issn 0873-3295 boletim de pastoral litúrgica · 2009-12-30 · propriedade do secretariado...

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Publicação trimestral – Ano XXVII – Nº 106 – Abril / Junho 2002 – Preço 2,25 Boletim de Pastoral Litúrgica ISSN 0873-3295 106

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Boletim dePastoral LitúrgicaIS

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BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICAPropriedade do Secretariado Nacional de Liturgia

Director: Pedro Lourenço FerreiraRedacção e Administração: Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 – Fax 249 533 343 – E-mail: [email protected]

Publicação registada na SGMJ nº 118776ISSN 0873-3295

Assinatura anual: Portugal: 9 € (IVA incl.) — Outros países: 13 €

G.C. – GRÁFICA DE COIMBRA

Depósito Legal Nº. 88 990/95

A ressurreição, jorro impetuoso da liturgia, Pedro Lourenço Ferreira ................ 49

Catequese sobre o Cântico de Daniel, João Paulo II ............................................. 51

Catequese sobre o Salmo 18 A, João Paulo II ....................................................... 53

Catequese sobre o Salmo 42, João Paulo II ........................................................... 55

Catequese sobre o Cântico de Ezequias, João Paulo II ......................................... 57

Catequese sobre o Salmo 64, João Paulo II ........................................................... 59

A Homilia, o Credo e a Oração Universal, José Ferreira ..................................... 61

Curso para Acólitos– 6. A cadeira presidencial e o ambão, José de Leão Cordeiro ................... 65

Notícias de Portalegre-Castelo Branco, Manuel Mário Dias Ribeiro ................... 70

A Igreja e o IPPAR , José António Falcão .............................................................. 71

Crónica litúrgica de tempos idos– A introdução do vernáculo na liturgia, D. Manuel Falcão ....................... 75

WWW.LITURGIA.PT, Redacção ............................................................................ 78

XXVIII Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, Redacção ................................ 79

Livros litúrgicos oficiais – Situação em Março de 2002, Redacção ..................... 80

ABRIL – JUNHO 2002

106

A ressurreição,jorro impetuoso da liturgia

EDITORIAL

A pastoral litúrgica tem a missão deencaminhar os fiéis para a fonte daliturgia. Porém, as enormes possibilidadesdos tempos que correm não favorecem oacesso às fontes da salvação de uma formadirecta e pessoal, única e insubstituível.Os grandes centros comerciais, reflexo ealimento das sociedades de consumo,estão na origem de uma nova mentalidadeconsumista de toda a espécie de produtos,incluindo as ideias e a própria religião.Esta realidade reflecte-se na liturgia.

A boa notícia do Evangelho e a perenenovidade da liturgia tornam-se realidadescada vez mais distantes e tradicionais, aoponto de serem consideradas impedimentoao progresso e à criatividade. A avidez doconhecimento dos primórdios está a darlugar a uma desenfreada novidade quetanto recria como desfigura. As interpreta-ções do passado fazem-se mais a partir dassensibilidades do presente do que dossentimentos então expressos. A liturgia éparticularmente sensível a esta realidade.O axioma do lex orandi lex credendi (anorma da oração determina a norma da fé)tem sido entendido com o axioma lex cre-dendi lex orandi (a norma da fé determinaa norma da oração). A realidade é a mesmae o conteúdo é imutável. Apenas a formaadquire aparência e, portanto, capacidadede se renovar. A renovação litúrgica temaqui o seu lugar e, porque de modalidadesse trata, os gostos descrevem-se.

ABRIL – JUNHO 2002 49

A liturgia é toda ela pascal e imbuídado masculino de Jesus ressuscitado e dofeminino da Igreja nascente: ambostemporais e eternos. Jesus ressuscitadojá não pode mudar e o seu novo corpo, aIgreja nascente, participa por associaçãocom a Cabeça no que é próprio da Trin-dade única e indivisível. Apenas o que foivisível na vida humana do Redentorconseguiu passar para os sacramentos daIgreja, que são memorial da totalidade domistério, apesar da parcialidade dos ritos.Este mistério único de Cristo e da Igreja,tanto de Cristo como da Igreja, nemsempre se considera devidamente: ora setoma a parte ritual pelo todo misterioso,ora se considera a totalidade do mistériopelo ritualismo. A liturgia é da Igreja comoCristo é do Pai. E Cristo é o rosto do Paicomo a liturgia é o rosto da Igreja.

A dimensão pascal é parte integrantede toda e qualquer acção litúrgica. A no-vidade é permanente e contínua em cadacelebração tendo em conta o agir único eirrepetível de Jesus Cristo em ordem àsalvação de cada um como indivíduo ecomo membro da comunidade. A mesmae única liturgia está ao serviço do mistériopascal de Cristo e da Igreja.

Os místicos descrevem-nos a dinâ-mica pascal com a sua experiência de fé:

«A vida jorra do túmulo, mais límpidado que do lado trespassado, mais vivifi-cante do que do seio da Virgem Maria. ...

50 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Nesse dia de nascimento, o rio de vida,estendendo-se do túmulo até nós, no corpoincorruptível de Cristo, tornou-seLITURGIA. A sua fonte não é somente o Pai,mas também o Corpo do seu Filho, de hojepara o futuro penetrado da sua glória. Setodo o drama da história se joga entre odom de Deus e o acolhimento do homem,ele atinge neste dia o seu ponto culmi-nante, o seu princípio eterno, porque asduas energias se uniram para sempre. Oconsentimento do Filho em nascer eterna-mente do Pai invadiu totalmente o corpoda sua humanidade. Por esta unçãosuperabundante de vida, Jesus ressuscitae torna-se «Cristo» em plenitude. É essaaliança das suas duas energias, divina ehumana, que torna Cristo ressuscitadofonte inesgotável da liturgia. Antes, o riode vida estava em kenose no seu corpooculto e limitado pela carne mortal; comoo primeiro Adão, Jesus era «alma viva».Mas quando surgiu do túmulo, tornou-Se«espírito que dá vida» (1 Cor 15, 45).Daqui em diante, na sua humanidade inte-gral – natureza, vontade, energia – Jesusestá vivo, unido ao Pai, irradiando no seucorpo a glória de Deus; unido à fonte, Eledá a vida (cf. Jo 5, 20s, e 26s). O rio devida pode agora jorrar do trono de Deus edo Cordeiro. Nasceu a liturgia: a Ressur-reição de Jesus é o seu primeiro jorro im-petuoso.

Não imaginemos tal acontecimentocomo se estivesse no passado. Surgiu, semdúvida, uma vez na nossa história: é umacontecimento e não um símbolo. Massurgiu «de uma vez para sempre». Osnossos acontecimentos sucedem uma vez,mas nunca de uma vez para sempre:passam e pertencem, como tais, ao pas-sado. A Ressurreição de Jesus não estáno passado, caso contrário Ele não teriavencido a nossa morte. Efectivamente, a

morte de Jesus, para além das suas cir-cunstâncias históricas que passaram, é,por si mesma, a morte da morte. Ora, oacontecimento no qual a morte foi mortanão pode pertencer ao passado, pois emtal caso a morte não estaria vencida. Namedida em que passa, o tempo é prisionei-ro da morte; desde o momento em que delase liberta, não passa mais. A hora para aqual tendia o desejo de Jesus «veio e nelaestamos» sempre: o acontecimento dacruz e da ressurreição não passa.

É o único acontecimento da história.Todos os outros acontecimentos morrerame continuarão mortos: só este permanece.«Uma vez ressuscitado dos mortos, Cristojá não pode morrer» (Rom 6, 9). ...

A liturgia vem a ser essa força inacre-ditável do rio de vida na humanidade deCristo ressuscitado. Nela, todas as pro-messas do Pai encontram o seu ponto derealização (Act 13, 32). Daí por diante, acomunhão da Trindade santa não cessa dese propagar no nosso mundo e de inundaro nosso tempo com a sua plenitude. Do-ravante a economia da salvação tornou-seliturgia.

Nesta perspectiva, a relação entre acelebração e a vida é uma questão secun-dária. O que é prioritário é a relação deuma e outra com o acontecimento da Pás-coa que brota no coração de todo oacontecimento. Em Cristo vivo, «que nãoestá aqui», mas que ressuscitou, que pre-enche tudo e tem as chaves da morte, ocoração de Deus e o do homem são comoque as duas pulsações do coração da his-tória. Aí jorra a fonte» (J. Corbon, A fonteda liturgia, Paulinas, 1999, pp. 39-40).

Estas formulações da fé mística daIgreja mostram a transparência e o fundoda liturgia que certos preciosismos teoló-gicos com frequência turvam e perturbam.

PEDRO LOURENÇO FERREIRA

A VOZ DO PAPA

TODAS AS CRIATURASLOUVEM O SENHOR

Catequese sobre o Cântico de Daniel

1. O cântico que acabou de ser procla-mado é constituído pela primeira parte deum longo e bonito hino que se encontrainserido na tradução grega do livro deDaniel. Cantam-no três jovens hebreuslançados numa fornalha por terem recu-sado adorar a estátua do rei de Babilónia,Nabucodonosor. Outra parte do mesmocântico é proposto pela Liturgia das Horaspara as Laudes do domingo, na primeira ena terceira semana do Saltério litúrgico.

O livro de Daniel, como se sabe, re-flecte os fermentos, as esperanças e tam-bém as expectativas apocalípticas do povoeleito, o qual, na época dos Macabeus (IIséculo a. C.) lutava para poder viver deacordo com a Lei dada por Deus.

Na fornalha, os três jovens, milagrosa-mente preservados das chamas, cantamum hino de louvor dirigido a Deus. Estehino é semelhante a uma ladainha, repe-titiva e, ao mesmo tempo, nova: as suasinvocações elevam-se até Deus como es-pirais de incenso, que percorrem o espaçoem formas semelhantes mas nunca iguais.A oração não teme a repetição, como oapaixonado não hesita declarar infinitasvezes à amada todo o seu afecto. Insistirnas mesmas questões é sinal de intensida-de e de numerosas formas nos sentimen-tos, nas pulsações interiores e nos afectos.

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2. Ouvimos proclamar o início destehino cósmico, contido no terceiro capí-tulo de Daniel, nos versículos 52-57. É a introdução, que precede o grandioso desfile das criaturas envolvidas no lou-vor. Um olhar panorâmico para todo o cântico no seu prolongamento litânico, faz-nos descobrir uma sucessão de ele-mentos que constituem o enredo de todo ohino. Ele começa com seis invocaçõesdirigidas directamente a Deus; a elas, se-gue-se um apelo universal a todas as obrasdo Senhor, para que abram os seus lábiosimaginários ao louvor (cf. v. 57).

