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1 Introdução Quando penso naqueles pacientes que eu vi experimentarem uma grande mudança, eu sei que o fogo estava na relação terapêutica ... Havia luta e medo, proximidade, amor e terror- Havia intimidade e afronta, apreensão e vergonha... era uma jornada significativa, mais para o paciente que vinha buscar ajuda mas, de fato, para ambos os participantes Era um processo que percorria todo o desenrolar da terapia e deixava a ambos, paciente e terapeuta, alterados pela experiência.A relação terapêutica está no próprio centro da psicoterapia e é o veículo através do qual a mudança terapêutica acontece (Greben, 1981, p. 453-454) Independente da sua orientação teórica, a maioria dos clínicos experientes teve clientes memoráveis, cujas mudanças excederam em muito, e de maneira mar- cante, os objetivos formais da terapia. Para estes clientes, a descrição de Greben parece capturar um aspecto importante do que foi o processo terapêutico, mesmo que o tratamento tenha sido baseado numa teoria bastante diferente da sua perspectiva psicodinâmica. Entretanto, o que falta nos escritos de Greben, bem como na maioria dos sistemas terapêuticos que enfocam a relação entre o terapeuta e o cliente, é um sistema conceituai coerente, com construtos teóricos bem definidos que conduzam, passo a passo, à formulação de orientações precisas para a terapia. Descreveremos um tratamento que tem um referencial conceituai claro e preciso e, ainda assim, parece produzir o que Greben descreve. Chamamos nosso tratamento de psicoterapia analítica funcional (FAP) e talvez possa causar uma certa surpresa o fato dele derivar de uma análise funcional skinneriana do ambiente psicoterapêutico típico. Seus fundamentos estão na obra de B. F. Skinner (por ex., 194.5, 19.53, 1957, 1974). Na seção seguinte, iretnos rever os princípios filosóficos mais importantes do behaviorismo radical. 1

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Introdução

Quando penso naqueles pacientes que eu vi experimentarem uma grande mudança, eu seique o fogo estava na relação te rapêu tica... H avia luta e m edo, proxim idade, am or eterror- H avia intim idade e afronta, apreensão e vergonha... era uma jornada significativa, m ais para o paciente que vinha buscar ajuda mas, de fato, para ambos os participantes Era um processo que percorria todo o desenrolar da terapia e deixava a ambos, paciente e terapeuta, alterados pela e x p e r iê n c ia .A relação terapêutica está no próprio centro da psicoterapia e é o veículo através do qual a mudança terapêutica acontece (Greben,1981, p. 453 -454)

Independente da sua orientação teórica, a maioria dos clínicos experientes teve clientes memoráveis, cujas mudanças excederam em muito, e de maneira m ar­cante, os objetivos formais da terapia. Para estes clientes, a descrição de Greben parece capturar um aspecto importante do que foi o processo terapêutico, mesmo que o tratamento tenha sido baseado numa teoria bastante diferente da sua perspectiva psicodinâmica. Entretanto, o que falta nos escritos de Greben, bem como na maioria dos sistemas terapêuticos que enfocam a relação entre o terapeuta e o cliente, é um sistema conceituai coerente, com construtos teóricos bem definidos que conduzam, passo a passo, à formulação de orientações precisas para a terapia.

Descreveremos um tratamento que tem um referencial conceituai claro e preciso e, ainda assim, parece produzir o que Greben descreve. Chamamos nosso tratamento de psicoterapia analítica funcional (FAP) e talvez possa causar um a certa surpresa o fato dele derivar de um a análise funcional skinneriana do ambiente psicoterapêutico típico. Seus fundamentos estão na obra de B. F. Skinner (por ex., 194.5, 19.53, 1957, 1974). Na seção seguinte, iretnos rever os princípios filosóficos mais importantes do behaviorismo radical.

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2 Prefácio

Muito embora a FAP seja um tipo de terapia comportamental, ela é bastante diferente das terapias comportamentais tradicionais, tais como o treina­mento em habilidades sociais, reestruturação cognitiva, dessensibilização e terapia sexual. Ao contrário daquelas, as técnicas utilizadas pela FAP são concordantes com as expectativas dos clientes, que buscam uma experiência terapêutica pro-funda, tocante, intensa. Além disso, ela também se ajusta muito bem a c lien tes que não o b tiveram um a m elhora adequada com as terap ias comportamentais convencionais e àqueles que têm dificuldades em estabelecer relações de intimidade e/ou têm problemas interpessoais difusos, pervasivos, tais como os que recpbem diagnósticos tipificados pelos do Eixo II do DSM- III-R (American Psychiatric Association, 1987). Para manejar estes problemas enraizados, a FAP conduz o terapeuta a uma relação genuína, envolvente, sensível e cuidadosa com seu cliente, e, ao mesmo tempo, apropria-se com vantagens das definições claras, lógicas e precisas do behaviorismo radical.

Infelizmente, o behaviorismo radical tem sido largamente incompreendido e rejeitado. Quando perguntamos aos nossos colegas o que lhes vinha à mente frente ao termo behaviorismo radical, suas respostas incluíram: (1) “Eu penso nas caixas de Sldnner. Sinto um a rejeição visceral. Eu acho que ele é simplista e que nega a realidade de um psiquismo intemo, rico e complexo, que interage com a realidade externa. Paia mim, o behaviorismo sempre me pareceu muito arrogante, ao reduzir o incrível mistério de existir, de ser, “ao que pode ser observado” e (2) “Você já ouviu aquela dos dois behavioristas radicais que fazi­am amor apaixonadamente? Depois, um perguntou para o outro: Foi bom para você! Como foi para mim?” . Estas reações - que o behaviorismo radical é simplis-ta, que reduz ações significativas somente ao que pode ser obseivado e que re-quer consenso público - são representativas dos mal-entendidos que a maioria dos clínicos mantêm. Essas distorções são devidas, em parte, à natureza cripto-gráfica das obras de Skinner, o que lhe dificulta ser interpretado corretamente, e também devido ao fato de que o behaviorism o radical é freqüentemente confun-dido com o behaviorismo metodológico ou convencional, que é bem mais conhecido. Em contraste com o behaviorism o radical, o behaviorismo metodo-lógico exige consenso público para as suas observações. Estudando somente o que pode ser publicamente observado, o behaviorismo metodológico exclui o estudo direto da consciência, dos sentimentos e dos pensamentos. Já bem cedo Sldnner (1945) diferenciava a sua abordagem do resto da psicologia, declarando que a sua “dor de dentes é simplesmente tão física quanto a minha máquina de escrever” (p. 294) e rejeitava o pré-requisito do consenso público. Para ser mais precisa, a anedota acima, contada pelos nossos colegas, deveria com eçar assim: “Você já ouviu aquela dos dóis behavioristas m etodológicos... ?” .

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Introdução 3

P R IN C ÍP IO S F IL O S Ó F IC O S D O B E H A V IO R IS M G R A D IC A L

Quando alguém diz “radical” , é comum vir à mente a imagem de um extremista de olhos esbugalhados. O que geralmente não se sabe é que a palavra radical vem do latim radix, significando raiz. “O verdadeiro radical* é aquele que tenta chegar à raiz das coisas, que não se distrai pelo superficial, vendo floresta no lugar de árvores. É bom ser radical. Qualquer pessoa que pense com profundidade será um deles” (Peclc, 1987, p. 25). Assim é que o behaviorismo radical é uma teoria rica e profunda, que procura chegar às raízes do compor­tamento humano. Lapsos verbais, o inconsciente, poesia, espiritualidade e metá­fora, são exemplos dos temas que têm sido discutidos pelo behaviorismo radical. Sentimentos e outras experiências privadas são também considerados e “a estimulação originada no corpo desempenha importante papel no comportamento” (Skirmer, 1974, p. 241). Muito embora seja difícil condensar os vários volumes da obra de Skinner num breve resumo do behaviorismo radical, o texto que se segue é uma tentativa de descrever os seus princípios filosóficos básicos.

A na tu reza contextuai do conhecim ento e da realidade

Skinner rejeita a idéia de que, conhecendo-se algo sobre um a coisa, a expressão deste nosso conhecimento consista numa declaração sobre o quê aquele objeto do conhecimento é; a idéia de que esta coisa possa ter, de alguma foima, um a identidade permanente, como um ente real da natureza. Podemos atribuir' o status de “coisa” a eventos principalmente porque estamos habituados a falar sobre o mundo como sendo composto de objetos, que sentimos possuir em um a constância ou estabilidade próprias. N a verdade, a m eta original da ciência, qual seja a descoberta de verdades objetivas, tem se mostrado cada vez mais inalcançável. No seu núcleo, ciência é ou o comportamento dos cientistas, ou os artefatos dessas atividades, e o comportamento científico, por sua vez, é presumidarnente controlado pelo mesmo tipo de variáveis que governam quaisquer outros aspectos do comportamento humano complexo. Desta forma, os cientistas são, em si mesmos, não mais do que organismos que se comportam e as obser-vações que produzem não podem ser separadas dos interesses e atividades do observador.

Esta posição antiontológica de Skinner é similar ao ponto de vista construtivista ou kantiano (Efran, Lulcens & Lukens, 1988). No século XVIII o filósofo Immanuel Kant, um dos pilares da tradição intelectual ocidental, propôs

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que o conhecimento é a invenção de um organismo ativo, interagindo com um ambiente, Em contraste. John Locke, fundador do empirismo britânico, via o conhecimento como o resultado do mundo externo imprimir uma cópia dele mesmo numa mente inicialmente “em branco”. Decorre daí que Locke considera as imagens mentais como sendo basicamente “representações” ou “descobertas” de algo fora do organismo, enquanto Kant assevera que as imagens mentais são inteiramente criações ou “invenções” do organismo, originadas como um subproduto do seu percurso através da vida. Os construtivistas reconhecem o papel ativo que elas desempenham na criação de um a visão do mundo e na interpretação das suas, observações em termos daquela visão.

Traduzindo essas posições em termos de prática clínica, uma empreitada objetivista, como a psicanálise clássica, é construída em torno da crença de que a verdade objetiva pode ser descoberta e, quando adequadamente revelada, conduziria a uma saúde mental melhorada. Por outro lado, a crença constrativista é que uma boa intervenção gera as suas próprias verdades. Terapeutas objetivistas querem saber o que realmente aconteceu 110 passado. Terapeutas construtivistas estão mais interessados na “história”, como uma chave para a narrativa que está se desdobrando e que dará aos eventos contemporâneos 0 seu significado. Ou seja, a história e o meio ambiente imediato daquele que percebe, influenciam a percepção da experiência original e da sua recordação. As lembranças reais e os seus significados podem, assim, manter pouca semelhança com os eventos e os seus significados no passado. Muito embora uma verdade objetiva sobre 0 passado possa ser impossível de ser descoberta, 0 próprio processo de rememorar e descobrir significados é considerado como sendo uma intervenção que levará à melhora do cliente. Por exemplo, se uma cliente relata um sonho sobre incesto e em seguida põe em dúvida a sua veracidade, a ênfase não estaria em se o incesto ocorreu ou não, mas sim, preferencialmente, nas verdades inerentes ao sonho, nas condições que ela experimentou em sua vida que poderiam conduzir a tal sonho. Assim, se for efetiva em termos de benefício terapêutico ou de progressos na terapia, a intervenção terapêutica que envolve a recuperação de memórias do passado gera as suas próprias verdades.

Na tradição construtivista, 0 behaviorismo radical enfatiza 0 contexto e o significado. Tire algo do seu contexto e ele perderá 0 seu significado. Ponha este algo em um novo contexto e ele significará outra coisa. Esta é uma das razões pelas quais Hayes (1987) prefere o term o contextualism o para 0 behaviorismo radical. Problemas, mentais ou de qualquer outra natureza, não existem isoladamente. Eles são imputações de significado que se formam dentro

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de uma determinada tradição e têm significado somente dentro desta tradição. Até mesmo experiências que as pessoas consideram puramente físicas são, na verdade, modeladas pela linguagem e pelas experiências prévias. A dor, por exemplo, não é simplesmente o disparo de terminações nervosas; é em parte sensação, em parte ideação temerosa: um revestim ento de interpretações envolvendo sensações (Efran etal., 1988).

M as no m ais das vezes, e ainda que a posição con tex tualista (construtivista) possa ser intelectualmente atrativa, é difícil trazer estas idéias para a nossa prática de vida em geral e é particularmente difícil trazê-las para as práticas terapêuticas. É dizer que psicoterapeutas (behavioristas radicais incluídos) podem aceitar o contextualismo em nível intelectual mas não fazem o mesmo em nível emocional. Como colocado por Furman e Ahola (1988):

Quando discutimos filosofia com os nossos colegas, talvez possamos concordar prontamente em que não existe uma única maneira de ver as coisas. Mas quando isso toca as nossas próprias crenças sobre clientes específicos, tendemos a nos apegar com tenacidade às nossas próprias verdades. Esquecemo-nos de que idéias são fabricadas pelos observadores e, finalmente, convencemos a nós mesmos de que, de algum modo, elas nos oferecem um diagrama da realidade... Por que pensamos que sabemos quando, na verdade, simplesmente imaginamos, construímos, pensamos ou acreditamos? (p. 30).

U m a visão não-m entalista do com portam ento : o enfoque nas variáveis am bientais que controlam o com portam ento

O behav io rism o rad ical explica a ação hum ana em term os de comportamento ao invés de entidades ou objetos dentro do cérebro. Assim, ao invés de “memória” e “pensamento”, a análise baseia-se em “lembrando” e “pen­sando” . O comportamento de introduzir uma m oeda numa máquina automática de venda de doces é visto como comportamento, e não como um mero sinal que indica a presença de alguma entidade fora do comportamento em si mesmo, tais como impulso, desejo, expectativa, atitude ou um a desorganização das funções egóicas. Uma explicação adequada estaria centrada não em entidades mentais, mas naquelas variáveis que afetam o comportamento, tal como o número de ho­ras sem alimentar-se. No mentalismo, processos psicológicos internos, como “força de vontade” e “medo do fracasso”, adquirem poderes homunculares para causar a ocorrência de outros eventos, esses mais comportamentais. Explicações do comportamento serão incompletas se não envolverem a busca, tão retroativa

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quanto possível, de antecedentes observáveis do comportamento presentes no meio-ambiente. Muitas das “explicações” psicológicas mais difundidas pouco mais fazem do que especificar algum processo intemo como sendo a causa de um aspecto particular do comportamento. Neste caso, é um questionamento inteiramente razoável pedirmos explicações sobre o quê faz esse processo intemo agir como ele age.

É importante notar que Skinner faz objeções a coisas que sejam mentais, não a coisas que sejam privadas. Entretanto, aos eventos privados Skinner não atribui qualquer outro status distintivo que não seja o da sua privacidade. Eles provêm do mesmo material dos comportamentos públicos e estão sujeitos aos mesmos estímulos discriminativos e reforçadores que afetam todos os compor­tamentos. Assim sendo, na visão de Skinner a resposta privada de um cliente pode ter tanto (ou tão pouco) efeito causal no seu comportamento subseqüente como poderia ter uma resposta pública.

A ssim é que, ao procurar explicações para o comportamento, os behavioristas radicais percebem a si mesmos como estando, essencialmente, engajados numa busca por “variáveis de controle”. Eventos são considerados como variáveis de controle quando eles são percebidos como estando, de alguma forma, relacionados ao comportamento. O comportamento verbal que descreve uma relação entre um comportamento e variáveis de controle é chamado de declaração de uma relação funcional e a tentativa sistemática de descrever relações funcionais é chamada de análise funcional do comportamento.

O interesse está centrado no com portam ento verbal controlado por eventos d iretam ente observados

Todo comportamento verbal, não importa quão privado pareça ser o seu conteúdo, tem as suas origens no am biente. Em bora os fenôm enos relacionados ao funcionamento verbal humano possam variar do mais intima­mente pessoal ao mais publicamente social, toda linguagem que faça sentido tem a sua forma eficaz modelada pela ação da comunidade verbal. Desta forma, quando uma falante diz que ela vê uma imagem dentro da sua mente, o que está sendo dito precisa ter-lhe sido ensinado, na sua infância, por outros que não po­deriam ver dentro da sua mente. Assim, para o processo de ensino os “professores” precisariam, necessariamente, dispor de eventos diretamente observáveis (ver Capítulos 4 e 6).

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Que fatores estão envolvidos em levar 0 falante a falar 0 que ele ou ela faz? Conhecer de maneira completa 0 que leva a pessoa a falar alguma coisa é entender o significado do que foi dito no seu sentido mais profundo (Day, 1969). Por exemplo, para entender o que um a pessoa quer dizer quando ela fala que acabou de ter um a experiência de estai' fora do corpo, procuraríamos por suas causas. Primeiramente, desejaríamos saber sobre a estimulação que foi experi­mentada no corpo. A seguir, gostaríamos de saber porque um estado corporal particular foi experimentado como fora do corpo. Desta forma, procuraríamos causas ambientais na história passada daquela pessoa, incluindo as circunstâncias que ela encontrou enquanto crescia e que resultaram nela falar “corpo”, “fora do”, “acabo de ter” e “Eu” (uma descrição de algumas experiências que resultam em “Eu” está apresentada no Capítulo 6). Tão logo saibamos de todos estes fatores, entenderemos profundamente 0 significado do que ela quis dizer.

A observação direta é altamente valorizada como um método de reunir dados relevantes. Entretanto, é importante notar que o que é observado não necessita ser público. Skinner tem uma posição crítica no que diz respeito à filosofia da “verdade por consenso”, uma perspectiva freqüentemente adotada porbehavioristas convencionais os quais sustentam atese de que 0 conhecimento científico necessita ser de natureza essencialmente pública. De fato, na maioria das vezes é mais fácil considerar a observação como algo privado, porque somente uma pessoa pode participar de um ato singular de observação. Mas o interesse não está restrito somente aos eventos que, em princípio, são considerados como sendo observáveis por uma outra pessoa. Os behavioristas radicais sentem-se livres para observar ou mesmo responder às suas próprias reações a uma sonata de Beethoven, assim como eles estão livres para observar a reação de qualquer outra pessoa (Day, 1969). Uma vez que a observação do comportamento tenha ocorrido, os observadores são encorajados a falarem interpretativamente sobre 0 que foi observado, reconhecendo que a interpretação particular que for feita por eles será um a função da sua própria história pessoal. Simplesmente, eles têm a esperança de que 0 quê eles vêem, venha a exercer uma crescente influência no que eles dizem.

A influência ampliada do mundo naquilo que é dito é também entendida como um contato ampliado com 0 mundo. O contato é altamente desejável para o cientista e pode ser visto como o núcleo da ciência. U m contato ampliado é também desejável para a maioria dos clientes que comparecem à psicoterapia. Por exemplo, clientes que não expressam emoções (ver Capítulo 4), podem também ser descritos como pessoas que estão evitando contato com situações que eliciam emoções e por isso poderiam ter dificuldades em relações íntimas.

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Capítulo 1

Os princípios filosóficos vistos acima - que o conhecimento é contextuai, que o comportamento é compreendido de maneira não-mentalista e que mesmo o comportamento verbal mais privado tem as suas origens no ambiente - fornecem a linguagem e o conceito de natureza humana que pretendem tomai' clara a inte­ração entre o comportamento de um indivíduo e o ambiente natural. Conceitos behavioristas radicais têm sido usados tanto para explicar uma ampla gama de práticas terapêuticas, como a psicanálise e a dessensibilização, como também para explicar experiências humanas como o sentimento, a apreensão, o self e a raiva.

Uma outra aplicação dos conceitos sldnnerianos, denominada análise experimental do comportamento, é uma abordagem mais estreita e que utiliza analogias com procedimentos de condicionamento operante, desenvolvidos em laboratórios, para solucionar problemas clínicos da vida cotidiana. Usamos o termo ‘analogias’ porque existem diferenças significativas entre a aplicação clí­nica e o trabalho de laboratório (como discutiremos mais tarde), diferenças essas que têm importantes implicações para a psicoterapia. Na seção seguinte, estaremos desenvolvendo os nossos argumentos sobre como os fundamentos da análise experimental do comportamento compõem o suporte teórico da FAP.

S U P O R T E S T E Ó R IC O S D A F A P

O interesse da análise experimental do comportamento está centrado no reforçamento, na especificação dos comportamentos clinicamente relevantes e na generalização (Reese, 1966; Kazdin, 1975; Lutzker & Martin, 1981). Estes procedimentos têm se mostrado extremamente poderosos no tratamento de pacientes institucionais, estudantes em sala de aula e crianças muito jovens ou severamente perturbadas, populações para as quais o terapeuta pode exercer um grande controle sobre o arranjo ambiental cotidiano. Com as exceções de Hayes (1987) e Kohlenberg e Tsai (1987), o behaviorismo radical e a análise experimental do comportamento têm sido negligenciadas como um a fonte de procedimentos para o tratamento de adultos em consultórios psicológicos. Esta desatenção ao behaviorismo radical como fonte de idéias para a psicoterapia de adultos é -um tanto misteriosa para nós. Conforme já fizemos notar, a teoria é extensiva e engloba muitos dos conceitos relevantes para o psicoterapeuta. Além disso, esta concepção teórica tem estado disponível já há um bom tempo. Muitas

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das idéias relevantes para a psicoterapia foram publicadas nos anos 50 (Skinner, 195.3, 1957). Há também muitos profissionais, analistas experimentais do comportamento, que estão familiarizados com estes princípios teóricos e que estão igualmente interessados no trabalho clínico. É bem possível que o próprio sucesso da análise experimental do comportamento em ambientes controlados (por ex,, hospitais, escolas) tenha impedido a sua aplicação ao ambiente psicoíerápico, bem menos controlado. O que estamos sugerindo é que os analistas experimentais do comportamento foram tão bem sucedidos com uma aplicação limitada da teoria que não examinaram as implicações bem mais extensas do behaviorismo radical, relevantes para a psicoterapia de adultos.

