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Pneumologia Paulista | Março 2018 1 ISSN (on-line): 2448-0533

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Pneumologia Paulista | Março 2018 1

ISSN (on-line): 2448-0533

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SOCIEDADE PAULISTA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIABIÊNIO 2018/2019

Diretoria

Presidente: Roberto Rodrigues JúniorVice-Presidente: Frederico Leon Arrabal FernandesSecretário Geral: Willian Salibe Filho1ª Secretária: Roberta Pulcheri RamosDiretor de Finanças: José Gustavo Barian RomaldiniDiretor de Assuntos Científicos: Rodrigo Abensur AthanazioDiretora de Divulgação: Eloara V. M. Ferreira Alvares da Silva CamposDiretora de Assuntos do Interior: Suzana Erico Tanni MinamotoDiretor de Informática: Marcos Naoyuki Samano

COMISSÕESDefesa Profissional: Lilian Serrasqueiro Ballini Caetano

Ensino: Gustavo Faibichew Prado

Promoções: Evelise Lima

Assuntos da Grande São Paulo: Adriano Cesar Guazzelli

Publicações: Regina Célia Carlos Tibana

DEPARTAMENTOS

Cirurgia Torácica:Luis Carlos LossoAlessandro MarianiAndré Miotto

Endoscopia Respiratória:Diego Henrique RamosFelipe Nominando Diniz OliveiraViviane Rossi Figueiredo

Pediatria:Karina Pierantozzi VerganiAdyleia Aparecida Dalbo Contrera ToroClaudine Sarmento da Veiga

Fisioterapia Respiratória:Luciana Dias ChiavegatoAdriana Claudia LunardiLara Maris Nápolis Goulart Rodrigues

CONSELHO FISCAL:Efetivos:Ricardo Mingarini TerraMaria Raquel SoaresMaria Vera Cruz de Oliveira Castellano

Suplentes:Silvia Carla S RodriguesLiana Pinheiro SantosCiro Botto

CONSELHO DELIBERATIVO

Regina Maria de Carvalho PintoOliver Augusto NascimentoMônica Corso PereiraJaquelina Sonoe Ota ArakakiJosé Eduardo Delfini CançadoRafael StelmachRoberto StirbulovAna Luisa Godoy FernandesMário Terra FilhoEliana Sheila Pereira da Silva MendesJorge NakataniAlberto CukierCarlos Alberto de Castro PereiraMiguel BogossianFrancisco Vargas SusoManuel Lopes dos SantosNelson Morrone

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REGIONAIS

Regional do ABCPresidente: Mônica Silveira LapaSecretária: Franco Chies Martins

Regional de Araraquara / Bauru / BotucatuPresidente: Marcos Abdo ArbexSecretário: José Eduardo Bergami Antunes

Regional de CampinasPresidente: Paulo Roberto TonidandelSecretário: Mauricio Sousa de Toledo Leme

Regional de MaríliaPresidente: Gisele César de Rossi AgostinhoSecretária: Maria de Lourdes Marmorato Botta Hafner

Regional de Ribeirão PretoPresidente: Luis Renato AlvesSecretária: Andrea de Cassia Vernier Antunes Cetlin

Regional de SantosPresidente: Alex Gonçalves MacedoSecretário: Thiago Fernandes Leomil

Regional de São José dos CamposPresidente: José Eduardo de OliveiraSecretária: Márcio Adriano Leite Bastos

Regional de São José do Rio PretoPresidente: Leandro Cesar SalvianoSecretário: Clélia Margarete Trindade Borralho

SUB-COMISSÕES

Câncer - Ilka Lopes Santoro

Circulação - Jaquelina Ota

Doenças Intersticiais - Regina Célia Carlos Tibana

D.P.O.C. - Flavio Arbex

Epidemiologia - André Nathan

Infecções Respiratórias e Micoses - Mauro Gomes

Pleura - Roberta Sales

Doenças Ambientais e Ocupacionais - Ubiratan de PaulaSantos

Tabagismo - Aldo Agra de Albuquerque Neto

Terapia Intensiva - Ricardo Goulart

Tuberculose - Marcia Telma Guimarães Savioli

Função Pulmonar - Marcelo Macchione

Imagem - Gustavo de Souza Portes Meirelles

Doença Pulmonar Avançada - Ricardo Henrique deOliveira Braga Teixeira

Exercício e Atividade Física - André Luis Pereira deAlbuquerque

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Apresentação

Prezado (a) leitor (a),

O Tabagismo é um grave problema de saúde pública e é fator causal de inúmeras doençasincapacitantes e fatais, dentre as quais destacam-se as doenças pulmonares.