É esta a parte sobre a qual hoje reflec-timos e que a liturgia propõe para asLaudes do domingo da segunda semana.Logo a seguir, o cântico prolonga-se con-vocando todas as criaturas do céu e da ter-ra para louvar e engrandecer o seu Senhor.

3. O nosso trecho inicial será retomadooutra vez pela liturgia, nas Laudes dodomingo da quarta semana. Por isso, esco-lheremos agora apenas alguns elementospara a nossa reflexão. O primeiro é oconvite ao louvor: “Bendito sejais, Se-nhor...”, que, no final, se transforma em“Bendizei...!”.

Existem na Bíblia duas formas de bên-ção, que se entrelaçam entre si. Por um

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lado, encontra-se a que vem de Deus: oSenhor abençoa o seu povo (cf. Nm 6, 24-27). É uma bênção eficaz, fonte de fecun-didade, felicidade e prosperidade. Por ou-tro, encontra-se o louvor que da terra seeleva para o céu. O homem, beneficiadopela generosidade divina, bendiz aDeus, louvando-o, agradecendo-lhe, ex-clamando: “Bendiz, ó minha alma, o Se-nhor!” (Sl 102, 1; 103, 1).

A bênção divina é muitas vezesmediada pelos sacerdotes (cf. Nm 6, 22-23.27; Sir 50, 20-21) através da imposição das mãos; ao contrário, o louvor humanoé expresso no hino litúrgico, que a assem-bleia dos fiéis eleva ao Senhor.

4. Outro elemento que consideramos noâmbito do trecho agora proposto à nossameditação é constituído pela antífona. Po-deríamos imaginar que o solista, no tem-plo repleto de povo, entoasse o louvor: “Bendito sejais, Senhor...”, enumerandoas várias maravilhas divinas, enquanto aassembleia dos fiéis repetia constantemen-te a fórmula: “Digno de louvor e de glóriapara sempre”. Era o que já acontecia como Salmo 135, o chamado “Grande Hallel”,ou seja, o grande louvor, onde o povo re-petia: “É eterna a vossa misericórdia”, en-quanto um solista enumerava os váriosactos de salvação realizados pelo Senhorem favor do seu povo.

Objecto de louvor, no nosso Salmo, éem primeiro lugar o nome “glorioso e san-to” de Deus, cuja proclamação ressoa notemplo, também ele “santo glorioso”. Ossacerdotes e o povo, enquanto contem-plam, na fé, Deus que está sentado “no tro-no do seu reino”, sentem o seu olhar sobresi, que “penetra os abismos” e esta consci-ência faz surgir do seu coração o louvor.“Bendito... bendito...”. Deus, que “estásentado em cima dos querubins” e tem

como habitação o “firmamento do céu”,contudo está próximo do seu povo, quepor isso se sente protegido e seguro.

5. A proposta deste cântico repetida namanhã de domingo, a Páscoa semanal doscristãos, é um convite a abrir os olhosdiante da nova criação que teve origemprecisamente com a ressurreição de Jesus.Gregório de Nissa, um Padre da Igrejagrega do quarto século, explica que com aPáscoa do Senhor “são criados um novocéu e uma nova terra... é formado umhomem diferente renovado à imagem doseu criador através do nascimento do alto”(cf. Jo 3, 3.7). E continua: ”Assim comoquem olha para o mundo sensível deduzpor meio das coisas visíveis a beleza invi-sível... assim quem olha para este novomundo da criação eclesial vê nele Aqueleque se tornou tudo em todos, orientando amente pela mão, através das coisas com-preensíveis da nossa natureza racional,isto é, para quem supera a compreensãohumana” (Langerbeck H., GregoriiNysseni Opera, VI, 1-22 passim, pág.385).

Por conseguinte, ao entoar este cân-tico, o crente cristão é convidado a con-templar o mundo da primeira criação,entrevendo nele o perfil da segunda,inaugurada com a morte e a ressurreiçãodo Senhor Jesus. E esta contemplaçãoconduz a todos pela mão, para entrarem,quase dançando de alegria, na única Igrejade Cristo.

JOÃO PAULO II

12 de Dezembro de 2001Transcrito de L'Osservatore Romano

HINO A DEUS CRIADORCatequese sobre o Salmo 18 A

1. O sol, com o seu progressivo resplan-decer no céu, com o esplendor da sua luz,com o calor benéfico dos seus raios,conquistou a humanidade desde as suasorigens. Os seres humanos manifestaramde muitas formas a sua gratidão por estafonte de vida e de bem-estar com um en-tusiasmo que, com frequência, se elevaalcançando o cume da autêntica poesia. Omaravilhoso Salmo 18, do qual foi procla-mada a primeira parte, não é apenas umaoração em forma de hino com uma intensi-dade extraordinária; ele é também umcântico poético elevado ao sol e à sua irra-diação sobre a terra.

Mas para o homem da Bíblia há umadiferença radical em relação a estes hinossolares: o sol não é um Deus, mas umacriatura ao serviço do único Deus e cria-dor. É suficiente recordar as palavras doGénesis: “Deus disse: Haja luzeiros nofirmamento dos céus para diferenciarem odia da noite e servirem de sinais, determi-nando as estações, os dias e os anos...Deus fez dois grandes luzeiros: o maiorpara presidir ao dia, e o menor para presi-dir à noite... E Deus viu que isto era bom”(1, 14.16.18).2. Antes de percorrer os versículos doSalmo escolhido pela Liturgia, lançamosum olhar ao seu conjunto. O Salmo 18 éparecido com um díptico. Na primeiraparte (vv. 2-7) a que agora se tornou anossa oração encontramos um hino aoCriador, cuja misteriosa grandeza semanifesta no sol e na lua. Ao contrário,na segunda parte do Salmo (vv. 8-15),

A VOZ DO PAPA

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encontramos um hino sapiencial à Torah,ou seja, à Lei de Deus.

As duas partes estão ligadas por umaorientação comum: Deus esclarece o uni-verso com o brilho do sol e ilumina a hu-manidade com o esplendor da sua Palavracontida na Revelação bíblica. Trata-sequase de um sol duplo: o primeiro é umaepifania cósmica do Criador, o segundo éuma manifestação histórica e gratuita deDeus Salvador. Não é por acaso que aTorah, a Palavra divina, é descrita com ca-racterísticas “solares”: “Os seus manda-mentos são luminosos, deleitam o cora-ção” (cf. v. 9).3. Mas, por agora, dirijamo-nos à pri-meira parte do Salmo. Ela inicia-se comuma maravilhosa personificação dos céus,que são para o Autor sagrado testemunhoseloquentes da obra criadora de Deus (vv.2-5). De facto, eles “narram”, “anunciam”,as maravilhas da obra divina (cf. v. 2).Também o dia e a noite são representadoscomo mensageiros que transmitem agrande notícia da criação. Trata-se de umtestemunho silencioso, que contudo se fazouvir com vigor, como uma voz que per-corre todo o universo.

Com o olhar interior da alma, com aintuição religiosa que não se deixa distrairpela superficialidade, o homem e a mulherpodem descobrir que o mundo não émudo, mas fala do Criador. Como diz oantigo sábio, “pela grandeza e beleza dascriaturas pode-se, por analogia, chegar aoconhecimento do seu Autor” (Sb 13, 5).Também São Paulo recorda aos Romanos

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que “desde a criação do mundo, as suas(de Deus) perfeições invisíveis,... tornam-se visíveis quando as suas obras são consi-deradas pela inteligência” (Rm 1, 20).4. Depois, o hino começa a falar do sol.O globo luminoso é descrito pelo poetainspirado como um herói guerreiro que saido quarto nupcial onde passou a noite, istoé, sai do seio das trevas e inicia a sua corri-da incansável no céu (vv. 6-7). É seme-lhante a um atleta que nunca pára nem secansa, enquanto todo o nosso planeta estáenvolvido pelo seu calor irresistível.Por conseguinte, o sol é comparado a umesposo, a um herói, a um campeão que, porordem divina, todos os dias deve realizaruma tarefa, uma conquista e uma corridanos espaços siderais. E eis que o salmistaindica agora o sol irradiante no céu, en-quanto a terra inteira está envolvida peloseu calor, o ar é imóvel, nenhum ângulo dohorizonte está privado da sua luz.5. A imagem solar do Salmo é retomadapela liturgia pascal cristã para descrever oêxodo triunfador de Cristo da escuridão dosepulcro, e a sua entrada na plenitude davida nova da ressurreição. A liturgia bizan-tina canta nas Matinas do Sábado Santo: “Assim como o sol surge depois da noitetodo radiante na sua luminosidade reno-vada, assim também Vós, Verbo, resplan-decereis com um brilho renovado quando,depois da morte, deixardes o vosso leitonupcial”. Uma estrofe (a primeira), a dasMatinas de Páscoa relaciona a revelaçãocósmica com o acontecimento pascal deCristo: “O céu rejubile e exulte com eletambém a terra, porque todo o universo, ovisível e o invisível, participa desta festa:Cristo, nossa alegria perene, ressuscitou”.E outra estrofe (a terceira) acrescenta: “Hoje todo o universo, céu, terra e abismo,está repleto de luz e toda a criação já cantaa ressurreição de Cristo, nossa força enossa alegria”. Por fim, outra (a quarta)

conclui: “Cristo, nossa Páscoa, levan-tou-se do túmulo como um sol de justiçairradiando sobre todos nós o esplendor dasua caridade”.

A liturgia romana não é explícita comoa oriental, ao comparar Cristo com o sol.Mas descreve as repercussões cósmicasda sua ressurreição, quando abre o seucântico de Louvor na manhã de Páscoacom o famoso hino: “Aurora lucis rutilat,caelum resultat laudibus, mundos exultansiubilat, gemens infernus ululat” “A auroraresplandece de luz, o céu exulta de cânti-cos, o mundo rejubila dançando, o infernogeme com gritos”.6. Contudo, a interpretação cristã doSalmo não elimina a sua mensagem debase, que é um convite a descobrir a pala-vra divina que se encontra na criação. Semdúvida, como será dito na segunda partedo Salmo, há outra Palavra, mais nobre,mais preciosa do que a própria luz, a daRevelação bíblica. Contudo, para todos osque estão atentos na escuta e não têm osolhos velados, a criação constitui comoque uma primeira revelação, que tem umalinguagem própria e eloquente: ela é qua-se outro livro sagrado, cujas letras são re-presentadas pela multidão de criaturas pre-sentes no universo. São João Crisóstomoafirma: “O silêncio dos céus é uma vozmais sonora do que a de uma trombeta:esta voz brada aos nossos olhos e não aosnossos ouvidos a grandeza de quem osfez” (PG 49, 105). E Santo Atanásio: “Ofirmamento, através da sua magnificência,da sua beleza, da sua ordem, é um prega-dor prestigioso do seu artífice, cuja elo-quência enche o universo” (PG 27, 124).