Um obstáculo adicional às aplicações do behaviorismo radical vem das d ificu ldades na transposição dos m étodos da análise experim ental do comportamento para a situação psicoterapêutica. Como algumas das restrições que a situação de tratamento em consultório de pacientes adultos estabelece para esta transposição, temos: o contato terapeuta/cliente limitado a uma ou mais horas de terapia por semana, o fato do terapeuta não ter acesso ao compor­tamento do cliente fora do atendimento e a falta de controle sobre as contingências fora da sessão. A FAP tem a sua base na investigação de como o reforçamento, a especificação de comportamentos clinicamente relevantes e a generalização podem ser obtidos dentro das limitações de um a situação típica de tratamento em consultório.

R eforçam ento

A modelagem direta e o fortalecimento de repertórios comportamentais mais adaptativos através do reforçamento são centrais no tratamento analítico- comportamental. Usamos o termo reforçamento no seu sentido técnico, genérico, referindo-se a todas as conseqüências ou contingências que afetam (aumentam ou diminuem) a força do comportamento. A definição de reforçamento é fun­cional, ou seja, algo pode ser definido como um reforçador se, depois da sua apresentação, há o efeito de aumentar ou diminuir a força do comportamento que o precedeu.

Para alguns leitores esta definição pode ser insatisfatória, de vez que ela não identifica reforçadores específicos como sorvete, sexo ou confeitos de chocolate. O reforçamento não pode ser definido desta forma porque ele é um processo: um objeto funciona como um reforçador somente no contexto de um

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dado processo e não pode ser identificado independentemente dele. Ainda que um sorvete possa reforçar o comportamento de um a pessoa, poderá não ter qualquer efeito sobre o comportamento de uma outra e, portanto, não seria um reforçador para o comportamento. Além disso, o reforçamento pode atuar sobre algo que não gostamos. Por exemplo, um dentista que esteja presente no horário combinado para o nosso atendimento, reforça nosso comportamento de marcar horários para outros atendimentos, mesmo que o tratamento dentário seja, em si mesmo, uma experiência desagradável.

Mais ainda: é importante notar que o reforçamento não é um processo consciente. Muito 'do nosso comportamento foi modelado por processos de reforçamento antes mesmo que aprendêssemos a falar. Quando o reforçamento ocorre, ocorre também uma mudança física no nosso cérebro, da qual não nos damos conta. Ainda que possamos experimentar um a sensação de prazer ou uma inclinação para agir desta ou daquela maneira, nós não percebemos o fortalecimento do nosso comportamento. Por exemplo, se um moço diz “Amo você” para a sua namorada e ela sorri calorosamente e diz “Eu também amo você”, ele poderá sentir uma sensação de prazer em seu coipo e pensar “Isto é maravilhoso!”. Mas, neste exato momento, o prazer independe do processo de fortalecimento. O pensamento “isto é maravilhoso!” foi o resultado da sensação de prazer, no sentido de que ele estava descrevendo os seus sentimentos para ele mesmo. Seu comportamento foi fortalecido e também ocorreram aqueles senti­mentos e pensamentos prazeirosos. De maneira alguma a consciência dos pensa­mentos e sentimentos que acompanharam o processo de reforçamento são neces­sários para que o comportamento seja fortalecido.

D esde o in íc io dos tem pos, som en te aq u e las c ria tu ra s cujo comportamento fosse fortalecido pelas suas conseqüências puderam adaptar-se a um ambiente em constante mudança e assim sobreviverem. Desta forma, o processo de reforçamento é o resultado da evolução. Conforme discutiremos mais adiante com maiores detalhes, é um processo comportamental básico que conduz à consciência, ao pensamento, ao self e à essência da experiência humana.

O m om ento e o lugar do reforçamento

Uma das características bem conhecidas do reforçamento é que quanto mais próximo das suas conseqüências (no tempo e no espaço) um comportamento estiver, maiores serão os efeitos deste processo. Qualquer um que já tenha

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dispensado pelotas de comida a um rato numa caixa de Skinner, pôde observar os efeitos deletérios que o atraso do reforçador pode ter no comportamento do animal. Todavia, o processo de modelagem é eficaz, se a pressão na barra e a pelota de comida estiverem bem próximas uma da outra, no tempo. De maneira semelhante, é fácil para o terapeuta reforçar, e assim fortalecer, as habilidades de relaxamento do cliente enquanto elas ocorrem no consultório. Ou seja, quando solicitado, o cliente prontamente relaxará 110 consultório, porque o terapeuta está presente e pode reforçar diretamente o comportamento. Por outro lado, é amiúde um problema fazer com que os clientes cumpram um programa de relaxamento em casa, entre os atendimentos, pois o terapeuta só pode reforçar 0 comportamento quando os clientes comparecem à consulta.

Para 0 paciente de consultório, isto implica em que os efeitos do tratamento serão mais significativos se os comportamentos-problema e as melhoras ocorrerem durante a sessão, onde estes estarão, no tempo e no espaço, o mais perto possível do reforçamento. Esta é a razão pela qual a FAP é um tratamento para problemas cotidianos que também ocorrem durante 0 atendimento terapêutico. Exemplos de tais problemas incluem as dificuldades nas relações de intimidade, incluindo os medos do abandono, da rejeição e de ser “engolido” na relação; dificuldades na expressão de sentimentos; afetos inapropriados, hostilidade, hipersensibilidade a críticas, ansiedade social e comportamentos obsessivos-compulsivos. As palavras acima não se referem a estados mentais ou internos. São utilizadas aqui como termos descritivos de uso geral, para dar ao leitor uma idéia da gama de comportamentos observáveis do cliente que, sob as condições apropriadas, podem ser evocados e modificados durante a terapia.

Uma outra característica importante da FAP - e que é de certa maneira problemática - é que melhoras no comportamento do cliente que ocorrem no consultório, deveriam ser reforçadas im ediatam ente. O reforçam ento de comportamentos durante a sessão é problemático porque a própria tentativa de aplicar 0 reforçamento de m aneira imediata e contingente pode também, inadvertidamente, tomá-lo ineficaz e até mesmo contraproducente.

O problema em aplicar 0 reforçamento durante o tratamento nasce da imitação dos métodos da análise experimental do comportamento. Com 0 propósito de atingir a meta de reforçar a resposta o mais prontamente possível, os analistas experimentais do comportamento, quando clinicando, usaram procedimentos análogos aos usados, em laboratório, em experimentos operantes com animais. Aqueles clínicos adotaram a regra “Dê a pelota de comida imediatamente após a resposta” e fizeram uma transposição literal para a situação

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clínica: “Dê o confeito de chocolate imediatamente depois que a criança permanecer na cadeira por dois minutos.”. Entretanto, o propósito dos expe­rimentos de laboratório era o de estudar os parâmetros do reforçamento e não o de beneficiar o sujeito ou obter uma generalização do comportamento para a sua vida cotidiana.

Ferster (1967, 1972b,c) discutiu extensamente as implicações clínicas da utilização do reforçamento arbitrário, tal como o empregado em montagens de laboratório, contrastando-o com o tipo de reforçamento que ocorre no ambiente natural. Antecipando os riscos do uso do reforçamento no tratamento de pacientes de consultório, Ferster'avisava que muitas das recompensas utilizadas pelos analistas experimentais do comportamento - alimento, objetos simbólicos e elogios -poderiam ser arbitrárias. Ele via isso como um sério problema clínico de vez que, comportamentos reforçados arbitrariamente somente ocorreriam quando o controlador estivesse presente ou se o cliente estivesse interessado no tipo específico de recompensa que estivesse sendo oferecida, Como exemplo de um reforçamento arbitrário que foi distorcido, ele citava o caso de um autista que apresentava mutismo eletivo e, tratado pela análise do comportamento, parava de falar quando o alimento não estava presente.

Reforçamento Natural versus Arbitrário

Devido às deficiências do reforçamento arbitrário, a FAP orienta-se para prover reforçamento natural às melhoras do cliente que ocorrem durante a sessão. Nossas sugestões sobre como fazer isso se encontram no Capítulo 2. As comparações abaixo ajudarão a destacar a diferença entre os dois tipos de reforçamento. Reforçadores arbitrários e naturais diferem em quatro dimensões básicas, como expomos a seguir:

1. Quão ampla ou estreita é a classe de respostas? O reforçamento arbitrário especifica um desempenho estreito enquanto o reforçamento natural é contingente a uma ampla classe de respostas. Por exemplo, um professor que esteja usando reforçamento arbitrário para ensinar um menino disléxico a ler, está sujeito a estar sendo limitado e contraproducente em sua prática. Como é o caso de qualquer pessoa usando reforçam ento arbitrário com propósitos educacionais, este professor precisa decidir quais os comportamentos que serão reforçados e quais os punidos. Ele decide punir o menino por ler uma revista em quadrinhos ao invés do livro texto. Este professor está mostrando uma das defi-

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ciências do uso de reforçamento arbitrário, ou seja, ele está pedindo uma resposta estreita - ler o livro-texto - e perdendo de vista a classe de respostas muito mais ampla de ler, em geral. O reforçamento natural inerente à leitura (tais como os proporcionados pelas informações, pelo divertimento) reforça uma ampla classe de respostas, que inclui ler revistas em quadrinhos, resultados de corridas e tantos outros. Assim, um dos riscos no uso de reforçamento arbitrário é que ele pode inadvertidamente interferir com o reforçamento natural e com a aquisição do comportamento-alvo.

2 . O comportamento desejado existe no repertório da pessoal 0 reforçamento natural inicia com um desempenho já existente no repertório da pessoa, enquanto o reforçamento arbitrário não leva em conta, no mesmo grau do reforçamento natural, o repertório de comportamentos existente na pessoa. Tal é o caso quando uma mãe critica a primeira tentativa de sua filha em costurar um a peça em curva e não leva em conta o seu nível de habilidade em costear. A utilização da crítica como reforçamento arbitrário fez com que essa mãe falhasse em ver que a sua filha estava se saindo bem para o nível das suas habilidades atuais em costura. Por contraste, o reforçamento natural consistiria na apreciação, por essa mãe, de uma peça de costura utilizável que a filha conseguiu fazer em sua primeira tentativa, desconsiderando a sua aparência.

3. Quem proporciona o reforçamento è o prim eiro beneficiado? Reforçamento arbitrário produz mudanças de comportamento na pessoa sendo reforçada que somente beneficiam a pessoa que faz o reforçamento. Nenhum beneficio precisa ser oferecido à pessoa submetida ao reforçamento arbitrário. N a verdade, pessoas são freqüentem ente prejudicadas pelo reforçamento arbitrário. Adultos que abusam sexualmente de crianças usam reforçadores arbitrários (ameaças, elogios, abuso físico) para obter aceitação. Muitas vezes eles reivindicam benefícios para a criança dizendo “que ela quis isso” ou “ela teve experiências de sexualidade e dessa forma foi beneficiada”. Este argumento é ridículo; qualquer adulto que usa sexualmente uma criança não o faz para beneficiar a ela, a criança. Na verdade, o abuso sexual pode causar uma ampla variedade de problemas e, especificamente, interfere com o reforçamento natural do comportamento sexual que ocorre em relações íntimas consensuais.

4. Para o comportamento que está sendo apresentado, o reforçador oferecido é típico e comumente presente no ambiente natural? Uma outra maneira de formular esta mesma pergunta é: “Para este comportamento em particular, qual seria o reforçamento mais provável no ambiente natural?”. Reforçadores naturais são partes mais estáveis e fixas do ambiente natural do

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14 Capítulo 1

que os reforçadores arbitrários. Este aspecto do reforçam ento é o mais facilmente perceptível, de vez que um observador não necessita da história dos indivíduos envolvidos numa operação de reforçamento para que possa dizer quão típico é o reforçamento que está sendo utilizado. Por exemplo, a maioria das pessoas concordaria que dar doces ao seu filho para que ele vista o casaco é arbitrário, ao passo que lhe chamar a atenção por estar sem casaco é natural. Pagar à sua filha para que pratique no piano é arbitrário ao passo que o fato dela tocar simplesmente pela música criada é natural. De igual maneira, multar o seu cliente em alguns centavos por não manter contato visual é arbitrário, enquanto que é natural deixar que a sua atenção flutue.

Em resumo, o reforçamento natural é diferente do reforçamento arbitrário por fortalecer um a ampla classe de respostas, por ter em consideração o nível de habilidade da pessoa, por beneficiar primariamente a pessoa sendo reforçada ao invés da pessoa que proporciona o reforço e por ser típico e de ocorrência comum no ambiente natural. Entretanto, a maior parte das conseqüências não se encaixa perfeitamente nas categorias associadas tanto ao reforçamento arbitrário quanto ao natural e, provavelmente, apresentam dimensões de ambos os tipos.

Embora nenhuma pesquisa tenha comparado diretamente os reforça- mentos arbitrário e natural, dados que fundamentam a nossa posição provieram, paradoxalmente, de pesquisas orientadas cognitivãmente e planejadas para desacreditar a ênfase behaviorista no reforçamento. A pesquisa concernia aos efeitos de recompensas externas sobre a motivação intrínseca (estes termos não são comportamentais mas foram aqueles usados pelos investigadores nãó- behavioristas). Por exemplo, Deci (1971), num estudo típico deste tipo de pesquisa, pagou a um grupo de sujeitos para encontrarem soluções corretas para um quebra-cabeças e comparou este grupo a um outro, ao qual foi dado o mesmo problema, porém sem qualquer pagamento pelo encontro da solução. Quando deixados sós por oito minutos, numa situação de “descanso”,'os sujeitos pagos ocuparam menos tempo manipulando o quebra-cabeças do que os sujeitos sem pagamento. Após uma revisão da literatura sobre este tipo de pesquisa, Levine e Fasnacht (1974) argumentaram que “recompensas externas” são arriscadas, por apresentarem pouco poder de permanência (isto é, uma resistência reduzida à extinção) e interferem com a generalização, “solapando” assim o próprio com portam ento que elas visavam fortalecer. Operacionalm ente, “recompensas externas” e “motivação intrínseca” correspondem aos conceitos de Ferster de reforçamento arbitrário e natural. Assim, embora os dados sobre motivação intrínseca tenham tido o intento original de demonstrar deficiências

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Introdução 15

na abordagem behaviorista, esses dados podem ser vistos, alternativamente, como um exemplo no qual o reforçamento arbitrário mostrou efeitos negativos.

Especificação de com portam ento clinicam ente relevante

Além do reforçamento, a análise do comportamento é caracterizada por sua atenção à especificação dos comportamentos de interesse. O termo compor­tamento clinicamente relevante (CRB) inclui tanto os comportamentos-problema como os comportamentos finais desejados. Discutiremos os dois componentes da especificação de comportamentos clinicamente relevantes - a observação e a definição comportamental - e examinaremos as implicações disso para a condu­ção de terapias de pacientes em consultórios.

Obsei-vação

A obseivação é um pré-requisito necessário para a definição compor­tamental dos CRBs (comportamentos clinicamente relevantes). Os behavioristas assumem que, se os comportamentos podem ser observados, então eles podem ser especificados e contados. Obviamente, o comportamento-problema do cliente não pode ser observado a menos que ele ocorra na presença do terapeuta. Para atender a este requisito, os analistas do comportamento têm (a) tratado clientes que estão com seu movimento restrito, tais como aqueles hospitalizados ou internados em presídios, ou (b) tratado problemas graves e que se manifestam com alta freqüência, como ecolalia em crianças autistas.

Ainda que seja conveniente usar problemas graves e ambientes restritos para observar diretamente o comportamento-problema, qualquer problema que possa ser diretamente obseivado é adequado para uma análise do comportamento.O ambiente psicoterapêutico do cliente de consultório atende a este requisito caso o problema cotidiano do cliente seja de tal natureza que também ocorra durante o atendimento. Um exemplo significativo, ainda que trivial, é o de alguém que procura tratamento por ter ficado “sem palavras” ao relatar ao seu médico suas queixas e que realmente fica “sem palavras” quando está relatando esse seu problema ao terapeuta. Fundamentada no pré-requisito da observação, uma abordagem terapêutica analítico-comportamental para um paciente de consultório

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16 Capítulo 1

enfoca aqueles problemas do mundo externo ao consultório que também ocorrem durante a sessão.

Definindo comportamenialmente os CRBs

Tradicionalmente, os analistas do comportamento têm formulado descrições comportamentais de comportamentos-alvo que se refiram exclu­sivamente a;comportámentos observáveis. Este requisito atende ao propósito de obter-se confiabilidade, m edida por consenso entre os observadores. Os observadores, os quais devem concordar se um problema de comportamento ocorreu ou não, habitualmente incluem o terapeuta e pelo menos uma outra pessoa. Entretanto e por conveniência, esta outra pessoa utilizada como obser­vador costuma ser relativam ente inexperiente, tal como um estudante de graduação. Observadores inexperientes podem realizar o trabalho quando os comportamentos de interesse são simples, tais como completar um problema de matemática, a ocorrência de um tique facial ou o comportamento de roer unhas. Mas são eles mesmos um problema, quando os comportamentos são algo mais complexos (por ex., ansiedade e discórdia conjugal). Quando os comportamentos- problema são mais complexos, é necessário um treinamento, antes que os observadores possam fazer o trabalho. Por outro lado, a quantidade de treina­mento que pode ser dada é limitada. Assim, o uso de observadores relativamente ingênuos tem colocado um limite prático com relação à complexidade dos comportamentos com os quais os analistas do comportamento têm trabalhado. Por exemplo, estariam excluídos tratamentos que envolvessem comportamentos finais que não existissem no repertório dos observadores, fato que não pode ser remediado através do treinamento do observador. Exemplos de tais compor­tamentos do cliente incluem reações interpessoais mais sutis, como as relacionadas às relações de intimidade e à aceitação de riscos interpessoais.

Na prática, é quase impossível obter-se a desejada objetividade com base nas descrições comportamentais típicas que são formuladas para problemas aplicados (Hawkins & Dobes, 1977). Não obstante, o consenso entre os observadores é enormemente facilitado se o comportamento que está sendo observado existe no repertório dos observadores. Ainda que certas habilidades (por ex., lances livres no basquete ou o desempenho físico de um ginasta) possam ser observadas e avaliadas com confiabilidade por alguém que não possui essas habilidades, geralmente é difícil obter-se confiabilidade na observação de compor­

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Introdução 1 7

tamentos interpessoais complexos que inexistam no repertório do observador. Conseqüentemente, é mais fácil para os terapeutas perceberem e descreverem comportamentos clinicamente relevantes se o comportamento final desejado fizer parte do seu próprio repertório. Como exemplo, poderia ser difícil para um terapeuta que não tenha estabelecido relações de intimidade em* sua vida, discriminar, no cliente, a presença ou a ausência desses comportamentos.

Por estas razões e para os tipos mais sutis de problemas que a psico- terapia de clientes adultos apresenta, a observação direta e a definição comporta- mental do problema e dos comportamentos finais desejados podem ser levadas a cabo se (a) os comportamentos relacionados ao problema ocorrem durante a sessão e desta maneira podem ser diretamente observados, e se (b) o terapeuta e os observadores forem cuidadosamente selecionados de forma que eles mesmos tenham, em seus repertórios, os comportamentos finais desejados para o cliente.

P rep aran d o a generalização

A terapia será ineficaz caso o cliente melhore no ambiente terapêutico mas esses ganhos não se transfiram para a vida cotidiana. Por isso, a genera­lização tem sido um a preocupação fundamental para os analistas do compor­tamento. A melhor maneira para preparar a generalização é conduzir a terapia no mesmo ambiente no qual o problema ocorre. Historicamente, os analistas do comportamento têm conseguido este objetivo através do oferecimento de reforça- mento imediato em instituições, salas de aula, na residência do cliente ou onde mais seja possível conduzir o tratamento no mesmo ambiente onde o problema ocorreu.

Como podemos medir ou determinar se dois ambientes são similares? Um a análise formal procura descrever e comparar os ambientes em termos das suas características físicas. As limitações deste tipo de análise são encontradas quando comparamos dois ambientes que são diferentes em alguns aspectos, mas semelhantes em outros. Por exemplo, se você conduzir um tratamento para déficits de atenção numa classe de educação especial, os comportamentos adqui­ridos generalizar-se-iam para uma classe regular ou para o ambiente doméstico? Para evitar este problema, a comparação pode ter por base uma análise funcional. Os ambientes são então comparados com base no comportamento que eles evo­cam, ao invés das suas características físicas. Se eles evocarem o mesmo comportamento, então são funcionalmente similares.

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Embora análises do com portam ento não sejam tradicionalm ente conduzidas num ambiente de psicoterapia para adultos, elas poderiam ser, se o ambiente terapêutico for funcionalmente similar ao ambiente cotidiano do cliente. Uma similaridade funcional entre estes dois ambientes estará demonstrada se comportamentos clinicamente relevantes ocorrerem em ambos os ambientes. Por exemplo, um homem cujo problema apresentado é uma hostilidade que se desenvolve em relações interpessoais próximas, demonstrará que o ambiente terapêutico é funcionalmente similar ao seu cotidiano se ele desenvolver uma hostilidade em relação ao terapeuta na medida em que uma relação mais próxima venha a se estabelecer entre eles.

Neste capítulo, lançamos as bases para a psicoterapia analítica funcional, descrevendo seus pressupostos teóricos e filosóficos. Como esquematizado no prefácio, os Capítulos 2 e 3 são dedicados às técnicas de manejo clínico e a estratégias para ampliar as percepções do terapeuta. A seguir, nos Capítulos 4 e 5, revemos os conceitos, o papel e a importância das recordações, das emoções e da cognição para a mudança do comportamento. No Capítulo 6 , formulamos uma teoria comportamental do desenvolvimento da noção do self e discutimos suas implicações clínicas. N o Capítulo 7, comparamos e contrastamos a FAP com a psicanálise e com outras terapias comportamentais e demonstramos que a FAP aproveita-se dos melhores atributos desses dois enfoques. Finalmente, temas éticos e temas culturais, de supervisão e de pesquisa são examinados no Capítulo 8.

18 Capítulo 1

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Aplicação Clínica da Psicoterapia Analítica Funcional

A aplicação clínica da FAP será discutida em term os de certos tipos de comportamento do cliente e do terapeuta, os quais ocorrem ao longo da sessão de terapia. Os comportamentos do cliente são seus problemas, progressos e

i interpretações. Os comportamentos do terapeuta são métodos terapêuticos, que incluem evocar, notar, reforçar e interpretar o comportamento do cliente.

