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IRAR RECOMENDAÇÕES DE 2005 A 2007

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IRARRECOMENDAÇÕESDE 2005 A 2007

IRARRECOMENDAÇÕESDE 2005 A 2007

II IRAR

Ficha Técnica

Título RECOMENDAÇÕES DE 2005 A 2007

Coordenação da edição Jaime Melo Baptista e Maria Helena Escudeiro

Edição INSTITUTO REGULADOR DE ÁGUAS E RESÍDUOS

Data Agosto de 2008

Design Gráfi co Dimensão 6 – Comunicação, Design, Publicidade, Lda. – Lisboa

Produção EUROPRESS, Editores e Distribuidores de Publicações, Lda.

Tiragem 600 exemplares

Depósito Legal 281020/08

Recomendações de 2005 a 2007 III

O IRAR, enquanto entidade reguladora dos serviços de abaste-

cimento público de água às populações, de saneamento das

águas residuais urbanas e de gestão dos resíduos urbanos, bem

como autoridade competente para a coordenação e fi scalização

da aplicação do regime estabelecido legalmente para a qualidade

da água destinada ao consumo humano, tem como um dos seus

objectivos estratégicos promover a melhoria contínua da qualidade

dos serviços prestados pelas entidades gestoras que operam nestes

sectores.

Trata-se de serviços públicos de interesse económico geral, essenciais

ao bem-estar, à saúde pública e à segurança colectiva das popu-

lações, às actividades económicas e à protecção do ambiente. É

um objectivo nacional servir, de forma regular e contínua, a maior

percentagem possível da população, com um elevado nível de

serviço, a um preço efi ciente e justo e dentro de uma perspectiva

ambientalmente sustentável.

Prefácio

IV IRAR

Face a esse quadro, em 2004 o Conselho Directivo do IRAR entendeu iniciar, no âmbito das suas competências, a emissão de recomen-dações relativas a aspectos da qualidade na concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multimunicipais e municipais. Com essas recomendações, naturalmente de aplicação voluntária pelas entidades gestoras e outros agentes do sector, pretende-se colmatar eventuais lacunas legislativas, esclarecer questões em aberto e especifi car procedimentos diversos, apoiando as entidades gestoras na sua actividade. Assim, foi criada uma nova série IRAR de documentos sob o título genérico “Recomendações”, documentos esses que foram sendo publicados em formato digital ao longo dos últimos anos no sítio do IRAR - www.irar.pt.

Com base na experiência havida, o Conselho Directivo do IRAR decidiu agora passar a editar regularmente essa nova série IRAR também em versão de papel, consistindo este primeiro volume na edição dos textos das Recomendações elaboradas no período de 2005 a 2007 e que, até à data, tinham sido publicadas apenas no sítio do IRAR. Para esta edição, os textos das Recomendações foram revistos editorialmente, tendo sofrido pequenas melhorias que em nada alteram o seu conteúdo e sentido.

O Conselho Directivo do IRAR espera que a maior divulgação destes textos de carácter orientador e voluntário constitua uma contribuição efi caz para a prossecução dos objectivos estratégicos defi nidos pelo IRAR.

Jaime Melo Baptista(Presidente do Conselho Directivo do IRAR)

Dulce Álvaro Pássaro(Vogal do Conselho Directivo do IRAR)

João Simão Pires(Vogal do Conselho Directivo do IRAR)

Recomendações de 2005 a 2007 V

ANO 2005 1

Recomendação IRAR n.º 1/2005 3PREVENÇÃO DE POSSÍVEIS EFEITOS NEGATIVOS DA SECA NA QUALIDADE DA ÁGUA DISTRIBUÍDA

Recomendação IRAR n.º 2/2005 11CONTROLO DO CHUMBO NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Recomendação IRAR n.º 3/2005 21CONTROLO DO FERRO E DO MANGANÊS NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Recomendação IRAR n.º 4/2005 29CONTROLO DO ARSÉNIO NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Recomendação IRAR n.º 5/2005 39MÉTODO ALTERNATIVO PARA ANÁLISE DE BACTÉRIAS COLIFORMES E ESCHERICHIA COLI

Recomendação IRAR n.º 6/2005 51PROCEDIMENTO A ADOPTAR PELA ENTIDADE GESTORA QUANDO OCORREM INCUMPRIMENTOS AOS VALORES PARAMÉTRICOS DA QUALIDADE DA ÁGUA

Recomendação IRAR n.º 7/2005 57CONTROLO DOS BROMATOS NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Recomendação IRAR n.º 8/2005 65PROCEDIMENTO DE AMOSTRAGEM DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO EM SISTEMAS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO

ANO 2006 75

Recomendação IRAR n.º 1/2006 77SELECÇÃO DE SERVIÇOS DE PROJECTO DE ENGENHARIA NO SECTOR DE ÁGUAS E RESÍDUOS

Recomendação IRAR n.º 2/2006 91BOAS PRÁTICAS NA AQUISIÇÃO DE PRODUTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DA ÁGUA PARA CONSUMO

RECOMENDAÇÕES DE 2005 A 2007Índice

VI IRAR

ANO 2007 105

Recomendação IRAR n.º 1/2007 107GESTÃO DE FOSSAS SÉPTICAS NO ÂMBITO DE SOLUÇÕES PARTICULARES DE DISPOSIÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS

Recomendação IRAR n.º 2/2007 123UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS TRATADAS

Recomendação IRAR n.º 3/2007 145PROCEDIMENTOS CONTABILÍSTICOS E CONTRATUAIS

Recomendação IRAR n.º 4/2007 157FACTURAÇÃO DE SERVIÇOS EM “ALTA” DE SANEAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS URBANAS EM SISTEMAS COM CONTRIBUIÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Recomendação IRAR n.º 5/2007 167DESINFECÇÃO DA ÁGUA DESTINADA AO CONSUMO HUMANO

Versão portuguesa da Recomendação IWA (Setembro/2004) 185A CARTA DE BONA PARA O ABASTECIMENTO DE ÁGUA SEGURA PARA CONSUMO HUMANO

ANO 2005

Recomendações de 2005 a 2007 1

Recomendação IRAR n.º 01/2005

PREVENÇÃO DE POSSÍVEIS EFEITOSNEGATIVOS DA SECA NA QUALIDADEDA ÁGUA DISTRIBUÍDA

Considerando que:

ß A situação de seca que se verifi ca em grande parte do território

continental no corrente ano de 2005 e desde há longos meses

obrigou já um número considerável de entidades gestoras a

tomarem medidas excepcionais para garantirem que alguns

aglomerados populacionais pudessem continuar a ser abastecidos

regularmente e em condições satisfatórias.

ß As medidas tomadas passaram nomeadamente por recurso a

auto-tanque, a reactivação de furos de reserva e a abertura de

novos furos, tendo naturalmente em conta as disposições legais

em vigor.

ß Enquanto autoridade competente para a qualidade da água para

consumo humano e entidade integrante da “Comissão da Seca

2005”, o IRAR está particularmente preocupado com os possíveis

efeitos para a saúde humana decorrentes do recurso às citadas

medidas, dado que podem constituir um factor acrescido de risco.

Recomendações de 2005 a 2007 3

ß Numa perspectiva preventiva, um conjunto de recomendações poderão contribuir para assegurar que, nas condições presentes, a água possa continuar a chegar aos consumidores com a quali-dade adequada.

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde humana e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em conformidade com códigos de prática previamente estabele-cidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa à prevenção de possíveis efeitos negativos da seca na qualidade da água distribuída, dirigida às entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e municipais de abastecimento público de água, independen-temente do modelo de organização adoptado:

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1. Sobre o abastecimento directamente a partir de auto-tanque com recurso a uma origem de água de qualidade controlada

Nesta situação, mesmo admitindo que a água transportada é de boa qualidade e controlada de acordo com o Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, recomenda-se o seguinte:

ß se o tempo de permanência da água no depósito for inferior a 48 horas, não se justifi ca proceder a análises complementares;

ß se o tempo de permanência for superior a 48 horas, recomenda-se que se proceda à análise dos parâmetros Escherichia coli, pH, condutividade e desinfectante residual;

ß se o tempo de permanência for superior a 96 horas, reco-menda-se, para além dos quatro parâmetros já citados, a análise dos seguintes: bactérias coliformes, enterococos, número de colónias a 22 ºC e 37 ºC, cor, turvação, cheiro, sabor, ferro, manganês, amónio e oxidabilidade.

2. Sobre o abastecimento indirectamente a partir de auto-tanque com recurso a uma origem de água de qualidade controlada, em que este alimenta o reservatório local, a partir do qual a população é abastecida através da rede de distribuição

Independentemente da qualidade da água transportada, deve ser desinfectada no reservatório antes de ser distribuída, sendo vantajoso o reforço do controlo operacional na rede, nomeadamente no que concerne à análise do cloro existente, que é garantia de uma desinfecção adequada.

3. Sobre o abastecimento directamente a partir de auto-tanque com recurso a uma origem de água de qualidade não controlada

3.1. É uma situação de risco, devendo ser feita com a maior urgência uma análise completa da água na origem, de acordo com o Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto.

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3.2. No entanto, dado o tempo que decorre até à obtenção de todos os resultados, a entidade gestora deve solicitar ao laboratório, com carácter de urgência, os valores dos seguintes parâmetros: microbiológicos, pH, condutividade, ferro, manganês, oxidabilidade, nitratos e nitritos.

3.3. Nestas condições aconselha-se o seguinte:

ß até à obtenção dos primeiros resultados, a água deve ser desinfectada, mas a população não a deve consumir para os usos mais exigentes – ingestão de água e confecção de alimentos;

ß obtidos os resultados do conjunto de parâmetros descritos, e desde que a qualidade o permita, a água desinfectada pode servir para qualquer uso;

ß deve ser realizada uma análise completa para reforçar a confi ança na qualidade da água consumida, sem prejuízo da necessidade de se efectuar a desinfecção;

ß em qualquer uma das condições descritas, deve proceder-se a um reforço do controlo operacional, em especial do controlo do cloro residual na rede de distribuição;

ß o controlo na torneira do consumidor deve manter a frequência de amostragem prevista no programa de controlo da qualidade da água.

4. Sobre a abertura de novas captações ou recurso a capta-ções de reserva

4.1. Resultante do período de escassez de água que assola o território de Portugal continental e com o objectivo de agilizar procedimentos, foi publicado o Decreto-Lei n.º 131/2005, de 16 de Agosto, que estipula as regras a aplicar excepcional-mente até 31 de Dezembro de 2005 na pesquisa e na captação de águas subterrâneas e na instalação de novas captações de águas superfi ciais.

4.2. Uma vez que as entidades gestoras podem recorrer a captações de reserva, algumas das quais com períodos de inactividade

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muito prolongados, o IRAR recomenda que os procedimentos de avaliação da qualidade da água aplicados sejam idênticos aos previstos para as captações novas.

4.3. Considerando o atrás referido, quando se recorra a novas captações ou a captações de reserva e tendo em conta que em quaisquer circunstâncias a água da nova origem, só por si, ou misturada com a de outras origens, não deve colocar em risco a saúde humana, recomenda-se que:

ß se proceda ao pedido de licenciamento para a pesquisa e captação de água para consumo humano junto da autoridade licenciadora territorialmente competente, de acordo com o artigo 4.º do Capítulo II do Decreto-Lei n.º 131/2005, de 16 de Agosto;

ß para o pedido de licença a qualidade da água deve ser caracterizada de acordo com o disposto no Anexo I do referido diploma;

ß para a utilização da água proveniente das captações após licenciamento, a entidade gestora deve cumprir o disposto no Anexo II do referido diploma;

ß a água só pode ser utilizada, sem quaisquer restrições, se cumprir com todos os valores paramétricos dos parâmetros constantes dos grupos I e II do Anexo II do referido diploma.

5. Sobre a actuação das entidades gestoras no controlo da qualidade da água na torneira do consumidor

5.1. Este controlo é feito de acordo com o Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, o qual estabelece a sua periodicidade. Dado que a quase totalidade dos aglome-rados atingidos pelas medidas apresentadas são de pequena dimensão, o controlo faz-se muito espaçadamente (duas vezes por ano para o controlo de rotina e uma vez para o controlo de inspecção).

5.2. Uma vez que pode decorrer demasiado tempo até se conhe-cerem os efeitos daquelas medidas, deve ser comunicada ao IRAR a alteração das datas de recolha por forma a que se

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possa antecipar a realização dos controlos previstos no PCQA, de modo a se poderem avaliar atempadamente os efeitos na qualidade da água distribuída.

5.3. Caso as análises de controlo revelem resultados que ultra-passem um ou mais valores paramétricos, as entidades gestoras podem, face à situação excepcional verifi cada, tendo em conta a necessidade de abastecer as populações afectadas e de acordo com o Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, proceder da seguinte forma:

ß Se se tratar de parâmetros da Parte B do Anexo I (parâ-metros obrigatórios), podem solicitar ao IRAR, a derro-gação de um ou mais parâmetros, devendo tal pedido ser justifi cado nos termos do artigo 15.º do referido diploma, propondo valores máximos que consideram poder cumprir durante o período de validade da derrogação. Trata-se de uma fi gura consagrada na lei, devendo o IRAR obrigato-riamente pedir o parecer da autoridade de saúde, a qual se pronuncia sobre se os valores propostos pela entidade gestora constituem ou não um perigo potencial para a saúde humana.

ß Se os incumprimentos forem relativos a parâmetros da Parte C do Anexo I (parâmetros indicadores), não é possível a sua derrogação, podendo a entidade gestora, face à excepcio-nalidade da situação presente, solicitar directamente à auto-ridade de saúde que se pronuncie sobre se pode durante um determinado intervalo de tempo (correspondente ao período de abastecimento a partir de uma origem que, apesar de ter alguns problemas, constitui a única origem viável) distribuir a água que, apresentando embora uma menor qualidade, pode não comportar um risco para a saúde humana.

ß Quando a análise das novas origens de água revelar para alguns parâmetros resultados que violem os valores para-métricos, se o tratamento existente não permitir a sua correcção e se não houver uma alternativa viável, deve

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ser de imediato colocada a questão directamente ao IRAR (se se tratar de parâmetros da Parte B do Anexo I) ou à autoridade de saúde (se se tratar de parâmetros da Parte C do Anexo I) sobre se essa água pode ser utilizada para consumo humano.

6. Sobre o acompanhamento contínuo da situação

6.1. O IRAR, enquanto autoridade competente e também enquanto membro da “Comissão da Seca 2005”, recomenda a todas as entidades gestoras que, enquanto durar este período de escassez pluviométrica, informem regularmente este Insti-tuto da situação relativa à qualidade da água para consumo humano no que diz respeito ao recurso a novas origens ou a origens de reserva e ao transporte de água, através do correspondente formulário de comunicação1.

6.2. A informação solicitada deve ser comunicada quinzenalmente ao IRAR, por todas as entidades gestoras em alta e baixa, nos dias 9 e 23 de cada mês, através do e-mail [email protected] ou do fax 210 052 259, até que a “Comissão da Seca 2005” dê por terminado este período de escassez hídrica. Caso o dia estabelecido coincida com feriados ou fi m-de-semana, a informação deve ser remetida no dia útil anterior.

6.3. Esta informação permite ao IRAR, no quadro geral da “Comissão da Seca 2005”:

ß proceder a um levantamento à escala nacional das medidas de excepção adoptadas pelas entidades gestoras para fazer face à situação de escassez de água vivida actualmente;

ß transmitir a situação às diversas entidades que participam na “Comissão da Seca 2005”;

ß elaborar a contribuição do IRAR para o relatório quinzenal da “Comissão da Seca 2005”;

1 Disponível em http://www.irar.pt/PresentationLayer/ResourcesUser/docum/inq_seca.doc

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ß disponibilizar o seu apoio técnico, se necessário, a todas as entidades gestoras, em particular àquelas onde se verifi cam os maiores problemas.

6.1. Naturalmente que o rigor e a continuidade da informação prestada pelas entidades gestoras são aspectos primordiais para o IRAR, enquanto membro da “Comissão da Seca 2005”, cumprir os objectivos acima citados.

30 de Setembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Ela sistematiza e actualiza todo um conjunto de orientações que o IRAR tem vindo

a transmitir regularmente às entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e

municipais de abastecimento público de água desde Janeiro de 2005.

O texto desta recomendação foi elaborado pelo Departamento de Qualidade da

Água do IRAR, com a participação de Alexandre Milheiras Costa, Ana Martins,

Cecília Alexandre e Luís Simas.

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Recomendação IRAR n.º 02/2005

CONTROLO DO CHUMBO NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Considerando que:

ß A Directiva 98/83/CE, do Conselho, de 3 de Novembro, relativa à qualidade da água para consumo humano, transposta para o direito interno pelo Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, atribuiu ao IRAR a responsabilidade de autoridade competente com um vasto conjunto de atribuições, tendo por objectivo contribuir para um melhor desempenho das entidades gestoras em termos de qualidade da água para consumo humano.

ß Este Decreto-Lei estabelece novos valores paramétricos para o chumbo: 25 µg/l até 25 de Dezembro de 2013 e 10 µg/l depois desta data. Este valor, que se aplica a um consumo médio mensal, foi estabelecido com vista a assegurar a protecção da saúde humana.

ß O ser humano pode ser exposto por várias vias ao chumbo. Quando em solução, o chumbo é incolor, inodoro e sem sabor, o que faz com que, mesmo em elevadas concentrações na água, não seja perceptível pelo consumidor. Por outro lado, para além

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da facilidade com que é absorvido pelo corpo humano, dada a sua solubilidade, o chumbo é bioacumulável, devendo por isso ser evitada uma exposição excessiva a este elemento.

ß A Organização Mundial de Saúde identifi cou três grupos vulne-ráveis: fetos, crianças e idosos. A absorção de chumbo varia signifi cativamente de indivíduo para indivíduo, sendo as crianças um dos grupos de maior risco, pois absorvem mais facilmente aquele elemento. Este metal ataca o sistema nervoso e pode dar origem a problemas de atraso no desenvolvimento intelectual.

ß Tendo em conta que as águas brutas, quer de origem subter-rânea, quer de origem superfi cial, raramente contêm concen-trações de chumbo superiores a 10 µg/l e, por outro lado, que os sais de chumbo não são utilizados no tratamento da água para consumo humano, a concentração de chumbo à saída da estação de tratamento de água é naturalmente inferior ao valor paramétrico.

ß A presença de chumbo na água, por vezes em concentrações superiores ao valor paramétrico, deve-se, essencialmente, à exis-tência de ramais e acessórios de chumbo nas redes de distribuição pública e predial. Contudo, podem surgir teores elevados mesmo em locais onde as condutas de chumbo não são utilizadas, já que este metal foi usado em ligas que fazem parte de contadores, válvulas, juntas e outros acessórios.

ß Quando do envio dos dados anuais da qualidade da água, as entidades gestoras raramente referenciaram incumprimentos de chumbo. Este facto não é contudo sinónimo de concen-trações efectivamente inferiores ao valor paramétrico na água para consumo humano, mas da inadequação do método de amostragem utilizado para o chumbo e do facto da frequência de amostragem ser muito baixa (uma amostra por ano) para a grande maioria das zonas de abastecimento.

ß É necessário dar conhecimento à Comissão Europeia, até fi nal do ano em curso, da actual situação e da estratégia nacional para cumprimento, em 2013, dos já referidos 10 µg/l de chumbo na água para consumo humano.

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Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde humana e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa ao controlo do chumbo na água para consumo humano, dirigida às entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e municipais de abastecimento público de água, independentemente do modelo de organi-zação adoptado:

1. Sobre medidas a tomar no tratamento da água

1.1. A acção usualmente adoptada consiste na correcção do pH da água, de modo a prevenir a dissolução do chumbo eventual-mente existente no sistema público de adução e distribuição e no sistema predial.

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Este objectivo pode atingir-se através de um simples ajuste do valor de pH de forma a assegurar, na torneira do consu-midor, um valor da ordem dos 8,0 a 8,5, conseguido pela adição de reagentes alcalinos como a cal, a soda cáustica ou o carbonato de sódio.

1.2. O ácido orto-fosfórico é também usado para o controlo do teor de chumbo. Este reagente conduz à formação de uma película protectora de ortofosfato de chumbo na parede interna das tubagens, que reduz a solubilidade do chumbo. A optimização do doseamento de ácido orto-fosfórico é particularmente difícil devido às limitações da amostragem (para quantifi cação dos teores em chumbo) e de vários efeitos de interferência causados, por exemplo, pela matéria orgânica, particularmente a que confere cor. Este tipo de tratamento apresenta ainda como desvantagem o facto de facilitar o desenvolvimento de colónias de bactérias no sistema de distribuição, devido ao aumento do teor em nutrientes, nomeadamente fósforo. Existem, ainda, preocupações acerca do impacto no meio ambiente relacionadas com a descarga de águas enriquecidas em fosfato para o meio receptor.

A experiência existente1 sugere os seguintes valores operacio-nais:

ß valor residual de ortofosfato: 0,7 a 1,7 mg/l; a relação óptima entre a dose aplicada e o valor residual depende das características da água a tratar e da própria natureza do sistema de distribuição;

ß valor de pH: 7,2 a 7,8 para águas duras; para águas macias deve considerar-se um valor maior de pH, dependendo do teor em matéria orgânica, em particular a que confere cor, e da necessidade de minimizar a corrosão do ferro nos sistemas de distribuição.

1 Drinking Water Inspectorate (DWI), Reino Unido.

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2. Sobre o revestimento das tubagens de chumbo

As tubagens de chumbo podem ser revestidas internamente com uma película plástica para evitar a corrosão. Esta medida é menos onerosa do que a substituição integral das tubagens de chumbo, mas levanta dúvidas sobre a sua efi ciência, a segurança e a adequabilidade dos materiais usados no reves-timento e a respectiva durabilidade.

3. Sobre a substituição das tubagens de chumbo

3.1. Presentemente, a medida considerada de maior sucesso e fi abilidade consiste na substituição das tubagens de chumbo por outro material técnica e economicamente aceitável e sem efeitos nocivos na saúde humana. No caso de construções particulares é desejável, mas não obrigatória, a substituição de toda a rede predial. Na prática, é sufi ciente a substituição do ramal desde a rede principal até à torneira usada para consumo humano directo, que normalmente fi ca localizada na cozinha.

3.2. Os custos da substituição de tubagens de chumbo são difí-ceis de estimar pois estão directamente relacionados com o percurso específi co das tubagens na habitação e a difi culdade de acesso.

3.3. Os custos da substituição dos ramais de chumbo são certa-mente mais elevados do que os custos do ajuste de pH da água distribuída. Contudo, a longo prazo, um maior investimento inicial pode traduzir-se numa solução mais económica, já que o ajuste de pH implica elevados custos operacionais ao longo do tempo. Por outro lado, a garantia da efi cácia é praticamente total com a substituição dos ramais, enquanto que na segunda solução há algum risco associado à efi cácia conseguida.

3.4. Estima-se que a redução do valor paramétrico do chumbo para 10 µg/l, imposta pela directiva comunitária, em linha com as orientações da Organização Mundial de Saúde, representa, ao nível da maior parte dos países membros da comunidade europeia, difi culdades acrescidas, especialmente quando se considera a substituição das tubagens como a única solução

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viável a longo termo. Nestes casos podem ser necessárias algumas décadas para serem substituídas todas as tubagens de chumbo em utilização.

3.5. Um melhor conhecimento das zonas de abastecimento, no que diz respeito à existência de chumbo nas redes de distribuição de água, é fundamental para defi nir a estratégia a adoptar.

4. Sobre as acções de sensibilização

4.1. Quando o problema é devido às redes prediais, cessa natu-ralmente a responsabilidade das entidades gestoras. Devem no entanto as entidades gestoras desenvolver acções de sensibilização junto dos consumidores no sentido de evitar a ingestão da água retida na tubagem por períodos prolongados, por exemplo uma noite ou várias horas.

4.2. Nestas circunstâncias aconselha-se a descarga prévia desta água na torneira da cozinha, em quantidade sufi ciente para encher um balde. Esta água não necessita de ser rejeitada, podendo ser utilizada para outros fi ns que não sejam para beber ou para cozinhar. Se, eventualmente, o comprimento da tubagem em chumbo for superior a 40 m, aconselha-se a descarga de uma quantidade superior de água.

4.3. Embora esta medida represente um desperdício, quando a água descarregada não é utilizada para outros fi ns, é uma das opções mais económicas para o consumidor uma vez que não tem de suportar o custo inicial de substituição da tubagem. Do ponto de vista das entidades gestoras, implica, quando considerada como medida de carácter permanente, a necessidade de uma disponibilidade adicional de água tratada e, também, uma maior quantidade de água residual.

5. Sobre a monitorização do parâmetro chumbo

5.1. O cumprimento dos valores paramétricos deve ser verifi cado em amostras de água representativas do consumo médio mensal ingerido pelo consumidor, obtidas na torneira do consumidor.

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5.2. Contrariamente à generalidade dos outros parâmetros, os teores de chumbo na água são muito variáveis ao longo do dia, o que torna difícil obter uma amostra representativa para a sua monitorização. A concentração de chumbo na água varia signifi cativamente com:

ß O material da tubagem, a idade da rede e o traçado do sistema de distribuição e das redes prediais (frequência do uso de acessórios e da sua posição relativa na rede).

ß As características físico-químicas da água e o tempo de contacto da água com os materiais contendo chumbo; a temperatura da água, na medida em que as temperaturas elevadas podem causar uma maior solubilidade dos sais de chumbo; o pH, na medida em que o chumbo é particu-larmente atacado por águas de baixo pH, sendo de evitar a utilização de canalizações de chumbo em águas de pH inferior a 7,8; as águas alcalinas, na medida em que se forem submetidas a tratamento com excesso de cal, são também susceptíveis de atacarem o chumbo.

ß O regime de consumo, que implica uma grande variabili-dade no teor de chumbo na água; os hábitos dos consu-midores determinam o tempo de residência da água na tubagem, verifi cando-se uma grande diferença de teores entre a primeira amostra colhida de manhã (sem descarga da água estagnada durante a noite) e a que se obtém durante o dia após um período longo de descarga; para uma composição físico-química específi ca, a um maior tempo de contacto com a água corresponde um maior teor de chumbo.

ß Muitos outros factores podem infl uenciar, aleatoriamente, o resultado da amostra analisada, nomeadamente, vibra-ções mecânicas (a sua ocorrência pode causar a quebra de depósitos e incrustações e a libertação de pequenas partí-culas de carbonato de chumbo) ou fenómenos de corrosão (por desenvolvimento de pilhas galvânicas ou presença de correntes eléctricas migrantes).

Recomendações de 2005 a 2007 17

5.3. Não existe um processo perfeito quanto à amostragem, desta-cando-se de entre as técnicas disponíveis as seguintes:

ß amostra recolhida a qualquer altura do dia (amostragem aleatória) após ter sido efectuada uma descarga prévia;

ß amostragem aleatória, com recolha do primeiro litro de água sem descarga prévia;

ß amostragem composta proporcional;

ß amostragem efectuada após 30 minutos de estagnação (previamente ao período de estagnação é feita uma descarga completa da água retida na tubagem);

ß recolha da primeira toma de água pela manhã, após uma noite de estagnação.

5.4. A amostragem aleatória, após ter sido efectuada uma descarga prévia, é geralmente inconclusiva quanto à detecção de chumbo, dado que houve renovação da água na tubagem. Muitas entidades gestoras utilizam este método de amos-tragem, daí que a ausência de incumprimentos do parâmetro chumbo na água para consumo humano não signifi ca neces-sariamente a sua inexistência.

5.5. A amostragem aleatória, em que é recolhido o primeiro litro de água da torneira sem efectuar descarga prévia, é normalmente utilizada para averiguar a ocorrência e o grau da extensão de problemas de chumbo na rede. Este tipo de amostragem é utilizado em alguns países, para avaliar a conformidade com os valores paramétricos estabelecidos na legislação. A amos-tragem aleatória é fácil, rápida e por isso de menor custo e mais aceitável para os consumidores.

5.6. A amostragem composta proporcional resulta da recolha de um volume de água proporcional à água consumida, durante um período de tempo pré-determinado. Este método é consi-derado de referência e é representativo da quantidade de chumbo ingerida pelo consumidor durante esse tempo.

5.7. A amostra recolhida após 30 minutos de estagnação é utili-zada nas áreas onde previamente se confi rmou a existência

18 IRAR

de ramais e acessórios de chumbo. Esta técnica permite obter informação adicional, nomeadamente, o risco médio que essa água apresenta para o consumidor, permitindo, ainda, optimizar eventuais tratamentos a implementar ou existentes na água distribuída.

5.8. A recolha da primeira toma de água pela manhã na casa do consumidor (incluindo a utilização do autoclismo), após uma noite de estagnação, exige a colaboração do consumidor, o que nem sempre é aceitável e praticável.

5.9. Estudos efectuados comprovam ser a amostra aleatória, em que é colhido o primeiro litro de água sem efectuar descarga prévia, a mais adequada para avaliar a conformidade com os valores paramétricos estabelecidos na legislação. Este tipo de amostragem, para além de comportar menores custos e ser a que tem mais aceitação entre os consumidores, apresenta uma reprodutibilidade semelhante à amostragem feita após 30 minutos de estagnação.

6. Sobre o preenchimento dos inquéritos

6.1. O IRAR, na sua qualidade de autoridade competente para a qualidade da água para consumo humano, como já referido, deve dar conhecimento à Comissão Europeia, até fi nal do ano em curso, da actual situação e da estratégia nacional para cumprimento em 2013 dos 10 µg/l de chumbo na água para consumo humano.

6.2. Nesse âmbito, o IRAR solicita às entidades gestoras o preen-chimento dos dois inquéritos “Rede de Distribuição” e “Rede Predial”, atempadamente remetidos através do ofício n.º 1238, de 10 de Maio p.p..

7. Sobre a bibliografi a mais relevante

O IRAR recomenda a seguinte bibliografi a para um maior aprofundamento deste assunto:

ß American Water Works Association – Water Quality & Treatment, A Handbook of Community Water Supplies. 5.ª Edição. Mc GrawHill, 1999.

Recomendações de 2005 a 2007 19

ß Directiva 98/83/EC – The Quality of water intended for human consumption, Community guidelines for monitoring lead, copper and nickel, versão de 28 de Dezembro de 2003.

ß Drinking Water Inspectorate – Guidance on the Water Supply (Water Quality) Regulations 2000 (England) and the Water Supply (Water Quality) Regulations 2001 (Wales), May 2005.

ß Environmental Protection Agency - State Implementation Guidance for the Lead and Copper Rule Minor Revisions. EPA 816-F-99-015, February 2001.

ß JACKSON, P.; BARON, P.; LEROY P.; BOIREAU, A.; CORDON-NIER, J.; WAGNER, I.; MARECOS DO MONTE, H.; BENOLIEL, M. J.; VAN DEN HOVEN, T.; BUIJS, P. – Developing a new protocol for the monitoring of lead in drinking water, Final Report of the project contract n.º SNT4-CT96-2112 (DG12-RSMT),.1998.

ß JOHN DE ZUANE, P.E. – Handbook of Drinking Water Quality. 2.ª Edição, John Wiley & Sons, Inc, 1997.

ß Le plomb dans l’eau de distribution, n.º 3 – MARS, 1994.

ß Organização Mundial de Saúde – Guidelines for drinking water quality. 3.ª Edição, Geneva, 2004.

30 de Setembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Esta recomendação foi elaborada pelo Departamento de Qualidade da Água do

IRAR, com a participação de Ana Martins, Raquel Mendes e Regina Casimiro.

20 IRAR

Recomendação IRAR n.º 03/2005

CONTROLO DO FERRO E DO MANGANÊS NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Considerando que:

ß O ferro (Fe) e o manganês (Mn) são parâmetros indicadores no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, incluídos no grupo dos que apresentam maior percentagem de incumprimento dos valores paramétricos no nosso País.

ß Os principais inconvenientes ligados à presença de Fe na água são: a neutralização dos desinfectantes devido à oxidação do Fe; o aparecimento de uma cor acastanhada esteticamente pouco agradável ao consumidor e que pode sujar a roupa e os sanitários; o gosto metálico da água; o risco de corrosão das canalizações devido ao desenvolvimento de microrganismos (ferrobactérias).

ß Os inconvenientes ligados à presença do Mn são idênticos aos do Fe, resultando em problemas organolépticos (cor, gosto), manchas na roupa e risco de desenvolvimento bacteriano.

ß O Fe é um dos metais mais abundantes da crosta terrestre e pode estar presente na água em três formas: ferro ferroso Fe2+, ferro férrico Fe3+ e ferro complexado com matéria orgânica. Nas

Recomendações de 2005 a 2007 21

águas superfi ciais, o ferro ferroso é oxidado a ferro férrico que precipita sob a forma de hidróxido. Nas águas subterrâneas, pelo contrário, a ausência de oxigénio faz com que o Fe permaneça em solução. A presença do Fe na água é devida principalmente: à lixiviação dos solos com dissolução das rochas minerais; aos resíduos industriais; à corrosão das canalizações metálicas; à utilização de sais férricos como coagulantes.

ß O Mn está presente em quantidades menores que o Fe e a sua origem é devida essencialmente à dissociação das rochas e a eventuais resíduos industriais.

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade compe-tente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde humana e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa ao controlo do ferro e do manganês na água para consumo humano, dirigida às enti-dades gestoras dos sistemas multimunicipais e municipais

22 IRAR

de abastecimento público de água, independentemente do modelo de organização adoptado:

1. Sobre o estudo para a remoção do ferro e do manganês da água

1.1. Na escolha do processo de remoção do Fe e do Mn é preciso ter em conta:

ß A sua origem, a forma como estes elementos se encontram presentes na água, a sua concentração, a quantidade de água a tratar e uma avaliação técnico-económica.

ß A realização, sempre que possível, de ensaios laboratoriais antes da escolha do esquema de tratamento.

ß A origem do Fe na água se deve, por vezes, ao mau estado das condutas, das válvulas ou das torneiras, que são frequentemente constituídas por ligas metálicas que contêm Fe. Nestes casos, devem aconselhar-se os consumi-dores a não consumirem as primeiras águas, principalmente, quando o consumo é pequeno e há frequentes períodos de tempo em que não há consumo. Essas primeiras águas devem ser aproveitadas para outros fi ns domésticos, como por exemplo lavagens e regas.

ß O estado de corrosão das tubagens de Fe das captações, o que pode originar a presença de Fe na rede de distribuição. Sem-pre que possível, aconselha-se a substituição destes equipamen-tos por outros construídos com materiais mais adequados.

2. Sobre os processos de tratamento mais utilizados na remoção do ferro e do manganês da água

2.1. Os processos mais frequentemente utilizados na remoção do Fe e do Mn recorrem à sua oxidação de forma a precipitá-los. A oxidação pode ser levada a efeito por processos de areja-mento natural ou de arejamento forçado, ou ainda por processos de oxidação utilizando reagentes oxidantes.

O arejamento natural pode realizar-se através de arejadores de gravidade (cascatas, planos inclinados, degraus, tabuleiros ou bandejas perfuradas). O arejamento forçado pode realizar-se através de arejadores de ventilação forçada (por compressor), utilizando difusores, pulverizadores, tubos perfurados ou outros.

Recomendações de 2005 a 2007 23

2.2. A oxidação pode também ser efectuada por oxidantes químicos como o hipoclorito de sódio, o cloro, o dióxido de cloro e o ozono. A cinética é então mais rápida, mas o custo do processo é mais elevado, além de que estes oxidantes podem reagir com certos compostos da água (por exemplo ácido húmico) formando sub-produtos. Outro processo de oxidação / adsorção também muito utilizado é o fi ltro oxidante.

2.3. Por vezes é necessário recorrer a outras operações unitárias tais como a coagulação, a sedimentação e a fi ltração.

2.4. Como a precipitação e a coagulação dos iões Fe3+ só se processa a pH superior a 7 e dos iões Mn a pH superior a 8,5, há normalmente que fazer um ajustamento do meio por adição de cal ou outro alcalino. Por outro lado, é mais aconselhável o recurso a sais de ferro, sulfato ou cloreto férrico como agente de coagulação, uma vez que os sais de alumínio fl oculam com difi culdade em zona de pH elevado, quando estiver presente matéria orgânica.

2.5. A sedimentação é indispensável sempre que se produzem quan-tidades elevadas de sedimentos para protecção da fi ltração, caso contrário pode fazer-se a coagulação directa sobre o fi ltro.

2.6. A fi ltração utiliza-se para retenção das suspensões resultantes dos precipitados obtidos por oxidação ou por coagulação-fl ocu-lação. O tipo de fi ltração a aplicar depende da dimensão da estação, das condições de adução e da sequência de tratamento.

2.7. Desta forma, recomenda-se para a remoção do Fe e Mn os seguintes processos de tratamento: arejamento seguido de fi ltração; oxidação química seguida de fi ltração e fi ltros oxidantes.

