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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE (UFAC) PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PROPEG) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL (PPG-MDR) Curso de Mestrado MARIA JOSE DO CARMO MAIA ESTUDO DA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DE MERCADORIAS NAS MICRORREGIÕES DE RIO BRANCO E CRUZEIRO DO SUL RIO BRANCO - ACRE 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE (UFAC) PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PROPEG)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL (PPG-MDR) Curso de Mestrado

MARIA JOSE DO CARMO MAIA

ESTUDO DA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DE

MERCADORIAS NAS MICRORREGIÕES DE RIO BRANCO E

CRUZEIRO DO SUL

RIO BRANCO - ACRE

2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE (UFAC) PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PROPEG)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL (PPG-MDR) Curso de Mestrado

MARIA JOSÉ DO CARMO MAIA

ESTUDO DA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DE MERCADORIAS NAS

MICRORREGIÕES DE RIO BRANCO E CRUZEIRO DO SUL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Acre - UFAC Área de concentração “Desenvolvimento Regional”, para a obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional.

Orientador: Prof. Dr. Adailton de Sousa Galvão

Rio Branco

2009

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MARIA JOSE DO CARMO MAIA

ESTUDO DA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DE MERCADORIAS NAS

MICRORREGIÕES DE RIO BRANCO E CRUZEIRO DO SUL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do

Acre – UFAC. Área de concentração “Desenvolvimento Regional”, para a obtenção do título

de mestre em Desenvolvimento Regional, defendida e aprovada em 23 de abril de 2009.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof. Dr. Adailton de Sousa Galvão

(orientador)

_________________________________________________

Prof. Dr. Sílvio Simione da Silva

(membro)

_______________________________________________________

Prof. ª Dr.ª Norma Felicidade Lopes da Silva Valêncio

(membro)

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DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado a todos que, de forma direta ou

indireta, colaboraram para sua realização e conclusão; e àqueles que

se dedicam ao estudo dos transportes.

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AGRADECIMENTOS

O homem é, em sua última instância, um ser social. Não é possível realizarmos

nossas metas e objetivos sem a ajuda de pessoas que nos circundem e contribuam, a cada dia,

para a construção de um mundo melhor.

Desta forma, agradeço, primeiro, a Deus, o criador de todas as coisas; à minha

querida mãe, Maria do Carmo Maia; e ao meu esposo, Isaque Félix Ximenes, pela

compreensão e colaboração. A todos os professores do Programa de Mestrado em

Desenvolvimento Regional, em especial, ao Prof. Dr. Adailton de Sousa Galvão, meu

orientador; ao Prof. Dr. Sílvio Simione da Silva, que muito colaborou para a conclusão da

pesquisa; e ao Professor Dr. Lucas Carvalho, coordenador do Programa de Mestrado em

Desenvolvimento Regional.

Gostaria também de agradecer aos colegas do mestrado, especialmente à colega

Simone Chalub Bandeira, companheira das horas mais difíceis, aos órgãos que, gentilmente,

cederam informações importantes para a conclusão da pesquisa, como Deracre, Sefaz, Seplan,

Capitania dos Portos da Marinha do Brasil, e aos transportadores que concederam entrevistas.

Enfim, meu agradecimento à Universidade Federal do Acre, a CAPES e a

SUFRAMA, instituições colaboradas do Mestrado em Desenvolvimento Regional; e a

Fundação de Tecnologia do Estado do Acre que, através do Fundo de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico e seu Programa de Incentivo a Pesquisas Locais, na modalidade de

Dissertações e Teses, financiou esta pesquisa.

A todos, o meu muito obrigada!

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“Medir um fluxo de bens e serviços é operação que somente

tem consistência quando tais bens e serviços se ligam à satisfação de

necessidades humanas objetivamente definíveis, isto é, identificáveis

independentemente das desigualdades sociais existentes”

(FURTADO, 2000, p.30).

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RESUMO

A evolução dos meios de transporte e a grande necessidade da circulação rápida de mercadorias trouxeram a necessidade de melhorias ao sistema de abastecimento das cidades. O sistema de transporte contribui para promover o desenvolvimento econômico, fazendo circular as riquezas produzidas pelos setores da economia do Estado. Em referimento a tal contexto, a presente pesquisa objetivou analisar o funcionamento desse sistema a partir da análise da logística de transportes de carga no estado do Acre, verificando até que ponto o sistema de transporte vai influenciar no abastecimento de mercadorias das microrregiões e colaborar para desencadear possíveis desigualdades intrarregionais, desse modo, influenciando a qualidade de vida da população. Para a efetivação da pesquisa foram escolhidas as microrregiões de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, pois são as áreas mais dinâmicas do estado, do ponto de vista da circulação de mercadorias, e por apresentarem sistemas de abastecimento diferentes, ou seja, predomínio de transportes rodoviário e fluvial respectivamente. A partir da análise dos principais elementos constitutivos do sistema, como tipo de transporte, capacidade, custos, percurso realizado durante o transporte, problemas enfrentados pelos operadores logísticos e, ao verificar a interação desses elementos e sua relação com os fatores externos, constatou-se que os transportes rodoviário e fluvial têm particularidades e problemas diferenciados, no entanto, o transporte rodoviário demonstrou-se mais viável para a região devido às longas distâncias e péssimas condições das vias fluviais nos períodos de seca, surgindo inclusive a necessidade da integração regional através da construção da BR 364, com o objetivo central de melhorar as condições de transporte para as localidades situadas no Vale do Juruá e, consequentemente, as condições de vida da população que permanece isolada durante grande parte do ano, assim, colaborando para amenizar as desigualdades intrarregionais.

Palavras-Chave: sistemas de transporte, logística, desenvolvimento.

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ABSTRACT

The development of means of transports and the great need of rapid movement of goods brought the need for improvements to cities system of supply. The system of transports contributes to promote the economic development, making circulate the wealth produced by the Economy sectors of State. In this context, the research aims to analyse the operation of this system from the analyses of logistics of loads transports in the Acre state checking the extent of the system of transports may influence the goods supply on the microregions and may collaborate to initiate possible inequalities intra-regional, this way, influencing in the population quality of life. To the research were selected the microregions of Rio Branco and Cruzeiro do Sul. These microregions were choose because they are the most dynamics in the state, from the point of view of circulation of goods, and for these ones show different supply systems, in other words, predominance of road and riverine transports respecting. From the analyses of mainly constitutive elements of the system, as types of transport, capacity, costs, route, problems faced by the logistics operators and noting the interaction of these elements and their relation with the external factors, we found that the road and riverine transport have differentiated details and problems. But the road transport showed more viable to the region because the long distance and bad conditions of the rivers during the rainless. Inclusive, arising the need of regional integration through the construction of the BR 364, with the purpose to improve the life conditions of the population that remains isolated during the most part of year,. The construction of BR 364, may reduce the intra-regional inequalities.

Key-Words: Systems of Transports; Logistics; Development.

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RESUMEN

La evolución de los medios de transporte y la gran necesidad de circulación rápida de mercancías han traído la necesidad de mejora en el sistema de abastecimiento de las ciudades. El sistema de transporte contribuye para promover el desarrollo económico, haciendo circular las riquezas producidas por los sectores de la economía del Estado. En ese contexto, esta investigación ha buscado analizar el funcionamiento de ese sistema desde el análisis de la logística de transporte de cargas en el estado de Acre, verificando hasta que punto el sistema de transporte influirá en el abastecimiento de mercancías en las microrregiones y si puede colaborar para desencadenar posibles desigualdades intrarregionales, de ese modo, influyendo en la calidad de vida de la población. Para la realización de la investigación se eligieron las microrregiones de Rio Branco y Cruzeiro do Sul, pues son las áreas más dinámicas del estado en términos de circulación de mercancías, también porque presentan sistemas de abastecimiento diferentes de las demás, o sea, predomínio de transportes carreteable y fluvial, respectivamente. Desde el análisis de los principales elementos constitutivos del sistema, tales como tipo de transporte, capacidad, costos, trayecto hecho en el transporte, problemas enfrentados por los operadores logísticos y al verificar la interacción de esos elementos y su conexión con los factores externos, se ha constatado que los transportes carreteables son más viables para la región a causa de las largas distancias y las malas condiciones de las vías fluviales en los períodos de seca. Surge, incluso, la necesidad de integración regional a través de la construcción de la BR 364, con el objetivo central de mejorar las condiciones de transporte para las localidades ubicadas en el Vale do Juruá y, consecuentemente, las condiciones de vida de la población que se queda aislada gran parte del año, así, contribuyendo para amenizar las desigualdades intrarregionales.

Palabras clave: sistema de transporte, logística, desarrollo.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da Área de Estudo ...............................................................................17

Figura 2 - Sistema de Transporte..............................................................................................38

Figura 3 – Eixos Rodoviários da BR 364 e BR 317 no Estado do Acre ..................................66

Figura 4 – Rede Hidrográfica do Estado do Acre.....................................................................77

Figura 5 - Transporte de mercadorias para a microrregião de Rio Branco...............................80

Figura 6 - Fachadas das Transportadoras Araçatuba e Transpérola em Rio Branco. ...............81

Figura 7 - Quadro das Principais Transportadoras Situadas em Rio Branco............................81

Figura 8 - Mercadorias chegando ao depósito das Transportadoras Transpacífico e Expresso

Radar. .....................................................................................................................82

Figura 9 - Quadro de Informações Gerais das Transportadoras de Rio Branco. ......................83

Figura 10 – Quadro Comparativo entre Transporte Aéreo e Rodoviário para o Vale do Juruá.

...............................................................................................................................87

Figura 11 - Transporte Intermodal para a Microrregião de Cruzeiro do Sul ............................90

Figura 12 - Instalações do Porto de Cruzeiro do Sul................................................................91

Figura 13 – Quadro das Principais Transportadoras da Microrregião de Cruzeiro do Sul.......92

Figura 14 - Transporte de combustíveis e instalações da Petrobrás em Cruzeiro do Sul .........93

Figura 15 - Gráfico do Custo Total das Cestas Básicas Alimentar, Limpeza Doméstica e

Higiene Pessoal (Março de 2007)..........................................................................97

Figura 16 - Quadro Comparativo dos Preços de Produtos da Cesta Básica em Cruzeiro do Sul

- maio/2008............................................................................................................98

Figura 17 - Quadro Comparativo dos Preços de Produtos da Cesta Básica em Cruzeiro do Sul

- agosto/2008 .........................................................................................................99

Figura 18 - Gráfico das Reaberturas da BR 364 (2002-2006) - Transporte/Caminhão

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(Viagens)..............................................................................................................102

Figura 19 - Gráfico das Reaberturas da BR 364 (2002-2006) - Carga - Mat.

Construção/Abastecimento (Ton.). ......................................................................102

Figura 20 - Situação da BR 364 no Estado do Acre ...............................................................103

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Aspectos Gerais da Microrregião de Rio Branco ....................................................79

Tabela 2 - Aspectos Gerais da Microrregião de Cruzeiro do Sul .............................................88

Tabela 3 - Movimentação de Mercadorias no Porto Fluvial de Cruzeiro do Sul Período:

jan/mai de 2008 .....................................................................................................89

Tabela 4 - Custo da Cesta Básica Alimentar – 2007.................................................................96

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................15

1 REGIÃO E DESENVOLVIMENTO: ALGUNS PARADIGMAS CONCEITUAIS ...21

1.1 O CONCEITO DE REGIÃO........................................................................................21

1.2 UMA VISÃO GERAL DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO .......................25

1.3 RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL NA ERA DA

GLOBALIZAÇÃO ..............................................................................................................30

2 A CONTRIBUIÇÃO DA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE PARA O

DESENVOLVIMENTO REGIONAL ..................................................................................33

2.1 O CONCEITO DE LOGÍSTICA..................................................................................36

2.2 O TRANSPORTE E A LOGÍSTICA............................................................................37

2.3 PRINCIPAIS MODALIDADES DE TRANSPORTE..................................................39

2.3.1 O Transporte rodoviário ..................................................................................... 39

2.3.2 O Transporte ferroviário..................................................................................... 40

2.3.3 O Transporte fluvial ............................................................................................ 40

2.3.4 O transporte aéreo ............................................................................................... 41

2.3.5 O transporte marítimo ........................................................................................ 42

2.4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DESENVOLVIMENTO DOS TRANSPORTES E

INTEGRAÇÃO REGIONAL NO BRASIL ........................................................................42

2.5 TRANSPORTES E PLANEJAMENTO PÚBLICO.....................................................46

2.6 COMO AVALIAR O SISTEMA DE TRANSPORTE..................................................50

2.7 VARIÁVEIS UTILIZADAS NA ESCOLHA DO MODAL ........................................52

3 UMA ANÁLISE DO TRANSPORTE DE MERCADORIA NA AMAZÔNIA.............54

3.1 UMA VISÃO GERAL DA OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA........................................54

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3.2 A QUESTÃO DOS TRANSPORTES NA AMAZÔNIA: MODALIDADE E

INTERMODALIDADE.......................................................................................................61

3.3 A AMAZÔNIA NO CONTEXTO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL .........................66

3.4 A EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTE NO ESTADO DO ACRE..........69

4 LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DE MERCADORIA NO ESTADO DO ACRE: O

CASO DAS MICRORREGIÕES DE RIO BRANCO E CRUZEIRO DO SUL ..............74

4.1 O SISTEMA DE TRANSPORTE DE MERCADORIA NA MICRORREGIÃO DE

RIO BRANCO.....................................................................................................................78

4.2 O SISTEMA DE TRANSPORTE DE MERCADORIA NA MICRORREGIÃO DE

CRUZEIRO DO SUL ..........................................................................................................87

4.3 A INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE TRANSPORTE NO PREÇO DAS

MERCADORIAS ................................................................................................................94

4.4 A POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO DO ESTADO DO ACRE......................................99

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................105

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................109

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 113

APÊNDICES ......................................................................................................................... 115

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INTRODUÇÃO

O modo capitalista de produção se sustenta pelo estabelecimento de uma lógica de

mercado cuja essência lucrativa se firma na busca do lucro e se assenta sobre a produção e

circulação de bens e mercadorias, com menores custos e menor tempo possível. Devido a este

fator, o capital estabelece formas de reprodução rápida através da redução do tempo de

rotação, em ciclos cada vez mais curtos processados na circulação do capital. Este processo

ganhou um grande impulso após a produção de meios de transporte velozes, principalmente

após a Revolução Industrial, que proporcionou maior impulso ao desenvolvimento do sistema

capitalista.

A globalização é responsável pela notável aceleração e ampliação de um processo de

expansão capitalista, que vem se desenvolvendo há séculos e apresenta basicamente duas

dimensões, uma delas está vinculada ao seu caráter de amplitude, no sentido geográfico; e a

outra numa dimensão sociopolítica. A dimensão de amplitude é territorial e se refere à

incorporação de novos espaços geográficos à economia de mercado (SUNKEL, 1972).

A grande expansão econômica internacional da segunda metade do século XIX está associada ao extraordinário desenvolvimento da tecnologia dos transportes: o motor a vapor, a ferrovia, os navios de casco de ferro, bem como aos avanços nas comunicações e ao desenvolvimento da eletricidade. De modo análogo, o atual fenômeno de globalização está profundamente vinculado ao desenvolvimento do transporte aéreo e das empresas transnacionais, à revolução nas comunicações e na tecnologia de computação, e as sinergias entre esses elementos – chave do processo (SUNKEL, 1972, p.181).

Desta forma, estudar o funcionamento da logística de transporte interestadual no

estado do Acre é fundamental para entender um pouco da dinâmica comercial na atualidade.

Isto porque o sistema de transporte contribui para promover o desenvolvimento econômico,

fazendo circular as riquezas produzidas pelos setores da economia do estado, principalmente

no que diz respeito ao comércio e à geração de tributos com a arrecadação através da entrada

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e saída de mercadorias, além de ser um fator que contribui na composição do preço dos

produtos a serem consumidos pela população.

O estado do Acre localiza-se na porção sudoeste da Região Norte do Brasil, entre os

meridianos de 66º 38' 31'' e 73º 59' 32'' de longitude oeste e os paralelos de 7º 07'38'' e 11º 08'

44'' de latitude sul, situa-se, ao norte, com o estado do Amazonas; ao sul; com as Repúblicas

da Bolívia e do Peru; a oeste; com a República do Peru; e, a leste, com o estado de Rondônia

e com a República da Bolívia. Ele representa a segunda menor unidade territorial da Região

Norte, superior apenas ao estado do Amapá. Sua superfície territorial é de 164.221,36km², ou

seja, 16.422.136ha, corresponde a 4% da área amazônica brasileira e a 1,9% do território

nacional (IBGE; ITERACRE, 2006).

Segundo o Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre – Fase II (2006), o estado do

Acre é composto por nove unidades geomorfológicas, sendo elas, a Planície Amazônica, a

Depressão do Endimari-Abuna, a Depressão do Iaco-Acre, a Depressão de Rio Branco, a

Depressão do Jurua-Iaco, a Depressão do Tarauaca-Itaquai, a Depressão Marginal, a Serra do

Divisor, a Superfície Tabular de Cruzeiro do Sul e os Planaltos Residuais da Serra do Divisor.

Os solos de origem sedimentar abrigam uma vegetação composta por duas espécies de

florestas: a floresta ombrófila densa e a floresta ombrófila aberta, havendo uma rica

biodiversidade e um grande valor econômico para o estado. O clima é equatorial, quente e

úmido, apresentando altas temperaturas e elevados índices pluviométricos, com alta umidade

relativa do ar.

O Acre apresenta temperatura média anual de 24,5ºC, com máxima de 32º. A

hidrografia é bastante complexa e a drenagem bem distribuída. Possui duas bacias

hidrográficas, a do Juruá e do Purus, ambos afluentes da margem direita do Rio Solimões. A

população do estado é de 669.736 habitantes segundo do Censo 2005 do IBGE, sendo que

66% estão concentrados nas áreas urbanas, precisamente, na microrregião de Rio Branco, em

função da localização da capital do estado.

O IBGE divide o estado do Acre em duas mesorregiões geográficas, a mesorregião

do Vale do Acre e a mesorregião do Vale do Juruá. As mesorregiões são divididas em cinco

microrregiões para facilitar os estudos. A mesorregião do Vale do Juruá é composta pelas

microrregiões de Cruzeiro do Sul e Tarauacá. Já a mesorregião do Vale do Acre está dividida

nas microrregiões de Rio Branco, Brasiléia e microrregião de Sena Madureira. Para a

efetivação da pesquisa foram escolhidas as microrregiões de Rio Branco e Cruzeiro do Sul,

por se tratarem das áreas mais dinâmicas do estado e apresentarem sistemas de abastecimento

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diferentes, ou seja, predomínio de transportes rodoviário e fluvial respectivamente. Na figura

1, ilustra-se a localização dessas microrrregiões:

Figura 1 – Localização da Área de Estudo

Fonte: Base de dados do Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre.

A rede de transporte constitui um poderoso instrumento para as políticas voltadas ao

desenvolvimento de um estado ou determinada região, proporcionando mudanças

econômicas, políticas, sociais e até culturais. Dentro desta perspectiva é que se propõe uma

análise da infraestrutura de transporte nas microrregiões citadas, dessa forma, visando

levantar dados, estudar a realidade que se apresenta, suas consequências e fornecer bases para

a elaboração de políticas públicas para o setor.

Por conseguinte, é necessário compreender todo o sistema de transporte, bem como

os fatores que influenciam o funcionamento deste sistema para, assim, pensar na elaboração

de projetos que venham a qualificar o mesmo, pois, sendo um dos fatores que colabora na

formação dos preços das mercadorias, permitirá uma melhoria do consumo da população,

acarretando um melhor bem-estar.

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Então, a questão que se coloca é até que ponto o sistema de transporte vai influenciar

no abastecimento de mercadorias das microrregiões, assim, colaborando para aumentar as

desigualdades intrarregionais ao influenciar a composição de preço dos produtos que

compõem a cesta básica. Pois as dificuldades de acesso aos centros industriais ocasionam o

aumento dos custos logísticos resultante dos sistemas de transporte disponíveis nas

microrregiões, com isso alterando os preços dos produtos que estão à disposição do

consumidor.

Os custos de transporte são sensíveis à qualidade e quantidade de infraestrutura,

podendo ou não se tornarem determinantes dos fluxos do comércio. Na microrregião de

Cruzeiro do Sul, onde se tem, no transporte fluvial, a principal forma de circulação, observa-

se um custo maior da cesta básica, considerando-se os mesmos produtos em Rio Branco. A

dificuldade de acesso a esta microrregião e a modalidade de transporte utilizada poderá afetar

a dinâmica da circulação de mercadorias e trazer externalidades negativas para a cadeia

comercial da região.

Diante dos elementos apresentados, o principal objetivo da pesquisa proposta é

compreender o funcionamento do sistema de abastecimento de mercadorias no estado do Acre

a partir da análise da logística de transporte de carga e suas implicações na dinâmica

comercial.

Para atingir este objetivo foi necessário seguirem-se várias etapas, como estudar a

infraestrutura de transporte nas duas microrregiões e os principais problemas enfrentados

pelos operadores logísticos; verificar a influência dos transportes na dinâmica comercial das

microrregiões e relacionar as deficiências na logística de transporte e os reflexos no

abastecimento das microrregiões.

A pesquisa faz uma abordagem sistêmica, tratando a sociedade como fenômeno

organizacional constituindo um sistema composto de partes interligadas, o qual possui

conflitos tanto internamente quanto na convivência com outros sistemas. O dinamismo

sistêmico procura elaborar uma resposta adequada no sentido de resolver ou, pelo menos,

compensar os conflitos que surgem na sociedade. Sendo assim, o método sistêmico busca

ressaltar a dinâmica de manutenção do sistema, levando-o ao funcionamento mais racional e

produtivo possível.

Para entender o funcionamento do sistema de transporte no estado foi necessário

estudar os elementos constitutivos do mesmo e a interação de tais elementos com os demais

fatores externos, verificando a influência destes na dinâmica comercial e no funcionamento do

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todo, consequentemente, caracterizando os elementos constitutivos como tipo de transporte,

capacidade, custos, percurso realizado durante o transporte, problemas enfrentados pelos

operadores logísticos, dentre outros.

O desenvolvimento desta pesquisa foi possível a partir da utilização das seguintes

técnicas e procedimentos:

a) Pesquisa bibliográfica: constituiu-se em uma etapa essencial na busca de subsídios

teórico-metodológicos para a realização do estudo. Nessa etapa, várias atividades foram

desenvolvidas simultaneamente visando ao melhor conhecimento da realidade pesquisada.

Entre elas, compilamento, leitura e fichamento do material bibliográfico específico (livros,

artigos de revistas especializadas, periódicos, dissertações, relatórios de pesquisas etc.).

Também, fez-se levantamento e processamento e análise de dados secundários contidos nos

censos do IBGE, no controle de entrada de mercadorias da SEFAZ, pesquisas realizadas pela

Secretaria de Planejamento do Estado e outras fontes disponíveis em órgãos relacionados aos

Transportes, como DNIT, DERACRE etc. Ainda, nesta etapa, foram analisados gráficos e

mapas coletados em tais órgãos.

b) Pesquisa de Campo: essa etapa deu-se em trabalhos de observação e coleta de

dados nas cidades de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, com a realização de entrevistas a alguns

operadores logísticos e uma amostra de comerciantes de cada uma das cidades, pesquisa de

preços dos principais produtos da cesta básica da população. Para efeito de pesquisas a

Secretaria de Planejamento do Estado do Acre considera como produtos da cesta básica:

arroz, feijão, carne, frango, leite, pão, café, açúcar, farinha de mandioca, mandioca, tomate,

banana, óleo e manteiga.

A elaboração de um documento-imagem sobre a dinâmica dos transportes nas

cidades de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, além de constituir parte integrante da pesquisa

proposta, contribuiu para revelar o funcionamento desse sistema e as formas pelas quais

produzem e reproduzem o espaço circundante.

O presente trabalho estrutura-se da seguinte forma: primeiramente, faz-se uma

introdução em que se discorre sobre o contexto em foco e a respeito dos objetivos,

metodologia, hipóteses e procedimentos metodológicos utilizados. No primeiro capítulo,

colocam-se em análise alguns conceitos de região, bem como de desenvolvimento, dessa

forma, dando-se início ao percurso teórico concernente ao tema. Em continuidade, no

segundo capítulo, focalizam-se questões relativas à logística, transportes e desenvolvimento.

Nessa perspectiva, ressaltando-se a importância da logística do transporte de carga para o

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desenvolvimento regional. No terceiro capítulo, expõe-se estudo referente ao transporte de

carga na região Amazônica, focalizando-se, então, as modalidades e as intermodalidades

existentes, assim como a evolução dos transportes no estado do Acre. O quarto capítulo é

dedicado à análise do transporte de carga no estado do Acre, centrando-se nas microrregiões

de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, localidades escolhidas para a realização deste estudo. Neste

capítulo, também, é realizada discussão a respeito da influência do transporte no custo da

cesta básica e ressalta-se a política de integração estadual que visa à melhoria dos transportes

de carga e ao desenvolvimento regional. Por fim, são apresentadas as principais considerações

elaboradas a partir do presente estudo.

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1 REGIÃO E DESENVOLVIMENTO: ALGUNS PARADIGMAS CONCEITUAIS

1.1 O CONCEITO DE REGIÃO

Para iniciar a discussão a respeito do desenvolvimento das regiões é necessário,

primeiramente, conceituar a região do ponto de vista geográfico e econômico, entendendo as

matizes que permeiam as relações socioeconômicas que se estabelecem no espaço.

Segundo Correa (1997), a emergência de uma rede hierarquizada e integrada

nacionalmente de centros de distribuição varejista e de serviços, isto é, localidades centrais,

verifica-se com o capitalismo e com o domínio de um modo de produção em que o capital

penetra na esfera da produção. Entre produção e consumo capitalistas se estabelece a

distribuição, que passa, sob a égide do capitalismo, a desempenhar papel crucial na sociedade

e em sua organização espacial. Tal organização espacial da distribuição, que emerge

fundamentada na divisão social e territorial do trabalho, na existência de uma massa

assalariada e na articulação entre diferentes áreas produtoras, tem como locais as cidades que

se interligam através do comércio atacadista, varejista e dos serviços.

Ainda, segundo o autor, o termo região deriva do latim e se refere à unidade político-

territorial que se dividia o Império Romano, sua raiz está no verbo regere, que significa

governar, o que atribui à região, em sua concepção original, uma conotação política. Contudo,

desenvolveu-se um intenso debate a respeito do tema se almejando um conceito e um método,

e, até 1970, três grandes acepções de região foram estabelecidas entre os geógrafos. A

primeira se apoia nos dados da natureza, sendo a região natural concebida como uma porção

do território que apresenta uma combinação específica de elementos da natureza, como clima,

vegetação, solo e relevo, os quais vão determinar uma específica paisagem natural, como, por

exemplo, a Amazônia. Mas a região natural, não mais se constitui na referência-chave para

explicar as diferenças nos processos de desenvolvimento econômico e social.

Por sua vez, a segunda concepção de região se origina de uma reação à matriz

positivista que sustentava a leitura determinista da região natural, que passa a ver a região

como área de ocorrência de uma mesma paisagem cultural, resultado de um longo processo de

transformação da paisagem natural em paisagem cultural, definindo um gênero de vida.

