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Apresentação 03 Prefácio 05 Programa TOPA - Todos pela Alfabetização/ Brasil Alfabetizado 06 O Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (NEJA) 07 A Universidade do Estado da Bahia 08 A Afetividade no Cotidiano do Programa 09 História de uma Alfabetizadora 10 Sobre a Formação dos Alfabetizadores e Coordenadores 11 Quem São e o Que Fazem os Alfabetizandos 12 Projeto «A Farinhada» 13 A História de um Alfabetizando 14 O Significado de Aprender a Ler e a Escrever as Palavras 16 O Orgulho de Ter um Livro / A Alegria de Poder Participar 17 A Diversidade e os Saberes 18 Superação das Dificuldades 19 Vencendo as Estradas 20 As Classes de Alfabetização: Espaços Únicos 21 A Presença dos Filhos e Netos nas Classes de Alfabetização 22 A Arte na Formação 23 A Parceria do Programa com os Movimentos Sociais 24 O Programa no Meio Rural 25 O Desafio do T este Cognitivo 26 Instantâneos 28 SUMÁRIO EXPEDIENTE UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB REITOR Lourisvaldo Valentim da Silva VICE-REITORA Adriana dos Santos Marmori Lima PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO Adriana dos Santos Marmori Lima COORDENAÇÃO COLEGIADA DO NEJA Maria de Fátima Mota Urpia Maria José de Faria Lins COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Ana Lúcia Nunes Pereira Geórgia Nellie Clark COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA Luciene Ribeiro Sousa JORNALISTA RESPONSÁVEL Rosa Maria Lopes UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB NEJA - Núcleo de Educação de Jovens e Adultos 3462 0093 e 3461 1247 www.uneb.br/neja

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Apresentação 03

Prefácio 05

Programa TOPA - Todos pela Alfabetização/Brasil Alfabetizado 06

O Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (NEJA) 07

A Universidade do Estado da Bahia 08

A Afetividade no Cotidiano do Programa 09

História de uma Alfabetizadora 10

Sobre a Formação dos Alfabetizadores e Coordenadores 11

Quem São e o Que Fazem os Alfabetizandos 12

Projeto «A Farinhada» 13

A História de um Alfabetizando 14

O Significado de Aprender a Ler e a Escreveras Palavras 16

O Orgulho de Ter um Livro / A Alegria de Poder Participar 17

A Diversidade e os Saberes 18

Superação das Dificuldades 19

Vencendo as Estradas 20

As Classes de Alfabetização: Espaços Únicos 21

A Presença dos Filhos e Netos nas Classes de Alfabetização 22

A Arte na Formação 2 3

A Parceria do Programa com os MovimentosSociais 24

O Programa no Meio Rural 25

O D e s a f i o d o T e s t e C o g n i t i v o 26

Instantâneos 28

SUMÁRIO

EXPEDIENTE

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

REITORLourisvaldo Valentim da Silva

VICE-REITORAAdriana dos Santos Marmori Lima

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃOAdriana dos Santos Marmori Lima

COORDENAÇÃO COLEGIADA DO NEJAMaria de Fátima Mota Urpia Maria José de Faria Lins

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICAAna Lúcia Nunes PereiraGeórgia Nellie Clark

COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVALuciene Ribeiro Sousa

JORNALISTA RESPONSÁVELRosa Maria Lopes

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

NEJA - Núcleo de Educação de Jovens e Adultos

3462 0093 e 3461 1247

www.uneb.br/neja

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Apresentação

Fazendo da rua o seu local de trabalho, oferecem-nos guloseimas e

bugigangas de empresas transnacionais, made in China, Taiwan ou no

Paraguai. Para vender em feiras populares e também na escola, levam

empadinhas, coxinhas de galinhas, trufas, toalhinhas de crochê e outras

mercadorias produzidas em âmbito familiar ou comunitário. Depois de

viver uma longa experiência de trabalho com carteira assinada, muitos

foram parar no olho da rua: entre tantos biscateiros encontramos ex-

operários metalúrgicos, da construção civil e de outros setores

1industriais. (TIRIBA; SICHI, 2011, p.241)

Aprender a ler e aprender como escrever a palavra, de modo que alguém

possa lê-la, é algo que vem sendo perseguido por milhares de homens e

mulheres nos assentamentos, nas roças, nos povoados, nas cidades grandes e

pequenas, em todas as regiões do Estado da Bahia e do Brasil.

