquanto a segunda

aplicação estuda o problema numa região geográfica bastante mais alargada, que cobre as

províncias de Ontário e Quebec. O presente modelo permite ao regulador limitar as

implicações de custo das políticas de diminuição do risco, dependendo este compromisso

entre risco e custo da rede existente, da distribuição espacial dos centros populacionais, da

localização dos pares origem-destino e do tipo de mercadorias perigosas a serem

transportadas. Neste artigo, a construção da modelação principal é um conjunto de caminhos

alternativos para cada viagem, que é mutuamente aceitável tanto para o governo como para

as transportadoras de mercadorias perigosas envolvidas (Verter e Kara, 2008).

Em Erkut e Alp (2007) o enfoque é colocado na construção de uma metodologia que permita

designar as rotas que devem ser utilizadas para o transporte de mercadorias perigosas através

27

de um grande centro populacional (o modelo foi aplicado à cidade italiana de Ravenna, em

Itália). Desta forma, o problema do desenho da rede (tree design problem) foi formulado como

um problema de programação inteira que pode ser resolvido com software comercial, com o

objectivo de minimizar o risco total de transporte. Através de uma heurística o problema é de

seguida expandido com a adição de troços de estrada que permitem às empresas

transportadoras reduzir os custos, aumentando consequentemente o risco. Como a heurística

acrescenta os caminhos incrementalmente, o agente regulador pode estabelecer qual o

compromisso que pretende entre risco e custo. Apesar de o modelo permitir escolher qual o

tipo de quantificação de risco pretendido, neste caso o risco de transporte foi calculado

através da multiplicação da frequência de libertação de mercadorias perigosas, em caso de

incidente, por uma medida da população. Os dados do problema permitem modelar a

população através dos seguintes componentes:

i) Densidade populacional sobre os arcos (pessoas/metro)

ii) Densidade da população na proximidade dos arcos, dentro de uma dada largura de

banda

iii) Locais de elevada densidade populacional e pontos de concentração da população

(escolas, hospitais, teatros, centros comerciais, etc).

No estudo de Erkut e Alp (2007), os resultados foram apresentados para uma distância entre

os pontos de concentração da população e os arcos de 500m. A proposta dos autores é um

algoritmo constituído por duas fases: uma primeira em que é encontrada a rede de risco

mínimo, através da resolução de um problema de programação binário e uma segunda fase

em que a rede é expandida através da adição de caminhos de uma forma iterativa, o que

permite às autoridades controlar a densidade da rede de mercadorias perigosas considerada e

consequentemente a liberdade dada às transportadoras. Através desta heurística a dois níveis

as autoridades minimizam o risco e o custo no primeiro nível, enquanto no segundo nível as

transportadoras minimizam os custos.

Erkut e Gzara (2008) focam um outro tema não tão aprofundado no artigo anterior, a

resolução do modelo (ao invés do desenho do modelo). Neste artigo os autores utilizam uma

formulação do problema de fluxo numa rede a dois níveis e comparam quatro cenários de

desenho de rede. Os diferentes níveis de decisão estão relacionados com a interacção entre as

decisões do agente regulador, que pretende minimizar o risco, e das transportadoras de

minimizar os custos. Os cenários de desenho de rede considerados neste artigo foram:

28

o Modelo não regulado, onde a rede de transporte de mercadorias perigosas é

determinada unicamente pelas transportadoras;

o Modelo sobre regulamentado, onde o agente regulador tem a autoridade de impor

determinadas rotas a cada transportadora o que permite minimizar o risco, dado que

tanto a rede como as rotas das transportadoras são determinadas pelo governo, mas

implica um excesso de regulação que pode não ser muito realista;

o Modelo de dois passos, em que o governo tem a autoridade de impor a mesma rede a

todas as transportadoras e as transportadoras podem determinar de seguida quais as

rotas de custo mínimo;

o Modelo a dois níveis, onde o governo considera o uso actual da rede de mercadorias

perigosas pelas transportadoras.

Foram considerados como dados para o modelo o custo de deslocação ao longo dos arcos

(distância actual), a densidade populacional ao longo dos arcos e as localizações e respectivas

populações dos lugares de reunião na cidade. Através desses dados é possível calcular o risco,

de forma semelhante à apresentada em Erkut e Alp (2007).

2.3.2.1 Definição de risco adoptada neste estudo

O risco é um conceito utilizado em várias áreas de actividade, existindo assim a necessidade de

o apresentar tal como considerado no âmbito restrito deste trabalho de investigação. Ao longo

do tempo, diversas medidas de risco têm vindo a ser utilizadas pelos autores que têm

trabalhado na área do transporte de mercadorias perigosas.

Apenas a título ilustrativo, Verter e Kara (2001) consideram que o risco no transporte de

mercadorias perigosas é uma medida das possíveis consequências indesejáveis, tanto na

população como no ambiente, decorrentes das deslocações de mercadorias perigosas. Apesar

de reconhecerem a existência de diversas abordagens, por não existir um consenso entre os

diversos autores sobre qual a forma mais adequada de modelar o risco associado a este

transporte, os autores salientam três modelos de risco mais utilizados que os restantes: o

modelo tradicional/social de risco (número de pessoas afectadas como resultado de um

acidente ocorrido durante o transporte), a exposição da população (número total de pessoas

potencialmente expostas aos veículos que transportam mercadorias perigosas) e a

probabilidade de ocorrência de um acidente.

Neste trabalho considera-se a avaliação quantitativa do risco, de que resulta uma avaliação

numérica do mesmo. Através do número de acidentes no transporte de mercadorias perigosas

29

num determinado período e a distância total percorrida pelos camiões de mercadorias

perigosas nesse mesmo período, é possível calcular a taxa de acidentes num determinado tipo

de secção de estrada. Multiplicando esse valor pelo comprimento da secção de estrada

considerada, obtém-se a probabilidade de ocorrer um acidente com mercadorias perigosas

(Erkut et al., 2007).

A população exposta como resultado de um acidente é um parâmetro importante na

quantificação do risco. Erkut et al. (2007) referem que muitos dos estudos feitos consideram

uma densidade populacional uniforme ao longo dos diversos arcos, apesar de esta ser uma

aproximação grosseira, incluindo pelo facto de os dados obtidos através dos censos apenas

terem em conta os residentes e não incluírem as instalações de elevada densidade

populacional, tais como as escolas e os hospitais. As possíveis consequências indesejáveis de

um acidente no transporte de mercadorias perigosas encontram-se referidas no subcapítulo

2.2.2 e incluem uma avaliação da zona de exposição, da população e das propriedades e

recursos ambientais nessa zona.

2.4 Conclusões do capítulo

Neste capítulo estudou-se a literatura existente sobre o transporte de mercadorias perigosas e

respectiva logística, tendo em vista a sua aplicação ao transporte de combustíveis líquidos que

se pretende desenvolver no caso de estudo (Capítulo 3). Foram abordados temas específicos

do transporte de mercadorias perigosas, como os riscos associados a este transporte e

respectiva quantificação, a evolução da regulação e modelos de IO descritos na literatura.

Apesar da caracterização do caso de estudo deste projecto só ser descrito no próximo capítulo,

esta foi realizada em simultâneo com a revisão aqui apresentada. Com base nesta revisão, e

tendo em conta o problema da Galp (Capítulo 3), um modelo de Programação Linear é a

abordagem mais adequada para as características do problema e os recursos disponíveis.

Entre os modelos estudados, o modelo desenvolvido por Kara e Verter em 2004 foi o escolhido

para servir de base ao modelo desenvolvido para adaptar à cadeia logística da Galp na cidade

de Lisboa, com o objectivo de determinar quais os itinerários que não devem ser permitidos ao

transporte de mercadorias perigosas pelo agente regulador e quais são os percursos de menor

risco nessa rede para cada frete. Este modelo é linear, com variáveis binárias e pode ser

resolvido com solvers comerciais disponíveis no mercado. A função objectivo minimiza a

população exposta através da proibição de utilização de determinados arcos da rede no

30

transporte de mercadorias perigosas. A escolha deste modelo como base fundamentou-se no

facto de o modelo estar descrito na literatura, haver ferramentas disponíveis para a sua

implementação e, ao contrário do artigo de Verter e Kara (2008), não necessitar que sejam

calculados os k caminhos mais curtos através de heurísticas ou através da construção de um

outro modelo. Para além dos aspectos de natureza científica, a implementação de um modelo

que tenha este por base poderá fornecer perspectivas interessantes à empresa acerca dos

percursos preferíveis do transporte das mercadorias perigosas.

31

3. Caso de estudo: distribuição de combustíveis líquidos da

Galp em Lisboa

Este trabalho pretende contribuir para a identificação de itinerários para o transporte de

mercadorias perigosas, preferíveis do ponto de vista da segurança e da viabilidade económica

das empresas que os distribuem, contribuindo, assim, para a melhoria da segurança real e

perceptível em Portugal. Assim sendo, foi considerado útil estudar o caso português

seleccionando-se a Galp, por ser a empresa de combustíveis portuguesa e predominante na

distribuição dos mesmos no país. A Galp congratulou-se com a escolha e aceitou colaborar

através do estabelecimento da primeira colaboração com o IST neste âmbito, tendo

enquadrado a realização dum estágio na empresa pela autora deste estudo. A colaboração IST-

Galp foi muito bem-sucedida e incluiu reuniões de fornecimento de dados relevantes, análises

conjuntas e o estabelecimento de uma relação academia-empresa que se prevê que possa

enquadrar estudos futuros.

Este capítulo começa por apresentar o grupo Galp Energia (subcapítulo 3.1), seguindo-se uma

descrição dos processos de distribuição dos combustíveis petrolíferos e respectivos centros

logísticos (subcapítulo 3.2). Com base nos conhecimentos adquiridos nestas secções,

apresentam-se no subcapítulo 3.3 os parâmetros do caso de estudo.

3.1 O grupo Galp Energia

O Grupo Galp Energia é o único grupo integrado de produtos petrolíferos e gás natural de

Portugal, e o presente trabalho estuda a determinação de caminhos seguros para o transporte

de combustíveis petrolíferos deste mesmo grupo. Com uma presença activa em 13 países

distribuídos por 4 continentes (Figura 10) e cerca de 1500 estações de serviço, a Galp conta

com três séculos de uma história de sucesso (a génese da empresa remonta ao século XIX, na

altura sob outra designação). Para este sucesso contribuíram os pilares fundamentais da

empresa, tais como a inovação e melhoria contínuas e a segurança humana e ambiental. O

grupo Galp Energia é constituído pela Galp Energia e empresas subsidiárias, tais como a

Petróleos de Portugal – Petrogal, S.A. e a GDP – Gás de Portugal, assim como pelos seus

accionistas, clientes e colaboradores. Actualmente, a Galp Energia é um operador integrado de

multi-energia que se encontra presente em toda a cadeia de valor do petróleo e do gás

natural, estando cada vez mais presente no mercado das energias renováveis (Galp Energia,

2012).

32

Figura 10 – Países onde se desenvolvem as actividades predominantes do grupo Galp Energia, em termos de Exploração e Produção, Refinação e Distribuição, e Gas e Power (Galp, site)

3.2 Distribuição de produtos petrolíferos

A distribuição de produtos petrolíferos inclui o transporte de produtos refinados aos clientes

directos e aos postos de abastecimento, tendo a Galp Energia uma presença muito relevante

em Portugal e Espanha neste negócio. De acordo com a própria Galp, e de forma a conseguir

responder às necessidades dos seus clientes, a empresa dispõe de um sistema logístico que

cobre a Península Ibérica (Figura 11), permitindo assegurar uma grande flexibilidade nas

vendas e na distribuição (Galp Energia, 2012).

Figura 11 – Sistema logístico da Galp Energia (www.galpenergia.com, 2012)

CLC – Companhia Logística de Combustíveis CLH - Compañía Logística de Hidrocarburos

33

O País é abastecido de combustíveis petrolíferos através dos diversos parques logísticos,

estando associado a cada um destes uma área de influência que abrange uma determinada

região do país. Assim, o Norte do país é abastecido pelo parque da Boa Nova, com uma

capacidade de armazenagem de cerca de 30.000 m3, sendo este alimentado por pipelines a

partir da refinaria de Matosinhos. O Sul é abastecido através da refinaria de Sines, com uma

capacidade de armazenagem de 3.000.000 m3 (incluindo a armazenagem de petróleo bruto).

Da mesma forma, a ilha da Madeira é abastecida pelo parque de armazenagem do Caniçal e os

Açores pelos parques de armazenagem das Flores e da Horta.

