irmãos de jesus

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  • 7/21/2019 Irmos de Jesus

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    QUARTA PARTE

    OS IRMOS DE JESUS

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    CAPTULO DCIMO STIMO

    A VIRGINDADE PERPTUA DEMARIA SANTSSIMA

    O QUE PENSAVAM OS SANTOS PADRES.

    393. Maria SS.ma, a me de .Jesus, foi perpetuamente virgem ou nofoi? Maria ter tido outros filhos alm de Jesus?

    Teremos naturalmente que examinar todos os textos da Bblia quegiram em torno desta questo. Antes disto, porm, temos uma perguntaa fazer: Quem est mais autorizado a nos dar uma segura informaoa este respeito, a nos dizer o que se deve pensar sobre a virgindade de Maria: a Igreja Catlica, que vem dos tempos de Cristo, que recebeu,

    portanto, na sua fonte, o ensino dos Apstolos, ou os protestantes que svieram a aparecer no sculo XVI? A Igreja Catlica, que jamais teve a

    mnima dvida sobre este assunto ou o Protestantismo em cujo seio, comovimos (n 238), tm aparecido sobre esta prpria matria, como sobretantasoutras, opinies bastante desencontradas?

    O nico fundamento em que se baseiam os adversrios para duvidarda virgindade de Maria SS.ma, a interpretao que do a certas passagensdo Evangelho. Mas este mesmo Evangelho que os protestantes hoje leeme comentam, no era tambm lido, manuseado, estudado cuidadosamente

    pelos Santos Padres? Se os protestantes veem to claro nos Evangelhosque Maria perdeu um dia a sua virgindade, seriam os Santos Padres tocegos, to loucos e ignorantes que no o tivessem visto?

    Quando aparece no sculo 5.9 um tal Helvdio "homem rstico e malconhecedor das primeiras letras", como diz S. Jernimo, querendo negarque Maria SS.ma tivesse sido virgem depois do parto, S. Jernimo, almdo exame que faz dos textos alegados, apresenta como argumento a unanimidade dos Santos Padres a respeito da virgindade perptua de Maria.E quando lhe alegam Tertuliano que teria escrito alguma coisa neste sentido, admitindo que Maria no foi virgem depois do parto, S. Jernimoobserva muito bem que, contra o testemunho dos Santos Padres, o de Ter tuliano nada vale, porque ele no foi um "homem da Igreja". De fatoTertuliano era cristo, era um grande escritor, mas afastou-se da Igreja, abraando a doutrina do montanismo.

    Mais ainda: hoje, quando um pastor protestante tem a ousadia de falar de pblico atacando a virgindade de Maria SS.ma, o povo catlico se toma de indignao e o obriga a calar-se. Os protestantes veem nistoapenas um sinal de ignorncia, de pieguice e de sentimentalismo.

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    Pois bem, esta mesma indignao aparece igualmente bem clara nosescritos dos Santos Padres e de grandes escritores dos primeiros temposda Igreja, o que sinal de que no se trata de ignorncia, mas de bomsenso.

    S. Ambrsio diz assim: "Houve quem negasse que ela (Maria) tivesse permanecido virgem. Desde muito tempo temos preferido no falarsobre ESTE TO GRANDE SACRILGIO. Maria no broma ; no broma aquelaque mestra da virgindade; nem podia acontecer que aquela que em sitinha trazido Deus resolvesse andar s voltas com um homem. Nem Jos, varo justo, cairia nesta loucura de querer misturar-se com a me doSenhor em relao carnal" (De inst. virgin. c 5, 6).

    S. Hilrio no s afirma que Maria permaneceu sempre virgem, mastambm observa que os que pensam de maneira diversa so "IRRELIGIOSOS EALHEIOS DOUTRINA ESPIRITUAL" (Commentaria in Math. I, 3).

    S. Epifnio exclama: "Donde que surgiu esta PERVERSIDADE? Donde que irrompeu tamanha AUDCIA? Porventura o prprio nome no suficiente atestado? Quem houve jamais em tempo algum que ousasse proferir o nome de Maria e espontaneamente no acrescentasse a palavraVIRGEM?... O nome de virgem foi dado a Santa Maria, nem se mudarnunca, ela sempre permaneceu ilibada" (Adversus haereses Panarium).

    Gendio diz o seguinte: "Com f ntegra se deve crer que a bem-aventurada Maria, me de Cristo Deus, no s gerou como virgem, mas permaneceu virgem depois do parto e no se h de concordar com a BLASFMIA de Helvdio que disse: Virgem antes do parto, mas novirgem depois do parto" (Liber ecclesiasticorum dogmatum 35).

    E com veemncia que S. Jernimo se lana contra este Helvdioque, embora admitindo a virgindade de Maria antes do parto e no parto, afirmava que ela tivera outros filhos depois. Aps citar os vrios textosem que se baseia a sua argumentao para provar que aqueles "irmos"de Jesus no so filhos de Maria, S. Jernimo acrescenta: " o maisimperito dos homens, no tinhas lido estas coisas; e lanaste no plagodas Escrituras a tua raiva para injria da Virgem, a exemplo daqueleque, segundo contam, sendo desconhecido do povo e nada de bom podendo fazer, imaginou um crime para se tornar famoso: incendiou otemplo de Diana. E no tendo dado resultado o sacrilgio, ele prprio saiu a

    pblico, afirmando aos gritos que fora ele o autor do incndio. E perguntando os magistrados de feso por que motivo teria querido fazeristo, respondeu: para que, se no por bem, ao menos por mal me tornassede todos conhecido. , pelo menos, o que nos narra a histria grega. Tuincendiaste o templo do corpo do Senhor; contaminaste o santurio doEsprito Santo, do qual pretendes ter sado uma quadra de irmos e ummonto de irms. Argumentas com o que dizem os judeus: Porventurano este o filho do oficial? No se chamava sua me Maria e seusirmos Tiago, e Jos, e Simo, e Judas? E suas irms, no vivem elas,TDAS entre ns? ..(Mateus XIII-55 e 56). Todos s se diz de uma multido.

    Pergunto: quem te ensinou semelhante BLASFMIA? Quem que te levavaem conta? Mas agora conseguiste o que querias; tu te tornaste famosono crime" (Adversus Helvidium).

    Por a se v que o fato de indignar-se o povo cristo e catlico, quandoalgum nega ou pe em dvida a virgindade da me de Deus, no sinal

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    de ignorncia das Sagradas Letras, pois gente muito bem entendida nelastambm mostrou a mesma indignao e revolta contra to ousada blasfmia. E a virgindade perptua de Maria doutrina comum e unnimedos Santos Padres.

    Para no falarmos mais nos j citados:Assim diz S. Efrm: " Virgem Senhora, imaculada depara, senhoraminha gloriosssima, mais sublime que os Cus, muito mais pura queos esplendores, raios e fulgores solares. . . vara de Aro que germina,apareceste como verdadeira vara e a flor foi o teu filho verdadeiro, nossoCristo Deus e Criador meu; tu segundo a carne geraste Aquele que Deus e Verbo, CONSERVANDO A VIRGINDADE ANTES DO PARTO, VIRGEM DEPOIS DO PARTO, efomos reconciliados com Deus, teu Filho (Opera graeca. Apud Journel 745).

    Referindo-se a Maria, diz S. Agostinho: "Virgem que concebe, virgem que d luz, virgem grvida, virgem que traz o feto, virgem perptua"(Sermones 186, 1, 1).

    "Virgem concebeu, virgem deu luz, virgem permaneceu''-

    umafrmula usual referente a Maria SS.ma, empregada, no s nos escritosde S. Agostinho (Sermones LI, 8; CXC, 2; CXCVI,1) mas tambm nosde outros Santos Padres, como S. Pedro Crislogo (Sermones 117), S.Leo Magno (Sermones 2,2) por exemplo.

    Esta sempre foi desde o comeo a doutrina firme e universal daIgreja. Nem se venha dizer que esta opinio dos Santos Padres motivada pelo fato de ser a virgindade perptua de Maria definida pelaIgreja como dogma de f, pois esta definio s veio a dar-se no sculo 7.Q, no Conclio de Latro e todas estas citaes aqui apresentadas noultrapassam o sculo 5.9 (54)

    Portanto, est o leitor diante de 2 fatos: 1.9 H muitos protestantesque leem a Bblia e querem apresentar como certo, certssimo, que MariaSS.ma no conservou a sua virgindade. 2. 9 Os Santos Padres tinham tambm mo a mesma Bblia e a seguiam fielmente e achavam que ela erainfalvel e j desde o princpio vm afirmando como certo, certssimo,muito antes que isto fosse definido pela Igreja, que Maria SS.ma concebeucomo virgem, deu luz como virgem e como virgem permaneceu at ofim de sua vida.

    o caso de dizer o leitor: Deve haver qualquer engano nesta afir

    mativa dos protestantes, tanto mais que eles prprios j no esto deacordo entre si. Seria interessante examinar atentamente se tm valorou no as alegaes protestantes, comentando os textos bblicos que eles nos apresentam.