Já a terceira concepção não elimina as anteriores, mas considera a região uma criação

intelectual, criada a partir de seus propósitos específicos. Conceitua a região como uma classe

de área, um conjunto de unidades de área, como os municípios, que apresenta grande

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uniformidade interna e grande diferença em face de outros conjuntos, daí se tem a formulação

geográfica da organização do espaço.

A partir de 1970, o conceito de região aparece dentro do paradigma da Geografia

Crítica, com fundamentos no materialismo histórico e dialético, como também nas geografias

humanista e cultural. A região passa a ser entendida como uma resposta aos processos

capitalistas, sendo uma produção espacial dos processos sociais associada ao modo de

produção capitalista. Trata-se de uma regionalização da divisão social do trabalho, do

processo de acumulação capitalista, da reprodução da força de trabalho e dos processos

políticos ideológicos. Para alguns, a região passa a ser definida como um conjunto de relações

culturais entre os grupos e seus lugares, uma apropriação de certa porção do espaço por

determinado grupo. A região, como um meio para interações sociais, assenta-se no terceiro

modo de sua conceitualização, pós-1970. É uma visão política da região com base na ideia de

que dominação e poder constituem fatores fundamentais na diferenciação de áreas.

[...] quanto à diferenciação espacial ou à produção da diferença, por mais que a globalização tenha unificado mercados e imposto um capitalismo mundializado, não se trata em hipótese alguma de uma simples homogeneização, seja ela econômica, política ou cultural. Embora economicamente seja mais visível a amplitude (global) da economia de mercado, com o valor contábil-mercantil atingindo as mais recônditas esferas da vida humana, mesmo aí convive a desigualdade, inerente aos processos de reprodução capitalista e a diferenciação em seu sentido mais estrito (HAESBART, [s.d.], p.44).

Muitos foram os autores que se ocuparam do estudo das regiões e sua

conceitualização. Fremont (1980) conceitualizou a região como o espaço vivido. Para o autor,

a região se apresenta como um espaço médio, menos extensa do que a nação ou o grande

espaço de civilização; mais vasta que o espaço social de um grupo. Ela integra lugares vividos

e espaços sociais com um mínimo de coerência e de especificidades que fazem dela um

conjunto com uma estrutura própria e que a distinguem, por certas representações, na

percepção dos habitantes ou de estranhos.

Segundo Raffestin (1993), a região é dita e não vivida. O autor trabalha a região do

ponto vista da lógica do poder que nela se estabelece. Uma bateria de decretos e leis dá

consistência à ideia de região, ela serve, antes de tudo, para cortar, dividir delimitar, encerrar

o mapa, mas não o território. Para o estado, a região é uma expressão na qual se conservam

vários significados utilizados de acordo com a necessidade do momento.

Torna-se relevante, no discurso sobre a formação e conceitualização das regiões, os

processos que colaboram para desencadear desigualdades entre as várias regiões, sejam elas

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de cunho econômico, social ou político. Santos (2003) discute, em seu trabalho, as novas

desigualdades que se estabelecem entre os territórios. Essas têm como fundamento um grande

número de variáveis cuja combinação vai produzir sucessivas situações de difíceis

classificações. Segundo o autor, deveria ser considerada uma gama de aspectos no estudo das

desigualdades entre territórios, que vai desde as características herdadas até as modalidades de

modificação que ocorrem no meio geográfico, levando-se em consideração as diferenças de

densidades, a diversidade das heranças e das formas de impacto no presente.

O autor analisa o aspecto densidade como fator que contribui para a desigualdade,

pois o território mostra diferenças de densidade quanto às coisas, objetos, homens,

movimento de coisas, dos homens, das informações, do dinheiro e até das ações. Outro fator

analisado é a fluidez, uma das características essenciais do presente, pois, em toda parte, a

necessidade de criar condições para maior circulação de homens, mercadorias, dinheiro,

informações etc. As densidades viária e infoviária não têm relação direta com a densidade da

população, muito menos com a antiguidade do povoamento e as urgências das sociedades

locais, mas demonstram relação com os nexos econômicos, sobretudo com a economia

internacional. Santos (2003) também analisa os espaços de maior rapidez em contraposição

aos de lentidão. Do ponto de vista material, os espaços de rapidez são aqueles dotados de

maior número de vias de circulação, de mais veículos modernos e velozes, de mais transportes

públicos; já do ponto de vista social, representam espaços onde é maior a atividade econômica

ou sociocultural. Os espaços de rapidez também se distinguem dos espaços de lentidão em

função da importância da divisão do trabalho, sobretudo, quando ela é interna à região, e

também com relação à variedade de densidade de consumos.

Para o autor, os espaços também podem ser classificados em luminosos e opacos. Os

luminosos, certamente, são aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais

e assim atraem atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização. Em

oposição, estariam os espaços opacos. Diante das análises, o autor chega à conclusão da

existência de espaços que mandam e espaços que obedecem, resultante de um conjunto de

condições econômicas e sociais.

Frente ao exposto, entende-se ser fundamental o estudo da região nos dias atuais para

que se possa compreender as diferentes formas pelas quais o modo de produção se realiza nas

diferentes partes do país; associadas à nova dinâmica e condições do meio.

De acordo com Santos (1988), o espaço é formado de fixos e fluxos. Os fixos

constituem os instrumentos de trabalho e as forças produtivas em geral, inclusive a massa de

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homens. Isso explica porque os lugares são diferentes e o rendimento por eles obtido está em

relação com a adequação dos objetos ao processo imediato de trabalho. Os fluxos representam

o movimento, a circulação e dão explicação aos fenômenos da distribuição e do consumo.

Devido à ausência de dados, na maioria das vezes, torna-se difícil a análise dos fluxos, porém

a cada tipo de fixo corresponde um tipo de fluxo e ambos interagem e se alteram mutuamente.

Ainda, segundo o autor, nos dias de hoje, os fixos têm grande importância, a

circulação passa a ter importância fundamental pelo fato de que o produto se

internacionalizou e deve ser distribuído pelo mundo inteiro. A necessidade de acumulação se

agravou e a circulação ganhou um ritmo frenético, sendo que, nessa conjuntura, quem tem

menor poder de movimento vê seu produto e seu trabalho se desvalorizarem mais

rapidamente.

Diante desta ótica, o estudo do fluxo de mercadorias no estado do Acre,

especificamente, nas microrregiões em foco, tenderia a explicar as diferentes dinâmicas no

contexto delimitado pela pesquisa. Visto que, sem dúvida, a região é um lugar que se

diferencia dos demais por suas características próprias, que variam desde os aspectos físicos,

econômicos, sociais, políticos e tecnológicos, sendo todos esses aspectos interligados.

Novamente, ressaltando que a região retrata as formas de organização de um povo, seus

costumes e sua economia.

O tema desenvolvimento regional vem sendo muito debatido na atualidade em

virtude das crises econômicas pelas quais passam alguns países e devido, sobretudo, às

disparidades entre as nações ricas e pobres. Observando-se que, mesmo no interior de países

desenvolvidos, há um desnível entre regiões e classes sociais, começou-se a atrelar a noção de

desenvolvimento à questão de distribuição e igualdade.

A grande preocupação que se tem é descobrir quais fatores influenciam o

desenvolvimento das regiões, verificando a influência de diversos elementos, dentre eles, a

presença dos fatores de produção, a estrutura econômica, as características naturais e

geográficas, as razões demográficas, a estrutura política e institucional, entre outros.

Inicialmente se faz necessário entender a extensão do termo desenvolvimento, bem

como uma distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico a partir da visão de

vários autores consagrados dentro da temática em questão.

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1.2 UMA VISÃO GERAL DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO

Frequentemente, o desenvolvimento é tratado como crescimento econômico. Até o

início dos anos 60, as nações consideradas desenvolvidas eram aquelas que haviam

acumulado grande soma de capital através da industrialização; e aqueles países onde não se

atingira um progresso na industrialização eram considerados subdesenvolvidos. Porém,

observou-se que, a partir de 1950, os países que conquistaram uma evolução no processo

industrial não apresentaram maior acesso das populações pobres a bens materiais e culturais,

como, por exemplo, saúde e educação. Percebeu-se uma controvérsia e iniciou-se um debate

em nível mundial a respeito do termo desenvolvimento. Para Veiga (2005), o crescimento é

um fator importante ao desenvolvimento, mas o crescimento é quantitativo e o

desenvolvimento é qualitativo.

Segundo Sen (2000), uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito

além da acumulação de riqueza e do crescimento do Produto Nacional Bruto e de outras

variáveis relacionadas à renda. Sem desconsiderar a importância do crescimento econômico,

torna-se necessário enxergar muito avante a este. Para uma compreensão mais clara da noção

de desenvolvimento, é inadequado adotar como objetivo básico apenas a maximização da

renda ou da riqueza. Pela mesma razão, o crescimento econômico não pode sensatamente ser

considerado um fim em si mesmo. O desenvolvimento tem de estar relacionado, sobretudo,

com a melhoria das condições de vida das pessoas e das liberdades que elas desfrutam.

Sen e Mahbud (2000) elucidam que só há desenvolvimento quando os benefícios do

crescimento servem para a ampliação das capacidades humanas que, segundo os mesmos, são

quatro: ter uma vida longa e saudável, ser instruído, ter acesso aos recursos necessários, a um

nível de vida digno e ser capaz de participar da vida da comunidade.

Celso Furtado (2000), em sua obra, propõe alguns conceitos básicos a partir da

contribuição dos vários autores envolvidos. O desenvolvimento seria então uma

transformação, a introdução de novos métodos produtivos, o aumento do fluxo de bens e

serviços à disposição da coletividade, além da eficiência e riqueza. A produção é a expressão

formalizada das relações estáveis entre meios de produção e o fruto destes. O excedente liga-

se à estratificação social, pois esta permite a emergência de recursos com usos alternativos,

abrindo caminho à acumulação. O excedente é aplicado na reprodução das desigualdades

sociais, no desenvolvimento das forças produtivas e na legitimação dos sistemas de

dominação social.

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Uma outra questão relevante dentro do tema em análise é como se poderia medir o

desenvolvimento de uma determinada sociedade, quais os critérios necessários para

determinar se uma nação teria alcançado o desenvolvimento de sua economia. Durante muito

tempo, procurou-se medir o desenvolvimento através da análise da evolução de indicadores

tradicionais, como o Produto Interno Bruto.

Hoje se utiliza um índice que é reconhecido internacionalmente. O emprego do

Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – estimula seus usuários a consultarem o amplo

sortimento de tabelas estatísticas e análises críticas detalhadas e fornecidas anualmente pelos

relatórios. Há dois critérios utilizados para avaliar o progresso mundial na realização do bem-

estar humano, objetivos dos Relatórios. O primeiro é que as capacidades humanas devem ser

universalmente valorizadas; e o segundo, devem ser básicas para a vida, pois sua ausência

impediria muitas outras escolhas. No entanto, o IDH não é uma medida compreensiva, pois

não inclui, por exemplo, a capacidade de participar nas decisões que afetam a vida das

pessoas e de gozar do respeito dos outros na comunidade.

O principal defeito do IDH é que ele resulta da média aritmética dos três índices mais específicos que captam renda, escolaridade e longevidade. Mesmo que se considere inevitável a ausência de outras dimensões do desenvolvimento para as quais ainda não há disponibilidade de indicadores tão cômodos como a ambiental, a cívica ou a cultural, é duvidoso que seja essa média aritmética a que melhor revele o grau de desenvolvimento atingido por uma determinada coletividade. Ao contrário, é mais razoável supor que o cerne da questão esteja justamente no possível descompasso entre o nível de renda obtido por determinada comunidade e o padrão social que conseguiu atingir, mesmo que revelado apenas pela escolaridade e longevidade (VEIGA, 2005, p. 88).

O paquistanês Mahbud ul Haq, arquiteto do Relatório sobre o Desenvolvimento

Humano, que o PNUD publica desde 1990, procurou criar um indicador sintético capaz de

fornecer uma alternativa de medir o desenvolvimento que não se restringisse à renda per

capita. Para Sen (2000), o desenvolvimento é uma expansão das liberdades substantivas e não

acredita, assim, na existência de um índice que possa sintetizar a realidade complexa do

processo de desenvolvimento.

Sem dúvida, não se pode medir o desenvolvimento levando em consideração apenas

três índices específicos, tendo em vista que o termo desenvolvimento é muito amplo e

abrange várias dimensões da vida humana.

Promover o desenvolvimento não é, e nunca será, a tarefa mais difícil de qualquer

que seja seu agente promotor. O complicado é sem dúvida alcançá-lo garantindo participação

e beneficio universal de todos os interessados, principalmente conquistando-o com

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maturidade, solidariedade e compromisso social. Segundo Sachs (2004), existem três pilares

fundamentais do desenvolvimento regional sustentável: relevância social, prudência ecológica

e viabilidade econômica, onde o uso produtivo não necessariamente precisa prejudicar o meio

ambiente ou destruir a diversidade, desde que se tenha a consciência de que todas as

atividades econômicas estão solidamente fincadas no ambiente natural, isso porque, quando

se pensa em desenvolvimento regional, o referimento é direcionado ao desenvolvimento

social, cultural, político, ambiental e, finalmente, desenvolvimento humano em suas várias

dimensões, visto que não é possível separar a interdependência existente entre elas.

Dentro desta perspectiva, vários autores contribuíram com os estudos referentes ao

desenvolvimento a partir de várias dimensões, o que tem mostrado que o fator econômico não

mais representa peça fundamental para alcançar o desenvolvimento de países.

A discussão também gira em torno de conceitos entre áreas desenvolvidas e áreas

subdesenvolvidas. Segundo a concepção marxista, o subdesenvolvimento aparece como

produto do crescimento econômico no interior de um mesmo país. Ao criar um exército

industrial de reserva, automaticamente, os salários reduzem e o lucro aumenta com a elevação

da taxa de exploração. Assim, o desenvolvimento de uma sociedade capitalista dá-se a partir

do conflito gerado por meio da exploração do trabalho pelo capital, que gera a estratificação

social e a luta de classes.

Segundo Marx, o desenvolvimento efetua-se de forma cíclica e com conflito distributivo. O progresso técnico produz períodos de prosperidade, enquanto as contradições internas do modo de produção provocam crises periódicas cada vez mais prolongadas, exacerbando os conflitos sociais. Enquanto para os clássicos, o problema da distribuição se centra entre os capitalistas arrendatários e os proprietários de terras, para Marx, o conflito distributivo ocorre entre capitalistas e os trabalhadores, detentores da força de trabalho (SOUZA, 1999, p.143).

Keynes (1883-1946) faz referência à postura do Estado diante do processo de

desenvolvimento e destaca a importância da iniciativa privada. Defende a estabilidade das

instituições e uma política econômica favorável ao aumento da eficiência produtiva e à

abertura de novos mercados, pois assim haverá menor grau de riscos e maiores serão os

investimentos no presente. Nessa perspectiva, cabe ao Estado regular a economia e procurar

suavizar as flutuações econômicas e complementar a iniciativa privada, aumentando o

investimento no setor, evitando, dessa forma, a estagnação ao longo prazo. O autor também

demonstrou uma relação entre estrutura social e desenvolvimento ao centrar sua análise na

abordagem macroeconômica do pleno emprego, bem como nos fatores de crescimento e

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investimento e, ainda, nos impactos sobre a renda e o emprego.

Na concepção de Schumpeter (1982), o crescimento da economia se dá a partir do

dinamismo da oferta, pois os novos produtos e processos de produção adotados pelo

empresário inovador propiciam um dinamismo à economia. Sendo assim, o desenvolvimento

está ligado ao conhecimento tecnológico, à existência de instituições eficientes e ao espírito

capitalista dos negócios. O processo não se apresenta uniforme no tempo, mas alterna-se em

períodos de prosperidade e de depressão, o que o autor denominou de ciclos econômicos.

Como exemplo de inovações, tem-se a introdução de um novo produto, a descoberta

de um novo método de produção, a abertura de novos mercados no país ou no exterior, a

descoberta de uma nova fonte de oferta de matéria-prima e uma nova organização da

indústria.

A função de produção idealizada por Schumpeter (1982) é formada pelos meios de

produção, capital, trabalho, recursos naturais, inovações tecnológicas e pela estrutura social. A

estrutura social é de suma importância, pois instituições arcaicas, ineficientes e consumidoras

de recursos escassos inibem o desenvolvimento e provocam o subdesenvolvimento.

A Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) foi criada com

objetivo de realizar estudos visando ao desenvolvimento da região. A corrente de pensamento

cepalino, além de outros aspectos, procurou discutir o desenvolvimento a partir de uma

concepção entre as esferas pública e privada.

Destaca-se, nesta corrente, Celso Furtado, Rômulo de Almeida e Américo de

Oliveira. Acreditavam, estes, que a participação das empresas estatais é fundamental no

processo de desenvolvimento de projetos prioritários como mineração, transportes, petróleo,

telecomunicações e indústrias básicas. Celso Furtado (2000) procurava evitar os laços de

dependência ao capitalismo internacional, priorizando assim um modelo de crescimento

voltado para o dinamismo do mercado interno, atrelado ao desempenho das exportações de

produtos agrícolas. Quando há insuficiência de poupança interna e baixa capacidade de

importar é necessário recorrer ao capital externo, porém deverá dar-se preferência aos

empréstimos realizados de governo a governo, porque seriam obtidos com condições mais

vantajosas.

Dentro desta perspectiva, Cardoso e Faletto (1969) propuseram uma análise da

questão do desenvolvimento, considerando-o como um processo social. Sustentam que as

sociedades latino-americanas pertencem a um tipo denominado sociedade tradicional, a qual

está sofrendo a passagem a outro tipo de sociedade dita moderna. Nessa transição, de uma

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sociedade tradicional para uma sociedade moderna, forma-se um padrão intermediário

denominado “em desenvolvimento”. Porém, enquanto uns setores se modernizam, outros

permanecem arcaicos. É o que chamaram de “dualismo estrutural”.

Para Cardoso e Faletto (1969), o desenvolvimento é o resultado da interação de

grupos e classes sociais que possuem interesses materiais e valores distintos, cuja oposição,

conciliação ou separação dá vida ao sistema socioeconômico. As estruturas social e política se

modificam na medida em que diferentes classes conseguem impor seus interesses, sua força e

sua dominação ao conjunto da sociedade.

Para que seja consolidado o processo de desenvolvimento é necessário investimentos

diversificados, principalmente em infraestrutura, pois o desenvolvimento e a consequente

ampliação da produção exigem um desenvolvimento de estruturas que possibilitem meios

técnicos e favoreçam tal desenvolvimento, sendo o sistema de transporte fundamental nesse

contexto.

Porém, a concentração de atividades econômicas, em algumas regiões, tende a

aumentar as desigualdades entre as mesmas. Geralmente, as atividades se concentram em

regiões que proveem acesso a condições mais favoráveis, como a rede de transporte, entre

outras. As regiões mais atrasadas de um estado não conseguem atrair atividades ou ampliar o

comércio, porque muitas vezes suas vantagens são limitadas. Assim, os movimentos de força

de trabalho, capital, bens e serviços são considerados como atuando no sentido do

desequilíbrio, favorecendo as regiões mais ricas em prejuízo dos pobres, não impedindo por si

mesmas a tendência à desigualdade social. Dessa forma, as regiões atrasadas de um país não

atraem tipos de atividades que podem gerar o crescimento autônomo. Comumente, os

investimentos se realizam em função da dimensão e do crescimento esperado da demanda, as

regiões mais dinâmicas se aproveitam deles.

A produção local constitui o motor que inicia o processo de desenvolvimento local

ou regional. Um dos fatores que contribui para diferenciar as regiões é o progresso técnico,

pois a expansão econômica e o desenvolvimento são fortalecidos pela melhoria de

infraestrutura de transporte, comunicação e dos padrões educacionais mais elevados. Como as

regiões menos favorecidas não poderiam manter um bom sistema de estrada, todos os serviços

públicos também teriam baixa eficiência, aumentando assim as desvantagens comparativas,

estas regiões não oferecem uma assistência à saúde adequada, o que implica uma população

menos sadia e com baixa produtividade. Sendo assim, o elemento infraestrutura é

fundamental para a difusão do desenvolvimento.

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1.3 RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL NA ERA DA

GLOBALIZAÇÃO

As mudanças de paradigmas pelas quais o mundo passa estão associadas ao processo

de globalização, que provoca a intensa integração econômica entre os países, leva à formação

de blocos regionais e ao surgimento de grandes redes empresariais com atuação global,

condicionando-se, sobretudo, a partir do desenvolvimento das chamadas TIC’s (Tecnologia da

Informação e da Comunicação).

O novo paradigma de desenvolvimento altera a base da competitividade das nações e

dos diversos espaços econômicos. Observa-se que, antes, adotava-se uma economia de escala

baseada na padronização e produção em grandes quantidades, com limitado controle

ambiental e com o Estado de bem-estar interventor, com vantagens marcadas pela abundância

de recursos naturais; e os baixos salários. Atualmente, a competitividade se desloca para as

vantagens em conhecimento e informação e para a qualidade e excelência do produto ou

serviço. Dentro deste contexto, o Estado deveria reforçar sua atuação nas áreas ou setores nos

quais o mercado não tem eficácia, principalmente nas dimensões social e ambiental.

[...] o mercado tem eficácia num horizonte temporal curto e é estritamente econômico-empresarial, mostrando-se incapaz de lidar especialmente, com três componentes fundamentais para o novo paradigma de desenvolvimento, que tendem a demandar prazos longos de maturação, conservação ambiental, equidade social e equilíbrio espacial. Nesses aspectos, se não a ação reguladora do Estado – que introduz a visão de longo prazo estratégica e ética e incorpora diferentes pressões sociais – a dinâmica econômica tende a comprometer a sustentabilidade a longo prazo, porque costuma promover a degradação ambiental a concentração dos benefícios sociais e a concentração espacial da riqueza (BUARQUE, 2002, p.23).

A nova estruturação da economia mundial pode ocasionar a desorganização da

economia mundial, que implica na desorganização da economia e sociedade locais, mas

também pode abrir novos espaços de desenvolvimento, recriando mercados locais e regionais.

Mesmo reduzindo a autonomia local, os impactos oriundos do processo de globalização

dependem das iniciativas internas e das posturas políticas sociais no plano local. A autonomia

dos espaços dependerá das potencialidades locais e da organização da sociedade em torno de

um projeto coletivo que articule o local com o global.

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[...] é necessário construir as vantagens competitivas locais e municipais, com base nas potencialidades em infraestrutura econômica, logística, recursos humanos – especialmente educação e capacitação profissional- e desenvolvimento tecnológico (BUARQUE, 2002, p.40).

Para tanto é necessário que os atores locais definam prioridades e articulem

iniciativas internas e externas, utilizando-se de instrumentos de regulação do Estado para criar

e construir vantagens competitivas visando promover o desenvolvimento local. A partir do

conhecimento das potencialidades, a comunidade poderá gerar tecnologia e se articular com

as demais localidades sem perder a soberania do lugar.

Para Buarque (2002), o desenvolvimento local pode ser conceituado como um

processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualidade

de vida da população em pequenas unidades territoriais. Para ser consistente e sustentável, o

desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais e contribuir para

elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da economia local, ao

mesmo tempo, deve assegurar a conservação dos recursos naturais locais, que representam a

base das suas potencialidades e condição para a qualidade de vida da população local.

Importante salientar que a promoção do desenvolvimento local deverá se estruturar

em pelo menos três grandes pilares, ou seja, a organização da sociedade, contribuindo para a

formação de capital social local combinado com a formação de espaços institucionais de

negociação e gestão; deverá agregar valor na cadeia produtiva, com o aumento da

competitividade das atividades econômicas com geração de tecnologia própria; e, acima de

tudo, promover a reestruturação e modernização do setor público local, procurando

descentralizar as decisões, assim, visando elevar a eficácia e a eficiência da gestão pública

local, visto que a União não tem condições políticas, administrativas e operacionais para

administrar a amplitude e crescente complexidade do Brasil, nem da dimensão dos seus

problemas e do empreendimento necessário ao desenvolvimento nacional. Dentro deste

contexto, cresce a importância das administrações locais para o desenvolvimento das regiões e

microrregiões brasileiras, cabendo à União dar suporte e regular as regras e os investimentos

nas externalidades básicas e na área social.

Jara (1996) salienta que o processo de globalização tem enfraquecido o Estado-

Nacional, levando a uma redução da autonomia dos governos nacionais e estaduais em

diversos campos de atuação. Ainda, segundo o autor, o fortalecimento das capacidades

técnicas, financeiras e gerenciais locais, do associativismo e potencial empreendedor, da

democracia participativa e parcerias entre atores sociais e instituições e o fortalecimento da

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política em nível local é a contrapartida às tendências insustentáveis promovidas pela

globalização econômica, ou seja, a resposta à abertura econômica externa é à abertura política

interna, democratizando as relações entre Estado, sociedade civil e mercado, melhorando

assim o nível de governança do território. Os municípios passam a constituir espaços

privilegiados, pois, além de contribuir para a construção da cidadania, também, podem

enfocar a questão do desenvolvimento numa ótica mais humana.

No entanto, para fazer frente ao processo de globalização e atingir um

desenvolvimento a partir das potencialidades do local, é necessária a modernização das

instituições, com a participação dos vários atores sociais, evitando, com isso, práticas

clientelistas, bem como é preciso mobilizar e organizar a sociedade, formar recursos humanos

com consciência política capazes de atuar nas decisões da localidade.

A crescente difusão do enfoque no planejamento como ferramenta para o

desenvolvimento regional visa, entre outros, criar mecanismos que possibilitem a participação

da comunidade na formulação, avaliação e implementação de políticas públicas que busquem

o desenvolvimento das comunidades envolvidas.

Sem dúvida, o mundo hodierno é um meio altamente competitivo, e a competição é

dinâmica e evolui, ou seja, o caráter essencial da competição reside na inovação e na

mudança. A vantagem competitiva é criada e mantida por um processo altamente localizado,

pois as diferenças nas estruturas econômicas, valores, culturas e histórias contribuem para o

sucesso competitivo de cada localidade.

Buarque (2002) defende que o planejamento do desenvolvimento local deve

contribuir para a construção de um projeto de sociedade local que mobilize os atores sociais e

organize as ações convergentes dos diversos agentes, de modo a implementar as

transformações na realidade que prepara o futuro desejado.

Dessa forma, o planejamento local é também um instrumento de grande utilidade

para a organização da ação dos atores e agentes, por orientar as iniciativas e gerar

convergência e articulação das diversas formas de intervenção da realidade. Nesta

perspectiva, o planejamento dos transportes de mercadoria constitui um instrumento de suma

importância para o desenvolvimento do estado do Acre, visto que este aspecto o torna

competitivo no cenário nacional. Em continuidade ao tema, no próximo capítulo, será

discutida a contribuição da logística de transporte para o desenvolvimento das regiões, bem

como os vários aspectos que circundam a questão da circulação de mercadorias.

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2 A CONTRIBUIÇÃO DA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE PARA O

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

A rede de transporte sempre representou ponto crucial para o desenvolvimento das

regiões, pois, sem ela, a região não tem como escoar sua produção e nem como comprar

produtos não fabricados no território, portanto não há comércio e, consequentemente,

desenvolvimento da economia local.

