investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

47
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica DEM/POLI/UFRJ INVESTIGAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE FORÇAS AO LONGO DOS DENTES DE UMA COROA DE TRANSMISSÃO POR CORRENTE Estevão Fróes Ferrão Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto Rio de Janeiro Março de 2014

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Page 1: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

INVESTIGAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE FORÇAS AO LONGO DOS

DENTES DE UMA COROA DE TRANSMISSÃO POR CORRENTE

Estevão Fróes Ferrão

Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia

Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto

Rio de Janeiro

Março de 2014

Page 2: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

INVESTIGAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE FORÇAS AO LONGO DOS DENTES

DE UMA COROA DE TRANSMISSÃO POR CORRENTE

Estevão Fróes Ferrão

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO

DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Dr.Ing. Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto

________________________________________________

Prof. Dr.Ing. Sylvio José Ribeiro de Oliveira

________________________________________________

Prof. Dr.Ing. Max Suell Dutra

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Page 3: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

iii

FERRÃO, Estevão Fróes

Investigação da distribuição de força ao longo dos dentes de

uma coroa de transmissão por corrente/ Estevão Fróes Ferrão. –

Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2014

47 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia Mecânica, 2014.

Referências Bibliográficas: p.39.

1.Coroa 2.Forças 3.Distribuição 4.Experimental

5.Extensômetro 6.Elementos finitos 7.Numérica.

I. Pinto, Fernando Augusto de Noronha Castro. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia Mecânica. III. Investigação da distribuição

de força ao longo dos dentes de uma coroa de transmissão por

corrente.

Page 4: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

Investigação teórica, numérica e experimental da distribuição de forças ao longo dos

dentes de uma coroa de transmissão por corrente

Estevão Fróes Ferrão

Março/2014

Orientador: Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto

Curso: Engenharia Mecânica

Este trabalho tem o objetivo de investigar e determinar a distribuição de carga ao longo

dos dentes de uma coroa de transmissão por correntes. Esta distribuição é um dado

praticamente inexistente no meio acadêmico e na literatura em geral, apesar de sua

importância para um projeto otimizado desta peça. Serão três métodos utilizados para

investigar essa distribuição: teórico, numérico e experimental. O método teórico

baseado em pesquisa bibliográfica sobre este assunto, principalmente nas bases de

publicações acadêmicas. O método numérico contará com uma simulação por elementos

finitos. O método experimental contará com uma bancada em que serão utilizados

extensômetros para medir a força nos elos da corrente que estiverem montados na coroa.

A partir desta informação é possível calcular a força que atua nos dentes adjacentes a

esse elo e, portanto determinar uma distribuição. Este experimento servirá também de

parâmetro para validar ou não os outros métodos de análise.

Palavras-chave: Coroa, Forças, Distribuição, Modelo Teórico, Experimental,

Extensômetro, Elementos Finitos, Numérica.

Page 5: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Mechanical Engineer.

Investigation of a sprocket’s teeth load distribution

Estevão Fróes Ferrão

March/2014

Advisor: Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto

Course: Mechanical Engineering

The objective of this work is to study the load distribution along a sprocket’s teeth. This

distribution is pratically absent in academic field and textbooks in general, despite its

importance for the optimal design of this part. There will be three different methods to

investigate: theoretical, numerical and experimental. The theoretical method is based in

research about this subject, mostly in scientific papers and articles data basis. Numerical

method presents a finite element analysis of the load distribution. The experimental

method includes an experimental facility for strain gage measurements in a few links of

the sprocket. From the strain gage informations can be evaluated the teeth load

distribution. This experiment will be a reference to validate the other study methods.

Keywords: Sprocket, Force, Load Distribution, Theoretical Model, Experimental, Strain

Gage, Finite Element, Numerical.

Page 6: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

vi

Agradecimentos

Agradeço primeiramente à minha família, em especial ao meu pai Aloysio e minha mãe

Maira que me educaram e me despertaram e incentivaram, desde a minha infância, a

paixão pela ciência e pelo conhecimento. Agradeço à minha amada companheira

Nathalia pela paciência e incentivo sempre presentes durante esta etapa complicada da

minha vida, nunca me permitindo o desânimo e sempre me inspirando coragem e

vontade nos momentos mais difíceis.

Agradeço ao professor Fernando Castro Pinto que sempre apoiou o projeto da Equipe

Ícarus, nos instigando à busca pela pesquisa, experimentação e conhecimento. A ele

devo o incentivo à realização deste trabalho e agradeço à sua orientação amiga e sempre

presente.

Agradeço à Equipe Ícarus de Fórmula SAE como um todo, pelo patrocínio financeiro e

pelo fornecimento de toda a infraestrutura necessária para a fabricação e construção da

bancada experimental. Desta forma não posso deixar de citar o Hugo Cabral que muito

prestativamente me ajudou em toda esta etapa de fabricação. Agradeço também ao

amigo Luiz Otávio pela importante ajuda com a modelagem computacional no Abaqus.

Agradeço ao Laboratório de Acústica e Vibrações - LAVI, que por meio do professor

Fernando me cedeu o espaço e as ferramentas fundamentais para a montagem e

realização do experimento deste trabalho.

Agradeço por fim a todos os meus professores dos quais tive a honra de ser aluno. Estes

que impuseram todo o rigor necessário a uma faculdade de excelência como o curso de

Engenharia Mecânica da UFRJ. Saio desta não só engenheiro, mas um profissional

adulto também.

