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INUNDA˙ÕES URBANAS NA AMÉRICA DO SUL Carlos E. M. Tucci Juan Carlos Bertoni (organizadores) Porto Alegre 2003

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Page 1: Inundações Na America

INUNDAÇÕES URBANASNA AMÉRICA DO SUL

Carlos E. M. TucciJuan Carlos Bertoni

(organizadores)

Porto Alegre2003

Page 2: Inundações Na America

Inundações Urbanas na América do Sul / Carlos E. M. Tucci, JuanCarlos Bertoni (organizadores). - Porto Alegre: AssociaçãoBrasileira de Recursos Hídricos, 2003.

ISBN: 85-88686-07-4

I. Tucci, Carlos E. M. II. Bertoni, Juan Carlos.

CDU 556.16

dos autores1a edição: 2003

Capa: Carla M. LuzzattoEditoração: Carlos André Ourives Campos

Maiara Fernanda Wendel Ferreira

II

Os autores brasileiros desenvolveram os capítulos dentro doprojeto financiado pelo PRONEX-CNPq.

Page 3: Inundações Na America

Apresentação

Este livro faz parte do Programa Associado de Gerenciamento deCheias desenvolvido pela OMM Organização Meteorológica Mundial e Glo-bal Water Partnership. O programa na América do Sul foi iniciado com duasatividades: desenvolvimento de relatórios sobre alguns países e workshopspara tomadores de decisão para alguns casos pilotos em diferentes países.Os resultados destas duas ações são apresentados neste livro.

No primeiro capítulo é apresentado um resumo dos principais aspec-tos do desenvolvimento do uso do solo, que é a urbanização, fator funda-mental dos impactos sobre os sistemas hídricos. No segundo capítulo é apre-sentada uma visão de conjunto sobre a água no meio urbano, considerandoas diferentes interações entre os mecanismos de abastecimento, esgotamen-to sanitário, drenagem urbana e inundações ribeirinhas e resíduos sólidos,além das doenças de veiculação hídrica. No terceiro capítulo é apresentadauma visão de conjunto sobre as inundações ribeirinhas, drenagem urbana eseu gerenciamento nas cidades da América do Sul.

A partir do quarto capítulo são descritos os principais aspectos deinundações dos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Peru eUruguai. Em cada um destes capítulos são apresentados os principais im-pactos e planos desenvolvidos. Dentro de um assunto tão vasto, os capítulosdos países devem ser entendidos como uma amostra dos aspectos das inun-dações urbanas.

No último capítulo é apresentado um resumo dos resultados dosworkshops sobre tomadores de decisão, que englobam os estudos de casosem cinco países: Argentina, Brasil, Chile, Colombia e Peru. Nele tambémsão apresentados os resultados do workshop regional realizado em outubrode 2002 em Porto Alegre. Estes elementos procuram desenvolver uma visãoe prospectivas sobre as inundações ribeirinhas, buscando novas ações regio-nais.

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Como se observa, são utilizadas informações de 8 países da Américado Sul, faltando alguns que não foram incluídos, mas que não são menosimportantes. Certamente esperamos que este seja o primeiro de uma sériede livros que abordem o tema e permitam construir soluções sustentáveispara um problema importante que tem gerado muitos prejuízos para a po-pulação.

Porto Alegre, janeiro de 2003.

Carlos E. M. Tucci

Juan Carlos Bertoni

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Page 5: Inundações Na America

PARTE I : INTRODUÇÃO

1. URBANIZACIÓNJuan Carlos Bertoni e Carlos E. M. Tucci

1.1 El proceso de urbanización en el mundo1.2 Diferencias en la urbanización entre los países industrializados

1.3 Tendencias de migración hacia las periferias de las ciudades

2. ÁGUAS URBANASCarlos E. M. Tucci

2.1 Ciclo de contaminação2.2 Sistemas hídricos urbanos2.3 Os impactos

2.3.1 Contaminação dos mananciais2.3.2 Abastecimento de água e saneamento2.3.3 Resíduos sólidos2.3.4 Escoamento pluvial2.3.5 Qualidade da água pluvial2.3.6 Doenças de veiculação hídrica2.3.7Comparação entre países desenvolvidos e em

2.4 Gerenciamento das águas urbanas2.4.1 O cenário atual2.4.2 Visão integrada2.4.3 Aspectos institucionais

y el resto del mundo

desenvolvimento

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SUMÁRIO

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3. INUNDACÕES E DRENAGEM URBANACarlos E. M. Tucci

3.1 Inundações urbanas3.2 Histórico da convivência com a inundação3.3 Conceitos básicos inundação

3.3.1 Sistema de drenagem3.3.2 Escoamento e condições de projeto3.3.3 Risco e incerteza

3.4 Inundações ribeirinhas3.4.1 Características e impactos3.4.2 Avaliação das inundações3.4.3 Medidas de controle

3.5 Drenagem urbana3.5.1 Impacto devido a urbanização3.5.2 Potenciais medidas de controle

3.6 Plano Diretor de Drenagem Urbana3.6.1 Princípios3.6.2 Estrutura3.6.3 Plano de controle da macrobacias urbanas3.6.4 Aspectos institucionais3.6.5 Programas

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Urbanización

1.1 El proceso de urbanización en el mundo

La urbanización representa una de las manifestaciones más significa-tivas de la actividad humana. A lo largo de la historia el proceso deurbanización reconoce tres grandes etapas: (i) preindustrial, (ii) industrial y(iii) actual o de las comunicaciones (también denominada por algunos auto-res como de “tercerización de las decisiones”).

La “explosiva” urbanización del mundo y los problemas que traeaparejada esta situación en los grandes conglomerados urbanos constituyeuna de las temáticas más importantes de nuestro tiempo. La universalizaciónde la urbanización es un fenómeno reciente en la historia del planeta.

En el año 1800 solo el 1 % de la población vivía en ciudades. Desdemediados del siglo XVIII, donde se expandiera como efecto asociado a larevolución industrial, la urbanización se ha incrementado a nivel mundial aun ritmo cada vez más acelerado. Lo ocurrido en el siglo XX es un ejemplode ello. Según Guglielmo (1996), durante la primera mitad del siglo XX lapoblación total del mundo se incrementó en 49 % y la población urbana en240 %. En la segunda mitad del siglo esta evolución se aceleró: la poblaciónurbana pasó de 1.520 millones de habitantes en 1974 a 1.970 millones en1982. La tabla 1.1 ilustra acerca del crecimiento constante tanto observadocomo previsto para el período 1955-2015.

En la actualidad la población mundial es de aproximadamente 6.100millones y la población urbana alcanza a 2.850 millones, es decir, el 47 %.En poco tiempo más, por primera vez en la historia el número de habitantesde las ciudades habrá superado al de las zonas rurales.

En lo que se refiere a la distribución geográfica de la población urba-na en el mundo, América del Sur encabeza esta tendencia (tabla 1.2). En

1URBANIZACIÓNJuan Carlos Bertoni y Carlos Eduardo Morelli Tucci

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Bertoni y Tucci

nuestro continente, la concentración urbana en las principales ciudades tieneel ritmo de crecimiento más alto entre las regiones del mundo y el mayor detodos los tiempos, con una marcada tendencia de concentración de funcio-nes socioeconómicas y administrativas en pocas ciudades importantes porpaís. Esta propensión metropolitana está ocurriendo en el marco de un len-to ritmo de crecimiento económico y con una estructura de distribución delingreso crecientemente desigual, lo que conduce a un proceso de urbanizaciónde la pobreza.

En 1950, ocho aglomeraciones alcanzaban o sobrepasaban 5 millonesde habitantes (Nueva York, Londres, La Ruhr, Tokio, Shanghai, Paris, BuenosAires y Moscú); ellas constituían alrededor del 7 % de la población urbanamundial. Según estimaciones de UNESCO, en el año 2000 el 15 % de lapoblación urbana del planeta se concentró en metrópolis de al menos 10millones de habitantes.

Tabla 1.1 Evolución de la población urbana (período 1955-2015)

(Fuente: Fondo de las Naciones Unidas de Asistencia de Población,FNUAP).

Tabla 1.2 Distribución de la población urbana por continentes.

(Fuente: Fondo de las Naciones Unidas de Asistencia de Población,FNUAP).

1.2 Diferencias en la urbanización entre los países industrializados yel resto del mundo

El crecimiento urbano ocurrido en países en desarrollo ha sido signi-ficativo desde la década de los 70. En la figura 1.1 se observa el crecimientourbano de los países desarrollados y en desarrollo, además de su proyección

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Urbanización

para el futuro. Se observa que mientras en los países desarrollados elcrecimiento de la población prácticamente se estancó, en los países endesarrollo esto ocurrirá solamente en el año 2150.

Figura 1.1 Crecimiento de la población (Fonte: Nações Unidas)

Durante la etapa preindustrial las grandes metrópolis de América La-tina crecieron a un ritmo sostenido como resultado del gran comercio colo-nial. Ya en la fase de industrialización se registró un desfasaje en el crecimientoentre las ciudades de esta región y aquellas de los países desarrollados. SegúnGuglielmo (1996), en la segunda mitad del siglo XIX o según el caso, en laprimer mitad del XX, las metrópolis de los países desarrollados registraronuna brusca aceleración en su crecimiento demográfico ligado a laindustrialización. Por el contrario, el desarrollo industrial en los países me-nos desarrollados ha sido más fuerte durante la segunda mitad del siglo XX.En efecto, en 1950 seis de las ocho grandes metrópolis del mundo pertenecíana los países desarrollados. Según el autor, sobre las 37 ciudades de más de 5millones de habitantes censados en 1990, solo 12 pertenecían a los paísesindustrializados del hemisferio norte. Resulta sugerente señalar además que,de las 15 urbes más pobladas del mundo, 4 se localizan en América Latina(San Pablo, Ciudad de México, Buenos Aires y Río de Janeiro).

Pelletier y Delfante (2000) remarcan estas diferencias, resaltando quelas ciudades del tercer mundo han conocido a partir de mediados del siglo

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XX un crecimiento explosivo. Durante este período las tasas de crecimientoanual han sido superiores al 3 % en casi todas las grandes metrópolis deltercer mundo, alcanzando en ciertos casos 5 o 6 %. Este ritmo de crecimientoha comenzado a disminuir a partir de 1980. La figura 1.2 ilustra la evoluciónregistrada en algunas ciudades de Europa y de América.

Figura 1.2 Evolución de la población de grandes metrópolis de Europa y deAmérica. (Fuentes: Guglielmo, 1996 ; INDEC, 1999).

Del punto de vista demográfico el crecimiento de las ciudades de lospaíses del tercer mundo es debido a dos factores:

Sostenido aumento del crecimiento natural de su población.Fuerte inmigración provocada por el éxodo rural.

El aumento del crecimiento natural se debe a una baja en la mortalidadcomo también al hecho de la natalidad mantenerse o reducirse muy lenta-mente. Guglielmo (1996) destaca el resultado de este proceso: la juventudde la población de las ciudades es también una caractéristica de los paísessubdesarrollados. Por el contrario, en las ciudades del hemisferio norte elcrecimiento demográfico es débil.

El pronóstico es que cerca del año 2010 existirán 60 ciudades conpoblación superior a 5 millones, siendo la mayoría en países en desarrollo.

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Urbanización

En la tabla 1.3 se observan las ciudades más populosas del mundo y en lafigura 1.3 la distribución de las grandes metrópolis. Por su parte, en la tabla1.4 se presentan los porcentajes de urbanización de América del Sur.

El processo de urbanización observado en los países en desarrollopresenta gran concentración poblacional en pequeñas áreas, con deficienciasen los sistemas de transporte, de abastecimiento y saneamiento, problemasde contaminación del aire y el agua e inundaciones. Estas condicionesambientales inadecuadas reducen las condiciones de salud y, por ende, afectanla calidad de vida de la población. Este aumento de los impactos ambientalesnegativos limitan su adecuado desarrollo.

Tabla 1.3 Mayores ciudades del mundo

Tabla 1.4 Urbanización en América del Sur. (World Bank WDI, 1999)

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Figura 1.3 Principales metrópolis mundiales.

1.3 Tendencias de migración hacia las periferias de las ciudades

En todos los casos el crecimiento demográfico de las ciudades esacompañado de una extensión espacial. Actualmente existe una tendenciageneral a la disminución de la población en los centros de las ciudades. Laindustria no es más el principal factor de crecimiento de las ciudades, parti-cularmente en las grandes metrópolis. A nivel mundial la primera causa de labaja del empleo industrial sobre el conjunto de las ciudades es la política dedescentralización industrial, que concierne a casi todas las metrópolis delmundo. Hacia inicios de los años 90 las grandes metrópolis de AméricaLatina han igualmente adoptado una política de descentralización industrial.Este proceso se realiza a expensas de la urbanización de las áreas periféricasde estas ciudades.

Las principales actividades en las ciudades son ligadas actualmente alas comunicaciones, a los mercados económicos y financieros y a los servicios.Para los países del hemisferio norte también a los polos tecnológicos. Paralas grandes metrópolis, los parámetros de su potencialidad están asociadas ala inserción en una red mundial de comunicaciones. Paradójicamente, du-rante la última década estas actividades han contribuido a reducir la mano deobra.

En los países de América Latina, el aumento de los barrios periféricos

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Urbanización

y las ciudades satélites es evidente. La fractura entre los barrios ricos y lasregiones marginales pobres tiende a agravarse de año en año. Los barrios delas regiones marginales más pobres son de carácter desordenado, conconstrucciones no reglamentadas. En la mayoría de los casos son barrios nointegrados o sub-integrados del punto de vista socio-económico, con carenciade sistemas de servicios urbanos colectivos.

Parte importante de la población vive en algún tipo de villa miserias, o“favelas” en Brasil. Caracas posee cerca de 50% de la población en barriosde este tipo, mientras que Nueva Delhi posee el 20%. Generalmente lasvillas miserias o favelas ocupan áreas de riesgos, como áreas de gran pendienteen laderas o áreas inundables, sin la infraestrutura básica de agua, saneamientoy drenaje.

En Brasil el crecimiento de la población urbana fue acelerado en lasúltimas décadas (tabla 1.5). Este crecimiento generó grandes metrópolis enlas capitales de los estados brasileños, formadas por un núcleo principal yvárias ciudades satélites resultantes de la expansión de este crecimiento.

La tendencia de los últimos años ha sido de reducción del crecimientopoblacional del país, con bajo crecimiento poblacional de la ciudad núcleode la región metropolitana (RM) (tabla 1.6) y aumento de su periferia. Lasciudades con más de 1 millón de habitantes crecen a una tasa media de 0,9% anual, en cuanto que los núcleos regionales con ciudades entre 100 y 500mil, crecen a una tasa de 4,8 %. Por lo tanto, todos los procesos inadecuadosde urbanización e impacto ambiental que fueron observados en las RM seestán reproduciendo en estas ciudades de medio porte.

Este crecimiento urbano ha sido caracterizado por la expansión irre-gular de la periferia, con poca obediencia de la reglamentación urbana rela-cionada con el Plano Director y normas específicas de loteos, además de laocupación irregular de las áreas públicas por población de baja renta. Esteproceso dificulta el ordenamiento de las acciones no estructurales del controlambiental urbano.

Esta tendencia ha sido a consecuencia de lo siguiente:

pequeña renta económica por parte importante de la sociedad en losperíodos de crisis económica y de desempleo significativo;falta de planeamiento e inversión pública en el direccionamiento dela expansión urbana: el precio de la infraestrutura exigida para el lotees inferior a su valor de mercado, ya que en la periferia la mayoría de

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los emprendimientos son de baja renta. De esta forma, el procesoocurre sin control, quedando en el futuro para el poder público elesfuerzo de la regularización e implementación de la infraestructura;medidas restrictivas incompatibles con la realidad brasileña. Laprotección de las fuentes de agua naturales (“mananciales”) generólegislaciones restrictivas que condicionaron la desobediencia. Estasleyes impiden el uso de las areas de mananciales sin que el poderpúblico compre la propriedad. El proprietario es penalizado porposeer esta area, ya que en la mayoría de las veces debe continuarpagando impuesto y aún preservar el area casi intacta. Ladesobediencia termina ocurriendo debido al aumento del valoreconómico de las areas circundantes. Se observó en algunas ciudadesla invasión de estas áreas por población de bajos ingresos hasta porinvitación de los propietarios, como un medio de negociar con elpoder público. Por tanto, se observa una ciudad legal y una ciudadilegal que necesita de ordenamiento y control.

Tabla 1.5 Crecimiento de la población brasileña y tasa de urbanización (IBGE,1998, apud FGV, 1998).

Tabla 1.6 Población y crecimiento de las principales ciudades brasileñas (IBGE,1998).

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Urbanización

Referencias

FGV (1998). Plano Nacional de Recursos Hídricos. Secretaria de Recursos Hídricos-Fundação Getúlio Vargas, 9 vols.

Fondo de las Naciones Unidas de Asistencia de Población (FNUAP). Home Page.

Guglielmo, R. (1996). Les grandes métropoles du monde et leur crise, Ed. A.Colin, Paris,268 p.

IBGE (1998). Anuário Estatístico do Brasil-1997, Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística, Rio de Janeiro (CD-ROM).

INDEC (1999). Anuário Estadístico, Instituto Nacional de Estadística y Censos,Buenos Aires.

Pelletier, J. y Delfante, Ch. (2000), Villes et urbanisme dans le monde, 4º edicion, Ed. A.Colin, Paris, 199 p.

World Bank (1999). World Development Indicators. World Bank.

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Águas urbanas

2.1 Ciclo de contaminação

Nos últimos anos, estamos passando por um cenário em que valoresessenciais à nossa vida, que somente damos a devida importância quandonos faltam, como a água e a luz, podem estar em risco de suprimento porum tempo maior do que estamos acostumados a suportar. Será que estamosvoltando à época de nossos avós em que a infra-estrutura era ainda precária?São dúvidas que passam pela cabeça de muitas pessoas, com a avalanche deinformações, muitas vezes desencontradas, que aparece na mídia.

Em nosso planeta, o total de água globalmente retirado de rios,aqüíferos e outras fontes aumentou 9 vezes, enquanto que o uso por pessoadobrou e a população cresceu três vezes. Em 1950, as reservas mundiaisrepresentavam 16,8 mil m3/pessoa, atualmente esta reserva reduziu-se para7,3 mil m3/pessoa e espera-se que venha a se reduzir para 4,8 mil m3/pessoanos próximos 25 anos como resultado do aumento da população, industria-lização, agricultura e contaminação. Quando comparados os usos e a quan-tidade de água e a necessidade humana pode-se, erroneamente, concluir queexiste água suficiente, mas a variação temporal e espacial é muito grande eexistem várias regiões vulneráveis, onde cerca de 460 milhões de pessoas(8% da população mundial) sofrem falta freqüente de água e cerca de 25%estão indo para o mesmo caminho. Caso nada seja realizado em termos deconservação e uso racional da água, é possível que 2/3 da população mundi-al sofram desde moderada à severa falta de água.

Tanto em nível mundial como na maioria do países da América doSul, o grande consumidor é a agricultura. Um hectare de irrigação de arrozpor inundação pode consumir o equivalente em água a 800 pessoas. Na

2ÁGUAS URBANASCarlos E. M. Tucci

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tabela 2.1, são apresentados alguns números típicos relacionados com a im-portância da água.

Tabela 2.1 Números característicos relacionados com a água (adaptado deInternational Development Initiative of McGill University)

Uma pessoa sobrevive cerca de um mês sem comida, masapenas uma semana sem água;Cerca de 70% do corpo humano consiste de água;Mulheres e crianças em muitos países em desenvolvimentoviajam em média 10 a 15 km todos os dias para obter água;Cerca de 34.000 pessoas morrem diariamente de doenças re-lacionadas com a água como diarréia. No Brasil, 65% dasinternações hospitalares são devidas a doenças veiculadas pelaágua;Uma pessoa necessita no mínimo de cinco litros de água pordia para beber e cozinhar e mais 25 litros para higiene pesso-al;Uma família média canadense usa cerca de 350 litros por dia,na África 20 l/d na Europa 165 l/dia e no Brasil é de 200 l/dia;As perdas de água na rede de distribuição no Brasil variam de30 a 65% do total aduzido;Uma vaca leiteira necessita beber cerca de 4 litros por diapara produzir um litro de leite;Um tomate é 95% água;9.400 litros de água são utilizados para produzir quatro pneusde carro;Abastecimento e saneamento reduzem a mortalidade infantilpela metade.

O ciclo hidrológico natural é constituído por diferentes processos fí-sicos, químicos e biológicos. Quando o homem entra dentro deste sistema ese concentra no espaço, produz grandes alterações que modificam dramati-camente este ciclo e trazem consigo impactos significativos (muitas vezes deforma irreversível) no próprio homem e na natureza.

O primeiro risco é o da escassez quantitativa. A natureza tem mostradoque a água, que escoa nos rios e depende das chuvas é aleatória e varia muito

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Águas urbanas

entre as secas e estiagens. O homem, na sua história, procurou controlaressa água para seu benefício por meio de obras hidráulicas. Essas obras pro-curam reduzir a escassez pela regularização das vazões, aumentando a dis-ponibilidade ao longo do tempo, mas, desde os anos 60, essas obras sãoquestionadas devido aos impactos irreversíveis ao meio ambiente. O desen-volvimento sustentável, que procura minimizar esse conflito, é ainda umatarefa pouco compreendida e utilizada.

No passado, quando as cidades eram menores e a necessidade porabastecimento, alimentos e energia era pequena, o impacto ambiental tam-bém era reduzido e desconsiderado. Exemplo disso é a satisfatória cobertu-ra de abastecimento de água na América do Sul enquanto que a quantidadede esgoto doméstico tratado, que retorna aos rios é da ordem de 15% (vertabela 2.2, com os dados mundiais).

Tabela 2.2 Falta de acesso a água seguro e a saneamento básico por região (1990-1996) em %

(Fonte: Unesco)

Com o aumento da urbanização e com o uso de produtos químicos naagricultura e no ambiente em geral, a água utilizada nas cidades, indústrias ena agricultura retorna aos rios totalmente contaminada. A conseqüência daexpansão sem uma visão ambiental é a deterioração dos mananciais e a re-dução da cobertura de água segura para a população, ou seja a escassez quali-tativa (ver na figura 2.1 o ciclo de contaminação das cidades).

Este processo necessita de diferentes ações preventivas de planeja-mento urbano e ambiental visando minimizar os impactos e buscar o dese-jável desenvolvimento sustentável.

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A queda de qualidade de vida nas cidades de países em desenvolvi-mento e, mesmo em países desenvolvidos é um processo dominante nofinal do século vinte e início do século vinte e um. Nos aspectos da água nomeio urbano estes impacto são, principalmente:

Figura 2.1 Ciclo de contaminação

contaminação dos mananciais superficiais e subterrâneos com osefluentes urbanos como o esgoto cloacal, pluvial e os resíduos sóli-dos;disposição inadequada dos esgotos cloacais, pluviais e resíduos sóli-dos nas cidades;inundações nas áreas urbanas devido a urbanização;erosão e sedimentação gerando áreas degradadas;ocupação de áreas ribeirinhas com risco de inundações e de grandesinclinações como morros urbanos sujeitos a deslizamento após pe-ríodo chuvoso.

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Águas urbanas

Grande parte dos problemas destacados acima foram gerados por umou mais dos aspectos destacados a seguir:

falta de conhecimento generalizado da população sobre o assunto: Os profissi-onais de diferentes áreas não possuem informações adequadas so-bre os problemas e suas causas. A tomada de decisão resulta emcustos altos, onde algumas empresas se apoiam para aumentar seuslucros. Por exemplo, o uso de canalização para drenagem é umaprática generalizada no Brasil, representando custos muito altos etendem a aumentar o problema que pretendiam resolver. A própriapopulação, quando possui algum problema de inundação, por faltade conhecimento solicita a execução de um canal para o controle dainundação. Neste cenário a inundação é transferida para jusante e asobras chegam a custos 10 vezes a alternativa de controle local;concepção inadequada dos profissionais de engenharia para o planejamento econtrole dos sistemas: uma parcela importante dos engenheiros que atuamno meio urbano, estão desatualizados quanto a visão ambiental egeralmente buscam soluções estruturais, que alteram o ambiente,com excesso de áreas impermeáveis e conseqüente aumento de tem-peratura, inundações, poluição, entre outros;visão setorizada do planejamento urbano: o planejamento e o desenvolvi-mento das áreas urbanas é realizado sem incorporar os aspectos re-lacionados com os diferentes componentes da infra-estrutura de água(que não é somente abastecimento e saneamento);falta de capacidade gerencial: os municípios não possuem estrutura parao planejamento e gerenciamento adequado dos diferentes aspectosda água no meio urbano.

A maioria destes problemas é conseqüência de uma visão distorcidado controle por parte da comunidade de profissionais que ainda priorizaprojetos localizados sem uma visão da bacia e dos aspectos sociais einstitucionais das cidades. O paradoxo é que países em desenvolvimento emais pobres, priorizam ações insustentáveis economicamente como as me-didas estruturais, enquanto os países desenvolvidos buscam prevenir os pro-blemas com medidas não-estruturais mais econômicos e com“sustentabilidade ambiental”.

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Carlos E. M. Tucci

2.2 Sistemas hídricos urbanos

Os principais sistemas relacionados com água no meio ambiente ur-bano são:

Mananciais de águas;Abastecimento de água;Saneamento de efluentes cloacais;Controle da drenagem urbana;Controle das inundações ribeirinhas.

Os mananciais de água urbana são as fontes de água para abastecimentohumano, animal e industrial. Estas fontes podem ser superficiais e subterrâ-neas. Os mananciais superficiais são os rios próximos as comunidades. Estesistema varia sazonalmente e, para atender a demanda muitas vezes é neces-sário construir um reservatório para garantir a disponibilidade hídrica dacomunidade ao longo do tempo. Os mananciais subterrâneos são os aqüíferosque armazenam água no subsolo e permitem o atendimento da demandaatravés do bombeamento desta água. Geralmente o atendimento da dispo-nibilidade realizado através de água subterrânea depende da capacidade doaqüífero e da demanda. A água subterrânea geralmente é utilizada mais paracidades pequenas e médias, pois depende da vazão de bombeamento que oaqüífero permite retirar sem comprometer seu balanço de entrada e saída deágua.

O abastecimento de água envolve a utilização da água disponível no ma-nancial que é transportada até a estação de tratamento (ETA) e depois dis-tribuída a população por uma rede. Este sistema envolve importantes inves-timentos, geralmente públicos, para garantir a água em quantidade e quali-dade adequada.

O saneamento de efluentes cloacais é o sistema de coleta dos efluentesresidenciais, comerciais e industriais, o transporte deste volume seu trata-mento numa ETE (estação de tratamento de esgoto) e despejo da água tra-tada de volta ao sistema hídrico.

A drenagem urbana envolve a rede de coleta de água (e resíduos sólidos)devido a precipitação sobre as superfícies urbanas, o seu tratamento e oretorno aos rios.

O controle das inundações ribeirinhas envolve evitar com que a populaçãoseja atingida pelas inundações naturais. Os rios nos períodos chuvosos saem

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do seu leito menor e ocupam o leito maior, dentro de um processo natural.Como isto ocorre de forma irregular ao longo do tempo, a população tendea ocupar o leito maior, ficando sujeita ao impacto das inundações.

2.3 Os impactos

Todos estes elementos estão fortemente interrelacionados devido aforma como são gerenciados dentro do ambiente urbano. Os principaisproblemas relacionados com estes sistemas são apresentados a seguir.

2.3.1 Contaminação dos mananciais

O desenvolvimento urbano tem produzido um ciclo de contamina-ção gerado pelos efluentes da população urbana que são o esgoto domésti-co/industrial e o esgotos pluviais (figura 2.1 ). Este processo ocorre devidoao seguinte:

Despejo sem tratamento dos esgotos cloacais nos rios, contaminan-do os mesmos que possuem capacidade limitada de diluição. Istoocorre devido a falta de investimentos nos sistemas de esgotamentosanitário e estações de tratamento que, mesmo quando existem, apre-sentam baixa eficiência;O despejo dos esgotos pluviais transportam grande quantidade depoluição orgânica e de metais que atingem os rios nos períodos chu-vosos. Esta é uma das mais importantes poluições difusa;Contaminação das águas subterrâneas por despejos industriais e do-mésticos através das fossas sépticas, vazamento dos sistemas de es-goto sanitário e pluvial;Depósitos de resíduos sólidos urbanos que contaminam as águassuperficiais e subterrâneas, funcionando como fonte permanentede contaminação;Ocupação do solo urbano sem controle do seu impacto sobre osistema hídrico.