O transporte exerce papel fundamental na modificação do espaço e desenvolvimento

econômica das regiões. A implantação de transportes modernos, velozes e eficazes

representou para os países desenvolvidos um fator de desenvolvimento endógeno e reforçou a

economia nacional.

Coerentemente, a ausência de ligações fáceis entre as diferentes partes do país

constitui um fator de atraso, como se pode ver nas dificuldades encontradas pelo Brasil, por

ocasião de seu desenvolvimento industrial. O país teve de fazer face aos problemas de

transportes e serviços de base voltados para uma economia de exportação e não adaptou os

transportes para servir ao mercado interno (SANTOS, 1982).

Segundo Santos (1982), a distribuição dos transportes modernos nos países

subdesenvolvidos não se deu de forma equilibrada, apenas alguns pontos foram beneficiados,

visando ampliar o contato com o mundo exterior. Esse resultado pode ser visto nos mapas da

África ou da América Latina, cujas redes de transporte são heterogêneas, descontínuas e

voltadas para fora. A ausência de ligações contínuas e homogêneas isola a cidade de seu meio,

a região foge à influência da cidade e as duas evoluem separadamente.

As condições físicas e a localização dos territórios vão influenciar diretamente no

transporte de mercadoria. De acordo com o tipo de transporte adotado, a região poderá sofrer

consequências positivas ou negativas no tocante ao seu abastecimento de produtos.

Bunker (2004) elucida que para atingir as vantagens competitivas e a economia que o

domínio comercial requer as tecnologias devem estar em conformidade com as características

materiais e a localização no espaço das matérias-primas, cujo transporte e transformação elas

baratearam e expandiram. Segundo o autor, entender a expansão e a intensificação das

relações sociais e materiais do capitalismo requer uma análise dos processos materiais da

produção natural e social no espaço, considerando este espaço como algo materialmente

diferenciado pela topografia, pela hidrologia, pelo clima e pela distância que tem em relação a

outros lugares.

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[...] As diversas condições topográficas, hidrológicas, geológicas e atmosféricas são necessárias para a produção desses diversos tipos de matérias. O espaço torna-se, simultaneamente, um meio e uma condição para a produção e um obstáculo, ou custo ao transporte (BUNKER, 2004, p.70).

Como afirma Bunker (2004), as economias de escala, organizadas e tecnificadas,

impulsionam a reprodução expandida do capital, porém o aumento do espaço, através do qual

o crescente volume de matéria precisa ser transportado, eleva o custo por unidade. Sendo

assim, a contradição entre as economias de escala e o custo cria uma tensão a partir da qual

emerge uma nova organização de transporte, com custos reduzidos, impulsionando a

ampliação espacial dos mercados e estimulando o desenvolvimento de tecnologias mais

baratas e mais rápidas, por conseguinte, acelerando a globalização da economia mundial.

Fremont (1980) infere que as cidades desempenham um papel decisivo de polo de

crescimento, constituindo o centro dos serviços regionais, concentrando grupos de trocas que

vão desde as trocas comerciais, ou seja, fluxo de mercadorias, a fim de assegurar no tempo e

no espaço a regulação entre a oferta e a procura; às trocas de serviços não materiais,

compondo fluxo de informações; até as trocas monetárias, ou seja, fluxo de capitais. As

cidades formam, em função de certas especializações, uma rede hierarquizada que constitui a

organização do espaço econômico, que pode ser compreendido a partir das estruturas

econômicas e sociais existentes. Estas condicionam o desenvolvimento desigual das regiões.

Para Santos (1985), a interação entre as regiões produtivas do país representa um

aspecto fundamental para a compreensão do funcionamento do território. O autor considera o

espaço indivisível, analisa esse espaço através das instâncias produtivas, em que visualiza o

espaço da produção propriamente dita; o espaço da circulação e da distribuição, onde

caracteriza as redes de transporte e comunicação como essenciais, pois não basta produzir

muito, é necessário transformar as massas produtivas em fluxos, dando rapidez ao ciclo

produtivo. Ademais, menciona o espaço do consumo que depende da capacidade de aquisição

representada pela disponibilidade financeira e pela acessibilidade do bem ou do serviço

demandado.

Já Andrade (1987) ressalta a importância dos transportes na economia moderna, o

que tem levado os países a investirem na implantação da sua rede viária, principalmente

aqueles que possuem grandes áreas subpovoadas e subexploradas. Um exemplo é o Brasil,

que ligou o centro-oeste e a Amazônia ao centro-sul, a área mais dinâmica do país. Além das

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razões geopolíticas, a exploração madeireira, o desenvolvimento da pecuária e da agricultura

e a exploração mineral são apontados como fontes de recursos que compensarão os

investimentos feitos nessas regiões. As rodovias se desenvolveram, no século XX, graças à

utilização do automóvel no transporte de passageiros e do caminhão no transporte de carga. O

caminhão apresentava grande vantagem frente ao trem, pois pegava a mercadoria na fábrica e

levava ao comprador em seu comércio, em sua fábrica ou em sua residência; mas a grande

desvantagem era a menor capacidade de carga, o que encarecia o transporte.

Nos países pouco penetrados, onde tanto a ferrovia quanto a rodovia são exceções,

como é o caso de grandes florestas das regiões tropicais, desertos, zona ártica, algumas zonas

de altas montanhas, o meio de transporte mais viável parece ser o rodoviário, em pistas

permanentes ou sazonais. E, nas regiões equatoriais, a utilização dos rios, além do avião,

desempenha um papel importante. Porém, a escolha dependerá da tonelagem a deslocar no

decorrer do ano e da importância das reservas a serem mobilizadas. A escolha certamente

recairá sobre a rodovia ou a estrada de ferro, desde que se pretenda escoar pequenas

quantidades de produtos durante um período de curta duração, mas, de forma permanente

(GEORGE, 1983).

A capacidade de alterar o custo do produto fará com que aumente sua capacidade

competitiva e sua fatia de mercado e, por isso, uma das razões para a expansão do comércio

foi o desenvolvimento dos meios e formas de transporte, pois se reduziram os custos com

transparência, tanto em relação aos insumos como na distribuição do produto.

Um investimento nos transportes ocasiona uma redução nos custos, tornando a região

mais competitiva e elevando sua participação na economia, consequentemente, aumentando a

sua demanda e influenciando, assim, na renda e no desenvolvimento regional.

O transporte rodoviário de carga é um dos pontos de maior vulnerabilidade da cadeia

logística. A falta de informações necessárias para utilização de um eficiente controle gerencial

nesse setor, juntamente com as deficiências estruturais, funcionam como um poderoso

elemento inibidor do desenvolvimento econômico. É importante salientar que um sistema

precário de transporte de carga limita a área de distribuição da produção e aumenta os custos,

diminuindo o acesso de concorrência. Porém, o melhoramento de transporte viabiliza o

ingresso a novos mercados.

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2.1 O CONCEITO DE LOGÍSTICA

A logística vem sendo utilizada há muitos anos pelos militares com o objetivo de

otimizar os recursos empregados pelas tropas, nos deslocamentos para campos de batalha.

Atualmente, esses conhecimentos se difundiram em várias áreas, principalmente na

empresarial, que, a partir de estudos, vem aprimorando-os a cada dia. Hoje, com a expansão

do comércio e da competitividade entre regiões ou países, a logística se transformou em um

instrumento que, se utilizado adequadamente, pode ser um diferencial para a manutenção e

expansão dos mercados.

Hodiernamente, a palavra logística está ligada ao vocábulo movimentação. Este

termo tem importância fundamental para a leitura geográfica da logística, pois a

movimentação vai auxiliar na compreensão dos processos de produção do espaço, produção

de escalas e territorialização, desterritorialização e reterritorialização.

Silva Junior (2004) considera que a logística é um dos alimentos fundamentais

responsável pela circulação de mercadorias e a define como sendo um conjunto de técnicas e

tecnologias utilizadas com a finalidade de proporcionar fluidez a partir da aceleração da

circulação geográfica, utilizando operações mais velozes e racionais.

A logística constitui a organização técnica do capital baseado em infraestrutura fixa

de transportes, como rodovias, ferrovias e hidrovias, meios de transporte como trens e

caminhões e, principalmente, no tocante a tecnologias da informação e comunicação, tendo

como objetivo proporcionar a otimização dos processos produtivos, priorizando a redução dos

custos e o aumento da fluidez.

Segundo Kato (2005), o operador logístico é uma empresa especializada em serviços

de armazenagem, movimentação, gerenciamento de estoque, distribuição e gerenciamento de

transporte. Ele é que permite medir com maior cuidado a satisfação do consumidor, pois o

cliente precisa encontrar o produto ou serviço na hora e local certos. Os fabricantes e

estabelecimentos comerciais não podem ficar com estoque, porque isso representa custo, no

caso dos fabricantes, eles precisam cada vez mais de espaço para armazenar a produção. E aí

reside o grande desafio da logística.

De acordo com Fleury (2008), o que vem colaborando para tornar a logística um dos

conceitos gerenciais mais modernos são dois conjuntos de mudanças, o primeiro de ordem

econômica; o segundo de ordem tecnológica. As mudanças econômicas criam novas

exigências competitivas; enquanto as mudanças tecnológicas tornam possível o

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gerenciamento eficiente e eficaz de operações logísticas cada dia mais complexas e

demandantes. Entre as principais mudanças econômicas que afetam a logística, o autor

destaca a globalização, o aumento das incertezas econômicas, a proliferação de produtos,

menores ciclos de vida dos produtos e maiores exigências de produtos. Todas essas mudanças

vieram transformando a visão do conceito de logística, que passou a ser vista não mais como

uma simples atividade operacional, um centro de custos, mas sim como uma atividade

estratégica, uma ferramenta gerencial, fonte potencial de vantagem competitiva.

2.2 O TRANSPORTE E A LOGÍSTICA

Kato (2005) refere que o transporte constitui o elemento principal do sistema

logístico e sua importância pode ser medida através dos indicadores de custo. O transporte

representa em média 60% dos custos logísticos e, em alguns casos, chega a mais do que o

dobro. Além disso, o transporte tem grande importância na qualidade dos serviços logísticos,

influenciando no tempo de entrega, na confiabilidade e na segurança dos produtos. Desta

forma, torna-se necessária uma breve análise em seus múltiplos aspectos. Os transportes

podem ser classificados de acordo com a forma e os modos utilizados.

Aduz o autor que o transporte multimodal é aquele orientado por um único contrato,

que utiliza duas ou mais modalidades de transporte e é executado sob a responsabilidade de

um operador de transporte multimodal (OTM) de sua origem até o destino. Além de prestar

serviços de transporte, realiza serviços de coleta, unitização, desunitização, movimentação,

armazenagem e entrega ao destinatário.

A logística de transporte está associada aos conceitos de territorialidade, de

segurança e ocupação do território e de desenvolvimento sustentável, com equidade e justiça

social. Ela é composta de métodos relativos à organização dos serviços de transporte. Requer

um processo de institucionalização, organização e gestão eficiente e eficaz, capaz de envolver

todas as esferas de governo, bem como os vários órgãos e instituições públicos e privados

afins e correlatos com o setor de transporte. A logística de transporte, além de estabelecer uma

relação de benefício/custo, tende a concentrar investimentos na região e integrar o estado às

demais regiões do país. O transporte de carga e toda sua infraestrutura de suporte logístico

representam um incremento para o PIB, assim, constituindo um componente decisivo para a

competitividade da economia e para a redução das desigualdades regionais.

Martins e Lemos (2006) ressaltam que as redes de transporte exercem um efeito

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marcante sobre as decisões logísticas nas cadeias de negócio. A qualidade dos serviços e seus

custos influenciam a tomada de decisão na logística das empresas, nos aspectos de

localização, política de estoque e gestão da frota. Ademais, os custos de transporte,

normalmente, são a principal variável que explica a diferença de preços entre as regiões de

oferta e as regiões de demanda; pois, entre locais de produção e pontos de consumo, os

produtos têm seu preço elevado à medida que este incorpora custos referentes às operações e

transações.

Figura 2 - Sistema de Transporte

Fonte: Silva (2008)1.

A integração interna entre os diversos componentes do sistema logístico é uma

condição necessária para que as empresas consigam atingir excelência operacional com baixo

custo. Para alcançar essa meta as empresas necessitam conhecer muito bem os trade-offs

inerentes à sua operação logística e possuir sistemas e organização adequados para tomar as

decisões de forma integrada. Já a integração externa significa desenvolver relacionamentos

1 Organograma elaborado conforme sugestões do Prof. Dr. Silvio Simione da Silva, durante o Exame de

Qualificação.

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cooperativos com os diversos participantes da cadeia de suprimento, baseados na confiança,

capacitação técnica e troca de informações. A integração externa permite eliminar

duplicidades, reduzir custos, acelerar o aprendizado e customizar serviços.

2.3 PRINCIPAIS MODALIDADES DE TRANSPORTE

2.3.1 O Transporte rodoviário

Rondado (2007) esclarece que o mercado de transporte rodoviário de carga está

organizado da seguinte forma: além das Empresas de Transporte de Carga (ETC), que são

pessoas jurídicas legalmente constituídas e cuja atividade consiste em transportar cargas para

terceiros, o mercado ainda conta com Carreteiros (TCA), Empresas de Carga Própria

(ECP) e transportadores individuais.

O Carreteiro é pessoa física proprietária ou coproprietária de um ou mais veículos,

conduzidos pelo próprio ou por motorista, sem vínculo empregatício, e utilizados na prestação

de serviços de transporte rodoviário de carga para terceiros. As Empresas de Carga Própria

correspondem a empresas industriais, comerciais, agrícolas, agroindústrias e cooperativas que

utilizam veículos de sua propriedade ou fretados para a movimentação das cargas que

comercializam ou produzem. Eventualmente, também, podem realizar transporte remunerado

de cargas para terceiros. Já o transportador individual realiza atividade similar à da

Empresa de Carga Própria, embora seja pessoa física, inclui fazendeiros, pequenos

empreiteiros e outros.

Os tipos de veículos utilizados no transporte de longa distância mais comuns, nas

estradas brasileiras, são: o caminhão-trator (conhecido como cavalo-mecânico) com semi-

reboque, o conjunto é conhecido como carreta e sua capacidade é em torno de 28 toneladas. O

outro veículo é o caminhão com eixo duplo na carroceria, conhecido como “truck”, o qual tem

capacidade de mais ou menos l5 toneladas. Há também o caminhão com eixo simples na

carroceria, conhecido como “toco” e sua capacidade corresponde a oito toneladas.

Ainda encontra-se circulando nas estradas do país o Rodotrem, inicialmente,

utilizado na lavoura canavieira, mas que já trafega também nas rodovias. Corresponde a um

veículo constituído de um cavalo mecânico com dois semirreboques, cada qual com 6,5m de

comprimento. O comprimento máximo do conjunto, conforme estabelecido pelo DNER, tem

19,8m e o peso bruto máximo é de 74t. Essas carretas são conhecidas também como “bitrem”

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ou carreta “Romeu e Julieta”.

2.3.2 O Transporte ferroviário

O transporte ferroviário possui desempenho inferior aos demais modais, não só

quanto ao tempo de trânsito, mas, principalmente, no que concerne à variação do tempo de

viagem, concentrado nas cargas com relação valor-peso ou valor-volume mais baixa. Por sua

vez, dificilmente, cargas parceladas, ou seja, carregamentos de um embarcador inferior à

capacidade de um vagão fazem uso da ferrovia.

De acordo com Rondado (2007), entre as principais características do transporte

ferroviário, destacam-se o frete baixo se comparado com o rodoviário; maior tempo de

viagem; baixo consumo de combustível por tonelada/quilômetro; necessidade de manter

maior estoque nas extremidades, embora, devido à menor velocidade dessa modalidade de

transporte, também pode ser utilizada temporariamente como armazém; adequado para o

transporte de embarques grandes e homogêneos, notadamente granéis, quanto à diferença de

frete, em relação ao rodoviário, supera os custos adicionais em estoques e armazenagem. Os

custos de transporte por tonelada/quilômetro nesta modalidade de transporte são reduzidos na

medida em que aumenta o número de unidades de transporte; no entanto, o custo se eleva

quando se associa a distância média com a necessidade de realização de transbordo; utilização

sujeita à disponibilidade de material rodante; baixa flexibilidade; rota ou via fixa. O serviço é

oferecido apenas entre os terminais ou despachantes ao longo de suas linhas; e,

frequentemente, a distância entre origem e destino é maior se comparada com o rodoviário

devido à restrição quanto a graus de aclive e raios de curvas.

2.3.3 O Transporte fluvial

A utilização do transporte fluvial exige que o usuário esteja localizado nas margens

dos rios ou utilize outra modalidade de transporte combinadamente até a hidrovia. Esta

modalidade de transporte, todavia, tem crescido notadamente na exportação de grãos.

Atualmente, uma parcela da exportação de soja do centro-oeste, que utiliza o sistema Tietê-

Paraná, embarca o produto em caminhões em Rondonópolis de onde segue até São Simão

(GO); de lá é transferido para barcaças que o conduzem até Pederneiras, continuando por

ferrovia até o porto de Santos. Embora essa combinação resulte em distância

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substancialmente superior ao percurso realizado unicamente por rodovia, a utilização da

hidrovia permite obter um frete bem inferior, o que se revela vantajoso, particularmente para

produtos com movimentação elevada, concentrada em determinados períodos, como os grãos.

As principais características do transporte fluvial são: a elevada capacidade de

transporte, particularmente com o emprego de comboios; frete inferior às modalidades

rodoviária e ferroviária; custos variáveis baixos; baixa velocidade; disponibilidade limitada;

utilização geralmente associada à combinação com outra modalidade, o que requer instalações

e equipamentos para transbordo; capacidade de transporte variável ao longo do ano, em

função do nível de água dos rios; rotas ou vias fixas, limitadas às hidrovias.

Tendo em vista os desníveis observados em alguns trechos dos rios, podem ser

necessários investimentos elevados para tornar as hidrovias navegáveis ao longo de percursos

maiores.

2.3.4 O transporte aéreo

Como destaca Rondado (2007), a grande vantagem do transporte aéreo é ser o mais

rápido de todos os modais. E esta característica faz com que haja uma redução nos custos de

armazenagem, pois não há necessidade de fazer estoques em virtude do curto tempo entre as

viagens realizadas.

A maior desvantagem desta modalidade de transporte é que ele constitui o modal

mais dispendioso, pois demanda equipamentos e instalações caríssimas. Outra restrição

apresentada pelo modal é a capacidade limitada de carga, sendo mais adequado para o

transporte de bens com alto valor agregado e que demandem grande urgência na entrega.

Apesar de suas limitações, o modal aéreo de transporte é o que mais se desenvolve

na atualidade devido ao mercado globalizado e as exigências imediatas dos clientes pelos

produtos. Desta forma, não só o turismo justifica a rápida expansão da indústria aérea nos

anos recentes, mesmo com menor importância, o transporte de carga tem grande influência

neste processo. Uma das razões dessa extraordinária dinâmica é a difusão da eletrônica no

mundo moderno, bem como do comércio eletrônico. Baseado em produtos e peças frágeis, de

baixo peso e volume, mas de alto valor agregado, a eletrônica encontra, na aviação, o seu

principal modal de transporte. O comércio eletrônico, por sua vez, ocasiona todo um serviço

expresso que exige o transporte aéreo (ALBAN, 2004).

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2.3.5 O transporte marítimo

Conforme Rondado (2007), é o tipo de navegação realizada nos mares e oceanos do

globo terrestre. Há dois tipos de transporte marítimo: de longo curso, entre países distantes; e

a cabotagem internacional, entre países próximos na mesma costa.

A principal vantagem desse modo de transporte é que ele comporta o maior número

de carga por veículo, tornando os fretes mais competitivos. Qualquer tipo de carga pode ser

transportado e esta modalidade não é suscetível a condições de tempo, principalmente se a

carga estiver acomodada em contêineres. Entre as desvantagens deste modal, pode-se destacar

a baixa acessibilidade, frequência, baixa velocidade, demora nas viagens e congestionamento

encontrado em alguns portos.

Desta forma, observa-se que todas as modalidades de transporte possuem pontos

positivos e negativos. A escolha da modalidade de transporte também influenciará na

diferenciação de regiões e na dinâmica comercial, bem como em toda sua cadeia produtiva. A

modalidade de transporte escolhida também será de acordo com as condições físicas do

território e isso terá influência no desenvolvimento econômico e social da região, o que

contribuirá para desencadear desigualdades intrarregionais.

2.4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DESENVOLVIMENTO DOS TRANSPORTES E

INTEGRAÇÃO REGIONAL NO BRASIL

Analisando a história, pode-se perceber que o processo de integração das regiões

brasileiras se deu de forma bastante lenta, levando aproximadamente 450 anos para ser

plenamente alcançado, e sempre dependeu muito da rodovia para a movimentação de cargas e

passageiros.

Salienta-se que, embora privilegiando o modal rodoviário, o Brasil, até meados da

década de 70, desenvolveu uma razoável infraestrutura na área de transportes, porém

contemplava basicamente a integração do mercado interno, sem preocupações com custos,

qualidade e produtividade, ou seja, com a logística propriamente dita. Somente interessava a

expansão da capacidade física dos transportes.

O processo de industrialização brasileira consolidou-se no decorrer do século XX,

quando, então, o Brasil viveu um período de intenso crescimento da demanda por transporte

inter-regional. As relações de comércio das regiões periféricas menos industrializadas foram

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gradativamente se voltando, principalmente, para a região Sudeste, e, desse modo, floresceu o

comércio entre as regiões do país. De acordo com Castro (2007), seguiu-se uma expansão da

malha rodoviária federal e estadual: de 47.000 quilômetros, dos quais. apenas 423

pavimentados em 1945; passaram para 97.715 quilômetros, dos quais. 7.063 pavimentados

em 1957; e 206.543 quilômetros, com 81.308 pavimentados em 1980. Essa expansão da

infraestrutura foi acompanhada pelo florescimento de uma vigorosa indústria de transporte

rodoviário de carga e passageiro, que viria a tornar-se responsável pela maior parcela na

divisão intermodal de serviços de transporte do país a partir dos anos 60.

Os planos de promover a ligação entre as regiões do país, primeiramente, surgiram

com o propósito de garantir a propriedade do território e, em seguida, com o objetivo de

explorar os recursos localizados no interior do país.

A implantação de uma rede nacional de transporte, no Brasil, iniciou com a

construção de ferrovias, que fracassou e, no final da década de 1920, surgiram as primeiras

preocupações com as rodovias.

Observa-se que, a partir dos anos 50, quando houve a implantação da indústria

automobilística no país, o modal rodoviário passou a desenvolver-se aceleradamente,

assumindo a hegemonia na matriz de transportes brasileira. Entre o final dos anos 60 e

começo da década de 70, com o advento do chamado milagre econômico, a mudança da

capital para a região Centro-Oeste, o governo federal empreendeu um amplo programa de

construção de rodovias, articulando todo o país a partir da capital Brasília.

Em meados da década de 70, o Brasil reestruturou sua matriz de transportes através

do II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND –, que privilegiava o desenvolvimento dos

setores de bens de capital e insumos básicos. O II PND projetava uma expansão dos modais

ferroviário e marítimo, o que acabou não ocorrendo em virtude de uma forte crise fiscal que

abateu todo o país e pouca coisa se fez com relação à melhoria da infraestrutura dos

transportes.

A crise fiscal enfrentada pelo país, a partir do final da década de 1970, modificou

totalmente o cenário brasileiro. Essa crise estancou os recursos de expansão e até de

manutenção da infraestrutura de transporte. Sendo assim, os transportes viveram um longo

período de estagnação e degradação. No caso particular do modal rodoviário, o ápice desse

processo foi atingido em 1988, quando, com a nova Constituição, encerrou-se o sistema de

receitas vinculadas e se extinguiu o imposto sobre combustíveis e lubrificantes que, através do

Fundo Rodoviário Nacional – FRN –, custeava a expansão e recuperação de toda a malha.

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Porém, se a infraestrutura para de expandir, a economia continua crescendo, embora

com taxas menores, especialmente nos segmentos agropecuários voltados para a exportação.

O crescimento da economia nestes segmentos se expande em direção aos cerrados do centro-

oeste, gerando uma forte demanda sobre todos os modais, em particular, o rodoviário, o único

a atingir de fato essa região.

Desta forma, entre os anos 90, há uma retomada nas reformas institucionais

empreendidas nos diversos modais, com o Programa Nacional de Desestatização – PND –. A

primeira solução encontrada para o enfrentamento dos graves problemas do modal rodoviário

visou à busca de novos recursos por meio da delegação de várias rodovias ou trechos

rodoviários à exploração privada. Partiu-se, então, do princípio que a recuperação,

manutenção e modernização do modal deveriam ser pagas pelo próprio usuário. Em 1993,

foram lançados os primeiros editais do DNER, iniciando-se o Programa Nacional de

Concessões; e, em 1994, surgiram os primeiros programas estaduais com o mesmo objetivo.

(ALBAN, 2004).

Atualmente, constata-se que muita coisa mudou e avançou na infraestrutura de

transporte e logística brasileira, porém a precariedade e as limitações espaciais e institucionais

do sistema, como um todo, não foram superadas.

Segundo Galvão (1996), as causas da ascensão das rodovias e do declínio de outras

modalidades de transporte estão na incapacidade de outras modalidades de transporte para

atenderem as aspirações nacionais, pois os sistemas de transporte existentes eram

considerados como inadequados, antiquados, ineficientes e absolutamente incapazes de

responderem aos anseios nacionais da unificação territorial do país.

O autor ainda admite que a explicação para o atraso no desenvolvimento de uma rede

de transporte no Brasil – para a inexistência de um sistema nacional de ferrovias, para a

reduzida importância da navegação marítima e fluvial e a falência dos sistemas de transporte

não-rodoviários no país, pode ser atribuída a dois fatores: a uma conjugação de circunstâncias

naturais adversas, associadas a certas características territoriais do Brasil e à orientação

histórica do crescimento econômico do país, voltado, durante mais de 400 anos, para a

exportação de alguns produtos primários. Além disso, atribui-se o fracasso de tais

modalidades ao poderoso lobby das empresas automobilísticas, a prioridade governamental

concedida ao transporte rodoviário; a outra é o argumento que as ferrovias não poderiam

servir a propósitos integracionistas por operarem os vários sistemas ferroviários, no Brasil,

com bitolas diferentes.

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Vale lembrar que, em países que alcançaram avançados estágios de desenvolvimento dos transportes por ferrovias ou por vias aquáticas, foi sempre o mercado interno que deu o suporte econômico para a viabilidade das companhias ferroviárias ou de navegação. A grande questão, portanto, é a de que a ausência de um forte real e potencial mercado interno é inconsistente com o desenvolvimento de um sistema de transporte, em escala nacional baseado em ferrovias ou em navegação de cabotagem (GALVÃO, 1996, p.21-22).

Apesar das ferrovias e das rodovias serem modalidades de transporte de longa

distância que propiciam menores custos por unidade transportada, exigem para serem

economicamente viáveis um grande volume de fretes de ida e de retorno, o que é uma

realidade ainda não alcançada nos dias atuais, em largas partes do território nacional.

