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INVESTIGAÇÃO Animais de estimação setembro 2016 382 Proteste 31 www.deco.proteste.pt O s portugueses, em geral, gostam de animais de estimação, apesar de nem todos terem um em casa. Só entre os colaboradores do de- partamento editorial da DECO PROTESTE, formado por 23 pessoas, existem 11 gatos e um cão. Quanto à origem dos animais, foram oferecidos por conhecidos ou adotados em associações que recolhem e cuidam de cães e gatos abandonados. As razões para terem os animais variam, mas a mais comum é por gostarem e quererem apreciar a sua com- panhia. Quem tem filhos também se sentiu tentado a ter, por insistência das crianças ou porque cuidar de um animal ajuda na edu- cação e no comportamento dos mais novos. Apesar de em minoria na nossa redação, os cães estão presentes em mais lares nacio- nais do que os gatos (ver ao lado), como revela o nosso mais recente inquérito que contou com a participação de mais de 2000 portugueses. Seguem-se, em menor medida, os pássaros pequenos, como periquitos e canários, os peixes e as tartarugas. Com este inquérito procurámos conhecer, por um lado, o que leva os portugueses a adotar ou comprar um animal de estima- ção e, por outro, que despesas têm com o mesmo. Contas feitas, manter um cão custa cerca de € 1000 por ano e um gato ronda os € 900 anuais. Mas a maioria dos inquiridos defende que o animal melhora a sua saúde e/ou qualidade de vida. Amor incondicional O gosto por animais é a principal razão dos inquiridos para ter um animal de estima- ção: apontada por 65 por cento. Segue-se o prazer que sentem com estes seres (40%), a companhia que lhes fazem (22%) e a cedên- cia ao pedido dos filhos ou de outro familiar. Poucos portugueses optaram por comprar o animal: 29% dos que têm cães e 4% dos que escolheram gatos. Nestes casos, pagaram, em média, € 213 pelo cão e € 452 pelo gato. Contudo, a maioria dos animais foi oferecida ou encontrada. Com a chegada do animal a casa começa a alegria, mas também as despesas. Precisa de alimentação, recipientes para a comida e para a água, um local para dormir e alguns brinquedos. No caso dos gatos, também pre- cisa de areia e uma caixa para as necessidades fisiológicas, além de uma mala de transporte, para as idas ao veterinário. Ao lado, apre- sentamos os valores anuais médios segundo o mencionado pelos nossos inquiridos para as despesas mais comuns. Os cães ficam um pouco mais caros do que os gatos, em parte devido aos cuidados de saúde. Como vão diariamente à rua, tem de haver um maior cuidado com vacinas e desparasitantes, mas também por alguns serem grandes (os me- dicamentos são doseados segundo o peso). Outro fator a considerar logo no início é o registo do animal. O dos cães é obrigatório e pago e deve ser feito na junta de freguesia. Apenas pouco mais de metade dos inquiridos (57%) admitiu ter tratado do registo, mas 65% afirmaram que o cão tem um chip eletrónico. O registo dos gatos é facultativo e foi a opção de 15% dos que responderam ao inquérito. Só 9% optaram pelo chip eletrónico. Quem decide cuidar de um animal deve disponibilizar-lhe um local adequado, onde possa comer, dormir e tenha espaço para brincar. Este é tanto mais importante conso- ante o tipo e o tamanho do animal. Ou seja, um gato, se calhar, precisa de menos espaço do que um cão, tal como um Chihuahua se adapta melhor a locais mais apertados do que um Golden Retriever. Mesmo assim, 9% dos donos de um cão referiram que o man- têm num espaço pequeno ou inadequado. Opinião idêntica têm 5% dos que optaram por um gato. Mexe-se o dono e o animal No dia a dia, há que garantir que o animal de estimação não está sempre sozinho e, no caso dos cães, que vai à rua ou tem acesso a um local exterior onde possa exercitar-se e fazer as necessidades. Contudo, 27% dos inquiridos revelaram nunca levar o cão à rua. Esperamos que seja por não haver ne- cessidade, por ter à disposição um espaço exterior, por exemplo. Por outro lado, qua- se metade (48%) leva o seu pequeno amigo a passear entre duas e três vezes por dia, sendo que 10% levam quatro vezes ou mais. Entre quem sai com o cão, 52% despendem, em média, mais de 30 minutos diários na Que animais temos em casa 8% € 865 € 1007 Custo por ano Carinhosos e protetores, os animais de estimação melhoram a qualidade de vida dos donos. Ao ponto de fazer esquecer os cerca de 1000 euros anuais que roubam ao orçamento familiar Os melhores amigos lá de casa EM DESTAQUE A opinião de 2377 portugueses sobre animais de estimação Problemas e despesas mais comuns com cães e gatos Entrevista a Joana Pereira, veterinária € 163 € 73 Outros € 203 € 224 Higiene € 195 € 143 Cuidados de saúde € 446 € 425 Comida 5 % 46% 34% 13%