PR O B LEM A S D O C L IE N T E E C O M PO R TA M EN TO S C L IN IC A M E N T E RELEV A N TES

Tudo que um terapeuta pode fazer para auxiliar os clientes ocorre durante a sessão. Para o behaviorista radical, as ações do terapeuta afetam o cliente através de três funções de estímulo: 1) discrim inativa, 2) eliciadora e 3) reforçadora. Um estímulo discriminativo refere-se às circunstâncias externas nas quais certos comportamentos foram reforçados e onde, conseqüentemente, tom am -se mais prováveis de ocorrer. A m aior parte de nosso comportamento está sob controle discriminativo e é usualmente conhecido como comportamento vo lu n tá r io (com p o rtam en to operan te ). U m co m p ortam en to e lic iado

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20 C apítulo 2

(comportamento respondente) é produzido de modo reflexo e é costumeiramente denominado involuntário, A função reforçadora (discutida no Capítulo 1) refere- se às conseqüências que afetam o comportamento. Cada ação do terapeuta possui um ou mais destes três efeitos. Por exemplo, uma ação do terapeuta poderia ser perguntar ao cliente “O que você está sentindo agora?” O efeito discriminativo afirma que “agora é apropriado você dizer como se sente.” A questão, entretanto, poderia também ser aversiva para o cliente e, assim, puniria o comportamento que precedeu a questão do terapeuta; esta é a função reforçadora. A função eliciadora da pergunta poderia fazer o cliente enrubescer, suar e induzir outros estados coiporais. Os motivos pelos quais o cliente reage destas formas à pergunta sobre sentimentos encontram-se em sua história de vida.

Ao assumirmos que (1) o único modo do terapeuta ajudar o cliente é por meio das funções reforçadoras, discriminativas e eliciadoras das ações do terapeuta, e que (2) estas funções de estímulo no decorrer da sessão exercerão seus maiores efeitos sobre o comportamento do cliente que ocorrer na própria sessão, então a principal característica de um problema que poderia ser alvo da FAP é que ele ocorra durante a sessão. Além disso, os progressos do cliente também deverão ocorrer durante a sessão e serem naturalmente reforçados pelos reforçadores existentes na sessão. O mais importante é que os reforçadores sejam as ações e reações do terapeuta em relação ao cliente.

Três comportamentos do cliente que podem ocorrer durante a sessão são de particular relevância e são denominados comportamentos clinicamente relevantes (CRB).

CRB1: Problem as do cliente que ocorrem na sessão

CRB ls referem-se aos problemas vigentes do cliente e cuja freqüência deveria ser reduzida ao longo da terapia. Tipicamente, os C R B ls são esquivas sob controle de estímulos aversivos. Tal comportamento pode ser ilustrado por casos clínicos reais, como os descritos abaixo:

1. Uma cliente cujo problema é não ter amigos e que afirma “não saber conquistá-los” exibe comportamentos como: evitar contato visual, res­ponder a perguntas falando excessivamente, de um modo impreciso e tangencial, tem uma “crise” atrás da outra e exige ser cuidada, fica

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enfurecida se o terapeuta não Lhe fornece todas as respostas, e freqüen­temente queixa-se de que o mundo não se importa com ela e lhe reservou a pior parte.

2. Um homem cujo principal problema é evitar relacionamentos amorosos sempre decide, antecipadamente, sobre o que vai falar na terapia, vigia o relógio para encerrar a sessão pontualmente, afirma que só poderá ter sessões quinzenais em função de limitações financeiras (embora sua renda anual seja superior a trinta mil dólares), e cancela a sessão subseqüente àquela em que fez um a importante revelação a respeito de si mesmo.

3. Um homem que se descreve como “erem ita” diz que gostaria de construir um a relação de intimidade, está há três anos em terapia e continua periodicamente a brincar com seu terapeuta afirmando que este só se interessa pelo dinheiro do cliente e secretamente o rejeita.

4. Uma mulher cujo padrão é mergulhar em relacionamentos inatingíveis, apaixona-se pelo terapeuta.

5. Uma mulher, que foi abandonada por pessoas que “se cansam” dela, inicia temas novos ao final da sessão, freqüentemente ameaça se matar e apareceu bêbada na casa do terapeuta no meio da noite.

6 . Um homem, com ansiedade para falar, “congela” e não consegue se comunicar com o terapeuta na sessão.

CRB2: Progressos do cliente que ocorrem n a sessão

Durante os estágios iniciais do tratamento, estes comportamentos não são observados ou possuem uma baixa probabilidade de ocorrência nas ocasiões em que ocorre um a instância real do problema clínico, o CRB1. Por exemplo, considere um cliente cujo problema é se afastar e vivenciar sentimentos de baixa auto-estima quando “as pessoas não lhe dão atenção” durante conversas ou outras situações sociais. Este cliente pode dem onstrar um padrão similar de comportamentos de afastamento durante um a consulta na qual'o terapeuta não presta atenção às suas palavras e interrompe seu discurso antes que termine de falar. Prováveis CRB2s para esta situação incluem um repertório de compor­tamento asseitivo que dirigiria o terapeuta de volta para o que o cliente estava

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22 Capítulo 2

dizendo, ou a discriminação do crescente desinteresse do terapeuta pelo que estava sendo dito até o momento em que, de fato, interrompeu o cliente.

O caso abaixo ilustra o desenvolvimento dos CRB2s de um a cliente. Joanne, uma mulher brilhante e sensível, que buscou terapia em função de uma ansiedade constante, insônia e recorrentes pesadelos de estupro. Embora ela suspeitasse ter sido abusada sexualmente pelo pai na infância, ela não guardava, especificamente, lembranças de tal abuso. Ela melhorou gradualmente no decoirer dos seis anos de terapia com o segundo autor. Alguns dos CRB2s fortalecidos em diferentes momeiltos do tratamento foram:

1.Recordar-se e responder com emoção. Durante a infância, Joanne viveu uma década de indizível terror, envolvendo dor física e emocional provocada por quem supostamente deveria amá-la, o pai. Recordar e reagir emocionalmente a estes eventos não foi reforçado. Ao invés disso, era funcional esquecer e reagir de forma não-emocional, e ela evitou estímulos que poderiam evocar sentimentos indesejáveis. Sua esquiva era pervasiva, e associada às experiências precoces de não ser validada, passou a sentir-se desprovida de um senso de s e l f (ver Capítulo 6). Joanne evitou reviver sentimentos como dor, terror, impotência e furianão estabelecendo relacionamentos de intimidade. Ela não era aberta, não confiava nos outros e não se mostrava vulnerável. Um objetivo terapêutico foi reduzir a esquiva generalizada e aumentar os CRB2s de lembrar-se e viver a dor pelo ocoirido. Gradualmente, Joanne foi encorajada a aumentar seu contato com as recordações vívidas de tortura física e emocional, um processo que foi terrivelmente penoso.

2.Aprender a dizer o que deseja (ou seja, que suas necessidades são importantes e merecem atenção). Como ocorre com quase todos os sobreviventes de abuso sexual, Joanne foi reforçada por dar ao seu pai o que ele desejava, mas fortemente punida por ter seu próprio desejo. Ela codificou este fato como não tendo o direito de esperar algo dos outros e aprendeu que “desejar é ruim” . Eu a encorajei a desejar- e gradualmente estes CRB2s foram fortalecidos. Deste modo, tentei reforçar qualquer pedido que eu pudesse, com referência a aspectos como os téfnas a discutir, a duração e freqüência das sessões e reasseguramentos verbais. Além disso, foi explicado a Joanne que suas necessidades eram importantes e que se eu ou outra pessoa não as preenchessem, ela não deveria se

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considerar “má” por tèr desejos, necessidades. Um incidente importante ocorreu por volta do quarto mês de terapia, quando m e ligou às 23:30 hs., durante um episódio de flashback. Joanne estava em pânico e gritava. Na medida em que reconheci seu telefonema como um CRB2, perguntei-lhe se gostaria de ter uma sessão naquele momento, o que ela aceitou de imediato. Mais tarde Joanne contou- m e ter sido muito difícil aceitar a oferta, embora estivesse apavorada e precisasse, de fato, estar comigo. Quando respondi à sua necessidade, o “querer” foi reforçado. Subseqüentemente, Joanne aprendeu a me solicitar sessões extras e conversas pelo telefone quando isto fosse necessário, e seu comportamento de expressar suas necessidades e desejos se generalizou para outros relacionamentos. Com o aumento da força destes CRB2s, ocorreu mudança correspondente quanto a sentir que “desejar” é aceitável e que suas necessidades são importantes.

3. Confiar. Como as reações de seu pai eram erráticas e imprevisíveis, Joanne foi reforçada por antecipar e tomar-se hipervigilante com relação a tal comportamento da parte de terceiros. Ela contou-me que levou seis meses até que passasse a confiar que eu viria pontualmente à sessão, conforme combinado com ela. “Eu tinha todos esses medos - de que você me julgasse louca ou me ferisse, de que meus sentimentos lhe assustassem e o fizessem se afastar de mim. Mais do que me reconfortai', você me fez examinar o que eu estava sentindo em relação a você. Eu dizia que não o faria e você me respondia que você precisava confiar na sua experiência.” Então Joanne tomou-se menos vigilante na busca de um a ação errática de minha parte, o que, por sua vez, facilitou o crescimento de nossa relação. Eu também foi capaz de manter minha palavra, sendo coerente com meus pontos de vista, e não agi de maneira imprevisível.

4.Aceitar o amor. Após três anos em terapia comigo (esteve em terapia por cinco anos, antes de vir m e procurai), Joanne descreveu um problem a da vida diária de relacionamento interpessoal. Disse que, bem no fundo, sentia não saber como am ar ou como ser amada. Eu lhe fiz mais perguntas, buscando descobrir exatamente o que ela queria dizer, para elaborar o problema em termos comportamentais. Joanne tinha dificuldade para fazê-lo. Tentando saber se isto ocorria na sessão, perguntei-lhe se conseguiria aceitar meu amor no momento, ela disse que não, que sentia-se fechada. Embora fosse um processo privado, cujas dimensões fossem difíceis de descrever, julguei que um CRB1 estava ocorrendo naquele momento.

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24 Capítulo 2

T: C om o é sentir-se fechada?

C: É com o se m eu coração estivesse fechado.

T: Totalmente fechado?

C: T alvez 5% aberto.

T: Gostaria que você tentasse abrir até 20% e aceitasse meu amor por você.

C: Está aberto uns 25%.

T: Ótimo! Você conseguiria uns 40%?

Este processo foi mantido, e Joanne relatou ser capaz de “abrir seu coração” cada vez mais. Eis uma descrição do que ela sentiu durante aquela sessão: “Tomei coragem para me abrir e deixar o amor entrar. Foi uma mudança de foco em meu corpo e mente. Ainda que estivesse consciente do meu medo, terror e sofrimento causados pelas experiências com meu pai, enfoquei o que sentia em relação a você, no presente, em oposição aos meus medos. Deixei que existissem duas verdades simultâneas: que meu pai abusou de mim, e que você era uma pessoa com quem eu podia me sentir segura e amada. Continuei afirmando para mim mesma que queria abrir espaço para receber o amor. Eu mantenho a tensão nos meus músculos quando me fecho, principalmente no meu peito, como se o músculo ficasse congelado. Então a sensação física de me abrir é o relaxamento do músculo, respirar mais profundamente, deixar o ar entrar em meu corpo, sentir a respiração. E como a sensação da abertura de uma lente em meu coração.”

Não fica claro quais processos comportamentais estão envolvidos na “aceitação do amor” , mas a descrição que Joanne faz de sua experiência sugere algumas possibilidades. Nossa interpretação é que não ser capaz de aceitar o amor foi um comportamento específico, principalmente privado, o qual a manteve distante e reduziu a aversividade de relacionar-se com o seu pai. Considerando alguns aspectos de sua descrição, algumas destas respostas foram provavelmente evocadas pelo abuso sexual. A despeito da aversividade, ela permaneceu em contato com seus sentimentos, e sua esquiva foi extinta, suas respostas físicas mudaram, e surgiu, em paralelo, um sentimento de “aceitação do amor”.

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Aplicação Clínica cia FAP 25

Esta sessão foi um importante divisor de águas para Joanne, porque aprendeu que possuía controle sobre “aceitar, ou não, o amor'.. Isto a auxiliou no desenvolvimento de relacionamentos amorosos mais íntimos.

CRB3: In terp re tações do com portam ento segundo o cíiente

O CRB.3 refere-se à fala dos clientes sobre seu próprio comportamento e o que parece causá-lo, o que inclui “interpretações” e “dar razões” . O melhor CRB3 envolve a observação e interpretação do próprio comportamento e dos estímulos reforçadores, discriminativos e eliciadores associados a ele. Descrever conexões funcionais pode ajudar a obter reforçamento na vida diária. Maiores detalhes poderão ser obtidos no tópico Regra 5.

Os repertórios de CRB3 também incluem descrições de equivalência funcional que indica semelhanças entre o que ocorre na sessão e na vida diária. Por exemplo, Esther, uma mulher com cerca de quarenta anos, há quinze anos pennanece sem qualquer contato íntimo de natureza sexual. Após seis anos em FAP com o segundo autor, Esther se envolveu com um homem que conheceu na igreja. Seu CRB3 era: “A razão pela qual entrei em um relacionamento íntimo é porque você esteve ao meu lado. É uma mudança fenomenal. Não fosse você, eu não estaria lá. Com você encontrei o primeiro lugar seguro, onde eu tinha como falai- sobre o que sentia, pude descobrir razões pelas quais seria desejável eu tomar-me sexualizada. Por um certo período de tempo estive mais abertamente atraída por você, e você aceitou meus sentimentos. Aprendi que seria melhor eu preservar minha totalidade e sentir-me sexual, do que vestir um a armadura e sentir-me vazia. E eu pude praticar a ser direta com você.” Este tipo de afirmação pode ajudar a aumentar a probabilidade do cliente transferir seus ganhos na terapia para a vida diária. Neste caso, o comportamento a ser transferido auxiliou a aumentar o reforçamento de estar se relacionando intimamente.

T erapeutas, por vezes, confundem repertó rios de CRB3 com o comportamento ao qual eles se referem. Uma cliente afirmar que se afasta sempre que se tom a dependente de um relacionamento (CRB3) difere de realmente se distanciar durante um a sessão porque está se tom ando dependente do terapeuta (CRB1). É lamentável que alguns terapeutas focalizem sua atenção sobre estes repertórios que descrevem um comportamento problemático e não conseguem observar a ocorrência dos comportamentos problem áticos (CRB1) ou dos progressos (CRB2).

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26 Capítulo 2

Avaliação inicial

De início, os procedimentos de avaliação da FAP não diferem daqueles rotineiramente usados pelos terapeutas em sua prática clínica. O cliente é solicitado a relatar seus problemas e outras condições de sua vida. Entrevistas, auto-relatos, material gravado, questionários e registros são utilizados para definir o problema, gerar hipóteses sobre variáveis de controle e monitorar o progresso.

Uma vez que oiterapeuta já tenha alguma idéia sobre o problema e suas variáveis de controle, inicia-se a avaliação da eventual ocorrência destes comportamentos na sessão. O terapeuta hipotetiza se um C RB1 estaria ocorrendo em um dado momento, ou apresenta uma situação supostamente capaz de evocai' o CRB1, Estes procedimentos, hipotetizar e evocar, serão discutidos mais à frente.

A FAP centraliza sua avaliação em uma questão-chave, que o terapeuta continuamente pergunta ao cliente durante o tratamento: “Isto está acontecendo agora?”, “isto” referindo-se ao CRB1. Algumas variações possíveis: “Como você se sente, agora, a seu próprio respeito?” , “Neste exato momento você está se afastando?”, “O que acabou de acontecer se parece com o que fez você buscar atendimento?”, “A dificuldade que você teve de expressar os seus sentimentos agora é a mesma que você tem com sua mãe?”, “O que você sente agora...é semelhante à ansiedade de se expressar verbalmente que te fez buscar terapia?”

A FAP não possui procedimentos especiais para avaliai' a validade do auto-relato do cliente em resposta a um a questão de avaliação. Por um lado, a resposta baseia-se num evento que acabou de ocorrer, talvez dois segundos antes. Portanto, pode ser menos sujeito às distorções que o tempo e a distância produzem nos relatos de eventos que ocorreram no passado. Por outro lado, o CRB1 provavelmente é acompanhado de respostas que interferem na auto-observação e também pode sofrer viéses pela exigência implícita na pergunta do terapeuta. A vantagem de avaliar o comportamento vigente, entretanto, é que o terapeuta pode observar diretamente o comportamento que o cliente está descrevendo. Isto perm ite avaliar a confiabilidade inter-observadores, contar e registrar respostas e constitui-se numa oportunidade de estimar a correlação entre relatos verbais e o comportamento ao qual ele se refere.

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T É C N IC A T E R A PÊU TIC A : AS C IN C O REG RA S

Aplicação Clínica da FAP 27

D ado que a psico terap ia é um processo in teracional com plexo, envolvendo comportamento multidetenninado, nossas sugestões "de técnica psicoterapêutica não pretendem ser completas ou excluir o uso de procedimentos não descritos aqui. Pelo contrário, outros m étodos de terapia podem ser complementados ou ampliados para auxiliarem terapeutas a obterem vantagem de oportunidades que de outro modo poderiam passar despercebidas. Por exemplo, os métodos da terapia cognitiva poderiam ser usados junto com a FAP, pois esta oferece recursos terapêuticos para trabalhar com pensamentos irracionais ou pressupostos errôneos (ver Capítulo 5).

Nossas técnicas são dispostas sob a forma de regras. Ao contrário do significado ameaçador ou rígido que é associado ao uso comum do termo, propomos que as regras sejam compreendidas segundo o conceito skinneriano de comportamento verbal (Skinner, 1957, p. 339), depois elaborado por Zettle e Hayes (1982). Neste contexto, as regras da FAP são sugestões para o compor­tamento do terapeuta, as quais resultam em efeitos reforçadores para o terapeuta. É mais um a questão de “experimente, você vai gostar”, do que “é melhor que você faça assim” .

Além disso, as regras não oferecem aos terapeutas a orientação específica para cobrir todo momento ou situação da sessão. Espera-se que os terapeutas atuem de forma a depender de sua experiência e de outras teorias. No início da terapia, o tempo é geralmente gasto na coleta da história de vida e de descrições dos problemas clínicos. Segue-se um a etapa exploratória com o cliente para investigar como poderia agir para melhorar sua situação. Em qualquer ponto deste processo, a adoção de regras da FAP poderia mudar o foco do tratamento para o CRB. O foco pode ser momentâneo ou dominar a cena. Deste modo, nenhum procedimento é excluído, mas, a qualquer momento, seguir regras da FAP poderia conduzir à identificação e utilização de um a oportunidade terapêutica.

R eg ra 1: P re s ta r atenção aos CKBs

Esta regra é o coração da FAP. Nossa principal hipótese é que seguir esta regra melhora o resultado da terapia. Portanto, quão maior for a proficiência do terapeuta em identificar CRBs, melhores os resultados. Também hipotetiza-

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28 C apítulo 2

se que seguir a Regra 1 conduzirá a uma crescente intensidade; ou seja, reações emocionais mais fortes entre cliente e terapeuta durante a sessão.

Numa sessão de terapia, a conseqüência primária do comportamento do cliente é a reação do terapeuta. Caso o terapeuta não proceda a uma observação clara do comportamento do cliente, suas reações poderão ser inconsistentes ou antiterapêuticas, o que comprometeria o progresso. Em outras palavras, se o terapeuta não estiver ciente dos comportamentos clinicamente relevantes do cliente que ocorrerem durante a sessão, o reforçamento dos progressos no momento de sua ocorrência será algo do tipo “pegar ou perder”. Ainda que estar consciente e prestar atenção não garantam que melhoras sejam reforçadas e comportamentos desfavoráveis sejam extintos ou punidos, isto aumenta a probabilidade de reações apropriadas do terapeuta.

' O problema contraterapêutico gerado pela ausência de consciência é familiar àqueles que trabalham com crianças com perturbações graves. O p rim e iro au to r reco rd a -se quão d o lo roso foi en s in a r um a criança institucionalizada a calçar suas próprias meias - ele nunca havia feito isto e até que ele sistematicamente conseguisse calçá-las foi necessária um a hora de treino diário, ao longo de várias semanas. Seus pais levaram o garoto para uma visita à sua casa e observaram-no sair da cama e calçar as meias. Eu mal continha o júbilo pelo progresso alcançado. Mas assim que ele calçou as meias, seus pais o advertiram por calçar cada pé de uma cor diferente, imediatamente arrancaram uma delas e substituíram-na por outra de cor adequada. O cliente teve um ataque de birra. Obviamente os pais não conseguiram perceber que calçar as meias era um CRB2, membro de um repertório cuja ausência, ou baixa probabilidade de ocorrência, estava diretamente relacionada ao problema. Se os pais estivessem presentes às entediantes semanas de treinamento, sua percepção teria mudado e, provavelmente, seriam capazes de reforçar naturalmente o comportamento de calçar as meias. É pena que alguns psicoterapeutas, com freqüência, não estejam atentos aos comportamentos clinicamente relevantes que ocorrem na sessão e tendem a reagir de um modo não-terapêutico, como os pais da criança autista.

