isoflavonas soja
TRANSCRIPT
-
8/14/2019 isoflavonas soja
1/3
12 Biotecnologia Cincia & Desenvolvimento - n 20 - maio/junho 2001
Biotransformao de
Isoflavonas de SojaPESQUISA
Aplicao da biotecnologia enzimtica na converso de isoflavonas com maior atividade biolgica
Brasil o segundomaior exportadorde gros de soja
(Glycine max) e oprincipal exporta-
dor de farelo de soja, com 32% domercado mundial, que represen-tam 75% da produo brasileira(Roessing, 1995). H possibilidade deque, em 2001, haja um aumento decerca de 10% a mais que no ano passa-do, ou seja, alcanar aproximadamen-te, 12,7 milhes de toneladas. As previ-ses para a receita do complexo soja(gro, leo e farelo) mostram um au-mento de at 14%, algo em torno de US$
4,8 bilhes. A rea plantada foi de 13,7milhes de ha na safra 2000/2001.A soja vem sendo utilizada h muito
tempo como alimento devido ao seuelevado teor protico, muito emboratambm possua em sua composioqumica compostos polifenlicos como,por exemplo, os isoflavonides(Figu-ra 1) que tm sido relacionados a impor-tantes propriedades biolgicas, taiscomo: atividade anti-oxidante (Esaki etal., 1999; Esaki et al., 1998; Shahidi et al.,1992), atividade antifngica (Naim et al.
1974), propriedades estrognicas (Mur-phy, 1982) e atividade anticancergena
(cncer de mama e prstata) (Coward etal., 1993; Peterson & Barnes, 1993; De-nis et al., 1999).
Figura 1: Estruturas de
isoflavonas encontradas na soja
Pases orientais, como Japo e Chi-na, j utilizam h muitos anos a sojafermentada na alimentao e, atual-mente, tem-se percebido um crescenteconsumo dessa leguminosa e de seusderivados em pases europeus e nosEstados Unidos, como alimento funcio-
nal. Nos Estados Unidos, em 2000, aproduo de alimentos funcionais comoa soja foi de, aproximadamente, 20bilhes de dlares, contudo, estima-seque haver um crescimento exponenci-al, que, no ano 2010, atingir a cifra dequase 60 bilhes de dlares (Henry,1999). Isoflavonas so a maioria doscompostos fenlicos da soja (Ahluwaliaet al., 1953). Soja e farinha desengordu-rada de soja, que tenham sofrido leveaquecimento durante o processamento,contm, principalmente, 6-O-malonil-glicosil isoflavonas, com menor quanti-dade de b-glicosil isoflavonas e traos
de6-O-acetil-glicosil isoflavonas. Lei-te de soja, tofue outros alimentos base de soja, que sofrem aquecimen-to a 100C durante o processamento,contm, principalmente,b-glicosil iso-
flavonas. Farinha torrada e protenaisolada de soja tm quantidadesmoderadas de cada conjugadode isoflavonas (Barnes, 1995).Isoflavonas agliconas so absor-
vidas na parte superior do intes-tino delgado com muitos medi-camentos de estrutura similar (Co-
ward et al., 1993). b-Glicosil iso-flavonas so excelentes substra-tos para b-glicosidase e seria es-perado que fossem absorvidosno intestino delgado. As malonil
e acetil-glicosil isoflavonas mo-dificadas so substratos inade-quados para a hidrlise enzim-tica, sendo absorvidas no intesti-no grosso aps hidrlise induzi-
da por enzimas bacterianas no intes-tino (Ebata et al., 1972).
Algumas isoflavonas, com genis-tena (forma aglicona) tm grandepoder de controle de clulas cance-rosas. Genistena tambm inibiu ocrescimento de clulas tumorais daprstata humana quando comparada
sua forma glicosilada (Matsuda etal., 1994). Alm disso, foi reportadoque a atividade antioxidante de ge-nistena ou outras isoflavonas aglico-nas foram superiores quelas de gli-cosil isoflavonas (Onozawa et al.,1998). A converso de b-glicosil emisoflavonas agliconas resulta em quan-tidades maiores de compostos ben-ficos sade humana. O objetivodeste trabalho foi converter b-glicosilisoflavonas em agliconas, e estabele-cer um processo adequado para con-
verso de formas glicosiladas em agli-conas.