Page 7: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

vii

Sumário

1. Introdução.............................................................................................................. 1

1.1 Motivação ....................................................................................................... 1

1.2 Objetivo .......................................................................................................... 2

2. Análise Teórica ...................................................................................................... 4

2.1 Modelo de corpos rígidos ................................................................................ 4

2.2 Modelo de corpos flexíveis ............................................................................. 8

2.2.1 Cálculo de Kl ......................................................................................... 10

2.2.2 Cálculo de Kt ......................................................................................... 11

2.2.3 Cálculo de K0 ......................................................................................... 13

2.3 Resultados teóricos ....................................................................................... 14

3. Análise Numérica ................................................................................................ 15

3.1 Elementos do modelo .................................................................................... 16

3.2 Malha ........................................................................................................... 17

3.3 Modelo de contato ........................................................................................ 18

3.4 Condições de contorno .................................................................................. 18

3.5 Condições de carregamento........................................................................... 18

3.6 Resultados numéricos ................................................................................... 19

3.6.1 Distribuição de forças em cada dente da coroa ....................................... 19

3.6.2 Ângulo de pressão.................................................................................. 19

4. Análise Experimental ........................................................................................... 22

4.1 Projeto da bancada experimental ................................................................... 22

4.2 Aquisição de dados ....................................................................................... 24

4.3 Montagem dos extensômetros ....................................................................... 26

4.4 Cálculo das forças reais de operação ............................................................. 30

4.5 Procedimento experimental ........................................................................... 32

4.5.1 Montagem do experimento..................................................................... 32

4.5.2 Aquisição e tratamento dos dados .......................................................... 33

4.6 Resultados experimentais .............................................................................. 34

5. Comparação dos resultados .................................................................................. 36

6. Considerações Finais ........................................................................................... 37

7. Referências bibliográficas .................................................................................... 39

Page 8: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

1

1. Introdução

A coroa de transmissão por corrente é um elemento de máquina muito utilizado há

décadas, como por exemplo, em veículos e máquinas operatrizes em geral. A função da

coroa é transmitir e multiplicar torque de um eixo a outro através de uma corrente. Sua

principal vantagem em relação a uma engrenagem é a liberdade em relação à distância

entre os eixos, tal que não é necessário aumentar o tamanho da coroa motriz (pinhão)

e/ou da coroa movida, permitindo apenas ajustar-se o número de elos da corrente.

O projeto de uma coroa não é muito diferente de uma engrenagem comum – cilíndrica

de dentes retos, por exemplo. Desta forma, os cálculos e dimensionamentos necessários

são encontrados amplamente na literatura. Porém, os cálculos utilizados limitam-se

apenas ao dimensionamento do dente da engrenagem, ou da coroa, em função das

condições de carga, de operação, da relação de transmissão, da distância entre os eixos,

etc.

Não há na literatura geral um estudo dedicado ao dimensionamento do corpo da coroa.

Devido à liberdade de tal projeto e pelas infinitas variações de configurações e

geometria possíveis, seria realmente muito difícil determinar um método geral. Desta

forma, seria impossível prever e dedicar modelos de cálculo estrutural para tantas

variações. Uma saída interessante seria a utilização de programas de elementos finitos

para o cálculo da tensão em cada elemento da coroa, em função da geometria dos dentes

e do corpo, assim como de todas as condições de operação desejadas. A partir dos

resultados seria possível validar ou alterar o projeto da peça.

Para isso, seria necessário um modelo que representasse as forças atuantes na coroa,

através da força realizada pela corrente. Entretanto, mesmo conhecendo-se a tração

exercida na corrente, inicialmente não sabemos como esta força é distribuída ao longo

de cada dente da coroa. Este é um dado de entrada essencial para elaboração de um

modelo mais próximo do real e, assim, projetar a peça com um fator de segurança

reduzido. A importância e a vantagem de um melhor dimensionamento são variadas,

como dentre elas: redução de matéria prima necessária, aumento de desempenho da

máquina, redução do espaço ocupado pela peça ou até mesmo estético. Logo, o

conhecimento desta distribuição permitirá uma evolução no projeto destes elementos de

máquinas.

1.1 Motivação

O aluno participou durante 4 anos da Equipe Ícarus UFRJ de Fórmula SAE (2008-

2011). Esta equipe tem o objetivo de projetar, fabricar, testar e competir um protótipo

monoposto do tipo fórmula. Nesta equipe o aluno teve a oportunidade de ser Gerente de

Page 9: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

2

Transmissão (2009-2011) e ter a responsabilidade de projetar uma nova coroa para o

carro.

O objetivo inicial era o projeto da peça em função de uma nova relação de transmissão

calculada e sua adaptação e montagem no novo protótipo Fórmula SAE. Como não

havia no mercado uma peça com as configurações ótimas necessárias, surgiu-se o

desejo e a oportunidade de se fazer uma peça mais leve que a anterior, assim como

estudar a possibilidade de se usar outros materiais para sua fabricação.

Vale lembrar que a busca pelo projeto de peças mais leves é incessante no meio

esportivo e automobilístico, como por exemplo no ciclismo e na Formula 1, já que este

é um meio direto de se alcançar maior desempenho, na maioria dos casos.

O estudo e o levantamento bibliográfico, necessários para o projeto da peça,

demonstraram uma falta de informações específicas na literatura, assim como os dados

de distribuição das forças trativas em cada dente da coroa.

Este vácuo de informação e o desafio deste projeto foram a principal motivação para

realização deste trabalho que, sobretudo, espera-se deixar um importante legado de

conhecimento à equipe.

1.2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é justamente determinar a distribuição de carga, exercida pela

corrente, ao longo de cada dente da coroa. Assim poderemos prover os dados

necessários a um modelo CAD/CAE1 de um programa de cálculo de tensões por

elementos finitos.

A investigação desta distribuição, neste trabalho, será feita de acordo com o

organograma a seguir:

1 CAD – Computer Aided Design; Computer Aided Engineering

Análise teórica

Corpos rígidos Corpos

elásticos

Análise numérica

Estudo de forças

Ângulo de pressão

Análise experimental

Experimento estático

Page 10: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

3

A investigação teórica será baseada nos modelos teóricos apresentados por BINDER

[1], para o modelo de corpos rígidos, e NAJI e MARSHEK [2] para o modelo de corpos

flexíveis.

A análise numérica será feita a partir de um modelo em CAD da coroa e simulação no

programa de elementos finitos Abaqus. Este modelo é uma simplificação do caso real de

operação da coroa, mas seu resultado também será utilizado para comparação. Tem

objetivo de obter a distribuição de forças e o ângulo de pressão do contato corrente x

coroa.