Diferentes no que diz respeito ao gênero, ao tempo de vivência, à questão

étnico-racial, são todos pertencentes à classe trabalhadora, na medida em que

têm de produzir a própria existência. “Assalariados, associados, ou ‘por conta

própria’, fixos ou temporários, imersos em shoppings centers ou em mercados a

céu aberto. Fazendo da rua seu local de trabalho [...]” como nos dizem Tiriba e

Sichi (2011, p.241), pesquisadoras do campo do Trabalho e da Educação de

Jovens e Adultos, na epígrafe escolhida por nós para essa reflexão.

Todos eles portadores de uma igualdade formal, aquela decorrente da

cidadania, contudo, vivenciam a desigualdade social e a pobreza. Os jovens e os

adultos trabalhadores “Na espera de dias melhores retornam aos bancos

escolares, com o intuito de, no futuro próximo, ajudar no estudo dos filhos e dos

netos e, assim, prosseguir na labuta da vida.” (TIRIBA; SICHI, 2011, p.265). As

classes de alfabetização instituídas nos Espaços Formais e Não-Formais, têm se

constituído como ambientes em que se busca garantir a esses homens e

mulheres a aquisição da leitura e da escrita.

Trabalhando no artesanato de cipó, em uma comunidade no entorno da

cidade de Senhor do Bonfim, no Território do Piemonte Norte do Itapicurú, nos diz

um desses homens que participou do Programa Todos pela Alfabetização / Brasil

Alfabetizado “Não aprendi mais por causa da vista, não enxergo bem de perto.

Leio alguma coisa, mas só se for com letra grande.” Outra participante do

Programa, que produz sua existência trabalhando ao lado do marido, em outra

região da Bahia, nos diz “[...] aprumei minha letra. [...] mas poderia aprender

mais. Mas eu não enxergava bem, por causa das vistas.” (NEJA, 2012).

Todos em busca de uma vida digna. Esperançados, lutaram e continuam

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lutando pelo direito à vida, ainda que não tenham a vida que desejariam ter. Até

aqui, esses jovens e adultos não têm tido acesso a uma educação que possua como

horizonte o desenvolvimento de todas as dimensões humanas, “[...] dimensões que

se tecem e se plasmam nos planos material, cultural e espiritual, como manifestação

das relações que os seres humanos, mediados pelo trabalho, estabelecem entre si

e com a natureza.” (TIRIBA; SICHI, 2011, p.268).

A reflexão sobre os Programas de Alfabetização, sobre a Educação de Jovens e

Adultos requer questionamentos sobre a educação da classe trabalhadora. E, nesse

sentido, há que se entender que a Escola, assim como as classes de alfabetização

do Programa Todos pela Alfabetização/ Brasil Alfabetizado trazem o(s) mundo(s) do

trabalho em suas entranhas.

O conhecimento da cultura desses mundos do trabalho se constitui em um

manancial valioso para a definição de políticas de Estado, no campo da

responsabilidade social das empresas e ou de organismos não-governamentais

para a educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, dentre outras.

A Pró-Reitoria de Extensão da Universidade do Estado da Bahia, por meio do

Núcleo de Educação de Jovens e Adultos, vem assumindo o desafio da

concretização do desejo desses homens e mulheres participantes do Programa

Todos pela Alfabetização/ Brasil Alfabetizado em todas as regiões do Estado,

resultando na busca de soluções que apresentam, como referência, a produção

social da existência da classe trabalhadora.

Essa existência tem sido contada/presenciada/investigada por todos aqueles

que vêm assumindo, pela UNEB, o desafio de atuar como Unidade Formadora no

Programa, numa lógica em que a universalização da educação não se faz possível.

É desse lugar que repartimos, com cada um de vocês, um pouco do que têm sido

o partilhar dessa experiência com os jovens, os adultos e os idosos que teimam em

nos dizer de suas necessidades e do que são capazes de fazer para alcançar a vida

que desejariam ter – uma vida digna.

