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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO IOLANDA VALOIS GALVÃO DE MENEZES ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS DE VALIDADE E CONSISTÊNCIA INTERNA DO QUESTIONÁRIO SOBRE PADRÕES DE ALIMENTAÇÃO E PESO REVISADO (QEWP-R) OSASCO 2014

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO

IOLANDA VALOIS GALVÃO DE MENEZES

ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS DE VALIDADE E CONSISTÊNCIA INTERNA DO

QUESTIONÁRIO SOBRE PADRÕES DE ALIMENTAÇÃO E PESO REVISADO

(QEWP-R)

OSASCO

2014

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IOLANDA VALOIS GALVÃO DE MENEZES

ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS DE VALIDADE E CONSISTÊNCIA INTERNA DO

QUESTIONÁRIO SOBRE PADRÕES DE ALIMENTAÇÃO E PESO REVISADO

(QEWP-R)

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

do Curso de Pós-Graduação em Psicologia

Educacional do Centro Universitário FIEO para

a obtenção do título de Mestre em Psicologia

Educacional.

Linha de pesquisa: Psicopedagogia: Teoria e

Prática

Orientador: Prof. Dr. Daniel Bartholomeu

OSASCO

2014

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IOLANDA VALOIS GALVÃO DE MENEZES

MENEZES, Iolanda Valois Galvão de.

Análise de evidências de validade da estrutura interna do Questionário sobre Padrões de Alimentação e Peso – Revisado (QEWP-R) . / 55p.

Iolanda Valois Galvão de Menezes – Osasco: [s.n.], 2014.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário FIEO – UNIFIEO, Curso de Mestrado em Psicologia Educacional.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Bartholomeu

1. Validade 2. Rasch 3. QEWP-R. I. Título. II. BARTHOLOMEU, Daniel

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IOLANDA VALOIS GALVÃO DE MENEZES

ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS DE VALIDADE E CONSISTÊNCIA INTERNA DO

QUESTIONÁRIO SOBRE PADRÕES DE ALIMENTAÇÃO E PESO REVISADO

(QEWP-R)

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora do Curso de Pós-

Graduação em Psicologia Educacional

do Centro Universitário FIEO para a

obtenção do título de Mestre em

Psicologia Educacional

Aprovado em: ____de______________ de 2014.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________

Prof. Dr. Daniel Bartholomeu (orientador)

Centro Universitário FIEO

____________________________________________

____________________________________________

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, a todos os portadores de Transtorno de Compulsão Alimentar participantes deste estudo que contribuíram com suas valiosas informações.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Prof.ª Dra. Marcia Siqueira de Andrade, pela confiança, pela

oportunidade, pelo compromisso da orientação, por todos os ensinamentos e incentivo

constantes durante a execução deste trabalho para que meu sonho fosse realizado.

Ao Prof. Dr. Daniel Bartholomeu, pela disponibilidade, sabedoria e ensinamentos

constantes em todo processo de orientação e pela ajuda inestimável que foram fundamentais

para realização deste trabalho.

Agradeço a Prof.ª Dra. Maria Geralda Viana Heleno pela atenção, carinho,

cordialidade, pela revisão e sugestões para o aperfeiçoamento desta dissertação.

À Prof.ª Dra. Kátia Osternack Pinto, por me abrir as portas para a vida acadêmica,

pela oportunidade única de transmitir seus conhecimentos e confiança para participar das suas

pesquisas como neuropsicóloga no Hospital das Clinicas – FMUSP - que entre tapas e beijos,

conduziram-me a gostar da pesquisa e a produzir meu primeiro artigo.

Aos professores de formação, especialização, mestrado e vida, meu muito

obrigado, por compartilharem saber, ajudando-me a ampliar e aprofundar meus

conhecimentos e aprendizagem. Tenham certeza que tem um pouquinho de cada um de vocês

nesse trabalho.

Aos colegas amigos do mestrado, pelas trocas de informações, pela ajuda,

motivação e pela companhia.

A todos meus amigos que me apoiaram ao longo de todo este processo, aceitando

as minhas constantes ausências.

À minha família, em especial Marcus Vinicius e Guilherme, por não medirem

esforços em ajudar-me nos momentos em que mais precisei.

Ao meu maridão querido, companheiro de vida, pelo intenso amor, paciência,

compreensão e apoio incondicional ao longo deste percurso.

Muito obrigada.

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“Quanto mais aumenta nosso conhecimento,

mais evidente fica a nossa ignorância.”

(John F.Kennedy)

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RESUMO

Objetivou-se a análise de evidências de validade e consistência interna para o Questionário

sobre Padrões de Alimentação e Peso – revisado (QEWP-R). Participaram 77 adultos com

média de idade de 42,08 anos, majoritariamente mulheres (96,1%), os quais responderam ao

QEWP-R. Os resultados questionam a estrutura interna como unidimensional, indicando que

certas somatórias de itens na configuração do diagnóstico poderiam ser repensadas

considerando os agrupamentos sugeridos a partir dos dois contrastes analisados. Os pontos de

corte estudados também poderiam ser considerados na separação de níveis de intensidade no

quadro de sintomas, evidenciando medida de severidade dos sintomas, distinta da

diferenciação entre grupos clínico e controle. Assim, os pontos de corte poderiam ser melhor

explorados visando um sistema de interpretação das pontuações do QEWP-R centrado no

critério, o que pode impactar no curso do tratamento e prognóstico. A análise sugeriu, ainda,

uma quantidade de desajustes e itens que são afetados por outros fatores e que devem ser

analisados com cautela quando considerados no diagnóstico por não estarem tão relacionados

ao quadro principal. Conclui-se pela necessidade de novos estudos que considerem amostras

maiores e mais heterogêneas.

Palavras-chave: Transtornos alimentares; Validade estatística; Modelo de Rasch.

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ABSTRACT

This study aimed to analyze the evidence of validity and internal consistency for the

Questionnaire about Eating and Weight Patterns - Revised (QEWP-R). Seventy seven adults

participated with an average age of 42.08 years, mostly women (96.1%) who answer to

QEWP-R. The results question the one-dimensional internal structure, indicating that certain

summations of the diagnosis items in the setting could be redesigned considering the clusters

suggested from the two contrasts analyzed. The cutoffs studied could also be considered in the

separation of intensity levels in the table of symptoms, revealing measurement of severity of

symptoms, distinct from differentiation between clinical and control groups. Thus, the cutoff

could be better explored aiming a system of interpretation of scores QEWP-R centered on

criterion, which can impact the course of treatment and prognosis. The analysis also suggested

a number of mismatches and items that are affected by other factors and should be analyzed

with caution when considered in diagnosis because they are not too connected to the main

frame. It concludes the need for new studies that consider larger and more heterogeneous

samples.

Keywords: Eating Disorders; Statistical validity; Rasch model.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de visualização dos contrastes da análise de componentes principais de resíduos ..................................................................................................................................... 31

Figura 2 - Expectativas de concordância com os itens (Standard Setting) ............................... 39

Figura 3 - Expectativas de concordância com os itens no segundo contraste .......................... 43

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultados da análise de componentes principais de resíduos ................................ 32

Tabela 2 - Estatísticas do modelo de Rasch dos itens e das pessoas ........................................ 35

Tabela 3 - Resultados da análise de funcionamento diferencial dos itens para o contraste 1 por diagnóstico ................................................................................................................................ 38

Tabela 4 - Estatísticas do modelo de Rasch dos itens e das pessoas no segundo contraste ..... 41

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13

1.1. CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES ..................................................................................... 13

1.1.1. Compulsão Alimentar Periódica (CAP) ................................................................. 15

1.1.2. Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) ....................................... 16

1.1.3. Prevalência de TCAP ............................................................................................. 17

1.2. INSTRUMENTOS DE MENSURAÇÃO DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES 20

1.2.1. Estudos psicométricos sobre QEWP-R .................................................................. 22

2. MÉTODO ......................................................................................................................... 26

2.1. POPULAÇÃO ALVO .................................................................................................. 26

2.2. INSTRUMENTOS ....................................................................................................... 27

2.3. PROCEDIMENTOS ..................................................................................................... 28

2.3.1. Coleta de dados e materiais .................................................................................... 28

2.3.2. Análise dos dados ................................................................................................... 29

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 30

3.1. Análise de Rasch para o primeiro contraste do QEWP-R ............................................ 34

3.2. Análise de Rasch para o segundo contraste do QEWP-R ............................................. 40

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 44

5. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 46

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1. INTRODUÇÃO

Neste capítulo apresentam-se as ideias principais que nortearam a pesquisa.

Inicialmente discorre-se sobre os transtornos alimentares, critérios de classificação e

prevalência, aprofundando a discussão sobre compulsão alimentar e transtorno de compulsão

alimentar periódica. Em seguida destacam-se os principais instrumentos de mensuração dos

transtornos alimentares utilizados para diagnóstico, ressaltando o Questionário sobre Padrões

de Alimentação e Peso – revisado (QEWP-R), foco deste estudo. Por fim, são apontados os

principais estudos sobre o QEWP-R.

1.1. CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA DOS

TRANSTORNOS ALIMENTARES

Os transtornos alimentares têm sido considerados como um problema de difícil

abordagem por sua complexidade etiológica e natureza multidimensional e, geralmente,

apresentam as suas primeiras manifestações na infância e na adolescência e podem produzir

uma grande perturbação no funcionamento físico, psicológico, interpessoal e social do

indivíduo (Chaves & Navarro, 2011).

Os Transtornos Alimentares (TA) são descritos como transtornos e não como

doenças por ainda não se conhecer sua etiopatogenia; são desvios de comportamento

alimentar que podem levar ao emagrecimento extremo e à obesidade entre outros problemas

físicos e psíquicos além do alto índice de letalidade (Coras & Araújo, 2011). Estão associados

a uma série de fatores incluindo alterações emocionais e de personalidade, predisposição

genética e biológica e questões de ordem cultural (Escalante & Molina, 2014). O ideal de

magreza vigente é um dos mais importantes fatores culturais que contribuem para o

incremento dos TA na atualidade (Oliveira & Hutz, 2010). A natureza multidimensional é

dividida em fatores predisponentes, que aumentam as chances do aparecimento do TA, os

fatores precipitantes, que marcam o início do TA, que podem ser individuais, familiares ou

socioculturais, que contribuem para desencadear dos transtornos alimentares marcando o

aparecimento dos sintomas como exemplo, a prática de dietas, insatisfação corporal, alteração

na dinâmica familiar, pressão da mídia, amigos e colegas. E os fatores mantenedores que

contribuem para manter o indivíduo com o transtorno já instalado, como distorções da

imagem corporal, distorções cognitivas e práticas purgativas e perpetuação do TA.