No Pneumologia Paulista deste mês, os autores descrevem um caso com acometimento pulmonarmenos frequente pelo tabaco e a abordagem desta doença causada pela dependência da nicotina,que requer uma avaliação individualizada do paciente e tratamento das doenças associadas.

Boa leitura,

Dra. Regina Célia Carlos TibanaEditora-chefe do Pneumologia Paulista

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Tabagismo e Doenças Pulmonares: InterfacesIsabela Maggioni Holz1, Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano2, Simone Lobo Krupok Matias1

1Médica residente do Serviço de Pneumologia (DAR) do HSPE/IAMSPE2Diretora do Serviço de Pneumologia (DAR) do HSPE/IAMSPE

Maria Vera Cruz de Oliveira [email protected]

Caso Clínico

Paciente do sexo masculino, pardo, 47 anos, procedentede São Paulo, técnico de radiologia, procurou oambulatório de pneumologia após internação hospitalarpor quadro de dispneia aos mínimos esforços e tosse secaapós exposição aguda à resina de fixação para tinta deparede. No momento da consulta referia dispneia aosmoderados esforços, tosse seca e intolerância ao exercíciofísico. Negou febre, expectoração, ortopneia, dor torácica,perda ponderal ou outros sintomas.

Antecedentes e hábitos de vida: negava cardiopatia,atopias ou pneumopatia prévias. Referia tabagismo atualcom início aos 20 anos, consumo em média de dois maços/dia com carga tabágica de 54 maços/ano.

Ao exame clínico: bom estado geral, eupneico,acianótico, sem estigmas de doença reumatológica, semalterações cutâneas, saturação periférica de O2 (SpO2) de96% em ar ambiente, frequência cardíaca de 85 bpm,baqueteamento digital. Na propedêutica pulmonarapresentava murmúrio vesicular presente com estertoresfinos em bases. Restante do exame físico sem alterações.

Foram solicitados exames para elucidação diagnósticae na tomografia computadorizada de tórax de altaresolução (TCAR - Figura 1), foram visualizadas asseguintes alterações: presença de opacidade irregularapical direita, associada à tênue infiltrado reticular; áreashipotransparentes centrolobulares difusas compatíveiscom enfisema, opacidades focais em vidro foscocentrolobulares difusas e banda parenquimatosa em loboinferior esquerdo.

Prova de função pulmonar completa (Tabelas 1 e 2):CVF 3,39 (87%), VEF1 1,53 (47%), VEF1/CVF 55%, CPT 7,4(120%), RV 3,31 (171%), sGaw 0,06, DCO 13,04 (47%).

Foram feitas as hipóteses diagnósticas de pneumonitede hipersensibilidade aguda após exposição a resina paratinta de parede, bronquiolite respiratória associada adoença pulmonar intersticial (BR-DPI) e doença pulmonarobstrutiva crônica (DPOC).

Figura 1. TCAR: Opacidade irregular, infiltrado reticular, enfisemacentrolobular, opacidades focais em vidro fosco difusas e bandaparenquimatosa em lobo inferior esquerdo.

Foi prescrito tiotrópio 2,5µcg uma vez ao dia ebudesonida associada a formoterol 12/400µcg umacápsula de 12/12h e o paciente foi encaminhado para oambulatório de cessação de tabagismo.

Exames complementares adicionais foram solicitados:broncoscopia sem alterações e biópsia transbrônquicacom histologia inconclusiva. Citologia diferencial dolavado broncoalveolar: 32,2% macrófagos, 0,77%linfócitos e 66,9% neutrófilos.

