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territorium
Imprensa da Universidade de CoimbraAssociação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
2018
RISCOS A.P.R.P.S.
territorium • 25
(I )
• 25(I)
9789899
625327
Riscos: PRocessos e vulneRabilidades
Revista inteRnacional de Riscos | inteRnational JouRnal of Risks
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Riscos: Processos e vulnerabilidades
Risks: Processes and vulnerabilities
2018
territorium 25 (I)
Janeiro - Junho
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t e r r i t o r i u m
Revista Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
FIcha TécnIca
Proprietário / Proprietary (Owner)RiScoS© - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
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Fotografia da capa / Cover photoSimulação de uma inundação em Berlim
Flood Simulation in BerlinLocalização / Localization: Berlim
Fotografia / Photo: via Pixabay
Edição / EditionRiScoS© - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
iUc© - imprensa da Universidade de coimbra
Paginação / Formatting and LayoutMestre Fernando Félix
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Pré-impressão e Impressão / Print preview and Printing:Simões & Linhares, Lda.
Rua do Fetal, Lote 5, 3020-923 coimbra
Periodicidade / PeriodicitySemestral / Biannual
Tiragem / Printed1100 exemplares
Público alvo / Target audienceProfessores, Agentes de Proteção civil, Autarcas, Estudantes e cidadãos.Teachers, civil Protection Agents, Politicians, Students and citizens.
Arbitragem / Peer-reviewos artigos submetidos para publicação são sujeitos a revisão por
dois especialistas.Articles submitted for publication are subject to review by two experts
(double-blinded).
Depósito Legal n.º 106376/96ISSn Digital: 1647-7723
ISSn: 0872-8941DOI: https://doi.org/10.14195/1647-7723
URL: http://www.uc.pt/fluc/nicif/riscos/Territorium/numeros_publicados https://impactum.uc.pt/pt-pt/content/revista?tid=43371&id=43371
http://impactum-journals.uc.pt/index.php/territorium
Indexada em / Indexed inLatindex; Qualis 2014; ERIh-PLUS; Dialnet; DOAJ
apoios: Sponsors:
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149a TRanSIçãO FLORESTaL E a GOVERnança DO RIScO DE IncênDIO Em PORTUGaL nOS úLTImOS 100 anOS
João Ferrão
instituto de ciências Sociais da Universidade de Lisboa (Portugal)[email protected]
territorium 25 (i), 2018, 149-150journal homepage: http://www.uc.pt/fluc/nicif/riscos/Territorium/numeros_publicados
DOI: https://doi.org/10.14195/1647-7723_25-1_12
A tese de doutoramento de Tiago Martins de oliveira é tão ambiciosa quanto necessária. De facto, recolher, sistematizar e analisar informação relativa a 100 anos é um trabalho de monta, apenas possível dado o entusiasmo e persistência do autor e a sua capacidade invulgar de mobilizar, dentro e fora da academia, uma rede de contactos e colaborações individuais e institucionais de natureza muito diversa. Quanto à necessidade do trabalho desenvolvido, se já era amplamente reconhecida durante a sua elaboração tornou-se, pelas piores razões, indiscutível após a tragédia que ocorreu em Pedrógão Grande a 17 de junho de 2017, escassas 3 semanas antes da realização das provas de doutoramento em que esta obra foi apresentada e discutida: 64 mortos, mais de 250 feridos, 200 habitações destruídas, um número idêntico de postos de trabalho afetados, milhares de hectares ardidos e muitos milhares de euros de prejuízos.
A obra tem como ponto de partida uma verificação empírica: depois de um processo milenar de desflores-tação, em meados do século XiX iniciou-se em Portugal um período de expansão da área arborizada que começa a desacelerar a partir de 1970 e que se inverte duas décadas mais tarde, quando a incidência de sucessivos fogos, afetando o equivalente a metade da área do país, induz um decréscimo da superfície florestal.
Esta verificação empírica vem acompanhada por uma tese: durante o Portugal rural ´tradicional`, descrito por orlando Ribeiro e outros autores, a expansão florestal ocorre tendo por base soluções informais e locais de conhecimento e de gestão da floresta e do território desenvolvidas pelas comunidades; a evolução demográfica e socioeconómica entretanto verificada em muitas áreas rurais – emigração, despovoamento, envelhecimento, desaparecimento de atividades agro-pastoris tradicionais e marginalização das produções do setor primário no contexto da modernização da economia portuguesa - destruiu essa interação virtuosa, sendo que os processos de transição florestal e de governança do risco de incêndio prevalecentes nas últimas décadas dificilmente conseguirão assegurar uma transição florestal sustentada. Nesta formulação do problema, transição florestal e governança do risco de incêndio tornam-se os dois conceitos-chave da tese de Tiago oliveira.