Com o tempo, locais que possuem abastecimento tendem a reduzir aqualidade da sua água ou exigir maior tratamento químico da água fornecidaa população. Portanto, mesmo existindo hoje uma boa cobertura do abaste-

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cimento de água, a mesma pode ficar comprometida enquanto medidas decontrole do ciclo de contaminação não ocorram.

Um outro processo preocupante que ocorre com o abastecimento deágua está relacionado com a contaminação por toxicidade. Muitas cidadesutilizam reservatórios urbanos para regularizar a demanda de água de umacomunidade. Como o reservatório se encontra próximo da cidade existegrande pressão de ocupação urbana da bacia hidrográfica a montante doreservatório. Infelizmente os municípios possuem pouca capacidade de fis-calização e se desenvolvem nestas áreas loteamentos irregulares ou clandes-tinos. No Brasil, a legislação de manancial foi criada para procurar protegerestas áreas, mas incentivou exatamente ao contrário do previsto (ver tabela2.3).

Em conseqüência desta ocupação e da falta de tratamento dos esgo-tos a carga chega diretamente ao reservatório, aumentando a probabilidadede eutrofização (riqueza em nutrientes). Com o reservatório eutrófico existea tendência de produção de algas que consomem os nutrientes. Estas algasproduzem toxinas que ficam na água. Estas toxinas, quando absorvidas pelohomem, atuam de forma cumulativa sobre o fígado, gerando doenças quepodem levar a morte, principalmente no caso de diálise. As toxinas não sãoretiradas por tratamentos tradicionais e se acumulam no fundo dos lagos,dos quais alguns peixes também se alimentam.

As principais condições de contaminação dos aqüíferos urbanos sãodevido ao seguinte:

Aterros sanitários contaminam as águas subterrâneas pelo processonatural de precipitação e infiltração. Deve-se evitar que sejamconstruídos aterros sanitários em áreas de recarga e deve-se procu-rar escolher as áreas com baixa permeabilidade. Os efeitos da conta-minação nas águas subterrâneas devem ser examinados quando daescolha do local do aterro;Grande parte das cidades brasileiras utilizam fossas sépticas comodestino final do esgoto. Esse sistema tende a contaminar a partesuperior do aqüífero. Esta contaminação pode comprometer o abas-tecimento de água urbana quando existe comunicação entre dife-rentes camadas dos aqüíferos através de percolação e de perfuraçãoinadequada dos poços artesianos;A rede de drenagem pluvial pode contaminar o solo através de per-

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Tabela 2.3 Legislação de Mananciais no Brasil

das de volume no seu transporte e até por entupimento de trechosda rede que pressionam a água contaminada para fora do sistema decondutos.

A legislação de proteção de mananciais aprovada na maioriados Estados brasileiros protege a bacia hidrográfica utilizadapara abastecimento das cidades. Nestas áreas é proibida a ocu-pação urbana e outros usos que possam comprometer a quali-dade da água de abastecimento.Devido ao crescimento das cidades, estas áreas foram pressio-nadas pelo valor imobiliário da vizinhança e pela falta de inte-resse do proprietário em proteger a área, já que a mesma perdeuo valor em função da legislação. Estas áreas são invadidas pelapopulação de baixa renda e a conseqüência imediata é o aumen-to da poluição. Muitos proprietários incentivaram a invasão atépara poder vender a propriedade para o poder público.A principal lição que se pode tirar deste cenário é que, ao sedeclarar de utilidade pública a bacia hidrográfica do manancial,a mesma deveria ser adquirida pela poder público ou criar valoreconômico para propriedade através de uma geração de merca-do indireto para a área ou ainda outros benefícios para os pro-prietários para compensar pela proibição pelo uso da mesma.

2.3.2 Abastecimento de água e saneamento

O acesso a água e ao saneamento reduz, em média, 55% da mortalida-de infantil (WRI, 1992). O desenvolvimento adequado da infra-estrutura deabastecimento e saneamento é essencial para um adequado desenvolvimen-to urbano.

Em 1990 para países em desenvolvimento o abastecimento de águacobria cerca de 80% da população e apenas 10% do saneamento. Mesmocom a cobertura de 80% existia um bilhão de pessoas que não tinham aces-so a água limpa. Neste período 453 milhões não tinham acesso a saneamen-to (entendido aqui como apenas coleta e não coleta e tratamento) represen-tando cerca de 33% da população. Em quatro anos 70 milhões receberamsaneamento, mas a população cresceu em velocidade maior, aumentando aproporção de pessoas sem acesso para 37% (Wright, 1997).

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Em muitas cidades da América do Sul os serviços de água possuemproblemas crônicos, com perda de água na distribuição e falta de racionali-zação de uso a nível doméstico e industrial. As cidades perdem de 30 a 65%da água colocada no sistema de distribuição. Na tabela 2.4 pode-se observara diferença de perdas na rede das cidades dos países desenvolvidos e dascidades da América do Sul. Quando falta água, a tendência é de buscar no-vos mananciais sem que sejam reduzidas as perdas e desenvolvida a raciona-lização.

Tabela 2.4 Valores de consumo e perdas na rede (World Bank, 1996).

Na tabela 2.5 é descrito o exemplo de Nova York. A cidade de LasVegas está dando subsídios para a troca de grama para vegetação de baixouso de água. A cidade de Denver não conseguiu aprovação da construçãode novas barragens para atendimento do aumento da demanda e está sendoobrigada a racionalizar o uso da água e comprar direitos de uso de agriculto-res. A cidade de Los Angeles já utiliza cerca de 50% do abastecimento comágua de reúso.

O desenvolvimento em várias cidades da América do Sul tem sidorealizado com moderada cobertura de redes de coleta de esgoto, além depequena cobertura de tratamento de esgoto (tabela 2.6). Inicialmente, quan-do a cidade tem pequena densidade, é utilizada a fossa séptica para disposi-

1 - litros por pessoa por dia

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ção do esgoto. A medida que a cidade cresce e o poder público não investeno sistema, o esgoto cloacal das propriedades são ligadas a rede de esgota-mento pluvial sem nenhum tratamento. Este escoamento converge para osrios urbanos e o sistema fluvial de jusante gerando os conhecidos impactosna qualidade da água. Veja os dados da tabela 2.7 de cobertura no Brasil.

Tabela 2.5 Racionalização do Uso da Água (Scientifical American, 2001)

A cidade de Nova York no início dos anos 90 teve uma grandecrise de abastecimento de água e estava indo para um cenáriocaótico, com o crescimento da população. A cidade necessitavade mais 90 milhões de galões de água a cada dia (340 milhões dem3), cerca de 7% do uso total da cidade. A alternativa era gastarmais US $ 1 bilhão para bombear água do rio Hudson, mas acidade optou pela redução da demanda.

Em 1994, foi iniciado um programa de racionalização, cominvestimento de US $ 295 milhões, para substituir 1/3 de todasas instalações dos banheiros da cidade. Cada banheiro utilizavadispositivo que consumia cerca de 5 galões para descarga, tendosido substituído por um dispositivo de 1,6 galão. Em 1997, quan-do o programa terminou 1,33 milhão de dispositivos foram subs-tituídos em 110.000 edifícios com 29% de redução de consumode água por edifício, reduzindo o consumo de 70 a 90 milhõesde galões por dia.

Nos países onde existe coleta e tratamento de esgoto pouco se conhe-ce de sua eficiência e o grau de contaminação para jusante. Este processopode se agravar com a privatização que vem ocorrendo na América do Sulna medida em que o poder concedente não tenha capacidade de fiscalizaçãoadequada.

No Brasil, as empresas de saneamento nos últimos anos têm investidoem redes de coleta de esgoto e estações de tratamento, mas parcela do volu-me gerado pelas cidades que efetivamente é tratada antes de chegar ao rio éainda muito pequena. Algumas das questões são as seguintes:

Quando as redes de esgoto são implementadas ou projetadas mui-tas vezes não é prevista a ligação da saída das habitações ou condo-mínios às redes. Desta forma as redes não coletam o esgoto projeta-

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do e as estações não recebem o esgoto para o qual têm a capacidade.Neste caso, ou o projeto foi elaborado de forma inadequada ou nãofoi executado como deveria. Como o esgoto continua escoando pelopluvial para o sistema fluvial, o impacto ambiental continua alto. Aconclusão é que os investimentos públicos são realizados de formainadequada, atendendo apenas as empresas de engenharia (obras) enão a sociedade que aporta os recursos e o meio ambiente que ne-cessita ser conservado;Como uma parte importante das empresas cobra pelo serviço decoleta e tratamento, mesmo sem que o tratamento seja realizado,qual será o interesse das mesmas em completar a cobertura de cole-ta e tratamento do esgoto?Quando for implementado o sistema de cobrança pela poluição quemirá pagar as penas previstas para a poluição gerada? Será novamentea população?Existe atualmente um impasse sobre a concessão dos serviços deágua e esgoto no Brasil que tem imobilizado o financiamento e aprivatização do setor. A constituição federal previu que a concessãodos serviços de água e esgoto pertence aos municípios, enquantoque as empresas de água e saneamento geralmente são estaduais.Como as mesmas não detêm a concessão, o seu valor econômicofica reduzido no mercado de privatização. O governo federal en-viou projeto de lei ao Congresso Nacional sobre a matéria,reacendendo a polêmica que decorre de enormes conflitos de inte-resse.

Tabela 2.6 Acesso ao Saneamento* em % (Word Bank,1999)

* acesso a saneamento indica a parcela da população que tinha coleta de esgoto sejapor rede pública como por disposição local

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Tabela 2.7 Situação brasileira com relação ao abastecimento de àgua e esgota-mento sanitário (IBGE, 1997)

* Dados referentes ao ano de 1996

2.3.3 Resíduos sólidos

No desenvolvimento urbano são observados alguns estágios distintosda produção de material sólido na drenagem urbana, que são os seguintes:

No estágio inicial, quando ocorre modificação da cobertura da bacia,pela retirada da sua proteção natural, o solo fica desprotegido e aerosão aumenta no período chuvoso, aumentando também a pro-dução de sedimentos. Exemplos desta situação são: enquanto umloteamento é implementado o solo fica desprotegido; na construçãode grandes áreas ou em lotes ocorre grande movimentação de terra,que é transportada pelo escoamento superficial. Nesta fase existepredominância dos sedimentos e pequena produção de lixo;No estágio intermediário: parte da população está estabelecida e aindaexiste importante movimentação de terra devido a novas constru-ções. A produção de lixo se soma ao processo de produção de sedi-mentos;No estágio final: nesta fase praticamente todas as superfícies urbanasestão consolidadas e apenas resulta produção de lixo urbano, commenor parcela de sedimentos de algumas áreas de construção ousem cobertura consolidada.

Na tabela 2.8 são apresentados alguns valores de produção de sedi-mentos de cidades brasileiras. A produção de lixo que chega a drenagem édevido ao seguinte:

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Freqüência e cobertura da coleta de lixo;Freqüência da limpeza das ruas;Forma de disposição do lixo pela população;Freqüência da precipitação.

Tabela 2.8 Estimativa dos sedimentos depositados na drenagem urbana dealgumas cidades brasileiras (Collischonn e Tucci, 1998)

A produção de lixo coletada no Brasil é da ordem de 0,5 a 0,8 kg/pessoa/dia, mas não existem informações sobre a quantidade de lixo que ficaretida na drenagem. Mesmo a nível internacional as informações são reduzidas.Em San José, Califórnia o lixo que chega na drenagem foi estimado em 4 lb /pessoa/ano. Após a limpeza das ruas resultam 1,8 lb/pessoa/ano na rede(Larger et al, 1977). Para o Brasil este volume deve ser maior, considerandoque muitas vezes a drenagem é utilizada como destino final de resíduossólidos.

Na última década houve um visível incremento de lixo urbano devidoas embalagens plásticas que possuem baixa reciclagem. Os rios e todo osistema de drenagem ficam cheios de garrafas tipo pet, além das embalagensde plásticos de todo o tipo.

As principais conseqüências ambientais da produção de sedimentossão as seguintes:

assoreamento das seções de canalizações da drenagem, com redu-ção da capacidade de escoamento de condutos, rios e lagos urbanos.A lagoa da Pampulha (em Belo Horizonte) é um exemplo de umlago urbano que tem sido assoreado. O arroio Dilúvio em PortoAlegre, devido a sua largura e pequena profundidade, durante as

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estiagens, tem depositado no canal a produção de sedimentos dabacia e criado vegetação, reduzindo a capacidade de escoamentodurante as enchentes.transporte de poluentes agregados ao sedimento, que contaminamas águas pluviais.

2.3.4 Escoamento pluvial

O escoamento pluvial pode produzir inundações e impactos nas áreasurbanas devido a dois processos, que ocorrem isoladamente ou combina-dos: Inundações de áreas ribeirinhas e inundações devido a urbanização.

Inundações de áreas ribeirinhas

Os rios geralmente possuem dois leitos, o leito menor onde a águaescoa na maioria do tempo e o leito maior, que é inundado com risco geral-mente entre 1,5 e 2 anos. Tucci e Genz (1994) obtiveram um valor médio de1,87 anos para os rios do Alto Paraguai. O impacto devido a inundaçãoocorre quando a população ocupa o leito maior do rio, ficando sujeita ainundação (figura 2.2).

Figura 2.2 Características dos leitos do rio

Estas enchentes ocorrem, principalmente, pelo processo natural noqual o rio escoa pelo seu leito maior. Este tipo de enchente é decorrência deprocesso natural do ciclo hidrológico. Quando a população ocupa o leito maior,que são áreas de risco, os impactos são freqüentes. Essas condições ocor-rem, em geral, devido às seguintes ações:

como no Plano Diretor Urbano da quase totalidade das cidades daAmérica do Sul, não existe nenhuma restrição quanto ao loteamento

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de áreas de risco de inundação, a seqüência de anos sem enchentes érazão suficiente para que empresários loteiem áreas inadequadas;invasão de áreas ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pelapopulação de baixa renda;ocupação de áreas de médio risco, que são atingidas com freqüênciamenor, mas que quando o são, sofrem prejuízos significativos.

Os principais impactos sobre a população são:

prejuízos de perdas materiais e humanas;interrupção da atividade econômica das áreas inundadas;contaminação por doenças de veiculação hídrica como leptospirose,cólera, entre outras;contaminação da água pela inundação de depósitos de material tóxi-co, estações de tratamentos entre outros.

O gerenciamento atual não incentiva a prevenção destes problemas,já que a medida que ocorre a inundação o município declara calamidadepública e recebe recursos a fundo perdido e não necessita realizar concor-rência pública para gastar. Como a maioria das soluções sustentáveis pas-sam por medidas não-estruturais que envolvem restrições a população, difi-cilmente um prefeito buscará este tipo de solução porque geralmente a po-pulação espera por uma obra. Enquanto que, para implementar as medidasnão-estruturais, ele teria que interferir em interesses de proprietários de áre-as de risco, que politicamente é complexo a nível local.

Para buscar modificar este cenário é necessário um programa a nívelestadual voltado à educação da população, além de atuação junto aos ban-cos que financiam obras em áreas de risco.

Inundações devido à urbanização

As enchentes aumentam a sua freqüência e magnitude devido aimpermeabilização, ocupação do solo e a construção da rede de condutospluviais. O desenvolvimento urbano pode também produzir obstruções aoescoamento, como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções aoescoamento junto a condutos e assoreamento.

A medida que a cidade se urbaniza, em geral, ocorrem os seguintesimpactos:

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aumento das vazões máximas (em até 7 vezes, figura 2.3) e da suafreqüência devido ao aumento da capacidade de escoamento atra-vés de condutos e canais e impermeabilização das superfícies;aumento da produção de sedimentos devido à desproteção das su-perfícies e à produção de resíduos sólidos (lixo);deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea, devidoa lavagem das ruas, transporte de material sólido e às ligações clan-destinas de esgoto cloacal e pluvial e contaminação de aqüíferos;devido à forma desorganizada como a infra-estrutura urbana é im-plantada, tais como: (a) pontes e taludes de estradas que obstruem oescoamento; (b) redução de seção do escoamento por aterros depontes e para construções em geral; (c) deposição e obstrução derios, canais e condutos por lixos e sedimentos; (d) projetos e obrasde drenagem inadequadas, com diâmetros que diminuem para jusante,drenagem sem esgotamento, entre outros.

Figura 2.3 As curvas fornecem o valor de R, aumento da vazão média deinundação função da área impermeável e da canalização do sistema de drenagem.

(Leopold, 1968)

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2.3.5 Qualidade da água pluvial

A quantidade de material suspenso na drenagem pluvial apresenta umacarga muito alta considerando a vazão envolvida. Esse volume é mais signi-ficativo no início das enchentes. Os primeiros 25 mm de escoamento super-ficial geralmente transportam grande parte da carga poluente de origem plu-vial (Schueller, 1987).

Na tabela 2.9 são apresentados alguns valores de concentração daliteratura. Schueller (1987) cita que a concentração média dos eventos nãose altera em função do volume do evento, sendo característico de cada áreadrenada.

Os esgotos podem ser combinados (cloacal e pluvial num mesmoconduto) ou separados ( rede pluvial e cloacal separadas). A legislação esta-belece o sistema separador, mas na prática isto não ocorre devido às liga-ções clandestinas e à falta de rede cloacal. Devido à falta de capacidadefinanceira para ampliação da rede cloacal, algumas prefeituras têm permiti-do o uso da rede pluvial para transporte do cloacal, o que pode ser umasolução inadequada à medida que esse esgoto não é tratado. Quando o siste-ma cloacal é implementado a grande dificuldade envolve a retirada das liga-ções existentes da rede pluvial, o que na prática resultam em dois sistemasmisturados com diferentes níveis de carga.

Tabela 2.9 Valores médios de parâmetros de qualidade da água de pluviais emmg/l para algumas cidades

1 - Colson (1974); 2 - Weibel et al. (1964); 3 - AVCO (1970); 4 - Ide (1984);5 - APWA (1969)

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As vantagens e desvantagens dos dois sistemas têm gerado longasdiscussões sobre o assunto em todo o mundo. Considerando a inter-relaçãocom a drenagem, o sistema unitário geralmente amplia o custo do controle quantitativo dadrenagem pluvial a medida que exige que as detenções sejam no sub-solo. Estetipo de construção tem um custo unitário 7 vezes superior à detenção aberta(IPH, 2000). As outras desvantagens são: na estiagem, nas áreas urbanas oodor pode ser significativo; durante as inundações, quando ocorreextravasamento, existe maior potencial de proliferação de doenças. Este ce-nário é mais grave quando os extravasamentos forem freqüentes.

As cidades, que de outro lado priorizaram a rede de esgotamento sa-nitário e não consideraram os pluviais sofrem freqüentes inundações com oaumento da urbanização, como tem acontecido em Barranquilla na Colôm-bia e algumas áreas de Santiago.

Não existem soluções únicas e milagrosas, mas soluções adequadas eracionais para cada realidade. O ideal é buscar conciliar a coleta e tratamentodo esgotamento sanitário somado a retenção e tratamento do escoamentopluvial dentro de uma visão integrada, de tal forma que tanto os aspectoshigiênicos como ambientais sejam atendidos.

A qualidade da água da rede pluvial depende de vários fatores: dalimpeza urbana e sua freqüência, da intensidade da precipitação e sua distri-buição temporal e espacial, da época do ano e do tipo de uso da área urbana.Os principais indicadores da qualidade da água são os parâmetros que carac-terizam a poluição orgânica e a quantidade de metais.

2.3.6 Doenças de veiculação hídrica

Existem muitas doenças com veiculação hídrica. No Brasil 65% dasinternações hospitalares são provenientes de doenças de veiculação hídrica.As doenças quanto a água podem ser classificadas baseados no conceito deWhite et al (1972) e apresentado por Prost (1993):

Doenças com fonte na água (water borne diseases): dependem da água para suatransmissão como cólera, salmonela, diarréia, leptospirose (desenvolvidadurante as inundações pela mistura da urina do rato), etc. A água age comoveículo passivo para o agente de infecção.

Doenças devido a falta de higiêne (water-washed diseases): dependem da educação dapopulação e da disponibilidade de água segura. Estas doenças estão relacio-nadas com a infecção do ouvido, pele e os olhos.

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Relacionado com a água (water-related) : malária (no qual o agente utiliza a água),esquistossomose (o agente utiliza a água para se desenvolver), febrehemorrágica.

*cólera, febre tifóide, poliomielite, desinteria, esquistossomose, etc

Muitas destas doenças estão relacionadas com baixa cobertura de águae saneamento como diarréia e cólera. Outras relacionadas com a inundaçãocomo a leptospirose, malária e dengue. Na tabela 2.10 são apresentadas amortalidade infantil relacionada com as doenças de veiculação hídrica noBrasil e na tabela 2.11 a proporção de cobertura de serviços de água e sane-amento no Brasil de acordo com o grupo de renda, mostrando claramente apequena proporção de atendimento para a população de menor renda. Natabela 2.12 são apresentados valores de ocorência total no Brasil.

Tabela 2.11 Proporção da cobertura de serviços, por grupos de renda do Brasilem % (Mota e Rezende, 1999)

SM = salário mínimo

As doenças transmitidas através do consumo da água preocupam de-vido principalmente ao seguinte:

Cargas domésticas: o excesso de nutrientes tem produzido eutrofização doslagos, aumentam as algas, que geram toxicidade. Esta toxicidade pode ficar

Tabela 2.10 Mortalidade devido a doenças de veiculação hídrica no Brasil(Mota e Rezende, 1999)

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Tabela 2.12 Número de ocorrências totais no Brasil em 1996 (MS, 1999)

solúvel na água ou se depositar no fundo dos rios e lagos. A ação da toxicidadeé de atacar o fígado das pessoas gerando doenças degenerativas como cân-cer e cirrose.

Cargas industriais: os efluentes industriais apresentam os mais diferentes com-postos e, com a evolução deste tipo de indústria, novos componentes sãoproduzidos diariamente. Dificilmente as equipes de fiscalização possuemcondições de acompanhar este processo.

Cargas difusas: as cargas difusas provenientes de áreas agrícolas trazem com-postos de pesticidas, que apresentam novos compostos anualmente. As car-gas difusas de áreas urbanas foram mencionadas nos itens anteriores e po-dem atuar de forma cumulativa sobre o organismo das pessoas.

2.3.7 Comparação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento

A Tabela 2.13 apresenta uma comparação dos cenários de desenvolvi-mento dos aspectos da água no meio urbano entre países desenvolvidos epaíses em desenvolvimento.

Pode-se observar que nos países desenvolvidos grande parte dos pro-blemas foram resolvidos quanto ao abastecimento de água, tratamento deesgoto e controle quantitativo da drenagem urbana. Neste último caso, foipriorizado o controle através de medidas não-estruturais que obrigam a po-pulação a controlar na fonte os impactos devido a urbanização. O principalproblema nos países desenvolvidos é o controle da poluição difusa em fun-ção das águas pluviais.

De outro lado o controle nos países em desenvolvimento ainda estáno estágio do tratamento de esgoto. Em alguns países, como o Brasil, oabastecimento de água que poderia estar resolvido, pela grande cobertura deabastecimento, volta a ser um problema devido a forte contaminação dos

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mananciais. Este problema é decorrência da baixa cobertura de esgoto tra-tado. Na realidade existem muitas redes e estações de tratamento, mas aparcela de esgoto sem tratamento ainda é muito grande. Em decorrência dociclo de contaminação produzido pelo aumento do volume de esgoto nãotratado para a mesma capacidade de diluição, os objetivos também são desaúde pública, pois a população passa a ser contaminada pelo conjunto doesgoto produzido pela cidade no que chamamos aqui de ciclo de contaminaçãourbana (figura 2.1).

Um exemplo deste cenário é a cidade de São Paulo que se encontra norio Tietê e tem demanda total de abastecimento da ordem de 64 m3/s, sendoque mais da metade da água é importada ( 33 m3/s) da bacia do Piracicaba(cabeceiras na serra da Cantareira). Isto ocorre porque grande parte dosmananciais na vizinhança da cidade estão contaminados pelos esgotos dacidade. Os mananciais como a Billings e a Guarapiranga estão com grandecomprometimento da sua qualidade.

Tabela 2.13 Comparação dos aspectos da água no meio urbano

O controle quantitativo da drenagem urbana é limitado nos países emdesenvolvimento. O estágio do controle da qualidade da água resultante da

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drenagem está também mais distante nestes países. Na América do Sul, comoem grande parte dos países em desenvolvimento busca-se o controle dosimpactos quantitativos da drenagem que ainda não estão controlados. Porexemplo, os sistemas de detenção construídos nas cidades brasileiras possu-em como foco apenas o controle do impacto das inundações, sem o compo-nente de controle da qualidade da água.

2.4 Gerenciamento das águas urbanas

2.4.1 O cenário atual

Atualmente um dos principais, se não o principal problema de recur-sos hídricos no país é o impacto resultante do desenvolvimento urbano,tanto a nível interno dos municípios como a nível externo, exportando po-luição e inundações para jusante.

Este cenário tende a gerar um retorno a condições sanitárias que pro-duzem novos tipos de endemias. As algas tóxicas produzidas pela prolifera-ção devido ao aumento de nutrientes em lagos é um exemplo recente desteproblema.

As regiões metropolitanas deixaram de crescer no seu núcleo, mas seexpandem na periferia (veja capítulo de urbanização), justamente onde seconcentram os mananciais, agravando este problema. A tendência é de queas cidades continuem buscando novos mananciais sempre mais distante ecom alto custo. A ineficiência pública é observada no seguinte:

A grande perda de água tratada nas redes de distribuição urbana.Não é compreensível que se busquem novos mananciais quando asperdas continuam em níveis tão altos. As perdas podem ser defaturamento e físicas, as primeiras estão relacionadas com a medi-ção e cobrança e a segunda devido a vazamento na rede. O valormédio no Brasil é de 39,6 % (MPO-SEPURB-IPEA, 1998);Quando existem, as redes de tratamento não coletam esgoto sufici-ente, da mesma forma, as estações de tratamento continuam funci-onando abaixo da sua capacidade instalada;A rede de pluviais apresenta dois problemas: (a) além de transportaro esgoto que não é coletado pela rede de cloacais, também transpor-ta a contaminação do escoamento pluvial (carga orgânica, tóxicos emetais); (b) a construção excessiva de canais e condutos, apenas trans-

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ferem as inundações de um local para outro dentro da cidade, acustos insustentáveis para os municípios.

2.4.2 Visão Integrada

A gestão municipal de todos os componentes tem sido realizada de-sintegrada com muito pouco foco no conjunto da cidade, atuando sempresobre problemas pontuais e nunca desenvolvendo um planejamento pre-ventivo e indutivo. A visão profissional é pouco integradora e muito limita-da. A visão moderna envolve o Planejamento integrado da água na cidade,incorporada ao Plano de Desenvolvimento Urbano (figura 2.4) onde os com-ponentes de manancial, esgotamento sanitário, resíduo sólido, drenagemurbana, inundação ribeirinha são vistos dentro de um mesmo conjunto erelacionados com a causa principal que é a ocupação do solo urbano.

Figura 2.4 Visão integrada do planejamento dos aspectos da água no ambienteurbano

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Águas urbanas

A atuação preventiva no desenvolvimento urbano reduz o custo dasolução dos problemas relacionados com a água. Por exemplo, no controlepreventivo da drenagem urbana a relação entre o planejamento não-estrutu-ral dos controles com relação as obras futuras de contenção estruturais é de1 para 500. Ou seja, planejando a cidade com áreas de ocupação e controleda fonte da drenagem, a distribuição do espaço de risco e o desenvolvimen-to dos sistemas de abastecimento e esgotamento, os custos são muito meno-res do que quando ocorrem as crises onde os remédios passam a ter custosinviáveis para o município.

O desenvolvimento do planejamento das áreas urbanas envolve prin-cipalmente:

planejamento do desenvolvimento urbano;transporte;abastecimento de água e saneamento;drenagem urbana e controle de inundações;resíduo sólido;controle ambiental.

O planejamento urbano deve considerar os aspectos relacionados coma água, no uso do solo e na definição das tendências dos vetores de expan-são da cidade.