Em consulta no Ambulatório de Cessação do Tabagismofoi realizada avaliação dos critérios clínicos dedependência física à nicotina. O paciente relatava fortedesejo ou compulsão para consumir a substância(nicotina), além de dificuldade de controlar o uso damesma em termos de início, término ou nível de consumo.Relatava também necessidade de doses crescentes danicotina para alcançar efeitos originalmente produzidospor doses mais baixas, evidenciando uma tolerância àsubstância, e persistência no uso da nicotina apesar daevidência clara das consequências nocivas à saúde.

No teste de Fagerström, o paciente referia que fumava seuprimeiro cigarro entre 31 e 60 minutos após acordar, comuma média de mais de 30 cigarros por dia; negava fumarquando precisava ficar de cama a maior parte do tempo;achava difícil não fumar em lugares proibidos; o cigarro dodia que trazia mais satisfação era o da manhã e ele fumavacom mais frequência neste período também. O pacientetotalizou sete pontos (elevado grau de dependência).

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De acordo com o Modelo Transteórico Motivacional deProchaska e DiClemente o paciente se encontrava na fasede preparação para cessação de tabagismo. Negava haveroutros tabagistas no seu domicílio e que nunca haviaparado de fumar anteriormente. Relatava ser ansioso,negava sintomas depressivos e não tinha antecedentes detratamento psiquiátrico prévio. Foram feitas intervençõesmotivacionais com orientações e entrega de cartilha cominformações sobre treinamento de habilidades paracessação do tabagismo e orientado a escolher uma datapara interrupção definitiva.

O paciente foi encaminhado para acompanhamentoindividual e bupropiona 150mg (8 e 16hs) foi iniciada. Após15 dias o paciente referia redução do número de cigarros,não ultrapassando cinco cigarros ao dia. Solicitado queobservasse os momentos de maior fissura e que fossetentando reduzir o número de cigarros com o objetivo decessar nos próximos dias. Orientado para que ficasse atentoàs situações que levavam ao consumo automático decigarro (café, cerveja, stress, etc). Mantida a bupropiona,prescrito adesivo de nicotina (21mg/dia), solicitada novaTCAR de tórax e nova prova de função completa.

No retorno referiu que não estava mais fumando.Realizada monoximetria (COex): 4ppm/0.64%COHB,confirmando a cessação do tabagismo. Enfatizada aimportância de não interromper o tratamentomedicamentoso, permanecer atento às situações quepodem causar recaída e de continuar o tratamento regulardas patologias pulmonares.

A TCAR de tórax realizada dois anos após a cessação dotabagismo (Figura 2) evidenciou enfisema e nóduloscentrolobulares predominantes em lobos superiores, bandasparenquimatosas e atelectasias laminares localizadas emlobos inferiores, lobo médio e língula e opacidade em vidrofosco em regiões posteriores dos lobos inferiores.

Com os achados das TCAR associados ao histórico detabagismo e a queixa de dispneia, estabeleceu-se odiagnóstico de BR-DPI para o paciente, com evidente melhoraclínica e radiológica após a cessação do tabagismo.

Figura 2. TCAR: enfisema e nódulos centrolobulares, bandasparenquimatosas, atelectasias laminares e opacidade dicreta em vidro fosco

Ao avaliar a evolução das provas de função pulmonar(Tabela 1), o paciente apresentava um distúrbioventilatório obstrutivo de grau moderado, com variaçãosignificativa da CVF, CI e do VEF1 após broncodilatador,sem normalização funcional; volume residual elevadoindicando aprisionamento de ar; condutância especificadas vias aéreas reduzida e capacidade de difusão dasvias aéreas moderadamente reduzida. Este último podeestar presente tanto na doença obstrutiva quanto nadoença pulmonar intersticial. As avaliações funcionaisforam consideradas compatíveis com o diagnóstico dedoença obstrutiva.

Notou-se melhora nos padrões do teste de caminhadade 6 minutos (Tabela 2) que pode estar relacionada amelhora da doença pulmonar intersticial após a cessaçãodo tabagismo.

O paciente segue em acompanhamento regular noambulatório de pneumologia, sem novas queixas ouhistórico de exacerbações, assintomático do ponto devista respiratório e sem fumar.

Discussão

Doenças intersticiais tabaco-relacionadasA exposição ao tabaco resulta em várias alterações

nas vias aéreas e no parênquima pulmonar. Embora oenfisema represente o padrão de lesão mais comum, emalguns indivíduos podem ocorrer outras alterações comoinfiltrados difusos, fibrose pulmonar e câncer de pulmão.