    (54) Isto vem confirmar o que dissemos h pouco ( n 367) . Quando a Igrejadefineum dogma, no est, como pensam os protestantes, inventando uma doutrina nova eimpondo-a aos fiis, mas tornando oficialmente obrigatria uma doutrina que dentrodaIgreja j est firme e consolidada pelo modo de sentir comum dos pastores e dosfiis, oque j sinal de que aquilo verdade, pois a Igreja em peso no pode cairem erro.Se a Igreja se v na necessidade de torn-la oficialmente obrigatria, porque oshereges a esto negando e combatendo, e preciso delimitar bem os dois camposdiversos: o da f legtima e o da heresia. Ou porque esto surgindo entre os

    prprios telogos catlicos alguns que, por sua opinio pessoal, no esto exprimindo adoutrina catlica no seu verdadeiro sentido e preciso ento que bem se esclarea o que doutrina da Igreja e o que mera opinio pessoal condenvel e sem fundamento.

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    - o que vamos fazer, leitor amigo. E veremos se esses protestantes que se mostram to anchos com seu conhecimento superficial daBblia e que por isto mesmo tacham de ignorantes os que afirmam a virgindade perptua de Maria SS.ma, veremos se eles conseguem realmente passar aos Santos Padres da Igreja este atestado de burrice eignorncia.

    NOIVA OU CASADA ?

    394. A Bblia no nos diz com estas mesmas palavras que MariaSS.ma foi virgem antes do parto, no parto e depois do parto. Masnos dUM SINAL BEM CLARO, BEM EVIDENTE DA VIRGINDADE PERPTUA DEMARIA SANTSSIMA. na cena da Anunciao do Anjo, narrada por S. Lucas.

    Mas, antes de comentarmos esta cena e as palavras da Virgem nela

    proferidas, temos que fazer o leitor ficar ao par de uma pequena controvrsia que existe entre os intrpretes da Bblia.

    Narra-nos S. Lucas, descrevendo a anunciao, que foi enviado porDeus o anjo Gabriel a uma cidade da Galilia chamada Nazar, a umavirgem DESPOSADA com um varo que se chamava Jos, da casa de Davi.;e o nome da virgem era Maria (Lucas 1-26 e 27).

    Que significa esta palavra DESPOSADA?

    O termo correspondente no texto grego o particpio passado pas-sivo do verbo MNESTUO que tem 2 sentidos:

    MNESTUO = casar, adquirir para si uma esposa.MNESTUO = dar em casamento, prometer em casamento.Assim o particpio EMNESTEUMNE, a empregado em referncia a

    Maria, pode ter 2 sentidos.

    EMNESTEUMNE = que j se casou, que j est casada;

    EMNESTEUMNE = que j noivou, que j foi dada ou prometida emcasamento.

    No se sabe pelo texto se Maria, ao receber a anunciao do Anjoestava j casada com S. Jos, habitando com ele na mesma casa ou se

    era apenas uma noiva, prometida em casamento e aguardando o diaem que iria com ele habitar em conjunto. Mais adiante, ao relatar onascimento, S. Lucas, dizendo que Jos foi cidade de Davi, para sealistar com a .sua ESPSA Maria (Lucas II-5) emprega a mesma palavra(EMNESTEUMNE) e a evidentemente j esto casados, morando na mesmacasa. Mas disto no se conclui que na hora da anunciao, esta palavratenha o mesmo sentido, uma vez que servia para designar uma coisaou outra: ou noiva ou casada.

    Os melhores intrpretes se dividem nesta questo: S. Hilrio, S.Baslio, Orgenes so de opinio que Maria era, ento, simplesmente

    noiva; S. Ambrsio, S. Joo Crisstomo, S. Pedro Crislogo, S. Bernardo,Suarez so de opinio que ela j era casada, quando recebeu a visitado Anjo.

    Os modernos tambm se dividem neste particular.

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    579LEGTIMA INTERPRETAO DA BBLIA

    No nos compete emitir parecer numa questo em que os grandesmestres discutem. Apenas queremos fazer meno de uma dvida quelogo ocorre ao esprito do leitor: Como podia Maria ser apenas umasimples noiva no momento da anunciao, se desde esse momento ela

    vai conceber e depois vai mostrar sinais de gravidez? Os partidriosda opinio de que se tratava apenas de simples noivado, apelam paraa diferena entre os nossos costumes, os dos tempos de hoje e os costumes dos judeus de outrora, em que o noivado era j um contrato fir mado dando aos noivos plenos direitos matrimoniais, tendo menor importncia a cerimnia da realizao do casamento, em que a noiva era introduzida na casa do noivo. Demos a palavra ao Pe. Denis Buzy: "Todoo mundo reconhece hoje que os noivos judeus gozavam dos mesmos direitos matrimoniais que os esposos propriamente ditos. As provas setornaram clssicas: a noiva infiel era punida com o apedrejamento, domesmo modo que a esposa culpada; a noiva que perdia seu noivo era

    assemelhada a uma viva; a noiva, como a esposa, no podia ser desprezada seno por uma carta de divrcio; o filho concebido no tempodo noivado era olhado como legtimo. Segundo a palavra de Calmet, onoivado, quase igualmente como o casamento, era uma COBERTURA suficiente para a reputao da me e do filho. Alm disto, no precisamosque nos venham persuadir que Deus no podia prejudicar a honra daquela que Ele dava por me a seu Filho."

    Mencionamos esta questo, porque ela vai influir na compreensode certos textos.

    Vejamos agora

    A CENA DA ANUNCIAO.

    395. Aparecendo a esta VIRGEM DESPOSADA com um varo que se

    chamava Jos (Lucas I-27), a esta virgem chamada Maria, o anjo asada: Deus te salve, cheia de graa: o Senhor contigo (Lucas I-28). Diante da saudao do anjo, a Virgem se perturba; na sua humildade profunda no pode compreender to alto elogio, to honrosa saudao feita por um Anjo, admira-se como o Senhor podia assim pros olhos na baixeza de sua escrava (Lucas I-48); em vez de envaidecer-se, confunde-se ante a mensagem que vem do Cu, to longe estde se julgar em to privilegiada situao perante Deus: Ela, comoo ouviu, turbou-se do seu falar e discorria pensativa que saudao seriaesta (Lucas I-29).

    O anjo ento a tranquiliza e aproveita a ocasio para lhe dar agrande notcia: No temas, Maria, pois achaste graa diante de Deus.Eis concebers no teu ventre e DARS LUZ um filho e por-Lhe-s o nome deJesus. Este ser grande e ser chamado Filho do Altssimo, e o

    (55) O texto grego de Nestle no traz as palavras: Bendita s tu entreas mulheres, mas as mesmas competem sem dvida alguma a Maria SS.ma, porqueforam proferidas por S. Isabel, que as disse, inspirada pelo Esprito Santo, e istoconsta no s da Vulgata, mas tambm do texto grego: Isabel ficou cheia doEsprito Santo e bradou em alta voz e disse: Benta s tu entre as mulheres, ebento o fruto do teu ventre (Lucas I-42).

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    Senhor Deus Lhe dar o trono de seu pai Davi; e reinar eternamentena casa de Jac, e o seu reino no ter fim (Lucas I-30 a 33).

    O grande ideal das filhas de Israel era ser me; que se dir ento deste ideal mil vezes mais elevado de ser me do Messias Prometido,

    daquele que iriareinar eternamente na casa de Jac?

    Qual a moajudia que pensaria em opor dificuldades a esta perspectiva de se tornarme de uma maneira to gloriosa?

    Maria SS.ma, entretanto, v uma grande dificuldade diante de si:Como se far isso, pois EU NO CONHEO VARO? (Lucas l-34).

    Ora, estas palavras revelam claramente uma resoluo decidida deCONSERVAR PERPETUAMENTE A SUA VIRGINDADE.