Como se afirmou antes, é mais provável que se reforce apropriadamente o comportamento clinicamente relevante que ocorre na sessão se o terapeuta observar atentamente o que se passa. Vamos examinar o caso de Betty, em tratamento com o primeiro autor, com queixa de ansiedade para se expressar verbalmente, pânico, falta de assertividade perante figuras de autoridade, especialmente do sexo masculino (por exemplo, supervisores e executivos da empresa onde trabalha). Durante a sessão, ela me pediu que ligasse para seu

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clínico e solicitasse, em seu nome, uma nova receita dos tranquilizantes que lhe foram prescritos e estavam terminando. Acrescentou que tinha muito medo de fazê-lo. Tive diversas, e fortes, reações negativas encobertas. Primeiro, não gostei da idéia por geralmente desencorajar a medicação, em benefício dos métodos comportamentais. Segundo, pensei que renovar a receita estava sob responsabilidade de Betty, não minha. Terceiro, imaginei que esta seria uma chance para a cliente praticar, interagindo com seu médico, o comportamento assertivo. Por fim , considerei que telefonar para o m édico é um a tarefa desagradável, que parecia um a interferência sobre meu horário. Por outro lado, em função da Regra 1, sabia que o pedido era, definitivamente, um CRB2, um com portam ento assertivo na sessão, dirigido a um a figura m asculina de autoridade, o qual, até então, estava ausente no repertório de Betty. Estando ciente disso, concordei em ligar para o médico e cumprimentei-a pela expressão direta ao me fazer seu pedido.

A im portância da Regra 1 não pode ser enfatizada em demasia. Teoricamente, seguir a Regra 1 é tudo o que precisamos para o tratamento ter sucesso. Ou seja, um terapeuta habilidoso em observar a ocorrência, na sessão, de instâncias do com portam ento clinicam ente relevante, tenderá a reagir, naturalmente, no sentido de reforçar, extingüir e punir o comportamento em questão, propiciando o desenvolvimento de alternativas úteis para a vida diária.

A observação de repertórios como os especificados pela Regra 1 é prática usual entre terapeutas psicodinâmicos e de ecléticos reconhecidos como bastante competentes. Isto é esperado porque as ocorrências de CRB que são rotuladas como transferência servem como estímulos discriminativos importantes na terapia de orientação psicodinâmica. Além disso, seria esperado dos terapeutas com vasta experiência, independente de sua orientação teórica, que mostrassem os tipos de comportamento da Regra 1 em função do fato de que perceber o CRB (mesmo sob a forma de estar atento a questões transferenciais) facilita o progresso clínico, o que automaticamente reforça o comportamento do terapeuta de seguir a Regra 1. Poder-se-ia esperar que este reforçamento acontecesse sem que o terapeuta estivesse consciente.

Acreditamos que os efeitos da Regra 1 refletem-se nos resultados de um estudo recente sobre os produtos das interpretações psicanalíticas (Marziali, 1984). Nesta pesquisa, as interpretações feitas pelo terapeuta foram categorizadas do seguinte modo: 1) Interpretações T: mencionavam o comportamento do cliente que estava ocorrendo na sessão; 2) In terp retações DL: re feriam -se ao comportamento que ocorria fora da sessão, na vida diária; 3) Interpretações P:

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30 Capítulo 2

referentes ao comportamento do cliente que ocorreu em seu passado. A melhora do cliente se correlacionou com o número de interpretações T. Na perspectiva da FAP, a interpretação T significava que o terapeuta estava observando CRBs (ou seja, emitindo o mesmo comportamento especificado pela Regra 1). Quanto mais se prestar atenção no CRB, maior o progresso do cliente. Ao nosso ver, as melhoras decorreram das contingências fornecidas pelo terapeuta, que tendem a ocorrer naturalmente, já que ele estava observando o processo. A interpretação, por si só, poderia ter contribuído para a melhora, mas, segundo a FAP, seria menos importante do que a contingência do terapeuta reforçai’ naturalmente as reações de melhora àpresentadas na sessão.

R egra 2 : E vocar CRBs

Em nossa opinião, um relacionamento terapeuta-cliente ideal evoca CRB1 e cria condições para o desenvolvimento do CRB2. O grau em que isto é alcançado depende, é claro, da natureza dos problemas de vida diária do cliente. E possível que um terapeuta distante, afastado, no estilo “tela em branco” fosse a pessoa certa para alguns clientes. Uma dada medida de passividade poderia oferecer ao cliente a chance de se desenvolver com independência (ver Capítulo 6 sobre o tratamento de problemas que afetam o “eu”). Em termos genéricos, entretanto, a maioria dos clientes precisa aprender a desenvolver relações de intimidade, o que significa que o relacionamento terapêutico deveria evocar o comportamento do cliente que evita o estabelecimento da intimidade (CRB1). Se o cliente tiver habilidades de relacionamento adequadas para interagir com um terapeuta passivo e distante, quase nada aprenderia em termos de intimidade. Por outro lado, um terapeuta ativo e caloroso poderia evocar os problemas do cliente e abrir espaço para progressos. Um cliente que deseja estabelecer relacionamentos de proximidade, mas que teme o envolvimento, pode claramente se beneficiar com um terapeuta que expresse afetividade.

As descrições que clientes fazem sobre o que desejam em uma relação terapêutica apontam a importância de um relacionamento capaz de evocar certos comportamentos. Como certo cliente afirmou, “Terapia é construir uma relação de amor. Se você conseguir superar seus bloqueios com um a certa pessoa, conseguirá fazê-lo coin outras.” Outro cliente expressou sentimentos similares: “Se maus relacionamentos me bagunçaram, então precisarei de bons relacio­namentos que ine ajudem a ficar curado. E esta foi uma boa relação.”

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Peck (1978) opinou sobre o que tom a a psicoterapia efetiva e bem sucedida:

É humano envolver-se e lutar. É desejo do terapeuta servir aos propósitos, de estimular o crescimento do cliente - vontade de sustentar-se pelas própria pernas, de envolver-se realmente num nível emocional de relacionamento; lutar, de fato, com o paciente e consigo mesmo. Em suma, o ingrediente essencial de uma terapia significativa e profunda é o amor. (p. 173)

Greben (1981), que citamos no inicio do livro, pensou de modo similar ao de Peclc:

Psicoterapia não é um conjunto de regras elaboradas sobre o que alguém não deve fazer: regras sobre quando ou o que falar, sobre como tirar férias, lidar com os momentos perdidos, etc. É algo muito mais simples que isso. É o encontro de trabalho entre duas pessoas, trabalho duro e honesto. Poderia afirmar que é uma jornada de amor. (p.455)

Nossa interpretação sobre os pontos de vista de Peck e Greben é que o cliente aprende a se envolver num relacionamento real. Um terapeuta que ama e se envolve plenamente com um cliente cria um ambiente terapêutico que evoca C R B ls correspondentes.

Além da postura geral assumida pelo terapeuta, há outras formas do ambiente ser estruturado para evocar CRBs. Embora não visem tal objetivo, técnicas específicas usadas por vários psicoterapeutas podem ser efetivas por evocarem o CRB. Alguns exemplos são: 1) Associação livre, que pode ser vista como a apresentação de um a tarefa não estruturada que impele à introspecção e evoca o CRB correspondente (ver Capítulo 6); 2) Hipnose, que pode evocar o CRB relacionado a renunciar ao controle; 3) Lições de casa: pode evocar CRBs relacionados a contra-controle ou a obediência excessiva; 4) Exercícios de imaginação: possibilitam evocar CRBs relacionados a estar sob restrição, emocionado ou em processo criativo. A reestruturação cognitiva, a técnica das cadeiras vazias, relatar sonhos e a terapia do grito primai certamente evocam C R B ls apropriados para alguns clientes. O problema com estas técnicas é que o terapeuta que as utiliza pode estar tão sob controle de alter egos, de nossa sabedoria interior, do conteúdo inconsciente ou da distorção cognitiva, que o CRB não é identificado ou é visto como mero subproduto.

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32 Capítulo 2

Outras abordagens incluem: 1) pedir que o cônjuge do clienle venha às sessões, se o repertório relevante, em termos do problema de relacionamento do cliente, somente emergir em sua presença (aconselhamento de casal); 2) iniciar a sessão de uma cliente bulímica com a atividade de almoço, caso os CRBs só ocorram após as refeições; 3) restringir, por um tempo, os comentários que indicam que o cliente recebe a aceitação ou aprovação do terapeuta, caso o CRB se refira às dificuldades de se relacionar com quem não é explícito em termos de aprovação e aceitação.

O último exemplo levanta um problema que pode ocorrer quando um terapeuta deliberadamente altera um aspecto de seu comportamento para aumentar as chances de obter o CRB. O terapeuta pode ir longe demais ao dispor condições para evocar o CRB e sua credibilidade pode sofrer danos devido à natureza de tal reforçamento arbitrário. Por exemplo; um terapeuta pode simular raiva para evocar o CRB num cliente cujas dificuldades são provocadas por pessoas que se enfurecem. Embora a raiva possa resultar numa interação terapêutica importante, o cliente pode vir a reconhecer que a raiva não era real. Mas sim um comportamento fingido pelo terapeuta, em benefício do cliente. No futuro, a expressão de raiva do terapeuta poderia, justificadam ente, ser interpretada como um estratagema, o que impediria, é claro, a evocação do CRB. Além disso, o cliente poderá se tornar incapaz de confiar nas expressões ou verbalizações afetivas do terapeuta. Tal efeito, é desnecessário afirmar, limitaria seriamente o progresso.

A situação descrita acima precisa ser diferenciada de outra na qual o problema do cliente é a falta de confiança que interfere em relacionamentos im­portantes. Tal desconfiança não se origina de interações com o terapeuta, como no exemplo citado, mas possui uma longa história e sua ocorrência na relação terapêutica é coerente com sua história. Em tal caso, duvidar da sinceridade das reações do terapeuta constitui-se num CRB e deveria ser foco de tratamento. Seria particularmente lamentável se um terapeuta fortalecesse a falta de confiança ao conduzir indevidamente uma tentativa de estabelecer condições provocadoras do CRB. Uma salvaguarda seria o terapeuta explicar ao cliente as razões pelas quais iria, a partir daquele momento, alterar o seu comportamento.

R egra 3: R eforçar CRB2s

É difícil por a Regra 3 em prática. Os únicos reforçadores naturais dis­poníveis, na sessão, para o cliente adulto, são as ações e reações interpessoais

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entre cliente e terapeuta. Por um lado. o reforçador temporal e fisicamente contíguo ao comportamento-alvo é o agente primário de mudança na situação terapêutica. Por outro lado, os behavioristas, cientes da im portância do reforçamento, tendem a utilizar procedimentos arbitrários que comprometem a eficácia da intervenção. Como Ferster (1972a) afirmou, “os reforçadores naturais são, às vezes, intrigantes porque parecem reforçar tanto o comportamento e, ainda assim , seus efe itos parecem esvanecer quando se ten ta usá-los deliberadamente.” (p. 10.5).

Há abordagens diretas e indiretas para se prover reforçamento natural. As abordagens diretas consistem no que um terapeuta pode fazer na hora em que se requer um reforçador; entretanto, apresentam um maior risco de pro­duzirem reforçamento arbitrário. As abordagens indiretas propiciam a ocorrência do reforçamento natural por meio da manipulação de outras variáveis, diferentes do que se faz imediatamente após o comportamento, com risco menor de parecer arbitrário.

Abordagens Diretas

É evidente que o terapeuta que planeja dizer “muito bem “ ou demonstra reações exageradas sempre que o cliente solicita reforçamento corre o risco de ser arbitrário. Esta é, provavelmente, a razão pela qual Wachtel (1977) afirmou que os comportamentais eram extremamente exuberantes no uso de elogios, o que “vulgariza” a relação. Tentativas deliberadas de recompensar um cliente adulto, guiadas pela regra “quando o cliente demonstrar um progresso, faça um gesto positivo ou faça um elogio”, conduziriam facilmente ao reforçamento arbitrário. Portanto, como regra geral, é recomendável evitar procedimentos que especifiquem de antemão a reação do terapeuta, o que parece ocorrer sempre que ‘tiramos um reforçador da cartola’ sem relação alguma com a história específica de relação terapeuta-cliente. Por exemplo, se fossemos imaginar algo, com função reforçadora, para dizer a um cliente, viriam à nossa m ente frases com o “muito bem ” ou “que ótimo!”. Estas formas específicas de resposta poderiam facilmente ser arbitrárias porque foram criadas fora do contexto da relação cliente-terapeuta no qual ocorreria o reforçamento.

7. Reforce uma classe ampla de respostas nos clientes. Aos clientes é mais naturalmente reforçador dispor, em seu repertório, de uma classe ampla de respostas porque ela tende a ser generalizável para outras situações. Examinemos

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34 Capítulo 2

o caso-de um homem, obsessivo-compulsivo, que está sendo encorajado pelo terapeuta a se soltar mais em seus relacionamentos com família e amigos. Ele gradualmente começa a chegar atrasado às sessões, tenta obter tempo extra ao final das mesmas e atrasa o pagamento das consultas. Uma reação estrita do terapeuta seria chamar o cliente às falas, ao passo que reforçaríamos uma classe de respostas mais am pla se considerássem os os com portam entos menos responsáveis do cliente como manifestações de progresso (CRB2).

2. Compatibilize suas expectativas com os repertórios atuais dos clientes. Isto significa estar atento ao nível atual de habilidades do cliente em quaisquer áreas nas quais o cliente esteja tentando implementar mudanças (por exemplo, comunicar-se melhor, descrever sentimentos, controlar impulsos) sem estabelecer expectativas excessivamente elevadas. O conceito de modelagem pode auxiliar na identificação dos repertórios vigentes. Por exemplo, o segundo autor atendeu uma cliente chamada Agnes, diagnosticada como borderline, segundo o DSM- HI-R, que apresentava flutuações de humor, era explosiva e verbalmente abusiva. Freqüentemente ela encerrava a terapia de modo abrupto, sem aviso prévio nem provocação aparente. Tinha que enfrentar, em sua vida diária, estes mesmos problemas, o que a levou a passar por inúmeras e breves tentativas prévias de terapia, porque os terapeutas a consideravam insuportável. Após um ano de terapia, no qual demonstrei rara capacidade de paciência e tolerância para com este comportamento, Agnes novamente parou, ameaçou cometer suicídio, e afirmou estar fazendo isto em função de eu não me importar com ela, demonstrado pela limitação do meu tempo reservado para ela. Embora pudesse ver este comportamento como a gota d ’água que transbordaria o copo, o conceito de modelagem me auxiliou a discriminar este evento como um CRB2 em potencial, e que deveria ser reforçado. Agnes estava, de fato, pela primeira vez, descrevendo variáveis externas como causa de seus rompantes, antes de sair em disparada consultório afora. Reforcei sua melhora dizendo-lhe como eu poderia melhor preencher suas necessidades, e negociei com ela sobre a duração e freqüência das nossas sessões. Pela modelagem, a raiva e o comportamento abusivo de Agnes reduziram-se gradualmente, sendo substituídos por pedidos e descrições diretas.

3. Amplifique seus sentimentos para torná-los mais salientes. Por vezes ajuda adicionar algum comportamento verbal à reação básica frente ao cliente, de modo a garantir ou aumentar a eficiência terapêutica. Embora a natureza do reforçador não se m odifique fundam entalm ente ao longo do processo, a

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amplificação pode ser importante do ponto de vista terapêutico. Este cuidado se traduz no terapeuta sendo muito cuidadoso na explicação de suas reações ao cliente, bem como ao descrever eventos privados ou reações sutis que possam não ser discriminadas de imediato. A título de ilustração, consideremos um cliente que se preocupa com a questão da intimidade e sente falta de amizades. Ao se comportar na sessão, ele produz no terapeuta reações espontâneas, de natureza privada. Estas respostas podem incluir: 1) predisposições para agir de modo íntimo e carinhoso, e 2) respondentes privados que correspondem a “sentir- se próximo”. Como estes comportamentos não são discriminados pelo cliente, ou possuem pouco valor reforçador, o terapeuta poderia descrever alguma reação interna e dizer: “Eu me sinto particularmente próximo de você agora”. Sem a amplificação, tais reações básicas importantes exerceriam pouco ou nenhum efeito reforçador sobre o comportamento do cliente que as causou.

4. Esteja ciente de que seu relacionamento com o cliente existe para o beneficio deste. Quaisquer intervenções que estejam em andamento, é importante que o terapeuta sempre se interrogue sobre o que é melhor para o cliente naquele momento e a longo prazo. Para ilustrai' este princípio, vamos examinar a relação entre o conceito de reforçamento natural e o tipo de terapia proposto por Cari Rogers. Embora Rogers estivesse vinculado a um a abordagem muito diferente da FAP, as características do terapeuta naturalmente reforçador lembram, em diversos aspectos, a postura cuidadosa e genuína de Rogers. Conhecido por sua oposição ao “uso do reforçamento” corno forma de controle sobre as outras pessoas, Rogers certamente não tentaria fazê-lo. Mas uma análise cuidadosa de suas reações aos clientes indica que há contingências (Truax, 1966), pois Rogers reagia diferencialmente a certas classes de comportamento do cliente. Deste modo, ele produzia um padrão de reforçamento.

Ao nosso ver, a atenção de Rogers provavelmente manifestava-se como um interesse, preocupação, sofrimento ou envolvimento, que terminavam, natural­mente, punindo C R B ls e reforçando CRB2s e CRB3s. Deste modo, sugerimos que a proposição rogeriana é um método indireto de fortalecer a ocorrência de contingências naturalmente reforçadoras. Um terapeuta que dá atenção, confoime a formulação aqui apresentada, é alguém naturalmente reforçador, ou governado pelo que é melhor para o cliente.

N a medida em que na relação terapêutica há um desequilíbrio de poder, é especialmente importante obedecer a esta diretriz. Do contrário, os clientes poderiam ser facilmente abusados e feridos. Clientes que se envolvem sexualmente

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36 Capítulo 2

com seus terapeutas sâo um destes casos. Peck (1978) discutiu muito bem porque é difícil conceber que um cliente se beneficie do relacionamento sexual com o terapeuta:

Caso eu tivesse um caso sobre o qual concluísse, após cuidadoso e sistemático exame, que o crescimento espiritual do meu paciente seria substancialmente beneficiado pelo nosso relacionamento sexual, eu aceitaria a idéia. No entanto, em quinze anos de atividade profissional, nunca encontrei um caso assim, e acho difícil imaginar que isto sequer seja possível. Antes de mais nada, o papel de um bom terapeuta é ser um' bom pai, e pais não se relacionam sexualmente com os filhos por uma série de razões, todas bastante fortes. A tarefa de um pai é estar a serviço da criança, e não usá-la para sua satisfação pessoal. Cabe ao terapeuta servir ao cliente, sem fazer uso dele para preencher suas necessidades. A tarefa patema é encorajar a criança em direção à independência, e o terapeuta deve seguir este exemplo. É difícil entender que um terapeuta que se relacione sexualmente com um cliente não o fizesse por razões pessoais, ou que estivesse, por meio de tal atitude, promovendo a independência do cliente, (p. 176)

5. Se usar reforçadores atípicos, faça-o somente p o r tempo limitado, como form a de transição. Ocasionalmente, um terapeuta pode desejar utilizar reforçadores atípicos em uma fase de transição do tratamento, até que os reforçadores naturais assumam o controle. Mas esta atitude requer grande cautela. Além disso, recomenda-se contar ao cliente porque isto está sendo feito, e que depois haverá substituição pelo reforçamento natural. Ferster (1972b) afirmou que alguns dos usos bem sucedidos de reforçadores atípicos como alimento ou elogios devam-se “à forma como eles tomam o comportamento do cliente mais visível ao terapeuta e ao próprio cliente.” Uma vez que tal consciência se estabelece, reações do terapeuta naturalmente reforçadoras despertariam, no cliente, repertórios relevantes que acompanham os reforçadores arbitrários. Vejamos o caso de um cliente que apresentava altas taxas de faltas no trabalho e na terapia. Obviamente, sem contato é difícil desenvolver a aliança terapêutica. Surpresas sob a forma de recompensas materiais de baixo valor, como material de papelaria, ou brinquedos podem ser oferecidas como indução da presença regular às consultas. Na medida em que se desenvolvem novos repertórios que tomam a terapia em si suficientemente reforçadora, estas recompensas podem ser retiradas gradualmente.

6, Evite a punição. Em conformidade com a proposição do behaviorismo radical, que se opõe ao uso da punição, até agora se enfatizou o reforçamento

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positivo . Os estím ulos aversivos som ente deveriam ser usados quando procedim entos que envolvam o reforçamento positivo se mostrarem ineficazes A oposição ao uso terapêutico de estímulos aversivos baseia-se em seus problem áticos efeitos colaterais: 1 ) pode gerar esquiva da terapia, 2) propicia a agressividade em geral, 3) o comportamento produtivo acaba substituído por fuga e esquiva. Ferster apontou que a maior parte do controle aversivo que ocorre entre pessoas é, na sua essência, arbitrário. Portanto, faz sentido evitar, sempre que possível, o uso de controle aversivo no tratamento de adultos atendidos em nossos consultórios.

H á casos, entretanto, nos quais os C R B ls do cliente consistem em com portam ento de fuga e esquiva, o que impossibilita a ocorrência de CRB2s, ou seja, o desenvolvimento de repertórios mais efetivos. Nestas situações, o terapeuta pode tentar bloquear a esquiva reapresentando ao cliente o estímulo discriminativo que originalmente evocou a fuga ou esquiva. Consideremos, por exemplo, um a simples questão feita pelo terapeuta; “Como foram os exercícios de relaxamento durante a semana?” , num contexto no qual o cliente concordara com a tarefa. Para alguns, a pergunta seria um estímulo aversivo, que evocaria fuga ou esquiva do cliente, seja mudando o assunto, mentindo ou respondendo de m odo ambíguo.

Estas reações (por exemplo, fornecendo um a resposta indireta) poderiam se relacionar com uma série de problemas do cliente em termos de relacionamentos interpessoais. Se o terapeuta muda de tópico e “parte para outra” , haveria reforçamento da esquiva CRB1, sem que se possibilite o desenvolvimento de um repertório significativo do cliente, pleno de implicações, relacionado a “ser direto”. Portanto, a técnica principal para enfraquecer a esquiva seria introduzir, novamente, o estímulo aversivo, o que, no caso acima, eqüivale a repetir a pergunta sobre o cumprimento dos exercícios de relaxamento.