3. Sobre o tratamento por arejamento seguido de fi ltração

3.1. Para concentrações conjuntas de Fe e Mn até 25 mg/l, estes podem ser oxidados por arejamento (mistura com ar), origi-nando partículas sólidas que são posteriormente retidas por fi ltração.

3.2. A oxidação do Mn é mais lenta do que a do ferro e requer maiores quantidades de oxigénio (as quantidades teóricas estequiométricas são: 0,14 mg/l de O2 por mg/l de Fe e 0,30 mg/l de O2 por mg/l de Mn).

24 IRAR

3.3. O arejamento não é recomendado para águas contendo complexos orgânicos de Fe e Mn ou bactérias de Fe e Mn que possam colmatar o fi ltro.

3.4. A pH superior a 4, o Fe dissolvido está presente na forma Fe2+. É necessário a sua oxidação a Fe3+ para que precipite. Esta oxidação é possível realizando um simples arejamento, podendo ser levada a efeito por processos de arejamento natural ou por arejamento forçado. O arejamento natural realiza-se por pulverização da água através de difusores ou por queda em cascata sobre pilhas, pratos ou leitos de materiais de contacto. O arejamento forçado realiza-se por meio de um compressor de ar. Para cada caso devem ser respeitadas as condições de funcionamento indicadas no projecto da instalação.

3.5. Associada ao arejamento, existe normalmente uma fi ltração com fi ltros de areia gravíticos ou de pressão, para retenção das partículas precipitadas. A lavagem dos fi ltros deve ser efectuada regularmente, com a periodicidade adaptada a cada caso e de acordo com as condições de funcionamento propostas pelos fornecedores dos equipamentos.

4. Sobre o tratamento por oxidação química seguida de fi ltração

4.1. Para concentrações de Fe e Mn superiores a 10 mg/l, um dos métodos de remoção é a oxidação química seguida de fi ltração.

4.2. Introduzindo um oxidante químico, normalmente um composto clorado, tal como hipoclorito de sódio, cloro, dióxido de cloro ou outro, as partículas oxidadas adquirem uma dimensão sufi ciente para serem fi ltradas.

4.3. As dosagens teóricas de cloro necessárias para a oxidação do Fe e do Mn são respectivamente 0,64 mg/l por mg/l de Fe e 1,3 mg/l por mg/l de Mn.

4.4. O pH ideal para a cloragem situa-se entre 6,5 e 7,5.

4.5. Quando o cloro é utilizado, normalmente permanece um excesso de cloro residual (valores próximos de 1,0 mg/l) na água tratada. Neste caso pode ser também usado um fi ltro de

Recomendações de 2005 a 2007 25

carvão activado, não só para reter o excesso de cloro, como também as partículas sólidas de Fe e Mn.

4.6. A cloragem não é recomendada para concentrações elevadas de Mn, porque para a oxidação completa deste é necessário um pH superior a 9,5.

4.7. Associada à oxidação química existe normalmente uma fi ltração, como no processo anterior, podendo também por vezes ser necessário o recurso a uma coagulação.

4.8. O ozono é outro oxidante forte. Como é extremamente reactivo e instável, deve ser produzido localmente, imedia-tamente antes da sua aplicação. Por outro lado é o processo mais caro de tratamento. Quando administrado adequada-mente, o ozono destrói as bactérias de ferro. O processo é mais efi ciente quando é integrado a jusante um sistema de fi ltração completo incluindo fi ltros de carvão activado granulado.

5. Sobre o tratamento por fi ltros oxidantes

5.1. O tratamento por fi ltros oxidantes é uma opção para níveis moderados de Fe e Mn (concentrações combinadas de Fe e Mn até 15 mg/l).

5.2. Um dos produtos utilizados nestes fi ltros é o manganês greensand, constituído pela glauconite, mineral esverdeado escuro que contém Fe, revestido com óxido de Mn, o qual lhe transmite as propriedades oxidantes para a remoção do Fe e do Mn dissolvido.

5.3. O equipamento utilizado é normalmente um fi ltro de pressão com uma camada de manganês greensand, variável consoante os caudais a tratar e as indicações dos fornecedores.

5.4. O Fe e Mn solúveis na água são captados e oxidados, tornando-se insolúveis e fi cando retidos no leito fi ltrante. São posteriormente retirados por contralavagem com água bombada. A frequência da contralavagem deve ser feita regularmente, dependendo a sua periodicidade das condições experimentais verifi cadas em cada caso.

5.5. A regeneração do manganês greensand é realizada com uma solução de permanganato de potássio que transmite

26 IRAR

outra vez ao produto as propriedades oxidantes e adsorptivas iniciais. A frequência da regeneração depende também de cada caso.

5.6. O pH da água a tratar deve estar compreendido entre 6,2 e 8,5, não só para uma melhor efi ciência da remoção, como também para a aplicação da solução regenerante.

5.7. Para a eliminação completa do Fe e do Mn, o pH deve estar entre 7,5 e 8,5.

5.8. Outros produtos podem ser utilizados, como por exemplo o silicato de alumina revestido de dióxido de manganês, que pode ser usado tanto em tratamentos por gravidade como em sistemas de água pressurizada. Este produto actua como um catalizador insolúvel para aumentar a reacção oxidante entre o oxigénio dissolvido e os compostos de ferro Fe2+ que se transformam em hidróxidos de ferro que precipitam e se podem fi ltrar facilmente. Além de ser mais económico, tem outras vantagens: largo período de vida útil, baixa perda de fricção e não exigência de regeneração, sendo necessárias apenas contralavagens para eliminar o produto precipitado.

5.9. Quando se utiliza este produto para eliminar o Fe, é neces-sário que a água não contenha óleos, que a matéria orgânica não exceda 4 a 5 ppm e o conteúdo em oxigénio dissolvido deve ser superior a 15% de Fe com um pH igual ou supe-rior a 6,8. Se a água tem um pH inferior pode corrigir-se à base de produtos químicos alcalinos como a calcite. Se o conteúdo de oxigénio dissolvido é inferior pode recorrer-se a uma ventilação prévia.

5.10. Quando utilizado para remoção de Mn, o pH deve ser ajus-tado para valores entre 8 e 9. Se a água também contém Fe, o pH deve ser inferior a 8,5.

5.11. Além das limitações indicadas, existem outras: a água a tratar não deve conter óleos e polifosfatos, a alcalinidade deve ser superior a duas vezes a concentração de sulfatos mais cloretos, o cloro livre deve ser inferior a 5 ppm e o sulfureto de hidrogénio deve ser removido antes do fi ltro de silicato de alumina revestido de dióxido de manganês.

Recomendações de 2005 a 2007 27

6. Sobre a bibliografi a mais relevante

O IRAR recomenda a seguinte bibliografi a para um maior aprofundamento deste assunto:

ß CENTRO TECNOLÓGICO (DGSB) – Curso de Actualização em Engenharia Sanitária (CAES) - Módulo 3: Tratamento de Águas de Abastecimento: Arejqmento. Direcção Geral de Saneamento Básico, Março de 1979.

ß CENTRO TECNOLÓGICO (DGSB) – Curso de Actualização em Engenharia Sanitária (CAES) - Módulo 3: Tratamento de Águas de Abastecimento: Remoção de Ferro e Manganês. Direcção Geral de Saneamento Básico, Março de 1979.

O IRAR recomenda ainda os seguintes sítios na Internet:

ß http://ianrpubs.unl.edu/water/g1280.htm (Drinking Water: Iron and Manganese)

ß http://www.qualitywatertreatment.com/iron-filter.asp (Quality Water Treatment - Iron Filters)

ß http://www.gls.fr/pdf/Memotec16-FerManganese.pdf (GLS, Memotecn.º16, L’elimination du fer et du manganese dans l’eau destine à la consummation humaine)

ß http://www.severntrentservices.com/water-purification/fi ltration-products/iron-remove (Iron Removal Filters)

30 de Setembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

O texto desta recomendação foi elaborado pelo Departamento de Qualidade da

Água do IRAR, com a participação de Leal Lopes.

28 IRAR

Recomendação IRAR n.º 04/2005

CONTROLO DO ARSÉNIO NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Considerando que:

ß A alteração do valor paramétrico (VP) do arsénio (As) de 50 µg/l para um valor mais exigente de 10µg/l, estipulado pelo Decreto--Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, que faz a transposição da Directiva 98/83/CE, do Conselho de 3 de Novembro.

ß A Organização Mundial da Saúde recomenda que os teores limites do As na água para consumo humano sejam cada vez mais severos devido à possibilidade de acumulação de arsénio no organismo, à sua toxicidade mesmo em doses pequenas e à sua eventual acção cancerígena.

ß Muitas origens de água destinadas à produção de água para consumo humano podem eventualmente apresentar teores superiores ao novo VP, necessitando consequentemente de um tratamento adicional para a sua remoção ou redução.

ß Dadas as condições aeróbias das águas superfi ciais, a espécie predo-minante é o arsénio na valência cinco, As(V), arsenato, sob a forma de HAsO4

2- (no intervalo 7 < pH < 11,5) ou de H2AsO4- (para pH < 7).

Recomendações de 2005 a 2007 29

Nas águas subterrâneas, devido às suas condições anaeróbias, o As encontra-se na valência três, predominantemente sob a forma de ácido arsenioso (H3AsO3).

ß O As pode ainda ser introduzido na água através de reagentes utilizados no seu tratamento. Vários reagentes vulgarmente utilizados como o sulfato de alumínio, polímeros, hidróxido de sódio, permanganato de potássio, ácido sulfúrico, cloreto férrico, ácido fl uorsilicico, podem conter como impureza arsénio e, por essa via, contaminar a água tratada.

Na seguinte tabela são apresentados valores indicativos de arsénio que eventualmente podem ser introduzidos na água através de reagentes usados no seu tratamento:

ReagenteDosagem

(mg/l)

Máxima contribuição em arsénio

(µg/l na água tratada)

Hidróxido de sódio 8,0 – 12,5 0,0156 – 0,024

Ácido sulfúrico 20 0,0002

Sulfato de alumínio 10 – 80 0,00385 – 0,0308

Permanganato de potássio 0,30 – 0,35 0,0014 – 0,00168

Cloreto férrico 7 0,037

Polímero 2,0 – 4,0 0,001 – 0,004

Cloro 1,2 – 2,8 –

Hipoclorito de sódio 1,2 0,00096

Meta fosfato 1,5 – 1,7 0,0030 – 0,0034

Ácido fl uorsilicico (H2SiF6) 1,0 0,245

ß A presença de As no ambiente, nomeadamente na água, está por vezes associada à rejeição de águas residuais do tratamento de minérios de cobre, de combustão de carvão e respectivos resíduos, de utilização de adubos fosfatados e detergentes, da rejeição de resíduos e efl uentes das indústrias de curtumes e da madeira, de pinturas, fl ores artifi ciais, papéis pintados, coloração de vidros e cerâmica.

ß O arsénio é um elemento largamente difundido na crosta terrestre, que se encontra principalmente sob a forma de sulfu-retos (As2S2 ou As2S3).

30 IRAR

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde humana e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa ao controlo do arsénio na água para consumo humano, dirigida às entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e municipais de abastecimento público de água, independentemente do modelo de organi-zação adoptado:

1. Sobre o estudo para a remoção do arsénio da água

1.1. A entidade gestora deve previamente efectuar um estudo técnico-económico de forma a escolher o processo de trata-mento que se adequa às suas necessidades atendendo à quali-dade e caudal da água a tratar e aos meios disponíveis.

Recomendações de 2005 a 2007 31

1.2. O estudo técnico-económico deve considerar vários cenários, entre eles a selecção de outra origem de água, a possibilidade de efectuar misturas de água para permitir o cumprimento do valor paramétrico, e as alternativas de tratamento, face aos vários factores condicionantes, por exemplo qualidade da água, infra-estruturas, tratamento e destino fi nal dos resíduos e qualifi cação dos recursos humanos.

2. Sobre os processos de tratamento mais utilizados na remoção do arsénio da água

2.1. Apresentam-se em seguida as técnicas de tratamento disponíveis para remoção de arsénio da água, sendo comentadas de forma detalhada as três primeiras, correspondentes às mais utilizadas:

ß Coagulação-fl oculação e fi ltração: constitui a tecnologia mais comum para a remoção do arsénio nas águas superfi ciais.

ß Oxidação do ferro e manganês: particularmente adequada para o tratamento das águas subterrâneas que para além de arsénio contêm ferro e manganês.

ß Adsorção e permuta iónica: na adsorção são utilizados, por exemplo, como meio adsorvente o dióxido de manganês, o hidróxido férrico granular, o óxido de ferro e a alumina acti-vada; as resinas de permuta iónica utilizadas para remoção de sulfatos, nitratos e nitritos são simultaneamente efi cazes na remoção do arsénio.

ß Membranas: inclui os processos de osmose inversa e de nanofi ltração; este método requer, comparativamente com as outras técnicas de tratamento, maiores consumos energé-ticos e exige, normalmente, um cuidadoso pré-tratamento da água.

ß Outros, como sejam, por exemplo a oxidação e a fi ltração por areia verde de mangânes (greensand) e precipitação com cal.

2.2. Coagulação-fl oculação e fi ltração

A coagulação-fl oculação, usando como coagulante sais de ferro ou de alumínio, seguida de fi ltração é o tratamento mais conven-cional e constitui a tecnologia mais comum para a remoção do

32 IRAR

arsénio nas águas superfi ciais. Este tipo de tratamento permite uma remoção de arsénio dependendo da respectiva concen-tração na água bruta, do tipo e dose de coagulante e do pH.

O uso de coagulantes como sulfato de alumínio, cloreto férrico (FeCl3) ou sulfato férrico (Fe2(SO4)3) permite obter rendimentos de remoção entre 50 a 95%. É de notar, no entanto, que os sais de ferro apresentam melhores rendimentos que os de alumínio (95% contra 50 a 60%).

A remoção máxima de arsénio utilizando sais de ferro ou de alumínio, corresponde, simultaneamente, à melhor taxa de eliminação da matéria orgânica. A adição de polímeros cati-ónicos (adjuvantes da coagulação) incrementa o rendimento da referida remoção.

Uma oxidação prévia do As(III) em As(V) constitui a primeira etapa do tratamento por coagulação-fl oculação, já que o As(III) é difícil de eliminar por este processo. A oxidação do As(III) pelo contacto com o ar é um processo muito lento, pelo que se recorre a oxidantes químicos mais enérgicos como o cloro, o dióxido de cloro, o permanganato de potássio ou o ozono.

O cloreto férrico (FeCl3) é mais efi caz na remoção de arsénio do que os outros coagulantes à base de ferro: sulfato férrico (Fe2(SO4)3), clorossulfato de ferro (III) (FeClSO4) e sulfato de ferro (II) (FeSO4), sendo este último o menos efi ciente.

Dentro da gama óptima de pH, entre 6,0 e 8,0, para utilização do cloreto férrico, o As(V) é eliminado com rendimento da ordem dos 95%, à razão de 10,86 mg FeCl3 puro por 1 mg de As a remover.

Para coagulantes à base de alumínio, a remoção é de 0,025 mg de As por cada 1 mg de Al2(SO4)3 puro, a pH entre 6,0 e 6,5. O sulfato de alumínio é efi caz numa gama mais restrita de pH dada a solubilidade do hidróxido de alumínio.

A etapa de coagulação seguida de sedimentação sem fi ltração atinge rendimentos de remoção de arsénio sob a forma de As(V) de 30%. Com a introdução da etapa de fi ltração, o rendimento de remoção aumenta para 92%.

Recomendações de 2005 a 2007 33

A desvantagem deste processo reside na elevada quantidade de reagentes necessária para a separação física do precipitado e na obrigatoriedade de dar um destino fi nal adequado às lamas produzidas.

2.3. Oxidação do ferro e manganês

A remoção de ferro e manganês por oxidação permite a remoção simultânea do arsénio. Este processo é particular-mente adequado para águas subterrâneas que, para além de arsénio contêm ferro e mangânes.

A remoção de arsénio durante a precipitação do ferro é fácil de aplicar e efi ciente. As águas que contêm arsénio apresentam, de um modo geral, ferro e, dada a afi nidade do arsénio pelo hidróxido de ferro, esta solução constitui uma técnica apelativa para a remoção do arsénio.

Pelo acima exposto, uma entidade gestora que se depare com a necessidade de remover o arsénio, deverá, como primeiro passo, verifi car a quantidade de ferro presente na água a tratar para calcular a respectiva capacidade de remoção. Conseguem-se remoções da ordem de 50 µg/l de arsénio para cada 1 mg de ferro removido.

A remoção de arsénio conjuntamente com a precipitação do manganês é relativamente inefi caz quando comparada com a do ferro, anteriormente referida.

O processo convencional de precipitação do ferro e do manganês é efi caz nos casos de As(V), mas não de As(III), pelo que é necessário uma prévia oxidação do arsénio. A remoção do arsénio é muito dependente da concentração de ferro na água, bem como da quantidade do arsénio sob a forma oxidada.

Em termos práticos, quando o valor de ferro é superior a 200 µg/l há que verifi car a relação Fe/As, pois torna-se possível proceder à sua remoção conjunta com o arsénio:

ß Para uma relação Fe/As superior a 20:1, qualquer processo optimizado para remoção de ferro será, em princípio, sufi -

34 IRAR

ciente para garantir o cumprimento, em simultâneo, do valor paramétrico do arsénio.

ß Uma relação Fe/As ligeiramente inferior a 20:1 signifi ca que não existe uma quantidade sufi ciente de ferro para, só por si, garantir o cumprimento do valor paramétrico do arsénio; contudo, uma alteração do processo, nomea-damente através da adição de uma dose suplementar de ferro, pode garantir o cumprimento do valor paramétrico do arsénio.

ß Quando a água a tratar não contém ferro em excesso, deverão ser avaliadas outras tecnologias, algumas descritas nesta secção, e seleccionar a mais adequada ao caso espe-cífi co.

As efi ciências de remoção de arsénio e ferro conseguidas simultaneamente não são tão elevadas ou consistentes como as obtidas através dos processos de tratamento por colunas de alumina activada ou permuta iónica.

2.4. Adsorção e permuta iónica

A maior vantagem dos processos com meios adsorventes é a sua simplicidade. É um processo de leito fi xo, em que a capacidade de adsorção da maior parte dos meios actualmente disponíveis é elevada.

Estes processos têm porém algumas desvantagens. A capaci-dade de remoção da maior parte dos materiais é infl uenciada pelas características químicas da água, nomeadamente o pH. Pode ser necessário ajustar o pH para tornar o processo mais económico, na medida em que quanto mais baixo for o pH, maior é a sua capacidade de remoção.

O dióxido de manganês, tal como a alumina activada, requer elevados tempos de contacto e o controlo do processo não é fácil, uma vez que não é possível, detectar atempadamente a saturação das resinas, ocorrendo assim o fenómeno de “fuga” de arsénio no efl uente tratado. Salienta-se a vantagem do dióxido de manganês sólido poder também oxidar o As(III).

Recomendações de 2005 a 2007 35

O As é também removido por adsorção com tecnologias que recorrem a sais de ferro. O hidróxido de ferro granular (HGF) constitui a tecnologia mais promissora (rendimentos de remoção 5 a 10 vezes superiores aos obtidos com a alumina activada). Devido à sua estrutura porosa, o HGF possui uma elevada capacidade para remoção do arsénio a pH 8, e pode atingir períodos de funcionamento mais longos.

Esta tecnologia necessita de maiores tempos de contacto e grandes áreas superfi ciais mas não é tão dependente do pH quando comparada com o processo de adsorção com a alumina. O HGF pode ser regenerado com soda cáustica, sendo mais conveniente a respectiva substituição.

A permuta iónica ou adsorção através da alumina activada são processos mais económicos, requerendo no entanto espécies aniónicas para remover o arsénio. Todavia ambos os processos removem o arsénio apenas o sob a forma oxidada, As(V).

O critério de selecção entre os métodos mais comuns, a permuta iónica e a adsorção com alumina activada, é função dos teores dos sulfatos (SO4

2-) e do teor em sólidos dissolvidos totais (SDT) na água bruta, sendo a permuta iónica economi-camente pouco atractiva para teores de SDT > 500mg/l ou SO4

2- > 120mg/l, dada a concorrência entre espécies químicas sobretudo pelos sulfatos (seleccionado preferencialmente pelas resinas). Pelo contrário, a adsorção por alumina activada apre-senta maior afi nidade pelo arsénio, pelo que não é afectada por estas variáveis.

Na remoção do As(V) por permuta iónica não é necessário fazer o ajuste de pH. Esta técnica apresenta contudo a desvantagem do sulfato competir com o As, podendo, no limite, a água tratada não cumprir o VP do As referido na legislação. Este risco é tanto maior quanto mais elevada for a concentração dos sulfatos na água a tratar.

As águas subterrâneas contendo naturalmente As apresentam, em geral, valores elevados de pH e de alcalinidade. Para além disso, como têm valores baixos de sulfatos são muito

36 IRAR

adequadas para serem tratadas por permuta iónica desde que seja garantida a oxidação prévia do As(III) em As(V) e um ajuste do valor de pH entre 5,5 e 6,0.

Salienta-se que uma das desvantagens da utilização de alumina activada é o risco de ocorrência de alumínio residual na água tratada.

As resinas específi cas aos sulfatos são perfeitamente adequadas para eliminação do arsénio, podendo também recorrer-se às resinas selectivas aos nitratos, tendo contudo estas últimas o inconveniente de saturarem mais rapidamente.

Uma das maiores desvantagens das resinas consiste na respec-tiva colmatação por precipitação do ferro e do manganês. Ainda que a camada de ferro e manganês que se deposita, adsorva uma parte do arsénio, a regeneração não terá nenhum efeito e toda a “fuga” de ferro coloidal pode conduzir, em simultâneo, a uma “fuga” de arsénio. Outro dos inconve-nientes reside em dar um destino fi nal adequado aos produtos de regeneração das resinas, em particular quando contêm um elevado teor de arsénio.

A alumina activada e outros meios adsorventes podem ser regenerados quimicamente e reutilizados quando voltam a atingir a sua capacidade máxima de adsorção.

A regeneração do meio é, em geral, economicamente justifi -cável quando se tratam elevados caudais e elevadas concentra-ções de arsénio que colmatam rapidamente o meio adsorvente. No caso de pequenos caudais é aconselhável, na maior parte dos casos, a substituição integral do meio adsorvente.

Alguns meios de adsorção não podem ser regenerados e, quando atingem a sua exaustão, devem ser removidos e encaminhados para destino fi nal adequado.

Em resumo, estes processos de adsorção e de permuta iónica caracterizam-se pelas seguintes vantagens:

ß processo simples de aplicar nas águas subterrâneas após captação e antes da desinfecção e que não requer rege-neração;

Recomendações de 2005 a 2007 37

ß pequeno tempo de contacto com elevada capacidade de remoção do As;

ß possibilidade de remoção, em alguns dos processos, quer do As(III) quer do As(V).

30 de Setembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

O texto desta recomendação foi elaborado pelo Departamento de Qualidade da

Água do IRAR, com a participação de Regina Casimiro e Vera Bruto da Costa.

38 IRAR

Recomendação IRAR n.º 05/2005

MÉTODO ALTERNATIVO PARA ANÁLISE DE BACTÉRIAS COLIFORMES E ESCHERICHIA COLI

Considerando que:

ß O IRAR, enquanto autoridade competente em matéria da quali-dade da água destinada ao consumo humano, deve garantir que os laboratórios responsáveis pela realização das análises aos parâmetros microbiológicos utilizam os métodos especifi cados no anexo III do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro.

ß De acordo com o estipulado no número 2 do artigo 8.º do referido diploma, os laboratórios podem no entanto recorrer a métodos alternativos aos especifi cados desde que comprovem, junto da auto-ridade competente, que os resultados obtidos são, no mínimo, tão fi áveis como os que seriam obtidos pelos métodos especifi cados.

ß Com o objectivo de dar cumprimento ao estipulado no referido diploma, um grupo de trabalho apresentou ao IRAR um estudo de equivalência de métodos para a pesquisa e a quantifi cação de bactérias coliformes e Escherichia coli, comparando o método da norma ISO 9308-1:2000 e o método alternativo (MLSA), que comprova que os resultados obtidos por este método são tão fi áveis como os obtidos pelo método especifi cado neste diploma.

Recomendações de 2005 a 2007 39

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade compe-tente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde pública e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa ao método de fi ltração por membrana para pesquisa e quantifi cação de bactérias coliformes e Escherichia coli, por forma a salvaguardar a qualidade da água, dirigida aos laboratórios responsáveis pela realização de análises de água para consumo no âmbito do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro:

1. Sobre o método

1.1. Os laboratórios que prestam serviços de análises de água para consumo humano no âmbito do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, podem utilizar, em alternativa ao método de referência ISO 9308-1 estipulado no referido diploma, o “Método de fi ltração por membrana para pesquisa e quan-tifi cação de bactérias coliformes e Escherichia coli”.

40 IRAR

1.2. Encontra-se anexada a esta Recomendação a descrição deta-lhada desse método alternativo.

2. Sobre a bibliografi a mais relevante

Como informação complementar, o IRAR recomenda a consulta ao estudo elaborado por um grupo de trabalho que teve por base a proposta do método de fi ltração por membrana para pesquisa e quantifi cação de bactérias coli-formes e Escherichia coli:

ß Elisabete Ferreira, Cristina Pizarro, Eugénia Marques, Fátima Coimbra, José Miranda, Leonor Falcão e Manuela Cadete – Pesquisa e quantifi cação de bactérias coliformes e Esche-richia coli: Comparação entre o método da Norma ISO 9308-1:2000 e o método alternativo (MLSA), Março 20041.

30 de Setembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Esta recomendação foi elaborada pelo Departamento de Qualidade da Água do

IRAR, com a participação de Cecília Alexandre, tendo por anexo um extracto do

estudo proposto pelo grupo de trabalho.

1 Disponível em http://www.irar.pt/PresentationLayer/ResourcesUser/docum/recom/rec_5_b.pdf.

Recomendações de 2005 a 2007 41

MÉTODO ALTERNATIVO:

MÉTODO DE FILTRAÇÃO POR MEMBRANA PARA PESQUISA E QUANTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS COLIFORMES E ESCHERICHIA COLI

1. INTRODUÇÃO

A contaminação fecal é um factor importante na avaliação da qualidade da água e dos riscos para a saúde humana.

A presença em amostras de água de Escherichia coli, que normal-mente habita o intestino do homem e de outros animais de sangue quente, evidencia contaminação fecal.

A presença de bactérias coliformes pode ser de mais difícil inter-pretação porque algumas destas bactérias vivem no solo e na água, não sendo sempre de origem intestinal. Assim, a presença de bactérias coliformes, embora não sendo prova de contami-nação fecal, poderá indicar a existência de falhas no processo de tratamento ou no sistema de distribuição. A identifi cação das estirpes isoladas pode, por vezes, dar uma indicação da origem da contaminação.

2. ÂMBITO

O presente procedimento descreve um método alternativo para a pesquisa e a quantifi cação de bactérias coliformes e Escherichia coli em água para consumo humano. Este método baseia-se na fi ltração por membrana com subsequente cultura num meio gelo-sado diferencial e no cálculo do número de bactérias coliformes e Escherichia coli na amostra.

3. REFERÊNCIAS NORMATIVAS

As referências neste método aos documentos normativos a seguir indicados signifi cam que estes contêm informação relevante que deve ser consultada.

ß ISO/IEC Guide 2, Standardization and related activities – General vocabulary.

42 IRAR

ß ISO 3696:1987, Water for analytical laboratory use – Specifi cation and test methods.

ß ISO 5667-1:1980, Water quality – Sampling – Part 1: Guidance on the design of sampling programmes.

ß ISO 5667-2:1991, Water quality – Sampling – Part 2: Guidance on sampling techniques.

ß ISO 5667-3:1994, Water quality – Sampling – Part 3: Guidance on the preservation and handling of samples.

ß ISO 6887-1:1999, Microbiology of food and animal feeding stuffs – Preparation of test samples, initial suspension and decimal dilu-tions for microbiological examination – Part 1: General rules for the preparation of the initial suspension and decimal dilutions.

ß ISO 8199:1988, Water quality – General guide to the enumeration of micro-organisms by culture.

Para referências datadas, não são aplicáveis subsequentes adita-mentos ou revisões destas publicações. Para referências não datadas, aplica-se a última edição do documento normativo referido.

4. TERMOS E DEFINIÇÕES

4.1. Bactérias lactose positiva

São bactérias capazes de formar colónias em aerobiose a (36,0 ± 2,0) ºC num meio de cultura lactosado diferencial e selectivo, com a produção de ácido em (21 ± 3) h.

4.2. Bactérias coliformes

São bactérias lactose positiva como defi nido em 4.1 que são oxidase negativa.

4.3. Escherichia coli

São bactérias coliformes como defi nido em 4.1 e 4.2 que também produzam indol a partir de triptofano a (44,0 ± 0,5) ºC em (21 ± 3) h e/ou hidrolisam o “4-methylumbelliferyl-b-D-glucuronidase (MUG)” apresentando fl uorescência à luz ultravioleta.

Recomendações de 2005 a 2007 43

5. PRINCÍPIO

5.1. Descrição geral do método

O volume da amostra é fi ltrado através de uma membrana fi ltrante que retém as bactérias. A membrana fi ltrante é colo-cada num meio gelosado lactosado selectivo, que é incubado a (36,0 ± 2,0) ºC por (21 ± 3) h, após ao que se procede à subsequente caracterização bioquímica das colónias lactose positivas típicas, levando à detecção e quantifi cação de bacté-rias coliformes e Escherichia coli em 2 a 3 dias.

Quando se pesquisa apenas Escherichia coli, a incubação é efectuada a (44,0 ± 0,5) ºC por (21 ± 3) h.

5.2. Avaliação e confi rmação

As colónias características na membrana são contadas como bactérias lactose positiva. Para bactérias coliformes e Esche-richia coli é feita uma subcultura de colónias características, seleccionadas ao acaso, para testes de confi rmação: oxidase, lactose, produção de indol e utilização de MUG. São calcu-lados os números de bactérias coliformes e Escherichia coli presumivelmente presentes em 100 ml da amostra.

6. MATERIAL E EQUIPAMENTO

É necessário dispor de material corrente de laboratório de micro-biologia, em particular:

ß Aparelho para esterilização por calor húmido (autoclave): o mate-rial e o equipamento fornecidos não estéreis devem ser esterili-zados de acordo com as instruções dadas na norma ISO 8199.

ß Banho de água ou estufa de incubação, controlado por termós-tato a (36,0 ± 2,0) ºC.

ß Banho de água ou estufa de incubação, controlado por termós-tato a (44,0 ± 0,5) ºC.

ß Aparelho de pH, com precisão e exactidão de ± 0,1.

ß Equipamento para fi ltração por membrana, de acordo com a norma ISO 8199.

44 IRAR

ß Membranas filtrantes, compostas por ésteres de celulose, habi-tualmente com 47 mm ou 50 mm de diâmetro, com caracte-rísticas de filtração equivalentes a poro com diâmetro nominal de 0,45 mm e preferencialmente com grelha. As membranas devem ser isentas de substâncias inibidoras ou promotoras do crescimento e a tinta de impressão usada para as grelhas não deve inibir o crescimento das bactérias. Se não são estéreis, devem ser esterilizados de acordo com as indicações do fabri-cante. Cada lote de membranas deve ser ensaiado de acordo com a norma ISO 7704 para verificar a sua adequação, espe-cialmente porque o uso de diferentes marcas de membranas pode resultar numa diferença no desenvolvimento da cor.

ß Pinças de pontas arredondadas, para manuseamento das membranas fi ltrantes.

ß Lâmpada de ultravioleta com comprimento de onda 366 nm (lâmpada de mercúrio de baixa pressão).

Nota: A luz ultravioleta causa irritação de olhos e pele, pelo que devem ser

utilizados óculos de protecção e luvas.

7. MEIOS DE CULTURA E REAGENTES

Para a preparação de meios de cultura e reagentes, devem usar-se componentes de qualidade homogénea e produtos químicos de qualidade analítica. Em alternativa, devem usar-se os meios e reagentes comercialmente disponíveis que devem estar de acordo com as composições dadas no anexo A, seguindo-se rigorosamente as instruções dadas pelo fabricante.

Nota: O uso de reagentes de outro grau de qualidade é possível desde que demons-

trem ter desempenho igual no ensaio.

Para a preparação dos meios de cultura deve usar-se água desti-lada ou água desionizada livre de substâncias que possam inibir o crescimento das bactérias nas condições do ensaio, e que esteja de acordo com a norma ISO 3696.

Se não for especifi cado o contrário, os meios de cultura preparados são estáveis pelo menos por um mês se guardados no escuro a (5,0 ± 3,0) ºC e protegidos contra a evaporação.

Recomendações de 2005 a 2007 45

8. AMOSTRAGEM

A colheita e a conservação das amostras devem ser realizadas de acordo com as normas ISO 5667-1, ISO 5667-2 e ISO 5667-3.

9. PROCEDIMENTO

9.1. Preparação da amostra

Para preparação da amostra, fi ltração e inoculação no meio de isolamento, seguem-se as instruções dadas nas normas ISO 8199 e ISO 6887-1. Inicia-se a análise, de preferência, imediatamente a seguir à colheita da amostra. Se as amostras são mantidas à temperatura ambiente (no escuro, sem exceder 25 ºC), a análise deve ser iniciada dentro de 6 h após a colheita. Em circunstâncias excepcionais, as amostras podem ser mantidas a (5,0 ± 3,0) ºC até 24 h antes da análise.

9.2. Filtração

Filtram-se 100 ml, ou as suas diluições (ou volumes superiores, por exemplo 250 ml para águas engarrafadas) da amostra a ser estu-dada através de uma membrana fi ltrante. Coloca-se a membrana fi ltrante no respectivo meio de isolamento, certifi cando-se que não fi ca ar por baixo da membrana.

9.3. Incubação e diferenciação

Após fi ltração, coloca-se a membrana fi ltrante na placa contendo Meio Gelosado de Lauril Sulfato (MLSA) e incuba-se a (36,0 ± 2,0) ºC durante (21 ± 3) h.

Observam-se as membranas e contam-se como bactérias lactose positiva todas as colónias características, sem mencionar o tamanho, que mostrem um desenvolvimento da cor amarela no meio por baixo da membrana. Para efectuar os testes de oxidase e indol, procede-se preferencialmente à subcultura de todas as colónias características obtidas, ou de um número representativo (pelo menos cinco de cada tipo) para meio gelosado não selectivo.

Incuba-se o meio gelosado não selectivo a (36,0 ± 2,0) ºC durante (21 ± 3) h e procede-se ao teste de oxidase. Considera-se o apareci-mento de cor azul-púrpura escuro em 30 s como teste positivo.

46 IRAR

As colónias oxidase negativa são consideradas como bactérias coliformes.

Todas as colónias oxidase negativa são ainda incubadas no meio de cultura DEV – Fluorocult a (44,0 ± 0,5) ºC durante (21 ± 3) h. Observa-se a fl uorescência sob luz ultravioleta e a produção de indol adicionando 0,2 ml a 0,3 ml de reagente de Kovacs. A observação de fl uorescência e/ou o desenvolvimento de cor vermelho cereja à superfície do meio confi rma a produção de indol. Contam-se todas as colónias que são oxidase negativa lactose positiva e que apre-sentam fl uorescência e/ou indol positivo como Escherichia coli.

10. EXPRESSÃO DE RESULTADOS

A partir do número de colónias características contadas na membrana fi ltrante e considerando os resultados dos testes de confi rmação realizados, calcula-se o número de bactérias coliformes e de Escherichia coli presentes em 100 ml de amostra.

11. RELATÓRIO DE ENSAIO

O relatório de ensaio deve conter pelo menos a seguinte informação:

ß referência ao presente método de ensaio;

ß todos os pormenores necessários à completa identifi cação da amostra;

ß expressão de resultados de acordo com 10;

ß qualquer ocorrência observada durante o decurso do ensaio e qualquer procedimento não especifi cado no método que possa infl uenciar os resultados.

12. GARANTIA DA QUALIDADE

O laboratório deve ter implementado um sistema de controlo da qualidade de forma a garantir que os materiais, reagentes e técnicas utilizadas são adequados para o ensaio.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ß ISO 9308-1, Segunda Edição, 2000-09-15.

ß Report 71, The Microbiology of Drinking Water, 2002.

Recomendações de 2005 a 2007 47

ß Anexo A: Composição dos meios de cultura

MLSA – Meio Gelosado de Lauril Sulfato (Membrane Lauryl Sulphate Agar)

Fórmula g/lPeptona 39,0Extracto de levedura 6,0Lactose 30,0Vermelho de fenol 0,2Lauril sulfato de sódio 0,2Ágar 15pH 7,4±0,2

Fluorocult – DEV Caldo lactosado de peptona

Fórmula g/lPeptona de caseína 17,0Peptona de soja 3,0Lactose 10,0Cloreto de sódio 5,0Purpura de bromocresol 0,02Triptofano 1,0

4-metil-lumbeliferil-b-D-glucuronidase

0,01

pH 7,2±0,2

Meio gelosado não selectivo

Fórmula g/lExtracto de levedura 3,0Peptona 5,0Ágar 15,0pH 7,2±0,2

ou equivalente.

