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CONCEITOS E DEFINIÇÕES ACERCA DA LEI DE INFORMÁTICA: SUA APLICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE INCENTIVO A PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DO SETOR DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL Área temática: Inovação e Propriedade Intelectual Carlos Geraldo de Britto Feitoza [email protected] Wanessa da Costa Nascimento [email protected] Alon Hans Alves da Silva [email protected] Flávio Lauria Ferreira l[email protected] Manuel Augusto Pinto Cardoso Resumo: Este trabalho tem por objetivo avaliar a importância da Lei de Informática para a criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento privado no Polo Industrial de Manaus (PIM), que tem como principal atividade o desenvolvimento tecnológico e a inovação.Iremos tecer considerações sobre a Lei de Informática, sobre Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação e a Competitividade, e fazer uma análise crítica do ambiente e do contexto das empresas de bens de informática no país, em relação ao P&D, referenciando o estudo de caso de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento privado no Pólo Industrial de Manaus, onde apresentamos uma avaliação de suas realizações, dificuldades e aprendizados, que nos permite estabelecer uma estratégia de estruturação para aumentar a eficácia e efetividade dos objetivos estabelecidos pela legislação em vigor.A aplicação de recursos em pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica representa um importante diferencial competitivo pois promove a geração de competências especializadas, melhoria de processos, criação de novos produtos e assegura a sustentabilidade das empresas a partir do maior retorno dos seus investimentos. Palavras-chaves: Lei de Informática, Competitividade, Globalização, Centro de Pesquisa; Polo Industrial de Manaus; Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. ISSN 1984-9354

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CONCEITOS E DEFINIÇÕES ACERCA DA LEI DE

INFORMÁTICA: SUA APLICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE INCENTIVO A PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DO SETOR DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL

Área temática: Inovação e Propriedade Intelectual

Carlos Geraldo de Britto Feitoza

[email protected]

Wanessa da Costa Nascimento

[email protected]

Alon Hans Alves da Silva

[email protected]

Flávio Lauria Ferreira

[email protected]

Manuel Augusto Pinto Cardoso

Resumo: Este trabalho tem por objetivo avaliar a importância da Lei de Informática para a criação de um Centro de

Pesquisa e Desenvolvimento privado no Polo Industrial de Manaus (PIM), que tem como principal atividade o

desenvolvimento tecnológico e a inovação.Iremos tecer considerações sobre a Lei de Informática, sobre Pesquisa,

Desenvolvimento, Inovação e a Competitividade, e fazer uma análise crítica do ambiente e do contexto das empresas de

bens de informática no país, em relação ao P&D, referenciando o estudo de caso de um Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento privado no Pólo Industrial de Manaus, onde apresentamos uma avaliação de suas realizações,

dificuldades e aprendizados, que nos permite estabelecer uma estratégia de estruturação para aumentar a eficácia e

efetividade dos objetivos estabelecidos pela legislação em vigor.A aplicação de recursos em pesquisa, desenvolvimento e

inovação tecnológica representa um importante diferencial competitivo pois promove a geração de competências

especializadas, melhoria de processos, criação de novos produtos e assegura a sustentabilidade das empresas a partir do

maior retorno dos seus investimentos.

Palavras-chaves: Lei de Informática, Competitividade, Globalização, Centro de Pesquisa; Polo

Industrial de Manaus; Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.

ISSN 1984-9354

XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015

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1. INTRODUÇÃO

Ciência, Tecnologia, Inovação e Globalização têm sido os temas mais discutidos nos

fóruns nacionais e internacionais sobre competitividade industrial de acordo com a Forbes Magazine

em 2012.

Para Hincks e Pavlova (2012), a competitividade imposta pelo mercado globalizado faz

com que se torne indispensável à definição de estratégias de inovações tecnológicas para garantir o

crescimento e o incremento das margens de lucro das empresas. No Brasil se faz necessário buscar

mecanismos para ampliar o valor agregado dos produtos industrializados, estabelecendo o alinhamento

das estratégias de custo e inovação e aproveitar as competências existentes.