Estando orientada para o futuro, no sentido de visar identificar soluções para os problemas encontrados, esta obra corresponde, em boa medida, a um estudo de história agrícola e florestal, já que, na perspetiva do autor, a construção de futuros desejáveis apenas é possível a partir de uma visão dinâmica que entenda, de forma articulada, o passado, o presente e as diversas dimensões de natureza prospetiva. Evolução dos padrões de ocupação do solo, enquadramentos institucionais e legislativos, atores responsáveis e envolvidos nos processos de decisão, modos de formulação dos proble-mas e soluções propostas fazem, pois, parte de um puzzle complexo cujas espácio-temporalidades revelam as principais condicionantes das mudanças ocorridas ao longo de um século mas também as vulnerabilidades essenciais com que as áreas arborizadas se confrontam hoje no nosso país.
A tese inclui três artigos em coautoria – dois publicados e um submetido para publicação - devidamente enquadrados por uma introdução e uma conclusão, ambas da respon-
Fig. 1 – Frontispício da dissertação de doutoramento de Tiago oliveira
Fig. 1 – Frontispiece of Tiago Oliveira Phd dissertation.
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sabilidade exclusiva do autor. Aliás, e esse é um aspeto a ser realçado num contexto em que se multiplicam as teses de doutoramento por artigos, o autor identifica, para cada um deles, o seu contributo específico.
o capítulo introdutório inclui, sem surpresa, os elementos habituais em dissertações de doutoramento: formulação do problema, motivação, objetivos e tese. Do que aí é dito e relembrado, salientaremos sete ideias-base, cujo encadeamento, da nossa responsabilidade, poderemos apresentar do seguinte modo:
i) Portugal teve uma das mais rápidas expansões de área florestal na Europa a partir de meados do século XIX;
ii) Cerca de 97% da propriedade florestal atual é privada;
iii) A incidência de fogos florestais é muito elevada, mas tem padrões espaciais bastante diferenciados;
iV) Os incêndios florestais têm suscitado sobretudo soluções desenvolvidas numa ótica de combate e não de prevenção;
V) o insucesso das soluções ensaiadas nos últimos 40 anos leva a que, no futuro próximo, a defesa da floresta se deva centrar mais nos atores e nas instituições que asse-guram a governança do risco de incêndio em Portugal;
Vi) O conhecimento científico sobre a governança do risco de incêndio é diminuta no nosso país;
Vii) A relação entre alterações climáticas e florestas tenderá a ser cada vez mais estreita, tanto do ponto de vista da vulnerabilidade ao fogo como da mitigação dessas alterações através da conservação e manutenção das áreas arborizadas, o que torna ainda mais complexa a governança das florestas e do risco de incêndios florestais.
É, pois, à luz deste conjunto de ideias, objetivos e preocu-pações que a segunda parte desta obra, constituída por três artigos como acima se referiu, deve ser lida e analisada.
o primeiro artigo (secção 2.1) incide sobre a terri-torialização do processo de transição florestal ocorrido entre 1907 e 2006. Aí se efetua o estudo da evolução da ocupação do solo ao nível dos municípios do continente, o que permite identificar quatro clusters regionais – ou, retomando uma expressão do autor, quatro “percursos geográficos” - em função do modo como essa evolução se processou ao longo dos vários subperíodos temporais considerados para o efeito.
o segundo artigo (secção 2.2) é sobre a governança do sistema de risco florestal. Com esse objetivo, analisam-se o quadro institucional, os diplomas governamentais (1910-2013) e as estruturas de governação no domínio dos incêndios florestais, tendo por base uma minuciosa análise documental e ainda entrevistas a atores relevantes.
Finalmente, o terceiro artigo (secção 2.3), de natureza mais técnica, corresponde a uma avaliação ex ante da eficácia da principal proposta de prevenção formulada
após a crise de 2003/5 - as faixas lineares e as redes
regionais de gestão de combustíveis – tendo como estudo
de caso o Algarve.
No capítulo final sistematizam-se os principais resultados
obtidos. Mais do que reproduzi-los exaustivamente, ainda
que de forma sumária, salientaremos três ideias-chave,
associadas a cada um dos artigos que integram esta obra.
Primeira ideia-chave (secção 2.1): caso se mantenha o
descontrolo do problema dos incêndios, e apesar do
esforço para arborizar artificialmente grande parte do
território, a paisagem do país aproximar-se-á cada vez
mais daquilo que era no início do séc. XX, isto é, uma
paisagem dominada pelos matos. Segunda ideia-chave
(secção 2.2): as soluções informais e de proximidade
de governança do risco de incêndio foram deixando de
funcionar a partir dos anos 1950 e as sucessivas soluções
formais desenvolvidas a partir da década de 1970,
tanto no âmbito do paradigma florestal como, mais
tarde, no contexto do paradigma da proteção civil, não
conseguiram dar uma resposta cabal, nomeadamente
por falta de envolvimento de todos os atores relevantes,
incluindo os privados. Terceira ideia-chave (secção 2.3):
mesmo que o sistema de faixas de proteção tivesse sido
concretizado na região estudada (Algarve), não teria
sido possível reduzir substancialmente a proporção e a
severidade do fogo.
