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Revista SÍNTESE Direito Previdenciário ANO XV – Nº 72 – MAIO-JUN 2016 REPOSITÓRIO AUTORIZADO Tribunal Regional Federal 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013 Tribunal Regional Federal 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 Tribunal Regional Federal 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR DIRETOR EXECUTIVO Elton José Donato GERENTE EDITORIAL E DE CONSULTORIA Eliane Beltramini COORDENADOR EDITORIAL Cristiano Basaglia EDITORA Valdinéia de C. Tessaro de Souza CONSELHO EDITORIAL Danilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia, Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia, Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo, Wladimir Novaes Martinez COMITÊ TÉCNICO Hermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho, Marco Aurélio Serau Junior Tatiana Sada Jordão COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Carlos Eduardo Viana Kortz, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, João Marcelino Soares, Karen Costa Braga, Tatiana Conceição Fiore de Almeida, Wladimir Novaes Martinez ISSN 2237-714X

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Revista SÍNTESEDireito Previdenciário

Ano XV – nº 72 – MAio-Jun 2016

RepositóRio AutoRizAdo

Tribunal Regional Federal 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013Tribunal Regional Federal 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087

Tribunal Regional Federal 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

diRetoR eXecutiVo

Elton José Donato

GeRente editoRiAl e de consultoRiA

Eliane Beltramini

cooRdenAdoR editoRiAl Cristiano Basaglia

editoRAValdinéia de C. Tessaro de Souza

conselho editoRiAlDanilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia,

Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia,

Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo,

Wladimir Novaes Martinez

coMitê técnicoHermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho,

Marco Aurélio Serau Junior Tatiana Sada Jordão

colAboRAdoRes destA ediçãoCarlos Eduardo Viana Kortz, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, João Marcelino Soares, Karen Costa Braga, Tatiana Conceição Fiore de Almeida, Wladimir Novaes Martinez

ISSN 2237-714X

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2011 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Publicação mensal de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos trabalhistas e previdenciários.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 5.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected].

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista SÍNTESE Direito Previdenciário. – Ano 15, n. 72 (maio/jun. 2016)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v. ; 23 cm.

Trimestral: 2001-2011. Bimestral: 2011- . Continuação de: Revista de Direito Social. Ano 1, n. 1 (jan./mar. 2001)-ano 10, n. 42 (abr./jun. 2011). Publicação: Sapucaia do Sul: Notadez, 2001-2010; São Paulo: SÍNTESE, 2011. Descrição baseada em: Ano 10, n. 43 (jul./ago. 2011).

ISSN 2237-714X

1. Ciências sociais aplicadas - Periódico. 2. Legislação social - Periódico. 3. Direito previdenciário - Periódico.

CDU: 34:368.4 CDD: 341.67

Bibliotecária responsável Jucelei Rodrigues Domingues – CRB 10/1569

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.sage.com.br

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

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Carta do Editor

Nesta edição da Revista SÍNTESE Direito Previdenciário escolhe-mos para o assunto especial o tema a “Atividade Concomitante do Segu-rado e o Recolhimento Previdenciário”, com a publicação de dois arti-gos de autoria dos Mestres Wladimir Novaes Martinez e Carlos Eduardo Viana Kortz.

Os autores analisaram o recolhimento previdenciário do segurado que exerce atividade remunerada concomitante.

O Dr. Wladimir Novaes Martinez assim explica:

Considera-se simultâneo para fins das prestações previdenciárias o exer-cício de mais de uma atividade filiada ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Não há interesse no exercício de trabalho, ao mesmo tem-po, do servidor público, pelo fato de o RGPS e os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) serem independentes.

A simultaneidade é uma coincidência de períodos laborais, sem se cons-tituir vernacularmente em “concomitância” (não coincidência dos perío- dos laborais). A Instrução Normativa (IN) INSS nº 77/2015 preferiu o ter-mo “concomitância” (art. 190).

Já, na Parte Geral desta edição, publicamos o que há de mais atual e relevante na seara previdenciária, com diversos Acórdãos na Ín-tegra, Seção Especial, Doutrinas, Clipping Jurídico, Tabelas e Bibliogra-fia Complementar.

Na Seção de Doutrinas, contamos com a participação de reno-mados autores trazendo à balia seus brilhantes ensinamentos: a “Apo-sentadoria da Pessoa com Deficiência: a Busca pela Efetiva Tutela Administrativa”, por João Marcelino Soares; a “Contextualização das Microrreformas Previdenciárias Face ao Princípio da Vedação de Re-trocesso Social”, por Tatiana Conceição Fiore de Almeida; e a “A In-constitucionalidade da Desvinculação das Receitas da União à Luz do Inciso XI do Artigo 167 da Constituição Social e a Falsa Ideia do Déficit Previdenciário”, por Karen Costa Braga.

Além disso, publicamos a Seção Especial intitulada “Em Poucas Palavras”, com um texto do Dr. Gustavo Filipe Barbosa Garcia intitula-do “Aposentadoria Compulsória: Inconstitucionalidade do Artigo 100 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”.

Desejamos a você uma excelente leitura!

Eliane BeltraminiGerente Editorial e de Consultoria

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Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto Especial

AtividAde ConComitAnte do SegurAdo e o reColhimento PrevidenCiário

doutrinAS

1. Simultaneidade no Regime Geral de Previdência Social à Luz do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991Wladimir Novaes Martinez .......................................................................9

2. A Atividade Concomitante do Segurado do Regime Geral de Previdência Social e o Problema Hermenêutico do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991Carlos Eduardo Viana Kortz ....................................................................23

Parte Geral

doutrinAS

1. Aposentadoria da Pessoa com Deficiência: a Busca pela Efetiva Tutela AdministrativaJoão Marcelino Soares .............................................................................36

2. Contextualização das Microrreformas Previdenciárias Face ao Princípio da Vedação de Retrocesso SocialTatiana Conceição Fiore de Almeida .......................................................51

3. A Inconstitucionalidade da Desvinculação das Receitas da União à Luz do Inciso XI do Artigo 167 da Constituição Social e a Falsa Ideia do Déficit PrevidenciárioKaren Costa Braga ...................................................................................68

JuriSPrudênCiA PrevidenCiáriA

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Supremo Tribunal Federal .......................................................................88

2. Superior Tribunal de Justiça ....................................................................96

3. Superior Tribunal de Justiça ..................................................................111

4. Tribunal Regional Federal da 1ª Região .................................................119

5. Tribunal Regional Federal da 2ª Região .................................................123

6. Tribunal Regional Federal da 3ª Região .................................................128

7. Tribunal Regional Federal da 3ª Região .................................................135

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8. Tribunal Regional Federal da 4ª Região .................................................1489. Tribunal Regional Federal da 5ª Região .................................................165

ementário Previdenciário

1. Ementário de Jurisprudência Previdenciária ..........................................169

Seção Especialem PouCAS PAlAvrAS

1. Aposentadoria Compulsória: Inconstitucionalidade do Artigo 100 do Ato das Disposições Constitucionais TransitóriasGustavo Filipe Barbosa Garcia ..............................................................213

Tabelas Práticas ..............................................................................................217

Clipping Jurídico ..............................................................................................219

Bibliografia Complementar .................................................................................223

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................224

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Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do

Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publi-cações.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. No caso de publicação dos artigos enviados, não serão devidos direitos autorais, re-muneração ou qualquer espécie de contraprestação a seus autores, sendo apenas en-viado um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, ficando, ainda, a critério do Editor a seleção e aprovação para publicação, a qual será comunicada ao autor.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da Síntese.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.

11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preen-cher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastro-deautores e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail [email protected].

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Assunto Especial – Doutrina

Atividade Concomitante do Segurado e o Recolhimento Previdenciário

Simultaneidade no Regime Geral de Previdência Social à Luz do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991

WLADImIR NOvAES mARTINEzAdvogado Especialista em Direito Previdenciário.

Diante de algumas indefinições do art. 32 do Plano de Benefícios da Previdência Social (PBPS), o cálculo da Renda Mensal Inicial (RMI) do exercente de múltipla atividade por vezes gera dúvidas de aplicação e integração e de interpretação da matéria.

Nesta exposição, o vocábulo “salário de contribuição” (SC) é a base de cálculo da cotização do trabalhador e também fulcro da aferição do salário de benefício (SB), este último definido como sendo a média aritmética simples corrigida monetariamente dos 80% últimos maiores SC desde julho de 1994.

Ab initio, recorda-se que o vetusto PBC de 36 meses desapareceu com a introdução do critério da Lei nº 9.876/1999, emergindo um PBC com prazo variável no custo do tempo.

Salário-base foi um regime contributivo de contribuintes indivi-duais não sujeitos à retenção, criado pela Lei nº 5.890/1973 e extinto em 31.03.2003 (O salário-base na Previdência Social. São Paulo: LTr, 1986).

CoNCeIto de SImultaNeIdade

Considera-se simultâneo para fins das prestações previdenciárias o exercício de mais de uma atividade filiada ao Regime Geral de Previdên-cia Social (RGPS). Não há interesse no exercício de trabalho, ao mesmo tempo, do servidor público, pelo fato de o RGPS e os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) serem independentes.

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10 ......................................................................................................RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

A simultaneidade é uma coincidência de períodos laborais, sem se constituir vernacularmente em “concomitância” (não coincidência dos períodos laborais). A Instrução Normativa (IN) INSS nº 77/2015 preferiu o termo “concomitância” (art. 190).

Pode envolver o trabalho subordinado do empregado temporário, doméstico ou do trabalhador avulso com o exercício do mesmo tempo de atividade como contribuinte individual (empresário, eclesiástico, au-tônomo, eclesiástico ou o raro eventual).

Corretamente, a IN INSS 77/2015 fala em múltipla atividade; se-riam dois ou mais empregos ou um emprego e duas ou mais atividade independentes (art. 312).

Um caso intrigante desse cenário aponta para a situação do tra-balhador incapaz apenas em relação a uma das atividades, até mesmo de alguém autônomo, empresário ou empregado duas vezes sem poder trabalhar em uma dessas atividades.

obrIgatorIedade da CoNtrIbuIção

Respeitado o limite do salário de contribuição (atualmente de R$ 5.186,89), o segurado está obrigado a contribuir em todas as ati-vidades (art. 28, I, da Lei nº 8.212/1991 e art. 214, I, do Decreto nº 3.048/1999), curiosamente pela alíquota mais alta (11%).

Em alguns casos, quando perceba valor acima daquele limite em uma empresa “A”, o segurado contribuirá apenas em razão desse víncu-lo trabalhista.

reNda meNSal INICIal

A regra geral da simultaneidade e do cálculo da RMI é a soma dos SC. Preceitua o art. 32 do PBPS:

O salário de benefício do segurado que contribuir em razão de atividades concomitantes será calculado com base na soma dos salários de contri-buição das atividades exercidas na data do requerimento ou do óbito, ou no período básico de cálculo, observado o disposto no art. 29 e as normas seguintes:

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RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ..........................................................................................................11

[...].

O caput desse artigo inicia a disciplina da apuração do SB e, con-sequentemente, a RMI do segurado exercente de duas ou mais ativida-des vinculadas ao RGPS. O assunto era precariamente explicitado no art. 22 da CLPS e no Decreto nº 83.080/1979, obrigando a CANSB (hoje, IN INSS 77/2015) a pormenorizá-lo com inúmeros exemplos, e continua um tanto obscuro no âmbito do INSS.

Não regrou uma infinidade de eventos possíveis nem fixou crité-rios com a transparência ou objetividade imprescindíveis, cedendo es-paço à norma administrativa (que empregou, diante do silêncio norma-tivo, soluções casuísticas), deixando o tema à interpretação doutrinária.

INtrodução hIStórICa

A inteligência do atual art. 32 recomenda perquirição histórica para estabelecer linha entre a mens legislatoris e a mens legis. O pro-cesso foi mais ou menos semelhante ao da introdução do dispositivo relativo às alterações salariais às portas do PBC (PBPS, art. 29, § 4º), hoje, inteiramente inoperante.

No passado, alguns segurados próximos da data de aposentação simularam relações jurídicas previdenciárias ou, sem fraude ou conluio, exercidas regularmente, com a deliberada intenção de aumentar o SB, impondo-se, consequentemente, mesmo sob singelos ditames atuariais, a regras introduzidas pelo art. 4º da Lei nº 5.890/1973.

Até 10.06.1973, inexistiam preceitos sobre o assunto, e, então, somavam-se os SC das diferentes atividades, sem levar em conta o tem-po de filiação em cada uma delas ou o período de carência, importando, tão somente, estarem acontecendo dentro do PBC. Prevaleciam os valo-res mensais referidos nos SC.

Como o leitor perceberá, o tema obriga alguma digressão histórica mais remota, ainda que se refira a situações pretéritas, para melhor com-preensão do entendimento. Tratamos de alguns casos particularíssimos, como o do regime contributivo do salário-base da Lei nº 5.890/1973, desaparecido em 31.03.2003.

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meNS legISlatorIS e meNS legIS

Se, inicialmente, a intenção do elaborador do comando foi coibir abusos praticados às vésperas da aposentação, acabou instituindo uma estipulação para todos os cenários. Como resta evidente, sob alguma insuficiência normativa.

Agora, na interpretação da matéria, interessam o texto da lei e, lacunosa ou omissa, a remissão à igualdade das pessoas e aos funda-mentos matemático-financeiros. Assim, por exemplo, exercendo duas ou mais atividades, se em uma delas o segurado contribuiu pelo máximo permitido (é como se exercesse uma só), as demais devem ser despreza-das na definição do valor da RMI.

deStINatárIo daS NormaS

Uma primeira providência é distinguir os preceitos válidos para quais direitos ou situações, definidos em dois grupos:

1) benefícios não definidos pelo de tempo de serviço (incisos I/II), ou seja, auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e aposentadoria por idade, em que o período de carência é pa-râmetro relevante. O mesmo valendo para a decantação do auxílio-acidente;

2) benefícios definidos pelo tempo de serviço (inciso III), vale dizer, aposentadoria por tempo de serviço, aposentadoria es-pecial e do professor.

ComuNICação daS CaraCteríStICaS

De mesma forma, imporá normas mínimas:

1) quem tem a qualidade de segurado mantida em uma ativida-de principal, tem-na para todas (a filiação é única e pessoal);

2) completado o período de carência e sem haver perda quali-dade de segurado, está atendido esse requisito básico, com vistas à prática da simultaneidade;

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3) exceto para o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez, cumprido o evento determinante em uma atividade, subsiste para as demais;

4) se o segurado tem direito à aposentadoria especial, em razão de uma ocupação, é como se tivesse em todas as outras, ain-da que sem exposição aos agentes nocivos dos arts. 57/58 do PBPS;

5) os SB serão calculados na Data da Entrada do Requerimento (DER) ou na Data do Afastamento do Trabalho (DAT).

CrItérIoS da SImultaNeIdade

Um possível critério de simultaneidade é inicialmente estabeleci-do no caput, em que a lei parece estar se referindo à circunstância mais bem aclarada no inciso I (de quem preenche os requisitos legais em todas as atividades).

Alude à “soma dos salários de contribuição”, ditando pontualmen-te sobre o novo PBC.

São consideradas simultâneas as atividades, no momento designa-das como “termo”: a) exercidas na DER; b) vigentes até a data do óbito; c) ocorridas dentro do PBC.

Em cada circunstância, não faz parte do conceito exigir o cumpri-mento dos requisitos legais, se atendidos em um deles.

Uma situação rara e curiosa é a do segurado cessando as ativida-des após completar o PBC e antes da DER. Como ele atende ao primeiro critério, a situação será tida como simultânea.

SolICItação eXtemporâNea

Quando do pedido extemporâneo de benefício, isto é, tempos após a DAT, a data deste último é o termo PBC fixador ou não da si-multaneidade. Ajuizando do presente para o passado, se a segunda ou demais atividades cessaram fora dos últimos 48 meses (do PBC revogado em 1999), elas não eram consideradas para os fins do art. 32.

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Atualmente, seriam aquelas contribuições vertidas até junho de 1994. É como se não existissem, embora, conforme informação colhida do Jornal O Dia, relate-se decisão do Juiz José Antonio Savaris, da 3ª Turma Recursal do TRF4, admitindo cotizações de junho/1994 para trás no PBC.

grupo empreSarIal

A IN INSS 77/2015 não tem como figura da múltipla atividade:

Se tratar de mesmo grupo empresarial, ou seja, quando uma ou mais empresas tenham, cada uma delas, personalidade jurídica própria e es-tiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, sendo, para efeito da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas (art. 191, IV).

Isso não está no art. 32 do PBPS, mas, como é uma boa interpreta-ção teleológica, pode perfeitamente ser acolhida.

auSêNCIa de CarêNCIa

Na hipótese do infortúnio laboral, que dispensa o período de ca-rência, não haverá necessidade da ritualística da simultaneidade; sim-plesmente somam-se os SC das diferentes atividades.

dIreIto adquIrIdo

Diz o § 3º do art. 194 da IN INSS 77/2015 que: “Para os casos de direito adquirido até 18 de novembro de 1999, véspera da publicação da Lei nº 9.876, de 1999, o salário de benefício deverá ser apurado de acordo com a legislação da época”.

Esta é uma corajosa decisão do MTPS mandando aplicar as regras anteriores ao advento do novo PBC para solicitações de benefícios re-queridos atualmente. Terá de admitir um PBC de 36 meses em respeito a um direito que teria sido assegurado preteritamente. Com exceção da aplicação do fator previdenciário (que poderá melhorar a RMI), talvez se devesse pensar em instruir o requerimento com base na legislação

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da época, aferir a RMI e atualizá-la, monetariamente, até a DER atual (Direito adquirido na Previdência Social. 4. ed. São Paulo: LTr, 2014).

CaSo maIS Comum

Pontua o inciso I do art. 32 do PBPS: “Quando o segurado satisfi-zer, em relação a cada atividade, as condições do benefício requerido, o salário de beneficio será calculado com base na soma dos respectivos salários de contribuição”.

Esta circunstância não guarda qualquer dificuldade interpretativa. Basta somar os SC e apurar o SB, multiplicar pelo coeficiente do segura-do ou do benefício, e se terá a RMI.

Deve-se entender por “condições do benefício requerido” as tra-dicionais: qualidade de segurado, período de carência, evento deter-minante e, no caso das prestações por incapacidade, o afastamento do trabalho.

hIpóteSe partICular

Complicando um pouco o quadro real, diz o inciso II do mesmo artigo: “Quando não se verificar a hipótese do inciso anterior, o salário de benefício corresponde à soma das seguintes parcelas: [...]”.

Então, carece examinar as letras a e b do inciso II.

a) o salário de benefício calculado com base nos salários de contribuição das atividades em relação às quais são atendidas as condições do be-nefício requerido;

b) um percentual da média do salário de contribuição de cada uma das demais atividades, equivalente à relação entre o número de meses completos de contribuição e os do período de carência do benefício requerido.

Aqui, o legislador se perdeu um pouco. Ele trouxe um cenário mais complexo, imaginando um segurado com as atividades “A” e “B” iguais à do inciso I mais uma situação “C” distinta das anteriores.

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Destarte, pode-se pensar em somar os SC das situações “A” e “B”, tê-las como única e, depois, observar a letra b do inciso II.

Nesta situação “C”, terá de se fixar a proporcionalidade entre o período de contribuição e o período de carência do benefício. No caso da aposentadoria por tempo de contribuição, especial, do professor e por idade, de 15 anos. O resultante do SB de “A” e “B” será adicionado ao SB de “C”.

Exemplificativamente, se o SB de “A” e o de “B”, somados, for de R$ 2.500,00, o período de contribuição de “C” for de 5 anos e o SB re-sultante for de R$ 3.000,00, R$ 1.000,00 serão somados a R$ 2.000,00.

O SB final será de R$ 5.000,00. No caso da aposentadoria por idade com 20 anos de contribuição, a RMI será de R$ 5.000,00 x 90% = R$ 4.500,00, de vez que o coeficiente será de 70% + 20% = 90%.

atIvIdadeS prINCIpal e SeCuNdárIa

O art. 193, I/III, da IN INSS 77/2015 fornece algumas indicações do que são as atividades principais e secundárias utilizadas pelo INSS e que têm nas prestações cujos requisitos envolvam o tempo de serviço ou de contribuição (em face do período longo de carência).

A simultaneidade como um todo reclama essas noções. A lei e o regulamento não as fornecem e são necessárias para a definição do quantum do benefício. Elas deveriam constar da norma legal (embora, hoje em dia, como se verá ao final, tal conclusão venha perdendo signi-ficado, valendo considerá-la com vistas nos processos em andamento).

A concepção básica é o tempo de filiação mais longo e consecu-tivo para determinar qual seja a principal. Caso tenha cessado antes do PBC, deve ser substituída pelo tempo de filiação maior ou de SC de valor mais próximo.

No caso mais simples, se o segurado sucessivamente foi emprega-do, mesmo em diversas empresas, e, no final de sua carreira, tornou-se também autônomo, há tentação de se considerar a primeira condição como principal e certamente será, caso os SC forem superiores aos do regime de custeio dos contribuintes individuais.

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Aliás, separar as atividades, para fins dessa classificação, em fun-ção do tipo de segurado (sujeito a desconto ou não), é critério solucio-nador de alguns problemas que se apresentam.

Propõe-se conceito de principal: a atividade na qual o segura-do dedicou-se mais tempo de serviço, corolariamente às demais, tidas como secundárias.

Quando a atividade principal cessar dentro do PBC – razão para ser considerada –, dever ser substituída por uma das concomitantes, pre-ferindo-se a mais antiga ou os SC aproximados da atividade cessada, se vantajosa.

Existindo uma atividade especial, aquela da aposentadoria espe-cial, observadas as regras anteriores, ela será a principal.

O montante do SC dos últimos tempos, máxime no PBC, pode ser indicativo. A atividade principal já foi entendida como a mais an-tiga e não aquela capaz de beneficiar o segurado (Acórdão CRPS/GTU nº 16/85, Proc. INPS nº 22.856/83; RPS, n. 54/309).

beNefíCIoS por tempo de ServIço

Cuidando, por ora, genericamente, das aposentadorias por tempo de contribuição, idade e do professor, reza inciso III do art. 32: “Quando se tratar de benefício por tempo de serviço, o percentual da alínea b do inciso II será o resultante da relação entre os anos completos de ativi-dade e o número de anos de serviço considerado para a concessão do benefício”.

O dispositivo invoca o comando do inciso II: a proporcionalidade resultante será a relação entre os 25 anos (especial e da professora), 30 anos (da mulher e do professor), 35 anos (do homem) e o tempo de ser-viço exercido na atividade sem completar esses tempos.

Segurado SujeIto ao teto

Diz o § 1º do art. 32: “O disposto neste artigo não se aplica ao segurado que, em obediência ao limite máximo do salário de contribui-ção, contribuiu apenas por uma das atividades concomitantes”.

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Quem aportou apenas por uma das atividades é quem o fez regu-larmente, cumprindo a Lei nº 8.212/1991. Dessa forma, se empregado recebendo acima do limite do SC, deverão ser ignoradas outras ativida-des como contribuinte individual.

Este § 1º está aludindo ao preceito de custeio, segundo o qual o SC do segurado sujeito a desconto (1) prevalece sobre o não descontado (2).

Nesse caso, a contribuição, mediante o art. 29, § 6º, da Lei nº 8.213/1991, não comanda o cálculo do SB, desprezando-se as situa-ções sujeitas à escala de salário-base da Lei nº 5.890/1973, para efeito da determinação da RMI. O benefício é calculado apenas com base na atividade do segurado sujeito à retenção.

Note-se que os empresários e os autônomos que prestam serviços a pessoas jurídicas sofrem retenções em seus honorários sob a alíquota de 11%, devendo a empresa recolher os 20% patronais.

Se a remuneração do empregado não suplantar o limite do SC (R$ 5.186,89) e ocorrer a compressão do SC como contribuinte indivi-dual, os incisos I/II deverão ser aplicados.

redução do SalárIo de CoNtrIbuIção

O § 2º do art. 32 determina: “Não se aplica o disposto neste artigo ao segurado que tenha sofrido redução do salário de contribuição das atividades concomitantes em respeito ao limite máximo desse salário”.

A redação do § 2º, tanto quanto a do § 1º, peca pela obscuridade.

Não se aplicar o “disposto neste artigo” é incongruente. Simples-mente somam-se os SC comprimidos.

Neste § 2º, o legislador cuida do segurado exercente de duas ou mais atividades sujeitas a desconto, particularmente do trabalhador com dois ou mais empregos, fato comum entre professores e médicos.

Primeiro, é preciso recordar a regra do recolhimento do segurado que exerce duas ou mais atividades; se a soma dos salários não atingir o limite, é como se exercesse uma só, auferindo o total das remunerações. Entretanto, se a adição das bases de cálculo ultrapassar o teto, conven-cionadamente, em cada uma das empresas, a medida do fato gerador,

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proporcionalmente às remunerações, deve ser diminuída de modo a atingir o mencionado limite do SC.

Caso, por força de convenção entre as empresas (máxime no gru-po econômico), preferir descontar apenas em uma delas, as coisas se complicarão para o segurado, que será prejudicado, esperando o INSS fazer a proporcionalidade.

trabalhador rural

Silente a norma, convém sopesar a situação do trabalhador rural percipiente de aposentadoria por idade, para ele despachada cinco anos antes do trabalhador urbano, quando, simultaneamente, ele presta servi-ços nos dois domínios: cidade e campo.

Se mulher, aos 55 anos e, se homem, aos 60 anos, será deferido com base nos critérios do beneficio rural, tomando-se os pressupostos da definição do direito da atividade rurícola.

Crê-se que a solução está em apurar-se a pretensão campesina, concedendo-se uma aposentadoria aos 55 (mulher) ou 60 anos (ho-mem), com base nos SC rurícolas.

Quando esses segurados completarem 60 (mulher) e 65 anos (homem), seria concedida uma nova aposentadoria com base nos SC urbanos.

Essa fácil solução esbarra na hipótese de a soma dos SC do segura-do superar o limite do RGPS, até porque ele o terá observado com vistas aos recolhimentos. Ao deferir a segunda aposentadoria, o INSS terá de levar em conta a concessão do primeiro benefício para que o SB não ultrapasse o referido teto.

Administrativamente, uma vez consolidado esse entendimento, a autarquia federal poderá substituir essa duas aposentadorias por apenas uma só, que será mantida dali para frente.

apoSeNtadorIa por Idade

Primeiro, será necessário mensurar o SB nas atividades em que foi completado o período de carência de 15 anos. Em seguida, apurar

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proporcionalmente o SB das atividades em que não foi completado o mesmo período de carência. Depois, somar os diferentes SB.

apoSeNtadorIaS por tempo de ServIço

Os benefícios por tempo de serviço são três: a aposentadoria por tempo de contribuição (de 30 anos para as mulheres e de 35 anos para os homens); a aposentadoria especial, aos 15, 20 ou 25 anos de servi-ços insalubres; e a aposentadoria do professor, aos 25 (professora) e 30 anos (professor), podendo-se estender estas conclusões à aposentadoria por tempo de contribuição e por idade da pessoa com deficiência da LC 142/2013.

No que diz respeito à aposentadoria especial, diante do tipo, se o segurado a exerceu nas duas ou mais atividades, 15, 20 ou 25 anos, será a relação entre o tempo trabalhado na empresa “B” e os 25, 20 ou 15 anos da empresa “A”, conforme o caso.

O raciocínio é praticamente o mesmo da aposentadoria por idade: apuração do SB das atividades em que foi completo o tempo de serviço de 30 (mulher) ou 35 anos (homem) e, em seguida, proporcionalmente, das atividades em que isso não aconteceu.

Note-se: em vez de período de carência, neste caso, o parâmetro da proporcionalidade é o tempo de contribuição exigido.

beNefíCIoS por INCapaCIdade

Considere-se a seguinte circunstância: ciente de que a carência do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez é de 12 meses, o segurado tem 36 meses de atividade completados na DER, com uma mé-dia dos 80% maiores SC monetariamente corrigidos correspondente a R$ 2.400,00 em uma empresa “A”.

Em uma atividade “B”, trabalhou por quatro meses (um terço do período de carência de 12 contribuições), com SC capaz de gerar a mes-ma média de R$ 2.400,00.

Como na atividade “A” a carência foi completada, os R$ 2.400,00 serão aproveitados integralmente (inciso II, a); porém, como na atividade

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“B” somente realizou um terço do período de carência: R$ 2.400,00/3 = R$ 800,00.

O SB será: R$ 2.400,00 + R$ 800,00 = R$ 3.200,00. A RMI do auxílio-doença somará: R$ 3.200,00 x 91% = R$ 2.912.00. Se for a apo-sentadoria por invalidez, somará R$ 3.200,00 x 100% = R$ 3.200,00.

Cenário esquecido pelo legislador diz respeito ao segurado sub-metido à dupla atividade em que, na primeira, ele preenche os requisitos do auxílio-doença (incapacidade para o seu trabalho) e, na segunda, atende aos pressupostos da aposentadoria por invalidez (insuscetibilida-de de recuperação), partindo-se do princípio da norma mais favorável, sendo que, somados os dos SC, ele não atinge o teto, sabendo-se que a incapacidade deste último benefício, por assim dizer, incorpora a do primeiro: quem está insuscetível de reabilitação não pode exercer a ocu-pação habitual (requisito básico do auxílio-doença).

Em princípio, deveriam ser concedidas duas prestações, uma para o auxílio-doença e outra para a aposentadoria por invalidez, com os procedimentos da instrução e da manutenção independentes.

Do ponto de vista atuarial, não teria problemas cessar a segunda e prevalecer a primeira. Ainda que com alta médica no benefício da apo-sentadoria por invalidez, que cessaria, o segurado não poderia voltar ao trabalho em razão da manutenção do auxílio-doença.

INfluêNCIa da leI Nº 9.876/1999

A Lei nº 9.876/1999 introduziu dois institutos técnicos relevantes em matéria de estipulação da RMI:

a) fator previdenciário (que diz respeito ao cálculo da RMI); e

b) novo período básico de cálculo.

O fator previdenciário afeta o SB, alterando para mais ou para menos a RMI.

O novo PBC torna anacrônico o que dispõe o atual art. 32, na medida em que as múltiplas atividades em um PBC tão extenso não mo-dificariam a RMI, como sucedia quando era de 36 meses.

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Os SC podem ser mensalmente simplesmente somados sem pre- juízo atuarial para o plano de benefícios. O legislador fica devendo uma completa revisão desse art. 32 do PBPS.

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Assunto Especial – Doutrina

Atividade Concomitante do Segurado e o Recolhimento Previdenciário

A Atividade Concomitante do Segurado do Regime Geral de Previdência Social e o Problema Hermenêutico do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991

The Associated Scheme Insured Activity General Social Security and the Hermeneutic Problem of Law nº 8.213/1991

CARLOS EDuARDO vIANA KORTzAdvogado, Mestrando em Direito pela Escola Paulista de Direito (EPD), Pós-Graduado em Direito Previdenciário pela Escola Paulista de Direito (EPD), Pós-Graduado em Gestão Pública Municipal pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Professor da Graduação do Instituto Itapetiningano de Ensino Superior (IIES).

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo avaliar a situação enfrentada pelos trabalhadores, segurados obrigatórios da Previdência Social brasileira, que, durante sua vida laborativa, exer-cem duas ou mais atividades concomitantes, recolhem para o mesmo regime contributivo e são surpreendidos no cálculo da renda mensal inicial de sua aposentadoria, vez que a autarquia previdenciária aplica de forma prejudicial ao segurado a letra da lei de benefícios, entendendo que cada vínculo empregatício concomitante deve ser tratado de forma individualizada, não per-mitindo a soma dos salários de contribuição mesmo que os citados vínculos sejam exercidos na mesma atividade profissional. Portanto, tratar-se-á do problema hermenêutico do art. 32 da Lei nº 8.213/1991 na sua aplicação administrativa por parte do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), bem como sua aplicação doutrinária. Para tanto, faz-se uma análise da função social do benefício previdenciário de aposentadoria no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), com base nos princípios e diretrizes que norteiam a Seguridade Social com vistas a explicar o assun-to sob o panorama legal e social. Ainda, trata-se das formas de interpretação no ordenamento jurídico brasileiro sobre a definição da expressão “atividades concomitantes”.

PALAVRAS-CHAVE: Atividades concomitantes; salário de benefício de aposentadoria; interpre-tação; art. 32 da Lei nº 8.213/1991.

ABSTRACT: This article aims to assess the situation faced by workers, compulsory insured in Brazilian Social Security, who, during their working life, have two or more concurrent activities and gather to the same contributory scheme and are surprised when calculating the initial mon-thly income of their retirement, since the social security authority applies manner that undermi-

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nes the insured the letter of the law benefits, understanding that each concurrent employment should be treated individually, not allowing the sum of the wage-contribution even if the cited bonds are exercised in the same occupation. Therefore we will say about the hermeneutic pro-blem of article 32 of Law nº 8.213/1991 in its administrative enforcement by the National Social Security Institute (INSS) and its doctrinal application. For that we do an analysis of the social function of the social security retirement benefit in the General Social Security Scheme (RGPS), based on the principles and guidelines governing social security in order to explain the matter in the legal and social landscape. So, these are the forms of interpretation in Brazilian law on the definition of the expression “associated activities”.

KEYWORDS: Associated activities; retire payment; interpretation; article 32 of Law nº 8.213/1991.

INtrodução

De certo modo, tudo no Direito se refere à interpretação. Elabo-ram-se leis para serem aplicadas à vida social, e não há aplicação sem prévia interpretação. A interpretação, que não é só das leis em sentido amplo, mas também dos fatos, sofre decisiva influência dos pressupostos em que se apoia.

Segundo Plauto Faraco de Azevedo (1989, p. 14), buscando-se clarificar os pressupostos, a primeira providência a tomar consiste em ver o Direito dentro do processo histórico global, se não se quiser perder de vista a sociedade, em que, como proclamava Ehrlich, hoje, como em qualquer tempo, situa-se o centro de gravidade do desenvolvimento jurídico1.

A Lei nº 8.213/1991, que trata dos planos de benefícios da Previ-dência Social no Brasil, apresenta, no art. 32, a seguinte redação:

Art. 32. O salário-de-benefício do segurado que contribuir em razão de atividades concomitantes será calculado com base na soma dos salários--de-contribuição das atividades exercidas na data do requerimento ou do óbito, ou no período básico de cálculo, observado o disposto no art. 29 e as normas seguintes:

1 AZEVEDO, Plauto Faraco de. Crítica à dogmática e hermenêutica jurídica. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1989. p. 14.

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I – quando o segurado satisfizer, em relação a cada atividade, as condi-ções do benefício requerido, o salário-de-benefício será calculado com base na soma dos respectivos salários-de-contribuição;

II – quando não se verificar a hipótese do inciso anterior, o salário-de--benefício corresponde à soma das seguintes parcelas:

a) o salário-de-benefício calculado com base nos salários-de-contribui-ção das atividades em relação às quais são atendidas as condições do benefício requerido;

b) um percentual da média do salário-de-contribuição de cada uma das demais atividades, equivalente à relação entre o número de meses completo de contribuição e os do período de carência do benefício requerido.

Da redação do artigo supracitado, percebe-se que a lei regula-menta a forma de cálculo do benefício previdenciário dos segurados do Regime Geral de Previdência Social – RGPS que contribuem com mais de um vínculo ao mesmo tempo.

O ponto controverso do artigo em questão está na expressão “ati-vidades concomitantes”, já que a Previdência Social vem fazendo sua aplicação de forma prejudicial aos seus segurados, sempre baseada em suas famosas instruções normativas (IN).

Antes de ingressarmos diretamente no problema hermenêutico que este artigo pretende tratar, faz-se necessário analisar de forma mais detalhada a função da Seguridade Social no Brasil.

Em 1988 a Constituição Federal, também conhecida como Cons-tituição Cidadã, tratou da proteção do Estado em relação àqueles que contribuem para um sistema único de capitalização, o RGPS, atualmen-te gerido pela autarquia previdenciária Instituto Nacional do Seguro So-cial (INSS).

Segundo Fábio Zambitte Ibrahim (2012, p. 5), a Seguridade Social pode ser conceituada como a rede protetiva formada pelo Estado e por particulares, com contribuições de todos, incluindo parte dos benefi-ciários dos direitos, no sentido de estabelecer ações para o sustento de

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pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, providen-ciando a manutenção de um padrão de vida digna2.

Entre os princípios e diretrizes que norteiam a Seguridade Social, é importante citar o princípio da universalidade de cobertura, que signi-fica que todos os eventos ou riscos sociais devem ser cobertos, em que todas as pessoas devem ter proteção social, ou seja, universalidade do atendimento.

Robert Alexy (2008, p. 45), discorrendo sobre os direitos funda-mentais no Estado Constitucional Democrático, distingue os direitos do homem de outros direitos, entre outras, pela marca da universalidade da titularidade, ou seja, direitos que competem a todos os homens3.

Os direitos à Seguridade Social estão elencados em nosso ordena-mento jurídico, mais especificamente na Constituição Federal de 1988, portanto, tem-se, neste caso, uma decisão política fundamental, já que a Constituição é a reunião da vontade do povo que constitui novas normas a serem seguidas, também chamadas de “princípio do Estado Democrá-tico”.

Para Willis Santiago Guerra Filho (2009, p. 56), o princípio do Es-tado Democrático pode ser entendido como resultado da conjunção de duas exigências básicas, da parte dos integrantes da sociedade brasileira, dirigida aos que atuarem em seu nome na realização de seus interesses, e que podem ser traduzidas no imperativo de respeito à legalidade, de-vidamente amparada na legitimidade4.

Lenio Luiz Streck (2011, p. 47) afirma que o Estado Democrático de Direito, ao lado do núcleo liberal agregado à questão social, tem como questão fundamental a incorporação efetiva da questão da igualdade como um conteúdo próprio a ser buscado por meio do asseguramento de condições mínimas de vida ao cidadão e à comunidade. Ou seja, no Estado Democrático de Direito, a lei passa a ser, privilegiadamente, um instrumento de ação concreta do Estado, tendo como método assecura-

2 IBRAHIM, Fabio Zambitte. Curso de direito previdenciário. Rio de Janeiro: Impetus, 2012. p. 5.3 ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Trad. Luís Afonso Heck. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2008. p. 45.4 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo constitucional e direitos fundamentais. São Paulo: SRS Editora,

2009. p. 56.

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tório de sua efetividade a promoção de determinadas ações pretendidas pela ordem jurídica5.

Segundo o ordenamento jurídico brasileiro, a Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.

No Brasil, todo aquele que trabalha em mais de um emprego ou atividade precisa recolher para os cofres previdenciários sobre todos os vínculos, já que são considerados segurados obrigatórios da Previdência Social nos termos do art. 11 e incisos da Lei nº 8.213/1991.

Neste caso, os valores recebidos pelo trabalhador segurado em re-lação ao serviço prestado são denominados salário de contribuição, que passarão a fazer parte do Período Básico de Cálculo (PBC) utilizado para se apurar o valor da renda mensal inicial do benefício previdenciário, também denominado salário de benefício.

Para João Ernesto Aragonés Vianna (2011, p. 457), o salário de benefício é o valor básico utilizado para cálculo da renda mensal dos benefícios de prestação continuada, inclusive os regidos por normas es-peciais e aqueles decorrentes de acidente do trabalho, exceto o salário--família e o salário-maternidade6.

Na análise do art. 32 da Lei nº 8.213/1991, temos que, quando o segurado satisfizer, em relação a cada atividade, as condições do bene-fício requerido, o salário de benefício será calculado com base na soma dos respectivos salários de contribuição.

Segundo interpretação da autarquia, o inciso I do artigo supra-citado exige que o segurado que ocupa duas ou mais atividades tenha adquirido as condições de se aposentar em cada atividade para, então, ter suas contribuições (leia-se: salários de contribuições) somadas para fazer parte do período básico de cálculo que vai chegar ao valor da ren-da mensal inicial da aposentadoria do segurado.

5 STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. p. 47.

6 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 457.

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Neste caso, por exemplo, um segurado do sexo masculino que tem 35 anos de trabalho no emprego “X como professor” e 35 anos de tra-balho no emprego “Y como médico” terá direito de somar todos os seus salários de contribuições para apurar sua renda mensal inicial.

Entretanto, nos casos em que o tempo de contribuição é atingido em apenas uma das atividades, o cálculo será feito de forma proporcio-nal, considerando-se a atividade principal e a atividade secundária, o que fatalmente gerará um benefício menor, tendo em vista que o segun-do vínculo será fracionado de forma proporcional, ou seja, não ocorren-do a soma dos salários de contribuições do segurado.

o problema hermeNêutICo do artIgo 32 da leI Nº 8.213/1991

Até agora, a interpretação da norma legal pôde ser aplicada, po-rém, a questão que traz o problema hermenêutico diz respeito quando o segurado tem mais de um vínculo ou empregos concomitantes com a mesma atividade, como, por exemplo, um professor que ministra aulas no período da manhã na escola “A”, no período da tarde na escola “B” e no período da noite na escola “C”.

Neste caso, o segurado não deixou de ser professor, ou seja, pra-ticar a mesma atividade, e, mesmo assim, a autarquia previdenciária interpreta que se tratam de atividades distintas e que, portanto, as contri-buições vertidas ao RGPS não podem ser somadas para se apurar o valor do salário de benefício, aplicando-se o art. 32, II, a e b.

Quando o legislador publicou a Lei de Benefícios, o que quis dizer com a expressão “atividades concomitantes”? Qual a melhor forma de interpretação neste caso?

Apresentadas as informações basilares acerca do problema, a par-tir de agora, este artigo tentará demonstrar, baseado na hermenêutica jurídica, que o legislador buscou atender a parte mais frágil da relação previdenciária, neste caso, o segurado.

Segundo Miguel Reale (2002, p. 291), interpretar uma lei impor-ta, previamente, em compreendê-la na plenitude de seus fins sociais, a fim de poder-se, desse modo, determinar o sentido de cada um de seus

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dispositivos. Somente assim ela é aplicável a todos os casos que corres-pondam àqueles objetivos7.

O ato de interpretação da lei depende de vários saberes comuns que operam socialmente para reforçar a opacidade da dominação políti-co-jurídica e travar qualquer gesto de deciframento do mistério.

Para Luiz Alberto Warat (1994, p. 31), a semiologia mostra como realmente os juízes produzem significados convincentes. Nesse particu-lar, a compreensão das regras redefinitórias operará como um primeiro e primitivo mecanismo desideologizador, na medida em que permitam tomar consciência das falsas crenças linguísticas, como os métodos tra-dicionais de interpretação sustentaram seus pontos de vista8.

Para Lenio Luiz Streck (2011, p. 324), as palavras da lei são cons-tituídas de vaguezas, ambiguidades, enfim, de incertezas significativas. Não é novidade, nem mesmo para a dogmática jurídica mais tradicional, que parcela significativa das palavras da lei são plurívocas. Mas isso não pode significar que cada intérprete possa atribuir os sentidos que mais lhe convierem. Daí a importância da hermenêutica9.

No caso em questão, o termo “atividade” quer dizer o desempe-nho da mesma função, mesmo que essa atividade seja desempenhada em empregadores ou vínculos diversos, não podendo a autarquia previ-denciária aplicar a letra da lei em prejuízo do segurado do RGPS.

Segundo Tercio Sampaio Ferraz Junior (1994, p. 255), ao disci-plinarem a conduta humana, as normas jurídicas usam palavras, signos linguísticos que devem expressar o sentido daquilo que deve ser. Este uso oscila entre o aspecto onomasiológico da palavra, isto é, a sua signi-ficação normativa. Os dois aspectos podem coincidir, mas nem sempre isso ocorre. O legislador, nestes termos, usa vocábulos que tira da lin-guagem cotidiana, mas frequentemente lhes atribui um sentido técnico apropriado à obtenção da disciplina desejada10.

7 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 291.8 WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1994. p. 31.9 STRECK, Lenio Luiz. Op. cit., p. 324.10 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo de direito: técnica, decisão, dominação. 2. ed. São

Paulo: Atlas, 1994. p. 255.

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Conforme Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o termo “atividade” deve ser entendido como “ocupação funcional, profissão e realização de uma função ou operação específica”.

O hermeneuta só pode extrair o significado que a lei tem, sem res-tringi-lo ou alargá-lo, ou seja, não há que falar em aplicação da interpre-tação extensiva. Se, no caso, o legislador aplicou a expressão “atividades concomitantes”, quis dizer que aquele segurado que exercer a mesma atividade, mesmo que em empregadores ou vínculos diversos, de forma concomitante, terá direito de ver somados seus recolhimentos previden-ciários para fins de concessão do benefício de aposentadoria no RGPS.

Qualquer interpretação diferente pode ser considerada extensiva e, desta forma, prejudicial ao sistema de normas que visa à proteção e à aplicação do Direito.

Para Miguel Reale (2002, p. 295), o que se chama de interpretação extensiva é exatamente o resultado do trabalho criador do intérprete, ao acrescer algo novo àquilo que, a rigor, a lei deveria normalmente enun-ciar, à vista das novas circunstâncias, quando a elasticidade do texto normativo comportar o acréscimo11.

Atualmente, quando se fala em interpretação de leis e normas, nós temos as seguintes formas: gramatical, lógica, histórica e sistemática.

Conforme Celso Ribeiro Bastos (2002, p. 57), o método gramatical leva em consideração o texto da norma, ou melhor, o conteúdo semân-tico das palavras que a compõem. Ela representa o ponto de partida de qualquer processo interpretativo, uma vez que o texto da norma consiste em seu substrato. São utilizadas, nesse método, as regras gramaticais, dando-se especial valor à pontuação e à sintaxe. Busca-se alcançar o real sentido, ou melhor, o significado de cada vocábulo utilizado pela norma jurídica12.

No processo gramatical, é exigido do hermeneuta o conhecimento perfeito da língua empregada no texto, em especial os sentidos de cada palavra e o fim ao qual ela foi criada.

11 REALE, Miguel. Op. cit., p. 295.12 BASTOS, Celso Ribeiro. Hermenêutica e interpretação constitucional. São Paulo: Celso Bastos Editor, 2002.

p. 57.

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Para R. Limongi França (1999, p. 09), a interpretação lógica é aquela que se leva a efeito, mediante a perquirição do sentido das diver-sas locuções e orações do texto legal, bem assim por meio do estabele-cimento da conexão entre elas. Supõe quase sempre a posse dos meios fornecidos pela interpretação gramatical13.

Assim, não se interpreta isoladamente uma norma; deve-se pro-curar compreendê-la em sua correlação com todas as que com ela se articulam logicamente. A interpretação isolada de um dispositivo pode chegar a resultados falsos.

Segundo Antônio Bento Betioli (2000, p. 359), na interpretação histórica, há o elemento histórico que permite apreender ideias e interes-ses dominantes por ocasião da elaboração da lei: como surgiu, por que surgiu, quais as condições sociais do momento em que surgiu, quais os motivos que levaram à sua aprovação, etc.; e aprender também as trans-formações que sofreram os institutos no decurso do tempo e os traços comuns que permaneceram. Só se refazendo a história, nas suas bases e conflitos, é possível chegar à real apreensão de uma realidade em movi-mento, como a lei14.

O objetivo do recurso da interpretação histórico-evolutivo é a bus-ca da compreensão do espírito da lei (e não da vontade do legislador), que deve sempre corresponder às necessidades e às condições sociais atuais.

Entende R. Limongi França (1999, p. 11) que a interpretação sis-temática é a descoberta da mens legislatoris da norma jurídica, a qual pode e deve ser pesquisada em conexão com as demais do estatuto em que se encontra. Nessa interpretação, levam-se em conta dois aspectos: 1) o de quando é feita em relação à própria lei a que o dispositivo perten-ce; 2) o de quando se processa com vistas para o sistema geral do direito positivo em vigor15.

No caso da interpretação do art. 32 da Lei nº 8.213/1991, deve-mos ter a interpretação a partir do caráter lógico, que é a ciência do

13 FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 09.14 BETIOLI, Antônio Bento. Introdução ao direito, lições de propedêutica jurídica. São Paulo: Letras & Letras,

2000. p. 359.15 FRANÇA, R. Limongi. Op. cit., p. 11.

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raciocínio, tendo como objeto o pensamento em si, que, concedida de maneira formal, vem a ser o instrumento do pensamento para pensar corretamente.

Cuida-se, portanto, do estudo das formas do conhecimento, inde-pendentemente dos objetos, exigindo que raciocinemos com o maior rigor possível, excluindo toda contradição.

A interpretação jurídica deve ser também axiológica ou valorativa, uma vez que, além da explicação dos nexos lógicos e busca da coerên-cia do pensamento, implica ainda a compreensão do sentido da norma interpretada, operando com valores e estabelecendo finalidades.

Para Jürgen Habermas (1997, p. 31), o status que empresta aos pensamentos uma estrutura proposicional a salvo da corrente de vivên-cias, garantindo aos conceitos e aos juízos conteúdos gerais, reconhecí-veis intersubjetivamente e, deste modo, idênticos, sugere a ideia de ver-dade. Porém, a idealidade da validade veritativa não pode ser explicada nos mesmos termos que a idealidade da generalidade do significado, lançando mão apenas de invariâncias gramaticais, ou seja, de estrutura da linguagem em geral, que se configura por meio de regras16.

O trabalho do intérprete não se reduz a uma passiva sujeição ao texto legal, mas representa um trabalho criador pela compreensão do dispositivo legal à luz de novas valorações emergentes no processo his-tórico.

Segundo Lenio Luiz Streck (2011, p. 329), quando o jurista in-terpreta, ele não se coloca diante do objeto, separado deste por “esta terceira coisa” que é a linguagem; na verdade, ele está desde sempre jogado na linguisticidade deste mundo do qual, ao mesmo tempo, fazem parte ele (sujeito) e o objeto (o Direito, os textos jurídicos, as normas, etc.). A atitude de pensar que ele, intérprete, está fora e/ou separado do objeto pela linguagem é alienante. Dito de outro modo: com isto, ele não se considera coprodutor da realidade (da sociedade)17.

16 Habermas, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Trad. Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 31.

17 STRECK, Lenio Luiz. Op. cit., p. 329.

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Robert Alexy (2011, p. 237) diz que a interpretação de uma norma pode ocorrer com a expressão de argumento sistemático que compre-ende tanto a referência à situação de uma norma no texto legal como a referência à relação lógica ou teleológica de uma norma com outras normas, fins e princípios18.

CoNCluSão

É preciso encarar os fatos sociais, sem esquecer o que tem a lin-guagem de conceitual, mas advertindo que a vida não existe para os conceitos, mas os conceitos para a vida (Rudolf von Ihering).

Torna-se necessário evitar o costume persistente de apresentar as teorias jurídicas e as doutrinas como se fossem partes fora do contexto social e político, para que não apareçam como puras construções do espírito entre as quais é difícil escolher.

Faz-se imperioso rejeitar a afirmativa, amplamente divulgada nos livros e periódicos jurídicos, de que não se pode considerar científico tudo aquilo que revele interesse social ou de reforma, denotando um en-sino e uma investigação que, declarando-se socialmente desengajados, na realidade, estão empenhados no sentido da conservação.

A leitura e a interpretação do art. 32 da Lei nº 8.213/1991 devem se dar embasadas nas raízes das necessidades sociais, pois, se assim não for, revelar-se-ia inconsistente e insuficiente, por maior que seja o enge-nho, o rigor lógico ou o grau de abstração de alcance.

Segundo Plauto Faraco de Azevedo (1989, p. 15), é preciso ver o processo hermenêutico por inteiro, isto é, reclamando uma palavra (escrita ou oral) ou uma prática, que constitui seu objeto; um autor, o intérprete; métodos destinados a atingir o objetivo buscado; e, ademais, a consideração do contexto histórico-social no qual esta operação se realiza19.

A consideração do contexto histórico-social, em que se insere e se realiza o processo interpretativo, é indispensável para perceberem-se o

18 ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da fundamentação jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 237.

19 AZEVEDO, Plauto Faraco de. Op. cit., p. 15.

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substrato teórico a orientar o raciocínio na aplicação das normas jurídi-cas, o papel ideológico da formação jurídica e os efeitos satisfatórios ou insatisfatórios do processo.

Em que pese ficar colocada a possibilidade de, ao dirimir um caso concreto, verificar o juiz que a norma que lhe seria aplicável levaria a uma solução injusta e, por isto, não deve ser aplicada, ou seja, o julga-dor, sempre e em todos os casos, deve buscar o bem comum.

Por tudo que foi trazido neste artigo, demonstra-se extremamente necessário que a interpretação do art. 32 da Lei nº 8.213/1991 se dê de forma a vir apresentar melhor solução ao segurado que tem duas ativida-des concomitantes em um ou mais empregos/vínculos.

Neste caso, imperioso que os salários de contribuições do segura-do em questão sejam somados para se apurar o valor de seu salário de benefício, ou seja, sua aposentadoria, sem a incidência do fracionamen-to trazido pela legislação previdenciária, o que garantirá uma renda mais justa ao trabalhador brasileiro que verte suas contribuições ao sistema único de capitalização do RGPS ao qual é subordinado.

referêNCIaS

ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Trad. Luís Afonso Heck. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

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Parte Geral – Doutrina

Aposentadoria da Pessoa com Deficiência: a Busca pela Efetiva Tutela Administrativa

JOÃO mARCELINO SOARESServidor Público do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR, Especialista em Direito Previdenciário e Processual Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR, Autor de artigos e livros sobre direito previdenciário.

RESUMO: À luz da Convenção de Nova York e visando à regulamentação infraconstitucional do art. 201, § 1º, da Constituição Cidadã, foi sancionada, no dia 09.05.2013, a Lei Complementar nº 142, trazendo uma redução nos requisitos concessórios na aposentadoria por idade e por tempo de contribuição devidas às pessoas com deficiência. Sua regulamentação ocorreu com o advento do Decreto nº 8.145/2013, Memorando Circular Conjunto nº 34/2013 Dirben/DIRAT/INSS e a Portaria Interministerial nº 01/2014 AGU/MPS/MF/SEDH/MP, que, entre vários aspec-tos, criou o Índice de Funcionalidade Brasileiro Aplicado para Fins de Aposentadoria – IFBrA, instrumento metodológico baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapa-cidade e Saúde – CIF, da Organização Mundial de Saúde – OMS. Sobre este tema, o presente estudo propõe abordar especificamente os aspectos processuais destas aposentadorias no âmbito administrativo, desde a fase inicial, passando-se pelas fases instrutória e decisória, até a fase recursal, com exposição de pontos críticos e preocupantes na busca pela efetiva tutela administrativa.

PALAVRAS-CHAVE: processo administrativo; aposentadoria; deficiência.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Aspectos administrativo-processuais; 1.1 Fase inicial; 1.2 Fase ins-trutória; 1.2.1 Indeferimento sumário (artigo 2º do Decreto nº 8.145/2013); 1.2.2 Avaliação médica; 1.2.3 Avaliação social; 1.3 Fase decisória; 1.4 Fase recursal; Conclusão; Referências.

INtrodução

É cediço que o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS figura como o ente público mais demandado do País, conforme dados levan-tados pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Tal situação é resultado de uma multicausalidade, em que citam-se:

a) equívocos e irresignações em resultados médico-periciais;

b) erros administrativos derivados de inconsistências e inexatidões dos sistemas corporativos (Sabi, Prisma, Sibe...);

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c) erros administrativos derivados da falta de capacitação e atualização técnico-jurídica de dados servidores;

d) flexibilização do prévio requerimento administrativo e consequente “guichelização” do Poder Judiciário;

e) existência de metas gerenciais no âmbito autárquico (IRES, TMEA, TMD, TMTR...) que medem a quantidade e celeridade de processos, sem nenhuma mensuração qualitativa;

f) ausência de efetiva auditoria em benefícios indeferidos para constata-ção de erros administrativos por omissão; e

g) a relutância administrativa na manutenção de interpretações conflitan-tes com jurisprudência consolidada.

Algumas dessas causas, que certamente não são todas, nos reve-lam que muitas vezes a violação ao direito do segurado ocorre em um momento anterior ao indeferimento indevido do benefício: na violação ao direito fundamental ao devido processo administrativo. Neste norte, ensina José Antônio Savaris1:

Se assim é, a tutela jurisdicional adequada e proporcional deveria ser dirigida a afastar a ilegalidade (nulidade administrativa) e não ao conhe-cimento originário do preenchimento, pelo particular, dos requisitos de fato de e direito necessários à concessão do benefício. O primeiro direito violado do indivíduo foi a quebra do devido processo legal. Com essa lesão, metaforizada no abandono do navio pelo direito processual fun-damental, o direito à Previdência Social perdeu muito em suas possibili-dades e naufragou.

É dizer: a concretude da fundamentalidade do direito à previdên-cia pressupõe a prévia observância de outro direito fundamental: o de-vido processo administrativo. Não há efetiva proteção previdenciária se o instrumento da tutela administrativa não respeita a eficiência, a mo-ralidade, a ampla defesa e contraditório, a boa-fé na relação jurídico--previdenciária, a verdade real e demais princípios que norteiam a busca pelo reconhecimento do direito previdenciário, seja no deságue de uma regular concessão, seja no indeferimento devidamente motivado.

1 SAVARIS, José Antônio. Direito processual previdenciário. 5. ed. Curitiba: Alteridade, 2014. p. 195.

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Assim, quando a tutela administrativa é falha, negando direitos efetivamente existentes ou reconhecendo-lhes aquém do devido, a tute-la jurisdicional se impõe, como medida estatal a recompor, no mínimo, dois direitos fundamentais violados: o direito à previdência social e o direito ao devido processo administrativo.

Neste norte, o presente artigo pretende abordar, de maneira di-dática e crítica, os aspectos processuais das aposentadorias diferencia-das das pessoas com deficiência no âmbito administrativo, como ins-trumento de tutela ao direito fundamental à previdência e à igualdade material2.

1 aSpeCtoS admINIStratIvo-proCeSSuaIS

O requerimento e análise administrativa das aposentadorias re-gidas pela Lei Complementar nº 142/2013 estão adstritas ao mesmo processo administrativo das demais aposentadorias. Assim, deve-se observar a ampla defesa e o devido processo legal, a boa-fé na rela-ção jurídico-previdenciária, a oficialidade e a busca da verdade real, entre outros princípios garantidores de uma efetiva tutela adminis-trativa.

Inobstante, o fluxo procedimental destas aposentadorias possuem algumas peculiaridades devido à análise multidisciplinar na identifica-ção e gradação da deficiência, exigindo-se não somente os conhecimen-tos técnico-jurídicos do servidor administrativo, mas também os conhe-cimentos técnicos do médico perito e do assistente social.

Desta forma, passa-se a expor a seguir alguns aspectos do processo administrativo previdenciário, com ênfase às peculiaridades na tutela das aposentadorias diferenciadas das pessoas com deficiência, desde a fase inicial, passando-se pelas fases instrutória e decisória até a fase re-cursal.

2 O presente estudo não se propõe a detalhar os aspectos materiais da aplicação da Lei Complementar nº 142/2013. Para isso, vide a obra de minha autoria: Aposentadoria da pessoa com deficiência. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2014.

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1.1 Fase inicial

O requerimento das aposentadorias das pessoas com deficiência se faz pelos mesmos canais de atendimento dos demais benefícios da Previdência Social, com o agendamento feito na Agência da Previdência Social – APS, pela central 135 ou pela Internet.

Deve-se agendar uma aposentadoria por idade da pessoa com de-ficiência ou uma aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência, conforme o caso. Neste momento, ocorre apenas o agendamento para o protocolo e atendimento administrativo inicial, sem nenhuma data marcada para as avaliações, que são agendadas posterior-mente.

Comparecendo-se na data agendada, o protocolo pode ser feito pelo próprio requerente ou representante devidamente habilitado. Em caso de mandatário, somente pode ser exigido reconhecimento de firma do requerente na procuração em caso de dúvida fundada de autenticida-de, como, por exemplo, quando a assinatura estiver divergente da exis-tente nos documentos do segurado (IN 45/2010, art. 580, § 2º). Os do-cumentos para instrução do processo devem ser apresentados em cópia autenticada ou original para autenticação pelo servidor e cuja reprogra-fia é a cargo do INSS (IN 45/2010, art. 579). O advogado devidamente habilitado tem poder para autenticar cópias, sob sua responsabilidade, nos termos do art. 584 da IN 45/2010.