JOÃO PAULO II

30 de Janeiro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

1. Numa Audiência geral de há algumtempo, ao comentar o Salmo que antecedeo que acabamos de cantar, dissemos queele se ligava intimamente com o Salmoseguinte. De facto, os Salmos 41 e 42constituem um único cântico, dividido emtrês partes pela própria antífona: “Porqueestás triste, minha alma, e desfaleces? Es-pera em Deus: ainda O hei-de louvar. Ele éa minha alegria. Ele é o meu Deus” (Sl 41,6.12; 42, 5).

Estas palavras, semelhantes a um soli-lóquio, exprimem os sentimentos profun-dos do Salmista. Ele está longe de Sião,ponto de referência da sua existência por-que é sede privilegiada da presença divinae do culto dos fiéis. Por isso, sente umasolidão feita de incompreensão e até deagressividade por parte dos incrédulos,agravada pelo isolamento e pelo silênciopor parte de Deus. Mas o Salmista reagecontra a tristeza com um convite à confi-ança, que ele dirige a si mesmo, e comuma bonita afirmação de esperança: eleespera poder louvar ainda a Deus, “salva-ção do seu rosto”.

No Salmo 42, em vez de falar só a sipróprio como no Salmo anterior, o sal-mista dirige-se a Deus e suplica-Lhe que odefenda dos adversários. Repetindo quaseliteralmente uma invocação anunciada nooutro Salmo (cf. 41, 10), o orante dirigedesta vez efectivamente a Deus o brado dedesconforto: “Porque me abandonaste?

DESEJO DO TEMPLO DE DEUSCatequese sobre os Salmos 42

A VOZ DO PAPA

ABRIL – JUNHO 2002 55

Porque hei-de andar triste sob a pressão doinimigo?” (Sl 42, 2).2. Contudo ele já sente o intervalo obs-curo da distância que está para terminar eexprime a certeza da volta a Sião paraencontrar a casa divina. A cidade santa jánão é a pátria perdida, como acontecia nalamentação do Salmo anterior (cf. Sl 41, 3-4), mas tornou-se a meta jubilosa, rumo àqual se está a caminho. A orientação davinda para Sião será a “verdade” de Deus ea sua “luz” (cf. Sl 42, 3). O próprio Senhorserá o fim último da viagem. Ele é invo-cado como juiz e defensor (cf. vv. 1-2).Três verbos realçam a sua imploradaintervenção: “fazei-me justiça”, “defendeia minha causa”, “livrai-me” (v. 1). Sãocomo que três estrelas de esperança, quese acendem no céu tenebroso da provae marcam a aurora iminente da salvação.

É significativa a leitura que Santo Am-brósio faz desta experiência do Salmista,aplicando-a a Jesus que reza no Getséma-ni: “Não quero que te admires se o profetadiz que a sua alma estava abatida, vistoque o próprio Senhor Jesus disse: agora aminha alma está abatida. De facto, quemassumiu as nossas debilidades, assumiutambém a nossa sensibilidade, o que fezcom que ficasse entristecido até à morte,mas não pela morte. Não teria podido cau-sar melancolia uma morte voluntária, daqual dependia a felicidade de todos os ho-mens... Portanto estava triste até à morte,

56 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

na esperança de que a graça fosse reali-zada. Demonstra isto o seu próprio teste-munho, quando diz da sua morte: há umbaptismo com o qual devo ser baptizado: ecomo me sinto angustiado enquanto nãofor realizado! (As lamentações de Job e deDavid, VII, 28, Roma 1980, pág. 233).3. Agora, na continuação do Salmo 42,diante dos olhos do Salmista está para seabrir a solução tão desejada: o regresso àfonte da vida e da comunhão com Deus. A“verdade”, ou seja a fidelidade amorosa doSenhor, e a “luz”, isto é, a revelação da suabenevolência, são descritas como mensa-geiras que o próprio Deus enviará do céu afim de tomar pela mão o fiel e conduzi-lo àmeta desejada (cf. Sl 42, 3).

É muito eloquente a sequência dasetapas de aproximação de Sião e do seucentro espiritual. Primeiro aparece “omonte santo”, a colina na qual se eleva otemplo e a fortaleza de David. Depois,vêm “as habitações”, ou seja, o santuáriode Sião com todos os seus espaços e edifí-cios que o compõem. Segue-se, depois, “oaltar de Deus”, a sede dos sacrifícios e doculto oficial de todo o povo. A meta últimae decisiva é o Deus da alegria, é o abraço, aintimidade reencontrada com Ele, queantes estava longe e silencioso.4. A este ponto, tudo é cântico, júbilo,festa (cf. v. 4). No original hebraico fala-sedo “Deus que é alegria do meu júbilo”.Trata-se de uma maneira de dizer paraexprimir o superlativo: o Salmista querrealçar que o Senhor é a raiz de qualquerfelicidade, é a alegria suprema, é a pleni-tude da paz. A tradução grega dos Setentaparece ter recorrido a uma palavra ara-maica equivalente que indica a juventudee traduziu “ao Deus que alegra a minhajuventude”, introduzindo, desta forma, aidea do vigor e da intensidade da alegriadada pelo Senhor. O saltério latino daVulgata, que é uma tradução feita com

base no grego, diz assim: “ad Deum quilaetificat juventutem meam”. Desta forma,o Salmo era recitado aos pés do altar, naanterior liturgia eucarística, como invoca-ção introdutória ao encontro com o Se-nhor.5. A lamentação inicial da antífona dosSalmos 41-42 ressoa pela última vez nofinal (cf. Sl 42, 5). O orante ainda nãoalcançou o templo de Deus, ainda estáenvolvido pela obscuridade da provação;mas já brilha aos seus olhos a luz do en-contro futuro e os seus lábios já conhecema tonalidade do cântico de alegria. O apeloé, a este ponto, mais marcado pela espe-rança. De facto, observa Santo Agostinhocomentando o nosso Salmo: “Espera emDeus, responderá à sua alma aquele quepor ela está perturbado... Entretanto vivena esperança. A esperança que se vê não éesperança; mas se esperamos no que nãovemos é pela paciência que nós a aguarda-mos (cf. Rm 8, 24-25)” (Exposição sobreos Salmos I, Roma 1982, pág. 1019).

Então, o Salmo torna-se a oração dequem é peregrino na terra e ainda está emcontacto com o mal e com o sofrimento,mas tem a certeza de que o ponto de che-gada da história não é um abismo damorte, mas o encontro salvífico comDeus. Esta certeza é ainda mais forte paraos cristãos, aos quais a Carta aos Hebreusproclama: “Vós, porém, aproximastes-vosdo monte de Sião, da cidade do Deus vivo,da Jerusalém celeste, das miríades de an-jos, da assembleia dos primogénitos queestão inscritos nos Céus, do juiz que é oDeus de todos, dos espíritos dos justos queatingiram a perfeição, de Jesus, o media-dor da Nova Aliança, e de um sangue deaspersão que fala melhor do que o deAbel” (Hb 12, 22-24).

JOÃO PAULO II6 de Fevereiro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

1. A Liturgia das Horas, nos vários Cân-ticos que são postos em paralelo com osSalmos, apresenta-nos também um hinode agradecimento que tem este título:“Cântico de Ezequias, rei de Judá, quandoadoeceu e foi curado da sua enfermidade”(Is 38, 9). Ele está inserido numa parte dolivro do profeta Isaías com a característicahistórico-narrativa (cf. Is 36-39), cujos da-dos realçam com algumas variantes os quesão oferecidos pelo Segundo Livro dosReis (cf. cap. 18-20).

Nós, agora, na esteira da Liturgia dasLaudes, ouvimos e transformamos emoração, duas estrofes daquele Cântico quedescrevem os dois movimentos típicosdas orações de agradecimento: por umlado, é recordado o pesadelo do sofri-mento do qual o Senhor libertou o seu fiele, por outro, canta-se com alegria a gra-tidão pela vida e pela salvação recon-quistada.

O rei Ezequias, um soberano justo eamigo do profeta Isaías, tinha sido atin-gido por uma grave doença, que o profetaIsaías declarara mortal (cf. Is 38, 1).“Ezequias voltou o seu rosto para a pare-de e fez ao Senhor esta oração: “Senhor,lembrai-Vos de que tenho andado fiel-mente diante de Vós, de todo o coração,segundo a vossa vontade”. E começou aderramar lágrimas abundantes. Então apalavra do Senhor foi dirigida a Isaías,nestes termos: “Vai e diz a Ezequias: ‘Eis oque diz o Senhor, o Deus de teu pai David:

AS ANGÚSTIAS DE UM MORIBUNDOE A ALEGRIA DE UM RESTABELECIDO

Catequese sobre o Cântico de Ezequias

A VOZ DO PAPA

ABRIL – JUNHO 2002 57

Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas;vou acrescentar à tua vida mais quinzeanos’” (Is 38, 2-5).2. Neste ponto brota do coração do Rei ocântico de reconhecimento. Como sedisse, ele volta-se antes de tudo para opassado. Segundo a antiga concepção deIsrael, a morte introduzia num horizontesubterrâneo, chamado em hebraico sheol,onde a luz se apagava, a existência se ate-nuava e se fazia quase espectral, o tempoparava, deixava de haver esperança e, so-bretudo, deixava de se ter a possibilidadede invocar e encontrar Deus no culto.

