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Auditoria Auditoria À À IPE IPE - PARTE I PARTE I - Relatório nº 41/01 Relatório nº 41/01 - 2ª Secção 2ª Secção Gestão de Participações Capitais de Risco Internacionalização Imobiliário Tratamento de Resíduos Sólidos Indústria da Água Sumário Executivo Sumário Executivo

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  • Auditoria Auditoria

    IPEIPE

    -- PARTE I PARTE I --

    Relatrio n 41/01 Relatrio n 41/01 -- 2 Seco2 Seco

    Gesto de Participaes

    Capitais de Risco

    Internacionalizao

    Imobilirio

    Tratamento de Resduos Slidos

    Indstria da gua

    Sumrio ExecutivoSumrio Executivo

  • Tribunal de Contas

    PROCESSO N. 26/00 - AUDIT

    RELATRIO DE AUDITORIA N. 41/2001 - 2 SECO

    Auditoria IPE

    PARTE I Sumrio Executivo

    Outubro 2001

  • Tribunal de Contas

    ESTRUTURA GERAL DO RELATRIO

    PARTE I

    Sumrio Executivo

    PARTE II

    Relatrio Global

    PARTE III

    Relatrio sobre as Operaes MIB, MANTERO e SPE

    PARTE IV

    Documentos Relativos ao Contraditrio

  • Tribunal de Contas

    FICHA TCNICA

    Equipa de Auditoria Jos Carpinteiro (Tcnico Verificador Superior) Carmo Antunes (Tcnica Superior) Elisabete Rolim (Tcnica Superior)

    Coordenao do Departamento de Auditoria IX/SPE Gabriela Santos (Auditora Coordenadora)

    Tratamento de texto e arranjo grfico Ana Salina

  • Tribunal de Contas

    COMPOSIO DA SUB SECO DA 2 SECO

    DO TRIBUNAL DE CONTAS QUE VOTOU O RELATRIO

    Relator:

    Conselheiro Dr. Carlos Moreno

    Adjuntos: Conselheiro Dr. Joo Pinto Ribeiro Conselheiro Dr. Manuel Raminhos Alves de Melo

  • Tribunal de Contas

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    NDICE

    RELATRIO DE AUDITORIA IPE

    PARTE I Sumrio Executivo

    1. INTRODUO .................................................................................................... 5

    1.1. Apresentao do Relatrio Integral ............................................................................5

    1.2. Contedo da Parte I do Relatrio ...............................................................................5

    1.3. Objecto da Auditoria ....................................................................................................5

    1.4. Objectivos e mbito temporal da auditoria................................................................6

    1.5. Metodologias..................................................................................................................6

    1.6. Apresentao sumria da IPE .....................................................................................7

    1.7. Referncias ao exerccio do contraditrio...................................................................7

    2. CONCLUSES GERAIS .................................................................................... 9

    3. RECOMENDAES......................................................................................... 17

    4. DESTINATRIOS, PUBLICIDADE E EMOLUMENTOS .................................. 21

    4.1. Destinatrios do Relatrio..........................................................................................21

    4.2. Publicidade do Relatrio ............................................................................................21

    4.3. Emolumentos ...............................................................................................................22

  • Tribunal de Contas

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    Relao de siglas:

    SIGLA DESCRIO ACTV Acordo Colectivo de Trabalho Vertical

    BBVA Banco Bilbau e Viscaya

    BFE Banco de Fomento Exterior

    CA Conselho de Administrao

    CE Comisso Executiva

    CEM Companhia de Electricidade de Macau

    CGD Caixa Geral de Depsitos

    CSC Cdigo das Sociedades Comerciais

    CSRA Control Risk Self Assessement

    DARH Direco Administrativa e de Recursos Humanos

    Dec.-Lei Decreto-Lei

    DC Directriz Contabilstica

    DF Direco Financeira

    DGCI Direco Geral das Contribuies e Impostos

    DI Direco de Internacionalizao

    DICG Direco de Informao e Controlo de Gesto

    DR Dirio da Repblica

    EGF Empresa Geral de Fomento, SA

    EP Empresa Pblica

    FRIE Fundo de Reestruturao e Internacionalizao de Empresas

    FCR Fundo de Capital de Risco

    GAI Gabinete de Auditoria Interna

    GJ Gabinete Jurdico

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    SIGLA DESCRIO HARII Sociedade para o Desenvolvimento de Timor Lorosae, SGPS

    IDE Internacionalizao de Empresas Estrangeiras (em Portugal)

    IDPE Internacionalizao de Empresas Portuguesas no Estrangeiro

    INTOSAI International Organisation of Supreme Audit Institutions

    IPE Investimentos e Participaes Empresariais, SA

    IPE-Adp IPE guas de Portugal, SGPS

    IPE-EPI IPE Estudos e Projectos Internacionais, SA

    MIB Modelo Investimentos Brasil, SA

    IPE-Capital Sociedade de Capital de Risco, SA.

    PIM Parque Industrial da Matola, SARL

    RCM Resoluo do Conselho de Ministros

    RLE Resultados Lquidos do Exerccio

    SA Sociedade Annima

    SEE Sector Empresarial do Estado

    SETEF Secretrio de Estado do Tesouro e das Finanas

    SGP Sociedade Geral de Projectos imobilirios, SGPS

    SGPS Sociedades Gestoras de Participaes Sociais

    SIG Sistema de Informao de Gesto

    SIIF Sistema Integrado de Informaes Financeiras

    SIIRH Sistema Integrado de Informaes dos Recursos Humanos

    SPA Sector Pblico Administrativo

    SPE Sociedade Portuguesa de Empreendimentos, SA

    TC Tribunal de Contas

    UTIC Unio de transportes para Importao e Comrcio, Ld.

    OBS: Para consulta da denominao de outras empresas do grupo IPE, consultar o ANEXO II .

  • Tribunal de Contas

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    1. INTRODUO

    1.1. Apresentao do Relatrio Integral

    O presente Relatrio de Auditoria est dividido em quatro partes, encontrando-se cada uma inserida num volume separado, sem prejuzo, porm, de todas elas fazerem parte integrante do Relatrio.

    A Parte I consubstancia o Sumrio Executivo, no qual se agregam, alm de informaes preliminares essenciais, as principais concluses e recomendaes do Tribunal, na sequncia de todo o trabalho de auditoria realizado.

    A Parte II representa o Relatrio Global da Auditoria, que espelha, de forma pormenorizada, os resultados da aco de controlo principal.

    A Parte III d, por seu turno, conta dos resultados da Auditoria Especfica, direccionada para trs operaes seleccionadas, a saber, as operaes MIB, MANTERO e SPE.

    A Parte IV integrada por diversos documentos referentes ao exerccio do Contraditrio, entre os quais se destacam o texto integral da resposta do Presidente da IPE e a anlise sobre ela produzida pelos Auditores do Tribunal.

    1.2. Contedo da Parte I do Relatrio

    Esta parte e este volume do Relatrio de Auditoria do Tribunal, apelidada de Sumrio Executivo, para alm de algumas informaes preliminares indispensveis, congrega as mais importantes concluses e as principais recomendaes do Tribunal, em funo dos resultados, quer da sua auditoria, mais detalhadamente explanados nas Partes II e III e correspondentes volumes quer do exerccio do contraditrio amplamente espelhado na Parte IV e respectivo volume.

    1.3. Objecto da Auditoria

    Esta auditoria do Tribunal incidiu sobre a IPEInvestimentos e Participaes Empresariais, SA, sociedade annima de capitais exclusivamente pblicos.

    Todavia, o Tribunal auditou a IPE, enquanto empresa holding, de facto, visto que, formalmente, a mesma no se sujeita ao regime jurdico das Sociedades Gestoras de Participaes Sociais (SGPS).

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    1.4. Objectivos e mbito temporal da auditoria

    Partindo do pressuposto que a opo pblica pelos grupos empresariais se baseia num ambiente de organizao e gesto mais desenvolvido e complexo, que afirma o primado da autonomia da gesto, como princpio impulsionador da dinmica empresarial, o que, no caso do Sector Empresarial do Estado (SEE), implica a assuno dos riscos empresariais resultantes da eventual conciliao dos critrios de rendibilidade econmica com outros interesses pblicos, o Tribunal entendeu desenvolver, junto da IPE, uma auditoria da gesto baseada no risco.

    O Tribunal, com esta auditoria, procurou observar, de um modo integrado e global, na IPE, os aspectos de eficincia e eficcia associados salvaguarda e aplicao dos activos pblicos que lhe esto confiados, tendo em considerao a rendibilidade e as obrigaes sociais que integram a misso e os objectivos do grupo empresarial do Estado em causa.

    Assim, esta auditoria do Tribunal teve como objectivo global, ao nvel da sede do grupo IPE, avaliar, numa perspectiva de continuidade da empresa, o sistema de controlo interno, com vista a apurar da sua eficincia e eficcia para fazer face aos objectivos e riscos empresariais prprios do grupo empresarial.

    Quanto ao mbito temporal, a auditoria privilegiou as anlises referentes ao perodo compreendido entre 1997 e 2000, mas procurou, ainda, cobrir os aspectos susceptveis de poderem afectar a continuidade futura do negcio da IPE, e, neste contexto, teve no seu horizonte, tambm um perodo posterior a 2000.

    1.5. Metodologias

    Sem prejuzo da descrio mais pormenorizada, na Parte II deste Relatrio, das metodologias utilizadas, os trabalhos de controlo do Tribunal foram orientados, quer pelos critrios, tcnicas e metodologias acolhidas no Manual de Auditoria e Procedimentos do TC, quer pelas normas geralmente aceites pelas organizaes internacionais, que agrupam as Instituies Superiores de Controlo Externo, como sucede com a INTOSAI, de que o Tribunal de Contas Portugus membro.

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    1.6. Apresentao sumria da IPE

    A IPE , como se referiu, uma sociedade annima de capitais exclusivamente pblicos, ascendendo o seu capital social a 50 milhes de contos. A empresa actua, de facto, como uma holding pblica, cobrindo diversos sectores de actividade, nomeadamente o das guas e resduos slidos e do imobilirio, sem deixar de passar pela associao de interesses pblicos e privados atravs dos sectores do capital de risco e da internacionalizao. A IPE tem como principais accionistas o Estado, Administrao Central atravs da Direco-Geral do Tesouro, a PARPBLICA (ex-PARTEST) e a Caixa Geral de Depsitos, sociedades estas tambm de capitais exclusivamente pblicos. As respectivas tutelas financeira e tcnica tm cabido ao Governo, atravs dos Ministros competentes para o efeito os quais, alis, acompanharam as modificaes havidas no Governo no decurso do perodo considerado, ou seja de 1997 a 2000.

    1.7. Referncias ao exerccio do contraditrio

    Para cabal exerccio do princpio do contraditrio, o Tribunal remeteu, em 11 de Junho de 2001, exemplares do Relato inicial dos auditores do Tribunal, quer Administrao do Grupo IPE, quer sua tutela financeira governamental, isto ao Ministro das Finanas, para, querendo-o, como seu direito, se pronunciarem sobre o respectivo contedo e concluses.