Para efeitos financeiros, considera-se a Data de Entrada de Re-querimento (DER) o dia em que houve o agendamento do atendimento inicial. Todavia, é possível a reafirmação da DER para o dia necessário à completude dos requisitos concessórios; tal reafirmação deve ser feita no atendimento inicial, mediante formulário fornecido pelo servidor, ou em qualquer outro momento do curso processual, inclusive em fase recur-sal, desde que antes da decisão definitiva (IN 45/2010, art. 623). A DER é importante para os efeitos financeiros do benefício e para o próprio reco-nhecimento do direito, pois um dos requisitos analisados é a existência da deficiência na DER, ressalvado o direito adquirido após 09.11.2013.

Também deve ser possibilitada a opção pela concessão de benefí-cio sem diminuição dos requisitos concessórios, em caso de não identi-

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ficação de deficiência após as avaliações, ou outro benefício mais vanta-joso diverso daquele agendado pelo requerente (IN 45, art. 621).

Não é preciso apresentação de documentos médicos relativos à deficiência no atendimento inicial, pois as avaliações ocorrem em ou-tro momento. Mas os demais documentos para instrução do processo devem ser apresentados no momento do protocolo, como Perfil Pro-fissiográfico Previdenciário – PPP e formulários de atividade especial, documentos rurais, CTPS, entre outros, a depender do caso. Na falta ou insuficiência da documentação, o servidor administrativo deve emitir carta de exigência, solicitando-se todos os documentos necessários ao reconhecimento do direito, com prazo mínimo de 30 dias (IN 45/2010, art. 586). O protocolo do benefício deve ser entregue ao requerente ou seu representante, devidamente assinado e carimbado pelo servidor res-ponsável pelo atendimento inicial.

1.2 Fase instrutória

Como se trata de uma aposentadoria por idade e uma aposentado-ria por tempo de contribuição, diferenciando-se apenas na redução dos requisitos concessórios, a fase instrutória segue os mesmos parâmetros destes benefícios. Assim, em termos resumidos:

a) se houver requerimento de reconhecimento de períodos rurais, deve--se realizar a entrevista rural com o requerente e a devida análise dos documentos, com emissão de exigência se for o caso;

b) se houver requerimento de justificação administrativa para compro-vação de vínculos urbanos ou atividade rural, deve sua realização ser submetida à autorização da chefia de benefícios da respectiva APS. Se autorizada, deve ser realizada e homologada quanto à forma pelo processante e quanto ao mérito pela chefia de benefícios (IN 45/2010, arts. 596 e ss.);

c) deve-se avocar para apensamento autos de processos anteriores, quan-do solicitado ou quando necessário para a análise do novo requeri-mento, nos termos do art. 593 da IN 45/2010. No caso de realização de avaliações médico-periciais em requerimentos anteriores, deve-se apensar o processo anterior ao novo requerimento com o fornecimen-to, ao médico perito e ao assistente social, das avaliações anteriores

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para subsidiar a análise atual, como indica o Memorando Circular Conjunto nº 34 Dirben/DIRAT/INSS, de 18.10.2013.

d) quando necessário, deve-se emitir ofícios aos órgãos públicos ou pes-quisas externas, nos termos dos arts. 618 e ss. da IN 45/2010;

e) se houver requerimento de atividade especial, deve-se, após as exigên-cias necessárias, o período ser analisado pelo próprio setor administra-tivo quando se tratar de enquadramento por categoria profissional (até 28.04.1995), ou pelo setor médico, quando se tratar de enquadramen-to por exposição a agentes nocivos

Enfim, deve-se tomar todas as diligências necessárias para a análi-se dos requisitos concessórios. É obrigação da administração previden-ciária não apenas oportunizar tais mecanismos, mas também orientar e informar ao segurado como concretizá-los.

O que não é admissível é que o “Estado-juiz-de-sua-própria-causa” e absoluto nas informações veja-se de início como um litigante no proces-so previdenciário, guiando-se pelo desprezo ao direito fundamental que lhe é requerido ou pela sonegação de informações cruciais ao potencial beneficiário.3

Devido à hipossuficiência informacional do destinatário da tutela administrativa, muitas vezes tais instrumentos são ignorados por este, cabendo à Administração informá-los e conduzi-los com cooperação ao requerente, e jamais como um litigante em lado oposto no processo administrativo previdenciário.

1.2.1 Indeferimento sumário (artigo 2º do decreto nº 8.145/2013)

Como resumidamente visto anteriormente, deve-se utilizar todos os mecanismos processuais para a verificação do efetivo tempo de con-tribuição do requerente antes de qualquer agendamento de avaliação médica.

Somente após esta análise é possível verificar se o requerente pos-sui ou não os requisitos mínimos de concessão. Caso o segurado não possua os requisitos mínimos, sua perícia não é realizada e o benefício é

3 SAVARIS, José Antônio. Op. cit., p. 183.

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indeferido sem análise de sua deficiência. É o que dispõe o art. 2º, § 1º, do Decreto nº 8.145/2013:

Art. 2º A pessoa com deficiência poderá, a partir da entrada em vigor deste Decreto, solicitar o agendamento de avaliação médica e funcional, a ser realizada por perícia própria do INSS, para o reconhecimento do direito às aposentadorias por tempo de contribuição ou por idade nos termos da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013.

§ 1º Até dois anos após a entrada em vigor deste Decreto será realizada a avaliação de que trata o caput para o segurado que requerer o benefício de aposentadoria e contar com os seguintes requisitos:

I – no mínimo vinte anos de contribuição, se mulher, e vinte e cinco, se homem; ou

II – no mínimo quinze anos de contribuição e cinquenta e cinco anos de idade, se mulher, e sessenta, se homem.

§ 2º Observada a capacidade da perícia própria do INSS, de acordo com a demanda local, poderá ser realizada a avaliação do segurado que não preencha os requisitos mencionados no § 1º.

Previu-se, com tal dispositivo, que a realização de perícia e avalia-ção social somente deva ocorrer nos casos em que o requerente possui os requisitos mínimos de concessão, quais sejam:

a) para aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com defi-ciência – 20 anos de contribuição, se mulher, e 25 anos de contribui-ção, se homem;

b) aposentadoria por idade da pessoa com deficiência ou uma – 15 anos de contribuição e 55 anos de idade, se mulher, e 60 anos de idade, se homem.

Explica-se: caso fosse identificada uma deficiência grave, o máxi-mo de redução no tempo de contribuição seriam 10 anos; assim, se o se-gurado requerente de uma aposentadoria por tempo de contribuição não tiver pelo menos 20 ou 25 anos de contribuição, se mulher ou homem, respectivamente, a perícia nem chega a ser agendada, eis que mesmo com a máxima redução do requisito contributivo o segurado não faria jus ao benefício naquele momento.

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De igual maneira, se o requerente de uma aposentadoria por idade não tiver o requisito mínimo de 15 anos de contribuição, ou não tiver a idade suficiente mesmo com a redução de 5 anos, também não se sub-mete ao exame pericial, pois naquele momento o benefício não poderia ser concedido mesmo que fosse identificada a deficiência do requerente.

Na verdade, o art. 2º, § 1º, do Decreto nº 8.145/2013 é um eviden-te filtro criado pela Administração Previdenciária para evitar o excesso de demanda na realização de pericias médicas. Como se sabe, a insufi-ciência de peritos médicos no quadro de servidores do INSS ainda é uma realidade que não foi sanada, mesmo com a crescente necessidade do conhecimento de tais profissionais no dia a dia da Previdência Social4. Assim, idealizou-se uma maneira de concentrar as avaliações periciais, pelo menos nos dois primeiros anos, tão somente nos casos em que os benefícios podem efetivamente serem concedidos. Porém, facultou-se às agências com menor demanda a realização das avaliações mesmo quando o requerente não possui os requisitos mínimos para a concessão.

Ocorre que o segurado nada tem a ver com a realidade estrutural da Autarquia Previdenciária e deveria sim ser submetido à avaliação mé-dica e social se assim desejasse. Como afirmado, a concretude da funda-mentalidade do direito à previdência pressupõe a prévia observância do devido processo administrativo, pois não há efetiva proteção previden-ciária se o instrumento da tutela administrativa não respeita princípios basilares.

Neste ponto, o art. 2º, § 1º, do Decreto nº 8.145/2013 viola o prin-cípio da ampla defesa. Sobre tal princípio no processo administrativo previdenciário, expõe Marcelo Barroso Lima Brito de Campos5:

4 Entre outras situações, análise médica é imprescindível para a identificação: (i) de incapacidade laborativa para os benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez; (ii) de redução da capacidade laboral e existência de sequelas para o auxílio-acidente; (iii) de doenças graves para a isenção de carência como requisito concessório ou isenção do imposto de renda sobre o valor dos benefícios previdenciários; (iv) de necessidade permanente de assistência de terceiros para a majoração de 25% na aposentadoria por invalidez; (v) de existência de invalidez para filhos e irmãos maiores de 21 anos serem considerados dependentes; (vi) de existência de impedimento de longo prazo para o benefício assistencial de amparo ao deficiente e para a redução de requisitos concessórios na aposentadoria por idade e por tempo de contribuição (LC 142/2013); (vii) de existência de invalidez para maiores de 14 anos para fins de salário-família; (viii) de existência ou não de Nexo Técnico Epidemiológico – NTEP, Nexo profissional – NP ou Nexo Individual – NI; (ix) de exposição a agente nocivo para fins de caracterização de atividade especial (salvo na hipótese de enquadramento por categoria profissional); (x) da doença e do grau de dependência dos portadores da síndrome de talidomida.

5 Curso de processo administrativo previdenciário. Processo administrativo de benefícios no RGPS. Curitiba: Juruá, v. I, 2013.

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Desse princípio decorrem várias situações concretas, como a oportuniza-ção às partes de se manifestarem no processo, ter vista dos autos, reque-rer e produzir provas, recorrer e contrarrazoar recursos, dentre outros. Na verdade, a ampla defesa não possui um rol fechado de meios necessários à sua realização, mas exemplos destes meios.

Por outro lado, também não se pode fechar os olhos para a realida-de. Deve-se levar em consideração que a avaliação da deficiência pelo INSS é tão somente para fins previdenciários e, caso ainda preenchido os requisitos mínimos para a concessão, o requerente submeter-se-ia a uma avaliação sem a possibilidade de, naquele momento, efetivamente fruir do benefício.

Repise-se, todavia, que o servidor deve tomar todas as diligências necessárias e se ater a toda a documentação possível do segurado para fins de apuração dos requisitos mínimos, além de verificar todas as vari-áveis possíveis no caso como existência de atividade especial, atividade rural, tempo de exército ou aluno aprendiz, acordo internacional, com-pensação recíproca, entre várias outras possibilidades. Jamais a análise deve pautar-se apenas no CNIS, pois este, na maioria das vezes, não reflete a realidade contributiva do segurado.

Deste modo, por força do art. 2º, § 1º, do Decreto nº 8.145/2013, após todas as exigências e diligências possíveis, se verificar que o reque-rente não preenche os requisitos mínimos para a concessão, a avaliação pericial não é agendada e o benefício é indeferido pelo motivo: “A defi-ciência não foi avaliada pela perícia própria do INSS, por não preenchi-mento dos requisitos mínimos”.

Do contrário, possuindo o requerente os requisitos mínimos de concessão, a avaliação médico-pericial é agendada.

1.2.2 avaliação médica

No dia e horário agendado, o segurado deve comparecer à APS para realização da análise médico-pericial. O Memorando Circular Conjunto nº 34 Dirben/DIRAT/INSS, de 18.10.2013 dispõe que a falta do requerente impõe ao INSS a análise do processo sem a verificação da deficiência, não cabendo reagendamento desta data. Tal previsão é altamente discutível: muito embora se trate de um benefício programa-do, que não acoberta a incapacidade laborativa, impor ao segurado um

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novo requerimento do benefício pode prejudicá-lo sobremaneira, além de gerar retrabalho para a própria Agência da Previdência Social – APS, sendo completamente irrazoável a inexistência de previsão para reagen-damento em caso de falta justificada.

No dia da perícia, deve o requerente trazer toda a documentação médica que revele existência da deficiência e, principalmente, o seu início. É o médico perito, com base na documentação, que vai fixar a DIIMP – Data de Início do Impedimento, ou seja, a data em que se iniciaram os impedimentos de longo prazo do requerente. Também é o médico perito, com base nos documentos do requerente, que poderá fixar a DAIMP – Data de Alteração do Impedimento, isto é, o possível momento que houve agravamento ou redução do grau de deficiência. Após a avaliação social e soma da pontuação, se verificada a deficiên-cia, tais datas passam a figurar como o início da deficiência e suas pos-síveis oscilações de grau.

Tais datas não podem ser fixadas em prova exclusivamente tes-temunhal (LC 142, art. 6º, § 2º). Por isso a importância da documenta-ção trazida pelo requerente. Em sendo necessário, o médico perito deve emitir Sima – Solicitações de Informações do Médico Assistente para maiores subsídios na análise, que deve ser cumprido pelo segurado no prazo de 30 dias.

Se a Sima não for atendida pelo requerente, não apresentando--se os documentos solicitados, a avaliação social não é agendada e o processo é finalizado pelo servidor administrativo, considerando-se o tempo sem identificação de deficiência.

Mas, trazidos os documentos médicos requeridos, ou se não emiti-da Sima pelo perito, este deve finalizar o preenchimento dos formulários no sistema de benefícios (Prisma) com: (i) a identificação da avaliação e do avaliado; (ii) a caracterização do avaliado com o diagnóstico médico, tipo de impedimento e suas datas técnicas (DIIMP e DAIMP), a história clínica (anamnese) e as funções corporais acometidas; e (iii) a aplicação do instrumental com pontuação nas 41 atividades divididas nos sete do-mínios, observadas a sinalização das barreiras externas quando necessá-rio e as respostas para a incidência do método linguístico Fuzzy6.

6 Para maiores detalhes sobre a identificação e gradação da deficiência, vide a obra de minha autoria: Aposentadoria da pessoa com deficiência..., cit.

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Concluída a avaliação médica, ocorre o agendamento da avalia-ção social do requerente7.

1.2.3 avaliação social

Na data agendada para a avaliação social, o requerente deve com-parecer na APS para a entrevista e análise do assistente social. O tipo de impedimento, as funções corporais acometidas, o diagnóstico e as datas de início e alteração de impedimento já foram fixadas pelo médico e não podem ser alteradas pelo assistente social.

Embora menos usual, também é facultado ao assistente social re-querer documentos que achar necessário, procedimento denominado de SIS – Solicitação de Informação Social, com prazo de cumprimento de 30 dias. Se a SIS não for atendida pelo requerente, o processo é finaliza-do pelo setor administrativo sem a conclusão da avaliação.

Cumprida a SIS, ou não emitida, o preenchimento dos formulários de avaliação social deve ser finalizado pelo assistente social no sistema de benefícios (Prisma) com: (i) a identificação da avaliação e do avalia-do; (ii) a história social do requerente; e (iii) a aplicação do instrumental com pontuação nas 41 atividades divididas nos sete domínios, observa-das a sinalização das barreiras externas quando necessário e as respostas para a incidência do método linguístico Fuzzy.

Concluída a avaliação social, o setor administrativo deve concluir o processo, passando-se à fase decisória, com a concessão ou o indefe-rimento do benefício.

1.3 Fase decisória

Após o término das avaliações médica e social, com a pontuação atribuída por cada profissional, já é possível identificar a existência ou não de deficiência, o seu grau, as datas de início e eventuais alterações. Também já é possível verificar quanto tempo de carência e de contribui-ção o requerente possui, haja vista que todo o levantamento deve ser fei-

7 Destaca-se que a ordem das avaliações para os benefícios da Lei Complementar nº 142/2013 é diferente do procedimento previsto para o benefício assistencial de amparo ao deficiente previsto na Lei nº 8.742/1993. Neste benefício, o requerente já obtém as datas das avaliações no atendimento inicial e primeiramente se faz a avaliação social para, em um segundo momento, realizar-se a perícia médica.

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to antes das avaliações. Assim, o processo está pronto para ser concluído, com a devida análise do servidor responsável.

Nesta fase, o benefício deve ser concedido caso preenchido todos os requisitos concessórios. Em caso de indeferimento, os seguintes moti-vos constam no sistema de benefícios (Prisma):

a) em aposentadoria por idade:

1. O(a) requerente não tem a idade mínima exigida pela lei – será apli-cado quando não restar reconhecida pela perícia médica e social a deficiência e, assim, não possuir a idade mínima para tal benefício;

2. O(a) requerente não comprova 15 anos de contribuição como defi-ciente. O período declarado foi considerado como deficiente pela pe-rícia do INSS – será aplicado quando avaliado pela equipe médica e social, restar constatado deficiência, mas ainda não comprova 15 anos de tempo de contribuição com deficiência.

3. O(a) requerente não tem a carência mínima de 180 contribuições – será aplicado quando não possuir a carência de 180 meses.

4. O(a) requerente não comprova 15 anos de contribuição como defi-ciente. O período declarado não foi considerado como deficiente pela perícia do INSS – será aplicado quando avaliado pela equipe médica e social e não restar enquadrado como deficiente.

b) em aposentadoria por tempo de contribuição:

1. Falta de tempo de contribuição. O período declarado não foi consi-derado como deficiente pela perícia do INSS – será aplicado quando avaliado pela equipe médica e social e não restar enquadrado como deficiente e, dessa forma, não possuir o tempo exigido.

2. Falta de tempo de contribuição – será aplicado quando não possuir o tempo mínimo exigido.

3. O(a) requerente não tem a carência mínima de 180 contribuições – será aplicado quando não possuir a carência de 180 meses.

Tais motivos constam na carta de indeferimento e são sucintos apenas para identificação do motivo. Sem prejuízo, deve-se o servidor

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expor todos os motivos de sua decisão, bem como eventuais peculiari-dades ocorridas durante a instrução processual, em despacho decisório de maior detalhamento constante no processo, cumprindo-se a necessi-dade de fundamentação do ato administrativo.

Concedido o benefício, o mesmo passa do reconhecimento do di-reito para o status de benefício em manutenção, em que outras questões podem ser ventiladas como mudança de local de pagamento, represen-tação para recebimento de valores, pagamentos alternativos, revisão, atualizações, entre outros.

Caso indeferido, o requerente irresignado pode interpor um recur-so ordinário em 30 dias contados de sua ciência, direcionado à Junta de Recursos, deflagrando-se, assim, a fase recursal.

1.4 Fase recursal

O art. 194, VII, da CF/1988 prevê que a administração da Segu-ridade Social deve possuir caráter democrático e descentralizado, me-diante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Isto significa que a gestão da Seguridade Social não deve ser unilateral e exige, além do governo, a participação de toda sociedade representada pelos empregadores, trabalhadores e aposentados.

Para além disso, a composição paritária e democrática, como prin-cípio constitucional, é encontrada não apenas na gestão administrativa da Previdência Social, mas também no controle dos próprios atos ad-ministrativos concessórios ou indeferitórios de benefícios do INSS, por meio do Conselho de Recursos da Previdência Social – CRPS.

Assim, o processo desloca-se da tutela do INSS para o controle de um órgão colegiado de composição democrática, com independência técnica e integrante do Ministério da Previdência Social, não vinculado, portanto, às orientações emanadas da Autarquia Previdenciária.

Quanto aos recursos, aplicam-se aos benefícios em comento os mesmos instrumentos previstos para outros benefícios, conforme Por-taria MPS nº 548/2011 (Regimento Interno do CRPS). Assim, é possível o manejo do recurso ordinário à Junta de Recursos, do recurso especial

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à Câmara de Julgamentos, de embargos de declaração, do pedido de uniformização de jurisprudência e da reclamação ao Conselho Pleno, a depender da situação.

Ocorre que nos benefícios em voga há uma análise médica em debate. Assim, no momento do recurso ordinário em que se discutem a existência e o grau da deficiência, deveriam o médico perito e o assisten-te social da APS novamente serem suscitados, para possível reconsidera-ção da análise, consoante art. 34 da Portaria MPS nº 548/2011.

É o que ocorre, por exemplo, nos benefícios assistenciais ao por-tador de deficiência previsto na Lei nº 8.742/1993, em que é obrigato-riamente realizada nova avaliação social e médica em grau de recurso, com diferentes profissionais, antes de encaminhar o processo à Junta de Recursos, com possibilidade de alteração da decisão do INSS quando identificado o impedimento de longo prazo.

Isso, inclusive, amenizaria a problemática da falta de profissionais médicos junto ao CRPS, em decorrência da “transitória” situação cau-sada pela Portaria nº 1.474/20128, possibilitando que os autos subissem com, no mínimo, dois resultados periciais de profissionais diferentes, o que garantiria maior segurança para a decisão do órgão recursal.

Entretanto, até o fechamento deste artigo, o sistema Prisma não se encontra preparado para isso. A Diretoria de Benefícios – Dirben do INSS chegou a emitir comunicado para o sobrestamento dos recursos até a adaptação do referido sistema, para possibilitar a realização de novas avaliações em grau de recurso. Entretanto, a nosso ver, um sobrestamen-to recursal na APS por mais de 30 dias viola o art. 31, § 3º, da Portaria MPS nº 548/2011, além de prejudicar sobremaneira o segurado, que nada tem a ver com a necessidade de adaptação dos sistemas corporati-vos da Administração Previdenciária.

8 A Portaria nº 1.474/2012 interrompeu temporariamente a cessão de médicos do quadro do INSS para o CRPS, dissolvendo-se a Assessoria Técnico-Médica que funcionava junto ao Órgão Recursal e era responsável pela análise das questões médicas em sede de recurso. Ocorre que tal situação permanece até hoje, impossibilitando uma análise técnica das questões médicas pelo CRPS, que se vale dos pareceres médicos do próprio INSS para a fundamentação decisória.

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CoNCluSão

Como exposto, a concretude da fundamentalidade do direito à previdência pressupõe a prévia observância do devido processo admi-nistrativo como outro direito fundamental do segurado ou seu depen-dente. Não há efetiva proteção previdenciária se o instrumento da tutela administrativa não respeita os princípios que norteiam a busca pelo re-conhecimento do direito previdenciário, seja no deságue de uma regular concessão, seja no indeferimento devidamente motivado.

Neste sentido que o desenrolar do processo administrativo em que se busca a concretização de um direito previdenciário não pode ser visto como mera sequência de atos em que figuram o requerente, de um lado, e, de outro, antagonicamente, a Administração Pública detentora das informações e com interesses opostos. Muito pelo contrário: o processo administrativo deve ser conduzido com cooperação ao potencial be-neficiário, informando-lhe e oportunizando-se instrumentos processuais para melhor exposição de sua pretensão.

Tal cenário, com mais razão, deve se impor quando se trata dos direitos das pessoas com deficiência. Em contramão disso, ao menos três pontos críticos e preocupantes foram expostos neste artigo, que certa-mente atentam contra a ampla defesa e demais princípios observáveis em um devido processo justo: i) não oportunização de nova avaliação ao faltante, mesmo com justificativa; ii) indeferimento sumário do reque-rimento sem oportunizar a avaliação médica, no pressuposto adminis-trativo de que o requerente não possui requisitos concessórios mínimos; e iii) atual impossibilidade de nova análise em fase recursal pelo CRPS devido à não adaptação do Sistema Prisma.

referêNCIaS

CAMPOS, Marcelo Barroso Lima Brito de. Curso de processo administrati-vo previdenciário. Processo administrativo de benefícios no RGPS. Curitiba: Juruá, v. I, 2013.

SAVARIS, José Antônio. Direito processual previdenciário. 5. ed. Curitiba: Alteridade, 2014.

SOARES, João Marcelino. Aposentadoria da pessoa com deficiência. 2. ed. Juruá, 2014.

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Parte Geral – Doutrina

Contextualização das Microrreformas Previdenciárias Face ao Princípio da Vedação de Retrocesso Social

TATIANA CONCEIçÃO FIORE DE ALmEIDADoutoranda em Direito Constitucional pela Universidade de Buenos Aires (UBA), Especialista em Direito do Trabalho e Previdenciário pela Escola Superior de Advocacia da OAB/SP (ESA), Diretora do Conselho Federal do Instituto dos Advogados Previdenciários (IAPE), Professora, Advogada Militante, Consultora, Autora, Parecerista.

RESUMO: O artigo situa a supressão de direitos impostos pelas microrreformas como inge-rência dos poderes, na preservação de direitos fundamentais sociais, como mola propulsora de insegurança jurídica na efetivação do bem-estar social garantidor da dignidade da pessoa humana, por meio da análise do princípio da vedação de retrocesso e sua interferência efetiva na estabilidade constitucional em face dos direitos sociais, a fim de evitar que a ordem jurídica sofra com a insegurança reformista, para suprir necessidade diversa do fato gerador da contri-buição previdenciária.

PALAVRAS-CHAVE: Direito previdenciário; vedação ao retrocesso; direitos fundamentais; direito social; ciência política.

SUMÁRIO: Introdução; 1 A constitucionalização do direito previdenciário; 2 Os direitos sociais como direito fundamental social; 3 O princípio implícito na constituição de vedação ao retro-cesso social; 3.1 O neoliberalismo e o “Estado mínimo”; 3.2 Conflito com o princípio da reserva do possível; 3.3 O princípio de vedação ao retrocesso e o dever de concretização do núcleo essencial dos direitos sociais; 4 As microrreformas de 2014 e o retrocesso social; Conclusão.

INtrodução

As microrreformas previdenciárias (como são conhecidas por to-dos) que surgiram em 30.12.2014 não nasceram das aspirações sociais, não foram fruto de um debate político pautado pelos principais presi-denciáveis. No dado momento histórico, o Governo Federal prometeu expressamente não mexer nos direitos dos trabalhadores.

Essa quebra de confiança política deu-se unicamente como rea-ção ao intento governamental, isto mesmo, a Presidente da República

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editou duas medidas provisórias1 que alteraram critérios de concessão de alguns benefícios, nomeadamente regra alternativa ao fator previden-ciário, auxílio-doença e pensão por morte, e reduziu o acesso ao seguro--desemprego.

Pautado no aumento de sobrevida da população e em um falso déficit previdenciário, o governo não resguardou o núcleo essencial dos direitos fundamentais sociais, o que gerou instabilidade nas conquistas dispostas na Carta Política, com a permissividade do Estado alterar, quer seja por mera liberalidade, ou como escusa de realização dos direitos sociais.

A explicitação constitucional de uma série de direitos fundamen-tais, entre os quais se destacam as regras pétreas dos direitos sociais, é uma das características de destaque do constituinte por certa e deter-minada ordem de valores, centrada no protagonismo do ser humano como fundamento e fim último do Estado Democrático de Direito assim instituído.

Para que exista concretização de direitos sociais, o Estado, em suas três funções, deve agir de forma a não barrar o progresso pátrio, pe-los próprios princípios basilares, em que a dignidade da pessoa humana é reconhecida como fundamento do Estado brasileiro no art. 1º, III, da Constituição Federal, instituindo, como escopos basais, a construção da sociedade livre, justa e solidária; a garantia de desenvolvimento nacio-nal; a erradicação da pobreza, com a redução das desigualdades sociais e regionais; bem como a promoção do bem de todos, sem discrimi-nações.

Isso significa que a proteção dos direitos sociais deve dar-se con-forme o direito adquirido e contra medidas restritivas aos direitos funda-mentais.

1 a CoNStItuCIoNalIzação do dIreIto prevIdeNCIárIo

A proteção dos direitos previdenciários no Brasil deve ser contex-tualizada com base em uma análise sistemática do direito constitucional

1 MP 664/2014 (convertida na Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015) e MP 665/2014 (convertida na Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015).

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pátrio, a partir do momento em que é consagrado entre os direitos so-ciais fundamentais descritos no art. 6º da CF/1988, com normatização específica nos arts. 201 e 202 da Carta Magna.

Igualmente, a afirmação, já em nível constitucional, dos princí-pios e diretrizes pelos quais a Previdência Social deve ser organizada, a forma de programar os direitos aos benefícios previdenciários, notada-mente pela amplitude e, ao mesmo tempo, pelo detalhamento levado a efeito na narrativa do artigo, permite dizer que já apresenta os contornos de verdadeira garantia institucional fundamentada2.

O que não se vem levando em conta, ao menos por aqueles que defendem uma mitigação nos direitos fundamentais, é que esses direitos devem ser, na acepção pura da palavra “fundamental”, sob uma pers-pectiva material, de tal sorte que venham a proteger a dignidade humana dentro de um contexto amplo, não se restringindo a hipóteses prévias, ou mesmo a meras circunstâncias conjunturais legislativas, segundo en-sina Celso Antônio Bandeira de Mello:

O respeito à dignidade humana, estampado nos direitos sociais, é pa-trimônio de suprema valia e faz parte, tanto ou mais que algum outro, do acervo histórico, moral, jurídico e cultural de um povo. O Estado, enquanto seu guardião, não pode amesquinhá-lo, corroê-lo, dilapidá-lo ou dissipá-lo.3

Porém, chama a atenção José Joaquim Gomes Canotilho que “[...] ao legislador compete, dentro das reservas orçamentais, dos planos económicos e financeiros, das condições sociais e económicas do país, garantir as prestações integradoras dos direitos sociais, económicos e culturais”4, o que faz concluir que não se pode suprimir, por mais que se tente, os efeitos vinculantes dos direitos fundamentais.

A seriedade do que ora se assinala também ficou anotado por Francisco Fernández Segado, ao aduzir que:

2 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019. p. 148 e p. 178.

3 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social. Revista de Direito Público, São Paulo, n. 57-58, p. 248, jan./jun. 1981.

4 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador – Contributo para a compreensão das normas constitucionais programáticas. Coimbra: Coimbra Edital, Limitada, 1982. p. 369.

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Parece, pues, perfectamente oportuno afirmar que el derecho fundamen-tal para el hombre, base y condición de todos los demás, es el derecho a ser reconocido siempre como persona humana. El Derecho, el ordena-miento jurídico en su conjunto, no quedará iluminado, em términos de Lucas Verdú, legitimado, sino mediante el reconocimiento de la dignidad de la persona humana y de los derechos que le son inherentes.5

Evidencia-se, assim, que os direitos fundamentais vêm se tornan-do a pedra de sustentação de qualquer Estado Democrático de Direito, dadas as funções estruturais que eles apresentam em sintonia com os próprios princípios constitucionais contra medidas jurídicas, legislativas e administrativas que retrocedam às garantias sociais progressivas.

Conforme preleções de Flávia Piovesan, esta é a confiança de que efetivamente estes direitos fundamentais sociais terão eficácia, apesar de flexibilizados pela ingerência reformista, se assegurados pela essenciali-dade da dignidade da pessoa humana.

A dignidade da pessoa humana, vê-se assim, está erigida como princípio matriz da Constituição, imprimindo-lhe unidade de sentido, condicio-nando a interpretação das suas normas e revelando-se, ao lado dos direi-tos e garantias fundamentais, como cânone constitucional que incorpora “as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axioló-gico a todo o sistema jurídico brasileiro”.6

Em uma visão ampla sobre a importância dos direitos fundamen-tais, especialmente quanto à sua eficácia plena, posição que deveria ser acolhida por doutrinadores e Tribunais, vem defendendo Jorge Miranda:

Na verdade, precisamente por os direitos fundamentais poderem ser en-tendidos prima facie como direitos inerentes à própria noção de pessoa, como direitos básicos da pessoa, como os direitos que constituem a base jurídica da vida humana no seu nível atual de dignidade, como as ba-ses principais da situação jurídica de cada pessoal, eles dependem das filosofias políticas, sociais e econômicas e das circunstâncias de cada época e lugar. Não excluímos – bem pelo contrário – o apelo ao Direito

5 SEGADO, Francisco Fernández. La teoría jurídica de los derechos fundamentales en la Constitución Española de 1978 y en su interpretación por el Tribunal Constitucional. Revista de Informação Legislativa, Brasília, a. 31, n. 121, p. 74, jan./mar. 1994.

6 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 4. ed. São Paulo: Max Limonad, 2000.

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Natural, o apelo ao valor e à dignidade da pessoa humana, a direitos derivados da natureza do homem ou da natureza do Direito.7

Pode-se, sob esse aspecto, assentar em Canotilho que:

Fundamentando originariamente direitos a prestações, não é legítimo di-zer-se que as normas consagradoras destes direitos são leges imperfectae, sem qualquer conteúdo jurídico-constitucional antes da sua concretiza-ção legislativa.8

Porém, segundo Piovesan, impõe-se reforçar a necessidade da efi-cácia positiva de tais normas, inclusive com mecanismos de sanção em havendo a não observância a esses direitos, de tal sorte que:

[...] ensejaria a responsabilização dos poderes públicos, quando estes se mostrassem indiferentes, omissos e negligentemente impedissem o cumprimento das normas definidoras dos direitos e garantias funda-mentais.9

Nessa linha equivocada, é certo que os direitos sociais fundamen-tais vêm sendo relegados a níveis inferiores sob o argumento de serem despidos de eficácia.

Contudo, devemos admitir que os direitos sociais fundamentais estão atrelados à “reserva do possível” ou à vontade legislativa, de modo que tais direitos são inerentes ao próprio cidadão (saúde, traba-lho, previdência Social, assistência aos desamparados, etc.), o que im-pede que venham a ser ultrajados, seja pelo Estado, e não há margem para negar-se a plena eficácia, havendo claras imposições ao legisla-dor e ao Estado para que garantam meios para o exercício pleno desses direitos, a essa inércia legislativa, redundaria em uma inconstituciona-lidade por omissão.

7 MIRANDA, Jorge. A recepção da declaração universal dos direitos do homem pela Constituição Portuguesa – Um fenômeno de conjugação de direito internacional e direito constitucional. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 199, p. 2-3, jan./mar. 1995.

8 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op. cit., p. 379.9 PIOVESAN, Flávia C. Constituição e transformação social: a eficácia das normas constitucionais programáticas

e a concretização dos direitos e garantias fundamentais. Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, São Paulo, n. 37, p. 72, jun. 1992.

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2 oS dIreItoS SoCIaIS Como dIreIto fuNdameNtal SoCIal

O sistema constitucional brasileiro, diferentemente do que acon-tece em outros países, consagrou o direito à Previdência Social como direito fundamental social. O que significa isso?

Significa que possuem a mesma fundamentalidade atribuída aos direitos e garantias individuais e estão elevados à cláusula pétrea.

Em termos formais, seria dizer que, por meio da cláusula de aber-tura inserida no § 2º do art. 5º da CF/1988, é possível a extensão do regime de proteção constitucional reforçada para outros direitos além daqueles arrolados no art. 5º, mesmo se não previstos de maneira ex-pressa no texto, desde que decorrentes do regime e dos princípios ado-tados pela Constituição, bem como dos tratados internacionais de que a República Federativa do Brasil seja parte.

Ainda sob o aspecto formal da fundamentalidade, as normas de direitos sociais são dotadas de aplicabilidade imediata, como assegura o § 1º do art. 5º da Constituição, considerado como um mandado de oti-mização10 para o intérprete-aplicador, a indicar que deva privilegiar a in-terpretação que maior eficácia confira ao direito fundamental em causa.

Da mesma maneira que os direitos fundamentais, os direitos so-ciais também se encontram protegidos pelos limites materiais ao poder de reforma e à vedação de retrocesso.

Nesse aspecto, a fundamentalidade material diz respeito à averi-guação da importância do bem constitucionalmente protegido para a comunidade na qual se insere a Constituição.

10 A melhor exegese da norma contida no art. 5º, § 1º de nossa Constituição é a que parte da premissa de que se trata de norma de cunho inequivocamente principiológico, considerando-a, portanto, uma espécie de mandado de otimização (ou maximização), isto é, estabelecendo aos órgãos estatais a tarefa de reconhecerem a maior eficácia possível aos direitos fundamentais [...] [sendo certo, por isto, que] seu alcance (isto é, o quantum em aplicabilidade e eficácia) dependerá do exame da hipótese em concreto, isto é, da norma de direito fundamental em pauta.

No caso dos direitos fundamentais, à luz do significado outorgado ao art. 5º, § 1º, de nossa Lei Fundamental, pode-se afirmar que aos poderes públicos incumbem a tarefa e o dever de extrair das normas que os consagram (os direitos fundamentais) a maior eficácia possível, outorgando-lhes, neste sentido, efeitos reforçados relativamente às demais normas constitucionais, já que não há como desconsiderar a circunstância de que a presunção da aplicabilidade imediata e plena eficácia que milita em favor dos direitos fundamentais constitui, em verdade, um dos esteios de sua fundamentalidade formal no âmbito da Constituição, o que induz à afirmação de que, em certo sentido, os direitos e princípios fundamentais regem e governam a própria ordem constitucional (SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 270-271).

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Na sociedade brasileira, o mencionado protagonismo da pessoa humana, assim como a vinculação constitucional da República à cons-trução da sociedade livre, justa e solidária, voltada à redução das desi-gualdades sociais e regionais, em última análise, à promoção do bem de todos, sem discriminações, endossa a relevância de bens jurídicos da Seguridade Social, em sua extensão máxima (saúde, Previdência, assis-tência), e da fundamentalidade material, requisitada nos ensinamentos de Celso Antônio Bandeira de Mello.

Nesse diapasão, o direito à Previdência, explicitamente previsto no art. 6º da CF/1988, é direito fundamental em sentido material e for-mal, pois condiciona em grande medida o uso e a fruição dos direitos, notadamente quando assimilada à ideia de qualidade de vida digna, certamente porque não foge à constatação do caráter alimentar que lhe presta em substituição ao salário.

Os direitos sociais estão classificados como direitos fundamentais de segunda dimensão, pois visam a conceder aos indivíduos uma vida digna, como pressupostos para a concretização dos demais direitos, e integram a Constituição de 1988, formal e materialmente, revelando a sua posição de destaque no âmbito da normativa constitucional.

Andreas Joachim Krell adverte que a Constituição alemã de Weimar de 1919 foi considerada a mais importante como garantidora dos direitos fundamentais de segunda geração. Contudo, em razão da falta de efetividade desses direitos, a aludida Carta foi considerada um fracasso pelos alemães. Nesse sentido, resolveu-se não inserir os direi-tos subjetivos a prestações positivas do Estado na Constituição de 1949, buscando-se, com isso, a garantia da efetividade das normas constitu-cionais11.

No Brasil, vivemos uma contrarrevolução social, ou uma evolução reacionária, pois nosso problema atualmente não está relacionado à fal-ta de eficácia social e/ou efetividade dos direitos fundamentais sociais; as microrreformas previdenciárias estão retrocedendo, recuando direitos conquistados pela sociedade sequiosa e carente, dificultando acesso a essas garantias, a ponto de quiçá acreditarmos que estamos retroagindo

11 KRELL, Andreas Joachim. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: os (des)caminhos de um direito constitucional “comparado”. [S.l.]: Fabrins, 2002.

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a era assistencialista, fase em que não havia direito subjetivo do necessi-tado à proteção social, mas mera expectativa de direito12.

3 o prINCípIo ImplíCIto Na CoNStItuIção de vedação ao retroCeSSo SoCIal

O princípio de vedação ao retrocesso social é um princípio que proíbe ao legislador a supressão ou alteração das normas infraconstitu-cionais que concretizam normas constitucionais de direitos sociais de serem violados em sua eficácia.

Esse princípio implícito seria a mola mestra para conduzir a esta-bilidade dos direitos fundamentais que asseguram a dignidade da pessoa humana como um todo e, por consequência, atrair a efetividade da se-gurança jurídica no Estado de Direito.

Observa-se que o assunto é totalmente atual e relevante, pois, diante da denominada crise do Estado Social em que vivemos e da ten-tativa de se estabelecer um Estado minimalista, com ideologia neolibe-ral, o manejo adequado do princípio de vedação ao retrocesso social se constitui em uma arma importante para a proteção e a busca da máxima efetividade dos direitos sociais fundamentais.

3.1 O neOliberalismO e O “estadO mínimO”

Atentemos ao fato de que o neoliberalismo não se embaraça com o liberalismo clássico, que fomentava um Estado mínimo, porém indutor das forças econômicas e com certo compromisso entre capital e traba-lho, chamado de Fordismo. Na contramão, o neoliberalismo representa a retomada do modelo clássico aplicado ao capitalismo contemporâneo, não prevê qualquer reciprocidade, é abertamente concorrente; encerra, ao revés, uma matriz intelectual desconstrutivista do primado constitu-cional encestado no art. 1º, inciso IV, e, nesse condão, dos arts. 6º, 170 e 193 da Lex Magna, à qual deve se submeter o Estado, sob pena de arruinar-se no mercado internacional.

12 Ressalta-se, nesse contexto, a existência do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto nº 591, de 6 de julho de 2012. Referido pacto é um dos três instrumentos que constituem a Carta Internacional de Direitos Humanos e estabelece vários deveres aos Estados aderentes, no intuito de garantir aos cidadãos a fruição plena dos direitos nele reconhecidos.

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Por amor ao debate, a Constituição Federal de 1988 dissemina esse neoliberalismo, defendendo a corrente teórica do “Estado mínimo”, em que o Estado é um agente que deveria se recolher ao máximo, trans-ferindo a tomada de decisões, de forma crescente, para o plano priva-do e repassando serviços básicos estatais para as empresas particulares, deixando, assim, a sociedade sob o escudo da “eficiência” e da “livre concorrência”.

Queremos demonstrar, com isso, onde ocorre o rompimento entre a proteção idealizada e a existente, com a influência do neoliberalismo.

[...] Com o advento da Constituição, há o nascimento de um Sistema Nacional de Seguridade Social, o qual possui a finalidade precípua de assegurar o bem-estar e a justiça sociais, para que, desta forma, ninguém seja privado do mínimo existencial, ou seja, para que a todos os cidadãos seja assegurado o princípio da dignidade humana e é pautado, por vários princípios, dentre eles o princípio da universalidade de cobertura e de atendimento, o que demonstra que possui um caráter ideário.

Cumprem ressaltar que, dentro da Seguridade Social, os serviços de saú-de e de assistência social não dependem de custeio, em contrapartida, os serviços de Previdência Social dependem da contraprestação para terem direito aos benefícios, e é essa necessidade rompe com o mencionado ideário [...].13

Esse seria o papel do princípio de vedação ao retrocesso social, que está diretamente ligado ao pensamento do constitucionalismo diri-gente de J. J. G. Canotilho, que estabelece as tarefas de ação futura ao Estado e à sociedade com a finalidade de dar maior alcance aos direitos sociais e diminuir as desigualdades. De modo que deveríamos entender os direitos sociais como irredutíveis, passíveis somente de modificações que aumentassem seu alcance. No contexto, I. W. Sarlet bem diz:

[...] a segurança jurídica, na sua dimensão objetiva, exige um patamar mínimo de continuidade do (e, no nosso sentir, também no) Direito, ao passo que, na perspectiva subjetiva, significa a proteção da confiança do cidadão nesta continuidade da ordem jurídica no sentido de uma segu-rança individual das suas próprias posições jurídicas.

13 GARCIA, Valdinei Pereira (Org.). ALMEIDA, Tatiana Conceição Fiore de (Articulista). Comentários contextuais das regras de concessão de aposentadoria à luz da Constituição. In: Temas atuais de direito constitucional. São Paulo: LTr, 2015. p. 199.

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Certo é que a Carta Constitucional promulgada na guinada neoli-beral sustentou a instituição do Estado Democrático de Direito e o Bem--Estar Social, na melhor das compreensões, que logo detonou em um processo de desfazimento ou não realização dos direitos fundamentais sociais ali garantidos. Razão pela qual, mesmo que implícito o princípio de vedação ao retrocesso social, face ao movimento de esfacelamento de direitos sociais ocasionado por essas microrreformas, simboliza uma flagrante violação à ordem constitucional, que, na qualidade de direitos constitucionais fundamentais, os direitos sociais são direitos intangíveis e irredutíveis, sendo provido da garantia da suprema rigidez, o que torna inconstitucional qualquer ato que tenda a restringi-los ou aboli-los.

3.2 cOnFlitO cOm O princípiO da reserva dO pOssível

Outro aspecto do princípio da vedação ao retrocesso social é o conflito com o princípio da reserva do possível.

É certo que o Estado só pode dar aquilo que não lhe prejudicará financeiramente, que lhe possibilitará continuar prestando serviços, este é a reserva do possível, mas, então, como o Estado prevê direitos de ordem fundamental que não poderá cumprir por inexistência de verbas?

A reserva do possível traduz a necessidade de normatizar, execu-tar e julgar somente o que os cofres públicos podem oferecer, ou seja, o Estado deve evitar a elaboração de leis que garantam ao povo direitos que não poderão ser efetivados, fazendo com que a máquina judiciária seja acionada a fim de obrigá-lo a liberar proventos.

Este argumento da reserva do possível somente deve ser acolhido se o Poder Público demonstrar suficientemente que a decisão causará mais danos do que vantagens à efetivação de direitos fundamentais, e o ônus da prova de que não há recursos para realizar os direitos sociais é do Poder Público.

Dessa necessidade de provas, de demonstração que o Poder Pú-blico não possui elementos orçamentários e financeiros para efetivação de direitos sociais fundamentais, e da plausibilidade aos fundamentos de relevância e urgência para introduzir as microrreformas é que o governo simula a existência do déficit previdenciário.

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Façamos uma breve análise sobre o engodo denominado déficit previdenciário, em que a base do financiamento da Seguridade Social, em suas três vertentes, foi diversificada, passando a ser financiada por toda a sociedade, compreendendo a União, os Estados, o Distrito Fe-deral e os Municípios, e, ainda, os empregadores, os trabalhadores, os concursos e prognósticos e o importador de bens e/ou serviços do exte-rior. Nesse rol, inclui ainda a CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, a Cofins – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, e todas deveriam ser destinadas ao Fundo do Regime Geral da Previdência.

A questão é tão complexa que, se analisarmos o art. 165, § 5º, incisos da Constituição, estabelece que a Lei Orçamentária Anual (LOA) compreende três orçamentos distintos, porém a Controladoria-Geral da União elabora apenas dois orçamentos, unificando o orçamento fiscal e o da Seguridade Social, tornando quase impossível isolá-los, e o mon-tante é destinado para o pagamento de outras despesas, entre elas a dívida pública.

Assim, a alegação de que não existem recursos nos cofres Públicos da Previdência Social não procede, pois, a cada ano, milhões de reais saem oficialmente da Seguridade Social para serem aplicados em outros fins.

Como verificamos, a questão da aplicação da reserva do possível sem critérios concretos e justificadores para limitar a efetivação dos di-reitos sociais pode significar sim uma afronta ao princípio de vedação ao retrocesso social.

O princípio em questão que vem vincular o direito à economia, proporcionando uma parceria que por vezes age tão somente como desculpa de não adimplência dos direitos assegurados ao povo por lei. Chamar o princípio da reserva do possível para retroceder direitos fun-damentais sociais de trabalhadores, beneficiários e pensionistas, e na sequência elaborar a PEC 87/2015 para aumentar de 20% para 30% o valor da Desvinculação das Receitas da União (DRU), dos recursos destinados aos programas sociais em especial as ações do sistema de Seguridade Social, é confessar que a previdência é superavitária, sendo uma heresia usar a ignorância política dos brasileiros como instrumento

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de gestão governamental para permitir que recursos das contribuições sociais sejam desviados para amortizar dívida pública Federal.

3.3 O princípiO de vedaçãO aO retrOcessO e O dever de cOncretizaçãO dO núcleO essencial dOs direitOs sOciais

É cediço que não existe plausibilidade na exposição dos motivos das medidas provisórias que mitigaram, cercearam, desmantelaram a Previdência Social brasileira no final de 2014, tampouco nas que estão para ser votadas no Congresso Nacional em 2016.

Então, estamos diante de mais uma das desculpas inconsistentes, outro argumento pífio dos tantos já usados, como o “falso” déficit previ-denciário, a necessidade de flexibilização dos direitos trabalhistas para redução dos índices de informalidade e subemprego. Como justificar o que é injustificável? Como explicar, dentro desse modelo neoliberal, a necessidade de desproteger para proteger os direitos fundamentais hu-manos?

Bem como já foi destacado antes, o legislador não pode, após a efetivação de um direito social no plano da legislação infraconstitucio-nal, suprimi-lo afetando o seu núcleo essencial concretizado.

O núcleo essencial do direito fundamental social carece ser sem-pre resguardado.

Existem duas correntes doutrinárias que explicam o núcleo essen-cial dos direitos sociais. A primeira, denominada de absoluta, identifica o conteúdo essencial do direito fundamental como uma medida fixa, relativa aos elementos típicos que configuram o direito, no sentido de que não pode ser afetada, sob pena de inconstitucionalidade. A segunda corrente, denominada de relativa, considera que a afetação desse núcleo se verifica quando o direito é limitado além do que obrigava a justifica-ção constitucional da intervenção.

Verificamos, então, que o princípio de vedação ao retrocesso so-cial deve poupar um núcleo essencial, que impeça que o legislador reti-re a concretização de uma norma de direito fundamental social, sem que sejam criados mecanismos equivalentes ou compensatórios.

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Quando tratar da questão da substituição de uma lei por outra, com matéria idêntica, a posição mais correta é aquela que defende a impossibilidade de revogação do núcleo essencial dos direitos funda-mentais sociais, sem que se crie uma nova lei substitutiva da revogada. Quando tratar de supressão ou alteração de uma norma infraconstitu-cional que concretizava o núcleo essencial de um direito social, nota-se que necessita incidir, sempre, a prevalência do princípio da vedação do retrocesso social, que abrigará este núcleo.

Assim, a Nichtumkehrbarkeits theorie, ou teoria da irreversibilida-de, teria como ponto de partida a afirmativa de que não se pode desvir-tuar o conteúdo substantivo da vinculação social do Estado diretamente da Constituição, mas, uma vez determinadas as regulações, ou o ajus-tamento legal ou regulamentado este princípio, as medidas regressivas que derivam destas regulamentações seriam inconstitucionais, ou seja, haveria uma irreversibilidade das conquistas sociais alcançadas14.

Corrobora o ensinamento de J. J. G. Canotilho, que influenciou e tem influenciado diretamente a doutrina brasileira em relação ao princí-pio de vedação ao retrocesso social, segundo a qual:

O princípio da democracia econômica e social aponta para a proibição de retrocesso social. A idéia aqui expressa também tem sido designa-da como proibição de “contra-revolução social” ou da “evolução reac-cionária”. Com isto quer dizer-se que os direitos sociais e económicos (ex.: direito dos trabalhadores, direito à assistência, direito à educação), uma vez obtido um determinado grau de realização, passam a consti-tuir, simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjectivo. A “proibição de retrocesso social” nada pode fazer contra as recessões e crises económicas (reversibilidade fáctica), mas o princípio em aná-lise limita a reversibilidade dos direitos adquiridos (ex.: segurança so-cial, subsídio de desemprego, prestações de saúde), em clara violação do princípio da protecção da confiança e da segurança dos cidadãos no âmbito económico, social e cultural, e do núcleo essencial da existência mínima inerente ao respeito pela dignidade da pessoa humana. O reco-nhecimento desta protecção de “direitos prestacionais de propriedade”, subjectivamente adquiridos, constitui um limite jurídico do legislador e, ao mesmo tempo, uma obrigação de prossecução de uma política con-

14 ALFONSO, Luciano Parejo. Estado Social y Administración Pública: los postulados constitucionales de la reforma administrativa. Madrid: Civitas, 1983. p. 53/55.

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gruente com os direitos concretos e as expectativas subjectivamente ali-cerçadas. A violação do núcleo essencial efectivado justificará a sanção de inconstitucionalidade relativamente a normas manifestamente aniqui-ladoras da chamada “justiça social”. [...] A liberdade de conformação do legislador nas leis sociais nunca pode afirmar-se sem reservas, pois está sempre sujeita ao princípio da proibição de discriminações sociais e po-líticas anti-sociais. As eventuais modificações destas leis devem observar os princípios do Estado de direito vinculativos da actividade legislativa e o núcleo essencial dos direitos sociais. O princípio da proibição de retrocesso social pode formular-se assim: o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efectivado através de medidas legislativas (“lei da segurança social”, “lei do subsídio de desemprego”, “lei do serviço de saúde”) deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo incons-titucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam, na prática, numa “anulação”, “revogação” ou “aniquilação” pura e simples desse núcleo essencial. [...]. A liberdade de conformação do legislador e inerente auto--reversibilidade têm como limite o núcleo essencial já realizado.15

De acordo com o próprio J. J. G. Canotilho, as normas constitu-cionais que perfilham direitos sociais de caráter positivo sugerem uma proibição de retrocesso, já que, “uma vez dada satisfação ao direito, este transforma-se, nessa medida, em direito negativo, ou direito de defesa, isto é, num direito a que o Estado se abstenha de atentar contra ele”16.

De modo que os direitos sociais não podem ser simplesmente res-tringidos ou abolidos por medidas estatais retrocessivas, a não ser que estas venham escoltadas de uma cautela compensatória que sustente ní-vel similar de proteção social. No entanto, a contrapartida exigida deve ser específica e real, não se esgotando nas meras promessas de criação de mais empregos ou programas de governo.

4 aS mICrorreformaS de 2014 e o retroCeSSo SoCIal

Como se pode notar, as medidas provisórias que foram editadas em 30.12.2014 e propuseram uma microrreforma do regime previden-

15 CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2007. p. 338 e ss.

16 CANOTILHO, Joaquim José Gomes; MOREIRA, Vital. Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra, 1991. p. 131.

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ciário provocaram sensíveis alterações para a concessão de benefícios, podendo, assim, ser sintetizado o quadro de mudanças:

I – A Medida Provisória nº 664/2015, convertida na Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015, constituíram uma importante decisão alocativa, isto é, refere-se aos problemas de escolha pública com contratos mal desenhados, desperdício do recurso público, formação de ativo abaixo do custo de oportunidade que, no limite, vem buscar no nosso bolso com impostos recursos para financiar irracionalidades econômicas por falta de planejamento público; por fim, originou alterações expressivas, que já estavam enraizadas há muito tempo no sistema previdenciário brasileiro:

a) exigência de carência para a concessão do auxílio-reclusão;

b) exigência de carência para a concessão da pensão por morte, à exce-ção daquela decorrente de acidente de trabalho, doença profissional ou doença do trabalho;

c) exclui o Ministério do Trabalho do papel de editar listas de doenças e afecções que autorizem a concessão de benefícios como auxílio--acidente ou aposentadoria por invalidez (inciso II, art. 26) extingue a obrigação de revisão e atualização dessa lista de doenças a cada 3 (três) anos;

d) torna explícito o perecimento do direito do beneficiário de perceber pensão por morte quando der causa ao óbito do instituidor do benefí-cio, desde que tenha sido condenado por tal crime;

e) para a concessão da pensão por morte ao cônjuge ou companheiro, exige-se tempo mínimo de 2 anos de convivência familiar, apurado antes da ocorrência do óbito do segurado, ressalvadas exceções;

f) reduz o valor básico da pensão por morte e adota-se calendário pro-gressivo de extinção do benefício;

g) torna excepcional a pensão vitalícia;

h) criou a regra alternativa denominada de 85/95, em alternativa ao Fator Previdenciário, que quando da conversão foi matéria da MP 676/2015, para que essa regra fosse transitória de 85/95 para 90/100.

No mesmo momento, foi editada a MP 665/2014, que foi conver-tida na Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015, que reduziu o acesso ao seguro-desemprego, elevando seu tempo de carência.

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É importante lembrar que essa microrreforma não protegeu os direitos sociais, tampouco resguardou seu núcleo essencial, e, nesse aspecto, não estamos falando em proibição total de alterar direito ou garantia, pois é nítido o caso de vedação ao retrocesso social e de restri-ções aos direitos fundamentais já conquistados.

Ora, as alterações ocorridas na Lei de Benefícios são um evolu-ção reacionária, pois disseminam conceitos de sonegação de direitos e garantias sociais claramente definidos na Constituição, que não podem ser mitigados por meio de medidas provisórias ou pelo legislador infra-constitucional, sob pena de acatar a extinção de direitos decorrentes de obrigações contributivas, em que é certo que as contribuições previden-ciárias devem ser revertidas em benefícios previdenciários.

CoNCluSão

Para arrematarmos nossas ideias, calha bem aqui o dito de que a justiça, que é cega, para ser justiça social, deve tirar as vendas dos olhos para ver a realidade social e afastar as desigualdades que nela vê.

Após essa contextualização, não sobra outro entendimento senão o de que devemos dar tratamento equânime dos destinatários da norma legal, tamanha importância do sistema jurídico e das normas constitu-cionais analisadas como um todo.

Incumbe registrar que um princípio, mesmo que implícito na nor-ma constitucional, tem mais valia que uma regra, e, nesse feitio, o inter-pretamos como um conjunto de proposições que alicerçam ou embasam um sistema e lhes garantem validade.

Não se pode acolher a cerceamento dos direitos fundamentais, quando encestam o cerne dignificante da pessoa humana como núcleo essencial dos direitos sociais, violando o mínimo existencial, pois en-contrará óbice na vedação do retrocesso, e, nesta conjuntura, não se pode falar em relativização de princípios.

Também não podemos clamar princípios como o da reserva do princípio, para fantasiar um déficit, que justifique a “relevância” e “ur-gência”, para implementar microrreformas, sem a devida observação e

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preservação do núcleo essencial dos direitos fundamentais sociais, das conquistas existentes.

Por fim, compreendo que os direitos fundamentais sociais não po-dem padecer pela evolução reacionária, as alterações devem ser para majorá-los, ampliá-los, tanto pela concretização normativa como pelos novos posicionamentos jurisprudenciais, essa é a estabilidade a qual nos referimos e desejamos. Não pretendo tornar a Constituição e as normas infraconstitucionais imutáveis, mas dar segurança jurídica e assegurar que, se um direito for alterado, que passe por um longo processo de análise para que venha a beneficiar os segurados da Previdência Social, que pagam caro por meio de contribuições obrigatórias e outras fontes de custeio, para não ter estabilidade nas conquistas dispostas na Carta Política.

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Parte Geral – Doutrina

A Inconstitucionalidade da Desvinculação das Receitas da União à Luz do Inciso XI do Artigo 167 da Constituição Social e a Falsa Ideia do Déficit Previdenciário

KAREN COSTA BRAgAMestranda pela PUC/SP, Advogada, Presidente da Comissão do Acadêmico de Direito e Esta-giário da OAB de Santo André/SP.

RESUMO: O presente artigo tem o nítido propósito de realizar um estudo científico sobre a desvinculação das receitas públicas (DRU) no ordenamento jurídico brasileiro, que extirpa do orçamento da Seguridade Social uma parcela de toda a sua arrecadação. Longe de querer esgotar o tema, esta pesquisa faz uma abordagem do constitucionalismo moderno e da figura dos princípios como fonte de interpretação das normas jurídicas, além de realizar uma análise dos critérios jurídicos e temporais da instituição da DRU e a sua inconstitucionalidade sob o enfoque do art. 167, inciso XI, do Texto Constitucional, que veda a utilização dos recursos pro-venientes das contribuições sociais previstas no art. 195 para pagamento de outras despesas que não os benefícios previdenciários. A tendência seguida no presente artigo científico é a de que, apesar de já decidida pelo Supremo Tribunal Federal a constitucionalidade da DRU, esta questão foi analisada sob o enfoque tributário e não sob o enfoque constitucional social. É vezo da cultura legislativa tributária brasileira ignorar a supremacia da Constituição Federal, e há, atualmente, recordes de receitas desvinculadas dos cofres do Regime Geral da Previdência Social. Por derradeiro, faz-se uma análise integrativa dos mecanismos utilizados, indevidamente para operacionalizar a atividade estatal, e, ainda, do debate entre o possível engessamento da prática orçamentária rígida e a defasagem dos direitos prestacionais que garantiriam, sob o en-foque dos direitos sociais, o mínimo existencial e a completude da dignidade da pessoa humana.

