introdução lorene

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Introdução Situada no centro-nordeste de Minas Gerais, na região central da Serra do Espinhaço, Serro fica a 230 quilômetros de Belo Horizonte, pequeno município mais cheio de história é cultura. O trabalho de campo realizado pelos alunos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais da aula de Oficina de Integração Curricular Comum: Metodologias Participativas,(e no caso dos alunos do curso de História, inclui-se também a disciplina metodologia participativa e tecnologias sociais) com intuito de fazermos uma visita nas comunidades quilombolas do serro, de Baú e Ausente, usando das metodologias aprendidas nas aulas com objetivo de aprender e compreender as brincadeiras dos jovens e dos adultos e o oficio realizado pelas comunidades. Comunidade de Ausente é, dispersa e está subdividida nos lugares denominados Papagaio, Massangana, Ausente de Cima e Ausente de Baixo. Fica a 3 km do distrito de Milho Verde. Segundo relatos de moradores, os habitantes do Ausente se originaram da comunidade do Baú são de origem banto, da região centro-sul do continente africano. A comunidade quilombola do Baú está localizada no distrito de Vila Pedro Lessa, próximo a Milho Verde. Os povoados de Ausente e Baú, em Milho Verde, e Quartel do Indaiá, no distrito de São João da Chapada, município de Diamantina, faziam parte da antiga Comarca do Serro-Frio, no século XVIII.

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Lorene Introdução

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IntroduoSituada no centro-nordeste de Minas Gerais, na regio central da Serra do Espinhao, Serro fica a 230 quilmetros de Belo Horizonte, pequeno municpio mais cheio de histria cultura. O trabalho de campo realizado pelos alunos da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais da aula de Oficina de Integrao Curricular Comum: Metodologias Participativas,(e no caso dos alunos do curso de Histria, inclui-se tambm a disciplina metodologia participativa e tecnologias sociais) com intuito de fazermos uma visita nas comunidades quilombolas do serro, de Ba e Ausente, usando das metodologias aprendidas nas aulas com objetivo de aprender e compreender as brincadeiras dos jovens e dos adultos e o oficio realizado pelas comunidades.Comunidade de Ausente , dispersa e est subdividida nos lugares denominados Papagaio, Massangana, Ausente de Cima e Ausente de Baixo. Fica a 3 km do distrito de Milho Verde. Segundo relatos de moradores, os habitantes do Ausente se originaram da comunidade do Ba so de origem banto, da regio centro-sul do continente africano. A comunidade quilombola do Ba est localizada no distrito de Vila Pedro Lessa, prximo a Milho Verde. Os povoados de Ausente e Ba, em Milho Verde, e Quartel do Indai, no distrito de So Joo da Chapada, municpio de Diamantina, faziam parte da antiga Comarca do Serro-Frio, no sculo XVIII.As visitas realizadas nas comunidades datam o dia 30 e 31 de outubro de 2014, o objetivo do trabalho seria de organizar o material que se compe de vdeo, fotos e documentos escritos, que abarquem as diferenas da infncia dos mais velhos e dos mais novos, mostrando quais eram as brincadeiras de cada gerao, no caso da comunidade do Ausente. No caso da comunidade do Ba, a anlise se volta para a questo dos ofcios que fazem presente e que constituem a renda econmica do grupo.