Shaoo (2014) afirma que a aplicação de recursos em pesquisa, desenvolvimento e inovação

tecnológica representa um importante diferencial competitivo, pois promove a geração de

competências especializadas, melhoria de processos, criação de novos produtos e assegura a

sustentabilidade das empresas a partir do maior retorno dos seus investimentos.

Com a globalização da economia brasileira a partir de 1990, passou a vigorar uma nova

ordem para a indústria nacional, abrindo oportunidades e desafios para o mercado interno se atualizar

tecnologicamente e buscar maior competitividade dos produtos nacionais. Nesse contexto, houve as

incorporações de novas tecnologias, com o aumento da produtividade e o acesso aos insumos e bens de

capital adquiridos no exterior sem as barreiras alfandegárias anteriores (TERRA, 1999).

Para Jensen et al (2001) essa nova ordem também demonstrou a urgência de se criar

mecanismos para impulsionar a inovação tecnológica exigida pelo mercado interno, pois ficou

evidente a defasagem tecnológica entre os produtos fabricados no Brasil e os similares importados,

assim como a diferença comparativa desfavorável em relação à qualidade, custo e diversidade dos

produtos nacionais. Particularmente, podem-se citar os produtos do setor de Tecnologia da Informação

e Telecomunicação.

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1. CONTEXTO

De acordo com dados da Suframa (2014), o projeto Zona Franca de Manaus foi idealizado

pelo Deputado Federal Francisco Pereira da Silva e criada pela Lei n. 3.173 de 06 de junho de 1957,

como Porto livre. Somente em 1967, visando impulsionar o desenvolvimento econômico na Amazônia

Ocidental e maior integração com o Brasil, Governo Federal, por meio do Decreto-Lei n. 288, de 28 de

fevereiro de 1967, alterou as disposições da Lei n. 3.173 e regulamentou a Zona Franca de Manaus,

definindo incentivos fiscais por 30 anos para implantação de um polo industrial, comercial e

agropecuário na Amazônia.

O Governo Militar iniciado em Março de 1964, preocupado com a segurança Nacional e de

que maneira a Informática poderia alterar as relações de poder, realizou significativas mudanças na

política industrial brasileira, onde se pode destacar de acordo com a Figura 01:

Figura 01. Fatos mais importantes da política industrial brasileira

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Fonte: Adaptação. Lyra (1996)

1.1. AS LEIS DE INFORMÁTICA

A Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991, denominada de ‘’ A Lei de Informática’’, foi

promulgada para atender as expectativas de tornar competitiva a indústria nacional do setor em relação

aos produtos importados. Essa Lei propicia a redução de tributos sobre a manufatura dos produtos

nacionais, em contrapartida de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação realizados

pelo setor industrial no país.

No caso específico da Zona Franca de Manaus, a Lei n° 8.387, de 30 de dezembro de

1991 estabeleceu regras para tornar as empresas do pólo industrial de Manaus mais competitivas, com

preços e qualidades melhores em relação aos produtos importados.

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Tendo como contrapartida aos incentivos estabelecidos, atender a critérios de processos

produtivos básico, que por definição, é o conjunto mínimo de operações que caracterizam a

industrialização de um produto. (Decreto n° 783, de 25 de março de 1993).

Para os produtos considerados como “bens de informática” além da exigência mencionada

anteriormente, havia a obrigatoriedade em investir 5% do seu faturamento bruto em atividades de

pesquisa e desenvolvimento a serem realizadas na Amazônia (SUFRAMA, 2014).

Esse mesmo percentual de investimento em pesquisa e desenvolvimento, também foi

definido para empresas desse setor nas demais regiões do país, pela Lei 8248. Em função dessa

exigência legal, as empresas tiveram que optar por investir em instituição de pesquisa já existentes no

país, ou criar seus próprios centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

1.2. PESQUISA, DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E A

COMPETITIVIDADE

Conforme divulgado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(2012) há inúmeras opções para investimentos em inovação. P&D é apenas uma dessas alternativas e

pode ser realizada em diferentes estágios do processo de inovação, sendo usada não apenas como uma

fonte de ideias inventivas, mas também para resolver os problemas que possam surgir em qualquer

etapa do processo, até a sua conclusão.