Por isso, Ezequias recorda em primei-ro lugar as palavra cheias de amargurapronunciadas quando a sua vida estavadeslizando em direcção aos confins damorte: “Não verei mais o Senhor na terrados viventes” (v. 11). Também o Salmistarezava assim no dia da doença: “Quandochegar a morte, ninguém se lembra deVós; na mansão dos mortos quem Vos lou-vará?” (Sl 6, 6). Ao contrário, libertado doperigo da morte, Ezequias pode recordarcom vigor e com alegria: “Só os vivos po-dem louvar-Vos como eu Vos louvo hoje”(Is 38, 19).3. O Cântico de Ezequias adquire, preci-samente sobre este tema uma nova tonali-dade, se for lido à luz da Páscoa. Já noAntigo Testamento se abriam grandesclareiras de luz nos Salmos, quando oorante proclamava a sua certeza de que“Vós não me entregareis à mansão dos

58 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

mortos, nem deixareis que o vosso amigoveja o sepulcro. Ensinar-me-eis o caminhoda vida; na vossa presença (gozamos) aplenitude da alegria, na vossa direita (en-contraremos) as delícias eternas” (Sl 15,10-11; cf. Sl 48 e 72). O autor do Livro daSabedoria, por seu lado, jamais hesitaráem afirmar que a esperança dos justos está“cheia de imortalidade” (Sab 3, 4), porqueele está convencido de que a experiênciade comunhão com Deus vivida durante aexistência terrena não será infringida. Nóspermaneceremos sempre, para além damorte, apoiados e protegidos pelo Deuseterno e infinito, porque “as almas dos jus-tos estão na mão de Deus e nenhum tor-mento os tocará” (Sab 3, 1).

Sobretudo com a morte e a ressurrei-ção do Filho de Deus, Jesus Cristo, umasemente de eternidade é lançada à terra efeita germinar na nossa caducidade mor-tal, e por isso podemos repetir as palavrasdo Apóstolo, baseadas no Antigo Testa-mento: “Quando este corpo corruptível serevestir de imortalidade, então cumprir-se--á o que está escrito: «A morte foi tragadapela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitó-ria? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?»”(1 Cor 15, 54-55; cf. Is 25, 8; Os. 13, 14).4. Mas o cântico do rei Ezequias convi-da-nos também a reflectir sobre a nossafragilidade de criaturas. As imagens sãosugestivas. A vida humana é descrita como símbolo nómada da tenda: nós somossempre peregrinos e hóspedes na terra.Recorre-se também à imagem da tela,que é tecida e que pode permanecer in-completa quando se corta o fio e o trabalhoé interrompido (cf. Is 38, 12). Também oSalmista tem a mesma sensação: “Eis quefizestes os meus dias de uns tantos palmos,a minha existência, perante ti, é comoum nada; cada um não é mais do que umsopro. Cada homem passa como uma sim-ples sombra: é em vão que se agita” (Sl 38,6-7). É necessário reencontrar a consciên-cia dos nossos limites, saber que “a soma

da nossa vida como declara ainda o sal-mista é de setenta anos, os mais forteschegam aos oitenta; mas a sua grandezanão passa de atribulação e miséria, porqueeles passam depressa e nós desaparece-mos” (Sl 89, 10).5. No dia da doença e do sofrimento é,contudo, justo elevar a Deus a própria la-mentação, como nos ensina Ezequias que,usando imagens poéticas, descreve o seupranto como o piar da andorinha e o gemerde uma pomba (cf. Is 38, 14). E, mesmo senão hesita em confessar que sente Deuscomo um adversário, como um leão quequebra os ossos (cf v. 13), não deixa de oinvocar: “Senhor, estou em agonia, con-fortai-me!” (v. 14).6. A tradição latina medieval conservadeste Cântico do rei Ezequias um comen-tário espiritual de Bernardo de Claraval,um dos místicos mais representativos domonaquismo ocidental. Trata-se do tercei-ro dos Sermões vários, em que Bernardo,aplicando à vida de cada um o drama vivi-do pelo soberano de Judá e, interiorizandoo seu conteúdo, escreve entre outras coi-sas: “Louvarei ao Senhor em todos os tem-pos, isto é, de manhã até à noite, comoaprendi a fazer, e não como os que te lou-vam quando tu lhes fazes o bem, nemcomo os que crêem durante um certo tem-po, mas no momento da tentação cedem; ecomo os santos, direi: Se recebemos o bemda mão de Deus, porque não devemosaceitar também o mal?... Assim estes doismomentos do dia serão um tempo de servi-ço a Deus, porque à noite permanecerá opranto, e de manhã o eco da alegria. Mer-gulharei no sofrimento à noite a fim depoder gozar, depois, a alegria da manhã”(Scriptorium Claravallense, Sermo III, n.6, Milão 2000, págs. 59-60).

JOÃO PAULO II

27 de Fevereir de 2001Transcrito de L'Osservatore Romano

1. A nossa viagem pelos Salmos daLiturgia das Laudes leva-nos agora a umhino, que nos seduz sobretudo pelo mara-vilhoso quadro primaveril da última parte(cf. Sl 64, 10-14), um cenário cheio de vi-gor, esmaltado de cores, percorrido porvozes de alegria.

Na realidade, o Salmo 64 tem umaestrutura mais ampla, fruto do entrelaça-mento de duas tonalidades diferentes: emprimeiro lugar, sobressai o tema históricodo perdão dos pecados e do acolhimentojunto de Deus (cf. vv. 2-5); depois, é feitamenção do tema cósmico da acção deDeus em relação aos mares e aos montes(cf. vv. 6-9a); por fim, é desenvolvida adescrição da primavera (cf. vv. 9b-14): nopanorama cheio de sol e árido do PróximoOriente, a chuva fecundante é a expressãoda fidelidade do Senhor à criação (cf. Sl103, 13-16). Para a Bíblia, a criação é asede da humanidade e o pecado é umatentado à ordem e à perfeição do mundo.Portanto, a conversão e o perdão dão denovo integridade e harmonia ao cosmos.2. A primeira parte do Salmo leva-nos aointerior do templo de Sião. Ali acorre opovo com o seu montão de misérias mo-rais, para invocar a libertação do mal(cf. Sl 64, 2-4a). Uma vez obtida a ab-solvição das culpas, os fiéis sentem-sehóspedes de Deus, próximos d’Ele, pron-tos para serem admitidos à sua mesa e para

A ALEGRIA DAS CRIATURASDE DEUS PELA SUA PROVIDÊNCIA

Catequese sobre o Salmo 64

ABRIL – JUNHO 2002 59

A VOZ DO PAPA

participarem na festa da intimidade divina(cf. vv. 4b-5).3. No interior desta celebração de DeusCriador, encontramos um acontecimentoque desejo realçar: o Senhor conseguedominar e silenciar até o estrondo daságuas do mar, que na Bíblia simbolizam adesordem, em oposição à ordem da cria-ção (cf. Jb 38, 8-11). Eis a forma de exaltara vitória divina não só sobre o nada, mastambém sobre o mal: por este motivo ao“bramido do mar” e ao “estrondo das suasondas” associa-se também “o tumulto dospovos” (cf. Sl 64, 8), isto é, a rebelião dossoberbos.

Santo Agostinho comenta de maneiraeficaz: “O mar representa o mundo actual:amargo de salsugem, agitado pela tempes-tade, onde os homens com a sua cupidezpervertida e desordenada, se tornam comoos peixes que se devoram uns aos outros.Olhai para este mar agitado, para estemar amargo, cruel com as suas ondas!...Irmãos, não nos comportemos assim,porque o Senhor é a esperança de todos osconfins da terra” (Exposição sobre os Sal-mos II, Roma 1990, pág. 475).

A conclusão que o Salmo nos sugere éfácil: aquele Deus, que elimina a confusãoe o mal do mundo e da história, pode ven-cer e perdoar a maldade e o pecado que oorante leva consigo e apresenta no templo,com a certeza da purificação divina.

60 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

4. A este ponto, entram no cenário as ou-tras águas: as da vida e da fecundidade,que na Primavera regam a terra e, empensamento, representam a vida nova dofiel perdoado. Os versículos finais doSalmo (cf. Sl 64, 10-14), como se dizia,encerram uma grande beleza e significado.Deus mata a sede da terra fendida pelaaridez e pelo gelo do inverno, desseden-tando-a com a chuva. O Senhor é seme-lhante a um agricultor (cf. Jo 15, 1), quefaz crescer o grão e nascer a erva com oseu trabalho. Prepara o terreno, irriga ossulcos, revira os torrões, rega todas aspartes do seu campo.

O Salmista usa dez verbos para des-crever esta amorosa acção do Criador emrelação à terra, que é transfigurada numaespécie de criatura viva. De facto, “tudocanta a brada de alegria” (Sl 64, 14). A estepropósito, são sugestivos os três verbosrelacionados com o símbolo da veste: “ascolinas revestem-se de alegria, os camposcobrem-se de rebanhos, e os vales en-chem-se de trigais” (vv. 13-14). A imagemé a de uma pradaria salpicada pela canduradas ovelhas; as colinas revestem-se talvezcom os vinhedos, sinal de alegria pelo seuproduto, o vinho, que “alegra o coraçãodo homem” (Sl 103, 15); os vales reves-tem-se com o manto dourado das searas. Oversículo 12 recorda a coroa, que poderiafazer pensar nas grinaldas dos banquetes,colocadas na cabeça dos convidados (cf.28, 1.5).5. Todas juntas, as criaturas, como quenuma procissão, dirigem-se ao Criador eSoberano, dançando e cantando, louvandoe rezando. Mais uma vez a natureza tor-na-se um sinal eloquente da acção divina;é uma página aberta para todos, prontapara manifestar a mensagem nela deli-neada pelo Criador, porque “pela belezae grandeza das criaturas pode chegar-se,por analogia, ao conhecimento do seu Au-

tor” (Sab 13, 5; cf. Rm 1, 20). Contempla-ção teológica e abandono poético fun-dem-se juntos neste poema e tornam-seadoração e louvor.

Mas o encontro mais intenso, o que oSalmista tem em vista com todo o seu cân-tico, é aquele que une criação e redenção.Como a terra na Primavera ressurge pelaacção do Criador, assim o homem ressurgedo seu pecado pela acção do Redentor.Criação e história estão de tal forma sob oolhar providencial e salvífico do Senhor,que vence as águas agitadas e destruidorase dá a água que purifica, fecunda e mata asede. De facto, o Senhor “cura os atribula-dos de coração e trata as feridas”, mastambém “cobre os céus com as nuvens e...prepara a chuva para a terra;... faz cresceras ervas nas montanhas” (Sl 146, 3.8).

