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Velhos e Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna Resumos|Abstracts __________________________________________________________________________________ 1 INTRODUÇÃO O advento da Idade Moderna trouxe consigo profundas mutações na história da Europa. Ao desenvolvimento urbano e incremento das trocas comerciais associou-se a difusão de novas ideias e paradigmas culturais e grandes mudanças na geografia religiosa, num quadro de alterações políticas bastas vezes determinado por guerras, elas próprias favorecidas por uma revolução técnica na arte militar. Foi também o tempo da descoberta de novos mundos, da primeira globalização, com a circulação de produtos numa escala nunca antes experimentada, um processo no qual os reinos ibéricos tiveram um papel pioneiro. Nos espaços americanos, africanos e asiáticos ligados pelas longas viagens marítimas, um desafio ao imaginário e à técnica daqueles tempos, o contacto com as populações locais originou diversas fórmulas de dominação política, exploração económica e troca cultural, alterando por vezes radicalmente o padrão de vida preexistente. Todas estas temáticas têm sido permanentemente objecto de estudo, por historiografias de diversos quadrantes e origens, privilegiando-se a pesquisa através de fontes documentais, cartográficas, iconográficas ou artísticas. Para estas épocas a arqueologia é uma disciplina recente em quase todo o mundo, pelo que o seu contributo em muitos destes domínios é ainda reduzido. Contudo, o desenvolvimento da arqueologia moderna, pós-medieval ou colonial permitirá esclarecer muitas problemáticas, constituindo-se em certos domínios como a única fonte subsistente para o seu estudo. É também, muitas vezes, a investigação arqueológica a responsável pelo incremento dos valores patrimoniais existentes para este período, potenciadores do desenvolvimento baseado na economia cultural. Neste congresso pretende-se, pois, reunir arqueólogos, consagrados e jovens, com trabalhos provenientes de contextos académicos ou de salvamento, que sejam pertinentes para a discussão em torno de diversas temáticas, balizadas nos séculos XV a XVIII, tanto em contexto europeu, como em espaços colonizados. Além de se pretender dar um impulso ao desenvolvimento da arqueologia moderna, procura-se lançar pontes de contacto entre comunidades arqueológicas espalhadas em diversas partes do mundo, nomeadamente aquelas que centram a sua investigação em torno dos reinos ibéricos e da sua expansão mundial. INTRODUCTION The advent of the Early Modern Age triggered profound changes on the history of Europe. Urban development and increased commercial exchanges went hand in hand with the spread of new cultural ideas and paradigms and major changes in religious geography. All this occurred in a framework of political alterations that were often determined by wars, themselves determined/transformed by a technical revolution in military art. It was also the era of the discovery of new worlds, the first globalisation, with products moving at a previously unknown scale, in which the Iberian kingdoms played a pioneering role. In the American, African and Asian regions, linked by lengthy sea voyages that defied the imagination and the technique of those times, contacts with the local populations led to different types of political domination, economic exploitation and cultural exchange, sometimes radically altering the existing pattern of life. All these themes have been studied by historians of many areas and of diverse origins whose research has been based primarily on written, cartographic, iconographic or artistic sources. Archaeology is a recent discipline as far as this period is concerned in almost all the world so its contribution is still in its first stages. However, only the development of early modern, colonial or post-medieval archaeology will help enlighten us about many of the issues at stake; in certain fields it is the only available source for their study. Often, it is also archaeological research that is responsible for increasing the patrimonial values that exist for those periods and that allows for current development based on cultural economy. The aim of this congress is to bring together young and renowned archaeologists who have produced works based on academic or protective contexts, which are suitable for our discussions on the various themes concentrating on the period between the fifteenth and the eighteenth centuries, both in the European context and in colonised areas. The goal is not only to encourage the development of early modern archaeology but also to establish bridges between the archaeological communities spread throughout various parts of the world, namely those concentrating their research on the Iberian kingdoms and their world expansion.

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Velhos e Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna Resumos|Abstracts __________________________________________________________________________________ 

1  

INTRODUÇÃO   O advento da Idade Moderna trouxe consigo profundas mutações na história da Europa. Ao desenvolvimento urbano e incremento das trocas comerciais associou-se a difusão de novas ideias e paradigmas culturais e grandes mudanças na geografia religiosa, num quadro de alterações políticas bastas vezes determinado por guerras, elas próprias favorecidas por uma revolução técnica na arte militar. Foi também o tempo da descoberta de novos mundos, da primeira globalização, com a circulação de produtos numa escala nunca antes experimentada, um processo no qual os reinos ibéricos tiveram um papel pioneiro. Nos espaços americanos, africanos e asiáticos ligados pelas longas viagens marítimas, um desafio ao imaginário e à técnica daqueles tempos, o contacto com as populações locais originou diversas fórmulas de dominação política, exploração económica e troca cultural, alterando por vezes radicalmente o padrão de vida preexistente. Todas estas temáticas têm sido permanentemente objecto de estudo, por historiografias de diversos quadrantes e origens, privilegiando-se a pesquisa através de fontes documentais, cartográficas, iconográficas ou artísticas. Para estas épocas a arqueologia é uma disciplina recente em quase todo o mundo, pelo que o seu contributo em muitos destes domínios é ainda reduzido. Contudo, só o desenvolvimento da arqueologia moderna, pós-medieval ou colonial permitirá esclarecer muitas problemáticas, constituindo-se em certos domínios como a única fonte subsistente para o seu estudo. É também, muitas vezes, a investigação arqueológica a responsável pelo incremento dos valores patrimoniais existentes para este período, potenciadores do desenvolvimento baseado na economia cultural. Neste congresso pretende-se, pois, reunir arqueólogos, consagrados e jovens, com trabalhos provenientes de contextos académicos ou de salvamento, que sejam pertinentes para a discussão em torno de diversas temáticas, balizadas nos séculos XV a XVIII, tanto em contexto europeu, como em espaços colonizados. Além de se pretender dar um impulso ao desenvolvimento da arqueologia moderna, procura-se lançar pontes de contacto entre comunidades arqueológicas espalhadas em diversas partes do mundo, nomeadamente aquelas que centram a sua investigação em torno dos reinos ibéricos e da sua expansão mundial.        

INTRODUCTION   The advent of the Early Modern Age triggered profound changes on the history of Europe. Urban development and increased commercial exchanges went hand in hand with the spread of new cultural ideas and paradigms and major changes in religious geography. All this occurred in a framework of political alterations that were often determined by wars, themselves determined/transformed by a technical revolution in military art. It was also the era of the discovery of new worlds, the first globalisation, with products moving at a previously unknown scale, in which the Iberian kingdoms played a pioneering role. In the American, African and Asian regions, linked by lengthy sea voyages that defied the imagination and the technique of those times, contacts with the local populations led to different types of political domination, economic exploitation and cultural exchange, sometimes radically altering the existing pattern of life. All these themes have been studied by historians of many areas and of diverse origins whose research has been based primarily on written, cartographic, iconographic or artistic sources. Archaeology is a recent discipline as far as this period is concerned in almost all the world so its contribution is still in its first stages. However, only the development of early modern, colonial or post-medieval archaeology will help enlighten us about many of the issues at stake; in certain fields it is the only available source for their study. Often, it is also archaeological research that is responsible for increasing the patrimonial values that exist for those periods and that allows for current development based on cultural economy. The aim of this congress is to bring together young and renowned archaeologists who have produced works based on academic or protective contexts, which are suitable for our discussions on the various themes concentrating on the period between the fifteenth and the eighteenth centuries, both in the European context and in colonised areas. The goal is not only to encourage the development of early modern archaeology but also to establish bridges between the archaeological communities spread throughout various parts of the world, namely those concentrating their research on the Iberian kingdoms and their world expansion.

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Velhos e Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna Resumos|Abstracts __________________________________________________________________________________ 

2  

COMISSÃO CIENTÍFICA SCIENTIFIC COMITTEE

Alejandra Gutierrez (Univ. Durham)

Carlos Etchevarne (Univ. F. Bahia)

Claúdio Torres (CAMértola)

Eric Rieth (Univ. Paris I)

Kathleen Deagan (Univ. Florida)

Marcos Albuquerque (Univ. F. Pernambuco)

Rosa Varela Gomes (FCSH-UNL | CHAM)

COMISSÃO ORGANIZADORA ORGANIZING COMITTEE

André Teixeira, coord. (CHAM | FCSH-UNL)

Élvio Sousa (C.M.Machico | CHAM)

Inês Pinto Coelho (CHAM)

Isabel Cristina Fernandes (C.M.Palmela)

José Bettencourt (CHAM)

Patrícia Carvalho (CHAM)

Paulo Dórdio Gomes (ACE Baixo Sabor | CITCEM)

Severino Rodrigues (C.M.Cascais)

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3  

PROGRAMA

Quarta-feira, 06 de Abril/ 6 April, Wednesday Auditório 1

9.30-10.30

Recepção

10.30-11.30

Sessão de abertura

11.30-12.30

From Español to Criollo: an archaeological perspective on Spanish-American cultural transformation,

1493-1550 Kathleen Deagan

12.30-14.00

Almoço

Sala Multiusos 2 Sala Multiusos 3

Cidades: urbanismo, arquitectura e quotidianos Cerâmicas: produção, comércio e consumo

14.00-14.15 Largo do Chafariz de Dentro em Época Moderna

Rodrigo Banha da Silva, Cristina Nozes, Pedro Miranda, António José Vicente, Vasco Vieira e Gonçalo Lopes

A olaria renascentista de Santo António da Charneca, Barreiro – A louça doméstica

Luís Barros, Luísa Batalha, Guilherme Cardoso e António Gonzalez

14.15-14.30

Uma aproximação à Ribeira de Lisboa através de uma intervenção no Largo do Terreiro do Trigo. Os novos

espaços da cidade Moderna Cristina Gonzalez

A importação de cerâmica europeia para os arquipélagos da Madeira e dos Açores no século XVI

Élvio Sousa

14.30-14.45 O Mobiliário do Palácio Marialva – discursos

socioeconómicos e cognitivos Andreia Martins Torres

Vestígios de um centro produtor de faiança dos séculos XVII e XVIII – Dados de uma intervenção arqueológica na

Rua de Buenos Aires, n.º 10, Lisboa Luísa Batalha, Andreia Campôa, Guilherme Cardoso, Nuno

Neto, Paulo Rebelo e Raquel Santos

14.45-15.00 Um Celeiro da Mitra no Teatro Romano de Lisboa: inércia

e mutações de um espaço do século XVI à actualidade Lídia Fernandes e Rita Fragoso de Almeida

A cerâmica na Cidade Velha (Cabo Verde) Marie Loiuse Sorensen, Chris Evens e Tânia Casimiro

15.00-15.15

A moderna ocupação do Teatro Romano de Cádiz (Espanha). Novos dados à luz das intervenções recentes Macarena Bustamante Álvarez, Verónica Sánchez, José M.

Gutiérrez, Darío Bernal e Alicia Arévalo

Portuguese pottery of the modern age find in the Cadiz Bay, Spain

José-Antonio Ruiz Gil

15.15-15.45 Debate

Debate

15.45-16.00 Pausa para café

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4  

16.00-16.15 Alterações urbanísticas na Santarém pós-medieval. A diacronia do abandono de uma rua no planalto de Marvila

Helena Santos, Marco Liberato e Ricardo Próspero

Chemical and Pb Isotopic Characterization of Majolica Pottery from Convento de Santo Domingo (16th-17th

centuries), Lima (Peru) Javier G. Iñañez, Juan Guillermo Martín, Jeremy J. Bellucci, Richard Ash, William McDonough, Antonio Coello, Michael

D. Glascock, Robert J. Speakman e Jaume Buxeda i Garrigós

16.15-16.30

Particular scenario of Colonialism in South Patagonia. Connecting Social Life and Material Culture in the

Spanish Colony of Floridablanca (1781-1784) Maria Ximena Senatore

Aldeia da Torre dos Frades (Torre de Almofala) através da Cerâmica em Época Moderna

Elisa Albuquerque

16.30-16.45

Processo de contato e primórdios da colonização na baixa bacia do Amazonas

(sécs. XVI-XVII) Rui Gomes Coelho e Fernando Marques

Primeira abordagem a um depósito moderno no antigo Paço Episcopal de Coimbra (Museu Nacional de

Machado de Castro): a cerâmica desde meados do século XV à consolidação da Renascença

Ricardo C. da Silva

16.45-17.00 Invisibilidade, memória e poder: a identidade imigrante e a construção da paisagem da cidade. Rio Grande, RS, Brasil

Beatriz Valladão Thiesen

Um gosto decorativo: louça preta e vermelha polvilhada de branco (mica)

Isabel Maria Fernandes

17.00-17.15

Crise e Rebelião Colonial: uma perspectiva urbana (Minas Gerais / Brasil – séc. XVIII)

Carlos Magno Guimarães, Mariana Gonçalves Moreira, Gabriela Pereira Veloso, Anna Luiza Ladeia e Thaís Monteiro

de Castro

Estudos Cerâmicos. Uma Linha de Investigação. Problemática dos Principais Centros Abastecedores na

Longa Duração Paulo Dórdio e Ana Carvalho Dias

17.15-17.30 Arqueologia e Arquitecturas daqui e d’além-mar Maria Ramalho

Considerações acerca da cerâmica pedrada e respectivo comércio

Olinda Sardinha

17.30-18.00 Debate

Debate

18.00-19.00

Bahia. Aportes para uma arqueologia das relações transatlânticas no período colonial Carlos Etchevarne

19.00

Visita da Comissão Científica ao Concelho de Alcochete:

Museu Municipal de Alcochete

Quinta-feira, 07 de Abril/ 7 April, Thursday  

Sala Multiusos 2 Sala Multiusos 3

Cidades: urbanismo, arquitectura e quotidianos Cerâmicas: produção, comércio e consumo

9.00-9.15

Arqueologia das Cidade de Beja: a cidade em Construção Maria da Conceição Lopes

Os potes “martabã”: um conceito em discussão Sara Simões

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5  

9.15-9.30 Repercussões urbanas da Reconquista Cristã Luísa Trindade

Do Oriente para Ocidente: Contributo para o conhecimento da porcelana chinesa nos quotidianos de época moderna. Estudo de três contextos arqueológicos

de Lisboa José Pedro Henriques

9.30-9.45

Rede Urbana da Antiga Sociedade Portuguesa. O predomínio do micro-urbanismo da Idade Média ao século

XIX Paulo Dórdio

As cerâmicas modernas da Fortaleza de N. Sr.ª da Luz, em Cascais – Histórias fragmentadas

J. A. Severino Rodrigues, Catarina Bolila, Inês Ribeiro, José Pedro Henriques, Sara Simões e Vanessa Filipe

9.45-10.15 Debate

Debate

10.15-10.30 Pausa para café

10.30-10.45 Ao som da bigorna: os ferreiros no quotidiano urbano de

Arrifana/Penafiel no século XVIII Teresa Soeiro

Faiança portuguesa: centros produtores, matérias, técnicas de fabrico e critérios de distinção

Luís Sebastian

10.45-11.00

Fragmentos do quotidiano urbano de Torres Vedras entre os séculos XV e XVIII: um olhar através dos objectos do

poço dos Paços do Concelho Guilherme Cardoso e Isabel de Luna

Elementos para a caracterização da faiança portuguesa do séc. XVII: a tipologia de Pendery aplicada à realidade

da Casa do Infante (Porto) Anabela Sá

11.00-11.30 Debate

Debate

11.30-12.30

Sessão de posters

12.30-14.00

Almoço

14.00-14.15 Evidências da época moderna no castelo de Castelo

Branco (Castelo Branco, Portugal) Carlos Boavida

De Aveiro para todas as margens do Atlântico: a carga do navio Ria de Aveiro A no seu contexto histórico e

cultural Patrícia Carvalho e José Bettencourt

14.15-14.30 Crise e identidade urbana: o Jardim Arcádico de Braga de

1625 Gustavo Portocarrero

Merida No More: Portuguese Redware in Newfoundland Sarah Newstead

14.30-14.45

Fragmentos da vida medieval e moderna: acompanhamento arqueológico no centro histórico de

Elvas Teresa Costa, Cristina Cruz, Gonçalo Lopes e Ana Braz

Muito mais do que lixo: a cerâmica do sítio arqueológico subaquático Ria de Aveiro B

Inês Pinto Coelho

14.45-15.00 O Aqueduto da Mãe d’Água, Vila Franca do Campo N’zinga Oliveira e Joana Rodrigues

A cerâmica do Açúcar de Aveiro: recentes achados na área do antigo bairro dos Oleiros

Paulo Morgado, Ricardo Teixeira e Sónia Filipe

15.00-15.15 A paisagem de Arrifana de Sousa descrita pelo

Arruamento de 1762 Maria Helena Parrão Bernardo

Portugal and Terra Nova: Ceramic Perspectives on the Early-Modern Atlantic Cultural Landscape

Peter E. Pope

15.15-15.45 Debate

Debate

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Velhos e Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna Resumos|Abstracts __________________________________________________________________________________ 

6  

15.45-16.00 Pausa para café

Gestão e valorização do património Cerâmicas: produção, comércio e consumo

16.00-16.15 Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Da ruína à

contemporaneidade Artur Côrte-Real

Cerâmicas modernas provenientes das escavações arqueológicas do Castelo de S. Jorge

Alexandra Gaspar e Ana Gomes

16.15-16.30 Preservação Arqueológica nas Missões jesuítico-

guaranis: apontamentos Tobias Vilhena de Moraes

Espólio de lixeira seiscentista de Silves Mário Varela Gomes

16.30-16.45

Monumentos restaurados e Historias em Ruínas: O programa Monumenta e a problemática da intervenção

arqueológica na restauração arquitetônica no Brasil Ton Ferreira

As produções de louça preta em Trás-os-Montes: caracterização etnográfica e química; seu interesse para

o estudo das cerâmicas arqueológicas Isabel Maria Fernandes e Fernando Castro

16.45-17.00 Usos e Dinâmicas do Espaço: as comunidades negras rurais “ quilombolas” do Estado do Maranhão/ Brasil

Geysa L. Santos

Fábrica de Cerâmica de Santo António de Vale da Piedade (Vila Nova de Gaia): Estruturas construídas e

espaços de laboração no século XVIII Laura Sousa

17.00-17.15 Profundis: Uma questão de visibilidade Margarida Génio

“Vive de fazer louça”: um estudo sobre produção artesanal e mudança em contextos dos séculos XIX e XX

Camilla Agostini e Aline Mazza

17.15-17.45 Debate

Debate

17.45-18.45

"Of sundry colours and moulds": imports of early modern pottery along the Atlantic seaboard Alejandra Gutierrez

Sexta-feira, 8 de Abril/ 8 April, Friday

Sala Multiusos 2 Sala Multiusos 3

Paisagens marítimas, navios e vida a bordo Edifícios religiosos e práticas funerárias

9.00-9.15 O naufrágio da nau quinhentista de Orangemund (Namíbia):

resultados preliminares Alexandre Monteiro

Cerâmicas dos séculos XV a XVIII do Convento de Santana de Leiria Ana Rita Trindade

9.15-9.30 Navios e outros «restos»: aproximações ao património da

baía de Angra e à navegação da época moderna José Bettencourt e Hugo Pires

A cerâmica no quotidiano colonial português: o caso de Salvador da Bahia

Carlos Etchevarne e João Pedro Gomes

9.30-9.45 Ponta do Leme Velho (Ilha do sal, Cabo Verde): testemunhos

de naufrágio seiscentista Mário Varela Gomes, Tânia Casimiro e Joana Gonçalves

Convento de S. Francisco de Lisboa: fragmentos e documentos na reconstrução de quotidianos

Joana Torres

9.45-10.15 Debate

Debate

10.15-10.30 Pausa para café

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7  

 

10.30-10.45 Santo António de Tanná: uma fragata do período moderno Tiago Fraga

Andrés de Madariaga’s mausoleum-church. Former Jesuit College in Bergara (Gipuzkoa, Basque Country,

Spain) Jesús-Manuel Pérez Centeno e Xabier Alberdi Lonbide

10.45-11.00

Cada botão sua casaca: indumentária recuperada nas escavações arqueológicas do Santo António de Taná,

naufragado em Mombaça em 1697 André Teixeira e Luís Serrão Gil

Os Painéis de azulejo do adro da Igreja de São Simão (Azeitão)

Mariana Almeida e Edgar Fernandes

11.00-11.30 Debate

Debate

11.30-12.30 Devoção e luxo no Convento de Santana de Lisboa (sécs XVI-XVII) Rosa Varela Gomes e Mário Varela Gomes

12.30-14.00 Almoço

14.00-14.15

Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio (Lisboa): identificação de vestígios arqueológicos de natureza

portuária num subsolo urbano César Neves, Maria Luísa Blot, Andrea Martins e Gonçalo Lopes

Sé da Cidade Velha, República de Cabo Verde – Resultados da 1ª fase de campanhas arqueológicas

Clementino Amaro

14.15-14.30 Paisagem Cultural Marítima. Uma primeira aproximação ao

litoral de Cascais Jorge Freire e António Fialho

O último convento da Ordem de Santiago em Palmela: dados arqueológicos da intervenção no pátio fronteiro

à igreja Isabel Cristina Fernandes

14.30-14.45 Angra, Uma Cidade Portuária no Atlântico do Século XVII.

Uma Abordagem Geomorfológica Ana Catarina Garcia

Primeira Intervenção Arqueológica no Convento Quinhentista do Bom Jesus de Peniche

Claudia Cunha, Carlos Manuel de Sousa Vilela, Sónia Simões, Gerardo Vidal Gonçalves, João Magalhães

Moreira, Mónica Domingues Ginja e Tiago Tomé

14.45-15.00

Caractérisations et typologie du Cimetière des Ancres. Vers une interprétation des conditions de mouillage et de la

fréquentation de la Baie d’Angra do Heroismo, du XVI au XIX siècle. Ile de Terceira, Açores

Christelle Chouzenoux

Os Passos da Paixão de Cristo – Setúbal José Luís Neto, Daniela dos Santos Silva e João Ferreira

Santos

15.00-15.30 Debate

Debate

15.30-15.45 Pausa para café

15.45-16.00

La Rucha. Deconstruyendo el origen de la piratería de costa en el Cabo Peñes (Gozón-Asturias-España)

Nicolás Alonso Rodríguez, Valentín Álvarez Martínez e José Antonio Longo Marina

Divindade, governante ou guerreiro? O personagem Kukulcán nas crônicas do século XVI e o registro

arqueológico de Chichén Itzá, México Alexandre Guida Navarro

16.00-16.15 O navio como Fait Social Total (para uma epistemologia da

arqueologia em contexto náutico) Jean-Yves Blot

Túmulos Pré-Históricos na Amazónia: Sepultamentos em Amapá

Edinaldo Pinheiro Nunes Filho

16.15-16.45 Debate

Debate

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Velhos e Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna Resumos|Abstracts __________________________________________________________________________________ 

8  

17.00-22.30

Visita do Congresso ao Concelho de Cascais:

Museu do Mar; Casa das Histórias Paula Rego e Jantar no Centro Cultural de Cascais

 

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday

Sala Multiusos 2 Sala Multiusos 3

Fortificações, espaços de guerra e armamento Edifícios religiosos e práticas funerárias

9.00-9.15

Excavaciones arqueológicas en la Muralla Real de Ceuta. Persistencias y rupturas en las murallas ceutíes durante el

periodo portugués (1415-1668) Fernando Villada Paredes

"Para as mulheres pobres, mas honradas" - Os recolhimentos em Setúbal

José Luís Neto e Nathalie Antunes Ferreira

9.15-9.30 Note sur la coracha de Tanger Abdelatif Boudjay

Contributo para o conhecimento da população na Época Moderna na Madeira: abordagem antropológica aos casos de Santa Cruz

Rafael Fabricio Nunes

9.30-9.45 O Baluarte do Raio (Azamor): arqueologia de uma fortificação

manuelina em Marrocos André Teixeira, Azzeddine Karra e José Bettencourt

Estelas Funerárias de Casével – contributos para uma ponte entre vivos e mortos

Ricardo Silva

9.45-10.15 Debate

Debate

10.15-10.30 Pausa para café

10.30-10.45 L'intervention portugaise dans la campagne de Doukkala (Maroc):

cas de quelques villages fortifiés Azzeddine Karra

A paisagem rural como fonte histórica e arqueológica Paulo Dórdio, Alexandra Cerveira Lima

e David Ferreira

10.45-11.00 Contribution of archaeological data to studies of the castle

architecture of Early Modern Age in Catalonia Isidre Pastor Batalla

O Ciclo do Linho no Concelho de Penafiel Ana Dolores Leal Anileiro

11.00-11.30 Debate

Debate

11.30-12.30

Arqueologia da Paisagem Cláudio Torres

12.30-14.00

Almoço

14.00-14.15 Castelo de Moura: arqueologia de um espaço militar em

época moderna Santiago Macias e Vanessa Gaspar

Engenho de açúcar da Alcaidaria de Silves Rosa Varela Gomes

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9  

14.15-14.30

Villalonso: un castillo medieval en la transición hacia la modernidad

Angel L. Palomino Lázaro, Manuel Moratinos Gracía, José M. Gonzalo González, José E. Santamaría González e Inés Centeno

Cea

Imagens, memórias, ruínas nos tempos do lugar: a biografia de uma paisagem urbana

Silvio Luiz Cordeiro

14.30-14.45

Pólvora y cal. Evidencias arqueológicas de las fortificaciones costeras de época moderna en Luarca (Asturias-España) Valentín Álvarez Martínez, Patricia Suárez Manjón e Jesús

Ignacio Jiménez Chaparro

Da aldeia guarani à cidade colonial: o processo de urbanização e as missões jesuíticas

Arno Alvarez Kern

14.45-15.00 Museu de Macau e o Território da Companhia de Jesus –

Resultados e Integração dos Vestígios Arqueológicos Clementino Amaro

Arqueologia das Charqueadas da Região Meridional do Rio Grande do Sul, Brasil: Distribuição Espacial,

Unidades Produtivas e Escravidão Lúcio Menezes Ferreira

15.00-15.15

Do papel da arqueologia para o conhecimento da Expansão Portuguesa: notas a partir de algumas estruturas fortificadas

no Oriente João Lizardo

O Café, a Escravidão e a Degradação Ambiental (Minas Gerais /Rio de Janeiro - Brasil – séc. XIX e XX) Carlos Magno Guimarães, Mariana Gonçalves Moreira, Gabriela Pereira Veloso, Elisângela de Morais Silva e

Camila Fernandes Morais

15.15-15.45 Debate

Debate

15.45-16.00 Pausa para café

16.00-17.00 40 anos de arqueologia Luso-Brasileira Marcos Albuquerque

17.00-17.30

Sessão de encerramento

17.30

Visita da Comissão Científica ao Concelho de Palmela: Castelo de Palmela e Adega Venâncio da Costa Lima

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CONFERÊNCIAS CONFERENCES From Español to Criollo: an archaeological perspective on Spanish-American cultural transformation, 1493-1550 por Kathleen Deagan (University of Florida) Bahia. Aportes para uma arqueologia das relações transatlânticas no período colonial por Carlos Etchevarne (Universidade Federal da Bahia)

Resumo/abstract: A cidade de Salvador da Bahia, no Nordeste brasileiro, constitui um bom exemplo daquilo que pode ser considerada a efetiva implementação do programa português de colonização no Atlântico sul. Fundada na metade do século XVI, com o objetivo principal de dar apoio à circulação marítima para a Índia e também como ponto de controle das atividades extrativistas, a cidade desenvolve-se na medida em que o território se torna um componente essencial da economia portuguesa, ingressada no capitalismo mercantilista de nível transcontinental. Assim nasce Salvador de Bahia e se transforma na primeira capital colonial da América portuguesa. De fato, no transcurso do século XVII, a cidade consolida-se na sua posição estratégica e é motivo de um considerável investimento em equipamentos urbanos por parte da coroa, à que se juntam as ordens religiosas, especialmente os jesuítas, e algumas iniciativas privadas. A esse período correspondem as construções monumentais que lhe darão prestígio entre as demais cidades e são definidas as diretrizes de expansão urbanística. Pode-se dizer que esse é o século em que ela adquire definitivamente fisionomia própria e, ao mesmo tempo, cristaliza a rede de relações com o resto do território colonial, assim como com outras partes do mundo europeu e oriental. Os trabalhos arqueológicos efetuados no centro histórico de Salvador da Bahia, durante a remodelação da Praça da Sé, no local onde se erguia a primeira Sé Primacial do Brasil e no seu entorno, permitiram pôr em evidência alguns aspectos de caráter sócio-histórico que tem a ver com o cotidiano da vida de grupos de pessoas dessa cidade, durante o século XVII. O setor urbano trabalhado está indiscutivelmente associado ao núcleo de instalação do poder colonial, seja ele político como religioso. Além dos alicerces das estruturas arquitetônicas puderam ser descobertos restos de materiais arqueológicos que aludem diretamente a hábitos daquele período na cidade, evidenciando ainda a utilização particular de certos produtos assim como a circulação de mercadorias entre a colônia, a metrópole e outros países.