    Das entidades notificadas para se pronunciarem, respondeu apenas o CA da IPE, cujo Presidente solicitou, por duas vezes, prorrogao do prazo, inicialmente fixado para o dia 25 de Junho seguinte.

    A primeira prorrogao solicitada, foi-o para o dia 27 de Junho de 2001, para permitir, segundo o Presidente da IPE, recolher os contributos dos membros do Conselho de Administrao cessante. A segunda prorrogao foi pedida para o dia 2 de Julho, sem justificao por escrito mas com a explicao verbal de compromissos, no precisados do Presidente, relacionados com cerimnias de mais um aniversrio da IPE.

    Estas duas prorrogaes solicitadas foram concedidas na base da boa f do juiz relator quanto s razes escritas e verbais apresentadas pelo Presidente da IPE. Sucede, porm, que aps o segundo pedido de prorrogao, mas antes da remessa oficial da resposta ao Tribunal, constatou-se que o Presidente da IPE havia, entretanto, concedido uma extensa entrevista ao semanrio Expresso, precisamente na sua edio de 30 de Junho, a qual vai tambm inserida no volume IV deste relatrio. Da sua leitura pode-se observar uma acentuada coincidncia entre os assuntos abordados na entrevista e as questes de fundo tratadas no Relato inicial dos auditores do Tribunal, ento ainda pendente da resposta oficial, por fora de prorrogao de prazo, designadamente as ligadas s deficincias encontradas na gesto, necessidade de reorganizao da empresa e do grupo, redefinio da actuao estratgica da IPE, com especial nfase para a internacionalizao operada nos pases africanos de expresso portuguesa, com destaque para o fracasso econmico da SPE, e para a parceria com a Sonae no Brasil, para alm das questes relacionadas com os recursos humanos da IPE.

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    A referncia a estes factos ligados ao desenvolvimento do contraditrio visa, por um lado, sublinhar que a citada entrevista, objectivamente e nas circunstncias em que ocorreu, no pode deixar de ser entendida como uma inesperada antecipao, em benefcio prprio por parte do Presidente da IPE, s crticas e recomendaes que muito provavelmente viriam a figurar num futuro Relatrio de Auditoria do Tribunal; e, por outro lado, visa chamar ateno para as acentuadas divergncias, nomeadamente de estilo e de contedo, que marcam a citada entrevista e a resposta oficial da IPE, separadas por escassos dois dias de intervalo, sendo a autoria a mesma.

    Para alm do que antecede, convm ainda, preliminarmente, deixar claro que, neste texto final do seu Relatrio, o Tribunal teve na devida conta tudo o que de pertinente foi invocado na resposta do Presidente da IPE, mesmo quando foram apontados meros lapsos materiais do Relato inicial dos auditores, como se pode facilmente constatar pela leitura dos comentrios dos auditores inseridos no volume IV deste Relatrio.

    A finalizar estas consideraes, relativas ao desenrolar do contraditrio, torna-se imperativo trazer colao um ltimo ponto que se pode assim resumir. Segundo o Relato inicial dos auditores esta holding pblica beneficiava das vantagens, sem se sujeitar ao regime e disciplina das SGPS. Para conforto desta situao da IPE, o seu Presidente, na respectiva resposta, entre vrias outras razes, invocou um decisivo despacho, datado de 1989, proferido pelo Secretrio de Estado dos Assuntos Fiscais, na sequncia de informao da DGCI, que determinava a aplicabilidade IPE Investimentos e Participaes Empresariais, SA, do disposto no artigo 7. do Decreto-Lei n. 495/88, de 30 de Dezembro. Na sequncia desta resposta, o Tribunal oficiou, em 9 de Julho de 2001, DGCI, para que dada a evoluo estatutria e de facto entretanto ocorrida e, sobretudo, o espao de tempo j decorrido mais de 12 anos sobre a posio ento assumida informasse, com o devido fundamento, sobre a actual posio do servio quanto questo em apreo. Deste expediente, na mesma data, foi dado conhecimento ao Ministro das Finanas ao qual se solicitou interveno no sentido de uma resposta clere por parte daquele servio do Ministrio das Finanas.

    At 3 de Outubro de 2001 quase 3 meses decorridos o Tribunal no recebeu resposta alguma, o que muito se estranhando e lamentando, no impede, todavia, a finalizao do presente Relatrio.

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    2. CONCLUSES GERAIS

    2.1.A IPE uma sociedade annima que exerce, mas to s de facto, a gesto de participaes sociais, j que no reveste a forma de Sociedade Gestora de Participaes Sociais (SGPS), nos termos exigidos pelo Dec.-Lei n. 495/88, de 30 de Setembro, nem ao seu regime se sujeita. Deste modo, a IPE tem beneficiado das prerrogativas das SGPS, no que respeita aos benefcios fiscais relativos tributao das mais-valias, sem, em contrapartida, se ter sujeitado disciplina prpria das SGPS, no que respeita s limitaes de actividade e aos deveres especiais na prestao de contas e sujeio a entidades especficas de controlo.

    2.2. A IPE, apresentou, ao longo do trinio, resultados lquidos do exerccio (RLE) positivos, na ordem dos 7 milhes de contos em 1999, 5,9 milhes de contos em 1998 e 3 milhes de contos em 1997, tendo distribudo, em todos aqueles anos, dividendos ao accionista Estado. Todavia, se se tiver em considerao a dimenso econmica e orgnica daquele emblemtico Grupo Econmico do Estado, -se surpreendido pelo facto da IPE no ter conseguido, nos dois primeiros anos, proporcionar uma remunerao dos capitais accionistas superior ao nvel estimado para uma aplicao financeira sem risco, ainda que em 1999, tal remunerao se tenha situado a um nvel ligeiramente superior.

    2.3. De acordo com a anlise de risco desenvolvida, a percepo e os impactos susceptveis de afectar as finalidades prosseguidas pela IPE apresentam um nvel de risco globalmente baixo, o que se conforma com os reduzidos nveis de rendibilidade dos capitais do accionista.

    2.4. Contudo, foram os riscos econmico-estratgicos e os riscos institucionais que revelaram maior impacto e probabilidade de ocorrncia, apesar de ambos se terem situado num nvel mdio de influncia para a organizao.

    2.4.1. No que respeita aos riscos econmico-estratgicos, notou-se que so os aspectos relacionados com a interpretao de oportunidades, o estabelecimento da estratgia e a passagem ao plano da aco - dependentes de um ciclo de deciso alargado, no qual se inclui a participao, ao mais alto nvel, do accionista pblico e das tutelas polticas - que podem no ser compatveis com a rapidez de deciso e aco, nos casos em que se pretendam empresariar negcios no mercado. Por sua vez, tambm se manifestaram receios relacionados com a manuteno das parcerias estratgicas, nomeadamente com empresas e grupos privados, e a consequente perda de controlo desses negcios.

    2.4.2. Quanto aos riscos institucionais, destacaram-se as incertezas relacionadas, quer com a mudana de administrao antes do termo do mandato, quer com a intercepo dos vrios centros de deciso, nomeadamente o CA, o accionista pblico e as tutelas ministeriais. Acresce que o relacionamento entre os rgos sociais baseia-se mais em relaes de poder entre o accionista/tutelas ministeriais e o CA do que em responsabilizao em funo da performance empresarial, face aos programas, metas e objectivos estabelecidos.

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    2.5. Sublinhe-se que a mudana de administrao, em Setembro de 2000, antes do final do mandato e a reestruturao da carteira da IPE, determinada pela autonomizao de gesto do sector do ambiente, provocaram um elevado grau de incerteza derivado da confrontao da IPE com uma dinmica brusca de mudana.

    2.6.Constataram-se falhas de gesto que podem comprometer a dinmica empresarial da IPE, sobretudo no que respeita adequabilidade do controlo interno, face aos riscos que podem afectar o desempenho da empresa e do grupo.

    Designadamente:

    2.6.1. A falta de clarificao da estratgia central, desenvolvida a partir da holding, que estabelecesse metas ou objectivos a partir de uma organizao de processos e de planos de aco coerentes, consubstanciados nas orientaes estratgicas emanadas anualmente do accionista Estado (Governo).

    2.6.2. assim que o prprio processo de oramentao no tem sido, sequer, apoiado em planos de actividade, baseando-se em grandes rubricas, sem conter explicaes suficientes em qualquer das suas vertentes de funcionamento, de investimento e de tesouraria, o que, para alm de impedir o reconhecimento de objectivos por parte dos diversos departamentos da empresa, promove o segredo em torno das actividades desenvolvidas e a desenvolver no mbito do grupo, com a inevitvel falta de transparncia, sempre exigvel nos negcios que envolvem capitais pblicos.

    2.6.3. Acresce que o valor informativo das actas dos rgos sociais se mostrou diminuto, uma vez que se limitam a resumir a soluo aprovada ou a remeter para anexos, que ficam sujeitos a uma organizao e arquivo paralelo.

    2.6.4. Por outro lado, a estratgia de comunicao empresarial da IPE revelou que aquela tinha sido mais desenvolvida na vertente externa, do que na vertente interna e, para alm disso, constatou-se um isolamento em termos de comunicao da empresa face ao grupo.

    2.6.5. No que respeita liderana, destaca-se, em contraponto com o colectivo dos administradores, o papel do Presidente do CA, uma vez que surge como autoridade revestida da mxima confiana do accionista, reforada pelo voto de qualidade que lhe atribudo pelos estatutos da IPE. Alm disso, a concentrao de Assessores em torno do CA, surge como mais uma caracterstica tpica de uma administrao e liderana centralizadoras.

    2.6.6. Ademais a IPE combina uma estrutura tendencialmente funcional com uma estrutura do grupo, perspectivada segundo unidades estratgicas. No se verificam, assim, as sinergias que poderiam proporcionar os departamentos da prpria IPE, uma vez que as empresas do grupo se limitam a reproduzir internamente funes de idntica natureza.

    2.7. No que especificamente respeita ao ambiente de controlo, a formalizao de regras e de procedimentos promovida pelo CA da IPE, tem-se revelado avulsa, pontual e dispersa, quer em relao s matrias, quer em relao aos destinatrios, no se tendo sequer tirado partido das tecnologias de informao para esse efeito.

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    2.8. Alm disso, o Gabinete de auditoria interna da IPE, pouco tem contribudo para o reforo do ambiente de controlo, uma vez que se apresentava sem recursos e mtodos pr-estabelecidos, tendo desenvolvido, pontualmente, controlos administrativos e contabilsticos, por determinao do Presidente do CA e apenas em relao a um universo restrito do grupo e nunca prpria IPE.

    2.9. A sensibilidade para a validade e reformulao dos controlos, em funo dos perigos e ameaas que esto para alm das obrigaes legais e patrimoniais, tem sido prejudicada em funo da estreita viso departamental, da falta de articulao entre departamentos, do desconhecimento de contedos funcionais precisos, no s entre os tcnicos, mas, sobretudo, entre estes e o conjunto de consultores/gestores que gravitam em torno do CA, e da deficiente circulao de informao interdepartamental.