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INVESTIGAÇÃOAnimais de estimação

setembro 2016 • 382 Proteste 31www.deco.proteste.pt

Os portugueses, em geral, gostam de animais de estimação, apesar de nem todos terem um em casa. Só entre os colaboradores do de-

partamento editorial da DECO PROTESTE, formado por 23 pessoas, existem 11 gatos e um cão. Quanto à origem dos animais, foram oferecidos por conhecidos ou adotados em associações que recolhem e cuidam de cães e gatos abandonados. As razões para terem os animais variam, mas a mais comum é por gostarem e quererem apreciar a sua com-panhia. Quem tem filhos também se sentiu tentado a ter, por insistência das crianças ou porque cuidar de um animal ajuda na edu-cação e no comportamento dos mais novos.

Apesar de em minoria na nossa redação, os cães estão presentes em mais lares nacio- nais do que os gatos (ver ao lado), como revela o nosso mais recente inquérito que contou com a participação de mais de 2000 portugueses. Seguem-se, em menor medida, os pássaros pequenos, como periquitos e canários, os peixes e as tartarugas.

Com este inquérito procurámos conhecer, por um lado, o que leva os portugueses a adotar ou comprar um animal de estima-ção e, por outro, que despesas têm com o mesmo. Contas feitas, manter um cão custa cerca de € 1000 por ano e um gato ronda os € 900 anuais. Mas a maioria dos inquiridos defende que o animal melhora a sua saúde e/ou qualidade de vida.

Amor incondicionalO gosto por animais é a principal razão dos inquiridos para ter um animal de estima-ção: apontada por 65 por cento. Segue-se o prazer que sentem com estes seres (40%), a companhia que lhes fazem (22%) e a cedên-cia ao pedido dos filhos ou de outro familiar. Poucos portugueses optaram por comprar o animal: 29% dos que têm cães e 4% dos que escolheram gatos. Nestes casos, pagaram, em média, € 213 pelo cão e € 452 pelo gato. Contudo, a maioria dos animais foi oferecida ou encontrada.

Com a chegada do animal a casa começa a alegria, mas também as despesas. Precisa de alimentação, recipientes para a comida e para a água, um local para dormir e alguns brinquedos. No caso dos gatos, também pre-cisa de areia e uma caixa para as necessidades fisiológicas, além de uma mala de transporte, para as idas ao veterinário. Ao lado, apre-sentamos os valores anuais médios segundo o mencionado pelos nossos inquiridos para as despesas mais comuns. Os cães ficam um pouco mais caros do que os gatos, em parte devido aos cuidados de saúde. Como vão diariamente à rua, tem de haver um maior cuidado com vacinas e desparasitantes, mas também por alguns serem grandes (os me-dicamentos são doseados segundo o peso).

Outro fator a considerar logo no início é o registo do animal. O dos cães é obrigatório e pago e deve ser feito na junta de freguesia. Apenas pouco mais de metade dos inquiridos (57%) admitiu ter tratado do registo, mas 65% afirmaram que o cão tem um chip eletrónico. O registo dos gatos é facultativo e foi a opção de 15% dos que responderam ao inquérito. Só 9% optaram pelo chip eletrónico.

Quem decide cuidar de um animal deve disponibilizar-lhe um local adequado, onde possa comer, dormir e tenha espaço para brincar. Este é tanto mais importante conso-ante o tipo e o tamanho do animal. Ou seja, um gato, se calhar, precisa de menos espaço do que um cão, tal como um Chihuahua se adapta melhor a locais mais apertados do que um Golden Retriever. Mesmo assim, 9% dos donos de um cão referiram que o man-têm num espaço pequeno ou inadequado. Opinião idêntica têm 5% dos que optaram por um gato.