“Of sundry colours and moulds”: imports of early modern pottery in the Atlantic seaboard por Alejandra Gutierrez (Durham University) Resumo/abstract: The beginning of the early modern period saw a shift in trading patterns and contacts between North West Europe and the Mediterranean. This paper will explore the role of ceramic imports in charting such transformations, investigating changes in supply, acquisition and use through a variety of documentary and archaeological sources. The findspots and frequency of imports will be used as a means to explore the social context of their consumption. Devoção e luxo no Convento de Santana de Lisboa (sécs XVI-XVII) por Rosa Varela Gomes (FCSH-UNL / IAP | UNL-UAlgarve) e Mário Varela Gomes (FCSH-UNL / IAP | UNL-UAlgarve)

Resumo/abstract: Escavações arqueológicas, ocorridas entre 2002 e 2010 embora com largas interrupções, ofereceram restos de estruturas e variadíssimo espólio que permite reconstituir aspectos relacionados com a vida e a morte naquela instituição. Entre aqueles encontram-se artefactos ligados tanto aos quotidianos como conotados com a espiritualidade das residentes, religiosas ou laicas, daquele que foi o maior convento feminino da capital. Algumas das peças recuperadas demonstram elevado estatuto social e económico de certas freiras e da própria ordem que as integrava, sublinhando até ambiente requintado e pouco austero. Tal é demonstrado pela enorme quantidade de faianças italianas, sobretudo de procedência genovesa ou veneziana, a par da faiança portuguesa mas, também, do excepcional número de requintadas porcelanas chinesas e, pela primeira vez identificadas no nosso país, com procedência vietnamita. Entre as porcelanas chinesas destaca-se taça contendo diversas cenas eróticas, dos finais do século XVI, por ora única no universo daquela produção, levantando diferentes problemáticas, nomeadamente, relativas à sua presença no território nacional e com o contexto da jazida. Pequenas jóias, uma das quais oriental, sublinham o enquadramento referido e ajudam a compreender contexto socioeconómico e ideológico que a estrutura conventual reflectia. Arqueologia da Paisagem por Cláudio Torres (Campo Arqueológico de Mértola)

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40 anos de arqueologia Luso-Brasileira por Marcos Albuquerque (Laboratório de Arqueologia | Universidade Federal de Pernambuco)

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CIDADES: URBANISMO, ARQUITECTURA E QUOTIDIANOS CITIES: URBANISM, ARCHITECTURE AND DAILY LIFE

Quarta-feira, 06 de Abril/ 6 April, Wednesday Largo do Chafariz de Dentro em Época Moderna por Rodrigo Banha da Silva (Câmara Municipal de Lisboa; IAP – UNL|UAlgarve; FCSH-UNL), Cristina Nozes (Câmara Municipal de Lisboa), Pedro Miranda (Câmara Municipal de Lisboa), António José Vicente, Vasco Vieira e Gonçalo Lopes Resumo/abstract: Apresentam-se os resultados da Intervenção Arqueológica Urbana do Largo do Chafariz de Dentro, realizada em 2007. Os trabalhos arqueológicos tiveram como principal objectivo a minimização do impacte patrimonial negativo no troço remanescente da «Muralha Fernandina» (MN) de uma obra camarária. Pretendeu-se confirmar a sua presença e proceder ao registo integral da fracção do monumento a afectar pela execução do referido projecto de engenharia hidráulica. Foi identificado o troço original da muralha trecentista, em bom estado de conservação, apresentando elementos construtivos não antes revelados por outras intervenções em Lisboa, bem como o reconhecimento de uma profunda reforma urbanística com impacte no monumento, ocorrida em finais do século XVI, com recurso à criação de um aterro gerado num período curto. Esta remodelação, que facilmente se interpreta como uma campanha de “monumentalização” até ao momento não documentada, encontra equivalente nos trabalhos ocorridos ao longo do reinado de D.Manuel, com a preocupação urbanística especial então devotada aos chafarizes e portas da cidade (CARITA 2001). O conjunto artefactual, exuberante, regista a presença de vasos orientais importados como as porcelanas chinesas, celadons e “martabans”. De origem europeia foram colectadas majólicas e vidros italianos, produções germânicas de “pó de pedra” (renanas) e também vítreas, produções cerâmicas valencianas, sevilhanas, holandesas e francesas. Estes elementos evidenciam a elevada capacidade aquisitiva da zona, bem demonstrativa da importância que adquire a zona ribeirinha de Lisboa, capital Imperial. Uma aproximação à Ribeira de Lisboa através de uma intervenção no Largo do Terreiro do Trigo. Os novos espaços da cidade Moderna por Cristina González (Crivarque, Estudos de Impacto e Trabalhos Geo-Arqueológicos Lda.) Resumo/abstract: Durante o ano 2010 decorreu uma intervenção arqueológica que acompanhou a construção de

um troço da nova rede de saneamento, que tem como fim conduzir os esgotos provenientes do centro de Lisboa em direcção à ETAR de Alcântara, obra promovida pela SIMTEJO. Este troço, compreendendo toda a extensão desde o Largo do Chafariz de Dentro até à Estação Fluvial no final da Avenida Infante Dom Henrique foi realizado em diversas fases, sendo a que aqui apresentamos a que esteve a cargo da empresa CRIVARQUE e acompanhou os trabalhos de obra desde a Rua do Terreiro do Trigo até à Rua do Cais de Santarém e início da Travessa de São João da Praça, na faixa mais ribeirinha de Alfama. O Largo do Terreiro do Trigo foi praticamente todo intervencionado em profundidade, embora não de uma só vez mas sim ao sabor da evolução da própria obra, tendo-se efectuado a escavação arqueológica de duas áreas de dimensão muito significativa para uma compreensão do que foi aquele espaço entre o século XVI e os meados do século XVIII. Foram colocadas a descoberto estruturas que corresponderiam a um ou vários edifícios que aqui existiram pelo menos entre a segunda metade do século XVII e os meados do século XVIII, destruídos provavelmente pelo Terramoto de 1755 como indicam os níveis de aterro que os cobrem. As realidades anteriores revelam a existência de um pavimento público comum a toda a área desde o Largo do Terreiro do Trigo até à Rua do Cais de Santarém que constituía espaço de circulação e de fixação de algumas actividades que compunham o quadro diário da Ribeira de Lisboa como zona de grande dinâmica económica e social. A diacronia no sítio é bem visível, sendo os depósitos mais antigos detectados largos níveis de aterros do século XVI que nessa altura resultaram na conquista de uma maior margem ao rio tendo em vista o aproveitamento da frente ribeirinha. O Mobiliário do Palácio Marialva – discursos socioeconómicos e cognitivos por Andreia Martins Torres (CHAM – FCSH-UNL|UAç) Resumo/abstract: A presente comunicação tem por base os materiais arqueológicos relacionados com a temática do mobiliário e que foram exumados na escavação do Palácio dos Marqueses de Marialva, levada a cabo pelo Serviço de Arqueologia do Museu da Cidade. O mobiliário, de um modo geral, e os elementos metálicos que o decoram (e que são os únicos que se preservam em âmbito arqueológico) reflectem um gosto particular que é moldado por modos de estar e particularismos culturais, resultado da descompartimentação do mundo na Época Moderna e que tem como consequência a circulação de produtos, motivos, iconografias e concepções estéticas em geral. Neste sentido, trataremos de abordar, por uma lado, as questões formais relacionadas com as técnicas de produção de forma a averiguar os centros produtores, e em alguns casos, propor o suporte onde estariam aplicadas. Por outro lado, pareceu-nos igualmente importante expor até que ponto as relações políticas e comerciais com determinados países permitiram ou dificultaram o comércio destes produtos e a sua manufactura a nível nacional

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destacando, nestes casos, como acaba por ser bastante permeável a modelos estéticos forâneos sem que tal signifique necessariamente uma mera imitação dos mesmos. Finalmente, e enquanto elementos de adorno, a presença de determinados móveis no contexto social do Palácio Marialva evidencia necessariamente uma forma de estar e ostentar que deverá ser considerada em qualquer estudo sobre esta temática. Um Celeiro da mitra no Teatro Romano de Lisboa: inércia e mutações de um espaço no século XVI à actualidade por Lídia Fernandes (Câmara Municipal de Lisboa) e Rita Fragoso de Almeida (Câmara Municipal de Lisboa) Resumo/abstract: O presente trabalho pretende trazer alguma luz sobre um edifício da cidade de Lisboa, pertença do antigo Cabido da Sé de Lisboa, designado por Celeiro da Mitra, certamente um dos muitos celeiros que terão existido na cidade de Lisboa em época moderna. Os novos dados que se apresentam são a compilação de dados históricos dispersos, onde se sublinha o enorme contributo das informações contidas numa cópia do antigo Tombo de 1755 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo), do punho de José Valentim de Freitas. No entanto, as informações documentais que possuímos são, até ao momento, muito escassas. Por esta razão os resultados arqueológicos que têm surgido ao longo de várias campanhas revestem-se de inegável importância. O programa arqueológico que tem vindo a ser implementado desde 2001, integra-se no projecto de investigação do Teatro Romano de Lisboa realizado por uma das signatárias. Neste contexto, sublinha-se a particularidade do edifício do celeiro da Mitra ter sido construído aproveitando uma das estruturas do teatro romano da antiga cidade de Felicitas Iulia Olisipo. A implantação do celeiro, a sul da estrutura tardoz do edifício cénico romano, era, até 2001, data das primeiras intervenções, totalmente insuspeita. As escavações posteriores centraram-se na investigação deste espaço, com a preocupação de registar fases construtivas, que, ao longo de mais de dois séculos, pautaram a história desta edificação. Pela primeira vez e, em grande medida, devido à singularidade da implantação deste celeiro, temos a possibilidade de observar a sua história, evolução e particularidades construtivas. O espólio em associação que, desde 2001, tem sido recolhido, possibilita uma ilustração das vivências de época moderna que terão preenchido um quotidiano que hoje nos é possível vislumbrar. A moderna ocupação do Teatro Romano de Cádiz (Espanha). Novos dados à luz das intervenções recentes por Macarena Bustamante (Universidade de Cádiz), V. Sánchez (Universidade de Cádiz), J.M, Gutiérrez (Universidade de Cádiz), D. Bernal (Universidade de Cádiz) e A. Arévalo (Universidade de Cádiz) Resumo/abstract: Nós apresentamos os primeiros resultados da escavação arqueológica da área de

Arqueologia da Universidade de Cadiz, em operação desde 2010, no Teatro Romano de Cádiz. Acima de tudo, vamos nos concentrar sobre a ocupação moderna contemporânea que sem dúvida são um reflexo da importância econômica da cidade como um porto de entrada de produtos estrangeiros. Esta questão será abordada a partir do ponto de vista arqueológico e histórico em colocá-lo em conexão com um importante legado arquitectónico visível na área, como a Posada del Mesón. Alterações urbanísticas na Santarém pós-medieval. A diacronia do abandono de uma rua no planalto de Marvila por Helena Santos (FLUL), Marco Liberato (IEM – FCSH/UNL) e Ricardo Próspero (GEOTA) Resumo/abstract: Em 2007 e 2008 foram intervencionados cerca de 1000 metros quadrados na Avenida 5 de Outubro n.º 2-8 numa área-charneira entre o núcleo genésico de Santarém, a Alcáçova, e o planalto de Marvila, espaço que acolheu a expansão da malha cadastral, a partir dos momentos finais do domínio islâmico. Certamente devido ao carácter periférico que assumia, foi acolhendo uma série de funções que os horizontes culturais que se sucederam em Santarém instalavam preferencialmente nas zonas peri-urbanas, sendo exemplo as necrópoles que se sucederam entre os séculos I e XI. Nos séculos XII a XIV documentou-se a extracção de calcário, a instalação de fornos para produção de cerâmica bem como o que parece ser um tanque de alcaçaria. Só na segunda metade do século XV se verifica a construção de espaços domésticos margeando um arruamento que permitia o acesso a pelo menos oito moradias. Apesar desta densificação construtiva, verificou-se a manutenção de espaços vazios e de uma intensa actividade metalúrgica, denunciando que esta área continuava a acolher uma associação de actividades típicas das periferias das urbes medievais. No inicio da Idade Moderna assinala-se mesmo a sua desarticulação progressiva. Uma das casas estaria já desabitada nos finais do século XV e as restantes habitações foram sendo sucessivamente abandonadas até que, na primeira metade do século XVII, o próprio arruamento foi entulhado. Muito embora não possuamos dados arqueológicos que o comprovem, é tentador relacionar o inicio deste processo com o édito de expulsão de 1492, uma vez que as fontes documentais sugerem que este arruamento se situava no interior da judiaria escalabitana. Independentemente da conjuntura que o dinamizou, pretendemos apresentar nesta comunicação a diacronia do abandono deste troço viário, ilustrando-o com uma reconstituição ideal tridimensional, alicerçando a nossa proposta nos elementos materiais recolhidos e/ou registados durante a intervenção arqueológica. Particular scenario of Colonialism in South Patagonia. Connecting Social Life and Material Culture in the Spanish Colony of Floridablanca (1781-1784) por Maria Ximena Senatore (CONICET- Instituto Multidisciplinario de

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Historia y Ciencias Humanas; Universidad de Buenos Aires; Universidad Nacional de la Patagonia Austral) Resumo/abstract: The aim of this paper is to discuss the diverse trajectories of the conformation of Modern Society and Spanish colonialism from the study of one particular social context, placed far from political and economic power centers in the end of the 18th century. This paper presents the study of some specific aspects of the social and material life of the Nueva Población y Fuerte de Floridablanca settled as part of the Spanish plan of colonization of the South Atlantic Coast in 18th century. The research project developed since 1998 discussed the creation, reproduction and transformation of the social order experimented in Floridablanca. It studied the relationship between the underlying discourses of the colonization plan and the social practices of the individuals that lived at the colony in its written, as well as in its material dimension. Culture contact, social change, sociability, identity and power relationships were the topics mainly developed. This approach contributes to think about the particularities of Spanish colonialism as a way to understand the meaning of the diversity of the Modern World. Processo de contato e primórdios da colonização na baixa bacia do Amazonas (sécs. XVI-XVII) por Rui Gomes Coelho (Bolseiro PCI do Ministério da Ciência e Tecnologia/Museu Paraense Emílio Goeldi; IAP – UNL|UAlgarve) e Fernando Marques (Museu Paraense Emílio Goeldi)

Resumo/abstract: A desembocadura do Amazonas foi, desde o século XVI, a porta de entrada para os exploradores europeus numa das maiores regiões tropicais do mundo. Face às circunstâncias naturais e humanas do território amazonico, interessa-nos entender quais os mecanismos materiais que foram simultaneamente motor e resultado do processo de contato entre os indígenas e os agentes da colonização. Daremos, para isso, um enfoque especial às notícias das primeiras interações, à organização do espaço colonial, padrões de assentamento e possíveis relações de dependência europeia das pré-existências e expetativas indígenas. A cidade de Belém, fundada em 1616, e o seu entorno, serão o nosso ponto de partida para um olhar que se estenderá à baixa bacia do Amazonas, desde a ilha de Marajó até Santarém. Invisibilidade, memória e poder: a identidade imigrante e a construção da paisagem da cidade. Rio Grande, RS, Brasil por Beatriz Valladão Thiesen (Universidade Federal do Rio Grande) Resumo/abstract: Rio Grande é uma cidade situada no Brasil meridional, junto à Barra da Lagoa dos Patos. Trata-se do único porto marítimo do Estado do Rio Grande do Sul. Como área intensamente disputada por Portugal e Espanha, foi estabelecido um povoado na margem direita do canal com a finalidade de garantir a posse do território pelos lusos, no ano de 1737. Tal povoação é iniciada com a instalação de

um forte, configurando-se numa ocupação militar. É apenas no século XIX que a pequena vila transforma-se num núcleo comercial importante, devido, principalmente, ao estabelecimento das estâncias de produção de charque, a partir de 1780. Os produtos gerados na pecuária sul rio-grandense, que abasteciam o mercado interno brasileiro, passaram a ser comercializados através do porto do Rio Grande, gerando uma intensa atividade mercantil-marítima, que atraiu empresas comerciais de várias partes do mundo e criou uma nova dinâmica social relacionada a este comércio. A pequena vila de origem portuguesa, de finalidades defensivas, torna-se uma cidade cosmopolita no final do século XIX e início do século XX, com um porto extremamente ativo, onde o encontro de imigrantes de diversas origens com a população local, estabelece novas formas de relações sociais. Este trabalho tem como temática a construção da paisagem riograndina tendo em vista a multiplicidade de grupos sociais que estão na base dessa construção e procura as distintas formas tomadas pela paisagem em seus aspectos físicos, sociais e simbólicos, buscando suas relações com diferentes grupos que participaram da sua construção no bojo do processo de constituição da sociedade capitalista local. A pesquisa focada na construção das paisagens, imersas no domínio das relações de poder e da construção de memórias, permitiu compreender aspectos da construção, manipulação e representação de identidades neste momento de instalação do capitalismo na cidade. Crise e Rebelião Colonial: uma perspectiva urbana (Minas Gerais / Brasil – séc. XVIII) por Carlos Magno Guimarães (Universidade Federal de Minas Gerais), Mariana Gonçalves Moreira (Laboratório de Arqueologia | Universidade Federal de Minas Gerais), Gabriela Pereira Veloso (Universidade Federal de Minas Gerais), Anna Luiza Ladeia (Laboratório de Arqueologia | Universidade Federal de Minas Gerais) e Thaís Monteiro de Castro (Laboratório de Arqueologia | Universidade Federal de Minas Gerais) Resumo/abstract: A partir da segunda metade do século XVIII, a crise da exploração aurífera na Região de Minas Gerais (interior do Brasil) configurou um quadro no qual a atenção do Estado Colonial Português provocou insatisfação atingindo interesses de grupos locais. Uma das conseqüências deste processo foi a organização de um movimento reunindo integrantes de diferentes categorias sociais numa clara reação às imposições do Estado Colonial. Presente na articulação, e um dos mais expressivos representantes da ala clerical do movimento, estava o Padre Toledo, morador e pároco na localidade de São José del Rei. Sua residência ainda hoje preservada (e transformada em um Museu) é objeto de pesquisa arqueológica, que pretende resgatar aspectos do quotidiano que possam contribuir para a compreensão tanto do contexto quanto da vida do padre rebelde. É o que o trabalho pretende evidenciar.

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Arqueologia e Arquitecturas daqui e d’além-mar por Maria Ramalho (IGESPAR) Resumo/abstract: Arqueologia da Arquitectura como disciplina da área do património surge como um desafio inovador ao propor abordar o edifício histórico em toda a sua complexidade, compreender a sua história pessoal única e irrepetível de uma forma integrada, conjugando os dados históricos e arqueológicos, os estudos de patologias, comportamentos estruturais, caracterização de materiais construtivos, etc. A metodologia aplicada é a mesma que é utilizada pela Arqueologia mas, neste caso, adaptada ao património arquitectónico, sobretudo pós-medieval sendo o exemplo do património português ou de origem portuguesa um verdadeiro caso de estudo por todas as potencialidades que ainda hoje oferece.

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Quinta-feira, 07 de Abril/ 7 April, Thursday Arqueologia das Cidade de Beja: a cidade em Construção por Maria da Conceição Lopes (CEAUCP | Universidade de Coimbra) Resumo/abstract: Arqueologia da cidade de Beja é um projecto onde a cidade se encontra com a sua construção. A análise do processo de interacção entre os habitantes da cidade e o espaço urbano – a fábrica da cidade – na longa duração remete-nos para uma cidade onde a recriação do espaço, apesar de nele se poderem ler as lógicas ideológicas dos poderes, se recicla, fundamentalmente, ao ritmo das necessidades de funcionamento da cidade. Desde a Idade do Ferro até aos nossos dias. Repercussões urbanas da Reconquista Cristã por Luísa Trindade (Faculdade de Letras | Universidade de Coimbra) Resumo/abstract: Com a presente comunicação pretende-se reflectir sobre um período fundamental da história do urbanismo no território actualmente português: os séculos XI a XIII. O choque entre o Islão e os exércitos cristãos, a mudança de domínio sobre o território bem como a necessidade de reorganização territorial a breve trecho levada a cabo por parte dos vencedores determinaram um conjunto de alterações de matriz urbana que importa analisar à luz dos mais recentes desenvolvimentos historiográficos. Rede Urbana da Antiga Sociedade Portuguesa. O predomínio do micro-urbanismo da Idade Média ao século XIX por Paulo Dórdio (ACE – Baixo Sabor; CITCEM) Resumo/abstract: 1) O autor desenvolve actualmente uma dissertação de doutoramento na Universidade de Coimbra sobre o tema. A presente comunicação aborda e discute algumas das problemáticas que a investigação tem levantado. 2) O estudo da rede urbana portuguesa que desenvolvemos incide sobre um tempo longo que se estende das transformações da Baixa Idade Média às rupturas introduzidas nos séculos XIX e XX pela Modernidade, o período que os historiadores da sociedade designam geralmente como o Antigo Regime. É objectivo principal da investigação delimitar o objecto urbano de Antigo Regime, na história e sociedade portuguesas e no contexto Peninsular, com particular atenção ao fenómeno do micro-urbanismo (small-towns). Paralelamente pretende-se acercar a relação socialmente activa entre Materialidade/Morfologia Urbana e do Território e as Dinâmicas e Agentes Sociais no seio do urbano de Antigo Regime. As características do urbano de Antigo Regime na história e sociedade portuguesas e no contexto Peninsular são confrontadas com a mesma realidade em contextos diversos próprios de outros espaços europeus (Inglaterra e França). 3) Um primeiro diagnóstico da evolução da rede urbana portuguesa foi realizado por Vitorino Magalhães Godinho e José Gentil da Silva realçando o predomínio dos pequenos centros urbanos

e a inexistência das cidades médias entre o século XVI e os inícios do XIX. José Mattoso e António Hespanha realizaram um trabalho crítico dos paradigmas prevalecentes até aí aportando a emergência do local e um novo equacionamento do papel do centro e da periferia. Esta investigação acentuaria a vitalidade e a autonomia dos corpos políticos locais bem como a dimensão anti-regional do poder municipal ao mesmo tempo que constatava a escassez dos meios ao dispor do poder central, para a concretização do projecto de centralização política. A rede urbana portuguesa, aparentemente imobilizada no tempo, adquire um novo significado quando explicada no âmbito da matriz institucional do espaço político de Antigo Regime. Ao basear a estrutura de legitimação do poder na tradição, o espaço habitado por uma “comunidade natural” passa a constituir a unidade política básica. Desta matriz decorre quer a rigidez e indisponibilidade da organização política do espaço, a sua miniaturização e o desenvolvimento a nível local de uma mentalidade e cultura que privilegia o ideal de auto-suficiência. A incapacidade para crescer é outra das consequências e concomitantemente, não se verifica um processo de hierarquização dos núcleos urbanos. A investigação da cidade como materialidade, da forma e localização, foi iniciada pela geografia (Orlando Ribeiro e Jorge Gaspar). Diante do atraso da arqueologia medieval e moderna em Portugal, foi a história da arquitectura e do urbanismo que deram a necessária continuidade às problemáticas então abertas. Inicialmente centrado sobre a cidade setecentista, a orientação da investigação cedo sentiu a indispensabilidade de um recuo no tempo discutindo a questão dos “antecedentes” e recentrando-se sobre o período que medeia entre o momento “fundador” baixo medieval e o momento de “reformulação” e “redefinição” das primeiras décadas de Quinhentos. A investigação perseguiria então a identificação dos “procedimentos urbanísticos e de ordenamento do território mais comuns”, os quais designaria por “invariantes”, e que na sua sistematização configurariam uma específica “maneira de fazer cidade”, ou, “uma cultura do território” portuguesa (Walter Rossa). Esta abordagem opta por assumir preferencialmente o ponto de vista dos que desenharam e reflectiram sobre a cidade. A aproximação que propomos, situando-se no cruzamento das várias abordagens apontadas, toma a Cidade e a organização do Território como instrumentos da conflitualidade social na sociedade de Antigo Regime. O modelo urbano serve comunidades que perseveram na manutenção do respectivo estatuto; comunidades que aspiram vir a obter um estatuto de jurisdição autónoma; mas também o poder central apostado num projecto centralizador e integrador. De um ponto de vista local a cidade e as suas materialidades são um activo instrumento de resistência, competição, emulação e compromisso ou aliança nas mãos dos agentes sociais. Do ponto de vista externo, o do poder central, a cidade e as suas materialidades são igualmente um activo instrumento de outros agentes sociais mas de reordenação, de imposição, de domínio e de territorialização.