Martins et al. (2007) evidenciam uma série de fatores econômicos que forçou a perda

de competitividade das ferrovias frente às rodovias. De forma geral, as ferrovias tinham

grande extensão, sofriam forte regulação estatal e o sistema de tarifa baseava-se no valor das

mercadorias transportadas. Tais aspectos, comparados com o transporte de baixa escala, com

pouca intervenção governamental e com fretes baseados nos custos, centralizado pelo

transporte rodoviário, foram decisivos para a perda de importância das ferrovias num

ambiente de competição entre os modais. Além disso, a implantação de ferrovias é mais caro

que uma rodovia, bem como levam mais tempo para serem construídas.

No Brasil, as ferrovias foram implantadas com o objetivo de atender à economia

exportadora com direção do interior para os portos, o que hoje se revela inapropriado para

servir à nova ordem econômica voltada para o mercado interno.

Segundo Martins et al. (2007), uma vez que permite as sociedades acesso a produtos

produzidos fora de seus ambientes, o sistema de transporte tem importante papel potencial de

romper monopólios, provocados pelo isolamento geográfico, na produção e comercialização

de mercadorias.

Uma boa infraestrutura de transporte poderá refletir nos preços, ou seja, uma redução

nos custos de transporte ocasiona uma redução do custo dos bens, seja na comercialização,

seja na aquisição dos insumos. Um outro efeito dos transportes é possibilitar a especialização

regional da produção, ou seja, a divisão geográfica do trabalho pode ser orientada pela

vantagem de custos, ou melhor, a especialização produtiva é vantajosa, pois permite às

sociedades consumirem mais e a menor custo.

Os transportes também contribuem para o aumento da renda da terra, ampliando as

alternativas de extensão do uso econômico da terra, porque a produtividade da terra depende

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também de suas características e de sua localização.

Segundo Fair e Williams (apud MARTINS et al., 2007), os transportes também têm

uma importância social na medida em que permitem a locomoção de pessoas, disseminando

informações e ideias e se inter-relacionando com a distribuição dos recursos, topografia e

desenvolvimento do comércio, é, igualmente, um dos condicionantes da distribuição da

população.

2.5 TRANSPORTES E PLANEJAMENTO PÚBLICO

O planejamento é uma ferramenta indispensável na era moderna, tanto para atingir

objetivos como forma de condução do governo e dos distintos atores sociais. Isso porque o

planejamento pressupõe uma mediação entre o futuro e o presente, a necessidade do

planejamento reside no fato de que para decidir se deve fazer hoje, baseia-se na avaliação da

eficácia que essa ação, hoje, terá amanhã. A necessidade de prever as possibilidades do

amanhã para esboçar, com antecipação, o que se deve fazer hoje. Em segundo lugar, é preciso

prever quando a predição é impossível. O futuro que poderá afetar amanhã e incide sobre a

eficácia das decisões de hoje depende, às vezes, de variáveis desconhecidas e inimagináveis

as quais não se podem enumerar. A partir desse ponto de vista, o segundo argumento sobre a

necessidade de planejamento se apoia na exigência de vislumbrar possibilidades para prever

ações e, por conseguinte, ser oportuno e eficaz na ação.

O planejamento se torna importante devido à necessidade de estar preparado para

raciocinar veloz e eficazmente em face das surpresas. É necessário capacidade de reação

planejada ante as surpresas. Também é preciso uma mediação entre o passado e o futuro, há

uma necessidade da aprendizagem da prática como mediação entre o passado e o futuro. Os

erros cometidos no presente devem servir como pressupostos para melhorar o planejamento

de ações futuras.

Seguindo dos pressupostos que norteiam o planejamento público, é preciso uma

mediação entre o conhecimento e a ação. Sendo assim, entre a ação e o conhecimento da

realidade, é indispensável o planejamento para garantir a eficácia da ação. É necessário

também uma ação central que busque a coerência global frente às ações parciais dos atores

sociais, caso se queira conduzir o sistema social para objetivos decididos democraticamente

pelos homens.

Para atingir os objetivos pré-fixados, contornando os obstáculos em um meio

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resistente, deverá demonstrar capacidade de governo. Para governar é imprescindível articular

três variáveis. Entre tais variáveis, destacam-se o projeto de governo, a governabilidade do

sistema e a capacidade de governo. O projeto de governo se refere ao conteúdo programático

dos projetos de ação que um ator se propõe a realizar para alcançar seus objetivos. Já a

governabilidade do sistema é uma relação entre as variáveis que um ator controla e não

controla no processo de governo, ponderados por seu valor ou peso em relação à ação do dito

ator. Quanto mais variáveis decisivas controla maior a sua liberdade de ação e maior a

governabilidade do sistema. A capacidade de governo representa a capacidade de condução ou

direção e se refere ao acervo de técnicas, métodos, destrezas e habilidades de um ator e sua

equipe para conduzir o processo social rumo a objetivos declarados, segundo a

governabilidade do sistema e o conteúdo programático do objeto do governo.

Buarque (2002) enfatiza que o planejamento é uma ferramenta de trabalho utilizada

para tomar decisões e organizar as ações de forma lógica e racional, de modo a garantir os

melhores resultados e a concretização dos objetivos de uma sociedade, com os menores custos

e no menor prazo possível. O planejamento é o processo de tomada de decisões pela

sociedade em relação ao futuro, envolvendo escolha entre alternativas e definição de objetivos

coletivos que orientem a ação.

Em abril de 2001, o Senado Federal aprovou e encaminhou para sanção presidencial

o projeto lei que reestruturou os órgãos governamentais que controlam o setor de transportes.

Foram então criadas as Agências Nacionais de Transportes Terrestres (ANTT) e de Transporte

Aquaviário (ANTAQ), além do Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transportes

(CONIT) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Ao CONIT,

caberá a atribuição de propor ao Presidente da República políticas nacionais de integração dos

diferentes modos de transporte sejam de pessoas como de bens. As agências deverão

implementar, em suas respectivas esferas de atuação, as políticas formuladas pelo Conselho

Nacional de Integração de Políticas de Transporte e pelo Ministério dos Transportes, e

especial regular ou supervisionar as atividades de prestação de serviços e de exploração da

infraestrutura de transporte, exercidas por terceiros, tendo em vista garantir a movimentação

de pessoas e bens em cumprimento a padrões de eficiência, segurança, conforto, regularidade,

pontualidade e modicidade nos fretes e tarifas; e harmonizar preservado o interesse público,

os objetivos dos usuários, das empresas concessionárias, permissionárias, autorizadas e

arrendatárias e de entidades delegadas, arbitrando conflitos de interesses e impedindo

situações que configurem competição imperfeita ou infração da ordem econômica.

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Ao Ministério dos Transportes cabe a missão de formular, coordenar e supervisionar

as políticas nacionais dos transportes ferroviário, rodoviário e aquaviário da marinha

mercante, pontos e vias navegáveis, promovendo o planejamento estratégico dos meios de

transporte, estabelecendo as diretrizes para sua implementação e definindo as prioridades dos

programas e dos investimentos. Destaca-se ainda a atribuição de aprovar o plano geral de

outorgas para exploração da infraestrutura e prestação de serviços de transporte.

Segundo Silva Júnior (2004), a rede rodoviária brasileira é administrada diretamente

pelo Departamento de Transportes Rodoviários, ligado à Secretaria de Transportes Terrestres

do Ministério dos Transportes, que define a política nacional para o setor, e administrada

indiretamente por entidades vinculadas, tais como a Empresa Brasileira de Planejamento e

Transportes – GEIPOT (em liquidação) e autarquias e sociedades de economia mista voltadas

para a atividade, como a Agência Nacional de Transportes Terrestre – ANTT; o Departamento

Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT; e o Departamento Nacional de Estradas de

Rodagem – DNER (em extinção).

O principal órgão executor do Ministério dos Transportes é o DNIT, que foi

implantado em fevereiro de 2002, com a missão de desempenhar as funções relativas à

construção, manutenção e operação da infraestrutura dos segmentos do Sistema de Aviação

sob a administração direta da união nos modais rodoviário, ferroviário e aquaviário. É

dirigido por um conselho administrativo e por cinco diretores nomeados pelo Presidente da

República e conta com recursos próprios da União para execução de suas obras. As rodovias

federais permanecem sob a administração do DNIT, exceto 4% da malha sob concessão.

Na literatura sobre desenvolvimento econômico, pode-se perceber que os transportes

desempenham um papel de grande importância, isso porque o transporte é o meio de

suprimento e abastecimento de bens e insumos dos quais as regiões carecem, como também é

o meio que permite que estas exportem seus produtos.

Conforme Castro (2007), um dos fatores que agem no sentido de limitar os fluxos do

comércio são os custos dos transportes, porque, primeiramente, tais custos são imputados aos

custos dos insumos, influenciando os custos de produção e o preço do bem final; segundo,

eles determinam quais mercados cada região está apta a atender e, consequentemente,

concorrem com as mercadorias produzidas por outras regiões ou país. Os custos de transporte

afetam a renda gerada em cada região (via exportação), e seus preços (via importação) tanto

de insumos quanto de produtos finais. Sendo assim, uma redução nesses custos pela via da

redução de preços, em virtude da concorrência de produtos importados e pela própria redução

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dos custos dos produtos produzidos regionalmente, propiciaria um aumento no bem-estar da

população. Haveria também ganhos de escala, pois, com a expansão da cobertura geográfica

de regiões cujas demandas podem ser atendidas, as firmas da região exportadora poderiam

produzir mais, diluindo seus custos fixos e aumentando seu poder de compra junto aos

fornecedores, que, por sua vez, também teriam margem para aumentar o volume de suas

produções, esse impacto estender-se-ia por toda a cadeia produtiva.

Por outro lado, um sistema de transporte ineficiente acarreta altos custos de deslocamento e representa um entrave ao desenvolvimento. As instalações precárias de transporte restringem as possibilidades de ganhos pelo comércio. Para os exportadores tradicionais de produtos primários, o alto custo e a qualidade inadequada do transporte nacional podem ocasionar a perda dos mercados tradicionais de exportação e os excluir de mercados potenciais (CASTRO, 2007, p.61).

No caso dos estados da Região Norte, que possuem sua base produtiva fortemente

assentada em produtos primários, o impacto do transporte é ainda mais relevante. A razão

principal é porque o valor mais baixo do produto em relação a seu peso, os fretes, onera os

preços finais dos produtos. Ainda parte dos produtos primários tem suas cotações fixadas nos

mercados internacionais, sendo impossível a transferência de aumentos de custo de transporte

aos preços finais.

Como relatam Martins et al. (2007), o frete é o preço de equilíbrio de mercado para a

operação de determinado serviço de transporte de carga. Os principais fatores que determinam

o valor frete são: distância percorrida, custos operacionais, possibilidades de carga de retorno;

carga e descarga; sazonalidade da demanda por transporte, especificidade da carga

transportada e do veículo utilizado; perdas e avarias, vias utilizadas, pedágios e fiscalização,

prazo de entrega e os aspectos geográficos.

No caso do Brasil, há ainda outros fatores que podem elevar o preço do frete, um

deles é a prestação do serviço porta a porta desenvolvido pelo modal rodoviário, e o

subaproveitamento do potencial de modais alternativos, como o ferroviário e o hidroviário, o

que colabora para a redução da concorrência entre os modais.

O planejamento moderno incorpora e combina uma dimensão política e uma

dimensão técnica, constituindo-se um fator técnico-político. Deverá ser técnico porque é

ordenado e sistemático e deve utilizar instrumentos de organização, sistematização e

hierarquização da realidade e das variáveis do processo e um esforço de produção e

organização de informações sobre o objeto e instrumentos de intervenção; e o caráter político

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se deve ao fato de que toda decisão e definição de objetivos passa por interesses e

negociações entre atores sociais.

As visões contemporâneas de planejamento e a concepção de desenvolvimento local

sustentável devem incorporar o processo participativo como parte central das metodologias,

refletindo também sobre a forma de organização e gestão local. O processo participativo tende

a quebrar as estruturas centralizadas e verticalizadas de decisão e gestão. Levando os atores

sociais a se posicionarem como parceiros e cooperadores e não como subordinados e

dependentes. É baseado numa parceria entre governo e sociedade, o governo atua como

articulador da sociedade, constituindo redes flexíveis entre os atores e agentes públicos.

2.6 COMO AVALIAR O SISTEMA DE TRANSPORTE

De acordo com Lima Jr. (2007), o sistema deve ser entendido como um conjunto de

componentes que atuam juntos na execução de um objetivo global em determinado ambiente,

ou seja, procura caracterizar a estrutura e a função de dado objeto em estudo e sua interação

com o meio em que está inserido.

Ainda segundo o autor, avaliar o desempenho logístico ou de transportes depende da

óptica em que é analisado, podendo ter três abrangências distintas: a operação, o mercado e o

ambiente. O primeiro enfoque aborda o sistema segundo a óptica da eficiência da produção do

serviço em relação à utilização dos recursos, com uma abordagem eminentemente de

operação. O segundo enfoque considera a eficácia do atendimento das necessidades dos

clientes tanto individualmente quanto de forma coletiva, com uma ênfase mercadológica. A

terceira abordagem considera os impactos ou externalidades ambientais, sociais e econômicas

causadas pela operação do sistema em avaliação. Para avaliar o desempenho do sistema de

transporte é necessário verificar os custos, a capacidade de transporte, a quantidade e volume

transportados, o tempo do ciclo e a qualidade e nível do serviço.

Conforme estudos realizados por Novaes (2007), as empresas de transporte

rodoviário de carga prestam basicamente quatro tipos de serviços. Um deles é o serviço de

lotação completa, pelo qual a carga é coletada nas instalações do embarcador, é transportada

no mesmo veículo para o depósito do destinatário, sem passar pelos depósitos da

transportadora. Outro é o serviço de carga fracionada local, neste, a carga é coletada nas

instalações do embarcador e deslocada até o depósito da transportadora. Então, é feita uma

triagem e o reembarque nos veículos de distribuição que realizam as entregas diretamente aos

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destinatários localizados em vários pontos da mesma cidade, ou em outras localidades

próximas.

O terceiro é o serviço de carga fracionada a longa distância. Neste caso, há um

terminal regional que recebe mercadorias de diversos pontos do país, onde se faz a descarga

das mercadorias procedentes de várias regiões e novamente separadas por rotas e

reembarcadas nos veículos de entrega.

Há ainda um quarto serviço de carga fracionada de longa distância com terminais

intermediários de trânsito. Neste caso, existem os terminais intermediários da transportadora

para reorganizar as remessas por corredor de transporte.

Um fator importante no estudo da logística é o custo do transporte. De forma bem

genérica, o custo depende basicamente da distância percorrida e da tonelagem deslocada.

Quando os serviços oferecidos se tornam mais diversificados, a determinação dos custos

também se torna mais complicada.

Novaes (2007) esclarece que o custo difere do gasto e da despesa, pois o gasto é

realizado quando se obtém um produto ou serviço qualquer; o custo está relacionado à

execução efetiva de um serviço e a despesa constitui a porcentagem que a empresa emprega

para cobrir comissão de vendedores, de agentes relacionados com as atividades de venda,

representação, intermediação etc.

Ainda, como afirma o autor, os custos podem ser classificados como diretos,

indiretos, fixos e variáveis. O custo direto é relacionado diretamente com os serviços

oferecidos, exemplo é o custo de capital (depreciação dos carrinhos na movimentação da

carga). O custo indireto é aquele que só pode ser alocado aos serviços de forma indireta, como

o aluguel de um prédio. Já os custos variáveis são aqueles que variam diretamente com a

quantidade produzida, por exemplo, pneus e combustíveis. Já o custo fixo não varia com a

produção ou com outra variável explicativa de cunho operacional, como o aluguel do

depósito. Pode-se, também, falar em custo marginal, que corresponde aos custos adicionais,

obtidos da operação de retorno dos caminhões.

Para Santos e Aguiar (2007), o desenvolvimento econômico gerado em uma área

urbana decorrente da movimentação de cargas é muito expressivo em termos de economia

local, regional, estadual, nacional e até internacional, tanto pela parcela significativa do

Produto Interno Bruto (PIB), que seus custos normalmente representam, comparando-se ao

transporte de passageiros; como em termos das vantagens competitivas das cidades em termos

econômicos que advêm do transporte de cargas.

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O planejamento público no setor de transporte de carga visa, primeiramente, à

implementação de medidas que reduzam o total dos custos sociais da circulação de bens ao

mais baixo nível possível, extensiva às necessidades e aos objetivos da sociedade através da

regulamentação e melhoria da infraestrutura para que as empresas possam operar da melhor

forma. Hoje se fala muito em logística empresarial, esta engloba diversos segmentos, mas a

administração de materiais e a distribuição física constituem peças fundamentais deste

segmento.

2.7 VARIÁVEIS UTILIZADAS NA ESCOLHA DO MODAL

Monteiro et al. (2007) referem que a escolha do modal para o transporte de carga

envolve diversos aspectos, como características de mercado, dos tomadores de decisão e das

cargas, legislação, infraestrutura de transporte e tecnologia disponíveis. Ainda, segundo os

autores, as características de mercado é o que tem mais influenciado a escolha modal no

Brasil e em outras regiões do mundo, como Estados Unidos e Europa, estando geralmente

associada aos serviços logísticos que a competitividade de uma economia globalizada

demanda.

Entre as variáveis relevantes na escolha do modal, os autores destacam as seguintes:

custo da operação; tempo de trânsito entre os pares origem-destino de interesse para os

clientes; frequência do serviço; serviços logísticos oferecidos que são adicionais ao

transporte; disponibilidade e qualidade das informações de transporte; confiabilidade

(regularidade e consistência no nível de serviço oferecido); capacidade; acessibilidade e

flexibilidade de integração intermodal; segurança e perdas e danos. E aduzem que outros

fatores são levados em conta no momento da escolha do modal, como tradição de algum

operador e embarcador de carga que realiza a escolha modal, localização geográfica da

produção ou mercado de consumo da carga e necessidades logísticas específicas da carga

como necessidade de refrigeração.

Além do desempenho logístico, estudos práticos têm revelado que os decisores

possuem padrões de escolha baseados em critérios. No Brasil e em outros países, os decisores

tomam decisões baseados nos seguintes critérios: custo, segundo pesquisas, no Brasil, o custo

de transporte equivale a 60% do custo logístico. Outro critério é a qualidade e custo, em que

os decisores, afora do custo, consideram variáveis como confiabilidade, agilidade,

flexibilidade, regularidade, segurança, perdas e danos, disponibilidade de informação para

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rastreamento de carga. Este tipo de decisor realiza a escolha entre qualidade e custo e pode

escolher uma alternativa mais cara desde que lhe ofereça o nível de serviço desejado.

Outro critério que deve ser observado são as necessidades logísticas específicas, que

incluem aspectos diretamente relacionados à carga, o mercado e os aspectos específicos das

empresas. Com relação à carga, inclui fatores como tipo de carga (perecível ou perigosa),

tamanho da carga, necessidade de operação terceirizada e sazonalidade da produção ou

consumo. Já com relação a aspectos específicos da empresa, considera-se a localização

geográfica da produção ou dos centros de distribuição, relacionamento histórico com

transportadores ou operadores logísticos e também políticas empresariais.

Isso posto, no próximo capítulo, procurar-se-á mostrar como se deu, no tempo, o

processo de inserção da Amazônia no conjunto do território nacional, partindo da ideia que

este processo foi viabilizado e patrocinado pelo Estado, no quadro da expansão capitalista do

país, ademais, far-se-á uma breve análise dos meios de transporte utilizados na região,

ressaltando a importância da intermodalidade dos transportes.

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3 UMA ANÁLISE DO TRANSPORTE DE MERCADORIA NA AMAZÔNIA

3.1 UMA VISÃO GERAL DA OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA

Para compreender a atual configuração territorial da Amazônia é necessária uma

retrospectiva do processo de ocupação da região, quais os atores fundamentais que agiram no

decorrer da história e, de modo especial, os impactos e consequências de tal processo para o

desenvolvimento e a evolução dos transportes de carga e de passageiro.

As primeiras expedições vieram para a Amazônia entre 1616 e 1777, tendo como

base econômica a exportação das chamadas drogas do sertão, somente, entre 1850 e 1899, que

se delineou a região a partir da preocupação imperial com a internacionalização da navegação

dos rios e a expansão da exploração da borracha. A formação territorial se completou entre

1899 e 1930, quando se destacou o papel da diplomacia nas relações internacionais e do

Exército para o controle interno do território.

Becker (2004) destaca três elementos importantes no período de formação da região.

O primeiro é o fato de a Amazônia ter sofrido uma ocupação tardia, dependente do mercado

externo, isto porque, como todo o continente latino-americano, a ocupação se deu a partir da

expansão marítima das empresas comerciais européias, transformando tais regiões em

periferias da economia capitalista. O segundo ponto é a importância da geopolítica no

controle e ocupação da região através do caráter político-ideológico de atuação dos governos

português e, depois, brasileiro, que conseguiram o controle da população e do crescimento

econômico. Por último, a autora menciona a experiência, o controle e os modelos de ocupação

territorial que tiveram duas concepções distintas, sendo uma baseada em uma visão externa da

região, a qual privilegia as relações com a metrópole; e a outra concernente a uma visão

interna do território, destacando o crescimento endógeno e a autonomia local.

Os surtos voltados para produtos extrativos de exportação, as estratégias de controle do território e os modelos de ocupação marcaram toda a formação territorial da Amazônia, estando presentes até os dias atuais. O modelo endógeno foi muito menos expressivo após as missões, sendo representado por alguns projetos de colonização e, sobretudo, pelos povos indígenas, seringueiros e ribeirinhos, que tentam hoje fortalecê-lo (BECKER, 2004, p.25).

Entre os anos de 1920 e 1940, a região Amazônica passou por um período de

estagnação e houve tentativa de diversificar as atividades da região. Neste período, o país

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enfrentou grandes dificuldades no contexto do mercado mundial da borracha, quando a

produção desta, na Malásia, cresceu exponencialmente e chegou a ultrapassar a produção

brasileira. Esse fato causou muito impacto na região, pois tinha, nesse produto, a sua mais

importante e principal atividade. Houve uma liberação de mão-de-obra e se enfraqueceram os

fluxos econômicos, isto porque sua economia era baseada em apenas um produto.

O governo brasileiro elaborou um plano de socorro à região que visava, entre outros

objetivos, promover, em ampla escala, a cultura da Hevea brasileense e das outras árvores

lactíferas projetando, desse modo, criar um mercado de consumo interno pelo aproveitamento

da espécie na indústria que se devia incentivar. Este plano previa inclusive prêmios aos que

plantassem as espécies lactíferas e implantassem estações experimentais para a preparação e

fornecimento de sementes e instruções aos seringueiros, bem como obras de regularização

fluvial. Porém, o plano fracassou, pois o Congresso vetou a dotação de verbas e, com isso,

falhava a primeira tentativa de planejamento regional no Brasil, por conseguinte, a economia

regional estagnou por um prazo de, aproximadamente, 30 anos.

No período de 1940 a 1954, iniciou a intervenção estatal na Amazônia, houve uma

série de propostas para um planejamento regional sistemático na região, que culminou em

1953, com a criação da Superintendência para a Valorização da Economia Amazônica –

SPVEA, com o objetivo de promover o desenvolvimento da agricultura e a exploração da

floresta em termos de maior rentabilidade. Em 1940, o governo Vargas inicia uma política de

ocupar a região para lhe proteger das invasões estrangeiras e trazer benefícios para

camponeses e colonos. A política do governo em relação à Amazônia envolvia um pacto de

elites em favor da modernização regional, com ideias populistas de valorização do trabalhador

regional. A intervenção na região intensificou-se com a criação de um grande aparato de

serviços e órgãos, destacando-se a criação do Banco de Crédito da Borracha em 1942,

objetivando fomentar a produção gumífera e a construção de um aeroporto em Manaus, com

a finalidade de melhorar o transporte.

Nos anos que se estenderam entre 1955 e 1964, estabeleceram-se as bases da

integração da região Amazônica ao conjunto do país. O governo de Kubitschek estabeleceu

um plano de metas pelo qual destinava 30% dos investimentos para o setor rodoviário, e

decidiu implantar duas rodovias que foram de importância fundamental para a ligação direta

da Região Amazônica com o restante do território, ou seja, a Belém-Brasília e a Brasília-Acre.

A Rodovia Belém-Brasília, partindo de Bagé, no Rio Grande do Sul, atravessaria o

país até chegar a Belém, abrindo a fronteira amazônica aos capitais do centro, colocando a

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região em pé de igualdade com as demais regiões do país no que se refere às ligações viárias.

A rodovia também funcionaria como redirecionador de fluxos migratórios originados na

Região Nordeste, incrementando também os fluxos do centro-sul para o norte. Além disso,

abriria os mercados do sudeste para produtos regionais, como é o caso do arroz, trazido, em

geral, como carga de retorno dos caminhões que demandam Belém. A rodovia Brasília-Acre

viria a ser hoje a Br 364, ligando Cuiabá a Rio Branco, os trechos foram abertos às pressas e,

logo, a floresta voltou a crescer no percurso.

Entre 1964 e 1980, reforçou-se a consolidação da presença do Estado na região. A

SPEVEA foi transformada em Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia –

SUDAM, também, foi criada uma entidade espacial e legal – a Amazônia Legal, que teria a

sua área de atuação abrangendo os estados do Acre, Amazonas e Pará; parte dos estados de

Goiás, Maranhão, Mato Grosso e territórios federais do Amapá, Rondônia e Roraima. A

SUDAM atraía investidores para a região através de incentivos fiscais, abatendo do imposto

de renda das empresas os investimentos feitos na instalação das empresas. Em 1967, foi

criada a Zona Franca de Manaus, que consistia em um distrito industrial localizado no centro

da cidade, o qual dava isenção para mercadorias importadas e visava à implantação de

indústrias com isenção de impostos em insumos e sobre a produção.

Em 1970, o governo anunciou um ambicioso plano viário que consistia na construção

de várias obras rodoviárias na Amazônia e no Brasil central, tendo como peça básica a

rodovia Belém-Brasília, o prosseguimento do asfaltamento da dita estrada, o prolongamento

até Rio Branco, no estado do Acre, o término da estrada Porto Velho - Manaus, a implantação

de uma estrada Cuiabá- Cachimbo – Santarém e a construção da estrada pioneira ligando o

nordeste à Amazônia. Em 1973, durante o Governo de Médici, é anunciada a construção de

outra grande estrada, que seria a contrapartida inicial da Transamazônica: a Perimetral Norte,

com uma extensão aproximada de 2.600km, ligaria Cruzeiro do Sul, no Acre, a Macapá,

atravessando o rio Solimões na altura de Tabatinga. A Transamazônica partiria da conexão

com a rede rodoviária nordestina, na cidade piauiense de Picos, atravessando a Belém-

Brasília, na altura de Marabá, e cruzando as bacias dos Rios Xingu e Tapajós, alcançando

Humaitá, encontrando-se com a Porto Velho – Manaus, seguindo até a cidade de Lábrea, às

margens do Rio Purus.