Esse Caderno é a concretização de uma parte do que estamos por concluir e,

que dizem das estratégias de trabalho e de sobrevivência desses homens e

mulheres. Um Livro, um Filme, o Cinema na EJA, as Escritas... são as nossas

próximas conquistas.

Adriana dos Santos Marmori LimaVice-Reitora e Pró-Reitora de Extensão

(1)TIRIBA, Lia; SICHI, Bruna. Os trabalhadores e a escola: de olho nas culturas do trabalho. In. TIRIBA, Lia.; CIAVATTA, Maria. Trabalho e Educação de Jovens e Adultos. Brasília, Líber Livro e Editora, UFF, 2011, p.239-275.

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As experiências vividas, sonhadas e sofridas, ao longo dos oito meses de atuação na segunda etapa do Programa TOPA - Todos Pela Educação/Brasil Alfabetizado (2008/2009), e os saberes construídos nessa itinerância, compõem um resultado que estão além do explícito nos relatórios, porque relacionados com os sentidos que não são perceptíveis nos documentos, mas no olhar, no sorriso, nas lágrimas, nos calos, nas histórias de vida de cada um.

Nossas histórias entrelaçadas trazem a marca de sujeitos excluídos, tomados muitas vezes como incapazes de construir pensamento relevante, mas que expressam forças existenciais de subjetividades fortes e capazes de um protagonismo social que permite, mesmo em condições adversas, a manutenção de sua sobrevivência e do sentido de que é preciso intervir como sujeito histórico na elaboração de relações humanas mais justas e inclusivas.

nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa não o que acontece, ou o que toca” (LARROSA, 2002, p 21), e de saber da experiência, uma “elaboração do sentido ou do sem-sentido do que nos acontece” (LARROSA, 2002, p 27), mostraremos aqui as marcas de sujeitos encantados com a possibilidade de conhecer, apaixonados pela busca, pela descoberta, desejosos por compartilhar o pouco que sabem, pois percebem que assim têm uma nova oportunidade de conhecer. Aventureiros, no melhor sentido para essa palavra, com coragem para mergulhar nas águas escuras e profundas do saber, onde quase tudo é possível / impossível, conscientes da dor que tudo isso sempre traz.

Nesse percurso, nos damos conta cada vez mais que educação não é lugar para fracos, não é lugar para pessimistas. É lugar de sonhadores, mas daqueles dispostos a concretizar os sonhos. É lugar de guerreiros, de conquistadores, de artistas e desbravadores. Na fala de Prigogine: “Há pessoas que temem as utopias, eu temo a falta delas”, vamos objetivando as utopias na caminhada...

Tomando de Larrosa os conceitos de experiência, como algo que “

Prefácio

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O Programa TOPA - Todos pela Alfabetização/Brasil Alfabetizado

Em 2003, o Governo Federal lança o Programa Brasil Alfabetizado e, em 2007, o Governo do Estado da Bahia lança em articulação com o Brasil Alfabetizado, o Programa Todos pela Alfabetização. O Programa TOPA–Todos pela Alfabetização/Brasil Alfabetizado intenciona “elevar o nível de alfabetismo de pessoas jovens, adultas e adultos idosos, a fim de garantir-lhes as oportunidades necessárias à apropriação da leitura, da escrita e da numeralização, propiciando-lhes às condições objetivas para intervir na sua realidade” ( PPAlfa, SEC-BA, 2007).

A concepção de alfabetização é aquela de alfabetizar na perspectiva do letramento, isto é, alfabetizar de modo que o alfabetizando possa apropriar-se da leitura, escrita e numeralização, fortalecendo sua condição de sujeito atuante no contexto social, econômico, ambiental e cultural.

Por meio de parcerias estabelecidas com empresas públicas e privadas, movimentos sociais, Universidades e Prefeituras Municipais, o Programa vem sendo desenvolvido nos Territórios de Identidade do Estado da Bahia.