Desenvolvimento Comunidades quilombolas so grupos sociais cuja identidade tnica os distingue do restante da sociedade. Sua identidade se define pelas experincias vividas e as verses compartilhadas de sua trajetria comum e da continuidade enquanto grupo. Trata-se, portanto, de uma referncia histrica comum, construda a partir de vivncias e valores partilhados.( ODwyer,2007.p.42)Se caracterizam pela prtica do sistema de uso comum de suas terras, concebidos por elas como um espao coletivo e indivisvel que ocupado e explorado por meio de regras consensuais aos diversos grupos familiares que compem as comunidades, cujas relaes so orientadas pela solidariedade e ajuda mtua. Segundo a associao Brasileira de Antropologia comunidades quilombolas so grupos que desenvolveram prticas de resistncia e manuteno e reproduo de seus modos de vida caracterstica num determinado lugar.No Brasil, a auto-atribuio de identidades tnicas tem se tornado uma questo importante nos ltimos anos, por meio da organizao poltica de grupos que reivindicam o reconhecimento dos territrios que ocupam, como no caso dos povos indgenas e das chamadas comunidades remanescentes de quilombos, segundo ODwyer essa questo se tornou to importante:A partir da Constituio Brasileira de 1988, o termo quilombo, antes de uso quase restrito a historiadores e referido ao nosso passado como nao, adquire uma significao atualizada, ao ser inscrito no artigo 68 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (ADCT) para conferir direitos territoriais aos remanescentes de quilombos que estejam ocupando suas terras, sendo-lhes garantida a titulao definitiva pelo Estado brasileiro (ODwyer, 2007.p. 45)Partindo disso, nos relatos dos moradores das comunidades do serro, identificvel que, as comunidades do serro apresentam caractersticas que se assemelham as definies citadas acima. Nos relatos capitados doa moradores tanto do Ba quanto do Ausente, percebesse uma ntida identidade com o ser quilombola, as canes que os moradores mais velhos citaram como atividades que faziam em sua infncia, como no havia luz eltrica, as rodas em volta da fogueira formavam um ciclo tanto de unio quanto de identidade, canes e contos rodeavam os ouvidos dos quilombolas, uma forma oral de se passar as histrias e tradies da comunidade.Sobre os mais jovens da comunidade do Ausente, onde o tema brincadeira e infncia foi discutido, percebe-se, ao menos foi uma primeira impresso, que eles se identificam com o ser quilombola porm, devido ao diferente lugar histrico em que eles se encontram, de uma certa forma, colocaram certas tradies da comunidade de lado. Podemos pensar que essas tradies foram perdidas por falta de interesse dos prprios adultos em divulga-la, mas temos que pensar tambm se eles no abandonaram essa propagao das atividades tradicionais da comunidade devido falta de interesse dos mais novos. O problema de se colocar essa questo a falta de tempo em que se deu a pesquisa, algumas horas de conversa no so suficientes para fazer uma anlise dessa amplitude, fora a influencias que os moradores receberam dos mais de 20 alunos que foram fazer a pesquisa, deixando-os inibidos com nossa presena. As tradies da comunidade foram construdas historicamente, de importncia fundamental que elas se preservem, afinal a construes histricas tambm so fatores de uma construo da identidade. Mas as formas de sociabilidade entre eles ainda esto fortemente presentes, pois nas brincadeiras do dia a dia e nas relaes cotidianas em que as crianas e at mesmo os adultos, se afirmam como parte de sujeitos histricos que esto fazendo parte de uma histria de luta e resistncia, o lugar(geogrfico) no e determinante para que isso acontea, mas influencia. No que se remete a identidade da comunidade do Ba, ela se faz na questo dos ofcios praticados dentro da comunidade, em uma relao de novo e o velho onde a arte de se produzir encontra-se novas prticas, como a apicultura e prticas tradicionais que passam de gerao em gerao.Antes dependente da extrao de minerais e pedras preciosas em rios, a comunidade hoje tem sua economia voltada para a produo de derivados do mel e da cana de acar, e apesar da colaborao estabelecida entre a comunidade e algumas associaes e instituies de ensino (tcnico) pelo que apontam os habitantes do Ba, a juventude ainda busca oportunidades de emprego e ascenso social nas cidades que cercam a regio ou nos polos industriais e comerciais da regio. Nota-se ainda assim um enorme valor atribudo ao passado dessas famlias que ali vivem, percebe-se tambm um convvio com a natureza bem menos agressivo e menos intervencionista que outros grupos urbanos ou mesmo rurais. Quando questionado sobre plantar determinada espcie de planta da qual se produzia o mel mais rentvel um dos moradores responde simplesmente no, j tem muito nesses matos por a (essa no a fala exata do individuo, mas tem a mesma conotao).O oficio caracterizado por ser uma arte que sai da produo mecnica dos produtos, onde o sujeito se reconhece em seu trabalho, os homens e mulheres do Ba, se identificam com seu oficio que tambm caracteriza sua identidade quilombola, ela se atribui na produo da economia da comunidade e que constituem os conhecimentos e saberes tradicionais da comunidade.A visita, indita para a maioria, serviu como uma nova forma de abordar a comunidade quilombola no apenas como um conceito teortico e acadmico e conseguir captar as relaes que a teoria no abarca, as especificidades de cada grupo ou comunidade no podem ser observadas seno por dentro, alm de permitir essa aproximao, o contato com as comunidades permitiu humaniza-las, v-las como um grupo real, com seus conflitos e solues prprias, abandonar esteretipos genricos, difcil de faz-lo distncia. Para alm dessa percepo e aproximao, de certa forma contraditoriamente, permitiram tambm ver realizada a teoria, conhecer a realidade das comunidades no que tange a educao, a incluso social e importncia socioambiental. Um aprendizado, uma lio a essa sociedade, vtima de si mesma e predadora da natureza.

Referncia ODWYER, Eliane Cantarino. Terra dos Quilombos: identidade tnica e os caminhos do reconhecimento. TOMO. So Cristvo, Sergipe, N 11, Jul/Dez. 2007.