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Page 1: INTRODUÇÃO - snh2011.anpuh.org · de várias descobertas veio o surgimento das Inquisições, Guerras Religiosas e a Caça às Bruxas, ou seja, foi um tempo de transição. Grande

Mestranda-UNESP/FRANCA

A FEITIÇARIA ANDINA NA MEDICINA COLONIAL DO PERU: SÉCULOS XVI e

XVII

Gabriela Rodrigues Lima

INTRODUÇÃO

As práticas de curas dos povos andinos foram interpretadas como práticas

mágicas e tidas como feitiçaria pelos espanhóis ao chegarem ao Novo Continente. Tal

fator se concretizou nas Extirpações de Idolatrias, onde os visitadores foram os que se

encarregaram da ação, tentando desarticular os nativos em suas práticas e rituais,

julgando-as como diabólicos com o intuito de evangelizar. Ao realizarem tais

extirpações se apropriaram da farmacopéia dos nativos, pois estas novas plantas

poderiam ser eficazes na melhoria de sua medicina. Assim, ao mesmo tempo em que

essas práticas aconteciam, houve a preocupação da coroa espanhola em mandar

expedições para a América, com o motivo de pesquisar sobre as ervas e até mesmo

sobre os animais que poderiam ser usados na medicina, ou seja, a cultura dos nativos

não foi excluída. Este texto tem como objetivo uma breve reflexão por estabelecer como

se deu a transmissão do curandeirismo andino, no caso específico do Peru, nas práticas

médicas dos espanhóis que viviam na colônia e qual a importância que o país que

acabara de ter contato com o “Novo Mundo” deu para as plantas medicinais, partindo da

análise de documentos de processos de Extirpação de Idolatrias colhidos no Arquivo

Arzobispal de Lima, Crônicas e Tratados Médicos do final do Século XVI e Século

XVII.

A preocupação é como se deu a utilização das plantas pelos espanhóis no período

da colonização e se o contato com a farmacopéia ultrapassou as barreiras do preconceito

e da religião chegando a ser utilizado pelos colonos espanhóis, modificando sua forma

de curar. Tratados e Processos de Extirpação de Idolatrias levam em direção de que essa

preocupação existiu e que os remédios naturais andinos impulsionaram a medicina

colonial.

As lacunas sobre os fármacos andinos são muitas, colocar em prática este trabalho

significa ampliar um tema que tem muita relação com a atualidade. Diante desse

contexto os tratamentos naturais sempre estiveram presentes nas sociedades, no Peru

ainda é fortemente utilizado. Estudar como no final do século XVI e durante o século

XVII as plantas andinas fizeram sucesso e inovaram o olhar da medicina dos colonos e

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posteriormente na Europa é importante para verificar as raízes da atual maneira que as

pessoas se utilizam para curar suas enfermidades, pois apesar de consumirem remédios

industrializados, os unguentos e receitas naturais que muitos passam de forma

tradicional nunca perderam a força.

IMAGINÁRIO DA EXPANSÃO MARÍTIMA

Para compreender as ações dos europeus na América é importante entender o

contexto da Europa do século XVI e XVII, no qual o homem estava se tornando

racional, mas que, ao mesmo tempo o Imaginário do Mágico estava presente na

sociedade. Esse período foi palco de transformações sociais contraditórias, pois apesar

de várias descobertas veio o surgimento das Inquisições, Guerras Religiosas e a Caça às

Bruxas, ou seja, foi um tempo de transição.

Grande parte da população europeia era analfabeta, vivia a margem de um sistema

econômico que estava se dissolvendo e com resquícios da crise ocorrida no século XIV

trazidas pela peste, que teve como consequência a fome e pobreza. Em decorrência

dessa situação em grande parte da Europa, o medo e a instabilidade foram sentimentos

vividos pela população e o refúgio deste medo foi a religião.