Até à década de 90, e no que se refere aos produtos da Galp, a região centro do País (que

corresponde a cerca de 50% dos consumos totais do país) foi abastecida de combustíveis

derivados do petróleo a partir da refinaria de Cabo Ruivo, de onde saíam mais de 500 camiões

cisterna por dia para a distribuição de combustíveis a granel e gás engarrafado. Após o anúncio

de que a Expo 98’ se situaria no local deste pólo petrolífero, tornou-se necessário alterar a sua

localização, tendo a Galp assumido uma posição pioneira ao decidir criar uma instalação de

dimensão europeia em Aveiras de Cima, a Companhia Logística de Combustíveis (CLC). Nesta

instalação os produtos são recebidos e armazenados, para serem posteriormente

transportados (Galp Energia, 2012).

A CLC é uma empresa que opera na área da logística de combustíveis, sendo responsável pela

exploração do primeiro oleoduto multiproduto da Europa a transportar combustíveis líquidos

e gases de petróleo liquefeitos, que faz a ligação entre Sines e Aveiras, e pelo parque de

combustíveis na instalação de Aveiras de Cima (Figura 12 e Figura 13). Esta solução

salvaguarda não só a segurança das pessoas como respeita a qualidade do ambiente das zonas

circundantes.

Figura 12 – Instalações da CLC (www.clc.pt, 2012) Figura 13 - Oleoduto entre Sines e Aveiras

34

Apesar de ter sido inicialmente constituída pela Petrogal, actualmente o capital da CLC é

também detido em 20% pela BP Portugal S.A. e em 15% pelo grupo Repsol YPF. Este parque de

combustíveis ocupa uma área de 60 hectares e dispõe de 140.000 m3 de capacidade de

armazenamento para a Galp (Galp Energia, 2012).

Conforme referido, a área metropolitana de Lisboa (onde se insere o caso de estudo –

subcapítulo 3.3) é fundamentalmente aprovisionada de componentes petrolíferos através do

parque de Aveiras de Cima da CLC. Os componentes petrolíferos vêm da Refinaria de Sines

através do oleoduto de 147km, que transporta óleos brancos (gasolinas e gasóleos), jets

(combustível utilizado pelos aviões) e GPL (gás de petróleo liquefeito). A ordem de transporte

dos diversos produtos no oleoduto não é arbitrária, para prevenir contaminações entre os

diversos componentes transportados, pelo que os produtos são transportados de forma

sequencial e por ciclos:

Figura 14 - Ciclo de transporte dos produtos no oleoduto que liga Aveiras de Cima a Sines

O corte entre os diferentes produtos transportados no oleoduto é efectuado com base nas

densidades características de cada produto: as misturas que têm densidades iguais às

densidades características dos produtos vão para os respectivos tanques de armazenagem,

enquanto as restantes misturas vão para tanques de slops (tanques de armazenamento de

resíduos oleosos). Devido à margem de manobra existente nas características dos produtos, as

misturas presentes nos tanques de slops podem ser tratadas de forma a atingirem as

Gasóleo

Gasolina

sem chumbo 95

Butano

Propano

Butano Gasolina

sem chumbo 98

Gasolina

sem chumbo 95

Gasóleo

Jet A1

35

densidades dos produtos desejados e irem de seguida para os tanques de armazenagem,

excepto no caso dos jets (utilizados no transporte aéreo) onde por razões de segurança não

são efectuadas misturas. Depois de se encontrarem nos tanques de armazenagem, os

produtos combustíveis são levados para os postos de abastecimento e para os clientes

directos, onde a entrega é feita à consignação. O transporte é efectuado através de camiões

cisterna com 6 compartimentos, os quais devem ir cheios de forma a que os camiões não

sofram problemas de estabilidade. A entrada em Lisboa dos camiões vindos da CLC é feita pela

auto-estrada A1.

Apesar de Lisboa não pertencer à área de influência do parque da Tanquisado, em situações de

contingência este parque também serve de origem para os combustíveis líquidos que

abastecem a capital do país. Situado em Setúbal, este parque apresenta uma capacidade de

47 000 m3. Os camiões cisterna que abastecem Lisboa a partir do parque da Tanquisado vêm

para Lisboa através da Ponte Vasco da Gama.

Um frete é constituído por n entregas (ou clientes) e, apesar de o ideal ser que a cada frete

corresponda uma entrega, muitas vezes isso não é possível. Em média, são feitas 1,7 entregas

por cada frete (média do país) e no máximo tem-se três entregas por frete. A descarga do

produto no cliente demora pelo menos 45 min, razão pela qual não é viável ter mais de três

clientes por frete. O normal é haver apenas um ou dois clientes por frete, principalmente no

concelho de Lisboa. A função de alguns colaboradores no Departamento de Operações e

Distribuição da Galp5 é juntar as entregas por forma a que o camião fique completo e que os

clientes de um mesmo frete sejam o mais próximos possível uns dos outros, mantendo

concordância nas quantidades a entregar.

3.3 Especificação do caso de estudo

O caso de estudo que se inseriu no projecto de investigação descrito nesta dissertação incide

sobre o transporte de mercadorias perigosas, nomeadamente gasolinas e gasóleos, efectuado

por empresas ao serviço do grupo Galp Energia, aos postos de abastecimento e aos clientes

directos do Concelho de Lisboa, sendo incluídos na análise os principais itinerários que, não

pertencendo ao mesmo, servem de acesso ao concelho. O tipo de zona a estudar foi dos

5 Anteriormente, este departamento denominava-se Departamento de Controlo de Processos

Operacionais

36

primeiros aspectos a ser definido, visto a aplicação desta metodologia (Capítulo 4) apresentar

características distintas em termos de abordagem no caso de se tratar de uma área rural ou de

uma área urbana. Optou-se pela área urbana de Lisboa, pelo facto de ser uma região para a

qual se dispunha de uma base de dados bastante complexa e ainda pela Galp, parceira neste

trabalho, ter interesse nesta análise. Dado que a área de estudo do modelo de Kara e Verter

(2004), Western Ontario, é uma região com características diferentes das de uma cidade, que é

o presente caso de estudo, poderão ser utilizados alguns dos elementos presentes nos artigos

revistos no capítulo 2.3.3 de forma a melhor ajustar o modelo ao caso de estudo.

A Galp Energia é constituída por três segmentos de negócio distintos:

Exploração & Produção

Refinação & Distribuição

Gas & Power

O presente trabalho é relativo ao sector da Refinação & Distribuição, onde está integrada a

secção da logística. A logística na Galp encontra-se dividida em três áreas distintas e

independentes: a logística de combustíveis líquidos, a logística de GPL (gás de petróleo

liquefeito) e a logística de gás natural. Neste trabalho apenas é considerada a distribuição dos

combustíveis líquidos gasolina e gasóleo, não sendo considerada a distribuição de GPL nem de

gás natural. A logística das distribuições de GPL é muito diferente da de combustíveis líquidos,

por ter diferentes pontos de entrega e em maior número, o que faz com que o modelo a

desenvolver não se adeqúe bem aos dois tipos de mercadoria. Para além disto, o facto de a

colaboração ter sido feita com a área de combustíveis líquidos, actualmente separada da

logística de gás natural, dificultaria o processo de obtenção da informação relativa a outras

áreas da logística. Foi também decidido que os jets não serão considerados neste modelo,

dado que na área de estudo apenas existe um par OD (origem-destino) para este combustível,

da CLC de Aveiras para o Aeroporto de Lisboa através da A1, e os caminhos alternativos para

este percurso não se mostrarem muito viáveis.

A cidade de Lisboa foi seleccionada para análise da distribuição de óleos brancos pela Galp.

Para a análise desta região, utilizou-se uma rede rodoviária construída através do software

ArcGIS, a qual permite integrar a localização dos clientes no modelo de Programação Linear.

Esta rede foi construída no âmbito de outros projectos de investigação no CESUR, Instituto

Superior Técnico, e adaptada para o presente trabalho (conforme descrito no Anexo III). Da

análise da rede rodoviária disponível à data, concluiu-se que a sua enorme dimensão (cerca de

37

36 000 arcos) tornava muito provável a inviabilidade de correr o programa com sucesso, uma

vez que estudos anteriores apresentam uma dimensão máxima da rede rodoviária de 134

arcos e 105 vértices. Assim, foi seleccionada uma área da cidade, a freguesia de Santa Maria

dos Olivais (Olivais) para aplicação deste estudo. A dimensão da rede utilizada no estudo dos

Olivais, 682 arcos e 461 nós, é ainda muito superior à dos estudos encontrados na bibliografia.

As principais razões para a selecção da freguesia dos Olivais foram o facto de esta se situar

perto da entrada dos combustíveis em Lisboa (através da A1), apresentar características

diversas, grande variedade de densidades populacionais (de acordo com a Base Geográfica de

Referenciação de Informação - BGRI), um número de arcos e nós compatível com a resolução

do modelo de Programação Linear (em tempo útil) e abranger seis clientes da Galp. Todo o

processo de recolha de dados e eventual simplificação dos mesmos será apresentado no

subcapítulo 5.1 da dissertação.

Este estudo inicial numa única freguesia apresenta, ainda, a vantagem de poder contribuir

para a identificação de refinamentos do modelo a aplicar na metodologia expandida a toda a

área da cidade de Lisboa (Capítulo 6).

38

4. Definição do modelo de Programação Linear

Este capítulo começa com a caracterização do modelo a aplicar e a justificação da sua escolha,

bem como algumas noções adicionais referentes aos modelos de Programação Linear

relacionadas com o modelo em causa (subcapítulo 4.1). No subcapítulo 4.2 apresenta-se a

respectiva formulação matemática e no subcapítulo 4.3 um exemplo ilustrativo da aplicação

do modelo. O capítulo termina com algumas notas referentes à aplicação do modelo ao caso

de estudo.

4.1 Caracterização do modelo

Para atingir os objectivos do trabalho, nomeadamente identificar itinerários seguros para o

transporte de mercadorias perigosas (subcapítulo 1.2), e com base no conhecimento científico

actual (Capítulo 2, em particular Kara e Verter (2004)), este trabalho desenvolverá um modelo

de Programação Linear a dois níveis. Um modelo a dois níveis consiste em dois problemas de

optimização hierarquicamente relacionados pertencentes a dois decisores distintos, no qual a

decisão óptima de um deles se encontra restringida pelas escolhas do outro decisor (Bianco et

al., 2009). Neste caso, o regulador assume o papel de líder por ser quem toma as decisões no

primeiro nível, das quais vão depender as escolhas das transportadoras. Assim, o problema

exterior é definido pelo agente regulador e permite determinar quais os arcos que devem ser

incluídos na rede, devendo o regulador decidir qual a rede disponível de acordo com critérios

de minimização do risco total resultante das escolhas das transportadoras. O problema interior

é definido pelas empresas transportadoras e incorpora as decisões relativas a caminhos na

rede disponível. Kara e Verter (2004) apresentam um modelo cujo objectivo é a determinação

da rede de menor risco total, assumindo a minimização de custos por parte das

transportadoras, tendo alcançado significativas reduções no risco de transporte em Ontário

Ocidental no Canadá (Kara e Verter, 2004).

Uma das estratégias de resolução dos problemas de Programação Linear a dois níveis consiste

na aplicação das condições de Karush-Kuhn-Tucker (KKT), processo utilizado em Kara e Verter

(2004). Estas condições permitem transformar o modelo de programação linear inteira a dois

níveis num modelo de apenas um nível, através da substituição da formulação inicial do

problema pela formulação que resulta da aplicação das referidas condições, o que permite,

consequentemente, resolver o problema através de um software comercial (Bianco et al.,

2009).

39

O modelo será resolvido para uma rede constituída por um conjunto de pontos, designados

nós, e linhas, designadas arcos, as quais unem pares de nós. Os nós correspondem a pontos

coincidentes com alterações das características da via, como por exemplo intersecções,

enquanto os arcos correspondem a segmentos de estrada pertencentes à rede. Um caminho

entre dois nós é a sequência de arcos distintos que une esses nós (Hillier e Lieberman, 2005).

No modelo de Kara e Verter (2004) assume-se que cada camião tem apenas um destino e que

as consequências indesejáveis de um eventual incidente envolvendo mercadorias perigosas

ocorrem até uma dada distância do local onde ocorreu o incidente, distância esta que varia

com o tipo de mercadoria perigosa. Isto significa que quando um camião atravessa um

determinado arco, apenas as pessoas até essa distância ao arco estão expostas à mercadoria

que o camião transporta. Assim, as mercadorias perigosas são agrupadas em categorias de

acordo com a distância do impacto de um eventual incidente associado a cada uma delas.