48 IRAR

ß Anexo B: Pesquisa e quantifi cação de bactérias coliformes e Escherichia coli

Técnica – Filtração por membrana

Volume amostra – 100 ml

Bactérias Coliformes

Escherichia coli

Fluorescência Positivae/ou

Indol Positivo

Positivo

Produção de ácido( viragem de cor do meio )

Repicagem paraDEV - Fluorocult

44ºC ± 0,5ºC -21h ± 3h

Teste OxidaseNEGATIVA

Crescimento paraNutriente agar

36ºC ± 2ºC -21h ± 3h

- Colónias amarelas- Colónias laranja

Incubação a 36ºC ± 2ºC21h ± 3h

Membrane Lauryl Sulphate Agar

Recomendações de 2005 a 2007 49

ß Anexo C: Informações adicionais sobre coliformes

Os coliformes são bacilos Gram-negativos, não formadores de esporos, oxidase-negativa, capazes de crescimento em aerobiose e em anaerobiose (facultativo), na presença de sais biliares (ou outros agentes tensioactivos, com propriedades semelhantes de inibição do crescimento) e que são capazes de fermentar a lactose com produção de ácido e aldeído em 48 h, quando incubados a uma temperatura de (36,0 ± 2,0) ºC. Possuem também a enzima b-galactosidase.

A Escherichia coli é um coliforme capaz de produzir indol a partir do triptofano em (21 ± 3) h a (44,0 ± 0,5) ºC. Possui a enzima b-glucoronidase, dá resultado positivo no teste vermelho de metilo, é capaz de descarboxilar o ácido L-glutâmico, mas não é capaz de produzir acetil-metil-carbinol, utilizar o citrato como única fonte de carbono ou crescer em caldo KCN (cianeto de potássio).

50 IRAR

Recomendação IRAR n.º 06/2005

PROCEDIMENTO A ADOPTAR PELA ENTIDADE GESTORA QUANDO OCORREM INCUMPRIMENTOS AOS VALORES PARAMÉTRICOS DA QUALIDADE DA ÁGUA

Considerando que:

ß A publicação do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro,

que entrou em vigor a 25 de Dezembro de 2003, obriga as

entidades gestoras de sistemas de abastecimento de água a

um conjunto de procedimentos, entre os quais a comunicação

obrigatória dos incumprimentos dos valores paramétricos.

ß O incumprimento de um parâmetro não constitui infracção à lei,

residindo a contra-ordenação na não comunicação da ocorrência

à autoridade de saúde respectiva no que respeita aos parâmetros

indicadores ou ao IRAR e à autoridade de saúde no que respeita

aos parâmetros obrigatórios.

ß O acompanhamento pela entidade gestora da qualidade da água

distribuída, assim como a correcção das situações causadoras do

incumprimento, constituem aspectos fundamentais para melhorar

o seu nível de desempenho e aumentar a qualidade de serviço

prestado aos cidadãos.

Recomendações de 2005 a 2007 51

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade compe-tente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde humana e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa ao procedimento a adoptar pela entidade gestora quando ocorrem incumprimentos aos valores paramétricos da qualidade da água, dirigida às enti-dades gestoras dos sistemas multimunicipais e municipais de abastecimento público de água, independentemente do modelo de organização adoptado:

1. Sobre o procedimento a adoptar pelas entidades gestoras quando se verifi cam incumprimentos de parâmetros indicadores

1.1. Quando a entidade gestora toma conhecimento de um incum-primento, deve, de imediato, comunicar a sua ocorrência à

52 IRAR

respectiva autoridade de saúde de forma expedita (correio electrónico ou fax), de acordo com o ponto 5 do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro.

1.2. Em simultâneo, deve averiguar as causas do incumprimento e avaliar e implementar as medidas correctivas adequadas para corrigir o problema que o determinou.

1.3. Na sequência das medidas correctivas empreendidas, deve a entidade gestora repetir a análise na torneira onde se verifi cou o incumprimento, procedendo igualmente a uma recolha na rede pública, num ponto o mais próximo possível da torneira. Há vantagem numa terceira amostra recolhida na torneira de um consumidor próximo. Desta forma, é possível tornar mais objectiva a confi rmação sobre a resolução do problema.

1.4. A entidade gestora deve dar conhecimento à autoridade de saúde da identifi cação das causas e das medidas correctivas tomadas, assim como dos valores analíticos determinados no processo de verifi cação do incumprimento, logo que o processo esteja encerrado.

1.5. Apesar de não ser obrigatório, caso a entidade gestora o entenda, pode comunicar igualmente ao IRAR os procedi-mentos citados.

1.6. Caso a entidade gestora não tenha actuado de acordo com o estabelecido no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, o IRAR, quando da inspecção regular a todas as entidades gestoras, pode instaurar um processo de contra--ordenação.

2. Sobre o procedimento a adoptar pelas entidades gestoras quando se verifi cam incumprimentos de parâmetros obrigatórios

2.1. A entidade gestora deve, logo que tomar conhecimento do incumprimento, comunicar à autoridade de saúde e ao IRAR a sua ocorrência, de forma expedita (correio electrónico ou fax).

2.2. Em simultâneo, deve averiguar as causas do incumprimento e avaliar e implementar as medidas correctivas adequadas para

Recomendações de 2005 a 2007 53

corrigir o problema que o determinou, de acordo com os pontos 1, 2 e 3 do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro.

2.3. Na sequência das medidas correctivas empreendidas, deve a entidade gestora repetir a análise na torneira onde se verifi cou o incumprimento, procedendo igualmente a uma recolha na rede pública, num ponto o mais próximo possível da torneira. Há vantagem numa terceira amostra recolhida na torneira de um consumidor próximo. Desta forma, é possível tornar mais objectiva a confi rmação sobre a resolução do problema.

2.4. Conhecidos os resultados da verifi cação do incumprimento, a entidade gestora deve preencher a fi cha de notifi cação, por cada incumprimento detectado, e enviá-la ao IRAR.

2.5. As entidades gestoras, caso não consigam repor a situação, podem apelar ao IRAR, o qual passa a coordenar as acções conducentes à resolução do problema.

2.6. Quando ocorram incumprimentos relativos a certos parâ-metros, nomeadamente os trihalometanos, os bromatos, o mercúrio e os pesticidas individuais, que fazem recurso a técnicas laboratoriais mais complexas, pode ser útil que as análises de verifi cação tenham lugar simultaneamente em dois laboratórios diferentes. Com este procedimento pode conse-guir-se informação complementar relevante para a avaliação da situação de incumprimento, dado que, se os resultados analíticos obtidos pelos laboratórios não forem concordantes, poder-se-á estar em presença de um erro sistemático ou aleatório não detectado pelo laboratório.

2.7. Caso a entidade gestora não tenha actuado de acordo com o estabelecido no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, o IRAR, quando da inspecção regular a todas as entidades gestoras, pode instaurar um processo de contra-ordenação.

3. Sobre os prazos para a comunicação de incumprimentos

3.1. O conhecimento do incumprimento, o mais breve possível após a colheita, é de importância primordial para que a

54 IRAR

entidade gestora possa actuar de forma a corrigir a situação que o originou. Não se trata de uma questão formal, mas de um aspecto essencial para proteger a saúde humana. É portanto necessário assegurar que os laboratórios de análises notifi quem a entidade gestora atempadamente e que as enti-dades gestoras procedem com a celeridade devida, depois de tomarem conhecimento do incumprimento.

3.2. Apresentam-se na tabela seguinte os prazos que, tendo em conta o tempo necessário para proceder à análise dos dife-rentes tipos de parâmetros, se consideram aceitáveis.

Prazos máximos a cumprir no tratamento de incumpri-mentos

Parâmetros

Comunicação de incum-primentos à entidade

gestora pelo laboratório

Comunicação de incumpri-mentos ao IRAR pela entidade gestora

Emissão do relatório de ensaio pelo laboratório

Microbiológicos 5 dias*

24 horas**

2 semanas para o

controlo de rotina 1

2 meses para o

controlo de rotina 2 e inspecção

Parâmetrosfísico-químicosda rotina 2

2 semanas

Cianetos

Metais

2 mesesRestantesparâmetros

* O prazo de 5 dias inclui o dia da amostragem e, caso termine num feriado ou fi m-de-semana, a comunicação pode ser feita no dia útil seguinte. O principal objectivo a atingir na defi nição deste prazo é a comunicação de incumprimentos por parte dos laboratórios tão rapidamente quanto possível, de modo a que as entidades gestoras possam actuar de forma a corrigir a situação em tempo útil.

** Prazo de 24 horas a contar da data em que a entidade gestora tomou conhecimento.

3.3. Recomenda-se que, no caso dos contratos actuais em que não tenham sido estabelecidos prazos para os laboratórios prestarem a informação relativa aos dados analíticos e aos

Recomendações de 2005 a 2007 55

incumprimentos, as entidades gestoras dêem a conhecer aos laboratórios contratados os prazos aqui indicados para que, o mais rapidamente possível, possam ser adoptados.

3.4. Recomenda-se às entidades gestoras que, quando dos próximos concursos de selecção dos laboratórios, integrem nos termos de referência os prazos constantes da tabela, aconselhando-se que seja prevista uma penalização para a violação de tais prazos.

4. Sobre o controlo operacional

É importante a implementação de um programa de controlo operacional, o qual, para além de constituir uma ferramenta essencial na gestão do sistema de distribuição de água, pode contribuir de forma decisiva para a prevenção da ocorrência de incumprimentos e para a sua interpretação.

30 de Setembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

O texto desta recomendação foi elaborado pelo Departamento de Qualidade da

Água do IRAR, com a participação de Cecília Alexandre e Luís Simas.

56 IRAR

Recomendação IRAR n.º 07/2005

CONTROLO DOS BROMATOS NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Considerando que:

ß A Directiva 98/83/CE do Conselho, de 3 de Novembro,

relativa à qualidade da água para consumo humano, inclui

pela primeira vez a determinação do bromato no controlo

de inspecção. Devido à toxicidade dos bromatos, o referido

diploma estabelece o valor paramétrico de 10 µg/l na água

para consumo humano, de forma a assegurar a protecção da

saúde humana.

ß O bromato é um anião inorgânico, estável e solúvel na água,

sem cor nem sabor, apresentando volatilidade muito reduzida,

que não ocorre naturalmente nas origens de água, resultando

da oxidação dos brometos nelas presentes.

ß De um modo geral, as águas subterrâneas são mais ricas em

brometos, podendo apresentar teores da ordem de 5 a 6 mg/l,

nos lençóis freáticos infl uenciados pelas águas costeiras e nas

de origem mais profunda.

Recomendações de 2005 a 2007 57

ß Nas águas de superfície, a ocorrência de teores elevados de brometos pode estar associada à poluição de origem industrial (por exemplo, fabricação de cloro e de soda cáustica).

ß Os brometos não são tóxicos, sendo necessário, no entanto, tomar todas as precauções para evitar que sejam oxidados a bromatos.

ß Em certas condições, a formação dos bromatos deve-se à reacção de brometos com o carbonato de sódio ou ao resultado da desinfecção por ozono, sendo a quantidade de bromatos formada função de vários factores, nomeadamente da concentração em brometos, do pH, da temperatura, da alcalinidade, da presença de amónia e do carbono orgânico dissolvido na água.

ß Na etapa da desinfecção, o aumento da dose de ozono ou do tempo de contacto também potencia a formação de bromatos.

ß A presença de bromatos na água pode também decorrer das impurezas (brometos) eventualmente presentes nos reagentes utilizados, nomeadamente na preparação da solução de hipo-clorito de sódio (especialmente, quando a referida solução é preparada com antecedência).

ß A remoção de brometos da água bruta é extremamente difícil, acontecendo o mesmo com os bromatos, uma vez formados. Como tal, devem ser envidados todos os esforços no sentido de minimizar a respectiva ocorrência, nomeadamente através da correcta selecção da origem de água bruta e dos reagentes utili-zados, assim como na optimização das várias etapas de tratamento.

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da

58 IRAR

concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde humana e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa ao controlo dos bromatos na água para consumo humano, dirigida às entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e municipais de abas-tecimento público de água, independentemente do modelo de organização adoptado:

1. Sobre a minimização da formação de bromatos

1.1. A minimização da quantidade de bromatos na água pode ser conseguida através da:

ß selecção de uma nova origem de água;

ß remoção de matéria orgânica e minimização da quantidade de oxidante utilizada;

ß optimização do processo de desinfecção;

ß diminuição do pH e da adição da amónia.

1.2. Selecção de uma nova origem de água

Quando possível, a selecção de uma origem de água, em alternativa à existente, com menor teor em brometos, pode reduzir substancialmente a formação de bromatos.

Recomendações de 2005 a 2007 59

1.3. Remoção de matéria orgânica e minimização da quantidade de oxidante utilizada

A quantidade de matéria orgânica presente numa água deter-mina a quantidade de oxidante necessária, pelo que se deve procurar minimizá-la, utilizando os seguintes meios:

ß Optimização das operações de coagulação e fi ltração com o objectivo de remover previamente o máximo de matéria orgânica existente na água, através dos processos de trata-mento convencionais.

Esta via tem a vantagem de necessitar de um investimento menor e ser de maior fi abilidade. No entanto, requer um controlo operacional mais apertado na adição de reagentes e tem o inconveniente de produzir uma maior quantidade de lamas.

ß Remoção de matéria orgânica através dum fi ltro de carvão activado granular (CAG).

Os benefícios estão comprovados, mas as limitações são várias, dependendo a efi ciência deste processo do tipo de matéria orgânica presente na água, da respectiva concen-tração, do tipo de CAG utilizado e do caudal de água a tratar. Este procedimento requer uma manutenção muito mais cuidada do que o processo anterior.

A remoção de matéria orgânica pode ainda ser conseguida através de outros processos de tratamento menos usuais, nomeadamente:

ß Optimização dos processos de eliminação da matéria orgâ-nica coagulada (coagulação, microfi ltração ou ultrafi ltração) com recurso a membranas de fi ltração.

Tendo em conta que se trata de um processo fi ável, a vantagem desta opção está relacionada com o seu baixo custo de investimento, residindo a sua limitação na necessi-dade de operadores mais qualifi cados e custos de operação e manutenção mais elevados.

ß Remoção física da matéria orgânica (sem coagulação prévia) através da nanofi ltração.

60 IRAR

Tem como vantagem exigir menor atenção por parte do operador em comparação com o processo anterior, e apresentar um bom rendimento de remoção; e tem como limitações a colmatação frequente das membranas, cuidados maiores ao nível da exploração e elevados custos de operação e manutenção em comparação com a microfi ltração.

ß Remoção da matéria orgânica em simultâneo com a dureza carbonatada, por adição de cal hidratada em quantidade sufi ciente, para elevar o pH até 10.

Esta solução requer cuidados na adição de reagentes e no reajuste fi nal do pH, para além do problema da rejeição das lamas produzidas, representando, nomeadamente, um baixo investimento de capital.

1.4. Optimização do processo de desinfecção

O desinfectante utilizado na operação de desinfecção e a localização do ponto de aplicação do agente desinfectante podem afectar consideravelmente a quantidade de bromatos formados. Com efeito, na desinfecção com:

ß Ozono

A alteração do ponto de aplicação do ozono para um local a jusante da etapa de remoção de matéria orgânica (por exemplo: após a coagulação) pode contribuir para a diminuição da quantidade de ozono necessária.

O fraccionamento da quantidade de ozono utilizada, recor-rendo a múltiplos pontos de aplicação, poderá reduzir as relações ozono/COD e ozono/brometos e, consequente-mente, a formação de bromatos e compostos organobro-mados.

ß Solução de hipoclorito de sódio

A solução concentrada de hipoclorito de sódio, quando utilizada como agente de desinfecção, pode contribuir para a introdução de bromatos na água (como impureza do hipoclorito).

Recomendações de 2005 a 2007 61

Todo o brometo presente nos reagentes utilizados para a produção do hipoclorito de sódio (cloro e hidróxido de sódio) é rapidamente convertido em bromato, dado o elevado valor de pH da solução de hipoclorito de sódio. Assim, é necessário, no momento da aquisição, exigir dos respectivos fornecedores a garantia de que os reagentes utilizados na preparação do hipoclorito não contenham brometos em concentrações que possam contribuir para ultrapassar o valor paramétrico dos bromatos na água para consumo humano.

ß Cloro gasoso

A desinfecção com cloro gasoso não apresenta o inconve-niente da formação de bromatos na água.

ß Dióxido de cloro

Nas águas tratadas com dióxido de cloro podem ocorrer bromatos como resultado da oxidação dos brometos por acção da luz solar, para uma larga gama de valores de pH.

ß Outros processos alternativos de desinfecção

Quando as modifi cações processuais referidas não permitem remover, de modo signifi cativo, o teor de bromatos da água, pode optar-se por alterar a desinfecção por ozono por um processo alternativo, tal como o da utilização de cloro livre ou de dióxido de cloro. Contudo, a formação de trihalometanos associada a estes últimos processos é um inconveniente a ter em devida consideração.

A desinfecção com o dióxido de cloro produz menos subprodutos de desinfecção do que com o cloro. Ao contrário do ozono, o dióxido de cloro não transforma o ião brometo em ião bromato desde que se evite a ocor-rência de fotólise (pode-se formar algum bromato sob infl uência da luz solar). O dióxido de cloro contrariamente ao cloro, na presença de matéria orgânica, não dá origem à formação de quantidades relevantes de trihalometanos ou ácidos haloacéticos.

62 IRAR

A desinfecção com raios ultravioletas evita a formação de bromatos; no entanto, como não assegura um desinfec-tante residual na rede, este deve ser assegurado através da presença de cloraminas ou de cloro livre na água distribuída.

1.5. Diminuição do pH e da adição da amónia

ß Diminuição do pH

A diminuição do pH de 8,2 para 7,5 ou 6,5, por adição de ácido, reduz a formação de bromatos em 30% e 80%, respectivamente.

Esta operação, quando efectuada antes da ozonização, pode ter vantagens económicas em águas com elevado pH e baixa alcalinidade, embora, simultaneamente, potencie a formação de compostos organobromados.

ß Adição de amónia

O efeito da amónia para o controlo da formação de bromatos, durante a ozonização, é menor para valores mais baixos de pH, reduzindo-se a formação de bromatos de 60% e 85% a pH 7,5 e 8,5, respectivamente.

Por outro lado, um menor tempo de contacto na ozoni-zação simultaneamente com a adição de amónia diminui o potencial de formação dos bromatos e dos compostos organobromados.

De um modo geral, a adição de amónia em dose inferior a 0,5 mg/l de azoto proporciona uma maior efi ciência na minimi-zação da formação dos bromatos durante a ozonização, sem contudo alterar o potencial de oxidação/desinfecção do ozono.

No caso das águas com teores em amónia superiores à média, o controlo da formação de bromatos pode ser efectuado sem adição suplementar da mesma. Por outro lado, a adição de amónia em águas pré-ozonizadas pode contribuir para a minimização de alguns subprodutos da desinfecção (caso dos trihalometanos e dos ácidos haloá-ceticos) quando o cloro é utilizado somente para assegurar o desinfectante residual nos sistemas de distribuição.

Recomendações de 2005 a 2007 63

2. Sobre a remoção de bromatos

A remoção de bromatos deve constituir sempre uma opção de último recurso, a utilizar somente quando as medidas preventivas e de minimização anteriormente enunciadas se revelem inefi cazes ou insufi cientes.

A osmose inversa constitui actualmente o único processo efi caz para a remoção de bromatos mas, para além do seu elevado custo, tem o inconveniente de remover todos os restantes sais presentes na água.

3. Sobre a bibliografi a mais relevante

O IRAR recomenda a seguinte bibliografi a para um maior aprofundamento deste assunto:

ß American Water Works Association – Water Quality & Treatment, Handbook of Community Water Supplies. 5ª Edição. Mc GrawHill, 1999.

ß Drinking Water Inspectorate: www.dwi.gov.uk.

ß World Health Organisation: www.who.int/water_sanita-tion_health.

30 de Setembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

O texto desta recomendação foi elaborado pelo Departamento de Qualidade da Água do IRAR, com a participação de Raquel Mendes, Regina Casimiro e Vera Bruto da Costa.

64 IRAR

Recomendação IRAR n.º 08/2005

PROCEDIMENTO DE AMOSTRAGEM DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO EM SISTEMAS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO

Considerando que:

ß Existem diferentes modos de proceder na colheita de amostras de água de abastecimento público, quer por parte das entidades gestoras, quer por parte dos laboratórios e das autoridades de saúde, torna-se importante uniformizar o procedimento de colheita de amostras a nível nacional, de modo a que os resul-tados das análises efectuadas sejam comparáveis.

ß O IRAR, enquanto autoridade competente em matéria da quali-dade da água destinada ao consumo humano, deve garantir que as entidades responsáveis pela colheita de amostras de água, no âmbito dos programas de controlo da qualidade da água, utilizem o mesmo processo de amostragem, tendo constituído para tal, um grupo de trabalho representativo das entidades envolvidas neste sector.

ß Existem algumas orientações acerca do procedimento de amos-tragem para os parâmetros chumbo, níquel e cobre, desenvolvidas por um grupo de trabalho do Comité de Acompanhamento da Directiva 98/83/CE do Conselho, de 3 de Novembro.

Recomendações de 2005 a 2007 65

ß O procedimento de amostragem é um elemento importante do programa de controlo da qualidade da água para consumo humano, porque o resultado da análise laboratorial não corres-ponderá ao valor real, mesmo que utilizado um método analítico rigoroso, se a amostra não for representativa da água a controlar.

ß O controlo analítico da água se inicia com a colheita da amostra, devendo esta ser efectuada de modo correcto, isto é, ser recolhida no recipiente certo e nas condições de conservação e transporte apropriadas até à análise no laboratório.

ß Sendo necessário uniformizar o procedimento de amostragem a nível nacional, o IRAR recomenda que todas as entidades responsáveis pelos serviços de colheita de amostras de água para consumo humano, no âmbito do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, implementem o procedimento descrito nesta recomendação, a partir de Janeiro de 2006.

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade compe-tente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a quali-dade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salva-guardar a protecção da saúde pública e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em

66 IRAR

conformidade com códigos de prática previamente estabele-cidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa ao procedimento de colheita de amostras de água para consumo humano, por forma a salvaguardar a qualidade da água, dirigida às entidades, quer laboratórios quer entidades gestoras, responsáveis pela realização da colheita de amostras de água para consumo no âmbito do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro:

1. Sobre o procedimento de amostragem

O procedimento de amostragem deve refl ectir, tanto quanto possível, a qualidade da água que é efectivamente infl uenciada pela rede de distribuição e pela rede predial até à torneira do consumidor.

De seguida, apresentam-se os aspectos mais relevantes a ter em conta no processo de colheita das amostras de água, não dispen-sando a consulta das normas de ensaio e de outra bibliografi a indicada nesta recomendação. No que diz respeito à colheita das amostras para a análise dos parâmetros microbiológicos, reco-menda-se a leitura da norma ISO/DIS 19458.

Para cumprimento dos programas de controlo da qualidade da água destinada ao consumo humano, no âmbito do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, recomenda-se aos responsáveis pela colheita das amostras (entidades gestoras ou laboratórios) a implementação do seguinte procedimento para a colheita de amostras de água na torneira do consumidor:

Preparação do processo de amostragem:

1. Seleccionar o ponto de amostragem de acordo com o programa de controlo da qualidade da água aprovado pelo IRAR. Recorda-se que o ponto de amostragem deve ser numa torneira normalmente utilizada para o consumo humano.

Recomendações de 2005 a 2007 67

2. Verifi car se os frascos de colheita são os adequados aos parâmetros a analisar. Verifi car o tipo de etiquetas a utilizar na identifi cação dos frascos.

3. Elaborar uma folha de registo da amostragem onde, no mínimo, conste a seguinte informação:

ß identifi cação da entidade gestora;

ß descrição do ponto de amostragem;

ß data e hora da colheita;

ß data e hora de entrega das amostras no laboratório;

ß registo dos resultados dos parâmetros determinados no local, nomeadamente do cloro residual disponível, que deve ter lugar no momento da colheita da amostra;

ß indicação dos parâmetros ou grupo de parâmetros a analisar;

ß identifi cação do técnico responsável pela colheita da amostra;

ß outros aspectos, tais como a conservação da amostra, as condições ambientais, os acessórios adaptados à torneira e não retirados ou o estado de higiene no local.

Colheita da amostra:

1. Em primeiro lugar, avaliar visualmente o estado da torneira escolhida como ponto de amostragem. A torneira deve estar em condições normais de conservação e higiene, não levantando dúvidas sobre a sua utilização.

Preferencialmente, deve-se escolher uma torneira de água fria.

Retirar (se possível) os acessórios externos e adaptados à torneira (mangueiras, fi ltros ou outras aplicações).

2. Sem escoamento prévio, abrir a torneira e recolher o primeiro litro de água. Fechar a torneira. Esta amostra, obrigatoriamente de 1 litro, deve ser para a análise do chumbo, níquel e cobre. Opcionalmente, esta amostra pode também ser utilizada para a análise dos restantes metais.

68 IRAR

Na colheita de amostras onde não se pretendem analisar os metais chumbo, níquel e cobre, esta fase não é necessária, procedendo de imediato à fase seguinte.

3. De seguida, desinfectar a torneira, preferencialmente por fl amejamento ou, se não for possível, por outro método adequado (hipoclorito ou álcool etílico).

No caso de torneiras com boca/terminação em plástico, limpar a boca da torneira com algodão embebido em álcool e, de seguida, mergulhar a boca da torneira em álcool durante 2 a 3 minutos.

4. Abrir a torneira, deixar escoar durante 5 a 10 segundos com fl uxo máximo, reduzir o fl uxo e deixar correr a água o tempo sufi ciente para eliminar a infl uência do desinfectante e da temperatura do fl amejamento.

5. Sem fechar a torneira, recolher, em primeiro lugar, a amostra em frasco estéril para a análise dos parâmetros microbiológicos, garantindo condições de assepsia.

Para evitar contaminações, garantir que as mãos estão limpas ou são usadas luvas estéreis e que o frasco estéril só está aberto pelo período de tempo estritamente necessário para a recolha da amostra.

6. De seguida, recolher as amostras para a análise dos restantes parâmetros, de acordo com as instruções dadas pelo laboratório responsável pelo controlo analítico.

7. Se necessário, proceder à conservação das amostras de água, conforme as indicações dadas nas normas de ensaio.

8. Todos os frascos de colheita devem ser devidamente iden-tifi cados, de modo a que sejam facilmente rastreáveis à folha de registo da amostragem.

9. Por último, recolher a amostra para a determinação imediata, no local, do teor em desinfectante residual, o qual, de um modo geral, é o cloro residual.

Registar o valor na folha de registo da amostragem, devendo ser este o valor a considerar nos dados da qualidade da água.

Recomendações de 2005 a 2007 69

10. Colocar os frascos das amostras em malas térmicas devi-damente limpas e com acumuladores de frio, de modo a garantir a correcta refrigeração das amostras, até à entrega no laboratório. A quantidade de acumuladores de frio dependerá da duração do percurso até ao labo-ratório e da temperatura ambiente.

2. Sobre algumas orientações de suporte ao procedi-mento

2.1. O laboratório responsável pelo controlo analítico dos diferentes parâmetros deve fornecer à entidade responsável pela colheita das amostras de água (laboratório ou entidade gestora) uma instrução de trabalho escrita, sobre:

ß Descrição do tipo de frascos a utilizar (material e capacidade do frasco) na recolha das amostras, por cada parâmetro ou grupo de parâmetros a analisar. O volume de amostra a recolher deve ser o adequado às análises a realizar para todos os parâmetros requeridos.

ß Identifi cação do processo de lavagem a efectuar a cada tipo de frascos a utilizar, em função do parâmetro a analisar, devendo esse tratamento ser efectuado por um laboratório. Preferencialmente, os frascos a utilizar devem ser fornecidos pelo laboratório responsável pelo controlo analítico.

ß Conservação a efectuar no local de colheita por cada parâ-metro ou grupos de parâmetros a analisar. Os reagentes de conservação não devem interferir com a análise a ser efectuada e devem ser adicionados, preferencialmente, no momento da colheita para que a amostra seja preservada desde o primeiro momento.

É de referir que, na análise de alguns parâmetros, não é sufi -ciente apenas a refrigeração, sendo indispensável a adição dum agente de conservação. É, por exemplo, o caso da conservação das amostras destinadas à análise de metais, as quais devem ser acidifi cadas a pH inferior a 2 e à análise de parâmetros microbiológicos, devendo estas conter tios-

70 IRAR

sulfato de sódio para neutralizar o desinfectante residual da amostra. Realça-se que as normas de ensaio utilizadas pelos laboratórios contêm este tipo de informação.

ß Cuidados a ter no procedimento de amostragem, de modo a evitar a contaminação da amostra.

ß Condições para o transporte da amostra, em função dos parâmetros a analisar.

ß Prazo máximo para a entrega das amostras no laboratório: as amostras destinadas à análise de parâmetros microbio-lógicos devem ser entregues no laboratório o mais rapida-mente possível, porque devem ser processadas num prazo até 8 horas após a sua recolha, podendo, no entanto, aceitar-se que amostras de água tratada com desinfecção sejam processadas até 24 horas, desde que refrigeradas a (5 ± 3) ºC.

2.2. Deve estabelecer-se um procedimento para a verifi cação da temperatura de refrigeração durante o transporte, sendo o ideal de (5 ± 3) ºC. Resumidamente, a verifi cação poderá ser feita colocando um frasco com água na mala térmica e medir a sua temperatura à chegada ao laboratório. Esta medição deve fazer-se para cada tipo de mala, dependendo da capacidade da mala e do número de acumuladores de frio nela introduzidos.

2.3. De acordo com as normas de ensaio, o parâmetro desinfec-tante residual deve ser medido no local, imediatamente após a recolha da amostra.

Assim, independentemente de quem faça a medição, os resul-tados obtidos no local para o desinfectante residual são os correctos, pelo que deverão ser os considerados na avaliação da qualidade da água, quer no edital trimestral, quer na aplicação informática “Introdução dos Dados da Qualidade da Água” do IRAR.

De modo a garantir a fi abilidade dos resultados obtidos, a entidade que efectua a medição do cloro deve garantir o correcto funcionamento do aparelho de medição, devendo

Recomendações de 2005 a 2007 71

estabelecer um procedimento para a verifi cação periódica dos resultados obtidos no aparelho. Esta verifi cação pode ser baseada, quer na comparação simultânea dos resultados com outros métodos de ensaio, quer com a utilização de padrões de concentração conhecida.

2.4. Deve ser garantida a formação dos técnicos que realizam o procedimento de amostragem.

3. Sobre a aplicação do procedimento às entidades gestoras em “alta”

Para cumprimento dos programas de controlo da qualidade da água destinada ao consumo humano, no âmbito da Portaria n.º 1216/2003, de 16 de Outubro, recomenda-se aos respon-sáveis pela colheita das amostras, quer sejam as entidades gestoras em “alta” ou os laboratórios, a implementação do procedimento acima descrito, adaptado às especifi cidades dos locais físicos respeitantes aos pontos de entrega às entidades gestoras em “baixa”.

4. Sobre o grupo de trabalho

Para refl exão sobre o tema, o IRAR promoveu a constituição de um grupo de trabalho que incluísse representantes da autoridade competente, do laboratório de referência no sector da saúde, das entidades gestoras e dos laboratórios, pelo que, na elaboração do procedimento proposto, participaram os seguintes elementos:

ß Eng.ª Cristina Paiva e Eng.ª Maria João Benoliel, da Asso-ciação Portuguesa dos Distribuidores de Água (APDA);

ß Dra. Helena Rebelo, Dra. Leonor Falcão e Eng.ª Raquel Rodri-gues, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – Lisboa;

ß Eng.ª Ana Maria Duarte, da Associação de Laboratórios Acreditados de Portugal (RELACRE);

ß Dra. Rita Miguel, do Instituto Português de Acreditação (IPAC);

ß Eng.ª Cecília Alexandre, do Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR).

72 IRAR

5. Sobre a bibliografi a mais relevante

Como informação complementar, o IRAR recomenda a consulta dos seguintes documentos:

ß Norma ISO/DIS 19458 – Water quality – Sampling for microbiological analysis.

ß Norma ISO 5667-3:2003 – Water quality – Sampling – Part 3: Guidance on the preservation and handling of water samples.

ß Norma ISO 5667-5:1991 – Water quality – Sampling – Part 5: Guidance on sampling of drinking water and water used for food and beverage processing.

ß Norma NP EN 25667-1:1997 – Qualidade da água – Amos-tragem – Parte 1: Guia geral para o planeamento de programas de amostragem.

ß Recomendação IRAR n.º 02/2005 – Controlo do chumbo na água para consumo humano, de Setembro de 2005.

ß Environment Agency – The Microbiology of Drinking Water (2002) – Part 2 – Practices and procedures for sampling –.

30 de Dezembro de 2005

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Esta recomendação foi elaborada pelo Departamento de Qualidade da Água do IRAR,

com a participação de Cecília Alexandre, tendo por base o procedimento de colheita

de amostras de água para consumo humano proposto pelo grupo de trabalho.

Recomendações de 2005 a 2007 73

ANO 2006

Recomendações de 2005 a 2007 75

Recomendação IRAR n.º 01/2006

SELECÇÃO DE SERVIÇOS DE PROJECTODE ENGENHARIA NO SECTOR DE ÁGUAS E RESÍDUOS

Considerando que:

ß O sector de abastecimento público de água, de saneamento de

águas residuais urbanas e de gestão de resíduos sólidos urbanos

em Portugal, doravante designado por sector de águas e resíduos,

se encontra numa fase de grande crescimento, com elevado

investimento infra-estrutural, tendo em vista o atendimento dos

cidadãos de acordo com as metas defi nidas.

ß A qualidade desse investimento, realizado e a realizar, irá

infl uenciar, ao longo das próximas décadas, a qualidade de

serviço prestado ao utilizador fi nal, e terá repercussões óbvias

na vida útil efectiva das infra-estruturas e no custo desse mesmo

serviço.

ß A concepção das soluções técnicas para os sistemas municipais

e multimunicipais de águas e resíduos exige um elevado grau

de competências e criatividade, condicionando decisivamente as

fases subsequentes da gestão e exploração destes sistemas.

Recomendações de 2005 a 2007 77

ß A contratação dos serviços de projecto de engenharia deve ser consentânea com os objectivos da qualidade do serviço a prestar pelas entidades gestoras.

ß O desenvolvimento do sector deve consistir numa oportunidade de reforçar o tecido empresarial, gerando emprego e desenvol-vimento económico, num ambiente de saudável concorrência.

Considerando ainda que:

ß As entidades gestoras de serviços de abastecimento público de água e de serviços conjuntos de abastecimento público de água e de saneamento de águas residuais urbanas, independentemente do modelo de organização adoptado, se regem, sem prejuízo da aplicação subsidiária do regime geral, pelo regime especial de contratação pública vertido no Decreto-Lei n.º 223/2001, de 9 de Agosto, doravante designado por diploma sectorial, com as alterações operadas pelo Decreto-Lei n.º 234/2004, de 15 de Dezembro, aplicável aos contratos de prestação de serviço em questão cujo valor estimado seja igual ou superior a 400 000 DSE* (€ 437 890).

ß No caso de os serviços de saneamento de águas residuais urbanas e/ou de gestão de resíduos sólidos urbanos serem geridos pelo Estado, pelos municípios, ainda que sob a forma de serviços muni-cipalizados, ou por associações de municípios, se deve respeitar, designadamente no que respeita à contratação da prestação de serviços, o disposto no Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho.

ß Às entidades gestoras empresariais de saneamento de águas residuais urbanas e/ou de gestão de resíduos sólidos urbanos que prossigam exclusivamente estes objectos, bem como às entidades gestoras de abastecimento de água e simultaneamente de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais urbanas cujos contratos se situem abaixo de 400 000 DSE, se não aplica o disposto no Decreto-Lei n.º 197/99 e/ou no Decreto-Lei n.º 223/2001, razão pela qual não estão vinculadas aos procedimentos de contratação pública ali estabelecidos no que respeita à aquisição de serviços.

