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Comportamento | N° Edição: 2252 | 11.Jan.13 - 21:53 | Atualizado em 15.Jul.14 - 08:19

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Talentos desperdiçados

Cerca de 5% das crianças e dos adolescentes brasileirossão superdotados. Por que o País tem tanta dificuldadepara identificar e desenvolver esses pequenos gênios,que acabam indo para o Exterior

Rachel Costa e Natália Martino

MENINO PRODÍGIO

Matheus Camacho conquistou o ouro na Olimpíada Internacional

e Ciencias, superando estudantes mais velhos, e chamou

a atencao do júri, ao conquistar a nota máxima

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Matheus Camacho é brasileiro, estudante do nono ano e medalha de ouro na etapa experimental da

Olimpíada Internacional de Ciências, uma das competições científicas estudantis mais difíceis do mundo. A

sua conquista só foi revelada publicamente na semana passada. Do alto de seus 14 anos recém-

completados, o tímido aluno que ainda nem terminou o ensino fundamental foi ao Irã no mês passado.Enfrentou adversários do mundo inteiro, a grande maioria garotos mais velhos do ensino médio, e voltou

para casa com uma conquista inédita para o País: o primeiro lugar em uma das etapas mais difíceis da

Olimpíada. Na competição que venceu, ele e seus dois companheiros tiveram de resolver problemas

práticos de biologia, física e química, disciplinas que ele viu pela primeira vez no ano passado, em aulasespeciais no contraturno, já que elas não constam na grade do ensino fundamental. Além do pódio, a

equipe de Matheus conseguiu outro feito: tirou nota máxima na prova, chamando a atenção até mesmo do

júri. Habituado a encontrar indianos, chineses e russos, mas não brasileiros, entre os primeiros lugares, o

locutor não se conteve ao anunciar o título: “Olha, o Brasil não é bom só no futebol”, brincou. A surpresase justifica. Apesar de querer ser grande, falta ao País uma política sólida para a valorização de talentos –

coisa que outros emergentes como China e Índia, com seus tropeços e acertos, têm se empenhado mais

em desenvolver. É certo que o grande desafio nacional dos últimos 15 anos foi universalizar a educação,

esforço inegavelmente necessário, mas que teve como ônus desnecessário a negligência com os alunos

com altas habilidades.

Entre nossas crianças e nossos adolescentes, se usada a base de cálculo sugerida pelo americano Joseph

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Renzulli, uma sumidade nas pesquisas de superdotação, teríamos cerca de 3,15 milhões de brasileiros comaltas habilidades. O número equivale a 5% da população infanto-juvenil. “Essa é a percentagem mais

usada, embora haja outros sistemas de identificação possíveis que levam a outros percentuais”, afirma o

pesquisador, diretor do Centro Nacional de Pesquisa em Superdotados e Talentosos da Universidade de

Connecticut, nos Estados Unidos. Mas, se pela régua de Renzulli estamos falando em milhões, nos dadosdo Ministério da Educação (MEC) o número de superdotados nas escolas não passa de 11 mil, de acordo

com o Censo de 2011. Onde estariam, então, nossas crianças e nossos adolescentes com altas

habilidades? “Na própria escola, mas não há quem as identifique”, diz Susana Barrera Pérez, presidente do

Conselho Brasileiro para a Superdotação e uma das poucas referências sobre o tema no País. “Não há

uma só linha de pesquisa sobre o assunto nas universidades brasileiras e o tema passa batido para osalunos de graduação, que serão os futuros educadores. Sem formação adequada, como eles vão saber

identificar esses alunos?” No ensino superior, a única instituição a oferecer uma cadeira sobre

superdotação a seus futuros educadores é a Universidade de Brasília (UnB) e, em todo o País, há apenas

13 doutores dedicados ao assunto, incluindo Susana. Nos Estados Unidos, país com maior número deprêmios Nobel, são 29 Estados com programas de mestrado e, em pelo menos 21 Estados há linhas de

pesquisa no doutorado voltadas para a superdotação, segundo o último relatório da Associação

Americana para Crianças Superdotadas.