    2.10. De entre os mltiplos controlos que se manifestaram crticos, face ao mbito e complexidade de gesto existentes na IPE, destacam-se os seguintes:

    2.10.1. A IPE dispe de um modelo de contabilidade analtica, baseado em centros de custo por natureza e funo, que se apresenta demasiadamente agregado e pouco transparente, que no contempla o conceito de transaces, nem sequer de actividade, nem procede ao tratamento dos custos indirectos, no tendo a qualidade (relevncia, oportunidade, fiabilidade) suficiente para satisfazer as necessidades mais elementares de informao para a gesto de um grupo que desenvolve multiactividades.

    2.10.2. O financiamento interno, atravs de suprimentos s participadas, em regra, no consubstanciado em contratos escritos e, apesar dos contratos de suprimentos no implicarem qualquer forma especial, esta prtica prejudica a transparncia e o rigor que devia ser fomentado pela gesto da IPE, quanto ao financiamento das empresas do grupo.

    2.10.3. A atribuio de patrocnios e outras liberalidades tem dependido de deliberaes do CA, apesar de, no mandato actual, em razo da distribuio de pelouros, depender directamente do Presidente e, anteriormente, (1997-1999), ter chegado a existir uma delegao de competncias em razo do montante (1500 e 1000 contos) e da matria relativamente a dois administradores, sem prejuzo da aprovao pela Comisso Executiva (CE) dos outros donativos e liberalidades que ultrapassassem aqueles limites. De igual modo, no tm os mesmos sido evidenciados nas notas explicativas dos documentos de prestao de contas, no sentido de revelar a identificao dos beneficirios, dos montantes e das datas. A falta desta informao detalhada prejudica a transparncia e o rigor exigveis a esta utilizao de dinheiros pblicos, tanto mais que neste domnio se verificaram acrscimos significativos de 1998 para 1999, em cerca de 923%, isto de 12.467 contos para 127.517 contos.

    2.10.4. Os controlos estabelecidos atravs do departamento de acompanhamento Direco de Informao e Controlo de Gesto - tambm no se encontram ajustados dimenso do grupo, diversidade de actividades e disperso geogrfica, no s por se limitarem a uma perspectiva essencialmente contabilstica, mas, sobretudo, pela falta de ligao com a componente estratgica e operativa das diferentes unidades de negcio.

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    2.10.5. A execuo oramental anual da IPE apenas consta do documento de prestao de informao Direco-Geral do Tesouro, onde se apura e procede anlise dos desvios, desconhecendo-se, contudo, a utilizao interna deste documento.

    2.10.6. A acumulao de funes verificada ao nvel dos directores, quer da DICG, quer da DF, relativamente a empresas participadas, prejudica a segregao de funes face natureza das responsabilidades que desempenham ao nvel central da IPE, enquanto holding do grupo. Tanto mais que as empresas nas quais se verificam as acumulaes apresentam riscos especficos que se encontram relevados pelo nvel das provises constitudas, como sucede nos casos da IPE-EPI e da SODIA 2.

    2.10.7. No domnio do universo de participaes, salienta-se que a empresa se apoia num arquivo em suporte de papel, que contm, para alm dos documentos que deram origem ao lanamento na aplicao informtica (SIIF), outra informao respeitante s participadas, pelo que o conhecimento efectivo da situao das participaes implica uma consulta quer ao sistema informtico, quer pasta de cada participada. Acresce, ainda, que a IPE no domina, com base na informao disponvel, o universo das participaes indirectas de segundo nvel.

    2.11. No que respeita optimizao de recursos humanos, observou-se que aqueles na IPE constituem um factor crtico do desempenho competitivo da holding, uma vez que se revelam insuficientes face s necessidades da direco central de um grupo estruturado em sectores, que representam actividades de mltipla natureza e fins e que, no seu conjunto, representam cerca de 138 milhes de contos de activos; e isto, tanto mais que a estratgia actual do grupo se concentra na diversificao de negcios em domnios de grande complexidade tecnolgica e ambiente competitivo. Acresce ainda uma grave deficincia ao nvel da formao profissional, funo no planeada e que, por isso, no considerou as necessidades existentes, nem envolveu os recursos repartidos pelos diversos departamentos.

    2.11.1. O risco comportamental subjacente gesto dos recursos humanos ainda potenciado por uma avaliao do desempenho que no contempla uma grelha de critrios formalmente estabelecida e divulgada, como consequncia, alis, das ineficincias dos processos de aco estratgica e da inexistncia, em particular, de uma anlise e descrio de funes e de metas e objectivos a atingir.

    2.11.2. Esta situao prejudica ainda substancialmente a justia e a transparncia inerentes atribuio anual de prmios/gratificaes em funo da distribuio dos resultados. Este aspecto aplica-se inclusivamente s gratificaes que, em Assembleia Geral, tm sido atribudas aos membros do CA, consubstanciadas em cinco remuneraes base, sem qualquer sistema de avaliao do desempenho dos gestores que lhe esteja subjacente.

    2.11.3. A compreenso da atribuio de categorias e nveis salariais aos tcnicos admitidos, sobretudo para o apoio ao CA, bem como as promoes internas, carece do conhecimento e adequao do perfil das funes a exercer e perfil dos candidatos, sendo fundamental a sua divulgao perante os restantes quadros.

    2.11.4. De 1999 a 2000, verificou-se, um acrscimo substancial dos custos relacionados com trabalhos especializados (outsourcing), que em 1999 ascenderam a mais de 200 mil contos, implicando um crescimento na ordem dos 122% dos custos face ao ano anterior, dos quais se destacam os trabalhos especializados na rea da Sade (29 mil contos) e na rea das telecomunicaes (21 mil contos).

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    2.12. Quanto aos recursos tecnolgicos, encontram-se desajustados das necessidades presentes e futuras da empresa, sobretudo devido inexistncia de medidas de gesto conducentes prvia definio e desenvolvimento de um sistema informtico para a empresa e para o grupo. A IPE ainda se encontra ao nvel da utilizao individual de computadores pessoais, com recurso aos denominados pacotes profissionais. O recurso produo de informao em folha de clculo encontra-se amplamente difundido, incrementando o risco sobre a fiabilidade e integridade da informao, para alm de contribuir para a duplicao de suportes e tarefas.

    2.13. Os resultados operacionais tm sido sistematicamente negativos, uma vez que a IPE no prossegue directamente uma actividade econmica, sublinhando-se o contributo, pela positiva, dos resultados financeiros e dos extraordinrios. Ainda assim, entre estes, importa salientar a importncia que os resultados extraordinrios tm vindo a assumir, por via da alienao de activos do grupo.

    2.14. O Sector do Ambiente, composto pelas sub-holdings EGF e IPE-Adp, no s tem sido o mais representativo da carteira, ao corresponder a cerca de 58% do activo lquido da carteira de participaes da IPE, como tem sido o que mais contribuiu com resultados positivos, nomeadamente cerca de 4 milhes de contos em 1999, 3,9 em 1998 e 3,6 milhes de contos em 1997. Este sector tem constitudo, de igual modo, uma importante fonte de dividendos, cuja representatividade ascende a cerca de 48% do total dos dividendos percebidos pela IPE.

    2.14.1. Deve salientar-se, que se trata de um sector que tem conferido uma identidade ao core business da IPE no domnio das public utilities, dele decorrendo o envolvimento em monoplios naturais, protagonizados pelas sociedades concessionrias do grupo. neste contexto que o Estado accionista empresaria as actividades, que, por concursos pblicos, provm do Estado concedente, e que ficam ainda submetidas ao Estado regulador, uma vez que aquelas actividades se encontram sujeitas regulao de outras entidades pblicas. Estas circunstncias, explicam as caractersticas sui generis deste sector, afastando-o da lgica normal do mercado, visto que, por um lado, os respectivos investimentos tm beneficiado de co-financiamento comunitrio, em particular do Fundo de Coeso e, por outro, na fase de explorao das suas actividades no concorre com outras entidades.

    2.14.2. Porm, aquela identidade foi afectada pelas orientaes do accionista, dadas na Assembleia Geral de Setembro de 2000, no sentido da autonomizao da respectiva gesto, isto , de, na prtica, limitar o poder de direco central da holding IPE, parecendo pretender-se que a mesma se reduza a um silent partner, encarando os activos daquele sector como meras participaes financeiras. Tal situao provocar, em substncia, uma distoro nos seus resultados e nos do grupo IPE, em virtude das condicionantes e limitaes impostas ao seu poder de direco central enquanto holding do grupo.

  • 14

    2.14.3. Sublinhe-se que, na hiptese daqueles activos se virem a destacar, no futuro, antes que qualquer um dos outros sectores da IPE adquira dimenso e performance equivalentes ou que o mesmo suceda atravs da diversificao proporcionada pelas novas reas de actividade, ento, nesse cenrio, que no meramente abstracto, ou uma pura fico, a IPE ficar reduzida importncia dos activos representados pelo seu sector do imobilirio (12, 4 milhes de contos), e das meras participaes financeiras na Brisa ( 8 milhes de contos) e Cimpor (10,2 milhes de contos1), o que importar uma relevante perda de dimenso deste emblemtico grupo empresarial pblico, consubstanciada na descida de cerca de 138 milhes de contos para apenas 58 milhes de contos.

    2.15. Por seu turno, o sector da Internacionalizao e Cooperao, prosseguido directamente pela IPE, revelou dificuldades no plano da rendibilizao dos investimentos realizados nos pases africanos de expresso portuguesa e no Brasil, bem como dificuldades em gerir e manter as parcerias empresariais com outras empresas e grupos. 2.15.1. Este sector foi o que mais se destacou pelos resultados negativos ocorridos em 1997

    e 1998, e apenas proporcionou resultados positivos, na ordem dos 4 milhes de contos, em 1999, devido, na sua maior parte, alienao da empresa SOGESTE, relacionada, por sua vez, com a alienao da sua participao na Companhia de Electricidade de Macau (CEM) EDP, negcio que veio a desencadear um contencioso judicial, que acabou por implicar a constituio de uma proviso no montante equivalente a 11, 5 milhes de contos. Assim, este sector tem vindo a perder importncia devido s provises constitudas em funo do risco que lhe est associado.

    2.15.2. Alis, em situaes ocorridas, como as do caso da SPE, empresa portuguesa que opera em Angola no domnio da explorao diamantfera, a IPE concedeu emprstimos e garantias, apesar daquela j se encontrar totalmente provisionada e ao mesmo tempo que constitua novas provises pela totalidade daqueles compromissos. Alis, a IPE, apenas veio a assumir expressamente a possibilidade do desinvestimento, neste negcio, aps Setembro de 2000, na sequncia da mudana de Conselho de Administrao e dos esclarecimentos solicitados no mbito dos trabalhos desta auditoria. Acresce que, por outro lado, no se vislumbra qualquer afinidade econmica significativa entre a actual carteira de participaes da IPE e a actividade da SPE.

    2.15.3. Por sua vez, relativamente ao Brasil, a venda da participao na MIB, via IPE-EPI, veio acentuar a diminuio da representatividade do sector em termos de activos da IPE e, no obstante a mais valia contabilstica gerada pela operao, demonstrou-se que a IPE no conseguiu remunerar, mesmo a um nvel diminuto, o capital investido na parceria com a SONAE no Brasil. Para esta situao contribuiu, significativamente, o pagamento diferido acordado com a SONAE e que, na prtica, contraria o argumento invocado pela IPE quanto necessidade de vender o investimento para fazer face a actuais prioridades de investimento em outros sectores, decorrentes das novas orientaes estratgicas.

