investigaciÓn-sistematizaciÓn osala · amarelo, paineira com espinho e sem espinho, fumo bravo,...
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Sistematización de experiencias en Soberanía alimentaria y Agroecología 1
INVESTIGACIÓN-SISTEMATIZACIÓN OSALA
Nombre de la Experiencia
Morada do Curupira: experiência agroecológica de camponês a camponês no assentamento
Pirituba em Itapeva – São Paulo – Brasil.
Lugar
País Brasil, Estado de São Paulo, Município de Itapeva
Assentamento Pirituba, Unidade Produtiva “Morada do Curupira”
Resumen
O município de Itapeva está localizado no sudoeste do estado de São Paulo, uma região que tem
como atividades econômicas predominantes a mineração, o reflorestamento (floresta), culturas
perenes e gramíneas, práticas que acarretam problemas já conhecidos como derivado da prática da
monocultura, como a degradação ambiental, a concentração de renda e o êxodo rural.
Agricultura familiar representa mais de metade do número total de propriedades rurais nessa
região, sendo uma parte significativa assentados da reforma agrária. Dentro do assentamento
Pirituba, a propriedade "Morada do Curupira" foi selecionada para a sistematização, pois ele está
em processo de transição agroecológica avançado e possui três áreas de SAF (sistema
agroflorestal), em diferentes estágios de formação.
O SAF tem uma relação mais harmoniosa com a natureza, suas práticas são mais consistentes com
a realidade local, o trabalho é da responsabilidade de todos da família, mulheres e jovens participar
de todo o processo de planejamento e produção, sendo divididos benefícios e responsabilidades.
As conquistas desta fazenda são a valorização da recuperação do trabalho camponês e a conquista
gradual da autonomia, que permite ao produtor definir suas práticas de produção de alimentos,
fatores importantes na busca da soberania alimentar.
Esta família com sua forma de produzir vem contribuindo para a promoção da autonomia de
produção, melhoria das condições ambientais, melhorias nas condições de trabalho e aumento da
renda das populações rurais e contribuições para superar as deficiências de um passado recente,
marcado por intensos conflitos agrários, problemas ambientais e sociais.
Assim ela se apresenta como um modo alternativo de produção para as propriedades familiares
nessa região, pode ser o guia de outras propriedades no cultivo agroecologico e no fortalecimento
do processo transição agroecológica.
Palabras clave
Produção; Autonomia; Sistemas agroflorestais; Pequenos agricultores; Realidade local
Sistematización de experiencias en Soberanía alimentaria y Agroecología 2
Persona(s) sistematizadora(s)
Sofia Alfredo de Campos
Fecha de fin de la Sistematización
02.12.2013
Descripción de la Experiencia
País Brasil, estado de São Paulo, Município de Itapeva.
Asentamiento Pirituba, unidad productiva “Morada do Curupira”.
Solo:argiloso Clima: tropical umido, vegetação: cerrado e mata atlantica
Coordenadas geográficas do SAF: UTM 22J 694827 / 7331583; altitude média de 870 m
Objetivo: Analisar a relação da família em relação à proposta de manejo segundo os princípios da
agroecologia
Objetivos específicos: Verificar a forma de manejo da propriedade “morada do Curupira”; analisar
a relação existente entre a propriedade e a comunidade vizinha; verificar aprendizagens e
oportunidades da propriedade.
Actores: Assentamento Rural Pirituba, propriedade “Morada do Curupira”
A forma de organização é o trabalho familiar e comunitário, a propriedade se relaciona com outros
assentados de forma cooperativa.
A propriedade do Sr. João Boieiro e Dona Eva localiza-se na Área I do assentamento
Pirituba, próximo à cidade de Itapeva.
É de mão de obra familiar (casal entre 40-50 anos, um filho adolescente sendo formado na
escola de agroecologia mantida pelo MST, outros dois filhos mais velhos formados em direito e
agronomia que não moram na propriedade) e tem como base produtiva o Sistema Agroflorestal.
