introdução a engenharia

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  • INTRODUO ENGENHARIA

    CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    Reitor Lcio Jos Botelho

    Vice-Reitor Ariovaldo Bolzan

    EDITORA DA UFSC

    Diretor Executivo Alcides Buss

    Conselho Editorial Eunice Sueli Nodari (Presidente)

    Cornlio Celso de Brasil Camargo Joo Hernesto Weber

    Luiz Henrique de Arajo Dutra Nilca Lemos Pelandr

    Regina Carualho Srgio Fernando Torres de Freitas

    Walter Antnio Bazzo Luiz Teixeira do Vale Pereira

    INTRODUO ENGENHARIA

    CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

    Editora da UFSC Florianpolis

    2006

  • Walter Antnio Bazzo e Luiz Teixeira do Vale Pereira

    Editora da UFSC Campus Universitrio - Trindade

    Caixa Postal 476 88010-970 - Florianpolis - SC

    (48) 3331-9408, 3331-9605 e 3331-9686 (48) 3331-9680

    [email protected] http://www.editora.ufsc.br

    Direo editorial e capa: Paulo Roberto da S ilva

    Reviso tcnico-editorial: Aldy Vergs Maingu

    Editorao: Daniella Zatarian

    Reviso: Jlio Csar Ramos Ficha Catalogrfica

    (Catalogao na fonte pela Biblioteca Universitria da Universidade Federal de Santa Catarina)

    _________________________________________________________

    _

    B364i Bazzo, Walter Antnio Introduo engenharia: conceitos, ferramentas e compor-

    tamentos / Walter Antnio Bazzo, Luiz Teixeira do Vale Pereira. - Florianpolis : Ed. da UFSC, 2006. 2 70 p. :il.

    Inclui bibliografia 1. Engenharia - Estudo e ensino. 2. Comunicao na

    Engenharia. 3. Conceitos. 4. Mercado de trabalho. 5. Engenharia - Orientao profissional. I. Pereira, Luiz Teixeira do Vale. II. Ttulo.

    ________________________________________________________CDU: 62 ISBN 85.328.0356-3

    Reservados todos os direitos de publicao total ou parcial pela Editora da UFSC

    Impresso no Brasil

    SUMRIO

    APRESENTAO PREFCIO 11

    CHEGANDO UNIVERSIDADE 15 Alerta aos iniciantes ............................................................................. 17 Uma nova fase..................................................................................... 18 Porque estudar? .................................................................................. 21 Consideraes sobre um mtodo de estudo ......................................... 22 Condies para viabilizar o estudo ....................................................... 24 Fases do estudo ................................................................................... 26 Outras recomendaes......................................................................... 38 Tarefas para complementao do aprendizado .................................. 42

    CAPTULO 2 COMUNICAO 43

    O engenheiro e a comunicao............................................................ 45 Processo de comunicao .................................................................... 46 Redao ............................................................................................... 47 Linguagem tcnica................................................................................ 47 Artifcios auxiliares da redao .............................................................. . 50 Estrutura bsica de um relatrio ........................................................... 51 Outras partes componentes do trabalho ............................................... 54 Estrutura fsica do relatrio tcnico .......................................................... 56 O desenho na comunicao ................................................................. 57 Consideraes finais ............................................................................. 59 Tarefas para complementao do aprendizado ....................................... 61

    CAPITULO 3 ORIGENS DA ENGENHARIA 63

  • Consideraes preliminares.................................................................. 65 Sntese histrica ...................................................................................65 Habilidade tcnica: um diferencial humano.......................................... 66 A tcnica faz diferena.......................................................................... 68 Surgimento da engenharia moderna.................................................... 69 Marcos histricos importantes .............................................................. 71 A engenharia nasce como profisso oficial............................................ 74 As primeiras escolas de engenharia...................................................... 74 Fatos marcantes da cincia e da tecnologia........................................... 76 Incio da engenharia no Brasil.............................................................. 77 Tarefas para complementao do aprendizado ..................................... 79

    CAPITULO 4 O ENGENHEIRO 81 Engenharia e sociedade .......................................................................83 Engenheiro e sociedade .......................................................................85 Um alerta importante ........................................................................... 86 Engenheiro no mercado de trabalho .................................................... 87 O engenheiro e o tcnico .....................................................................89 Qualidades desejveis de um profissional............................................. 91 Por que vrias engenharias?................................................................. 98 Processo de formao profissional...................................................... 100 As bases de um curso de engenharia.................................................. 102 Tarefas para complementao do aprendizado ................................... 108

    CAPTULO 5 PESQUISA 109 Bases da sociedade moderna............................................................. 111 Um pouco sobre as cincias ............................................................... 112 Sobre a pesquisa tecnolgica ............................................................. 113 Cincia e tecnologia........................................................................... 114 Ensino de engenharia, cincia e tecnologia ........................................ 115 Mtodo de pesquisa ...........................................................................116 Tipos de conhecimento ...................................................................... 117 Processos do mtodo de pesquisa ...................................................... 118 Exemplo de um trabalho de engenharia............................................. 124 Exemplo de um trabalho de pesquisa................................................. 126 Organizao da pesquisa.................................................................... 127 Tarefas para complementao do aprendizado ................................... 129

    CAPTULO 6 CRIATIVIDADE 131

    A arte da engenharia ......................................................................... 133 O que criatividade........................................................................... 134 As bases da criatividade ..................................................................... 135 O processo criativo............................................................................. 139 Espao de solues de um problema ............................................... 140 Barreiras que afetam a criatividade .................................................... 143 Tcnicas de estmulo criatividade ................................................... 146 O crtico e o perceptivo ...................................................................... 153 Tarefas para complementao do aprendizado ................................... 155

    captulo 7 modelos e simulao 157 Modelagem........................................................................................ 159 O que modelar................................................................................ 159 Modelos e sua classificao ............................................................. 160 Valor dos modelos.............................................................................. 165 O modelo e o sistema fsico real....................................................... 166 Validade das hipteses simplificativas ............................................. 168 Para que servem os modelos............................................................ 171 O que simular ................................................................................. 173 Tipos de simulao ............................................................................ 174 Tarefas para complementao do aprendizado ................................ 180

    CAPTULO 8 OTIMIZAO 181 A procura por melhores solues........................................................ 183 A melhor soluo ............................................................................... 185 Modelos de otimizao....................................................................... 186 Mtodos de otimizao ......................................................................187 Otimizao com uma varivel ............................................................ 191 Otimizao com duas ou mais variveis ............................................ 192 Exemplo de otimizao - problema do projtil................................... 194 Tarefas para complementao do aprendizado ................................. 198

    CAPTULO 9 PROJETO 199 A essncia da engenharia.............................................................. 201 Como ser um bom projetista...........................................................202 O que projeto? ..............................................................................202 Processo de projeto.........................................................................204 Ao cientfica e ao tecnolgica..................................................... 205 Fases do projeto...............................................................................207

  • Identificao de uma necessidade .................................................. 208 Definio do problema....................................................................209 Coleta de informaes ....................................................................212 Concepo da soluo ....................................................................214 Avaliao do projeto .......................................................................216 Especificao da soluo final ......................................................... 217 Comunicao do projeto .................................................................218 Informaes complementares..........................................................220 Abordagem de problemas em engenharia.......................................221 Tarefas para complementao do aprendizado ...............................224

    CAPTULO 9 ENGENHARIAS 225 reas de atuao profissional ..........................................................227 Aeronutica .......................................................................................227 Agrimensura ......................................................................................230 Agronomia......................................................................................... 231 Alimentos........................................................................................... 232 Cartogrfica .......................................................................................233 Civil................................................................................................... 234 Eltrica ..............................................................................................236 Florestal............................................................................................. 237 Industrial............................................................................................ 238 Materiais ........................................................................................ 239 Mecnica ...........................................................................................240 Metalrgica ........................................................................................241 Minas................................................................................................. 243 Naval................................................................................................. 244 Pesca .................................................................................................245 Produo........................................................................................... 246 Qumica............................................................................................. 248 Sanitria ............................................................................................249 Txtil ........................................................................................................... 250 Tarefas para complementao do aprendizado ................................... 251

    APNDICE A SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES 253

    APNDICE B ALGUMAS INFORMAES IMPORTANTES 261

    LEITURAS SUGERIDAS 253

  • APRESENTAO

    Apresentar o livro Introduo engenharia: conceitos, ferramentas e comportamento, dos professores Bazzo e Teixeira , antes de tudo, um exerccio de engenharia. Lendo, percebe-se a dimenso que a cincia da engenharia tem no contexto da sociedade atual. Consegue-se mensurar a grandeza de se permitir que jovens aprendizes se moldem seguindo modelos que serviro de referncia para o futuro. Tem-se a clareza da magnitude do trabalho desses dois grandes professores do Departamento de Engenharia Mecnica do Centro Tecnolgico da Universidade Federal de Santa Catarina. O livro uma estrada muito bem pavimentada onde, em cada captulo, o leitor - aluno ou professor - apresentado ao caminho que deve ser seguido, entre os viadutos, pontes e tneis que os jovens encontram ao cursar uma graduao em engenharia nas universidades brasileiras. Felizes os estudantes de engenharia que podem dispor de um livro dessa envergadura. Construdo com base nos mais ricos paradigmas da educao, pode-se dizer que este livro se assemelha a um circuito integrado, que busca, na menor dimenso possvel, proporcionar inmeras interpretaes - dando asas a todas as imaginaes. Deve-se reconhecer que, entre se introduzir na engenharia e se tornar engenheiro, h muitas etapas de um processo de transformao que devem necessariamente ser percorridas. Este livro do Bazzo e do Teixeira mostra perfeitamente - como se fosse uma planta isomtrica - o quanto integrado esse processo. O acoplamento dos temas, a integrao das matrias e a multi e interdisplinaridade so evidenciadas com leveza e propriedade, permitindo imaginar o percurso necessrio para se tornar um engenheiro.

    10 Introduo engenharia - conceitos, ferramentas e comportamentos

    Finalmente, pode-se dizer que Introduo Engenharia: conceitos, ferramentas e comportamento um livro a ser lido e seguido por todos que gostam da engenharia e que entendem a importncia da ao de "engenharia".

