introduÇÃo ap

Upload: michaque-nhambe

Post on 07-Apr-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    1/23

    INTRODUO

    O CONCEITO DE ADMINISTRAO

    1. As necessidades colectivas e a Administrao Pblica

    Quando se fala em Administrao Pblica, tem-se presente todo umconjunto de necessidades colectivas cuja satisfao assumida como

    tarefa fundamental para a colectividade, atravs de servios por esta

    organizados e mantidos.

    Onde quer que exista e se manifeste com intensidade suficiente uma

    necessidade colectiva, a surgir um servio pblico destinado a satisfaze-

    la, em nome e no interesse da colectividade. As necessidades colectivas

    situam-se na esfera privativa da Administrao Pblica, trata-se em

    sntese, de necessidades colectivas que se podem reconduzir a trs

    espcies fundamentais: a segurana; a cultura; e o bem-estar.

    Fica excluda do mbito administrativo, na sua maior parte a necessidade

    colectiva da realizao de justia. Esta funo desempenhada pelos

    Tribunais, satisfaz inegavelmente uma necessidade colectiva, mas acha-

    se colocada pela tradio e pela lei constitucional (art. 205 CRP), fora da

    esfera da prpria Administrao Pblica: pertencer ao poder judicial.

    Quanto s demais necessidades colectivas, encontradas na esfera

    administrativa e do origem ao conjunto, vasto e complexo, de

    actividades e organismos a que se costuma chamar Administrao

    Pblica.

    2. Os vrios sentidos da expresso Administrao Pblica

    So dois os sentidos em que se utiliza na linguagem corrente a expresso:

    Administrao Pblica: (1) orgnico; (2) material ou funcional.

    A Administrao Pblica, em sentido orgnico, constituda

    pelo conjunto de rgos, servios e agentes do Estado e demais

    entidades pblicas que asseguram, em nome da colectividade, a

    satisfao disciplinada, regular e contnua das necessidades

    colectivas de segurana, cultura e bem-estar.

    A administrao pblica, em sentido material ou funcional,

    pode ser definida como a actividade tpica dos servios e agentes

    Shacquytto22 Pgina 1

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    2/23

    administrativos desenvolvida no interesse geral da comunidade,

    com vista a satisfao regular e contnua das necessidades

    colectivas de segurana, cultura e bem-estar, obtendo para o efeito

    os recursos mais adequados e utilizando as formas maisconvenientes.

    3. Administrao Pblica e Administrao Privada

    Embora tenham em comum o serem ambas administrao, a

    Administrao Pblica e a Administrao Privada distinguem-se todavia

    pelo objecto que incidem, pelo fim que visa prosseguir e pelos meios que

    utilizam.

    Quanto ao objecto, a Administrao Pblica versa sobre

    necessidades colectivas assumidas como tarefa e responsabilidade

    prpria da colectividade, ao passo que a Administrao Privada

    incide sobre necessidades individuais, ou sobre necessidades que,

    sendo de grupo, no atingem contudo a generalidade de uma

    colectividade inteira.

    Quanto ao fim, a Administrao Pblica tem necessariamente de

    prosseguir sempre o interesse pblico: o interesse pblico o nico

    fim que as entidades pblicas e os servios pblicos podem

    legitimamente prosseguir, ao passo que a Administrao Privada

    tem em vista naturalmente, fins pessoais ou particulares. Tanto

    pode tratar-se de fins lucrativos como de fins no econmicos e at

    nos indivduos mais desinteressados, de fins puramente altrustas.

    Mas so sempre fins particulares sem vinculao necessria ao

    interesse geral da colectividade, e at, porventura, em contradio

    com ele.

    Quanto aos meios, tambm diferem. Com efeito na Administrao

    privada os meios, jurdicos, que cada pessoa utiliza para actuar

    caracterizam-se pela igualdade entre as partes: os particulares, so

    iguais entre si e, em regra, no podem impor uns aos outros a sua

    prpria vontade, salvo se isso decorrer de um acordo livremente

    Shacquytto22 Pgina 2

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    3/23

    celebrado. O contracto assim, o instrumento jurdico tpico do

    mundo das relaes privadas

    Pelo contrrio, a Administrao Pblica, porque se traduz na satisfao de

    necessidades colectivas, que a colectividade decidiu chamar a si, eporque tem de realizar em todas as circunstncias o interesse pblico

    definindo pela lei geral, no pode normalmente utilizar, face aos

    particulares, os mesmos meios que estes empregam uns para com os

    outros.

    A lei permite a utilizao de determinados meios de autoridade, que

    possibilitam s entidades e servios pblicos impor-se aos particulares

    sem ter de aguardar o seu consentimento ou mesmo, faz-lo contra sua

    vontade.

    O processo caracterstico da Administrao Pblica, no que se entende de

    essencial e de especfico, antes o comando unilateral, quer sob a forma

    de acto normativo (e temos ento o regulamento administrativo), quer

    sob a forma de deciso concreta e individual (e estamos perante o acto

    administrativo).

    Acrescente-se, ainda, que assim como a Administrao Pblica envolve, o

    uso de poderes de autoridade face aos particulares, que estes no so

    autorizados a utilizar uns para com os outros, assim tambm,

    inversamente, a

    Administrao Pblica se encontra limitada nas sua possibilidades de

    actuao por restries, encargos e deveres especiais, de natureza

    jurdica, moral e financeira.

