introduÇÃo À ciÊncia do direito andrÉ franco...

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INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO ANDRÉ FRANCO MONTORO INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO © desta edição: 2000 EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA. Diretor Responsável: CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO FILHO CENTRO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR: Tel. 0800-11-2433 Rua Tabatinguera, 140, Térreo, Loja 1 • Caixa Postal 678 Tel. (011) 3115-2433 • Fax (011) 3106- 3772 CEP 01020-901 - São Paulo, SP, Brasil Aos meus alunos com a esperança de que, bem conhecendo o Direito, melhor possam servir à Justiça. "Teu dever é lutar pelo direito, mas no dia em que encontrares o direito em conflito com a justiça, luta pela justiça" (Dos mandamentos do advogado redigidos por EDUARDO COUTURE) "O direito não é uma pura teoria, mas uma força viva. Todos os direitos da humanidade foram conseguidos na luta. O direito é um trabalho incessante, não somente dos poderes públicos, mas da nação inteira" (A luta pelo direito, IHERING) Ao concluir o presente volume, escrito simultaneamente ao exercício do magistério e ao desempenho do mandato parlamentar, pareceu-me de justiça dedicá-lo: a meus pais, de quem recebi a lição simples do amor ao trabalho; à minha mulher, que me ajudou e estimulou a seguir essa lição; a meus filhos e netos, a quem espero deixar a mesma mensagem. Brasília, julho de 1971. "O moderno é ler Platão." Umberto Eco "Enquanto na Europa Moderna os filósofos idealistas constroem cada um seu sistema pessoal, a filosofia de Aristóteles, descrição e visão do real, tornou-se um bem comum da humanidade. Os

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  • INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    ANDRÉ FRANCO MONTORO

    INTRODUÇÃO

    À CIÊNCIA

    DO DIREITO

    © desta edição: 2000

    EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.

    Diretor Responsável: CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO FILHO

    CENTRO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR: Tel. 0800-11-2433

    Rua Tabatinguera, 140, Térreo, Loja 1 • Caixa Postal 678 Tel. (011) 3115-2433 • Fax (011)

    3106-

    3772 CEP 01020-901 - São Paulo, SP, Brasil

    Aos meus alunos com a esperança de que, bem conhecendo o Direito, melhor possam servir

    à

    Justiça.

    "Teu dever é lutar pelo direito, mas no dia em que encontrares o direito em conflito com a

    justiça,

    luta pela justiça" (Dos mandamentos do advogado redigidos por EDUARDO COUTURE)

    "O direito não é uma pura teoria, mas uma força viva. Todos os direitos da humanidade

    foram

    conseguidos na luta. O direito é um trabalho incessante, não somente dos poderes públicos,

    mas

    da nação inteira" (A luta pelo direito, IHERING)

    Ao concluir o presente volume, escrito simultaneamente ao exercício do magistério e ao

    desempenho do mandato parlamentar, pareceu-me de justiça dedicá-lo:

    a meus pais, de quem recebi a lição simples do amor ao trabalho;

    à minha mulher, que me ajudou e estimulou a seguir essa lição;

    a meus filhos e netos, a quem espero deixar a mesma mensagem.

    Brasília, julho de 1971.

    "O moderno é ler Platão."

    Umberto Eco

    "Enquanto na Europa Moderna os filósofos idealistas constroem cada um seu sistema

    pessoal, a

    filosofia de Aristóteles, descrição e visão do real, tornou-se um bem comum da

    humanidade. Os

  • juristas não têm o direito de ignorar essa filosofia."

    Michel Villey

    "Para certo público universitário S. Tomás seria um símbolo do `obscurantismo medieval',

    ultrapassado pela ciência moderna. É suficiente lê-lo para mudar de opinião."

    Michel Villey

    "Recriminaram-me, com razão, a ignorância das idéias de S. Tomás. Quantos erros teriam

    sido

    evitados se houvéssemos conservado com fidelidade as suas doutrinas! Quanto a mim,

    creio que

    se as houvesse conhecido antes, não teria escrito o meu livro. As idéias fundamentais que

    desejava publicar já se acham expressas, com clareza perfeita e notável profundidade, por

    esse

    pensador vigoroso."

    lhering

    "A análise do sentimento de justiça foi feita por S. Tomás em termos que nunca foram

    ultrapassados."

    L. Duguit

    SUMÁRIO

    Prefácio à 25.' edição 1

    Prefácio à 23.' edição: "Nova Visão do Desenvolvimento" 3

    Prefácio à 21.' edição: "Novos Direitos da Pessoa Humana" 7

    1. Direito ao ambiente sadio (9); 2. Direito ao trabalho (12); 3. Direitos

    do Consumidor (13); 4. Direito de participação (15); 5. Direito ao

    desenvolvimento (19)

    Prefácios anteriores 21

    Plano de trabalho 25

    1 - PRIMEIRA PARTE - O DIREITO COMO CIÊNCIA 29

    (Epistemologia Jurídica)

    O CONCEITO DE DIREITO

    2 - 1. Origens do vocábulo (29); 2. Pluralidade de significações do direito 61

    - Cinco realidades fundamentais (33); 3. Direito-conceito análogo (42);

    4. Aplicação dos princípios da analogia às diversas significações do

    direito (44); 5. Outras formulações (53); 6. Bibliografia (59).

    O PROBLEMA DA CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS

    1. O direito como ciência (61); 2. Classificação das ciências de Augusto

    Cocote e de Dilthey (62); 3. A ordem universal (65); 4. A classificação

    de Aristóteles e suas modificações (70); 5. Outras formulações (77); 6.

    Bibliografia (81).

    3 - O DIREITO NO QUADRO DAS CIÊNCIAS 83

    1. A teoria no direito (83); 2. A técnica no direito (89); 3. A ética e o

    direito - O direito como ciência normativa ética (94); 4. Outras

    formulações (98); 5. Bibliografia (103).

  • 4 - VISÃO CONJUNTA DA CIÊNCIA DO DIREITO 105

    5 - 1. As diversas ciências jurídicas (105); 2. A divisão do direito em público 121

    e privado (110); 3. Outras formulações (113); 4. Bibliografia (117).

    SEGUNDA PARTE - O DIREITO COMO JUSTO

    (Axiologia Jurídica)

    O CONCEITO DE JUSTIÇA

    1. O Direito como exigência da justiça (/21); 2. Acepção subjetiva e objetiva da justiça

    (125); 3.

    Sentido latíssimo, lato e estrito da justiça (128); 4. Características essenciais da justiça

    (130); 5.

    Espécies de justiça: comutativa, distributiva e social (138); 6. Virtudes anexas à justiça

    (140); 7.

    Outras formulações (142); 8. Bibliografia (147).

    XII INTRODUÇÃO À CIÊNCIA ~O DIREITO

    6 - A JUSTIÇA COMUTATIVA

    149

    7 - 1. Conceito de justiça comutativa (149); 2 A "alteridade" na justiça 173

    comutativa (151); 3. O "devido" na justi~a comutativa (152); 4. A

    "igualdade" na justiça comutativa (159); 5. Aplicações da justiça

    comutativa (160); 6. Outras formulações (154); 7. Bibliografia (171).

    A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA

    8 - 1. O conceito de justiça distributiva (173); Z A "alteridade" na justiça

    distributiva (176); 3. O "devido" na justiça distributiva (182); 4. A

    "igualdade" na justiça distributiva (189); 5. Aplicações da justiça

    distributiva (192); 6. Outras formulações (2'5); 7. Bibliografia (210).

    A JUSTIÇA SOCIAL

    212

    9 _ 1. Conceito de justiça social (212); 2. A "alteridade" na justiça social

    (215); 3. O "devido" na justiça social (217); 9. A "igualdade" na justiça

    social (225); 5. Aplicações da justiça social (227); 6. Outras formulações

    (231); 7. Bibliografia (240).

    SIGNIFICAÇÃO DA JUSTIÇA PARA O

    DIREITO 242

    1. Concepção positivista e concepção ética do direito (243); 2. O

    positivismo filosófico (244); 3. O positivismo t;ientífico no direito (247);

    4. O positivismo jurídico (252); 5. Doutrina clássica do direito natural

    (257); 6. Doutrina racionalista ou do direito NaturalI abstrato (272); 7.

    Doutrina dos valores ou da cultura (275); 8. Conclusões (279); 9. Outras

    formulações (282); 10. Bibliografia (289).

    10 TERCEIRA PARTE - O DIREITO CbMO NORMA 293

    (Teoria da norma jurígica)

    - CONCEITO DE LEI E NORMA JURÍDICA

    11 1. Etimologia e diversidade de significação do vocábulo "lei" (293); 321

    2. A lei universal ou cósmica (296); 3. A lei humana, ética ou moral

    (300); 4. A lei jurídica (305); 5. Outras formulações (314); 6.

    Bibliografia (320).

    - ESPÉCIES E FONTES DA NORMA JURÍDICA

  • 1. O problema das fontes do direito. Fontes formais e materiais.

    Perspectiva filosófica, sociológica e jurídica (321); 2. Importância e

    conceito de lei: elemento formal, material e inttrumental (327); 3. As

    diversas espécies de lei (333);.4. Os costumes jurídicos: denominações,

    conceito, importância, espécies (347); 5. A jurisbrudência. Seu conceito

    e importância como fonte do direito (352); 6. A doutrina como fonte do

    direito. Conceito e importância (356); 7. O problema das fontes não

    estatais (358); 8. As fontes materiais: a realidade social e os valores

    jurídicos (361); 9. Outras formulações (365); 1O. Bibliografia (367).

    12 - INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

    1. Interpretação e hermenêutica: conceito (369); Espécies de interpretação: quanto à

    origem, ao

    método e aos efeitos (372); 3. Sistemas ou escolas de interpretação: sistemas tradicionais

    oti

    legalistas e sistemas

    SUMÁRIO XIII

    l03 modernos (375); 4. Novas correntes (379); 5. A integração jurídica e o

    problema das lacunas da lei (380); 6. Outras formulações (382); 7.