No risco associado ao transporte de mercadorias perigosas é assumida a aditividade dos

impactos. Considera-se que o risco é conhecido para cada arco e independente da direcção do

frete, bem como que cada ponto de um mesmo arco tem a mesma probabilidade de incidente

e nível de consequências. A soma do risco da actividade de transporte em cada arco resulta na

linearidade da função objectivo (Erkut et al., 2007). No caso deste trabalho, a população

exposta corresponderá à medida de risco usada pelo regulador e a distância percorrida é a

base para a escolha de rotas das transportadoras, mas a metodologia pode ser facilmente

utilizada com outras medidas de risco e custo.

4.2 Formulação matemática do modelo

Pelo facto de este ser um modelo a dois níveis que foi transformado para poder ser resolvido,

apresenta-se de seguida a formulação matemática original e depois a resultante da aplicação

das condições de KKT:

4.2.1 Modelo a dois níveis (original)

4.2.1.1 Índices

c – frete

p – centro populacional

40

i,j,k – nó

m – tipo de mercadoria

4.2.1.2 Conjuntos

C – fretes na rede, c C – Cada frete é caracterizado por um nó de origem, um nó de destino e

um tipo de mercadoria perigosa transportada

P – centros populacionais, p P – Conjunto de centros populacionais afectados pela actividade

de transporte de mercadorias perigosas

N – nós, (i,j) N

A – arcos, (i,j) A, onde (i,j) designa o arco que liga os nós i e j, no sentido i → j

M – tipos de mercadorias, m M

4.2.1.3 Parâmetros

– número de pessoas em p expostas a um camião que transporte a mercadoria

perigosa m no arco (i,j)

– comprimento do arco (i,j)

– número de camiões utilizados no frete c

4.2.1.4 Variáveis de decisão

As variáveis de decisão do modelo são binárias:

= 1 caso o arco (i,j) esteja disponível para o transporte da mercadoria perigosa m,

= 0

caso contrário.

= 1 caso o arco (i,j) seja utilizado no frete c,

= 0 caso contrário.

41

4.2.1.5 Formulação matemática

Função objectivo

[1]

Sujeito a:

{ } [2]

Onde resolve:

[3]

Sujeito a:

[4]

Onde:

o(c) – nó de origem do frete c

d(c) – nó de destino do frete c [2]

[5]

m(c) – mercadoria perigosa transportada no frete c

{ } [6]

O problema exterior (com a função objectivo [1]) refere-se às decisões sobre quais os arcos

que devem ser disponibilizados para o transporte de mercadorias perigosas, enquanto o

problema interior, representado pela função objectivo [3] e as restrições [4] a [6], trata das

escolhas de caminhos dentro da rede disponibilizada. As variáveis de decisão binárias do

problema exterior ( ) constituem parâmetros para o problema interior, pelo que dados os

valores de o problema interior consiste no problema da determinação do fluxo de custo

mínimo na rede, minimizando a distância total percorrida pelos camiões (função objectivo [1]).

A expressão [2] define que a variável de decisão binária só pode tomar dois valores: 1 caso

o arco (i,j) esteja disponível para o transporte da mercadoria perigosa m e 0 caso contrário.

∑ ∑ ∑

∑ ∑

∑ ∑

{

}

42

Os requisitos de equilíbrio de fluxo verificam-se através da equação [4]. Esta equação garante,

no caso dos nós intermédios, que se um nó não é de origem nem de destino a mercadoria

perigosa tem de seguir para outro nó, isto é, que a diferença entre o número de arcos que

entram e saem do nó tem de ser nula. No caso do nó de origem a equação garante que o

número de arcos que saem menos o número de arcos que entram é igual a 1, o que resulta em

que apenas um arco sai do nó de origem (e nenhum entra). No nó de destino a relação entre o

número de arcos que saem e entram é igual a -1, o que garante que apenas um arco entra no

nó de destino e nenhum sai deste nó.

A inequação [5] garante que apenas os arcos disponibilizados pelo agente regulador podem ser

utilizados pelas transportadoras. Para isso, indica que só podem ser utilizados no frete ( = 1)

os arcos que foram previamente determinados como arcos disponíveis para o transporte de

mercadorias perigosas pelo agente regulador ( = 1).

A restrição [6] indica que a variável de decisão é binária, isto é, que o arco ou é utilizado

para um determinado frete ou não é utilizado e que os arcos a utilizar pertencem ao conjunto

dos arcos A.

4.2.2 Modelo a dois níveis com condições KKT

4.2.2.1 Índices

c – frete

p – centro populacional

i,j – nó

m – tipo de mercadoria

4.2.2.2 Conjuntos

C – fretes na rede, c C

P – centros populacionais, p P

N – nós, i,j N

A – arcos, (i,j) A, onde (i,j) designa o arco que liga os nós i e j, no sentido i → j

M – tipos de mercadorias, m M

43

4.2.2.3 Parâmetros

– número de pessoas em p expostas a um camião que transporte mercadoria perigosa no

arco (i,j)

– comprimento do arco (i,j)

– número de camiões utilizados no frete c

R – número real positivo arbitrariamente elevado

4.2.2.4 Variáveis de decisão

= 1 caso o arco (i,j) esteja disponível para o transporte de mercadorias perigosas,

= 0

caso contrário.

= 1 caso o arco (i,j) seja utilizado no frete c,

= 0 caso contrário.

4.2.2.5 Variáveis auxiliares

Estas variáveis surgem devido à transformação do problema com as condições de KKT e não

correspondem a decisões, pelo que serão denominadas variáveis auxiliares.

e

são variáveis reais positivas enquanto é uma variável real (positiva ou negativa).

4.2.2.6 Formulação matemática

Função objectivo

[1]

Sujeita a:

[2]

[3]

[4]

(

) [5]

∑ ∑ ∑

∑ ∑

{

}

44

[ (

)] [6]

[7]

[8]

{ } [9]

{ } [10]

O modelo constituído pelas expressões [1] a [10] é um modelo de programação linear inteira

mista (MILP)6, com variáveis binárias e contínuas, e traduz o problema de identificação de

itinerários para o transporte de mercadorias perigosas que minimizem o risco de acidente sem

comprometer a viabilidade económica.

4.3 Exemplo ilustrativo de aplicação do modelo

Aplicou-se o modelo a um exemplo ilustrativo de dimensão reduzida retirado de Verter e Kara

(2008), uma vez que em Kara e Verter (2004) não figura um exemplo susceptível de ser usado

como teste de validação do modelo desenvolvido. A Figura 15 esquematiza a rede

considerada, onde os arcos são representados por linhas com o correspondente tempo de

percurso assinalado (em minutos) e os nós são representados por círculos numerados de

forma a facilitar a identificação. Como se pretende considerar a população exposta e esta não

é indicada no artigo referido, arbitraram-se dois centros populacionais, representados por dois

pontos, onde os valores associados correspondem ao número de habitantes de cada centro.

6 MILP - Mixed Integer Linear Programming

45

Figura 15 – Esquema simplificado da rede do exemplo ilustrativo

Na Figura 16 aparecem representados todos os arcos constituintes da rede, com a indicação

do nome e sentido dos mesmos (consideraram-se arcos nos dois sentidos entre cada par de

nós). Neste exemplo apenas se considerou um frete, constituído por um camião.

Figura 16 – Nome e sentido dos arcos pertencentes à rede

De seguida, definiu-se a população de cada um dos dois centros populacionais que se encontra

na área de influência de cada arco da rede (Quadro 3). Estes valores foram arbitrados tendo

em conta a distância a que cada centro populacional se encontra do meio de cada arco:

quanto mais distante um arco estiver do centro populacional, menor o valor da população

exposta associada ao arco (para esse centro populacional).

Pop2

Pop1

46

Quadro 3 – População de cada centro populacional na área de influência de cada arco

Arcos Pop 1 Pop 2

arco12 100 000 5 000

arco21 100 000 5 000

arco13 70 000 20 000

arco31 70 000 20 000

arco14 30 000 35 000

arco41 30 000 35 000

arco23 70 000 30 000

arco32 70 000 30 000

arco25 50 000 35 000

arco52 50 000 35 000

arco35 40 000 40 000

arco53 40 000 40 000

arco45 10 000 45 000

arco54 10 000 45 000

Pretende-se com este exemplo ilustrativo verificar qual o caminho que o modelo sugere para o

trajecto entre o nó 1 (origem) e o nó 5 (destino), pelo que se aplicaram as equações referidas

no subcapítulo 4.2 ao presente exemplo.

Apresentam-se de seguida algumas das equações do modelo que se considerou serem mais

relevantes, nomeadamente a função objectivo, as restrições relativas aos requisitos de

equilíbrio de fluxo e algumas das restrições que garantem que apenas os arcos disponibilizados

pelo regulador podem ser utilizados pelas transportadoras. O modelo completo pode ser

consultado no Anexo IV.

Função objectivo

Min (População exposta) = 105000* + 105000*

+ 90000* + 90000*

+ 65000*

+ 65000* + 100000*

+ 100000* + 85000*

+ 85000* + 80000*

+

80000* + 55000*

+ 55000*

Cada coeficiente na função objectivo corresponde à soma dos dois valores de habitantes

expostos que aparecem para cada arco no Quadro 3. De seguida, definiu-se a população de

cada um dos dois centros populacionais que se encontra na área de influência de cada arco da

rede (Figura 16). Estes valores foram arbitrados tendo em conta a distância a que cada centro

populacional se encontra do meio de cada arco: quanto mais distante um arco estiver do

47

centro populacional, menor o valor da população exposta associada ao arco (para esse centro

populacional).

Requisitos de equilíbrio de fluxo

1. Equilíbrio de fluxo do nó de origem (nó 1): garante que se um nó é de origem, apenas

um arco que saia deste nó é escolhido para o trajecto

-

+ -

+ -

= 1

2. Equilíbrio de fluxo dos nós intermédios (nós 2, 3 e 4): garante que se um nó não é de

origem nem de destino, o número de arcos que saem e entram neste nó deve ser

igual, isto é, que os arcos que entram neste nó devem também sair (por este não ser

um nó de destino)

- +

+ -

+ -

= 0

- +

- +

+ -

= 0

- +

+ -

= 0

3. Equilíbrio de fluxo do nó de destino (nó 5): garante que se um nó é de destino, apenas

um arco que entre neste nó é escolhido para o trajecto

- +

- +

- +

= -1

Restrição que garante que apenas os arcos disponibilizados pelo regulador podem ser

utilizados pelas transportadoras

- + ≤ 0

- + ≤ 0

O modelo foi implementado na linguagem de programação GAMS e resolvido através do

CPLEX (versão 12.4.0.0) num computador com processador Intel® Core™ i3-2350M de 2ª

geração. Apresentam-se no Quadro 4 as características do modelo e os resultados da sua

resolução: nº de variáveis, nº de variáveis binárias, nº de restrições, tempo de CPU, margem de

optimalidade e valor da função objectivo.

48

Quadro 4 - Resumo das características numéricas e resultados do modelo (exemplo ilustrativo)

Nº variáveis

Nº variáveis binárias

Nº restrições

Nº iterações

Tempo de CPU (s)

Margem de optimalidade (%)

Valor da função

objectivo

62 28 62 13 0,047 0 120 000

Os arcos da rede que estão disponíveis para o transporte de mercadoria perigosa (Yij) e os

arcos usados no seu transporte (Xij), resultam da resolução do modelo, conforme apresentado

no Quadro 5.

Quadro 5 – Solução do modelo (valor das variáveis de decisão)

Arcos Yij Xij

arco12 0 0

arco21 0 0

arco13 0 0

arco31 0 0

arco14 1 1

arco41 0 0

arco23 0 0

arco32 0 0

arco25 0 0

arco52 0 0

arco35 0 0

arco53 0 0

arco45 1 1

arco54 0 0

O valor da função objectivo corresponde à população afectada pelo transporte (120 000

habitantes). Este valor pode ser conferido através da expressão abaixo apresentada, através da

qual se obtém o mesmo valor gerado pela função objectivo:

Função objectivo =

Na Figura 17 é possível ver uma representação da solução obtida pelo modelo, onde se vê que

os arcos escolhidos foram o arco14 e o arco45.

49

Figura 17 – Trajecto identificado pelo modelo para esta rede

Interpretando agora a solução: apesar do comprimento do trajecto composto pelos arcos 14 e

45 (18 min) ser superior ao trajecto de arcos 12 e 25 (12 min), o que conduz a um custo de

transporte mais elevado, o trajecto escolhido expõe um menor número de pessoas ao risco

das consequências dum possível acidente pelo facto de estar mais próximo do centro

populacional Pop2, que tem metade da população do centro populacional Pop1, e o trajecto

constituído pelos arcos 12 e 25 passar mais perto de Pop1 do que o trajecto de arcos 14 e 45

passa por Pop2.