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São patologias graves e de prognóstico reservado, cujos critérios diagnósticos têm

sido estudados nos últimos 30 anos. São descritos como transtornos e não como doença por

sua etiopagenia não ser ainda conhecida (Claudino & Borges, 2002). De acordo com Morgan

et al. (2002) o TA não emerge abruptamente, mas desenvolvem- se ao longo de vários anos,

a partir de predisposições presentes desde o nascimento, de vulnerabilidades que emergem nas

primeiras etapas da vida e de ocorrência mais tardia na sua história de vida.

Os principais sistemas atuais de classificação diagnóstica que norteiam o campo

dos transtornos mentais são: a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), organizado pela American

Psychiatric Association (APA), utilizado nos Estados Unidos e amplamente referenciado

(Palavras et al., 2011). Ambos os sistemas ressaltam duas entidades nosológicas principais de

TA. A Anorexia Nervosa (AN) e a Bulimia Nervosa (BN), entre outras categorias de TA que

não envolvem entidades diagnósticas propriamente ditas e sim, quadros parciais de AN e BN

(Claudino & Borges, 2002; Galvão et al, 2006; Palavras et al, 2011). Os critérios da CID-10

são similares aos utilizados no DSM-IV mantendo a frequência e cronicidade e equivalentes

em relação à perda de controle para comer e a influência do peso e forma corporal na

autoavaliação. A principal diferença nos dois sistemas é que o DSM-IV não classifica os

episódios de compulsão como BN no contexto de AN, e para a CID-10 indivíduos com baixo

peso que purgam são bulímicos, Campos (2011).

As duas entidades nosológicas principais AN e BN, embora classificadas

separadamente, acham-se intimamente relacionadas por apresentarem psicopatologia comum;

uma ideia prevalente envolvendo a preocupação excessiva com o peso e a forma corporal

(medo de engordar), que leva os indivíduos a se engajarem em dietas extremamente restritivas

ou a utilizarem métodos inapropriados para alcançarem o corpo idealizado. Em ambos os

quadros, os julgam a si mesmos baseando-se na insatisfação com sua aparência física.

(Claudino & Borges 2002; Magalhães 2005).

Os transtornos alimentares sem outra especificação (TA-SOE) são quadros

parciais, ou atípicos que se assemelham a AN e a BN, mas que não preenchem totalmente os

critérios, ou porque lhes faltam um aspecto clínico essencial, por exemplo, indivíduos que

apresentam todos os critérios para AN, mas não apresentam peso abaixo do limiar

estabelecido no diagnóstico, ou que não apresentam a frequência de episódios de Compulsão

Alimentar (CA) necessária para o diagnóstico de BN, ou porque não são suficientemente

graves para atingir o limiar diagnóstico, muitas vezes chegando a ser cinco vezes mais

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frequentes que as síndromes completas (Borges & Jorge, 2000; Appolinário & Claudino,

2000; Claudino & Borges, 2002; Galvão et al, 2006).

1.1.1. Compulsão Alimentar Periódica (CAP)

O episódio de compulsão alimentar (ECA) é caracterizado pela ingestão de uma

grande quantidade de alimentos em um período de tempo delimitado (até duas horas),

acompanhado da sensação de perda de controle sobre o que ou o quanto se come (Spitzer et

al., 1993; APA, 2002). A compulsão alimentar periódica (CAP) foi descrita pela primeira vez

como sintoma relacionadoo à obesidade em 1951 quando Hamburger (1951) descreveu um

tipo de hiperfagia entre sujeitos obesos caracterizados por compulsão dos alimentos,

especialmente doces e sorvetes, de maneira incontrolável. Stunkard (1959) observou, e pela

primeira vez, escreveu a respeito de alguns pacientes obesos que apresentavam um subtipo de

alteração no comportamento alimentar e notou que enormes quantidades de alimento eram

ingeridas em um pequeno intervalo de tempo e frequentemente estavam relacionados a um

evento precipitador específico e era regularmente acompanhado por severo desconforto e auto

reprovação, descrevendo estes episódios como tendo uma ‘qualidade orgástica’. Wermuth et

al (1977) ampliaram a descrição realizada por Stunkard (1959) propondo alguns critérios

diagnósticos para a síndrome de CAP descrevendo a presença de ingestão excessiva de

alimentos que poderia ser seguida ou não pela indução de vômitos (Palavras et al.2011;

Borges & Jorge, 2000).

Outros autores também observaram a relação entre a obesidade e um padrão

patológico de alimentação, descrevendo-a como síndrome do empanzinamento como um tipo

de obesidade caracterizado por hiperfagia, no sentido de uma ingestão de enormes

quantidades de comida em um curto espaço de tempo, seguida de desconforto físico e de

autocondenação (Azevedo et al, 2004; Otto, 2007; Silveira, 2004), retraimento social e

depressão. Essa observação foi abandonada durante algum tempo até que, na década de 80,

alguns estudos com indivíduos que procuravam emagrecer confirmaram a hipótese inicial.

Dos 25% dos indivíduos que procuravam tratamento para obesidade, apresentando ataques

bulímicos, poucos preenchiam todos os critérios para BN (Appolinário, 1998).

Estudos epidemiológicos avaliando a prevalência da BN, surgidos no mesmo

período indicaram que a maioria dos indivíduos que demostrava evidências de ataques

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bulímicos, não apresentava BN. Esses achados levaram Spitzer e colegas a propor uma

hipótese de que tais indivíduos evidenciavam uma forma particular de transtorno do

comportamento alimentar distinta da BN (Appolinário, 1998).

Desde a sua descrição, na literatura, até hoje, ocorreram transformações na

caracterização do comportamento da CA, uma vez que, é definida por duas características:

consumo de grandes quantidades de alimento mais sentimento de perda de controle sobre o

episódio. Quando os episódios de compulsão alimentar ocorrerem em pelo menos dois dias

por semana, nos últimos seis meses, associados a algumas características de perda de controle

e não acompanhados de comportamentos compensatórios inadequados para evitar ganho de

peso, é então caracterizado o diagnóstico de transtorno da compulsão alimentar periódica

(TCAP). Neste transtorno os episódios de compulsão alimentar são acompanhados por

sentimentos de angústia subjetiva, incluindo vergonha, nojo e/ou culpa (Appolinário, 1998;

Stunkard, 2003).

1.1.2. Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP)

O TCAP é um transtorno alimentar que acomete grande número de indivíduos e

foi descrito pela primeira vez por Stunkard e Allison (1959). A característica central do TCAP

são os episódios de compulsão alimentar, nos quais o indivíduo ingere uma quantidade

excessiva de alimento num curto intervalo de tempo, seguido de uma sensação de perda de

controle sobre o comportamento alimentar (Papelbaum & Appolinário, 2001). A descrição do

TCAP surgiu pela necessidade de se discriminar indivíduos obesos com Compulsão

Alimentar dos bulímicos (Otto, 2007). A validade do diagnóstico de TCAP tem sido alvo de

intensos debates entre os clínicos e pesquisadores. Os limites discretos entre o TCAP e a

Bulimia Nervosa Não Purgativa (BNNP), e as altas taxas de remissões observadas em

amostras da população geral são alguns dos argumentos contra a validade do TCAP como

diagnóstico independente. Porém, a sua dissociação distinta com uma psicopatologia

alimentar, a convergência de condições clínicas e psiquiátricas e o comprometimento do

funcionamento psicossocial reforçam a ideia de TCAP como um transtorno alimentar com

gravidade clínica (Appolinário, 2004; Jorge, 2000).

O TCAP está relacionado a problemas de saúde, como também ao aumento da

mortalidade. As complicações clínicas incluem hipertensão, dislipidemia, diabete do tipo 2,

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doença cardíaca coronariana, acidente vascular cerebral, doença da vesícula biliar,

osteoartrite, apneia do sono, problemas respiratórios e câncer, Yager e Powers (2010). Os

portadores de TCAP geralmente apresentam autoaversão, baixa autoestima, insatisfação com

peso e forma física, frustação em relação a sua incapacidade de controle de ingestão, afeto

disfórico, preocupação somática e sensibilidade interpessoal (Dobrow et al, 2002). Para

alguns, a compulsão alimentar periódica ocasiona alívio da tensão; outros descrevem uma

experiência de dissociação e ‘demência’, enquanto comem compulsivamente, traços de

impulsividade.

Apesar de peso não ser critério diagnóstico, o TCAP frequentemente se associa ao

sobrepeso e a diversos graus de obesidade podendo ocorrer em indivíduos que apresentam

peso normal (Duchesne et al., 2007; Azevedo et al., 2004; Yager & Powers, 2010). Estudos

sobre componentes comportamentais dos indivíduos portadores de TCAP relatam um início

mais precoce da obesidade e um percentual maior da vida gastos com dietas do que seus

correspondentes obesos não portadores de TCAP (Dobrow et al., 2002).

Os frequentes insucessos nos tratamentos de redução de peso e os concomitantes

prejuízos à saúde física e psicológica dos indivíduos obesos levaram pesquisadores e

profissionais de saúde a aprofundar a questão do diagnóstico, com o objetivo de entender

como os aspectos psicológicos e comportamentais podem influenciar o manejo adequado do

problema.

1.1.3. Prevalência de TCAP

Os achados de que o TCAP afeta, principalmente, indivíduos mais velhos, com

maior prevalência entre mulheres e frequente associação com a obesidade, favorecem sua

diferenciação em relação à AN e BN, condições que acometem mais mulheres adolescentes

ou jovens e que levam à manutenção de índice de massa corporal (IMC) , mais baixos ao

longo da vida (Palavras, 2011). Devido à imprecisão de alguns dos critérios diagnósticos

sugeridos para o TCAP, as taxas de prevalência desse transtorno na população são variadas.