Considerando os aspectos relacionados com a água, existe uma forteinter-relação entre os mesmos. Quando vistos dentro de cada uma das dis-ciplinas, em planos setoriais, certamente resultarão em prejuízos para a soci-edade. Na figura 2.4 pode-se observar a representação do planejamento in-tegrado dos setores essenciais relacionados com os água no meio urbano.

Algumas destas inter-relações são as seguintes:

o abastecimento de água é realizado a partir de mananciais que po-dem ser contaminados pelo esgoto cloacal, pluvial ou por depósitosde resíduos sólidos;a solução do controle da drenagem urbana depende da existência derede de esgoto cloacal e suas características;a limpeza das ruas, a coleta e disposição de resíduos sólidos interferena quantidade e na qualidade da água dos pluviais.

A maior dificuldade para a implementação do planejamento integra-do decorre da limitada capacidade institucional dos municípios para enfren-

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35

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tar problemas tão complexos e interdisciplinares e a forma setorial como agestão municipal é organizada.

2.4.3 Aspectos institucionais

A estrutura institucional é a base do gerenciamento dos recursoshídricos urbanos e da sua política de controle. A definição institucionaldepende dos espaços de atribuição da organização do país, sua inter-relaçãotanto legal como de gestão quanto a água, uso do solo e meio ambiente. Paraestabelecer o mecanismo de gerenciamento destes elementos é necessáriodefinir os espaços geográficos relacionados com o problema.

Espaço geográfico de gerenciamento

O impacto dos efluentes de esgotamento sanitário e da drenagem ur-bana podem ser analisados dentro de dois contextos espaciais diferentes,discutidos a seguir:

Impactos que extrapolam o município, ampliando as enchentes e contaminando ajusante os sistemas hídricos como rios, lagos e reservatórios. Esta contami-nação é denominada poluição pontual e difusiva urbana.. Este tipo de impacto éa resultante das ações dentro da cidade, que são transferidas para o restanteda bacia. Para o seu controle podem ser estabelecidos padrões a serem atin-gidos e geralmente são regulados por legislação ambiental e de recursoshídricos federal ou estadual;

Impacto dentro das cidades: estes impactos são disseminados dentro da cidade,que atingem a sua própria população. O controle neste caso é estabelecidoatravés de medidas desenvolvidas dentro do município através de legislaçãomunicipal e ações estruturais específicas.

Experiências

A experiência americana no processo tem sido aplicada através de umprograma nacional desenvolvido pela EPA (Environmental ProtectionAgency) que obriga a todas as cidades com mais de 100 mil habitantes aestabelecer um programa de BMP (Best Management Practices). Recente-mente iniciou-se a segunda fase do programa para cidades com população

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Águas urbanas

inferior à mencionada. (Roesner e Traina, 1994). As BMPs envolvem o con-trole da qualidade e quantidade por parte do município através de medidasestruturais e não-estruturais. O município deve demonstrar que está avan-çando e buscar atingir estes objetivos através de um Plano. Este processocontribui para reduzir a poluição difusa dos rios da vizinhança das cidades.A penalidade que pode ser imposta é a ação judicial da EPA contra o muni-cípio.

A experiência francesa envolve o gerenciamento dos impactos e con-troles através do comitê de bacia, que é o Fórum básico para a tomada dedecisão. As metas nas quais os municípios e outros atores devem ser atingi-dos são decididas no comitê.

Legislações

As legislações que envolvem as águas urbanas estão relacionadas com:recursos hídricos, uso do solo e licenciamento ambiental. A seguir é apre-sentada uma análise dentro do cenário brasileiro onde existem os níveis Fe-deral (Nação); Estadual (Estado ou Província) e Municipal.

Quanto aos recursos hídricos: A constituição Federal define o domíniodos rios e a legislação de recursos hídricos a nível federal e estabelece osprincípios básicos da gestão através de bacias hidrográficas. As bacias po-dem ser de domínio estadual ou federal.

Algumas legislações estaduais de recursos hídricos estabelecem crité-rios para a outorga do uso da água, mas não legislam sobre a outorga relati-va ao despejo de efluentes de drenagem. A legislação ambiental estabelecenormas e padrões de qualidade da água dos rios através de classes, mas nãodefine restrições com relação aos efluentes urbanos lançados nos rios. Aação dos órgãos estaduais de controle ambiental é limitada devido a falta decapacidade dos municípios em investir neste controle. Portanto, não existeexigência e não existe pressão para investimentos no setor.

Dentro deste contexto o escoamento pluvial resultante das cidadesdeve ser objeto de outorga ou de controle a ser previsto no Plano de Bacia.Como estes procedimentos ainda não estão sendo cobrados pelos Estados,não existe no momento uma pressão direta para a redução dos impactosresultantes da urbanização.

Quanto a uso do solo: Na constituição Federal, artigo 30, é definido queo uso do solo é municipal. Porém, os Estados e a União podem estabelecer

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normas para o disciplinamento do uso do solo visando a proteção ambiental,controle da poluição, saúde pública e da segurança. Desta forma, observa-seque no caso da drenagem urbana que envolve o meio ambiente e o controleda poluição a matéria é de competência concorrente entre Município, Esta-do e Federação. A tendência é dos municípios introduzirem diretrizes demacrozoneamento urbano nos Planos Diretores urbanos, incentivados pe-los Estados.

Observa-se que no zoneamento relativo ao uso do solo não tem sidocontemplado pelos municípios os aspectos de águas urbanas como esgota-mento sanitário, resíduo sólido, drenagem e inundações. O que tem sidoobservado são legislações restritivas quanto à proteção de mananciais e ocu-pação de áreas ambientais. A legislação muito restritiva somente produz re-ações negativas e desobediência. Portanto, não atingem os objetivos de con-trole ambiental. Isto ocorre na forma de invasão das áreas, loteamentosirregulares, entre outros. Um exemplo feliz foi o introduzido pelo municípiode Estrela (RS) Brasil, que permitiu a troca de áreas de inundação (proibidapara uso) por solo criado ou índice de aproveitamento urbano acima doprevisto no Plano Diretor nas áreas mais valorizadas da cidade.

Ao introduzir restrições do uso do solo é necessário que a legislaçãodê alternativa econômica ao proprietário da terra ou o município deve com-prar a propriedade. Numa sociedade democrática o impedimento do uso doespaço privado para o bem público deve ser compensado pelo público be-neficiado, caso contrário torna-se um confisco. Atualmente as legislações douso do solo se apropriam da propriedade privada e ainda exigem o paga-mento de impostos pelo proprietário que não possui alternativa econômica.A conseqüência imediata na maioria das situações é a desobediência legal.

Quanto ao licenciamento ambiental: este licenciamento estabelece oslimites para construção e operação de canais de drenagem, regulado pela Lei6938/81 e resolução CONAMA n. 237/97. Da mesma forma, a resoluçãoCONAMA 1/86 art 2o , VII estabelece a necessidade de licença ambientalpara “obras hidráulicas para drenagem”.

Gerenciamento de bacias urbanas compartidas: grande parte das cida-des possuem bacia hidrográfica comum com outros municípios. Geralmen-te existem os seguintes cenários: (a) um município está a montante de outro;(b) o rio divide os municípios.

No controle institucional da drenagem que envolve mais de um muni-cípio pode ser realizado pelo seguinte:

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através de legislação municipal adequada para cada município; ouatravés de legislação estadual que estabeleça os padrões a seremmantidos nos municípios de tal forma a não serem transferidos osimpactos;uso dos dois procedimentos anteriores.

Provavelmente a última hipótese deverá ocorrer a longo prazo. A cur-to prazo é mais viável a primeira opção, até que o comitê da bacia e osPlanos Estaduais desenvolvam a regulamentação setorial. Portanto, quandoforem desenvolvidos os Planos das bacias que envolvam mais de um muni-cípio deve-se buscar acordar ações conjuntas com estes municípios para seobter o planejamento de toda a bacia.

Proposta de política de controle da drenagem urbana

A política de controle da drenagem urbana envolve dois ambientes:externo a cidade e o interno a cidade. Na figura 2.5, pode-se observar deforma esquemática a caracterização institucional dos elementos que podempermitir o gerenciamento dos controles da drenagem urbana.

Existe uma grande inter-relação entre os elementos de uso do solo,controle ambiental e recursos hídricos tanto internamente na cidade comono Plano da Bacia Hidrográfica. Como figurado, o gerenciamento da cida-de é controlado monitorando o que a cidade exporta para o restante dabacia, induzindo a mesma ao seu controle interno, utilizando-se dos meioslegais e financeiros.

O processo interno dentro da(s) cidade(s) é uma atribuição essencial-mente do município ou de consórcios de municípios, dependendo das ca-racterísticas das bacias urbanas e seu desenvolvimento.

A seguir são destacados os elementos principais institucionais dos doisambientes.

Controle externo às áreas urbanas

O mecanismo previsto na legislação brasileira para o gerenciamentoexterno das cidades é o Plano de Recursos Hídricos da Bacia. No entanto,dificilmente no referido Plano será possível elaborar os Planos de Drena-gem, Esgotamento Sanitário e Resíduo Sólido de cada cidade contida nabacia. O Plano deveria estabelecer as metas que as cidades devem atingir

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para que o rio principal e seus afluentes atinjam níveis ambientalmente ade-quados de qualidade da água. O Plano Integrado de Drenagem Urbana,esgotamento sanitário e resíduos sólidos deve obedecer os controles estabe-lecidos no Plano da bacia no qual estiver inserido.

Figura 2.5 Elementos do sistema de gerenciamento

Os mecanismos de indução básicos para este processo são: (a)institucional e (b) econômico-financeiros.

definição de normas e critérios para outorga de efluentes que alte-rem a qualidade e quantidade de águas provenientes de áreas urba-nas;

Por exemplo

Art.(?) É de responsabilidade da (?) a definição de critérios e normasquanto a alterações na quantidade e qualidade da água pluvial provenientede áreas urbanas.

A legislação: Atualmente a legislação prevê a outorga para efluentes. Des-ta forma, poderiam ser estabelecidos dois mecanismos básicos:

(a)

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Águas urbanas

o segundo componente se refere ao mecanismo para atingir estesobjetivos. Este mecanismo deve ser um Plano Integrado de Esgo-tamento Sanitário, Drenagem Urbana e Resíduo Sólido. Não é pos-sível imaginar um planejamento setorial já que os aspectos citadosestão intimamente ligados. Por exemplo,

Art (?) A outorga dos esgotos cloacais, pluviais e disposição dos resíduossólidos dos municípios deve ser precedido dos Planos Integrados de Es-gotamento Sanitário, Resíduos Sólidos e Drenagem Urbana do municípiovisando o atendimento das exigências do artigo (?) deste decreto.

Parágrafo 1o Para as cidades com mais de 200.000 ( a ser melhor defini-do) habitantes o plano deverá ser concluído no máximo em 5 anos. Para asdemais cidades o plano deverá ser concluído em até 10 anos.

Parágrafo 2o O acompanhamento da implementação dos Planos ficará acargo do comitê das bacias hidrográficas.

O texto acima não passou por uma revisão jurídica adequada e deveservir como orientação apenas do conteúdo técnico.

Financiamento: Na figura 2.6 é apresentada uma configuração de interaçãoentre os agentes da bacia e dos municípios prevista no Plano Diretor deDrenagem Urbana da Região Metropolitana de Curitiba.

Os potenciais elementos de indução para os municípios seriam osseguintes:

O comitê de bacia subsidiaria parte dos recursos para elaboraçãodos Planos;Criar um fundo econômico para financiar as ações do Plano previs-to para as cidades. O ressarcimento dos investimentos seria atravésdas taxas municipais específicas para esgotamento sanitário, resíduosólido e drenagem urbana, este último baseado na área impermeáveldas propriedades. O Plano deveria induzir a transparência destesmecanismos dentro do município visando a sustentabilidade de lon-go período do sistema de cobrança, com a devida fiscalização.

(b)

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Figura 2.6 Exemplo da interação técnico-financeira (PDDURC, 2002)

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Inundações e Drenagem Urbana

3.1 Inundações urbanas

A inundação urbana é uma ocorrência tão antiga quanto as cidades ouqualquer aglomeramento urbano. A inundação ocorre quando as águas dosrios, riachos, galerias pluviais saem do leito de escoamento devido a falta decapacidade de transporte de um destes sistemas e ocupa áreas onde a popu-lação utiliza para moradia, transporte (ruas, rodovias e passeios), recreação,comércio, industria, entre outros.

Estes eventos podem ocorrer devido ao comportamento natural dosrios ou ampliados pelo efeito de alteração produzida pelo homem na urba-nização pela impermeabilização das superfícies e a canalização dos rios.

Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de infiltrar,grande parte do volume escoa para o sistema de drenagem, superando suacapacidade natural de escoamento. O excesso do volume que não consegueser drenado ocupa a várzea inundando de acordo com a topografia das áreaspróximas aos rios. Estes eventos ocorrem de forma aleatória em função dosprocessos climáticos locais e regionais. Este tipo de inundação é denomina-do neste livro de inundação ribeirinha.

Na medida que a população impermeabiliza o solo e acelera o escoa-mento através de condutos e canais a quantidade de água que chega ao mes-mo tempo no sistema de drenagem aumenta produzindo inundações maisfreqüentes do que as que existiam quando a superfície era permeável e oescoamento se dava pelo ravinamento natural. Esta inundação é devido aurbanização ou na drenagem urbana.

Estes dois efeitos podem ocorrer isoladamente ou combinados, masgeralmente as inundações ribeirinhas ocorrem em bacias de grande médio eporte ( > 500 km2) no seu trecho onde a declividade é baixa e a seção de

3INUNDAÇÕES E DRENAEM URBANACarlos E. M. Tucci

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escoamento pequena, enquanto que as inundações na drenagem urbana ocor-rem em pequenas bacias urbanizadas (1 - 100 km2, a exceção são grandescidades como São Paulo).

Os problemas resultantes da inundação dependem do grau de ocupa-ção da várzea pela população no primeiro caso e da impermeabilização ecanalização da rede de drenagem no segundo. As inundações ribeirinhastem sido registradas junto com a história do desenvolvimento humano. Asinundações devido a urbanização tem sido mais freqüente neste século, como aumento significativo da urbanização das cidades e a tendência dos enge-nheiros de drenarem o escoamento pluvial o mais rápido possível das áreasurbanizadas.

Neste capítulo é apresentado a seguir um histórico sobre as inunda-ções, o gerenciamento das inundações ribeirinhas e devido a drenagem ur-bana e os princípios do Plano Diretor de Drenagem Urbana.

3.2 Histórico da convivência com a inundação

As inundações são mais antigas que a existência do homem na terra.O homem sempre procurou se localizar perto dos rios para usá-lo comotransporte, obter água para seu consumo e mesmo dispor seus dejetos. Asáreas próximas aos rios geralmente são planas e propícias para o assenta-mento humano o que também motivou a sua ocupação.

O desenvolvimento histórico da utilização de áreas livres explica mui-tos dos antigos condicionamentos urbanos existentes. Devido à grande difi-culdade de meios de transporte no passado, utilizava-se o rio como a viaprincipal. As cidades se desenvolveram às margens dos rios ou no litoral.Pela própria experiência dos antigos moradores, a população procurou ha-bitar as zonas mais altas onde o rio dificilmente chegaria. Observa-se que aparcela da população com maior memória sobre os eventos de inundaçãosão os que se localizam em locais com cota mais segura.

Sobre a cidade de Amarna no Egito, que Aquenaton (1340 aC) esco-lheu para ser uma nova capital foi mencionado “ Correndo de leste paraoeste, dois leitos secos de rio, nos quais nada se construiu por medo das enchentesrepentinas, dividiam a cidade em três partes: o centro e os bairros residenciaisde norte e do sul. “ Brier (1998). Este é um exemplo que a mais de 3000 nopassado as pessoas já planejavam a ocupação do espaço de inundação.

A história mostra em diferentes partes do globo que o homem temprocurado conviver com as inundações, desde as mais freqüentes até as mais

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raras. Uma experiência histórica é a da igreja católica, pois sempre que ocor-re uma inundação numa cidade o prédio da igreja, apesar de ser uma dasobras mais antigas, localiza-se em nível seguro.

Hoyt e Langbein (1959) para enfatizar o caráter limitado que tem ohomem de controlar as inundações e sua ação é sempre de minimizar seusimpactos apresenta um prefácio com uma seqüência histórica reproduzida aseguir:

“ Terra de Canaan, 2957 a C, numa grande inundação, provavelmente centradacerca do UR no Eufrates, Noé e sua família se salvaram. Um dilúvio resul-tante de 40 dias e 40 noites de continua precipitação ocorreu na região.Terras ficaram inundadas por 150 dias. Todas as criaturas vivas afogaramcom exceção de Noé, sua família e animais, dois a dois, foram salvos numaarca e finalmente descansaram no Monte Ararat” (passagem da bíblia sobreo Dilúvio, citada no referido prefácio). Este texto caracteriza um evento derisco muito baixo de ocorrência.

“Egito XXIII, Dinastia, 747 a C. Enchentes sucedem secas. Faraó anunciouque todo o vale do rio Nilo foi inundado, templos estão cheios de água e ohomem parece planta d’água. Aparentemente os polders não são suficiente-mente altos ou fortes para confinar as cheias na seção normal. A presentecatástrofe descreve bem os caprichos da natureza, outro faraó reclamou quepor sete anos o Nilo não subiu. “ Este texto que também pode ser encon-trado relatos na Bíblia também enfatiza a incapacidade de prever o clima eseus impactos quando ocorrem.

“Em algum lugar nos Estados Unidos no futuro (o autor mencionava ano2000, muito distante na época). A natureza toma seu inexorável preço. Cheiade 1000 anos causou indestrutível dano e perdas de vida. Engenheiros eMeteorologistas acreditam que a presente tormenta resultou da combinaçãode condições meteorológicas e hidrológicas que ocorreriam uma vez em milanos. Reservatórios, diques e outras obras de controle que provaram efeti-vas por um século e são efetivas para sua capacidade de projeto são incapa-zes de controlar os grandes volumes de água envolvidos. Esta catástrofe trazuma lição que a proteçào contra inundações é relativa e eventualmente a natureza cobraum preço daqueles que ocupam a várzea de inundação.”

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Outro exemplo histórico citado por Hoyt e Langbein (1959) foi sobreo rio Pó na Itália. Freeman em 1930 menciona “não existe nenhum projetomais ambicioso, corajoso e cuidadosamente planejado de regularização derio em qualquer lugar do mundo do que o do rio Pó”. Em Novembro de1951, excesso de precipitação e altas marés destruíram diques, causando amorte de 100 pessoas, 30.000 vacas e prejuízos de um terço do PIB da Itáliada época.

No rio Itajaí em Santa Catarina no Brasil existe uma série de níveis deinundações desde 1852. Deste histórico pode-se observar que as três maio-res inundações em Blumenau ocorreram entre 1852 e 1911, sendo a maiorem 1880 com 17,10 m. Entre 1911 e 1982 não ocorreu nenhuma inundaçãocom cota superior a 12,90 m, o que fez com que a população perdesse amemória dos eventos críticos e ocupasse o vale de inundação. Em 1983,quando a cidade se encontrava bem desenvolvida com população de cercade 500 mil habitantes ocorreu uma inundação (a quinta em magnitude dosúltimos 150 anos) com cota máxima de 15,34 m. Os prejuízos resultantesem todo o vale do Itajaí representou cerca de 8% do PIB de Santa Catarina.A lição tirada deste exemplo é que a memória sobre as inundações se dissipacom passar do tempo e a população deixa de considerar o risco. Como nãohá planejamento do espaço de risco, a ocupação ocorre e os prejuízos sãosignificativos. No entanto, a Cia Hering em Blumenau (fundada em 1880,ano da maior inundação) manteve na memória o valor de 17,10m e desen-volveu suas instalações em cota superior a esta. Sem planejamento os relatoshistóricos são as únicas informações disponíveis para orientar as pessoas.

Fica claro a necessidade do planejamento institucional do espaço derisco. Em Porto Alegre, RS existem níveis de inundação desde 1899, quandose observou vários eventos até 1967. Em 1970 foi construído um dique deproteção para a cidade e desde 1967 não ocorre nenhuma inundação. Nosúltimos anos houve um movimento na cidade para a retirada do dique deinundação, considerando que não tinham ocorrido eventos nos últimos 35anos. Esta falta de conhecimento levou a Câmara de Vereadores a aprovar aderrubada do dique, que felizmente não foi executada pelo município.

O ambiente institucional de controle de inundações não leva a umasolução sustentável. Existem, apenas, poucas ações isoladas de alguns pou-cos profissionais. Em geral, o atendimento a enchente somente é realizadodepois de sua ocorrência. A tendência é que o problema fique no esqueci-mento após cada ocorrência, retornando na seguinte. Isso se deve a váriosfatores, entre os quais estão os seguintes:

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falta de conhecimento sobre controle de enchentes por parte dosplanejadores urbanos;desorganização, a níveis federal e estadual, sobre gerenciamento deenchentes;pouca informação técnica sobre o assunto a nível de graduação naEngenharia; o desgaste político para o administrador público, resultante do con-trole não-estrutural (zoneamento), já que a população está sempreesperando uma obra hidráulica;falta de educação da população sobre controle de enchentes;não existe interesse na prevenção em alguns países considerandoque quando a mesma ocorre é declarada calamidade pública peloEstado e o município pode receber recursos a fundo perdido. Parao gasto destes valores não é necessário concorrência pública.

Observa-se que os elementos históricos descritos se referem as cená-rios de inundações ribeirinhas. Poucos exemplos históricos (antes dos anos 60)são encontrados para cenários de inundações produzidos pela drenagemurbana ou devido a urbanização. Estes cenários são recentes em função dasobras de canalização produzida pelo tipo de desenvolvimento urbano ocor-rido depois dos anos 60 na maioria dos países desenvolvidos. Estes mesmospaíses identificaram já nos anos 70 que este tipo de política era economica-mente insustentável, alterando a forma de gerenciar a drenagem urbana paracontrole não-estrutural e medidas de controle de volume através de deten-ções urbanas.

Nos países em desenvolvimento isto não ocorreu e até hoje os inves-timentos são realizados de forma insustentável devido principalmente aosseguintes fatores:

Falta de conhecimento técnico atualizado dos decisores e engenhei-ros. Observa-se que grande parte dos profissionais que atuam emdrenagem urbana são provenientes da área de água e saneamentoque não possuem um conhecimento dos impactos da drenagemurbana na bacia hidrográfica. Geralmente possuem conhecimentotradicional sobre a microdrenagem, que é insustentável;

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Falta de interesse em soluções mais econômicas, como as citadasacima, por parte dos empreiteiros devido aos ganhos econômicos;As entidades de financiamento nacional e internacional nem sem-pre estão atualizadas.

3.3 Conceitos básicos sobre inundações

3.3.1 Sistema de drenagem

Os sistemas de drenagem são definidos na fonte, microdrenagem emacrodrenagem. A drenagem na fonte é definida pelo escoamento que ocorreno lote, condomínio ou empreendimento individualizado, estacionamentos,parques e passeios.

A microdrenagem é definida pelo sistema de condutos pluviais ou canaisa nível de loteamento ou de rede primária urbana. Este tipo de sistema dedrenagem é projetado para atender à drenagem de precipitações com riscomoderado.

A macrodrenagem envolve os sistemas coletores de diferentes sistemasde microdrenagem. A macrodrenagem envolve áreas de pelo menos 2 km2

ou 200 ha. Estes valores não devem ser tomados como absolutos porque amalha urbana pode possuir as mais diferentes configurações. Este tipo desistema deve ser projetado para acomodar precipitações superiores as damicrodrenagem com riscos de acordo com os prejuízos humanos e materi-ais potenciais.

Um dos pontos que têm caracterizado este tipo de definição tem sidoa metodologia de estimativa, já que o Método Racional é utilizado para esti-mativa de vazões na microdrenagem e os modelos hidrológicos que deter-minam o hidrograma do escoamento são utilizados na macrodrenagem. Assimplificações aceitas para o dimensionamento no método Racional podemser utilizadas para bacias da ordem de 2km2, que representa a restriçãodefinida acima.

3.3.2 Escoamento e condições de projeto

O escoamento num rio depende de vários fatores que podem ser agre-gados em dois conjuntos:

Controles de jusante: Os controle de jusante são condicionantes na redede drenagem que modificam o escoamento a montante. Os controles de

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jusante podem ser estrangulamentos do rio devido a pontes, aterros, mu-dança de seção, reservatórios, oceano. Esses controles reduzem a vazão deum rio independentemente da capacidade local de escoamento;

Controles locais: definem a capacidade de cada seção do rio de transportaruma quantidade de água. A capacidade local de escoamento depende daárea da seção, da largura, do perímetro e da rugosidade das paredes. Quantomaior a capacidade de escoamento, menor o nível de água.

Para exemplificar este processo, pode-se usar uma analogia com otráfego de uma avenida. A capacidade de tráfego de automóveis de umaavenida, numa determinada velocidade, depende da sua largura e número defaixas. Quando o número de automóveis é superior a sua capacidade o tráfe-go torna-se lento e ocorre congestionamento. Num rio, à medida que chegaum volume de água superior a sua vazão normal, o nível sobe e inunda asáreas ribeirinhas. Portanto, o sistema está limitado nesse caso à capacidadelocal de transporte de água (ou de automóveis).

Considere, por exemplo o caso de uma avenida que tem uma larguracom duas faixas num sentido, mas existe um trecho que as duas faixas setransformam em apenas uma. Existe um trecho de transição, antes de che-gar na mudança de faixa que reduz a velocidade de todos os carros, criandoum congestionamento, não pela capacidade da avenida naquele ponto, maspelo que ocorre no trecho posterior. Neste caso, a capacidade está limitadapela redução de faixas (que ocorre a jusante) e não pela capacidade local daavenida. Da mesma forma, num rio, se existe uma ponte, aterro ou outraobstrução, a vazão de montante é reduzida pelo represamento de jusante enão pela sua capacidade local. Com a redução da vazão, ocorre aumento dosníveis. Esse efeito é muitas vezes denominado de remanso.

O trecho de transição, que sofre efeito de jusante depende de fatoresque variam com o nível, declividade do escoamento e capacidade do escoa-mento ao longo de todo o trecho.

O escoamento pode ser considerado em regime permanente ou não-permanente. O escoamento permanente é utilizado para projeto, geralmen-te com as vazões máximas previstas para um determinado sistema hidráuli-co. O regime não-permanente, permite conhecer os níveis e vazões ao longodo rio e no tempo, representando a situação real. Geralmente uma obrahidráulica que depende apenas da vazão máxima é dimensionada para con-dições de regime permanente e verificada em regime não- permanente.

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3.3.3 Risco e incerteza

O risco de uma vazão ou precipitação é entendido neste texto como aprobabilidade (p) de ocorrência de um valor igual ou superior num ano qual-quer. O tempo de retorno (T) é o inverso da probabilidade p e representa otempo, em média, que este evento tem chance de se repetir.

(3.1)

Para exemplificar, considere um dado, que tem seis faces (números 1 a6). Numa jogada qualquer a probabilidade de sair o número 4 é p=1/6 (1chance em seis possibilidades). O tempo de retorno é, em média, o númerode jogadas que o número desejado se repete. Nesse caso, usando a equação3.1 acima fica T = 1/(1/6)=6. Portanto, em média, o número 4 se repetea cada seis jogadas. Sabe-se que esse número não ocorre exatamente a cadaseis jogadas, mas se jogarmos milhares de vezes e tirarmos a média, certa-mente isso ocorrerá. Sendo assim, o número 4 pode ocorrer duas vezesseguidas e passar muitas sem ocorrer, mas na média se repetirá em seis joga-das. Fazendo uma analogia, cada jogada do dado é um ano para as enchentes.O tempo de retorno de 10 anos significa que, em média, a cheia pode serepetir a cada 10 anos ou em cada ano esta enchente tem 10% de chance deocorrer.

O risco ou a probabilidade de ocorrência de uma precipitação ou va-zão igual ou superior num determinado período de n anos é

(3.2)

Por exemplo, qual a chance da cheia de 10 anos ocorrer nos próximos5 anos? ou seja deseja-se conhecer qual a probabilidade de ocorrência paraum período e não apenas para um ano qualquer. Neste caso,

Pn = 1-(1-1/10)5=0,41 ou 41%

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1pT =

Pn = 1-(1-p)n

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A probabilidade ou o tempo de retorno é calculado com base na sériehistórica observada no local. Para o cálculo da probabilidade, as séries de-vem ser representativas e homogêneas no tempo. Quando a série é repre-sentativa, os dados existentes permitem calcular corretamente a probabili-dade. Por exemplo, o período de cheia entre 1970 e 1998 no Guaíba emPorto Alegre não é muito representativo, porque ocorreram apenas enchen-tes pequenas e fora desse período, ocorreram algumas maiores.