78 IRAR

ß É, no entanto, orientação dominante das instituições comunitá-rias que, apesar de o direito comunitário não prever um regime específi co para estas situações, qualquer acto, seja contratual ou unilateral, pelo qual uma entidade pública confi a a prestação de uma actividade económica a um terceiro, deve ser examinado à luz das regras e dos princípios do Tratado, nomeadamente em matéria de liberdade de estabelecimento e de livre prestação de serviços (artigos 43.º e 49.º do Tratado CE), entre os quais se incluem os princípios da transparência, da igualdade de tratamento, da proporcionalidade e do reconhecimento mútuo, sem prejuízo do regime aplicável aos casos abrangidos pelas directivas relativas à coordenação dos processos de adjudicação de contratos públicos.

ß Estes princípios se aplicam também, no que respeita à escolha dos co-contratantes, às entidades que prosseguem serviços econó-micos de interesse geral, no âmbito das disposições do Tratado relativas à não discriminação em função da nacionalidade, às liberdades fundamentais e à concorrência.

ß As entidades gestoras abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 223/2001, de 9 de Agosto, devem optar, regra geral, pelo processo normal por negociação com publicação prévia de anúncio, pelo concurso limitado por prévia qualifi cação ou pelo concurso público, no que respeita ao procedimento tendente à celebração de contratos de prestação de serviço.

ß As entidades gestoras abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, devem recorrer aos procedimentos anteriores ou ainda ao ajuste directo, ao procedimento com consulta prévia, ao processo por negociação sem publicação prévia de anúncio ou ao concurso limitado sem apresentação de candidaturas, consoante os valores estimados dos contratos a celebrar.

ß O diploma sectorial admite que as entidades gestoras adjudicantes possam instituir sistemas de qualifi cação, no âmbito dos quais se criam, designadamente, bolsas de prestadores de serviços, especialmente qualifi cados e capacitados.

ß Quando a entidade adjudicante tenha optado pelo sistema de qualifi cação, a selecção dos adjudicatários, para a celebração de

Recomendações de 2005 a 2007 79

um contrato de prestação de serviço em concreto se fará de entre o universo de entidades incluídas na bolsa, segundo as regras do concurso limitado por prévia qualifi cação ou do processo normal por negociação com publicação prévia de anúncio, com as necessárias adaptações.

ß No que respeita ao concurso limitado por prévia qualifi cação e ao procedimento por negociação com publicação prévia de anúncio, dispõem, respectivamente, os artigos 121.º e seguintes e os artigos 141.º e seguintes, ambos do Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, relativos à fase de entrega e apreciação de propostas e escolha do adjudicatário.

ß O convite deve ser formulado simultaneamente a candidatos inte-grados no sistema de qualifi cação que tenham sido seleccionados no âmbito daqueles procedimentos, devendo ser assegurada uma distribuição equilibrada entre as diversas categorias e classes no que respeita aos convites a formular nos sucessivos concursos.

ß No que respeita ao concurso limitado, o júri é obrigado a dar a conhecer o preço total de cada proposta e os respectivos aspectos essenciais no acto público em que se procede à abertura dos invó-lucros que contém as propostas, nos termos do artigo 104.º, n.º 5.

ß Neste acto público, o exame das propostas é meramente formal, não sendo apreciado o respectivo mérito, o qual será efectuado numa fase subsequente. Nos concursos limitados por prévia qualifi cação e nos concursos por negociação, agora na fase subsequente de apreciação das propostas e escolha do adjudi-catário, o método aplicável se baseia num sistema integrado de apreciação dos factores, pelo que a ordenação e classifi cação das propostas se não pode efectuar com base na apreciação de um, e apenas um (v.g. o mérito técnico), dos vários factores co-envolvidos (artigos 125.º, 144.º e 55.º do Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho).

ß Só o regime dos trabalhos de concepção pressupõe que a apre-ciação dos projectos seja liminarmente efectuada com base no mérito técnico daqueles, nos termos consagrados nos artigos 37.º e seguintes do diploma sectorial e nos artigos 164.º e seguintes

80 IRAR

do Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, cabendo ponderar, em face das especiais características de um projecto, se se deve, antes, recorrer a este regime.

ß O Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos, republi-cado pela Lei n.º 50/2004, de 24 de Agosto, estipula que, em regra, a titularidade do direito de autor relativo a obra feita por encomenda ou por conta de outrem, em cumprimento de dever funcional ou de contrato de trabalho, se defi ne de acordo com a vontade dos contratantes, presumindo-se, na falta de convenção, que a titularidade do direito de autor relativo a obra feita por conta de outrem pertence ao seu criador intelectual.

Considerando fi nalmente que:

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem ao IRAR as atribui-ções de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multimunicipais e municipais de águas e resíduos, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como a regulação dos respectivos sectores e o equilíbrio entre a sustentabilidade económica dos sistemas e a qualidade dos serviços prestados, de modo a salvaguardar os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa à selecção de serviços de projecto de engenharia, por forma a salvaguardar a quali-dade no sector, dirigida às entidades gestoras dos sistemas

Recomendações de 2005 a 2007 81

multimunicipais e municipais de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos sólidos urbanos, independentemente do modelo de organização adoptado:

1. Sobre o enquadramento jurídico do processo de contra-tação de serviços

1.1 As entidades gestoras não incluídas no âmbito de aplicação do Decreto-Lei n.º 223/2001, de 9 de Agosto, e do Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, ou seja, as entidades que revistam forma empresarial e explorem exclusivamente serviços de resí-duos sólidos urbanos ou de saneamento de águas residuais urbanas, devem preferencialmente adoptar, por razões de transparência e de equidade, os procedimentos estabelecidos num ou noutro daqueles diplomas para efeitos de celebração dos contratos de prestação de serviço de projecto de enge-nharia. O disposto anteriormente deve preferencialmente aplicar-se ainda às entidades abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 223/2001, ou seja, às entidades gestoras do serviços de abastecimento de água ou de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais, no caso de o valor estimado dos contratos de prestação de serviço em questão ser inferior aos limiares estabelecidos naquele diploma.

1.2. Exceptuam-se situações relativas a projectos de engenharia cuja pequena dimensão e/ou reduzida complexidade não justifi que a adopção dos procedimentos constantes desta recomendação.

2. Sobre o início do procedimento para contratação de serviços

2.1. O procedimento adoptado para a contratação dos serviços em questão deve iniciar-se com a publicação do anúncio ou o envio do convite, nos termos da legislação aplicável.

2.2. Este procedimento envolve a apresentação dos seguintes docu-mentos: o programa de concurso e o caderno de encargos, cuja elaboração é da responsabilidade da entidade gestora promotora.

82 IRAR

2.3. O programa de concurso deve defi nir as condições a que obedece o processo de selecção e o correspondente calen-dário, contendo, nomeadamente, os critérios e subcritérios de apreciação das propostas apresentadas, sem prejuízo das restantes exigências legais.

2.4. O caderno de encargos deve integrar o conjunto de informa-ções indispensáveis ao correcto entendimento dos objectivos da entidade gestora promotora e à defi nição e caracterização dos serviços pretendidos, quanto ao seu âmbito, metodologia adequada e calendário a respeitar, sem prejuízo das restantes exigências legais. Os prazos constantes do calendário devem ser defi nidos atendendo a critérios de razoabilidade. No que diz respeito aos levantamentos topográfi cos e prospecções geotécnicas, o caderno de encargos deve fornecer os mapas de quantidades relativos aos serviços a realizar.

3. Sobre a apreciação e a selecção dos concorrentes/candi-datos

3.1. A apreciação e a selecção dos concorrentes/candidatos, sem prejuízo das restantes exigências legais, deve ser feita com base na experiência precedente da equipa técnica apresentada na proposta, computada pelos serviços similares aos pretendidos, em natureza e dimensão, em curso ou realizados nos dez anos anteriores à data da proposta, preferencialmente comprovada por declarações de qualidade e de cumprimento de prazos emitidas pelas entidades promotoras, bem como apólices de seguros que eventualmente disponha ou se comprometa a obter.

3.2. Os concorrentes/candidatos devem ser objecto de um trata-mento rigorosamente equivalente que assegure os princípios de igualdade de tratamento, de transparência e de não descriminação.

4. Sobre o processo de avaliação de propostas

4.1. Os critérios de avaliação das propostas apresentadas pelas entidades proponentes seleccionadas devem incluir a valia

Recomendações de 2005 a 2007 83

técnica da proposta (critério C1), com uma ponderação de 60%, e o preço (critério C2), com uma ponderação de 40%. O prazo deve ser preferencialmente fi xado pela entidade gestora promotora, não constituindo assim um factor de avaliação das propostas, devendo atender-se, na sua fi xação, a critérios de razoabilidade, atento o objecto do serviço de projecto de engenharia em questão e a qualidade desejável.

4.2. O critério C1, compreendendo a avaliação da valia técnica da proposta, deve ser pontuado tendo por base os seguintes subcritérios:

ß Subcritério SC1.1: Programa de desenvolvimento dos serviços a prestar, metodologia a utilizar, especifi cação dos pontos críticos condicionantes e cronograma de actividades (Ponderação de 50%).

A avaliação da metodologia a utilizar deve ter nomeadamente em conta aspectos como prospecções geotécnicas, levanta-mentos topográfi cos, recolha de outra informação no local e ainda aspectos de fi abilidade e segurança. Deve ainda ser avaliado o impacte das várias propostas no período de exploração da infra-estrutura projectada, quer ao nível do custo de investimento quer ao nível de custos de operação e manutenção.

ß Subcritério SC1.2: Constituição nominativa da equipa técnica, tempo de afectação previsto por elemento, vínculo ao proponente e respectivos currículos (Ponderação de 50%).

Cada um destes subcritérios deve ser pontuado de 0 a 10, de acordo com a seguinte escala:

Muito bom 10

Bom 8

Satisfatório 6

Sofrível 4

Fraco 2

Muito fraco 0

84 IRAR

Esta pontuação deve traduzir a efectiva valia de cada uma das propostas, evidenciando fundamentadamente as respectivas diferenças e assegurando a dispersão adequada de classifi cações. Poderão ser atribuídas classifi cações intermédias, com números inteiros, entre cada uma das classifi cações atrás referidas.

A ponderação das várias componentes que constituem os subcritérios SC1.1 e SC1.2 fi cará a cargo do dono de obra.

A pontuação do critério C1 resulta da soma da pontuação de cada subcritério afectada da respectiva ponderação, como seguidamente se refere:

C1 = SC1.1 x 0,50 + SC1.2 x 0,50

Caso o valor de C1 resulte igual ou inferior a 4, a ponde-ração deste critério para a classifi cação fi nal deve ser nula, na medida em que signifi ca um valor técnico da proposta sofrível ou inferior.

4.3. O critério C2, compreendendo o preço constante da proposta, deve ser pontuado numa escala de zero a dez, tendo por base a seguinte metodologia, representada na fi gura:

ß Para as propostas com valor inferior ou igual ao valor médio, aplica-se uma classifi cação que resulta do cálculo

C2 = 10 - VP/VM.

ß Para as propostas que se situem acima do valor médio, aplica-se uma classifi cação que resulta do cálculo

C2 = 9 x (VM / VP)2.

Recomendações de 2005 a 2007 85

em que:

VP = Valor da proposta em apreciação

VM = Valor médio das propostas; quando o número de propostas em apreciação for superior a cinco, o valor da proposta com preço mais alto deve ser excluído do cálculo do valor médio.

ß As propostas cujo preço seja inferior a 0,75 do valor médio são consideradas como propostas de preço anor-malmente baixo, devendo nesse caso os concorrentes ser notifi cados, por escrito, pelo júri do concurso, para apre-sentarem esclarecimentos sobre os elementos constitutivos da sua proposta de preço nos termos e para os efeitos dos n.os 4 e 5 do artigo 55.º, do Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, podendo o dono de obra optar pela exclusão dos concorrentes cujos esclarecimentos se entendam não ser justifi cativos dos preços apresentados.

4.4. A classifi cação fi nal C, entre zero e dez, resulta da soma das pontuações ponderadas dos critérios de avaliação da valia técnica da proposta e do preço, sendo portanto defi nida da seguinte forma:

C = C1 x 0,60 + C2 x 0,40

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

9,00

10,00

VP

C2

C2 = 10 - VP / VM

C2 = 9 x (VM / VP) 2

VM0,75 x VM

86 IRAR

Como já foi referido, caso o valor de C1 resulte igual ou inferior a 4, indiciando uma valia técnica sofrível, fraca ou muito fraca, a ponderação deste critério para a classifi cação fi nal deve ser nula, pelo que a fórmula de cálculo, nesse caso, será a seguinte

C = C2 x 0,40

4.5. No caso de duas ou mais propostas atingirem a mesma clas-sifi cação fi nal C, deve ser seleccionada a proposta com preço mais baixo.

5. Sobre a adjudicação da proposta seleccionada

Sem prejuízo do estabelecido nos regimes legais aplicáveis no que respeita ao acto de adjudicação, e por forma a reforçar a transparência do processo, a entidade gestora promotora deve notifi car os restantes concorrentes da decisão de adjudicação acompanhada do envio do relatório de apreciação das propostas.

6. Sobre os direitos e deveres dos autores do projecto

6.1. São direitos dos autores do projecto:

ß Exigir que o projecto só possa ser utilizado para os fi ns que lhe deram origem, sem repetição nem transmissão a terceiros que daí possam tirar proveito para si ou para outrem, salvo disposições contratuais em contrário.

ß Autorizar qualquer alteração ao projecto, salvo quando se verifi que uma alteração superveniente dos pressupostos ou condições em que este se baseou.

ß Ter acesso à obra durante a sua execução, sempre que o julgue conveniente.

ß Declinar a responsabilidade pelo comportamento da obra executada se não lhe for facilitado o acesso à obra ou se a entidade gestora promotora não atender aos avisos de incumprimento de aspectos relevantes do projecto, sem prejuízo de outras circunstâncias previstas na lei.

6.2. São deveres dos autores do projecto:

ß Elaborar o projecto de acordo com a legislação aplicável e as condições contratuais.

Recomendações de 2005 a 2007 87

ß Encontrar a solução mais adequada à satisfação dos objec-tivos fi xados, atendendo aos aspectos de natureza econó-mica, à garantia da qualidade da construção e à salvaguarda dos aspectos funcionais, de segurança e ambientais.

ß Manter a equipa técnica indicada na proposta durante a realização de toda a intervenção prevista e, apenas em situações excepcionais, propor à entidade gestora promo-tora a alteração de um ou mais elementos dessa equipa, os quais devem ser substituídos por elementos equivalentes em termos de competências e currículo.

ß Assegurar uma estreita colaboração com os restantes elementos da equipa, tendo em vista a qualidade e a economia da obra projectada.

ß Prestar todos os esclarecimentos que lhes sejam pedidos pela entidade gestora promotora ou pelas entidades licencia-doras, com vista à adequada interpretação do projecto.

ß Alertar a entidade promotora, durante a execução da obra, para o incumprimento de aspectos relevantes do projecto e para as respectivas consequências.

ß Cumprir os prazos defi nidos no caderno de encargos pelo dono de obra, sem prejuízo de eventuais alterações, devi-damente fundamentadas e acordadas entre as partes.

ß Não utilizar o projecto para fi ns diferentes do que lhe deu origem, salvo quando exista disposição contratual ou autori-zação expressa da entidade gestora promotora que o permita.

ß Respeitar as normas deontológicas, designadamente as estabelecidas pela associação profi ssional a que pertença.

22 de Março 2006

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

88 IRAR

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Na sua elaboração participaram o Departamento de Estudos e Projectos, o Depar-

tamento de Análise Jurídica e o Departamento de Engenharia do IRAR.

Foram ouvidas as seguintes entidades: Autoridade da Concorrência (AC), Associação

Portuguesa de Consultores e Projectistas (APPC), Associação Nacional de Municípios

(ANMP), Associação Portuguesa de Recursos Hídricos (APRH), Associação Portuguesa

de Estudos de Saneamento Básico (APESB), Associação Portuguesa de Distribuição

e Drenagem de Água (APDA), Associação das Empresas Portuguesas para o Sector

do Ambiente (AEPSA), Águas de Portugal (AdP) e as empresas pertencentes ao

grupo de consultores e projectistas subscritores de documento endereçado ao IRAR

(Ambio, Aqualogus, Atkins, Coba, Consulgal, DHV, Engidro, Fase, GIBB, Hidrofunção,

Hidroprojecto, Noráqua, Procesl, Procivil, Prosistemas e Sisáqua).

Recomendações de 2005 a 2007 89

Recomendação IRAR n.º 02/2006

BOAS PRÁTICAS NA AQUISIÇÃO DE PRODUTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Considerando que:

ß O número 2 do artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, refere que “as substâncias e os produtos químicos utilizados ou destinados a ser utilizados no tratamento da água para consumo humano, bem como quaisquer impurezas que eventualmente possuam, não podem estar presentes na água distribuída em valores superiores ao especifi cado no anexo I, nem originar, directa ou indirectamente, riscos para a saúde humana”.

ß No âmbito do número 3 do citado artigo, o IRAR deve, enquanto autoridade competente em matéria da qualidade da água desti-nada ao consumo humano, promover “as acções necessárias para a certifi cação da qualidade dos materiais, substâncias ou produtos químicos utilizados no tratamento da água e nos sistemas de abastecimento, por organismos de certifi cação devidamente acreditados pelo Instituto Português da Qualidade ou por ele reco-nhecidos, garantindo a sua adequação para o fi m em vista, nome-adamente no que diz respeito à protecção da saúde humana”.

Recomendações de 2005 a 2007 91

ß De acordo com o número 4 do mesmo artigo, as substâncias ou produtos químicos podem ser aplicados ou introduzidos nos sistemas de abastecimento de água se, na data de aplicação ou utilização, estiverem conformes com as especifi cações de uma norma europeia harmonizada.

ß Os produtos devem cumprir com as especifi cações das normas europeias em vigor, devendo o fabricante evidenciar, junto das entidades gestoras, a conformidade com os requisitos das normas aplicáveis.

ß Com o objectivo de dar cumprimento ao estipulado no Decreto--Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, o IRAR realizou um levantamento a nível nacional, junto das entidades gestoras, fabricantes e fornecedores dos produtos utilizados no trata-mento da água para consumo humano, de forma a avaliar os procedimentos habituais aquando da aquisição destes produtos.

ß De modo a minimizar a ocorrência de incumprimentos da quali-dade da água na torneira do consumidor, a entidade gestora deve adoptar uma atitude preventiva, estabelecendo procedimentos de boas práticas aquando da selecção, aquisição, recepção e manuseamento dos produtos adquiridos.

ß A nível nacional existem diferentes procedimentos adoptados nesta matéria, que importa uniformizar.

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do número 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multi-

92 IRAR

municipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a qualidade da água para consumo humano nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, de modo a salvaguardar a protecção da saúde pública e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em conformidade com códigos de prática previamente estabele-cidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa a boas práticas na aqui-sição de produtos utilizados no tratamento da água para consumo humano, por forma a salvaguardar a qualidade da água, dirigida às entidades gestoras responsáveis por sistemas de abastecimento público de água, no âmbito do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro:

1. Sobre o objectivo e o campo de aplicação

1.1. A presente recomendação tem por objectivo auxiliar as entidades gestoras no processo de aquisição dos produtos químicos utilizados no tratamento da água para consumo humano, de modo a identifi car aspectos relevantes que devem ser considerados nas fases de selecção, aquisição, recepção, manuseamento e utilização desses produtos.

1.2. Os produtos químicos utilizados no tratamento da água para consumo humano devem estar conformes com as normas europeias aplicáveis, devendo a entidade gestora confi rmar que os fabricantes ou fornecedores são conhecedores e que agem em conformidade com essas normas.

Recomendações de 2005 a 2007 93

1.3. Esta recomendação aplica-se ao controlo da qualidade, no que concerne à composição, impurezas e principais subprodutos e substâncias tóxicas dos produtos utilizados no tratamento da água para consumo humano, nomeadamente:

ß sais de alumínio e ferro;

ß sais de sódio, de cálcio e magnésio;

ß compostos de enxofre, fósforo e amónia;

ß produtos de desinfecção;

ß inibidores de incrustação e corrosão;

ß fl oculantes/coagulantes orgânicos;

ß materiais fi ltrantes e de suporte.

2. Sobre o enquadramento normativo

O grau de pureza dos produtos utilizados no tratamento da água para consumo humano, assim como os cuidados a ter na sua utilização, devem ser tais que a água satisfaça, após tratamento, os requisitos de qualidade que constam do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, vindo a ser desenvolvidas normas europeias neste âmbito. Em anexo, listam-se as normas europeias adoptadas em Portugal.

3. Sobre os requisitos técnicos aquando da selecção e da aquisição

3.1. Para além dos requisitos legais aplicáveis ou de outros considerados relevantes pela entidade gestora, a proposta de fornecimento deve apresentar a seguinte documentação, devidamente actualizada, que evidencie os requisitos, consi-derados mínimos, relativos ao controlo da qualidade do produto a utilizar no tratamento da água para consumo humano:

ß Documento onde conste a:

• identifi cação do produto com o nome comercial e/ou designação do produto fabricado;

94 IRAR

• indicação da origem do produto com a identifi cação do local de fabrico;

• identifi cação do fabricante e/ou fornecedor.

ß Ficha de especifi cação do produto, com indicação das características físicas e químicas (composição, impurezas e substâncias tóxicas), cujos valores apresentados devem estar dentro dos limites estabelecidos na norma europeia aplicável.

Por exemplo, para o sulfato de alumínio, as especifi cações indicadas pelo fabricante devem estar em conformidade com os valores estipulados na norma europeia NP EN 878:2000, no que diz respeito às seguintes características: teor de alumínio (composição do produto comercial); ferro e matéria insolúvel (impurezas); arsénio, cádmio, crómio, mercúrio, níquel, chumbo, antimónio e selénio (substâncias tóxicas).

ß Boletim de análise do produto, relativo ao último ano de fabrico, com os resultados respeitantes aos critérios de pureza (impurezas, principais subprodutos e substâncias tóxicas) especifi cados na respectiva norma europeia.

Por exemplo, para o hipoclorito de sódio, o boletim de análise emitido pelo laboratório deve apresentar os resultados referentes às especifi cações estabelecidas na norma europeia NP EN 901: 2002 para: teor de clorato de sódio, depósitos visíveis ou matéria em suspensão (impurezas); arsénio, cádmio, crómio, mercúrio, níquel, chumbo, antimónio e selénio (substâncias tóxicas).

No boletim de análise deve constar, no mínimo, a seguinte informação:

• identifi cação do laboratório que realiza os ensaios;

• nome comercial do produto;

• local e data de fabrico;

• nome do fabricante do produto;

• identifi cação completa e data de recepção da amostra submetida a ensaio;

Recomendações de 2005 a 2007 95

• referência à norma europeia (por exemplo, o boletim de análise referente ao sulfato de alumínio deve referir a norma NP EN 878:2000);

• resultados dos ensaios efectuados e apresentados nas unidades referidas na norma europeia.

Todos os resultados analíticos constantes do boletim de análise do produto deverão ser obtidos em laboratório independente do fabricante ou em laboratório do fabri-cante desde que acreditado. Em ambos os casos, o labo-ratório deve ser, preferencialmente, acreditado para os parâmetros em questão ou, alternativamente, garantir que possui um controlo da qualidade analítica devidamente implementado.

Este requisito aplica-se aos produtos para os quais existe norma europeia aplicável.

ß Garantia de que no acto de entrega de cada fornecimento é apresentado um documento (designado por certificado de análise, boletim de análise ou boletim de conformi-dade), no qual constará, pelo menos, o resultado do teor da componente activa correspondente ao lote entregue.

ß Ficha técnica e de segurança do produto.

ß Garantia de que o produto será entregue em embalagem apropriada, evidenciando que o material e a limpeza da embalagem não interferirá na qualidade do produto.

ß Certificado relativo ao sistema de gestão da qualidade do fabricante e/ou fornecedor, segundo a Norma NP EN ISO 9001:2000.

Este requisito não deve ser considerado obrigatório mas preferencial. Salienta-se que o âmbito da certificação deve incluir o processo de fabrico relativo ao produto em causa.

3.2. Caso o fabricante não seja certificado segundo a Norma NP EN ISO 9001:2000, devem ser apresentados, adicio-nalmente, os boletins de análise do produto, relativos

96 IRAR

ao último ano de fabrico, comprovativos do controlo da qualidade efectuado às características funcionais do produto (por exemplo percentagem do componente activo, pH ou densidade).

3.3. Para a avaliação dos documentos apresentados na proposta de fornecimento, é indispensável o conhecimento, pela enti-dade gestora, do conteúdo das normas europeias aplicadas aos produtos utilizados no tratamento da água para consumo humano e a verifi cação da data de emissão dos documentos apresentados.

4. Sobre a certifi cação de produto

4.1. A certifi cação do produto1 é a garantia escrita, emitida por um organismo certifi cador independente e imparcial reconhecido pelo Instituto Português de Acreditação, que atesta que o produto está conforme com as exigências defi nidas através de normas ou especifi cações técnicas.

4.2. A apresentação do documento “Certifi cado de Produto”, caso exista, emitido por um organismo acreditado pelo Instituto Português de Acreditação ou reconhecido por este, assegu-rando a conformidade com as exigências da norma europeia aplicável ao produto (listada em anexo a esta recomendação), substitui todos os documentos listados no ponto 3, com excepção da garantia do documento a fornecer no acto de entrega referida atrás.

4.3. A entidade gestora deve ter especial cuidado na verifi cação da informação constante no Certifi cado de Produto, no que se refere:

ß à identifi cação da entidade certifi cada, que deve corres-ponder ao fabricante do produto;

1 Do levantamento efectuado pelo IRAR, conclui-se que, no âmbito do normativo listado em anexo, não existem certifi cados de produto ou outros documentos que atestem a conformidade do produto com as especifi cações da respectiva norma eu-ropeia (certifi cado de conformidade), emitidos por organismos reconhecidos para o efeito a nível europeu.

Recomendações de 2005 a 2007 97

ß ao âmbito da certifi cação, que deve referir, explicitamente, o produto em causa;

ß à data de emissão e validade do certifi cado;

ß à norma de referência, isto é, à norma europeia aplicável ao produto em causa (por exemplo, o certifi cado de produto referente a poliacrilamidas catiónicas deve referir a norma NP EN 1410:2004).

4.4. Não se consideram válidos os documentos intitulados “Certi-fi cados de conformidade”, que asseguram a conformidade do produto com as especifi cações da respectiva norma europeia, emitidos pelo fabricante ou fornecedor.

5. Sobre os aspectos mais relevantes a considerar na recepção, no manuseamento e na utilização do produto

A entidade gestora deve consultar a respectiva norma aplicável ao produto ou solicitar informação ao fornecedor de forma a implementar um procedimento de recepção do produto, que considere os seguintes aspectos:

ß Características funcionais do lote entregue: no acto de recepção de cada fornecimento, a entidade gestora deve verifi car o documento entregue (designado por certifi cado de análise, boletim de análise ou boletim de conformidade), relativo ao resultado do teor do componente activo corres-pondente ao lote entregue, bem como a respectiva data de fabrico.

ß Regras para o correcto manuseamento e utilização: o fabri-cante e/ou fornecedor deve disponibilizar à entidade gestora as instruções de segurança para o correcto manuseamento e utilização do produto.

ß Rotulagem/embalagem: a entidade gestora deve assegurar que:

• o produto é entregue com a devida rotulagem, a qual deverá incluir no mínimo a identifi cação do produto, a

98 IRAR

identifi cação do fabricante e/ou fornecedor, a concen-

tração do componente activo e a etiquetagem de risco e

de segurança segundo as directivas da União Europeia;

• o produto é entregue em embalagens adequadas de

acordo com a respectiva norma aplicável;

• as embalagens reutilizadas não afectam a pureza do

produto.

ß Transporte: a entidade gestora deve requerer junto do

fornecedor que o transporte dos produtos seja efectuado

por entidades licenciadas, sempre que aplicável, respeitando

a legislação em vigor.

ß Armazenagem: a entidade gestora deve garantir que:

• o prazo de validade do produto armazenado é controlado,

assegurando uma adequada rotação do produto;

• foram tidas em atenção as situações de incompatibilidade

com outros produtos em armazém;

• o produto é armazenado de acordo com as especifi cações

da respectiva norma europeia.

Por exemplo, a norma europeia NP EN 901:2002 aplicável ao hipoclorito de sódio refere: (i) no ponto 6.5 Armazenagem: “Arma-zenar o hipoclorito de sódio ao abrigo da luz e, em particular, da acção directa do sol.”; (ii) no ponto 6.5.1 Estabilidade a longo prazo: “A estabilidade do produto é fortemente infl uenciada pelo calor, luz, pH e presença de iões de metal pesados. A solução decompõe-se gradualmente, resultando a diminuição do teor de

cloro activo. É provável que se formem cloratos.”

6. Sobre a bibliografi a mais relevante

Como informação complementar, o IRAR recomenda a

consulta dos seguintes documentos:

ß CEN Report CR 14269:2001 – Chemicals used for treatment

of water intended for human consumption – Guidelines for

the purchase

Recomendações de 2005 a 2007 99

ß Lista de normas europeias publicadas pelo CEN/TC 164/WG 9: http://comelec.afnor.fr/servlet/ServletComelec?form_name=cFormIndex&code=P40K&langue=EN&login=invite&password=invite

29 de Maio de 2006

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

Rui Ferreira dos Santos

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Esta recomendação foi elaborada pelo Departamento de Qualidade da Água do

IRAR, com a participação de Cecília Alexandre, Regina Casimiro e Marta Saúde.

100 IRAR

ANEXO

Produtos químicos, materiais inorgânicos de suporte e materiais fi ltrantes utilizados no tratamento da água destinada ao consumo humano, abrangidos por norma europeia harmonizada (EN)

Designação do produto Norma

Ácido acético EN 13194

Ácido clorídrico EN 939

Ácido fosfórico EN 974

Ácido hexafl uorsilicílico EN 12175

Ácido sulfúrico EN 899

Ácido tricloroisocianúrico EN 12933

Alginato de sódio NP EN 1405

Alumina activada EN 13753

Alumina activada granulada revestida com ferro EN 14369

Aluminato de sódio NP EN 882

Aluminosilicato expandido EN 12905

Amido modifi cado NP EN 1406

Amónia líquida EN 12126

Antracite NP EN 12909

Areia e gravilha NP EN 12904

Barite EN 12912

Bentonite EN 13754

Bissulfi to de sódio EN 12121

Cal EN 12518

Calcário revestido com dióxido de manganês EN 14368

Carbonato de cálcio NP EN 1018

Carbonato de sódio NP EN 897

Carvão activado em pó NP EN 12903

Carvão activado granulado novo EN 12915-1

Carvão activado granulado regenerado EN 12915-2

Carvão animal EN 14456

Carvão pirolisado EN 12907

Cloreto de alumínio, hidroxicloreto de alumínio e hidroxiclorosulfato de alumínio (monómeros)

NP EN 881

Cloreto de amónio NP EN 1421

Cloreto de ferro (III) NP EN 888

Cloreto de sódio EN 973

Cloreto de sódio para produção electroquímica de cloro EN 14805

Cloreto e clorohidróxido de alumínio e ferro (monómeros) EN 935

Recomendações de 2005 a 2007 101

Clorito de sódio EN 938

Cloro NP EN 937

Clorossulfato de ferro (III) EN 891

Dicloroisocianurato de sódio EN 12931

Dicloroisocianurato de sódio dihidratado EN 12932

Difosfato tetrapotássico EN 1207

Difosfato tetrassódico EN 1206

Di-hidrogenodifosfato de sódio EN 1205

Dihidrogenofosfato de cálcio EN 1204

Dihidrogenofosfato de potássio EN 1201

Dihidrogenofosfato de sódio EN 1198

Dióxido de carbono EN 936

Dióxido de cloro EN 12671

Dióxido de enxofre NP EN 1019

Dióxido de manganês EN 13752

Dolomite semi-calcinada EN 1017

Etanol EN 13176

Fluoreto de sódio EN 12173

Fosfato de potássio EN 1203

Fosfato de sódio EN 1200

Fosfato de zinco em solução EN 1197

Glauconito revestido com óxido de magnésio EN 12911

Granada EN 12910

Hexafl uorsilicato de sódio EN 12174

Hidrogenocarbonato de sódio EN 898

Hidrogenofosfato de potássio EN 1202

Hidrogenofosfato de sódio EN 1199

Hidrogenossulfi to de sódio EN 12120

Hidróxido de sódio EN 896

Hipoclorito de cálcio EN 900

Hipoclorito de sódio NP EN 901

Metanol EN 13177

Monopersulfato de potássio EN 12678

Oxigénio EN 12876

Ozono NP EN 1278

Pedra-pomes EN 12906

Perlite em pó EN 12914

Permanganato de potássio EN 12672

Peróxido de hidrógenio EN 902

Persulfato de sódio EN 12926

102 IRAR

Poli(cloreto de dimetildialilamónio) NP EN 1408

Poliacrilamidas aniónicas e não iónicas NP EN 1407

Poliacrilamidas catiónicas NP EN 1410

Poliaminas NP EN 1409

Polifosfato de sódio e cálcio EN 1208

Polifosfato sódico EN 1212

Polihidroxicloreto de alumínio e polihidroxiclorossulfato de alumínio

NP EN 883

Polihidroxicloretosilicato de alumínio EN 885

Polihidroxisulfatosilicato de alumínio EN 886

Silicato de sódio EN 1209

Soluções de amónio EN 12122

Sulfato de alumínio NP EN 878

Sulfato de alumínio e ferro (III) EN 887

Sulfato de amónio EN 12123

Sulfato de cobre EN 12386

Sulfato de ferro (II) EN 889

Sulfato de ferro (III) líquido EN 890

Sulfato de ferro (III) sólido EN 14664

Sulfi to de sódio EN 12124

Terra de diatomáceas EN 12913

Tiossulfato de sódio EN 12125

Trifosfato pentapotássico EN 1211

Trifosfato pentassódico EN 1210

Coagulantes à base de alumínio – métodos de análise NP EN 1302

Materiais inorgânicos fi ltrantes e de suporte – defi nições EN 12901

Materiais inorgânicos fi ltrantes e de suporte – métodos de ensaio

NP EN 12902

Carbonato de cálcio, cal e dolomite semi-calcinada – métodos de ensaio

EN 12485

Ozono – Guia de utilização e de requisitos funcionais mínimos

TR 14740

Nota: Algumas destas normas estão em revisão, devendo sempre ser usada a última versão. A lista actualizada pode ser consultada no endereço electrónico da AFNOR indicado na bibliografi a.

Recomendações de 2005 a 2007 103

ANO 2007

Recomendações de 2005 a 2007 105

Recomendação IRAR n.º 01/2007

GESTÃO DE FOSSAS SÉPTICAS NO ÂMBITO DE SOLUÇÕES PARTICULARES DE DISPOSIÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS

Considerando que:

ß As fossas sépticas, enquanto instalações particulares, individuais

ou colectivas de disposição de águas residuais urbanas, estão

largamente disseminadas pelo País, nomeadamente em algumas

zonas urbanas antigas, em zonas semi-urbanas e em zonas

rurais.

ß O seu adequado funcionamento, nomeadamente quanto ao

destino fi nal das lamas, deve ser devidamente acautelado, na

medida em que pode constituir um problema ambiental rele-

vante (poluição difusa de solos, aquíferos e águas superfi ciais)

ou mesmo de saúde pública (contaminação de origens utilizadas

para abastecimento) e de qualidade de vida (por exemplo, o

controlo de odores).

ß É assim importante procurar uniformizar aspectos como a)

utilização de fossas sépticas; b) concepção, dimensionamento e

construção de fossas sépticas; c) manutenção de fossas sépticas

Recomendações de 2005 a 2007 107

e recolha e transporte de lamas; d) destino das lamas de fossas sépticas; e) monitorização das lamas recebidas em estações de tratamento; f) modelos e estrutura tarifária e facturação dos serviços e g) regulamentos de serviço.

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem ao IRAR as atribui-ções de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multimunicipais e municipais de águas e resíduos, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como a regulação dos respectivos sectores e o equilíbrio entre a sustentabilidade económica dos sistemas e a qualidade dos serviços prestados, de modo a salvaguardar os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa a fossas sépticas particu-lares, doravante designadas por fossas sépticas, dirigida às entidades gestoras dos sistemas municipais e multimunicipais de saneamento de águas residuais urbanas, independente-mente do modelo de gestão adoptado:

1. Utilização de fossas sépticas

1.1. A adopção de fossas sépticas para a disposição de águas residuais domésticas só é aceitável em locais não dotados de redes públicas, e desde que assegurados os procedimentos

108 IRAR

adequados, nomeadamente os constantes na presente Reco-mendação. Assim, não deve ser licenciada a instalação de fossas sépticas, para tratamento de águas residuais domésticas, em locais dotados de redes públicas de saneamento de águas residuais urbanas.1

1.2. Por outro lado, as fossas sépticas existentes em locais dotados de redes públicas devem ser desactivadas, em paralelo com a efectivação da ligação predial ao sistema público através de ramal de ligação, que é legalmente obrigatória2.