    1 Valor, entretanto, reduzido a 2,5 milhes de contos por via de alienao ocorrida em finais de 2000.

  • Tribunal de Contas

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    2.15.4. O objectivo final desta parceria no foi de todo alcanado, porquanto, de acordo com o plano de negcios e com o estabelecido no acordo parassocial, para alm dos objectivos associados ao crescimento, no foi possvel chegar ao perodo compreendido entre 1 de Outubro de 2002 e 30 de Setembro de 2004, no qual as partes pretendiam requerer a admisso cotao das aces representativas do capital da MIB, alternativamente, nas bolsas de valores de S. Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Lisboa ou qualquer outra praa internacional que no entender das partes se julgasse adequada.

    2.15.5. No que respeita sua participao minoritria no grupo MANTERO, em parceria com o grupo Pleiade, a IPE, em 1997, investiu em empresas agrcolas, agro-industriais e comerciais, tambm localizadas nos Pases Africanos de Lngua Oficial Portuguesa, sem a evidncia resultante de um plano de negcios sobre a recuperao e remunerao do capital. Ao longo do trinio, para alm de no ter obtido quaisquer dividendos dessa participao, em virtude dos resultados negativos ocorridos no grupo Mantero, constatou-se sistematicamente que as provises por si constitudas, considerando as necessidades de financiamento do negcio, se agravaram, quer, quanto aos montantes acumulados, quer, quanto percentagem provisionada (50%75%) a qual reflecte o critrio para atenuar a intensidade dos riscos.

    2.16. Em 1996, foi introduzida uma nova actividade denominada gesto por conta e ordem do Estado, inspirada na separao da propriedade e da gesto, que apenas teve aplicao em duas empresas, na EPAC e na EMPORDEF. A consumao deste novo modelo ficou aqum das expectativas, na perspectiva do prprio CA da IPE, apenas tendo sido bem sucedido naquela ltima empresa, holding das empresas ligadas produo de material de defesa.

    2.17. Quanto ao regime remuneratrio dos gestores, observou-se que, atravs da regulamentao especfica resultante dos Despachos do Secretario de Estado do Tesouro e das Finanas (SETF), dirigida especificamente IPE, os montantes atribudos aos respectivos administradores, no que respeita remunerao base, implicam um acrscimo substancial, da ordem dos 143%, face ao que resultaria da aplicao do valor padro actualizado no ano de 1999 e a classificao das empresas nos nveis mximos de dimenso, grupo (A), e complexidade de gesto (1), nos termos da RCM n. 29/89. Assim, tomando por referncia o Despacho n. 18 002/99, de 16 de Setembro, do SETF, o Presidente do CA da IPE, aufere 2.100 contos, mais 1.227 contos, o vice-presidente, 2.000 contos, mais 1.174 contos e os vogais, 1.900 contos, ou seja mais 1.128 contos, face ao que resultaria do regime actualizado previsto, para o ano de 1999, nos termos da RCM n. 29/89, de 26 de Agosto. Note-se que estas diferenas sero ainda agravadas quando considerados os complementos remuneratrios, cuja base de clculo a remunerao mensal e que esta ltima se estende por 19 meses, 5 dos quais a ttulo de prmio atribudo pela Assembleia Geral.

    2.17.1. Acresce que no foram reveladas, com a transparncia exigvel ao nvel da prestao de contas, no que respeita ao detalhe, em nota explicativa, as remuneraes e suas componentes acessrias dos gestores da IPE, tal como decorre, no s do prprio manual de polticas e procedimentos contabilsticos da empresa, mas tambm da recomendao do Tribunal de Contas, constante do seu Relatrio n. 1/99, da 2 Seco, na qual a IPE tinha sido considerada. Este aspecto assume relevncia, tanto mais que se verificou, relativamente ao exerccio de 1999, um acrscimo de 79.699 contos resultante da diferena entre o valor global das declaraes de rendimento (para efeitos de IRS) emitidas pela IPE e o valor evidenciado nos anexos s demonstraes financeiras.

  • 16

    2.17.2. Verificou-se tambm que a base de incidncia dos complementos de penses de reforma e invalidez de 25%, contra os 15% previstos no ponto 3 do Despacho n. 18 002/99 do SETF. Esta diferena encontra-se autorizada pelo Despacho n. 338/96-SETF, de 15 de Fevereiro, o que acentua o carcter casustico e avulsos das decises da tutela relativamente a cada empresa, admitindo-se, na perspectiva da IPE, uma majorao em funo da taxa de IRS.

    2.17.3. Por outro lado, constatou-se a aquisio de viaturas da IPE pelos administradores pelo valor residual de 10%. Embora esta situao no contrarie o previsto no ponto 4.2. do citado Despacho, salienta-se que numa perspectiva da boa gesto dos dinheiros pblicos, a prpria regulamentao interna sobre a aquisio de viaturas por parte dos utilizadores, sobrepe o benefcio daqueles aos interesses econmicos da empresa, prejudicando desse modo a valorizao dos seus activos.

    2.17.4. Notou-se, ainda, a utilizao indevida de uma viatura da IPE, aps a renncia ao mandato pelo administrador Francisco Soares, entre 18 de Setembro e 1 de Novembro de 2000;

    2.17.5. A utilizao de crdito bancrio para aquisio de habitao, pelo administrador Rui Neves, ao abrigo do protocolo celebrado entre a IPE e CGD, em que a IPE suportava o pagamento do diferencial entre a taxa equivalente estabelecida no ACTV bancrio e uma taxa de referncia estabelecida ao abrigo do protocolo, ficando a cargo do beneficirio as amortizaes do capital e os juros relativos primeira taxa. Esta situao, contraria o disposto no n. 1 do art. 397 do CSC.

    2.17.6. Constatou-se tambm a atribuio ao Director (Direco de Internacionalizao) Rui Soares de um suplemento, a ttulo de acumulao com funes de administrao exercidas em empresas do grupo (IPE-Capital), tal como previsto no regulamento interno Ordem de servio 09/99, de 22 de Setembro - apreciada e deliberada casuisticamente pelo CA da IPE. A atribuio desse complemento ocorreu em 1 de Novembro de 2000, por deliberao do CA da IPE (vide acta n. 40, ponto 10), no abrangeu qualquer dos outros dirigentes em situao de acumulao, tendo apenas respeitado ao Director acima identificado e com efeitos retroactivos a Maio do mesmo ano, apesar do beneficirio, na mesma semana de Novembro em que ocorreu a atribuio de tal suplemento, ter sido nomeado Presidente do IAPMEI, mantendo evidentemente as regalias remuneratrias que passou a auferir na IPE. Esta atribuio, apesar de formalmente prevista no referido normativo interno, afigura-se ter sido utilizada para fim diverso do previsto, uma vez que, quando concedida, j era presumivelmente conhecida a eminente nomeao do beneficirio para o IAPMEI.

    2.18. Deste modo, o actual regime remuneratrio, fixado administrativamente para o caso especfico da IPE por despacho ministerial, suscita dvidas, agora renovadas, face previso do novo estatuto dos gestores pblicos, anunciado pelo Dec. Lei n. 558/99, de 17 de Dezembro, h quase dois anos.

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    3. RECOMENDAES

    Tendo em considerao, globalmente, o contedo das Partes I, II e III que compem o presente Relatrio de Auditoria e, em particular, as concluses, bem como o teor das respostas recebidas, o Tribunal formula as seguintes principais recomendaes:

    I Ao Accionista Estado

    3.1 Que, tal como previsto no Dec.-Lei n. 558/99, de 17 de Dezembro, passe a emitir orientaes estratgicas, por via de Resoluo do Conselho de Ministros, neste caso concreto ainda mais necessrias atendendo s mltiplas actividades e sectores abrangidos pelo grupo IPE, as quais se inscrevem nas diferentes reas de atribuies ministeriais.

    3.2 Que esclarea o papel da IPE, no contexto do Sector Empresarial do Estado, considerando nomeadamente as finalidades e o relacionamento com o seu accionista PARPUBLICA, que, de igual modo, se configura como uma holding empresarial estatal.

    3.3 Que promova urgentemente a transformao da IPE - Investimentos e Participaes Empresariais, SA em sociedade gestora de participaes sociais, no s considerando o incremento dos aspectos de controlo e transparncia inerente ao regime daquelas sociedades, como o restabelecimento de condies idnticas s de outras holdings empresariais que actuam no mercado e que se encontram sujeitas disciplina jurdica impostas s sociedades gestoras de participaes sociais.

    3.4 Que, considerando o valor patrimonial, a dimenso do grupo e a complexidade de gesto, incremente o nvel de exigncia, com respeito ao detalhe dos contedos da informao inerente prestao de contas, designadamente no plano:

    Das remuneraes dos rgos sociais, incluindo os benefcios e regalias directas ou indirectas, em dinheiro ou em espcie;

    Dos custos de administrao, reflectindo as componentes de representao, viagens e estadas e valorizao profissional;

    Dos trabalhos especializados, no mbito da investigao, desenvolvimento e apoio aos negcios, com destaque para os tipos de trabalhos, correspondente justificao bem como entidades prestadoras e respectivos valores;

    Dos donativos, patrocnios e outras liberalidades aprovadas pelo CA da IPE, no sentido da correcta identificao dos montantes, da justificao, dos beneficirios e das datas em que ocorreram;

    Das actividades relacionadas com publicidade, relaes pblicas e comunicao empresarial, com indicao dos contratos, entidades prestadoras e montantes.

  • 18

    Do financiamento, no mbito do grupo, com destaque para a obrigatoriedade de reduo a escrito dos contratos de suprimentos, com indicao especfica das condies relativas ao prazo e ao juro, aumentos de capital e outras garantias prestadas s empresas do grupo.

    3.5 Que fomente activamente a estruturao do rgo de gesto, com base nos pressupostos da corporate governance, considerando a exigncia e a responsabilidade dos rgos sociais na garantia da existncia de um sistema de controlo interno, eficiente e eficaz, tanto mais que est em causa a salvaguarda de activos pblicos e a prossecuo de interesses pblicos.

    3.6 Que proporcione o reforo da autonomia empresarial da gesto da IPE, bem como o respeito pelo exerccio do poder de direco central do grupo, a partir da holding, evitando e corrigindo orientaes tais como as que foram emitidas na Assembleia Geral de 20 de Setembro de 2000, na qual se determinou uma autonomizao do sector do ambiente liderado pela sub-holding guas de Portugal.

    3.7 Que cometa explicitamente a responsabilidade de nomeao dos membros dos Conselhos de Administrao das sociedades participadas pela IPE a esta empresa, nos casos em que a mesma reuna o respectivo direito, considerando a sua percentagem de participao ou de controlo.

    3.8 Que a atribuio anual de prmios/gratificaes aos gestores seja suspensa at que o processo avaliativo se encontre formalmente definido e aprovado pelo accionista.