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Ao som da bigorna: os ferreiros no quotidiano urbano de Arrifana/Penafiel no século XVIII por Teresa Soeiro (Departamento de Ciências e Técnicas do Património | Universidade do Porto; CITCEM) Resumo/abstract: «He povo de seiscentos visinhos, em que entrão alguns fidalgos, e nobres, os mais são artifices, particularmente de malho, lima e agulha». Assim caracterizava Carvalho da Costa, na viragem para setecentos, o burgo de Arrifana de Sousa, então pertencente ao termo do Porto. Embora tivesse gente de importância e algumas edificações relevantes, eram os artífices e as duas concorridas feiras o cerne da personalidade deste aglomerado que floresceu na época moderna ladeando a estrada real do Porto para Trás-os-Montes e Beira. De entre os mestres artesãos, os mais numerosos ao tempo seriam os profissionais da forja, que atroavam o quotidiano urbano, como notaram os visitantes, com o constante bater nas suas bigornas, onde se fazia todo o tipo de obra, quer a essencial para uso doméstico e exercício das demais profissões, quer a que marcou o próprio edificado, ruas preenchidas com as características grades de sacada, os espelhos de porta e batentes decorados, etc. As autoridades municipais não os ignoraram, dotando a profissão de regimentos e penalizando as utilizações indevidas do espaço público para onde extravasava a actividade laboral provocando queixas dos demais cidadãos. Destas forjas penafidelenses saíam também excedentes de pregaria e milheiros de candeias de ferro transaccionados na feira ou reunidos por homens de negócio (do Porto) que as distribuíam no país, enviavam para o Brasil e exportavam. Porque o grupo profissional dos ferreiros foi o de maior realce, cabia-lhe um especial desempenho na procissão do Corpo de Deus. Para além de apresentarem a dança das espadas, o poder municipal atribuiu ao Baile dos Ferreiros o privilégio de formar na rua a guarda de honra às autoridades e sagrado. Materialidade arqueológica e informação documental sobre o exercício da profissão em Arrifana/Penafiel, impacto na arquitectura e imaterialidade da intervenção social na construção da identidade são os objectos de estudo. Fragmentos do quotidiano urbano de Torres Vedras entre os séculos XV e XVIII: um olhar através dos objectos do poço dos Paços do Concelho por Guilherme Cardoso (Assembleia Distrital de Lisboa) e Isabel Luna (Museu Municipal de Torres Vedras) Resumo/abstract: Localizado no centro da urbe torriense, num pequeno pátio que dava para uma antiga padaria, existe um poço de planta rectangular que sofreu uma intervenção arqueológica no ano de 2000, aproveitando os trabalhos de remodelação dos antigos Paços do Concelho de Torres Vedras, onde posteriormente ficou integrado. A escavação, feita com a colaboração de elementos do Espeleo Clube de Torres Vedras, decorreu nos meses de Julho e Agosto, época em que o nível freático se apresenta mais baixo. Mesmo assim, a partir dos dez metros de profundidade, foi necessário escoar diariamente a água do poço, obrigando a que os trabalhos fossem sempre

executados em meio húmido, sendo a recolha dos materiais arqueológicos efectuada com o auxílio de crivos a água. O estudo das centenas de peças recolhidas, datadas de entre os séculos XV e XX, tem permitido obter, não apenas uma importante informação sobre os próprios objectos – as suas tipologias e evolução ao longo dos tempos –, mas também uma visão, ainda que fragmentada, da vida quotidiana torriense, durante os últimos cinco séculos. Nesta perspectiva, o poço dos Paços do Concelho permitiu como que abrir uma pequena janela sobre o passado daquela cidade estremenha. Evidências da época moderna no castelo de Castelo Branco por Carlos Boavida Resumo/abstract: No Inverno de 1979, um aluimento de terras na alcáçova de Castelo Branco, junto à Igreja de Santa Maria, provocado por um temporal, expôs diversos vestígios arqueológicos. Com o objectivo de investigar a história do local, foi organizada uma intervenção arqueológica que ao longo de seis campanhas, entre 1979 e 1984, durante a qual se identificou uma necrópole de fundação medieval, cuja utilização se ter-se-á prolongado pelo menos até ao final da Época Moderna, sendo dessa cronologia a maior parte dos materiais. Foram igualmente colocados à vista os alicerces de estruturas das quais não foi possível aferir a função. Apesar de não ter sido elaborado o devido registo estratigráfico e de os resultados, do ponto de vista estrutural, terem sido demasiado modestos, foi recolhido numeroso e diversificado espólio. Além das usuais cerâmicas, foram recuperados objectos metálicos, em vidro, osso, azeviche e cabedal, juntamente com numismas, estelas funerárias e restos de fauna mamalógica. Quase três décadas volvidas, o signatário elaborou dissertação de Mestrado em Arqueologia, cujo o principal objectivo foi o estudo do espólio recuperado nessa e noutra pequena intervenção preventiva em 2000. Crise e identidade urbana: o Jardim Arcádico de Braga de 1625 por Gustavo Portocarrero (Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) Resumo/abstract: Arcádias costumam ser espaços mais do domínio da literatura e da pintura. Mas também podem, por vezes, ser encontradas em paisagens urbanas. Nesta comunicação, pretendo explorar uma intervenção urbana que ocorreu num minúsculo carvalhal na periferia da cidade de Braga em 1625, e no qual foram integrados vestígios arqueológicos da época romana, vindo este espaço a ser transformado, como se argumentará, num Jardim Arcádico. Tal ocorreu na sequência da união ibérica de 1580, a qual pôs em causa o estatuto de Primaz da Hespanha reclamado por Braga face a Toledo, algo que provocou uma crise de identidade em Braga. Com a organização de um Jardim Arcádico na periferia da Cidade, pretendia-se assim formar um espaço nostálgico de uma era mais perfeita ao abrigo

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das ansiedades do presente e que, simultaneamente, se esperava que retornasse. Fragmentos da vida medieval e moderna: acompanhamento arqueológico no centro histórico de Elvas por Teresa Costa (CHAM – FCSH-UNL|UAç), Cristina Cruz (Centro de Investigação em Antropologia e Saúde; Faculdade de Ciência e Tecnologia | Universidade de Coimbra), Gonçalo Lopes (Crivarque Lda.) e Ana Braz Resumo/abstract: O estabelecimento das linhas de média tensão subterrâneas no centro histórico de Elvas levou à necessidade do acompanhamento arqueológico das obras, em 2005 e 2006. Este trabalho proporcionou um melhor conhecimento do passado medieval e moderno desta cidade em vários domínios, revelando fragmentos desconhecidos da sua configuração, apenas indiciadas na documentação histórica. A intervenção da Parada do Castelo, área primordial da ocupação de Elvas, permitiu identificar parte da história seiscentista da cidade e da sua profunda vocação defensiva, como guardiã da fronteira portuguesa. Os vestígios das casernas aqui verificados dispunham-se perpendicularmente à linha do castelo, idênticas entre si, com aparelhos de alvenaria revestidos de argamassa. As valas aqui efectuadas permitiram também reconhecer o embasamento de uma das torres do castelo. O sector escavado do Largo do Salvador revelou vestígios de uma necrópole associada à seiscentista Igreja do Salvador, actualmente bastante alterada arquitectonicamente e de uso civil. A exumação de 9 esqueletos em conexão associados a espólio e ossários foram datados de finais do século XVII. No Largo dos Combatentes da Grande Guerra detectou-se grande densidade de vestígios, nomeadamente uma calçada, um pavimento antigo com elementos pétreos, tijolo e argamassas incorporadas, um caneiro e outras estruturas eventualmente destinadas ao transporte de águas, correspondentes ao antigo caneiro real. O Aqueduto da Mãe d’Água, Vila Franca do Campo por N’zinga Oliveira (CHAM – FCSH-UNL|UAç) e Joana Rodrigues Resumo/abstract: Na história de Vila Franca do Campo, permanecem vestígios de que a arqueologia é responsável por interpretar, somando factores que validam ou não a historiografia existente. O Aqueduto da Mãe d’ Água foi identificado no decorrer de trabalhos de Arqueologia preventiva, no âmbito da Construção da Scut dos Açores, Variante a Vila Franca do Campo. Este elemento comummente conhecido pela população local, como o “Arco”, encontra-se no caminho da Mãe de Água e fez chegar água de uma nascente da encosta Norte à Vila, nos últimos 200 anos. Efectuou-se o registo exaustivo da estrutura e procedeu-se à investigação documental e de campo. A inscrição gravada no arranque de um dos arcos da estrutura, sustentou a informação das fontes escritas colidindo numa datação que indica o ano de 1779. No

entanto, foi possível identificar 3 fases distintas de construção in situ e descreve-las, interpretando de que forma se fundiram no tempo. A paisagem de Arrifana de Sousa descrita pelo Arruamento de 1762 por Maria Helena Parrão Bernardo (Museu Municipal de Penafiel) Resumo/abstract: Com este estudo pretendemos analisar a ocupação física e a evolução urbanística de uma povoação denominada Arrifana de Sousa, actual freguesia de Penafiel, situada a seis léguas da cidade do Porto, que se desenvolveu na margem da antiga via medieval que ligava esta cidade a Trás-os-Montes e às Beiras. O âmbito cronológico deste trabalho é o século XVIII e tem como principal base de investigação os livros de cobrança da décima, em particular os Livros de Arruamento de 1762 e do lançamento da décima de 1763, depositados no Arquivo Municipal de Penafiel. Os lançamentos da décima de 1762 e 1763 inserem-se num período cronológico que compreende uma fase de transformações relevantes no contexto da construção e organização político-administrativa do espaço liderado por esta povoação, à qual é, em 1741, atribuída a categoria de vila – Arrifana de Sousa, sede de um pequeno concelho, e três décadas depois (1770) elevada a cidade, sede de bispado e cabeça da comarca de Penafiel. Arruamentos, edifícios e habitantes da vila e do seu termo são alguns dos aspectos da paisagem urbana de Arrifana de Sousa que podemos entrever através das fontes analisadas. Aliando os dados documentais à análise do existente, em particular os alinhamentos das ruas, os espaços de implantação e a arquitectura do edificado, e confrontando-os, quando possível, com os resultados de intervenções arqueológicas realizadas no Centro Histórico da cidade de Penafiel, é possível conceber uma representação gráfica da estrutura urbana da vila de Arrifana de Sousa em meados do século XVIII.

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CERÂMICAS: PRODUÇÃO, COMERCIO E CONSUMO CERAMICS: PRODUCTION, TRADE AND CONSUMPTION

Quarta-feira, 06 de Abril/ 6 April, Wednesday A olaria renascentista de Santo António da Charneca, Barreiro – A louça doméstica por Luís Barros, Luísa Batalha, Guilherme Cardoso (Assembleia Distrital de Lisboa), António Gonzalez

Resumo/abstract: Dos finais do século século XV aos inícios do seguinte laborou em S. António da Charneca, Barreiro, uma olaria que produzia cerâmica fosca e vidrada de qualidade, com pastas de argila vermelha e branca, locais. O reportório formal ali produzido mostra-nos uma panóplia de peças que vão da cerâmica industrial, da qual já apresentámos um estudo sobre as formas de pão de açúcar, até à utilitária doméstica que agora tratamos mais pormenorizadamente. A proximidade de um dos esteiros do Tejo, a cerca de 1 quilómetro, possibilitava o escoamento da sua produção através da via fluvial e posteriormente marítima. A importação de cerâmica europeia para os arquipélagos na Madeira e dos Açores no século XVI por Élvio Sousa (Câmara Municipal de Machico; CHAM – FCSH-UNL|UAç) Resumo/abstract: Após o povoamento dos arquipélagos atlânticos (Madeira e Açores) e a consequente humanização do espaço, circuitos comerciais intercontinentais alimentados pelo ensaio e cultivo de novos produtos de exportação (açúcar e pastel) capitalizam a entrada e o fluxo de apetrechos que constituem a "civilização material" europeia. Nos lares abastados das ilhas (Madeira, São Miguel, Terceira e Santa Maria) figuram novas séries cerâmicas de importação de origem castelhana, italiana, francesa, holandesa e alemã. Vestígios de um centro produtor de faiança dos séculos XVII e XVIII – Dados de uma intervenção arqueológica na Rua de Buenos Aires, n.º 10, Lisboa por Luísa Batalha, Andreia Campôa, Guilherme Cardoso (Assembleia Distrital de Lisboa), Nuno Neto (Neoépica, Arqueologia e Património), Paulo Rebelo (Neoépica, Arqueologia e Património), Raquel Santos (Neoépica, Arqueologia e Património)

Resumo/abstract: Durante o acompanhamento de uma obra, a cargo da empresa de arqueologia Neoépica, na Rua de Buenos Aires, n.º 10, zona do bairro da Estrela, em Lisboa, detectaram-se duas bolsas com materiais abertas no substrato geológico local para extracção de argilas, sendo posteriormente colmatadas com entulhos provenientes de actividade oleira. Entre os diversos vestígios, recolheram-se fragmentos de tijolo de fornos vitrificados pela acção do calor, caixas de vidragem com os seus cravilhos, abundantes fragmentos de cerâmica em chacota de placas para azulejo, pratos; malgas, taças, saladeiras, boiões, jarros, etc. Em menor quantidade, é o conjunto de fragmentos de peças de refugo de faiança ali recolhidas. No entanto, estes possibilitaram registar os motivos decorativos aplicados pelos pintores nas produções da oficina ou oficinas, que nos finais do século XVII ali extraíram a argila branca, utilizada para modelar as suas manufacturas. A cerâmica na Cidade Velha (Cabo Verde) por Marie Loiuse Sorensen (University of Cambridge), Chris Evens (University of Cambridge) e Tânia Casimiro (IAP | UNL-UAlgarve) Resumo/abstract: A Universidade de Cambridge iniciou em 2006 escavações de salvaguarda na Cidade Velha em Cabo Verde. Entre as diversas estruturas ali identificadas que puderam ser conotadas com ocupações domésticas e religiosas, foram recuperados largas centenas de recipientes cerâmicos. A maioria foi produzida em Portugal e apresenta características semelhantes às peças identificadas em contextos nacionais de produção lusa, bem como algumas importações chinesas e europeias. No entanto, foram igualmente identificadas algumas peças cuja produção não encontra paralelos europeus acreditando-se tratarem-se de produções africanas que podem ter viajado do continente para aquele território.   Portuguese Pottery of the modern age find in the Cadiz Bay, Spain por José-Antonio Ruiz Gil (Universidad de Cadiz) Resumo/abstract: In this paper I'll describe the Portuguese ceramic assemblage interchange with the Cadiz Bay during the Modern Age. These ceramics are excavated in the urban excavations at El Puerto de Santa Maria and in the Roman Theatre at Cadiz. They are cities in the Cadiz Bay, with a long term History between Spain and Portugal kingdoms, from beginnings 16th to 17th ends, especially in the Iberian crowns union. The link between Portugal (Tagus River) and the Cadiz Bay was Seville. The assemblage was with Dutch pottery, in the 17th ends, for me a Dutch merchants test. In my study two pottery series are introduce mainly, Estremoz the one, and Lisbon enabled pottery, the other one. The Estremoz pottery is very notorious for its incrusted surface. But, for me, is very important the enabled pottery because is the Ichtuchnee type.

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Chemical and Pb Isotopic Characterization of Majolica Pottery from Convento de Santo Domingo (16th-17th centuries), Lima (Peru) por Javier G. Iñañez (Universitat de Barcelona, Montalegre; Museum Conservation Institute, Smithsonian Institution), Juan Guillermo Martín (Museum Conservation Institute, Smithsonian Institution), Jeremy J. Bellucci (Universidad del Norte, Barranquilla), Richard Ash (University of Maryland), William McDonough (University of Maryland), Antonio Coello (Escuela Taller de Lima AECID), Michael D. Glascock (University of Missouri), Robert J. Speakman (Museum Conservation Institute, Smithsonian Institution), Jaume Buxeda i Garrigós (Universitat de Barcelona, Montalegre) Resumo/abstract: The construction of the ancient convent of Santo Domingo officially was finished in the 1578 after several decades of construction works in the city of Lima. However, several earthquakes repetitively damaged the building along the 17th and 18th centuries, which resulted in subsequent reconstructions. Nowadays, the convent of Santo Domingo has become a historical and architectural icon of the colonial period in the city of Lima. Sixty-eight majolica sherds unearthed at the convent of Santo Domingo in Lima during recent archaeological surveys were chemically analyzed by Neutron Activation Analysis (NAA) in order to characterize their chemical fingerprint. Additionally, ten majolica pottery sherds were analyzed by Laser Ablation-Multi-Collector-Inductively Coupled Plasma-Mass Spectrometry (LA-MC-ICP-MS) in order to characterize the isotopic fingerprint of the lead used on their glazed coatings. The lead glazed coatings fingerprint of the majolica ceramics from the Convento de Santo Domingo in Lima, show Pb isotopic compositions that allow us to discriminate between Spanish and American production sources for this Colonial period. Moreover, according to the Pb isotopic composition, seems evident the existence of diverse sources for the lead used in the majolica production of Lima. These results allow inferring archaeological information regarding the majolica production of Lima.

Aldeia da Torre dos Frades (Torre de Almofala) através da Cerâmica em Época Moderna por Elisa Maria Marques Amaral Albuquerque Resumo/abstract: Conhecida como Casarão da Torre, a Torre de Almofala (Figueira de Castelo Rodrigo) começou a despertar o interesse dos investigadores desde os inícios do séc. XX. Os trabalhos arqueológicos, iniciados no ano de 1989, por Helena Frade, técnica superior do IPPAR, esclareceram dúvidas que até então existiam sobre o monumento, uma vez identificadas estruturas e vestígios materiais, que demonstraram a existência de uma cidade durante a época romana, a Civitas Cobelcorum. Foram também revelados elementos estruturais e material arqueológico que apontavam para uma longa diacronia de ocupação do local, desde horizontes enquadráveis na época romana até à época moderna. Desta derradeira fase, sabemos que o Numeramento de 1527-32 demonstra a existência de uma povoação denominada como Aldeia da Torre dos Frades, com vinte e

um fogos, que terá sido destruída posteriormente durante as Guerras da Restauração. Pretende-se, então, com esta comunicação relacionar as estruturas habitacionais, nomeadamente as registadas na zona sul e identificadas como pertencendo a esta última fase de ocupação do local, com análise da cerâmica proveniente do sítio. Assim, através do cruzamento destes elementos tentar-se-á recriar o quotidiano de um pequeno núcleo populacional, entendendo a cultura material como um meio para conhecer as vivências dos habitantes da Aldeia da Torre dos Frades. Primeira abordagem a um depósito moderno no Antigo Paço Episcopal de Coimbra (Museu Nacional de Machado de Castro): a cerâmica desde meados do século XV à consolidação da Renascença por Ricardo C. da Silva (CEAUP-CAM) Resumo/abstract: O Museu Nacional Machado de Castro ocupa o monumento com mais ampla diacronia de ocupação da cidade de Coimbra. Aqui se instalou, nos inícios do século I da nossa era, o forum da antiga cidade romana de Aeminium que assentou sobre um sólido e complexo criptopórtico que ainda se conserva. Nos finais do século XI iniciou-se o processo que levaria à sua conformação como paço episcopal efectuada sobre a plataforma herdada do forum romano. Durante oito séculos a estrutura primária irá sujeitar-se a várias reformas e transformações, até que em 1912 o edifício é oficialmente cedido para a instalação do Museu. A riqueza dos vestígios arqueológicos e patrimoniais que este espaço congrega implicou a prossecução de um programa de trabalhos arqueológicos prévios e decorrentes do projecto de ampliação e remodelação deste museu recentemente concluída. As escavações realizadas na ala sul permitiram identificar um depósito de materiais modernos, interpretado como lixeira, selado pelos níveis das cavalariças do antigo paço e entre sólidas empenas do criptopórtico romano. Estes contextos estratigráficos, de leitura clara e segura, notabilizam-se pela variedade, invulgar abundância e bom estado de conservação do material exumado que foi possível integrar em quatro momentos distintos de deposição (entre os séculos XV e XVI) tendo em conta a cronologia relativa oferecida pelos cerca de 400 numismas recolhidos. Atendendo à fase preliminar dos trabalhos, pretende-se nesta comunicação expor as circunstâncias que envolvem o achado e apresentar, em linhas gerais, a evolução das formas e estilos representados no lote cerâmico exumado entre meados do século XV e finais do século XVI. Um gosto decorativo: louça preta e vermelha polvilhada de branco (mica) por Isabel Maria Fernandes (Museu Alberto Sampaio) Resumo/abstract: Num texto de 1645 refere-se que em Prado «se labra gran cantidad de basijas negras finas, con que se provee entre Duero y Miño». Esta loiça preta «fina» teve o seu apogeu entre os séculos XVII e XVIII e tem

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aparecido em diversas escavações arqueológicas. Partindo de um conjunto de fragmentos cerâmicos encontrados no mosteiro de Tibães faz-se o levantamento e estudo desta loiça, vermelha e preta, decorada com mica, que se encontra quer em escavações arqueológicas quer em colecções de Museus.   Estudos Cerâmicos. Uma Linha de Investigação. Problemática dos Principais Centros Abastecedores na Longa Duração por Paulo Dórdio (ACE – Baixo Sabor; CITCEM) e Ana Carvalho Dias (IGESPAR) Dinâmicas de concentração e de dispersão da actividade produtiva parecem ser conceitos interessantes na hora de pensar a evolução do quadro produtivo e abastecedor cerâmico. Na verdade, a partir dos séculos XV – XVI, senão já antes, configura-se diante de nós, em numerosas regiões, o nascimento de um novo quadro produtivo, concretizando opções próprias das economias de escala. A uma fase anterior dominada por um abastecimento baseado em pequenas ou pequeníssimas unidades de produção, disseminadas pelo território, desenvolvendo a actividade adjacentes quer às fontes de matérias-primas quer às comunidades cujas necessidades proviam, sucede um modo diferente de organizar a produção. A dispersão dá lugar a opções de concentração: onde a matéria-prima é de melhor qualidade ou mais abundante; a mão-de-obra mais disponível, de menor custo e melhor preparada; as vias de escoamento da produção de maior alcance. Introduzem-se inovações tecnológicas: a vidragem torna-se técnica comum e uma cada vez mais acentuada padronização dos fabricos assegura a optimização das opções técnicas. Assiste-se à diversificação da oferta multiplicando-se o número de formas e dimensões das peças que se procura adequar às múltiplas necessidades de uma vida quotidiana cada vez mais sofisticada. A concentração da actividade produtiva tem como contraponto necessário o alargamento dos mercados, fazendo uso dos meios disponíveis da almocrevaria e da cabotagem, faz chegar a produção a zonas muito distantes. As mudanças mostram a inserção numa rede mais e mais global que se reproduz igualmente na participação num gosto também ele global. Observa-se porém, na persistência de marcas da “identidade” bem como na especialização regional, a emergência de estratégias que visam a actuação num espaço de mercado e concorrência irremediavelmente transformado. Mas a tendência para a substituição de um sistema local de abastecimento por um de escala alargada deverá igualmente mostrar ritmos diversos, adequados às diversas condições regionais. Com base em projectos de investigação actualmente em curso que visam a identificação e caracterização dos centros produtores e abastecedores cerâmicos sedeados em Aveiro, Coimbra e Tomar, os autores discutem as problemáticas levantadas bem como as respectivas aproximações metodológicas que compreendem: 1) Âmbito temporal do estudo e investigação abarcando do final da idade média à actualidade; 2) Aproximação multidisciplinar envolvendo especialistas e estudos nas áreas da arqueologia,

etnografia/etnologia, história/arquivística e analítica (análises físicas, químicas e mineralógicas incidindo sobre um grupo de referência); 3) Âmbito geográfico delimitando-se a dois níveis: 1) o da área produtora ou de localização dos centros produtores e 2) o da área de distribuição e abastecimento daqueles centros produtores; 4) Implementação de linhas de acção que procuram identificar e estudar, nomeadamente através da realização de escavações arqueológicas, contextos de produção cerâmica com fornos e oficinas.   Considerações acerca da cerâmica pedrada e respectivo comércio por Olinda Sardinha (MNA) Resumo/abstract: No que concerne à produção de objectos cerâmicos pedrados - procedentes de escavações arqueológicas - focaremos os de cronologia mais antiga em território português (Mata da Machada, Barreiro) e espanhol (Mérida). Seguir-se-á o comércio marítimo nomeadamente Espanha, Norte de África, Américas do Sul e Central. Quando do domínio espanhol, torna-se difícil identificar o percurso destes objectos nos navios que carregavam imensos objectos para várias regiões. Focaremos, ainda, o galeão espanhol “San Diego” e a cerâmica de Nisa, já que os tempos áureos de Estremoz já terminaram. É pois da conjugação dos objectos pedrados tão abundantes como a cerâmica fosca, a faiança, a porcelana, que podemos reconhecer os vários percursos que nos dão a conhecer a dinâmica que existia na navegação e comércio marítimos.  