N ossa impressão é que C R B ls de esquiva ocorrem freqüentemente na terapia, talvez em toda sessão. O terapeuta pode sempre se interrogar - “O que esta resposta consegue evitar?” . É difícil detectar a esquiva porque a situação aversiva pode ser extremamente idiossincrática, dificultando que o terapeuta consiga perceber o que ocorre. No exemplo anterior, o cliente poderia começar a sessão já se referindo a uma crise, antes mesmo que o terapeuta lhe pergunte sobre o relaxamento. A crise pode, ou não, ser esquiva do conversar sobre a lição de casa. A não ser que o terapeuta tenha formulado hipóteses a respeito dos CRB1 s referentes à tarefa, a crise seria uma esquiva bem sucedida. O conceito de esquiva, do ponto de vista funcional, freqüentemente tem pouco a ver com o

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38 Capítulo 2

cliente estar consciente do que ocorre e é, basicamente, um comportamento modelado pelas contingências. Conforme salientou-se antes, o efeito de qualquer contingência pode ser o fortalecimento ou enfraquecimento de um comportamento, e não teria a ver com a capacidade do cliente estar ciente da contingência em vigor (ver capítulo 5 para uma discussão sobre consciência e comportamento modelado pela contingência).

Não se recomenda bloquear todas as respostas de fuga e esquiva porque o bloqueio funciona como controle aversivo e isto acarreta todos os efeitos indesejáveis a ele associados. De modo correspondente, deveria ser aplicado com moderação no contexto de um ambiente primordialmente baseado em reforçamento positivo e estar de acordo com o nível atual de tolerância do cliente aos estímulos aversivos. A tolerância se refere a um a reação diminuída e ao efeito desorganizados da estimulação aversiva. O reforçamento positivo resultante do novo comportamento que se desenvolve após a aversividade inicial gerada pelo bloqueio da esquiva, acaba por facilitar o aumento da tolerância. Um repertório verbal que corresponda às variáveis de controle envolvidas na esquiva (Regra 5) também pode auxiliai' no aumento da tolerância. Um exemplo seria: “Vou lhe perguntar novamente sobre o relaxamento porque você não respondeu. Faço isto porque acho que sua ausência de resposta é como quando sua esposa lhe pergunta sobre seu dia e vocês terminam com sentimentos de irritação. Esta talvez seja uma oportunidade para fazermos algo a respeito do problema.”

7. Seja você mesmo, na medida do possível, considerando as restrições impostas pelo relacionamento terapêutico. O terapeuta, enquanto membro da comunidade verbal, tem acesso a reforçadores naturais contingentes a um comportamento específico que ocorre na sessão. Para ter acesso a estes reforçadores naturais, o terapeuta pode observar as reações espontâneas privadas que ocorrem logo após o comportamento do cliente. Tecnicamente, a reação privada não é per se reforçadora, mas vem acompanhada por disposições para agir publicamente de formas que são naturalmente reforçadoras. Outro método é perguntar a si mesmo “Como a comunidade responderia a este comportamento?” Nenhum a das alternativas garante que o reforçador obtido seja natural e, tampouco, terapêutico, mas é um ponto de partida. Três fatores deveriam ser levados em conta para determinar se as reações privadas do terapeuta são provavelmente reforçadoras: 1 ) o repertório atual do cliente; 2) o que é melhor para o cliente; 3) o repertório que deverá ser desenvolvido no cliente.

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Aplicação Clínica da FAP 39

Abordagens indiretas

Até aqui discutimos abordagens diretas que propiciem o reforçamento natural do comportamento apresentado pelo cliente na sessão. Como se apontou anteriormente, há riscos envolvidos no uso da abordagem direta. Ou seja, pode ser arbitrário o terapeuta seguir- um a regra sobre o que fazer na hora de reforçar, visto que a regra não faz parte do processo quando o reforçamento ocorre no ambiente natural. Por exemplo, um bom pai geralmente age em função do que é benéfico para a criança, sem que tenha que seguir uma regra, ou estar consciente a respeito do que fazer. As abordagens indiretas, por outro lado, buscam auxiliar a manipulação, no ambiente natural, de variáveis diferentes daquilo que se faz imediatamente após a detecção do CRB. Por exemplo, terapeutas evitam estar fam intos ou exaustos durante o trabalho, alim entam -se e buscam estar descansados ao início de suas sessões. Isto pode ser entendido como uma forma indireta de tom ar mais provável que o terapeuta reforce naturalmente os progressos do cliente. Ou seja, os cuidados do terapeuta com seu bem estar físico podem tom á-lo m ais atento, paciente, com preensivo e, portanto, naturalmente reforçador.

1.A m pliar a percepção do que reforçar. É importante lembrar que as m udanças podem assumir diferentes formas e ocorrem em ritmos distintos. M elhorar nossa percepção do que reforçar é o comportamento enunciado pela Regra 1 e, dentre os métodos indiretos, é o mais importante. Há mais chance das reações espontâneas do terapeuta serem naturalm ente reforçadoras se o comportamento do cliente for entendido como um progresso clínico.

2. Avalie o seu impacto. A idéia geral é rever detalhadamente as interações terapêuticas. Registrai' as sessões em áudio e vídeo, ou dispor de pessoas qualificadas para observarem a sessão (como ocorre nas clínicas-escola) poderia auxiliar o processo. Este feedback favorece o aperfeiçoamento das reações do terapeuta (Regra 4).

3. Pratique boas ações, que propiciem benefícios às pessoas em geral. Outra proposta é o terapeuta se engajar em comportamentos cujo único reforçador disponível (para o comportamento do terapeuta) fosse beneficiar terceiros. Sugere-se, por exemplo, aumentar o número de boas ações em prol de estranhos, engajar-se em trabalho voluntário, auxiliar pessoas economicamente desfavore­cidas, com fome, entre outras. Faça-o freqüentemente; se possível, todo dia. Espera-se, deste modo, fortalecer repertórios que beneficiem terceiros, o que

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40 Capítulo 2

caracteriza um dos aspectos do reforçainento natural. Se o repertório fortalecido for transferido para a sessão, pode aumentar a disponibilidade do reforçamento natural, favorecendo a qualidade da terapia.

4.. Selecione clientes apropriados à FAP. Na medida em que a FAP requer que o reforçamento natural disponível na situação terapêutica seja relevante aos comportamentos do cliente relacionados ao problema, a seleção de clientes que provavelmente: a) tenham problemas que ocorram durante a sessão, e b) sejam afetados pelas reações do terapeuta, seria um a quarta abordagem que, de modo indireto, propicia a ocorrência do reforçamento natural.

R egra 4: Observe os efeitos potencialm ente reforçadores cio com portam ento âo te rap eu ta em relação aos CMBs do cliente

A Regra 4 deriva-se diretamente de princípios analítico-comportamentais que enfatizam a importância dos efeitos das consequências do comportamento sobre sua futura probabilidade de ocorrência. Em bora um a m udança no comportamento do terapeuta possa ser um subproduto do seguimento dessa regra, ela, em si, especifica somente que o terapeuta observe o relacionamento reforçador durante a sessão e não sugere ao terapeuta que intencionalmente modifique seu próprio comportamento. Observar a relação reforçadora pode apresentar efeitos importantes sobre os resultados da terapia. Por exemplo, se o terapeuta observar que suas reações parecem punir o comportamento desejável do cliente mas que ocorrem com baixa freqüência, isso pode levar a mudanças no comportamento do terapeuta, que se tom ará positivamente reforçador. Entretanto, é também possível que o terapeuta continue a punir o comportamento favorável mesmo após identificar a natureza antiterapêutica da punição. Neste caso, o desenlace seria um a decisão de encaminhar o cliente a outro terapeuta ou o próprio terapeuta se subm eteria à terapia visando m odificar estes comportamentos específicos.

A observação do terapeuta dos efeitos reforçadores de suas reações sobre o comportamento do cliente pode favorecer o seguimento da Regra 5 e o desenvolvimento de comportamentos similares no c lien te -C R B 3 .0 modo mais óbvio pelo qual isto ocorreria seria o terapeuta informar ao cliente sobre a auto- observação: “Notei que cada vez que você começou a falar sobre suas crenças espirituais eu mudei de assunto e você não mais o trouxe à tona.” Deste modo, o terapeuta fornece um modelo ao estabelecer um a relação funcional para o cliente.

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A Regra 4 pode também levar o terapeuta em busca de maneiras de fortalecer os efeitos de reações que seriam reforçadoras para o CRB mas que não são percebidas pelo cliente. Por exemplo, imagine um cliente do sexo m asculino com dificuldades de expressão de sentimentos em função de uma h is tó ria de ter sido rid icu la rizado ou criticado quando o fazia.. Estes comportamentos não aumentaram de freqüência, a despeito do terapeuta ouvir atentamente com expressões faciais de empatia e tecer comentários, ditos com voz suave, em cada ocasião na qual o cliente expressou um sentimento. Quando inquirido a respeito, descobriu-se que as reações do terapeuta não eram discernidas pelo cliente porque o ato de expressão dos sentimentos evocava emoções tão intensas (respondentes internos colaterais) que a estimulação externa não era percebida. Após o terapeuta ampliar a reação empática falando com voz clara e alta, ocorreu um aumento da taxa de comportamentos de expressar sentimento do cliente.

É recomendável evitar o início do tratamento, se parecer provável que as contingências naturais não favoreçam a melhora de um cliente específico. Isto se aplica quando a Regra 4 leva o terapeuta a concluir que a maioria das reações frente ao cliente serão punitivas e que essas reações negativas não se re lac ionam com o problem a do cliente, tal com o “As pessoas reagem negativamente frente à minha pessoa”. O terapeuta pode reconhecer que não gosta do cliente por razões que provavelmente não se modificarão em breve (por exemplo, o cliente desperta no terapeuta as lembranças de um pai adotivo cruel ou um cônjuge que fugiu com o/a amante na semana anterior).

R egra 5: F orneça in terpretações de variáveis que afetam o com portam ento do cliente

Nossa hipótese é que as interpretações comportamentais especificadas pela Regra 5 irão auxiliar na produção de regras mais efetivas (Zettle & Hayes, 1982) e aumentar o contato com as variáveis de controle. Esses aspectos são discutidos com maiores detalhes mais tarde.

Ao se perguntar: “Porque você fez aquilo?”, respondemos com um motivo ou interpretação. Em geral, a razão inclui uma descrição do que fizemos (ou pensamos, sentimos, ouvimos) e uma afirmação acerca das causas. O que fizemos e dissemos a respeito depende, é claro, de nossas histórias pessoais. Do mesmo modo, as observações e interpretações do comportamento feitas pelo terapeuta

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são em função de uma história, o que inclui sua experiência clínica e formação teórica. Entretanto, independente de quem o faça, um motivo é apenas uma unidade de comportamento verbal, uma sequência de palavras. De todo modo, cada terapia parece incluir ensinar ao cliente a atribuição de motivos que, aos olhos do terapeuta, sejam aceitáveis. Especificamente, o terapeuta cognitivista ensina os clientes a explicarem seus problemas e progressos à luz de suas crenças ou supostos, enquanto que o terapeuta da FAP espera que os motivos se reportem à história de reforçamento e variáveis de controle atuais. O cliente da psicanálise, por outro lado, deve atribuir razões em termos de conflitos infantis e memórias reprimidas. A disseminação da atribuição causal em psicoterapia é ilustrada pela descrição que Woolfollt e Messer (1988) fazem da psicanálise: um processo no qual o cliente relata o que ocorreu e fornece explicações, que serão interpretadas pelo analista, acompanhadas por uma explicação diferente. A análise está completa quando as razões tanto do cliente quanto do analista confluírem para o mesmo ponto.

Enquanto terapeutas, esperamos que as razões que fornecemos aos nossos clientes os auxiliem em seus problemas da vida diária. Dependendo da razão fornecida e da história do cliente, é possível, entretanto, não surtir' efeito algum, ou mesmo, se configurar em uni obstáculo paia o cliente. Ao nosso ver, há dois modos pelos quais a atribuição de motivos pode afetar o cliente.

Primeiro, a razão pode conduzir a uma prescrição, instrução ou regra. A interpretação “Você está agindo com sua esposa do mesmo modo como o fez com relação à sua mãe”, pode facilmente ser compreendida como uma prescrição ou regra que o cliente entende como “Não seja injusto com sua esposa; procure tratá-la de outro modo já que, obviamente, ela não é sua mãe. E se você a tratar bem, seu relacionamento conjugal vai melhorai'.” Se a regra ou instrução irá de fato ter alguma valia, dependerá do quão precisa é sua correspondência com o ambiente natural. Por exemplo, imaginemos duas razões que podem ser dadas por uma menina que pegou um biscoito quando não deveria fazê-lo. Uma razão poderia ser “O demônio me obrigou a fazer.” Esta razão não corresponde às condições ambientais que controlaram seu comportamento. Por outro lado, afímiar “Peguei o biscoito porque não comia nenhum há mais de uma semana,” corresponde aos eventos ambientais e sugere possíveis intervenções que poderiam influenciar o roubo de biscoitos (por exemplo, autorizá-la a comer biscoitos mais freqüentemente).

Em segundo lugar, uma razão pode ampliar o contato com as variáveis de controle e aumentai- a densidade do reforçamento positivo e negativo (Ferster,

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1979). Uma analogia com a pesquisa animal pode ilustrar esse princípio. Ratos foram colocados por um certo período de tempo em duas caixas experimentais diferentes nas quais recebiam choques inescapáveis. Em uma das caixas, choques não contingentes foram ministrados em intervalos aleatórios. N a outra caixa, o mesmo número de choques não contingentes foram ministrados, mas cada choque foi antecedido por uma luz de aviso. Quando lhes era dada a possibilidade de escolher, os ratos invariavelmente preferiam a condição sinalizada. O mesmo dado foi obtido com alimento sinalizado e não sinalizado. As escolhas dos ratos indicaram que um sinal auxiliou a melhorar sua experiência. Do mesmo modo, um a interpretação poderia sinalizar eventos para os humanos.

Por exemplo, um a cliente aprende durante a FAP que a razão pela qual sente-se, às vezes, rejeitada durante a sessão é função da atenção do terapeuta e mais, que esta atenção se relaciona com o quão perturbado ou com pressa o terapeuta pareça estar no início da sessão. Tal interpretação poderia aumentar a chance da cliente observar o hum or do terapeuta no início da sessão e afetar significativamente a sua experiência frente a um lapso de atenção por parte do terapeuta. Disso resulta que a cliente estabelece um melhor contato (ela observa quão perturbado está o terapeuta) e experiencia a desatenção do terapeuta como sendo menos aversíva.

Especificações de Relações Funcionais

O repertório verbal a ser desenvolvido por terapeutas envolve afirmações que relacionam eventos durante a sessão por meio de símbolos como S d R -4 Sr. Isto representa um comportamento operante no qual 1) o Sd é o estímulo discriminativo ou a situação antecedente cuja influência sobre a ocorrência dei? varia com a história de reforçamento; 2) o R é a resposta ou comportamento operante influenciado pelo Sd; e 3) Sr é o reforçamento ou efeito da resposta no ambiente.

Por exemplo, “Quando líie perguntei como você se sentiu a meu respeito (o Sd), você me respondeu falando sobre sua experiência na prisão (a R), que é um tópico no qual você sabe que eu tenho interesse. Eu recompensei sua esquiva discutindo sobre a prisão e não sobre seus sentimentos a meu respeito (o Sr).” Em geral, é preferível utilizar a linguagem cotidiana, mas pode-se discutir a conveniência de ensinar ao cliente a linguagem comportamental. Contudo, afirmações parciais de relações funcionais são melhores do que omiti-las (por

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exemplo, “Sempre que lhe pergunto sobre seus sentimentos em relação a mim [Scf], você muda de assunto [/?]”).

Os repertórios da Regra 5 que correspondem ao comportamento que ocorre na sessão são preferidos, se comparados àqueles correspondentes a eventos que ocorrem em outro lugar. Ainda melhores são os repertórios verbais que relacionam variáveis de controle que ocorrem fora da sessão àquelas que ocorrem na sessão, pelo fato de propiciarem a generalização.

No caso a seguir.ilustraremos o uso da Regra 5. Audi, uma lésbica negra, na faixa dos vinte anos, buscou terapia com o segundo autor porque desejava “modificar padrões antigos que me impedem de aproximar-me das pessoas.” De início, ela tinha dificuldade de falar sobre seus sentimentos e de demonstrar qualquer tipo de afeto na terapia e descrevia ter comportamento similar em outros locais. Com cerca de seis meses de tratamento, no intervalo e n te uma sessão e outra, Andi espontaneamente começou a me escrever lembretes com uma expressão mais afetiva. Considerando a escassez de expressão de Andi nas sessões, fiquei encantada, li e respondi as anotações, as quais aumentaram em freqüência e tamanho. Estava ciente (Regra 1) da possibilidade de que as anotações fossem um passo na direção certa, em term os do desenvolvimento de relações de intimidade (CRB2) e sabia que o conteúdo das anotações incluía descrições de variáveis de controle (CRB3).

Após um ano de terapia ela escreveu: “Estou apavorada pela dependência que estou sentindo. Não imagino você fora da minha vida. Uma coisa é tomar- me dependente da terapia, mas pior é depender de uma pessoa específica, a terapeuta. E mais, terapeutas existem em todos os lugares, mas não há muitas terapeutas feministas nascidas no Terceiro Mundo, situadas politicamente à esquerda do liberalismo, que compreendem a comunidade lésbica e que gostam da maneira como escrevo.”

O diálogo abaixo ocorreu na sessão seguinte:

T: E tudo verdade, mas você deixou de lado o fato de que nosso relacionamento é especial e único e que eu realmente me importo com você. (Eu sabia que este é um estímulo discriminativo [SW] para o tipo de comportamento de intimidade ausente em Andi [CRB2] e que evoca a esquiva bem como as dificuldades na manutenção de relacionamentos de intimidade [CRB1]).

C: Muitas pessoas se importam comigo, mas aquelas características a diferenciam. (Andi respondeu de uma maneira que me desconsiderou; eu provavelmente estava

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na posição que outras pessoas candidatas ao relacionamento íntimo estiveram, quando expressaram se importarem com Andi - um CRB1),

T: Eu me sinto diminuída quando você afiima isso.

Andi estava visivelmente chateada com esta reação. Descrevi então aspectos importantes da relação funcional “Andi, quando disse que realmente m e importava com você e quis reiterar meus sentimentos, você reagiu de uma maneira impessoal. Esta reação puniu meu comportamento de lhe contar o quanto m e importo com você e fez com que eu sentisse que meus sentimentos não eram relevantes. Acho que sei porque você reagiu deste modo, você não quer que eu cultive meus cuidados e sentimentos positivos com relação a você.”

Andi discorreu sobre este tema e descreveu como, em geral, lhe era difícil escutar m ensagens carinhosas, de elogio ou sintonizadas com seus sentimentos - um padrão que interfere na aproximação de pessoas.

Ênfase nos processos comportamentais

Como um a estratégia geral, o terapeuta reinterpreta as afirmações do cliente em termos de relações funcionais, um a história de aprendizagem e comportamento. Tais interpretações comportamentais enfatizam a história e reduzem a importância de entidades mentalistas e não-comportamentais. Isto é importante para o cliente porque dirige sua atenção aos fatores que acabam gerando as intervenções terapêuticas.

Por exemplo, Angela, em tratamento com o primeiro autor, não confiava em si mesma, possuía baixa auto-estima, sentia-se insegura nos relacionamentos e com dificuldade para pedir aos outros o que desejava deles.

C: Eu sinto que eu não tenho direito de existir. É como se eu não devesse viver, comigo tudo dá problema. Eu acho que fui covarde como um rato. Quando aprendi a dirigir eu congelava na minha vez de atravessar um cruzamento. Eu achava que eu nunca tinha o direito de me meter entre os carros. Isto ainda me é um pouco traumático, embora eu já tenha melhorado um pouco. De qualquer modo, tudo isso já me indica que alguma coisa está errada. .Mas e agora? [pausa longa] (A maior parte destas descrições, especialmente a da encruzilhada, poderia indicar

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como Angela se sente agora, ao se relacionar comigo. Ver o Capítulo 3 sobre análise do comportamento verbal do cliente.)

T: Eu não sei. Eu posso te apresentar meus pensamentos ou você poderia escolher um rumo a seguir. (Estou possibilitando amplificar minhas reações privadas.)

C: Ah! Mas eu não tenho um rumo.

T: Você quer que eu te conte quais são meus pensamentos?

C: Ou você poderia escolher um rumo. (A expressão facial e o tom de voz indicam que ela não quer saber de meus pensamentos.)

T: É verdade, eu poderia escolher um ramo. Me parece que a idéia de lhe contar quais são meus pensamentos não lhe ateai. Acho que você não gosta dessa idéia. Você poderia me falar mais a respeito? (A esquiva de Angela de ouvir meus pensamentos é um CRB1 porque relaciona-se às dificuldades que possui para manter relações de proximidade.)

C: Bom, acho que é um tipo de... acho que não... acho que não é meu jeito. Sabe de uma coisa? Eu acho que eu fico dando voltas ao redor mas meio que não fico...

T: ...pessoal?

C: (acenando com a cabeça) Hu-hum. Eu meio que escolho ficar na superfície.

T: Veio alguma coisa agora na tua cabeça quando eu falei que podia te contar os meus pensamentos? Alguma idéia despertou na tua mente?

C: Foi uma coisa meio idiota. Eu penso como se fosse um desses pontos meio que perigosos, sabe como é? Eu simplesmente recuo. Eu acho que não é uma boa idéia. Quer dizer, às vezes é uma boa idéia, eu acho, mas nem sempre. Talvez algumas vezes. Acho que eu não quero responder à tua pergunta. (Uma descrição de um Sã aversivo e um CRB de esquiva da intimidade, da confiança, do escutar o desejo dos outros.)

T: Hu-hum. Ok, então eu quero te contar os meus pensamentos. Quando você disse que não tinha direito de existir, eu me lembrei do quanto sua mãe ficou chateada quando você caiu no riacho porque isto a incomodava. Este foi mais um exemplo de como ela te ensinou a não ter o direito de existir, de causar qualquer transtorno a alguém. (Uma interpretação baseada na história de aprendizagem e a definição de “não ter o direito de existir” em termos de não se engajar em comportamentos que causassem problemas aos outros.)