    II Administrao da IPE

    3.9 Que fomente a transparncia na prossecuo da actividade empresarial a partir de uma organizao de processos e de planos de aco coerentes, detalhados e precisos (devidamente publicados) a partir das orientaes estratgicas emanadas anualmente pelo accionista Estado (atravs de Resoluo do Conselho de Ministros), e produzindo e formalizando, periodicamente, a informao previsional de gesto, recuperando a coerncia e a integrao entre os instrumentos utilizados. A elaborao daquela informao dever, ainda, contar com a participao dos Stakeholders (todos interessados no negcio) considerados relevantes e as alteraes supervenientes de mercado, nomeadamente e por exemplo, fazendo uso do mtodo prospectivo, com a elaborao de cenrios de interveno alternativos.

    3.10 Que aperfeioe o processo de Oramentao, fazendo reflectir os aspectos contingenciais e promovendo o detalhe da informao, sobretudo nas vertentes dos investimentos/desinvestimentos e na do funcionamento, tornando-o mais transparente e incrementando a sua utilidade enquanto instrumento de controlo.

  • Tribunal de Contas

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    3.11 Que promova a elaborao de planos especficos de negcios, que fundamentem as operaes tanto de criao, como de aquisio ou de tomada de posio no capital social de empresas novas ou j existentes.

    3.12 Que determine o levantamento dos processos e das actividades, de modo a possibilitar a definio da natureza e mbito das funes dos departamentos e dos quadros da empresa.

    3.13 Que clarifique as funes desempenhadas pelos assessores, consultores e gestores que assistem o CA no sentido da sua integrao e articulao com os departamentos e restantes quadros da IPE.

    3.14 Que, promova ao nvel da atribuio de categorias e de nveis salariais, assim como nas promoes internas, se proceda sua fundamentao de um modo substantivo, adequando-se necessariamente ao perfil do posto de trabalho a preencher.

    3.15 Que determine a elaborao de planos de formao profissional anuais adequados aos planos de actividade a desenvolver.

    3.16 Que regulamente as condies de admisso\contratao de novos quadros, considerando as necessidades departamentais e de apoio aos pelouros estabelecidos em CA, bem como um processo de seleco e recrutamento baseado em requisitos qualitativos.

    3.17 Que institua um sistema de avaliao de desempenho dos tcnicos, incluindo os assessores do CA, em funo de metas, objectivos ou padres de referncia, consoante a natureza das variveis ou o seu carcter quantificvel ou no quantificvel, por forma a justificar e a fundamentar, quer as promoes, quer os prmios de desempenho. Alis, o prprio rgo de gesto dever promover a aprovao e implementao de um modelo de avaliao do desempenho dos gestores, sujeito aprovao pelos accionistas, em Assembleia Geral, a partir do qual ser considerada a atribuio de prmios de gesto.

    3.18 Que assuma o controlo interno como uma das suas prioridades imediatas tendo em conta as deficincias detectadas nesta importante funo da gesto, em particular, no concernente a:

    Sistematizao das regras e procedimentos produzidos, criando um corpo coerente de normas a seguir na organizao.

    Aperfeioamento do actual SIG reforando os indicadores produzidos e enriquecendo a informao produzida de modo a garantir a sua actualidade e oportunidade.

    Reforo do papel da auditoria interna existente que passa pelo desenvolvimento de auditorias de gesto e no apenas pela realizao de controlos administrativos e contabilsticos.

  • 20

    Evitar a disperso de informao por diversos suportes, papel e informtico, que inviabilizem controlos sistemticos e integrados.

    3.19 Que proceda implementao de um sistema de custeio adaptado s especificidades da actividade da IPE e adequado s necessidades de informao para o controlo de gesto.

    3.20 Que reforce os meios, a independncia tcnica e a qualidade operacional do Gabinete de Auditoria, o qual se encontra isolado e desprovido de recursos tcnicos e humanos adequados e suficientes por forma a responder s necessidades e responsabilidades da IPE.

    3.21 Que racionalize e promova as sinergias entre empresas do grupo, designadamente ao nvel dos servios de natureza administrativa, financeira, de apoio informtico e de sistemas de informao, no sentido de evitar desperdcios e incrementar a eficincia.

    3.22 Que implemente polticas de qualidade designadamente no mbito da comunicao interna, em especial no que respeita uniformizao de suportes e meios de comunicao na IPE e no grupo.

    3.23 Que adapte o sistema de informao, em especial face s necessidades de acompanhamento e controlo dos negcios do grupo, possibilitando a centralizao de informao pertinente para a gesto e a partilha de recursos.

    3.24 Que a poltica de comunicao da IPE privilegie canais de divulgao interna reforando, deste modo, a identidade da empresa (corporate identity), sem prejuzo da posterior comunicao ao exterior.

    3.25 Que a atribuio de patrocnios e outras liberalidades seja acompanhada dos fundamentos e demais elementos de informao que lhe deram origem, por forma sua completa transparncia interna e externa.

    3.26 Finalmente, que, sempre que pertinente, tome a iniciativa, sobretudo junto do accionista Estado, para que este apoie e d seguimento s recomendaes constantes deste relatrio, tudo com vista a gerar um contexto de cooperao entre o accionista Estado e a empresa que conduza efectiva clarificao e assuno das correspondentes responsabilidades e contribua para melhorar a gesto e para reforar o acautelamento dos importantes activos e interesses pblicos confiados IPE.

  • Tribunal de Contas

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    4. DESTINATRIOS, PUBLICIDADE E EMOLUMENTOS

    4.1. Destinatrios do Relatrio

    Remetem-se exemplares dos quatro volumes do presente Relatrio s seguintes entidades:

    ! Presidente da Assembleia da Repblica;

    ! Presidente da Comisso de Economia, Finanas e Plano;

    ! Lderes dos Grupos Parlamentares;

    ! Ministro das Finanas;

    ! Presidente de Conselho de Administrao da IPE.

    Enviem-se, igualmente, ao representante, junto do Tribunal de Contas, do Procurador-Geral da Repblica, os quatro volumes deste Relatrio.

    4.2. Publicidade do Relatrio

    Cumpridas as diligncias precedentes, coloquem-se os quatro volumes que integram este Relatrio, pela forma mais adequada e em tempo oportuno, plena disposio dos diversos meios de Comunicao Social, sem prejuzo de uma distribuio mais generalizada e concentrada no volume I que condensa os tpicos essenciais desta auditoria, e consubstancia o seu Sumrio Executivo.

    Proceda-se insero do presente Relatrio no site do Tribunal de Contas da Internet, agora na integralidade dos seus quatro volumes, sem prejuzo de uma chamada de ateno adequada para o respectivo Sumrio Executivo.

  • 22

    4.3. Emolumentos

    Nos termos do Decreto-Lei n. 66/96, de 31 de Maio e de acordo com os clculos efectuados pelos Servios de Apoio do Tribunal, so devidos Emolumentos, por parte da IPE, no montante de 3.050.000$00 (trs milhes e cinquenta mil escudos).

    Tribunal de Contas, em 25 de Outubro de 2001.

    FIM DA PARTE I

  • Auditoria Auditoria

    IPEIPE

    -- PARTE II PARTE II --

    Relatrio n 41/01 Relatrio n 41/01 -- 2 Seco2 Seco

    Relatrio GlobalRelatrio Global

    Gesto de Participaes

    Capitais de Risco

    Internacionalizao

    Imobilirio

    Tratamento de Resduos Slidos

    Indstria da gua

  • Tribunal de Contas

    PROCESSO N. 26/00 - AUDIT

    RELATRIO DE AUDITORIA N. 41/2001 - 2 SECO

    Auditoria IPE

    PARTE II Relatrio Global

    Outubro 2001

  • Tribunal de Contas

    1

    NDICE

    RELATRIO DE AUDITORIA IPE

    PARTE II Relatrio Global

    1. INTRODUO .............................................................................................................................. 5 1.1. CONTEDO DA PARTE II DO RELATRIO ................................................................... 5 1.2. OBJECTIVOS E MBITO TEMPORAL DA AUDITORIA .............................................. 5 1.3. METODOLOGIAS................................................................................................................... 6 1.4. CONDICIONANTES ............................................................................................................... 8 2. APRESENTAO DA EMPRESA.............................................................................................. 9 2.1. ENQUADRAMENTO HISTRICO - Evoluo da denominao ..................................... 9 2.2. A CRIAO DA IPE E SUA EVOLUO ........................................................................ 11 3. NEGCIOS, MERCADOS E ESTRUTURA ORGNICA..................................................... 13 3.1. IDENTIFICAO DAS REAS DE NEGCIOS............................................................. 13 3.2. ESTRUTURA ORGNICA DA IPE .................................................................................... 19 4. DEFINIO DOS OBJECTIVOS E DA ACO ESTRATGICA ..................................... 20 5. DIAGNSTICO DE RISCO....................................................................................................... 22 5.1. EXPLICITAO, CONDICIONANTES E LIMITAES.............................................. 22 5.2. A MATRIZ DOS RISCOS..................................................................................................... 23 5.3. RISCOS ECONMICO ESTRATGICOS ..................................................................... 24 5.4. RISCOS INSTITUCIONAIS................................................................................................. 25 5.5. RISCOS DA INTERNACIONALIZAO ......................................................................... 27 5.6. RISCOS TECNOLGICOS.................................................................................................. 27 5.7. OUTROS RISCOS.................................................................................................................. 28 5.8. AS PERSPECTIVAS DOS DIRIGENTES E DOS TCNICOS........................................ 29

  • 2

    6. CONTROLO INTERNO ............................................................................................................. 30 6.1. AMBIENTE DE CONTROLO.............................................................................................. 30 6.1.1. ASPECTOS ORGANIZACIONAIS................................................................................ 31 6.1.2. REGULAMENTAO INTERNA................................................................................. 31 6.1.3. QUALIFICAO DOS RECURSOS HUMANOS ....................................................... 32 6.1.4. FORMAO PROFISSIONAL ...................................................................................... 34 6.1.5. ESTILO DE LIDERANA .............................................................................................. 35 6.1.6. OUTROS CONTRIBUTOS PARA O CONTROLO ..................................................... 35 6.2. DEPARTAMENTOS-CHAVE .............................................................................................. 37 6.2.1. DIRECO DE INFORMAO E CONTROLO DE GESTO - DICG ................. 37 6.2.2. DIRECO FINANCEIRA............................................................................................. 38 6.2.3. OUTROS DEPARTAMENTOS ...................................................................................... 39 6.3. PROCEDIMENTOS CRTICOS .......................................................................................... 41 6.3.1. INVENTRIO E MOVIMENTAO DAS PARTICIPAES ................................ 41 6.3.2. ORAMENTAO E CONTROLO ORAMENTAL ............................................... 43 6.3.3. CONTABILIDADE ANALTICA................................................................................... 45 6.3.4. FINANCIAMENTO.......................................................................................................... 47 6.3.5. CONTROLO DE DVIDAS E PROVISES.................................................................. 49 6.3.6. CONSOLIDAO DE CONTAS.................................................................................... 49 6.3.7. RECURSOS-HUMANOS................................................................................................. 50 6.4. INFORMAO E COMUNICAO.................................................................................. 57 6.4.1. SISTEMAS E TECNOLOGIAS DE INFORMAO .................................................. 57 6.4.2. COMUNICAO ............................................................................................................. 59 7. DESAJUSTAMENTOS................................................................................................................ 61 7.1. NATUREZA E FORMA DA IPE (FORMA JURDICA)................................................... 61 7.1.1. DA SOCIEDADE ANONIMA SGPS........................................................................... 61 7.2. RGOS SOCIAIS: ADMINISTRAO DA IPE ............................................................ 63 7.2.1. DIMENSO E FUNCIONAMENTO.............................................................................. 63 7.2.2. REMUNERAO DOS MEMBROS DO CA................................................................ 67 7.3. ESTRUTURA ORGNICA E RECURSOS HUMANOS................................................... 74 7.3.1. APOIO AO CA: ASSESSORES, GESTORES E CONSULTORES ............................ 74 7.3.2. DEPARTAMENTOS E PELOUROS.............................................................................. 75 7.3.3. RECURSOS HUMANOS ................................................................................................. 78