Para efeito de desactivação, as fossas sépticas devem ser desco-nectadas, totalmente esvaziadas, desinfectadas e aterradas de acordo com os procedimentos determinados pela entidade gestora dos serviços de saneamento de águas residuais.

As actividades de esvaziamento e desinfecção, por serem de especial sensibilidade, devem ser executadas por entidade prevista no ponto 3.2. desta Recomendação, sem prejuízo de esta poder disponibilizar os demais serviços necessários a uma cabal desactivação da fossa séptica.

1.3. As entidades gestoras dos sistemas municipais de saneamento devem estabelecer, quando necessário, um período de adap-tação para que os utilizadores de fossas sépticas adeqúem as redes prediais de forma a poderem efectivar a ligação ao sistema público de saneamento de águas residuais.

1.4. As fossas sépticas existentes em locais dotados de redes públicas, mas cuja desactivação não se justifi que por razões de ordem técnico-económica reconhecidas pela entidade gestora, podem excepcionalmente ser mantidas, desde que assegurados os procedimentos da presente Recomendação.

A entidade gestora deve dar conhecimento de tais situações à entidade responsável pelo licenciamento das descargas das fossas sépticas.

1 Conforme artigos 60.º e 62.º da Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro, e do n.º 4 do artigo 48.º do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio.

2 Conforme os n.os 2 e 4 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 379/93, de 5 de Novembro.

Recomendações de 2005 a 2007 109

1.5. No quadro dos planos gerais de saneamento de águas resi-duais, as entidades gestoras devem identifi car as zonas não servidas por redes públicas de saneamento de águas residuais e realizar nas restantes zonas programas de adesão dos utili-zadores às redes públicas, com a correspondente desactivação das fossas existentes.

Deste modo, as entidades gestoras devem proceder ao cadastro das fossas sépticas existentes no respectivo território, mantendo-o actualizado, e aferir, quando se justifi car, da adequação das fossas às normas legais e técnicas aplicáveis, informando os respectivos utilizadores dessa avaliação, nome-adamente das desconformidades detectadas, e indicando as medidas a adoptar.

As entidades gestoras devem ainda manter a respectiva Admi-nistração de Região Hidrográfi ca (ARH)3 informada sobre a expansão registada nas redes públicas de saneamento, para que esta entidade possa ter esta informação em conta no quadro da sua actividade de emissão, renovação ou cancela-mento de licenças de descarga de águas residuais.

2. Concepção, dimensionamento e construção de fossas sépticas4

2.1. As fossas sépticas devem ser reservatórios estanques, conce-bidos, dimensionados e construídos de acordo com critérios adequados, tendo em conta o número de habitantes a servir, e respeitando nomeadamente os seguintes aspectos:

ß podem ser construídas no local ou pré-fabricadas, com elevada integridade estrutural e completa estanquidade de modo a garantirem a protecção da saúde pública e ambiental;

3 Ou a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional, enquanto a ARH não iniciar a sua actividade.

4 Para maior detalhe sobre critérios de concepção, dimensionamento e construção de fossas sépticas, o IRAR recomenda a bibliografi a descrita no ponto 9 desta Re-comendação.

110 IRAR

ß devem ser compartimentadas, por forma a minimizar pertur-bações no compartimento de saída resultantes da libertação de gases e de turbulência provocada pelos caudais afl uentes (a separação entre compartimentos é normalmente realizada através de parede provida de aberturas laterais interrompida na parte superior para facilitar a ventilação);

ß devem permitir o acesso seguro a todos os compartimentos para inspecção e limpeza;

ß devem ser equipadas com defl ectores à entrada, para limitar a turbulência causada pela entrada da água residual e não perturbar a sedimentação das lamas, bem como à saída, para reduzir a possibilidade de ressuspensão de sólidos e evitar a saída de materiais fl utuantes.

2.2. O efl uente líquido à saída das fossas sépticas deve ser sujeito a um tratamento complementar adequadamente dimensio-nado.

A selecção da solução a adoptar deve ser precedida da análise das características do solo, através de ensaios de percolação, para avaliar a sua capacidade de sub-irrigação, bem como da análise das condições de topografi a do terreno de implantação.

Em solos com boas condições de permeabilidade, devem em geral utilizar-se as seguintes soluções: poço de infi ltração, trincheira de infi ltração ou leito de infi ltração. No caso de solos com más condições de permeabilidade, as soluções usualmente utilizadas são: aterro fi ltrante, trincheira fi ltrante, fi ltro de areia, plataforma de evapotranspiração ou lagoa de macrófi tas.

2.3. O utilizador deve requerer à respectiva ARH a licença para a descarga de águas residuais5. Este requerimento, na ausência de informação já disponível na ARH (prevista nos pontos 1.4 e 1.5), deve ser instruído com declaração da entidade gestora

5 Nos termos dos artigos 60.º e 62.º da Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro.

Recomendações de 2005 a 2007 111

comprovando a inexistência de rede pública de saneamento no local ou reconhecendo razões de ordem técnico-económica que justifi quem a não ligação à rede pública.

2.4. Os projectos de fossas sépticas devem ser aprovados pela câmara municipal6, devendo o respectivo requerimento ser instruído com cópia da licença de descarga ou comprovativo do início do processo de licenciamento. Para o efeito, podem ser defi nidas e disponibilizadas a todos os interessados normas de concepção e dimensionamento de fossas sépticas. A câmara municipal pode ainda aconselhar, no âmbito do processo de aprovação, a melhor solução a implementar, nomeadamente facultando projectos-tipo, indicações úteis e outros elementos informativos.7

2.5. Na apreciação de projectos que contemplem a implantação de fossas sépticas, as entidades licenciadoras devem atender a critérios de saúde pública e impacte ambiental, nomeada-mente tendo em consideração: distâncias mínimas às áreas habitadas, perímetros de protecção de captações de água e riscos de contaminação de lençóis freáticos.

3. Manutenção de fossas sépticas e recolha e transporte de lamas

3.1. As fossas sépticas devem ser objecto de manutenção, da respon-sabilidade dos seus utilizadores, de acordo com procedimentos adequados, tendo nomeadamente em conta a necessidade de recolha periódica e de destino fi nal das lamas produzidas.

3.2. A titularidade dos serviços de recolha e transporte de lamas de fossas sépticas é municipal, no âmbito da atribuição rela-tiva ao saneamento básico, cabendo a responsabilidade pela sua provisão às entidades gestoras dos sistemas municipais

6 Ou a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional, enquanto a ARH não iniciar a sua actividade.

7 Para maior detalhe sobre critérios de concepção, dimensionamento e construção de fossas sépticas, o IRAR recomenda a bibliografi a descrita no ponto 9 desta Re-comendação.

112 IRAR

de saneamento (os próprios serviços municipais ou munici-palizados, empresas municipais ou empresas concessionárias), que devem garantir o cumprimento das normas ambientais aplicáveis, nomeadamente no que respeita à entrega das lamas em destino adequado, e a prática de preços que não coloquem em causa a prestação de um serviço público.

3.3. As entidades gestoras podem assegurar a prestação deste serviço através da combinação que considerem adequada de meios humanos e técnicos próprios e subcontratados.

3.4. Considera-se que as lamas devem ser removidas sempre que o seu nível distar menos de 30 cm da parte inferior do septo junto da saída da fossa. Para o efeito, deve a entidade gestora aconselhar os utilizadores quanto a uma adequada periodicidade de recolha das lamas.

3.5. Consequentemente, os utilizadores de fossas sépticas devem solicitar junto da entidade gestora do sistema municipal de saneamento o serviço de recolha e transporte das lamas. Excep-tuam-se os utilizadores industriais, que o podem fazer por meios próprios, desde que devidamente habilitados para esse efeito.

4. Destino das lamas de fossas sépticas

4.1. É interdito o lançamento das lamas de fossas sépticas direc-tamente no meio ambiente e nas redes de drenagem pública de águas residuais8.

4.2. As lamas recolhidas devem ser entregues para tratamento numa estação de tratamento de águas residuais equipada

8 Como previsto no Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho, e no Decreto Regula-mentar n.º 23/95, de 23 de Agosto. Nos termos do n.º 3 do artigo 81.º do Decreto--Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio, constituem, designadamente, contra-ordenações ambientais muito graves: “Lançar, depositar, ou, por qualquer outra forma, directa ou indirecta, introduzir nas águas superfi ciais, subterrâneas ou nos terrenos englobados nos recursos hídricos qualquer substância ou produto sólido, líquido ou gasoso, poten-cialmente poluente.” (alínea f)); “A imersão de resíduos ou a rejeição de efl uentes em local diferente do autorizado pelos organismos competentes.” (alínea r)); “Rejeição de águas degradadas directamente para o sistema de disposição de águas residuais, para a água ou para o solo, sem qualquer tipo de mecanismos que assegurem a depuração destas.” (alínea u)).

Recomendações de 2005 a 2007 113

para o efeito. As lamas podem, em alternativa, ser entregues a outras entidades que, de acordo com a legislação em vigor, possam assegurar a sua valorização ou destino fi nal.

4.3. No primeiro caso, compete à entidade gestora defi nir, tendo em conta as capacidades de tratamento disponíveis e consi-derações de ordem técnico-económica, os locais de entrega destas lamas, que poderão ser estações de tratamento sob a sua gestão directa ou afectas a outros sistemas municipais ou multimunicipais.

4.4. As lamas entregues podem ser misturadas e tratadas directa-mente na linha de lamas das estações de tratamento, tendo, no entanto, que ser previamente ponderada a sua adequa-bilidade, nomeadamente no que diz respeito aos teores de humidade e grau de estabilização apresentados.

A entidade gestora responsável pelo tratamento pode ainda tratar as lamas de fossas sépticas conjuntamente com as águas residuais na estação de tratamento. Sempre que necessário, as estações devem dispor de unidades de homogeneização que permitam a mistura gradual, evitando choques de carga orgânica e, consequentemente, efeitos negativos no funcio-namento daquelas instalações.

4.5. Se a entidade gestora de uma estação de tratamento for concessionária de um sistema municipal, intermunicipal ou multimunicipal de saneamento de águas residuais urbanas, a actividade de recepção, tratamento e destino fi nal de lamas provenientes de fossas sépticas deve ser entendida como uma actividade enquadrada no objecto material da concessão, todavia não sujeita a uma obrigação de disponibilização do serviço nem conferindo à concessionária o direito de exclusi-vidade territorial.

5. Monitorização das lamas recebidas

5.1. As entidades gestoras que recebem as lamas de fossas sépticas para efeitos de tratamento e destino fi nal devem proceder ao respectivo controlo analítico aquando da recepção das

114 IRAR

lamas, sempre que o considerem necessário, designadamente para salvaguardar a sua compatibilidade face à instalação de tratamento e a critérios pré-estabelecidos. Caso se verifi que a incompatibilidade das características das lamas recebidas, a entidade gestora responsável pelo tratamento deve notifi car a entidade gestora que procede à recolha e ao transporte das lamas, de modo a inviabilizar futuras descargas não conformes.

5.2. O regulamento de descargas dessas entidades gestoras deve incluir uma secção relativa aos parâmetros de recepção das lamas provenientes de fossas sépticas, que defi na nomea-damente os valores limite para os parâmetros CBO5, metais pesados e outras substâncias que possam ser inibidoras dos processos biológicos utilizados nas estações de tratamento receptoras.

Não devem ser aceites lamas de fossas sépticas com caracte-rísticas que excedam os limites defi nidos no regulamento de descargas e que possam pôr em causa o adequado tratamento das águas residuais, devendo ser redireccionadas para estações de tratamento preparadas para o efeito.

6. Estrutura tarifária

6.1. Todos os alojamentos ou instalações onde são geradas águas residuais domésticas têm de ser dotados de soluções de sane-amento de águas residuais. Os utilizadores respectivos têm o direito à disponibilização daquele serviço, por redes fi xas ou por meios móveis. Nessa medida, todos os benefi ciários devem pagar a disponibilização e prestação desse serviço público.

6.2. Recomenda-se a adopção de uma de duas estruturas tarifárias, sendo que, no âmbito de cada município, só deve ser praticada uma das soluções, no respeito dos princípios da igualdade e da solidariedade, salvo o disposto no ponto 6.3.4. ou na parte fi nal do ponto 6.4.2.:

ß aplicação de tarifário específi co;

ß inclusão no tarifário geral.

Recomendações de 2005 a 2007 115

6.3. Tarifário específi co

6.3.1. Neste modelo, a estrutura tarifária do serviço deve agregar duas componentes:

ß Componente fi xa (em função de cada serviço prestado), a qual visa cobrir custos de deslocação, mão-de-obra, equipamento e transporte. Esta componente é defi nida pela entidade competente para a fi xação dos tarifários dos serviços municipais de saneamento, devendo o seu montante ser igual para todos os utilizadores do mesmo tipo que possuam fossas sépticas na área do município.

ß Componente volumétrica (por metro cúbico), aplicada ao volume medido aquando da recolha das lamas, a qual visa cobrir os custos de recepção, tratamento e destino fi nal dessas lamas. Esta componente é defi nida pela entidade responsável pela gestão da estação de tratamento, que pode ser uma entidade distinta da anterior, de acordo com os números seguintes.

6.3.2. Caso o tratamento das lamas tenha lugar em estação de tratamento afecta a sistema intermunicipal ou multimuni-cipal, a componente volumétrica deve ser a tarifa em alta para os serviços de saneamento desse sistema, multiplicada por um factor máximo de 8, para ter em conta as diferenças na estrutura de custos associada a esta actividade.

Na quantifi cação deste factor, em sede de análise de custeio específi co, dever-se-á, designadamente, atender aos seguintes aspectos9:

ß peso do custo total médio (investimento e exploração) das actividades de tratamento e destino fi nal na estrutura de custos totais da entidade gestora do sistema em alta, sendo que os custos totais também incluem os custos asso-ciados à recolha de águas residuais através de redes fi xas;

9 A metodologia descrita em 6.3.2. é igualmente aplicável à recepção, ao tratamento e ao destino fi nal de águas residuais equiparadas a domésticas recolhidas através de meios móveis, com as devidas adaptações, não devendo ser considerado um dife-rencial relativo ao parâmetro CBO5.

116 IRAR

ß custos específi cos associados às actividades de recepção de lamas em estações de tratamento;

ß diferencial de custos variáveis de tratamento, atendendo, nomeadamente, a que, em termos médios, se verifi ca que o valor do parâmetro CBO5 da mistura líquido-lamas extraída de uma fossa séptica é dez vezes superior à concentração em CBO5 das águas residuais urbanas medianamente concentradas.

6.3.3. Se as lamas forem entregues em estação de tratamento integrada num sistema municipal, a componente volumétrica referida no ponto 6.3.1. deve ter por referência uma análise de custeio específi co tendo em conta os factores indicados no ponto 6.3.2. ou, em alternativa, os preços de recepção e tratamento de lamas de fossas sépticas praticados pelos sistemas multimunicipais mais próximos10.

6.3.4. Quando se encontre disponível o serviço de saneamento através de redes fi xas, o utilizador deve pagar, para além do valor resultante da aplicação do tarifário específi co, a tarifa fi xa prevista no tarifário geral do serviço de saneamento através de redes fi xas porque sobre ele impende uma obri-gação legal de ligação ao sistema público e existem custos incorridos com essa disponibilização. Exceptuam-se, natu-ralmente, os casos previstos no ponto 1.4. desta Recomen-dação, em que justifi ca tão só a aplicação da tarifa específi ca.

6.3.5. O serviço de limpeza de fossas sépticas deve ser facturado pela entidade gestora do sistema municipal ao utilizador fi nal, directamente ou através de prestadores de serviços subcontratados.

6.3.6. O valor desse serviço pode ser incluído na factura geral dos serviços de abastecimento e saneamento, ser objecto de factura específi ca ou ser cobrado na altura da prestação do serviço, contra entrega de factura-recibo.

10 Em 2006 a média dos preços de tratamento de águas residuais aprovadas para as concessionárias dos sistemas multimunicipais foi de 0,45 €/m3 (www.irar.pt).

Recomendações de 2005 a 2007 117

6.4. Tarifário geral

6.4.1. Neste modelo, a entidade gestora pode adoptar as tarifas fi xas e volumétricas aplicáveis ao serviço de saneamento prestado através de redes fi xas11.

6.4.2. Em contrapartida, a entidade gestora deve disponibilizar ao utilizador o serviço de limpeza de fossas sépticas, sem qualquer encargo adicional, com uma frequência mínima considerada adequada12. Caso o utilizador requeira limpezas adicionais, estas serão cobradas tendo por base o disposto no ponto 6.3.

6.4.3. Caso não se tenha consumado a ligação à rede de abas-tecimento, a estes utilizadores deve ser imputado, para efeitos de cálculo da tarifa volumétrica, um valor estimado de utilização equivalente à média dos utilizadores de redes fi xas de abastecimento com características semelhantes, por exemplo, no que respeita ao número de pessoas do agregado familiar e/ou tipologia da habitação ou área da instalação.

7. Facturação

7.1. A entidade gestora do sistema municipal deve emitir uma guia de recolha aquando da prestação dos serviços de limpeza e de recolha de lamas de fossa séptica, de onde conste:

ß identifi cação do prestador de serviços;

ß identifi cação do utilizador;

ß local de recolha;

ß data e hora;

11 Este modelo será adequado, designadamente, às situações em que as caracterís-ticas dos solos permitem uma elevada disseminação de fossas sépticas não estan-ques, caso em que a respectiva fi scalização, aplicação de sanções e correcção são de difícil concretização.

12 A entidade gestora deve, no âmbito do levantamento previsto no ponto 1.5., proce-der à caracterização sumária de cada fossa séptica existente para, nomeadamente, estimar a periodicidade adequada para a respectiva limpeza.

118 IRAR

ß volume de lamas recolhidas (em metros cúbicos, aproxi-mado à primeira casa decimal);

ß estação de tratamento de águas residuais de destino;

ß valor total do serviço, desagregando a componente fi xa, a componente variável unitária e o IVA, quando aplicado um tarifário específi co;

ß espaço para assinaturas dos vários intervenientes.

Caso o serviço seja cobrado ao utilizador na altura da sua prestação, a guia de recolha deve servir também como factura-recibo.

O original da guia de recolha deve fi car sempre na posse do utilizador. O número de cópias da guia de recolha e os respectivos requisitos de assinatura dependem, quer do número de entidades intervenientes na prestação do serviço, quer da confi guração do processo administrativo e fi nanceiro que a suportam.

Com efeito, a prestação do serviço pode ter vários interve-nientes: o utilizador, a entidade gestora do sistema muni-cipal e, eventualmente, o prestador de serviços de recolha e transporte por ela subcontratado e a entidade gestora da estação de tratamento.

7.2. Quando a recepção, o tratamento e o destino fi nal das lamas não forem realizados pela entidade gestora do sistema municipal, a entidade gestora responsável pela estação de tratamento tem direito a receber a componente volumétrica descrita no ponto 6.3.2., independentemente do modelo tarifário aplicado ao utilizador fi nal.

8. Regulamentos de serviço

8.1. As entidades gestoras devem incluir nos respectivos regu-lamentos de serviço disposições relativas aos utilizadores de fossas sépticas, dispondo sobre os respectivos direitos e obrigações, podendo ter em conta a presente Recomen-dação.

Recomendações de 2005 a 2007 119

8.2. Especifi camente, os regulamentos de serviço devem conter disposições relativas à obrigação de ligação aos sistemas públicos de saneamento de águas residuais urbanas a partir do momento em que as redes públicas se encontram disponíveis, e à subsequente obrigação de desactivação das fossas sépticas.

8.3. O incumprimento destas obrigações pelos utilizadores deve ser sancionado de acordo com o artigo 55.º da Lei das Finanças Locais (Lei n.º 2/2007, de 15 de Janeiro), nos termos do qual a violação de posturas e de regulamentos de natureza genérica e execução permanente das autarquias locais constitui contra-ordenação sancionada com coima.

9. Bibliografi a técnica recomendada

O IRAR recomenda a seguinte bibliografi a como suporte às orientações de cariz técnico vertidas no corpo deste documento:

ß BARTOLOMEU, F. A.; BAPTISTA, J. M. – Manual de tecno-logias de saneamento básico apropriadas a pequenos aglomerados. Direcção Geral da Qualidade do Ambiente, Abril de 1990.

ß BARTOLOMEU, F. A. – Tecnologias de drenagem e trata-mento de águas residuais apropriadas a aglomerados até 5000 habitantes. Dissertação apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 1996.

ß CRITES; TCHOBANOGLOUS – Small and Decentralized Wastewater Management Systems. McGraw-Hill Series in Water Resources and Environmental Engineering, 1st ed, 1998, U.S.A.

ß MORAIS, A. Q. – Depuração dos esgotos domésticos dos pequenos aglomerados populacionais e habitações isoladas. Direcção Geral de Saneamento Básico. 2ª edição, Julho de 1977.

ß QASIM, S. R. – Wastewater treatment plants, planning, design and operation. CRC Press, 1999, U.S.A.

120 IRAR

ß EN 12566-1:2000 – Small wastewater treatment systems for up to 50 PT – Part 1: Prefabricated septic tanks.

ß CEN/TR 12566-2:2005 – Small wastewater treatment systems for up to 50 PT – Part 2: Soil infi ltration systems.

3 de Setembro de 2007

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

João Simão Pires

Esta Recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Na sua elaboração participaram o Departamento de Engenharia, o Departamento de

Análise Jurídica e o Departamento de Análise Económica e Financeira do IRAR.

Esta Recomendação resultou de uma proposta de metodologia elaborada pela

Águas de Portugal para cobrança de serviços prestados relativos à recepção de

lamas de fossas sépticas em estações de tratamento de águas residuais. Após a

análise efectuada sobre o referido documento, e tendo em conta a importância

do tema, considerou o IRAR ser oportuno fazer uma recomendação mais geral

sobre este assunto.

Foram ouvidas as seguintes entidades: Comissão de Coordenação e Desenvolvi-

mento Regional Alentejo, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional

Algarve, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Centro, Comissão

de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, Comissão

de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte, Associação Nacional de Muni-

cípios Portugueses, AEPSA – Associação das Empresas Portuguesas para o Sector

do Ambiente, APDA – Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de

Águas, APESB – Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental, APRH

– Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, AGS – Administração e Gestão de

Sistemas de Salubridade, S.A., AdP - Águas de Portugal, SGPS, S.A., Aquapor, S.A.,

Compagnie Générale des Eaux Portugal, S.A. e Indaqua, S.A.

Recomendações de 2005 a 2007 121

Recomendação IRAR n.º 02/2007

UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS TRATADAS

Considerando que:

ß A conservação dos recursos naturais e o uso efi ciente da água

constituem objectivos nacionais com grande relevância nos

serviços de abastecimento público de água e de saneamento de

águas residuais urbanas, não havendo, no entanto, uma prática

generalizada de aproveitamento das águas residuais urbanas

em Portugal, mesmo em contextos regionais de maior escassez

hídrica.

ß Existe tecnologia que possibilita que as águas residuais sejam

tratadas até, praticamente, qualquer nível de qualidade que se

pretenda, permitindo que sejam encaradas como um recurso

hídrico a aproveitar para determinadas fi nalidades e não como

um efl uente a rejeitar no meio receptor.

ß A rega com águas residuais constitui uma das formas mais geral-

mente utilizada de reutilização, não só por ser uma actividade

grande consumidora de água como também por ser possível, com

Recomendações de 2005 a 2007 123

relativa facilidade, compatibilizar as características dos efl uentes provenientes das estações de tratamento com as exigências de qualidade para determinados tipos de rega.

ß O licenciamento de actividades consumidoras de grandes volumes de água (como os campos de golfe) tem vindo a ser, em alguns casos, condicionado à obrigatoriedade de utilização de águas residuais tratadas na rega, por via da Declaração de Impacte Ambiental (DIA).

ß As águas residuais tratadas podem também ser utilizadas para outros fi ns, nomeadamente usos urbanos não potáveis (lavagens de ruas e de veículos, limpeza de colectores e de redes prediais de saneamento, rega de espaços verdes urbanos, alimentação de fontes e cascatas, combate a incêndios, etc.), indústria (água de arrefecimento, água de processo na indústria não alimentar, cons-trução civil, etc.) ou utilizações recreativas e ambientais (massas de água para usos recreativos, desportos náuticos, pesca, reforço de caudal de cursos de água, realimentação de aquíferos, etc.).

ß Além do benefício socio-económico que advém do reforço dos recursos hídricos disponíveis por meio de uma origem de água alternativa, a reutilização oferece importantes benefícios ambientais que consistem na redução da carga poluente sobre os meios receptores e, no caso da rega, no aproveitamento dos nutrientes presentes nas águas residuais tratadas.

ß A utilização de águas residuais tratadas só pode, no entanto, ser considerada uma prática segura do ponto de vista de saúde pública e ambiental quando devidamente enquadrada por medidas que assegurem o tratamento adequado à sua utilização, bem como o correcto manuseamento na sua aplicação e a mini-mização de riscos de exposição por parte das populações.

Considerando ainda que:

ß São potenciais benefi ciários deste recurso os grandes consumi-dores de água não potável em cujo território ou proximidade se localize uma estação de tratamento de águas residuais urbanas, nomeadamente, campos de golfe, empreendimentos residenciais, parques empresariais e industriais, corporações de bombeiros, bem como as próprias autarquias locais.

124 IRAR

ß A utilização das águas residuais tratadas constitui uma extensão tecnológica do respectivo processo de tratamento, sendo uma forma possível de rejeição ou de aproveitamento, em qualquer caso com assinaláveis mais-valias ambientais. Deve, por isso, ser entendida como uma atribuição das entidades gestoras de sistemas de saneamento de águas residuais, que incluam na sua actividade a componente de tratamento, independentemente do modelo de organização (doravante designadas por entidades gestoras). No caso das entidades concessionárias, essa utilização deve ser entendida como uma actividade enquadrada no objecto material da concessão, todavia não sujeita a obrigação de dispo-nibilização do serviço, nem conferindo à concessionária o direito de exclusividade territorial.

ß Por outro lado, a água residual tratada deve ser considerada um produto substituto da água de abastecimento público para os usos não potáveis, não violando os direitos de exclusividade territorial das entidades gestoras de sistemas de abastecimento público de água, por prestarem serviços de interesse económico geral que visam satisfazer necessidades básicas da generalidade dos cidadãos.

ß Para assegurar a qualidade necessária à utilização das águas residuais tratadas são necessários em muitos casos, uma afi nação adicional do tratamento, bem como um controlo específi co da qualidade dessa água residual tratada em função do tipo de reutilização, donde decorrem custos adicionais de investimento e de exploração.

Considerando fi nalmente que:

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multimunicipais e municipais de águas e resíduos, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como a regulação dos respectivos sectores e o

Recomendações de 2005 a 2007 125

equilíbrio entre a sustentabilidade económica dos sistemas e a qualidade dos serviços prestados, de modo a salvaguardar os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa à produção e distribuição de águas residuais tratadas, por forma a promover a sua utilização e a salvaguardar a saúde pública e o ambiente, dirigida às entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e municipais de saneamento de águas residuais urbanas, independentemente do modelo de organização adoptado:

1. Sobre a utilização de Águas Residuais Tratadas

ß As entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e muni-cipais de saneamento de águas residuais urbanas devem equacionar a produção e distribuição de águas residuais tratadas aptas para reutilização, como alternativa à sua rejeição nos meios receptores, sempre que essa solução se revele técnica, económica e ambientalmente viável, ao abrigo do artigo 11.º Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho1.

ß Um projecto de utilização de água residual tratada deve ter por base um adequado estudo técnico, económico, ambiental e social, dando atenção à procura potencial para assegurar a sua sustentabilidade económica e fi nanceira.

1 “As águas residuais tratadas, bem como as lamas, devem ser reutilizadas, sempre que possível ou adequado.”

126 IRAR

No sentido de mitigar os riscos do projecto, devem ser atempadamente defi nidas, avaliadas e, quando possível, contratualizadas as responsabilidades pela actividade, bem como as exigências técnicas, ambientais, económicas e de saúde pública.

ß No estudo e na implementação de projectos de reutilização é fundamental assegurar a sensibilização e informação do público-alvo de forma atempada e esclarecedora, devendo a entidade gestora equacionar, quando justifi cável, meca-nismos adequados de envolvimento do público.

ß Para além da necessária licença de descarga da estação de tratamento, devem ser asseguradas as licenças e/ou autorizações adequadas para a utilização pretendida:

– A utilização de águas residuais na rega de culturas agrícolas e fl orestais está condicionada ao licenciamento pela Administração de Região Hidrográfi ca (ARH), a qual promove a consulta junto da Direcção Regional de Agri-cultura e do Delegado Regional de Saúde, em articulação com o Delegado Concelhio de Saúde (artigos 12.º e 15.º do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio e artigo 58.º do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto);

– A utilização na rega de jardins públicos (espaços verdes urbanos, parques desportivos e campos de golfe) depende de autorização da ARH, mediante parecer favorável do Delegado Regional de Saúde, em articu-lação com o Delegado Concelhio de Saúde (artigo 58.º do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto);

– Independentemente da existência de regulamentação específi ca, devem ser sempre consultadas a ARH e a autoridade de saúde competente2.

2 A Direcção-Geral de Saúde é competente quando estejam em causa aspectos nor-mativos e regulamentadores. Em questões de licenciamento, as entidades interve-nientes são o Delegado Regional de Saúde em articulação com o Delegado Conce-lhio de Saúde.

Recomendações de 2005 a 2007 127

ß Não existe ainda regulamentação detalhada sobre os procedimentos de licenciamento aplicáveis, pelo que se recomenda a articulação entre a entidade gestora e os utilizadores junto das autoridades ambientais e de saúde.

2. Sobre a produção de águas residuais para reutilização

ß O cumprimento dos parâmetros de descarga no meio receptor, exigidos pelo Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 149/2004, de 22 de Junho, poderá não ser sufi ciente para assegurar a qualidade necessária à utilização das águas residuais tratadas, sendo necessária uma afi nação do tratamento, de forma a cumprir os parâmetros de quali-dade adequados ao fi m em causa, bem como um controlo da qualidade da água o que requer um esforço adicional no que respeita ao controlo específi co da água residual a reutilizar3. Esse tratamento de afi nação deve ser sempre assegurado directamente pela entidade gestora responsável pela estação de tratamento de águas residuais.

ß Quando não exista regulamentação específi ca, os parâ-metros de qualidade devem ser defi nidos, caso a caso, em articulação com a autoridade de saúde competente4. Existindo utilizadores que pretendam níveis de qualidade mais exigentes, a afi nação suplementar poderá ser feita pelos próprios.

3. Sobre a distribuição de águas residuais para reutilização

ß No quadro da implementação de um projecto de reutili-zação, como referido anteriormente, a entidade gestora deve assegurar directamente o tratamento de afi nação. No entanto, no tocante às subsequentes actividades de

3 Existem casos em que numa estação de tratamento são implantadas linhas distintas de afi nação de tratamento dedicadas a usos que exigem níveis de qualidade dife-rentes.

4 Vide nota 2.

128 IRAR

distribuição (armazenamento, elevação e transporte) poderá

optar por levá-las a cabo directamente ou permitir que uma

entidade terceira o faça. Neste caso, e no que concerne

ao envolvimento de entidades empresariais, recomenda-se

a adopção de procedimentos concursais, que deverão dar

especial atenção à salvaguarda dos interesses do conjunto

de potenciais utilizadores fi nais sobre os quais impendam

obrigações legais de utilização de águas residuais tratadas.

Esta terceira entidade (doravante designada por entidade

distribuidora), independentemente do modelo de gestão

adoptado, poderá envolver operadores habilitados para

este tipo de actividade (nomeadamente municípios terri-

torialmente abrangidos), utilizadores e suas associações.

ß A atribuição a uma entidade terceira da distribuição e venda

de água residual apta para reutilização deve ser objecto de

contratualização, na qual se regule a transferência para

esta de todas as obrigações da entidade gestora inerentes

à actividade de distribuição e relacionamento com os utili-

zadores.

ß A distribuição do efl uente tratado deve ser efectuada através

de redes específi cas com traçado defi nido em função dos

pontos de consumo, sendo objecto de medidas cuidadas

de identifi cação e limitação de acessibilidade para salva-

guardar eventuais usos indevidos e contaminações na rede

de abastecimento de água para consumo humano.

ß Devem ter-se em conta os tempos de retenção nas condutas

de modo a evitar a deterioração da qualidade da água

residual tratada para reutilização.

ß Devem ser acordados claramente os pontos de entrega

aos utilizadores fi nais e aí colocados instrumentos de

medição.

ß A água residual tratada pode ainda ser distribuída através

de meios móveis, pertencentes à entidade gestora ou a

terceiro.

Recomendações de 2005 a 2007 129

4. Sobre o controlo de qualidade

ß O uso de águas residuais tratadas implica a sua monito-rização, bem como do meio receptor onde estas serão utilizadas, quando aplicável.

ß A responsabilidade pelo cumprimento dos requisitos de qualidade das águas residuais sujeitas a reutilização e pelo seu controlo no ponto de entrega cabe à entidade que as fornece, a qual deve remeter ao Delegado Concelhio de Saúde os respectivos resultados, indicando os volumes fornecidos e as utilizações a que se destinam, com a perio-dicidade que lhe for solicitada.

ß Para o efeito, a entidade gestora deve garantir a existência de controlo operacional da estação de tratamento de águas residuais e dos sistemas de distribuição para reutilização que demonstrem a efi cácia e a fi abilidade do tratamento e que assegurem a manutenção da qualidade das águas residuais tratadas nos pontos de entrega.

ß As ARH devem defi nir as condições para a monitorização da qualidade dos respectivos meios receptores das águas residuais cuja utilização tenha sido licenciada, onde poderão estar incluídos o solo, bem como linhas de água, lagos, albufeiras, poços, etc., cujos resultados devem ser remetidos periodicamente ao Delegado Concelhio de Saúde.

ß Sempre que os utilizadores detectem situações de potencial incumprimento dos parâmetros de qualidade das águas residuais tratadas com risco para a saúde pública devem informar imediatamente a entidade gestora e o Delegado de Saúde Concelhio, o qual determinará as medidas adequadas à protecção da saúde pública.

ß A distribuição de águas residuais para reutilização deve ser interrompida sempre que se verifi que que deixou de cumprir os parâmetros de qualidade, ou se preveja que tal venha a acontecer (por exemplo através do controlo operacional da estação de tratamento e dos sistemas de armazenamento e distribuição). Nestas situações os utilizadores devem ser

130 IRAR

informados de forma adequada e completa, em termos a regular nos contratos de fornecimento, de onde constem ainda os procedimentos a adoptar pelas partes. Devem ainda ser informados a entidade licenciadora e o Delegado Concelhio de Saúde.

ß Os planos de monitorização da qualidade das águas resi-duais tratadas e dos meios receptores devem satisfazer os requisitos defi nidos pelas entidades licenciadoras. Devem ser atendidas as orientações expressas em documentação normativa portuguesa e internacional, nomeadamente, a norma portuguesa NP4434 publicada pelo Instituto Portu-guês da Qualidade e a publicação emitida pela Organização Mundial da Saúde WHO Guidelines for the safe use of wastewater, excreta and greywater, em complemento da legislação aplicável ou como forma de colmatar eventuais lacunas legais.

5. Sobre os utilizadores da água residual tratada

ß Não havendo, por norma, obrigação de utilização5 por parte dos utilizadores potenciais da água residual tratada, a entidade gestora de um sistema multimunicipal ou municipal de saneamento deve assegurar-se que haverá procura sufi ciente para recuperar os investimentos a realizar (nomeadamente através da celebração prévia de contratos com os potenciais utilizadores).

ß Dada a importância de um adequado dimensionamento e exploração do sistema, a entidade gestora e cada utilizador devem defi nir contratualmente os volumes máximos diários que a primeira se obriga a garantir, assim como os termos em que os mesmos podem ser revistos. Caso a entidade gestora não seja responsável pela distribuição de águas residuais para reutilização, os utilizadores devem contratar com a respectiva entidade distribuidora.

5 Uma excepção pode ser, por exemplo, o caso em que a Declaração de Impacte Ambiental, emitida no âmbito do processo de licenciamento de um campo de golfe, imponha a utilização de águas residuais tratadas para rega.

Recomendações de 2005 a 2007 131

ß Embora não seja ainda prática comum e/ou técnica e economicamente viável em todas as situações o aprovei-tamento das águas residuais tratadas, podem vir a veri-ficar-se situações em que a procura seja superior à oferta:

a) Porque as necessidades do número de utilizadores interessados ultrapassam as disponibilidades do sistema, pelo que se torna necessário definir critérios de selecção dos utilizadores da água residual tratada.

b) Ou porque se verificam cenários anormais de escassez de águas residuais tratadas, sendo também necessário definir critérios de repartição de caudais entre os utilizadores a aplicar nessas circunstâncias.