Evidências epidemiológicas sugerem uma prevalência que varia de 0,7% até 4% na

população em geral, 30% na população obesa em tratamento e 50% na população de obesos

graves (Costa et al., 2010). As taxas se elevam quando populações específicas, como

indivíduos obesos, são avaliadas e apontam que quanto maior o grau de obesidade, maior a

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prevalência desse transtorno. Entre populações de obesos, a prevalência atinge 8% elevando-

se a 25% e até 50% entre obesos graus I e III (Floresi et al,2012).

Appolinário, Coutinho e Póvoa (1995) encontraram prevalência de 30% do TCAP

entre sujeitos em tratamento de emagrecimento, enquanto que Borges et al (2002)

encontraram prevalência de 16% de TCAP em mulheres obesas de um programa de

reeducação alimentar. Observou também, que mulheres com TCAP apresentam índices de

massa corporal (IMC) mais alto do que mulheres sem TCAP além de oscilações de peso mais

frequentes das sem TCAP. Fairburn et al (2000) em um estudo de 5 anos acompanhando

sujeitos obesos do gênero feminino com idade entre 16 a 35 anos, observaram que a taxa de

sujeitos com TCAP aumentou de 22% para 39%.

De acordo com Appolinário (2004) a prevalência de TCAP na população geral

pode variar de 1,5% a 5% e frequentemente está associada com a obesidade e com

perturbações da imagem corporal. Entre indivíduos obesos que procuram tratamento clínico

para perda de peso a prevalência varia de 5% a 30%. Yager & Powers (2010) estimam uma

taxa de 0,7% e 4% na população geral e apontam taxa de prevalência ao longo da vida de

3,5% para as mulheres e 2% para os homens. Entre indivíduos obesos que procuram

tratamento clínico para perda de peso, a prevalência varia de 7,5 a 30%.

French et al (1999) analisaram a prevalência de compulsão alimentar em uma

amostra não clínica de 817 mulheres, com idade entre 20 e 45 anos que se inscreveram em

um estudo prospectivo de intervenção de três anos para prevenir o ganho de peso. Concluiu

que a compulsão alimentar é aproximadamente duas vezes mais prevalente entre mulheres

com excesso de peso, em comparação com mulheres de peso normal, em uma amostra não

clínica.

Souza et al (2006) avaliaram e compararam a ocorrência de TCAP em pessoas

obesas que não procuraram tratamento para obesidade em relação às que procuram. Neste

estudo não foi notada diferença de ocorrência de TCAP entre os grupos (28,57%) para

sujeitos em tratamento, e (22,86%) sujeitos fora do tratamento. No entanto, a porcentagem de

TCAP entre os obesos em tratamento foi condizente com as porcentagens achadas em outros

estudos. Além disso, observou-se maior preocupação dos obesos em tratamento com o peso e

com a forma corpórea em relação ao grupo. Fora do tratamento, com um predomínio em

ambos os grupos do sexo feminino (80,95%) dos obesos em tratamento e (77,14%) dos

obesos fora do tratamento.

Palavras et al (2011) examinaram estudos desenvolvidos com amostras latino-

americanas que preencheram critérios parciais ou completos de TCAP de acordo com DSM-

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IV. Foram rastreados 8.123 artigos e apenas 30 preencheram os critérios de inclusão. Dos 30

estudos, 27 foram conduzidos no Brasil, enquanto que na Argentina (1), Colômbia (1) e

Venezuela (1). Foi encontrada uma prevalência de TCAP estimada em 16% e 51%, em

obesos em programas para perda de peso e na população jovem prevalência de 0,66% a 1,8%.

Encontraram, ainda, tendência de peso mais alto, oscilação ponderal, preocupação com peso

corporal, associação com comorbidades psiquiátricas. Identificaram que o TCAP apresenta

características clínicas semelhantes (flutuações de peso, tendência de peso mais alto, maior

preocupação com peso e forma corporal, associados com comorbidades psiquiátrica nos

sujeitos com TCAP).

Matos et al (2002) avaliaram a frequência de TCAP, ansiedade, depressão e

distúrbio de imagem corporal em pacientes gravemente obesos que procuram tratamento para

obesidade. As frequências encontradas de TCAP foram de 36% e de CAP (54%). Sintomas

depressivos se mostraram presentes em 100% dos sujeitos, sendo 84% com sintomas graves.

Traços de ansiedade foram de 70%, preocupação com imagem corporal presente em 76% dos

pacientes, e a frequência de TCAP foi maior nos sujeitos com alto grau de ansiedade como

traço de personalidade.

Borges et al (2005) avaliaram a frequência do TCAP e sua associação com

depressão e alexitimia, em uma amostra de obesos participantes de um programa para perda

de peso. Os resultados revelaram a existência de grupo de obesos com comportamentos de

CAP sendo que 16% da amostra apresentou o diagnóstico de TCAP. As mulheres com CAP

apresentavam índice de massa corporal significativamente mais alto, numerosas tentativas de

perda de peso, oscilação do peso e sintomatologia depressiva mais grave do que os sujeitos

sem TA (Vitolo, 2006).

Smith et al (1998) analisaram a prevalência de TCAP, obesidade e sintomas

depressivo em um estudo longitudinal, com indivíduos de ambos os sexos, negros e brancos,

com risco cardiovascular. A prevalência de TCAP foi de 1,5% no coorte total, com taxas

semelhantes entre mulheres negras, mulheres brancas e homens brancos. Os homens negros

tinham taxas de TCAP significativamente mais baixas. Os sintomas depressivos foram

marcantes nos indivíduos com TCAP. Entre os participantes com excesso de peso, a

prevalência de TCAP foi de 2,9%. Concluíram que, a obesidade foi associada com maior

prevalência de TCAP. Identificaram que o TCAP é comum na população em geral, com taxas

comparáveis entre mulheres negras ou brancas e homens brancos, mas baixa em homens

negros.

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20

Melo & Odorizzi (2009) investigaram a presença de diagnóstico de TCAP em

indivíduos portadores de Diabetes Mellitus (DM) tipo 2, cadastrados no Programa de

diabetes e hipertensos, avaliando sua influência sobre o controle metabólico desses

indivíduos. Dos participantes 30% apresentaram diagnóstico sugestivo de TCAP, prevalente

no sexo feminino. Conclui-se que a presença de TCAP em indivíduos portadores de DM tipo

2 contribui para elevação do peso e influencia de forma negativa o controle metabólico

elevando o risco de surgimento precoce de complicações relacionadas ao DM.

1.2. INSTRUMENTOS DE MENSURAÇÃO DOS TRANSTORNOS

ALIMENTARES

Os instrumentos elaborados para avaliação do TA e seus aspectos relacionados,

surgiram a partir da necessidade de sistematizar e operacionalizar o estudo destes transtornos,

com base nas definições e recomendações de manuais e guias internacionais, como o DSM e

CID. No entanto, alguns destes instrumentos abrangem todo o espectro do transtorno

alimentar, outros são específicos para um ou outro transtorno isoladamente (Freitas et al.

2002; França 2010).

Existem instrumentos que medem a preocupação com imagem corporal, índice de

massa corporal, excesso de alimentação, entre outros. Os questionários autoaplicáveis e as

entrevistas estruturadas são os principais instrumentos utilizados para avaliação do TCA por

serem considerados econômicos, consumirem pouco tempo na aplicação e poderem ser

aplicados coletivamente. Vários apresentam propriedades psicométricas adequadas e

permitem aos respondentes revelar um comportamento que, por considerar vergonhosos,

poderia deixá-los relutantes numa entrevista face-a-face. Alguns fornecem uma medida de

gravidade do TA, podendo ser utilizados na avaliação de mudanças ao longo de um

tratamento. Entretanto, muitos conceitos, entre eles, o de compulsão alimentar periódica

(CAP), são difíceis de avaliar com exatidão, quando se utiliza um questionário autoaplicável

(Freitas et al, 2002).

Os questionários citados a seguir têm facilitado o diagnóstico dos transtornos

alimentares e foram construídos com evidências de validade em países e culturas

principalmente da língua inglesa. Usualmente estes questionários são traduzidos para outros

idiomas cuidando dos procedimentos adequados, seu valor, confiabilidade, validade,

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21

constituindo-se uma ferramenta adequada de fácil acesso para que se possa pesquisar esse tipo

de transtorno (Urzúa et al, 2009; Aguilar et al,2011).

Dentre os instrumentos mais utilizados para avaliar a compulsão alimentar

periódica, encontram-se (Urzúa et al, 2009; Aguilar et al,2011):

a) Bulimic Investigatory (BITE) – Teste de Avaliação Bulímica de

Edimburgo, traduzido e adaptado para o português por Cordás e Hochgraf (1993);

avalia predominantemente comportamentos bulímicos, como ingestão excessiva de

alimentos e os métodos purgativos utilizados para compensar estes episódios

exagerados de alimentação, tais como provocação de vômitos, realização de jejum,

uso de laxantes, diuréticos, anorexígenos e dieta;

b) Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP) desenvolvido

por Gormally et al (1982) adequado para discriminar indivíduos obesos de acordo

com a gravidade do CAP, com versão em português e estudos de validação (França,

2010);

c) Eating Attitudes Test (EAT-26) originalmente construído para

avaliar comportamentos anoréxicos, gravidade da preocupação com o peso, dieta, e

outros sintomas característicos dos TAs, muito utilizado em pesquisas e nas clínicas.

Elaborado por Garner e Garfinkel (1979) foi traduzido para o português (Nunes et

al, 1994; Oliveira 2009);

d) Eating Disorder Inventory (EDI), avalia características

cognitivas e comportamentais da AN e BN e imagem corporal em adultos e

adolescentes;

e) Eating Disorder Examination (EDE-Q), avalia restrição

alimentar, preocupação com alimentação, peso e forma corporal em adultos e

adolescentes;

f) Binge Eating Scale (BES), avalia a gravidade da CAP em

indivíduos obesos;

g) Questionnaire of Eating and Weight Patterns - Revised (QEWP-

R) criado para o diagnóstico do transtorno da compulsão alimentar periódica

(TCAP) e de quadros subclínicos de compulsão alimentar (Spitzer et al.,1993).