A relevância do tema, a pertinência da análise efetuada,
a centralidade científica e estratégica dos conceitos de
transição florestal e de governança do risco de incêndio
e, ainda, a urgência das ´alterações transformacionais`
cujo sentido é preconizado pelo autor tiveram o seu
verdadeiro teste não no dia das provas de doutoramento,
face a um júri composto por membros competentes e
exigentes, mas antes durante o longo verão quente que
se prolongou, simbolicamente, de 17 de junho (data da
tragédia de Pedrógão Grande) a 15 de outubro (o “pior
dia do ano em incêndios”) de 2017. Tudo previsível, tudo
anunciado. E mais uma vez se confirma uma tendência
que tem sido recorrente neste domínio: apenas em
contextos de crise, e em função de cada crise, se
introduzem alterações relevantes nas políticas florestais
e nas práticas de governança do risco de incêndio.
Esta é, portanto, uma obra a ler com atenção e
admiração: pela riqueza da informação recolhida e
sistematizada, pela originalidade e perspicácia das
análises efetuadas, pelos caminhos que abre ou deixa
antever. E também, não menos importante, pelo avanço
que representa e dinamiza ao nível do conhecimento
científico, da formulação de políticas públicas e do
desenvolvimento de plataformas – formais e informais - de
governança inclusiva e colaborativa do risco de incêndios
florestais e, de modo mais abrangente, de governança
territorial em áreas de baixa densidade e (ainda) com
intensa ocupação arbórea.
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nOTa DE aBERTURa
Luciano Lourenço ............................................................................................................... 3
aRTIGOS
João Sérgio Queiroz de Lima, Jader de Oliveira Santos e Maria Elisa Zanellaimpactos das chuvas na cidade de Fortaleza no triênio 2013, 2014 e 2015 ........................................ 5
Elvira Fátima de Lima Fernandes e Vicentina Socorro da Anunciaçãoimpactos hidrometeóricos no alfa do Pantanal sul-mato-grossense/Brasil ............................................ 23
P. Poseiro, c. J. E. m. Fortes, m. T. Reis e R. ReisUtilização conjunta de ferramentas neuronais e SiG na avaliação da inundação do porto e baía da praia da Vitória) ................................................................................................................... 39
Emanuel Sardo FidalgoVulnerabilidade das infraestruturas rodoviárias aos efeitos de nevões na transição dos distritos do Porto e de Vila Real ............................................................................................................ 47
Maria Francisca de Jesus Lírio Ramalho e Antonio José Teixeira Guerrao risco climático da seca no semiárido brasileiro ......................................................................... 61
Víctor Quintanilla Pérez e Mauricio Morales ConstanzoAntecedentes sobre los impactos ecologicos de los fuegos y de otros factores antropicos en los bosques de jubaea chilensis (moll) baillon. caso de estudio: microcuencas perurbanas de las ciudades de Valparaíso y Viña del Mar, Chile ................................................................................................ 75
Luana Santos Oliveira Mota e Rosemeri Melo e SouzaVulnerabilidade à erosão costeira e riscos associados à ocupação: estudo de caso do município de Aracaju Sergipe, Brasil .......................................................................................................... 89
Mário Talaia, Leonor Teixeira e Isabel TavaresRisco de fadiga em ambiente térmico frio: caso de uma indústria de peixe congelado ............................ 103
Sérgio Fonseca, Cristina Queirós, Fabienne Guimarães e Vitor MartinsRisco de burnout e trauma em profissionais da ferrovia com e sem experiência em acidentes .................... 113
nOTaS
Célia Campos Braga, Jonathan Castro Amanajás, Clênia Rodrigues Alcântara e Milena Pereira DantasAvaliação do albedo nos diferentes tipos de cobertura do cerrado do Amapá - Brasil com imagens MoDiS ....... 129
nOTÍcIaS
Luciano Lourenço, Sofia Bernardino e Fernando FélixiV congresso internacional de Riscos ........................................................................................ 135
Fernando Félix e Luciano LourençoPrémio “Dedicação à RISCOS” ................................................................................................. 145
REcEnSÕES
Fátima Velez de castroRecensão crítica do livro “Alcafache 30 anos depois”, de Luciano Lourenço (coord.) (2017) ................. 147
João FerrãoA transição florestal e a governança do risco de incêndio em Portugal nos últimos 100 anos ...................... 149
Luciano Lourenço,Incêndios florestais em Portugal continental fora do “período crítico”, estudados numa tese que fornece importantes contributos para o seu conhecimento ......................................................................... 151
António Betâmio de AlmeidaScience for disaster risk management 2017. Knowing better and losing less ........................................... 155
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