    Bibliografia (386).

    - APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS NO ESPAÇO E NO

    TEMPO 388

    114 1. Limites ao campo de aplicação das normas jurídicas (388); 2. Vigência 403

    das leis no tempo (389); 3. Vigência da lei no espaço (396); 4. Outras

    formulações (398); 5. Bibliografia (402).

    - DIVISÃO DO DIREITO EM PÚBLICO E PRIVADO

    1. Histórico e critérios da givisão do direito em público e privado (403);

    2. Ramos do direito público: direito constitucional, administrativo, fiscal,

    judiciário, penal, internacional público (406); 3. Ramos do direito

    privado: direito civil, direito comercial, direito do consumidor, direito do

    trabalho e direito internacional privado (420); 4. Outras formulações

    (429); 5. Bibliografia (433).

    QUARTA PARTE - O DIREITO COMO FACULDADE

    (Teoriy dos Direitos subjetivos)

    15 - CONCEITO DE DIREITO SUBJETIVO :

    1. Noções preliminares: denominações e problemas (437); 2. Teorias negadoras do direito

    subjetivo: teoria objetiva ou realista de Duguit e teoria formalista de Kelseq (438): 3.

    Teorias sobre

    a natureza do direito

    1. Análise do direito subjetivo em seus elementos (454); 2. O sujeito do direito. Sujeito

    ativo e

    sujeito passivo. O problema dos direitos sem sujeito. O dever jurídico. A prestação (455);

    3. Objeto

    do direito: objeto imediato; prestação; objeto mediato; coisas, pessoas ou ações (460); 4. A

    relação

  • jurídica. Seu elemento gerador: o fato jurídico (fatos naturais, atos jurídicos e atos ilícitos)

    (465); 5.

    A proteção jurídica: a sanção, a coação e a coerção. Espécies de sanção. A ação jurídica e o

    direito de ação (467); 6. Outras forr>hulações (472); 7. Bibliografia (475).

    17- CLASSIFICAÇÃO DOSA DIREITOS SUBJETIVOS 477

    1. Critérios de classificaçN0 (477); 2. Classificação fundada no sujeito passivo: direitos

    relativos ee

    absolutos (478); 3. Classificação fundada no sujeito ativo: direitos próprios aos indivíduos,

    próprios

    às instituições e comuns a indivíduos e instituições (479); 4. Classificação fundada no

    objeto do

    direito: direitos da personalidade, direitos reais, direitos obrigacionais (480); 5.

    Clzassificação

    fundada na finalidade do direito: direito-interesse e direito-ft nção (484); 6. Outras

    formulações

    (485); 7. Bibliografia (488).

    437

    subjetivo: doutrinas da vontade (Windscheid), do interesse (Ihenng) e mistas (Jellinek,

    Salleiles

    Michoud) (443); 4. Conclusões. Tríplice aspecto do direito subjetivo: direito-interesse,

    direito-poder

    e direito

    relação (447); 5. Outras formulações (449); 6. Bibliografia (452).

    16 - ELEMENTOS DO DIREITO SUBJETIVO

    454

    369

    XII INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    6 - A JUSTIÇA COMUTATIVA 149

    7 - 1. Conceito de justiça comutativa (149); 2. A "alteridade" na justiça 173

    comutativa (151); 3. O "devido" na justiça comutativa (152); 4. A

    "igualdade" na justiça comutativa (159); 5. Aplicações da justiça

    comutativa (160); 6. Outras formulações (164); 7. Bibliografia (171).

    A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA

    8 - 1. O conceito de justiça distributiva (173); 2. A "alteridade" na justiça 212

    distributiva (176); 3. O "devido" na justiça distributiva (182); 4. A

    "igualdade" na justiça distributiva (189); 5. Aplicações da justiça

    distributiva (192); 6. Outras formulações (205); 7. Bibliografia (210).

    A JUSTIÇA SOCIAL

    9 _ 1. Conceito de justiça social (212); 2. A "alteridade" na justiça social 242

    (215); 3. O "devido" na justiça social (217); 4. A "igualdade" na justiça

    social (225); 5. Aplicações da justiça social (227); 6. Outras formulações

    (231); 7. Bibliografia (240).

    SIGNIFICAÇÃO DA JUSTIÇA PARA O DIREITO

    1. Concepção positivista e concepção ética do direito (243); 2. O

    positivismo filosófico (244); 3. O positivismo científico no direito (247);

  • 4. O positivismo jurídico (252); 5. Doutrina clássica do direito natural

    (257); 6. Doutrina racionalista ou do direito natural abstrato (272); 7.

    Doutrina dos valores ou da cultura (275); 8. Conclusões (279); 9. Outras

    formulações (282); 10. Bibliografia (289).

    TERCEIRA PARTE - O DIREITO COMO NORMA

    (Teoria da norma jurídica)

    10 - CONCEITO DE LEI E NORMA JURÍDICA 293

    11 1. Etimologia e diversidade de significação do vocábulo "lei" (293); 321

    2. A lei universal ou cósmica (296); 3. A lei humana, ética ou moral

    (300); 4. A lei jurídica (305); 5. Outras formulações (314); 6.

    Bibliografia (320).

    - ESPÉCIES E FONTES DA NORMA JURÍDICA

    1. O problema das fontes do direito. Fontes formais e materiais.

    Perspectiva filosófica, sociológica e jurídica (321); 2. Importância e

    conceito de lei: elemento formal, material e instrumental (327); 3. As

    diversas espécies de lei (333);.4. Os costumes jurídicos: denominações,

    conceito, importância, espécies (347); 5. A jurisprudência. Seu conceito

    e importância como fonte do direito (352); 6. A doutrina como fonte do

    direito. Conceito e importância (356); 7. O problema das fontes não

    estatais (358); 8. As fontes materiais: a realidade social e os valores

    jurídicos (361); 9. Outras formulações (365); 10. Bibliografia (367).

    modernos (375); 4. Novas correntes (379); 5. A integração jurídica e o problema das

    lacunas da lei

    (380); 6. Outras formulações (382); 7.

    Bibliografia (386).

    13 - APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS NO ESPAÇO E NO TEMPO 388

    ...........................................

    1. Limites ao campo de aplicação das normas jurídicas (388); 2. Vigência das leis no tempo

    (389);

    3. Vigência da lei no espaço (396); 4. Outras formulações (398); 5. Bibliografia (402).

    14 - DIVISÃO DO DIREITO EM PÚBLICO E PRIVADO 403

    1. Histórico e critérios da divisão do direito em público e privado (403); 2. Ramos do

    direito público:

    direito constitucional, administrativo, fiscal, judiciário, penal, internacional público (406);

    3. Ramos

    do direito privado: direito civil, direito comercial, direito do consumidor, direito do

    trabalho e direito

    internacional privado (420); 4. Outras formulações

    (429); 5. Bibliografia (433).

    QUARTA PARTE - O DIREITO COMO FACULDADE (Teoria dos Direitos Subjetivos)

    15 -

    CONCEITO DE DIREITO SUBJETIVO 437

    1. Noções preliminares: denominações e problemas (437); 2. Teorias negadoras do direito

    subjetivo: teoria objetiva ou realista de Duguit e teoria formalista de Kelsen (438); 3.

    Teorias sobre

  • a natureza do direito subjetivo: doutrinas da vontade (Windscheid), do interesse (Ihering) e

    mistas

    (Jellinek, Salleiles, Michoud) (443); 4. Conclusões. Tríplice aspecto do direito subjetivo:

    direito-

    interesse, direito-poder e direitorelação (447); 5. Outras formulações (449); 6. Bibliografia

    (452).

    16 - ELEMENTOS DO DIREITO SUBJETIVO 454

    1. Análise do direito subjetivo em seus elementos (454); 2. O sujeito do direito. Sujeito

    ativo e

    sujeito passivo. O problema dos direitos sem sujeito. O dever jurídico. A prestação (455);

    3. Objeto

    do direito: objeto imediato; prestação; objeto mediato; coisas, pessoas ou ações (460); 4. A

    relação

    jurídica. Seu elemento gerador: o fato jurídico (fatos naturais, atos jurídicos e atos ilícitos)

    (465); 5.

    A proteção jurídica: a sanção, a coação e a coerção. Espécies de sanção. A ação jurídica e o

    direito de ação (467); 6. Outras formulações (472); 7. Bibliografia (475).

    17- CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS SUBJETIVOS

    1. Critérios de classificação (477); 2. Classificação fundada no sujeito passivo: direitos

    relativos e

    absolutos (478); 3. Classificação fundada no sujeito ativo: direitos próprios aos indivíduos,

    próprios

    às instituições e comuns a indivíduos e instituições (479); 4. Classificação fundada no

    objeto do

    direito: direitos da personalidade, direitos reais, direitos obrigacionais (480); 5.

    Classificação

    fundada na finalidade do direito: direito-interesse e direito-função (484); 6. Outras

    formulações

    (485); 7. Bibliografia (488).

    SUMÁRIO

    XIII

    12 - INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

    ...........................

    1. Interpretação e hermenêutica: conceito (369); 2. Espécies de interpretação: quanto à

    origem, ao

    método e aos efeitos (372); 3. Sistemas ou escolas de interpretação: sistemas tradicionais ou

    legalistas e sistemas

    369

    477

    XIV INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    18 - A PESSOA FÍSICA 490

    1. Conceito de pessoa física. Denominações. Conceito filosófico, psicológico e jurídico de

    pessoa

    (490); 2. A capacidade da pessoa física (491); 3. Começo e fim da personalidade (494); 4.

    Outras

    formulações (497); 5. Bibliografia (498).

  • 19 - A PESSOA JURÍDICA

    1. Conceito de pessoa jurídica. Denominações. Teoria sobre a natureza da pessoa jurídica

    (500);

    2. Classificação das pessoas jurídicas (502); 3. Capacidade da pessoa jurídica (504); 4.

    Começo e

    fim da pessoa jurídica (505); 5. Outras formulações (506); 6. Bibliografia (509).