A investigação diagnóstica destas patologiaspulmonares nos pacientes tabagistas é obrigatória, umavez que, como ficou definida no estudo Platino, aprevalência de DPOC entre os pacientes adultos e quefumaram mais de 10 maços/ano é 15,7%1. Da mesma formaGodoy e colaboradores2, em avaliação de tabagistas queprocuraram tratamento para cessação do tabagismo,observaram que 36,1% tinham diagnóstico de DPOC, edestes, 68,4% foram diagnósticos novos e 31,6% foramconfirmação de diagnóstico prévio.

Embora doenças como a BR-DPI, pneumonia intersticialdescamativa (PID) e histiocitose pulmonar de células deLangerhans tenham uma associação bem estabelecida como uso do tabaco, o mesmo não podemos dizer na fibrosepulmonar idiopática, fibrose pulmonar combinada comenfisema, a recentemente descrita fibrose pulmonartabaco-relacionada e a pneumonia eosinofílica aguda, quepodem ocorrer em indivíduos que se iniciaramrecentemente no tabagismo ou retomaram o hábito3,4.

A fibrose pulmonar tabaco-relacionada é uma entidaderelativamente nova, com características histopatológicasdistintas, e com manifestações clínicas inespecíficas4.

Radiologicamente, a fibrose pulmonar combinada comenfisema é reconhecida e caracterizada pela presença deenfisema predominantemente nos lobos superiores e

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15/08/2011 21/08/2013Inicial Final Inicial Final

Frequência cardíaca 88 124 74 111BORG dispneia 0 0,5 0 2BORG pernas 0 0 0 0SpO2 92% 80% 95% 85%Distância caminhada 325m 475m

Tabela 2: Testes de caminhada de 6 minutos

07/01/2011 21/08/2013 31/10/2016 Pré BD Pós BD Pré BD Pós BD Pré BD Pós BD

CVF 3,39 (87%) 3,81 (98%) 3,31 (87%) 3,27 (86%) 2,75 (72%) 3,25 (85%)VEF1 1,53 (47%) 1,74 (53%) 1,46 (46%) 1,47 (47%) 1,25 (40%) 1,56 (50%)VEF1/CVF 0,45 0,46 0,44 0,45 0,45 0,48CI 2,88 (104%) 2,82 (102%) 1,90 (70%) 2,22 (81%) 2,04 2,89VR 3,31 (171%) 3,76 (194%) 2,79 (140%) 2,79 (140%)CPT 7,04 (120%) 7,04 (127%) 6,12 (106%) 6,29 (109%)RAW 2,50 (163%) 1,93 (126%) 5,40 (353%) 5,49 (358%)sGaw 0,08 (38%) 0,11 (51%) 0,04 (21%) 0,05 (22%)DCO 13,04 (47%) 14,34 (53%)

Tabela 1. Evolução função pulmonar

fibrose parenquimatosa nos lobos inferiores na TCAR, eclinicamente aparece principalmente em homens comhistórico de tabagismo pesado e parece estar relacionadocom câncer de pulmão5.

A PID tem semelhanças com a BR-DPI, mas apresentadiferenças suficientes para situá-la em uma categoria àparte. Apesar de ter forte associação com tabagismo, aPID tem sido associada a outras causas como doenças dotecido conectivo (artrite reumatoide, esclerose sistêmica),exposição ocupacional (poeiras, vapores de solda),drogas, e infecções3,4. Caracteriza-se por espessamentoalveolar difuso, hiperplasia dos pneumócitos tipo II eacúmulo intenso de macrófagos pigmentados nosalvéolos, identificados como células epiteliaisdescamativas originalmente6. O comprometimentopulmonar tende a ser mais grave com prejuízo da trocagasosa e uma capacidade de difusão de monóxido decarbono reduzida. A TCAR evidencia extensas opacidadesem vidro fosco predominantemente na periferia pulmonare lobos inferiores7. O seguimento radiológico da PID podedemonstrar evolução tomográfica com desenvolvimentode faveolamento em até 10% a 20% dos pacientes. Assim,a distribuição de alterações intersticiais na PID às vezespode ser semelhante ao visto na Pneumonia IntersticialUsual (PIU), mas o grau de opacidade em vidro fosco e arelativa escassez de faveolamento na PID permitemdistingui-la da PIU7.