Quinta-feira, 7 de Abril/ 7 April, Thursday Os potes “martabã”: um conceito em discussão por Sara Simões (IAP – UNL|UAlgarve) Resumo/abstract: Desde o século XVI, no contexto das novas dinâmicas criadas pelas viagens de expansão ultramarina durante a Época Moderna, que nos chegam referências às grandes talhas asiáticas, fabricadas no Porto de Martabão, um antigo Reino do Pegu. Todavia, o actual conhecimento que temos desses contentores é escasso, fragmentário e sobre eles permanecem muitas interrogações. Uma das questões que desde o início do estudo nos pareceu essencial esclarecer foi a do próprio nome e, consequentemente, do conceito de martabã. De facto, se parece não existirem dúvidas quanto à origem da denominação destes potes como martabãs, ao longo dos séculos essa designação alargou-se, passando a ser aplicada a diversos tipos de potes com características técnicas, formais, decorativas e até mesmo funcionais, bastante distintas entre si. Chega até nós como uma designação muito difusa e pouco esclarecedora quanto às peças que, efectivamente, podemos considerar martabãs. Foi desta forma que iniciámos o trabalho que agora apresentamos, no qual, através do estudo quer de espólio arqueológico e de colecções museológicas proveniente de contextos de uma área alargada em torno de Lisboa, quer de análise de diversas fontes escritas, procurámos estreitar as

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características definidoras deste termo. Assim, propomo-nos então apresentar um novo conceito de martabã, um termo que contém em si toda uma representação abstracta que é necessário definir e compreender e que procurámos clarificar e tornar mais aplicável aos arqueólogos e historiadores da actualidade. Do Oriente para Ocidente: Contributo para o conhecimento da porcelana chinesa nos quotidianos de época moderna. Estudo de três contextos arqueológicos de Lisboa por José Pedro Henriques (FCSH-UNL)

Resumo/abstract: A chegada dos portugueses ao Oriente nos finais do séc. XV inaugurou uma via de chegada dos produtos orientais para a Europa por via marítima. A partir daí, começa a afluir uma enorme quantidade de produtos exóticos que até então eram raros ou totalmente desconhecidos, entre os quais a porcelana. O comércio de porcelana encontra-se documentado desde a viagem de Vasco de Gama à Índia, a partir da qual vai conhecer um importante desenvolvimento como produto comercial. A sua rápida aceitação vai contribuir para um crescendo na sua importação e para a adopção de alguns comportamentos sociais que até então não existiam na sociedade europeia. O espólio estudado tem a sua origem em três escavações arqueológicas realizadas em Lisboa, sendo elas o conjunto de porcelanas recolhido no Aljube, no Palácio dos Condes de Penafiel e na Rua de S. Mamede nº5 (Teatro Romano). Pretendemos com esta comunicação abordar o comércio de porcelana chinesa com Portugal, tendo em vista elaborar uma resenha das principais formas e produções detectadas, enquadradas num espectro cronológico que abrange o início do séc. XVI até ao final do séc. XVIII. Este estudo procura identificar diferentes tipos de produção, como a porcelana azul e branca, passando pelas produções de Zhangzhou, até à porcelana policroma, mais disseminada a partir dos finais do séc. XVII, onde se integram as decorações imari e das famílias verde e rosa, bem como as produções provinciais para o mercado interno chinês, detectadas nestes contextos. Pretendemos analisar estas diferentes produções e compreender as alterações que a porcelana vai sofrer ao longo do tempo e quais as funcionalidades que desempenha nos quotidianos de época moderna. As cerâmicas modernas da Fortaleza de N. Sr.ª da Luz, em Cascais – Histórias fragmentadas por J. A. Severino Rodrigues (Câmara Municipal de Cascais), Catarina Bolila (IAP – UNL|UAlgarve), Inês Ribeiro, José Pedro Henriques, Sara Simões (IAP – UNL|UAlgarve), Vanessa Filipe Resumo/abstract: O processo de tratamento e inventário de todo o espólio arqueológico da Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, em Cascais, resultado das várias campanhas arqueológicas ali realizadas. Foi iniciado pelo Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Cascais no ano de 2005 e concluído no ano transacto, no âmbito dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos para o projecto de

musealização que tem a coordenação da Dr.ª Margarida Magalhães Ramalho. O minucioso trabalho de colagem de todo este espólio e a consequente reconstituição das formas cerâmicas veio a revelar uma significativa colecção, bem demonstrativa das vivências nesta fortaleza, nomeadamente durante o período filipino, altura em que teve uma intensa ocupação. O compilar de toda esta informação revelou um importante conjunto cerâmico que, embora com uma estratigrafia pouco consistente, permitiu caracterizar os usos e costumes do dia-a-dia desta guarnição e que encontram paralelo nos utensílios da mesma época recolhidos nas várias intervenções arqueológicas realizadas na vila de Cascais. A diversidade de artefactos recolhidos permitiu ainda que fossem desenvolvidos estudos de conjuntos específicos de objectos em cerâmica que vieram a permitir uma aferição mais fina de algumas das cronologias propostas. Faiança portuguesa: centros produtores, matérias, técnicas de fabrico e critérios de distinção por Luís Sebastian (DRCN) Resumo/abstract: Recorrendo à documentação coeva disponível, paralelos etnográficos e análise de vestígios arqueológicos de contextos de produção e de consumo, pretende-se: - A identificação dos centros oleiros produtores de faiança em Portugal durante os séculos XVI, XVII e XVIII - Lisboa - Lisboa Oriental - Lisboa Ocidental - Coimbra - Vila Nova (Gaia) - A caracterização de matérias-primas e técnicas de produção, isolando características diferenciadoras - Pasta - Barreiros - Barros - Tratamento - Instrumentos auxiliares - Doseamento - Modelação - Modelação e moldagem - Torno de oleiro - Instrumentos auxiliares - Secagem - Torneamento - Enxugo - Cozedura de enchacotagem - Fornos - Técnicas de enfornamento - Instrumentos auxiliares - Técnicas de cozedura - Temperaturas - Esmalte - Matérias-primas - Tratamento - Instrumentos auxiliares - Banho - Pintura

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- Matérias-primas - Técnicas de transformação - Instrumentos auxiliares - Aplicação - Cozedura de vidragem - Fornos - Técnicas de enfornamento - Instrumentos auxiliares - Técnicas de cozedura - Temperaturas - Oficina - Edifício - Estruturas de produção - Espaços de produção -Organização de produção - Definição de características de distinção observáveis no produto acabado - Pastas - Esmaltes - Pintura - Formas - Decorações

Elementos para a caracterização da faiança portuguesa do séc. XVII: a tipologia de Pendery aplicada à realidade da Casa do Infante (Porto) por Anabela Pereira de Sá

Resumo/abstract: A intervenção arqueológica realizada no edifício conhecido como Casa do Infante (coordenada pelo Dr. Paulo Dordio Gomes e pelo Dr. Ricardo Teixeira), deu origem a estudos realizados nas mais diversas áreas. O nosso objectivo é aqui dar a conhecer alguns dos resultados preliminares da investigação produzida no âmbito da Faiança Portuguesa do século XVII. O propósito principal da pesquisa foi o aperfeiçoamento de uma tipologia baseada na experiência realizada por Steven Pendery em 1999. Para o efeito foram seleccionados alguns depósitos considerados exemplificativos: dois do primeiro terço do século XVII (depósitos 2 e 5) e outros dois da segunda metade do mesmo período (depósitos 3 e 6). De Aveiro para todas as margens do Atlântico: a carga do navio Ria de Aveiro A no seu contexto histórico e cultural por Patrícia Carvalho e José Bettencourt (CHAM – FCSH-UNL|UAç) Resumo/abstract: Em 1992, na Ria de Aveiro, foram descobertos fortuitamente os vestígios de uma embarcação, construída em madeira e datada por radiocarbono de meados do século XV, com uma carga de cerâmica comum. Entre 1996 e 2005 estes vestígios foram parcialmente escavados e recuperados em duas fases de trabalho. A primeira centrou-se na escavação e recuperação da estrutura em madeira e a segunda, iniciada em 2000, ocupou-se do estudo e caracterização da mancha de dispersão da carga do navio. O bom estado de conservação dos vestígios permitiu abordar temas relacionados com a formação do sítio

arqueológico, a estiva a bordo do navio ou a produção de cerâmica comum da região de Aveiro-Ovar. Nesta comunicação apresentam-se os trabalhos efectuados no sítio e faz-se uma aproximação preliminar ao seu contexto histórico-cultural, nomeadamente no quadro da navegação moderna e na circulação de cerâmica comum de origem portuguesa no Atlântico. Merida No More: Portuguese Redware in Newfoundland por Sarah Newstead (Centre for Historical Archaeology – University of Leicester)

Resumo/abstract: Portuguese Redware, previously known as Merida-type ware, is a coarse earthenware commonly found in late 16th- through 17th-century English contexts, on the island of Newfoundland, Canada. The ware is also found elsewhere, in contexts which had an association, either directly or indirectly, with early modern Portuguese trade. In Newfoundland, the ware is associated with many of the early settlement sites on the island and study of it therefore provides insight into trade networks supplying Newfoundland during the 17th century, the crucial moment of transition from seasonal to year-round use of the island by Europeans. This paper will define and describe Portuguese Redware form and fabric variations that have been found on the island as well as discuss possible production areas. We will also explore the motives behind consumption and attempt to place consumption of the ware in Newfoundland within the larger context of 17th-century North Atlantic trade, social and political connections. The research which formed the basis of this paper utilized both Newfoundland and Portuguese collections and therefore expands understanding of this relatively under-researched ware. Muito mais do que lixo: a cerâmica do sítio arqueológico subaquático Ria de Aveiro B-C por Inês Pinto Coelho (CHAM – FCSH-UNL|UAç) Resumo/abstract: O núcleo de cerâmicas estudado, recuperado de intervenções efectuadas no sítio arqueológico Ria de Aveiro B – C, integra uma das maiores colecções de cerâmica comum portuguesa provenientes de contextos subaquáticos. Inclui produções de fabrico regional, faiança e grés, com uma cronologia que se estende desde o século XV até ao século XVIII. A cerâmica comum, mais representada, forma um grupo muito homogéneo em termos de fabrico, proveniente das manufacturas locais, da região Aveiro/Ovar, onde existiram numerosas olarias. O estudo destes materiais contribui para o conhecimento destas produções e do comércio de Aveiro, evidenciando o papel de destaque que esta região assumiu num período decisivo da expansão marítima portuguesa. A cerâmica do Açúcar de Aveiro: recentes achados na área do antigo bairro dos Oleiros por Paulo Morgado (Geobiotec, Universidade de Aveiro), Ricardo Teixeira, Sónia Filipe (Universidade de Coimbra)

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Resumo/abstract: Aveiro e sua região, possui grandes reservas de argilas de muito boa qualidade. A existência desta matéria-prima levou a que a produção cerâmica desde cedo tomasse parte das actividades produtivas das comunidades locais. Embora sejam conhecidos frequentes achados de cerâmicas antigas, tanto em contextos arqueológicos preservados, como em achados descontextualizados, em Aveiro ainda não foi identificado nenhum forno de produção de cerâmica comum. Deste modo não é fácil efectuar a caracterização de certo tipo de tipologia e associá-lo a uma pretensa produção local. Porém, é conhecida a forte produção cerâmica na época moderna, conhecendo-se o local como o “Bairro dos Oleiros”, e toda uma série de documentação que o atesta. Os achados arqueológicos em meio subaquático na laguna de Aveiro, vieram caracterizar diversas tipologias de produção local. Dentro destas tipologias encontram-se a denominada cerâmica do açúcar constituída pelas formas de pão de açúcar. Estas peças entravam no ciclo da produção do açúcar, sendo constituídas por um molde cónico de barro cozido, com um furo no seu vértice, por onde sai o mel, ficando dentro a parte sólida formando o pão de açúcar. Está documentada a sua exportação para locais tão distintos como a Madeira, as Canárias, Cabo Verde, São Tomé Cuba ou o Brasil. Recentes trabalhos arqueológicos, em locais próximos do antigo Bairro dos Oleiros, permitiram identificar fragmentos deste tipo de cerâmica em estratigrafia arqueológica de cronologia do séc. XVI/XVII. Tipologicamente são semelhantes aos encontrados, tanto em meio subaquático na laguna de Aveiro, como em achados dispersos servido como material de construção um pouco por toda a cidade de Aveiro, A produção da cerâmica do açúcar em Aveiro deverá estar situada entre, pelo menos, o séc. XVI e o séc. XIX.

Portugal and Terra Nova: Ceramic Perspectives on the Early-Modern Atlantic Cultural Landscape por Peter E. Pope (Memorial University, St John’s, Newfoundland)

Resumo/abstract: About 1500, Açorean Portuguese captains made some of the earliest documented fishing voyages to Newfoundland. An attempt to continue island-hopping colonization westward failed, though Açorean settlers survived for several years on Cape Breton, in the 1530s. As the migratory cod fishery developed, merchants in Porto, Aveiro and Viana, ports well linked to the Açores, invested in Terra Nova voyages. Archaeological finds of Portuguese ceramics support the tradition that crews from northern Portugal exploited the east coast of Newfoundland's Avalon Peninsula, in the16th century. The archaeological data contradict a recent historical challenge to the significance of the early Portuguese cod fishery. We need, however, to recognize a confounding factor: Portuguese ceramics are also common on English sites in Newfoundland. English crews were not significant players in the Newfoundland fishery until about 1565. They then aggressively occupied fishing stations on the east coast until, by 1620, they had displaced not only the Portuguese

(whose investment had already declined) but also the Bretons, Normans and Basques. England’s West Country fisherfolk now had an exclusive "English Shore" and, by 1620, had begun to settle. Over the last 20 years, excavations at Ferryland, Cupids and St John's have illuminated these early settlements. Archaeological assemblages suggest that Portuguese ports were key landmarks in the Atlantic cultural landscape. Dry fish came in annual convoys to Portugal, while wine flowed to London, Amsterdam, Newfoundland and, later, New England. The Açores remained a key provisioning station for transatlantic mariners: ships often arrived in Newfoundland with fruit and Fayal wine. English ships brought Portuguese ceramics to Newfoundland, including decorated faiança, ceramica commune and even elegant pucheros. Each can be read in its own way, for perspective on the early modern transatlantic cultural landscape. Cerâmicas modernas provenientes das escavações arqueológicas do Castelo de S. Jorge por Alexandra Gaspar (Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo) Ana Gomes (Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo) Resumo/abstract: As escavações arqueológicas no Castelo S. Jorge permitiram a identificação de vários contextos bem datados de época moderna, nomeadamente numa grande fossa encontrada na Casa do Governador e nos silos/fossas da área de armazenagem do Castelo. Os conjuntos cerâmicos são representativos sobretudo das produções locais tendo-se encontrado formas bem preservadas que se incluem nos serviços de mesa, de cozinha e de armazenagem. As grandes quantidades de cerâmicas exumadas permitem propor, como característica destas produções, a estandardização. As pastas destas cerâmicas foram analisadas no Instituto Tecnológico Nuclear sendo a composição química obtida por análise por activação de neutrões térmicos (AAN). Do resultado destas análises ressalta o registo de uma mudança na estratégia de exploração de recursos nos séculos XIV/XV. Espólio de lixeira seiscentista de Silves por Mário Varela Gomes (FCSH-UNL / IAP | UNL-UAlgarve) A edificação do Museu Municipal de Arqueologia de Silves exigiu que fosse escavada a totalidade de área por ele ocupada. Neste contexto, explorámos o espaço denominado Pátio Anexo ao Poço-Cisterna (SILV 3), onde detectámos, sob jardim novecentista, espesso nível que correspondia a lixeira de casa do século XVII e que assentava em pavimento de seixos daquela mesma centúria ou dos finais da anterior. O espólio recuperado é constituído, sobretudo, por faianças portuguesas, com decoração de cor azul e/ou violeta, alguma cerâmica comum, rara porcelana chinesa, o fundo de uma peça de faiança de Savona, contas de osso e coral, numismas, sendo o mais recente cunhado no reinado de D. Pedro II (1683-1706), tal como restos de fauna.

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Entre as faianças portuguesas devemos destacar dois pratos quase completos, com paisagens no interior do fundo, e tampa de terrina ostentando o nome da família Cançado. As produções de louça preta em Trás-os-Montes: caracterização etnográfica e química; seu interesse para o estudo das cerâmicas arqueológicas por Isabel Maria Fernandes (Museu Alberto Sampaio) e Fernando Castro (Universidade do Minho; Centro de Tecnologias Mecânicas e de Materiais) Resumo/abstract: Neste artigo caracterizar-se-á as produções cerâmicas de louça preta dos distritos de Vila Real e Bragança, numa perspectiva etnográfica, tendo em conta a técnica usada e a tipologia das produções. O estudo contemplará também a apresentação de resultados de análise química dessas produções, obtidas por espectrometria de fluorescência de Raios X, procedendo-se ao tratamento estatístico dos resultados com vista a estabelecer padrões “químicos” característicos de cada localidade. Os locais de produção estudados são Vilar de Nantes (Chaves), Bisalhães (Mondrões, Vila Real), Telões (Vila Pouca de Aguiar) e Calvelhe (Bragança). Os resultados obtidos revelam-se com potencial interesse para a investigação arqueológica, nomeadamente tendo em vista a identificação de proveniências de fabrico dos fragmentos cerâmicos encontrados nas intervenções. Fábrica de Cerâmica de Santo António de Vale da Piedade (Vila Nova de Gaia): Estruturas construídas e espaços de laboração no século XVIII por Laura Cristina Peixoto de Sousa (Museu Municipal de Penafiel) Resumo/abstract: A Fábrica de Santo António de Vale da Piedade (FSAVP) foi fundada no último quartel do século XVIII (Alvará datado de 1784), pelo genovês Jerónimo Rossi, no lugar de Gaia, junto ao Rio Douro, actual Cais de Capelo e Ivens e Rua de Viterbo Campos na freguesia de Santa Marinha (Vila Nova de Gaia, Porto). Conjuntamente com as fábricas de Massarelos, Miragaia e Cavaquinho, afirmou-se como uma das principais unidades de produção cerâmica portuense gerada no contexto proteccionista do período pombalino, integrando-se no conjunto das primeiras manufacturas de louça criadas em Portugal. Não obstante o clima privilegiado que marcou a sua fundação, a FSAVP revelou posteriormente viabilidade e capacidade de adaptação, sobrevivendo às difíceis vicissitudes que marcaram o dealbar do século XIX e tendo laborado até ao início da década de 1930. Trabalhos arqueológicos recentemente realizados, pela empresa Empatia – Arqueologia, Lda., em terreno contíguo ao edifício principal da fábrica, puseram a descoberto uma estrutura de cariz fabril inutilizada por um nível de aterro constituído por louça e outros materiais cerâmicos, maioritariamente datados do século XIX, que preenchiam o interior. Tendo por base os resultados da intervenção arqueológica e apoiando-nos na documentação coeva, propomo-nos desenvolver um trabalho de investigação que

abarque esta dupla realidade da FSAVP: estruturas/espaços e produção. Visa-se a reconstituição gráfica das estruturas construídas (edifícios, tanques, fornos…) e dos espaços de laboração (terreiro, áreas de secagem…) usados pela fábrica numa tentativa de recriação do complexo produtivo inicial criado e adaptado por Jerónimo Rossi, entre 1783 e 1821, alterado ou anulado por sucessivas reformulações, patentes na análise arqueológica do edificado e/ou datadas nos contextos de escavação. “Vive de fazer louça”: um estudo sobre produção artesanal e mudança em contextos dos séculos XIX e XX por Camilla Agostini (Universidade Federal Fluminense | CNPq) e Aline Mazza (Fundação Cultural de São Sebastião, SP) Resumo/abstract: A cidade de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo – Brasil, contou com um núcleo de produção de panelas desde pelo menos o século XVIII. Em atividade até meados do século XX, este núcleo teve como contexto principal o Bairro de São Francisco, nas proximidades do centro da cidade. Escavações arqueológicas foram realizadas no referido bairro, além de prospecções em bairros vizinhos, recuperando os principais artefatos produzidos no século XIX pelas chamadas paneleiras: panelas de cerâmica acordeladas e decoradas especialmente pela técnica da incisão. A partir dos vestígios arqueológicos, mapas de população de época e entrevistas com uma antiga paneleira pode-se traçar um perfil social destas ceramistas, observar as características de seus produtos que seriam destinados a venda, assim como inferir sobre seus possíveis consumidores. Caberá ainda refletir sobre os fatores que influenciaram na mudança da produção, na virada para o século XX, quando as panelas passaram a apresentar uma maior variação nas formas e a decoração praticamente desaparece. Será, portanto, nosso objetivo observar como a interação social entre estas ceramistas e outros setores da sociedade guiaram as ecolhas na produção das panelas, nos séculos XIX e XX.

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GESTÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO MANAGEMENT AND RECOGNITION OF HERITAGE

Quinta-feira, 7 de Abril/ 7 April, Thursday Mosteiro de Santa Clara-a-Velha de Coimbra. Da ruína à contemporaneidade… por Artur Côrte-Real (Direcção Regional de Cultura do Centro) Resumo/abstract: O novo espaço cultural do antigo Mosteiro Santa Clara propõe um espaço de fruição e turismo cultural com aproximadamente 26.700 m2, tendo aberto ao público no decurso de 2009, transformando decisivamente a oferta cultural existente na cidade, traduzindo-se numa alteração substancial da situação de “marginalidade” vivida pela margem esquerda. A enorme capacidade de atracção foi já constatável, quer no âmbito das visitas - 100.000 pessoas quer nos vários prémios nacionais e internacionais que lhe foram atribuídos. Estamos certos que este cenário vai permitir promover a transformação do perfil do visitante da cidade de Coimbra, de excursionista em turista, na medida em que configura uma oferta turística de visita mais ou menos demorada e que concorre por esse motivo para o alargamento da habitual permanência . Fruto do resgate deste monumento à secular invasão das águas do rio Mondego, o projecto executado permite as melhores condições de visita, fruição e conhecimento deste monumento nacional e da sua história, tendo todo ele sido sustentado numa investigação profunda e complexa. A comunicação a apresentar incide sobre o Projecto de Valorização do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, tendo em consideração a sua inserção urbana e relacional com as instituições da cidade e a demonstração da sua potencial importância enquanto território laboratorial, abordando algumas das mais significativas experiências em áreas directamente relacionadas com a património construído.

Preservação Arqueológica nas Missões jesuítico-guaranis: apontamentos por Tobias Vilhena de Moraes (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

Resumo/abstract: Este artigo pretende apresentar a trajetória de idéias e conceitos de Preservação que se desenvolveram durante a Gestão do Patrimônio Arqueológico em quatro Sítios missioneiros: São Nicolau, São Lourenço Mártir, São João Batista e São Miguel Arcanjo. Erguidas durante o século XVIII, em uma região de intenso contato entre diferentes povos e culturas, fruto de uma experiência social singular em nossa história, as missões têm sido mais recentemente palco do encontro e debate entre diversos profissionais que buscam desenvolver atividades de cunho preservacionista. A partir da Arqueologia, observando-se suas normativas legais e

técnicas específicas, tentarei estabelecer um canal de interface com as áreas que integram o campo cultural daqueles sítios: museologia, educação, história, turismo, arquitetura, antropologia, etc. Perspectiva ampla, mas que reconhece a complexidade do ser humano em suas diferentes formas de conhecer e agir e que considera a Ciência Arqueológica como uma interlocutora ativa. Sobretudo, buscarei neste trabalho apresentar algumas alternativas para a consolidação de uma arqueologia reflexiva que, em uma escala regional, ainda tenta ser reconhecida como um instrumento cotidiano de gestão do patrimônio cultural brasileiro.

Monumentos restaurados e Historias em Ruínas: O programa Monumenta e a problemática da intervenção arqueológica na restauração arquitetônica no Brasil por Ton Ferreira (Universidad Antónoma de Mandrid)

Resumo/abstract: A forte influência da idéia de patrimônio histórico vinculado ao fomento da indústria cultural afetou sobremaneira a forma como intervimos sobre o patrimônio arquitetônico. Contribuiu na formatação do exagerado esteticismo dos centros históricos objetivando a exploração turística em moldes que vão de encontro as idéia de valor históricos dos monumentos restaurados. Fato que explica a ausência da arqueologia no processo de restauro. A presente comunicação parte dos resultados de três escavações realizadas no âmbito do Programa Monumenta em São Cristóvão- SE, Brasil, entre os anos de 2005 e 2007. Nas últimas décadas as restaurações arquitetônicas, dirigidas pelo Programa Monumenta, suscitou inúmeros confrontos entra arqueólogos e arquitetos. Se por um lado estes embates evidenciaram a perda da instância histórica de diversos monumentos, por outro trouxe a arqueologia a necessidade de buscar novas bases metodológicas para intervenções que contribuíssem para tomada de decisões no processo de restauro e na construção de um discurso arqueológico sobre arquitetura teoricamente orientado. Neste sentido, a introdução da metodologia da archeologia dell’architettura, cujos princípios e práticas foram estabelecidas por arqueólogos e arquitetos italianos a partir da introdução do método Harris de analise estratigráfica, se apresenta como uma via plausível, desde que sejam revistas as bases teóricas explicativas que orientam o seu discurso assim como se construam ferramentas que possibilitem uma leitura estratigráfica da arquitetura vernacular, evitando a continuidade dos estudos que por muito fomentou a política patrimonial “da pedra e cal”, excluindo diversos grupos que também conformaram o que hoje chamamos de Brasil.

Usos e Dinâmicas do Espaço: as comunidades negras rurais “ quilombolas” do Estado do Maranhão/ Brasil por Geysa L. Santos (Grupo de Quaternário e Pré-História | Centro de Geociências; Instituto Terra e Memória) Resumo/abstract: A comunicação é sustentada no desenvolvimento de pesquisas sistematizadas no território das comunidades negras rurais ‘quilombolas’ do Estado do Maranhão, Brasil. Tendo como abordagem dentro do seu espaço físico - geográfico, as particularidades territoriais,

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paisagísticas, os aspectos históricos – culturais, as produções e o património arqueológicos assim existentes. Haja vista que as peculiaridades existentes nestes cenários destacam-se como motor propulsor aos componentes intrínsecos a abordagem. Pois, apesar das rupturas pressões, êxodos, resistências e intolerâncias ao longo dos períodos históricos no Brasil, as chamadas comunidades remanescentes, Quilombos e ou terras de pretos, mantiveram-se firmes no que tange esses mecanismos, ou seja, os processos de adaptação ao longo do tempo e espaço territorial, de forma a preservar sua identidade ancestral sem perder suas referências. São comunidades tradicionais e protagonistas de um universo cheio de diferenças, débitos, legados…, mas além de tudo, são possuidoras de uma organização territorial que vêm há gerações em gerações mantendo antigos valores e símbolos ancestrais vivos no quotidiano destas gentes, além da incorporação na actualidade de novos valores, com o objectivo da adequação territorial como papel fundamental a legitimação da identidade étnica e do património material e imaterial existente nestes sítios. Portanto, apresenta-se nesta comunicação essa releitura, através da arqueologia como uma ciência que permite uma reconstrução, a releitura da génesis junto a uma compreensão territorial dos mecanismos de adaptação junto aos grupos sociais, neste caso, as comunidades negras rurais quilombolas do Brasil, como sendo geradoras de múltiplas representações e manifestações de carácter identitário e simbólico, factor de grande importância no processo actual, onde comunidades espelham-se a esse processo e se instrumentalizam no que tange sua afirmação ancestral diante o processo actual da globalização.

Profundis: Uma questão de visibilidade por Margarida Génio (Universidade de Coimbra) Resumo/abstract: Os navios que um dia se perderam por acaso, acidente ou acto de guerra assumem-se como expressão máxima dos saberes do mar, e são hoje testemunho de vidas que se fixaram na actividade marítima. Portugal, tendo sido responsável pela descoberta de novos mundos, divulgação e troca de bens e ideias, foi o principal palco desta actividade na Idade Moderna, e actualmente conta com mais de 7000 registos de navios naufragados na sua Carta Arqueológica Subaquática. Infelizmente, este património está à mercê da invisibilidade que o mar lhe confere, ameaçado por caçadores de tesouros mas mais ainda pela falta de conhecimento e divulgação de que é vítima. No sentido de combater esta ameaça foi desenvolvido um projecto de valorização da componente Património Cultural Subaquático no âmbito da Estratégia Nacional para o Mar, o Profundis. Em colaboração com a Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar na salvaguarda deste património, o Profundis, a sua missão e o trabalho já desenvolvido serão apresentados pela autora, no sentido de promover o envolvimento da comunidade científica e do público em geral num tema que certamente tem muitas respostas a dar à Arqueologia Moderna.