    Ariovaldo Bolzan Professor do Departamento de Engenharia

    Qumica e Engenharia de Alimentos Vice-Reitor da UFSC

  • PREFCIO CARRUAGEM DE FOGO

    Embarcar num veculo em movimento, que j tem uma trajetria antiga e consolidada, que funciona como um sistema bem-estruturado, com personagens ocupando suas posies nos assentos, no to fcil quanto parece. Filmes de aventura, desenhos animados e jogos raramente espelham algum realismo nas suas fantasiosas cenas de heris e bandidos saltando de um veculo em movimento para outro.

    Mas na vida real s vezes nem alcanamos o veculo. Quando conseguimos isso, temos dificuldade de nos equilibrarmos na sua carenagem, ou dentro dele. Quando muito, chegamos e mal entendemos as regras do jogo, de onde vem o veculo, como ele funciona, para onde vai, quem ou o que o comanda, onde est o manual de operao dos equipamentos de bordo. Enfim, temos de, com rapidez, embarcar, nos desembaraar dos rituais de chegada, pegar o "jeito da coisa", entender a linguagem utilizada l dentro, as relaes de foras e comear a colher os frutos da viagem, ou quem sabe at contribuir para corrigir o trajeto em curso.

    E no comeo nem temos direito a assentos, ficamos pendurados nos estribos, nas cordas de segurana, segurando nas mos dos mais experientes, tentando seguir algumas instrues e conselhos esparsos vindos no se sabe de onde. A cada curva, a cada irregularidade da pista ou mudana de velocidade, rodopiamos feito folhas secas num vendaval.

    Para quem chega, tudo novo, complexo, mgico. A muito custo, com o tempo, a tempestade acalma, a poeira baixa, as coisas parecem fazer sentido, o novo pouco a pouco comea a ficar familiar. O complexo se transforma em algo instigante, um estmulo ao nosso intelecto, e o que antes parecia mgico

    12 Introduo engenharia - conceitos, ferramentas e comportamentos

    Mas nem todos tm a sorte de compreender todo esse processo a tempo de usufruir os servios de bordo, os benefcios da aventura ou de se deliciarem com a privilegiada paisagem da janela.

    Embarcar num curso de engenharia quase isso. Tudo j funciona, h regras, tcnicas, procedimentos, linguagem prpria, posies hierrquicas, histria, teorias, conceitos, relaes de interesses, enfim, um tabuleiro repleto de peas que danam cumprindo papis mais ou menos bem definidos. O quadro parece j estar pintado, cristalizado, emoldurado, tudo pronto, e s nos basta apreci-lo, compreend-lo, nos maravilhar com o seu esplendor.

    Engenharia: eis uma profisso que fruto do trabalho de milhares de pessoas que, ao longo dos tempos, estudaram, arriscaram, investiram anos de suas vidas, que se decepcionaram e que exultaram com os resultados de suas solues. Mais que isso: esta uma profisso que precisa constantemente renovar seus arsenais de "mentes-de-obra" bem qualificadas, irrequietas, criativas, dispostas a batalhar e a ultrapassar limites, curiosas.

    A engenharia um formidvel veculo que se move e que, a cada nova estao, arregimenta pilotos, passageiros, colaboradores, entusiastas, crticos, todos vidos por fazer parte do cenrio, cheios de esperana, motivao e energia, mas tambm repletos de dvidas, incertezas e medos. Afinal, esto embarcando numa "carruagem de fogo", e muitos dos novos personagens que entram em cena s conhecem dela traos caricatos que pouco ajudam a entend-la. Por isso, como numa imaginria carruagem de fogo, quem nela embarca precisa passar por um ritual de adaptao, para poder reconhecer o terreno, ocupar seus espaos, colher bom proveito do passeio.

    Afinal, no estamos falando de atividades profissionais num sentido genrico, de qualquer uma delas. Estamos falando da engenharia, justo a engenharia, esta fascinante atividade

  • humana. Ela mesma, que cheia de surpresas, suspenses, dvidas, tcnicas, experincias, solues, teorizaes, enfim, de um conjunto incalculvel de conhecimentos que desafiam a nossa mente, e que, a cada novo problema, nos surpreendem e despertam novas idias.

    Nessa profisso como se, a cada virada de pgina, a cada gaveta aberta, a cada porta que se abre, a cada curva, um novo mundo fosse descortinado. As tcnicas de fabricao, o processo de obteno dos materiais, os fenmenos fsicos, os procedimentos matemticos necessrios para o clculo da estrutura ou os ensaios em laboratrio envolvidos, por exemplo, numa lata de refrigerante, na sola de um tnis ou na maaneta da porta de nossas casas revelam um universo inteiro de estudos, teorias, lutas, acertos e desacertos. Para onde olharmos, l estar a engenharia, veculo que embala fantsticos sonhos da humanidade. Na roupa que vestimos, na comida que comemos, no livro que lemos, nos carros, no cinema, na televiso, no consultrio mdico, no show de nossa banda preferida, l est ela no palco dos acontecimentos.

    Introduo engenharia: conceitos, ferramentas e comportamentos um texto que busca facilitar o embarque na carreira, abreviar o tempo de adaptao, acelerar o processo de decantao da poeira, mostrar as possibilidades e os encantos da profisso.

    Mas ns no pretendemos que ele seja um bote salva-vidas, uma porta de emergncia, um lenitivo capaz de resolver qualquer disfuno do sistema. Buscamos, com este texto, oferecer uma contribuio para o ensino de engenharia no Brasil, visando aos recm-ingressos nas suas mais diversas habilitaes.

    Sua origem remonta a 1986, quando preparamos uma primeira apostila para uma disciplina de introduo engenharia. Ao longo desse tempo, o material original foi transformado num livro - que gerou vrias edies e inmeras tiragens. A sua histria e transformao agora num novo livro -

    basicamente com o mesmo propsito dos anteriores, mas com contedo aprimorado e vis epistemolgico diferente - revela antes de mais nada uma aposta na sua pertinncia pedaggica e tcnica e na sua adequao ao cenrio educacional brasileiro.

    Em linhas gerais, este livro aborda a estrutura, alguns limites, a trajetria, os compromissos tcnicos e sociais e algumas ferramentas de trabalho da engenharia hoje praticada. Ou seja, buscamos ajudar a esclarecer quem esta entidade desconcertante - a engenharia, carruagem movida pelo fogo do deus mitolgico Prometeu -, tornando menos rduo e mais prazeroso o embarque na profisso.

    Walter Antnio Bazzo [email protected]

    Luiz Teixeira do Vale Pereira [email protected]

  • Chegando universidade

  • ALERTA AOS INICIANTES

    Chegar universidade representa um fato marcante na vida de qualquer pessoa. tambm um privilgio para quem desfruta dessa oportunidade, principalmente numa sociedade desigual, que no oferece tal chance a todos. A expectativa de construir novos conhecimentos, novas formas de ver o mundo e novas amizades renova as esperanas de um futuro melhor, acenando com novas possibilidades de vida - para si e para a sociedade. Parece no haver dvida: a universidade, apesar de algumas deficincias, um local onde as pessoas podem passar bons momentos de suas vidas, desde que participem com interesse das atividades por ela oferecidas.

    Mas para que isso ocorra, deve haver uma deciso pessoal firme de aproveitar da melhor forma possvel a infra-estrutura da instituio. Conhec-la com profundidade, construir o seu futuro em conjunto com a comunidade acadmica e discutir as questes relacionadas com a sociedade so atitudes que ajudam sobremaneira a usufruir as oportunidades que a vida universitria torna disponveis. E elas no so poucas, esto por toda parte e acontecem a todo o momento. Por isso preciso estar atento para perceb-las e disposto a avaliar as vantagens de participar de algumas delas, depois de selecionar aquelas que mais nos interessam.

    Apenas aguardar que os professores apresentem conhecimentos previamente elaborados uma atitude muito comodista e incompatvel com os propsitos maiores de uma formao

    Vista geral e praa central de um campus

  • universitria. Alm do mais, agindo desse modo, excelentes oportunidades de crescimento intelectual tero sido desperdiadas. At porque a aprendizagem um processo, ou seja, uma atividade que demanda tempo, ao e dedicao, e por isso depende muito de cada indivduo.

    A qualidade de um curso no depende apenas dos professores, de labora-trios bem equipados, de boas bibliotecas e de salas de aula confortveis. Depende muito da qualidade e da motivao do estudante que nele ingressa. Mais ainda! Depende de um clima geral - na instituio que favorea os estudos, que estimule a criatividade e que instigue o aprimoramento intelectual. Para contribuir com este quadro e fazer parte desse ambiente de constante crescimento, devemos, na qualidade de estudantes, participar ativamente do nosso processo de formao, que comea justamente conhecendo e vivenciando a instituio de ensino.

    Tudo o que foi comentado anteriormente no acontece sem que estejamos motivados e dispostos a participar de todo um processo de mudana. Caso contrrio, com toda honestidade, seria mais sensato e proveitoso procurar fazer outra coisa. Deve ser extremamente frustrante estar na universidade e levar os estudos apenas com o intuito de receber um diploma, fundamentado na perspectiva de futuramente ganhar altos salrios - o que uma premissa falsa - ou apenas para agradar os pais, que gostariam de ver o filho diplomado numa universidade. Nestes casos, o melhor a fazer realizar um exame de conscincia apurado - para confrontar desejos, vontades, sonhos e realidade -, para no nos arrependermos depois. Todas as profisses so honradas, oferecem boas possibilidades de realizao pessoal e nem todas dependem, para o seu sucesso, que sejam trilhados os caminhos de uma universidade.

    No objetivo central desta introduo analisar com pormenores estas ponderaes, mas apenas chamar a ateno para alguns aspectos relevantes da vida universitria. Caso isso desperte alguma ansiedade - a ponto de deixar dvidas sobre esta escolha importantssima para o futuro -, recomendamos uma boa reflexo a respeito do assunto, conversas com amigos, com pessoas mais experientes, ou mesmo uma consulta a um orientador vocacional.