A série é homogênea, quando as alterações na bacia hidrográfica nãoproduzem mudanças significativas no comportamento da mesma e, em con-seqüência, nas estatísticas das vazões do rio.

Em projeto de áreas urbanas, como ocorre alterações na bacia, o riscoutilizado se refere a ocorrência de um determinada precipitação, que admite-se não serinfluenciada pela urbanização. A combinação da ocorrência na precipitação,sua distribuição temporal, condições antecedentes, etc fazem com que orisco da precipitação não seja o mesmo do risco da vazão resultante.

O risco adotado para um projeto define a relação entre os investimen-tos envolvidos para reduzir a freqüência das inundações e os prejuízos acei-tos. Ao se adotar um risco de 10% anualmente, ou tempo de retorno de 10anos. Aceita-se que em média poderão ocorrer eventos uma vez a cada 10anos que produzirão prejuízos. A análise adequada envolve um estudo deavaliação econômica e social dos impactos das enchentes para a definiçãodos riscos. No entanto, esta prática é inviável devido o custo do próprioestudo para pequenas áreas. Desta forma, os riscos usualmente adotadossão apresentados na tabela 3.1.

O projetista deve procurar analisar adicionalmente o seguinte:

Escolher o limite superior do intervalo da tabela quando envolve-rem grandes riscos de interrupção de tráfego, prejuízos materiais,potencial interferência em obras de infra-estrutura como subestaçõeselétricas, abastecimento de água, armazenamento de produtos da-nosos quando misturado com água e hospitais;Quando existir risco de vida humana deve-se buscar definir um pro-grama de defesa civil e alerta e utilizar o limite de 100 anos para oprojeto;Avaliar qual será o impacto para eventos superiores ao de projeto e,planejar um sistema de alerta e minimização de prejuízos.

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A incerteza é a diferença entre as estatísticas da amostra e da populaçãode um conjunto de dados. As incertezas estão presentes nos erros de coletade dados, na definição de parâmetros, na caracterização de um sistema, nassimplificações dos modelos e no processamento destas informações paradefinição do projeto de drenagem.

Tabela 3.1 Tempo de retorno para sistemas urbanos

3.4 Inundações ribeirinhas

3.4.1 Características e impactos

As inundações podem ocorrer devido as condições naturais ou gera-das por uso do solo como urbanização ou obras hidráulicas. Neste capítuloserão abordadas as inundações naturais e as relacionadas com a existênciade barragens para controle ou para outros usos dos Recursos Hídricos.

Quando a precipitação é intensa e a quantidade de água que chegasimultaneamente ao rio é superior à sua capacidade de drenagem, ou seja ada sua calha normal, resultam inundação nas áreas ribeirinhas. Os proble-mas resultantes da inundação dependem do grau de ocupação da várzeapela população e da freqüência com a qual ocorrem as inundações.

A população de maior poder aquisitivo tende a habitar os locais segu-ros ao contrário da população carente que ocupa as áreas de alto risco deinundação, provocando problemas sociais que se repetem por ocasião decada cheia na região. Quando a freqüência das inundações é baixa, a popula-ção ganha confiança e despreza o risco, aumentando significativamente o

* limite da área de regulamentação

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investimento e a densificação nas áreas inundáveis. Nesta situação as en-chente assume características catastróficas.

As áreas hoje desocupadas devido a inundações sofrem considerávelpressão para serem ocupadas. A ocupação das áreas urbanas impróprias podeser evitada através do planejamento do uso dos solos das várzeas, o qualdeve ser regulado no Plano Diretor Urbano das cidades.

As condições meteorológica e hidrológica propiciam a ocorrência deinundação. O conhecimento do comportamento meteorológico de longoprazo é muito pequeno devido ao grande número de fatores envolvidos nosfenômenos meteorológicos e à interdependência dos processos físicos a quea atmosfera terrestre está sujeita. As condições hidrológicas que produzem ainundação podem ser naturais ou artificiais. As condições naturais são aque-las cuja ocorrência é propiciada pela bacia em seu estado natural. Algumasdessas condições são: relevo, tipo de precipitação, cobertura vegetal, capaci-dade de drenagem.

Os rios normalmente drenam nas suas cabeceiras, áreas com grandedeclividade produzindo escoamento de alta velocidade. A variação de níveldurante a enchente pode ser de vários metros em poucas horas. Quando orelevo é acidentado as áreas mais propícias à ocupação são as planas e maisbaixas, justamente aquelas que apresentam alto risco de inundação. A várzeade inundação de um rio cresce significativamente nos seus cursos médio ebaixo, onde a declividade se reduz e aumenta a incidência de áreas planas.

As precipitações mais intensas atingem áreas localizadas e são emgeral dos tipos convectivo e orográfico. Essas formas de precipitação atu-am, em geral, sobre pequenas áreas. A precipitação ocorrida em Porto Ale-gre, em 13 de fevereiro de 1981, com cerca de 100 mm em 1 hora em todaa bacia do arroio Dilúvio é um exemplo. As precipitações frontais atuamsobre grandes áreas provocando as maiores inundações dos grandes rios.

A cobertura vegetal tem como efeito a interceptação de parte da pre-cipitação que pode gerar escoamento e a proteção do solo contra a erosão.A perda desta cobertura para uso agrícola tem produzido como conseqüên-cia o aumento da freqüência de inundações devido à falta de interceptaçãoda precipitação e ao assoreamento dos rios.

As condições artificiais da bacia são provocadas pela ação do homem.Alguns exemplos são: obras hidráulicas, urbanização (item seguinte),desmatamento, reflorestamento e uso agrícola. A bacia rural possui maiorinterceptação vegetal, maiores áreas permeáveis (infiltração do solo), menorescoamento na superfície do solo e drenagem mais lenta.

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As principais inundações na América do Sul ocorrem nas margensdos grandes rios da América do Sul, como a dos rios da Prata/ Paraná,Amazonas, São Francisco e Tocantins. Na figura 3.1 é possível observar abacia do rio da Prata com os principais trechos de inundação e as barragensexistentes (hidrelétricas). Na bacia do rio Paraguai e no trecho inferior dorio Paraná as inundações são decorrência de prolongados períodos chuvo-sos que atingem grandes áreas e produzem níveis enchentes durante váriosmeses. No trecho que envolve a Argentina as áreas são planas e ficam nor-malmente inundadas por vários meses. Na parte superior do rio Paraná e norio Uruguai as inundações são rápidas, com duração de apenas alguns dias.

O cenário comum de impacto na América do Sul é decorrência daocupação da várzea de inundação pela população durante uma seqüência deanos de níveis anuais máximos pequenos. As áreas planas são propícias aoassentamento. Quando retornam os anos com maiores inundações os preju-ízos são significativos e a população exige dos governos uma ação no senti-do de construir obras de controle como barragens, entre outros. Exemplosdeste cenário são apresentados a seguir:

Na figura 3.2 pode-se observar os níveis de enchentes no rio Iguaçuem União da Vitória. Entre 1959 e 1982 ocorreu apenas uma inun-dação com risco superior a 5 anos. Este período foi justamente o demaior crescimento econômico e expansão das cidades brasileiras.As enchentes após 1982 produziram prejuízos significativos na co-munidade (tabela 3.2);No rio Itajaí existem registros iniciando em 1852, com todas os ní-veis acima no leito menor do rio. Na figura 3.3 pode-se observartambém a variabilidade destes níveis e observar que entre 1911 e1983 não ocorreram níveis acima de 13,04 m (risco de aproximada-mente 15 anos), enquanto antes e depois deste período verificou-sevários níveis que chegaram até 17,10 m. Tanto neste caso como noanterior as séries contínuas de registros que iniciaram em 1930 apre-sentaram tendenciosidade de amostra para avaliação do risco. Nestecaso, também os prejuízos foram significativos na bacia do rio Itajaíem 1983 (risco de cerca de 30 anos), os mesmos representaram 8%do PIB do Estado de Santa Catarina da época;No alto rio Paraguai existe uma das maiores banhados do mundo,denominado Pantanal. Nesta região sempre houve uma convivênciapacífica entre o meio ambiente e a população. Na figura 3.4 pode-se

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observar os níveis máximos de enchentes em Ladário desde o iníciodo século. Na tabela 3.3 são apresentados valores do nível máximomédio de inundação e das áreas inundadas do Pantanal em três perí-odos distintos. Pode-se observar a grande diferença da década de 60com relação as demais. Neste período houve ocupação dos vales deinundação por períodos longos e não apenas sazonalmente. A po-pulação foi desalojada nas décadas seguintes em função do aumen-to da freqüência dos níveis de inundação. A perda econômica dovalor das propriedades e falta de sustentação econômica foi a conse-qüência imediata. Esta população passou a viver na periferia dascidades da região em estado de pobreza.

Figura 3.1 Características da bacia do Prata

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Tabela 3.2 Perdas por inundações em União da Vitória e Porto União (JICA, 1995)

Figura 3.2 Níveis máximos de enchentes no rio Iguaçu em União da Vitória(bacia de cerca de 25.000 km2), (Tucci e Villanueva, 1997)

Tabela 3.3 Valores estimados de níveis e áreas inundadas no Pantanal (valores aproximados)

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Figura 3.3 Níveis de inundações em Blumenau, S. Catarina, Brasil

Figura 3.4 Níveis máximos anuais em Ladario no Rio Paraguai e a média dosperíodos: (a) 1900-1961; (b)1961-1973; (c)1973-1991

3.4.2 Avaliação das inundações

A variação do nível ou de vazão de um rio depende das característicasclimatológicas e físicas da bacia hidrográfica. As distribuições temporal eespacial da precipitação são as principais condições climatológicas. As mes-

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mas somente podem ser previstas deterministicamente com antecedênciade poucos dias ou horas, o que não permite a previsão dos níveis de en-chente com antecipação muito grande. O tempo máximo possível de previ-são da cheia, a partir da ocorrência da precipitação, é limitado pelo tempomédio de deslocamento da água na bacia até a seção de interesse.

A previsão dos níveis num rio pode ser realizada a curto ou a longoprazo. A previsão de cheia a curto prazo ou em tempo atual, também cha-mada de tempo-real, permite estabelecer o nível e seu tempo de ocorrênciapara a seção de um rio com antecedência que depende da previsão da preci-pitação e dos deslocamentos da cheia na bacia. Este tipo de previsão éutilizada para alertar a população ribeirinha e operadores de obras hidráuli-cas. A previsão de cheia a longo prazo é realizada com até nove meses deantecedência.

A predição quantifica as chances de ocorrência da inundação em ter-mos estatísticos, sem precisar quando ocorrerá a cheia. A predição se baseiana estatística de ocorrência de níveis no passado e permite estabelecer osníveis de enchente para alguns riscos escolhidos.

Previsão de cheia de curto prazo

Para efetuar a previsão de cheia a curto prazo são necessários: siste-mas de coleta e transmissão de dados e metodologia de estimativa. Os siste-mas são utilizados para transmitir os dados de precipitação, nível e vazão,durante a ocorrência do evento. O processo de estimativa é realizado atra-vés do uso de modelos matemáticos que representam o comportamentodas diferentes fases do ciclo hidrológico. Complementarmente é necessárioum Plano de Defesa Civil, quando a enchente atinge uma área habitada, ouno caso de operação de reservatório um sistema de emergência e operação.

A previsão de níveis de enchentes pode ser realizada com base em(figura 3.5): (a) previsão da vazão conhecida a precipitação; (b) vazão demontante; (c) combinação dos dois últimos.

No primeiro caso é necessário estimar a precipitação que cairá sobre abacia através do uso de equipamento como radar ou de sensoriamentoremoto. A seguir, conhecida a precipitação sobre a bacia, é possível estimara vazão e o nível através de modelo matemático que simule a transformaçãode precipitação em vazão.

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Figura 3.5 Alternativas de previsão de vazão em tempo real

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A previsão, quando é conhecida a precipitação na bacia, é realizadacom base numa rede telemétrica de coleta e transmissão de dados (no casoanterior esta rede não é dispensável) e o referido modelo matemático detransformação de precipitação em vazão. A antecedência de previsão é menorneste caso e está limitada ao tempo médio de deslocamento da enchente(figura 3.5a). A previsão a curto prazo, com base em posto à montante daseção de interesse, depende das características do rio, ou seja da área contro-lada da bacia. Neste caso, o tempo de antecedência é menor que os anteri-ores (figura 3.5b). Quando a bacia intermediária, da situação anterior, apre-sentar uma contribuição significativa, a combinação dos dois processos an-teriores é utilizada na previsão em tempo atual (figura 3.5c). A apresentaçãodos modelos de previsão em tempo atual foge ao escopo deste livro e podeser encontrado na literatura especializada (Tucci, 1998).

Predição

As estimativas de inundação de um determinado local pode ser reali-zada com base em : (a) série observada de vazões; (b) regionalização devazões; (c) com base na precipitação e uso de modelo precipitação - vazão.Estas metodologias estimam o risco de inundação no local com base noshistóricos ocorridos e consideram que as séries históricas de vazões são:

Homogêneas ou estacionárias, ou seja as suas estatísticas não se alte-ram com o tempo;As séries registradas de níveis de inundação são representativas daocorrência no local;Os valores são independentes entre si.

Os dois primeiros itens apresentam a maior quantidade de incertezase a utilização de marcas de inundações é essencial para um ajuste confiávelda curva de probabilidade de vazões nos locais de interesse. As metodologiaspara determinação da curva de probabilidade são descritas nos livros dehidrologia (Tucci, 1993).

Na figura 3.6 é apresentado o ajuste as vazões em Apíuna no rio Itajaí- Açu para a série contínua de 1935-1984 e com marcas de inundações de1852 -1984. Pode-se observar que o ajuste com a série contínua, sem asmarcas de inundação é tendencioso para tempo de retorno superior a 20anos.

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3.4.3 Medidas de controle

As medidas para o controle da inundacão podem ser do tipo estrutu-ral e não-estrutural. As medidas estruturais são aquelas que modificam osistema fluvial evitando os prejuízos decorrentes das enchentes, enquantoque as medidas não-estruturais são aquelas em que os prejuízos são reduzidospela melhor convivência da população com as enchentes. É ingenuidadedo homem imaginar que poderá controlar totalmente as inundações; asmedidas sempre visam minimizar as suas conseqüências.

O controle da inundação é obtido por um conjunto de medidas estru-turais e não-estruturais, permitindo à população ribeirinha minimizar suasperdas e manter uma convivência harmônica com o rio. As ações incluemmedidas de engenharia e de cunho social, econômico e administrativo. Apesquisa para a combinação ótima dessas ações constitui o planejamento daproteção contra a inundação ou seus efeitos.

Em 1936, nos Estados Unidos, foi aprovada uma lei em nível federal,sobre controle de enchentes, que identificava a natureza pública dos pro-

Figura 3.6 Ajuste curva de probabilidade pelo método Log-Pearson III para aséries de vazões continuas e com marcas de inundações em Apiuna no rio Itajaí-

Açu (Tucci, 1993)

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gramas de redução de enchentes e caracterizava a implantação de medidasfísicas ou estruturais como um meio de reduzir estes danos. Desta forma,não era necessário verificar as relações de custo/benefício para justificar aproteção das áreas sujeitas a inundações. Com isso, acelerou-se o desenvol-vimento e ocupação das várzeas, o que resultou em aumento dos danosocasionados pelas enchentes. As perdas médias anuais, devido às enchentes,aumentaram e a disponibilidade dos fundos públicos foi insuficiente paraatender esta tendência. Em 1966, o governo reconheceu que as medidasanteriores não eram adequadas e deu ênfase a medidas não-estruturais, quepermitiriam à população conviver com a cheia. O comitê criado pelaAmerican Society of Civil Engineers sobre controle de enchentes, relatou,em 1962, o seguinte (Task, 1962): “As limitações da presente (em 1962)Política Nacional de Controle de Enchentes, a qual é baseada principalmen-te na construção de obras de controle de inundação, são reconhecidas nesterelatório, o qual enfatiza a necessidade para a regulamentação das várzeas deinundação como uma parte essencial de um plano racional de redução dasperdas das cheias”.

Em 1973, foi aprovada uma lei sobre proteção contra desastres deenchentes, dando ênfase a medidas não-estruturais, encorajando e exigindoo seguro para enchentes e regulamentação do uso da terra e proteção dasnovas construções para enchentes de 100 anos tempo de retorno. Em 1974foram aprovados, dentro da Legislação de Desenvolvimento de RecursosHídricos, artigos específicos sobre enchentes que previam medidas não-es-truturais e a distribuição de custos, como no artigo 73 da Lei de 1974: “Empesquisa, planejamento ou projeto de qualquer Agência Federal, ou de qual-quer projeto envolvendo a proteção contra inundações, deve ser dada prio-ridade às alternativas não-estruturais para redução de prejuízos de inunda-ção, incluindo, mas não limitando às construções à prova de enchentes, re-gulamentação das áreas de inundação; utilização das áreas de inundação parausos recreacionais, pesca, vida animal e outras finalidades públicas e relocaçãocom vistas a formulação da solução economicamente, socialmente e de meioambiente mais aceitável para redução dos danos de enchentes”.

Medidas estruturais

As medidas estruturais são obras de engenharia implementadas parareduzir o risco de enchentes. Essas medidas podem ser extensivas ou inten-sivas. As medidas extensivas são aquelas que agem na bacia, procurando

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modificar as relações entre precipitação e vazão, como a alteração da cober-tura vegetal do solo, que reduz e retarda os picos de enchente e controla aerosão da bacia. As medidas intensivas são aquelas que agem no rio epodem ser de três tipos (Simons et al., 1977): a) aceleram o escoamento:construção de diques e polders, aumento da capacidade de descarga dos riose corte de meandros; b) retardam o escoamento: Reservatórios e as baciasde amortecimento; c) desvio do escoamento, são obras como canais de des-vios.

Na tabela 3.4 são resumidas as principais características das medidasestruturais. Algumas dessas medidas são descritas a seguir:

Controle da cobertura vegetal: A cobertura vegetal interfere no processoprecipitação-vazão, reduzindo as vazões máximas, devido ao amortecimen-to do escoamento. Além disso, reduz a erosão do solo que pode aumentar,gradualmente, o nível dos rios e agravar as inundações. O reflorestamentode bacias envolve um custo significativo, o que torna esta medidafreqüentemente inviável;

Controle da erosão do solo: o aumento da erosão implica a redução daárea de escoamento dos rios e conseqüente aumento de níveis. O controleda erosão do solo pode ser realizado pelo reflorestamento, pequenos reser-vatórios, estabilização das margens e práticas agrícolas corretas;

Reservatórios: O reservatório retém parte do volume da enchente, redu-zindo a vazão natural, procurando manter no rio uma vazão inferior àquelaque provocava estravasamento do leito. O volume retido no período devazões altas é escoado após a redução da vazão natural. O reservatóriopode ser utilizado quando existe relevo conveniente a montante da áreaatingida, mas exige altos custos de construção e desapropriações.

As barragens existentes na América do Sul geralmente foram projetadaspara uma das seguintes finalidades: produção de energia, abastecimento deágua, irrigação e navegação. São raros os empreendimento voltados apenaspara o controle de enchentes na região.

A bacia do rio Itajaí-Açu em Santa Catarina no Brasil é um exemplode bacia de médio porte (cerca de 12.000 km2) onde existem três barragensconstruídas com o único objetivo de controle de enchentes.

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Tabela 3.4.Medidas estruturais (Simons et al. 1977)

A construção de barragens de médio e grande porte na América doSul esteve sempre associada a produção de energia elétrica. Os aproveita-mento hidrelétricos geralmente possuem volume significativo e estão locali-zados a jusante de bacias de grande porte ( > 2.000 km2).

Como a energia de um empreendimento depende da vazão e da que-da de água, quanto maior for a vazão regularizada pelo reservatório e a que-da gerada pela barragem, maior será a energia gerada. Desta forma, o volu-me e a bacia devem possuir características que viabilizem economicamenteo empreendimento.

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As pequenas barragens geralmente tem sido construídas para irriga-ção ou abastecimento de água, mas são de pequeno volume e, em baciascom área inferior a 1.000 km2. Estas barragens dificilmente podem interferirde forma eficiente no controle de enchentes. As barragens de navegaçãoapenas mantém o nível de água e possuem também um volume insignifican-te para controle de enchentes.

Potenciais impactos: As barragens projetadas devem considerar os im-pactos que podem produzir para jusante e a montante do empreendimento.

Jusante: Geralmente a jusante de uma barragem existem áreas sujeitas a inun-dação. Com a construção da barragem a tendência é de que o reservatórioproduza amortecimento das enchentes nestas áreas ribeirinhas, se não hou-ver problemas operacionais da barragem. No entanto, se a área a jusante nãoestiver ocupada, acaba sendo habitada pela proximidade do empreendimen-to e passa então estar sujeita as enchentes. Se o empreendimento não amor-tecer as enchentes, a tendência é que seja cobrado a reduzir os impactos ajusante pela sociedade. Desta forma, a restrição de jusante passa a ser avazão máxima Ql á partir do qual o rio inunda a sua margem. Nos períodosde enchentes existirão eventos em que a barragem não terá condições deamortecer a vazão e ocorrerá inundações. A percepção pública desta situa-ção, geralmente é de culpar a barragem pelo ocorrido, portanto é necessárioque o empreendimento tenha um eficiente sistema operacional e observa-ção confiável dos dados hidrológicos necessários a demonstração das con-dições operacional para a defesa de suas ações.

Montante: A construção de um reservatório pode produzir os seguintes im-pactos para montante:

de acordo com a vazão afluente, a regra operacional e a capacidadede escoamento, a linha de água de remanso pode inundar ou pro-vocar represamentos para montante;as condições do item anterior podem ser alterar com o tempo de-vido ao assoreamento do reservatório, que ocorre inicialmente noseu trecho mais a montante. Devido a isto os níveis de inundaçãoanteriormente projetados podem aumentar, atingindo áreas forado limite desapropriado.

(a)

(b)

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Barragem para controle de inundação : O reservatório de controle deenchentes funciona retendo o volume do hidrograma durante as enchentes,reduzindo o pico e o impacto a jusante do barramento. Na figura 3.7 obser-va-se o hidrograma natural de um rio. Considerando um volume V dohidrograma capaz de ser retido por um reservatório, pode-se observar aredução da vazão máxima e o hidrograma resultante.

Um reservatório sem controle de operação é aquele que não dispõede comportas de vertedor ou de fundo e a cheia é regulada pelas condiçõesdo vertedor livre. Quando existem comportas é possível utilizar com maiseficiência o volume disponível para controle da enchente. No período chu-voso os primeiros hidrogramas tendem a ser de menor porte até que asperdas sejam atendidas e o solo saturado. Estes hidrogramas podem ocuparo volume disponível no reservatório, resultando pouco espaço para reduziro pico das cheias maiores subseqüentes (figura 3.8a).

A regra operacional pode ser a seguinte: (a) o reservatório deve pro-curar operar de tal forma a escoar a vazão natural até que a jusante sejamatingidas as cotas limites (Qcrit); (b) a partir deste momento utilize o volu-me do reservatório para manter ou reduzir a vazão (figura 3.8b). Estas con-dições operacionais dependem do projeto do reservatório e de seus órgãosextravasores.

Figura 3.7 Efeito do Reservatório

Para a busca das melhores condições de projeto e operação é necessá-rio simular o escoamento no reservatório, identificando qual é a operaçãomais eficiente.

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(a) sem controle (b) com controle

Figura 3.8 Operação do reservatório

Um exemplo de sistema de barragens para o controle de enchentessão os da bacia do rio Itajaí-Açu em Santa Catarina, Brasil (figura 3.9). Abarragem Oeste localizada no rio Itajaí-Oeste a montante da cidade de Taió(concluída em 1973) Barragem Sul no Itajaí do Sul (concluída em 1975) amontante da cidade de Ituporanga; a barragem de Ibirama no rio Rio Hercílio(concluída no final dos anos 80). Esta última não existia durante as enchen-tes de 1983 e 1984. O projeto destas barragens utiliza descarregadores defundo com capacidade que tende a reter muito volume dentro dos reserva-tórios, utilizando um tempo muito longo para esvaziamento. A contribui-ção das duas primeiras barragens para controle da inundação de 1983 foiinsignificante devido ao grande volume de precipitação que ocorreu duran-te 7 dias. No caso da inundação de 1984, que teve uma duração de apenas 2dias, a contribuição foi maior. Examinando as séries de vazões máximasantes e depois da construção das barragens observou-se um resultado ines-perado que foi o aumento da média e desvio padrão das enchentes para umadas seções a jusante de uma das barragens. No entanto, o resultado desteaumento foi devido também aumento de precipitações na bacia justamenteentre os dois períodos. Na tabela 3.5 são apresentadas algumas estatísticasdesta comparação. A barragem Oeste que não produziu aumento se mos-trou mais eficiente na contenção das inundações, enquanto que a barragemSul aparentemente não possui volume e projeto adequado para redução sig-nificativa das inundações.

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Figura 3.9 Bacia do rio Itajaí e barragens de controle de cheias

Tabela 3.5 Estatísticas antes e depois da construção da barragem no rio Itajaí

(1) precipitação do mês no qual ocorre a cheia máxima anual

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Barragens com uso múltiplo : Quando existe uma barragem projetadapara abastecimento de água, irrigação ou energia elétrica, geralmente o obje-tivo é manter o volume do reservatório o mais alto possível. Nestas condi-ções a capacidade de amortecer as inundações é mínima Existe um conflitonatural entre estes usos.

A metodologia geralmente utilizada para atender aos objetivosconflitantes se baseia na reserva de um volume de espera no reservatórioque minimize os impactos da inundação a montante e a jusante da barragem(figura 3.10). Este volume é mantido livre para receber os volumes de inun-dação e reduzir a vazão para jusante, procurando atender as restrições demontante e jusante.

Existem várias metodologias para estimativa deste volume com basenas estatísticas das séries históricas de vazão da barragem. Os métodos uti-lizados no setor elétrico brasileiro tem sido o Método da Curva Volume xduração (adaptações da metodologia apresentada por Beard, 1963) ou ométodo das trajetórias críticas (Kelman et al, 1983). O primeiro utiliza asérie histórica observada e o segundo utiliza séries de vazões geradas pormodelo estocástico. Os dois métodos determinam estatisticamente o volu-me de espera que deve ser mantido em cada dia do período chuvoso peloreservatório para um determinado risco de análise.

Figura 3.10 Níveis operacionais de uma barragem

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Estes procedimentos não consideram a informação existente na baciano período da inundação. Para bacias onde a sazonalidade não é bem defini-da o modelo pode subestimar ou superestimar o volume de espera comprejuízos importantes. De um lado os prejuízos devido a inundação e deoutro pela perda de energia gerada.

Diques ou polders: São muros laterais de terra ou concreto, inclinados ouretos, construídos a uma certa distância das margens, que protegem as áreasribeirinhas contra o extravasamento. Os efeitos de redução da largura doescoamento, confinando o fluxo, são o aumento do nível de água na seçãopara a mesma vazão, aumento da velocidade e erosão das margens e daseção e redução do tempo de viagem da onda de cheia, agravando a situaçãode outras seções a jusante. O maior risco existente na construção de umdique é a definição correta da enchente máxima provável, pois existirá sem-pre um risco de colapso, quando os danos serão piores se o mesmo nãoexistisse.

O dique permite proteção localizada para uma região ribeirinha. Deve-se evitar diques de grandes alturas, pois existe sempre o risco de rompimen-to para uma enchente maior do que a de projeto.

Hidraulicamente o dique reduz a seção de escoamento e pode provo-car aumento da velocidade e dos níveis de inundação (figura 3.11). Para queisso não ocorra as condições de fluxo não devem-se alterar após a constru-ção do dique. Estas condições podem ser simuladas em condição de regimepermanente para as vazões de projeto. Esta metodologia não deve ser usadapara escoamento sujeito ao efeito de maré, pois resultará numa cotasuperdimensionada. Para tanto deve-se utilizar um modelo hidrodinâmico.

Os diques são normalmente construídos de terra com enrocamento ede concreto, dependendo das condições locais.