    QUINTA PARTE - O DIREITO COMO FATO SOCIAL

    (Sociologia do Direito)

    20 - CONCEITO DE SOCIOLOGIA DO DIREITO

    1. Precursores, fundadores e cultores da sociologia jurídica (513); 2. Distinção entre

    filosofia do

    direito, ciência do direito e sociologia do direito (518); 3. Os grandes problemas da

    sociologia

    jurídica (520); 4. Outras formulações (523); 5. Bibliografia (525).

    21 - MICROSSOCIOLOGIA JURÍDICA

    1. Conceito de microssociologia. Espécies jurídicas fundamentais: relações jurídicas e

    sedimentos

    jurídicos (527); 2. As relações jurídicas fundamentais: direito social e direito interindividual

    (530); 3.

    Os sedimentos jurídicos de profundidade. Direito organizado e direito espontâneo (535); 4.

    Outras

    formulações (540); 5. Bibliografia (542).

    22 - SOCIOLOGIA JURÍDICA DIFERENCIAL OU TIPOLÓGICA..

    1. Objeto da sociologia jurídica diferencial ou tipológica (544); 2. Ordenamentos jurídicos

    dos

    grupos particulares. Direito estatal e direito social. Direito social comum, do trabalho, do

    esporte, da

    igreja, internacional. Conclusões (545); 3. Sistemas jurídicos das sociedades globais,

    Tipologia de

    Max Weber e Gurvitch. Sistemas contemporâneos. O sistema jurídico brasileiro (558); 4.

    Outras

    formulações (576); 5. Bibliografia (579).

    23 - SOCIOLOGIA GENÉTICA DO DIREITO 580

    1. Os temas da Sociologia Genética do Direito (580); 2. Influência da sociedade sobre o

    direito

    (581); 3. Influência do direito sobre a sociedade (592); 4. Outras formulações (596); 5.

    Bibliografia

    (600).

    PREFÁCIO À 25.a EDIÇÃO

    Em suas sucessivas edições, a presente Introdução à Ciência do Direito tem recebido

    diferentes

    prefácios. Eles vêm sendo mantidos por uma preocupação pedagógica: mostrar o direito

    vivo.

  • Por isso, são indicados pontos atuais na evolução histórica do direito, como os novos

    direitos do

    meio ambiente, do consumidor, do desenvolvimento, da participação da sociedade civil.

    A esses direitos que vêm sendo consagrados é oportuno acrescentar um novo tipo de direito

    que

    se desenvolve paralelamente ao atual processo de integração de países em grandes

    comunidades

    regionais. Trata-se do "direito comunitário", elaborado, notadamente, no processo da União

    Européia e na formação do Mercosul.

    Esse direito comunitário, distinto do direito nacional e do direito internacional clássico, é

    uma nova

    realidade jurídica que vem se formando com normas próprias - leis ou normas comunitárias

    - e até

    tribunais específicos, com competência jurisdicional, como o Tribunal de Luxemburgo na

    Comunidade Européia.

    Essa referência aos novos direitos mostra, em oposição às concepções estáticas e

    ultraconservadoras, o sentido dinâmico e transformador do direito.

    São Paulo, junho de 1998

    ANDRÉ FRANCO MONTORO

    PREFÁCIO À 23.- EDIÇÃO NOVA VISÃO DO DESENVOLVIMENTO

    "Mais grave do que o sofrimento dos famintos é a inconsciência dos fartos."

    Depois de sucessivas assembléias mundiais dedicadas ao "desenvolvimento econômico", a

    ONU,

    por iniciativa do Ex-Presidente do Chile, Patricio Aylwin, tomou a decisão histórica de

    convocar

    uma reunião de Chefes de Estado e de Governo de todos os países do mundo para debater

    os

    problemas do atual modelo de desenvolvimento e abrir caminhos para um novo

    "desenvolvimento

    social".

    A Conferência - Cúpula Mundial pelo Desenvolvimento Social, Copenhague, 6 a

    12.03.1995 - teve

    o sentido de grave advertência sobre os rumos do desenvolvimento econômico mundial.

    Mostrou a face injusta e insustentável do atual progresso e indicou novos caminhos para um

    desenvolvimento mais humano, que não pode se limitar aos aspectos econômicos e

    financeiros. A

    reunião de Copenhague abriu, em escala mundial, uma nova visão do desenvolvimento.

    Três questões fundamentais integraram a ordem do dia da Conferência:

    1. a luta contra a pobreza;

    2. o apoio à integração social dos grupos marginalizados; 3. a criação de empregos e

    oportunidades de trabalho.

    O quadro da pobreza

    A mundialização da economia e o progresso das tecnologias aumentam a cada dia a

  • interdependência entre as nações. Caminhamos para um mundo só. Chegou-se a admitir

    que essa

    mundialização beneficiaria a todos. Mas a presente realidade mundial oferece contrastes

    gritantes.

    Ao lado das conquistas e avanços do desenvolvimento econômico, cresce e se agrava

    continuamente um quadro de miséria, desemprego, marginalização e desigualdades

    inadmissíveis.

    4 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    Os dados são estarrecedores. Enquanto avança o progresso econômico e a riqueza das

    nações:

    - mais de 1 bilhão de pessoas, isto é, uma quinta parte da população mundial, passa fome e

    vive

    em condições de extrema pobreza;

    - 30% de toda população em idade economicamente ativa está desempregada;

    - em países altamente industrializados, e não apenas nos demais, o desemprego e a exclusão

    social tornaram-se endêmicos. "Tanto nos Estados Unidos como na Comunidade Européia

    cerca

    de 15% da população vive abaixo do limiar da pobreza", diz textualmente o Documento de

    Antecedentes da Reunião de Copenhague.

    Pobres, desempregados, sem-teto, trabalhadores migrantes, meninos de rua, periferias das

    grandes cidades, minorias marginalizadas, constituem em todo o mundo grupos carentes,

    vítimas

    de discriminações de toda ordem. Em lugar da igualdade desejada existe o progressivo

    agravamento das desigualdades. "Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez

    mais

    pobres", enfatizou o Secretário-Geral das Nações Unidas, Sr. . A persistência e

    o

    contínuo agravamento dessa realidade mostram que não se trata de uma situação

    conjuntural,

    mas de um quadro de pobreza estrutural grave e ameaçadora.

    É urgente modificar esse quadro. Como disse o Presidente da França, Mitterrand, "não

    podemos

    deixar que o mundo se transforme num mercado global, sem outra lei que a do mais forte.

    Precisamos repensar esse mundo e introduzir o social entre os pontos maiores de nossas

    preocupações".

    Integração dos marginalizados

    Para enfrentar a situação de pobreza e dos grupos marginalizados, não bastam os

    tradicionais

    programas de socorro e assistência. Impõese o esforço pela adoção de uma nova política de

    integração social.

    • preciso incluir os excluídos.

    • desenvolvimento social, centrado na dignidade das pessoas humanas e no reconhecimento

    da

    cidadania, exige não apenas medidas emergenciais de alívio à pobreza, mas políticas que

    elevem

  • os marginalizados à condição não de objeto, mas de agentes do seu próprio

    desenvolvimento.

    Essa integração dos excluídos e sua participação nos programas de desenvolvimento só são

    possíveis em nível local. Documentos preparatórios da Conferência indicaram a

    necessidade de

    "acolher

    PREFÁCIO À 233 a EDIÇAO 5

    formas descentralizadas de gestão da coisa pública" e de "políticas sociais

    descentralizadas",

    longe das custosas centralizações burocráticas

    • mais perto das populações locais.

    Os debates mostraram a importância e o sucesso de programas descentralizados e

    iniciativas

    locais, ao lado do fracasso de grandes programas centralizados, de custos elevados,

    geradores de

    corrupção

    • ineficiência.

    Exemplos dessa ineficiência encontram-se em todas as partes do mundo. O Relatório

    Nacional

    Brasileiro, com base nos cálculos do Banco Mundial, reconheceu que "somente 10% dos

    recursos

    empregados em programas sociais atingem seu público-alvo", isto é, 90% dos recursos

    disponíveis

    são absorvidos pela burocracia e por medidas

    • contratos de seriedade discutível. Até mesmo na Dinamarca, uma gigantesca rede de

    assistência

    pública criou uma camada de parasitas sociais, para quem mais vale a pena viver do seguro-

    desemprego concedido pelo Estado do que trabalhar. Cálculos do próprio Governo indicam

    que

    existem cerca de 200 mil assistidos no país.

    Criação de empregos

    O grande caminho para a integração dos marginalizados é a criação de novos empregos. A

    maior

    parte da população em estado de pobreza não possui emprego. Como escreveu Ignácio

    Sachs, o

    progresso dos dois primeiros objetivos da Conferência - combate à miséria e integração

    social -

    dependerá em grande parte dos resultados alcançados na criação de empregos, pois "a

    integração

    produtiva é a única forma de atacar as raízes da exclusão social". E, em linguagem mais

    simples, o

    Presidente do Chile, Eduardo Frei, e o PrimeiroMinistro Felipe Gonzalez, da Espanha,

    disseram

    com palavras semelhantes: "O melhor caminho para sair da pobreza é o trabalho".

    Os Estados, os organismos internacionais e a sociedade civil dispõem de meios e

    possibilidades

  • de executar uma ampla política de emprego, através de investimentos em infra-estrutura e

    projetos

    geradores de emprego, ação descentralizada e participativa, incentivo as economias locais.

    Lugar

    destacado nesses programas deve ocupar o apoio às pequenas empresas e cooperativas, que

    são

    os principais geradores de trabalho e renda. No Brasil existem hoje cadastradas mais de 4

    milhões

    de pequenas empresas. E as não cadastradas são em número bem maior, gerando

    oportunidades

    de trabalho para milhões de brasileiros.