Segundo Shumpeter (1985) produzir é combinar materiais e forças, e inovar é produzir

outras coisas ou as mesmas coisas de outra maneira, combinando diferentes materiais e forças, enfim,

realizar novas combinações, produzindo uma contínua mutação industrial.

Para Sagasti (1986) uma politica de governo claramente definida com métricas a serem

analisadas e revisadas anualmente, ajudará a atingir as metas propostas quando da aprovação da Lei.

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É nesse contexto que Adam e Stoffaës (1986) os governos precisam entender a dinâmica

dos mercados, caso, seja de interesse influenciar o desenvolvimento das indústrias. Segundo Porter

(1998), toda empresa é a somatória das atividades realizadas para projetar, produzir, comercializar,

entregar e sustentar seus produtos a fim de satisfazer as necessidades dos seus clientes. Estas

atividades são denominadas de cadeia de valores cuja análise é fundamental para o gerenciamento

estratégico e busca frequente de vantagem competitiva.

A vantagem competitiva acontece quando estas atividades estrategicamente importantes

são executadas de forma mais eficaz. Importante destacar que a cadeia de valor de um produto, pode

abranger diversos locais e empresas, e não necessariamente um único local ou empresa. Nos países

industrializados e em desenvolvimento, as empresas estão cada vez mais interligadas através de redes

de negócios e orientadas pelas cadeias de valores globais (PRAHALAD E RAMASWAMYV, 2004).

2. ANÁLISE CRÍTICA

2.1. AMBIENTE DE P&D NO BRASIL

No cenário atual e considerando a importância das cadeias de valor, há unanimidade entre

governo e empresas de que não existe mais espaço para uma economia fechada e com indústrias

verticalizadas. Para Prahalad e Hamel (1990) os desafios da competitividade exigem a conquista de

mercados globais, onde as demandas estabelecidas pelo consumidor capacitam a empresa a sobreviver

em qualquer situação de adversidade, onde a busca pela eficiência operacional se torna uma meta

diária.

Para Kaldor e Mirrlees (1962), atualmente, a maior agregação de valor competitivo

industrial no mercado globalizado se encontra na diferenciação da inovação de produtos e serviços.

Vale ressaltar, que em vários países desenvolvidos e em desenvolvimento têm sido aplicadas políticas

industriais que oferecem incentivos fiscais com o objetivo de estimular as empresas a investir em

pesquisa, desenvolvimento e inovação, reduzindo o custo e o risco dos investimentos.

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A busca por aumento de produtividade está em discussão desde a metade do século

passado motivada pela necessidade, cada vez maior, de controles de processo, gestão e planejamento.

O desafio da indústria manufatureira nas décadas de 60 e 70 estava ligado à construção de ambientes

que integrassem qualidade, disciplina e criatividade. Portanto já era percebido que Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação eram fundamentais para a concepção de produto, elaboração de novos

processos e a melhoria da produtividade (PHELPS, 1963).

É nesse contexto que o estabelecimento de políticas públicas para alavancar melhorias

nas atividades de inovação, passa obrigatoriamente pelo entendimento de vários aspectos críticos do

processo, principalmente aqueles que não estão incluídos nas atividades de P&D, como a competição

internacional, a necessidade de novas competências e o gerenciamento de conhecimentos (COPE E

WATTS, 2000).

Assim Carter et al (2010) afirma que os recursos financeiros canalizados pela Lei de

Informática, e que propiciaram a criação e fortalecimentos de instituições de P&D, não garantiram o

acesso às tecnologias de ponta e tampouco atraíram parceiros internacionais interessados em

desenvolver tecnologias na região.

O cenário existente nos anos 90 e inicio do século XXI, não se mostrava favorável para

investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e, nesta área, o Brasil não era um país reconhecido no

cenário internacional (GUEDES, 2010).

Os números de publicações e patentes eram inferiores aos gerados pelos países emergentes.

Em 1991, o percentual de artigos brasileiros publicados em periódicos científicos internacionais em

relação ao mundo era de 0,64% . Outro importante ponto a ser considerado e que persiste até os dias de

hoje, é a dificuldade em transformar as produções científicas em inovações que gerem receitas

(INSTITUTE FOR SCIENTIFIC INFORMATION, 2015).