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Sem conhecimento adequado, proliferam mitos e preconceitos sobre as crianças com altas habilidadesdentro das escolas brasileiras. Um deles é o de que esses meninos e meninas são casos raríssimos de

prodígios ou gênios com grande conhecimento acadêmico – o que não é necessariamente verdade (leiaquadro à pag. 45). Nas quase duas décadas em que trabalha com o tema, Susana se acostumou a ouvir

em suas palestras professores dizendo que não possuíam alunos com altas habilidades. “Trabalho naperiferia, isso é coisa de escola particular”, costumam bradar os educadores. “Com duas horas depalestra, porém, eles já mudam de opinião e conseguem se lembrar de estudantes com altas habilidades.”

Para tentar corrigir esse problema, o MEC iniciou em 2008 um tímido projeto de criação dos Núcleos deAtividades de Altas Habilidades (NAAHs), que deveriam servir como centros para reunir e desenvolvernossos pequenos talentos. Cinco anos depois, porém, além de poucos (são apenas 27 centros, restritos às

capitais), vários desses núcleos não estão nem em funcionamento, como atestou Susana ao fazer um

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estudo sobre os NAAHs. “E a dificuldade para capturar os talentos não é exclusiva à rede pública. Ocorretambém na rede privada.” Para ser brilhante no Brasil, mais que ter altas habilidades, é preciso ter sorte. Simone Camacho, mãe de Matheus, reconhece que se seu filho hoje está satisfeito com suas conquistas foi

por uma feliz conjunção de fatores. Uma professora mais dedicada na infância, a sorte de encontrar umapsicóloga especializada em altas habilidades quando suspeitou que o menino estava deprimido, um vizinho

que também tinha altas habilidades e um professor que passou a atuar como guia de Matheus nos estudos.Nem todos, porém, contam com essa sorte e por isso é preciso existir uma política pública nacional paraencontrar esses jovens talentos. “Talvez, os alunos que estejam em situação mais desconfortável na escola

hoje sejam os talentosos, em especial na rede pública”, diz Ricardo Madeira, professor da Faculdade deEconomia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP). “Sem estímulo, eles se

sentem perdidos”, afirma Madeira, que no último ano divulgou um estudo mostrando que só de mudaresses pequenos talentos de escola – dando-lhes a oportunidade de estudar em instituições de melhorqualidade – o potencial de aprendizagem deslancha.

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O professor da USP comparou estudantes do sétimo ano da rede pública “fisgados” pelo Instituto Socialpara Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart) com seus pares. Enquanto os primeiros foram para

colégios melhores, os demais seguiram nas mesmas instituições. Após dois anos, a média daqueles quehaviam mudado estava muito maior. Marco Antônio Pedroso, 21 anos, foi para o programa em 2005,após conquistar um ouro na Olimpíada Paulista de Matemática. A oportunidade representou uma guinada

para o menino, que, em um colégio melhor, se sentiu desafiado. “Antes eu só tirava 10, mas estavaacomodado”, afirma. A dose de ânimo fez Pedroso ganhar outros prêmios olímpicos e criar, ele próprio,

com a ajuda do irmão mais novo, um projeto para formar outros medalhistas em sua cidade natal, SantaIsabel, a 60 quilômetros de São Paulo. “Queria que os alunos soubessem das olimpíadas para que elas osajudassem da mesma forma como me ajudaram”, diz. Desde junho de 2010, Pedroso acompanha de longe

o projeto que criou. Nos Estados Unidos o jovem agora dedica seu tempo às aulas do MassachusettsInstitute of Technology (MIT).

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“A educação inclusiva está falhando ao excluir esses alunos com altas habilidades”, diz Ângela Virgolim,referência brasileira quando o assunto é superdotação e professora do departamento de psicologia escolare desenvolvimento da UnB. Do mesmo modo que as crianças com déficit, as altamente talentosas estãoincluídas no capítulo da educação especial do sistema educativo brasileiro. A razão é porque nos doisextremos deve-se ter atenção extra para ajudar os estudantes a se desenvolver de forma saudável. O que

ocorre na realidade das escolas, porém, passa longe do previsto. “Ao contrário da deficiência, na altahabilidade não existe uma marca física, o que torna mais difícil definir quem são esses estudantes”, dizSusana. Somem-se a isso os mitos que acompanham os alunos com altas habilidades. “O pior deles éaquele que diz que o superdotado não precisa de ajuda porque vai cumprir tudo por sua conta”, disse àISTOÉ Ella Cosmovici, autora de “Nossas Crianças Superdotadas” (2011) e professora da Universidade

de Stavanger, na Noruega. Abandonado pelo sistema, é comum esse aluno não saber que caminho