ß Estas duas situações devem estar contempladas em regu-lamento elaborado pela entidade gestora, o qual deve atender aos seguintes princípios:

a) Para além da importância relativa de cada finalidade de utilização, devem ter-se em conta, ainda, as exigên-cias de qualidade do tratamento necessário para cada uma dessas utilizações e os custos a ele inerentes. Assim, existindo várias solicitações, deve ser atendida aquela que apresente uma análise custo-benefício mais favorável para a entidade gestora, excepto se a autoridade ambiental (ARH) determinar outra, em nome da gestão dos recursos hídricos6.

b) Em cenários de escassez e estando em causa utili-zações idênticas, o fornecimento deve ser rateado de forma proporcional aos volumes máximos diários contratados por cada utilizador, excepto para aqueles que tenham origens alternativas.

ß Por outro lado, a entidade gestora deve dispor de meios para limitar o volume consumido por cada utilizador ao máximo diário contratado sempre que necessário para assegurar o fornecimento aos demais utilizadores.

6 Esta é, de resto, uma lógica semelhante à adoptada pela Lei da Água (artigo 64.º da Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro).

132 IRAR

6. Sobre o tarifário

6.1. Geral

ß As entidades gestoras de sistemas multimunicipais e muni-cipais de saneamento de águas residuais urbanas devem distinguir entre:

– O tarifário de saneamento aplicado aos utilizadores que entregam efl uentes, o qual deve suportar os custos com a recolha e o tratamento que seria necessário à descarga no meio hídrico;

– O tarifário de venda de água residual tratada aplicado aos utilizadores que adquirem este produto, o qual deve suportar os custos adicionais incorridos com a actividade de produção e distribuição de águas residuais aptas a reutilização.

ß Os custos tidos com a utilização de águas residuais tratadas não devem onerar a actividade de saneamento, o que deve ser demonstrado através de um apuramento específi co de resultados.

6.2. Custos a repercutir no tarifário

ß O tarifário de venda de água residual tratada deve reper-cutir os custos adicionais que a entidade gestora tenha que suportar, designadamente, pela afi nação do tratamento, monitorização, armazenamento, elevação, distribuição, assistência local e gestão de cliente, os quais podem ser sistematizados da seguinte forma:

– Custos de investimento:

a. Gerais (necessários para servir todos os utilizadores): relativos às instalações e equipamentos de tratamento necessários para a afi nação, o armazenamento, a elevação (é frequentemente necessário realizar a elevação à saída da estação de tratamento) e o trans-porte comum a todos os utilizadores (quando aplicável)7.

7 Incluem-se aqui os custos de investimento inicial e, a partir da sua realização, os custos de investimento de substituição.

Recomendações de 2005 a 2007 133

b. Específi cos para cada utilizador: relativos a infra-estruturas de distribuição dedicadas a um utilizador ou grupo restrito e identifi cável de utilizadores.

– Custos de exploração: designadamente com consumíveis, energia, manutenção e reparação, bem como custos de pessoal e administrativos. Não pode ser incorporado no tarifário de venda de água residual tratada qualquer custo de matéria-prima relativo ao caudal tratado a montante do início da afi nação do tratamento.

– Remuneração do capital empregue (capitais próprios e alheios).

6.3. Modelo tarifário

6.3.1. Repartição de custos entre utilizadores

ß Atendendo a que não está em causa a prestação de um serviço de interesse económico geral8, e que os custos de distribuição podem assumir valores apreciáveis que variam signifi cativamente entre utilizadores, os custos de investimento específi cos para cada utilizador devem ser repercutidos individualmente.

ß Quanto ao investimento adicional de tratamento e distri-buição, a entidade gestora, em função das características específi cas do seu sistema, pode optar por uma de duas abordagens:

– Englobamento de todos aqueles custos à escala do sistema multimunicipal ou municipal, conjuntamente com os custos de exploração, sendo que estes serão repartidos por todos os utilizadores em função dos

8 IApesar de não existir uma defi nição expressa e formal na legislação nacional ou comu-nitária, são tradicionalmente incluídas no conceito de serviços de interesse económi-co geral aquelas actividades económicas que visam satisfazer necessidades básicas da generalidade dos cidadãos e, por isso, os Estados submetem a obrigações específi cas de serviço público, com o objectivo de garantir serviços de qualidade a preços acessíveis a todos os cidadãos, tendo por primado o princípio da acessibilidade e, por inerência, os princípios da igualdade, da universalidade e da continuidade. (vide, por exemplo, “Serviços de Interesse Geral”, parecer de iniciativa do Conselho Económico e Social, ou (“Os serviços de interesse geral em Portugal e os consumidores”, FENACOOP).

134 IRAR

caudais de cada um, sempre que as variações nos inves-timentos necessários para cada estação de tratamento não sejam signifi cativas.

– Defi nição de mais do que uma categoria de sistema, quando diferenças materialmente relevantes na estrutura de custos de investimento gerais e/ou de exploração o justifi quem. Neste caso, a estrutura tarifária preconizada no ponto 6.3.3 da presente Recomendação pode ser aplicada, não à globalidade do sistema, mas a cada subconjunto de estações de tratamento defi nido pela entidade gestora.

6.3.2. Recuperação dos custos de investimento

ß A existência de alternativas à reutilização traduz-se numa incerteza da procura, tanto em termos quantitativos como temporais, o que constitui um risco para a recuperação do investimento.

ß Face à incerteza quanto ao tempo de permanência de cada utilizador, os custos de investimento específi cos de distribuição devem ser repercutidos individualmente, sem prejuízo da responsabilidade pela sua execução, conser-vação e manutenção, bem como a respectiva propriedade serem da entidade gestora.

ß Por outro lado, uma vez que os demais custos de inves-timento são repartidos pelo conjunto dos utilizadores, devem os mesmos ser recuperados gradualmente ao longo da vida útil das infra-estruturas.

6.3.3. Estrutura do tarifário

ß O modelo tarifário deve apresentar a seguinte estrutura:

– Extra-tarifário:

a) Custo de investimento em distribuição dedicada a cada utilizador: pago na totalidade durante a cons-trução, no momento da ligação, ou em prestações ao longo de um período máximo de cinco anos, de forma a diminuir o risco da entidade gestora relativo ao investimento total.

Recomendações de 2005 a 2007 135

No caso de os custos de distribuição específi cos serem pagos em prestações, deve o utilizador prestar uma caução, p.e. através de garantia bancária, para garantia desse pagamento. A caução pode ser accionada no caso de falta de pagamento atempado ou de cessação antecipada do contrato. Anualmente, o valor desta caução deve ser reduzido em função do capital ainda em dívida.

– Tarifário:

b) Parcela fi xa: Inclui os custos de disponibilidade do serviço, ou seja, custos gerais de investimento, custos fi xos de exploração e a remuneração do capital empregue, defi nida para cada utilizador em função do volume máximo diário contratado, sendo calcu-lada nos seguintes moldes:

c) Parcela variável: Incorpora os custos variáveis de exploração num valor unitário (€/m3) igual para todos os utilizadores, sendo calculada nos seguintes moldes9.

em que:

PF = Valor anual da parcela fi xa;

PV = Valor anual da parcela variável;

i = Utilizador;

9 Para o primeiro ano de exploração de um novo sistema, S=

-n

iNiQ

1)1( pode ser substi-

tuído por valor estimado

)(

1

)(

1

)(

)( max*max

)(

Nin

i

Ni

m

j

Nj

Ni QQ

COCCEFPPTEA

PF

S

S

=

=

++-=

)(

1

)1(

1)()()( *

)(

* Nin

i

Ni

m

j

j

NiNvNi QQ

CEV

QTPV

S

S

=

?

===

136 IRAR

n = Número total de utilizadores servidos pela entidade gestora

j = Estação de tratamento;

m = Número total de estações de tratamento onde se produz água para reutilização;

N = Ano para o qual se está a efectuar o cálculo do tarifário;

N-1 = Ano anterior;

A = Amortizações do exercício;

PPTE = Proveitos resultantes do pagamento dos troços de distribuição específi cos;

CEF = Custos de exploração fi xos;

CEV = Custos de exploração variáveis;

COC = Custo de oportunidade do capital empregue afecto ao fi nanciamento desta actividade (quer capitais alheios, quer capitais próprios);

Qmax = Volume máximo diário contratado por cada utilizador;

Tv = Tarifa variável (valor unitário, €/m3)

Q = Caudal consumido.

ß O fornecimento de águas residuais tratadas deve ser objecto de pelo menos duas leituras por ano.

ß A facturação deve ser emitida com uma periodicidade mínima semestral e máxima mensal, sendo o valor da parcela variável baseado em leituras ou estimativas, com acertos regulares.

ß Quando a entidade gestora não consiga durante um período contínuo de três dias assegurar o fornecimento do volume máximo diário contratado a um dado utilizador, este deve ter o direito de não lhe ser facturada a parcela fi xa relativa ao mês em que tal situação tenha ocorrido.

Recomendações de 2005 a 2007 137

ß Aos volumes de águas residuais tratadas distribuídas através de meios móveis, recomenda-se a aplicação de uma tarifa volumétrica média do sistema calculada de acordo com a seguinte expressão:

em que:

Tm = Tarifa variável aplicada aos volumes distribuídos através de meios móveis (valor unitário, €/m3)

ß Neste caso, ao valor apurado devem acrescer os custos logísticos de transporte e entrega quando este serviço seja prestado pela entidade gestora ou operador logístico por si subcontratado.

ß O tarifário deve ser recalculado anualmente com base nos critérios anteriormente referidos.

6.4. Entrada de novos utilizadores

ß No caso da entrada de novos utilizadores, não previstos no projecto inicial, que venham posteriormente a bene-fi ciar das infra-estruturas de distribuição específi cas exis-tentes e cujo valor já tenha sido suportado por outro(s) utilizador(es), deve ser calculada uma compensação pelo respectivo valor, nos seguintes moldes:

em que:

VIE = Valor do investimento específi co;

t = Tempo de utilização decorrido;

vut = Vida útil técnica da infra-estrutura.

• Compete à entidade gestora realizar estes cálculos de uma forma equitativa, assegurando que os montantes

capacidade total da condutacapacidade a utilizar pelo novo utilizador

vuttVIE *)1(* -

S

S

=

=

¥

++-+=

n

i

Ni

m

j

Nj

NvNm

Q

COCCEFPPTEATT

1

)(

1

)(

)()(

365max

)(

138 IRAR

pagos pelo novo utilizador revertem em benefício dos utilizadores existentes, em termos que devem ser defi nidos nos respectivos contratos.

6.5. Casos em que a distribuição esteja a cargo de uma entidade terceira

ß Nos casos previstos no ponto 3 da presente Recomendação, ao tarifário da entidade gestora à entidade distribuidora devem ser aplicáveis com as necessárias adaptações as alíneas b) e c) do ponto 6.6.3.

ß No tocante ao tarifário aos utilizadores, o modelo tarifário defi nido no ponto 6.3., bem como os princípios vertidos no ponto 6.4. são igualmente válidos, com as devidas adaptações.

7. Sobre questões especifi camente aplicáveis às entidades concessionárias de sistemas públicos de saneamento de águas residuais

7.1. Regime do exercício da actividade

ß As entidades gestoras concessionárias de sistemas multimu-nicipais e municipais de saneamento de águas residuais, e que incluam na sua actividade o tratamento e a rejeição, devem equacionar a viabilidade técnica e económica da produção e distribuição de águas residuais urbanas para reutilização, enquanto actividade enquadrada no objecto material da concessão (como alternativa à rejeição no meio hídrico).

ß É possível, porém, assinalar algumas diferenças entre o serviço de tratamento de águas residuais, prestado aos utilizadores do sistema multimunicipal ou municipal, e o serviço de reutilização, cujos benefi ciários não serão necessariamente os mesmos:

- A reutilização, sendo um serviço com mais valias ambientais, não pode ser classifi cado como serviço de interesse económico geral (ao contrário do tratamento das águas residuais), porquanto não visa a satisfação de necessidades básicas da generalidade dos cidadãos,

Recomendações de 2005 a 2007 139

o que signifi ca que não terá de estar necessariamente sujeito a obrigações de serviço público (universalidade e coesão económica e social).

- Não sendo um serviço de interesse económico geral, não se justifi ca a atribuição de obrigação de disponibilização do serviço, nem de direitos de exclusividade territorial às concessionárias de sistemas multimunicipais ou munici-pais10, sendo perfeitamente lícito e até desejável que se faça também a utilização de águas residuais tratadas em outras estações de tratamento (nomeadamente indus-triais) existentes na área da concessão, traduzindo-se na possibilidade de concorrência.

7.2. Disposições específi cas aplicáveis às entidades gestoras de sistemas multimunicipais de saneamento

ß Fazendo parte da actividade concessionada, as infra-estru-turas e os equipamentos necessários à reutilização consi-deram-se afectos e integrados na concessão, revertendo, no fi nal desta, para os municípios ou para o Estado, de acordo com a legislação aplicável.

ß Os investimentos necessários a esta actividade devem estar devidamente refl ectidos no projecto global e no estudo de viabilidade económico-fi nanceira da concessão, desde o início da concessão ou através de alteração posterior, caso a decisão de os realizar seja tomada posteriormente.

ß Em termos contabilísticos, os investimentos necessários à reutilização, cuja vida útil técnica se prolongue para além do termo da concessão, devem ser amortizados no

10 Direito de exclusivo signifi caria que na área abrangida por concessão apenas a concessionária do sistema poderia produzir água residual apta a reutilização. Ques-tão diferente, é a de saber quem pode tratar/afi nar as águas residuais que afl uem às estações de tratamento de sistemas multimunicipais ou municipais de forma a permitir a reutilização. Afi gura-se correcto considerar que a entidade gestora de uma estação de tratamento tem a prerrogativa de dar o destino fi nal que entender às águas residuais que recebe (desde que em cumprimento da legislação), o que signifi ca que esta actividade só pode ser desenvolvida por terceiros (nomeadamente entidades gestoras da baixa) se a entidade gestora da estação de tratamento enten-der que não o deve fazer directamente (por razões técnicas ou económicas).

140 IRAR

prazo da concessão (seguindo a Directriz Contabilística n.º 4), caso estejam previstos no contrato desde o início. Aos restantes investimentos deve aplicar-se o tratamento normal de qualquer investimento, amortizável durante a vida útil esperada (Decreto-Regulamentar 2/90). Caso não estejam previstos no contrato de concessão inicial, tendo sido autorizados posteriormente, todos os investimentos devem ser amortizados de acordo com o respectivo tempo de vida útil (de acordo com a Base IX anexa ao Decreto-Lei n.º 162/96, de 4 de Setembro)11.

7.3. Regulação económica

ß Ainda que não haja obrigações de serviço público e direitos de exclusividade territorial, a formação de preços neste mercado não deve ser inteiramente deixada à interacção da procura e da oferta, devendo ser regulada, porquanto:

- Se justifi ca a protecção de utilizadores (p.e. campos de golfe) que estão obrigados, por via de Declarações de Impacte Ambiental, a recorrer a água residual tratada, limitando ou proibindo o recurso a outras alternativas (captações próprias ou água de abastecimento);

- Se justifi ca igualmente a protecção dos utilizadores, cuja alternativa é apenas a água de abastecimento fornecida por sistemas públicos, de forma a evitar que o preço da água residual apta para reutilização seja fi xado margi-nalmente abaixo do preço da água de abastecimento, embora acima do necessário, criando uma rentabilidade anormal a favor da entidade prestadora do serviço.

ß O tarifário a cobrar pelas entidades gestoras concessio-nárias deve, portanto, ser aprovado pelo concedente e sujeito a parecer prévio do IRAR.

11 De acordo com a Base IX anexa ao Decreto-Lei n.º 162/96, de 4 de Setembro, a amortização ao longo da vida útil de acordo com o Decreto-Regulamentar 2/90 aplica-se a todos os investimentos se o projecto de reutilização não estiver previsto no contrato de concessão inicial.

Recomendações de 2005 a 2007 141

ß No caso das concessões multimunicipais, a proposta de orçamento e projecto tarifário, a submeter anualmente ao IRAR para apreciação e ao concedente para aprovação, deve apresentar demonstrações fi nanceiras diferenciadas por cada uma das actividades objecto da concessão, nome-adamente, saneamento de águas residuais e produção e distribuição de água para reutilização. Os custos e encargos de cada actividade devem ser refl ectidos no projecto tari-fário correspondente.

7.4. Remuneração accionista

ß No caso das concessões dos sistemas multimunicipais, o tarifário da água residual tratada para reutilização deve assegurar o mesmo nível de remuneração dos capitais próprios previsto para o tarifário do saneamento.

ß A concessionária pode promover um aumento do capital social através de entradas em dinheiro como meio de fi nan-ciamento dos investimentos necessários (o que permite aos accionistas receber uma remuneração superior, por aumento da base de incidência), ou reafectar parte do capital existente à actividade de produção e distribuição de águas residuais tratadas aptas a reutilização (o que signifi ca que os accionistas mantêm a remuneração que já tinham).

8. Sobre a legislação e normalização

ß Os artigos 48.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio, defi nem as regras aplicáveis ao licencia-mento da rejeição de águas residuais na água e no solo.

ß O Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho, na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 194/2004, de 22 de Junho, esta-belece normas relativas ao tratamento de águas residuais urbanas.

ß Os artigos 58.º e seguintes, bem como os anexos XVI e XVII do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, defi nem as normas de qualidade das águas de rega, nomeadamente as que resultem de utilização de águas residuais tratadas.

142 IRAR

ß Sem cariz legal e no quadro do subsistema de normali-zação do Sistema Português de Qualidade (Decreto-Lei n.º 140/2004, de 8 de Junho), deve ainda ser tido em conta o disposto na NP 4434 – Norma sobre reutilização de águas residuais tratadas para rega, elaborada pela Subcomissão 3 “Reutilização de Águas Residuais” da Comissão Técnica Portuguesa de Normalização CT 90 “Sistemas de Sanea-mento Básico”, coordenada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e na qual estiveram representados os seguintes organismos: Associação Nacional de Muni-cípios Portugueses (ANMP), Direcção Geral de Saúde, Instituto da Água, Instituto do Ambiente, Instituto Superior de Agronomia, Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva e Universidade do Algarve.

- Esta Norma representa um importante contributo para a prática sustentável da utilização de águas residuais tratadas para rega, defi nindo os seus requisitos de qualidade, os critérios a seguir na escolha dos processos e equipamento de rega a usar, os procedimentos a adoptar na execução da rega com vista a assegurar a protecção da saúde pública e do ambiente e os procedimentos de monitorização ambiental da zona potencialmente afectada por essa rega.

- Esta Norma aplica-se exclusivamente à utilização de águas residuais urbanas tratadas (colectadas em sistemas de drenagem colectivos e sujeitas a tratamento) na rega de culturas agrícolas, fl orestais, ornamentais, viveiros, relvados e outros espaços verdes. Excluem-se do âmbito desta Norma as águas residuais industriais ou provenientes de instalações agrícolas ou agro-industriais.

9. Sobre as entidades a serem ouvidas

Sem prejuízo da necessária formalização dos pedidos de licenças e autorizações acima referidos, recomenda-se que previamente ao estudo de soluções de utilização de água residual tratada sejam consultadas as ARH e as autoridades de saúde territorialmente competentes.

Recomendações de 2005 a 2007 143

No caso de entidades gestoras reguladas, o projecto deve ser ainda sujeito a parecer do IRAR, de forma a garantir a salvaguarda dos interesses dos utilizadores e da viabilidade técnica e económica do projecto, atendendo igualmente a aspectos ambientais e de saúde pública.

20 de Agosto de 2007

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

João Simão Pires

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos em reunião de 20 de Agosto de 2007 ao abrigo do disposto

nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei

n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei

n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Na sua elaboração participaram o Departamento de Análise Jurídica, o Departa-

mento de Engenharia, o Departamento de Análise Económica e Financeira e o

Departamento de Estudos e Projectos do IRAR e foram consultadas as seguintes

entidades (por ordem alfabética):

Administrações Regionais de Saúde; AGS - Administração e Gestão de Sistema de

Salubridade, S.A.; Águas de Portugal, S.G.P.S.,S.A.; Associação das Empresas Portu-

guesas para o Sector do Ambiente; Associação Nacional de Municípios Portugueses;

Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas; Associação Portu-

guesa de Recursos Hídricos; Associação Regional de Golfe do Sul (Algarve Golfe);

Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional; Compagnie Générale des

Eaux (Portugal), S.A; Concessionárias de sistemas multimunicipais de saneamento;

Concessionárias de sistemas municipais e inter-municipais de saneamento; Direcção

Geral da Saúde; EMARP – Empresa Municipal de Águas e Resíduos de Portimão;

Indaqua - Indústria e Gestão de Águas, S.A.; Instituto da Água; Agência Portuguesa

do Ambiente; Instituto Superior de Engenharia de Lisboa; Laboratório Nacional de

Engenharia Civil.

144 IRAR

Recomendação IRAR n.º 03/2007

PROCEDIMENTOS CONTABILÍSTICOS E CONTRATUAIS

Considerando que:

ß Os orçamentos anuais e projectos tarifários das concessioná-rias dos sistemas multimunicipais, no âmbito dos contratos de concessão, devem ser anualmente sujeitos à aprovação do conce-dente (Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional);

ß Ao IRAR compete pronunciar-se sobre o valor das tarifas nos sistemas multimunicipais, acompanhar a sua evolução e elaborar os regulamentos tarifários necessários que assegurem a aplicação das tarifas segundo critérios de equidade (alínea d) do n.º 1 do artigo 11.º do seu Estatuto);

ß É importante regulamentar aspectos que: facilitem e tornem mais célere a avaliação do orçamento e a aprovação da tarifa; resolvam problemas recorrentes identifi cados em anos anteriores; uniformizem procedimentos para as empresas, respeitando os contratos de concessão; garantam que a tarifa não é penali-zada/benefi ciada por diferenças metodológicas.

Recomendações de 2005 a 2007 145

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem ao IRAR as atribuições de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multimunicipais e municipais de águas e resíduos, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como a regulação dos respectivos sectores e o equilíbrio entre a sustentabilidade económica dos sistemas e a qualidade dos serviços prestados, de modo a salvaguardar os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais;

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em conformidade com códigos de prática previamente estabele-cidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas;

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a presente Recomendação relativa a diversos procedimentos contabilísticos e contratuais que devem ser respeitados na elaboração das propostas de orçamento e projectos tarifários e das demonstrações fi nanceiras reais, dirigida às entidades gestoras dos sistemas multimunicipais de abastecimento de água para consumo humano, de saneamento de águas resi-duais urbanas e de gestão de resíduos sólidos urbanos:

1. Sobre a actualização das tarifas de equilíbrio previstas no contrato de concessão a preços constantes

1.1. As entidades gestoras concessionárias de sistemas multimuni-cipais devem proceder à proposta de actualização das tarifas de equilíbrio previstas nos contratos de concessão a preços constantes de acordo com o previsto em cada contrato.

146 IRAR

1.2. Para efeitos de actualização das tarifas devem ser utilizadas as taxas de infl ação indicadas pelo IRAR e apresentadas no quadro seguinte:

1.3. A informação actualizada sobre as taxas de infl ação será remetida anualmente pelo IRAR a todas as entidades gestoras concessionárias de sistemas multimunicipais em sede de reco-mendações para a elaboração das propostas de orçamento e projectos tarifários.

1.4. Alguns contratos de concessão estabelecem, para efeitos de actualização das tarifas para o ano seguinte (n+1), a taxa de infl ação reportada ao ano anterior (n), pelo que, para estes contratos, a actualização deve processar-se da seguinte forma:

I. Tarifa a preços constantes do ano (base) x produtório de factores de infl ação reais entre o ano (base+1) e ano (n-1) x [factor infl ação estimado para ano em curso1 (n) (elevado ao quadrado)2].

Recomendações IRAR PrevistoEx-ante

EstimadoAno em curso

RealEx-post

1990 13,6%1991 12,3%1992 9,4%1993 6,7%1994 5,4%1995 4,2%1996 3,1%1997 1,9%1998 2,2%1999 2,2%2000 2,8%2001 4,4%2002 3,7%2003 3,3%2004 2,5%2005 --- 2,7% 2,1%2006 2,9% 2,6% 3,0%2007 2,1% --- ---

Fonte: Banco de Portugal

Taxas de inflação utilizadaspelo IRAR

IPCvariaçãoM(12,12)

IHPCvariaçãoM(12,12)

1 De acordo com a Recomendação que o IRAR emite a meio de cada exercício económico para efeitos de ciclo de orçamentação e projecto tarifário para o ano seguinte.

2 Com efeito, a estimativa para a infl ação para o ano em curso constitui também a previsão para o ano seguinte.

Recomendações de 2005 a 2007 147

Exemplo (utilizando as taxas constantes do quadro apre-sentado):

Tarifa de equilíbrio prevista no Contrato de Concessão para 2007 a preços constantes de 2001 (ano base) = €0,40/m3

Tarifa de equilíbrio a preços correntes de 2007 = €0,40 x (1+inf real02) x (1+inf real03) x (1+inf real04) x (1+inf real05) x (1+inf est06) x (1+infest06)

= €0,40 x (1,037) x (1,033) x (1,025) x (1,021) x (1,026)2 = €0,4721

Os contratos de concessão mais recentes estabelecem que a actualização é efectuada em termos genéricos, ou seja, utilizando o factor de infl ação estimado para o ano seguinte (n+1), pelo que, para estes contratos, a actualização das tarifas deve processar-se da seguinte forma:

II. Tarifa a preços constantes do ano (base) x produtório de factores de infl ação reais entre o ano (base+1) e o ano (n-1) x factor de infl ação estimado para ano em curso3 (n) x factor infl ação previsto para o ano seguinte (n+1)4.

Exemplo (utilizando as taxas constantes do quadro apre-sentado):

Tarifa de equilíbrio prevista no Contrato de Concessão para 2007 a preços constantes de 2001 (ano base) = €0,40/m3

Tarifa de equilíbrio a preços correntes de 2007 = €0,40 x (1+inf real02) x (1+inf real03) x (1+inf real04) x (1+inf real05) x (1+inf est06) x (1+infprev07)

= €0,40 x (1,037) x (1,033) x (1,025) x (1,021) x (1,026) x (1,021) = €0,4698

1.5. A única diferença que se verifi ca nas duas formas de actua-lização resulta do diferencial percentual entre a previsão de infl ação para o ano seguinte (critério I e a estimativa de

3 De acordo com a Recomendação que o IRAR emite a meio de cada exercício econó-mico para efeitos de ciclo de orçamentação e projecto tarifário para o ano seguinte.

4 Idem.

148 IRAR

infl ação para o ano em curso constante das recomendações do IRAR, emitidas em Junho de cada ano. No entanto, ao longo do período da concessão, ambos os métodos levam a que as tarifas de equilíbrio acompanhem a infl ação real, não havendo erosão monetária de efeitos permanentes.

1.6. Deste modo, o IRAR considera não haver fundamento para ajustes intercalares em função de novos dados sobre a infl ação do ano anterior e recomenda que:

ß Para novos contratos de concessão que venham a ser cele-brados e para contratos de concessão que venham a ser revistos deve ser estabelecido o método de actualização em termos genéricos (critério II);

ß Para os contratos existentes que não sejam sujeitos a revisão e prevejam a utilização da infl ação do ano anterior (critério I), deve ser seguido o que neles está previsto, não sendo esta diferença metodológica de actualização tarifária motivo para iniciar o processo de revisão do contrato de concessão.

2. Sobre a utilização da Directriz Contabilística n.º 4/91 (DC4) para efeitos de cálculo das amortizações

2.1. A Directriz Contabilística n.º 4/91 (DC4) relativa à contabili-zação de obrigações contratuais de empresas concessionárias deve ser adoptada por todas as empresas concessionárias como metodologia de cálculo e registo das amortizações dos investimentos previstos no Contrato de Concessão e reversíveis no termo do seu período.

2.2. O reconhecimento económico em cada exercício de subsí-dios ao investimento, em linha com as amortizações dos investimentos comparticipados, deve ser contabilizado como proveito extraordinário (# 79) e não como crédito na conta de amortizações do exercício (# 66), por forma a também assegurar uma consistência entre o valor das amortizações orçamentado e o seu valor efectivamente contabilizado.

Recomendações de 2005 a 2007 149

2.3. O cálculo de amortizações de activos abrangidos pela DC4 para efeitos de elaboração dos orçamentos, quer seja utilizado o método linear ou métodos de depleção, deve ser efectuado de acordo com a seguinte fórmula:

Amortização para o ano (n+1) = [investimento total estimado, no ano (n) – amortizações acumuladas, até ao fi nal do ano (n)] x coefi ciente de amortização, para o ano (n+1)/ [somatório dos coefi cientes de amortização a aplicar, entre o ano (n+1) e o útimo ano do período da concessão (N)]

em que:

ß (n+1) – ano orçamentado

ß (n) – ano em que o orçamento é elaborado

ß (N) – último ano da concessão

ß Investimento total estimado, no ano (n): valor total dos activos resultantes de investimento passado e futuro (i.e. a amortizar no quadro do período da concessão), ao qual se aplique a DC4, estimado no momento de elaboração do orçamento da empresa para o ano seguinte (n+1)

ß Amortizações acumuladas: total acumulado no fi nal do ano (n) dos valores contabilizados quer na conta #48 (amor-tizações acumuladas) quer na conta #27 (dotações para amortizações de investimentos futuros)

2.4. Face ao exposto, o IRAR considera que não existe razão para que as amortizações do exercício efectivamente contabilizadas, calculadas segundo as normas previstas na DC4, sejam distintas das amortizações orçamentadas.

Tal resulta dos seguintes factos:

ß O montante do investimento total estimado, utilizado para cálculo das amortizações efectivamente contabilizadas no ano (n+1), deve ser o valor aprovado em sede de orçamento, elaborado no ano (n).

ß A aprovação de revisões ao montante do investimento total estimado, ao ter lugar no ano (n+1) em sede de orçamento

150 IRAR

para o ano (n+2), só produzirá efeitos nas amortizações orça-mentadas e efectivamente contabilizadas no ano (n+2).

ß Assim, o cálculo das amortizações a contabilizar em cada ano reporta-se sempre ao valor do investimento total esti-mado aprovado no orçamento para esse ano.

ß De igual forma, os coefi cientes de amortização a utilizar para cálculo das amortizações a contabilizar em cada ano devem ser precisamente os que constaram do orçamento aprovado para esse ano.

O quadro a seguir apresentado ilustra quantitativamente o acima exposto:

Estes procedimentos tornam significativamente mais simples, transparentes e fáceis de administrar as práticas contabilísticas utilizadas pelas entidades gestoras, mantendo a sua integridade na medida em que a parcela das amor-tizações refl ectida na conta 48 deverá continuar a refl ectir a evolução do imobilizado fi rme.

3. Sobre o tratamento contabilístico das transacções asso-ciadas aos protocolos para a elaboração de projectos de execução da rede em baixa

3.1. As transacções associadas aos protocolos celebrados entre as entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e os muni-

Data da estimativa aprovada OPT (Jun 2000) OPT (Jun 2001) OPT (Jun 2002) OPT (Jun 2003) OPT (Jun 2004) OPT (Jun 2005) OPT (Jun 2006)

Investimento total estimado parao período da concessão objectode aplicação da DC4

(1) 1.500,0 1.500,0 1.600,0 1.600,0 1.650,0 1.700,0 1.700,0

Coeficiente de amortizaçãoestimado para o ano seguinte

(2) 11,8% 13,3% 15,4% 22,7% 33,3% 50,0% 100,0%

2001 2020022003 20 20 202004 25 25 25 252005 25 25 25 25 252006 30 30 30 30 25 252007 30 30 30 30 25 25 25

Subtotal 170 150 130 110 75 50 25

Contas do ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Amortizações acumuladasno início do ano

(3) 900,0 970,6 1.041,2 1.127,1 1.234,6 1.373,1 1.536,5

Amortizaçãoorçamentada = real*

(4) = [(1)-(3)] x (2) 70,6 70,6 86,0 107,5 138,5 163,5 163,5

Amortizações acumuladasno final do ano

(5) = (3) + (4) 970,6 1.041,2 1.127,1 1.234,6 1.373,1 1.536,5 1.700,0

* A parcela das amortizações a contabilizar na 48 deverá relectir a evolução real do imobilizado firme.

Base de cálculo dos coeficientes(p.e. caudais estimados)

20 20

Recomendações de 2005 a 2007 151

cípios utilizadores para o desenvolvimento dos projectos de execução das redes em “baixa” devem ter o seguinte trata-mento contabilístico:

ß Balanço: Os custos a incorrer com prestadores de serviços externos e/ou com a utilização de recursos próprios devem ser registados a débito numa conta específi ca criada para esse efeito em imobilizado incorpóreo em curso (#44) por contrapartida de uma conta credora de prestadores de serviços externos, evidenciando transacções de partes relacionadas caso existam.

ß Demonstração de resultados: A capitalização de encargos com a utilização de recursos internos quando ocorra deve ter como contrapartida o crédito numa conta de trabalhos para a própria empresa (#75).

3.2. As contas de balanço e da demonstração de resultados que refl ectem os movimentos contabilísticos acima descritos devem ser devidamente identifi cadas e autonomizadas atenta a natu-reza de actividade acessória e complementar.

3.3. Os encargos que decorrem do desenvolvimento desta acti-vidade não podem ser refl ectidos nas tarifas dos sistemas multimunicipais.

3.3. Após a conclusão dos trabalhos, havendo transferência para o Município dos projectos de execução desenvolvidos no âmbito dos protocolos, os custos capitalizados em imobi-lizado incorpóreo em curso devem ser transferidos para uma conta devedora (#26), mediante facturação a efectuar pela entidade gestora, registando um crédito sobre o Muni-cípio.

3.4. Havendo transferência para outra entidade distinta do Muni-cípio, o tratamento contabilístico será idêntico ao descrito no ponto anterior.

3.5. Se a execução do investimento for realizada pela entidade gestora, os custos capitalizados em imobilizado incorpóreo em curso transitam, numa primeira fase, para a conta de imobili-

152 IRAR

zado corpóreo em curso. Com a entrada em funcionamento das infra-estruturas, este valor passa a ser amortizado pelo período de via útil estabelecido no Decreto Regulamentar n.º 2/90 (DR 2/90).

4. Sobre a base de cálculo do fundo de reconstituição do capital social (FRCS)

4.1. O IRAR, através da recomendação para a elaboração dos orça-mentos de 2007, entendeu que a dotação para o Fundo de Reconstituição do Capital Social deve ser baseada no capital social subscrito e não no capital realizado.

4.2. Considerando que a constituição e o reforço deste fundo têm vindo a obrigar as entidades gestoras a um esforço fi nanceiro antecipado, na medida em que ocorrem antes de se efectivarem as realizações de capital por parte dos accionistas, o IRAR não se opõe a que as dotações para o FRCS tenham por base o capital efectivamente realizado pelos accionistas, desde que sejam cumpridos os seguintes aspectos:

ß Os accionistas cumpram os prazos previstos no Código das Sociedades Comerciais (CSC) para a realização do capital;

ß Os Conselhos de Administração das entidades gestoras procurem assegurar o cumprimento daqueles prazos pelos accionistas, nomeadamente através das penalizações previstas no Código das Sociedades Comerciais.

5. Sobre a contabilização das dívidas aos municípios pelo património integrado e respectivos encargos

5.1. A integração de património pertencente aos municípios nos activos das entidades gestoras pode ser efectuada a título gratuito ou oneroso.

5.2. Sendo a transferência do património a título gratuito, o trata-mento contabilístico deve processar-se da seguinte forma:

ß O valor do activo a integrar é debitado numa conta de imobilizado corpóreo (#42);

Recomendações de 2005 a 2007 153

154 IRAR

ß O valor do “subsídio” do município deve ser creditado numa conta do passivo (acréscimos e diferimentos – #27.x) designada por proveitos diferidos associados à incorporação de activos municipais na concessão;

ß O activo deve ser amortizado segundo as normas previstas na DC4 numa conta de amortizações do exercício (#66), de acordo com método linear ou de depleção;

ß O subsídio deve ser reconhecido anualmente como proveito do exercício numa conta de proveitos extraordinários (#79), por contrapartida da conta de proveitos diferidos no passivo (#27.x) e pelo montante e período das amortizações, pelo que o impacto no resultado líquido de cada exercício é sempre nulo.