    Maria SS.ma que j est casada ou, no mnimo, que j noiva deS. Jos, fica sem compreender como pode ter um filho, se no conhece varo. evidente que ela no se refere ao fato de no ter conhecido varo at a data presente, pois isto de maneira alguma representaria um empecilho ou uma impossibilidade. Pois no estava ela j casadacom Jos? Ou, na hiptese de um simples noivado, no estava ela decontrato firmado com Jos para se casar dentro de pouco tempo? OAnjo no diz que ela j concebeu, nem que ela vai conceber naquelemesmo dia ou naquela mesma semana, apenas fala, sem determinaode tempo, numa coisa que ir acontecer para o futuro: CONCEBERs.Para uma noiva, esta revelao o que h de mais natural; nenhumanoiva, em circunstncias normais, acharia impossvel este acontecimento.Como bem observa Cornlio Alpide, ela diz: NO CONHEO VARO assimcomo dizem os abstmios NO BEBO VINHO, querendo significar com isto,

    no s que no bebem vinho presentemente, mas que no pretendembeb-lo. Est Maria no diante de uma impossibilidade fsica, mas simde uma impotncia moral; se ela v a que um problema to difcilo nascimento de um filho, porque est ligada a Deus pelo VOTO DE VIRGINDADE. E se existe este voto de virgindade nela que est comprometida com S. Jos, sinal de que houve entre ambos um pacto deperfeita continncia.

    E a prova de que a dificuldade que v Maria SS.mapara ser a medo Messias a sua inabalvel resoluo de conservar-se virgem, est naresposta dada pelo Anjo. Maria deve tranquilizar-se a este respeito,

    porque o Filho nascer por um prodgio, sem quebra absolutamente desua virgindade: O ESPRITO SANTO DESCER SBRE TI e a virtude do Alts-simo te cobrir da sua sombra. E por isso mesmo o SANTO QUE H DE

    NASCER DE TI SER CHAMADO FILHO DE DEUS. Que a tens tu a Isabel, tuaparenta, que at concebeu um filho na sua velhice e este o sextoms da que se diz estril, PORQUE A DEUS NADA IMPOSSVEL (Lucas I-35a37).

    Resolvida a dificuldade, explicado pelo anjo como se podem conciliar as 2 coisas, a virgindade e a maternidade (Deus, a quem nada impossvel, que se encarregar de concili-las), s ento que MariaSS.ma d o seu sim: Eis aqui a escrava do Senhor; faa-se em minsegundo a tua palavra (Lucas I-38).

    Uma pergunta naturalmente nos h de fazer o leitor: Tendo MariaSS.ma esta inabalvel resoluo de conservar a sua virgindade, como seexplica que a vemos esposa ou, pelo menos, noiva de S. Jos? Se ela

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    queria permanecer virgem, no pareceria, humanamente falando, mais seguro ficar em casa sem ser noiva ou sem casar-se, do que procurar um casamento com pacto de continncia?

    - Nas circunstncias em que estava Maria, dados os costumes e a

    mentalidade do povo judaico, o mais seguro para ela era casar-se compacto ele continncia, tanto mais que na sua intuio tinha bem compreendido a castidade admirvel ele S. Jos. E explicaremos por qu.

    Entre os judeus daquele tempo no se concebia que na moa ficassesolteira. Quando a mulher chegava idade de casar-se, os pais, osparentes lhe arranjavam um casamento e a moa tinha que submeter-se.O povo judeu, pequeno povo no mundo, mas povo eleito do Senhor, quecultuava o Deus Verdadeiro, sentia-se na necessidade absoluta de pro pagar-se.

    Pelo seu casamento com S. Jos, Maria SS.ma no s satisfazia imposio de seus parentes, como tambm ficava livre das possveis importunaes dos pretendentes sua mo, ao mesmo tempo que realizavao seu ideal de virgindade.

    E Deus que inspirara em ambos, em Maria e Jos este alto idealde castidade, preparava admiravelmente a realizao de seus desgnios.Queria que o Messias Prometido nascesse de uma virgem, mas era preciso que fosse uma VIRGEM CASADA, para que se salvaguardasse peranteo pblico o bom nome, a reputao da me e do filho. E no meio detantas filhas de Israel que ambicionavam a glria de ser me do Mes

    sias, foi premiar justamente aquela que em tal preo punha a suavirgindade que renunciaria de bom grado a pretenso de ser a me doSalvador. Nem Maria nem Jos podiam ter a mnima ideia de que doseu lar abenoado e casto haveria de sair o Redentor do mundo; o seudesprendimento, a sua renncia haviam conquistado o corao de Deus.

    Voltemos, porm, nossa argumentao.

    Pelo colquio entre Maria e o anjo Gabriel se v claramente queMARIA CO SERVAVA UMA RESOLUO INABALVEL DE CONSERVAR A SUA VIRGINDADE;to firme era esta resoluo que Maria, ao receber a comunicao doAnjo, se lembra logo do seu voto feito a Deus, prestando mais ateno

    a este seu compromisso do que mensagem do Anjo, por mais tentadoraque esta seja. Da se conclui com toda lgica que Maria foi virgemantes do parto, no parto e depois do parto.

    1 - VIRGEM ANTES DO PARTO. Isto no necessita de grandes de-monstraes. Nem os protestantes entram em discusso sobre este ponto.Tanto as palavras do Anjo ditas a Maria na Anunciao, como a de clarao explcita do Evangelista S. Mateus, segundo veremos daqui apouco (n. 399) so claras em afirmar que Jesus nasceu sem intervenohumana e que Maria estava intacta por ocasio de seu nascimento.

    2 -

    VIRGEM NO PARTO. Uma vez manifestado o desejo de Mariade conservar a sua virgindade, no seria o seu prprio Filho, Ele quenos ensina a honrar pai e me, que haveria de destruir no nascimentoesta virgindade, da qual ela fazia tanta questo.

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    Alm disto, o Evangelista S. Mateus apresenta o nascimento de Jesuscomo a realizao da profecia de Isaas: Tudo isto aconteceu para quese cumprisse o que falou o Senhor pelo profeta que diz: Eis uma VIRGEMCONCEBER e DAR LUZ um filho e apelid-lo-o pelo nome de Emanuel

    que quer dizer: Deus conosco (Mateus I-22 e 23).Ora, esta profecia anunciava um GRANDE PRODGIO, pois Isaas tinha

    dito a Acaz: Pede para ti ao Senhor teu Deus algum sinal que chegueao profundo do inferno ou ao mais alto do Cu (Isaas VII-11) e Acazse recusara a pedi-lo: No pedirei tal, nem tentarei ao Senhor (IsaasVII-12). Deus vai anunciar o grande prodgio, prodgio que Acaz no entender, como bem o merece a sua incredulidade; mas que S. Mateusmostra cumprido no nascimento de Jesus: Eis que uma VIRGEM CONCE-BER E DAR Luz um filho e ser chamado o seu nome Emanuel (IsaasVII-14). claro que STE GRANDE PRODGIO ficaria incompleto, se Maria

    pudesse conceber, permanecendo virgem e no pudesse dar luz semperda de sua integridade. E o texto afirma uma coisa e outra; diz:Eis que Uma VIRGEM CONCEBER e acrescenta: E DAR LUZ.

    Ir perguntar aos mdicos como isto pode acontecer, quais so assuas explicaes sobre o caso, seria muito fora de propsito: seria ocaso tambm de perguntar aos sbios como pde Jesus entrar numa casaestando as portas fechadas (Joo XX-19) ou como pode um morto ressuscitar no terceiro dia.

    3- VIRGEM DEPOIS DO PARTO. Se Maria SS.ma manifestou diante doAnjo aquele firmssimo propsito de conservar-se virgem, no se podeconceber que aquela que S. Isabel, inspirada pelo Esprito Santo, chamoubendita entre as mulheres (Lucas I-42) tivesse a fraqueza de quebraro seu voto. Se diante da prpria perspectiva de ser a me do Messias,se diante da prpria mensagem do Cu ela v, no seu empenho de permanecer virgem, um obstculo muito grande para aceitar a grande misso que lhe era confiada e s d o seu consentimento quando e Anjo a tranquiliza a respeito, como que depois do nascimento de Jesus elano se contentaria com um Filho to nobre e to sublime e procurariater outros? O mesmo se diga de S. Jos que a Escritura abertamentechama um homem justo (Mateus I-19). No se concebe que, aps o

    nascimento do Redentor, quisesse forar ou induzir a sua esposa a quebrar a sua inabalvel resoluo, quando a segurana com que Mariadeclara que no conhece varo (ela que demonstra assim conhecer asleis do matrimnio) mostra claramente que S. Jos estava de plenoacordo com o seu propsito, e voto de virgindade. Bem como seriagrande presuno de sua parte querer violar o corpo virginal de Maria,que servira de templo ao Redentor.