PALAVRAS-CHAVE: Previdência Social; DRU; orçamento; inconstitucionalidade; direitos sociais; dignidade da pessoa humana.

ABSTRACT: With the purpose of conducting a scientific study about untying of public revenues, in the Brazilian legal system, which takes out of the social security budget a portion of your entire collection. Far from wanting to exhaust the subject, the research makes an approach of modern constitutionalism and the figure of the principles as a interpretation source of legal rules in addition to performing an analysis of the legal and temporal criteria of the institution of URU (Unbinding the revenues of the union) and its unconstitutional under article 167, paragraph XI, of the Constitutional Text that prohibits the use of resources from social contributions provided for in article 195 for the payment of other expenses other than social security benefits. The trend followed in the article is that although already decided by the Supreme Court the constitutionali-ty of URU, the issue was analyzed under the tax approach and not under the constitutional social approach. It’s common in Brazilian tax legislative culture to ignore the supremacy of the Federal

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Constitution and there are currently unlinked recipes records from the vaults of the General Social Security Scheme. For hindmost, an integrative analysis of wrongly used mechanisms is made to operating the state activity and even between the possible casting of rigid budget prac-tice and the features that guarantee rights gap, under the focus of social rights, the existential minimum and the dignity completeness of the human person.

KEYWORDS: Social Security; URU (Unbinding the Revenues of the Union); budget; unconstitu-tionality; social rights; human person dignity.

SUMÁRIO: 1 O constitucionalismo moderno e os princípios vetores da Seguridade Social; 2 Da classificação dos tributos à luz da Constituição Federal; 3 Da conceituação de tributos x impostos; 4 Da classificação tributária das contribuições vertidas para a Seguridade Social; 5 Das contribuições sociais para financiamento da Seguridade Social e o surgimento da Desvin-culação das Receitas da União (DRU); 6 A DRU sob a óptica constitucional social; Conclusão; Referências.

1 o CoNStItuCIoNalISmo moderNo e oS prINCípIoS vetoreS da SegurIdade SoCIal

O constitucionalismo moderno se caracteriza por ser composto de normas e princípios que estão subjacentes ou positivados no Texto Constitucional, e é natural que assim o seja. No momento em que o le-gislador acolhe e positiva no sistema normativo os princípios que deseja que vigorem, estes se transmutam em um princípio geral do direito que deve ser obedecido pelo Estado e pela sociedade. Canotilho é extrema-mente esclarecedor ao tratar da necessidade de um sistema constitucio-nal misto, em que regras e princípios, como elementos integrantes de uma mesma Carta Magna, coexistem:

Um modelo ou sistema constituído exclusivamente por regras conduzir--nos-ia a um sistema jurídico de limitada racionalidade prática. Exigiria uma disciplina legislativa exaustiva e completa – legalismo – do mundo e da vida, fixando, em termos definitivos, as premissas e os resultados das regras jurídicas [...]. Por outro lado, um legalismo estrito de regras não permitiria a introdução dos conflitos, das concordâncias, do balancea-mento de valores e interesses, de uma sociedade pluralista e aberta. Cor-responderia a uma organização política monodimensional (Zagrebelsky). O modelo ou sistema baseado exclusivamente em princípios (Alexy: Prinzipien-Modell des Rechssystems) levar-nos-ia a consequências tam-bém inaceitáveis.

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Ao ser positivado, estar-se-ia diante de um “princípio em forma de norma jurídica”:

Ainda que a generalidade dos princípios seja diversa da generalidade das regras, tal como demonstra Jean Boulanger, os primeiros portam em si pressuposto de fato (Tatbestand, hipótese, facti species) suficiente à sua caracterização como norma. Apenas o portam de modo a enunciar uma séria indeterminada de facti species. Quanto à estatuição (Rechtsfolge, injunção), neles também comparece, embora de modo implícito, no ex-tremo completável em outra ou outras normas jurídicas, tal como ocorre em relação a inúmeras normas jurídicas incompletas. Estas são aquelas que apenas explicitam ou o suposto fato ou a estatuição de outras normas jurídicas, não obstante configurando norma jurídica na medida em que, como anota Larenz, existem em conexão com outras normas jurídicas, participando do sentido de validade delas. De resto, a necessidade de concretização dos princípios não é exclusiva deles, manifestando-se tam-bém no caso das normas programáticas propriamente ditas e das normas perceptivas. Estamos, aí, diante dos princípios que Larenz refere-se como “princípio em forma de norma jurídica” (Rechtssatzformige Prinzipien).1

Toda obra legislativa encontra, então, o seu fundamento em prin-cípios supremos e informativos constantes no edifício normativo cons-titucional e é por meio do método indutivo2 que há uma harmonização sistemática de todos os textos, em busca de um Estado Democrático de Direito3.

1 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988, p. 108-109.2 Noberto Bobbio afirma que é por meio do método indutivo que os princípios gerais do direito podem

ser considerados como normas: “Os princípios gerais são apenas, a meu ver, normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais. A palavra princípios leva a engano, tanto que é velha a questão entre os juristas se os princípios são normas. Para mim não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as outras. E esta é também a tese sustentada por Crisafulli. Para sustentar que princípios gerais são normas, os argumentos são dois e ambos válidos: antes de mais nada, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles: se abstraio da espécie animal, obtenho sempre animais, e não flores ou estrelas. Em segundo lugar, a função para a qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a função de regular um caso. E com que finalidade são extraídos em caso de lacuna? Para regular um comportamento não regulamentado: mas então servem ao escopo a que servem as normas expressas. E por que não deveriam ser normas?” (BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, 1997, p. 158-159).

3 Neste sentido, imperioso mencionar o preâmbulo da Constituição: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil”.

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Estabelecido o papel mandamental dos princípios, o seu poder de conferir uma unidade ao sistema constitucional e a sua hierarquia ma-terial em face das demais normas passa-se à análise dos princípios que regem a Seguridade Social.

De acordo com o caput do art. 194 da Constituição Federal Brasi-leira, “a Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a asse-gurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Instituiu-se, então, que o sistema da seguridade é guiado pelo princípio da equidade na forma de participação do custeio (art. 194, inciso V) e da diversidade da base de financiamento (art. 194, inciso VI) sobre a receita deste sistema, adotando a forma direta ou indireta de custeio. Referida constatação está no art. 195 do Texto Constitucional:

Art. 195. A Seguridade Social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-pios, e das seguintes contribuições sociais: [...].

O Sistema da Seguridade Social, como é hoje estruturado, tem por objetivo precípuo a proteção do indivíduo frente à situações de contin-gência ou risco social, evitando ou reparando o estado de indigência social, garantindo uma proteção mínima pelo Estado brasileiro em ho-menagem ao princípio da dignidade da pessoa humana seja na área da saúde, da assistência social ou da Previdência Social.

Com a maestria ímpar que lhe é peculiar, o doutrinador Professor Wagner Balera define que “a Constituição de 1988 não apenas realizou essa opção política como foi além, apontando até mesmo os recursos financeiros capazes de dar suporte aos programas de proteção social, ordenando que fossem configurados em favor da população”4.

Pelo fato de ofertar programas de ação social à família e atender às necessidades básicas do cidadão, a Assistência Social possui um cará-ter não contributivo e é financiada pelo Fundo Nacional de Assistência Social.

4 BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. 4. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 13.

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A Previdência Social, atualmente concebida como um direito so-cial, também busca a harmonia social e a justiça social e está fundada no sistema de financiamento de repartição, sustentado mediante contri-buições5.

2 da ClaSSIfICação doS trIbutoS à luz da CoNStItuIção federal

A Constituição Federal de 1988 se ocupou em instituir um refe-rencial de classificação dos tributos considerando que tratou, de modo extremamente detalhista, as regras, os princípios e as espécies tributárias no próprio texto da Carta Cidadã. Geraldo Ataliba, em sua clássica obra Hipótese de incidência tributária6, já ensinava a necessidade do intér-prete precisar qual tributo a ser estudado uma vez que a Constituição Federal atribui critério diversos para cada espécie tributária.

Assim, Ataliba determinou que a hipótese de incidência seria a característica individualizadora dos tributos que poderiam ser classifica-dos em duas espécies: vinculados, considerando aqueles cujo aspecto material da hipótese de incidência7 esteja direta ou indiretamente atrela-do a uma ação estatal, como, por exemplo, as taxas e contribuições de melhoria e os tributos podem ser não vinculados, considerados aqueles cujo aspecto material da hipótese de incidência independem de uma ação estatal, podendo citar como exemplo os impostos.

Esta classificação é importante para fins científicos de estudo do presente tema. Com base nos ensinamentos de Lourival Vilanova, Paulo

5 Neste sentido, Miguel Horvath Junior ensina: “Os regimes de financiamento da Previdência Social são o de repartição, o de capitalização e o misto. No regime de capitalização, cada geração suporta seus próprios riscos presentes e futuros. [...] No regime de repartição cada geração suporta os seus riscos atuais e os das gerações passadas, enquanto seus riscos futuros serão suportados pelas gerações futuras. Busca-se o equilíbrio financeiro entre recursos e gastos. Baseia-se na solidariedade entre as gerações (pacto de gerações). Realiza-se a solidariedade financeira para recursos e encargos de todos os segurados existentes numa época dada [...] No regime misto de Previdência, temos uma combinação entre os regimes de repartição simples e de capitalização” (HORVATH JÚNIOR, Miguel. Dicionário analítico de Previdência Social. São Paulo: Atlas, 2009. p. 151-152).

6 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 4. ed. São Paulo: LTr, 1990.7 Neste sentido, Paulo de Barros Carvalho afirma: “No descritor da norma (hipótese, suposto, antecedente)

teremos diretrizes para identificação de eventos portadores de expressão econômica. Haverá um critério material (comportamento de alguma pessoa), condicionado no tempo (critério temporal) e no espaço (critério espacial). Já na consequência (prescritor), toparemos com um critério pessoal (sujeito ativo e sujeito passivo) e um critério quantitativo (base de cálculo e alíquota). A conjunção desses dados indicativos nos oferece a possibilidade de exibir, na plenitude, o núcleo lógico-estrutural da norma padrão, preenchido com os requisitos significativos necessários e suficientes para o impacto jurídico da exação” (CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário. Fundamentos jurídicos da incidência. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 113).

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Ayres Barreto afirmou que “classificar é distribuir em classes, de acordo com um método ou critério previamente estabelecido [...] um conjunto não se constitui sem critério-de-pertinência. É a partir da fixação deste critério que se afere a compatibilidade entre elementos que formam a classe”8. Neste mesmo sentido, Paulo de Barros Carvalho defende que “toda classe é susceptível de ser dividida em outras classes. É princí-pio fundamental da lógica que a faculdade de estabelecer classes é ili-mitada enquanto existir uma diferença, pequena que seja, para ensejar distinção”9.

Assim, constatada a existência de uma diferenciação criada pela própria Constituição Federal, não há como desprezá-la, sob pena de evidente violação à ordem constitucional.

3 da CoNCeItuação de trIbutoS X ImpoStoS

O conceito de tributo está estampado no art. 3o do Código Tribu-tário Nacional, in verbis:

Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo va-lor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, insti-tuída de lei e cobrada mediante atividade administrativa.

O imposto encontra a sua conceituação no art. 16 do Código Tri-butário Nacional: “Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gera-dor uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”.

Os impostos são tributos classificados como não vinculados, o que equivale dizer que o Estado pode cobrá-lo sem uma contraprestação específica de determinado serviço público, e o valor arrecadado não possui uma destinação específica.

Pelo fato de a Seguridade Social ser estruturada em diversas fontes de custeio, as contribuições vertidas para o seu funcionamento são re-lacionadas no grupo de tributos vinculados, com destinação específica.

8 BARRETO, Paulo Ayres. Contribuições: regime jurídico, destinação e controle. São Paulo: Noeses, 2008. p. 49.

9 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3. ed. São Paulo: Noeses, p. 119.

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4 da ClaSSIfICação trIbutárIa daS CoNtrIbuIçõeS vertIdaS para a SegurIdade SoCIal

Não basta afirmar que as contribuições sociais estão sujeitas ao mesmo regime jurídico dos tributos em geral, até mesmo porque esta exação, iluminada por diversas peculiaridades, tem a sua classificação condicionada à vinculação ou não do aspecto material da hipótese de incidência a uma atividade estatal. Para melhor entender a destinação das contribuições sociais vertidas para a Seguridade Social, é necessário um estudo etimológico da palavra “contribuição”.

“Contribuição” é derivada do latim contributio, de contribuire, e entende-se por uma parte ou uma participação que é dada a uma pessoa para a formação de um acervo ou cumprimento de uma obrigação qual-quer. Sob o ponto de vista fiscal, a contribuição é a obrigação a que está sujeito o cidadão para a formação de um fundo necessário para o custeio das despesas públicas. Inicialmente, na esfera jurídica, o conceito de “contribuição” abarcava todos os encargos impostos pelo ente estatal para custear as suas despesas. Em um momento posterior, o referido vo-cábulo ganhou o sentido de tributo.

O art. 4º, inciso II, do Código Tributário Nacional estabelece que “a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gera-dor da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: [...] II – a destinação legal do produto da sua arrecadação”.

Referido dispositivo tem a sua aplicação restrita aos impostos, às taxas e às contribuições de melhoria. Com relação às contribuições so-ciais, o elemento essencial para a sua identificação tributária e sua ca-racterística peculiar está justamente na destinação do produto de sua arrecadação.

Já há um consenso na doutrina10 e na jurisprudência11 nesse senti-do. Firmou-se o entendimento de que as contribuições sociais são tribu-

10 Oportuno mencionar as lições de Miguel Horvath Junior, que, com precisão, define contribuições sociais como “espécie tributária com destinação específica. Apresenta regras próprias, como a não aplicação do princípio da não anterioridade e aplicação da regra nonagesimal (art. 195, § 6º, da CF/1988). Cabe à União a instituição de contribuições sociais. Em relação às contribuições do art. 195, I, a, e II, temos a incidência do fenômeno da parafiscalidade” (HORVATH JUNIOR, Miguel. Op. cit., 2009). Geraldo Ataliba, por sua vez, afirmou que a polêmica que pairava sobre o tema de as contribuições sociais serem ou não tributo foi extirpada com o advento da Constituição Federal de 1988 “na medida em que a perquirição da natureza jurídica dos institutos tem natureza única de desvendar qual é o regime jurídico que o sistema lhes dispensa (Celso Antonio) fica superada (ou inutilizada) a perquirição da natureza das contribuições, de vez que a própria Constituição Federal foi taxativa a respeito, mandando aplicar-se-lhes o regramento jurídico tributário” (Contribuição Social na Constituição de 1988. Revista de Direito Tributário, n. 47, p. 48).

11 STF, REx 146.733, Relª Min. Cármen Lúcia, Julgamento em 6 de agosto de 2009.

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tos e que é competência exclusiva da União a sua instituição, nos termos do art. 149 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de seu interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas res-pectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições que alude o dispositivo.

A própria Constituição Federal já pacificou esse entendimento ao inserir as contribuições sociais, topograficamente, no Capítulo I – Do Sistema Tributário Nacional. Mas, pode-se questionar, por qual razão o legislador houve por bem regular as contribuições sociais como tributos vinculados ao invés de tributos não vinculados (impostos)? A resposta é bem simples: não necessitaria repartir a arrecadação com os demais entes federativos – Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 159 do Texto Constitucional) –, não estão submetidos ao princípio da anterio-ridade tributária e sim da anterioridade nonagesimal, e, ainda, houve a preocupação do legislador em resguardar a sustentação do sistema de proteção social tendo em vista os fins para que se propõe (dignidade da pessoa humana, proteção nos riscos e contingências sociais, pagamento de prestações previdenciárias, etc.).

Basta verificar que, desde a implantação do Plano Real em 1994 e a consequente redução acentuada da inflação, houve um expressivo aumento na carga tributária, em sua maior parte resultante da instituição ou elevação das contribuições sociais. No ano de 1994, as contribuições sociais e econômicas constantes no orçamento da Seguridade Social re-presentavam 8,9% do Produto Interno Bruto (PIB) e, em 2006, passaram a representar 15,4% do PIB, segundo fontes do IPEA.

5 daS CoNtrIbuIçõeS SoCIaIS para fINaNCIameNto da SegurIdade SoCIal e o SurgImeNto da deSvINCulação daS reCeItaS da uNIão (dru)

Após um breve estudo sobre o conceito de contribuições sociais e a sua posterior definição tributária, é importante repisar que, nos termos do art. 195 da Constituição Federal, a União, os Estados, o Distrito Fe-deral e os Municípios financiam, de forma direta e indireta, o sistema de

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Seguridade Social por meio de suas dotações orçamentárias. As contri-buições sociais vertidas para a Seguridade Social são tributos vinculados e com destinação específica e não podem ser desafetados para destina-ção distinta daquela já prevista na Constituição.

É o que diz o art. 167, inciso XI, da Carta Constitucional:

Art. 167. São vedados:

[...]

XI – a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201.

O art. 167, inciso XI, é categórico ao afirmar que todo o produto da arrecadação das contribuições sociais está vinculado a uma única fi-nalidade: pagamento de benefícios previdenciários. Porém, não é o que ocorre atualmente.

Aprovada inicialmente como Fundo Social de Emergência (FSE), em 1994, e com caráter provisório, a DRU passou a ter esta nomenclatu-ra no início do século XX. Nessa época, a desvinculação das receitas era utilizada como um mecanismo para obtenção de superávits primários significativos em um período em que a economia brasileira atravessava grande período de instabilidade com a implantação do Plano Real.

Em 21 de março de 2000, por meio do art. 76 da Emenda Constitu-cional nº 27, foi instituída a DRU, sigla para Desvinculação de Receitas da União, cuja existência foi limitada ao período de 2000 a 200312. A DRU é consistente na desvinculação de vinte por cento de impostos e contribuições vertidas para a União. Posteriormente, a Emenda Consti-tucional nº 42/2003 alterou a vigência da DRU para abranger o período de 2003 a 200713, e a Emenda Constitucional de nº 56/2007 prorrogou

12 “Art. 76. É desvinculado de órgão, fundo ou despesa, no período de 2000 a 2003, vinte por cento da arrecadação de impostos e contribuições sociais da União, já instituídos ou que vieram a ser criados no referido período, seus adicionais e respectivos acréscimos legais.”

13 “Art. 2º Os artigos do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias a seguir enumerados passam a vigorar com as seguintes alterações:

‘Art. 76. É desvinculado de órgão, fundo ou despesa, no período de 2003 a 2007, vinte por cento da arrecadação de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico da União, já instituídos ou que vieram a ser criados no referido período, seus adicionais e respectivos acréscimos legais’.”

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novamente a vigência da DRU até 31 de dezembro de 201114. A Emenda Constitucional nº 68/201115 estendeu a DRU para 31 de dezembro de 2015. Há, ainda, em tramitação perante o Congresso Nacional, a Pro-posta de Emenda Constitucional (PEC) nº 04/2015, que prorroga a DRU até 31 de dezembro de 201916.

Bem da verdade que a política orçamentária brasileira coexiste com um elevado número de despesas postas por um sistema orçamen-tário rígido, o que acaba por reduzir a discricionariedade do legislador com relação aos recursos financeiros livres.

Mas, na realidade, a DRU foi criada e desenvolvida por meio de emendas constitucionais e transformada em uma espécie de válvula de escape para a desorganização financeiro-atuarial de outros sistemas, como educação, transporte, aviação, entre outros. Onde há falta de di-nheiro, supre-se com os valores retirados por meio da DRU dos cofres da Seguridade Social. Explica-se.

Segundo um estudo divulgado pela Anfip (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), apenas no ano de 2014, a receita da Seguridade Social totalizou R$ 686,1 bilhões, poden-do-se considerar uma boa arrecadação, pois superou em R$ 35,1 bilhões a arrecadação de 201317.

O total de despesas da Seguridade Social somaram R$ 632,2 bi-lhões. Incluem-se, neste conceito, os pagamentos efetuados pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS, que, no ano paradigma de 2014, somou R$ 394,2 bilhões; os gastos com a saúde, que totalizaram R$ 94,2

14 “Art. 1º O caput do art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias a seguir enumerados passam a vigorar com as seguintes alterações: Art. 76. É desvinculado de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2011, 20% (vinte por cento) da arrecadação da União de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico, já instituídos ou que vieram a ser criados no referido período, seus adicionais e respectivos acréscimos legais’.”

15 “Art. 1º O art. 76 do ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 76. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2015, 20% (vinte por cento) da arrecadação da União de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico, já instituídos ou que vierem a ser criados até a referida data, seus adicionais e respectivos acréscimos legais’.”

16 Apenas a título de complementação, a última movimentação processual foi em 17 de dezembro de 2015, em que foi agendada uma reunião perante a Comissão Especial destinada a discutir o tema. No referido dia, não houve a reunião por falta de quórum. Atualmente (janeiro/2016), a proposta aguarda o agendamento de nova reunião da Comissão.

17 Fonte: Análise da Seguridade Social 2014, 2015, p. 136 e 137.

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bilhões de reais; e, por fim, no pagamento dos benefícios da Assistência Social (LOAS), foram desembolsados R$ 37,6 bilhões.

Deve ser acrescentado nessas despesas o desembolso de R$ 51,8 bilhões para o pagamento de dois significativos programas sociais: o seguro-desemprego e o abono salarial pagos pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Para o Bolsa-Família, foram destinados R$ 26.162 bi-lhões de reais, e as demais despesas que totalizaram R$ 121.883 bilhões foram destinados para o custeio de funcionários ativos do Ministério da Saúde, do Ministério do Desenvolvimento Social e Ministério da Previ-dência Social, bem como despesas relativas ao custeio e investimento nos programas sociais.

O total de despesas somaram R$ 632,199 bilhões, deixando um saldo superavitário de R$ 53,9 bilhões de reais “em caixa” para a Segu-ridade Social.

Desse valor, foi desvinculado do Orçamento da Seguridade Social o montante de R$ 63,161 bilhões de reais18 a título de DRU.

Apenas a título de comparação, os valores desvinculados pela DRU seriam capazes de pagar todos os benefícios previdenciários concedi-dos durante o ano de 2014 no Estado de Minas Gerais, que totalizaram R$ 5.048.983.841,00 bilhões de reais, do Estado do Rio de Janeiro, que totalizaram R$ 39.251.904.280 bilhões, do Estado do Distrito Federal, em que R$ 3.833.609.110 bilhões de benefícios foram concedidos19, e ainda restaria saldo remanescente.

Esses valores desvinculados são os recursos financeiros que deixa-ram de ser aplicados diretamente em programas sociais, penalizando a sociedade e permitindo que o Governo gaste, sem qualquer controle e na área que bem entender, os valores que deveriam ser destinados para a área social (prestações previdenciárias – art. 167, inciso XI, da Cons-tituição).

18 Fonte: Anfip e Fundação Anfip. Foram R$ 39.183 milhões retirados da Cofins, R$ 12.639 milhões de reais retirados da CSLL, R$ 10.384 milhões retirados do PIS/Pasep e R$ 955.000,00 retirados de outras contribuições, totalizando o valor desvinculado de R$ 63.161 bilhões.

19 Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/estatsticas-municipais-2000-a-2014>. Acesso em: 2 fev. 2016.

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Tanto é verdade a afirmativa anteriormente citada que já existe uma proposta de emenda constitucional (PEC 87/2015) tramitando pe-rante a Câmara dos Deputados para estender a DRU até 31 de dezem-bro de 2019, transfigurando o seu caráter inicialmente provisório para definitivo, e, pior, ampliar de 20% para 30% o percentual das receitas dos tributos federais que podem ser desvinculados da arrecadação total da Seguridade Social, sendo utilizado livremente pelo Governo. Eis a justificativa utilizada pelo Poder Executivo para referida prorrogação:

A prorrogação na vigência da DRU justifica-se porque a estrutura orça-mentária e fiscal brasileira possui elevado volume de despesas obriga-tórias, tais como as relativas a pessoal e a benefícios previdenciários, e também vinculação expressiva das receitas orçamentárias a finalidades específicas. Esse delineamento tende a extinguir a discricionariedade alo-cativa, pois reduz o volume de recursos orçamentários livres que seriam essenciais para implementar projetos governamentais prioritários [...] Neste ínterim, a DRU tem permitido à Administração Pública Federal não só estabelecer prioridades, mas também prover e alocar recursos para torná-las exequíveis.

Desta forma, propõe-se que a DRU passe a incidir à alíquota de 30% sobre as Contribuições Sociais, sem prejuízo do pagamento das despesas do Regime Geral da Previdência Social, sobre as Contribuições Econô-micas [...].

Em nenhum momento houve a apresentação de uma justificativa plausível para o aumento da alíquota. Apenas afirmou-se que existem prioridades, mas não houve menção de quais são as prioridades. Ou seja, há total ausência de embasamento técnico-jurídico na justificativa apresentada. Vê-se aqui que o legislador pretende autorizar a utilização de recursos arrecadados pela Seguridade Social, até o ano de 2019, a seu talante, contrariando diretamente uma norma constitucional.

Nesse pensamento, falar em déficit no orçamento previdenciário é por demais ilógico, como bem salienta o doutrinador Wagner Balera, pois as contribuições sociais que deveriam ser destinadas única e exclu-sivamente para o sustento do sistema previdenciário são desviadas para outras finalidades, entre elas a DRU:

Ocorre que, desde a edição da Emenda Constitucional de Revisão nº 1, de 1994, o legislador permitiu que parcela do produto da arrecadação

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das contribuições da Seguridade Social fosse desviada de suas finalidades essenciais e passasse a compor as receitas da própria União.

Posteriormente, a Emenda Constitucional nº 56, de 2007, seguindo esta trilha, permite vinte por cento (!) de toda a arrecadação de contribuições sociais seja desviada de suas finalidades. Portanto, desde 1994 e até o ano de 2011, vultuosos recursos deixam de ser investidos na saúde, na previdência social e na assistência social e são aplicados, sem nenhum critério, pelo Estado brasileiro.

Ora, evidentemente não se pode falar em déficit num sistema que tem sangrado de vinte por cento de todas as suas receitas há mais de quinze anos!20

Ao instituir a DRU, o legislador transmudou um tributo vincula-do para se tornar um tributo não vinculado, sem destinação específica. Como já dito no item anterior, a Seguridade Social constitui um sistema complexo e com uma ampla base de arrecadação e distribuição de re-ceitas.

Primeiramente, não há déficit orçamentário, uma vez que o cai-xa da Seguridade Social é o que fornece suporte para todas as demais áreas de educação, transporte, etc. Ad argumentandum tantum, somen-te no ano de 2014, como já dito anteriormente, foram desvinculados R$ 63,161 bilhões de reais, que seriam suficientes para cobrir o falacioso déficit da Previdência Social, que totalizou R$ 58 bilhões de reais, se-gundo informações prestadas pelo Tesouro Nacional.

Desviando os valores do caixa da Seguridade Social, inviabiliza--se a concretização da justiça social. A justiça social, nas palavras do já mencionado doutrinador Wagner Balera,

é a redução das desigualdades sociais – tarefa que exige esforço colossal da comunidade. E essa redução não depende exclusivamente de pro-gramas de governo [...]. A concretização desta justiça social juntamente com o bem-estar depende muito mais dos particulares do que do Estado, esses devem desenvolver tais valores em conjugação com o valor social do trabalho e da liberdade de iniciativa do terreno econômico.21

20 Informativo do Instituto dos Advogados de São Paulo, n. 86, p. 25, 1997.21 BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2004. p. 11.

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Assim, a função básica das contribuições sociais é a de fornecer às entidades previdenciárias e de assistência social (nela incluída o Sistema Único de Saúde) as formas e os meios necessários à realização das tare-fas constitucionais que lhe são atribuídas pela Constituição Federal para atender ao bem-estar social.

6 a dru Sob a óptICa CoNStItuCIoNal SoCIal

Recentemente (12.08.2014), o Supremo Tribunal Federal proferiu decisão no Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 793.564/PE, em que o Ministro Relator, Marco Aurélio de Melo, afirmou expressa-mente que “a desvinculação parcial da receita da União, constante no referido art. 76 do Ato das Disposições Transitórias, não transforma as contribuições sociais e de intervenção de domínio econômico em im-postos, alterando a essência daquelas”.

Com relação à constitucionalidade da DRU, o STF também já se posicionou no Recurso Extraordinário nº 537.610/RS. O Senhor Ministro César Peluzo a declarou constitucional sob a seguinte fundamentação:

É de se observar que a norma que determina a vinculação da destinação do produto da arrecadação das contribuições sociais não assume caráter de cláusula pétrea, uma vez não contemplada pelo art. 60, § 4º, da Cons-tituição Federal [...] Destarte, nada impede que Emenda Constitucional estatua desvinculação de receitas, como fizeram as Emendas Constitucio-nais nºs 27/2000 e 42/3003.

Ora, há um evidente conflito jurídico. Deve-se ter em mente a base principiológica e as normas constantes no constitucionalismo mo-derno com relação às contribuições sociais e pelos fins sociais/princípios a que ela destina proteger, bem como se ter a aplicação total do produto de sua arrecadação nas suas finalidades constitucionais. Uma emenda constitucional não pode desvirtuar toda a base principiológica que o Texto Constitucional original já instituiu.

Não se pode, agora, dar interpretação diversa ao art. 167, inciso XI, possibilitando uma aplicabilidade diversa do Texto Constitucional, e converter a contribuição social prevista no art. 195, I, a, e II, para a realização distinta do pagamento de benefícios previdenciários, o que afronta a coexistência entre os princípios e normas esculpidos na Consti-

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tuição. Adilson Abreu Dallari, tratando sobre o poder das emendas cons-titucionais, ensina:

[...] Ora, se a Constituição restringe o poder de emenda, que somente pode ser exercido dentro de certas limites, evidentemente proíbe, im-plicitamente, a emenda total parcial, radical, modificadora absoluta do texto inicialmente proposto [...].22

Da onde vêm esses recursos usurpados da DRU? Vêm das contri-buições pagas pelos segurados e dos valores que seriam pagos às pen-sões às viúvas, aos acidentados, às gestantes, aos aposentados.

Ora, a utilização da DRU acaba por retirar uma grande parte do orçamento que sustenta a Seguridade Social, o que gera, de forma abso-luta, uma ruptura do pacto federativo, pois influencia na repartição das receitas da União para o Estado. Cria-se, assim, a falsa ideia do “déficit previdenciário”, já rechaçada por grande parte da doutrina.

Deve-se ter em mente que, ao utilizar a DRU, o grande sacrifica-do, no final, é a sociedade. Com efeito, Mattia Persiani defende que “as função das contribuições previdenciárias é, exatamente, a de fornecer às entidades previdenciárias os meios necessários à realização das tarefas a elas confiadas pela lei para o atendimento imediato de um interesse público”23.

O Poder Executivo não pode invocar um grande “número de des-pesas obrigatórias” como pretexto para deixar de cumprir a Constitui-ção. A Constituição exige expressamente que as contribuições sociais sejam revertidas, diretamente, para o pagamento de benefícios. Tem-se uma cláusula fechada que não permite interpretação diversa.

O § 5º do art. 195, em que há a afirmação de que a Seguridade Social seria financiada por toda a sociedade, mediante os recursos do or-çamento da União, deve ser lido, conjuntamente, com o § 5º do art. 165, que disciplina que a lei orçamentária compreenderá: (I) o orçamento fiscal; (2) o orçamento de investimento das empresas; e (3) o orçamento da Seguridade Social.

22 DALLARI, Adilson Abreu. Lei orçamentária – Processo legislativo: peculiaridades e decorrências. Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política, a. 5, n. 19, p. 57, abr./jun. 1997.

23 PERSIANI, Mattia. Direito da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 128.

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Dessa forma, se o orçamento da Seguridade Social não for com-petente para o custeio de suas ações e de seu próprio financiamento, caberá o ônus do seu financiamento a toda sociedade.

Nos termos do art. 167, inciso XI, da Constituição Federal e sob a ótica social, a DRU é inconstitucional, mesmo que seja instituída e pror-rogada por uma emenda constitucional24.

Por fim, tem-se mais uma inconstitucionalidade da DRU segundo o art. 60, § 4º, do Texto Constitucional, em que há a afirmação expressa de que propostas de emendas tendentes a abolir os direitos e garantias fundamentais não poderão ser objeto de deliberação no Senado Fede-ral. Ao analisar o Título II da Constituição Federal, mais precisamente o art. 6º, verifica-se que “a saúde”, “a Previdência Social” e a “assistência aos desamparados” encontram-se no rol dos direitos ali elencados e fa-zem parte do tripé da Seguridade Social.

Porém, é importante mencionar que não existem, como garantia fundamental, somente os direitos e garantias arrolados no Título II da Carta Magna, mas em outros artigos da Constituição Federal também pode-se perfeitamente encontrar princípios e garantias implícitas dos ci-dadãos. Esses direitos implícitos se espalham por todo o Texto Constitu-cional e estão, inclusive, previstos no art. 167. Qualquer desfalque no orçamento da Seguridade Social, como já dito anteriormente, prejudica a sustentabilidade de todo o sistema de proteção social e impede que o mesmo avance protegendo novos riscos e contingências sociais (regra da contrapartida prevista no art. 195, § 5º, da CF/1988).

O Governo tenta, e com sucesso, burlar as garantias constitucio-nais vigentes e prejudica não somente o cidadão, mas sim toda norma relativa à organização do próprio Estado. É sabido na doutrina moderna

24 Na perspectiva doutrinária, tem-se as valiosas lições de Vital Moreira, que assim lecionava: “Na verdade, os limites de revisão constitucional partem de dois pressupostos, que hoje são indiscutíveis na teoria constitucional: a) a Constituição não é uma lei qualquer, um mero conjunto de preceitos reguladores do processo político, mas sim a lei fundamental da sociedade política e do Estado, que não pode ser alterada nos seus aspectos essenciais sob pena de subversão da própria colectividade política; b) o poder de revisão constitucional é um poder derivado do poder constituinte e a ele submetido, sendo a sua função não a de renovar o poder constituinte, alterando livremente a Constituição, mas sim de defender e preservar a Constituição, mantendo a sua identidade originária e introduzindo as alterações e os ajustamentos que se revelem necessários para reforçar a vitalidade da Constituição” (Constituição e revisão constitucional. Lisboa: Editorial Caminho, 1990. p. 103).

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que os direitos fundamentais não compreendem apenas os direitos e ga-rantias fundamentais, mas também os direitos e garantias sociais.

Caso a DRU prossiga com as suas sucessivas prorrogações, afinal, existe há mais de quinze anos, gerar-se-á grande insegurança jurídica, pois suprime e afasta a garantia do cidadão de gozar, em sua plenitude, da Seguridade Social, deforma e subverte os princípios que estruturam o ordenamento jurídico brasileiro, bem como compromete a supremacia da própria Constituição Federal brasileira.

CoNCluSão

É evidente que existe uma grande preocupação com relação à ca-pacidade de manutenção financeira do sistema previdenciário. Não se buscou, com o presente artigo científico, alcançar uma metodologia que trouxesse um resultado favorável para todo o sistema, com a extinção ou não da DRU, mas sim trazer a proposta de se aproveitarem corretamente os princípios e normas constitucionais e inserir as contribuições sociais no campo ao qual ela realmente pertence: dos tributos com destinação específica, nos termos do inciso XI do art. 167 da Constituição Federal.

A cada novo Governo, procuram-se criar planos milagrosos para tentar “consertar” o país, e a sociedade brasileira está vivendo, pelo menos nos últimos 10 anos, em sobressaltos. Se esta é, ainda, matéria de grandes debates entre doutrinadores, juristas e aplicadores da lei, a questão quanto ao alcance dos artigos 167 e 195 da Constituição Fede-ral, quiçá no Poder Legislativo que é composto, majoritariamente, por pessoas com total desconhecimento do direito previdenciário e dos prin-cípios que norteiam a Seguridade Social. Não se trata aqui, data venia maxima, de um juízo preconceituoso, mas de uma infeliz constatação da realidade. Se houver a flexibilização do texto expresso constitucio-nal, visando a uma abertura no orçamento da Seguridade Social, ter--se-ia uma carta em branco de atuação por parte do Governo Federal. Não há como escapar do comando constitucional, que é iniludível. As competências e responsabilidades em aprovisionar recursos financeiros para fazer frente aos gastos públicos de transporte, habitação, segurança, etc., além de outros serviços inerentes à Administração Pública, devem sempre ser analisadas à luz dos princípios constitucionais e dos direitos sociais garantidos na norma mater.

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É fato notório que o Brasil, atualmente, atravessa uma grande crise financeira, e o pagamento das despesas mencionadas na PEC 88/2015 depende do desenvolvimento de novas políticas públicas. Em outras pa-lavras, o Governo não poderá desviar o produto da arrecadação das con-tribuições sociais vertidas para a sustentação do Sistema da Seguridade Social, tendo em vista a expressa determinação na Carta Magna.

Os valores atualmente desvinculados do orçamento da Segurida-de Social são redirecionados não apenas para suprir desmedidos gastos fiscais, mas também para garantir saldo positivo nas contas públicas e garantir a quitação de juros e correção monetária da dívida pública. É necessária uma grande reestrutura fiscal, a fim de expurgar a DRU do sistema jurídico brasileiro. Porém, referida alternativa não tem encontra-do guarida dos governantes, pois exigiria a alteração de inúmeros arti-gos constitucionais, bem como um consenso político, o que certamente seria inviável, pois todos os setores seriam, definitivamente, afetados, sejam as áreas que tiveram valores desvinculados, sejam as áreas que deixarão de receber os valores desvinculados.

Desta feita, a alternativa mais pragmática encontrada pelo Gover-no é prorrogar, sucessivamente, a DRU e garantir uma maior maleabili-dade orçamentária.

A Seguridade Social é informada pelo princípio da solidariedade, que assegura a distribuição dos encargos do sistema entre os segurados como forma de garantir o equilíbrio financeiro atuarial. Todos contri-buem para um fim comum e não para um sistema individual.

Os dados estatísticos apontados no presente artigo trazem a con-clusão óbvia de que o sistema da Seguridade Social possui base ampla e diversificada e é financeiramente sustentável. Porém, grande parte dos recursos é legalmente (mas inconstitucionalmente) desvinculada por meio do mecanismo da DRU. É, portanto, um mecanismo para negar recursos financeiros à saúde, à Previdência Social e à assistência social.

A incolumidade da própria ordem constitucional não coaduna com as pretensões fiscais do Poder Público, que, por meio de instrumen-tos que manipulam e subvertem os direitos e garantias fundamentais, im-põe um verdadeiro estado de submissão tributária que destrói o Estado Democrático de Direito.

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A DRU fez da Constituição Federal uma letra morta, pois viola, frontalmente, cláusula pétrea constitucional (art. 60, § 4º, inciso IV) que constituiu a Previdência Social como direito fundamental (art. 5º, caput).

Não se pode admitir que, pelo fato de a DRU ser prorrogada me-diante sucessivas emendas constitucionais, trata-se de uma norma cons-titucional de hierarquia análoga à Constituição Federal. Tem-se aqui uma verdadeira agressão aos direitos fundamentais de segunda geração (direitos sociais).

As formas de proteção social foram construídas para atenuar os conflitos sociais da desigualdade, da pobreza, da velhice, da doença, da morte e do desemprego, e as contribuições arrecadadas devem ser utili-zadas, única e exclusivamente, para custear o pagamento dos benefícios previdenciários, sob pena de evidente inconstitucionalidade.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1982

Supremo Tribunal Federal15.03.2016 Segunda TurmaAgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 942.135 Rio Grande do SulRelator: Min. Dias ToffoliAgte.(s): Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul – IpergsProc.(a/s)(es): Procurador‑Geral do Estado do Rio Grande do SulAgdo.(a/s): Jovani da Silva RosaAdv.(a/s): Sabrina Safar LaranjaAdv.(a/s): Márcio Garcia MorissoIntdo.(a/s): Maria Eva Garcia de MelloAdv.(a/s): Leticia da Rosa Moraes

ementaagravo regImeNtal No reCurSo eXtraordINárIo Com agravo – prevIdeNCIárIo – peNSão por morte – habIlItação de CompaNheIra – art. 93, INCISo IX, da Cf – vIolação – Não oCorrêNCIa – legISlação INfraCoNStItuCIoNal – ofeNSa refleXa – fatoS e provaS – reeXame – ImpoSSIbIlIdade – preCedeNteS

1. Não procede a alegada violação do art. 93, inciso IX, da Cons-tituição Federal, haja vista que a jurisdição foi prestada, no caso, mediante decisões suficientemente fundamentadas, não obstante contrárias à pretensão da parte recorrente.

2. A revisão do entendimento adotado pelo Tribunal de origem acerca da qualidade de pensionista da agravante demandaria a análise da legislação infraconstitucional e o reexame do conjunto fático-probatório da causa, fins para os quais não se presta o re-curso extraordinário.

Incidência das Súmulas nºs 636, 280 e 279/STF.

3. Agravo regimental não provido.

acórdãO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Se-nhor Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata do julgamento e das

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notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 15 de março de 2016.

Ministro Dias Toffoli Relator

relatóriO

O Senhor Ministro Dias Toffoli (Relator):

Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (Ipergs) interpõe tempestivo agravo regimental contra decisão em que conheci de agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário, com a se-guinte fundamentação:

“Vistos.

Trata-se de agravo contra a decisão que não admitiu recurso extraordiná-rio interposto contra acórdão da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:

‘APELAÇÕES CÍVEIS – DIREITO PREVIDENCIÁRIO – IPERGS – HABI-LITAÇÃO DE COMPANHEIRA DE EX-SEGURADO – COMPROVADA A UNIÃO ESTÁVEL – PENSÃO – INCLUSÃO COMO DEPENDENTE – COMPROVAÇÃO DA DEPENDÊNCIA ECONÔMICA – DESNECES-SIDADE

Havendo reconhecimento judicial, com trânsito em julgado da sen-tença, sobre a união estável entre a autora e o ex-segurado, como se casados fossem, deve a mesma ser habilitada como pensionista junto ao Instituto de Previdência. É desnecessária a prova da dependência econômica, tendo em vista que o reconhecimento da união estável torna presumível tal fato. Precedentes.

À unanimidade, negaram provimento aos apelos.’

Opostos embargos de declaração, não foram acolhidos.

No recurso extraordinário, sustenta-se violação dos arts. 5º, incisos I, XXXV, LIV e LV, 24, inciso XII, 25, caput e § 1º, 93, inciso IX, 226, §§ 1º, 2º, 3º, 4º, 5º e 6º, da Constituição Federal.

Decido.

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Anote-se, inicialmente, que o recurso extraordinário foi interposto contra acórdão publicado após 03.05.20/07, quando já era plenamente exigível a demonstração da repercussão geral da matéria constitucional objeto do recurso, conforme decidido na Questão de Ordem no Agravo de Ins-trumento nº 664.567/RS, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 06.09.2007.

Todavia, apesar da petição recursal haver trazido a preliminar sobre o tema, não é de se proceder ao exame de sua existência, uma vez que, nos termos do art. 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Fe-deral, com a redação introduzida pela Emenda Regimental nº 21/2007, primeira parte, o procedimento acerca da existência da repercussão geral somente ocorrerá ‘quando não for o caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão’.

A irresignação não merece prosperar.

Não procede a alegada violação do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, haja vista que a jurisdição foi prestada, no caso, mediante deci-sões suficientemente motivadas, não obstante contrárias à pretensão da parte recorrente. Anote-se que o Plenário deste Supremo Tribunal Fede-ral reconheceu a repercussão geral desse tema e reafirmou a orientação de que a referida norma constitucional não exige que o órgão judicante manifeste-se sobre todos os argumentos de defesa apresentados, mas que fundamente, ainda que sucintamente, as razões que entendeu suficientes à formação de seu convencimento (AI 791.292/PE-RG-QO, Relator o Mi-nistro Gilmar Mendes, DJe de 13.08.2010).

Ademais, a jurisprudência desta Corte está consolidada no sentido de que as alegações de afronta aos princípios da legalidade, do devido pro-cesso legal, da ampla defesa e do contraditório, dos limites da coisa jul-gada e da prestação jurisdicional, se dependentes de reexame de normas infraconstitucionais, podem configurar apenas ofensa indireta ou reflexa à Constituição Federal, o que não enseja reexame em recurso extraordi-nário. Nesse sentido:

‘AGRAVO DE INSTRUMENTO – ALEGAÇÃO DE OFENSA AO POS-TULADO DA MOTIVAÇÃO DOS ATOS DECISÓRIOS – INOCOR-RÊNCIA – AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO – RE-CURSO IMPROVIDO – O Supremo Tribunal Federal deixou assentado que, em regra, as alegações de desrespeito aos postulados da legali-dade, do devido processo legal, da motivação dos atos decisórios, do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional podem configurar, quando muito, situações de ofensa meramente re-

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flexa ao texto da Constituição, circunstância essa que impede a uti-lização do recurso extraordinário. Precedentes’ (AI 360.265/RJ-AgR, 2ª T., Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 20.09.2002).

Por fim, ressalte-se que para superar o entendimento firmado pelo acór-dão recorrido e acolher a pretensão recursal seria imprescindível o ree-xame da legislação infraconstitucional pertinente e das provas dos autos, o que não é cabível no âmbito do recurso extraordinário. Sobre o tema, anote-se:

‘Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Militar. Pensão. Rateio entre ex-cônjuge e companheira. Possibilidade. 3. Incidência da Súmula nº 279. 4. Agravo regimental a que se nega provimento’ (RE575.122/SPAgR, 2ª T., Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 08.02.2011) .

‘ADMINISTRATIVO – PREVIDENCIÁRIO – PENSÃO POR MORTE – UNIÃO ESTÁVEL – MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL – OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO – REEXAME DO CONJUNTO FÁTI-COPROBATÓRIO – SÚMULA Nº 279 DO STF – I – O acórdão recor-rido dirimiu a questão dos autos com base na legislação infracons-titucional aplicável à espécie. Inadmissibilidade do RE, porquanto a ofensa à Constituição, se ocorrente, seria indireta. II – A matéria demanda o reexame de conjunto fático-probatório, o que atrai a inci-dência da Súmula nº 279 do STF. III – Agravo regimental improvido’ (RE 458.432/PR-AgR, 1ª T., Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ de 06.08.2010);

‘PREVIDENCIÁRIO – PENSÃO POR MORTE – PAGAMENTO ATÉ OS 24 ANOS DE IDADE – LEI ESTADUAL Nº 2.207/2000 E LEI FEDERAL Nº 9.250/1995 – OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL – NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS – IMPOSSIBILIDADE – SÚ-MULA Nº 279 DO STF – 1. O acórdão recorrido dirimiu a controvér-sia com base na legislação infraconstitucional aplicável à espécie. A ofensa à Constituição, se ocorresse, seria indireta. 2. O julgamento do recurso extraordinário demandaria o reexame do conjunto fático-pro-batório dos autos. Incide, na espécie, o óbice da Súmula nº 279/STF. 3. Agravo regimental a que se nega provimento’ (RE 569.673/MS-AgR, 2ª T., Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de 03.12.2010).

Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário.”

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Insiste o agravante na alegação de que teria havido ofensa ao art. 93, inciso IX, da Constituição Federal,

“porquanto não acolhidos [na origem] os aclaratórios opostos para obter pronunciamento acerca de questão relevante para o deslinde da causa, bem como silenciando sobre o prequestionamento”.

Aduz, in verbis, que

“[...] o recurso extraordinário do ente público não visa a questionar a in-terpretação dos dispositivos da precitada lei local, nem busca reanalisar todo o arcabouço probatórios dos autos. O ponto fundamental do apelo extraordinário diz respeito à hipótese de o Tribunal de Justiça invocar preceito constitucional (art. 226, § 3º, da CRFB/1988), cuja disposição trata apenas de efeitos civis, para equiparar a entidade familiar da união estável à do casamento também para fins previdenciários”.

É o relatório.

vOtO

O Senhor Ministro Dias Toffoli (Relator):

O inconformismo não merece prosperar.

Consoante expresso na decisão agravada, não houve negativa de prestação jurisdicional ou inexistência de motivação no acórdão recorri-do, porquanto a jurisdição foi prestada, no caso, mediante decisão sufi-cientemente fundamentada, não obstante tenha sido contrária à preten-são do recorrente, tendo o Tribunal de origem apresentado suas razões de decidir.

Ressalte-se que o referido art. 93, inciso IX, da Constituição Fe-deral não determina que o órgão judicante se manifeste sobre todos os argumentos de defesa apresentados, mas sim que ele explicite as ra-zões que entendeu suficientes à formação de seu convencimento. Esse entendimento foi reafirmado no julgamento do AI 791.292/PE-RG-QO, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 13.08.2010 tema 339.

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Ademais, colhe-se do voto condutor do acórdão recorrido a se-guinte fundamentação:

“A União Estável do extinto com a autora, existente no período de no-vembro de 2001 até o passamento daquele, é fato incontroverso, tanto foi que reconhecida judicialmente, através do processo nº 1.05.0510970-4, cuja decisão transitou em julgado (fls. 14/29). Não há o que se discutir nesse sentido, por força da decisão judicial.

[...]

Apesar da união estável não superar o lapso de cinco anos, pondero que a Lei Federal nº 9.278/96 veio regulamentar o art. 226, § 3º da CF/1988, bem como o art. 1.723 do Código Civil, reconhecendo a união estável como entidade familiar, sem prever qualquer limite temporal, bastando, para tanto, prova da convivência pública, duradoura e contínua, estabe-lecida com o objetivo de constituição de família.

Não obstante, é de se frisar que, ainda que houvesse entendimento di-verso deste Relator no que tange à observância do prazo de cinco anos – e não há –, conforme determina o art. 9º, II, da Lei nº 7.672/1982, fins de alcançar o direito ora em análise, a união estável foi reconhecida judicialmente, com trânsito em julgado, não cabendo ao recorrente, por-tanto, invocar direito outro e sob diversos fundamentos que não aquele reconhecido em juízo.

Neste passo, comprovada a união estável, a questão da dependência econômica torna-se inócua, porquanto presumível.”

Verifica-se que o Tribunal de origem reconheceu a qualidade de pensionista da agravada com fundamento na Lei Estadual nº 7.672/1982 e na Lei Federal nº 9.278/1996, bem como com base nos fatos e nas provas constantes dos autos.

Desse modo, é certo que, para ultrapassar esse entendimento e acolher a pretensão do agravante, seria necessário analisar a legislação infraconstitucional pertinente e reexaminar o conjunto fático-probatório da causa, o que não é cabível em sede de recurso extraordinário.

Incidência das Súmulas nºs 636, 280 e 279/STF. Sobre o mesmo tema, anotem-se julgados de ambas as turmas desta Corte:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. HABILITAÇÃO

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DE COMPANHEIRA – REQUISITOS – IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO CONJUNTO FÁTI-CO-PROBATÓRIO – SÚMULA Nº 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDE-RAL – AUSÊNCIA DE OFENSA CONSTITUCIONAL DIRETA – AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (ARE 916.985/RS--AgR, 2ª T., Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 15.12.2015).

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL – O re-curso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também não servindo à interpretação de normas estritamente legais” (ARE 808.043/RS-AgR, 1ª T., Relator o Ministro Marco Aurélio, DJe de 09.09.2014).

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONVERTIDOS EM AGRAVO REGI-MENTAL – LEI Nº 7.672/1982 – RIO GRANDE DO SUL CÔNJUGE VAR ÃO – PRESUNÇÃO CONTRÁRIA À DEPENDÊNCIA ECON ÔMICA DO MARIDO SADIO – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO – REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA – ENUNCIADOS NºS 279, 282 E 356 DA SÚMULA/STF – Agravo regimental a que se nega provimento” (RE 477.127/RS-ED, 2ª T., Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 06.04.2011).

Nego provimento ao agravo regimental.

seGunda turma eXtratO de ata

AgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 942.135

Proced.: Rio Grande do Sul

Relator: Min. Dias Toffoli

Agte.(s): Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul – Ipergs

Proc.(a/s)(es): Procurador-Geral do Estado do Rio Grande do Sul

Agdo.(a/s): Jovani da Silva Rosa

Adv.(a/s): Sabrina Safar Laranja (RS057479/)

Adv.(a/s): Márcio Garcia Morisso (RS060497/)

Intdo.(a/s): Maria Eva Garcia de Mello

Adv.(a/s): Leticia da Rosa Moraes (55773/RS)

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Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificada-mente, o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Presidência do Senhor Minis-tro Dias Toffoli. 2ª Turma, 15.03.2016.

Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. Presentes à sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Cármen Lúcia e Teori Zavascki. Au-sente, justificadamente, o Senhor Ministro Gilmar Mendes.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo Gustavo Gonet Branco.

Ravena Siqueira Secretária

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1983

Superior Tribunal de JustiçaAgRg no Recurso Especial nº 1.448.810 – SP (2014/0088773‑8)Relatora: Ministra Assusete MagalhãesAgravante: Dinah Franco e Silva VelanoAdvogado: Luiz Fernando Valladão Nogueira e outro(s)Agravado: Instituto Nacional do Seguro SocialAdvogado: Procuradoria‑Geral Federal – PGF

ementa

prevIdeNCIárIo e proCeSSual CIvIl – agravo regImeNtal No reCurSo eSpeCIal – deClaração de tempo de ServIço – SóCIo-CotISta – CoNtrIbuIçõeS – NeCeSSIdade de reColhImeNto – auSêNCIa de prequeStIoNameNto – SÚmulaS NºS 211/Stj e 282/Stf – dISSídIo jurISprudeNCIal Não demoNStrado – auSêNCIa de SImIlItude fátICa eNtre oS aCórdãoS CoNfroNtadoS – agravo regImeNtal ImprovIdo

I – Da leitura do acórdão objurgado denota-se que a matéria, objeto do Recurso Especial, não foi analisada na origem, atrain-do a incidência das Súmulas nºs 211/STJ e 282/STF, ante a falta do indispensável prequestionamento, viabilizador da instância especial.

II – Nos termos da jurisprudência desta Corte, “para que se com-prove a divergência jurisprudencial, impõe-se que os acórdãos confrontados tenham apreciado matéria idêntica à dos autos, à luz da mesma legislação federal, dando-lhes, porém, soluções distin-tas” (STJ, AgRg-EREsp 1.477.066/AC, Rel. Min. Humberto Martins, 1ª S., DJe de 15.12.2015).

III – Agravo Regimental improvido.

acórdãO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

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A Sra. Ministra Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região), os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 17 de março de 2016 (data do Julgamento).

Ministra Assusete Magalhães Relatora

certidãO de JulGamentO seGunda turma

Número Registro: 2014/0088773-8

Processo Eletrônico AgRg-REsp 1.448.810/SP

Números Origem: 1225313 200703990373804 481495419984036183 9800481494

Pauta: 01.09.2015 Julgado: 01.09.2015

Relatora: Exma. Sra. Ministra Assusete Magalhães

Presidente da Sessão: Exma. Sra. Ministra Assusete Magalhães

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Carlos Eduardo de Oliveira Vasconcelos

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

autuaçãO

Recorrente: Dinah Franco e Silva Velano

Advogado: Luiz Fernando Valladão Nogueira e outro(s)

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

Advogado: Procuradoria-Geral Federal – PGF

Assunto: Direito previdenciário – Benefícios em espécie – Aposenta-doria por tempo de contribuição (art. 55/6)

aGravO reGimental

Agravante: Dinah Franco e Silva Velano

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Advogado: Luiz Fernando Valladão Nogueira e outro(s)

Agravado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

Advogado: Procuradoria-Geral Federal – PGF

certidãO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“Adiado por indicação do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

relatóriO

Ministra Assusete Magalhães: Trata-se de Agravo Regimental, in-terposto por Dinah Franco e Silva Velano, impugnando decisão de mi-nha lavra, que negou seguimento ao seu Recurso Especial, fundamenta-do na alínea c do permissivo constitucional.

Este é o teor da decisão ora agravada:

“Trata-se de Recurso Especial, fundamentado na alínea c do permissivo constitucional, interposto por Dinah Franco e Silva Velano, contra acór-dão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, assim ementado:

‘PREVIDENCIÁRIO – DECLARAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO – SÓ-CIO-COTISTA – CONTRIBUIÇÕES – NECESSIDADE DE RECOLHI-MENTO – APELAÇÃO IMPROVIDA

1. As provas coligidas nos autos comprovam que a autora esteve inscrita como sócia da empresa Domingos Alves Peçanha Ltda., no perío do de 09.10.1973 a 16.04.1991. Foram apresentadas cópias das alterações do contrato social da sociedade de responsabilidade limi-tada da firma Domingos A. Peçanha (fls. 17/21).

2. No entanto, dado o caráter contributivo/retributivo da previdência social (Lei nº 8.213/1991, art. 1º), não é possível contar e averbar tempo de serviço para fins de fruição de benefício sem a respecti-va contribuição. Assim, se o empresário, autônomo ou equiparado não cumprir a obrigação de pagar contribuição, não poderá exi-gir a prestação correspondente, oriunda da relação jurídica com a previdência. Precedente do STJ (REsp 577117/SC, Recurso Especial

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nº 2003/0149968-3, DJ 27.02.2007, p. 240RJPTP, v. 11, p. 143 T2 – Segunda Turma).

3. Apelação interposta pela parte autora improvida’ (fl. 344e).

Os Embargos de Declaração opostos foram assim rejeitados:

‘PREVIDENCIÁRIO – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – OBSCURI-DADE, CONTRADIÇÃO E OMISSÃO NÃO CARACTERIZADAS – EFEITO INFRINGENTE

1. Inexistência de obscuridade, contradição ou omissão na decisão embargada, nos moldes do art. 535, I e II, CPC.

2. Inadmissibilidade de reexame da causa por meio de embargos de declaração para conformar o julgado ao entendimento da parte em-bargante. Caráter nitidamente infringente.

3. Embargos de declaração rejeitados’ (fl. 360e).

Sustenta a recorrente divergência jurisprudencial relativamente à inapli-cabilidade da Lei nº 8.213/1991 ao caso concreto, ‘devido ao princípio da irretroatividade da Lei adotado pelo Direito Brasileiro, segundo dispõe a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, antiga Lei de Intro-dução ao Código Civil, em seu art. 6º e art. 5º, XXXVI da Constituição Federal’ (fl. 376e).

Afirma, ainda, que ‘somente o sócio cotista gerente tem responsabilidade tributária de recolher as contribuições previdenciárias, na vigência da Lei nº 3.807/1960’ (fl. 384e).

Apresenta julgados para comprovação do dissídio jurisprudencial.

Sem contrarrazões (fl. 460e), o Recurso foi admitido, na origem.

O Recurso Especial não pode prosperar.

As questões trazidas no apelo nobre não podem ser apreciadas, pois carecem de prequestionamento, uma vez que as matérias não restaram decididas no acórdão recorrido, mesmo após a oposição de Embargos Declaratórios.

Incidem, no caso, as Súmulas nºs 211/STJ e, por analogia, 282/STF, se-gundo as quais, respectivamente, ‘inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo’ e ‘é inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada’.

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Ainda que assim não fosse, o recurso não mereceria provimento.

Isso porque, além de não ter ocorrido o prequestionamento viabilizador da instância especial (Súmulas nºs 211/STJ e 282/STF), inexiste similitude fática entre os acórdãos recorrido e paradigmas, o que impede a caracte-rização da divergência jurisprudencial.

Com efeito, a insurgência em análise está fundamentada em alegada di-vergência jurisprudencial, e os precedentes tidos por divergentes, con-forme as transcrições feitas nas razões do Especial, afirmam, além da irretroatividade da lei para afastar a aplicação da Lei nº 8.213/1991, que o recolhimento das contribuições previdenciárias, para fins de concessão de benefícios, é de responsabilidade do sócio-gerente.

Na espécie, contudo, o Tribunal de origem negou o benefício pleitea-do, considerando que ‘afigura-se impossível de reconhecimento o tempo de serviço no período pretendido pela parte autora, ante a ausência de comprovação dos recolhimentos, uma vez que não existem nos autos as referidas guias ou mesmo outros documentos contábeis que compro-vassem a retirada do pró-labore, com a respectiva satisfação da exação previdenciária’ (fl. 342e).