Yong Kun ParkProf. Dr. Laboratrio de Bioqumica, Fac.
Engenharia de Alimentos, UNICAMP,
Campinas SP,
Cludio Lima AguiarDoutorando em Cincia de Alimentos, Fac.
Engenharia de Alimentos, UNICAMP,
Campinas SP,
Severino Matias AlencarDoutorando em Cincia de Alimentos, Fac.
Engenharia de Alimentos, UNICAMP,
Campinas SP,
matias@ fea.unicamp.br
Adilma Regina Pippa Scamparini,Profa. Dra., Fac. Engenharia de Alimentos,
UNICAMP, Campinas SP.
-
8/14/2019 isoflavonas soja
2/3
Biotecnologia Cincia & Desenvolvimento - n 20 - maio/junho 2001 13
METODOLOGIA
A soja foi obtida no Instituto Agron-mico de Campinas. Os padres de genis-tena e daidzena, bem como o substratopara reao enzimtica, p-Nitrofenil-b-gli-copiranosdio (pNPG), foram obtidos daSigma Chemical Co. (St. Louis, Mo., USA).Os padres de genistina e daidzina foram
obtidos da Funakoshi Chemical Co. (T-quio, Japo).
Os gros de soja foram modos at quese obtivesse uma farinha bem fina. Essafarinha foi desengordurada com hexanopor 30 minutos, a temperatura ambiente.
A farinha desengordurada de soja (FDS)foi misturada a 10 mL de soluo 80% demetanol a 60C, por uma hora, para extra-o das isoflavonas (b-glicosiladas e agli-conas) presentes naquela FDS. O sobre-nadante contendo as isoflavonas foi utili-zado para anlise do teor de isoflavonas
em cromatografia lquida de alta eficinciaem fase reversa (CLAE-FR), e para osestudos de converso enzimtica.
A converso de b-glicosil isoflavonasem agliconas foi estudada sob fermenta-o semi-slida com Aspergillus oryzae
ATCC 22786. A enzima, b-glicosidase, uti-lizada foi obtida a partir de fungo filamen-toso em meio semi-slido (esterilizado a121C, por 20 min) de farinha de soja egua (1:1, p/v) a 30C, por 48 horas. Aatividade enzimtica foi monitorada pelomtodo do pNPG. Os extratos obtidos
aps as converses foram conseguidospela extrao metanlica (soluo 80%).Esses extratos foram analisados em CLAE-FR. Foi utilizado um cromatgrafo Shima-dzu SPD-M10 AVP equipado com coluna
YMC PACK ODS-A e detector de arranjode fotodiodos. Usou-se um fluxo de 0,5mL/min e eluio gradiente, que consis-tue em aumento linear de 20% a 80% demetanol em gua e cido actico (19:1).
A atividade antioxidante dos extratosde isoflavonas foi avaliada pela oxidaoacoplada de b-caroteno e cido linolico,
como descrito por Hammerschmidt &Pratt (1978).
RESULTADOS E DISCUSSO
Produo de b-glicosidaseHidrlise enzimtica de glicosil isofla-
vonas de soja por microrganismos temsido reportada por pesquisadores da rea.Esses microrganismos so Rhizopus oryzae(Gyrgy et al., 1964); Rhizopus oligospo-rus (Ebata et al., 1972); e Lactobacilluscasei (Matsuda et al., 1994), que sousados na manufatura de alimentos fer-mentados de soja. Foi tambm reportado
que b-glicosidase endgena de soja hi-drolisa as glicosil isoflavonas suas for-mas agliconas (Ha et al., 1992; Carro-Panizzi et al., 1999). Foi verificada produ-o de b-glicosidase por todos essesmicrorganismos, includo Aspergillusoryzae, que usado na fermentao desoja em meio semi-slido, muito emboraA. oryzaetenha produzido maior ativida-
de enzimtica (17,1 UI/mg) que outros.Portanto, b-glicosidase de A. oryzae foiutilizada neste estudo.