A religiosidade popular diferenciava-se da cultuada nas igrejas, como a autora

Laura de Mello e Souza coloca “(...) era impregnada de magismo e de elementos

folclóricos, (...)” (SOUZA, 1987, p.7) o homem do início desse tempo dava mais

importância à audição do que a visão e na questão da crença, “(...) a descrença não fazia

parte do universo mental (...).” (SOUZA, 1987, p.7), assim esse período era um misto

entre o pensamento mítico e a ascensão de um entendimento racional.

A crença no Diabo era tão importante quanto em Deus, pois este complementa a

noção da existência divina. Ao demônio se colocava a culpa dos fatos ruins, como a

fome e as doenças e a divindade, as graças concedidas, além de tal relação acreditavam

que haviam pessoas ligadas aos fatos bons e ruins, dessa forma a crença em bruxas e em

feiticeiras foi marcante nesse período. O sobrenatural era intrínseco no homem moderno

e esse contexto se integra no que foi o imaginário das pessoas do período da expansão

marítima, onde este foi levado para o Novo Mundo, onde os rituais nunca antes vistos

pelos espanhóis foram encarados como magia.

Para entender melhor como a medicina andina foi compreendida pelos europeus, é

importante a diferenciação dos termos “bruxaria e feitiçaria”, pois essas concepções são

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muito antigas, e a partir do contato com os ameríndios essas palavras reaparecem para

julgar as práticas diferenciadas que estes povos possuíam. Primeiramente os atores são

os feiticeiros e na modernidade aparece a bruxa. Há diversas definições e controvérsias

para as definições, porém há uma diferença essencial entre essas palavras, que se da na

Época Moderna, que é “o pacto demoníaco”.

Assim, segue a utilização da palavra feitiço para a discussão de como foi enxergue

aos olhos dos espanhóis às práticas mágicas de curandeirismo dos nativos americanos,

pois ao terem contato com tais rituais não compreenderam que fazia parte de uma

cultura distinta, passando a colocar em ação a ideia do corpo doutrinário chamado de

demonologia fundado por Santo Agostinho (SOUZA, 1993, p.23) que tomou força entre

os conquistadores e colonizadores espanhóis levando a ação das Extirpações de

Idolatrias onde destruíram tudo que ao olhar do europeu cristão era relacionado ao culto

do “estranho” e passaram a trabalhar com a diferença do que pertencia a Deus ou não.

Nesse contexto, assim como na Europa onde a feiticeira era descriminada, porém

quando necessitavam batiam a sua porta para buscar a cura de suas doenças,

posteriormente na América Hispânica algo semelhante acontecia, pois ao mesmo tempo

em que destruíam, os europeus aproveitavam para aprender e utilizar as plantas da

farmacopéia nativa.

No artigo de Alice Giraldi, mostra-se a ideia de que a extirpação de idolatrias tinha o

intuito de barrar o crescimento dos rituais, mas apreenderam sobre a cultura dos nativos:

“Para banir a “feitiçaria” no Império Inca, os conquistadores criaram as

campanhas de extirpação de idolatrias”. “Prima da Inquisição, a

perseguição ajudou a desarticular o poder local e ainda ensinou muito aos

jesuítas sobre plantas medicinais”. (GIRALDI, 2012, p.36)

Assim, os Incas tiveram suas práticas encaradas como demoníacas pelos

conquistadores e colonizadores. No seguinte excerto podemos notar a estranheza dos

jesuítas para com a nova cultura, mas que apesar de seus ideais não deixavam de

reconhecer que naqueles rituais estava uma nova possibilidade de se fazer medicina;

“Até o século 18, a medicina europeia resumia-se a tratamentos

duvidosos, como as sangrias. Os Incas, em compensação, dispunham

de vasto conhecimento sobre ervas medicinais. O que arrepiava os

cabelos dos conquistadores eram os rituais exóticos, às vezes com

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sacrifício de animais. Assim, os religiosos combateram a feitiçaria,

mas guardaram seus ingredientes e o modo de usá-los. É o caso do

quinino, usado no tratamento da malária, da coca, empregada como

anestésico local e digestivo, e do bálsamo do Peru, bom para a

cicatrização de feridas.” (GIRALDI, 2012, p.41)

