introdução a psicopedagogia
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A PSICOPEDAGOGIA FAMILIAR E A TRÍADE: MÃE-BEBÊ E O PAI
Isabel Cristina Soares Pereira1
RESUMO: O presente artigo apresenta uma pesquisa, que está sendo realizada pelo LEP – Laboratório de Estudos Psicopedagógicos, na Faculdade Porto–Alegrense, coordenada pela professora Maria Melânia Wagner F. Pokorski. O atendimento é realizado por psicopedagogas voluntárias do LEP, com o aprendiz e seus responsáveis. O foco das intervenções envolve as seguintes técnicas: o curtograma do aprendiz; a imagem modelada e a árvore do desenvolvimento pessoal e familiar. Ao final de cada atividade, propõe-se a metacognição, ou seja, a tomada de consciência. Essas atividades são abordadas numa perspectiva lúdico-vivencial, a partir da tríade: mãe-bebê e o pai, tendo como objetivo a prevenção na busca da identidade familiar, através da importância das funções materna e paterna, para o desenvolvimento e a aprendizagem do aprendiz. Sendo realizado através, de um novo olhar na área psicopedagógica, a PPF (psicopedagogia familiar). Este trabalho está em processo, porém, já se observa alguns avanços como: a participação da família nos encontros, ao contribuírem com sugestões, para os novos atendimentos e, principalmente, a presença do pai e da função paterna.
PALAVRAS - CHAVE: Tríade. Função Materna e Paterna. Metacognição. Aprendiz. Psicopedagogia.
1 Psicopedagoga Clínica e Institucional, Especialista em Psicopedagogia, pela (FAPA), graduada em Pedagogia, pela ULBRA, Técnica de Nutrição e Dietética, pela E.E.E. Médio Senador Ernesto Dornelles. e-mail: [email protected]
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1 Introdução
A matriz familiar é representada pelas funções materna e paterna. Sendo que a função
materna representa as primeiras aprendizagens, do bebê, desde sua vida intra-uterina, através
das sensações e vontades, sentidas pelo contato materno, estimulando assim, o ato de querer
aprender. Já a função paterna simboliza o terceiro membro através, das leis, normas e
responsabilidade, perante as obrigações, que pairam da sociedade (mundo externo), para o
aprendiz (mundo interno). Sendo estes os modelos de aprendizagens, na base, da constituição
do Ser aprendente e ensinante, ao estarem ajudando, em sua formação física, psíquica,
emocional e espiritual.
Alguns estudantes do Ensino fundamental apresentam nas aquisições
de aprendizagens, dificuldade em querer desenhar, escrever ou ler. Então, pergunta-se:
O que impede de escrever e enxergar? O que impede de falar? Porque não consegue realizar
suas próprias leituras? Onde está àquela euforia de criança: brincar, desenhar, escrever e
perguntar, enfim, será que perderam o entusiasmo?
É através do encaminhamento escolar, que os aprendizes, com dificuldade na
aprendizagem, chegam até a área psicopedagógica, e, às vezes, tanto a família quanto
o aprendiz, não conseguem explicar o motivo deste atendimento. Entretanto, os pais, às vezes
confundem a pedagogia com a psicopedagogia, por desconhecerem o significado, de ambas,
ao estarem relacionadas à dificuldade de aprendizagem. Sendo que a pedagogia é a formação
do conhecimento e a psicopedagogia é o saber do conhecimento.
Considera-se que a pedagogia estimula a autonomia, ao levar o ensinamento,
através de recursos didáticos e lúdicos, não fazendo o sujeito, a procurar as possíveis
alternativas, de solucionar o problema. Já a informação é o caminho que leva ao saber, sendo
então, o primeiro passo da psicopedagogia, a autorizar o conhecimento e não impedindo ou
forçando o sujeito de aprender a fazer.
Pensando assim, resolveu-se escrever um texto, a partir de uma pesquisa, realizada
na área psicopedagógica, na qual se apresenta um novo método de atendimento,
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a PPF – A Psicopedagogia Familiar. Tendo a intenção de oferecer um atendimento aos pais e
ao aprendiz, em sessões paralelas, porém, sendo realizada pela psicopedagoga.
Então, num curto resumo, através do estudo de casos de C e N, descreve-se
o plano de intervenção, e, finalizando tem-se a conclusão, dos resultados obtidos e as
referências, das obras consultadas.