Dados do Ministério da Ciência e Tecnologia apontam em 2000, o Brasil registrou nos

Estados Unidos menos de 200 patentes enquanto a Coreia do Sul, quase 6000. Os Programas de Apoio

ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT I e II), elaborados entre 1986 e 1996, cujo

objetivo era fortalecer o desenvolvimento de recursos humanos em áreas consideradas prioritárias, não

trouxeram os resultados esperados. Do total de projetos realizados apenas 18% solicitaram patentes e

menos de 5% desenvolveram produtos comercializáveis.

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Havia escassez de mão de obra e pouca interação entre empresas e academia. Cursos de

graduação não focavam ou sequer abordavam as novas tecnologias que chegavam ao mercado e os

Programas de Mestrado e Doutorado nas principais Universidades do Brasil não preparavam

profissionais para as necessidades das empresas e para os desafios do mercado (FLEURY E

OLIVEIRA, 2008).

Para Alabuquerque (2000) havia um distanciamento entre a academia e a iniciativa privada

e o foco na pesquisa acadêmica distanciou o Brasil da competitividade sistêmica cujos resultados

produzem efeitos no dia-a-dia das organizações e dos consumidores.

Ainda para Alabuquerque (2000) do ponto de vista científico, o país apresentava resultados

pequenos e com pouca expressão junto a comunidade internacional. Faltava direcionamento para a

elaboração de pesquisa básica nas universidades, pesquisa aplicada nos institutos e centros de pesquisa

e atividades de inovação nas empresas.

Manaus é reconhecida internacionalmente como um importante pólo de manufatura com

empresas de diversas nacionalidades, que geram produtos de qualidade e competitivos no mercado

mundial, todavia, ainda há muita dificuldade em atrair investimentos em P&D&I, devido à escassez de

mão de obra qualificada e a falta de autonomia das empresas locais para elaborar e aprovar projetos de

produtos inovadores para fabricação no Polo Industrial de Manaus (SERÁFICO E SERÁFICO, 2005).

Para o Garcia (2004) outro aspecto a ser considerado é que as empresas multinacionais já

possuem suas áreas de P&D&I localizadas fora do Brasil, onde os principais projetos são elaborados e

industrializados por diversas fábricas espalhadas mundialmente. As empresas do PIM recebem os

produtos já desenvolvidos para serem manufaturados, cumprindo muitas vezes, etapas mínimas de

processo produtivo.

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2.2. ANÁLISE DO CONTEXTO DAS EMPRESAS DE

INFORMÁTICA NO BRASIL, EM RELAÇÃO AO P&D, REFERENCIANDO

UM ESTUDO DE CASO DE UM CENTRO DE PESQUISA NO PIM.

No caso da indústria de informática no Brasil, ressaltando o fato de que historicamente a

indústria nacional, em geral, não possui estratégia de P&D para definição de sua competitividade e

crescimento, mesmo que consciente que a sustentação da competitividade do setor está

fundamentalmente na inovação (GOMES, 2003).

Para Lacerda (2004), em função das exigências estabelecidas na Lei de Informática, o

investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação passou a ser obrigatório, mas, as empresas

multinacionais não estavam preparadas para direcionar ou iniciar no Brasil, as atividades de Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação. Por outro lado, as empresas nacionais dependiam fortemente da

tecnologia desenvolvida no exterior e encontravam dificuldades para criar as condições necessárias

para iniciar essa atividade no país. Não havia também interesse das empresas em criar processos,

desenvolver produtos e compartilhar projetos em elaboração para o mercado mundial. O retorno dos

investimentos é de difícil mensuração e com frequência são questionados pelas empresas. Prevalecia

no Brasil, o modelo original, do inglês, original design manufacturer (ODM), ou, fabricante de projeto

original (PAVITT, 1988).

Para Pereira (2004) não estava clara a percepção por parte das empresas da oportunidade

de ganho de competitividade que poderiam ter com a estratégia de inovação a partir de P&D. No final

dos anos 90, o mercado brasileiro para bens produtos de informática e telecomunicação estava em

pleno crescimento e demandante de produtos tecnicamente atualizados, se contrapondo aos similares

nacionais totalmente defasados.