    Existem hoje, em todo o mundo, milhares de experiências, exemplos e possibilidades de

    multiplicação de pequenos empreen-

    8 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    PREFÁCIO À 21.a EDIÇÃO

    9

    Ao lado dos técnicos da administração, da economia, da informática e das demais

    especializações,

    os homens do direito têm a missão específica de atuar no sentido de que o desenvolvimento

    da

    vida social se processe em termos de justiça, isto é, que se assegure a cada homem e a todos

    os

    homens o respeito que lhes é devido, a partir de sua dignidade fundamental de pessoa.

    A justiça é o valor que deve iluminar todo o campo do direito. Não se trata de contrapor a

    realidade

    a um modelo idealista e absoluto que "fica longe numa caverna platônica". É na planície em

    que

    vivemos, no processo histórico-social da luta entre liberdade e opressão, minorias

    dominadoras e

    maiorias sacrificadas, manifestações de violência ou movimentos de solidariedade, que se

    há de

    exercer, com espírito crítico e independente, a tarefa de construção dos homens do direito.

    Nessa luta pela vigência concreta e viva da justiça é que se realiza a razão de ser do direito.

    Não

    podemos limitar o estudo do direito ao conhecimento pretensamente "neutro", "puro" e

    "objetivo" da

    norma estabelecida, para sua "cega" aplicação.

    A realidade social e a justiça, como valor fundamental, estão presentes em todos os

    momentos da

    vida do direito: na elaboração de normas, na sua interpretação e aplicação, nas sentenças,

    pareceres, petições e recursos. Aceitar as normas jurídicas estabelecidas como inexorável

    imposição dos detentores do poder e negar ao jurista outra tarefa que não seja a de executor

  • mecânico das mesmas significa desnaturar o direito e, mais do que isso, traí-lo.

    É certo que forças poderosas atuam continuamente, com habilidade e competência, no

    sentido de

    impor à sociedade normas que atendem a seus interesses e objetivos, muitas vezes

    contrários ao

    bem comum. É certo também que vivemos em uma sociedade marcada pela injustiça. Mas

    essa

    situação, em lugar de diminuir, só pode aumentar a importância e a responsabilidade dos

    cultores

    do direito. Ela nos obriga a rejeitar, com maior veemência, o papel que se pretende impor

    ao

    jurista: o de instrumento insensível destinado à defesa de um sistema de interesses

    estabelecidos.

    A certas concepções formalistas e normativistas, é preciso opor uma visão humanista e

    humanizadora do direito.

    Formalismo jurídico ou humanisno jurídico? A resposta que decorre da própria natureza do

    direito

    e está contida em um dos mandamentos do advogado, redigidos por Eduardo Couture, é

    clara e

    imperativa: "Teu dever é lutar pelo direito, mas, no dia em que encontrares o direito em

    conflito

    com a justiça, luta pela justiça!" Como adverte Stammler: "Todo direito deve ser uma

    tentativa de

    um direito justo". A fonte das fontes do direito é a pessoa humana.

    NOVOS DIREITOS

    De uma forma geral, todo sistema jurídico moderno reconhece a pessoa humana como valor

    supremo do direito. Os Códigos e as Constituições definem, com a possível precisão e

    crescente

    abrangência, os direitos básicos da pessoa humana. E essa uma tendência universal. Após

    longa

    tradição de solenes documentos nacionais e internacionais, a partir da Magna Carta (1.215),

    passando pelo Bill of Rights inglês de 1699, a Declaração da Independência dos Estados

    Unidos

    (04.07.1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 26.08.1789),

    vigora

    hoje, com a aprovação da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 10.12.1948, a

    Declaração

    Universal dos Direitos Humanos, "como ideal comum a ser atingido por todos os povos e

    todas as

    Nações".

    A Declaração Universal proclama, em seu primeiro "considerando', que o "reconhecimento

    da

    dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos gerais e

    inalienáveis

    constitui o fundamento da liberdade da justiça e da paz do mundo".

    Todos reconhecem que não existe um número fechado desses direitos. A dinâmica da vida

    econômica e social e as transformações que se operam especialmente no campo de novas

  • tecnologias fazem surgir novas realidades e situações que repercutem sobre as pessoas e

    sua

    relações. Essas situações geram novos problemas e a necessidade da formulação de novos

    direitos.

    Entre os novos direitos da pessoa humana que passam a ser reconhecidos pelos sistemas

    jurídicos contemporâneos, podem ser destacados:

    I. direito ao ambiente sadio; 2. direito ao trabalho; 3. direitos do consumidor; 4. direito de

    participação;

    5. direito ao desenvolvimento.

    1. DIREITO AO AMBIENTE SADIO

    A questão ecológica é um dos temas mais importantes de nosso século. O desenvolvimento

    científico e tecnológico deu aos homens enorme poder de destruição, que atinge a qualidade

    de

    vida de milhões de pessoas.

    Como defesa da sociedade, diante dos males e ameaças provocados pelas diversas

    modalidades

    de poluição do ar, das águas, do solo, da flora e da fauna, estão sendo elaboradas novas

    normas

    em quase todos os campos do direito. Em seu conjunto, essas normas de direito

    constitucional,

    administrativo, penal, internacional, civil,

    10 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    processual e outros constituem o que se poderia chamar o moderno direito ecológico.

    Entre essas normas, ocupam lugar destacado aquelas que definem o direito das pessoas a

    um

    ambiente sadio.

    A nova Constituição do Brasil afirma expressamente esse direito nos termos seguintes:

    "Todos têm

    direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

    essencial à

    sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o

    dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações"

    (art. 225).

    Outras Constituições recentes, como as da Espanha e Portugal, contêm disposição

    semelhante.'

    Para a garantia desse direito, diversas normas estão sendo incorporadas à legislação, como

    a

    definição do "crime ecológico", imputável aos responsáveis pela poluição, ou a exigência

    do estudo

    do "impacto ambiental" provocado por qualquer projeto de obra pública ou privada capaz

    de alterar

    o meio ambiente. Muitas legislações dispõem amplamente sobre o dever do Estado no

    sentido de

    proteger

    Constituição da Espanha, de 1978: "Art. 45. 1. Todos têm direito a desfrutar de um meio

    ambiente

    adequado ao desenvolvimento da pessoa, assim como o dever de o conservar. Os Poderes

  • Públicos velarão pela utilização racional de todos os recursos naturais, com o fim de

    preservar e

    melhorar a qualidade de vida e defender e restaurar e meio ambiente, apoiando-se na

    indispensável solidariedade coletiva. Contra os que violarem o disposto no número anterior

    nos

    termos que a lei fixar serão estabelecidas sanções penais ou, se for caso, sanções

    administrativas,

    bem como a obrigação de reparar o dano causado".

    Constituição de Portugal de 1982: "Art. 66 (Ambiente e qualidade de vida). Todos têm

    direito a um

    ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender.

    Incumbe

    ao Estado por meio de organismos próprios e por apelo e apoio a iniciativas populações: a)

    prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão; b)

    ordenar o

    espaço territorial de forma a construir paisagens biologicamente equilibradas; c) criar e

    desenvolver

    reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e sítios

    de

    modo a garantir a conservação da natureza e a preservação de valores culturais de interesse

    histórico ou artístico; d) promover o aproveitamento nacional dos recursos naturais,

    salvaguardando a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica.

    E conferido a todos o direito de promover, nos termos da lei, a prevenção ou a cessação dos

    fatores de degradação do ambiente, bem como, em caso de lesão direta, o direito à

    correspondente indenização. O Estado deve promover a melhoria progressiva e acelerada

    da

    qualidade de vida de todos os portugueses".

    Por sua originalidade, é interessante reproduzir o texto adotado pela Constituição das

    Filipinas de

    1986. Art. II, Seção 16: "O Estado protegerá e promoverá o direito do povo a uma ecologia

    equilibrada e saudável de acordo com o ritmo e a harmonia da natureza".

    PREFÁCIO À 211 a EDIÇÃO 11 o meio ambiente, criam organismos administrativos

    destinados a

    essa proteção ou instituem processos de "consulta obrigatória" à população

    interessada.

    Dentro dessa linha e para assegurar a efetividade desse direito

    das pessoas a Conciliação Brasileira impõe ao Poder Público, entre outras, as seguintes

    obrigações:

    preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das

    espécies e ecossistemas; preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do

    País e

    fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; definir, em

    todas

    as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente

    protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada

    qualquer

    utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.

  • 4. exigir, na forma de lei, para instalação de obra ou atividade

    potencialmente causadora de significativa degradação do meio

    ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará

    publicidade;

    5. controlar a produção, a comercialização e o emprego de

    técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a

    vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

    6. promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino

    e a conscientização pública para a preservação do meio

    ambiente;

    7. proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que

    coloquem em riscos sua função ecológica, provoquem a extinção

    de espécies ou submetam os animais a crueldade (art. 225).

    E um amplo conjunto de leis, decretos, portarias, resoluções, sentenças judiciais e decisões

    administrativas dispõem sobre diferentes aspectos da proteção ambiental."'

    1. 2.

    3.

    Código de Águas (Dec. 24.643, de 10.07.1934), Convenção para proteção da flora, fauna e

    belezas naturais dos países da América (Dec. Legislativo 3, de 13.02.1948), Código

    Nacional de

    Saúde (Lei 2.312, de 03.09.1954, e Dec. 49.974-A, de 21.01.1961), normas sobre o

    lançamento de

    resíduos tóxicos ou oleosos nas águas interiores ou litorâneas (Dec. 50.877, de 29.06.1961,

    e Lei

    5.357, de 17.11.1967), normas determinando a arborização das margens das rodovias do

    Nordeste

    e a construção de aterros e barragens para represamento de águas (Dec. 4.466, de

    12.11.1964),

    Estatuto da Terra (Lei 4.504, de 30.11.1964), novo Código Florestal (Lei 4.775, de

    15.09.1965),

    promulgação do tratado de proscrição de experiências com armas nucleares na atmosfera,

    no

    espaço cósmico e sob a água (Dec. 58.380 de 26.04.1966), Lei de proteção

    12 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    2. DIREITO AO TRABALHO

    O desemprego e o subemprego de milhões de trabalhadores, em todo o mundo, constituem

    hoje

    uma das maiores ameaças ao desenvolvimento das nações e à sua convivência no plano

    internacional Razões de ordem tecnológica, como a automação e práticas comerciais,

    financeiras e

    monetárias, na economia mundial e nacional, vêm contribuindo para o agravamento do

    problema,

    considerado um dos mais dramáticos de nossa época.