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2 Estudos de casos de C e N
A origem desta pesquisa foi através das queixas apresentadas nos atendimentos,
aos aprendizes e a equipe-escolar. Sendo a família o referencial, nesta comunicação, entre,
aprendizado e escola, então, resolveu-se implantar o método da PPF (psicopedagogia
familiar), para restabelecer o diálogo, a identidade e o papel das funções maternas e paternas,
no meio familiar. Ao estarem terceirizando e transferindo as responsabilidades, na educação
do aprendiz. Então, segue a baixo o exemplo, do estudo de casos de C e N:
a) O caso N
É um adolescente de doze anos de idade, estudante da sexta série do
Ensino Fundamental. Sua dificuldade de aprendizagem é na área motora, sendo identificada
como disgrafia de execução e, além de estar apresentando uma simbiose materna, com
transferência da função paterna, para o irmão mais velho.
b) O caso C
É uma adolescente, de 16 anos de idade, estudante com NEE (Necessidades
Educacionais Especiais), da sexta série do Ensino Fundamental. Suas dificuldades de
aprendizagens são nas áreas cognitivas e linguagem: leitura e escrita. E, apresenta na relação
mãe-filha, uma simbiose materna, ao omitir a participação da função paterna, na relação pai-
filha.
Percebe-se uma semelhança, nestes dois casos, na relação dual: a simbiose materna,
onde transfere e omite, ao anular, a participação da função paterna, na educação com o
aprendiz, deixando sem apoio, ou seja, solta no espaço.
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2.1 Metodologias de intervenção
Está metodologia objetiva vincular os pais, aos atendimentos, na operação três por
um2
O plano teve que ser elaborado a partir de técnicas lúdico-vivenciais,
que exemplificassem os gostos, as expressões e as conquistas, da subjetividade
e objetividade (Paín
ou quando houver alguma necessidade, com duração de 50 minutos. Tendo como
finalidade, a forma como os Pais ‘lidam e enxergam’, as dificuldades de aprendizagem
e os avanços, do aprendiz, nos atendimentos.
Em caso de pais separados, sendo aplicados os mesmos recursos de intervenção,
obtendo assim, uma analise mais precisa, através de suas respostas.
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) materna e paterna, na relação tríade: mãe-bebê-pai.
2 A cada três atendimentos, com o aprendiz, o próximo será com os responsáveis. 3 PAÍN, 2009, p. 49.
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2.1.1 Processo interventivo
A ação interventiva objetiva mediar às etapas do processo, através de um
planejamento, a partir da seleção de técnicas interventivas, ao estarem de acordo com as
necessidades do caso, na solução do problema.
Na relação tríade: mãe-bebê e o pai, os egos se manifestam de diferentes formas,
através de seus pensamentos, sentimentos e ações. Para Paín (2009, p.49): “na ordem da
subjetividade, todos os pensamentos que se referem ao sujeito, isto é, todas as frases que têm
o eu como sujeito são referidas a categoria: Ego/ outro como diferenciação; Superego; Id”.
Abordam-se os seguintes recursos interventivos: a) o curtograma do aprendiz (Roncin, 1989);
b) a imagem modelada (Pereira, 2010); c) a árvore do desenvolvimento pessoal e familiar,
sendo baseada através da técnica “a árvore das quatro estações”, de Leonhardt (2004);
d) a metacognição, ou seja, a tomada de consciência (Beck, 1997).
a) O curtograma do aprendiz (Roncin, 1989)
Está técnica possibilita analisar, como os personagens principais expõem os gostos e
ações do outro, na relação com o aprendiz. Antes se pergunta, aos pais, se querem escrever ou
se preferem que a psicopedagoga, escreva. Assim, estaremos evitando alguns
constrangimentos. Aplica-se através de quatro perguntas: O que o aprendiz gosta e faz? O que
o aprendiz gosta e não faz? O que o aprendiz não gosta e faz? O que o aprendiz não gosta e
não faz?
De acordo com Andrade (2002, p.54): “o sintoma indica a direção do desejo,
é a resposta do ego diante da ameaça da ocorrência de uma situação traumática, (...) percebido
então no seu aspecto positivo como um pedido de socorro”. O nível perceptivo é ativado
através do processo de filtragem, do que será possível, de ser realizado, na ajuda com o
aprendiz. Tendo como complemento as quatro perguntas, com a finalidade de filtrar, um dos
indicadores, na solução do problema.
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1. Quem é o Aprendiz para você?