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percorrer, como aconteceu com Leonardo Florentino, 14 anos. “Eu não gostava da aula porque era tudomuito básico. Aí os professores me mandavam ir estudar sozinho na biblioteca”, diz. O conflito com aescola só terminou no terceiro ano, quando ele conseguiu uma bolsa em outra instituição, repleta de aulasextras na grade curricular, e começou a acumular troféus em campeonatos de conhecimento. Em casa,

coleciona medalhas de matemática, física, química, astronomia, robótica e redação. Em muitos casos, a reclamação da aula enfadonha poderia ser resolvida com uma atitude simples: avançara criança para o ano seguinte. “No Brasil, porém, a aceleração ainda é um tema bastante polêmico,embora em outros países seja muito claro que a criança deve ser acelerada quando necessário”, afirma aprofessora Ângela, da UnB. A advogada Cláudia Hakim, 41 anos, conhece bem de perto esse drama.

Seus dois filhos, uma menina de 11 anos e um menino de 8, têm superdotação e a sugestão para quefossem avançados de turma foi feita por um psicopedagogo que os avaliou após a coordenadorapedagógica do colégio perceber o desenvolvimento acelerado das crianças. A dificuldade, porém, veio decima, da diretoria de ensino, órgão ligado à Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. No caso damenina, a batalha já está resolvida e a matrícula legalizada. Já o menino se mantém na turma avançada por

uma liminar judicial. Os problemas consecutivos tornaram a mãe uma militante da causa. Só no último ano,Cláudia advogou para 15 famílias em situação semelhante. “É direito nosso e temos de lutar por ele”, diz.O nó quando se fala em aceleração não está na lei, mas sim no sistema educacional. “Nossas escolas nãocontam com a figura do psicológo educacional, que é o profissional que vai comparar o desempenhoacadêmico com a maturidade emocional e dar o parecer sobre a possibilidade de a criança acompanhar as

aulas com alunos mais velhos”, diz a professora Ângela.

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Negligenciar o desenvolvimento desses talentos não é prejudicial apenas para eles. Ao agir dessa forma, oPaís perde, no mínimo, boas oportunidades. “Crianças com altas habilidades são um precioso recursonacional que precisa ser protegido, nutrido e desenvolvido”, disse à ISTOÉ Steven Pffeifer, professor daUniversidade Estadual da Flórida e autor do “Manual para Superdotação em Crianças” (2009). Pffeifer éautor de um teste para identificar superdotados, bem popular entre colégios americanos. Sem investir em

programas para altas habilidades, esse recurso se esvai. “Perdem-se líderes, invenções, profissionais compotencial para se tornar nomes de destaque em diversas áreas do conhecimento”, afirma o brasileiroNielsen Pereira, docente da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, ele próprio um pesquisadorque saiu do País para desenvolver suas pesquisas.

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O resultado é que seja no futebol, seja na academia ou nas artes, os brasileiros com altas habilidadesgeralmente têm o mesmo destino: o Exterior. Só na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onúmero de estudantes do País subiu 20% entre 2007 e 2011. Um deles é Gabriel Guimarães, 19 anos,

recém-admitido pela instituição. A decisão de buscar formação fora foi tomada há quatro anos e veiodepois de seguidas frustrações no sistema de ensino brasileiro. O primeiro contato com a universidadeamericana foi por meio de um de seus cursos online, no fim do ensino médio. Enquanto a maior parte dosalunos levou quatro meses para assistir a todas as aulas virtuais, Guimarães viu tudo em três semanas.Quando fez a aplicação para Harvard, não deu outra: foi selecionado. A aplicação é apenas uma das

formas que essas instituições mantêm para conseguir as melhores cabeças. “Nas olimpíadas acadêmicasinternacionais sempre há ‘olheiros’ das grandes universidades. Quando o aluno desce do pódio, eles jáentregam o cartão convidando-o a conhecer a instituição”, diz o professor de física Ronaldo Fogo,responsável pelas turmas olímpicas de física do Colégio Objetivo de São Paulo. Fogo foi quem ajudouMatheus Camacho a se encontrar no universo das ciências. Acostumado a lidar com alunos olímpicos, o

professor sabe que o futuro que espera Matheus, assim como tantos outros de seus alunos, está nasuniversidades internacionais. “O Brasil está perdendo o bonde da história por essa dificuldade deidentificar, desenvolver e reter nossos talentos.”

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PUBLICADO NA EDIÇÃO2252

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