Enfim será realizado um experimento estático em uma bancada projetada e construída

especialmente para este estudo.

Page 11: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

4

2. Análise Teórica

Podemos tratar o modelo teórico de investigação da distribuição de forças ao longo dos

dentes da coroa de duas formas: (i) corpos rígidos e (ii) corpos flexíveis ou elásticos. O

modelo de corpos rígidos foi proposto inicialmente por BINDER [1] assumindo que a

corrente e a coroa formam um par de corpos totalmente rígidos. O modelo elástico foi

apresentado como uma evolução do modelo rígido, apresentado por NAJI e MARSHEK

[2].

Os dados da coroa que será a referência para nosso estudo de caso são os seguintes

Perfil de acordo com a norma ASME B29.1 [3]

Número de dentes, N: 39 dentes

Ângulo de articulação: 9 3360

,2 1N

Passo: 15,875 mmp

Espessura, e: 7,2 mm

Material: Aço carbono SAE 1045

2.1 Modelo de corpos rígidos

A figura 1 ilustra o modelo de contato entre os roletes da corrente e a coroa, e

demonstra as forças exercidas no primeiro rolete em contato com a corrente. Os círculos

representam os roletes da corrente e as linhas entre eles representam os elos.

Page 12: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

5

Figura 1 - modelo de contato corrente e coroa. Fonte: NAJI e MARSHEK [2], p. 350

Onde:

Tt: força trativa da corrente, exercida pelo pinhão

Ti : força exercida pelo i-ésimo elo da corrente

Ts : força trativa do lado “frouxo” da corrente

Pi : força exercida no i-ésimo dente da coroa

α : ângulo de articulação

θ : ângulo de pressão do contato entre o rolete e a coroa

ξ / ε : ângulo de entrada/saída da corrente

n : número de roletes da corrente em contato com a coroa

Podemos isolar o i-ésimo rolete em contato, de acordo com as figuras:

Page 13: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

6

Figura 2 - diagrama de forças, sem atrito. Fonte: NAJI e MARSHEK [2], p. 350

Figura 3 - Diagrama de forças, com atrito. Fonte: NAJI e MARSHEK [2], p. 350

Podemos fazer o equilíbrio do diagrama de forças da figura 1 e obter que:

1

sen

seni iT T

[1]

É interessante observar que, se conhecido o ângulo de pressão θ, determinamos

explicitamente, por este método, as forças em todos os n elos da corrente.

O ângulo de pressão é deduzido analiticamente por BINDER [1]. Seu valor é:

Para uma corrente nova: 120

35n

[2]

Seu valor mínimo pode ser: 64

17n

[3]

Podemos também considerar um valor médio: 92

26n

[4]

Para este estudo, usaremos o valor do ângulo de pressão para uma corrente nova.

Logo, para a coroa de 39 dentes,

31,923°

Se levarmos em consideração o atrito do contato entre o rolete e a corrente, o efeito da

força de atrito leva a uma alteração do ângulo de pressão, denotado por δ. Assim, de

acordo com o equilíbrio do diagrama de forças da figura 3, podemos escrever:

Page 14: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

7

1

sen

seni iT T

, i=2,...,n [5]

Onde δ é o ângulo de desvio da força no dente, Pi.

E as condições de contorno, entre os elos t e n serão:

1

sen

sentT T

[6]

sen

sens nT T

[7]

Para satisfazer a condição de equilíbrio estático, ou seja, o rolete não deslizar pelo dente

da coroa, deduz-se que o valor de δ deve ser tal que:

arctg arctg [8]

onde μ é o menor valor do coeficiente de atrito estático entre o rolete e a coroa (μr) e

entre o rolete e a bucha da corrente (μb).

min arctg ,arctgr b [9]

O coeficiente de atrito estimado será considerado entre 0,05 0,1 para ambas as

peças de aço e lubrificadas [4]. Como os materiais do rolete, da coroa e da bucha são

iguais, podemos considerar r b . Assim, o valor do ângulo de desvio δ será na

faixa:

2,86 5,7

Para os cálculos realizados neste trabalho, arbitramos o valor de 5,0 .

Combinando a equação [5] com as condições de contorno, obtemos uma forma geral e

explícita para a força em cada elo da corrente:

1

sen sen

sen sen

i

i tT T

, i=1,...,n [10]

Page 15: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

8

Do equilíbrio do diagrama da figura 3, podemos também obter a distribuição de forças

em cada dente da coroa:

sen

seni iP T

, i=1,...,n [11]

2.2 Modelo de corpos flexíveis

Este método considera as propriedades elásticas dos materiais da corrente e da coroa e,

portanto, suas deformações. Do equilíbrio dado pelos diagramas das figuras 1 e 3,

podemos deduzir as seguintes equações:

1cos cosi i iP T T [12]

1 1sen seni iP T [13]

Vamos considerar que uma força Ti causa um alongamento ΔLi no i-ésimo elo da

corrente. Da mesma forma, uma força Pi causa uma flexão de ui no i-ésimo dente da

coroa. Assim, podemos definir as constantes de proporcionalidade Kt e Kl, tais que:

ii

Pu

Kt [14]

ii

TL

Kl [15]

Assim, a compatibilização cinemática, tal que a deformação do elo é acompanhada por

uma deformação do dente, nos leva à seguinte expressão:

1cos cosi i iu u L [16]

Definindo 0/Kt Kl K e substituindo as equações [14] e [15] em [16], temos:

1 0cos cosi i iP P K T [17]

E das equações [12] e [13] em [17] e após algumas manipulações algébricas, podemos

escrever a expressão na forma:

Page 16: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

9

1 1 0i i iA T B T C T [18]

Onde:

cosA [19]

0

cos cos1

cosB K

[20]

cos

cosC

[21]

Uma análise numérica desse sistema[5]

permite solucionar a equação [18] da seguinte

forma:

1 1 2 2

i i

iT A A [22]

onde,

2

1,2

4

2

B B AC

A

[23]

e os coeficientes A1 e A2 são obtidos pelas condições de contorno. Do nosso caso

particular:

0 tT T , para i=0 [24]

0nT , para i=n [25]

Onde n é o último elo em contato com a coroa.