    O que est escrito a seguir tem por objetivo auxiliar numa familiarizao dentro desse novo e fascinante ambiente. Na medida do possvel, o que est aqui apresentado tenta respeitar as inmeras diferenas existentes entre aqueles que entraram na universidade. Mas, em linhas gerais, endereado especialmente a quem quer ter conscincia do papel que representa perante a instituio, a profisso e o contexto social em que vive.

    UMA NOVA FASE

    Muita coisa muda no passarmos do ensino mdio para o universitrio. Talvez a forma trabalhar os conhecimentos seja a mais importante dessas mudanas.

    Por fora de unia tradio do processo educacional, no ensino mdio, em muitas situaes, os estudantes so levados a desempenhar um papel muito passivo, sendo o professor o "comandante supremo" de tudo o que acontece dentro da sala de aula. Se esse de fato o caso - no deveria ser em nvel algum de nossa escolaridade -, dentro de uma universidade o cenrio outro: o estudante agora deve buscar ser um agente ativo do processo educacional, passando a fazer parte da construo de seus conhecimentos. Nesta nova fase, o estudante cobrado a direcionar e programar com mais liberdade, autonomia e responsabilidade o seu aprendizado, dosando-o de acordo com suas potencialidades ou interesses.

    Essa maior liberdade, entretanto, deve ser usufruda progressivamente, com maturidade e discernimento. Infelizmente, no to difcil encontrar estudantes que, em nome dessa liberdade, fogem do esforo exigido pelas leituras recomendadas, adiam - sem motivos consistentes - a realizao de projetos, chegam tarde ou saem antes do final das aulas, ou mesmo deixam de assisti-las. Isso representa, na realidade, uma inconseqente falta de seriedade, incompatvel com as atitudes de futuros profissionais que devero retribuir esta oportunidade recebida da sociedade.

    Instantneos de um campus universitrio

    Uma diferena marcante entre o ensino mdio e o universitrio diz respeito relao professor-aluno. Nesta nova fase o professor passa a ser mais orientador do que fiscalizador. Ou pelo menos uma parcela maior deles age assim. Porm, logo percebemos que nem todos correspondem ao modelo ideal que construmos do mestre de ensino superior. Entretanto, o importante aprendermos a enfrentar de forma madura estas questes, prestando inclusive contribuies instituio ao tentar resolver impasses e dificuldades que porventura possam acontecer nestas relaes.

    Com relao adaptao geral vida universitria, devemos procurai-nos colocar a par de inmeras situaes com as quais nos deparamos, por exemplo, no tocante a aspectos de moradia, alimentao e

    18 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE 19

  • assistncia mdica. Estes aspectos geralmente afetam mais aqueles que se deslocam de seus lugares de origem e tm que se adaptar a novas situaes. Como nem todos podem morar confortavelmente em acomodaes individuais, o melhor estar preparado para dividir espaos em repblicas de estudantes - geralmente casas ou apartamentos alugados por um grupo de pessoas -, aspecto que exige, para se viver em harmonia, um comportamento social minimamente equilibrado, com diviso de responsabilidades e regras de convivncia. Nestas condies, as oportunidades de distraes - programas extra-estudos - aparecero com mais freqncia, podendo colocar em segundo plano o processo central que a dedicao aos estudos.

    Esse problema menos sentido por aqueles que tm domiclio no local de estudo, que moram com a sua famlia e que talvez por isso tenham uma vida social mais estabilizada. Alguma dose de perturbao social ou mesmo mudanas bruscas de ambiente pode parecer um aspecto irrelevante, mas se isso no for tratado com a devida ateno, pode prejudicar o ritmo de estudos, fazendo com que se tenha dificuldade para trabalhar prioridades.

    A sade fsica fundamental para o pleno desenvolvimento das atividades intelectuais. Portanto, cuidados com alimentao, repouso e atividades fsicas devem ser constantes. Por isso, importante que estejamos informados sobre assistncia mdica, odontolgica e psicolgica que a maioria das universidades oferece, para utiliz-las em eventuais necessidades.

    Existem inmeras outras possibilidades e recursos dos quais a universidade dispe que, ao serem explorados, podero oferecer inestimveis oportunidades de crescimento intelectual ou mesmo de auxlio pessoal em alguns momentos de dificuldade. Alguns exemplos: reas de lazer, atividades desportivas, bibliotecas, cursos extracurriculares, diretrios acadmicos, laboratrios, moradia estudantil, promoes culturais, restaurantes do campus, formada, pronto-socorro.

    Tudo o que foi comentado anteriormente importante, porm o fundamental fazer o melhor uso possvel dos contedos acadmicos que sero trabalhados durante a permanncia na universidade.

    Nos prximos itens abordamos algumas recomendaes que objetivam melhorar o rendimento nos estudos e, de forma geral, no aprendizado. Mas fica um alerta: no estamos propondo estabelecer um roteiro rgido sobre a forma de estudar. Alis, isso seria incoerente com nossa proposta de trabalho, pois acreditamos na autonomia do estudante neste estgio da vida. Visamos, na verdade, chamar a ateno para a importncia do emprego de uma metodologia de trabalho que possa auxiliar a economizar tempo e poupar in esforo e que, principalmente, resulte em estudos mais promissores.

    Mas ningum deve se iludir: essas recomendaes no so mgicas, mas podemos substituir o esforo e a dedicao que no queremos ter. alem do mais, qualquer proposta de trabalho deve ser adaptada para cada interessado, respeitando as caractersticas que, ao empregar alguma metodologia de estudo, bem possvel que possamos aproveitar com muito mais eficincia aquilo que a universidade oferece.

    POR QUE ESTUDAR?

    Em muitas empresas modernas, acredita-se que a meia-vida dos conhecimentos de um engenheiro seja menor que dez anos. Isso significa mais ou menos o seguinte: a metade de tudo que se aprende num curso de graduao ser considerado conhecimento obsoleto em menos de uma dcada. Supondo que essa projeo seja verdadeira, podemos concluir, portanto, que n aprendizagem no esttica. Por isso, se estamos preocupados com o nosso futuro profissional,

    20 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE 21

    Msica num teatro universitrio

    Encontro no intervalo entre as aulas

    Restaurante universitrio

  • devemos cuidar continuamente do nosso processo de formao, e no apenas durante o curso de graduao.

    No ritmo em que tm evoludo a cincia e a tecnologia, estima-se que dentro de dez anos o montante de conhecimentos no mundo dobrar. Podemos apostar tambm na seguinte previso: quem est iniciando hoje um curso de engenharia ainda estar atuando como engenheiro dentro de 30 ou 40 anos. A quantidade de conhecimentos nesse tempo - de se esperar - deve ser bem maior que aquela atualmente dominada. Isso sem contar que um profissional formado hoje, e ainda atuante no mercado de trabalho dentro de 30 anos, estar s voltas com conhecimentos bastante diferentes dos trabalhados durante a sua formao.

    Embora essas estimativas requeiram alguma reflexo, de alguma forma elas corroboram a idia de que o domnio e a manipulao da informao so habilidades necessrias para um profissional de futuro. Assim, no h outra sada: quem pretende ser um indivduo ativo na sua maturidade profissional deve aprender, definitivamente, a estudar com eficincia. Para que isso acontea, imaginamos que seja fundamental saber usar adequadamente os recursos disponveis para conseguir um bom aprendizado. Apenas essa perspectiva j deve servir de motivo para aprendermos a estudar. disso que trataremos na continuidade deste captulo.

    CONSIDERAES SOBRE UM MTODO DE ESTUDO A transio do ensino mdio para um curso universitrio exige do estudante

    uma srie de alteraes no seu comportamento, nem sempre fceis de serem postas em prtica. Entretanto, algumas mudanas so inevitveis, pois na universidade cada um deve assumir definitivamente uma conduta responsvel, conciliando a sua vida social com os estudos, o que nem sempre fcil de conseguir.

    Outro aspecto preliminar importante de ser registrado que saber estudar no inato, algo que precisa ser aprendido. Dessa forma, devemos e podemos aprender a estudar. E isso tanto mais necessrio quanto mais nos conscientizamos de nosso papel e de nossos compromissos como estudantes. Podemos dizer que deveramos deixar a condio de alunos entendendo aluno como aquele que ensinado - e passarmos definitivamente a ser estudantes - sendo estudante aquele que aprende e estuda porque quer, com motivao, com dedicao, sob orientao de algum mais experiente ou como autodidata. A vida universitria nos impe esta mudana de conduta. Estudar no apenas captar um assunto, mas principalmente organizar na mente, com fluidez, continuidade e encadeamento lgico, diversos tpicos,

    formando uma postura crtica e coerente, estabelecendo relaes entre o assunto aprendido e o mundo nossa volta.

    No devemos confundir aprender com estudar. Estudar uma faculdade particular do ser humano; aprender uma caracterstica dos seres vivos, que o homem pratica desde que nasce, aprendendo a falar, a andar ou a usar utenslios. O resultado de um estudo deve ser, necessariamente, a incorporao de conhecimentos teis para a nossa vida, devendo, portanto, modific-la continuamente.

    O que pretendemos com esta proposta apresentar uma metodologia de trabalho, visando a um melhor e mais slido aprendizado. A bem da verdade, devemos ressaltar que o primeiro objetivo deste tpico desmitificar a idia - ainda bastante arraigada no meio universitrio de que possa existir uma maneira de estudar pouco e aprender muito, cujo mtodo dispense o trabalho que no queremos ter.

    Outro ponto importante que procuramos deixar claro a impossibilidade de conciliar estudo com a falta absoluta de tempo para estudar. As duas coisas, levadas ao p da letra, so inconciliveis. Quem pretende efetivamente estudar deve descobrir ou criar o seu tempo para isso. E sempre vai ser possvel essa meta. Um bom comeo para conseguirmos tempo planejar com seriedade aquilo que temos de cumprir.

    Pontos importantes, como uma preparao psicolgica - condio bsica para viabilizar um estudo que culmine numa aprendizagem eficaz - e uma boa programao do tempo, para o estudo, o trabalho ou o lazer, so abordados aqui como condies imprescindveis para aplicarmos esta ou qualquer outra tcnica de estudo.