RELAÇÕES COLONIAS

No primeiro momento da colonização, as práticas de “feitiço” eram condenadas por

todos os clérigos, principalmente por Pablo Joseph de Arriaga que escreveu um

importante tratado para se compreender as extirpações de idolatrias no Peru, pois este se

assemelhava a um manual de como os outros extirpadores deveriam torturar e castigar

para resolver de prontidão o problema da idolatria. Porém com o passar do tempo o

olhar para com a medicina natural dos índios foi mudando e na crônica de Felipe

Guaman Poma de Ayala “Nueva corónica y buen gobierno” que possui cerca de 1190

páginas e mais de 300 desenhos que seriam levados até o Rei da Espanha Felipe III, já

se pode notar que os valores para com as plantas foram cambiados, pois este coloca a

importância do tabaco e seus benefícios e como passou a ser utilizado pelos espanhóis,

“(...) algumas plantas, misturas e preparados podem representar usos

diabólicos. Às vezes, talvez distraidamente, o anátema alcança as próprias

substâncias em si, isto é, os simples medicinais e as confecções são carregados

de força demoníaca. O conteúdo natural, medicinal, praticamente se esvai na

leitura de determinados contextos considerados idolátricos.” (VARELLA,

2013, p.403:404)

Tudo se tratava de um jogo de raciocínio travado pela igreja para criar uma nova

ordem do cotidiano dos nativos (VARELLA, 2013, p.412), onde pregavam que a cura

somente se daria através de Deus, como afirmava Ruiz de Alarcón que a presença do

demônio estava nas poções e filtros, criticava com afinco as atividades medicinais dos

índios, porém as descrevia de forma minuciosa, gerando questionamentos de até aonde

iria esta incredulidade, pois com o passar do tempo a confiança para com os curandeiros

passou a aumentar, com ressalvas, pois se trata de um processo de mudança gradativo.

Este debate sobre o imaginário da expansão serve para que haja a reflexão de como o

substrato do maravilhoso (SOUZA, 1993, p.21) influenciou nas relações sociais e

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religiosas nas colônias. Pois a relação que o europeu obteve a partir da ciência do outro

tendo como resultado a associação à demonologia serviu para julgar as práticas

indígenas consideradas idolatrias e que possuíam traços divergentes do padrão europeu,

pois para compreenderem o Novo Mundo os europeus aproximavam as realidades,

como por exemplo, os modelos sabático das feiticeiras europeias ao modo de como os

indígenas preparavam suas medicinas, porém esses julgamentos dos demonólogos

foram importantes para notar como se apropriaram das práticas de curas andinas.

FARMÁCOS

Muitas são as plantas que foram importantes para a inovação e transformação da

medicina naquele período, sendo que estas são importantes até os dias atuais, pois cerca

de 30% da população do Peru não possui acesso a medicina Ocidental e se utilizam de

tais plantas para curar suas enfermidades (UNIVERSIDAD DE SAN MARTÍN DE

PORRES, 2006, p.V). Algumas instituições peruanas defendem que se as medicinas

tradicionais recebessem investimento para serem mais difundidas, seria uma alternativa

mais barata para a população e ajudaria a economia do país crescer, porém por questões

políticas não é o que ocorre.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) define que a medicina tradicional é aquela

que possui como características medicinas baseadas em plantas, animais e minerais,

através de rituais espirituais, técnicas manuais, para prevenir, tratar e diagnosticar as

enfermidades (UNIVERSIDAD DE SAN MARTÍN DE PORRES, 2006, p. VII) Assim

o Peru vive esse contexto de tratar as doenças e as prevenir desde sua formação,

possuindo mais de 30.000 variedades de plantas sendo que dessa quantidade 4.000 são

medicinais. O que temos para explicar como os ameríndios se utilizavam dessas plantas

são somente tratados, crônicas e processos de extirpação de idolatrias, já que estes não

possuíam sistema de escrita, porém mesmo assim, temos informações valiosas para

compreender como eram eficazes e entendiam dos produtos da natureza.