Importante frisar, nos anos que se estenderam na década de 1970, os planos de

desenvolvimento idealizados para a Amazônia durante o governo militar. O I Plano Nacional

de Desenvolvimento – PND –, elaborado para o período de 1972- 1974, tinha como metas

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para a Amazônia a integração física, econômica e cultural e a ocupação humana através,

sobretudo, da colonização das rodovias Transamazônica e Cuiabá – Santarém por pessoas

trazidas do nordeste.

O II PND, lançado pelo governo Geisel, no período de 1975-1979, passou a valorizar

a fronteira de recursos da região, além de considerar a filosofia de integração nacional do

plano anterior, considerava que a relação da Amazônia e o nordeste com o centro-sul era

importante para o fluxo de mercadorias, de capitais e de tecnologia.

Ainda em 1975, foi detalhado, em termos programáticos pela SUDAM, em seu II

Plano de Desenvolvimento da Amazônia, o programa POLAMAZÔNIA (Programas de Pólos

Agropecuários e Agrominerais da Amazônia), institucionalizado em 25/09/1974, pelo Decreto

nº74607, o qual era dirigido à utilização dos eixos viários para a ocupação dos espaços vazios

na área Amazônica. Com este programa se fortaleceu a aliança entre o Estado e a empresa

privada, tanto nacional quanto estrangeira, na condução desse processo de ocupação e

desenvolvimento. Dentre as áreas coordenadas pela SUDAM e os polos escolhidos como

prioritários, o Acre estava inserido neste projeto que objetivava o desenvolvimento da

pecuária e o aproveitamento dos recursos existentes no solo e na floresta amazônica.

O plano viário também foi acompanhado de um plano de colonização, com a

instalação em lugares estratégicos de pequenas vilas com sede administrativa e infraestrutura

necessária às famílias. Desta forma, ao longo da Br 364, trecho Cuiabá-Porto Velho, o INCRA

definiu os Projetos de Assentamento Dirigido (PAD) e os Projetos Integrados de Colonização

(PIC), que atraíam numerosos grupos de imigrantes dando origem a núcleos que hoje são a

sede de municípios como Cacoal, Ouro Preto do Oeste, Jaru e Ji-paraná. No Vale do Acre,

instalaram-se os pecuaristas que ocuparam antigos seringais, que não interessavam aos

antigos proprietários devido à queda do preço da borracha. Esta forma de ocupação viria

ocasionar hoje os grandes conflitos entre fazendeiros e seringueiros, surgindo a reivindicação

de criação de reservas extrativistas. Ainda fazendo parte deste período de busca de

modernização para a região, foram criados os grandes projetos agropecuários, madeireiros e

de mineração.

Nos anos 80, surge uma nova problemática na Amazônia, ao discurso de ocupação e

integração, surge um questionamento a respeito das consequências desta forma de ocupação

para a natureza e muitos projetos são rejeitados por grupos que mantêm uma preocupação

com os impactos sobre o meio físico, bem como sobre as populações locais. No entanto, o

governo João Figueiredo decide, em 1980, continuar a estratégia de ocupar a região e esboça

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um plano intensivo de Colonização – o POLONOROESTE, com o objetivo central de

reconstruir e pavimentar a Cuiabá-Porto Velho e implementar projetos para promover o

povoamento e desenvolver a agricultura; e construção de estradas vicinais às suas margens.

A criação de infraestrutura de transporte também correspondeu a uma outra forma de

intervenção do Estado na organização do espaço na Amazônia. Ao prover a região de maiores

condições de transporte, o Estado passou a criar vantagens comparativas em algumas áreas,

dirigindo de certa forma a localização das atividades econômicas. A Amazônia passou a

conviver com o contraste entre o que se denomina de “antigo”, representado pelo sistema

fluvial, e o “moderno”, para muitos, representado pelo sistema rodoviário e aéreo.

Com relação ao sistema fluvial, a Bacia Amazônia possui uma rica rede hidrográfica,

sendo dividida em Bacia Ocidental, abrangendo o Acre, Amazonas, Roraima e Rondônia; a

Bacia Oriental, formada pelos vales dos rios Tapajós, Trombeta, Xingu, Tocantins, Paru,

Capim e Bacia do Marajó; além destas, tem a Calha Principal, englobando a rota Manaus-

Belém, ligando os dois centros principais da região; e a Bacia do Amapá, formada pelos rios

Jarí, Araguari e parte da Bacia do Marajó.

Essa rica rede hidrográfica possui uma infraestrutura de apoio ao transporte

caracterizada por instalações portuárias que possui portos com infraestrutura e calado para

operar com navios de longo curso e cabotagem, incluindo-se as instalações de Manaus,

Belém, Santarém, Macapá, Parintins, Óbidos e Itacoatiara. Também possui portos para

navegação interior de calado médio, como os de Tabatinga, Coari, Porto Velho, Itaituba,

Tucurí e Altamira. Para navegação interior de pequeno calado, há Rio Branco, Cruzeiro do

Sul e Caracaraí. Além destes, possui terminais portuários especializados em alguns produtos

minerais, como os Portos de Trombetas, Vila do Conde, Barcarena, Santana, Siderama,

Munguba e Monte Dourado.

A Amazônia brasileira possui uma rede hidroviária da ordem de 24 mil km,

ocupando uma extensão territorial de mais de 3,6 milhões de km2. Os principais rios que

integram esse subsistema são navegáveis em grande parte de seu percurso e formam a espinha

dorsal que estrutura a rede viária da Amazônia. O Rio Amazonas, incluindo seu principal

formador, o Rio Solimões, é navegável em território brasileiro desde sua foz até a cidade de

Benjamim Constant, num estirão de 3.108km. Tem-se também o Rio Madeira, Rio Negro, Rio

Purus, o Rio Juruá, o Rio Branco, entre outros.

A vasta rede hidroviária e a costa atlântica da Amazônia Legal são servidas por um

subsistema portuário, que, no momento presente, atende razoavelmente aos fluxos existentes.

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De acordo com as características técnicas e a importância que ocupam na movimentação

regional de cargas e passageiros, pode-se distinguir as instalações portuárias em dois grupos -

as instalações principais e os menores -, além dos portos rudimentares.

Conforme o exposto, percebe-se que o sistema de transporte fluvial na Amazônia

oferece boas condições de transporte apenas em alguns pontos da Bacia Amazônica,

destacando-se as instalações portuárias localizadas na calha principal do Amazonas e os

terminais portuários especializados em transporte de minérios que utilizam rios localizados na

Bacia Oriental do Amazonas.

Atinentemente ao transporte rodoviário e aéreo, nos últimos anos, observa-se um

maior planejamento, visando, sobretudo, conectar áreas anteriormente isoladas ao espaço

produtivo regional e nacional. Durante a década de 60, priorizou-se a instalações de rodovias

ligando o centro-sul do país à Região Norte, tendo sido concluído o asfaltamento da Belém-

Brasília (BR-010) e implantada a Cuiabá- Porto Velho – Cruzeiro do Sul (BR-364). No

entanto, é a partir da década de 70 que se intensifica a implantação de grandes eixos

rodoviários na Amazônia, através da abertura da Transamazônica (BR – 230), da Porto Velho

– Manaus (BR – 163), e de alguns trechos da Perimetral Norte (BR – 210) e do asfaltamento

da Belém Brasília.

Além desses grandes eixos, há, na Amazônia, as rodovias de média extensão como a

BR 317, que liga Lábrea (AM), a Assis Brasil (AC); a BR 010, que liga Manaus (AM) a

Itacoatiara (AM); a BR 210 (Perimetral Norte) – trecho inicial entre Macapá (AP) e Porto

Grande (AP); a BR 425 que liga Abunã (RO) a Guajará- Mirim (RO); a PA – 156, que liga

Tucuruí a Cametá e Limoeiro do Ajuru, no Pará; a PA – 151, que liga Baião a Igarapé- Mirim

e Barcarema no Pará; e a BR 316, que liga Belém a Capanema, no Pará, e a Peritoró, no

Maranhão. Esses eixos complementam o sistema rodoviário que ainda dispõe de um grande

eixo estadual que é a PA 150, que liga Barcarena ao nordeste de Mato grosso, e ainda uma

grande rede estadual de grande densidade no nordeste do estado do Pará, compreendendo a

área Metropolitana de Belém, a Zona Bragantina e a região de Salgado.

Apesar da evolução ocorrida nos últimos anos, no sentido de prover um sistema de

transporte mais ágil, capaz de manter intensos fluxos de cargas e passageiros durante todo o

ano, muitas áreas da região continuam isoladas.

Com relação ao transporte aéreo, observa-se que os aeroportos mais movimentados

da região estão localizados nas capitais dos estados da Amazônia, também, destacam-se os

aeroportos de Santarém (PA), Marabá (PA), Altamira (PA), Itaituba (PA), Tucuruí (PA),

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Cruzeiro do Sul (AC), Tabatinga (AM), em áreas especiais de mineração ou garimpo intensos,

como Carajás e Serra Pelada, no município de Marabá (PA), Porto Trombetas, no município

de Oriximiná (PA) e nas áreas do complexo agroindustrial minerador do Jarí, em Monte

Dourado, no município de Almeirim (PA).

Como o transporte aéreo se caracteriza por ser um transporte de custo elevado, ele é

utilizado com mais frequência em áreas que desenvolvem atividades economicamente

vantajosas, como, por exemplo, a mineração e a indústria. Portanto, verifica-se que a

construção e a localização de aeroportos na Amazônia esteve ligada ao desenvolvimento de

atividades lucrativas e de cunho empresarial.

Em razão das grandes distâncias e da precariedade das ligações de superfície, o

transporte aéreo na Amazônia assumiu um rápido e substancial desenvolvimento. A relativa

facilidade de construção de uma pista de pouso, em comparação às outras modalidades de

transporte, e o grande retorno imediato ao propiciar ligações rápidas por via aérea, bem como

o clima tropical que favorece esse tipo de transporte, fazem com que todas as localidades da

Amazônia Legal tenham pelo menos uma pista de pouso. Pistas simples de categoria inferior

e rudimentar permitem acesso a lugares inóspitos e, da mesma forma que as instalações

rudimentares de portos às margens dos rios, são abertas por particulares em toda a região

Amazônica.

As vilas e municípios da região mantêm instalações aeroportuárias menores,

registradas no Departamento de Aviação Civil, e fazendas e empreendimentos mantêm

instalações privadas com diferentes níveis de precariedade.

Em função de sua localização e importância, atualmente, o Ministério da

Aeronáutica, por meio da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO),

mantém 15 aeroportos na Amazônia Legal, dos quais 8 são aeroportos internacionais,

distribuídos em todos os Estados da Amazônia.

Ainda completam o sistema de transporte na Amazônia os eixos ferroviários que

foram implantados por iniciativa de grandes empresas com o objetivo primordial de escoar a

produção de minério das minas até os terminais portuários. Esses eixos compreendem duas

linhas ferroviárias mais extensas – a Estrada de Ferro Amapá e a Estrada de Ferro Carajás – e

duas mais reduzidas a Estrada de Ferro Trombetas e a Estrada de Ferro Jarí. Essas ferrovias

têm reduzida importância na vida de relações regionais. Quanto ao transporte ferroviário, a

característica básica das ferrovias da Amazônia é a estanqueidade decorrente do seu próprio

objetivo: atender à movimentação de grandes massas de minérios, transportando-os das minas

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aos portos. O subsistema ferroviário da Amazônia conta com quatro estradas de ferro em

operação plena e uma em atividade parcial.

Segundo Magnano (1989), a criação ou melhorias das condições de circulação de

cargas e passageiros constitui uma das estratégias de intervenção do Estado e das elites

empresariais na organização do espaço regional. Essa estratégia, ao lado de outras, como os

incentivos fiscais para grandes projetos e a implantação de hidrelétricas, dota algumas áreas

de vantagens comparativas das quais as elites empresariais se apropriam na produção de seu

espaço.

A partir da segunda e terceira décadas do século XX, de certa forma, acelerou-se o

processo de ocupação da Amazônia, marcado pelo planejamento governamental, tendo a

intervenção do Estado na economia e na formação do território.

A construção de estradas, dentro da perspectiva da busca de um desenvolvimento

para os estados da Amazônia, não é uma política recente. Os esforços de integrar a região ao

restante do país continuam até hoje, na perspectiva de melhorar o sistema de transporte e as

condições de vida da população residente nos confins da Amazônia.

3.2 A QUESTÃO DOS TRANSPORTES NA AMAZÔNIA: MODALIDADE E

INTERMODALIDADE

Em virtude da grande extensão territorial do país e devido às transformações

impostas pelo meio técnico-científico-informacional, na logística de transportes, torna-se

essencial estudar a intermodalidade, principalmente, a rodofluvial presente na Amazônia,

servindo como rede de conexão ao restante do território nacional.

A intermodalidade se utiliza da integração de diferentes modalidades de transporte

com o objetivo principal de obter ganho de eficiência e redução de custos. A intermodalidade

é alvo de estudos e discussões no Brasil, pelo fato da grande extensão do território e a

necessidade de integração entre os diferentes modos de transporte. Na região Amazônica, a

intermodalidade é essencial, tendo em vista que algumas regiões não possuem uma

comunicação terrestre com os demais lugares, permanecendo isoladas durante parte ou todo o

ano, e utilizando os rios como única forma de transporte.

Para Rocha (2001), os problemas que dificultam o desenvolvimento da

intermodalidade no Brasil, é a deficiência no transbordo da mercadoria, necessidade de

padronização de equipamentos; e transferência das cargas que exigem uma modernização e

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adequação dos terminais.

A cidade de Belém, situada no estado do Pará, foi durante muito tempo o ponto

obrigatório de entrada e saída para toda a região Amazônica, com as ligações rodoviárias entre

o sudeste e centro-oeste, pouco a pouco, Belém foi perdendo sua hegemonia. Já Manaus

conheceu o apogeu no período áureo da borracha, e retomou seu ritmo de crescimento a partir

da instalação da Zona Franca, em meados da década de 60, com considerável atividade

industrial voltada para a montagem de equipamentos com peças oriundas de outras partes do

país e até do exterior.

O transporte rodofluvial para a Amazônia acontece fundamentalmente por meio de

duas rotas básicas: de Manaus a Belém, pelo Rio Amazonas, e daí para o sul do país, pela BR

010/153 (Belém-Brasília); e de Manaus a Porto Velho, pelo Rio Madeira, e daí a Cuiabá e ao

sul do país, pela BR 364.

O comércio intrarregional, ainda, é incipiente e somente apresenta alguma densidade

entre Belém e Manaus, e Manaus e Porto Velho, sem, contudo ter volume ao longo dos

trechos. Não há produção que viabilize um sistema de transporte eficiente, ao mesmo tempo

em que não há incentivos ao desenvolvimento e escoamento de uma produção local, o que

dificulta o surgimento de novas cargas.

Considerando-se os fatores geopolíticos, geográficos e de ordem econômica,

especialmente o modelo de desenvolvimento que tem sido adotado na região, verifica-se que

o desenvolvimento da Amazônia não se processa de modo uniforme e homogêneo, mas

concentra-se em determinados polos, segundo as vantagens comparativas conferidas pelos

recursos naturais neles encontrados, pela infraestrutura de que sejam dotados e/ou pela sua

posição estratégica (SANT’ANA, 1998).

A localização desses polos, sua integração à economia nacional, seu papel na política

de integração continental e a densa rede hidrográfica que marca a geografia da Amazônia

proporcionam os parâmetros que configuram o sistema de transporte da região.

Segundo Sant’Anna (1998), a Amazônia brasileira pode ser dividida em três partes

distintas, cada uma com características econômicas próprias. A primeira, a Amazônia

Oriental, que compreende os estados de Tocantins, Pará, parte do Maranhão e Amapá, tem

Belém como centro econômico principal, economia calcada na indústria extrativa mineral e

madeireira, e agricultura baseada na produção de grãos, principalmente arroz, despontando a

soja. A segunda, a Amazônia Ocidental, tem Manaus como o principal polo econômico e

compreende, basicamente, os estados do Amazonas e Acre, completando-se com Roraima.

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Além da indústria extrativa de oleaginosas, borracha, madeira e plantas medicinais e de

perfumaria e da indústria extrativa mineral, a Zona Franca de Manaus apresenta um polo

eletroeletrônico, relojoeiro e de veículos de duas rodas, que é significativo para a economia

nacional. A terceira parte da Amazônia, que pode ser chamada de Amazônia do Centro-Oeste,

tem sua economia centrada no eixo Cuiabá-Porto Velho e apresenta características típicas de

cerrado, com a economia fortemente sustentada na produção de grãos, especialmente soja,

milho e arroz.

O subsistema rodoviário da Amazônia foi incorporado ao Plano Nacional de Viação,

nos anos 70. Conceitualmente, em sua concepção, seu papel é complementar o sistema

hidroviário e objetiva assegurar a construção de vias alimentadoras estaduais e municipais.

Entre os principais eixos rodoviários está a Rodovia Belém- Brasília-BR-153, 226, 010, 316.

Esta rodovia, cuja primeira picada foi aberta no governo Juscelino Kubitschek (1955-60),

parece constituir, em seu desenvolvimento posterior, a realização rodoviária de longo alcance

mais bem-sucedida da Amazônia. Com 2.039 quilômetros, teve sua pavimentação concluída

no início de 1974, atraindo notável corrente migratória. No caso, o investimento do governo

se limitou à sua construção. O desenvolvimento de sua área de influência processou-se de

maneira espontânea, sendo, inclusive, um dos indutores ao surgimento do estado do

Tocantins.

Outro eixo de grande importância é a Rodovia Cuiabá-Porto Velho-BR-364. O início

de sua construção se deu no fim da década de 50 e representou, juntamente com a rodovia

Belém-Brasília, os primeiros passos para a conquista das regiões Amazônica e Centro-Oeste,

por meio da penetração rodoviária, após a mudança da capital do país. Sua implantação foi

concluída na década de 60, com a execução de obras complementares, variantes e

complementação do revestimento sílico-argiloso, de modo a garantir tráfego durante todo o

ano.

Na década de 70, prosseguiram os trabalhos de melhoramento e conservação,

inclusive com a adoção de novo traçado via Cáceres, por atravessar região mais fértil no

estado de Mato Grosso e apresentar melhores condições topográficas. Naquela mesma época,

em moldes semelhantes ao programa de colonização do eixo da Transamazônica, foi

desenvolvido um trabalho de colonização de Rondônia, do qual a rodovia Cuiabá-Porto Velho

foi eixo estruturante e elemento indutor de notável corrente migratória, principalmente

oriunda do interior do Rio Grande do Sul e oeste do Paraná e Santa Catarina.

Em virtude do impacto produzido em sua área de influência, pelas repercussões

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exercidas sobre ela, decorrentes da construção de outras rodovias da região Amazônica, e pelo

seu caráter internacional de acesso à Bolívia e ao Peru, essa rodovia foi adaptada às

características de classe I e pavimentada. A extensão da rodovia é de 1.471km pavimentados,

mas apresenta dificuldades de conservação em virtude do tipo de solo da região e do intenso

tráfego de veículos pesados na única via de comunicação direta da Amazônia Ocidental com o

restante do país.

O trecho Porto Velho-Abunã-Rio Branco foi concluído e entregue ao tráfego em

1975, com características de rodovia pioneira, com revestimento sílico-argiloso. Na década de

90, foi dado andamento aos serviços de melhoramento para sua pavimentação. O trecho Rio

Branco-Cruzeiro do Sul está em construção, com características de rodovia pioneira. Essa

rodovia é trecho comum às rodovias Lima-Recife e Lima-Brasília-Santos, ambas pertencentes

ao Sistema Panamericano de Rodovias. Sua extensão é de 1.252km, dos quais 544km entre

Porto Velho e Rio Branco são pavimentados. No trecho Rio Branco-Cruzeiro do Sul, está

pavimentada até Sena Madureira, numa extensão de 102km.

Declara Santana (1998) que os estados da região têm desenvolvido, nos últimos anos,

um extenso e intenso programa de rodovias vicinais, buscando conectar áreas de exploração

agropecuária com as rodovias arteriais, para que seja garantido aos agricultores o acesso aos

mercados em função dos quais se desenvolve sua atividade produtiva. Esse acesso é

fundamental para aquisição de insumos, obtenção, escoamento e comercialização da

produção. Nas áreas de colonização do INCRA, como, por exemplo, ao longo da BR-364, os

programas desenvolvidos pelos estados de Rondônia e Mato Grosso buscam dar aos

agricultores acesso a essa rodovia e, consequentemente, aos mercados do Centro-Sul.

No estado do Acre, a BR-364 está pavimentada no trecho Rio Branco-Divisa-RO

com extensão de cerca de 120km. O trecho Rio Branco-Cruzeiro do Sul-Boqueirão da

Esperança (920km) está implantado, mas não trafegável durante todo o ano devido às grandes

áreas planas alagadiças e à travessia de rios, exceto os primeiros 102km até Sena Madureira,

que foram pavimentados pelo estado do Acre, por meio de convênio com o DNER.

Sant’ana (1988) observa duas alternativas principais relativas à ocupação e

exploração econômica da Amazônia: uma é penetrar por via fluvial, e promover e consolidar a

unidade regional estruturada pela rede hidroviária, fortalecendo a região como um todo; a

outra é penetrar por via terrestre, principalmente rodoviária, anexando isoladamente ao polo

desenvolvido do sudeste cada um dos diversos segmentos da Amazônia Legal (Amazônia

Oriental, Amazônia Ocidental, Fronteira Noroeste ou Amazônia do Centro-Oeste).

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Até o momento, deu-se preferência à segunda alternativa. À medida, porém, que a

expansão da fronteira econômica avança e a região adquire maior densidade política e

econômica, a primeira alternativa ganha mais força, isto é, a região consolida, do ponto de

vista econômico, sua unidade natural, supera a excessiva dependência do sudeste e adquire

relativa autonomia.

O autor acrescenta que, a médio e ao longo prazo, poder-se-á visualizar uma terceira

alternativa que seja uma síntese e uma integração das duas primeiras. Essa alternativa tornar-

se-á possível quando a Amazônia atingir maior densidade econômica e um estágio de

desenvolvimento autossustentado e independente, o que não significa que a região se feche

em si mesma, em um isolamento autossuficiente. Pelo contrário, nesse modelo, será

necessário um intenso intercâmbio com as demais regiões do país e com o mercado mundial,

mas com base nos interesses próprios e peculiares à região, e não apenas em um regime

puramente reflexo e dependente de economias mais desenvolvidas.

Sant’ana (1998) define corredor de transporte como a ligação entre dois ou mais

polos, especialmente entre seus centróides, a ser assegurada por uma, duas ou mais

modalidades de transporte, tomadas isoladamente ou conjugadas entre si. Ademais, na

concepção de corredor, inclui-se não apenas a infraestrutura viária, mas também todos os

demais elementos do sistema - veículos, terminais (portos, aeroportos, silos), operação,

gerência, esquema de financiamento, quadro institucional e organizativo, recursos humanos,

informática, telecomunicações etc.

Embora a sua bacia hidrográfica seja a espinha dorsal que possibilitará estruturar o

sistema de transporte da Amazônia, as demais modalidades, especialmente a aeroviária e a

rodoviária, deverão desempenhar um papel complementar de grande relevância, o que

ressaltará ainda mais a característica multimodal que deverá marcar a movimentação de bens

e passageiros nessa região.

A opção pelo desenvolvimento autossustentado da Amazônia pode indicar a

necessidade do fortalecimento da rede de transportes interna, orientada para o fortalecimento

dos centros principais da região, para posterior fortalecimento das ligações com o exterior. Os

países vizinhos têm procurado fortalecer as ligações com a Amazônia, com destaque para

Bolívia, Peru e Venezuela, sendo que este último desenvolveu intenso programa rodoviário

nessa direção na década de 90. O Peru, mais fortemente que a Bolívia, tem oferecido uma

possibilidade de saída para o Pacífico pelos seus portos, sobretudo, tem buscado o acesso ao

mercado brasileiro, especialmente direcionado ao centro-sul.

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3.3 A AMAZÔNIA NO CONTEXTO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL

Recentemente, os planos governamentais visam fazer a integração da Amazônia com

o com o Pacífico. A integração regional serve como um instrumento efetivo de política para

aprofundar a liberalização comercial, reduzir ainda mais os níveis de proteção efetiva,

reforçar a competência e desenvolver os mercados regionais, contribuindo para criar maior

interdependência entre as diversas economias, além de apoio político para favorecer

negociações que facilitem o comércio intrarregional. A estratégia de integração regional

nacional e internacional intenciona, sobretudo, a pavimentação dos grandes eixos rodoviários

do estado do Acre, que são formados pelas rodovias federais BR 364, com 871,10km e a BR

317, com 415,70km, que interligam no seu percurso dezoito municípios, como mostra a figura

3.

Figura 3 – Eixos Rodoviários da BR 364 e BR 317 no Estado do Acre

Fonte: Base de dados do Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre.

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Nesse contexto, surge a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional

Sul-Americana – IIRSA –, que foi criada em 2000 e representa um programa conjunto dos

governos dos 12 países da América do Sul com o objetivo de promover a integração física dos

doze países da região, através da modernização da infraestrutura de transporte, energia e

telecomunicações, por meio de ações conjuntas. Pretende-se assim estimular a integração

política, social e econômica sul-americana.

O programa é financiado por três instituições financeiras multilaterais da região, o

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF) e

Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA), além de

organizações do setor privado.

A IIRSA possui como princípios orientadores o regionalismo aberto, a integração e

desenvolvimento, a sustentabilidade econômica, social, ambiental e política-institucional; o

aumento do valor agregado da produção; o uso intensivo de modernas tecnologias de

informática e comunicações não só pelos sistemas produtivos da região, mas também pelos

sistemas educativos, de serviços públicos, de governo e de organização da sociedade civil; a

convergência de visões e programas, entre os países envolvidos e a coordenação entre os

setores públicos e privados.

A iniciativa visa, sobremaneira, reduzir as barreiras internas ao comércio e os

problemas na infraestrutura e nos sistemas de regulação e operação que sustentam as

atividades produtivas de escala regional, facilitando assim a integração econômica da América

do Sul. Pretende estabelecer um padrão comum de qualidade de serviços de infraestrutura de

transportes, energia e telecomunicações a fim de apoiar as atividades produtivas de cada eixo

de integração e desenvolvimento, facilitando o acesso às zonas de alto potencial produtivo, as

quais se encontram atualmente isoladas devido à deficiente provisão de serviços básicos de

transporte, energia ou telecomunicação.

Toda essa política de integração geraria um crescimento econômico que traria como

impacto a sustentabilidade social, ou seja, uma melhoria na qualidade de vida da população,

buscando a preservação ambiental a partir do uso racional dos recursos naturais e conservação

do patrimônio ecológico e a sustentabilidade político-institucional, a qual visa à criação de

condições para que os diversos agentes públicos e privados da sociedade contribuam para o

processo de desenvolvimento e integração.

Sob tal perspectiva, o desenvolvimento e a integração não contribuirão somente para

aumentar a produção atual, mas proporcionar a melhoria da qualidade e aumentar a

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produtividade mediante inovação e geração de conhecimentos conforme as vantagens

comparativas que cada um dos 12 países possui e complementando-se mutuamente para gerar

valor agregado na produção. Para tanto deverá haver a coordenação entre os governos e

empresas privadas intencionando o financiamento de projetos de investimentos,

principalmente aqueles que tornem possível a viabilidade de outros projetos, como, por

exemplo, aqueles que contemplam a melhoria de infraestrutura.