    4. A Administrao Pblica e as funes do Estado

    a) Poltica e Administrao Pblica:

    A Poltica, enquanto actividade pblica do Estado, tem um fim especfico:

    definir o interesse geral da actividade. A Administrao Pblica existe

    para prosseguir outro objectivo: realiza em termos concretos o interesse

    geral definido pela poltica.

    O objecto da Poltica, so as grandes opes que o pas enfrenta ao traar

    os rumos do seu destino colectivo. A da Administrao Pblica, a

    Shacquytto22 Pgina 3

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    4/23

    satisfao regular e contnua das necessidades colectivas da segurana,

    cultura e bem-estar econmico e social.

    A Poltica reveste carcter livre e primrio, apenas limitada em certas

    zonas pela Constituio, ao passo que a Administrao Pblica temcarcter condicionado e secundrio, achando-se por definio

    subordinada s orientaes da poltica e da legislao.

    Toda a Administrao Pblica, alm da actividade administrativa

    tambm execuo ou desenvolvimento de uma poltica. Mas por vezes a

    prpria administrao, com o seu esprito, com os seus homens e com os

    seus mtodos, que se impe e sobrepe autoridade poltica, por

    qualquer razo enfraquecida ou incapaz, caindo-se ento no exerccio do

    poder dos funcionrios.

    b) Legislao e Administrao:

    A funo Legislativa encontra-se no mesmo plano ou nvel, que a funo

    Poltica.

    A diferena entre Legislao e Administrao est em que, nos dias de

    hoje, a Administrao Pblica uma actividade totalmente subordinada

    lei: o fundamento, o critrio e o limite de toda a actividade

    administrativa.

    H, no entanto, pontos de contacto ou de cruzamento entre as duas

    actividades que convm desde j salientar brevemente.

    De uma parte, podem citar-se casos de leis que materialmente contm

    decises de carcter administrativo.

    De outra parte, h actos da administrao que materialmente revestem

    todos o carcter de uma lei, faltando-lhes apenas a forma e a eficcia da

    lei, para j no falar dos casos em que a prpria lei se deixa completar por

    actos da Administrao.

    c) Justia e Administrao Pblica:

    Estas duas actividades tm importantes traos comuns: ambas so

    secundrias, executivas, subordinadas lei: uma consiste em julgar, a

    outra em gerir. A Justia visa aplicar o Direito aos casos concretos, a

    Administrao Pblica visa prosseguir interesses gerais da colectividade.

    A Justia aguarda passivamente que lhe tragam os conflitos sobre que

    Shacquytto22 Pgina 4

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    5/23

    tem de pronunciar-se; a Administrao Pblica toma a iniciativa de

    satisfazer as necessidades colectivas que lhe esto confiadas. A Justia

    est acima dos interesses, desinteressada, no parte nos conflitos que

    decide; a Administrao Pblica defende e prossegue os interessescolectivos a seu cargo, parte interessada.

    Tambm aqui as actividades frequentemente se entrecruzam, a ponto de

    ser por vezes difcil distingui-las: a Administrao Pblica pode em certos

    casos praticar actos jurisdicionalizados, assim como os Tribunais Comuns,

    pode praticar actos materialmente administrativos. Mas, desde que se

    mantenha sempre presente qual o critrio a utilizar material, orgnico

    ou formal a distino subsiste e continua possvel.

    Cumpre por ltimo acentuar que do princpio da submisso da

    Administrao Pblica lei, decorre um outro princpio, no menos

    importante o da submisso da Administrao Pblica aos Tribunais, para

    apreciao e fiscalizao dos seus actos e comportamentos.

    d) Concluso:

    A Administrao Pblica em sentido material ou objectivo ou funcional

    pode ser definida como, a actividade tpica dos organismos e indivduos

    que, sob a direco ou fiscalizao do poder poltico, desempenham em

    nome da colectividade a tarefa de promover satisfao regular e

    contnua das necessidades colectivas de segurana, cultura e bem-estar

    econmico e social, nos termos estabelecidos pela legislao aplicvel e

    sob o controle dos

    Tribunais competentes.

    A funo Administrativa aquela que, no respeito pelo quadro legal e sob

    a direco dos representantes da colectividade, desenvolve as actividades

    necessrias satisfao das necessidades colectivas.

    OS SISTEMAS ADMINISTRATIVOS

    5. Generalidades

    Por Sistema Administrativo entende-se um modo jurdico tpico de

    organizao, funcionamento e controlo da Administrao Pblica.

    Shacquytto22 Pgina 5

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    6/23

    Existem trs tipos de sistemas administrativos: o sistema tradicional; o

    sistema tipo britnico (ou de administrao judiciria) e o sistema tipo

    francs (ou de administrao executiva).

    6. Sistema administrativo tradicional

    Este sistema assentava nas seguintes caractersticas:

    a) Indiferenciao das funes administrativas e jurisdicionais e,

    consequentemente, inexistncia de uma separao rigorosa entre os

    rgos do poder executivo e do poder judicial;

    b) No subordinao da Administrao Pblica ao princpio da legalidade e

    consequentemente, insuficincia do sistema de garantias jurdicas dos

    particulares face administrao.