Logo,

21

1 2

t

n n

TA

[26]

22

1 2

1n

t n nA T

[27]

Usando as equações [23] a [27] encontramos Ti, e usando a equação [9], com os termos

obtidos, temos finalmente a distribuição de forças ao longo dos dentes da coroa, Pi.

Page 17: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

10

Vale considerar desde já que este método é mais abrangente que o primeiro, já que,

levando-se em consideração a elasticidade dos corpos, podemos prever e comparar a

distribuição de esforços nos dentes da coroa para diferentes materiais. Porém, ressalta-

se que é justamente por este motivo que nos deparamos com a dificuldade deste método.

Ao utiliza-lo, devemos ter de antemão os valores de Kt e Kl, que não se encontram na

literatura e devem ser calculados, estimados ou obtidos experimentalmente.

Neste caso particular, sendo a coroa e a corrente constituídas de aço, vamos estimar o

valor de K0.

2.2.1 Cálculo de Kl

Se considerarmos o elo da corrente como uma mola de constante elástica Kl, podemos

escrever:

i iT Kl l [28]

Mas, considerando a deformação da corrente apenas nos elos que ligam os roletes,

podemos escrever:

Deformação do elo: l

l

[ 29]

Tensão no elo: T

ES

[ 30]

Onde S é a área da seção transversal do elo da corrente, T é a força trativa no elo da

corrente e E é o módulo de elasticidade do material. Para aço vamos usar E = 200 GPa.

Logo, de [29] e [30] em [28] temos:

S EKl

l

[31]

Para o elo da corrente considerada neste trabalho, usaremos E=200 GPa. Os dados de

geometria estão apresentados na figura 4, a seguir:

Page 18: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

11

Figura 4 - dimensões do elo

Assim, o valor de Kl será, aproximadamente:

608 kN/mmKl

2.2.2 Cálculo de Kt

Vamos agora estimar o valor de Kt. Para isso, consideraremos o dente da coroa como

uma viga engastada. Logo, Kt será o valor da rigidez à flexão do dente. Podemos usar o

teorema de Castigliano para encontrar a deflexão do dente no ponto de aplicação da

carga P. O dente da coroa pode ser modelado para este cálculo como um perfil

puramente triangular, inscrito no perfil original do dente da coroa, de acordo com a

figura 6.

Figura 5 - dimensões do dente para o modelo de viga

Page 19: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

12

Para a solução do problema da viga engastada pelo teorema de Castigliano, temos que a

energia de deformação é calculada pela expressão:

2

0

1( )

2 ( )

h

U M x dxEI x

[32]

Onde U é a energia de deformação, E é o módulo de elasticidade da coroa, I(x) e M(x)

são o momento de inércia e o momento fletor ao longo do dente, na direção x,

respectivamente.

O diagrama da viga sob flexão é representado pela figura 5, a seguir.

Figura 6 - modelo de viga do dente da coroa

De acordo com as dimensões do triângulo inscrito, podemos escrever uma função para

representar a dimensão a(x) do modelo do dente triangular. Assim,

1 0 0,4624 4,5724a x a x a x [33]

O momento de inércia pode ser calculado então pela seguinte expressão:

32 ( )

12

b a xI x

[34]

Logo, aplicando a equação [33] e [34] em [32], podemos calcular a energia de

deformação. Ainda pelo Teorema de Castigliano a flexão δ no ponto de aplicação da

carga, pode ser calculada por:

U

P

[35]

Page 20: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

13

Assim, teremos:

11 0 1 0

0

2 3

0 1

2 2 log 13

4

a ha h a a h a

aP

E a a b

[36]

E da equação [34] em [14]:

2 3

0 1

11 0 1 0

0

4

3 2 2 log 1

Ea a bPKt

a ha h a a h a

a

[37]

E usando os valores mencionados anteriormente, teremos finalmente que:

7,456 kN/mmKt

2.2.3 Cálculo de K0

Calculando Kt/Kl com os valores obtidos anteriormente, temos que K0 será:

0 0,0129Kt

KKl

Existe um valor de K0 para o qual o modelo de corpos flexíveis se iguala ao modelo de

corpos rígidos. Vamos chamar este valor de K0*. Pode ser calculado pela seguinte

equação:

*

0 0

cos cossen

sen senK K

[38]

Logo, seu valor, de acordo com os dados da coroa em estudo vale:

*

0 0,0436K

Algumas considerações podem ser feitas sobre este parâmetro. Para os casos em que

*

0 0K K , ou seja, a coroa é muito rígida em relação à corrente, a elongação do elo da

corrente faz com que este suba pelo dente da coroa. Para os casos em que *

0 0K K , ou

seja, a corrente é muito rígida em relação à coroa, a contração do elo da corrente faz

com que o ponto de contato desça no dente da coroa.

Page 21: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

14

2.3 Resultados teóricos

Os resultados teóricos são apresentados abaixo para cada modelo: (i) corpos rígidos e

(ii) corpos flexíveis. O resultado é dado em função de uma carga normalizada, ou seja,

para uma dada tração na corrente, teremos uma carga em cada elo ou dente como uma

fração de uma carga T0. Assim, podemos comparar os diferentes métodos em função de

cargas iniciais diferentes. Os resultados encontram-se a seguir:

Figura 7 - Resultado para o elo

0.768

0.589

0.452 0.347

0.266

0.204 0.157

0.120 0.092

0.071

0.830

0.688

0.571

0.474

0.393

0.326

0.271 0.225

0.186 0.155

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1

t 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Fo

rça n

o e

lo i, T

i/T

0

Número do elo, i

Força em cada elo

Corpos rígidos

Corpos flexíveis

Page 22: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

15

Figura 8 - Resultado para o dente

3. Análise Numérica

O modelo numérico servirá como uma forma de comparação e validação deste método,

quando comparados com os resultados teóricos e os experimentais.