Nicolás Monardes, médico Sevilhano, escreveu um importante tratado em 1580

intitulado “Primera y Segunda Parte y Tercera parte de la Historia Medicinal de las

cosas que se traen de nuestras Indias Occidentales, que sinven en la Medicina” Este

médico inovou a atual medicina praticada na Europa com seu livro que passou a ser

estudado na maioria dos cursos da área, pois este acreditava que a inovação se daria a

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partir da experiência e admirava como os índios manipulavam as plantas. Em seu livro

descreve de forma científica vários vegetais que curam:

“(...) se han descubierto muchas y varias islãs y mucha tierra firme, así em

ló que llaman Nueva España como em ló que llaman Perú, do hay muchas

províncias, muchos reinos, muchas ciudades, que tienen varias y diversas

contumbres, em las cuales se han hallado cosas que jamás em estas partes, ni

em otras del mundo, han sido vistas ni hasta hoy sabidas, y otras que si la

tenemos em estas partes, exceden em la mucha abundancia que de ellas nos

traen, así como oro, plata, perlas, esmeraldas, turquesas y otras piedras

finas (...) Allende de estas riquezas tan grandes, nos envían nuestras Indias

Occidentales muchos árboloes, plantas, yerbas, raíces, zumos, gomas, frutos,

simientes, licores, piedras, que tienen grandes virtudes medicinales, em las

cuales se han lallado y allan muy grandes efectos que exceden mucho em

valor y precio a todo ló susodicho, tanto cuanto es más excelente y

necessária la salud corporal que los bienes temporales; de lascuales cosas

todo el mundo carecía (...)”(MONARDES, 1574, p.1:2)

Em seu documento, o médico coloca um tópico sobre as “higueras del Perú” onde

além da escrita há ilustrações. Monardes se fixa a descrever sobre a erva Coca em um

subtítulo “De La Coca” onde explana sobre a abundancia da erva e a importância desta

para os rituais indígenas, para o dia a dia dos ameríndios e também sobre sua função

medicinal “Las hojas, masticadas o fumadas em cigarrillos, son usadas para aliviar los

sintomas de sofocación en el asma y las moléstias del resfriado”(MONARDES, 1574,

p.289). Antes da folha de coca se tornar matéria prima para o alucinógeno “cocaína” ela

passou a ser utilizada na Europa como estimulante do sistema nervoso se revelando um

ótimo analgésico. Assim os navios que voltavam à Espanha vindos do Novo Mundo

passaram a levar tal erva que passou a ser um novo tratamento analgésico. Assim

através dos escritos de Monardes podemos refletir como o homem europeu que estava

vivendo na colônia poderia se utilizar de tais plantas para curar, aprender e as levar

posteriormente para a Europa. Utilizando de documentos do médico Monardes e

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também de outros tratados o livro “Plantas Medicinais Del Perú” que é uma compilação

de documentos que descrevem as plantas peruanas realizado pela Universidad de San

Martín de Porres, traz já transcrita várias fontes que exploram a biodiversidade vegetal

do Peru, servindo assim de catálogo da botânica curativa.

Segue uma bela explicação de algumas dessas plantas:

Bálsamo do Peru: cura as feridas e é um ótimo cicatrizante, segundo o

autor melhor que os da Espanha.

Tabaco: alivia dores de cabeça, dores no corpo e no peito, dores de

estômago.

Bervena: cura várias enfermidades, contra mordidas venenosas de animais.

DOCUMENTOS DE EXTIRPAÇÃO DE IDOLATRIAS

No Arquivo Arzobispal de Lima, se encontra um número elevado de processos

que são importantes para esta investigação. No arquivo o índice de Idolatrias e

Feitiçarias está catalogado mais de 192 documentos que datam do século XVI e XVII,

que tratam sobre tais processos em todo o Peru. Os visitadores condenavam todos

aqueles que praticavam idolatrias, não somente índios, mas também mestiços e

espanhóis que viviam na colônia.