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    3

    7.4. ASPECTOS DE FUNCIONAMENTO E CONTROLO ..................................................... 79 7.4.1. ANLISE DOS CUSTOS E DOS PROVEITOS DA EMPRESA ................................ 79 7.4.2. A PERSPECTIVA PATRIMONIAL DO RISCO (Provises)...................................... 85 7.4.3. TECNOLOGIAS DE INFORMAO........................................................................... 87 7.4.4. AS SINERGIAS DE GRUPO........................................................................................... 88 7.5. GESTO DE PARTICIPAES/NEGCIOS................................................................... 90 7.5.1. EVOLUO DA CARTEIRA DE PARTICIPAES 1997-2000 (SET.).................. 90 7.5.2. PROCESSOS DE LIQUIDAO/FALNCIA ............................................................. 96 7.5.3. REPRESENTATIVIDADE DAS PARTICIPAES NO ACTIVO DA IPE............. 97 7.6. CRIAO DE VALOR ....................................................................................................... 101 7.6.1. SITUAO ECONMICA E FINANCEIRA............................................................. 102 7.6.2. DIVIDENDOS PARA O ACCIONISTA IPE............................................................... 103 7.6.3. OS RESULTADOS ......................................................................................................... 106 7.6.4. O VALOR AGREGADO 1997-1999 ............................................................................. 111 8. CONCLUSES .......................................................................................................................... 113 9. ANEXOS ..................................................................................................................................... 125

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    1. INTRODUO

    1.1. CONTEDO DA PARTE II DO RELATRIO

    A Parte II deste Relatrio contm os resultados mais detalhadamente tratados da auditoria do Tribunal de Contas (TC) IPE - Investimentos e Participaes Empresariais, SA, enquanto empresa holding que tem liderado um grupo empresarial pblico com forte tradio no Sector Empresarial do Estado (SEE), uma vez que a sua existncia remonta a 1975, aquando da criao do Instituto das Participaes do Estado pelo Dec.-Lei n. 163-C/75, de 27 de Maro.

    No essencial, nesta Parte II, so apresentadas as necessrias descries, constataes e concluses que se retiraram do cumprimento dos objectivos fixados para a auditoria e que, a seguir, detalhadamente se enunciam.

    1.2. OBJECTIVOS E MBITO TEMPORAL DA AUDITORIA

    Dado que se tem assistido a uma reorganizao do SEE, tambm caracterizada pela criao de novas sociedades holdings, o controlo externo no poderia deixar de orientar as suas prticas para o papel que tais holdings desempenham ao nvel quer do desenvolvimento lgico, quer do controlo das actividades do grupo.

    Partindo do pressuposto que a opo pblica pelos grupos empresariais se baseia num ambiente de organizao e gesto mais desenvolvido e complexo, que afirma o primado da autonomia de gesto como princpio impulsionador da dinmica empresarial o que, no caso do SEE, implica a assuno dos riscos empresariais resultantes da conciliao dos critrios de rendibilidade econmica com outros interesses pblicos, o Tribunal entendeu desenvolver junto da IPE uma auditoria da gesto baseada no risco.

    Esta auditoria procurou, de um modo integrado e global, observar na IPE os aspectos de eficincia e eficcia associados salvaguarda e aplicao dos activos pblicos, tendo em considerao, quer a rendibilidade, quer as obrigaes sociais decorrentes da sua misso e objectivos.

    Em suma, a auditoria do TC teve como objectivo global, ao nvel da sede do grupo, avaliar, na perspectiva da continuidade da empresa, o sistema de controlo interno, considerando a sua eficincia e eficcia, face aos objectivos e riscos empresariais que respeitam IPE.

    Foram objectivos especficos desta auditoria:

    A compreenso da aco estratgica da empresa, nomeadamente dos seus objectivos anuais e plurianuais e a respectiva articulao com a orientao estratgica emanada do accionista Estado;

    A anlise da estrutura respectiva e composio, bem como do relacionamento entre rgos sociais e entre o Conselho de Administrao e as tutelas ministeriais;

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    O levantamento do universo das entidades participadas pela IPE e sua evoluo, considerando os objectivos estabelecidos e relacionados com a informao financeira relatada pela empresa;

    A anlise do sistema de controlo interno, atravs das suas vrias componentes, nomeadamente, ambiente de controlo, avaliao do risco, actividades de controlo, informao e comunicao e a monitorizao;

    A identificao e compreenso de alguns negcios de maior risco;

    A ponderao sobre a natureza e forma estatutria da IPE;

    A adaptao da estrutura organizacional da empresa e do grupo sua misso e aos seus objectivos;

    A afectao dos recursos financeiros, tcnicos e humanos e a anlise das funes inerentes direco do grupo, com vista compreenso das sinergias de funcionamento;

    A compreenso, considerando os seus prprios indicadores, dos resultados da IPE, atravs da evoluo da carteira de participaes sociais, do peso dos sectores no activo da IPE, da obteno de dividendos e dos resultados lquidos por sector, com destaque para os operacionais, financeiros e extraordinrios.

    Quanto ao mbito temporal da auditoria, apesar de se terem privilegiado as anlises resultantes do recurso a um perodo compreendido entre 1997-2000, tal no constituiu, em si, um limite formulao das concluses, uma vez que, face ao propsito dos objectivos acima referidos, se procurou destacar os aspectos essenciais susceptveis de afectarem, no futuro, a continuidade do negcio da IPE.

    1.3. METODOLOGIAS

    A preparao e o desenvolvimento dos trabalhos foram orientados pelos critrios, tcnicas e metodologias acolhidas, no s no Manual de Auditoria do Tribunal, mas, tambm, pelas normas geralmente aceites pelas organizaes internacionais de controlo pblico externo, como sucede com a INTOSAI, de que o Tribunal de Contas Portugus membro.

    Procedeu-se, previamente, elaborao de um Estudo Preliminar, to amplo quanto possvel, orientado para os planos e critrios econmicos, polticos, tecnolgicos, sociais e legais, respeitantes IPE.

    O referido estudo baseou-se na anlise das contas e nos relatrios de gesto da IPE e das empresas do grupo, em outros relatrios de controlo e auditoria, em pesquisa bibliogrfica e na anlise de recortes de imprensa, tendo permitido sintetizar os seguintes aspectos:

    Natureza e vocao da IPE;

    Levantamento prvio do universo das empresas participadas pela IPE;

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    Identificao das reas de negcios, mercados e principais parceiros de negcios pblicos e privados;

    Anlise de indicadores econmico-financeiros;

    Estudo das reas de risco em funo das diversas actividades, dimenso do grupo e parcerias realizadas pela IPE.

    O Tribunal colocou-se como um destinatrio das demonstraes financeiras e da sua certificao legal, confiando partida na sua relevncia, fiabilidade e comparabilidade. Assim, procurou utilizar essa informao, bem como os resultados dos controlos realizados por auditores exteriores empresa, tendo-os considerado para efeitos da compreenso dos sistemas contabilsticos e administrativos, no plano dos princpios e das polticas geralmente aceites.

    O estudo permitiu uma seleco mais apurada dos assuntos e conduziu preparao do programa da auditoria, no qual se privilegiaram mais os procedimentos substantivos, nomeadamente os analticos, considerando a adequabilidade dos controlos existentes na entidade auditada necessria mitigao dos riscos que podem comprometer os seus objectivos.

    A metodologia empregue na execuo do programa de auditoria contemplou os seguintes pontos:

    A estratgia da IPE, focando os aspectos da sua governabilidade, nomeadamente atravs da identificao dos centros de deciso, composio, relacionamento dos rgos sociais e respectivo contributo para o estabelecimento dos objectivos da entidade;

    Considerao do Risco, enquanto elemento essencial da dinmica empresarial, recorrendo aplicao de um instrumento de autoavaliao baseado nos contributos das pessoas da organizao;

    O controlo das actividades, a partir da sede do grupo, no sentido de identificar os diversos conceitos, pontos de vista e interpretaes do controlo interno, com vista avaliao dos controlos existentes, tanto no plano conceptual como ao nvel dos controlos implementados, face considerao dos riscos empresariais autoavaliados;

    O alinhamento entre os objectivos, os riscos e os controlos, no sentido de avaliar a coerncia da aco empresarial, face ao ajustamento dos vrios processos e no sentido de melhorar a compreenso final sobre as eventuais disfunes, a afectao de recursos e os resultados econmicos obtidos;

    As principais fontes de informao utilizadas na execuo dos trabalhos de campo foram:

    A documentao interna, recolhida com a finalidade de obter exemplos dos pontos-chave do desenvolvimento de processos e procedimentos da estratgia do controlo de actividades e, bem assim, dos resultados econmicos;

    As entrevistas com pessoas-chave da empresa, sobretudo dirigentes intermdios e tcnicos qualificados e experientes, com a finalidade, no s de levantar e testar procedimentos e circuitos, mas tambm de colher o ponto de vista individual opinies sobre o modo como a Administrao controla as actividades e os negcios do grupo;

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    A realizao de questionrios, relativos autoavaliao do risco, elaborados a partir dos contributos individuais de tcnicos e dirigentes da organizao, sobre a probabilidade da respectiva ocorrncia e dos seus consequentes impactos.

    Procurou-se, assim, reunir as condies necessrias para emitir com segurana razovel, uma opinio sustentada sobre o sistema de controlo interno implementado, considerando a realizao da misso e da estratgia definida pela empresa.

    1.4. CONDICIONANTES

    Constituram condicionantes dos trabalhos de campo, e, portanto, desta auditoria, em especial no plano da interlocuo com a empresa, os seguintes aspectos:

    A mudana dos membros do Conselho de Administrao ocorrida aps o incio dos trabalhos;

    A disperso da informao e a diversidade dos suportes utilizados;

    A centralizao da prestao da informao aos auditores do Tribunal no Presidente do Conselho de Administrao;

    A forma e a qualidade dos suportes da informao requerida;

    O comprometimento dos tcnicos e dos dirigentes intermdios em virtude da dependncia hierrquica e funcional resultante da estrutura empresa;

    A insensibilidade s metodologias de autoavaliao por parte dos inquiridos no processo de avaliao dos riscos;

    A inexistncia de indicadores de resultados, produzidos pela prpria empresa, considerando a especificidade dos seus negcios.