A propriedade estudada iniciou suas atividades de acordo com o modo de produzir
convencional que era incentivado na região. No entanto a família não se sentia confortável em
trabalhar dessa forma e decidiu buscar uma forma alternativa de trabalhar. No ano de 2006 decide
implementar seu primeiro SAF, numa área escolhida em parceira com técnicos do INCRA e por
pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, para se tornar uma unidade experimental para
capacitação e formação de agricultores agroecológicos.
Essa primeira área foi de 0,6 ha, onde foram plantadas mudas de adubação verde, frutas,
grãos, madeira e árvores nativas. Já em 2007 a família conseguiu comercializar abacaxi e banana o
que incentivou a aumentar a área destinada a SAF. Possui certificação orgânica desde 2009 e
trabalha com os princípios da agroecologia. Hoje conta com uma área de SAF de
aproximadamente 1,3ha, os principais produtos comercializados são: frutas de época, banana,
abacaxi, mandioca, batata doce, pitaia.
Possui uma boa relação com os vizinho e se apresenta como uma propriedade modelo no
modo de produzir pautado nos princípios da agroecologia, disseminando essa proposta na região.
Sistematización de experiencias en Soberanía alimentaria y Agroecología 3
Metodología
A propriedade “Morada do Curupira” foi analisada através do uso de metodologias investi-
gativas participativas. Todo o trabalho de levantamento de dados ocorreu em processo de trabalho
contínuo de acompanhamento das atividades desenvolvidas na propriedade. O desenvolvimento de
um projeto de extensão rural agroecológica “Projeto Extensão Rural Agroecológica no âmbito da
Articulação Paulista de Agroecologia: unidades de referência, formação de formador, redes de
apoio técnico e de consumo e mecanismos participativos de garantia da qualidade orgânica”, inici-
ado em 2010 e terminado em 2012, através de uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista
– UNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu e Instituto Giramundo Mutuando, do
qual foi bolsista durante o ano de 2012, foi o principal meio de acesso a formação. Periódicas visi-
tas foram realizadas pela equipe do projeto, dessas visitas foi sendo formado um banco de dados e
uma sequencia avaliativa que serviu de subsídio para a construção desta ficha.
A as metodologia contou com o processo de O DRP é realizado através do levantamento de
informações por parte do agricultor, o que permite aos proprietários rurais envolvidos, refletir a
situação econômica e socioambiental de sua propriedade. As reuniões têm como objetivo permitir
que os agricultores possam discutir livremente suas questões e amadurecer suas ideias, objetivando
ouvir seus problemas e, de forma democrática, buscar as soluções. Primeiramente deve ser
realizada a caracterização do perfil socioambiental dos moradores rurais das propriedades
selecionadas. A metodologia integra a análise quantitativa e qualitativa; assim, aspectos naturais e
atividades humanas fornecem informações utilizadas na análise das percepções ambientais dos
sujeitos. A análise qualitativa tem um destaque especial, considerando a inquestionável
participação humana no processo de caracterização, decorrente das percepções socioambientais.
Os aspectos naturais são elementos essenciais para uma abordagem quantitativa e integrados à
ação humana complementam o diagnóstico.
DRP intuito de possibilitar ao máximo a interação entre os diferentes atores dentro do pro-
cesso de desenvolvimento. As atividades desenvolvidas priorizaram o trabalho em grupo sempre
estimulando a participação das mulheres e dos jovens nas discussões, tomadas de decisões e ações,
para isso foram utilizadas atividades de dinâmica de grupo, visitas e comunicação oral, para plane-
jamento, discussão e atividades de mutirão par ações. Proporcionando um aprendizado rápido,
progressivo e interativo, propiciando a participação de todos os atores no processo e gerando assim
maior partilha mento de conhecimento, práticas e experiências
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Dimensiones de la Agroecología y Género
I. DIMENSIÓN ECOLÓGICO-PRODUCTIVA
A propriedade possui 16,8 hectares sendo 4,5 hectares destinados à produção
agroecológica. Possuem área de: horta; medicinais: capim cidreira, pulmonar, orégano, manjerona,
alfavaca, cana-de-açúcar, babosa, malva, mil folhas, poejo, hortelã, catinga-de-mulata, alecrim,
arruda, dente-de-leão, rubi, serralha, quebra pedra, mentraste (erva-de-são João); rotação de
culturas: (milho-grão, milho pipoca, feijão tremoço-branco, aveia-preta, nabo-forregeiro, girassol e
outros adubos verdes de verão) e sistema agroflorestal (SAF).