    Regras teis para um estudo eficiente No h regras absolutas no tocante a mtodos de estudo; o que existe so recomendaes que devem ser adaptadas s particularidades de cada indivduo, e tambm s peculiaridades de cada assunto a ser estudado - por exemplo, estudar matemtica exige comportamentos distintos dos necessrios para estudar uma lngua estrangeira

    Devemos estar cientes da importncia de aprender a ver um determinado assunto sob diferentes ngulos, a compar-los e a refletir criticamente sobre o tema

    Saber fazer perguntas, para si e para outros, uma utilssima ferramenta para nos orientarmos

    Estudo sem trabalho, sem esforo, lenda; estudar exige dedicao; mas, como toda atividade humana, estudar pode ser algo extremamente prazeroso

    22 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE 23

  • De forma geral, o estudo eficaz um processo que exige dedicao exclusiva, no devendo ser compartilhado com outra atividade. Por esta razo, recomendamos um verdadeiro isolamento enquanto estudamos, intercalando pequenos intervalos de descanso, para evitar o cansao prematuro. Isso no inviabiliza que em determinadas situaes algum possa ter bons rendimentos executando algumas tarefas acadmicas ao mesmo tempo, por exemplo, em que ouve msica. Mas todo cuidado pouco. No mais das vezes, as pessoas se iludem tentando imitar comportamentos, talvez adequados para alguns, mas que no so apropriados nem proveitosos para outros.

    CONDIES PARA VIABILIZAR o ESTUDO Uma condio bsica para viabilizar o estudo. a programao do tempo.

    Determinar o que fazer em cada momento um excelente comeo para um bom estudo. Isso se justifica porque uma boa programao evita confuses, indecises e adiamentos, que levam quase sempre a deixarmos de lado determinadas atividades em favor de outras que nos so aparentemente mais agradveis ou cmodas. Para que no estudemos apenas o que mais nos agrada no momento, sempre importante fazer um bom planejamento. Evitamos assim deixar de lado assuntos que meream mais dedicao, ou mesmo deixamos de estudar, com o pretexto de que outras atividades extra-ensino tambm so importantes. Isso pode fazer com que o lazer acabe prevalecendo, prejudicando os estudos.

    No que o lazer no seja importante, ou que os estudos no possam ser uma atividade prazerosa. No primeiro caso, devemos lembrar que se o nosso propsito um processo de formao universitria, esta meta deve estar sempre em destaque, ocupando nossas atenes por grande parte de nosso tempo. Em segundo lugar, bom no perdermos de vista que estudos bem feitos, de forma sadia e competente e com motivao, podem conferir tanto prazer quanto outras atividades que consideramos - talvez por conveno social - como hobby, lazer, entretenimento, diverso...

    Uma programao deve contemplar, alm dos tempos de sala de aula e trabalho - monitoria, bolsa de iniciao cientfica, estgio, ou mesmo atividades fora da universidade -, perodos de tempo de estudo extraclasse bem dosados para cada matria, de acordo com o grau de dificuldade de cada assunto, avaliado pelo prprio estudante. Assim, por exemplo, podemos dedicar duas horas por noite nas teras e quintas-feiras para estudar Fsica, e uma hora em cada tarde das segundas e quartas-feiras para revisar as aulas de Qumica.

    Alunos trabalhando em um grupo de iniciao cientfica

    Para compatibilizar isso, sugerimos o preenchimento de um quadro de horrios - como, por exemplo, o apresentado a seguir -, onde cada atividade a ser cumprida deve estar registrada.

    Na realidade, o importante na confeco de um quadro de horrios para estudo e trabalho que ele seja realstico. Se no for assim, ele provavelmente no ser bem executado. E um horrio no cumprido no 80 intil, tambm nocivo porque leva a pensar que se est fazendo algo, quando de fato isso no acontece.

    dom

    seg

    ter

    qua

    qui

    sex

    sb

    manh

    tarde

    noite

    Quadro de horrios para o planejamento das tarefas semanais

    Um horrio tambm no pode ser rgido e inflexvel, devendo ser corrigido e adaptado constante mente, de acordo com as necessidades do perodo. Por exemplo: numa semana de provas, devemos dedicar um tempo maior s revises gerais - que integram os assuntos de uma mesma disciplina -, sem deixar de lado os imprescindveis tempos a serem dedicados s recomposies das aulas, ao esporte, ao lazer etc.

    24 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS C ap i t u l o 1 - C heg and o a U n i v e r s i dad e

    Alunos desenvolvendo um projeto em laboratrio

  • No subestimar a validade do aproveitamento de pequenos perodos livres tambm uma sbia medida. s fazer as contas e verificar que estes tempos no podem ser desperdiados.

    bastante comum que estudantes que trabalham para poder sustentar seus estudos tenham bom desempenho nos seus cursos. Isso se deve basicamente a dois fatores. O primeiro que, participando ativamente no custeio dos seus estudos, acabam por dar-lhes muita importncia. O segundo que, tendo que conciliar estudo com trabalho, fatalmente tero que valorizar ao mximo todo o seu tempo, pois sabem que dificilmente tero outra oportunidade para desenvolver uma tarefa. Dessa forma, esto automaticamente pondo em prtica a racionalizao do tempo. Entretanto, mesmo assim podemos melhorar ainda mais o rendimento, tomando precaues extras, como as aqui apresentadas.

    Um ltimo ponto que queremos ressaltar a dedicao de tempo para descanso e lazer, o que essencial para a sade fsica e mental. importante, para quem desenvolve atividades intelectuais, tambm desenvolver em paralelo atividades que estimulem o sistema psicomotor, ou ento cultivar um passatempo em rea bastante diferente do trabalho usual; isso ajuda a descansar a mente das tarefas acadmicas.

    Ao estudar, devemos lembrar tambm que aproveitar intensamente o tempo de estudo uma forma de dar sentido s horas de lazer.

    FASES DO ESTUDO

    Um curso de engenharia tem por objetivos, dentre outros, estimular a criatividade, fornecer ferramental bsico para que faamos frente aos problemas tcnicos com os quais nos depararemos na nossa profisso, estimular a adotar uma postura crtica e consciente para com a sociedade.

    Para alcanar esses objetivos devemos estar atentos, durante a nossa formao, para uma srie de recomendaes sobre como proceder para tirar o melhor proveito possvel dos estudos e trabalhos. Isso nos levar, logo cedo, a percebermos que sempre existem melhores maneiras de resolver problemas, sejam eles do tipo que forem.

    Neste item so sintetizadas algumas recomendaes e propostas para melhorar o desempenho nos estudos, otimizando procedimentos de trabalho. As recomendaes aqui contidas - na verdade um mtodo de estudo - {azem parte de uma proposta maior de comportamento diante de situaes novas com as quais o engenheiro quase sempre se deparar. Para isso, recomendamos um bom aproveitamento das oportunidades que a escola oferece, pois nela podemos treinar nossa capacidade de enfrentar e de construir solues apropriadas e consistentes para resolver problemas.

    Etapas do mtodo de estudo Preparao Captao Processamento

    O mtodo aqui trabalhado consiste em trs etapas de procedimentos que esto presentes, de uma forma ou de outra, no ato de estudar. No quadro acima esto indicadas estas etapas de estudo. Embora raramente essa lgica de procedimentos seja percebida, o processo de estudo acontece aproxima-damente dessa forma.

    Entendemos aqui o estudo como um ato maior, privilgio do ser humano, atravs do qual internalizamos saber e cultura letrada, o que difere de simplesmente aprender, que leva a acumular conhecimentos prticos e experincias novas.

    Um aspecto importante a ser ressaltado que as recomendaes aqui colocadas tm como compromisso resumir procedimentos julgados adequados para o estudo da engenharia. Imaginamos que, para outras reas, outras recomendaes talvez sejam mais apropriadas para um bom processo de formao profissional. O estudo das cincias - visando formao do engenheiro - tem sutis diferenas em relao a outras reas, pois este profissional lidar, no seu dia-a-dia, mais com a tecnologia propriamente dita, com procedimentos e com aparatos tcnicos do que com o processo cientfico, que lhe serve, sim, como base e fundamento, mas no necessariamente como propsito.

    PREPARAO. H quem possa discordar das recomendaes aqui contidas e at ter bom desempenho agindo de forma diferente. Mas, como regra geral, sugerimos que alguns cuidados com a preparao so importantssimos para se ter sucesso nos estudos.

    Desde a escolha de um bom ambiente - arejado, bem iluminado, silencioso e agradvel - at a preparao psicolgica, como condio para viabilizar o estudo, devem ser cuidados. raro encontrar algum que consiga compenetrar-se suficientemente a ponto de conseguir raciocinar e refletir na medida necessria para poder captar assuntos novos, estando em ambientes

    26 27 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS C a p i t u l o 1 - C h e g a n d o a U n i v e r s i d a d e

    Mais de 5400 minutos (cerca de 90

    horas) por ano

    Quinze minutos de estudo por dia representam

    105 minutos por semana

    450 minutos (7,5 horas)

    por ms

  • adversos. Quando estamos tentando trabalhar conhecimentos - que so inditos para ns - atravs de livros didticos, que exigem ateno exclusiva e alta dose de concentrao, o ambiente pode se tornar um ponto decisivo para obtermos um bom rendimento.

    Nesse sentido, recomendamos que um ambiente com as caractersticas acima descritas - alm de outras que cada um julgar necessrias - deva ser sempre procurado. Todavia isso nem sempre possvel. Por isso deve-se, como medida prtica, saber utilizar da melhor forma possvel o ambiente disponvel.

    Ainda quanto utilizao de um ambiente de estudo, sugerimos que o estudante esteja sentado, em posio cmoda, tendo em frente uma mesa para servir de apoio para livros, cadernos, lpis e todos os demais instrumentos necessrios para o tipo de assunto com que se est lidando.

    O hbito de estudar - de preferncia nos mesmos locais e horrios de costume - facilita em muito a aprendizagem, pois, por estarem vrios aspectos sendo cumpridos automaticamente, tem-se menos barreiras a transpor, permitindo maior concentrao naquilo que novo, ou seja, o assunto em estudo. Alm do mais, j se deve ter preparado no local de costume todo o material necessrio. No esquecer que o estudo de Histria, de Desenho ou de Mecnica dos Slidos exige, em princpio, materiais diferentes.