Nesse contexto, os acórdãos apresentados como paradigmas, por não confrontarem a tese fundamental do acórdão recorrido, padecem de es-pecificidade, e, portanto, não são capazes de caracterizar a divergência jurisprudencial.

A propósito, confiram-se, entre muitos outros, os seguintes precedentes:

‘PROCESSUAL CIVIL – PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE – ACUMULAÇÃO COM PENSÃO POR MORTE DE EX-COMBATENTE MARÍTIMO, PAGA PELO INSS – MESMO FATO GERADOR – IMPOS-SIBILIDADE – DIREITO À OPÇÃO PELA MAIS VANTAJOSA – DISSÍ-DIO JURISPRUDENCIAL – ALÍNEA C – NÃO DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA

1. A apontada divergência jurisprudencial deve ser comprovada, ca-bendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, com indicação da similitude fática e jurídica entre eles.

2. No caso dos autos, o acórdão recorrido determinou a opção entre a pensão especial de ex-combatente e a pensão previdenciária, não estando consignado se até o momento a insurgente teria deixado de receber a pensão previdenciária, enquanto o acórdão paradigma tra-

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tou de situação diversa, pensão especial judicialmente reconhecida sem que houvesse prévio requerimento administrativo.

3. Não se vislumbra similitude fática entre os casos apontados como paradigmas, de modo a caracterizar suficientemente a interpretação legal divergente.

4. O desrespeito aos requisitos legais e regimentais (art. 541, parágra-fo único, do CPC, e art. 255 do RI/STJ), como o que se afigura no pre-sente caso, impede o conhecimento do Recurso Especial, com base na alínea c, III, do art. 105 da Constituição Federal.

5. Agravo Regimental não provido’ (STJ, AgRg-AREsp 496.834/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe de 24.06.2014).

‘ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMEN-TAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – SERVIDOR PÚBLICO ESTA DUAL – GRATIFICAÇÃO POR TITULAÇÃO – REQUERIMEN-TO ADMINISTRATIVO – PRAZO PRESCRICIONAL – SUSPENSÃO – RESPOSTA DA ADMINISTRAÇÃO – AUSÊNCIA – DISSÍDIO PRETO-RIANO – NÃO COMPROVAÇÃO

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no sen-tido de que o requerimento administrativo suspende a contagem do prazo prescricional, que somente será retomado com a decisão final da administração.

2. No caso, a ação de cobrança, ajuizada em 14.01.2008 contra o Estado de Sergipe, veicula pretensão de recebimento de valores re-troativos atinentes à gratificação por titulação, os quais não foram objeto das Portarias nºs 2.798, de 30.12.1997, 8.161, de 27.12.2000, e 3.564, de 23.08.2002, que apenas geraram efeitos prospectivos.

3. Posteriormente, em 17.06.2002 e 29.07.2003, a parte interessada formulou pedidos específicos de pagamento das parcelas atrasadas, sem, contudo, obter resposta da administração, não havendo falar em reinício do curso da prescrição.

4. A divergência pretoriana a que se refere a alínea c do permissivo constitucional exige comprovação, nos moldes dos arts. 541, pará-grafo único, do CPC e 255, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno do STJ, porquanto, para a configuração do referido dissenso é indispensável a realização do cotejo analítico entre a decisão atacada e os para-digmas invocados, de forma a demonstrar a existência de similitude fática entre os casos confrontados, o que não ocorre na hipótese.

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5. Agravo regimental a que se nega provimento’ (STJ, AgRg-Ag 1.247.104/SE, Rel. Min. Og Fernandes, 6ª T., DJe de 02.04.2012).

‘AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – DECISÃO MO-NOCRÁTICA – POSSIBILIDADE – AGRAVO DE INSTRUMENTO – PROCURAÇÃO DO ADVOGADO SUBSTABELECENTE – FALTA – INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO – FUNDAMENTO INATACADO – SÚMULA Nº 283/STF – AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA – DISSÍ-DIO NÃO COMPROVADO

1. O julgamento monocrático pelo relator da causa, ao utilizar os po-deres processuais do art. 557 do Diploma Processual Civil, não ofen-de o princípio do duplo grau de jurisdição quando o recurso especial se revela manifestamente improcedente.

2. Não infirmado fundamento suficiente, por si só, para manter o jul-gado, incide o óbice contido no Enunciado nº 283/Supremo Tribunal Federal.

3. Inexistindo similitude fática entre os arestos confrontados, não há como se conhecer do recurso especial fundado em divergência juris-prudencial.

4. Agravo regimental a que se nega provimento’ (STJ, AgRg-REsp 1.273.077/BA, Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., DJe de 12.03.2012).

‘PROCESSUAL CIVIL – DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE – APURAÇÃO DE HAVERES DO SÓCIO FALECIDO – AUSÊNCIA DE PREQUESTIO-NAMENTO – SÚMULAS NºS 211/STJ E 282/STF – DISSÍDIO JURIS-PRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO

1. Para conhecimento de recurso especial com base em contrariedade a preceito de lei federal, é necessário que o acórdão recorrido tenha enfrentado as disposições tidas por violadas. Súmulas nºs 282 e 356 do STF.

2. Para que fique caracterizada a divergência jurisprudencial, faz-se necessário que, diante de um mesmo substrato fático, tenham os ares-tos confrontados adotado soluções discordantes.

3. Recurso especial não conhecido’ (STJ, REsp 601.051/PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 4ª T., DJe de 26.10.2009).

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Portanto, não restou configurada a divergência jurisprudencial alegada, único fundamento do Recurso Especial.

De rigor, ainda, outro óbice intransponível à admissibilidade recursal.

É certo que a parte, ao recorrer, deve buscar demonstrar o desacerto do julgamento contra o qual se insurge, refutando todos os óbices por ele levantados, sob pena de vê-lo mantido.

Diante desse quadro, tendo o Tribunal de origem negado o direito à au-tora, em razão da ausência de prova do recolhimento da contribuição previdenciária obrigatória, em face do caráter contributivo/retributivo da previdência social, persiste fundamento suficiente para manter o julgado, ficando inviabilizado o recurso, nos termos da Súmula nº 283 do STF, aplicável por analogia, a seguir reproduzida:

‘É inadmissível o Recurso Extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abran-ge todos eles.’

Em face do exposto, com fundamento no art. 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao Recurso Especial” (fls. 471/475e).

A agravante, em síntese, afirma que:

“[...] ao reverso do que disse a D. Relatora, a divergência jurisprudencial ficou, sim, configurada, tendo sido comprovada a similitude fática entre os acórdãos.

Ora, justamente porque não era obrigação da recorrente recolher a res-pectiva contribuição previdenciária (entendimento dos paradigmas), não se poderia exigir dela a comprovação de tal recolhimento (entendimento do acórdão recorrido), ficando, assim, evidenciada a confrontação espe-cífica entre a tese do acórdão recorrido e dos paradigmas.

Sem dúvidas, tanto na presente demanda quanto nos paradigmas a ques-tão fática e jurídica é exatamente a mesma: decidir sobre a pretensão de reconhecimento, para fins previdenciários, de tempo de serviço anterior à Lei nº 8.213/1991, mesmo sem comprovação da contribuição, o que, à época, cabia à empresa o recolhimento a ao INSS a fiscalização.

Nesse sentido, vale insistir que, conforme dito nos razões do REsp, so-mente o sócio quotista gerente tinha responsabilidade tributária de recolher as contribuições previdenciárias durante a vigência da Lei nº 3.807/1960.

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Ou seja, a agravante, ainda que quisesse recolher a sua contribuição previdenciária à época da vigência da Lei nº 3.807/1960, não poderia fazê-lo, porque não tinha documento hábil, uma vez que as contribui-ções previdenciárias eram contabilizadas pela empresa, o que ficava sob fiscalização do INSS.

Enfim, o fato é que não pode subsistir o fundamento da decisão agrava-da, devendo essa d. Turma Julgadora conhecer da divergência jurispru-dencial devidamente demonstrada e resolvê-la, oportunidade em que, certamente, se alinhará ao entendimento dos acórdãos paradigmas para reconhecer o tempo de serviço pretendido pela recorrente.

Ademais, rogando-se, novamente, a devida venia, não podem subsistir os outros óbices colocados pela decisão agravada ao conhecimento do recurso especial.

Com efeito, descabido o fundamento de que ‘tendo o Tribunal de origem negado o direito à autora, em razão da ausência de prova do recolhimen-to da contribuição previdenciária obrigatória, em face do caráter contri-butivo/retributivo da previdência social, persiste fundamento suficiente para manter o julgado, ficando inviabilizado o recurso, nos termos da Súmula nº 283 da STF’.

Ora, o fundamento do acórdão recorrido dito pela D. Relatora como ina-tacado foi frontalmente impugnado, ao se defender nas razões recursais que o princípio extraído do art. 1º da Lei nº 8.213/1991 ‘não se aplica ao caso sob exame, venia concessa, devido ao princípio da irretroati-vidade da Lei adotado pelo Direito Brasileiro, segundo dispõe a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, antiga Lei de Introdução ao Código Civil, em seu art. 6º e art. 5º, XXXVI da Constituição Federal’. Não bastasse, é facilmente percebido, pela rápida leitura do recurso especial, que as suas razões se contrapõem suficientemente a toda fundamentação do acórdão recorrido.

Defendeu a ora agravante que o recorrido, INSS, ‘teve conhecimento de que não houve recolhimento das contribuições [...] não tomando as providências administrativas para cobrar o débito, existindo, portanto desídia’. E que ‘não pode ser punida, deixando o INSS de conceder sua aposentadoria por tempo de serviço [...], porque a empresa não cumpriu sua obrigatoriedade de recolher as contribuições previdenciária, segundo dispõe a Lei nº 3.807/1960, vigente à época do fato’. Ora, certo é que se acolhidos os argumentos da agravante, toda a fundamentação do acór-dão recorrido será frontalmente abalada.

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Então, por tudo isso, não há que se falar na incidência da Súmula nº 283/STF.

Por fim, o óbice do prequestionamento levantado pela Emin. Relatora também não pode subsistir.

Primeiro, porque as questões da irretroatividade da Lei nº 8.213/1991 (art. 6º da LINDB) e da ora agravante ser mera sócia quotista e não sócia gerente levantadas no recurso especial, foram, ainda que implicitamente, prequestionadas no acórdão recorrido.

Sim, a turma julgadora ao discorrer sobre a suposta obrigatoriedade, des-de a vigência da Lei nº3.807/1960, do empresário recolher a sua res-pectiva contribuição previdenciária, mesmo sem citar, expressamente, o art. 6º da LINDB, prequestionou a matéria, estando, assim, autorizado o C. STJ a apreciá-la” (fls. 486/489e).

Requer, ao final, o “conhecimento e provimento do presente Agra-vo Interno, para o fim de que, reformada a r. decisão atacada, a d. Turma Julgadora conheça do Recurso Especial” (fl. 490e).

É o relatório.

vOtO

Ministra Assusete Magalhães (Relatora): O presente Agravo Regi-mental não merece prosperar.

O Tribunal de origem concluiu pela não concessão do benefício previdenciário, em razão da impossibilidade de contar e averbar o tem-po de serviço do empresário, para fins de fruição de benefício, sem a respectiva contribuição.

A ora agravante, no Recurso Especial, insurge-se contra o acórdão, afirmando a irretroatividade da Lei nº 8.213/1991, bem como que, na vigência da Lei nº 3.807/1960, “somente o sócio cotista gerente tem responsabilidade tributária de recolher as contribuições previdenciárias” (fl. 384e).

Essas questões, contudo, não foram enfrentadas e decididas, pelo Tribunal a quo, padecendo, assim, do necessário prequestionamento,

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viabilizador da instância especial, atraindo a incidência das Súmulas nºs 211/STJ e 282/STF, conforme esclareceu a decisão agravada.

Por outro lado, os acórdãos paradigmas, apresentados como fun-damento do Recurso Especial, alicerçado, apenas, na alínea c do per-missivo constitucional, afirmam a irretroatividade da lei, no intuito de afastar a aplicação da Lei nº 8.213/1991, e que o recolhimento das con-tribuições previdenciárias, para fins de concessão de benefícios, é de responsabilidade do sócio-gerente.

O acórdão recorrido, porém, não enfrentou essas questões, con-forme acima foi ressaltado e, desse modo, são eles inespecíficos, o que impede a caracterização da divergência jurisprudencial, único funda-mento do Recurso Especial.

Nesse sentido, já decidiu esta Corte:

“PROCESSO CIVIL – ADMINISTRATIVO – DISSÍDIO NÃO DEMONS-TRADO – AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA – REVISÃO – IMPOSSIBI-LIDADE – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 168/STJ

1. Para que se comprove a divergência jurisprudencial, impõe-se que os acórdãos confrontados tenham apreciado matéria idêntica à dos autos, à luz da mesma legislação federal, dando-lhes, porém, soluções distintas.

2. Enquanto o acórdão embargado entendeu que a relação seria de trato sucessivo, o aresto paradigma firmou a orientação no sentido de que ‘o Decreto nº 16.990/1995, que suspendeu o pagamento do benefício alimentação pleiteado pelo recorrido (publicado no dia 08.12.1995), é ato único de efeitos concretos, submetendo, portanto, as ações ajuizadas há mais de cinco anos da sua edição, à prescrição do fundo do direito’.

3. A ausência de similitude fático-jurídica obsta o processamento do em-bargo de divergência.

4. Ademais, incide no caso, portanto, o teor da Súmula nº 168/STJ, se-gundo a qual: ‘Não cabem embargos de divergência, quando a jurispru-dência do tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado’.

Agravo regimental improvido” (STJ, AgRg-EREsp 1.477.066/AC, Rel. Min. Humberto Martins, 1ª S., DJe de 15.12.2015).

“PROCESSUAL CIVIL – PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE – ACUMULAÇÃO COM PENSÃO POR MORTE DE EX-COMBATENTE

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MARÍTIMO, PAGA PELO INSS – MESMO FATO GERADOR – IMPOS-SIBILIDADE – DIREITO À OPÇÃO PELA MAIS VANTAJOSA – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL – ALÍNEA C – NÃO DEMONSTRAÇÃO DA DIVER-GÊNCIA

1. A apontada divergência jurisprudencial deve ser comprovada, caben-do a quem recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou as-semelham os casos confrontados, com indicação da similitude fática e jurídica entre eles.

2. No caso dos autos, o acórdão recorrido determinou a opção entre a pensão especial de ex-combatente e a pensão previdenciária, não estan-do consignado se até o momento a insurgente teria deixado de receber a pensão previdenciária, enquanto o acórdão paradigma tratou de situação diversa, pensão especial judicialmente reconhecida sem que houvesse prévio requerimento administrativo.

3. Não se vislumbra similitude fática entre os casos apontados como pa-radigmas, de modo a caracterizar suficientemente a interpretação legal divergente.

4. O desrespeito aos requisitos legais e regimentais (art. 541, parágrafo único, do CPC, e art. 255 do RI/STJ), como o que se afigura no presente caso, impede o conhecimento do Recurso Especial, com base na alínea c, III, do art. 105 da Constituição Federal.

5. Agravo Regimental não provido” (STJ, AgRg-AREsp 496.834/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe de 24.06.2014).

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – GRATIFICAÇÃO POR TITULAÇÃO – REQUERIMENTO ADMINISTRA-TIVO – PRAZO PRESCRICIONAL – SUSPENSÃO – RESPOSTA DA AD-MINISTRAÇÃO – AUSÊNCIA – DISSÍDIO PRETORIANO – NÃO COM-PROVAÇÃO

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido de que o requerimento administrativo suspende a contagem do prazo prescricional, que somente será retomado com a decisão final da admi-nistração.

2. No caso, a ação de cobrança, ajuizada em 14.01.2008 contra o Es-tado de Sergipe, veicula pretensão de recebimento de valores retroati-vos atinentes à gratificação por titulação, os quais não foram objeto das

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Portarias nºs 2.798, de 30.12.1997, 8.161, de 27.12.2000, e 3.564, de 23.08.2002, que apenas geraram efeitos prospectivos.

3. Posteriormente, em 17.06.2002 e 29.07.2003, a parte interessada for-mulou pedidos específicos de pagamento das parcelas atrasadas, sem, contudo, obter resposta da administração, não havendo falar em reinício do curso da prescrição.

4. A divergência pretoriana a que se refere a alínea c do permissivo cons-titucional exige comprovação, nos moldes dos arts. 541, parágrafo único, do CPC e 255, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno do STJ, porquanto, para a configuração do referido dissenso é indispensável a realização do cotejo analítico entre a decisão atacada e os paradigmas invocados, de forma a demonstrar a existência de similitude fática entre os casos confrontados, o que não ocorre na hipótese.

5. Agravo regimental a que se nega provimento” (STJ, AgRg-Ag 1.247.104/SE, Rel. Min. Og Fernandes, 6ª T., DJe de 02.04.2012).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – DECISÃO MONO-CRÁTICA – POSSIBILIDADE – AGRAVO DE INSTRUMENTO – PRO-CURAÇÃO DO ADVOGADO SUBSTABELECENTE – FALTA – INEXIS-TÊNCIA DE PREJUÍZO – FUNDAMENTO INATACADO – SÚMULA Nº 283/STF – AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA – DISSÍDIO NÃO COMPROVADO

1. O julgamento monocrático pelo relator da causa, ao utilizar os pode-res processuais do art. 557 do Diploma Processual Civil, não ofende o princípio do duplo grau de jurisdição quando o recurso especial se revela manifestamente improcedente.

2. Não infirmado fundamento suficiente, por si só, para manter o julgado, incide o óbice contido no enunciado nº 283/Supremo Tribunal Federal.

3. Inexistindo similitude fática entre os arestos confrontados, não há como se conhecer do recurso especial fundado em divergência jurisprudencial.

4. Agravo regimental a que se nega provimento” (STJ, AgRg-REsp 1.273.077/BA, Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., DJe de 12.03.2012).

“PROCESSUAL CIVIL – DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE – APURAÇÃO DE HAVERES DO SÓCIO FALECIDO – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONA-MENTO – SÚMULAS NºS 211/STJ E 282/STF – DISSÍDIO JURISPRUDEN-CIAL NÃO CONFIGURADO

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1. Para conhecimento de recurso especial com base em contrariedade a preceito de lei federal, é necessário que o acórdão recorrido tenha en-frentado as disposições tidas por violadas. Súmulas nºs 282 e 356 do STF.

2. Para que fique caracterizada a divergência jurisprudencial, faz-se ne-cessário que, diante de um mesmo substrato fático, tenham os arestos confrontados adotado soluções discordantes.

3. Recurso especial não conhecido” (STJ, REsp 601.051/PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 4ª T., DJe de 26.10.2009).

Ante o exposto, nego provimento ao Agravo Regimental.

É o voto.

certidãO de JulGamentO seGunda turma

Número Registro: 2014/0088773-8 AgRg-REsp 1.448.810/SP

Números Origem: 1225313 200703990373804 481495419984036183 9800481494

Pauta: 17.03.2016 Julgado: 17.03.2016

Relatora: Exma. Sra. Ministra Assusete Magalhães

Presidente da Sessão: Exma. Sra. Ministra Assusete Magalhães

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Brasilino Pereira dos Santos

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

autuaçãO

Recorrente: Dinah Franco e Silva Velano

Advogado: Luiz Fernando Valladão Nogueira e outro(s)

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social

Advogado: Procuradoria-Geral Federal – PGF

Assunto: Direito previdenciário – Benefícios em espécie – Aposenta-doria por tempo de contribuição (art. 55/6)

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aGravO reGimental

Agravante: Dinah Franco e Silva Velano

Advogado: Luiz Fernando Valladão Nogueira e outro(s)

Agravado: Instituto Nacional do Seguro Social

Advogado: Procuradoria-Geral Federal – PGF

certidãO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

A Sra. Ministra Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região), os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1984

Superior Tribunal de JustiçaAgRg‑EDcl no Recurso Especial nº 1.457.614 – RS (2014/0117694‑7)Relator: Ministro Marco Aurélio BellizzeAgravante: Rogério Luis LopesAgravante: Luiz Augusto Ribeiro ZimmerAdvogado: Raimundo Cézar Britto Aragão e outro(s)Agravado: Fundação Petrobras de Seguridade Social – PetrosAdvogados: Rejane Macagnan e outro(s)

Gilda Russomano Gonçalves dos Santos e outro(s) Dayanne Alves Santana e outro(s)

Agravado: Braskem S/AAdvogados: Renato Tadeu Rondina Mandaliti e outro(s)

Homero Bellini Junior e outro(s) Reinaldo Luis Tadeu Rondina Mandaliti e outro(s) Angelo Moreno Perazzone e outro(s)

ementaagravo regImeNtal NoS embargoS de deClaração No reCurSo eSpeCIal – prevI-dêNCIa prIvada – ação revISIoNal de ComplemeNtação de apoSeNtadorIa – lImIte míNImo de Idade para o reCebImeNto da SuplemeNtação de apoSeNtadorIa – deCreto Nº 81.240/1978 – leI Nº 6.435/1977 – valIdade – qualIfICação jurídICa do fato No toCaNte à data de adeSão doS autoreS No plaNo de prevIdêNCIa – poSSIbIlIdade – reeXame de provaS – Não CaraCterIzação – a utIlIzação de fuNdameNtoS dIverSoS NeSta Corte Não preSCINde do requISIto do prequeStIoNameNto – reCurSo deSprovIdo

1. O Decreto nº 81.240/1978, ao tratar do limitador etário para aposentadoria complementar não extrapolou os limites da Lei nº 6.435/1977, situando-se, portanto, dentro da legalidade. Pre-cedentes.

2. A previdência privada é facultativa e tem natureza contratual. Assim, é aplicável o limitador etário ao participante cuja adesão ao plano ocorreu quando já havia previsão regulamentar nesse sentido.

3. No caso, a data de ingresso dos autores no plano de previdência é fato incontroverso, porque reconhecida por eles próprios na peti-

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ção inicial, razão pela qual proceder ao seu devido enquadramen-to no sistema normativo, a fim de obter determinada consequência jurídica, é tarefa compatível com a natureza excepcional do re-curso especial, a qual não se confunde com o reexame de provas.

4. Embora os tribunais superiores tenham liberdade para decidir se utilizando de fundamentos diversos dos que foram utilizados pelas instâncias ordinárias, não pode fazê-lo em relação a tema que não tenha sido objeto de debate prévio pelas instâncias ordinárias.

5. Agravo regimental a que se nega provimento.

acórdãO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provi-mento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha (Presi-dente), Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 10 de março de 2016 (data do Julgamento).

Ministro Marco Aurélio Bellizze, Relator

relatóriO

O Senhor Ministro Marco Aurélio Bellizze:

Trata-se de agravo regimental interposto por Rogério Luis Lopes e outro contra a decisão de fls. 931-935 (e-STJ) – integrada por embargos de declaração acolhidos sem efeitos modificativos (e-STJ, fls. 963-966), a qual, nos autos da ação de cobrança de complementação de apo-sentadoria proposta em desfavor da Fundação Petrobras de Seguridade Social – Petros e da Braskem S.A., deu provimento a ambos os recursos especiais das rés, a fim de restabelecer os termos da sentença (e-STJ, fls. 412-415), que julgou improcedente o pedido inicial, considerando

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legítimo o limite mínimo de idade de 55 anos como requisito para o recebimento da suplementação de aposentadoria.

No presente arrazoado, os agravantes reiteram a alegação dedu-zida nas contrarrazões do recurso especial de que o requisito de idade mínima prevista no Decreto nº 81.240/1978, mesmo que válido, seria inaplicável ao caso dos petroleiros em razão da legislação especial do INSS que trata da aposentadoria integral em caso de exposição a subs-tâncias químicas e perigosas.

Sustentam, outrossim, que para dar provimento aos recursos espe-ciais das demandadas, houve a necessidade do reexame de provas, a fim de aferir se, no caso, o requisito de idade foi ou não cumprido, o que é vedado pela Súmula nº 7 deste Tribunal, por envolver questão que não foi enfrentada pelo acórdão estadual.

Intimadas, as agravadas apresentaram impugnação às fls. 986-998 e 999-1.004 (e-STJ).

É o relatório.

vOtO

O Senhor Ministro Marco Aurélio Bellizze (Relator):

O inconformismo não deve ser acolhido.

Versam os autos sobre ação revisional de complementação de aposentadoria em que se discute a legalidade da fixação do limite de idade mínimo para obtenção da suplementação integral dos proventos por entidade fechada de previdência privada.

No julgamento do REsp 1.125.913/RS, Relator o Ministro Luis Fe-lipe Salomão, 4ª T., DJe de 12.11.2010, decidiu-se que é legítimo o estabelecimento do limite de idade em 55 anos promovido pelo De-creto nº 81.240/1978, sem extrapolar os parâmetros fixados na Lei nº 6.435/1977, que não veda tal prática, além de ser imperati-va a manutenção do equilíbrio atuarial da instituição de previdência complementar.

As conclusões do julgado foram estampadas na seguinte ementa:

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PREVIDÊNCIA PRIVADA – PETROS – COMPLEMENTAÇÃO DE APO-SENTADORIA – LIMITE ETÁRIO – MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL – LEGALIDADE – RAZOABILIDADE – EQUILÍBRIO ATUARIAL

1. O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento no sentido de que a questão relativa a decreto, que a pretexto de regulamentar determinada lei, extrapola o seu âmbito de incidência, é tema que se situa no plano da legalidade, e não da constitucionalidade.

2. O Decreto nº 81.240/1978 e, por consequência, o Regulamento do Plano da Petros/1979, não extrapolaram ao estipular o limite etário e mantiveram-se dentro do limite das discricionariedade conferida pela lei, significando que apenas desceu a detalhes que a Lei nº 6.435/1977 dei-xou em aberto; sobressaindo, ainda, que é razoável e necessário a busca da preservação do equilíbrio atuarial.

3. O Decreto nº 81.240/1978 , em seu art. 31, IV, ressalvou a situação apenas dos participantes que ingressaram no plano de benefício antes de 1º de janeiro de 1978, o que não é o caso dos autos, pois os autores ade-riram ao plano de complementação de aposentadoria após a alteração que previa a condição etária de 55 anos.

4. Provido o Recurso Especial da Petros e julgado prejudicado o Recurso Especial de Adi de Oliveira Borba e outros.

(REsp 1.125.913/RS, Relator o Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª T., DJe de 12.11.2010)

Extrai-se do precedente acima que:

“2.7 No caso em apreço, a situação é ainda mais gritante. É incontroverso que os autores ingressaram na Petros, aderindo ao plano de complemen-tação de aposentadoria, após a alteração que previa a condição etária de cinquenta e cinco anos, estando, portanto, sujeitos a esse requisito objeti-vo para o recebimento integral do benefício previdenciário complemen-tar. Saliente-se que o Decreto em questão, em seu art. 31, IV, ressalvou a situação dos participantes que ingressaram no plano de benefício antes de 1º de janeiro de 1978.”

Conforme ficou assinalado na decisão agravada, é também o caso dos autos, haja vista que os autores associaram-se a Petros em 21.10.1981 (e-STJ, fl. 20) e 06.06.1983 (e-STJ, fl. 48), portanto, em data posterior à alteração relativa à exigência etária pelo Decreto nº 81.240/1978, bem como ao registro do Estatuto/Regulamento do Plano de Benefícios da

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recorrente, o que se deu em 26.01.1981, razão pela qual a eles não se aplica a exceção prevista no art. 31, IV, do aludido diploma legal, des-tinada aos participantes que ingressaram nas entidades de previdência antes de 01.01.1978.

Ainda sobre o tema: AgRg-Ag 1.001.687/SP, Relator o Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª T., DJe 09.08.2013; REsp 1.151.739/CE, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, 2ª S., DJe de 17.12.2012; AgRg--EDcl-REsp 1.299.763/CE, Relator o Ministro Sidnei Beneti, 3ª T., DJe de 29.06.2012; EDcl-REsp 1.119.246/RS, Relatora a Ministra Maria Isabel Gallotti, 4ª T., DJe de 27.09.2011.

Sustentam os agravantes que, para dar provimento aos recursos especiais das demandadas, houve a necessidade do reexame de provas, a fim de aferir se, no caso, o requisito de idade foi ou não cumprido, o que é vedado pela Súmula nº 7 deste Tribunal, por envolver questão que não foi enfrentada pelo acórdão estadual.

Ocorre que o dia em que os autores, ora recorrentes, ingressaram no plano de previdência é fato incontroverso nos autos, porque reco-nhecidos por eles próprios na petição inicial, razão pela qual proceder ao seu devido enquadramento no sistema normativo, a fim de obter de-terminada consequência jurídica, é tarefa compatível com a natureza excepcional do recurso especial, a qual não se confunde com o reexame de provas.

Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO DE COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ PERMANENTE – CONSUMAÇÃO DO PRAZO PRES-CRICIONAL – DATA DA CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA INVALIDEZ E DO INDEFERIMENTO DO PEDIDO ADMINISTRATIVO – FATOS INCON-TROVERSOS NOS AUTOS – MATÉRIA CUJO CONHECIMENTO FOI DEVOLVIDO AO TRIBUNAL EM APELAÇÃO – ASSISTÊNCIA JUDICIÁ-RIA – ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA – CABIMENTO

I – Consideram-se fato incontroverso nos autos as informações relativas à data em que o segurado teve ciência inequívoca de sua invalidez, bem como aquela em que tomou conhecimento da recusa da seguradora ao pagamento administrativo da indenização, uma vez que foram declina-das pelo próprio autor em sua petição inicial.

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II – A par disso, a discussão sobre essas questões foi devolvida ao co-nhecimento do Tribunal estadual em âmbito de Apelação, por força do princípio tantum devolutum quantum appellatum, que delas tratou, por ocasião do exame do mérito recursal, uma vez que defendeu a segurado-ra apelante a ocorrência da prescrição.

III – A gratuidade de Justiça não impede a condenação em honorários ad-vocatícios, mas apenas suspende a sua exigibilidade (Lei nº 1.060/1950, art. 12).

Agravo improvido.

(AgRg-REsp 1.077.487/SC, Relator o Ministro Sidnei Beneti, 3ª T., DJe de 01.06.2009)

Reiteram, outrossim, a alegação deduzida nas contrarrazões do recurso especial de que o requisito de idade mínima prevista no Decreto nº 81.240/1978, mesmo que válido, seria inaplicável ao caso dos petro-leiros em razão da legislação especial do INSS que trata da aposentado-ria integral em caso de exposição a substâncias químicas e perigosas.

A questão, todavia, não foi objeto de deliberação no acórdão re-corrido, tampouco foi suscitada sua discussão por ocasião da oposição dos embargos de declaração, ressentido-se, por conseguinte, do indis-pensável prequestionamento (Súmulas nºs 282 e 356/STF).

A propósito:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – PREQUESTIONA-MENTO – AUSÊNCIA – MATÉRIA SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES – IRRELEVÂNCIA

1. Diante do duplo exame de admissibilidade do especial, a decisão pro-ferida pelo Tribunal de origem não vincula esta Corte Superior.

2. O prequestionamento não emerge da comprovada manifestação dos temas de direito federal nas razões ou contrarrazões dos recursos ordiná-rios, mas da sua efetiva apreciação pelo acórdão recorrido.

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg-REsp 1.508.942/DF, Relator o Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª T., DJe de 23.11.2015)

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Embora os tribunais superiores tenham liberdade para decidir se utilizando de fundamentos diversos dos que foram utilizados pelas ins-tâncias ordinárias, não podem fazê-lo em relação a tema que não tenha sido objeto de debate prévio pelas instâncias ordinárias, ou seja, não ficam dispensados da observância ao requisito do prequestionamento.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

certidãO de JulGamentO terceira turma

Número Registro: 2014/0117694-7

AgRg-EDcl-REsp 1.457.614/RS

Números Origem: 00111002171416 00309534920148217000 01269006720138217000 02763900320128217000 03832901020128217000 03920033720138217000 05543392220128217000 111002171416 11100217416 1269006720138217000 21714116920108210001 2763900320128217000 309534920148217000 3832901020128217000 3920033720138217000 5543392220128217000 70052477403 70054022736 70056673767

Em Mesa Julgado: 10.03.2016

Relator: Exmo. Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro João Otávio de Noronha

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Durval Tadeu Guimarães

Secretária: Belª Maria Auxiliadora Ramalho da Rocha

autuaçãO

Recorrente: Fundação Petrobrás de Seguridade Social – Petros

Advogados: Rejane Macagnan e outro(s) Gilda Russomano Gonçalves dos Santos e outro(s) Dayanne Alves Santana e outro(s)

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Recorrente: Braskem S/A

Advogados: Renato Tadeu Rondina Mandaliti e outro(s) Homero Bellini Junior e outro(s) Reinaldo Luis Tadeu Rondina Mandaliti e outro(s) Angelo Moreno Perazzone e outro(s)

Recorrido: Rogério Luis Lopes

Recorrido: Luiz Augusto Ribeiro Zimmer

Advogado: Raimundo Cézar Britto Aragão e outro(s)

Assunto: Direito Civil – Obrigações – Espécies de contratos – Previ-dência Privada

aGravO reGimental

Agravante: Rogério Luis Lopes

Agravante: Luiz Augusto Ribeiro Zimmer

Advogado: Raimundo Cézar Britto Aragão e outro(s)

Agravado: Fundação Petrobras de Seguridade Social – Petros

Advogados: Rejane Macagnan e outro(s) Gilda Russomano Gonçalves dos Santos e outro(s) Dayanne Alves Santana e outro(s)

Agravado: Braskem S/A

Advogados: Renato Tadeu Rondina Mandaliti e outro(s) Homero Bellini Junior e outro(s) Reinaldo Luis Tadeu Rondina Mandaliti e outro(s) Angelo Moreno Perazzone e outro(s)

certidãO

Certifico que a egrégia Terceira Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha (Presi-dente), Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1985

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoNumeração Única: 0027371‑05.2009.4.01.3800Apelação/Reexame Necessário nº 2009.38.00.028213‑5/MG Relator(a): Juiz Federal Ivanir César Ireno JúniorApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: DF00025372 – Adriana Maia VenturiniApelado: Maria Santana RodriguesAdvogado: MG00106901 – Thiago Antunes LobatoRemetente: Juízo Federal da 20ª Vara – MG

ementa

prevIdeNCIárIo e proCeSSual CIvIl – requerImeNto admINIStratIvo – CarêNCIa de ação afaStada – deSapoSeNtação – dIreIto perSoNalíSSImo – beNefíCIo Não requerIdo pelo tItular do dIreIto – IlegItImIdade atIva do peNSIoNISta

1. A autora formulou requerimento administrativo de revisão do benefício, em 2009, com o mesmo pedido formulado nestes autos, que foi indeferido pelo INSS (fls. 33/34). Preliminar indeferida

2. A preliminar de ilegitimidade merece acolhida. Trata-se de de-manda na qual a autora, titular do benefício de pensão por morte instituído por seu cônjuge, com data de início (DIB) em 28.12.2006, pretende renunciar à aposentadoria do falecido, concedida em 11.07.2001, e requerer outra mais vantajosa, computando-se tem-po em que o instituidor da pensão, embora aposentado, continuou a trabalhar (2001 a 2006).

3. A desaposentação, como ato de desfazimento da aposentado-ria, pela própria vontade do titular, para fins de aproveitamento de novo tempo de contribuição para concessão de benefício mais vantajoso, é direito personalíssimo do segurado aposentado, que não pode ser exercido por seus sucessores ou herdeiros, ainda que habilitados à pensão por morte. Difere, assim, da possibilidade de sucessores ou herdeiros pleitearam diferenças pecuniárias de benefício já concedido em vida ao instituidor da pensão (art. 112 da Lei nº 8.213/1991).

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4. Somente o titular da aposentadoria, em vida, poderia renunciar direito do qual era titular, ainda que para obter outro mais vantajo-so, o que não ocorreu na hipótese. Precedentes do STJ e deste TRF.

5. Apelação e remessa providas.

acórdãO

Decide a Câmara, à unanimidade, dar provimento à apelação e à remessa necessária, nos termos do voto do Relator.

Primeira Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais.

Brasília, 14 de março de 2016.

Juiz Federal Ivanir César Ireno Júnior Relator convocado

relatóriO

O Exmo. Sr. Juiz Federal Ivanir César Ireno Júnior, Relator Convo-cado:

1. Maria Santana Rodrigues propôs ação contra o INSS, para o fim de revisar benefício de pensão por morte, instituído pelo seu cônjuge, a partir da revisão do benefício precedente (aposentadoria por tempo de contribuição), com aplicação do instrumento jurídico conhecido como “desaposentação”.

2. Citado, o INSS apresentou contestação.

3. Julgamento antecipado da lide.

4. Sentença de procedência (fls. 66/72), sob o fundamento da lega-lidade do procedimento de desaposentação.

5. Apelação do INSS com os seguintes fundamentos: a) falta de interesse de agir por ausência de requerimento administrativo; b) ilegiti-midade de causa para pleitear a renúncia do benefício do instituidor da pensão; c) vedação legal à desaposentação; d) necessidade de restitui-ção dos valores.

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6. Com contrarrazões.

É o relatório.

vOtO

7. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do re-curso voluntário e da remessa necessária.

8. Processo em ordem, sem nulidades.

9. A autora formulou requerimento administrativo de revisão do benefício, em 2009, com o mesmo pedido formulado nestes autos, que foi indeferido pelo INSS (fls. 33/34). Preliminar indeferida.

10. A preliminar de ilegitimidade merece acolhida. Trata-se de demanda na qual a autora, titular do benefício de pensão por morte insti tuído por seu cônjuge, com data de início (DIB) em 28.12.2006, pre-tende renunciar à aposentadoria do falecido, concedida em 11.07.2001, e requerer outra mais vantajosa, computando-se tempo em que o ins-tituidor da pensão, embora aposentado, continuou a trabalhar (2001 a 2006).

11. A desaposentação, como ato de desfazimento da aposentado-ria, pela própria vontade do titular, para fins de aproveitamento de novo tempo de contribuição para concessão de benefício mais vantajoso, é direito personalíssimo do segurado aposentado, que não pode ser exer-cido por seus sucessores ou herdeiros, ainda que habilitados à pensão por morte. Difere, assim, da possibilidade de sucessores ou herdeiros pleitearam diferenças pecuniárias de benefício já concedido em vida ao instituidor da pensão (art. 112 da Lei nº 8.213/1991). Somente o titular da aposentadoria, em vida, poderia renunciar direito do qual era titular, ainda que para obter outro mais vantajoso, o que não ocorreu na hipó-tese.

12. Nesse sentido, trago à colação recente julgado do STJ:

PREVIDENCIÁRIO – DESAPOSENTAÇÃO – DIREITO PERSONALÍSSIMO – BENEFÍCIO NÃO REQUERIDO PELO TITULAR DO DIREITO – ILEGITI-MIDADE ATIVA DE SUCESSOR PREVIDENCIÁRIO – CONFIGURAÇÃO

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1. A autora, titular do benefício de pensão por morte de seu marido, pre-tende renunciar à aposentadoria do de cujus e requerer outra mais van-tajosa, computando-se o tempo em que o instituidor da pensão, embora aposentado, continuou a trabalhar.

2. A desaposentação constitui ato de desfazimento da aposentadoria, pela própria vontade do titular, para fins de aproveitamento do tempo de filiação para concessão de nova e mais vantajosa aposentadoria.

3. Trata-se de direito personalíssimo do segurado aposentado, porquanto não se vislumbra mera revisão do benefício de aposentadoria, mas, sim, de renúncia, para que novo e posterior benefício, mais vantajoso, seja--lhe concedido.

4. Os sucessores não têm legitimidade para pleitear direito personalíssi-mo, não exercido pelo instituidor da pensão (renúncia e concessão de outro benefício), o que difere da possibilidade de os herdeiros pleitearem diferenças pecuniárias de benefício já concedido em vida ao instituidor da pensão (art. 112 da Lei nº 8.213/1991).

Recurso especial improvido. (REsp 1515929/RS, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 19.05.2015, DJe 26.05.2015)

13. Em face do exposto, dou provimento à apelação e à remessa oficial, para julgar extinto o processo, sem exame do mérito, nos termos do art. 267, VI (ilegitimidade de parte), do CPC. Custas e honorários (10% do valor da causa) pela parte autora. Verbas com exigibilidade suspensa, nos termos da Lei nº 1.060/1950.

É o voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1986

Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoApelação Cível/Reexame Necessário – Turma Espec. I – Penal, Previdenciário ePropriedade IndustrialNº CNJ: 0020141‑96.2015.4.02.9999 (2015.99.99.020141‑3)Relator: Desembargador Federal Abel GomesApelante: INSS – Instituto Nacional do Seguro SocialProcurador: Procurador FederalApelado: Adriano PrucoliAdvogado: Fabio Mauri Vicente

OriGem: [...]ementaprevIdeNCIárIo – reStabeleCImeNto de beNefíCIo de auXílIo-doeNça – INCapaCIdade laboratIva para a atIvIdade habItual – laudo perICIal – juroS e Correção moNetárIa NoS termoS da leI Nº 11.960/2009 – provImeNto parCIal da apelação e da remeSSa NeCeSSárIa

I – A Lei nº 8.213/1991 em seus arts. 59 e 60 dispõe que a conces-são do benefício previdenciário de auxílio-doença somente é ca-bível na hipótese de incapacidade do segurado para o exercício de atividade laborativa, e enquanto esta incapacidade permanecer.

II – Já a aposentadoria por invalidez será devida, observada a ca-rência, ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-do-ença, for considerado incapaz e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garante subsistência, podendo ser considerado, inclusive, para efeito dessa análise, a idade, o grau de instrução, a qualificação profissional e o quadro social do segu-rado, devendo o benefício ser pago, contudo, somente enquanto permanecer a condição de incapacidade laboral (arts. 15, 24/26 e 42 da Lei nº 8.213/1991).

III – A análise dos autos revela que o magistrado a quo apreciou corretamente a questão submetida a exame, porquanto a prova produzida pelo segurado se revelou suficiente para demonstrar o direito ao restabelecimento do benefício previdenciário de auxí-lio-doença. De acordo com os documentos constantes nos autos, sobretudo o laudo pericial de fls. 78/81, o autor é portador de “am-

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putação traumática de parte do 1º e 2º quirodáctilos direito” (de-dos da mão), afirmando o perito que o autor está incapacitado par-cial e definitivamente para exercer sua atividade laboral habitual (serrador), podendo, no entanto, ser reabilitado para desempenhar outras atividades laborativas dentro de sua realidade funcional, considerando, ainda, a sua idade produtiva (30 anos – fl. 12), fato que justifica o restabelecimento do benefício de auxílio-doença, da forma como fora definido na sentença.

IV – Contudo, com relação aos juros de mora, vale ressaltar que após certa controvérsia a respeito de sua incidência em vista do advento da Lei nº 11.960/2009 que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, o eg. STF finalmente modulou os efeitos das decisões proferidas nas ADIs 4.357 e 4.425, consistente na decla-ração inconstitucionalidade parcial por arrastamento, de modo a pacificar entendimento e permitir a fixação dos parâmetros para as execuções dos julgados, nos seguintes termos: I) a partir de 30.06.2009 (data de entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009 – que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997) até 25.03.2015 (data fixada na modulação dos efeitos das decisões do eg. STF nas ADIs 4.357 e 4.425): a) A atualização monetária deverá ser reali-zada pela TR; b) Juros de mora nos moldes aplicados à caderneta de poupança; II) a partir de 25.03.2015 (data de modulação dos efeitos das ADIs 4357 e 4425 pelo STF): a) Atualização monetá-ria pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – Série Especial (IPCA-e); b) Juros monetários nos débitos não tributários; Índice da Poupança; c) Juros moratórios dos débitos tributários: Selic.

V – Note-se que os parâmetros acima fixados se revelam adequa-dos à fase cognitiva, servindo para subsidiar o magistrado de piso, a quem caberá, se for o caso, dirimir qualquer outra questão que eventualmente venha a surgir na execução do julgado a respeito da incidência dos consectários legais, particularmente quanto à aplicação da Lei nº 11.960/2009.

VI – Isso porque não se afigura admissível, ante a garantia inscul-pida no art. 5º, LXXVIII, da CF/1988 (razoável duração do proces-so), que o feito continue a tramitar indefinidamente no Tribunal, engessando a fase cognitiva, por conta de aspecto acessório da demanda, inclusive porque as controvérsias relativas aos parâme-

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tros de cálculo melhor se resolvem, certamente, na execução do julgado.

VII – Apelação e remessa necessária parcialmente providas.

acórdãO

Vistos e relatados os presentes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Membros da Primeira Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, em dar par-cial provimento à apelação e à remessa necessária, nos termos do voto do relator.

Rio de Janeiro, 14 de abril de 2016.

Abel Gomes Desembargador Federal Relator

relatóriO

Trata-se de remessa necessária e de apelação interposta pelo Ins-tituto Nacional do Seguro Social – INSS (fls. 110/127) contra a sentença de fls. 105/107, pela qual o MM. Juízo a quo julgou procedente o pedido inicial, condenando o INSS a restabelecer o benefício previdenciário de auxílio-doença em favor do autor, até que este seja efetivamente reabili-tado para função compatível com suas atuais limitações.

Em suas razões de recorrer o INSS sustenta, em síntese, a inexis-tência de incapacidade laboral, requerendo que, caso se mantenha pela procedência do pedido, que na fixação dos juros de mora, seja aplicado o disposto na Lei nº 11.960/2009, sobre as parcelas em atraso. Pugna, ao final, pelo provimento da apelação.

O Ministério Público Federal não vislumbrou interesse público a justificar a sua intervenção.

É o relatório. Peço dia para julgamento.

Rio de Janeiro, 28 de março de 2016.

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vOtO

De acordo com os preceitos que disciplinam a matéria, o auxílio--doença será devido ao segurado que, tendo cumprido a carência exigi-da, quando for o caso, estiver incapacitado para o seu trabalho habitual, sendo passível de recuperação e adaptação em outra atividade, mediante reabilitação profissional (arts. 15, 24/26, 59 e 62 da Lei nº 8.213/1991).

Já a aposentadoria por invalidez será devida, observada a carên-cia, ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio doença, for considerado incapaz e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garante subsistência, podendo ser considerado, inclu-sive, para efeito dessa análise, a idade, o grau de instrução, a qualifica-ção profissional e o quadro social do segurado, devendo o benefício ser pago, contudo, somente enquanto permanecer a condição de incapaci-dade laboral (arts. 15, 24/26 e 42 da Lei nº 8.213/1991).

A análise dos autos revela que o magistrado a quo apreciou cor-retamente a questão submetida a exame, porquanto a prova produzida pelo segurado se revelou suficiente para demonstrar o direito ao restabe-lecimento do benefício de auxílio-doença.

De acordo com os documentos constantes nos autos, sobretudo o laudo pericial de fls. 78/81, o autor é portador de “amputação traumáti-ca de parte do 1º e 2º quirodáctilos direito” (dedos da mão), afirmando o perito que o autor está incapacitado parcial e definitivamente para exercer sua atividade laboral habitual (serrador), podendo, no entanto, ser reabilitado para desempenhar outras atividades laborativas dentro de sua realidade funcional, considerando, ainda, a sua idade produtiva (30 anos – fl. 12), fato que justifica o restabelecimento do benefício de auxílio-doença, da forma como fora definido na sentença.

Com relação aos juros e correção monetária, considerando que após certa controvérsia a respeito da sua incidência em vista do ad-vento da Lei nº 11.960/2009 que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, o eg. STF finalmente modulou os efeitos das decisões proferidas nas ADIs 4.357 e 4.425, consistente na declaração inconstitu-cionalidade parcial por arrastamento, de modo a pacificar entendimen-to e permitir a fixação dos parâmetros para as execuções dos julgados, nos seguintes termos: I) a partir de 30.06.2009 (data de entrada em vi-

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gor da Lei nº 11.960/2009 – que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997) até 25.03.2015 (data fixada na modulação dos efei-tos das decisões do eg. STF nas ADIs 4.357 e 4.425): a) A atualização monetária deverá ser realizada pela TR; b) Juros de mora nos moldes aplicados à caderneta de poupança; II) a partir de 25.03.2015 (data de modulação dos efeitos das ADIs 4357 e 4425 pelo STF): a) Atualização monetária pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – Série Especial (IPCA-e); b) Juros monetários nos débitos não tributários; Índice da Pou-pança; c) Juros moratórios dos débitos tributários: Selic.

Note-se que os parâmetros acima fixados se revelam adequa-dos à fase cognitiva, servindo para subsidiar o magistrado de piso, a quem caberá, se for o caso, dirimir qualquer outra questão que eventu-almente venha a surgir na execução do julgado a respeito da incidên-cia dos consectários legais, particularmente quanto à aplicação da Lei nº 11.960/2009.

Isso porque não se afigura admissível, ante a garantia insculpida no art. 5º, LXXVIII, da CF/1988 (razoável duração do processo), que o feito continue a tramitar indefinidamente no Tribunal, engessando a fase cognitiva, por conta de aspecto acessório da demanda, inclusive porque as controvérsias relativas aos parâmetros de cálculo melhor se resolvem, certamente, na execução do julgado.

Diante do exposto, dou parcial provimento à apelação e à remessa necessária, apenas para que na aplicação dos juros e correção monetá-ria seja observado o disposto na Lei nº 11.960/2009, conforme acima explicitado.

Com o trânsito em julgado, baixem os autos na distribuição e en-caminhem-se à Vara de origem.

É como voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1987

Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoEmbargos de Declaração em Apelação Cível nº 0003684‑92.2010.4.03.6100/SP2010.61.00.003684‑0/SPRelator: Desembargador Federal Hélio NogueiraEmbargante: União Federal (Fazenda Nacional)Advogado: SP000001 Marly Miloca da Camara Gouveia e Afonso Grisi NetoEmbargado: Acórdão de fls.Interessado: Instituto Falcão Bauer da QualidadeAdvogado: SP127352 Marcos Cezar Najjarian Batista e outro(a)Nº Orig.: 00036849220104036100 24ª Vr. São Paulo/SP

ementaproCeSSual CIvIl – embargoS de deClaração – CoNtrIbuIção ao Seguro aCIdeNte de trabalho (Sat) – rISCoS aCIdeNtaIS do trabalho (rat) – fator aCIdeNtárIo de preveNção (fap) – aCIdeNte de trajeto Computado No CálCulo do fap – poSSIbIlIdade – reCurSo aColhIdo

1. A decisão embargada deixou de apreciar a questão de acidente de trajeto no cálculo do FAP, razão porque, passa-se a sua apre-ciação.

2. O art. 202-A, § 4º, do Decreto nº 3.048/1999, Regulamento da Previdência Social – RPS, dispõe que o aumento ou a redução do valor da alíquota do Fator Acidentário de Prevenção – FAP passará a depender do cálculo da quantidade, frequência, gravidade e do custo dos acidentes em cada empresa, segundo metodologia apro-vada pelo Conselho Nacional de Previdência Social.

3. Segundo essa metodologia, o cálculo do FAP leva em conta as ocorrências acidentárias registradas mediante Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT, bem como a concessão dos benefí-cios da Previdência Social nos quais tenha sido estabelecido nexo técnico epidemiológico, contabilizados como registros de aciden-tes ou doenças do trabalho.

4. Os acidentes específicos arrolados pelo embargante (acidentes de trajeto) devem ser computados no cálculo do FAP. Precedentes.

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5. No caso em tela, não há nos autos provas de que o cálculo do FAP do embargante teria sido elaborado em desconformidade com a legislação, para fins da suspensão da exigibilidade requerida, sendo de rigor a manutenção da decisão embargada.

6. Embargos de declaração acolhidos para suprir a omissão, toda-via, mantendo inalterado o dispositivo da decisão.

acórdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indica-das, decide a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, acolher os embargos de declaração para suprir a omissão, todavia, manter inalterado o dispositivo da decisão, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 12 de abril de 2016.

Hélio Nogueira Desembargador Federal

relatóriO

O Exmo. Desembargador Federal Hélio Nogueira (Relator):

Trata-se de embargos de declaração opostos pelo Instituto Falcão Buer da Qualidade Ltda. contra decisão monocrática de minha lavra que, com fulcro no art. 557 do CPC e na Súmula nº 253/STJ c/c o art. 33 do RI/TRF 3ª Região, negou seguimento à apelação.

Sustenta o embargante, em síntese, omissão quanto à análise “[...] da metodologia que indica sua inconstitucionalidade que é a utilização de presunções e ficções jurídicas no cálculo, que afrontam a seguran-ça jurídica. A contabilização de ficções para fixação do tributo, como acidente in itinere, ou presunções, a exemplo de doenças consideradas acidentes por meio do NTEP, acarretam grande instabilidade em afron-ta à segurança jurídica. Deveras, v.g., para majorar a carga tributária vale-se o administrador na metodologia FAP de acidentes os quais sabe

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que fogem do controle da empresa, como é o caso daqueles ocorridos no trajeto do trabalho. Passa, então, o contribuinte a arcar com riscos inerentes às condições de trânsito e não mais daquelas vivenciadas pelo empregado no seu local de trabalho”.

Repisa os argumentos expendidos quanto às ilegalidades da meto-dologia FAP e requer o recebimento dos embargos para que seja sanada a omissão apontada ou, ao menos, para fins de prequestionamento.

É o relatório.

vOtO

O Exmo. Desembargador Federal Hélio Nogueira (Relator):

Os embargos de declaração têm por finalidade sanar obscurida-de, contradição ou omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento, bem como corrigir erro material, nos termos do art. 1.022 do Novo CPC.

O embargante alega ter havido omissão na decisão proferida, por-quanto não teria sido apreciada a questão de acidente in itinere.

Com razão o embargante.

A decisão embargada deixou de apreciar esse ponto, razão por-que, passa-se a sua apreciação.

O art. 202-A, § 4º do Decreto nº 3.048/1999, Regulamento da Pre-vidência Social – RPS, dispõe que o aumento ou a redução do valor da alíquota do Fator Acidentário de Prevenção – FAP passará a depender do cálculo da quantidade, frequência, gravidade e do custo dos acidentes em cada empresa, segundo metodologia aprovada pelo Conselho Na-cional de Previdência Social.

Segundo essa metodologia, o cálculo do FAP leva em conta as ocorrências acidentárias registradas mediante Comunicação de Aci-dente do Trabalho – CAT, bem como a concessão dos benefícios da Previdência Social nos quais tenha sido estabelecido nexo técnico epi-demiológico, contabilizados como registros de acidentes ou doenças do trabalho.

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Assim, os acidentes específicos arrolados pelo embargante (aci-dentes de trajeto) devem ser computados no cálculo do FAP. Nesse sen-tido, vem reiteradamente decidindo a Primeira Turma deste Tribunal Re-gional Federal da Terceira Região:

AGRAVO LEGAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO – PROCESSUAL CI-VIL – INCLUSÃO DOS ACIDENTES DE TRAJETO NO CÁLCULO DO FAP – AGRAVO IMPROVIDO

1. A decisão agravada foi proferida em consonância com o entendimen-to jurisprudencial desta Eg. Corte, com supedâneo no art. 557, do CPC, inexistindo qualquer ilegalidade ou abuso de poder.

2. A jurisprudência considera legítima a inclusão dos acidentes in itinere ou de trajeto no cálculo do FAP, uma vez que a própria Lei nº 8.213/1991 equipara-os a acidente do trabalho.

3. Agravo improvido.

(TRF 3ª R., 1ª T., AI 0012951-16.2014.4.03.0000, Rel. Des. Fed. Marcelo Saraiva, Julgado em 25.11.2014, e-DJF3 Judicial 1 Data: 03.12.2014)

PROCESSUAL CIVIL – SENTENÇA – DESNECESSIDADE DE RESPOSTA A TODAS AS ALEGAÇÕES DAS PARTES – FAP – LEGALIDADE ESTRITA E GENÉRICA – PUBLICIDADE – METODOLOGIA – ACIDENTES – RELA-ÇÃO COM O AMBIENTE LABORAL – TEORIA DO RISCO SOCIAL

[...]

15. Quanto à alegação do cômputo de ocorrências sem relação com o ambiente laboral, tais como acidente de trajeto, acidentes sem afasta-mento, doenças sem nexo com o trabalho, a presunção de que deter-minada doença está relacionada ao trabalho exercido em uma ativida-de econômica específica não acarreta qualquer nulidade, pois a norma impugnada observa trabalhos estatísticos realizados por órgãos oficiais e, ademais, tal pleito colide com o definido pela Lei nº 8.213/1991, arts. 19 a 21.

16. Conforme a teoria do risco social, alguém que se ponha a exercer atividade econômico-comercial, responde por eventuais danos que esta possa vir a gerar para os trabalhadores, independentemente do fato de ter havido imprudência, negligência ou imperícia e, portanto, a causa do acidente do trabalho é o seu próprio exercício.

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17. Com fundamento na combinação entre os arts. 19, 20 e 118 da Lei de Benefícios e o texto constitucional (art. 7º, caput), não é possível afastar os eventos aduzidos pela autora, pois, evidentemente, guardam relação com a atividade profissional e perfeitamente legal a sua inserção no com-puto do FAP.

18. Preliminar rejeitada. Apelação a que se nega provimento.

(TRF 3ª R., 1ª T., AC 0001443-21.2010.4.03.6109, Rel. Des. Fed. José Lunardelli, Julgado em 18.02.2014, e-DJF3 Judicial 1 Data: 24.02.2014)

PROCESSUAL CIVIL – CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS – SAT/RAT – APLICAÇÃO DO FAP – EXCLUSÃO DE OCORRÊNCIAS – ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA

1. A sentença valorou a prova documental em cotejo com a legislação que rege a matéria, concluindo que “os documentos apresentados nos autos não insuficientes para comprovar a ocorrência dos vícios aponta-dos pela autora”. Alegação de nulidade afastada.

2. Ausência de impugnação específica da ré: consoante entendimento consolidado pela doutrina e jurisprudência, não se aplicam os efeitos da revelia à Fazenda Pública, tendo em vista que atua na defesa de direitos indisponíveis. Ainda que a ré não tivesse apresentado contestação, o au-tor teria de fazer a prova dos fatos constitutivos do seu direito (art. 333, I, do CPC), não se podendo presumir como verdadeiros os fatos alegados na inicial.

3. A Lei nº 10.666, de 08.05.2003, art. 10, permitiu o aumento ou a redu-ção da alíquota do SAT/RAT (Lei nº 8.212/1991, art. 22, II) em função do desempenho da empresa em relação à respectiva atividade econômica, dependendo dos resultados obtidos a partir dos índices de frequência, gravidade e custo, calculados segundo metodologia aprovada pelo Con-selho Nacional de Previdência Social.

4. Visando regulamentar o mencionado dispositivo legal, o Decreto nº 6.042, de 2007, incluiu o art. 202-A no Regulamento da Previdên-cia Social – RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048/1999, que introduziu o FAP – Fator Acidentário de Prevenção, o qual “consiste num multi-plicador variável num intervalo contínuo de cinco décimos (0,5000) a dois inteiros (2,0000), aplicado com quatro casas decimais, considerado o critério de arredondamento na quarta casa decimal, a ser aplicado à respectiva alíquota” (redação do § 1º do art. 202-A dada pelo Decreto nº 6.957/2009).

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5. São consideradas no cálculo as ocorrências acidentárias registradas por meio de CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho) e a concessão dos benefícios da Previdência Social nos quais tenha sido estabelecido nexo técnico epidemiológico, que são contabilizados como registros de acidentes ou doenças do trabalho.

6. A conclusão do parecer técnico emitido pelo grupo de análise das con-testações à apuração do FAP é suficiente para demonstrar que o cálculo foi elaborado em consonância com a legislação que trata do assunto, levando em consideração o número de acidentes registrados na empresa e os benefícios vinculados por nexo técnico epidemiológico.