Trabalham na propriedade o casal dona Eva e seu João diariamente, dois filhos moram fora,
mas apoiam esporadicamente e em atividades mais concentradas, como plantio, colheita e podas,
mutirões são realizados com a presença de vizinhos e amigos.
O SAF é a principal área produtiva com aproximadamente 1,3 hectares e 100 espécies com
diferentes funções: adubação verde, madeireiras, frutíferas, medicinais, apícola, produção de
sementes, tubérculos, raízes, caules, grãos.
Vista do SAF mais antigo da propriedade, que serve de
inspiração para a formação das outras áreas
Dentre as espécies tem: Banana, café, abacaxi, ananás, pitanga, amora, jabuticaba, hibisco,
fruta-do-conde, Glyricídia, atemóia, nêspera, barbatimão, abacate, manga, oreia-de-macaco,
Guapuruvu, aroeira, graviola, pau-d’alho, pau viola, Genipapo, açoita-cavalo, sangra d água,
babosa branca, angico branco e vermelho, alecrinzeiro, ingá de metro e mirim, margaridão,
guandu, araucária, goiaba branca e vermelha, jequitibá branco e rosa, cedro, ipê roxo, rosa e
amarelo, paineira com espinho e sem espinho, fumo bravo, jurubeba, açaí, pupunha, pêssego
branco, casca-de-anta, pitaia, citros, batata-doce, mandioca, lichia. amora, canela sasafras,
canelinha, castanha paulista, , gabiroba, palmeira jerivá, palmito jussara, sabão de soldado, tarumã,
uvaia,uva, ameixa, pera,castanha portuguesa,figo, acerola, coco anão, caqui, cambuci, cana-de-
açucar.
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Destaque para o abacaxi, um dos principais produtos da
propriedade.
Como apoio ao equilíbrio ambiental possui madeiras destinadas a poda para reciclagem de
nutrientes e plantas nativas no intuito de gerar um ambiente propício para aves, resistente a pragas.
Hoje a produção não sofre nenhum tipo de dano significativo causado por pragas e doenças.
Destaque para o solo com cobertura vegetal.
As principais práticas de manejo são as podas, a adubação verde e a nutrição orgânica das
espécies. Os insumos utilizados na produção de origem interna, esterco, adubação verde e
cobertura vegetal, apenas as cinzas vem de fora da propriedade, porém eles conseguem doações.
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João Boieiro mostrando a área de adubação verde ao lado
de uma área de cultivo de milho.
As ferramentas utilizadas na propriedade também são em sua maior parte de propriedade da
família, apenas a roçadeira para o capim e o pilão para o café são emprestados, porém são de
amigo e não acarretam custos. A família não possui nenhum implemento mecanizado para apoio a
produção.
A família pretende voltar a trabalhar com suínos, no momento possuem apenas um
galinheiro destinado a produção de ovos e carne para cosumo da família apenas.
A área destinada ao SAF não está em estagio homogênea, pois foi sendo implementada aos
poucos. Para tanto não foi adotado um modelo, conforme a própria lógica agroecológica, utilizou-
se conceitos básicos fundamentais, aproveitando os conhecimentos locais e desenhando sistemas
adaptados ao potencial nativo do lugar.
Além de desempenhar funções ecológicas o sistema produz diversos alimentos ricos em
fibras, vitaminas, amido e proteína essenciais à segurança alimentar da família. Como a produção é
realizada segundo os princípios da agroecologia garante um alimento sem agroquímicos e, por
isso, mais saudável a família. E devido a biodiversidade e a diferença de ciclos de cada cultura,
produz alimento durante todo o ano.