Na construção de diques para a proteção de áreas agrícolas, o risco decolapso adotado pode ser mais alto que em áreas urbanas, sempre que osdanos potenciais sejam somente econômicos. Quando o colapso pode pro-duzir danos humanos o risco deve ser menor e a obra complementada porum sistema de previsão e alerta em tempo atual. Tanto em bacias ruraiscomo urbanas é necessário planejar o bombeamento das áreas laterais con-tribuintes ao dique, caso contrário, chuvas sobre estas bacias laterais ficamrepresadas pela maior cota do rio principal ou acumuladas no seu interior,se não existirem drenos com comportas (figura 3.12).

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Figura 3.11. Impacto da construção do dique

Figura 3.12. Dique - Drenagem da bacia lateral

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Modificações do rio: As modificações na morfologia do rio visam aumen-tar a vazão para um mesmo nível, reduzindo a sua freqüência de ocorrência.Isto pode ser obtido pelo aumento da seção transversal ou pelo aumento davelocidade. Para aumentar a velocidade é necessário reduzir a rugosidade,tirando obstruções ao escoamento, dragando o rio, aumentando a declividadepelo corte de meandros ou aprofundando o rio. Essas medidas, em geral,apresentam custos elevados.

Para a seção de um rio que escoa uma vazão Q, a cota resultantedepende da área da seção, da rugosidade, raio hidráulico e da declividade.Para reduzir a cota devido a uma vazão pode-se atuar sobre as variáveismencionadas. Para que a modificação seja efetiva é necessário modificarestas condições para o trecho que atua hidraulicamente sobre a área deinteresse. Aprofundando o canal, a linha de água é rebaixada evitando inun-dação, mas as obras poderão envolver um trecho muito extenso para serefetiva, o que aumenta o custo (figura 3.13a). A ampliação da seção demedição produz redução da declividade da linha de água e redução de ní-veis para montante (figura 3.13b). Estas obras devem ser examinadas quan-to à alteração que podem provocar na energia do rio e na estabilidade doleito. Os trechos de montante e jusante das obras podem sofrer sedimenta-ção ou erosão de acordo com alteração produzida.

Medidas não-estruturais

As medidas estruturais não são projetadas para dar uma proteção com-pleta. Isto exigiria a proteção contra a maior enchente possível. Esta prote-ção é fisicamente e economicamente inviável na maioria das situações. Amedida estrutural pode criar uma falsa sensação de segurança, permitindo aampliação da ocupação das áreas inundáveis, que futuramente podem resul-tar em danos significativos. As medidas não-estruturais, em conjunto comas anteriores ou sem essas, podem minimizar significativamente os prejuí-zos com um custo menor. O custo de proteção de uma área inundável pormedidas estruturais, em geral, é superior ao de medidas não-estruturais. EmDenver (Estados Unidos), em 1972, o custo de proteção por medidas estru-turais de um quarto da área era equivalente ao de medidas não-estruturaispara proteger os restantes três quartos da área inundável.

As medidas não-estruturais de inundação podem ser agrupadas em:zoneamento de áreas de inundação através de regulamentação do uso daterra, construções à prova de enchentes, seguro de enchente, previsão ealerta de inundação.

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Johnson (1978) identificou diferentes medidas não-estruturais quepodem ser inseridas na classificação anterior: instalação de vedação tempo-rária ou permanente nas aberturas das estruturas, elevação de estruturas exis-tentes, construção de novas estruturas sob pilotis, construção de pequenasparedes ou diques circundando a estrutura, relocação ou proteção de arti-gos que possam ser danificados dentro da estrutura existente, relocação deestruturas para fora da área de inundação, uso de material resistente à águaou novas estruturas, regulamentação da ocupação da área de inundação porcercamento, regulamentação de subdivisão e código de construção, comprade áreas de inundação, seguro de inundação, instalação de serviço de previ-são e de alerta de enchente com plano de evacuação, adoção de incentivosfiscais para um uso prudente da área de inundação; instalação de avisos dealerta na área e adoção de políticas de desenvolvimento.

Figura 3.13 Modificações no rio

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Construção à prova de enchente: é definida como o conjunto de medidasprojetadas para reduzir as perdas de prédios localizados nas várzeas de inun-dação durante a ocorrência das cheias.

Seguro de enchente permite aos indivíduos ou empresas a obtenção deuma proteção econômica para as perdas decorrentes dos eventos de inun-dação.

Previsão e alerta: é um sistema composto de aquisição de dados em temporeal, transmissão de informação para um centro de análise, previsão emtempo atual com modelo matemático, e Plano de Defesa Civil que envolvetodas as ações individuais ou de comunidade para reduzir as perdas duranteas enchentes.

A combinação destas medidas permite reduzir os impactos das cheiase melhorar o planejamento da ocupação da várzea. Como o Zoneamentode inundação pressupõe a ocupação com risco, torna-se necessário queexista um sistema de alerta para avisar a população sobre os riscos durantea enchente. O seguro e a proteção individual contra enchente são medidascomplementares, necessárias para minimizar impactos sobre a economia dapopulação.

O controle de enchentes através de zoneamento ou com a existênciade diques exige a previsão em tempo real dos níveis para a cidade.

Um sistema de alerta de previsão tempo real envolve os seguintesaspectos:

sistema de coleta e transmissão de informações;sistema de processamento de informações;modelo de previsão de vazões e níveis;procedimentos para acompanhamento e transferência de informa-ções para a Defesa Civil e Sociedade;planejamento das situações de emergência através Defesa Civil.

Os três primeiros itens envolve o estabelecimento de procedimentostécnicos específicos e a modelagem do local de interesse. Normalmente es-tas atividades são desenvolvidas por entidades que operam a rede de alertaestadual.

Os dois itens seguintes envolvem a transferência dos níveis para po-pulação através de diferentes condições que podem ser as seguintes:

♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦

♦♦♦♦♦

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nível de acompanhamento: nível a partir do qual, existe um acom-panhamento por parte dos técnicos, da evolução da enchente. Nes-se momento, é alertada a Defesa Civil da eventualidade da chegadade uma enchente. Inicia-se nesse momento a previsão de níveis emtempo real;nível de alerta: quando é atingida a cota inferior a que produzprejuízos.Com base nesta cota existe forte probabilidade de ocor-rer inundações. A Defesa Civil e administrações municipais pas-sam a receber regularmente as previsões para a cidade;nível de emergência: quando é previsto que dentro do tempo deprevisão será atingida a cota que produz prejuízos. A populaçãopassa a receber as informações. Essas informações são o nível atuale previsto com antecedência e o intervalo provável dos erros, obti-dos dos modelos;

1.

2.

3.

As ações de planejamento envolvem:

Emergência: A sociedade local, através da Prefeitura deve organizar aDefesa Civil para os atendimentos de emergência. Esse planejamento deveestabelecer procedimentos de evacuação e convivência com a inundaçãopara diferentes partes da cidade, de acordo com faixas de cotas.

O mapa de alerta é preparado com valores de cotas em cada esquina daárea de risco. Com base na cota absoluta das esquinas, deve-se transformaresse valor na cota referente a régua. Isto significa que, quando um determi-nado valor de nível de água estiver ocorrendo na régua, a população saberáquanto falta para inundar cada esquina. Isto auxilia a convivência com ainundação durante a sua ocorrência.

Para que este mapa possa ser determinado, é necessário obter todas ascotas de cada esquina e realizar o seguinte:

Para cada cota de esquina, trace uma perpendicular do seu ponto delocalização com relação ao eixo do rio .Considere a cota da referida esquina como sendo a mesma nestaseção do rio;Obtenha a declividade da linha de água. Escolha o tempo de retor-no aproximadamente pela faixa (mapa de planejamento) em que seencontra a esquina;A cota da régua da esquina será

1.

2.

3.

4.

77

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onde CR é cota da régua; CT é a cota topográfica da esquina; D édeclividade ao longo do rio; Dist é a distância ao longo do rio entre aseção da régua. O sinal será negativo se a esquina estiver a montanteda seção da régua, enquanto que será positivo se estiver a jusante. Ovalor a ser colocado no mapa é CR. No entanto, caso a populaçãoesteja mais acostumada com o valor da régua e não da sua cota abso-luta deve-se utilizar o nível da régua, que é

NR=CR-ZR

onde NR é o nível da régua; CR é a cota da régua e ZR é a cota dozero da régua.

Zoneamento de áreas de Inundação : A regulamentação do uso da terraou zoneamento de áreas inundáveis. Portanto, envolve definição da ocupa-ção das áreas de risco na várzea. No seu desenvolvimento é necessário esta-belecer o risco de inundação das diferentes cotas das áreas ribeirinhas. Nasáreas de maior risco não é permitida a habitação e pode ser utilizada pararecreação desde que o investimento seja baixo e não se danifique, comoparques e campos de esportes. Para cotas com menos riscos são permitidasconstruções com precauções especiais. Além disso, são efetuadas recomen-dações quanto aos sistemas de esgoto cloacal, pluvial e viário. Esta regula-mentação deve ficar contida dentro do Plano Diretor da cidade.

O zoneamento das áreas de inundação engloba as seguintes etapas: (a)determinação do risco das enchentes; (b) mapeamento das áreas de inunda-ção; c) levantamento da ocupação da população na área de risco ; (d) defini-ção da ocupação ou zoneamento das áreas de risco.

Mapa de inundação da cidade : Os mapas de inundação podem ser dedois tipos: mapas de planejamento e mapas de alerta. O mapa de planeja-mento define as áreas atingidas por cheias de tempos de retorno escolhidos.O mapa de alerta informa em cada esquina ou ponto de controle, o nível darégua no qual inicia a inundação. Este mapa permite o acompanhamento daevolução da enchente, com base nas observações da régua, pelos moradores nos diferenteslocais da cidade. Essa informação normalmente é transmitida através dos meios de comu-nicação disponíveis (veja metodologia acima).

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CR = CT + DxDist

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Para a elaboração desses mapas são necessários os seguintes dados:

nivelamento da régua a um zero absoluto;topografia da cidade no mesmo referencial absoluto da régualinimétrica. Cota da rua no meio de cada esquina das áreas derisco;estudo de probabilidade de inundações de níveis para uma seçãona proximidade da cidade;níveis de enchentes, ou marcas ao longo da cidade que permita adefinição da linha de água;seções batimétricas ao longo do rio no perímetro urbano. Caso alocalização da seção de observação se encontre fora do perímetrourbano, a batimetria deve ir até a referida seção. O espaçamentodas seções depende das modificações do leito e da declividade dalinha de água, mas espaçamentos entre 500 e 1000 m são suficien-tes;cadastramento das obstruções ao escoamento ao longo do trechourbano como pontes, edifícios e estradas, entre outros.

(a)(b)

(c)

(d)

(e)

(f)

Quando a declividade da linha de água ao longo da cidade é muitopequena e não existem rios de porte no perímetro urbano os ítens d, e e fsão desnecessários. No caso das obstruções, essas podem ser importantes sereduzirem significativamente a seção transversal.

Na prática, é muito difícil a obtenção de todas as informações relaci-onadas acima, portanto, é conveniente dividir o estudo em duas fases. Naprimeira fase, dita preliminar, seriam delimitadas com precisão reduzida asáreas de inundação com base em mapas topográficos existentes e marcas deenchentes. Na segunda fase, com a delimitação aproximada das áreas deinundação, a topografia com maior detalhe seria realizada nas áreas defini-das, juntamente com a batimetria do rio, e calculados com precisão os doismapas referidos.

Mapeamento preliminar : Nas cidades de porte superior a 10.000 habi-tantes existem projetos de abastecimento de água. Para esses projetos érealizada uma topografia com espaçamento de 5m em 5m. Estes mapas nãopossuem a precisão desejada para este tipo de estudo, mas podem ser utili-zados preliminarmente. Os erros podem ser minimizados com visitas inloco, fotografias aéreas e verificação de pontos característicos do levanta-

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mento. Nem sempre estes mapas se referem à cota absoluta desejada; nessecaso é necessário procurar o RN do mapa existente e estabelecer a referên-cia com o mapa disponível. A seguir pode-se estabelecer a relação entre ozero da régua linimétrica e o RN escolhido, utilizado na elaboração domapa topográfico.

Considerando que os níveis de enchentes são conhecidos na seção darégua, para transportá-lo para as seções ao longo do trecho urbano é neces-sário conhecer a declividade da linha de água. Esta declividade pode serobtida através das marcas de enchentes ou medindo a mesma durante aestiagem. Este último procedimento pode apresentar erros, já que se existi-rem obstruções ao escoamento durante as enchentes, a declividade pode-semodificar significativamente.

Para a determinação da declividade da linha de água deve-se reco-mendar, ao topógrafo, o seguinte: (a) nivelar todas as marcas de enchenteexistentes na cidade; (b) medir o nível de água com espaçamento entre500m e 1000 m ao longo do trecho urbano, anotando a cota da régua parao momento do levantamento.

Para verificar o trabalho do topógrafo pode-se utilizar o seguinte: a)conferir se a declividade é decrescente na direção do fluxo; b) para verificaro nivelamento das marcas na vizinhança da seção da régua linimétrica someao zero da régua os valores observados no linígrafo e verifique secorrespondem às marcas niveladas. Deve-se considerar que a marca de en-chente não corresponde ao nível máximo ocorrido, já que o rio mancha aparede quando o nível se mantém por algum tempo. No caso do rio ficarmuito pouco tempo no pico, a marca deve aparecer para níveis menores.

Os critérios para determinação da linha de água e os níveis de enchen-te ao longo da cidade são os seguintes:

conhecida a curva de freqüência de níveis de inundação na seção darégua linimétrica, obtenha os níveis absolutos correspondentes aostempos de retorno desejados;defina as seções ao longo do rio. Essas seções são escolhidas combase nas marcas existentes e/ou nos níveis medidos a cada 500m e1000 m;calcule a declividade da linha de água para os diferentes trechosdefinidos pelas seções referenciadas. A declividade é calculada coma distância medida ao longo do rio. Deve-se tomar cuidado quandoexistirem pontes e/ou estradas que obstruam o escoamento;

a)

b)

c)

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para os níveis calculados nas seções do posto, obtenha as cotas cor-respondentes para as outras seções, utilizando a declividade da li-nha de água obtida.

d)

Mapeamento definitivo : Neste caso é necessário o levantamento detalha-do da topografia das áreas de risco com o tempo de retorno menor ou iguala 100 anos. A escolha do tempo de retorno é arbitrária e depende da defini-ção do futuro zoneamento. Caso tenha ocorrido uma enchente com tempode retorno superior a 100 anos, deve-se escolher o maior valor ocorrido.

O levantamento detalhado engloba a determinação das curvas de ní-vel com espaçamento de 0,5m ou 1,0m, dependendo das condições doterreno. Em algumas cidades o espaçamento pode ser muito detalhado.Nesse levantamento deve constar o nível do meio da rua de cada esquinadas áreas de risco.

Além da topografia é necessário o levantamento das obstruções aoescoamento, como pilares e encostos de pontes, estradas com taludes, edi-fícios, caracterizando em planta e, em seção, o tipo de cobertura e obstru-ção.

Com a batimetria ao longo da cidade é possível determinar as cotas deinundação, de acordo com o seguinte procedimento: (a) um modelo de es-coamento permanente, para cálculo da linha de água, deve ser utilizado. Ométodo é utilizado, inicialmente, para ajuste das rugosidades, com base nasmarcas de enchentes e na curva de descarga do posto fluviométrico. Paratanto, a linha de água é determinada para a vazão máxima registrada, noposto fluviométrico, e o nível correspondente no sentido de jusante paramontante. A rugosidade correta será aquela cuja linha de água se aproximardas marcas de enchente; (b) conhecidas as rugosidades pode-se estabelecera linha de água para as vazões correspondentes aos diferentes tempos deretorno e, em conseqüência, elaborar o mapeamento das áreas atingidas.

Para as áreas de risco deve-se realizar um levantamento da ocupaçãourbana existente e de propriedade do solo. Estas informações são essenciaispara a definição das propostas de zoneamento da área de risco.

Zoneamento : O zoneamento própriamente dito é a definição de um con-junto de regras para a ocupação das áreas de maior risco de inundação, vi-sando à minimização futura das perdas materiais e humanas em face dasgrandes cheias. Conclui-se, daí, que o zoneamento urbano permitirá umdesenvolvimento racional das áreas ribeirinhas.

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A regulamentação do uso das zonas de inundação apoia-se em mapascom demarcação de áreas de diferentes riscos e nos critérios de ocupaçãodas mesmas, tanto quanto ao uso como quanto aos aspectos construtivos.Para que esta regulamentação seja utilizada, beneficiando as comunidades, amesma deve ser integrada à legislação municipal sobre loteamentos, cons-truções e habitações, a fim de garantir a sua observância. Sendo assim, oconteúdo deste capítulo tem a finalidade de servir de base para a regula-mentação da várzea de inundação, através dos planos diretores urbanos,permitindo às prefeituras a viabilização do controle efetivo.

O Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de SãoPaulo (DAEE), apresentou uma proposta para os artigos da seção de Re-cursos Hídricos das Leis Orgânicas municipais do referido Estado, onde ozoneamento era recomendado nos seguintes termos:

“Art. 2o Caberá ao município, no campo dos recursos hídricos:IV - proceder ao zoneamento das áreas sujeitas a riscos de inundações ero-

são e escorregamentos do solo, estabelecendo restrições e proibições ao uso,parcelamento e a edificação, nas áreas impróprias ou críticas de forma a preservara segurança e a saúde pública”.

O Water Resources Council (1971) definiu Zoneamento por:“Zoneamento envolve a divisão de unidades governamentais em distritos ea regulamentação dentro desses distritos de : a) usos de estruturas e da terra;b) altura e volume das estruturas; c) o tamanho dos lotes e densidade deuso. As características do Zoneamento, que o distingue de outros controlesé que a regulamentação varia de distrito para distrito. Por essa razão, oZoneamento pode ser usado, para estabelecer padrões especiais para uso daterra em áreas sujeitas à inundação. A divisão em distritos de terras, atravésda comunidade é usualmente baseada em planos globais de uso, que orien-tam o crescimento da comunidade”.

Condições técnicas do zoneamento : O risco de ocorrência de inunda-ção varia com a respectiva cota da várzea. As áreas mais baixas obviamenteestão sujeitas a maior freqüência de ocorrência de enchentes. Assim sendo,a delimitação das áreas do zoneamento depende das cotas altimétricas dasáreas urbanas.

O rio possui normalmente um ou mais leitos. O leito menorcorresponde a seção de escoamento em regime de estiagem, ou de níveis

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médios. O leito maior pode ter diferentes lances, de acordo com a seçãotransversal considerada e a topografia da várzea inundável. Esse leito, o riocostuma ocupar durante as enchentes. Quando o tempo de retorno deextravasamento do leito menor é superior a 2 anos, existe a tendência dapopulação em ocupar a várzea nas mais diversas e significativas formassocioeconômicas. Essa ocupação gera, por ocasião das cheias, danos degrande monta aos ocupantes dessas áreas e, também, às populações a mon-tante, que são afetadas pelas elevações de níveis decorrentes da obstruçãoao escoamento natural causada pelos primeiros ocupantes (figura 3.14).

Figura 3.14. Invasões da várzea.

A seção de escoamento do rio pode ser dividida em três partes princi-pais para efeito de zoneamento (figura 3.15), descritas a seguir.

Zona de passagem da enchente (faixa 1) - Esta parte da seção deve ficarliberada para funcionar hidraulicamente, evitando gerar aumento de níveispara montante. Qualquer construção nessa área reduzirá a área de escoa-mento, elevando os níveis a montante desta seção (figura 3.15). Portanto,em qualquer planejamento urbano, deve-se procurar manter esta zonadesobstruída.

Os critérios técnicos geralmente utilizados são os seguintes :

determine a cheia de 100 anos de tempo de retorno ou a que deter-mina os limites da área de inundação;a seção de passagem da enchente será aquele que evitar aumentaros níveis no leito principal devido as obstruções no restante daseção. Como este valor dificilmente é nulo, adota-se um acréscimo

(a)

(b)

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de nível no leito principal. Nos Estados Unidos adotou-se comoacréscimo máximo do leito principal igual a um pé ou 30,45 cm.Veja a figura 3.16 para a definição desta faixa da várzea.

Figura 3.15. Regulamentação da zona inundável (U.S.WATER RESOURCESCOUNCIL,1971).

Esta faixa do rio deve ficar desobstruída para evitar danos de montae represamentos. Nessa faixa não deve ser permitida nenhuma nova cons-trução e a Prefeitura poderá, paulatinamente, relocar as habitações existen-tes.

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Figura 3.16 Definição da zona de passagem de enchente.

Na construção de obras como rodovias e pontes deve ser verificadose as mesmas produzem obstruções ao escoamento. Naquelas já existentesdeve-se calcular o efeito da obstrução e verificar as medidas que podem sertomadas para a correção. Não deve ser permitida a construção de aterroque obstrua o escoamento. Essa área poderia ter seu uso destinado a agri-cultura ou outro uso similar às condições da natureza. Adicionalmente, seriapermitido a instalação de linhas de transmissão e condutos hidráulicos ouqualquer tipo de obra que não produza obstrução ao escoamento, comoestacionamento, campos de esporte, entre outros.

Em algumas cidades poderão ser necessárias construções próximasaos rios. Nessa circunstância, deve ser avaliado o efeito da obstrução e asobras devem estar estruturalmente protegidas contra inundações.

Zona com restrições (faixa 2) - Esta é a área restante da superfície inundávelque deve ser regulamentada. Esta zona fica inundada mas, devido às peque-nas profundidades e baixas velocidades, não contribuem muito para a dre-nagem da enchente.

Esta zona pode ser subdividida em subáreas, mas essencialmente osseus usos podem ser:

parques e atividades recreativas ou esportivas cuja manutenção,após cada cheia, seja simples e de baixo custo. Normalmente umasimples limpeza a reporá em condições de utilização, em curto es-paço de tempo;

85

(a)

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uso agrícola;habitação com mais de um piso, onde o piso superior ficará situa-do, no mínimo, no nível do limite da enchente e estruturalmenteprotegida contra enchentes ;industrial, comercial, como áreas de carregamento, estacionamen-to, áreas de armazenamento de equipamentos ou maquinaria facil-mente removível ou não sujeitos a danos de cheia. Neste caso, nãodeve ser permitido armazenamento de artigos perecíveis e princi-palmente tóxicos;serviços básicos: linhas de transmissão, estradas e pontes, desdeque corretamente projetados.

Zona de baixo risco (faixa 3) - Esta zona possui pequena probabilidade deocorrência de inundações, sendo atingida em anos excepcionais por peque-nas lâminas de água e baixas velocidades. A definição dessa área é útil parainformar a população sobre a grandeza do risco a que está sujeita. Esta áreanão necessita regulamentação, quanto às cheias.

Nesta área, delimitada por cheia de baixa freqüência, pode-se dispen-sar medidas individuais de proteção para as habitações, mas deve-se orien-tar a população para a eventual possibilidade de enchente e dos meios deproteger-se das perdas decorrentes, recomendando o uso de obras com,pelo menos, dois pisos, onde o segundo pode ser usado nos períodos críti-cos.

Regulamentação das zonas de inundação : Usualmente, nas cidades de países emdesenvolvimento, a população de menor poder aquisitivo e marginalizadaocupa as áreas ribeirinhas de maior risco. A regulamentação da ocupação deáreas urbanas é um processo iterativo, que passa por uma proposta técnicaque é discutida pela comunidade antes de ser incorporada ao Plano Diretorda cidade. Portanto, não existem critérios rígidos aplicáveis a todas as cida-des, mas sim recomendações básicas que podem ser seguidas em cada caso.

Water Resources Council (1971) orienta a regulamentação com baseem distritos, definido-se em cada um o seguinte: (a) um texto que apresenteos regulamentos que se aplicam a cada distrito, junto com as providênciasadministrativas; (b) um mapa delineando os limites dos vários usos nosdistritos.

O zoneamento é complementado com a subdivisão das regulamenta-ções, onde são orientadas as divisões de grandes parcelas de terra em pe-

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(b)(c)

(d)

(e)

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quenos lotes, com o objetivo de desenvolvimento e venda de prédios. Por-tanto, essa é a fase de controle sobre os loteamentos. O Código de Constru-ção orienta a construção de prédios quanto a aspectos estruturais, hidráuli-cos, de material e vedação. A regulamentação das construções permite evi-tar futuros danos. A seguir relacionamos alguns indicadores gerais que po-dem ser usados no zoneamento .

A proteção das habitações com relação às enchentes depende da ca-pacidade econômica do proprietário em realizá-la. Com a implantação deum plano, a municipalidade poderá permitir as construções nessas áreas,desde que atendam condições como as seguintes (Tucci e Simões Lopes,1985):

estabelecimento de, pelo menos, um piso com nível superior àcheia que limita a zona de baixo risco;uso de materiais resistentes à submersão ou contato com a água;proibição de armazenamento ou manipulação e processamentode materiais inflamáveis, que possam pôr em perigo a vida huma-na ou animal durante as enchentes. Os equipamentos elétricosdevem ficar em cota segura;proteção dos aterros contra erosões através de cobertura vegetal,gabiões ou outros dispositivos;prever os efeitos das enchentes nos projetos de esgotos pluvial ecloacal;estruturalmente, as construções devem ser projetadas para resistirà pressão hidrostática, que pode causar problemas de vazamento,entre outros, aos empuxos e momentos que podem exigir ancora-gem, bem como às erosões que podem minar as fundações;fechamento de aberturas como portas, janelas e dispositivos deventilação;estanqueidade e reforço das paredes de porões;reforço ou drenagem da lage do piso;válvulas em conduto;proteção de equipamentos fixos;ancoragem de paredes contra deslizamentos.

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(b)

(a)

(c)

(d)

(e)

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(g)

(h)(i)(j)(k)(l)

A decisão sobre a obrigatoriedade de proteção das novas construções

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na zona de inundação é um processo que deve passar por uma discussãoampla da comunidade envolvida. No entanto, deve-se ter presente que,logo após as últimas enchentes, houve desvalorização imobiliária das áreasde risco. Com o passar do tempo, essas áreas adquirirão gradualmente valorimobiliário, devido ao natural espaçamento no tempo das cheias e assim, aimplementação de um plano de zoneamento poderá trazer custos maioresde desapropriações (se forem necessárias) ou dificuldades no processo deobediência à regulamentação. Essa situação somente sofrerá modificaçãocom a ocorrência de nova enchente, com mais danos. Essas condições sãomais graves na zona de passagem da cheia, na qual a municipalidade neces-sita gradualmente remover as obras que obstruem o escoamento.

Para manter a memória das inundações nas ruas pode-se utilizar apintura dos postes de luz com diferentes cores. Isto democratiza a informa-ção sobre a inundação e evita problemas imobiliários de compra e venda nasáreas de risco.

Quanto às construções já existentes nas áreas de inundação, deveráser realizado um cadastramento completo das mesmas e estabelecido umplano para reduzir as perdas no local, bem como àquelas provocadas peloremanso, resultante da obstrução do escoamento. Várias são as condiçõesexistentes que deverão ser analisadas caso a caso. Algumas situações podemser: a) para as obras públicas como escolas, hospitais, e prédios administra-tivos deve-se verificar a viabilidade de protegê-los ou removê-los para áreasseguras, a médio prazo; b) as subabitações como favelas e habitações depopulação de baixa renda, devem ter sua transferência negociada para áreasmais seguras; c) para áreas industriais e comerciais pode-se incentivar asmedidas de proteção às construções e, se for o caso, de toda a área, àsexpensas dos beneficiados.

Quando ocorrem remoções ou transferências, o poder público deveestar preparado com planos urbanos para destinar estas áreas para outrosusos ou finalidades de lazer, parques, evitando que venham a ser ocupadasnovamente por subabitações.

Algumas ações públicas são essenciais neste processo tais como :

evitar construção de qualquer obra pública nas áreas de risco comoescolas, hospitais e prédios em geral. Para as existentes deve-sepeparar um plano de remoção com o passar do tempo ;planejar a cidade para gradualmente deslocar seu eixo principal paraos locais de baixo risco ;

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(a)

(b)

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as entidades de financiamento deveriam evitar financiar obras emáreas de risco.utilizar mecanismos econômicos para o processo de incentivo econtrole das áreas de risco : (1) retirar o imposto predial dos pro-prietários que mantiverem sem construção as áreas de risco e utili-zem por exemplo, para agricultura, lazer, etc ; (2) procurar criar ummercado para as áreas de risco de tal forma que as mesmas se tor-nem públicas com o passar do tempo ;prever a imediata ocupação das áreas de risco público quando de-socupadas com algum plano que demarque a presença no municí-pio ou do Estado.