O exemplo descrito testa e valida o modelo desenvolvido, o qual poderá ser aplicado no caso

de Lisboa como apresentado no capítulo seguinte.

4.4 Aplicação do modelo ao caso de estudo

O modelo apresentado nas secções anteriores será resolvido para uma rede viária da cidade

de Lisboa e principais acessos à mesma. Conforme descrito no capítulo 3 apenas serão

considerados a gasolina e o gasóleo, pertencentes a uma mesma categoria de impacto7, pelo

que o presente modelo será adaptado a partir do de Kara e Verter (2004) considerando apenas

uma categoria de mercadoria.

No presente estudo será utilizada a população exposta como medida de risco, tal como

considerado por Kara e Verter (2004), mas considera-se que a escolha de caminhos pelas

7 Segundo a Transport Canada (1996), é requerida a evacuação de pessoas num espaço de 800m de um derrame

resultante de um incidente envolvendo gasolina ou gasóleo. Como ambos os materiais apresentam a mesma exposição, considera-se que se encontram numa mesma categoria, o que permite que não haja distinção entre os materiais presentes no modelo (Kara e Verter, 2004).

Pop2

Pop1

50

transportadoras é efectuada com base no tempo de viagem e não no comprimento do

percurso. Esta alteração face ao realizado por Kara e Verter (2004) justifica-se pelo artigo ser

referente a um ambiente rural enquanto no caso deste estudo se trata dum ambiente urbano,

onde uma mesma distância pode representar tempos de viagem bastante díspares.

51

5. Resolução do caso de estudo

O presente capítulo aborda a aplicação do modelo, apresentado no capítulo anterior, ao caso

de estudo da distribuição de combustíveis da Galp Energia. Pretende-se identificar caminhos

seguros para o transporte de combustíveis líquidos, através da interdição de transporte desta

mercadoria nos troços que se considere apresentarem um maior risco. O primeiro subcapítulo

descreve a recolha de dados e os processos de simplificação assumidos, enquanto na segunda

são descritos e comentados os resultados obtidos.

5.1 Recolha e tratamento de dados

5.1.1 Informação sobre combustíveis

De forma a poder aplicar o modelo ao caso de estudo, foi necessário recolher dados que

permitissem caracterizar a distribuição efectuada pela Galp aos postos de abastecimento (PA)

e clientes directos em Lisboa. Assim, a empresa, no âmbito duma colaboração estabelecida

para este estudo (Anexo VII), cedeu dados relativos à localização dos clientes e às quantidades

de combustível entregues em cada cliente por dia, durante dois anos.

No caso dos clientes directos, foi disponibilizado pela Galp a quantidade de combustível

entregue em Lisboa durante a totalidade do ano 2012. Porém, para os PA, apenas estavam

disponíveis os dados referentes aos primeiros 9 meses do ano. Assim, optou-se por aplicar um

factor de proporcionalidade à quantidade de combustível entregue em Lisboa nos PA,

assumindo que as entregas em 2012 seriam proporcionais às entregas em 2011, ano para o

qual já se dispunha de dados para todos os meses do ano.

O factor de proporcionalidade foi calculado através da divisão do número total de m3

entregues em Lisboa em 2011 pelas quantidades entregues entre Janeiro e Setembro de 2011,

período para o qual se dispunha das quantidades de combustível entregues por posto de

abastecimento. Através da multiplicação do factor de proporcionalidade pelas entregas entre

Janeiro e Setembro de 2012 obteve-se uma estimativa de quantidade total de combustível

entregue em cada PA de Lisboa em 2012.

52

Com excepção do Algarve que se comporta como um outlier8, o resto do país, incluindo Lisboa

onde se localiza este estudo, apresenta uma evolução semelhante em termos de sazonalidade

das entregas. Conforme se pode verificar na Figura 18, os consumos de gasolinas e gasóleos

em Lisboa não variam muito nos diversos meses do ano, pelo que se considerou que não seria

interessante modelar um mês em particular. Assim, optou-se por utilizar no modelo a

quantidade total de combustível entregue em 2012 em cada cliente e PA.

5.1.2 Informação geográfica

Foi construída uma rede rodoviária no software ArcGIS, adaptada de uma já existente, de

forma a incluir a localização dos clientes no modelo. Pelo facto de a rede estar definida com

um número de arcos superior àquele que se prevê que o modelo conseguiria suportar,

conforme referido no subcapítulo 3.3, tornou-se necessário reduzir a dimensão da mesma.

Para isso reduziu-se a área de estudo e simplificou-se a rede, através da junção de arcos e da

remoção de alguns troços de menor relevância para esta análise.

A rede inicial era constituída por 35 981 arcos, como pode ser visto na Figura AIV.1, em

apêndice. Excluindo a parte da rede que não pertencia à cidade de Lisboa nem constituía uma

das principais vias de acesso à mesma, obteve-se uma rede com 14 195 arcos (Figura AIV.2).

Retirando algumas alternativas de caminhos às zonas em que não existem postos de

abastecimento nem clientes da Galp, como por exemplo a zona de Monsanto, a rede ficou com

9 759 arcos (Figura AIV.3). Reformulando a forma como os cruzamentos estão definidos na

8 Um outlier, ou valor atípico, é uma observação numericamente distante dos restantes dados.

10.000

10.500

11.000

11.500

12.000

12.500

13.000

jan

-11

fev-

11

mar

-11

abr-

11

mai

-11

jun

-11

jul-

11

ago

-11

set-

11

ou

t-1

1

no

v-1

1

dez

-11

Distribuição de gasóleo e gasolinas em Lisboa em 2011

Mensal

Média

Figura 18 – Pormenor do gráfico com a distribuição de gasóleo e gasolinas em Lisboa em 2011

53

rede e agregando os arcos entre cruzamentos adjacentes, obteve-se uma rede com 7 267

arcos (visualmente a rede mantém-se idêntica à Figura AIV.3, dado que apenas a configuração

dos cruzamentos foi alterada). Ao considerar apenas a freguesia dos Olivais bem como as

principais vias de acesso à mesma que não pertencem à freguesia, a rede ficou com 682 arcos,

tendo sido esta a rede utilizada na resolução do caso de estudo.

Aos dados obtidos através da Galp juntou-se informação do Instituto Nacional de Estatística

(INE) sobre a população residente na área de estudo, de forma a poder calcular o risco a que

esta população está sujeita pelo transporte de combustíveis.

Para incorporar na rede os dados actualizados da população, obtiveram-se através do Instituto

Nacional de Estatística (INE) os dados dos últimos Censos relativamente à população residente

em cada Base Geográfica de Referenciação de Informação (BGRI). Através da divisão da

população pela área de cada BGRI, obteve-se a respectiva densidade populacional.

A população afectada por cada frete foi calculada através da seguinte fórmula:

,

Onde Pop exp. corresponde à população exposta, larco ao comprimento de cada arco,

Densidade à densidade populacional e 50+50 a um buffer de 50m para cada lado do arco

denominado distância de exposição a impactos directos. Sendo este estudo em meio urbano,

com uma rede densa de estradas edificadas, e não tendo sido encontradas na literatura

análises semelhantes neste tipo de ambiente, assumiu-se que os efeitos directos de um

eventual acidente ficariam confinados a uma distância desta ordem de grandeza.

De forma a obter o tempo de percurso de cada frete, tornou-se necessário estimar a

velocidade a que os camiões percorrem cada arco (Quadro 6). A rede original apresentava a

velocidade máxima a que os veículos ligeiros podiam circular em cada arco, pelo que se

associou essa informação à velocidade máxima para os veículos pesados de mercadorias com

reboque, através do Decreto-Lei nº 44/2005 de 23 de Fevereiro do código da estrada. No

código da estrada apenas aparecem definidas algumas velocidades para os ligeiros - 120, 100,

90 e 50 km/h (ver Anexo V) - mas na rede modelada apareciam os valores intermédios de 80,

70 e 60 km/h, pelo que se admitiu que para os casos de 80 e 70 km/h a velocidade

correspondente para os veículos pesados corresponderia a uma redução de 20 km/h (por

analogia à diferença que existe entre ligeiros e pesados no limite de 90 km/h) e uma redução

de 10 km/h no caso da velocidade máxima para ligeiros ser de 60 km/h, utilizando uma

54

analogia semelhante à anterior para obter o limite de 50 km/h. Por fim, aplicou-se um

coeficiente de degradação de 5%, de forma a ter em conta o possível congestionamento das

vias. Dividindo o comprimento do arco, medido através de SIG, pela velocidade (já com o

coeficiente de degradação), obtém-se o tempo de percurso de cada arco.

Quadro 6 – Relação entre as velocidades originais da rede e as velocidades consideradas no modelo [km/h]

Velocidade Ligeiros

Velocidade Pesados

Vel. Degradada (-5%)

50 40 38

60 50 48

70 60 57

80 60 57

90 70 67

100 70 67

120 80 76

Foram adoptadas diversas estratégias de forma a lidar com a complexidade da integração dos

dados com o ArcGIS. Assim, assumiram-se as seguintes hipóteses:

Mercadoria transportada

Conforme referido no subcapítulo 3.3, incluiu-se neste estudo as gasolinas e os

gasóleos (óleos brancos);

Considerou-se que todos os óleos brancos pertenciam à mesma categoria do modelo;

Cada camião contendo o mesmo tipo de material impõe o mesmo risco;

Densidade populacional

A densidade populacional em torno de um segmento de estrada é constante;

Nos arcos que atravessam duas BGRI, considerou-se que a densidade populacional do

mesmo correspondia à média de ambos os valores;

A probabilidade de haver um acidente é constante em cada arco;

Rede rodoviária

Considerou-se como origem dos fretes a entrada da A1 em Lisboa, por ser através

desta auto-estrada que os fretes entram em Lisboa, vindos da CLC de Aveiras;

Assumiu-se que os camiões circulam à velocidade máxima permitida para os veículos

pesados, diminuída de um coeficiente de degradação correspondente a 5% dessa

velocidade;

55

Assumiu-se que a velocidade nas curvas é a mesma da dos arcos com alinhamentos

mais rectos;

Admitiu-se uma aditividade de impactos entre duas ou mais ligações em torno de um

centro populacional;

Postos de abastecimento

Os pontos de destino do modelo (postos de abastecimento e clientes directos) foram

representados através da projecção da sua localização real para o nó da rede mais

próximo;

Não foram incluídos neste estudo os postos de abastecimento e os clientes não

abastecidos pela Galp Energia na freguesia em estudo (Olivais).

5.1.3 Integração dos dados em ArcGIS com o sistema de modelação GAMS

Após a integração dos dados no ArcGIS, foram inseridos no programa em GAMS os índices,

conjuntos e parâmetros necessários para uma adequada caracterização do modelo. Para isso,

foram definidos os arcos que entram e saem de cada nó da rede e o nó de origem e de destino

de cada frete. Os dados relativos à rede em ArcGIS foram exportados para uma folha de

cálculo que o programa em GAMS lê, utilizando as funcionalidades xls2gms e gdx. Estas

ferramentas permitem fazer a ligação entre a folha de cálculo e o GAMS, tanto no input como

no output.

Como o risco está associado à quantidade de combustível transportado (quanto maior a

quantidade transportada, mais gravosas podem ser as consequências de um eventual

incidente), optou-se por considerar no modelo a quantidade de combustível transportado por

ano (em litros), para cada um dos PAs e clientes considerados, transformando o número de

litros de combustível em camiões equivalentes. Assim, somaram-se as quantidades entregues

em 2012 em cada um dos clientes e PAs analisados e, dividindo pela capacidade dos camiões

que efectuam estas entregas (30m3), obteve-se o número de camiões necessários anualmente

para entregar essas quantidades de combustível (camiões equivalentes). A capacidade dos

camiões foi indicada pelo Departamento de Operações e Distribuição da Galp.

No Quadro 7 são apresentados o nome de cada cliente e o respectivo número atribuído, a

quantidade de combustível entregue por ano nesse cliente e o número de camiões

equivalentes a que essa quantidade de combustível corresponde.

56

Quadro 7 – Quantidade de combustível entregue em cada PA e cliente directo da freguesia dos Olivais

Nº do Posto

Nome do Cliente Combustível

entregue por ano (m3)

Nº camiões equivalentes

1 Local de Entrega 1 7922 264

2 Local de Entrega 2 6492 216

3 Local de Entrega 3 2025 68

4 Local de Entrega 4 2923 97

5 Local de Entrega 5 652 22

6 Local de Entrega 6 5585 186

5.2 Resultados e discussão

Após o tratamento de dados descrito, seguiu-se a implementação do modelo de Programação

Linear na linguagem GAMS, o qual foi validado com exemplos de teste (conforme descrito em

4.3). Numa primeira fase é analisado o caso de estudo numa região de Lisboa, sendo

posteriormente efectuada uma análise de sensibilidade a diferentes inputs do modelo,

permitindo que seja testada a robustez dos resultados do mesmo.