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Vista parcial da propriedade: a direta SAF mais antigo e ao
centro área do SAF recém plantado (foto dia 14/02/2012).
A área onde foi implementado o assentamento é uma região que possui destaque na
produção de grão uma atividade agrícola que é diretamente ligada a produção nos moldes
convencionais.. A propriedade estudada iniciou suas atividades de acordo com o modo de produzir
convencional que era incentivado na região. Antes da implantação do primeiro SAF em 2006, o
solo foi explorado por cerca de vinte anos de forma intensiva através de culturas de grãos,
mecanização pesada e agroquímicos. No entanto a família não se sentia confortável em trabalhar
dessa forma e decidiu buscar uma forma alternativa de trabalhar, já haviam realizado um curso de
agrofloresta, então no ano de 2006 decide implementar seu primeiro SAF, numa área escolhida em
parceira com técnicos do INCRA e por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, para se tornar
uma unidade experimental para capacitação e formação de agricultores agroecológicos.
II. DIMENSIÓN SOCIO-ECONÓMICA
Dentro da propriedade que é definido o que vai ser produzido, no entanto geralmente fazem
uma pesquisa de mercado para saber quais produtos são mais vendidos e as demandas. Consideram
também a opinião da assistência técnica e fazem observações como, por exemplo, época de
plantio, sensibilidade e manejo da cultura.
As principais espécies de fim econômico são o abacaxi, a banana e o café mandioca,
abacaxi, batata doce, citros, banana, manga e a pitaia.
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Quadro com a produtividade média anual das principais espécies destinadas à alimentação
e com excedentes destinados as comércio.
As formas de venda são feitas pelas cooperativas que faz parte e venda direta em feiras. A
propriedade é cooperada de duas organizações da região, uma possui maior estabilidade e trabalha
com grãos e hortaliças, atende aos programas governamentais como PAA e PNAE. E a outra está
passando por um momento de crise no entanto ela possui uma política de venda onde produtos
convencionais e orgânicos são vendidos separadamente. Nos dois casos o preço de venda são
determinados pelas cooperativas, que consideram como base o valor estabelecido pela CONAB
(Companhia Nacional de Abastecimento), empresa oficial do governo, vincula ao MAPA
(Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento), encarregada de gerir as políticas agrícolas e
de abastecimento, visando assegurar o atendimento das necessidades básicas da sociedade,
preservando e estimulando os mecanismos de mercado.
O preço praticado pelas cooperativas está abaixo do preço praticado no mercado, por isso
decidiram complementar a renda com venda direta, apesar de não estar gerando muito lucro, estão
apostando no crescimento desse mercado.
Além da renda monetária a propriedade gera uma gama de produtos que fortalecem a renda
geral da família, segundo estudos da Embrapa na propriedade, eles produzem 70% dos alimentos
que consomem. Desejam criar porcos para aumentar a fonte de proteína animal e aumentar ainda
mais essa porcentagem.
A renda não monetária é importante por diminuir as despesas e por garantir a qualidade de
vida e a segurança alimentar. Quando maior for a renda não monetária mais equilibrada está a
propriedade e mais autônoma. Na agroecologia esse é um indicador muito valorizado. Além da
produção são consideradas rendas não monetária todos os insumos e as matérias-primas que são
produzidos e utilizados dentro da propriedade. Ela considera em todo o processo produtivo a
possibilidade de redução de impactos ambientais, econômicos, sociais, políticos e culturais.
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Esterco sendo retirado do galinheiro para enriquecer o solo
antes do plantio.
A segurança alimentar dessa família está garantida pela sistema de produção diversificado
que produz alimentos ricos em fibras, vitaminas, amido e proteína, num sistema sem adição de
agroquímicos.
De forma geral a qualidade de vida, economicamente falando é boa e estável, mas necessi-
tam estruturar um pouco mais com a aquisição de equipamentos, como por exemplo um trato de
pequeno porte para apoiar o manejo, hoje utiliza como equipamento apenas a roçadeira de capim e
o pilão de café emprestados de vizinhos.