As demandas por esses produtos superavam as previsões mais otimistas. O mercado

consumidor brasileiro era atraente, mas, o investimento no país em Pesquisa, Desenvolvimento e

Inovação não apresentava nenhuma atratividade. Além disso, a demanda de mercado identificada para

o Brasil poderia ser facilmente atendida com os produtos já desenvolvidos e comercializados no

mercado internacional (QUEIROZ, 2005). Para Testa (1998) no caso específico da região norte do

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Brasil, a escassez de mão de obra qualificada e a inexistência de Universidades e Centros de Pesquisa

de ponta em Tecnologias Móveis tornava mais difícil a implantação de uma cultura de P&D. Podemos

destacar aqui, alguns dos principais fatores que norteiam um ambiente propício para a decisão da

empresa de criar um centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação, conforme figura 02.

Figura 02. Principais fatores que norteiam a criação de um centro de pesquisa

Fonte: Adaptação. Viotti e Macedo (2003)

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É nesse contexto que a criação de um instituto nessa região a partir da geração de recursos

financeiros significativos oriundos da Lei de Informática exigiu a formulação de uma estratégia inicial

com o qual se definiria diretrizes e metas a serem alcançadas para agregação de valor na

competitividade do setor na região (REIS, 1967).

A busca pelo alinhamento estratégico entre os principais parceiros e mantenedores é

fundamental, mas está longe de ser o caminho para a continuidade e sustentabilidade da Instituição

(SALAZAR, 2004).

O mais importante na fase inicial, seria a elaboração de prospecção tecnológica para a

tomada de decisões relacionadas à escolha de tecnologias, oportunidades de P&D, competências ,

tendências internacionais, entre outros. Com estas informações definidas, seria viável criar a estratégia

tecnológica da instituição e definir com clareza as metas a serem alcançadas num médio e longo prazo

(GREGORY E OLIVEIRA, 2005).

Num segundo momento seria apresentada aos parceiros a estratégia institucional que seria

então ajustada para atender as expectativas e necessidades do mantenedor. Era imprescindível que os

primeiros resultados fosse alcançados num horizonte de 3 anos, pois a instituição precisava estabelecer

uma relação de parceria e confiança com os seus mantenedores e clientes. Gestão do conhecimento e

parcerias estratégicas deve constar sempre dos objetivos de qualquer negócio, pois constituem uma

arma poderosa contra a competitividade.

Para melhor compreensão do cenário Brasil no início dos anos 2000, algumas informações

importantes foram destaque em todas as reuniões, tais como:

1 – O mercado brasileiro, características e oportunidades:

Fundamentalmente, para Vasconcellos e Vasconcellos (1995), a aplicação de P&D no

Brasil apresentava mais oportunidade no desenvolvimento de programas de computadores, software,

do que no desenvolvimento de circuitos eletrônicos ou dispositivos físicos, denominados de hardware.

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Ressaltando, que a indústria de manufatura de hardware era a principal demandante de criação de

aplicativos de software para aumentar o valor agregado de seus produtos.

Um dos cenários de oportunidade para P&D foi definido a partir de um estudo elaborado

pelo MIT/SOFTEX 2003. A Indústria de Software no Brasil, que mostrava o Brasil como o sétimo

país para desenvolvimento de aplicativos para o mercado mundial, mas o trigésimo em aplicativos

voltados para dispositivos móveis.

O estudo pelo MIT/SOFTEX 2003 ainda afirmava que a comunidade de desenvolvedores

em JAVA era uma das maiores do mundo, com mais de 11mil desenvolvedores com idade entre 15 e

25 anos e média salarial em torno de 700 dólares.

Outra oportunidade de aplicação de P&D em desenvolvimento de software, era em

plataformas de Software Livre, onde 41% das empresas brasileiras já usavam Linux como o seu

principal sistema operacional de seus computadores. Neste caso, o governo e as principais

universidades brasileiras apoiavam os movimentos de desenvolvimento de Software Livres.

2 – As demandas dos polos de tecnologia em crescimento na indústria brasileira.