Converso de glicosilisoflavonas em agliconas,por processo enzimtico
Durante fermentao de FDS por 48horas (Tabela 1), a maioria das 724 mg/gde glicosil isoflavonas foram convertidasem agliconas (564 mg/g). Malonil isofla-
vonas podem ser convertidas em suas
correspondentes formas glicosadas portratamento trmico da farinha de soja.
Como mostra a figura 2 A, os ismerosde malonil isoflavonas foram transforma-dos por decomposio trmica a 121Cpor 40 minutos. As formas glicosadas deisoflavonas, por sua vez, podem ser bio-transformadas pelo complexo enzimti-co produzido por bactrias do intestino,ou, ainda, biotecnologicamente, pode-seobter a converso de glicosil isoflavonas
em suas formas agliconas por ao deenzimas fngicas, como b-glicosidase deAspergillus oryzae (Figura 2-B e C). Aconverso de glicosil em isoflavonas agli-conas foi devido presena de b-glicosi-dase (Figura 2). De fato, os esporos de A.oryzae germinaram e a atividade enzim-tica foi tambm detectada aps 24 horasde fermentao. No entanto, aparenteque a converso ocorreu principalmenteaps as 24 horas. Conclui-se que, durantea fermentao, a quantidade total deisoflavonas agliconas aumentou cerca de
27 vezes, quando comparada com valo-
Figura 2: CLAE-FR dos extratos metanlicos deisoflavonas durante a biotransformao
-
8/14/2019 isoflavonas soja
3/3
14 Biotecnologia Cincia & Desenvolvimento - n 20 - maio/junho 2001
res anteriores reao. Nesse experi-mento, 10 gramas de FDS aps esterili-zao a 121C continha 724 mg/g, en-quanto 10 gramas de FDS sem esteriliza-o continha 1.179 mg/g. Considera-seque, durante o tratamento trmico, quan-tidades significativas de glicosil isofla-
vonas foram decompostas.
Atividade antioxidantedo extrato metanlico
da FDS fermentada
As atividades antioxidantes dos ex-tratos metanlicos de FDS foram medi-das antes e aps a fermentao (Figura3). O extrato metanlico de farinha desoja aps a fermentao mostrou maioratividade antioxidante que antes dafermentao. Esses resultados so devi-do converso de glicosil isoflavonasem agliconas, as quais tm maior ativi-dade antioxidante, como j havia sidopercebido em testes anteriores.
CONCLUSES
A produo de b-glicosidase micro-biana, que est envolvidana hidrlise de glicosil iso-flavonas de soja em aglico-nas, foi obtida usando-se
vrias linhagens de micror-ganismos que entram nafermentao da soja, e oAspergillus oryzae produ-ziu alta atividade na con-
verso de glicosil em isofla-vonas agliconas. A enzima
converteu eficientementeglicosil isoflavonas extra-das de FDS em suas formasagliconas, e altas concen-traes de isoflavonas agli-conas mostraram elevadaatividade antioxidante.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem Fundaode Amparo Pesquisa no Estado de SoPaulo pelo apoio a este projeto (Projeto
FAPESP n 00/10611-7).
REFERNCIAS
Ahluwalia, V.K.; Bhasin, M.M.; Sesha-dri, T.R. (1953) Isoflavones of soybeans.Current Science, 22:263-265.
Barnes, S. Effect of genistein on inVitro and In Vivo models of cancer. (1995)Journal of Nutrition, 125:777S-783.
Carro-Panizzi, M.C.; Belia, A.P.; Ki-tamura, K.; Oliveira, M.C.N. (1999) Effectsof genetics and environment on isoflavo-ne content of soybean from different regi-ons of Brazil. Pesquisa Agropecuria Bra-
sileira, 34(10):1787-1795.Coward, L.; Barnes, N.C.; Setchell,
K.D.R.; Barnes S. (1993) Genistein, Dai-dzein, and their b-glucoside conjugates:
Antitumor isoflavones in soybean foodsfrom American and Asian diets. Journal of
Agricultural and Food Chemistry, 41:1961-1967.