A relação existente entre a propriedade e os vizinho denota uma forma saudável de apoio,
além do empréstimo de equipamentos eles se organizam para apoiar na necessidade de mão de
obra, como em alguns períodos a demanda de mão de obra é muito maior do que a disponível pela
família os vizinhos se organizam em mutirões para realizarem por exemplo a colheita ou o manejo
dos SAF.
Como dito a propriedade possui SAFs em diferentes estágios de maturação, sendo a mais
antigo de 7 anos. Assim cada dia mais produtos e em maior quantidade são retirado da proprieda-
de. Assim como aumenta a oferta de alimentos aumenta a oferta de insumos para apoiar a produ-
ção, sementes e mudas para renovar a produção, sementes para adubação verde e matéria orgânica
para enriquecimento de solo. Diminuindo cada vez mais a dependência da propriedade de fatores
externos.
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Mutirão de plantio, onde é possível ver dois vizinhos (am-
bos com chapéu), um técnico (agachado) e um proprietário
(filho de João Boieiro).
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Mudas de abacaxi cultivadas dentro do próprio SAF.
Hoje não é realizado nenhum tipo de processo de transformação nos produtos, mas tem o
plano de construir um projeto de uma agroindústria de polpa, para melhor aproveitamento das fru-
tas e agregação de valor.
III. DIMENSIÓN POLÍTICO-CULTURAL
A “Morada do Curupira” possui relação com uma cooperativa que incentiva e comercializa
produtos orgânicos, no entanto o principal objetivo nessa relação é o apoio à venda da produção.
Possui também relação com outra cooperativa, mas também com objetivo especifico de viabilidade
de mercado.
Mas, apesar de não estar explicitada nem documentada existe uma organização de interação
social coletiva entre a “Morada do Curupira” e seus vizinhos, grupo chamado pelo técnicos de
“Novos Boieiros”, uma referência ao sobrenome da família que é possui a propriedade modelo que
está disseminando o desejo de transição agroecológica para as propriedades que se relacionam
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Na “Morada do Curupira”, onde a família juntamente com
os técnicos e os vizinhos planejam atividades no SAF.
.
A construção dessa organização coletiva foi percebida durante o desenvolvimento do proje-
to “Projeto Extensão Rural Agroecológica no âmbito da Articulação Paulista de Agroecologia:
unidades de referência, formação de formador, redes de apoio técnico e de consumo e mecanismos
participativos de garantia da qualidade orgânica”, iniciado em 2010 e terminado em agosto de
2013, através de uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista – UNESP - Faculdade de
Ciências Agronômicas de Botucatu e Instituto Giramundo Mutuando, onde foi realizadas diversas
atividade que priorizaram o trabalho em grupo sempre estimulando a participação das mulheres e
dos jovens nas discussões, tomadas de decisões e ações.
Mulheres e homens fazendo o desenho de seus projetos de
sistemas agroflorestais.
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Por se tratar de uma propriedade em processo de transição avançado foi sendo incentivadas
práticas de ação coletiva para discussões e mutirões juntamente com os vizinhos no intuito de
apresentar a esses a realidade da propriedade modelo dividir as experiências vivenciadas. Os guias
das atividades na figura dos agricultores (João, Eva, filhos) o que permite a dinamização de um
processo de multiplicação e de formação tipo agricultor para agricultor e agricultor para técnico
para agricultor.
O diálogo entre agricultores, técnicos e pesquisadores foi enriquecido pelas práticas de
mutirões realizados para elaboração de projetos e implantação, propiciando atender as principais
demandas e problemas dos agricultores e motivando a troca de experiência
Atividade com vizinhos e técnicos dentro do SAF, um dia
antes da atividade de construção dos Projetos do “Novos
Boieiros”
Proporcionando um aprendizado rápido, progressivo e interativo, propiciando a
participação de todos os atores no processo e gerando assim maior partilhamento de conhecimento,
práticas e experiências.