    Ainda quanto atitude psicolgica, lembramos que a perseverana deve ser encarada como uma caracterstica importante para alcanarmos nossos objetivos. Notadamente nos estudos isso verdade, pois no podemos sucumbir ao primeiro obstculo. Devemos, isto sim, ao falhar uma vez, procurar saber onde est o erro e proceder a uma nova tentativa, atravs de novo estudo ou novo enfoque, sempre que vislumbrarmos alguma possibilidade de sucesso.

    Para concluir este item, vamos destacar trs observaes: CAUSA MAIOR. Dificilmente lograremos xito efetivo e duradouro nas

    nossas atividades se no estivermos convencidos de que o nosso trabalho de formao nos estar colocando a servio de uma causa maior, qual seja, a consecuo de nossas metas e a nossa integrao efetiva num papel social bem definido.

    CONHECIMENTOS INTEIS. No devemos partir do pressuposto de que possam existir conhecimentos inteis. No currculo de um curso, todos os assuntos, a princpio, tm um papel a cumprir, embora, s vezes, isso possa no estar claro de pronto. A forma como os conhecimentos so trabalhados - algumas vezes com deficincias didticas - no pode servir de justificativa para que os consideremos desnecessrios

    INTERESSE E DEDICAO. Devemos lembrar que, em cada assunto que estamos estudando, a humanidade j produziu ao menos um gnio de importncia, e que isso s pde ser alcanado com um alto interess< e dedicao desse indivduo pela sua especialidade, aliado ao trabalho de uma equipe que o ajudou a construir esse conhecimento.

    CAPTAO. Aps a preparao, podemos iniciar a fase da captao. Normalmente confundida com o prprio estudo, esta a fase de construo dos conhecimentos. Porm, como estudar no apenas captar, internalizar ou construir novos saberes, entendemos o processo de estudo como algo mais amplo, que envolve os passos j apontados nos itens anteriores. Estudar, assim, trabalhar no sentido de sentir-se apto a fixar conhecimentos e organiz-los na mente de forma lgica e duradoura; processar e construir conhecimentos de forma sistemtica e consistente.

    A captao de conhecimentos se d basicamente por iniciativa de algum interessado em aprender algo, e que utiliza para isso alguma tcnica de trabalho que possa lev-lo a alcanar seus objetivos.

    A captao ocorre quando houver

    internalizao de conhecimentos trabalhados por um professor em sala de aula

    trabalho de conhecimentos atravs de leituras e de reflexes pessoais

    participao em experincias, observaes, visitas tcnicas e discusses em grupo

    Embora convergentes para um mesmo fim, em cada uma dessas formas existem particularidades que exigem maneiras de abordagem prprias para se ter o melhor aproveitamento possvel. Uma coisa porm imprescindvel em qualquer caso: a atitude psicolgica favorvel, pois dela nasce a necessidade ou motivao para o estudo. Sem isso, estudar no tem significado e parecer .um pesado fardo intil.

    Esta fase do processo de estudo pode ser identificada em termos gerais por trs formas, conforme sugerido a seguir.

    Formas usuais de captao de conhecimento

    Leitura Audio Observao

    CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE 28 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS 29

  • LEITURA. Esta forma de captao a que mais se confunde com o prprio processo de estudo; talvez por ser bastante acessvel e por permitir ao leitor constantes reflexes criticas, garantindo o tempo necessrio para uma boa assimilao do assunto. Eis alguns pontos importantes a serem observados numa captao de conhecimentos pela leitura: para ler com eficincia no basta ser apenas alfabetizado; devemos ter ainda predisposio, ambiente favorvel e motivao; a aplicao de uma tcnica de leitura compatvel com o tema em estudo tambm fundamental; atravs da leitura podemos trabalhar palavras, frases, idias e frmulas, registradas em anotaes e em impressos em geral. AUDIO. E outra forma bastante caracterstica de captao de conheci-mentos, empregada por exemplo quando assistimos a uma aula ou palestra, ou participamos de um debate. Uma sugesto til para melhorar a construo de conhecimentos com esta forma de captao constantemente nos interrogarmos sobre o tema, procurando relacionar as idias, interligando-as num todo ou com outros assuntos. Tanto importante esta forma de captao que muitas pessoas conseguem fixar melhor os assuntos de um texto quando o fazem em voz alta. Nesse caso esto sendo usadas, simultaneamente, leitura e audio. OBSERVAO. um meio prprio de travar contato com informaes para uma posterior construo de conhecimentos quando, por exemplo, da realizao de uma experincia, da visita a uma obra, a uma empresa ou a um laboratrio. Se utilizada de forma sistemtica, e com critrio, constitui um til instrumento de aprendizagem. Observar entendido aqui como um estgio do processo de estudo, quando podemos nos apropriar, intelectualmente, de informaes, fatos, fenmenos etc. que surgem no decorrer de um trabalho. Esta forma de captao especialmente relevante nos estudos de engenharia porque estamos sempre identificando sistemas, fenmenos fsicos, processos e variveis para a execuo de nossas atividades.

    Leitura e participao em sala de aula: dois momentos importantes para o aprendizado

    CAPTAO EM SALA DE AULA. Um dos momentos de estudo mais importantes que todos temos o tempo em sala de aula. Por isso recomendamos que este perodo seja aproveitado integralmente, de preferncia atravs de uma participao ativa. No devemos levar para casa dvidas que podem ser sanadas em sala de aula. Isso no significa necessariamente esperar solues prontas por parte dos professores, mas sim a busca de respostas por todos os envolvidos no processo de construo do conhecimento: o aluno, os colegas e, obviamente, o professor. No esquecer que dvidas so lacunas num campo de conhecimento, e que estas certamente se avolumaro com o tempo, quando no sanadas, pois o perfeito entendimento de outros assuntos poder ser prejudicado em funo destas falhas.

    Um dos principais argumentos para justificar a dedicao exclusiva ao assunto de uma aula que no se pode conceber que algum deixe de fazer outra coisa - s vezes at mais atraente, verdade - para sentar-se em cadeiras normalmente duras e desconfortveis e ficar ouvindo, sem aproveitar, explicaes e orientaes de algum mais experiente e entendido no assunto. Usufruir a companhia de colegas com quem se partilham muitas expectativas e aproveitar o prprio ambiente de debates que proporcionam a construo do conhecimento uma boa chance de aprender. Seria bastante incoerente que algum no aproveitasse estes momentos.

    Durante uma aula, deve-se perguntar constantemente

    O que j sei sobre este assunto?

    Qual a ligao deste tpico com outros?

    Qual o significado fsico daquela equao?

    Entendi mesmo as explicaes, ou apenas concordei com elas?

    Eu saberia resolver sozinho aquele problema?

    Para entender uma aula devemos compreender a sua organizao e objetivos, assimilando a idia central da explanao do professor em cada assunto. comum que - ao explicar uma matria - os professores dem uma idia geral antecipada do que ser visto. medida que o professor avana com ris SUMS explicaes, podemos nos perguntar constantemente se as estamos de fato entendendo, se compreendemos os objetivos, as analogias, os conceitos...

    Se tivermos condies de enfrentar com sucesso essas questes, timo, estaremos aprendendo. Caso contrrio, devemos redobrar a ateno e pedir novas explicaes ao professor ou mesmo aos demais participantes da aula.

    30 CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

  • Captar e anotar idias com as prprias palavras - para anlise posterior -ajuda em muito a termos uma participao ativa na aula, estimulando o proces-samento das informaes. Se isso no for conseguido porque o assunto no foi bem assimilado. difcil acreditar que algum tenha dificuldades intransponveis para registrar, no papel, idias que estejam claras e distintas na mente.

    A ateno deve estar sempre voltada para aquilo que o assunto diretor - a linha mestra da aula, para permitir a captao e o indispensvel processamento das informaes - e no apenas para os trejeitos ou tom de voz do professor, e muito menos paisagem da janela ou ao comportamento dos demais colegas. Uma aula um processo dinmico, conjunto, participativo, no um espetculo, um show ou um filme a que podemos at assistir sem compromissos com o seu desenvolvimento.

    H quem queira se convencer de que aproveitaria melhor o seu tempo estudando em sua casa ou na biblioteca. Isso at pode ser verdade, mas apenas em alguns poucos casos, quando j estivermos perfeitamente motivados e orientados para o estudo e conhecedores, mesmo que superficialmente, do assunto a ser trabalhado. Podemos afirmar que, em linhas gerais, isso raro de ocorrer. Quase sempre muito mais vantajoso receber a orientao do professor, numa sala de aula, onde um conjunto de fatos contribui para isso. Por exemplo, ao formular perguntas, contestar o professor, externar suas dvidas, outros alunos podem contribuir para que compreendamos o assunto de uma forma diferente, mais clara e proveitosa.

    E s lembrar que o professor utiliza seus conhecimentos, seus proce-dimentos didticos e sua experincia para poder orientar o caminho a seguir para se obterem os resultados pretendidos. Alm do mais, a figura do professor importante porque acaba sendo um exemplo para o estudante, produzindo grandes reflexos na sua formao. Mas, independentemente destes exemplos, bom estarmos atentos ao fato de que cada um constri seu prprio conhecimento.

    CAPTAO EXTRACLASSE. O tempo em sala de aula importante e insubstituvel. Entretanto no podemos imaginar que apenas isso seja suficiente. indiscutvel a necessidade de uma dedicao extraclasse para a recomposio dos assuntos vistos em aula. Complement-los com leituras e discusses com os colegas, com a resoluo de problemas propostos ou atravs de consultas ao professor em sua sala de trabalho tarefa indispensvel para uma melhor fixao de conhecimentos.