    O advento do Estado de Direito, com a Revoluo Francesa, modificou

    esta situao: a Administrao Pblica passou a estar vinculada a normas

    obrigatrias, subordinadas ao Direito. Isto foi uma consequncia

    simultnea do princpio da separao de poderes e da concepo da lei

    geral, abstracta e de origem parlamentar como reflexo da vontade

    geral.

    Em resultado desta modificao, a actividade administrativa pblica,

    passou a revestir carcter jurdico, estando submetida a controlo judicial,

    assumindo os particulares a posio de cidados, titulares de direitos em

    face dela.

    7. Sistema administrativo de tipo britnico ou de administrao

    judiciria

    As caractersticas do sistema administrativo britnico so as seguintes:

    a) Separao dos poderes: o Rei fica impedido de resolver, por si ou

    por concelhos formados por funcionrios da sua confiana, questes

    de natureza contenciosa, por fora da lei da Star Chamber, e foi

    proibido de dar ordens aos juzes, transferi-los ou demiti-los,

    mediante o Act ofSettelement;

    Shacquytto22 Pgina 6

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    7/23

    b) b) Estado de Direito: culminando uma longa tradio iniciada na

    Magna Carta, os Direitos, Liberdades e Garantias dos cidados

    britnicos foram consagrados no Bill of Rights. O Rei ficou desde

    ento claramente subordinado ao Direito em especial ao DireitoConsuetudinrio, resultante dos costumes sancionados pelos

    Tribunais (Common Law);

    c) Descentralizao: em Inglaterra cedo se praticou a distino entre

    uma administrao central e uma administrao local. Mas as

    autarquias locais gozavam tradicionalmente de ampla autonomia face

    a umainterveno central diminuta;

    d) Sujeio da Administrao aos Tribunais Comuns: a

    AdministraoPblica acha-se submetida ao controle jurisdicional dos

    TribunaisComuns;

    e) Sujeio da Administrao ao Direito Comum: na verdade, em

    consequncia do rule of law, tanto o Rei como os seus conselhos e

    funcionrios se regem pelo mesmo direito que os cidado annimos;

    f) Execuo judicial das decises administrativas: de todas as

    regras e princpios anteriores decorre como consequncia que no

    sistema administrativo de tipo britnico a Administrao Pblica no

    podeexecutar as decises por autoridade prpria;

    g) Garantias jurdicas dos administrados: os particulares dispem

    de um sistema de garantias contra as ilegalidades e abusos da

    Administrao Pblica.

    8. Sistema administrativo de tipo francs ou de administrao

    executiva

    As caractersticas iniciais do sistema administrativo Francs so as

    seguintes:

    a) Separao de poderes: com a Revoluo Francesa foi proclamado

    expressamente, logo em 1789, o princpio da separao dos poderes, com

    todos os seus corolrios materiais e orgnicos. A Administrao ficou

    separada da Justia;

    Shacquytto22 Pgina 7

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    8/23

    b) Estado de Direito: na sequncia das ideias de Loke e de

    Montesquieu, no se estabeleceu apenas a separao dos poderes mas

    enunciam-se solenemente os direitos subjectivos pblicos invocveis pelo

    indivduo contra o Estado;c) Centralizao: com a Revoluo Francesa, uma nova classe social e

    uma nova elite chega ao poder;

    d) Sujeio da Administrao aos Tribunais Administrativos: surgiu

    assim uma interpretao peculiar do princpio dos poderes,

    completamente diferente da que prevalecia em Inglaterra, se o poder

    executivo no podia imiscuir-se nos assuntos da competncia dos

    Tribunais, o poder judicial tambm no poderia interferir no

    funcionamento da Administrao Pblica;

    e) Subordinao da Administrao ao Direito Administrativo: a

    fora, a eficcia, a capacidade de interveno da Administrao Pblica

    que se pretendia obter, fazendo desta uma espcie de exrcito civil com

    esprito de disciplina militar, levou o conseil d' tat a considerar, ao

    longo do sc. XIX, que os rgos e agentes administrativos no esto na

    mesma posio que os particulares, exercem funes de interesse pblico

    e utilidade geral, e devem por isso dispor quer de poderes de autoridade,

    que lhes permitam impor as suas decises aos particulares, quer de

    privilgios ou imunidades pessoais, que os coloquem ao abrigo de

    perseguies ou ms vontades dos interesses feridos;

    f) Privilgio da Execuo Prvia: o Direito Administrativo confere, pois,

    Administrao Pblica um conjunto de poderes exorbitantessobre os

    cidados, por comparao com os poderes normaisreconhecidos pelo

    Direito Civil aos particulares nas suas relaes entre si. De entre esses

    poderes exorbitantes, sem dvida que o mais importante , no sistema

    Francs, o privilgio de execuo prvia, que permite Administrao

    executar as suas decises por autoridade prpria;

    g) Garantias jurdicas dos administrados: tambm o sistema

    administrativo Francs, por assentar num Estado de Direito, oferece aos

    particulares um conjunto de garantias jurdicas contra os abusos e

    Shacquytto22 Pgina 8

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    9/23

    ilegalidades da Administrao Pblica. Mas essas garantias so

    efectivadas atravs dos Tribunais Comuns.

    Estas, caractersticas originrias do sistema administrativo de tipo francs

    tambm chamado sistema de administrao executiva dada aautonomia a reconhecida ao poder executivo relativamente aos

    Tribunais.