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O Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (NEJA)

O Núcleo da Educação de Jovens e Adultos (NEJA), da Pró-Reitoria de Extensão da UNEB, foi instituído com o objetivo de agregar, fomentar e implementar pesquisa e extensão na área de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nessa direção, vem realizando, em parceria com os vários Departamentos da UNEB, ações diversas no campo da formação de educadores da EJA.

Destaca-se a participação nos debates realizados pelo Fórum da Educação de Jovens e Adultos da Bahia, com representação nos Encontros Nacionais da Educação de Jovens e Adultos (ENEJA), desde 2002, bem como, a atuação na Agenda Territorial Integrada de Alfabetização e EJA, na Conferência Estadual de Educação e na VI Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA VI), que ocorreu em Belém, em dezembro de 2009.

A participação na Formação de professores da rede Estadual que atuam na EJA, também tem sido uma realidade efetiva, inclusive com a realização do projeto Formação de Professores em Serviço: Aprendizagem ao longo da vida em 2008.

O Núcleo da Educação de Jovens e Adultos (NEJA), sob a coordenação colegiada das docentes Maria de Fátima Urpia e Maria José de Faria Lins, assume a Formação Inicial e o Acompanhamento das ações do Programa Todos pela Alfabetização/Brasil Alfabetizado, nos municípios integrantes dos Territórios de Identidade do Estado da Bahia.

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A Universidade do Estado da Bahia

A Universidade do Estado da Bahia - UNEB é uma instituição de Ensino Superior, pública, gratuita, mantida pelo Governo do Estado, por intermédio da Secretaria da Educação do Estado - instituída pela Lei Delegada 66, de 1º de junho de 1986. Presente em todas as regiões da Bahia, estrutura-se em 29 Departamentos por meio de um sistema multicampi.

O objetivo mais amplo da instituição é produzir e socializar o conhecimento voltado para a formação do cidadão, atuando dentro das prerrogativas da autonomia universitária na solução dos problemas gerais, regionais e locais, com base nos princípios da ética, da democracia, da justiça social e da pluralidade étnico-cultural.

A Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) vem desenvolvendo ações extensionistas, atendendo a um público que compreende indivíduos nos tempos de vivência da adolescência, da juventude e da adultez. A prioridade atribuída pela UNEB à extensão universitária deve-se ao seu forte comprometimento social com as comunidades, as quais têm nas ações de Extensão a possibilidade concreta de ir modificando a realidade objetiva pelo acesso a estratégias que podem ser usadas na resolução de diferentes problemas de seu cotidiano.

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A Afetividade no Cotidiano do Programa

“Nesse momento me questiono sobre a função social da leitura e da escrita, vejo a sua importância, ao mesmo tempo penso nos saberes desse alfabetizador, como são importantes, associados aos fios que entrego a fim de contribuírem no bordado que irá contribuir no corte feito no tecido no passado. Penso na visão de mundo dos alunos da EJA é bastante peculiar.Protagonistas de histórias reais e ricos em experiências vividas, os alunos jovens e adultos configuram tipos humanos diversos. São homens e mulheres que chegam à escola com crenças e valores já constituídos. E, nessa teia, as linhas se entremeiam, tornam-se consistentes com os saberes dos alfabetizadores também protagonistas do ato de alfabetizar.”

“Aqui com os alunos eu acho tudo bem, gosto de dar aula, eles me convidam, final de semana eu vou passear na casa deles, almoço, durmo, é muita amizade. Eu adoro dar aula para eles. São atenciosos e muito agradecidos.”

Alfabetizadora de Seabra

“O entusiasmo, a determinação, a alegria, o esforço, a dedicação e a solidariedade foram as facilidades que encontrei no desenvolvimento de minhas atividades.”.

Alfabetizadora de Candiba

Formadora

O conceito de amorosidade é pensado por Freire (1980; 2005); Maturana e Rezepka (2003) e Maturana e Varela (2005) como condição inseparavelmente ligada ao processo de socialização e humanização. O amor é parte constitutiva da biologia humana. Somos animais relacionais que necessitamos do outro para garantia do nosso desenvolvimento físico, mental e social. Para a biologia do conhecimento, o amor é um fenômeno essencial e cotidiano nas relações humanas. Freire, ao longo das suas obras, enfatizou a necessidade do reconhecimento de que “nenhum de nós está só no mundo. Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros”. (1989 p. 26).