Para este método foi utilizado o programa de simulação por elementos finitos Abaqus

versão 6.10. Os objetivos que se espera alcançar são:

a. Encontrar a distribuição de forças ao longo de cada dente da coroa

b. Medir o ângulo de contato resultante da simulação

A simulação representa um modelo simplificado da atuação da corrente sobre a coroa.

Ao invés de modelar-se uma corrente completa utilizou-se apenas elementos rígidos

circulares para representarem os roletes da corrente. Estes são os responsáveis pelo

contato e transmissão da força entre cada dente da coroa. Ao posicionarmos os roletes

ao longo de cada assento, podemos torna-los fixos e aplicarmos o torque na coroa. Isto

permitirá que não precisemos impor a força em cada rolete, sendo assim, a força em

cada dente da coroa e o ângulo de pressão no contato, uma consequência e resultado da

simulação.

0.209

0.160

0.123

0.094

0.072

0.056 0.043

0.033 0.025

0.019

0.191

0.158 0.131

0.109

0.091

0.075 0.062

0.052 0.043

0.036

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Fo

rça n

o d

en

te i, P

i/T

0

Número do dente, i

Força em cada dente

Corpos rígidos

Corpos flexíveis

Page 23: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

16

3.1 Elementos do modelo

Os elementos utilizados no modelo CAE são os seguintes:

Uma coroa – sob a forma de uma superfície 2D, o que diminui drasticamente o

número de elementos da malha, resultando em menores graus de liberdade,

menor tempo de cálculo computacional e melhor estabilidade. Desta forma,

estamos modelando um estado plano de tensões, o que não afetará

significativamente o resultado.

Dezesseis roletes da corrente – sob a forma de arames circulares rígidos. Estes

serão posicionados entre cada dente da coroa, ou seja, nas extremidades dos elos

1 ao 17 da corrente.

As figuras abaixo apresentam uma visão geral da coroa e dos arames rígidos que

representam os roletes da corrente. A coroa foi separada em regiões a fim de permitir o

melhor controle da malha.

Figura 9 - modelo bidimensional CAD

Page 24: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

17

Figura 10 - detalhe dos roletes

3.2 Malha

A malha foi refinada na região de contato de cada rolete. O refinamento permite melhor

interpretação do contato das partes pelo programa e melhor visualização da tensão no

contato, assim como permitirá a medição do ângulo de pressão resultante da simulação.

A figura a seguir demonstra a malha resultante do refinamento pontual e das sub-regiões

da coroa.

Figura 11 - Detalhe da malha

Page 25: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

18

3.3 Modelo de contato

O modelo de contato aplicado se divide em: comportamento normal e comportamento

tangencial entre as partes.

Comportamento normal: contato rígido e não penetração entre as partes

Comportamento tangencial: as partes deslizam sem atrito entre si

3.4 Condições de contorno

As condições de contorno foram as seguintes:

Coroa: aplicada condição de não translação nas direções X e Y, no centro da peça. Os

oito furos de fixação da coroa também foram restritos quanto a sua posição radial em

relação ao centro. Permite-se rotação na direção Z.

Roletes: aplicada condição de não translação nem rotação em nenhuma direção, ou seja,

os roletes estão fixos em suas posições iniciais, o que implica que este modelo torna a

corrente (representada apenas pelos roletes) um elemento de rigidez infinita.

3.5 Condições de carregamento

Foi-se aplicado, como dito anteriormente, um torque à coroa. A magnitude deste torque

será de acordo com o cálculo realizado mais adiante, na seção 4.4, que está em função

do torque máximo que o motor do protótipo Fórmula SAE pode entregar. Logo, o valor

usado para o torque aplicado à coroa nesta simulação será:

911 NmmáximoT

Page 26: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

19

3.6 Resultados numéricos

3.6.1 Distribuição de forças em cada dente da coroa

O programa permite avaliar as forças de reação em cada um dos 16 roletes. Por ação e

reação, esta é justamente a força que o dente da coroa realiza em cada rolete. A força

total aplicada pela coroa pode ser calculada dividindo-se o torque aplicado pelo raio da

coroa. Assim, a força resultante do torque será denominada F0 e o resultado para a força

que cada dente sofreu, normalizada por F0, encontra-se abaixo.

Figura 12 - Resultado numérico

3.6.2 Ângulo de pressão

O resultado da distribuição de tensão ao longo da coroa encontra-se abaixo. A legenda

está informando a tensão em GPa.

0.148

0.088

0.090

0.079 0.071 0.070

0.074 0.074 0.072 0.069

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

0.14

0.16

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Fo

rça n

o d

en

te i, P

i/F

0

Número do dente, i

Força de reação em cada dente

Page 27: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

20

Figura 13 - Resultado de tensão

Figura 14 – Detalhe D da tensão nos dentes

O resultado demonstra uma distribuição bastante uniforme ao longo da coroa, onde há roletes

em contato. Pelo detalhe da figura 14, podemos visualizar a tensão no contato entre o dente e

o rolete. Desta forma, conseguimos perceber uma região de maior pressão no contato.

Podemos deduzir que nesta região atua uma pressão originada de uma distribuição da força de

contato e, se assumimos que esta força possui uma resultante localizada em um eixo de

simetria desta região de maior pressão de contato, podemos encontrar a direção da força

resultante e, a partir desta direção medir o ângulo de pressão resultante deste modelo.

Page 28: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

21

Figura 15 - Medição do ângulo de pressão

A partir da figura 15 e, com o auxílio de uma ferramenta de edição de imagem,

podemos realizar uma medição aproximada do ângulo de pressão. O resultado, de

acordo com a figura 15 foi de:

31,87numérico

Este valor é muito próximo ao valor utilizado no método teórico, onde 31,92teórico .

Isso vem a confirmar o ângulo de pressão deduzido por BINDER [1].