Desta forma, o Salmo torna-se umcântico à graça divina. É ainda SantoAgostinho quem, ao comentar o nossoSalmo, recorda este dom transcendente eúnico: “O Senhor nosso Deus diz ao teucoração: eu sou a tua riqueza. Não te preo-cupes com aquilo que o mundo te promete,mas com o que te promete o Criador domundo! Está atento ao que Deus te prome-te, se observares a justiça; e despreza aqui-lo que o homem te promete para te afastarda justiça. Não te preocupes, portanto,com aquilo que o mundo promete! Temantes em consideração o que o Criador domundo promete” (l.c., pág. 481).

JOÃO PAULO II

6 de Março de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

A HOMILIA, O CREDOE A ORAÇÃO UNIVERSAL

MISSA

A HOMILIA

Poderíamos dizer que a primeira ho-milia cristã foi o próprio Senhor que a fez,ou, pelo menos, a esboçou, quando nasinagoga de Nazaré, numa celebração desábado, o dia santo dos judeus, depois deter sido leitor de uma passagem de Isaías,logo lhe fez o comentário. A passagem daleitura foi esta:“O Espírito do Senhor está sobre Mim,porque Ele me ungiu,para anunciar a Boa Nova aos pobres.Ele me envioua proclamar a redenção aos cativose a vista aos cegos,a restituir a liberdade aos oprimidos,e a proclamar o ano da graça do Senhor”

E o evangelista continua:“Jesus começou então a dizer-lhes:‘Cumpriu-se hoje mesmoesta passagem da Escrituraque acabais de ouvir.’” (Lc 4,18-21).

Este último versículo do Evangelhofoi o princípio da homilia que Jesus fez àleitura do profeta. Partindo do texto daSagrada Escritura acabado de proclamar,Jesus explica-o e actualiza-o, dizendo:“Cumpriu-se hoje mesmoesta passagem da Escritura”.

* Estas citações referem-se à Instrução Geral do Missal Romano (IGMR). Os números entre parêntesis rectosreferem-se à nova edição. O outro documento citado é o Ordenamento das Leituras da Missa (OLM).

ABRIL – JUNHO 2002 61

Na tradição da Igreja, a primeira refe-rência à homilia é de São Justino (c.150),que escreve: “Quando o leitor terminou(as leituras), o que preside toma a palavrapara exortar e incitar à imitação de tãobelas coisas” (Apol. I, 67). Explicar, actua-lizar, exortar e incitar à imitação de coisastão belas que a Palavra apresentou nasleituras é a homilia.

A homilia faz parte integrante da ac-ção litúrgica, concretamente da Missa, e,consoante as circunstâncias, por exemploquando a missa comporta a celebração deoutro sacramento, como o Baptismo ou aConfirmação, pode ainda partir de outrossinais sacramentais ou de outros formulá-rios da celebração.

O género literário da homilia é de umaconversação familiar, como o próprionome indica, mas, nunca banal ou impró-pria.

A homilia, em princípio, é feita por“aquele que preside”, como o já referiaSão Justino, mas ocasionalmente pode serconfiada a outro presbítero ou até a umdiácono; nunca a um leigo.

A homilia, feita pelo presidente, faz-sedo lugar da presidência ou também doambão, lugar da proclamação da Palavra.

62 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

A homilia é obrigatória nos Domingose Festas de preceito e é muito recomen-dada nos dias feriais do Advento, daQuaresma e do Tempo Pascal (OLM 25).

“É bom guardar um breve espaço desilêncio depois da homilia” (Ib. 66).

O SÍMBOLO

“O símbolo ou profissão de fé (oCredo) tem a finalidade de fazer que todoo povo congregado exprima o seu assenti-mento à Palavra de Deus, escutada nas lei-turas da Sagrada Escritura e exposta pelahomilia, e de, ao proferir a regra da fé,recorde e professe os grandes mistérios dafé, por meio de fórmula aprovada para ouso litúrgico, antes de começar a celebra-ção dos mesmos na Eucaristia” (IGMR 67[43]).

O Credo, juntamente com o Confessoa Deus Todo-Poderoso do rito penitencial,é a única fórmula da Missa que está no sin-gular. De facto, o Credo não nasceu comofórmula comunitária para a Missa, mascomo fórmula baptismal, e não fez parteda liturgia romana da Missa senão à partirdo século XI e por influência da liturgiagalo-romana.

O Símbolo entrou primeiro no Orientena liturgia baptismal e depois também naMissa. Do Oriente, o Credo passou aEspanha “onde a região costeira dependiada soberania bizantina”, daqui passoupossivelmente à Irlanda e de lá ao Impériode Carlos Magno (séc. IX), cuja liturgiacomeçou a ser a combinação da liturgiafranca com a romana, esta directamenteimportada de Roma, e, desde então, se tor-nou conhecida por liturgia galo-romana.

Quando Santo Henrique, imperadordo Sacro-Império, veio a Roma em 1014,ficou admirado ao verificar que aqui a

Missa não tinha Credo. “Os clérigos deRoma explicaram-lhe que a Igreja deRoma nunca tinha estado implicada naheresia e por isso não sentia necessidadede confessar a fé tantas vezes”. No en-tanto, o Papa Bento VIII cedeu às ins-tâncias do imperador, e o Credo entrou naliturgia, onde ainda hoje se encontra.

A fórmula era nessa altura o chamadoCredo niceno-constantinopolitano, quecontinua também no Missal actual, ao ladodo Credo dito dos Apóstolos. Este último,mais breve, é o que habitualmente seaprendia no catecismo e, como o carac-teriza um grande liturgista, é uma pro-fissão de fé religiosa, onde se exprimesimplesmente uma fé (D. Capelle). Outropensador comenta esta opinião, dizendo:“Mesmo fazendo abstracção dos comple-mentos que a princípio se opunham à here-sia, o facto é que o Credo da Missa, (omais longo), apresenta em todo o seuconjunto, em comparação com a extremasobriedade do Símbolo dos Apóstolos,uma notável riqueza de exposição, quenão tem tanto em vista opor-se à heresiacomo explanar, no espírito da Escritura ena ufania de quem acredita, todos os te-souros da fé” (Jungmann).

O Credo apresenta, em forma de pro-fissão de fé, os mesmos mistérios quedepois vão ser proclamados ao longo daOração Eucarística, em forma de oração.

E assim o Credo é também um mo-mento que ajuda a predispor imediata-mente para a Eucaristia.

“O Símbolo deve ser cantado ou ditopelo sacerdote juntamente com o povo,aos Domingos e nas solenidades; podetambém dizer-se em celebrações especiaismais solenes.

Se é cantado, é começado pelo sacer-dote ou, se for oportuno, por um cantor oupelo grupo coral, e é cantado por todos ao

ABRIL – JUNHO 2002 63

mesmo tempo ou pelo povo alternada-mente com o grupo coral. Se não é canta-do, é recitado por todos em conjunto oupor dois coros em diálogo”(Ib.68[44,31]).

“Se o símbolo de Constantinopla éuma expressão teológica da fé, ela é umateologia antiga e sábia, cujas fórmulas fa-vorecem a contemplação dos mistérios. E,seja qual for a beleza de certos desenvolvi-mentos musicais sobre o símbolo, é muitomais comovente quando ele é cantado comalegria por todo o povo” (Noel MouriceDenis-Boulet).

“Em todo o caso, a simples recitaçãopela assembleia dos fiéis correspondeincomparavelmente melhor à finalidadeprimitiva do Credo e ao lugar que eleocupa na contextura da liturgia da Missado que quaisquer restos menos felizes deuma grande época musical” (Jungmann).

Mas, se for recitado é preciso que a suarecitação por toda a assembleia seja bemritmada, nem que para isso ela utilize umcomo que mestre de coro que a saiba con-duzir.

ORAÇÃO UNIVERSALOU DOS FIÉIS

A Oração Universal reapareceu agorana reforma do Missal; ela foi tradicionalno passado, mas tinha caído com o tempo.O Concílio Vaticano II disse: “Restau-rem-se, se parecer oportuno ou necessá-rio, e, segundo a antiga tradição dosSantos Padres, alguns ritos que tinhamcaído em desuso (SC 50). Ora um dessesritos era a Oração Universal ou dos Fiéis,como logo a seguir o Concílio concreti-zou: “Restaure-se, especialmente nosDomingos e Festas de preceito, a OraçãoUniversal ou dos Fiéis depois do Evange-

lho e da homilia, para que, com a partici-pação do povo, se façam preces pela SantaIgreja, pelos governantes, pelos que so-frem de necessidades várias, por todos oshomens e pela salvação de todo o mundo”(SC 53).

Esta oração chama-se Universal ouComum, porque ela está aberta a todas asintenções; e chama-se dos Fiéis, isto é, dosbaptizados, em oposição à Oração dosCatecúmenos; estes já são cristãos, porquejá crêem em Cristo, mas não são chamadosfiéis, porque ainda não receberam os sa-cramentos da fé. Por isso, os ainda catecú-menos não rezam com os fiéis; estes rezampelos catecúmenos, mas não rezam com osjá baptizados. O Missal, na Vigília Pascal,a propósito da Oração dos Fiéis, afirmaque o sacerdote diz a Oração Universal,em que os neófitos participam pela pri-meira vez (n.49). Por fim, a expressãoOração dos Fiéis não quer dizer oração dosleigos, como ao princípio se poderia terjulgado.

É normal que, numa comunidade cris-tã, haja catecúmenos e fiéis, sobretudohoje em dia, em que muitos retardam obaptismo para além da infância; mas oscatecúmenos não tomam parte activa naassembleia dos fiéis. Seria até normal que,depois da Liturgia da Palavra, os catecú-menos saíssem da assembleia dos fiéis quevão celebrar a Eucaristia, conforme oRitual da Iniciação Cristã dos Adultos oprevê (RICA 94 e 97).

Todavia, na prática esta solução po-derá não parecer sempre a mais aconse-lhável.

Quanto à forma, a Oração Universal,que habitualmente usamos, é introduzidapor um invitatório do presidente e conti-nuada numa espécie de ladainha, compos-ta de versículos lançados pelo diácono oupor outro ministro, a que se responde com

64 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

um refrão. Por fim, o presidente concluicom uma oração.

É esta uma forma de origem oriental eque é a mais fácil para a participação dopovo. A forma romana é a que se conservanas chamadas Orações solenes de Sexta--Feira Santa: o próprio presidente ou odiácono lança a intenção, com um certo

desenvolvimento, e a assembleia ora emsilêncio, possivelmente até de joelhos;mas depois, de pé, escuta a oração do pre-sidente e conclui com a aclamação Amen.É uma forma mais densa, mais contida eque actualmente se mantém apenas emSexta-Feira Santa.