7. A jurisprudência considera legítima a inclusão dos acidentes in itinere ou de trajeto no cálculo do FAP, uma vez que a própria Lei nº 8.213/1991 equipara-os a acidente do trabalho.

8. O evento relacionado ao trabalhador avulso pode ser computado para fins de cálculo do FAP, pois o segurado em questão estava prestando serviços à apelante quando da data de início da incapacidade, de modo que não há falar em ausência de vínculo empregatício.

9. Mantida a sentença, que apenas excluiu do cálculo do FAP o evento computado em duplicidade, em razão do equívoco da apelante na emis-são de duas CAT referentes ao mesmo acidente.

10. Reexame necessário, tido por ocorrido, e apelação da autora despro-vidos.

(TRF 3ª R., 1ª T., AC 0001058-32.2012.4.03.6100, Rel. Juiz Conv. Paulo Domingues, Julgado em 27.08.2013, e-DJF3 Judicial 1 Data: 04.09.2013)

No caso em tela, não há nos autos provas de que o cálculo do FAP do embargante teria sido elaborado em desconformidade com a legisla-ção, para fins da suspensão da exigibilidade requerida, sendo de rigor a manutenção da decisão embargada.

Nos termos do art. 1.025 do Novo Código de Processo Civil, a inter-posição dos embargos de declaração implica, tacitamente, no pré-questio-namento da matéria, sendo desnecessária a sua expressa menção.

Diante do exposto, acolho os embargos de declaração para suprir a omissão apontada, mantendo-se, todavia, inalterado o dispositivo da decisão.

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É o voto.

Hélio Nogueira Desembargador Federal

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1988

Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoDE publicado em 01.06.2015Agravo Legal em Apelação Cível nº 0004742‑06.2010.4.03.6109/SP2010.61.09.004742‑0/SPRelator: Desembargador Federal Hélio NogueiraApelante: Owens Corning Fiberglas A. S. Ltda.Advogado: SP186211A Fábio Martins de Andrade e outroApelante: União Federal (Fazenda Nacional)Advogado: SP000001 Marly Miloca da Camara Gouveia e Afonso Grisi NetoApelado(a): os mesmosAgravada: Decisão de folhasNº Orig.: 00047420620104036109 3ª Vr. Piracicaba/SP

ementa

proCeSSual CIvIl – trIbutárIo – CoNtrIbuIção prevIdeNCIárIa patroNal – avISo- -prévIo INdeNIzado – Não INCIdêNCIa

1. Não há incidência da contribuição previdenciária patro-nal sobre as verbas referentes ao aviso-prévio indenizado (REsp 1.230.957/RS).

2. O art. 170-A do CTN aplica-se às demandas ajuizadas após 10.01.2001 (REsp 1.167.039/DF).

3. A Administração Pública tem competência para fiscalizar a exis-tência ou não de créditos a ser compensados, o procedimento e os valores a compensar, e a conformidade do procedimento adotado com os termos da legislação pertinente (REsp 1.124.537/SP).

4. Inexistindo fundamentos hábeis a alterar a decisão monocrática, nega-se provimento ao agravo interno.

acórdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indica-das, decide a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos

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termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presen-te julgado.

São Paulo, 19 de maio de 2015.

Hélio Nogueira Desembargador Federal

relatóriO

O Exmo. Desembargador Federal Hélio Nogueira (Relator):

Trata-se de agravo interno interposto contra decisão monocrática, proferida nos termos do art. 557, §1º-A, do CPC, que deu parcial provi-mento à apelação fazendária e à remessa oficial.

O objeto do presente writ é afastar da contribuição previdenciária patronal os valores pagos a título da quinzena que antecede a concessão de auxílio-doença e auxílio-acidente; aviso-prévio indenizado; férias in-denizadas; o adicional de férias; o abono de férias.

A União/Fazenda Nacional alega a impossibilidade de dispensar--se obrigação estabelecida legalmente e a necessidade de cobrança fren-te o princípio da solidariedade do regime geral de previdência. Sustenta que o rol do art. 28, § 9º, é taxativo quanto às hipóteses de exclusão da base de cálculo. Assevera que as verbas contestadas promanam de vínculo empregatício, de maneira que se configura como salário-de--contribuição. Afirma que o aviso-prévio e o terço constitucional são contabilizados como tempo de contribuição para fins previdenciários.

É o relatório.

Apresento o feito em mesa na forma regimental.

vOtO

O Exmo. Desembargador Federal Hélio Nogueira (Relator):

Depreende-se da atual redação do art. 557, § 1º-A, do CPC que o critério para se efetuar o julgamento monocrático é, tão somente, a

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existência de jurisprudência dominante, não exigindo, para tanto, juris-prudência pacífica ou, muito menos, decisão de Tribunal Superior pela sistemática do art. 543 do mesmo Código.

A este respeito, confiram-se os seguintes julgados:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO LEGAL – ART. 557, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – APELAÇÃO JULGADA MONOCRATICAMEN-TE – POSSIBILIDADE – RECURSO DA PARTE AUTORA QUE APENAS REITERA OS ARGUMENTOS DA APELAÇÃO NÃO CONHECIDO – [...]. 1. O agravo legal interposto pela parte autora é manifestamente inadmis-sível vez que a agravante simplesmente reitera os argumentos da apela-ção sem questionar porque o apelo não poderia ser julgado monocrati-camente. 2. O emprego de recurso manifestamente inadmissível merece a censura do § 2º do art. 557 do Código de Processo Civil, com multa de 1% do valor da causa corrigido. 3. O art. 557 autoriza o julgamento unipessoal à vista de jurisprudência “dominante”, não sendo, portanto, necessário que se trate de jurisprudência “pacífica”. [...] 8. Agravo legal da impetrante não conhecido e agravo legal da União Federal improvido. (TRF 3ª R., AMS 00059785320114036110, Rel. Des. Fed. Johonsom Di Salvo, 1ª T., e-DJF3 Judicial 1 20.09.2012)

AGRAVO LEGAL – APELAÇÃO CÍVEL – JULGAMENTO MONOCRÁTI-CO – POSSIBILIDADE – APLICAÇÃO DO ART. 557 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – PENSÃO POR MORTE – SERVIDOR PÚBLICO – COMPANHEIRA – UNIÃO ESTÁVEL COMPROVADA – DEPENDÊNCIA ECONÔMICA – DESNECESSIDADE – DESIGNAÇÃO PRÉVIA – REQUE-RIMENTO ADMINISTRATIVO – DISPENSABILIDADE – UNIÃO ESTÁ-VEL COMPROVADA – CORREÇÃO MONETÁRIA – JUROS DE MORA – PROPOSITURA DA AÇÃO POSTERIOR AO ADVENTO DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.180-35/2001 – APLICABILIDADE DO ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/1997 – I – O julgamento monocrático pelo relator está au-torizado no art. 557 do Código de Processo Civil, o qual consolida a importância do precedente jurisprudencial ao tempo em que desafoga as pautas de julgamento. II – As questões analisadas nos autos foram fundamentadas não só com base nos entendimentos jurisprudenciais do-minantes deste E. Tribunal, como também em jurisprudências proferidas pelo colendo Superior Tribunal de Justiça, o que, por si só, já permite o julgamento monocrático, nos moldes do art. 557 do Código de Processo Civil. Ademais, a opção pelo julgamento singular não resulta em prejuízo ao recorrente, pois, no julgamento do Agravo interno, as questões levan-

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tadas no recurso de Apelação são apreciadas pelo órgão Colegiado, o que supera eventual violação do art. 557 do Código de Processo Civil, de acordo com a jurisprudência pacífica desta Corte. [...] IX – Agravo legal improvido. (TRF 3ª R., Ap-Reex 00041742220074036100, Rel. Des. Fed. Cotrim Guimarães, 2ª T., e-DJF3 Judicial 1 18.08.2011)

Portanto, não há nada que obste o julgamento deste feito nos ter-mos da autorização preconizada pelo art. 557 do CPC, e em prestígio aos princípios da economia e celeridade processuais.

A decisão agravada estabelece:

O caso comporta decisão na forma do art. 557 do CPC.

A matéria devolvida ao exame desta Corte será examinada com base na fundamentação que passo a analisar topicamente.

Contribuição social sobre a folha de salários

No caso, a parte impetrante pretende a suspensão da exigibilidade de contribuição previdenciária sobre algumas rubricas que, conforme asse-vera, possuem natureza indenizatória e outras pela inexistência de rela-ção jurídica tributária que a obrigue ao recolhimento.

O art. 195, inciso I, alínea a, da Constituição Federal, estabelece, dentre as fontes de financiamento da Seguridade Social, a contribuição social do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidente sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste ser-viço, mesmo sem vínculo empregatício.

Na redação original do dispositivo, anterior à EC 20/1998, a contribuição em tela podia incidir apenas sobre a folha de salários. Vê-se, pois, que a ideia que permeia a hipótese de incidência constitucionalmente deli-mitada para a contribuição social em exame é a abrangência daquelas verbas de caráter remuneratório pagas àqueles que, a qualquer título, prestem serviços à empresa.

O contorno legal da hipótese de incidência da contribuição é dado pelo art. 22, inciso I, da Lei nº 8.212/1991:

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de:

I – vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados emprega-

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dos e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gor-jetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamen-tos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de conven-ção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.1999).

Claramente, portanto, busca-se excluir a possibilidade de incidência da contribuição sobre verbas de natureza indenizatória. Tanto é assim, que a tentativa de impor a tributação das parcelas indenizatórias, levada a cabo com a edição da MP 1.523-7 e da MP 1.596-14, restou completa-mente afastada pelo STF no julgamento da ADIn 1.659-6/DF, bem como pelo veto ao § 2º do art. 22 e ao item b do § 8º do art. 28, ambos da Lei nº 8.212/1991, dispositivos incluídos pela Lei nº 9.528/1997.

Contudo, a definição do caráter salarial ou indenizatório das verbas pa-gas aos empregados não pode ser livremente atribuída ao empregador, o que impõe a análise acerca da natureza jurídica de cada uma delas, de modo a permitir ou não sua exclusão da base de cálculo da contribuição social em causa.

Da não incidência da contribuição previdenciária patronal sobre o aviso prévio-indenizado – sentença confirmada

Da prescrição quinquenal – sentença confirmada

O STJ pacificou o entendimento, em julgamento proferido na sistemática do art. 543-C do CPC, sobre a prescrição e a não incidência de contribui-ção previdenciária patronal nos valores pagos pelo empregador a título de aviso-prévio indenizado:

PROCESSUAL CIVIL – RECURSOS ESPECIAIS – TRIBUTÁRIO – CON-TRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA – REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL – DISCUSSÃO A RESPEITO DA INCIDÊNCIA OU NÃO SOBRE AS SEGUINTES VERBAS: TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS; SALÁRIO-MATERNIDADE; SALÁ-RIO-PATERNIDADE; AVISO-PRÉVIO INDENIZADO; IMPORTÂNCIA PAGA NOS QUINZE DIAS QUE ANTECEDEM O AUXÍLIO-DOENÇA

1. Recurso especial de Hidro Jet Equipamentos Hidráulicos Ltda.

1.1 Prescrição.

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O Supremo Tribunal Federal ao apreciar o RE 566.621/RS, Tribunal Pleno, Relª Min. Ellen Gracie, DJe de 11.10.2011), no regime dos arts. 543-A e 543-B do CPC (repercussão geral), pacificou entendimento no sentido de que, “reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, se-gunda parte, da LC 118/2005, considerando-se válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005”. No âmbito desta Corte, a questão em comento foi apreciada no REsp 1.269.570/MG (1ª S., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 04.06.2012), submetido ao regime do art. 543-C do CPC, ficando consignado que, “para as ações ajuizadas a partir de 09.06.2005, aplica-se o art. 3º, da Lei Complementar nº 118/2005, contando-se o prazo prescricional dos tributos sujeitos a lançamento por homologa-ção em cinco anos a partir do pagamento antecipado de que trata o art. 150, § 1º, do CTN”.

1.2 (Omissis)

1.4 (Omissis)

2.1 (Omissis)

2.2 Aviso-prévio indenizado.

A despeito da atual moldura legislativa (Lei nº 9.528/1997 e Decreto nº 6.727/2009), as importâncias pagas a título de indenização, que não correspondam a serviços prestados nem a tempo à disposição do empregador, não ensejam a incidência de contribuição previden-ciária.

A CLT estabelece que, em se tratando de contrato de trabalho por prazo indeterminado, a parte que, sem justo motivo, quiser a sua res-cisão, deverá comunicar a outra a sua intenção com a devida antece-dência. Não concedido o aviso-prévio pelo empregador, nasce para o empregado o direito aos salários correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre a integração desse período no seu tempo de servi-ço (art. 487, § 1º, da CLT). Desse modo, o pagamento decorrente da falta de aviso-prévio, isto é, o aviso-prévio indenizado, visa a reparar o dano causado ao trabalhador que não fora alertado sobre a futura rescisão contratual com a antecedência mínima estipulada na Consti-tuição Federal (atualmente regulamentada pela Lei nº 12.506/2011). Dessarte, não há como se conferir à referida verba o caráter remu-neratório pretendido pela Fazenda Nacional, por não retribuir o tra-balho, mas sim reparar um dano. Ressalte-se que, “se o aviso-prévio

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é indenizado, no período que lhe corresponderia o empregado não presta trabalho algum, nem fica à disposição do empregador. Assim, por ser ela estranha à hipótese de incidência, é irrelevante a circuns-tância de não haver previsão legal de isenção em relação a tal verba” (REsp 1.221.665/PR, 1ª T., Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 23.02.2011).

A corroborar a tese sobre a natureza indenizatória do aviso prévio indenizado, destacam-se, na doutrina, as lições de Maurício Godinho Delgado e Amauri Mascaro Nascimento.

Precedentes: REsp 1.198.964/PR, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 04.10.2010; REsp 1.213.133/SC, 2ª T., Rel. Min. Castro Meira, DJe de 01.12.2010; AgRg-REsp 1.205.593/PR, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 4.2.2011; AgRg-REsp 1.218.883/SC, 1ª T., Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 22.02.2011; AgRg-REsp 1.220.119/RS, 2ª T., Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJe de 29.11.2011.

2.3 (Omissis)

2.4 (Omissis)

3. (Omissis)

(REsp 1230957/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 18.03.2014)

Em suma, a prescrição in casu é quinquenal, porquanto a impetração é ulterior a 2005, e não há incidência da contribuição previdenciária pa-tronal sobre as verbas pagas a título de aviso-prévio indenizado.

Compensação – sentença reformada

O indébito pode ser objeto de compensação com parcelas vencidas pos-teriormente ao pagamento, relativas a tributo de mesma espécie e desti-nação constitucional, conforme previsto no art. 66 da Lei nº 8.383/1991.

A compensação nos moldes acima permanece válida mesmo após a cria-ção da Receita Federal do Brasil, pois o parágrafo único do art. 26 da Lei nº 11.457/2007, exclui o indébito relativo às contribuições sobre a re-muneração do regime de compensação do art. 74 da Lei nº 9.430/1996. Nesse sentido:

TRIBUTÁRIO – COMPENSAÇÃO – TRIBUTOS ADMINISTRADOS PELA ANTIGA RECEITA FEDERAL COM CONTRIBUIÇÕES PREVI-DENCIÁRIAS – SÚMULA Nº 83/STJ

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1. Na hipótese em exame, o acórdão recorrido se encontra alinhado ao posicionamento do STJ, de que a compensação só pode ocorrer entre tributos da mesma espécie e destinação, consoante o disposto no art. 66, § 1º, da Lei nº 8.383/1991.

2. Agravo Regimental não provido.

(AgRg-REsp 1426898/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., Julgado em 08.04.2014, DJe 18.06.2014)

A nova redação dada ao art. 89 da Lei nº 8.212/91 pela Lei nº 11.941/2009 não revogou o disposto no art. 26 da Lei nº 11.457/2007. Apenas esta-beleceu que cabe à Secretaria da Receita Federal do Brasil regulamen-tar as hipóteses de restituição ou compensação das contribuições so-ciais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/1991, das contribuições instituídas a título de substituição e das contribuições devidas a terceiros. Em momento algum permitiu a aplicação do regime de compensação do art. 74 da Lei nº 9.430/1996. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA – COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS DE TRIBUTOS ADMINISTRADOS PELA ANTIGA RECEITA FEDERAL COM DÉBITOS PREVIDENCIÁRIOS CUJA COMPETÊNCIA ERA DO INSS – IMPOSSIBILIDADE – ART. 26 DA LEI Nº 11.457/2007 – VEDA-ÇÃO EXPRESSA À APLICAÇÃO DO ART. 74 DA LEI Nº 9.430/1996

1. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC.

2. O art. 74 da Lei nº 9.430/1996, com as alterações promovidas pela Lei nº 10.637/2002, autoriza a compensação de créditos apurados pelo contribuinte com quaisquer tributos e contribuições “administra-dos pela Secretaria da Receita Federal”.

3. A Lei nº 11.457/2007 criou a Secretaria da Receita Federal do Brasil, a partir da unificação dos órgãos de arrecadação federais.

Transferiu-se para a nova SRFB a administração das contribuições previdenciárias previstas no art. 11 da Lei nº 8.212/1991, assim como as instituídas a título de substituição.

4. A referida norma, em seu art. 26, consignou expressamente que o art. 74 da Lei nº 9.430/1996 é inaplicável às exações cuja competên-cia para arrecadar tenha sido transferida, ou seja, vedou a compen-

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sação entre créditos de tributos que eram administrados pela antiga Receita Federal com débitos de natureza previdenciária, até então de responsabilidade do INSS.

5. A intenção do legislador foi, claramente, resguardar as receitas necessárias para o atendimento aos benefícios, que serão creditadas diretamente ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social, nos termos do art. 2º, § 1º, da Lei 11.457/2007.

6. Agravo Regimental não provido.

(AgRg-REsp 1267060/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., Julgado em 18.10.2011, DJe 24.10.2011)

Cumpre observar, ainda, que a Lei Complementar nº 104, de 11.01.2001, introduziu no CTN o art. 170-A, vedando a compensação, mediante aproveitamento, de tributo objeto de contestação judicial, antes do trân-sito em julgado da respectiva sentença.

Confira-se, pois, o entendimento firmado pela Corte Superior, na sistemá-tica do recurso repetitivo:

TRIBUTÁRIO – COMPENSAÇÃO – ART. 170-A DO CTN – REQUISI-TO DO TRÂNSITO EM JULGADO – APLICABILIDADE – A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso Especial nº 1.167.039/DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, submetido ao regime do art. 543-C do Código de Processo Civil (re-cursos repetitivos), firmou o entendimento segundo o qual o art. 170-A do CTN – que veda a compensação de créditos tributários antes do trânsito em julgado da ação – aplica-se às demandas ajuizadas após 10.01.2001, mesmo na hipótese de tributo declarado inconstitucional. Agravo regimental improvido. (STJ, 2ª T., AgRg-REsp 1299470/MT, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 23.03.2012)

Considerando que a legislação de regência da compensação é a que está em vigor na data em que for efetivado o encontro de contas, con-clui-se que os limites anteriormente previstos no § 3º do art. 89 da Lei nº 8.212/1991 (revogado pela Lei nº 11.941/2009), não são mais apli-cáveis, visto que, nos termos deste julgado, a compensação ocorrerá so-mente a partir do trânsito em julgado.

Outrossim, mister observar a impossibilidade do mandamus ter efeito pa-trimonial pretérito e que o efeito da sentença mandamental se restringe a cunho meramente declaratório de direito a eventual compensação, su-

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jeitando-se a mesma à apuração da administração fazendária, consoante entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça, inclusive em recurso representativo de controvérsia:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – RECURSO ESPECIAL REPRE-SENTATIVO DE CONTROVÉRSIA – ART. 543-C, DO CPC – FIN-SOCIAL – INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELO STF – CONVALIDAÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE TRIBUTOS EFETUA-DA PELO CONTRIBUINTE UNILATERALMENTE – MANDADO DE SEGURANÇA – INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA

1. O mandado de segurança é instrumento adequado à declaração do direito de compensação de tributos indevidamente pagos, em conformidade com a Súmula nº 213 do STJ. (Precedentes das Tur-mas de Direito Público: AgRg-REsp 1044989/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., Julgado em 06.08.2009, DJe 25.08.2009; EDcl-REsp 1027591/SP, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., Julgado em 09.06.2009, DJe 25.06.2009; RMS 13.933/MT, Rel. Min. Humberto Martins, DJ 31.08.2007; REsp 579.488/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 23.05.2007; AgRg-REsp 903.020/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 26.04.2007; e RMS 20.523/RO, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 08.03.2007).

2. Ao revés, é defeso, ao Judiciário, na via estreita do mandamus, a convalidação da compensação tributária realizada por iniciativa ex-clusiva do contribuinte, porquanto necessária a dilação probatória. (Precedentes: EDcl-EDcl-REsp 1027591/SP, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., Julgado em 03.09.2009, DJe 21.09.2009; REsp 1040245/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., Julgado em 17.03.2009, DJe 30.03.2009; AgRg-REsp 725.451/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., Julga-do em 09.12.2008, DJe 12.02.2009; AgRg-REsp 728.686/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Julgado em 28.10.2008, DJe 25.11.2008; REsp 900.986/SP, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., Julgado em 06.03.2007, DJ 15.03.2007; REsp 881.169/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, 1ª T., Julgado em 19.10.2006, DJ 09.11.2006).

3. A intervenção judicial deve ocorrer para determinar os critérios da compensação objetivada, a respeito dos quais existe controvérsia, v.g. os tributos e contribuições compensáveis entre si, o prazo prescricio-nal, os critérios e períodos da correção monetária, os juros etc.; bem como para impedir que o Fisco exija do contribuinte o pagamento das parcelas dos tributos objeto de compensação ou que venha a autuá-lo em razão da compensação realizada de acordo com os critérios au-

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torizados pela ordem judicial, sendo certo que o provimento da ação não implica reconhecimento da quitação das parcelas ou em extinção definitiva do crédito, ficando a iniciativa do contribuinte sujeita à ho-mologação ou a lançamento suplementar pela administração tributá-ria, no prazo do art. 150, § 4º do CTN.

4. A Administração Pública tem competência para fiscalizar a existên-cia ou não de créditos a ser compensados, o procedimento e os va-lores a compensar, e a conformidade do procedimento adotado com os termos da legislação pertinente, sendo inadmissível provimento ju-risdicional substitutivo da homologação da autoridade administrativa, que atribua eficácia extintiva, desde logo, à compensação efetuada.

5. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de origem, embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a ques-tão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a re-bater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fun-damentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão.

6. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 08/2008.

(REsp 1124537/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª S., Julgado em 25.11.2009, DJe 18.12.2009)

Súmula nº 460/STJ – É incabível o mandado de segurança para conva-lidar a compensação tributária realizada pelo contribuinte.

PROCESSO CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE – EXISTÊNCIA – MANDADO DE SEGURANÇA – CONCESSÃO DA ORDEM – EFEITOS PATRIMO-NIAIS – LIMITAÇÃO – DATA DA IMPETRAÇÃO – PRECEDENTES

1. Os embargos de declaração somente são cabíveis quando presente, ao menos, uma das hipóteses previstas no art. 535 do Código de Pro-cesso Civil. 2. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que os efeitos financeiros da concessão a segurança estão limitados à data da impetração, em atenção ao disposto nas Súmulas nºs 269 e 271/STF, in verbis, respectivamente: O mandado de segu-rança não é substituto de ação de cobrança. A concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.

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3. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos infringentes,para limitar os efeitos financeiros da concessão da segurança à data da impetração. (EDcl-MS 13356/DF , Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 3ª S., DJe 19.12.2013)

PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – MANDADO DE SEGURANÇA – PEDIDO DE REVISÃO DO PROCESSO ADMI-NISTRATIVO – EX-POLICIAL FEDERAL PUNIDO COM DEMISSÃO – FATOS NOVOS – PARECER FAVORÁVEL DO MP – CONCESSÃO DA ORDEM – INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO JULGADO

[...]

3. No que tange ao pagamento das parcelas pretéritas, também ine-xiste omissão, pois é pacífico nesta Corte o entendimento segundo o qual os efeitos financeiros somente retroagem à data da impetração do mandamus, sendo que o pagamento de valores eventualmente devidos em data anterior à impetração pode ser cobrado em ação própria, nos termos das Súmulas nºs 269 e 271 do Supremo Tribunal Federal.

Embargos de declaração da União e do impetrante rejeitados.

(EDcl-MS 18025/DF, Rel. Min. Humberto Martins, 1ª S, DJe 02.08.2013)

Atualização dos créditos

A atualização monetária incide desde a data do pagamento indevido do tributo (Súmula nº 162/STJ), até a sua efetiva restituição e/ou compen-sação.

Os créditos deverão ser corrigidos pela Taxa Selic, nos termos do § 4º do art. 39 da Lei nº 9.250/1995, que já inclui os juros, conforme Resolução CJF nº 267/2013.

Dispositivo

Ante o exposto, com fulcro no art. 557 do CPC e na Súmula nº 253/STJ c/c o art. 33 do RI/TRF 3ª Região, nego seguimento à apelação da impe-trante e dou parcial provimento à remessa oficial e à apelação fazendária para declarar que eventual compensação, sujeita à apuração fazendária, apenas pode efetuar-se com contribuições posteriores de mesma espécie e destinação, observando-se a coisa julgada, a prescrição quinquenal, as instruções normativas da Receita Federal do Brasil e o demais disposto aqui.

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Como se observa, a decisão agravada foi fartamente motivada, com exame de aspectos fáticos do caso concreto e aplicação da legisla-ção específica e jurisprudência consolidada, sendo que o agravo apenas reiterou o que já havia sido antes deduzido e já enfrentado e vencido no julgamento monocrático, não restando, portanto, espaço para a reforma postulada.

Nesse sentido já se pronunciou a jurisprudência: TRF3, 3ª T., Ag-AI 201003000374845/SP, Rel. Des. Fed. Márcio Moraes, J. 14.06.2012, DE 25.06.2012; TRF 3ª R., 5ª T. AC 200861140032915, Relª Desª Fed. Ramza Tartuce, J. 04.08.2009; STJ, 2ª T., AgRg-REsp 1109792/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, J. 18.06.2009; STF, 2ª T., AgRg-AI 754086, Rel. Min. Celso de Mello, J. 25.08.2009.

Ante o exposto, voto por negar provimento ao agravo legal.

Hélio Nogueira Desembargador Federal

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1989

Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação Cível nº 0008323‑64.2013.4.04.9999/RSRelator: Juiz Federal Luiz Antonio BonatApelante: Neiva Teresinha Lenz MartinsAdvogado: Denis Ronan AntunesApelado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSAdvogado: Procuradoria Regional da PFE‑INSS

ementa

prevIdeNCIárIo – CoNStItuCIoNal – fuNdo de regIme da prevIdêNCIa SoCIal – CuSteIo de beNefíCIo – art. 195, § 5º, da CoNStItuIção – auXílIo-doeNça – requISItoS – qualIdade de Segurado – período de CarêNCIa – INCapaCIdade – laudo perICIal – CoNSeCtárIoS legaIS – tutela eSpeCífICa – ImplaNtação do beNefíCIo

1. Uma vez que o Fundo de Regime Geral de Previdência Social possua verbas suficientes para custear integralmente os benefí-cios a encargo do INSS, não há falar em inconstitucionalidade da contribuição de segurado especial em face do art. 195, § 5º da CF/1988. É inerente do próprio sistema previdenciário brasileiro que o segurado, especial ou não, possa desfrutar de benefício cujo valor total ultrapasse o quantum que aquele segurado contribuiu para a Previdência.

2. São três os requisitos para a concessão dos benefícios por inca-pacidade: a) a qualidade de segurado; b) o cumprimento do perío-do de carência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter permanente (aposentadoria por invali-dez) ou temporária (auxílio-doença).

3. A concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentado-ria por invalidez pressupõe a averiguação da incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência do segurado, e terá vigência enquanto permanecer ele nessa condição.

4. A incapacidade é verificada mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social ou realizado por perito nomeado pelo juízo; o julgador, via de regra, firma sua convicção com base

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no laudo do expert, embora não esteja jungido à sua literalidade, sendo-lhe facultada ampla e livre avaliação da prova.

5. No caso dos autos, o laudo pericial indicou que a parte auto-ra encontra-se temporariamente incapacitada para o exercício de suas atividades habituais na agricultura, razão pela qual é devida a concessão do benefício de auxílio-doença.

6. Termo inicial do benefício na data do requerimento administra-tivo, uma vez evidenciado nos autos que a incapacidade já estava presente àquela data.

7. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionali-dade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios devem ser equivalentes aos índices de juros aplicáveis à caderneta de poupança (STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª S., Rel. Min. Castro Meira, 26.06.2013). No que tange à correção monetária, permanece a aplicação da TR, como estabelecido naquela lei e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudência.

8. Havendo o feito tramitado perante a Justiça Estadual do Rio Grande do Sul, o INSS está isento do pagamento de custas, con-soante o disposto no art. 11 da Lei Estadual nº 8.121/1985, na redação dada pela Lei nº 13.471, de 23 de junho de 2010.

9. O cumprimento imediato da tutela específica, diversamente do que ocorre no tocante à antecipação de tutela prevista no art. 273 do CPC, independe de requerimento expresso por parte do segu-rado ou beneficiário e o seu deferimento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos fundados no art. 461 do CPC.

acórdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento à apelação, determinando a imediata implantação do benefício, nos termos do relatório, votos e notas de jul-gamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 29 de março de 2016.

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Juiz Federal Luiz Antônio Bonat Relator

relatóriO

Trata-se de apelação interposta contra sentença que julgou im-procedente o pedido de concessão de auxílio-doença/aposentadoria por invalidez, por considerar inconstitucionais os arts. 11, VII, e 39 da Lei nº 8.213/1991, condenando a parte autora ao pagamento de cus-tas e despesas processuais e de honorários advocatícios, esses fixados em R$ 800,00, suspensa a exigibilidade, nos termos do art. 12 da Lei nº 1.060/1950.

Nas suas razões de apelação, a parte autora sustenta não haver de se falar em inconstitucionalidade dos arts. 11, inciso VII e 39, ambos da Lei nº 8.213/1991. Outrossim, assevera fazer jus ao benefício previden-ciário postulado.

Com contrarrazões, vieram os autos conclusos.

É o relatório.

vOtO

prelImINarmeNte

O juízo sentenciante julgou improcedente a demanda por consi-derar inconstitucionais os arts. 11, VII, e 39 da Lei nº 8.213/1991, em extensa exposição, assim concluída:

“Resulta claro, portanto, dos argumentos aqui explanados, que os be-nefícios instituídos pelo art. 39 da Lei nº 8.213/1991 não têm fonte de custeio total, posto que, além de serem mantidos tão somente pela con-tribuição prevista pelo art. 25 da Lei nº 8.212/1991, a qual gera arrecada-ção irrisória, praticamente inexistente em proporção à despesa que deve suportar, a comercialização da produção rural, que ensejaria o recolhi-mento daquela contribuição, não é exigida pelo art. 11, inciso VII, da Lei nº 8.213/1991 para que se obtenha a condição de segurado especial, em

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manifesta dissonância com os arts. 3º, inciso I, 195, §§ 5º e 8º, e 201, caput, da CRFB.”

Concessa maxima venia, merece tal tese, a meu sentir, alguns re-paros, indigitados adiante, à luz dos artigos havidos como inconstitu-cionais:

Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:

VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de:

a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parcei-ro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que ex-plore atividade:

1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais;

2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida;

b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida; e

c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.

Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão:

I – de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descon-tínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício re-querido; ou

II – dos benefícios especificados nesta Lei, observados os critérios e a forma de cálculo estabelecidos, desde que contribuam facultativamente

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para a Previdência Social, na forma estipulada no Plano de Custeio da Seguridade Social.

Parágrafo único. Para a segurada especial fica garantida a concessão do salário-maternidade no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que com-prove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, nos 12 (doze) meses imediatamente anteriores ao do início do benefício.

A tese arguida na sentença funda-se na premissa de que as con-tribuições previdenciárias feitas pelos segurados especiais, nos termos do art. 195, § 8º, da Constituição e do art. 25 da Lei nº 8.212/1991 (por pagamento de alíquota incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização de sua produção) geram um montante cujo valor é de-veras insuficiente para a realização do pagamento dos benefícios previ-denciários desfrutados pela totalidade de segurados especiais. Uma vez que não há previsão normativa acerca de fonte de custeio subsidiária, estaria malferido o art. 195, § 5º, da Constituição, in verbis:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-pios, e das seguintes contribuições sociais:

§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser cria-do, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.

Peca, todavia, concessa venia, tal linha de raciocínio em olvidar que o benefício pretendido possui fonte de custeio comum a todos os de-mais benefícios previdenciários instituídos pela Lei nº 8.213/1991, fonte esta regulada pelo Plano de Custeio da Seguridade Social, instituído pela Lei nº 8.212/1991, e pelo Fundo de Regime Geral de Previdência Social, estabelecido pelo art. 68 da Lei Complementar nº 101/2000. É, portanto, inerente ao próprio sistema previdenciário brasileiro que o segurado, especial ou não, possa desfrutar de benefício cujo valor total ultrapasse o quantum com que contribuiu para a Previdência. Isso advém dos prin-cípios elencados no art. 194, parágrafo único, III, da Constituição, os da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, os quais denotam que, na lição de Ivan Kertzman:

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[...] as contribuições são cobradas de acordo com a capacidade econô-mica dos contribuintes. Assim, uma vez nos cofres previdenciários, os recursos captados são distribuídos para quem precise de proteção.

Isso explica, então, o porquê de o segurado que recebe altos valores decorrentes de seu trabalho, receber um benefício bem inferior quando necessita. Já o segurado que recebe pequenas ou médias remunerações mantém a sua faixa de ganho ao buscar a proteção previdenciária.

Portanto, ao contrário do afirmado no comando sentencial, não há proporção direta entre a contribuição prestada e o benefício a ser auferido, não existindo a correlação atuarial que normalmente embasa, por exemplo, os benefícios de previdência privada. Não se pode confun-dir, assim, o conceito de fonte de custeio total com proporcionalidade direta entre contribuição e benefício adotado pelo sistema previdenciá-rio posto na Constituição Federal. Contanto que o Fundo possua verbas suficientes para custear integralmente os benefícios a encargo do INSS, não há falar em inconstitucionalidade. E, de qualquer forma, o disposi-tivo constitucional supracitado refere-se a “benefício ou serviço da se-guridade social”, e não à modalidade de contribuinte – que é o caso do segurado especial.

Afastada, pelo exposto, a inconstitucionalidade declarada pela douta Julgadora a quo, impõe-se o exame do mérito da causa, e da pro-va constante dos autos, nos termos art. 515, § 3º do CPC, uma vez que a causa encontra-se pronta para julgamento.

doS requISItoS para a CoNCeSSão do beNefíCIo

A concessão de benefícios por incapacidade laboral está prevista nos arts. 42 e 59 da Lei nº 8.213/1991, verbis:

Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cum-prido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar

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incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias consecutivos.

Extrai-se, da leitura dos dispositivos acima transcritos, que são três os requisitos para a concessão dos benefícios por incapacidade: a) a qualidade de segurado; b) o cumprimento do período de carência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter per-manente (aposentadoria por invalidez) ou temporária (auxílio-doença).

da qualIdade de Segurado e do período de CarêNCIa

Quanto ao período de carência (número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício), estabelece o art. 25 da Lei de Benefícios da Previdência Social:

Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Pre-vidência Social depende dos seguintes períodos de carência:

I – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 contribuições mensais;

Na hipótese de ocorrer a cessação do recolhimento das contribui-ções, prevê o art. 15 da Lei nº 8.213/1991 o denominado “período de graça”, que permite a prorrogação da qualidade de segurado durante um determinado lapso temporal:

Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de con-tribuições:

I – sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;

II – até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;

III – até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação compulsória;

IV – até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;

V – até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar;

VI – até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.

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§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) me-ses se o segurado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.

§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdên-cia Social.

§ 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus direitos perante a Previdência Social.

§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados neste artigo e seus parágrafos.

Prevê a LBPS que, decorrido o período de graça e cessado o vín-culo, as contribuições anteriores à perda da qualidade de segurado so-mente serão computadas para efeito de carência na seguinte hipótese prevista no parágrafo único do art. 24, verbis:

Parágrafo único. Havendo perda da qualidade de segurado, as contribui-ções anteriores a essa data só serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, 1/3 (um terço) do número de contribuições exi-gidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido.

No caso de segurados especiais, definidos no art. 11, VII, da Lei nº 8.213/1991, não há obrigatoriedade de preenchimento do requisi-to carência propriamente dito como referido acima, sendo necessária a comprovação de atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, mesmo que de forma descontínua, conforme disposto no art. 39, da Lei nº 8.213/1991, in verbis:

Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão:

I – de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descon-tínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício,

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igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício re-querido [...]

Nestes casos, o tempo de serviço rural deve ser demonstrado me-diante a apresentação de início de prova material contemporânea ao pe-ríodo a ser comprovado, complementada por prova testemunhal idônea, não sendo esta admitida, em princípio, exclusivamente, a teor do art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/1991, e Súmula nº 149 do STJ. Cabe salientar que embora o art. 106 da Lei de Benefícios relacione os documentos aptos a essa comprovação, tal rol não é exaustivo.

da INCapaCIdade

A concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez pressupõe a averiguação da incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência, e terá vigência enquanto permane-cer o segurado em tal condição. A incapacidade é verificada mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, podendo a parte autora, a suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confian-ça. Dispõe, outrossim, a Lei nº 8.213/1991 que a doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social não lhe conferirá direito ao benefício, salvo quando a incapaci-dade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento da doença ou lesão.

do CaSo CoNCreto

A parte autora ajuizou a presente demanda objetivando a conces-são de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença em razão de ale-gada incapacidade para o exercício da atividade habitual de agricultora por ser portadora de doenças em sua coluna vertebral.

O pedido administrativo formulado pela autora em 20.07.2010 foi indeferido pela autarquia sob fundamento de falta da qualidade de segu-rado (fls. 102 e 73), não tendo sido homologado o período de 01.01.2007 a 01.08.2010 como de exercício de atividade rural (fls. 69/71).

Entretanto, os documentos juntados aos autos (notas de produtor rural e contratos de parceria agrícola – fls. 59/68), corroborados pela

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prova testemunhal (mídia da fl. 140), revelam que a autora, de fato, de-sempenhou atividade rural em regime de economia familiar no perío-do imediatamente anterior ao requerimento administrativo, mantendo, assim, a qualidade de segurada especial e preenchendo o requisito da carência.

No que tange à incapacidade, a perícia médica elaborada pelo Dr. Luís Antônio Kerber (CRM/RS 16358), especialista em ortopedia e trau-matologia, concluiu que a autora, em razão das doenças que lhe aco-metem a coluna (cervicalgia e lombociatalgia – CID10 M54.2 e M54.4), encontra-se temporariamente incapacitada para o exercício das ativida-des na agricultura. Destaca-se que os quesitos respondidos pelo laudo da fl. 96, depositados em cartório pela autarquia, encontram-se anexos a este voto, encaminhados por e-mail pelo juízo a quo.

Tenho, portanto, que o quadro clínico apresentado pela parte au-tora enquadra-se perfeitamente à hipótese prevista pelo art. 59 da Lei nº 8.213/1991, como autorizadora da concessão do benefício de auxí-lio-doença.

termo INICIal do beNefíCIo

Quanto ao termo inicial do benefício, o entendimento desta 5ª Turma é no sentido de que correto seu estabelecimento na data do requerimento administrativo desde que evidenciado que a incapacidade laboral já estava presente àquela data (AC 0006638-22.2013.404.9999, Rel. Des. Fed. Rogerio Favreto, un., DE 17.06.2013).

No caso dos autos, tendo o laudo pericial indicado a data do exa-me de tomografia computadorizada (06.07.2010) como data do início da incapacidade, restou evidenciado que a incapacidade da parte autora estava presente quando do requerimento administrativo (20.07.2010 – fl. 102). Ademais, a própria autarquia havia reconhecido, naquela opor-tunidade, haver incapacidade laborativa, conforme se observa do docu-mento da fl. 73.

Destarte, o termo inicial do benefício deve corresponder à data do requerimento administrativo.

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doS CoNSeCtárIoS

cOrreçãO mOnetária

A correção monetária, segundo o entendimento consolidado na 3ª Seção deste TRF4, incidirá a contar do vencimento de cada prestação e será calculada pelos índices oficiais e aceitos na jurisprudência, quais sejam:

– ORTN (10/1964 a 02/1986, Lei nº 4.257/1964);

– OTN (03/1986 a 01/1989, Decreto-Lei nº 2.284/1986);

– BTN (02/1989 a 02/1991, Lei nº 7.777/1989);

– INPC (03/1991 a 12/1992, Lei nº 8.213/1991);

– IRSM (01/1993 a 02/1994, Lei nº 8.542/1992);

– URV (03 a 06/1994, Lei nº 8.880/1994);

– IPC-R (07/1994 a 06/1995, Lei nº 8.880/1994);

– INPC (07/1995 a 04/1996, MP 1.053/1995);

– IGP-DI (05/1996 a 03/2006, art. 10 da Lei nº 9.711/1998, combinado com o art. 20, §§ 5º e 6º, da Lei nº 8.880/1994);

– INPC (de 04/2006 a 29.06.2009, conforme o art. 31 da Lei nº 10.741/2003, combinado com a Lei nº 11.430/2006, precedida da MP 316, de 11.08.2006, que acrescentou o art. 41-A à Lei nº 8.213/1991);

– TR (a partir de 30.06.2009, conforme art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009).

O Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento das ADIs 4.357 e 4.425, declarou a inconstitucionalidade por arrastamento do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009, afastando a utilização da TR como fator de correção

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monetária dos débitos judiciais da Fazenda Pública, relativamente ao pe-ríodo entre a respectiva inscrição em precatório e o efetivo paga mento.

Em consequência dessa decisão, e tendo presente a sua ratio, a 3ª Seção desta Corte vinha adotando, para fins de atualização dos débitos judiciais da Fazenda Pública, a sistemática anterior à Lei nº 11.960/2009, o que significava, nos termos da legislação então vigen-te, apurar-se a correção monetária segundo a variação do INPC, salvo no período subsequente à inscrição em precatório, quando se determinava a utilização do IPCA-E.

Entretanto, a questão da constitucionalidade do uso da TR como índice de atualização das condenações judiciais da Fazenda Pública, antes da inscrição do débito em precatório, teve sua repercussão geral reconhecida no RE 870.947, e aguarda pronunciamento de mérito do STF. A relevância e a transcendência da matéria foram reconhecidas especialmente em razão das interpretações que vinham ocorrendo nas demais instâncias quanto à abrangência do julgamento nas ADIs 4.357 e 4.425.

Recentemente, em sucessivas Reclamações, a Suprema Corte vem afirmando que, no julgamento das ADIs em referência, a questão cons-titucional decidida restringiu-se à inaplicabilidade da TR ao período de tramitação dos precatórios, de forma que a decisão de inconstitucionali-dade por arrastamento foi limitada à pertinência lógica entre o art. 100, § 12, da CRFB e o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, na redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009. Em consequência, as Reclamações vêm sendo acolhidas, assegurando-se que, ao menos até que sobrevenha decisão específica do STF, seja aplicada a legislação em referência na atualização das condenações impostas à Fazenda Pública, salvo após inscrição em precatório. Os pronunciamentos sinalizam, inclusive, para eventual modulação de efeitos, acaso sobrevenha decisão mais ampla quanto à inconstitucionalidade do uso da TR para correção dos débitos judiciais da Fazenda Pública (Rcl 19.050, Rel. Min. Roberto Barroso; Rcl 21.147, Relª Min. Cármen Lúcia; Rcl 19.095, Rel. Min. Gilmar Mendes).

Em tais condições, com o objetivo de guardar coerência com os mais recentes posicionamentos do STF sobre o tema, e para prevenir a necessidade de futuro sobrestamento dos feitos apenas em razão dos

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consectários, a melhor solução a ser adotada, por ora, é orientar para aplicação do critério de atualização estabelecido no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, na redação da Lei nº 11.960/2009.

Este entendimento não obsta a que o juízo de execução observe, quando da liquidação e atualização das condenações impostas ao INSS, o que vier a ser decidido pelo STF em regime de repercussão geral, bem como eventual regramento de transição que sobrevenha em sede de mo-dulação de efeitos.

JurOs de mOra

Até 29.06.2009 os juros de mora, apurados a contar da data da citação, devem ser fixados à taxa de 1% ao mês, com base no art. 3º do Decreto-Lei nº 2.322/1987, aplicável analogicamente aos benefícios pa-gos com atraso, tendo em vista o seu caráter eminentemente alimentar, consoante firme entendimento consagrado na jurisprudência do STJ e na Súmula nº 75 desta Corte.

A partir de então, deve haver incidência dos juros, uma única vez, até o efetivo pagamento do débito, segundo o índice oficial de remunera-ção básica aplicado à caderneta de poupança, nos termos estabelecidos no art. 1º-F, da Lei nº 9.494/1997, na redação da Lei nº 11.960/2009. Os juros devem ser calculados sem capitalização, tendo em vista que o dispositivo determina que os índices devem ser aplicados “uma única vez” e porque a capitalização, no direito brasileiro, pressupõe expressa autorização legal (STJ, 5ª T., AgRg-AgRg-Ag 1211604/SP, Relª Min. Lau-rita Vaz).

Quanto ao ponto, esta Corte já vinha entendendo que no julga-mento das ADIs 4.357 e 4.425 não houvera pronunciamento de incons-titucionalidade sobre o critério de incidência dos juros de mora previsto na legislação em referência.

Esta interpretação foi, agora, chancelada, pois, no exame do Re-curso Extraordinário nº 870.947, o STF reconheceu repercussão geral não apenas à questão constitucional pertinente ao regime de atualização monetária das condenações judiciais da Fazenda Pública, mas também à controvérsia pertinente aos juros de mora incidentes.

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Em tendo havido a citação já sob a vigência das novas normas, inaplicáveis as disposições do Decreto-Lei nº 2.322/1987, incidindo apenas os juros da caderneta de poupança, sem capitalização.

doS hoNorárIoS

Os honorários advocatícios são devidos pelo INSS no percentual de 10% sobre o valor das parcelas vencidas até a data da sentença de procedência ou do acórdão que reforma a sentença de improcedência, nos termos da Súmula nº 111 do Superior Tribunal de Justiça e Súmula nº 76 deste TRF.

daS CuStaS

Havendo o feito tramitado perante a Justiça Estadual do Rio Gran-de do Sul, o INSS está isento do pagamento de custas, mas obrigado ao pagamento de eventuais despesas processuais, consoante o dispos-to no art. 11 da Lei Estadual nº 8.121/1985, na redação dada pela Lei nº 13.471, de 23 de junho de 20 10. A distinção entre custas e despesas processuais aparece nítida nos julgados seguintes:

PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – ERRO MATE-RIAL CONFIGURADO – (RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA – ART. 543-C, DO CPC – EXECUÇÃO FISCAL – PA-GAMENTO ANTECIPADO PARA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO CAR-TÓRIO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOAS JURÍDI-CAS PELA FAZENDA PÚBLICA – DESNECESSIDADE – ART. 39, DA LEI Nº 6.830/1980 – ART. 27, DO CPC – DIFERENÇA ENTRE OS CONCEI-TOS DE CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS – PRECEDENTES)

1. Os embargos de declaração são cabíveis quando houver no acórdão ou sentença, omissão, contrariedade ou obscuridade, nos termos do art. 535, I e II, do CPC.

2. Deveras, restou assentado no acórdão recorrido que, in verbis: “A isen-ção de que goza a Fazenda Pública, nos termos do art. 39, da Lei de Execuções Fiscais, está adstrita às custas efetivamente estatais, cuja natu-reza jurídica é de taxa judiciária, consoante posicionamento do Pretório Excelso (RE 108.845), sendo certo que os atos realizados fora desse âm-bito, cujos titulares sejam pessoas estranhas ao corpo funcional do Poder Judiciário, como o leiloeiro e o depositário, são de responsabilidade do

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autor exequente, porquanto essas despesas não assumem a natureza de taxa, estando excluídas, portanto, da norma insculpida no art. 39, da LEF. Diferença entre os conceitos de custas e despesas processuais.”

3. Destarte, incorreu em erro material o julgado, porquanto o pedido de-clinado nas razões recursais referiu-se à isenção das custas proces suais, sendo que, no dispositivo constou o provimento do recurso especial, com o adendo de que, se vencida, a Fazenda Nacional deveria efetuar o pagamento das custas ao final.

4. Embargos de declaração providos para determinar que se faça constar da parte dispositiva do recurso especial: “Ex positis, dou provimento ao recurso especial para determinar a expedição da certidão requerida pela Fazenda Pública, cabendo-lhe, se vencida, efetuar o pagamento das des-pesas ao final”.

(EDcl-REsp 1107543/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª S., Julgado em 23.06.2010, DJe 01.07.2010)

PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – PAGAMENTO DE POS-TAGEM DE CARTA CITATÓRIA PELA FAZENDA PÚBLICA – DESNE-CESSIDADE – ART. 39, DA LEI Nº 6.830/1980 – ART. 27, DO CPC – DIFERENÇAS ENTRE OS CONCEITOS DE CUSTAS E DESPESAS PRO-CESSUAIS

1. Consoante a orientação jurisprudencial firmada pela Primeira Seção esta Corte, a citação postal constitui ato processual abrangido no concei-to de custas processuais, de cujo pagamento a Fazenda está dispensada, por força do art. 39 da Lei nº 6.830/1980. Não se confunde com despe-sas processuais, tais como os honorários de perito e os valores relativos a diligências promovidas por Oficial de Justiça. É indevida, portanto, a exigência de prévio adimplemento do valor equivalente à postagem de carta citatória. Precedentes.

2. Recurso especial provido.

(REsp 1342857/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Julgado em 25.09.2012, DJe 28.09.2012)

da ImplaNtação do beNefíCIo

A Terceira Seção desta Corte, ao julgar a Questão de Ordem na Apelação Cível nº 2002.71.00.050349-7, firmou entendimento

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no sentido de que, nas causas previdenciárias, deve-se determinar a imediata implementação do benefício, valendo-se da tutela especí-fica da obrigação de fazer prevista no art. 461 do CPC, independen-temente de requerimento expresso por parte do segurado ou benefi-ciário (QUOAC 2002.71.00.050349-7, Rel. p/ Ac. Celso Kipper, DE 01.10.2007).

Em razão disso, sendo procedente o pedido, o INSS deverá im-plantar o benefício concedido no prazo de 45 dias, em consonância com os arts. 461 e 475-I, caput, do CPC.

Em homenagem aos princípios da celeridade e da economia pro-cessual, tendo em vista que o INSS vem opondo embargos de declaração sempre que determinada a implantação imediata do benefício, alegan-do, para fins de prequestionamento, violação dos arts. 128 e 475-O, I, do CPC, e 37 da CF, esclareço que não se configura a negativa de vigên-cia a tais dispositivos legais e constitucionais. Isso porque, em primeiro lugar, não se está tratando de antecipação ex officio de atos executórios, mas, sim, de efetivo cumprimento de obrigação de fazer decorrente da própria natureza condenatória e mandamental do provimento judicial; em segundo lugar, não se pode, nem mesmo em tese, cogitar de ofensa ao princípio da moralidade administrativa, uma vez que se trata de con-cessão de benefício previdenciário determinada por autoridade judicial competente.

CoNCluSão

O apelo da parte autora foi provido para o fim de, afastada a in-constitucionalidade dos arts. 11, VII, e 39 da Lei nº 8.213/1991, de-clarada pelo Juízo a quo; e, no mérito, para conceder-lhe o benefício de auxílio-doença desde a data do requerimento administrativo, con-denando-se o INSS ao pagamento das parcelas vencidas desde então, corrigidas monetariamente e acrescidas de juros de mora, determinada a imediata implantação do benefício.

dISpoSItIvo

Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento à apelação, determinando a imediata implantação do benefício.

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É o voto.

Juiz Federal Luiz Antônio Bonat Relator

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1990

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (convocado)AC 586913‑PE nº 586913‑PE (0000282‑76.2016.4.05.9999)Apte.: INSS – Instituto Nacional do Seguro SocialRepte: Procuradoria Representante da EntidadeApdo.: Manoel Severino da SilvaAdv./Proc.: Camillo Soubhia Netto e outroOrigem: Vara Única da Comarca de Joaquim Nabuco/PERelator: Des. Federal Ivan Lira de Carvalho (Convocado)

ementaprevIdeNCIárIo – peNSão por morte – víNCulo urbaNo do autor – deS-CaraCterIzação da qualIdade de Segurado eSpeCIal – NÚCleo famIlIar que Não Se dedICa eXCluSIvameNte à agrICultura de SubSIStêNCIa – INCabImeNto da peNSão por morteI – Apelação interposta contra sentença que julgou procedente o pedido da parte autora, por entender comprovados os requisitos legais, de pen-são por morte. Honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da condenação.

II – Os requisitos para concessão do benefício da pensão por morte são os seguintes: 1) óbito; 2) qualidade de segurado do falecido; dependência econômica dos requerentes em relação ao falecido.

III – O primeiro requisito encontra-se comprovado pela certidão de óbito datada em 24.01.2014 (fl. 19). A condição de cônjuge foi atestada pela certidão de casamento à fl. 18, datada de 16.04.1970, configurando a dependência econômica do autor em face da falecida visto que é presu-mida, conforme prevê o art. 16 da Lei nº 8.213/1991.

IV – No tocante à qualidade de segurado da falecida, constata-se a pre-sença de documentos que atestam que o autor possuiu vínculo urbano entre 1980 e 2006, de acordo com sua CTPS às fls. 20/23, descaracteri-zando o exercício de agricultura familiar para fins de subsistência. Diante da atividade urbana constatada nos autos, pelos cônjuges, resta desca-racterizado o exercício de labor rural em regime de economia familiar durante o período de carência requisitado para a concessão do benefício.

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V – Sem condenação em custas e honorários advocatícios, ante do defe-rimento do pedido da justiça gratuita.

VI – Apelação do INSS provida.

acórdãO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível, em que são partes as acima mencionadas.

Acordam os Desembargadores Federais da Segunda Turma do Tri-bunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, em dar provimento à apelação, nos termos do voto do Relator e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado.

Recife, 26 de abril de 2016.

Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho Relator Convocado

relatóriO

O Exmo. Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (Relator Convocado): Trata-se de ação promovida por Manoel Severino da Silva contra o INSS, na qual deseja-se a concessão do benefício de pensão por morte em virtude do falecimento da esposa daquele.

O magistrado de 1º grau julgou o processo concedendo o benefí-cio de pensão por morte ao autor, no valor mensal de um salário mínimo.

Por irresignado, apela o réu (às fls. 54/58), pugnando pela reforma da sentença, alegando a não comprovação da condição de segurado da falecida Cícera Maria de Lima.

Contrarrazões recursais às fls. 63/72, rebatendo a apelação e rei-terando a legitimidade dos autores quanto ao requerimento do benefício da pensão por morte, requerendo que seja negado provimento ao apelo.

Subiram os autos, sendo-me conclusos por força de distribuição.

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É o relatório.

Peço a inclusão do feito em pauta para julgamento.

vOtO

O Exmo. Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (Relator Convocado): Trata-se de ação ordinária promovida por Manoel Severino da Silva contra o INSS, esposo de Cícera Maria de Lima da Silva esta tendo falecido em 24.01.2014, de acordo com a cópia da Certidão de óbito (fl. 19).

Vejamos, os requisitos para a concessão do benefício da pensão por morte são os seguintes: 1) óbito; 2) dependência econômica dos requerentes em relação ao falecido; 3) qualidade de segurado especial.

O primeiro requisito encontra-se comprovado pela certidão de óbito datada em 24.01.2014 (fls. 19). A condição de cônjuge foi atestada pela certidão de casamento à fl. 18, datada de 16.04.1970, configurando a dependência econômica do autor em face do falecido visto que é pre-sumida, conforme prevê o art. 16 da Lei nº 8.213/1991:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I – o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido;

[...]

§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é pre-sumida e a das demais deve ser comprovada.

A dependência econômica decorre de presunção legal ex vi do art. 16, I, §§ 1º e 4º.

No tocante à qualidade de segurado da falecida, constata-se a pre-sença de documentos que atestam que o autor possuiu vínculo urbano entre 1980 e 2006, de acordo com sua CTPS às fls. 20/23, descarac-terizando o exercício de agricultura familiar para fins de subsistência. Diante da atividade urbana constatada nos autos, pelos cônjuges, resta descaracterizado o exercício de labor rural em regime de economia fa-

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miliar durante o período de carência requisitado para a concessão do benefício.

Sem condenação em custas e honorários advocatícios, ante do de-ferimento do pedido da justiça gratuita.

Diante do exposto, dou provimento à apelação do INSS.

É como voto.