    Para quem sabe tirar logicamente as concluses de um fato, paraquem l os Evangelhos com o desejo sincero de conhecer a verdade eno com a ideia preconcebida de contradizer a Igreja, para quem considera a Me de Deus como ela o era realmente, uma criatura santa efiel aos seus compromissos assumidos para com Deus, o dilogo entreMaria e o Arcanjo S. Gabriel uma prova cabal de sua PERPTUA VIRGINDADE.

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    LEGTIMA INTERPRETAO DA BBLIA 583

    ANTES DE COABITAREM.

    396.

    Vejamos agora os textos do Evangelho, sobre os quais se enganam redondamente os protestantes, julgando ver neles uma prova de

    que Maria no foi virgem depois do parto.Um deles o seguinte: Estando j Maria, sua me, desposada comJos, ANTES DE COABITAREM, se achou ter ela concebido por obra do Esprito Santo (Mateus I-18).

    Tanto a palavra portuguesa COABITAR, como a palavra grega a elacorrespondente no texto, isto , o verbo SYNRCHOMAI, tm 2 sentidos,um inocente e outro no.

    SYNRCHOMAI = reunir-se em um mesmo lugar, habitar junto.SYNRCHOMAI = ter relaes carnais.Se modernamente no portugus o verbo COABITAR j comea a ser em

    pregado mais neste 2 sentido, isto nada tem que ver com a questo.Nodeixa de haver em portugus o l sentido; consulte-se para isto qualquerdicionrio. Alm disto a Bblia no foi escrita em portugus;o texto do Pe. Pereira que a damos no mais que a traduo da Vulgata, que por sua vez traduz o texto grego, e no grego h os 2 sentidos.

    Fica, portanto, a questo: ANTES DE COABITAREM a no caso querdizer: ANTES DE MORAREM JUNTOS OU quer dizer ANTES DE TEREM RELAESCARNAIS?

    Para se resolver esta questo, seria preciso, porm, resolver a outra,a qual no ficou devidamente elucidada: DESPOSADA no texto da Anunciao quer dizer CASADA OU quer dizer apenas NOIVA, DADA EM CASAMENTO?

    Se DESPOSADA quer dizer simplesmente NOIVA, como opinam muitosbons intrpretes, ento ANTES DE COABITAREM significa simplesmente: antesque o noivo Jos tivesse levado Maria para a sua casa e comeassem amorar juntos sob o mesmo teto. No h, portanto, nenhuma provacontra a virgindade de Maria SS.ma.-Mas diro os protestantes: O Sr. mesmo disse que tambm so

    muitos os bons intrpretes que afirmam que quando o Anjo anunciou aMaria, ela j estava casada, morando com Jos na mesma casa. Nestahiptese ento ANTES DE COABITAREM quer dizer evidentemente ANTES DETEREM RELAES SEXUAIS. Ora, dizendo isto, o Evangelista mostra que de

    fato tiveram estas relaes depois.

    -

    Quer dizer ento que a objeo de Vocs vale somente sob condio. Est de p a objeo somente no caso em que DESPOSADA, queiradizer CASADA e MORANDO NA MESMA CASA.

    Mas vamos supor mesmo como certo o que discutido. Vamos suporcomo assentado de pedra e cal que Maria recebeu a mensagem do Anjo,quando j estava morando com S. Jos na mesma casa e que, portanto,ANTES DE COABITAREM quer dizer ANTES DE TEREM RELAES CARNAIS.

    Mesmo assim, inteiramente falha a argumentao de Vocs.Da no se segue forosamente que houve tais relaes depois. O

    fito do Evangelista apenas frisar que no houve interveno humanano nascimento de Jesus; e ele podia muito bem ter dito isto, mesmosem cogitar de maneira alguma no que sucedeu ou podia ter sucedidodepois. Nem sempre quando se diz: ANTES DE FAZER uma coisa, sesegue que a coisa depois foi feita.

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    584 LCIO NAVARRO

    Podemos citar inmeros exemplos.

    J S. Jernimo, argumentando contra Helvdio, apresentava as seguintes frases:

    ANTES DE ALMOAR NAQUELE PRTO, embarquei para a frica.Paulo Apstolo, ANTES DE CHEGAR ESPANHA, foi preso.Helvdio, ANTES DE FAZER PENITNCIA, morreu.

    Da no se segue que depois voltei quele porto para almoar. No sesegue que Paulo tivesse chegado Espanha, nem que Helvdio, depois demorto, tivesse feito penitncia.

    Cornlio Alpide lembra as seguintes frases:

    Ele,ANTES DE ENVELHECER, estava cheio de cabelos brancos.Este menino, ANTES DE ATINGIR A IDADE VIRIL, j um sbio.

    Da no se conclui que ele tenha envelhecido, pode at ter morrido antesdisto, mas o fato que teve cabelos brancos antes de envelhecer. Nem seconclui que o menino tenha que atingir a idade viril para a frase serverdadeira: a frase exprime apenas o que o menino de inteligncia precoce,pode muito bem morrer antes de tornar-se homem, como muitas vezesacontece com os precoces.

    Observa Calmet:"Diz-se todos os dias que:

    Um homem morreu ANTES DE EXECUTAR SEUS PROJETOS.Segue-se da que os tenha executado depois da morte?que: Um juiz condenou o ru, ANTES DE OUVI-LO.Segue-se que o tenha ouvido, depois de conden-lo?"

    Realmente, caros amigos, ns dizemos:

    Os alunos,ANTES DE PRESTAREM O EXAME, foram aprovados e diplo

    mados;O trem espatifou-se, ANTES DE CHEGAR ESTAO DE TAL CIDADE;

    quando claro que, depois de diplomados, os alunos no prestaromais exames e que o trem espatifado no chegou ao seu destino.

    E quando dizemos: Os protestantes, ANTES DE ESTUDAREM A FUNDO ASQUESTES BBLICAS, se pem a doutrinar; no cogitamos se no casoeles iro depois estudar a fundo ou no estas questes bblicas.

    Em todos estes casos ANTES DE FAZER equivale apenas a SEM FAZER:

    Embarquei para a frica SEM ALMOAR; Paulo foi preso SEM TERCHEGADO Espanha, Helvdio morreuSEM FAZER PENITNCIA; ele, SEM EN-VELHECER, estava com cabelos brancos; o menino, SEM SER HOMEM FEITO,j um sbio; o homem morreu SEM EXECUTAR os seus projetos; o juizcondenou o ru SEM ouvi-lo; os alunos foram diplomados SEM PRESTAREMEXAME; o trem espatifou-se SEM CHEGAR quela estao e os protestantesSe pem a doutrinar SEM ESTUDAREM A FUNDO AS QUESTES BBLICAS.

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    585LEGTIMA INTERPRETAO DA BBLIA

    A frase do Evangelho quer dizer apenas: Estando j Maria, suame, desposada com Jos, SEM COABITAREM, se achou ter ela concebidodo Esprito Santo. Seja qual for o sentido que se queira dar palavraCOABITAR, isto em nada atinge no caso a virgindade de Maria SS.ma.

    NO TEMAS RECEBER MARIA, TUA MULHER.

    397. Uma vez averiguado por S. Jos o estado de gravidez de MariaSS.ma, isto no deixou de ser um caso doloroso para ele. No tinhanenhuma dvida sobre a virtude de Maria e por outro lado apareciaaquele fenmeno to estranho. Observa Calmet: "Ele creu que o que vianela, provinha antes de alguma violncia que ela teria sofrido oudealguma outra causa que lhe era desconhecida". Maria, por sua vez,guardavao segredo da revelao do Anjo, entregando-se confiantemente DivinaProvidncia que tudo solucionaria.

    Nesta situao angustiosa, resolve Jos deix-la secretamente. Foia atitude que se lhe afigurou mais prudente e acertada. Um anjo, ento, em sonhos lhe explica o ocorrido. a melhor soluo e a que nopodia faltar; o papel de Jos como preserva dor da reputao de Maria indispensvel; e por outro lado a revelao feita pelo Cu torna-semais honrosa para a Santssima Virgem.