Denis, L.; Morton, M. S.; Griffiths, K.(1999) Diet and its preventive role inprostatic disease. European Urology, 35(5-6): 377-387.
Ebata, J.; Hukuda, Y.; Hirai, K.; Murata,
K. (1972) Nipon Nogeikagaku Kaishi,46:323-329.
Esaki, H.; Watanabe, R.; Onozaki, H.;Kawakishi, S.; Osawa, T. (1999) Formationmechanism for potent antioxadative o-dihydroxyisoflavones in soybean fermen-ted with Aspergillus saitoi. Biosci. Biotech-nol. Biochem. 63(5):851-858.
Esaki, H.; Onozaki, H.; Morimitsu, Y.
(1998) Potent antioxidative isoflavones iso-
late from soybeans fermented with Aspergi-llus saitoi. Bioscience Biotechnology Bio-chemistry, 62(4):740-746.
Gyrgy, P.; Murata, K.; Ikehata, H. (1964)Antioxidants isolated from fermented soybe-ans (Tempeh). Nature, 202:870-872.
Ha, E.Y.W.; Morr, C.V.; Seo, A. (1992)Isoflavone aglucones and volatile organiccompounds in soybeans: effect of soakingtreatment. Journal of Food Science, v. 57:414-417.
Hammerschmidt, P.A.; Pratt, D.E. (1978)Phenolic antioxidants of dried soybeans.
Journal of Food Science, 43:556-559.Henry, C. M. (1999) Nutraceuticals: Food
or Trend ?. Chemical & Engineering News,21:42-47.
Matsuda, S.; Norimoto, F.; Matsumoto,Y.; Ohba, R.; Teramoto, Y.; Ohta, N.; Ueda,S. (1994) Solubilization of novel isoflavoneglycoside hydrolyzing b-glucosidase fromLactobacillus caseisubsp. Rhamnosus. Jour-nal of Fermentation and Bioengineering,77:439-441.
Murphy, P. A. (1982) Phytoestrogen con-tent of processed soybean products. Food
Technology, 36(1):60-64.Naim, M.; Gestetner, B.; Zilkah, S.; Birk,
Y.; Bondi, A. (1974) Soybean isofla-vones. Characterization, determina-tion, and antifungal activity. J. Agric.Food Chemistry, 22(5):806-810.
Onozawa, M.; Fukuda, K.; Ohta-ni, M.; Akaza, H.; Sugimura, T.; Waka-bayashi, K. (1998) Effects of soybeanisoflavones on cell growth and apop-tosis of the human prostatic cancercell line LNCaP. Japanese Journal ofClinical Oncology, 28:360-363.
Peterson, G.; Barnes, S. (1993)Genistein and Biochanin A inhibitthe growth of human prostate can-cer cells but not epidermal growthfactor receptor tyrosine autophos-phorylation. The prostate, 22:335-
345.Roessing, A. C. (1995) Situao mundial
de oleaginosas. Informe econmico CNPSo,2:9-10.
Shahidi, F.; Wanasundara, P. K. J. P. D.(1992) Pnenolic antioxidants. CRC criticalReview Food Science and Nutrition, 32(1):67-
103.
Tabela 1: Biotransformao de glicosil isoflavonas em agliconas
Antes FermentaoAps Fermentao
Daidzina
310 1148 3
Glicitina
78 311 1
Genistina
336 2317 2
Total
72476
Daidzena
9 2298 26
Glicitena
ND27 3
Genistena
12 1260 10
Total
21585
Os dados representam microgramas de isoflavonas por grama de farinha desengordurada de soja. Mdia SD das
amostras em triplicata. ND = No Detectado
Glicosil isoflavonas, mmmmmg/g Isoflavonas agliconas, mmmmmg/g
Figura 3: