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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 INVESTIGANDO A ASSIMETRIA E HYSTERESIS NOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS NO MERCADO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM ATRAVÉS DOS MODELOS THRESHOLD E ARFIMA [email protected] APRESENTACAO ORAL-Comercialização, Mercados e Preços CARLA CALIXTO DA SILVA 1 ; LUCAS MACIEL MUNIZ 2 ; NAPIE GALVE ARAUJO SILVA 3 ; RACHEL SILVA ALMEIDA 4 ; NAYANA RUTH MANGEIRA FIGUEIREDO 5 . 1,4,5.UFPE, RECIFE - PE - BRASIL; 2.UFAL, MACEIO - AL - BRASIL; 3.UFERSA, MOSSORO - RN - BRASIL. Investigando a Assimetria e Hysteresis nos preços dos combustíveis no mercado brasileiro: Uma abordagem através dos modelos THRESHOLD E ARFIMA Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços Resumo: Este artigo busca analisar o comportamento dos preços dos combustíveis no mercado Brasileiro e identificar relações de hysteresis e assimetria no período de julho de 2001 a fevereiro de 2010. A abordagem empírica parte da hipótese inicial de um mecanismo gerador de persistência nas séries individuais e posteriormente da existência de sincronias e causalidades entre os preços das commodities (gasolina, álcool e gás natural). O instrumento de análise está baseado em séries temporais univariadas com o enfoque em modelos ARFIMA e modelos Threshold Autoregressive (TAR). Os resultados inferem que os preços dos combustíveis no mercado brasileiro apresentam semelhanças no que diz respeito ao processo assimétrico, evidenciando as dificuldades de se administrar às informações assimétricas entre os agentes e ao poder de mercado. Além disso, verificou-se um processo de persistência nos níveis das variáveis, o que pode-se inferir que choques temporários podem produzir efeitos permanentes, pois, após um choque exógeno estas variáveis não retornam ao seu patamar inicial no longo prazo. Neste sentido infere-se sobre a importância da política de incentivos fiscais para o cenário brasileiro de combustíveis. Palavras-chaves: Assimetria, Hysteresis, preço, combustíveis, Modelos ARFIMA e Threshold. Abstract: This paper analyzes the behavior of fuel prices in the Brazilian market and identify relationships of hysteresis and asymmetry in the period from July 2001 to February 2010. The empirical approach part of the initial hypothesis of a mechanism generating persistence in individual series and then the existence of synchronicities and causality between commodity prices (gasoline and natural gas). The analysis tool is based on univariate time series with a focus on ARFIMA models and Threshold Autoregressive

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INVESTIGANDO A ASSIMETRIA E HYSTERESIS NOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS NO MERCADO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM A TRAVÉS DOS MODELOS THRESHOLD E ARFIMA [email protected] APRESENTACAO ORAL-Comercialização, Mercados e Preços CARLA CALIXTO DA SILVA 1; LUCAS MACIEL MUNIZ2; NAPIE GALVE ARAUJO SILVA3; RACHEL SILVA ALMEIDA 4; NAYANA RUTH MANGEIRA FIGUEIREDO5. 1,4,5.UFPE, RECIFE - PE - BRASIL; 2.UFAL, MACEIO - AL - BRASIL; 3.UFERSA, MOSSORO - RN - BRASIL.

Investigando a Assimetria e Hysteresis nos preços dos combustíveis no mercado brasileiro: Uma abordagem através dos modelos THRESHOLD

E ARFIMA

Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços

Resumo: Este artigo busca analisar o comportamento dos preços dos combustíveis no mercado Brasileiro e identificar relações de hysteresis e assimetria no período de julho de 2001 a fevereiro de 2010. A abordagem empírica parte da hipótese inicial de um mecanismo gerador de persistência nas séries individuais e posteriormente da existência de sincronias e causalidades entre os preços das commodities (gasolina, álcool e gás natural). O instrumento de análise está baseado em séries temporais univariadas com o enfoque em modelos ARFIMA e modelos Threshold Autoregressive (TAR). Os resultados inferem que os preços dos combustíveis no mercado brasileiro apresentam semelhanças no que diz respeito ao processo assimétrico, evidenciando as dificuldades de se administrar às informações assimétricas entre os agentes e ao poder de mercado. Além disso, verificou-se um processo de persistência nos níveis das variáveis, o que pode-se inferir que choques temporários podem produzir efeitos permanentes, pois, após um choque exógeno estas variáveis não retornam ao seu patamar inicial no longo prazo. Neste sentido infere-se sobre a importância da política de incentivos fiscais para o cenário brasileiro de combustíveis. Palavras-chaves: Assimetria, Hysteresis, preço, combustíveis, Modelos ARFIMA e Threshold. Abstract: This paper analyzes the behavior of fuel prices in the Brazilian market and identify relationships of hysteresis and asymmetry in the period from July 2001 to February 2010. The empirical approach part of the initial hypothesis of a mechanism generating persistence in individual series and then the existence of synchronicities and causality between commodity prices (gasoline and natural gas). The analysis tool is based on univariate time series with a focus on ARFIMA models and Threshold Autoregressive

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(TAR). The results infer that fuel prices in the Brazilian market have similarities with respect to asymmetric process, highlighting the difficulties in administering the asymmetric information between agents and the market power. Moreover, there was a process of persistence in the levels of variables, which can be inferred that temporary shocks can have permanent effects, since, after an exogenous shock these variables do not return to its initial level in the long term. In this sense it can be inferred about the importance of fiscal incentives to the Brazilian scene of fuels. Key Words: Asymmetry, Hysteresis, price, fuel, Models ARFIMA and Threshold.

1. INTRODUÇÃO

O setor de combustíveis brasileiro passou por diversas mudanças nas últimas

décadas, tanto na composição dos gastos e incentivos do governo voltados ao setor, quanto no aspecto tecnológico e política de preços. Isto, por sua vez, modificou o seu padrão de comportamento, principalmente após o início da década de 1990 com o processo de liberalização de alguns segmentos da cadeia de combustíveis, bem como, os problemas ambientais e energéticos, o que vem lhe proporcionando uma maior atenção desde então.

As expectativas são de crescimento significativo da produção mundial de combustível com a presença de atores prestes a ampliar seu cenário de atuação, como, por exemplo, é o caso evidente do GNV e do álcool. Como conseqüência, espera-se também que haja um processo de forte oscilação de preços e de comportamentos adversos no que diz respeito à adaptação destes tanto para o consumidor quanto para o produtor.

Neste caso, a grande questão é sobre o tipo de ajustamento observado nos preços no mercado de combustível. Pela ótica do consumidor, verifica-se que este ao encher o tanque do automóvel constantemente depara-se com as variações nos preços dos principais combustíveis, que por sua vez, são afixados em cada posto. Conseqüentemente, a maioria dos consumidores está ciente dos movimentos nos preços e observam tais oscilações com questionamentos. Pela ótica do produtor também ocorre os mesmos questionamentos.

No entanto, não é difícil perceber que estas oscilações não ocorrem de maneira simétrica. Uma piora no cenário econômico, ou seja, a elevação na cotação dos preços do petróleo, por exemplo, proporciona uma pressão por um aumento nos preços dos combustíveis. Contudo, quando há uma melhora, o retorno ao nível anterior é lento e, na maioria das vezes, não ocorre. Este comportamento tanto dos preços praticados aos consumidores quanto pelos produtores, exibe uma relação assimétrica que pode ser vista com facilidade pelas pessoas. Uchôa (2008) evidência tal processo nos combustíveis através do seguinte questionamento: “uma trajetória de alta no preço do petróleo é acompanhada de perto por toda a sociedade, esperando seus reflexos imediatos no nível de preços dos combustíveis, sendo que, um dos impactos mais sentidos é, sem dúvida, sobre a gasolina. Mas, o que ocorre quando o sentido é inverso, isto é, e quando há uma queda nos preços do petróleo?” Sendo assim, para ratificar as suspeitas dos consumidores e produtores é possível desenvolver uma análise dos movimentos nos preços dos combustíveis que permitam comprovar esta desconfiança.

Na literatura, destacam-se duas abordagens sobre o efeito assimétrico. A primeira, defendida especialmente por Duffy-Deno (1996) e Radchenko (2005), postula que a

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assimetria observada nos preços é caracterizada por uma implícita informação imperfeita entre os agentes, um procedimento do poder de mercado que usa a coordenação como meta para margens de lucro. Neste modelo, as firmas são não-competitivas e comportam-se de forma mais relutante em elevar preço do que em baixá-lo para obter e/ou manter parcelas do mercado, dado as vantagens de informação e os custos que os consumidores podem ter na procura pelo menor preço.

Outra idéia é a de que os custos de procura podem conduzir a uma resposta assimétrica às mudanças nos preços, defendido por Godby et. al. (2000). Nesse caso, quando os preços por atacado aumentam os donos dos postos de combustíveis procuram manter suas margens de lucro e repassam o aumento rapidamente para os preços de revenda. Por outro lado, quando os preços por atacado reduzem, cada distribuidora mantém temporariamente suas margens de lucro repassando lentamente a redução para os clientes. Neste sentido, após uma pesquisa dos consumidores por preços menores, nos posto de venda seriam forçados a praticar preços a um nível competitivo no qual as margens de lucro em cada posto estariam no seu nível normal. Comparados à literatura internacional, estudos que tratem do comportamento dos preços, via assimetria e persistência para o caso brasileiro ainda são escassos. Dentre estes podemos citar, no primeiro caso Lima e Sampaio (1999a;b), Costa (2001) Maia, Rocha e Lima (2001); Silva Filho, Frascaroli e Maia (2005); e no segundo caso, Galvão (2003), Correia e Minela (2005), Uchôa (2006), Oliveira Júnior, Castelar e Ferreira (2007), Silva (2009).

Outra maneira de se abordar o comportamento dos preços é estudar diretamente no seu movimento o grau de persistência desta série, sem a modelagem dos fatores que o causam. Desta forma, são realizados testes para a identificação de tipos estilizados de processos que poderiam melhor se ajustar ao movimento observado, isto é, são realizadas medidas indicativas da ocorrência, na série, do processo que está sendo testado, e em seguida, são realizados testes estatísticos, nas medidas realizadas, da ocorrência ou não desse processo (SOUZA; TABAK; CAJUEIRO, 2006). Nesse caso, é analisado o grau de persistência em retornar ou não ao nível de equilíbrio inicial após um choque, ou seja, investiga-se se a série possui um processo de hysteresis. Uma maior tendência dos preços ao nível de equilíbrio inicial, aponta no sentido da existência de uma persistência, isto é, quando, por alguma razão exógena, essa taxa foi aumentada ou diminuída, mas, passado um longo prazo, ela não retorna ao nível inicial ao choque exógeno. Logo, é fundamental que se conheçam as características que estão por trás do mecanismo gerador e da trajetória e quais as razões que levam, às vezes, a se desviarem do equilíbrio de curto e longo prazo indicados pelos fundamentos econômico. De acordo com Menezes; Uchoa; Maia (2005), o efeito da histerese significa que choques temporários podem produzir efeitos permanentes no seu nível. Na prática a presença de histerese é detectada quando uma série econômica apresenta raiz unitária.

Neste sentido, este trabalho se propõe a investigar a seguinte questão: o comportamento dos preços no mercado brasileiro quando observados sob sua trajetória e persistência entre as commodities apresentam um comportamento assimétrico e de Hysteresis? Deste modo, o objetivo central desse trabalho é analisar o comportamento dos preços dos combustíveis no mercado brasileiro e identificar relações de assimetria, bem como, observar o mecanismo gerador da persistência no período de julho de 2001 a fevereiro de 2010.

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Assim, o trabalho está dividido em cinco seções, além desta introdução. A segunda seção faz uma contextualização da política de preços no Brasil e a Agência Nacional de Petróleo e Combustível (ANP). A terceira seção apresenta o referencial teórico inspirado no processo assimétrico e de histerese em séries econômicas. A quarta seção apresenta bem a metodologia empírica para estes modelos. A quinta seção apresenta os resultados e discussão das estimações e do comportamento dos preços dos combustíveis no Brasil. A quinta seção apresenta as considerações finais e por fim as referências utilizadas neste trabalho.

2. A POLÍTICA DE PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS NO BRASIL E A ANP A política de preços dos combustíveis vem passando por várias mudanças ao longo

das últimas décadas. Até fins dos anos 80, o governo controlava todos os preços de petróleo e de seus derivados, com base no tabelamento e na uniformização dos preços em todo o território nacional, cujo objetivo era sustentar a política de subsídios cruzados entre os derivados (ANP, 2004).

Neste período foi lançado o Programa Brasileiro do Álcool (PROALCOOL) com o objetivo duplo de reduzir o impacto sobre o balanço de pagamentos causados pela elevação dos preços do petróleo e, ao mesmo tempo, mitigar as inquietações do setor sucroalcooleiro face à queda do preço do açúcar no mercado internacional. O PROALCOOL é considerado o maior programa do mundo de utilização comercial da biomassa para produção e uso de energia, demonstrando a viabilidade técnica da produção em larga escala de etanol1 a partir da cana-de-açúcar e do seu uso como combustível automotivo (LA ROVERE, 2000).

No início dos anos 90, acompanhando o cenário internacional, a política de preços começou a ser pautada na introdução de uma economia de mercado, com o início de um processo gradual de liberalização dos preços e de extinção dos subsídios cruzados. De acordo com Oliveira (2006), o governo iniciou uma série de ações em relação aos preços, entre elas, a criação da Lei do Petróleo - 9478/97 - que estabelecia o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), responsável por estabelecer as diretrizes da política energética brasileira, e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP)2, uma autarquia especial com a finalidade de regular o setor de petróleo e gás natural.

Neste período, os preços e reajustes do petróleo e derivados, inclusive o gás natural, eram fixados por atos do Ministério da Fazenda (MF) e Ministério de Minas e Energia

1 O termo etanol é mais empregado em nível mundial, mas no Brasil utilizam-se os termos álcool (etílico) hidratado e álcool (etílico) anidro. 2 A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP) é uma autarquia integrante da Administração Pública Federal, vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Tem por finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, de acordo com o estabelecido na Lei nº 9.478, de 06/08/97, regulamentada pelo Decreto nº 2.455, de 14/01/98, nas diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e em conformidade com os interesses do País (ANP, 2002).

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(MME), com uma paridade entre o preço do gás natural e do óleo combustível 1A3 de 75% (não considerava-se os custos de transporte). Entretanto, esta regra mostrou-se estável devido ao controle dos preços dos óleos combustíveis (ANP, 2002).

Posteriormente, em conformidade com a Lei do Petróleo o período entre 1998 e 2001 passou a ser de transição entre o regime vigente para uma política de preços livres. Nesta etapa, a formação dos preços era realizada por portarias interministeriais, onde o MF e o MME, de forma conjunta com a Petrobrás, acabaram por definir a convergência entre os preços dos derivados básicos e os respectivos preços internacionais, com base no conceito de custo operacional da empresa somado a uma margem de lucro4. Adicionalmente, consideraram-se os custos médios de frete e seguro, bem como o imposto de importação de cada derivado e, a taxa portuária, que teve como referência inicial o Porto de Vitória- Espírito Santo.

Assim, fixaram-se, então, para a produção nacional às distribuidoras estaduais preços máximos para as vendas à vista do gás natural nos city gates5. Sendo, os preços máximos resultado da soma de duas parcelas, uma relativa ao transporte entre os pontos de recepção e entrega do energético e outra ao preço da commodity gás natural na entrada do gasoduto. No entanto, as duas parcelas eram corrigidas de formas diferentes, cabendo à ANP estabelecer os valores da parcela de transporte, o que resultou em preços diferenciados entre os Estados brasileiros (ANP, 2004). O preço do gás importado destinado à distribuição local, por sua vez, era definido via contratos já existentes ou futuros, negociados livremente entre as partes. Já nos preços do gás destinado as termelétricas, por fazer parte do Programa Prioritário de Termeletricidade (PPT), estabeleceram-se um preço médio de suprimento, com base em um portfólio composto de 80% de gás importado e 20% de gás nacional.

No caso do álcool, ressalta-se que, no começo da desregulamentação, o custo de produção era de aproximadamente 100 US$/barril de etanol. O progresso técnico e as economias de escala reduziram este custo para 50 US$/barril nos anos 1990 (MOREIRA; GOLDEMBERG, 1999). Mas, em 1999, o custo de produção do álcool ainda era superior ao da gasolina derivada do petróleo, que era importado a um preço um pouco abaixo de 20 US$/barril, menos da metade da cotação do óleo bruto no mercado internacional em 1980, quando o PROALCOOL foi lançado.

3 São óleos combustíveis com viscosidade cinemática máxima de 620 mm2/s (a 60o C) e teor de enxofre máximo de 2,5%, além de outras características especificadas no Regulamento Técnico n.º 003/99, aprovado pela Portaria ANP nº 80/99. 4 De acordo com Oliveira (2006), a partir de 1º de agosto de 1998, os preços passaram a oscilar mensalmente no em função da cotação internacional do derivado e da taxa de câmbio. Ressalta-se, que o mercado internacional de derivados é formado por um conjunto de mercados de referência, que podem transacionar cargas físicas ou futuras. Dentre os principais, pode-se citar o mercado do Golfo do México (conhecido como US Gulf Coast), da costa leste americana, New York Mercantile Exchange (Nymex), International Petroleum Exchange (IPE - Londres), do noroeste europeu, do Mediterrâneo, de Cingapura e do Golfo Arábico. Nesses mercados, em geral, os preços variam diariamente e várias vezes durante o dia, apresentando alta volatilidade. 5 Refere-se ao divisor físico da rede de transporte para a rede de distribuição de gás natural. Neste local, a pressão do gás é rebaixada e é colocado um odorante, para que, caso haja vazamento de gás, ele possa ser identificado. A jurisdição, neste ponto, é transferida do âmbito federal para o estadual.

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Neste caso, Silveira e Pinto Jr. (1999) enfatiza que o principal obstáculo à liberalização dos preços dos combustíveis residia na estrutura tributária do setor, entre os quais destacava-se, o imposto de importação, ICMS, CPMF, contribuições sociais e principalmente, a Parcela de Preços Específica (PPE) 6. Entretanto, após a Emenda Constitucional nº 33, de 11 de dezembro de 2001, regulamentada pela Lei Complementar nº 10.336/01, de 19 de dezembro de 2001, extingue-se a PPE e institui a Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (CIDE).

Segundo Oliveira (2006), a criação da CIDE7 era condição necessária para a abertura dos mercados de importação e exportação e foi à última etapa para a criação de condições favoráveis ao livre mercado.

Desta forma, a partir de janeiro de 2002, vigora em toda a cadeia de produção e comercialização de combustível, incluindo o gás natural em seus estágios de produção, distribuição e revenda, o regime de liberalização dos preços da indústria de petróleo e derivados8. De acordo com o regime, não há qualquer tipo de tabelamento, valores máximos e mínimos, nem necessidade de autorização prévia para reajustes de preços dos combustíveis e o preço do gás natural nacional passou a ser estabelecido por meio de contratos da mesma forma que o gás importado.

A partir de então, a ANP, passou tanto a arbitrar os possíveis conflitos entre as partes envolvidas nos contratos do GNV, quanto verificar se as tarifas acordadas são compatíveis com o mercado de GNV e de todos os combustíveis e não prejudicam os interesses do consumidor (FREITAS, 2004).

3. ASSIMETRIAS E HYSTERESIS: ASPECTOS TEÓRICOS 3.1 Assimetrias De acordo com alguns modelos microeconômicos tradicionais (concorrência

perfeita, monopólio e oligopólio) os preços devem responder simetricamente aos aumentos do custo e às reduções de custo (MAS-COLLEL; WHASTSON; GREEN, 1995). Entretanto, com avanços das técnicas de captação de dados e estudos da década de 80, observou-se que os preços poderiam ter um comportamento assimétrico na economia [ver, por exemplo, Hamilton (1983)]. 6 O imposto de importação refere-se a um tributo de competência federal cuja base de calculo é o preço CIF de importação. Em relação ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e sobre a Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal (ICMS) é de competência estadual cujas alíquotas, que podem ser diferentes, são estabelecidas no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ. O ICMS incide sobre as atividades de refino, distribuição e revenda. As contribuições sociais incidentes são duas: o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) (SILVEIRA, 1999). 7 A CIDE é cobrada sobre a produção, importação e comercialização de GLP, gasolinas, diesel. QAV, outros querosenes, óleos combustíveis e álcool etílico anidro. A Lei 10453/02 define a destinação dos recursos da CIDE à concessão de subsídios, à compra de GLP por famílias de baixa renda (Programa Auxílio Gás), bem como subsídios aos produtores de álcool combustível. 8 Verifica-se que as tarifas de distribuição podem variar de um Estado para outro, devido os diferentes contratos de concessão entre os agentes.

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Desde então vários estudiosos chamaram a atenção para o fenômeno da assimetria na análise dos mercados de petróleo [ver, por exemplo, Burbridge e Harrison, (1984); Gisser e Goodwin, (1986)], em produtos agrícolas [Pick, Karrenbrock e Carmen, (1991)] e nos mercados de gasolina [Duffy-Deno, (1996); Godby et. al. (2000); Radchenko, (2005)].

Quando há simetria na transmissão de preços entre mercados, pressupõe que as informações circulam perfeitamente e o poder de mercado entre os intermediários são iguais. A presença da assimetria na transmissão de preços pode ser explicada, por diferenças no acesso às informações de mercado ou por diferenças de poder de mercado entre os agentes de comercialização.

Bacon (1991) pode ser considerado um dos trabalhos empíricos pioneiros no estudo de assimetria. Através da estimação econométrica de um modelo de ajuste não-linear nos preços Britânicos do mercado de gasolina para o período de 1982 a 1999.

Duffy-Deno (1996) analisaram a existência de assimetria nos preços do petróleo e da gasolina por atacado e varejo no período de 1989 a 1993 para a cidade de Salt Lake dos Estados Unidos (EUA). De acordo com o autor, o mecanismo de determinação nos preços da gasolina para esta cidade pode ser completamente diferente em relação aos países da Europa, pois, o mercado é limitado e/ou as fontes por atacado devem ser transportadas ou conduzido dentro de fronteiras distantes. Os resultados encontrados indicam que há um ajustamento assimétrico nos preços da gasolina no varejo, devido o poder de mercado dos varejistas.

Borenstein et. al. (1997), testaram a existência de assimetria no movimento dos preços entre vários estágios da produção e da distribuição do mercado da gasolina dos EUA. Para tanto, utilizam o modelo de correção de erros bivariados para o período de 1986-1992 (dados semanais). A investigação empírica realizada confirmou que há forte evidência de assimetria em todos os segmentos do mercado. Suas conclusões foram no sentido de que os preços de varejo da gasolina nos Estados Unidos respondiam a um aumento nos preços do petróleo em quatro semanas, porém, demoravam mais de oito semanas para responder a uma queda de igual magnitude.

Entretanto, Brown e Yücel (2000) conclui que o poder de mercado não é responsável pela assimetria, indicando que tais suposições podem ser vistas como custos de diferenciação de produtos sob a hipótese de competição monopolística.

Considere-se, por exemplo, uma indústria com algumas firmas dominantes que agem em forma de conluio para manter as margens de lucro elevadas. Se as firmas avaliassem o acordo e sob a hipótese de informação imperfeita nos preços, cada firma enfrentaria uma função assimétrica de perda onde fosse mais relutante baixar seu preço de venda do que aumentá-lo (UCHÔA, 2006).

Observa-se a existência de poucos trabalhos referente à assimetria nos preços do mercado de petróleo e derivados no Brasil, não obstante, o trabalho de Uchôa (2006) e Silva (2008) merecem destaque. Uchôa (2006) contribuí para a evidência de assimetria no mercado brasileiro com o estudo da relação não-linear dos preços da gasolina com os preços do petróleo e com a taxa de câmbio para o Brasil e para o Estado da Bahia. Na abordagem empírica são expostos os métodos de análise linear VAR e análise de variáveis cointegradas com modelos de correção de erros não-linear TAR e MTAR. De acordo com o autor o procedimento tradicional na forma linear não possibilita evidências de assimetria nos preços devido a sua limitação conceitual. Por outro lado, através dos modelos não-

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lineares o autor conclui que os preços da gasolina têm um comportamento assimétrico tanto no Brasil quanto na Bahia. Silva (2008) analisou o comportamento dos preços do gás natural nos mercados internacionais e nos mercados domésticos (Brasil e Nordeste) e identificou relações de assimetria, por semelhança, no período de julho de 2001 a julho de 2007. De acordo com a autora, os resultados inferem que os preços do gás natural no mercado internacional e doméstico apresentam semelhanças no que diz respeito ao processo assimétrico e transmissão de preços e são relacionados às informações assimétricas entre os agentes e ao poder de mercado. Entretanto, divergem em relação às elasticidades de transmissão e a persistência do impacto assimétrico.

3.2 Hysteresis Segundo Jenkins (1999), a histerese pode ser definida como a persistência de

efeitos provocados por um determinado choque quando esse é removido, ou seja, efeitos permanentes de um choque temporário. O efeito denominado histerese tem sua origem na física, e tem sido constantemente aplicado na literatura econômica com a finalidade de se explicar mudanças no nível de equilíbrio no mercado do trabalho causado pelo desemprego (DUARTE; ANDRADE, 2000; MENEZES; UCHOA; MAIA 2005) e no nível externo causado por choques na taxa de câmbio da economia (BALDWIN, 1990).

A persistência ou histerese em uma variável econômica surge do fato desta não se ajustar ao nível de equilíbrio inicial após um choque. Assim, o grau de persistência9 da ao longo do tempo, indicará uma mudança na tomada de decisão, por parte dos agentes econômicos, de forma mais segura e consistente (LIMA; MAIA, 2000), com sérias implicações sobre a política econômica. Isso porque o custo da volatilidade nesta variável foi menor (ou maior) do que se imaginava, em vista do descolamento observado entre o movimento e a economia real (KRUGMAN, 1991).

A idéia básica sobre a histerese é a possibilidade de se explicar o impulso através de uma abordagem que leva em consideração a sua própria persistência, ou seja, choques temporários podem produzir efeitos permanentes no seu nível. Assim, dado um choque exógeno às alterações nos preços dos combustíveis persistirá, não sendo meramente uma flutuação transitória e, mesmo depois que os preços tenha, eventualmente, retornado a um nível estável, esta não voltara ao nível anterior. Segundo Caves et. al. (2001), o termo histerese é utilizado no comércio internacional para descrever reações de difícil reversão.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Modelos de memória longa: caso do ARFIMA

Os modelos de séries temporais introduzidos por Box; Jenkins (1970), denominado ARIMA (p,d,q), incluem em sua análise o parâmetro d, um inteiro que estabelece o nível de diferenciações necessárias para tornar uma série temporal estacionária. Estes modelos, no entanto, são adequados para a modelagem do comportamento de séries temporais a 9 A persistência, para além de um certo nível pode gerar o fenômeno da hysteresis.

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curto prazo. A partir dos anos 80, Granger; Joyeux e ainda Hosking (1981) propõem uma generalização desta modelagem em relação ao parâmetro d, podendo este assumir não só valores inteiros, mas também representar graus de diferenciação fracionários (CRATO, 2001).

Os modelos com componente de diferenciação “d” fracionário passaram a ser denominados de ARFIMA, considerando “d” um número real. O parâmetro d, que indica a diferença fracionária, é igual ao valor negativo do parâmetro angular da regressão espectral. Ou seja: d = - β. Neste aspecto, os efeitos da “memória” (d) sobre observações distantes decrescem hiperbolicamente à medida que a defasagem aumenta, enquantoΦ e θ decrescem exponencialmente. Conforme a tabela 1 a seguir.

TABELA 1 Persistência do Processo Estocástico

d Processo Persistência

(0,5 a 1,0] não-estacionário Variância infinita (1a diferença)

(0,0 a 0,5] Estacionário Memória longa

0 Estacionário Ruído branco

[-0,5 a 0,0) Estacionário Memória curta

Fonte: Lima; Maia, (2000).

4.2 Modelo Threshold

Nas últimas décadas, a análise de séries temporais não-lineares tem tomado lugar

de destaque na literatura econômica, podendo-se citar inúmeras aplicações empíricas e conseqüências teóricas advindas de sua observação [ver, por exemplo, Tiao e Tsay (1994)].

De acordo com Galvão (2002) os modelos de séries temporais não-lineares podem ser introduzidos, em sua maioria, para caracterizar assimetrias no ajustamento da dinâmica de curto prazo em relação ao equilíbrio de longo prazo e, caracterizar assimetrias do processo estocástico de séries macroeconômicas dependendo do ciclo econômico. De forma análoga, podem ser utilizados para mensurar respostas a choques que dependem do tamanho, do sinal e da história quando os choques atingem o sistema; verificar integração/cointegração de séries tendo como hipótese alternativa um regime com reversão à média e outro que é um random walk. Além de permitirem uma melhoria na previsão de eventos raros, como, por exemplo, recessão.

No entanto, destaca-se, nessa seção, os modelos TAR (Threshold Autoregressive), que tem como objetivo principal captar assimetrias, dentre as quais, pode-se enfatizar: i) assimetria na dinâmica das fases do ciclo dos negócios; ii) assimetria no ajuste da dinâmica de curto prazo ao equilíbrio de longo prazo; iii) assimetria na capacidade de uma variável

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10

prever outra e, iv) assimetria na resposta a choques. O foco deste estudo concentra-se na análise da assimetria na reposta a choques nos preços.

Os modelos threshold, especificadamente, aquele onde se considera a captação de processos de assimetria através de modelos estocásticos paramétricos em tempo discreto – TAR (threshold autoregressive model) têm atraído uma maior atenção em anos recentes, por fornecer uma maior flexibilidade na modelagem de séries temporais não lineares10.

Este tipo de especificação foi proposto inicialmente por Tong (1978) e obteve desenvolvimento por Tong e Lim (1980) e Tong (1983, 1990). Sua principal característica consiste em definir diferentes estados do mundo ou regimes e permitir comportamentos dinâmicos distintos para as variáveis dependendo do regime que ocorre em cada ponto do tempo (FRANSES; VAN DIJK, 2000).

A idéia básica de um modelo TAR é descrever um dado processo estocástico a partir de um modelo auto-regressivo formado por um conjunto de equações, onde o que determina se a equação está ativa, ou não, são os valores de uma variável observada, conhecida como variável de limiar. Assim, os parâmetros do modelo dependem do regime no qual está a variável dependente, sendo o regime determinado quando a variável threshold ultrapassa determinado valor, estimado.

De acordo com Yao (2007), o modelo TAR parte inicialmente da hipótese de simplicidade, tanto na construção quanto na interpretação do modelo e, pressupõe estacionariedade11 nas séries utilizadas.

Uma série temporal definida como um processo threshold auto-regressivo em sua forma mais simples consiste em:

( ) ( ) ( )0

1

pi i i

t j t j tj

Y Yφ φ ε−=

= + +∑ (1)

Onde, tε é uma seqüência ruído branco . . .i i d condicional à história passada da

série, que é denotada por 1 1 1, , ,t t t p t pY Y Y− − − − −Ω = K , com média zero e variância 2σ ; os

termos 0,i i

pφ φK , 1,2,i h= K são os coeficientes associados a cada regime.

Para escrever o modelo em uma única equação, pode-se definir a equação (1) de maneira alternativa na qual o modelo segue a forma:

10 Ressalta-se que os modelos paramétricos e não lineares na média apresentam, na maioria das vezes, desempenho superior às abordagens tradicionais de séries temporais lineares [ver, por exemplo, Tião; Tsay (1994)]. 11 Embora haja pouco conhecimento sobre as condições de estacionariedade dos modelos TAR, pode-se

definir uma solução estritamente estacionária se: i) 1 pσ σ= =K e, ii) :1 1 1ip

ijjMax i k b≤ ≤ = <∑ ou

1:1 1 1ip p

ijj jMax i k b

=≤ ≤ = ≤∑ ∑ (YAO, 2007). Se ambos os coeficientes autoregressivos são, em valor

absoluto, menores que 1, ou seja,( )0 1, 1φ φ < . Entretanto, Amaral (2003) enfatiza que pode-se aplicar testes

de estacionariedade na série temporal em estudo para saber se a série é estacionária.

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11

( ) ( ) ( ) ( )0

1 1

phi i i

t j t j t i ti j

Y Y Iφ φ ε τ−= =

= + +

∑ ∑ (2)

Tomando 1i t d iyτ τ− −< ≤ , tem-se no parâmetro d a magnitude da persistência do

processo, sendo, d um número inteiro e positivo. O termo ( ).I representa uma função

indicadora12 dummy que assume valor igual a zero ou um, dependendo do regime ocorrido no tempo t, de modo que:

1

1

1

0t i

tt

s e Y c o mI

s e Y

τ ττ

≥ ∈ ℜ= <

(3)

Onde, τ é o valor do threshold dado por um valor defasado da série de tempo;

]( 1 1, , ,i i i hr r e r r−ℜ = K é um subconjunto de números reais ordenado linearmente, de tal

forma que 1 2 hr r r−∞ < < < < < ∞K . Tal processo parte de um espaço tridimensional

Euclideano em h regimes e segue um modelo linear auto-regressivo de ordem p, AR(p). Considerando um modelo threshold AR(1) de dois regimes e d=1, pode-se escrever

a formulação anterior fazendo com que o threshold esteja correlacionado com a taxa de variação do período anterior:

0 1 1 1

0 1 1 1

t t tt

t t t

Y s e YY

Y s e Y

φ φ ε τθ θ ε τ

− −

− −

+ + ≥= + + <

(4)

Assim como em Tong e Lim (1983), a equação (4) pode alternativamente ser

representado como:

( )0 1 1 0 1 11 1

1p p

t t t t t tj j

Y I Y I Yφ φ θ θ ε− −= =

= + + − + +

∑ ∑ (5)

A natureza do modelo é que existem dois momentos ou regimes13 que dividem o

comportamento da variável no longo prazo, ou seja, no período em que 1tY− excede o valor

do threshold e tem-se que 1tI = e (1 ) 0tI− = . Se o sistema for convergente, 0tY = pode

ser considerado o valor da seqüência de equilíbrio de longo prazo. Como tal tY segue o

processo 0 j t jYφ φ −+∑ . Entretanto, se 1tY− está abaixo do valor de longo prazo de

12 A função indicadora pode ser definida como ( )1,t tI f Y τ−= − . 13 Em muitas circunstâncias o valor que divide a série nos dois regimes é desconhecido, o que faz com que seja necessário estimá-lo juntamente com os demais parâmetros da equação. Enders (2004) considera o valor do threshold sendo zero.

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12

equilíbrio, o ajuste é 1 1tYθ − , ou seja, 1tY− fica aquém do threshold e tem-se que 0tI = e

(1 ) 1tI− = , onde tY segue o processo 0 j t jYθ θ −+∑ , permitindo que o grau de

autocorrelação se comporte de maneiras diferentes do estado da variável no momento 1tY− ,

isto é, tem-se um ajustamento assimétrico. Por outro lado, se 1 1φ θ= tem-se um

ajustamento simétrico nas séries.

4.3 Base de dados e procedimentos empíricos

A base de dados utilizada na pesquisa é composta de observações mensais do mercado Brasileiro (BR) compreendendo o período entre julho de 2001 a fevereiro de 2010. Nas estimações dos modelos serão utilizadas as seguintes variáveis: Preço da gasolina (GAS) expresso em R$ por litros, do gás natural (GNV) R$ por m³ e álcool (ALC) expresso em R$ por litros; tanto a nível preço ao produtor quanto a nível preço ao consumidor, obtidos no website da Agência Nacional do Petróleo (ANP) do governo brasileiro. Acesso em: www.anp.gov.br.

As estimações das séries serão realizadas por meio do Programa Regression Analysis Time Series (RATS), versão 7.2. Ressalta-se que as séries foram suavizadas pelo método X-11 ARIMA. Desta forma, antes da aplicação da metodologia dos modelos TAR e ARFIMA é necessário realizar alguns procedimentos de séries temporais fundamentais para a estimação dos modelos, tais como, a verificação da estacionariedade das séries através do teste de raiz unitária e teste de quebra estrutural.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Análise do comportamento dos preços dos combustíveis no Brasil A partir de 2002 observou-se, no Brasil, uma alteração no mercado do petróleo e

derivados, por meio de uma nova política de preços. O comportamento das séries após a liberalização dos preços revela uma trajetória de crescimento mais acentuada em todos os produtos: gasolina, gás natural e álcool durante todo o período analisado (vide gráficos 1 a 3).

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13

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

2,2

2,4

2,6

2,8

jul/0

1

jan/02

jul/0

2

jan/03

jul/0

3

jan/04

jul/0

4

jan/05

jul/0

5

jan/06

jul/0

6

jan/07

jul/0

7

jan/08

jul/0

8

jan/09

jul/0

9

jan/10

R$/

L

preço ao consumidor preço ao distribuidor

Gráfico 1: Trajetória dos Preços da gasolina no Brasil de jul. de 2001 a fev. de 2010. Fonte: ANP (www.anp.gov.br)

Verifica-se através do Gráfico 1 que os preços da gasolina a nível do produtor

passaram de R$ 1,46/l no mês de julho de 2001 para R$ 1,95/l no mesmo período de 2005 e para cerca de R$ 2,26/l no mês de fevereiro de 2010, representando um crescimento de 33,6% e 54,8% , respectivamente. Em relação aos preços a nível do consumidor constata-se que estes vem seguindo a mesma tendência de alta dos preços do produtor. Assim, no período de julho de 2001 os preços da gasolina alcançaram o patamar de R$ 1,68/l para cerca de R$ 2,00/l em dezembro de 2002 e para cerca de R$ 2,59/l em fevereiro de 2010.

Ressalta-se, observa-se que em alguns períodos a tendência de alta só é verificada para o consumidor e em outros só é verificada a tendência de queda a nível dos produtores, ou seja, há evidências de que o aumento dos preços é repassado, porém, não verifica-se com a mesma intensidade uma redução nos preços. Por outro lado, tanto a nível do consumidor quanto do produtor verifica-se uma tendência crescente desde a liberalização dos preços no inicio de 2002.

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

jul/0

1

jan/02

jul/0

2

jan/03

jul/0

3

jan/04

jul/0

4

jan/05

jul/0

5

jan/06

jul/0

6

jan/07

jul/0

7

jan/08

jul/0

8

jan/09

jul/0

9

jan/10

R$/

m3

preço ao consumidor preço ao distribuidor

Gráfico 2: Trajetória dos Preços da GNV no Brasil de jul. de 2001 a fev. de 2010.

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14

Fonte: ANP (www.anp.gov.br)

Observa-se no Gráfico 2, que os preços do gás natural14 comercializado no Brasil apresentaram crescimento de 116% a nível do consumidor e 145% a nível do produtor, onde passaram de R$ 0,73/m³ no mês de julho de 2001 e R$ 0,48/ m³ (período em que os preços estavam totalmente regulados pelo governo) para R$ 1,58/m³ e R$ 1,18/m³ em fevereiro de 2010. Neste caso, pode-se inferir que os incentivos fiscais direcionados ao produtor foram essenciais para o não repasse de aumento dos preços para o consumidor, bem como, a estratégia de intensificar o GNV como alternativa ao consumo de gasolina ao longo dos últimos anos.

No Gráfico 3 observa-se que a trajetória dos preços do álcool tanto a nível do consumidor quanto a nível do produtor tem apresentando, diferente dos outros combustíveis, uma tendência oscilatória no período analisado.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

jul/0

1

jan/0

2jul

/02

jan/0

3jul

/03

jan/0

4jul

/04

jan/0

5jul

/05

jan/0

6jul

/06

jan/0

7jul

/07

jan/0

8jul

/08

jan/0

9jul

/09

jan/1

0

R$/

L

preço ao consumidor preço ao distribuidor

Gráfico 3: Trajetória dos Preços do Álcool no Brasil de jul. de 2001 a fev. de 2010. Fonte: ANP (www.anp.gov.br).

Os preços do álcool a nível do consumidor passou de um patamar de R$ 1,00/l em

julho de 2001 para R$ 1,58/l em março de 2003 e para cerca de 1,96/l em fevereiro de

14 No cenário doméstico verifica-se que o preço do gás natural é composto, fundamentalmente, por duas parcelas, uma referente à commodity e outra denominada tarifa de transporte. A análise realizada nesta seção é limitada na parcela da commodity e na relação com os preços de outros combustíveis no mercado doméstico e internacional. Entretanto, os impostos não são ignorados como parcela importante na composição dos preços do gás natural no Brasil. Acredita-se, que suas alíquotas permanecem estáveis por períodos de tempo razoavelmente longos (ao menos em comparação com o período de tempo em análise). Portanto, não é de se esperar uma contribuição dos impostos para as relações de assimetria e transferência nos preços do gás natural no mercado brasileiro.

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2010, representando um crescimento de 96% quando analisa-se o período todo. Por sua vez, os preços a nível do produtor apresentaram um crescimento de 107%, passando de R$ 0,81/l em julho de 2001 para valores de R$ 1,31/l e R$ 1,69/l nos períodos de março de 2003 e fevereiro de 2010, respectivamente.

Outro fator importante, que impulsionou o setor de combustíveis foi à consolidação de um grande salto tecnológico: o advento dos veículos bicombustível, também conhecidos como flex-fuel, os quais podem usar indiscriminadamente álcool ou gasolina, sem a necessidade de nenhuma adaptação ou ajuste. Disponíveis no mercado desde 2003, os veículos flex resultaram um sucesso comercial, e já em Agosto de 2008, a frota de automóveis e veículos comercias leves tipo "flex" tinha atingido a marca de 6,2 milhões de veículos, representando algo em torno de 23% da frota de veículos leves do Brasil.

Em 2006, a FIAT introduziu no mercado o modelo Fiat Siena Tetrafuel, um automóvel desenvolvido com tecnologia da Magneti Marelli do Brazil. O Siena Tetrafuel pode operar com 100% de álcool hidratado (E100), com gasolina E25, a mistura oficial do Brasil, gasolina pura (não disponível no Brasil), e gás combustível (GNV). O desenvolvimento destas tecnologias deve-se ao investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) pelos fabricantes de sistemas de injeção direta na produção de sistemas que ajustam automaticamente a combustão em função do tipo de combustível.

5.2 Análise de evidências de assimetrias nos preços dos combustíveis O primeiro procedimento realizado foi testar a estacionaridade das séries, ou seja,

verificar como o processo estocástico gerador das séries se comporta ao longo do tempo. Verifica-se através do teste ADF que os preços da Gasolina e do GNV possuem raiz unitária, havendo a necessidade de diferenciá-las. Isso mostra que, uma vez submetidas a choques não antecipados no cenário internacional, os preços podem apresentar trajetórias de resposta com impactos persistentes e/ou explosivo. Por sua vez, as séries tornam-se estacionárias em primeira diferença ao nível de 5% de significância estatística e, portanto são integradas de ordem I(1). Por outro lado, os preços do álcool são estacionários em nível.

Adicionalmente, devido à possibilidade dos resultados do teste estar enviesados, em razão, sobretudo da ocorrência de possíveis quebras estruturais no período analisado15, foi realizado, o teste de raiz unitária na presença de mudança estrutural retratada em Zivot-Andrews (1992). A hipótese nula do teste (ZA) é a mesma do teste ADF, porém, o teste (ZA) seleciona endogenamente a quebra, exclui qualquer mudança estrutural, evita arbitrariedades e possíveis vieses quando se seleciona visualmente a data da quebra, uma vez em que são os próprios dados que apontam o momento mais provável de quebra na série. Por outro lado, a hipótese alternativa corresponde à existência de um processo 15Ressalta-se que as transformações ocorridas no mercado do petróleo e derivados, incluindo o gás natural a partir de janeiro de 2002, as tensões geopolíticas no cenário internacional em 2003, o crescimento da demanda nos últimos anos, os baixos estoques nos Estados Unidos, as alterações no clima mundial, as instabilidades políticas no Iraque e na Venezuela e as alterações nos acordos com a Bolívia e etc. podem causar quebras estruturais nas séries, o que pode implicar em não confiabilidade dos resultados de testes de raiz unitária.

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estacionário que permite a ocorrência de uma quebra estrutural. Inicialmente, os resultados evidenciam que as séries, aceitam a presença de raiz unitária ao nível de 5%, indicando que as séries utilizadas são não estacionárias em nível. Isto significa que as séries são caracterizadas como “passeios aleatórios”, corroborando os testes de Dickey-Fuller. Logo, torna-se possível afirmar que os choques sofridos pelos preços ao longo do período 2001 a 2010, produzem comportamentos permanentes em nível; para fins de tratamento empírico é necessário estabilizar as séries diferenciando-as.

O nosso papel inicial seria identificar aumentos e reduções de preços ao longo do tempo, entretanto, isolaram-se os regimes de forma a testar a presença de assimetria, considerando a presença de quebra-estrutural. A escolha da série relacionada à 1

ItY −∆

[conforme equação (3) seção 4.2] vai ao encontro da hipótese de dois regimes, sendo um deles associado a um período com maior variabilidade nos preços, e o outro a um período com menor variabilidade. O período de liberalização dos preços dos combustíveis foi considerado o corte do modelo (antes e depois de janeiro de 2002), uma vez que, como não se observa flutuações elevadas num sistema de preços controlado, a estimação do threshold deve separar as observações desse período no regime de baixa volatilidade.

Os resultados do modelo TAR16 para os preços da gasolina, GNV e álcool a nível do consumidor e produtor, respectivamente, evidenciam uma certa não-linearidade no efeito da reação dos preços verificados sob a rejeição da hipótese de que1 2ϕ ϕ= ao nível

de 5% de significância do teste F. A estimação do modelo agrupa a maior parte das observações no período de preços liberalizados (o que já era de se esperar, pois, desde a década de 90 os preços estão liberados no mercado nacional).

Constata-se que no período de grande instabilidade, o repasse estimado para o mês seguinte é maior (0,24%), do que no período de baixa volatilidade. Em relação aos preços da gasolina, verifica-se que há repasse nos preços tanto em períodos de baixa volatilidade quanto em períodos de alta volatilidade, sendo o repasse maior nos períodos de alta volatilidade (0,37%) sujeito a crises no mercado (preços encontram-se acima do threshold).

No caso do gás natural, verifica-se uma não-linearidade dependendo do nível de atividade do mercado: o repasse nos preços é estatisticamente diferente de zero (-0,61%) no regime em que o mercado encontra-se operando muito abaixo da sua capacidade sob regulação (baixa volatilidade), enquanto no período de liberalização é da ordem de 0,86%, fortalecendo a idéia de que em épocas de incertezas há uma maior volatilidade dos preços.

Figura 1: Assimetrias nos preços dos combustíveis

16 O procedimento de estimação utilizado foi o estimador 2SLS, com variáveis instrumentais para o componente de expectativa proposto por Chan (1993) e Enders (2004).

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Residual Sums of Squares

Threshold

-0.015 -0.010 -0.005 0.000 0.005 0.010

0.1320

0.1325

0.1330

0.1335

0.1340

0.1345

0.1350

Residual Sums of Squares

Threshold

-0.0050 -0.0025 0.0000 0.0025 0.0050

0.0516

0.0517

0.0518

0.0519

0.0520

0.0521

0.0522

0.0523

0.0524

0.0525

Residual Sums of Squares

Threshold

0.8 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3

0.420

0.425

0.430

0.435

0.440

0.445

0.450

(a) preços do Gasolina

consumidor (b) preços do GNV

consumidor (c) preços do Álcool

consumidor Residual Sums of Squares

Threshold

-0.015 -0.010 -0.005 0.000 0.005

0.19150

0.19175

0.19200

0.19225

0.19250

0.19275

0.19300

0.19325

0.19350

Residual Sums of Squares

Threshold

-0.010 -0.005 0.000 0.005 0.010

0.02695

0.02700

0.02705

0.02710

0.02715

0.02720

0.02725

Residual Sums of Squares

Threshold

1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5

0.425

0.430

0.435

0.440

0.445

0.450

0.455

0.460

0.465

0.470

(d) preços do Gasolina produtor

(e) preços do GNV produtor (f) preços do Álcool produtor

Fonte: Elaboração própria. Resultados obtidos a partir do software RATS 7.2. Pela análise da Figura 1 constata-se que a estimação do modelo agrupa uma grande

parcela das observações no período de “calma”, um pouco diferente dos preços a nível do consumidor. Neste caso, verifica-se que em épocas de baixa volatilidade, o repasse estimado é inferior do período de alta. Neste caso, nos períodos de alta, os valores são estatisticamente diferentes de zero. No caso da gasolina, observa-se um ajuste simétrico. Ressalta-se, que estes resultados corroboram com os resultados encontrados por Uchôa (2006) no período de julho de 2001 a maio de 2006 e por Silva (2008).

Em relação ao álcool, verifica-se que a tendência é que quedas nos preços tendem a persistir por mais tempo, enquanto que os aumentos não são repassados rapidamente para os preços de equilíbrio.

Em síntese, verifica-se que os preços dos preços dos combustíveis apresentam um ajustamento assimétrico com persistência maior no período de grandes instabilidades. Assim, pode-se inferir que a presença da assimetria na transmissão de preços pode ser explicada, por diferenças no acesso às informações de mercado ou por diferenças de poder de mercado entre os agentes de comercialização.

Neste contexto, inferi-se que o papel da concorrência potencial na determinação dos preços, ainda sob regulação no monitoramento dos repasses, abre espaço para informações imperfeitas na determinação dos preços da indústria de gás natural, e que estas a partir dos cálculos de possíveis ações e reações dos agentes presentes passam a alinhar os preços domésticos ao mercado internacional, mesmo quando há liberalização. Assim, dependendo da variação nos preços e das possíveis reações, têm-se trajetórias diferentes determinando soluções finais de equilíbrio diferentes.

5.3 Análise da evidência de Hysteresis nos preços dos combustíveis

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Posteriormente, analisou-se o processo gerador de persistência nas séries selecionadas. Na Tabela 1 são apresentadas as estimativas do parâmetro d considerando um modelo ARFIMA(0.5; d; 0.5). Os resultados obtidos mostram uma tendência do estimador dGPH a super-estimar o parâmetro d para valores de Á próximos de 1. Isto pode ser explicado, segundo Molinares; Reisen (2006), pelo parâmetro auto-regressivo positivo contribuir no aumento de memória do processo, isto é, as correlações tornam-se mais significativas do que as do processo ARFIMA(0; d; 0).

TABELA 2 Teste da Regressão Espectral para os preços dos combustíveis Gasolina, GNV e

Álcool

d GASOLINA GNV ALCOOL

CONS PROD CONS PROD CONS PROD H = 0.5 0.80 0.59 0.64 0.50 0.46 0.29

Fonte: Dados da pesquisa. Estimação realizada no Win Rats 7.2 Nota:* estatísticamente significativo a 10%.

Os resultados mostram que os preços dos combustíveis apresentam um padrão de memória longa. Indicando uma trajetória de longa dependência. Verifica-se que a série é não estacionária, isto é, apresenta um padrão de choque persistente, com exceção dos preços do álcool. Desta forma, pode-se inferir que se os preços saírem do equilíbrio não retornará ao nível inicial, sobretudo, para o da gasolina e GNV.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse estudo, pretendeu-se levantar uma série de evidências empíricas que

descrevessem o comportamento dos preços dos combustíveis nos últimos anos, com o intuito de investigar relações de persistência e assimetria. Os resultados obtidos fornecem algumas informações importantes sobre os preços nos mercados, principalmente por que representam as particularidades de dois momentos distintos do modelo de desenvolvimento (antes e pós-regulação).

A análise do comportamento dos preços tanto a nível do consumidor quanto anível do produtor vem apresentando no período de 2001 a 2010 uma trajetória crescente. As fases de expansão dos preços do Brasil foram maiores no período posterior a 2003 (acompanhando o cenário internacional), do que no período em que os preços estavam regulados.

Através dos resultados do modelo ARFIMA, pode-se constatar que choques temporários podem produzir efeitos permanentes nos preços dos combustíveis, pois, após um choque exógeno os preços não retornam ao seu patamar inicial no longo prazo, com

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exceção do álcool, que apresentou uma certas oscilações e comportamento estacionário em nível.

Na análise do modelo threshold verifica-se que os preços dos combustíveis apresentam-se assimétrico. Corroborando com a idéia que uma baixa nos preços não ajusta-se na mesma potência que uma alta nos preços.

Desta forma, de acordo com o modelo, em épocas de certezas (quando a 1I

tY τ−∆ <

encontra-se abaixo do valor de limiar) os preços dos combustíveis são guiados por valores defasados da própria série, indicando alto grau de inércia. Quanto à interpretação econômica, o modelo threshold , parece suficiente tanto para a análise a nível dos consumidores quanto a produtores, uma vez que permite mostrar para o mercado brasileiro um comportamento associado com grandes oscilações em épocas de regulação (níveis

1I

tY τ−∆ ≥ ), indicando maior risco no cenário econômico. Já nos preços no cenário

internacional a preocupação reside nos períodos associados às incertezas, isto é, alta volatilidade.

Entretanto, reconhece-se que muitos outros fatores relacionados ao comportamento dos preços, nos seus diversos segmentos da indústria do GN, não foram considerados na análise empírica. Recomenda-se que este estudo seja ampliado para um número maior de períodos e que sejam testadas outras possíveis candidatas a limiar.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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