    Acreditamos que duas horas de estudos extraclasse para cada hora de aula seja uma boa dose para que a recomposio e a fixao dos assuntos sejam alcanadas. Esta recomendao, logicamente, deve servir apenas como orientao, pois certamente alguns estudantes necessitaro dedicar mais tempo de estudo, por exemplo, para Fsica e menos para Qumica, enquanto outros podero ter necessidades diferentes. Essa dosagem de tempo deve ser estabelecida pelo prprio estudante a cada incio de perodo letivo, podendo ser ajustada com o passar das semanas. Para uma boa programao, devemos considerar caractersticas prprias, possveis deficincias ou gostos pessoais. No devemos, entretanto, cometer o erro de prejudicar o estudo de alguma matria em detrimento de outras. Se algum considera demasiado um tempo de duas horas de atividades extraclasse para cada hora de aula, seria bom procurar saber quanto tempo um professor dedica, de forma direta ou indireta, para preparar uma aula.

    Para garantir uma ateno mnima a cada matria cursada num perodo > letivo que sugerimos a confeco de um horrio, ou agenda de afazeres particulares, onde possamos estabelecer um tempo adequado para cada tarefa

    Complementando essa sugesto, recomendamos que se estabelea um tempo de reviso imediata de cada aula, para recompor e fixar a matria. Isto ser de grande valia, pois os assuntos ainda estaro vivos na mente e sero de fcil recomposio. Evita-se, assim, que o fenmeno tecnicamente conhecido como curva de esquecimento atue de forma inexorvel, fazendo com que muitos pontos importantes se percam.

    Segundo estimativas baseadas em experiencias, de uma determinado volume de informaes apreendidas, cerca de 5% serao esquecidas em uma hora; mais de 15% em uma semana e mais 20% em dois meses. Assim, apos 60

    32 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS e COMPORTAMENTOS CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE

    Anotar

    Duvidar

    Responder

    Debater

    Perguntar

    Processar

    Sala de aula, com professor explicando a matria

    Sala de aula, com alunos participando de atividades em grupos

  • Vistas de uma biblioteca universitria

    Pesquisas pela internet podem ser teis, mas um fator preocupante no pode ser desconsiderado: a confiabilidade das informaes contidas em inmeras das pginas disponveis. Um livro, em linhas gerais, passa por um comit editorial, leva a assinatura de um autor e o selo de uma editora, que devem prezar plos seus nomes. E lido, analisado e criticado plos professores, para s ento ser adotado e recomendado. Nem todas as informaes veiculadas na internet passam por um processo seletivo semelhante. Devem, portanto, ser utilizadas com parcimnia e cuidado. Mas, sem dvida, a internet tem-se revelado uma excelente fonte de consulta.

    Embora em princpio todos os estudantes de nvel superior se sintam capazes de bem assimilar os contedos de leituras, a realidade tem demonstrado que isso nem sempre acontece. Esta afirmao vem respaldada no fato de ser raro encontrarmos estudantes aplicando regras bsicas da boa leitura para uma assimilao eficaz. Entretanto, no difcil a mudana deste quadro. Um bom comeo nos conscientizarmos da possibilidade de uma melhoria e buscarmos seguir recomendaes simples como, por exemplo, as aqui apresentadas.

    A seleo daquilo que vamos ler o primeiro aspecto a ser considerado, porque, logicamente, no podemos ler tudo o que publicado sobre determinado assunto. Para termos uma idia da impossibilidade disso, calcula-se que anualmente a literatura cientfica e tcnica mundial produza mais de 60 milhes de pginas. Uma pesquisa rpida na internet pela palavra "engenharia" revela mais de 800 mil endereos. Assim, a recomendao de serem lidos os ttulos sugeridos por professores ou especialistas uma boa medida.

    Estando selecionado o que ler, devemos passar leitura propriamente dita, ao que encerra os maiores problemas da fase de captao. Devemos, por exemplo, saber diferenciar os procedimentos da leitura de um romance, da leitura de um livro texto de um curso de eletromagnetismo. A velocidade de uma leitura informativa, e principalmente de distrao, normalmente mais rpida, enquanto a de uma leitura formativa exige reflexo, anotaes, clculos auxiliares e retornos constantes a trechos j lidos, sendo, portanto, mais lenta.

    No recomendvel tempo longo de leitura de textos didticos, pois o cansao reduz a capacidade de fixao, e qualquer ponto que no seja bem esclarecido pode prejudicar severamente o entendimento global de um assunto.

    pertinente lembrar que cada um deve procurar a sua prpria velocidade de leitura, para cada tipo de texto, lembrando sempre que o principal a compreenso. De forma geral, devemos procurar aumentar a velocidade, porque ganhamos tempo e aumentamos a compreenso e a reteno de contedos. Unia boa velocidade de leitura representa comumente algo em torno de 200 a 300 palavras por minuto. Para textos tcnicos ou que exi jam reflexes mais acuradas, este ritmo dever baixar sensivelmente.

    35 34 CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

    dias restam cerca de 50% dos conhecimentos originalmente apreendidos. Aproveitar para recompor e organizar os assuntos quando eles ainda estiverem acessveis de forma fcil, uma atitude bastante prudente.

    CAPTAO PELA LEITURA. Em que pesem os avanos da internet, os livros didticos talvez sejam as maiores fontes de pesquisa dos estudantes. Por isso devemos dar uma ateno especial bibliografia indicada pelo professor e consult-la regularmente, de preferncia adquirindo os principais ttulos. As bibliotecas das escolas esto, na maioria das vezes, razoavelmente bem aparelhadas para os cursos bsicos de graduao. Constantes visitas e consultas a estes locais podem ser de grande valia para os estudos.

    Ttulo da obra O ttulo normalmente indica o assunto abordado no texto, ou a qual rea pertence o trabalho

    Nome e currculo do autor Nomes proeminentes e cientificamente respeitveis so bons indcios para a seleo da leitura, pois devem produzir trabalhos consistentes

    Leitura do prefcio e da orelha Fornece uma ideia razovel da abordagem do texto; podemos, assim, verificar se confere com o que desejamos estudar

    Leitura do sumrio Podemos ter, a partir da, um panorama geral do contedo da obra, alm de conferirmos com facilidade se os tpicos procurados esto contemplados no trabalho

    f

    A escolha de textos para leitura pode ser baseada em pontos como:

  • Alguns .sintomas comuns plos quais se podem identificar maus leitores

    Leitura de palavra por palavra O movimento dos olhos durante a leitura intermitente, sendo que a leitura propriamente dita s se d durante as paradas. A leitura ser tanto mais rpida quanto maior for o grupo de palavras fixado em cada parada dos olhos

    Movimentao dos lbios ou vocalizao enquanto se l A velocidade da leitura fica prejudicada quando acompanhada por alguma vocalizao, mesmo que mental. Numa leitura eficiente devemos olhar um conjunto de palavras e interpretar o significado, sem a necessidade de pronunci-las, nem mesmo mentalmente.

    Num texto, em cada captulo, ou mesmo num pargrafo, o autor procura registrar uma idia, desenvolvendo-a. Assim, para que consigamos uma leitura eficiente captando, retendo e integrando as informaes lidas - devemos identificar e extrair as idias principais, sabendo destac-las das informaes acessrias que gravitam em sua volta, e que servem para contextualizar, exemplificar e aclarar o assunto tratado.

    Uma das formas mais eficientes de se ler um livro estar constantemente procurando pelas idias principais, pela mensagem que o autor procurou registrar. Uma boa sugesto sublinhar essas passagens ou fazer anotaes ao lado do texto - quando o livro for seu. A tcnica de sublinhar, alm de ser simples, de extrema utilidade para as revises, pois evita uma releitura completa, indo-se direto s idias principais. Mas devemos sublinhar o menos possvel - s o essencial para destacar uma idia - e sempre com a mesma conveno; por exemplo, com um trao horizontal sob as palavras para destacar idias principais; com dois traos horizontais para marcar exemplos; com um trao vertical ao lado do texto para evidenciar oraes completas. Uma soluo alternativa - para no rasurar o livro - ter mo uma folha de papel para anotar destaques, observaes, dvidas, principais passagens, esquemas, resumos...

    No estudo de assuntos pertinentes engenharia comum a utilizao de grficos, tabelas e frmulas matemticas como auxlio compreenso. Por isso, recomendamos o hbito de interpretar os seus significados e tentar compreender a funo de cada varivel envolvida. Uma equao matemtica nada mais do que uma tentativa de representao de uma situao fsica real - normalmente, no estudo da engenharia, um fenmeno fsico atravs de uma linguagem de significado mais ou menos fixo e universal. Grficos e tabelas, na verdade, so recursos para mostrar alguma relao entre variveis ou a evoluo de algum fenmeno ou evento.

    PROCESSAMENTO. Aps os primeiros contatos com um novo conhecimento, devemos process-lo para torn-lo parte da nossa viso de mundo, da nossa cultura, da nossa forma de ver e interpretar as coisas. Um novo conhecimento s ter sido de fato aprendido se soubermos aplic-lo em diversos contextos, ou seja, se ele estiver integrado nossa linha de raciocnio.

    Mas claro que o processamento das informaes j est acontecendo quando lemos um livro, quando assistimos a uma aula ou quando participamos de uma visita tcnica a uma empresa. Nem sempre necessrio que dediquemos um tempo especial para processar os conhecimentos. Porm so imprescindveis alguns procedimentos complementares posteriores para que haja uma boa apropriao dos contedos. Por exemplo, podemos realizar revises imediatas logo aps as aulas ou leituras de textos. Isso pode ser feito atravs de esquemas e resumos dos assuntos vistos, o que permitir, alm da fixao, uma forma rpida de consultar alguns pontos considerados mais importantes.

    Um esquema consiste, basicamente, numa reproduo de um assunto, onde apenas as idias mestras, os principais ttulos e definies compem um todo sinttico. E uma reproduo da linha diretriz seguida pelo autor, devendo s ter simples, claro e objetivo.

    Um resumo de um texto uma compactao, com frases completas, do assunto lido. Deve ser uma extrao das idias principais - no uma criao - fiel ao texto original. Tem como objetivo a condensao para diminuir o Volume de material e o tempo de revises. Entretanto, talvez o maior objetivo Seja instigar a uma leitura criteriosa, crtica e eficiente. Alis, nunca demais repetir: a leitura um dos caminhos mais eficazes para o aprendizado.