5.3. Sendo a transferência do património a título oneroso, o trata-mento contabilístico deve processar-se da seguinte forma:

ß O valor do activo a integrar é debitado numa conta de imobi-lizado corpóreo (#42), sendo amortizado segundo as normas previstas na DC4 numa conta de amortizações do exercício (#66), de acordo com método linear ou de depleção;

ß O valor actual da dívida ao município deve ser creditado numa conta de outros credores (dívidas aos municípios por integração de activos na concessão – #26);

ß O diferencial entre o valor do activo contabilizado na conta (#42) e o valor actual da dívida contabilizado na conta (#26) deve ser creditado no passivo, na conta de acréscimos e diferimentos (#27.x – proveitos diferidos associados à incorporação de activos municipais na concessão);

ß Este diferencial deve ser reconhecido anualmente como proveito do exercício numa conta de proveitos extraordiná-rios (#79), por contrapartida da respectiva conta do passivo (#27.x), utilizando-se os mesmos coefi cientes de amortização;

ß Os pagamentos da dívida devem ser decompostos em encargos fi nanceiros incorridos e amortização do capital em dívida. Os primeiros são reconhecidos a débito da conta

Recomendações de 2005 a 2007 155

(#68 – custos e encargos fi nanceiros) e a amortização do capital é contabilizada a débito da respectiva conta (# 26)

6. Sobre a revisão dos estudos de viabilidade económica e fi nanceira (EVEF)

6.1. As entidades gestoras concessionárias de sistemas multimuni-cipais que pretenderem rever os contratos de concessão e os respectivos EVEF, nos termos da recomendação do IRAR que foi emitida no quadro da elaboração dos orçamentos para 2007, devem acautelar os seguintes aspectos:

ß Os EVEF revistos devem incluir os dados históricos reais desde o início da Concessão;

ß Os modelos devem ser submetidos em fi cheiros excel mantendo inalteradas as fórmulas de cálculo e as ligações entre as páginas do workbook;

ß Os EVEF devem apresentar tarifas diferenciadas para o abastecimento e para o saneamento de águas residuais;

ß Os EVEF revistos, para serem válidos, carecem de autorização do Concedente sob parecer do IRAR e de formalização através de um aditamento ao Contrato de Concessão.

6.2. A revisão formal do Contrato de Concessão pode ser particu-larmente oportuna e relevante quando a empresa se encontra em transição da fase de investimento inicial (regime de tarifas de equilíbrio) para a fase de exploração (regime de tarifas necessárias).

15 de Maio de 2007

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

João Simão Pires

156 IRAR

Esta Recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Na sua elaboração participou o Departamento de Análise Económica e Financeira

do IRAR.

Foram consultadas todas as entidades gestoras concessionárias de sistemas multi-

municipais.

Recomendações de 2005 a 2007 157

Recomendação IRAR n.º 04/2007

FACTURAÇÃO DE SERVIÇOS EM “ALTA” DE SANEAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS URBANAS EM SISTEMAS COM CONTRBUIÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Considerando que:

ß O sector de saneamento de águas residuais urbanas se encontra numa fase de grande expansão e dinamismo, com elevado investimento em infra-estruturas.

ß Que alguns sistemas multimunicipais e intermunicipais com serviço em “alta” se encontram já em condições de proceder à medição da quase totalidade dos caudais recebidos dos utiliza-dores para suporte da facturação dos seus serviços, tornando desnecessária a sua estimativa.

ß Uma correcta operação e manutenção das infra-estruturas, com racionalização e optimização dos recursos afectos, resulta no aumento da respectiva vida útil, na melhor protecção dos meios receptores e na redução do custo dos serviços, que importa incentivar.

ß Entre as afl uências indesejáveis a sistemas separativos de águas residuais urbanas (domésticas e industriais) incluem-se as águas pluviais directas (decorrentes de escoamento directo da precipi-tação) e as águas de infi ltração.

158 IRAR

ß Em Portugal, é elevada a proporção das redes de drenagem de águas residuais urbanas que apresentam contribuições signifi ca-tivas de águas pluviais.

ß A ocorrência destas afl uências indesejáveis aos sistemas de sanea-mento pode resultar em impactos em termos de: aumento do risco de inundações urbanas (pelo extravasamento através de câmaras de visita e ramais de ligação); redução da efi ciência de estações de tratamento de águas residuais e consequente risco ambiental para os meios receptores; agravamento global de custos de operação e manutenção de infra-estruturas (designa-damente de sistemas elevatórios).

ß A ocorrência destas afl uências pode também conduzir à mais rápida deterioração das infra-estruturas, devido a velocidades de escoamento excessivas ou ao arrastamento e deposição de sedimentos.

ß No quadro global dos sistemas multimunicipais e intermunici-pais de saneamento implantados no País, a entidade gestora do sistema em “baixa” é, frequentemente, distinta da entidade gestora do sistema em “alta” para o qual descarrega.

ß Tanto o sistema em “alta” como o sistema em “baixa” podem receber afl uências indesejáveis, embora com origens e contribui-ções diversas, sendo essas afl uências, por vezes, muito signifi ca-tivas.

ß A nível nacional têm sido analisados, discutidos e utilizados diversos procedimentos para a determinação dos volumes e respectivos montantes a facturar pelas entidades gestoras dos sistemas em “alta” aos municípios e restantes utilizadores destes sistemas, procedimentos esses que importa harmonizar e unifor-mizar.

ß Em concreto, à medida que vários sistemas multimunicipais de saneamento têm vindo a reunir as condições necessárias para facturar os serviços em “alta” aos seus utilizadores, com base na medição de caudais, têm-se colocado várias questões sobre os princípios e as metodologias a aplicar.

Recomendações de 2005 a 2007 159

ß Neste quadro, importa estabelecer princípios claros (facilmente compreensíveis pelos intervenientes), credíveis (baseados em formulações racionais aceites), equitativos (indutores de justiça entre as partes) e sustentáveis (passíveis de serem aplicados de forma consistente ao longo de períodos alargados) no que respeita às regras e aos procedimentos a aplicar para facturação dos serviços em “alta” de transporte e tratamento de águas residuais urbanas (incluindo contribuições domésticas, industriais e pluviais).

ß Uma adequada gestão das afl uências indesejáveis de águas pluviais aos sistemas de saneamento de águas residuais pode também trazer como benefícios adicionais: uma melhor compre-ensão do comportamento dos sistemas em “baixa” e dos sistemas em “alta”; uma melhor identifi cação de prioridades de investi-mentos para melhoria do comportamento das infra-estruturas; e uma defi nição mais sustentada de estratégias de operação e manutenção, para resolução dos problemas identifi cados.

Considerando fi nalmente que:

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribuições de regulamentação, orien-tação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multimunicipais e municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como a regulação dos respectivos sectores e o equilíbrio entre a susten-tabilidade económica dos sistemas e a qualidade dos serviços prestados, de modo a salvaguardar os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao conselho directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativos a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em confor-midade com códigos de prática previamente estabelecidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

160 IRAR

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação, dirigida às entidades gestoras de sistemas de saneamento em “alta” e aos seus utilizadores, relativa aos princípios e à metodologia a aplicar para a factu-ração dos serviços de transporte, tratamento e destino fi nal de águas residuais, e às regras e procedimentos a adoptar para a estimativa dos volumes de águas residuais afl uentes aos sistemas quando se verifi quem contribuições de águas pluviais:

1. Sobre os princípios a adoptar

ß A metodologia de facturação a adoptar pelos sistemas em alta relativamente aos sistemas em baixa deve atender aos seguintes objectivos:

- Incentivo à redução das afl uências indesejáveis de águas pluviais;

- Redução do grau de incerteza e volatilidade das receitas previsionais totais geradas pelas entidades gestoras dos sistemas em “alta” e dos correspondentes pagamentos efectuados pelos utilizadores;

- Distribuição dos encargos pelos utilizadores em função da respectiva “quota” de utilização do sistema, traduzida pela proporção de volumes atribuível a cada utilizador.

ß Para o efeito, os volumes de águas residuais descarregados pelos utilizadores devem ser determinados com base em medições de caudais em secções de entrega, sempre que materialmente relevante e tecnicamente justifi cável.

ß Sem prejuízo do anteriormente referido:

- Em sistemas complexos, com grande número de ligações entre a “alta” e “baixa”, essas medições de caudais podem ser feitas apenas em secções estratégicas, que permitam avaliar ou estimar com precisão aceitável a contribuição dos diversos utilizadores e, consequente-mente, quantifi car as respectivas “quotas” de utilização do sistema multimunicipal ou intermunicipal;

1 No caso específi co de entidades gestoras concessionárias de sistemas multimunici-pais de saneamento, o modelo descrito neste ponto é aplicável a partir do momento em que a empresa reúne condições para transitar de um regime de aplicação de “tarifas de equilíbrio”, para a aplicação de “tarifas necessárias”. Durante a fase de aplicação de “tarifas de equilíbrio”, a trajectória tarifária da concessionária segue valores defi nidos ex-ante no contrato de concessão. No regime de “tarifas necessá-rias”, as tarifas resultam já do valor de receitas, apurado ex-post, de que a conces-sionária, operando num cenário de efi ciência, necessita em função da evolução da sua efectiva estrutura de custos.

Recomendações de 2005 a 2007 161

- Poder-se-á prescindir de medição contínua, no caso de contribuições quantitativamente pouco relevantes, relativamente às quais se possam convencionar volumes resultantes de estimativa ou de extrapolação a partir de medições feitas em intervalos temporais de amos-tragem.

2. Sobre o modelo recomendado de facturação e repartição de custos pelos utilizadores1

ß A definição de tarifas “em alta” para os sistemas multi-municipais com base em volumes estimados para o exercício seguinte e sua aplicação com base em volumes medidos durante o ano em curso introduz um grau de volatilidade desnecessário nas receitas da entidade gestora e nos custos do serviço para os utilizadores do sistema, em virtude, entre outras razões, do carácter aleatório da precipitação anual e das correspondentes contribuições pluviais.

ß Assim, para maior garantia da estabilidade das receitas totais geradas e dos respectivos pagamentos a efectuar por cada utilizador, recomenda-se a adopção de um “modelo de volumes desfasados”, sendo a tarifa do sistema em “alta” (T), aprovada em sede de orçamento, resultado do rácio entre a receita aprovada para o ano seguinte (ano t+1) e o total dos volumes de águas resi-duais que a entidade gestora recolheu no sistema entre Julho do ano anterior (ano t-1) e Junho do ano em curso (ano t).

162 IRAR

ß A tarifa do sistema, T, pode ser determinada recorrendo à expressão (1), conforme se segue:

S=

-++ =U

i

Tuitttt QTR

1,111 . (1)

sendo:

+tR 1 – receita aprovada para o ano seguinte (t+1);

+tT 1 – tarifa do sistema aprovada para o ano seguinte (t+1);

-Tui

ttQ ,1 – volume total descarregado no sistema por cada

utilizador i, num universo de U utilizadores, entre Julho do ano (t-1) e Junho do ano (t), estimado preferencialmente a partir de registos de medições em secções de entrega;

S=

-

U

i

TuittQ

1,1

– somatório das contribuições, entre Julho do

ano (t-1) e Junho do ano (t), do total de U utilizadores.

ß A repartição de custos entre utilizadores pode ser efectuada recorrendo à expressão (2), conforme se segue:

11

,1,11 ./ +=

--+ ˜¯

ˆÁË

Ê= S t

U

i

Tuitt

Tuitt

uit RQQR

(2)sendo:

1+uitR – receita a receber de utilizador i no ano (t+1).

ß Tendo avaliado os méritos de modelos alternativos de maior sofi sticação e complexidade e consultado um amplo leque de entidades interessadas nesta questão, este modelo reúne o duplo mérito de observar os princípios enunciados no ponto 1 da presente Recomendação e de se revestir de caracte-rísticas de simplicidade e facilidade de implementação.

3. Sobre regras e procedimentos de medição para quanti-fi cação de águas pluviais afl uentes ao sistema

ß Para melhor gestão de investimentos na redução de afl uên-cias indesejáveis com origem em redes de drenagem será fundamental que as entidades gestoras de sistemas “em

2 Em Relatório Técnico a emitir pelo IRAR em parceria com o CEHIDRO, disponível em www.irar.pt, serão apresentados modelos de facturação que incorporam diferencia-ção tarifária entre estes dois tipos de caudal.

Recomendações de 2005 a 2007 163

alta” assegurem, sempre que técnica e economicamente justifi cável, registos de medições em secções de entrega, por forma a permitir não só estimar os caudais descarregados por cada utilizador, como avaliar a parcela com origem pluvial.

ß Os caudais de tempo seco e de tempo húmido devem ser estimados a partir de registos contínuos de caudais à entrada das estações de tratamento e, quando justifi -cável, em secções de entrega da rede em “baixa” na rede em “alta” (pontos de recolha), estabelecendo-se curvas padrão de evolução de caudal de tempo seco a partir de registos em período estival. Os volumes afl uentes de origem pluvial podem ser estimados com base na diferença entre os volumes registados em tempo de chuva e os valores estimados para condições de referência de tempo seco2.

ß Para a defi nição de “dia de chuva”, recomenda-se que:

- A entidade gestora e os utilizadores do sistema selec-cionem um udómetro (ou mais de um udómetro) loca-lizado na área servida por cada estação de tratamento ou sufi cientemente próximo desta, cujas medições sejam consideradas representativas de ocorrência de contribui-ções de águas pluviais na área contributiva.

- Pode ser razoável que um udómetro seleccionado como representativo da ocorrência de precipitação na área servida por uma dada estação de tratamento seja considerado também representativo da ocorrência de precipitação em áreas vizinhas servidas por outras esta-ções de tratamento.

- Considera-se “dia de chuva” numa dada área servida se se registar ocorrência de precipitação no udómetro selec-cionado para o respectivo ponto de medição (estação de tratamento ou secção de entrega).

3 Recomenda-se que a duração de M seja de pelo menos 10 dias, isto é, que se utilize o valor médio diário do último período contínuo de tempo seco com uma duração mínima de 10 dias.

164 IRAR

- Nos “dias de chuva” os volumes medidos devem ser repartidos entre o volume de águas residuais domés-ticas/industriais (Vad) e o volume de águas pluviais (Vap) de acordo com a expressão (3), que incorpora a média aritmética dos volumes medidos no período antecedente de, pelo menos, M dias consecutivos de tempo seco:

japn

M

m

jTm

jTn

japn

jadn

jTn v

M

vvvvv +=+=

S= );min( 1

(3) sendo:

jT

nv – volume total medido no ponto de medição j (ETAR ou secção de entrega), no “dia de chuva” n;

jad

nv – volume de águas residuais domésticas/industriais atribuído ao ponto de medição j, no “dia de chuva” n;

japnv – volume estimado de águas pluviais, atribuído ao

ponto de medição j, no “dia de chuva” n;

M – número de dias do último período contínuo de tempo seco3;

M

m

jTm

M

vS=1 – valor médio diário dos volumes totais medidos

no ponto de medição j, calculado para o último período, precedente ao dia n, de M dias consecutivos de tempo seco.

ß Para efeitos de identifi cação de “dias de chuva”, pode ser consultado, quando apropriado, via Internet, o site do Instituto da Água (http://snirh.pt/) relativo ao Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), onde se apresentam grafi camente registos de precipitação, conforme exemplifi cado na Figura 1.

Recomendações de 2005 a 2007 165

Figura 1 – Exemplo de histograma retirado do SNIRH.

ß Caso o sistema em análise apresente um hidrograma com uma vincada recuperação lenta do padrão de tempo seco após “dias de chuva”, e que tal seja verifi cado por medição e/ou modelo matemático calibrado, pode aplicar--se a expressão (3), para determinação do, nos N* dias de tempo seco, equivalentes, em termos de comportamento, a “dias de chuva”. O valor de N* variará de sistema para sistema (e, possivelmente, de chuvada para chuvada).

8 de Outubro de 2007

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

João Simão Pires

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos em reunião de 8 de Outubro de 2007 ao abrigo do disposto

nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei

n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei

n.º 151/2002, de 23 de Maio.

Na sua elaboração participaram o Sector de Águas do Departamento de Engenharia,

o Departamento de Análise Económica e Financeira e o Departamento de Análise

Jurídica do IRAR, contando com o apoio do Centro de Estudos de Hidrossistemas

(CEHIDRO) do Instituto Superior Técnico, e foram consultadas as seguintes enti-

166 IRAR

dades: AGS - Administração e Gestão de Sistemas de Salubridade, S.A, Águas

de Portugal, SGPS, Águas de Santo André, S.A., Águas de Trás-os-Montes e Alto

Douro, S.A., Águas do Algarve, S.A., Águas do Ave, S.A., Águas do Centro Alen-

tejo, S.A., Águas do Centro, S.A., Águas do Minho e Lima, S.A., Águas do Norte

Alentejano, S.A., Águas do Oeste, S.A., Águas do Zêzere e Côa, S.A., Aquapor,

S.A., Associação de Empresas Privadas do Sector das Águas, Associação Nacional

de Municípios Portugueses, Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de

Águas, Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental, Associação

Portuguesa de Recursos Hídricos, Compagnie Générale des Eaux (Portugal), S.A.,

Indaqua – Indústria e Gestão de Águas, S.A., Laboratório Nacional de Engenharia

Civil, Sanest, S.A., Simlis, S.A., Simria, S.A.,Simtejo, S.A. e Tratave, S.A.

Recomendações de 2005 a 2007 167

Recomendação IRAR n.º 05/2007

DESINFECÇÃO DA ÁGUA DESTINADAAO CONSUMO HUMANO

Considerando que:

ß Os dados da qualidade da água para consumo humano reportados anualmente pelas entidades gestoras revelam que, com excepção do parâmetro pH, os parâmetros microbiológicos constituem o grupo com maior percentagem de incumprimentos aos valores paramétricos no nosso País.

ß No contexto nacional, a expressão da percentagem de incum-primentos dos valores paramétricos relativos aos parâmetros microbiológicos é ainda signifi cativa, representando, em 2006, 42,5% do total de incumprimentos registados.

ß Os parâmetros microbiológicos que eram analisados no âmbito do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, e que se mantêm no recente Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto, são reveladores de contaminação e, como tal, da eventual presença de microrganismos susceptíveis de provocar infecções, que vão desde gastroenterites ligeiras a doenças infecciosas graves, tal como a hepatite.

168 IRAR

ß De acordo com a referida legislação, uma água destinada a ser bebida, a cozinhar, à preparação de alimentos, à higiene pessoal ou a outros fi ns domésticos deve ser salubre e limpa e, como tal, não conter microrganismos patogénicos para a saúde humana.

ß É possível obter uma água microbiologicamente própria para consumo humano através da instalação de sistemas de desin-fecção, cuja única exigência é a implementação de um controlo operacional adequado.

ß O Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto, que só entra em vigor a 1 de Janeiro de 2008, institui a desinfecção como processo de tratamento da água obrigatório, tendo as entidades gestoras o prazo de um ano para se adaptarem.

ß As entidades gestoras devem assegurar a efi cácia da desinfecção e garantir que, sem a comprometer, a contaminação por subpro-dutos na água é mantida a um nível tão baixo quanto possível e sem pôr em causa a sua qualidade para consumo humano.

ß O IRAR, enquanto autoridade competente para a qualidade da água para consumo humano, pretende apoiar as entidades gestoras na melhoria do seu desempenho no sentido de dimi-nuir a percentagem de incumprimentos e, complementarmente, aumentar a confi ança dos consumidores na qualidade da água que lhes chega à torneira.

Considerando ainda que:

ß Ao abrigo do n.º 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro, foi o IRAR investido como a autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano, situação que se mantém no artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto.

ß Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio, se cometem a este Instituto as atribui-ções de regulamentação, orientação e fi scalização da concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas multimunicipais e

municipais de águas, bem como da actividade das respectivas entidades gestoras, assim como de assegurar a qualidade da água para consumo humano nos termos dispostos na legislação, de modo a salvaguardar a protecção da saúde pública e os interesses e direitos dos cidadãos no fornecimento de bens e serviços essenciais.

ß O artigo 11.º daquele diploma atribui ao Conselho Directivo do IRAR, entre outros, os poderes para emitir recomendações de carácter genérico relativas a aspectos essenciais da qualidade na concepção dos sistemas multimunicipais e municipais, em conformidade com códigos de prática previamente estabele-cidos, e para sensibilizar as entidades gestoras e os autarcas em geral para as questões da qualidade na concepção dos mesmos sistemas.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos entende formular a seguinte Recomendação relativa à desinfecção da água destinada ao consumo humano, por forma a salvaguardar a qualidade da água, dirigida às entidades gestoras responsá-veis por sistemas de abastecimento público de água:

1. Sobre os diferentes processos de desinfecção da água

1.1. A desinfecção da água assegura a protecção contra o risco de contrair doenças infecciosas de origem hídrica, sendo este um objectivo prioritário e indispensável.

1.2. A desinfecção da água pode efectuar-se através de diferentes processos físicos (ebulição e aplicação de radiações ultravioleta) e químicos (aplicação de cloro, dióxido de cloro, monoclora-mina e ozono).

Qualquer processo de desinfecção da água apresenta vanta-gens e desvantagens. A escolha do processo depende dos condicionalismos locais e da qualidade da água na origem, devendo ser procurado um compromisso entre a efi cácia do processo (inactivação dos microrganismos), a formação de subprodutos e a garantia de um teor residual ao longo do sistema de distribuição (protecção sanitária).

Recomendações de 2005 a 2007 169

1.3. Para uma adequada desinfecção da água deve ser garantido um teor de desinfectante residual, razão pela qual não é comum utilizar o ozono ou a radiação UV como desinfectantes fi nais.

1.4. No que respeita à cloraminação, pese embora, actualmente, não seja aplicada no nosso País, trata-se de um processo em que o agente de desinfecção é a monocloramina (NH2Cl), produzida a partir da reacção entre o cloro e o amoníaco, este na forma de amónia.

1.5. O dióxido de cloro (ClO2) não é muito utilizado como desin-fectante fi nal, dada a relativa complexidade da tecnologia envolvida (produção local obrigatória), bem como os custos de instalação e exploração (operação e manutenção). Trata-se de um processo que requer um controlo mais apertado e que exige a formação específi ca dos operadores. O ClO2 é um produto quimicamente instável, podendo dar origem a explosão por excesso de temperatura ou quando se atinge valores de concentração no ar superiores a 10% (v/v).

Este desinfectante apresenta como desvantagem a limitação da dose de ClO2 total aplicada, de forma a minimizar a formação de iões cloritos e cloratos (subprodutos da desinfecção). Apro-ximadamente 50 a 70% de ClO2 é convertido nos subprodutos inorgânicos cloritos e cloratos. Para cada um destes subpro-dutos a Organização Mundial de Saúde estabelece o valor guia provisório de 0,7 mg/L. Segundo a Environmental Protection Agency (EPA), o teor residual de ClO2 não deve ultrapassar o valor de 0,8 mg/L, pois uma exposição a valores superiores tem efeitos potenciais na saúde pública (anemia e efeitos no sistema nervoso em crianças e adolescentes).

Quando na presença do ião hipoclorito, por um lado, dá-se a formação de cloro molecular (Cl2) que em meio aquoso se torna corrosivo e, por outro, potencia-se a formação acrescida de cloritos e cloratos. Esta questão é particularmente relevante quando o serviço está dividido na componente em alta e na componente em baixa, em que a entidade gestora em alta

170 IRAR

procede à desinfecção com ClO2 e a entidade gestora em baixa procede ao reforço da desinfecção com cloro. Nestas condições, a entidade gestora em alta deve ter o cuidado de fornecer uma água com o teor de ClO2 residual livre o mais baixo possível, sem comprometer a efi cácia da desinfecção, e a entidade gestora em baixa deve incluir no controlo operacional, a realizar na rede de distribuição, a análise dos parâmetros cloritos e cloratos.

1.6. O desinfectante mais utilizado é o cloro, razão pela qual a presente recomendação incide sobre este tipo de desin-fecção.

Na desinfecção por cloragem recorre-se tipicamente à utili-zação de um dos três produtos: cloro gasoso (Cl2), hipoclorito de sódio (NaClO) ou hipoclorito de cálcio (Ca(ClO)2).

A escolha do produto a utilizar é função da quantidade necessária de desinfectante, das condições existentes no local (por exemplo, espaço disponível e electricidade), da facilidade de operação, das condições de segurança (arma-zenamento e manipulação) e do custo associado (instalação e exploração).

Normalmente, utiliza-se o cloro gasoso quando se trata de grandes instalações (dado ser o produto mais económico) e o hipoclorito de sódio quando se trata de instalações de pequena dimensão (dado ser o produto de mais simples utilização). O hipoclorito de cálcio é pouco utilizado, sendo geralmente aplicado quando não existe electricidade no local de injecção.

Na inexistência de energia eléctrica no local de injecção do cloro, recomenda-se como alternativa a instalação de painéis solares como fonte de energia alternativa.

Nos casos em que não existe energia, e até à sua instalação, pode recorrer-se transitoriamente a sistemas mais rudimen-tares como são os casos da injecção da solução com recurso a doseadores hidráulicos, do recurso a pastilhas de hipoclorito de cálcio ou por estrangulamento da respectiva tubagem.

Recomendações de 2005 a 2007 171

Esta última opção não deve ser encarada como defi nitiva, exigindo um rigoroso controlo operacional. Por um lado, para aferir a concentração da solução de hipoclorito a injectar bem como o doseamento adequado é necessário realizar vários ensaios, os quais devem incluir as várias situações de variação de caudal da água a desinfectar. Por outro lado, o controlo do teor de cloro residual na rede (análises a realizar e pontos de amostragem) deve ser mais exigente com vista à detecção atempada de falhas no doseamento e alterações inesperadas de caudal.

Salienta-se que qualquer solução adoptada pressupõe deseja-velmente a construção de reservatórios, por forma a garantir o adequado tempo de contacto mínimo exigido entre o desinfectante e a água a tratar.

2. Sobre os produtos de cloro mais utilizados

2.1. O cloro e os produtos clorados1 dissociam-se imediatamente na água em ácido hipocloroso (HOCl) e ião hipoclorito (ClO-). O ácido hipocloroso é a espécie mais activa no mecanismo de desinfecção, razão pela qual é denominado de cloro activo. O efeito germicida do ácido hipocloroso é cerca de 100 vezes superior ao do ião hipoclorito.

2.2. Cloro gasoso

ß O produto é fornecido sob a forma de gás liquefeito sob pressão, sendo armazenado em recipientes de aço (garrafas ou tanques), com um teor de cloro de 99,5% (m/m).

ß Trata-se de um gás muito tóxico e corrosivo, 2,5 vezes mais denso do que o ar. O seu armazenamento e manuseamento estão sujeitos a rigorosas regras de segurança.

ß Devem-se proteger os recipientes da luz solar, não devendo a temperatura exceder 50ºC.

1 Os produtos clorados mais utilizados são o hipoclorito de sódio e o hipoclorito de cálcio.

172 IRAR

ß No local de armazenamento, bem como no local onde se encontra instalado o equipamento de dosagem, deve existir uma saída de emergência, com abertura para o exterior e, idealmente, com uma barra antipânico na respectiva porta.

ß Deve ser colocada a fi cha de identifi cação e segurança do produto em local visível e de fácil acesso, permitindo uma actuação mais célere em caso de acidente.

ß Deve ser dada uma atenção especial a fugas que possam ocorrer na instalação. É necessário dispor sempre de um sistema de detecção de fugas de cloro e de uma unidade para a sua neutralização. Recomenda-se a verifi cação peri-ódica da resposta do equipamento de detecção e neutrali-zação de fugas de cloro, a qual deve incluir a calibração dos sensores dos detectores de fugas (calibração dos valores de concentração de cloro no ar para os quais estes sensores activam os alarmes de fuga de cloro).

ß É indispensável a existência de máscaras antigás e, se possível, de equipamento de respiração autónoma, e lava-olhos na zona exterior do edifício dos recipientes de cloro.

ß Na maioria dos casos, o cloro é extraído, sob a forma gasosa, por depressão, para formar uma solução superclorada. É esta solução que é injectada na água a desinfectar.

ß Este produto é temporalmente muito estável.

ß No processo de aquisição do produto, é indispensável incluir como critério de selecção a garantia da qualidade do mesmo, nomeadamente no referente às impurezas e às substâncias tóxicas. Neste contexto, recomenda-se a consulta da norma NP EN 937.

2.3. Hipoclorito de sódio

ß O produto é fornecido sob a forma de solução aquosa, com uma concentração em cloro activo até 15% (m/m)2.

2 15% (m/m): 15 g de cloro activo por 100 g de solução comercial.

Recomendações de 2005 a 2007 173

ß Trata-se de um líquido corrosivo contendo soda, com um pH superior a 11 a 20ºC. Sempre que haja manuseamento do produto é indispensável usar luvas e óculos protectores.

ß Deve ser colocada a fi cha de identifi cação e segurança do produto em local visível e de fácil acesso, permitindo uma actuação mais célere em caso de acidente.

ß Não deve ser adicionado ácido numa solução de hipoclorito de sódio, pois isso provoca a libertação de cloro gasoso, gás tóxico que pode ser mortal.

ß O produto pode ser injectado directamente ou após diluição. Dependendo das características da água, com a adição de hipoclorito pode ocorrer a precipitação de ferro, manganês, alumínio, carbonato de cálcio e hidróxido de magnésio. Esta situação prejudica o funcionamento do equipamento de bombagem e origina problemas nos reservatórios e nas redes de distribuição pública e predial.

ß A estabilidade do produto depende da concentração em cloro activo, da temperatura e da duração do armazena-mento, das impurezas presentes na solução e da exposição à luz solar. Este produto apresenta perdas de cloro activo na ordem dos 2 a 4% por mês. A decomposição do hipo-clorito de sódio com o tempo vai infl uenciar o caudal e a taxa de doseamento, bem como potenciar a produção de subprodutos indesejáveis, tais como cloritos e cloratos.

ß No processo de aquisição do produto, é indispensável incluir como critério de selecção a garantia da qualidade do mesmo, nomeadamente no que se refere às impu-rezas (cloratos) e às substâncias tóxicas (metais pesados). Neste contexto, recomenda-se a consulta da norma EN 901:2007.

2.4. Hipoclorito de cálcio

ß O produto é fornecido sob a forma sólida de cor branca, com um teor de cloro de 60 a 70% (m/m), apresentando perdas de cloro activo na ordem dos 2 a 2,5% por ano.

174 IRAR

ß Trata-se de um produto corrosivo que deve ser armazenado em local seco e com um sistema de ventilação, não sujeito a fontes de calor e onde não existam materiais oxidáveis. Sempre que haja manuseamento do produto é indispensável usar luvas e óculos protectores.

ß Deve ser colocada a fi cha de identifi cação e segurança do produto em local visível e de fácil acesso, permitindo uma actuação mais célere em caso de acidente.

ß Não deve ser adicionado ácido numa solução de hipoclorito de cálcio, pois isso provoca a libertação de cloro gasoso, gás tóxico que pode ser mortal.

ß O produto deve ser dissolvido antes de ser aplicado. Sendo um produto pouco solúvel (solubilidade máxima de 25 g/L a 20ºC) e cujo processo de dissolução é muito lento, é neces-sário preconizar uma agitação durante tempo sufi ciente. Recorda-se que, dependendo das características da água, a adição de hipoclorito pode dar origem a precipitações ao longo do sistema de distribuição.

ß No processo de aquisição do produto, é indispensável incluir como critério de selecção a garantia da qualidade do mesmo, nomeadamente no que se refere às impurezas e às substâncias tóxicas. Neste contexto, recomenda-se a consulta da norma NP EN 900.

3. Sobre a cinética da desinfecção com cloro

3.1. Critério CT

ß A cinética da reacção entre o desinfectante e os microrga-nismos depende essencialmente do tipo de microrganismos considerados e do desinfectante utilizado. Para avaliar a efi cácia da desinfecção face à resistência dos microrga-nismos que se pretendem eliminar recorre-se ao critério CT, dado pelo produto entre a concentração residual de desinfectante (C), expressa em mg/L, e o tempo real de contacto entre o desinfectante e os microrganismos (T), expresso em minutos.

Recomendações de 2005 a 2007 175

ß Existem tabelas específi cas para cada microrganismo, em função do tipo de desinfectante, da temperatura e do pH da água. Por exemplo, para se obter uma redução de 99,9% de cistos de Giardia, a 20ºC e a pH 7, aplicando uma concentração de 2 mg/L de cloro residual livre, o valor de CT é 62. Este valor permite determinar o tempo de contacto necessário para garantir a percentagem de inactivação pretendida (neste exemplo, 31 minutos).

3.2. Carência química de desinfectante

ß Quando o cloro é adicionado à água, ocorrem sucessiva-mente diferentes reacções químicas. Inicialmente o cloro reage com os compostos presentes na água e só depois é que permanece disponível para desempenhar o seu papel de desinfectante. A quantidade de cloro necessária para reagir com a matéria orgânica, amónia, compostos azotados e outros compostos oxidáveis (por exemplo, ferro e manganês) é designada por carência química de cloro.

ß Antes de instalar um sistema de desinfecção, deve ser avaliada a carência química de desinfectante para deter-minar a quantidade de cloro necessária.

4. Sobre os parâmetros que infl uenciam a efi cácia da desin-fecção com cloro

4.1. Concentração hidrogeniónica (pH)

ß A desinfecção é mais efi caz a pH baixo, dada a predomi-nância da espécie HOCl. A pH alto predomina a espécie ClO-, o que conduz a uma perda da efi cácia da desinfecção.

ß Uma água alcalina (pH>8) só pode ser desinfectada de forma efi caz por supercloração. Nestas condições, deve ser dada especial atenção à formação de subprodutos indesejáveis.

4.2. Turvação

ß A desinfecção é mais efi caz quando a água é submetida a um pré-tratamento para remoção da turvação e, em particular, de todas as substâncias capazes de reagir e de consumir

176 IRAR

cloro. Segundo a Organização Mundial de Saúde, é essencial que o tratamento que precede a desinfecção fi nal produza uma água cuja turvação não exceda, em média, 1 NTU.

ß Salienta-se que uma boa fi ltração apresenta como vantagem a retenção de outros microrganismos resistentes ao cloro.

4.3. Temperatura

ß Com o aumento da temperatura da água, por um lado, diminui ligeiramente a proporção de HOCl em relação a ClO- bem como a estabilidade do cloro na água mas, por outro lado, aumenta o seu poder germicida devido à infl uência da temperatura na cinética de inactivação patogénica. Por exemplo, para se obter uma redução de 99,9% dos cistos de Giardia, a 10ºC e a pH 7, aplicando uma concentração de 2 mg/L de Cl2 residual livre, o valor de CT é 124 (comparando este valor com o referido no ponto 3.1, verifi ca-se que para conseguir níveis de inactivação idênticos, quando a tempe-ratura da água baixa 10ºC, o tempo de contacto duplica).

4.4. Tempo de contacto (tempo que decorre entre a injecção do cloro e a utilização da água)

ß Uma desinfecção efi caz exige um tempo de contacto mínimo de 30 minutos. Para tal, a concepção dos sistemas (reservatórios) deve garantir uma boa interface de contacto do desinfectante com a água.

4.5. Concentração de cloro

ß A concentração de cloro necessária dosear deve ser estabe-lecida em função da resistência dos microrganismos que se pretendem eliminar. Para garantir uma barreira sanitária ao longo de todo o sistema de distribuição, deve ser garantido um teor de cloro residual livre.

4.5. Estado de conservação das condutas

ß As características da tubagem (tipo de material, revesti-mento interno e idade), as características hidrodinâmicas do fl uxo (velocidade, regime hidráulico e período de residência),

Recomendações de 2005 a 2007 177

bem como o desenvolvimento de biofi lmes e a deposição de sedimentos, são factores que favorecem o consumo do desinfectante residual livre, podendo consequentemente dar origem a contaminações na rede de distribuição.

ß Chama-se a atenção que, desde que existam nutrientes disponíveis e que a concentração de desinfectante residual livre não seja sufi cientemente alta para suprimir o cresci-mento microbiológico, pode ocorrer desenvolvimento de fl ora microbiana. Por outro lado, existem diversos factores que potenciam o desenvolvimento microbiológico, tais como, a presença de ferro e manganês, sedimentos acumu-lados e produtos de corrosão.

ß Salienta-se ainda que variações de caudal e alterações no sentido da distribuição podem levar ao desprendimento do biofi lme existente nas tubagens, situação que pode, por si só, ser a causa de alterações na qualidade microbiológica na rede de distribuição.

4.7. Extensão da rede

A concentração de cloro residual livre diminui gradualmente ao longo da rede de distribuição à medida que este reage, por exemplo, com os compostos presentes na água ou com o material da tubagem. Esta situação pode levar ao total desaparecimento do cloro residual livre, o que aumenta as probabilidades de contaminação microbiológica. Para evitar este tipo de situações, recomenda-se a instalação de postos de recloragem ao longo da rede de distribuição.

5. Sobre os subprodutos da desinfecção com cloro

5.1 A desinfecção deve ser realizada em águas de boa qualidade química (em que a carência química de cloro é baixa) para que seja possível limitar ao máximo as reacções secundárias que dão origem a subprodutos indesejáveis.