5.2.1 Resultados do modelo de Programação Linear

O modelo implementado devolve a rede que deve ser disponibilizada para as transportadoras

e as escolhas de rotas dentro desta mesma rede. O modelo escolhe, dentro das vias

disponíveis, aquelas que minimizam o risco para cada abastecimento.

Implementou-se o modelo apresentado no subcapítulo 4.2.2 na linguagem de programação

GAMS e resolveu-se através do CPLEX (versão 12.4.0.0) num computador com processador

Intel® Core™ i3-2350M de 2ª geração. Começou-se por correr o modelo com uma margem de

optimalidade de 0,5, por se recear que o modelo pudesse demorar muito tempo a encontrar

uma solução. Porém, após o modelo ter encontrado rapidamente uma solução óptima,

experimentou-se correr o modelo em estudo com uma margem de optimalidade de 0. Durante

o pré-processamento do GAMS o modelo foi reduzido para 1 470 restrições (linhas), 3 718

variáveis (colunas) e 4 072 variáveis binárias, valores bastante inferiores aos originais. Em

ambas as margens de optimalidade consideradas, obteve-se a solução óptima e o mesmo valor

da função objectivo, com tempos de CPU (tempo despendido para resolver o modelo)

bastante reduzidos.

57

No Quadro 8 apresenta-se um resumo das características numéricas e resultados do modelo,

composto pelo nº de variáveis, nº de variáveis binárias, nº de restrições, tempo de CPU9 (em

segundos), margem de optimalidade e valor da função objectivo. O valor da função objectivo

corresponde à população afectada pelo transporte dos seis fretes do caso de estudo, 838 335.

Quadro 8 –Resumo das características numéricas e resultados do modelo

Nº variáveis

Nº variáveis binárias

Nº restrições

Nº iterações

Tempo de CPU (s)

Margem de optimalidade (%)

Valor da função

objectivo

15 763 4 788 33 007 3 222 1,92 0 838 335

No Quadro 9 são referidos o número de camiões equivalentes (dado do problema) e algumas

características do resultado obtido pelo modelo para cada um dos fretes, nomeadamente: nº

de arcos utilizados no transporte e o tempo total de percurso dos mesmos. A solução obtida

foi validada através da verificação de que os arcos correspondentes a cada frete são

sequenciais, isto é, que onde acaba um arco começa o seguinte, desde a origem até ao destino

do frete.

Quadro 9 – Características do resultado obtido para cada um dos fretes

Frete Nº camiões Nº arcos Tempo de

percurso (min)

Frete 1 264 58 21,1

Frete 2 216 38 18,5

Frete 3 68 43 19,5

Frete 4 97 73 27,9

Frete 5 22 71 27,1

Frete 6 186 72 27,8

De forma a obter a representação gráfica do caminho recomendado pelo modelo em GAMS

para cada um dos fretes estudados (Figura 19), exportaram-se os resultados obtidos para Excel

e de seguida integraram-se os mesmos na já referida rede em ArcGIS, para que com a ajuda do

SIG o resultado pudesse ser visualizado e, assim, mais facilmente interpretado.

Nas figuras abaixo apresentadas é possível verificar qual o percurso recomendado para cada

um dos fretes analisados. De notar que apesar de aparecem vários PAs e clientes na Figura 19,

apenas os dos Olivais (aqueles que estão numerados) foram considerados no modelo.

9 O tempo de CPU referido corresponde ao tempo de CPU empregue na resolução do modelo.

58

Frete 1 – Local de entrega 1: Av. Marechal Gomes da Costa S/N

1

Figura 20 – Percurso determinado pelo modelo para o frete 1, com destino à Av. Marechal Gomes da Costa S/N

1 2

3 4

5 6

Figura 19 – Localização e numeração dos seis clientes e PAs da Galp nos Olivais

59

Frete 2 - Local de entrega 2: Av. Marechal Gomes da Costa N/S

F

Frete 3 – Local de entrega 3: Aeroporto de Lisboa

Figura 22 - Percurso determinado pelo modelo para o frete 3, com destino ao Aeroporto de Lisboa

Figura 21 – Percurso determinado pelo modelo para o frete 2, com destino à Av. Marechal Gomes da Costa N/S

2

3

60

Frete 4 – Local de entrega 4: Av. Berlim

Figura 23 - Percurso determinado pelo modelo para o frete 4, com destino à Av. De Berlim

Frete 5 – Local de entrega 5: Av. Infante Dom Henrique

Figura 24 - Percurso determinado pelo modelo para o frete 5, com destino à Av. Infante Dom Henrique

4

5

61

Frete 6 – Local de entrega 6: Av. Pádua

Figura 25 – Percurso determinado pelo modelo para o frete 6, com destino à Av. de Pádua

5.2.2 Análise de sensibilidade

De forma a verificar o efeito de alguns parâmetros do modelo sobre a solução óptima,

nomeadamente do valor de R e da densidade populacional dos arcos (da rede viária), realizou-

se uma análise de sensibilidade. O parâmetro tempo de trajecto não foi sujeito a uma análise

de sensibilidade, pelo facto de poder alterar a fisiografia da rede em estudo e isso

impossibilitar uma representação gráfica desta análise de sensibilidade com a rede em

questão. Optou-se, em vez disso, por considerar realidades diferentes dentro desta mesma

rede, como variações à densidade populacional dos arcos e ao valor de R (Big-M), a partir do

cenário do caso de estudo. O que se pretende através da análise ao valor de R é inferir como é

que a variação de R afecta a possibilidade de resolver o modelo e o respectivo valor da função

objectivo, enquanto que com a variação da densidade populacional se pretende verificar de

que forma é que os caminhos definidos pelo modelo para cada um dos fretes são susceptíveis,

ou não, a variações deste parâmetro.

5.2.2.1 Variação de R (Big-M)

O modelo de Programação Linear inclui um parâmetro R, muitas vezes referido na literatura

como Big-M. De forma a verificar o comportamento do modelo para diferentes gamas de

valores de R, fez-se variar este valor no intervalo das potências de 10 compreendidas entre 10

6

62

e 1012, analisando para cada valor se a solução do modelo é possível ou impossível e quais os

respectivos valores da função objectivo e de tempo de CPU. De forma a obter os valores do

quadro apresentado, correu-se o modelo três vezes para cada valor de R considerado e

calculou-se a média do tempo de CPU.

Quadro 10 - Resultados obtidos com o modelo para diferentes valores de R (Big-M)

R Resultado Função

objectivo Tempo de

CPU(s)

10 Solução impossível - -

100 Solução impossível - -

1 000 Solução impossível - -

104 Solução possível 838 335 1,644

105 Solução possível 838 335 2,335

106 Solução possível 838 335 2,636

107 Solução possível 838 335 3,671

108 Solução possível 838 335 9,703

109 Solução possível 838 335 8,991

1010 Solução possível 838 335 2,184

1011 Solução possível 838 335 2,007

1012 Solução possível 838 335 1,721

Verifica-se assim que o modelo é sensível ao valor do R, dado que se este for demasiado

reduzido se torna impossível a sua resolução (o CPLEX termina com a mensagem “Problem is

integer infeasible”). Salienta-se ainda que o valor da função objectivo se mantém constante

para os diferentes valores de R para os quais a solução é possível. O valor de tempo de CPU

variou entre 1,6 e 9,7 segundos, não tendo sido encontrada nenhuma relação entre este valor

e o valor de Big-M.

5.2.2.2 Variação da densidade populacional

Conforme referido, o critério utilizado pelo modelo para definir os caminhos de menor risco é

a densidade populacional. Desta forma, julgou-se interessante verificar como varia a solução

do modelo caso todos os arcos apresentem a mesma densidade populacional. Pretende-se,

através desta análise, verificar que uma variação da população conduz efectivamente a uma

escolha distinta de trajecto e analisar essa solução (do modelo).

No quadro abaixo apresentado aparecem discriminados para cada frete o tempo de percurso

em minutos (Tempo), a população exposta (Pop. exposta), o número de camiões que efectuam

entregas por ano (Nc) e o número de arcos que constituem o percurso escolhido (Nº arcos),

em dois cenários distintos: o caso de estudo (com a densidade populacional real em cada arco)

e o cenário referido acima, com a mesma densidade populacional em todos os arcos da rede.

63

Considerou-se como valor de densidade populacional a atribuir o valor médio da densidade

populacional dos arcos da rede, sendo a densidade ponderada pelo comprimento do arco

respectivo (expresso como tempo de percurso).

Quadro 11 – Comparação de soluções do modelo com a densidade populacional real e com a mesma densidade

populacional em todos os arcos

Densidade populacional real Densidade populacional igual

Tempo

Pop. exposta

Nc Nº arcos Tempo Pop.

exposta Nc

Nº arcos

Frete 1 21,1 966 264 58 27,2 7 350 264 30

Frete 2 18,5 706 216 38 24,0 4 655 216 19

Frete 3 19,5 710 68 43 25,6 3 675 68 15

Frete 4 27,9 1 117 97 73 25,5 5 880 97 24

Frete 5 27,1 1 117 22 71 27,8 6 860 22 28

Frete 6 27,8 1 342 186 72 27,1 6 615 186 27

Soma 6 fretes 142 5 958 853 - 157 35 035 853 -

Total/ano 19 366 838 335 - - 22 236 5 147 450 - -

Total/camião/ano 22,7 983 - - 26,1 6 035 - -

Em total/ano contabiliza-se o tempo total e a população exposta total associados às

quantidades entregues em cada cliente ao longo de um ano, pelo que este valor resulta da

multiplicação da “soma 6 fretes” pela quantidade de camiões equivalentes correspondente a

cada frete. Em total/camião/ano apresentam-se os valores médios de tempo de percurso e

população exposta, por camião (ou seja, por frete), obtidos através da divisão dos valores

totais/ano pelo número total de camiões.

A população exposta aumentou drasticamente no modelo com densidade populacional igual

em comparação com a densidade populacional real, pelo facto de neste cenário o modelo não

dispor de arcos com menor densidade pelos quais se possa optar por forma a minimizar o

risco.

Podia-se estar à espera de que no cenário em que a densidade populacional é igual em todos

os arcos da rede o modelo optasse por caminhos mais curtos do que no primeiro cenário (caso

de estudo) e portanto o tempo total de percurso fosse inferior, o que não se verifica. De facto,

como os dados de entrada (densidade populacional em cada arco) são diferentes dos do caso

de estudo, ao resolver o modelo, os arcos disponibilizados pelo regulador são distintos, o que

faz com que as transportadoras escolham os caminhos mais curtos nesse novo conjunto de

arcos disponíveis.

64

Salienta-se ainda que a interpretação do número de arcos que constituem o percurso

escolhido deve ser efectuada com cuidado, dado que tanto existem arcos com 1m de

comprimento como arcos com 20km. Assim se justifica que no modelo com densidade

populacional igual os fretes tenham tempos de percurso superiores apesar de serem

constituídos por um menor número de arcos.

Assim, constata-se que o modelo original desenvolvido no âmbito deste estudo, com base na

revisão bibliográfica efectuada, teve êxito na identificação dos percursos a utilizar no

transporte dos combustíveis (óleos brancos) para cada um dos fretes da empresa Galp Energia

na freguesia dos Olivais, associando-os à respectiva população exposta e ao tempo de

percurso e garantindo a sua viabilidade económica.

65

6. Conclusões

6.1 Síntese do projecto de investigação

Resumo do trabalho desenvolvido

O transporte de mercadorias perigosas tem grande relevância na sociedade contemporânea,

correspondendo a cerca de 10% da totalidade de mercadorias transportadas por estrada em

Portugal (ANPC, 2012). Para além disso, operações associadas a este transporte apresentam

um risco potencial elevado devido à perigosidade do material envolvido, pelo que estão

sujeitas a requisitos de segurança exigidos às empresas de transporte, que dependem do tipo

de material envolvido. A necessidade de transportar estes materiais de forma segura,

protegendo as pessoas e o ambiente, tem de ser equilibrada com a viabilidade económica

desta operação fundamental à prosperidade económica e ao bem-estar das sociedades

actuais.