Paim (2003) salienta que esta integração está voltada para alcançar três objetivos:

apoiar a integração de mercados para melhorar o comércio intrarregional; segundo, apoiar a

consolidação de cadeias produtivas para alcançar a competitividade nos grandes mercados

mundiais; e reduzir o custo através da criação de uma plataforma logística vertebrada e

inserida na economia global.

Assim, promovendo a criação de eixos de integração, os quais constituam faixas

geográficas que abranjam vários países que concentram ou que possuem potencial para

desenvolver bons fluxos comerciais, desse modo, intencionando formar cadeias produtivas e

estimular o desenvolvimento regional (PAIM, 2003).

Inicialmente, foram definidos 12 Eixos de Integração e Desenvolvimento, mas

atualmente esses eixos são 9 e o décimo está em estudo: o Eixo Fluvial Orinoco-Amazonas-

Prata, que tem como objetivo interligar as Bacias dos Rios Orinoco, Amazonas e da Prata,

tornando os principais rios da América do Sul navegáveis.

Dos nove Eixos de Desenvolvimento da IIRSA, quatro atingem diretamente a região

amazônica nos países onde ela está localizada. Vários projetos estão sendo implantados com o

objetivo de facilitar a integração, entre eles: os Gasodutos Urucu-Porto Velho e Coari-

Manaus; o Complexo do Rio Madeira; a Usina Hidrelétrica de Belo Monte; as inúmeras

rodovias que estão previstas como a BR 163 (Cuiabá-Santarém), a BR 317 (Rio Branco-Boca

do Acre), BR 319 (Manaus-Porto Velho), as linhas de transmissão de energia Tucuruí

(PA)/Macapá (AP)/Manaus (AM) e Jauru (MT)/Villhena (RO), entre outras obras. Os

empreendimentos são escolhidos conforme critérios geoeconômicos, como local estratégico

para instalação, fluxo de comércio, interesse da iniciativa privada, entre outros.

A integração física do continente e dos povos da América do Sul deverá buscar acima

de tudo o seu desenvolvimento, tendo como premissas a democracia e o direito à informação

e à autodeterminação dos povos, buscando a utilização eficiente dos recursos naturais,

atendendo as particularidades regionais, destinada ao crescimento dos mercados e ao

desenvolvimento das populações locais, com respeito às culturas e ao ambiente.

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Todo esse investimento em infraestrutura vem mudando a posição e visão da

Amazônia no cenário nacional, transformando a região, que antes constituía a periferia, no

centro do país. Esse complexo cenário vem alterando todos os aspectos da vida da população,

sejam eles, econômicos, ambientais, sociais, trazendo impactos positivos e até negativos.

3.4 A EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTE NO ESTADO DO ACRE

Os núcleos urbanos que hoje constituem as cidades de Rio Branco e Cruzeiro do Sul,

situadas nas bacias dos Rios Purus e Juruá, constituíram, durante algum tempo, locais de

concentração de borracha, originadas das antigas sedes de grandes seringais.

Desde o princípio, essas localidades se sobressaíram por serem áreas rurais de maior

ocorrência de seringueiras e de produção de borracha da melhor qualidade. A cidade Rio

Branco passou a ser o principal centro do Alto Purus – Acre, e Cruzeiro do Sul o do Alto

Juruá (MESQUITA,1989).

A cidade de Rio Branco surgiu como sede do Seringal Empresa, na margem esquerda

do Rio Acre, e logo se expandiu pela margem direita, tornando-se, em 1920, a capital do

Território Federal do Acre. Antes da década de 1930, Rio Branco já possuía luz elétrica,

escolas primárias, hotel, hospital, agência postal e serviço de telégrafo.

Foi, desde o início, um centro comprador da produção de borracha e de outros produtos de coleta florestal, e distribuidor de bens, nele se situando casas aviadoras pertencentes a grandes seringalistas do rio Acre, vinculados as firmas exportadoras – importadoras sediadas em Belém (MESQUITA, 1989, p.165).

A segunda cidade do estado, Cruzeiro do Sul, situada a noroeste do estado, na

margem esquerda do rio Juruá, mantinha relacionamento precário através do transporte

fluvial, com as cidades de Tarauacá, Feijó e Eirunepé. A cidade se constituiu, desde o início,

como o maior centro comprador de borracha e distribuidor de bens e gêneros para os

proprietários rurais do alto Juruá. Devido às dificuldades com o transporte fluvial para outras

cidades situadas nas margens do Juruá e de seus afluentes, como Tarauacá e Envira, seus

relacionamentos eram frágeis, sendo as localidades situadas na bacia do Juruá abastecidas

diretamente por Manaus, de onde procedia também a maioria das mercadorias que chegavam

a Cruzeiro do Sul, indicando uma subordinação no setor comercial à capital amazonense.

Até final da década de 1960 e início da década de 1970, não existia uma estrada que

interligasse os núcleos acreanos localizados ao longo dessas duas grandes bacias, os contatos

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estavam dependentes de uma navegação difícil e morosa durante vários dias. Para se ter uma

ideia do fato, para se deslocar de Rio Branco até Cruzeiro do Sul era necessário descer o rio

Acre até a cidade de Boca do Acre, no estado do Amazonas, seguindo pelo rio Purus até o Rio

Solimões, continuando até encontrar o rio Juruá e, em seguida, subi-lo até chegar em Cruzeiro

do Sul, levando cerca de 30 dias no período das cheias. A frota de barcos obsoleta e o baixo

nível das águas durante a vazante provocaram a necessidade de transbordos, no Purus e no

Juruá, para baldeação entre embarcações de diferentes calados, acarretando o isolamento de

uma parte do estado do Acre. No Purus, os transbordos eram realizados nas cidades de Boca

do Acre e Lábrea; no Juruá, nas cidades de Carauari e Eirunepé, sendo as cidades de Boca do

Acre e Eirunepé consideradas entrepostos para as cidades de Rio Branco e Cruzeiro do Sul

respectivamente.

Em 1940, o transporte entre as cidades de Cruzeiro do Sul e Rio Branco sofreu um

incremento, tendo em vista que, nessas áreas, houve a instalação de linhas aéreas que serviam

à Região Centro-Oeste e chegavam até Manaus. No início da década de 1960, quando o

transporte aéreo estava no auge, a cidade de Rio Branco tinha uma frequência semanal de 12

viagens, procedendo dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, fazendo escala em Cuiabá.

Para manutenção das linhas aéreas, o Governo Federal mantinha um convênio com as

companhias de aviação, pagando um certo valor pelos lugares vazios. O transporte aéreo se

tornava oneroso, cuja tendência, com a construção da rodovia em Rio Branco, seria reduzir ou

mesmo desaparecer, o que aconteceu mesmo antes da rodovia ligando as cidades de Rio

Branco e Cruzeiro do Sul ser concluída. Em 1977, foram suspensas as linhas aéreas,

permanecendo apenas a de Rio Branco a Cruzeiro do Sul, feita por aviões a jato; e o tráfego

para as localidades de Sena Madureira, Feijó e Tarauacá permaneceu, de modo irregular,

realizado por táxis-aéreos de propriedade particular.

Em 1976, parte das estradas que ligam Rio Branco às localidades vizinhas foi

liberada para o tráfego e surgiram linhas de ônibus para Xapuri, Brasiléia, para Senador

Guiomard, Plácido de Castro e para Sena Madureira pela BR 364, com frequência diária

expressiva. Porém, a falta de conservação das estradas e as dificuldades levavam o tráfego

somente no período de estiagem, sendo algumas linhas posteriormente suprimidas,

permanecendo o maior movimento na linha Rio Branco-Senador Guimard, que se constituía

local de residência de pessoas que trabalhavam na capital e na linha Rio Branco-Sena

Madureira, pelo fato desta última se constituir transbordo e mudança de transportes, do

rodoviário para aéreo, ou do rodoviário para o fluvial.

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Em 1962, a cidade de Rio Branco foi elevada a capital do estado, aumentando a

concentração da população, surgindo a necessidade de melhorar os serviços já existentes e a

implantação de novos. Sendo assim, no final da década de 1960 e início de 1970, ocorreram

as ligações rodoviárias, primeiramente, com o sudeste, Xapuri, Brasiléia e Boca do Acre,

posteriormente, com outras cidades acreanas, partindo a construção da BR 364 no Acre, não

somente ligando Rio Branco aos demais estados, como também ligando Rio Branco a

Cruzeiro do Sul.

Refere Castro (1992) que, a partir da década de 70, intensificou-se a política de

integração do estado do Acre com os demais estados do país, podendo-se visualizar esta

intenção nos vários governos que se sucederam após os anos 70.

O Governo Vanderley Dantas, que se estendeu no período de 1970 a 1974, adotou

como slogan “Por um Novo Acre” e estabeleceu, em seu plano de governo, como diretriz de

sua política, a incorporação do Acre ao mercado nacional. Com relação ao transporte, o

Governo Dantas abriu estradas pioneiras, conservou e melhorou outras, interligando as

cidades. O governo reconhecia que o estado do Acre, em virtude da sua posição geográfica,

detinha condições especiais, sendo o caminho mais próximo para a ligação com o Oceano

Pacífico e a Rodovia BR– 317, trecho Rio Branco-Assis Brasil, interligaria o Acre ao sistema

pan-americano de rodovias, através da ligação com a Bolívia e o Peru, dando uma ampla

perspectiva a comercialização.

Já o governo Geraldo Mesquita 1975-1979 apresentou um plano de trabalho centrado

no slogan “Acre: Integração e Desenvolvimento”, onde reforçava a ideia de que o Acre, com

uma boa posição geográfica e sua proximidade com o pacífico, poderia funcionar como um

corredor em dois sentidos, o de se colocar junto aos grandes mercados mundiais em expansão,

saindo do isolamento para constituir uma extraordinária vantagem na competição com outras

regiões, constituindo o corredor de exportação Brasil-Pacífico, além de elo de integração

continental.

No governo de Joaquim Macedo (1979-1982), reconheceu-se que a deficiência na

infraestrutura de transporte constituía um obstáculo para a base de economia acreana se

desenvolver visto que as estradas não eram pavimentadas e, em grande parte, interrompidas

no período das chuvas.

Durante o governo de Nabor Júnior (1983 a 1987), a preocupação com a integração

do Acre com os países vizinhos se fez sentir de forma mais intensa. Naquele período,

realizou-se a primeira reunião Macro Regional Fronteiriça, com autoridades do Acre,

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Departamento do Pando (Bolívia) e Departamento de Madre de Dios, no Peru, com o objetivo

de se discutirem as viabilidades do implantar o “Corredor de Exportação” – rodovia que

ligaria o Acre até o Oceano Pacífico.

No governo de Flaviano Melo (1987-1991), percebeu-se um aumento da população

que migrava da zona rural em direção às cidades, assim, acarretou-se o problema de

abastecimento, sobretudo de alimentos básicos. O problema de escoamento dos produtos foi

intensificado pela falta de estradas que interligassem a cidade aos núcleos de produção.

No governo de Edmundo Pinto, que se estendeu no período de 1991 a 1992,

demonstrou-se clara a intenção de dar continuidade à Política de Integração do Estado. Com o

slogan “Trabalho: o Caminho da Integração”, houve a pavimentação da BR 364, uma questão

que foi colocada pelos governos militares, com a preocupação de levar o desenvolvimento e

assegurar a soberania nacional sobre um território. A BR 364 faz parte de uma questão

política muito ampla e a preocupação com o desenvolvimento da região surge a partir da

implantação definitiva da rodovia.

A BR 364, única via responsável pelo abastecimento do Acre, foi inaugurada em 15

de março de 1992, a obra que duraria 02 anos, acabou durando 07 anos para sua conclusão. O

contrato para pavimentação do trecho entre Porto Velho e Rio Branco, totalizando cerca de

501km, foi assinado em 14 de março de 1985, e foi orçado em 145,5 milhões de dólares,

tendo um custo total na sua conclusão de 200 milhões de dólares. A obra foi financiada pelo

BID, que custeou 40% do valor, e pelo governo brasileiro, que arcou com 60% do total.

A primeira vez que os acreanos ouviram falar na possibilidade de uma ligação

terrestre com os demais estados da federação foi exatamente no final da década de 1950,

quando o Acre ainda era território federal. Preocupados com o abastecimento das cidades, um

grupo de empresários, representando a Associação Comercial, fez uma caravana e solicitou

uma audiência com o então Presidente da República Juscelino Kubistchek, que se

comprometeu em construir uma estrada até o Acre. Nascia então o Projeto da Rodovia

Marechal Rondon, uma rodovia sem as mínimas condições de trafegabilidade durante o

período das chuvas.

As condições precárias da BR 364 faziam com que, em época de chuvas, o

caminhoneiro levasse cerca de um mês e meio para percorrer os cerca de 500km que

separavam Rio Branco de Porto Velho, enfrentando o perigo constante de tombar o caminhão,

contrair malária, leishmaniose e hepatite. Muitas transportadoras se recusavam a trabalhar

neste trecho, aumentando o desemprego entre os profissionais do volante. Os atoleiros

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possuíam até 10km e se transformavam em enormes crateras na época de seca, tornando a

viagem, em qualquer época do ano, cansativa, perigosa e precária. Muitas pessoas morreram

de fome e doenças devido às más condições de higiene.

A conclusão da ligação rodoviária de Rio Branco com o sudeste proporcionou o

surgimento de relações comerciais com empresas diretamente localizadas na região, o que

antes se restringia a relações com Belém e Manaus. Isso acarretou a expansão das empresas

de Rio Branco, bem como surgimento de outras e a instalação de representações de empresas

do sudeste, revigorando o comércio, que evoluiu da função de atacado para o varejo, o

abastecimento das demais localidades vizinhas a Rio Branco passou a ser realizado

diretamente por caminhões procedentes das praças do sudeste. Houve um incremento nos

serviços bancários, de saúde e de ensino na cidade de Rio Branco.

Seguindo o estudo, no próximo capítulo, far-se-á uma abordagem a respeito da

infraestrutura logística do transporte de carga no estado do Acre na atualidade e os desafios

para melhorar as modalidades e intermodalidades na região, bem como os impactos que tais

mudanças poderão acarretar para a população local, especialmente àqueles que vivem em

cidades que não dispõem de uma ligação terrestre com a capital e demais estados.

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4 LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DE MERCADORIA NO ESTADO DO ACRE: O

CASO DAS MICRORREGIÕES DE RIO BRANCO E CRUZEIRO DO SUL

O transporte de carga no estado do Acre era tradicionalmente baseado nos rios, que

constituíam o principal meio de transporte da região. Durante os anos 60 e 70, como

anteriormente salientado, a economia da borracha entra em decadência e as novas bases

econômicas do estado passam a ser as atividades da pecuária e a exploração madeireira, que

ocasionam a expansão das cidades, então, intensificando-se as ligações comerciais, via fluvial,

com Manaus/AM; e, terrestre, com Porto Velho/RO.

Como já relatado antecedentemente, com relação ao transporte de carga, foi dada

prioridade à construção de rodovias no Brasil, porém, no estado do Acre, ainda não está

consolidado o eixo da Rodovia 364, fazendo com que algumas cidades permaneçam em

absoluto isolamento terrestre da capital do estado na maioria dos meses do ano, como é o caso

das regiões do Envira (Tarauacá e Feijó) e do Juruá (Cruzeiro do Sul). Nessas regiões, as

ligações efetuadas por via aérea e fluvial continuam ocupando papel fundamental, de modo

especial, nas sedes municipais fora dos eixos rodoviários como Porto Valter, Marechal

Thaumaturgo, Jordão e Santa Rosa do Purus.

Atualmente, estão sendo disponibilizados investimentos para consolidar a

intermodalidade dos transportes no Acre, com a pavimentação da BR 364 ligando a

mesorregião do Vale do Juruá a mesorregião do Vale do Acre. Para melhorar a infraestrutura,

foi construído o Porto de Cruzeiro do Sul visando à rapidez na carga e descarga de

mercadorias.

Os grandes eixos rodoviários do estado do Acre são formados pelas rodovias federais

BR-364, com 871,10km, e a BR-317, com 415,70km. Estas rodovias fazem a interligação de

18, dos 22, municípios acreanos, contribuindo também para a integração intrarregional,

regional, nacional e internacional.

A conclusão da BR-364 é de fundamental importância para o Acre. Tendo origem no

centro-sul do país, ela atravessa o território acreano e termina no município de Rodrigues

Alves, fronteira com o Peru. Em seu percurso, esta rodovia corta transversalmente todos os

rios, passando por cinco municípios até chegar a Cruzeiro do Sul, que é a segunda cidade do

estado do Acre em população e economia. As dificuldades são inúmeras para a pavimentação

desta rodovia, entre elas, destacam-se a baixa capacidade de suporte do solo; regime

pluviométrico que não permite a execução das obras durante todo o ano; grandes distâncias

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dos centros de produção, como Manaus e o Centro-Sul do país; e a falta de trafegabilidade

dos trechos ainda não-pavimentados durante o período das chuvas de novembro a março, o

que dificulta a logística para o transporte e abastecimento de insumos (ZEE - Fase II, 2006).

Como a ligação definitiva não foi concluída, todo ano, a BR-364 é reaberta na época

de estiagem, evitando assim que as regiões centrais e oeste do estado fiquem isolados. Essa

abertura é muito importante para as cidades de Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Rodrigues

Alves, Mâncio Lima e Manuel Urbano, com cerca de 190.000 habitantes.

No período das chuvas, quando a BR-364 fica intrafegável, o transporte fluvial é

intensificado nas regiões oeste e central do estado, através dos Rios Juruá e seus afluentes

Tarauacá e Envira. Assim, elevando-se os preços das mercadorias perecíveis, como os

hortifrutigranjeiros, que passam a ser transportados por aviões procedentes de Rio Branco.

A rede hidroviária do Acre apresenta um grande potencial dentro do sistema de

transportes, colaborando para o desenvolvimento local e regional por possuir rios perenes e

navegáveis. Porém, os percursos fluviais, entre cidades e centros comerciais, são demorados

devido às grandes distâncias entre as localidades e a característica sinuosa dos rios

amazônicos. Entre Manaus e Cruzeiro do Sul ou Tarauacá, com distância próxima aos

3.000km, o tempo de viagem de uma balsa carregada, subindo o rio, pode durar cerca de 30

dias. Em virtude do regime pluviométrico, a navegação necessita de logística adequada aos

prazos de fornecimento e características aos insumos a transportar.

Segundo estudos realizados durante a confecção do Zoneamento Ecológico e

Econômico, Fases II (2006), o estado do Acre é drenado por extensos rios de direção geral

sudoeste-nordeste, todos pertencendo à rede hidrográfica do rio Amazonas. As características

mais comuns dos rios são o paralelismo e as mudanças de direções dos seus cursos,

resultantes de falhas e fraturas geológicas. A rede de drenagem é bem distribuída, correndo

sobre rochas sedimentares de modo que não se formem cachoeiras. Os rios apresentam forma

meândrica com pequenos trechos retilíneos. Este caráter meândrico dos rios colabora para a

formação de bancos de areia no leito, dessa forma, aumentando as dificuldades e as distâncias

da navegação fluvial, o que causa implicações severas para o acesso, visto que os rios se

constituem no mais importante meio natural de transporte local. Outro aspecto importante da

ótica do planejamento de políticas públicas se refere à territorialidade da rede de drenagem,

pois a maioria dos rios que corta o Acre tem a sua nascente localizada no Peru, atravessa o

estado e deságua em outros rios do Amazonas.

A origem dos núcleos urbanos está diretamente associada à rede de drenagem do

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estado, pois, ao longo de suas margens, localiza-se grande parte das cidades. Na parte central

do estado, os principais cursos d´água são o Rio Tarauacá, o Purus com seus afluentes

principais pela margem direita; o Chandless e seu tributário Iaco com seu afluente pela

margem esquerda, o Rio Macauã; e o Rio Acre com seu subsidiário, o Antimari. À noroeste,

estão presentes os rios Gregório, Tarauacá, Muru, Envira e Jurupari. Na parte oeste do estado,

tem-se o Rio Juruá e seus principais afluentes Moa, Juruá Mirim, Paraná dos Mouras, Ouro

Preto, pela margem esquerda; tem-se o Valparaíso, Humaitá e Tejo pela margem direita.

O estado do Acre possui duas grandes bacias hidrográficas, a Bacia do Acre-Purus e

a Bacia do Juruá. A bacia hidrográfica constitui uma unidade fisiográfica delimitada pela

própria natureza, sendo composta de terras drenadas por um sistema fluvial formado de um

rio principal e seus afluentes (ZEE - Fase II, 2006).

O principal rio da Bacia do Acre-Purus é o rio Purus, o segundo maior representante

da drenagem do estado. Nasce no Peru e entra no Brasil com a direção sudoeste-nordeste. O

rio Purus descreve um arco com curvatura voltada para norte, seu curso é extremamente

sinuoso e meândrico e divaga dentro de extensa e contínua faixa de planície. A maior parte

dos grandes afluentes do Purus está em sua margem direita, como o Acre, o Iaco, o Caeté e o

Chandless. Esses rios apresentam cursos bastante sinuosos, sem, no entanto, constituirem

padrão meândrico típico. Já o rio Tarauacá e seus afluentes, o Envira e o Muru têm um padrão

semelhante ao rio Purus.

O principal representante da bacia do Juruá é o próprio rio Juruá, que drena uma área

de 25.000km², dentro do estado acreano. Possui nove importantes afluentes pela margem

direita: Breu, Caipora, São João, Acuriá, Tejo, Grajaú, Natal, Humaitá e Valparaíso; e nove

pela margem esquerda: Amônea, Aparição, São Luiz, Paratari, Rio das Minas, Ouro Preto,

Juruá-Mirim, Paraná dos Mouras e Moa. Esta bacia drena os cinco municípios instalados

nesta região do estado (Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Cruzeiro do Sul, Rodrigues

Alves e Mâncio Lima), o Juruá corta os três primeiros e é um dos limites territoriais entre

Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima. É navegável entre Cruzeiro do Sul e Marechal Thaumaturgo,

por grandes embarcações durante a cheia (6 a 8 meses) e por embarcações de pequeno e

médio porte na vazante. Constitui-se o principal canal de comunicação entre a população dos

cinco municípios, e destes com os municípios vizinhos do estado do Amazonas.

O Rio Juruá tem, em toda a sua extensão de 3.280km, um desnível de 410m. Nasce

no Peru, com o nome de Paxiúba a 453m de altitude, unindo-se, depois, com o Salambô e

formando, daí para diante, o Juruá propriamente dito. Atravessa a parte noroeste do estado do

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Acre, no sentido S-N, entra no estado do Amazonas e despeja suas águas no rio Solimões. O

Juruá é um rio de planície com todas as características de correntes de pequeno declive. Com

uma bacia hidrográfica aproximada de 250.000km², seus principais afluentes ficam dispostos

na margem direita, onde a configuração geral é mais plana, sendo poucos os contribuintes de

vulto da margem esquerda.

Como se pode observar na figura 4, o Acre apresenta uma rica rede de drenagem,

possuindo rios que banham todos os municípios, porém esses rios nunca favoreceram uma

interligação fluvial dentro do estado, colaborando para ampliar o isolamento entre os

municípios e aumentar a necessidade de uma estrada que atravesse todo o estado,

colaborando, assim, para uma integração estadual.

Figura 4 – Rede Hidrográfica do Estado do Acre

Fonte: Base de dados do Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre.

A rede rodoviária estadual do Acre interliga várias sedes municipais às rodovias

federais e estradas vicinais em diversos municípios. É formada por 14 rodovias, com

expansão total de 838km. Essa rede está concentrada (98%) nas microrregiões de Rio Branco

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e Brasiléia, onde reside a maioria das populações e se concentram as atividades econômicas

(ZEE - Fase II, 2006).

O estado do Acre também possui um importante sistema aeroviário devido às

grandes distâncias entre as cidades e a falta de ligação entre Rio Branco e os municípios da

mesorregião do Vale do Juruá, principalmente na época das chuvas, quando a BR-364 fica

intrafegável, o transporte aéreo representa a única opção de deslocamento para esses

municípios.

O sistema aeroviário do estado do Acre é composto por onze pistas de pouso e

decolagem e dois aeroportos internacionais, sendo um em Rio Branco e outro em Cruzeiro do

Sul. Somente a cidade de Rio Branco é servida por linhas aéreas com voos diários para

Brasília/DF, Manaus/AM, Porto Velho/RO e Cruzeiro do Sul/AC.

4.1 O SISTEMA DE TRANSPORTE DE MERCADORIA NA MICRORREGIÃO DE RIO

BRANCO

A microrregião de Rio Branco pertence à mesorregião Vale do Acre. É a microrregião

mais populosa do estado, formada por 7 municípios: Rio Branco, Capixaba, Senador

Guiomard, Acrelândia, Plácido de Castro, Bujari e Porto Acre. Possui uma população atual de

392.416 habitantes e uma área de 22.847,612km2. Nesta microrregião, está situada a capital

do estado, a cidade de Rio Branco, que possui uma população de 314.127 e uma área total de

9.233km2. Esta microrregião é ligada ao restante do país pela BR-364, onde predomina o

transporte rodoviário de carga, como é possível se visualizar na tabela 1.

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Tabela 1 - Aspectos Gerais da Microrregião de Rio Branco

Município

População 2007

Área (km2)

PIB 2006

(R$)

Unidades empresariais

(2006)

Rio Branco 290.639 9.223 2.611.114 7535

Acrelândia 11.520 1.575 121.119 154

Bujari 6.543 3.468 77.111 49

Capixaba 8.446 1.713 75.023 65

Plácido de Castro 17.258 2.047 113.077 258

Porto Acre 13.716 2.985 92.995 82

Senador Guiomard 18.863 1.837 172.562 173

TOTAL 366.985 22.848 3.263.001 8316

Fonte: IBGE (2008)

O IBGE configura como unidades empresariais os mais diversificados

empreendimentos e entidades. São consideradas, nesta pesquisa, as unidades empresariais de:

agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal, como pesca; indústrias extrativas;

indústrias de transformação; produção e distribuição de eletricidade, gás e água; construção

civil; comércio; reparação de veículos automotores, de objetos pessoais e domésticos;

alojamento e alimentação; transporte armazenagem e comunicações; intermediação

financeira; atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados as empresas; administração

pública, defesa e seguridade social; educação; saúde e serviços sociais; outros serviços

coletivos, sociais e pessoais; serviços domésticos e organismos internacionais e outras

instituições extraterritoriais. Todas essas unidades colaboram para a movimentação de

mercadorias e para o incremento da economia local.

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Figura 5 - Transporte de mercadorias para a microrregião de Rio Branco.

Fonte: Autora, Maria José do Carmo Maia (2007).