    Diante da gravidade da situação, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) decidiu,

    em 1984,

    convidar os representantes dos governos, dos trabalhadores e dos empregadores e os demais

  • órgãos ou autoridades responsáveis pelo planejamento para examinar as repercussões das

    práticas comerciais, financeiras e monetárias internacionais sobre o desemprego e a

    pobreza.

    Esse apelo foi reiterado na Conferência da OIT, em 1986. E finalmente, em novembro de

    1987, foi

    realizada em Genebra a reunião extraordinária de alto nível destinada a debater esse

    problema,

    com a participação de representantes, no plano mundial, de empregados, de empregadores,

    governos e entidades internacionais como o Banco Mundial, Fundo Monetário

    Internacional, FAO,

    UNESCO, Organização Mundial de Saúde e outros.

    No Documento de Base, preparado pela OIT, são lembradas as disposições da Declaração

    de

    Filadelfia, em que se afirma: "Todos os seres humanos, sem distinção de raça, credo ou

    sexo, têm

    o direit de promover seu bem-estar material e seu desenvolvimento espiritual em condições

    de

    liberdade e dignidade, de segurança econômica e e igualdade de oportunidades".

    à fauna (Lei 5.197, de 03.01.1967), Lei de proteção e estímulos à pesca (Dec. lei 221, de

    28.02.1967), criação do Instituto Brasileiro de Desenvolviment Florestal (Dec.-lei 289, de

    28.02.1967), instituição da Política Nacional d Saneamento (Lei 5.318, de 26.09.1967),

    criação da

    Secretaria Especial do Mei Ambiente - SEMA (Dec. 73.030, de 30.10.1973), medidas de

    prevenção

    controle da poluição industrial (Dec.-lei 1.413, de 14.08.1975 e Dec. 76.389 de

    03.10.1975),

    convenção relativa à proteção do patrimônio mundial, cultural e natural (Dec. Legislativo

    de

    aprovação 74, de 30.06.1997), instituição d Sistema de Proteção ao Programa Nuclear

    Brasileiro -

    SIPRON (Dec.-lei 1.809, de 07.10.1980), política nacional do meio ambiente (Lei 6.938, de

    31.08.1981, e Dec. 88.351, de 01.06.1983), normas sobre distribuição e comercialização de

    produtos agrotóxicos (Lei estadual de São Paulo 4.002, de 05.01.1984), ação civil pública

    de

    responsabilidade por danos causados ao meio ambiente (Lei 7.347, de 24.07.1985),

    medidas para

    proteção de florestas existentes nas nascentes dos rios (Lei 7.754, de 14.04.1989), normas

    sobre

    criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre Política Nacional do

    Meio

    Ambiente (Dec. 99.274, de 06.06.1990, e Lei 7.804, de 18.07.1989), fixação de padrões de

    qualidade do ar (Resolução CONAMA 3, de 28.06.1990).

    PREFÁCIO À 21.a EDIÇÃO 13

    Estão aí as raízes de um novo direito da pessoa humana que começa a ser definido nas

    constituições, na legislação, em acordos coletivos e na vida do direito em todo o mundo: o

    direito

    ao trabalho.

  • Entre os direitos sociais, consagrados na Declaração Universal de 1948, está afirmado

    expressamente o direito ao emprego ou ao trabalho nos termos seguintes: "Toda pessoa tem

    direito ao trabalho, à livre escolha de seu emprego, a condições justas e satisfatórias de

    trabalho e

    à proteção contra o desemprego" (art. 23, n. 1).

    A Constituição do Brasil, de 1988, afirma esse direito: "São direitos sociais a educação, a

    saúde, o

    trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

    assistência aos desamparados" (art. 6.°). E no artigo seguinte determina: "São direitos dos

    trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

    1 -

    relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa; II -

    segurodesemprego em caso de desemprego involuntário".

    Na mesma linha, esse direito é assegurado em Constituições recentes. Assim dispõe a

    Constituição de Portugal: "Art. 51. Incumbe ao Estado através de planos de política

    econômica e

    social garantir o direito ao trabalho assegurado:

    a) a execução de política de pleno emprego, e o direito à

    assistência material dos que involuntariamente se encontrem

    em situação de desemprego;

    b) a segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos

    sem justa causa ou por motivos políticos".

    Constituição do Uruguai: "Art. 53. O trabalho está sob a proteção especial da lei".

    Constituição da Venezuela: "Art. 84. A lei adotará medidas tendentes a garantir a

    estabilidade no

    trabalho, estabelecerá as prestações que recompensem à antigüidade do trabalhador nos

    serviços

    e o protejam quando este cessar".

    Constituição da Itália: "Art. 4. A República reconhece a todos os cidadãos o direito ao

    trabalho e

    promove as condições que o tornam efetivo".

    3. DIREITOS DO CONSUMIDOR

    Os direitos do consumidor começam a ser assegurados no sistema jurídico de todas as

    nações.

    O consumo é uma parte essencial do dia-a-dia do ser humano. 0 consumidor é o sujeito em

    que se

    encerra todo ciclo econômico. Daí a importância de se dar ao consumidor poderes que o

    capacitem para exercer com eficiência o papel de fiscal e agente regulador do

    14 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    mercado. Essa atribuição é particularmente importante nos regimes democráticos. Poucos

    atos de

    governo podem caracterizar melhor a preocupação efetiva pelos direitos da pessoa humana

    e pela

    justiça social como a instituição de mecanismos de defesa da população consumidora.

    Dado o caráter universal da questão, a Organização das Nações Unidas (Resolução ONU

    39/248/85) recomenda aos governos "que devem estabelecer e manter uma infra-estrutura

  • adequada que permita formular, aplicar e vigiar o funcionamento das políticas de proteção

    ao

    consumidor".

    E, entre os direitos que recomenda sejam assegurados ao consumidor, inscrevem-se os

    seguintes:

    1. segurança física dos consumidores;

    2. a proteção dos interesses econômicos dos consumidores; 3. acesso a informações

    necessárias

    aos consumidores para que

    façam escolhas acertadas;

    4. medidas que permitam aos consumidores obter ressarcimento; 5. a distribuição de bens e

    serviços essenciais para o consumidor; 6. produção satisfatória e padronização de execução;

    7.

    práticas comerciais adequadas e informações precisas quanto

    às mercadorias; e

    8. propostas de cooperação internacional na área de proteção ao consumidor.

    Como órgão consultivo da ONU, constitui-se a International Organization of Consumers

    Unions

    (IOCU), que congrega centenas de entidades de defesa do consumidor de diferentes países.

    Essa

    entidade assim definiu os "direitos fundamentais e universais do consumidor":

    1. Direito à segurança. Garantia contra produtos ou serviços que

    possam ser nocivos à vida ou à saúde.

    2. Direito à escolha. Opção entre vários produtos e serviços com

    qualidade satisfatória e preços competitivos.

    3. Direito sobre a informação. Conhecimento dos dados indis

    pensáveis sobre produtos ou serviços para uma decisão

    consciente.

    4. Direito a ser ouvido. Os interesses dos consumidores devem ser levados em conta pelos

    governos no planejamento e execução das políticas econômicas.

    5. Direito à indenização. Reparação financeira por danos causados por produtos ou

    serviços.

    PREFÁCIO À 21. a EDIÇÃO 15

    Direito à educação para o consumo. Meios para o cidadão exercitar conscientemente sua

    função

    no mercado.

    Direito a um meio ambiente saudável. Defesa do equilíbrio ecológico para melhorar a

    qualidade de

    vida agora e preservála para o futuro.

    A defesa dos direitos do consumidor está expressamente assegurada nas Constituições

    modernas,

    como as da Espanha, Portugal e outras.

    A Constituição do Brasil de 1988 incluiu no Título II, entre os "Direitos e garantias

    fundamentais", o

    seguinte preceito: "O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor" (art. 5.°).

    E, no

  • art. 78 das Disposições Constitucionais Transitórias, determinou: "O Congresso Nacional,

    dentro

    de cento e vinte dias da promulgação, elaborará código de defesa do consumidor.

    • Código de Defesa do Consumidor foi instituído pela Lei 8.078, de 11.09.1990, que define

    como

    consumidor "toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como

    destinatário final".

    Basicamente, o Código estabelece como direitos do consumidor:

    1. a proteção à vida, à saúde, à dignidade e à segurança contra

    riscos decorrentes de produtos e serviços;

    2. informação adequada e clara sobre produtos e serviços; 3. proteção contra publicidade

    enganosa e abusiva; 4. reparação de danos patrimoniais e morais; 5. acesso à Justiça e

    garantia

    da defesa desses direitos.

    4. DIREITO DE PARTICIPAÇÃO

    • despertar da sociedade civil e a participação ativa de todos os seus setores no processo de

    desenvolvimento da sociedade constitui um dos fenômenos marcantes da história atual.

    • a substituição dos antigos processos paternalistas e autoritários pela prática de métodos

    democráticos em que as pessoas passam a atuar, fiscalizar e tomar iniciativas através de

    comunidades, grupos de múltipla atuação e movimentos sociais.

    Dentro dessa realidade e com base no texto da Declaração Universal de 1948, podemos

    fixar as

    linhas de um novo direito social em formação, representado pelo direito que tem cada

    homem de

    participar ativamente no processo de desenvolvimento de sua comunidade. Não se trata

    apenas de

    receber os benefícios do progresso, mas de "tomar parte" nas decisões e no esforço para a

    sua

    realização. Em lugar de ser tratado como "objeto" das atenções paternalistas dos

    6. 7.