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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência

1991 – Ação civil pública – prescrição – interrupção – efeitos

“Previdenciário. Decadência. Prescrição quinquenal. Ação civil pública. Interrup-ção. Revisão. Aposentadoria especial. Novos tetos previdenciários. Emenda Cons-titucional nºs 20/1998 e 41/2003. Correção monetária. Juros de mora. 1. Não se aplicam às revisões de reajustamento e às estabelecidas em dispositivo legal, os prazos de decadência de que tratam os arts. 103 e 103-A da Lei nº 8.213, de 1991. 2. A propositura da Ação Civil Pública nº 0004911-28.2011.4.03.6183 interrom-pe o prazo prescricional quinquenal. 3. Readequação da renda mensal inicial ado-tando-se o novo teto constitucional previsto na Emenda Constitucional nº 20/98 e na Emenda Constitucional nº 41/2003. 4. Aposentadoria da parte autora concedida com salário-de-benefício no valor de NCz$ 382,16, revisado administrativamente pelo art. 144 (período do buraco negro), no valor de NCz$ 1.077,14 (NCz$ 38.777,12/36), e limitada ao teto vigente à época, em fevereiro de 1989, no valor de NCz$ 734,80, e aplicado o coeficiente de cálculo de 95%, resultando no valor de NCz$ 698,06, de modo que a parte autora faz jus às diferenças decorrentes da aplicação da readequação dos tetos das Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003, aplicando-se os efei-tos do julgamento do Recurso Extraordinário nº 564354/SE. 5. Juros de mora e corre-ção monetária na forma prevista no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, com a redação atualizada pela Resolução nº 267/2013, observando-se, no que couber, o decidido pelo C. STF no julgado das ADIs 4.357 e 4.425. 6. Preliminares rejeitadas, apelações do INSS, da parte autora e reexame ne-cessário parcialmente providos.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0004190-37.2015.4.03.6183/SP – 10ª T. – Relª Desª Fed. Lucia Ursaia – DJe 27.04.2016 – p. 912)

1992 – Acidente do trabalho – ação regressiva – imprescritibilidade – inocorrência

“Direito administrativo e constitucional. Apelação e remessa necessária. Acidente de trabalho. INSS. Ação indenizatória regressiva. Imprescritibilidade. Inocorrência. Pres-crição quinquenal. 1. A sentença extinguiu, pela prescrição quinquenal, Decreto nº 20.910/1932, art. 1º, ação indenizatória regressiva do INSS em face de sociedade empresária, em decorrência de acidente de trabalho que levou a autarquia a pagar a dependente do segurado, a partir de 30.01.2004, benefício previdenciário de pensão por morte. 2. Conquanto o plenário do STF, no MS 26.210-DF, J. 04.09.2008, tenha decla-rado a imprescritibilidade do ressarcimento do dano ao Erário, consagrada na Constitui-ção, art. 37, § 5º, em sentido amplo, a ela sujeitando inclusive os particulares, a mesma Suprema Corte, em 02.08.2013, acolheu tese oposta, reconhecendo a repercussão ge-ral da matéria (RE 669069-RG/MG, DJe-166, Divulg. 23.08.2013, Public. 26.08.2013). 3. A imprescritibilidade é exceção e, pela melhor e mais restritiva interpretação do art. 37, § 5º, só atinge os agentes públicos imbricados (teoria do órgão) que podem ser cobrados a qualquer tempo pelo Estado, ficando os particulares, cujos delitos são, em tese, menos graves, protegidos pela prescrição quinquenal. Precedentes do STJ e desta Corte. 4. Apelação e remessa necessária desprovidas.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0000460-76.2014.4.02.5117 – 6ª T.Esp. – Relª Desª Fed. Nizete Antônia Lobato Rodrigues Carmo – DJe 29.02.2016 – p. 350)

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Comentário Editorial SÍNTESETrata-se da inocorrência da prescrição na interposição da ação regressiva pelo INSS.A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º, XXII, atribui ao empregador a res-ponsabilidade pela redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.Entretanto, a previsão contida no Texto Constitucional não é a que encontramos na realidade. O número de acidentes do trabalho devido a não observação das normas de segurança, saúde e higiene por parte do empregador, é cada vez mais significativo.A consequência é um número maior de trabalhadores com licença-médica devido ao acidente de trabalho sofrido, onerando, com isso, os cofres da Previdência So-cial com o pagamento do benefício acidentário.Assim, diante do preceito contido no art. 120 da Lei nº 8.213/1991, a Previdência Social “Nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis.”Nesse sentido, a Procuradora Dra. Fernanda de Paula Campolina explica:“É pressuposto da ação regressiva a comprovação do dano que o INSS sofreu em face daquele acidente, dano este que deve ser comprovado e individualizado.A concessão de uma prestação social acidentária é condição para a propositura da ação regressiva, pois somente com o efetivo pagamento do benefício previdenciário ocorrerão o dano e, consequentemente, a pretensão de ressarcimento do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.A Lei nº 8.213/1991, quanto ao segurado vítima de acidente do trabalho, prevê a concessão de aposentadoria por invalidez e auxílio-doença nos casos de invalidez total e permanente ou de incapacidade temporária para o trabalho, respectivamen-te. Quanto aos dependentes, prevê a concessão de pensão por morte no caso do acidente resultar em vítima fatal do segurado.A referida lei também prevê a concessão do benefício de auxílio-acidente quando as lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza estiverem consolidadas e resultarem na redução da capacidade laborativa do segurado. No caso do auxílio--acidente, entretanto, somente haverá pretensão regressiva se a lesão for decorren-te de um acidente do trabalho.Consideram-se, ainda, prestações sociais acidentárias os serviços de reabilitação profissional que visam a proporcionar ao segurado incapaz os meios de se adap-tar social e profissionalmente. Esses serviços compreendem o fornecimento de aparelhos de prótese e órtese, instrumentos de auxílio para locomoção, transporte do acidentado do trabalho, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, cursos profissionalizantes, entre outros.No caso da reabilitação profissional, apenas o dano/gasto comprovado e indivi-duado como decorrente diretamente do acidente objeto da ação poderá ser incluído no pedido.Impossível constar da inicial o pedido de regresso de valores indiretamente gastos com o processo de reabilitação, devendo o pedido se limitar àqueles itens objetiva-mente vinculados ao segurado, tais como o fornecimento de aparelhos de prótese e órtese, instrumentos de auxílio para locomoção, transporte do acidentado do tra-balho, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, cursos profissionalizantes, entre outros.” (A ação regressiva acidentária e a reabilitação profissional: obrigação de fazer ou ressarcimento? Disponível em: http://online.sintese.com. Acesso em: 07 mar. de 2016)

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1993 – Acidente do trabalho – atleta de futebol – osteoartrose grave nos joelhos – con-figuração

“Acidente do trabalho. Benefício. Ex-atleta profissional de futebol. Osteoartrose grave nos joelhos, com estado mais avançado no joelho esquerdo, secundárias às lesões ocor-ridas durante o trabalho como jogador de futebol e agravadas pelas atividades profis-sionais exercidas após 2005, de vigia e operador de máquinas, em que o trabalhador permanecia em pé por longos períodos. Concessão de benefício acidentário. Termo ini-cial do benefício fixado na data da citação. Juros e correção monetária. Termos iniciais e índices. Honorários de advogado mantidos em 10% sobre as parcelas vencidas até a r. Sentença. Custas. Isenção do INSS, respondendo, porém, pelas despesas do processo comprovadas nos autos, entre as quais se incluem os honorários periciais. Inexistên-cia de apelo das partes. Reexame necessário parcialmente acolhido, com observações.” (TJSP – RN 0008740-08.2012.8.26.0363 – Mogi-Mirim – 16ª CDPúb. – Rel. José Marcelo Tossi Silva – DJe 04.02.2016)

Comentário Editorial SÍNTESEO v. acórdão tem por escopo cuidar da configuração do acidente do trabalho sofrido pelo atleta jogador de futebol.

Do voto do Relator, colhemos trecho do laudo realizado pelo perito:

Em decorrência dos exames realizados, o perito concluiu pela existência de inca-pacidade parcial e permanente e nexo causal entre as lesões incapacitantes nos joelhos do autor e a atividade de jogador profissional de futebol, constando no laudo pericial:

“A artrose em um indivíduo de 37 anos, com estágio avançado de degeneração, associado a lesões complexas de menisco e ruptura de ligamento cruzado anterior são compatíveis com sequela adquirida de lesões repetitivas do joelho esquerdo na época em jogou como atleta profissional no futebol.

Houve agravamento da artrose em joelho esquerdo e direito após a atividade de vigia e operador de máquinas, com períodos prolongados.

Tal artrose atual nos dois joelhos é grave, cujo tratamento visa apenas o alívio da dor. Não é passível de melhora ou cura.

A artrose de ambos os joelhos secundárias às lesões ocorridas quando era jogador profissional de futebol, e agravadas pelas atividades profissionais exercidas após 2005, o incapacitam de forma parcial e permanente para atividades laborativas que exijam períodos prolongados em pé, grandes esforços com os membros infe-riores, ou agachamentos frequentes.

O autor é portador de artrose de coluna não incapacitante, não apresentando sinais de radiculopatia ou deformidades que limitem a movimentação das articulações. Realizadas manobras indicadas pelas ‘Diretrizes de apoio à decisão médico-pericial em ortopedia e traumatologia’, publicadas em 2008 pelo Ministério da Previdência Social, que se mostraram negativas. Trata-se de doença de caráter degenerativo, ligado à faixa etária [...].

Nas respostas aos quesitos 3, 4 e 6 formulados pelo INSS [...], o perito esclareceu que o autor é portador de Artrose Grave de Joelhos (CID M17) que: ‘[...] é causa de dor aos esforços físicos com os membros inferiores, períodos prolongados em pé, e flexão-extensão repetitiva dos joelhos’, o que gera incapacidade para ativida-des laborativas que exijam períodos prolongados em pé, grandes esforços com os membros inferiores, ou agachamentos frequentes [...].

O expert esclareceu:

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‘Data do início da doença em 1996, quando teve o entorse no joelho esquerdo. Data do início da incapacidade em 17.06.2011 quando realizou tratamento do joelho direito via artroscopia, para retirada de fragmentos e lesão meniscal, de-corrente do agravamento da lesão ocorrido quando passou a trabalhar períodos prolongados em pé.

Conclusão baseada na entrevista, exame físico, análise dos documentos apresen-tados e anexados. Também baseada nos dados colhidos do Laudo Médico Pericial da Previdência Social anexado nas fls. 51 e 52 da Inicial’ (fl. 86).

E concluiu: ‘Caracterizada incapacidade laborativa parcial e permanente’ (fl. 85).

Ficaram, portanto, comprovadas as lesões que geraram a incapacidade laborativa parcial e permanente ao postulante para a atividade habitualmente exercida e o nexo entre essas lesões e o trabalho.”

Nesse sentido, é oportuno a transcrição do seguinte entendimento proferido pelo Dr. Wladimir Novaes Martinez:

“Acidente do trabalho dos futebolistas é um evento, previsível ou não, normalmente de natureza traumática, que obsta a sua atividade por mais de 15 dias, entendida está como sendo os treinamentos e as práticas dos jogos propriamente ditos. E até mesmo os exercícios aeróbicos na academia do clube.

Diferentemente do que sucede com os demais segurados, empregados ou não do clube desportivo, embora raramente possa ocorrer, por ora, desse conceito está excluída a doença ocupacional (doença do trabalho ou doença profissional).

Um infortúnio laboral poderá suceder dentro do retângulo no campo de futebol, durante a partida e até fora dela: o causador ser um colega do próprio clube ou jo-gador do adversário; qualquer pessoa, inclusive assistente de pugna e até o árbitro; a própria natureza ou o piso do gramado.

De regra, os locais de trabalho desses atletas profissionais são a sede do clube, seus centros de treinamento, locais de concentração e o estádio onde ocorre a partida de futebol e outros mais.” (Acidente de trabalho do jogador de futebol. Disponível em: http://online.sintese.com. Acesso em: 1º abr. 2016)

1994 – Acidente do trabalho – benefício por incapacidade – justiça estadual – compe-tência

“Constitucional. Previdenciário. Processual civil. Benefício por incapacidade decorrente de acidente do trabalho. Competência da Justiça Estadual. 1. Compete à Justiça Comum Estadual o processamento e julgamento de ações versando acerca da concessão e revi-são de benefícios por incapacidade decorrente de acidente de trabalho, conforme pre-visão expressa do art. 109, I, da Constituição Federal. 2. Nas demandas que objetivam a concessão de benefício em decorrência de acidente de trabalho, a competência será de-terminada com base no pedido e causa de pedir, sendo desde aquele momento também fixada a competência recursal.” (TRF 4ª R. – QO-AC 0015881-19.2015.4.04.9999/RS – 5ª T. – Rel. Juiz Fed. Luiz Antonio Bonat – DJe 26.02.2016 – p. 6)

1995 – Aposentadoria – servidor público federal – redução do valor – prazo decaden-cial – observação

“Administrativo. Previdenciário. Aposentadoria. Servidor público federal. Redução do valor de aposentadoria. TCU. Cancelamento. Prazo decadencial. Princípio nemo au-ditur propriam turpitudinem. Aplicação. I – Teotônio Santa Cruz Montenegro ajuizou

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ação ordinária contra a UFPB – Universidade Federal da Paraíba, pela qual pretende a manutenção em sua aposentadoria, da rubrica referente ao percentual de 26,05% e adiantamento salarial (PCCS). II – Afirma o autor que o direito de a Administração Públi-ca revisar os seus vencimentos teria sido extinto pela decadência, a teor do disposto no art. 54 da Lei nº 9.784/1999. III – O MM. Juiz a quo julgou procedente o pedido com base no art. 269, II do CPC de 1973 (art. 487, I, do CPC/2015). IV – Inconformada, apela a UFPB, pleiteando a reforma da sentença, alegando inexistência de prescrição e violação à coisa julgada, além de discricionariedade dos atos administrativos. V – Em sua contrarrazões, a parte autora defende a ocorrência da decadência. VI – A concessão de benefício previ-denciário é ato complexo, que só se aperfeiçoa com o respectivo registro no Tribunal de Contas da União (TCU), contando-se a partir de então o prazo decadencial de 5 (cinco) anos previsto pelo art. 54 da Lei nº 9.784/1999 para a Administração anular os atos dos quais resultem efeitos favoráveis para os destinatários. VII – Consoante entendimento fixado pelo STF, ‘o prazo de 5 (cinco) anos deve ser contado a partir da chegada ao TCU do processo administrativo de aposentadoria ou pensão encaminhado pelo órgão de origem para julgamento da legalidade do ato concessivo de aposentadoria ou pensão e posterior registro pela Corte de Contas’ (STF, Mandado de Segurança nº 24.781/DF, Pleno, Relª Min. Ellen Gracie, Rel. p/ Ac. Min. Gilmar Mendes, 02.03.2011). VIII – Nos casos de aposentadoria e pensão de servidor público, a atuação do Tribunal de Contas deve observar os princípios da segurança jurídica e razoabilidade, não podendo durar por prazo indeterminado. IX – Na hipótese, a Administração concedeu a aposentadoria em 14.03.2000, e o acórdão do TCU é de outubro de 2011, após mais cinco anos do deferimento do benefício. X – Apelação e remessa oficial improvidas [04].” (TRF 5ª R. – AC 0004495-32.2012.4.05.8200 – (555037/PB) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 29.04.2016 – p. 82)

1996 – Aposentadoria especial – frentista – reconhecimento do tempo de serviço pres-tado em atividade especial – agentes agressivos – concessão

“Previdenciário e processual civil. Aposentadoria especial. Reconhecimento do tempo de serviço prestado em atividade especial. Agentes agressivos. Ruído. Exposição em pa-tamar superior ao permitido em lei. Frentista. Agente insalubre. 1. O tempo de serviço especial é aquele decorrente de serviços prestados sob condições prejudiciais à saúde ou em atividades com riscos superiores aos normais para o segurado e, cumpridos os requisitos legais, dá direito à aposentadoria especial. 2. Conforme reiterada jurispru-dência do STJ sobre o fator ruído, consiste atividade especial aquela desenvolvida em ambiente com ruído médio superior a 80 dB (oitenta decibéis), no período de vigência simultânea e sem incompatibilidades dos Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979; su-perior a 90dB (noventa decibéis) com o advento do Decreto nº 2.172, em 05.03.1997; e superior a 85dB (oitenta e cinco decibéis) a partir da edição do Decreto nº 4.882, de 18.11.2003, que não pode ser aplicado retroativamente (STJ, recurso repetitivo, REsp 1398260/PR). 3. O STF, no julgamento do ARE 664335, com repercussão geral reco-nhecida, assentou a tese de que ‘[...] na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), da eficácia do Equipamento de Proteção Individual

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(EPI), não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria’ (DJe-249 de 17.12.2014). Sob o ponto, assim dispõe o Enunciado Sumular nº 09 da Turma Nacional de Uniformização: ‘o uso de Equipamento de Proteção Individual – EPI, ainda que elimi-ne a insalubridade, no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado’ (No mesmo sentido: cf. Enunciado nº 21, do Conselho de Recursos da Previdência Social e Súmula nº 289, do TST). 4. O autor comprovou por intermédio de documentação acostados aos autos que exerceu atividades em condições especiais entre 02.05.1983 a 27.05.1986, 16.02.1987 a 16.02.2002, 09.02.2009 a 09.05.2009 e 11.05.2009 a 07.06.2009, de forma habitual e permanente, não ocasional nem in-termitente, exposto ao agente nocivo ruído acima do limite legal de tolerância, bem como na atividade de frentista. 5. Apelação e remessa oficial não providas.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 0007392-81.2010.4.01.3813/MG – Rel. Juiz Fed. Rafael Paulo Soares Pinto – DJe 30.03.2016 – p. 1254)

Comentário Editorial SÍNTESENo presente caso discutiu-se a concessão do benefício de aposentadoria especial ao segurado que exercia a função de frentista de posto de combustível.

Sabe-se que essa atividade é uma atividade desenvolvida sob condições insalu-bres, dando a possibilidade, caso preencha os requisitos, à concessão da aposen-tadoria especial.

Um dos requisitos será o trabalho exposto a agentes nocivos à saúde, como calor ou ruído, de forma contínua e ininterrupta, em níveis de exposição acima dos limi-tes estabelecidos em legislação própria.

Diante disso, será possível aposentar-se após cumprir 25, 20 ou 15 anos de con-tribuição, conforme o agente nocivo.

Esse é o posicionamento dos nossos Tribunais:

“PREVIDENCIÁRIO – TEMPO ESPECIAL – FRENTISTA DE POSTO DE COM-BUSTÍVEL – ENQUADRAMENTO – CALOR – EXPOSIÇÃO SUPERIOR AO NÍVEL ADMITIDO PELA LEGISLAÇÃO – POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DO TEMPO ESPECIAL EM COMUM MEDIANTE APLICAÇÃO DO FATOR 1,4 – JULGAMEN-TO EXTRA PETITA – NÃO OCORRÊNCIA – JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA – RECURSO DO INSS PARCIALMENTE PROVIDO – 1. ‘Não é aplicável o disposto no § 2º do art. 475 do CPC quando a sentença é ilíquida ou não está fundada em Súmula deste Tribunal ou jurisprudência do plenário do STF ou de Tribunal Superior, observando-se em tais casos a necessidade de reexame em remessa oficial’ (AC 0040132-60.2015.4.01.9199/RO, Relª Desª Fed. Gilda Sigmaringa Seixas, 1ª T., e-DJF1 p. 491 de 23.09.2015). 2. A sentença não é extra petita. Se, em matéria previdenciária, tem poder o juiz para conceder, ex officio, benefício diverso do pleiteado, muito mais a faculdade de, mediante análise das provas, deferir o benefício guerreado com base em fundamentos diversos dos invocados na inicial. 3. ‘A comprovação do tempo especial mediante o enquadramento da atividade exercida pode ser feita até a entrada em vigor da Lei nº 9.032/1995’. Na sequência, ‘a partir da Lei nº 9.032/1995 e até a entrada em vigor da Medida Provisória nº 1.59614/1997 (convertida na Lei nº 9.528/1997) a comprovação do caráter especial do labor passou a ser feita com base nos formulários SB-40 e DSS-8030, expedidos pelo INSS e preenchidos pelo próprio empregador’. Somen-te ‘com o advento das últimas normas retrorreferidas, a mencionada comprovação passou a ser feita mediante formulários elaborados com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho’ (AC 0011105-35.2012.4.01.3800/MG, Relª Desª Fed.

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Gilda Sigmaringa Seixas, 1ª T., e-DJF1 p. 2435 de 02.10.2015). 4. ‘O STF, no julgamento do ARE 664335, com repercussão geral reconhecida, assentou a tese de que “[...] o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo a sua saúde, de modo que, se o Equipamento de Pro-teção Individual (EPI) for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial”, bem que ‘[...] na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a decla-ração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), da eficácia do Equipamento de Proteção Individual (EPI), não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria’ (DJe-249 de 17.12.2014)” (AC 0025927-68.2008.4.01.3800/MG, Rel. Juiz Federal Rodrigo Rigamonte Fon-seca, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 p. 3410 de 09.10.2015). 5. “A atividade desenvolvida em posto de gasolina é considerada insalubre, para fins de contagem de tempo especial, seja no serviço externo, como de frentista ou lavador de carros, seja em serviço interno, a exemplo de operador de caixa, gerente, auxiliar administrativo, entre outras funções” (AC 0001382-21.2005.4.01.3805/MG, Rel. Juiz Federal Guilherme Mendonça Doehler, 3ª T.Supl., e-DJF1 p. 251 de 31.05.2012). 6. “Quanto ao agente nocivo tempera-tura, no caso do calor, há necessidade de comprovação de temperaturas ambien-tais locais com TE acima de 28º, conforme arts. 165, 187 e 234, da CLT e Por-taria Ministerial 30 de 07.02.1958 e 262, de 06.08.1962 (item 1.1.1 do anexo ao Decreto nº 53.831/1964) e a partir do Dec. 2.172/1997 – reiterado pelo Dec. 3.048/1999 – consideram-se nocivos os trabalhos com exposição ao calor acima dos limites de tolerância estabelecidos na NR-15, da Portaria nº 3.214/1978 (item 2.0.4 do Anexo IV).” (AC 2007.38.00.023498-7/MG, Juiz Federal Marcio Jose de Aguiar Barbosa, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 p. 1300 de 01.10.2015, sem grifo no original). 7. “O § 2º do art. 70 do Dec. 3.048/1999, incluído pelo Dec. 4.827/2003, estabelece que as regras ali constantes, de conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum, aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer perío do, registrado, de logo, que na tabela inserida no dispositivo em comento está estampada a utilização do fator 1.4 para a conversão de 25 anos de ativida-de especial em 35 de atividade comum, com a clara consignação de que o fator 1.2 refere-se apenas à conversão do tempo da segurada do sexo feminino” (AMS 2000.38.00.024442-4, Relª Desª Fed. Neuza Maria Alves da Silva, 2ª T., e-DJF1 de 12.11.2009, sem grifo no original). 8. Ressalvado o entendimento da relatora quanto à aplicabilidade da Lei nº 11.960/2009, incidem “juros e correção mone-tária com base nos índices do Manual de Cálculos da Justiça Federal, aplicando-se o INPC após a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, tendo em vista a impres-tabilidade da TR – atualmente usada na remuneração das cadernetas de poupança – Como índice de correção monetária de débitos judiciais, conforme fundamentos utilizados pelo STF no julgamento das ADI 493 e 4.357/DF, e ainda pelo STJ no julgamento do REsp 1.270.439/PR, pelo rito do art. 543-C do CPC’ (ApReeNec 0017703-02.2015.4.01.9199/MG, Rel. Juiz Federal Conv. Francisco Renato Codevila Pinheiro Filho, Julgado em 07.10.2015). 9. Apelação e reexame neces-sário parcialmente providos.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2007.38.00.021149-0/MG – Relª Juíza Fed. Raquel Soares Chiarelli – DJe 20.04.2016 – p. 290)

A corroborar a decisão proferida pelo TRF da 1ª Região, o Professor Sergio Pardal Freudenthal, explica:

“Com grave imaginação, a tecnocracia deixou de considerar a periculosidade en-quanto caracterizadora do direito à aposentadoria especial, e assim, no decreto tucano de 1997 não constam, enquanto agentes nocivos, a eletricidade, o com-bustível e o explosivo. Na alteração da lei não existe a modificação do conceito do

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benefício criado na LOPS de 1960. Em seu art. 31 este importante diploma legal determinava a aposentadoria especial para quem tenha trabalhado ‘conforme a atividade profissional, em serviços que, para esse efeito, forem considerados peno-sos, insalubres ou perigosos, por decreto do Poder Executivo’.

A Lei nº 8.213/1991, em sua redação original, dispunha o benefício especial para quem tenha atuado ‘conforme a atividade profissional, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física’. Ora, na redação atual (imutável até o advento de lei complementar), a especial é devida ‘ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física’, ou seja, só aconteceu a retirada da ‘atividade profissional’. Portanto, o conceito da aposentadoria especial não foi modificado como desejou a tecnocracia quando fomentou as modificações de 1995.

Sem alteração conceitual, na classificação dos agentes nocivos à saúde ou à inte-gridade física dos trabalhadores, é indiscutível a inclusão dos que representam a periculosidade e a penosidade.

Importante salientar, na Emenda Constitucional nº 47, de 2005, no art. 40 da CF, a inclusão dos servidores que ‘exerçam atividades de risco’ ao direito à aposentado-ria especial. Isto só pode significar, enquanto a isonomia for princípio constitucio-nal imutável, que para os trabalhadores vinculados ao regime geral e em atividades de risco a aposentadoria especial sempre foi garantida. Todos os que exercem as mesmas atividades com a mesma exposição aos agentes nocivos devem ter direito ao mesmo benefício especial, independentemente do regime previdenciário a que estiver submetido. Até o presente momento a aposentadoria especial do Regime Geral ainda é o exemplo que os servidores públicos utilizam em busca de seus direitos; a emenda constitucional não poderia pretender qualquer diferença.

Novamente a questão é de interpretação, e não de alteração legislativa, a apo-sentadoria especial continua sendo com o tempo de atividade reduzido em razão das condições de trabalho insalubres, periculosas ou penosas.” (A aposentadoria especial e os compromissos. Disponível em: http://online.sintese.com. Acesso em: 02 maio 2016)

1997 – Aposentadoria especial – servidor público – conversão de tempo de serviço especial em comum – impossibilidade

“Administrativo. Servidor público. Aposentadoria especial. Atividade perigosa exerci-da no regime estatutário. Aplicação analógica dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/1991. Conversão de tempo de serviço especial em comum. Impossibilidade. 1. O art. 40, § 4º da Constituição Federal autoriza o exercício, pelos servidores públicos, da aposen-tadoria especial em razão de atividades que sejam exercidas sob condições especiais prejudiciais à saúde ou à integridade física. 2. O STF considerou que, após a vigência da Lei nº 8.112/1990 e enquanto não editada lei complementar de caráter nacional que regulamente o art. 40, § 4º, da Constituição Federal, é aplicável à aposentadoria especial do servidor público, analogicamente, as regras dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/1991, não chegando esta a assegurar e normatizar o direito à conversão de tempo de serviço especial em comum. 3. Após o estabelecimento do vínculo estatutário, não se admite a conversão de período especial em comum, mas apenas a concessão da aposentadoria especial, condicionada à prova do exercício de atividades exercidas em condições no-civas. Apesar de ser permitida no regime geral de previdência social, no serviço público é expressamente vedada a contagem de tempo ficto, com fundamento no art. 40, § 10,

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da Constituição Federal. Precedentes: STF, 1ª T., AgR-RE 683.970, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 17.11.2014; STF, 2ª T., AgR-RE 724.221, Relª Min. Cármen Lúcia, DJe 04.04.2013; TRF 2ª R., 5ª T.Esp., Ap-Reex 201451011088561, Rel. Des. Fed. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, e-DJF2R 02.12.2014; TRF 2ª R., 7ª T.Esp., Ap-Reex 201151170009629, Rel. Des. Fed. Luiz Paulo da Silva Araujo Filho, e-DJF2R 01.10.2014. 4. Apelação cível não provida.” (TRF 2ª R. – AC 0002879-61.2012.4.02.5110 – 5ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Ricardo Perlingeiro – DJe 25.04.2016 – p. 240)

1998 – Aposentadoria por idade – atividade rural – não comprovação – benefício indevido

“Previdenciário. Aposentadoria por idade rural. Sem comprovação da qualidade de se-gurada especial em período superior à carência. 1. A aposentadoria por idade do tra-balhador rural é regulada nos arts. 48, §§ 1º e 2º e 143 da Lei nº 8.213/1991, sendo devida àquele que completar 60 (sessenta) anos, se homem, ou 55 (cinquenta e cinco), se mulher, devendo comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tem-po igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício pretendido. 2. No caso dos autos, a parte autora comprovou ter completado a idade ne-cessária, deixando, contudo, de comprovar a qualidade de segurada especial em período superior à carência. Ademais, a prova testemunhal acaba por infirmar a prova documen-tal. 3. Apelação desprovida, nos termos do voto.” (TRF 2ª R. – AC 2012.02.01.016573-1 – 2ª T.Esp. – Relª Simone Schreiber – DJe 09.03.2016 – p. 210)

1999 – Aposentadoria por idade – mista ou híbrida – requisitos legais – comprovação

“Previdenciário. Aposentadoria por idade mista ou híbrida. Requisitos legais. Comprova-ção. Lei nº 11.718/2008. Lei nº 8.213/1991, art. 48, § 3º. Trabalho rural e trabalho urba-no. Concessão de benefício a segurado que não está desempenhando atividade rural no momento da implementação dos requisitos. Possibilidade. 1. É devida a aposentadoria por idade mediante conjugação de tempo rural e urbano durante o período aquisitivo do direito, a teor do disposto na Lei nº 11.718, de 2008, que acrescentou o § 3º ao art. 48 da Lei nº 8.213, de 1991, desde que cumprido o requisito etário de 60 anos para mulher e de 65 anos para homem. 2. Ao § 3º do art. 48 da LB não pode ser emprestada interpre-tação restritiva. Tratando-se de trabalhador rural que migrou para a área urbana, o fato de não estar desempenhando atividade rural por ocasião do requerimento administrativo não pode servir de obstáculo à concessão do benefício. A se entender assim, o trabalha-dor seria prejudicado por passar a contribuir, o que seria um contrassenso. A condição de trabalhador rural, ademais, poderia ser readquirida com o desempenho de apenas um mês nesta atividade. Não teria sentido se exigir o retorno do trabalhador às lides rurais por apenas um mês para fazer jus à aposentadoria por idade. 3. O que a modificação legislativa permitiu foi, em rigor, para o caso específico da aposentadoria por idade aos 60 (sessenta) ou 65 (sessenta e cinco) anos (mulher ou homem), o aproveitamento do tempo rural para fins de carência, com a consideração de salários-de-contribuição pelo valor mínimo no que toca ao período rural. 4. Não há, à luz dos princípios da uni-

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versalidade e da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, e bem assim do princípio da razoabilidade, como se negar a aplicação do art. 48, § 3º, da Lei nº 8.213/1991 ao trabalhador que exerceu atividade rural, mas no momento do implemento do requisito etário (sessenta ou sessenta e cinco anos) está desempenhando atividade urbana. 5. A denominada aposentadoria por idade mista ou híbrida, por exigir que o segurado complete 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se ho-mem, e 60 (sessenta) anos, se mulher, em rigor, é, em última análise, uma aposentadoria de natureza assemelhada à urbana. Assim, para fins de definição de regime, deve ser equiparada à aposentadoria por idade urbana. Com efeito, a Constituição Federal, em seu art. 201, § 7º, II, prevê a redução do requisito etário apenas para os trabalhadores rurais. Exigidos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher, a aposentadoria mista, pode-se dizer, constitui praticamente subespécie da apo-sentadoria urbana, ainda que com possibilidade de agregação de tempo rural sem qual-quer restrição. 6. Esta constatação (da similaridade da denominada aposentadoria mista ou híbrida com a aposentadoria por idade urbana) prejudica eventual discussão acerca da descontinuidade do tempo (rural e urbano). Como prejudica, igualmente, qualquer questionamento que se pretenda fazer quanto ao fato de não estar o segurado eventual-mente desempenhando atividade rural ao implementar o requisito etário.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0017997-95.2015.4.04.9999/RS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Afonso Brum Vaz – DJe 20.04.2016 – p. 6)

2000 – Aposentadoria por idade – rurícola – início de prova material corroborada por testemunhal – valoração

“Previdenciário. Rurícola. Aposentadoria por idade. Início de prova material corrobora-da pela prova testemunhal. Possibilidade. Termo inicial do benefício. Juros de mora e correção monetária. Honorários advocatícios. I – Apelação contra sentença que julgou improcedente o pedido autoral, negando a concessão do benefício previdenciário de aposentadoria por idade, na qualidade de segurado especial. II – A concessão da apo-sentadoria por idade ao trabalhador rural encontra-se atrelada ao preenchimento dos requisitos previstos nos §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 8.213/1991. III – O critério etário disposto no § 3º foi devidamente preenchido pela autora (fl. 13). IV – O rol de documen-tos previsto no art. 106 da Lei nº 8.213/1991 é meramente exemplificativo, tendo em vis-ta a informalidade do trabalho rural, a escassez de documentação e a precariedade das condições de vida dos trabalhadores deste meio. V – A demandante apresentou início de prova material de sua atividade campesina, tal qual a declaração do Sindicato dos Tra-balhadores Rurais de Várzea Alegre/CE de que a autora é trabalhadora do Sítio Piranhas de 01.01.1991 a 08.09.2009 (fl. 19), declaração do proprietário do Sítio Piranhas, Cicero Nenem de Sousa, irmão da demandante, de que ela laborou neste local no período de 01.01.1991 a 08.09.2009 (fl. 20), declaração exercício de atividade rural desde 2003 do da Secretaria de Políticas Públicas do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Várzea Alegre/CE (fl. 18), ficha do Conselho de Base do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Várzea Alegre/CE, com pagamentos de mensalidades desde 2007, e data de entrada em 08.09.2003 (fl. 14), dentre outros. VI – Em relação à alegação de que o marido da autora teve vínculos urbanos, é preciso notar que a Consulta a Vínculos Empregatícios do Tra-

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balhador de fl. 63 demonstra que as atividades correspondem a períodos anteriores ao de carência, quais sejam de 07.11.1977 a 12.11.1977, de 17.01.1980 a 11.03.1980 e de 16.07.1980 a 31.12.1980, bem como que são escassas e de curta duração, portanto não descaracterizando a condição de rurícola da demandante. VII – A prova testemunhal colhida em audiência (fl. 120), qual seja o depoimento de João Luiz Félix, confirma a situação de rurícola da apelante ao declarar que a autora exerce atividades rurais para consumo familiar. Ele asseverou que a conhece desde o ano de 1962 e que ela sempre trabalhou enquanto campesina. Desde adolescente teria trabalhado no Sítio do pai, e atualmente labora e reside, junto à família, nas terras do irmão, plantando milho, feijão e arroz para subsistência e para venda, quando há excedente. VIII – A prova testemu-nhal associada ao início de prova material comprovam o exercício de atividade rural em período equivalente à carência para fins de concessão do benefício previdenciário. IX – Quanto ao termo inicial do benefício, entende-se que este deve ser fixado a partir da data do ajuizamento da ação ou do requerimento administrativo, se houver. No caso, fixa-se o termo inicial do benefício na data do requerimento administrativo, ou seja, em 08.09.2009 (fl. 77). X – Conforme entendimento desta Segunda Turma Julgadora, deve ser aplicado, sobre as parcelas devidas, a atualização prevista no Manual de Cálculos da Justiça Federal e juros de mora de 0,5% ao mês, a partir da citação (Lei nº 9.494/1997, art. 1º-F, dada pela Medida Provisória nº 2.180-35, 2001). XI – Honorários advocatí-cios fixados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. 20, §§ 3º e 4º do CPC. XII – Apelação provida.” (TRF 5ª R. – AC 0003278-81.2015.4.05.9999 – (584230/CE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 29.01.2016 – p. 83)

2001 – Aposentadoria por idade – rurícola – regime de economia familiar – comprova-ção – benefício devido

“Previdenciário. Aposentadoria rural por idade em regime de economia familiar. Boia- -fria. Requisitos legais. Comprovação. Súmula nº 149 do STJ. Consectários. Tutela espe-cífica. Satisfeitos os requisitos legais de idade mínima e prova do exercício de atividade rural por tempo igual ao número de meses correspondentes à carência, é devida a apo-sentadoria rural por idade. Considera-se provada a atividade rural do segurado especial havendo início de prova material complementado por idônea prova testemunhal. Em se tratando de trabalhador boia-fria, a aplicação da Súmula nº 149 do STJ é feita com parcimônia em face das dificuldades probatórias inerentes à atividade dessa classe de segurado especial. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios devem ser equivalentes aos índices de juros aplicáveis à caderneta de poupança (STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª S., Rel. Min. Castro Meira, 26.06.2013). No que tange à correção monetária, permanece a aplicação da TR, como estabelecido naquela lei, e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudência. Tramitando a ação na Justiça Estadual do Paraná, deve o INSS responder integralmente pelo pagamento das custas processuais (Súmula nº 20 do TRF4). O cumprimento imediato da tutela especí-fica independe de requerimento expresso do segurado ou beneficiário, e o seu deferi-mento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos fundados no art. 461 do CPC/1973, bem como nos arts. 497, 536 e parágrafos e 537 do CPC/2015. A determi-

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nação de implantação imediata do benefício, com fundamento nos artigos supracitados, não configura violação dos arts. 128 e 475-O, I, do CPC e 37 da Constituição Federal.” (TRF 4ª R. – AC 0024873-03.2014.4.04.9999/PR – 5ª T. – Rel. Juiz Fed. Luiz Antonio Bonat – DJe 25.04.2016 – p. 15)

2002 – Aposentadoria por idade – rurícola – trabalhador rural – requisitos legais – comprovação – pagamento devido

“Previdenciário. Aposentadoria rural por idade. Trabalhador rural. Requisitos legais. Comprovação. Início de prova material, complementada por prova testemunhal. 1. É devido o benefício de aposentadoria rural por idade, nos termos dos arts. 11, VII, 48, § 1º e 142, da Lei nº 8.213/1991, independentemente do recolhimento de contribuições quando comprovado o implemento da idade mínima (sessenta anos para o homem e cinquenta e cinco anos para a mulher) e o exercício de atividade rural por tempo igual ao número de meses correspondentes à carência exigida, mediante início de prova ma-terial complementada por prova testemunhal idônea. 2. Hipótese em que a parte auto-ra preencheu os requisitos necessários à concessão do benefício.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0011593-28.2015.4.04.9999/PR – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Afonso Brum Vaz – DJe 25.04.2016 – p. 182)

2003 – Aposentadoria por idade rural – início razoável de prova material corroborada por testemunha – valoração – pagamento devido

“Previdenciário. Aposentadoria por idade rural. Início razoável de prova material cor-roborada por prova testemunhal. Cumprimento dos requisitos. Direito ao benefício. Correção monetária e juros de mora. Aplicação da Lei nº 11.960/2009. 1. A aposen-tadoria por idade do trabalhador rural é regulada nos arts. 48, §§ 1º e 2º e 143 da Lei nº 8.213/1991, sendo devida àquele que completar 60 (sessenta) anos, se homem, ou 55 (cinquenta e cinco), se mulher, devendo comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requeri-mento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspon-dente à carência do benefício pretendido. 2. No caso dos autos, a parte autora compro-vou ter completado a idade necessária, bem como o período de carência exigido pela lei, demonstrando, pelo início de prova material, corroborada pela prova testemunhal, o exercício de atividade rural por tempo suficiente à concessão do benefício. 3. Até a data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês, ao passo que a correção monetária deve ser calculada de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal. Após a entra-da em vigor da Lei nº 11.960/2009, passam a incidir o índice oficial de remuneração básica e os juros aplicados à caderneta de poupança, conforme dispõe o seu art. 5º. 4. Aplicação do Enunciado nº 56 da Súmula deste Tribunal, que dispõe: ‘É inconstitu-cional a expressão ‘haverá incidência uma única vez’, constante do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dado pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009. 5. Parcial provi-mento da apelação, nos termos do voto.” (TRF 2ª R. – AC 2012.02.01.017265-6 – 2ª T.Esp. – Relª Simone Schreiber – DJe 18.04.2016 – p. 461)

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2004 – Aposentadoria por idade rural – prova material – ausência – pagamento indevido

“Direito previdenciário. Recurso especial representativo da controvérsia. Art. 543-C do CPC. Resolução nº 8/STJ. Aposentadoria por idade rural. Ausência de prova material apta a comprovar o exercício da atividade rural. Carência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo. Extinção do feito sem julgamento do mérito, de modo que a ação pode ser reproposta, dispondo a parte dos elementos necessários para comprovar o seu direito. Recurso especial do INSS desprovido. 1. Tradicionalmente, o Direito Previdenciário se vale da processualística civil para regular os seus procedimen-tos, entretanto, não se deve perder de vista as peculiaridades das demandas previdenciá-rias, que justificam a flexibilização da rígida metodologia civilista, levando-se em conta os cânones constitucionais atinentes à Seguridade Social, que tem como base o contexto social adverso em que se inserem os que buscam judicialmente os benefícios previden-ciários. 2. As normas previdenciárias devem ser interpretadas de modo a favorecer os valores morais da Constituição Federal/1988, que prima pela proteção do Trabalhador Segurado da Previdência Social, motivo pelo qual os pleitos previdenciários devem ser julgados no sentido de amparar a parte hipossuficiente e que, por esse motivo, possui proteção legal que lhe garante a flexibilização dos rígidos institutos processuais. Assim, deve-se procurar encontrar na hermenêutica previdenciária a solução que mais se apro-xime do caráter social da Carta Magna, a fim de que as normas processuais não venham a obstar a concretude do direito fundamental à prestação previdenciária a que faz jus o segurado. 3. Assim como ocorre no Direito Sancionador, em que se afastam as regras da processualística civil em razão do especial garantismo conferido por suas normas ao indivíduo, deve-se dar prioridade ao princípio da busca da verdade real, diante do inte-resse social que envolve essas demandas. 4. A concessão de benefício devido ao traba-lhador rural configura direito subjetivo individual garantido constitucionalmente, tendo a CF/1988 dado primazia à função social do RGPS ao erigir como direito fundamental de segunda geração o acesso à Previdência do Regime Geral; sendo certo que o trabalhador rural, durante o período de transição, encontra-se constitucionalmente dispensado do recolhimento das contribuições, visando à universalidade da cobertura previdenciária e a inclusão de contingentes desassistidos por meio de distribuição de renda pela via da assistência social. 5. A ausência de conteúdo probatório eficaz a instruir a inicial, con-forme determina o art. 283 do CPC, implica a carência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo, impondo a sua extinção sem o julgamento do mérito (art. 267, IV do CPC) e a consequente possibilidade de o autor intentar novamente a ação (art. 268 do CPC), caso reúna os elementos necessários a tal iniciativa. 6. Recurso Especial do INSS desprovido.” (STJ – REsp 1.352.721 – (2012/0234217-1) – C.Esp. – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho – DJe 28.04.2016 – p. 478)

2005 – Aposentadoria por invalidez – perícia médica – incapacidade comprovada – benefício devido

“Previdenciário. Aposentadoria por invalidez. Consectários da condenação. Termo ini-cial do benefício. Correção monetária e juros de mora. 1. Termo inicial do benefício mantido na data fixada na r. sentença, pois o conjunto probatório carreado aos autos

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não indica que o indeferimento do pedido administrativo foi indevido, considerando as conclusões do perito médico sobre o início da incapacidade. 2. O julgamento das ADIs 4357 e 4.425, tendo por objeto a declaração de inconstitucionalidade por arras-tamento o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, limitou-se apenas à parte em que o texto legal estava vinculado ao art. 100, § 12, da CF, incluído pela EC 62/2009, o qual se refere tão somente à atualização de valores de requisitórios. 2. Atualização monetária das conde-nações impostas à Fazenda Pública até a expedição do requisitório, cujo art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009, ainda não foi objeto de pro-nunciamento expresso pelo colendo Supremo Tribunal Federal, quanto à sua constitu-cionalidade, de sorte que continua em pleno vigor. 3. Impõe-se determinar a adoção dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, nos moldes do art. 5º da Lei nº 11.960/2009, a partir de sua vigência (30.06.2009). 4. Apela-ção da parte autora desprovida e apelação do INSS provida.” (TRF 3ª R. – AC 0002642-82.2014.4.03.6127/SP – 10ª T. – Relª Desª Fed. Lucia Ursaia – DJe 27.04.2016 – p. 951)

2006 – Aposentadoria por tempo de contribuição – reconhecimento – pagamento devido

“Previdenciário. Concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Reconheci-mento de período pela autarquia previdenciária. Remessa necessária. I – O juízo a quo, com base nos documentos juntados pelas partes e com o reconhecimento pela autarquia do tempo total de 30 anos de contribuição, verificou que a autora faz jus ao benefício de aposentadoria. II – Tendo sido a última contribuição, referente à competência de outu-bro de 2008, adimplida em 17 de novembro daquele ano, a data de início do benefício deve ser retificada para 18.11.2008, dia seguinte àquele em que a segurada cumpriu todos os requisitos para a concessão do benefício. III – Remessa necessária parcialmente provida.” (TRF 2ª R. – REO-ACív. 2009.51.02.002804-1 – 2ª T.Esp. – Rel. Des. André Fontes – DJe 19.04.2016 – p. 566)

2007 – Aposentadoria por tempo de contribuição – rurícola – início de prova material – documento mais antigo – termo inicial

“Processual civil. Previdenciário. Ação rescisória. Aposentadoria por tempo de contri-buição. Preliminares rejeitadas. Início de prova material. Documento mais antigo. Marco inicial da contagem do tempo rural. Recurso especial representativo de controvérsia (REsp 1348633/SP). Possibilidade dos depoimentos testemunhais abarcarem período pretérito. Prolação da decisão rescindenda anterior ao acórdão paradigmático. Existên-cia de controvérsia à época da prolação da decisão rescindenda. Incidência da Súmula nº 343 do STF. Erro de fato. Inocorrência. Justiça gratuita. I – As preliminares de carência de ação e de incidência da Súmula nº 343 do e. STF arguidas pelo réu confundem-se com o mérito e, com este, serão apreciadas. II – A possibilidade de se eleger mais de uma interpretação à norma regente, em que uma das vias eleitas viabiliza o devido enquadra-mento dos fatos à hipótese legal descrita, desautoriza a propositura da ação rescisória. Tal situação se configura quando há interpretação controvertida nos tribunais acerca da norma tida como violada. Súmula nº 343 do E. STF. III – A r. decisão rescindenda enten-

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deu não existir início de prova material da alegada atividade rurícola do autor relativa-mente ao período de 01.01.1961 a 31.12.1970, tendo considerado como marco inicial da contagem do trabalho rural o documento mais antigo trazido como início de prova material, consistente na certidão de casamento, celebrado em 13.02.1971, em que o ora demandante ostenta a profissão de lavrador. IV – É consabido que o e. STJ, em sede de julgamento de recurso especial repetitivo representativo de controvérsia, firmou o enten-dimento no sentido de que os depoimentos testemunhais podem corroborar o alegado labor rural, mesmo em período anterior ao do documento reputado como início de prova material (STJ, REsp 1348633/SP, 1ª S., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, J. 28.08.2013, DJe 05.12.2014). V – Por ocasião da prolação da r. decisão rescindenda (03.12.2012), em momento anterior ao julgamento do recurso especial repetitivo acima mencionado (28.08.2013), a interpretação então adotada acerca do sentido e alcance do art. 55 da Lei nº 8.213/1991 era considerada plausível, na medida em que reconhecia como início de prova material do labor rural o documento contemporâneo com os fatos que se pretende comprovar, não se admitindo o abarcamento de períodos pretéritos. VI – Incabível falar--se em violação ao art. 400 do CPC/1973, posto que o art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/1991, norma regente do caso em tela, exige a apresentação de início de prova material do labor rural, não sendo suficiente para tal comprovação a prova exclusivamente testemunhal. VII – À época da prolação da r. decisão rescindenda, remanescia a controvérsia sobre o tema em debate, a ensejar o óbice da Súmula nº 343 do E. STF, a inviabilizar a abertu-ra da via rescisória com fundamento no inciso V do art. 485 do CPC/1973. VIII – Para que para que ocorra a rescisão respaldada no inciso IX do art. 485 do CPC/1973 deve ser demonstrada a conjugação dos seguintes fatores, a saber: a) o erro de fato deve ser determinante para a sentença; b) sobre o erro de fato suscitado não pode ter havido controvérsia entre as partes; c) sobre o erro de fato não pode ter havido pronunciamento judicial, d) o erro de fato deve ser apurável mediante simples exame das peças do pro-cesso originário. IX – A r. decisão rescindenda apreciou o conjunto probatório em sua inteireza, sopesando as provas constantes dos autos, segundo o princípio da livre con-vicção motivada. X – Não obstante a r. decisão rescindenda não tenha feito menção ao Certificado de Dispensa de Incorporação, datado de 10.07.1970, cabe ponderar que não há qualquer anotação para designação da profissão do ora autor. Assim, mesmo que tal documento fosse considerado pelo r. Juízo a quo, a conclusão da r. decisão rescindenda continuaria inabalável. XI – Não se admitiu um fato inexistente ou se considerou inexis-tente um fato efetivamente ocorrido, pois foram considerados os documentos pertinentes ao tema, bem como os depoimentos testemunhais, havendo pronunciamento judicial explícito sobre o tema. XII – Em face de o autor ser beneficiário da Justiça Gratuita, não há condenação em ônus de sucumbência. XIII– Preliminares rejeitadas. Ação rescisória cujo pedido se julga improcedente.” (TRF 3ª R. – AR 0002158-81.2015.4.03.0000/SP – 3ª S. – Rel. Des. Fed. Sergio Nascimento – DJe 28.04.2016 – p. 291)

2008 – Auxílio-acidente – ausência de incapacidade laborativa – requisito não preen-chido – pagamento indevido

“Previdenciário. Agravo regimental contra decisão que negou provimento ao agravo em recurso especial. Auxílio-acidente. Art. 86 da Lei nº 8.213/1991. Não reconhecimen-

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to pelas instâncias ordinárias da incapacidade laborativa. Requisitos para a concessão do benefício não preenchidos. Verba honorária fixada em valor razoável (R$ 1.500,00) em face da inexistência de diferenças pecuniárias resultantes da conversão do auxílio--doença em acidentário. Causa de valor inestimável. Impossibilidade de revisão. Agravo regimental desprovido. 1. O auxílio-acidente é concedido, nos termos do art. 86 da Lei nº 8.213/1991, ao segurado, que, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. 2. No caso dos autos, as instâncias ordinárias, com base no acervo fático-probatório, julgaram parcialmente procedentes os pedidos do Au-tor para determinar a conversão dos auxílios-doença em seus similares acidentários, mas negaram o pedido de concessão de auxílio-acidente por entender que a amputação do 5º dedo da mão esquerda não torna o autor incapaz para suas funções habituais, ainda mais sendo indivíduo destro. 3. Assim, ausentes os requisitos legais para a concessão do benefício, impossível acolher a pretensão autoral, uma vez que o auxílio-acidente visa a indenizar e compensar o segurado que não possui plena capacidade de trabalho em razão do acidente sofrido, não bastando, portanto, apenas a comprovação de um dano à saúde do segurado, quando o comprometimento da sua capacidade laborativa não se mostre configurado ou quando não há qualquer relação com sua atividade laboral. 4. A hipótese dos autos não comporta a exceção que admite a revisão da verba sucumben-cial, uma vez que foram sopesadas as circunstâncias necessárias e arbitrado o quantum (R$ 1.500,00) que se mostra razoável à remuneração adequada da atividade advocatícia desenvolvida. 5. Honorários advocatícios fixados na sentença e mantidos pela Corte de origem em R$ 1.500,00, em razão de a causa ter valor inestimável, tendo em vista a ausência de prestação vencidas a serem pagas e a inexistência de diferenças pecuniárias com a conversão do auxílio-doença em acidentário, tendo em vista que, com o advento da Lei nº 9.032/1995, os benefícios passaram a ter o mesmo valor. 6. Agravo Regimen-tal desprovido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 273.026 – (2012/0268112-2) – 1ª T. – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho – DJe 29.04.2016 – p. 71)

2009 – Auxílio-doença – conversão em aposentadoria por invalidez – comprovação da qualidade de segurada especial – pagamento devido

“Previdenciário. Segurada especial. Lei nº 8.213/1991. Auxílio-doença. Conversão em aposentadoria por invalidez. Comprovação da qualidade de segurada especial e do cum-primento da carência exigida. Postulante portadora de epilepsia e transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos (CID10: G40 e F33.2). Perícia médica judicial atestou incapacidade laborativa permanente. Concessão do auxílio- doença e sua conversão em aposentadoria por invalidez. Mantida a data da postulação administrativa como marco inicial da condenação. Apelação improvida. 1. O auxílio--doença é um benefício de natureza temporária, concedido para amparar o segurado que, cumprida a carência prevista no art. 25, inc. I, da Lei nº 8.213/1991, for tido como incapaz para o trabalho, enquanto durar a incapacidade, nos termos do art. 59 do mes-mo diploma legal e, se for considerado insusceptível de reabilitação para o exercício de labor que lhe garanta a subsistência, faz jus à concessão de aposentadoria por invalidez, nos termos do disposto no art. 42 da Lei nº 8.213/1991. 2. A promovente trouxe aos

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autos início de prova material do alegado exercício do labor rural, consubstanciado nos fatos de que se casou com um agricultor, cuja profissão faz presumir idêntica ocupação para a esposa (REsp 267.355/MS, DJ 20.11.2000, p. 312, Rel. Min. Jorge Scartezzini, 5ª T., decisão unânime) e de que reside na zona rural, assim como considerando a con-clusão da entrevista realizada pelo instituto réu, no sentido de que ‘a requerente demons-trou convicção quanto ao exercício da atividade rural’ e a prova testemunhal, produzida com as cautelas legais, mediante depoimento coerente e sem contradita, demonstrando conhecimento das circunstâncias dos fatos que alicerçam o direito aqui pretendido, resta comprovada a condição de segurada especial da postulante, bem como haver cumprido o período de carência. 3. A perícia médica judicial atestou que a paciente é portadora de epilepsia e de transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicó-ticos (CID10: G40 e F33.2), que a incapacita permanentemente para o desenvolvimento de suas atividades habituais, de modo a fazer jus à concessão do benefício de auxílio--doença e à sua conversão em aposentadoria por invalidez, nos termos estabelecidos na douta sentença. 4. No tocante ao marco inicial da condenação, o expert que realizou a pericia judicial, em 09.12.2014, constatou que a pericianda faz tratamento psiquiátrico e usa psicofármacos, há oito ou nove anos, de forma que à data da postulação adminis-trativa (19.04.2013), a promovente já apresentava incapacidade laborativa, de modo a fazer jus ao benefício de auxílio-doença desde então, impondo-se a manutenção da data de início do benefício (DIB) estabelecida no juízo de primeiro grau. 5. Apelação improvi-da.” (TRF 5ª R. – AC 0004213-24.2015.4.05.9999 – (585946/SE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 25.02.2016 – p. 213)

2010 – Auxílio-doença – funcionário da prefeitura – regime próprio – contrato de pres-tação de serviço – contribuinte individual – inexistência de recolhimento de contribuições – qualidade de segurado não comprovada – benefício indevido

“Previdenciário. Auxílio-doença. Funcionário de prefeitura. Regime próprio. Contrato de prestação de serviço. Contribuinte individual. Inexistência de recolhimento de contribui-ções. Qualidade de segurado não comprovada. Não concessão do benefício. Apelação improvida. 1. O auxílio-doença, nos termos do art. 59 da Lei nº 8.213/1991, é um bene-fício, de natureza temporária, concedido para amparar o segurado que, cumprida a ca-rência exigida, for considerado incapaz para o trabalho, enquanto durar a incapacidade. 2. Na hipótese dos autos, não logrou o postulante demonstrar a sua condição de segu-rado, visto que manteve vínculo empregatício com a Prefeitura Municipal de Junqueiro, no período de 01.02.1990 a 20.12.2006, em conformidade com a Certidão lavrada pelo Diretor do Setor Pessoal da entidade, e, portanto, filiado ao RPPS, instituído e mantido pela própria municipalidade, consoante disposição dos arts. 4º e 149, § 1º da Lei Maior. 3. Igualmente, acostou contratos de prestação de serviços, celebrados com a mesmo ente público, por intervalos de seis meses, de 03.01.2005 a 30.06.2005 e de 01.07.2005 a 31.12.2005, desta feita na condição de contribuinte individual, sem apresentar qualquer prova do recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias, de forma que, de um modo ou do outro, não logrou o postulante comprovar a sua qualidade de segurado, não havendo como lhe ser deferido o benefício previdenciário pleiteado. 4. Logo, não configurada a condição de segurado do apelante, torna-se inócua a discussão acerca da

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sua alegada incapacidade laborativa, consoante registrou a magistrada. 5. Por conse-guinte, não configurada a filiação do promovente ao RGPS, não há como lhe reconhecer o direito à concessão do benefício de auxílio-doença pleiteado. Precedente. 6. Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – AC 0000400-52.2016.4.05.9999 – (587193/AL) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 14.04.2016 – p. 246)

2011 – Auxílio-doença – incapacidade laborativa – laudo pericial – termo inicial

“Previdenciário. Apelação do INSS. Auxílio-doença. Incapacidade laborativa. Laudo pe-ricial. Termo inicial para pagamento a partir do requerimento administrativo. Isenção de taxa judiciária. Honorários advocatícios. Apelação do INSS em face da sentença que condenou o INSS ao restabelecimento do pagamento do benefício de auxílio-doença. Restou claro que existe incapacidade laborativa por parte do segurado e que, de acordo com laudo pericial produzido em juízo, o benefício é devido desde a data do requeri-mento administrativo, uma vez que este afirma estar o autor incapaz desde 2007, sendo certo que deve prevalecer o laudo elaborado pelo perito em juízo, por ter sido elaborado por profissional sem nenhuma vinculação com as partes. Procede o pedido da autarquia previdenciária com o fito de, reformando-se a r. sentença, excluir o INSS da condenação no pagamento de taxa judiciária. Quanto aos honorários, estes são devidos, não havendo que se falar no instituto da confusão, previsto no art. 381 do Código Civil, haja vista que o devedor – o INSS – é Autarquia Federal e a Defensoria Pública é órgão integrante do Estado do Rio de Janeiro.” (TRF 2ª R. – AC 0021809-05.2015.4.02.9999 – 1ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Paulo Espírito Santo – DJe 29.04.2016 – p. 204)

2012 – Auxílio-doença – laudo pericial conclusivo – pagamento devido

“Previdenciário. Auxílio-doença. Laudo pericial conclusivo. Capacidade laboral existen-te. Incapacidade não atestada pela perícia judicial. Apelação da parte autora desprovida. Sentença mantida. 1. O auxílio-doença funda-se no art. 59 da Lei nº 8.213/1991, que garante o benefício ao segurado que esteja incapacitado para o trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos, cumprido o período de carência respectivo, equivalente a doze contribuições mensais. Por sua vez, para a con-cessão de aposentadoria por invalidez exige-se que o segurado esteja incapacitado total e permanentemente para o exercício de atividade que lhe assegure a subsistência, sem possibilidade de reabilitação (art. 42 da Lei nº 8.213/1991). 2. Tendo a perícia judicial (fls. 98/104) sido conclusiva acerca da inexistência de incapacidade laborativa, mostra--se indevido o restabelecimento do benefício de auxílio-doença e, por consequência, a concessão de aposentadoria por invalidez. Atesta o perito que a apelante está apta a desenvolver suas atividades laborativas, pois o conjunto de patologias constatadas – dia-betes associada à cefaléia e dor na coluna lombar – não constituem causa de incapaci-dade laboral, podendo ser controladas mediante tratamento medicamentoso e alimentar. 3. Apelação a que se nega provimento. Sentença que se mantém por seus próprios fun-damentos.” (TRF 1ª R. – AC 0000637-15.2007.4.01.3306 – Rel. Juiz Fed. Valter Leonel Coelho Seixas – DJe 26.02.2016 – p. 485)

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2013 – Auxílio-doença acidentário – restabelecimento – data da cessação administrati-va – hipótese de cabimento

“Direito previdenciário. Reexame necessário. Ação acidentária. Auxílio-doença aci-dentário. Legalidade. Restabelecimento de benefício. Data da cessação administrativa. 1. Para que haja a concessão de benefício acidentário devem estar comprovados a existência da lesão e o nexo de causalidade da enfermidade com a atividade laboral. 2. Diante da concessão do benefício previdenciário, o pagamento das parcelas vencidas e não quitadas deve sofrer a incidência de correção monetária, desde o vencimento, e juros moratórios legais desde a citação, abatendo-se eventuais valores já pagos no decorrer do processo. 3. Se está claro na petição inicial que o pedido do autor se refere ao restabelecimento do benefício, desde a data em que foi cessado administrativamente o pagamento, a menção à data diversa no texto do pedido é mero equivoco, devendo ser desconsiderada para efeito do julgamento. 4. Tratando-se de restabelecimento do auxílio-doença, que era pago pelo INSS e foi indevidamente cessado, pressupõe-se a continuidade da lesão incapacitante do beneficiário, que já havia sido reconhecida ad-ministrativamente pelo próprio réu. Assim, a data inicial para que o pagamento seja res-tabelecido é aquela em que houve a cessação do benefício e não a da juntada do laudo judicial aos autos. 5. Reexame necessário e apelação cível conhecidos e improvidos.” (TJDFT – Proc. 20150110370842APO – (936022) – 3ª T.Cív. – Relª Desª Ana Cantarino – DJe 28.04.2016 – p. 214)

2014 – Benefício assistencial – caráter personalíssimo – óbito da parte autora – paga-mento dos atrasados aos sucessores – hipótese de cabimento

“Assistencial e processual civil. Loas deficiente. Óbito da parte autora. Direito dos su-cessores às parcelas atrasadas. Extinção do processo. Error in procedendo. Conjunto probatório. Ausência de prova de deficiência no período controverso. 1. Não obstante o caráter personalíssimo do benefício em apreço, que impede sua transferência a tercei-ros, há que se reconhecer a possibilidade de pagamento dos atrasados aos sucessores do demandante falecido no curso do processo. Precedentes deste TRF: AC 0015129-06.2015.4.01.9199/MG, Relª Desª Fed. Gilda Sigmaringa Seixas, 1ª T., e-DJF1 p. 2401 de 12.06.2015. 2. Nesse contexto, incorreta a sentença que extinguiu o processo sem julgamento do mérito, por ser o benefício de Loas personalíssimo e intransmissível. 3. No caso, estão em discussão as parcelas referentes ao período de 02.08.2003, dia imediatamente posterior à cessação do Loas, e 24.04.2005, dia imediatamente anterior ao início do pagamento do benefício de auxílio-doença. Alega a parte autora que a de-ficiência esteve presente nesse período. 4. Inobstante o monossilábico laudo pericial de fl. 43, realizado em dezembro de 2005, tenha constatado deficiência, em decorrência de Sida (Aids), sem fixada a data de início (DII), o caso é de improcedência. Primeiro, porque como consta da inicial, o Loas cessado foi concedido em razão de doença men-tal. Segundo, porque o CNIS comprova que de 01.01.2004 até a data da concessão do auxílio-doença (24.04.2005) houve exercício de atividade remunerada, como contri-buinte individual, para pessoa jurídica. Nesse contexto, não se pode falar em deficiência no período controverso, a justificar a concessão do benefício e, em consequência, o pagamento de parcelas vencidas aos sucessores. 5. Apelação improvida.” (TRF 1ª R. – AC 0051695-90.2011.4.01.9199/MG – Rel. Juiz Fed. Ivanir César Ireno Júnior – DJe 28.04.2016 – p. 2261)

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2015 – Benefício assistencial – idoso – renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo – requisito não preenchido – pagamento indevido

“Assistencial e processual civil. Loas deficiente. Mandado de segurança. Prova pré--constituída. Adequação da via eleita. Deficiência incontroversa. Requisito econômico. Exclusão do benefício previdenciário no valor de 01 SM percebido por idoso do grupo familiar. Renda per capita inferior a ¼ do SM. Necessidade comprovada. Nulidade do ato de cessação. Restabelecimento devido. 1. O mandado de segurança é meio jurí-dico hábil à veiculação de demandas previdenciárias, desde que a prova documental pré-constituída seja suficiente para dirimir a lide, o que ocorre no presente caso. 2. O Loas deficiente, concedido em 18.08.1999, foi cessado em processo de revisão, na data 01.11.2005, em razão da renda per capita do grupo familiar ser igual a ¼ do SM. Se-gundo o INSS, o grupo familiar, então com 03 integrantes e sem renda, passou a contar com a mãe da impetrante, idosa de 77 anos, com renda de 01 SM, fruto de pensão por morte (fls. 52/53 e 56). A deficiência é fato incontroverso. 3. Conforme decidido pelo STF no RE 580963, em 18.04.2013, em interpretação construtiva do disposto no parágrafo único do art. 34 da Lei nº 10.741/2004, a renda da avó idosa, no valor de 01 SM, ainda que de natureza previdenciária, não integra a renda do grupo familiar para fins de Loas. Precedentes da jurisprudência. 4. Nesse contexto, a renda permanece inferior a ¼ do SM, autorizando a manutenção do benefício, motivo pelo qual é nulo o ato de cessação. Correto o restabelecimento do benefício. 5. Apelação e remessa necessária improvidas.” (TRF 1ª R. – AC 2005.38.03.008659-4/MG – Rel. Juiz Fed. Ivanir César Ireno Júnior – DJe 28.04.2016 – p. 2218)

2016 – Benefício assistencial – menor – portador de epilepsia – retardo mental leve – incapacidade para o trabalho – não comprovação – pagamento indevido

“Previdenciário. Processo civil. Amparo social. Menor. Epilepsia. Retardo mental leve. Incapacidade para o trabalho. Capacidade para os atos da vida independente. Peculiari-dades decorrentes da menoridade do postulante. Não preenchimento dos requisitos. Pro-vimento do apelo. Improcedência do pedido. 1. Porque os menores já são, em face da própria idade, incapazes para o trabalho, a concessão de amparo social somente pode decorrer de necessidades especiais, tal como a incapacidade para a vida independente. 2. Se a mera incapacidade para o trabalho ensejasse o deferimento do benefício este seria devido a todo recém-nascido e até que completasse a idade laboral. 3. No caso, a própria perícia judicial concluiu que a natureza da doença sofrida pelo requerente (epilepsia e retardo mental leve) não enseja incapacidade para os atos rotineiros. 4. A incapacidade para o trabalho produz diferentes efeitos em função da idade do incapaz. Assim o benefício deve ser deferido ao maior, de quem se espera prover os meios para a própria subsistência. O mesmo não se pode dizer dos menores, posto que estes, ainda que capazes não podem trabalhar e não têm o ônus de prover a própria subsistência. 5. Apelação e remessa oficial providas, para julgar improcedente o pedido.” (TRF 5ª R. – AC 0000545-11.2016.4.05.9999 – (587485/SE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Roberto de Oliveira Lima – DJe 26.04.2016 – p. 19)

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2017 – Benefício previdenciário – cumulação com danos morais – valor da causa – re-tificação de ofício pelo juízo a quo – possibilidade

“Processo civil. Previdenciário. Agravo de instrumento interposto sob a égide do Código de Processo Civil de 1973. Direito intertemporal. Concessão de benefício previdenciário cumulado com danos morais. Valor da causa. Retificação de ofício pelo juízo a quo. Possibilidade. Agravo improvido. 1. De início, impõe-se observar que, publicada a r. decisão recorrida e interposto o presente agravo em data anterior a 18.03.2015, a partir de quando se torna eficaz o Novo Código de Processo Civil, consoante as conhecidas orientações a respeito do tema adotadas pelos C. Conselho Nacional de Justiça e Supe-rior Tribunal de Justiça, as regras de interposição do presente Agravo a serem observadas em sua apreciação são aquelas próprias ao CPC/1973. Inteligência do art. 14 do NCPC. 2. Em se tratando de ação onde se cumula o ressarcimento de danos morais e concessão/revisão de benefício previdenciário, o valor àquela atribuído deve observar o disposto no art. 259, inciso II, do Código de Processo Civil, somando-se um e outro, se devidamente mensurados cada qual, quanto ao conteúdo econômico pretendido, na petição inicial, conforme orientação do Egrégio Superior Tribunal de Justiça (REsp 178243, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, J. 16.12.2004, DJU 11.04.2005, p. 305). 3. In casu, foi atribuído à causa o valor de R$ 61.684,44, sendo R$ 20.341,44 (principal) e R$ 41.343,00 (danos morais). Assim, o valor atribuído a título de danos morais – R$ 41.343,00 – se revela não compatível com o valor dos danos materiais – R$ 20.341,44, mesmo considerando que o parâmetro para eventual condenação não seja apenas o valor das 12 parcelas vincendas do benefício pleiteado, mas também as diferenças resultantes de parcelas vencidas, bem como as resultantes da incidência de correção monetária e juros legais. 4. Não obs-tante a cumulação de pedidos seja cabível considerando que o valor almejado a título de danos morais – R$ 41.343,00 ultrapassa o dobro do valor econômico pretendido – R$ 20.341,44 – o mesmo deve ser fixado em, no máximo, R$ 20.341,44 e, desta forma, ter-se-á o valor da causa no importe de R$ 40.682,88, sendo 20.341,44 principal + da-nos morais R$ 20.341,44, ou seja, valor inferior a 60 (sessenta) salários mínimos (art. 3º, caput, da Lei nº 10.259/2001), vigente na época do ajuizamento da ação. 5. Agravo de instrumento improvido.” (TRF 3ª R. – AI 0003343-23.2016.4.03.0000/SP – 10ª T. – Relª Desª Fed. Lucia Ursaia – DJe 27.04.2016 – p. 889)

2018 – Beneficiário previdenciário – pensão por morte – limite de idade – observação

“Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Processual civil. Ausência de impugnação específica dos fundamentos da decisão agravada. Inviabilidade. Previden-ciário. Beneficiário de pensão por morte. Limite de idade. Ausência de ofensa cons-titucional direta. Agravo regimental ao qual se nega provimento.” (STF – AgRg-RE-Ag 916.351 – Bahia – 2ª T. – Relª Min. Cármen Lúcia – J. 15.03.2016)

Comentário Editorial SÍNTESENo v. acórdão discutiu-se o limite de idade de pagamento do benefício de pensão por morte.