Quando se adiciona cloro a águas ricas em matéria orgânica (particularmente ácidos húmicos e fúlvicos) ocorrem reacções que podem dar origem aos seguintes subprodutos: trihalo-

178 IRAR

metanos (THM), tais como clorofórmio, bromodiclorometano, dibromoclorometano e bromofórmio; ácidos haloacéticos (AHA), tais como ácido monocloroacético, ácido dicloroacé-tico, ácido tricloroacético, ácido monobromoacético e ácido dibromoacético.

5.2 Os principais factores que afectam a formação destes subpro-dutos são: o tipo e a concentração de matéria orgânica; a dosagem de desinfectante aplicada; o tempo de contacto do desinfectante com a água; o pH (a formação de subprodutos atinge o seu máximo em meio alcalino); e a temperatura (correlação positiva).

5.3 Para minimizar a formação de subprodutos, devem ser adop-tados os seguintes procedimentos:

ß assegurar uma correcta selecção e gestão das origens de água, devendo ser privilegiadas as origens protegidas, em detrimento de origens vulneráveis a fenómenos de poluição;

ß garantir um pré-tratamento adequado para maximizar a redução de matéria orgânica percursora da formação de subprodutos;

ß avaliar periodicamente a qualidade da água na origem, nomeadamente a concentração da matéria orgânica (COT/COD)3, o pH e a variação térmica da água;

ß proceder a ajustes na estratégia de tratamento, tais como redução ou paragem temporária da pré-oxidação, pré-oxidação alternativa (por exemplo ozono), aplicação de carvão activado em pó, optimização da etapa de coagu-lação/fl oculação, introdução de uma fase de oxidação intermédia, optimização da etapa de fi ltração ou fi ltração adsortiva com carvão activado granular.

3 COT: Carbono Orgânico Total. COD: Carbono Orgânico Dissolvido.

Recomendações de 2005 a 2007 179

6. Sobre o controlo operacional a realizar num processo de desinfecção com cloro

6.1. Para garantir a protecção sanitária da água até à torneira do consumidor, é essencial assegurar um teor de cloro residual livre ao longo do sistema de distribuição.

De acordo com as directrizes da Organização Mundial de Saúde, uma concentração de 0,5 mg/L em cloro residual livre na água, para um tempo de contacto de 30 minutos, é sufi ciente para garantir uma desinfecção satisfatória.

Este valor deve ser encarado como valor guia para águas com uma turvação inferior a 0,5 NTU. Para águas que contenham matéria orgânica, deve ser avaliada a carência química de cloro, de forma a minimizar a formação de subprodutos indesejáveis.

6.2. O doseamento do cloro deve ser defi nido em função do teor de cloro residual livre pretendido na rede de distribuição. Caso se trate de una rede extensa, deve ser avaliada a necessidade de instalar postos de recloragem de forma a garantir um teor residual em todos os pontos da rede.

Para uma optimização do processo de desinfecção, nomea-damente a garantia da aplicação da quantidade correcta de desinfectante, o doseamento deve ser realizado em modo automático (a quantidade de cloro injectada deve ser ajustada ao caudal de água a tratar). Caso contrário, o controlo opera-cional do teor de cloro residual livre na rede de distribuição deve ser mais exigente para, caso necessário, proceder ao ajuste do doseamento.

Chama-se a atenção para o facto de elevados valores de cloro residual livre conferirem sabor e cheiro à água, podendo levar à rejeição por parte dos consumidores. De acordo com as directrizes da Organização Mundial de Saúde, para valores superiores a 0,3 mg/L, os consumidores mais sensíveis podem detectar sabor e cheiro na água.

6.3. A verifi cação do teor de cloro residual livre deve ser reali-zada, por zona de abastecimento, em pontos da rede de distribuição tais como pontos intermédios, extremos de rede

180 IRAR

e zonas de baixo consumo. Este controlo deve ser realizado através de equipamentos de medição portátil e kits analíticos fi áveis. Chama-se a atenção para a necessidade de proceder à calibração regular do equipamento, bem como de respeitar os prazos de validade dos reagentes.

Uma diminuição do teor de cloro residual livre pode ser um indício da presença de matéria orgânica consumidora de cloro, situação que pode potenciar o desenvolvimento microbiológico com a possível contaminação da água distribuída.

6.4. As instalações do sistema de cloragem devem ser objecto de uma atenção permanente por parte dos operadores. Se possível, deve ser efectuada uma visita diária às instalações para verifi car o normal funcionamento do equipamento instalado, bem como o consumo dos reagentes (por exemplo, nível da solução de hipoclorito de sódio na cuba ou pressão na garrafa de cloro).

Para evitar paragens inesperadas do sistema de desinfecção, deve ser realizada uma manutenção preventiva de todas as componentes do sistema e garantida a existência de peças de reserva. Devem ser verifi cadas, por exemplo, a cuba com a solução de hipoclorito de sódio e o agitador (se instalado), as válvulas de retenção, o ponto de injecção da solução na conduta e respectiva tubagem para, caso necessário, proceder à sua limpeza ou substituição (se aplicável).

6.5. Para controlar a qualidade da água distribuída, devem ser reali-zadas análises aos parâmetros microbiológicos (por exemplo, número de colónias a 22ºC e a 37ºC, bactérias coliformes e E. coli). Caso se justifi que, devem ainda ser controlados os subprodutos da desinfecção (por exemplo, trihalometanos).

6.6. Tendo em conta que o estado de conservação das condutas e a turvação da água são factores que condicionam a efi cácia da desinfecção, deve ser dada uma atenção especial à gestão da rede de distribuição. Devem ser elaborados e implementados planos de acção regulares tais como planos de descarga, planos de limpeza e desinfecção aquando da reparação de roturas e planos de reabilitação de troços de rede.

Recomendações de 2005 a 2007 181

Quando se instalam condutas, quer em troços isolados, quer em redes novas, deve-se proceder à sua limpeza e desinfecção antes da entrada em serviço. Este procedimento minimiza potenciais contaminações da rede de distribuição pública e das respectivas redes prediais.

Devem ainda ser elaborados e implementados planos de higienização regular dos reservatórios existentes.

6.7. Devem existir procedimentos escritos para as acções de rotina e/ou susceptíveis de alterar a qualidade da água (por exemplo, recepção, armazenamento e manuseamento do produto; preparação da solução de desinfectante; acções de manu-tenção; reparação de roturas e instalação de novas condutas), os quais devem ser revistos sempre que necessário.

6.8. Devem ser registadas todas as acções desenvolvidas, bem como as leituras efectuadas, no âmbito dos procedimentos de rotina (por exemplo, verifi cação do normal funcionamento do sistema, acções de manutenção, caudal de água a desinfectar, caudal de desinfectante doseado, concentração da solução de desinfectante e teores de cloro residual livre ao longo da rede).

6.9. Sempre que ocorram situações excepcionais, tais como poluição na origem, chuvas intensas ou escassez de água, o controlo operacional deve ser mais exigente.

7. Sobre a bibliografi a mais relevante

Como informação complementar, o IRAR recomenda a consulta dos seguintes documentos:

ß OMS (1996) – Desinfecção da água. Gabinete Regional da Europa.

ß WHO (2004) – Guidelines for drinking-water quality, Volume 1: Recommendations. WHO, Geneva (3rd edition).

ß EPA (1999) – Alternative disinfectants and oxidants, Guidance manual. United States Environmental Protection Agency. Offi ce of Water. EPA 815-R-99-014, April, 1999.

182 IRAR

ß EPA (2003) – National primary drinking water standards. United States Environmental Protection Agency. Offi ce of Water. EPA 816-F-03-016, June, 2003.

ß EPA (2003) LT1ESWTR – Disinfection profi ling and bench-marking, Technical guidance manual. United States Envi-ronmental Protection Agency. Offi ce of Water. EPA 816-R-03-004, May, 2003.

ß GLS (2006) – Désinfection par le chlore. Memotec n.º 14.

03 de Setembro de 2007

O Conselho Directivo do IRAR

Jaime Melo Baptista

Dulce Álvaro Pássaro

João Simão Pires

Esta recomendação foi aprovada pelo Conselho Directivo do Instituto Regulador

de Águas e Resíduos ao abrigo do disposto nas alíneas i) e l) do artigo 11.º do

Estatuto do IRAR, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro, com

as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 151/2002, de 23 de Maio.

A sua elaboração foi assegurada pelo Departamento de Qualidade da Água do

IRAR, com a participação de Cristina Rodrigo e Marta Saúde, bolseiras do Depar-

tamento de Qualidade da Água do IRAR, e foram ouvidas as seguintes entidades:

DGS (Direcção-Geral da Saúde), EPAL – Empresa Portuguesa das Águas Livres, S.A.,

Veolia Água e APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de

Águas).

Recomendações de 2005 a 2007 183

Versão portuguesa da Recomendação IWA(Setembro/2004)

A CARTA DE BONA PARA OABASTECIMENTO DE ÁGUA SEGURAPARA CONSUMO HUMANO

Recomendações de 2005 a 2007 185

PREFÁCIO DO IRAR

A International Water Association (IWA) é uma prestigiada asso-ciação internacional que ao longo de várias décadas tem promovido o desenvolvimento nomeadamente dos serviços de abastecimento de água e incentivado o contacto entre especialistas de todo o mundo. Publicou recentemente a Carta de Bona para o Abasteci-mento Seguro de Água para Consumo Humano, um documento que apresenta um enquadramento global, descrevendo as condições institucionais e operacionais que são requisitos básicos para gerir o abastecimento de água, desde a origem até ao consumidor.

O Instituto Regulador de Águas e Resíduos é a entidade reguladora portuguesa para os serviços de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos sólidos urbanos A estas competências juntam-se mais recentemente as resultantes de o IRAR ter passado a ser autoridade competente em matéria da qualidade da água destinada ao consumo humano (Decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de Setembro).

Recomendações de 2005 a 2007 187

Na sequência duma estratégia de actuação que vem seguindo e que visa contribuir para a melhoria do controlo da qualidade da água para consumo humano em Portugal, o IRAR desenvolve activi-dades como: a apreciação dos programas de controlo da qualidade apresentados anualmente pelas mais de 300 entidades gestoras; a inspecção às entidades gestoras; a supervisão aos laboratórios que efectuam o controlo analítico da água para consumo humano; a validação e o carregamento, em base de dados, dos resultados analíticos resultantes do controlo da qualidade da água efectuado pelas entidades gestoras; a elaboração do relatório anual relativo aos dados enviados pelas entidades gestoras; a apreciação das reclamações recebidas dos consumidores.

É nessa qualidade de autoridade competente em matéria da qualidade da água que o IRAR entendeu dever promover a versão portuguesa da Carta de Bona, procedendo à sua divulgação junto de todas as entidades distribuidoras portuguesas. Pretende-se assim disponibilizar mais um instrumento de apoio às entidades gestoras, contribuindo para uma crescente qualidade na prestação de serviços públicos essenciais como é o abastecimento público de água.

Jaime Melo Baptista

Presidente do Conselho Directivo do IRAR

Dulce Álvaro Pássaro

Vogal do Conselho Directivo do IRAR

Rui Ferreira dos Santos

Vogal do Conselho Directivo do IRAR

188 IRAR

MENSAGEM DA IWA

O abastecimento de água segura para consumo humano é funda-mental para uma sociedade saudável e para o seu desenvolvimento económico. O estabelecimento de um enquadramento de gestão efectivo para atingir este objectivo é, portanto, de relevante importância.

A Carta de Bona apresenta um enquadramento global, descre-vendo as condições institucionais e operacionais que são requisitos básicos para gerir o abastecimento de água, desde a origem até ao consumidor.

Tendo sido desenvolvida por profi ssionais seniores da indústria da água, das autoridades reguladoras, dos membros associados e de instituições de investigação, a Carta é abrangente no seu âmbito e importante para todos aqueles que são responsáveis pelo abas-tecimento de água segura e de boa qualidade, tendo em atenção as circunstâncias locais.

Recomendações de 2005 a 2007 189

A Carta será complementada por um guia de implementação contendo conselhos adicionais, estudo de casos, “links” e outra informação para apoiar a sua implementação pelos organismos que a adoptarem.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a necessi-dade de um tal enquadramento de gestão, tendo publicado a 3ª edição das suas Directrizes da Qualidade da Água para Consumo Humano. Entre outras coisas, as directrizes estabelecem o conceito de um enquadramento para o abastecimento de água segura para consumo humano, compreendendo padrões sanitários, planos de segurança da qualidade da água e regulação independente. As normas da OMS e a Carta de Bona são documentos complemen-tares e interdependentes.

Espera-se que a implementação da Carta de Bona e a adopção dos processos delineados nas normas da OMS contribuam para uma maior segurança no abastecimento de água de consumo humano, o que, acredito, cobrirá o espectro entre sistemas conso-lidados e sistemas em desenvolvimento, independentemente da sua dimensão.

Recomendo-lhe esta Carta de Bona para o abastecimento de água segura para consumo humano.

Michael Rouse

Presidente da International Water Association

190 IRAR

AGRADECIMENTOS

A Carta de Bona para o abastecimento de água segura para consumo humano foi elaborada com a participação de um vasto grupo de peritos cobrindo várias disciplinas. Não é possível listá-los individualmente, mas agradece-se os seus esforços e contributos. Merecem uma menção particular as organizações listadas abaixo, cada uma das quais contribuiu com recursos para o desenvolvimento da Carta1. Agradece-se sinceramente o apoio de:

ß The American Water Works Association (USA)

ß The Awwa Research Foundation (USA)

ß The Cooperative Research Centre for Water Quality and Treatment (Australia)

1 O contributo referido não implica necessariamente que as organizações apoiem a Carta.

Recomendações de 2005 a 2007 191

ß Deutsche Vereinigung des Gas-und Wasserfaches e.V. Tech-nisch-wissenschaftlicher Verein (Alemanha)

(Associação Técnica e Científi ca para o Gás e Água da Alemanha)

ß The Drinking Water Inspectorate (Reino Unido)

ß US Environmental Protection Agency (USA)

ß Water Services of Australia (Australia)

192 IRAR

A Carta de Bona para o Abastecimento de Água Segura para Consumo Humano

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 191

2. RESULTADOS PARA OS CONSUMIDORES 193

3. PRINCÍPIOS CHAVE 194

4. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA 196

5. TAREFAS E RESPONSABILIDADES 197

6. PLANOS DE SEGURANÇA DA QUALIDADE DA ÁGUA DE CONSUMO 200

QUADRO 1 – Planos de segurança como descritos nas normas da OMS

7. VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE CONSUMO HUMANO 202

QUADRO 2 – Defi nição e verifi cação das normas de qualidade da água

8. CONCLUSÃO 204

Recomendações de 2005 a 2007 193

1. INTRODUÇÃO

1.1. Âmbito

O abastecimento de água segura para consumo humano é fundamental para uma sociedade saudável e para o seu desenvolvimento económico.

O seu abastecimento requer um conhecimento profundo dos riscos de contaminação e um controlo efectivo desses riscos. Requer também que estejam defi nidos padrões de qualidade sólidos e consistentes e que sejam implementados mecanismos para verifi car que é produzida água de boa qualidade. Os mecanismos estabelecidos devem ser transparentes, exigindo o abastecimento de água de boa qualidade a participação de todos os intervenientes.

Esta Carta fornece um enquadramento para o estabele-cimento de tais mecanismos, incluindo a avaliação e a mitigação de riscos em todos os pontos do sistema de abas-

Recomendações de 2005 a 2007 195

tecimento – da captação1 ao consumidor – e a verifi cação de desempenho baseada no controlo e em padrões predeter-minados. Fornece também orientação em relação às funções institucionais que devem ser estabelecidas e aos benefícios a ser atingidos através de uma íntima cooperação.

A Carta propõe um enquadramento que pode ser aplicado universalmente pelas organizações como uma base para garantir, de modo fi ável, um abastecimento seguro de água para consumo humano. Consoante o local onde a Carta for aplicada, as particularidades locais afectarão as abordagens tomadas e o ritmo de implementação.

1.2. Objectivo

O objectivo da Carta de Bona é:

“Água para consumo humano segura que tenha a confiança dos consumidores”

1.3. Destinatários da Carta

A Carta foi elaborada para todos aqueles que colectivamente contribuem para o abastecimento de água segura e de boa qualidade de água desde a captação ao consumidor, e reconhe-cendo as diferentes funções das diferentes partes integrantes do processo. Dada a sua responsabilidade no abastecimento de água segura, a Carta reconhece o papel chave dos distri-buidores de água na gestão dos aspectos do abastecimento de água que estão no âmbito do seu controlo.

1.4. Utilização da Carta

A Carta defi ne os princípios de um enquadramento efectivo de gestão da qualidade da água, assim como as responsabilidades das partes. É, portanto, uma base para a defi nição de sistemas operacionais e de gestão, de modo a assegurar um alto padrão de desempenho por todos. Uma avaliação indepen-dente por terceiros constitui uma parte importante da Carta.

1 O conceito de recursos hídricos neste documento refere-se à captação de água bruta, seja de origens superfi ciais ou subterrâneas, do mar ou de outras fontes salobras

196 IRAR

1.5. Incentivo ao desenvolvimento da Carta

Tem havido um crescente consenso entre os profi ssionais da água acerca da necessidade de desenvolver um enquadra-mento mais consistente, dentro do qual a qualidade da água possa ser assegurada. Estas discussões foram incentivadas pelas Directrizes da Qualidade da Água de Consumo Humano da OMS, que põe maior ênfase na gestão pró-activa de riscos do abastecimento de água, complementando a monitorização do cumprimento de padrões de qualidade do produto fi nal2.

Nesse sentido, foi desenvolvido um enquadramento num workshop de profi ssionais seniores da indústria da água em Bona em Outubro de 2001 e depois melhorado num segundo workshop em Fevereiro de 2004.

A Carta de Bona para abastecimento de água segura para consumo humano é o resultado dessas discussões. Será desen-volvido posteriormente um guia de implementação, também ligado às directrizes da OMS.

2. RESULTADOS PARA OS CONSUMIDORES

A principal benefi ciária desta Carta é a comunidade a ser servida através do sistema de abastecimento de água. Há um conjunto de objectivos fundamentais, para os quais todos os envolvidos no abastecimento de água trabalham:

2.1. Acesso a água de consumo humano de boa qualidade: esta é uma das necessidades mais básicas da sociedade humana; em muitas áreas, apesar da qualidade da água já ser elevada, pode continuar a melhorar; noutras, onde as doenças transmissíveis através da água ou outras defi ciências de qualidade ainda prevalecem, a implantação de abastecimentos fi áveis é vital;

2 A OMS produziu Directrizes da Qualidade da Água que especifi cam, entre outras coisas:

– O processo pelo qual devem ser defi nidos os padrões de qualidade da água; – O processo através do qual devem ser defi nidos os Planos de Segurança da Água; – A necessidade de regulação independente. Esta Carta complementa as Directrizes da OMS. Eventuais actualizações destas direc-trizes devem ser encaradas como actualizações desta Carta, da mesma forma que esta Carta refere as directrizes.

Recomendações de 2005 a 2007 197

2.2. Água que não seja apenas fi ável para o consumo humano, mas também de boa qualidade estética para os consumidores;

2.3. Abastecimento de água de consumo na qual os consumidores tenham confi ança.

3. PRINCÍPIOS CHAVE

Esta Carta é baseada na identifi cação de princípios chave, considerados essenciais na criação de um enquadramento de gestão para o abastecimento de água segura para consumo humano. Cada um destes princípios é considerado funda-mental, devendo todos eles serem considerados:

3.1. A gestão de todo o processo de abastecimento de água deve ser estruturada no contexto da gestão de todo o ciclo da água, incluindo, mas não limitada a:

• gestão das reservas de água, incluindo, quando necessário, o aumento dessas reservas;

• gestão das interacções entre o território e a água, tomando em linha de conta as práticas agrícolas e o desenvolvimento urbano;

• a recolha e o tratamento das águas residuais.

3.2. Os sistemas que asseguram a qualidade da água para consumo humano não devem ser apenas baseados na verifi cação no fi m do processo. Pelo contrário, devem ser implementados sistemas de controlo de gestão para avaliar riscos em todos os pontos ao longo dos sistemas de abastecimento de água, assim como para gerir esses riscos.

3.3. Uma tal aproximação integrada requer uma cooperação muito próxima e uma parceria entre todas as partes, incluindo Governos, entidades reguladoras independentes, distribuidores de água, autoridades públicas locais, agências de saúde, agências ambien-tais, proprietários de terras, empreiteiros, fabricantes de produtos relevantes, profi ssionais do ramo e os próprios consumidores.

3.4. É essencial para desenvolver confi ança uma comunicação aberta, honesta e transparente entre todas as partes envol-vidas. A confi ança contribui para o desenvolvimento de sistemas efi cientes de abastecimento de água.

198 IRAR

3.5. As tarefas e as responsabilidades das diferentes instituições que contribuem para o abastecimento de água têm de ser defi nidas claramente e têm de assegurar a cobertura completa do sistema desde a captação ao consumidor. Os Governos devem estabelecer as disposições legais e institu-cionais necessárias para atribuir as adequadas responsabili-dades entre as várias partes.

3.6. O modo como são tomadas decisões em relação a padrões de qualidade e fi abilidade3 de abastecimento de água deve ser transparente.

3.7. A água deve ser de qualidade, segura e esteticamente acei-tável. No entanto, na progressiva tomada de consciência dos objectivos, os padrões de qualidade aplicados podem legiti-mamente variar de lugar para lugar e ao longo do tempo.

3.8. O preço da água deve ser defi nido de modo a garantir que os consumidores disponham de água em quantidade e qualidade sufi cientes para as suas necessidades domésticas fundamentais4.

3.9. Qualquer sistema que assegure a qualidade da água de consumo deve:

3.9.1. Ser baseado no melhor conhecimento científi co dispo-nível;

3.9.2. Ser sufi cientemente fl exível de modo a ter em conta as diferentes situações legais, institucionais, culturais e socio-económicas dos diferentes países.

3 O termo fi abilidade refere-se quer à qualidade da água fornecida, quer à confi ança nas origens da água.

4 Esta cláusula não sugere especifi camente como deve ser fi xado o preço, nem signifi -ca que os que podem pagar o custo que efectivamente refl ecte os gastos necessários para fornecer a água não o façam. Ao invés, signifi ca que aqueles mais desfavore-cidos economicamente não devem ser excluídos do acesso à água, pelo facto de a não poderem pagar. Os preços para os mais desfavorecidos economicamente podem ser mantidos a um nível apropriado, através de um leque de mecanismos, incluindo subsidiação cruzada transparente ou subsídios sociais do Governo. O modo como o preço é fi xado é uma matéria para os Governos ou para as autoridades reguladoras nas quais delegaram autoridade, bem como a determinação dos grupos sociais ele-gíveis para benefi ciar desses subsídios.

Recomendações de 2005 a 2007 199

4. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA

Esta Carta propõe um enquadramento para o abastecimento de água segura para consumo humano, incorporando:

• o desenvolvimento de planos de segurança da qualidade da água de consumo para avaliar os riscos ao longo dos sistemas de abastecimento de água e mitigar estes riscos;

• a medição da qualidade da água através de padrões rele-vantes.

Para serem efi cientes, estes sistemas têm de se enquadrar dentro de uma estrutura apropriada na qual as tarefas e responsabilidades são claras e onde é assegurado o fl uxo de informação-chave entre as partes do processo.

Estas relações estão representadas abaixo:

Recursoshídricos eorigens de

água

TratamentoSistema

público dedistribuição

Sistemapredial de

distribuição

Planos de Segurança da Água

Verificação da qualidade da água paraconsumo humano

Partilha

de

con

hecim

entoTa

refa

se

Res

po

nsa

bili

dad

es

OBJECTIVO

Água para consumo humano segura e de boa qualidade que tenha aconfiança dos consumidores

200 IRAR

5. TAREFAS E RESPONSABILIDADES

Um sistema de gestão da qualidade da água envolve todas as partes, embora com papéis diferentes.

5.1. O que devem fazer os Governos?

Os Governos são responsáveis pelo estabelecimento do quadro legal e institucional, de modo a assegurarem a distri-buição de água segura e de qualidade. Para estabelecer um tal enquadramento, os Governos necessitam de:

5.1.1. Criar sistemas independentes de regulação coordenada da qualidade da água que sejam credíveis e adequados.

5.1.2. Agir de modo a proteger os recursos hídricos.

5.1.3. Assegurar que existem, quer instituições, quer mecanismos de coordenação, de modo a lidar com os riscos que podem existir, desde a captação até ao consumidor.

5.1.4. Assegurar que estas instituições são capazes de afectar recursos sufi cientes para assumirem as suas responsabili-dades. Isto inclui a criação de mecanismos para fi nanciar a instalação e posterior manutenção das infra-estruturas de captação, tratamento e distribuição5 de água.

5.1.5. Assegurar que a verifi cação dos procedimentos de controlo de qualidade e dos resultados desse controlo é realizada com frequência sufi ciente e que os resultados são transparentes e disponíveis para o público.

5.1.6. Estabelecer políticas de contabilidade geral que assegurem que os distribuidores de água mantêm contabilidade adequada e auditável.

5.1.7. Estabelecer políticas sociais para assegurar que todos os membros da sociedade podem obter os serviços básicos que constituem um direito de cada cidadão.

5 Na Carta de Bona o termo “sistema de distribuição” deve ser entendido como os sistemas usados para entrega de água aos consumidores quer através de tubos, de autotanques ou por outros meios.

Recomendações de 2005 a 2007 201

5.2. Que devem fazer os distribuidores de água6?

Os distribuidores de água têm um papel essencial no fornecimento de água de qualidade aos consumidores. Eles devem:

5.2.1. Em conjunto com os outros parceiros, desenvolver e imple-mentar planos de segurança da água, desde a captação ao consumidor, e verifi car regularmente a sua implementação e efi ciência, usando monitorização e controlo operacional apropriado.

5.2.2. Colocar em funcionamento sistemas para testar a qualidade da água distribuída, incluindo aqueles necessários para respeitar as exigências legais e tornar os resultados dispo-níveis ao público.

5.2.3. Assegurar que é analisado o custo total da disponibilização do serviço (incluindo a manutenção e substituição de activos) e que são realizados os investimentos apropriados, de acordo com as estruturas para fi nanciamento estabelecidas pelo Governo.

5.2.4. Assegurar que existe pessoal com qualifi cação e formação sufi ciente à disposição das entidades envolvidas na gestão de cada componente do processo de qualidade, desde a captação ao consumidor.

5.2.5. Manter contabilidade adequada e auditável, de acordo com os requisitos do Governo.

5.3. Que devem fazer as autoridades reguladoras?

A regulação independente e credível no sector das águas é vital para criar no consumidor confi ança na segurança e na fi abi-lidade dos abastecimentos (deve-se notar que estas funções não necessitam de ser da responsabilidade de apenas uma autoridade; podem ser estabelecidas múltiplas autoridades para cumprir estas tarefas).

6 O termo “distribuidores de água” deve ser entendido como distribuidores públicos ou privados, incluindo as autoridades públicas locais (municípios).

202 IRAR

As autoridades reguladoras devem:

5.3.1. Estabelecer um regime regulador que incorpore padrões de saúde e de fi abilidade para o abastecimento de água, baseados no melhor conhecimento científi co disponível e nas exigências dos consumidores.

5.3.2. Assegurar que o processo de fi xar os padrões de qualidade e de saúde é transparente e que são divulgadas as esco-lhas feitas, tendo em atenção o nível de risco considerado apropriado.

5.3.3. Estabelecer sistemas de verifi cação para avaliar a conformi-dade com os padrões de qualidade da água para consumo humano, com os planos de segurança da água e para asse-gurar que os resultados dos testes de qualidade da água são válidos.

5.3.4. Assegurar que há uma completa divulgação dos resultados da avaliação de conformidade e dos problemas que ocorrem, de uma maneira que possa ser compreendida por todos.

5.4. Que devem fazer os consumidores?

5.4.1. Operar e manter os sistemas domiciliários de distribuição de água de modo a garantir a boa qualidade da água. Entre outras coisas, isto requer o uso de materiais apropriados7.

5.4.2. Serem cidadãos conscientes por forma a que o seu compor-tamento minimize a potencial contaminação das origens da água ou a diminuição da qualidade e/ou fi abilidade da água distribuída.

5.5. Que devem fazer todas as partes?

5.5.1. Partilhar informação relativa à prossecução e à manutenção da qualidade da água através de um diálogo permanente e aberto.

7 O sistema domiciliário pelo qual o consumidor deve ser responsável é aquele que é utilizado para fornecer água a uma habitação para além do ponto de entrega do fornecedor.

Recomendações de 2005 a 2007 203

6. PLANOS DE SEGURANÇA DA ÁGUA

Um plano de segurança da qualidade da água de consumo, como descrito nas directrizes da OMS, é um plano documen-tado (ou um conjunto de planos8) que identifi ca riscos credíveis desde a captação ao consumidor, ordena esses riscos por prioridade e cria controlos que os possam mitigar. Os planos requerem também processos para verifi car a efectividade dos sistemas de controlo da gestão criados e a qualidade da água produzida.

Há três estágios chave que suportam um Plano de Segurança da Água efi ciente:

6.1. Avaliação sistemática dos riscos desde a captação até à torneira do consumidor.

6.2. Identifi cação e monitorização dos pontos de controlo mais efi cientes para reduzir os riscos identifi cados.

6.3. Desenvolvimento de sistemas de gestão efi cientes e planos opera-cionais para lidar com condições de operação normais e anor-mais. Deve ser dada atenção à potencial ocorrência de eventos graves e à gestão a realizar no caso desses eventos ocorrerem.

A avaliação da efi ciência dos sistemas de controlo de gestão é também essencial. Os elementos necessários incluem:

6.4. Desenvolvimento de medições efi cientes para avaliar a efi cácia dos controlos que foram criados e a sua incorporação no plano.

6.5. Verifi cação da efi ciência dos sistemas de controlo por uma entidade terceira e independente. O objectivo de tal verifi cação é assegurar de que os sistemas são efi cientes. Independen-temente de como tal verifi cação é atingida, não deve entrar em confl ito com a responsabilidade directa dos distribuidores de água e outros.

8 Pode haver um único plano para um sistema ou planos múltiplos integrados, onde vários intervenientes têm diferentes responsabilidades (ex. pode haver um plano para a bacia hidrográfi ca e outro para o sistema de distribuição). Independentemen-te da abordagem, é essencial que seja claro a quem pertence(m) o(s) plano(s) e as responsabilidades atribuídas adequadamente.

204 IRAR

Além disso:

6.6. Os sistemas de controlo de gestão devem incluir:

• defi nição de responsabilidades;

• procedimentos documentados;

• plano de formação para assegurar que o pessoal operacional chave e outros tenham a necessária experiência.

6.7. Os sistemas de controlo de gestão devem ser adequados à dimensão e à complexidade do sistema de abastecimento. Para sistemas de abastecimentos menores, pode ser apropriado o uso de um programa mais genérico ou tool-kit.

QUADRO 1 – Planos de segurança da água comodescritos nas directrizes da OMS

O texto seguinte é um resumo das directrizes da OMS para a qualidade da água de consumo humano (3ª edição) acerca do desenvolvimento de planos de segurança de água. Pretende-se que esta Carta e as directrizes estejam em harmonia, no que se refere aos referidos planos e ao desenvolvimento e verifi cação de padrões da qualidade da água (ver quadro 2).

• Objectivos sanitários baseados numa avaliação dos problemas de saúde;

• Avaliação para determinar se o sistema de abastecimento de água (da origem, passando pelo tratamento e até ao consumidor fi nal) como um todo pode distribuir água para consumo humano com a qualidade necessária para cumprir os objectivos sanitários;

• Monitorização operacional das medições de controlo (no sistema de abastecimento de água) que são de particular importância no assegurar a segurança da água consumida;

• Planos de gestão documentando os planos de avaliação e monitorização do sistema e descrevendo acções a ser tomadas em operação normal e em condições anormais, incluindo actualizações de melhoramentos, documentação e comunicação;

• Sistema de vigilância independente que verifi que que o anteriormente referido está a funcionar adequadamente.

Recomendações de 2005 a 2007 205

7. VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONsUMO HUMANO

De forma a dar maior ênfase à identifi cação e gestão de riscos desde a captação à torneira do consumidor, o número de parâmetros cobertos pelas normas previstas na legislação deve ser mantido num mínimo. No entanto, caso essas normas sejam necessárias, devem ser rigorosamente defi nidas e aplicadas.

O teste ao produto fi nal deve ser baseado nos seguintes elementos:

7.1. Conjunto nuclear de parâmetros defi nidos de modo a satisfazer as necessidades locais.

7.2. Indicadores microbiológicos e parâmetros químicos adequados onde sejam cientifi camente válidos.

7.3. Sistemas de monitorização e informação adequados.

Os parâmetros usados podem ser considerados em dois conjuntos:

7.4. Aqueles que fornecem avisos atempados de falha do plano de controlo de gestão e indicam um risco imediato para a saúde ou outra deterioração séria da qualidade. Estes são em grande medida parâmetros de controlo operacional, tais como a turvação, e devem ser acompanhados por procedimentos operacionais de reacção a alterações.

7.5. Aqueles que estão afectos a efeitos crónicos na saúde ou outros efeitos a longo prazo.

Além disso:

7.6. O uso de parâmetros de controlo operacional é essencial para permitir aos operadores monitorizar a efi ciência do tratamento (ex. cloro residual para monitorizar a desinfecção e turvação para monitorizar a efi ciência de remoção de partículas).

7.7. Os padrões de qualidade devem ter como base a protecção da saúde humana e a aceitabilidade dos consumidores.

206 IRAR

QUADRO 2 – Defi nição e verifi cação das normasde qualidade da água

As linhas de orientação da OMS para a qualidade da água

de consumo humano (3ª edição) delineiam um processo reco-

mendado para a defi nição das normas de qualidade da água e

sua verifi cação. As linhas de orientação da OMS defi nem uma

abordagem como a descrita no esquema abaixo:

Quadro de referência para o estabelecimentode segurança da qualidade da água

Vigilânciaindependente

Objectivos baseados naprotecção de Saúde Pública

Contexto deSaúde Pública

Avaliação dosistema

Monitorizaçãooperacional

Planos degestão

Planos de Segurança da Água

“A segurança da água para consumo humano é assegurada

pela aplicação de um Plano de Segurança da Água (PSA), que

inclui a monitorização da efi ciência das medidas de controlo

usando parâmetros adequadamente seleccionados. Além desta

monitorização operacional, é necessária uma verifi cação da

qualidade fi nal.

Verifi cação é o uso de métodos, procedimentos ou testes para

além daqueles usados na monitorização operacional para deter-

minar se o desempenho do sistema de abastecimento de água

está de acordo com os objectivos defi nidos e explicitados nos

Objectivos de Qualidade da Água (OQA) e/ou se o PSA necessita

modifi cação ou revalidação.

(continua)

Recomendações de 2005 a 2007 207

(continuação)

Para a verifi cação da qualidade microbiológica da água, é dese-

jável a realização de testes microbiológicos. Na maior parte dos

casos, envolverá a análise de microorganismos indicadores fecais,

mas em algumas circunstâncias pode também incluir a avaliação

de densidades de microorganismos patogénicos específi cos. A

verifi cação da qualidade microbiológica da água de consumo

pode ser levada a cabo pelo fornecedor, pelas agências de

vigilância ou por uma combinação dos dois.

A avaliação da adequação da qualidade química da água para

consumo humano baseia-se na comparação dos resultados da

qualidade da água com valores guia.

Para os aditivos (isto é, os químicos com origem principalmente

nos materiais e químicos usados na produção e distribuição de

água de consumo), é colocada a ênfase no controlo directo da

qualidade desses produtos. No controlo dos aditivos utilizados

na água para consumo humano, os procedimentos de teste

tipicamente avaliam a contribuição do aditivo para a água de

consumo humano e têm em linha de conta, para a defi nição

de um valor a comparar com o valor guia, as variações das suas

concentrações ao longo do tempo.

8. CONCLUSÃO

Em conjunto com a 3ª edição das Directrizes da OMS para a Qualidade da Água de Consumo Humano, a Carta de Bona fornece uma abordagem abrangente aos elementos neces-sários para fornecer, de uma forma segura, água de boa qualidade que mereça a confi ança dos consumidores.

O acesso a água de boa qualidade e fi ável deve ser um direito de todo o ser humano. Apesar de ser reconhecido que as condições económicas, a instabilidade social, as secas e outras circunstâncias podem limitar a capacidade de uma sociedade atingir este objectivo, a sua adopção por si só já é de fundamental importância.

208 IRAR

Esta Carta, no entanto, vai para além da mera adopção do objectivo; defi ne elementos, cuja implementação é conside-rada fundamental se se quer atingir os objectivos defi nidos. As condições locais são, é claro, importantes e vão afectar a tipologia das instituições criadas e de outros passos a tomar. No entanto, o compromisso de todas as partes na imple-mentação dos elementos desta Carta e na satisfação das directrizes da OMS será o garante de importantes benefícios às populações servidas.

Recomendações de 2005 a 2007 209

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