Atualmente existem três versões: adultos (QEWP-R), adolescentes (QEWP-A) e

pais (QEWP-P). Nas versões em inglês, português e espanhol (Nangle, 1994,

Rocha, 2010; Aguilar et al, 2011). Suas propriedades psicométricas têm mostrado

valores de consistência interna (alpha de 0,75 nas amostras de programas de

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redução de peso, de 0,79 em amostras da comunidade. Além de uma correlação de

item total que oscila entre 0,50 a 0,66 em amostras em clínicas para redução de peso

e de 0,55 a 0,77 nas amostras comunitárias (Spitzer, et al 2008; Aguilar, 2011). Este

instrumento é o mais utilizado na literatura nacional para a avaliação do transtorno

de compulsão alimentar periódica por apresentar indicadores mais completos quanto

a este diagnóstico e já ter exibido bom poder preditivo quanto a este transtorno. Os

demais supracitados focam aspectos mais específicos do transtorno, não

apresentando uma quantidade de informação semelhante ao QEWP-R, justificando a

opção nesta pesquisa por este instrumento.

1.2.1. Estudos psicométricos sobre QEWP-R

Morgan Borges e Jorge (1988) traduziram e adaptaram do QEWP-R para a versão

em português, tendo passado pelo processo de translation, backtranslation e avaliação por

parte de uma das autoras do instrumento original. Foi realizada uma versão preliminar da

tradução pela equipe do Programa de Transtornos Alimentares da Universidade Federal de

São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Quando traduzida, a escala foi apresentada aos

demais membros da equipe e aplicada em caráter preliminar em pacientes do programa, com o

intuito de verificar a compreensibilidade de cada questão. Após sugestões coletadas e solução

dos problemas notados nessa aplicação, finalizou-se a primeira versão do QEWP-R em

português.

A retro tradução foi realizada por uma professora de inglês e enviada a uma das

autoras do questionário original. Esta sugeriu algumas modificações, especialmente com

relação ao sentido do termo Binge Eating, que no original é utilizado nas questões 18-23.

Traduzindo esta expressão por “comer grandes quantidades de comida de modo

descontrolado’. Outra adaptação ocorreu em relação à questão de número 14, item c, onde são

citados exemplos de alimentos consumidos durante um episódio de compulsão alimentar. Os

exemplos usados no original foram substituídos por alimentos que, segundo a referida equipe

do Programa de Transtornos Alimentares, são frequentemente consumidos pelos pacientes

que procuram este serviço com problemas de peso e CA. A questão de número 24 também foi

modificada (Nos últimos seis meses, você participou de reuniões de algum programa de

controle de peso por exemplo, Vigilantes do Peso ou algum grupo de autoajuda por exemplo,

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Comedores Anônimos?). Alguns dos exemplos de programas de emagrecimento foram

excluídos por não existirem no Brasil. Outras adaptações menores foram necessárias nas

questões referentes aos dados demográficos. Na questão de número 3, ethnic/racial

background foi substituído por ‘raça’, pois esta é a forma mais utilizada no Brasil, sendo

retirado também o subitem hispânico. Mantiveram-se, então, quatro opções de raça: negra,

branca, amarela e outras. Na questão de número 4, as alternativas de nível de escolaridade

foram adaptadas ao sistema escolar brasileiro.

Desde então, estudos nos últimos 10 anos nas bases do Scielo indicam alguns

trabalhos de propriedades psicométricas deste instrumento e serão melhores descritos na

sequência. Borges et al (2005) em estudo para validação da versão em português do QEWP

compararam o QEWP-R com a Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV (SCID-I/P).

Verificaram que, na identificação de compulsão alimentar geral, independe da presença de

todos os elementos necessários para o diagnóstico de TCAP, a versão em português

apresentou sensibilidade de 0,88, especificidades de 0,63 e valor preditivo de 0,82. A taxa de

identificação de BED foi: sensibilidade de 0,548, de especificidade de 0,88, valor preditivo

positivo de 0,79 e valor preditivo negativo de 0,56. Dessa maneira, o QEWP-R, tem 79,3% de

chance de confirmar o diagnóstico de TCAP, podendo ser usado como escala de rastreamento

ou como primeiro passo na avaliação clínica, constituindo-se um instrumento útil na detecção

de BED.

De acordo com Escalante e Molina (2014) o QEWP-R é um instrumento que

demonstra adequada confiabilidade teste-reteste (Kappa de 0,57 a 0,58) em um intervalo de

três semanas. Foram tomadas evidências de validade para a população mexicana obtendo

validade de critério discriminando e correlacionando com índice Kappa os casos com e sem

TCAP, obtendo coeficiente positivo alto (K=0,6 e p<=0,001). Além disso, classificou sujeitos

83,3% com TCAP e 72,5% sem TCAP. Também foi avaliada a validade da convergência

entre os principais indicadores que medem o QEWP-R (CA, sentimentos negativos posterior a

CA, e condutas compensatórias) com os três fatores de validação mexicana de BULIT,

obtendo correlação com o teste ETA entre 0,41 e 0,65 corroborando utilidade para identificar

os tipos de sintomas similares ao encontrado por Barnes et al (2011).

Celio et al (2004) avaliaram a concordância entre os instrumentos BES e QEWP-

R utilizando questionário (EDE-Q-I) e (EDE). Identificou-se no BES e no QEWP-R valor de

sensibilidade de 74 e valor de especificidade de 35. No BES, foi observado valor de

sensibilidade de 85 e especificidade de 20. A frequência de episódios de BE no questionário

EDEQ-I correlaciona-se com EDE (65 e 48, respectivamente; p<001). Os autores concluíram

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que o desempenho de BES e QEWP-R satisfazem os critérios de BED, porém foram pouco

precisos para identificar sujeitos sem BED e a frequência de BE. Enquanto que o EDE-Q-I

demonstrou precisão na avaliação da frequência do BE.

Elder et al (2006) compararam dois questionários QEWP-R e EDE-Q para avaliar

a CA em candidatos a cirurgia gástrica by-pass em uma amostra de 249 sujeitos. Foram

avaliados para identificar a presença da CA no dois testes. O grau de concordância foi

analisado, bem como a relação entre CA e medidas de validade convergente. Os dois testes

identificaram números semelhantes de participantes com CA recorrente de pelo menos um CA

por semana, no entanto a sobreposição foi moderada (Kappa=0,26). A frequência de CA duas

vezes por semana foi fraca (Kappa=0,05). Concluíram que tanto o QEWP-R e EDE-Q

identificam grupos clínicos significativos de CA. Muito embora o EDE-Q demostrasse a

vantagem de identificar CA com peso e forma mais elevada.

Estudos mais recentes comparam dois questionários (EDE-Q) e (QEWP-R) para

identificar e avaliar pacientes com TCA nos primeiros cuidados. Os resultados demonstraram

que EDE foi significantemente correlato com EDE-Q (compulsão alimentar, 4 subescalas,

escore global) e QEWP-R (compulsão alimentar, angústia imagem corporal). O EDE-Q teve

baixa estimativa de CA, alto escore nas subescalas EDE, enquanto que o QEWP-R teve

significantemente alto escores nos comportamentos e angústia, comer compulsivo e imagem

corporal (Barnes et al, 2011).

Pesquisa realizada por Aguilar et al (2011) sobre as propriedades psicométricas do

QEWP-R comparando com o instrumento BULIT encontraram um adequado nível de

associação entre os dois instrumentos QEWP-R. Também encontraram três fatores no BULIT

com evidências de validade na população mexicana associados com alguns indicadores do

QEWP-R (comer compulsivamente, sentir se que não pode parar de comer e comportamentos

compensatórios) além de comer compulsivamente estar associado com IMC. O questionário

classificou corretamente a 83,3% da amostra com TCAP (n=39) e 72,5% sem TCAP, obtendo

uma correlação positiva (Kappa=60), indicando que QEWP-R é um adequado instrumento

para população mexicana para identificar sintomas de TCAP e BN. Também demonstrou

indicação para ser utilizado em sujeitos com sobrepeso e obesidade.

Díaz et al (2012), investigaram a concordância do teste EDE-Q e QEWP-R para o

diagnóstico de TCAP e psicopatologia, na população espanhola com obesidade mórbida

operados (gastroplastia) para perda de peso. Nesse estudo transversal, a amostra foi de 27

sujeitos recém-operados, sujeitos com ou sem TCAP como também foram avaliadas possíveis

diferenças entre os grupos com itens que mediam a concordância em ambos os questionários.

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O QEWP-R permitiu diagnosticar 25% de TCAP e EDE-Q 18%. Os sujeitos com TCAP

tiveram pontuações mais altas nos itens relacionados ao peso e forma do corpo

autovalorizada, interferência na capacidade de concentração e sentimento de culpa, depois de

comer. Em ambos os questionários a concordância diagnóstica foi escassa por se encontrar

uma forte associação entre os itens com interesse psicométricos. Concluíram que o TCAP é

frequente em obesos mórbidos e forma um subgrupo de sujeitos com mais alterações

psicopatológicas.

Apesar da ampla gama de estudos sobre QEWP-R, a maior parte preocupou-se

em comparar o referido instrumento com outros que avaliam transtornos semelhantes ou

relacionados ou, ainda, comparar medidas deste teste entre grupos patológico e controle.

Pesquisas sobre a análise da estrutura interna deste instrumento são escassas, o que

justifica a execução de pesquisas sobre esta temática. O refinamento dos itens, a validez

interna a sensibilidade, a especificidade entre outras características, possibilitará

confiabilidade e consistência do instrumento, otimizando o diagnóstico, favorecendo

intervenção, prevenção e prognóstico trazendo benefícios para a população em geral.

Dessa forma, o presente estudo teve como propósito geral a análise de evidências

de validade e consistência interna para o Questionário sobre Padrões de Alimentação e Peso –

revisado (QEWP-R) com base em uma amostra de adultos, por meio da Teoria da Resposta ao

Item (TRI), mais especificamente pelo modelo de Rasch (1 parâmetro). A avaliação dos itens

de modo individual permite que a sua adequação seja determinada e que o instrumento no

caso, o QEWP-R, seja refinado com formatos mais adequados, de acordo com as

modificações sugeridas pelas análises de Rasch.