    16 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    dententores do Poder, o homem passa a ser reconhecido como "sujeito" e "agente" no

    processo do

    desenvolvimento. Trata-se de uma exigência decorrente da natureza inteligente e

    responsável da

    pessoa humana.

    Esse ponto foi assim fixado por João XXIII, na famosa Encíclica Mater et Magistra:

    "Quando as

    estruturas e o funcionamento de um sistema comprometem a dignidade humana dos que

    nele

    trabalham, enfraquecem o sentido de sua responsabilidade ou impedem seu poder de

    iniciativa,

    esse sistema é injusto ainda mesmo que a produção atinja altos níveis (desenvolvimento

    econômico) e seja distribuída conforme as normas da justiça e da eqüidade

    (desenvolvimento

    social)". Daí a necessidade de "dar às instituições sociais a forma e a natureza de autênticas

  • comunidades (...), o que só acontecerá se os seus membros forem sempre considerados

    como

    pessoas e chamados a participar da vida e das atividades sociais". E, entre outras

    aplicações,

    lembra que na vida econômica os empregados "não podem ser tratados como simples

    executores

    silenciosos, completamente passivos, sem possibilidade de dar sua opinião e sugestões e de

    influir

    nas decisões que dizem respeito a seu trabalho". "Quanto à nação, muito importa que os

    cidadãos,

    em todos os setores, se sintam cada vez mais responsáveis pelo bem comum."

    A substituição do "paternalismo" pela "participação" é um imperativo da moderna política

    social. Na

    medida em que se queira respeitar a dignidade da pessoa humana, é preciso assegurar-lhe o

    direito de participar ativamente na solução dos problemas que lhe dizem respeito.

    Como primeiras manifestações desse reconhecimento, já econtramos na Declaração

    Universal dos

    Direitos do Homem (1948) a formulação específica de alguns direitos.

    Assim, o art. 21 afirma: "Todo homem tem o direito de tomar parte no governo de seu país,

    diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. A vontade do povo

    será a

    base da autoridade do governo". Na mesma linha, no campo do trabalho, estabelece o art.

    23:

    "Todo homem tem direito de organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus

    interesses". E o art. 27 dispõe que: "Todo homem tem direito de participar da vida cultural

    da

    comunidade".

    Mas outras modalidades de participação vêm sendo praticadas e reconhecidas, como a dos

    moradores, dos jovens, dos consumidores, dos defensores do meio ambiente etc.

    A importância desse comportamento social, humano e democrático de participação dos

    membros

    da comunidade foi destacada em documento oficial da ONU: "A necessidade de os

    membros de

    um grupo, classe ou organização participarem no planejamento dos seus

    PREFÁCIO À 21.a EDIÇÃO 17

    próprios programas é básica em qualquer tipo de projeto e confundese com a própria

    maneira

    democrática de viver".

    Com esse fundamento, as legislações começam a definir e assegurar o novo direito das

    pessoas à

    participação ativa no processo de desenvolvimento da respectiva comunidade.

    O regime representativo tradicional reduz a participação do cidadão à formalidade do voto.

    Mas as

    novas condições de vida coletiva exigem novas soluções. Camadas cada vez mais amplas

    da

    população tomam consciência do caráter meramente formal e aparente de antigas fórmulas

    democráticas, em que a participação do povo é mais simbólica do que real.

  • O homem contemporâneo começa a tomar consciência de que não é apenas um

    "espectador" da

    história, mas seu "agente". O homem já não se contenta em suportar passivamente os

    acontecimentos. Já não acredita na fatalidade, mas toma em suas mãos a própria história,

    procurando fazê-la e dominá-la. É nisso, sobretudo, que a história se tomou consciente.

    Essa

    consciência não se limita a algumas elites, mas se amplia progressivamente a todos os

    setores da

    vida social. O sentimento de participação é um dos mais poderosos elementos propulsores

    da

    atividade humana. É ele que entusiasma e anima a ação dos construtores de uma obra

    coletiva,

    seja uma casa, uma represa, uma catedral, um bairro ou uma cidade.

    Dentro desse quadro, a nova Constituição do Brasil abriu novos caminhos à participação

    das

    pessoas ao declarar, em seu art. 1.°, que o poder será exercido pelo povo, "por meio de

    representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição". E estabelece em seu

    contexto diferentes modalidades de participação dos cidadãos, como a iniciativa de projetos

    de lei,

    o referendo, o plebiscito e instituições semelhantes. Consagrou, assim, o princípio de que o

    regime

    político brasileiro é não apenas representativo, mas também participativo.

    Além do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular de projetos de lei (art. 14), a

    Constituição

    consagrou outras formas de participação, especialmente relacionadas com os empregados e

    trabalhadores, que constituem a parcela mais ampla da população.

    Assim, assegura "plena liberdade de associação para fins lícitos" (art. 5.°, XVII) e, em

    relação aos

    sindicatos e associações de trabalhadores, estabelece: "É livre a associação profissional ou

    sindical. A lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de Sindicato,

    ressalvado o

    registro do órgão competente vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na

    organização sindical" (art. 8.°, 1 e III).

    0 direito de sindicalização foi estendido aos funcionários públicos: "E garantido ao servidor

    público

    civil o direito à livre associação sindical" (art. 37, VI).

    18 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    Foi concedida aos sindicatos e aos partidos políticos a prerrogativa de impetrar mandado de

    segurança "coletivo" (art. 5.°, LXX).

    A participação através da negociação coletiva é assegurada aos trabalhadores pelo

    "reconhecimento das convenções e acordos coletivos do trabalho" (art. 7.°, XXVI).

    A _ Constituição define como direito dos trabalhadores "a participação nos lucros, ou

    resultados,

    desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa,

    conforme

  • definido em lei" (art. 7.°, XI).

    Estabeleceu, também, o princípio da participação de trabalhadores

    • empregadores nos conselhos dos órgãos públicos, nos termos seguintes: "É assegurada a

    participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que

    seus

    interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação" (art.

    10).

    Na mesma linha, a Constituição estabeleceu a, figura do representante dos empregados nas

    empresas, dentro da seguinte norma: "Nas empresas de mais de duzentos empregados é

    assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-

    lhes

    • entendimento direto com os empregadores" (art. 11).

    Foi mantida a representação paritária de trabalhadores e empregadores na composição dos

    órgãos da justiça do trabalho (art. 111, § 1.°, art. 115, parágrafo único, e art. 116, parágrafo

    único).

    Em relação às ações governamentais na área da assistência social, a Constituição

    determina: "A

    participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das

    políticas

    e no controle das ações em todos os níveis" (art. 204, II).

    O direito à informação - participação na informação - foi estabelecido na forma seguinte:

    "Todos

    têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de

    interesse

    coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob a pena de responsabilidade,

    ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado"

    (art.

    5.°, XXXIII).

    A ação popular foi também assegurada: "Qualquer cidadão é parte legítima para propor

    ação

    popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado

    participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico

    • cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do

    ônus da

    sucumbência" (art. 5.°, LXXIII).

    A Constituição abriu, assim, instrumentos institucionais que permitem a participação cada

    vez mais

    ampla da população no conhecimento, fiscalização e controle dos negócios públicos.

    Assegurou,

    ainda, aos diversos setores da sociedade o direito de atuar na defesa e promoção dos

    interesses

    coletivos.

    PREFÁCIO À 21.a EDIÇÃO 19

    5. DIREITO AO DESENVOLVIMENTO

    "Desenvolvimento é o novo nome da paz." (Paulo VI, Encíclica Populorum Progressio)

    Entre os novos direitos que começam a ser reconhecidos universalmente destaca-se o

    "direito ao

  • desenvolvimento".

    A Assembléia-Geral das Nações Unidas (ONU), reunida em 04.12.1986, decidiu aprovar a

    Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, que pode ser assim sintetizada:

    "A Assembléia-Geral das Nações Unidas,

    Reconhecendo que o desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e político

    abrangente, que visa o constante incremento do bem-estar de toda a população e de todos os

    indivíduos com base em sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e

    na

    distribuição justa dos benefícios daí resultantes;

    Considerando que a eliminação das violações maciças e flagrantes dos direitos humanos

    dos

    povos e indivíduos afetados por situações tais como as resultantes do colonialismo,

    neocolonialismo, apartheid, racismo e discriminação racial, dominação estrangeira,

    ocupação,

    agressão e ameaças contra a soberania nacional,

    • ameaças de guerra contribuiria para o estabelecimento de condições propícias para o

    desenvolvimento de grande parte da humanidade;

    Reafirmando que existe uma relação íntima entre desarmamento e desenvolvimento e que o

    progresso no campo do desarmamento promoveria consideravelmente

    • progresso no campo de desenvolvimento, e que os recursos liberados pelas medidas de

    desarmamento deveriam dedicar-se ao desenvolvimento econômico e social e ao bem-estar

    de

    todos os povos e, em particular, daqueles dos países em desenvolvimento;

    Reconhecendo que a pessoa humana é o sujeito central do processo de desenvolvimento e

    que a

    política de desenvolvimento deveria fazer do ser humano

    • principal participante e beneficiário do desenvolvimento;

    Confirmando que o direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável e que a

    igualdade

    de oportunidades para o desenvolvimento é uma prerrogativa tanto das nações quanto dos

    indivíduos que as compõem;

    Proclama a seguinte Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento:

    Artigo 1.°

    1. O direito ao desenvolvimento é um inalienável direito humano, em virtude do qual toda

    pessoa

    humana e todos os povos têm reconhecido seu direito de participar do desenvolvimento

    econômico, social, cultural e político, a ele contribuir

    • dele desfrutar; e no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam

    ser

    plenamente realizados.

    2. O direito humano ao desenvolvimento também implica a plena realização do direito dos

    povos à

    autodeterminação, que inclui o exercício de seu direito inalienável de soberania plena sobre

    todas

    as suas riquezas e recursos naturais.