Na capital do estado, encontram-se a sede e filiais de transportadoras de cargas

fracionadas que atuam diariamente no abastecimento de mercadorias. Segundo Silva Júnior

(2004), as transportadoras de cargas fracionadas transportam itens que variam de produtos

para veículos automotores (peças, acessórios, baterias, pneus e câmaras), artigos de couro,

têxteis, confecções e artigos de vestuário; cosméticos e produtos de beleza, produtos para

higiene e limpeza; produtos de informática; medicamentos e produtos hospitalares; artigos de

perfumaria; móveis, eletrodomésticos e utilidades domésticas; eletroeletrônicos (produtos de

som e imagem); produtos alimentícios e bebidas (indústria, atacado e varejo), artigos de

livraria, papelarias e gráficas; cd e dvd; produtos agropecuários e agroveterinários; ferragens,

materiais de construção e tintas; artigos de armarinhos (presentes e bijuterias); artigos de

joalheria, óticas e relojoarias; máquinas e equipamentos industriais de pequeno e médio porte;

produtos para telecomunicações; sacarias e embalagens; (plástico, borracha etc.); brinquedos;

artigos para esporte e lazer; suprimentos de indústria e metalurgia e outros.

Para configurar o presente estudo foram realizadas entrevistas nas transportadoras

sediadas e com filiais em Rio Branco, desse modo, visando obter esclarecimentos a respeito

do funcionamento do transporte, armazenagem e distribuição de mercadorias, bem como as

perspectivas de cada transportadora. Observe-se a figura 6.

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Figura 6 - Fachadas das Transportadoras Araçatuba e Transpérola em Rio Branco.

Fonte: Autora, Maria José do Carmo Maia (2007).

O quadro que segue indica alguns dados das transportadas entrevistadas. Para efeito

de análise foram selecionadas as transportadoras que apresentam maior movimentação de

mercadorias para a microrregião de Rio Branco e uma atuação constante no transporte de

mercadorias durante os vários meses do ano.

Transportadora Situação Nº de Funcionários

Tempo de funcionamento

(anos)

Frota Quantidade de Merc.

Transp. por mês (t)

Transperóla Filial 16 15 - - Expresso Araçatuba Filial 35 32 08 - Rodoviário Ramos Ltda Filial 11 01 03 200 Kagel Filial 12 12 30 300 Rumonorte Transportes Sede 12 03 30 600 Real Norte Filial 12 15 04 72 M. F. Furlan Sede 06 5 03 - Expresso Radar Sede 40 30 14 500 Transpacífico Filial 11 5 132 300 Eucatur Filial 15 10 04 200 Transmaici Filial 09 07 02 500 Rápido Roraima Filial 20 27 03 400 PVH Transportes Filial 08 - 03 192 Roda Viva Sede - 30 - - Rio Branco Sede 14 05 03 40

Figura 7 - Quadro das Principais Transportadoras Situadas em Rio Branco.

Fonte: Resultado da Pesquisa (2008).

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É possível verificar, conforme a figura 7, que apenas cinco das transportadoras

entrevistadas são empresas com sede em Rio Branco, as demais são franquias que possuem

filiais em vários estados do país, o que Silva Júnior (2004) classificou como empresas

internalizadas, ou seja, que se instalam através de estrutura própria ou por meio de contratos

com franquias ou representantes (terceiros), estabelecendo diversos tipos de acordos

dependendo das condições encontradas no mercado, conforme a demanda industrial,

comercial e de serviços. As empresas geram empregos e renda para o estado, empregando em

média 15,8 funcionários, no entanto 10 transportadoras possuem um número de funcionários

inferior a média, demonstrando uma discrepância entre as transportadoras mais novas no

ramo e as veteranas; mais de 57% das transportadoras já estão funcionando no estado há mais

de 10, destacando-se as Empresas Expresso Araçatuba, Expresso Radar, Rápido Roraima e

Roda Viva, com mais de 25 anos no mercado de transporte de carga. Apenas as

transportadoras Transpacífico e M.F. Furlan possuem a frota própria, já as transportadoras

Rápido Radar e Transmaici têm a frota total terceirizada no transporte interestadual de cargas,

e as demais possuem frota mista, ou seja, parte terceirizada e parte veículos próprios, sendo

que duas transportadoras não informaram o total de veículos utilizados no transporte de

cargas. Excluindo-se quatro transportadoras que não informaram a quantidade de mercadorias

transportadas por mês e a Empresa Rio Branco, que só atua no transporte interno, as demais

transportam, em média, 326,4 toneladas de mercadorias por mês para a microrregião de Rio

Branco. Detectou-se que quatro transportadoras possuem um movimento de cargas mensal

superior a média geral de todas.

Figura 8 - Mercadorias chegando ao depósito das Transportadoras Transpacífico e Expresso

Radar.

Fonte: Autora, Maria José do Carmo Maia (2008).

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Transportadora Quantidade de clientes

cadastrados

Quantidade de clientes

permanentes

Nº de entregas por mês

Tempo médio do transporte

das cargas (dias)

Origem das mercadorias

Transpérola - - 34 6 a 7 SP Expresso Araçatuba - 800 700 5 a 8 SP e RS Rodoviário Ramos Ltda - 100 500 06 SP, CE, PB Kagel 600 150 2400 10 SP Rumonorte Transportes 1500 280 800 08 SP Real Norte 1500 50 500 12 SP, GO M. F. Furlan - - 200 6 Sul, Sudeste Radar 1500 300 2000 6 A 8 SP Transpacífico 1300 800 1880 8 Sul, Sudeste Eucatur 5000 - 1800 08 Sul, Sudeste e

Nordeste Transmaici 300 - 1000 8 a 12 SP Rápido Roraima 90 - - 6 A 8 SP PVH Transportes - - - 08 SP Roda Viva - - - O5 SP, GO, RO Rio Branco 200 200 300 04 SP, Sul

Figura 9 - Quadro de Informações Gerais das Transportadoras de Rio Branco.

Fonte: Resultado da Pesquisa (2008).

Ao se analisar a figura 9, verifica-se que as transportadoras não detêm um controle

total da clientela que possuem, indicando que alguns clientes são esporádicos, mas, no

mercado de serviços, o controle de serviços e clientes é fundamental para a expansão dos

negócios. Em média 1.009,5 entregas são realizadas por mês, e novamente quatro

transportadoras se destacaram com um número de entregas mensal superior a média total das

empresas, salientando-se a Transportadora Expresso Radar que apresentou a quantidade de

mercadorias transportadas e o número de entregas mensal superior a média de todas as

demais. Três transportadoras não declararam a quantidade de entregas realizadas. Levando em

consideração o tempo médio gasto entre o pedido e o recebimento da mercadoria na

microrregião de Cruzeiro do Sul; na microrregião de Rio Branco, as mercadorias chegam em

menor tempo, dando maior rotatividade do capital e ao fluxo de cargas. Há de se salientar que

100% das transportadoras trazem suas encomendas do estado de São Paulo, e algumas

também transportam de outros estados do sul e sudeste, demonstrando que o estado de São

Paulo é o maior fornecedor de mercadorias para o estado do Acre.

Entre os diversos tipos de mercadorias fracionadas transportadas pelas empresas, os

que são transportados em maior quantidade são, justamente, confecções e eletrodomésticos,

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seguidos por peças para carros, motos e bicicletas e gêneros alimentícios.

Ao serem entrevistados, os gerentes e responsáveis pelas transportadoras afirmaram

que os meses em que transportam maior quantidade de mercadorias são os meses de julho a

dezembro, principalmente porque, nos meses de julho a setembro, com a abertura da BR 364,

há um incremento no transporte de mercadorias para o Vale do Juruá. Em contrapartida, os

meses de janeiro, fevereiro e março apresentam um baixo volume de mercadorias

transportadas, época em que reduz o lucro líquido das transportadoras. Ao serem questionadas

a respeito dos problemas enfrentados no transporte rodoviário de cargas, apenas a

Transportadora Kagel afirmou ser as avarias nas mercadorias durante o deslocamento da

carga, as demais afirmaram que o maior problema é a burocracia e a demora da fiscalização

realizada nas barreiras, que acabam dificultando e atrasando a entrega das mercadorias aos

clientes. Três transportadoras também mencionaram as precárias condições das rodovias e os

pedágios cobrados, em alguns estados, para permitir a circulação das carretas. A

transportadora Roda Viva também elencou, como problemas no ramo de transporte, a falta de

profissionais na área e a alta carga tributária.

Estudos realizados por Bartholomeu e Caixeta Filho (2008) apontam, como aspectos

que contribuem para o fraco desempenho do modal rodoviário no Brasil, a elevada idade

média da frota, pois os veículos possuem quase 16 anos, e a oferta insuficiente de

infraestrutura de transporte rodoviário, tanto em termos de extensão quanto em termos de

qualidade das vias. As pesquisas revelam que a má-conservação das rodovias impacta

negativamente na economia, pois o volume poupado em serviços de manutenção da qualidade

no momento adequado resulta em gastos futuros com obras de reconstrução e com custos

adicionais para o usuário, intensificando o consumo de combustível, gastos com manutenção

dos veículos, índice de acidentes e aumento no tempo das viagens. Estradas malconservadas

reduzem a velocidade dos veículos, consequentemente, o motorista consegue realizar um

número inferior de viagens em relação ao potencial, aumentando o custo fixo por viagem com

depreciação, remuneração do capital, seguros e licenciamento etc.

Segundo os autores, estradas com diferentes condições de infraestrutura resultam em

custos de viagem distintos, relacionados ao consumo de combustível, ao tempo de viagem e

ao gasto com manutenção do combustível, portanto, rotas em melhores condições de

conservação resultam em maiores benefícios tanto econômicos como ambientais.

Os transportadores também foram questionados a respeito do frete cobrado no

transporte das mercadorias. Para Silva Junior (2004), o frete é o preço do transporte da

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mercadoria, calculado a partir da distância percorrida, peso, tamanho, perecibilidade,

resistência ou fragilidade, periculosidade, toxidade, valor agregado, valor da nota e outras

variáveis que dependem do cliente. O frete também poderá variar de acordo com a safra,

oferta e demanda da mercadoria no mercado, o número de transportadoras e o grau do

dinamismo da economia de uma cidade ou região.

Desta forma, os transportadores entrevistados declararam cobrar o frete levando em

consideração a distância percorrida, o peso da mercadoria, o valor do seguro, a cubagem,

quantidades de volumes, o valor da nota fiscal, alguns afirmaram que o preço também varia

dependendo da mercadoria e do cliente, como também se a modalidade de transporte for CIF

(Cost Insurance Freignt), ou melhor pago na origem pelo remetente da mercadoria; ou FOB

(Free on Board), ou seja, pago no destino pelo destinatário da mercadoria. Apenas três

transportadores informaram o valor cobrado pelo frete, uma declarou que varia entre R$0,40 a

R$0,45; outra informou o valor de R$0,58; e uma terceira declarou cobrar R$0,60 por quilo

de mercadoria transportada, todas oriundas do estado de São Paulo.

As empresas foram questionadas sobre a utilização de tecnologia da informação e

comunicação no transporte de mercadorias, sobre tal argumento, afirmaram fazer uso de

rastreadores via satélite e seguro. A transportadora Transpacífico possui um sistema

informatizado em que o próprio cliente pode rastrear sua mercadoria. Quanto às exigências

dos clientes com relação ao transporte de suas mercadorias, as transportadoras foram

unânimes em afirmar que os mesmos exigem rapidez na entrega, preço acessível, informação

sobre a carga, cargas sem avarias e segurança no transporte de seus produtos. Dos quinze

transportadores entrevistados, dez fazem avaliação de desempenho com frequência mensal ou

a cada quinze dias, com a intenção de fazer uma avaliação do trabalho, identificar falhas e

realizar um planejamento para melhorar o desempenho no transporte. Quatro transportadoras

não fazem avaliação de desempenho e uma está em processo de implantação.

Todos os transportadores entrevistados, com exceção de apenas dois, consideram o

mercado de transporte de carga, no estado do Acre, bom, elencando como favorável o fato de

não haver uma concorrência tão numerosa, que com certeza será favorecida com as

interligações das BR 364 e 317, o que provocará uma expansão do mercado de transporte,

visto que o estado está em pleno desenvolvimento e, com incentivo do governo, seguramente,

o comércio expandir-se-á. Dois transportadores mencionaram o fato de que o estado não

possui indústria, tendo que comprar tudo de fora, necessitando assim de uma ampla rede de

transportes. A empresa Rumo Norte considera que, no momento, o mercado não está

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favorável, e que já foi bem melhor; e a Transportadora Roda Viva coloca como problema do

transporte, no estado, a deficiência de cargas no retorno, aumentando, assim, o custo

operacional do transporte.

As perspectivas com a conclusão da BR 364 são as melhores possíveis; pois,

segundo os transportadores, havendo uma melhor integração entre as regiões do estado,

haverá também melhoria na qualidade de vida da população, crescendo seu poder aquisitivo, o

que levará a um aumento do consumo geral, fazendo circular mais mercadorias. A conclusão

da BR 364, trecho Rio Branco-Cruzeiro do Sul, também, acabará com o monopólio de alguns

comerciantes localizados no Vale do Juruá, pois outros comerciantes poderão se instalar na

região, reduzindo a concorrência e os custos, assim, viabilizando o desenvolvimento das

cidades situadas ao longo da BR 364. Com a BR 364 pavimentada, também, reduzir-se-ão os

gastos com a manutenção de caminhões que trafegam no período da seca. A empresa

Transpérola não trabalha com transporte para o Vale do Juruá, já as Transportadoras Eucatur,

Real Norte e Rápido Roraima afirmaram que, logo que concluam a pavimentação da BR 364,

abrirão filiais para atender a microrregião de Cruzeiro do Sul. A transportadora Expresso

Araçatuba já possui filial na cidade de Cruzeiro do Sul e pretende ampliar a frota e o

transporte de mercadorias para a região; e a Transportadora Roda Viva declarou que, com a

conclusão da pavimentação, criará uma nova rota de distribuição para atendimento diário

entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul.

A empresa Rio Branco Agenciamento de Cargas, com sede na capital do estado, tem

como especialidade agenciar mercadorias para as cidades de Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do

Sul, todas situadas no Vale do Juruá, o transporte da mercadoria é feito através dos modais

aéreo e rodoviário, no período em que a BR 364 permanece trafegável. As principais

dificuldades enfrentadas pela empresa no transporte aéreo é a pequena capacidade do avião,

que suporta uma carga de no máximo 1.800kg, e tem que fazer duas a três viagens no mesmo

dia, outro fator é que o transporte aéreo para se tornar mais econômico é realizado até a

cidade de Tarauacá, fazendo transbordo da mercadoria em um caminhão que conclui o trajeto,

pela Br 364, até a cidade de Cruzeiro do Sul. Já o transporte terrestre tem como problemas as

más condições de conservação da BR 364, e os trechos que não estão pavimentados.

No entanto, o gerente revela que o transporte terrestre é vantajoso por ser mais barato

e demorar menos dias, atendendo a uma exigência dos clientes, que é a agilidade na entrega. A

empresa não possui tecnologia no transporte e segurança da carga, visto que as seguradoras se

recusam a fazer contratos porque consideram o transporte na região uma atividade de alto

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risco. O tipo de mercadoria mais transportado para as cidades é confecções e

hortifrutigranjeiros para atender uma necessidade, visto que o transporte realizado de balsa

torna-se muito demorado.

A figura 10 mostra um comparativo realizado pela empresa entre o transporte aéreo e

o transporte terrestre para a região do Vale do Juruá.

Rio Branco Agenciamento de Cargas Modais Preço (R$) x kg Tempo de

Entrega (dias) Quant. Transp.(mês)

Aéreo 3,80 04 40 t Rodoviário 0,50 02 150 t

Figura 10 – Quadro Comparativo entre Transporte Aéreo e Rodoviário para o Vale do Juruá.

Fonte: Resultado da Pesquisa (2008).

Observa-se, também, que a empresa consegue transportar um volume maior de

mercadoria no período em que a estrada permanece trafegável, chegando a transportar uma

quantidade mensal quase quatro vezes maior em comparação com o transporte aéreo. Desta

forma, a empresa mantém uma perspectiva boa com relação à conclusão da BR 364, o que

acarretará uma redução no preço do transporte e no tempo de entrega da mercadoria.

Como se pôde detectar, a política de integração do estado traz boas perspectivas para o

mercado de transporte de mercadoria, o que poderá trazer melhorias para consumidor.

4.2 O SISTEMA DE TRANSPORTE DE MERCADORIA NA MICRORREGIÃO DE

CRUZEIRO DO SUL

A microrregião de Cruzeiro do Sul está localizada na mesorregião do Vale do Juruá.

É composta por cinco municípios: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Porto Valter, Marechal

Thaumaturgo e Rodrigues Alves. Sua população atual é de 123.163 habitantes e possui uma

área de 29.781,195km2. A cidade de Cruzeiro do Sul é a segunda mais importante do estado e

possui uma população de 86.725 habitantes, sua área é de quase 8 mil km². Dista cerca de

710km da capital Rio Branco. Nesta microrregião, predomina o transporte fluvial de carga na

maior parte do ano.

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Tabela 2 - Aspectos Gerais da Microrregião de Cruzeiro do Sul

Município

População 2007

Área (km2)

PIB 2006

(R$)

Unidades

empresariais (2006)

Cruzeiro do Sul 73.948 7.925 438.186 1374 Mâncio Lima 13.785 4.672 53.239 77 M. Thaumaturgo 13.061 7.744 43.951 31 Porto Valter 8.170 6136 28.527 20 Rodrigues Alves 12.428 3.305 58.156 42 TOTAL 121.392 29.782 622.059 1.544

Fonte: IBGE (2008).

A navegação fluvial opera basicamente no período de novembro a junho, quando o

rio Juruá oferece boas condições de navegação. Nesse período, grande quantidade de

mercadorias entra no porto de Cruzeiro do Sul, no intuito de abastecer todos os municípios

que fazem parte da microrregião. Veja-se que, na tabela 3, é indicada a quantidade de

mercadorias transportadas para a microrregião de Cruzeiro do Sul.

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Tabela 3 - Movimentação de Mercadorias no Porto Fluvial de Cruzeiro do Sul Período: jan/mai

de 2008

Data Balsa Quantidade (t) Valor das Mercadorias (R$) 10/01/08 BL Disbran III e ADL VI 1.800 R$2.260.421,00 10/01/08 BL Engetel 300 R$492.896,04 10/01/08 Batelão Eu te Amo II 80 R$12.517,50 10/01/08 Batelão Bosco 80 R$833.295,88 10/01/08 BL Dona Ester IV 250 R$222.025,02 10/01/08 BL Índia 280 R$249.039,57 11/02/08 BL Cidadã 1.000 R$1.486.775,00 11/02/08 BL Dona Ester II e III 1.000 R$1.745.137,48 11/02/08 BL Tander 300 R$291.571,83 11/02/08 BL Dona Ester 1.000 R$41.822,34 11/02/08 BL Tarauacá 300 R$615.367,69 11/02/08 BL Rudá 400 R$504.551,56 11/02/08 BL Cairé 900 R$26.628,40 11/02/08 BL Pororoca 1.000 R$291,14 03/03/08 BL Pucalpa- GS2 500 R$1.470.417,45 03/03/08 BL Cairé 900 R$1.054.016,74 03/03/08 BL Sr. Said M. Mustafa 400 R$441.550,91 03/03/08 BL Pororoca 1000 R$1.286.971,33 03/03/08 BL Esmague 400 R$198.242,06 03/03/08 BL ADL V 900 R$3.455.022,21 03/03/08 BL Edu II 300 R$568.763,99 03/03/08 BL Dona Ester II e III 980 R$1.343.253,96 31/03/08 BL J R I 800 R$1.754.620,75 31/03/08 BL Engetel 300 R$630.960,82 31/03/08 BL Cruzeiro do Vale 1.000 R$946.014,90 24/04/08 BL Columbi 600 R$1.409.599,54 24/04/08 BL Dona Ester 1.000 R$1.680.304,94 24/04/08 BL Bosco Nery 300 R$1.531.910,45 24/04/08 BL Acre Juruna 400 R$791.980,01 24/04/08 BL Pucalpa 300 R$791.429,01 24/04/08 BL Rudá 400 R$444.754,76 24/04/08 BL Cassimiro 300 R$471.050,98 24/04/08 BL Tarauacá 300 R$735.550,87 24/04/08 Yate Pinheiro II 300 R$637.936,05 07/05/08 Balsa Bibi II 260 R$678.728,64 07/05/08 Balsa Lucileide 280 R$328.321,97 07/05/08 Balsa Pororoca 1000 R$1.661.804,97 07/05/08 Balsa Dona Ester II e III 980 R$1.804.999,90 TOTAL 22.590 R$34.900.547,66

Fonte: SEFAZ/ Gerência dos Postos Ficais de Cruzeiro do Sul – Ac (2008)

Como se pode observar, grande quantidade de mercadorias é transportada

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anualmente através do transporte fluvial para a microrregião de Cruzeiro do Sul. No período

de julho a outubro, o transporte de mercadorias é realizado pela BR 364, época na qual o

trecho é trafegável. Visando entender o funcionamento do transporte fluvial para a referida

microrregião, foi realizada entrevista com alguns operadores logísticos locais.

Figura 11 - Transporte Intermodal para a Microrregião de Cruzeiro do Sul

Fonte: Adaptado do DERACRE/sem escala (2007).

De acordo com o relato dos comerciantes e transportadores locais, as mercadorias

compradas nas regiões sul, centro-oeste e sudeste demoram entre 70 a 90 dias para chegar até

o comércio local, isso porque são transportadas de caminhões até o Porto de Porto Velho, no

estado de Rondônia, lá a balsa demora em torno de 30 dias para carregar e mais 30 a 35 dias

navegando pelos Rios Madeira Solimões e Juruá, até chegar a Cruzeiro do Sul.

Os transportadores declararam que os principais problemas enfrentados no transporte

fluvial de mercadorias são a grande distância e demora dos produtos, que, muitas vezes,

quando o produto chega as prateleiras, as duplicatas já estão vencidas, ou seja, os produtos

são muitas vezes pagos antes mesmo de sua chegada no destino. Neste intervalo, mercadorias

que têm prazo de validade pequeno chegam quase vencidas. Outro problema é que os

comerciantes precisam carregar completamente a balsa para que não tenham prejuízo, visto

que uma balsa para fazer o percurso Cruzeiro do Sul-Porto Velho-Cruzeiro do Sul gasta, em

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torno, de 50.000 mil litros de combustível óleo diesel, o que corresponde a um custo maior

que R$100.000 reais. Eles apontaram como empecilhos ao bom funcionamento do transporte

fluvial a falta de portos com estrutura, os quais facilitem a carga e a descarga das mercadorias,

e os períodos de seca do rio, desse modo, dificultando a navegação. A figura 12 ilustra o

descarregamento de mercadorias na cidade de Cruzeiro do Sul.

Figura 12 - Instalações do Porto de Cruzeiro do Sul

Fonte: Autora, Maria José do Carmo Maia (2008).

Dentre os seis transportadores entrevistados, dois transportam somente carga própria,

dois trabalham com 90% carga própria e dois operam com transporte para terceiros. O frete

cobrado para o percurso de Porto Velho a Cruzeiro do Sul custa 0,40 centavos por quilo e para

as mercadorias leves e eletrodomésticos é cobrado o valor de 10% sobre o valor da nota fiscal.

A transportadora Manave Navegação Ltda. opera há 07 anos com o transporte fluvial de

mercadoria. Possui uma frota de três balsas com capacidade total de 2.600 toneladas. Chega a

transportar 11.500 toneladas de mercadorias por ano, com uma média de 160 a 170 clientes

por balsa, ou seja, diante de todos os problemas no transporte, a empresa consegue fazer

quatro viagens com a frota, durante o período de cheia, contando com um grande número de

funcionários para o rápido e eficiente descarregamento das mercadorias e com um depósito

para armazenar mercadorias de clientes que retardam o recebimento.

Com relação às perspectivas das transportadoras atinentes à conclusão da

pavimentação da BR 364, ligando definitivamente Rio Branco a Cruzeiro do Sul, os

comerciantes entrevistados acreditam que haverá melhorias no transporte de mercadorias

tanto para eles como para a população, contribuindo para as condições sociais. Apenas dois

dos transportadores entrevistados não utilizarão o transporte fluvial, alugando as balsas ou

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vendendo-as e investindo na compra de caminhões. Os demais declararam que continuarão

transportando algumas mercadorias, pois, em grande quantidade, o frete se torna mais barato,

como, por exemplo, cimento, telhas, açúcar e etc.

Transportadora Situação Nº de Funcionários

Tempo de funcionamento

(anos)

Frota (balsas)

Capacidade da Frota

(T)

Origem das Cargas

Manave Ltda Sede 27 07 03 2600 AM, RO Big Bran Filial 12 28 10 - AM, RO F.R. de Oliveira Júnior

Sede 06 38 03 2094 SP,MT,MG,RS

F.T.R Barbary Sede 05 08 01 300 SP,RO AC Navegação Triunfo Ltda

Sede 16 22 02 2000 SUDESTE,CENTRO-OESTE

J C Gonçalves Gaspar

Sede 06 12 01 900 SP, MG, RS

Figura 13 – Quadro das Principais Transportadoras da Microrregião de Cruzeiro do Sul

Fonte: Resultado da Pesquisa (2008).

A partir da figura 13, percebe-se que, das seis principais transportadoras de cargas da

microrregião de Cruzeiro do Sul, apenas uma é filial de uma empresa com sede em Manaus,

as demais possuem sede na própria cidade. Elas empregam, em média, 12 pessoas e possuem

uma frota própria de balsas que transportam mercadorias no período das cheias. Duas

transportadoras superam a média de funcionários contratados pelas demais transportadoras e

três estão abaixo da média geral. Quatro transportadoras já funcionam há mais de 10 anos no

transporte fluvial e apenas duas transportam mercadorias dos estados de Rondônia e

Amazonas, as demais transportam mercadorias oriundas das regiões sul, sudeste e centro-

oeste. Três transportadores demonstraram maior poder de transporte de carga, possuindo uma

frota com capacidade para 2.000 ou mais toneladas de mercadorias em cada viagem. Uma não

informou a capacidade total, mas, pela quantidade de balsas, subentende-se que seja superior

a 2.000 toneladas; e duas empresas possuem apenas uma balsa com capacidade inferior a

1.000 toneladas.

Considerando que o combustível constitui fonte principal de energia e é de suma

necessidade para a população, fez-se necessária uma análise da logística de transporte de

combustível para a microrregião de Cruzeiro do Sul.

A empresa PETROBRÁS possui uma base em Cruzeiro do Sul (Figura 14), que

constitui uma filial da empresa com sede em Manaus. Atua há 24 anos na cidade e possui em

torno de 18 funcionários. A origem da mercadoria é o estado do Amazonas e o transporte é

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realizado por uma frota de 25 balsas terceirizadas, que transportam gasolina comum, óleo

diesel, biodiesel, álcool e querosene comum. Durante o ano, a cidade de Cruzeiro do Sul

recebe cerca de 40 milhões de litros de combustível. Segundo o gerente geral da base, a

mercadoria leva o tempo médio de 30 dias para chegar ao destino. A capacidade individual de

cada balsa varia entre 1.500.000 a 4.000.000m de litros de combustível. No período do

inverno, chega em torno de 3 balsas por mês e, no período da seca, que se estende de maio a

novembro, é feito um estoque de mais ou menos 25 milhões de litros para o consumo local.