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2. MÉTODO

Trata-se de um estudo de delineamento original, observacional, analítico de corte

transversal com adultos de ambos os sexos, funcionários do Hospital Geral Municipal

localizado na região oeste do Estado de São Paulo. O delineamento transversal permitiu

avaliar uma amostra representativa da população selecionada, possibilitando estimar a

prevalência de ECA para sujeitos com TCAP, através de um estudo de base populacional.

2.1. POPULAÇÃO ALVO

A amostra foi composta por 77 participantes com idade entre 25 e 67 anos (M=

42,08 anos). Destes, 3 (3,9%) eram do sexo masculino e 74 (96,1%) do sexo feminino. Com

relação à raça, 10 (12,9%) declararam ser da raça negra, 53 (68,8%) da raça branca, 1 (1,29%)

da raça amarela e 13 (16,8%) da raça parda. Quanto ao nível de escolaridade 2 (2,59%)

declararam possuir primeiro grau incompleto, 7 (9,09%) primeiro grau completo, 2 (2,59%)

segundo grau incompleto, 36 (46,75%) segundo grau completo, 8 (10,38%) nível superior

incompleto, e 18 (23,37%) nível superior completo.

Em relação ao peso, a média foi de 84,14 kg e quanto ao diagnóstico de

obesidade, calculada através do IMC, 19 (24,67%) apresentaram obesidade Grau I, 13

(16,8%) apresentaram obesidade Grau II, 7 (9,09%) apresentaram obesidade Grau III, 32

(41,55%) apresentaram sobrepeso e 6 (7,79%) não apresentavam obesidade. Na classificação

da obesidade, constatou-se que os sujeitos da amostra apresentaram vários graus de

obesidade, percentual alto de sobrepeso e apenas 7 (79%) de participantes com peso saudável,

dado semelhante encontrado por Spitzer et al (1992; 1993). Azevedo et al.(2004) e Duchesne

et al (2007). Melo & Odorizzi (2009) afirmam que indivíduos com diagnóstico sugestivo de

TCAP apresentam maior percentual de sobrepeso em comparação ao grupo sem esse

diagnóstico. No entanto, em estudos recentes Dingemans & Furt (2012) relatam que de fato,

TCAP não é comum em indivíduos não obesos.

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2.2. INSTRUMENTOS

O questionário de Padrões de Alimentação e Peso Revisado (QEWP-R) foi

desenvolvido para o diagnóstico de TCAP e de quadros subclínicos de compulsão alimentar,

para aplicação em pessoas obesas e com peso normal (Leal, 2013). Consta de 28 questões: as

4 primeiras relacionadas com dados sociodemográfico, as questões 5 e 6 referem-se ao peso e

altura e as demais investigam aspectos relacionados à perda de controle alimentar, método

inadequado para controle do peso, história prévia de peso e dieta, grau de preocupação com o

corpo e peso (Morgan et al 1998; Oliveira, 2009; Silveira, 2004). No questionário QEWP-R

existem 12 perguntas, com duas opções de respostas: tipo Likert e dicotômicas, cujo objetivo

é identificar a frequência e duração do TCAP e o uso de métodos para controlar o peso e o

grau de ansiedade relacionada ao mesmo, e indicadores de perda de controle, permitindo

discriminar entre amostra de sujeitos com TCAP, Bulimia Nervosa Não Purgativa (BNNP) e

Bulimia Nervosa Purgativa (BNP).

O diagnóstico de TCAP é realizado pela análise das respostas às questões 10 e 11

(episódios de excesso alimentar associados à sensação de perda de controle); à questão 12

com respostas assinaladas 3, 4 ou 5 (pelo menos dois dias por semana nos últimos seis

meses), à questão 13 com até 3 ou mais itens assinalados sim (pelo menos 3 sintomas

associados) e às questões 15 ou 16 com as respostas assinaladas 4 ou 5 (angústia evidente

relativa ao comportamento de CA).

O diagnóstico BNNP, é realizado pela análise das respostas às questões 10, 11, 12

e 17 o mesmo que para BNP; às questões 18, 19 e 20, 21, 22 ou 23, nenhuma resposta 3, 4 ou

5 (ausência de purgação compensatória frequente), qualquer resposta 3, 4 ou 5

(comportamento compensatório não purgativo pelo menos duas vezes por semana nos últimos

três meses).

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2.3. PROCEDIMENTOS

2.3.1. Coleta de dados e materiais

Neste trabalho os cuidados éticos referentes à condução ética na pesquisa com

seres humanos foram considerados, atendendo à Resolução 016/200 do Conselho Federal de

Psicologia e à Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da instituição promotora e a autorização para a coleta de dados

foi expedida pela superintendência do hospital geral municipal.

Os participantes foram recrutados de forma espontânea dentre os funcionários do

hospital geral municipal e foram acolhidos de forma cordial e empática pela pesquisadora

responsável na sala destinada a esse fim em dia e horário previamente estabelecidos. Estando

todos presentes foram informados formalmente dos objetivos da pesquisa e dos

procedimentos para a coleta de dados. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE).

Em seguida foi realizada a avaliação antropométrica, utilizando a balança da

marca Filizola, com capacidade para 150 kg e graduação de 100 g. Para obtenção da estatura

foi usado o estadiômetro fixado na parede, sendo efetuada a leitura da altura em centímetros.

Os participantes foram posicionados de maneira ereta sobre a balança, utilizando roupas leves

e sem calçados; a barra foi apoiada sobre a cabeça, sendo efetuada a leitura da altura. Esses

dados foram utilizados para obter o IMC, amplamente utilizado como medida de grau de

obesidade e de riscos relacionados a obesidade e complicações clínicas (Silveira, 2004).

Finalmente receberam uma folha contendo as 28 questões do (QEWP-R) para

responder. A pesquisadora esclareceu as dúvidas dos participantes referentes às questões

apresentadas, auxiliando-os quando necessário. As questões que mais suscitaram dúvidas

foram as de número 10, 11, 13 e 14, especialmente para os participantes com baixa

escolaridade.

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2.3.2. Análise dos dados

Analisou-se a dimensionalidade dos itens e ajuste ao modelo de Rasch, incluindo

análise do mapa de itens e funcionamento diferencial dos itens. Também foram apresentadas

características do modelo de Rasch para o Standard Setting visando estabelecer outras

referências normativas para este instrumento e possibilidades de interpretação.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes de serem submetidos à análise estatística, foram selecionados os itens que

apresentavam respostas dicotômicas, já que há itens no questionário com formatos de resposta

muito distintos (escalas Likert de quantidades distintas e categorias distintas que alteram a

compreensão dos indicadores). Além disso, alguns itens envolvem a redação de horas,

minutos, idade, dentre outros. Ainda, em alguns itens, há a possibilidade de responder em

escala Likert caso a resposta dicotômica anterior seja "sim". Neste sentido, as respostas Likert

estão atreladas a uma resposta inicial à mesma pergunta, gerando dependência local, o que

invalida um dos pressupostos da Teoria de Resposta ao Item para que este modelo possa ser

empregado.

Com isso, somente foram selecionados os itens com respostas dicotômicas (que

são respondidos primeiro em cada pergunta). Primeiramente, os indicadores do QEWP-R

foram investigados quanto à sua adequação ao modelo de análise de itens de Rasch. Para isso,

a unidimensionalidade deve ser demonstrada como princípio básico para que o modelo possa

operar (Bond & Fox, 2001). Uma das análises possíveis para demonstrar a

unidimensionalidade de um teste é a análise de componentes principais de resíduos pelo

modelo de Rasch.

Alguns estudos de simulação sugeriram que fatores com eigenvalues menores que

1,4 poderiam ser considerados aleatórios (Smith & Miao, 1994). Quando isso ocorre, segue-se

a seleção de itens com maiores saturações fatoriais nas dimensões positivas e negativas do

primeiro fator extraído. Esses itens foram resubmetidos ao modelo de Rasch separadamente e

correlacionados às pontuações do fator positivo e negativo. O critério para se considerar a

presença de outro fator é baseado na magnitude do coeficiente de correlação entre essas

pontuações obtidas que, segundo Linacre (2009), deve ser o menos próximo possível de 1 e

para Sisto e colaboradores (2006) não deve ser superior a 0,51. Em outros termos, correlações

acima deste patamar sugerem a possibilidade de unidimensionalidade no teste (Linacre, 2009;

Sisto, Rueda & Bartholomeu, 2006).

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Figura 1 - Mapa de visualização dos contrastes da análise de componentes principais de resíduos

O primeiro fator explicou 15,4 unidades de variância de 30,3. Considerando-se que o

eigenvalue é superior a 1,4 procedeu-se à análise fatorial dada a possibilidade de um outro

fator (Smith & Miao, 1994). Os resultados do primeiro contraste estão na Tabela 1 e Figura 1.

Por esses dados, percebe-se que os itens com cargas fatoriais acima de 0,4 são os maiores em

cada um dos dois fatores. Assim, selecionaram-se os itens com maior saturação no contraste

negativo e positivo, que foram submetidos novamente ao modelo de Rasch para o novo

cálculo das pontuações totais dos sujeitos nesses dois fatores que foram, posteriormente,

correlacionados pela prova de Pearson com coeficiente de -0,12 (p=0,352). Este coeficiente

sugere que os dois conjuntos de itens cujos resíduos (diferenças do dado observado e teórico

pelo modelo de Rasch) estavam mais discrepantes, não compartilham variância suficiente

para serem considerados provenientes de uma única dimensão. Além disso, metade dos itens

apresentou infit e outfit (mean squares) próximos ou acima do valor 1, considerado por

Linacre (2009) não podendo ser considerado como uma intensificação da primeira dimensão,

mas uma segunda (Bartholomeu, Montiel & Machado, 2013).

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Tabela 1 - Resultados da análise de componentes principais de resíduos

O primeiro contraste parece estar associado a comportamentos purgativos de

diversas naturezas, atividade física para eliminar gorduras adquiridas na ingestão exagerada

de alimentos e sintomas como comer depressa. O segundo contraste envolve somente

condutas de quantidade de ingestão de alimentos acima do usual e sentimentos de culpa e

vergonha por tal feito. Neste sentido, apesar de serem aparentemente complementares, as duas

dimensões identificadas separam, por um lado, condutas mais próximas e relacionadas ao

comportamento bulímico, e por outro mais característicos da compulsão alimentar. Vale

ressaltar que as baixas correlações evidenciadas entre os valores de Rasch das duas dimensões

obtidas sugerem tratarem-se de constructos distintos. Com isso, optou-se por separar as

demais análises de Rasch que envolveram o ajuste à escala e funcionamento diferencial dos

itens por fator. Na sequência, são apresentados os resultados para o fator 1, comportamento

purgativo.