    20 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO Artigo 2.°

  • 1. A pessoa humana é o sujeito central do desenvolvimento e deve ser participante ativo e

    beneficiário do direito ao desenvolvimento.

    2. Todos os seres humanos têm responsabilidades pelo desenvolvimento, individual e

    coletivamente.

    3. Os Estados têm o direito e o dever de formular políticas nacionais adequadas para o

    desenvolvimento que visem o constante aprimoramento do bemestar de toda a população e

    de

    todos os indivíduos, com base em sua participação ativa, livre e significativa no

    desenvolvimento e

    na distribuição eqüitativa dos benefícios resultantes.

    Seguem-se outras considerações e definições destinadas a precisar e apoiar a realização

    desse

    direito.

    Em janeiro de 1990, como novo passo no processo histórico do reconhecimento e

    implantação

    desse direito, a ONU realizou em Genebra uma reunião com a participação de 150

    representantes

    de todo o mundo, denominada `Consultas Mundiais sobre a Realização do Direito ao

    Desenvolvimento como um Direito Humano'.

    Os trabalhos da reunião focalizaram três pontos centrais: 1. problemas; 2. critérios; e 3.

    mecanismos de implementação e cumprimento do direito ao desenvolvimento, como um

    direito

    humano.

    Como se vê, trata-se de um processo em marcha para a afirmação de um novo direito. Para

    identificar o caráter de luta desse processo é oportuno lembrar que a Declaração sobre o

    Direito ao

    Desenvolvimento foi aprovada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 1968, pelo

    voto de

    160 países, com a abstenção da Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Israel, Japão e Inglaterra,

    a

    ausência da Albânia, S. Domingos e Vanatu, e o único voto contrário dos Estados Unidos.

    A evolução dos trabalhos da ONU mostra um avanço: nos anos 60 e 70 discutia-se o direito

    à

    autodeterminação dos povos, que passaram a se constituir em Estados independentes. Hoje

    o

    debate avançou para o problema dos direitos da pessoa e das coletividades humanas no

    âmbito

    de estruturas globais de dominação, exploração ou indiferença e se afirma, implícita ou

    explicitamente, o dever de solidariedade.

    Como observou o representante do Brasil na reunião de Genebra, Professor Cançado

    Trindade,

    Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores: "A consagração do direito ao

    desenvolvimento como um direito humano introduz um forte componente ético na

    avaliação e

    condução das relações internacionais contemporâneas".

    "Não se pode falar de uma Agenda para a paz, sem se falar de uma Agenda para o

  • desenvolvimento", afirmou, na mesma linha, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Perez

    de

    Cuellar.

    E, assim, através da história, enfrentando injustiças, opressões e violências, o direito vai

    abrindo

    caminhos para que o desenvolvimento da sociedade se realize dentro do respeito à igual

    dignidade

    de todos os homens. Como lembra Levy-Ullmann, "a idéia de justiça se encontra em todas

    as leis,

    mas não se esgota em nenhuma; é ela, entretanto, que dá sentido e significação a todo o

    direito

    positivo".

    São Paulo, março de 1993.

    PREFÁCIOS ANTERIORES

    PREFÁCIO À 9.a EDIÇÃO

    Desde 1972, quando foi publicada a 3.' edição deste livro, várias edições se sucederam

    rapidamente, sem que tivéssemos a oportunidade de fazer a atualização e as revisões que

    nos

    parecem convenientes.

    A premência de novas tiragens -cinco edições em pouco mais de seis anos - e a intensidade

    da

    vida parlamentar não nos permitiram realizar, de uma só vez, a revisão do texto integral,

    como

    havíamos planejado. Decidimos, por isso, fazer esse trabalho por partes, a partir de agora.

    Nesta

    9.' edição, começamos por rever o Capítulo I da Primeira Parte e introduzir pequenas

    alterações ou

    correções no restante da obra.

    É nossa intenção proceder da mesma forma nas próximas edições, até que tenhamos a obra

    inteiramente revista.

    Ao agradecer a crescente acolhida que professores e alunos têm dispensado a este livro, de

    clara

    orientação humanista, é oportuno lembrar o papel histórico que, no processo de

    desenvolvimento

    nacional, cabe à luta pelo direito.

    Talvez em nenhuma época, como hoje, o estudo e a prática do direito tenham se

    identificado tanto

    com a própria defesa da civilização e do humano. Em qualquer das modalidades de sua

    atuação,

    como juiz, promotor, consultor, advogado, administrador ou legislador, cabe ao jurista

    trabalhar

    permanentemente para assegurar a cada homem o respeito que lhe é devido: suum cuique

    tribuere. E defender, assim, aquela realidade fundamental que é a fonte das fontes do

    direito: a

    pessoa humana.

  • Ao lado dos técnicos da administração, da economia ou da cibernética, os homens do

    direito têm a

    missão insubstituível de fazer com que o desenvolvimento da sociedade se processe em

    termos de

    justiça, isto é, que se assegure a cada homem e a todos os homens o respeito aos direitos

    que lhe

    são devidos.

    Por isso, a Nação entrega às Faculdades de Direito a tarefa humanizadora, essencial ao

    desenvolvimento, de formar cidadãos que serão, na vida nacional, os lutadores permanentes

    da

    justiça e da liberdade.

    São Paulo, janeiro de 1980

    ANDRÉ FRANCO MONTORO

    A disciplina tradicionalmente denominada Introdução à Ciência do Direito recebe hoje

    nova

    designação oficial: Introdução ao Estudo do Direito, por iniciativa do Conselho Federal de

    Educação, que, em 28.01.1972, aprovou o currículo mínimo para os cursos de Direito.

    O conteúdo da presente obra corresponde, com exatidão, à nova denominação oficial.

    Como se

    verifica pelo Plano de Trabalho (p. 25), este livro não se limita ao estudo de direito como

    ciência.

    Seu conteúdo é, na realidade, uma introdução ao estudo do direito em suas diversas

    perspectivas

    fundamentais, como ciência, justiça, norma, direito subjetivo e fato social.

    Além dos naturais acréscimos, atualizações e melhor esclarecimento de alguns textos, sai a

    presente edição com duas modificações mais importantes:

    A primeira - decorrente de solicitação generalizada dos alunos - é a tradução dos textos de

    autores

    estrangeiros citados no parágrafo dedicado a Outras Formulações, que se encontra no fim

    de cada

    capítulo.

    A segunda - que atende também a sugestões de alunos e professores - consiste na inclusão,

    no

    fim de cada volume, de um índice alfabético de assuntos tratados e o outro de autores

    citados.

    Com essa providência, temos em vista facilitar o trabalho de pesquisa e consulta dos que se

    utilizarem desta obra.

    Agradecemos, mais uma vez, a acolhida que tem recebido o presente trabalho e as

    sugestões e

    críticas, que muito têm contribuído para seu aperfeiçoamento.

    São Paulo, janeiro de 1972

    PREFÁCIO À 2." EDIÇÃO

    Publicado o 1.° volume da presente obra (1968), a edição esgotouse antes de ser feita a

    publicação do 2.° volume. Essa circunstância permitiu-nos realizar um remanejamento da

    matéria e

  • acrescentar alguns elementos, que contribuirão para melhor distribuição e aperfeiçoamento

    do

    texto.

    Essas modificações, aconselhadas pela experiência e estimuladas pela contribuição de

    professores, alunos e críticos especializados, acentuam o caráter experimental e dinâmico

    que

    pretendemos dar a esta Introdução à Ciência do Direito.

    Quais os objetivos de um curso de Introdução ao Direito?

    Essa pergunta é fundamental, se quisermos examinar criticamente os atuais cursos e

    introduzir

    nos mesmo modificações que correspondam às expectativas e necessidades de um

    estudante que

    inicia o estudo do Direito. Sem a fixação dos objetivos, é impossível avaliar a eficiência de

    qualquer

    curso.

    No caso do curso de Introdução à Ciência do Direito, pensamos que os principais objetivos

    podem

    ser assim indicados:

    1. Proporcionar aos alunos uma visão geral do campo do direito, o que se desdobra

    naturalmente

    no conhecimento:

    - da posição do direito no conjunto dos conhecimentos humanos;

    - dos ramos do direito público e privado;

    - das disciplinas jurídicas fundamentais.

    2. Introduzir os estudantes no conhecimento da terminologia jurídica e das categorias

    fundamentais do direito, tais como a norma jurídica, suas espécies e interpretação, o direito

    subjetivo e o dever jurídico, a relação jurídica, o sujeito ativo e passivo e o objeto do

    direito, a

    prestação jurídica, a pessoa física e a jurídica, a sanção e a ação judicial, a estrutura e os

    poderes

    do Estado etc.

    3. Conduzir a uma tomada de consciência sobre a importância e o significado do direito na

    promoção do desenvolvimento nacional, em termos de justiça, isto é, com o respeito à

    dignidade

    pessoal de todos os homens.

    A esse tríplice objetivo procura atender o presente estudo, como se pode verificar pela

    distribuição

    de suas partes e especialmente pela leitura dos n. 1, 2, 63 e 69.

    24 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    É oportuna uma palavra sobre os métodos no ensino do Direito.

    A reforma universitária, que se processa no país, tem uma de suas justificativas na

    necessidade de

    ser assegurada ao estudante uma participação ativa no desenvolvimento dos cursos.

    O aluno não pode continuar a ser simples ouvinte de preleções dos professores. Sua

    participação

    deve ser promovida pelo exame e discussão de textos, casos de jurisprudência e questões de

    interesse real.

  • A divisão da turma em grupos, para a pesquisa e debate de tais problemas, com a

    apresentação

    dos resultados perante a classe, tem sido adotada com sucesso e servido de base para

    exposição

    posterior e explicações do professor.

    A realização de trabalho pessoal e escrito pelos alunos sobre temas relativos ao programa é

    outra

    forma de participação ativa do estudante.