O diagnóstico definitivo da PID, assim como da BR-DPI,pode ser estabelecido por biópsia cirúrgica. A cessaçãodo tabagismo é essencial para o tratamento. Quando háexposição ocupacional, o paciente deve ser afastado. Ouso de corticosteroides pode ser indicado, porém aeficácia parece ser pequena3.

Histiocitose pulmonar de células de Langerhans (HPCL)é uma doença nodular e cística observada tipicamente emadultos jovens na faixa etária de 20-40 anos. Não hápredileção por sexo. Fumar é o maior fator de risco para odesenvolvimento desta condição e é relatada em pelomenos 90% dos pacientes com histiocitose. A fumaça docigarro é provavelmente o gatilho que induz a doença.Manifestações extrapulmonares podem ocorrer em 5-15%dos pacientes e incluem lesões ósseas, diabetes insipiduse lesões de pele8. Até 10% dos pacientes podem serassintomáticos, e 15% podem apresentar pneumotóraxrecorrente. Além do envolvimento do parênquima, oacometimento vascular culminando em hipertensãopulmonar (HP) parece ser relativamente comum empacientes com doença no estágio mais avançado. Apresença de HP é um fator prognóstico independente parao aumento da mortalidade9.

O diagnóstico inclui critérios como presença de nódulose cistos predominantemente em lobos superiores. Emestágios avançados pode haver fibrose extensa edestruição do parenquima10. Novamente a cessação dotabagismo pode estabilizar a função pulmonar e levar amelhora clínica e radiológica. Em estados avançados,tratamento com corticosteroides, imunossupressores equimioterápicos tem sido utilizado8.

A fibrose pulmonar tabaco-relacionada é uma entidaderelativamente recente, que ganhou destaqueprincipalmente entre os patologistas. Devido à falta decaracterístias clínicas e radiológicas bem definidas, odiagnóstico permanece somente por examehistopatológico. Estes incluem graus variados dealargamento septal alveolar por deposição de colágeno,associados à enfisema e BR-DPI. A fibrose pode acometerregiões subpleurais, mas também foi observada em regiõesmais profundas do pulmão. O padrão de faveolamento éraro3,4,11.

A bronquiolite respiratória está presente na maioriados tabagistas, porém quando há repercussão clínica,funcional e tomográfica ela passa a ser designada BR-DPI. Ocorre em fumantes, sem predominância por sexo,na faixa etária de 25-65 anos e com carga tabágica depelo menos 30 maços/ano. Os sintomas em geral são tosse,

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dispneia, podendo haver baqueteamento digital.Geralmente, os achados tomográficos mais comuns sãoespessamento central e periférico da parede brônquica,nódulos centrolobulares, opacidade em vidro fosco eenfisema centroacinar nos lobos superiores. A biópsiatransbrônquica tem baixo rendimento no diagnóstico, eachados do lavado broncoalveolar não sãopatognomônicos, embora a presença de macrófagospigmentados favoreça o diagnóstico de BR-DPI. Odiagnóstico definitivo requer uma biópsia pulmonarcirúrgica, mas um diagnóstico provisório pode serestabelecido com base nos achados clínicos etomográficos, excluídas outras condições3,4,12.

A cessação do tabagismo é considerada o fator maisimportante no manejo da bronquiolite respiratória. O casoaqui apresentado é de um paciente tabagista ativo queapresentava enfisema e nódulos centrolobularespredominantemente em lobos superiores, opacidade emvidro fosco em regiões posteriores dos lobos inferiores, eque com a interrupção do tabagismo apresentou melhoraclínica, funcional e das alterações tomográficas.

Tratamento do Tabagismo

O efeito benéfico da cessação do tabagismo éindiscutível, e esta é a única medida que impede aprogressão da DPOC. Apesar disto entre 30 e 70% dospacientes continuam fumando, mesmo após o diagnósticoestabelecido13.