    Este sistema, nasceu em Frana, vigora hoje em quase todos os pases

    continentais da Europa Ocidental e em muitos dos novos Estados que

    acederam independncia no sc. XX depois de terem sido colnias

    desses pases europeus.

    9. Confronto entre os sistemas de tipo britnico e de tipo francs

    Tm, vrios traos especficos que os distinguem nitidamente:

    Quanto organizao administrativa, um um sistema

    descentralizado. O outro centralizado;

    Quanto ao controlo jurisdicional da administrao, o primeiro

    entrega-o aos Tribunais Comuns, o segundo aos Tribunais

    Administrativos. Em Inglaterra h pois, unidade de jurisdio, em

    Frana existe dualidade de Jurisdies;

    Quanto ao direito regulador da administrao, o sistema de

    tipo Britnico o Direito Comum, que basicamente Direito

    Privado, mas no sistema tipo Francs o Direito Administrativo que

    Direito Pblico;

    Quanto execuo das decises administrativas, o sistema de

    administrao judiciria f-la depender da sentena do Tribunal, ao

    passo que o sistema de administrao executiva atribui autoridade

    prpria a essas decises e dispensa a interveno prvia de

    qualquer Tribunal;

    Enfim, quanto s garantias jurdicas dos administrados, a

    Inglaterra confere aos Tribunais Comuns amplos poderes de

    injuno face Administrao, que lhes fica subordinada como a

    generalidade dos cidados, enquanto Frana s permite aos

    Tribunais Administrativos que anulem as decises ilegais das

    Shacquytto22 Pgina 9

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    10/23

    autoridades ou as condenem ao pagamento de indemnizaes,

    ficando a Administrao independente do poder judicial.

    O DIREITO ADMINISTRATIVO COMO RAMO DE DIREITO10. Generalidades

    A Administrao Pblica est subordinada lei. E est tambm, por outro

    lado subordinada justia, aos Tribunais. Isso coloca o problema de saber

    como se relacionam estes conceitos de Administrao Pblica e directa.

    Para haver Direito Administrativo, necessrio que se verifiquem duas

    condies: em primeiro lugar, que a Administrao Pblica e actividade

    administrativa sejam reguladas por normas jurdicas propriamente ditas,

    isto , por normas de carcter obrigatrio; em segundo lugar, que essas

    normas jurdicas sejam distintas daquelas que regulam as relaes

    privadas dos cidados entre si.

    11. Subordinao da Administrao Pblica ao Direito

    A Administrao est subordinada ao Direito. assim em todo o mundo

    democrtico: a Administrao aparece vinculada pelo Direito, sujeita a

    normas jurdicas obrigatrias e pblicas, que tm como destinatrios

    tanto os prprios rgos e agentes da Administrao como os

    particulares, os cidados em geral. o regime da legalidade democrtica.

    Tal regime, na sua configurao actual, resulta historicamente dos

    princpios da Revoluo Francesa, numa dupla perspectiva: por um lado,

    ele um colorrio do princpio da separao de poderes; por outro lado,

    uma consequncia da concepo na altura nova, da lei como expresso

    da vontade geral, donde decorre o carcter subordinado lei da

    Administrao Pblica.

    No nosso pas encontrou eco na prpria Constituio, a qual dedica o

    ttulo IX da sua parte III Administrao Pblica (art. 266). Resultando

    da o princpio da submisso da Administrao Pblica lei. E quais as

    consequncias deste princpio?

    Em primeiro lugar, resulta desse princpio que toda a actividade

    administrativa est submetida ao princpio da submisso da

    Shacquytto22 Pgina 10

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    11/23

    Administrao ao Direito decorre que toda a actividade administrativa e

    no apenas uma parte dela deve subordinar-se lei.

    Em segundo lugar, resulta do mesmo princpio que a actividade

    administrativa, em si mesma considerada, assume carcter jurdico: aactividade administrativa uma actividade de natureza jurdica. Porque

    estando a Administrao Pblica subordinada lei na sua organizao,

    no seu funcionamento, nas relaes que estabelece com os particulares ,

    isso significa que tal actividade , sob a gide da lei de direitos e deveres,

    quer para a prpria Administrao, quer para os particulares, o que quer

    dizer que tem carcter jurdico.

    Em terceiro lugar, resulta ainda do mencionado princpio que a ordem

    jurdica deve atribuir aos cidados garantias que lhes assegurem o

    cumprimento da lei pela Administrao Pblica.

    Quanto ao Direito Administrativo, a sua existncia fundamenta-se na

    necessidade de permitir Administrao que prossiga o interesse pblico,

    o qual deve ter primazia sobre os interesses privados excepto quando

    estejam em causa os direitos fundamentais dos particulares. Tal primazia

    exige que a Administrao disponha de poderes de autoridade para impor

    aos particulares as solues de interesse pblico que forem

    indispensveis. A salvaguarda do interesse pblico implica tambm o

    respeito por variadas restries e o cumprimento de grande nmero de

    deveres a cargo da Administrao.

    No so pois, adequadas as solues de Direito Privado, Civil, ou

    Comercial: tm de aplicar-se solues novas especficas, prprias da

    Administrao Pblica, isto , solues de Direito Administrativo.

    A actividade tpica da Administrao Pblica diferente da actividade

    privada. Da que as normas jurdicas aplicveis devam ser normas de

    Direito Pblico, e no normas de Direito Privado, constantes no Direito

    Civil ou de

    Direito Comercial.