2. Do que ele gosta?
3. Quais são as dificuldades dele?
4. Quais são as principais dificuldades, que tens, para lidar, com o Aprendiz?
Sendo acompanhada, através da tarefa de casa, ao servir como ponte de ligação,
até o próximo atendimento.
b) A imagem modelada (Pereira4
Na constituição familiar, os desejos maternos e paternos já vêm sendo idealizados,
a partir da existência, de um novo Ser, e sua identidade inicia através da escolha de um nome,
ao ser apresentado a sociedade.
O estudante simboliza na escrita a sua identidade, através de seus traços, caracteres e
estilo, em alguns casos ocorrem omissões ou trocas de grafemas, na formação da palavra.
Conforme Levin (1997, p. 51): “este [traço unitário], estas marcas, não constituem signo, mas
enunciam a existência do sujeito na própria escrita da letra”. Pensando assim, teve-se um
cuidado, na elaboração da técnica: a imagem modelada, por estar modelando a idealização,
de seus desejos, através da arte. E, facilitando a comunicação entre, as consignas e o sujeito,
na execução da atividade.
Está técnica é realizada numa folha de oficio, conforme consta na figura 1,
com massinha de modelar, através da seguinte pergunta: quais são as primeiras necessidades
de um bebê, e o que é necessário, na formação de sua Personalidade?
, 2010)
4 Autora do artigo, 2010.
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Figura 1
No processo de analise entre, a execução e o relato, sugere-se que seja realizado pelo
sujeito, um breve comentário, e após uma leitura, da obra modelada.
c) A árvore do desenvolvimento pessoal e familiar (Leonhardt, 2004)
O arquétipo familiar tem como base as funções maternas e paternas, onde ambos
trazem nesta relação, seus pensamentos, sentimentos, crença, virtudes, éticas e morais.
De acordo com Leonhard (2004, p.27): “a [Árvore do Desenvolvimento Pessoal] é um desses
projetos que incentiva o sujeito a pensar e objetivar as próprias necessidades e desejos de
aprendizagem e de vida”. Então, utiliza-se a árvore, como simbolização, do nível perceptivo,
entre o tempo e o espaço, onde será possível identificar, na relação tríade: mãe-bebê e o pai,
as possibilidades das funções maternas e paternas, na manifestação, de seus desejos ocultos,
através de suas conquistas adquiridas e das projeções de vida, pessoal e familiar.
Função materna Função paterna
Figura 2
Propõe-se aos pais, a desenharem uma árvore, conforme consta na figura 2, numa
folha de ofício, e, após devem escrever o que já foi conquistado, na relação com o aprendiz e,
em seguida, as projeções, a fim de proporcionar uma abordagem mais especifica, no
acompanhamento, do caso, através, do que ainda falta, na relação tríade: mãe-bebê e o pai.
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d) Metacognição (Beck, 1997)
Percebe-se estar existindo uma preguiça mental, na aprendizagem, de alguns
aprendizes, sendo explícito através, da falta de vontade, em poder pensar sobre algo ou até
mesmo, nas operações simples. Segundo Dias e Simão (2007, p. 94): “a Metacognição deve
estar presente nas intervenções que se propõem desenvolver o conhecimento e a
aprendizagem, quer pelo conjunto de vantagens que isso representa, quer pela autonomia que
implica”. Sendo realizada ao final, de cada atividade, através da tomada de consciência, onde
se aplica a seguinte pergunta: qual foi meu aprendizado e no que irá me ajudar?
De acordo com Leonhardt (2004, p. 27): “ler, escrever, pensar, criar são projetos
importantes na Psicopedagogia e ainda mais essenciais quando partem da internalidade do
paciente”. Tendo como finalidade, a estimulação do ato de poder pensar, sobre o que foi
realizado, ao dar um direcionamento, à solução do problema.
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3 O papel psicopedagógico na família
Nota-se no grupo familiar, a existência de uma super proteção, com ausência da
responsabilidade, sendo então, substituída pela compensação, além, de estarem utilizando
como justificativa a falta de tempo, ao transportar a terceiros, a educação do aprendiz.
Segundo Farrell (2008, p. 26):
“(...), os membros da família são incentivados a se comunicarem entre si e a buscar soluções. O terapeuta pode oferecer diferentes estratégias para incentivar os membros da família, a se comportar, pensar e sentir de modo diferente”.
Este papel tem como princípio o diálogo, a confiança e a segurança, através da
comunicação aberta e compreensiva, entre, a psicopedagoga e os pais ou responsáveis.