    O Anjo diz a Jos: No temas RECEBER a Maria, tua mulher, porqueo que nela se gerou obra do Esprito Santo (Mateus I-20). E diz oEvangelho que despertando Jos do sono, fez como o anjo do Senhor lhehavia mandado e RECEBEU a sua mulher (Mateus I-24).

    Que significa este verbo RECEBER a expresso duas vezes?Corresponde ao verbo grego:PARALAMBNO - receber ao p de si ou consigo (como mulher ou

    companheira, como filho adotivo ou como auxiliar ou aliado); acolher,dar hospitalidade; tomar a seu cargo; aceitar, admitir.

    Na hiptese de que S. Jos, ao receber o aviso em sonhos, estivessesimplesmente noivo, a palavra do Anjo quer dizer: N o temas realizar com Maria a cerimnia do casamento e lev-la para tua casa.

    Na hiptese de que j estivessem casados, quer dizer: No temasaceit-la como tua mulher, no a abandones.

    Talvez o protestante queira tirar desta palavra TUA MULHER, umaconcluso contra a virgindade de Maria SS.ma. Tudo possvel na cabea de um leitor malicioso. Mas chamando-a TUA MULHER, o Evangelistaquer referir-se apenas ao que ela LEGALMENTE, ou melhor, perante alei, perante o pblico, sem cogitar daquilo que se passa na intimidadeconjugal. E assim que sempre procedem os Evangelhos. O prprioS. Mateus, neste mesmo captulo, comea o seu Evangelho fazendo agenealogia de Jesus Cristo pelo lado de S. Jos, embora sabendo perfeitamente que ele no o pai de Jesus. Quando o Menino apresentadono templo, Jos e Maria ficam encantados com as palavras de Simeo,e o Evangelista os chama de pai e me do Menino: E seu PAI e meestavam admirados daquelas coisas que dle se diziam (Lucas II-33).(56 )

    (56) Ferreira de Almeida traz : Jos e sua me se maravilharam das coisasque dle se diziam (Lucas II-33). Mas no est de acordo com o texto grego que

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    586 LCIO NAVARRO

    E a prpria Maria SS.ma chamou a Jos de PAI do Menino, quando elese perdeu, com doze anos e foi achado no templo de Jerusalm: Sabeque teu PAI e eu te andvamos buscando cheios de aflio (Lucas II-48).Alguns querem tirar da argumento para dizer que Jos foi pai verdadeiro de Jesus, e no pai adotivo. Mas os prprios protestantes noconcordam com isto, porque est evidente nos Evangelhos que a concepo de Cristo foi virginal. Faz-se a genealogia de Jos, chama-se aJos de pai, porque perante a lei ele o pai do Menino.

    Assim tambm, perante a lei Maria a mulher de Jos; se h entreeles um pacto de continncia, se ambos espontaneamente renunciam naintimidade os seus direitos matrimoniais, no por isto que Maria deixade ser realmente a mulher de Jos.

    O PRIMOGNITO.

    398. Outro argumento que os adversrios da virgindade perptuade Maria acham fortssimo, mas que na realidade no prova coisa alguma, o fato de Jesus ser chamado PRIMOGNITO.

    Isto acontece 2 vzes no texto da Vulgata: em S. Ma teus e em S. Lucas.E ele no na conheceu enquanto ela no deu luz ao seu PRIMOGNITO;

    e Lhe ps por nome Jesus (Mateus I-25) .. ..E deu luz o seu filho PRIMOGNITO e O enfaixou e O reclinou em umamanjedoura (Lucas II-7).

    Queremos notar, no para nos descartarmos desta palavra PRIMOGNITO,o que no possvel, pois aparece em S. Lucas (nem h necessidade disto, como veremos), mas por simples informao ao leitor, que a palavraPRIMOGNITO no aparece no texto grego de S. Mateus.

    OUK (no) EGNOSKEN AUTN (a conhecia) HOS (at que) TEKEN(deu luz) HYIN (um filho) KAI (e) EKLESEN (chamou) TO NOMA AUTU(o nome d:tle) IESUN (Jesus).

    A palavra deve ter sido acrescentada por distrao de algum copista influenciado pelo fato de aparecer a mesma em S. Lucas. Como testemunho insuspeito, temos a traduo da Sociedade Bblica do Brasil, aqual no traz a no texto de S. Ma teus esta palavra: E no a conheceu,enquanto ela no deu luz um filho, a quem ps o nome de Jesus

    (Mateus I-25).O fato, porm, que no Evangelho de S. Lucas se diz que Maria deu

    luz Seu filho PRIMOGNITO.Ora, dizem os protestantes, PRIMOGNITO quer dizer o primeiro que

    foi gerado; logo, nasceram outros. Alm disto, S. Lucas escreveu o seuEvangelho no no tempo em que o Menino nasceu, porm muitos anosdepois da morte de Cristo; se o Evangelho diz PRIMOGNITO e no Unignito,isto sinal de que o Evangelista sabia da existncia de outros filhos.Logo, Maria no foi virgem depois do parto.

    -Toda esta argumentao se baseia num falso fundamento: o protestante, no caso, no tem uma idia exata do que quer dizer PRIMOGNITO. E

    diz: O SEU PAI E .A ME. Podem-se conferir todos os outros tradutores, inclusivea Sociedade Bblica do Brasil.

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    587LEGTIMA INTERPRETAO DA BBLIA

    E a questo no est em saber qual a impresso que vai produzir esta palavra no esprito de um herege que est ansioso por encontrar argumentos afim de provar que Maria SS.maperdeu um dia a sua virgindade.A questo est em saber qual o significado que davam os hebreus pa

    lavra PRIMOGNITO, pois neste sentido que a empregam os Evangelhos.PRIMOGNITO era simplesmente isto: aquele antes do qual no tinha

    nascido outro. Nascessem outros depois ou no, isto no importava nocaso; o primeiro que nascia era PRIMOGNITO sempre e, como tal, tinhauma especialidade, era consagrado a Deus: Falou mais o Senhor aMoiss e lhe disse: Consagra-me todos os PRIMOGNITOS que abrem o terode sua me entre os filhos de Israel, assim de homens como de animais,

    porque TODOS LES SO MEUS (xodo XIII-1 e 2). Todo o macho que abreo tero de sua me ser meu; os de todos os animais, assim de vacas comode ovelhas, sero meus (xodo XXXIV-19).

    E precisamente porque vai descrever depois a apresentao do Me nino no templo, na sua qualidade de primognito, que Lucas, ao relatar onascimento de Jesus, O chama deste modo: E depois que foram concludosos dias da purificao de Maria, segundo a lei de Moiss, O levaram aJerusalm para O apresentarem ao Senhor, segundo o que est escrito na leido Senhor: Todo o filho macho que for PRIMOGNITO ser consagrado aoSenhor (Lucas II-22 e 23).

    Quanto a S. Mateus, como vimos, o texto grego no traz esta palavra,mas ainda mesmo que a trouxesse, isto em nada afetaria o caso. Se primognito o PRIMEIRO QUE GERADO, como a prpria palavra est di

    zendo, se primognito era uma classe especial de homens consagrados aDeus, pouco importa que depois dele tenham nascido outros ou no, aqueleque antes de si no teve nenhum irmo eternamente e para todos osefeitos o primognito. Quando Deus, como se conta no xodo (XII-29 e30) fez morrer no Egito todos os PRIMOGNITOS, claro que mesmo aquelesque j eram homens feitos e no tinham tido mais nenhum irmo ou irm,e mesmo que os no pudessem ter mais, por haverem morrido seus pa .ainda assim entravam no rol: se eram os primeiros filhos, se antes dles no tinha nascido nenhum, era o quanto bastava para serem irrevogvelmente primognitos e, como tais, condenados exterminao.

    Esta era a significao da palavra BEKOR ou primognito entre os;hebreus: o primeiro que nasce, independentemente da considerao se depoisdele nascem outros ou no. Uma antiga inscrio judia encontrada emTell-el-Yedouhieh, fala-nos de uma jovem mulher chamada Arsino quemorreu "entre as dores do parto do seu filho PRIMOGNITO". Alis, o mesmose podia dizer em nossa lngua, sem que nisto houvesse nenhuma faltade lgica, uma vez que no repugna que haja PRIMEIRO SEM SEGUNDO, porque algum pode dizer, por exemplo: Este foi o meu primeiro discurso,alis PRIMEIRO E LTIMO, porque no falarei mais em pblico. Como sev, a noo de PRIMEIRO e a noo de LTIMO no implicam necessriamenteuma contradio.