JOSÉ FERREIRA

CURSO PARA ACÓLITOS

6

A cadeira presidencial e o ambão

1. Tempo de oração

• Acolhimento• Sinal da cruz• Pequena oração

2. A cadeira presidencial

Na lição anterior falámos acerca do al-tar. Vamos hoje referir-nos a outras coisasimportantes que se encontram também nopresbitério. Uma é a cadeira onde se sentao presidente da celebração e a outra é oambão donde se fazem as leituras. Estastrês coisas ou lugares (o altar, o ambão e acadeira presidencial) são as mais impor-tantes dentro do presbitério. Por isso lhesdedicamos uma atenção especial.

Talvez algum de vós esteja a pensarassim: porquê falar acerca da cadeira pre-sidencial. Terá ela uma importância quejustifique metade de uma lição? Penso quesim, pois trata-se de um sinal que ajuda adescobrir as funções daquele que preside àassembleia em nome de Cristo e com a suaautoridade, como diz o missal: A cadeirado sacerdote celebrante deve significar asua função de presidente da assembleia eguia da oração.

Reparem naquelas palavras: devesignificar. Quer dizer que tal significaçãopode não ser notada. Isso acontece quando

ACÓLITOS

ABRIL – JUNHO 2002 65

ACÓLITOS

a cadeira é insignificante, ou quando nãoestá colocada onde lhe pertence.

Em primeiro lugar, para ser signifi-cativa a cadeira presidencial deve distin-guir-se, pela sua qualidade artística, detodas as outras que existem na igreja; istoquer dizer que ela deve ser a mais bela e amais artística de todas. Em segundo lugar,ela deve ser única; isso não acontecequando, por exemplo, dos dois lados dacadeira do presidente se encontram outrasduas iguais a ela, destinadas a doisacólitos; se as cadeiras do presidente e dosacólitos forem iguais, pode pensar-se queas funções deles também são iguais, o quenão é verdade. Em terceiro lugar, a cadeirapresidencial deve estar bem situada, o quenem sempre é fácil: O lugar mais indicadoé ao fundo do presbitério, de frente para opovo, a não ser que a arquitectura daigreja ou outras circunstâncias o nãopermitam: por exemplo, se viesse a ficardemasiado distante e tornasse difícil acomunicação entre o sacerdote e a assem-bleia dos fiéis.

A melhor maneira de dar àquela cadei-ra todo o relevo que ela merece, é ver, comos olhos da fé, naquele que nela se senta, opróprio Senhor Jesus Cristo. De facto, opresidente é um sinal. Sinal de Cristo, oúnico verdadeiro presidente de cada as-sembleia litúrgica. Esta é também a razão

66 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

pela qual, na cadeira do presidente, só elese deve sentar.

Questões práticas:

— Quais são as três coisas ou lugaresmais importantes dentro do presbité-rio?

— A cadeira presidencial da nossa igrejaé a mais bonita de quantas lá existem?

— Onde está ela colocada? Haveriaoutro lugar mais indicado para ela?

— Quando é que podemos dizer que a ca-deira presidencial de uma igreja ésignificativa?

3. O ambão

Aqui está uma palavra que não é cor-rente na nossa língua. Não admira. “Am-bão” é um termo derivado da língua grega,na qual quer dizer lugar para onde sesobe. Os ambões antigos tinham sempredegraus. O ambão é o lugar da proclama-ção da Palavra de Deus. A elevação quelhe corresponde facilita a transmissão dapalavra e a visibilidade do leitor, que sãoduas coisas importantes. A maior parte dasigrejas não possuem ambão, mas sim umaestante das leituras, o que não é a mesmacoisa: O lugar das leituras deve ser umambão estável e não uma simples estantemóvel.

É do ambão que se proclamam as lei-turas e o salmo responsorial. Pode tambémfazer-se do ambão a homilia e a oração dosfiéis. Mas não se devem fazer do ambão oscomentários e introduções às leituras, nemdirigir daí o canto da assembleia. A digni-dade da palavra de Deus é tão grande quemerece um lugar que lhe seja reservado.

Para realçar a importância do ambão,convém adorná-lo com sobriedade, colo-cando junto dele algumas flores. Mas não

devem ser tantas que desviem para elas aatenção dos fiéis que escutam a Palavra deDeus. É que esta Palavra é muito maisimportante do que as flores. E tudo o quepossa diminuir ou desviar a atenção dosfiéis durante a proclamação da Palavra,presta um mau serviço litúrgico.

Para que as leituras sejam bem ouvi-das por todos, a igreja deve estar devida-mente sonorizada. E para que os leitorespossam ver bem o texto dessas leituras,deve haver luz suficiente no ambão. Em-bora sejam os leitores que devem ter ocuidado de verificar, antes da missa, se oleccionário está aberto na página certa,não fica mal aos acólitos lembrar-lhesisso, se eles se esquecerem de o fazer.

Quando, na celebração da missa domi-nical, o segundo leitor acaba de proclamara sua leitura, um dos acólitos vai ao am-bão, tira o leccionário e guarda-o, para queo diácono ou o presbítero que vai ler oevangelho, possa colocar o evangeliáriona estante do ambão.

Questões práticas:

— Qual é o significado original dapalavra “ambão”?

— Na nossa igreja há ambão ou estantedas leituras?

— Quais são as acções que devem oupodem fazer-se no ambão?

— E quais são as que não devem fazer--se? Porquê?

4. Os assentospara os ministros

No presbitério devem colocar-seapenas os assentos que sejam necessáriospara os acólitos ou outros ministros. Sehouver assentos a mais, devem ser reti-

ABRIL – JUNHO 2002 67

rados. Esses assentos devem ser simples ediscretos. Devem estar colocados no lugarmais conveniente, donde os ministrospossam desempenhar as funções que lhesestão distribuídas.

Quando um acólito está sentado, nãodeve estar de qualquer maneira, a olharpara todos os lados, mas atento e sosse-gado. Se um acólito não estiver tranquilo,toda a gente olha para ele, e muitas pes-soas vão ficar também desatentas, so-bretudo as crianças. Ora, um acólito, nãodeve nunca ser responsável pela falta deatenção de ninguém. Se o fosse de pro-pósito, estaria a prestar um mau serviçoà assembleia cristã.

Questões práticas:

— Quantos assentos devem ser coloca-dos no presbitério?

— Como devem eles ser e onde devemestar colocados?

— Como deve comportr-se um acólitoquando está sentado?

5. A credência

A credência é uma mesa, que está nopresbitério, e que serve para aí colocar ascoisas que são precisas para a missa, antesde se levarem ao altar: o cálice, o corporal,o sanguinho, a patena e as píxides com opão para a comunhão, as galhetas com ovinho e a água, a bandeja e ainda o que fornecessário para lavar as mãos.

Questões práticas:

— O que é e para que serve a credência?— Já sabes os nomes das coisas que se

colocam na credência?— E também sabes para que serve cada

uma delas? Vamos aprender?

6. A reservada Santíssima Eucaristia

Em todas as igrejas deveria haver umacapela destinada à reserva da SantíssimaEucaristia. Acontece, porém, que nemsempre existe. Em muitas igrejas o sacrá-rio está também situado no presbitério.

Não é o ideal, porque tira espaço aopresbitério, que deveria ser o mais amplopossível, e perturba os ministros durantea celebração. Muitos não sabem comohão-de fazer cada vez que passam diantedo sacrário com a Santíssima Eucaristia.

Quando se entra na igreja, sempre sedeve genuflectir com um joelho diante dosacrário do Santíssimo. Se o sacrário esti-ver no presbitério, todos os que tomamparte na procissão de entrada da missagenuflectem ao chegarem junto do altar, eno fim da missa antes de se retirarem.

Durante a missa, quando se passa di-ante do sacrário, os acólitos devem apenasfazer uma inclinação do corpo. Para a fa-zer devem parar. É muito feio inclinar acabeça ou o corpo quando se vai a cami-nhar.

Questões práticas:

— Nas igrejas onde não há capela daSantíssima Eucaristia, onde costumaestar o sacrário? Como é na tuaigreja?

— Qual é a primeira coisas que devesfazer quando entras numa igreja ondeestá a Santíssima Eucaristia?

— Porque é que não é bom que o sacrá-rio esteja no presbitério?

— Durante a missa, que inclinação de-vem fazer os acólitos quando passamdiante do sacrário onde está a Santís-sima Eucaristia?

— Como se faz a inclinação do corpo?Vamos aprender a fazê-la?

JOSÉ DE LEÃO CORDEIRO

68 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Peregrinação Nacionaldos Acólitos

Fátima – 1 de Maio de 2002

1 de Maio de 2001

No dia 1 de Maio, os trabalhadores do altarreunem-se em Fátima para comemorar S.José e dar início ao mês de Maio. Apresen-tam-se com as suas túnicas de trabalho ejuntos fazem a festa nacional dos acólitos.

ABRIL – JUNHO 2002 69

A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÓNIO

A nova edição do Ritual do Matrimónioapresenta o mesmo texto da edição anterior,

mas alterou a apresentação gráficabem como a disposição dos textos

a usar nas diferentes circunstâncias.

70 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

ACÓLITOS EM FORMAÇÃO

Foram diversos os grupos que respon-deram, com o entusiasmo da sua presença,ao convite do Arciprestado do Sardoalpara o encontro de acólitos, que decorreuno passado dia 2 de Fevereiro, na Paróquiadas Mouriscas, e que assumiu as propor-ções da respectiva Zona Pastoral. Cerca desessenta jovens, acompanhados dos seusAnimadores e alguns Párocos, estiveramem formação e convívio, numa experiên-cia avaliada muito positivamente.

O dia, mesmo nas condições clima-téricas, esteve excelente: fizemos uma ini-ciação à Liturgia das Horas; estudámos anatureza, dignidade e importância do Am-bão; visitámos o Santuário de Nossa Se-nhora dos Matos, onde os trabalhos degrupo foram apresentados, em plenário,com nota muito boa; celebrámos o Dia daApresentação do Senhor, com a Eucaristiaque integrou, na Igreja Paroquial dasMouriscas, a comunidade local.

Nesta celebração, presidida pelo Sr.Bispo, D. Augusto César, foram investidosnovos acólitos: o Ricardo José e a AuroraMonteiro, de Ponte de Sor; a Ana Margari-da, de Ortiga; a Sílvia João, de Vale doArco; e a Carla Sofia, de Tramaga. Para-béns aos novos investidos.