Uma das medidas mais frequentes para diminuir o número e gravidade dos potenciais

acidentes decorrentes do transporte destas mercadorias é a interdição, pelo regulador, da

circulação em determinados troços rodoviários, em áreas que se considere serem mais

vulneráveis. Assim, o risco de transporte está, em grande medida associado aos trajectos

escolhidos pelas transportadoras, dentro da rede disponibilizada para o efeito pelo regulador.

É neste contexto que se insere o presente trabalho, que pretende ser um contributo para a

identificação de itinerários preferíveis para o transporte de mercadorias perigosas que tenham

em conta estas duas vertentes: a segurança das populações e a viabilidade económica da

operação.

Com base na revisão da bibliografia relevante apresentada no capítulo 2, seleccionou-se o

modelo de Programação Linear a dois níveis desenvolvido por Kara e Verter (2004) para servir

de plataforma sobre a qual este estudo seria conduzido. Esta escolha baseou-se na sua

relevância para se atingirem os objectivos deste trabalho de investigação, identificados no

subcapítulo 1.2, e na disponibilidade de ferramentas para a sua implementação. O modelo

adoptado visa definir os troços rodoviários que o agente regulador deve disponibilizar para o

transporte de mercadorias perigosas e, dados estes, a identificação dos caminhos a utilizar

pelas transportadoras para cada frete.

Para a viabilização do desenvolvimento do caso de estudo em Portugal, como se pretendia,

considerou-se útil estabelecer uma colaboração com a Galp, por ser a empresa nacional de

66

combustíveis e a que lidera a sua distribuição no país. Definiu-se que o estudo seria aplicado à

distribuição de óleos brancos (gasolinas e gasóleos) aos postos de abastecimento e clientes

directos da empresa na freguesia dos Olivais, em Lisboa (Capítulo 3), por ter surgido a

necessidade de diminuir o número de arcos da rede e esta freguesia se situar perto da entrada

dos combustíveis em Lisboa, apresentar grandes variedades de densidades populacionais e um

número de arcos e nós compatível com a resolução do modelo de Programação Linear.

O modelo de Programação Linear a dois níveis, desenvolvido no âmbito deste estudo, foi

implementado no sistema de modelação GAMS e permite a tomada de decisões relativamente

a quais os percursos a disponibilizar pelos agentes reguladores, minimizando os riscos para a

população, e sugere que percursos as empresas transportadoras devem utilizar de forma a

minimizar os seus custos de operação. Após a validação do modelo com um exemplo de

reduzida dimensão baseado na literatura (Capítulo 4), a sua aplicação ao caso real em Lisboa

requereu a associação entre os dados da rede viária de Lisboa (em SIG) e os dados de

transporte e distribuição fornecidos pela Galp, e o modelo de Programação Linear (codificado

em GAMS). Para isso, foi necessário simplificar a rede adoptada reduzindo o número de arcos,

trabalho esse que foi bastante moroso. Relativamente à distribuição de óleos brancos aos

postos de abastecimento e aos clientes directos da Galp Energia em Lisboa, foram fornecidas a

sua localização geográfica e as quantidades de combustível entregue (vendas).

Contribuindo para atingir inteiramente os objectivos deste estudo pioneiro em Portugal, a

aplicação do modelo conduziu à identificação de percursos que equilibram a segurança do

transporte e a viabilidade económica na distribuição de óleos brancos pela Galp Energia na

freguesia dos Olivais, em Lisboa (Capítulo 5).

Este estudo, aplicado à realidade nacional, contribuiu para o aprofundamento do tema e

beneficiou duma colaboração entre a academia e a indústria que beneficiou todas as partes

envolvidas. Nos próximos pontos deste capítulo serão explorados um resumo dos resultados,

as contribuições e os potenciais desenvolvimentos deste trabalho (um dos quais já em

realização).

Contribuições e resultados

O modelo de Programação Linear desenvolvido pretendeu encontrar um compromisso entre a

população exposta ao risco e a viabilidade económica do transporte de mercadoria perigosa. O

modelo desenvolvido no âmbito do presente estudo tem uma dimensão muito superior (em

termos de número de arcos e nós da rede) a qualquer outro encontrado na bibliografia. Para

67

além disso, não se encontrou na literatura a aplicação anterior deste tipo de modelos à

realidade portuguesa, pelo que se considera que o trabalho desenvolvido é inovador e

preenche uma lacuna identificada.

Salienta-se como particularmente relevante:

(i) O facto de o modelo de Programação Linear ter sido aplicado a um caso de estudo real, em

ambiente urbano, o que acrescentou complexidade ao desenvolvimento do mesmo, sobretudo

ao nível do tratamento dos dados. Por exemplo, a rede viária utilizada estava disponível num

sistema de informação geográfica (ArcGIS), e foi necessário importar estes dados para o

programa em linguagem GAMS em que o modelo de Programação Linear foi codificado. Para

efectuar esta ligação recorreu-se a uma folha de cálculo Excel construída para o efeito, a qual

atingiu uma dimensão muito apreciável (subcapítulo 5.1).

(ii) A parceria, já mencionada, com a empresa portuguesa que actua neste sector, a Galp

Energia, e o Instituto Superior Técnico, beneficiando a transferência de conhecimentos e

práticas entre a academia e a indústria e contribuindo para o aprofundamento das relações

entre sectores fundamentais da economia e que poderá ter efeitos no progresso tecnológico e

económico nacional.

Uma vez implementado e validado o modelo, desenvolveu-se o caso de estudo que consistiu

na análise das entregas efectuadas pela Galp Energia aos seis postos de abastecimento e

clientes directos da freguesia dos Olivais, em Lisboa. A rede viária utilizada (após simplificação)

é constituída por 682 arcos e 461 nós, uma dimensão consideravelmente superior às redes que

figuram nos artigos encontrados na revisão bibliográfica, nomeadamente os 57 arcos e 48 nós

que constituem a rede utilizada por Kara e Verter (2004).

O modelo aplicado aos Olivais foi resolvido à optimalidade num tempo computacional

reduzido (menos de 2 segundos), indicando os arcos da rede a utilizar no transporte dos

combustíveis (óleos brancos) e, destes, quais deverão ser utilizados no transporte para cada

um dos seis fretes considerados. Por análise dos resultados foi ainda possível determinar a

população exposta, para cada um dos fretes, e o respectivo tempo de percurso.

Na análise de sensibilidade ao modelo estudaram-se dois aspectos distintos: a variação do

parâmetro R (Big-M) para diferentes gamas de valores e um cenário onde a densidade

populacional é igual em todos os arcos. Verificou-se que o modelo é sensível ao valor de R pelo

facto de ser impossível a sua resolução quando este valor é demasiado reduzido e que os

68

diferentes valores de R (para os quais o modelo tem soluções possíveis) resultaram num

mesmo valor da função objectivo (z). Ao ser aplicado o mesmo valor de densidade

populacional em todos os arcos, verificou-se uma escolha de trajectos distinta. A população

exposta aumentou substancialmente no modelo com densidade populacional igual

comparativamente com a densidade populacional real, dado que neste cenário o modelo não

dispunha de arcos com menor densidade populacional pelos quais os camiões pudessem

circular.

6.2 Recomendações para desenvolvimentos futuros

Esta secção apresenta possíveis orientações para desenvolvimentos futuros relacionadas,

fundamentalmente, com simplificações e pressupostos assumidos no caso de estudo.

Uma expansão natural e desejável é o aumento da área geográfica e respectivo número de

fretes a analisar, nomeadamente a toda a cidade de Lisboa. A rede rodoviária a utilizar deverá

permitir a consideração duma área geográfica maior sem que o número de arcos e nós

aumente excessivamente. Face aos tempos de computação reduzidos obtidos para a freguesia

dos Olivais (caso de estudo), perspectiva-se que seja possível obter soluções óptimas ou muito

próximas do óptimo para Lisboa, com o modelo de Programação Linear desenvolvido. Esse

trabalho de ampliação do âmbito geográfico do estudo já está em curso (Correia, 2014).

Por motivos de simplificação, considerou-se que a população exposta correspondia aos valores

de população residente obtidos dos Censos 2011. Porém, será interessante distinguir a

população residente considerada no modelo (população durante a noite) da população que

está efectivamente presente nessa zona, considerando sazonalidades diárias e mensais. Para

isso teriam de ser considerados os pólos de atracção em cada zona, tais como serviços e

empregos/escolas. Correia (2014) terá em consideração alguns destes aspectos. Para além da

estimação da variação periódica da população, poderão ser tidos em conta o estado das vias e

a largura das mesmas, atribuindo assim diferentes níveis de perigosidade a cada uma das

opções de trajecto, o que seria considerado pelas transportadoras aquando da escolha de

percurso. Um estudo futuro relevante será a consideração doutro tipo de impactos em caso de

acidente, incluindo o da distância de exposição a impactos directos, que requererá a análise de

buffers com outras ordens de grandeza.

Outra análise interessante será a comparação dos trajectos utilizados pelos camiões das

transportadoras que operam com a Galp com os resultantes do modelo, o que permitiria

69

calcular a diferença entre a população que actualmente está exposta aos combustíveis (óleos

brancos) e a população que ficaria exposta se fossem utilizados os trajectos sugeridos pelo

modelo. Esta análise não foi efectuada pelo facto de a Galp subcontratar este serviço às

transportadoras sem saber que caminhos utilizam, pelo que não se dispunha dessa

informação. Será também interessante implementar um modelo de Programação Linear de

minimização de custos, de forma a poder comparar os percursos resultantes deste novo

modelo com os percursos resultantes do modelo implementado neste estudo, que têm em

consideração não só a minimização de custos mas também o risco. Através dessa comparação

será possível quantificar quais as reduções em termos de população exposta obtidas com este

estudo face à adopção do caminho mais curto para cada frete e qual o aumento de custo que a

minimização de risco implica para as transportadoras.

Por fim, será interessante ampliar o estudo para áreas geográficas maiores, as quais, em

conjunto, cobrirão o País. A implementação deste estudo a nível nacional será um contributo

para a melhoria da segurança do transporte de mercadorias perigosas em Portugal,

diminuindo os riscos inerentes a este tipo de transporte e garantindo, simultaneamente, a

viabilidade económica da operação.

6.3 Observação conclusiva

O estudo descrito no presente documento foi bem-sucedido e, apoiada na revisão

bibliográfica, foi desenvolvida uma implementação computacional original de um modelo de

Programação Linear a dois níveis que permitiu a identificação dos percursos para transporte de

combustíveis líquidos da Galp na freguesia dos Olivais em Lisboa, equilibrando a segurança

rodoviária com a viabilidade económica da operação. Para além disso, beneficiou duma

colaboração mutuamente estimulante com a indústria e despertou o interesse na sua

continuidade no âmbito duma outra dissertação de mestrado em curso (Correia, 2014). A

relevância e oportunidade do estudo garantem as condições necessárias para a promoção de

outros estudos subsequentes, para além do que está em curso, e acredita-se que possa

despertar o interesse de outras entidades académicas ou da indústria, inclusivamente noutros

países.

70

7. Referências

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74

Anexos – Parte I

Anexo I – Sinalização identificadora das diferentes classes de

mercadorias perigosas

Como referido no Capítulo 2 é importante que os veículos apresentem a identificação dos

produtos que transportam para facilitar o socorro em caso de acidente.

Figura AII.1 – Classe 1 (Matérias e objectos explosivos)

Figura AII.2 – Classe 2 (Gases)

75

Figura AII.3 – Classe 3 (Líquidos inflamáveis)

Figura AII.4 – Classe 4

Figura AII.5 – Classe 5 (Matérias comburentes ou Peróxidos orgânicos)

76

Figura AII.6 – Classe 6 (Matérias tóxicas ou infecciosas)

Figura AII.7 – Classe 7 (Matérias radioactivas)

77

Figura AII.8 – Classe 8 (Matérias corrosivas)

Figura AII.9 – Classe 9 (Matérias e objectos perigosos diversos)

78

Anexo II – Exemplos de incidentes de grande impacto envolvendo o

transporte de mercadorias perigosas

Em complemento ao subcapítulo 2.1.2 este anexo apresenta uma lista das principais causas de

acidentes graves envolvendo o transporte de materiais perigosos.

Quadro AIII – Incidentes de grande impacto envolvendo o transporte de mercadorias perigosas (top 10)

79

Anexo III – Rede implementada no software ArcGIS

A rede construída no software ArcGIS foi adaptada a partir de uma já existente, como referido

nos subcapítulos 3.3 e 5.1. Neste anexo são apresentadas algumas imagens representativas

das várias adaptações e simplificações efectuadas na mesma, referidas mais

pormenorizadamente no subcapítulo 5.1. A primeira imagem corresponde à rede inicial, na

segunda imagem é possível visualizar a rede apenas com a cidade de Lisboa e as principais vias

de acesso à mesma e na última imagem é possível ver a rede após reduções de arcos

adicionais.