Mexe-se o dono e o animalNo dia a dia, há que garantir que o animal de estimação não está sempre sozinho e, no caso dos cães, que vai à rua ou tem acesso a um local exterior onde possa exercitar-se e fazer as necessidades. Contudo, 27% dos inquiridos revelaram nunca levar o cão à rua. Esperamos que seja por não haver ne-cessidade, por ter à disposição um espaço exterior, por exemplo. Por outro lado, qua-se metade (48%) leva o seu pequeno amigo a passear entre duas e três vezes por dia, sendo que 10% levam quatro vezes ou mais. Entre quem sai com o cão, 52% despendem, em média, mais de 30 minutos diários na

Que animais temos em casa

8%

€ 865

€ 1007Custo por ano

Carinhosos e protetores, os animais de estimação melhoram a qualidade de vida dos donos. Ao ponto de fazer esquecer os cerca de 1000 euros anuais que roubam ao orçamento familiar

Os melhores amigos lá

de casa EM DESTAQUE A opinião de 2377

portugueses sobre animais de estimação

Problemas e despesas mais comuns com cães e gatos

Entrevista a Joana Pereira, veterinária

€ 163 € 73Outros

€ 203 € 224Higiene

€ 195 € 143Cuidados de saúde

€ 446 € 425Comida

5 %

46% 34% 13%

INVESTIGAÇÃOAnimais de estimação

Mais informação www.deco.proteste.pt

32 Proteste 382 • setembro 2016 setembro 2016 • 382 Proteste 33www.deco.proteste.ptwww.deco.proteste.pt

De que forma o tempo que os animais passam sozinhos influencia o seu comportamento e saúde?O facto de os animais ficarem muito tempo sós pode originar perturbações do comportamento. Há ainda uma tendência para a obesidade, sobretudo nos gatos que são mantidos dentro de casa, o que acaba por afetar a saúde. Nos cães, os passeios são muito importantes, pelo menos, três vezes por dia, mesmo para um que esteja num jardim. Se não aprenderem a socializar com outras pessoas e animais, podem não saber como reagir em determinadas situações. Quanto aos gatos, mesmo dentro de casa, é importante brincar com eles e dar-lhes brinquedos que simulem o seu estilo de vida. Por exemplo, estimular o instinto de caça com bolinhas ou escondendo a comida, ou deixá-los ver o mundo mediante a colocação da cama junto à janela.

Quais as vantagens da esterilização ou castração?Varia entre machos e fêmeas. Tanto nas gatas como nas cadelas são quase consensuais os benefícios para a saúde, além de se conseguir controlar os nascimentos indesejados. Sabe-se que se a esterilização for feita até aos 6 meses reduz-se em muito a incidência de tumores mamários. O inconveniente é aumentar a tendência para a obesidade e, em cadelas de raça grande, influenciar um pouco o crescimento. No caso dos machos, é diferente e convém que seja discutido com o veterinário. Pode ser aconselhável nos cães com problemas de comportamento ou de saúde, mas

a relação com os benefícios para a saúde não é tão direta como nas fêmeas.

Os gatos que estão sempre em casa devem ser desparasitados com a mesma frequência dos de rua? E as vacinas?Os gatos que estão em casa devem ser desparasitados com uma frequência e produtos diferentes dos que estão na rua. No caso dos parasitas externos, a maior ameaça são as pulgas, que podem ir para casa agarradas à roupa ou ao calçado. A desparasitação (por pipetas ou comprimidos) é a melhor prevenção. Os parasitas internos podem chegar através de moscas que os gatos gostam de caçar, mesmo em casa. Daí a importância da desparasitação, pelo menos, a cada 6 meses. Em casas com crianças pequenas, convém que seja a cada 3 meses.As vacinas também são essenciais para os proteger de vírus que podemos levar para casa. No caso dos cães, há vacinas que salvam vidas, além de ficarem mais baratas do que o tratamento da doença. O ideal é seguir a recomendação do veterinário. Mais do que as vacinas, são muito importantes as consultas anuais. A partir dos 6/7 anos, a incidência de problemas de saúde é maior, pelo que se deve aumentar a frequência das visitas ao veterinário: cada 6 meses. É o melhor método para apanhar problemas que estejam numa fase inicial e que serão tratados precocemente. Felizmente, os portugueses cada vez mais veem o animal de estimação como um elemento da família e preocupam-se em fazer tudo bem.

JOANA PEREIRAVETERINÁRIA“É importante deixar os cães serem cães e os gatos serem gatos, sem contrariar os comportamentos naturais deles”

PROTESTE ENTREVISTA

Os gatos passam, em média, sete horas por dia sós. Um cão passa apenas menos uma hora sozinho, ou seja, seis horas em média.

Os cães são levados a passear, em média, duas vezes por dia (20 minutos de cada vez), o que favorece as relações sociais e a condição física de quem o acompanha.