Na consulta inicial do tabagista deve ser avaliada amotivação, o grau de dependência à nicotina através doteste de Fagerstrom, e as comorbidades (pulmonares eoutras). Neste caso, o paciente referia motivação parainterromper o tabagismo após o diagnóstico das doençaspulmonares. Podemos dizer que esta foi uma “janela deoportunidade” para que se iniciasse o tratamento paracessação do tabagismo. É citado na literatura médica quecomentar a “idade pulmonar” juntamente com o resultadoda prova de função pulmonar pode ser mais um fatormotivador e aumentar a chance de cessação do tabagismo.Parkes e colaboradores avaliaram 561 tabagistasdivididos em dois grupos: um deles recebia a “ idadepulmonar” além do resultado da espirometria. Nareavaliação após um ano com cotinina salivar, a taxa deabstinência neste grupo foi o dobro do que naqueles quereceberam só a espirometria (p= 0.005)14.

No caso aqui descrito foi feita a abordagemcomportamental utilizando-se técnicas para aumentar amotivação, como a entrevista motivacional e reforço daassertividade e da autoestima. Utilizou-se materialdidático próprio com várias informações sobre otreinamento de habilidades para lidar com os momentosde “fissura”.

Optou-se inicialmente pelo uso da bupropiona uma vezque o paciente era ansioso, e depois associamos a terapia

de reposição de nicotina (TRN) com adesivo. Desta formaaplicou-se a orientação das diretrizes que recomendam oaconselhamento comportamental associado aotratamento medicamentoso15.

Os pacientes com DPOC têm características específicasem relação ao tabagismo, como maior carga tabágica, maiordependência física à nicotina, menor grau de motivação,mais sintomas depressivos e maior dificuldade paracessação do tabagismo. É importante que se informem osbenefícios da interrupção: lentificação da perda de funçãopulmonar e diminuição do número de exacerbações.

Além da abordagem comportamental, a farmacoterapiaé essencial para diminuir os sintomas da síndrome deabstinência. Muitas vezes é necessária a associação demedicamentos e estratégias, como prolongar o tempo deuso dos medicamentos, e TRN iniciada antes do diaescolhido para a interrupção. Todos os medicamentosdisponíveis (bupropiona, vareniclina, nortriptilina enicotínicos) podem ser usados neste grupo de pacientes,desde que não apresentem contraindicações16,17. Numametanálise que avaliou 7332 pacientes com DPOC quereceberam diferentes tratamentos para cessação dotabagismo foi observado que a terapia cognitivacomportamental (TCC) com TRN (OR 5,08; p< 0,0001) foimais efetiva do que a TCC com bupropiona (OR 3,32; p<0,002)18. Um estudo que avaliou o uso de vareniclina ouplacebo em pacientes com DPOC encontrou após um ano:18,6% para a vareniclina contra 5,6% (OR 4,04; p<0,0001)19.

É descrito que a atividade física pode auxiliar o pacientea deixar de fumar. Van Remoortel e colaboradorescompararam pacientes com DPOC, tabagistas sem DPOC esaudáveis, e observou que os tabagistas apresentavamcomorbidades aumentadas tanto quanto os pacientes comDPOC, concluindo que a causa deste achado era otabagismo e a inatividade física20. A atividade física, queaumenta o sucesso das intervenções para cessação dotabagismo, também previne comorbidades, diminui amortalidade e melhora a qualidade de vida20.

No consenso da Sociedade Espanhola de Pneumologiae Cirurgia Torácica (SEPAR) sobre este tema é interessanteobservar que são sugeridas duas abordagens distintaspara os pacientes tabagistas com DPOC diagnosticadosrecentemente ou há mais tempo, e neste segundo grupo érecomendada uma avaliação minuciosa do humor,ansiedade e depressão13.

Após a cessação do tabagismo é importante aorientação nutricional, uma vez que o sobrepeso poderáter impacto negativo nos sintomas respiratórios. Tambémdeve ser feita a checagem rotineira em todas as consultassobre o consumo ou não de cigarros. Stelmach ecolaboradores compararam o auto-relato do consumo decigarro em pacientes com asma e DPOC com a medição domonóxido de carbono no ar exalado e a cotinina urinária.Em 29% dos pacientes com DPOC ou asma houve

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incompatibilidade entre o COex, a cotinina urinária e oauto-relato como não fumante21.

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10 Pneumologia Paulista | Março 2018