3.5 Drenagem urbana

A tendência da urbanização das cidades brasileiras tem provocadoimpactos significativos na população e no meio ambiente. Estes impactostêm deteriorado a qualidade de vida da população, através do aumento dafreqüência e do nível das inundações, redução da qualidade de água e au-mento de materiais sólidos no escoamento pluvial.

Este processo é desencadeado principalmente pela forma como ascidades se desenvolvem, por projetos de drenagem urbana inadequados. Estesprojetos têm como filosofia escoar a água precipitada o mais rápido possível da áreaprojetada. Este critério aumenta em várias ordens de magnitude a vazãomáxima, a freqüência e o nível de inundação de jusante.

No capítulo anterior foram destacados os impactos relacionados como aumento do pico e do volume do escoamento de cheia, o aumento dosresíduos sólidos e a piora da qualidade da água. A seguir é ampliada estaanálise, destacando-se como se desenvolve estes impactos dentro das cida-des e as técnicas modernas de controle na fonte, micro e macrodrenagemdos impactos citados.

3.5.1 Impactos devido a urbanização

Impacto do desenvolvimento urbano no ciclo hidrológico

O desenvolvimento urbano altera a cobertura vegetal provocandovários efeitos que alteram os componentes do ciclo hidrológico natural. Coma impermeabilização do solo através de telhados, ruas, calçadas e pátios, a

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(c)

(d)

(e)

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água que infiltrava, passa a escoar pelos condutos, aumentando o escoamen-to superficial. O volume que escoava lentamente pela superfície do solo eficava retido pelas plantas, com a urbanização, passa a escoar no canal, exi-gindo maior capacidade de escoamento das seções.

Na figura 3.17 é apresentado efeito sobre as variáveis do ciclohidrológico devido a urbanização. O hidrograma típico de uma bacia naturale aquele resultante da urbanização são apresentados na figura 3.18.

Figura 3.17 Características do balanço hídrico numa bacia urbana (OECD, 1986)

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Inundações e Drenagem Urbana

Figura 3.18 Impacto devido a urbanização (Schueler, 1987) .

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Com a urbanização são introduzidas as seguintes alterações no referi-do ciclo hidrológico:

Redução da infiltração no solo;Volume que deixa de infiltrar fica na superfície, aumentando o esco-amento superficial. Além disso, como foram construídos condutospluviais para o escoamento superficial, tornando-o mais rápido, ocorreredução do tempo de deslocamento. As vazões máximas tambémaumentam, antecipando seus picos no tempo (figura 3.18) A vazãomáxima média de inundação pode aumentar de seis a sete vezes. Nabacia do rio Belém em Curitiba, com área de drenagem de 42 km2 eáreas impermeáveis da ordem de 60% foi obtido um aumento de 6vezes na vazão média de cheia das condições rurais para a condiçãoatual de urbanização. Na figura 3.19 é apresentada a vazão média decheia em função da área de drenagem para bacias rurais e para abacia do rio Belém. A tendência dos valores das bacias rurais permi-tiu estimar a vazão média de cheia da sua situação de pré-desenvolvimentoe comparar com o valor atual (ponto na figura).Com a redução da infiltração, o aqüífero tende a diminuir o nível dolençol freático por falta de alimentação (principalmente quando a

Figura 3.19 Vazão média de cheia em função da área de drenagem na RegiãoMetropolitana de Curitiba.

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área urbana é muito extensa), reduzindo o escoamento subterrâneo.As redes de abastecimento e cloacal possuem vazamentos que po-dem alimentar o aqüíferos, tendo efeito inverso do mencionado;Devido a substituição da cobertura natural ocorre uma redução daevapotranspiração, já que a superfície urbana não retém água comoa cobertura vegetal e não permite a evapotranspiração das folha-gens e do solo. Apesar disto, as superfícies urbanas geradas pelascidades são aquecidas e nas precipitações de baixa intensidade podeocorrer maior evaporação.

Impacto ambiental sobre o ecossistema aquático

Com o desenvolvimento urbano vários elementos antrópicos são in-troduzidos na bacia hidrográfica que atuam sobre o ambiente. Alguns dosprincipais problemas são discutidos a seguir.

Aumento da Temperatura: As superfícies impermeáveis absorvem parteda energia solar aumentando a temperatura ambiente, produzindo ilhas decalor na parte central dos centros urbanos, onde predomina o concreto e oasfalto. O asfalto, devido a sua cor, absorve mais energia do que as superfí-cies naturais e o concreto. A medida que a sua superfície envelhece, escure-ce e aumenta a absorção de radiação solar. O aumento da absorção de radi-ação solar por parte da superfície aumenta a emissão de radiação térmicade volta para o ambiente, gerando, calor. O aumento de temperatura tam-bém cria condições de movimento de ar ascendente que pode criar de au-mento de precipitação. Silveira (1997) mostra que a parte central de PortoAlegre apresenta maior índice pluviométrico que a sua periferia, atribuindoessa tendência a urbanização.

Aumento de sedimentos e material sólido: Durante o desenvolvimentourbano, o aumento dos sedimentos produzidos pela bacia hidrográfica ésignificativo, devido às construções, limpeza de terrenos para novosloteamentos, construção de ruas, avenidas e rodovias entre outras causas.Na figura 3.20 pode-se observar a tendência de produção de sedimentos deuma bacia nos seus diferentes estágios de desenvolvimento.

As principais conseqüências ambientais da produção de sedimentossão as seguintes:

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Figura 3.20 Variação da produção de sedimentos em decorrência do desenvolvi-mento urbano (Dawdy, 1967)

assoreamento das seções da drenagem, com redução da capacidadede escoamento de condutos, rios e lagos urbanos. A lagoa daPampulha é um exemplo de um lago urbano que tem sido assoreado.O arroio Dilúvio em Porto Alegre, devido a sua largura e pequenaprofundidade, durante as estiagens, tem depositado no canal aprodução de sedimentos da bacia e criado vegetação, reduzindo acapacidade de escoamento durante as enchentes;transporte de poluentes agregados ao sedimento, que contaminamas águas pluviais

A medida que a bacia é urbanizada, e a densificação consolidada, aprodução de sedimentos pode reduzir (figura 3.20), mas um outro problemaaparece, que é a produção de lixo. O lixo obstrui ainda mais a drenagem e

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cria condições ambientais ainda piores. Esse problema somente é minimizadocom adequada freqüência da coleta e educação da população com multaspesadas (veja capítulo anterior).

Qualidade da água pluvial : A qualidade da água do pluvial não é melhorque a do efluente de um tratamento secundário. A quantidade de materialsuspenso na drenagem pluvial é superior à encontrada no esgoto in natura.Esse volume é mais significativo no início das enchentes. Na figura 3.21pode-se observar amostras de água pluvial disposta segundo um relógio (fi-gura das garrafas). No início existe pequena concentração, logo após a con-centração é alta, para após alguns intervalos de tempo se reduzir substanci-almente. Nos primeiros 25 mm de chuva geralmente se concentram 95% dacarga. O polutagrama gerado por uma área urbana após um período secomostra um pico de concentração antes do pico do hidrograma, indicandoque a concentração no início é alta, mesmo com pequena vazão.

Os esgotos podem ser combinados (cloacal e pluvial num mesmoconduto) ou separados ( rede pluvial e cloacal separadas). No Brasil, a mai-oria das redes é do segundo tipo; somente em áreas antigas de algumas cida-des existem sistemas combinados. Atualmente, devido a falta de capacidadefinanceira para ampliação da rede de cloacal, algumas prefeituras tem per-mitido o uso da rede pluvial para transporte do cloacal, o que pode ser umasolução inadequada à medida que esse esgoto não é tratado, além deinviabilizar algumas soluções de controle quantitativo do pluvial.

Os poluentes que ocorrem na área urbana variam muito, desde com-postos orgânicos a metais altamente tóxicos. Alguns poluentes são usadospara diferentes funções no ambiente urbano como inseticidas e fertilizantes,como chumbo proveniente das emissões dos automóveis e óleos de vaza-mento ou de caminhões, ônibus e automóveis estes contaminantes são re-sultados de atividades dentro do ambiente urbano. A fuligem resultante dasemissões de gases dentro do ambiente urbano dos veículos, das industrias,queima de resíduos se depositam na superfície e são lavados pela chuva. Aágua, resultante desta lavagem chega aos rios contaminada.

Os principais poluentes encontrados no escoamento superficial urba-no são: sedimentos, nutrientes, substâncias que consomem oxigênio, metaispesados, hidrocarbonetos de petróleo, bactérias e virus patogênicos. Os va-lores médios americanos são apresentados na Tabela abaixo.

A qualidade da água da rede pluvial depende de vários fatores: dalimpeza urbana e sua freqüência, da intensidade da precipitação e sua distri-

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buição temporal e espacial, da época do ano e do tipo de uso da área urbana.Os principais indicadores da qualidade da água são os parâmetros que carac-terizam a poluição orgânica e a quantidade de metais.

Figura 3.21 Amostradores de qualidade da água pluvial. Início da precipitaçãocom a garrafa marrom (posição do relógio a 45 min)

Contaminação de aqüíferos: As principais condições de contaminaçãodos aqüíferos urbanos são devido ao seguinte:

Aterros sanitários contaminam as águas subterrâneas pelo processonatural de precipitação e infiltração. Deve-se evitar que sejamconstruídos aterros sanitários em áreas de recarga e procurar esco-lher as áreas com baixa permeabilidade. Os efeitos da contaminaçãonas águas subterrâneas devem ser examinados quando da escolhado local do aterro;Grande parte das cidades brasileiras utilizam fossas sépticas comodestino final do esgoto. Esse conjunto tende a contaminar a partesuperior do aqüífero. Esta contaminação pode comprometer o abas-tecimento de água urbana quando existe comunicação entre dife-rentes camadas dos aqüíferos através de percolação e de perfuraçãoinadequada dos poços artesianos;

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A rede de condutos de pluviais pode contaminar o solo através deperdas de volume no seu transporte e até por entupimento de tre-chos da rede que pressionam a água contaminada para fora do siste-ma de condutos.

Tabela 3.7 Concentração para escoamento médio para alguns usos da terraurbano baseado no Programa Nacional de Escoamento urbano (americano)

sendo Whalen e Cullum (1989)

Controles na macrodrenagem que geram impactos

A situação do controle de enchentes nas áreas urbanas brasileiras de-vido á urbanização têm sido realizado de forma equivocada com sensíveisprejuízos para a população. A seguir é realizado um breve histórico desteenfoque e os principais problemas identificados.

A origem dos impactos devido a drenagem urbana que ocorrem namaioria das cidades brasileiras são as seguintes:

Princípio dos projetos: A drenagem urbana tem sido desenvolvidacom base no princípio equivocado de que : A melhor drenagem éa que retira a água excedente o mais rápido possível do seu local deorigem.Não consideram a bacia como sistema de controle: todos os impac-tos gerados em cada projeto são transferidos de um ponto a outrodentro da bacia através de condutos e canalizações.

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Em conseqüência destes projetos ocorrem os impactos citados nositens anteriores com elevado prejuízo para diferentes grupos da população epara o poder público.

Na microdrenagem os projetos aumentam a vazão e esgotam todo oseu volume para jusante. Na macrodrenagem a tendência de controle dadrenagem urbana é através da canalização dos trechos críticos. Este tipo desolução segue a visão particular de um trecho da bacia, sem que as conseqü-ências sejam previstas para o restante da mesma ou dentro de diferenteshorizontes de ocupação urbana. A canalização dos pontos críticos acabaapenas transferindo a inundação de um lugar para outro na bacia. Este pro-cesso, em geral, ocorre na seguinte seqüência

Estágio 1: a bacia começa a ser urbanizada de forma distribuída, com maiordensificação a jusante, aparecendo, no leito natural, os locais de inundaçãodevido a estrangulamentos naturais ao longo do seu curso (figura 3.22a);

Estágio 2: as primeiras canalizações são executadas a jusante, com base naurbanização atual; com isso, o hidrograma a jusante aumenta, mas é aindacontido pelas áreas que inundam a montante e porque a bacia não está total-mente densificada. (figura 3.22b);

Estágio 3: com a maior densificação, a pressão pública faz com os adminis-tradores continuem o processo de canalização para montante. Quando oprocesso se completa, ou mesmo antes, as inundações retornam a jusante,devido ao aumento da vazão máxima, quando esta não tem mais condiçõesde ser ampliada. As áreas de montante funcionavam como reservatórios deamortecimento. Neste estágio, a canalização simplesmente transfere a inunda-ção para jusante (figura 3.22c). Já não existem espaços laterais para ampliar oscanais a jusante, e as soluções convergem para o aprofundamento do canal,com custos extremamente altos (podendo chegar a US$ 50 milhões/km,dependendo do subsolo, largura, revestimento, etc.).

Este processo é prejudicial aos interesses públicos e representa umprejuízo extremamente alto para toda a sociedade ao longo do tempo. Asociedade paga cerca de 1000% a mais para um controle que aumenta dra-maticamente as inundações.

Na figura 3.23 pode-se observar o conjunto dos processos que seorigina no uso do solo e culminação com a aceleração do escoamento nadrenagem.

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Figura 3.22 Estágio do desenvolvimento da drenagem

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Figura 3.23 Processo de impacto da drenagem urbana (Sudersha, 2002)

3.5.2 Potenciais medidas de controle

As medidas de controle do escoamento podem ser classificadas, deacordo com sua ação na bacia hidrográfica, em:

distribuída ou na fonte: é o tipo de controle que atua sobre o lote,praças e passeios;na microdrenagem: é o controle que age sobre o hidrograma re-sultante de um ou mais loteamentos;na macrodrenagem: é o controle sobre os principais riachos urba-nos.

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As medidas de controle podem ser organizadas, de acordo com a sua açãosobre o hidrograma em cada uma das partes das bacias mencionadas acima,em:

infiltração e percolação: normalmente, cria espaço para que a águatenha maior infiltração e percolação no solo, utilizando oarmazenamento e o fluxo subterrâneo para retardar o escoamentosuperficial;armazenamento: através de reservatórios, que podem ser de tama-nho adequado para uso numa residência (1-3 m3) até terem portepara a macrodrenagem urbana (alguns milhares de m3). O efeito doreservatório urbano é o de reter parte do volume do escoamentosuperficial, reduzindo o seu pico e distribuindo a vazão no tempo;aumento da eficiência do escoamento: através de condutos e ca-nais, drenando áreas inundadas. Esse tipo de solução tende a trans-ferir enchentes de uma área para outra, mas pode ser benéfico quan-do utilizado em conjunto com reservatórios de detenção;diques e estações de bombeamento: solução tradicional de con-trole localizado de enchentes em áreas urbanas que não possuamespaço para amortecimento da inundação.

Medidas de controle distribuído

As principais medidas de controle localizado no lote, estacionamento,parques e passeios são denominadas, normalmente, de controle na fonte(source control). As principais medidas são as seguintes:

o aumento de áreas de infiltração e percolação eo armazenamento temporário em reservatórios residenciais ou te-lhados.

As principais características do controle local do escoamento são asseguintes (Urbonas e Stahre, 1993):

aumento da eficiência do sistema de drenagem de jusante dos locaiscontrolados;aumento da capacidade de controle de enchentes dos sistemas;dificuldade de controlar, projetar e fazer manutenção de um grande

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número de sistemas;o custo de operação e manutenção pode ser alto.

Esse tipo de sistema tem sido adotado em muitos países através delegislação apropriada, ou como um programa global de controle de enchen-tes, como descrito por Yoshimoto e Suetsugi (1990) para a bacia do rioTsurumi, onde foram construídos cerca de 500 reservatórios de retenção de1,3 m3.

Instalações comerciais, industriais e esportivas que impermeabilizamo solo numa proporção significativa devem ser responsabilizadas pela distri-buição de volume, evitando que aumente a vazão máxima a jusante; casocontrário, reduz-se a capacidade dos condutos de transportar a cheia, pro-vocando inundação. Em geral, o agente causador do acréscimo da vazãofica a montante do local de sua conseqüência. Sendo assim, se não houverregulamentação e educação sobre o assunto, os impactos se multiplicar-se-ão, como já acontece em grande parte das cidades brasileiras.

Infiltração e percolação: Os sistemas urbanos, como mencionado anteri-ormente, criam superfícies impermeáveis que não existiam na baciahidrográfica, gerando impactos de aumento do escoamento, que é transpor-tado através de condutos e canais. Esses dispositivos hidráulicos apresen-tam custos diretamente relacionados com a vazão máxima, aumentada pelaimpermeabilização. Para reduzir esses custos e minimizar os impactos ajusante, uma das ações é a de permitir maior infiltração da precipitação,criando condições, a mais próxima possível das condições naturais.

As vantagens e desvantagens dos dispositivos que permitem maiorinfiltração e percolação são as seguintes (Urbonas e Stahre, 1993):

aumento da recarga; redução de ocupação em áreas com lençolfreático baixo; preservação da vegetação natural; redução da polui-ção transportada para os rios; redução das vazões máximas à jusante;redução do tamanho dos condutos;os solos de algumas áreas podem ficar impermeáveis com o tempo;falta de manutenção; aumento do nível do lençol freático, atingindoconstruções em subsolo.

A infiltração é o processo de transferência do fluxo da superfície para ointerior do solo. A capacidade de infiltração depende das características do solo

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e do estado de umidade da camada superior do solo, denominada tambémde zona não-saturada. A velocidade do fluxo de água através da camadanão-saturada do solo até o lençol freático (zona saturada) é denominado depercolação. A percolação também depende do estado de umidade da camadasuperior do solo e do tipo de solo. Determinados tipos de solos apresentammaiores dificuldades de percolação e pequeno volume de armazenamento,o que inviabiliza seu uso, já que poderão: (a) manter níveis de água altos pormuito tempo na superfície; (b) ter pouco efeito na redução do volume finaldo hidrograma.

Os principais dispositivos para criar maior infiltração são discutidos aseguir:

Planos de infiltração: Existem vários tipos, de acordo com a sua disposi-ção local. Em geral, essas áreas são gramados laterais, que recebem a preci-pitação de uma área permeável, como residência ou edifícios (figura 3.24).Durante precipitações intensas, essas áreas podem ficar submersas, se a suacapacidade for muito inferior à intensidade da precipitação. Caso a drena-gem transporte muito material fino, a capacidade de infiltração pode serreduzida, necessitando limpeza do plano para manter sua capacidade de fun-cionamento.

Figura 3.24 Planos de infiltração com valo de infiltração

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Valos de infiltração: Esses são dispositivos de drenagem lateral, muitasvezes utilizados paralelos às ruas, estradas, estacionamentos e conjuntoshabitacionais, entre outros (Figura 3.25). Esses valos concentram o fluxodas áreas adjacentes e criam condições para uma infiltração ao longo do seucomprimento. Após uma precipitação intensa, o nível sobe e, como a infil-tração é mais lenta, mantém-se com água durante algum tempo. Portanto, oseu volume deve ser o suficiente para não ocorrer alagamento. Esse disposi-tivo funciona, na realidade, como um reservatório de detenção, à medidaque a drenagem que escoa para o valo é superior à capacidade de infiltração.Nos períodos com pouca precipitação ou de estiagem, ele é mantido seco.Esse dispositivo permite, também, a redução da quantidade de poluição trans-portada a jusante.

Figura 3.25 - Valos de infiltração (Urbonas e Stahre, 1993)

Bacias de percolação: Dispositivos de percolação dentro de lotes permi-tem, também, aumentar a recarga e reduzir o escoamento superficial. Oarmazenamento é realizado na camada superior do solo e depende daporosidade e da percolação. Portanto, o lençol freático deve ser baixo, crian-do espaço para armazenamento. Para áreas de lençol freático alto, esse tipode dispositivo não é recomendado. As bacias são construídas para recolher aágua do telhado e criar condições de escoamento através do solo. Essasbacias são construídas removendo-se o solo e preenchendo-o com cascalho,que cria o espaço para o armazenamento (figura 3.26). De acordo com osolo, é necessário criar-se maiores condições de drenagem. Para o solo argi-

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loso com menor percolação, é necessário drenar o dispositivo de saída. Aprincipal dificuldade encontrada com o uso desse tipo de dispositivo é oentupimento dos espaços entre os elementos pelo material fino transporta-do, portanto é recomendável o uso de um filtro de material geotextil. Dequalquer forma, é necessário a sua limpeza após algum tempo (Urbonas eStahre, 1993).

Figura 3.26 Exemplo de bacia de percolação (Holmstrand, 1984)

Dispositivos hidráulicos permeáveis: Existem diferentes tipos de dispo-sitivos que drenam o escoamento e podem ser construídos de forma a per-mitir a infiltração. Alguns desses dispositivos são:

entradas permeáveis na rede de drenagem. Na figura 3.27a, observa-se umfiltro, na parte superior da caixa, para evitar entupimento;trincheiras ou valas permeáveis que, no fundo, são um caso especial debacia de percolação e consistem de uma caixa com cascalho e filtropor onde passa um conduto poroso ou perfurado (figura 3.27b);meio fio permeável: esse dispositivo é utilizado fora do lote ou dentrode condomínios, indústrias ou áreas comerciais (figura 3.27c).

Pavimentos permeáveis: o pavimento permeável pode ser utilizado empasseios, estacionamentos, quadras esportivas e ruas de pouco tráfego. Emruas de grande tráfego, esse pavimento pode ser deformado e entupido,tornando-se impermeável. As principais limitações destes dispositivo po-dem ser:

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a - entradas permeáveis da drenagem

b - trincheiras ou valas permeáveis

c - meio fio permeávelFigura 3.27 Dispositivos hidráulicos permeáveis (Fujita, 1984)

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quando a água drenada é fortemente contaminada, haverá impactosobre o lençol freático e o escoamento subterrâneo;falta de controle na construção e manutenção que podem entupir osdispositivos tornando ineficiente.

O dimensionamento envolve a determinação do volume drenado pelasuperfície ou por outra contribuinte que escoe para a área do pavimento. Aprecipitação é obtida com base no tempo de retorno escolhido e da curvaIntensidade, duração e freqüência do local.

Para o dimensionamento de um sistema de infiltração total (sem tu-bos de drenagem na parte superior do reservatório), o reservatório de pe-dras deve ser grande o suficiente para acomodar o volume do escoamentode uma chuva de projeto menos o volume de escoamento que é infiltradodurante a chuva. O volume de escoamento superficial gerado pela precipita-ção pode ser estimado através de:

Vr = (ip + c - ie) . td (3.3)

onde Vr é o volume de chuva a ser retido pelo reservatório(em mm), ip é aintensidade máxima da chuva de projeto (em mm/h), ie é a taxa de infiltra-ção do solo (em mm/h), td é o tempo de duração da chuva (em horas) e cum fator de contribuição de áreas externas ao pavimento permeável e podeser estimada pela equação seguinte

(3.4)

onde Ac é área externa de contribuição para o pavimento permeável e Ap éárea de pavimento permeável.

A profundidade do reservatório de pedras do pavimento permeável édeterminado por

(3.5)

onde H é a profundidade do reservatório de pedras (em mm) e f é aporosidade do material. A porosidade pode ser determinada pela equação

(3.6)

ip . AcAp

c =

VrfH =

f =VL + VG

VT

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onde: VL é o volume de líquidos, VG é o volume de vazios e VT é o volumetotal da amostra.

Os pavimentos permeáveis somente são viáveis para taxa de infiltra-ção superior a 7 mm/h. Para a sua estimativa deve-se realizar uma sonda-gem a uma profundidade de 0,6 a 1,2 m abaixo do nível inferior do reserva-tório de pedras a fim de verificar o tipo de solo existente (já que tipos desolos com um percentual superior a 30% de argila ou 40% de silte e argilacombinados não são bons candidatos para este tipo de dispositivo). A ca-mada impermeável ou o nível do freático no período chuvoso deve estarpelo menos 1,2 m abaixo do pavimento.

Araujo et al (2001) realizaram experimentos com diferentes superfíci-es : (a) Solo compactado com declividade de 1 a 3 % ; (b) Pavimentos imper-meáveis : uma parcela de concreto convencional de cimento, areia e brita,com declividade de 4% ; (c) Pavimentos semi-permeáveis: uma parcela desuperfície com pedras regulares de granito com juntas de areia, conhecidaspor paralelepípedos, com declividade de 4 %; e outra parcela revestida compedras de concreto industrializado tipo “pavi S” igualmente com juntas deareia , conhecida por blocket, com declividade de 2%; (d) Pavimentos per-meáveis: uma parcela de blocos de concreto com orifícios verticais preen-chidos com material granular (areia) com declividade de 2 % e uma parcelade concreto poroso com declividade de 2%. Os experimentos foram reali-zados com precipitação de 110 mm/h, equivalente a um tempo de retornode 5 anos para uma duração de 10 minutos. Os resultados dos experimentossão apresentados na tabela 3.8 onde se observa que os paralelepípedos ab-sorvem parte da precipitação para uma intensidade muito alta e os pavimen-tos permeáveis praticamente não geram escoamento. Deve-se considerarque o experimento foi realizado com simulador de chuva numa superfíciede 1 m2, onde o efeito de armazenamento na superfície e no reservatóriodos pavimentos permeáveis tem mais efeito.

O custo do pavimento permeável pode ser da ordem de 30 % maiorque o pavimento comum devido a base necessária a sua implantação.

Armazenamento: O armazenamento pode ser efetuado em telhados, empequenos reservatórios residenciais, em estacionamentos em áreas esporti-vas, entre outros.

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Inundações e Drenagem Urbana

Tabela 3.8 Coeficiente de escoamento para simulação de chuva em diferentessuperfícies para uma intensidade de 110 mm/h

Telhados: o armazenamento em telhados apresenta algumas dificuldades, quesão a manutenção e o reforço das estruturas. Devido as características declima brasileiro e o tipo de material usualmente utilizado nas coberturas,esse tipo de controle dificilmente seria aplicável à nossa realidade.

Lotes urbanos: o armazenamento no lote pode ser utilizado para amortecer oescoamento, em conjunto com outros usos, como abastecimento de água,irrigação de grama e lavagem de superfícies ou de automóveis. Na figura3.29, é apresentado um reservatório desse tipo.

Figura 3.28 Reservatório com usos variados (Fujita, 1993)

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Em regiões com pequena capacidade de distribuição de água, a preci-pitação nos telhados é escoada diretamente para um poço subterrâneo e,depois, clorada para uso doméstico (evite este uso em área muito urbanizada).A água coletada em telhados de centros esportivos pode ser coletada direta-mente para uso de limpeza. Considerando-se uma superfície de 120 m2, comuma precipitação anual de 1500 mm, é possível obter-se 360 m3 por ano,que, distribuídos, representam cerca de 15 m3 por mês, o suficiente paraabastecer uma residência. Evidentemente que, à medida em que o reserva-tório é mantido com água, reduz-se sua capacidade de amortecimento.

O dimensionamento do volume em lotes urbanos pode ser realizadocom base na equação seguinte (Tucci, 2001)

(3.7)

onde a duração t é usada em minutos e o volume é obtida em m3/km2; C éo coeficiente de escoamento,Qa é a vazão de pré-desenvolvimento;b e d sãoos coeficientes da equação de intensidade e freqüência do local( ).

A duração que produz o maior volume é obtido pela derivada da equação3.7.A equação resultante é não-linear, que é resolvida por iteração.

(3.8)

onde w = ; ; r =

Considerando que 25% das áreas de um loteamento sejam públicas,com 60% de área impermeável, estimou-se qual o volume necessário dedetenção para diferentes níveis de impermeabilização nos lotes do loteamento(tabela 3.9)

Tucci (2001) determinou o escoamento de pré-desenvolvimento emPorto Alegre em 20,8 l/s.km2 para 10 anos de tempo de retorno. A equaçãode volume (com base na formulação acima) para manter a vazão de pré-desenvolvimento em Porto Alegre resultou em

v = 4,25 A . AI (3.9)

onde v é o volume específico em m3; A é a área de drenagem em ha; e AI a

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= [0,278.C. - Qa].t.60a

(t + b)dVA

Qa b 10,278.a.C(1-d) 1-d d+1

s =

t = ( )r - bt + sw

I= a(tc +b)d

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área impermeável em %. Esta equação é utilizada para regulamentação docontrole na fonte na cidade.