Page 29: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

22

4. Análise Experimental

O modelo experimental tem o objetivo de obter um resultado próximo ao que ocorrerá

na operação da coroa utilizada no protótipo Formula SAE e também comparar com os

modelos teórico e numérico buscando validar ou não estes métodos.

O experimento desenvolvido e utilizado neste estudo é estático, quando a real operação

da coroa é dinâmica. Logo, os efeitos de choques, atritos dinâmicos e acelerações não

serão medidos. Na prática, estes efeitos podem ser incluídos sob a forma de inclusão de

fatores de segurança de projeto.

Projetou-se então uma bancada experimental, tal que fosse possível fixar a coroa

estaticamente em uma estrutura, montar a corrente, e tracioná-la. Extensômetros colados

em elos estratégicos da corrente medirão a força dos elos, através de suas respectivas

deformações. Conhecendo-se esta força, pode-se calcular a força que atua no dente

adjacente, pelas equações de equilíbrio estático desenvolvidas nos cálculos teóricos.

4.1 Projeto da bancada experimental

Figura 16 – Projeto CAD da bancada experimental

Page 30: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

23

Para auxiliar na fabricação e montagem do aparato experimental, desenhou-se o sistema

completo, ilustrado acima, no programa de desenho computacional SolidWorks, versão

2012. A partir deste foram elaborados os desenhos de fabricação e toda a logística de

compra de materiais e fabricação em si. A seguir, uma breve descrição de cada item do

sistema:

1. Coroa: objetivo de montar a corrente, suportar a carga trativa e permitir a

medição. Fabricada em máquina fresadora controlada por Comando Numérico

Computadorizado (CNC), em aço carbono SAE 1045, espessura 7,2 mm.

Posteriormente será utilizada no protótipo Fórmula SAE da UFRJ. A peça

utilizada no experimento possui vazios para alívio de massa, o que difere dos

modelos utilizados para a análise teórica e numérica. Porém, estes vazios não

alteram significativamente a rigidez da peça, permitindo-se a comparação direta

com os outros modelos.

Figura 17 - Coroa do modelo numérico

Figura 18 - Coroa do modelo experimental

2. Disco fixo: tem o objetivo de fazer a ligação entre a coroa e a estrutura,

dividindo a carga igualmente por todos os 8 parafusos da coroa. Fabricado em

aço carbono 1020, espessura 8 mm.

3. Polia de apoio: tem a função da apoiar a corrente, fazendo com que esta saia

da coroa paralela ao chão, com o motivo de compatibilizar a comparação com

os outros métodos. Fabricada em Alumínio.

4. Estrutura: tem como objetivo dar suporte à coroa, assim como resistir à carga

de tração da corrente. Fabricada em aço carbono SAE 1020, seção tubular de

30x30 mm e espessura 3 mm.

5. Corrente: tem a função de aplicar a carga trativa na coroa e medir a partir de

sua instrumentação a distribuição de carga ao longo dos dentes da coroa.

Page 31: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

24

6. Pino de trava da corrente: é o elo entre a ponta da corrente e o macaco

mecânico. Fabricado em aço carbono SAE 1020.

7. Macaco mecânico: tem a função de tracionar a corrente a partir do seu braço

de alavanca. Esta peça permitirá alcançar uma carga próxima à carga real

máxima de tração da corrente no protótipo Fórmula SAE.

4.2 Aquisição de dados

Para aquisição dos dados dos extensômetros foi utilizada a placa de aquisição da

National Instruments NI 9219, que permite a leitura de até 4 canais simultaneamente.

Foi utilizado o programa SignalExpress, versão 2011, para a leitura, armazenamento e

tratamento dos dados. Este programa ainda permite transduzir a leitura de voltagem em

deformação aplicando-se os parâmetros do extensômetro, tais como resistência e fator

de sensibilidade. Assim, temos a leitura direta da deformação.

A placa utilizada também permite a completação da ponte de Wheatstone adicionando

as resistências não ativas em algumas configurações variadas de ponte, objetivando,

hora anular-se efeitos de temperatura (uso de dummy gages), hora anular-se efeitos de

flexão ou tração (meia ponte ou ponte completa).

A figura a seguir apresenta o esquema de uma ponte de Wheatstone, tal que: R1, R2, R3,

R4 são resistências, podendo ou não representar sensores, de acordo com o objetivo da

montagem; VEX é a tensão de excitação da ponte, esta aplicada pela placa de aquisição

(utilizado VEX = 2,5V para o experimento); V0 é a tensão resultante da ponte.

Figura 19 - Ponte de Wheatstone

O balanceamento da ponte é importante para melhor leitura e interpretação dos dados,

pois quando não há nenhum efeito sobre a ponte e se todas as resistências forem iguais,

Page 32: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

25

esta deve retornar V0=0 V, e assim se diz balanceada. Sendo esta, portanto, uma medida

de referência do sistema a ser medido, quando estiver em equilíbrio. No nosso caso, isto

significa não atuar nenhuma força sobre os elos da corrente.

A equação que relaciona a variação de resistência em cada “perna” da ponte com a

variação de tensão é a seguinte:

3 20

3 4 1 2

EX

R RV V

R R R R

[39]

Logo, no equilíbrio, todas as resistências são iguais e o valor de V0 é zero. Se

substituirmos as resistências por extensômetros, as variações de resistência (ΔR’s) irão

desbalancear a ponte e poderemos ler uma variação na voltagem V0. Neste experimento

vamos substituir as resistências pelos extensômetros, desta forma será possível

transduzir o resultado da variação da voltagem em deformação e, mais adiante, em

força.

Optou-se pela montagem da ponte completa de Wheatstone. A maior vantagem desta

configuração é a possibilidade de se anular os efeitos da flexão no desbalanceamento da

ponte. Desta forma, permite-se ler o resultado puro da tração na deformação do

material. Este artifício é essencial para a correta interpretação dos dados deste trabalho,

pois qualquer flexão no resultado da deformação representaria algum desalinhamento do

sistema experimental, o que não nos interessa medir.