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PAISAGENS MARÍTIMAS, NAVIOS E VIDA A BORDO MARITIME LANDSCAPES, SHIPS AND LIFE ON BOARD

Sexta-feira, 8 de Abril/ 8 April, Friday  O naufrágio da nau quinhentista de Orangemund (Namíbia): resultados preliminares por Alexandre Monteiro Resumo/abstract: Em Abril de 2008, geólogos namibianos que procuravam diamantes descobriram na costa de Oranjemund, a poucos quilómetros a norte da barra do rio Orange, fronteira natural entre a Namíbia e a África do Sul, os destroços de um navio naufragado. Entre estes destroços - postos a seco durante a fase final de construção de um ensecadeira no leito marinho - destacavam-se madeiras da estrutura de um navio, um numeroso espólio móvel que incluía, em elevado número e raridade, moedas espanholas e portuguesas dos séculos XV e XVI e ossadas humanas, entre as quais os ossos de um pé encontrados no interior de uma bota em couro. O achado viria a assumir rapidamente uma enorme notoriedade internacional já que, à luz das evidências históricas e arqueológicas conhecidas, o navio de Oranjemund era português, datando seguramente do século XVI, muito provavelmente da sua metade inferior. Em Setembro de 2008 – tanto por ser urgente o encerramento daquela zona de obra por parte da Namdeb, como por se estar na iminência da transição meteorológica sazonal que poderia levar à destruição da barreira dunar artificial de protecção (o que se traduziria na irreversível destruição dos vestígios ainda não recuperados, designadamente a parte estrutural do navio e os restantes vestígios concrecionados aos afloramentos rochosos) - uma equipa de arqueologia portuguesa coadjuvou os seus congéneres namibianos e recuperou integralmente os vestígios estruturais do navio propriamente dito, bem assim como numerosos vestígios concrecionados aos afloramentos rochosos do leito marinho então posto a seco. Este artigo analisa e sintetiza os resultados preliminares apurados até agora e faz uma primeira tentativa de datação e identificação do navio. Navios e outros «restos»: aproximações ao património da baía de Angra e à navegação da época moderna por José Bettencourt (CHAM – FCSH-UNL|UAç) e Hugo Pires (Superfície) Resumo/abstract: Durante todo o século XVI e parte do XVII, Angra, na ilha Terceira, foi o principal porto do Atlântico insular português, escala técnica essencial para os navios portugueses e espanhóis que atravessavam o oceano. O

seu porto era também frequentado por uma multiplicidade de embarcações com outras funções, relacionadas com as ligações entre as ilhas, com a pesca local, com o abastecimento e exportação dos excedentes da Região para a Europa e ultramar. Desta realidade histórica resultou um registo arqueológico diversificado, constituído por naufrágios e vestígios de fundeadouros e actividades marítimas. Parte do imaginário contemporâneo de caçadores de tesouros e aventureiros, estes vestígios, à parte do mito, constituem um objecto de investigação arqueológica fundamental para analisar vários temas técnicos, económicos, culturais e sociais da navegação moderna – muitas vezes ausentes de outras fontes disponíveis. Nesta comunicação percorremos estes vestígios, dando exemplo de novas aproximações metodológicas para o seu registo, estudo e visualização através da aplicação experimental de um novo sistema de digitalização tridimensional subaquático a um destes naufrágios. Este sistema, de base fotogramétrica, permitiu a criação de um modelo 3D de onde puderam ser extraídos automaticamente diversos elementos dimensionais e gráficos de registo da zona em estudo, tais como ortofotografias ou curvas de nível micro-topográficas. Este caso de estudo foi desenvolvido na perspectiva de atestar a viabilidade do sistema de digitalização em meio subaquático, sendo que os resultados obtidos são bastantes promissores, quer na facilidade de utilização do sistema - uma vulgar câmara digital, quer na qualidade e pertinência dos dados obtidos. Ponta do Leme Velho (Ilha do sal, Cabo Verde): testemunhos de naufrágio seiscentista por Mário Varela Gomes (FCSH-UNL / IAP | UNL-UAlgarve), Tânia Manuel Casimiro (IAP | UNL-UAlgarve) e Joana Gonçalves (IAP | UNL-UAlgarve)

Resumo/abstract: O Centro Português de Actividades Subaquáticas (CPAS) guarda, nas suas reservas, diversos espólios recuperados no arquipélago de Cabo Verde, nos anos 60 e 70 do passado século. Nestes inclui-se o que sugere constituir testemunhos de naufrágio, encontrados em meio aquático frente a Ponta do Leme Velho no extremo sul da Ilha do Sal. Em 1973, aquando da recuperarão de carga de fio de cobre, de navio ali afundado, utilizaram-se explosivos que puseram a descoberto algumas dezenas de peças de faiança portuguesa, muitas das quais decoradas com pintura azul e/ou violeta, missangas e variados objectos metálicos, entre os quais conjunto de manilhas de cobre, correspondendo, por certo, a embarcarão naufragada em finais do século XVII. Santo António de Tanná: Uma fragata do período moderno por Tiago Fraga (CHAM – FCSH-UNL|UAç)

Resumo/abstract: Santo António de Tanná, é o exemplo perfeito como a arqueologia terrestre, a história e a arqueologia náutica podem produzir resultados que respondem a diversas questões sobre a marinharia

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portuguesa. A história da perda da fragata Santo António de Tanná, a 20 de Outubro de 1698 em Mombassa, Quénia, é uma importante peça da história náutica portuguesa. Nesta conferência o autor tenciona desenvolver esta história e como esta cápsula do tempo portuguesa foi utilizada para trazer à vida o navio, a tripulação, os passageiros. Especial ênfase será dado ao trabalho de reconstrução assistido por computador desta estação arqueológica única e aos resultados daí derivados. Este trabalho foi o tema da tese de mestrado do autor, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Cada botão sua casaca: indumentária recuperada nas escavações arqueológicas da Santo António de Taná, naufragada em Mombaça em 1697 por André Teixeira (CHAM – FCSH-UNL|UAç) e Luís Serrão Gil (CHAM – FCSH-UNL|UAç) Resumo/abstract: Em 1697, a fragata Santo António de Taná partiu num pequeno esquadrão liderado pelo general Luís de Melo Sampaio para a costa oriental de África, em socorro da fortaleza de São Jesus de Mombaça, que sofria há vários meses o cerco dos árabes omanitas. No entanto, esta tentativa de auxílio teve um desfecho trágico para esta embarcação, que naufragou junto da costa e sob o “olhar” desta fortificação, que caiu no mesmo ano. Os destroços da Santo António de Taná permaneceram praticamente intocados até a década de 70 do século XX, quando uma equipa do Institute of Nautical Archaeology (INA) liderada por Robin Piercy ali realizou escavações arqueológicas. Nos destroços identificados e recuperados surgiram inúmeros e diversificados artefactos, muitos deles de uso quotidiano, utilizados pela tripulação aquando do naufrágio. Entre eles conservaram-se diferentes peças que nos remetem para o mundo do vestuário e que permitem entender e recriar as indumentárias utilizadas pelos diferentes nautas. Tratam-se de objectos pertencentes a uma importante ferramenta social, reveladora de uma sociedade onde o aspecto visual teria uma forte impacto nas relações interpessoais e na diferenciação social, mesmo a bordo. Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio (Lisboa): identificação de vestígios arqueológicos de natureza portuária num subsolo urbano por César Augusto Neves, Maria Luísa Blot, Andrea Martins e Gonçalo Lopes

Resumo/abstract: No âmbito da Empreitada de Construção do Sistema de Intercepção e Câmara de Válvulas de Maré do Terreiro do Paço, obra a cargo da SIMTEJO, foram identificados diversos vestígios arqueológicos que nos permitem recuar a vivência daquele espaço da cidade de Lisboa até meados do século XVI. O revolvimento profundo que a obra implicava no subsolo da actual Praça do Comércio permitiu a identificação de um conjunto vasto de realidades patrimoniais, que tiveram que ser alvo de distintas intervenções arqueológicas que permitissem a sua salvaguarda e registo integral.

Uma dessas acções incidiu sobre uma estrutura portuária que terá sido erigida em meados do séc. XVII, permanecendo em actividade até ao Terramoto de 1755. Esta realidade corresponderá a um grande cais em pedra localizado na antiga frente ribeirinha, ligado a um muro de grandes dimensões. Durante a escavação arqueológica foram, igualmente, recolhidos artefactos de natureza diversa, sendo que o carácter excepcional da localização da obra, em ambiente húmido, permitiu a preservação e recolha de elementos perecíveis, tais como cordas, solas de sapatos, couros, sementes e restos de espécies arbustivas. Apesar de todos os condicionalismos inerentes a uma intervenção arqueológica de emergência realizada em contexto urbano, numa das zonas mais emblemáticas do país, a caracterização desta estrutura permitirá uma leitura aproximada do ambiente urbano vivido na frente ribeirinha da Lisboa Pré-Pombalina. De igual modo, a sua identificação é um importante contributo na clarificação de algumas dúvidas de natureza histórica e iconográfica, nomeadamente em torno da efectiva localização do Palácio Real, Torreão Filipino e Baluarte. Paisagem Cultural Marítima. Uma primeira aproximação ao litoral de Cascais por Jorge Freire (CHAM – FCSH-UNL|UAç) e António Pedro Costeira Fialho (Câmara Municipal de Cascais)

Resumo/abstract: As Paisagens Culturais Marítimas são conjuntos de sítios arqueológicos submersos, ou combinações de sítios terrestres e submersos que reflectem a relação entre o Homem e o meio aquático. Estas paisagens podem variar entre uma região do litoral, como áreas circunscritas, onde se incluem sítios terrestres hoje inundados, ou sítios subaquáticos actualmente secos. No entanto, o que liga todos estes sítios é a premissa de que cada aspecto da paisagem cultural, político, ambiental, tecnológico e físico, estão inter-relacionados e não podem ser compreendidos isoladamente. Por outro lado esta abordagem proporciona ligações físicas e teóricas entre a arqueologia subaquática e terrestre, bem como a arqueologia pré-histórica e histórica e, consequentemente, proporcionar um quadro para integrar diversos aspectos como o comércio, contratos de recurso, habitação, produção industrial, e de guerra num estudo holístico do passado. A proposta de comunicação pretende ser uma primeira aproximação de síntese marítima balanceada entre os naufrágios, estruturas marítimas e outros vestígios do Concelho de Cascais na época moderna. Angra, Uma Cidade Portuária No Atlântico Do Século XVII. Uma Abordagem Geomorfológica por Ana Catarina Garcia (CHAM – FCSH-UNL|UAç)

Resumo/abstract: O estudo sobre o sistema portuário de Angra durante o séc. XVII, incide entre outros aspectos, numa análise das características geomorfológicas deste espaço e em que medida determinaram a importância do porto de Angra veio a ter ao longo da época Moderna. Este

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aspecto foi considerado fundamental para poder entender o modo como este espaço se terá apresentado aos primeiros navegantes e em que medida essas características terão influenciado as escolhas dos povoadores na decisão sobre a localização do principal porto da ilha, uma vez que as características geomorfológicas de Angra não terão deixado indiferentes os homens que primeiro chegaram à ilha Terceira. A morfologia do espaço portuário espaço terrestre como subaquático foi determinante para a escolha deste espaço como o porto de eleição para o apoio à navegação atlântica. A escolha dos primeiros locais de embarque e desembarque de que resultaram os primeiros fenómenos de fixação terão ido ao encontro, por um lado, da necessidade de um bom porto de abrigo, por outro, da necessidade de se encontrarem bons locais para o desbravar da terra. Neste contexto, considerou-se que o estudo do porto de Angra, enquanto estrutura que apenas nasceu nos inícios da Época Moderna e em condicionalismos geográficos muito próprios, poderia constituir um contributo para a compreensão de outros fenómenos portuários onde já se tivessem perdido as suas “raízes”. Complementa esta abordagem o recurso à análise minuciosa da informação cartográfica disponível, recorrendo-se não apenas à cartografia da época, mas também a cartas com uma latitude temporal ligeiramente superior ou inferior ao período em estudo. O recurso à obra de Jan Huygen van Linschoten, Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias Orientais ou Portuguesas, de 1595, justifica-se por se tratar de um documento com grande pormenor sobre os elementos estruturais e as diversas realidades observadas directamente pelo autor na sua estadia em Angra em 1588. A carta de Linschoten foi essencial para a cartografia produzida sobre Angra no século XVII, pois inspirou muitas outras cartas da época. Caractérisations et typologie du Cimetière des Ancres. Vers une interprétation des conditions de mouillage et de la fréquentation de la Baie d’Angra do Heroismo, du XVI au XIX siècle. Ile de Terceira, Açores por Christelle Chouzenoux Resumo/abstract: La présente étude archéologique vise à l’analyse et à la caractérisation de chacune des 44 ancres qui composent le gisement du Parc Archéologique Sous Marin du Cimetière des Ancres de la Baie d’Angra et qui, à ce jour, restent encore méconnues. Nous souhaitons, grâce à une intervention sous-marine systématisée, enregistrer de façon exhaustive toutes les données archéologiques présentes sur le site et sur chacune des ancres, afin d’étudier chaque pièce de façon individuelle. L’objectif de cette première phase de terrain est de proposer une méthodologie permettant de décrire une ancre en contexte sous-marin, en définissant notamment les protocoles de mesures à réaliser. Les éléments constitutifs de la pièce seront ainsi évalués et ses spécificités morphologiques enregistrées (la prise des mesures sera enrichi par des photographies et dessins archéologiques). Nous souhaitons, à l’issue de cette campagne de terrain, réaliser une typologie des ancres de la Baie d’Angra, mettant

en évidence l’évolution formelle des amarres au fil des siècles. L’élaboration d’un tel outil d’analyse, couplé à une étude bibliographique exhaustive des traités de construction navale, nous permettra alors de déduire une datation présumée des pièces, ainsi que leur potentielle origine géographique, tout en témoignant de l’évolution des emplois et techniques de fabrication des ancres. L’interprétation de ces données inédites nous aidera à mieux comprendre quels types de navires pouvaient être susceptibles de transporter ces ancres, tout en tentant d’expliciter les raisons ayant pu les pousser à abandonner leurs amarres à cet endroit. Ce sera également l’occasion de mieux appréhender le rôle joué par l’ancien port d’ancrage de la ville d’Angra et plus largement de l’archipel des Açores dans la géopolitique et les échanges internationaux du XVI° au XIX° siècle. Enfin nous prétendons proposer un outil de comparaison susceptible d’aider à l’analyse d’autres sites ou ancres similaires, tout en apportant de nouvelles clefs de valorisation, en vue d’une exploitation plus efficace de ce type de gisement archéologique et de celui d’Angra en particulier. La Rucha. Deconstruyendo el origen de la piratería de costa en el Cabo Peñes (Gozón-Asturias-España) por Nicolás Alonso Rodríguez, Valentín Álvarez Martínez (Universidad Oviedo) e José Antonio Longo Marina Resumo/abstract: En el territorio circunscrito a la ensenada de Bañugues (Gozón, Asturias, España) aún persiste en la población local una tradición muy firmemente arraigada que consiste en la creencia popular de que los habitantes de esa marina son descendientes de antiguos piratas de costa. Éste colectivo, según cuentan los actuales vecinos, en un pasado impreciso, encendía señales lumínicas en los acantilados para hacer embarrancar buques y así poder saquearlos más fácilmente. Hasta la actualidad, estas leyendas no han tenido ningún sustento real que permitiera explicar tales prácticas. Sin embargo, a raíz del descubrimiento de documentación de época Moderna, la relectura de otros manuscritos y el hallazgo de nuevos yacimientos arqueológicos (terrestres y subacuáticos) nos permiten explicar el origen y la evolución de esta creencia tan ampliamente extendida en la región del Cabo Peñes. Con la aportación que aquí se presenta se pretende acercar una nueva visión de la Historia Moderna a partir del estudio tanto de los restos materiales como inmateriales que existen en el paraje marítimo del concejo de Gozón a disposición de los investigadores. O navio como Fait Social Total (para uma epistemologia da arqueologia em contexto náutico) por Jean Yves Blot Resumo/abstract: Meio século depois da abordagem pioneira de John Goggin (1960) em contextos coloniais norte-americanos, o actual debate epistemologico em torno da «maritime archaeology» (Ransley, 2005, Flatman, 2007)

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leva a uma reavaliação do papel do navio e da realidade material que lhe diz respeito. A arqueologia de contextos materiais transculturais associados a navegações de longo curso permite ilustrar as aplicações transdisciplinares de conceitos e paradigmas oriundos das ciencias sociais que vão ao encontro do universo definido há meio século pelo arqueólogo britânico Mortimer Wheeler que investigava «not artifacts but people».

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EDIFÍCIOS RELIGIOSOS E PRATICAS FUNERÁRIAS RELIGIOUS BUILDINGS AND BURIAL PRACTICES

Sexta-feira, 8 de Abril/ 8 April, Friday Cerâmicas dos séculos XV a XVIII do Convento de Santana de Leiria por Ana Rita Trindade (Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor – ACE) Resumo/abstract: Fundado em 1494 por D. Catarina, Condessa de Loulé, viúva de D. João Coutinho morto na Batalha de Arzila em 1471, o Convento de Santana estabeleceu-se em Leiria como comunidade de Dominicanas, na zona do antigo Rossio, junto ao Rio Lis. A sua comunidade foi extinta em 1880, após a morte da última religiosa, Soror Joaquina do Rosário, e o seu edifício demolido em 1916, para a construção do actual Mercado de Santana no mesmo local. A sua integração na dinâmica socioeconómica e devocional local e regional desenvolveu-se em vários âmbitos como: recepção das filhas de famílias das elites burguesas e de alguns membros da nobreza como professas; recolhimento de mulheres seculares; exploração enfitêutica do seu património rural, por parte de pequenos e médio lavradores; capitalização de dotes de religiosas a juros, funcionando como instituição e crédito; assistência à população em período de epidemia; amparo espiritual, através de missas e instituição de capelas, para as quais os fiéis doaram quantidades mais ou menos generosas de bens. A casa terá vivido o seu auge entre o século XVII e início do século XVIII, entrando posteriormente em decadência. O espólio arqueológico cerâmico recolhido aquando da intervenção arqueológica ocorrida entre 1999 e 2000 no Mercado de Santana, poderá ser um reflexo de toda esta dinâmica e sua evolução. Apresentamos a sua colecção de faiança portuguesa Lisboeta e Coimbrã, datada entre os séculos XV e XVIII, de cerâmica fina das oficinas de Lisboa e Estremoz, bem como de porcelana chinesa, das dinastias Ming e Qing, dos reinados de Jiajing a Kangxi, O conjunto, com funcionalidades que vão desde a botica à mesa, predominando esta, concentra toda a sua variedade tipológica, riqueza estilística e distribuição quantitativa no século XVII, no caso dos dois primeiros conjuntos, e no século XVI, no caso do último. A cerâmica no quotidiano colonial português: o caso de Salvador da Bahia por Carlos Etchevarne (Universidade Federal da Bahia) e João Pedro Gomes (Universidade de Coimbra) Resumo/abstract: Algumas considerações sobre o quotidiano da cidade Salvador da Bahia, no século XVII,

podem ser inferidas a partir dos vestígios cerâmicos coletados durante as escavações efetuadas na atual Praça da Sé. Esse setor da cidade era ocupado pela igreja primacial, com algumas dependências, e constituía, naquele período, um lócus de representação do poder religioso na capital da colônia com fortes vínculos com o staff administrativo da coroa e a elite social. O próprio uso do espaço físico da antiga igreja da Sé de Salvador reproduzia, em termos sociais, a estrutura hierárquica de tal maneira que a localização dos sepultamentos estava marcada pela pertinência a um determinado estamento. No que se refere ao adro da igreja, área também escavada, o conteúdo arqueológico, formado por acúmulos de resíduos domésticos e restos construtivos das residências das proximidades, permite apontar certos aspectos em termos de modus vivendi. De fato, os vestígios cerâmicos, em especial, revelam as tendências dos hábitos e modismos de certos grupos sociais, de uma maneira que refletia os modelos da metrópole, mas com especificidades derivadas da própria situação colonial. O uso de objetos de cerâmica vermelha fina, pedrados e faianças mostram grupos sociais que se que se afirmam na sua condição de elite e uma cidade que se consolida como centro de poder lusitano no Atlântico sul. Convento de S. Francisco de Lisboa: fragmentos e documentos na reconstrução de quotidianos por Joana Torres (CHAM – FCSH-UNL|UAç)

Resumo/abstract: Nesta comunicação pretendo apresentar os fragmentos de cerâmica vidrada, faiança portuguesa e porcelana chinesa recolhidos numa escavação, no convento de S. Francisco de Lisboa. Este estudo enquadra-se na minha dissertação de mestrado em Arqueologia, tendo como principal objectivo compreender estas peças como marcas de quotidianos passados, nomeadamente num contexto conventual. A cronologia deste espólio estende-se do século XVII ao século XVIII. Andrés de Madariaga’s mausoleum-church. Former Jesuit College in Bergara (Gipuzkoa, Basque Country, Spain) por Jesús-Manuel Pérez Centeno (Zehazten ZK company) e Xabier Alberdi Lonbide (Zehazten ZK company)

Resumo/abstract: Between 2009 and 2010, historical-archaeological research on the church of the former Jesuit College in Bergara shown it to be a unique monument in the modern history of Gipuzkoa. Sir Andrés de Madariaga gave a resolute boost to the building works of the church of the Jesuit’s College, which allowed accomplishing it between 1673 and 1678. In fact, this church was conceived as a magnificient burial place for sir Madariaga and his family, by following typical mausoleum-churches’ pattern. Indeed, even if he remains a barely known person, Andrés de Madariaga actually played an essencial role in economic administration of the Spanish Empire in the second half of the 17th century. This research revealed several fundamental aspects of gipuzkoan modern history, such as burial usages, material culture and baroque mentality. Concerning burial customs, we should underline the fact that burial rights were very

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restrictive, as they were limited to Madariaga’s family (with Jesuit Order’s Superior’s assent), in addition to the Jesuit community’s members having been buried there between 1678 and 1767. Moreover, Jesuits’ tombs provided an homogeneous whole of adult male corpses. It is worth highlighting that it is also one of the older cases of profilactic use of lime in burials having been documented in Gipuzkoa. Among material culture examples, Jesuits’ clothes, textiles and ceramics from 17th century closed levels might be mentioned. Last but not least, this research allowed to discern several aspects of baroque mentality, concerning public as well as private life, such as the representative role of this mausoleum-church, its prominence among funerary architecture in Gipuzkoa, or the presence of Jesuit community’s sepultures as a funerary retinue of the patron. Os Painéis de azulejo do Adro da Igreja de São Simão (Azeitão) por Mariana Almeida (IAP | UNL-UAlgarve) e Edgar Fernandes (IAP | UNL-UAlgarve; Centro de História da Cultura-UNL) Resumo/abstract: A Igreja de São Simão, cabeça da freguesia homónima da região de Azeitão (Setúbal), foi fundada pelo fidalgo português Brás de Albuquerque (filho de Afonso de Albuquerque, o Terríbil), em 1570. Possui actualmente, no seu interior, uma colecção significativa de painéis de azulejos policromos datados, grosso modo, de meados do século XVII – um dos quais ostenta a data de 1648. Também o adro desta igreja, estrutura quadrilátera com cancelas, possui o mesmo tipo de revestimento, composto por 22 painéis de diferentes dimensões e morfologias. Todavia, não se conhecem bem as condições que presidiram à colocação dos azulejos, subsistindo ainda na mente dos locais algumas dúvidas relativas à cronologia que poderá ser atribuída àquele momento. Percebe-se, ainda assim, que muitos dos padrões identificáveis no adro ocorrem também dentro do templo. Sabe-se que a Igreja de São Simão sofreu algumas reformas decorativas no seu interior, ao longo dos tempos. Apesar de a sua estrutura interna aparentar não ter sofrido grandes danos com o Terramoto de 1755, ocorreu importante remodelação do espaço em 1959, a qual terá transfigurado zonas do templo. Interrogamo-nos, assim, sobre se os azulejos presentes no adro não poderiam ter saído do interior da igreja, após uma qualquer modificação realizada, tendo sido posteriormente aproveitados. Ainda assim, não podemos desprezar a possibilidade de as quintas em redor da Igreja de São Simão (Quinta da Bacalhôa e Quinta das Torres, referências de decoração azulejar da segunda metade do século XVI) terem fornecido ao adro alguns ou todos os elementos decorativos. O presente estudo pretende analisar a decoração do adro da Igreja de São Simão de Azeitão a partir de uma dupla perspectiva, ordenada do seguinte modo: aferição dos vários motivos presentes e respectivas cronologias; compreensão do local original de implantação dos azulejos, através de recurso a abordagens ligadas à Arqueologia da Arquitectura.

Sé da Cidade Velha, República de Cabo Verde – Resultados da 1ª fase de campanhas arqueológicas por Clementino Amaro

Resumo/abstract: Na sequência do protocolo estabelecido entre Portugal e Cabo Verde, realizaram-se três campanhas arqueológicas entre 1989 e 1993 a fim de permitir a recuperação e consolidação das ruínas da Sé da Cidade Velha, antiga Ribeira Grande, primeira capital do arquipélago de Cabo Verde. Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos permitiram concretizar a recuperação da planta do edifício da sé, com destaque para a definição das três naves, transepto e sacristia. Identificou-se um conjunto de túmulos e vestígios de uma capela que antecedeu a construção da sé. Procedeu-se, ainda num primeiro momento à remoção e selecção de cerca de três centenas de cantarias, libertando a área a intervencionar, de que resultou a exumação de um vasto espólio arqueológico nomeadamente representativo do século XVII e primeiras décadas do século XVIII. A sua diversidade confirma a imagem de que o arquipélago de Cabo Verde, em particular, a sua primeira capital, funcionou como ponto de convergência de várias rotas comerciais, com passagem para a América, África e Oriente, como consequência do comércio negreiro aqui praticado. Marca, assim, presença materiais originários de Portugal e de Espanha, como do norte da Europa (destaque para um conjunto de cachimbos) e da China, através de Macau, coma presença de porcelana. Por fim é de referir a presença de um vasto conjunto de loiça de cerâmica comum, feita manualmente pela técnica do rolo, decorada com aplicações, incisões e figuras geométricas, nitidamente de influência da chamada “Idade do Ferro” da Costa Africana. O último convento da Ordem de Santiago em Palmela: dados arqueológicos da intervenção no pátio fronteiro à igreja por Isabel Cristina Fernandes (Câmara Municipal de Palmela) Resumo/abstract: A intervenção arqueológica no pátio fronteiro à igreja do convento de Santiago, em Palmela, que decorreu em 2003, permitiu confirmar que o último convento da Ordem de Santiago foi construído entre a segunda metade do séc. XVII e o início do séc. XVIII e sofreu várias obras de remodelação ao longo dos sécs. XVIII e XIX. São destes períodos as estruturas e os materiais arqueológicos exumados, com maior destaque para os seiscentistas e setecentistas. Estamos perante uma área do convento que inclui dependências de trabalho, com oficinas e arrecadações. Nesta comunicação apresenta-se a leitura dos compartimentos identificados e uma proposta de evolução deste espaço conventual, nomeadamente após as obras que terão ocorrido no último quartel de setecentos.