Figura AIV.1 – Base de dados original (contém cerca de 36 000 arcos)

Figura AIV.2 – Base de dados apenas com Lisboa e principais vias de acesso (14 195 arcos)

80

Figura AIV.3 – Base de dados de Lisboa reduzida (9 759 arcos)

Figura AIV.4 – Base de dados com a freguesia dos Olivais e alguns dos principais eixos viários (682 arcos)

81

Anexo IV – Equações resultantes do exemplo ilustrativo do modelo

Apresenta-se de seguida a listagem do modelo GAMS (Secção 4.3):

---- popexp =E= População exposta

popexp.. - 105000*X(frete1,arco12) - 105000*X(frete1,arco21)

- 90000*X(frete1,arco13) - 90000*X(frete1,arco31) - 65000*X(frete1,arco14)

- 65000*X(frete1,arco41) - 100000*X(frete1,arco23)

- 100000*X(frete1,arco32) - 85000*X(frete1,arco25)

- 85000*X(frete1,arco52) - 80000*X(frete1,arco35) - 80000*X(frete1,arco53)

- 55000*X(frete1,arco45) - 55000*X(frete1,arco54) + z =E= 0 ; (LHS = 0)

---- rest2_o_no1 =E= Requisitos de equilíbrio de fluxo

rest2_o_no1(frete1).. X(frete1,arco12) - X(frete1,arco21) + X(frete1,arco13)

- X(frete1,arco31) + X(frete1,arco14) - X(frete1,arco41) =E= 1 ;

(LHS = 0, INFES = 1 ****)

---- rest2_d_no5 =E= Requisitos de equilíbrio de fluxo

rest2_d_no5(frete1).. - X(frete1,arco25) + X(frete1,arco52) - X(frete1,arco35)

+ X(frete1,arco53) - X(frete1,arco45) + X(frete1,arco54) =E= -1 ;

(LHS = 0, INFES = 1 ****)

---- rest2_ow_frete1 =E= Requisitos de equilíbrio de fluxo

rest2_ow_frete1(frete1,no2).. - X(frete1,arco12) + X(frete1,arco21)

+ X(frete1,arco23) - X(frete1,arco32) + X(frete1,arco25)

- X(frete1,arco52) =E= 0 ; (LHS = 0)

rest2_ow_frete1(frete1,no3).. - X(frete1,arco13) + X(frete1,arco31)

82

- X(frete1,arco23) + X(frete1,arco32) + X(frete1,arco35)

- X(frete1,arco53) =E= 0 ; (LHS = 0)

rest2_ow_frete1(frete1,no4).. - X(frete1,arco14) + X(frete1,arco41)

+ X(frete1,arco45) - X(frete1,arco54) =E= 0 ; (LHS = 0)

---- rest3 =L=

rest3(frete1,arco12,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco12) + X(frete1,arco12)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco21,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco21) + X(frete1,arco21)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco13,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco13) + X(frete1,arco13)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco31,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco31) + X(frete1,arco31)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco14,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco14) + X(frete1,arco14)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco41,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco41) + X(frete1,arco41)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco23,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco23) + X(frete1,arco23)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco32,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco32) + X(frete1,arco32)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco25,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco25) + X(frete1,arco25)

83

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco52,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco52) + X(frete1,arco52)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco35,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco35) + X(frete1,arco35)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco53,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco53) + X(frete1,arco53)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco45,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco45) + X(frete1,arco45)

=L= 0 ; (LHS = 0)

rest3(frete1,arco54,combustiveis).. - Y(combustiveis,arco54) + X(frete1,arco54)

=L= 0 ; (LHS = 0)

---- rest5 =E=

rest5(frete1,arco12,no1,no2).. - v(frete1,arco12) + lambda(frete1,arco12)

- w(frete1,no1) + w(frete1,no2) =E= -5 ; (LHS = 0, INFES = 5 ****)

rest5(frete1,arco21,no2,no1).. - v(frete1,arco21) + lambda(frete1,arco21)

+ w(frete1,no1) - w(frete1,no2) =E= -5 ; (LHS = 0, INFES = 5 ****)

rest5(frete1,arco13,no1,no3).. - v(frete1,arco13) + lambda(frete1,arco13)

- w(frete1,no1) + w(frete1,no3) =E= -8 ; (LHS = 0, INFES = 8 ****)

rest5(frete1,arco31,no3,no1).. - v(frete1,arco31) + lambda(frete1,arco31)

+ w(frete1,no1) - w(frete1,no3) =E= -8 ; (LHS = 0, INFES = 8 ****)

rest5(frete1,arco14,no1,no4).. - v(frete1,arco14) + lambda(frete1,arco14)

84

- w(frete1,no1) + w(frete1,no4) =E= -10 ; (LHS = 0, INFES = 10 ****)

rest5(frete1,arco41,no4,no1).. - v(frete1,arco41) + lambda(frete1,arco41)

+ w(frete1,no1) - w(frete1,no4) =E= -10 ; (LHS = 0, INFES = 10 ****)

rest5(frete1,arco23,no2,no3).. - v(frete1,arco23) + lambda(frete1,arco23)

- w(frete1,no2) + w(frete1,no3) =E= -2 ; (LHS = 0, INFES = 2 ****)

rest5(frete1,arco32,no3,no2).. - v(frete1,arco32) + lambda(frete1,arco32)

+ w(frete1,no2) - w(frete1,no3) =E= -2 ; (LHS = 0, INFES = 2 ****)

rest5(frete1,arco25,no2,no5).. - v(frete1,arco25) + lambda(frete1,arco25)

- w(frete1,no2) + w(frete1,no5) =E= -7 ; (LHS = 0, INFES = 7 ****)

rest5(frete1,arco52,no5,no2).. - v(frete1,arco52) + lambda(frete1,arco52)

+ w(frete1,no2) - w(frete1,no5) =E= -7 ; (LHS = 0, INFES = 7 ****)

rest5(frete1,arco35,no3,no5).. - v(frete1,arco35) + lambda(frete1,arco35)

- w(frete1,no3) + w(frete1,no5) =E= -11 ; (LHS = 0, INFES = 11 ****)

rest5(frete1,arco53,no5,no3).. - v(frete1,arco53) + lambda(frete1,arco53)

+ w(frete1,no3) - w(frete1,no5) =E= -11 ; (LHS = 0, INFES = 11 ****)

rest5(frete1,arco45,no4,no5).. - v(frete1,arco45) + lambda(frete1,arco45)

- w(frete1,no4) + w(frete1,no5) =E= -8 ; (LHS = 0, INFES = 8 ****)

rest5(frete1,arco54,no5,no4).. - v(frete1,arco54) + lambda(frete1,arco54)

+ w(frete1,no4) - w(frete1,no5) =E= -8 ; (LHS = 0, INFES = 8 ****)

---- rest6 =L= KKT conditions

rest6(frete1,arco12).. 50*X(frete1,arco12) + v(frete1,arco12) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco21).. 50*X(frete1,arco21) + v(frete1,arco21) =L= 50 ;

85

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco13).. 50*X(frete1,arco13) + v(frete1,arco13) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco31).. 50*X(frete1,arco31) + v(frete1,arco31) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco14).. 50*X(frete1,arco14) + v(frete1,arco14) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco41).. 50*X(frete1,arco41) + v(frete1,arco41) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco23).. 50*X(frete1,arco23) + v(frete1,arco23) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco32).. 50*X(frete1,arco32) + v(frete1,arco32) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco25).. 50*X(frete1,arco25) + v(frete1,arco25) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco52).. 50*X(frete1,arco52) + v(frete1,arco52) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco35).. 50*X(frete1,arco35) + v(frete1,arco35) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco53).. 50*X(frete1,arco53) + v(frete1,arco53) =L= 50 ;

(LHS = 0)

rest6(frete1,arco45).. 50*X(frete1,arco45) + v(frete1,arco45) =L= 50 ;

(LHS = 0)

86

rest6(frete1,arco54).. 50*X(frete1,arco54) + v(frete1,arco54) =L= 50 ;

(LHS = 0)

---- rest7 =L= KKT conditions

rest7(frete1,arco12,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco12)

- 50*X(frete1,arco12) + lambda(frete1,arco12) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco21,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco21)

- 50*X(frete1,arco21) + lambda(frete1,arco21) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco13,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco13)

- 50*X(frete1,arco13) + lambda(frete1,arco13) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco31,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco31)

- 50*X(frete1,arco31) + lambda(frete1,arco31) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco14,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco14)

- 50*X(frete1,arco14) + lambda(frete1,arco14) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco41,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco41)

- 50*X(frete1,arco41) + lambda(frete1,arco41) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco23,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco23)

- 50*X(frete1,arco23) + lambda(frete1,arco23) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco32,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco32)

- 50*X(frete1,arco32) + lambda(frete1,arco32) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco25,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco25)

- 50*X(frete1,arco25) + lambda(frete1,arco25) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco52,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco52)

87

- 50*X(frete1,arco52) + lambda(frete1,arco52) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco35,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco35)

- 50*X(frete1,arco35) + lambda(frete1,arco35) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco53,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco53)

- 50*X(frete1,arco53) + lambda(frete1,arco53) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco45,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco45)

- 50*X(frete1,arco45) + lambda(frete1,arco45) =L= 50 ; (LHS = 0)

rest7(frete1,arco54,combustiveis).. 50*Y(combustiveis,arco54)

- 50*X(frete1,arco54) + lambda(frete1,arco54) =L= 50 ; (LHS = 0)

88

Anexo V – Velocidades máximas indicadas pelo código da estrada

Excerto do Decreto-Lei nº 44/2005 de 23 de Fevereiro do código da estrada, com as

velocidades instantâneas máximas (em km/h) para as diversas categorias de veículos (Capítulo

5).

89

Anexos – Parte II

Anexo VI – Contextualização do estágio na Galp Energia

O estágio realizado no Grupo Galp Energia surgiu como desenvolvimento do projecto de

investigação “Itinerários seguros para o transporte de mercadorias perigosas”, que conduziu à

presente dissertação de Mestrado. Este projecto tem como objectivo final contribuir para a

melhoria da segurança rodoviária em Portugal, através da identificação de itinerários para o

transporte de mercadorias perigosas que minimizem o risco de acidente sem comprometer a

viabilidade económica.

Após o início do projecto, julgou-se proveitoso desenvolvê-lo em colaboração com a indústria,

o que permitiria aplicar conhecimentos académicos a um problema real identificado pela Galp

Energia. Pretendeu-se que o estágio contribuísse para o projecto de investigação na

caracterização do problema, na definição de variáveis e parâmetros a utilizar no modelo de

Programação Linear a construir e com o fornecimento de informação complementar relevante.

Por outro lado, espera-se que este trabalho permita ao Departamento de Controlo de

Processos Operacionais ter uma nova visão acerca dos riscos associados à distribuição dos seus

combustíveis e que, a longo prazo, contribua para a redução do impacto do negócio da Galp

Energia na comunidade, através da diminuição do risco associado ao transporte dos seus

produtos.

O estágio decorreu de 25 de Julho a 25 de Outubro de 2012, de forma não presencial. Este

facto permitiu que fossem utilizados tanto os recursos existentes no Instituto Superior Técnico,

como os recursos disponibilizados pela Galp Energia. O estágio decorreu sob a orientação da

Drª Zulmira Ramos e do Engº Jorge Gonçalves, estando as reuniões com estes responsáveis da

empresa descritas nos parágrafos seguintes. No Anexo VII é apresentado o plano de estágio,

que contém uma descrição do projecto de investigação e das actividades a realizar durante o

período de estágio.

25.07.12 – Início do estágio

07.08.12 – Reunião com a Dr.ª Zulmira Ramos. A Dr.ª Zulmira Ramos explicou como é feita a

distribuição na Galp e tirou algumas dúvidas sobre a distribuição e sobre o que seria mais

adequado considerar na tese. Ficou combinado que esta tentaria disponibilizar informação

relativa aos camiões e respectivos compartimentos, a localização dos postos de combustíveis e

90

dos clientes directos, as quantidades transportadas para cada cliente em Lisboa ao longo de

um ano (dados mensais, por causa da sazonalidade).

29.08.12 – Reunião com a Dr.ª Zulmira Ramos. Depois de um breve feedback do andamento da

tese, a Dr.ª Zulmira Ramos tirou mais algumas dúvidas em relação à distribuição de produtos

combustíveis na Galp e ficou combinado que cederia informação acerca da sazonalidade das

vendas, das quantidades distribuídas por cada posto de abastecimento e dos parques que

abastecem Lisboa.