    Nos sistemas de Administrao Executiva tanto em Frana como em

    Portugal nem todas as relaes jurdicas estabelecidas entre a

    Shacquytto22 Pgina 11

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    12/23

    Administrao e os particulares so da competncia dos Tribunais

    Administrativos:

    O controle jurisdicional das detenes ilegais, nomeadamente

    atravs do habeas corpus, pertence aos Tribunais Judiciais; As questes relativas ao Estado e capacidade das pessoas, bem

    como as questes de propriedade ou posse, so tambm das

    atribuies dos Tribunais Comuns;

    Os direitos emergentes de contactos civis ou comerciais celebrados

    pela Administrao, ou de responsabilidade civil dos poderes

    pblicos por actividades de gesto privada, esto igualmente

    includos na esfera da jurisdio ordinria.

    Mesmo num sistema de tipo francs, no s nos aspectos mais relevantes

    da defesa da liberdade e da propriedade a competncia contenciosa

    pertence aos Tribunais Comuns, mas tambm a fiscalizao dos actos e

    actividades que a Administrao pratica ou desenvolve sob a gide do

    Direito Privado, no entregue aos Tribunais Administrativos.

    O fundamento actual da jurisdio contencioso-administrativo apenas o

    da convivncia de especializao dos Tribunais em funo do Direito

    substantivo que so chamados a aplicar.

    12. Noo de Direito Administrativo

    O Direito Administrativo o ramo de Direito Pblico constitudo pelo

    sistema de normas jurdicas que regulam a organizao, o funcionamento

    e o controle da Administrao Pblica e as relaes que esta, no exerccio

    da actividade administrativa de gesto pblica, estabelece com outros

    sujeitos de Direito.

    A caracterstica mais peculiar do Direito Administrativo

    a procura de permanente harmonizao entre as

    Shacquytto22 Pgina 12

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    13/23

    exigncias da aco administrativa e as exigncias de

    garantia dos particulares.

    13. O Direito Administrativo como Direito PblicoO Direito Administrativo , na ordem jurdica portuguesa, um ramo de

    Direito Pblico. E um ramo de Direito Pblico, qualquer que seja o

    critrio adoptado para distinguir o Direito Pblico de Direito Privado.

    Se se adoptar o critrio do interesse, o Direito Administrativo

    Direito Pblico, porque as normas de Direito Administrativo so

    estabelecidas tendo em vista a prossecuo do interesse colectivo,

    e destinam-se justamente a permitir que esse interesse colectivoseja realizado.

    Se se adoptar o critrio dos sujeitos, o Direito Administrativo

    Direito Pblico, porque os sujeitos de Direito que compem a

    administrao so todos eles, sujeitos de Direito Pblico, entidades

    pblicas ou como tambm se diz, pessoas colectivas pblicas.

    Se, enfim, se adoptar o critrio dos poderes de autoridade,

    tambm o Direito Administrativo o Direito Pblico porque aactuao da administrao surge investida de poderes de

    autoridade.

    14. Tipos de normas administrativas

    O Direito Administrativo um conjunto de normas jurdicas.

    Mas no um conjunto qualquer: um conjunto organizado, estruturado,

    obedecendo a princpios comuns e dotado de um esprito prprio ouseja, um conjunto sistemtico, um sistema.

    H a considerar trs tipos de normas administrativas: as normas

    orgnicas, as normas funcionais, e as normas relacionadas.

    a) Normas orgnicas: normas que regulam a organizao da

    Administrao Pblica: so normas que estabelecem as entidades

    pblicas que fazem parte da Administrao, e que determinam a sua

    estrutura e os seus rgos; em suma, que fazem a sua organizao. As

    Shacquytto22 Pgina 13

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    14/23

    normas orgnicas tm relevncia jurdica externa, no interessando

    apenas estruturao interior da Administrao, mas tambm, e muito

    particularmente, aos cidados, art. 267 CRP.

    b) Normas funcionais: so as que regulam o modo de agir de especficoda Administrao Pblica, estabelecendo processos de funcionamento,

    mtodos de trabalho, tramitao a seguir, formalidades a cumprir, etc.

    (art. 267/4 CRP). Dentro desta categoria destacam-se, pela sua particular

    relevncia, as normas processuais.

    c) Normas relacionais: so as que regulam as relaes entre a

    administrao e os outros sujeitos de Direito no desempenho da

    actividade administrativa. So as mais importantes, estas normas

    relacionais, at porque representam a maior parte do Direito

    Administrativo material, ao passo que as que referimos at aqui, so

    Direito Administrativo orgnico ou processual.

    As normas relacionais de Direito Administrativo no so apenas aquelas

    que regulam as relaes da administrao com os particulares, mas mais

    importante, todas as normas que regulam as relaes da administrao

    com outros sujeitos de Direito. H na verdade, trs tipos de relaes

    jurdicas reguladas pelo Direito Administrativo:

    As relaes entre administrao e os particulares;

    As relaes entre duas ou mais pessoas colectivas pblicas;

    Certas relaes entre dois ou mais particulares.