Tabela 3.9 Volume de detenção para Tempo de retorno de 2 anos em PortoAlegre

Características do reservatório: Na figura 3.30 pode-se observar um reservatóriode lote e sua disposição dentro do ambiente do lote. Este tipo dereservatório não necessita ser fechado e pode-se utilizar gramados comoapresentado na figura 3.31.

Medidas de Controle no Loteamento

A medida de controle de escoamento na microdrenagem tradicional-mente utilizada consiste em drenar a área desenvolvida através de condutospluviais até um coletor principal ou riacho urbano. Esse tipo de soluçãoacaba transferindo para jusante o aumento do escoamento superficial commaior velocidade, já que o tempo de deslocamento do escoamento é menorque nas condições preexistentes. Dessa forma, acaba provocando inunda-ções nos troncos principais ou na macrodrenagem.

Como foi apresentado anteriormente, a impermeabilização e a canali-zação produzem aumento na vazão máxima e no escoamento superficial.Para que esse acréscimo de vazão máxima não seja transferido a jusante,utiliza-se o amortecimento do volume gerado, através de dispositivos como:tanques, lagos e pequenos reservatórios abertos ou enterrados, entre outros.Essas medidas são denominadas de controle a jusante (downstream control).

O objetivo das bacias ou reservatórios de detenção é minimizar o

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Carlos E. M. Tucci

impacto hidrológico da redução da capacidade de armazenamento naturalda bacia hidrográfica.

Figura 3.29 Reservatório de Lote

Este controle tem as seguintes vantagens e desvantagens (Urbonas eStahre, 1993): custos reduzidos, se comparados a um grande número decontroles distribuídos; custo menor de operação e manutenção; facilidadede administrar a construção; dificuldade de achar locais adequados; custo deaquisição da área; reservatórios maiores têm oposição por parte da popula-ção.

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Figura 3.30 Reservatório aberto

Esse controle tem sido utilizado quando existem restrições por parteda administração municipal ao aumento da vazão máxima devido ao desen-volvimento urbano, e assim, já foi implantado em muitas cidades de diferen-tes países. O critério normalmente utilizado é que a vazão máxima da área, como desenvolvimento urbano, deve ser menor ou igual à vazão máxima das condiçõespreexistentes para um tempo de retorno escolhido.

Os reservatórios de detenção são utilizados de acordo com o objetivodo controle desejado. Esse dispositivo pode ser utilizado para:

Controle da vazão máxima: Este é o caso típico de controle dos efeitos deinundação sobre áreas urbanas. O reservatório é utilizado para amortecer opico a jusante, reduzindo a seção hidráulica dos condutos e mantendo ascondições de vazão preexistentes na área desenvolvida.

Controle do volume: Normalmente, esse tipo de controle é utilizado quan-do o escoamento cloacal e pluvial são transportados por condutos combina-dos ou quando recebe a água de uma área sujeita a contaminação. Como acapacidade de uma estação de tratamento é limitada, é necessário armazenaro volume para que possa ser tratado. O reservatório também é utilizado para

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a deposição de sedimentos e depuração da qualidade da água, mantendo seuvolume por mais tempo dentro do reservatório. O tempo de detenção, que é adiferença entre o centro de gravidade do hidrograma de entrada e o de saí-da, é um dos indicadores utilizados para avaliar a capacidade de depuraçãodo reservatório.

Controle de material sólido: quando a quantidade de sedimentos produzi-da é significativa, esse tipo de dispositivo pode reter parte dos sedimentospara que sejam retirados do sistema de drenagem.

Esses reservatórios podem ser dimensionados para manterem umalâmina permanente de água (retenção), ou secarem após o seu uso, duranteuma chuva intensa para serem utilizados em outras finalidades (detenção) (fi-gura 3.32a ) A vantagem da manutenção da lâmina de água e do conseqüen-te volume morto é que não haverá crescimento de vegetação indesejável nofundo, sendo o reservatório mais eficiente para controle da qualidade daágua. O seu uso integrado, junto a parques, pode permitir um bom ambienterecreacional. A vantagem de utilização desse dispositivo seco é que pode serutilizado para outras finalidades. Uma prática comum consiste emdimensionar uma área com lâmina de água para escoar uma cheia freqüente,como a de dois anos, e planejar a área de extravasamento com paisagismo ecampos de esporte para as cheias acima da cota referente ao risco mencio-nado. Quando a mesma ocorrer, será necessário realizar apenas a limpeza daárea atingida, sem maiores danos a montante ou a jusante.

Na figura 3.32, são apresentados, de forma esquemática, o reservató-rio mantido seco e o com lâmina de água. Os reservatórios ou bacias dedetenção mantidas secas são os mais utilizados nos Estados Unidos, Canadáe Austrália. São projetados, principalmente, para controle da vazão, comesvaziamento de até seis horas e com pouco efeito sobre a remoção depoluentes. Aumentando-se a detenção para 24 a 60 h, poderá haver melhorana remoção de poluentes (Urbonas e Roesner, 1994). Esse tipo de dispositi-vo retém uma parte importante do material sólido.

Os reservatórios de detenção com lâmina de água permanente sãomais eficientes no controle de poluentes. Nos reservatórios que se mantêmsecos, mas que estão ligados diretamente à drenagem, existe uma seção menorpara o escoamento durante as estiagens. Nesse caso, é conveniente que ofundo dessa drenagem seja de concreto para facilitar a limpeza.

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a - reservatório de detenção

b - reservatório de retenção

Figura 3.31 Reservatórios para controle de material sólido (Maidment, 1993)

Esse tipo reservatório pode ter um fundo natural, escavado ou deconcreto. Os reservatórios em concreto são mais caros, mas permitem pare-des verticais, com aumento de volume. Isso é útil onde o espaço tem umcusto alto.

ASCE (1985) menciona que as instalações de detenção desse tipo quetiveram maior sucesso foram as que se integraram a outros usos, como arecreação, já que a comunidade, no seu cotidiano, usará esse espaço de re-

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creação. Portanto, é desejável que o projeto desse sistema esteja integradoao planejamento do uso da área.

Localização : Como foi mencionado acima, os reservatórios podem serabertos ou enterrados, de acordo com as condições para sua localização.Em locais onde o espaço seja reduzido ou que seja necessário manter-seuma superfície superior integrada com outros usos, pode-se utilizar reserva-tórios subterrâneos; no entanto, o custo desse tipo de solução é superior aodos reservatórios abertos.

Quando a drenagem utiliza a folga de volume do sistema para amor-tecimento, ele é chamado de on-line. No caso em que o escoamento é trans-ferido para a área de amortecimento, após atingir uma certa vazão, o sistemaé denominado off-line.

A localização depende dos seguintes fatores:

em áreas muito urbanizadas, a localização depende da disponibilida-de de espaço e da capacidade de interferir no amortecimento. Seexiste espaço somente a montante, que drena pouco volume, o efei-to será reduzido;em áreas a serem desenvolvidas, deve-se procurar localizar o reser-vatório nas partes de pouco valor, aproveitando as depressões natu-rais ou parques existentes. Um bom indicador de localização são asáreas naturais que formam pequenos lagos antes do seu desenvolvi-mento.

Medidas de controle na macrodrenagem

O controle de vazões na macrodrenagem urbana pode ser realizadopor medidas estruturais ou não-estruturais (item anterior).

As principais medidas estruturais são: canalização, reservatório deamortecimento e diques em combinação com polders. As medidas não-es-truturais envolvem o zoneamento de áreas de inundações, através da regula-mentação do uso do solo com risco de inundação, ocupação com áreas delazer, seguros contra inundações e previsão em tempo atual, entre outras.

O controle do impacto do aumento do escoamento devido à urbani-zação, na macrodrenagem, tem sido realizado, na realidade brasileira, atra-vés da canalização. O canal é dimensionado para escoar uma vazão de pro-jeto para tempos de retorno que variam de 25 a 100 anos. Considere a bacia

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da figura 3.33. No primeiro estágio a bacia não está totalmente urbanizada,e as inundações ocorrrem no trecho urbanizado, onde algumas áreas nãoestão ocupadas, porque inundam com freqüência.

Figura 3.32 A ocupação da bacia hidrográfica e suas conseqüências

Com a canalização desse trecho, as inundações deixam de ocorrer.Nas áreas que, antes, eram o leito maior do rio e sofriam freqüentes inunda-ções, existiam favelas, ou eram desocupadas. Essas áreas tornam-se valoriza-das, pela suposta segurança do controle de enchentes. O loteamento dessasáreas leva a uma ocupação nobre de alto investimento. Com o desenvolvi-

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mento da bacia de montante e o respectivo aumento da vazão máxima, quenão é controlada pelo poder público, voltam a ocorrer inundações no antigoleito maior. Nessa etapa, não existe mais espaço para ampliar lateralmente ocanal, sendo necessário aprofundá-lo, aumentando os custos em escala qua-se exponencial, já que é necessário estruturar as paredes do canal. Essescustos podem chegar a valores de US $ 50 milhões/km.

Esse processo, encontrado em muitas cidades brasileiras, pode serevitado através do uso combinado das medidas mencionadas dentro do pla-nejamento urbano, utilizando-se os princípios de controles mencionado noinício deste capítulo.

Para o planejamento de controle da bacia, quando a mesma ainda estáno primeiro estágio, pode-se utilizar o seguinte (figura 3.34):

Figura 3.33 Planejamento de controle de bacia no primeiro estágio deurbanização

regulamentação do uso do solo e ocupação, pelo poder público, dasáreas naturalmente inundáveis;combinar essas áreas, para atuarem como bacias de detenção urba-nas;regulamentar a microdrenagem para não ampliar a enchente natural,tratando cada distrito ou sub-bacia de acordo com sua capacidade etransferência a jusante. Nesse caso, é estudada cada sub-bacia edefinido o risco de inundação que cada empreendedor deve manternas condições naturais;utilizar parques e as áreas mencionadas acima para amortecer e pre-

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servar os hidrogramas entre diferentes sub-bacias ;prever subsídios de impostos para as áreas de inundações e a trocade solo criado por compra de áreas de inundações; * nenhuma áreadesapropriada pelo poder público pode ficar sem implantação deinfra-estrutura pública, parque ou área esportiva; caso contrário, seráinvadida.

Quando a bacia encontra-se num estágio avançado de desenvolvimento,a tendência é que as medidas estruturais predominem, com custos altos. Noentanto, pode-se minimizar esses custos através do aumento da capacidadede amortecimento na bacia urbana, buscando recuperar, o máximo possível,o amortecimento natural pela exploração de todas as áreas possíveis.Yoshimoto e Suetsugi (1990) descreveram as medidas tomadas para reduzira freqüência de inundações no rio Tsurumi, dentro da área da cidade deTóquio. A bacia foi subdividida em três: retenção, retardo e áreas inferiores,e definida a vazão de controle. Na área de retenção, foram obtidos 2,2milhões de m3 para amortecimento através de ação municipal, além de ou-tras medidas de retardo. Essas ações reduziram os prejuízos para enchentesrecentes.

3.6 Plano Diretor de Drenagem Urbana

O Plano Diretor de Drenagem Urbana tem o objetivo de criar osmecanismos de gestão da infra-estrutura urbana relacionado com o escoa-mento das águas pluviais e dos rios na área urbana da cidade. Este planeja-mento visa evitar perdas econômicas, melhoria das condições de saúde emeio ambiente da cidade dentro de princípios econômicos, sociais eambientais definidos pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.

O Plano Diretor de Drenagem Urbana tem como meta: (a) planejar adistribuição da água pluvial no tempo e no espaço, com base na tendênciade ocupação urbana compatibilização esse desenvolvimento e a infra-estru-tura para evitar prejuízos econômicos e ambientais; (b) controlar a ocupa-ção de áreas de risco de inundação através de restrições na áreas de alto riscoe; (c) estabelecer uma convivência harmônica com as enchentes nas áreas debaixo risco.

Os condicionamentos urbanos são resultados de vários fatores quenão serão discutidos aqui, pois parte-se do princípio que os mesmos foramdefinidos dentro âmbito do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.

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Devido a interferência que a ocupação do solo tem sobre a drenagem exis-tem elementos do Plano de Drena Drenagem que são utilizados para regu-lamentar os artigos do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.

3.6.1 Princípios

Os princípios a seguir caracterizados visam evitar os problemas des-critos no capítulo anterior. Estes princípios são essenciais para o bom de-senvolvimento de um programa consistente de drenagem urbana.

Plano Diretor de Drenagem Urbana faz parte do Plano de DesenvolvimentoUrbano: a drenagem faz parte da infra-estrutura urbana, portantodeve ser planejada em conjunto dos os outros sistemas, principal-mente o plano de controle ambiental, esgotamento sanitário, dispo-sição de material sólido e tráfego;O escoamento durante os eventos chuvosos não pode ser ampliadopela ocupação da bacia, tanto num simples loteamento, como nasobras de macrodrenagem existentes no ambiente urbano. Isto seaplica a um simples aterro urbano, como a construção de pontes,rodovias, e à implementação dos espaços urbanos. O princípio é de quecada usuário urbano não deve ampliar a cheia natural.Plano de controle da drenagem urbana deve contemplar as baciashidrográficas sobre as quais a urbanização se desenvolve. As medi-das não podem reduzir o impacto de uma área em detrimento deoutra, ou seja, os impactos de quaisquer medidas não devem ser transferidos.Caso isso ocorra, deve-se prever uma medida mitigadora.O Plano deve prever a minimização do impacto ambiental devido ao escoa-mento pluvial através da compatibilização com o planejamento dosaneamento ambiental, controle do material sólido e a redução dacarga poluente nas águas pluviais que escoam para o sistema fluvialinterno e externo à cidade.O Plano Diretor de Drenagem urbana, na sua regulamentação, devecontemplar o planejamento das áreas a serem desenvolvidas e a densificação dasáreas atualmente loteadas. Depois que a bacia, ou parte dela, estiverocupada, dificilmente o poder público terá condições de responsa-bilizar aqueles que estiverem ampliando a cheia. Portanto, se a açãopública não for realizada preventivamente através do gerenciamento,as conseqüências econômicas e sociais futuras serão muito maiorespara todo o município.

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Nas áreas ribeirinhas, o controle de enchentes é realizado através demedidas estruturais e não-estruturais, que dificilmente estãodissociadas. As medidas estruturais envolvem grande quantidade derecursos e resolvem somente problemas específicos e localizados.Isso não significa que esse tipo de medida seja totalmente descartável.A política de controle de enchentes, certamente, poderá chegar asoluções estruturais para alguns locais, mas dentro da visão de con-junto de toda a bacia, onde estas estão racionalmente integradascom outras medidas preventivas (não-estruturais) e compatibilizadascom o esperado desenvolvimento urbano.O controle deve ser realizado considerando a bacia como um todoe não em trechos isolados.Os meios de implantação do controle de enchentes são o PDUA, as LegislaçõesMunicipal/Estadual e o Manual de Drenagem. O primeiro estabelece aslinhas principais, as legislações controlam e o Manual orienta.O controle permanente: o controle de enchentes é um processopermanente; não basta que se estabeleçam regulamentos e que seconstruam obras de proteção; é necessário estar atento as potenci-ais violações da legislação na expansão da ocupação do solo dasáreas de risco. Portanto, recomenda-se que:

nenhum espaço de risco deve ser desapropriado se não hou-ver uma imediata ocupação pública que evite a sua invasão;a comunidade tenha uma participação nos anseios, nos pla-nos, na sua execução e na contínua obediência das medidasde controle de enchentes.

A educação: a educação de engenheiros, arquitetos, agrônomos egeólogos, entre outros profissionais, da população e de administra-dores públicos é essencial para que as decisões públicas sejam to-madas conscientemente por todos;O custo da implantação das medidas estruturais e da operação emanutenção da drenagem urbana deve ser transferido aos proprie-tários dos lotes, proporcionalmente a sua área impermeável, que éa geradora de volume adicional, com relação as condições naturais.O conjunto destes princípios trata o controle do escoamento urba-no na fonte distribuindo as medidas para aqueles que produzem oaumento do escoamento e a contaminação das águas pluviais.

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É essencial uma gestão eficiente na manutenção de drenagem e nafiscalização da regulamentação.

3.6.2 Estrutura

A estrutura do Plano Diretor de Drenagem Urbana é apresentada nafigura 3.35. Pode-se observar desta estrutura que existem um grupo deentradas ao Plano que são as informações básicas para o seu desenvolvi-mento que são: cadastro da rede pluvial; rede cloacal; coleta e disposiçãodos materiais sólidos, caracterização da ocupação urbana; características fí-sicas da bacias hidrográficas e características sócio-econômicas. Além disso,existe o grupo de Planos associados que são: o Plano de DesenvolvimentoUrbano e os Planos setoriais de Saneamento e Limpeza Urbana.

Este conjunto de dados é base para a elaboração do Plano que possuios seguintes componentes: Concepção, Desenvolvimento, Produtos, Planode ação e Programas

A concepção de controle da drenagem urbana se baseia no seguinte:

nos princípios de controle da drenagem urbana, apresentados;nas estratégias de desenvolvimento do plano como a compatibili-dade entre os Planos preparados para a cidade. Este aspecto é des-tacado no item ;definição de cenários de desenvolvimento urbano e riscos para asinundações;padrões para as variáveis de controle da regulamentação.Viabilidade econômica das medidas

O desenvolvimento do Plano Diretor de Drenagem Urbana de cadabacia é feito segundo duas estratégias básicas: (a) legislação e sua regulamen-tação ou outras medidas não-estruturais para as áreas não ocupadas e ; (b)plano de controle dos impactos das inundações na drenagem para as baciasocupadas ou áreas ocupadas.

Os produtos do Plano são a legislação, regulamentação ou outras medi-das não estruturais, o Plano de controle de cada macrourbana da cidade e omanual de drenagem urbana, para orientar os profissionais quanto aos pro-jetos de drenagem na cidade.

No Plano de Ação é definido o seguinte: Gestão da Implementaçãodoplano: envolve a definição das entidades que complementarão as ações pre-

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Figura 3.34 Desenvolvimento do Plano Diretor de Drenagem urbana

vistas; Viabilidade Econômica, o mecanismo de funcionamento dasimplementações das ações do plano; sequenciamento de ações relacionadascom o plano de cada sub-bacia.

3.6.3 Plano de controle das macrobacias urbanas

Para as áreas que estão ocupadas deve-se desenvolver estudos especí-ficos por macro-bacias urbanas visando planejar as medidas necessárias parao controle dos impactos dentro destas bacias, sem que as mesmas transfi-ram para jusante os impactos já existentes. O Plano de controle da drena-gem urbana para cada macrobacia urbana contempla o seguinte:

a avaliação da capacidade de drenagem existente;a identificação dos locais críticos, onde ocorrem inundações para ocenário atual para eventos com tempos de retorno escolhido;o estudo de alternativas para controle destas inundações;avaliação econômica;avaliação ambiental.

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(a)

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(b)

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Avaliação ambiental

Com relação ao controle ambiental, caracterizado pela qualidade daágua do escoamento pluvial, material sólido transportado pela drenagem e acontaminação da água subterrânea, as estratégias são as seguintes:

Para as áreas onde não existe rede de esgoto cloacal ou existe grandequantidade de ligações de efluentes cloacais na rede pluvial, as medi-das de controle priorizaram o controle quantitativo. Este tipo demedida utiliza a detenção apenas para o volume excedente da capa-cidade de drenagem atual, evitando que o escoamento em estiageme o volume da primeira parte do hidrograma contamine as deten-ções. Estas áreas de armazenamento são mantidas a seco durante oano e somente nos eventos com tempo de retorno acima de 2 anossão utilizadas. Em alguns casos é necessário utilizar estas áreas parariscos menores devido a baixa capacidade da rede existente.Quando a rede cloacal estiver implementada, o Plano no seu segun-do estágio, pode ser implementado, modificando-se o sistema deescoamento junto as detenções para que as mesmas possam tam-bém contribuir para o controle da qualidade da água do pluvial.Para o controle da contaminação dos aqüíferos e o controle de ma-terial sólido deverão ser criados programas de médio prazo visandoa redução desta contaminação através de medidas distribuídas pelacidade.

Avaliação econômica

A viabilidade econômica do Desenvolvimento das Medidas Estrutu-rais e o Controle ao longo do tempo da drenagem urbana depende da capa-cidade econômica de implementação das medidas

Os custos relacionados com a drenagem urbana e controle de inunda-ções das áreas urbanas abrangem:

Custos de implementação das obras de macrodrenagem e outrasmedidas estruturais para controle dos impactos existentes na cidade.Estes custos estão distribuídos pelas bacias hidrográficas, através doPlano de cada bacia. Além disso, este custo ocorre quando da suaimplementação;

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Custos de operação do sistema de drenagem existente da rede depluvial, que envolve a limpeza, manutenção dos condutos e soluçãode problemas localizados. Este custo deve distribuído pelos usuári-os da rede de drenagem.

O princípio básico do financiamento das ações da drenagem urbanasão o de distribuir os custos de acordo com as áreas impermeáveis não con-troladas da propriedade. Na drenagem urbana, quem aumenta o volume deescoamento superficial é responsável pelas inundações e deveria pagar peloacréscimo do impacto. O fator fundamental do aumento do volume é a áreaimpermeável. A distribuição dos custos da implantação da drenagem pro-postos no Plano pode ser baseada no seguinte:

Obras de controle: Para as obras de controle planejadas em cada bacia, oscustos de sua implantação devem ser distribuídos dentro de cada bacia deacordo com a área impermeável de cada propriedade, a partir de uma taxatotal cobrada pelo período estimado de implantação da mesma ou atravésde financiamento. Desta forma, a população das bacias onde aimpermeabilização é maior e, portanto, com condições mais críticas de dre-nagem deverão pagar quantias maiores (veja anexo A para rateio de custos).

Operação e manutenção: O custo referente à operação e manutenção darede de drenagem urbana pode ser cobrado: (a) como parte do orçamentogeral do município, sem uma cobrança específica dos usuários; (b) atravésde uma taxa fixa para cada propriedade, sem distinção de área impermeável;(c) com base na área impermeável de cada propriedade. Esta última alterna-tiva é a mais justa sobre vários aspectos, pois quem utiliza mais o sistemadeve pagar proporcionalmente ao volume que gera de escoamento.

A principal dificuldade no processo de cobrança está na estimativareal da área impermeável de cada propriedade. Neste sentido, pode ser uti-lizado o seguinte procedimento:

Utilizar a área construída de cada propriedade projetada para o pla-no da área do terreno como a área impermeável. Este valor não é oreal , pois o espaço impermeabilizado tende a ser maior em funçãodos pavimentos.Estabelecer um programa de avaliação da área impermeável combase em imagem de satélite e verificação por amostragem através devisita local.

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Rateio dos custos deve considerar: Para cada bacia e para a cidade, aestimativa da área total impermeabilizada e o custo total da inter-venção ou da operação e manutenção (veja anexo A).Cálculo do custo de operação e manutenção calculado com base nocusto de operação total da cidade, pois as diferenças geográficas nãosão significativas e a separação de custo operacional por bacia é maiscomplexo. No anexo A é apresentada a metodologia de rateio decusto para as áreas não- controladas baseado no volume de escoa-mento gerado em cada superfície.

Cenários de desenvolvimento

Deve-se considerar dois aspectos quanto ao desenvolvimento urbanodo plano: (a) cenários futuros ; (b) medidas de controle adotadas nos cenári-os. Os principais cenários identificados quanto ao desenvolvimento urbanopodem ser:

I - Atual : Condições de urbanização atual, envolve a ocupação urbana nomomento do desenvolvimento do Plano obtido de dados demográficos eimagens de satélite;II - Cenário PDDU: Cenário previsto no Plano Diretor de Desenvolvi-mento Urbano. O plano de desenvolvimento urbano em vigor na cidadeestabelece diferentes condicionantes de ocupação urbana para a cidade;III - Cenário atual + PDDUA: Este cenário envolve a ocupação atual paraas partes da bacia onde o Plano foi superado na sua previsão, enquanto quepara as áreas em que o Plano não foi superado, foi considerado o valor dedensificação previsto no mesmo;IV - Cenário de ocupação máxima: Este cenário envolve a ocupaçãomáxima de acordo com o que vem sendo observado em diferentes partes dacidade que se encontram neste estágio. Este cenário representa a situaçãoque ocorrerá se o disciplinamento do solo não for obedecido.

O primeiro cenário citado no item anterior representa o estágio próxi-mo do atual, o segundo é o cenário previsto pelo PDDU da cidade. Oterceiro cenário representa a situação mais realista, pois aceita os desenvol-vimento realizados fora do Plano Diretor e para o restante das áreas aindaem desenvolvimento o Plano previsto.

Quanto as medidas de controle adotadas em cada cenário de desen-volvimento urbano deve-se considerar o seguinte:

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Cenário atual com as medidas de controle estruturais: corresponde àimplementação das medidas estruturais em cada bacia, amortecendo as inun-dações, sem que sejam examinadas as conseqüências futuras da regulamen-tação no crescimento da cidade;Cenário atual + PDDU com as medidas de controle estruturais: Estecenário corresponde a implementação das medidas estruturais baseadas noterceiro cenário de desenvolvimento urbano. Nesta situação, as interven-ções admitem que as medidas de regulamentação não foram implementadasou são condicionantes que permitem uma folga para o sistema de drena-gem.

Risco de projeto

O risco de 10 anos de tempo de retorno geralmente é escolhido paradimensionamento da macrodrenagem. Este tempo de retorno representaum compromisso entre o custo das obras e a freqüência aceita para os pre-juízos. Os maiores custos dos prejuízos das inundações encontram-se nasinundações com alto risco (baixo tempo de retorno), devido a sua grandefreqüência de ocorrência. As obras de controle para riscos baixos (alto tem-po de retorno) podem normalmente representam grandes custos, combenefício médio relativo baixo.

3.6.4 Aspectos Institucionais

Legislação para drenagem urbana

Os princípios da regulamentação proposta baseiam-se no controle nafonte do escoamento pluvial através do uso de dispositivos que amorteçamo escoamento das áreas impermeabilizadas e/ou recuperem a capacidade deinfiltração através de dispositivos permeáveis ou pela drenagem em áreas deinfiltração.

A legislação pode ser incluída diretamente no Plano Diretor Urbanoou através de decreto municipal. No anexo B é apresentado um exemplo dedecreto municipal proposto para a cidade de Porto Alegre. Neste decretosão utilizados dois mecanismo: (a) o controle na fonte do escoamento urba-no; (b) incentivar no decreto o uso de medidas na fonte. No decreto foiprevisto um volume para cada lote que, quando totalmente impermealizadoé razoavelmente grande. Para reduzir este volume o projetista pode utilizarde medidas na fonte.

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Legislação para as áreas ribeirinhas: No caso de áreas ribeirinhas noAnexo C são apresentados exemplos de alguns artigos sobre o controle daárea ribeirinha. Existem várias alternativas que depende da negociação den-tro de cada cidade com a população. O importante é que para as áreas deriscos com restrição sejam encontrados mecanismos de compensação e va-lor econômico para a mesma.

Gestão de drenagem urbana

A grande maioria das cidades não tem definido uma entidade paracontrole e desenvolvimento da drenagem urbana. São poucas as cidade quepossuem um departamento especializado. A drenagem pluvial apresentavárias interfaces gerenciais com: Planejamento Urbano, abastecimento deágua, Esgotamento sanitário, Limpeza urbana, transporte e Meio ambiente.

Os planos tem sido realizados setorialmente como o de esgotamentosanitário e o de resíduo sólido. É essencial que as interfaces entre os mesmossejam bem definidas, quando não forem desenvolvidos de forma integrada.

Como ações gerenciais recomenda-se o seguinte:

A definição clara dentro da administração municipal sobre o escoa-mento pluvial;Plano de Ações de cada bacia seja desenvolvido com a participaçãoefetiva dos órgãos que possuam atribuição com esgotamento sanitá-rio e resíduo sólido. É importante que a limpeza das estruturas dedrenagem tenham uma definição de atribuição;Programa de Manutenção das obras implementadas: considerandoque as detenções distribuídas pela cidade serão locais de retenção dematerial sólido e podem ter interferência ambiental, recomenda-seque seja criado um grupo gerencial interdepartamental que será res-ponsável pelas ações de: manutenção e recuperação.Aprovação de projetos: A avaliação dos projetos de drenagem deveser executada por profissionais treinados dentro de nova concepçãode controle da drenagem, possuindo capacidade de orientar solu-ções para os projetistas nesta fase de implantação do Plano;Fiscalização: A fiscalização também depende de profissionais trei-nados. Esta parte do processo é essencial para viabilizar a regula-mentação na cidade.Educação: A educação deve ser vista dentro do seguinte: (a) forma-

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ção de profissionais da entidade e de projetistas; (b) formação deprojetistas de obra em geral: arquitetos e engenheiros; (c) divulgaçãoa população essencial para o entendimento e apoio das medidas queatuam em drenagem urbana.