27.09.12 – Reunião com a Dr.ª Zulmira Ramos, Eng.º Jorge Gonçalves e Hugo Sardinha (Trainee

Galp). No início da reunião começaram por ser abordadas questões relacionadas com a revisão

bibliográfica e como seria quantificado o risco no modelo. De seguida foram apresentadas e

explicadas as principais dificuldades relacionadas com a rede, bem como quais os passos que

se seguiriam para tentar solucionar este problema. Foi decidido que o estágio acabaria na data

prevista apesar de a tese não ser terminada nessa altura, e que seria entregue à Galp uma

versão provisória da tese pouco depois do término do estágio e posteriormente a versão final.

Foram por fim pedidos dados sobre as entregas efectuadas em cada um dos postos e sobre

quais os caminhos actualmente utilizados pelos veículos, de forma a compará-los com os

resultados obtidos através do modelo.

30.10.12 – Reunião com Dr.ª Zulmira, Professora Marta Gomes, Doutora Sílvia Shrubsall e

Frederico Henriques, nas instalações do Instituto Superior Técnico. A reunião começou com

um ponto de situação do trabalho desenvolvido desde a última reunião. A Dr.ª Zulmira falou

sobre o trabalho desenvolvido na Galp em diferentes áreas, nomeadamente sobre a

distribuição de produtos petrolíferos. Falou-se também sobre possíveis desenvolvimentos do

presente trabalho e como se poderiam proceder eventuais colaborações entre o Instituto

Superior Técnico e o grupo Galp Energia. No final ficou determinado que o relatório de estágio

seria entregue assim que possível em mão própria, nas instalações da Galp Energia.

23.11.13 – Reunião com Drª Zulmira, Engº Jorge Gonçalves e Frederico Henriques, nas

instalações da Galp Energia. A reunião começou com a entrega da versão provisória do

presente relatório à Drª Zulmira e ao Engº Jorge Gonçalves, de forma a poderem tomar

conhecimento, de uma forma mais concreta, do trabalho desenvolvido até ao momento e

poderem assim tecer alguns comentários antes da sua entrega final. De seguida foram

explicitadas e discutidas as principais especificidades do estudo em causa, nomeadamente os

desafios resultantes da dimensão da rede e respectivas simplificações. Optou-se por se

considerar uma área de estudo mais pequena para que pudesse ser utilizada a rede disponível,

91

a qual já apresentava à data um grande investimento de tempo pelo facto de as simplificações

efectuadas na mesma serem muito morosas.

92

Anexo VII – Plano de estágio curricular

Este estudo beneficiou de uma colaboração com a Galp Energia, como exposto em várias

partes da dissertação. No âmbito desta colaboração, a autora realizou um estágio cujo plano

se apresenta.

Plano de estágio curricular de

Madalena Sérvulo Rodrigues

no Grupo Galp Energia no âmbito duma colaboração com o

Instituto Superior Técnico (IST), inserido no

Projecto de Investigação:

Itinerários seguros para o transporte de mercadorias perigosas

conducente a uma dissertação de Mestrado em Engenharia Civil no ramo de Transportes, Urbanismo e Sistemas sob orientação da

Doutora Sílvia Shrubsall e da Professora Marta Gomes

Plano do Estágio

Doutora Sílvia Shrubsall, Professora Marta Gomes, Madalena Sérvulo Rodrigues

20 de Junho 2012

93

Plano de Estágio

Este documento contextualiza o estágio curricular a realizar no Grupo Galp Energia –

Departamento de Controlo de Processos Operacionais, no âmbito do Projecto de Investigação

Itinerários seguros para o transporte de mercadorias perigosas, conducente à dissertação de

Mestrado em Engenharia Civil, Ramo de Transportes, Urbanismo e Sistemas de Madalena

Sérvulo Rodrigues – a submeter no Instituto Superior Técnico.

As actividades de investigação decorrem sob a orientação de Doutora Sílvia Shrubsall e

Professora Marta Gomes. O estágio curricular, com uma duração prevista de 3 meses

prorrogáveis por igual período, decorrerá sob a orientação directa do Eng.º Jorge Gonçalves e

da Dr.ª Zulmira Ramos. As actividades de estágio terão início em Julho de 2012.

Na primeira parte do documento apresenta-se uma descrição sumária do projecto de

investigação, seguida da descrição das actividades a realizar durante o período de estágio.

Uma primeira versão deste Plano de Estágio foi enviada à Galp no dia 20 de Junho,

apresentando-se, agora, uma pormenorização de alguns dos seus pontos.

Parte I – Projecto de Investigação

Introdução

O desenvolvimento industrial das sociedades actuais tem levado a um crescimento da

necessidade de transporte de mercadorias, nomeadamente de mercadorias perigosas. As

sociedades dependem destes materiais para o seu funcionamento, nomeadamente dos óleos

brancos (gasolinas, gasóleos e jets) que serão os materiais abordados neste projecto.

Apesar do transporte de mercadorias perigosas originar um número reduzido de acidentes, as

consequências dos mesmos são frequentemente graves e onerosas devido à natureza da

carga. É esta diferença de risco que distingue a segurança de transporte de mercadorias

perigosas da do transporte de passageiros e outros materiais (Erkut et al., 2007). Apesar da

crescente consciencialização acerca dos perigos envolvendo o transporte de mercadorias

perigosas e do desencadeamento de processos que visam prevenir estas situações, as estradas

ainda estão longe de ser seguras.

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De forma a diminuir o risco associado ao transporte de mercadorias perigosas, alguns países

aumentaram a regulação deste tipo de transporte, sendo uma das medidas mais utilizadas a

interdição do transporte destas mercadorias em determinados troços rodoviários. Desta

forma, é possível reduzir o risco causado por este transporte nas áreas consideradas mais

vulneráveis, sendo a decisão dos trajectos adoptados dentro da rede disponível para o efeito

tomadas pelas transportadoras (Verter et al., 2008). Mas se por um lado é necessário regular o

transporte de mercadorias perigosas, de modo a minimizar os riscos, por outro o aumento da

regulação faz com que os custos de transporte deste tipo de mercadorias aumentem (Kara et

al., 2004), o que pode pôr em causa a sustentabilidade económica do transporte. Deve, então,

ser encontrado um equilíbrio entre os interesses de minimização do risco por parte das

autoridades reguladoras e os interesses das transportadoras de que essa diminuição de risco

não implique um aumento significativo do custo de transporte.

Objectivo

Este estudo pretende contribuir para a redução do número e gravidade dos acidentes,

diminuindo necessariamente o número associado de incidentes rodoviários, através da

identificação de itinerários seguros para o transporte de mercadorias perigosas. Assim,

pretende-se contribuir para a caracterização da situação nacional através da adaptação às

condições locais de modelos de programação linear (PL) aplicados e testados noutros países,

nomeadamente na região de Western Ontario, Canadá (Kara et al., 2004 e Verter et al., 2008).

Metodologia

De forma a atingir este objectivo, a metodologia utilizada é a seguinte:

1. Contextualização do problema

2. Revisão bibliográfica

3. Definição das variáveis a introduzir no modelo e tratamento dos dados

4. Concepção e desenvolvimento do modelo de PL

5. Aplicação do modelo a um caso de estudo em Lisboa (com o apoio da Galp)

6. Análise e discussão dos resultados

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As 6 fases da metodologia estão nalguns casos a ser desenvolvidas simultaneamente. Assim, os

pontos 1 e 2 e parte dos pontos 3 e 5 foram já desenvolvidos. Pretende-se que as restantes

tarefas sejam acompanhadas pela Galp-Energia (Parte II deste documento).

Resultados previstos

A aplicação do modelo à cidade de Lisboa, correspondente ao ponto 5 da metodologia

apresentada, será o primeiro passo na abordagem do problema. Este projecto em

desenvolvimento incluirá a análise de sensibilidade dos resultados (após aplicar o modelo de

PL ao caso de estudo). Prevê-se que em trabalhos futuros seja possível transferir a

metodologia, possivelmente refinando-a, a outras zonas do país, com a quantificação do risco

para os percursos possíveis entre dois pontos à escolha do transportador.

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Parte II – Colaboração Galp Energia/Instituto Superior Técnico

Introdução

O estágio curricular contribuirá decisivamente para o Projecto de Investigação “Itinerários

seguros para o transporte de mercadorias perigosas”, em particular na caracterização do

problema e definição de variáveis e parâmetros a utilizar no modelo de PL assim como

fornecimento de informação complementar relevante.

Objectivo

O projecto que enquadra o estágio curricular a realizar na Galp Energia irá contribuir para o

desenvolvimento (a médio-longo prazo) de uma metodologia que permita atribuir um nível de

risco associado a cada percurso, de acordo com várias variáveis, tais como algumas

características da via e a localização dos postos de combustíveis. Desta forma pretende-se

apoiar as decisões de escolha de percursos (que no caso da Galp são da competência do

Departamento de Controlo de Processos Operacionais). A empresa tem experiência

significativa na análise do risco do posto de trabalho, permitindo esta parceria expandi-la

“para a estrada” (transporte de produtos).

Metodologia

Para atingir o objectivo do estágio, contribuindo desta forma para os do projecto de

investigação (Parte I deste documento), definir-se-ão, numa colaboração entre a Indústria e a

Academia, as variáveis associadas ao ambiente rodoviário. Outro aspecto em que se antecipa

vantajosa a participação de ambas as instituições é a análise de sensibilidade dos resultados

obtidos.

As actividades de investigação a realizar durante o estágio requererão períodos de contacto

com elementos da empresa e outros de trabalho remoto para a utilização de ferramentas de

software e recolha bibliográfica. Propõe-se assim que, salvo raras excepções, nas tardes de 6ª

feira a investigação seja efectuada na empresa, incluindo este período algum desenvolvimento

do trabalho bem como reuniões com o responsável pelo estágio para alguns comentários

acerca do trabalho realizado. A apresentação do mesmo à empresa será efectuada depois da

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entrega do trabalho. É possível ver abaixo quais as datas propostas para a realização destes

períodos de contacto com a empresa.

Resultados previstos

A estagiária desenvolverá, no âmbito do projecto descrito na Parte I, um trabalho conducente

a uma dissertação de mestrado, sob a orientação dos responsáveis científicos em colaboração

com os responsáveis pelo estágio no grupo Galp Energia apresentado na Parte II. Prevê-se que

este trabalho contribua para o aumento da segurança rodoviária, a diminuição do impacto

ambiental causado pelo transporte de mercadorias perigosas e o estreitamento da

colaboração Indústria – Academia.

Datas previstas de contacto com a empresa

Encontram-se assinalados a cor castanha os dias que se prevêem ser de contacto com a

empresa, sendo que a amarelo estão representados os feriados.

JULHO AGOSTO SEM DOM SEG TER QUA QUI SEX SAB

SEM DOM SEG TER QUA QUI SEX SAB

27 1 2 3 4 5 6 7

31 1 2 3 4

28 8 9 10 11 12 13 14

32 5 6 7 8 9 10 11

29 15 16 17 18 19 20 21

33 12 13 14 15 16 17 18

30 22 23 24 25 26 27 28

34 19 20 21 22 23 24 25

31 29 30 31

35 26 27 28 29 30 31

SETEMBRO OUTUBRO SEM DOM SEG TER QUA QUI SEX SAB

SEM DOM SEG TER QUA QUI SEX SAB

30 1

1 1 2 3 4 5 6

31 2 3 4 5 6 7 8

2 7 8 9 10 11 12 13

32 9 10 11 12 13 14 15

3 14 15 16 17 18 19 20

33 16 17 18 19 20 21 22

4 21 22 23 24 25 26 27

34 23 24 25 26 27 28 29

5 28 29 30 31

35 30

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Referências

Erkut, E., Alp, O., (2007), “Designing a road network for hazardous materials shipments”,

Computers & Operations Research, 34, 1389-1405.

Kara, B. Y., Verter, V., (2004), “Designing a Road Network for Hazardous Materials

Transportation”, Transportation Science, Vol.38 (2), 188-196.

Verter, V., Kara, B. Y., (2008), “A Path-Based Approach for Hazmat Transport Network Design”,

Management Science, Vol. 54 (1), 29-40.

Contactos

IST

Doutora Sílvia Shrubsall [email protected]

Professora Marta Gomes [email protected]

Madalena Sérvulo Rodrigues [email protected]

Galp Energia Eng.º Jorge Gonçalves [email protected]

Dr.ª Zulmira Ramos [email protected]

Sílvia Shrubsall Marta Gomes Madalena Sérvulo Rodrigues

(orientadora científica) (orientadora científica) (Aluna de Mestrado e Estagiária)