    No so normas de Direito Administrativo apenas aquelas que conferem

    poderes de autoridade administrao; so tambm normas tpicas de

    Direito Administrativo, nesta categoria das normas relacionais. Socaracteristicamente administrativas as seguintes normas relacionais:

    Normas que conferem poderes de autoridade Administrao

    Pblica;

    Normas que submetem a Administrao a deveres, sujeies ou

    limitaes especiais, impostas por motivos de interesse pblico;

    Normas que atribuem direitos subjectivos ou reconhecem interesses

    legtimos face administrao.

    Shacquytto22 Pgina 14

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    15/23

    15. Actividade de gesto pblica e de gesto privada

    So actos de gesto privada, os que se compreendem numa actividade

    em que a pessoa colectiva, despida do poder poltico, se encontra e actuanuma posio de paridade com os particulares a que os actos respeitem

    e, portanto, nas mesmas condies e no mesmo regime em que poderia

    proceder um particular, com submisso s normas de Direito Privado.

    So actos de gesto pblica, os que se compreendem no exerccio de

    um poder pblico, integrando eles mesmo a realizao de uma funo

    pblica da pessoa colectiva, independentemente de envolverem ou no o

    exerccio de meios de coaco, e independentemente ainda das regras,

    tcnicas ou de outra natureza, que na prtica dos actos devam ser

    observadas.

    O Direito Administrativo regula apenas, e abrange unicamente, a

    actividade de gesto pblica da administrao. actividade de gesto

    privada aplicar-se- o Direito Privado Direito Civil, Comercial, etc.

    16. Natureza do Direito Administrativo

    a) O Direito Administrativo como Direito excepcional:

    um conjunto de excepes ao Direito Privado. O Direito Privado

    nomeadamente o Direito Civil era a regra geral, que se aplicaria sempre

    que no houvesse uma norma excepcional de Direito Administrativo

    aplicvel.

    b) O Direito Administrativo como Direito comum da Administrao

    Pblica:

    H quem diga que sim. a concepo subjectivista ou estatutria do

    Direito Administrativo, defendida com brilho inegvel por Garcia de

    Enterra e T. Ramon Fernandez, e perfilhada entre ns por Srvulo

    Correia.

    Para Garcia de Enterra, h duas espcies de Direitos (objectivos): os

    Direitos gerais e os Direitos estatutrios. Os primeiros so os que regulam

    actos ou actividades, quaisquer que sejam os sujeitos que os pratiquem

    ou exeram; os segundos so os que se aplicam a uma certa classe de

    sujeitos.

    Shacquytto22 Pgina 15

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    16/23

    Ainda segundo este autor, o Direito Administrativo um Direito

    estatutrio, porque estabelece a regulamentao jurdica de uma

    categoria singular de sujeitos as Administraes Pblicas.

    c) O Direito Administrativo como Direito comum da FunoAdministrativa:

    Em primeiro lugar, no por ser estatutrio que o Direito Administrativo

    Direito Pblico. H normas de Direito Privado que so especficas da

    Administrao Pblica. Portanto o facto de uma norma jurdica ser

    privativa da Administrao Pblica, ou de uma especial pessoa colectiva

    pblica, no faz dela necessariamente uma norma de Direito Pblico.

    Em segundo lugar. O Direito Administrativo no , por conseguinte, o

    nico ramo de Direito aplicvel Administrao Pblica. H trs ramos de

    Direito que regulam a Administrao Pblica:

    o O Direito Privado;

    o O Direito Privado Administrativo;

    o O Direito Administrativo.

    Em terceiro lugar contestamos que a presena da Administrao Pblica

    seja um requisito necessrio para que exista uma relao jurdicaadministrativa.

    O Direito Administrativo, no um Direito estatutrio: ele no se define

    em funo do sujeito, mas sim em funo do objecto.

    O Direito Administrativo no pois, o Direito Comum da Administrao

    Pblica, mas antes o Direito comum da funo administrativa.

    17. Funo do Direito Administrativo

    As principais opinies so duas a funo do Direito Administrativo

    conferir poderes de autenticidade Administrao Pblica, de modo a que

    ela possa fazer sobrepor o interesse colectivo aos interesses privados

    (green light theories); ou a funo do Direito Administrativo

    reconhecer direitos e estabelecer garantias em favor dos particulares

    frente ao Estado, de modo a limitar juridicamente os abusos do poder

    executivo, e a proteger os cidados contra os excessos da autoridade do

    Estado ( red light theories).

    Shacquytto22 Pgina 16

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    17/23

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    18/23

    Importado de Frana, o Direito Administrativo aparece em Portugal, a

    partir das reformas de Mousinho da Silveira de 1832.

    b) Influncia jurisprudncial:

    No Direito Administrativo a jurisprudncia dos Tribunais tem maiorinfluncia.

    Tambm em Portugal a jurisprudncia tem grande influncia no Direito

    Administrativo, a qual se exerce por duas vias fundamentais.

    Em primeiro lugar, convm ter presente que nenhuma regra legislativa

    vale apenas por si prpria. As normas jurdicas, as leis tm o sentido que

    os Tribunais lhe atribuem, atravs da interpretao que elas fizerem.

    Em segundo lugar, acontece frequentemente que h casos omissos. E

    quem vai preencher as lacunas so os Tribunais Administrativos,

    aplicando a esses casos normas at a inexistentes.

    Em Portugal, a jurisprudncia e a prtica no esto autorizadas a

    contrariar a vontade do legislador.

    c) Autonomia:

    O Direito Administrativo um ramo autnomo de Direito diferente dos

    demais pelo seu objecto e pelo seu mtodo, pelo esprito que domina as

    suas normas, pelos princpios gerais que as enforcam.