Destes 192 documentos, 37 são somente sobre processos ocorridos em Lima e

seus arredores e destes processos há aqueles que são sobre homens e mulheres que

foram processados por medicar com ervas ou por terem se utilizado de feitiços.

Alguns desses documentos tratam sobre colonos que foram processados por curar

com ervas, como é o caso de uma fonte datada de 1621, intitulada como “Hechiceria

Magdalena” que contem quatro páginas que explicam que um homem curou a essa

senhora Magdalena na “Cidades dos Reis”, Lima com a utilização de ervas e por isso

estava sendo julgado. Como no presente momento, no qual estou escrevendo este texto

estou em processo de transcrição, estou investigando se é colono espanhol ou algum

índio que realizou tal ato.

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Há diversos casos também de índias que se casaram com espanhóis e depois de

algum tempo de casamento tentaram matar seus maridos com a feitiçaria, se utilizando

de ervas, nesse caso não para curar, mas sim o contrário, ou seja, as plantas possuíam

diversas utilidades naquele período. Esse foi o caso da Inés Yupanqui que se casou um

chefe militar por motivos de realizar alianças (ROSTWOROWSKI, 2006, p.120), ela

era filha de um Inca, assim que se casou com o espanhol seu nome foi mudado e este

tentou modificar meus costumes, porém mesmo assim seu marido deixou seus filhos

longe do contato da mãe, para que não tivessem nenhuma influência da cultura

indígena. Assim, Inés vivendo nesse contexto foi acusada de feitiçaria por tentar matar

seu marido com ervas. Entretanto somente os índios que a ajudaram foram condenados

e ela continuou sua vida com o seu marido espanhol.

Esse é um dos muitos casos que ocorreram em Lima, no Peru no período colonial.

Casos onde investigo onde o espanhol passou se utilizar das práticas dos andinos para

curar suas enfermidades e também para acabar com suas dificuldades, como no caso

acima causando morte por muitas das vezes.

As plantas peruanas dão margem para estudos em diversas áreas, humanas,

biológicas e em algumas engenharias, trazer essa reflexão para a história é sintonizar

também com o presente.

REFERÊNCIAS

GIRALDI, Alice. O demônio dos Andes. Revista UNESP Ciência, São Paulo, p. 36-

41, nov 2012. Disponível em:

<http://www.unesp.br/aci_ses/revista_unespciencia/acervo/36/incas> Acesso em: 05 de

junho 2013.

MONARDES, N. Historia medicinal de las cosas que se traen de nuetras Indias

Occidentales que sirvem em medicina. Sevilla, 1574. Instituto Mexicano del Seguro

Social, México, 1990.

ROSTWOROWSKI, María. Ensayos de historia andina II: Panpas de Nasca,

gênero, hechicería. Lima: IEP, 2006.

SOUZA, Laura de Mello e. A Feitiçaria na Europa Moderna. São Paulo: ÁTICA,

1987. (Série Princípios).

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____________________. "O conjunto: a América diabólica" In _____. Inferno

Atlântico: demonologia e colonização. Séculos XVI-XVIII. São Paulo, Companhia

das Letras, 1993.

UNIVERSIDAD DE SAN MARTÍN DE PORRES INSTITUTO DE

INVESTIGACIÓN DE LA FACULTAD DE MEDICINA HUMANA. Plantas

Medicinales Del Perú. Antología I. Lima, 2006.

VARELLA, Alexandre C. A embriaguez na conquista da América – Medicina.

Idolatria e Vício no México e Peru, Séculos XVI e XVII. São Paulo: Alameda, 2013.

____________________. Origem da Coca pelo Vício do Inca. Vitória: Anais

Eletrônicos do VIII Encontro Internacional da ANPHLAC, 2008. Disponível em

<http://anphlac.fflch.usp.br/sites/anphlac.fflch.usp.br/files/alexandre_varella.pdf>

Acesso em 20 de outubro 2014.