T: Nós nos confrontamos aqui quando você não queria de forma alguma que eu ficasse em apuros ou que eu saísse do meu rumo para caminhar em direção ao seu, ou

' ainda, que eu, de alguma forma, me acomodasse a você. Isto é parecido com a encruzilhada. Você não quer que os outros tenham que esperai'. Se eles quiserem

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seguir, não deveriam ser impedidos de fazê-lo. (Estou fazendo um paralelo entre a vida diária e a relação cliente-terapeuta apontando a contingência de evitar causar problemas.)

T: Então, este é um tipo de idéia sobre como eu acho que você funciona. E uma outra coisa que eu pensei é o quanto parece que eu sou importante para você, você me tem em alta conta. De fato, acho você maravilhosa e mesmo quando eu me permito contar isto, minhas palavras não parecem ter algum impacto sobre você. Eu acho que você não querer conhecer meus pensamentos tem algo a ver com isto. De alguma maneira você não entra em contato com isto. É teu jeito de ser. Bom, isto é o que eu penso. (Deste modo teve inicio uma ampliação do comportamento privado e se introduziu na sessão uma situação de vida diária na qual recebe feedback positivo e o carinho dos outros sem ser muito influenciada por isto. É também uma tentativa de redefinir o problema em termos comportamentais, um comportamento de esquiva difícil de descrever. A interpretação pode ser vista como uma regra encoberta: “não faz sentido você reagir frente a mim como o fez em relação à sua mãe”.)

C: Tá bom, considerando que eu deveria acreditar em você e não na minha mãe, eu não sei como fazer isto. (Seria apropriado fornecer aqui uma interpretação comportamental de sua experiência de “não saber como fazer isto”, que corresponde à diferença entre comportamento modelado pela contingência e comportamento governado por regra, tal como é discutido no Capítulo 5. A interpretação enfatizaria que o problema não é como acreditar em mim mas sim a emissão e o reforçamento do novo comportamento de ser assertiva e causar algum problema.)

EX E M PL O DE CASO C L ÍN IC O

Gary buscou terapia com o primeiro autor devido a uma história de relacionamentos pessoais que começavam bem mas tomavam-se, algum tempo depois, superficiais e pouco satisfatórios, terminando em função dos sentimentos “ruins” que surgiam. Além disso, ele apresentava, há um longo tempo, uma depressão que flutuava em função da qualidade dos relacionamentos interpessoais do momento. Atualmente ele estava envolvido num relacionamento importante com um a mulher, o qual parecia seguir o trágico destino dos relacionamentos anteriores.

Gary parecia afetivo e cativante, não aparentando qualquer dificuldade para se relacionar comigo nos estágios iniciais da terapia. De início, coletou-se

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a história e o tratamento incluiu intervenções diretivas tais como: terapia racional- emotiva. ensaio comportamental e terapia conjugal, O contrato inicial de 10 sessões foi ampliado para 20. ao longo de um período de nove meses. Nesta primeira fase da terapia, as discussões sobre o problema de Gary centravam-se no comportamento atual ou remotamente distante ocorrido fora da sessão. Identificou-se que seu problema teve origem nos primórdios da infância. Tais discussões lhe auxiliaram a alinhavar um repertório verbal razoavelmente plausível, correspondente à relação entre sua história de vida e as variáveis de controle atuais que afetavam seu problema clínico.

Deste modo, ao térm ino de 20 sessões, Gary aprendeu que seus relacionamentos pareciam azedar quando ficava chateado ou irritado com sua p a rc e ira , sem d isc u tir suas p reo cu p açõ es com e la . E le se to rn av a progressivamente mais deprimido, a parceira reciprocamente retribuía com depressão ou raiva e, por fim, ocorria o rompimento. No início do tratamento, Gary concordou em expressar seus sentimentos negativos para sua namorada. Ele concordou porque sentiu que, se não o fizesse, incidiria numa falta de abertura, a qual fomentaria sentimentos ruins e uma óbvia deterioração do relacionamento. Embora Gary estivesse consciente do problema e tivesse se submetido à terapia cognitiva, ao ensaio comportamental e à terapia de casais, todas com o objetivo de tentar resolver o problema, mesmo assim ele não conseguiu expressar adequadamente os sentimentos negativos e o relacionamento chegou ao fim tal como os anteriores.

A cada sessão subseqüente ao rompimento, Gary parecia mais reticente e deprimido. Perguntado sobre sua crescente depressão, Gary afirmou que ela devia-se ao luto pelo relacionamento perdido e sua inadequação pessoal. Eu também observei que, nas sessões, houve piora na gravidade da depressão e, por isso, focalizei o tratamento em seu estado depressivo, nos pensamentos próprios negativos e na desesperança de viver um relacionamento bem sucedido.

Com a aplicação da Regra 1, hipotetizei que os problemas de Gary se manifestavam na sessão. Ao perguntar ao cliente se estava bravo comigo ou se havia qualquer sentimento negativo, ele negava e afirmava que seu estado reticente e a depressão não tinham nada a ver comigo. Embora não estivesse completamente convencido, abandonei temporariamente o tema da relação terapêutica e me centrei na terapia comportamental para depressão. Entretanto, o meu desconforto foi aumentando progressivamente durante as sessões e encontrei dificuldades para dar seguimento à interação. Da parte de Gary, ele parecia estar se tornando mais deprimido ainda. Quando sugeri que Gary fosse a um médico para se

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avaliai" a possibilidade de medicação anti-depressiva, ele explodiu num discurso raivoso dizendo que os médicos nunca sabiam o que estavam fazendo e que causavam mais malefícios do que benefícios.

H ipotetizando que os comentários de Gary sobre os médicos foram estim ulados por sua reação a mim, (ver Capítulo 3, Causas Múltiplas), teci a seguinte interpretação comportamental (Regra 5):

Ti Parece que está acontecendo agora - o seu problema, quero dizer. Nossa relação começou de maneira legal, muito descontraída e aberta. Você não tinha dificuldade em me contar sobre seus sentimentos e problemas e eu esperava ansiosamente por nossas sessões. A forma como nossa terapia começou, se assemelha à forma como a maioria de seus relacionamentos passados começaram. Então, as coisas foram se tornando ruins. Você não conseguia expressar em voz alta para Joyce os seus sentimentos negativos, apesar de termos tentado várias abordagens terapêuticas. O seu relacionamento terminou. Voeê foi ficando deprimido e menos aberto em nossas sessões. Isto foi piorando gradualmente até o ponto atual - você tem muito pouco a dizer e eu estou achando as sessões frustrantes, porque eu não sei o que fazer para ajudar.

C: É similar ao que aconteceu no passado e eu ando pensando em terminar. (Uma evidência adicional de que está acontecendo um CRB1.)

T: Então nosso relacionamento está mesmo destinado ao passo final que parece ter ocorrido tão freqüentemente no passado. Ele chega ao fim deixando um sabor amargo. (Para uma comparação entre comportamento intra-sessão e na vida diária, ver Capítulo 3.)

C: Eu me sinto deprimido e mal com isto tudo. É o que sempre acontece e eu me frustro porque não sei o que fazer.

T: Ótimo, agora você tem uma chance de modificar o nosso relacionamento e não se sentir mal ou frustrado. Ou você deixa nosso relacionamento terminar como os outros e você continua infeliz e deprimido ou você pode agir de outro modo e talvez sentir-se melhor.

C: O que você quer dizer com agir diferente? Eu não sei como fazer isto.

T: Baseado no seu padrão passado, devem existir sentimentos negativos e/ou hostis em relação a mim.

Ci Tudo o que eu sei é que estou deprimido e quero ajuda porque me sinto mal. (Esquiva do CRB1.)

T: Você não respondeu à minha pergunta. Eu disse que eu achava que você tinha

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sentimentos negativos ou hostis em relação a mim. (Regra 3, bloqueio da esquiva.)

G Eu não tenho, vamos falar da minha depressão. (Esquiva do CRB 1.)

T: Acho que você está evitando alguma coisa relacionada a mim que lhe incomoda. Quando você começou a terapia, eu disse que tentaria lhe ajudar. Agora você me pede ajuda e eu tento conduzi-lo a um tema que você não acha que esteja relacionado e tenta mudar de assunto. (Regra 2, apresentando a situação evocadora - estou novamente tentando ajudar agora, o que já não funcionou anteriormente; levanta- se a hipótese de que o insucesso de minhas intervenções anteriores em ajudar evocou em Gaiy sentimentos negativos e a esquiva subseqüente. Aqui são também demonstradas a Regra 3, bloqueio da esquiva, e a Regra 5, uma inteipretação comportamental.)

C: Eu fiz tudo que você me pediu para fazer e, mesmo assim, Joyce me abandonou. (CRB2)

T: Você fez o que pedi, Joyce o abandonou e ...

C: E você não me ajudou como prometera. (CRB2, a primeira vez na qual uma queixa é diretamente expressa a mim.)

T: Eu tentei, mas não deu certo, e você fez tudo o que eu pedi. Eu me sinto mal com isso e me pergunto o que eu deveria ter feito diferente para que Joyce e você pudessem permanecer juntos. Acho importante você ter trazido isto à tona, e quero desta vez ver o que pode ser feito. (A Regra 3 está sendo seguida, ou seja, o refòrçamento natural de uma queixa é levá-la a sério e tentar fazer algo a seu respeito. Em sessões subseqüentes, observei em Gary um aumento de expressões de insatisfação com a terapia e comigo, Regra 4.)

O relacionamento terapêutico intensificou-se após este ponto com um aumento das expressões de reações emocionais entre Gary e eu. Na medida em que as sessões centraram-se quase que exclusivamente no nosso relacionamento, Gary revelou mais detalhes sobre seu desapontamento para comigo e falou sobre temas correlatos à questão da confiança. Sentimentos positivos de carinho e afeto foram também manifestados. Os C R B ls de esquiva anteriores surgiram em menor freqüência, mas sempre que detectei a incidência de um deles,, fiz o bloqueio e favoreci o desenvolvimento, em Gary, de um novo repertório de expressão aberta de sentimentos negativos referentes à confiança, desapontamento e raiva. Gary tomou-se capaz de observar o comportamento clinicamente relevante no momento em que ocorria (CRB3), o que por sua vez produziu um relacionamento terapêutico de maior qualidade. Os repertórios desenvolvidos na terapia foram prontamente transferidos para o ambiente externo, e Gary relata estar vivendo a mais satisfatória relação íntima que jam ais experienciou.

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3Supíementação

Aumentando a capacidade do terapeuta para identificar comportamentos clinicamente relevantes

A funcionalidade terapêutica nasce da detecção daqueles comportamentos do cliente que são exemplos de comportamento clinicamente relevante (CRB). Temos observado que, quanto mais CRBs forem detectados, mais profunda, intensa, emocional e fascinante é a terapia. Assim, há lugar na FAP para qualquer método ou conceito que possa auxiliar a detecção de CRB, especialmente porque as ocorrências destes comportamentos durante as sessões não são, de um modo geral, facilmente identificadas. Como os CRBs são variáveis fracas no controle das observações por parte do terapeuta, elas geralm ente requerem um a supíementação (Skinner, 1957) com o intuito de aumentar o seu poder de controle. Nas próximas seções (Classificação de Comportamento Verbal e Situações Terapêuticas que Evocam CRBs), nosso objetivo é oferecer suplementos para aum entar a capacidade e competência do terapeuta em observar os CRBs, também chamados algumas vezes de sensibilidade ou insight.

C L A SSIFIC A Ç Ã O B E C O M PO R TA M EN TO VERBA L

Como acontece em todo campo de trabalho humano, um sistema de classificação ou taxonomia estimula uma observação mais minuciosa. Por exemplo, uma garotinha que aprende a classificar insetos procurará e observará mais insetos,

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52 Capítulo 3

e quando os encontrar, certificar-se-á quanto ao número de patas dos mesmos. Da mesma forma, nós propomos um sistema de classificação que aumente a observação do CRBs. A classificação de comportamentos verbais ajuda a aumentar a competência do terapeuta na observação de CRB. de duas maneiras. Primeiro, ela descreve o tipo de afirmações do cliente que levam à detecção do CRB. Depois, ela se firma na noção de que toda vez que o cliente fizer uma declaração, é possível que um CRB tenha ocorrido - mesmo que isso não seja facilmente identificável.

O exemplo a seguir dem onstra como o uso de nosso sistema de classificação pode conduzir a uma produtiva intervenção terapêutica. Uma sessão com Karen, que foi tratada pelo primeiro autor, começou com:

T: Como foi sua semana?C: A semana passada foi muito ruim, eu tomei uma multa de $ 108 [suspiro] por

licença vencida.

Nosso sistema de classificação verbal me levou a considerar que havia algo na resposta de Karen além do aparente à primeira vista. Baseado no meu conhecimento de Karen, algumas possibilidades me vieram à mente:

1. Ao receber a multa, ela foi pega em flagrante; talvez, seja assim que ela vê a terapia e por conseguinte, reage à m im como se estivesse com o policial.

2. Talvez ela esteja preocupada com o custo da terapia e o pagamento de suas contas.

3. Ela está obviamente aborrecida com a multa e talvez seu comentário realmente indicasse “por favor, ajude-me a me sentir melhor!”

4. Ela pode ter mencionado esse problema por não ter feito a tarefa de casa que eu lhe dei, e o fato de trazer o assunto da multa à tona pode ser um a maneira de evocar solidariedade ou desviar a atenção do assunto temido.

5. Talvez ela tenha visto um policial logo antes da sessão ou notado que havia uma passagem aérea sobre a mesa da recepcionista ao passar por lá.

Eu então passei a checar algumas dessas hipóteses, e é assim que ela reagiu quando eu perguntei sobre a conta:

T: E quanto à nossa conta, você está preocupada com ela?

C: Não, porque meu seguro tem $100 dedutíveis, que eu já uséi em medicamentos. Isso então cobre o dedutíve] e eles me asseguraram que as primeiras 10 sessões já

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Suplementação 53

estão pagas. Eu não estou certa sobre o que acontece depois disso, m as eles têm sido m uito bons.

T: À razão pe la qual eu estou abordando esse assunto é que estou ten tando descobrir o que incom oda você no fato de m e dever algum dinheiro.

C: E u não gosto de dever d inheiro a ninguém .

T: E u sei, m as vam os nos ater ao nosso assunto específico . O que incom odaria você?

Ci E u tenho pen sad o m uito n isso , e u m a nota de d ó lar m e vem à m ente toda v ez que eu passo pe la porta.

Essa última declaração apoiou a hipótese de que a preocupação de Karen em relação às contas se manifestou em seus comentários sobre o incidente da multa. Mais importante, entretanto, é que minha hipótese quanto aos significados “ocultos” me levou a descobrir que Karen se preocupava com o fato de me dever dinheiro da mesma maneira, que a preocupava dever para qualquer outra pessoa. Sua preocupação e ansiedade em relação a várias contas não pagas fôra o foco da terapia de reestruturação cognitiva em sessões anteriores e ela se esquivou de trabalhai- mais este assunto, dando a entender que esse já era um problema superado. Conforme está indicado na transcrição, ainda representava um problema. Sua falta de consciência e modo indireto de lidar com esse problema durante a sessão, no entanto, se assemelhavam ao modo inadequado de conduzir sua vida cotidiana. A identificação deste CRB1 alertou-me para um a abertura terapêutica. Ali estava um a oportunidade in vivo de bloquear a esquiva de Karen e encorajar maneiras mais adequadas para o encaminhamento do problema. Durante os seis meses seguintes, Karen desenvolveu repertórios melhores para lidar com o problema das contas por meio do aprendizado de como lidar com a sua dívida comigo. Isto também propiciou o trabalho terapêutico sobre um problema mais abrangente, relacionado às suas respostas a outras pessoas quando sentia que estava sendo negativamente avaliada.

Alguns de nossos leitores podem estar se perguntando se a nossa especulação sobre os significados ocultos se encaixa na esfera do behaviorismo, e mais ainda, podem desconfiar de sua similaridade com a Psicanálise. Mais tarde, quando explicarmos nosso sistema de classificação de comportamento verbal, mostraremos como a teoria behaviorista radical leva a este tipo de atividade interpretativa. Mas, por enquanto, a inclusão dos significados ocultos na teoria behaviorista radical será ilustrada pela história do desafio amigável feito ao behaviorismo por Alfred North WhiteheacL Em um jantar com Skinner em 1934,

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54 Capítulo 3

Whitehead disse a ele, “Vamos ver sua resposta ao meu comportamento, quando, sentado aqui, eu digo ‘nenhum escorpião preto está caindo nessa mesa’ Na manhã seguinte, Skinner começou a escrever Comportamento Verbal - um relato comportamental sobre a linguagem. No epilogo desse livro, que levou 23 anos para ser concluído, Skinner esquematizou os princípios comportamentais nos quais a afirmação de Whitehead se basearia. Uma das conclusões foi a de que o significado do “escorpião preto” de Whitehead era behaviorismo. A interpretação de Skinner derivou-se da sua teoria contextuai do significado, a qual forma o centro da proposta behaviorista para a linguagem. Uma vez que Skinner, um behaviorista declarado, usou princípios comportamentais paia revelar o significado oculto de uma declaração feita 23 anos antes, parece correto argumentar que tal esforço pertence à esfera do behaviorismo. De fato, o terapeuta se encontra em uma posição mais cômoda que Skinner para fazer interpretações sobre os relatos do paciente fundamentadas na teoria comportamental, já que ( 1 ) elas podem ser feitas imediatamente após a ocorrência dos relatos, (2 ) o terapeuta está em contato mais direto com as circunstâncias que rodeiam o relato, e (3) o terapeuta continua a interagir com o cliente, e pode obter informações adicionais que legitimem a sua interpretação.

A pesar desta atividade interpretativa se parecer com a atividade psicanalítica, há profundas diferenças quanto às implicações clínicas e aos pressupostos básicos. Acima de tudo, o terapeuta comportamental deve se manter humilde, tendo sempre em mente que suas interpretações são apenas hipóteses. Além disso, a validade de suas inteipretações é difícil de ser avaliada pois as variáveis de controle não podem ser isoladas em uma situação de laboratório. A teoria behaviorista sugere que os significados ocultos (na verdade, causas ocultas e variáveis de controle) estão no ambiente circundante, não são necessariamente relevantes do ponto de vista clínico, e não são o resultado de alguma coisa dentro da pessoa que luta para se expressar. Nossa visão dos comportamentos verbais do cliente sugere que inteipretações psicanalíticas são úteis quando permitem que o analista obseive CRBs. Como a FAP é especificamente planejada para aumentar a observação de CRBs, o desempenho desta tarefa se tom a mais eficiente.

O S is te m a d a F A P de C la ss if ic ação d as R e sp o s ta s d o C lie n te

As respostas ou o comportamento verbal do cliente podem se constituir em dicas para que o terapeuta utilize o sistema de classificação da FAP de forma a chegar às possíveis causas deste comportamento enquanto ele está

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Suplementação 55

ocorrendo. O sistema de classificação da FAP é baseado em conceitos do Comportamento Verbal (1957) de Sldnner. Um livro freqüentemente criticado' mas raramente lido, é uma rica fonte de conceitos que podem ajudar a detectar CRBs na situação terapêutica. É um livro de leitura difícil e os conceitos não são de fácil compreensão. Por havermos usado alguns dos conceitos de Sldnner, e apesar de termos feito um esforço para tomai' nossa classificação compreensível, ela pode estar além do interesse de muitos de nossos leitores. Então, aqueles que não estão interessados em aprender o sistema de classificação em detalhes nesse momento, consultem a próxima seção, que resume as suas implicações. Em seguida, pule os detalhes de classifícáção e vá direto à seção Situações terapêuticas que fi~eqüentemente evocam CRB.

Im p lica çõ es do S is te m a d e C lassificação de R esp o sta s p a r a a F A P

As sugestões dadas abaixo agilizam o desenvolvimento da relação terapeuta-cliente e dos CRBs, assim como fazem deles um objetivo da interação terapêutica.

1.Encorajar e reforçar as descrições do cliente que se relacionam a estímulos presentes no ambiente terapêutico. Aqui inclui-se qualquer comentário ou descrição sobre o terapeuta, a relação terapêutica, sentimentos sobre a terapia (eficiência, preço, qualidades, defeitos, etc.), diálogos anteriores ou outros eventos ocorridos durante a sessão, como se sentem ao vir para as sessões, qualquer sentimento que tenham experimentado durante a sessão, o conforto ou desconforto da cadeira, da luz, e assim por diante. São exemplos de questões e afirmações foimuladas pelo terapeuta que possibilitam o relato dessas descrições por parte dos clientes: “Como se sentiu ao vir para cá hoje?”; “Como se sentiu após nossa última sessão?”; “Como se sente em relação à terapia?”; “O que você acha que eu penso de você?”; “Sobre o que está pensando?”; “Estou incomodado com sua hostilidade para comigo.”; “Estava imaginando se você acha que estamos fazendo progressos suficientes”; “Estive pensando no que ocorreu durante nossa última sessão.”

2.Encorajar com parações controladas p o r eventos ocorridos na terapia e na vida cotidiana. São exemplos de relatos de clientes que se* Mais conhecida foi a revisão de Chomsky (1959), aceita por muitos como a critica definitiva que desacreditou

o Comportamento Verbal. Grande parte da revisão de Chomsky, entretanto, refere-se ao behaviorismo metodológico, que Skinner rejeitou veementemente e que portanto não era a abordagem utilizada no Comportamento Verbal.

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56 Capítulo 3

enquadram aqui: “A ansiedade que estou sentindo agora é parecida com a que eu sinto conversando com a diretoria.” ; “Você me lembra muito meu p a i” : “Você é como todos os outros - não se pode confiar em você.” ; “Esse é o único lugar onde me sinto seguro.”

Exemplos de questões terapêuticas e interpretações que estimulam esse tipo de comparações: “O que acaba de ocorrer é o mesmo que acontece quando você vê sua mãe?”; “De que modo o jeito como se sente agora se assemelha ao que você sentiu no trabalho?”; “Você pode comparai' seus sentimentos em relação a mim com outra pessoa muito próxima a você?” ; “O jeito que você reagiu quando eu disse que me importava com você parece com o jeito com que você diz agir quando outra pessoa mostra afeição por você.”