    Aps estudar um determinado volume de tpicos, devemos realizar l Uma reviso globalizadora, que tenha como objetivo a integrao dos assuntos estudados. Com isso podemos formar um todo homogneo da matria vista. i Um dos objetivos das avaliaes programadas em disciplinas justamente 'propiciar aos alunos a realizao de tais revises.

    Ningum pode garantir que uma prova por melhor que tenha sido elaborada - mea com preciso os conhecimentos de algum, pois h muitos fatores, inclusive pessoais, que influem no seu rendimento. H indivduos que rendem melhor quando trabalham em equipe e outros que s conseguem bom desempenho quando esto sozinhos. Existem os que ficam inibidos quando esto sendo avaliados em provas orais e os que ficam nervosos em provas escritas. Entretanto uma coisa e certa: cada um deve se esmerar ao mximo para ler bom rendimento em avaliaes formais, pois elas sero o instrumento que aferir seu aprendizado durante a maioria dos cursos. Alem do mais, ainda no foi desenvolvido um mtodo to simples, rpido e eficiente quanto uma prova formal para verificar se algum estudou, aprendeu e tem

    36 37 INTRODUO ENGENHARIA CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE

    Releitura Retornos constantes ao que se acabou de ler so fortes sintomas de desateno. No confundir com retornos feitos com o objetivo de integrar, revisar ou confrontar assuntos lidos

  • desenvoltura no trato de um determinado assunto. Querendo ou no, o rendimento das provas ainda um paradigma dominante para o processo de classificao na educao.

    na fase do processamento das informaes que devemos procurar interligar os assuntos estudados, para garantir uma boa viso de conjunto e um encadeamento lgico de todo o curso. Conseguir compreender cada assunto dentro do contexto da disciplina, de uma rea de estudos ou mesmo do currculo do curso, formando uma boa viso de conjunto, um utilssimo instrumento contra eventuais desmotivaes para os estudos.

    Uma disciplina parte de uma estratgia de aprendizagem programada; portanto, contm planos, metas e tcnicas de processamento de conhecimentos. Dedicar um tempo extra para apreender a sua lgica e as suas relaes com outras matrias o mnimo que se pode esperar de um bom estudante. Revises imediatas e globalizadoras podem fazer com que isso acontea, tornando o aproveitamento nos estudos mais eficaz.

    OUTRAS RECOMENDAES A captao no se restringe aos aspectos j referidos. Em diversas outras

    situaes - formais ou informais - estaremos tambm captando e processando conhecimentos. A seguir so apresentados outros momentos em que podemos exercitar nossa capacidade de aprender.

    AULA DE LABORATRIO. Com os constantes aperfeioamentos dos equipamentos de medio e com o aparecimento de novos e modernos equipamentos industriais, salutar que tenhamos contato com a instrumentao tcnica de nossa rea de estudos e que aprendamos a realizar ensaios de laboratrios; isso conferir maior versatilidade e discernimento prtico, o que ser de grande valia na nossa vida profissional.

    As aulas de laboratrio devem ser encaradas no como meros artifcios didticos, como barreiras burocrticas que devemos transpor, ou como um momento de lazer para descansarmos das teorizaes, mas como uma | excelente oportunidade para verificarmos a teoria, para despertar nosso interesse pela profisso, para construir novos conhecimentos e para travar contato com os limites e potencialidades de situaes concretas.

    O que fazer durante uma aula de laboratrio

    conferir e anotar os resultados obtidos

    verificar os equipamentos utilizados

    atentar para os aspectos de segurana

    compreender os processos em andamento

    fazer anotaes para a confeco de relatrio

    relacionar a prtica com as teorias aprendidas

    Podemos dizer que uma aula prtica, com o desenvolvimento de Experincia em laboratrios ou em campo, tem vrios objetivos, como os Ipresentados no quadro a seguir.

    Objetivos gerais de uma aula de laboratrio ensinar a tirar concluses a partir de resultados experimentais

    desenvolver a sensibilidade na avaliao dos parmetros da engenharia

    contribuir para o desenvolvimento na aplicao dos princpios bsicos tericos para a soluo de problemas

    39 CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE 38 INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

    familiarizar com o uso da instrumentao

    desenvolver a capacidade criativa

    contribuir para familiarizar o aluno com manuais e normas tcnicas

    permitir melhor fixao dos conhecimentos abordados nas aulas tericas

    desenvolver o esprito de trabalho em grupo

    Atividades em laboratrio

    desenvolver o esprito crtico na interpretao e avaliao dos resultados experimentais

    desenvolver habil idades para execuo de re latorio e para a apresentao de resultados atraves de graficos, tabelas e equaes

    Formatado: Recuo: esquerda: 0cm, Padro: Transparente (Branco)

  • ESTGIO. Na rea das engenharias, da maior importncia a realizao de estgios em empresas que trabalhem no campo profissional do curso. Isso permitir contatos diretos com o futuro campo de trabalho e tambm auxiliar, em muito, o prprio processo de formao, pois teremos assim exemplos prticos para identificar uma srie de problemas e formulaes encontrados na vida acadmica.

    Se o nosso curso especfico no exigir a realizao de estgios - bsicos ou profissionais -, ns prprios deveremos procurar faz-los. S teremos a ganhar com isso, em termos de experincia, motivao, exemplos prticos, vivncia, amizades, contatos profissionais etc.

    A realizao de um estgio uma boa oportunidade para conhecermos processos e equipamentos utilizados pela empresa, bem como para travarmos contato com informaes que digam respeito aos produtos fabricados, s especificaes tcnicas, rea de atuao da empresa, aos processos utilizados, aos fornecedores de matria-prima, ao quadro funcional e hierarquia da empresa etc.

    Recomendamos tambm aqui a confeco de relatrios, mesmo quando no exigidos como tarefa de avaliao.

    TRABALHO ESCOLAR. Bastante comum nos cursos universitrios, o trabalho escolar - tarefa para casa - um excelente recurso didtico. Constitui um processo de realizao e sublimao intelectual, pois propicia oportunidades de exercitar a pesquisa bibliogrfica, a observao, a redao e a reflexo de determinados fenmenos e eventos. Tambm desperta para o rigor cientfico, a observao de mtodos de trabalho, a organizao, o senso esttico, a criatividade, a importncia do cumprimento de prazos etc.

    conhecimento, compreenso e fixao de conceitos

    aplicao de leis fsicas a situaes problematizadas

    anlise de fenmenos, eventos ou processos

    sntese de conceitos, teorias, leis e experincias

    aprendizado de abordagem de problemas aplicao

    de normas para a elaborao de projetos

    O trabalho escolar uma atividade imprescindvel para uma boa | formao. Por isso, devemos nos entregar com seriedade a este tipo de tarefa acadmica, realizando-a sempre, com dedicao e esmero.

    De forma geral, os trabalhos escolares podem ser assim classificados: experincia de laboratrio ou de campo, pesquisa bibliogrfica, projeto, relatrio tcnico, resoluo de problemas, prova, monografia e seminrio.

    E fundamental ressaltarmos ainda que a leitura - atividade indispensvel para os trabalhos escolares -, sempre um reforo importante para o aperfeioamento do vocabulrio. Um vocabulrio substancioso dar mais segurana na comunicao, tanto oral quanto escrita e, com isso, uma potente ferramenta estar nossa disposio em nossos contatos profissionais. E tudo isso ser matria-prima para realizarmos nossos trabalhos escolares.

    Alunos participando de um concurso de projetos e ministrando seminrio

    A observncia a mtodos de trabalho e princpios da organizao de tarefas intelectuais facilita a aprendizagem, economiza tempo e possibilita um melhor desempenho na execuo de qualquer tipo de atividade. Mesmo que no estejamos suficientemente convencidos disso, ou que tenhamos dvidas com relao s recomendaes feitas neste texto, devemos, no mnimo, considerar o seguinte: no custa nada tentar.

    41 40 CAPTULO l - CHEGANDO UNIVERSIDADE INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

  • 42

    Tarefas para complementao do aprendizado

    V biblioteca de sua escola e pegue duas ou trs publicaes indicadas nas 1 leituras sugeridas deste livro. Leia atentamente algumas partes delas e procure

    entender as idias gerais que os autores tratam em seus textos.

    Forme uma equipe de trs ou quatro colegas de turma e discuta com eles as 2 diferenas que vocs esto percebendo entre o curso mdio e o universitrio. Discuta,

    por exemplo, o que cada um est fazendo para se adaptar a este novo sistema.

    3 Reflita acerca dos motivos que o levaram a cursar engenharia. Escreva numa folha de papel um resumo de suas concluses.

    4 Enumere ao menos cinco bons motivos que justifiquem - para voc mesmo -por que devemos levar nossos estudos a srio.

    5 Analise o currculo de seu curso - se preciso recorrendo a ementas e programas das disciplinas - buscando entend-lo no seu conjunto. Procure identificar as grandes reas de estudos, as disciplinas com as quais voc melhor se identifica e as especializaes oferecidas.

    6 Depois de ter lido este captulo, faa um resumo das principais idias do que voc leu - conforme ns autores as registramos - e depois adicione uma argumentao lgica que contraponha algumas afirmaes com as quais voc no concorda.

    7 Desenvolva - por escrito - no mnimo dez atividades que poderiam contribuir para uma boa formao universitria.

    8 Depois de uma leitura atenta, procure estabelecer no mnimo dez atividades que complementem o aprendizado deste captulo.

    Atravs de pesquisas em bibliotecas e na internet, selecione ao menos cinco 9 livros 9 que, na sua opinio, possam aprofundar as questes tratadas neste

    captulo. Discuta com colegas ou com professores a pertinncia da sua proposta.

    Comunicao

    INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

  • O ENGENHEIRO E A COMUNICAO

    Para ser um bom engenheiro no basta apenas saber usar corretamente os conhecimentos aprendidos num curso universitrio. No suficiente saber utilizar eximiamente tcnicas e instrumentos, saber empregar mtodos de clculo e de anlise de sistemas, conhecer em profundidade os procedimentos tcnicos pertinentes profisso. At porque alguns deles j estaro obsoletos quando chegar a hora de us-los na prtica; e muitos outros conhecimentos vistos nas escolas jamais sero de fato necessrios - de forma direta - durante toda a vida profissional. De qualquer forma, todos eles cumprem o seu papel no processo de educao, de formao de uma mentalidade e de abordagem de problemas.