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    2. APRESENTAO DA EMPRESA

    IPE 1997 1998 1999 ACTIVO LQUIDO 134 148 151

    IMOBILIZADO FINANCEIRO 120 138 142

    CAPITAL PRPRIO 106 122 123

    PASSIVO 28 26 27

    FINANCIAMENTO ALHEIO 12 10 11

    RESULTADO LQUIDO 4 6 7 (Valores em milhes de contos)

    ESTRUTURA ACCIONISTA A 31/12/1999

    ACCIONISTAS: % PARTICIPAO

    Direco-Geral do Tesouro 48,82

    PARTEST/PARPBLICA 32,78

    CGD 17,54

    OUTROS 0,86

    A IPE actua em diversos sectores de actividade, nomeadamente no sector das guas e resduos slidos (ambiente), no sector do imobilirio, passando pela associao de interesses pblicos e privados atravs dos sectores do capital de risco e da internacionalizao.

    2.1. ENQUADRAMENTO HISTRICO - Evoluo da denominao

    Como ponto de partida, pode sintetizar-se a evoluo da empresa atravs das denominaes que lhe foram atribudas, desde a sua criao at ao momento actual. Assim:

    Instituto das Participaes do Estado entidade criada pelo Dec. Lei n. 163-C/75, de 27 de Maro, com o estatuto de Empresa Pblica, em regime de instalao;

    Instituto das Participaes do Estado, EP, cujo enquadramento jurdico veio a ser concretizado pelo Dec. Lei n. 496/76, de 26 de Junho;

    IPE Investimentos e Participaes do Estado, SARL, transformao da IPE, EP, em sociedade annima da capitais exclusivamente pblicos, pelo Dec. Lei n. 330/82, de 18 de Agosto;

    A IPE - Investimentos eParticipaes Empresariais, SA, uma holding de capitaisexclusivamente pblicos, com umcapital social de 50 milhes decontos (250 milhes de euros).

    Na sequncia da reestruturao daPARTEST, pelo Dec.-Lei n.209/2000, de 2 de Setembro, deque resultou a criao de mais umaholding pblica, a PARPBLICA,a participao detida anteriormentepela primeira foi transferida para acarteira desta ltima.

  • 10

    IPE Investimentos e Participaes Empresariais, SA, denominao alterada pelo Dec. Lei n. 406/90, de 26 de Dezembro (entretanto alterado pelo Dec. Lei n. 106/95 de 20 de Maio), possibilitando que as aces representativas do capital social possam ser de titularidade pblica ou privada1, diploma ainda em vigor;

    Ciso da IPE, atravs do Dec. Lei n. 452/91, de 11 de Dezembro, que deu origem criao da PARTEST- Participaes do Estado, (SGPS), SA, a qual, desde Setembro de 2000, passou a denominar-se PARPBLICA, aps profunda reestruturao.

    1 No entanto, enquanto a IPE for titular de participaes que tenham sido objecto de nacionalizao directa, o

    seu capital social dever pertencer exclusivamente a entes pblicos (art. 3, n.2 do Dec. Lei n. 406/90, de 26 de Dezembro, alterado pelo Dec. Lei n. 106/95, de 20 de Maio).

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    2.2. A CRIAO DA IPE E SUA EVOLUO

    O Dec.-Lei n. 163-C/75, de 27 de Maro, marca a criao da IPE, com a configurao jurdica de Empresa Pblica, entidade dotada de personalidade jurdica e autonomia administrativa, financeira e patrimonial, em regime de instalao.

    A empresa nasce no contexto histrico do ps 25 de Abril de 1974 e do processo de nacionalizaes que se lhe seguiu. Ao longo da sua evoluo, na perspectiva actual da empresa2, foram-lhe reconhecidas vrias misses, tal como se expe no seguinte quadro:

    QUADRO 1 FASES DE INTERVENO DA IPE

    DOMNIOS E FORMAS DE INTERVENO 1976/ 1982

    1982/ 1990

    1990/ 1993

    1994/ 2000

    Registo, gesto, saneamento, reestruturao e rentabilizao de empresas participadas pelo Estado em consequncia das nacionalizaes de 1975.

    Alienao/reprivatizao das empresas participadas pelo Estado em consequncia das nacionalizaes de 1975 e outras criadas pelo IPE.

    Investimentos em sectores estratgicos e/ou de inovao tecnolgica, em regime de parceria com capital privado nacional e/ou estrangeiro (IDE)

    Internacionalizao-Incentivao ao investimento directo de empresas portuguesas no estrangeiro (IDPE)

    Dinamizao do sector das guas e dos Resduos Slidos Urbanos

    Empresariao de actividades pblicas j existentes, ao abrigo de acordos de gesto por conta e ordem do Estado

    Firma e Forma Jurdica IPE-Instituto de Participaes do Estado- EP

    IPE-Investimentos e Participaes do Estado Estado, SA

    IPE-Investimentos e Participaes Empresariais do Estado, SA

    Fonte: IPE\CA

    2 Cfr. Documento Das orientaes estratgicas Estratgia Futura da IPE- Investimentos e Participaes

    Empresariais Prof. Castro Guerra, Presidente do CA, Nov. de 2000.

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    Ao longo dos seus 24 anos de existncia, de acordo com a sua prpria interpretao, a IPE prosseguiu as misses constantes do quadro anterior, na parte que respeita aos domnios de interveno.

    No contexto do SEE, ao longo da sua histria, a IPE tem assumido um papel de relevo na prpria evoluo do SEE, promovendo transformaes naquele, em funo da vontade do Estado accionista, que, ao longo do tempo, definiu e delimitou a sua carteira de participaes.

    Assim, relativamente ao perodo analisado, importa destacar que a IPE reflectiu as mudanas introduzidas pela Lei Quadro das Privatizaes3, na sequncia da reviso constitucional de Agosto de 1989, adquirindo uma nova denominao e dando origem, por ciso, criao da Partest, SGPS4. Deste modo foram criadas duas holdings empresariais, a IPE, SA com vocao para empreender indirectamente actividades econmicas, apoiando, criando e internacionalizando negcios, nos sectores produtivos e da public utilities, mas sem revestir a forma e se sujeitar ao regime das SGPS e a Partest, SGPS, para servir como instrumento empresarial para concretizar a poltica de reprivatizao de empresas de capitais pblicos e promover o saneamento de empresas do sector pblico.

    Em Setembro de 2000, o Estado procedeu reestruturao da Partest, SGPS5, que originou a criao da PARPBLICA (SGPS) SA, que tem por finalidade a gesto integrada, sob forma empresarial, da carteira de participaes pblicas, nas quais se inclui a IPE e, tambm, a criao de empresas especializadas, orientadas para a gesto do patrimnio imobilirio e a titularizao de crditos.

    Porm, na Assembleia Geral universal da IPE, ocorrida em 18 de Setembro de 2000, o Estado accionista no fez reflectir nas orientaes estratgicas, dirigidas aos novos membros do CA, qualquer esclarecimento sobre o papel da IPE no contexto da mudana estrutural operada no SEE, atravs da reestruturao da PARTEST, apesar desta sociedade, ento transformada em PARPBLICA, participar na IPE .

    3 Lei n. 11/90, de 5 de Abril. 4 Dec.-Lei n. 452/91, de 11 de Novembro. 5 Dec.-Lei n. 209/2000, de 2 de Setembro.

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    3. NEGCIOS, MERCADOS E ESTRUTURA ORGNICA

    3.1. IDENTIFICAO DAS REAS DE NEGCIOS

    Prosseguindo na apresentao da IPE, no tocante s actividades empreendidas pelo grupo, observa-se que o percurso estratgico seguido, nos ltimos quatro anos, se desenvolveu em torno das seguinte reas de negcios:

    FIGURA 1 CONFIGURAO DAS REAS 1997- SETEMBRO 2000

    IPE HOLDINGIPE HOLDING

    CAPITAL DERISCO

    INTERNACIONALIZAOE COOPERAO

    NOVAS REAS

    IMOBILIRIO

    GESTO POR CONTAE ORDEM DO ESTADO

    GUA ESANEAMENTO

    RESDUOSSLIDOS

    AMBIENTE

    EMPORDEF 1%

    IPE-Adp100%

    OUTRAS PARTICIPAES

    DIALAP 85%

    BECIM 67,8% GENERG 57,5%

    EPAL 49% AQUAPOR 36%

    IPE REGIA 35%

    PGS 30% TRADINGPOR28,3%

    BRISA 5% CIMPOR 2,2%

    EGF90%

    IPE-CAPITAL90%

    IPE-EPI90%

    SUB-GRUPO

    IPECOMUNICAO

    100%

    SAUDEC 50% E.N. TELECOM.28%

    NETRAIL 22%

    SPE81%

    OUTRAS

    SUB-GRUPO SUB-GRUPO

    SG PROGECTOS 100%

    SUB-GRUPO

    OPTIMUS 5%

  • 14

    O sector do Ambiente tem sido desenvolvido em torno da vertente das guas (distribuio e saneamento), liderada pelo sub-grupo da IPE-Adp e pela vertente dos resduos, suportada pelo sub-grupo da EGF e que, actualmente, ou seja em 2001, constituem o grupo das guas de Portugal. At recomposio da carteira do grupo IPE, ocorrida no ms de Setembro de 2000, esta foi a principal rea de negcios, sustentada na aplicao e desenvolvimento de Know-how existente e concretizada na deteno de posies accionistas, em geral, maioritrias.

    Este sector, enquadra-se na instrumentalizao da poltica nacional do Ambiente e na do Desenvolvimento Regional e Local e, indirectamente, na vertente econmica da poltica de Negcios Estrangeiros, no que respeita ao relacionamento de Portugal com os pases para onde so direccionados os investimentos.

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    A figura seguinte, apresenta a configurao deste sector.

    FIGURA 2 CONFIGURAO DO SECTOR DO AMBIENTE

    INTERNACIONALIZAO

    IPE - SECTOR DO AMBIENTE

    RESDUOS 98%EGF

    Participaesdirectas

    EPAL49%

    AQUAPOR36%

    IPE-REGIA35%

    GUAS 100%IPE-Adp

    A. MINHO E LIMA75%

    A. BARLAVENTOALGAG. 51%

    A. DO CVADO51%

    A. DOURO EPAIVA 51%

    A. DO OESTE51%

    A. ZZERE ECOA 51%

    SANEST51% SIMRIA 51%

    A. SOTAVENTOALG. 51%

    EPAL51%

    SIMILIS51%

    ELECTRA20.4%

    ERSUG 60,7% ALGAR 51%

    AMARSUL 51% BRAVAL 51%

    RESICVADO51% RESIOESTE 51%

    RESULIMA 51% SULDOURO 51%

    VALORIS 51%

    VALORMINHO51%

    RESULIMA 51%

    IPE REGIA 49%

    RECIGROUP 34%

    INTERCYCLING34%

    SOCEREMBALAGENS 12%

    VALORSUL 25%

    A. da Figueira40%

    AQUATEC25%

    A. Cascais30,5%

    AQUAPOR36%

    EBAL50%

    PROLAGOS25%

    REDELFOR45%

    A. de Moambique73%

    A Internacionalizao configura-se, teoricamente, como uma rea de integrao horizontal do grupo, apoiando-se numa unidade orgnica que, para o efeito, foi instituda na estrutura da IPE (Direco de Internacionalizao). Contudo, a internacionalizao tem assumido, quer a vertente dos investimentos externos associados ao core business do grupo, desenvolvido por iniciativa da IPE-Adp e da SPE, quer a vertente das alianas com grupos privados na participao empresas no estrangeiro.