Apesar de não terem sido identificados na literatura do QEWP-R estudos sobre

sua dimensionalidade, outros instrumentos desenvolvidos para avaliar transtornos alimentares

apresentam algumas evidências que merecem ser trazidas à baila. Espelage, Mazzeo, Aggen e

Quittner (2003) investigaram a estrutura interna do EDI em três amostras de mulheres. De

CONTRA

STE

CARGA

FATORIAL

MEDIDA

RASCH

INFITMN

SQ

OUTFIT

MNSQ

NiTEM

1 .60 1.75 1.07 .97 A 4 @13a

1 .49 -2.01 .82 .49 B 11 @20a

1 .43 -2.80 .74 .16 C 10 @19a

1 .28 1.84 1.03 .90 D 1 @8a

1 .25 -1.74 .94 .63 E 14 @23a

1 .23 -2.33 1.15 .96 F 9 @18a

1 .22 1.02 .92 .85 G 5 @13b

1 .12 -.24 1.29 1.47 H 13 @22a

1 .09 .09 .85 .38 g 15 @24a

1 -.58 2.09 1.17 1.30 a 2 V18

1 -.47 -1.74 1.03 .71 b 12 @21a

1 -.43 -1.35 .88 .94 c 7 @13d

1 -.35 2.30 1.22 2.49 d 6 @13c

1 -.29 2.81 .66 .47 e 3 V19

1 -.23 2.69 .71 .49 f 8 @13e

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fato, as análises fatoriais confirmatórias refutaram a estrutura de um fator para este

instrumento, sendo propostos oito fatores que envolvem dimensões de personalidade

associadas às escalas do MCMI-II. Além disso, evidenciaram uma estrutura de dois fatores de

segunda ordem que indicam Condutas Alimentares e de Controle de Peso. Neste sentido, os

dois contrastes ora identificados também corroboram estudos de estrutura interna feitos com

outros instrumentos desenvolvidos para avaliar este tipo de transtorno, podendo sugerir uma

forma característica de funcionamento deste tipo de paciente, corroborando os trabalhos de

Espelage, Mazzeo, Aggen e Quittner (2003) e Engelsen e Hagtvet (2008), bem como

indicando uma possibilidade de convergência nas formas de avaliação destes instrumentos

valendo-se a pena a análise conjunta destes em estudos futuros.

De fato, o trabalho de Engelsen e Hagtvet (2008) também não evidenciou ajuste

em uma estrutura unidimensional ou tridimensional para os itens do EAT, estudado em duas

amostras de homens e mulheres, havendo diferenças nesta estrutura para homens e mulheres,

evidenciando diferenças de sexo atreladas à estrutura interna deste instrumento. Com efeito, a

amostra empregada pelos autores foi não clínica e mesmo aí e com um grupo de homens, a

unidimensionalidade foi rejeitada. No entanto, também sugere um contínuo de avaliação

destes transtornos colocando em dúvida a existência deste transtorno enquanto categoria mas

trazendo à discussão a questão da análise da compulsão alimentar a partir de dimensões. Vale

ressaltar que o presente trabalho empregou também somente uma amostra de mulheres e

incluiu grupos clínicos e patológicos visando aumentar a variância acerca da variável medida

(comportamento alimentar) analisando um contínuo neste sentido, que vai do normal ao

patológico.

Estas três dimensões têm sido consistentemente evidenciadas na literatura sobre

estes transtornos há mais de 10 anos. O estudo de Williamson e colaboradores (2002) é um

exemplo em que os autores analisaram mulheres com e sem transtorno alimentar por meio da

entrevista semiestruturada do DSM-IV. Foi evidenciada uma estrutura de três fatores que foi

mantida em estudos de validação cruzada, quais sejam, compulsão por comer, medo de

engordar/comportamento compensatório e orientação para a extrema magreza. Vale ressaltar

que nessa pesquisa comportamento anoréxico também foi avaliado, o que a difere das demais

e da presente. Apesar disso, os autores sugerem que algumas características destes transtornos

não são consistentes com um modelo dimensional de transtornos alimentares mas poderiam

ser considerados taxonômicos (discretos).

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34

Os dois fatores ora obtidos no presente trabalho sugerem semelhanças com a

pesquisa de Williamson e colaboradores (2004) já que também foi observado um fator

associado ao comer compulsivo e a condutas purgativas. Também Williamson, Gleaves e

Stewart (2005) buscaram mais evidências para uma concepção dimensional ou categórica dos

transtornos alimentares. Os autores sugerem que a compulsão alimentar não pode ser

considerada um contínuo com a anorexia, mas que esta apresenta mais de uma dimensão,

corroborando em parte os achados desta pesquisa.

3.1. Análise de Rasch para o primeiro contraste do QEWP-R

Analisada a unidimensionalidade dos dados do QEWP-R, pressuposto básico para

se estabelecer uma análise pelo modelo de Rasch, a precisão fornecida por esse modelo para

os itens forneceu um índice de 0,95 para os itens e 0,25 para as pessoas, indicativo de uma

alta precisão para os itens e baixa para as pessoas. Isso é de se esperar dada a quantidade

reduzida de pessoas como também a variabilidade de diagnóstico na amostra em questão,

sendo que as pessoas, por terem níveis distintos na variável medida, tenderam a não dar

respostas homogêneas ao teste. Tal fato revela que o instrumento pode não fornecer resultados

semelhantes em grupos de pessoas semelhantes e é indicativo de problemas de medida que

merecem maior atenção. Talvez um maior cuidado com o diagnóstico por este instrumento

seja necessário e isso convida a novas investigações. O erro médio de medida foi de 1,43

(DP=0,41) para os itens e de 0,96 (DP=0,20) para as pessoas. A precisão das pessoas indica a

estabilidade das respostas das pessoas que poderíamos esperar se essa amostra fosse

submetida a outro grupo de itens semelhantes que avaliam o mesmo construto. A precisão é

melhorada por um erro pequeno nas estimativas das habilidades das pessoas, como não foi o

caso. A precisão dos itens informa a estabilidade dos itens se os mesmos indicadores fossem

aplicados a outra amostra com níveis de habilidades similares (Bond & Fox, 2001). Essas

informações constam da Tabela 2.

De fato, a precisão deste instrumento tem fornecido resultados controversos na

literatura internacional e nacional, com coeficientes de precisão (por diferentes tipos, kappa,

alfa, teste reteste, item total) de 0,51 a 0,79 (Spitzer, et al 2008; Aguilar, 2011; Morgan,

Borges & Jorge, 1988; Barnes & cols, 2011). Neste sentido, resultados baixos de precisão já

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são comuns com este instrumento, e apesar de não terem sido tão baixos como neste caso, já

tem revelado instabilidade sobretudo em razão das amostras clínicas e controle. De fato,

aparentemente a precisão em cada um destes grupos parece ser melhor que ao se tomar ambos

estes grupos conjuntamente (Barnes & cols, 2011; Spitzer, et al 2008; Aguilar, 2011). Há que

se considerar ainda que o presente estudo empregou um método de análise distinto dos

demais, e a precisão implica na replicabilidade de um padrão evidenciado nas respostas dos

indivíduos aos itens e implicam em padrões de concordância distintos em razão da amostra

(Bond & Fox, 2001). Neste sentido, é recomendável cautela ao se analisar os dados deste

instrumento quanto à sua estabilidade e minimização de erros de medida.

Tabela 2 - Estatísticas do modelo de Rasch dos itens e das pessoas

PESSOAS

ESCORE

TOTAL

MEDIDA

RASCH

ERRO DO

MODELO

INFIT MNSQ INFITZSTD OUTFIT

MNSQ

OUTFITZSTD

MÉDIA 14,3 1,69 1,20 0,99 0,0 0,68 -0,1

DP 2,0 1,40 0,18 0,83 1,1 0,96 0,7

MAX. 17,0 3,81 1,53 4,07 2,6 5,80 2,3

MIN 10,0 -1,59 0,87 0,19 -1,3 0,10 -0,9

SEPARAÇÃO 0,58 PRECISÃO= 0,25

ITENS

ESCORE

TOTAL MEDIDA

RASCH ERRO DO

MODELO INFIT MNSQ INFITZSTD OUTFIT

MNSQ OUTFITZSTD

MÉDIA 121,0 0,00 0,52 0,96 0,1 0,70 -0,1

DP 38,4 2,28 0,14 0,20 0,6 0,35 0,5

MAX. 150,0 3,54 0,76 1,28 1,4 1,28 0,9

MIN 51,0 -2,51 0,34 0,65 -0,8 0,12 -0,8

SEPARAÇÃO 4,15 PRECISÃO 0,95

Em relação ao ajuste ao modelo de Rasch duas medidas devem ser observadas, o

infit, que informa sobre discrepâncias do dado observado e teórico na região em que a

probabilidade de acerto ao item é próxima a 50%, em outros termos, na região central da

curva característica dos itens; e o outfit, que corresponde a concordâncias inesperadas nas

regiões extremas da curva, com altas e baixas probabilidades de concordância aos itens. Esse

ajuste é dado tanto para os itens quanto para as pessoas e Bond e Fox (2001) consideram que

o patamar 1,00 seria um padrão esperado em cada uma dessas medidas. Wright e Linacre

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(1989) consideram valores entre 0,6 e 1,4 como indicativos de bom ajuste para escalas

politômicas de autorrelato. Ressaltam, todavia, que esses valores podem variar em razão do

propósito para o qual a escala foi construída. Entretanto, há autores que consideram como

bom ajuste, estimativas dentro do intervalo de 0,70-1,30 (Sisto, Rueda & Bartholomeu, 2006),

parâmetro esse adotado na presente pesquisa com vistas a restringir mais o critério de ajuste,

obtendo-se um padrão mais conciso. Também Linacre (2002) esclarece que medidas até 1,50

seriam consideradas o limite máximo para aceitação de um item.

Os itens forneceram média de infit de 0,96 (DP=0,20), indicando um bom ajuste.