Segundo o art. 74 da Lei nº 8.213/1991, a pensão por morte é um benefício pago aos dependentes do segurado do INSS que vier a falecer ou, em caso de desapare-cimento, tiver sua morte presumida declarada judicialmente.

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Importante transcrevermos o seguinte dispositivo:

“Art. 77. A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos em partes iguais. (Redação dada ao caput pela Lei nº 9.032 de 28.04.2015, DOU 29.04.1995)

§ 1º Reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito à pensão ces-sar. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.032 de 28.04.1995, DOU de 29.04.1995)

§ 2º O direito à percepção de cada cota individual cessará: (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 17.06.2015, DOU de 18.06.2015, com efeitos a partir de 180 (cento e oitenta) dias a partir de sua publicação, quanto à inclusão de pessoas com deficiência grave entre os dependentes dos segurados do Regime Geral de Previ-dência Social (RGPS) e do Regime Próprio e Previdência Social (RPPS) previstos na Lei nº 8.112 de 1990)

I – pela morte do pensionista; (Inciso acrescentado pela Lei nº 9.032 de 28.04.1995, DOU de 29.04.1995)

II – para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de ambos os sexos, ao com-pletar vinte e um anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; (Redação dada ao inciso pela Lei nº 13.183, de 04.11.2015, DOU de 05.11.2015, com efeitos a partir de 03.01.2016)

III – para filho ou irmão inválido, pela cessação da invalidez; (Redação dada ao inciso pela Lei nº 13.135, de 17.06.2015, DOU de 18.06.2015, com efeitos a partir de 180 (cento e oitenta) dias a partir de sua publicação, quanto à inclusão de pessoas com deficiência grave entre os dependentes dos segurados do Regi-me Geral de Previdência Social (RGPS) e do Regime Próprio e Previdência Social (RPPS) previstos na Lei nº 8.112 de 1990)

IV – para filho ou irmão que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiên-cia grave, pelo afastamento da deficiência, nos termos do regulamento; (Redação dada ao inciso pela Lei nº 13.135, de 17.06.2015, DOU de 18.06.2015, com efeitos a partir de 180 (cento e oitenta) dias a partir de sua publicação, quanto à inclusão de pessoas com deficiência grave entre os dependentes dos segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e do Regime Próprio e Previdência Social (RPPS) previstos na Lei nº 8.112 de 1990)

V – para cônjuge ou companheiro:

a) se inválido ou com deficiência, pela cessação da invalidez ou pelo afastamen-to da deficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes da aplicação das alíneas b e c;

b) em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do óbito do segurado;

c) transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do beneficiário na data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou da união estável:

1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;

2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade;

3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade;

4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade;

5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade;

6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade. (Inciso acrescen-tado pela Lei nº 13.135, de 17.06.2015, DOU de 18.06.2015, com efeitos a

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partir de 180 (cento e oitenta) dias a partir de sua publicação, quanto à inclusão de pessoas com deficiência grave entre os dependentes dos segurados do Regi-me Geral de Previdência Social (RGPS) e do Regime Próprio e Previdência Social (RPPS) previstos na Lei nº 8.112 de 1990)

§ 2º-A. Serão aplicados, conforme o caso, a regra contida na alínea a ou os prazos previstos na alínea c, ambas do inciso V do § 2º, se o óbito do segurado decorrer de acidente de qualquer natureza ou de doença profissional ou do trabalho, indepen-dentemente do recolhimento de 18 (dezoito) contribuições mensais ou da compro-vação de 2 (dois) anos de casamento ou de união estável. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 13.135, de 17.06.2015, DOU de 18.06.2015, com efeitos a partir de 180 (cento e oitenta) dias a partir de sua publicação, quanto à inclusão de pes-soas com deficiência grave entre os dependentes dos segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e do Regime Próprio e Previdência Social (RPPS) previstos na Lei nº 8.112 de 1990)

§ 2º-B. Após o transcurso de pelo menos 3 (três) anos e desde que nesse período se verifique o incremento mínimo de um ano inteiro na média nacional única, para ambos os sexos, correspondente à expectativa de sobrevida da população brasilei-ra ao nascer, poderão ser fixadas, em números inteiros, novas idades para os fins previstos na alínea c do inciso V do § 2º, em ato do Ministro de Estado da Previ-dência Social, limitado o acréscimo na comparação com as idades anteriores ao referido incremento. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 13.135, de 17.06.2015, DOU de 18.06.2015, com efeitos a partir de 180 (cento e oitenta) dias a partir de sua publicação, quanto à inclusão de pessoas com deficiência grave entre os dependentes dos segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e do Regime Próprio e Previdência Social (RPPS) previstos na Lei nº 8.112 de 1990)

§ 3º Com a extinção da parte do último pensionista a pensão extinguir-se-á. (Pa-rágrafo acrescentado pela Lei nº 9.032, de 28.04.1995, DOU de 29.04.2015)

[...]”

Encontramos na lição da professora Erica Paula B. Correa o seguinte ensinamento:

“Perceba-se que a pensão por morte, que independia de carência, passou a tê-la prevista na Lei nº 8.213/1991, por intermédio da Lei nº 13.135/2015.

Referida disposição cria restrição não admitida constitucionalmente, na medida em que atenta contra cláusula pétrea referente a direito social, nos moldes do art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal.

Trata-se de disposição que tende à abolição do benefício, tendo em vista que, sem qualquer razão plausível (a não ser supostamente atuarial), fere flagrantemente o conceito constitucional de pensão.

Na forma do art. 201, IV, da Constituição Federal, esposa e companheira são de-pendentes presumidas, que sequer precisam demonstrar dependência (perceba-se da interpretação literal desta disposição, que se fala em pensão por morte a côn-juge e companheira ou dependente). Logo, ambos são casos de situação em que a pensão deverá se dar imediatamente, não havendo como impor limites temporais ao tempo de casamento ou de união estável, já que, se assim o faz, a disposição infraconstitucional atenta contra os termos literais da própria Constituição. Além disso, cria uma restrição ao casamento e seus efeitos legais, que conspira contra os próprios dispositivos da Carta Fundamental, no que se refere à proteção da família.

Portanto, nada obsta que a lei verse sobre pensão, mas não pode fazê-lo de forma a modificar ou dificultar o acesso ao benefício como previsto, de maneira literal, inclusive, no Texto Constitucional.

A disposição contida no art. 77, § 2º, inciso V, letra c, da Lei de Benefícios ante-riormente citada cria uma dependência presumida por número de anos ali indica-

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dos. Não é possível tal presunção, na medida em que a dependência é aquilatada no instante do falecimento e dura enquanto esta persistir (a própria jurisprudência, ao tratar de pretensão de se suspender o benefício pelo simples advento de ca-samento posterior, assentou que somente em melhora da condição financeira do pensionista seria possível a suspensão).

Desse modo, criou-se a presunção de que, após o número de anos ali indicado, a dependência teria deixado de existir, ferindo o Texto Constitucional, que não previu a pensão por morte em vista de uma contingência que se espraia durante um lapso certo de tempo. Tais presunções conspiram contra a natureza da contingência, que é certa e não submetida a um elemento aleatório, v.g., a dependência deixará de existir depois de um número de anos, anos estes determinados pela idade do(a) cônjuge ou companheiro(a) dependente.

A álea previdenciária restringe-se à ocorrência da contingência (haverá possibili-dade de doença, de morte enquanto segurado, de se ter filhos, etc.), não podendo atingir a contingência durante o seu percurso.

O sujeito contribui e não deve ser submetido na contingência a uma presunção, sob pena de não se ter concretizada a relação jurídico-previdenciária na forma constitucionalmente prevista.

A situação torna-se mais grave ainda em casos de segurados que muito contribuí-ram para o sistema e que serão tratados de forma semelhante àqueles que tenham simplesmente cumprido a carência legal, pois o que irá determinar a duração do benefício será a idade do cônjuge ou companheiro(a) supérstite.

[...]

Entre as diversas modificações na Lei nº 8.213/1991, introduzidas pela Lei nº 13.135/2015, no tocante à concessão do benefício de pensão por morte, a primeira novidade se dá por meio do dispositivo que estabelece a perda do be-nefício concedido ao dependente condenado pela morte do segurado, tal qual o Regime Próprio dos Servidores Públicos Federais, que já tem em seu bojo artigo semelhante.

Outra inovação da Lei nº 13.135/2015 encontra-se no art. 74, § 2º, do RGPS, ao prever o cancelamento da pensão por morte uma vez constatada judicialmente a simulação ou a fraude na união estável ou no casamento, com o fim específico de obtenção do benefício de pensão. Referida disposição traduz-se como inconstitu-cional na medida em que fere o princípio da igualdade, atenta contra a liberdade e a intimidade constitucionalmente asseguradas ao(a) segurado(a) e, consequen-temente, se esbarra na proteção constitucional da dignidade da pessoa humana.

A Lei nº 13.135/2015, ao instituir a carência na concessão do benefício de pensão por morte ao(à) cônjuge ou companheiro(a) (18 contribuições mensais), aliada à comprovação de casamento ou união estável de pelo menos 2 anos até a data do óbito, condicionando a duração do benefício à idade do(a) cônjuge supérstite, também fere o conceito constitucional de pensão.

Estamos, aqui, diante de mais um caso de economicização dos direito sociais, constitucionalmente assegurados e introduzidos pela CF/1988 pelo poder consti-tuinte originário. A discussão jurídica sobre as modificações (restritivas) na conces-são do benefício de pensão por morte recairá, mais uma vez, sobre o Poder Judi-ciário.” (A Nova Pensão por Morte Introduzida pela Lei nº 13.135/2015. Revista SÍNTESE Trabalhista e Previdenciária, ano XXVII, n. 322, abril 2016, p. 353.

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2019 – Benefício previdenciário – recebimento de parcelas por erro da administração pública – segurado de boa-fé – reposição ao Erário – descabimento

“Previdenciário. Renda mensal paga indevidamente. Boa-fé. Erro da administração. Ver-ba alimentar. Reposição ao Erário. Impossibilidade. Reserva de plenário. Não violação. Prescrição quinquenal. Correção monetária e juros de mora. Lei nº 11.960/2009. 1. O benefício de aposentadoria por idade da autora, como empregadora rural, foi calculado incorretamente (erro no lançamento dos salários de contribuição). O INSS, de ofício, promoveu a revisão e iniciou a cobrança dos valores percebidos indevidamente, me-diante desconto no beneficio da autora. A autora está a postular a cessação dos descon-tos e a devolução dos valores descontados. 2. Na hipótese, a concessão com renda men-sal inicial superior à devida ocorreu por falha da autarquia, sem qualquer ato de má-fé ou mesmo participação ativa da autora no evento. Nesse contexto de boa-fé por parte do segurado, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de dispensar a reposição ao Erário. 3. Adiantando possível discussão acerca da violação da cláusula de reserva de plenário, o próprio STF tem se pronunciado no sentido de que a decisão judicial que reconhece a impossibilidade de desconto de valores indevidamente recebidos pelo segurado não implica declaração de inconstitucionalidade do art. 115, II, da Lei nº 8.213/1991. 4. Na restituição devem ser observados: a) prescrição quinquenal, com restituição, somente, das parcelas descontadas dentro do quinquênio que antecedeu ao ajuizamento da ação; b) correção e juros de mora com observância da Lei nº 11.960/2009. 5. Os honorários fo-ram fixados em 10% do valor a ser restituído, com observância da legislação de regência e dos precedentes desta Câmara. Percentual mantido. 6. Apelação parcialmente provida. Sem remessa.” (TRF 1ª R. – AC 0062523-48.2011.4.01.9199/MG – Rel. Juiz Fed. Ivanir César Ireno Júnior – DJe 28.04.2016 – p. 2264)

2020 – Benefício previdenciário – revisão – decadência – observação

“Previdenciário. Juízo de retratação. Decadência do direito de revisão do ato de con-cessão do benefício. RE 626.489/SE. Direito adquirido ao melhor benefício. 1. A re-visão dos benefícios previdenciários concedidos antes da edição da MP 1.523-9, de 28.06.1997, está sujeita à decadência, devendo o prazo decenal ser computado a partir de 01.08.1997, à luz do próprio art. 103 da Lei nº 8.213/1991. RE 626.489/SE, REsp 1.326.114/SC. 2. Do julgamento do RE 626.489/SE restou assentado que a instituição de um limite temporal máximo destina-se à manutenção do equilíbrio atuarial do sistema previdenciário; assim, a decadência atinge a pretensão de discutir a graduação econô-mica do benefício já concedido, deixando incólume o direito ao benefício, que tem caráter fundamental. 3. Tendo em vista que as questões que envolvem a melhor forma de cálculo ou retroação da DIB compreendem a revisão do benefício, em sua graduação econômica, são afetadas pelo decurso do tempo, sujeitas à decadência. 4. Dirimida pelo Supremo Tribunal Federal a controvérsia acerca da aplicabilidade da decadência aos benefícios concedidos antes da vigência do instituto, em Juízo de retratação, é de se reconhecer a ocorrência da decadência do direito à revisão do benefício em apreço.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 2009.72.05.000634-2/SC – 5ª T. – Rel. Juiz Fed. Luiz Antonio Bonat – DJe 25.04.2016 – p. 151)

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2021 – Coisa julgada – relativização – efeitos

“Previdenciário. Processual civil. Coisa julgada. Relativização. Aposentadoria por in-validez. Requisitos. Qualidade de segurado. Incapacidade. Termo inicial do benefício. RMI fixada em um salário mínimo. Disposição extra petita. Compensação de valores adiantados. Consectários legais. Honorários advocatícios. 1. Em se tratando de benefí-cios previdenciários, há necessidade de relativização, sob a ótica do caso concreto, do instituto da coisa julgada diante de outros princípios tão importantes quanto a segurança jurídica. In casu, reconhece-se a existência da coisa julgada apenas com relação ao pe-ríodo anterior ao trânsito em julgado da decisão proferida em processo anterior. 2. São três os requisitos para a concessão dos benefícios por incapacidade: a) a qualidade de segurado; b) o cumprimento do período de carência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter permanente (aposentadoria por invalidez) ou temporária (auxílio-doença). 3. A concessão dos benefícios de auxílio-doença e apo-sentadoria por invalidez pressupõe a averiguação da incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência do segurado, e terá vigência enquanto permanecer ele nessa condição. 4. No caso dos autos, o laudo pericial indicou que a parte autora não apresenta condições de exercer atividade profissional que lhe garanta o auto-sustento, razão pela qual é devida a concessão de aposentadoria por invalidez. 5. Termo inicial do benefício fixado no dia seguinte ao do trânsito em julgado da decisão prolatada no processo anterior, uma vez evidenciado nos autos que a incapacidade já estava presente àquela data. 6. Admitida a compensação, do montante da condenação, dos pagamentos inacumuláveis, realizados por força da antecipação de tutela. 7. O juiz deve decidir a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões não suscita-das pelas partes. Assim, configura-se extra petita a disposição de sentença que determina renda mensal no valor de um salário-mínimo fora das hipóteses legais, sem que houvesse qualquer manifestação das partes acerca do ponto. 8. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios devem ser equivalentes aos índices de juros aplicáveis à caderneta de poupança (STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª S., Rel. Min. Castro Meira, 26.06.2013). No que tange à correção monetária, permanece a aplicação da TR, como estabelecido naquela lei e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudên-cia. 9. Os honorários advocatícios são devidos no percentual de 10% sobre o valor das parcelas vencidas até a data da sentença de procedência ou do acórdão que reforma a sentença de improcedência.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0008512-08.2014.4.04.9999/RS – 5ª T. – Rel. Juiz Fed. Luiz Antonio Bonat – DJe 25.04.2016 – p. 82)

2022 – Contribuição previdenciária – empregador – natureza jurídica de verbas pagas ao trabalhador – efeitos

“Direito tributário. Contribuição previdenciária patronal. Natureza jurídica de verbas pagas ao trabalhador. Análise de normas infraconstitucionais. Recurso extraordinário que não merece trânsito. Acórdão recorrido publicado em 02.07.2015. 1. A suposta afronta aos postulados constitucionais invocados no apelo extremo somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação infraconstitucional, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso

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extraordinário. 2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. 3. Agravo regimental conhecido e não provido.” (STF – AgRg-RE 945.513 – Santa Catarina – 1ª T. – Relª Min. Rosa Weber – J. 19.04.2016)

2023 – Contribuição previdenciária – folha de salários – não incidência – aviso-prévio indenizado – incidência – adicionais de horas extras, periculosidade, insalubri-dade, transferência e noturno – prescrição quinquenal – aplicabilidade

“Tributário. Mandado de segurança. Contribuição previdenciária. Folha de salários. Não incidência. Aviso-prévio indenizado. Incidência. Adicionais de horas extras, pericu-losidade, insalubridade, transferência e noturno. Aplicação da prescrição quinquenal para ações repetitórias ajuizadas a partir de 09.06.2005. Compensação. (07) O Pleno do STF (RE 566621/RS, Relª Min. Ellen Gracie, trânsito em J. 27.02.2012), sob o sig-no do art. 543-B do CPC, que concede ao precedente extraordinária eficácia vincula-tiva que impõe sua adoção em casos análogos, reconheceu a inconstitucionalidade do art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005 e considerou aplicável a prescrição quinquenal às ações repetitórias ajuizadas a partir de 09.06.2005. A jurisprudência do STJ é no sentido de que não incide contribuição previdenciária patronal sobre os 15 dias precedentes à concessão do auxílio-doença/acidente, terço constitucional de férias e o aviso-prévio indenizado (REsp 1230957/RS, sob o rito do 543-C do CPC). Da mesma forma, a juris-prudência desta T7/TRF1 em relação ao décimo terceiro salário proporcional do aviso--prévio (v.g. AMS 0004858.42.2010.4.01.3304/BA e AMS 2002.34.00.006059-7/DF). Jurisprudência desta Corte e do STJ são pacíficas no sentido da incidência da contri-buição previdenciária sobre o pagamento dos adicionais de horas extras, periculosi-dade, insalubridade, noturno e de transferência (REsp 1358281/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª S., J. 23.04.2014, DJe 05.12.2014, julgado sob o regime do art. 543-C do CPC; AC 0009255-84.2009.4.01.3400/DF, Rel. Des. Fed. Reynaldo Fonseca, 7ª T., e--DJF1 p.546 de 13.03.2015; AMS 0000545-46.2008.4.01.3809/MG, Rel. Des. Fed. José Amilcar Machado, 7ª T., e-DJF1 p. 622 de 13.02.2015). Quanto à compensação, o Su-perior Tribunal de Justiça, sob o rito dos recursos repetitivos, firmou o entendimento de que a lei que rege a compensação tributária é a vigente na data de propositura da ação, ressalvando-se, no entanto, o direito de o contribuinte proceder à compensação dos cré-ditos pela via administrativa, em conformidade com as normas posteriores. Precedente (REsp 1.137738/SP, Rel. Min. Luiz Fux, STJ, 1ª S., Unânime, DJe 01.02.2010). Aplicável, ainda, o disposto no art. 170-A do CTN. A correção monetária e os juros devem incidir na forma do Manual de Cálculos da Justiça Federal. Apelação da FN e remessa oficial parcialmente providas. Recurso adesivo não provido.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 0001277-79.2012.4.01.3811 – Relª Desª Ângela Catão – J. 01.03.2016)

2024 – Contribuição previdenciária – incidência sobre a nota fiscal – cooperativa de trabalho – incidência

“Constitucional e tributário. Juízo de retratação. Contribuição previdenciária. Incidência sobre a nota fiscal. Cooperativa de trabalho. Inciso IV do art. 22 da Lei nº 8.212/1991. Redação dada pela Lei nº 9.876/1999. Inconstitucionalidade reconhecida pelo Supremo

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Tribunal Federal com eficácia de repercussão geral. 1. Nos termos do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, com eficácia de repercussão geral, conforme previsto no art. 543-B do Código de Processo Civil, O art. 22, IV da Lei nº 8.212/1991, com a redação da Lei nº 9.876/1999, ao instituir contribuição previdenciária incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura, extrapolou a norma do art. 195, inciso I, a, da Constituição, descaracterizando a contribuição hipoteticamente incidente sobre os rendimentos do trabalho dos cooperados, tributando o faturamento da cooperativa, com evidente bis in idem. Representa, assim, nova fonte de custeio, a qual somente po-deria ser instituída por lei complementar, com base no art. 195, § 4º – com a remissão feita ao art. 154, I, da Constituição. 2. Apelação a que se dá provimento.” (TRF 1ª R. – AC 2001.38.00.010375-1/MG – Rel. Des. Fed. José Amilcar Machado – DJe 28.04.2016 – p. 1464)

2025 – Contribuição previdenciária – incidência sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção rural – inconstitucionalidade

“Processual civil e tributário. Agravo regimental no recurso extraordinário. Contribuição previdenciária incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produ-ção rural. Inconstitucionalidade. Precedentes. Restituição. Ausência da demonstração da qualidade de empregador rural. Matéria infraconstitucional. 1. A Segunda Turma desta Corte, no julgamento do RE 812.047-AgR (de minha relatoria, DJe de 11.06.2015), as-sentou o entendimento de que é infraconstitucional a controvérsia relativa à necessidade de comprovação da qualidade de empregador rural para fins de restituição da contribui-ção previdenciária instituída pelo art. 25 da Lei nº 8.212/1991. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STF – AgRg-RE 834.826 – Santa Catarina – 2ª T. – Rel. Min. Teori Zavascki – J. 05.04.2016)

2026 – Contribuição previdenciária – produção rural – art. 1º da Lei nº 8.540/1992 – inconstitucionalidade

“Tributário e processual civil. Ação ordinária. Condomínio rural. Lei nº 4.504/1964. Contribuição previdenciária sobre a produção rural (art. 12, V e VII; art. 25, I e II; e art. 30, IV, da Lei nº 8.212/1991). Art. 1º da Lei nº 8.540/1992. Inconstitucional (STF). Lei nº 10.256/2001 (c/c EC 20/1998). Não ‘constitucionalização’. Restituição. Prescrição quin-quenal. Honorários (01). O Pleno do STF (RE 566.621/RS), sob o signo do art. 543-B/CPC, que concede ao precedente extraordinária eficácia vinculativa que impõe sua adoção em casos análogos, reconheceu a inconstitucionalidade do art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005, declarando a prescrição quinquenal às ações repetitórias ajuizadas a partir de 09.06.2005. Se os litisconsortes agem, perante terceiros, individualmente, e não como condomínio, cada um deve contratar seus respectivos empregados e comprovar o vín-culo trabalhista nestes autos, para, só então, afastar a incidência do Funrural. O que não se pode aceitar é a formação de um condomínio rural ao arrepio do previsto no art. 14, § 1º, da Lei nº 4.504/1964, com o nítido objetivo de furtar ao regime de tributação aplicá-vel às pessoas jurídicas rurais, e admitir sua existência, entendendo que os funcionários apontados nestes autos trabalham para o condomínio, apesar de registrados por apenas um dos autores, na qualidade de pessoa física. Os documentos juntados aos autos de-

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monstram a condição de produtor e empregador rural apenas em relação ao autor Sérgio Barzotto. Decidiu o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do RE 596177/RS, submetido ao regime de Repercussão Geral, pela inconstitucionalidade do art. 1º da Lei nº 8.540/1992, que alterou a redação dos arts. 12, V e VII; 25, I e II; e 30, IV, da Lei nº 8.212/1991, instituindo contribuição a cargo do empregador rural, pessoa física, sobre receita bruta proveniente da venda de sua produção, entendendo-se ocorrida ofensa aos princípios da equidade, da isonomia e da legalidade tributária e ocorrida bitributação, ausente, ainda, a necessária lei complementar. Conforme entendimento firmado pela Sé-tima Turma desta e. Corte, a Lei nº 10.256/2001 não teve o condão de ‘constitucionali-zar’ a exação questionada (Ag 0006162-60.2011.4.01.0000/MG, Rel. Des. Fed. Luciano Tolentino Amaral, 7ª T.). Quanto à compensação, o Superior Tribunal de Justiça, sob o rito dos recursos repetitivos, firmou o entendimento de que a lei que rege a compensação tributária é a vigente na data de propositura da ação, ressalvando-se, no entanto, o di-reito de o contribuinte proceder à compensação dos créditos pela via administrativa, em conformidade com as normas posteriores. Precedente (REsp 1.137738/SP, Rel. Min. Luiz Fux, STJ, 1ª S., Unânime, DJe 01.02.2010). Aplicável, ainda, o disposto no art. 170-A do CTN. Após a vigência da Lei nº 11.941/2009 não se aplica a limitação de competência prevista no § 3º, art. 89, da Lei nº 8.212/1991. Como a parte autora decaiu em parte mínima do pedido, a Fazenda Nacional responderá, por inteiro, pelas despesas e hono-rários (CPC, art. 21). Verba honorária pela Fazenda Nacional, fixada em 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa. Apelação da parte autora parcialmente provida. Apelação da Fazenda Nacional não provida.” (TRF 1ª R. – AC 0002190-03.2012.4.01.3507 – Relª Desª Ângela Catão – J. 01.03.2016)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 8.540/1992:

“Art. 1º A Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991, passa a vigorar com alterações nos seguintes dispositivos:

‘Art. 12. [...]

V – [...]

a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou pes-queira, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;

b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;

c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou de ordem religiosa, este quando por ela mantido, salvo se filia-do obrigatoriamente à Previdência Social em razão de outra atividade, ou a outro sistema previdenciário, militar ou civil, ainda que na condição de inativo;

d) o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funciona-mento no Brasil, salvo quando coberto por sistema próprio de previdência social;

e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por sistema de previdência social do país do domicílio;

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Art. 22. [...]

5º O disposto neste artigo não se aplica à pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 desta lei.

Art. 25. A contribuição da pessoa física e do segurado especial referidos, respec-tivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta lei, destinada à Seguridade Social, é de:

I – dois por cento da receita bruta proveniente da comercialização da sua pro-dução;

II – um décimo por cento da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção para financiamento de complementação das prestações por acidente de trabalho.

1º O segurado especial de que trata este artigo, além da contribuição obrigatória referida no caput poderá contribuir, facultativamente, na forma do art. 21 desta lei.

2º A pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 contribui, também, obrigatoriamente, na forma do art. 21 desta lei.

3º Integram a produção, para os efeitos deste artigo, os produtos de origem animal ou vegetal, em estado natural ou submetidos a processos de beneficiamento ou industrialização rudimentar, assim compreendidos, entre outros, os processos de lavagem, limpeza, descaroçamento, pilagem, descascamento, lenhamento, pas-teurização, resfriamento, secagem, fermentação, embalagem, cristalização, fun-dição, carvoejamento, cozimento, destilação, moagem, torrefação, bem como os subprodutos e os resíduos obtidos através desses processos.

4º Não integra a base de cálculo dessa contribuição a produção rural destinada ao plantio ou reflorestamento, nem sobre o produto animal destinado a reprodução ou criação pecuária ou granjeira e a utilização como cobaias para fins de pesquisas científicas, quando vendido pelo próprio produtor e quem a utilize diretamente com essas finalidades, e no caso de produto vegetal, por pessoa ou entidade que, registrada no Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, se dedique ao comércio de sementes e mudas no País.

5º (Vetado).

[...]

Art. 30. [...]

[...]

IV – o adquirente, o consignatário ou a cooperativa ficam sub-rogados nas obriga-ções da pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 e do segurado especial pelo cumprimento das obrigações do art. 25 desta lei, exceto no caso do inciso X deste artigo, na forma estabelecida em regulamento;

[...]

X – a pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 e o segurado especial são obrigados a recolher a contribuição de que trata o art. 25 desta lei no prazo estabelecido no inciso III deste artigo, caso comercializem a sua produção no exterior ou, diretamente, no varejo, ao consumidor.

[...]”

2027 – Contribuição previdenciária – valores pagos – empregados – férias gozadas – incidência

“Tributário e processual civil. Agravo regimental nos embargos de divergência em re-curso especial. Contribuições previdenciárias sobre valores pagos, aos empregados, a

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título de férias gozadas. Incidência. Entendimento contrário à incidência, exarado pela 1ª Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 1.322.945/DF, posteriormente reformado, em sede de embargos declaratórios. Precedentes posteriores de ambas as turmas que compõem a 1ª Seção, no sentido de incidência das contribuições previ-denciárias sobre a quantia relativa às férias gozadas. Embargos de divergência inde-feridos liminarmente, por força da Súmula nº 168/STJ. Agravo regimental improvido. I – Apesar de a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o Recurso Especial nº 1.322.945/DF, em julgamento realizado em 27.02.2013, ter decidido pela não inci-dência de contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade e as férias usufruídas, é certo que, em posteriores Embargos de Declaração, acolhidos, com efeitos infringentes, reformou o referido aresto embargado, para conformá-lo ao decidido no Recurso Especial nº 1.230.957/RS, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC (STJ, EDcl-REsp 1.322.945/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª S., DJe de 16.05.2014). Novos Embar-gos de Declaração, opostos pela Fazenda Nacional, no aludido REsp 1.322.945/DF, foram acolhidos, em 25.02.2015, pela 1ª Seção do STJ, ‘para determinar a incidência da contribuição previdenciária sobre as férias gozadas’ (Rel. p/ Ac. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 04.08.2015). II – De outra parte, mesmo após o julgamento do Recurso Especial nº 1.322.945/DF, as Turmas que compõem a 1ª Seção desta Corte proferiram julgamentos em que afirmado o caráter remuneratório do valor pago, ao empregado, a título de férias gozadas, o que implica na incidência de contribuições previdenciá-rias sobre tal quantia. III – Com efeito, ‘a Primeira Seção desta Corte, ao julgar o REsp 1.230.957/RS, processado e julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, confirmou a in-cidência da contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade. Incide a contri-buição previdenciária sobre os valores referentes ao pagamento de férias. Precedentes. Agravo regimental não provido’ (STJ, AgRg-Ag 1.428.917/MT, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª T., DJe de 13.05.2014). Em igual sentido: ‘A Primeira Seção, no julgamento do REsp 1.230.957/RS, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 8/2008, firmou a orientação no sentido de que incide contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade. O pagamento de férias gozadas possui natureza remune-ratória e salarial, nos termos do art. 148 da CLT, e integra o salário de contribuição’ (STJ, AgRg-REsp 1.493.392/PB, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., DJe de 04.02.2015); ‘A 1ª Seção reafirmou a tese de que incide contribuição previdenciária sobre o valor correspon-dente às férias gozadas (EDcl-EDcl-REsp. 1.322.945/DF)’ (STJ, AgRg-REsp 1.515.300/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª T., DJe de 09.06.2015). IV – Hipótese em que a decisão ora agravada indeferiu liminarmente, com fulcro na Súmula nº 168/STJ, Embargos de Divergência que pretendiam fazer prevalecer a primeira decisão, proferida no REsp 1.322.945/DF, que não mais subsiste, por alterada. V – Nos termos da Súmula nº 168/STJ, ‘não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado’. VI – Agravo Regimental improvi-do.” (STJ – AgRg-ED-REsp 1.471.786 – (2014/0188840-3) – 1ª S. – Relª Min. Assusete Magalhães – DJe 31.03.2016)

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2028 – Contribuição previdenciária – valores pagos a empregados – participação nos lucros da empresa – incidência – precedentes

“Tributário. Juízo de retratação. Contribuição previdenciária. Incidência sobre valores pagos a empregados a título de participação nos lucros da empresa. Matéria decidida pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 569.441/RS, sob o regime de repercussão geral. Art. 543-B, § 3º, do CPC. O Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 569.441/RS realizado sob a sistemática da repercussão geral (Lei nº 11.418/2006) decidiu que incide contribuição previdenciária sobre valores pagos aos empregados a título de participação nos lucros no período posterior à Constituição Federal de 1988 e anterior à edição da Medida Provisória nº 794/1994, que regulamentou o art. 7º, inciso XI, da Constituição Federal. ‘Na medida em que a disciplina do direito à participação nos lucros somente se operou com a edição da Medida Provisória nº 794/1994 e que o fato gerador em causa concretizou-se antes da vigência deste normativo, deve incidir, sobre os valores em questão, a respectiva contribuição previdenciária’ (STF, RE 569.441/RS). Encontrando-se o acórdão deste Tribunal Regional em confronto com a orientação con-solidada pelo STF, impõe-se exercer o juízo de retratação, nos termos do art. 543-B, § 3º, do CPC, para adequá-lo ao entendimento da Suprema Corte.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 2003.04.01.053763-7/RS – 1ª T. – Relª Desª Fed. Maria de Fátima Freitas Labarrère – DJe 29.03.2016)

2029 – Desaposentação – renúncia ao benefício objetivando a concessão de outro mais vantajoso – possibilidade

“Previdenciário. Desaposentação. Renúncia ao benefício objetivando a concessão de outro mais vantajoso. Possibilidade. Devolução de valores. Desnecessidade. I – Ape-lação interposta pela parte ré, em face sentença que julgou procedente o pedido de renúncia de benefício previdenciário, a fim de obter a concessão de aposentadoria mais vantajosa, consideradas as contribuições efetuadas posteriormente à benesse, com o aproveitamento do tempo e recolhimentos anteriores, sem a devolução das mensalida-des anteriormente pagas. II – Apelo da parte autora postulando o afastamento da deter-minação de devolução dos valores recebidos anteriormente. III – A renúncia à aposenta-doria tem natureza desconstitutiva, apenas produzindo efeitos ex nunc, de acordo com o Egrégio Superior Tribunal de Justiça (AgRg-REsp 328.101/SC, 6ª T., Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJ 20.10.2008; REsp 663.336/MG, 5ª T., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ 07.02.2008, p. 1). IV – Alega a parte ré que há vedação legal à renúncia de sua aposentadoria, em prol da obtenção de uma nova, mais vantajosa, de forma que o decisum merece ser reformado. V – A Primeira Seção do E. Superior Tribunal de Justiça pronunciou-se definitivamente sobre a questão, consolidando, sob o regime dos recursos repetitivos previsto no art. 543-C do CPC e na Resolução STJ nº 8/2008, a compreensão de que ‘os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento’. VI – Reconhecido o direito do autor à desaposentação, com o pagamento das parcelas vencidas a partir da citação, compensando-se o valor do be-nefício inicialmente concedido e pago pela Autarquia Federal. VII – Apelação do INSS

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improvida e remessa oficial, tida por interposta, parcialmente provida para fixar a verba honorária e os critérios de correção monetária e juros de mora. Apelo da parte autora prejudicado, pois pleiteia o afastamento de determinação não contida na r. sentença re-corrida.” (TRF 3ª R. – AC 0003505-91.2016.4.03.9999/SP – 8ª T. – Rel. Des. Fed. David Dantas – DJe 27.04.2016 – p. 670)

2030 – Incompetência – Justiça Estadual – acidente do trabalho – não comprovação – inocorrência

“Processual civil. Apelação. INSS. Ação previdenciária. Pedido de restabelecimento de benefício fundado em percepção anterior de auxílio-doença previdenciário. Julgamento do feito pela justiça estadual. Incompetência. Remessa à justiça federal. Art. 109, I da CF e Súmula nº 15 do STJ. Sentença anulada ex officio. I – Conforme entendimento jurispru-dencial emanado do Colendo STJ, admite-se que decisões judiciais adotem manifesta-ções exaradas no processo em outras peças, desde que haja um mínimo de fundamento, com transcrição de trechos das peças às quais há indicação (per relationem). Precedentes (REsp 1399997/AM). II – Apesar de ter afirmado que o Autor possui incapacidade para o exercício da atividade habitual, do tipo multiprofissional, com possibilidade de rea-bilitação, verificou-se que não se trata de sequela decorrente de acidente de trabalho, o que afasta, de plano, a competência da Justiça Estadual para o julgamento do feito. III – Recurso conhecido e desprovido. Sentença anulada ex officio.” (TJAM – Ap 0615781-37.2014.8.04.0001 – 2ª C.Cív. – Rel. Wellington José de Araújo – DJe 31.03.2016 – p. 29)

2031 – Pensão por morte – boia-fria – esposa segurada dependente – comprovação – termo inicial

“Previdenciário. Pensão por morte. Concessão. Requisitos. Óbito. Qualidade de segu-rado. Boia-fria. Qualidade de dependente. Esposa. Art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/1991. Termo inicial. Prescrição. Consectários legais. Implantação do benefício. 1. A concessão do benefício de pensão por morte depende da ocorrência do evento morte, da demons-tração da qualidade de segurado do de cujus e da condição de dependente de quem objetiva a pensão. 2. A dependência econômica da parte autora, nos termos do art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/1991, é presumida. A qualidade de segurado especial pode ser comprovada por início de prova material corroborada pela prova testemunhal. 3. O termo inicial do benefício de pensão por morte deve ser fixado de acordo com as leis vigentes por ocasião do óbito. Antes da Lei nº 9.528/1997, de 10.12.1997, o benefício era devido a contar do falecimento, independente da data do requerimento. A partir do advento dessa lei, a pensão por morte passou a ser devida: a) a contar do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; b) do requerimento, quando requerida após o prazo mencionado. 4. Em se tratando de obrigação de trato sucessivo e de verba alimentar, não há falar em prescrição do fundo de direito. Contudo, são atingidas pela prescrição as parcelas vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação, conforme os termos do parágrafo único do art. 103 da Lei nº 8.213/1991 e da Súmula nº 85/STJ. 5. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os juros

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202 ......................................................................... RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

moratórios devem ser equivalentes aos índices de juros aplicáveis à caderneta de pou-pança (STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª S., Rel. Min. Castro Meira, 26.06.2013). No que tange à correção monetária, permanece a aplicação da TR, como estabelecido naquela lei, e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudência. 6. O cumprimento imediato da tutela específica independe de requerimento expresso do segurado ou beneficiário, e o seu deferimento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos fundados no art. 461 do CPC/1973, bem como nos arts. 497, 536 e parágrafos e 537 do CPC/2015. 7. A determinação de implantação imediata do benefício, com fundamento nos artigos supracitados, não configura violação dos arts. 128 e 475-O, I, do CPC e 37 da Consti-tuição Federal.” (TRF 4ª R. – AC 0020162-86.2013.4.04.9999/PR – 5ª T. – Rel. Juiz Fed. Luiz Antonio Bonat – DJe 25.04.2016 – p. 198)

2032 – Pensão por morte – filha maior de 21 anos – estudante universitária – manuten-ção do benefício – impossibilidade

“Previdenciário. Pensão por morte. Filha maior de 21 anos. Capaz. Estudante universi-tária. Impossibilidade de manutenção do benefício. Ausência de previsão legal. Arts. 16 e 77 da Lei nº 8.213/1991. Não concessão do benefício. 1. Nos termos do art. 16, da Lei nº 8.213/1991, a pensão por morte é devida ao cônjuge, à companheira, ao com-panheiro e ao filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. 2. O fato de a apelante ser estudante universitária não possibilita a manutenção do referi-do benefício, posto que sem previsão legal. 3. Não há afronta ao direito à educação, em vista de que a pretensão de extensão da pensão após os 21 anos de idade fere o princípio da legalidade, de acordo com o caput do art. 37 da Constituição Federal, devendo os princípios da educação e da legalidade ser aplicados harmonicamente. 4. Observância ao Enunciado da Súmula nº 37 da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais (‘A pensão por morte, devida ao filho até 21 (vinte e um) anos de idade, não se prorroga pela pendência de curso universitário’). 5. Apelação im-provida.” (TRF 5ª R. – AC 0004044-37.2015.4.05.9999 – (585659/PE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 28.01.2016 – p. 235)

2033 – Pensão por morte – militar – neta não nascida à época do óbito do instituidor – requisitos legais – não preenchimento – pagamento indevido

“Administrativo. Apelação cível. Militar. Pensão por morte. Lei nº 3.765/1960. Neta não nascida à época do óbito do instituidor. Requisitos legais não preenchidos. 1. O direito à pensão por morte é regulado pela lei vigente à época do óbito do instituidor do bene-fício, em observância ao princípio do tempus regit actum, consoante iterativa jurispru-dência dos Tribunais Pátrios. 2. Tratando-se de pensão militar cujo óbito do instituidor ocorreu sob a égide da Lei nº 3.765/1960, a concessão da pensão para a neta somente é assegurada acaso comprovada sua orfandade por ocasião do óbito, a teor do disposto no inciso III, do art. 7º do aludido diploma normativo. 3. Considerando que a interessada sequer era nascida à época do falecimento de seu avô, indevida a concessão postulada, sendo defeso aplicar o princípio da isonomia com a finalidade de se perpetuar ilegali-dade. 4. Apelação da Autora desprovida.” (TRF 2ª R. – AC 0044958-82.2012.4.02.5101 – 8ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Marcelo Pereira da Silva – DJe 29.04.2016 – p. 457)

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2034 – Pensão por morte – perda da qualidade de segurado – ocorrência – efeitos

“Embargos de declaração. Previdenciário. Pensão por morte. Alegação de erro por falsa premissa no acórdão. Ocorrência. Tempo de contribuição do finado não alcança 120 contribuições mensais. Indevida a prorrogação do período de graça. Ocorrência da per-da da qualidade de segurado do instituidor. Não concessão do benefício da pensão por morte. Provimento dos embargos de declaração com atribuição de efeitos infringentes. 1. Os embargos de declaração são cabíveis quando há no aresto obscuridade, omissão ou contradição acerca de ponto sobre o qual deveria pronunciar-se o juiz ou tribunal, sendo adequados, ainda, para sanar erro material. 2. In casu, assiste razão ao embargante, por-quanto o cômputo do tempo de contribuição do de cujus, constante do CNIS, desempe-nhado nos períodos de 01.12.1998 a 19.01.2003; 01.03.2007 a 09/2007; 10.05.2008 a 03/2009 e 01.03.2010 a 03/2010, consistirá tão somente em 5 anos, 8 meses e 10 dias (pouco mais de 60 contribuições mensais), não fazendo jus à prorrogação do período de graça, previsto no art. 15, inc. II, § 1º, da Lei nº 8.213/1997, o que, consequentemente, acarreta a perda da sua qualidade de segurado, não havendo como reconhecer o direito da parte autora à concessão da pensão por morte do seu desditoso genitor. 3. Embargos de declaração providos com efeitos infringentes para dar provimento à apelação da au-tarquia previdenciária.” (TRF 5ª R. – AC 0001917-29.2015.4.05.9999/01 – (581571/SE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 22.04.2016 – p. 96)

2035 – Pensão por morte – rurícola – início de prova material e testemunhal – termo a quo

“Previdenciário e constitucional. Pensão por morte. Trabalhador rural. Início de prova material. Prova testemunhal. Termo a quo. Correção monetária. Juros de mora. Verba advocatícia. 1. No caso concreto: Documentos: certidão de casamento onde consta a profissão do falecido como lavrador, fl. 11; Certidão de óbito, 21.11.2007, onde consta a profissão do de cujus como agricultor, fl. 12; CNIS da autora como aposentada por idade como trabalhadora rural desde 11.08.2006 (antes do óbito). Prova testemunhal: afirma que a autora e o falecido tinham estabelecimentos comerciais uns 12 anos an-tes do falecimento do marido da autora; todavia, confirma que, ao tempo do óbito, estavam trabalhando no meio rural em regime de economia familiar. 2. Atendidos os requisitos indispensáveis à concessão do benefício de pensão por morte. Início de prova material da dependência econômica e da atividade rural do instituidor, devidamente corroborado por prova testemunhal sólida, deve ser reformada a sentença que veiculou o indeferimento do pedido exordiano. 3. Termo inicial conforme estipulação constante do item a do voto proferido pelo relator. 4. Correção monetária de acordo com os ín-dices constantes do Manual de Cálculos da Justiça Federal. Juros de mora de 1% a.m. até Lei nº 11.960/2009 a partir de quando serão reduzidos para 0,5% ao mês caso a taxa Selic ao ano seja superior a 8,5% ou 70% da taxa Selic ao ano, mensalizada, nos demais casos, segundo Lei nº 12.703/2012 e Manual de Cálculos da Justiça Federal. Contam-se da citação, para as parcelas eventualmente vencidas anteriormente a ela, e do respectivo vencimento, para as que lhe são posteriores. 5. Em se tratando de cau-sas ajuizadas perante a Justiça Federal, o INSS está isento de custas (inclusive despesas com oficial de justiça) por força do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289/1996. A isenção se

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repete nos Estados onde houver lei estadual assim prescrevendo, a exemplo do Acre, Tocantins, Minas Gerais, Goiás, Rondônia, Mato Grosso e Piauí. 6. Prevalência da regra cunhada na Súmula nº 111 do STJ para fins de fixação dos honorários advocatícios. 7. Não tendo ocorrido deferimento de tutela antecipada, justifica-se a determinação de im-plantação imediata do benefício perseguido (art. 461, do CPC), já que eventuais recursos interpostos contra o presente julgado são desprovidos de efeito suspensivo. Precedentes do STJ. Em qualquer das hipóteses supra, fica expressamente afastada a fixação prévia de multa, sanção esta que somente é aplicável na hipótese de efetivo descumprimento do comando relativo à implantação do benefício. 8. Apelação provida.” (TRF 1ª R. – AC 0004331-20.2014.4.01.9199/GO – Rel. Juiz Fed. Conv. Francisco Neves da Cunha – DJe 28.01.2016 – p. 2455)

2036 – Pensão por morte – rurícola – óbito da instituidora do benefício anterior à Lei nº 8.213/1991 e posterior à CF/1988 – art. 201, V da CF/1988 – aplicação

“Previdenciário. Processual civil. Pensão por morte. Segurada da Previdência. Trabalha-dora urbana. Óbito da instituidora do benefício anterior à Lei nº 8.213/1991 e posterior à CF/1988. Art. 201, V da CF/1988. Aplicação. Concessão do benefício. Valores em atraso. Pagamento. Juros e correção monetária. Honorários advocatícios. Percentual. Hipótese de apelação contra sentença que condenou o INSS a conceder o benefício de pensão por morte ao autor em face do óbito de sua esposa ocorrido em 08.10.1990. Os óbitos de segurados ocorridos entre o advento da CF/1988 e da Lei nº 8.213/1991 regem-se, direta e imediatamente, pelo disposto no art. 201, V, da CF, que, sem recep-cionar a parte discriminatória da legislação anterior, equiparou homens e mulheres para efeito de pensão por morte (RE 607907-AgR, STF). No caso, a qualidade de segurada da Previdência da instituidora do benefício restou comprovada por meio da CTPS acostada aos autos, e a condição de dependente do autor em relação à falecida foi demonstrado através da certidão de casamento, bem como pelo depoimento das testemunhas ouvidas em Juízo em que foram uníssonas em afirmar a convivência marital entre o requerente e sua esposa até o momento do óbito. Manutenção da sentença que determinou a conces-são do benefício a contar da data do requerimento na via administrativa (19.03.2012). Foi firmado entendimento pelo eg. Plenário desta Corte, no sentido de que a atualiza-ção e os juros de mora nas condenações impostas, tanto à Fazenda Pública quanto aos particulares, ainda que em matéria previdenciária, devem se dar mediante a aplicação do IPCA-E (ou outro índice que venha a ser recomendado pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal) acrescidos de 6% (seis por cento) ao ano, exceto nos créditos de natureza tributária, para os quais se mantêm os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários (Selic)’ (Embargos Declaratórios em Embargos Infringen-tes nº 0800212-05.2013.4.05.8100, Rel. Des. Fed. Rogério Fialho, TRF 5ª R., Pleno, J. 17.06.2015). Apelação e remessa oficial provida nesse ponto. Honorários advocatícios mantidos no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, com apli-cação da Súmula nº 111/STJ. Apelação e remessa oficial providas em parte.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0000029-88.2016.4.05.9999 – (33191/PB) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto Neto – DJe 25.02.2016 – p. 229)

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2037 – Pensão por morte – rurícola – união estável – prova material – não comprova-ção – benefício indevido

“Previdenciário. Pensão por morte rural. Ausência de prova material contemporânea. Qualidade de segurado não demonstrada. Conjunto probatório insuficiente. União está-vel não comprovada. Benefício indevido. 1. Os documentos apresentados como início de prova material da atividade rural e da união estável são: a) certidão de óbito do fa-lecido, identificado como solteiro e lavrador, tendo como declarante João Batista Bispo Alves. Sem informações sobre companheirismo ou existência de filhos; b) vínculo da au-tora como empregada rural, no período de 09/1989 a 08/1991; c) certidão de nascimen-to de filha, em 1990, tendo a autora como mãe e o falecido como pai. Sem indicação de profissão dos pais. A declarante do nascimento foi a mãe e consta na certidão elementos de averbação não esclarecidos. 2. Não existe início de prova material de atividade rural no período imediatamente anterior ao óbito. A certidão de óbito e o vínculo rural da au-tora não são contemporâneos ao óbito, não podendo ser utilizados como início de prova material. Este último, na verdade, está em nome da autora e data de 15 anos antes do óbito. Quanto à certidão de óbito, esta Câmara tem precedente quanto à impossibilidade de sua utilização caso apresentada isoladamente (AC 005418636.2012.4.01.9199/MG, Rel. Juiz Federal Rodrigo Rigamonte Fonseca, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 p. 870 de 16.02.2016). 3. Ausente início de prova material, a prova testemunhal não é suficiente para a concessão do benefício. Aplicação da Súmula nº 149 do STJ. 4. Quanto à união estável, também não restou devidamente comprovada. De início, registro que, inobstante a jurisprudência majoritária não exija início de prova material para comprovação da união estável (precedentes do STJ e Súmula nº 63 da TNU), a ausência desse meio de prova, quando razoável exigi-lo, somada à fragilidade da prova testemunhal, impede o reconhecimento da relação de companheirismo. 5. Em-bora o casal tenha convivido por 29 anos sob o mesmo teto, como afirmado pela autora, não foi produzido um único documento a indicar que os dois moravam na mesma casa. Essa longa, incomum e injustificável ausência de prova de convivência sob o mesmo teto enfraquece a alegação de união estável, impondo forte ônus sobre a prova testemunhal. A prova de filho em comum, no caso, não é suficiente para suprir essa deficiência. 6. A prova testemunhal é frágil e superficial, se limitando a dizer que o casal morou junto na ‘Fazenda Brejo Grande’ e que trabalhavam juntos na atividade rural, não demonstrando que havia entre o autor e a falecida os requisitos da união estável, previstos no art. 1.723 do CC, ou seja, a convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de cons-tituir família, a autorizar a procedência da ação. 7. Apelação e remessa necessária pro-vidas para julgar improcedente a ação.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2009.01.99.034351-7/MG – Rel. Juiz Fed. Ivanir César Ireno Júnior – DJe 28.04.2016 – p. 2241)

2038 – Pensão por morte – união estável – presunção de dependência econômica do companheiro – benefício devido

“Apelação cível. Pensão previdenciária. Morte companheiro. União estável declara-da em sentença proferida pelo juiz de primeiro grau. Inclusão de companheira como beneficiária. Dependência econômica presumida. Recurso conhecido e não provido. A própria configuração da união estável faz surgir a presunção de dependência eco-

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nômica do companheiro, de forma a legitimar a concessão da pensão previdenciária. 2. Recurso conhecido e não provido.” (TJAL – Ap 0000268-09.2010.8.02.0055 – Rel. Des. Domingos de Araújo Lima Neto – DJe 27.04.2016 – p. 97)

2039 – Prazo decadencial – revisão do ato de concessão – termo inicial

“Previdenciário. Revisão do ato de concessão. Decadência. Art. 103 da Lei nº 8.213/1991. MP 1.523-9/1997 (convertida na Lei nº 9.528/1997). MP 138/2003 (convertida na lei (convertida na Lei nº 9.528/1997). MP 138/2003 (convertida na Lei nº 10.839/2004). 1. No caso de benefício concedido posteriormente à vigência da Medida Provisória nº 1.523-9/1997 (depois convertida na Lei nº 9.528/1997 que alterou a redação do art. 103 da Lei nº 8.213/1991), o prazo decadencial para revisão do ato de concessão do benefício previdenciário tem início no dia primeiro do mês seguinte ao do recebimen-to da primeira prestação. 2. Em sendo o benefício implantado anteriormente, o prazo tem como termo inicial o dia 01.08.1997, porque a primeira prestação superveniente à instituição da decadência foi paga em 07/97 (STF, RE 626.489/SE). 3. Implantado o be-nefício, o prazo decadencial alcança toda e qualquer pretensão à revisão da sua dimen-são econômica, tenha sido discutida ou não no processo administrativo.” (TRF 4ª R. – AC 0006414-16.2015.4.04.9999/RS – 5ª T. – Relª Juíza Fed. Taís Schilling Ferraz – DJe 25.02.2016 – p. 21)