    E fazendo ressaltar em Jesus a sua qualidade de PRIMOGNITO, o Evangelista quer relembrar apenas que, pela lei mosaica, le era, como todosos primognitos, consagrado a Deus.

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    588 LClO NAVARRO

    O USO DEENQUANTO E AT QUE ENTRE OS HEBREUS.

    399.

    Masonde se mostra bem claramente um modo bem diversode expressar-se, entre o nosso idioma e a linguagem usada antigamenteentre os hebreus, na frase empregada por S. Mateus, referindo-se a S.Jos:

    E ele no na conhecia ENQUANTO ela no DEU LUZ o seu primognito;e Lhe ps por nome Jesus (Mateus I-25).

    Ferreira de Almeida e Pe. Matos Soares apresentam a conjunosubordinativa de um modo ainda mais conforme ao texto grego e aolatim da Vulgata:

    Ferreira de Almeida: E no a conheceu AT QUE deu luz seu filho,o primognito e ps-Lhe por nome Jesus (Mateus. I-25).

    Pe. Matos Soares: E no a conhecia AT QUE deu luz seu filhoprimognito; e ps-Lhe o nome de Jesus (:Mateus I-25).

    No h .dvida que isto dito assim em nossa lngua parece dar aentender que Jos a, conheceu depois; mas a questo est em saber seno modo de falar DOS HEBREUS DAQUELE TEMPO, SE NO MODO DE FALAR DABBLIA se tira esta concluso. E a se v o perigo de pr-se a Bblia, um livro escrito h tantos sculos e apresentando uma linguagem bemdiversa da nossa, nas mos de qualquer pessoa, com o direito de interpret-la como lhe vem cabea, sem ter o conhecimento da ndole daslnguas antigas.

    Segundo o modo de falar dos hebreus (e S. Ma teus um hebreu dagema e alis_ escreveu o Evangelho na sua prpria lngua, sendo o textogrego uma traduo e quem traduz a Escritura, o faz palavra por palavra,

    para respeitar o texto sagrado, alm disto certo que o grego do ovoTestamento est repleto de hebrasmos), segundo o modo de falar das1nguas semticas:

    no a conheceu ENQUANTO ela no deu luz;no a conheceu AT QUE ela deu luz;

    quer dizer simplesmente isto: sem que a tivesse conhecido, ela deu luz - sem nenhuma preocupao com o que aconteceu ou no aconteceu

    depois.O leitor naturalmente exige provas, quer que se apresentem frases

    semelhantes nas Escrituras.Pois bem, no ser difcil apresent-las.

    Vejamos o Gnesis.Houve o dilvio em que caiu a chuva sobre a terra quarenta dias e

    quarenta noites (Gnesis VII-12). As guas cresceram e engrossaramprodigiosamente por cima da terra, e todos os mais elevados montes queh debaixo do Cu ficaram cobertos; tendo a gua chegado ao cume dos montes, elevou-se ainda por cima deles quinze cvados (Gnesis VII-

    19 e 20). E as guas tiveram a terra coberta cento e cinquenta dias (GnesisVII-24).

    No e os seus esto na arca. Depois dos 150 dias comeam as guasa diminuir: E as guas... comearam a diminuir-se depois de cento ecinquenta dias (Gnesis VIII-3). natural agora, portanto, a curio-

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    589LEGTIMA INTERPRETAO DA. BBLIA

    sidade de No em saber a marcha em que se vai processando esta dimi- ,. ;,,nuio das guas e quanto tempo mais ou menos ir durar aquela moradiadentro da arca, que por certo no deve ser l muito cmoda.

    Solta ento um corvo que no volta mais (Gnesis VIII-7'};

    solta depois uma pomba que, no achando onde pousar, volta bemdepressa para a arca (Gnesis VIII-9);sete dias depois, solta outra pomba e esta volta para No sobre a tarde,

    trazendo no seu bico um ramo de oliveira com, as folhas verdes (GnesisVIII-11). j um bom sinal;

    espera No mais sete dias e solta outra pomba que no torna mais ale (Gnesis VIII-12).

    O corvo no se mostrou bom mensageiro ; enrascou-se no meio dasguas e no acertou o caminho para voltar. Da o ditado entre os hebreus de se chamar corvo mensageiro ao portador que no d conta de

    seu recado.Pois bem, em lugar de dizer, como ns diramos, que a arca pousou

    em terra, SEM QUE o corvo tivesse voltado, a Escritura diz da seguinte ma neira: abriu No a janela que tinha feito na arca e soltou um corvo, o qualsaiu e no tornou mais, AT QUE AS GUAS QUE ESTAVAM SBRE A TERRASESECARAM(Gnesis VIII-6 e 7).(57)

    Ora, evidente que o corvo no voltou mais arca, depois que elapousou em terra; nem isto interessa mais ao narrador, que quis mostrarapenas a marcha dos acontecimentos enquanto estavam na arca. Mas o modo de falar deles naquele tempo. Assim tambm, em vez de dizer:

    Maria deu luz, sem que Jos a tivesse conhecido, S. Mateus diz que Josno a conheceu, AT QUE ela deu luz. O que interessa ao narrador nocaso simplesmente mostrar que a concepo de Jesus foi virginal.

    Mas vamos a outros exemplos.Em vez de dizer: Reduzirs a p os reis, SEM QUE NINGUM TE POSSA

    RESISTIR, a Bblia diz: Entregar-te- nas tuas mos os seus reis, e farque no fique memria de seus nomes debaixo do Cu ningum te poderresistir, AT QUE OS TENHAS FEITO EM P (Deuteronmio VII-24). claroque, depois de reduzidos a p os reis, com maioria de razo ningumpoder resistir. Mas este o modo de falar dos antigos: ningum resis

    tir AT QUE os tenhas feito em p.Em vez de dizer: Micol, filha de Saul, morreu SEM TER TIDO FILHOS, a

    Bblia diz: Micol, filha de Saul, no teve filhos AT O DIA DA SUA MORTE(2.9 Reis VI-23).

    Em vez de dizer: Morrereis, SEM QUE esta iniquidade vos seja perdoada, Isaas diz: No se vos perdoar por certo esta iniquidade AT QUEMORRAIS, diz o Senhor Deus dos exrcitos (Isaas XXII-14). V-se muitobem que Deus no quer dizer a que, depois de mortos, vai dar-lhes operdo; mas sim que morrero sem alcan-lo. E no mesmo profeta

    (57) Este texto que o da Vulgata est de acordo tambm com a verso dosSetenta, e portanto de qualquer maneira reflete o modo de falar dos antigos. E seassim verteram os Setenta e S. Jernimo, quem pode garantir qual o texto hebraicooriginal exato, se o que temos hoje ou o que os Setenta e S. Jernimo tiveram emmos?

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    Isaas, em vez de se dizer: Estabelecer a justia sobre a terra, SEMPRECISAR SER TRISTE NEM TURBULENTO , se diz assim: No ser triste nemturbulento, AT QUE estabelea na terra a justia (Isaas XLII-4). Eevidente que, se o libertador de Israel no foi triste nem turbulento antes

    do estabelecimento da justia, muito menos o ser depois de estabelec-la.Mas este o estilo da Bblia. O AT QUE, e o ENQUANTO NO, no tm naBblia o mesmo sentido que tm na nossa linguagem comum, no exprimemabsolutamente uma restrio. No h, portanto, restrio virgindadedeMaria naquela frase de S. Mateus.

    Outros exemplos em que o AT QUE no exprime nenhuma restrio,temos nos Salmos:

    Como os olhos da escrava nas mos de sua senhora, assim os nossosolhos esto fitos no Senhor nosso Deus, AT QUE tenha misericrdia de ns(Salmos CXXII-2). Quer dizer ento que, depois que Deus tiver mise

    ricrdia, no olharemos mais para Ele e nEle no teremos mais os olhosfitos? No este absolutamente o sentido do Salmista.

    Diz o Salmo 109: Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te minhamo direita, AT QUE PONHA a teus inimigos por escabelo de teus ps(Salmos CIX-1). Quer dizer que depois de ter os inimigos debaixo deseus ps, aquele Triunfador no estar mais sentado direita do Senhor?Absolutamente no; porque a que vai comear a poca melhor de reinar,de sentar-se glorioso, com os inimigos vencidos e subjugados a seus ps.

    Mas este o estilo da Bblia.No podemos, portanto, tomar uma frase bblica e querer fina fora

    interpret-la de acordo com o nosso modo de falar de hoje, dentro da nossalngua; ela tem que ser vista como realmente , uma palavra da Escrituraque tem o seu estilo prprio, a sua linguagem peculiar.