Analisando mais detidamente esses dados, observa-se que a variação de infit esteve dentro do

intervalo de 1,28-0,65, sugerindo que todos os itens estiveram ajustados ao modelo. Quanto

ao outfit, a média foi 0,70 (DP=0,35), indicando que a maioria dos itens esteve dentro dos

parâmetros esperados. O intervalo de variação nessa medida foi de 1,28-0,12, indicativo de

que houve itens com desajustes. De fato, um terço dos itens evidenciaram problemas com

patamares abaixo de 0,70. Este patamar não é tão preocupante por se tratar de um padrão

próximo ao de Guttman. Houve uma maior quantidade de discrepâncias importantes na

medida de outfit que de infit e esses itens devem ser analisados quanto à sua compreensão ou

pertinência à escala, já que ocorreram altas concordâncias a itens inesperadas em razão do

traço latente (conduta purgativa) dos sujeitos. Talvez, a análise da redação destes itens, já que

se trata de uma adaptação para a realidade brasileira, seja útil, eliminando-se problemas de

compreensão e de adequação da língua. Tal fato convida a novas pesquisas.

Em relação ao ajuste das pessoas ao modelo de Rasch, em termos de infit e outfit,

de forma geral, esteve em níveis esperados, já que suas médias foram 0,99 (DP=0,83) e 0,68

(DP=0,96), respectivamente. Analisando mais detidamente esse aspecto, evidenciou-se um

intervalo de variação para o infit de 4,07-0,19 e de outfit de 5,80-0,10 sendo que, 10 pessoas

apresentaram índices de infit e outfit acima de 1,50 e outras 21 abaixo de 0,70. Nesse sentido,

quase metade da amostra apresentou algum tipo de desajuste de concordância inesperada,

revelando uma mistura de padrões de controle de peso com combinações diferentes de

condutas purgativas por parte destes sujeitos, o que é uma possibilidade para a explicação dos

dados em questão, valendo-se questionar a alta variabilidade de condutas de controle de peso

por parte dos sujeitos em questão.

As condutas purgativas das pessoas tiveram uma média de 1,20 (DP=0,18), com

um intervalo de variação de theta de -1,59 a -3,81. Por sua vez, a média de dificuldade dos

itens (nível de ansiedade avaliado pelos itens) em logit, foi 0,00 (DP=2,28) e teve seu

intervalo de -2,51 até 3,54. Esse dado indica que houve itens que não tiveram pessoas com

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quantidade suficientes para representá-los (em níveis baixos de condutas purgativas,

sobretudo) e que os pacientes apresentaram níveis elevados neste particular, não tendo itens

suficientes para medir com detalhes cada uma das condutas neste sentido. Essa variabilidade

foi grande e a maior parte dos itens não estiveram no intervalo de -1 e 1 avaliando as condutas

purgativas das pessoas com pouca precisão (uma vez que não ocorreu maior variabilidade de

informação nesse intervalo). Neste contexto, outros itens mais difíceis (que avaliem níveis

mais elevados neste traço latente) são necessários nesta escala. Ao mesmo tempo, uma

amostra mais representativa dos níveis de condutas purgativas mais comuns é necessária para

se tentar reduzir as discrepâncias de ajuste evidenciadas nas pessoas.

Fica evidente a separação de dois grupos de itens que avaliam condutas em uma

ou outra extremidade, com condutas purgativas mais difíceis de serem concordadas e outras

muito fáceis, mais frequentemente evidenciadas. Tal fato, além de explicar em parte alguns

dos desajustes evidenciados sobretudos em outfit das pessoas, facilita a interpretação da

concepção taxonômica para estes transtornos alimentares como defendida por Williamson e

colaboradores (2002), Williamson e colaboradores (2004), Williamson, Gleaves e Stewart

(2005) e levanta a questão sobre se o viés destes estudos não se refere ao tipo de instrumento

empregado em sua avaliação que já supõe, em sua construção a noção classificatória, voltando

os indicadores como checklist para sintomas e não para uma compreensão da dinâmica de

funcionamento destes pacientes.

De fato, Williamson, Gleaves e Stewart (2005) colocam que certos indicadores

dos transtornos alimentares poderiam ser classificados como discretos e não como contínuos

ou dimensionais. Os indicadores deste trabalho sugerem que condutas como provocar vômito

para evitar ganho de peso, tomar laxantes para o mesmo fim ou sentir culpa ou repugnância

pelo excesso alimentar são comportamentos extremos que parecem entrar nesta noção

taxonômica proposta por Williamson e colaboradores (2005).

Finalmente, a análise de funcionamento diferencial dos itens por grupo diagnóstico

sugeriu que dois itens apresentaram viéses de medida, isto é, apresentaram padrões de

concordância distintos apesar de estarem em um mesmo nível de habilidade (traço latente).

Nessa análise são subtraídas as estimativas da intensidade do constructo das pessoas nos itens.

Assim, supõe-se que a intensidade de cada item deve ser estatisticamente equivalente para os

grupos estudados, no caso desta pesquisa o sexo dos sujeitos.

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Tabela 3 - Resultados da análise de funcionamento diferencial dos itens para o contraste 1 por diagnóstico

diagnóstico dif erro diagnóstico dif erro dif Erro

conjunto

mantelhanzel i

tem

measure measure contrast t d.f prob prob n/name

0 3,70 0,25 1 3,75 55 -0,05 0,37 -0,04 6 0,9719 0,9632 1 @8a

0 3,70 0,25 2 0,14 .32 3,56 0,82 1,96 4 0,1214 0,3173 1 @8a

0 3,70 0,25 3 2,35 52 1,35 0,36 1,00 5 0,3651 0,2963 1 @8a

1 3,75 55 0 3,70 0,2

5

0,05 0,37 0,04 6 0,9719 0,9632 1 @8a

1 3,75 55 2 0,14 0,3

2

3,61 0,43 2,53 3 0,853 0,0833 1 @8a

1 3,75 55 3 2,35 52 1,40 76 1,85 45 0,0709 0,0866 1 @8a

2 0,14 0,32 0 3,70 0,2

5

-3,56 1,82 -1,

96

4 0,1214 0,3173 1 @8a

2 0,14 0,32 1 3,75 55 -3,61 0,43 -2,53 3 0,0853 0,0833 1 @8a

2 0,14 0,32 3 2,35 52 -2,21 0,42 -1,56 3 0,2158 0,3883 1 @8a

3 2,35 52 0 3,70 0,2

5

-1,35 0,36 -1,00 5 0,3651 0,2963 1 @8a

3 2,35 52 1 3,75 55 -1,40 76 -1,85 45 0,0709 0,0866 1 @8a

3 2,35 52 2 0,14 0,3

2

2,21 0,42 1,56 3 0,2158 0,3883 1 @8a

Este procedimento estima a quantidade de DIF que é acrescida ao item, positiva

ou negativamente e calcula a probabilidade dessa diferença ser atribuída ao acaso, fornecendo

uma estatística t de Student. Draba (1977) considera que o patamar de 2,4 seria um bom ponto

para indicar a significância estatística ao se analisar mais de 20 itens. Com menos de 20 itens

este patamar é 2,00. Apenas o item 8 (você já esteve pelo menos 4,5 kg acima do seu peso

quando criança ou pelo menos 7 Kg acima do seu peso quando adulto?) apresentou viés

comparando sujeitos com obesidade nível 1 e controles (Tabela 3). Neste sentido, uma

possibilidade seria a exclusão deste item da escala, já que apresentou viés de medida ou

mesmo solucionar o DIF.

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Figura 2 - Expectativas de concordância com os itens (Standard Setting)

Analisando-se os padrões de resposta neste fator, identifica-se que os itens 10-Nos

últimos seis meses, você muitas vezes comeu, num espaço de tempo (duas horas ou menos),

quantidades de comida que a maioria das pessoas consideraria demais?, 13a-Nessas ocasiões

você habitualmente tinha algumas das seguintes experiências? a) Comer muito mais rápido do

que o usual?) e 13b-Comer até se sentir mal de tão cheio?. São respondidos por pessoas com

maiores níveis de conduta purgativa, neste caso, com escores neste fator acima de 15 pontos.

Pessoas com 14 pontos tendem a exibir o nível médio, com concordâncias ao item 22a-Nos

últimos três meses, você alguma vez se exercitou por mais de uma hora especificamente para

evitar ganho de peso, após ter comido grandes quantidades de comida de modo

descontrolado?, e abaixo deste ponto, concordar com as demais questões, caracterizando os

padrões de resposta de crianças com alto, baixo e médios níveis nesta variável. Neste sentido,

numa extremidade temos condutas de hábitos alimentares irregulares, enquanto o

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agravamento deste traço refere-se à conduta purgativa como mecanismo compensatório da

culpa produzida pelos atos. Os estudos de Escalante e Molina (2014), Aguilar et al (2011),

Díaz et al (2012), trabalharam na perspectiva de diferenciação do escore geral entre grupos

controle e experimental, o que é uma evidência quanto ao critério, mas não especifica os tipos

de comportamento que estas pessoas fazem, nem dão ideia acerca do contínuo destas

condutas, o que o modelo de Rasch possibilitou no presente trabalho. É interessante observar

que, apesar de alguns indicadores serem mais característicos de uma noção taxonômica deste

transtorno, a maior parte destes tende a indicar um contínuo. Todavia, a discrepância do nível

de dificuldade dos itens (muitos itens muito fáceis e muitos itens muito difíceis e poucos itens

com dificuldade moderada) facilita a compreensão dos motivos dos bons valores de

sensibilidade e especificidade encontrada nos estudos da literatura que diferencia grupos

controle e experimental por este teste.

3.2. Análise de Rasch para o segundo contraste do QEWP-R

A precisão fornecida por esse modelo para os itens apontou um índice de 0,96

para os itens e 0,07 para as pessoas, indicativo de uma alta precisão para os itens e baixa para

as pessoas. Isso é de se esperar dada a quantidade reduzida de pessoas, como também a

variabilidade de diagnóstico na amostra em questão, sendo que as pessoas, por terem níveis

distintos na variável medida, tenderam a não dar respostas homogêneas ao teste. Tal fato

revela que o instrumento pode não fornecer resultados semelhantes em grupos de pessoas

semelhantes e é indicativo de problemas de medida que merecem maior atenção. Talvez um

maior cuidado com o diagnóstico por este instrumento seja necessário e isso convida a novas

investigações. Estes resultados indicam aspectos semelhantes aos já discutidos no primeiro

contraste e contrastam com os resultados obtidos por Barnes e colaboradores (2011), Spitzer,

e colaboradores (2008) e Aguilar (2011).