    O Direito Administrativo um ramo de Direito diferente do Direito Privado

    mais completo, que forma um todo, que constitui um sistema, um

    verdadeiro corpo de normas e de princpios subordinados a conceitos

    privados desta disciplina e deste ramo de Direito.

    Sendo o Direito Administrativo um ramo de Direito autnomo, constitudo

    por normas e princpios prprios e no apenas por excepes ao Direito

    Privado, havendo lacunas a preencher, essas lacunas no podem ser

    integradas atravs de solues que se vo buscar ao Direito Privado. No:

    havendo lacunas, o prprio sistema de Direito Administrativo; se no

    houver casos anlogos, haver que aplicar os Princpios Gerais de Direito

    Administrativo aplicveis ao caso, deve recorrer-se analogia e aos

    Princpios Gerais de Direito Pblico, ou seja, aos outros ramos de Direito

    Pblico. O que no se pode sem mais ir buscar a soluo do Direito

    Privado.

    Shacquytto22 Pgina 18

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    19/23

    d) Codificao parcial:

    Sabe-se o que um cdigo: um diploma que rene, de forma sinttica,

    cientfica e sistemtica, as normas de um ramo de Direito ou, pelo menos,

    de um sector importante de um ramo de Direito.O Cdigo Administrativo apenas abarca uma parcela limitada, embora

    importante, do nosso Direito Administrativo.

    O Cdigo Administrativo actual data de 1936-40. portanto, ainda, o

    Cdigo Administrativo do regime da Constituio de 1933.

    O Decreto-lei n. 442/91 de 15 de Novembro, aprovou o primeiro Cdigo

    do Procedimento Administrativo (CPA) portugus, que contm a

    regulamentao de um sector bastante extenso e importante da parte

    geral do nosso Direito

    Administrativo.

    20. Fronteiras do Direito Administrativo

    a) Direito Administrativo e Direito Privado, so dois ramos de

    Direito inteiramente distintos.

    So distintos pelo seu objecto, uma vez que enquanto o Direito Privado se

    ocupa das relaes estabelecidas entre particulares entre si na vida

    privada, o Direito Administrativo ocupa-se da Administrao Pblica e das

    relaes do

    Direito Pblico que se travam entre ela e outros sujeitos de Direito,

    nomeadamente os particulares.

    Apesar de estes dois ramos de Direito serem profundamente distintos, h

    naturalmente relaes recprocas entre eles.

    No plano da tcnica jurdica, isto , no campo dos conceitos, dos

    instrumentos tcnicos e da nomenclatura, o Direito Administrativo

    comeou por ir buscar determinadas noes de Direito Civil.

    No plano dos princpios, o Direito Administrativo foi considerado pelos

    autores como uma espcie de zona anexa ao Direito Civil, e subordinada a

    este: o Direito Administrativo seria feito de excepo ao Direito Civil. Hoje

    sabese que o Direito Administrativo um corpo homogneo de doutrina,

    Shacquytto22 Pgina 19

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    20/23

    de normas, de conceitos e de princpios, que tem a sua autonomia prpria

    e constitui um sistema, em igualdade de condies com o Direito Civil.

    Por outro lado, assiste-se actualmente a um movimento muito

    significativo de publicitao da vida privada.Por outro lado, e simultaneamente, assiste-se tambm a um movimento

    no menos significativo de privatizao da Administrao Pblica.

    No plano das solues concretas, hoje vulgar assistir-se adopo pelo

    Direito Administrativo a certas solues inspiradas por critrios

    tradicionais de Direito Privado.

    b) Direito Administrativo e Direito Constitucional:

    O Direito Constitucional est na base e o fundamento de todo o Direito

    Pblico de um pas, mas isso ainda mais verdadeiro, se possvel, em

    relao ao Direito Administrativo, porque o Direito Administrativo , em

    mltiplos aspectos, o complemento, o desenvolvimento, a execuo do

    Direito Constitucional: em grande medida as normas de Direito

    Administrativo so corolrios de normas de Direito Constitucional.

    O Direito Administrativo contribui para dar sentido ao Direito

    Constitucional, bem como para o completar e integrar.

    c) Direito Administrativo e Direito Judicirio.

    d) Direito Administrativo e Direito Penal. O Direito Penal um

    Direito repressivo, isto , tem fundamentalmente em vista

    estabelecer as sanes penais que ho-de ser aplicadas aos autores

    dos crimes; o Direito Administrativo , em matria de segurana,

    essencialmente preventivo. As normas de Direito Administrativo no

    visam cominar sanes para quem ofender os valores essenciais da

    sociedade, mas sim, estabelecer uma rede de precaues, de tal

    forma que seja possvel evitar a prtica de crimes ou a ofensa aos

    valores essenciais a preservar.

    e) Direito Administrativo e Direito Internacional.

    A CINCIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO

    Shacquytto22 Pgina 20

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    21/23

    21. A Cincia do Direito Administrativo

    A Cincia do Direito Administrativo o captulo da cincia que tem por

    objecto o estudo do ordenamento jurdico-administrativo. O seu mtodo ,

    obviamente, o mtodo jurdico.