Projeto de um dos “novos Boieiros” onde já foi ini-
ciada a construção do SAF.
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As relações prévias entre os agricultores, amizades, apadrinhamento e proximidade
geográfica foram os primeiro elos criados. Esses são os responsáveis pelo apoio existente entre os
agricultores, disso surgiram às práticas de mutirões que serviram de disseminador da proposta de
transição agroecológica. As metodologias utilizadas nos encontros proporcionar um processo de
auto ajuda participativa, inovadora, criativa, experimental e comunicativa que permitiu buscar de
maneira recíproca e coletiva uma maneira de garantir a sustentabilidade e o desenvolvimento na
propriedade. As práticas buscam estimular a discussão e a reflexão e compartilhar os
conhecimentos locais e capacidades individuais como resultado foi gerado nos vizinhos o desejo
de implementar práticas de manejo espelhadas no modelo dos Boieiros. Organizou um dia de
trabalho coletivo onde foram desenhados projetos a partir do conhecimento acumulado dos
agricultores, das experiências de modelos de SAF já consolidados e de elementos técnicos levados
pelos extensionistas. Assim seis propriedades iniciaram o processo de implementação de SAF.
Construção coletivo do desenho do SAF a ser implementado.
O principal guia e mentor dessas seis novas propriedades, dos “Novos Boieiros” é a
propriedade “Morada do Curupira”.
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A região recebe a interferência de algumas políticas públicas, principalmente após a
introdução da agroecologia dentro das políticas federais. A lógica anterior que baseado o sistema
produtivo pregava a superioridade do sistema produtivo frente ao conhecimento das populações,
onde as técnicas agrícolas tradicionais acabaram se tornando sinônimo de atraso, o processo de
incorporação da agroecologia nas políticas públicas brasileiras possuem três fatores de extrema
importância: a adoção das extensão rural agroecológica pelas políticas federais; a criação das
políticas de PNATER (Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural) e PNAPO
(Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica) e a criação da política de incentivo a
produção de alimentos agroecológicos (PAA, PNAPO e a nível estadual PPAIS)
- PNAE - programa Nacional de alimentação Escola: orinetação para as redes escolares
comprarem alimentos que define um mínimo de 30% de alimentos da agricultura familiar.
- PAA - programa de aquisição de alimentos: direciona a produção da agricultura
familiar para instituições sociais da rede pública
PPAIS- Programa Paulista de Agricultura de Interesse Social: prevê que o uso de 30% da
verba do Estado destinada a alimentação deve ser direcionada a produtos oriundo da produção
familiar.
Os programas PAA, PNAE e PPAIS são os maiores responsáveis pelo apoio ao agricultor
familiar, servido como fator de estimulo a produção, além de incentivarem a organização de
coletivos. Ainda existem duas políticas de crédito que buscam apoiar a agricultura familiar:Crédito
RURAL - é um incentivo que complementa o mercado para orientar a produção e os investimentos
de longo prazo, tem baixa taxa de juros para financiamento de actividades agroganadera.
- PRONAF - programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar: serve os
micro e pequenos produtores rurais, seu objetivo é o fortalecimento da agricultura familiar através
de empréstimos para pagamento adequado à realidade do produtor.
A família acredita que a propriedade ideal deve ser a mais sustentável e autônoma possível,
deve ser capaz de produzir no mínimo 50% das diversidades consumidas. Para isso acreditam que
trabalhar segundo os princípios da agroecologia seja a melhor solução, pois o trabalho não é
estressante e rotineiro, o agricultor está sempre em contato com a natureza, produz alimentos
saudáveis, melhora a qualidade de vida e tem maior autonomia na gestão da propriedade.
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Dona Eva plantando citros em mutirão de enriquecimento de SAF.
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Aprendizajes
A soberania alimentar prega que os agricultores tem o direito de produzir sua comida em
seu território de forma que os valores culturais e os conhecimentos tradicionais sejam reforçados.