O erro médio de medida foi de 0,59 (DP=0,05) para os itens e de 1,97 (DP=1,14)

para as pessoas. A precisão das pessoas indica a estabilidade das respostas das pessoas que

poderíamos esperar se essa amostra fosse submetida a outro grupo de itens semelhantes que

avaliam o mesmo construto. A precisão é melhorada por um erro pequeno nas estimativas das

habilidades das pessoas, como não foi o caso (Bond & Fox, 2001). Essas informações

constam da Tabela 4.

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Tabela 4 - Estatísticas do modelo de Rasch dos itens e das pessoas no segundo contraste

PESSOAS ESCORE

TOTAL

MEDIDA

RASCH

ERRO DO

MODELO

INFIT

MNSQ

INFITZST

D

OUTFIT

MNSQ

OUTFITZST

D

MEDIA 7,4 -0,53 1,97 0,74 -.2 0,75 - 0,1

DP 1,8 2,37 1,14 1,51 1,7 2,07 1,5

MAX. 10,0 3,25 6,00 9,90 7,6 9,90 7,1

MIN 3,0 -4,49 1,14 0,01 -1,2 0,01 -1,1

SEPARAÇÃO 0,28 PRECISÃO 0,07

ITENS ESCORE

TOTAL

MEDIDA

RASCH

ERRO DO

MODELO

INFIT

MNSQ

INFITZS

TD

OUTFIT

MNSQ

OUTFITZST

D

MEDIA 78,2 0,00 0,59 0,89 -0,5 1,94 0,5

DP 37,9 3,33 0,05 0,35 1,2 2,36 1,2

MAX. 147,0 3,97 0,67 1, 51 1,3 6,91 2,8

MIN 43,0 -4,52 0,52 0,39 -2,7 0,16 -1,0

SEPARAÇÃO 5,52 PRECISÃO 0,97

Os itens forneceram média de infit de 0,89 (DP=0,35), indicando um bom ajuste.

Analisando mais detidamente esses dados, observa-se que a variação de infit esteve dentro do

intervalo de 1,51-0,39, sugerindo que todos os itens estiveram ajustados ao modelo.

Quanto ao outfit, a média foi 1,94 (DP=2,36), indicando que a maioria dos itens

esteve dentro dos parâmetros esperados. O intervalo de variação nessa medida foi de 6,91-

0,16, indicativo de que houve itens com desajustes. De fato, um item evidenciou problemas

acima de 1,5 de infit e dois abaixo de 0,70 (que não são considerados tão severos). Já no

outfit, metade apresentou acima de 1,5 e a outra abaixo de 0,70, revelando muitos desajustes

quanto às regiões extremas da curva característica destes itens. Tal fato sugere que estes itens

não são bons para caracterizar condutas de compulsão alimentar extremas, não fornecendo

descrições claras da magnitude e tipo de sintoma e revelando espaço para novas pesquisas.

Em relação ao ajuste das pessoas ao modelo de Rasch, em termos de infit e outfit,

suas médias foram 0,74 (DP=1,51) e 0,75 (DP=2,07), respectivamente.

Analisando mais detidamente esse aspecto, evidenciou-se um intervalo de

variação para o infit de 9,90-0,01 e de outfit de 9,90-0,01 sendo que somente 6 pessoas

apresentaram bons índices de infit e outfit com o restante apresentando desajustes no patamar

1,50 (4 pessoas) e o restante da amostra abaixo de 0,70. Nesse sentido, quase toda a amostra

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apresentou algum tipo de desajuste de concordância inesperada, revelando uma mistura de

padrões de ingestão compulsiva de alimentos com combinações diferentes desses padrões por

parte destes sujeitos, o que é uma possibilidade para a explicação dos dados em questão,

valendo-se questionar a alta variabilidade de condutas de ingestão de alimentos por parte dos

sujeitos em questão. Este dado também corrobora os da pesquisa de Espelage, Mazzeo, Aggen

e Quittner (2003) e Engelsen e Hagtvet (2008)

As condutas de ingestão de alimentos (compulsivas) das pessoas tiveram uma

média de 1,97 (DP=1,14), com um intervalo de variação de theta de -4,49 a -3,25. Por sua

vez, a média de dificuldade dos itens (nível de ansiedade avaliado pelos itens) em logit, foi

0,00 (DP=3,33) e teve seu intervalo de -4,52 até 3,97. Esse dado indica que houve itens que

não tiveram pessoas com número suficientes para representá-los (em níveis baixos e altos de

compulsão alimentar) e que os pacientes apresentaram níveis médios neste particular (Figura

2).

Neste segundo contraste, houve uma quantidade menor de indicadores associados

à noção taxonômica dos transtornos alimentares, pois foram mais distribuídos ao longo do

contínuo e não agrupados em situações extremas como no primeiro contraste, evidenciando

uma quantidade ligeiramente menor de desajustes ao modelo de Rasch, mas também ainda

com baixa precisão por falta de indicadores que avaliem níveis médios nesta medida

(Williamson & cols, 2002; Williamson & cols, 2004; Williamson, Gleaves & Stewart, 2005).

Nesse sentido, seriam necessários itens que caracterizassem níveis mais elevados

de compulsão alimentar, bem como outras pesquisas com pessoas com maiores níveis nesta

variável que alguns destes itens fossem capazes de captar. Essa variabilidade foi grande e a

maior parte dos itens não estiveram no intervalo de -1 e 1 avaliando a compulsão das pessoas

com pouca precisão (uma vez que não ocorreu maior variabilidade de informação nesse

intervalo).

A grande variabilidade da amostra quanto aos sintomas e padrões de compulsão

alimentar afetou às grandes discrepâncias observadas em outfit sobretudo pelas pessoas.

Considerando que a amostra em questão apresenta sujeitos controle, pode-se sugerir

que mesmo estes apresentaram algumas condutas de compulsão alimentar ou mesmo de

condutas purgativas que não seriam esperadas por estarem fortemente presentes em sujeitos

com transtorno de compulsão alimentar. Assim, novos estudos que incluam maior

variabilidade de transtornos alimentares são necessários para se obter uma estimativa mais

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fiável das habilidades das pessoas, bem como procurar solucionar os problemas de outfit

evidenciados nas pessoas.

Em relação ao funcionamento diferencial dos itens, identificou-se que nenhum

dos itens deste fator apresentou este viés de medida. A análise de Standard Setting feita

sugeriu que os itens 10 e 11 são os que representam níveis elevados de conduta purgativa,

pontuação acima de 8 nesta medida. Pontuações entre 6 e 8 estimam níveis médios e

concordâncias com os itens 13e e 13c e abaixo destes escores, concordância com itens 13d e

21a.

Figura 3 - Expectativas de concordância com os itens no segundo contraste

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44

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal deste estudo foi a análise de evidências de validade e

consistência interna para o Questionário sobre Padrões de Alimentação e Peso – Revisado

(QEWP-R). Confia-se que este tenha sido alcançado. Este estudo foi pioneiro na análise da

estrutura interna dos itens do QEWP por meio do modelo de Rasch. Os demais estudos

publicados focaram na validação por convergência e discriminação das medidas deste teste

entre grupos clínicos e controles e associações com outros instrumentos. A escassez de

pesquisas concernentes à análise da estrutura interna dos itens do QEWP por meio do modelo

de Rasch restringe às discussões desta pesquisa, sendo os resultados principais tratados a

seguir. Os resultados do presente trabalho questionam a estrutura interna como

unidimensional, indicando que certas somatórias de itens na configuração do diagnóstico

poderiam ser repensadas, considerando os agrupamentos sugeridos a partir dos dois contrastes

analisados. Essa seria uma forma de corrigir o instrumento para a população brasileira,

agrupando itens que apresentam maior concordância entre si. Além disso, os pontos de corte

estudados também poderiam ser considerados na separação de níveis de intensidade no

quadro de sintomas dos pacientes, evidenciando uma medida de severidade dos sintomas,

distinta da diferenciação entre grupos clínico e controle, útil na triagem de pacientes. Assim,

os pontos de corte poderiam ser melhor explorados visando um sistema de interpretação das

pontuações do QEWP centrado no critério. A diferenciação por níveis de intensidade dos

sintomas também tende a ser útil na diferenciação de perfis de pacientes com TCAP, o que

pode impactar o curso do tratamento e prognóstico.

A análise sugeriu, ainda, uma quantidade de desajustes e itens que são afetados

por outros fatores e que devem ser analisados com cautela quando considerados no

diagnóstico por não estarem tão relacionados ao quadro principal. Assim, convida a novas

investigações.

Não obstante, assim como todo e qualquer empreendimento científico, este estudo

não está isento de limitações potenciais. No caso, destaca-se o fato de a amostra ter sido

específica e não-probabilística, composta por profissionais de um determinado hospital

municipal localizado na região oeste do Estado de São Paulo que sugere, assim como outras

validações (Dell`Aglio, 2000; Giacomoni 1998; Golfeto & cols., 2002; Gouveia & cols.,

1995; Silva, 2001) que os resultados não podem ser generalizados, nem mesmo para o

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universo que fazem parte os participantes da amostra. Resta, entretanto, ponderar que esta não

era a pretensão da autora. Além disso, empregam-se aqui estatísticas estritamente

exploratórias, nessa direção poder-se-ia utilizar análises mais sofisticadas e de caráter mais

confirmatório.

Em termos de estudos futuros, é preciso que se teste esta versão considerando

participantes de cidades e grupos diversos, como os presentes na população geral. Seria

igualmente satisfatório considerar amostras maiores. Assim, sabe-se que estes dados não

responderam às inúmeras questões que surgiram ao longo do exercício de pesquisar, como é

habitual em qualquer trabalho científico, mas, em contrapartida, acredita-se que pode vir a

colaborar para o contexto da avaliação psicológica, como também para a formação dos

futuros pesquisadores.

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