Utiliza-se como estratégia, as combinações, entre, uma sessão e outra, no mapeamento do
caso e na identificação de alguns indicadores, que poderá estar associado, ao silêncio familiar,
entre, o tempo e o espaço.
Nesta relação, utiliza-se um termômetro, para verificar a temperatura e o
comprometimento, à medida que o caso avança, sendo possível ou não mudar de etapa. Tendo
a objetividade a curto prazo, ao trabalhar com proposta de possibilidades, aqui e agora.
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4 Conclusão
Ao finalizar está pesquisa, percebe-se que a psicopedagogia familiar,
vem complementar, no atendimento ao aprendiz.
Segue a baixo alguns avanços já conquistados:
• A participação da família, nos atendimentos e encontros: EPSIPA –
(Escola Psicopedagógica para Pais);
• A evolução do aprendiz, tanto nos atendimentos quanto na escola;
• A presença do pai e da função paterna;
• O interesse, ao contribuírem com sugestões, para os próximos encontros.
Nota-se através das técnicas, o detalhe subjetivo da função materna e a objetividade da
função paterna, porém, ainda não estão bem internalizados, pelos principais personagens,
deixando assim, a base ociosa ou até solta, no contexto familiar.
Durante a pesquisa observou-se a existência de um indicador, na relação
tríade: mãe-bebê e o pai, a falta de tempo. Sendo este um dos fatores responsáveis, pela
inibição, da responsabilidade, no contexto familiar. Na tentativa de mediar o tempo e o
espaço, foi proposto aos pais, que deveriam dispor de apenas 15 minutos, para conversarem,
ou até mesmo realizarem alguma atividade, em família.
Portanto, a objetividade deste método é poder provocar uma nova consciência
familiar, onde os pais compensadores sejam substituídos, pelos pais educadores, ao estarem
exercendo suas funções, e, servindo assim, como modelo, no arquétipo da personalidade, do
aprendiz.
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THE FAMILIAR PSICOPEDAGOGIA AND THE TRIAD: MOTHER-BABY AND THE FATHER
ABSTRACT: The present article presents a research that is being carried through for the LEP - Laboratory of Psicopedagógicos Studies, in the Port College, co-ordinated for the teacher Maria Melânia Wagner F. Pokorski. The attendance is carried through by psicopedagogas voluntary of the LEP, with the apprentice and its responsible ones. The focus of the interventions involves the following techniques: the curtograma of the apprentice; the shaped image and the tree of the personal and familiar development. Moreover, to the end of each activity, it is considered metacognição, that is, the conscience taking. These activities are boarded in a playful-existential perspective, from the triad: mother-baby and the father, having as objective the prevention in the search of the familiar identity, through the importance of the functions materna and paternal, for the development and the learning of the apprentice. Being then, carried through through, of a new to look in the psicopedagógica area, the PPF (psicopedagogia familiar). This work is in process; however, already it observes some advances as: the participation of the family in the meeting, when contributing with suggestions, for the new atendimentos and, mainly, the presence of the father and the paternal function.
KEY – WORDS: Triad. Function Maternal and Paternal. Metacognition. Apprentice. Psychopedagoy.
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Referências
ANDRADE, Márcia Siqueira de. A Escrita inconsciente e a leitura invisível: uma contribuição às bases teóricas da psicopedagogia. São Paulo: Memnon, 2002.
BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.
FARRELL, Michael. Dificuldades de relacionamento pessoal, social e emocional: guia do professor. Porto Alegre: Artmed, 2008.
LEONHARDT, Dalva Rigon. A Árvore das Quatro Estações: Uma imagem símbolo da Terapia Psicopedagógica. Editora Associação Brasileira de Psicopedagogia, Seção Rio Grande do Sul. 2004.
LEVINE, Melvin D. Será que é preguiça? : estimule a autoconfiança do seu filho. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
LEVIN, Esteban. A infância em cena: constituição do sujeito e desenvolvimento psicomotor. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
PAÍN, Sara. Subjetividade e Objetividade: Relações entre desejo e conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
RONCIN, Charles. A criança e o grupo. Artmed, Porto Alegre, 1989.
SIMÃO, Ana Margarida V.; SILVA, Adelina L. da Silva; SÁ, Isabel (orgs.). Auto-regulação da aprendizagem: das concepções às práticas. Lisboa: Educa, 2007.