A indústria Automobilística, Aeronáutica, Petrolífera, Mineração e Telecomunicações,

estavam em pleno crescimento e havia uma demanda por tecnologia em todas as áreas onde Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação estavam sendo disseminada com sucesso, além da busca por

profissionais qualificados no mercado nacional e internacional (NASCIMENTO, 2009).

Particularmente a indústria de telecomunicação se mostrava com um crescimento de médio

e longo prazo muito significativo, principalmente na telefonia móvel (MARITTI, 2002).

3 – Ações governamentais

A partir de 1999, um dos principais instrumentos de financiamento da pesquisa brasileira

passam a serem os Fundos Setoriais – vinculados a áreas específicas de atividade econômica como

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petróleo, energia, tecnologia da informação e outras –, que deveriam favorecer o direcionamento da

pesquisa para resultados práticos nos diferentes setores acima citados, além do apoio geral à

infraestrutura dos centros de pesquisa do país.

Em 2004 é aprovada, pelo Congresso, da Lei de Inovação, que deveria facilitar o

envolvimento de pesquisadores em instituições acadêmicas com atividades de pesquisa empresariais

(Lei nº 10.973, de 20 de dezembro de 2004), e, no ano seguinte, a chamada Lei do Bem (Lei n.º

11.196, de 21 de novembro de 2005), que dá incentivos fiscais para empresas que investirem em

inovação.

Naturalmente que os números não eram excepcionais, principalmente se comparados aos

países em desenvolvimento, mas mostravam uma tendência de crescimento que mudaria o cenário do

Brasil em todas as áreas.

Os recursos financeiros direcionados para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que

possibilitariam investimentos em infraestrutura, atração e qualificação de mão de obra especializada de

qualquer lugar do país ou do mundo aliadas as tendências promissoras de futuro para o Brasil, não

foram suficientes para obter novos parceiros tecnológicos e motivar o interesse dos clientes para

orientar a Instituição sobre quais áreas de competências poderiam ser estrategicamente desenvolvidas

com o objetivo transformar a região em um Polo de Tecnologia reconhecido internacionalmente.

No caso específico deste Centro de Pesquisa e Desenvolvimento criado em 2002, a

definição do roadmap tecnológico ocorreu depois de 5 anos quando finalmente foi elaborada a

estratégia tecnológica e estabelecidos a missão, a visão, os valores e os objetivos estratégicos.

3. CONCLUSÃO

Através desta analise critica, concluímos que a viabilidade de recursos financeiros para

investimentos em Pesquisa, desenvolvimento e inovação são necessários, mas não são suficientes,

como se pode comprovar com os resultados obtidos nesses anos de vigência da política de

desenvolvimento em P&D. Faltou uma definição mais clara e objetiva de metas e diretrizes a serem

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alcançadas com indicadores de desempenho mais eficazes para poder se medir e controlar os avanços e

as adaptações que se faziam necessários para o aprimoramento dessa política governamental.

É importante considerar que a Lei de Informática alavancou o crescimento da produção nas

áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação, todavia este aumento foi direcionado para atender

a demanda interna e não priorizou as exportações.

A burocracia estatal, a falta de entendimento claro sobre Legislação aplicável a Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação, são barreiras que afastam as empresas de Tecnologia a ampliarem seus

investimentos em P&D&I no país. As maiores empresas de Manaus e do Brasil têm sido penalizadas

anualmente com pesadas multas por interpretação divergente das Leis de Informática.

Em função dessas divergências, várias empresas já estão aplicando as obrigações de P&D

no Fundo de Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que financia projetos

de pesquisa e inovação desenvolvidos por universidades e instituições de ciência e tecnologia, com ou

sem a parceria de empresas privadas. Esta decisão evita o risco de penalidades e de apresentação anual

de relatórios das atividades desenvolvidas, mas retarda a criação em Manaus e no Brasil de Centros de

Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com os objetivos estabelecidos pela Legislação. Vale destacar

também o prejuízo no desenvolvimento de competências locais.

Para agravar a situação atual, o Governo Federal estabeleceu nos últimos anos, o

contingenciamento dos valores aplicados no FNDCT, reduzindo o financiamento a inovação e

desenvolvimento científico e tecnológico do país, principalmente para projetos propostos para a

Região Norte do Brasil.

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5. REFERÊNCIAS

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