2040 – Professor – aposentadoria especial – equiparação – fator previdenciário – não incidência

“Previdenciário. Aposentadoria. Professor. Aposentadoria especial. Equiparação. Fator previdenciário. Não incidência. Precedentes do STJ e deste regional. Apelação provi-da. I – Apelação interposta por particular contra sentença que julgou improcedente o pedido em ação ordinária em que se objetivava a revisão nos cálculos do benefício da promovente, com a consequente retirada do fator previdenciário do cálculo do benefí-cio de aposentadoria por tempo de contribuição. II – O Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento no sentido de não incidir o fator previdenciário no cálculo do sa-lário-de-benefício da aposentadoria do professor. Precedentes: AgREsp 201402520752, Humberto Martins, STJ, 2ª T., DJe Data: 22.04.2015 – Ag-REsp 201100953032, Jorge Mussi, STJ, 5ª T., DJe Data: 15.10.2014 DTPB. III – Aplicando o entendimento do STJ, a segunda turma já decidiu no sentido de que a aposentadoria do professor que cumpre tempo de efetivo magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, por ser equiparada à aposentadoria especial, não deveria sofrer a incidência do fator previ-denciário no cálculo do benefício (Processo: 00032274720114058500, AC 540029/SE, Des. Fed. Ivan Lira de Carvalho (Convocado), 2ª T., Julgamento: 04.08.2015, Publica-ção: DJe 12.08.2015, p. 108). IV – No presente caso, deve ser reformada a sentença de improcedência, tendo em vista que a aposentadoria da autora foi concedida pelo INSS em 28.01.2011, quando possuía mais de 26 (vinte e seis) anos de exercício de magistério (de acordo com a declaração de fl. 13), sendo, portanto, indevida a incidência do fator previdenciário no cálculo de sua RMI. V – Julgado procedente o pedido para determinar que o INSS retire o fator previdenciário da RMI da autora, bem como para condená-lo

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ao pagamento das parcelas devidamente corrigidas desde a data do requerimento admi-nistrativo, ocorrido em 28.01.2011 (fl. 10). VI – Aplica-se, sobre as parcelas devidas, a atualização prevista no Manual de Cálculos da Justiça Federal e juros de mora de 0,5% ao mês, a partir da citação (Lei nº 9.494/1997, art. 1º-F, dada pela Medida Provisória nº 2.180-35, 2001). VII – Honorários advocatícios fixados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. §§ 3º e 4º do CPC. VIII – Apelação provida.” (TRF 5ª R. – AC 0000601-49.2013.4.05.9999 – (555245/PB) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 19.04.2016 – p. 29)

2041 – Responsabilidade civil – aposentadoria por invalidez – demora na percepção de seguro – indenização por dano moral – não comprovação – impossibilidade

“Civil e processual civil. Responsabilidade civil. Aposentadoria por invalidez. Demora na percepção de seguro. Indenização por dano moral. Não comprovação. Impossibili-dade. Concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita. Cabimento. Condena-ção em honorários advocatícios devida. Sentença reformada. 1. Não ficou comprovado nos autos que a autora ‘sofreu sérios constrangimentos e humilhações ao requerer tão somente o seu direito violado, sendo alvo de recusas e das atitudes debochadas dos prepostos dos Réus, que não somente não atenderam aos seus apelos, assim como lhe mandaram promover as suas insatisfações perante ao Judiciário!’ (sic). 2. A simples nar-rativa da ocorrência de tais fatos, sem nenhuma prova de que a autora teria sofrido tais humilhações não enseja dano moral indenizável (AC 2002.38.03.000668-5/MG, Relª Desª Fed. Selene Maria de Almeida, 5ª T., 21.05.2010 e-DJF1 p. 73). 3. A ausência de impugnação específica do réu em relação aos danos morais não autoriza a condenação da ré sob a alegação de revelia, uma vez que já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que ‘o caráter dessa presunção é relativo, devendo o julgador atentar para a prova de existência dos fatos da causa, razão pela qual, a despeito da ocorrência de revelia, pode, até mesmo, negar provimento ao pedido’ (REsp 1.128.646/SP, Relª Min. Nancy Andrighi, 3ª T., DJe de 14.09.2011). 4. O 4º da Lei nº 1.060/1950 estabelece que para se obter o benefício da assistência judiciária gratuita basta a simples afirmação da parte de que não poderá arcar com as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família. 5. De outro lado, o § 1º daquele dispositivo legal é claro em admitir prova em contrário de tal declaração, o que não ocorreu no caso dos autos. A simples alegação de que a autora recebeu indenização securitária em razão de sua aposentadoria por invalidez não descaracteriza a condição de pessoa juridicamente po-bre. 6. Além disso, já decidiu este Tribunal que se presume juridicamente pobre a parte que perceba, a título de rendimentos, valor não superior a 10 (dez) salários mínimos (AC 2008.38.01.002819-8/MG, Rel. então Juiz Fed. Conv. Marcos Augusto de Sousa, 1ª T., 15.03.2011 e-DJF1 p. 46). 7. O deferimento da assistência judiciária gratuita não impede a condenação da parte vencida ao pagamento dos honorários de sucumbência, fican-do, apenas, suspensa sua exigibilidade, na forma do art. 12 da Lei nº 1.060/1950 (AC 1998.38.00.014373-1/MG, Rel. Juíza Fed. Rosimayre Gonçalves de Carvalho (Conv.), 1ª T.Supl., 18.07.2012 e-DJF1 p. 79). 8. Apelação da ré que se dá provimento para, reformando a sentença, julgar improcedente o pedido de reparação por danos morais. 9. Apelação da autora a que se dá parcial provimento apenas para conceder a assistência

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judiciária gratuita. 10. Vencida integralmente a autora, fica condenada ao pagamento dos honorários advocatícios para as rés (segunda ré foi excluída na sentença), no valor de R$ 1.600,00 (mil e seiscentos reais), pro rata, cuja exigibilidade fica suspensa, na forma do art. 12 da Lei nº 1.060/1950.” (TRF 1ª R. – AC 2004.33.00.029331-0/BA – Rel. Des. Fed. Néviton Guedes – DJe 26.02.2016 – p. 131)

2042 – Salário-de-contribuição – recálculo – RMI – prévio requerimento administrati-vo – efeitos

“Direito processual civil e previdenciário. Sentença trabalhista. Prova. Salário-de-con-tribuição. Recálculo. RMI. Prévio requerimento administrativo. Juros. Citação. I – Não obstante a exigência de comprovação do prévio requerimento administrativo para que o segurado possa ajuizar ação em face do INSS não ofender a garantia do livre acesso à prestação jurisdicional, é possível o ajuizamento direto nos casos em que a autarquia previdenciária possui posicionamento notoriamente contrário à pretensão do autor ou se o mérito da ação trata especificamente de revisão de benefício já concedido ou, ain-da, se o instituto réu impugnou o mérito em sua contestação. II – A sentença prolatada pela Justiça do Trabalho que comprova os valores corretos de salários-de-contribuição é apta a servir como início de prova material na ação ajuizada perante a Justiça Federal, se nesses últimos autos são apresentados outros elementos de prova que corroborem as alegações do segurado. III – Em sede de demandas relativas a benefícios previdenciários, a contagem dos juros moratórios deve se dar a partir da citação válida, segundo teor do Verbete nº 204 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. IV – Apelação e remessa parcialmente providas.” (TRF 2ª R. – Ap-RN 2008.51.01.814722-4 – 2ª T.Esp. – Rel. Des. André Fontes – DJe 19.04.2016 – p. 567)

2043 – Salário-maternidade – segurada empregada urbana – período de graça – obser-vação – benefício devido

“Previdenciário e processual civil. Salário-maternidade. Segurada empregada urbana em período de graça. Direito à percepção do benefício. Incidência de correção monetária e juros de mora. Entendimento firmado no pleno desta Corte regional. Honorários advoca-tícios. 10% sobre o valor da condenação. Súmula nº 111 do STJ. Apelação parcialmente provida. 1. O salário-maternidade, regulado pelo art. 71 da Lei nº 8.213, de 24.07.1991, é devido à segurada da Previdência Social, durante 120 (cento e vinte) dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e a data de ocorrência deste, ob-servadas as situações e condições previstas na legislação no que concerne à proteção à maternidade e será pago diretamente pela Previdência Social. 2. Hipótese em que a apelada, trabalhadora urbana, foi demitida sem justa causa, em 19.05.2014, estando no chamado período de graça, em que, a despeito de não estar mais contribuindo para a Previdência, mantém a qualidade de segurada durante o referido período. 3. Preenchi-dos os requisitos para a concessão do salário-maternidade, quais sejam, a comprovação do nascimento do filho e a qualidade de segurada, em período de graça, de forma que a apelada faz jus à percepção do benefício a ser pago pelo INSS. 4. Hipótese em que é devido o pagamento do benefício de salário-maternidade a cargo do INSS. Preceden-tes desta Terceira Turma: (AC 00095043920144059999, Des. Fed. Geraldo Apoliano,

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TRF 5ª R., 3ª T., DJe Data: 25.02.2015, p. 42). 5. Enquanto a matéria estiver pendente de apreciação no C. STF, os juros de mora devem ser fixados no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês, a contar da citação inicial, e correção monetária a partir de quando deveria ter sido efetuado o pagamento das parcelas aqui perseguidas, nos moldes estatuí-dos pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal. 6. Nos casos da espécie, a verba honorá-ria deve ser fixada em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, observando-se o teor da Súmula nº 111 do STJ. 7. Apelação parcialmente provida, apenas em relação aos critérios de fixação de correção monetária e juros de mora incidentes sobre as par-celas vencidas, bem como para fixar os honorários advocatícios sucumbenciais em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, observando-se o teor da Súmula nº 111 do STJ.” (TRF 5ª R. – AC 0004101-55.2015.4.05.9999 – (585932/SE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Rebelo Júnior – DJe 15.02.2016 – p. 63)

2044 – Tempo de serviço – prova testemunhal – reconhecimento – termo inicial

“Previdenciário. Tempo de serviço. Prova testemunhal da prestação do trabalho, em período determinado, confirmado, por início de prova material, que a autora trabalhou na propriedade rural indicada. Requisitos preenchidos. Termo inicial do benefício na data do requerimento administrativo. Honorários advocatícios estipulados em 10% do valor da condenação. Aplicação da Súmula nº 111, do STJ. Juros de mora de 0,5% ao mês e a correção monetária pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal. Apelo provido.” (TRF 5ª R. – AC 0000249-86.2016.4.05.9999 – (586804/PB) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Lázaro Guimarães – DJe 28.04.2016 – p. 122)

2045 – Tempo de serviço – rurícola – desenvolvimento de atividade em condições es-peciais – uso de EPI – reconhecimento

“Previdenciário. Atividade rural como segurado especial. Regime de economia familiar. Segurado rural empregado. Anotação em CTPS. Comprovação do tempo de serviço. Tempo especial. EPI. Julgamento pelo STF em repercussão geral. Aposentadoria por tem-po de serviço/contribuição. Carência. Trabalhador rural com registro em CTPS anterior ao advento da Lei nº 8.213/1991. Possibilidade de cômputo para fins de carência. Melhor dos benefícios. Implantação. 1. Comprovado o exercício de atividade rural, na qualida-de de segurado especial, mediante início de prova material, complementada por prova testemunhal idônea. 2. O registro constante na CTPS goza da presunção de veracidade juris tantum, devendo a prova em contrário ser inequívoca, constituindo, desse modo, prova plena do serviço prestado nos períodos ali anotados. 3. O uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPI, no caso de exposição a ruído, ainda que reduza os níveis do agente físico a patamares inferiores aos previstos na legislação previdenciária, não des-caracteriza a especialidade do labor. Quanto aos demais agentes, o uso de EPI somente descaracteriza a atividade em condições especiais se comprovada, no caso concreto, a real efetividade, suficiente para afastar completamente a relação nociva a que o empre-gado se submete. Entendimento em consonância com o julgamento pelo STF do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) nº 664.335, com repercussão geral reconhecida (tema nº 555). 4. Comprovada a exposição do segurado a agente nocivo, na forma exigida pela

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legislação previdenciária aplicável à espécie, possível reconhecer-se a especialidade da atividade laboral por ele exercida. 5. Hipótese em que a matéria controvertida diz respei-to à possibilidade de reconhecimento do tempo de serviço exercido por trabalhador rural registrado em carteira profissional, em período anterior ao advento da Lei nº 8.213/1991, para efeito da carência exigida no art. 142 da Lei de Benefícios. 6. No julgamento do Recurso Especial representativo de controvérsia (REsp 1.352.791/SP), o STJ entendeu que não ofende o § 2º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991 o reconhecimento do tempo de serviço exercido por trabalhador rural registrado em carteira profissional para efeito de carência, tendo em vista que o empregador rural, juntamente com as demais fontes previstas na legislação de regência, eram os responsáveis pelo custeio do fundo de assistência e pre-vidência rural (Funrural). Período de carência comprovado para fins de aposentadoria por tempo de serviço/contribuição, considerados os registros em CTPS como empregado rural. 7. No caso dos autos, a parte autora tem direito à aposentadoria por tempo de ser-viço/contribuição, porquanto implementados os requisitos para sua concessão, devendo lhe ser implantado o melhor dos benefícios ao qual tem direito, desde a data do requeri-mento administrativo. (TRF 4ª R. – Ap-RN 0009928-79.2012.4.04.9999/PR – 6ª T. – Relª Desª Fed. Vânia Hack de Almeida – DJe 21.01.2016 – p. 1068)

2046 – Tempo de serviço especial – agentes nocivos – equipamentos de proteção indi-vidual – efeitos

“Previdenciário. Atividade especial. Agentes nocivos. Equipamentos de proteção in-dividual. Concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Tutela específica. 1. Apresentada a prova necessária a demonstrar o exercício de atividade sujeita a con-dições especiais, conforme a legislação vigente na data da prestação do trabalho deve ser reconhecido o respectivo tempo de serviço. 2. Possível afastar o enquadramento da atividade especial somente quando comprovada a efetiva utilização de equipamentos de proteção individual que elidam a insalubridade. A exposição habitual e permanente a níveis de ruído acima dos limites de tolerância estabelecidos na legislação pertinente à matéria sempre caracteriza a atividade como especial, independentemente da utilização ou não de EPI ou de menção, em laudo pericial, à neutralização de seus efeitos nocivos. 3. A exposição a hidrocarbonetos aromáticos enseja o reconhecimento do tempo de serviço como especial. 4. Os equipamentos de proteção individual não são suficientes, por si só, para descaracterizar a especialidade da atividade desempenhada pelo segura-do, devendo cada caso ser apreciado em suas particularidades. 5. Se o segurado imple-mentar os requisitos para a obtenção de aposentadoria pelas regras anteriores à Emenda Constitucional nº 20/1998, pelas Regras de Transição e/ou pelas Regras Permanentes, poderá inativar-se pela opção que lhe for mais vantajosa. Determina-se o cumprimento imediato do acórdão naquilo que se refere à obrigação de implementar o benefício, por se tratar de decisão de eficácia mandamental que deverá ser efetivada mediante as atividades de cumprimento da sentença stricto sensu previstas no art. 497 do CPC/2015, sem a necessidade de um processo executivo autônomo (sine intervallo).” (TRF 4ª R. – AC 0019537-81.2015.4.04.9999/SC – 6ª T. – Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira – DJe 20.04.2016 – p. 3)

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RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA .............................................................................211

2047 – Tempo de serviço especial – agentes químicos – laudo técnico ou PPP – conver-são – possibilidade

“Previdenciário. Reexame necessário. Atividade especial. Laudo técnico ou PPP. Agen-tes químicos. Conversão de aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria es-pecial. Requisitos preenchidos. 1. Cabível o reexame necessário, nos termos da Súmula nº 490 do Superior Tribunal de Justiça. 2. Salvo no tocante aos agentes físicos ruído e calor, é inexigível laudo técnico das condições ambientais de trabalho para a comprova-ção de atividade especial até o advento da Lei nº 9.528/1997, ou seja, até 10.12.1997. Precedentes do STJ. 3. Comprovada a atividade insalubre por meio de laudo técnico ou Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP por mais de 25 (vinte e cinco) anos, é devida a conversão da aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria especial. 4. A respeito do agente físico ruído, o Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso representativo da controvérsia, firmou orientação no sentido de que o nível de ruído que caracteriza a insalubridade para contagem de tempo de serviço especial deve ser superior a 80 (oitenta) decibéis até a edição do Decreto nº 2.171/1997, de 05.03.1997, superior a 90 (noventa) decibéis entre a vigência do Decreto nº 2.171/1997 e a edi-ção do Decreto nº 4.882/2003, de 18.11.2003, e após a entrada em vigor do Decreto nº 4.882/2003, ou seja, a partir de 19.11.2003, incide o limite de 85 (oitenta e cin-co) decibéis, considerando o princípio tempus regit actum (Recurso Especial repetitivo nº 1.398.260/PR, Rel. Min. Herman Benjamin). 5. Termo inicial mantido no requerimen-to administrativo. Desnecessário desligamento da parte autora de sua atividade profis-sional no mesmo ambiente de trabalho e sujeita aos agentes agressivos que deram azo à concessão da aposentadoria. Requisitos preenchidos na data do requerimento adminis-trativo, benefício negado administrativamente. 6. Juros de mora e correção monetária na forma prevista no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, com a redação atualizada pela Resolução nº 267/2013, observando-se, no que couber, o decidido pelo C. STF no julgado das ADIs 4.357 e 4.425. 7. Verba honorária majorada 15% (quinze por cento) sobre o valor das prestações vencidas entre o termo inicial do benefício e a data da sentença (Súmula nº 111 do STJ). 8. Reexame necessário, tido por interposto, e apelação do INSS desprovidos. Apelação da parte autora parcial-mente provida.” (TRF 3ª R. – AC 0004180-54.2016.4.03.9999/SP – 10ª T. – Relª Desª Fed. Lucia Ursaia – DJe 27.04.2016 – p. 870)

2048 – Tempo de serviço especial – não comprovação – efeitos

“Previdenciário. Agravo legal. Reconhecimento de tempo de serviço/especial. Decisão mantida. Recurso improvido. Agravo da parte autora insurgindo-se contra a decisão mo-nocrática que negou seguimento à sua apelação, não reconhecendo como especial os períodos pleiteados. In casu, não foi demonstrada a especialidade da atividade, nos ter-mos exigidos pela legislação previdenciária, com formulário, emitido pela empresa ou preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho, atestando a exposição a agentes agressivos, de forma habitual e permanente, que prejudiquem a saúde ou a integridade física do trabalhador. O labor do autor, em cargo de chefia e em ambiente não relacionado à atividade-fim, aponta para a não caracterização de exposi-ção a agentes agressivos de forma habitual e permanente, o que impossibilita o enqua-

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212 ......................................................................... RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

dramento da atividade. A profissão do autor não está entre as categorias elencadas pelos Decretos nºs 53.831/1964 (Quadro Anexo – 2ª Parte) e 83.080/1979 (Quadro Anexo II). A parte autora não faz jus ao reconhecimento da especialidade do labor. A parte autora não perfez tempo suficiente para a aposentadoria pretendida, pois que, para beneficiar--se das regras permanentes estatuídas no art. 201, § 7º, da CF/1988, deveria cumprir, pelo menos, 35 (trinta e cinco) anos de contribuição. Não foram preenchidos também, até a data da propositura da ação, os requisitos para a aposentadoria proporcional. A decisão monocrática com fundamento no art. 557, caput e § 1º-A, do CPC, que confe-re poderes ao relator para decidir recurso manifestamente improcedente, prejudicado, decerto, intempestivo ou contrário à jurisprudência dominante do respectivo Tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior, sem submetê-lo ao órgão cole-giado, não importa em infringência ao CPC ou aos princípios do direito. É assente a orientação pretoriana no sentido de que o órgão colegiado não deve modificar a decisão do Relator, salvo na hipótese em que a decisão impugnada não estiver devidamente fundamentada, ou padecer dos vícios da ilegalidade e abuso de poder, e for passível de resultar lesão irreparável ou de difícil reparação à parte. Agravo improvido.” (TRF 3ª R. – Ag-AC 0031697-68.2015.4.03.9999/SP – 8ª T. – Relª Desª Fed. Tania Marangoni – DJe 22.01.2016 – p. 3094)

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Seção Especial – Em Poucas Palavras

Aposentadoria Compulsória: Inconstitucionalidade do Artigo 100 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

guSTAvO FILIPE BARBOSA gARCIALivre-Docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Especialista em Direito pela Universidad de Sevilla, Pós-Doutor em Direito pela Universidad de Sevilla, Membro Pesquisador do IBDSCJ, Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, titular da Cadeira 27, Professor Univer-sitário em Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito, Advogado, Consultor Jurídico, Ex-Juiz do Trabalho das 2ª, 8ª e 24ª Regiões, Ex-Procurador do Trabalho do Ministério Público da União, Ex-Auditor-Fiscal do Trabalho.

A Emenda Constitucional nº 88, de 7 de maio de 2015, publicada no Diário Oficial da União de 2015, alterou o art. 40 da Constituição da República Federativa do Brasil quanto ao limite de idade para a aposen-tadoria compulsória do servidor público em geral e acrescentou disposi-tivo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

A modificação versou, na verdade, apenas a respeito do Regime Próprio de Previdência Social dos servidores estatutários, o qual também é aplicável aos Magistrados, membros do Ministério Público e Ministros do TCU.

De forma mais específica, a mencionada norma produzida pelo poder constituinte derivado de reforma estabeleceu modificação quan-to à idade da aposentadoria compulsória dos mencionados agentes públicos.

O art. 40, § 1º, inciso II, da Constituição da República, com reda-ção dada pela Emenda Constitucional nº 88/2015, passou a prever que os servidores abrangidos pelo Regime Próprio de Previdência Social em questão serão “aposentados compulsoriamente, com proventos propor-cionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar”.

Na redação anterior, no Regime Próprio de Previdência Social em questão, a aposentadoria compulsória ocorria aos 70 (setenta) anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.

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214 .................................................................................... RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS

A parte final do art. 40, § 1º, inciso II, da Constituição da Repúbli-ca, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 88/2015, ao pre-ver a possibilidade de elevação da idade de aposentadoria compulsória para 75 anos, é norma constitucional de eficácia limitada, pois a sua aplicabilidade depende de lei complementar.

Apesar do exposto acima, a Emenda Constitucional nº 88/2015, no art. 2º, também acrescentou ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias o art. 100, assim dispondo:

Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União apo-sentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição Federal.

Com isso, justamente em razão da eficácia limitada da parte final do atual art. 40, § 1º, inciso II, da Constituição da República, a pró-pria emenda constitucional que modificou esse dispositivo estabeleceu norma transitória, determinando que a aposentadoria compulsória dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União passa a ocorrer aos 75 anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição Federal de 1988.

Essa previsão entrou em vigor na data de publicação da Emenda Constitucional nº 88, ou seja, tem vigência e eficácia a partir de 8 de maio de 2015.

Nota-se que a parte final do art. 100 do Ato das Disposições Cons-titucionais Transitórias faz expressa remissão ao art. 52 da Constituição da República.

Há certa dificuldade na compreensão dessa inusitada remissão, pois o art. 52 da Constituição da República, na verdade, não versa sobre condições para a aposentadoria.

A finalidade da norma constitucional transitória certamente é exi-gir a incidência do inciso III do art. 52, ao prever a competência privati-va do Senado Federal para “aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública”, a escolha de: Magistrados, nos casos estabelecidos

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RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS .........................................................................................215

na Constituição Federal, e Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República.

Ainda assim, no caso em estudo, não se trata de aprovação de escolha de magistrado ou ministro, mas sim de aposentadoria compul-sória.

Ao que tudo indica, a intenção parece ter sido a de exigir a apro-vação do Senado para que a aposentadoria compulsória dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União ocorra somente aos 75 anos de idade.

Isso, entretanto, não se revelaria adequado, pois o agente público em questão, no caso, já está investido no cargo, não podendo haver interferência do Senado na continuidade do exercício das funções de-correntes.

Ademais, nas hipóteses de Ministros do Supremo Tribunal Federal e de Tribunais Superiores (Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Militar), a medida afrontaria a garantia constitucional de independência entre os Poderes da República Federativa do Brasil, a qual integra as chamadas cláusulas pétreas e está, portanto, fora do alcance do poder constituinte derivado de reforma.

Nesse sentido, conforme o art. 60, § 4º, inciso III, da Constitui-ção Federal de 1988, não pode ser objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir “a separação dos Poderes”.

Mesmo porque são Poderes da União, independentes e harmôni-cos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário (art. 2º da Constitui-ção da República).

Quanto ao Tribunal de Contas da União, embora não integre o Po-der Judiciário (art. 92 da Constituição da República), cabe lembrar que a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimo-nial da União e das entidades da Administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, median-te controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder (art. 70 da Constituição Federal de 1988).

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216 .................................................................................... RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS

Esse controle externo, a cargo do Congresso Nacional, é exercido justamente com o auxílio do Tribunal de Contas da União (art. 71).

O referido art. 100 do Ato das Disposições Constitucionais Tran-sitórias, ao fazer referência também aos Ministros do TCU, certamente decorre da previsão do art. 73, § 3º, da Constituição Federal de 1988.

Nesse sentido, os Ministros do Tribunal de Contas da União têm as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vanta-gens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40 da Constitui-ção da República.

Cabe registrar, por fim, que o Pleno do Supremo Tribunal Fede-ral, em 21 de maio de 2015, na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.316/DF (Relator Ministro Luiz Fux), por maioria, deferiu a medida cautelar para

suspender a aplicação da expressão “nas condições do art. 52 da Cons-tituição Federal” contida no art. 100 do ADCT, introduzido pela EC 88/2015, por vulnerar as condições materiais necessárias ao exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a separação dos Poderes, cláusula pétrea inscrita no art. 60, § 4º, III, da CRFB.

Como se pode notar, os possíveis questionamentos decorrentes dessa norma constitucional transitória são diversos, devendo-se acom-panhar a evolução doutrinária e jurisprudencial, bem como os desdo-bramentos legislativos sobre a matéria.

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Tabelas Práticas

LIMITES DE DEPÓSITOS RECURSAIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Novos valores para Depósitos Recursais na Justiça do Trabalho (Ato nº 397/2015 do TST, DJe de 13.07.2015, vigência a partir de 01.08.2015)

Recurso Ordinário R$ 8.183,06

Recurso de Revista, Embargos, Recurso Extraordinário e Recursos em Ação Rescisória R$ 16.366,10

Ação Rescisória – Depósito prévio de 20% do valor da causa, salvo prova de miserabilidade, nos termos do art. 836 da CLT, alterado pela Lei nº 11.495/2007, cujos efeitos começam a fluir a partir do dia 24.09.2007.

INSS – JANEIRO/2016Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração a partir de 1º de janeiro de 2016.

Salário-de-contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%) Até 1.556,94 8,00% De 1.556,95 até 2.594,92 9,00% De 2.594,93 até 5.189,82 11,00%

Ir foNte – tabela progreSSIva meNSal para CálCulo a partIr de abrIl/2015 – mp 670/2015 – dou 11.03.2015

Base de cálculo em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$ Até 1.903.98 – – De 1.903,99 até 2,826,65 7,5 142,80 De 2.826,66 até 3.751,05 15,0 354,80 De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13 Acima de 4.664,69 27,5 869,36 Dedução por dependente 189,59

TABELA DE ATUALIzAÇÃO MONETÁRIA DAS PARCELAS RELATIVAS A BENEFÍCIOS PAGOS COM ATRASO (ART. 175, DECRETO Nº 3.048/1999)

Maio/2016 (Portaria nº 554, de 06.05.2016)

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/94 7,338075

ago/94 6,917492

set/94 6,559351

out/94 6,461778

nov/94 6,343784

dez/94 6,142911

jan/95 6,011264

fev/95 5,912525

mar/95 5,854565

abr/95 5,773163

maio/95 5,664407

jun/95 5,522479

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/95 5,423766

ago/95 5,293545

set/95 5,240096

out/95 5,179496

nov/95 5,107984

dez/95 5,032001

jan/96 4,950321

fev/96 4,879086

mar/96 4,844689

abr/96 4,830680

maio/96 4,797100

jun/96 4,717840

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/96 4,660977

ago/96 4,610720

set/96 4,610535

out/96 4,604549

nov/96 4,594442

dez/96 4,581613

jan/97 4,541647

fev/97 4,471005

mar/97 4,452305

abr/97 4,401251

maio/97 4,375435

jun/97 4,362348

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/97 4,332024

ago/97 4,328129

set/97 4,328129

out/97 4,302743

nov/97 4,288163

dez/97 4,252864

jan/98 4,223721

fev/98 4,186876

mar/98 4,186039

abr/98 4,176433

maio/98 4,176433

jun/98 4,166849

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218 ........................................................................................................................ RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – TABELAS PRÁTICAS

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/98 4,155215

ago/98 4,155215

set/98 4,155215

out/98 4,155215

nov/98 4,155215

dez/98 4,155215

jan/99 4,114889

fev/99 4,068106

mar/99 3,895160

abr/99 3,819534

maio/99 3,818388

jun/99 3,818388

jul/99 3,779834

ago/99 3,720675

set/99 3,667496

out/99 3,614365

nov/99 3,547321

dez/99 3,459788

jan/00 3,417750

fev/00 3,383241

mar/00 3,376825

abr/00 3,370758

maio/00 3,366381

jun/00 3,343977

jul/00 3,313164

ago/00 3,239941

set/00 3,182029

out/00 3,160223

nov/00 3,148573

dez/00 3,136342

jan/01 3,112685

fev/01 3,097507

mar/01 3,087012

abr/01 3,062511

maio/01 3,028292

jun/01 3,015026

jul/01 2,971640

ago/01 2,924267

set/01 2,898183

out/01 2,887212

nov/01 2,845945

dez/01 2,824479

jan/02 2,819404

fev/02 2,814058

mar/02 2,809001

abr/02 2,805915

maio/02 2,786410

jun/02 2,755820

jul/02 2,708689

ago/02 2,654277

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

set/02 2,593080

out/02 2,526383

nov/02 2,424320

dez/02 2,290551

jan/03 2,230332

fev/03 2,182962

mar/03 2,148796

abr/03 2,113709

maio/03 2,105078

jun/03 2,119277

jul/03 2,134217

ago/03 2,138493

set/03 2,125317

out/03 2,103233

nov/03 2,094019

dez/03 2,084016

jan/04 2,071586

fev/04 2,055145

mar/04 2,047161

abr/04 2,035558

maio/04 2,027247

jun/04 2,019170

jul/04 2,009124

ago/04 1,994564

set/04 1,984641

out/04 1,981273

nov/04 1,977910

dez/04 1,969246

jan/05 1,952454

fev/05 1,941388

mar/05 1,932884

abr/05 1,918876

maio/05 1,901572

jun/05 1,888353

jul/05 1,890433

ago/05 1,889866

set/05 1,889866

out/05 1,887035

nov/05 1,876154

dez/05 1,866077

jan/06 1,858642

fev/06 1,851606

mar/06 1,847357

abr/06 1,842383

maio/06 1,840174

jun/06 1,837785

jul/06 1,839073

ago/06 1,837052

set/06 1,837419

out/06 1,834484

nov/06 1,826630

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

dez/06 1,818990jan/07 1,807782fev/07 1,798967mar/07 1,791443abr/07 1,783595

maio/07 1,778970jun/07 1,774356jul/07 1,768873

ago/07 1,763230set/07 1,752888out/07 1,748517nov/07 1,743287dez/07 1,735823jan/08 1,719147fev/08 1,707367mar/08 1,698703abr/08 1,690084

maio/08 1,679336jun/08 1,663368jul/08 1,648368

ago/08 1,638862set/08 1,635428out/08 1,632978nov/08 1,624854dez/08 1,618703jan/09 1,614022fev/09 1,603758mar/09 1,598802abr/09 1,595611

maio/09 1,586883jun/09 1,577418jul/09 1,570821

ago/09 1,567216set/09 1,565964out/09 1,563462nov/09 1,559719dez/09 1,553969jan/10 1,550248fev/10 1,536725mar/10 1,526043abr/10 1,515284

maio/10 1,504303jun/10 1,497862jul/10 1,499512

ago/10 1,500562set/10 1,501613out/10 1,493548nov/10 1,479933dez/10 1,464845jan/11 1,456108fev/11 1,442548mar/11 1,434800abr/11 1,425393

maio/11 1,415203jun/11 1,407182jul/11 1,404093

ago/11 1,404093

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

set/11 1,398221out/11 1,391957nov/11 1,387517dez/11 1,379653jan/12 1,372652fev/12 1,365687mar/12 1,360382abr/12 1,357938

maio/12 1,349302jun/12 1,341921jul/12 1,338441

ago/12 1,332711set/12 1,326740out/12 1,318434nov/12 1,309139dez/12 1,302108jan/13 1,292543fev/13 1,280760mar/13 1,274135abr/13 1,266536

maio/13 1,259107jun/13 1,254715jul/13 1,251212

ago/13 1,252841set/13 1,250839out/13 1,247471nov/13 1,239908dez/13 1,233248jan/14 1,224432fev/14 1,216767mar/14 1,209029abr/14 1,199195

maio/14 1,189914jun/14 1,182817jul/14 1,179750

ago/14 1,178218set/14 1,176101out/14 1,170366nov/14 1,165936dez/14 1,159789jan/15 1,152643fev/15 1,135832mar/15 1,122808

abr/15 1,106105

maio/15 1,098307

jun/15 1,087541

jul/15 1,079231

ago/15 1,073007

set/15 1,070331

out/15 1,064900

nov/15 1,056763

dez/15 1,045162

jan/16 1,035840

fev/16 1,020431

mar/16 1,010828

abr/16 1,006400

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Clipping Jurídico

Reconhecida incompetência da JF para julgar ação pleiteando benefício decorrente de acidente de trabalho

A 2ª Turma do TRF da 1ª Região, por unanimidade, reconheceu de ofício a in-competência da Justiça Federal para julgar ação pleiteando benefício de acidente de trabalho e julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, com relação ao pedido de revisão de benefício acidentário. Segundo o voto do Relator, Juiz Fede-ral Convocado Cleberson José Rocha, nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal, compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação decorrente de acidente de trabalho, inclusive no tocante à revisão de seus benefícios. A parte autora ajuizou ação contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), postulan-do o restabelecimento do seu benefício de auxílio suplementar por acidente de trabalho, concedido em 18.09.1982, convertido em auxílio-acidente a partir da vigência da Lei nº 8.213/1991, e a elevação do seu coeficiente de cálculo para o percentual de 50% (cinquenta por cento) do salário de benefício, a partir da vigência da Lei nº 9.032/1995; e que lhe fosse assegurado o direito à percepção cumulativa dos benefícios de auxílio-acidente e aposentadoria por tempo de ser-viço. Em primeira instância, o processo foi extinto com resolução do mérito, com base no art. 269, IV, do CPC, em face da decadência, condenando a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários de advogado. Com a ne-gativa, a parte autora interpôs apelação. O Juiz Cleberson afirma que, embora o benefício de auxílio-acidente da parte autora tenha sido concedido antes da Lei nº 9.528/1997, a sua aposentadoria foi posterior ao novo regramento estabeleci-do pelo referido diploma legal, razão pela qual ela não faz jus à cumulação pre-tendida. Ressaltou, ainda, o magistrado que: “A Justiça Federal é incompetente para a apreciação do pedido de revisão da RMI do benefício de auxílio-acidente decorrente de acidente de trabalho, circunstância que enseja a extinção do pro-cesso no particular, com base no art. 267, IV, do CPC, devendo prosseguir o feito, entretanto, com relação ao pedido remanescente de percepção cumulativa dos benefícios de auxílio-acidente e aposentadoria, cuja matéria é afeita à competên-cia da Justiça Federal, conforme decidiu o eg. STF”. Sendo assim, o Colegiado decidiu, quanto ao pedido remanescente, dar parcial provimento à apelação para afastar a decadência e, com base no art. 515, § 3º, do CPC, julgar procedente em parte o pedido, condenando o INSS a proceder ao cálculo da renda mensal inicial do benefício de aposentadoria do autor com observância do disposto no art. 31 da Lei nº 8.213/1991. Processo nº 0001255-80.2010.4.01.3814/MG. Fon-te: Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Turma decide pela possibilidade de acumular cargos de orientador de aprendizagem e de professor

A 2ª Turma do TRF da 1ª Região manteve sentença do Juízo Federal da 5ª Vara da Seção Judiciária do Maranhão que, em mandado de segurança contra ato prati-

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220 ....................................................................................................................... RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – CLIPPING JURÍDICO

cado pela Comissão do Processo Disciplinar, apurava suposta ilegalidade de acu-mulação de cargo público, garantindo à parte impetrante o direito ao exercício cumulativo dos cargos de orientadora de aprendizagem (Administração Pública Federal) e de professora de 1º e 2º graus do Governo do Estado do Maranhão. Os autos subiram ao TRF por meio de remessa necessária, instituto previsto no art. 496 do novo Código de Processo Civil, segundo o qual o juiz sentenciante deve ordenar o envio dos autos ao Tribunal quando a sentença for contrária a ente público. Em seu voto, o Relator, Juiz Federal Convocado César Cintra Jatahy Fonseca, ressalta, inicialmente, que a Constituição, em seu art. 37, XVI, alíneas a e b, dispõe que é permitida a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto quando houver incompatibilidade de horários, de dois cargos ou empregos priva-tivos de professor e de um cargo de professor com outro técnico ou científico. O magistrado asseverou que, na hipótese dos autos, “ficou demonstrado que a ativi-dade de orientador de aprendizagem desempenha atribuições próprias e específi-cas de cargo técnico, inclusive podendo ser correlata com a de professor”. O juiz ainda destacou que a atividade desenvolvida pelo orientador de aprendizagem, considerando a qualificação exigida para o seu exercício, “equivale, ontologi-camente, ao cargo de professor, devendo integrar, por conseguinte, o quadro de funções de magistério, sendo irrelevante a nomenclatura que se lhe cometeu”. Por fim, o Colegiado, por entender que o cargo de orientador de aprendizagem “subsume-se ao conceito de cargo técnico”, decidiu ser lícita a acumulação com o outro cargo de professor. A decisão foi unânime. Nº do Processo: 0000058-49.2007.401.3700. Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Decisão limita valor da pensão de ex-combatente da Segunda Guerra Mun-dial ao teto previdenciário

Benefícios indevidamente pagos em razão de interpretação errônea e por erro da Administração não precisam ser restituídos. O Desembargador Federal Gilberto Jordan, da Nona Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), refor-mou decisão de primeiro grau e decidiu que a pensão de viúva de ex-combatente deve respeitar o teto previdenciário. Contudo, os valores pagos a maior por erro da Administração não serão restituídos. A ação foi ajuizada pela viúva de um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial que recebia aposentadoria limitada ao teto previsto no art. 37, inciso XI, da Constituição Federal, equivalente ao subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Em 2000, com a morte de seu marido, a autora passou a receber pensão por morte no mesmo valor. Em 2009, todavia, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) corrigiu o valor da pensão, que ficou limitada ao teto dos benefícios previdenciários. Além disso, passou a descontar 30% do valor do benefício para compensar os valores pagos indevidamente. Para o magistrado, a pensão por morte da autora deverá observar o teto dos benefícios previdenciários, pois as regras aplicáveis à pensão por morte são aquelas vigentes na época do óbito. Quando o marido da autora faleceu, o

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art. 201, § 1º, vedava a adoção de critérios diferenciados para a concessão de aposentadorias aos beneficiários do Regime Geral da Previdência Social. “Im-plementada a condição de percebimento de pensão no ano 2000, em função do óbito do titular do benefício previdenciário, evidente que a autora deve se ade-quar às limitações impostas nas normas previdenciárias, para gozo do benefício, significando dizer está o provento limitado ao teto do RGPS, nenhuma quantia superior lhe sendo devida. Aliás, no emblemático julgamento do RE 564354, apreciado ao âmbito da Repercussão Geral, o Excelso Pretório estabeleceu que as implementações das diretrizes das ECs 20/1998 e 41/2003 possuíam aplicação imediata, ao estatuírem tetos ao Regime Geral de Previdência Social”, explicou o relator. Porém, segundo o desembargador federal, o desconto dos valores pa-gos a maior contraria os arts. 115, II, da Lei nº 8.213/1991 e 884 do Código Civil, ressaltando que “a faculdade do Poder Público de rever seus atos não lhe permite, indiscriminadamente, afetar cifras recebidas pelo beneficiário de boa--fé”. Para Gilberto Jordan, o próprio INSS confirmou o erro de interpretação para manutenção do pagamento em montante superior ao teto previdenciário, evi-denciando que a autora recebeu os valores de boa-fé. Nº do Processo: 0012868-51.2009.4.03.6183. Fonte: Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Tribunal determina que INSS acrescente salários ganhos antes do Plano Real em cálculo de aposentadoria

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) determinou, no final de abril, ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que elabore novamente o cálculo da Renda Mensal Inicial (RMI) de uma segurada do Rio Grande do Sul que começou a trabalhar em 1972 e se aposentou em 2002. O novo cálculo deverá ter por base a média aritmética dos 80% maiores salários de contribuição da segurada desde que começou a contribuir, multiplicada pelo fator previdenciário. A segurada recorreu ao Tribunal após ter seu pedido de recálculo negado em primeira instân-cia. Segundo ela, o art. 3º da Lei nº 9.876/1999, criado como regra de transição, que limitou o Período Básico de Cálculo (PBC) a partir de julho de 1994, início do Plano Real, seria inconstitucional. Após analisar o recurso, a 5ª Turma deu provimento ao pedido. Segundo o Relator do processo, Juiz Federal José Antônio Savaris, convocado no Tribunal, embora a Lei nº 9.876/1999 não tenha previsto expressamente, há que ser entendido que o segurado poderá optar pela regra nova na sua integralidade, ou seja, a média dos 80% maiores salários de contri-buição de todo o período em que contribuiu ao sistema e não apenas a partir de julho de 1994. Caso não haja recurso do INSS, a segurada terá sua RMI recalcula-da e deverá receber os valores retroativos à data de início do benefício corrigidos monetariamente. A revisão da aposentadoria é vantajosa para o trabalhador que recebeu salários mais altos antes de 1994 e teve reduzidos os valores de recolhi-mento após o Plano Real. Para o magistrado, essa interpretação da norma evita

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situações de extremo prejuízo ou extremo benefício ao segurado. Nº do Processo: 5008286-81.2012.4.04.7122. Fonte: Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Empresa terá que ressarcir INSS por gastos com pensão por morte de um ex-funcionário

O Instituto Nacional da Previdência Social (INSS) irá receber da empresa de in-dústria, comércio e exportação de grãos Granol S.A. a metade dos valores gastos com o pagamento de pensão à família de um ex-funcionário morto após acidente de trabalho. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região considerou a empresa parcialmente culpada pelo ocorrido. A decisão foi proferida na última semana. O acidente ocorreu em julho de 2010. Na ocasião, o funcionário que veio a falecer trabalhava junto a um colega desentupindo uma máquina de descarregamento de soja quando ambos foram sugados pelo equipamento. Um dos homens foi soterrado pelos grãos, vindo a morrer por asfixia mecânica. O outro teve feri-mentos leves. Uma série de fiscalizações realizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego nos dias seguintes à ocorrência apontou que a Granol não estava cumprindo as normas de segurança e higiene do trabalho. O INSS ajuizou ação contra a empresa alegando que os funcionários não estavam usando cinto de proteção no momento do acidente devido à negligência por parte dos emprega-dores. A ré contestou afirmando que os funcionários ingressaram no interior da máquina por sua conta e risco, não observando o procedimento adequado para o desentupimento, que deveria ter ocorrido pelo lado de fora da estrutura. Em depoimento, o funcionário sobrevivente relatou que o colega foi alertado sobre a necessidade de usar o cinto para entrar no equipamento, mas estava nervoso e respondeu que “era ‘ligeirinho’ e não precisava de proteção e que, se fossem buscar, iam demorar muito tempo”. Por outro lado, o testemunho também per-mitiu concluir que a negligência no procedimento, da maneira como ocorreu na data do acidente, ainda que não incentivada ou ordenada, era tolerada pela Empresa Granol. Também foi apontado que não havia equipamento de proteção próxima à máquina. Em julgamento de primeira instância, a Justiça Federal de Cachoeira do Sul (RS) condenou a ré a contribuir com a metade da pensão paga à família do ex-funcionário, além de ressarcir o INSS pelos valores já gastos. A Granol recorreu. Na última semana, a 4ª Turma do TRF4 manteve a decisão por unanimidade. Segundo a Relatora do processo, Desembargadora Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha, “a culpa pelo acidente é de ambos, empregado e em-presa, e, portanto, é cabível o ressarcimento ao INSS da metade das despesas”. Nº do Processo: 5001122-69.2015.4.04.7119. Fonte: Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Fechamento da Edição: 25.05.2016

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Bibliografia Complementar

Recomendamos como sugestão de leitura complementar aos assuntos abordados nesta edição os seguintes conteúdos:

artIgo doutrINárIo

• DireitoPrevidenciárioConstitucional.Artigo40,§4º,daCF.Regime Especial para os Servidores Públicos em Atividade de Risco. Sobreposição ao Regime Geral. Delegação à Lei Com-plementar. LC 51/1985. Implementação dos Princípios da Igualdade, da Proporcionalidade e da Dignidade da Pessoa Humana. Opinião Legal

Ives Gandra da Silva Martins e Cláudia Fonseca Morato Pavan

Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET,

disponíveis em: online.sintese.com

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Índice Alfabético e Remissivo

índice por assunto especial

DOUTRINA

Assunto

AtividAde ConComitAnte do SegurAdo e o reColhimento PrevidenCiário

•A Atividade Concomitante do Segurado do Re-gime Geral de Previdência Social e o Problema Hermenêutico do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991 (Carlos Eduardo Viana Kortz) ...............................23

•Simultaneidade no Regime Geral de Previdência Social à Luz do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991 (Wladimir Novaes Martinez) ..................................9

Autor

CArloS eduArdo viAnA Kortz

•A Atividade Concomitante do Segurado do Re-gime Geral de Previdência Social e o Problema Hermenêutico do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991 ............................................................................23

WlAdimir novAeS mArtinez

•Simultaneidade no Regime Geral de PrevidênciaSocial à Luz do Artigo 32 da Lei nº 8.213/1991 .......9

índice geral

DOUTRINAS

Assunto

APoSentAdoriA

•Aposentadoria da Pessoa com Deficiência: a Busca pela Efetiva Tutela Administrativa (JoãoMarcelino Soares) ................................................36

PrevidênCiA SoCiAl

•A Inconstitucionalidade da Desvinculação das Receitas da União à Luz do Inciso XI do Arti-go 167 da Constituição Social e a Falsa Ideiado Déficit Previdenciário (Karen Costa Braga)......68

PrinCíPio

•Contextualização das Microrreformas Previ-denciárias Face ao Princípio da Vedação de Retrocesso Social (Tatiana Conceição Fiore deAlmeida) ..............................................................51

Autor

João mArCelino SoAreS

•Aposentadoria da Pessoa com Deficiência: aBusca pela Efetiva Tutela Administrativa ..............36

KAren CoStA BrAgA

•A Inconstitucionalidade da Desvinculação das Receitas da União à Luz do Inciso XI do Artigo

167 da Constituição Social e a Falsa Ideia do Déficit Previdenciário ..........................................68

tAtiAnA ConCeição Fiore de AlmeidA

•Contextualização das Microrreformas Previden-ciárias Face ao Princípio da Vedação de Re-trocesso Social .....................................................51

Seção especial

EM POUCAS PALAVRAS

Assunto

APoSentAdoriA ComPulSóriA

•Aposentadoria Compulsória: Inconstituciona-lidade do Artigo 100 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (Gustavo FilipeBarbosa Garcia) .................................................213

Autor

guStAvo FiliPe BArBoSA gArCiA

•Aposentadoria Compulsória: Inconstituciona-lidade do Artigo 100 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ...............................213

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Assunto

AgrAvo

•Agravo regimental no recurso extraordiná-rio com agravo – Previdenciário – Pensão por morte – Habilitação de companheira – Art. 93, inciso IX, da CF – Violação – Não ocorrência – Legislação infraconstitucional – Ofensa refle-xa – Fatos e provas – Reexame – Impossibilida-de – Precedentes (STF) ...............................1982, 88

•Agravo regimental nos embargos de declara-ção no recurso especial – Previdência privada – Ação revisional de complementação de apo-sentadoria – Limite mínimo de idade para o re-cebimento da suplementação de aposentadoria – Decreto nº 81.240/1978 – Lei nº 6.435/1977 – Validade – Qualificação jurídica do fato no tocante à data de adesão dos autores no pla-no de previdência – Possibilidade – Reexame de provas – Não caracterização – A utiliza-ção de fundamentos diversos nesta Corte não prescinde do requisito do prequestionamento– Recurso desprovido (STJ) .......................1984, 111

Auxílio-doençA

•Previdenciário – Constitucional – Fundo de re-gime da previdência social – Custeio de benefí-cio – Art. 195, § 5º, da Constituição – Auxílio--doença – Requisitos – Qualidade de segurado

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RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ......................................................................................................225 – Período de carência – Incapacidade – Laudo pericial – Consectários legais – Tutela espe-cífica – Implantação do benefício (TRF 4ª R.) ................................................................1989, 148

•Previdenciário – Restabelecimento de benefí-cio de auxílio-doença – Incapacidade labora-tiva para a atividade habitual – Laudo pericial – Juros e correção monetária nos termos da Lei nº 11.960/2009 – Provimento parcial da apela-ção e da remessa necessária (TRF 2ª R.) .... 1986, 123

deSAPoSentAção

•Previdenciário e processual civil – Requerimen-to administrativo – Carência de ação afastada – Desaposentação – Direito personalíssimo – Benefício não requerido pelo titular do direito – Ilegitimidade ativa do pensionista (TRF 1ª R.) ................................................................1985, 119

•Processual civil – Embargos de declaração – Contribuição ao seguro acidente de trabalho (SAT) – Riscos Acidentais do Trabalho (RAT) – Fator Acidentário de Prevenção (FAP) – Aci-dente de trajeto computado no cálculo do FAP – Possibilidade – Recurso acolhido (TRF 3ª R.) ................................................................1987, 128

•Processual civil – Tributário – Contribuição previdenciária patronal – Aviso-prévio indeni-zado – Não incidência (TRF 3ª R.) ...........1988, 135

PenSão

•Previdenciário – Pensão por morte – Vínculo urbano do autor – Descaracterização da qua-lidade de segurado especial – Núcleo familiar que não se dedica exclusivamente à agricul-tura de subsistência – Incabimento da pen-são por morte (TRF 5ª R.) .........................1990, 165

temPo de Serviço

•Previdenciário e processual civil – Agravo re-gimental no recurso especial – Declaração de tempo de serviço – Sócio-cotista – Contribui-ções – Necessidade de recolhimento – Ausência de prequestionamento – Súmulas nºs 211/STJ e 282/STF – Dissídio jurisprudencial não de-monstrado – Ausência de similitude fática entre os acórdãos confrontados – Agravo regimentalimprovido (STJ) ..........................................1983, 96

EMENTÁRIO

Assunto

Ação Civil PúBliCA

•Ação civil pública – prescrição – interrupção –efeitos ......................................................1991, 169

ACidente do trABAlho

•Acidente do trabalho – ação regressiva – im-prescritibilidade – inocorrência ...............1992, 169

•Acidente do trabalho – atleta de futebol – os-teoartrose grave nos joelhos – configuração ................................................................1993, 171

•Acidente do trabalho – benefício por incapaci-dade – justiça estadual – competência .....1994, 172

APoSentAdoriA

•Aposentadoria – servidor público federal – redu-ção do valor – prazo decadencial – observação ................................................................1995, 172

APoSentAdoriA eSPeCiAl

•Aposentadoria especial – frentista – reconheci-mento do tempo de serviço prestado em ativi-dade especial – agentes agressivos – concessão ................................................................1996, 173

•Aposentadoria especial – servidor público – conversão de tempo de serviço especial em co-mum – impossibilidade ............................1997, 176

APoSentAdoriA Por idAde

•Aposentadoria por idade – atividade rural – nãocomprovação – benefício indevido ..........1998, 177

•Aposentadoria por idade – mista ou híbrida – requisitos legais – comprovação ..............1999, 177

•Aposentadoria por idade – rurícola – início de prova material corroborada por testemunhal – valoração ..............................................2000, 178

•Aposentadoria por idade – rurícola – regime de economia familiar – comprovação – bene-fício devido .............................................2001, 179

•Aposentadoria por idade – rurícola – traba-lhador rural – requisitos legais – comprovação– pagamento devido ................................2002, 180

•Aposentadoria por idade rural – início razoável de prova material corroborada por testemu-nha – valoração – pagamento devido ......2003, 180

•Aposentadoria por idade rural – prova material– ausência – pagamento indevido ............2004, 181

APoSentAdoriA Por invAlidez

•Aposentadoria por invalidez – perícia médica – incapacidade comprovada – benefício devido ................................................................2005, 181

APoSentAdoriA Por temPo de ContriBuição

•Aposentadoria por tempo de contribuição – re-conhecimento – pagamento devido .........2006, 182

•Aposentadoria por tempo de contribuição – ru-rícola – início de prova material – documento mais antigo – termo inicial .......................2007, 182

Auxílio-ACidente

•Auxílio-acidente – ausência de incapacidade laborativa – requisito não preenchido – paga-mento indevido .......................................2008, 183

Auxílio-doençA

•Auxílio-doença – conversão em aposentadoria por invalidez – comprovação da qualidade desegurada especial – pagamento devido ....2009, 184

•Auxílio-doença – funcionário da prefeitura – re-gime próprio – contrato de prestação de servi-

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226 .......................................................................................................RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

ço – contribuinte individual – inexistência de recolhimento de contribuições – qualidade de segurado não comprovada – benefício indevido ................................................................2010, 185

•Auxílio-doença – incapacidade laborativa – lau-do pericial – termo inicial ........................2011, 186

•Auxílio-doença – laudo pericial conclusivo –pagamento devido ...................................2012, 186

•Auxílio-doença acidentário – restabelecimen-to – data da cessação administrativa – hipótese de cabimento ...........................................2013, 187

BeneFíCio ASSiStenCiAl

•Benefício assistencial – caráter personalíssimo – óbito da parte autora – pagamento dos atra-sados aos sucessores – hipótese de cabimento ................................................................2014, 187

•Benefício assistencial – idoso – renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo – requisito nãopreenchido – pagamento indevido...........2015, 188

•Benefício assistencial – menor – portador de epilepsia – retardo mental leve – incapacidade para o trabalho – não comprovação – paga-mento indevido .......................................2016, 188

BeneFíCio PrevidenCiário

•Benefício previdenciário – cumulação com danos morais – valor da causa – retificação deofício pelo juízo a quo – possibilidade ....2017, 189

•Beneficiário previdenciário – pensão por morte – limite de idade – observação ................2018, 189

•Benefício previdenciário – recebimento de par-celas por erro da administração pública – segu-rado de boa-fé – reposição ao Erário – desca-bimento ...................................................2019, 193

•Benefício previdenciário – revisão – decadên-cia – observação ......................................2020, 193

CoiSA JulgAdA

•Coisa julgada – relativização – efeitos .....2021, 194

ContriBuição PrevidenCiáriA

•Contribuição previdenciária – empregador – na-tureza jurídica de verbas pagas ao trabalhador– efeitos ...................................................2022, 194

•Contribuição previdenciária – folha de salários – não incidência – aviso-prévio indenizado – incidência – adicionais de horas extras, peri-culosidade, insalubridade, transferência e no-turno – prescrição quinquenal – aplicabilidade ................................................................2023, 195

•Contribuição previdenciária – incidência sobre a nota fiscal – cooperativa de trabalho – inci-dência .....................................................2024, 195

•Contribuição previdenciária – incidência so-bre a receita bruta proveniente da comerciali-zação da produção rural – inconstitucionali-dade ........................................................2025, 196

•Contribuição previdenciária – produção rural – art. 1º da Lei nº 8.540/1992 – inconstituciona-lidade ......................................................2026, 196

•Contribuição previdenciária – valores pagos – empregados – férias gozadas – incidência ................................................................2027, 198

•Contribuição previdenciária – valores pagos a empregados – participação nos lucros da em-presa – incidência – precedentes .............2028, 200

deSAPoSentAção

•Desaposentação – renúncia ao benefício obje-tivando a concessão de outro mais vantajoso – possibilidade ...........................................2029, 200

inComPetênCiA

• Incompetência – Justiça Estadual – acidente do trabalho – não comprovação – inocorrência ................................................................2030, 201

PenSão

•Pensão por morte – boia fria – esposa segura-da dependente – comprovação – termo inicial ................................................................2031, 201

•Pensão por morte – filha maior de 21 anos – es-tudante universitária – manutenção do benefício– impossibilidade .....................................2032, 202

•Pensão por morte – militar – neta não nasci-da à época do óbito do instituidor – requisi-tos legais – não preenchimento – pagamentoindevido ..................................................2033, 202

•Pensão por morte – perda da qualidade de segu-rado – ocorrência – efeitos .......................2034, 203

•Pensão por morte – rurícola – início de prova material e testemunhal – termo a quo ......2035, 203

•Pensão por morte – rurícola – óbito da institui-dora do benefício anterior à Lei nº 8.213/1991 e posterior à CF/1988 – art. 201, V da CF/1988 – aplicação .................................................2036, 204

•Pensão por morte – rurícola – união estável – prova material – não comprovação – benefícioindevido ..................................................2037, 205

•Pensão por morte – união estável – presun-ção de dependência econômica do compa-nheiro – benefício devido ........................2038, 205

PrAzo

•Prazo decadencial – revisão do ato de conces-são – termo inicial ...................................2039, 206

ProFeSSor

•Professor – aposentadoria especial – equipa-ração – fator previdenciário – não incidência ................................................................2040, 206

reSPonSABilidAde Civil

•Responsabilidade civil – aposentadoria por in-validez – demora na percepção de seguro – in-denização por dano moral – não comprovação– impossibilidade .....................................2041, 207

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RSP Nº 72 – Maio-Jun/2016 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ......................................................................................................227 SAlário-de-ContriBuição

•Salário-de-contribuição – recálculo – RMI – pré-vio requerimento administrativo – efeitos . 2042, 208

SAlário-mAternidAde

•Salário-maternidade – segurada empregada urbana – período de graça – observação – be-nefício devido ..........................................2043, 208

temPo de Serviço

•Tempo de serviço – prova testemunhal – reco-nhecimento – termo inicial ......................2044, 209

•Tempo de serviço – rurícola – desenvolvimento de atividade em condições especiais – uso deEPI – reconhecimento ..............................2045, 209

•Tempo de serviço especial – agentes noci-vos – equipamentos de proteção individual –efeitos ......................................................2046, 210

•Tempo de serviço especial – agentes quími-cos – laudo técnico ou PPP – conversão – pos-sibilidade .................................................2047, 211

•Tempo de serviço especial – não comprovação– efeitos ...................................................2048, 211

CLIPPING JURÍDICO

•Decisão limita valor da pensão de ex-comba-tente da Segunda Guerra Mundial ao teto pre-videnciário ........................................................220

•Empresa terá que ressarcir INSS por gastoscom pensão por morte de um ex-funcionário ....222

•Reconhecida incompetência da JF para julgar ação pleiteando benefício decorrente de aci-dente de trabalho ...............................................219

•Tribunal determina que INSS acrescente salá-rios ganhos antes do Plano Real em cálculo deaposentadoria ....................................................221

•Turma decide pela possibilidade de acumular cargos de orientador de aprendizagem e de pro-fessor .................................................................219

TABELAS PRÁTICAS ..............................................223

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................223

ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ......................224