3.Encorajar desejos, sugestões e pedidos diretos. Exemplos deste tipo de resposta são: “Por favor, me ajude a superar essa ansiedade.” ; “Eu preciso de mais atenção”; “Eu não quero me lembrar de minha infância.” ; “Você poderia reduzir o valor da sessão?”.

Os terapeutas podem encorajar os pedidos de clientes dizendo: “É permitido e desejável que você queira e peça o que quer de mim. Eu levarei em consideração todos os seus comentários, mesmo que não seja possível para mim fazer tudo conforme o seu desejo.” Imitar este tipo de comportamento para os clientes é bem saudável. Exemplo: “Eu gostaria que você chegasse no horário.”, e “Eu gostaria de conversar sobre seus débitos para comigo” .

4. Use as descrições dos eventos da vida cotidiana do cliente como metáforas para eventos que tenham ocorrido em sessão. De acordo com os princípios do Comportamento Verbal, qualquer resposta do cliente pode ser determinada por múltiplos fatores; ou seja, podem haver m otivos ocultos (variáveis de controle menos explícitas) que o próprio cliente desconhece. Sugerimos então que você levante algumas hipóteses sobre quais poderiam ser esses eventos na sessão e se são clinicamente relevantes. Por exemplo, um cliente relata o quão incompetente seu dentista é. O terapeuta pode responder, “Eu me pergunto se você está preocupado com o meu conhecimento acerca do meu trabalho”, ou, no caso de um tratamento recém-iniciado, “Você acha que os psicólogos sabem o que estão fazendo?” .

O terapeuta pode também especular se a m etáfora é mais que uma mera descrição de eventos ocorridos na sessão. Pode ser um pedido disfarçado e o terapeuta pode fazer suposições sobre quais reforçadores ocultos podem estar

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Suplementação 57

envolvidos Por exemplo, se o cliente descreve o quão insatisfatória foi a semana e o quão infeliz ele tem estado, isso poderia ser compreendido como um pedido encoberto com reforçadores ocultos de solidariedade, e para que o terapeuta não force muito durante a sessão.

Motivos ocultos podem também ser entendidos como apelos diretos. Por exemplo, o pedido do cliente de terminar a terapia poderia ser reforçado pela esquiva de um conflito, decorrente de se sentir atraído sexualmente pelo terapeuta.

C la ss ifica n d o o c o m p o rta m en to verbal

A abordagem de Skinner não se parece com nenhum outro sistema de classificação lingüística porque classifica o que é falado com base nas causas mais do que em sua forma ou formação fonética. Apesar de haver muitos níveis de causas*, aquelas às quais nos referimos aqui são simplesmente estímulos discriminativos que ocorrem antes das respostas e estímulos contingentes que ocorrem logo após. O primeiro grupo tem ênfase na definição do “tato” e o segundo no “mando”. Esses dois termos, tato e mando, exercem o papel central do nosso sistema de classificação e se referem a comportamentos verbais que diferem um do outro em suas causas.

U m a visão geral do processo de classificação é representada na Figura1 . O processo começa com a classificação da resposta do cliente como tato (quadro 1), um m ando (quadro 3), ou um intraverbal (quadro 4). N ós visualizamos o sistema de classificação apresentado aqui como uma introdução ao uso dos princípios do com portam ento verbal de Skinner na situação terapêutica. Para efeitos práticos, limitamos arbitrariam ente o número de conceitos de com portam entos verbais aos três citados acima, porém não exaurimos as implicações da abordagem. Ainda que uma aplicação mais completa do comportamento verbal pudesse adicionar muito mais ao processo terapêutico, sua discussão está além dos objetivos deste livro.

L O tato. Um tato é definido como um a resposta verbal que está sob controle preciso de estímulos discriminativos, e é reforçado por reforçadores

’ D o ponto de vista behaviorista, há ( l ) contingências de causas de sobrevivência (causas evolucionárias ou de constituição); (2) contingências de sobrevivência cultural (práticas culturais); e (3) contingências de refo rçam ento (Skinner, 1974).

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Supíementação 59

secundários generalizados. Por exemplo, se lhe mostram uma bola vermelha e perguntam, “O que é isso?” e você diz, “Uma bola vermelha”, você estaria ’’tateando” pois a forma de sua resposta (“bola vermelha”) é controlada pelo objeto e é reforçada por um reforçador condicionado generalizado, como “uh- huh”, “certo”, ou “obrigado”, ou qualquer outra resposta que indique que você foi compreendido. Note que a contingência ou reforçador é amplo e geral, ao passo que o estímulo discriminativo inicial (Sd) é específico.

O tato é, assim, produzido pela presença de um estímulo particular (no caso, um a bola vermelha) e uma audiência (o terapeuta ou um parente). Os tatos, neste sentido, assemelham-se à noção de rótulos ou nomes. Entretanto, como os termos rótulo ou nome sugerem a idéia de representação simbólica, usamos “tato” ao invés de “rótulo” para reforçar essa diferença. Do ponto de v is ta co m portam en ta l, as p a lav ras “bola v e rm elh a” não rep resen tam simbolicamente nem significam o objeto, assim como a pressão à barra por ratos não representa ou significa um a luz sinalizadora amarela numa caixa de Skinner. O problema com um a palavra que “representa” ou “simboliza” um objeto é que em seguida dever-se-ia explicar qual o significado destes dois termos para que houvesse a compreensão da resposta verbal. Por outro lado, ao dizermos que o tato é “controlado” por um estímulo discriminativo inicial, podemos explicar um comportamento simplesmente nos referindo ao processo de discriminação delineado. Este processo abrange o significado comum de “simbólico” ou “quer dizer” alguma coisa. Isso não significa, no entanto, que nós aceitamos as palavras de nossos clientes como verdade absoluta. Nossa posição, exemplificada no caso da multa de $108, nos conduz a uma visão bem divergente.

A localização do estímulo discriminativo (Sd) que controla o tato é importante na classificação da FAP do comportamento verbal. Do ponto de vista terapêutico, o mundo pode ser dividido em dois tipos de Sds - aquele localizado nas sessões de terapia ou aquele da vida cotidiana do cliente. Os dois tipos de Sds são mostrados na Figura 1, no quadro 6 (SdVc) para a vida cotidiana, e no quadro 7 (SdT) para terapia. Uma categoria final, reservada para os tatos evocados pelos Sds localizados tanto na terapia quanto na vida cotidiana, é mostrada no quadro 8 (SdTVc). Então, se a situação da “bola vermelha” ocorreu durante a sessão terapêutica, o tato “bola vermelha” foi motivado por um SdT um a vez que a bola vermelha estava localizada na sessão terapêutica.

Uma cliente que descreve uma briga com seu marido está emitindo um tato sob o controle de um estímulo discriminativo localizado em sua vida cotidiana (isto é, um SdVc, mostrado no quadro 6). Um a cliente falando sobre uma

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60 Capítulo 3

discussão com seu terapeuta está sob controle de estímulos localizados 110 ambiente terapêutico (ou seja. um SdT localizado na quadro 7). A mesma cliente que diz que sua briga com o marido é semelhante à sua discussão com 0 terapeuta está fazendo um tato sob 0 controle de estímulos localizados na terapia e 110 ambiente da vida cotidiana, e é mostrado no quadro 8 (denominado SdTVc).

O foco inicial da FAP está em respostas controladas por estímulos ocorridos durante a sessão terapêutica. Assim, 0 terapeuta da FAP (1) fica alerta e (2) encoraja respostas controladas por SdT e SdTVc. Identificar essas respostas, aquelas controladas por S d T e SdVc, ajuda claramente na determinação de quais respostas do cliente são mais importantes. Por exemplo, aponta as respostas mais importantes entre aquelas emitidas por Andréa, uma cliente cujo problema era uma infelicidade crônica e fobia social. Aqui estão suas declarações no início de uma sessão:

1. “Hoje eu perdi a calma, porque fui chamada e me disseram que eu tinira que estar em Boise semana que vem para uma entrevista de emprego de secretária. E eu não sei se posso fazer isso, eu não sei se posso conseguir isso.”

2. “Quando saí daqui semana passada, eu me senti leve. Eu me senti realmente bem e não sei 0 porquê.”

3. “Eu até mesmo tinha que marcar a entrevista de modo que não interferisse com 0 horário da minha medicação. E isso me fez sentir estúpida. Eu imaginei 0 que aconteceria se eles soubessem, se eles soubessem que eu não poderia estar lá ao meio-dia porque teria que interromper 0 encontro para tomar minha pílula.”

4. “Se eles descobrissem que estou tomando tranqüilizantes, eles não iriam querer me contratar.”

Essas respostas seriam classificadas como tatos óbvios, mas apenas uma, a resposta 2, é controlada por um estímulo dentro da sessão - um SdT. E, aliás, a resposta mais relevante do ponto de vista clínico (assumindo que todas estão igualmente relacionadas ao seu atual problema).

Lembre-se que um tato ocorre simplesmente devido à presença de um estímulo. Essa característica do tato é particularmente importante para a compreensão da discussão sobre causas múltiplas e dos assim chamados significados ocultos. Nós não dizemos que 0 cliente “usa” 0 tato para descrever o estímulo, assim como não

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Suplem entação 61

dizemos que alguém “usa” o andar para se deslocar daqui até lá. Evitamos ver o cliente como “usuário” de uma resposta verbal porque então nos depararíamos com uma compreensão do que está sendo “usado”. Esse “o quê” que está sendo usado é a resposta verbal e assim retornamos ao problema original o qual tentamos resolver- compreender a resposta verbal. Por exemplo, digamos que você esteja tentando entender as causas de uma ameaça de suicídio. Se você disser que o cliente “usa a ameaça”, então, temos que compreender as causas do comportamento de “usar”, bem como as palavras empregadas. Por outro lado, através da nossa perspectiva, poderíamos dizer que a ameaça poderia ser motivada pela atenção que ela recebe (um mando, como veremos abaixo) ou ela poderia ser controlada por comportamentos pré-suicidas (um tato) ou uma combinação dos dois. Além disso, o cliente pode ou não estar ciente dos fatores controladores e/ou motivadores.

2 .0 mando. M andos são os discursos que fazem parte de demandas, comandos, pedidos, e questões. Um mando é um comportamento com as seguintes características: ( 1 ) ocorre porque é seguido por um reforçador particular, (2 ) sua força varia conform e a privação relevante ou estimulação aversiva, e (3) aparece sob um a ampla faixa de estímulos discriminativos. Assim, se você disser, “Eu gostaria de um pouco de água” porque você está com sede, isto seria um m ando pois haveria aí a ação de um reforçador muito específico - alguém escutando você e lhe dando água ou mostrando onde conseguí-la. A resposta a “Eu gostaria de um pouco de água” não teria a influência de um reforçador secundário generalizado como por exemplo, alguém dizendo “Está bem ”, ou “Obrigado por com partilhar isso comigo”, ou ainda “Eu entendo o que você quer dizer.” Sua força tam bém poderia variar de acordo com a necessidade que você tem de água. Seu mando por água pode ocorrer em quase todas as situações em que você esteja com sede e haja outra pessoa para escutar.

Do m esm o m odo, se um cliente lhe diz “Eu gostaria de um a sessão extra essa semana”, isso seria reforçado (e por isso possível de ocorrer novamente) pelo fato de conseguir um a nova sessão (um reforçador específico). O mando pode indiretamente envolver privação ou estados aversivos como “Por favor, leve-me a passear”, ou “Não me abandone”. O comportamento do cliente, que ocorre especificamente porque evoca o cuidado do terapeuta, é um mando.

Com o m ostra a F igura 1 e já foi dito anteriorm ente, a prim eira classificação a se fazer é verificar se a resposta do cliente é um tato (quadro 1 ), um mando (quadro .3) ou um iuíraverbal (quadro 4). O intraverbal é um compor­tamento verbal evocado por estímulos verbais e geralmente abrange aquelas

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62 Capítulo 3

respostas que não podem ser classificadas como tato ou mando. Por exemplo, quando perguntam “Como você está?”, a resposta “Bem” geralmente é um intraverbal, uma vez que ela realmente não tem nada a ver com os sentimentos do falante, sendo simplesmente uma resposta apropriada ao conjunto de palavras “Como está você” (se a resposta “Bem” estiver realmente demonstrando os sentimentos do falante então teríamos aí um tato, e não um intraverbal). As respostas do cliente a questões como “Onde nasceram seus pais?” e “Onde seu parceiro trabalha?” são intraverbais.

3. Mandos disfarçados. Você não pode ter certeza se uma resposta dada é tato ou mando com base apenas em sua forma (ou som). A palavra/ogo, por exemplo, poderia ser um mando para um bombeiro ou um tato enquanto um incêndio. Visto que a classificação de um comportamento verbal com base em sua forma ou som é denominada análise form al, o método Skinneriano de classificação com base em suas causas é denominado Análise Funcional. Usando a abordagem funcional sldnneriana, quanto mais soubermos acerca do contexto e da história que levam à resposta, mais certeza teremos sobre suas causas e sua classificação enquanto tato, mando ou intraverbal. Assim, se você vir o incêndio e o falante apontando para ele, você terá o contexto necessário para classificar seguramente aquela resposta como um tato.

O exemplo do fogo ilustra bem o fato de que a mesma palavra pode ter diferentes causas. O significado de um a palavra (ou sentença, gesto, discurso, etc.) corresponde à sua função, ou seja, um delineamento de suas causas. Quando dizemos que a “mesma” palavra pode ter “diferentes” significados, “mesma” se refere ao aspecto formal da palavra (seu som e a sua grafia) e “diferente” se refere ao seu aspecto funcional. Consideremos o exemplo de um cliente que diz “Eu vou me matar”. Se a resposta do cliente tem um histórico de comportamento suicida, como planos de suicídio e alguns sentimentos associados a eles, então a afirmação é um tato. Se a declaração é primariamente mantida pela preocupação que evoca em outras pessoas, então temos um mando. Em nosso esquema de classificação, o primeiro caso está representado como um tato no quadro 1 e o segundo como um mando disfarçado no quadro 2 . É disfarçado porque parece um tato se nos basearmos em sua forma, mas de fato, é um mando baseando-se em sua funcionalidade. Os não-behavioristas podem preferir diferenciar esses dois tipos de discursos suicidas com base nas intenções e propósitos do cliente. Embora estes termos denotem um significado similar, eles podem ser confusos ou ambíguos. Por exemplo, a intenção ou propósito implicam consciência? Sé não implicam, o que significa ter uma intenção inconsciente? Usando nossa

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Suplementação 63

teoria de tato versus mando, a consciência é um assunto à parte e não tem nada a ver com nossa classificação. Assim , o cliente pode ou não estar consciente do motivo que o leva à ameaça de suicídio, mas isso não impede a sua classificação enquanto tato ou mando. Ademais, se utilizamos as intenções ou propósitos para explicar a tentativa de suicídio por parte do cliente, o próximo passo na terapia seria descobrir a origem dessa intenção ou propósito. Tatos e mandos, por outro lado, já estão definidos em termos de suas origens.

O exemplo da ameaça de suicídio mostrou como a mesma expressão pode ter diferentes significados. De maneira correspondente, diferentes expressões como “Por favor, me ame” e “Sou inútil e desprezível” podem ter o mesmo significado funcional (causas). O pedido explícito por amor pode ser causado por um a história passada de obtenção de amor e carinho sempre que solicitado e/ouum a atual falta de amor e carinho*. Pela consistência de forma e de função, nós podemos dizer que esse cliente realmente sente aquilo que diz. A resposta é representada no quadro 3 e é abreviada como Ma. O reforçador deste mando, amor e carinho, recai no sistema de classificação mostrado no quadro 10 e é representado por SrE, A segunda declaração, sobre ser inútil, poderia também ser causada pelo desejo de amor e carinho. Assim, é um mando, apesar de parecer um tato; ou seja, na experiência de vida do cliente, amor e carinho ocorriam com maior probabilidade depois de umá auto-depreciação e não após um pedido direto. Como indicamos anteriormente, esses mandos disfarçados de tatos são os mandos disfarçados (quadro 2 ). O reforçador que é contingente aos mandos disfarçados é considerado um reforçador especial, SrE (quadro 9), de maneira a significai' que um reforçador específico apropriado a um mando está envolvido, e não simplesmente o reforçamento secundário generalizado que é contingente aos tatos.

Desta foima, é possível termos afirmações formalmente similares e funcionalmente diferentes (o exemplo do suicídio), assim como formalmente diferentes e similares funcionalmente (o exemplo do amor e carinho).

4. Causas M últiplas e Estim ulação Suplem entar. A m aioria dos com portam entos verbais tem m últiplas causas. Em adição a um estímulo controlador inicial, geralmente há estímulos controladores adicionais que também influenciam as respostas. Isso fica óbvio em lapsos verbais onde a multiplicidade de causas produz um a distorção das respostas. Um exemplo é a mulher que diz

* Um a circunstância possível seria a de que o cliente tem um histórico de nunca ter ganho qualquer coisa de terceiros sem que haja pedido direta e forçosamente. Assim, apesar da possível ausência de amor e carinho, o mando ocorre agora devido à força de mandos em geral.

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64 Capítulo 3

ao namorado que irá encontrá-lo para jantar às sexo horas", A resposta “sexo” é resultado da presença simultânea de estímulos primários evocando a resposta “seis” e de outros adicionais evocando “sexo”, apesar de aqueles para sexo serem menos visíveis a um observador externo, A maior parte das causas múltiplas, entretanto, são menos dramáticas e não produzem uma distorção tão óbvia nas respostas. Ao contrário, podem evidenciar porque um comentário em particular está naquele instante sendo feito, ao invés de outros que também seriam possíveis. Uma cliente que está sendo estimulada também por suas pre­ocupações sobre os efeitos nocivos da terapia, pode contar as experiências que teve com um quiropata incompetente na semana anterior. Um outro cliente, com estimulação adicional por sua raiva pelo terapeuta, pode trazer à tona um inci­dente em que tenha perdido a compostura com sua parceira. Skinner se refere a esse processo como seleção de respostas e o propõe como alternativa para justificar porque o cliente ’’escolheu” àquela expressão em particular dentre tantas outras disponíveis e possíveis.

Causas múltiplas, mandos disfarçados e reforçadores especiais são conceitos que explicam o que tradicionalmente costuma chamar-se de significados ocultos, latentes ou inconscientes. Conseqüentem ente, temos dado um a explicação comportamental a este tipo de fenômenos, tais como, lapsos de linguagem e o modo como os clientes conseguem dizer uma coisa querendo dizer outra. Em geral, os clientes não estão conscientes destas variáveis, mas sofrem seus efeitos independentemente dessa consciência. Não situamos esses efeitos em um mecanismo interno como o inconsciente, mas, ao invés, nos referimos a eles como efeitos de variáveis sutis. Em contraste, as variáveis óbvias são aquelas que correspondem de fato à forma da resposta. Uma metáfora, da maneira usada neste livro, refere-se a respostas controladas pelas variáveis sutis. Por exemplo, uma experiência ruim no dentista é a variável óbvia que atua no cliente quando ele diz ao terapeuta “M eu dentista me machucou.” Se o cliente está contando ao terapeuta sobre o dentista naquele momento em particular porque também foi ferido pelo terapeuta, então a variável sutil é a dolorosa experiência com o terapeuta. De acordo com nossa definição, o “meu dentista m e machucou” é uma metáfora pois é uma resposta de causas múltiplas sob controle parcial de uma variável sutil. O cliente não precisa ter (e provavelmente não tem) consciência de que a variável sutil teve efeito sobre o que ele disse.

Como mostra a Figura 1, todas as respostas do cliente são primeiramente classificadas com base nas variáveis óbvias como sendo Tato (quadro 1), um

' N . do T.: em inglês, six-seis e sex-sexo.

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M ando (quadro 3) ou um Intraverbal (quadro 4). Depois, naqueles locais indicados pelas flechas escuras (quadros 1, 3 e 6 ) há a sugestão de que a variável sutil deve ser considerada. Por exemplo se. tendo como base a forma, você classificou a resposta como um tato óbvio (quadro 1 ), e a localização dos estímulos controladores está na vida cotidiana (quadro 6). então pode-se especular em relação a quais estímulos sutis presentes na sessão (quadro 5) poderiam ter sido acrescidos aos óbvios para que aquela resposta ocorresse. Por exemplo, se o cliente está falando sobre um a relação de amizade, quais elementos da relação terapêutica estão presentes tam bém na relação exterior e que podem ser responsáveis por ele mencionar o assunto neste momento? Se o cliente descreve seus sentimentos em relação a outra pessoa, pode-se aventar a hipótese de que há similaridade com o que ele sente por você. Se o cliente descreve um evento ocorrido na semana, o que poderia haver em comum entre a relação terapêutica e o fato?

Usar o sistema de classificação da FAP ajudará a criar hipóteses sobre as variáveis sutis que podem influenciar os comentários do cliente. Levantada a hipótese, outras informações podem ser coletadas para ajudar em sua legitimação ou rejeição.

Classificação e O bservação de C om portam ento C linicam ente R elevante

Aqui estão alguns exemplos de como a classificação pode ajudar a identificar comportamentos clinicamente relevantes (CRBs) em seus clientes:

1. Alguns clientes raramente ou nunca observam a si mesmos ou outros no “aqui e agora” . A falta dessas observações poderia ser um CRB1 que interfere em relações mais íntimas. A observação de si mesmo e dos outros no aqui e agora deriva da classe de respostas do tato controladas por eventos na sessão - TaSdT (quadro 7). O principal método utilizado na identificação de CRB1 é o de pedir aos clientes para comparar seus comportamentos durante as sessões e a sua vida cotidiana (por exemplo, “Você desviou o olhar e ficou quieta quando eu pedi para falar sobre seus sentimentos em relação a mim. É assim também com seu parceiro?”). A resposta da comparação do cliente pode ser um TaSdTVc (quadro 8).