Os extensômetros foram então colados nas posições 1 e 3 da ponte do desenho

esquemático (fig.18). Desta forma, o aumento da resistência total da ponte, oriundo de

uma flexão em 1, é compensado por uma igual diminuição da resistência total, em 3, e

assim não resulta em variação da voltagem de saída. Para completar a ponte foram

utilizados dois extensômetros compensativos, colados em elos incondicionalmente

descarregados, nas posições 2 e 4 da ponte. O motivo para o uso de extensômetros

compensativos, ao invés de simplesmente resistências, é uma maior confiabilidade

quanto ao valor da sua resistência nominal. Abaixo o detalhe da colagem dos sensores

no elo da corrente, referentes às posições 1 e 3 da ponte de Wheatstone:

Page 33: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

26

Figura 20 - Esquema de colagem dos extensômetros no elos

O diagrama de blocos a seguir apresenta o fluxo de transdução da extensometria

realizada, até se chegar à leitura da força.

Figura 21 - Diagrama de blocos de extensometria

4.3 Montagem dos extensômetros

Foram adquiridos extensômetros elétricos uniaxiais modelo PA-06-125AA-350-LEN da

fabricante Excel Sensores, com as seguintes características:

Page 34: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

27

Dimensões:

Figura 22 - Dimensões do extensômetro

a =3,18 mm

b = 3,18 mm

c = 6,35 mm

Material da base: polyimida

Filme metálico de constantan

Resistência nominal: 350 Ω

Fator de Sensibilidade: k = 2,13

Os extensômetros foram colados em elos pré-definidos da corrente, da seguinte forma:

SG-0: em um elo livre de contato com a coroa. Este extensômetro servirá como

uma célula de carga

SG-1: entre o primeiro e o segundo dentes em contato com a corrente

SG-2: entre o terceiro e o quarto dentes em contato com a corrente

OBS: a sigla SG servirá para referenciar cada par de extensômetros em cada elo. Assim,

os extensômetros 1 e 3 de cada ponte de Wheatstone serão daqui pra frente

referenciados apenas por SG-0,1,ou 2

A figura a seguir demonstra o desenho esquemático com o posicionamento dos

extensômetros ao longo da coroa.

Page 35: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

28

Figura 23 – Nomenclatura e posição dos dentes, elos e extensômetros

O primeiro elo assentado na coroa atuará como uma célula de carga, tal que, ao

aplicarmos a tração na corrente, poderemos calcular a força trativa desta, da seguinte

forma:

E [40]

Onde ε é a deformação longitudinal do elo e σ é a tensão resultante. Logo, podemos

escrever:

FE

S [41]

Tal que S é a área de seção transversal à deformação do elo e F é a força trativa na

corrente. Assim, podemos escrever a força como uma função da deformação e dos

parâmetros de geometria e material do elo da corrente.

F E S [42]

Desta forma, ao conhecermos a força que realizamos através do macaco, podemos

normalizar a força que cada elo está sofrendo em relação à força trativa pura na

Page 36: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

29

corrente, T0. Este cálculo será válido para encontrar a força em cada elo da corrente que

estiver montado com um extensômetro.

Por condições construtivas da corrente, não é possível colar extensômetros em elos

consecutivos. Por este motivo faremos uso das equações desenvolvidas na seção de

análise teórica e do diagrama de corpo livre do rolete da figura 22.

Figura 24 - Diagrama de forças no rolete

Para calcular a força que atua em cada dente, a partir da força trativa em cada elo, é

necessário conhecer o ângulo de pressão. Usaremos portanto o valor teórico deduzido

por BINDER [1]. A tabela a seguir demonstra as equações utilizadas para o cálculo da

força em cada dente, a partir dos resultados experimentais da força em cada elo.

Page 37: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

30

Tabela 1 - Correlações entre forças medidas e forças calculadas

Extensômetro

Mede-se

deformação

do elo i =

Calcula-se

SG-0 1 0T

SG-1 2

1 2 2cos sen cotanT T T

2

1

sen

sen

TP

2

2

sen

sen

TP

SG-2 4

3 4 cos sen cotanT T

4

3

sen

sen

TP

4

4

sen

sen

TP

4.4 Cálculo das forças reais de operação

Um dos objetivos deste trabalho é prover os dados necessários ao projeto de uma coroa

para o novo protótipo da Equipe Ícarus de Fórmula SAE. Logo, podemos calcular as

forças reais de operação desta coroa no carro. Ao conhecermos a ordem de grandeza

desta força, podemos realizar o experimento o mais próximo possível desta carga.

A seguir, é apresentada a curva de torque e potência do motor do protótipo, que foi

obtida em ensaio de dinamômetro de rolo, em 2011. Também são listados os dados para

o cálculo da força máxima que a coroa irá suportar no carro.

Page 38: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

31

Figura 25 - Curva de torque e potência do motor do protótipo Fórmula SAE

Torque máximo do motor: 60 N.m

Relações de transmissão:

Primária: 1,863

Primeira marcha: 2.9828

Relação final (pinhão/coroa): número de dentes do coroa 39

2,786número de dentes da pinhão 14

Logo, o torque máximo entregue no eixo da coroa é calculado pela seguinte expressão:

1ªmáximo motor primária marcha finalT T r r r [43]

O torque máximo então vale:

60 1,863 2,9828 2,786 911 N.mmáximoT

Assim, podemos calcular a força trativa na corrente multiplicando o torque pelo raio da

coroa.

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

80.00

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 11000 12000 13000

Po

tên

cia

(kW

)

To

rqu

e (N

m)

Rotação (RPM)

Torque

Potência

Page 39: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

32

9119211 N

0,0989máximo

máxima

TF

R [44]

Podemos então calcular a deformação esperada no elo para esta carga na corrente.