Os principais problemas enfrentados durante o transporte é a baixa visibilidade e o calado

baixo do rio, que é a distância do casco da embarcação ao fundo do rio, tendo em vista que as

balsas são profundas. O transporte de combustível é realizado exclusivamente de forma

fluvial e, de acordo com a gerência local, continuará mesmo com a pavimentação da BR 364,

pois considera um transporte mais barato e, somente em casos de urgência, utilizará o

transporte rodoviário.

Figura 14 - Transporte de combustíveis e instalações da Petrobrás em Cruzeiro do Sul

Fonte: Autora, Maria José do Carmo Maia (2008).

A gerência enfatizou que as balsas utilizadas no transporte de combustível têm casco

duplo, evitando vazamento para não poluir os rios, também possui sistema contra incêndio e

os funcionários têm treinamento para primeiros socorros. As balsas são fiscalizadas pelo

IBAMA, Capitania dos Portos e demais órgãos ambientalistas.

O órgão responsável pela fiscalização do transporte fluvial é a Capitania dos Portos.

Ainda não existe uma agência da instituição no estado do Acre, ficando o transporte, neste

estado, sob a fiscalização das agências de Eirunepé e Boca do Acre, ambas no estado do

Amazonas.

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A Capitania dos Portos é subordinada à Diretoria dos Portos, que funciona dentro da

Marinha do Brasil, que pertence ao Ministério da Defesa. Ela é comandada por um oficial

superior. Sua função é fiscalizar a segurança da navegação com relação ao transporte de

cargas e passageiros. Também se encarrega da formação e orientação de pessoas que

trabalham no transporte fluvial, determinando a tripulação, a capacidade de passageiros e de

cargas de cada embarcação.

Segundo agentes da Capitania dos Portos, uma balsa para receber licença para

navegar precisa de uma tripulação de no mínimo 05 integrantes. Sendo eles o mestre ou

comandante, que é o responsável pela embarcação; também existe a figura do contramestre,

que é uma espécie de subcomandante que auxilia o comandante; além destes, deverá existir

dois marinheiros, sendo um de máquina encarregado de dar manutenção ao motor, e um

marinheiro de convés, responsável pelos serviços gerais de limpeza externa e cuidados com a

carga. E para finalizar é obrigatória a presença de um cozinheiro, responsável pela

alimentação da tripulação. Os funcionários são sindicalizados e seus salários são fixados pelo

sindicado e os proprietários das balsas são obrigados a cumprir todas as obrigações salariais.

4.3 A INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE TRANSPORTE NO PREÇO DAS

MERCADORIAS

Sem dúvida, pode-se considerar que um os maiores objetivos da integração

econômica é o aproveitamento de economia de escala, vantagens de especialização, estímulos

aos investimentos etc. Entretanto, deve-se desenvolver políticas destinadas a promover a

competitividade das regiões devido à presença de assimetrias entre as regiões envolvidas em

uma integração econômica. Nesse sentido, políticas são desenvolvidas com o objetivo de

reduzir as desigualdades regionais, tendo como principal aspecto a integração entre regiões

isoladas.

A desigualdade regional tem sido uma característica histórica no desenvolvimento

brasileiro, as disparidades econômicas entre regiões, estados e municípios, que geralmente

refletem em disparidades sociais, continuam sendo um dos principais desafios a ser

enfrentado pelo planejamento e desenvolvimento regional do país.

A teoria econômica prevê que as falhas de mercado justificam a intervenção do

Estado na economia. Com frequência, observam-se a formação de monopólios, externalidades

negativas, informações imperfeitas, que são algumas dessas falhas que necessitam da

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intervenção pública. Como a principal função do Estado é promover o bem-estar econômico e

social da população, este deverá utilizar instrumentos que alcancem esse fim. Na economia, o

Estado dispõe de instrumentos como a política fiscal, monetária e empréstimos.

Segundo Machado e Ilha (2006), as desigualdades intrarregionais, geralmente, têm

origem nas deficiências estruturais e em certos fatores-chave de competitividade, como falta

de investimento em infraestrutura, inovação e recursos humanos. Sendo assim, as regiões

precisam de políticas que ajudem a superar as deficiências e desenvolver suas vantagens

comparativas, pois se sabe que elas podem ser aprimoradas com a ajuda do Estado.

O estado do Acre possui como eixo de integração com o país a BR 364, esta rodovia

percorre todo o estado, porém não está completamente pavimentada, dessa forma, não

permitindo a ligação ininterrupta entre as duas mesorregiões.

Até o ano de 1968, a BR 364 estava aberta até a cidade de Rio Branco e pode-se

observar uma relação de dependência da capital acreana com Manaus e Belém, pois, até o

final da década de 60, Rio Branco e Cruzeiro do Sul realizavam a exportação de seus produtos

e a importação de bens através dos portos de Belém e Manaus.

Com a conclusão da BR 364 ligando Rio Branco ao restante do país, há um

incremento no consumo e na dinâmica comercial do Vale do Acre, no entanto as dificuldades

de relacionamento da capital com o Vale do Juruá permanecem tendo em vista que o trecho

que liga Sena Madureira a Feijó não está concluído. Por conseguinte, continua a predominar a

importação de bens através dos portos dos estados do Amazonas e Rondônia para as cidades

situadas no Alto Juruá; e Rio Branco contribui com a exportação de artigos leves, como

confecções e mercadorias perecíveis, principalmente verduras, transportadas de avião.

Enquanto que, em Rio Branco, o fluxo de mercadoria é constante pela BR 364; em

Cruzeiro do Sul, o fluxo de entradas de mercadoria é lento, pois depende de longas viagens

pelo rio Juruá. Em Rio Branco, os operadores logísticos transportam, de cada vez, pouco mais

de 40 toneladas, em Cruzeiro do Sul, estes transportam quantidades que variam entre 200 a

1.000 toneladas. O objetivo é formar estoque para abastecer a microrregião e cidades vizinhas

por longo período, até que chegue o próximo carregamento de mercadorias. Além disso, em

Cruzeiro do Sul, utiliza-se também o transporte aéreo para mercadorias perecíveis em curto

prazo e confecções em geral, um transporte que se caracteriza pela rapidez e por um alto

custo.

Apesar do transporte fluvial geralmente apresentar um custo mais baixo, a população

de Cruzeiro do Sul se depara com um alto custo das mercadorias, principalmente se

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comparadas com o custo dos produtos em Rio Branco, o que se reflete no consumo da

população, principalmente daqueles que têm baixo poder aquisitivo. No período em que a BR

364 permanece trafegável, grande parte das mercadorias chega a microrregião de Cruzeiro do

Sul transportada por caminhões. Nesse período, observa-se a queda dos preços de grande

parte dos produtos, o que ocasiona uma melhor qualidade de consumo da população local.

Pesquisas realizadas pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável, no ano

de 2007, mostram a realidade dos preços praticados por comerciantes dos municípios que não

possuem ligação terrestre e dependem do transporte fluvial. Na oportunidade, a Secretaria de

Planejamento comparou os preços dos produtos também em Rio Branco, cidade onde

predomina o transporte terrestre de mercadorias, e verificou uma grande diferença de preços

em comparação com os municípios onde predomina o transporte fluvial de mercadorias,

levando a confirmar a hipótese de que o transporte terrestre é mais viável economicamente

para o estado do Acre. A tabela 4 e a figura 15, a seguir, evidenciam isso:

Tabela 4 - Custo da Cesta Básica Alimentar – 2007

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Figura 15 - Gráfico do Custo Total das Cestas Básicas Alimentar, Limpeza Doméstica e Higiene

Pessoal (Março de 2007)

Fonte: SEPLANDS/Gerência de Estudos e Pesquisas Aplicadas à Gestão (2007).

Para efeito de análise e comparação foi realizado levantamento dos preços de

produtos da cesta básica nos meses de maio e agosto, do ano de 2008, conforme os quadros a

seguir:

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SUPERMERCADOS Produtos Supermercado

AS Super

Econômico Big Bran Média de

Preços Arroz Tio Urbano (1Kg)

R$2,50 R$2,50 R$2,50 R$2,50

Feijão (1kg) R$4,00 R$4,50 R$4,50 R$4,33 Frango Congelado (1kg)

R$4,00 R$4,90 R$4,50 R$4,47

Leite em pó Itambé

R$6,50 R$6,70 R$6,80 R$6,67

Café Pilão R$4,50 R$4,80 R$4,60 R$4,63 Açúcar Itamarati (1Kg)

R$1,00 R$1,00 R$1,25 R$1,08

Tomate (1kg) R$6,00 R$7,50 R$ 5,50 R$6,33 Óleo de Soja R$4,00 R$3,95 R$3,80 R$3,92 Manteiga Tourinho

R$7,30 R$6,50 R$7,00 R$6,93

TOTAL R$ 40,86 Figura 16 - Quadro Comparativo dos Preços de Produtos da Cesta Básica em Cruzeiro do Sul -

maio/2008.

Fonte: Resultado da Pesquisa (2008).

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SUPERMERCADOS Produtos Supermercado

AS Super

Econômico Big Bran Média de

Preços Arroz Tio Urbano (1Kg)

R$2,80 R$2,90 R$2,50 R$2,73

Feijão (1kg) R$4,50 R$4,80 R$4,00 R$4,43 Frango Congelado (1kg)

R$4,29 R$4,90 R$4,50 R$4,56

Leite em pó Itambé

R$5,29 R$5,85 R$6,80 R$5,98

Café Pilão R$3,80 R$4,20 R$4,60 R$4,20 Açúcar Itamarati (1Kg)

R$0,99 R$1,00 R$1,25 R$1,08

Tomate (1kg) R$2,90 R$3,49 R$ 2,50 R$2,96 Óleo de Soja R$3,49 R$3,95 R$3,80 R$3,75 Manteiga Tourinho

R$7,30 R$7,20 R$7,00 R$7,17

TOTAL R$36,86 Figura 17 - Quadro Comparativo dos Preços de Produtos da Cesta Básica em Cruzeiro do Sul -

agosto/2008

Fonte: Resultado da Pesquisa (2008)

Para efeito de comparação foram selecionados alguns produtos da cesta básica,

notadamente, aqueles que dependem do transporte intermodal (terrestre e fluvial), para chegar

até o consumidor na cidade de Cruzeiro do Sul. Analisando os preços, percebeu-se que, no

período em que a BR 364 fica trafegável, houve uma redução de aproximadamente 9,8% na

média de preço total dos produtos. Verificando que a influência maior se dá nos produtos

hortifrutigranjeiros. A análise permite concluir que há uma influência positiva, embora

pequena, do transporte terrestre realizado no período de junho a outubro, fazendo com que os

produtos cheguem a um preço menor ao consumidor final.

4.4 A POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO DO ESTADO DO ACRE

A pavimentação da BR 364 iniciou no ano de 1999 e contou inicialmente com

recursos oriundos do governo federal, nos últimos anos do Projeto de Desenvolvimento

Sustentável do Acre, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

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Recentemente, conta com recursos do PAC, o que permitirá a ligação definitiva entre Rio

Branco e Cruzeiro do Sul até 2010.

A pavimentação da BR 364 é alvo de muitas discussões pelas implicações

socioambientais que pode ocasionar às populações que habitam na mesorregião do Vale do

Juruá. Segundo estudos realizados pelo Projeto de Proteção do Meio Ambiente e das

Comunidades Indígenas (PMACI), em 1994, para alguns segmentos da sociedade, como

comerciantes e lideranças locais, a pavimentação deste trecho é imprescindível ao

desenvolvimento da região; para outros, especificamente aqueles que detêm o monopólio da

comercialização, não interessa a pavimentação deste trecho e de outras vias, pois o isolamento

contribui para aumentar a concentração de renda. Atualmente, pode-se verificar que os

comerciantes que detêm o monopólio do transporte na região de Cruzeiro do Sul já se

interessam pela integração do estado.

O relatório do PMACI, publicado em 1994, aponta consequências positivas e

negativas para o meio ambiente e sociedade advindas da implantação de rodovias nessa área.

Entre os pontos positivos, o mesmo destaca o maior e melhor conhecimento do território com

o alargamento da fronteira de recursos, a integração da área ao sistema produtivo da própria

região em que ela está inserida e do Brasil; o aumento da arrecadação fiscal do estado e

municípios e crescimento na geração de emprego; e, acima de tudo, uma melhoria no sistema

comercial e de serviços dos municípios alcançados pelas estradas, bem como melhor

integração das modalidades de transportes.

Pôde-se verificar que a distribuição geográfica das atividades econômicas entre as

regiões, em um país ou economia, dificilmente, guarda relação direta e proporcional com as

diferentes dimensões físicas destas regiões. Isto é, parece haver alguma regularidade nas

tendências à especialização regional ou concentração geográfica das atividades econômicas,

uma das varáveis que explicam essa concentração é o custo de transporte que vai influenciar

diretamente na dinâmica do comércio da região, um outro fator são as vantagens comparativas

que a região apresenta. Muitos dos transportadores afirmaram que não se instalaram na

microrregião de Cruzeiro do Sul, que representa o segundo maior polo consumidor do estado,

porque há muitas dificuldades para realizar o transporte de mercadorias até a região, sendo o

custo benefício baixo. Por sua vez, o funcionamento das forças de mercado, que levam ao

desenvolvimento dos setores mais dinâmicos proporcionando a ocupação desigual do

território, causa também aspectos desfavoráveis à concentração, normalmente, materializados

em aumentos de custos de produção e comprometimento da qualidade de vida da população.

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Estudos levam a concluir que a relação entre infraestrutura e o desenvolvimento

econômico de regiões, países e setores da economia demonstra que a expansão e melhorias do

sistema de transportes geram efeitos e externalidades positivas para a economia, capazes de

influenciar o potencial de crescimento de vários setores.

Lopes et al. (2008) destacam os principais critérios de avaliação da viabilidade e

sustentabilidade de uma estrada, entre eles, está a capacidade de densificação da atividade

econômica ao longo da via, além da capacidade de gerar valor adicionado no curso de sua

trajetória; gerando desenvolvimento territorial na sua área de influência. O que importa,

segundo os autores, é a capacidade de causar impacto positivo econômico e social na área de

influência, de gerar conglomerados competitivos no decorrer do seu trajeto e desenvolver

clusters e arranjos produtivos locais de alto poder competitivo, nacional e internacionalmente.

A construção de estradas se justificaria, então, em razão da grande capacidade de

produção e geração de vantagens comparativas evidentes na área de produção dinâmica da

fronteira agrícola. Assim, as políticas de oferta de bens públicos, em particular, o caso das

estradas, tem uma dimensão socioeconômica e territorial importante, pois, promove a

transformação de crescimento em desenvolvimento na faixa de domínio da estrada. Essas

políticas devem gerar resultados mensuráveis, tanto econômicos (emprego, renda) quanto

sociais (IDH, educação, saúde), caso contrário, essas políticas não serão eficazes, nem

eficientes e efetivas. Também, deverão promover a sustentabilidade social, gerando recursos

que possam sustentar os serviços públicos, de tal forma que o uso destes bens, pela geração

atual, não comprometa o usufruto deles pelas gerações futuras.

No estado do Acre, a construção da Rodovia BR 364 é uma das obras contempladas

no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC –, tendo como estratégia ampliar a

infraestrutura logística para integrar o território acreano e melhorar as condições de

interligação deste com os demais estados da Região Norte e do país, reduzindo, sobretudo, os

custos de transportes de cargas. Nas figuras 18 e 19, vê-se que, a cada ano, aumenta a

quantidade de mercadorias que são transportadas para o Vale do Juruá, no período em que a

BR 364 permanece trafegável.

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Figura 18 - Gráfico das Reaberturas da BR 364 (2002-2006) - Transporte/Caminhão (Viagens).

Fonte: Departamento de Estradas e Rodagem do Acre - DERACRE (2008).

Figura 19 - Gráfico das Reaberturas da BR 364 (2002-2006) - Carga - Mat.

Construção/Abastecimento (Ton.).

Fonte: Departamento de Estradas e Rodagem do Acre – DERACRE (2008).

Essa evolução demonstra a importância que a rodovia tem para os habitantes das

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cidades que se encontram isoladas no interior do estado, dependendo do transporte aéreo e

fluvial na maior parte dos meses do ano.

Lopes et al. (2008) chegam à conclusão de que as estradas contribuem para o

desenvolvimento, assim como o desenvolvimento contribui à sustentabilidade das estradas,

atingindo um ponto em que não é mais possível distinguir uma direção de indução e

causalidade de uma hipótese em detrimento das outras. Ambos os aspectos estão intimamente

associados, havendo uma harmonia entre infraestrutura e desenvolvimento.

Em 2007, quando a BR 364 foi reaberta pela décima vez, houve um aumento de 60%

em transporte de produtos para abastecimento dos municípios, atingindo cerca de 57.346

toneladas, e o transporte de caminhão aumentou pra 7.152 viagens. Na figura 20, pode-se

verificar a situação da BR no trecho que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul, as inúmeras

dificuldades de acesso inviabilizam inclusive a conclusão da obra em alguns trechos.

Figura 20 - Situação da BR 364 no Estado do Acre

Fonte: Base de dados do Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre.

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Apesar das dificuldades encontradas, as obras de pavimentação da BR 364

continuam avante. A intensificação dos trabalhos ocorre entre os meses de julho a outubro,

período em que sucede a redução do índice pluviométrico na região e as empresas podem

deslocar os insumos como areia, brita e asfalto até o trecho em obras. Há cerca de dez anos, os

trabalhos de pavimentação da BR 364 têm prosseguimento visando atingir o objetivo maior,

que é a integração do estado do Acre e, consequentemente, a melhoria das condições de vida

da população das mesorregiões dos Vales do Acre e Juruá, expandindo a infraestrutura dos

serviços e desenvolvendo a economia de todas das cidades acrianas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho permitiu refletir a respeito do transporte na Amazônia, mais

especificamente, sobre o transporte de carga no estado do Acre, tendo como áreas primordiais

as microrregiões de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, onde se encontram a sede dos principais

transportadores e distribuidores de mercadorias.

Em um mundo onde a competitividade é a principal lei que rege os mercados, a

redução do tempo e dos custos nos transportes de bens é fundamental para o desenvolvimento

das forças produtivas e à evolução dos mercados. Tendo em vista que o estado Acre se

caracteriza por uma ínfima produção industrial e por ser um estado considerado consumidor

da produção dos grandes centros, percebe-se, então, a importância de dar atenção especial ao

setor de transporte de carga.

Verificou-se com a pesquisa que coexistem, neste estado, diversas formas de gestão

do transporte e da logística empregadas para a movimentação de mercadorias, todas

relacionadas às condições físicas de acesso local.

As diferenças primordiais entre as duas microrregiões é o modal empregado, sendo,

na microrregião de Rio Branco, predominante o transporte rodoviário e; na microrregião de

Cruzeiro do Sul, o transporte fluvial devido a condições de acesso, visto que permanece de

seis a oito meses sem ligação terrestre com a capital do estado.

Na microrregião de Rio Branco, o transporte rodoviário favorece o abastecimento da

região por ser um transporte rápido e mais seguro, desta forma, há mais mobilidade do capital

que circula com maior rapidez; enquanto que, na microrregião de Cruzeiro do Sul, a demora

no transporte de mercadorias leva os comerciantes a trabalharem com grande estoque de

mercadorias e pequena circulação de capital.

Os problemas enfrentados pelas transportadoras das duas microrregiões também

diferem. Enquanto que, em Rio Branco, os transportadores apontaram como maiores

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problemas a burocracia no processo de fiscalização e, consequentemente, a demora nos vários

postos fiscais localizados nas fronteiras dos diversos estados; em Cruzeiro do Sul, os

transportadores colocaram, como maiores empecilhos ao transporte das mercadorias, a

demora ocasionada pelo transporte fluvial e as condições das vias fluviais, pois, em

determinada época do ano, os rios secam, assim, dificultando a navegação.

As transportadoras localizadas na microrregião de Rio Branco já fazem uso da

tecnologia da informação e comunicação, desse modo, visando garantir um transporte seguro

e com maior controle da carga durante o percurso realizado; já em Cruzeiro do Sul, as

empresas não conseguem sequer fazer seguro, pois as seguradoras consideram o transporte

fluvial na região de alto risco.

Sem dúvida, as regiões possuem diferenças com relação ao seu grau de

desenvolvimento, uma apresentando maiores vantagens comparativas em relação a outra. As

péssimas condições de acesso colaboram algumas vezes para a estagnação do comércio, pois

desencorajam alguns comerciantes de investirem e se instalarem em regiões mais longínquas.

Verificou-se que grande parte dos empresários do ramo do transporte de carga, situados em

Rio Branco, tem interesse em se instalar na região do Vale do Juruá, porém as péssimas

condições de acesso acabam elevando os custos do transporte e reduzindo, assim, o custo

benefício dos mesmos. Da mesma forma, interessa aos principais comerciantes do Vale do

Juruá que sejam melhoradas as condições de acesso para que possam expandir seu comércio.

As melhores condições de acesso à microrregião de Rio Branco possibilitaram que

inúmeros transportadores se instalassem, permitindo assim que os comerciantes da região

tenham um universo maior de escolha e, portanto, a oportunidade de reduzirem ainda mais os

custos, tendo em vista que a competitividade leva a uma diversificação de serviços e preços.

Já as precárias condições de acesso à microrregião de Cruzeiro do Sul colabora para que um

pequeno grupo detenha o controle do comércio e do transporte, levando, muitas vezes, à

formação de monopólios, e, desta forma, sem concorrência, elevam os preços dos produtos.

Entre as sugestões para a melhoria do transporte de carga nas microrregiões

pesquisadas, com relação à microrregião de Rio Branco, propõe-se que os órgãos

fiscalizadores disponham de uma quantidade maior de funcionários para o atendimento dos

transportadores em suas unidades fiscais, principalmente nos meses de julho a dezembro,

quando os mesmos declararam que há uma quantidade maior de mercadorias que adentram no

estado.

Com relação ao transporte de cargas para o Vale do Juruá, acredita-se na necessidade

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da integração estadual através da conclusão da pavimentação da BR 364, objetivando, além da

qualidade no abastecimento da região, a melhoria em vários outros setores, como educação,

saúde, economia, escoamento da produção local. Fato observado quando da expansão dos

serviços na cidade de Rio Branco, no momento da conclusão da pavimentação ligando o

estado do Acre aos demais estados do país. As melhores condições de acesso permitirão uma

abertura da concorrência do comércio local, bem como a instalação de profissionais liberais

que colaborarão para qualificar as condições sociais da população residente na região.

A análise permitiu concluir que o sistema de transportes no estado do Acre evoluiu

muito nas últimas três décadas, admitindo uma evolução do comércio e da economia local,

todavia, há uma grande perspectiva de evolução com a integração entre as duas mesorregiões,

pois, como foi visto, a rede hidrográfica não permite uma interligação entre as cidades,

restando como opção a integração terrestre.

O grande desafio de hoje é justamente como transformar as estradas

autossustentáveis do ponto de vista econômico e financeiro em médio e longo prazos,

garantindo que os investimentos realizados pelo Estado propiciem retornos econômicos,

sociais e, sobretudo, tributários e fiscais, por conseguinte, promovendo a atração de

investimentos que fortaleçam o desenvolvimento territorial das cidades localizadas na faixa de

domínio das estradas.

A concepção que se tem atualmente a respeito da infraestrutura de transporte é que a

função das estradas não se restrinja apenas a corredores de exportação, mas sejam capazes de

gerar atividades econômicas de alto valor para a sua área de influência, gerando indicadores

sociais de infraestrutura e de maturidade institucional capazes de atrair investimentos para a

geração de emprego.

As estradas representam escolhas estratégicas entre opções de vias de transporte de

grande importância para o desenvolvimento local. Ao se analisar o sistema de transporte no

estado do Acre, percebeu-se que a logística no transporte de mercadoria vem melhorando nas

últimas décadas, apresentando maiores vantagens para o abastecimento de cargas. O estudo

do transporte nas duas microrregiões possibilitou, sobretudo, identificar as diferenças e

dificuldades dos operadores logísticas instalados nas microrregiões.

Pôde-se detectar que os transportadores que operam na microrregião de Rio Branco

possuem melhores vantagens comparativas, tendo em vista que têm como modal principal o

transporte rodoviário, o qual é operante todo o ano. Apesar das dificuldades encontradas no

deslocamento, o deslocamento da mercadoria é realizado em tempo menor se levar em

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consideração o transporte intermodal para a microrregião de Cruzeiro do Sul. O transporte

terrestre também se configurou menos dispendioso no estado, acarretando, assim, menor

impacto no preço final da mercadoria.

Espera-se que este trabalho venha a contribuir com a discussão sobre a temática do

desenvolvimento regional, sobremodo, com a melhoria do sistema de transporte e o

abastecimento das microrregiões, assim, proporcionando adequada qualidade de vida à

população que reside neste estado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - ENTREVISTA REALIZADA JUNTO ÀS EMPRESAS

TRANSPORTADORAS LOCALIZADAS EM CRUZEIRO DO SUL

1 - Informações gerais da empresa:

a) Número de funcionários:

b) Tempo de funcionamento:

c) Filial ou sede:

2- Quantidade de cargas transportadas por mês, ano:

3- Origem das cargas:

4- Tipos de cargas transportadas:

5- Quantidade de veículos utilizados no transporte e entrega de mercadorias:

6- Frota própria ou terceirizada:

7- Número de entrega feitas durante o mês:

8- Tempo médio entre o pedido e o recebimento da mercadoria:

9- Principais problemas enfrentados pela transportadora:

10- A empresa faz avaliação de desempenho, com que frequência?

11- Como é cobrado o frete de diferentes tipos de mercadorias?

12- Qual o valor do frete cobrado para os diferentes tipos de mercadorias?

13- Quais as perspectivas da empresa com a conclusão da pavimentação da BR 364,

ligando todo o estado?

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APÊNDICE B - ENTREVISTA REALIZADA JUNTO ÀS EMPRESAS

TRANSPORTADORAS LOCALIZADAS EM RIO BRANCO

Informações gerais da empresa:

1- Número de funcionários:

a) escritório

b) motoristas

c) Ajudante geral (chapa)

2- Tempo de funcionamento:

3- Filial ou sede:

4- Quantidade de cargas transportadas por mês, ano. Quais os meses que

transportam mais mercadorias?

5- Origem das cargas. Local de transbordo:

6- Tipos de cargas transportadas:

7- Quantidade de veículos utilizados no transporte e entrega de mercadorias.

Tipos de veículos:

8 - Frota própria ou terceirizada:

9- Número de entrega feitas durante o mês:

10- Tempo médio entre o pedido e o recebimento da mercadoria:

11- Principais problemas enfrentados pela transportadora:

12- A empresa faz avaliação de desempenho, com que frequência?

13- Como é cobrado o frete de diferentes tipos de mercadorias?

14- Qual o valor do frete cobrado para os diferentes tipos de mercadorias?

15- Quais as perspectivas da empresa com a conclusão da pavimentação da BR

364, ligando todo o estado?

16- A empresa utiliza alguma tecnologia no transporte e segurança da carga

(TIC)?

17- Quais as principais exigências dos clientes com relação ao transporte da

mercadoria?

18- Quantos clientes a transportadora tem no cadastro e quantos são

permanentes?

19- Qual o tipo de mercadoria mais transportada pela empresa?

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20- Você considera o estado do Acre bom para o mercado de transporte de

cargas? Por quê?

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