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Primeira Intervenção Arqueológica no Convento Quinhentista do Bom Jesus de Peniche por Claudia Cunha (Centro de Pré-História | Instituto Politécnico de Tomar), Carlos Manuel de Sousa Vilela, Sónia Simões, Gerardo Vidal Gonçalves (CIDEHUS-UE), João Magalhães Moreira, Mónica Domingues Ginja (Munis, Lda.) e Tiago Tomé (Centro de Pré-história | Instituto Politécnico de Tomar) Resumo/abstract: Recente intervenção arqueológica no Convento do Bom Jesus de Peniche revelou uma parte da rica evolução urbana desta zona da cidade. A capela e enfermaria franciscana que tem seu início em meados do século XV, passa a convento de observância em 1573, recebendo um grande investimento por parte do Conde de Atouguia da Baleia, benemérito da instituição. As escavações no sítio atestam estruturas e cultura material deste período, de um momento construtivo igualmente importante no início do século XVIII quando um grande investimento é feito na recolha e armazenamento de água potável. Por fim, níveis de abandono e destruição comprovam a desactivação das instalações no início do século XIX, sua ruína e destruição quase completa com a construção de uma zona industrial e comercial no final do século XIX e início do século XX. Esta comunicação apresenta os resultados preliminares desta que é a primeira intervenção arqueológica no sítio. Os Passos da Paixão de Cristo - Setúbal por José Luís Neto (Câmara Municipal de Setúbal), Daniela dos Santos Silva (Santa Casa da Misericórdia de Setúbal) e João Ferreira Santos

Resumo/abstract: Setúbal apresenta um conjunto de cinco pequenas ermidas, correspondentes a cinco Passos de procissão, dispersos na malha urbana. Para que serviam e o que reflectiam será o propósito que se procurará reflectir. Estas infra-estruturas sagradas poderão servir de ponto de análise de arqueologia social. Divindade, governante ou guerreiro? O personagem Kukulcán nas crônicas do século XVI e o registro arqueológico de Chichén Itzá, México por Alexandre Guida Navarro (Professor da Universidade Federal do Maranhão)

Resumo/abstract: As crônicas escritas pelos missionários espanhóis no século XVI são um conjunto documental etnográfico acerca das comunidades maias que viviam na Península do Iucatã quando do período do contato. Por outro lado, por associação etnológica, muitos costumes indígenas relatados na época da Conquista foram utilizados para explicar o cotidiano maia de períodos anteriores, como o Clássico (300-900 d.C.), sobretudo os aspectos religiosos, muitos dos quais, teriam sobrevivido à época da chegada dos conquistadores. Um exemplo é o personagem Kukulcán, que aparece em várias crônicas, como o relato do bispo Diego de Landa em sua célebre obra Relación de las cosas de Yucatán (1566). É objetivo desta comunicação, explanar

como este personagem aparece nas crônicas do século XVI e contrastar as informações com o registro arqueológico de Chichén Itzá, cidade maia que teve seu auge no Clássico Terminal (800-1050 d.C.). Apesar de já estar completamente despovoada no século XVI, a cidade em questão serviu como fonte para as descrições de Landa em sua obra, baseando-se, sobretudo, nos relatos orais dos indígenas iucatecos. Busca-se, num plano mais amplo, discutir a utilização das fontes documentais escritas e as arqueológicas como metodologia para o estudo da civilização maia. Neste contexto, as informações referentes a Kukulcán, são coincidentes ou discrepantes quando comparamos os dois tipo de fonte? Túmulos Pré-Históricos na Amazónia: Sepultamentos em Amapá por Edinaldo Pinheiro Nunes Filho (Professor da Universidade Federal do Amapá) Resumo/abstract: Este trabalho apresenta um estudo sobre a forma de sepultamento em túmulo com câmara lateral utilizado pelos grupos pré-históricos que viveram na Amazônia, em especial no Estado do Amapá. Trata-se de um estudo analógico-dedutivo sobre as particularidades dos túmulos com câmara descobertos em território amapaense e na Colômbia. As fontes utilizadas para o desenvolvimento deste trabalho foram fontes históricas, etnográficas, antropológicas e arqueológicas. As discussões teóricas foram apoiadas em estudos etnográficos e arqueológicos que possibilitaram as reflexões sobre o método de sepultamento em poço com câmara praticados na Amazônia. Assim, foram analisados quatro túmulos pré-históricos com câmara lateral amapaenses, sendo utilizado nesse estudo quatro caracterizadores étnicos: a forma do túmulo, a hierarquia social, os tipos de urnas e o local do sepultamento. Com a finalidade de definir o mobiliário dos quatro poços funerários, foram então, fixados critérios de análise da forma, decoração e técnica da cerâmica funerária. Possibilitando assim, a definição das características das peças cerâmicas dos poços funerários amapaenses e o estabelecimento de cronologias absolutas e relativas.

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday “Para as mulheres pobres, mas honradas” - Os recolhimentos em Setúbal por José Luís Neto (Câmara Municipal de Setúbal) e Nathalie Antunes Ferreira (Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz) Resumo/abstract: Foi D. António Domingos de Sousa, filho do 3.º marquês de Minas, que se decidiu pela construção do recolhimento da Soledade. Para tal gastou 10 000$000. Esta ermida e recolhimento, era a única protecção que as mulheres tinham quando enviuvavam. Trata-se de um edifício que evoca as mulheres mais desfavorecidas, quer económica, quer socialmente, no Antigo Regime, na então vila salineira de Setúbal.

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Contributo para o conhecimento da população na Época Moderna na Madeira: abordagem antropológica aos casos de Santa Cruz por Rafael Nunes (Centro de Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea)

Resumo/abstract: No decurso dos trabalhos de recuperação das instalações da Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz e da Igreja de Santa Cruz, surgiram diversos vestígios de origem arqueológica, que desencadearam uma análise científica pormenorizada. Desta escavação resultou a exumação de material de origem osteológica, assim como de uma rica e diversa cultura material associada. Este depósito, sobretudo o cerâmico e os adereços em metal e em osso, permitirá a atribuição de cronologias mais precisas para os vestígios em causa e a sua vinculação com o fenómeno da morte, assim como as respectivas implicações sócio-culturais, económicas e religiosas. Esta comunicação pretende, genericamente, apresentar uma perspectiva preliminar dos achados osteológicos e material associado exumados na Região Autónoma da Madeira, utilizando o caso-estudo das escavações na Cidade de Santa Cruz, confirmando-se o enquadramento cronológico entre estas, contribuindo assim para um melhor conhecimento das populações ancestrais deste arquipélago. Estelas Funerárias de Casével – contributos para uma ponte entre vivos e mortos por Ricardo Silva (Grupo de Quaternário e Pré-História | Centro de Geociência; Instituto Terra e Memória)

Resumo/abstract: A presente comunicação terá como objectivo abordar a necrópole de Casével e o respectivo espólio, em especial as estelas funerárias dos períodos medieval/moderno. A freguesia de Casével situa-se em espaço rural e foi comenda Templária e da Ordem de Cristo, pertencendo na actualidade ao concelho de Santarém. Nas obras de remodelação da Igreja de Santa Maria de Casével, no decorrer do ano 2000, foram identificadas 22 estelas funerárias, tendo estas sido identificadas e catalogadas pelos responsáveis da Câmara Municipal de Santarém (CMS). A sigla destas estelas é MMS (Museu Municipal de Santarém) e serviram de base para o trabalho de conclusão de licenciatura na Faculdade de Letras de Lisboa, de Ricardo Silva. No decorrer do ano de 2006, durante as obras de remodelação do adro da Igreja de Casével, foi realizado o acompanhamento arqueológico pelo signatário desta apresentação, tendo sido identificadas mais 25 estelas funerárias medievais/modernas. A partir destas estelas foi publicado um artigo, do sub-grupo de estelas funerárias rectangulares, onde foi possível aprofundar um pouco o conhecimento que temos sobre estes materiais. Pretende-se, igualmente, abordar, neste congresso, questões relacionadas com dois mundos que se tocam: a vida e a morte. Aqui serão abordados os símbolos usados para identificar e diferenciar os indivíduos sepultados, com especial atenção às representações de duas áreas

profissionais: a agricultura (lavradores) e o artesanato (sapateiro). Finalizar-se-á esta apresentação, com a observação destes materiais, contextualizando-os na época e no lugar, de forma a encontrar respostas que expliquem a existência de tão rico património neste espaço.

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FORTIFICAÇÕES, ESPAÇOS DE GUERRA E ARMAMENTO FORTIFICATIONS, BATTLEFIELDS AND ARMS

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday Excavaciones arqueológicas en la Muralla Real de Ceuta. Persistencias y rupturas en las murallas ceutíes durante el periodo portugués (1415-1668) por Fernando Villada Paredes (Instituto de Estudios Ceutíes) Resumo/abstract: La conquista de Ceuta en 1415 por las tropas comandadas por D. Joao I marcó un punto de inflexión en el devenir histórico de la ciudad. Ceuta, separada del reino portugués por el mar, aislada en un entorno hostil y escasa siempre en hombres, armas y abastecimientos, convierta la preocupación por la defensa en un eje esencial para su supervivencia en estos siglos de dominación portuguesa. La respuesta a los retos que plantean esta amenaza exterior no es homogénea y se ve condicionada por la evolución de las tácticas y las técnicas en el arte de la guerra y por la propia evolución del incipiente imperio ultramarino portugués. El análisis de estas adaptaciones no es un tema histórico inédito. Más bien al contrario. Existe una notable nómina de estudios que han intentado explicar este proceso tomando como fuente fundamental la información textual y cartográfica llegada a nuestros días. Pretendemos en esta ocasión afrontar esta problemática desde una perspectiva distinta, es decir a partir de los resultados obtenidos en varias recientes excavaciones arqueológicas, aún inéditas en su mayor parte, que aportan nuevos datos para la comprensión de este proceso. Nuestro trabajo se estructura en tres apartados bien definidos. Tras plantear los términos generales de esta evolución mostramos de forma resumida los resultados de las principales excavaciones arqueológicas llevadas a cabo entre 2003 y 2009 en el entorno de la Muralla Real para concluir con una reconstrucción de la evolución de este frente occidental de la fortificación a la luz de esta nueva información. Note sur la coracha de Tanger por Abdelatif Boudjay (Direction Régionale de Culture – Région Tanger Tétouan) O Baluarte do Raio (Azamor): arqueologia de uma fortificação manuelina em Marrocos por André Teixeira (CHAM – FCSH-UNL|UAç), Azzeddine Karra (Direction Régionale de la Culture – Région Doukalla Abda) e José Bettencourt (CHAM – FCSH-UNL|UAç).

Resumo/abstract: Desde 2008 uma equipa do Centro de História de Além-Mar vem realizando escavações

arqueológicas e levantamento arquitectónico na antiga cidade portuguesa de Azamor, no Norte de África, no quadro de um protocolo que inclui a Universidade do Minho e a Direction du Patrimoine Culturel, o organismo do governo marroquino responsável pela gestão do património. No campo português, esta missão arqueológica integra-se num projecto mais vasto sobre a história da presença portuguesa no Sul de Marrocos, com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Azamor foi a última grande conquista portuguesa no Norte de África, em 1513, corolário de um enorme investimento político e militar da dinastia de Avis, que conheceu o seu apogeu no reinado de D. Manuel I. Azamor prosperara durante a Idade Média, sobretudo como porto de escoamento dos cereais produzidos no seu território, a mais-valia económica que despertou o interesse dos europeus. A conquista portuguesa visou também consolidar a confederação de mouros de pazes que se formara anos antes, permitindo aos cristãos um singular e fugaz domínio sobre zonas interiores. No quadro da redução da sua presença portuguesa em Marrocos, a cidade foi evacuada em 1541, passando a ser uma praça avançada sobre Mazagão, o único espaço da região que permaneceu em mãos portuguesas depois desta data. As fortificações portuguesas de Azamor, que ainda hoje marcam a paisagem urbana, foram das mais importantes obras de arquitectura militar da época manuelina. Nela trabalharam os mestres mais afamados da época, Francisco e Diogo de Arruda, que ali espelharam as profundas mutações que então se operavam na arte da guerra, com a presença cada vez mais sistemática da artilharia em batalha. As obras então erguidas, adaptando o sistema defensivo islâmico preexistente, revelam-se como um dos exemplos mais acabados, em espaço sob mando português, do estilo de transição. São estas realidades que têm sido objecto do trabalho arqueológico, verificando-se amiúde contextos representativos das realidades prévia e posteriores à ocupação portuguesa. Nesta comunicação daremos conta sobretudo do trabalho que tem sido desenvolvido no Baluarte do Raio, a mais imponente das construções militares erguidas pelos portugueses. Além das escavações que ali se têm realizado, procedeu-se igualmente ao levantamento de alçados. L'intervention portugaise dans la campagne de Doukkala (Maroc): cas de quelques villages fortifiés por Azzeddine Karra (Direction Régionale de Culture – Doukkala-Abda)

Contribution of archaeological data to studies of the castle architecture of Early Modern Age in Catalonia por Isidre Pastor Batalla

Resumo/abstract: The political and socioeconomic changes that happen in the early sixteenth century were be essential for the development of historic European territories as to the lands of the new world. That situation was be determined by the new currents of thought like were those of Humanism, the

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new religious doctrines or the Counter-Reformation. This political, social and economic reality led that the Principality of Catalonia faces a new period of change to overcome the crises of the preceding centuries. In many cases these factors behave rather than a radical transformation of the medieval aspects, a gradual assimilation of new trends and thoughts that came from Europe. This approach also affects the field of architecture. The stylistic new trend soon to be generalized to all buildings of the time, especially at stately homes. The new socio-economic situation also involves the transformation of the old medieval castle towards a new architecture fortified. The construction phases, in many cases, only can be documented after an exhaustive archaeological research of buildings. Providing new archaeological data analysis that will allow understanding of the evolution experienced these buildings from the early sixteenth century. As could be seen in relation to the experience of the results of several excavations have been realised in Catalan castles in recent years. The great nature of construction activity in modern era in Catalonia is a clear evidence of the dynamism social of the country. This contradicts the guidelines of traditional historiography, which plunged the country into a deep crisis in this periode. In this sense the present work highlight the importance the archaeological analysis providing to de research of the architectural transformations of modern age of many castles of Catalonia. O castelo de Moura na Idade Moderna por Santiago Macias (Universidade de Coimbra| CEAUCP-CAM) e Vanessa Gaspar (Câmara Municipal de Moura) Resumo/abstract: De zona habitacional no período islâmico a fábrica de engarrafamento da Água Castello no início do século XX, a alcáçova do castelo de Moura conheceu uma ocupação intensa, que a arqueologia tem, aos poucos, vindo a revelar. Os trabalhos arqueológicos têm-se centrado, em especial, na identificação das estruturas castrenses que, a partir de meados do século XVII, alteram aquela área do castelo de modo substancial. A militarização do paço do alcaide não foi, contudo, o principal fator de destruição de níveis mais antigos, particularmente afetados por uma incessante procura de recursos aquíferos. Villalonso: un castillo medieval en la transición hacia la modernidad por Angel L. Palomino Lázaro (Aratikos), Manuel Moratinos Gracía (Aratikos), José Mª Gonzalo González (Aratikos), José E. Santamaría González (Aratikos) e Inés Centeno Cea (Aratikos). Resumo/abstract: El castillo señorial de Villalonso (Zamora), situado en las cercanías de la ciudad de Toro, se caracteriza por ser un importante ejemplo de fortaleza cuya arquitectura bélica muestra claramente los procesos de transición constructiva que se suceden entre la Baja Edad Media y la Edad Moderna (siglos XV y XVI). El origen de estos cambios arquitectónicos tiene que ver con el

importante desarrollo que vive la artillería a partir del siglo XV y especialmente durante su segunda mitad. La fortaleza señorial de Villalonso, tal y como la conocemos hoy, es un proceso sucesivo de construcciones, adicciones y destrucciones que tiene su apogeo entre 1475 y 1522. Bajo la propiedad de la familia Ulloa-Sarmiento vive las vicisitudes de la guerra de sucesión castellana (1475-1479) a la muerte de Enrique IV, prestando sus servicios a la causa de Juana de Castilla y Alfonso V de Portugal. Con posterioridad, y tras la muerte de Isabel I (+ 1504), su propietario Diego de Ulloa, libre del control regio al que se había visto avocado por la rebeldía de su padre (Juan de Ulloa), comienza una serie de importantes reformas arquitectónicas cuyo fin es adaptar la fortaleza a las necesidades artilleras tan en boga en los primeros años del siglo XVI. Nuevamente, la participación de la familia Ulloa en la rebelión comunera de parte de los sublevados, acarreó también para el castillo una condena tras la derrota de 1521: el proceso de desfortificación, que provocó el desmochado del antemural y el cegamiento del foso. Finalmente, tras el perdón general de 1522 y el proceso de paz que se inicia entonces en Castilla, los propietarios comienzan una serie de obras de acondicionamiento interno de la fortaleza que pasa a convertirse en una residencia palacial. La comunicación que aquí se presenta tiene como fin dar a conocer la historia del castillo de Villalonso y hacer especial hincapié en los detalles de la arquitectura en transición que se fragua durante este contexto histórico, fruto de los trabajos arqueológicos llevados a cabo dentro de las labores de conservación y restauración del edificio. A través del análisis diacrónico de la arquitectura, obtenido mediante trabajos de excavación y estudio de paramentos, se situará la fortaleza dentro de este contexto artillero de transición y se verán los paralelismos que guarda con otras fortalezas de la época. Pólvora y cal. Evidencias arqueológicas de las fortificaciones costeras de época moderna en Luarca (Asturias-España) por Valentín Álvarez Martínez (Laboratorio de Arqueología | Universidad de Oviedo), Patricia Suárez Manjón (Laboratorio de Arqueología | Universidad de Oviedo) e Jesús Ignacio Jiménez Chaparro (Laboratorio de Arqueología | Universidad de Oviedo) Resumo/abstract: En Asturias los estudios centrados sobre la cultura material de época moderna resultan escasos y casi siempre han sido realizados desde una perspectiva etnográfica. Por ello, el trabajo que aquí se propone resulta una novedad tanto desde el enfoque metodológico empleado (la disciplina arqueológica) como por los elementos objeto de estudio, las fortificaciones de época moderna (S. XVI-XVIII) y su correspondiente armamento. En él se llevará a cabo un análisis, desde la óptica arqueológica, de las evidencias de las defensas costeras de la rada de Luarca, uno de los principales puertos de la costa occidental asturiana. Hasta el momento, los únicos acercamientos a su estudio se han realizado desde el punto de vista de la documentación escrita, obviando los vestigios materiales, tanto muebles como inmuebles, que aún se pueden apreciar en las inmediaciones del puerto luarqués.

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Las posiciones defensivas a las que aludimos se sitúan a ambos lados de la desembocadura del río Negro, formando un complejo poliorcético que tiene su origen al menos en el siglo XVI. A partir del estudio de los restos aún visibles de la batería de El Paso y la de La Atalaya propondremos una evolución histórica de dichas construcciones atendiendo a criterios poliorcéticos y pirobalísticos. Para ello realizaremos una primera labor de captación de datos tomados de la realidad mediante un levantamiento topográfico y fotogrametría de las estructuras. Esto nos permitirá realizar una lectura de paramentos de las distintas fases constructivas y en un segundo momento de la investigación superponer nuestro modelo planimétrico a las distintas planimetrías históricas con las que contamos. En definitiva en este primer apartado se realizará un estudio que permita ejemplificar el progreso de la técnica y tecnología artillera y el parejo desarrollo morfológico de los fuertes y baterías costeras. Finalmente, documentaremos tipologicamente las piezas de artillería histórica que han sido rescatadas en las últimas reformas del puerto. Museu de Macau e o Território da Companhia de Jesus – Resultados e Integração dos Vestígios Arqueológicos por Clementino Amaro Resumo/abstract: Entre a inauguração do Colégio de S. Paulo (1594) e a aprovação pela Administração do Território de Macau para a instalação do Museu de Macau na Fortaleza do Monte, construção esta iniciada pelos Jesuítas em 1617 e concluída em 1626, já por iniciativa do primeiro governador de Macau, D. Francisco de Mascarenhas, distam precisamente quatro séculos. As instalações do Museu foram projectadas onde funcionava a Estação Meteorológica de Macau, no mesmo edifício que albergou o Batalhão de Artilharia a partir de 1846. Os acessos ao edifício administrativo e ao museu foram previstos atravessando parte do antigo território onde tinha existido o Colégio de S. Paulo, destruído por um violento incêndio em 1835, tendo subsistido a imponente fachada da Igreja. Os trabalhos arqueológicos que decorreram nos dois locais (fortaleza e acessos) revelaram importantes estruturas do colégio e vestígios das primitivas instalações militares bem como um troço de muralha integrável na primeira linha de defesa de Macau, memórias que foram integradas e musealizadas dentro do percurso de visita do museu. O volume e significado do material arqueológico exumado permitiram concretizar a ideia de se constituir um núcleo expositivo na Sala Abobadada do Bastião nordeste, historiando os trabalhos arqueológicos ali desenvolvidos. Do papel da arqueologia para o conhecimento da Expansão Portuguesa: notas a partir de algumas estruturas fortificadas no Oriente por João Lizardo

Resumo/abstract: As matérias relacionadas com a Expansão Portuguesa devem constituir um terreno privilegiado no âmbito da Arqueologia Moderna, não só pela sua óbvia importância, mas também e, sobretudo pelas

lacunas e deficiências da documentação escrita que lhe dizem respeito. Para melhor explicitar esta opinião referem-se alguns exemplos quanto a aspectos concretos nesta área. Por um lado, faz-se a análise de algumas imagens então traçadas, considerando-se que as mesmas só poderão ganhar um verdadeiro estatuto documental se a sua possível veracidade for confrontada com os vestígios que ainda sejam detectáveis nos locais que então se pretendeu representar, sendo óbvio que, neste aspecto, cabe um especial lugar à Arqueologia. Utilizam-se como modelos, os desenhos de Gaspar Correia respeitantes às fortalezas de Diu e Ormuz, assim como os desenhos associados aos "Roteiros de D. João de Castro" e relativos a Diu e à Ilha do Barém, sendo que, neste último caso, há que ter em especial consideração os trabalhos arqueológicos já publicados. Numa outra abordagem, afiaram-se alguns vestígios de construções anteriores à chegada dos portugueses e que foram alvo de directo ou indirecto reaproveitamento par estes, mantendo-se a incidência no caso de Diu. Pretende-se também chamar a atenção da importância da investigação arqueológica para o conhecimento da situação dos muitos portugueses que, a vários títulos e em diversas condições, se colocaram à margem do poder real, escolhendo-se as dúvidas e interrogações que se colocam relativamente às chamadas "Casas Portuguesas" de Zanzibar como exemplo das questões que se suscitam neste aspecto. Não sendo possível, nem havendo capacidade para a abordagem de outras questões, não se pode deixar passar em claro a extrema importância do estudo dos povos que eram então contactados pelos portugueses, para o qual é imprescindível a arqueologia, atendendo à ausência de fontes escritas que, em muitos caso, é total. Não se pretendendo senão apresentar alguns exemplos muito parcelares, espera-se que, no entanto, tal seja suficiente para aquilatar da importância desta área, para a qual, aliás, já existe um grande número de estudos de arqueólogos nacionais e, sobretudo, estrangeiros, que seria necessário compilar, com vista a uma futura coordenação.

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ESPAÇO RURAL: PAISAGENS E MEIOS DE PRODUÇÃO THE COUNTRYSIDE: LANDSCAPES AND PRODUCTION MEANS

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday A paisagem rural como fonte histórica e arqueológica por Paulo Dórdio (ACE – Baixo Sabor; CITCEM), Alexandra Cerveira Lima (Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade) e David Ferreira (Direcção Regional de Cultura do Norte) Resumo/abstract: Com base em quatro principais experiências e projectos de trabalho de caracterização e avaliação da paisagem rural (Castro Laboreiro, Pitões das Júnias, Baixo Vale do Tâmega, Baixo Vale do Sabor) discutem-se aproximações e conceitos para o estudo destas paisagens rurais. A discussão focará sucessivamente os seguintes pontos: • Conceito de paisagem. Valor patrimonial da paisagem.

Elementos patrimoniais na paisagem e conexões entre os elementos.

• Paisagem como sobreposição de layers ou paisagem como um continuum?

• A paisagem rural tradicional, como o momento de organização da paisagem imediatamente anterior às profundas rupturas que, no prazo de apenas meio século, entre 1950 e 2000, fariam reduzir o peso da população rural portuguesa dramaticamente. A paisagem tradicional preenche o período que se estende entre a Idade Média Plena (século XI) e o auge da ocupação demográfica do espaço rural que acontece nas décadas de 1950-1960. No decurso desse longo período de tempo, são inúmeras as transformações que é possível observar na ordenação da paisagem, mas, paralelamente, identifica-se uma lógica ou ordem subjacente, cujo processo de afirmação, amadurecimento e desestruturação é possível seguir.

Valor patrimonial da paisagem, afectação e medidas de minimização. Estudos de Impacto ambiental e patrimonial, e instrumentos de ordenamento e gestão do território. Como actuar hoje na paisagem? O papel da Arqueologia nesta abordagem. O Ciclo do Linho no Concelho de Penafiel por Ana Dolores Leal Anileiro (Museu Municipal de Penafiel)

Resumo/abstract: Na presente comunicação proponho-me apresentar o estudo do Ciclo do Linho no Concelho de Penafiel, tema da dissertação realizada para conclusão do curso de Mestrado em Arqueologia (FLUP-2010). Numa primeira fase observamos, em trabalho de campo, a remanescente produção artesanal do linho em Penafiel e no

Vale do Sousa e problematizamos as tentativas históricas para a industrialização. Descrevemos o cultivo do linho enquanto actividade agrícola tradicional através de uma breve análise do seu ciclo anual, caracterizando o tipo de posse de terra e relação social que favoreceram a sua perduração. Seguidamente, apresentamos o linho enquanto planta, as suas variedades, a escolha do terreno, preparação do campo para a sementeira, sistema de rega, monda, colheita e separação da semente (ripagem) que no ano seguinte permitirá recomeçar o ciclo. Obtida a matéria-prima, seguimos a preparação da fibra através do empoçamento ou curtimenta e maçagem do linho com maço e com o engenho. Aqui debruçamo-nos com maior atenção sobre estas importantes instalações, surgidas a partir da segunda metade do século XIX, e analisamos o procedimento da maçagem anterior, sem o uso da máquina. Contextualizamos a introdução do engenho e as suas vantagens, caracterizamos os de tracção animal e os hidráulicos nas suas diferentes componentes e funcionamento, lembramos a arquitectura dos edifícios onde estão inseridos, as formas de propriedade e exploração, bem como o pagamento do serviço prestado. A espadelagem, e a assedagem, ainda no âmbito da preparação da fibra, são as últimas etapas do processo realizadas em casa do lavrador. Com a fiação, executada em casa ou entregue fora, começa-se a fabricação do fio, que a tecedeira (de casa ou exterior) se encarregará de transformar em pano. Aprofundamos a parte do ciclo relativa à preparação da urdidura e montagem da teia no tear, bem como à fase de tecelagem, dando particular atenção às texturas e pontos para assim contribuirmos para uma tipificação regional das produções.