Na mesma altura decorria, na Escolade Ministérios, a preparação de oito Mi-nistros Extraordinários da Palavra: um deNisa, um de Amieira do Tejo, um do Fratele seis de Bemposta. Falámos disto aosjovens acólitos e notámos que, este minis-tério, igualmente destinado ao Ambão, é

desconhecido da grande maioria. Talvezporque, em matéria de Escola do Altar, sóconhecemos o que vemos. Mas, a leiturados dados do recenseamento da práticadominical ajudam a reflectir sobre os no-vos caminhos que se abrem a estes jovensministros do Altar e do Ambão. Assim nósos saibamos preparar e formar, com este eoutros encontros que, oportunamente, sãopromovidos. Bem haja a Paróquia anfitriã,e a respectiva escola, pelo excelenteacolhimento que nos proporcionaram.

P. MANUEL MÁRIO DIAS RIBEIRO

ACAMPAMENTO DIOCESANODE ACÓLITOS SENIORES

Tema: Ser Acólito, hoje (Para prepararo encontro nacional)

Dias 5, 6 e 7 de Abril de 2002Lugar: Montalvão, Nisa

Dia 5 de Abril

10:00 h. Concentração em Nisa, emfrente ao Cineteatro.

10:30 h. Partida, em caravana paraMontalvão (20 minutos)

– Programa previsto

Dia 6 de Abril

– Programa previsto

Dia 7 de Abril

– Programa previsto15:00 h. Chegada dos Pais a Montalvão.16:00 h. Eucaristia de encerramento17:00 h. Despedida

DIOCESE DEPORTALEGRE E

CASTELO BRANCO

A IGREJA E O IPPAR

ARTE SACRA

ABRIL – JUNHO 2002 71

A criação do Instituto Português doPatrimónio Cultural [IPPC], em 1980,abriu uma etapa decisiva na salvaguardados nossos monumentos religiosos, agru-pando numa direcção-geral, dotada deconsiderável autonomia, competênciasantes dispersas. Mas isso representoutambém o início de um ciclo conturbadodas relações entre o Estado e a Igreja naesfera patrimonial, de certo modo com-preensível pela situação em que o país seencontrava, recém-saído de um períodorevolucionário. Face à dificuldade daIgreja em conservar os bens culturais deque era detentora e pôr termo aos pseudo--restauros, vendas e outras intervençõesque a empobreceram, o IPPC alargou a suaesfera de intervenção nesse sentido, con-centrando um enorme poder, em nome daideia de que só o Estado poderia defendereficazmente a herança cultural do país. Talalargamento tentacular das responsabili-dades não se traduziu, porém, em investi-mentos proporcionados, ao mesmo tempoque foram permitidas arbitrariedades queminaram o terreno. Estes desfasamentosconduziram a uma política de actos consu-mados e meias-palavras que degenerou emconflitos na década de 1990, quando omesmo organismo, já aligeirado, se deno-minava Instituto Português do PatrimónioArquitectónico e Arqueológico [IPPAR].

As novas orientações preconizadaspelo Ministério da Cultura após a sua

reconstituição levaram a privilegiar odiálogo, para o que contribuiu a formação,em 1996, de uma Comissão ParitáriaIgreja-Estado. A Conferência Episcopalnão ratificou o Pacto Patrimonial propostopelo Ministério, mas ficou aberto o cami-nho para uma colaboração entre o IPPAR(que passou a focar as suas atenções noPatrimónio Arquitectónico) e as dioceses,através da celebração de protocolos es-pecíficos para o efeito, tendo nisso papelpioneiro a diocese de Beja, que subscre-veu em 1999 o primeiro convénio do gé-nero. Seguiram-se outros com Évora,Lisboa e Beja, além de dezenas de acordosmais pontuais com paróquias e irmanda-des. Esta “contratualização” sentou àmesma mesa, sem constrangimentos, aIgreja e o Estado, numa linha de respeitopelas expectativas de cada um, tendosempre como pano de fundo a consciênciade estar em causa uma herança comum. Oespírito de subsidiariedade que decorre dopresente relacionamento foi reconhecidona lei que estabelece as bases da políticae do regime de protecção e valorizaçãodo património cultural, salientando o pa-pel que cabe à Igreja, como detentora degrande parte dos bens culturais do país – e,por isso, parceira natural do Estado.

Mas é forçoso reconhecer que, nãoobstante os passos dados, há ainda pro-blemas graves a equacionar na defesa dosmonumentos religiosos. Da parte do Es-

72 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

* Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.

O Museu de Arte Sacra de Santiago do Cacém,cuja obras de instalação no Hospital medieval doEspírito Santo desta cidade alentejana, sob projectodo conceituado mestre da arquitectura EduardoSouto de Moura, estão actualmente em curso, resul-ta de uma iniciativa conjunta da Diocese de Beja, doIPAAR, do Instituto Português de Museus e da Câ-mara Municipal de Santiago do Cacém (© Departa-mento do Património Histórico e Artístico da Dio-cese de Beja).

tado, torna-se indispensável corrigir as-simetrias regionais, combater o declíniodo mundo rural e permitir uma fruiçãomais alargada dos bens culturais,entrosando-os numa dinâmica de desen-volvimento sem a qual os investimentosacabam por cair em saco roto. Quanto àIgreja, espera-a uma tarefa hercúlea, de-pois de décadas de indecisões. Urge es-tabelecer instrumentos que permitambeneficiar dos fundos europeus disponí-veis até 2006 para a reabilitação de muitosedifícios em risco e a criação de infra-es-truturas essenciais (museus, arquivos,bibliotecas, centros de conservação erestauro, etc.). A indispensável transfor-mação do património de ónus em mais-va-lia ao serviço das comunidades depende,antes de mais, da definição de uma estra-tégia nacional que só a Conferência Epis-copal pode estabelecer. Para isso há quetrabalhar em parceria. É imprescindível acriação de um Conselho dos MonumentosReligiosos que funcione como forum deanálise das principais questões que secolocam neste domínio, tal como importaavançar com consórcios que viabilizemum aproveitamento mais harmonioso doIII Quadro Comunitário de Apoio.

JOSÉ ANTÓNIO FALCÃO*

ABRIL – JUNHO 2002 73

NOVA REVISTA DE MÚSICA SACRA

Esta publicação de música litúrgicae textos de formação musicalalcançou o mérito centenar.Registamos a edição 99/100

e recomendamos a sua assinatura.

74 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

PARA PREPARARE ACOMPANHARAS ORDENAÇÕES

CRÓNICA

Iniciei a série de crónicas de pastoral,que as Novidades publicaram em Novem-bro e Dezembro de 1964 sobre os primei-ros passos concretos da reforma litúrgicapós-conciliar, com estas palavras cheiasdaquele optimismo que respirei em Roma,no encontro do Consilium ad ExequendamConstitutionem de Sacra Liturgia comcerca de cem jornalistas de revistas depastoral litúrgica, entre os quais me con-tava: «A reforma litúrgica far-se-á bem efar-se-á depressa.»

Com a escola litúrgica do Semináriodos Olivais, no tempo forte da presença deMonsenhor Pereira dos Reis, que tivecomo reitor, professor de liturgia e interes-sante conversador nos tempos de recreio,eu vibrava com as perspectivas de umaliturgia renovada no seu espírito e nos seusritos. E não só eu, mas muitos dos meuscolegas ao tempo seminaristas ou já pa-dres, entre os quais recordo, entre os já nacasa do Pai, meu tio Cónº José Falcão, omeu colega de curso P. Manuel Luís e omeu professor e colega P. José da Felici-dade Alves, ou, entre os vivos, o Cónº JoséFerreira e o P. António Cartageno.

O entusiasmo criado pelo Concílio,então a decorrer, e em especial com asperspectivas abertas pela ConstituiçãoSacrosanctum Concilium à renovação da

ABRIL – JUNHO 2002 75

CRÓNICA LITÚRGICADE TEMPOS IDOS

A introdução do vernáculo na liturgia

liturgia, levou-me, com alguns compa-nheiros de trabalho, a adiantar-me às ini-ciavas oficiais, que desconhecíamos, detradução das leituras do Missal Romanopara português.

De facto, constrangia-nos verificarque as traduções que estavam a ser utiliza-das nas missa, embora autorizadamente,

76 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

eram deficientes, além de lidas a partir depequenos missais de fiéis, pouco dignos ede leitura difícil pelo reduzido tamanho daletra.

Estávamos, por isso, empenhados narápida edição de um Leccionário Experi-mental em Português, de que chegaram aser compostas, na União Gráfica, váriasdezenas de páginas.

Mas, eis que, a 26 de Março de 1964,deparei com uma breve declaração pu-blicada nas Novidades, assim redigida:«Estamos autorizados a tornar público quea Comissão Episcopal de Liturgia estápreparando a edição oficial dos textoslitúrgicos em português, autorizados nasmissas e nos funerais.»

Tal declaração levou à imediata sus-pensão dos trabalhos de tradução e ediçãodo Leccionário experimental, uma vez quejá estava a ser preparado um leccionáriooficial, facto este que, em si mesmo, eramotivo de alegria.

Outro motivo de esperança e alegriaera a existência entre nós de uma Comis-são Episcopal de Liturgia. Só vagamentesuspeitava de tal existência, como aliás deoutras várias Comissões Episcopais, quevim a saber terem sido constituídas, masnunca anunciadas.

Refiro, entre parêntesis, que, nessaaltura, na qualidade de responsável doSecretariado de Informação Religiosa(que publicava o BIP, Boletim de Informa-ção Pastoral), eu estava a preparar umanova edição do Anuário Católico de Por-tugal, a 8ª da série iniciada por Mons. Lo-pes da Cruz e a 1ª a cargo do S.I.R.

Para nele incluir a os órgãos da Confe-rência Episcopal Portuguesa da Metrópole(como então se designava), pedi tal in-formação ao Secretário, D. José Pedro daSilva, Bispo de Tiava. Quanto à ComissãoEpiscopal de Liturgia, foi-me dito que era

constituída por três bispos do Norte, parafacilitar os encontros de trabalho. Eram oBispo de Lamego, D. João da SilvaCampos Neves, que presidia em razão daprecedência canónica, o Bispo de VilaReal, D. António Valente da Fonseca, e oAdministrador Apostólico do Porto, D.Florentino de Andrade e Silva.