    E argumentar, muito entusiasmado, com estas frases que enganam primeira vista, mostrar apenas falta de conhecimento do que aBblia.

    Jos no conheceu a Maria, at que e la deu luz o seu filho, querdizer simplesmente, segundo o modo de falar das Escrituras, a afirmaode que Maria era virgem por ocasio de seu abenoado parto; esta afirmao absolutamente no destruda por esta outra que tambm ver

    dadeira: Maria continuou virgem a sua vida inteira, AT QUE morreu,o que por sua vez tambm no quer dizer que ela tenha perdido a virgindade depois da morte.

    OS IRMOS DE JESUS.

    400. Diante da frase de S. Mateus vista no nmero anterior, o leitor

    ainda poder compreender como se tenham equivocado os protestantes,iludindo-se com as aparncias.

    Mas agora vai pasmar ao ver a malcia, a precipitao com queesses enfatuados intrpretes da Bblia que a leem continuamente e procuram aprend-la de cor, ainda vo tirar da expresso IRMOS DE JESUSuma concluso contra a virgindade perptua de Maria SS.ma. Seno,vejamos.

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    Sabemos que a Escritura no somente designa com o nome de irmosaqueles que so filhos do mesmo pai ou da mesma me, como eramCaim e Abel, Esa e Jac, S. Tiago Maior e S. Joo Evangelista (queeram filhos de 7;ebedeu) etc.; mas tambm aqueles que so parentes

    prximos, como tios e primos.A Escritura est cheia destes exemplos.Abrao chama de irmo a Lot: Peo-te que no haja rixas entre

    mim e ti, nem entre os meus pastores e os teus, porque somos IRMOS(Gnesis XIII-8). Mais adiante a prpria Bblia o chama assim: Abrao,tendo ouvido que Lot, seu IRMO, ficara prisioneiro... (Gnesis XIV-14).Pois bem, Lot era apenas sobrinho de Abrao, pois j antes disto selno Gnesis: Tinha Abro setenta e cinco anos quando saiu de Har.Eele levou consigo a Sarai, sua mulher, a Lot, FILHO DE SEU IRMO, etodos os bens que possuam(Gnesis XII-4 e 5).

    Labo diz a Jac: Acaso, porque tu s meu IRMO, deves tu servir-me de graa? (Gnesis XXIX-15). E no entanto Jac era SOBRINHOde Labo: Isaque chamou a Jac e o abenoou e lhe ps por preceitodizendo: No tomes mulher da gerao de Cana mas vai e parte paraMesopotmia . . . . e desposa-te com uma das filhas de Labo, TEU TIO(Gnesis XXVIII-1 e 2). Realmente Jac era filho de Isaque com Rebeca(Gnesis XXV-21 a 25) e Rebeca era irm de Labo: Rebeca, porm,tinha um irmo chamado Labo (Gnesis XXIV-29). E no entanto nos, como vimos acima, seu tio o chama IRMO, mas tambm quando Jacse encontra com Raquel, que filha de Labo (Gnesis XXIX-5 e 6),diz moa que IRMOde Labo: E lhe manifestou que era IRMO deseu pai e filho de Rebeca (Gnesis XXIX-12).

    L-se no Levtico que Nadab e Abln, FILHOS de ARO (Levtico X-1)so mortos por castigo, por terem oferecido um fogo estranho nos seus turbulos. Moiss chama os primos dos que faleceram: Misael e Elisaf, FILHOS de Oziel, TIO DE ARO (Levtico X-4) e lhes diz: Ide, tiraivossos IRMOS de diante do santurio e levai-os para fora do campo (Levtico X-4).

    L-se no livro de Paralipmenos que Eleazar e Cis so filhos deMoholi: FILHOS DE MOHOLI: Eleazar e Cis (1.9 Paralipmenos XXIII-21), portanto irmos no verdadeiro sentido da palavra. Eleazar s tevefilhas e no filhos; as filhas dele se casaram com os filhos de Cis. Espera-se que a Escritura diga: casaram-se com os filhos de Cis, que eramseus primos; mas ela diz: com os filhos de Cis, seus IRMOS.E Eleazar morreu e no teve filhos, seno filhas e casaram com osfilhos de Cis, seus IRMOS (1.9 Paralipmenos XXIII-22).

    dentro deste costume hebreu de designar com o nome de IRMOS,no s os que tm os mesmos pais, seno tambm os parentes prximoscomo tios, primos e sobrinhos, pois o hebraico no possua palavras prprias para designar esses parentescos, que o Novo Testamento fala emIRMOS DE JESUS e O prprio Novo Testamento QUE SE ENCARREGA DEDEMONSTR-LO.

    Querem ter a PROVA os nossos amigos protestantes?D alguma vez o Evangelho os nomes desses irmos de Jesus, para

    que possamos identific-los?

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    592 LCIO NAVARRO

    a

    Sim, d. Sabe-se dos nomes, pelo menos de '4: Tiago, Jos, Judase Simo: No este o oficial, filho de Maria, IRMO de TIAGO e de JOS e deJUDAS e de SIMO? No vivem aqui entre ns tambm suas irms? (Marcos VI-3). Porventura no este o filho do oficial? No se chamava sua meMaria, e seus irmos TIAGO E JOS E SIMO E JUDAS? E suas irms no vivemelas todas entre ns? (Mateus XIII-55 e 56).

    Pois bem, este TIAGO que encabea a lista um Apstolo, pois diz S. Paulo na Epstola aos Glatas: E dos outros APSTOLOS no vi a nenhum, seno a TIAGO, IRMO DO SENHOR (Glatas I-19).

    Quer dizer ento que, segundo a opinio desses protestantes, esteTiago Apstolo era filho de Maria, me de Jesus; e de Maria e deJos, porque, como os prprios protestantes reconhecem, Maria nuncateve filhos antes de seu casamento com Jos. E no se casou com outrodepois da morte de Jos, pois na hora da morte de Cristo; ela est si'>-zinha, sem marido e Cristo a entrega a S. Joo Evangelista; alm distose Maria tivesse casado outra vez, seus filhos estariam pequenos, no estariam em idade de ser Apstolos.

    Temos 2 Apstolos com o nome de Tiago: Tiago Maior e TiagoMenor. Vamos ver se algum deles era filho de Jos com Maria.

    S. Tiago Maior era irmo de S. Joo Evangelista, e ambos FILHOSDE ZEBEDEU: Da mesma sorte havia deixado atnitos TIAGO e a JOO,FILHOS DE ZEBEDEU (Lucas V-10).

    S. Tiago Menor, que era irmo de Judas, era filho de ALFEU. Entreos Apstolos, que so enumerados por S. Ma teus, esto: Tiago, FILHODE ZEBEDEU e Tiago FILHO DE ALFEU (Mateus X-3). Que tem que verMaria SS.ma com este Alfeu ou com este Zebedeu? Logo, este Tiago, IRMODO SENHOR, no seu filho.

    Alm disto, comparando-se os Evangelhos, se v claramente que esteTiago e este Jos que encabeam a lista so PRIMOS de Jesus, e oTiago o Apstolo Tiago Menor. Enumerando as mulheres que estavam juntamente com Maria ao p da cruz, Mateus, Marcos e Joo as identificamda seguinte maneira:

    ...

    MATEUS XXVII-56:I

    MARCOS XV-40:I

    JOO XIX-25:

    -Maria, me de Tiago Maria. me de Tiago a irm de sua me, Ma-

    e de Jos; Menor e de Jos; ria, mulher de Cleofas:Maria Madalena ; Maria Madalena; Maria Madalena.a me dos filhos de Salom.

    Zebedeu.I

    Por a se v que a mesma Maria que apresentada por S. Joocomo tia de Jesus (irm de sua me) apresentada por S. Mateus eS. Marcos como me de TIAGO MENOR e de Jos. E claro que no se

    trata de Maria Salom, que a me dos filhos de Zebedeu e, portanto, me de Tiago Maior.

    Tiago Menor e Jos so, portanto, PRIMOS de Jesus, e so os primeiros que encabeam aquela lista:

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    593LEG:fTll\IA INTERPRETA O DA B BLIA

    TIAGO, JOS, JUDAS E SIMO

    E de fato o Apstolo S. Judas Tadeu era irmo de S. Tiago Menor,

    pois ele diz no comeo de sua Epstola: Judas, servo de Jesus Cristoe IRMO de Tiago (vers. 1). Tanto o Evangelho de S. Lucas (VI-16)como os Atos dos Apstolos (I-13) para diferenarem Judas Tadeu deJudas Iscariotes, chamam a Judas Tadeu: Judas, irmo de Tiago.