    Com o propósito de facilitar essas e outras modalidades de participação e trabalho dos

    alunos no

    desenvolvimento do curso, incluímos no fim de cada capítulo um parágrafo dedicado a

    Outras

    Formulações, onde são transcritos textos divergentes de diversos autores, casos julgados

    pelos

    tribunais ou documentos semelhantes, e outro dedicado à Bibliografia especializada. Como

    o

    mesmo objetivo, incluímos, no fim do volume, um índice geral das matérias tratadas e

    outro índice

    de autores.

    Agradecemos, antecipadamente, as sugestões e críticas que possam contribuir para que este

    livro

    seja um instrumento cada vez mais útil aos que devem auxiliar as novas gerações na

    Introdução à

    Ciência do Direito.

    São Paulo, fevereiro de 1970

    PLANO DE TRABALHO

    1. O direito pode ser encarado sob duas perspectivas diferentes: como elemento de

    conservação

    das estruturas sociais, ou como instrumento de promoção das transformações da sociedade.

    Para os que defendem a função conservadora do direito, a concepção mais adequada a essa

    missão é a identificação do direito com a lei, e, por extensão, ao contrato, como lei entre as

    partes.

    Nesse sentido, é significativa a advertência com que famoso professor de Paris iniciativa

    seu

    curso: "Não vim ensinar o direito, vim expor o Código Civil".

    Mas, principalmente nos países em desenvolvimento, o erro dessa posição é patente. Fazer

    do

    direito uma força conservadora é perpetuar

    • subdesenvolvimento e o atraso. Identificar o direito com a lei é errar duplamente,

    porque

    significa desconhecer seu verdadeiro fundamento

    • condená-lo à estagnação.

    Para fundamentar a missão renovadora e dinâmica do direito é preciso rever certos

    conceitos de

    base e afirmar, na sua plenitude, o valor fundamental, que dá ao direito seu sentido e

    dignidade: a

  • justiça.

    Não se trata de um conceito novo, mas permanente, que deve ser afirmado, estudado e

    efetivamente aplicado, se quisermos dar ao direito sua destinação verdadeira, que é a de

    ordenar

    a convivência

    • o desenvolvimento dos povos.

    Nos textos clássicos de Aristóteles, Ulpiano, Cícero, S. Tomás

    • outros, encontramos formulada a doutrina básica da justiça, mas adaptada a uma realidade

    profundamente diferente da atual. Encontram-se aí as sementes para a elaboração ulterior

    de um

    pensamento jurídico-filosófico, que precisa ser desenvolvido e aplicado às novas condições

    da

    sociedade e ao direito moderno.

    A esse respeito, dois erros, a nosso ver, precisam ser evitados. Primeiro, a simples repetição

    daquele pensamento, como se o mundo não houvesse mudado. Segundo, a rejeição pura e

    simples dessa doutrina, como se a mudança das condições sociais destruísse as exigências

    fundamentais do respeito à pessoa humana.

    26 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    2. Que é direito?

    Na linguagem comum e na linguagem científica, o vocábulo direito é empregado com

    significações

    diferentes. Ele tem sentido nitidamente diverso nas seguintes expressões:

    1. o direito brasileiro proíbe o duelo;

    2. o Estado tem direito de cobrar impostos; 3. o salário é direito do trabalhador; 4. o direito

    é um

    setor da realidade social;

    5. o estudo do direito requer métodos próprios.

    Cada uma dessas frases emprega uma das significações fundamentais do direito. Na

    primeira,

    direito significa a lei ou norma jurídica (direito-norma). Na segunda, direito tem o sentido

    de

    faculdade ou poder de agir (direito-faculdade ou direito-poder). Na terceira, indica o que é

    devido

    por justiça (direito-justo). Na quarta, o direito é considerado como fenômeno social

    (direito-fato

    social). Na última, ele é referido como disciplina científica (direito-ciência).

    São cinco realidades distintas. E, se quisermos saber o que é o direito, precisamos estudar o

    conteúdo essencial de cada uma dessas significações.

    Esse é o plano do presente trabalho. Consta ele de cinco partes:

    1.8 parte - O direito como ciência (Epistemologia Jurídica); 2.' parte - O direito como justo

    (Axiologia Jurídica);

    3.' parte - O direito como norma (Teoria da norma jurídica); 4.' parte - O direito como

    faculdade

    (Teoria dos direitos sub

    jetivos);

    5.' parte - 0 direito como fato social (Sociologia do Direito).

    Primeira Parte

  • O DIREITO COMO CIÊNCIA (Epistemologia Jurídica)

    1

    O CONCEITO DE DIREITO

    SUMÁRIO: 1. Origens do vocábulo: 1.1 Problemas de epistemologia jurídica; 1.2

    Definição nominal

    e real; 1.3 Origem dos vocábulos "direito" e "jurídico" - 2. Pluralidade de significações do

    direito -

    Cinco realidades fundamentais: 2.1 Direito-norma: 2.1.1 Direito positivo e Direito natural;

    2.1.2

    Direito estatal e não-estatal; 2.2 Direito-faculdade; 2.3 Direito justo; 2.4 Direito-ciência;

    2.5 Direito-

    fato social; 2.6 Outras acepções - 3. Direito-conceito análogo: 3.1 Conclusões; 3.2

    Analogia: 3.2.1

    Analogia intrínseca 'ou de proporção; 3.2.2 Analogia extrínseca ou de relação; 3.2.3

    Analogia

    metafórica - 4. Aplicação dos princípios da analogia às diversas significações do direito:

    4.1

    Analogia de relação: 4.1.1 Analogia entre as significações fundamentais do direito.

    Primado da Lei

    ou da Justiça? Formalismo jurídico e humanismo jurídico; 4.1.2 Outra analogia: Direito

    positivo e

    Direito natural; 4.2 Analogia intrínseca: Direito estatal e Direito não-estatal - 5. Outras

    formulações:

    5.1 "Conceito de direito", João Mendes; 5.2 "Uma concepção sociológica do direito", Lévy-

    Bruhl;

    5.3 "Justo, conteúdo essencial da norma jurídica", F. Geny; 5.4 "O Direito e o materialismo

    histórico

    e dialético", K. Marx; 5.5 "Concepção quântica do direito", Goffredo Telles Júnior - 6.

    Bibliografia.

    1. Origens do vocábulo

    1.1 Problemas de epistemologia jurídica

    Ao estudar o direito como ciência, devemos naturalmente examinar sua definição, assim

    como o

    lugar que ele ocupa no conjunto

    das ciências e a natureza de seu objeto. Tais problemas pertencem ao campo da

    Epistemologia

    Jurídica.

    Epistemologia, do grego epistême (ciência) e logos (estudo), significa etimologicamente

    "teoria da

    ciência". Nesse sentido, podemos

    30 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

    dizer, com Machado Neto, que "tratar da ciência do direito, ainda que para o mister

    elementar de

    defini-lo, é fazer Epistemologia".'

  • Há, entretanto, na linguagem filosófica, certa imprecisão e diversidade de conceitos sobre a

    exata

    significação do vocábulo. Assim, Lalande define Epistemologia como "o estudo crítico dos

    princípios, das hipóteses e dos resultados de cada ciência" (Vocabulaire technique et

    critique de la

    Philosophie, verbete "epistemologie"). E, em nota, esclarece que a palavra inglesa

    epistemulogy é

    freqüentemente empregada para designar toda a "teoria do conhecimento" ou "gnosiologia".

    Da

    mesma forma, os italianos, em geral, não costumam distinguir epistemologia e teoria do

    conhecimento. De qualquer forma, os problemas citados: definição de direito, sua posição

    no

    quadro das ciências, a natureza de seu objeto constituem inquestionavelmente temas de

    Epistemologia do Direito.

    1.2 Definição nominal e real

    Conceituar o direito é defini-lo. E há duas espécies de definição: a) nominal, que consiste

    em dizer

    o que uma palavra ou nome significa; b) real, que consiste em dizer o que uma coisa ou

    realidade

    é. Em obediência à recomendação da lógica, é o que vamos fazer

    em relação ao direito. Estudaremos, primeiramente, a significação da

    palavra. Examinaremos, em seguida, a realidade ou realidades que

    constituem o direito.

    O estudo das palavras e da linguagem em geral é da maior importância. Quando um

    vocábulo é

    empregado durante várias gerações para designar uma realidade, ele se apresenta cheio de

    conteúdo e significação. O nome é a experiência acumulada e constitui, de certa forma, o

    limiar da

    ciência.'

    1.3 Origem dos vocábulos "direito" e "jurídico"

    Que significa a palavra "direito"? Qual a sua origem?

    Nas línguas modernas encontramos dois Direito conjuntos de termos utilizados para

    exprimir a

    idéia de direito.

    Um primeiro conjunto liga-se ao vocábulo "direito", que encontra similar em todas as

    línguas

    neolatinas e, de forma geral, nas línguas ocidentais modernas: Droit (francês); Diritto

    (italiano);

    Derecho (espanhol); Recht (alemão); Right (inglês); Dreptu (romeno).

    ~" A. L. Machado Neto, Compêndio de introdução à ciência do Direito. São Paulo,

    Saraiva, 1969, p. 7.

    2' É hoje geralmente reconhecido que a linguagem é elemento fundamental no estudo de

    ciências

    humanas, como o direito e a filosofia. V. "Filosofia da linguagem" e a "Doutrina de

    linguagem

    jurídica", no item 4.2.4, Capítulo 9 do presente volume.

    CONCEITO DE DIREITO 31

  • Essas palavras têm sua origem num vocábulo do baixo latim: directum ou rectum, que

    significa

    "direito" ou "reto". Rectum ou directum é o que é conforme "Directum" a uma régua.

    Mas, ao lado desse, existe outro conjunto de palavras que, nas línguas modernas, liga-se à

    noção

    de direito. Esse conjunto é representado pelos vocábulos: "jurídico", "jurisconsulto",

    "judicial",

    "judiciário', "jurispru