O meu animal é...93%

Carinhoso

89%

Independente

48%

69%

Melhora a minha qualidade de vida

63%74%

Ativo

74%84%

Sociável

66%

85%

Limpo

75%

89%

Pacífico

72%84%

Protetor

32%

68%

Obediente

77%

48%

Vizinhos queixam-se

15%9%

Destrói coisas

18%10%

Defeca onde não deve

41%

27%

Atacou-me

5% 9%

Prejudicou a minha saúde

3% 1%

44%

Ladra ou miacontinuamente

39%

Problemas de saúde

30%

45%

Problemas nos últimos 12 mesesNas poucas vezes que causaram doenças aos donos, tratou-se de alergias (88% das situações) e, em menor medida, ferimentos (25%).

Cão Gato

As doenças mais comuns dos cães e gatos são na pele ou pelo e nos ouvidos (otites). Nos gatos, também foram frequentes os problemas nos dentes.

atividade. A verdade é que os passeios diá- rios com o cão são benéficos para o animal, mas também para quem o leva. Daí que 74% dos inquiridos considerem que o cão melho-ra a sua qualidade de vida.

Durante o dia, 9% de inquiridos com cão e 15% dos que têm gato indicaram deixar os animais sozinhos mais de 9 horas diárias. Em média, os cães ficam sós quase 6 horas por dia durante a semana e os gatos 7 horas. Ao fim de semana, o período de solidão é menor: cerca de 4 horas diárias.

Segundo Joana Pereira, veterinária, o facto de os animais estarem muito tempo sós e/ou confinados ao mesmo espaço pode influenciar o seu comportamento (ver pág. 33). Perguntámos como os inquiridos des-creviam o animal que têm em casa. Abaixo

destacamos as opiniões que mais se eviden-ciam. Há aspetos que podem ser caracterís-ticos da espécie, como os cães serem mais carinhosos e os gatos mais asseados.

Quisemos ainda saber quais os problemas que ocorreram nos 12 meses anteriores ao preenchimento do questionário. Verificá-mos que os mais comuns prenderam-se com a saúde dos animais, mas uma elevada per-centagem dos inquiridos confessou que os animais ladram ou miam continuamente ou fazem as necessidades onde não devem. Um número relevante de inquiridos garantiu já ter recebido queixas dos vizinhos.

Veterinários satisfazem muitoNem sempre os animais chegaram às mãos dos donos com as primeiras vacinas, o que

implicou logo uma visita ao veterinário: no caso dos cães, 57% não as tinham. Além daquelas, são necessários desparasitantes, para evitar que apanhem doenças.

Embora a maioria tenha seguido o con-selho do veterinário quanto às vacinas, 21% dos donos de gatos e 7% dos que têm um cão optaram por algumas, mas não por to-das. Também encontrámos diferentes atitu-des quanto à esterilização ou castração do animal. No caso dos gatos, foi a opção da maioria — apenas 18% afirmaram que não vão fazer. Já nos cães, 62% indicaram não sujeitar o animal àquela intervenção contra 23% que o fizeram. Mas, mesmo nos cães, esta pode ser recomendada por razões de saúde, como sublinhou Joana Pereira a ve-terinária com quem conversámos.

Procurámos descobrir se os animais tive-ram algum problema de saúde nos 12 me-ses anteriores ao preenchimento do ques-tionário. Entre os cães, ocorreu em 45% dos casos e, nos gatos, em 30 por cento. Em ambas as espécies, as doenças mais co-muns foram na pele ou pelo e nos ouvidos (otites). De salientar também alguns proble-mas com parasitas externos, como pulgas ou carraças.

A maioria dos inquiridos consultou um veterinário nos 12 meses anteriores ao pre-enchimento do inquérito. Na maioria das situações tratou-se de um centro privado. A consulta de rotina, a vacinação ou a des-parasitação foram as razões que motivaram as visitas. Em regra, os donos de cães fazem três visitas anuais ao veterinário e os de ga-tos duas.

A grande maioria dos inquiridos indicou estar satisfeito com o veterinário. As expli-cações apresentadas, a relação pessoal e a interação com o animal são os aspetos que mais agradam a quem respondeu ao nosso inquérito. Já o custo e, em menor medida, a diversidade de serviços são os que menos satisfazem. Apesar de os custos com o veteri-nário não serem a maior fatia do orçamento dedicado aos animais (ver pág. 31), ainda têm um peso significativo.

Mas o principal a reter é que os inquiri-dos são unânimes em reconhecer que os animais melhoram a sua qualidade de vida e, no caso dos donos de cães, também con-tribuem para aumentar a prática diária de exercício físico.