    Um profissional eficiente , antes de mais nada, aquele que sabe utilizar os seus conhecimentos, a sua memria, o seu raciocnio e a sua capacidade de pesquisar. Mas tambm aquele que sabe se expressar, comunicando com eficcia idias e resultados de seu trabalho. Uma boa soluo presa na cabea de seu criador praticamente intil.

    Uma coisa certa: no seu dia-a-dia, o engenheiro precisa saber se comunicar. Alis, a comunicao, em especial a escrita, parte inerente ao seu trabalho. Um engenheiro precisa expedir ordens para os seus subordinados na hierarquia da empresa, realizar projetos para clientes ou rgos financiadores, confeccionar relatrios para a direo da empresa, preparar manuais de utilizao de produtos, divulgar seus trabalhos em congressos, seminrios, revistas tcnicas etc.

    A capacidade de buscar, selecionar e armazenar informaes um fator preponderante para garantir ao profissional - notadamente da rea tecnolgica - o acompanhamento do estado da arte de sua profisso. S assim ele consegue desenvolver bem o seu trabalho e comunicar o que de importante acontece relativo sua rea de atuao.

    No entanto, bom lembrarmos que alguns estudantes no tm levado muito a srio essa importantssima ferramenta, pois relegam a segundo plano a importncia da comunicao na engenharia. Isso acontece na medida em que refletem a imagem popular de um engenheiro como aquele indivduo que decide, projeta, calcula etc., assumindo assim que a comunicao - em especial a escrita - algo inteiramente irrelevante para os futuros profissionais.

  • INTRODUO ENGENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

    Mas o sucesso profissional depende tanto da qualidade do trabalho realizado quanto da habilidade de fazer com que as pessoas entendam o que foi feito. Ser compreendido to importante quanto ser competente tecnicamente.

    PROCESSO DE COMUNICAO O processo de comunicao pressupe a existncia de pelo menos seis

    elementos que devem ser tratados com clareza por quem deseja se expressar bem. So eles:

    EMISSOR - aquele que envia a mensagem; MENSAGEM - assunto a ser transmitido, que deve relatar com clareza o

    trabalho realizado e seus resultados; RECEPTOR - aquele que capta e decodifica a mensagem; CANAL DE COMUNICAO - o meio de transmisso; a folha de papel, no caso de

    um relatrio escrito; CDIGO - a linguagem, que deve ser entendida por ambos, emissor e

    receptor; num relatrio tcnico, o tipo de linguagem - cdigo - e a apresentao grfica devem ser adequadas ao pblico-alvo - o receptor;

    R U D O - interferncias que dificultam a boa comunicao da mensagem.

    Representao grfica do processo de comunicao

    Vrias formas de comunicao podem ser usadas. Embora a comunicao escrita seja uma das mais importantes - por ser mais duradoura - outras formas de comunicao devem ser trabalhadas, tais como: oral, grfica ou atravs de modelos icnicos. Cedo descobrimos que, para a engenharia, todas tm seu valor.

    REDAO No h atalhos para conseguirmos escrever bem. Para termos chance de

    executar uma boa redao de um trabalho necessrio, no mnimo, o domnio do cdigo a ser utilizado para registrar as nossas idias. O emprego desse cdigo, quando se tratar de textos escritos, implica, necessariamente, o uso escrupuloso das regras gramaticais vigentes, em especial no tocante ortografia, pontuao e concordncia gramatical.

    Mas isso nem sempre condio indispensvel e, em muitos casos, no garante uma boa redao. O ato de escrever bem tambm pode ser conseqncia da prtica constante da redao e da boa leitura. Alm disso, podemos usar facilitadores para a preparao de um relatrio, como por exemplo a documentao de tudo o que for feito durante o desenvolvimento do trabalho.

    Algumas regras bsicas tambm auxiliam nesse processo. No perseguir, num primeiro momento, uma forma perfeita de redao uma delas. Outra: interrupes para conversas, revises ou verificaes de grafia de palavras, ou mesmo para a procura de termos mais apropriados, podem cortar o fluxo de idias e comprometer a espontaneidade que d unidade e interesse redao. Uma boa orientao redigir com alguma rapidez partes do texto, para depois revisar, mesmo que percebamos que, s vezes, alguns trechos fiquem confusos.

    Escrever uma arte, que se aprende e se aperfeioa. Mais que uma arte, uma necessidade que todos temos, como cidados e mais ainda como profissionais. Alis, todos ns deveramos escrever regularmente, pois escrever ajuda a lembrar, observar, pensar, planejar, organizar, refletir, comunicar...

    LINGUAGEM TCNICA A linguagem tcnica deve ser simples, clara, precisa e, tanto quanto

    possvel, vazada em frases curtas. No devemos recorrer a imagens literrias, metforas poticas ou outro recurso retrico similar a estes, pois cada palavra deve ser empregada no seu sentido direto, sem dar margem a segundas interpretaes. Quando usamos esses recursos, embora o texto fique Aparentemente mais elegante e parea exprimir erudio do escritor, pode confundir o registro de idias tcnicas. Se for inevitvel, ou se o autor assim o desejar, seria prefervel reservar esses recursos para o prefcio ou mesmo para a introduo da obra, e no para a sua estrutura principal.

    Um cuidado especial deve ser tomado com o jargo tcnico. Cada campo de um estudo possui a sua forma caracterstica de fazer referencia aos seus

    47 46 CAPTULO 2 - COMUNICAO

    Mensagem

    Canal de comunicao

    Rudo

  • INTRODUO EMPENHARIA - CONCEITOS, FERRAMENTAS E COMPORTAMENTOS

    processos, instrumentos, produtos, enfim, aos seus conhecimentos. Captar, compreender e saber utilizar a terminologia usual na rea tambm uma receita de sucesso na hora de redigir trabalhos tcnicos. Mas tudo depende do pblico-alvo. Por exemplo, se estivermos escrevendo um manual de uso de um equipamento que ser usado pela comunidade em geral, termos tcnicos especficos devem ser evitados.

    Em todo caso, no podemos esquecer que esclarecimentos colaterais em excesso acabam mais confundindo do que ajudando a esclarecer.

    Na linguagem tcnica bom evitar o emprego de prosopopia, ou seja, emprestar atributos que do vida, ao, movimento e voz a coisas inanimadas. Expresses como: "a equao A diz que" pois as equaes no falam , "os dados apontam para" - pois os dados no apontam -, devem ser evitadas. Por outro lado, j de uso comum, na linguagem do dia-a-dia das pessoas, o emprego deste tipo de figura, o que torna em muitos casos quase inevitvel o seu emprego.

    Recomendamos que uma redao tcnica tambm deva ser preparada num estilo que seja:

    Um texto tcnico deve ser

    Impessoal Objetivo Modesto Corts Claro

    IMPESSOAL. O formato tcnico atualmente mais aceito prepararmos textos em linguagem impessoal. Dessa forma, os textos devem ser redigidos na terceira pessoa, evitando expresses como: "meu trabalho", "minhas concluses". Ao invs destas expresses, devemos usar, por exemplo: "o presente trabalho", "conclui-se que". Esta orientao contestada por alguns autores, sob a alegao de que, em assim escrevendo, parece que estamos tentando nos isentar da responsabilidade do que afirmamos. No entanto - em se tratando de textos tcnicos - julgamos ser esta uma boa forma de comunicao, tornando-os inclusive mais precisos. E corno esta caracterstica altamente desejvel em uma redao tcnica, justifica-se o seu emprego. Mas isso no regra absoluta, e desde que saibamos usar outras orientaes com coerncia e qualidade, podemos faz-lo sem nenhum constrangimento.

    OBJETIVO. A linguagem tcnica deve ser objetiva e precisa, evitando o uso exagerado de expresses de reserva ou ressalva. Expresses do tipo " provvel que" ou "possivelmente" devem ser usadas comedidamente, e apenas onde for extremamente necessrio, pois elas podem ser traduzidas, por quem as l, como pontos de dvida do escritor. Neste caso, melhor apontar para

    a necessidade de trabalhos complementares. Na verdade, a prpria linguagem impessoal tende a afastar expresses subjetivas tais como "eu penso", parece-me", induzindo o emprego de afirmaes mais objetivas. O seguinte exemplo comparativo refora a importncia desta caracterstica:

    Objetiva Subjetiva

    A sala mede 6 metros de largura por 15 metros

    de comprimento. Comparao entre dois tipos de linguagem

    MODESTO e CORTS, Apontar erros e incoerncias em trabalhos de outros no uma atitude condenvel. Mas no devemos usar esse recurso para engrandecer o nosso prprio trabalho. Se o que fazemos bom, tem qualidade, ele se impe por si mesmo, sem a necessidade de menosprezar outro para fortalec-lo. Um pouco de modstia, inclusive, nos ajuda a ocupar espaos com mais solidez, e evita contra-ataques daqueles que se sentirem prejudicados com as crticas. Mas alm de modesto, devemos ser corteses. O texto deve ser escrito para registrar resultados e anlises dentro do contexto em que foi realizado o trabalho, e no para impressionar o leitor com colocaes prepotentes que alimentem o ego do autor.

    CLARO. A clareza tambm uma caracterstica importante na linguagem tcnica, bem como a preciso. A clareza de idias um grande facilitador da comunicao. Se o objetivo do registro comunicar, o preparo de um relatrio deve ser feito tendo isso em mente. Portanto, antes de escrever o texto final, imprescindvel que tenhamos clareza em relao s idias que vamos registrar. Se um assunto est bem claro na nossa mente, j temos um excelente ponto de partida para o seu registro. Se no conhecemos o assunto que vamos relatar, escrever vai ser um tormento, e o resultado final talvez no seja nem ; proveitoso nem prazeroso.

    Para aperfeioar o vocabulrio tcnico, devemos desenvolver o habito de ler com freqncia e consultar dicionrios e informaes especializadas. Tanto para captar quanto para registrar idias numa rea de conhecimento, urna boa compreenso dos termos tcnicos imprescindvel.