2. TaSdTVc (quadro 8). Esse tipo de resposta se enquadra no aprimo­ramento de CRB3, a descrição dos clientes sobre seu comportamento e suas

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causas. CRB3 é uma forma especial de tato controlada por estímulos ocorridos durante a sessão terapêutica. A m odelagem de CRB3 com eça com o encorajamento pelo terapeuta, de qualquer tato controlado por estímulos discriminativos na terapia (TaSdT), e tanto na terapia quanto na vida cotidiana (.TaSdTVc). Uma comparação entre o comportamento nas sessões versus na vida cotidiana encaixa-se na categoria de CRB3 que pode ajudar a transferir os ganhos da terapia para a vida cotidiana.

3.Respostas sutis geralmente constituem CRB1. Primeiramente, elas mostram uma falta de consciência. Assim, quando uma resposta sutil ocorre, fomece uma oportunidade terapêutica para aumentar a consciência por meio de dicas e de reforçamento do CRB3 apropriado. Por exemplo, se um cliente está sob controle da variável sutil de ser magoado pelo terapeuta e conta a ele sobre um a experiência dolorosa no dentista, o cliente se beneficia por descrever a variável sutil e como isso o afeta (CRB3). Ou seja, o terapeuta deve ajudai' o cliente a tomar consciência das variáveis que afetam o seu comportamento (Regra 5). Acreditamos que esse processo comportamental é muito semelhante ao que o psicanalista descreve como “tomar consciente o inconsciente”. Em segundo lugar, a razão pela qual muitas variáveis controladoras “se escondem” e tomam-se sutis é, principalmente, devido aos efeitos do condicionamento aversivo, indicando assim um CRjBl de esquiva. Em terceiro lugar, mandos disfarçados são freqüentemente C R B ls pois são maneiras indiretas de pedir alguma coisa e a solicitação direta é geralmente mais eficiente.

4.Classificar as respostas do cliente leva o terapeuta a um melhor contato com o contexto total do comportamento do cliente. Ao invés de aceitar os comentários do cliente ao pé da letra, o sistema de classificação pode ajudar o terapeuta a ver as respostas como resultado de variáveis óbvias e sutis que refletem a história do cliente, bem como os efeitos da relação terapeuta-cliente. Enxergar esse “quadro maior” aumenta a sensibilidade ao CRB e ao papel do reforçamento nas sessões.

E importante lembrar que a classificação não é o único motivo pelo qual o CRB deve ser considerado durante a sessão. Todo o comportamento do cliente deve ser constantemente avaliado quanto às suas possibilidades de CRB. Uma avaliação de CRB é feita antes mesmo das respostas serem classificadas e o diagrama montado. Considere, por exemplo, um cliente tímido e temeroso que nunca se defrontou com uma autoridade e que repentinamente deixa escapar “Você não está prestando atenção no que eu estou dizendo e isso m e irrita profundamente”. Imediatamente podemos identificar nesta frase um CRB2 e

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um CRB3 sem nem m esm o usarm os o p rocesso de c la ss if icação do comportamento verbal. O propósito desse processo classificatório é tomar visíveis mais CRBs do que aqueles que podem ser rapidamente averiguados, mas não deve ser visto como o único método para se reconhecer este CRB. Vamos agora passar a alguns exemplos de classificação.

Exem plos de C lassificação de R espostas do C liente

1 ."São dez para as cinco. E hora de ir. ” De acordo com o diagrama, primeiramente nos perguntamos “Isso é um tato óbvio (quadro 1), mando (quadro 3), ou intraverbal (quadro 4)?” . Nossa resposta é “tato óbvio” desde que o relógio seja aparentemente o estímulo controlador subjacente à forma específica da resposta “dez para as cinco” , que por sua vez serve como dica para o fim da sessão. Prosseguindo no diagrama, nós determinamos a localização do estímulo discriminativo (Sd). Como o cliente se referiu ao relógio e este está localizado na sessão terapêutica, é um óbvio SdT (quadro 7).

Agora, a avaliação do CRB: se um problema da vida cotidiana do cliente é que ele vive compulsivamente sob controle do relógio e “deve” encerrar a sessão pontualmente às cinco horas, então a resposta é um CRB 1. Entretanto, se o comentário do cliente é uma melhora em relação à sua compulsão típica do tempo, já vista em sessões anteriores (onde simplesmente levantaria e sairia), a resposta é um CRB2. O diagrama também direciona nossa atenção para fatores sutis; quer dizer, a possibilidade de que a resposta possa ser um mando disfarçado (quadro 2).

Por exemplo, um a cliente que deseja que você pare de perguntar sobre seus sentimentos. O reforçamento especial seria, então, a esquiva de discussões maiores sobre este assunto. Sendo esta uma interpretação sutil, a natureza indireta da resposta poderia ser um CRB1.

2. "Minha esposa se recusa a lavar as roupas. ” Novamente, primeiro nos perguntamos “Isso é um tato óbvio, mando, ou intraverbal? É um tato (quadro 1 ), se assumirmos que o próprio fato da esposa se recusar a lavar roupas é a variável de controle sobre a resposta. A localização deste evento é a vida cotidiana do cliente (SdVc quadro 6). Ao avaliar as possibilidades de CRB, se o cliente mostrara-se anteriormente receoso de ser critico em relação à sua esposa, então poderíàmos ter um CRB2. O próximo passo, de acordo com o diagrama é o de

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fazer uma interpretação sutil de um mando disfarçado (quadro 2). E possível que o cliente não esteja simplesmente “relatando os fatos” como está implícito no tato óbvio, mas, ao contrário (ou em adição), tenha motivos ocultos (isto é, reforçadores sutis ou especiais - quadro 9). Os possíveis reforçadores especiais são aqueles em que o cliente deseja que o terapeuta diga algo como “Que esposa irresponsável você tem”; “Aqui está a maneira de fazer sua mulher lavar a roupa” ; ou “Isso é péssimo, num momento em que você já está estressado” . Um possível CRB1 relacionado às motivações ocultas seria “querer que os outros o apoiem em seus conflitos conjugais e interpessoais, sem que tenha que pedir diretamente.”

3. "Quanto você cobra pelas sessões? " A resposta é um óbvio mando (quadro 3) pois exprime um reforçador específico (quadro 10). O reforçador óbvio é o terapeuta estabelecer uma taxa. E possível que o mando não seja o que aparenta, mas envolva um reforçador especial e sutil, SrE (quadro 9). A mais óbvia dessas preocupações é o valor fixado pelo terapeuta. Por exemplo, o cli­ente poderia querer dizer “Reduza o preço.” Essa motivação oculta indicaria o CRJ31 de não ser direto ou não estar consciente. Se o cliente evita estabelecer compromissos em geral, então outro C RB1 poderia ser a esquiva em estabele­cer o compromisso de iniciar a terapia, usando o preço como desculpa.

4. “Ninguém gosta de mim. ” Com base em sua forma, a resposta é um tato óbvio (quadro 1). A localização do Sd de controle parece ser um SdTVc (quadro 8) pois o “ninguém” pode se referir também ao terapeuta. Se o problema atual da cliente, em suas próprias palavras, é que “ela não é digna de ser amada”, então a resposta indica que um CRJB1 está ocorrendo. Em termos de uma interpretação sutil, o mando disfarçado (quadro 2) poderia ser “Por favor, goste de mim” ou “Diga-me que gosta de m im ”. A qualidade indireta ou inconsciente do mando disfarçado poderia ser um CRB1.

5. “Eu sinto náuseas. ” É um tato óbvio (quadro 1) porque a resposta parece ser controlada por um estímulo vindo do estômago. A localização do Sd de controle deste tato está na sessão terapêutica, um SdT (quadro 7). Em geral, as declarações de sentimentos são tatos óbvios porque considera-se que sejam controladas por estímulos anteriores. Pode ser interessante notar que os estímulos de controle são privados. A resposta indica que um CRB1 está ocorrendo, se a náusea é o problema atual, ou um CRB2 se o cliente nunca reclama de problemas físicos. Uma interpretação sutil é que a resposta é um mando disfarçado por empatia ou esquiva de algo que acontecia antes da reclamação ser feita.

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SITUAÇÕES TERAPÊUTICAS QUE FREQÜENTEMENTE EVOCAM COM PORTAM ENTOS CLINICAMENTE

RELEVANTES

Há estímulos, comuns a situações terapêuticas, que com freqüência ocasionam certo tipo de comportamento do cliente que pode ser clinicamente relevante. Chamamos a atenção para essas situações com o objetivo de que elas possam ser observadas quando ocorrerem na sessão.

1. Estrutura do tempo. As sessões de terapia têm hora marcada de início e fim. O cliente pode chegar atrasado, empenhar-se ao máximo para chegar cedo, querer sair mais cedo, ou não sair 110 horário. Chegar atrasado a um compromisso pode estar relacionado a problemas atuais, tais como a esquiva de discussões emocionalmente carregadas, o planejamento do tempo, ou problemas de trabalho gerados por não ser pontual. Ter dificuldades para sair ao final da sessão pode estar relacionado a comportamentos como dependência ou apego excessivos que tenham causado problemas em outros relacionamentos. Dar atenção exagerada à pontualidade pode estar relacionado a problemas como compulsão ou medo extremado de desapontar os outros, associado a uma baixa auto-estima.

Chegar atrasado às sessões quando está havendo progresso terapêutico também pode ser um exemplo do problema, para o cliente que tem dificuldade em completar tarefas e acha que “estragou” situações onde poderia ter sido bem sucedido. C hegar tarde ou sair cedo podem ser exem plos de operantes clinicamente relevantes para o cliente que apresenta problemas de ansiedade. Em cada caso, o comportamento operante observado durante a sessão é avaliado à procura de sua possível relevância para os problemas específicos do cliente.

2. Férias do terapeuta. Alguns clientes, especialmente aqueles com histórias de rejeição e abandono, reagem fortemente a interrupções no padrão de contato com o terapeuta. Para esses clientes, a saída do terapeuta pode eliciar medo intenso, ansiedade, raiva e/ou tristeza, junto com pensamentos como “Você não voltará” ; “Você está tentando fugir de m im porque eu sou ‘m au’” ; “Você estará-díferente e não se preocupará mais comigo quando voltar” ; “Como pode me abandonar justo agora quando eu preciso tanto de você?”; “Eu não posso vivèr sem você”; e “Eu não consigo tom ar conta de m im mesmo”. A maioria

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dos comportamentos que acompanham este tipo de sentimentos (outros, além do de falar neles) são CRB1 (ou seja, procurar isolar-se, quebrar coisas, tentativas de suicídio).

3.Encerramento. O tipo mais difícil de encerram ento é o de um tratamento incompleto que termina devido a fatores na vida do terapeuta tais como mudança de emprego, de lugar, ou o fim de um estágio. Isso pode fazer

■ aflorar os sentimentos descritos no item anterior de um modo ainda mais intenso. Em encerramentos de consenso, é o momento do terapeuta ficar atento em relação aos CRBs evocados pelo término. Encerramentos podem trazer preocupações acerca da independência e da auto-confiança, e tristezas acerca de perdas anteriores, separações e mortes. É uma chance para o cliente aprender a dizer adeus de uma maneira adequada, através da expressão da gama de sentimentos causados pelo fim de um a relação especial, mas transitória. O modo como o cliente reage ao fim do tratamento tem grande probabilidade de também ser uma indicação de como ele reage aos começos ou términos em outras áreas de sua vida pessoal.

4 .Contas. O modo como o cliente lida com o pagam ento da terapia pode representar a forma como ele lida com o dinheiro em geral. O cliente paga em dia? O cliente gerencia suas contas adequadamente? O assunto do preço pode ser inserido no tratam ento de várias m aneiras: (a) Pode levar a comportamentos de afastamento e término que estão associados a declarações do tipo “Eu não mereço gastar este dinheiro comigo, outros membros da família são mais importantes e merecem muito mais do que éu.” (b) Pode ser usado para evitar sentimentos de intimidade em relação ao terapeuta - “Você está sendo legal comigo porque eu lhe pago e esse é o seu serviço.” (c) Pode ser usado para explorar o comportamento e/ou sentimento evocado por produzir (ou não) uma certa quantia de dinheiro; sentimentos de sucesso, inferioridade, incompetência, insegurança, vergonha; competitividade com ou inveja do terapeuta, (d) Ao invés de expressar diretamente para o terapeuta seus sentimentos negativos em relação às contas, a esquiva pode envolver o atraso do cliente no pagamento da terapia, (e) O cliente pode tentar um a redução dos custos da terapia através da menção do salário que recebe, (f) Se o cliente está em crise financeira, ele pode aceitar a idéia de dever o pagamento e dessa fonna receber um empréstimo do terapeuta? Nessas ocasiões freqüentemente podemos observar comportamentos relacionados ao dar e receber numa relação, e a não querer dever nada a ninguém, mesmo a ponto de ter prejuízo pessoal.

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5. “Erros ” ou comportamentos não intencionais do terapeuta, O ditado “Tudo o que cai na rede da terapia é peixe” se aplica aqui. M esmo o melhor terapeuta pode chegar atrasado à sessão, passar do horário com o cliente anterior, pensar em outra coisa enquanto o cliente está contando algo importante, esquecer de fazer urna ligação que havia prometido ao cliente ou agir de qualquer outra maneira que faça com que o cliente se sinta pouco importante ou incompreendido. Como o seu cliente reagiria a um terapeuta que não fosse perfeito? Os erros do terapeuta são ocasiões que podem evocar os seguintes CRBs: esquivar-se de expressar diretamente a raiva e frustração, problemas associados a sentimentos de baixa auto-estima, ou reagir aos erros do terapeuta de forma extremada, decorrente de idealizar os outros a tal ponto que uma desilusão se tom a inevitável Qualquer um desses comportamentos pode interferir no desenvolvimento de relações estáveis.

6 . Silêncios e lapsos na conversa. A característica mais evidente da psicoterapia de adultos é que esta consiste em duas pessoas conversando entre si. É comum essa conversa chegar a um beco sem saída e parar - ambos parecem não ter nada mais a dizer. Essa situação pode evocar CRBs no cliente, além de no próprio terapeuta. U m lapso na conversa evoca ansiedade aliada a uma certa confusão que, por sua vez, dificulta ainda m ais o reinicio da conversa. A ansiedade, confusão, e dificuldade em retomar a interação são o problema. O CRB2 se constituiria em aprender a tolerai' mais os silêncios, extinguir a ansiedade e/ou desenvolver um comportamento que facilite a retom ada da conversa nas ocasiões em que ela se interrompe.

7. Expressão de afeto. Estamos nos referindo à expressão dos sentimentos que resultam do contato com estímulos que eliciam os respondentes chamados emoções e/ou descrições de sentimentos. Nossa visão das emoções é dada no Capítulo 4, que traz um a explicação mais completa e fom ece a racional para nossos com entários nessa seção. A expressão de afetos tais como tristeza, necessidade, vulnerabilidade, raiva e carinho, facilita o desenvolvimento e a m anutenção de relações m ais próximas. Há, entretanto, muitos fatores que prejudicam essa expressão. Assim, por exemplo, muitos clientes têm problemas em chorai- na frente dos outros ou em expressar adequadamente sua raiva. Esse desconforto 'em m ostrar suas emoções mais fortes freqüentemente dificulta o tratamento. Clientes têm afirmado que mostrar sentimentos significaria “tomar- se fraco”, “tomar-se inferior”, “ser vulnerável demais”, “não ser capaz de parar”,

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“estar fora de co n tro le” ou “ ser m otivo de chaco ta” . Incluem -se nos comportamentos de esquiva que estão associados à demonstração de afeto: mudar o assunto; conversas intermináveis e detalhadas sobre tópicos tangenciais; não falar; focalizar um objeto no escritório; contagem regressiva de 1000 até 1, Em alguns raros exemplos, o CRB é o uso deliberado que o cliente faz da raiva ou das lágrimas, para controlar o comportamento dos outros.

8 . Sentindo-se bem, estando bem. Para alguns clientes, sentir-se bem ou estar bem serve como um estímulo aversivo. Isso motiva um comportamento de esquiva que aparece na form a de ser e agir de maneira infeliz ou depressiva. Alguns clientes contam que sentem ansiedade, medo, perda de controle e “uma sensação de estar chegando ao fundo do poço ,” Suas histórias revelam experiências nas quais foram punidos de alguma forma por sentirem-se bem, e, em conseqüência disso, atribuíram ao “estar bem” suas propriedades de controle aversivo. Por exemplo, um pai ciumento e com distúrbios psicológicos que se afasta, ou, então, pune a criança que é bem sucedida. Estar bem também poderia sinalizar a perda do terapeuta, pois a terapia se encerraria. É desnecessário dizer que o CRB 1 que consiste de depressão ou de infelicidade como forma de esquivar-se ao estar bem ou o término do tratamento poderiam comprometer seriamente o reforçamento positivo a longo prazo para o cliente.

9. F eedback p ositivo e dem onstrações de a feição p o r p a r te do terapeuta. Alguns clientes não reagem bem às expressões positivas vindas do terapeuta. Eles podem reagir ao feedback positivo como se este fosse um reforçador arbitrário, um sinal de exigências crescentes, ou uma indicação da retirada de reforçamentos positivos. Os clientes, desta maneira, podem resistir, se esquivar, ignorar ou ainda desconsiderar o que o terapeuta lhes tenha dito. Suas respostas podem também estar acompanhadas de sentimentos de embaraço, inutilidade, desconforto e de pensamentos como “Agora terei que corresponder a essas suas expectativas ou você irá me desaprovar”; “Você não me conhece realmente, e quando conhecer, irá me deixar”; “Você está me dizendo isto para ser agradável e eu não acredito em você” . Todas essas respostas podem ser adquiridas em famílias nas quais o feedback positivo tenha sido associado a conseqüências aversivas.

10. Sentindo-se íntimo ao terapeuta. Quando o terapeuta demonstra afeto, preocupação e compreensão, ou fica ao lado do cliente durante momentos difíceis, o cliente pode sentir-se íntim o do terapeuta. Esses sentim entos normalmente são acompanhados de um repertório de manter contato, que inclue passar mais tempo com a pessoa, contato ou proximidade física; expressão de

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sentimentos positivos; fazer coisas para ajudar ou proteger a pessoa.. No entanto, estes repertórios com portam entais podem ter sido punidos no passado por meio de perdas, rejeições ou abandono. Além disso, as limitações da relação terapêutica (limite de tem po, contato restrito à sessão, etc.) tam bém resultam em punição para estes “repertórios de proxim idade” . Qualquer que seja a causa, essa proximidade é geralm ente um S d aversivo que m otiva o cliente a emitir um comportamento que a remova. Como essa esquiva pode ser difícil de detectar pois muitos desses com portam entos de proxim idade não ocorrem durante a sessão, o terapeuta guia-se pelos sentimentos colaterais. Quando você se sente próximo ao cliente, ele se com porta de tal m aneira a facilitar essa proximidade, ou ele emite com portam entos que diminuem seus sentimentos de proximidade? Uma variedade de respostas de esquiva pode resultar no distanciamento, incluindo tom ar-se crítico, sentir raiva, sentir-se entorpecido por dentro e sem sentimento nenhum, dizer que não precisa mais comparecer às sessões ou fazer comentários que desmereçam o valor da relação apenas porque esta é uma relação profissional. U m prim eiro passo para resolver este problema está em o cliente aprender a falar sobre a relação funcional (CRB3s), como no exemplo “Neste instante eu estou me sentindo próxim o a você, estou querendo ficar com você, mas sei que isso não é possível. Isso me entristece, então quero afastar você de m im ”.

11. Características do terapeuta. Certas características estáveis do terapeuta com o idade, sexo, raça, peso, atrativos físicos, e tendências de comportamento para ser falante ou quieto, gentil ou confrontador, expansivo ou discreto, liberal ou inflexível, podem evocar CRB. Por exemplo, um terapeuta m ais velho pode fazer lem brar do pai; um terapeuta falante ou confrontador pode evocar falta de assertividade, além de sentim entos de intim idação e vu lnerab ilidade; um terapeu ta m agro pode causar inveja, retraim ento e comentários do tipo “Você não é capaz de entender meu problema” , a um cliente acim a do peso. Todo terapeuta deveria ten tar pensar sobre suas próprias características e procurar pelos possíveis efeitos evocativos de CRB.

12. Eventos incomuns. Algumas vezes o CRB mais importante pode ocorrer sob condições pouco com uns. A lguns exem plos desses eventos idiossincráticos podem ser. encontrar o terapeuta com outra pessoa fora do consultório; a terapeuta engravidar, quebrar um a perna, ou ter que viajar por causa de um a emergência na família. Eles podem servir como estímulos aversivos muito fortes que provocam comportamentos tais como sentimentos intensos de posse, rivalidade, dependência, desamparo e mortalidade.

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13. Sentimentos ou privacidade do terapeuta. As respostas privadas do terapeuta em relação ao cliente podem ser uma boa fonte de informações sobre os comportamentos clinicamente relevantes. Sentimentos de tédio, irritação ou raiva no terapeuta podem indicar que as maneiras pelas quais o cliente está se comportando têm grande probabilidade de fazer emergir esses mesmos sentimentos em outras pessoas. Por exemplo, uma cliente reclama que tem dificuldade em fazer amizades e não entende o porquê. Você nota que facilmente se entedia com ela e sua atenção se dispersa, porque ela fala monotonamente sobre trivialidades por um longo período, sem se preocupar se você está ou não interessado no assunto. A ssim , um a auto-observação pode auxiliar na discriminação destes comportamentos-problema e também pode ser usada para detectar as melhoras (CRB2), como por exemplo, falar de modo mais animado por um período de tempo menor, e formular perguntas.

Em resum o, as situações terapêuticas que foram analisadas são representativas das diversas maneiras pelas quais os estímulos associados à terapia podem evocar CRB no cliente. O sistema de classificação do compor­tamento verbal apresentado na primeira parte deste capítulo pode ajudar a aumentar a consciência do CRB através da focalização da atenção do terapeuta nas causas sutis das verbalizações do cliente. As auto-observações dos clientes no aqui e agora, e também suas comparações dos eventos na terapia com a vida cotidiana, são descrições que podem ajudar na generalização dos ganhos obtidos na terapia.

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