A amorosidade necessária para a humanização da humanidade, como insistentemente sinalizou, se dá através do compromisso ético e político, do respeito às diferenças, da disponibilidade para o diálogo. Enfim, da abertura respeitosa ao outro, à sua realidade, da certeza da incompletude humana, do papel da consciência construindo-se na práxis. Como prática estritamente humana a educação se dá no encontro, convivência e relação, em que a vida e a emoção se fazem presentes. Sem amorosidade nenhum projeto educativo pode ser viabilizado.

Sílvia BenevidesFormadora de Valença

Ibirapuã Caetité Ourolândia AramariSouto Soares

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Em Mata de São João, na comunidade Domínio dos Deuses, a vida não se dissocia da escola e a escola não se dissocia da vida, é o que o cenário nos desvenda. A casa de barro, que é a casa de farinha transformada em escola, é a própria vida que está ali imbricada, revelando-se em espaços multivivenciais. A alfabetizadora de Mata de São João está ali envolvida com o ato de educar. Sua comunidade anseia pela leitura da palavra, tão importante nesses dias. Percebe-se que o “mundo” esta educadora já lê como a palavra, e importante para ela é ensinar a leitura e a escrita da palavra como ato essencial e humanizador, já que é esta que trará possibilidades na busca pela emancipação.

E assim, a parede que pendura os quadros, as obras de arte construídas pela professora, é a mesma que acolhe os livros e os utensílios do feitio da farinha. É ainda, nesse espaço de vida que se realiza o trabalho enquanto subsistência necessária para a sobrevivência e, ao mesmo tempo, os afazeres do cotidiano “lavar prato, cozinhar...” e o compartilhar dos sonhos e das possibilidades da pessoa humana em busca do “ser mais”. O sentimento de pertencimento que move a ação dessa alfabetizadora em Mata de São João nos impulsiona a acreditar mais e mais na alfabetização desses sujeitos da história, da nossa história, da história do TOPA. Sujeitos que, na simplicidade do ser, dimensionam as nossas práticas.

Pensar nesses sujeitos e planejar a maneira de melhor conduzir a Educação de Jovens e Adultos, na verdade, é se perguntar: “Quem é cada um de nós senão um emaranhado de vivências, subjetividades, saberes, dimensões e possibilidades?” E esses sujeitos que compõem a história do Programa são diversos, múltiplos. Reconhecer que é na integração dessas culturas e por meio das vivências que, enquanto educadores comprometidos e sedentos com o propósito de uma educação para a ética, para o respeito, democrática e libertária, iremos construindo, a cada dia, o nosso maior propósito educacional: a emancipação desses sujeitos. Dessa forma, os sorrisos ao assinar o nome, ao percorrer caminhos e mais caminhos com o caderno na mão, ansiosos para chegar até a escola, são os motivos mais significantes dessa jornada.

Sabe o que fica disso tudo? A certeza de que as mudanças são possíveis quando se sonha, quando se quer, se almeja. E, nessa caminhada diária, significativas mudanças vão sendo visualizadas e, de fato, elas são percebidas em longo prazo. Mas quais são as verdadeiras e significativas transformações que não demoram? E demoram. É perceptível o sonho nas expressões dessa mulher, dessa mãe, não sei... Dessa guerreira, dessa líder, dessa alfabetizadora com seu povo. No seu linguajar, as expressões e os sentimentos de luta por energia em sua comunidade, de luta por uma simples bateria que talvez resolvesse o problema imediato da comunidade “comum”, que peleja para alcançar dias melhores e tem a certeza de que a leitura e a escrita são essenciais para o seu povo. Povo este que permanece unido, e juntos gritam dizendo: Nós estamos aqui e sabemos da importância que vocês tem em nossas vidas, portanto juntos podemos modificar, nós e vocês de lá, do Estado, da UNEB da PROEX do NEJA, do TOPA...

Elaine Joyce Souza BritoSupervisora do Programa TOPA no NEJA

Mata de São João

História de uma Alfabetizadora Em Mata de São João, o Programa Todos pela Alfabetização

também constrói a sua história...

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