Assim poderemos aumentar a carga através do macaco até o valor mais próximo a este

calculado. O valor da deformação esperada para esta carga vale:

2

2kN

9,211 kN1001 m/m

200 23 mmmáximo

máximo

mm

F

E S

[45]

4.5 Procedimento experimental

4.5.1 Montagem do experimento

As imagens abaixo apresentam a bancada real do experimento e um diagrama de

montagem esquemático:

Figura 26 - Bancada Experimental

Page 40: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

33

Figura 27 - Esquema de montagem do experimento

Figura 28 – Detalhe E da colagem dos extensômetros

4.5.2 Aquisição e tratamento dos dados

O programa utilizado para aquisição permite ao usuário a leitura direta da deformação,

de forma que são necessários alguns parâmetros de entrada. São eles:

Fator de sensibilidade do extensômetro: K = 2,13

Page 41: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

34

Resistência nominal do extensômetro: R = 350 Ω

Resistência dos fios: serão desprezadas devido ao pequeno diâmetro e

comprimento

Para uma visualização mais limpa dos dados, foi incluído pelo programa um

processamento de média no tempo. Desta forma, eliminamos apenas a visualização do

ruído, sem afetar o sinal.

4.6 Resultados experimentais

O programa SignalExpress exibe em tempo real a aquisição dos dados dos

extensômetros. A placa de aquisição utilizada é capaz de ler até quatro canais

simultaneamente. Optou-se pela visualização gráfica ao longo do tempo. Realizou-se o

armazenamento dos dados para posterior análise e tratamento. A visualização, na

interface do programa encontra-se abaixo:

Figura 29 - Interface do programa

Page 42: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

35

A distribuição de forças será normalizada em relação à força máxima alcançada no elo

livre da corrente. O resultado para a distribuição de força ao longo da coroa encontra-se

abaixo:

Figura 30 - Resultado experimental do elo

Figura 31 - Resultado experimental do dente

0.730

0.560

0.469

0.360 0.276

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

0 1 2 3 4 5

Fo

rça n

o e

lo i, T

i/T

0

Número do elo, i

Força em cada elo

0.198

0.152

0.109 0.098

0.075

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0 1 2 3 4

Fo

rça n

o d

en

te i, P

i/T

0

Número do dente, i

Força em cada dente

Page 43: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

36

5. Comparação dos resultados

Abaixo é apresentada finalmente a comparação entre os diferentes métodos de

investigação:

Figura 32 - Comparação dos resultados para o elo

Figura 33 - Comparação dos resultados para o dente

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

0 1 2 3 4 5

Fo

rça n

o e

lo i, T

i/T

0

Número do elo, i

Força em cada elo

Ti experimental

Ti rígido

Ti flexível

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0 1 2 3 4

Fo

rça n

o d

en

te i, P

i/T

0

Número do dente, i

Força em cada dente

Pi experimental

Pi rígido

Pi flexível

Pi numérico

Page 44: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

37

Observação: de acordo com o modelo de análise numérica, não é aplicável o resultado

de força no elo, já que os elos não foram modelados.

6. Considerações Finais

Foi possível encontrar resultados para as três linhas de investigação: teórica numérica e

experimental. Possível também perceber as diferenças entre cada modelo a partir da

comparação gráfica final. Como o resultado é expresso de forma relativa à carga

aplicada na corrente, a comparação dos resultados é direta e não depende desta carga.

O método teórico, dividido em modelo de corpos rígidos e de corpos elásticos,

apresentou resultados parecidos. Quanto à força trativa que cada elo sofre, o modelo que

mais se aproximou ao resultado experimental foi o que considera os corpos totalmente

rígidos, apesar do modelo de corpos flexíveis apresentar um resultado também muito

próximo. Quanto à força absorvida por cada dente da coroa é muito difícil afirmar qual

método teórico foi o mais próximo, podendo considera-los igualmente precisos quanto a

previsão da distribuição de forças.

Para o método numérico utilizado obtivemos um resultado ligeiramente diferente ao

encontrado tanto no experimento quanto nos métodos teóricos. Este apresentou uma

distribuição mais uniforme, com uma queda abrupta apenas entre o primeiro e o

segundo dentes da coroa, ficando quase estável para os dentes posteriores. Isso pode ser

explicado pelo fato de, no modelo computacional a coroa ser considerada um elemento

totalmente rígido em relação à coroa. Logo, este modelo não seria o mais indicado para

determinar a distribuição de forças, mas pode ser considerado uma boa aproximação.

Quanto ao segundo objetivo da análise numérica, obtivemos um resultado que pode

confirmar os estudos analíticos apresentados por BINDER [1]. O ângulo de pressão

medido pelo resultado numérico foi muito próximo ao encontrado no modelo teórico.

31,92°

31,87°

teórico

numérico

Page 45: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

38

Pode-se considerar que o experimento foi de grande importância para verificar a

validade dos cálculos analíticos e numéricos. Confirmar a validade de um método

teórico tem um impacto muito grande quando precisamos projetar uma peça em

engenharia. Se os modelos teóricos representam suficientemente bem a realidade, isto

pode representar uma grande economia quanto ao uso de softwares sofisticados de

engenharia ou até mesmo laboratórios de testes e ensaios. Por isso, a importância de se

fazer um experimento que se confirme a validade destes modelos.

Este trabalho pode ser continuado no futuro, com a implementação de novos

dispositivos experimentais, como por exemplo um dispositivo para simular o impacto

da tração na aplicação súbita de carga, como a aplicada por um motor, por exemplo; os

modelos teórico e numérico podem incorporar as forças provenientes das acelerações

envolvidas na operação real; o modelo numérico deve ser aperfeiçoado para incluir a

elasticidade da corrente, o que espera-se aproximar o resultado quanto ao ensaio

experimental e os métodos teóricos.

E por fim, os resultados podem ser utilizados também para um projeto de otimização da

coroa com a finalidade de redução massa, o que implica também em menos matéria-

prima e menor custo; possibilidade de uso de outros materiais; ou até mesmo com a

finalidade de aumentar o desempenho de um veículo de competição, como o Fórmula

SAE, ou de bicicletas de competição de ciclismo em que cada grama de massa pode

fazer a diferença.

Page 46: investigação da distribuição de forças ao longo dos dentes de uma

39

7. Referências bibliográficas

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