3.6.5 Programas

Os programas são os estudos complementares de médio e longo pra-zo que são recomendados no Plano visando melhorar as deficiências encon-tradas na elaboração do Plano desenvolvido. Os programas podem ser:

Programa de monitoramento;Estudos complementares necessários ao aprimoramento do Plano;Manutenção;Fiscalização;

Monitoramento

O planejamento do controle quantitativo e qualitativo da drenagemurbana passa pelo conhecimento do comportamento dos processos relacio-nados com a drenagem pluvial. A quantidade de dados hidrológicos eambientais é reduzida e o planejamento nesta etapa é realizado com base eminformações secundárias, o que tende a apresentar maiores incertezas quan-to a tomada de decisão na escolha de alternativas.

Este programa busca disponibilizar informações para a gestão do de-senvolvimento urbano, articulando produtores e usuários e estabelecendocritérios que garantam a qualidade das informações produzidas.

O programa de monitoramento pode possuir os seguintes compo-nentes:

Monitoramento de bacias representativas da cidade;Avaliação e Monitoramento das áreas impermeáveis;Monitoramento de material sólido na drenagem;Completar o cadastro da drenagem da cidade.

Monitoramento de bacias representativas da cidade: Na cidade geral-mente existem poucos dados hidrológicos. É necessário conhecer a variabi-lidade da precipitação na cidade, podem existir diferenças na tendência deprecipitação em algumas áreas da cidade.

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Para determinação das vazões nas bacias urbanas são utilizados mo-delos hidrológicos que possuem parâmetros que são estimados com baseem dados observados de precipitação e vazão ou estimados através de infor-mações de literatura. Os estudos geralmente utilizados no Plano estimamestes parâmetros com base em dados de outras regiões. Nas cidades geral-mente não existem dados de qualidade da água dos pluviais. Estas informa-ções são importantes para conhecer o nível de poluição resultante desteescoamento, as cargas dos diferentes componentes, visando estabelecermedidas de controle adequadas.

Os objetivos do programa são de aumentar a informação de precipi-tação, vazão, parâmetros de qualidade da água de algumas bacias representa-tivas do desenvolvimento urbano e acompanhar qualquer alteração do seucomportamento frente ao planejamento previsto.

Para o desenvolvimento deste programa pode-se utilizar a seguinteseqüência metodológica :

Levantamento de variáveis hidrológicas e de parâmetros de qualida-de da água;Para os mesmos locais identificar os principais indicadores de ocu-pação urbana para os mesmos períodos dos dados coletados;Preparar um plano de complementação da rede existente;Criar um banco de dados para receber as informações existentes ecoletadas;Implementar a rede prevista e torná-la operacional.

Avaliação e monitoramento de áreas impermeáveis: O desenvolvimen-to urbano da cidade é dinâmico, o monitoramento da densificação urbana éimportante para avaliar o impacto sobre a infra-estrutura da cidade. Emestudos hidrológicos desenvolvidos nos últimos anos com dados de cidadesbrasileiras, incluindo São Paulo, Curitiba e Porto Alegre Campana e Tucci(1994) apresentaram uma relação bem definida entre a densificação urbanae as áreas impermeáveis. Portanto, o aumento da densificação tem relaçãodireta com o aumento da impermeabilização do solo, que é a causa principaldo aumento das vazões da drenagem pluvial.

Durante a realização do Plano é necessário fazer algumas adaptaçõesdas relações obtidas devido ao relevo muito acidentado da cidade, no entan-to estas adaptações necessitam de verificação. Além disso, dentro do plane-jamento foram previstos cenários futuros de desenvolvimento. Consideran-

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do que estes cenários podem se afastar da previsão é necessário acompa-nhar a alteração efetiva da impermeabilização nas bacias planejadas.

O objetivo é o de avaliar as relações de densidade habitacional e áreaimpermeável da cidade e acompanhar a variação das áreas impermeáveisdas bacias hidrográficas verificando alterações das condições de planeja-mento.

Este programa pode ser estabelecido com base no seguinte:

Utilizando dados de campo e imagens estabelecer a relação de den-sidade habitacional e área impermeável para a cidade;Anualmente determinar para cada uma das bacias da cidade as áreasimpermeáveis;Verificar se estão dentro dos cenários previstos no Plano;Sempre que houver novos levantamentos populacionais, atualizar arelação densidade x área impermeável. Ajustar esta relação para áre-as comerciais e industriais.

Monitoramento de resíduos sólidos na drenagem: Existem grandes in-certezas quanto à quantidade de material sólido que chega ao sistema dedrenagem. A avaliação destas informações é muito limitada no Brasil. Ge-ralmente, é conhecido a quantidade de material sólido coletado em cadaárea de coleta, mas não se conhece quanto efetivamente chega à drenagem.Os números podem chegar a diferenças de magnitude significativas.

Os estudos de drenagem urbana partem do princípios que um condu-to tem capacidade de transportar a vazão que chega no seu trecho de mon-tante e não é possível estimar quanto deste conduto estará entupido emfunção da produção de material sólido. Desta forma, muitos alagamentosque ocorrem são devidos, não à falta de capacidade projetada do condutohidráulico, mas por causa de obstruções provocadas pelo material sólido.Para que seja possível atuar sobre este problema é necessário conhecer me-lhor como os componentes da produção e transporte deste material ocor-rem em bacias urbanas.

O objetivo é de quantificar a quantidade de material sólido que chegaà drenagem pluvial, como base para implantação de medidas mitigadoras.

Para quantificar os componentes que envolvem a produção e trans-porte do material sólido é necessário definir uma ou mais áreas de amostra.A metodologia prevista é a seguinte:

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Definir as metas de um programa de estimativa dos componentesdo processo de geração e transporte de material sólido para a drena-gem;Escolher uma ou mais áreas representativas para amostragem;Definir os componentes;Quantificar os componentes para as áreas amostradas por um perí-odo suficientemente representativo;Propor medidas mitigadoras para a redução dos entupimentos

Completar o cadastro do sistema de drenagem: O sistema de drenagemem geral não é totalmente cadastrado. Além disso, é necessário estabelecerum sistema de banco de dados que atualize todas as alterações que são rea-lizadas na cidade, caso contrário a cada período de 2-4 anos são necessáriosoutros levantamentos para atualização. O erro existente pode comprometero dimensionamento das obras e o estudo de alternativas. Na fase de projeto,é essencial que o cadastro esteja adequadamente determinado.

O objetivo é o de levantar o cadastro de condutos pluviais da cidade emanter um banco de dados atualizado.

A metodologia consiste no seguinte:

Levantamento do cadastro das áreas ainda sem as informações;Atualização do banco de dados;Estabelecer procedimentos administrativos para atualização do ca-dastro a cada nova obra executada na cidade.

Estudos complementares

Durante os estudos não foram identificadas necessidades complemen-tares para aprimoramento do planejamento da drenagem urbana na cidade.Estes estudos buscam criar informações para a melhoria do futuro planeja-mento e projeto das águas pluviais na cidade.

Os estudos destacados são os seguintes:

Revisão dos parâmetros hidrológicos;Metodologia para estimativa da qualidade da água pluvial;Dispositivos para retenção do material sólido nas detenções;Verificação das condições de projeto dos dispositivos de controle dafonte

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Revisão dos parâmetros hidrológicos: O planejamento e o projeto dasáreas estudadas geralmente utilizam o modelo SCS (Soil ConservationService), que possui dois parâmetros básicos relacionados com a separaçãodo escoamento e áreas impermeáveis e com o deslocamento do escoamentona bacia. Estes parâmetros que caracterizam a vazão máxima de um deter-minado local em função das características físicas do solo, cobertura e áreasimpermeáveis.

A estimativa destes parâmetros são realizadas com base em dados exis-tentes e limitados. Com a coleta de dados hidrológicos das bacias previstosno programa de monitoramento e aqueles que são implementados em pro-gramas recentes, será possível verificar a relação entre os parâmetros e ascaracterísticas das bacias, reduzindo as incertezas das estimativas.

O objetivo deste estudo é o de atualizar a relação entre os parâmetrosdo modelo utilizado e os tipos de solo, cobertura, características da drena-gem e área impermeável.

As etapas da metodologia previstas são:

Seleção dos eventos das bacias com dados disponíveis na cidade edo programa de monitoramento previsto;Determinação para a mesma época das características físicas da ba-cia;Determinação dos parâmetros com base nos dados observados deprecipitação e vazão;Verificação das relações existentes e sua adaptação, caso seja neces-sário.

Metodologia para estimativa da qualidade da água pluvial : Não existenenhuma metodologia de estimativa desenvolvida para a estimativa da qua-lidade de água pluvial com base em dados da realidade urbana brasileira. Asestimativas são realizadas com base em dados de parâmetros de qualidadeda água de cidades americanas ou européias com realidade de desenvolvi-mento diferente dos condicionantes brasileiros.

Considerando as limitações destacadas no item anterior, observa-separa se possa obter estimativas consistentes da qualidade da água da drena-gem pluvial são necessários métodos que se baseiem em dados da realidadedas bacias da cidade, dentro dos seus condicionantes urbanos.

Desenvolver metodologia para a estimativa da qualidade de água plu-vial com base em dados de bacias. Os dados seriam os obtidos dentro doprograma de monitoramento destacado no item anterior.

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A metodologia proposta consiste no seguinte:

Análise e seleção dos dados de qualidade da água monitorados se-gundo programa do item anterior e outros obtidos dentro da cidade;Avaliação da variabilidade temporal e espacial dos parâmetros dequalidade da água associados as práticas de limpeza urbana, sistemade saneamento e outros fatores que influenciam os parâmetros;Definição de modelo e metodologia adequada para a estimativa emdiferentes níveis da qualidade da água.

Verificação dos dispositivos de controle: Na literatura existem vários dis-positivos de controle. A experiência de funcionamento destes dispositivosfoi documentada em vários países. No entanto é necessário o desenvolvi-mento de experiência local. Estes elementos podem apresentar variações decomportamento de acordo com as características de uso, produção de mate-rial sólido, clima, entre outros fatores.

Na busca de maior eficiência quantitativa e ambiental do funciona-mento dos dispositivos de controle da drenagem urbana é necessário queuma amostra dos mesmos sejam avaliados ao longo do tempo, para identi-ficar o seu funcionamento e as correções potenciais de futuros projetos.

Os objetivos são de avaliar o funcionamento dos dispositivos de con-trole implantados na cidade com o advento deste Plano.

As etapas da metodologia propostas são:

Cadastrar todos os dispositivos de controle tais como: pavimentopermeáveis, detenções e retenções e áreas de infiltração. Para estecadastro devem ser definidas as informações básicas para um bancode dados;Por amostragem dos dispositivos existentes e pelo acompanhamentodos profissionais de fiscalização da Prefeitura, realizar anualmenteuma avaliação da eficiência dos dispositivos. Neste caso, serão defini-dos os critérios de avaliação e os elementos a serem obtidos dos dis-positivos selecionados.Com base, em pelo uma amostra representativa e funcionamento deum período de 3 a 5 anos, serão preparadas recomendações comrelação a construção dos dispositivos. Estas avaliações devem sermantidas por um período que o projeto identifique que foram esgo-tados os aprimoramentos.

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Programa de manutenção

O programa de manutenção é essencial para permitir que as obrasprevistas tornem-se efetivas ao longo do tempo. Neste sentido, como reco-mendado no capítulo anterior, a prefeitura deveria criar um grupo gerenciale manutenção das detenções construídas dentro das seguintes visões:

Drenagem urbana;Controle dos resíduos sólidos;Proteção ambiental;Paisagismo e recreação urbana.

Ao longo tempo serão também construídas detenções privadas, queneste caso serão operadas pelos seus proprietários, mas a experiência dosEstados Unidos e França tem mostrado que com o passar do tempo o em-preendedor privado não faz a manutenção e a tendência é que o poder pú-blico faça. Nesta situação, o custo é pago pelo empreendedor com o aumen-to da taxa operacional.

A falta de manutenção e retirada de material sólido das detençõespode implicar em: perda da eficiência, propagar doenças e deterioraçãoambiental.

O objetivo é de manter o sistema de drenagem operando de acordocom sua capacidade projetada ao longo do tempo.

A metodologia pode ser a seguinte:

Criar um grupo gerencial para manutenção dos sistemas em cons-trução no município;Treinar equipe de manutenção;Estabelecer programa preventivo de apoio relacionado com resídu-os sólidos, com apoio comunitário;Programação das ações de limpeza das detenções nos períodos chu-vosos;Sistematizar a quantificação do volume gerado e sua relação comprogramas preventivos.

Programa de educação

Educação técnica e da população : A falta de conhecimento quanto aosimpactos da urbanização na drenagem é muito grande, tanto no ambiente

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técnico como na população em geral. Isto dificulta a tomada de decisãonum ambiente como a da cidade, onde a população participa diretamentedas decisões de investimento da cidade. Além disso, os próprios profissio-nais de drenagem urbana necessitam de atualizar para implementação dasmedidas previstas no Plano.

A viabilização deste Plano depende de aceitação por parte da popula-ção e técnicos, independentemente da regulamentação. Portanto, é necessá-rio que todos tenham as informações adequadas para que a gestão seja viá-vel.

Os objetivos são de:

Transmitir conceitos sobre o impacto da urbanização na drenagemurbana para população, engenheiros e arquitetos;Treinar técnicos da prefeitura e da iniciativa privada no projeto detécnicas de controle da drenagem urbana.

Os procedimentos podem ser

Campanha de divulgação para a população através da mídia impres-sa e televisão;Palestras nas entidades de classe - arquitetos, engenheiros, constru-tores, etc;Palestras nas assembléias do orçamento participativo;Cursos de treinamento de curta duração para projetistas e técnicosda prefeitura sobre drenagem urbana.

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ANEXO A

A1 Rateio dos custos de operação e manutenção da rede

O custo unitário uniforme seria

(R$/m2) (A1)

onde Ab é a área da bacia em km2 e Ct, custo total em R$ milhõesA área da bacia pode ser sub-dividida em

100 = Ap + Ai (A2)

para Ap, parcela de áreas permeáveis (%); Ai, parcela de áreas impermeáveis(%).

Numa área urbana as áreas impermeáveis podem ser desdobradas naexpressão

Ai = (A3)

onde ( é a parcela da área com arruamentos e logradouros públicos, comoparques e praças; im é a parcela impermeável desta área (%); β é a parcela daárea ocupada pelos lotes urbanos; il é a parcela de impermeabilização dolote. Neste caso, β = 1 - α. A equação acima fica

(A4)

O valor de α usualmente varia de 0,25 a 0,35 da área loteada. Conside-

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Cu =CtAb

α.i + β.il

Ai = α.im + (1 - α)il

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rando α = 0,25, distribuindo 15% para ruas e 10% para praças, sendo quecomo as ruas possuem 100% de áreas impermeáveis e as praças próximo dezero, resulta para

im = (0,15 x 100 + 0 x 0,10)/0,25 = 60%

A equação A4 fica

(A5)

O princípio da taxa de cobrança da operação e manutenção da drena-gem urbana é o da proporcionalidade com relação ao volume de escoamen-to superficial gerado. Considerando que as áreas impermeáveis possuemcoeficiente de escoamento 0,95 e as áreas permeáveis 0,15 (Cp=0,15 e Ci =0,95), o volume gerado pelas áreas impermeáveis é 6,33 superior ao dasáreas permeáveis. Desta forma o custo unitário de uma área permeável é

Cup = (A6)

onde o Cui é o custo unitário das áreas impermeáveis O custo total da ope-ração e manutenção é igual

(A7)

Utilizando as equações A2 e A6 na equação A7, resulta

(A8)

O custo unitário das áreas impermeáveis fica

Cui = (A9)

onde, Cui em R$/m2, para Ct em milhões; Ab em km2 . Conhecidos osvalores de Ct, Ab e Ai da bacia total. O valor de Cui é fixado para a bacia oupara área total em questão.

O cálculo do custo a ser pago por propriedade fica

Tx = .(Cui. Ai+Cup.Ap) (A10)

142

Ai = 15 + 0,75.il

Ab100

[Cup . Ap + Cui . Ai ]Ct =

Cui = 6,33Cui

0.950,15

Ct = (15,8 + 0,842.Ai )Ab.Cui

100

100.CtAb.(15,8 + 0,842.Ai)

A100

Page 149: Inundações Na America

Inundações e Drenagem Urbana

e

(A11)

onde A é a área da propriedade em m2 e Ai é a área impermeável da área Aem %. A expressão de Ai pode ser obtida da equação 5, substituindo naequação 11 fica

(A12)

Para verificar a coerência desta equação, considere uma bacia onde aárea impermeável total é de 40%. Para que a área total da bacia tenha 40%de áreas impermeáveis, a área impermeável dos lotes terá i1 = 33,33 % econsiderando A = Ab, utilizando as equações 11 e 12, deve-se obter Tx =Ct.

Tabela A1 Exemplo do rateio de custo baseado na área impermeável do lote

Para exemplificar, considere o custo de R$ 1.400,00/ha, numa baciade 40% de área impermeável, o custo de manutenção de um lote de 300 m2

é obtido utilizando inicialmente a equação A8,

Cui = = R$ 0,283/m2

143

Tx = A100

.[Cui Ai + 0,158Cui . (100 - Ai )]

Tx =A.Cui

100 (15,8 + 0,842. Ai )

Tx =A.Cui

100(28,43 + 0,632il )

100x0,141x(15,8 + 0,842x40)

Page 150: Inundações Na America

Carlos E. M. Tucci

Cup = 0,283/6,33 = R$ 0,045/m2

Na equação A.11, resulta

Tx = = 24,137 b + +0,545.i1

Na tabela anterior são apresentados os valores deste caso.

A2. Rateio dos custos para implementação das obras do Plano de Dre-nagem

Neste caso, o rateio de custos é distribuído apenas para as áreas im-permeabilizadas, que aumentaram a vazão acima das condições naturais. Nestecaso, a equação A1 fica

(A13)

onde Ctp é o custo total de implementação do Plano.O custo para cada área de lote urbanizado de i1 % é obtida pela ex-

pressão

Txp = (A14)

onde Ai é a distribuição das áreas impermeáveis em cada área, dada pelaequação 5, o que resulta

Txp = (15+0,75i1)Cupi (A.15)

Substituindo a equação A13 resulta

Txp = (A16)

onde, como anteriormente, Ai é a área impermeável de toda a bacia em %;A é a área do terreno em m2; Ab é a área da bacia em km2; Ctp é o custo totalem R$ milhões; i1 é a área impermeável do lote em %.

Para um lote sem área impermeável, a contribuição tarifária do pro-

144

300x0,283100 (28,43 + 0,642il )

Cupi =Ctp.100Ab . Ai

Ai.Cupi .A100

100A

A.Ctp.(15 + 0,75il )Ab . Ai

Page 151: Inundações Na America

Inundações e Drenagem Urbana

prietário se refere a parcela comum das ruas e fica

Txp = (A17)

Considere uma bacia que necessita R$ 3 milhões de investimentospara o Plano Diretor. A área impermeável é de 40% e a área da bacia de 5km2. A taxa a ser paga para um terreno de 300 m2 para implantação dasmedidas na bacia é obtida por

Txp = 67,5 + 3,375. i1 A18)

Na tabela abaixo são apresentados os valores de acordo com a áreaimpermeável do lote.

Tabela A2 Taxa para implementação do Plano Diretor da bacia para um lote de300 m2

145

15.A.CtpAb . Ai

300x35x40 (15 + 0,75il ) =

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ANEXO B

Decreto de regulamentação municipal para controle da drenagemurbana proposto para Porto Alegre RS Brasil

DECRETO N º, DEDE

Regulamenta o controle dadrenagem urbana

O Prefeito Municipal de Porto Alegre, usando de suas atribuiçõeslegais e tendo em vista os Art. 97 e Art. 135 § 6o da Lei Complementar434/99 e considerando que:

compete ao poder público prevenir o aumento das inundações devi-do à impermeabilização do solo e canalização dos arroios naturais;o impacto resultante da impermeabilização produz aumento de fre-qüência de inundações, piora da qualidade da água e aumento dotransporte de material sólido, degradando o ambiente urbano;deve ser responsabilidade de cada empreendedor a manutenção dascondições prévias de inundação nos arroios da cidade, evitando-se atransferência para o restante da população do ônus dacompatibilização da drenagem urbana;a preservação da capacidade de infiltração das bacias urbanas é pri-oridade para a conservação ambiental dos arroios e rios que com-põem a macrodrenagem e dos rios receptores do escoamento dacidade de Porto Alegre.

146

Declara que:

Art. 1o Toda ocupação que resulte em superfície impermeável, deverá pos-suir uma vazão máxima específica de saída para a rede pública de pluviaismenor ou igual a 20,8 l/(s.ha).

§ 1o A vazão máxima de saída é calculada multiplicando-se a vazão específicapela área total do terreno.

§ 2o Serão consideradas áreas impermeáveis todas as superfícies que nãopermitam a infiltração da água para o subsolo.

♦♦♦♦♦

♦♦♦♦♦

♦♦♦♦♦

♦♦♦♦♦

Page 153: Inundações Na America

Inundações e Drenagem Urbana

§ 3o A água precipitada sobre o terreno não pode ser drenada diretamentepara ruas, sarjetas e/ou redes de drenagem excetuando-se o previsto no § 4odeste artigo.

§ 4o As áreas de recuo mantidas como áreas verdes poderão ser drenadasdiretamente para o sistema de drenagem.

§ 5o Para terrenos com área inferior a 600 m2 e para habitações unifamiliares,a limitação de vazão referida no caput deste artigo poderá ser desconsiderada,a critério do Departamento de Esgoto Pluviais.

Art. 2o Todo parcelamento do solo deverá prever na sua implantação o limi-te de vazão máxima específica disposto no Art. 1o .

Art. 3o A comprovação da manutenção das condições de pré-ocupação nolote ou no parcelamento do solo deve ser apresentada ao DEP (Departa-mento de Esgoto Pluviais).

§ 1o Para terrenos com área inferior a 100 (cem) hectares quando o controleadotado pelo empreendedor for o reservatório, o volume necessário do re-servatório deve ser determinado através da equação:

v = 4,25 AI

onde v é o volume por unidade de área de terreno em m3/hectare e AI é aárea impermeável do terreno em %.

§ 2o O volume de reservação necessário para áreas superiores a 100 (cem)hectares deve ser determinado através de estudo hidrológico específico, comprecipitação de projeto com probabilidade de ocorrência de 10% em qual-quer ano (Tempo de retorno = 10(dez) anos).

§ 3o Poderá ser reduzida a quantidade de área a ser computada no cálculoreferido no §1o se for (em) aplicada(s) a(s) seguinte(s) ação (ões):

147

Aplicação de pavimentos permeáveis (blocos vazados com preen-chimento de areia ou grama, asfalto poroso, concreto poroso) - re-duzir em 50% a área que utiliza estes pavimentos;

♦♦♦♦♦

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Carlos E. M. Tucci

Desconexão das calhas de telhado para superfícies permeáveis comdrenagem - reduzir em 40% a área de telhado drenada;Desconexão das calhas de telhado para superfícies permeáveis semdrenagem - reduzir em 80% a área de telhado drenada;Aplicação de trincheiras de infiltração - reduzir em 80% as áreasdrenadas para as trincheiras.

148

§ 4o A aplicação das estruturas listadas no § 3o estará sujeita a autorização doDEP, após a devida avaliação das condições mínimas de infiltração do solono local de implantação do empreendimento, a serem declaradas e compro-vadas pelo interessado.

§ 5o As regras de dimensionamento e construção para as estruturas listadasno § 3o bem como para os reservatórios deverão ser obtidas no Manual deDrenagem Urbana do Plano Diretor de Drenagem Urbana de Porto Alegre.

Art. 4o Após a aprovação do projeto de drenagem pluvial da edificação oudo parcelamento por parte do DEP, é vedada qualquer impermeabilizaçãoadicional de superfície.

Parágrafo Único: A impermeabilização poderá ser realizada se houver re-tenção do volume adicional gerado de acordo com a equação do Art. 3o §1o.

Art. 5o Os casos omissos no presente decreto deverão ser objeto de análisetécnica do Departamento de Esgotos Pluviais.

Art.6o Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas asdisposições em contrário.

ANEXO C

Elementos para regulamentação das áreas de risco de inundação ri-beirinha

São apresentados a seguir sugestões de elementos de controle das áre-as de risco que podem ser introduzidos dentro do anteprojeto de lei de

♦♦♦♦♦

♦♦♦♦♦

♦♦♦♦♦

Page 155: Inundações Na America

Inundações e Drenagem Urbana

zoneamento do uso e ocupação do solo urbano. Utilizou-se como base aslegislações existentes de zoneamento nos municípioos, introduzindo acomplementação sobre zoenamento de áreas de risco de inundação.

Art. 3o Para o efeito de aplicação da presente lei, são adotadas as seguintesdefinições:........Parágrafo 4 o- Dos termos gerais.......l) área de risco de inundação: é a área com cota igual ou inferior a cota (a definir),denominado aqui de NM.

Art. 9o A permissão para a localização de qualquer atividade consideradacomo perigosa, nociva ou incômoda, dependerá da aprovação do projetocompleto, se for o caso, pelos órgãos competentes da União, do Estado eMunicípio, além das exigências especificas de cada caso.

Parágrafo Único: ...............

g) armazenagem ou processamento, nas áreas de risco de inundação, de material quemisturado com a água seja prejudicial a saúde humana.

Art. 11o Para a instalação de obra ou atividade, potencialmente geradora degrandes modificações no espaço urbano, poderá ser exigido o Relatório deImpacto de Vizinhança, no seguinte caso:

I - edificações com área computável, para cálculo do coeficiente de aprovei-tamento, superior a 10.000 m2 (dez mil metros quadrados). .......Parágrafo 4o No projeto de urbanização da área mencionada em I, a vazão máxima desaída da drenagem pluvial, deverá ser menor ou igual a vazão proveniente dessa área,antes da urbanização.

Art 14oFica determinada a Zona Central como correspondente à área cen-tral e seu entorno, definida pelos níveis da cota de enchente da cheia NM

149

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Art 15o Fica determinada a Zona de Baixa Densidade como correspondente à áreasituada entre as cotas de enchente ( a definir) me (a definir) m.

Parágrafo Único - Para esta zona, ficam estabelecidos os seguintes objetivose instrumentos:.....g) retirar o imposto para os imóveis com os seguintes usos: agrícola, parques ou praçasprivados; áreas esportivas; estacionamento; áreas de carregamento; áreas de armazenamentode material facilmente removível ou não sujeitos a danos de enchentes.

Inserir um artigo depois do art. 22, denominado aqui de art. 22'

Art 22' Todos os projetos de construções localizadas na áreas de risco de inundação devemser fiscalizados quanto ao seguinte:

150

estabelecimento de, pelo menos, um piso com nível superior N8M (cota da cheiamáxima);uso de materiais resistentes à submersão ou contato com a água;equipamentos elétricos em cota acima da cota N83. Prever o desligamento dosistema de alimentação durante o período de cheia;proteção dos aterros contra erosões;prever os efeitos das enchentes nos projetos de esgotos pluvial e cloacal;estruturalmente, as construções devem ser projetadas para resistir a: (i) pressãohidrostática, que pode causar problemas de vazamento; (ii) empuxos e momen-tos; (iii) erosão.fechamento de aberturas como portas, janelas e dispositivos de ventilação quan-do é desejado proteger o piso submetido a inundação;estanqueidade e reforço das paredes de porões e pisos sujeito a inundação;ancoragem de paredes contra deslizamentos;para os pisos previstos que inundem, prever o escoamento através da obra, evi-tando o desmoronamento de paredes;prever o transporte de material de valor para pisos superiores e a habitação poraté três meses nos pisos superiores.

a)

b)c)

d)e)f)

g)

h)i)j)

k)