Engenho de açúcar da Alcaidaria de Silves por Rosa Varela Gomes (FCSH-UNL / IAP | UNL-UAlgarve) Resumo/abstract: Identificámos, durante intervenção arqueológica no sector poente do Castelo de Silves, testemunhos da alcaidaria que possuía, em anexo, engenho de açúcar. Este, é similar a outros exemplares reconhecidos, também, em escavações arqueológicas, em Chipre, nomeadamente no arqueossítio de Couvoucle-Stavros, datado dos fins do século XIII, tal como no designado Castello de Piscopia, já da centúria seguinte, e localizado, de igual modo, junto a área palatina. Os primeiros “ensaios” referentes à produção de açúcar terão sido promovidos pelo Infante D. Henrique, alcaide-mor de Silves, que controlaria aquela produção, inicialmente, no Algarve e depois na ilha da Madeira. Apresenta-se o estudo da arquitectura e do espólio ali encontrado. Imagens, memórias, ruínas nos tempos do lugar: a biografia de uma paisagem urbana por Sílvio Cordeiro (Museu de Arqueologia e Etnologia | Universidade de São Paulo) Resumo/abstract: Passados quatro séculos, remanescem os vestígios arquitetônicos de um importante exemplar entre os primeiros engenhos de açúcar instalados no Brasil, hoje

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compreendidos na cidade litorânea de Santos: as ruínas quinhentistas do chamado Engenho São Jorge dos Erasmos, contemporâneas do início da colonização portuguesa das terras indígenas do litoral brasileiro. Estão presentes na história deste monumento personagens como Martim Afonso de Sousa, o mercador de Antuérpia Erasmus Schetz, Anchieta, Hans Staden. Mas, sobretudo, estão presentes como elos representativos de um período que anunciou a Idade Moderna, período de profundas transformações, conflitos e adaptações, envolvendo velhos e novos saberes. O intercambio entre culturas provocado pelo alcance mundial do comércio europeu foi um dos fatores essenciais do processo histórico que redesenhou o mundo e do qual as ruínas deste Engenho dão seu testemunho. Os engenhos foram aqui instalados com a implantação dos primeiros núcleos urbanos de povoamento colonial regular no Brasil, instituindo o modo de produção que fundou as bases de nossa formação social e econômica. Nos sítios urbanos históricos em que se preservou, ou mesmo apenas restaram evidências do passado, o olhar mais atento perceberá na paisagem o mosaico da história humana nela presente. As cidades se transformam num movimento que toma para si espaços, construindo neles outros sentidos. Resta à memória a compreensão do que um dia existiu, dando-nos uma medida da transformação, revelando o embrião do que hoje se vê: um trabalho experimental na arqueologia brasileira usou o vídeo como processo de estudo na redescoberta da história deste Engenho, hoje parte da periferia da cidade de Santos. A partir da evidência arqueológica – pelo exercício da linguagem audiovisual e do registo documental deste relevante sítio – procuramos aproximar a comunidade da história de seu lugar de morada, aproximando-a das ruínas consideradas como monumento nacional, entretanto, pouco conhecidas, seja na própria cidade, seja na história brasileira. Da aldeia guarani à cidade colonial: o processo de urbanização e as missões jesuíticas por Arno Alvarez Kern (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Resumo/abstract: Atualmente se conhece muito mais a respeito de uma série extraordinária de transformações culturais que ocorreram nos primeiros milênios da história da civilização: surgimento das cidades, dos estados, da metalurgia do metal, da irrigação, do arado, da agricultura, da roda, da sociedade estratificada, etc. As pesquisas arqueológicas se ampliaram no Oriente Próximo, na Europa e no resto do mundo, gerando novos conhecimentos. Alguns autores chegaram mesmo a imaginar ter ocorrido uma “revolução urbana”, concebida de maneira explosiva, difundindo-se por todo o globo, a partir do Oriente Próximo. Sabemos com certeza que as transformações da transição da pré-história para a história são muito complexas. Ocorreram em diversos lugares e em tempo muito diversos, em todo o planeta, inclusive no Rio da Prata, na época colonial. A transformação histórica da aldeia guarani ao povoado missioneiro foi muito mais complexa do que podia imaginar algum tempo atrás. O presente trabalho pretende analisar e interpretar o fenômeno de urbanização das

Missões Jesuítico-guaranis sob a ótica da transição da pré-história à história, em plena Idade Moderna colonial. Arqueologia das Charqueadas da Região Meridional do Rio Grande do Sul, Brasil: Distribuição Espacial, Unidades Produtivas e Escravidão por Lúcio Menezes Ferreira (Universidade Federal de Pelotas)

Resumo/abstract: A partir do final do século XVIII, com o término das disputas entre as Coroas portuguesa e espanhola, deu-se azo à distribuição de sesmarias na região meridional do Rio Grande do Sul. Desde então, nas planícies da região, instalaram-se, às margens dos Arroios e rios, uma série de fazendas para a produção comercial de charque. Essas fazendas, denominadas localmente como charqueadas, propiciaram o surgimento de uma elite ostentadora e de núcleos urbanos articulados às redes de exportação e importação do período. O objetivo dessa comunicação é apresentar dados e interpretações arqueológicas iniciais sobre as charqueadas da região meridional do Rio Grande do Sul, especialmente as situadas na cidade de Pelotas. Serão evidenciadas as seguintes questões: 1) delineamento da disposição espacial das estruturas e edifícios das charqueadas: as sedes (“casas dos proprietários”), os “galpões” dos trabalhadores livres, as vivendas escravas (“senzalas”) e a organização espacial de suas principais unidades produtivas; 2) delimitação da distribuição estratégica das charqueadas na paisagem, observando-se a posição ocupada por elas no espaço, suas vias de comunicação e transporte; 3), por fim, rastreamento do cotidiano das populações escravas das charqueadas: as formas de exploração do trabalho e cosmologias dos escravos. O Café, a Escravidão e a Degradação Ambiental (Minas Gerais /Rio de Janeiro - Brasil – séc. XIX e XX) por Carlos Magno Guimarães (Universidade Federal de Minas Gerais), Mariana Gonçalves Moreira (Laboratório de Arqueologia | Universidade Federal de Minas Gerais), Gabriela Pereira Veloso (Universidade Federal de Minas Gerais), Elisângela de Morais Silva (Universidade Federal de Minas Gerais) e Camila Fernandes Morais (Laboratório de Arqueologia | Universidade Federal de Minas Gerais) Resumo/abstract: O trabalho está inserido em um projeto mais amplo de Arqueologia Ambiental que analisa os impactos provocados pelas atividades econômicas na região de Minas Gerais e Rio de Janeiro, ao longo dos séculos XVIII-XX. A lavoura cafeeira, desenvolvida a partir da segunda metade do século XIX produziu, por um lado, enorme quantidade de riquezas; e por outro, um amplo e intenso processo de degradação ambiental identificado atualmente através dos vestígios arqueológicos presentes em grandes áreas onde se localizavam as fazendas produtoras. As conseqüências ambientais decorrentes da produção do café são analisadas a partir de uma perspectiva interdisciplinar que articula informações provenientes de

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pesquisa documental / bibliográfica, da iconografia e dos vestígios arqueológicos identificados em pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de MinasGerais.

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POSTERS Lagos na Rota do Oriente. Porcelana chinesa (sécs. XVI – XVII) da Polis de Lagos por Ana Cristina Ramos (Palimpsesto) e Miguel Serra (Palimpsesto) Resumo/abstract: Durante a modernidade o porto de Lagos deteve um importante papel no contexto socioeconómico do eixo mediterrânico-atlântico. Ali aportavam os navios que vindos do mediterrâneo seguiam rumo ao Norte da Europa deixando diversos testemunhos materiais dos quais as porcelanas são um bom exemplo. O conjunto exumado nas escavações do Polis de Lagos é composto por vasos da denominada série azul e branco típica da dinastia Ming, enquadráveis num período de tempo que medeia entre os finais do século XIV ou inícios do século XV e, que corresponde às primeiras transacções comerciais de porcelana via terrestre através da chamada “rota da seda” e, os inícios/meados do século XVII, coincidindo com o final da dinastia Ming (1368-1644). O nosso conjunto corresponde, essencialmente, a fragmentos de taças e pratos de produções de meados/finais do século XVI e inícios do XVII concordando com o início das exportações de porcelana para a Europa através do comércio entre Portugal e a China. Alguns elementos apresentam marca de reinado (nianhao) ou selo imperial, marca de atelier ou marca de votos e recomendação, no fundo exterior. Estão também presentes vasos das denominadas Kraakporselein produzidas a partir do século XVII como resposta ao aumento da procura deste tipo de baixela, particularmente por parte do mercado holandês mas que acaba por responder igualmente às necessidades e gostos ocidentais quer nas formas quer na própria decoração. O registo arqueológico de uma superstição. O signo-Salomão no Alentejo: séculos XV-XVIII por Andrea Martins, Gonçalo Lopes, Helena Santos, Maria Manuela dos Santos Pereira (Câmara Municipal de Montemor-o-Novo), Marco Liberato (IEM – FCSH/UNL) e Pedro Manuel Guerra Carpetudo (Câmara Municipal de Montemor-o-Novo) Resumo/abstract: Este poster tem como objectivo divulgar representações do signo-salomão provenientes de três povoações alentejanas: Beja, Montemor-o-Novo e Estremoz. Se na primeira localidade surge numa tampa de silo, utilizada durante o século XV, nos outros núcleos urbanos foi inscrito respectivamente sobre uma tampa de talha e sobre um artefacto cuja função ainda não foi totalmente esclarecida mas que certamente se relaciona com o suporte de recipientes cerâmicos no âmbito de práticas culinárias ou de armazenamento de víveres. Pelas características dos suportes onde foi representado consideramos que este símbolo mágico-religioso se afirma como conspecto material de superstições populares que rodeavam a conservação e\ou preparação de alimentos.

Rua do Benformoso (Mouraria / Lisboa): entre a nova e a velha cidade, aspectos da sua evolução urbanística por António A. da Cunha Marques (Câmara Municipal de Lisboa), Eva Folgado Leitão (Câmara Municipal de Lisboa) e Paulo Botelho (AES-Arqueologia Lda). Resumo/abstract: O trabalho que ora se propõe apresentar decorre dos trabalhos arqueológicos realizados em 2004 e 2007 na Rua do Benformoso entre os n.ºs 168 e 180, no âmbito da demolição dos edifícios existentes e da construção de um novo imóvel habitacional, pela EPUL. As traseiras destes imóveis correspondem a uma encosta com uma pendente considerável, onde foram constituídos pequenos quintais. De salientar que relativamente à cidade romana e medieval de Lisboa, este espaço era periférico, constituindo uma várzea agrícola subsidiária da Ribeira de Arroios, através da qual se estruturou um dos eixos mais importantes de acesso à urbe. A intervenção arqueológica permitiu identificar diferentes realidades ocupacionais que nos vão ilustrando a forma como a cidade de Lisboa foi paulatinamente integrando esta área na sua malha urbana, em especial no séc. XVII / XVIII. Deste modo, e de uma forma sucinta, foram identificados os seguintes contextos: • Existência na encosta de uma pedreira de extracção de

biocalcarenitos, da unidade dos Calcários de Entrecampos (“Banco Real”), cuja exploração será anterior ao séc. XVI;

• Identificação de um volumoso caqueiro resultante da acumulação dos rejeitados resultantes da industria oleira do denominado Bairro das Olarias, localizado no plateau sobranceiro à R. do Benformoso, cujo estudo será objecto de publicação específica, conforme se explicitará;

• Registo da existência de um grande paredão de contenção a meia encosta, interceptado pela demolição do casario existente, datável de meados do séc. XVII, ou mesmo inícios do séc. XVIII, o qual permitiu a formação do referido caqueiro, revelando-se como uma solução de engenharia que contribuiu para a integração urbanística deste espaço na cidade.

• Presença de uma pequena industria de metalurgia junto à R. do Benformoso, certamente ligada à ferragem de animais e apoio à circulação viária, durante os séculos XVII e XVII.

Convento de São Francisco da ponte, Coimbra por António Ginja (Munis, Lda.)

Resumo/abstract: Fundado em 1602, o Convento de São Francisco da Ponte, Coimbra, deve o seu nome ao seu congénere medieval desaparecido sob as areias do Mondego. Nos finais do século XVIII este cenóbio entra em declínio, situação amplamente agravada durante as invasões francesas, tendo o edifício sido ocupado pelas tropas gaulesas. Na sequência da extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício é vendido a um particular e em 1854 a igreja torna-se na sede da recém criada freguesia de Santa Clara. Desde então o edifício é ocupado por diversas

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sociedades fabris, até ao ano de 1985, altura em que a Câmara Municipal de Coimbra adquire o imóvel. No âmbito do projecto de reabilitação estrutural do Convento de São Francisco da Ponte, foram desenvolvidas duas intervenções arqueológicas. Permaneciam, então, por estudar as suas características arquitectónicas, bem como o seu processo construtivo. Ao longo de ambas as intervenções foram realizadas vinte e cinco sondagens de diagnóstico e interpretadas todas as relações parietais do conjunto edificado. Do estudo da arquitectura resultou a recolha de diversos dados, passíveis de corroborar ocorrências inéditas, entre as quais: - circulação ao nível do piso 0 do claustro de serviço; - existência de uma capela no trânsito dormitórios – sala do capítulo; - incorporação no edificado de edifícios pré-existentes; - existência de uma varanda aberta para pátio interno; - ocorrência de uma primitiva torre sineira; - ocorrência de uma construção faseada; - reutilização de elementos arquitectónicos, possivelmente provenientes do antigo cenóbio medieval; - não edificação do claustro principal. Para todas estas evidências foram recolhidos abundantes elementos fotográficos e efectuados exaustivos levantamentos gráficos.

As Pontes de Pretarouca - Exemplo de Registo Arqueográfico no Âmbito de Processos de Avaliação de Impactes Ambientais por Carla Alves Fernandes (Archeosfera, Lda.) e Cristóvão Pimentel Fonseca (CHAM – FCSH-UNL|UAç; Archeosfera, Lda.)

Resumo/abstract: No âmbito da realização do Descritor Património Arqueológico Arquitectónico e Etnográfico do Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução da Barragem de Pretarouca (Lamego), a Archeosfera, Estudos e Consultoria em Arqueologia, Lda. executou em 2006 trabalhos de minimização de impactes, entre os quais se destaca o estudo e registo sistemático (memória descritiva, levantamento topográfico, gráfico e fotográfico exaustivos) de duas pontes de época medieval/moderna. Os trabalhos efectuados permitiram assegurar o registo para memória futura do património edificado identificado na área de afectação do empreendimento.

Porcelana chinesa em Salvador da Bahia (séculos XVII e XVIII) por Carlos Etchevarne (Universidade Federal da Bahia) e João Pedro Gomes Resumo/abstract: Escavações efetuadas na atual Praça da Sé permitiram a descoberta de um conjunto de material cerâmico através do qual podemos inferir algumas considerações sobre o quotidiano da capital da colônia portuguesa do Brasil. O espaço da Sé, local privilegiado de representação do poder religioso e de suas relações com a administração e a elite colonial, refletia e reproduzida a ordem social

estamental estabelecida, à semelhança da metrópole, sendo, inclusive, a distribuição dos sepultamentos, encontrados nas áreas interna e externa da igreja, vestígios dessa estrutura hierárquica. O adro da igreja, formado através da acumulação de resíduos urbanos, domésticos e construtivos, provenientes do casario envolvente foi igualmente escavado, possibilitando a coleta de um significativo grupo de porcelana chinesa, testemunho do consumo de determinados grupos sociais, seus gostos e tendências, no entanto, adaptados ás condições específicas da sua situação como habitantes de colônia.

Espólio vítreo de um poço do Hospital Real de Todos-os-Santos (Lisboa, Portugal) por Carlos Manuel Pereira Boavida

Resumo/abstract: Durante a intervenção arqueológica urbana decorrida na Praça da Figueira entre 1999 e 2001, foi identificada uma parte significativa do Hospital Real de Todos-os-Santos, demolido em consequência da sua ruína após o terramoto de 1755. Entre as muitas estruturas colocadas à vista estava o claustro sudoeste, no qual existia um poço. Os materiais que agora se apresentam são provenientes da escavação integral daquele contexto. Majólicas italianas do Terreiro do Trigo (Lisboa) por Cristina Gonzalez (Crivarque, Lda.) e Gonçalo Lopes (Crivarque, Lda.) Resumo/abstract: Resultante de uma intervenção arqueológica que durante o ano de 2010 decorreu no Largo do Terreiro do Trigo (Lisboa) e algumas ruas adjacentes recolheu-se um conjunto de fragmentos de cerâmica desde o início identificados como majólica de produção italiana. A intervenção desenvolvida pela empresa Crivarque acompanhou as obras de construção de um troço da nova rede de saneamento promovida pela SIMTEJO em Lisboa, tendo proporcionado a escavação arqueológica em áreas consideráveis do Largo do Terreiro do Trigo e Rua do Terreiro do Trigo (v. Intervenção arqueológica no Largo do Terreiro do Trigo), atingindo os níveis de aterro do século XVI donde maioritariamente se recolheram estas cerâmicas. O conjunto não é muito significativo do ponto de vista quantitativo, no entanto inclui na sua grande maioria repertório formal comum a todas as exportações feitas para o mundo ibérico (Portugal, Espanha e Novo Mundo). Estão presentes sobretudo produções de Montelupo, Deruta e Ligúria, que se afiguram como principais centros exportadores durante este período. O estudo desta colecção é pertinente para a compreensão da evolução do comércio da cerâmica em Portugal durante o século XVI, porque revela uma viragem no gosto pela policromia em detrimento do monocromatismo da cerâmica valenciana com maior expressão na centúria anterior. Não obstante a grande quantidade e diversidade de majólicas italianas existentes em contextos arqueológicos urbanos, a ausência do seu estudo sistemático tem vindo a

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revelar-se como uma lacuna na compreensão da extensão da importância deste tipo de objectos, tanto em termos de quotidiano como dos circuitos comerciais que compõem uma economia cada vez mais global. Prospección Arqueológica en la Plaza del Instituto de Gijón (Asturias): el Acueducto de la Matriz por Cristina Heredia Alonso (Universidad de Oviedo)

Resumo/abstract: Las excavaciones arqueológicas llevadas a cabo en la Plaza del Instituto, en la ciudad de Gijón (Asturias), sacaron a la luz una serie de restos de trascendental importancia para el conocimiento de la historia moderna de la ciudad. Entre los diversos vestigios sobresale la importancia de la localización del antiguo acueducto de La Matriz que surtió de agua potable a la población desde la segunda mitad del siglo XVII hasta inicios del siglo XVIII. Dicha obra, fruto de las trazas del arquitecto cántabro Simón Pérez Tío y financiada por las arcas consistoriales, precisó de la mano de obra de los mejores profesionales en el ámbito de la fontanería, entre los que se encontraban los maestros arquitectos cántabros y los maestros de caños procedentes de Portugal y Galicia y asentados en Avilés (Asturias). Gracias al esfuerzo de arqueólogos y documentalistas se ha puesto de manifiesto la relevancia de una obra hasta el momento desconocida que subraya la trascendencia del paso de Gijón hacia la Modernidad. As Formas de Açúcar da Mata da Machada, Barreiro por Filipa Manuel Pestana Galito da Silva Resumo/abstract: No âmbito do Mestrado em Historia da Náutica e Arqueologia Naval surgiu a hipótese de retomar o estudo das formas de açúcar provenientes do forno da Mata da Machada, no Barreiro, visando completar a tipologia anteriormente definida por Cláudio Torres e articular os dados com os recentes estudos sobre esta temática. A Mata da Machada integrou o dinâmico complexo industrial da margem sul do Tejo, abastecedor de Lisboa e região envolvente, mas também espaços mais longínquos no âmbito da expansão portuguesa. O enquadramento cronológico deste espólio é associado ao século XV, devido à análise das moedas encontradas durante a escavação do forno. O conjunto cerâmico a analisar, engloba a totalidade dos fragmentos cerâmicos da escavação da lixeira do forno da Mata da Machada, para os quais foi possível reconstruir as formas de açúcar. Estes objectos foram fundamentais na produção deste precioso produto, base do sucesso económico da primeira fase da expansão portuguesa além-mar nos arquipélagos atlânticos. A intimidade palaciana no século XVII: Objectos provenientes de um esgoto do Paço dos Lobos da Gama (Évora) por Gonçalo Lopes e Conceição Roque

Resumo/abstract: O actual Paço dos Lobos da Gama foi construído nos inícios do século XVII, junto ao mosteiro de Santa Clara, para albergar a família que lhe deu o nome, estabelecida em Évora na centúria anterior. Em 2008, em virtude das obras de recuperação e adaptação do antigo Paço dos Lobos da Gama a um condomínio, toda a zona a construir teve de ser escavada em área, revelando um potencial arqueológico anteriormente insuspeito por se tratar de um sítio bastante marginal à Cerca Velha. As escavações do espaço que terá sido outrora o jardim, revelaram numerosas estruturas de várias épocas, que cobrem uma diacronia do Baixo-império até à época contemporânea. No lado nordeste do Paço, surgiu uma conduta de esgoto, que serviria para recolher as águas residuais do imóvel e, na qual, foram exumados centenas de fragmentos de vidro, cerâmicas modeladas e peças de toucador. Os conjuntos vítreo e cerâmico, são muito expressivos para a época moderna e de grande importância para perceber a composição material do quotidiano privado de uma casa nobre deste período. Porcelanas do Jardim do Paço dos Henriques (Alcáçovas, Viana do Alentejo) por Gonçalo Lopes e Frederico Carvalho Resumo/abstract: O Paço Real de Alcáçovas, comumente conhecido por Paço dos Henriques, foi construído por ordem de D. Dinis e assistiu a vários acontecimentos políticos da maior relevância, nomeadamente o Tratado de Alcáçovas (1479). Porém, é no século XVII que o imóvel adquire o aspecto que hoje tem, tendo-lhe sido acrescentado um jardim, com horto anexo e uma capela com a invocação de Nª. Srª. Da Conceição. Devido às especificidades inerentes à utilização que foi dada à porcelana neste local, faz com que este trabalho não seja resultante de escavação, mas principalmente de inventário. Com efeito, todas as peças estão fragmentadas e foram aplicadas na criação dos embrechados que decoram os volumes, quer do jardim do Paço, propriamente dito, quer da capela de Nª. Srª. da Conceição, sua anexa. Embora, ainda não se tenha efectuado uma contagem dos fragmentos, estimam-se em várias dezenas de milhar, resultantes de centenas de peças completas, maioritariamente pratos, tigelas e taças. Os fragmentos, são das mais variadas dimensões, sendo os mais completos, nomeadamente fundos de pratos, utilizados como medalhões nas composição dos embrechados, predominando o “clássico” azul e branco. É de destacar a existência de algumas peças com esmalte “sangue de boi”, bastante raras durante a dinastia Ming, que fazem deste conjunto um dos mais importantes para o estudo da porcelana importada entre os inícios do século XVI e os do século XVII (c.1620). Vidros do Paço dos Henriques (Alcáçovas, Viana do Alentejo) por Gonçalo Lopes e Frederico Carvalho

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Resumo/abstract: As circunstâncias de tratamento dos vidros neste local são exactamente os mesmos descritos para a porcelana. Foram empregues milhares de contas de vidro multicolores na decoração dos embrechados do jardim do Paço dos Henriques. A variação formal é muito escassa, constando de dois tipos de contas tubulares azuis e brancas e outro tipo, romboidal, com várias camadas de vidro de cores distintas. Porém, a grande quantidade destes objectos existente num só sítio (embora com um propósito diferente daquele para o qual foram concebidos), vem lançar algumas interrogações sobre o seu fabrico em série durante os séculos XVI e XVII, bem como as razões que levam a este tipo de produção. Esta questão torna-se pertinente na medida em que têm sido descobertos objectos semelhantes em vários sítios arqueológicos do Novo Mundo, nomeadamente em Nueva Cadiz (Venezuela), datadas de entre 1500-1550. Poder-se-à, assim, lançar a discussão de a sua produção, provavelmente exógena (Veneza?), ser exclusivamente para o trato comercial com vários pontos dos impérios marítimos português e espanhol. Parque Central do Cartaxo: apresentação preliminar dos dados arqueológicos e antropológicos por Helena Santos, Álvaro Figueiredo e Iola Filipe (Era Arqueologia SA) Resumo/abstract: No âmbito do projecto da construção Parque Subterrâneo, localizado no Parque Central do Cartaxo, foi efectuada a escavação arqueológica de uma área de cerca de 600m2, após a realização de 11 sondagens de diagnóstico, onde se definiram duas áreas: a primeira de cariz habitacional e a segunda de carácter funerário. Relativamente à área de cariz habitacional, localizada na zona mais a Sul, próxima do actual edifício da Câmara Municipal, identificou-se uma área de espaços domésticos, com reconstruções e abandonos, caracterizados sobretudo por lixeiras e depósitos de aterro. Os dados disponíveis permitem enquadrar estes contextos em Época Moderna, sendo que a análise dos materiais exumados permite apontar uma cronologia para a formação destes depósitos anterior ao século XIX. A maioria dos contextos intervencionados deverá estar associada ao Convento do Espírito Santo, que existiu neste local desde o segundo quartel do séc. XVI até 1855, data da construção da Câmara Municipal no local do extinto convento. Relativamente à área de necrópole, que se desenvolve para Norte, verificou-se uma ocupação intensiva de algumas das suas zonas. Embora, todas as inumações registadas sejam individuais, na grande maioria dos casos os enterramentos foram colocados em sepulturas colectivas, utilizadas ao longo de várias gerações. Os restos dos enterramentos mais antigos, perturbados pela reabertura das sepulturas, são simplesmente devolvidos à sepultura, misturados com o depósito de enchimento, ou colocados sob, sobre ou ao lado da nova inumação. Em casos raros, verifica-se a presença de enterramentos secundários, intencionais, na forma de ossários, colocados em sepulturas com inumações primárias. O estudo dos materiais humanos, recolhidos durante os trabalhos arqueológicos, revelou a existência de uma série

de patologias interessantes, incluindo casos de trauma, doenças articulares, doenças de origem infecciosa, patologia oral, dados que irão contribuir para uma melhor e mais completa avaliação paleodemografica e cultural da população do Cartaxo durante os séculos XVII-XVIII e inícios do século XIX. A modernidade em Leiria: imagens da vida pública e privada na antiga judiaria. O caso do Centro Cívico de Leiria por Iola Filipe e Marina Paiva Pinto (Era Arqueologia SA) Resumo/abstract: Os trabalhos realizados na área afecta à construção do futuro Centro Cívico de Leiria permitiram identificar contextos arqueológicos diversos que evidenciam a intensa ocupação deste espaço, onde se localizava a antiga judiaria da cidade, desde a Baixa Idade Média/Período Moderno à Época Contemporânea. Salientam-se três grandes momentos construtivos, associados à construção de edifícios na antiga judiaria, em períodos cronológicos distintos, entre a Baixa Idade Média e a Época Moderna, que antecedem a edificação do imóvel actual, em Época Contemporânea. Apesar de obedecerem a diferentes organizações arquitectónicas, consoante os períodos em que se enquadram, estes mantêm praticamente inalterada a fisionomia do quarteirão, definida desde o período Medieval. O edifício mais antigo encontra-se na extremidade Sudeste da área intervencionada (Área 1), sendo constituído por quatro compartimentos (Ambientes 7, 8, 9 e 10) que se desenvolvem no sentido da actual Rua Manuel António Rodrigues, de onde se teria acesso ao interior da habitação. Dos quatro compartimentos registados, foi possível aferir a funcionalidade apenas do Ambiente 9, interpretado como um espaço de cozinha. Na extremidade oposta, a Noroeste, na zona de implantação da sondagem 6, foram identificadas estruturas (muro e fogão) passíveis de relacionar com outro edifício que poderá ter coexistido com o anterior (Área 1), atendendo que o estudo da componente artefactual remete a construção de ambos para o período de transição entre os finais da Baixa Idade Média e os inícios da Época Moderna. No decurso do período Moderno, este edifício é votado ao abandono, tendo-se construído no local um forno, cuja memória perdurou até finais do século XIX. Este forno apresenta câmara de cozedura de planta sub –circular, possuindo um pequeno corredor, com paredes paralelas que se prolongam para poente. Não apresentava grelha, nem vestígios que esta pudesse ter existido. Ainda no decurso do período Moderno e na extremidade Sudoeste da área intervencionada (Área 1) foram registadas várias estruturas associadas ao que parece ser um edifício de grandes dimensões, com vários compartimentos (Ambientes 1, 2, 3, 4, 5 e 6) para os quais não foi possível, na maior parte dos casos, estabelecer uma funcionalidade. Não obstante, o Ambiente 1, localizado na extremidade Noroeste desta área, poderá corresponder a um espaço de armazenagem, considerando os fragmentos de talha e os dois potes em contexto primário aí identificados. Este compartimento prolongar-se-ia no sentido da sondagem 4,

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sendo crível que o muro [810] registado na sondagem 8, fechasse o limite Noroeste deste ambiente. A Época Contemporânea marca a construção do actual edifício, reconhecendo-se uma reestruturação arquitectónica do espaço, embora sem grande impacte urbanístico, considerando que o traçado medieval, com estreitos arruamentos definindo o quarteirão se mantém. O depósito 006f: porcelana, grés porcelânico e grés na Arca de Mijavelhas. História e estórias reveladas pela construção da Estação do Campo 24 de Agosto da Rede do Metro do Porto. Resumo/abstract: E já Fernão Lopes falara neste “pequeno espaço da çidade” (sic) e no seu chafariz de Mijavelhas, na “Crónica de D. João I”. Fernão Lopes e não só: de lá para cá, pelos menos por entre quem administrava as águas do Porto, o manancial de Mijavelhas e sua arca com armas reais foram sendo retidos na memória… E também, claro, o sítio e a ribeira, detentora primeira do topónimo não eram também desconhecidos dos Historiadores do Porto. Escapou, contudo, tudo isto ao Estudo de Impacte Ambiental para a “I.ª Fase da Construção do Metro do Porto”. E por isso coube aos Engenheiros e às suas obras – concretamente, aos que elaboraram o “Projecto de Desvio de Redes” para a execução da obra do T04.05 da Linha C, ou Estação de 24 de Agosto - revelar inusitado potencial arqueológico e arquitectónico: uma estratificação multissecular de que assoma em importância e em novidade a fase construtiva remontante à Época Moderna! Mas no cerne desta comunicação, o Depósito 006f, uma tigela de porcelana, reconhecida numa fragmentada quinta parte da sua totalidade, e uma asa de grés porcelânico. Depósito 006f, integrado nesta fase construtiva, que consistiu nada mais do que na transformação de uma fonte de mergulho em fonte de espaldar, bem como no melhoramento do piso da sua envolvência. Elemento para terminus post quem: a pedra de armas reais … de D. Manuel I?; de D. Joao III ?... presente no frontispício da arca de pedra; elemento para terminus ad quem: o prazo de cedência dos campos de Mijavelhas, celebrado entre a Câmara e António de Madureira, aos 22 de Setembro de 1548. Depósito 006f que foi selado pelo piso lajeado colocado pela obra pública do século XVI… e desselado pela obra pública, mesmo no fim do século XX. A sua exumação? Já no século XXI! Enfim, alguma da História e também umas quantas estórias é o que se pretende colocar em debate nesta comunicação. Conservação das estruturas em madeira de um navio do séc. XV escavado na Ria de Aveiro: resultados preliminares por João Coelho (DANS-IGESPAR, I.P.), Pedro Gonçalves e Francisco Alves (DANS-IGESPAR, I.P.)