    22. Evoluo da Cincia do Direito Administrativo

    Nos primeiros tempos, os administrativistas limitavam-se a tecer

    comentrios soltos s leis administrativas mais conhecidas atravs do

    chamado mtodo exegtico.

    S nos finais do sc. XIX, se comea a fazer a construo cientfica do

    Direito Administrativo, a qual se fica a dever, sensivelmente na mesma

    altura, a trs nomes que podem ser considerados como verdadeiros pais

    fundadores da moderna cincia do Direito Administrativo Europeu: o

    francs Laferrire em 1886; o alemo Otto Mayer em 1896; e o italiano

    Orlando em 1897.

    O rigor cientfico passa a ser caracterstico desta disciplina; e as glosas, o

    casusmo, a exegese, o tratamento por ordem alfabtica e a confuso

    metodolgica do lugar construo dogmtica apurada de uma teoria

    geral do Direito Administrativo, que no mais foi posta de parte e contnua

    a ser aperfeioada e desenvolvida.

    Entre ns, a doutrina administrativa comeou por ser, nos seus

    primrdios, importada de Frana, atravs da traduo pura e simples de

    certas obras administrativas francesas.

    A partir de meados do sc. XIX, o nosso Direito Administrativo entrou

    numa fase diferente, mais estvel, mais racional e mais cientfica.

    A partir de 1914, entra-se numa nova fase da cincia do Direito

    Administrativo portugus, que a fase do apuro cientfico, j influenciada

    pelos desenvolvimentos modernos de Frana, da Itlia, e da Alemanha.

    Nela se notabiliza, sobretudo, um mestre da universidade de Coimbra,

    depois professor em Lisboa: Joo de Magalhes Collao.

    Coube, porm, ao professor da faculdade de Direito de Lisboa, Marcello

    Caetano, o mrito de, pela primeira vez em Portugal, ter publicado um

    estudo completo da parte geral do Direito Administrativo.

    Shacquytto22 Pgina 21

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    22/23

    23. Cincias Auxiliares

    A Cincia do Direito Administrativo, que tem por objecto as normas

    jurdicas administrativas, e utiliza como mtodo o mtodo prprio dacincia do Direito, usa algumas disciplinas auxiliares que essas, j

    podem ter, e tm, mtodos diferentes do mtodo jurdico.

    Quais so as principais disciplinas auxiliares da cincia do Direito

    Administrativo? H dois grupos de cincias auxiliares.

    Primeiro grupo das disciplinas no jurdicas: e a, temos a cincia da

    Administrao, a Cincia Poltica, a Cincia das Finanas e a Histria da

    Administrao Pblica.

    Quanto s cincias auxiliares de natureza jurdica, temos o Direito

    Constitucional, o Direito Financeiro, a Histria do Direito Administrativo, e

    o Direito Administrativo Comparado.

    24. A Cincia da Administrao

    Com a Cincia do Direito Administrativo, no se confunde a cincia da

    administrao, que no uma cincia jurdica, mas sim a cincia social

    que tem por objectivo o estudo dos problemas especficos das

    organizaes pblicas que resultam da dependncia destas tanto quanto

    sua existncia, como quanto sua capacidade de deciso e processos

    de actuao, da vontade poltica dos rgos representativos de uma

    comunidade.

    25. A Reforma Administrativa

    Em consequncia do deficiente conhecimento do aparelho administrativo,

    e dos seus vcios de organizao e funcionamento, todas as tentativas de

    reforma administrativa ensaiadas no nosso pas antes e depois do 25 de

    Abril tm falhado totalmente.

    A Reforma Administrativa, um conjunto sistemtico de providncias

    destinadas a melhorar a Administrao Pblica de um dado pas, por

    Shacquytto22 Pgina 22

  • 8/6/2019 INTRODUO AP

    23/23

    forma a torn-la, por um lado, mais eficiente na prossecuo dos seus fins

    e, por outro lado, mais coerente com os princpios que a regem.

    Analisemos a noo proposta:

    a) A reforma administrativa , em primeiro lugar, um conjunto sistemticode providncias.

    b) Por outro lado, a reforma administrativa visa melhorar a Administrao

    Pblica de um pas. No , portanto, apenas uma aco de

    acompanhamento da evoluo natural: visa modificar o que est, para

    aperfeioar a administrao pblica.

    Do que antecede se conclui que no se afigura aceitvel, perante as

    realidades peculiares do nosso pas, a substituio, que alguns

    preconizam, da expresso reforma administrativa pela de

    modernizao da administraopblica: esta ltima no mais do que

    uma nova designao da tese da continuidade. Ora o que urge obter

    uma reforma.

    a) O objecto da reforma administrativa a administrao de um dado pas

    toda a administrao pblica de um pas.

    b) Por ltimo, a finalidade da reforma administrativa traduz-se em

    procurar obter para a Administrao Pblica maior eficincia e mais

    coerncia.

    Em primeiro lugar, maior eficincia naturalmente em relao aos fins

    que a Administrao visa prosseguir.

    Mas, ao contrrio do que normalmente se pensa, a reforma

    administrativa, no tem apenas por objecto conseguir maior eficincia

    para a Administrao Pblica, na prossecuo dos fins que lhe esto

    contidos: tem tambm de assegurar uma maior dose de coerncia da

    actividade administrativa com os princpios a que a Administrao se acha

    submetida.

    Shacquytto22 Pgina 23