Foi em Roma, durante a terceira ses-são do Concílio, por altura da minha ida aoencontro do Consilium da Liturgia com osjornalistas, que pelo Bispo de Lamegotive conhecimento das actividades daComissão Episcopal de Liturgia.

Embora envolvido em grande discri-ção, o trabalho promovido pela Comissãoe realizado por um pequeno mas escolhidogrupo de sacerdotes, quase todos das re-feridas dioceses do Norte, incidia prin-cipalmente na tradução das leituras doMissal dos Domingos e Festas. De acordocom as orientações do Consilium, transmi-tidas pelo P. Bugnini, como vimos naprimeira destas crónicas, o nomes dessessacerdotes deviam ficar no olvido.

Vim a saber que as traduções tomavamcomo base o texto da Bíblia Monumental,traduzido dos originais, e que teriam emconta as orientações recentemente ema-nadas da Santa Sé na Instrução de 26 deSetembro de 1964. Vim também a saberque estavam a ser traduzidos os cânticosdas Missas de obrigação (Intróitos, Gra-duais, etc).

Por essa altura, o Episcopado Francês,pioneiro na matéria, combinou com osEpiscopados dos outros países de ex-pressão francesa traduções únicas. Talexemplo levou o Consilium a solicitar dosEpiscopados português e brasileiro quefizessem o mesmo.

A ideia teve bom acolhimento, para oque muito contribuiu a intervenção doBispo de Portalegre e Castelo Branco,

D. Agostinho Lopes de Moura, perfeitoconhecedor dos Bispos do país irmão.Estes viviam, já nesse tempo, preocupadoscom o abandono da Igreja pelas massaspopulacionais, atribuindo parte do fenó-meno a uma liturgia para elas incompreen-sível. Por isso mostraram-se interessadosna colaboração, mas manifestaram tam-bém grande pressa.

Durante o Concílio, os dois Episco-pados tiveram várias reuniões, tempe-rando-se a pressa dos brasileiros com amaior ponderação dos portugueses, masao mesmo tempo adiantando-se o trabalhodas traduções com a adopção pelos por-tugueses das versões feitas no Brasil doOrdinário do Missal e dos Rituais dosSacramentos.

As traduções brasileiras estavam feitasem português correcto, tendo-se feitodiversos ajustamentos em pormenores delinguagem. Foi em particular bastantediscutido o emprego do Tu ou do Vós refe-rido a Deus, à SS. Virgem e aos Santos .Opeso dos Bispos portugueses (que na al-tura incluíam os do Ultramar) decidiu ahesitação dos Bispos brasileiros quanto aouso do Vós. Discutiu-se também se o

Credo em português deveria ser o do Mis-sal Romano ou o mais reduzido, adoptadonalguns países, prevalecendo a primeiraopção.

Estas e outras informações obtive-as,como disse acima, do Presidente daComissão D. João da Silva CamposNeves, Bispo de Lamego desde 1948,depois de ter sido, como Bispo de Vatarbae Auxiliar do Patriarca de Lisboa, grandeimpulsionador das missões populares eorganizador da cúria diocesana doPatriarcado. Ainda o conheci a viver noSeminário dos Olivais, onde dava aulas dePastoral. Homem prático, empreendedor ediscreto, imprimiu certo dinamismo àComissão de Liturgia.

Terminarei com uma citação da minha2ª crónica de pastoral publicada nas Novi-dades em Novembro de 1964: «Quanto àextensão da introdução do vernáculo queos nossos Bispos vão propor à Santa Sé,não estou autorizado a fazer revelações.Só direi que é muito grande. Quanto à ora-ção comum ou dos fiéis, não estão aindacompostos os textos.»

! MANUEL FRANCO FALCÃO

ABRIL – JUNHO 2002 77

WWW.LITURGIA.PT

Está disponível o novo Sítio do Secretariado Nacional deLiturgia. A informação ainda é pouca, mas o projecto é animadore promete um serviço importante à causa da pastoral litúrgica.

78 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

ESCOLA DE MINISTÉRIOS

O ministério da presidênciana liturgia eucarística

P. Dr. Luís Ribeiro de OliveiraDiocese de Coimbra

O ministério do diácono,do acólito e do ministro extraordi-

nário da comunhãona liturgia eucarística

P. Dr. Manuel José Dias AmorimDiocese do Porto

Da mesa da Palavraà mesa da Eucaristia

– o ministério dos leitores –P. Dr. José de Leão Cordeiro

Arquidiocese de Évora

O ministério da música e do cantona lituriga eucarística

P. Dr. António Azevedo OliveiraArquidiocese de Braga

A LITURGIA EUCARÍSTICA

XXVIII ENCONTRO NACIONAL

DE PASTORAL LITÚRGICA

Fátima — 22 - 26 Julho — 2002

PROGRAMAR

CONFERÊNCIAS

A Eucaristiana Sagrada Escritura

P. Dr. José António Morais PalosArquidiocese de Évora

A oração eucarísticaP. Dr. Luís Manuel P. da Silva

Patriarcado de Lisboa

As várias orações eucarísticasdo Missal Romano

e suas característicasP. Dr. Carlos Manuel P. de Aquino

Diocese do Algarve

A liturgia eucarísticae sua celebração

P. Dr. João da Silva PeixotoDiocese do Porto

ABRIL – JUNHO 2002 79

INFORMAÇÃOINFORMAÇÃO

LIVROS LITÚRGICOS OFICIAIS

Situação em Março de 2002

Missal– Formato maior – (1ª ed.) ................................................................................... Disponível– Formato menor – (1ª ed.) .................................................................................. Esgotado– (A 2ª ed. aguarda a publicação da edição típica latina)

Leccionário:– I. Ano A (2ª ed.) – Previsto para o verão 2001 ........................................... Disponível– II. Ano B (1ª ed.) ........................................................................................... Disponível– III. Ano C (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– IV. Ferial I: Advento, Natal, Quaresma, Páscoa ............................................ Disponível– V. Ano II: Anos ímpares ............................................................................... Disponível– VI. Ano III: Anos pares .................................................................................. Disponível– VII. Santoral e Comuns .................................................................................... Disponível– VIII.Missas Rituais, Diversas e Votivas .......................................................... Disponível

Evangeliário ............................................................................................................... DisponívelOração dos Fiéis (2ª ed. revista e com formulários para o santoral) ......................... DisponívelLiturgia das Horas [foi revista e actualizada]

– Vol I. Advento e Natal (4ª ed.) ..................................................................... Disponível– Vol II. Quaresma e Páscoa (4ª ed.) ................................................................. Disponível– Vol III. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Vol IV. Tempo Comum (4ª ed.) – Previsto para o verão 2001 ....................... No prelo– Abrev. Edição abreviada [Laudes-H. Int.-Vésp. e Completas] (3ª ed.) .......... Disponível– Abrev. Laudes e Vésperas [Laudes-Vésp. e Completas] (1ª ed.) ................... Disponível

Celebração do Baptismo ............................................................................................ DisponívelIniciação Cristã dos Adultos ...................................................................................... DisponívelCelebração da Confirmação (2ª ed.) .......................................................................... DisponívelSagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico Fora da Missa ........................ DisponívelRitual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) ......................................... DisponívelCelebração da Penitência (2ª ed.) .............................................................................. DisponívelUnção e Pastoral dos Doentes ................................................................................... DisponívelCelebração das Exéquias ........................................................................................... EsgotadoOrdenação do Bispo, dos Presbíteros e Diáconos (2ª ed.) ........................................ DisponívelCelebração do Matrimónio (nova edição) ................................................................. DisponívelDedicação da Igreja e do Altar .................................................................................. DisponívelBênção de um Abade e de uma Abadessa ................................................................. DisponívelRitual da Profissão Religiosa .................................................................................... DisponívelRitual dos Exorcismos ............................................................................................... DisponívelConsagração das Virgens .......................................................................................... DisponívelCelebração das Bênçãos ............................................................................................ DisponívelInstituição dos Leitores e dos Acólitos ..................................................................... DisponívelBênção dos Óleos dos Catecúmenos

e dos Enfermos e Consagração do Crisma (2ª ed.) .............................................. Disponível

80 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

PUBLICAÇÕES DO SNL

A celebração do Tempo do Natal (2ª ed.) .................................................... € 3,50A Religiosidade Popular e a Celebração da Fé ........................................... € 2,00Adaptação das Igrejas segundo a Reforma Litúrgica ................................ € 3,50Akathistos ...................................................................................................... € 2,00As bênçãos ..................................................................................................... € 3,50Bênçãos da Família ....................................................................................... € 3,50Cânticos de Entrada e de Comunhão I

(Advento, Natal, Quaresma e Páscoa) ............................................... € 6,00Cânticos de Entrada e de Comunhão II (Tempo Comum) ......................... € 6,00Cânticos instrumentados para Banda ............................................................. € 10,00Directório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero ........... € 0,50Directório Litúrgico 2002 ............................................................................. € 4,50Agenda – Directório Litúrgico 2002............................................................ € 6,00Enquirídio dos Documentos da Reforma Litúrgica .................................... € 25,00Guião do XXVI Encontro Nacional Pastoral Litúrgica .............................. € 5,00Guião do XXVII Encontro Nacional Pastoral Litúrgica ............................ € 5,00Introduções aos Salmos e Cânticos de Laudes e Vésperas ........................ € 4,00Instrução Geral do Missal Romano (6ª ed.) ................................................ € 5,00Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas (2ª ed.) ................................... € 2,00Liturgia das Horas – Edição para canto (Tempo Comum) ......................... € 10,00O Ministério do Leitor .................................................................................. € 5,00O Tríduo Pascal ............................................................................................. € 2,50O Tempo Pascal (2ª ed.) ................................................................................ € 3,50Orar cantando – Carlos da Silva .................................................................. € 12,50Ordenamento das Leituras da Missa ............................................................ € 2,50Ritual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) .......................... € 4,00Salmos Responsoriais – Organista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís ................. € 17,50Salmos Responsoriais – Salmista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís .................. € 14,00

EM PREPARAÇÃO:Colectânea de textos litúrgicos antigos

Liturgia das Horas – Ed. para canto (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa)

Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 Fax 249 533 343Sítio: www.liturgia.ptE-mail: [email protected]

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

A Liturgia é simultaneamentea meta

para a qual se encaminha a acção da Igrejae a fonte

de onde promana toda a sua força.(SC 10)