    E assim cai por terra fragorosamente a alegao dos protestantesde que Maria teve outros filhos alm do Divino Salvador, alegao baseada em que o Evangelho fala em IRMOS DE JESUS. No s provmosque entre os hebreus se chamavam IRMOS os parentes prximos, mastambm mostrmos que a lista dos nomes apresentados como sendo destesIRMOS logo encabea da por DOIS PRIMOS, filhos da irm da me de JESUS.

    Logo, no tem nenhum valor a alegao.A nica dificuldade, esta agora j sem importncia, que pode fazer

    o protestante que Tiago Menor filho de ALFEU, e sua me apresentada COMO MULHER DE CLEOFAS.

    Sem precisar recorrer a nenhum argumento de tradio (porquetalvez os protestantes no gostem disto) temos que observar o seguinte:

    1.9 - o texto original no diz MULHER DE OLEOFAS, mas diz simplesmente: a irm de sua me, Maria, a do Cleofas (texto grego de JooXIX-25); podia chamar-se Maria, a do Cleofas, por causa do pai ou

    por outro qualquer motivo;

    2.9 - no repugna que a mesma Maria se tenha casado com Alfeue dele tenha tido S. Tiago Menor e depois se tenha casado com Cleofase tido outros filhos ou mesmo deixado de ter. Tiago o nico que apontado nos Evangelhos como filho deste Alfeu, pois o Alfeu, pai deS. Mateus (Marcos II-14) j deve ser outro;

    3.9 - no repugna que o prprio Alfeu seja o mesmo Cleofas. muito comum nas Escrituras uma pessoa ser conhecida por 2 nomesdiversos : O sogro de Moiss chamado Raguel (xodo II-18 a 21) e

    logo depois chamado Jetro (xodo III-1). Gedeo, depois de ter der ribado o altar de Baal chamado tambm Jerobaal (Juzes VI-32).Osias, rei de Jud chamado tambm Azarias (4.9 Reis XV-32; 1.9

    Paralipmenos III-12). E no Novo Testamento o mesmo Mateus cha mado Levi: Viu um homem, que estava assentado no telnio, chamadoMateus (Mateus IX-9) viu a Levi, filho de Alfeu, assentado no telnio(Marcos II-14). O mesmo que chamado Jos chamado Barsabas(Atos I-23).

    Ainda hoje mesmo, entre ns, nas nossas localidades do interiorprincipalmente, muito comum esta duplicidade de nomes.

    Seja Alfeu o mesmo Cleofas ou no seja, isto pouco importa. Oque fato que Maria de Cleofas irm de Maria, me de Jesus e ao mesmo tempo me de Tiago e de Jos, que so chamados IRMOS doSenhor.

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    594 LCIO NAVARRO

    Queremos ainda chamar a ateno do leitor para o seguinte: sseshereges que negam a virgindade perptua de Maria SS.ma e que dizemque IRMOS de Jesus quer dizer FILHOS DE MARIA, atribuem SS.ma Virgemt1ma filharada enorme.

    Alm de Tiago, Jos, Judas e Simo, esto as IRMS DE JESUS, sobreas quais S. Mateus apresenta os judeus dizendo: E suas irms novivem elas TDAS entre ns? (Mateus XIII-56). Ora, para se dizer assim TODAS, preciso que sejam de 3 para cima.

    Alm disto Tiago e Judas eram Apstolos. Mas S. Joo no seuEvangelho j fala em IRMOS que so hostis a Jesus e Lhe dizem: Saidaqui e vai para a Judia, para que tambm teus discpulos vejam asobras que tu jazes (Joo VII-3). Ali na Galilia o ambiente no estava detodo favorvel ao Divino Mestre, porque nem ainda seus IRMOS criamnEle (Joo VII-5). , portanto, mais outra tropa de irmos a engrossara fileira dos filhos de Maria .... (58)

    E no entanto o Evangelho, descrevendo a vida de famlia em Nazar,relatando a ida de J:esus ao templo de Jerusalm, quando o MeninoDeus j tinha doze anos (Lucas II-42), no faz a mnima referncia airmo nenhum que Jesus tivesse. Se Maria teve assim tantos filhos,nessa ocasio j deveria ter alguns.

    Os Evangelhos s vm a falar em IRMOS de Jesus, quando e1e aparece na sua vida pblica.

    Mais ainda: na hora de sua morte, a S. Joo Evangelista, filhode Zebedeu e de Salom, que Ele encarrega de ficar tomando conta de

    sua Me SS.ma: Jesus, pois, tendo visto sua me e ao discpulo queEle amava, o qual estava presente, disse a sua me: Mulher, eis a teufilho. Depois disse ao discpulo: Eis a tua me. E desta hora emdiante a tomou o discpulo para sua casa (Joo XIX-26 e 27).

    Se Maria teve tantos filhos e filhas, como se explica que ela tenhasido entregue aos cuidados de S. Joo Evangelista e que este a tenhalevado para sua casa? Dizer que esses irmos do Senhor tenham morrido dentro daqueles trs anos da vida pblica do Mestre, no possvel,pois S. Paulo continua falar em irmos do Senhor que ainda esto vivosdepois da morte de Jesus (1."' Corntios IX-5; Glatas I-19).

    inqualificvel esta AUDCIA, esta TEMERIDADE com que um protestante l a sua Bblia, assim to s pressas, to descuidadamente e saidepois, sem o menor escrpulo, a blasfemar daquilo que ignora.

    E . assim que se faz a interpretao protestante.Uma interpretao superficial, que no aprofunda o sentido dos

    textos, que se ilude facilmente com as aparncias, que no baseadaem nenhum princpio de lgica, que no se d ao trabalho de confrontar

    (58) O fato de dizer o Evangelho de S. Joo que os irmos de Jesus nocriam nEle no exclui o fato de que Tiago Menor, o Apstolo e Judas Tadeu estejam includos entre os irmos de Jesus. Costumamos fazer classificaes de acordo

    com a maioria. Assim que dizemos que os brasileiros so catlicos e os inglesesso protestantes, sem que isto seja argumento para negar a existncia de protestantesno Brasil ou de catlicos na Inglaterra. S. Joo no diz que TODOS os irmos deJesus eram descrentes. O que fato, portanto, que os irmos de Jesus eramtantos, que uma ou duas excees pouco influam no caso.

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    595LEGlTIMl.. INTERPRETA.:\.0 DA BBLIA

    e harmonizar uma passagem com outra, e que usa frequentemente detruques, de estril jogo de palavras. No estamos falando sem provas;

    _o leitor j teve ocasio de sobra para apreciar tudo isto no decurso destelivro: j vimos quanto valem os seus argumentos, quando querem esta

    belecer a tese de que a f salva sem as obras, quando querem derrubaras teses do primado de Pedro, do poder e autoridade da Igreja, dosefeitos do Batismo, do Sacramento da Penitncia, da presena de Jesusna Eucaristia, ou quando querem apresentar a Igreja como idlatra,por causa de suas imagens etc., etc.

    com esta interpretao superficial que eles se armam para procurar atingir o seu objetivo, que combater a Igreja Catlica, fundadapor Jesus Cristo para ser a coluna e firmamento da verdade (1 TimteoIII-15) e que tem a seu favor as divinas promessas de que jamais falhar, por mais encarniadas que sejam as guerras desencadeadas contra

    ela pelas potestades infernais.Nesta nsia de combater a Igreja, pouco lhes importa o valor ou aqualidade das objees; a quantidade, sim, o que lhes interessa. Acumular objees sempre mais e mais; se forem bem resolvidas, eles nocessaro a luta, tero sempre novas objees a apresentar; estas nuncalhes faltaro, pois se a Bblia apresenta dvidas e dificuldades mesmopara os verdadeiros, sinceros e preparados intrpretes, quanto mais paraquem vai manuse-la sem a necessria sinceridade ou sem a devidacompetncia.

    E enquanto a razo humana se mostra assim to fraca diante da

    Bblia-

    mais fraca ainda, claro, quando perturbada pelo dio sec trio e pela nsia de querer forar os textos sagrados para amold-losaos interesses de religies inventadas pelos homens - a Igreja continuafirme e serena no seu posto; s ela que recebeu a misso divina de ensinar a todos os povos e por isto s ela que possui a chave da leg tima interpretao da Bblia.