    Nesta ltima vertente, a IPE tem no s assumido uma posio accionista minoritria, nomeadamente em determinadas reas de actividade, como, por exemplo e mais significativamente, nas reas da distribuio ou da agricultura, bem como promovido a associao a empresas estrangeiras, em investimento em Portugal, atravs da IPE-Capital.

  • 16

    FIGURA 3 CONFIGURAO DO SECTOR DA INTERNACIONALIZAO

    CABO VERDE

    ANGOLA

    MOAMBIQUE

    FRICA

    ZAMAGRI 29%

    IPE-MACAU 99%MANTERO

    28,5%

    SPE81%

    M.I. Brazil15%

    CIMPOFIN 20%

    SOC. MIN.LUCAPA 49%

    NACALA 25%

    IPE-EPI100%

    SOC. ANGOLANADE EMPR. 96%

    NEMOTO 3,7%AQUAPOR 36%

    EBAL50%

    PROLAGOS20%

    GRUPO IPE-Adp100%

    EFACECINTERNACIONAL

    5%P.I. MATOLA

    7,7%

    BRASIL OUTROSINVESTIMENTO

    ESTRANGEIRO EMPORTUGAL

    AQUATEC 25%

    RADIADORES P/AUTOMVEIS

    TELEWEB 5%

    IPE-Capital 86,0%

    SOCER 12%

    JOO de DEUS &FILHOS 13,46%

    EMBALAGENSINDUSTRIAIS

    QUMICA FINA

    TELECOMUNICAES

    ELECTRA20.4%

    GUIN B.

    AGRIBISSAU8,4%

    Observe-se, ainda, que, no primeiro semestre de 2000, a IPE iniciou, igualmente, um programa de investimentos em Timor Lorosae, tendo participado na criao da sociedade HARII (11,26%).

    O sector do Imobilirio liderado pela Sociedade Geral de Projectos, que procura a rendibilizao, por alienao, arrendamento ou em parceria, dos imveis do grupo disponibilizados por outras actividades.

    FIGURA 4 CONFIGURAO DO SECTOR DO IMOBILIRIO

    SOCIEDADE GERAL DE PROJECTOS .......................................................................................................... 100%

    GERALMED 100%

    GERAL CAXINAS100%

    ISOSCELES 100%

    GERALBREINER 100%

    AMPLIMVEIS 100% GERAL LAZARIM 100%

    SUGAR 100%

    PARTICIPAES DIRECTAS da IPE

    UTIC 99,7%

    SODIA 299,9%

    LABORIMVEIS 100% IMOV. CENTIERA100%

  • Tribunal de Contas

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    Quanto ao sector do Capital de Risco, prosseguido pela IPE CAPITAL, empresa que se encontra vocacionada para parcerias com entidades privadas e agentes empresariais, sem prejuzo da participao nos outros sectores da IPE, atravs da aplicao de capitais prprios e da gesto de fundos de Capital de Risco, nomeadamente, do Frie Capital, do Frie Capital Retex/Paip e gesto do FCR Capital Tecnologia.

    Apresenta-se na figura seguinte a composio deste sector, considerando as reas abrangidas pela interveno do capital de risco:

    FIGURA 5 CONFIGURAO DO SECTOR DO CAPITAL DE RISCO

    PARTICIPAES DIRECTAS da IPE

    INTEGRAO SECTORIAL - AMBIENTE

    IPE-CAPITAL 86%

    FRIE IPE CAP. I45%

    FCR -TEC. 85%

    ECOSOCER20%

    A. BARLAVENTOALG. 24%

    PAVILIS27,5%

    ASUBSOLO27,7%

    A. ZZERE ECOA 32%

    SIMRIA 23,5% A. SOTAVENTOALG. 17,8%

    REVOLTA40%

    SIMILIS19% ALGAR 5 %

    IPE REGIA 15;%AQUAPOR15%

    FRIE IPE CAPITAL I5%

    MACONDE 1,7%

    MOLIN 15,8%FAIANASSUBTIL 6,2%

    FACERPA 38%

    MACEM 1,8%

    GESTO FRIE RETEX

    JOO DE DEUS &FILHOS 20%

    EFACECINTERNACIONAL

    40%

    TELGECOM10,4%

    CLIPVOA 3,9%

    NEMOTO 3,7%

    MAROFA II3,3%

    TELEWEB5%

    PME INVEST 14%

    As novas reas de negcio, decorrentes das orientaes estratgicas, encontram-se estruturadas em torno de um conjunto de participaes na rea das telecomunicaes e novas tecnologias, na rea da sade; perspectivando-se ainda o desenvolvimento da rea do turismo e lazer, possivelmente interligada com a rea da sade representadas pelas empresas, IPE-Comunicao, Netrail, Saudec, ENTelecom e Optimus.

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    Quanto s participaes financeiras, materialmente relevantes, considerando os activos da IPE, destacam-se as respeitantes Brisa (5%) e Cimpor (2,2,%) . No que respeita Brisa, refira-se que a IPE indica, alternadamente com a CGD, um administrador para o seu CA.

    Refira-se ainda que, por um lado, existem empresas j constitudas, embora as respectivas as reas de negcios no se encontrem ainda activas, (vg. IPE-Comunicao), ou que desempenham o papel de meras empresas veculo (vg. IPE- EPI), e que, por outro, em virtude da evoluo da IPE, existem vrias empresas desactivadas6, em fase de liquidao, ainda no concluda, sobretudo as que se integraram na componente industrial e que continuam a constar da carteira da IPE.

    Finalmente, sublinhe-se que subsiste, ainda, uma rea de actividade no mbito da defesa nacional, desenvolvida pela empresa EMPORDEF, sendo a participao social detida pelo Estado nesta empresa gerida pela IPE, ao abrigo de contrato celebrado com o Estado em 31 de Julho de 1997.

    6 Remisso Processos de liquidao e falncia; 7.5.

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    3.2. ESTRUTURA ORGNICA DA IPE

    O modelo de estrutura organizacional, adoptado pela IPE, caracteriza-se pela sua acentuada componente funcional e hierrquica, baseada nas funes de acompanhamento, controlo, assessoria jurdica e internacionalizao.

    Quanto s reas de negcio, tm sido consideradas para efeitos da definio e repartio dos pelouros entre os membros do Conselho de Administrao (CA), considerando a estrutura do grupo baseada em unidades estratgicas, lideradas pelas sub-holdings, em contraste com a estrutura funcional da prpria IPE.

    Os assessores do CA encontram-se na dependncia directa dos administradores, tendo em conta a repartio de pelouros.

    FIGURA 6 ORGANOGRAMA IPE

    CONSELHO DEADMINISTRAO

    IPE -INVESTIMENTOS EPARTICIPAES

    EMPRESARIAIS, SA

    DIR.Internacionalizao

    Dr.Rui SoaresDI

    Dir. de Inf. e Cont.Gesto

    Dr.Vitor Del NegroDICG

    Dir. Administrativa eRecursos Humanos

    Dr. Luis PachecoDARH

    Direco FinanceiraDr. M. Amlia Jorge

    DF

    Gabinete JurdicoDr. M Augusta Frana

    GJ

    Gabinete de AuditoriaInterna

    Dr. Madalena PereiraGAI

    A organizao executiva do rgo de gesto, atravs da distribuio dos pelouros, tem-se projectado na estrutura da empresa em dois nveis:

    O primeiro agrega um conjunto de consultores/gestores, que apoiam o CA da IPE, em funo dos sectores de actividade do grupo nas reas da sade, das tecnologias da informao, da internacionalizao e das novas reas;

    O segundo reflecte-se ao nvel das Direces e Departamentos da empresa, em virtude da natureza das suas funes, face s relaes de dependncia com os pelouros estabelecidos para os administradores.

  • 20

    4. DEFINIO DOS OBJECTIVOS E DA ACO ESTRATGICA

    Constituindo a IPE uma sociedade comercial de capitais exclusivamente pblicos, a estratgia corporativa envolve e implica, no s os seus rgos de gesto, mas tambm o Estado accionista, bem como os outros accionistas de natureza pblica e, implicitamente, a designada tutela poltica ou sectorial7.

    Quanto ao relacionamento com as tutelas sectoriais, importa recordar o Despacho Conjunto n. 811/98, dos Ministros das Finanas e do Ambiente, publicado no DR II Srie, n. 271, de 23 de Novembro de 1999, o qual veio estabelecer que o desempenho da funo accionista do Estado nas sociedades maioritariamente participadas, directa ou indirectamente, no mbito de sistemas municipais ou quaisquer outros domnios igualmente sujeitos orientao sectorial do Ministrio do Ambiente, passava a ser assegurado de acordo com orientaes estratgicas prvias, a fixar conjuntamente por aqueles dois Ministros.

    FIGURA 7 INTERVENIENTES NA GESTO ESTRATGICA

    Ministrio dasFinanas

    OUTROSACCIONISTAS

    (PARTEST;CGD)

    LINHAS DE ORIENTAOESTRATGICAS

    ASSEMBLEIAGERAL IPE

    ORIENTAESESPECFICAS

    CONSELHO DEADMINISTRAO

    IPE

    OutrosMinistrios

    Ministrio doAmbiente

    TUTELASSECTORIAIS

    ---------------------- ACCIONISTA

    ESTADO

    IPE - INVESTIMENTOS E PARTICIPAES EMPRESARIAIS, SA

    GRUPO IPE

    GOVERNO

    ESTRATGICA ESTRATGICA

    NVEL OPERATIVO

    NVEL OPERATIVO

    GUA ESANEAMENT

    O

    RESDUOSSLIDOS

    AMBIENTEINTERNACIONALIZAO \ COOPERAO

    CAPITAL DERISCO IMOBILIRIO

    INOVASREAS

    GESTO DEPARTICIPAES

    7 Designao utilizada no SEE, considerando a orientao de cada Ministrio face aos objectivos polticos nas

    reas em que cada empresa desenvolve a sua actividade. vg. Memo do Eng. Torres Campos, de 96.06.05.

  • Tribunal de Contas

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    A estratgia empresarial da IPE tem que ser compreendida luz de um contexto que envolve parte substancial do SEE, caracterizado pela conjugao de interesses de rendibilidade com outros interesses pblicos de valorizao, nem sempre tangvel, e que resultam da complexa teia montada pela interveno, em paralelo, do Estado accionista, das tutelas ministeriais sectoriais que, indirectamente, contribuem para a liderana da aco estratgica, ao nvel da holding IPE e, at, ao nvel das empresas do grupo.

    No so con