Resumo/abstract: Os objectos arqueológicos provenientes de meios subaquáticos estão inevitavelmente sujeitos a fenómenos de degradação, sendo particularmente susceptíveis às alterações de meio ambiente, ao transitarem

de um ambiente “molhado”, muitas vezes anaeróbio, para um ambiente seco e oxigenado. Quando se recolhe e traz para a superfície um artefacto, após um longo período de imersão, sem quaisquer medidas de conservação, ocorrem alterações irreversíveis ao nível da sua estrutura física e composição química, que se traduzem, na maioria dos casos, na perda de informação e, muitas vezes, na perda do próprio artefacto. Perante tais evidências, torna-se imprescindível, durante qualquer tipo de trabalho arqueológico, garantir os meios necessários ao posterior tratamento dos artefactos recolhidos. No que se refere às madeiras arqueológicas, durante o período de imersão, os seus componentes estruturais são destruídos pela acção de microrganismos e simultaneamente por reacções químicas com meio, resultando no seu interior espaços vazios que são ocupados pela água. È por esta razão que as madeiras degradadas mantêm o volume e a forma original, desde que conservadas encharcadas. Se estas madeiras forem expostas ao ar, sem qualquer tipo de tratamento, ocorre uma secagem directa, que resulta na alteração dimensional da sua estrutura e consecutivamente na sua deformação e fendilhamento superficial. De modo a conservar os artefactos arqueológicos em madeira com as suas características originais, no que diz respeito à forma e volume, é necessário garantir um processo de tratamento que permita retirar a água do seu interior, sem afectar a sua estrutura. Nas últimas décadas têm vindo a ser desenvolvidas várias metodologias de conservação, que, independentemente dos materiais e processos técnicos ou tecnológicos, seguem fundamentalmente três linhas de orientação: a impregnação da madeira com uma substância em substituição da água, que lhe confira resistência mecânica, a secagem controlada da madeira, ou a combinação das duas, sendo esta a mais usual. É neste âmbito que surgem os trabalhos de conservação do navio do séc. XV proveniente da Ria de Aveiro, dito “Ria de Aveiro A”, escavado a partir de 1996 e recuperado em 1999. As suas estruturas de madeira têm vindo a ser alvo, desde 2003, de um atribulado1 processo de impregnação com polietilenoglicol (PEG), através de um tratamento em duas etapas, que correspondem à aplicação deste produto com dois pesos moleculares: PEG 400 e PEG 4000.

Cabeço do Outeiro | Lousada: Um Núcleo Rural da Idade Moderna por Manuel Nunes (Câmara Municipal de Lousada), Joana Leite e Paulo Lemos

Resumo/abstract: No concelho de Lousada, freguesia de Nespereira (distrito do Porto), foi descoberta, em 2005, uma ocupação doméstica balizada entre os séculos XVII – XVIII que possibilitou determinar algumas características particulares locais da vivência rural da Idade Moderna.

                                                            1 Devido a períodos em que ocorreu a contaminação (proliferação de microrganismos) e respectiva descontaminação biológica e, a decorrentes limitações orçamentais condicionando o aprovisionamento de produtos químicos de base.

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As circunstâncias fortuitas que propiciaram a descoberta desse habitat prenderam-se com a abertura de uma estrada local que expôs parte dos vestígios arqueológicos, impondo-se desde logo a necessidade de uma intervenção arqueológica de emergência. A sondagem então realizada, apesar da intensa sequência deposicional, revelou um horizonte cronológico bem definido pela abundante presença de faiança com decoração tipo “rendas”, “contas” e ainda outro espólio característico que, da mesma forma, ajudou a precisar a ambiência crono-cultural do espaço – um núcleo familiar com algum prestígio económico e eventualmente algum reconhecimento social. Os trabalhos de escavação revelaram ainda um espaço com intensa ocupação, dividido em áreas com funcionalidades bem determinadas e de que se destaca uma área de apoio alimentar ligada à confecção de alimentos pela abundante presença de fragmentos de panelas de cerâmica preta com fuligem e outros utensílios domésticos como malgas e tigelas de louça vermelha do tipo Aveiro-Ovar associados a uma unidade estratigráfica de clara exposição directa e prolongada ao fogo/lume e uma outra área funcional de espaço de circulação comum materializada por um piso de tijolos em bom estado de conservação e uma zona coberta, eventualmente por um alpendre, a avaliar pela regularidade dos buracos de poste detectados. No sentido de complementar os novos dados disponíveis e enriquecer a compreensão do lugar do Cabeço do Outeiro no contexto local procurou-se ainda o cruzamento com as fontes históricas do arquivo particular da Casa do Cáscere (proprietária do terreno em questão), e com os resultados obtidos no acompanhamento arqueológico das obras de remodelação do Salão Paroquial de Nespereira, realizado em 2009. Spanish colonization of the Magellan Strait in the late 16th century. Archaeology, History and Bio-anthropology in Ciudad del Nombre de Jesús por Maria Ximena Senatore (CONICET- Instituto Multidisciplinario de Historia y Ciencias Humanas; Universidad de Buenos Aires; Universidad Nacional de la Patagonia Austral) e Mariana De Nigris (CONICET- Instituto Nacional de Pensamiento Latinoamericano; Universidad de Buenos Aires) Resumo/abstract: Ciudad del Nombre de Jesus was settled in 1584 as part of the Spanish plan for the fortification of the Magellan Strait. This paper presents the general plan and the advances in the research project of archeology, history and bio-anthropology focused on the study of this settlement which took place in 1584. The results obtained have allowed us to advance in our knowledge of the planning and materialization of the settlement which meant the transferring and further death of 300 settlers to the south end of South America. Pedagogia da Apropriação aplicada à Praça Forte de Fernando de Noronha, Pernambuco / Brasil por Miriam Cazzetta (Gabinete de Arqueologia do Distrito Estadual de Fernando de Noronha)

Resumo/abstract: Ao ordenar a construção de uma rede de estradas que permitisse a rápida movimentação militar, os profissionais do Real Corpo de Engenharia Portuguesa envolvidos na implantação da Praça Forte de Fernando de Noronha no século XVIII, visavam equipá-la cuidadosamente e preparar o traçado das suas estradas e as soluções adequadas à transposição de obstáculos, tais como os cursos d’água e os terrenos com declive. Com o passar do tempo, novas oportunidades de interpretação do patrimônio viário vem oferecer percursos que tendem a ser incorporada no processo de dinamização cultural da antiga Praça Forte portuguesa como atração turística e de lazer. Alvo de sucessivas obras faz se necessário realizar estudo acurado que promova a interface entre a arqueologia e a engenharia de restauro para manter a integridade destas vias e os territórios patrimoniais para onde elas conduzem. Está em tramitação no Plano de Ação das Cidades Históricas, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a proposta de recuperação das vias seculares cuja identificação e levantamento dos danos permitem reconhecer a sua composição, seja na sua configuração, os perfis e as linhas estruturantes – eixos, drenagem e obras d’arte. Bem como, mensurar e definir o nível de intervenção, assim como as possíveis soluções a serem propostas, seja para a simples manutenção, para a recuperação total ou parcial, ou mesmo, para a substituição do revestimento, de acordo com o estado de conservação de cada trecho do pavimento secular. Com a efetivação do trabalho de proteção física, as estradas seculares serão os eixos de uma rede de interpretação do existente, que irão interligar os demais componentes culturais e paisagísticos, servindo como elemento aglutinador entre a população residente e o visitante. Características estruturais de uma linha defensiva dos Séculos XVI a XIX por N’Zinga Oliveira (CHAM – FCSH-UNL|UAç ) e Joana Rodrigues

Resumo/abstract: Palco de um povoamento próspero e de abruptas catástrofes naturais, a Vila costeira de Vila Franca do Campo manteve uma zona portuária cobiçada pelo corso e pirataria do Atlântico, até ao século XIX. A orla costeira caracterizada por afloramento basáltico intercalado com areais, sem grandes oscilações topográficas, impulsionou a projecção de uma linha defensiva cujas estruturas preservam algum do seu testemunho. Ainda que manifestamente afectados em prol do progresso e do futuro, é possível localizar e registar vestígios de quase todos os elementos que compunham esta linha defensiva. As estruturas visíveis revelam como materiais de construção, a pedra basáltica e uma argamassa tosca de mistura de cal e areia. Produções Sevilhanas – “blue on white” e “blue on blue”. No contexto das relações económicas e comerciais entre o litoral Algarvio e a Andaluzia (Século XVI-XVII) por Paulo Botelho (AES Arqueologia Lda.)

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Resumo/abstract: No contexto arqueológico do litoral Algarvio surgem, com frequência, exemplares de produções sevilhanas “blue on white” e “blue on blue”, enquadráveis entre a primeira metade do século XVI e segunda metade do século XVII. A investigação arqueológica mostrou-nos a necessidade de uma análise mais profunda das relações comerciais e económicas entre a Andaluzia e o litoral Algarvio neste período. O trabalho que agora apresentamos tem como objectivo contribuir para reconstituição da actividade comercial entre as duas regiões, numa perspectiva histórico-arqueológica, tendo como base o estudo das produções sevilhanas (século XVI-XVII) – caracterização técnica e funcional, a sua disseminação pelos principais núcleos urbanos algarvios e implicações sócio-económicas. Para tal utilizaremos como amostra grupos cerâmicos exumados em intervenções arqueológicas realizadas nos últimos anos, um pouco por todo o Algarve (Faro, Lagos, Loulé, Silves, Tavira, etc.), onde foram identificadas estas produções. Notas para o estudo da formação dos terrenos de aluvião, em Época Moderna, no lugar da Torre dos Sinos (Convento de Velho de S. Domingos), Coimbra por Ricardo C. da Silva (CEAUP-CAM), Sara Almeida (Câmara Municipal de Coimbra), Vítor Manuel da Silva Dias (CIDEHUS-UE) e João Miguel André Monteiro Perpétuo (Arqueohoje)

Resumo/abstract: Em Coimbra diversos registos concorrem para revelar a instabilidade das margens do Mondego que, a partir de Época Medieval, transpõe recorrentemente as plataformas ribeirinhas, em virtude do assoreamento do seu leito. Testemunham este fenómeno diversos documentos escritos, cartográficos, fotografias e ilustrações, sobressaindo a este respeito o título de Bazófias atribuído, por iniciativa popular, ao rio devido à irregularidade do seu caudal. A evolução da modelação topográfica da Zona da Baixa é um aspecto fundamental para a compreensão das estratégias de ocupação desta zona da cidade, marcadas pela firme determinação em contrariar as adversidades do meio e investidas das águas. No decurso de uma acção de arqueologia preventiva, junto à Avenida Fernão de Magalhães, foi possível pôr a descoberto vestígios do Convento Velho de S. Domingos, a cerca de nove metros abaixo da actual cota de circulação. O pacote estratigráfico circunscrito entre os níveis de formação da referida Avenida (no século XX) e de abandono definitivo do edifício conventual (no século XVI) oferece uma visão privilegiada do processo de sedimentação neste local e por extensão da área circundante. Pretende-se, por conseguinte, analisar os fenómenos de deposição detectados (antrópicos e aluvionares) e fornecer uma imagem das principais fases de sedimentação que modelaram o terreno ao longo da Época Moderna. Que viste nesta notavel Villa de Setuval? A vida quotidiana no tempo do terramoto de 1755, a partir da

intervenção arqueológica no Largo António Joaquim Correia por Rui Gomes Coelho (Bolseiro PCI do Ministério da Ciência e Tecnologia/Museu Paraense Emílio Goeldi; IAP – UNL|UAlgarve) Resumo/abstract: Em 2003, uma intervenção conduzida pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal num prédio do Largo António Joaquim Correia permitiu o reconhecimento de um edifício arruinado durante o terramoto de 1755, constituído por um eventual armazém e uma taberna, cobertos por um primeiro andar, a que estaria associado um quintal. Ao nível da cultura material identificaram-se conjuntos artefatuais diversificados, cuja análise nos permitiu uma aproximação à vida quotidiana da comunidade que fez uso daquele espaço, integrando-a nas dinâmicas sociais e culturais de Portugal na Época Moderna e no contexto da expansão marítima. Ribeira das Naus Hoje – A perene relação de Lisboa com o Tejo. Dos estaleiros navais do Renascimento ao Antigo Arsenal da Marinha. Subsídios da arqueologia POR RUI NASCIMENTO Resumo/abstract: Num momento em que se encontram em curso múltiplos projectos de requalificação da frente ribeirinha na cidade de Lisboa, necessário se torna realçar a primordial importância de uma estratégia de salvaguarda arqueológica para contextos de relação fluvio-marítima. A empresa Era-Arqueologia S.A., ao longo dos últimos anos, tem integrado diversos projectos de preservação e estudo destas realidades patrimoniais de impar e inequívoca importância para a história da capital portuguesa e do país. Consubstanciando-se nos resultados obtidos nas investigações levadas a cabo na Avenida da Ribeira das Naus, desde 2009, pretende-se realizar um enquadramento global das estruturas portuárias aqui identificadas neste lugar fulcral, que se constituía como um complexo estaleiro naval, em directa articulação com outros espaços portuários como os Armazéns da Guiné e a Casa da Indía. Um núcleo agitado por múltiplos mesteres, altamente especializados e que compreendia, no século XVI, mais de duzentos carpinteiros navais e uma centena de calafates, a que se juntavam outros artífices como cordoeiros, remolares ou ferreiros. Aqui se incluíam entrepostos de munições, armas, pólvora, bem com outros géneros, que se integravam assim num símbolo da aventura oceânica portuguesa. Tais estaleiros navais, serão a primacial indústria do Renascimento Português, autêntica prioridade da Coroa, um pólo que promove o desenvolvimento e que se constituí como um grande vector de atracção de populações. Todo este legado imagético, associado à gesta maritima e às actividades náuticas, ficará permanecente no antigo Arsenal da Marinha, que perfilha esta titulatura desde a segunda metade do século XVIII até finais dos anos trinta do século XX. Cerca de Santo Agostinho Coimbra estudo preliminar das fases evolutivas e linhas para a sua recuperação por Sara Almeida (Câmara Municipal de Coimbra), António Cunha (Câmara Municipal de Coimbra), Joana Mendes

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(Câmara Municipal de Coimbra), Sofia Ramos (Câmara Municipal de Coimbra) e Susana Temudo (Câmara Municipal de Coimbra) Resumo/abstract: Inscrito em plena colina genética de Coimbra, a Cerca do Colégio de Santo Agostinho reflecte de forma brilhante a capacidade de conciliar os preceitos cultuais dos regrantes de Santo Agostinho e as condicionantes impostas pela morfologia do terreno e escassez de espaço disponível, com que aqueles se depararam. O resultado deste esforço resulta numa descontinuidade física entre o edifício colegial e a sua cerca, quebrada apenas pelo estabelecimento de uma ligação por passadiço sobre a via pública alcançada através da abertura de uma porta na muralha da cidade. Trata-se assim de um espaço perfeitamente delimitado e sujeito a grandes constrangimentos topográficos dos quais o principal resulta da sua localização sob a muralha, num terreno marcado por vertentes de declive abrupto. A intenção manifestada pela Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, proprietária do espaço, de aí instalar um lar de terceira Idade desencadeou, simultaneamente, a realização de uma intervenção arqueológica e a concepção de um projecto de recuperação do espaço. Com base nos resultados da escavação arqueológica conjugados com o cruzamento de diferentes fontes documentais, pretende-se com esta apresentação traçar a evolução deste recinto desde a sua estruturação até à actualidade, complementada com uma proposta de intervenção do espaço. Em termos gerais, procura-se oferecer uma visão dinâmica dos principais momentos construtivos que ditaram a organização da Cerca (entre os séculos XVII a XX), tendo em linha de conta que a sua conformação original resulta igualmente da incorporação/absorção de elementos pré-existentes referentes à anterior Cerca do Mosteiro de Santa Cruz e Cerca da Judiaria que acrescem complexidade à interpretação dos elementos construídos e cujo estudo se encontra ainda numa fase preliminar. Vestígios Modernos de uma intervenção de emergência na Rua Rafael de Andrade (Lisboa) por Sara Mendonça de Sousa Dias de Brito e Regis Alves de Souza Barbosa Resumo/abstract: Apresentam-se os resultados da intervenção de emergência efectuada numa moradia da Rua Rafael de Andrade, localizada na zona do Campo dos Mártires da Pátria (Lisboa). A intervenção assumiu um carácter de maior emergência uma vez que grande parte dos vestígios arqueológicos já havia sido destruída. No entanto, foi ainda possível salvar alguns contextos de lixeira enquadráveis essencialmente no século XVII. O espólio exumado é constituído por fragmentos de cerâmica comum, cerâmica vidrada e faiança, assim como objectos metálicos e abundantes restos de fauna mamalógica. A importância da presente comunicação assenta na necessidade de transmitir dados provenientes de intervenções arqueológicas de cariz urbano, pautados por uma lógica de salvamento patrimonial. Neste sentido,

pretende-se dar um contributo à compreensão do quotidiano da população de época Moderna. O Papel do Forte do Abano na estratégia de defesa da costa de Cascais por Soraya Rocha (Amphora Arqueologia) e Guilherme Sarmento (Apia) Resumo/abstract: O Forte do Abano ou Forte das Velas, datado do século XVII, ocupou um papel importante na defesa da costa de Cascais. Integrado num conjunto de fortificações que tinham como objectivo a defesa da costa, pós guerra da Restauração, foi mandado construir por ordem de D. António Luís de Menezes, governador da Villa de Cascais. A abordagem ao monumento consistirá na tentativa de percepção da sua importância e funcionalidade, no contexto da defesa da costa em Época Moderna. Focaremos, ainda, o método construtivo, bem como a sua relação com outros fortes edificados que datam da mesma época. A importância do Forte do Abano relaciona-se não só com o seu papel estratégico na defesa durante as guerras do pós-restauração (1580-1640) e das lutas liberais (1828-1834), mas também como monumento que perdurou no tempo até à desactivação na segunda metade do século XIX. N-utopia: O Projecto Tratados, Nomenclaturas Náuticas e Construções Navais Europeias por Tiago Miguel Fraga (CidMar | Universidade Autónoma de Lisboa); Adolfo Silveira Martins (CidMar | Universidade Autónoma de Lisboa) e António Teixeira (CidMar | Universidade Autónoma de Lisboa) Resumo/abstract: O Projecto Tratados, Nomenclaturas Náuticas e Construções Navais Europeias, da responsabilidade do CIDMar da Universidade Autónoma de Lisboa, sob a direcção do Prof.-Doutor Adolfo Silveira Martins, é um projecto que tenciona estudar os tratados de construção naval europeus à luz das novas tecnologias. A n-utopia é a construção náutica virtual dos diversos navios propostos pelos tratados com vista ao entendimento da fidelidade da fonte escrita e como esta pode contribuir para um melhor entendimento das embarcações modernas europeias. O projecto de carta arqueológica subaquática do Concelho de Lagos por Tiago Miguel Fraga (OpenWaters) Resumo/abstract: O projecto de carta arqueológica subaquática do Concelho de Lagos, tem como objectivo a localização, identificação e valorização do património cultural subaquático do Concelho e ao mesmo tempo desenvolver o nosso conhecimento sobre a interface marítima de Lagos e seu tráfego. No presente poster apresentamos alguns dos resultados das campanhas arqueológicas deste projecto e os objectivos ainda por cumprir. Este projecto é um projecto promovido pela Câmara Municipal de Lagos e com o apoio de diversas instituições locais, regionais e internacionais.

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Quarteirão dos Lagares: contributos para a percepção do espaço da Mouraria por Tiago Nunes e Iola Filipe (Era Arqueologia SA) Resumo/abstract: Os trabalhos arqueológicos realizados no Quarteirão dos Lagares permitiram identificar contextos arqueológicos preservados, de época moderna, na sua maioria interpretados como áreas de lixeira ou de despejos de produção cerâmica. Relativamente a esta actividade, não foi registada nenhuma estrutura passível de ser interpretada como forno, existindo apenas indícios indirectos que sustam a interpretação avançada. Os depósitos escavados nas diferentes sondagens apresentam, numa primeira análise, uma uniformidade em termos de componente artefactual. Caracterizam-se pela presença muito frequente de cerâmica comum, frequente de fauna, moderada de cerâmica vidrada, ocasional de faiança. A análise preliminar dos materiais permite datar a formação destes contextos de época moderna, com especial incidência nos séculos XVI/XVII, com excepção para a sondagem 9, cuja formação dos depósitos identificados datam de final do século XIX, inícios do século XX. Importa, no entanto, destacar a possibilidade de alguns contextos poderem ser datados dos séculos XIV-XV, interpretação sustentada apenas pela ausência de faiança ou louça malegueira nos depósitos das sondagens 4, 5, 6 e 8. Efectuaram-se ainda sondagens parietais numa construção que não faz parte do edifício principal, tendo-se constatado que todas as paredes eram construídas em taipa, notando-se, contudo, que a parede da sondagem 12 apresentava dois momentos construtivos, um em taipa e outro em alvenaria, o que significa a existência de duas concepções de espaço distintas, tendo existido possivelmente o emparedamento de uma janela. Importa ainda destacar na sondagem 3 a identificação de uma fossa, cheia por depósitos nos quais se destaca a presença de cinzas e as características dos materiais que foram recolhidos, nomeadamente defeitos no vidrado, que sustentam a interpretação desta área se relacionar com os despejos resultante da produção de cerâmica. Estes contextos sustentam a interpretação avançada em trabalhos anteriores (Carvalho, Monteiro, Bugalhão, 2007), relacionando esta zona da cidade com a produção de cerâmica em época baixo-medieval/ moderna. Os dados obtidos na presente intervenção permitem colocar hipóteses interpretativas da dinâmica construtiva e ocupacional deste espaço, no entanto, permanecem por esclarecer algumas questões, sobretudo no que concerne à funcionalidade dos compartimentos identificados, já que os depósitos directamente relacionados se reportam na maioria das vezes ao momento de abandono/ aterro. As cronologias propostas baseiam-se na componente artefactual recolhida não sendo exequível em alguns casos definir datações finas, mas balizas cronológicas. A cronologia relativa, resultado da interpretação da estratigrafia registada, representa igualmente um importante elemento para a percepção da evolução dos diferentes espaços e consequentemente para determinar a dinâmica evolutiva do próprio edifício.

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ÍNDICE CONTENTS INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................................................1

INTRODUCTION .....................................................................................................................................................................................1

PROGRAMA ............................................................................................................................................................................................3

Quarta-feira, 06 de Abril/ 6 April, Wednesday ....................................................................................................................................3

Quinta-feira, 07 de Abril/ 7 April, Thursday .........................................................................................................................................4

Sexta-feira, 8 de Abril/ 8 April, Friday .................................................................................................................................................6

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday ..................................................................................................................................................8

CONFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................................................10

CONFERENCES ...................................................................................................................................................................................10

CIDADES: URBANISMO, ARQUITECTURA E QUOTIDIANOS ...........................................................................................................12

CITIES: URBANISM, ARCHITECTURE AND DAILY LIFE ...................................................................................................................12

Quarta-feira, 06 de Abril/ 6 April, Wednesday ..................................................................................................................................12

Quinta-feira, 07 de Abril/ 7 April, Thursday .......................................................................................................................................16

CERÂMICAS: PRODUÇÃO, COMERCIO E CONSUMO ......................................................................................................................19

CERAMICS: PRODUCTION, TRADE AND CONSUMPTION ...............................................................................................................19

Quarta-feira, 06 de Abril/ 6 April, Wednesday ..................................................................................................................................19

Quinta-feira, 7 de Abril/ 7 April, Thursday .........................................................................................................................................21

PAISAGENS MARÍTIMAS, NAVIOS E VIDA A BORDO .......................................................................................................................26

MARITIME LANDSCAPES, SHIPS AND LIFE ON BOARD ..................................................................................................................28

Sexta-feira, 8 de Abril/ 8 April, Friday ...............................................................................................................................................28

EDIFÍCIOS RELIGIOSOS E PRATICAS FUNERÁRIAS .......................................................................................................................32

RELIGIOUS BUILDINGS AND BURIAL PRACTICES ...........................................................................................................................32

Sexta-feira, 8 de Abril/ 8 April, Friday ...............................................................................................................................................32

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday ................................................................................................................................................34

GESTÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO ...................................................................................................................................26

MANAGEMENT AND RECOGNITION OF HERITAGE .........................................................................................................................26

Quinta-feira, 7 de Abril/ 7 April, Thursday .........................................................................................................................................26

FORTIFICAÇÕES, ESPAÇOS DE GUERRA E ARMAMENTO ............................................................................................................36

FORTIFICATIONS, BATTLEFIELDS AND ARMS.................................................................................................................................36

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday ................................................................................................................................................36

ESPAÇO RURAL: PAISAGENS E MEIOS DE PRODUÇÃO ................................................................................................................39

THE COUNTRYSIDE: LANDSCAPES AND PRODUCTION MEANS ...................................................................................................39

Sábado, 9 de Abril/ 9 April, Saturday ................................................................................................................................................39

POSTERS .............................................................................................................................................................................................42

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