O modelo agrícola exportador é o modelo econômico que vem no sentido oposto desse principio,
ele ocasiona uma crescente divisão internacional do trabalho, onde os países subdesenvolvidos se
colocam como fornecedores de recursos materiais,biológicos e de mão de obra barata, enquanto os
países mais desenvolvido são fornecedores dos serviços financeiros e tecnológicos.
Assim os países mais ricos orientam a produção dos países mais pobres desconsiderando as
características locais e culturais. Os pequenos produtores que tentam se inserir dentro modelo
exportador, muitas vezes por não ter condições e por não conhecerem formas alternativas de
manejo, acabam sendo absorvido pelas grandes corporações e muitas vezes perdem sua terra ou
sujeitam sua renda da terra aos grandes capitalistas.
Para que isso não ocorra deve ocorrer uma mudança a nível de consciência tanto dentro das
propriedade familiares sobre o modo de produzir no meio rural, como nas populações urbanas
consumidoras dessa produção.
A forma de produzir segundo os princípios da agroecologia indica um caminho alternativo
para o modo de produzir no meio rural que orienta para a soberania alimentar.
A propriedade estudada segue esses princípios e foi possível visualizar resultados segundo
os diversos atributos e dimensões. Assim, a diversidade foi visualizada a partir do numero de
produtos resultantes dos SAFs. A produtividade pode ser vista pelo aumento da produção com a
maturidade atingida pela agro floresta. A própria prática de intercalar a produção com nativas
garante um ambiente com características próximas do original do meio o que apoia na estabilidade,
flexibilidade/resiliência e adaptabilidade. A equidade e a autonomia estão ligadas com a não
dependência da propriedade de insumos externos.
Por terem uma produção mais diversificada, possuem condição de gerar o equilíbrio
ecológico necessário para que o ambiente se sustente e mantenha a produtividade com o passar do
tempo sem a necessidade de insumos químicos, fazendo uso apenas de insumos que podem ser
confeccionados na propriedade.
Além da questão ambiental, exposta acima com o equilíbrio do meio, podemos dizer que a
questão cultural também está englobada no fato da produção ser de acordo com conhecimentos
tradicionais que estão sendo passados ao entorno e para as novas gerações. A questão social fica
clara na manutenção dessas pessoas na área rural. O enfoque político está demonstrado na maior
autonomia da propriedade frente a imposições externas. E o econômico está garantido no aumento
da renda da propriedade gerando também do pela diversidade que possibilita a disponibilidade de
produtos durante todo o ano, segundo o clico de cada cultura.
A prática de mutirões é forma de apoiarem para as atividades de maior trabalho e
conseguirem discutir opiniões diversas e trocas experiências. Mas também uma importante
ferramenta na constituição de uma identidade local/cultural dos produtores. Quando essa pratica é
guiada por agricultores seu sucesso se dá em outro nível pois os agricultores ficam mais
convencidos e se apropria melhor dos conhecimentos e das práticas quando consegue ver as
mudanças e recebe orientações de outro agricultor.
Outro ponto que a experiência dessa propriedade destacou foi à formação de coletivos por
afinidades e não apenas necessidades. O sucesso do grupo “Novos Boieiros” está relacionado
diretamente com o prévio envolvimento entre os agricultores por locos de amizade e respeito.
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Observando as atividades percebe-se o quanto devem ser consideradas importantes às
atividades de planejamento e avaliação do empreendimento como um todo durante o seu
funcionamento, devem ser pensadas metodologias condizente com a realidade da propriedade. As
atividades buscam abarcar questões que vão alem de simplesmente buscar atender a uma demanda
de mercado e manter o empreendimento financeiramente saudável.
Por fim verificou que a agroecologia é uma importante aliada na busca do
desenvolvimento rural, gerando renda ao produtor e contribuindo para evitar o êxodo rural. Bem
como a questão de manutenção do jovem no campo. Os filhos dessa propriedade estão morando
fora para estudos que complementam o conhecimento acerca da produção agroecológica.
Plan de Acción y retos
Observados os principais fatores de sucesso da propriedade o plano de ações vem na
intenção de fortalecer os pontos positivos destacados na observação da experiências e minimizar
os pontos de riscos ao sucesso.
Dessa forma percebe-se a necessidade de fortalecimento da interação entre os “Novos
Boieiros”, pois se apresenta como um coletivo de sucesso, visto que possui como base a identidade
entre os agricultores.
A comercialização da produção está ainda muito dependente das cooperativas que a
propriedade faz parte, o que não garante um retorno financeiro satisfatório, pois o preço é mínimo
e pouca valor é agregado pela fato do produto ter o diferencial de agroecológico. Deve-ser
pensando em uma melhor estratégia de venda, através da comercialização direta.
A área destinada a SAF é boa e a propriedade garante 70% do seu consumo com sua
produção, mas a propriedade ainda possui área ociosa que pode ser convertida em sistemas
agroecológicos produtivos. Já foi realizado um projeto indicando essa nova área.
Agregar valor na produção é outro ponto que ainda não foi muito explorado pela
propriedade, além de buscar colocar no mercado seu produto com o rotulo de produto
agroecologico, um projeto de construção de uma micro empreendimento agroindustrial de polpas
de frutas está sendo estudado.
Conclusiones hacia la Soberanía alimentaria
As propriedades rurais de agricultura familiar que seguidamente, acabaram por se sujeitar
ao grande capital para não serem expulsos do campo vendendo sua força de trabalho e sua renda
da terra, devem buscar uma forma alternativa de gerir sua propriedade que não se sujeite aos
princípios da agricultura convencional, pautada pela Revolução Verde, pacote tecnológico adotado
a partir da década de 1960 contendo mecanização no campo e melhoramento genético.
A forma de produção seguindo os princípios da agroecologia sugere uma forma alternativa
ao produtor familiar, pois ela estimula a busca do equilíbrio da propriedade e não apenas da
produtividade, ele considera aspectos que vão além do meramente produtivo e econômico, como
os aspectos, sociais, culturais, ambientais e políticos.
Dentro da atual configuração capitalista ao qual as propriedades rurais então inseridas deve
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ser pensada uma forma de aproveitar ao máximo todas as possibilidades e pensar nas característi-
cas de cada propriedade como uma estratégia de sucesso.
As propriedades de agricultura familiar por estarem inseridas num cenário desfavorável ao
seu desenvolvimento, dentro dos padrões impostos pela revolução verde, devem pensar numa for-
ma de organizar sua propriedade mais condizente com sua realidade.
Pois, dentro da lógica capitalista a forma de pensar é que as propriedades devem atender à
demanda do mercado independente do esforço que isso pode gerar, as pequenas propriedades aca-
bam por ficarem dependentes de agentes e fatores externos, o que acaba levando, na maioria dos
casos, a endividamento e a perda da autonomia.
Diferente da realidade das propriedades inserida no modelo convencional, está propriedade
apresenta uma divisão do trabalho sustentável, onde homens, mulheres e jovens participam de
forma equivalente tanto nas atividades práticas de manejo quanto no processo de construção e
avaliação das estratégias a serem adotadas. Outra notória diferença que merece destaque está na
relação entre os vizinhos, à cooperação e não a competição é o alicerce, o que permite o
compartilhamento e a disseminação dos conhecimentos tradicionais e apoia na manutenção da
cultura local, isso fortalecido pela prática de inserção dos jovens nos processos.
Desse modo, acredita-se que a organização da propriedade deve estar pautada na realidade
da família, considerando seu sucesso em diferentes graus, satisfação, autonomia, segurança
alimentar, manutenção da cultura, inserção da família no processo e manutenção do jovem no
campo.
Assim o modo de trabalhar a propriedade de agricultura familiar segundo os princípios da
agroecologia e a utilização dos Sistemas Agroflorestais como práticas de manejo são uma
excelente ferramenta no caminho para a soberania alimentar, e garantem a satisfação aos
agricultores, conforme foi possível verificar nesta propriedade.